Apontamento Até Frequencia
Apontamento Até Frequencia
Apontamento Até Frequencia
Justificação constitucional da ação executiva: a raiz do processo civil é o conflito entre os sujeitos da
ordem jurídica. A atividade de resolução/extinção do conflito consiste na tutela.
O Estado tem o monopólio da dirimição dos conflitos por meio das normas do processo, relativamente
aos conflitos sobre posições jurídicas privadas – fala-se, então, em função ou garantia jurisdicional de
justiça a cargo do Estado pela via judiciária. A esse monopólio corresponde, na esfera jurídica
individual, um direito à tutela jurisdicional efetiva, consagrado no art. 20º/1 e 4 CRP, que é assumido
como uma das tarefas fundamentais do Estado (art. 9º/a) CRP).
Porém, a tutela jurisdicional não pode ser efetiva quando o interesse ou direito da parte ativa não
for efetivamente satisfeita, verifica-se que a ação declarativa nem sempre é suficiente para
satisfazer este interesse algumas sentenças precisam de ser executadas (cumpridas pelo reu)
Assim, no plano constitucional, a jurisprudência, quer do TEDH, quer do TC, tem afirmado
que o direito à tutela jurisdicional do art. 20º CRP implica uma tutela efetiva ou completa,
nomeadamente uma tutela executiva (nomeadamente, Ac. TC 1169/96, de 20 nov declara-se
que se compreende no direito ao acesso aos tribunais, previsto no artigo 20.º CRP, o «direito a
um processo de execução, ou seja, o direito a que, através do órgão jurisdicional se desenvolva
e efetive toda a atividade dirigida à execução da sentença proferida pelo tribunal».
Se não houvesse o direito constitucional à execução todas as garantias feitas valer não teriam propósito e
estar-se-ia a preterir a garantia de igualdade entre as partes, já que uma sentença não executada
permanece inoperante em detrimento de uma parte
Art. 2º/2 CPC garante a realização coativa dos direitos através do Estado, nos termos do art.
10º/4.
MTS: tem de se garantir a possibilidade do seu titular exercer todas as faculdades que se contêm nos
direitos e interesses legalmente protegidos
NOTA – não é possivel haver execução num tribunal arbitral – art.º 47º LAV – pois só o Estado pode
fazer ceder um DF face a outro.
REALIZAÇÃO COATIVA DA PRESTAÇÃO: se pelo n.º 1 do art. 20º CRP se garante o acesso à
ação declarativa, porquê a necessidade de uma realização coativa dos direitos? Resulta dos limites dos
meios de tutela declarativa.
Ora, o efeito jurídico de uma sentença pode ser autónomo e suficiente para resolver o litígio, como
sucede nos pedidos de simples apreciação e nos pedidos constitutivos. (não necessitam de réu)
Contudo, isso já não sucede para um efeito condenatório, i.e., quando o tribunal impõe ao réu um
comando, ordem ou mandamento de atuação (a “condenação”) na “prestação de uma coisa ou de
um facto” (art. 10º/3 b)).
Assim, torna-se necessário um ulterior momento de execução sem a vontade do réu do comando
de atuação, caso ele não cumpra voluntariamente – necessidade de uma satisfação bilateral da
pretensão do autor nas sentenças proferidas em ações de condenação.
O direito à tutela jurisdicional do art. 20º CRP, impõe uma competência dos tribunais ou de
outros órgãos do Estado – o agente de execução – para a promoção da execução forçada do
título jurídico judicial, dentro dos limites dos direitos, liberdades e garantias
constitucionais.
A ação executiva, não serve apenas para cobrança de dívidas. A ação executiva serve não só para fazer
valer instrumentos dos direitos de crédito, mas também instrumentos dos direitos reais.
MTS - o direito de execução resulta da incorporação da pretensão num título executivo, o qual é
constitutivo daquele direito de execução.
A ação executiva é aquela em que o autor requer como efeito jurídico as providências adequadas à
realização coativa de um direito ou de um poder a uma prestação enunciado num título legalmente
suficiente. A ação executiva não precisa de provas, mas sim de um documento legalmente suficiente
= TE
Note-se que a pretensão exequenda não é um direito de natureza pública contra o Estado, pese embora
seja o Estado que, com o seu poder de autoridade, pode realizar os atos de execução da prestação
(penhora, venda e pagamento ou apreensão e entrega); todavia, o direito à execução permanece como um
direito de natureza privada que não pode ser exercido sem o emprego dos meios coativos do Estado.
Uma coisa é o direito à execução (art. 817º CC) e outra coisa é o direito de instaurar uma ação
executiva (art. 20º/1 e 2º/2 segunda parte CRP).
RP - a execução da sentença já não faz parte, em sentido estrito, da ação declarativa, motivo pelo qual a
ação executiva podia perfeitamente ser separada do tribunal, dado que já não precisamos de um juiz
imparcial para executar a sentença.
REGRA GERAL - as providências adequadas à execução forçada consistem em atos materiais, ou seja
atos de ingerência no património do devedor = executado e sendo uma ação especialmente invasiva está
limitada pelos Direitos Fundamentais.
Mas atenção: há, pelo menos, um caso em que pode haver atos que não sejam atos materiais mas sim
jurídicos – exemplo: a ação de execução específica (o ato jurídico de celebração do contrato definitivo
executa-se através de uma ação executiva)
Conclusão:
- A ação executiva abrange qualquer ação que sirva para realizar o direito.
- O direito à execução é antecipadamente irrenunciável: o credor não pode com eficácia jurídica, antes
da pendência da execução, renunciar unilateralmente à execução da dívida ou acordar com o devedor
idêntica cláusula. Tal seria uma renúncia aos direitos ao cumprimento e à indemnização por mora, o que é
vedado pelo art. 809º CC.
QUESTAO - Pode o credor vincular-se a não executar o devedor durante certo prazo (pactum de
non exequendo)?
MTS, pelo contrário, admite que credor e devedor acordem antes da execução um termo ad
quem para a sua instauração, ou mesmo que possam acordar a prévia exclusão da execução (mas
apenas se, no momento da celebração do negócio, estiverem preenchidas as condições
processuais e materiais da ação executiva), por similitude com a desistência de uma execução
pendente.
RP entende que o disposto no art. 809º CC não admite restrição por meio da aplicação, por
similitude, das normas processuais que autorizam a desistência da instância ou do pedido
executivo. Estas admitem e regulam os efeitos de atos processuais; o art. 809º regula o exercício
de direitos substantivos, in casu, o direito à execução. Assim, o art. 809º não permite cláusulas
dispositivas do direito de ação ainda não exercido, ainda que por mútuo acordo.
O preceito não proíbe a desistência da instância já aberta, mas proíbe a renúncia à abertura da instância,
tanto absoluta, como temporária, por um pactum de non exequendo.
ÂMBITO PROCESSUAL:
Execução em sentido impróprio ou lato : qualquer decisão judicial – mesmo uma sentença
proferida numa ação de mera apreciação ou numa ação constitutiva – suscetível de ser executada
(MTS) mediante atos materiais executivos praticados por órgãos não judiciais (Anselmo de
Castro).
O que é idêntico é apenas o cumprimento de um direito enunciado num título jurídico – maxime, uma
sentença – mediante a realização de atos materiais. A partir desta constatação uma profunda diferença no
plano substantivo emerge de imediato na execução latu sensu não se trata de impor coativamente ao
devedor a prestação.
Daqui decorre uma diferença estrutural entre execução própria e imprópria, ao nível do próprio objeto
processual.
Para que se possa entender esta última afirmação, considerem-se as dificuldades de qualificação da ação
de execução específica, prevista no artigo 830.º CC
a. Para alguma doutrina (MTS) a ação de execução específica só em sentido impróprio poderia ser tida
como ação executiva, dado ser uma ação constitutiva.
b. Salvo o devido respeito, RP discorda: é de natureza jurídica completamente diversa a mera alteração
do registo, v.g., para a inscrição do estado civil de divorciado(a), da constituição judicial de um contrato
de compra e venda. O primeiro é um efeito absolutamente excluído do objeto do processo, i.e., do pedido
do autor e da sentença; o segundo efeito integra o objeto do processo, i.e., é justamente o pedido deduzido
pelo autor, e integra, por isso, o objeto da sentença. O primeiro efeito não está sujeito ao caso julgado; o
segundo efeito está sujeito ao caso julgado. Tal não pode ser descurado.
É verdade que se trata de uma ação declarativa, já que, aplicando a delimitação atrás operada,
o efeito jurídico pretendido – produção dos efeitos da declaração negocial omitida pelo
promitente faltoso – obtém-se pela prolação de um título jurídico judicial que o enuncie. E
trata-se de uma ação declarativa constitutiva, em face do artigo 10.º, n.º3, alínea c) CPC.
Mas, por outro lado, é uma ação executiva em sentido próprio pois a própria sentença é
adequada a produzir a satisfação final do crédito do promitente fiel. A causa de pedir da
execução específica é o contrato e o pedido é um efeito jurídico que consubstancia o
exercício de um poder potestativo substantivo incorporado no direito de crédito e cujo objeto
– o suprimento da declaração negocial omissa – é uma providência adequada à realização
coativa de um direito/poder a uma prestação.
O processo executivo é um processo judicial, pelo que estará sujeito aos princípios do processo civil.
PRINCIPIOS ESTRUTURANTES:
- Princípio da publicidade dos atos processuais – não há atos processuais secretos. Art.º 163º e 712º
PRINCIPIOS INSTRUMENTAIS:
-Princípios dispositivo – processo que se encontra na disponibilidade das partes – art.º 724º
Além disso, as partes não podem apresentar títulos executivos que não sejam os previstos no artigo
703.º CPC ou com menos requisitos que os exigidos.
Todavia, há vários atos do agente de execução que, por serem, discricionários, trazem alguma
flexibilidade ao sistema executivo.
- Principio da Formalização - A ação executiva é uma ação cuja viabilidade depende de um documento: o
título executivo (art. 10º CPC).
- Principio da Patrimonialidade - (arts. 817º, 827º, 828º e 829º CC) – Os atos executivos têm por objeto
direitos patrimoniais (situações jurídicas ativas integrantes do património do devedor, coisas corpóreas ou
prestações de facto) e não direitos de personalidade. O que prevalece é sempre a dignidade do executado;
o agente de execução não pode nunca tocar no executado (não lhe pode tirar o casaco, o fio de ouro, etc.).
Para RP existem ainda algumas características da ação executiva, que alguns autores denominam de
princípios:
ii. Coação – os atos executivos são atos de ius imperii, de exercício de poderes de autoridade
do Estado sobre o cidadão/executado, praticados mesmo contra a vontade do executado. É
um traço comum a várias normas, mas não é um princípio: o seu caráter gravoso e de ius
imperii não permite expansões normativas para além das soluções positivadas.
Existe um objeto:
i) Imediato – realização coativa da prestação devida. - pedido deduzido na ação executiva (artigo 724.º,
n.º1, alínea f)
ii) Mediato – objeto/bem da prestação jurídica devida, realizada coativamente = consiste na realização de
atos materiais de ingerência na esfera patrimonial do devedor, destinados a produzir os mesmos efeitos
jurídicos e económicos que adviriam da realização voluntária da prestação. É O OBJETO MEDIATO
QUE PERMITE DISTINGUIR AS ESPECIES DE PEDIDO
NOTA 1: nem sempre se dá essa coincidência entre o objeto pretendido e o objeto mediato da execução.
Verificada a impossibilidade legal ou prática de obtenção da mesma vantagem que adviria do
cumprimento espontâneo do devedor pode o credor pretender um efeito jurídico sucedâneo, enquanto
objeto imediato. temos então um pedido de cumprimento por equivalente.
NOTA 2: Assim, a ação para pagamento de quantia certa tem por objeto quantias pecuniárias, mas nem
sempre é óbvio. A ação executiva de pagamento de quantia certa funciona para as obrigações pecuniárias
de quantidade e em moeda com curso legal no país.
Por exemplo, se o que resultava do contrato era o pagamento em dólares, isso não é uma
execução para pagamento de quantia certa. Nesse caso, o exequente pode escolher que seja pago
em euros ou em dólares; se escolher dólares, a ação já não será apenas de pagamento de quantia
certa, mas também de entrega de coisa certa (os dólares).
TE encerra uma obrigação de pagamento de uma quantia pecuniária (art. 550º e ss. CC)
As outras figuras de execução podem convolar-se em ação para pagamento de quantia certa –
arts. 867º e 869º
Esta modalidade de execução tem como objeto mediato as prestações pecuniárias dos arts. 550º e ss.
CC, embora não completamente:
- A obrigação em moeda estrangeira já será uma obrigação alternativa (art. 558º/1 CC), começando por
ser executada a obrigação primária (em moeda estrangeira). Mas como esta não tem curso legal no
território nacional tem que haver execução específica dessa moeda estrangeira em execução para entrega
de coisa certa.
- Tratando-se de obrigação de moeda específica (art.º 552º CC) deve distinguir-se se o dever se
comprometeu i. a pagar em moeda metálica (clausula ouro-efetivo) ou em valor dessa moeda (caso de
obrigação e ouro-valor) com duas variantes
Em ii) o devedor cumpre entregando a quantidade de moeda específica ou de certo metal correspondente
a um quantitativo em moeda corrente; a execução será para entrega de coisa certa (a moeda específica)
– ex: o devedor obrigou-se a entregar 10.000 euros em libras de ouro ou em moedas de 2 euros.
Exequente é titular da prestação de uma coisa determinada e pretende que o tribunal apreenda
essa coisa ao executado e seguidamente lha entregue. Se não se encontrar a coisa, procede-se à
liquidação do seu valor
Neste regime não existe penhora. A coisa certa é sempre diferente de dinheiro.
O efeito jurídico pretendido não é um efeito translativo da propriedade (esses são casos de ações
de execução específica do art. 830º CC) Falamos assim numa patrimonialidade da execução
em sentido amplo, destinada, a fazer valer direitos que conferem posse ou detenção; esses
direitos são, a maior parte das vezes, direitos reais.
III) Prestação de facto (arts. 868º a 877º CPC e 828º e 829º CC):
Exequente requere que o facto seja prestado pelo executado ou à custa deste (se for fungível).
Quando TE encerra uma obrigação de prestação de facto positivo (art. 828º CC) ou negativo (art.
829º CC).
Neste regime não existe apreensão nem entrega, pretende-se apenas que o executado realize a
prestação.
A coisa já não é o centro da execução, mas sim uma organização de meios por parte do devedor
que o concurso da sua própria vontade pode gerar.
A possibilidade de concretização do objeto devido está dependente dos limites da própria realização não
voluntária de uma prestação alheia.
Assim, nem sempre se dá a coincidência entre o objeto devido da prestação e o objeto efetivo da
execução.
Podem ser executadas especificamente as prestações cujo objeto é indiferente ao incumprimento: art.º
827º + 828º + 829º
Obtém-se aquilo a que o credor tem direito. Visa-se a realização da prestação não cumprida.
Quando não exista coincidência, trata-se de execução não específica ou por equivalente, caso
em que, dado o princípio da patrimonialidade da execução, o objeto será uma quantia certa,
substitutiva da prestação não realizada = ou seja um sucedâneo
As prestações cujo objeto não é indiferente ao incumprimento apenas podem ser executadas não
especificamente:
A prestação de facto infungível, quando o devedor não realize a prestação em mora - todavia,
deve excecionar-se a ação de execução específica de contrato promessa (art. 830º CC) em
que o resultado é, justamente, o cumprimento forçado de uma prestação infungível.
A prestação de facto negativo não represtinável.
Estas prestações estão sujeitas à pessoa que as realiza (apenas pode ser o devedor), ou à definitividade
dos efeitos do incumprimento, respetivamente.
Para MTS, trata-se de uma execução não específica “porque esta prestação pode ser cumprida
com qualquer moeda com curso legal, retirada do património do devedor ou obtida através da
alienação desse património ou de uma parcela dele”. No mesmo sentido segue REMÉDIO
MARQUES.
Já LEBRE DE FREITAS entende que se trata de uma forma de execução específica indireta,
porquanto antes do pagamento efetivo tem de ocorrer uma apreensão e uma venda de bens
Para RP, o caráter fungível das obrigações pecuniárias dos arts. 550º e ss. CC não permite, sem
mais, que se afirme um caráter não específico da execução, pois o exequente tem direito a
deduzir um pedido com essas qualidades materiais (art. 20º/1 CRP): a entrega em quantia em que
se consubstancia o pagamento – logo, a satisfação do crédito.
Esse pagamento tanto pode ser por entrega de dinheiro em espécie, consignação de rendimentos ou por
entrega do produto da venda (arts. 795º/1, 798º e 803º/1).
No entanto, assim não será se a satisfação for feita por meio de adjudicação dos bens penhorados (arts.
795º/1 e 799º) eventualidade em que a execução para pagamento de quantia certa não é específica, já
que a extinção da obrigação não decorre do cumprimento (arts. 762º e ss. CC), mas de uma dação, em
cumprimento ou pro solvendo, consoante as situações, próxima da prevista nos arts. 837º e ss. CC.
⭐ CAUSA DE PEDIR:
A causa de pedir é o facto jurídico concreto, simples ou complexo, de que decorre o efeito jurídico
pretendido pelo autor, i.e., os factos jurídicos constitutivos do efeito jurídico pretendido.
Ou seja, a causa de pedir é, por exemplo, a celebração do contrato (e não o contrato em si), pois
é da celebração do contrato que resulta a posição do credor.
DIVERGENCIA DOUTRINÁRIA:
Já RP entende que os factos complementares também integram a causa de pedir, daí que entenda
que a causa de pedir são os factos jurídicos de um direito ou de um poder a uma prestação
exigível.
A causa de pedir não é a obrigação em si mesma, mas o correlativo facto aquisitivo do direito ou poder à
prestação, seja ele um direito de crédito, um direito real ou um direito pessoal – por exemplo, o contrato,
os pressupostos da responsabilidade civil, a ingerência no exercício de direito de propriedade.
i. Na opinião de RP, o incumprimento, o que é bastante discutível. O executado (credor) é que tem de
provar o cumprimento, não sendo o exequente (devedor) que tem de provar o incumprimento.
ii. O título executivo – é o documento que demonstra, certifica, comprova a causa de pedir, mas não
prova.
Qual é a causa de pedir de um título de crédito? Na perspetiva de RP, a causa de pedir é a própria
emissão do título de crédito.
Em suma, para RP, a lei exige que o credor demonstre por meio do título a existência da obrigação
(reconhecida ou constituída pelo título), nos termos do art. 703º, e que a obrigação é exigível, conforme o
art. 713º, mesmo que não o seja em face do título.
⭐ TRIBUNAL
Ao juiz cabe a prática dos atos processuais sujeitos ao princípio da reserva de juiz ou que possam
eventualmente colidir com Direitos Fundamentais das partes ou de terceiros.
Tribunais com competência exclusiva para as execuções: os juízos de execução. Art. 129º LOSJ
⇒ Competência funcional: Na versão do art. 809º/1 vigente até 2009, o juiz tinha um poder
discricionário de verificação e intervenção na execução – o poder geral de controlo do processo. O juiz
podia, avocar o processo e verificar da legalidade dos atos processuais do solicitador de execução.
O juiz não pode destituir o agente de execução (art. 720º/4 e 723º/1 a contrario), sem prejuízo de poder
notificar a OSAE da ocorrência de uma ilegalidade.
A melhor forma de o juiz controlar o juiz de execução é através das partes, nomeadamente, através de
reclamação dos atos de agente de execução e impugnação das suas decisões. Do art. 723º CPC (que deve
ser interpretado à luz do art. 223º CRP) decorre que o juiz tem uma competência restrita, residual e
tipificada, i.e., determinada pela lei. Qualquer ato praticado fora das suas competências é um ato nulo. Por
contraste, o agente de execução tem uma competência ampla e não tipificada, correspondente a um poder
geral de direção do processo (art. 719º
⭐ SECRETARIA (JUDICIAL)
Suporte – CITIUS. Esta plataforma está regulada nas Portarias n.ºs 282/2013 e 280/2013. +
SISAAE
Publicidade restrita (registo informático de execuções) – está previsto nos arts. 717º e 718º e no
DL n.º 201/2003. Tem como objetivos a criação de mecanismos expeditos para conferir eficácia
à penhora e à liquidação de bens
⇒ Publicidade aberta: a lista pública de execuções, disponível por via eletrónica, publicitando as
execuções que se tenham extinguido por não se encontrarem bens penhoráveis para pagamento total ou
parcial da dívida (art. 16º-A do DL 201/2003);
Há uma contração de um bem de personalidade – bom nome. Isto é razoável? Releva se a pessoa teve
culpa? Pela letra da lei, não (porque não faz esta distinção).
O interesse do tráfego jurídico em geral, e do credor em especial, prevalece sobre o direito do devedor ao
desconhecimento por terceiro das suas dívidas.
Houve aqui uma viragem no paradigma social e jurídico: ser devedor sem património passa a apresentar
um grande desvalor jurídico.
⭐ AGENTE DE EXECUÇÃO
O agente de execução é uma entidade privada que realiza atos administrativos executivos da função
jurisdicional.
O agente de execução não é mandatário do exequente, apesar de ser nomeado pelo mesmo
O art. 162º EOSAE define de modo inédito o agente de execução como o “auxiliar de justiça que, na
prossecução do interesse público, exerce poderes de autoridade pública no cumprimento das diligências
que realiza nos processos de execução, nas notificações, nas citações, nas apreensões, nas vendas e nas
publicações no âmbito de processos judiciais, ou em atos de natureza similar que, ainda que não tenham
natureza judicial, a estes podem ser equiparados ou ser dos mesmos instrutórios”.
⇒ Honorários e despesas:
Responsabilidade pelo pagamento: O regime está previsto na Portaria n.º 282/2013 + art.º 721º
Valor: Nos termos dos arts. 43º a 55º Portaria, o agente de execução tem direito a receber remuneração
pelos seus serviços.
Quem suporta os custos é o exequente Mas o exequente pode pedir reembolso ao executado –
faz parte das custas de parte que o executado tem de pagar (art. 533º/2/c)
Honorários devidos ao agente de execução e o reembolso das despesas por ele efetuadas estão a
cargo do exequente (art. 721º), podendo este depois reclamar o seu reembolso ao executado
cláusula geral do que constitui uma infração disciplinar no art. 180º EOSAE.
Designação: Por regra, o agente de execução é designado pelo exequente no próprio requerimento
executivo, de entre os agentes de execução inscritos ou registados em qualquer comarca constantes de
uma lista oficial 720º/1 CPC Não havendo agente de execução inscrito ou registado na comarca
art. 722º/1 c) Se o exequente não indicar agente de execução, nem requere oficial de justiça art.
720º/2 e 3.
⇒ Competências:
O art. 162º/1 da Lei n.º 154/2015 define o agente de execução como auxiliar de justiça, que exerce
poderes de autoridade pública.
Ao mesmo tempo, o agente de execução não é um funcionário do Estado; é um profissional liberal. Não
há relação laboral ou hierárquica do agente perante o Estado, maxime, perante o juiz.
Tudo visto, o agente de execução é uma entidade de natureza administrativa (entende assim RP).
Primeiro porque não exerce deveres de jurisdição – de dirimir conflitos. Segundo porque pratica atos
materiais de um direito já declarado.
A consagração doutrinal e legal de que o agente de execução não é mandatário do exequente tem
consequências teóricas e práticas de relevo:
2) Negada a “relação” de mandato com o exequente, sobressai a sua natureza de auxiliar de justiça que na
prossecução do interesse público exerce poderes de autoridade pública. Portanto, o agente de execução
exerce poderes do Estado, ou seja, atua por conta e em nome do Estado – o agente de execução integra a
administração da justiça.
3) O Estado pode ser responsabilizado pelos atos do agente de execução (art. 12º Lei n.º 67/2007).
Porém, o exequente também pode ser responsabilizado por culpa in elegendo – por exemplo, se um
agente de execução causar dano ao executado por atos que integram um padrão de comportamento
reiterado e que era objeto de processos disciplinares já pendentes à data da escolha do agente, o Estado
pode responder nos termos da responsabilidade civil extracontratual e o credor também por não poder
ignorar aqueles.
LF entende que a existência do agente de execução não retira a natureza jurisdicional ao processo
executivo, mas tão só a sua larga desjudicialização e também a diminuição dos atos praticados pela
secretaria. Se o processo executivo apresentasse natureza administrativa então correria sem um juiz da
causa e os atos executivos seriam realizados sempre fora de um processo judicial.
MTS sustenta que a atividade de execução, no sentido de atividade de penhora, apreensão e venda de
bens, não é uma atividade jurisdicional e, por isso, pode ser realizada por órgãos não jurisdicionais (como
é o caso do agente de execução).
RP distingue os planos orgânico e material:
a. No plano formal ou orgânico o processo executivo é um processo judicial, pois está distribuído a um
tribunal, apesar de o agente de execução ter a sua direção. Daí a sua qualificação legal como “ação” no
art. 10º/1 e 4. Por contraste, o PEPEX é extrajudicial, pois é atribuído somente ao agente de execução.
⇒ Meios de impugnação:
Sendo atos processuais, os atos do agente de execução estão sujeitos às regras gerais das nulidades, por
erro de procedimento.
valem os regimes das nulidades primárias, sendo o caso – por exemplo, a falta ou nulidade de
citação seguem os arts. 188º e ss.;
em qualquer outro caso, os regimes das nulidades secundárias, dos arts. 195º e ss.
As nulidades processuais dos atos do agente de execução são objeto do regime comum de arguição,
conhecimento, efeitos e sanação de nulidades (arts. 189º, 191º, 192º e 196º a 202º).
No entanto, há que ter em consideração que os atos de penhora do agente de execução conhecem
meios próprios de impugnação: a oposição à penhora (art. 784º), o protesto do ato de penhora
(art. 764º/2), os embargos de terceiro (art. 342º), entre outros meios.
O seu fundamento específico é a ilegalidade objetiva ou subjetiva da penhora, o que está fora do
âmbito do art. 195º.
No caso especial das decisões do agente de execução, elas podem ser nulas (art. 615º/1), carentes de
reforma ou de retificação de erros materiais, como sucede com um despacho de um juiz (arts. 614º e
616º/1).
Art. 723º/1 c) prevê, dois distintos meios de defesa contra os atos do agente de execução: i) a
reclamação e ii) impugnação ambos pedidos de impugnatórios
reclamação = tem por objeto todos os restantes atos, executivos e não executivos.
Apesar de não haver diferenças no procedimento entre a reclamação stricto sensu e a impugnação, há
algumas diferenças no objeto, seja nos fundamentos seja no pedido.
Pedido da reclamação:
Decorre da al.c) do 723º/1 que o objeto desta reclamação são atos processuais, tanto decisórios como não
decisórios.
As omissões de atos e despachos devem ser relevadas em sede de nulidades inominadas nas
condições e regime dos arts. 195º e ss
LF: entende que se o agente de execução não praticar os atos em prazo, cabe reclamação
RP discorda: o que está aqui subjacente é um problema comum às nulidades inominadas – quando se
considera que o ato não foi praticado e quando se considera que está em “mora processual”?
No plano teórico, no caso de mora, não há cumprimento dos prazos processuais por parte do
Estado-juiz ou do Estado-agente de execução, mas é ainda processualmente possível a prática do
ato; ainda não há omissão, mas há uma inação processual. Ou seja, há uma ausência de
procedimento, mas não há um erro de procedimento.
o Se for esgotado o prazo para o ato devido (art. 720º/7) e o agente realizar os atos
processuais que se lhe seguem na tramitação, estamos perante uma omissão de ato
processual. Não cabe reclamação, mas nulidade nos termos dos arts. 188º ou 195º e ss..
Assim, RP entende que, dado ainda não existir uma clara ilegalidade, a “mora processual” deve ser
levada ao juiz como “questão” ao abrigo da al. d).
A reclamação tem como fundamento a ilegalidade processual ou material do ato ou despacho do agente
de execução; no caso de despacho, soma-se um outro fundamento: erro de julgamento de factos
processualmente relevantes. Trata-se de uma causa de pedir impugnatória:
Essa causa de pedir é comum a outros meios impugnatórios, pelo que poderia, em abstrato,
ocorrer um concurso de meios de defesa de um mesmo ato processual. O legislador não
clarificou como resolver o problema, cabendo a interpretação ao interprete.
Deve concluir-se que a reclamação de ato do agente de execução não pode ser deduzida
quando a lei preveja um meio processual mais adequado ao fundamento invocado pelo
interessado; ou seja, prevalece o meio processual de âmbito especial.
Pressupostos processuais:
Apresentam legitimidade para reclamar os sujeitos direta e efetivamente afetados pelo ato, seja parte,
interveniente ou mesmo terceiro, por força das regras gerais de legitimidade dos arts. 631º/2 e 30º/1.
Nos casos dos despachos sobre requerimento de parte tem legitimidade quem viu o pedido ser julgado
improcedente.
Procedimento da Reclamação:
Embora não formalmente assumido, a reclamação em estudo estrutura-se como um incidente, já que
vai terminar numa decisão judicial sobre uma questão jurídica, material ou processual.
Podem assim aplicar-se-lhe por analogia as normas gerais dos arts. 293º e ss. no que forem
compatíveis com a ratio da al. c) do n.º 1 do art. 723º.
O procedimento começará sempre a requerimento do interessado: o tribunal não poderá conhecer
dos vícios em questão senão a pedido das partes.
O requerimento de reclamação deve ser deduzido no prazo regra de 10 dias (art. 149º) a
contar da notificação do ato ou do seu conhecimento, se este ocorreu primeiro.
Na ausência de previsão legal, a reclamação não tem efeito suspensivo, prosseguindo a marcha
do processo, daí que o juiz disponha de um curto prazo para decidir.
Todo o processo correrá de modo contraditório, devendo ser ouvida a parte contrária (art.
3º/3), dado que os efeitos jurídicos do ato ou despacho também lhe dizem respeito.
O juiz fará o julgamento das reclamações de atos do agente de execução no prazo de 10 dias.
O uso da reclamação fora do seu âmbito deve redundar em absolvição da instância por falta de
pressuposto processual inominado de não concurso com outros meios, i.e., falta o interesse
processual para aquele meio.
Não cabe recurso da decisão do juiz sobre a reclamação ou impugnação . Trata-se de uma
expressa exceção ao art. 627º/1, prevista na al. c) do n.º 1 do art. 723º.
No entanto, o art. 853º/2 b) prevê que cabe recurso de apelação da decisão do juiz que determine
a suspensão, a extinção ou a anulação da execução. Aparentemente impõe-se uma interpretação
restritiva: a regra não se aplica aos despachos que, com esse teor, o juiz profira em sede da al. c)
do n.º 1 do art. 723º.
No entanto, como qualquer outro despacho judicial, pode ser objeto de retificação de erro material, de
suprimento de nulidades e de reforma (art. 613º/2 e 3).
CONDIÇÕES DE AÇÃO
Para além dos pressupostos processuais, a ação executiva tem duas condições de ação ou de procedência
de pedido: “ o juiz questiona se a execução apresenta as condições suficientes para a realização coativa da
prestação”
1) EXEQUIBILIDADE EXTRÍNSECA:
Obrigação (da qual decorre a pretensão) tem de constar de documento que corporize o próprio
dever de prestação de um TE, doc que formaliza, por disposição da lei, a faculdade de
realização coativa da prestação não cumprida (art. 10º) - constam do art.º 703º!!!
Toda a execução tem por base um título, pelo qual se determinam o fim e os limites da ação
executiva (artigo 10.º/5 do CPC).
CONSEQUENCIAS DA SUA FALTA:
o Impede a execução: artigos 724.º/1/h), 725.º/1/a) e c), 726.º/2/c), 729.º/e), 734.º/1 e 855.º/2/a);
⭐ TÍTULO EXECUTIVO:
O ponto de partida é o art. 10º/5, que exige um título executivo para a ação executiva.
Atenção para não dizer que o título é causa de pedir, porque não é! O título demonstra a causa de
pedir, mas não é a causa de pedir. Não prova a causa de pedir, apenas comprova.
o não pode haver prova da dívida na ação executiva; esta não serve para provar a dívida.
A dívida tem de chegar completa à execução completa.
Mas note-se que podemos ter um título sem causa de pedir e causa de pedir sem título.
1ª Função de representação (e não prova) dos factos principais da causa de pedir. Função que resulta
da verificação dos requisitos descritos no art. 703º
E quais são os factos jurídicos representados pelo título executivo: são os factos principais
apenas ou também os complementares?
Para RP, o título executivo não tem de demonstrar uma obrigação exigível = ou seja, os factos
complementares não têm de constar do título, devendo antes ser demonstrados no início da execução.
ii) Se forem obrigações abstratas (como as obrigações cambiárias ou as que forem objeto de declaração
unilateral do devedor de promessa de uma prestação ou de reconhecimento de dívida, nos termos do art.
458º/1 CC):
MTS defende que o respetivo credor está dispensado da alegação da causa, bastando que
apresente o próprio título executivo (ex: cheque), mesmo que nele não esteja enunciada a causa e
independentemente de objeções, invalidades ou exceções;
LEBRE DE FREITAS, a propósito do art. 458º/1 CC, entende que se o credor quiser prevenir a
invocação da prescrição da dívida pelo executado na oposição à execução, deverá alegar a causa,
mas não proceder à sua prova, dado que aquele artigo contém uma dispensa de ónus de prova;
RP sustenta que ambos os anteriores autores têm razão em áreas diferentes do tema:
a) No reconhecimento de dívida do art. 458º/1 CC, título recognitivo privado por excelência, decorre do
preceito que o credor fica dispensado de provar a relação fundamental, cuja existência se presume até
prova em contrário
b) No entanto, a obrigação exequenda respetiva não deixa de ter uma causa, material e processualmente
relevante: estar-se-á perante uma inversão do ónus de prova (como dizem PL/AV), pois cabe ao devedor
alegar e provar, na oposição à execução, a falta de causa da relação fundamental: a inexistência, a
nulidade ou a anulabilidade do nj donde procede a dívida ou a que a prestação se reporta, bem como a
própria exceção de contrato não cumprido, o direito de resolução.
c) Mas o credor que beneficia de um reconhecimento de dívida, se tem a sua favor a inversão do
ónus da prova da causa de pedir, não fica dispensado de a indicar, caso o título não a contenha
(art. 724º/1 e)).
2ª Função delimitadora: enunciada no art. 10º/5: é através do título que se determina o objeto (âmbito
objetivo -) e os sujeitos (âmbito subjetivo – legitimidade para ser parte: quem figura no titulo como credor
e devedor ou sucessor – art.º 53º e 54º) da execução; indiretamente determina também os pressupostos
processuais. TE determina fins e limites da AE
3ª Função constitutiva do direito à realização coativa da prestação: como afirma MTS, o título
executivo atribui exequibilidade a uma pretensão, possibilitando que a correspondente prestação seja
realizada através das medidas coativas impostas ao executado pelo tribunal. Falamos aqui em
exequibilidade extrínseca e intrínseca.
Mas não basta que o título demonstre um direito, é necessário ainda que o direito tenha certas
características: tem de ser uma causa de pedir que demonstre uma certa configuração material – que a
prestação seja exigível e determinada.
Na ação executiva o juiz questiona “a execução apresenta as condições suficientes para a realização
coativa da prestação?”. Portanto, o tribunal da execução não certifica o direito exequendo, antes o impõe,
porque o título executivo já o certifica.
RP conclui dizendo que as exigências de título executivo e de exigibilidade e determinação da obrigação
constituem requisitos de tipo diferentes dos pp, na medida em que estes são condições de conhecimento
do pedido executivo, respeitantes à relação processual, ao passo que os primeiros respeitam à relação
material e, por isso, determinam se o tribunal pode ou não satisfazer o pedido do credor de realização
coativa da prestação, ou seja, a procedência do pedido executivo.
RP entende que o título executivo e a obrigação com determinadas qualidades não são pressupostos
processuais, e sim condições de ação.
1. Tipicidade – só são títulos executivos os documentos que a lei expressamente enuncie como tal, pelo
que, não há títulos executivos implícitos, nem por analogia nem por interpretações extensivas.
O rol de títulos executivos constante do art. 703º/1 é completado pelos arts. 704º a 708º, além
de legislação avulsa – trata-se de um rol taxativo.
a. Suficiência – o título cumpre todas as suas funções sem necessidade de documentos complementares;
mas isto admite exceções, como é o caso do art. 707º, daí que se fale numa suficiência possível ou
tendencial.
Se a obrigação exequenda não for certa, líquida e exigível em face do título , a lei permite diligências
processuais preliminares e complementares de acertamento qualitativo e quantitativo da obrigação e, bem
assim, de demonstração da sua exigibilidade nos arts. 713º e ss..
Isto significa que a vida da obrigação não determina necessariamente a exequibilidade do título.
No entanto, as vicissitudes da obrigação, em certos casos, contaminam o título: se houver uma invalidade
formal, essa vicissitude contamina sempre a obrigação, o contrato e o título.
O art. 703º pressupõe que os documentos são formalmente válidos.- sob pena de invalidade formal
Nesse caso, a execução deve ser rejeitada por inexigibilidade ou inexistência da obrigação, consoante o
fundamento (arts. 726º/2 c), 729º/e) e 734º/1, entre outros).
