Depreesão No Idoso
Depreesão No Idoso
Depreesão No Idoso
IDOSO:
DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
DONALDO BRAGA JUNIOR
INTRODUÇÃO
A depressão é o transtorno psiquiátrico mais frequente entre os idosos. Seus sintomas
são apresentados de forma atípica, dificultando o diagnóstico e, consequentemente, o
tratamento.
OBJETIVOS
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de:
ESQUEMA CONCEITUAL
DEPRESSÃO
A depressão é um transtorno comum em idosos, de curso crônico e recorrente,
frequentemente confundida com sintomas de outras doenças, ou até mesmo
considerada parte do processo natural e inevitável do envelhecimento.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão é a quarta causa de
incapacidade no mundo.1 Estima-se que em 2020 será a segunda causa de
incapacidade na população, atrás apenas das doenças cardiovasculares.2 Portanto, é
fundamental que os profissionais que atuam em atenção primária à saúde (APS)
estejam preparados para diagnosticar e tratar a depressão.3
Estudos de prevalência mostraram que de 12 a 20% dos idosos que vivem na
comunidade apresentam sintomas depressivos;4 em hospitais, a taxa varia de 12 a
45%;1 e os índices ficam em torno de 40% em instituições de longa permanência de
idosos (ILPIs).2 No Brasil, a prevalência de sintomas depressivos em pessoas acima
de 60 anos que vivem em comunidade varia de 22 a 35%.5
Médicos de várias especialidades tratam pacientes com depressão, mas a maioria dos
idosos deprimidos é tratada na atenção primária, o que proporciona oportunidade para
acompanhar a complicação ao longo do tempo e se torna uma vantagem, quando
consideradas as frequentes recorrências e cronicidades relacionadas ao
transtorno.6 É de essencial que os profissionais em APSsejam capacitados para
investigar e reconhecer as síndromes depressivas na população idosa, permitindo
intervenções precoces e eficazes.
O Quadro 1 mostra os fatores que contribuem para o subdiagnóstico e o
subtratamento da depressão no contexto médico.7,8
Quadro 1
FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O
SUBDIAGNÓSTICO E SUBTRATAMENTO DA
DEPRESSÃO NO CONTEXTO MÉDICO
Sabe-se que a depressão tende a ser recorrente em mais ou menos metade dos
pacientes. Quem já teve um quadro de depressão tem 50% de possibilidade de ter
outro. Para quem já teve dois episódios, o risco aumenta para 70%, e, para quem teve
três, sobe para mais de 90%. Portanto, alguns pacientes precisarão tomar
medicamentos durante anos e, outros, pela vida toda com o intuito de prevenir a
recorrência. No caso desses pacientes, o acompanhamento psicológico e uma boa
relação médico-paciente são fundamentais para a adesão ao tratamento e para seu
sucesso.
Alguns fatores neurobiológicos podem ter grande importância – como o
comprometimento da circuitaria cerebral, principalmente nas vias frontolímbicas, que
apresentam forte associação com muitos transtornos depressivos de início tardio. Isso
poderia explicar a alta prevalência de depressão em pacientes com doenças
neurológicas, como acidente vascular cerebral (AVC), doença de Parkinson e doença
de Alzheimer (Figura 1).13
Um dos pontos mais polêmicos no que diz respeito à depressão foi a retirada do luto
como critério de exclusão do TDM. No DSM-5, é possível aplicar esse diagnóstico
mesmo àqueles que passaram pela perda de um ente querido há menos de dois
meses. Apesar da preocupação com a possível abordagem médica de estados não
patológicos, é necessário atentar para a gravidade que esses quadros podem
alcançar.
O luto é um forte fator estressor e, como tal, pode desencadear transtornos mentais
graves. Portanto, não se pode assumir que, por se tratar de uma reação comum, não
possa ser experimentado de forma patológica. Dessa forma, o objetivo da mudança
no DSM-5 é permitir que indivíduos que estejam passando por um sofrimento psíquico
grave recebam atenção adequada, incluindo a farmacoterapia, quando se fizer
necessária.17
De acordo com o DSM-5, o diagnóstico do TDMenvolve os elementos apresentados
no Quadro 3.
