O Senhor
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O Senhor
Existe uma doutrina da Santa Trindade? Ou seria apenas uma apropriação que os cristãos antigos fizeram de
religiões pagãs, como afirmam, as enfadonhas, “Testemunhas” de Jeová? O seguinte esquema pode nos ajudar:
Jesus Cristo de Nazaré...
1. endossava o monoteísmo do AT (Mc 12.29), no entanto,
2. considerava-se “o Filho” em um sentido singular (Mt 11.27; Mc 12.1-12; 13.32), tendo prescrito e
aceito a adoração à sua pessoa como Filho de Deus, e tendo considerado essa adoração como correta expressão
de fé (Jo 5.23; 9.35-38; 20.28);
3. prometeu o Espírito Santo como “outro Consolador”, que viria para substituí-Lo para desempenhar
seu próprio multifacetado ministério (Jo 14.16); e,
4. agrupou o Pai, o Filho e o Espírito Santo no “nome” trino (usando-o no singular, não no plural,
como notamos), no qual – i.e, em relação ao qual – os futuros discípulos deveriam ser batizados (Mt 28.19).
Deixando as seitas de lado, algumas vezes os crentes fracassam em expressar essa doutrina. Ilustrações como
a do trevo de três folhas, dos três estados da água, confundem mais do que ajudam. Muitos sentem dificuldades
em pensar em Jesus e no Pai como pessoas distintas. Outros despersonalizam do Espírito Santo como se não
fosse uma pessoa (coisa, poder – unção).
Por conta dessas dificuldades, alguns crentes deixaram de lado a doutrina da trindade, como uma abstração
difícil e sem importância. Fazer um esforço mental nas orações, por exemplo, para definir claramente as três
pessoas ao mesmo tempo em que se salienta uma única substância divina, para alguns não parece algo muito
espiritual.
Veremos nessa aula que a triunidade divina não é um assunto periférico, mas um dos elementos doutrinários
mais importantes da Escritura. A exposição da palavra “Senhor” aplicada ao Deus de Israel, a Jesus Cristo e
ao Espírito Santo, nos demonstrará isso.
O SENHOR DEUS
No AT, algumas vezes lê-se “Senhor” grafado com letras maiúsculas e, em outras vezes, minúsculas. A razão
é a seguinte: “Senhor” é a tradução de Adonai palavra hebraica que significa meu Senhor; título atribuído a
Deus, usado na antiguidade para designar um governador ou proprietário de escravos (Gn 24.12; 45.8),
enquanto que “SENHOR” é a tradução de Jeová, nome considerado sagrado pelo povo hebreu, e o mais
utilizado por no AT, cujo significado denota a auto existência de Deus – “Eu Sou”. Cerca de dois séculos antes
de Cristo, um grupo de judeus resolveu fazer uma tradução do AT do hebraico para o grego (a Septuaginta,
ou LXX), e como eles achavam que o nome Jeová era por demais sagrado para ser pronunciado, passaram a
usar o vocábulo kyrios em lugar de SENHOR (Jeová).
É no episódio da sarça ardente que Deus revela o significado do nome Jeová. A voz que falou com Moisés
se identificou como “o Deus (elohim, aquele que é sobre-humano e sobrenatural) dos patriarcas (Êx 3.6).
Depois de ser comissionado e receber a promessa da presença de Deus, Moisés indagou o que deveria dizer
quando os israelitas perguntassem a respeito do nome daquele que o enviara (vs.13). Essa inquirição de Moisés
expressava o desejo de que Deus desvendasse sua própria natureza. Isso iria autenticar o Ser que falava com
ele como o verdadeiro Deus de Israel (Êx 4.1-9), e como todo-poderoso. Foi nesse sentido que Deus apresentou
seu nome como “Eu sou o que sou”, ou em sua forma abreviada “Eu Sou” (Êx 3.14).
O verbo “ser” denota Deus como uma pessoa em estado de contínua atividade, não estático e inoperante.