Judicial vs extrajudicial – esta distinção utiliza a sentença como referência, sendo esta o título
judicial e todos os demais títulos extrajudiciais.
Públicos vs privados – em razão da entidade autora do efeito jurídico. Nos títulos executivos
privados temos títulos executivos autênticos e particulares; nos títulos executivos públicos temos
títulos executivos de formação judicial, títulos executivos injuntórios e títulos executivos
administrativos.
Típicos vs atípicos/avulsos (art. 703º) – os títulos típicos são os que constam das alíneas do art.
703º. Os títulos avulsos são todos os outros, em que para sabermos o teor destes temos de
consultar, por remissão do art. 703º, outras normas.
Art. 703º/1 a) – as sentenças condenatórias são quaisquer sentenças (e não apenas as proferidas em ações
condenatórias) que, a título único ou cumulado, imponham um comando de atuação ao réu.
Estão, abrangidas:
Exemplo: (i) B é condenado a pagar a A 10.000€ a título de restituição de quantia mutuada, juntamente
com juros remuneratórios e com juros de mora.
Exemplo: E pede a declaração de nulidade do contrato de compra celebrado com F, por coação física, e a
condenação em pagamento de indemnização por danos morais.
Exemplo: G, pai de H, menor, pede a anulação da venda que este fez a I, do automóvel e a
restituição da viatura à sua posse.
Estão normalmente excluídas pela doutrina e jurisprudência:
as sentenças constitutivas porque não carecem de colaboração ulterior do réu quanto ao efeito
que produzem.
No plano da competência, estas sentenças podem provir de todos os tribunais com competência em
Portugal, incluindo dos tribunais arbitrais (arts. 705º/2 e 42º/7 LAV)
o homologatória: esta não decorre de um julgamento (da matéria de facto e de direito); o que
houve foi a homologação de um negócio, como uma transação entre autor e réu ou a confissão
do réu. Decorrem, portanto, de uma adesão a um negócio processual que tenha eficácia
condenatória (confissão ou transação).
No plano da eficácia formal, as providências cautelares que tenham teor condenatório também são
abrangidas nas sentenças condenatórias, pois têm força executiva. Devem caber, assim, na al. a) –
interpretação extensiva)!?
Trata-se aqui de uma verdadeira sentença, embora com um caso julgado material provisório.
o Diferentemente, MTS inclui a decisão cautelar no art. 705º/1 como se fosse uma mera decisão
acessória da questão de mérito, com fundamento processual, como sucede com a condenação de
custas, multa ou indemnização.
Discute-se se podem executar obrigações que, embora para elas o autor não tenha pedido condenação no
cumprimento e sobre as quais não houve pronúncia judicial expressa, se teriam constituído na esfera
jurídica do réu como resultado da procedência do pedido declarativo.
Concretização:
Inclusão na noção de sentença condenatória, sentenças constitutivas (das quais não depende a ulterior
ação do réu) e/ou sentenças de simples apreciação (das quais não resulta qualquer comando de ação)
DOUTRINA:
I.ALBERTO DOS REIS E LOPES CARDOSO - A noção de sentenças condenatórias pretende incluir
todas as sentenças em que o juiz expressa ou tacitamente impõe a alguém determinada responsabilidade.
II.ANSELMO CASTRO - Entendia que apenas estariam excluídas da força executiva as sentenças
proferidas em ação de mera apreciação, ou seja, teriam ainda força executiva certas sentenças
constitutivas típicas
III. MTS - entende que pode haver sentenças de simples apreciação ou constitutivas que contenham, de
forma implícita, a condenação num dever de cumprimento, podendo nesse caso servir de título executivo.
Condição: só vale quando o pedido não tenha utilidade económica distinta, ou seja, se tiver lugar a sua
dedução em ação declarativa, estar-se-á perante cumulação aparente. A grande vantagem desta tese é a
economia processual.
- Ação de Nulidade de Contrato: quando houve pedido de restituição da prestação, poderia executar o
direito à entrega da coisa;
- Ação de Preferência: também vale como título para a execução de entrega da coisa;
- Sentença de Nulidade de Despedimento: também vale como título para a execução de prestações
salariais vencidas até à sentença;
IV.LEBRE DE FREITAS - a formulação desta teoria é duvidosa, no entanto, admite ser configurável,
desde que se tenha também por deduzido um pedido implícito. Assim, a teoria é aceitável quando pela
sentença haja sido constituída uma obrigação cuja existência não dependa de qualquer outro pressuposto.
Não vale, no entanto, por força do princípio do dispositivo, para as ações de simples apreciação.
V. Para RP, a resposta à questão de saber se uma sentença, ainda que não condenatória, pode servir de
título executivo de obrigações que dela decorram implicitamente, é a seguinte:
Importa relembrar que o pedido de condenação deve ser expresso, pois que o tribunal não conhece senão
o que o autor pedir (artigo 609.º/1).
Das sentenças de ações reais não decorre a constituição de obrigações, mas apenas a constituição
ou o reconhecimento de outros direitos. Delas retiram-se efeitos reais, mas não obrigações
concretas, que justifiquem a existência de título executivo.
Nas restantes sentenças, não é correto falar em sentença de condenação implícita o que é
correto afirmar é que delas resulta um efeito constitutivo não expresso, derivado da procedência
do pedido constitutivo/de simples apreciação.
Ou seja, delas resultam obrigações ex lege – obrigações expressamente previstas na lei, tipificadas para
aquelas situações jurídicas. A doutrina retira deste efeito constitutivo implícita um efeito
condenatório, o que não é de admitir, porque:
(1) Nenhuma vontade processual pode ser assacada ao tribunal, presumida ou tácita, de imposição de um
comando de atuação;
(2) A lei apenas tomou posição quanto aos juros de mora legais (artigo 703.º/2). Logo, a lei não admite a
teoria das condições implícitas.
(4) Princípio do contraditório (direito de defesa) – está em causa uma limitação inconstitucional ao
contraditório, porquanto se admitem condenações sem direito de resposta; o devedor apenas se poderá
defender na oposição à execução (por exemplo, poderá deixar de opor o direito de retenção ou a
compensação).
a. Acresce a circunstância de a execução, em regra, seguir a forma sumária: logo, primeiro é feita a
penhora e só depois a citação, o que evidencia a desproporção desta solução.
(5) Está a admitir-se um alargamento da admissibilidade das condenações futuras (artigo 552.º do CPC),
que é uma regra excecional.
Em suma, é de rejeitar esta tese; o que significa, em última instância, a necessidade de recorrer,
novamente, à ação declarativa.
Assim, as condenações implícitas são, afinal, efeitos constitutivos implícitos, pelo que as respetivas
sentenças não têm força executiva em face dos requisitos impostos pelo n.º 1 al. a) do art. 703º.
RP diz que depende: a haver, seria no puro domínio de uma interpretação favor creditoris. Ora,
não podemos esquecer que não pode haver sentença sobre pedidos não formulados: art.º 5º/3
consagra principio iura novit curia
Art. 609º/1 Um tribunal que, sem que lhe seja pedido, condene no cumprimento das obrigações
derivadas ex lege da procedência do pedido formulado, está a incorrer em nulidade (art. 615º/1 e)). E
incorre ainda em nulidade geral (art. 195º/1), por estar a prolatar uma decisão surpresa (art. 3º/3), já que
o réu não pôde pronunciar-se sobre a não alegada pretensão condenatória do autor.
Ou seja, a admitir-se estas condenações implícitas, haverá uma diminuição do contraditório: o direito
de defesa do executado é diminuído, porque ele não se pôde defender na ação declarativa, só se podendo
defender a posteriori na oposição à execução, depois de ter sido executado.
Depende: é justo que o credor prevaleça aqui sobre o devedor? RP entende que não: o devedor tem direito
a defender-se na ação executiva, devendo prevalecer este direito de defesa, que não deve estar nas mãos
do credor.
O credor apenas pode deduzir pedidos de condenação in futurum nos casos previstos no art. 557º CPC.
Assim, quando admitimos a condenação implícita, estamos a defraudar o art. 557º.
RP conclui assim que, a admitir-se a condenação implícita, o autor tem um ganho que nunca pediu, o juiz
é cercado numa condenação que nunca enunciou e o réu só se poderá defender mais tarde.
⭐ Sentença Condenatória
Questão: pode a própria sentença ter por objeto o reconhecimento de certo direito a uma prestação?
Ora, dir-se-ia ser funcionalmente incoerente que o reconhecimento de dívida constante de documento
privado possa ter força executiva (art. 703º/1 b)) e que, ao contrário, um reconhecimento judicial dessa
mesma dívida, por não ser condenatório, não possa ter força executiva. Existe aqui uma clara diferença:
O pedido de condenação tem por causa de pedir a aquisição do direito a prestação exigível , supondo o
incumprimento e visa, como efeito prático, a possibilidade de cumprimento forçado da obrigação.
b. Por contraste, o pedido de simples apreciação positiva do crédito tem por causa de pedir não só a
aquisição do direito – maxime, no contrato – mas também a incerteza grave e objetiva – e visa,
como efeito prático, repor os limites entre esferas jurídicas, mediante a certificação da existência
do direito.
Existem, porém, exceções: as certidões extraídas de inventários valem como título executivo, desde que
contenham os elementos previstos no art. 20º da Lei n.º 23/2013 de 5 de março.
Mas note-se que o título executivo não é a certidão, mas a própria decisão do notário de partilha
judicialmente homologada.
⭐ Execução Provisória
Como uma sentença é um título jurídico, só produz a sua eficácia quando transita em julgado, ou seja,
quando já não admite recurso ordinário ou reclamação (art. 628º).
Exequibilidade que visa proteger os interesses do credor (que não tem de aguardar pelo trânsito em
julgado da decisão para iniciar a execução) e pretende evitar a interposição de um recurso pelo
demandado com a única finalidade de obviar à execução da decisão que o condenou a cumprir uma
obrigação
Uma sentença que ainda não transitou em julgado tem força executiva?
Não, como dispõe o art. 704º. No entanto, a lei faz uma ressalva, na parte final, caso em que o
valor de exequibilidade é, assim, alcançado mesmo antes do valor de caso julgado
Esta opção legal faz com que o risco da injustiça da decisão de primeira instância seja suportado
pelo devedor, o que aumenta a pressão sobre a qualidade das decisões de primeira instância.
Como é que a lei resolve a segurança?
O próprio recorrente executado pode pedir ao juiz a concessão do efeito suspensivo, alegando e
demonstrando que a imediata execução da sentença lhe causa prejuízo considerável e na medida em que
preste caução (art. 647º/4):
Se este efeito for concedido, a sentença não tem força executiva, pois não transitou em julgado e
por isso não existe título executivo.
Se esse efeito não for concedido, transitando a sentença em julgado e havendo título executivo
(ainda que provisório), a lei diz que o executado pode prestar caução, mas agora já não se põe
em causa a força executiva do título e sim a marcha do processo. Mas a execução suspensa
prosseguirá se o recurso estiver parado durante mais de 30 dias por negligência do devedor em
promover os seus termos (arts. 733º/3 e 650º/3 e 4).
Se não houver dinheiro para prestar caução, a execução vai decorrer até ao fim.
Em qualquer dos casos, se um dos bens penhorados for a casa de morada de família, pode requerer-se que
a execução aguarde pela sentença definitiva (art. 704º/4).
NOTA: o perigo de prejuízo considerável deve ser justificado nos mesmos termos que valem para as
providências cautelares (art. 368º/1) ou para a dispensa de citação prévia (art. 727º/1); ou seja, mediante a
alegação e prova de factos dos quais decorra ser verosímil a ocorrência de prejuízo considerável em
resultado da satisfação por via executiva do aparente crédito do autor.
Mas não basta: o tribunal deverá ainda fazer um balanceamento entre os interesses das partes (art.
368º/2).
Este regime de exequibilidade imediata da sentença pendente de recurso com efeito meramente
devolutivo vale, por maioria ou por identidade de razão, consoante os casos, para todas as situações em
que a sentença exequenda não está estabilizada na sua eficácia:
O regime vale para a execução de sentença que nem sequer admita recurso e esteja a aguardar o
esgotamento do prazo de 10 dias para se reclamar ou requerer reforma (arts. 615º/1 e 3 e 616º/1 e
2);
É ainda uma execução provisória a execução de sentença contra a qual tenha sido apresentado
recurso extraordinário de revisão de sentença, nos termos dos arts. 696º e ss..
Em ambos os casos, o credor pode executar de imediato a sentença, seguindo os regimes de prestação
de caução, proteção do executado, modificabilidade da execução e ineficácia da venda (arts. 704º/2, 4 e 6
e 839º/1 a) e 3).
O art. 47º/3 e 4 LAV/2011 admite ainda que uma sentença arbitral possa ser executada ainda que
tenha sido impugnada mediante pedido de anulação apresentado de acordo com o art. 46º LAV/2011. Esta
impugnação tem efeito meramente devolutivo, mas o impugnante pode requerer que ela tenha efeito
suspensivo da execução, oferecendo-se para prestar caução (arts. 733º/3 e 648º e 650º).
Vantagem da caução – se o executado ganhar o recurso, pode optar entre ficar com o dinheiro
da caução prestada pelo credor, ou pedir que seja sem efeito a venda dos bens (art. 839º). A ideia
é a de que ninguém obtém uma vantagem sem prestar caução.
Sendo certo que todas as providências cautelares têm efeitos constitutivos, algumas delas
impõem deveres de prestar aos requeridos, que são dotados de exequibilidade.
O regime do art. 704º deve vigorar para a caducidade de uma providência cautelar por sentença
posterior desconforme (art. 373º/1 c)), por ser o mais adequado para lidar com os efeitos
negativos que o requerido sofreu na execução da providência – art. 704º/2, 3, 4 e 5.
Por fim, ficam sujeitas ao art. 704º as execuções de sentenças e transações judiciais estrangeiras que
estejam pendentes de recurso no seu ordenamento de origem.
No entanto, existindo regulamentos e convenções da UE, estes prevalecem – destaque para os arts. 44º e
51º/1 do Reg. 1215/2012.
Se a sentença vier a ser revogada, total ou parcialmente, pelo recurso, dois cenários são possíveis:
No plano formal, cabem tanto (i) as escrituras e testamentos públicos, como (ii) os testamentos cerrados
(art. 2206º/1 e 4 CC), no seu original ou na sua certidão ou fotocópia autêntica (arts. 383º, 384º, 386º e
387º CC).
No plano material, tanto poder ser (i) um título constitutivo, como o contrato de mútuo de valor
superior a 25.000€ (art. 1143º CC), contrato de compra e venda de coisa imóvel (art. 875º CC), como (ii)
um título recognitivo da obrigação, como a confissão do ato ou facto que constituiu a dívida (arts. 352º,
358º/2 e 364º CC), ou reconhecimento de dívida (art. 458º CC).
1.Requisito formal: O que é importante é que cumpram os requisitos formais do art. 703º/1 b).
3.Requisito material: É necessário que estes documentos importem a constituição de uma obrigação ou
que reconheçam uma obrigação – documentos constitutivos ou recognitivos de uma obrigação:
i) Um título executivo recognitivo apenas serve para executar as obrigações que reconhece.
ii) Um título executivo constitutivo tem força executiva de todas as obrigações que enuncia
expressamente, bem como de todas as obrigações do tipo legal não enunciadas.
Por exemplo, para executar a prestação de entrega do imóvel vendido é suficiente o respetivo contrato de
compra e venda, que tem por efeito a constituição dessa obrigação ex vi art. 879º/b), mesmo que o
contrato não enuncie expressamente essa obrigação;
Diversamente, os documentos da al. b) não podem servir para executar obrigações que nem constituem,
nem reconhecem.
PE: a escritura de divisão amigável de coisa comum (art. 1413º/1 primeira parte CC) e a escritura de
demarcação de propriedades (art. 1353º e ss. CC)
NOTA - A prova da obrigação tanto pode ser feita através do documento original, certidão ou fotocópia
autêntica (art. 383º, 384º, 386º e 387º CC)
Eurico Lopes Cardoso: só a aceitação é que é o título executivo (fazendo uma analogia com o
reconhecimento de dívida)
MTS, RP, LF: testamento é o título executivo e aceitação é condição de exequibilidade (nos termos do
art. 715º, como prova necessária)
O testamento não pode constituir título executivo enquanto nele radica a transmissão dos bens do
testador.
Mas já o será, por nos situarmos então no campo das obrigações, quando o testador nele confessa uma
dívida sua ou constitui uma dívida que impõe a um sucessor.
Em ambos os casos, tem de se verificar a posterior aceitação da herança pelo sucessor, a qual
constitui, no primeiro caso, condição da transmissão da dívida, e, portanto, fundamento da legitimidade
passiva do sucessor para a execução, e, no segundo, condição suspensiva da própria obrigação.
Por isso, a aceitação tem de ser alegada e, peio menos no segundo caso, provada pelo exequente (arts.
54º/1 e 715º/1, respetivamente); mas o título executivo é sempre o testamento e não o ato de aceitação
da herança.
O sucessor tem de aceitar a herança para que se transmita a dívida. Quando se transmite a dívida, o
sucessor é quem passa a titular da mesma, logo torna-se ele próprio devedor. 2050º/1 CC + Só responde
pelas dívidas do falecido a herança (2068º CC) e não os legados + Ao aceitar a dívida, adquire
legitimidade passiva enquanto executado (54º/1 CPC).
Os docs privados tem de se referir a dívidas presentes. Se estes títulos são constitutivos da dívida, eles
próprios criam a dívida – não servem para executar uma dívida posterior à data do título, mas antes
constituem ou reconhecem, só se vencendo no futuro (servem para executar obrigações vincendas, mas
não obrigações constituendas).
O documento particular atualmente não tem força executiva, mas até 2013 tinha O que fazer aos
documentos particulares que tinham força executiva até aí? a alínea c) do artigo 46.º CPC (atual 703.º)
alargava, desde 1997, o leque dos títulos executivos extrajudiciais privados, aos documentos particulares
simples, i.e., aos quais não tenha ocorrido nenhum ato de certificação por uma entidade administrativa.
TRP, 15/9/15, – não considerou inconstitucional retirar força executiva aos documentos
particulares anteriores a 2013.
No domínio do direito processual vigora a regra da aplicação imediata da lei nova, atento o seu carácter
instrumental: não atribui nem retira direitos; destina-se tão só a permitir a realização efetiva do direito
substantivo, regulando os termos em que as pessoas podem fazer valer o direito que a lei substantiva lhes
reconhece.
O artigo 6.º, n.º 3, do diploma preambular, ao estabelecer que o disposto no Código de Processo Civil,
aprovado em anexo à presente lei, relativamente aos títulos executivos, às formas do processo executivo,
ao requerimento executivo e à tramitação da fase introdutória só se aplica às execuções iniciadas após a
sua entrada em vigor, não consagra a retroactividade da lei processual
Acórdão TC 408/2015 – declarou com força obrigatória geral ser inconstitucional retirar força
executiva aos documentos particulares anteriores a 2013
Não sendo convocável a regra de proibição expressa e automática de retroatividade das leis restritivas de
direitos, liberdades e garantias, a situação recai, porém, no campo normativo do princípio da proteção da
confiança dos cidadãos, ínsito no princípio do Estado de Direito.
Efetivamente, a mudança legislativa operada pela norma em análise não afeta os efeitos jurídicos
produzidos sob o domínio do direito anterior, na medida em que não é retirado caráter executivo a títulos
que já tenham produzido a sua eficácia executiva.
As decisões passadas tomadas pelos cidadãos com base num determinado quadro normativo, tiveram as
suas consequências atuais e futuras afetadas negativamente pela presente alteração legislativa.
De facto, o reconhecimento da exequibilidade imediata dos documentos que titulavam os seus créditos é
suscetível de ter tido influência sobre a conduta dos credores.
Nada fazia prever, pela anterior conduta legislativa, que fosse retirada a esses documentos, ex abrupto,
a força executiva.
RP - Considerou-se que era inconstitucional por violação do princípio da segurança jurídica retirar a
força executiva desses documentos. Considerou-se que, para se evitar uma retroatividade imprópria, os
documentos particulares mantinham a sua força executiva.
Um título executivo vale como título executivo, efetivamente, para sempre. Como o título executivo vale
por si próprio, não há nenhuma razão que justifique que perca a sua força executiva. A obrigação é que
só dura até que lhe seja oposta uma causa de extinção. Ou seja, uma coisa é a extinção do título e outra
coisa é a extinção da dívida.
Sendo uma obrigação futura está-se em sede do artigo 707.º CPC e será necessário demonstrar
o facto da constituição da obrigação após a emissão do título executivo, como nele se prescreve;
sendo uma obrigação não vencida, mas constituída ou reconhecida pelo título dado à execução,
regerá, pelo menos no plano literal, o regime de demonstração do vencimento do artigo 715.º
Só nas condições do art. 707º é que os documentos podem servir para executar obrigações futuras
(i.e., que o título não constitui nem reconhece).
Lebre de Freitas, seguido por RP com esta alteração DE 1997 o legislador quis restringir o âmbito do
artigo 707.º CPC apenas aos contratos preparatórios, deixando os contratos de execução continuada
para o artigo 715.º CPC.
Se assim for, então, atualmente cabem, como pugna Lebre de Freitas, os contratos preparatórios ou
promessa de contratos de reais. Mas estes são os contratos promessa de mútuo (abertura de
crédito), de comodato, depósito e locação e de aquisição por editor de obra futura.
1) Juntar o documento que está previsto nas próprias cláusulas do doc. Exequendo
2) Se nada se disser no contrato, pode usar-se como prova complementar um documento revestido de
força executiva própria – isto quer dizer que um título executivo pode ser usado para atribuir força
executiva a outro documento. Ex: extratos conta corrente
Note-se que o título executivo não é o documento complementar, ainda que revestido de força executiva
própria, mas sim o documento exarado ou autenticado.
ii. Obrigações eventuais – as que decorrem de um contrato em que as partes não se obrigaram
no título executivo a celebrar, mas que integra com ele um quadro negocial complexo.
⭐ TÍTULOS DE CRÉDITO (art. 703º/1 c) títulos de créditos, são documentos que incorporam o
próprio direito do exequente. São títulos literais, abstratos e autónomos. A dívida está lá enunciada.
(DOC. QUE INCORPORA UM DIREITO DE CRÉDITO)
Admissibilidade de força executiva, quando o título de crédito não possa servir para a ação
cambiária. Equiparação ao reconhecimento particular de dívida (artigo 458.º do CC).
O exequente tem o ónus de alegação dos factos constitutivos da concreta e determinada relação
causal (artigo 724.º/1/e) e 703.º/c);
Requisito adicional– Rui Pinto: o exequente e executado devem estar no domínio das relações
imediatas;
Requisito adicional – Rui Pinto: o negócio de valuta não pode ser solene;~
O não preenchimento destes dois requisitos determina o indeferimento liminar nos termos do art.º
726/2/al.a) e 855/2/b)
1)Da primeira norma resulta que sempre que a lei material preveja a existência de documentos que
incorporam o próprio crédito, dotados de literalidade, abstração e autonomia, esses documentos têm força
executiva.
Por exemplo, a fotocópia de um cheque não vale – o que vale é o próprio título, pois sem aquele
documento não há título de crédito: os títulos de crédito têm de estar preenchidos de acordo com
os requisitos da respetiva lei substantiva.
Não se pode executar uma letra em branco , pois estando em branco não constitui título de
crédito.
Mas note-se que a letra ou livrança tem força executiva independentemente do seu teor; mas já
não será assim se estiver em branco.
Quanto aos cheques, existem alguns requisitos para que tenham força executiva:
a. Tem de estar devidamente preenchido – tem de estar assinado, ter data e valor.
i. Tem de ser levado a pagamento no prazo de 8 dias a contra da data que está aposta no cheque. ***
Se estes requisitos não forem cumpridos, a doutrina maioritária e a lei entendem que o documento não
vale como título executivo da obrigação cambiária, mas vale como confissão particular de dívida (vale
como título executivo da obrigação subjacente), podendo ser executado enquanto documento particular –
***são os tais quirógrafos
***RP (posição minoritária) após os 8 dias o cheque perde a força de título de crédito, perdendo a
força de título executivo pois prescreve; durante os 6 meses subsequentes vale como mero quirógrafo;
Seria contrário à lógica do cheque este terminar como título de crédito ao fim de um prazo tão apertado de
8 dias. Nos 6 meses seguintes aos 8 dias o continua a valer com força executiva. Prescrito o prazo de 6
meses é que prescreve a obrigação cambiaria e passa a ser mero quirografo.
Jurisprudência maioritária defende que o credor podia executar já não a obrigação cautelar, mas a
obrigação subjacente, fazendo uso do mesmo documento, agora como simples reconhecimento particular
de dívida, nos termos do art. 458º CC.
Na verdade, o artigo 32.º, n.º2 LUC estabelece que o sacado, i.e., a entidade bancária, pode pagá-lo
mesmo depois de findo o prazo. Todavia, o sacador pode revogar unilateralmente o cheque (artigo 32.º,
n.º1 LUC), obstando, licitamente, ao pagamento.
1) Pressuposto formal – têm de estar satisfeitos os requisitos dos outros escritos particulares, ou seja, estar
assinado pelo devedor.
3) Pressuposto material subjetivo – o valor de reconhecimento de dívida só pode valer nas relações
imediatas.
Em suma, haveria que ter em conta e conjugar entre si os próprios requisitos de exequibilidade de um
reconhecimento de dívida e ainda se o negócio é formal ou não.
RUI PINTO não concorda com este entendimento. Os títulos de crédito têm a natureza de negócios
jurídicos que devem ser interpretados à luz do direito especial que lhe é aplicável: as Leis Uniformes das
letras, livranças e cheques.
Ora, qualquer devedor sabe que pode emitir um reconhecimento de dívida no quadro no art. 458º CC;
assim, se o devedor subscreve um título de crédito, é porque quer vincular-se nos termos objetivos e
temporais das Leis Uniformes, pelo que não se pode atribuir uma vontade negocial ao subscritor que de
facto não existe: nada no título permite a afirmação expressa de uma vontade negocial de
reconhecimento da obrigação subjacente.
O credor perde o título executivo e este, como não contém a causa da obrigação, nem sequer
como reconhecimento de dívida subjacente pode sobreviver.
O título prescrito não é sequer documento suficiente para provar por si só a obrigação
subjacente: com ele o autor apenas provará a sua emissão, cumprindo-lhe provar ainda, além da
existência da obrigação que a fez nascer, outros elementos.
* Aplicação prática: a alteração introduzida pelo art. 703º/1 c) CPC
A aplicação concreta deste entendimento, com o qual RP não concorda, implica algum cuidado: deve ser
feita à luz do património jurisprudencial já referido:
2. Além disso, deve estar-se no domínio das relações imediatas, já que o putativo reconhecimento
foi-o entre o sacador e o beneficiário, e o negócio de valuta não pode ser solene. Caso contrário,
pode ter lugar indeferimento liminar nos termos dos arts. 726º/2 a) e 855º/2 b).
3. Por outro lado, o exequente não pode basear a execução no título prescrito e mais tarde convolar
para execução de reconhecimento de dívida. Isso porquanto a invocação da relação subjacente,
em substituição da invocação da relação formal, configura a invocação de uma causa de pedir
diferente da inicial.
Ora, uma alteração superveniente da causa de pedir no estrito procedimento executivo apenas pode ser
feita com o acordo do executado (art. 264º). Na falta desse acordo, a convolação não pode ter lugar, nem
sequer na oposição à execução, pois o autor nesta é o executado, o que impede o uso do art. 265º/1
atinente ao uso da réplica.
4. Quanto ao executado, ele tem o ónus da invocação da prescrição do título cambiário, por alguma
das causas previstas na LULL na oposição à execução, ao abrigo do art. 731º. Trata-se de uma
exceção perentória que não pode ser conhecida oficiosamente (art. 303º CC)
⭐ TÍTULO EXECUTIVO: DOCUMENTOS AVULSOS art. 703º/1 d).
i) Títulos injuntórios;
São soluções que visam evitar a produção de uma sentença. Têm várias características:
o Do lado do autor, a obtenção do título visa obter os resultados práticos do exercício do direito de
ação, embora não configure uma forma desse exercício, não formando caso julgado material.
o Materialmente, o comando do cumprimento (injunção) ao réu é uma cominação por este ter
confessado expressa ou tacitamente (por falta de contestação) a obrigação;
o Formalmente, a injunção não é uma sentença, pois não declara direitos com valor de caso
julgado;
o Assim, qualquer das partes não está impedida de instaurar seja uma ação de simples apreciação,
seja uma ação de condenação.
Estes são então procedimentos que começam com um requerimento por parte do autor da substituição do
direito de ação; depois o tribunal ou a entidade administrativa notificam/citam o requerido e este é
provocado para reagir.
No caso de haver uma omissão de contestação por parte do requerido, forma-se automaticamente um
título executivo contra ele. Não é uma sentença, mas a ideia é a de que aquele que não se defende está a
confessar-se como devedor.
O uso da injunção para a produção de títulos executivos tem a sua expressão em:
b. Incidentes injuntórios – no seio de uma ação declarativa ou executiva há uma solução nos termos
da qual, feita a notificação à parte passiva, a sua não defesa importa a constituição de título
executivo. Assim se passa na ação de despejo (art. 14º/4 e 6 Lei n.º 6/2006) e no incidente de
comunicação da dívida ao cônjuge (arts. 741º e 742º).
há duas realidades:
2. Injunção (arts. 7º e ss.) – definida no art. 7º. As obrigações a que se refere o art. são as
referidas no art. 1º do anexo: obrigações provenientes de contrato (até 15.000€) e obrigações
emergentes de transação comercial tal como definido no DL n.º 62/2013 (sem limite de valor).
Quanto ao procedimento, o alegado credor, por via eletrónica, preenche um requerimento que enviará
para o BNI (balcão nacional de injunções). Este documento não tem de ter nenhuma prova junta, na
medida em que não é dirigido a um juiz.
O art. 12º suscita algumas dificuldades quanto à forma como é feita a notificação. Depois, das duas
uma:
a) O notificado não se defende – art. 14º: o requerimento de injunção ganha força executiva. Passamos a
ter um título executivo e o credor já pode colocar uma ação executivo para pagamento de quantia certa na
forma sumária (art. 550º/2 b)) – há aqui uma grande celeridade processual.
b) O notificado defende-se – há lugar a oposição, feita nos termos do que seria a contestação na ação
declarativa especial. O processo sai da fase administrativa e entra na fase contenciosa – é distribuído a um
juiz e abre-se a fase judicial (art. 16º). O processo administrativo convola-se numa ação judicial.
Em suma: a sentença que provenha de ação especial prevista nos arts. 1º e ss. do anexo ao DL será
uma sentença condenatória.
É possível colocar logo de início ação especial? Sim, é possível. Estamos a falar de uma ação especial,
que tem por fim a cobrança de certas obrigações.
MTS entende que, se é um processo especial, temos de aplicar o art. 556º, que dispõe que se
houver um processo especial, prevalece o processo especial (art. 549º, nomeadamente). Assim,
se estando em causa uma dívida até 10.000€, se coloca uma ação comum, haverá erro no
processo, o que consubstancia uma nulidade. Esta solução é discutível.
De todo o modo, se for colocada esta ação à parte, começamos com PI e vai logo para o juiz. Se
a PI for distribuída ao juiz e o réu não contestar, o art. 2º dispõe que o efeito cominatório é a
atribuição de força executiva à PI: a PI ganha força executiva como se fosse sentença.
Mas para RUI PINTO o título executivo não é a sentença condenatória, mas a própria PI não
contestada.
Destes artigos do anexo ao DL resulta então que temos três títulos executivos:
1. Procedimento de injunção, que dá origem ao requerimento de injunção com força executiva aposta;
3. PI não contestada.
1) Regulamento 805/2004 – dá força executiva a títulos que são produzidos dentro de cada país, mas por
terem um comportamento procedimental próximo de um título injuntório, dá-se-lhes força executiva
transnacional. Isto sucede quando:
a. O devedor haja expressamente admitido a dívida, por meio de confissão ou de transação homologada
por um tribunal, ou celebrada perante um tribunal no decurso de um processo; ou
b. Com respeito pelas garantias processuais que constam dos arts. 12º e ss., o devedor:
(i) Nunca tenha deduzido oposição (revelia), de acordo com os requisitos processuais relevantes, ao
abrigo da legislação do EM de origem; ou
(ii) Não tenha comparecido nem se feito representar na audiência relativa a esse crédito, após ter
inicialmente deduzido oposição, desde que esse comportamento implique uma admissão tácita do crédito
ou dos factos alegados pelo credor, em conformidade com a legislação do EM de origem; ou (iii) Tenha
expressamente reconhecido a dívida por meio de instrumento autêntico.
⇒ Títulos privados:
i) Ata de reunião de condomínio – nos termos do art. 6º do DL n.º 268/94, a ata que constitua ou
reconheça uma obrigação do condómino que tenha a ver com a conservação e fruição de parte comum ou
com serviços de interesse comum, essa obrigação pecuniária pode ser objeto de título executivo da
própria ata.
c. Devidamente identificado.
Note-se que o condómino devedor não tem de estar presente na respetiva assembleia, nem tem de assinar
a ata para que esta ganhe força executiva (sem prejuízo de ter de ser convocado para a assembleia de
condomínio e ter de receber a comunicação da deliberação em questão).
ii) Extrato de conta emitido por sociedade sediada em Portugal, dedicada à concessão de crédito por
emissão e utilização de cartões de crédito, quanto ao saldo destes (art. 1º DL n.º 45/79).
v) Títulos privados;
São soluções que visam evitar a produção de uma sentença. Têm várias características:
o Do lado do autor, a obtenção do título visa obter os resultados práticos do exercício do direito de
ação, embora não configure uma forma desse exercício, não formando caso julgado material.
o Materialmente, o comando do cumprimento (injunção) ao réu é uma cominação por este ter
confessado expressa ou tacitamente (por falta de contestação) a obrigação;
o Formalmente, a injunção não é uma sentença, pois não declara direitos com valor de caso
julgado;
o Assim, qualquer das partes não está impedida de instaurar seja uma ação de simples apreciação,
seja uma ação de condenação.
Estes são então procedimentos que começam com um requerimento por parte do autor da substituição do
direito de ação; depois o tribunal ou a entidade administrativa notificam/citam o requerido e este é
provocado para reagir.
No caso de haver uma omissão de contestação por parte do requerido, forma-se automaticamente um
título executivo contra ele. Não é uma sentença, mas a ideia é a de que aquele que não se defende está a
confessar-se como devedor.
O uso da injunção para a produção de títulos executivos tem a sua expressão em:
d. Incidentes injuntórios – no seio de uma ação declarativa ou executiva há uma solução nos termos
da qual, feita a notificação à parte passiva, a sua não defesa importa a constituição de título
executivo. Assim se passa na ação de despejo (art. 14º/4 e 6 Lei n.º 6/2006) e no incidente de
comunicação da dívida ao cônjuge (arts. 741º e 742º).
há duas realidades:
2. Injunção (arts. 7º e ss.) – definida no art. 7º. As obrigações a que se refere o art. são as
referidas no art. 1º do anexo: obrigações provenientes de contrato (até 15.000€) e obrigações
emergentes de transação comercial tal como definido no DL n.º 62/2013 (sem limite de valor).
Quanto ao procedimento, o alegado credor, por via eletrónica, preenche um requerimento que enviará
para o BNI (balcão nacional de injunções). Este documento não tem de ter nenhuma prova junta, na
medida em que não é dirigido a um juiz.
O art. 12º suscita algumas dificuldades quanto à forma como é feita a notificação. Depois, das duas
uma:
a) O notificado não se defende – art. 14º: o requerimento de injunção ganha força executiva. Passamos a
ter um título executivo e o credor já pode colocar uma ação executivo para pagamento de quantia certa na
forma sumária (art. 550º/2 b)) – há aqui uma grande celeridade processual.
b) O notificado defende-se – há lugar a oposição, feita nos termos do que seria a contestação na ação
declarativa especial. O processo sai da fase administrativa e entra na fase contenciosa – é distribuído a um
juiz e abre-se a fase judicial (art. 16º). O processo administrativo convola-se numa ação judicial.
Em suma: a sentença que provenha de ação especial prevista nos arts. 1º e ss. do anexo ao DL será
uma sentença condenatória.
É possível colocar logo de início ação especial? Sim, é possível. Estamos a falar de uma ação especial,
que tem por fim a cobrança de certas obrigações.
MTS entende que, se é um processo especial, temos de aplicar o art. 556º, que dispõe que se
houver um processo especial, prevalece o processo especial (art. 549º, nomeadamente). Assim,
se estando em causa uma dívida até 10.000€, se coloca uma ação comum, haverá erro no
processo, o que consubstancia uma nulidade. Esta solução é discutível.
De todo o modo, se for colocada esta ação à parte, começamos com PI e vai logo para o juiz. Se
a PI for distribuída ao juiz e o réu não contestar, o art. 2º dispõe que o efeito cominatório é a
atribuição de força executiva à PI: a PI ganha força executiva como se fosse sentença.
Mas para RUI PINTO o título executivo não é a sentença condenatória, mas a própria PI não
contestada.
