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A Prática Docente Do Professor de Matemática Na Educação de Jovens e Adultos

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A PRÁTICA DOCENTE DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO DE

JOVENS E ADULTOS

INTRODUÇÃO
A prática docente no Ensino Regular (Fundamental II e Médio), nos últimos
anos, tem sido exclusivamente uma preparação para o Exame Nacional do Ensino
Médio (ENEM), fazendo com que se exija do professor uma prática muito conceitual e
abordagens bem detalhadas de cada assunto, enquanto o ensino na Educação de
Jovens e Adultos (EJA) busca colocar o aluno mais apto às suas necessidades de vida.
De forma geral, é possível ver uma distinção entre os alunos do Ensino Regular e da
EJA. Apesar de falhas no sistema do ensino público, o aluno matriculado no Ensino
Regular, em sua maioria, está na idade adequada para aquele ano, o que o faz ter um
crescimento significativo de acordo com seu desenvolvimento como ser humano.
Aqueles que por algum motivo permaneceram fora da escola e não concluíram na
idade adequada têm a oportunidade de voltar aos estudos na modalidade da EJA, que,
segundo o artigo 37 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), é
previsto que:
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram
acesso ou continuidade de estudos nos ensinos fundamental e médio na idade
própria e constituirá instrumento para a educação e a aprendizagem ao longo da
vida. (LDB, 2018, p. 29)

O ensino da Matemática em ambas as modalidades escolares aborda os


mesmos conteúdos, porém, na EJA, com um grau de exigência simplificado. É muito
comum um docente trabalhar em uma classe de Ensino Regular e em uma de EJA
simultaneamente, fazendo com quesua prática seja diferenciada. No ano de 2020
entrou em vigor a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o que mudou todo o
planejamento e técnica de ensinamento.
Além do mais, o “novo normal”, que foi implementado por conta da pandemia da
Covid 19, fez com que o profissional da educação buscasse por uma qualificação
imediata para ministrar aulas on-line, para a utilização de softwares educacionais e
para o uso de uma linguagem adequada ao novo formato de ensinar e “não deixar” o
aluno desistir. Portanto, unindo BNCC, Covid 19, Ensino Regular e Educação de
Jovens e Adultos, tem-se como resultado uma ampla diversidade de metodologias e
práticas que devem ser compartilhadas para um melhor aprimoramento de suas aulas.
Os alunos do ensino público apresentaram muitas dificuldades nesse ano de
2020, citando especialmente as aulas de matemática, os maiores desafios foram como
aplicar os conteúdos e abordá-los de maneira mais justa aos alunos, sendo que a
maioria não teve aula on-line. Vale destacar que aulas 100% on-line foram uma
realidade dos alunos da rede privada; na rede pública, raros foram os professores que
conseguiram um contato com seus alunos. A prática da maioria das escolas públicas
foram postagens de materiais e tarefas em plataformas de ensino ou redes sociais.
Destaca-se a importância da Matemática para a vida e não simplesmente para
uma aprovação. Muitos alunos buscam uma vida acadêmica, porém muitos têm outras
prioridades. Nessa visão, a BNCC (2018), no que diz respeito à Matemática, destaca
como competência específica do Ensino Fundamental “desenvolver o raciocínio lógico,
o espírito de investigação e a capacidade de produzir argumentos convincentes,
recorrendo aos conhecimentos matemáticos para compreender e atuar no mundo”. E
ainda:

Portanto, está claro na Base Nacional Comum Curricular: a matemática é uma


ciência humana, é uma “ciência vida”. O professor deve então assim atuar, fazendo
valer essa ciência e mostrar aos alunos suas contribuições, independente se sua
atuação é no Ensino Regular ou na EJA.

DESENVOLVIMENTO
A Educação de Jovens e Adultos ocorre em três formas de ensino: presencial,
semipresencial e EAD (Ensino a Distância). A EJA na prática presencial costuma ser
no turno da noite, portanto grande parcela das pessoas que ali estudam acorda cedo
para trabalhar e vai direto para escola. Cansados, longe das famílias, um número
considerável chega à escola sem uma alimentação adequada para aguentar essa
rotina, mas com um objetivo: conquistar um diploma e ter uma chance de mudar de
vida. O docente atuante na EJA deve apresentar sensibilidade, um diálogo motivador
que mostre a cada aluno a sua capacidade. No ano 2000, o Conselho Nacional de
Educação (CNE) fixou as diretrizes curriculares para a EJA e o Parecer CNE/CEB nº
11/2000 apresenta como um dos aspectos relevantes na formação docente para a EJA:

Com maior razão, pode-se dizer que o preparo de um docente voltado para a EJA
deve incluir, além das exigências formativas para todo e qualquer professor, aquelas
relativas à complexidade diferencial desta modalidade de ensino. Assim esse
profissional do magistério deve estar preparado para interagir empaticamente com
esta parcela de estudantes e de estabelecer o exercício do diálogo. Jamais um
professor aligeirado ou motivado apenas pela boa vontade ou por um voluntariado
idealista e sim um docente que se nutra do geral e também das especificidades que a
habilitação como formação sistemática requer. (BRASIL, 2000, p. 56).