Quadro 3
ELEMENTOS PARA DIAGNÓSTICO DO
TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR
Classificaç Descrição
ão
Humor Anorexia ou
deprimido aumento do
na maior apetite com
parte do perda ou ganho
dia, quase de peso
todos os significativo.
dias. Insônia ou
Anedonia ou hipersonia.
perda do Retardo ou
interesse ou agitação
prazer. psicomotora.
Fadiga ou perda
de energia.
Sentimento de
inutilidade ou
culpa excessiva
ou inadequada.
Habilidade
reduzida de
pensar e/ou
concentrar ou
indecisão.
Pensamentos
recorrentes de
morte ou
ideação
suicida.
hemograma completo;
teste de glicemia;
creatinina;
sódio;
potássio;
hormônio estimulante da tireoide (TSH);
vitamina B12;
vitamina D;
eletrocardiograma (ECG).
Depressão e vitamina D
Há muitas controvérsias sobre a relação entre vitamina D e depressão, com estudos
demonstrando resultados antagônicos. Em recente metanálise, foram encontradas
falhas biológicas em estudos que apontavam resultados negativos para a
suplementação de vitamina D. Com esses estudos excluídos, houve efeitos
terapêuticos da suplementação de vitamina D em pacientes com depressão.19
Em outros estudos também recentes, os autores sugerem que a vitamina D deveria
ser incluída nos exames laboratoriais dos pacientes idosos com transtornos
psiquiátricos. Há indícios crescentes sugerindo que essa vitamina pode ter impacto em
várias condições psiquiátricas, mas novos estudos são necessários para abordar a
questão da causalidade.20-22
Avaliação cognitiva
A Geriatric Depression Scale (GDS) é uma ferramenta de triagem confiável para a
depressão em idosos com comprometimento cognitivo mínimo. Sua confiabilidade
diminui com o aumento do comprometimento cognitivo.23 Outro instrumento de
triagem é o Patient Health Questionnaire 9, que reflete os critérios de diagnóstico
do DSM-5.24
Em caso de queixas cognitivas, pode-se realizar rastreamento cognitivo e o Miniexame
do Estado Mental (MEEM). Os testes neuropsicológicospoderão identificar quadros
demenciais precoces. Esses testes deverão ser adiados até a melhora dos sintomas
depressivos. Ressonância magnética cerebral, de preferência, ou tomografia
computadorizada cerebral, quando houver comprometimento cognitivo, achados
neurológicos focais e/ou significativos fatores de risco para doenças
cerebrovasculares.10,15,24-26
Características EDM DA
Desempenho Desempenho
melhora com pistas não melhora
para evocação com pistas
Intrusão de Intrusão de
informação informação
previamente previamente
aprendida atípica aprendida ao
tentar evocar
novo material
DEPRESSÃO VASCULAR
Há uma hipótese de que a presença de alterações cognitivas na depressão reflita uma
disfunção fronto-estriatal e/ou do hipocampo, que pode estar associada, pelo menos
em parte, à doença vascular. Essas alterações são verdadeiras ao se avaliar a
depressão em idosos. Baseado nessa hipótese, não é de se estranhar que o prejuízo
cognitivo possa persistir após o tratamento de depressão.28
A hipótese de depressão vascular foi baseada em estudos clínicos na comunidade que
identificaram associação consistente entre depressão e doenças cerebrovasculares.
A depressão vascular se caracteriza pela presença de comorbidades
cerebrovasculares e pelo desempenho nos testes neuropsicológicos consistentes com
disfunção subcortical, especificamente nos domínios de atenção e funções executivas.