Destes artigos do anexo ao DL resulta então que temos três títulos executivos:
1. Procedimento de injunção, que dá origem ao requerimento de injunção com força executiva aposta;
3. PI não contestada.
1) Regulamento 805/2004 – dá força executiva a títulos que são produzidos dentro de cada país, mas por
terem um comportamento procedimental próximo de um título injuntório, dá-se-lhes força executiva
transnacional. Isto sucede quando:
a. O devedor haja expressamente admitido a dívida, por meio de confissão ou de transação homologada
por um tribunal, ou celebrada perante um tribunal no decurso de um processo; ou
b. Com respeito pelas garantias processuais que constam dos arts. 12º e ss., o devedor:
(i) Nunca tenha deduzido oposição (revelia), de acordo com os requisitos processuais relevantes, ao
abrigo da legislação do EM de origem; ou
(ii) Não tenha comparecido nem se feito representar na audiência relativa a esse crédito, após ter
inicialmente deduzido oposição, desde que esse comportamento implique uma admissão tácita do crédito
ou dos factos alegados pelo credor, em conformidade com a legislação do EM de origem; ou (iii) Tenha
expressamente reconhecido a dívida por meio de instrumento autêntico.
i) Ata de reunião de condomínio – nos termos do art. 6º do DL n.º 268/94, a ata que constitua ou
reconheça uma obrigação do condómino que tenha a ver com a conservação e fruição de parte comum ou
com serviços de interesse comum, essa obrigação pecuniária pode ser objeto de título executivo da
própria ata.
f. Devidamente identificado.
Note-se que o condómino devedor não tem de estar presente na respetiva assembleia, nem tem de assinar
a ata para que esta ganhe força executiva (sem prejuízo de ter de ser convocado para a assembleia de
condomínio e ter de receber a comunicação da deliberação em questão).
ii) Extrato de conta emitido por sociedade sediada em Portugal, dedicada à concessão de crédito por
emissão e utilização de cartões de crédito, quanto ao saldo destes (art. 1º DL n.º 45/79).
2) EXIGIBILIDADE INTRINSECA
EXIGIBIIDADE INTRINSECA: configuração que o próprio direito a uma prestação deve apresentar
para poder ser objeto de uma execução: deve corresponder a uma obrigação que o executado deva
cumprir ao tempo da citação e que seja qualitativa e quantitativamente determinada.
Se, em face do título, a obrigação exequenda não for exigível, certa e líquida, a execução tem de
se iniciar pelas diligências destinadas a assegurar a exequibilidade intrínseca dessa obrigação
1. EXIGIBILIDADE DA OBRIGAÇÃO
Aquela causa de pedir, que está certificada pelo título executivo, que consiste na aquisição de um direito
ou poder a uma prestação, tem de ser exigível, ou seja, deve corresponder a uma obrigação que o
executado deva cumprir ao tempo da citação.
REQUISITOS DA EXIGIBILIDADE:
i. A causa de pedir seja simples , caso em que o credor está dispensado da sua prova,
competindo ao executado demonstrar uma condição resolutiva ou a exceção do não
cumprimento.
ii. A causa de pedir seja complexa, caso em que é exigida ao credor a prova sumária de um
facto cuja ocorrência não decorre do título executivo, nem constitui um facto notório – por
exemplo, a verificação da condição suspensiva da contraprestação.
Exemplo: A obriga-se a pagar a B no dia 31 de maio o valor de mercadoria, se até ao dia 15 de maio do
mesmo mês tiver recebido a mercadoria – A tem de provar que B recebeu a mercadoria.
Se uma parte da obrigação for inexigível e a outra já for exigível, pode executar-se esta segunda
imediatamente (art. 715º/6).
O acertamento da outra parte é feito na pendência da execução (art. 716º/8 e, sendo o caso, 7).
(i) Obrigações com prazo – são aquelas que só se vencem a partir de um determinado prazo, pois até
então são inexigíveis
há certas situações em que o devedor perde o benefício do prazo (art. 780º CC)
a obrigação com prazo a favor do devedor (artigo 779.º do CC) apenas é exigível com o termo
do prazo (artigo 805.º/2/a) CC).
em caso de mora do credor (artigo 772.º/1 e 813.º CC): aplicação do artigo 610.º/2/b), só com a
citação é que o devedor fica em mora, pelo que só a partir deste momento se inicia a contagem
dos prazos
(ii) Obrigações condicionais – está dependente de uma condição suspensiva ou de uma contraprestação
sinalagmática e, quer uma, quer outra, têm de ser demonstradas pelo credor na ação executiva (art. 715º),
junto do juiz.
(iii) Obrigações sem prazo (puras) – só se vencem mediante interpelação art.º 804º, sem prejuízo de
demonstração previa da interpelação art.º 715º. Temos de distinguir duas situações:
a. A interpelação é feita previamente à ação executiva – a obrigação venceu-se antes da ação executiva
e tornou-se exigível antes da ação executiva; assim, quando se coloca o requerimento executivo, a
obrigação já está vencida, o devedor já está em mora e, por isso, podem pedir-se juros de mora
vencidos desde a data de interpelação extrajudicial.
b. A interpelação ainda não foi feita aquando da ação executiva – nestes casos, a citação para a ação
executiva vale como interpelação para cumprimento e, aí, só podem pedir-se juros de mora a partir
da data da interpelação. Mais: se o executado pagar no prazo de oposição à execução, quem paga as
custas é o requerente (art. 535º/1 b)).
Conclui-se, desta forma, que a exigibilidade da obrigação pode não coincidir com o vencimento da
mesma.
Se a obrigação não for exigível, a execução é extinta por falta de condição material do seu objeto
material, sem nenhum tipo de juízo de improcedência, pois este é alheio à funcionalidade executiva.
No entanto, e em paralelo, se essa apreciação foi objeto de sentença de oposição à execução, alcança
valor de caso julgado material (art. 732º/5).
Se o objeto do pedido não se apresentar com a qualidade da determinação em face do título, o exequente
carecerá de realizar diligências preliminares de determinação do objeto da prestação (art. 713º).
A obrigação diz-se certa quando o objeto da prestação estiver determinado e individualizado para que se
saiba exatamente o que está em dívida
Assim, quando a escolha não está feita no título executivo, como fazer? Solução – art.º 714º
Importa distinguir:
i. A escolha cabe ao credor – a escolha deve ser feita no requerimento executivo (art. 724º/1
h) 2ª parte), acompanhada da indicação dos factos que a fundamentam.
ii. A escolha cabe ao devedor – este é o regime supletivo do CC (arts. 539º e 543º/2 CC).
Temos de ver se foi ou não convencionado um prazo para o devedor escolher:
a. Se foi fixado um prazo e o devedor não escolheu dentro desse prazo, já se devolveu o direito de escolha
ao credor, mesmo antes de a ação executiva se iniciar (RP e LEBRE DE FREITAS). Assim, deve o credor
fazer a escolha antes da ação executiva, e exprimir essa escolha no requerimento executivo.
b. Se o prazo ainda não se esgotou ou se nem foi convencionado, o art. 714º/1 determina que pertence ao
devedor a escolha da prestação, sendo por isso simultaneamente citado para a execução e notificado para,
no prazo da oposição (se outro não tiver sido fixado pelas partes), declarar por qual das prestações opta.
A forma de processo nunca será sumária nestes casos, porque é necessário antes de qualquer penhora
saber qual é a prestação em causa (art. 550º/3).
Se, ainda assim, o devedor não escolher, devolve-se ao credor o direito de escolha, agora já na pendência
da execução (art. 714º/3 in fine).
iii. A escolha cabe a terceiro – art. 714º/1: é citado o devedor e é notificado o terceiro para fazer
a escolha no prazo da oposição à execução (20 dias a contar da notificação), se não tiver
sido fixado outro prazo pelas partes. Se não a fizer, o direito de escolha é devolvido ao
credor.
Existem duas categorias de obrigações que, embora estejam determinadas no seu objeto (sejam certas),
conhecem algumas especialidades:
a) Obrigações genéricas de quantidade : Nestes casos, a obrigação não é incerta; ela está
determinada, sabe-se qual é o conteúdo do objeto, mas falta escolher o objeto concreto
Carecem de um ato acessório de especificação da qualidade da prestação.
O problema não é de liquidez, atenção, apenas falta concentrar a obrigação num objeto concreto, cujas
qualidades já se conhecem.
exemplo: enquanto nas obrigações genéricas de escolha o devedor se obriga a entregar uma televisão,
sendo necessário ainda determinar as características concretas dessa televisão, nas obrigações
genéricas de quantidade essas características já estão todas definidas, faltando apenas determinar a
televisão em concreto que vai ser entregue, ou seja, a indeterminação respeita ao exemplar concreto.
A determinação do exemplar concreto é levada a cabo pelo agente de execução (art. 861º/2), e deverá ter
lugar mediante operações de individualização, pesagem ou medição.
Este problema só se coloca nas ações executivas para entrega de coisa certa.
b) Obrigações com faculdade alternativa:
Nestes casos, há uma prestação principal, mas o devedor tem a faculdade de escolher a realização de
outra prestação (por exemplo, art. 558º CC), no prazo de oposição, sob pejna de se sujeitar à execução da
obrigação principal.
Exemplo: o devedor está obrigado a pagar em moeda estrangeira, mas pode pagar em moeda nacional:
então, executa-se pela moeda estrangeira ou pela moeda nacional? A resposta é a de que o credor deve
executar pela moeda principal, primária, cabendo ao executado, no prazo da oposição, exercer a
faculdade alternativa. Não o fazendo, sujeita-se à execução da obrigação principal.
Se se tratar de uma obrigação com faculdade alternativa pelo credor, caberá a este escolher no próprio
requerimento (art. 724º/1 h) 2ª parte).
O exequente não pode, na execução, formular pedido ilíquido sem proceder à respetiva
liquidação (operação de quantificação da obrigação – 735º/3).
As obrigações ilíquidas não podem ser realizadas de forma coativa, porque não se pode
executar o património do devedor antes de determinar a quantia devida ou solicitar a entrega de
uma coisa antes de saber a quantidade que deve ser prestada
Na ação executiva só excecionalmente podem ser deduzidos pedidos ilíquidos (art. 556º). E isso
acontece em três casos:
ii. Sansão pecuniária compulsória - (art. 716º/3) – será liquidada mensalmente pelo agente de
execução.
iii. Entrega de universalidade de facto ou direio (art. 716º/7) – a liquidação é feita depois da
apreensão dos bens.
Nos termos do art. 806º/1 CC, os juros de mora vencem-se a partir do dia em que se constitua a
mora do devedor (art. 804º/2 CC).
Para sabermos a partir de quando entra o devedor em mora, temos de atentar ao art. 805º CC,
que difere consoante esteja em causa uma obrigação pura (a mora só se constitui mediante
interpelação do credor) ou uma obrigação sujeita a prazo (a mora constitui-se no termo do
prazo).
Mas há ainda situações de mora imediata, que se dá com o facto constitutivo da obrigação: (i) se
a obrigação provier de facto ilícito ou (ii) se o devedor impedir a interpelação, considerando-se
interpelado, nesse caso, na data em que normalmente o teria sido.
o A solução está no art. 805º/3 CC: nestes casos, a mora só se inicia quando o crédito se tornar
líquido, a não ser que a iliquidez seja imputável ao devedor.
o No entanto, se se tratar de responsabilidade pelo risco ou por facto ilícito, a mora inicia-se com a
citação para a ação declarativa.
- Ac. STJ/UJ n.º 4/2002, diz que o crédito só se vence desde a data da sentença do incidente de liquidação
(faz uma interpretação restritiva do art. 805º/3).
As taxas de juro devidas pela mora são as taxas legais, nos termos do art. 806º/2 CC.
No caso dos títulos de crédito, há um regime específico (arts. 48º/2 e 49º LULL para as letras e livranças;
art. 45º/2 LUC para os cheques).
Temos de distinguir:
1) Liquidação por simples cálculo aritmético (art. 716º/1) – aquela que só depende de contas
aritméticas, porquanto não assenta nenhuma matéria de facto controvertida.
Todos os dados necessários para a liquidação ou decorrem do título executivo, ou são de conhecimento
oficioso pelo tribunal ou agente de execução (arts. 5º/2 c) e 412º, entre outros).
Deve ser feita pelo exequente no requerimento executivo: artigo 724.º/1/h). Este valor pode ser
impugnado em sede de oposição à execução.
Por força do art. 704º, não pode haver execução de sentença genérica, ela tem de ser previamente
liquidada. Essa liquidação tem de ser feita no processo declarativo (art. 358º).
O incidente de liquidação deve ser deduzido pelo autor em requerimento (art. 359º), após proferida a
sentença, renovando-se a instância declarativa entretanto extinta (art. 358º/2).
O pedido incidental não pode ultrapassar os limites do julgado na sentença a liquidar e, bem assim das
preclusões já ocorridas na instância declarativa.
Se o réu não deduzir oposição: a obrigação fixa-se no valor referido pelo exequente (artigo 716.º, n.º4
CPC), salvo revelia inoperante (efeito cominatório pleno);
Se o réu deduzir oposição: incidente da própria execução – o valor fixa-se pelo juiz (salvo se as partes
nomearem árbitros, quando fundado em título judicial diverso da sentença – artigo 716.º, n.º6 CPC) –
oposição à execução.
Tratando-se de liquidação de indemnização em dinheiro, o valor liquidado rege-se pela regra do art.
566º/2 CC: corresponderá à diferença entre a situação patrimonial do lesado, na data mais recente que
puder ser atendida pelo tribunal (nesse caso, a do encerramento da discussão na ação condenatória – art.
611º/1; no entanto, no caso de a indemnização ser objeto de incidente de liquidação de sentença, esse
momento é o do encerramento da discussão no próprio incidente ou a do termo do facto danoso, caso este
lhe seja anterior), e a que teria nessa data se não existissem danos.
b. Incidente de liquidação de título diverso de sentença: Por exemplo, liquidação com base num
contrato. 716º/4
Imagine-se que temos um contrato de sociedade, com base no qual, ao fim de 3 anos todos os sócios têm
direito a receber uma percentagem sobre os lucros acumulados dos 3 anos. Ora, neste caso não basta o
título executivo; é necessário anexar documentos comprovativos.
O incidente é deduzido no requerimento executivo (artigo 716.º/5). Segue-se despacho liminar (artigo
550.º/2 e 626.º/2). Sendo proferido despacho liminar de citação (artigo 726.º/6), o executado é citado pelo
agente de execução, para contestar a liquidação (20 dias) – artigos 716.º/4, 726.º/6 e 728.º/1.
i) Se o executado contestar a liquidação do exequente, ou sendo a sua revelia inoperante, o art. 716º/4
manda aplicar os n.ºs 3 e 4 do art. 360º. Por conseguinte, o procedimento corre junto do juiz de execução
e são observados os termos subsequentes do processo comum declarativo. À medida que se discute a
oposição à execução, também se discute o valor. Depois o juiz fixará na sentença o valor que considere
ter sido demonstrado.
ii) Se o executado não contestar o valor oferecido pelo exequente, vale um efeito cominatório pleno, o
que significa que o juiz considera a obrigação fixada nos termos apresentados pelo exequente (art.
716º/4).
Isto significa que ele tem o ónus de cumular a contestação da liquidação com a oposição à própria
execução, não podendo deixar esta para momento posterior.
EFEITOS DA SENTENÇA DE LIQUIDAÇÃO:
Precludido ou exercido o direito ao recurso e à reclamação, a decisão não poderá ser impugnada, salvo
nos termos restritos do art. 729º.
Executando-se título diverso de sentença, esta decisão não é final, valendo apenas suportada no e
para o título a que diz respeito.
Rejeitado o título executivo ou apresentado outro, a decisão de liquidação caducará ou não será oponível
no novo processo executivo, respetivamente.
Em suma: a decisão incidental faz caso julgado material restrito à eficácia daquele título.
Além disso, a iliquidez pode consistir em fundamento de oposição à execução (art. 729º/e)). Tal
fundamento pode implicar a suspensão da execução (art. 733º/1 c)).
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
São comuns a qualquer instância, seja declarativa, executiva ou cautelar, e cumprem a função de garantir
a sua regularidade para a plena qualidade da tutela. São as condições da qual depende o conhecimento do
pedido.
Rege a regra do art. 59º: os tribunais portugueses são internacionalmente competentes em três
situações:
i) Regulamento 1215/2012
Ambos os Regulamentos dão força executiva a sentenças proferidas nos respetivos âmbitos.
E contêm normas de distribuição da jurisdição executiva? NÃO, apesar de os arts. 24º/5 Reg.
1215/2012 e 22º/5 Lugano II poderem dar essa ideia, não é assim: RP entende, concordando com MTS e
com a doutrina europeia, que estes artigos dizem apenas respeito ao contencioso executivo (embargos
de terceiro, oposição à execução, oposição à penhora), determinando que as respetivas sentenças são
executadas no lugar em que está a correr o processo principal.
2) Quando se verifique algum dos elementos de conexão constantes dos arts. 62º e 63º:
o Art. 63º (normas de competência exclusiva) a única que releva para a ação executiva é a da
al. d).
Mas se sobre o imóvel incidir uma garantia real, esta vai indicar onde está o imóvel. O agente de
execução, como tem de executar primeiro a garantia real (benefício da excussão real – art. 697º CC),
necessariamente tem de executar a garantia real (art. 752º/1).
Se o imóvel estiver fora do país, contudo, não podemos dizer que a competência dos tribunais
portugueses resulta do art. 63º, tendo nesse caso de recorrer às regras gerais do art. 62º.
o Art. 62º (regras gerais) – se não se preencher a al. d) do art. 63º, temos de verificar se se
verifica alguma das als. do art. 62º.
Em tempos dizia-se que este artigo só se aplicava à ação declarativa e não à ação executiva, porque ao
aplicar-se este artigo as consequências poderiam ser limitadas.
Era o caso do Prof. Anselmo Castro - o qual entendia não ser legítimo transpor sem mais para o campo
do processo executivo as normas do artigo 62.º CPC.
concluía o autor, as regras estabelecidas no artigo 62.º CPC, se revelam inapropriadas ao processo
executivo, devendo-se restringir a competência internacional dos tribunais portugueses para as
execuções baseadas em sentença aos casos em que os bens a executar se encontrem em Portugal, e
aplicar, como princípio geral para as execuções baseadas em sentença aos casos em que os bens a
executar se encontrem em Portugal, e aplicar, como princípio geral para as execuções baseadas
noutro título, a norma estabelecida no n.º3 do artigo 89.º CPC sempre e só quando a execução deva
correr sobre bens sitos em Portugal
MTS veio expressar melhor o que estava subjacente a este ponto de vista: cada Estado tem o
monopólio das medidas coativas efetuadas no seu território – é a regra da territorialidade da execução.
Refere que, nesses casos, haveria então que usar uma conexão suplementar para verificar se, em
concreto, a execução seria viável – designadamente art. 89º/3 CPC. E isto porque, em regra, qualquer
executado domiciliado em território português possui bens penhoráveis em território nacional.
Contudo, aquela prova da conexão relevante já não seria necessária quanto às conexões estabelecidas para
a execução do título diverso de sentença pelos n.ºs 1 e 2 do art. 89º, pois nesse caso todos os elementos de
conexão que são relevantes para a aferição da competência territorial apresentam uma ligação com o
território português.
Já RP entende que o art. 62º se aplica à ação executiva, estando feito para otimizar a relação entre a
competência internacional e a localização dos bens. Segundo o Prof., a posição de MTS, postula uma
interpretação restritiva do âmbito do art. 62º que não parece ter correspondência na letra respetiva:
- Por um lado, o art. 89º/3 in fine é objetivamente uma norma residual, lateral perante o sistema e,
sobretudo, feita a pensar na competência interna;
- Por outro lado, o uso do critério da dupla funcionalidade das normas de competência interna,
eventualmente com aquele outro do art. 89º/3, embora tecnicamente sofisticado, dificilmente se poderá
dizer que foi querido pelo legislador.
3) Quando as partes atribuem competência aos tribunais portugueses, por via convencional, nos termos do
art. 94º:
Mas atenção: aqui já não tem aplicação o Regulamento 1215/2012, o que tem de estar respeitado é o art.
63º/d) (art. 94º/3 d)).
SE AS NORMAS DE COMPETÊNCIA INTERNACIONAL DETERMINAREM QUE OS
TRIBUNAIS INTERNACIONALMENTE COMPETENTES SÃO OS PORTUGUESES, temos de
determinar QUAL É O TRIBUNAL INTERNAMENTE COMPETENTE, tendo por isso de recorrer às
normas de competência internas:
Importa determinar o tribunal hierarquicamente competente dentro da ordem judiciaria em causa. Apenas
os tribunais de primeira instância = TRIBUNAIS DE COMARCA , art.º 86º LOSJ têm competência
executiva (art. 42º e ss 79º e ss LOSJ).
Os tribunais superiores são tribunais de recurso e, apenas pontualmente, são tribunais declarativos, e
(podendo condenar um magistrado a pagar uma indemnização); mas mesmo as sentenças condenatórias
que pontualmente provenham de tribunais superiores só podem ser executadas nos tribunais de primeira
instância – tal solução é confirmada pelo art. 85º e 86º CPC + art.º 33º e 41º LOSJ
Importa determinar a ordem judicial competente dentro da OJ. Várias ordens de tribunais: as duas
principais são a ordem dos tribunais judiciais e a ordem dos tribunais administrativos e fiscais art.º 209º
CRP e 29º/1 LOSJ.
A ação executiva civil é da competência dos tribunais judiciais/comuns (art. 209º/1 CRP + 211º/1
CRP). Em razão da matéria, o art. 40º/1 LOSJ + art.º 64º CPC enuncia os atos para os quais estes têm
competência primária.
Dos arts. 81º/3 j) LOSJ e 2º/1 DL n.º 86/2016 resulta que um dos tribunais de competência especializada
é o juízo de execução. competência: art.º 129º e 131º LOSJ distribuem as competências dentro de cada
comarca os tribunais de comarca desdobram-se em juízos de competência especializada, sendo um
deles o juízo de execução (81º/j) e 129º LOSJ).
Sim: tem competência para a ação executiva a respetiva secção de competência especializada
ou no caso de execução por multas, custas ou indemnizações tem competência o tribunal em
que foi proferida a respetiva decisão.
o Não: ver competência em razão do valor i) juízos centrais civis art.º 117º/1/al.a)
valor superior a 50000 euros. Ii) juízos locais cíveis art.º 130º/2/c) ou secções de
competência genérica art.º 130º/2/c)
Art.º 85º a regra é a mesma comarca que proferiu a sentença, mas não necessariamente o mesmo juízo
(sendo que funcionará, o juízo de execução quando exista)
E se houver um juízo de execução naquela comarca? Há remissão do processo para este, art.º 724º/4
E se o exequente interpuser a ação logo no juízo de execução? Nada obsta a que o faça: i) vale a
economia processual a favor do exequente, ii) não há irregularidades ou incompetência para tramitar o
processo pela secretaria, art.º 195º/1, iii) não se causa qualquer dano ao executado.
ii) Título diverso de sentença – vale o art. 89º. Ex: execução de títulos de crédito, de contratos, de
confissões de dívida, de requerimento de injunção com força executória aposta.
E se o tribunal é competente para executar uma relação plurilocalizada, qual é então a concreta comarca
competente?
Falta previsão legal expressa, à exceção do que se dispõe no art. 90º.Temos de distinguir:
i) Tratando-se de execução de sentença, não é relevante por que normas se obteve a competência
internacional: basta distinguir entre:
a. Sentença nacional – valem os arts. 85º e 86º. É irrelevante se há ou não há bens, e se existe ou não
garantia real.
b. Sentença estrangeira – vale a regra do art. 90º, independentemente da hierarquia do tribunal que a
proferiu.
Nota - Se o devedor não tiver domicílio em Portugal, regressamos à regra subsidiária do art. 89º/4: será
competente o tribunal da situação dos bens a executar; na ausência de bens em Portugal, RP entende que
ter-se-á de recorrer às regras residuais do art. 80º/3.
ii) Tratando-se de execução de título diverso de sentença, temos de distinguir por que critérios dos
arts. 62º e 63º foi ganha a competência internacional:
a. Quando a competência internacional for obtida pela norma de competência exclusiva do art. 63º/d)
aplica-se op art.º 89º/4
ii. Nos critérios dos arts. 62º/b) e c), temos um aparente vazio: não há nem normas especiais, nem
conexões territoriais diretas, pelo que entre as regras do art. 80º e o critério mais adequado à execução do
art. 89º/4 deve optar-se por este, por analogia, e apenas subsidiariamente se não preenchido se aplica o
art. 80º/2 e 3.
Há ainda um caso especial: é possível cumular, num mesmo processo, duas ou mais execuções
(cumulação de execuções), nos termos dos arts. 709º e 710º. Questão: saber qual é a comarca
efetivamente competente nos casos em que temos duas execuções cumuladas, e que, se fossem
executadas separadamente, seriam executadas em comarcas diferentes.
Estes são os casos de extensão de competência, que se retira dos arts. 709º/2 a 4, 89º/5 e
710º: o tribunal que é competente para conhecer de um pedido, torna-se competente para
conhecer do outro.
Execução de apenas uma sentença, mas que determinou várias condenações, qual a comarca
competente?
Como a regra é a de que é competente o próprio tribunal que condenou, aqui o tribunal
competente será precisamente o tribunal que determinou as condenações.
Atualmente, a lei só admite a cumulação de pedidos procedentes de uma única sentença (art.
710º) e não pode haver cumulação de sentenças que corram nos próprios autos (art. 709º/d)).
Daqui poderia resultar que aquele caso não se pode verificar. Mas não é assim. Pode haver
sentenças que não sejam executadas nos próprios autos, como sucede com as sentenças arbitrais.
No entanto, a lei nada prevê para estes casos. Assim, RP entende que se deve aplicar o art. 89º/5
Nota - A circunstância de haver uma comarca que não é competente em relação a um dos pedidos
(incompetência relativa), não impede a cumulação de execuções. Ex: Podemos cumular, em abstrato, a
execução de um cheque que seria executado em Lisboa e a execução de um cheque que seria executado
no Porto. Esta cumulação é admissível, nos termos do art. 709º/1 a).
COMPETÊNCIA CONVENCIONAL:
É certo que o art. 95º admite em geral pactos de competência, mas as regras de competência em razão
da matéria, da hierarquia e do valor não podem ser afastadas pelas partes, são regras imperativas.
Só vamos analisar esta competência, se uma comarca não tiver juízo de execução.
Nesse caso para determinar o tribunal competente temos de ver o tipo de título e o valor:
Para as ações executivas de natureza cível de valor superior a 50.000€, é competente o juízo central cível
(art. 117º/1 b) LOSJ).
Todas as outras execuções que vão até 50.000€ competem aos juízos locais cíveis (art. 130º/2 c) LOSJ).
INCOMPETÊNCIA INTERNACIONAL:
Se for desrespeitado o artigo 24.º, n.º4 e 5 R e 22.º, n.º4 e 5 CLg, para a execução de sentença
e entrega de imóveis, gera-se uma causa de incompetência de conhecimento oficioso, conforme
o artigo 27.º R e 25.º CLg. O tribunal deverá declarar-se incompetente, por conseguinte.
Para quem entenda que o Regulamento 1215/2012 vale também para a execução fundada
em outro título se a ação for colocada em Tribunal sem competência em face do artigo 4.º ou
dos artigos 7.º e seguintes R, a incompetência não é de conhecimento oficioso. Efetivamente,
resultará do artigo 26.º, n.º1, 1.ª parte R e 24.º, 1.ª parte CLg, que se o réu comparecer mas não
arguir a falta de competência o tribunal de um Estado-Membro perante o qual o requerido
compareceu adquire competência ad hoc, mesmo que haja desrespeito por um pacto de
jurisdição. Ou seja, segundo TJUE 20 maio 2010, o tribunal deve declarar-se competente quando
o demandado comparece no processo e não deduz uma exceção de incompetência, constituindo
essa comparência no processo uma extensão tácita da competência. Contudo, esta regra não é
aplicável se a comparência tiver como único objetivo arguir a incompetência ou se existir
outro tribunal com competência exclusiva, por força do artigo 24.º R e 22.º CLg, limita o
artigo 26.º, n.º1, 2.ª parte R e 24.º, 2.ª parte CLg.
Como tal, declarada a incompetência deve o devedor ser absolvido da instância ou indeferido o
despacho liminar, e a execução extinta.
Regime da incompetência absoluta (artigo 96.º) – não sanável (artigo 99.º/1 e 2); De conhecimento
oficioso, em limite, no despacho liminar (art. 762.º/2/b) e 855.º/2/b) – por suscitação do agente de
execução) ou no despacho sucessivo (artigo 734.º).
Regime da incompetência relativa – artigos 102.º e seguintes. Dependente de arguição: artigo 103.º.
Remissão para tribunal competente: artigo 105.º/3. Algumas situações de conhecimento oficioso:
artigo 104.º/1 – violações do artigo 85.º/1 e artigo 89.º/2;
Regras gerais dos arts. 11º e ss. e 15º e ss.. Não há normas especiais.
o seja para sanação da falta de personalidade (art. 14º), para sanação da falta de
capacidade ou irregular representação (arts. 27º e 28º), seja para obtenção de
autorização ou deliberação em falta (art. 29º).
1) Em despacho liminar;
2) Nos casos em que ou não interveio inicialmente (forma sumária), ou interveio mas foi proferido
despacho liminar genérico, o juiz pode sempre conhecer de um vício superveniente ou sobre o qual ainda
não tenha tido oportunidade de se pronunciar (art. 734º).
A falta destes pressupostos configura exceções dilatórias que podem servir de fundamento à
oposição à execução, ao abrigo do art. 729º/c) e em remissão dos arts. 857º, 730º e 731º.
⇒ LEGITIMIDADE:
LEGITIMIDADE SINGULAR:
i. Art. 817º CC – regra do direito à execução : quem executa é o credor, quem é executado é o
devedor
ii. Art. 818º CC – admite que o executado possa não ser o devedor , ou seja, que a execução
possa incidir sobre bens de terceiro à dívida, em duas situações: (i) quando há garantia real
ou (ii) quando houve impugnação pauliana julgada procedente.
iii. Art. 606º CC – possibilita a sub-rogação do credor ao devedor . Um credor pode colocar
ação executiva em nome do devedor, por omissão processual deste.
(i) Qualidade de credor e devedor: art. 53º é a expressão processual do art. 817º CC. Apela-
se ao confronto com a literalidade do título.
Esta literalidade não é rígida, há situações excecionais em que o credor pode estar indeterminado em face
do título, mas o qual conseguimos, ainda assim, determinar São as chamadas situações que MTS
chama de legitimidade aberta, que se verificam em três situações:
1) Se o título executivo for um título ao portador (art. 53º/2) – nomeadamente, título de crédito. A
execução é promovida pelo portador do título. 2) Contrato a favor de terceiro (art. 443º/1 CC) – o credor é
o terceiro.
3) Contrato para pessoa a nomear (art. 352º/1 CC) – o credor será determinado posteriormente nos termos
do contrato.
- No caso da fiança, a obrigação do fiador é acessória da que recai sobre o principal devedor (art. 627º
CC); por isso, mantém-se enquanto não se extinguir a obrigação do devedor principal, mesmo que esta já
não possa ser objeto de execução singular. Por outro lado, o fiador está, em regra, numa posição de
subsidiariedade perante o afiançado, pois é-lhe lícito recusar o cumprimento enquanto o credor não tiver
excutido todos os bens do devedor sem obter a satisfação do seu crédito (art. 638º/1 CC).
No entanto, tanto na fiança mercantil (art. 101º CCom), quanto em resultado de exclusão contratual ou
ficta do benefício da excussão prévia (arts. 640º e 641º/2 CC), o fiador pode posicionar-se como devedor
principal e solidário (arts. 638º e 640º CC) da integralidade da dívida (art. 634º CC).
O título executivo é o contrato de fiança (art. 703º/1 b)), sem prejuízo dos títulos judiciais e injuntórios
(arts. 703º/1 a) e d) e 1º DL n.º 269/98).
- No caso do avalista, dita o art. 32º LULL, que o dador de aval é responsável da mesma maneira que a
pessoa por ele afiançada. A sua obrigação constitui-se formalmente pelo ato de assinatura do dador do
aval, acompanhada da expressão bom para aval ou fórmula equivalente. Ela tem sido caracterizada como
sendo materialmente autónoma, mantendo-se ainda que seja nula a obrigação garantida por qualquer
razão que não seja um vício de forma, mas não sendo subsidiária da do avaliad o. Trata-se de uma
responsabilidade solidária, não gozando o avalista de benefício de excussão prévia (art. 47º/I e II
LULL).
- A garantia bancária autónoma consiste numa garantia obrigacional, em que o garante é um banco e a
obrigação garantida tem por credor o beneficiário e por devedor um terceiro. O sujeito que garante o
cumprimento fá-lo sem acessoriedade da obrigação principal e sem poder opor ao credor exceções e
meios de defesa próprios daquela, ao contrário do fiador (art. 637º/1 CC).
A garantia autónoma pode ser simples ou à primeira solicitação, consoante o credor para exigir o
cumprimento da obrigação do garante tenha de provar o incumprimento da obrigação do devedor ou a
verificação dos pressupostos do nascimento do seu crédito face ao garante, ou não tenha de fazer essa
prova, bastando a interpelação para cumprimento ao garante.
O título executivo pelo qual se buscará o devedor será o contrato de constituição dessa garantia.
(ii) Sucessores universais e singulares : art. 54º resolve o problema que surge quando o credor
e devedor transmitem o seu crédito ou a sua dívida, mortis causa ou inter vivos
O executado poderá, na oposição à execução, invocar a ilegitimidade singular ativa ou passiva por falta
desta sucessão (art. 729º/c)).
(iii) Terceiros abrangidos por sentença condenatória : art.º 55º , só vale quanto aos títulos-
sentença (art. 703º/1 a)).
tanto podem ser credores como podem ser devedores. Esta norma é paradoxal: a regra é a de que o caso
julgado só tem força entre as partes (art. 619º), só vinculando terceiros em casos excecionais. Ora, o art.
55º permite que a sentença seja executada contra quem não é réu, mas em relação ao qual a sentença
tem força de caso julgado – estamos perante uma regra de legitimação passiva por extensão subjetiva
imperativa do caso julgado.
São situações: adquirente, não habilitado, de direito ou cisa litigioso (art. 263.º/3);
Limitações – lado passivo: artigos 522.º e 635.º/1 CC: o codevedor solidário (como o
fiador) não presente na causa em foi condenado o codevedor/devedor principal, não pode ser
prejudicado pela sentença; o mesmo vale para o devedor principal, em ação em que se
condenou o fiador (art. 635.º/2);
Limitações – lado ativo: de acordo com os artigos 531.º e 538.º/2, os cocredores solidários e
os cocredores de obrigação indivisível podem aproveitar da sentença que condenou o
devedor.
Será que beneficiam da legitimidade prevista no artigo 55.º? Na ótica de Lebre de Freitas, deve
entender-se que não, estando essa norma direcionada para o lado passivo. Lebre de Freitas exclui, neste
sentido, a aplicação por analogia, em razão da excecionalidade. MTS: discorda. Entende que deve ser
reconhecida legitimidade executiva a esses mesmos credores, por via do art. 55.º. No mesmo sentido,
advoga Rui Pinto: os credores solidários e os cocredores de obrigação indivisível não demandantes em
ação declarativa têm legitimidade para executar a subsequente sentença condenatória por força de um
princípio enunciado no CC e que implica a interpretação extensiva do artigo 55.º
As pessoas que intervêm como partes acessórias, estão sujeitas ao caso julgado da parte principal ex vi
art. 323º/4 e 332º somente quanto às questões em que assentam os direitos que invocam
Na opinião de RP, já não parece que caiam aqui as outras situações de intervenção de terceiro – arts.
316º, 319º, 323º e 332º CPC. Em todos estes casos, o “terceiro” foi citado para ação declarativa, pelo que
já não é um verdadeiro terceiro na ação executiva.
Será que o regime do art. 55º é aplicável às situações de caso julgado eventual de sentença dotada
de força executiva, nos termos do art. 703º/1 a)?
Exemplo: um credor tem três devedores, e propõe ação declarativa condenatória apenas contra um
deles. Será que os outros dois foram co-condenados com o primeiro, apesar de não terem estado na ação,
ao abrigo do art. 55º? RP – claro que não.
O que decorre do CC é que o codevedor solidário (art. 522º CC), o codevedor parciário e o fiador (art.
635º CC) que não estejam na causa não ficam sujeitos ao caso julgado, não podendo ser prejudicados pela
sentença (mas podem aproveitar-se dela).
E do lado ativo? Suponha-se que há três co-credores que só têm um devedor e apenas um dos credores
coloca a ação contra o devedor e ganha a ação. Podem os outros credores aproveitar da sentença? A
lei diz que sim – arts. 531º e 538º/2 CC.
E vale isto para a ação condenatória; podem usar como título executivo?
RP e MTS – sim.
Se se podem aproveitar da sentença, tanto o podem fazer para efeitos declarativos como para efeitos
executivos.
MTS entende que a norma não é excecional, sendo, pelo contrário, a expressão de um princípio geral de
que a extensão do caso julgado aos credores solidários não demandantes ou aos credores demandantes de
uma prestação indivisível implica o reconhecimento de legitimidade executiva a esses mesmos credores.
