Aula 5 - Psicologia Do Idoso
Aula 5 - Psicologia Do Idoso
Aula 5 - Psicologia Do Idoso
A depressão no idoso define-se como a existência de um conjunto de sinais e sintomas que afetam o
humor dos indivíduos – síndrome depressivo, conforme definido no American Psychiatric Association´s
Diagnostic and Statistical Manual-5 (DSM-5) e na International Classification of Diseases-10 (CID-10), em
indivíduos com mais de 65 anos, e podem ter tido início antes ou depois dessa idade. Trata-se de uma
condição comum, recorrente e frequentemente subdiagnosticada e subtratada, principalmente ao nível
dos cuidados de saúde primários, desde já porque, na generalidade, aqueles com quem o idoso convive
tendem a considerar “normal” ou “expectável” alguma tristeza e/ou melancolia numa idade longeva,
tendo em consideração as constantes perdas que acometem esta população (Pinho, Custódio, & Markdis-
se, 2009; Medeiros, Fernandes, & Coelho, 2010; Possatto, Silva, Júnior, & Rabelo, 2015).
Quando nos referimos à depressão, devemos ter em consideração que se trata de uma perturbação
associada a uma multiplicidade de fatores e manifestações clínicas. De acordo com Del Porto (2000, cit.
in Pinho, Custódio, & Markdisse, 2009), o termo “depressão” pode englobar um estado afetivo normal
(tristeza), um sintoma, uma síndrome e uma doença. No entendimento deste autor, há diferenças claras
entre os quatro conceitos. Assim, a tristeza refere-se a um estado afetivo normal e transitório e surge como
resposta adaptativa a situações adversas (perda, derrota, frustração, desapontamento). Os sentimentos de
tristeza podem originar momentos de reflexão e de preparação para ações futuras e não devem ser alvo de
intervenção e/ou diagnóstico médicos. Os sintomas depressivos podem ocorrer como resposta a estresso-
res psicossociais, estando também presentes em variados quadros clínicos, como é o caso da perturbação
de stress pós-traumático, das demências, do alcoolismo, da esquizofrenia, entre outros. A síndrome
depressiva associa alterações do humor (tristeza, apatia, irritabilidade, anedonia, entre outros) com outros
aspetos, tais como alterações cognitivas, comportamentais, psicomotoras e vegetativas.
A depressão enquanto doença está classificada no DSM-5 em diversos quadros clínicos, como pertur-
bação depressiva maior, perturbação de desregulação do humor disruptivo, perturbação depressiva persis-
tente (distimia), perturbação disfórica pré-menstrual, perturbação depressiva induzida por substância/me-
dicamento, perturbação depressiva decorrente de outra condição médica, perturbação depressiva com
outra especificação ou perturbação depressiva não especificada, que reúnem uma série de critérios para
o seu diagnóstico (APA, 2014).
1
Presentemente, a perturbação depressiva mais estudada é a perturbação depressiva maior – a forma
mais grave de depressão. De acordo com o DSM-5 (2014), as caraterísticas essenciais de um episódio
depressivo maior são o humor deprimido ou a perda de interesse ou prazer por quase todas as atividades
(anedonia), por um período mínimo de duas semanas consecutivas. A presença de um ou de ambos os
sintomas deve constituir uma alteração funcional ao estado prévio. O indivíduo também deve experimen-
tar, pelo menos, quatro dos sintomas que se seguem: (1) perda ou ganho de peso significativo; (2) insônia
ou hipersonia; (3) agitação ou lentificação psicomotoras; (4) fadiga ou perda de energia; (5) culpa e auto-
desvalorização; (6) diminuição da capacidade de pensar e de concentração; (7) pensamentos recorrentes
de morte, ideação suicida, tentativa de suicídio ou plano específico para o cometer.
De acordo com Oliveira e colaboradores (2012), para o diagnóstico da depressão, além da observação
clínica, são utilizados dados genéticos e recorre-se à utilização de escalas como método de avaliação.
Todavia, os critérios descritos no DSM-5 e explanados anteriormente devem ser analisados durante a
avaliação. Neste aspecto, é imprescindível para a definição diagnóstica da depressão, necessariamente, a
presença de, pelo menos, cinco dos critérios referidos, por um período de duas semanas, associada a
disfunção psicossocial ou sofrimento significativo do indivíduo.