A definição de depressão vascular apresentada é apoiada por estudos clínicos
baseados em exames de ressonância magnética de crânio que mostraram lesões
isquêmicas subcorticais que são mais comuns entre os idosos deprimidos do que em
indivíduos com idade semelhante não deprimidos.26 Esse tema é muito controverso, e
algumas questões ainda deverão ser esclarecidas:29
Evidência de Comprometimento
fator de cognitivo
risco ou Lentificação
doença psicomotora
vascular Pouco insight
Início da Ausência de história
depressão familiar de doença
depois dos do humor
65 anos de Incapacidade
idade ou
mudança
no curso da
depressão
depois da
doença
vascular em
pessoas
com início
precoce de
depressão
DEPRESSÃO SUBSINDRÔMICA
DEPRESSÃO SECUNDÁRIA
Nesta seção, serão abordadas a depressão secundária a fármacos e a depressão
secundária a doenças.
álcool;
benzodiazepínicos;
betabloqueadores;
cimetidina;
clonidina;
corticoides;
dextropropoxifeno;
estrógenos;
hidralazina;
levodopa;
metildopa;
progesterona;
reserpina;
tamoxifeno;
vimblastina;
vincristina.
Depressão secundária a doenças
hipotireoidismo/hipertireoidismo;
alcoolismo;
doença de Cushing;
doença de Addison;
diabetes melito;
infecção por vírus da imunodeficiência humana (HIV) e hepatite C;
artrite reumatoide;
arterite temporal;
lúpus eritematoso sistêmico;
polimialgia reumática;
câncer (principalmente o de pâncreas).
DEPRESSÃO E COMORBIDADES
Vários estudos documentam a presença de uma série de prejuízos cognitivos na
depressão do idoso, incluindo a redução da memória de trabalho, da função executiva,
da memória episódica e da velocidade de processamento.
Aqueles que desenvolvem depressão pós-AVC tendem a ter maior declínio nas
atividades da vida diária (AVDs),44 menor recuperação da capacidade
funcional,45maior comprometimento cognitivo46 e aumento da
mortalidade,47 comparados aos pacientes com AVC não deprimidos.
O tratamento adequado da depressão pós-AVCmelhorou as respostas nas AVDs e na
cognição.47,54 Além disso, o tratamento preventivo com antidepressivos após
o AVC pode reduzir a incidência da morbidade e da mortalidade.
Outro estudo controlado randomizado multicêntrico (RCT) comparou escitalopram,
placebo e psicoterapia de resolução de problemas (PRP) para a prevenção da
depressão um ano após o AVC agudo. A utilização de escitalopram ou PRP resultou
em incidência significativamente menor de depressão ao longo de 12 meses de
tratamento. Outros pontos observados nesse levantamento foram:
DEPRESSÃO E SUICÍDIO
Aspecto Descrição
Comportamentos Agitação
Doação de objetos
pessoais
Aumento do consumo
de álcool
Não aderência ao
tratamento médico
Riscos
desnecessários
Preocupação com a
morte
PRINCÍPIOS GERAIS DO TRATAMENTO
Aproximadamente 40 a 50% dos casos de depressão são diagnosticados em atenção
primária; deles, apenas 20% recebem tratamento adequado.35 O tratamento da
depressão é dividido em três fases, conforme apresenta o Quadro 8 e a Figura 3.13
Quadro 8
FASES DO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO
Fase Descrição
tratamento farmacológico;
psicoterapia;
eletroconvulsoterapia (ECT);
estimulação magnética transcraniana (EMT).
A resposta ao tratamento é avaliada pela melhora clínica do paciente, que pode ser
parcial ou total. Os objetivos do tratamento são a remissão dos sintomas e a
recuperação dos níveis normais de funcionamento.
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
A eficácia específica de tratamento farmacológico na depressão em idosos é limitada.
Na literatura, existem poucos ensaios clínicos randomizados adequadamente
controlados especificamente direcionados ao tratamento da DIT. Ensaios para
depressão dependem de seleção criteriosa dos dados, para assegurar a comparação
entre os grupos de tratamento.