Já RP: concorda – os credores solidários e os credores de obrigação indivisível não demandantes em ação
declarativa têm legitimidade para executar a subsequente sentença condenatória por força de um princípio
do CC (art. 531º e 538º/2) implica a interpretação extensiva do art. 55º
Porem faz uma ressalva: o princípio do contraditório dita que esta extensão seja restrita: o devedor
permanece com o direito, não precludido, de invocar fundamentos de oposição pessoais ao credor terceiro
que não fora parte do processo (nomeadamente, em sede de art. 729º/g) e h)).
O único problema é que esta solução não joga com o art. 55º: este só se refere à legitimidade passiva.
LF diz assim que não pode valer. Ou seja não pode haver lugar a aplicação analógica pois a condenação
na acarreta o reconhecimento do direito dos outros contitulares, mas tão-só a indiscutibilidade do dever de
prestar do réu.
Nota de caso hipotético: Imagine-se agora que A consegue uma sentença condenatória contra o Banco
Mau e este extingue-se. Sendo declarado insolvente, sucede-lhe o Banco Bom. Como é que o credor, que
obteve sentença condenatória contra o Banco Mau, pode dar legitimidade ao Banco Bom (dado que
quem figura no título é o Banco Mau, que desapareceu)?
Nestas situações, temos de ver o que aconteceu ao direito: se o crédito foi adquirido pelo Banco Bom,
então aplica-se o art. 54º/1 – isto significa que este artigo se aplica a qualquer título executivo, inclusive
às sentenças.
LEGITIMIDADE SINGULAR:
2. EXECUÇÃO SUB-ROGATÓRIA:
(a) Art. 606º CC – o credor tem a faculdade de exercer contra terceiro os direitos de conteúdo
patrimonial que competem àquele.
Por exemplo, se B deve 100.000€ a A e C, por sua vez, deve 50.000€ a B, mas B não coloca ação
executiva contra C, A pode colocar a ação executiva em nome de B.
Note-se, contudo, que essa sub-rogação só é permitida quando seja essencial à satisfação ou garantia do
direito do credor.
ANSELMO DE CASTRO nota que é possível admiti-la na ação executiva quando o devedor-credor se
mostre negligente no seu exercício, embora com dúvidas. Ou seja, aquele preceito civil daria legitimidade
processual ativa secundária (pois não dá coincidência entre titularidade do crédito e o autor da ação) para
o credor propor ou entrar em execuções em nome do seu devedor.
E, na verdade, apenas se o seu crédito estiver vencido é que poderá o credor instaurar a sua própria
execução e penhorar o crédito que o seu devedor tem sobre terceiro, ao abrigo do art. 773º/1.
RP: devedor conserva a sua legitimidade em face do título (no plano da titularidade da obrigação
exequente) e o adquirente tem legitimidade por causa dos bens (no plano da garantia da obrigação
exequenda, como sucede no art. 54º/2).
Por força do efeito da sentença de impugnação pauliana, o terceiro adquirente é titular no seu património
de bens vinculados à garantia de dívidas alheias
(b) Art. 777º/3 CPC – no procedimento executivo de penhora de créditos prevê-se que o exequente
se substitua ao executado na execução do crédito deste sobre terceiro. Por exemplo, A coloca
ação executiva contra B, B tem um crédito sobre C e A penhora o crédito de C; mas, entretanto,
o crédito de C vence-se e C não paga ao executado, mas o executado também não faz nada.
3. TERCEIROS À DÍVIDA:
Esta consubstancia a segunda regra: o executado pode ser quem não tenha nenhuma ligação à dívida.
O art. 818º CC prevê o direito de execução sobre bens de terceiro, em duas situações:
a. Quando haja garantia real (arts. 818º 1ª parte CC e 54º/2 e 735º/2 CPC) – a ação executiva pode
ser colocada contra o terceiro que tenha bens vinculados à garantia do crédito. Tal é confirmado
pelo art. 54º/2 CPC.
O terceiro garante tanto pode ser quem prestou a garantia inicialmente, como quem tenha, posteriormente,
adquirido a coisa onerada.
b. Quando sejam objeto de ato praticado em prejuízo do credor, que este haja procedentemente
impugnado (arts. 818º 2ª parte e 616º/1 CC) – trata das impugnações paulianas.
O art. 616º/1 CC, em sede de impugnação pauliana, dispõe que, ficando destratada a venda fraudulenta e
obtendo-se o título executivo, pode executar-se diretamente o terceiro.
RP entende que a esta situação se aplica analogicamente o art. 54º/2 CPC: para todos os efeitos, é como
se o terceiro fosse um garante real.
Análise do art. 54º/2 CPC, segundo RUI PINTO Esta norma apenas exprime processualmente o que
está consagrado no art. 818º 1ª parte CC.
Garante legitimidade passiva ao terceiro garante real (se não for real: art. 53º) que, de outra
forma, não teria.
Esta legitimidade, à partida, é singular, mas pode haver litisconsórcio voluntário conveniente.
Esta solução é compatível com o direito material: o direito material dispõe que se A empresta
dinheiro a B e fica C a garantir a dívida, A enquanto credor, pode:
a) Por um lado, executar apenas o terceiro garante (a garantia real) – para tal, é necessário
que haja uma norma processual que o permita que, neste caso, se encontra no art. 54º/2
CPC. No plano documental, deve apresentar o título executivo de que decorre a constituição
ou reconhecimento da dívida, e o título material de constituição da garantia no património
do terceiro.
Sendo o título executivo uma sentença, deverá o terceiro garante ter também sido nela condenado, já
que por força do art. 635º/1 1ª parte CC, aplicável à consignação de rendimentos (art. 657º/2 CC), ao
penhor (art. 667º/2 CC) e à hipoteca (art. 712º/2 CC), o caso julgado entre credor e o devedor não é
oponível ao terceiro, salvo se os bens lhe tiverem sido transmitidos pelo devedor já onerados.
Mesmo nestes casos, RP entende que se deve permitir que o devedor não executado pague
voluntariamente, nos termos do art. 846º/1.
b) Por outro lado, pode não querer executar logo a garantia. Assim, desde que se declare no
processo que não se quer executar a garantia (pois, caso contrário, o agente de execução é
obrigado a executá-la – art. 735º/2), pode demandar o devedor (B), nos termos do arts. 53º,
54º/1 ou 55º.
O não exercício da garantia real traduz-se, assim, em o credor não indicar o terceiro garante como
executado no requerimento executivo (art. 724º/1 a)).
E note-se que não se trata de renúncia à garantia real: esta só pode ser feita segundo os modos
previstos na lei civil para a renúncia a direito real – uma renúncia válida e eficaz é a que foi feita
extrajudicialmente, i.e., antes da execução, segundo a forma válida, ou no próprio requerimento executivo
apenas quando a forma legal o consinta: casos de hipoteca voluntária sobre coisa móvel (art. 688º/1 f)
CC) e de penhor (art. 677º CC), e desde que haja declaração expressa do exequente (art. 730º CC).
c) Demandar os dois desde o início (art. 54º/2 2ª parte) – mas não é obrigatório, não há
litisconsórcio necessário, a lei não exige que estejam logo os dois na ação; trata-se, por isso,
de um litisconsórcio voluntário.
Se se executar o bem do garante sem se demandar esse terceiro garante, haverá ilegalidade substantiva da
penhora, impugnável em embargos de terceiro e em ação de reivindicação.
Aqui a garantia incide sobre o bem do próprio devedor; nesse caso já não se aplica o art. 54º/2.
Situações em que o credito do exequente está garantido por hipoteca/outra garantia real sobre bens
do devedor;
- Se sobre o bem com garantia real não incidir direito de terceiro: apenas terá legitimidade o devedor,
sem prejuízo do disposto no artigo 697.º, 665.º, 678.º, 753.º, 758.º e 759.º/2 do CC – e artigo 752.º/1
(direito que a penhora recaia, primeiro, sobre os bens do executado).
- Se sobre o bem incidir direito de terceiro: consideração do artigo 54.º/4 – um critério de legitimidade
passiva plural.
Abrange-se todos os direitos oponíveis à execução que confiram posse sobre a coisa. Esta é uma possa
incompatível à penhora (art. 342.º/1), que deve caducar com a venda executiva (art. 824.º/2), por ser
posterior à garantia real do exequente.
- A caducidade tem como condição a citação do terceiro: assim, o exequente deve executar ab initio o
terceiro. Se o terceiro não for citado, para a penhora e a venda serem subjetivamente válidas, apenas
poderão incidir sobre a propriedade de raiz ou do senhorio.
1. Em termos de penhora, pode executar-se imediatamente a hipoteca? Prevalece aqui o princípio de que a
hipoteca deve ser executada de imediato – chamado benefício da excussão real (art. 697º CC): o devedor
executado tem direito a que a penhora se inicie pelos bens sobre que incida a garantia e só na
insuficiência desta é que se executam os restantes bens do devedor.
2. Em termos de legitimidade, pode haver algum problema decorrente de o devedor ter dado em garantia
um bem seu? Sim, como resulta do art. 54º/4: a lei admite que se possa colocar a execução não só contra
o devedor, mas também contra o terceiro que está na posse do bem do devedor (ex: arrendatário) – trata-
se de um caso de legitimidade passiva plural.
Temos de ter aqui em atenção o art. 824º CC, que dispõe que quando o bem imóvel for vendido e se
houver, por exemplo, usufruto constituído sobre ele, se o usufruto for anterior à hipoteca, essa hipoteca é
executada, mas o usufruto mantém-se; pelo contrário, se o usufruto se constituir após a hipoteca, a venda
executiva extingue esse usufruto.
Na opinião de RP, que segue o entendimento de LF, esta extinção dos direitos de terceiro (direitos reais
menores) não é automática, só pode ter lugar se os terceiros tiverem sido citados ab initio para virem à
ação executiva defender-se (litisconsórcio voluntário conveniente).
Se o terceiro não for citado, a penhora e a venda executiva para serem subjetivamente válidas apenas
poderão abranger a propriedade de raiz ou a propriedade do senhorio.
Se ainda assim for penhorada a propriedade plena o direito não caduca e o usufrutuário ou arrendatário
podem embargar de terceiro precedentemente (LF).
Seja como for, ao contrário do que sucede em sede de artigo 54º/2 (onde o terceiro garante tem
legitimidade para ser executado sem o devedor) o terceiro possuidor não pode ser executado sozinho:
deve ser demandado juntamente com o devedor.
Isso sucede porquanto a sua legitimidade supõe a necessária penhora de um bem do devedor, onerado
pelo direito ou posse do terceiro.
ILEGITIMIDADE SINGULAR:
Na forma sumária cabe ao agente de execução suscitar a intervenção do juiz quando se lhe
afigure provável a ocorrência da ilegitimidade, nos termos do art. 855º/2 b), conjugado com o
art. 726º/2 b).
A falta de legitimidade constitui uma exceção dilatória que pode ser fundamento à oposição
à execução pelo executado (art. 729º/c)).
INTERESSE PROCESSUAL:
atendendo a que processo executivo faculta ao exequente a satisfação da prestação que o devedor
não cumpriu voluntariamente (cfr. artigo 4.º/3 do CPC) e que procura atribuir ao exequente a satisfação
do seu interesse patrimonial, utilizando meios coativos contra o património do devedor, só há que
concluir pela inutilidade em recorrer ao processo declarativo, a partir do momento em que o credor
seja detentor de título executivo. Esta conclusão é reforçada pelo artigo 535.º/2/c) do CPC.
Alguma doutrina, no entanto, não reconhece o interesse em agir como pressuposto processual,
entendendo que a falta desse interesse implicará, tão somente, a responsabilidade do autor pelas custas da
ação, ainda que esta seja procedente. Esta tese é defendida pelo SENHOR PROFESSOR CASTRO
MENDES.
Devemos, antes de mais, fazer um balanço sobre o interesse processual. Este tem sido utilizado para
abranger realidades de natureza diversa:
obrigações indivisíveis com pluralidade de credores: qualquer dos credores tem o direito de exigi-las por
inteiro e o devedor, uma vez judicialmente citado para a execução, deve exonerar-se relativamente a todos
ou alguns dos credores (art. 538º/1 CC).
Tanto no caso das obrigações solidárias, como no de obrigações indivisíveis, cabe ao exequente optar
entre a via do litisconsórcio voluntário e a via da substituição processual, em que atua ou demanda
sozinho.
ILEGITIMIDADE SINGULAR
Para RP:
a matéria do perigo de dano é uma questão de natureza substantiva e não processual, que integra
a causa de pedir das providências cautelares e, portanto, nada tem que ver com os pressupostos
processuais.
Estas são ações sem causa processual, ou seja, o autor abre uma via judiciária sem necessidade, já
dispondo de uma prévia via de tutela (por exemplo, já dispunha de uma sentença condenatória) ou então
usa uma via processual mais longa quando podia ter usado uma mais célere.
Estas são as situações mais relevantes descritas no art. 535º/2, cuja cominação é o pagamento das custas.
RP discorda: o abuso do direito de direito de ação não leva a uma questão de pressuposto
processual. Há, no entanto, duas situações em que devemos considerar o interesse processual:
i. Quando o credor execute uma ação pura sem ter previamente interpelado o devedor – o credor vai obter
pela via judicial um efeito processual que poderia ter produzido privadamente. Nesse caso, o credor fica
com a responsabilidade pelas custas se o devedor pagar no prazo de oposição à execução (arts. 610º/3 e
535º/2 b)). A consequência é somente o pagamento das custas e não a absolvição da instância.
ii. O credor deduz no mesmo requerimento executivo um único pedido fundado em títulos executivos que
correspondem a uma mesma dívida (por exemplo, apresentação execução ao contrato e a junção ambas
relativas ao mesmo contrato) – situação de excesso de título executivo. Nestes casos, cada título
executivo tem tratamentos processuais diferentes – execução de junção e execução de contrato –, pelo que
não há interesse processual em usar os dois títulos. Assim, o tribunal deve proferir um despacho de
convite ao aperfeiçoamento, convidando o autor a desistir de um dos títulos.
Se o credor não escolher o título executivo que vai usar para servir de base à execução, há absolvição da
instância. Só nesta situação é que o interesse processual constitui um pressuposto processual e resulta na
absolvição da instância, uma vez que o pagamento das custas não resolve
LEGITIMIDADE PLURAL:
Situações em que a instância processual integra uma pluralidade de sujeitos processuais – nuns casos
falamos em litisconsórcio, noutros em coligação:
(i) havendo um único pedido, este é formulado por vários autores ou contra vários réus ou
(ii) havendo vários pedidos, estes são formulados por todos os autores ou contra todos os
réus.
Há coligação quando existe pluralidade de partes e pluralidade quanto ao pedido – art.º 36º e ss
verifica-se quando, numa situação de pluralidade de partes, existem vários pedidos formulados por cada
um dos autores ou contra cada um dos réus,
- Isso não acontece na execução para pagamento de quantia certa, porque o objeto da prestação é
divisível.
- Pode acontecer, eventualmente, na execução para entrega de coisa certa, quando aquela indivisibilidade
material surgir como a própria indivisibilidade material dos atos de apreensão. Por exemplo, obtida a
sentença de condenação de B (alegado proprietário) e C (alegado usufrutuário) na entrega de um trator, a
ação deve ser dirigida contra os dois, caso o trator esteja numa garagem detida por ambos; é verdade que
o trator é usado pelo usufrutuário, mas quem é proprietário é o B.
- Na execução para prestação de facto, podem configurar-se obras ou factos plurais, como a realização de
um concerto.
Litisconsórcio necessário legal – deve aqui verificar-se, nos regimes obrigacionais, familiares,
reais e sucessórios, quais são as normas que impõem a presença de credores e devedores na ação
executiva sob pena de ilegitimidade.
Exemplos:
No campo do direito das obrigações: a. Art. 496º/2 CC + b. Art. 500º/1 CC + c. Art. 535º/1 CC + d. É
ainda de referir o art. 608º CC,
No campo dos direitos reais: a. Arts. 1404º e 1405º/1 CC + b. Art. 2091º/1 CC
No campo sucessório:
Este artigo aplica-se à ação executiva, mas há que adaptá-los. Assim, temos de distinguir consoante o
tipo de execução:
- Quanto à execução para prestação de facto – o art. 34º não se aplica, não havendo litisconsórcio
necessário legal por ou contra ambos os cônjuges na prestação de facto. Esta solução justifica-se pelo
facto de esta ação não colocar um problema de direitos ou bens.
- Quanto à execução para entrega de coisa certa – o art. 34º/1 e 3 terceira parte apenas se aplica à
execução para entrega de coisa certa quando dela possa resultar a perda ou oneração de:
a. Bens, próprios ou comuns, que só por ambos possam ser alienados ou a perda de direitos que só por
ambos possam ser exercidos, nos termos do direito substantivo. Por exemplo, perda de estabelecimento
comercial (art. 1682º-A CC).
b. Casa de morada de família, arrendada ou própria. Ambos têm de estar presentes, ativamente ou
passivamente.
i. Do lado ativo, o art. 34º/1 não se aplica. Se um ou ambos os cônjuges são credores, o risco de perda ou
oneração de bens e direitos indisponíveis, por meio da penhora e ulterior venda executiva, está do lado do
executado.
a. Se a dívida é comum em face do título e ambos devem ser executados por força da primeira parte do n.º
3 do art. 34º, temos litisconsórcio necessário passivo.
b. Se a divida é própria em face do título, ou seja, só um é que contraiu a divida, só esse cônjuge tem
legitimidade, não se podendo executar os dois cônjuges (art. 53º/1).
Mas:
- Se for penhorado bem próprio do executado que seja imóvel ou estabelecimento comercial, deve ser
feita a citação do cônjuge terceiro (art. 786º/1 a) primeira parte), para que aceda ao estatuto processual
previsto no art. 787º/1: será equiparado ao executado em termos de poderes processuais.
- Se for penhorado bem comum, o cônjuge terceiro é alheio à dívida, mas não é alheio ao bem. Assim,
terá de ser citado para que promova a separação da sua meação (arts. 786º/1 a) segunda parte, 740º e
787º/2).
- Se a dívida é própria em face do título, mas o exequente pretende demonstrar a sua comunicabilidade
(art. 1691º/1 a) segunda parte, b), c), d), e) e n.º 2) em ordem a obter título executivo suscetível de ser
executado sobre bens próprios e a meação do outro cônjuge, instaura o incidente da comunicabilidade
da dívida (arts. 741º, 786º/5 e 787º/2) – litisconsórcio voluntário conveniente passivo. Segundo RP, esta
solução encontra-se no art. 34º/3, segunda parte.
Mas isto só se não for uma sentença condenatória, porque se assim o for esta situação já deveria estar
resolvida na ação declarativa.
B) LITISCONSÓRCIO VOLUNTÁRIO
- CRÉDITOS PLURAIS:
Segundo o princípio do dispositivo, a regra é a de que o litisconsórcio seja voluntário. Importa, porém,
considerar a natureza da obrigação, ou seja, se são obrigações solidárias ou parciárias:
(ii) Se for uma obrigação parciária (arts. 512º a contrario e 533º CC), o credor pode não
envolver todos os interessados – se os envolver a todos, pode pedir a execução da totalidade
da dívida. Mas se optar por se apresentar sozinho ou apenas deduzir a pretensão contra um
dos obrigados, poderá apenas pode executar a respetiva quota-parte da prestação, sob pena
de excesso do pedido sobre o título e indeferimento parcial do requerimento (art. 726º/3).
Há, portanto, uma conveniência de litisconsórcio – falamos de litisconsórcio voluntário
conveniente.
(iii) Se for uma obrigação solidária (art. 512º CC), o cumprimento total e íntegro pode ser
exigido por um dos credores, em representação dos demais, ou realizado por um dos
devedores em representação dos restantes. No plano processual, basta que um dos credores
e/ou devedores intervenha para assegurar a legitimidade (art. 32º/2).
Regime idêntico rege a execução de obrigações indivisíveis com pluralidade de credores: qualquer dos
credores tem o direito de exigi-las por inteiro e o devedor, uma vez judicialmente citado para a execução,
deve exonerar-se relativamente a todos ou alguns dos credores (art. 538º/1 CC).
Tanto no caso das obrigações solidárias, como no de obrigações indivisíveis, cabe ao exequente optar
entre a via do litisconsórcio voluntário e a via da substituição processual, em que atua ou demanda
sozinho.
ILEGITIMIDADE SINGULAR
É consensual que na execução se admite intervenção de terceiros para ocuparem a posição de exequente
ou de executado nos casos tipificados na lei – arts. 54º/3 (do devedor, na execução movida contra o
terceiro com garantia real), 745º/2 e 3 (do devedor principal ou do fiador, na execução movida,
respetivamente, contra o fiador ou contra o devedor principal), 342º e 343º (oposição de direito ou posse
incompatível com a penhora), 786º/1 b) (concurso de crédito suportado por garantia real), 786º/1 a) e
740º (para fazer valer os direitos patrimoniais do cônjuge do executado) e 786º/5, 741º e 742º (para
comunicar lhe comunicar a dívida).
Esta tipicidade prende-se também com o princípio da estabilidade da instância (art. 260º)
Ainda assim, pode haver outras intervenções de terceiros, previstas nos artigos 311º e ss.
(intervenção espontânea ou provocada, acessória espontânea ou provocada, assistência, oposição)?
o RP entende que não. Esses incidentes estão desenhados apenas para a ação declarativa. A
execução não serve para convencer outrem do direito de alguma das partes, como, por exemplo,
para chamar o terceiro contra o qual o requerente pretenda exercer o direito de regresso em
ulterior ação de indemnização (art. 323º/4). O âmbito subjetivo da execução é o pré-definido
pelo título executivo e os sujeitos assim demandados hão de sempre apresentar legitimidade por
força dos arts. 53º e ss. e não como resultado do próprio procedimento de intervenção. A regra
vigente na execução é, assim, a da inadmissibilidade de intervenções atípicas de terceiros, seja a
que título for.
O princípio da estabilidade da instância determina que apenas podem ter lugar modificações subjetivas
quando a lei as preveja (artigo 259.º CPC):
i. as normas executivas admitem intervenções de terceiros nos casos típicos atrás referidos.
ii. as intervenções de terceiros dos artigos 311.º e seguintes CPC apresentam um regime unitário
tipicamente declarativo, na relação dos seus atos com o procedimento da ação pendente e, bem assim, na
sua função. As previsões respetivas postulam, na sua articulação com o procedimento pendente, uma
discussão declarativa que, em absoluto, está ausente do procedimento executivo, nomeadamente:
1.Articulados (artigos 312.º e 313.º CPC); 2.Despacho saneador (artigo 314.º, n.º1 CPC); 3.Audiência de
discussão e julgamento (artigo 323.º, n.º2 Código velho).
iii. Portanto, os incidentes gerais de intervenção de terceiro são, na sua concreta expressão, incidentes
declarativos
Ac. RP 28 abril 2008/0852357 decidiu que em processo executivo só excecionalmente se pode autorizar
a intervenção de terceiros, quando indispensável e necessária à defesa do executado. Mas essa
intervenção não será somente para o apenso de oposição à execução, mas na própria execução,
sujeitando-se aos atos executórios, naturalmente. Em qualquer caso, o terceiro que seja admitido à
execução terá o prazo próprio para dedução de oposição à execução em 20 dias a contar da citação para
intervenção. Trata-se de uma oposição superveniente, não pela matéria mas pelos sujeitos (artigo 728.º,
n.º2 CPC).
o MTS constrói uma posição aberta de admissibilidade de intervenção principal na execução.
Admite, assim, a intervenção principal provocada para sanar a preterição de litisconsórcio
necessário (arts. 261º/1 e 316º/1) e para fazer intervir um litisconsorte voluntário, maxime, o
executado provocar a intervenção de um seu co-devedor solidário, no prazo da oposição à
execução (art. 316º/3). Já o fiador, constante do título executivo juntamente com o devedor, não
poderia requerer a intervenção principal deste por falta de interesse processual: deve é invocar o
benefício da excussão prévia como o permite o art. 747º.
Inversamente, também o devedor principal não poderia provocar a intervenção do fiador, enquanto não se
esgotarem os seus bens. Simetricamente, admite ainda a intervenção principal espontânea, tanto em
composição de litisconsórcio necessário, como por parte de litisconsorte voluntário.
Quanto a este nada parece obstar à intervenção de um terceiro para vir ocupar a posição de co-exequente
ou de co-executado, a ter lugar a todo o tempo (art. 313º/1).
Quanto às intervenções acessórias foi negada, mas com exceções, a intervenção acessória (art. 321º),
tanto provocada, como por assistência (art. 326º), tendo em conta a finalidade deste tipo de processo –
visa obter a realização coativa da prestação não cumprida, pois que o dever de prestar já se encontra
corporizado no título executivo.
Tem-se entendido que a ação executiva, por visar um rápido pagamento, não é consentânea com
alterações de instâncias. Se o credor quiser mudar a sua estrutura processual, terá de colocar uma ação
executiva à parte.
PATROCÍNIO JUDICIÁRIO
Âmbito: do artigo 58.º conjugado com o artigo 40.º CPC = é decisivo o valor da causa:
1. Assim, nas execuções de valor superior à alçada da Relação, há patrocínio obrigatório, apenas por
advogado;
2. Nas execuções de valor superior à alçada do tribunal de 1.ª instância e igual ou inferior à alçada da
Relação, há patrocínio judiciário obrigatório:
3. Nas execuções de valor igual ou inferior à alçada do tribunal de 1.ª instância, o patrocínio não é
obrigatório, salvo para as reclamação de crédito superior à alçada da 1.ª instância, mas podem as partes,
voluntariamente, pleitar representadas por advogado estagiário ou solicitador.
1) Pressupostos processuais positivos: Trata-se daqueles pressupostos que devem estar preenchidos.
Ademais, o agente de execução que receba o processo deve analisá-lo e remetê-lo eletronicamente ao
juiz para despacho liminar ex vi artigo 726.º CPC ou por força do artigo 855.º, n.º2, alínea b) CPC, na
forma sumária.
NOTA: Há uma situação de ineptidão sanável (para além da que consta do art. 186º/3), quando o
exequente deduz um único pedido de execução prestacional, fundado em títulos executivos
correspondentes a causas de obrigações diferentes.
RP entende parecer existir aí um risco de ineptidão, na medida em que há duas causas de pedir para
uma única prestação igual em duas obrigações diferentes – pelo que não há uma cumulação de execuções
–, sendo que essa prestação em si mesma só pode ser associada a uma delas, o que se desconhece. Assim,
o Tribunal deverá proferir despacho de aperfeiçoamento, a fim de que o credor escolha o título (a
obrigação) que pretende executar e qual a de que pretende desistir da instância.
NOTA: há duas situações diferentes:
Uma coisa é saber se há pedido e causa de pedir (problema de aptidão), outra coisa é saber se o
título executivo é exequível ou não.
O título executivo contém o objeto processual, mas não é o objeto processual.
RP entende que o que importa é distinguir se a causa de pedir, i.e., o facto da aquisição do
direito a uma prestação, consta ou não do título executivo.
Por regra, a causa de pedir constará do título, dada a função de representação e a suficiência desta: a
causa de pedir não será autónoma em face do título e não carecerá sequer de enunciado (art. 724º/1 e) a
contrario).
Pode suceder que os factos que fundamentam o pedido não constem do título executivo, i.e., a causa
de pedir ser autónoma em face do título. Tem então, o exequente o ónus da respetiva alegação no
requerimento executivo (art. 724º/1 e)).
Todavia, o credor não tem de fazer prova da causa – a presunção de existência da dívida decorrente do
título executivo dispensa essa prova.
Nota: no caso de título executivo negocial art. 726º/2 c) = a causa de pedir tem de ser minimamente
aparente. Se assim não for, o juiz pode indeferir liminarmente o requerimento executivo por manifesta
inexistência de factos constitutivos da obrigação exequenda que sejam de conhecimento oficioso.
O pedido não decorre do título, pois não se confunde com o direito neste enunciado. Isto é, ainda que, por
exemplo, se estipule no contrato o direito à restituição do capital mutuado essa declaração negocial não é
a pretensão dirigida ao tribunal. Precisamente, o art. 724º/1 f) impõe ao exequente o ónus de formular o
pedido, sempre.
N0ta: pode ocorrer ineptidão do requerimento executivo por omissão de dedução do pedido executivo,
apesar da apresentação do título executivo (art. 186º/2 a)).
2) Pressupostos processuais negativos: Trata-se daqueles pressupostos que não podem estar
preenchidos.
2.1 Litispendência: há litispendência entre execuções quando o credor executa o mesmo direito a uma
prestação em mais do que um processo, ao mesmo tempo
a. Se pretende executar o mesmo título executivo mais do que uma vez, ainda que penhorando bens
diferentes (exemplo: alguém que usa a confissão de dívida mais do que uma vez e depois usa uma cópia
autenticada da confissão de dívida);
b. Se faz uso de vários títulos executivos para a mesma pretensão creditícia (exemplo: usamos o contrato
para uma execução e depois usamos o requerimento de injunção relativo ao mesmo contrato noutra
execução). A isto se designa concurso de títulos executivos.
Não há litispendência, porque uma coisa é executar a livrança – direito cambiário puro e simples –, outra
coisa é executar o contrato mútuo que se refere à divida subjacente.
Pergunta-se, no entanto, vamos executar duas vezes o mesmo valor? Apesar de serem duas dívidas
formalmente diferentes, não havendo litispendência, na prática podemos estar a executar o mesmo valor
de dívida. Qual é a solução?
O mecanismo é o seguinte:
Se o exequente deduzir duas execuções separadas, a primeira execução que terminar com o pagamento
importa a extinção da outra, ou seja, se na execução da livrança se pagar a livrança, na execução do
contrato de mútuo irá dizer-se que a dívida já está paga. Assim, a extinção de uma das execuções por
pagamento tem efeitos na outra.
Se o exequente deduzir um único pedido de execução prestacional, mas fundado nos dois títulos
executivos, há um risco de ineptidão, pelo que o Tribunal deverá proferir despacho de aperfeiçoamento.
NOTA: para que não haja a violação do princípio da proporcionalidade, a penhora total de ambas a
execução deve corresponder ao valor máximo, ou seja, se na execução n.º 1 se executam os 100.000€ de
dívida e na execução n.º 2 se executam os mesmos 100.000€, o valor total da penhora de bens não pode
ultrapassar os 100.000€ de dívida.
No plano subjetivo: não é relevante, para aferir a litispendência, se o direito à execução forçada
da dívida é exercido na posição processual de credor exequente ou de credor reclamante: a
dívida é sempre a mesma haverá litispendência quando o credor instaura mais do que
uma execução do mesmo crédito, seja quando:
o seja quando reclama o mesmo crédito com garantia real em mais do que uma execução .
Do lado passivo é mais duvidosa a aferição de litispendência: haverá que apelar ao efeito
extintivo da execução. Assim, segundo RP, parece existir litispendência se numa causa se
executar o devedor principal e noutra o devedor subsidiário. A identidade dos sujeitos do
ponto de vista da sua qualidade jurídica (art. 581º/2) deve ser entendida em sentido amplo de
modo a abranger não apenas os transmissários, mas os obrigados acessoriamente.
MAS, não haverá litispendência se numa execução se pede um terço do valor e na outra os demais dois
terços, pois o primeiro pedido não configura uma desistência do pedido na parte não executado, com a
inevitável extinção do direito que se pretendia fazer valer (arts. 285º e 288º).
A litispendência é de conhecimento oficioso (arts. 726º/2 a), 855º/2 b) e 734º) e dita a absolvição da
segunda instância executiva (arts. 278º/1 e), 577º/i) e 578º 1.ª parte), mesmo que já haja bens
penhorados nessa causa; há, afinal, uma causa desnecessária.
Discute-se se essas penhoras da causa repetida podem ser aproveitadas para a primeira causa, de maneira
a aproveitar-se a eficácia dos atos processuais:
c. LEBRE DE FREITAS defende a permanência das penhoras da causa repetida e sua manutenção
no âmbito da primeira ação por meio da aplicação analógica da remessa prevista no art. 832º/4
CPC anterior, obstando à absolvição da segunda instância (art. 278º/2).
a. A segunda instância será, em qualquer caso extinta, sendo despiciendo aplicar o art.
832º/4 CPC antigo, ainda que por analogia. Ademais, esse regime não subsiste no novo
Código. O que se deve é apurar da eventual coincidência quanto aos bens penhorados
Assim:
a. Se os bens penhorados nas duas ações forem os mesmos, a segunda penhora extingue-se com a
respetiva causa e a primeira penhora, naturalmente, subsiste;
b. Se os bens forem diferentes entre si, uma eventual não extinção das segundas penhoras terá de ser
avaliada e decidida pelo agente de execução, atentando aos princípios da proporcionalidade, adequação e
legalidade material e adjetiva da fase da penhora, considerada no conjunto das duas ações.
A favor dessa solução laboram tanto o princípio da economia processual como o princípio da
adequação formal. A manterem-se todas as penhoras, os atos da segunda causa terão de ser assumidos
na primeira causa com data de efeitos retroativa à sua prática efetiva.
Há exceção de caso julgado na ação executiva? Não; a exceção de caso julgado visa obviar à prolação
de sentenças contraditórias e não há sentenças na ação executiva enquanto tal, dado que o objetivo da
ação executiva não é a prolação de sentenças.
3) Porém, o atual art. 732º/5 admite que a sentença de procedência da oposição à execução, além
de extinguir a instância (com valor de caso julgado formal – art. 620º/1), pode fazer caso julgado
material quanto à existência, validade e exigibilidade da obrigação.
4) E também se o exequente desistir do pedido, o juiz terá de prolatar sentença (art. 290º/3).
Essa sentença causará exceção do caso julgado em segunda execução do mesmo direito a prestação
perante os mesmos sujeitos.
Porém, visto que a execução não visa produzir uma sentença, o tribunal não fica na situação do art.
580º/2 só por uma mera pendência da execução. Na verdade, o caso julgado visa evitar a contradição
ou reprodução de decisão anterior, pelo que só pode ser oposto quando o tribunal tiver de produzir uma
decisão sobre a existência, validade e exigibilidade da obrigação, ao abrigo dos arts. 726º/2 e 734º, e em
sede de despacho liminar e sentença proferidos na oposição à execução (arts. 732º/1 e 4, respetivamente).
A insolvência prevalece sobre quaisquer outras diligências executivas, sejam em ações executivas ou
em providências cautelares. Art. 88º CIRE, a declaração de insolvência determina a suspensão de
quaisquer diligências executivas ou providências requeridas pelos credores da insolvência que atinjam os
bens integrantes da massa insolvente.
Obsta ainda à instauração ou ao prosseguimento de qualquer ação executiva intentada pelos credores
da insolvência; porém, se houver outros executados, a execução prossegue contra estes (art. 88º/1 2.ª parte
CIRE).
A pendência da insolvência será de conhecimento oficioso e leva à absolvição da instância, nos termos
dos arts. 278º/1 e), 577º/i) e 578º 1.ª parte.
Tem-se discutido se a suspensão é para todas as execuções, seja qual a for a sua modalidade, ou se
abrange apenas as execuções de dívidas.
A ser assim, continuam a correr os seus termos as execuções para prestação de facto e para
entrega de coisa certa. Por exemplo, já se decidiu que não deve ser ordenada a sustação da ação
executiva para prestação de facto, avaliado por perito o respetivo custo e efetuada a penhora da
quantia necessária para o respetivo pagamento e das custas devidas, que foi depositada à ordem
do juiz, devendo antes a execução prosseguir os seus termos normais.
RP discorda parcialmente: a ratio do art. 88º CIRE é a preservação de bens do insolvente para
os interesses de insolvência, pelo que não podem prosseguir as execuções que tenham por
objeto bens em poder do devedor, a que título for e seja para que finalidade for – entrega,
pagamento – e com que expressão processual for – execução autónoma, execução acessória.
Esses bens devem ser incluídos na massa insolvente e reservar-se a apreciação dos direitos de
terceiro sobre eles e a sua liquidação para o processo de insolvência.
Assim, devem ser suspensas (i) as execuções para pagamento de quantia certa, (ii) as execuções para
entrega de coisa certa e (iii) as execuções convoladas.
Art. 709º/1 regime de cumulação de títulos que não sejam apenas sentenças + Art.º 710º regime da
cumulação fundada num único título, que é a sentença Em ambos os casos se tratam, como vimos, de
cumulações simples. A ausência de referência legal à cumulação alternativa e à cumulação subsidiária
(arts. 553º e 554º), não permitirá concluir pela aplicabilidade dos respetivos regimes. São soluções
previstas somente no processo de declaração, como mostram a sua localização sistemática e, sobretudo, a
sua funcionalidade
Nota - deve ser liminarmente indeferido requerimento executivo em que o exequente pretenda deduzir
uma cumulação alternativa processual.
Pressupostos:
(b) Compatibilidade substantiva (arts. 555º/1 e 186º/2 c)): as execuções cumuladas devem ser
compatíveis entre si nos seus efeitos materiais e práticos; assim, não podemos cumular títulos executivos
que sejam impossíveis de executar ao mesmo tempo
Exemplos: 1. Execução de dois créditos de entrega de uma mesma coisa ou de coisas diversas mas
interdependentes; 2. Se execute um crédito de entrega incompatível com uma prestação de facto; 3. Se
executem duas prestações de facto incompatíveis entre si.