No diagnóstico de depressão geriátrica é importante ter em conta vários aspetos como a comorbilidade
e os efeitos colaterais da medicação, mas também o fato de estes pacientes poderem apresentar a comuni-
cação comprometida, taxas mais elevadas de queixas somáticas, bem como niilismo terapêutico (convic-
ção da impossibilidade de cura) (Buckley & Lachman, 2007). De igual modo, embora a caraterística mais
comum dos quadros depressivos seja a presença de queixas referentes a uma sensação de tristeza e vazio,
nem todos os pacientes apresentam queixas evidentes de humor triste ou deprimido; os sintomas poderão
ser diversificados, havendo referência a estados de fadiga, queixas gastrointestinais, dificuldades de
concentração e lentificação psicomotora (Pinho, Custódio, & Markdisse, 2009).
12
Martins (2008) refere que a depressão no idoso apresenta características distintas de outras faixas etárias,
nomeadamente a falta de episódios de tristeza, a apatia, as queixas recorrentes de comprometimento
cognitivo, a ansiedade proeminente, a somatização e o excesso de preocupação com o corpo. A mesma
autora, citando Simões (1996), acrescenta que, no caso dos pacientes idosos, os sintomas poderão ser
relativamente inespecíficos, tais como astenia, perturbações do sono, tristeza e ansiedade e a perda de
interesse por atividades habitualmente prazerosas. Como sintomas mais específicos, surge o humor depri-
mido e a lentidão psicomotora. É ainda importante destacar que o diagnóstico de depressão nos idosos é
mais complexo quando comparado ao diagnóstico em outros grupos etários, pois, como ressaltam Picco-
loto, Wainer, Benvegnú e Juruena (2001, cit. in Oliveira, Santos, Cruvinel, & Néri, 2006), o próprio proces-
so de envelhecimento apresenta algumas características semelhantes aos sintomas depressivos (como, por
exemplo, perturbações do sono, lentificação psicomotora, fadiga ou perda de energia, diminuição da
concentração), o que conduz à confusão no diagnóstico.
De acordo com Medeiros, Fernandes e Coelho (2010), a dor é uma das queixas mais comuns nos
pacientes com depressão, surgindo tipicamente de forma exagerada e envolvendo o sistema gastrointesti-
nal, neurológico e musculoesquelético, entre outros. Os mesmos autores referem que tão importante
como considerar a componente física é a história social do paciente, na medida em que poderá ser essen-
cial para o diagnóstico, visto que a existência de perdas pessoais (cônjuge, amigos, animais de estimação)
podem precipitar um episódio depressivo.
De acordo com Beyer (2007) e Büchtemann e colaboradores (2012), na população geriátrica a preva-
lência de depressão maior varia de 1 a 4%. A prevalência da depressão no contexto institucional e médico
é superior à da comunidade, encontrando-se taxas de depressão em doentes hospitalizados que variam
entre os 5 e os 44%. Os mesmos autores referem que cerca de 12 a 14% dos idosos residentes em estrutu-
ras residenciais apresentam sintomatologia de depressão maior, sendo que 17 a 35% apresentam depres-
são menor ou sintomas clínicos relevantes de depressão. Na população idosa, a incidência e a prevalência
de depressão maior duplicam entre os 70 e os 85 anos.
Martins (2008) apresenta estudos de prevalência de depressão, cujos valores variam significativamente
entre 25 e 72%, em idosos na comunidade. Já os estudos com idosos institucionalizados apresentam valo-
res que variam entre os 14 e os 25%, sensivelmente. A título de exemplo, num estudo levado a cabo por
Porcu e colaboradores (2002) no Paraná (Brasil) com idosos hospitalizados, institucionalizados e residen-
tes na comunidade, verifica-se que a prevalência de depressão assumia valores de 56 a 60% nos primeiros
casos, respetivamente, e de cerca de 23% em idosos residentes na comunidade.