Isso é muito mais desafiador em pacientes idosos, pois a depressão no idoso está
relacionada a múltiplos fatores − não apenas aos aspectos psiquiátricos, mas também
às comorbidades médicas e psicossociais. Outra característica de ensaios controlados
por placebo de antidepressivos em idosos tem sido as altas taxas de resposta com
placebo.57
Quanto às combinações, os tratamentos farmacológicos são realizados com
antidepressivos das seguintes classes:
ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS
Amitriptilina ++ ++ - ++ - +
Clomipramina ++ ++ + ++ + ++
Imipramina ++ + + ++ - +
Nortriptilina + + + + - +
Citalopram - - + - ++ ++
Escitalopram
Sertralina
Fluoxetina - - + - ++ ++
Fluvoxamina
Paroxetina
Venlafaxina - - + - ++ ++
Desvenlafaxin - - - - - +
a
Duloxetina - - + - ++ ++
Maprotilina ++ ++ - - - +
Reboxetina + - - - - +
ANTAGONISTAS DE RECEPTOR
Trazodona - ++ + ++ - -
Mianserina + ++ - - - -
Mirtazapina - ++ - - - -
INIBIDORES DA MONOAMINO-OXIDASE
Tranilcipromin + + ++ ++ + ++
a
AGONISTAS DOPAMINÉRGICOS
Bupropiona - - ++ - + -
Tianeptina + + - - + -
ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS
Nortriptilina - ++ ++ 75-250
Citalopram - - + 20-60
Escitalopram 10-20
Sertralina 50-200
Fluoxetina - - + 20-60
Fluvoxamina 100-300
Paroxetina 20-60
Duloxetina - - - ? 60-120
Reboxetina + - + 4-8
ANTAGONISTAS DE RECEPTOR
Mirtazapina ++ - + 15-45
INIBIDORES DA MONOAMINO-OXIDASE
Bupropiona - - + 150-300
Tianeptina - ? + 25-37,5
preferência do paciente;
resposta anterior aos medicamentos;
segurança;
tolerabilidade;
custo;
perfil dos efeitos colaterais (inclusive em pacientes frágeis);
facilidade para descontinuação do tratamento;
simplicidade da posologia;
menor ajuste de doses possíveis;
baixo perfil de interações medicamentosas.
necessidade de dieta sem tiramina, cuja ingestão pode causar intensa crise
hipertensiva com risco de vida para o paciente;
interações medicamentosas com diversos fármacos, produzindo crises
hipertensivas e/ou hipertermia (por exemplo, ADTs,
simpatomiméticos, ISRSs e meperidina).
Os ADTs têm eficácia semelhante à dos IRSSs no tratamento da depressão em
idosos, mas são menos utilizados por conta de seus maiores efeitos colaterais e
menor tolerância. Se ISRSs ou IRSNs forem ineficazes, deve-se considerar o uso
dos ADTs em monoterapia ou em associação.
Antes do uso dos ADTs e após o aumento da dose, devem-se solicitar ECG e
avaliação da pressão arterial (deitado, sentado e em pé). Os níveis sanguíneos
dos ADTs deverão ser monitorizados, pois os níveis plasmáticos podem estar altos,
apesar das doses baixas em metabolizadores lentos.10 Os ADTs são incluídos na lista
de critérios de Beers de medicamentos potencialmente inapropriados em idosos.24
Os dois ADTs com o melhor perfil de segurança para pacientes mais velhos são as
aminas secundárias, como a nortriptilina e a desipramina (não disponíveis no Brasil).