(a) Identidade funcional entre as execuções (art. 709º/1 b)) – só se podem cumular execuções que tenham
a mesma finalidade, i.e., só se pode cumular execução para pagamento de quantia certa com execução
para pagamento de quantia certa
(b) No caso da cumulação de várias sentenças ou de sentença com título de categoria diversa, não pode
ser cumulada a execução da decisão judicial que corra nos próprios autos (art. 709º/1 d)) cada tribunal
executa a sua própria sentença, não podendo executar sentenças alheias. Assim, a lei não está a impedir
que se cumulem várias sentenças entre si; está antes a impedir que se cumulem sentenças que devam
ser executadas nos próprios autos.
o Cumulação de execuções fundadas em sentença (art. 710º): Nestes casos temos um só título
executivo – sentença – e dele derivam várias condenações.
Ex típico: é o da sentença de despejo, em que há dois efeitos: (i) efeito extintivo do contrato de
arrendamento e (ii) condenação na entrega do locado e no pagamento de rendas ou indemnização. Nestes
casos, é permitido cumular a execução de todos os pedidos julgados procedentes.
E porquê esta especialidade? Poruqe tem como utilidade afastar a necessidade de identidade de
finalidades quando está em causa a cumulação de execuções fundadas em sentença.
Nota: os outros pressupostos não estão dispensados. A lei não os refere porque pressupõe que estão
preenchidos, dado que os pedidos vieram da mesma sentença, pelo que o tribunal declarativo terá
verificado essa compatibilidade entre os pedidos declarativos. De todo o modo, esta presunção é ilidível.
Se esses pressupostos não estiverem de facto preenchidos, o juiz terá de usar do princípio da adequação
formal (art. 547º) tanto pode permitir ao juiz compor um procedimento ad hoc, como recusar a
cumulação quando tal viole o limite do processo equitativo, afirmado no art. 547º.
Cumulação superveniente (art. 711º):
É a situação em que inicialmente há apenas um pedido de execução de um título e, mais tarde, requer-
se a execução de uma outra dívida.
Admite-se uma cumulação tardia, superveniente, com base noutro título, mas essa cumulação tem de
respeitar o art. 709º.
n.º 2, procede a facilitação se colocar uma ação para execução para entrega de coisa certa ou
para prestação de facto (que inicialmente não dava para cumular com uma execução para
pagamento de quantia certa, dado o limite da al. b) do art. 709º/1), e se esta se convolar numa
execução para pagamento de quantia certa deixa de haver obstáculo à cumulação de uma
inicial execução para entrega de coisa certa ou para prestação de facto com um pedido a
posteriori de execução para pagamento de quantia certa.
Ex: uma sentença que tinha condenado em dois pagamentos e só se executa um. O art. 711º
permite a execução de outra dívida, mas constante de um outro título; e permite uma execução
de uma dívida que já constava do título inicial?
Ora, aparentemente, não pode o credor executar uma dívida que já constava do requerimento inicial, pelo
que o art. 711º não poderia ser aplicado a este caso. Este entendimento talvez seja muito literal – é
aquela que RP tem no seu manual.
RP admite rever esta posição, através de um argumento de maioria de razão: se se pode executar uma
outra dívida que conste de um outro título, porque é que não se poderá executar uma outra dívida que
conste do título originário? Não parece que haja aqui um prejuízo de parte a parte.
É duvidosa ainda a situação em que há uma dívida que só se vence depois de se deduzir o
requerimento executivo; pode admitir-se a execução de uma dívida fundada no mesmo título, mas que
só se vença a posteriori?
Estamos aqui a lidar com obrigações de trato sucessivo. A lei, no art. 850º/1, estabelece que a extinção da
execução, quando o título tenha trato sucessivo, não obsta a que a ação executiva se renove no mesmo
processo para pagamento de prestações que se vençam posteriormente.
De acordo com RP, por maioria de razão, esta solução tem de aplicar às prestações que se vão
vencendo na pendência da ação executiva, permitindo ao exequente, na pendência de execução, ir
cumulando novo requerimento de execução de alargamento do objeto da execução, à medida que se
forem vencendo novas prestações.
A coligação ativa é sempre admissível (alíneas a) b) c) - 1.ªs partes) sejam credores comuns,
sejam privilegiados com garantias reais;
A coligação passiva:
Em geral é admissível:
- Ainda que o não estejam, os devedores sejam titulares de quinhões no mesmo património autónomo ou
de direitos relativos ao mesmo bem indiviso, sobre os quais se faça incidir a penhora (alínea c));
Qual é a forma de processo? Se a formas de processo para cada um deles for a mesma, o
problema não se coloca. A dificuldade coloca-se quando para um objeto a forma é ordinária e
para o outro a forma é sumária – a resposta está no art. 709º/5: a forma é a ordinária.
PORÉM: Se algum dos pedidos seguir uma forma de processo especial, não pode haver cumulação (art.
709º/1 c)).
Ex: podemos ter um pedido para o qual é competente o Tribunal do Porto e outro para o qual é
competente o Tribunal de Lisboa.
i. Sempre que possível, sana-se – o juiz profere um despacho liminar de convite ao saneamento. As
situações em que se cumulam várias execuções com finalidades distintas ou as coligações que não têm
conexão entre os litígios coligados, são sanáveis – o tribunal notifica o exequente para, ao abrigo do art.
38º, em caso de coligação, escolher a execução que pretende manter, sob pena de indeferimento liminar
(despacho de aperfeiçoamento).
NOTA: se estes vícios se verificarem em sede de cumulação sucessiva e apenas em relação ao pedido
sucessivo, exclui-se o pedido sucessivo e mantém-se a execução como estava.
FASE INTRODUTÓRIA
⭐ FORMAS PROCEDIMENTAIS
⇒ PROCESSO COMUM: A execução para pagamento de quantia certa tem uma sequência
procedimental base, que é sempre a mesma:
5. Fase da venda
6. Fase do pagamento
O que distingue as duas formas da execução para pagamento de quantia certa é a ordem das fases
iniciais A execução para pagamento de quantia certa pode ter (art. 550º/1):
i) Forma ordinária – segue exatamente a sequência suprarreferida. Pode dizer-se que esta é a forma
do juiz, e por regra tem despacho liminar - há contraditório antes da penhora.
ii) Forma sumária – o requerimento executivo vai para o agente executivo que procede desde logo à
penhora, apenas havendo citação e possibilidade de oposição posteriormente à penhora
(contraditório deferido). Pode dizer-se que esta é a forma do agente de execução, e por regra não
há lugar a despacho liminar.
Princípio da coincidência: quando há despacho liminar, há contraditório prévio à penhora; quando não
há despacho liminar, também não há contraditório prévio à penhora.
Este princípio tem exceções: na forma ordinária, há um caso em que não há citação prévia à penhora
(art. 727º) e, na forma sumária, há um caso em que se cita antes da penhora (art. 855º/5).
o Do art. 550º/2 resulta que a regra é a de que o processo comum na execução para pagamento de
quantia certa é a forma ordinária (arts. 724º a 854º), só havendo lugar a processo sumário
nos casos expressamente previstos na lei.
o Os casos em que o processo segue a forma sumária (arts. 855º a 858º) encontram-se tipificados
no n.º 2 do art. 550º.
Ex: Imagine-se que há um cheque que titula uma dívida de 9.000€ e é levado à execução : a forma é a
forma sumária, nos termos do art. 550º/2 d)). A obrigação é vencida porque é levada a pagamento no
prazo de 8 dias e porque houve protesto.
Mas imagine-se que o credor só quer executar 5.000€ desse cheque. Qual é a forma? RP entende
que deve ser a ordinária, pois é isso que está titulado. Para o Professor, o que importa para efeitos da al. d)
do art. 550º/2 é o que consta do título e não do pedido; caso contrário, o credor faria depender de si
próprio a forma do processo, controlando nomeadamente o timing da penhora e o momento da defesa.
ERRO NA FORMA DO PROCESSO: O erro no uso das formas procedimentais devidas constitui
nulidade processual primária, nos termos do art. 193º.
SINTESE:
I. Pagamento de quantia certa: ocorre na forma sumária nos termos dos: Artigo 550.º, n.º2, alínea a) CPC
se não dever ser executada no próprio processo; e Artigo 626.º, n.º2 CPC se dever ser executada no
próprio processo, salvo os casos que caiam no artigo 550.º, n.º3 CPC.
II. Entrega de coisa certa: corre em forma única ex vi artigos 550.º, n.º4 e 626.º, n.º1 CPC, i.e., com
admissão pela secretaria e despacho liminar, mas com dispensa de citação prévia à entrega (artigo 626.º,
n.º3 CPC).
III. Prestação de facto: corre em forma única ex vi artigos 550.º, n.º4 e 626.º, n.º1 CPC, i.e., com
admissão pela secretaria, despacho liminar e citação prévia (artigo 626.º, n.º3 CPC);
IV. Entrega cumulada de quantia certa/entrega de uma coisa e prestação de facto: corre na forma sumária
adaptada nos termos do artigo 626.º, n.º3 CPC.
ii. Sem prejuízo dos casos que caiam no artigo 550.º, n.º3 CPC, corre numa forma sumária limitada,
prevista no artigo 855.º, n.º5 CPC, em que depois de admissão pelo agente de execução (artigo 855.º
CPC), há despacho liminar (artigo 726.º CPC) e citação prévia, no caso de ser necessária a penhora de: 1.
bens imóveis; 2. estabelecimento comercial; 3. direito real menor que sobre eles incida; ou 4. quinhão em
património que os inclua. f. A execução de titulo extrajudicial de obrigação vencida de valor superior ao
dobro da alçada de 1.ª instância: corre na forma ordinária, nos termos dos artigos 550.º, n.º1 CPC. g. A
execução de título extrajudicial para entrega de coisa certa: corre na forma única, ex vi artigo 550.º, n.º1
CPC. h. A execução de título extrajudicial para prestação de facto: corre na forma única, ex vi artigo
550.º, n.º1 CPC.
⇒ PROCESSOS ESPECIAIS:
O processo executivo comum tem por objeto a execução de qualquer obrigação civil, salvas exceções.
Estas exceções correspondem a processos e procedimentos executivos qualificados como especiais, em
razão de terem por objeto um específico crédito exequendo, que justifica especialidades no plano da
marcha e dos atos do processo.
- Execução para pagamento de custas, multas ou outras quantias contadas (arts. 35º e 36º RCP);
- Execução para entrega de coisa imóvel arrendada, em sede de execução para entrega de coisa certa (arts.
864º e ss.).
(ii) Processos mistos, compostos de fase declarativa e de fase executiva (execução procedimentalmente
incorporada):
- Providências cautelares que impliquem atos materiais, como a restituição provisória de posse (art. 377º)
ou o arresto (art. 391º).
(iii)Atos executivos avulsos – processos especiais em que, pontualmente, se prevê a prática de atos
executivos:
- A ação de divisão de coisa comum é uma ação constitutiva, mas pode ser necessário vender a coisa (art.
929º/2), o que é, em si mesmo, um ato executivo. Às execuções especiais, além das suas regras próprias
(incluindo remissões para determinados regimes da execução comum), aplicam-se subsidiariamente as
normas do processo ordinário (art. 551º/4).
⭐ FORMA ORDINÁRIA
⇒ Impulso processual: O requerimento executivo é o ato pelo qual o credor dá o impulso processual
inicial à ação executiva, numa clara expressão do princípio do dispositivo. A acompanhar o requerimento
executivo tem de estar sempre o título executivo (art. 724º/4 a)).
A falta de elementos comuns acarreta a recusa do seu recebimento pela secretaria ou pelo
agente de execução, consoante a forma seja ordinária ou sumária (arts. 725º/1 b) e c) e 855º/2 a),
respetivamente)
quanto aos elementos eventuais, o exequente pode preenchê-los ou não, mas, consoante os
casos, a sua falta pode levar à recusa
Formalidades: O requerimento executivo não pode ser feito de forma formalmente livre. Os arts. 712º/2
e 725º/1 a) determinam que a pretensão executiva deve ser feita através de um modelo aprovado, que
consta da Portaria n.º 282/2013. Quer se use a (i) via eletrónica ou o (ii) suporte de papel para submeter o
requerimento, o modelo tem sempre de ser respeitado.
O requerimento executivo deve ser redigido em língua portuguesa (arts. 133º/1 e 558º/h), ex vi
551º/1), assinado pela parte ou pelo mandatário judicial (art. 558º/e), ex vi art. 551º/1).
O art. 144º/7 restringe o uso da via suporte de papel aos atos processuais para os quais não
seja necessário mandatário e em que a parte não esteja patrocinada.
O art. 144º/8 admite o uso de papel pela parte patrocinada por mandatário havendo justo
impedimento para a prática do ato processual.
Quando é que está pendente a ação executiva? O art. 259º determina que a instância se inicia pela
propositura da ação, considerando-se esta proposta logo que seja recebido na secretaria (ou pelo agente de
execução) o respetivo requerimento. Ora, temos de ter aqui em consideração a ressalva do art. 144º
a data de início da ação é a data do envio, se e apenas se o requerimento for recebido pela secretaria.
Caso a LOSJ atribua competência a juízo de execução, o requerimento executivo, depois de deduzido
deverá ser remetido a esse tribunal, com caráter de urgência 85º/2.
O requerimento apenas pode ser deduzido após a obtenção da sentença condenatória, nos termos gerais
dos arts. 703º/1 a) e 704º.
⇒ Distribuição E Admissão:
A distribuição está prevista no art. 212º e é feita eletronicamente (arts. 16º a 18º Portaria n.º 280/2013).
Esse ato de controlo administrativo liminar tem lugar no prazo de 10 dias a contar da
distribuição (arts. 725º/1 e 855º/2 a)).
b. Pressupostos processuais da execução – só existe na forma sumária (art. 855º/2 a)), pois apenas se
justifica quando não caiba ao juiz despacho liminar.
Para cumprir este preceituado, o agente de execução tem o dever de verificar se ocorrem exceções
dilatórias, não supríveis, de conhecimento oficioso (art. 726º/2 b)) ou se, embora ocorram, elas são
passíveis de convite ao exequente para suprir as irregularidades do requerimento executivo ou para sanar
a falta de pressupostos.
Decorre a contrario da solução de suscitação de despacho liminar judicial que o agente de execução
não tem competência para rejeitar o requerimento por falta de pressupostos processuais ou para
convidar o exequente a diligências de correção ou de suprimento. Se tal suceder, são nulos os respetivos
despachos, por violação dos arts. 855º/2 b) e 723º/1 corpo.
c. Condições formal e material da pretensão executiva – trata-se mais uma vez de uma verificação
implícita: o agente de execução deve suscitar a intervenção do juiz (arts. 723º/1 d) e 726º/2 a), c)
e d)). Esta verificação do agente de execução implica um juízo implícito sobre as condições da
execução; dele resultará ou a remessa do requerimento ao juiz ou recebimento do requerimento
executivo e início das diligências de penhora (art. 855º/3). Mais uma vez, o agente de execução
não tem competência para rejeitar o requerimento por falta daquelas condições, sob pena de
nulidade do respetivo despacho.
Conclui-se que nem a secretaria nem o juiz de execução podem tomar posição sobre os pressupostos
processuais.
Os pressupostos processuais é matéria que compete exclusivamente ao juiz. O agente de execução exerce
a totalidade destas competências, na forma sumária; a secretaria tem a competência restringida apenas ao
primeiro nível, em sede de forma ordinária.
Nota - Tratando-se de execução de título de crédito, a pendência da causa executiva determina a não
caducidade do direito de propor a ação, nos termos dos arts. 70º e 77º LULL e 52º LUC
⭐ FORMA ORDINÁRIA
É admitido indeferimento parcial, tanto objetivo – quanto à parte do pedido que exceda os limites
constantes do título executivo (art. 726º/3) –, como subjetivo – quanto aos sujeitos que careçam de
legitimidade para figurar como exequentes ou executados.
o Despacho de citação do executado (art. 726º/6) – se não houver lugar a nenhum dos
despachos supra referidos, ou se entretanto as vicissitudes forem sanadas, há lugar a
despacho de citação do executado. Na forma ordinária, determina o art. 726º/6 que,
seguindo a execução, é citado o executado para, no prazo de 20 dias, pagar ou opor-se à
execução.
Na forma sumária, por regra, não há despacho liminar, pelo que normalmente o agente de execução
procede logo às diligências de penhora. É possível ainda o juiz mandar citar o cônjuge, para além do
executado (art. 741º/2).
Despacho sucessivo: art. 734º determina a possibilidade de haver lugar a despacho sucessivo: se
num dado processo o juiz não apreciou as questões que seriam objeto do despacho liminar,
pode vir mais tarde apreciá-las. Esta possibilidade não fica precludidacom um eventual
despacho liminar.
Trata-se de um curto despacho de saneamento da causa, que se justifica por o despacho liminar não ter
ocorrido (forma sumária) ou, se ocorreu, não ter produzido caso julgado formal
Isto sucede normalmente na forma sumária, em que o juiz não se pronunciou sobre o problema.
Na forma ordinária, ainda que menos frequentemente, pode o mesmo suceder. A apreciação genérica em
que nenhuma questão específica foi julgada, não forma caso julgado formal. Assim sendo, não impede o
juiz de tomar posição sobre um vício concreto que as partes venham suscitar.
⇒ Citação:
Há exceções:
(a) Na forma ordinária – art. 727º: apesar de haver lugar a despacho liminar, é depois proferido um
despacho de dispensa de citação prévia, sendo o executado citado apenas depois da penhora.
(b) Na forma sumária – art. 855º/5: para respeitar o princípio da proporcionalidade da penhora, não se
procede à penhora sem antes informar o executado.
2. Forma sumária – a citação tem lugar no próprio ato da primeira penhora, desde que o executado esteja
presente; se não estiver, a citação é feita no prazo de 5 dias a contar do primeiro ato de penhora.
Ato de citação:
Procedimento: Na execução com citação prévia à penhora ou forma ordinária a citação é feita
nos termos gerais, como se estatui no art. 10º Portaria 282/2013. Deste modo, será feita pelo
agente de execução (art. 719º/1), por via postal (art. 228º) Se esta citação se frustrar, a citação
é efetuada mediante contacto pessoal do agente de execução com o executado (artigo 231º/2)
Frustrada esta última, o agente de execução procede à citação edital eletrónica do executado
(arts. 11º e 12º Portaria).
Conteúdo: previsto no art. 227º/1. A sua omissão pode ser causa de nulidade de citação (art. 191º/1).
i. Efeitos processuais:
- Principal – constituição da relação jurídica processual entre o executado e o Tribunal (art. 259º/2).
- Secundário – litispendência: o credor não pode colocar nova execução contra o mesmo devedor pela
mesma dívida. Se tal acontecer, a litispendência pode ser alegada na segunda execução, na oposição à
execução.
Constituída a instância, esta irá reger-se pelo princípio da estabilidade da instância (art. 260º e
564º/b)): não pode haver alteração das partes, do pedido e da causa de pedir, salvas as exceções previstas
na lei, designadamente:
Por outro lado, se pode haver lugar a uma cumulação de execuções, nos termos do art. 711º e também dos
arts. 788º e ss., muito claramente só pode ocorrer alteração da causa de pedir e do pedido executivos por
acordo do executado, ao abrigo do art. 264º.
A haver alteração da causa de pedir e do pedido, ela não tem efeitos retroativos: se houve já bens
vendidos ou adjudicados, as alienações não podem ser inutilizadas (art. 829º/1 a contrario e pressuposto
no art. 848º/1 segunda parte).
Contudo, pode haver desistência da instância pelo exequente (art. 285º/2), o que implica a
extinção da execução.
a. Coloca o réu devedor em mora, se for pura a obrigação exequenda (arts. 805º/1 CC e 610º/2 b)). Assim,
convirá fazer-se interpelação antes da citação, para começar a contar a mora mais cedo.
b. Interrupção da prescrição se o réu for devedor e correr em seu benefício o prazo da prescrição (art.
323º/1 CC). Imaginemos que não se consegue fazer a citação; nesse caso, o art. 323º/2 CC determina que
continua a haver interrupção da prescrição.
c. Faz cessar a boa fé do possuidor (art. 564º/a)) – só releva em especial na execução para entrega de
coisa certa.
Falta e nulidade de citação: A falta de citação só ocorre nos casos previstos no art. 188º e a nulidade de
citação nos casos previstos no art. 191º. São ambas nulidades primárias, nominadas e típicas.
Nos termos do art. 198º/2 e 851º/1, a falta de citação pode ser arguida pelo executado a todo o tempo. É
de conhecimento oficioso pelo tribunal (art. 196º).
A nulidade segue o regime dos arts. 191º/1 e 2 e 196º: deve ser arguida no prazo da oposição à
execução (arts. 728º/1 e 856º/1). Porém, não tendo sido indicado prazo para a defesa ou sendo a
citação edital, o vício pode ser arguido aquando da primeira intervenção do citado no processo.
As nulidades de citação não são de conhecimento oficioso, salvo a nulidade da citação edital (art.
196º).
O executado, mal saiba que não foi citado ou não foi devidamente citado:
ii. Ou intervém de imediato na ação executiva, arguindo esse vício – caso em que são sustados
todos os termos da execução (art. 851º/2). O juiz não pode concluir que a citação ocorreu
apenas com base em presunção judicial, mas deve ter presente a prova documental do
efetivo ato de citação.
Questão: Se a arguição de falta ou nulidade de citação for julgada procedente, anula-se tudo quanto tenha
sido praticado no processo depois do momento do vício (arts. 187º in fine, 195º/2 primeira parte e 851º/2
in fine). E se o executado apenas se apercebe já no final da execução, quando esta já se extinguiu e os
seus bens já foram executados? A solução está no art. 851º/3: reclamação a posteriori. Se for procedente,
esta reclamação implica a reabertura da ação executiva e a anulação das vendas dos bens penhorados (art.
839º/1 b)). Todavia, se a partir da venda tiver decorrido já o tempo necessário para a usucapião, o
executado ficará apenas com o direito de exigir do exequente, no caso de dolo ou de má fé deste, a
indemnização do prejuízo sofrido, se esse direito não tiver prescrito entretanto (art. 851º/4).
(i) Pagar voluntariamente a sua responsabilidade processual, i.e., as custas e a dívida (arts. 846º a 849º).
(ii) Deduzir oposição à execução, no prazo de 20 dias a contar da citação (arts. 728º e ss.).
(iii)Não fazer nada: o processo continua normalmente, não havendo quaisquer consequências no plano
processual. Não há, contrariamente ao que se verifica no processo declarativo, uma situação de revelia
por falta de oposição à execução. Acórdão de 16.10.2018, o TRC afirmou que a não contestação de uma
ação executiva, e de dedução de oposição à execução não representa a observância de qualquer dos ónus
cominatórios (ónus da contestação, ónus da impugnação especificada) a cargo do réu na ação declarativa:
assim a omissão de oposição não produz a situação de revelia
A oposição à execução é o meio processual pelo qual o executado exerce o seu direito de defesa
perante o pedido do exequente.
Na ação executiva, quanto ao conteúdo, o direito de defesa corporiza-se num pedido do executado de
extinção da execução (art. 732º/4) com fundamentos que para os títulos diversos de sentença têm, em
geral, o teor próprio da contestação, mas que, na oposição à execução de sentença, além de mais
restritos, se aproximam dos fundamentos do recurso de revisão por ilegalidade e das ações de
reabertura do contraditório, i.e., dos meios de defesa contra uma decisão judicial.
Processualmente, a defesa do executado não integra o procedimento de execução: trata-se de uma ação
declarativa – constituída por PI, prova, julgamento, sentença final, etc. –, incidental à execução,
fisicamente correndo por apenso.
o ANSELMO CASTRO, é uma contra-ação acessória à ação executiva: é uma ação que só vive
no âmbito da ação executiva, tanto que se se extinguir a ação executiva extingue-se a ação de
oposição à execução. Apesar disto, pode considerar-se ser uma relação processual própria,
com uma certa autonomia, já que tem o seu próprio objeto processual, os seus pressupostos
processuais, etc. É uma ação autónoma na instância, mas acessória quanto à sua
sobrevivência e funcionalidade.
o LF: É uma ação declarativa que corre por apenso ao processo executivo em que é possível ao
executado, não só levantar questões de conhecimento oficioso, mas também alegar factos novos,
apresentar novos meios de prova e levantar questões de direito que estejam na sua
disponibilidade. A oposição do executado visa a extinção da execução, mediante o
reconhecimento da atual inexistência do direito exequendo ou da falta dum pressuposto,
específico ou geral, da ação executiva.
É, ainda, uma ação especial, tanto quanto ao seu objeto, como quanto ao seu procedimento, pois tem
regras processuais próprias.
⇒ CONSEQUÊNCIAS DA ACESSORIEDADE:
ALÉM DISTO:
O autor não pode cumular objetos processuais na oposição à execução, nomeadamente de tipo
reconvencional, como se le no 731º
O pedido só pode ser um – o da extinção da execução. É uma ação declarativa que não tem uma função
condenatória, o que vai ser discutido na oposição à execução é somente se há ou não a extinção da
execução.
Assim, ressalvados os limites do art. 732º/5, a oposição à execução não produz sentenças declarativas,
nomeadamente condenatórias, seja contra o exequente, seja contra o executado.
1. PEDIDO: O autor (executado) deduz um pedido de extinção da execução total ou parcial, conforme
alegue que pagou parcialmente ou totalmente a dívida. Este pedido não está enunciado expressamente,
mas é percetível pelo art. 732º/4 –o efeito de uma decisão só pode ser o efeito pedido (art. 609º/1).
o Efeito primário pedido é a extinção da instância executiva, nos termos do art. 732º/4,
o que lhe dá a natureza de ação constitutiva processual.
Em certos casos, este efeito extintivo supõe, como efeito prejudicial, a revogação incidental da
(aparente) força executiva do título executivo, seja ele a sentença condenatória, seja ele título diverso
de sentença. Dado que mesmo estes efeitos ficam com o valor de caso julgado formal, resumem-se à
extinção da execução.
o Porém, o art. 732º/6 enuncia que, para além do efeito extintivo, a decisão de mérito
proferida nos embargos à execução constitui caso julgado material CASO DE
efeito secundário da oposição à execução: a simples apreciação negativa da existência,
validade e exigibilidade da obrigação. ~
O que faz caso julgado é o que se pediu e, portanto, se o executado pediu a extinção da execução, só
haveria caso julgado quanto a isso; sendo a extinção da execução um efeito meramente processual, não
tendo nenhuma consequência no direito em si mesmo, esse caso julgado seria formal.
Discutiu-se, então, se poderia haver caso julgado material quanto aos fundamentos da sentença: se a
sentença vem declarar extinta a execução porque a dívida está paga, será que deve haver caso julgado
quanto à extinção da dívida? A regra é que não pode, pois, o princípio é o de que o caso julgado seja
relativo à decisão e não aos seus fundamentos.
Só podem ser os previstos na lei e dependem do tipo de título executivo em que se funda a execução.
Nos termos do art. 731º, podem ser invocados como causa de pedir para a oposição à execução os
mesmos fundamentos que se poderiam deduzir na contestação, ou seja, os fundamentos do art. 729º, (als.
a), c), e) e g) primeira parte) e qualquer daqueles previsto no art. 571º/1 (defesa por impugnação e defesa
por exceção dilatória ou perentória).
Nenhum fundamento pode ser excluído, pois o executado nunca teve oportunidade de se defender
perante um tribunal.
Por que razão não é o art. 571º suficiente? Porque temos de recorrer ainda ao art. 729º? Porque o art.
729º tem fundamentos que não aparecem na normal contestação de uma ação declarativa.
A ratio desta restrição de fundamentos é a tendencial imutabilidade do caso julgado, que conduz a que
os tribunais não tenham poder jurisdicional para julgar novamente o que já foi decidido em ação judicial
ou procedimento em que foi produzida a sentença.
Para além de ser um sistema de fundamentos taxativos, a oposição à execução de sentença é também um
sistema híbrido de “contestação”, “revisão” e de “reabertura do contraditório”:
O juiz de execução tem uma competência material restrita para julgar os embargos à
sentença – art.º 729º
(ii) Causas de pedir respeitantes à relação de dívida, incluindo a sua demonstração por título executivo.
(iii)Já pela perspetiva da função de defesa específica (arts. 571º e 10º/5, 198º e 713º), um fundamento de
oposição à execução pode consistir em impugnação de facto ou de direito, em exceção perentória, em
exceção dilatória, em alegação de falta de condições de material e formal da execução e em arguição de
nulidade.
Quais são então os fundamentos que se podem opor à execução de um título executivo?
fundamentos de forma e fundamentos de mérito:
Vícios do art. 729º/a) – este é o regime comum. Se o título for uma sentença art. 729º/a); se for título
diverso de sentença art. 731º que remete para o 729º, aplicando então a al. a).
o quando for levada à execução uma sentença que não exista, por exemplo, se foi dada por uma
entidade que não um tribunal ou se a sentença nem contivesse condenação (art. 607º/3 in fine).
o casos de sentenças que existem, mas que padecem de vícios muito graves, por exemplo:
sentenças que não foram assinadas pelo juiz, sentenças que foram revogadas em recurso
extraordinário, sentenças que não contenham comando de atuação ou de condenação, sentenças
pendentes de recurso com efeito suspensivo (arts. 704º/1 e 647º/2 a 4).
Quanto aos TÍTULOS DE CRÉDITO, há uma constante jurisprudência atinente a várias causas de
inexequibilidade:
o Relativamente às letras e livranças, não tendo o título entrado em circulação, nas relações
imediatas (entre subscritor, beneficiário e quem assina no verso), não valem os princípios
cambiários da literalidade e da abstração, e por isso o executado pode opor exceções
fundadas nas relações pessoais, a demonstração de que nada deve ao exequente, a exceção
de não cumprimento do contrato e a alteração das circunstâncias quanto ao contrato
subjacente. Nas relações mediatas (i.e., fora da relação subjacente) ou perante o portador,
decorre do art. 17º LULL que o executado não pode opor as exceções fundadas nas suas
relações pessoais com terceiros, com o subscritor avalizado ou com os anteriores portadores,
que não o próprio pagamento da dívida, a menos que o portador, ao adquirir a letra, tenha
procedido conscientemente em detrimento do devedor.
No cheque de conta coletiva, cada titular será o único exclusivo “sacador” nos cheques que emitiu,
obrigando-se cambiariamente com a aposição da sua assinatura, enquanto os restantes titulares não
adquiriram, por essa assinatura, a qualidade de “sacadores”, nem se obrigaram cambiariamente.
MTS afirma, de forma mais moderada, que as possibilidades de oposição são mais amplas – i.e., são as
do art. 731º - dado que não se verifica qualquer preclusão dos fundamentos desta oposição.
RP julga que não pode ser esquecido que, ainda que extrajudiciais, esses negócios não deixam de ser atos
processuais integrados na sequência procedimental declarativa de uma concreta instância declarativa.
Assim, deve ser entendido que produziram uma preclusão quanto às impugnações, exceções dilatórias e
perentórias e nulidades que o réu tivera oportunidade de alegar na ação declarativa antes da celebração do
negócio processual.
Diversamente, todas as exceções e nulidades posteriores podem ser arguidas ainda em sede de
oposição à execução.
(i) Pagar voluntariamente a sua responsabilidade processual, i.e., as custas e a dívida (arts. 846º a 849º).
(ii) Deduzir oposição à execução, no prazo de 20 dias a contar da citação (arts. 728º e ss.).
(iii)Não fazer nada: o processo continua normalmente, não havendo quaisquer consequências no plano
processual. Não há, contrariamente ao que se verifica no processo declarativo, uma situação de revelia
por falta de oposição à execução. Acórdão de 16.10.2018, o TRC afirmou que a não contestação de uma
ação executiva, e de dedução de oposição à execução não representa a observância de qualquer dos ónus
cominatórios (ónus da contestação, ónus da impugnação especificada) a cargo do réu na ação declarativa:
assim a omissão de oposição não produz a situação de revelia
A oposição à execução é o meio processual pelo qual o executado exerce o seu direito de defesa
perante o pedido do exequente.
Na ação executiva, quanto ao conteúdo, o direito de defesa corporiza-se num pedido do executado de
extinção da execução (art. 732º/4) com fundamentos que para os títulos diversos de sentença têm, em
geral, o teor próprio da contestação, mas que, na oposição à execução de sentença, além de mais
restritos, se aproximam dos fundamentos do recurso de revisão por ilegalidade e das ações de
reabertura do contraditório, i.e., dos meios de defesa contra uma decisão judicial.
Processualmente, a defesa do executado não integra o procedimento de execução: trata-se de uma ação
declarativa – constituída por PI, prova, julgamento, sentença final, etc. –, incidental à execução,
fisicamente correndo por apenso.
o ANSELMO CASTRO, é uma contra-ação acessória à ação executiva: é uma ação que só vive
no âmbito da ação executiva, tanto que se se extinguir a ação executiva extingue-se a ação de
oposição à execução. Apesar disto, pode considerar-se ser uma relação processual própria,
com uma certa autonomia, já que tem o seu próprio objeto processual, os seus pressupostos
processuais, etc. É uma ação autónoma na instância, mas acessória quanto à sua
sobrevivência e funcionalidade.
o LF: É uma ação declarativa que corre por apenso ao processo executivo em que é possível ao
executado, não só levantar questões de conhecimento oficioso, mas também alegar factos novos,
apresentar novos meios de prova e levantar questões de direito que estejam na sua
disponibilidade. A oposição do executado visa a extinção da execução, mediante o
reconhecimento da atual inexistência do direito exequendo ou da falta dum pressuposto,
específico ou geral, da ação executiva.
É, ainda, uma ação especial, tanto quanto ao seu objeto, como quanto ao seu procedimento, pois tem
regras processuais próprias.
⇒ CONSEQUÊNCIAS DA ACESSORIEDADE:
ALÉM DISTO:
O autor não pode cumular objetos processuais na oposição à execução, nomeadamente de tipo
reconvencional, como se le no 731º
O pedido só pode ser um – o da extinção da execução. É uma ação declarativa que não tem uma função
condenatória, o que vai ser discutido na oposição à execução é somente se há ou não a extinção da
execução.
Assim, ressalvados os limites do art. 732º/5, a oposição à execução não produz sentenças declarativas,
nomeadamente condenatórias, seja contra o exequente, seja contra o executado.
o Efeito primário pedido é a extinção da instância executiva, nos termos do art. 732º/4,
o que lhe dá a natureza de ação constitutiva processual.
Em certos casos, este efeito extintivo supõe, como efeito prejudicial, a revogação incidental da
(aparente) força executiva do título executivo, seja ele a sentença condenatória, seja ele título diverso
de sentença. Dado que mesmo estes efeitos ficam com o valor de caso julgado formal, resumem-se à
extinção da execução.
o Porém, o art. 732º/6 enuncia que, para além do efeito extintivo, a decisão de mérito
proferida nos embargos à execução constitui caso julgado material CASO DE
efeito secundário da oposição à execução: a simples apreciação negativa da existência,
validade e exigibilidade da obrigação. ~
O que faz caso julgado é o que se pediu e, portanto, se o executado pediu a extinção da execução, só
haveria caso julgado quanto a isso; sendo a extinção da execução um efeito meramente processual, não
tendo nenhuma consequência no direito em si mesmo, esse caso julgado seria formal.
Discutiu-se, então, se poderia haver caso julgado material quanto aos fundamentos da sentença: se a
sentença vem declarar extinta a execução porque a dívida está paga, será que deve haver caso julgado
quanto à extinção da dívida? A regra é que não pode, pois, o princípio é o de que o caso julgado seja
relativo à decisão e não aos seus fundamentos.
Só podem ser os previstos na lei e dependem do tipo de título executivo em que se funda a execução.
Nenhum fundamento pode ser excluído, pois o executado nunca teve oportunidade de se defender
perante um tribunal.
Por que razão não é o art. 571º suficiente? Porque temos de recorrer ainda ao art. 729º? Porque o art.
729º tem fundamentos que não aparecem na normal contestação de uma ação declarativa.
A ratio desta restrição de fundamentos é a tendencial imutabilidade do caso julgado, que conduz a que
os tribunais não tenham poder jurisdicional para julgar novamente o que já foi decidido em ação judicial
ou procedimento em que foi produzida a sentença.
Para além de ser um sistema de fundamentos taxativos, a oposição à execução de sentença é também um
sistema híbrido de “contestação”, “revisão” e de “reabertura do contraditório”:
O juiz de execução tem uma competência material restrita para julgar os embargos à
sentença – art.º 729º
(ii) Causas de pedir respeitantes à relação de dívida, incluindo a sua demonstração por título executivo.
(iii)Já pela perspetiva da função de defesa específica (arts. 571º e 10º/5, 198º e 713º), um fundamento de
oposição à execução pode consistir em impugnação de facto ou de direito, em exceção perentória, em
exceção dilatória, em alegação de falta de condições de material e formal da execução e em arguição de
nulidade.