Aquele que ministra aulas no Ensino Regular e na EJA deve buscar a prática
ideal para cada tipo de turma, se qualificar e estar disposto a encarar as diferenças que
cada sala de aula exige. Supondo que um professor trabalhe em uma turma de 1ª série
do Ensino Médio e ao mesmo tempo em uma turma de EJA referente à 1ª série, ele
não deve fazer um mesmo planejamento para ambas, assim como não deve fazer uso
de um mesmo material utilizado em anos anteriores. O primeiro passo para um ensino
adequado é o professor modelar a sua prática de acordo com a sua turma. O fato de
uma turma da 1ª série ter apresentado um bom retorno em um conteúdo não implica
que a outra turma também reagirá igual. A cada ano são alunos diferentes, que podem
necessitar de mais ou menos atenção, de uma abordagem mais detalhada ou mais
simples.
O aluno da Educação de Jovens e Adultos (EJA) vive, em geral, uma história de
exclusão, que limita seu acesso a bens culturais e materiais produzidos pela
sociedade. Com a escolarização, ele busca construir estratégias que lhe permitam
reverter esse processo. Um currículo de Matemática para jovens e adultos deve,
portanto, contribuir para a valorização da pluralidade sociocultural e criar condições
para que o aluno se torne agente da 12 transformação de seu ambiente, participando
mais ativamente no mundo do trabalho, das relações sociais, da política e da cultura.
(BRASIL, 2002, p. 11)

De acordo com Barcelos (2014), a qualidade de ensino nas escolas públicas é algo
desafiador, promover sua melhoria significa “garantia de acesso, permanência e
sucesso”. Uma educação de qualidade deve ter como pressuposto uma prática sem
distinção de classe social ou etária.

Ou seja, pensar uma educação de qualidade está muito além de


condicioná-la aos ditames do mercado econômico, que veem apenas
os resultados desse processo. Pensar uma educação de qualidade
implica compromisso com os sujeitos que habitam o ambiente escolar,
que constroem e reconstroem suas vidas nesse ambiente. (Barcelos,
2014, p. 497)
Com princípio similar, Ferreira e Rodrigues (2016) frisam a qualidade de ensino:
o aluno deve ser visto como um sujeito formador de ideias, capaz de se impor como
cidadão perante a sua liberdade de decisão. Muitos fatores dificultam a realização
dessa ação por parte do aluno, uma delas o ensino que lhe é aplicado. Ressalta-se
aqui a importância da preparação de um professor atuante na Educação de Jovens e
Adultos. O docente é parte dessa evolução, ele tem papel primordial na orientação e
caminhada dos estudantes.
Segundo Machado (2008), o professor que atua na EJA deve valorizar
imensamente o CNE, que é um órgão ligado ao governo, e participar dos fóruns de EJA
e do Grupo de Trabalho de Educação de Jovens e Adultos, da Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped)
A EJA necessita de uma valorização e uma visibilidade maior, mas para isso
ocorrer é necessário que o professor busque uma prática adequada às necessidades
dos seus alunos. Com relação ao ensino de Matemática, um problema que ocorre com
muita frequência é a forma como os alunos da EJA são avaliados. Certos professores
insistem na metodologia inadequada, muitos, inclusive, reutilizam provas mais
complexas que foram aplicadas no Ensino Regular. Ensinar matemática para Jovens e
Adultos é algo desafiador, cabe ao docente se motivar para motivar os seus alunos.
É difícil aplicar conceitos como Matemática Financeira, Progressões, Logaritmo,
Análise Combinatória, Funções, Equações, Geometria Analítica (dentre outros) na
Educação de Jovens e Adultos? A resposta é simples: sim. Mas é impossível ensinar?
Não. E é nisso que o professor da EJA deve se apegar. É interessante fazer certos
questionamentos a si mesmo para ver até onde é possível imaginar uma aula digna e
merecedora para o seu aluno, e então planejá-la com sucesso.
É muito importante o professor ter diálogo, conversar abertamente com seus
alunos, mostrar interesse em suas histórias, conhecer um pouco da vida de cada um
para saber melhor maneira de agir. Como dito anteriormente, não importa se são
turmas de mesmo ano escolar, são pessoas diferentes, vidas diferentes. O bom diálogo
faz com que uma boa aula contextualizada e até mesmo interdisciplinar seja aplicada.
O Parecer CNE/CEB nº 1/2000 das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação e Jovens e Adultos informa que as modalidades do Ensino Fundamental e
Ensino Médio se estendem ao EJA:
Como modalidade destas etapas da Educação Básica, a identidade própria da
Educação de Jovens e Adultos considerará as situações, os perfis dos estudantes, as
faixas etárias e se pautará pelos princípios de equidade, diferença e
proporcionalidade na apropriação e contextualização das diretrizes curriculares
nacionais e na proposição de um modelo pedagógico próprio. (Brasil, 2000, p. 1)