Esses fármacos podem ser monitorados pelo plasma, sendo que a janela terapêutica
da nortriptilina pode orientar na titulação de doses.63
Trazodona
A trazodona é um forte antagonista de receptor 5-HT2A, efeito provavelmente
envolvido em sua ação antidepressiva e ansiolítica. Também é antagonista de
autorreceptores pré-sinápticos 5-HT1.66 Seu metabólito ativo mCPP é um potente
agonista serotoninérgico direto, agindo sobre os receptores 5-HT2C, o que pode
colaborar tanto com os efeitos terapêuticos quanto com os colaterais da trazodona.67
As doses diárias de trazodona variam entre 150 e 200mg, com doses extremas de 50
e 600mg.66-71 Em doses mais baixas, entre 25 e 100mg, tem sido prescrita como
hipnossedativo para pacientes com insônia, inclusive quando decorrente da ação de
outros antidepressivos, como os ISRSs.72,73
Vortioxetina
A vortioxetina é um ISRS, mas também um agonista dos receptores 5-HT1A, agonista
parcial dos receptores 5HT1B e antagonista dos receptores 5-HT1D, 5-HT3 e 5-HT7,
que leva à modulação da neurotransmissão em vários sistemas, incluindo
predominantemente o sistema da serotonina, mas provavelmente também os sistemas
da norepinefrina, dopamina, histamina, acetilcolina, ácido gama-aminobutírico (GABA)
e glutamato. Esse fármaco deve ser lançado em breve.
Mirtazapina
A mirtazapina é um antagonista alfa-2 de ação pré-sináptica que aumenta a atividade
noradrenérgica e serotoninérgica. Esse aumento é especificamente mediado pelos
receptores 5-HT1, pois os receptores 5-HT2 e 5-HT3 são bloqueados. Em decorrência
de sua ação como antagonista dos receptores histaminérgicos H1, surgem efeitos
colaterais como sonolência, sedação, aumento do apetite e do peso, o que pode ser
uma vantagem em algumas situações, principalmente em pacientes com insônia e
anorexia.
Agomelatina
A agomelatina é um antidepressivo com ação agonista dos receptores
melantoninérgicos (MT1 e MT2) e antagonista dos receptores serotoninérgticos (5-
HT2C).75
Estudo mostrou que um tratamento de oito semanas com agomelatina na dose diária
de 25-50mg aliviou de forma eficaz os sintomas depressivos e foi bem tolerado em
pacientes idosos deprimidos. Outro estudo mostrou evidências de que a agomelatina é
mais efetiva do que o placebo. No entanto, não existem evidências de equivalência ou
mesmo de superioridade desse fármaco quando comparado a outros
antidepressivos.76
Vilazodone
O vilazodone foi aprovado pelo órgão governamental responsável pelo controle de
alimentos e remédios nos Estados Unidos (FDA, de Food and Drug Administration) em
janeiro de 2011. O fármaco deverá ser comercializado no Brasil em breve. Seu
mecanismo de ação não é totalmente conhecido, mas é considerado um ISRS, além
da ação como agonista parcial do receptor 5-HT1A.77
O FDA fez um alerta em agosto de 2011 em relação ao uso do citalopram, que deve
ser “evitado, se possível” em pacientes com prolongamento do intervalo QT, ou com
esse risco. A dose máxima diária recomendada é de 20mg para pacientes com mais
de 60 anos. O alerta não se aplica ao escitalopram.79
A venlafaxina e o citalopram foram comparados, e foi mostrada uma eficácia similar
em pacientes que tiveram uma resposta inadequada a um ISRS. No subgrupo de
pacientes com depressão mais grave, venlafaxina foi significativamente mais eficaz.
Pacientes que permanecem deprimidos com o uso dos ISRSs podem ter mais
benefícios ao optarem por um medicamento de dupla ação, como a venlafaxina, em
vez de mudar para outro ISRS.80
A venlafaxina pode ser boa opção para pacientes idosos com depressão resistente ao
tratamento.
A dose de venlafaxina para tratamento de depressão varia de 75 até 225mg por dia.
No caso da venlafaxina, a monitorização da pressão arterial é necessária em
pacientes com doença cardiovascular pré-existente, assim como em indivíduos
usando doses mais elevadas desse medicamento. Como apenas 30% do fármaco é
ligado às proteínas, interações medicamentosas podem ser menos frequentes.