Deus está proclamando sua soberana autossuficiência e autoconsciência. Ele é livre e independente. Age como
lhe agrada. Executa o que promete (Is 43.13). Em seguida, Deus conecta seu nome Jeová a história dos
patriarcas (Êx 3.15-16). Ele é o mesmo que falou com os patriarcas. Embora esse nome fosse usado para
adorar a Deus no livro do Gênesis (4.26; 9.26), seu significado como Aquele que é soberano, autossuficiente
invencível, inexaurível, de poder e vida ilimitados, só foi esclarecido na fala de Deus com Moisés (Êx 6.2ss).
A sarça era um modo palpável de representar toda essa realidade.
Todo o AT honra o Deus de Israel como criador, governador, salvador, juiz. Jeová era o nome que
proclamava a sua divindade. A religião judaica era confessadamente monoteísta (Dt 6.4-5). Como Deus único,
seus súditos devem ser servos leais. Ele é distinto de suas criaturas. Jeová é criador, o homem é criatura. Jeová
é Todo-poderoso, homem é fraco. O homem depende de Jeová para tudo – saúde, felicidade e vida, mas Jeová
não depende do homem para nada. Jeová é justo e santo, o homem é pecador e pervertido. Deus sempre
ensinou seu povo a apreciar sua graça, demonstrada no ato de resgatar pecadores e trazê-los à comunhão com
Ele. Nos dias de Jesus, esse Deus gracioso, era designado pela palavra “Senhor” (no hebraico, adonai; no
grego kurios; no aramaico, rnaran).
O SENHOR JESUS
Os apóstolos endossaram a crença do AT no Deus único (Mt 23.9; Mc 10.18; 12.29; Jo 5.44; 17.3; Rm 3.30;
1Cor 8.4-6; Tg 2.19). Contudo, eles usaram o termo “Senhor” com mais frequência para se referir ao “Senhor
Jesus Cristo” do que para se referir ao Pai.
Na maioria dos usos, “Senhor” serve para designar a deidade de Jesus. Profecias do AT, a respeito de Jeová,
são cumpridas na pessoa de Jesus (Jl 2.32 cf. At 2.21, Rm 10.13). Isso significa que invocar o nome Jeová, e
invocar o nome de Jesus é a mesma coisa. Se Jesus fosse mero humano, seria estranho os apóstolos exortarem
as pessoas a invocar o nome de Jesus para obter salvação. Outros paralelos podem ser vistos em (Jo 12.38,41;
Mt 3.3 cf. Is 40.3; 53.1).
Outra passagem interessante é 1Cor 8.5, na qual os deuses pagãos são postos em oposição a “um só Deus, o
Pai” e a um “só, Senhor, Jesus Cristo”. É uma clara reivindicação de que Jesus deve ser adorado. Há também
as passagens em que Jesus é invocado como “Senhor” em oração (At 7.59; 1Cor 16.22; 2Cor 12.8; Ap 22.20).
Há ainda as doxologias exclusivas a Jesus (Rm 9.5; 2Tm 4.18; 2Pe 3.18; Ap 1.5-6). Hebreus 1.6 afirma que
Deus quer os anjos adorem Jesus. O conjunto dessas passagens demonstra que Jesus não é apenas um salvador
ressurreto e um rei governante, mas alguém a ser invocado, digno de confiança, louvado e adorado tal como
é Deus, o Pai.
Depois de tantas evidências, não surpreende notar que há uma lista de passagens em que Jesus é chamado
theos (Deus Jo 1.1,18; 20.28; Rm 9.5; Tt 2.13; Hb 1.8; 2Pe 1.1). Para muitos é inacreditável que homens
criados dentro do monoteísmo judaico tenham chegado a afirmar a deidade de Jesus. Tanto para os judeus
como para os islâmicos, a fé cristã em Jesus não passa de um retrocesso pagão que deificava os faraós e
imperadores romanos.
Em síntese, o NT ensina.