Com relação a Educação Matemática de Jovens e Adultos,


Fonseca (2012) destaca:
não como uma modalidade de oferta de educação básica ou profissional, mas como
uma ação pedagógica que tem um público específico, definido também por sua faixa
etária, mas principalmente por uma identidade delineada por traços de exclusão
sociocultural. (FONSECA, 2012, p. 11-12)

A relação entre os alunos da modalidade EJA se baseia constantemente em situações


diárias que exigem uma posição crítica e mais profunda de conhecimento, e o
professor de Matemática é capaz de colaborar com essa participação do aluno na
sociedade, visto que “a natureza do conhecimento matemático [...] pode proporcionar
experiências de significação passíveis a serem não apenas vivenciadas, mas também
apreciadas pelo aprendiz” (FONSECA, 2012, p. 25).
Cabe observar a colocação utilizada acima, “apreciadas pelo aprendiz”. Isso é algo que
falta em nossos alunos, entretanto essa ausência de apreciação e respeito pela
matemática vem de um contexto histórico e de certa forma uma falha na atuação
docente. É dever do professor mostrar a beleza dessa ciência. Não significa que o
aluno irá gostar, amar, se tornar matemático, mas ele aprenderá a admirá-la.

CONSIDERAÇÕES
A Educação é um ramo com desafios que não param de surgir. Quando o assunto
tratado é em especial a Educação de Jovens e Adultos, infelizmente ainda há muitas
pessoas que a tratam com um olhar preconceituoso e muito professores atuam até com
um certo medo, enquanto na verdade o trabalho com a EJA é algo engrandecedor e
que traz muito conhecimento diversificado para a sala.
O bom ensino é aquele que apresenta uma troca de conhecimentos: o professor
ensina a teoria e o aluno ensina sobre a vida. Ele mostra ao professor e demais
colegas o quanto a vida dele tem a oferecer. Toda vida importa e deve ser valorizada
assim como todo conhecimento. Aquele aluno que trabalha com obra tem uma noção
de precisão muito melhor do que a maioria dos professores de matemática, que ficam
fixados em apresentar fórmulas; aquele que trabalha no comércio tem uma agilidade
para cálculo mental extremamente desenvolvido; aquele quem tem uma situação
socioeconômica desfavorecida mostra como a simplicidade e a vontade de crescer são
determinantes para a sua família.
É possível perceber que muitos docentes de Matemática apresentam um ego
extraordinário por estarem à frente e “ensinarem” teorias, demonstrações e fórmulas.
Mas esse ego não favorece o ensino, muitos alunos se veem humilhados perante tanta
informação que não conseguem acompanhar. Trabalhar com Jovens e Adultos exige
sensibilidade, cuidado, estudo e conhecimento das leis, dos amparos, dos direitos, dos
objetivos da modalidade EJA.
Portanto, o ensino da EJA não deve ser tradicionalista, ele necessita de uma
prática construtiva que forme um aluno crítico e pronto para os questionamentos da
vida.
REFERÊNCIAS
BARCELOS, Luciana Bandeira. O que é qualidade na Educação de Jovens e
Adultos. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 39, n. 2, p. 487-509, abr./jun. 2014
Base Nacional Comum Curricular, versão 2018. Disponível em
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#fundamental/a-area-de-matematica -
Acesso em 24 de dezembro de 2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental
Proposta Curricular para a educação de jovens e adultos: segundo segmento do ensino
fundamental: 5a a 8a série: introdução / Secretaria de Educação Fundamental, 2002.
BRASIL. Parecer CNE/CEB nº. 11/2000. Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação de Jovens e Adultos. Brasília: MEC, 2000.
FERREIRA, Vadivina Alves; Rodrigues, Marcilene Ferreira. Educação de Jovens
e Adultos: modalidade de ensino e direito educacional. RBPAE - v. 32, n. 2, p. 571 -
583 mai./ago. 2016.
FONSECA, M. C. F. R. Educação matemática de jovens e adultos:
especificidades, desafios e contribuições. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
Lei de diretrizes e bases da educação nacional. – 2. ed. – Brasília: Senado
Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2018. 58 p.
MACHADO, Maria Margarida. Formação de professores para EJA – Uma
perspectiva de mudança. Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 2, n. 2-3, p. 161-174,
jan./dez. 2008.

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