TCC Gabrielle Dos Santos
TCC Gabrielle Dos Santos
TCC Gabrielle Dos Santos
CURSO DE PSICOLOGIA
NITERÓI - RJ
2022
GABRIELLE DOS SANTOS LIBANIO FERREIRA
NITERÓI - RJ
2022
GABRIELLE DOS SANTOS LIBANIO FERREIRA
COMISSÃO EXAMINADORA:
Lilian Ribeiro
RESUMO
O luto causado pelo novo coronavírus trouxe uma série de reflexões e sequelas sobre
como pensar e vivenciar luto e morte. Esse trabalho tem como objetivo conceituar o
luto e entender como a falta dos rituais de despedidas afetam o processo do luto. E
para alcançar esses objetivos, o estudo se baseou na pesquisa bibliográfica. A partir
das leituras foram desenvolvidos capítulos que falam do luto por COVID-19, de como
rituais e ritos são fundamentais para o enlutado, e por fim como psicólogo a lida em
um contexto de crise. Concluo que a ação do psicólogo dentro de um quadro de
pandemia se torna fundamental não apenas diante de situações imediatas.
The mourning caused the new coronavirus brought a series of reflections and sequelae
on how to think and experience mourning and death. This work aims to conceptualize
mourning and understand how the lack of farewell rituals affect the mourning process.
And to achieve these objectives, the study was based on bibliographic research. From
the readings were developed chapters that speak of the mourning for COVID-19, of
how rituals and rites are fundamental for the bereaved, and finally as a psychologist
read it in a context of crisis. I conclude that the action of the psychologist within a
pandemic framework becomes fundamental not only in the face of immediate situations
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
2 LUTO EM CONTEXTO PANDÊMICO .................................................................... 13
2.1 Fatores determinantes para o luto................................................................ 17
3 RITUAIS DE DESPEDIDA...................................................................................... 21
4 O PAPEL DO PSICÓLOGO EM CONTEXTO DE CRISE ...................................... 28
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 35
6 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 36
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1 INTRODUÇÃO
precisam ser vivenciados como forma de elaboração da morte, pois negá-los pode
desencadear um luto mal elaborado e um consequente processo patológico
(KOVÁCS, 2013).
De acordo com Lisboa e Crepaldi (2003), a morte é um enigma que gera medo
e pode gerar sofrimento físico, psíquico e emocional, podendo desencadear uma
sensação de fragilidade para todos e não somente para quem está morrendo.
Segundo Kubler-Ross (2008) e Kubler-Ross e Kesller (2005) nem todas as
pessoas irão vivenciar o luto de maneira semelhante, na ordem que é apresentada.
As fases do luto segundo Kubler-Ross são: a negação a pessoa nega o ocorrido; raiva
é a fase dos questionamentos é nessa fase que surgem perguntas como: (Por que
meu Deus? Por que comigo?); barganha fase da negociação, onde o sujeito tenta
negociar para as coisas serem como era antes; depressão Kubler-Ross e Kessler
(2005) apontam como é importante se ter em mente que a depressão aqui não deve
ser compreendida como um estado patológico, que requeira a intervenção de
medicamentos. É nessa fase que a pessoa toma consciência do que de fato
aconteceu. E por fim a aceitação nela a pessoa aceita a realidade, mas não significa
que está tudo resolvido.
“Nosso luto é tão individual como nossas vidas” (KÜBLER-ROSS; KESSLER,
2005, p.07). Assim, uma mesma pessoa pode ir da fase da negação para a barganha,
como da barganha para a raiva e voltar para a anterior. Cada luto é singular na medida
em que os seres humanos o são, com suas particularidades e diferenças.
O funeral é uma parte importante do comportamento social e propicia a
demonstração e o compartilhamento do sofrimento (SHIMANE, 2018; WALTER e
BAILEY, 2020), mas para muito além disso, os rituais funerários revelam o modo de
funcionamento de uma sociedade e como ela lida com a ideia do morrer (SOUZA e
SOUZA, 2019).
O papel do psicólogo nesse processo é fundamental para auxiliar a pessoa
enlutada a se adaptar a essa nova vivência, possibilitando a elaboração de novas
crenças sobre si e sobre o mundo.