1. o Deus único consiste em mais de uma pessoa;
2. uma dessas pessoas divinas, sem ter deixado de ser o que era, tornou-se humano e continua com tal
até hoje;
3. enquanto essa Pessoa estava compartilhando todas as limitações próprias da vida humana, seja como
um bebê em Belém, um menino em Nazaré, sofrendo no Getsêmani, morrendo no Calvário, ou jazendo morto
no sepulcro de José, simultaneamente estava sustentando o universo (Hb 1.3; Cl 1.17).
Um grande mistério. Inexplicável para as mentes teológicas.
O SENHOR, O ESPÍRITO
O Espírito Santo (no grego, pneuma, gênero neutro) aparece no NT com um pronome masculino em Jo 16.14,
contra todas as regras de gramática; e como um título usado para uma pessoa (parácletos – consolador,
conselheiro, advogado, ajudador), em Jo 14.26; 15.26; 16.7. É um ser dotado de inteligência (Jo 14.26; 15.26;
Rm 8.27); vontade (At 16.7; 1Cor 12.11); e sentimentos (Ef 4.30). Seus atos são típicos de um agente pessoal:
falar (At 8.29; 13.2), decidir (At 15.28), proibir (At 16.7), testemunhar (At 5.32), sondar os segredos (1Cor
2.10-11), mostrar o futuro (Jo 16.13), enviar missionários (At 13.4) e interceder (Rm 8.26-27).
Há evidências claras que o Espírito Santo é um ser divino? Diversas.
1. Jesus vincula o Espírito Santo ao Pai e ao Filho, no nome tripessoal de Deus (Mt 28.19);
2. Ele é vinculado ao Pai e ao Filho em oração e no pronunciamento de bênçãos (2Cor 13.13);
3. Ele apontado ao lado do Pai e do Filho, como aquele que aplica a obra da salvação (1Pe 1.1-2; 2Ts 2.13-
14; Ef 1.3-14; 2.13-22; Rm 8);
4. em 2Cor 3.16-18, o Espírito Santo é apresentando como uma pessoa tão unida a Jesus, ao ponto de Paulo
dizer “o Senhor, o Espírito”. Jesus é um com o Espírito Santo na unidade da deidade. Um em poder e glória.
Onde um está o outro está também.
O EVANGELHO DA TRINDADE
A Bíblia legou à igreja a doutrina de três agentes divino e um só Deus: o Pai, o Filho e o Espírito Santo,
como o único Jeová. O credo atanasiano declara: “o Pai é Senhor, o Filho é Senhor e o Espírito Santo é Senhor.
No entanto, não são três Senhores, mas um Senhor”. Não é um trio de deidades separadas, mas um único Deus,
embora nessa unidade haja três pessoas. Os três estão “em” cada um dos outros (Jo 14.11,20), sem perderem
suas distinções pessoais, da mesma maneira que os três podem estar “no” crente, sem que este perca sua
identidade pessoal ou autoconsciência (Jo 14.17,23). Eles se mantêm em relações mútuas, definidas e distintas:
o Pai é o iniciador, o Filho é o agente do Pai, e o Espírito Santo é o que executa por ambos. O evangelho nada
mais é do que a trindade em ação.
Desde a eternidade, havia em Deus mutualidade e alegria (Jo 1.1,2; 17.5,24). Os homens foram criados para
compartilhar desse companheirismo. Quando o pecado impossibilitou isso, Deus veio em pessoa – através da
segunda pessoa, enviada pela primeira pessoa e dotada de poder da terceira pessoa – a fim de salvar-nos; que
Deus feito carne morreu por nós, agora vive por nós, une-nos consigo mesmo, conduz-nos a Deus Pai, e algum
dia haverá de levar-nos para compartilhar de sua glória; e, o Hóspede divino, o Espírito Santo, agora reside
no crente, conferindo-lhe uma constante e cuidadosa atenção. Certamente, é óbvio que nenhuma dessas
maravilhosas realidades, quase fantásticas, poderia ter sido afirmada, senão exclusivamente no fato de que o
Pai, o Filho e o Espírito Santo são Deus. Portanto, aqueles que negam a doutrina da Trindade rebaixam o
evangelho.