Quais são então os fundamentos que se podem opor à execução de um título executivo?
fundamentos de forma e fundamentos de mérito:
Vícios do art. 729º/a) – este é o regime comum. Se o título for uma sentença art. 729º/a); se for título
diverso de sentença art. 731º que remete para o 729º, aplicando então a al. a).
Mas em concreto que hipóteses cabem na al.a?
o quando for levada à execução uma sentença que não exista, por exemplo, se foi dada por uma
entidade que não um tribunal ou se a sentença nem contivesse condenação (art. 607º/3 in fine).
o casos de sentenças que existem, mas que padecem de vícios muito graves, por exemplo:
sentenças que não foram assinadas pelo juiz, sentenças que foram revogadas em recurso
extraordinário, sentenças que não contenham comando de atuação ou de condenação, sentenças
pendentes de recurso com efeito suspensivo (arts. 704º/1 e 647º/2 a 4).
Quanto aos TÍTULOS DE CRÉDITO, há uma constante jurisprudência atinente a várias causas de
inexequibilidade:
o Relativamente às letras e livranças, não tendo o título entrado em circulação, nas relações
imediatas (entre subscritor, beneficiário e quem assina no verso), não valem os princípios
cambiários da literalidade e da abstração, e por isso o executado pode opor exceções
fundadas nas relações pessoais, a demonstração de que nada deve ao exequente, a exceção
de não cumprimento do contrato e a alteração das circunstâncias quanto ao contrato
subjacente. Nas relações mediatas (i.e., fora da relação subjacente) ou perante o portador,
decorre do art. 17º LULL que o executado não pode opor as exceções fundadas nas suas
relações pessoais com terceiros, com o subscritor avalizado ou com os anteriores portadores,
que não o próprio pagamento da dívida, a menos que o portador, ao adquirir a letra, tenha
procedido conscientemente em detrimento do devedor.
No cheque de conta coletiva, cada titular será o único exclusivo “sacador” nos cheques que emitiu,
obrigando-se cambiariamente com a aposição da sua assinatura, enquanto os restantes titulares não
adquiriram, por essa assinatura, a qualidade de “sacadores”, nem se obrigaram cambiariamente.
LF entende que, uma vez homologada, a exigibilidade é como que absorvida pela sentença
homologatória, de tal modo que deixam na oposição à execução de ser invocáveis fundamentos
admissíveis na ação declarativa que extravasem a enunciação do art. 729.
MTS afirma, de forma mais moderada, que as possibilidades de oposição são mais amplas – i.e., são as
do art. 731º - dado que não se verifica qualquer preclusão dos fundamentos desta oposição.
RP julga que não pode ser esquecido que, ainda que extrajudiciais, esses negócios não deixam de ser atos
processuais integrados na sequência procedimental declarativa de uma concreta instância declarativa.
Assim, deve ser entendido que produziram uma preclusão quanto às impugnações, exceções dilatórias e
perentórias e nulidades que o réu tivera oportunidade de alegar na ação declarativa antes da celebração do
negócio processual.
Diversamente, todas as exceções e nulidades posteriores podem ser arguidas ainda em sede de
oposição à execução.
PROCEDIMENTO
A remissão do art. 732º/2 para o processo comum declarativo determina que o julgamento da
causa se faça perante juiz singular, nos termos do art. 599º.
Quem tem legitimidade ativa é o executado (art. 728º/1) e quem tem legitimidade passiva é o
exequente (art. 732º/2). Mas pode acontecer que o cônjuge do executado tenha também
legitimidade ativa, nas situações restritas em que é equiparado ao executado (arts. 741º/2 e
787º/1).
A oposição à execução segue o processo comum declarativo, seguindo a forma comum (art.
732º/2
MTS, de um modo geral, entende que se houver pluralidade de sujeitos processuais, aplica-se
analogicamente o regime previsto para o recurso constante do art. 634º: se houver vários
vencidos, a resposta à pergunta de saber se têm todos de interpor recurso ou se basta que um
ponha, representando os outros vai depender:
- O recurso interposto por uma das partes aproveita aos seus compartes no caso de litisconsórcio
necessário (art. 634º/1).
- Nos casos de litisconsórcio voluntário, dependerá das situações concretas (art. 634º/2).
Assim, a ideia de MTS é a de tentar facilitar a extensão, quer da legitimidade quer dos efeitos de uma
oposição à execução deduzida apenas por um dos executados, aos outros executados.
(i) Tal só faria sentido relativamente à oposição à execução de sentença – o art. 634º tem a ver com a
impugnação de sentença. A pergunta que estamos a colocar é mais genérica, abrangendo a oposição à
execução de qualquer título.
(ii) Estamos materialmente perante uma contestação (trata-se de incidente declarativo, que se rege pelo
princípio do dispositivo, não conhecendo normas especiais quanto aos seus limites); embora formalmente
estejamos perante uma petição.
Assim se houver um litisconsórcio necessário passivo na ação executiva, não há litisconsórcio
necessário ativo na oposição à respetiva execução.
Mas tal irá levantar uma pergunta: se houver vários executados, num litisconsórcio necessário, e se
basta que um deduza os embargos, então esse que deduz representa os restantes?
RP e LEBRE DE FREITAS não aplicam o art. 634º. Afirmam que, havendo litisconsórcio
necessário, a sentença final é igual para todos, mas porque tal tem a ver com a própria natureza
do litisconsórcio:
pergunta é: foi colocada uma ação contra três devedores solidários, só um é que se defendeu, não havia
litisconsórcio necessário, isso irá aproveitar aos outros? Ou seja, haverá caso julgado quanto a esses?
RP discorda, entendendo antes que o caso julgado só irá aproveitar ao litisconsorte voluntário que
deduziu oposição à execução. Os restantes litisconsortes que queiram beneficiar da sentença terão de vir
ao processo; não há uma extensão automática, a não ser que se trate de um litisconsórcio voluntário
unitário (é o caso, por exemplo, de compropriedade, em que um comproprietário pode reivindicar de
terceiro, sozinho, o bem que está em compropriedade – art. 1405º/2 CC).
RP entende que, havendo uma pluralidade de exequentes, o litisconsórcio passivo nos embargos é,
novamente voluntário, pelo que não é necessário colocar a ação contra todos os credores, a não ser que o
fundamento de defesa seja indivisível (art. 33º/2), como por exemplo a incompetência do tribunal, a
incerteza, inexigibilidade ou iliquidez da obrigação: estes são fundamentos comuns a todos e são
indivisíveis. Nesses casos, todos os exequentes terão de estar presentes. Assim, a sentença final só terá
efeitos quanto aos exequentes presentes.
⇒ TRAMITAÇÃO: Começa com uma PI de oposição à execução, deduzida no prazo de 20 dias a contar
da citação do executado, tanto na forma ordinária (art. 728º/1 – ataca-se apenas a execução), como na
forma sumária (art. 856º/1 – ataca-se execução e penhora).
Este é um prazo processual, pelo que se contam nos termos gerais do art. 138º/4, apenas se suspendendo
nas férias judiciais. Se estes 20 dias acabarem num fim de semana, o termo do prazo passa para segunda
feira.
Esta PI tem a estrutura do art. 552º, podendo ter algumas especialidades pelo facto de estarmos perante
um incidente.
Mas atenção!, o executado não está a pedir que seja suspensa a marcha do processo (caso do art. 733/1
a)). Esta prestação de caução é para substituição da penhora e não para suspensão da marcha.
Quanto ao valor da oposição à execução, por se tratar de um incidente da instância, aplicam-se os arts.
304º/1 e 307º. Assim, o valor da oposição é o da execução a que respeita, salvo se tiver realmente valor
diverso deste (art. 304º/1); se, porém, o opoente não indicar o valor, entende-se que aceita o valor dado à
execução (art. 307º/1).
No plano funcional, a oposição à execução é um meio de defesa (contestação) mas, no plano formal, é um
impulso de uma ação declarativa (PI).
⇒ EFEITOS:
A oposição à execução suspende a marcha da execução? (Nota prévia: o ato processual que pode ter
efeito suspensivo não é o envio da petição, mas o recebimento dos embargos por parte do juiz, o despacho
de recebimento dos embargos (art. 732º/2)).
Resposta está no art. 733º/1: o recebimento da petição de embargos não suspende a marcha da
execução. Por isso, na forma ordinária, a secretaria notificará o agente de execução de que deve iniciar as
diligências de penhora (art. 748º/1 c)) e, na forma sumária, seguir-se-á para a venda dos bens.
Caso a oposição à execução não chegue sequer a ser recebida, sendo liminarmente rejeitada,
pergunta-se se, ainda assim, pode haver suspensão da execução por invocação do
fundamento do art. 733º/1. A resposta é negativa: para poder ser decretada a suspensão da
execução é condição indispensável o prévio recebimento dos embargos.
Se o juiz decretar a suspensão da marcha (apenas naquelas três situações), não se avança para a venda;
ou seja, na forma sumária, a penhora já está feita, mantendo-se os atos processuais pretéritos, mas não se
avança para a venda dos bens (esta é uma vantagem, mas não absoluta, porque não há levantamento da
penhora, a não ser que haja prestação de caução).
NOTA: uma coisa é prestar caução para se obter a substituição de um bem penhorado por outro (art.
751º/7) e outra coisa é prestar caução para se obstar ao continuamento da execução. A primeira é mais
comum pedir-se na forma ordinária (em que a penhora ainda não teve lugar); a segunda será mais normal
que aconteça na forma sumária (dado que a penhora já foi feita, de modo que o que se pretende é evitar
que o bem continue penhorado).
⇒CAUÇÃO:
A prestação de caução pode ter por objeto qualquer das formas admitidas pelo art. 623º/1 e 2 CC.
Uma vez que é ditada por razões processuais, esta caução não pode considerar-se como garantia especial
das obrigações do executado.
A prestação de caução tem natureza incidental, nos termos dos arts. 906º e ss., sendo
processada por apenso à causa pendente, embora com aplicação das regras próprias de
processo autónomo, nomeadamente as do art. 913º para a prestação espontânea de caução, com
as especialidades previstas no art. 915º e decorrentes da remissão do n.º 6 do art. 733º para os n.º
3 e 4 do art. 650º.
Apenas o executado-embargante, na PI ou após o despacho de recebimento, a pode requerer
para efeito de suspensão da execução e não está sujeita a qualquer prazo, podendo ter lugar a
todo o tempo: trata-se de simples faculdade do executado e a execução só deverá ser suspensa
depois e se prestada a caução. O exequente será ouvido nesse procedimento, podendo impugnar
o valor ou a idoneidade da mesma (art. 913º/2).
NOTIFICAÇÃO PESSOAL - O exequente será, segundo o n.º 2 do art. 732º, notificado para contestar
em 20 dias. Esta notificação deve ser feita pessoalmente (art. 225º/2 ex vi art. 250º),
Se o exequente não contestar, considera-se que está em revelia (art. 732º/3). Pode ser uma
revelia:
iii. Operante – consideram-se admitidos por confissão os factos que tenham sido apresentados pelo
executado na oposição à execução.
Contudo, a segunda parte do n.º 3 do art. 732º dispõe que não se consideram confessados os factos que
estiverem em oposição com os expressamente alegados pelo exequente no requerimento executivo =
Estes são os “factos velhos”: a ideia é a de que não podemos exigir ao exequente que tenha de contestar,
repetindo o que já referiu no requerimento executivo; mesmo que na oposição à execução o executado
venha invocar tudo isso, quanto a estes factos o exequente não tem de apresentar contestação (exemplo:
se o exequente no requerimento executivo já disse que celebrou o contrato e, na oposição à execução, o
executado vem dizer que o exequente não o celebrou, o exequente não tem de voltar a dizer que
celebrou).
Daqui decorre que, de um modo geral, os factos em relação aos quais é conveniente que haja
contestação por parte do exequente são os factos supervenientes (factos novos) em relação àquilo
que foi declarado no requerimento executivo. Ou seja, os factos impeditivos, modificativos ou
extintivos que venham a ser trazidos por parte do executado.
Inversamente, caberá ao exequente embargado, fazer prova dos factos impugnados ou dos
factos constitutivos da sua pretensão. A circunstância de ser o exequente a ter de fazer prova da
causa de pedir da pretensão executiva – os factos de aquisição do direito à prestação – mostra
que a respetiva demonstração decorrente do título executivo não substitui a prova proprio sensu
desses factos constitutivos, antes apresentando a força probatória de mera aparência.
Portanto, o resultado final de distribuição do ónus da prova é idêntico ao de ação de simples apreciação
negativa, enunciado no art. 343º/1 CC.
Regra geral vale também para a prova da compensação extrajudicial ou dos seus requisitos, se operada
na própria oposição, não tendo o executado, como afirma LEBRE DE FREITAS, de apresentar como
prova um título exequível.
LEBRE DE FREITAS considera que ela introduz um desfasamento entre o Direito substantivo e
o Direito processual executivo, já que no plano das regras de prova dos factos extintivos da
obrigação, o CC apenas admite a exceção do seu art. 395º CC. Tal conduz a resultados de
injustiça material quando o executado dispõe de outras provas mas não de prova documental. A
moderação da solução legal passaria por estender a exceção da 2.ª parte da al. h) à usucapião
bem como nos casos semelhantes, em que não é normal ou possível ou se apresenta
desnecessária a prova documental – por exemplo, a verificação de condição resolutiva.
MTS escreve que não se pode atender ao sentido literal, em face da interpretação sistemática.
Esta dita que a exigência de prova documental só pode referir-se àqueles casos em que esse meio
de prova corresponda a uma imposição legal (como a estabelecida nos arts. 394º e 395º CC) ou
em que, pelo menos, ela seja usual no comércio jurídico, como a prescrição ou o cumprimento
da obrigação de facere (art. 868º/2 in fine). Fora desse âmbito, trata-se de uma restrição não
razoável ao direito de acesso à justiça do art. 20º/1 CRP, como, por exemplo, as benfeitorias não
poderem ser provadas por perícia. Em suma, a adequação do meio de prova não pode deixar de
ser em função do facto a provar, como se garante constitucionalmente.
RUI PINTO pensa que a ratio deste preceito probatório restritivo é coerente com o sistema de
impugnação de sentença transitada em julgado em matéria de facto: neste apenas se admite
prova documental a suportar o pedido de revisão de sentença (art. 696º/c)). O desfasamento e
concomitante injustiça material, apontado por LF é, na verdade, um desfasamento que o
legislador quer para todo o sistema de revisão de sentença, pois funcionalmente o art. 729º
redunda em revisão de sentença, nas suas als. d), f), g) e h). Assim, e sem prejuízo do
alargamento proporcionado pelo art. 868º/2 in fine, o Prof. entende que, dentro do espírito da
ratio, pode estender-se a prova admissível tanto à confissão, como a meios de prova ainda mais
seguros que o meio documental, como sejam a inspeção judicial ou peritagem. Como última
salvação, resta ao executado que pague o que não deve e propor ação de restituição do indevido,
como, aliás, propõe LF. O exercício do direito de ação não conhece, nessa eventualidade,
limitações probatórias.
⇒ SENTENÇA: art. 723º/1 b) determina que a sentença de oposição à execução deve ser proferida no
prazo máximo de 3 meses a contar da oposição ou reclamação.
Sendo vários os opoentes, o prazo de 3 meses para oposição é contado singularmente e não a
partir da última citação de executado (arts. 728º/3 e 569º/2).
Quanto aos EFEITOS DA SENTENÇA FINAL, convém dizer que a sentença pode ser:
ex: falta um pressuposto processual para os próprios embargos de executado. Não se chega sequer a
conhecer do pedido da petição inicial do executado.
A sentença fará caso julgado formal (art. 620º/1), pois recai unicamente sobre a relação processual;
tem assim força obrigatória apenas dentro do processo.
De mérito – conhece do pedido deduzido na petição inicial do executado. Aqui, das duas uma:
Como efeitos secundários temos (i) a venda de bens fica sem efeito salvo se, sendo parcial a
procedência, a subsistência da venda for compatível com a decisão tomada (art. 839º/1 a)), (ii) o
exequente terá de pagar as custas, tanto da execução como do próprio incidente de oposição à execução,
(iii) as penhoras pendentes serão levantadas, embora por efeito da extinção da execução e (iv) o
exequente pode ficar sujeito a um pacote de sanções, no caso de ter promovido a execução sem citação
prévia, de modo pelo menos negligente (art. 858º).
ii. A sentença não dá razão ao embargante (improcedência) – o exequente será absolvido do pedido de
embargos: a instância incidental extingue-se com o trânsito em julgado da decisão e a instância executiva
prosseguirá.
A sentença faz caso julgado (arts. 619º e 620º). E faz só para aquele processo (ação executiva) ou
também faz fora da ação executiva (caso julgado material)? Temos de fazer uma divisão consoante os
fundamentos do pedido de oposição:
De um lado estão os fundamentos que, por respeitarem à concreta relação processual executiva,
nunca podem sustentar senão efeitos quanto e para essa mesma execução (art.´ 620º/1). Assim, a
sentença de embargos fará caso julgado formal quando os fundamentos são os relativos à
regularidade da relação processual executiva, nos termos do art. 278º/1: as exceções
dilatórias.
De outro lado estão todos os demais fundamentos, respeitantes à causa de pedir. Uns
respeitam à demonstração formal da causa de pedir – existência ou inexequibilidade do título, as
nulidades originárias ou supervenientes da sentença, a nulidade ou anulabilidade de confissão ou
transação, na sentença homologatória, e anulabilidade da sentença arbitral – e outros são
atinentes à existência e carateres do direito exequendo – factos impeditivos, modificativos e
extintivos da obrigação, a certeza, liquidez e exigibilidade do direito.
Ora, é amplamente discutido se a decisão que conheça de questões atinentes à relação de dívida
chega a alcançar valor de caso julgado material:
LEBRE DE FREITAS entende que, perante as restrições probatórias decorrentes da sujeição à forma
sumária (arts. 732º/2 2.ª parte), apenas em concreto se pode verificar se o direito à prova foi efetivamente
limitado, valendo mutatis mutandis o disposto no art. 332º/a), por analogia: o caso julgado produzir-se;
é, porém, admissível à parte provar, em ação que autonomamente venha a ser proposta, que as limitações
de prova do art. 789º a impediram de fazer uso de testemunhas que poderiam ter influído na decisão final,
sendo reaberta a discussão da matéria de facto, mas a revogação da primeira decisão apenas ocorrerá se as
novas testemunhas se revelarem efetivamente determinantes de uma convicção judicial de conteúdo
diverso do primeiro.
Por isso, o efeito preclusivo das exceções não deduzidas não se dissolve no caso julgado: a exceção que o
executado não invocou como fundamento numa oposição pode ser invocada em outra, de outra execução.
Novamente, esta última não terá eficácia de caso julgado material, mas pode conduzir à restituição ao
executado da quantia conseguida na execução, pelo mecanismo da restituição do indevido: valeriam as
regras do enriquecimento sem causa devendo ser restituída apenas a medida do enriquecimento do
exequente, conforme o artigo 479º/2 CC.
RUI PINTO entende o seguinte: A resposta está no art. 732º/4 e 5: a sentença que julgue embargos faz,
por regra, caso julgado formal, exceto se se conhecer da existência da dívida (se há ou não obrigação
exequenda), quanto à sua validade ou quanto à sua exigibilidade, casos em que fará caso julgado
material.
Em Portugal, a regra em relação a todos os incidentes é a de que o caso julgado tem por objeto a parte
dispositiva (resposta de procedência ou improcedência), e não os seus fundamentos que, tomados por si,
sozinhos, de uma sentença, não vinculam senão dentro daquele processo (art. 621º) – regra esta que, à
partida, também vale para os embargos à execução.
Mais, os embargos se sujeitem a uma segunda regra, própria de um meio de oposição a uma pretensão
de uma parte ativa: a decisão sobre as questões suscitadas como meio de defesa pelo executado não
constitui caso julgado fora do processo respetivo (art. 91º/2).
Pese embora esta leitura, a doutrina procurou fazer valer o princípio da economia processual na oposição
à execução.
O legislador consagrou no art. 732º/5 que, quando se chegasse a alguma conclusão sobre a existência
ou não da dívida, ela teria de formar caso julgado material. Assim, o que o preceito está a enunciar é que
a sentença de procedência dos embargos à execução fundados em factos modificativos, impeditivos ou
extintivos, ou em inexigibilidade da obrigação faz caso julgado material, determinando a absolvição no
pedido e a extinção da execução.
No entanto, RP entende que será necessário pedir expressamente este efeito; o juiz não poderá decretar
oficiosamente a existência ou não existência da dívida (deverá valer aqui o princípio do dispositivo: só
pode decretar aquilo que foi pedido). Ou seja, não parece a RP que este caso julgado seja automático.
Assim, a sentença de oposição à execução pode ter um duplo efeito:
- Material (art. 732º/5) – efeito secundário: declaração de inexistência da dívida (simples apreciação
negativa da existência, validade e exigibilidade da obrigação).
Todavia, se a sentença foi de improcedência da oposição à execução, então terá o exequente o direito ao
montante do depósito caucionado e só depois, caso este seja insuficiente, ao produto dos bens
penhorados.
⇒ RELAÇÕES COM OUTROS OBJETOS PROCESSUAIS: Enquanto meio que obsta à execução de
uma obrigação, a oposição à execução pode estar, na sua eficácia decisória, em relação de concurso ou até
de dependência prejudicial com outros meios com função próxima.
A saber:
Ações em que se discuta e decidida a existência e/ou extensão do crédito exequendo – ação de
simples apreciação negativa da obrigação exequenda (art. 10º/3 a)), ação de alteração de
obrigação alimentar ou duradoura (art. 619º/2) ou ação de reivindicação do executado contra o
exequente (arts. 1311º e 1315º CC).
No entanto, tais relações entre objetos processuais só existem para uma oposição em que se discuta
o direito de fundo ou em que se discuta a validade do título executivo, pois só aí pode haver
potencial colisão ou dependência de efeitos entre sentenças com valor de caso julgado
De outro modo, não se evitaria a contradição ou repetição de julgados entre as duas causas (art. 580º/2).
Desse objeto litispendente estão excluídos os objetos acessórios – neste sentido, Ac. STJ 29 setembro
2009, na senda de LEBRE DE FREITAS, que decidiu que o caso julgado material se circunscreve à
obrigação exequenda, dele estando excluídas outras obrigações que, por serem conexas, poderiam, na
ação declarativa comum, dar lugar a uma cumulação de pedidos ou a um pedido reconvencional, que não
se compadecem com a função instrumental da ação de oposição.
Havendo sentença de oposição com valor de caso julgado, o credor vencido em oposição à execução
não poderá abrir nova execução. Tampouco poderá o devedor vencido, consoante as situações concretas,
colocar uma ação autónoma de simples apreciação negativa da dívida ou pedir a restituição do indevido
se já tiver pago uma obrigação extinta. A exceção de caso julgado impede-o, nos termos dos arts.
576º/2, 577º/i) 2.ª parte, 580º e 581º
LEBRE DE FREITAS : mesmo que o fundamento de oposição à execução possa, eventualmente, ser
também fundamento de recurso de revisão de sentença para efeitos do art. 696º – maxime, falsidade de
processo judicial ou traslado, facto subjetivamente superveniente provado documentalmente, nulidade ou
anulabilidade de confissão ou transação, falta de citação para a ação declarativa (art. 729º/b), d), g) e h))
– a pendência daquele recurso não suspende a execução (art. 669º/3), pelo que o executado tem o ónus de
deduzir a oposição à execução.
Se os fundamentos são os das als. b) e d) do art. 729º, o tribunal da execução não irá prolatar
uma sentença com valor de caso julgado. A decisão do tribunal de execução em nada tange a
decisão do tribunal superior, pelo que lhe falece fundamento para suspender o recurso. Mas, em
sentido oposto, o tribunal da execução pode optar por suspender a instância, aguardando pelo
desfecho do recurso de revisão; trata-se de um poder discricionário.
Na falta de norma nesse sentido, deve entender-se que a pendência de uma ação de anulação não
suspende os efeitos da sentença a anular, pelo que esta pode ser, entretanto, executada. Claro que se a
sentença vier a ser anulada, a execução terá de ser extinta por falta de título, sejam ou não deduzidos
embargos à execução.
Por força disto, aplicar-se-á, mutatis mutandis, a solução apresentada para as relações entre o recurso de
revisão e a oposição à execução: quando já haja uma prévia decisão de anulação da sentença, a execução
tem de ser extinta por falta de título, se ao tempo da oposição à execução já houver prévia decisão de
recurso que seja desfavorável ao executado.
No caso de sentença arbitral, importa ter ainda em linha de conta as restrições previstas na Lei da
Arbitragem.
Ou seja, o art. 730º remete tanto para o âmbito positivo, como para o âmbito negativo da anulação
arbitral. Assim, o art. 46º/4 LAV/2011 exclui a anulação, qualquer que seja o seu fundamento, se uma
parte, sabendo que não foi respeitada uma das disposições da LAV que as partes podem derrogar ou uma
qualquer condição enunciada na convenção de arbitragem, prosseguir apesar disso a arbitragem sem
deduzir oposição de imediato. Outro tanto sucede se houver prazo para este efeito: esgotado esse prazo,
considera-se que renunciou ao direito de impugnar, com tal fundamento, a sentença arbitral. Esta exclusão
valerá para a oposição à execução, naturalmente.
RESPONSABILIDADE DO EXEQUENTE RP: deve ser em ação autónoma e não na ação executiva –
está a prolongar-se uma ação executiva que já não tem objeto, pois não há já execução.
Não faz sentido prolongar.
Só faz sentido se só extinguir parcialmente a ação executiva – aí corre como incidente à execução.
Requisitos: art. 858º CPC
Paula Costa e Silva: só se aplica aos processos sumários e não a todos. É excecional para processo
sumário.
PENHORA
A responsabilidade patrimonial do devedor não atribui ao credor o direito de se apropriar dos bens
daquele ou de se substituir a ele na cobrança dos seus créditos sobre terceiros, i.e., não lhe concede a
faculdade de se satisfazer diretamente à custa do património do devedor mediante a apropriação dos bens
ou a exigência da satisfação dos créditos que pertencem a este sujeito. → O que a responsabilidade
patrimonial concede ao credor é a faculdade de executar o património do devedor, ou seja, de fazer
penhorar bens e direitos deste titular passivo com vista à sua posterior venda ou cobrança.
⭐ OBJETO E SUJEITOS
⇒ FUNCIONALIDADE E OBJETO: É uma fase processual que só existe na execução para pagamento
de quantia certa. Mas note-se que, tanto a execução para entrega de coisa certa como para prestação de
facto podem, a dada altura, ser convoladas em execução para pagamento de quantia certa.
(i) No primeiro sentido, a penhora é o ato processual pelo qual o Estado retira ao executado os poderes de
aproveitamento e disposição de um direito patrimonial que está na sua titularidade, podendo fazê-lo,
desde logo por via do art. 817º CC, e porque a lei admite restrições razoáveis ao direito de propriedade.
Repare-se que o ato de penhora não cumpre uma função sancionatória, mas sim uma função instrumental :
a execução não termina com a penhora, ela salvaguarda a utilidade final do direito de execução do credor.
No fundo, a penhora é instrumental da venda; se não houvesse penhora, os bens poderiam desaparecer.
A penhora consiste na apreensão pelo tribunal de bens do executado ou na colocação à sua ordem
de créditos deste devedor sobre terceiros e na sua afetação ao pagamento do exequente. A penhora
destina-se a individualizar os bens e direitos que respondem pelo cumprimento da obrigação pecuniária
através da ação executivo
O tribunal priva o executado do pleno exercício dos seus poderes sobre um bem que, sem deixar
ainda de pertencer ao executado, fica a partir de então especificamente sujeito à finalidade última de
satisfação do crédito do exequente, a atingir através da disposição do direito do executado nas fases
subsequentes da execução
(ii) O ato de penhora faz parte uma fase mais ampla que é a fase da penhora – neste sentido, a penhora é
um conjunto-sequência de atos processuais de preparação, realização e impugnação do ato de penhora.
Frequentemente falamos de penhora de bens, mas esta incide sobre bens ou sobre direitos? A
resposta é que a penhora incide sobre direitos que, por sua vez, incidem sobre bens.
Como a penhora é instrumental em relação à venda executiva e como o objeto da venda executiva é a
transmissão de direitos, tal significa que a penhora incide imediatamente sobre direitos e só
mediatamente sobre bens, através da sua apreensão. toda a penhora é sempre penhora de direitos.
o ato de penhora tem por objeto toda e qualquer situação jurídica ativa disponível de natureza
patrimonial, integrante da esfera jurídica do executado, cuja titularidade possa ser transmitida
forçadamente nos termos da lei substantiva
O art. 817º CC dispõe que o credor tem o direito a executar o património do devedor – o objeto máximo
ou potencial da penhora é o património do devedor. Mas RP afirma que não é todo: o objeto da penhora
é todo o património do devedor que possa ser penhorável – há bens do devedor que não são passíveis
de penhora.
RP: o ato de penhora tem por objeto toda e qualquer situação jurídica ativa, disponível, de natureza
patrimonial, integrante da esfera jurídica do executado, cuja titularidade possa ser transmitida
forçadamente (tem de ser alienável) nos termos da lei substantiva.
Para sabermos o objeto efetivo de uma penhora, temos de ter em conta:
(i) Os limites da lei substantiva, tanto quanto à responsabilidade por dívidas como quanto à
transmissibilidade dos direitos;
Assim, numa execução são penhoráveis os bens do devedor que, respondendo substantivamente pela
dívida, não estejam abrangidos por exclusões legais de penhora e que, num plano global, componham
uma penhora proporcional na extensão e adequada na qualidade da eficácia para o direito à execução.
⇒ SUJEITOS DA PENHORA:
No plano subjetivo, a regra coincide com a regra dos arts. 817º CC e 53º: apenas podem ser
penhorados os bens do devedor.
Mas atenção: a lei, nomeadamente no art. 735º/2, admite que, em certos casos especiais, possam ser
penhorados bens de terceiros à dívida.
Quando podemos executar terceiros e, por isso, penhorar bens de terceiros? 735º/2 admite que
possam ser penhorados bens de terceiro à divida, Mas tal só pode acontecer se o terceiro à dívida não for
terceiro ao processo e a ação tenha sido movida contra este terceiro, tendo assim legitimidade passiva
Casos em que haja garantia real sobre bem de terceiro (arts. 54º/2 e 818º primeira parte CC) e
nos casos em que, quanto ao terceiro, foi obtida com sucesso uma sentença de impugnação
pauliana (arts. 616º/1 e 818º segunda parte CC).
O art. 747º/1 levanta uma questão: embora nunca se possa prejudicar terceiros sem que estejam a ser
executados, pode acontecer que os terceiros que estejam na posse ou tenham direitos reais menores sobre
o bem possam ser prejudicados; ou seja, a PENHORA PODE TER EFEITOS SOBRE A ESFERA
JURÍDICA DE NÃO EXECUTADOS. Por exemplo, pode penhorar-se um automóvel, mesmo que
esteja a ser retido, em direito de retenção, na oficina. Estes são terceiros que, indiretamente, sofrem
alguns efeitos da penhora. Note-se que o objeto da penhora não é o direito do terceiro mas, ainda assim, a
penhora irá restringir a sua posse ou detenção sobre os bens.
A lei garante que os bens que estejam na posse de terceiros possam ser penhorados, mas também
garante que esses terceiros possam lançar mão de meios de defesa
Terceiro pode consentir e pagar a dívida – se existe possibilidade de a prestação ser feita por
terceiro bem como da execução poder cessar por pagamento de terceiro, então, é lícito a
nomeação pelo executado de bens de terceiro, desde que o titular dos bens nomeados não se
oponha à penhora (TRP, 25/6/1996, Armindo Costa)
Questão: poder-se-ão penhorar bens de terceiro fora destes limites, contanto que este consinta? Já
foi decidido que, se há a possibilidade de a prestação ser feita por terceiro, bem como a possibilidade de a
execução cessar por pagamento de terceiro, então é lícita a nomeação pelo executado de bens de
terceiro, desde que o titular dos bens nomeados não se oponha à penhora (Ac. RP 25 junho
1996/9620491). RUI PINTO concorda: os bens serão vendidos como sendo do terceiro mas, justamente,
para pagar a dívida do executado.
⇒ LIMITES SUBSTANTIVOS:
RESPONSABILIDADE:
A lei substantiva dita o alcance máximo do objeto da penhora: nos termos do art. 817º CC, o objeto da
penhora é o património do devedor. Porém, o art. 735º/1 aponta como objeto da penhora os bens do
devedor suscetíveis de penhora que, nos termos da lei substantiva, respondem pela dívida exequenda.
Temos, então, uma tensão entre os dois artigos: por um lado, o art. 817º dispõe que o objeto da
penhora é o património do devedor; por outro lado, o art. 735º/1 diz que não é bem assim, ou seja, não é
qualquer património do devedor, mas apenas os bens do devedor que são suscetíveis de penhora. Isto
significa que há bens do devedor que não respondem por dívidas.
1ª pergunta que se deve fazer é qual é a relação entre os bens do devedor e a dívida: respondem
todos ou alguns dos bens?
A regra, tanto para as pessoas singulares como para as pessoas coletivas, é a da responsabilidade
universal e imediata, nos termos do art. 601º CC, em articulação com o art. 817º CC: pelo cumprimento
da obrigação respondem todos os bens do devedor suscetíveis de penhora, sem prejuízo dos regimes
estabelecidos em consequência da separação de patrimónios.
Portanto, a regra é a de que tendencialmente todos os bens respondem pelas dívidas, sem condições
(nomeadamente, de tipo temporal).
Se o executado entender que foram penhorados bens em desrespeito a essas limitações poderá,
invocando a violação do concreto preceito, deduzir oposição à penhora, ao abrigo das alíneas a) e b)
do n.º 1 do art. 784º.
Exceções à responsabilidade universal e imediata por dívidas:
Esta limitação pode ser sujeita a certas condições (como, por exemplo, determinar-se um gradus
executionis: uns bens respondem em 1º lugar e outros em 2º lugar), podendo a limitação ser
contemporânea ou posterior à constituição da dívida.
RP entende que esse risco correrá por conta do credor, sem prejuízo das regras da resolução ou
modificação do contrato por alteração das circunstâncias (arts. 437º e ss. CC). Só assim não sucederá se
quando o facto seja imputável ao devedor (ele estraga, deixa estragar ou aliena o bem da
responsabilidade), caso em que a má fé do devedor há de fundamentar uma resolução do acordo por parte
do credor.
Não pode haver limitação convencional à responsabilidade por dívidas quando se trate de matéria
indisponível às partes; por exemplo, o direito a alimentos (art. 2008º CC) não admite este tipo de
limitações.
Pode ainda perguntar-se se as partes podem acordar que certos bens responderão pela dívida mesmo
que elas não cubram toda a dívida; ou seja, se se pode determinar que a dívida se terá dada por executada
ainda que os bens não a tenham pago por completo (por exemplo, convencionar que por uma dívida de
1.500€ responderá um computador no valor de 1.000€).
RP segue a opinião de PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, que entendem que o art. 809º CC,
que veda renúncias antecipadas aos direitos, não autoriza que, por vontade das partes, a dívida seja
inteiramente subtraída à execução patrimonial, transformando uma obrigação civil numa obrigação
natural. Para tanto, na convenção deverão sempre ser indicados bens em quantidade que não seja
manifestamente inferior à necessária para quantia dos créditos.
Já o art. 603º CC regula um caso especial de limitação convencional de responsabilidade: numa doação
ou em testamento os bens podem ser deixados ou doados com a cláusula de exclusão da responsabilidade
por dívidas do beneficiário, respondendo somente pelas obrigações posteriores à liberalidade. Apenas
responderá pelas anteriores se a penhora foi registada antes do registo daquela cláusula. Mas se a
liberalidade tiver por objeto bens não sujeitos a registo, a cláusula só é oponível aos credores cujo direito
seja anterior à liberalidade.
⇒ LIMITES SUBSTANTIVOS:
Distingue-se entre:
Separação plena de patrimónios – existe aqui uma autonomia patrimonial plena, de tal forma
que certos bens só respondem por certas dívidas e mais nenhumas. É o que se sucede no regime
de execução de dívidas da herança contra o herdeiro, constante do art. 744º: só podem penhorar-
se, para pagar as dívidas da herança, os bens que o herdeiro executado recebeu do autor da
herança (mas se os herdeiros depositaram em dinheiro aquilo que para eles representa o valor do
remanescente da herança que receberam, depois de pago o passivo, esse depósito pode ser
penhorado).
Note-se que se os bens da herança não pagarem a dívida, não podem ser penhorados outros bens do
devedor herdeiro.
Outro exemplo é o dos bens afetos ao estabelecimento individual de responsabilidade limitada: estes bens
respondem apenas e somente pelas dívidas resultantes da atividade do estabelecimento.
Esta situação classifica-se como responsabilidade subsidiária objetiva: uma parte dos bens do devedor
está delimitada/autonomizada do restante património do devedor, destinando-se a pagar uma certa dívida;
os restantes bens respondem, apenas e só, depois daqueles, caso não sejam suficientes. E respondem em
que condições?
Na subsidiariedade objetiva, a condição de penhora dos bens do executado de segunda linha é uma
prognose, fundamentada na falta ou insuficiência dos bens do executado que poderiam ser primariamente
executados (art. 745º/5) enuncia a regra essencial para a penhorabilidade subsidiária objetiva.