Diante da Resolução no 04/2020 do Conselho Federal de Psicologia (CFP),
onde o texto, pretende orientar os psicólogos acerca da atuação on-line diante do
contexto da pandemia da COVID-19 (CRP-GO, 2020). Documento que regulamenta
o método de consulta remoto “atendimento psicológico on-line” que vem se
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Para Jonas (2004) morte é um mistério que o ser humano se defronta que o
perturba, visto que contradiz a compreensão, a explicação natural e a universalidade
da vida. Por essa razão muitos negam o fenômeno da morte, dificultando sua
aceitação como parte inseparável da vida. Franco (2008) diz que:
E por fim, a fase da recuperação, é a partir dessa fase que o enlutado permite
se reorganizar, mesmo sabendo que tem algo faltando. Torna-se possível o
investimento em outros objetos. É, portanto, quando o enlutado se torna capaz de
adquirir novos papéis e iniciar novas relações (BOWLBY, 1985)
Rando (2000) apresenta pontos que precisam ser observados para se ter um
luto saudável:
Segundo Araújo e Alves (2015) determinam algumas formas de luto, que são:
Luto convencional: se manifesta através do choro e da tristeza. É o luto que
primeiramente a pessoa fica anestesiada diante da notícia para depois entender o que
aconteceu.
Luto normal: marcado por atitudes esperadas tendo em vista que acabou de
perder um ente querido, raramente requer ajuda de médicos ou psicólogos.
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Portanto, o objeto de amor não está presente, mas não se sabe se algum dia voltará
(OLIVEIRA, 2001)
De acordo com Oliveira (200, p. 20) as reações de luto são propensas a serem
mais intensas e podem levar a um quadro denominado de luta ambíguo:
3 RITUAIS DE DESPEDIDA
Cada cultura tem sua maneira de expressar a dor pela perda de um ente
querido. Segundo Gomes (2010, p. 147), “ um ritual é composto de um conjunto de
comportamentos mais ou menos previstos, com trajetórias padronizadas em começo,
meio e fim”. Esse ritual começa quando alguém morre, com tudo antes de ir para o
velório o corpo passa por um processo de higienização para ser exposto ao público.
Após a morte, o corpo é levado, vestido e colocado no caixão de acordo com os
costumes e tradições da família, muita das vezes acatando algum pedido do morto e
quando o falecido está no caixão é colocado uma coroa de flores. A partir desse
momento começa a chegar às primeiras figuras que farão parte desse processo, logo
em seguida chegam amigos e conhecidos.
Ritualismo dar a morte favorece o sentido do luto, pois concretiza a morte,
facilita a expressão de angústia e dor. Talvez sua maior função seja de solidificar os
laços de solidariedade do grupo na época que os indivíduos são forçados a se adaptar
às mudanças fundamentais na sua existência ou inexistência (PEIRANO, 2003).
Em 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou
que estávamos vivendo uma pandemia causada pelo novo coronavírus. Nos casos
mais graves podendo evoluir para um quadro de síndrome respiratória aguda e
rapidamente vir a óbito. Com a alta taxa de transmissão do coronavírus o mundo
precisou tomar atitudes que impactaram nossas vidas, até porque estávamos vivendo
uma pandemia. Com vírus se propagando rapidamente e por consequência a morte,
havia a necessidade de estarmos em isolamento social, os rituais de despedidas
foram interrompidos ou resumidos para que não houvesse contato entre as pessoas.
Logo, a COVID-19 modificou a maneira que expressamos vivemos a morte. Nesse
contexto, torna-se mais complexa a realização de rituais de despedida entre doentes
na iminência da morte e seus familiares, bem como de rituais funerários, o que dificulta
a experiência do luto (EISMA, BOELEN e LENFERINK, 2020; FIOCRUZ, 2020a).
Diante de uma internação, e logo em seguida a morte, a falta de contato com o
ente querido dificulta o processo de assimilação da perda. Essas interações face a
face são consideradas importantes nos chamados “rituais de despedida”, isto é,
processos de despedida realizados entre pessoas na iminência da morte e seus
familiares (LISBÔA e CREPALDI, 2003). Tanto a comunicação verbal quanto a não
verbal se mostram essenciais nos rituais de despedida; a comunicação não verbal,
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Então, nesse contexto ritual traz sentido sobre o que é ritualístico, vai além do
ato adquirindo características simbólicas. Em Bayard (1996), hoje tu fúnebre é, a
princípio, o gesto técnico de lavar, enterrar e cremar o cadáver, mas é o seu
prolongamento para o ato simbólico que o torna abrangente em todo o seu sentido.