Segundo Forlani e colaboradores (2014), não existem diferenças raciais ou étnicas na prevalência da
depressão; porém, esta é superior no sexo feminino, em qualquer faixa etária. Os mesmos autores elen-
cam um conjunto de fatores considerados de risco, como o isolamento social, a singularidade (devido a
situação de viuvez ou de divórcio), condições socioeconômicas precárias, comorbilidades, dor aguda
13
(não controlada), disfunção física e cognitiva, uma má higiene do sono e/ou insônia, utilização de alguns
fármacos (indutores de sintomatologia depressiva), história familiar de suicídio (ou tentativa) ou de depres-
são maior. De acordo com Hinrichsen (2008), há uma série de fatores sociais que estão na base da depres-
são nos mais velhos, considerados como fatores de risco e alavancadores da sintomatologia. São eles:
A depressão surge, também, frequentemente associada a uma diminuição da qualidade de vida e a uma
taxa de mortalidade aumentada, visto as tentativas de suicídio serem mais letais, pese embora o fato de
serem em menor número, quando comparadas com a população geral (Grinberg, 2006). Sabe-se também
que idosos com depressão podem apresentar modificações cognitivas e funcionais significativas; verifica--
se que o comprometimento cognitivo, tal como o sofrimento mental em idosos, eleva a probabilidade de
ideação suicida, sendo que as alterações cognitivas mais recorrentes são as funções executivas, défices de
atenção e diminuição da velocidade do processamento. O envelhecimento, sendo um processo multifato-
rial, promove alterações anatômicas e funcionais no organismo. Tais alterações podem resultar no surgi-
mento de doenças crônicas e degenerativas, como doenças pulmonares, hipertensão arterial, osteoporose,
artrite, demências ou perturbações mentais, doenças cardíacas, artrose, reumatismo, acidente vascular
cerebral e cancro, reduzindo a capacidade funcional e a qualidade de vida do idoso. Todos esses fatores
elevam as probabilidades de ideação suicida e da sua própria consumação em idosos (Oliveira, et al.,
2018).
14
minimização dos sintomas, na medida em que atuando sobre estes, os idosos potenciam a sua qualidade
de vida, reduzem a morbilidade e, com isso, podem diminuir a procura e a utilização dos cuidados de
saúde primários. Adicionalmente, o uso de instrumentos de rastreio também pode facilitar a intervenção
adequada e atempada. Nesse sentido, o diagnóstico precoce da depressão possibilita a intervenção
terapêutica, diminui os níveis de stress, tanto para os familiares como para o próprio indivíduo, e reduz
riscos de comorbilidade. Assim sendo, destaca-se a importância da utilização sistemática desses instru-
mentos, bem como do reconhecimento das variáveis que possam influenciar no surgimento / fatores de
risco.
De acordo com o DSM-5 (APA, 2014), a ansiedade define-se por uma alteração do comportamento dos
indivíduos, relacionada com a antecipação a uma determinada situação ameaçadora, real ou percebida,
iminente ou futura. Ou seja, a ansiedade ocorre diante de uma visão catastrófica de determinados aconte-
cimentos, antecipando a iminência de um evento perigoso ou ameaçador. De um modo geral, a ansieda-
de caracteriza-se por um conjunto de sinais e sintomas associados a tensão muscular, estados de vigilância
antecipatórios a situações de perigo e a comportamentos de fuga ou evitamento, apreensão e preocupa-
ção constantes. A perturbação de ansiedade generalizada é distinta do medo, na medida em que os com-
portamentos a estes associados caracterizam-se por uma resposta emocional a uma ameaça real ou perce-
bida, e não à antecipação a uma situação concreta.
A perturbação de ansiedade generalizada pode ser entendida como um desfasamento entre a realidade
e a percepção da mesma, considerando-se que os indivíduos portadores desta patologia sobrestimam as
situações de perigo, tornando-as excessivas ou desproporcionadas (Dourado, Rolim, Ahnerth, Gonzaga,
& Batista, 2018). São indivíduos que relatam situações de inquietação e apreensão durante grande parte
da sua vida (senão até toda a sua vida), apesar de o elemento que provoca esta preocupação pode ter
variado ao longo dos anos: em crianças a preocupação focava-se na escola, enquanto em adultos se
tornou a vida laboral, familiar ou a saúde física. Nesse sentido, o conteúdo das suas inquietações foi-se
15
adaptando às várias fases da vida, e os adultos mais jovens demonstram maior gravidade de sintomas do
que os mais velhos (APA, 2014).
De acordo com Cully e Stanley (2008), a perturbação de ansiedade generalizada caracteriza-se por uma
preocupação exagerada, persistente e de difícil controle, gerando desconforto significativo. Trata-se de
uma patologia psiquiátrica crônica com prevalência que varia entre os 3% num ano e os 5% a 12% no
decorrer da vida. Segundo Oliveira e colaboradores (2006), caracteriza-se pela presença frequente de
sintomas como a insônia, a tensão, a angústia, a irritabilidade, a dificuldade de concentração, bem como
sintomas físicos como taquicardia, tonturas, cefaleias, dores musculares, formigueiros e suores. A perturba-
ção de ansiedade generalizada tem impactos significativos na qualidade de vida e funcionamento geral,
sendo comparável à perturbação depressiva e doenças clínicas como diabetes e artrite. Afeta mais as
mulheres por comparação aos homens, numa proporção de 2 para 1, e é a perturbação de ansiedade mais
frequente em idosos (Cully & Stanley, 2008).