Os efeitos colaterais são náuseas, cefaleia, diarreia, boca seca, sudorese, aumento da
pressão arterial geralmente com doses ≥ 150mg/dia.80,81
A bupropiona é um inibidor relativamente seletivo da recaptação de noradrenalina e
dopamina, com mínimo efeito na recaptação de serotonina. Seu uso em indivíduos
tabagistas com depressão, disfunção sexual e/ou queixas de fadiga pode ser uma boa
escolha. A bupropiona ainda não foi satisfatoriamente estudada entre idosos, e a
segurança da associação entre esse fármaco e os demais antidepressivos não está
bem estabelecida.
O uso de bupropiona em monoterapia em idosos com depressão foi objeto de alguns
estudos, e existem evidências de sua eficácia e tolerabilidade. Os efeitos colaterais
mais comuns são
crises convulsivas;
insônia;
euforia;
agitação;
boca seca;
cefaleia;
anorexia e perda ponderal;
náuseas e/ou vômitos;
constipação;
tremor;
mialgia;
rash cutâneo e reações alérgicas.
Benzodiazepínicos
A utilização de benzodiazepínicos está associada a risco aumentado de doença de
Alzheimer. O maior risco estava relacionado ao uso prolongado. Essa suspeita reforça
possível relação causal direta. Também pode ser considerado marcador precoce de
uma condição associada a risco aumentado de demência.
Psicoestimulantes
Embora alguns ensaios abertos demonstrem os benefícios dos psicoestimulantes
como monoterapia ou associados aos antidepressivos, esses estudos são limitados
pelo pequeno tamanho da amostra e pela falta de grupos-controle. O único estudo
controlado não encontrou qualquer benefício dos psicoestimulantes associados à
sertralina.
A escassez de dados é ainda mais evidente com pacientes idosos deprimidos, pois há
pouquíssimos ensaios nessa população. Portanto, embora estudos preliminares
possam sugerir efeitos benéficos de psicoestimulantes no tratamento da depressão
em idosos, estudos mais rigorosos deverão ser realizados antes de recomendar o seu
uso rotineiro.93
Depressão refratária
Existem várias definições para depressão refratária. Aqui, o conceito adotado diz
respeito ao insucesso à resposta a, pelo menos, dois antidepressivos diferentes em
doses e tempo adequados.94
Apesar do grande número de agentes aprovados para o tratamento de TDM,
aproximadamente 50% dos pacientes não apresentam resposta ao tratamento com um
antidepressivo de primeira linha.94 Existem algumas estratégias farmacológicas para
o tratamento de pacientes que não responderam inicialmente aos antidepressivos:
venlafaxina + ISRS;
venlafaxina + bupropiona;
venlafaxina + ADT (nortriptilina);
mirtazapina + venlafaxina;
fluoxetina + trazodona;
mirtazapina + ISRS;
mirtazapina + bupropiona;
citalopram + bupropriona;
trazodona + bupropriona;
reboxetina + citalopram.
As combinações apresentadas são lógicas do ponto de vista teórico, mas não existem
estudos controlados que comprovem sua eficácia ou a superioridade de uma em
relação à outra.74
Antipsicóticos atípicos
Os antipsicóticos atípicos podem aumentar as taxas de resposta ou remissão dos
sintomas depressivos em pacientes que normalmente não responderam ao uso de
dois antidepressivos diferentes, mesmo quando os sintomas psicóticos não estão
presentes.61
O aripiprazol recebeu aprovação do FDA para o aumento de agentes antidepressivos
e é normalmente iniciado na dose de 2,5-5mg/dia, até o máximo de 15mg/dia.96
A quetiapina, em doses de 25 a 400mg/dia, tem sido usada com benefícios para os
sintomas depressivos encontrados em alguns ensaios clínicos,97,98 mas não em
todos.99
A risperidona, em doses de até 3mg/dia,100,101também parece melhorar a resposta
aos agentes antidepressivos. Na maioria dos ensaios, o início do efeito foi rápido,
embora a magnitude da vantagem em relação ao placebo tenha sido relativamente
modesta.