Os rituais vêm repleto de símbolos esses símbolos têm vários significados que
permite expor o que não conseguimos expressar em palavras. Visto a partir de seu
interior simbólico, o ritual pode ser entendido como um sistema de Inter comunicação
simbólica entre o nível do pensamento cultural em seus complexos significados, ação
social e o acontecimento imediato (KROM, 2000). Desta forma, a capacidade que o
ritual tem de funcionar como sistema de intercomunicação entre estrutura e significado
lhe confere forte poder transformador, pois, à medida que permite um significado ao
longo das gerações, possibilita a formação de novas concepções de mundo (KROM,
2000).
A respeito do significado dos termos, Rivière (1997) nos diz que na tradição
francesa os termos de rito ritual possuem zonas semânticas vizinhas que apresentam
fronteiras indeterminadas e interpenetrações recíprocas, a ponte que virem mesmo a
se tornar muitas vezes palavras sinônimas. Com o passar do tempo o significado
destes termos foram confundidos, que segundo o autor Rivière não há distinção das
palavras rito e ritual no inglês quanto no francês.
De acordo com Ferreira (2003, p. 483), a definição para Rito é a seguinte: “ As
regras e cerimônias próprias da pátria de uma religião”; enquanto isso Ritual é definido
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Agora, o vírus nos rouba tudo isso que traduz nossos laços de
parentesco e amizade: visitar o enfermo, consolá-lo e animá-lo,
preparar o corpo para o funeral, promover o velório, cumprir os rituais
de enterro ou cremação, ver o caixão descer ao túmulo, orar em
conjunto pelo falecido, e manifestar condolências e abraçar os mais
afetados pela perda (O Globo, Rio de Janeiro (Brasil), 27/04/2020 -
Artigo: Antígona e Antares)
prolongue. Esses rituais são carregados de simbolismo onde o corpo pode ser lavado,
tocado e olhado pela última vez, no momento do velório é fundamental para se
concretizar que a pessoa realmente morreu e que não está enterrando a pessoa
errada.
Já podemos observar um marco para os enlutados pela COVID-19, esse
momento de olhar, tocar e velar seu ente querido não é mais permitido. Não sendo
mais possível velar o corpo tendo que ir diretamente para o enterro de caixão lacrado
e muita das vezes em cemitérios específicos para esse tipo de morte, sendo
necessária uma quantidade mínima de pessoas para manter o distanciamento social.
Logo, os familiares de vítimas fatais da COVID-19 tinham os seus rituais incompletos
aumentando o seu sofrimento. Os familiares sentem a necessidade dos rituais de
despedida, essa não realização traz sentimento de impotência e a realidade que é
vivido dentro de outras circunstâncias traria sensação de concretização: “ele não volta
mais”. Esses rituais consistem em momentos de comunicação familiar, com definição
de questões não resolvidas, assim como rememoração e de compartilhamento de
bons momentos vividos, de pedido de perdão e de agradecimento (CREPALDI et al.,
2020).
Antes de falar de mortes pela COVID-19, há uma dolorosa separação entre a
pessoa internada e seus familiares que no pico da transmissão do vírus era impossível
visitar ou familiar, recebendo notícias de melhores ou piores por telefone.
Ana Claudia Quintana (2016) em ‘’A morte é um dia que vale a pena viver, a
vida depois da morte: o tempo do luto’’
toda dor e saudade do ente querido. Desta forma estimular o apoio psicológico
essencial para o cuidado da saúde mental desses enlutados, promovendo estratégias
de atuação que a pandemia exige.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
6 REFERÊNCIAS
LOPES, Fernanda Gomes; LIMA, Maria Juliana vieira; ARRAIS, Rebecca Holanda;
AMARAL, Natália Dantas. A dor que não pode calar: sobre o luto em tempos de
Covid-19. Psicologia USP, 2021, v. 32. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pusp/a/vwSkrFpx4syBrf3pckBc6WK/abstract/?lang=pt. Acesso
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LUNA, Ivânia Jann. Construindo histórias e sentidos sobre uma perda familiar
na vida adulta. Psicologia USP. Florianópolis, v. 31, e200058. Disponível em:
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http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
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OLIVEIRA, E., Ximenes Neto, F., MOREIRA, R., Lima, G., dos SANTOS, F.,
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QUADROS, Laura Cristina de Toledo; CUNHA, Claudia Carneiro da; UZIEL, Anna
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