Grande parte das perturbações de ansiedade são desenvolvidas durante a infância e tendem a persistir
caso não sejam tratadas. Todavia, podem ocorrer em qualquer idade; têm um pico na meia idade e dimi-
nuem ao longo dos últimos anos de vida. São mais comuns no sexo feminino, sendo que os indivíduos
provenientes de países desenvolvidos/industrializados tendem a relatar mais experiências ao longo da vida
passíveis de preencher os critérios para o diagnóstico, onde se incluem os europeus e seus descendentes,
contrariamente aos asiáticos, africanos, nativos americanos e habitantes das ilhas do Pacífico. As taxas de
remissão completa são muito baixas (APA, 2014). Tal como na população geral, a ansiedade é uma das
mais prevalentes perturbações psiquiátricas na população idosa, sobretudo nos indivíduos com menor
grau de escolaridade e que apresentam outras doenças físicas (Machado, et al., 2016). Por esses motivos,
precisa ser diagnosticada e tratada convenientemente, pensando-se não apenas na melhoria dos sintomas
ansiosos, mas também em evitar efeitos colaterais relacionados com o tratamento e adesão (Tomazzoni,
2013).
Na população mais velha com quadros clínicos de ansiedade observam-se com frequência queixas ao
nível gastrointestinal, da vitalidade e dos aspetos sociais, verificando-se um retraimento nesta área. Para
Skinner e Vaughan (1985, cit. in Oliveira, Santos, Cruvinel, & Néri, 2006), a ansiedade geriátrica está
relacionada com as limitações experimentadas na velhice e, na maioria das vezes, interpretadas como
ameaçadoras. Os indivíduos que apresentam altos níveis de ansiedade demonstram uma tendência para
antecipar a sua incapacidade e questionar as suas habilidades intelectuais. Essas percepções negativas
interferem na atenção seletiva, na codificação de informações na memória, bloqueando a compreensão e
o raciocínio (Coes, 1991, cit. in Oliveira, Santos, Cruvinel, & Néri, 2006), o que nessa fase da vida poderia
ser a diferença entre uma saúde mental boa ou comprometida.
Byrne (2002, cit. in Oliveira, Santos, Cruvinel, & Néri, 2006) destaca que os sintomas de ansiedade são
frequentes entre idosos e estão associados, na maioria das vezes, a transtornos depressivos. A ansiedade
em idosos com mais de 80 anos foi tema da pesquisa de Xavier e colaboradores (2001), em Porto Alegre
16
(Brasil), na qual apuraram que 10.6% dos 77 idosos participantes apresentavam perturbação de ansiedade
generalizada. Estes valores mostraram-se relacionados com sintomas depressivos, nomeadamente pertur-
bação depressiva maior e menor. De acordo com os resultados deste estudo, não foram demonstradas
alterações significativas do sono e da cognição, mas sim uma menor satisfação com a vida e com a quali-
dade da mesma, assim como uma percepção negativa da saúde em geral, mental e física.
Bryant, Jackson e Ames (2008) revelam que a prevalência de ansiedade em amostras comunitárias varia
de 1.2% a 15%, e em contextos clínicos de 1% a 28%. A prevalência de sintomas de ansiedade é muito
maior, variando de 15% a 52.3% em amostras comunitárias e de 15% a 56% em amostras clínicas. Os
autores referem que estas discrepâncias são, em parte, atribuíveis às inconsistências conceptuais e meto-
dológicas que caracterizam a literatura e os estudos de prevalência realizados. Adicionalmente, de acordo
com Cully e Stanley (2008), a prevalência dos sintomas de ansiedade na população idosa varia considera-
velmente, tendo em conta a heterogeneidade deste grupo populacional. Os mesmos autores destacam
que o local onde os profissionais encontram os pacientes também é um fator relevante, na medida em que
idosos institucionalizados ou residentes na comunidade apresentam diferenças em termos de prevalência
e gravidade dos sintomas.
Para a avaliação diagnóstica psicológica, os profissionais recorrem a instrumentos que procuram aferir
a presença de sintomas de ansiedade.
Referências do texto:
SILVA, Marisa Raquel Venâncio. Depressão e ansiedade e seus fatores associados: um estudo com a
população sénior de Vila Nova de Gaia. Dissertação (Mestrado em Gerontologia Social) - o Instituto Supe-
rior de Serviço Social. Portugal, p.86. 2018.
17