BENS COMUNS - no regime de bens de casamento em que existam bens comuns, sucede o
seguinte: para as dívidas comuns, respondem, em primeiro lugar, os bens comuns e, em segundo
lugar, os bens próprios; para as dívidas próprias, respondem, em primeiro lugar, os bens
próprios e, em segundo lugar, os bens comuns, ou seja, a meação sobre os bens comuns (arts.
1695º e 1696º CC).
Existindo um casamento, a lei determina algumas consequências importantes em questões de
responsabilidade. Mas note-se que nenhuma destas regras se aplica a situações de união de facto, apenas
se aplica ao casamento.
Se o devedor estiver casado, devemos questionar (i) quem responde pela dívida – determinação da
responsabilidade subjetiva e (ii) que bens devem ser penhorados.
Se vigorar o regime de separação de bens, apenas respondem os bens próprios do cônjuge devedor;
Se vigorar o regime de comunhão de bens, responde, novamente, em primeiro lugar, os bens próprios
do cônjuge devedor; aplica-se novamente o regime do art. 786º/1 a), primeira parte, para obter o estatuto
do art. 787º.
Mas atenção: como estamos no regime de comunhão de bens, há bens comuns, pelo que se os bens
próprios não forem suficientes, serão penhorados metade dos bens comuns e, para isso, o art. 786º/1 a),
segunda parte, conjugado com o art. 740º
- Dívidas comuns – só são comuns quando a lei assim o determina. São os casos das dívidas previstas
nos arts. 1691º/1 a) e 1694º/1 CC. Temos título contra ambos? Sim, porque ambos assinaram o contrato,
ou um assinou e o outro deu o seu consentimento, pelo que haverá sempre litisconsórcio. Este é
necessário ou voluntário? No entendimento de RP, pelo art. 34º/3, primeira parte, é litisconsórcio
necessário; o Professor discorda em absoluto da tese de LEBRE DE FREITAS, que admite que exista um
litisconsórcio voluntário.
LF - não há, a dívida comum pode ser executada singularmente contra apenas um dos cônjuges, pelo
que se trataria de uma situação de litisconsórcio voluntário, na medida em que o artigo 34.º, n.º3 CPC não
se aplicará à ação executiva, na medida em que a preocupação subjacente ao artigo seria relativa à
salvaguarda da posição de ambos os cônjuges perante essa situação de definição (e não de execução) de
responsabilidade comum. A isso acresce o favor creditoris (pode demandar o que pretender e lhe pareça
ter os bens próprios mais adequados à satisfação do seu crédito). Ademais, inicialmente não havia
litisconsórcio na ação executiva, até porque a ação executiva tem meios que permitem que se chame o
outro cônjuge à ação. Todavia, e tendo em conta que, sendo proposta ação executiva apenas contra
um cônjuge, apenas responderão os bens próprios do mesmo, e na medida em que, perante uma
dívida comum os bens próprios dos cônjuges apenas responderão subsidiariamente, tanto o cônjuge
executado poderia deduzir oposição à penhora (invocando a subsidiariedade dos bens próprios em
execução por dívida comum), como poderia, nesse caso, o credor requerer a intervenção principal do
cônjuge do executado para permitir a legalidade da penhora (esta posição é a mais coerente com a 1.ª
parte do artigo 34.º, n.º3 CPC). O artigo 740.º CPC valeria também para os casos de responsabilidade por
dívida comum (segundo a lei substantiva), mas a execução seja movida apenas contra um dos
cônjuges, quer haja título executivo contra ambos quer apenas contra o executado. A consequência
seria que, devendo a penhora começar pelos bens comuns, dever-se-ia citar o cônjuge não executado para
separar a meação nos termos do artigo 741.º CPC.
Rui Pinto: a posição anterior consubstancia uma interpretação restritiva do artigo 1695.º CC: pelas
dívidas da responsabilidade de ambos o cônjuge responde a sua meação nos bens comuns, na execução
singular. Estas normas de Direito da Família são imperativas e o Direito Executivo não pode ser meio de
fuga. Ora, as normas processuais devem ser interpretadas no modo mais conforme possível ao Direito
material, pelo que esta interpretação de Lebre de Freitas não deve ser aceite. Assim, admitir que o credor
pudesse demandar apenas um cônjuge e penhorar apenas metade dos bens comuns, não estaria na lei civil,
colocaria o cônjuge numa posição subalterna. O artigo 741.º CPC não se pode aplicar na execução de
dívida comum, pois o cônjuge deve ser sempre citado como devedor comum em litisconsórcio necessário
(ademais o argumento literal: o artigo 34.º CPC não estatui). Expressamente, a lei material não impõe o
litisconsórcio (o mero facto de existirem dois devedores não impõe a sua presença na ação executiva):
todavia, a responsabilidade comum, para ser exercida nos seus exatos termos apenas pode ser contra o
casal (a responsabilidade comum é indivisível). A demandada executiva de um só dos devedores não
produz o efeito útil normal de execução de dívida comum.
A preterição do litisconsórcio necessário redunda em ilegitimidade que poderá ser sanada por
intervenção principal provocada (artigo 316.º, n.º1 CPC) pelo exequente no prazo dado em despacho
liminar ou superveniente para a sua sanação. Na falta desta e após e após o devido despacho de
indeferimento liminar ou de extinção superveniente da instância, o credor poderá ainda aproveitar a ação,
mediante renovação nos termos do artigo 261.º, n.º2 CPC. Terceira via: o artigo 34.º CPC aplica-se
quando temos sentença contra os dois ou título executivo contra os dois)
- Dívidas comunicáveis – imaginemos que temos dívidas próprias, i.e., em face do título temos apenas
um sujeito, não se verificando as situações dos arts. 1691º/1 a) e 1694º/1, mas com potencialidade de se
comunicarem. Ou seja, trata-se de dívidas que não são geneticamente comuns, mas que são
funcionalmente comuns, dados os benefícios que trouxeram à comunidade conjugal – são as dívidas
previstas nos arts. 1694º/2 e 1691º/1 b), c) e d) CC.
Por exemplo, uma dívida que seja contraída por um cônjuge (sendo por isso, à partida, uma dívida
própria), mas que foi contraída por esse para proveito comum ou para ocorrer a um encargo normal da
vida familiar, será uma dívida comunicável (um encargo normal da vida familiar é, por exemplo, um
contrato de eletricidade ou telefone).
Há uma certa diferença entre encargo normal e proveito comum: o proveito comum não se presume,
enquanto o encargo normal é uma presunção natural. Por exemplo, comprar um fogão, comprar
talheres, fazer um contrato de eletricidade, tudo isto naturalmente nos indica que é para ocorrer a um
encargo normal da vida familiar; já comprar uma bimby é mais discutível: há que demonstrar em concreto
que foi para proveito comum.
Ou seja, há uma diferença entre compras correntes, que nos indicam imediatamente que é um encargo
normal da vida familiar, presumndo-se que beneficia o outro cônjuge; e compras não correntes, que não
se presumem, tendo antes de se demonstrar que foi para proveito comum.
Por exemplo, a compra de um computador ou de um automóvel há que demonstrar que era para proveito
comum; tem de se avaliar caso a caso.
Imaginando-se que se consegue demonstrar que se trata de uma dívida para proveito comum, a
questão que se impõe é como é que no processo conseguimos demonstrar que a dívida que, à partida,
era própria, é agora uma dívida comunicável:
As dívidas comunicáveis são dívidas próprias em face do título, cuja funcionalidade comunicacional foi
demonstrada no processo, nos termos do art. 34º/4. Se estivermos na ação declarativa, o credor deve
colocar a ação condenatória logo contra os dois cônjuges e não apenas contra quem, por exemplo,
comprou o computador. Note-se ainda que pode ser o próprio cônjuge réu que provoca a intervenção
principal do outro cônjuge.
Se nada disto acontecer, se o credor não promover o chamamento à demanda do cônjuge para provar que
foi para proveito comum, presume-se para sempre que a divida é própria, não se podendo mais voltar a
discutir o tipo de dívida. ~
Tratando-se de título diverso de sentença (ex: contrato), a forma de comunicar a dívida é através do
INCIDENTE DE COMUNICABILIDADE DA DÍVIDA, previsto nos arts. 741 e 742º.
Indo o cônjuge à execução, ou confessa que a dívida é comum ou não diz nada; neste último
caso, haverá lugar à discussão, prova, instrução e julgamento com o juiz.
Não esquecer, contudo, que o cônjuge também pode deduzir oposição à execução.
Se o incidente for procedente, dá-se uma extensão subjetiva do título: apesar de o contrato só
ter força executiva originária contra quem o assinou, através da sentença de comunicabilidade da
dívida que declara a dívida como comunicada, o contrato passa a ter também força executiva
contra o cônjuge que lhe foi terceiro. Forma-se, desta forma, um título executivo complexo.
A pergunta que se tem colocado nos tribunais é a de saber o que acontece se a ação se colocou logo
contra os dois cônjuges, tendo sido deduzida oposição à execução, da qual resultou que um deles ERA
PARTE ILEGÍTIMA POR NÃO CONSTAR DO TÍTULO.
Pergunta-se se, neste caso, perante a oposição à execução procedente (exceção dilatória da ilegitimidade
conjugal), poderá o exequente, agora e antes do início da fase da venda, fazer um requerimento
pedindo que seja notificado o cônjuge para efeitos da comunicabilidade da dívida:
As opiniões contra têm sempre subjacente a ideia de que este incidente começou apenas contra
um dos cônjuges.
As opiniões a favor têm subjacente a ideia de economia processual; ou seja, mesmo quando o
cônjuge já esteja na ação, pode ser notificado para este incidente.
De notar que o incidente de comunicabilidade da dívida pode ser deduzido também pelo próprio
executado, mas ele tem de ter um certo interesse processual – art. 742º.
QUAIS SÃO OS PODERES DO CÔNJUGE QUE É CITADO NO INCIDENTE DE
COMUNICABILIDADE DA DÍVIDA? ~
O cônjuge que é citado apenas para o incidente da comunicabilidade da dívida é admitido a exercer
apenas as faculdades previstas nos arts. 741º e 742º (art. 787º/2).
i) Ou o incidente é improcedente e fica tudo na mesma, ou seja, a dívida fica como é em face do título
como dívida própria;
ii) Ou o incidente é procedente e a dívida passa a ser uma dívida comum e, a partir daqui, a execução vai
seguir com dois executados.
Se vigorar o regime de separação de bens, respondem os bens próprios de cada cônjuge; cada um
responde por metade da dívida.
- Se for um regime de separação de bens, nada muda porque cada um continua com os seus bens
próprios;
- Mas se o regime for de comunhão de bens, enquanto não houver partilha de bens, a responsabilidade
entre bens comuns e próprios vai manter-se, nada mudando. Tendo isto em conta, RP considera que as
dívidas que alguém trouxer para o segundo casamento são dívidas próprias dessa pessoa, o que significa
que, no segundo casamento, apesar de o cônjuge não ser devedor, se vigorar um regime de comunhão de
bens e se forem penhorados bens comuns, então podem os seus bens comuns responderem por dívidas do
primeiro casamento.
forma do processo, o art. 550º/3 d) determina que a forma de processo ordinário será a adotada
quando seja demandado um devedor subsidiário que não tenha renunciado ao benefício de
excussão prévia.
FIADOR: O fiador é um devedor subsidiário, que beneficia do benefício da excussão prévia: na execução
da obrigação afiançada é-lhe lícito recusar o cumprimento enquanto o devedor não tiver excutido todos
os bens do devedor (art. 638º/1 CC), ou seja, enquanto não se esgotarem os bens do devedor não podem
tocar nos bens do fiador.
Esta é a regra, mas nem todos os fiadores beneficiam disto – é o caso da fiança mercantil, da
fiança comercial e, sobretudo, quando o fiador tenha renunciado ao beneficio da excussão prévia
(podendo essa renúncia ser convencional – assinou o contrato com essa cláusula expressa – ou,
tendo sido citado para a ação declarativa, tenha sido condenado sem ter alegado esse benefício –
arts. 640º e 641º/2 CC).
O benefício da excussão prévia funciona como uma exceção material impeditiva do ato de
penhora, nada tendo a ver com as condições formal e material da execução ou com os
pressupostos processuais.
Se a ação executiva tiver sido dirigida apenas contra o devedor subsidiário – fiador – que não
haja renunciado ao benefício da excussão prévia, esta ação vai sempre correr na forma ordinária
(art. 550º/3 d)). Neste caso, o devedor subsidiário pode alegar o benefício da excussão prévia,
nos termos do art. 745º/1: este tem o ónus de invocar o benefício da excussão prévia no prazo do
art. 728º/1, como objeção preventiva à penhora, em requerimento próprio.
Se o requerimento for deferido, fica suspensa a execução contra o fiador e o exequente ou não faz nada,
extinguindo-se a execução, ou faz um requerimento a pedir que a execução seja dirigida contra o devedor
principal, o qual será citado (art. 745º/2).
Se o fiador subsidiário não alegar o benefício de excussão, a penhora incidirá sobre os seus bens, não
podendo mais tarde fazer nada quanto a isso.
Num segundo cenário, se o credor pedir no requerimento executivo (i) a execução singular do
devedor subsidiário, com alegação de renúncia ao benefício da excussão prévia ou (ii) a
execução conjunta de devedor subsidiário (com ou sem renúncia ao benefício da excussão
prévia) e de devedor principal, a execução seguirá, nos termos gerais, a forma ordinária ou
sumária, conforme o que decorra da aplicação do art. 550º/1 a 3.
O fiador, quando não tenha renunciado ao benefício da excussão prévia ou quando a lei não lhe retire esse
benefício, tem direito a uma certa ordem de penhora: primeiro penhoram-se os bens do devedor
afiançado e, só quando esgotados os bens do afiançado, se começam a executar os bens do fiador.
Primeira hipótese: os bens do afiançado têm uma hipoteca; isso releva para o fiador? Não,
porque o fiador já sabe que tem o benefício da excussão prévia, que determina que se penhorem
primeiro os bens do devedor principal. Se houver garantia real que incida sobre bem do devedor
principal, o problema é deste e não do fiador: quando se penhorarem os bens do devedor
principal, caberá a este (devedor principal) invocar o art. 697º CC, que determina que sejam
primeiro penhorados os bens dados em garantia.
Segunda hipótese: o fiador é, ao mesmo tempo, garante real. Ou seja, neste caso, a hipoteca
(garantia real) incide sobre bens do fiador. Nesse caso, o fiador tem direito à vantagem dada pelo
art. 697º CC: quando se forem penhorar os seus bens, após o exercício do benefício da excussão
prévia, também o fiador poderá invocar o art. 697º. Ou seja, começam por se penhorar os bens
do devedor principal (assim o dita o benefício da excussão prévia) e só depois os bens do fiador;
dentro dos bens do fiador, começar-se-á por executar a hipoteca (art. 697º CC).
Terceira hipótese: a garantia real incide sobre bem de terceiro (que não o devedor nem o
fiador). Neste caso, decorre do art. 639º/1 CC que se a hipoteca for constituída por terceiro,
temos de saber se é contemporânea da fiança ou anterior à fiança:
(i) Se, quando foi constituída a fiança, já pré-existia a garantia dada por terceiro, o fiador tem direito a
exigir que se execute primeiro a garantia dada por terceiro (i.e., tem direito ao benefício da excussão real).
Assim, neste caso, primeiro penhoram-se os bens do devedor principal ou a garantia real e só depois os
bens do fiador. A garantia real até pode ser executada antes dos bens do devedor principal (o credor é que
decidirá), mas nunca depois da execução do fiador. Vemos, assim, que o fiador beneficia aqui de duas
vantagens: benefício da excussão prévia face ao devedor principal e benefício da excussão real face ao
terceiro.
(ii) Se a garantia real for posterior à fiança, o fiador continua a ter o benefício da excussão prévia, mas já
não tem direito ao benefício da excussão real. Neste caso, sendo a hipoteca posterior, já não pode o fiador
exigir que se execute esta primeiro.
(iii) Se a garantia real for contemporânea à fiança, os efeitos são os mesmos que os previstos para o caso
em que a garantia real é anterior à fiança. Também dá ao fiador o direito a exigir que se execute a garantia
real primeiro.
Mas o que é uma garantia real que não é anterior mas é contemporânea? Por exemplo, uma garantia
real que, apenas por motivos imprevisíveis, se constituiu já em data posterior à fiança, quando tinha sido
contratado que a fiança seria sempre posterior à hipoteca (ex: houve um problema com a escritura da
hipoteca e a data da hipoteca ficou posterior à data da fiança). Trata-se de situações em que a fiança foi
constituída pressupondo que pré-existia uma garantia real que deveria ser executada antes dela.
DISPONIBILIDADE E TRANSMISSIBILIDADE:
Só se podem responder por dívidas (ser objeto de penhora) as situações jurídicas ativas de natureza
patrimonial, que estejam na disponibilidade do titular, e cuja titularidade possa ser transmitida
forçadamente nos termos da lei substantiva.
não são penhoráveis direitos indisponíveis, como sejam as coisas fora do comércio (art. 202º/2
CC): bens do domínio público do Estado e das restantes pessoas coletivas públicas (art. 736º/al.
b). também não podem ser objeto de titularidade os bens que, pela sua natureza, não são
suscetíveis de apropriação individual, como o direito aos alimentos (art. 2008º/1 CC).
Há, ainda, direitos que embora disponíveis, são intransmissíveis, ou seja, que o próprio
titular pode renunciar a eles, mas não os pode transmitir a outrem.
o Intransmissibilidade objetiva – direitos disponíveis, mas que são intransmissíveis em razão do seu
objeto. A este respeito, al. a) do art. 736º define em termos genéricos como absolutamente impenhoráveis
as coisas ou direitos inalienáveis, ou seja, intransmissíveis. Exemplo: direito de uso e habitação (art.
1488º CC), a servidão predial (art. 1545º/1 CC), direito à locação desde que seja para fim habitacional
(art. 1038º/f) CC), direitos contratualmente intransmissíveis, ou quando a alienação for nula por lei (art.
280º CC).
Da leitura do art. 736º resulta que os bens absolutamente impenhoráveis podem ser agrupados em
três grupos:
Bens cuja apreensão constituiria uma ofensa dos bons costumes (al. c)) (al. d)), (al. e)), (al. f (al.
g)) e quaisquer outros cuja apreensão viole aquela cláusula geral (ex: aliança de casamento ou
roupa interior).
RP entende que a ideia de “bons costumes”, que é utilizada porque já tem grande tradição e que permite
unificar estas situações de impenhorabilidade, acaba por ter um papel reduzido, na medida em que
todos estes casos poderiam ser lidos à luz da CRP.
Ou seja, o sistema do art. 736º remete para valores normativos que hoje em dia precisariam de ser
atualizados.
Bens cuja apreensão careça de justificação económica, pelo seu diminuto valor venal (al. c))
Bens isentos de penhora por disposição especial – por exemplo, os já referidos móveis do art.
453º/1 CT.
Há outros bens absolutamente impenhoráveis para além dos previstos no art. 736º? RP entende que
sim. Para os descortinar, temos de recorrer à CRP. Estes limites, que na realidade remetem para os
princípios constitucionais, que protegem as garantias e os direitos constitucionais (ex: direito à saúde),
não nos podem fazer esquecer o limite constitucional que se sobrepõe a todos os outros – a dignidade da
pessoa humana e a proporcionalidade das restrições aos direitos fundamentais do executado.
Assim, o art. 736º não pode prever um elenco típico. A CRP constitui uma verdadeira cláusula geral
de impenhorabilidade absoluta. Deste modo, se num caso concreto não conseguirmos reconduzir a
nenhuma das situações do art. 736º, temos ainda de questionar se aquela penhora se coaduna com a
dignidade da pessoa ou se é uma restrição aceitável.
Apesar disto, tem sido considerada constitucional a penhora da casa de morada de família. O que
a CRP garante é o direito à habitação mas não o direito à propriedade sobre a habitação, pelo que
a penhora desta não ofende aquele, segundo a jurisprudência e doutrina dominantes. Dito isto, há
algumas proteções à casa de morada de família, mas que não vão no sentido da sua
impenhorabilidade; vão antes no sentido de evitar a sua venda enquanto não houver uma certeza
da plena fundamentação da execução (arts. 704º/4, 733º/5 e 785º/4, por exemplo).
2) Impenhorabilidades relativas (art. 737º) – bens que, apenas sob determinadas condições, podem ser
penhorados. Fora dessas condições não podem ser penhorados. São bens relativamente impenhoráveis:
Bens do domínio privado do Estado e similares, desde que estejam especialmente afetos à
realização de fins de utilidade pública (ex: computadores da FDL, enquanto estiverem afetos ao
ensino) – já os bens do domínio público do Estado são absolutamente impenhoráveis (art.
736º/b)).
Compete ao agente de execução apurar se o bem está afeto a uma atividade económica do Estado, mas de
serviço privado ou se a entidade não tem a natureza pública exigida na lei ou se a penhora e venda
afetarão a continuidade do serviço público. Se não for esse o caso concreto, o bem será penhorável e
valerão as regras gerais de penhora.
Todavia, nada impede o executado de, em oposição à penhora, vir fazer a prova da verificação in concreto
dos pressupostos destas impenhorabilidades objetivas.
a. Esta limitação à penhora só funciona para os bens móveis situados na casa de habitação efetiva do
executado – assim, já não valerá para os bens que se encontrem, por exemplo, na casa de férias do
executado.
b. Também não funciona apenas numa casa inteira – por exemplo, se o executado viver num quarto
arrendado, isso é, para todos os efeitos, a casa de habitação efetiva do executado.
Pode perguntar-se, assim, o que se pode executar no caso de o executado viver na casa dos pais : só se
poderão executar bens do executado (art. 735º), que estejam na sua habitação efetiva; assim, só se
poderão executar bens do executado que, à partida, se localizarão no seu quarto, conquanto sejam
seus. Na dúvida, a titularidade é determinada segundo a presunção do art. 764º/3.
c. O que são bens imprescindíveis a qualquer economia doméstica? Este é um conceito que tem
variado muito ao longo do tempo. RP, contudo, entende que qualquer economia doméstica aponta para
um padrão; e que padrão é este?
Será o padrão correspondente ao mínimo de dignidade social do agregado familiar residente na casa de
habitação efetiva do executado, sendo que este mínimo de dignidade social não se afere por um padrão
médio, mas por aquilo que seja necessário para assegurar os direitos pessoais mínimos (padrão
mínimo): alimentação, saúde, proteção e comunicação básica. Ou seja, são indispensáveis os bens que,
sendo retirados ao executado, o deixarão numa situação indigna ou marginal.
Note-se que se houver mais que um objeto da mesma qualidade (ex: dois frigoríficos), pode penhorar-se
um deles, deixando o outro.
Será o computador, hoje em dia, imprescindível a um padrão mínimo? RP diz que é muito discutível.
Atualmente, já corresponde a uma necessidade mínima de comunicação, pelo que, à partida, não poderá
ser penhorado (tal como não o pode ser o telemóvel).
d. Se, num caso concreto, estiver em causa um bem que, para qualquer economia doméstica, não é
imprescindível, mas para aquele sujeito concreto é, podemos sempre invocar o princípio da
proporcionalidade da penhora. Assim, o agente de execução deve aferir se será de evitar a penhora de
bens não estritamente necessários à economia doméstica por, in casu, o executado sofrer com a sua falta
efeitos negativos desrazoáveis sobre os seus bens de personalidade e o credor obter com a sua venda um
valor pouco significativo. E se for o próprio executado a indicar estes bens à penhora?
RP entende que, ainda assim, esses bens não são penhoráveis. Esta conclusão resulta da contraposição
entre o teor do n.º 2 e o teor da ressalva do n.º 3 do art. 737º: se o legislador quisesse autorizar que o
executado pudesse afastar a norma, tê-lo-ia dito, à semelhança do que faz no n.º 2.
3) Impenhorabilidades parciais (arts. 738º e 739º) – bens que podem ser penhorados, mas apenas em
parte deles (tem de se tratar, naturalmente, de bem divisível). Tem por objeto a penhora de direitos de
crédito.
NOTA: é irrelevante se se trata de prestações periódicas ou aperiódicas; o que é relevante é a sua função e
não a sua periodicidade. Estão, assim, excluídos da proteção do art. 738º/1 os créditos que não cumpram
uma função alimentícia, como os provenientes de subsídios de deslocação e respetivas ajudas de custo.
Questão duvidosa é se na “indemnização por acidente” porém nas ações do âmbito do processo civil,
as pensões pagas em acidentes de trabalho são penhoráveis, mas beneficiando da impenhorabilidade dos
2/3 do art. 738º, salvo na ação executiva de alimentos em que tal impenhorabilidade está ausente (art.
738º/4).
Para efeitos de consideração da parte líquida das prestações previstas no art. 738º/1, apenas são
considerados os descontos legalmente obrigatórios.
Em segundo lugar, esta proibição de penhora de 2/3 tem um limite mínimo e um limite máximo (art.
738º/3):
Para cada rendimento, descontamos os descontos legalmente obrigatórios: se o que ficar for
inferior ao salário mínimo nacional, não se pode penhorar nada; se o que sobrar for ligeiramente
superior ao salário mínimo nacional, deixa-se este valor mínimo (salário mínimo nacional) e
penhora-se o que ultrapassar.
exemplo: se alguém auferir 900€ mensais líquidos, vai retirar-se 1/3, sobrando 600€. Se o que sobrar,
depois de retirado 1/3, for inferior ao salário mínimo nacional, tem de se baixar a penhora. Pelo contrário,
se auferir 1.200€ líquidos, se retirarmos 1/3, sobram 800€; como esses 800€ estão acima do salário
mínimo nacional, não há problema.
Quanto ao limite máximo, se alguém auferir 3.000€ líquidos, se retirarmos 1/3 sobram 2.000€,
que é superior a 3x o salário mínimo. Em tudo o que fique acima de 3x o salário mínimo já se
pode penhorar. Ou seja, retira-se o 1/3 e pode ainda retirar-se tudo o que fique acima de 3x o
salário mínimo.
É importante ainda referir que este limite, esta proteção conferida pelo art. 738º não se aplica sempre.
É o que resulta, desde logo, do art. 738º/4: quando o crédito exequendo for de alimentos, é
impenhorável a quantia equivalente à totalidade da pensão social do regime não contributivo. Ou seja,
quando penhoramos um salário ou uma das prestações constantes do art. 738º/1, temos de responder à
questão: qual é a natureza do crédito exequendo? Estamos a executar por alimentos ou não? Se não
estivermos a executar por alimentos, o problema não se coloca.
Mas se estivermos a executar uma obrigação de alimentos, o executado já não tem direito a ficar com 2/3
do salário, apenas podendo ficar com o valor correspondente à pensão social do regime não contributivo.
Pode penhorar-se todo o salário menos a parte correspondente à pensão social (que são pouco mais de
200€
- Se o executado ainda não recebeu o salário, estamos perante uma penhora de vencimento e a entidade
patronal será notificada para, quando pagar o salário, descontar 1/3 para o agente de execução. Se estas
quantias do art. 738º ainda não tiverem sido recebidas, o terceiro devedor (entidade que paga) já sabe que
quando pagar terá de fazer o desconto.
- Se o executado já recebeu a totalidade da prestação, determina o art. 739º que a quantia em dinheiro que
recebeu ou o depósito bancário em seu nome estão sujeitos à mesma impenhorabilidade: há 1/3 que será
penhorado. Se recebeu o dinheiro por transferência bancária para a sua conta, será penhorado o
vencimento através da conta (apenas em 1/3).
Assim, o agente de execução irá ver o que está em casa, em termos de dinheiro vivo, e o que está no
banco e, se for claro que aquele valor proveio de um crédito salarial, já sabe que terá de penhorar 1/3.
E se o agente de execução não souber que aquele dinheiro proveio do crédito salarial sujeito a
penhora? Caberá ao executado demonstrar a origem do dinheiro ou do depósito bancário para efeitos da
invocação do art. 739º e, através dele, do art. 738º/1; fá-lo-á em petição de oposição à penhora, com base
no art. 784º/1 a).
Mas, se não se souber de onde veio aquele dinheiro, aplicar-se-á o art. 738º/5 Ou seja, nesse caso,
penhorar-se-á tudo o que se encontrar, exceto o valor do salário mínimo ou, tratando-se de obrigação de
alimentos, o valor correspondente à pensão social.
art. 738º/6 vem prever uma válvula de escape para o funcionamento do art. 738º/1 e 4: pode ser
pedida ao juiz a redução ou até isenção da penhora em sede do art. 738º. Se a lei diz que o
salário só pode ser penhorado em 1/3, é porque presume que se consegue viver com os outros
2/3; mas pode ser que o executado consiga demonstrar que os outros 2/3 não são suficientes
para a sua subsistência.
Assim, o tribunal terá de ponderar: (i) De um lado, o montante e a natureza do crédito exequendo; (ii)
De outro lado, as necessidades do executado e (sendo o caso) do agregado familiar – aquelas aferidas pelo
padrão de consumo normal de um homem comum em idênticas circunstâncias.
O despacho deve ser fundamentado, devendo haver lugar ao princípio do contraditório. Por outro
lado, esta providência não suspende a execução, pois apenas reduz a fração penhorável dos rendimentos
ou os isenta de penhora
Decorre do direito de propriedade privada, consagrado na CRP (art. 62º CRP), estando enunciado no art.
735º/3: a penhora limita-se aos bens necessários ao pagamento da dívida exequenda e das despesas
previsíveis da execução (custas, honorários, etc.). Este princípio fixa, assim, a extensão concreta do
objeto da penhora.
O art. 735º/3 lida com uma dupla estimativa: a do valor dos bens e a do valor das despesas de justiça:
Relativamente ao valor dos bens, importa operar uma prognose não só do valor do produto
arrecadável, mas ainda do valor o quantum desse valor que chegará, no final, às mãos do
exequente. Neste sentido, ensina LEBRE DE FREITAS que devem ser levadas em conta na
extensão inicial da penhora as garantias reais de terceiro: acionadas em sede de reclamação de
créditos, elas reduzirão a parte do produto da venda a receber pelo exequente. É tendo em conta
estas limitações que se deve aferir se os bens a penhorar são ou não são os necessários. E será
essa mesma necessidade que ditará um reforço da penhora, nas eventualidades do art. 751º/4.
Quanto ao valor das despesas de justiça, o uso da expressão despesas previsíveis da execução
não é inocente: pretende-se com ela abranger, além das custas judiciais stricto sensu, os encargos
com remunerações e outros pagamentos a fazer ao agente de execução, nos termos dos arts. 43º
ss. Portaria n.º 282/2013.
Estas regras de proporcionalidade funcionam de modo objetivo, em função do valor das dívidas,
principal e acessórias; não em função da configuração subjetiva da causa.
Assim, se numa execução forem vários os executados, a regra da suficiência da penhora não funciona de
forma individualizada ou pessoal, relativamente apenas aos seus bens. É que o que releva é que a
totalidade dos bens penhorados sejam suficientes para o pagamento do crédito exequendo e custas,
independentemente de quem indicou os bens e de quem são esses bens. Deste modo, a indicação e
penhora dos bens de alguns dos devedores aproveita aos demais.
A medida dos bens necessários para os vários pagamentos é apreciada logo no momento da apreensão e
não após a venda dos mesmos.
Assim, é ilegal, porquanto violadora daqueles limites, uma penhora cautelar ou preventiva: uma
espécie de apreensão prévia – no essencial, com o mesmo cariz ofensivo da propriedade – feita apenas
com o intuito de criar uma reserva de património para a execução, de modo a prevenir uma
eventual frustração da venda dos bens penhorados.
Este princípio é muito importante porque se tivermos um bem que responde pela dívida, que é
transmissível, disponível e penhorável, pode ainda assim ser invocada a violação do princípio da
proporcionalidade.
Por exemplo, se estiver em causa uma dívida de 7.500€, e se se penhorarem dois automóveis que
ascendam a 40.000€, é evidente que é violado o princípio da proporcionalidade.
Se for violado este princípio, pode ser deduzida oposição à penhora, tal como se fosse violada uma
regra de impenhorabilidade (art. 784º/1 a)).
não limita a penhora mas determina a qualidade dos bens a penhorar. O objeto da penhora deve ser aquele
que é adequado à realização em tempo útil do direito à execução (art. 751º/1). O agente de execução
deverá penhorar os bens que apresentem maior probabilidade de realizarem uma quantia pecuniária em
menor tempo.
Ou seja, deve procurar evitar penhorar bens dificilmente vendáveis ou de pouca valia económica. Há
uma questão que se coloca: como funciona em concreto? É o agente de execução que tem, caso a caso,
de verificar se o bem é adequado ou a lei tem algum critério de preferência?
- Hoje em dia, as coisas não se passam assim. No art. 751º, podemos encontrar um gradus
executionis mas muito moderado: o agente de execução deve respeitar as indicações do exequente sobre
os bens que pretende ver prioritariamente penhorados (n.º 2).
Tem de se atender ainda ao art. 752º: se a dívida exequenda tiver uma garantia real, que incide sobre bens
do devedor, a não ser que o exequente diga expressamente que não quer executar logo a garantia real,
para além de ter de cumprir as indicações dadas pelo exequente (art. 751º/2), o agente de execução deve
começar necessariamente pela execução real. Assim, o primeiro bem a ser penhorado, se houver
garantia real, é o bem sobre o qual essa incide; e só depois os bens que o exequente pretende ver
prioritariamente penhorados.
⭐ ATOS PREPARATÓRIOS
A fase da penhora integra vários atos: a) Atos preparatórios; b) Ato da penhora; c) Notificação do ato
de penhora; d) Impugnação da penhora.
Os atos preparatórios são todos aqueles necessários para que se realize o ato de penhora.
O ato de penhora é, em sentido amplo, o ato de apreensão de um bem para efeitos executivos; mas para
que se penhore um bem, é necessário preparar a penhora: saber que bens existem, se estão em nome do
executado, onde estão, qual o seu valor, como se identificam, se há direitos de terceiro, etc.
ATOS PRÉVIOS SÃO:
A INDICAÇÃO DE BENS À PENHORA: Este ato é dispensável, i.e., nem sempre são
indicados bens à penhora. A indicação de bens é um ato voluntário de uma parte executiva de
individualização dos concretos bens a penhorar, no que parece ser um misto de princípio da
cooperação com princípio do dispositivo.
o PELO EXEQUENTE: Por regra, quem indica bens à penhora é o exequente, podendo
fazê-lo em dois momentos, inicial e sucessivo.
Num momento inicial, no requerimento executivo, o exequente pode indicar bens para a penhora,
incluindo a indicação dos ónus e encargos respetivos art. 724º/2 em concreto al. i) do n.º 1 + n.º 3,
1ª part + n.º 3, 2ª parte
Naturalmente, o exequente tem o dever de atuar de boa fé processual na indicação de bens à penhora.
Sendo a indicação de bens pelo exequente uma faculdade, a sua falta não determina nenhuma
cominação ao exequente no plano da realização da penhora, pois esta não deixa de ser feita por esse
facto.
♢ No plano prático, traz a vantagem de permitir ao agente de execução aligeirar as diligências prévias à
penhora e direcionar o objeto da penhora.
♢ No plano formal, a indicação de bens pelo exequente não constitui uma simples informação de bens,
mas uma nomeação dos bens que devem ser penhorados antes de todos os restantes. Assim, o agente de
execução fica vinculado, sob pena de nulidade, a penhorar esses bens (sem prejuízo dos limites do
art. 751º/2, incluindo do art. 752º).
num momento sucessivo, o exequente pode também indicar bens à penhora em duas circunstâncias:
i. Quando não tenham sido inicialmente encontrados bens penhoráveis q (art. 750º/1).
Se o exequente não indicar bens penhoráveis, nem o executado o fizer, extingue-se a execução (art.
750º/2).
Há apenas uma situação em que o executado é notificado para indicar bens à penhora – no cenário
de frustração da penhora, (art. 750º).
Se a execução for com dispensa de citação prévia (forma sumária e no caso do art. 727º), a notificação é
substituída por citação do executado.
Pergunta-se: se o executado indicar bens fora deste caso, mesmo com o acordo do exequente,
cominará em nulidade processual inominada?
RP entende que não; valerá aqui o entendimento de que o exequente pode pedir a colaboração do
executado (art. 7º/1) para identificar bens penhoráveis (não no requerimento executivo, mas, por exemplo,
em reforço ou substituição de bens (art. 751º/4)) e de que o executado deverá responder ativamente com
boa fé processual (art. 8º).
Assim, se o executado:
(a) Em vez de indicar bens, efetuar o pagamento voluntário da dívida exequenda e das custas do
processo (arts. 846º e 847º), a execução extinguir-se-á (art. 849º/1 a) e b)). Tal acarreta a extinção da
eventual oposição à execução que haja, no prazo geral de 20 dias (art. 728º/1), entretanto deduzido, dada
a acessoriedade desse apenso declarativo.
(b) Indicar bens para a penhora, para o que dispõe de um prazo de 10 dias (art. 750º/2), apesar da
omissão do art. 750º/1, RP entende que os bens devem ser os suficientes para a satisfação da
obrigação (crédito exequendo e custas – art. 735º/3). Em caso de pluralidade de devedores executados,
pode cada um indicar à penhora os seus bens, mas não os bens de outro devedor executado, ainda que em
solidariedade passiva (são questões distintas a repartição da responsabilidade nas relações internas e a
afetação do património de cada um dos executados à execução).