Todos os antipsicóticos estão associados a risco aumentado de AVC. O risco pode ser
maior em pacientes que recebem antipsicóticos atípicos, comparado aos que recebem
antipsicóticos típicos. As pessoas com demência em uso de antipsicóticos podem ter
risco maior de AVC comparadas às sem demência.102,103 Porém, não é conhecido
se o mesmo risco se estende para outros pacientes idosos.102,104
O aripiprazol tem o melhor perfil em relação à síndrome metabólica. São outros efeitos
colaterais de destaque:105
cefaleia;
náuseas;
sedação;
síndrome neuroléptica maligna.
PSICOTERAPIA
A psicoterapia tem um papel importante em idosos deprimidos, que são mais
vulneráveis aos fatores estressores psicossociais e às comorbidades da doença.
ELETROCONVULSOTERAPIA
A abordagem terapêutica para a fase aguda da depressão inclui a escolha do
tratamento farmacológico, das técnicas psicológicas associadas e a sua combinação
com a ECT, quando indicada.110
Seis a oito aplicações de ECT são, em média, necessárias para o tratamento efetivo
de um episódio depressivo, podendo chegar a 12 aplicações ou mais se não houver
melhora clínica satisfatória. Na ECT de manutenção, por exemplo, é realizada uma
aplicação a cada duas ou quatro semanas, durante quatro a seis meses subsequentes
ao tratamento agudo, podendo proporcionar benefícios adicionais e sustentar por mais
tempo a resposta positiva ao tratamento inicial.
Os estudos sistemáticos para avaliar as formas de tratamento apresentadas (número
de aplicações e posicionamento dos eletrodos) estão em andamento, com dados
ainda inconclusivos. A avaliação clínica cuidadosa e a prudência são amplamente
recomendadas para a prescrição segura da ECT.110
Não há evidências de que a ECT esteja associada a uma taxa de mortalidade mais
alta do que aquela que pode ser atribuída à administração de anestésicos em geral.
Os estudos com técnicas de neuroimagem não mostram evidências de que
a ECT cause dano cerebral. Também não há evidências de que os benefícios e a
segurança da ECTsejam limitados pela idade avançada.110
A EMT é um procedimento seguro e bem tolerado. Assim, pode ser uma opção de
tratamento de forma isolada ou associada aos antidepressivos em pacientes idosos
deprimidos resistentes ao tratamento. O tratamento com estimulação magnética
transcraniana repetitiva em depressão tardia tem mostrado resultados encorajadores e
requer mais estudos.112-114
Atividade física
A atividade física pode reduzir os sintomas depressivos, tanto em populações idosas
saudáveis como em pacientes idosos diagnosticados com TDM. Porém, poucos
estudos específicos foram realizados em relação à sua eficácia quando associada aos
antidepressivos. No entanto, existem alguns resultados promissores sobre atividade
física combinada com antidepressivos na depressão do idoso resistente ao
tratamento.115
Religião e espiritualidade
A presença de doença física, especialmente em casos de doença terminal, dor crônica
ou incapacidade, frequentemente complica ou agrava a depressão em idosos. A
incorporação da religião e/ou da espiritualidade no tratamento da depressão pode
levar a um enfrentamento mais positivo, baseado em maior força da fé religiosa e
maior colaboração na resolução de problemas.117
Estudos têm mostrado que há alto nível de religião e/ou espiritualidade entre os idosos
nos Estados Unidos e desejo significativo relatado pelo paciente para incluir tais
crenças na avaliação inicial de depressão na atenção primária.118 Crenças pessoais e
a presença de suporte religioso são relatados como preditores significativos para a
recuperação da depressão.32
CONCLUSÃO
Apesar de ser comum em idosos, a depressão é muitas vezes subdiagnosticada e
subtratada, principalmente pelas características atípicas em sua apresentação, que
podem ser confundidas com sintomas de doenças crônicas. A história clínica, o exame
físico e os exames complementares são muito importantes para o diagnóstico correto.