(c) Não indicar bens à penhora e também não pagar, extingue-se a execução (art. 750º/2).
Em face do que encontrar no registo informático de execuções, deverá o agente de execução atuar
diversamente:
Se concluir que houve execução movida contra o executado que terminou nos últimos 3 anos sem
pagamento integral, têm lugar, imediatamente, as diligências tendentes a identificar e/ou localizar bens
penhoráveis (arts. 748º/3 e 749º).
Mas se o exequente indicou bens penhoráveis no requerimento executivo, o agente de execução irá
procurar logo fazer a sua penhora (art. 749º/3); ou seja, fica dispensado de diligências prévias.
Não sendo encontrado bens, tal é comunicado ao exequente, extinguindo-se a execução se este não
indicar, em 10 dias, quais os concretos bens que pretende ver penhorados (art. 748º/3 2ª parte).
Em todas as demais hipóteses – pendência de execução, execução prévia extinta com pagamento
integral, inexistência de registo de execução contra o executado – o agente de execução deverá prosseguir
com as diligências prévias à penhora (art. 748º/4).
Consulta direta e sem autorização judicial , às bases de dados da administração tributária, segurança
social, conservatórias do registo predial, comercial e automóvel e de outros registos ou arquivos
semelhantes, em acesso eletrónico (arts. 749º/1).
Fornecimento obrigatório dos elementos pelos serviços competentes pelo meio mais célere e no
prazo de 10 dias.
Qualquer que seja o objeto e o tipo de elemento a obter pelo agente de execução, vale o dever de
cooperação das partes e terceiros, neste caso para a descoberta de bens (art. 417º/1), quando interpelados
pelo agente de execução. Por outro lado, se houver documentos, informações, pareceres, plantas,
fotografias, etc., em poder de terceiro, relevantes para a descoberta de bens a penhorar, o agente de
execução pode requerer ao juiz que o terceiro seja notificado para os entregar (arts. 432º e 436º). A recusa
de entrega pode ser sancionada (art. 437º).
Pode o agente de execução pedir a uma companhia de seguros informação sobre a existência de um
seguro ou a indemnização que esteja a ser paga ao executado? Serão as companhias de seguro obrigadas a
revelar que créditos de seguro tenham sobre elas o executado? Há uma norma no regime do contrato de
seguro que determina que estas informações estão sujeitas a confidencialidade. Assim, ainda que seja
necessária a autorização judicial, a companhia de seguros poderá ainda assim opor o art. 417º que
determina que uma das causas de escusa de informação é o sigilo profissional.
⭐ ATO DE PENHORA
A penhora de imóveis e de móveis é uma penhora dos direitos reais de gozo em titularidade e
posse exclusivas que incidam sobre aqueles bens; tanto pode ser a penhora da propriedade,
como a penhora do usufruto, superfície ou outro direito real menor de gozo.
Se a penhora tiver por objeto direitos reais de gozo em contitularidade (ex: compropriedade
ou co-usufruto), os atos de penhora seguem o regime da penhora de direitos indivisos (art.
781º).
Se o objeto da penhora forem direitos reais de gozo em titularidade exclusiva (maxime,
propriedade), mas onerados com sobreposição de posses (i.e., onerados por direitos de gozo
menores), a penhora faz-se como penhora de imóveis, mas com notificação ao titular do direito
menor e sem desapossamento (art. 781º/5).
A penhora de direitos abrange todas as situações em que não se penhora um direito real de gozo que
esteja em titularidade singular e em posse exclusiva, abrange as situações de compropriedade, de co-
usufruto, de propriedade oneradas por direitos reais menores, penhora de direitos de créditos, etc.. A
categoria de penhora de direitos acaba por uma categoria residual perante as outras.
Se houvesse uma penhora da compropriedade sobre o imóvel, já não estaríamos no âmbito dos arts. 755º
e ss., mas sim do art. 781º.
Como princípio, a penhora de imóveis abrange, em regra, o prédio em todas as suas dimensões, i.e.,
as suas partes integrantes e os frutos naturais ou civis (art. 758º).
Assim, por exemplo, a penhora de uma moradia inclui a penhora do sistema de videovigilância e
a penhora de um andar que o executado deu de arrendamento abrange também o seu crédito de
rendas.
Os frutos penhoráveis em conjunto com o imóvel são os que, depois do ato de penhora, se
produzirem (frutos naturais) ou se vencerem (frutos civis).
A parte integrante ou o fruto natural ou civil podem ser excluídos da penhora do imóvel, se
houver vontade expressa nesse sentido, ou se sobre eles incidir garantia real e desde que a parte
integrante ou fruto tenham sido separados. Nesse caso, os frutos naturais podem ser
penhorados em separado, como coisas móveis, estejam separados ou pendentes, i.e., ainda
imobilizados na árvore, na condição de que não falte mais de um mês para a época normal da
colheita 758º /2
o LEBRE DE FREITAS entende que essa exclusão não parece caber ao exequente, mas
ao executado que seja proprietário ou titular de direito real de gozo menor, porque só
este pode realizar a separação da coisa móvel do respetivo prédio, salvo se a parte
integrante for de terceiro, caso em que nem sequer deve ser penhorada (MTS).
A penhora do imóvel já não abrange as coisas acessórias, salvo os documentos de titularidade do bem,
como a caderneta predial – o princípio de que o acessório não abrange a coisa principal assim o dita (art.
210º/2 CC). Quando a essas coisas, ter-se-á de fazer penhoras autónomas de coisa móvel não sujeita a
registo (art. 764º/1).
Fracionamento do imóvel: Se for penhorado um imóvel que seja divisível e o valor deste exceder
largamente o valor dos créditos exequentes e dos créditos reclamados, o executado pode requerer
autorização para proceder ao seu fracionamento (art. 759º).
Por exemplo, se a dívida é de 30.000€ e o imóvel vale 300.000€ e se este pertencer apenas ao
executado, é possível pedir ao juiz o fracionamento/divisão do imóvel. A competência decisória
é do juiz de execução (desde a reforma de 2013).
ATO DE PENHORA: art. 755º/1 O registo predial é, assim, constitutivo da penhora; sem registo
não se pode entender que haja penhora, sendo por isso nula, ainda que já haja entrega do bem a um
depositário. Depois de inscrita a penhora (e observado o disposto no art. 755º/5) cumpre-se o nº2
Seguidamente, o agente de execução lavrará o auto de penhora e procederá à afixação, na porta ou noutro
local visível do imóvel penhorado, de um edital, de modelo constante do Anexo IV da Portaria n.º
282/2013.
O conservador poderá recusar o registo, se se verificar algum dos casos previstos no art. 69º
CRPredial.
O conservador pode determinar a feitura provisória do registo por dúvidas que obstem ao registo
do ato tal como é pedido e que não sejam fundamento de recusa. (art. 70º CRPedial).
Essas dúvidas podem respeitar ao objeto da penhora (ex: o agente de execução descreve o imóvel como
prédio rústico, mas nele já foi edificado um prédio urbano) ou aos sujeitos da penhora (ex: quando
exista sobre os bens registo de aquisição ou reconhecimento do direito de propriedade ou de mera posse a
favor de outra pessoa diversa do executado ou do requerido).
Neste caso, o art. 119º/1 CRPredial determina que, havendo registo provisório de penhora de bens
inscritos a favor de pessoa diversa do executado, o juiz deve ordenar a citação do titular inscrito para
declarar, no prazo de 10 dias, se o prédio ou o direito lhe pertence:
a. Se o citado declarar que os bens não lhe pertencem ou não fizer nenhuma declaração, o tribunal ou
agente de execução comunicam o facto ao serviço de registo para conversão oficiosa do registo em
registo definitivo.
b. Se o citado declarar que os bens lhe pertencem, permanece a situação de dúvida quanto à titularidade
sobre o bem.
O juiz remeterá os interessados para os meios processuais comuns (ação de simples apreciação positiva e
ação de reivindicação), e aquele facto é igualmente comunicado, bem como a data da notificação da
declaração para ser anotada no registo.
Neste caso, o registo permanecerá como provisório, podendo o exequente desistir da penhora ou
promover a sua substituição ou reforço (art. 751º/4 c)).
Se não for intentada a ação declarativa, o registo provisório caducará, e com ele a penhora.
Restará ao exequente promover a penhora de novos bens do executado.
O registo provisório da penhora não tem efeito suspensivo sobre a execução, salvo se o juiz da
execução, ponderados os motivos da provisoriedade, decidir que a execução não prossiga, se perante ele a
questão for suscitada
DEPOSITÁRIO: O agente de execução deverá designar um depositário judicial dos bens imóveis
penhorados. (art. 756º/1).
Quanto aos atos de administração extraordinária (ex: exploração dos bens penhorados,
nomeadamente por meio de arrendamento, alienações e onerações), estes apenas podem ser
praticados após acordo entre o exequente e o executado (art. 760º/2). Na sua falta, o juiz
decidirá, ouvido o depositário e feitas as diligências necessárias.
⇒ PENHORA DE BENS MÓVEIS: art.º 764º e ss conjugar sempre com o art. 772º
Temos de distinguir entre a penhora de bens móveis sujeitos a registo e a penhora de bens móveis não
sujeitos a registo.
1) Bens móveis sujeitos a registo Trata-se, aqui, da penhora de automóveis, navios e aeronaves,
por exemplo. Os bens móveis sujeitos a registos têm um regime que, por um lado, os aproxima
da penhora de imóveis, mas, por outro lado, os afasta: art. 768º aplica-se, com as devidas
adaptações, o disposto no artigo 755.º, relativo à penhora de imóveis = Portanto, a penhora
efetiva-se por comunicação eletrónica à conservatória do registo de automóvel, ou similar para
os navios e aeronaves, que for competente.
Contudo, é necessário fazer-se a apreensão da coisa móvel em termos diferentes do que seria a mera
entrega de um imóvel. A penhora de um automóvel, de um navio ou de uma aeronave, faz-se por
comunicação eletrónica, depois é necessário um ato complementar que já não é um ato de penhora,
mas antes um ato de salvaguarda da penhora ou um ato instrumental da penhora, designado de ato
de apreensão de coisa móvel.
A regra é a de que só se apreendem os móveis sujeitos a registo depois de se fazer o registo da penhora,
no entanto o art. 768º/2 prescreve que a penhora de veículo automóvel pode ser precedida de imobilização
deste. Ou seja, atualmente autoriza-se que primeiro se apreenda o automóvel e só depois se faça a
penhora, desde que a comunicação eletrónica da penhora deve ser realizada até ao termo do 1.º dia útil
seguinte
Este mecanismo permite evitar que o automóvel seja destratado; contudo, não podemos esquecer que o
princípio não é este, mas sim o de que primeiro se faz a comunicação eletrónica da penhora, nos
termos do art. 768º/1, e só depois se procede à apreensão.
Note-se que a prévia apreensão do automóvel só para verificar o seu estado e o seu valor comercial é um
ato preparatório de uma necessária penhora e não um ato preparatório de uma eventual penhora. se
assim suceder, como referido, a comunicação eletrónica da penhora deve ser realizada até ao termo do
primeiro dia útil seguinte (art. 768º/2)
nota Se o executado, ou quem o represente, se recusar a abrir quaisquer portas ou móveis, ou se a casa
estiver deserta e as portas e móveis se encontrarem fechados, observar-se-á o disposto no art. 767º.
O executado ou pessoa que ocultar alguma coisa com o fim de a subtrair à penhora fica sujeito às
sanções correspondentes à litigância de má fé, sem prejuízo da responsabilidade criminal em que possa
incorrer.
⇒ PENHORA DE BENS MÓVEIS: art.º 764º e ss conjugar sempre com o art. 772º
A penhora faz-se nos termos definidos no art. 764º. Falamos aqui, por exemplo, da penhora de uma
bicicleta ou de um computador.
Esta penhora faz-se por apreensão efetiva do bem, seguida da sua remoção para depósitos.
A penhora em si é a sua apreensão, pelo que a sua remoção já se considera um ato posterior à
penhora. Depois da apreensão efetiva, os bens têm de ser guardados. Serão removidos para o depósito,
que pode ser privado (ex: armazém o garagem do exequente), público (qualquer local de armazenagem de
bens que tenha sido afeto, por despacho do diretor-geral da Administração da Justiça, à remoção e
depósito de bens penhorados no âmbito do processo executivo – art. 27º/1 Portaria 282/2009) ou
equiparado (art. 27º/2 Portaria).
O 764º/2 prevê os casos em que pode ser dispensada a remoção, também para móveis sujeitos a registo.
⇒ PENHORA DE DIREITOS: A penhora de direitos está regulada nos arts. 773º e ss.
Por penhora de direitos pretende o legislador referir-se à penhora de qualquer posição jurídica ativa que
não seja tratada em sede de penhora de bens imóveis ou em sede de penhora de bens móveis; é assim uma
categoria residual. Por exemplo, pode ser uma herança, um estabelecimento comercial ou qualquer
crédito.
Como é que se faz uma penhora de um crédito? (art. 773º/1), por exemplo: A coloca ação executiva
contra B, sendo que B recebe todos os meses 1.000€ da entidade patronal da Sociedade SA; então tem de
ser notificada a Sociedade SA para se fazer a respetiva penhora. A penhora de direitos é uma penhora
que, quando relativa a direitos relativos, como são os de crédito, envolve sempre o exequente, o
executado e um terceiro; é por isso que a notificação ao debitor debitoris segue as formalidades da citação
pessoal, ficando sujeita ao regime desta (arts. 228º e ss. e 246º, ex vi 773º/1).
Consumada a notificação, o terceiro devedor não poderá, com eficácia, concluir atos de extinção do
crédito (art. 820º CC).
Crédito plural e crédito com garantia real: Tratando-se de crédito plural, parciário ou
solidário, importa ter alguma cautela:
o Se a garantia for um penhor -773º, nº6 (ex: penhor de quota social). A apreensão é feita
esteja a coisa empenhada em poder do executado credor pignoratício, esteja em poder de
terceiro devedor (art. 747º/1). O agente de execução será o respetivo depositário, nos termos
gerais.
o Se a garantia for uma hipoteca, faz-se no registo o averbamento especial da penhora (arts.
773º/7 2ª parte, conjugado com 2º/1 o) e 101º/1 a) CRPredial).
Cumpre ao devedor do devedor (por exemplo, ao patrão do devedor) declarar se o crédito existe, quais as
garantias que o acompanham, em que data se vence e todas as informações que possam interessar à
execução (art. 773º/2).
Assim, feita a notificação pelo agente de execução, o terceiro pode ter comportamentos processuais
diferentes, sendo certo que está vinculado a um dever de boa fé processual (art. 773º/5).
O terceiro pode então, no ato da notificação ou no prazo de 10 dias (art. 773º/3), por termo ou
simples requerimento:
(i) Reconhecer que o crédito existe como alegado, de modo tácito;
o reconhecimento tácito da obrigação, nos precisos termos em que foi indicada à penhora (art. 773º/4), é
um efeito cominatório pleno da omissão de pronúncia sobre o crédito. Ou seja, se o devedor nada
disser, entende-se que ele reconhece a existência da obrigação, nos termos da indicação do crédito à
penhora.
Por exemplo, se o exequente disse que x trabalha para a empresa y e a empresa não negar nada do que
foi imputado, fica a empresa obrigada a fazer um desconto alegadamente para o agente de execução.
Contudo, a dívida confessada apenas produz efeitos naquele concreto processo executivo; não há aqui
valor caso julgado, mas um valor de preclusão, ou seja, de caducidade do direito de defesa quanto a
uma questão concreta e apenas no âmbito de eficácia da execução pendente.
Assim, se vier a ser instaurada, pelo exequente ou pelo adquirente, execução própria contra o terceiro
devedor, este pode, na oposição à execução, impugnar ou excecionar o crédito.
(ii) Reconhecer que o crédito existe como alegado, de modo expresso, simples ou com
reservas;
a. Simples ou sem reservas – se o devedor reconhecer, sem reservas, que o crédito existe, deverá,
logo que aquele se vença, proceder ao cumprimento. O mesmo sucederá quando, estando o
crédito dependente de contraprestação do executado, esta tenha sido realizada.
Se o objeto for a entrega de uma coisa, deverá esta ser entregue ao agente de execução, ou à secretaria,
que funciona como seu depositário.
Note-se que uma e outra reservas devem ser anteriores à penhora (art. 820º CC).
O executado será então notificado para confirmar as reservas do credor e realizar a prestação em 15 dias ,
por determinação do agente de execução (art. 776º/1), ou impugnar as reservas:
Se o executado confirmar as reservas, caso não chegue a cumprir a contraprestação, a lei prevê dois
mecanismos para obviar a inexigibilidade do crédito sobre o terceiro: Nº2 DO 776
Se o executado impugnar as reservas e não cessar a divergência com a declaração do terceiro, vale,
com as devidas adaptações, o regime do art. 775º, ex vi 776º/3.
nota - Tudo isto são execuções que decorrerão por apenso, nos termos do art. 776º/4. Deduz-se deste
artigo que no momento em que é citado pessoalmente o devedor do devedor (art. 773º), ele confessa
expressamente que é de facto devedor do executado ou, se permanece em silêncio, vale como declaração
do reconhecimento de dívida e temos um verdadeiro título executivo avulso.
(iii) Em caso de não cumprimento pelo terceiro devedor, pode ser proposta ação executiva
pelo exequente ou pelo adquirente do crédito (art. 777º/3), consoante o crédito ainda
esteja penhorado ou já tenha sido vendido.
RP entende que a ação também poderá ser colocada pelo executado, desde que com autorização
prévia do juiz (art. 773º/6). Neste caso, o título não pode ser o reconhecimento do crédito por parte do
devedor, pois ele não beneficia do art. 777º/3. Terá de usar um qualquer outro título nos termos gerais do
art. 703º, como uma sentença condenatória.
A execução do crédito do executado contra o seu devedor é tradicionalmente vista como formalmente
autónoma; contudo, o art. 777º/3 admite expressamente que ela corra nos próprios autos da execução.
Quando seja colocada em separado, e visto que o título é diverso de sentença, parece que o tribunal
competente será determinado segundo as regras residuais do art. 89º, maxime, a do domicílio do
executado.
Se a execução for proposta pelo adquirente do crédito penhorado, o título executivo é o título de
aquisição do crédito emitido pelo agente de execução, nos termos do art. 827º/1 (art. 777º/3 in fine)
(iv) Contestar a existência do crédito
o terceiro devedor pode ainda negar a existência do crédito, (i) impugnando a existência do crédito ou
(ii) opondo-lhe exceções perentórias (art. 571º).
A ineficácia relativa, imposta pelo art. 820º CC, dita que apenas podem ser opostos com eficácia
processual factos extintivos anteriores à penhora; idêntica regra vale quanto a factos modificativos ou
impeditivos.
Dita o art. 775º/1 que se o devedor contestar a existência do crédito, são notificados o exequente e o
executado para se pronunciarem, no prazo de 10 dias, devendo o exequente declarar se mantém a
penhora ou desiste dela:
a. Se mantiver a penhora, o crédito será levado à venda ou à adjudicação como litigioso (art.
775º/2). Sendo litigioso, pode ou não acontecer que alguém queira ficar com ele, comprá-lo; se
sim, se o crédito for adjudicado a algum adquirente, será esse adquirente que terá de cobrar o
crédito ao terceiro; será na eventual execução, perante o terceiro, que tudo se decidirá, porque,
entretanto, o adquirente já pagou a quantia ao agente de execução.
Ou seja, o crédito vencido tanto pode ser executado pelo exequente antes da transmissão executiva, tendo
por título a confissão de dívida (art. 777º/3 1ª parte) e ainda que já esteja litigioso (art. 775º/2), como pode
ser executado pelo adquirente depois da transmissão executiva, tendo por título executivo a aquisição do
crédito (art. 777º/3 in fine), ainda que litigioso.
PENHORA DE TÍTULOS DE CRÉDITOS (ART. 774º) – constituem objeto desta penhora os direitos
de crédito incorporados em títulos de crédito stricto sensu (ex: letras, livranças e cheques), mas também
direitos reais, no caso dos títulos de crédito representativos (ex: guias de transporte de mercadorias,
conhecimentos de carga, cautelas de penhor).
i. Apreensão do título, com eventual averbamento do ónus da penhora (art. 774º/1). Esta
apreensão traduz-se na transferência efetiva do exercício dos poderes de facto para o agente
de execução. A esta apreensão aplicam-se, por força do art. 783º, as normas que regulam a
entrega efetiva de coisa móvel não sujeita a registo (arts. 764º a 767º). A penhora tem-se por
realizada no momento da apreensão – teor literal do art. 774º/1, e visto que o momento do
depósito tem já uma função de conservação do bem.
ii. Depósito em instituição de crédito, à ordem do agente de execução, ou, nos casos em que as
diligências de execução são realizadas por oficial de justiça, da secretaria (arts. 774º/3 e
719º/1).
Imaginemos que o nosso executado tinha várias ações porque era sócio de uma certa sociedade, quanto à
penhora de direitos incorporados em títulos de crédito ou ainda porque tinha títulos de poupança
(certificados de aforro) diz-nos então o 774º que realiza-se mediante a apreensão do título, ordenando-se
ainda, sempre que possível, o averbamento do ónus resultante da penhora.
PENHORA DE DIREITOS OU EXPECTATIVAS DE AQUISIÇÃO (ART. 778º)
frequentemente, as pessoas não são donas daquilo que normalmente utilizam; pense-se, nomeadamente,
em automóveis usados em locação financeira, renting ou em propriedade, mas com reserva de
propriedade. Normalmente, no final, têm opção de comprar ou não o automóvel.
O problema que aqui se coloca é o de que não se pode penhorar o direito de propriedade de um
automóvel (por exemplo) cuja propriedade ainda não tenha sido efetivamente transmitida para o
executado; a titularidade desse bem ainda permanece na esfera de terceiro e, sendo anterior à penhora,
não caducou (art. 824º/2 CC a contrario).
Nuns casos encontramos verdadeiros direitos reais de aquisição (como na promessa real e no pacto de
preferência real); noutros casos, apenas expectativas (como na compra com reserva ou no leasing).
Nestes casos, o objeto da penhora será, além do direito ou expectativa de aquisição (conteúdo real), a
posição contratual do executado (conteúdo obrigacional). Assim, o que é levado à venda executiva e é
adquirido pelo terceiro é a posição contratual do executado, deixando este de ser parte no contrato.
Também não cabem aqui os direitos e expectativas de aquisição pelo executado que não sejam
sobre bens determinados (art. 778º/1).
Procedimento da penhora: O art. 778º/1 dispõe que a efetivação da penhora se faz nos termos da
penhora de créditos. Assim, é feita por notificação à contraparte reservatária (ex: empresa de leasing) de
que a posição contratual do executado (que lhe permitirá adquirir o direito de propriedade ou outro) fica à
ordem do agente de execução (art. 773º).
A penhora considera-se feita e completa no momento da notificação. Poderá haver alguma controvérsia
sobre a existência do direito do alienante e quanto às suas características (arts. 775º e 776º). Caso o bem
já tenha sido entregue ao executado e este já o esteja a usar, o objeto da penhora continua a não ser o da
propriedade, mas sim o direito real de aquisição ou o direito de uso, mas proceder-seá à apreensão do bem
(art. 778º/2). Terá, assim, de ser designado um depositário (art. 756º ex vi 772º).
Consumada a aquisição, a penhora passa a incidir sobre o próprio bem transmitido; i.e., se na
pendência da execução a reserva de propriedade for levantada e o executado passar a ser o proprietário,
então a penhora do direito de aquisição converte-se automaticamente numa penhora do direito real
adquirido (propriedade) – art. 778º/3.
Se tiver lugar a ocorrência de alguma causa de extinção da posição jurídica, maxime, resolução por
incumprimento (art. 820º CC), a penhora extingue-se pelo desaparecimento do seu objeto. Podem, então,
ser nomeados outros bens por insuficiência superveniente dos bens penhorados – art. 751º/4 b).
incluem-se aqui as penhoras sobre rendas, abonos, vencimentos, salários ou outros rendimentos
periódicos. Já não se incluem os valores auferidos de modo excecional – ex: prémios de produtividade,
bónus de desempenho, etc. – que deverão ser penhorados como créditos, nos termos do art. 773º.
Feita a indicação pelo exequente dos rendimentos do executado (art. 724º/3) e, quando possível, do
empregador do executado (art. 724º/1 i) e 3) ou do locatário, ou apurados esses rendimentos pelo agente
de execução, na ausência daquela indicação, este promoverá a respetiva penhora, nos termos do art.
719º/1.
O agente de execução (art. 719º/1) deve notificar o locatário, empregador ou entidade que deva pagar o
rendimento, para que faça, nas quantias devidas, o desconto correspondente ao crédito penhorado e
proceda ao depósito em instituição de crédito (art. 779º/1).
O art. 786º determina ainda que a citação dos credores e do cônjuge do executado segue os termos gerais
do seu n.º 1: é feita depois de concluída a fase da penhora e de apurada, pelo agente de execução, a
situação registral.
A citação do cônjuge parece impor-se, essencialmente, na penhora de rendimentos que sejam bem
comuns; maxime, o produto do trabalho é um bem comum (art. 1724º/a) CC).
PENHORA DE DEPÓSITOS BANCÁRIOS (ART. 780º) – esta penhora é mais complexa, porque,
para além de termos de atentar nos 14 números do art. 780º, temos ainda de ter em conta o art. 18º da
Portaria 282/2013.
Qual é o objeto da penhora de depósitos bancários? Não é a conta do executado. O objeto da penhora
é um saldo bancário, i.e., o direito de crédito do executado à entrega de um saldo positivo de um depósito
bancário – não se penhoram saldos negativos.
Para se proceder a esta penhora do saldo positivo do depósito bancário, o agente de execução terá de
respeitar as normas legais imperativas, nomeadamente os arts. 738º/5 e 739º, assim como o princípio da
proporcionalidade (art. 735º/3) e o princípio da adequação (art. 751º/1).
Assim, em certos casos, se soubermos que naquele saldo há créditos que vieram do vencimento, terá de se
aplicar o art. 738º por força do 739º e, por outro lado, quando não soubermos de onde são os créditos que
alimentam a conta, tem aplicação o art. 738º/5
Em suma, a penhora de saldo bancário terá de respeitar o regime dos bens parcialmente penhoráveis do
738º e o regime das impenhorabilidades do 739º. O que quer isto dizer? Que não se pode penhorar
tudo o que consta do saldo bancário, tendo de se deixar sempre um mínimo (art. 738º/5), ou pelo
menos dois terços quando se trate de créditos de sustento (art. 738º/1 e 2).
Nesse caso, haverá uma graduação, uma ordem da penhora, que visa conciliar o princípio da
proporcionalidade e o princípio da adequação.
Segundo o art. 780º/7, penhora-se na seguinte ordem:
1. Contas singulares do executado, sendo que dentro destas as contas de depósito a prazo preferem às
contas de depósito à ordem;
2. Contas em contitularidade (com o cônjuge, com o irmão, com um amigo, com os sócios), ou seja, as
contas coletivas.
Dentro destas, penhoram-se, em primeiro lugar, aquelas em que o executado esteja com menor número de
contitulares (preferindo as contas de depósito a prazo e às contas de depósito à ordem) e, em segundo
lugar, -se aquelas em que o executado seja primeiro titular (preferindo as contas de depósito a prazo e às
contas de depósito à ordem).
Parece, assim, configurar-se uma penhorabilidade subsidiária objetiva, nos termos do art. 745º/5 in fine.
A sua violação merece censura em sede de oposição à penhora, ao abrigo do art. 784º/1 b).
E se se tratar de uma conta coletiva e se penhorar a parte da conta que não é do executado? Esta
questão prende-se com os limites subjetivos à penhora de depósitos bancários, constantes do art. 780º/5,
em coerência com o art. 743º: sendo vários os titulares do depósito, a penhora incide apenas sobre a
quota-parte do executado na conta comum, presumindo-se que as quotas são iguais.
Por isso, se se penhorar mais do que a quota correspondente à presunção de que as quotas são todas
iguais, o terceiro titular da conta poderá defender-se não através da oposição à penhora (porque só o
executado é que se pode defender desta forma), mas sim em embargos de terceiro.
Se o executado estiver casado, importa distinguir: (i) Se a conta for coletiva, penhora-se a quota-parte
do saldo (i.e., metade). (ii) Se a conta for singular (do executado), penhora-se a conta na medida
admissível nos termos dos arts. 738º/5 e 739º. Contudo, se se tratar de penhora de um vencimento
recebido em conta, estamos perante a penhora de um bem comum (art. 1724º/a) CC), pelo que se deve
citar o cônjuge nos termos e para os efeitos do art. 740º/1.
A penhora é feita nos termos dos arts. 780º e 18º da Portaria 282/2013. É um procedimento
complexo, e para ser compreendido há que fazer a distinção entre bloqueio e penhora:
Numa primeira fase, em princípio, pode ter havido a indicação de contas bancárias por parte
do exequente; se isso não aconteceu, o agente de execução vai pedir informações ao Banco de
Portugal sobre as contas que existem em nome do executado. Portanto, de uma forma ou de
outra, o agente de execução saberá sempre quais as contas que estão em nome do executado.
Assim que souber quais são essas contas, enviará uma notificação ao Banco de Portugal para que
bloqueie as contas que estejam em nome do sujeito indicado. O Banco de Portugal irá averiguar
e deverá responder ao agente de execução (i) ou que não há contas e, por isso, não bloqueou, (ii)
ou que bloqueou as contas (art. 780º/8).
O agente de execução responderá ao Banco de Portugal, dizendo quais são as contas, dentro das
quais foram bloqueadas, que deve afinal penhorar (art. 780º/9). As contas que vão efetivamente
ser penhoradas devem respeitar o princípio da proporcionalidade e adequação, assim como as
impenhorabilidades: há contas que têm um valor tão baixo que, desde logo, o art. 738º/5 impede
a sua penhora e há contas que têm um valor tão alto que implicam a delimitação do valor efetivo.
O agente de execução procederá à notificação do executado nos 5 dias posteriores à realização
da penhora do saldo bancário (art. 753º/4). A omissão deste ato processual constitui nulidade
processual.
RP entende ainda, e com apoio no art. 781º/1, que os terceiros contitulares da conta bancária (ex: cônjuge,
pais) também devem ser notificados. Impõe-se às entidades bancárias o cumprimento do dever de
cooperação para a descoberta da verdade (art. 417º/1 ex vi 780º/1).
A violação deste dever redunda em litigância de má fé (art. 542º/2 c)), com eventual condenação em
multa e indemnização à parte prejudicada.
Assim sendo, qual é a natureza jurídica do bloqueio? RP entende que não é um ato de penhora. O
bloqueio tem apenas uma natureza de ato interno de preparação de penhora que antecipa alguns dos seus
efeitos, mas que não é a penhora. De facto, as contas bloqueadas são contas que ainda podem receber
créditos e débitos que estivessem a ser executados, mas a não ser isso já não podem ser movimentadas.
Findo o prazo de oposição ou tendo sido esta julgada improcedente, as quantias penhoradas que não
garantam qualquer crédito reclamado serão entregues diretamente ao exequente, até ao valor da dívida
exequenda, depois de descontado o montante relativo a despesas de execução (art. 735º/3). Repete-se
assim o que consta do art. 779º/3.
Havendo reclamação de créditos, a entrega dos saldos penhorados será feita em função da graduação de
créditos.
Todavia, o direito de voto continua a ser exercido pelo titular da quota penhorada. Esta solução vale,
mutatis mutandis, para a penhora de participações sociais, em geral, que não sejam reconduzíveis a
valores mobiliários. A penhora de quota e de participação social é feita através de registo e notificação à
própria sociedade.
Tal como na quota-parte em bens indivisos não sujeitos a registo, o registo é ato constitutivo da penhora
conjuntamente com a notificação aos consortes. Já a penhora de direito aos lucros e à quota de liquidação,
deve ser vista como uma penhora de quinhão sobre um bem indiviso, em sede do art. 781º/1 a 4. Isto
significa que a penhora há de ser feita mediante notificação aos restantes sócios não executados (art.
781º/1).
Em qualquer dos casos, apenas pode ser penhorada a quota-parte do executado, que é, em si mesma, uma
realidade de natureza jurídica (art. 743º/1). Não se penhora a coisa em si, sua fração especificada ou bens
que a compõem (Ac. STJ 10- 1998/98A960); caso contrário, estar-se-ia a penhorar um bem de um
terceiro (art. 735º/2).
Nos termos do art. 781º, a penhora de quinhão em património autónomo ou de direito a bem indiviso não
sujeito a registo efetiva-se unicamente por notificação do agente de execução aos contitulares e ao
administrador dos bens (caso exista), com a expressa advertência de que o direito do executado fica à
ordem do agente de execução.
A identificação dos notificados, bem como da quota-parte do executado, terá sido realizada pelo
exequente no requerimento executivo (art. 724º/2). A penhora tem-se por realizada desde a data da
primeira notificação (art. 781º/1 in fine).
Os notificados podem fazer as declarações que acharem por bem quanto ao direito do executado, ao
abrigo do art. 781º/2 1ª parte.
Tal implica o funcionamento do regime das garantias na citação e da cominação pela não oposição (art.
773º/1 a 4).
Por seu turno, a penhora de parte, quota ou quinhão em bem indiviso, móvel ou imóvel, sujeito a registo,
faz-se nos termos do art. 755º: é realizada por comunicação eletrónica ao serviço de registo e, além da
notificação do executado ex vi art. 753º/2, será realizada a notificação do administrador (se houver) e dos
terceiros contitulares, por aplicação analógica do art. 781º/1.
A notificação ao administrador impõe-se para este conhecer ou/e se pronunciar sobre quem fica como
depositário; a notificação dos contitulares permite, mesmo em sede de bens sujeitos a registo, o exercício
da faculdade de autorizar que a venda tenha por objeto todo o património ou a totalidade do bem (art.
781º/2).
Para efeitos do art. 782º, a penhora de estabelecimento industrial (fábrica ou oficina) pode ser equiparada
a penhora de estabelecimento comercial. A penhora de estabelecimento comercial conhece
impenhorabilidades, umas quanto ao seu todo (ex: tem sido negada a penhorabilidade do estabelecimento
comercial derivado de um contrato inominado de instalação de lojista em centro comercial, dada a sua
natureza intuitu personae) e outras quanto a alguns dos direitos que o integram.
Esta penhora faz-se por auto do agente de execução (arts. 782º/1 e 719º/1), em que se relacionam os bens
que compõem essencialmente o estabelecimento; a essencialidade traduz-se no facto de, sem esses bens, o
estabelecimento comercial não poder manter o seu giro. A penhora de estabelecimento comercial só se
considera como realizada depois de lavrado o auto.
A penhora do estabelecimento comercial permite a continuação da sua exploração normal (art. 782º/2),
em nome do interesse do exequente no valor do bem e do princípio da proporcionalidade da penhora.
Contudo, estas mesmas razões ditam que a exploração se faça com a gestão do próprio executado,
nomeando o juiz sempre que necessário um fiscal para acompanhar a gestão doe executado.
Ele pode, no entanto, ser afastado ou pode nem sequer ficar a gerir se houver oposição por parte do
exequente (art. 782º/3); neste caso, será designado pelo juiz um administrador ordinário do
estabelecimento comercial. Contrariamente, se estiver paralisada ou dever ser suspensa a atividade do
estabelecimento comercial, o juiz designa depositário para mera administração dos bens (art. 782º/4).
A penhora do estabelecimento comercial não afeta eventuais penhoras anteriormente feitas sobre bens que
o integrem (art. 782º/5). Em consequência, gera-se uma pluralidade de penhoras, no estrito âmbito desses
bens, para efeitos do art. 794º; i.e., nessa parte, o exequente terá de sustar a sua execução e ir reclamar o
valor desse bem na primeira execução.
Mas o inverso já não é verdade: a penhora do direito ao estabelecimento comercial impede a penhora
posterior sobre bens nele compreendidos (art. 782º/5); contudo, se o bem não integrar de modo essencial
o estabelecimento, pode admitir-se a segunda penhora (isto porque os bens não essenciais não foram
relacionados – art. 782º/1 a contrario – pelo que estão fora do objeto da penhora).
Se alguns dos bens ou direitos compreendidos no estabelecimento carecerem de registo das respetivas
onerações (ex: propriedade sobre o local do estabelecimento), deverá o agente de execução proceder ao
registo da penhora, sob pena de inoponibilidade a penhora posterior (art. 782º/6).
Para efeitos de estudo, é relevante perceber o que se entende por bens que compõem essencialmente o
estabelecimento comercial, o que deve ser ou não descrito e até onde funciona o estabelecimento
comercial.
Há aqui um paradoxo: é feita a penhora do estabelecimento comercial (os seus bens, contratos, etc.), mas
este continua em funcionamento; ou seja, o paradoxo reside no facto de que para este estabelecimento
continuar a dar lucro implica a saída de bens que estavam necessariamente relacionados. Tudo isto terá de
ser acompanhado pelo fiscal indicado pelo juiz.