Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Entac 2022-2866

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 10

XIX Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído

ENTAC 2022
Ambiente Construído: Resiliente e Sustentável
Canela, Brasil, 9 a 11 novembro de 2022

Estudo de emissões de gases do efeito


estufa com uso de biomassa florestal
como combustível para aquecimento
de água residencial no Brasil
Greenhouse gas emissions study using forest biomass as
fuel for residential water heating in Brazil
Danielle Rios Garcia
UFOP | Ouro Preto | Brasil | danielle.garcia@aluno.ufop.edu.br
Júlia Assumpção de Castro
UFOP | Ouro Preto | Brasil | julia.assumpcao@aluno.ufop.edu.br
Pedro Kopschitz Xavier Bastos
UFJF | Juiz de Fora | Brasil | pedro.bastos@ufjf.edu.br

Resumo
No Brasil, assim como em muitos outros países, os edifícios residenciais consomem uma parte
significativa de toda energia produzida, principalmente para os sistemas de aquecimento de
água. O presente estudo comparou cinco sistemas de aquecimento de água utilizados nas
residências brasileiras: elétrico, energia solar, gás natural, GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) e
caldeiras. A comparação foi feita por meio da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) simplificada
das alternativas, considerando etapas para as quais foi possível a obtenção de dados em
relação à emissão de gás carbônico. Os resultados indicaram que o sistema de caldeiras é a
opção ambientalmente melhor.
Palavras-chave: Energia, Aquecimento, Caldeiras, ACV, Efeito estufa.

Abstract
In Brazil, as in many other countries, residential buildings consume a significant part of all
energy produced, mainly for water heating systems. The present study compared five water
heating systems used in Brazilian homes: electric, solar energy, natural gas, LPG (Liquefied
Petroleum Gas) and boilers. The comparison was made through the simplified Life Cycle
Assessment (LCA) of the alternatives, considering stages for which it was possible to obtain

Como citar:
GARCIA, D; CASTRO, J; KOPSCHITZ; P. Estudo de emissões de gases do efeito estufa com uso de biomassa
florestal como combustível para aquecimento de água residencial no Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL
DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 19., 2022, Canela. Anais... Porto Alegre: ANTAC, 2022. p.
XXX-XXX.
data in relation to the emission of carbon dioxide. The results indicated that the boiler system
is the best environmentally friendly option.
Keywords: Building energy, Heating, Boilers, LCA, Greenhouse effect.

INTRODUÇÃO

A construção civil é um dos setores das atividades humanas mais poluidoras em


quase todo o planeta. É também um setor responsável por alto consumo de energia,
utilizando-a não somente durante a construção de edifícios, mas principalmente
durante seu uso e operação. No Brasil, assim como em muitos países, o setor
residencial utiliza, segundo o Balanço Energético Nacional (BEN) realizado pela EPE –
Empresa de Pesquisa Energética [1], 25,5% de toda produção de energia elétrica do
país. Um dos destinos desse alto consumo é o aquecimento de água pelos chuveiros
elétricos que consomem cerca de 20% do total do setor [2].
A utilização de caldeiras para o sistema de aquecimento de água nas residências é
uma alternativa que utiliza fonte de energia renovável como combustível, com
possível reaproveitamento de resíduos de madeira, além da ampla gama ofertada de
equipamentos que propiciam queima eficiente, na qual os gases expelidos para a
atmosfera são consideravelmente reduzidos. A madeira é uma fonte de energia
limpa, uma vez que as emissões líquidas de gases de efeito estufa são quase nulas,
pois o CO2 emitido durante a queima quase se equivale ao CO 2 consumido durante o
crescimento da árvore [3].
Nas últimas décadas houve um importante desenvolvimento tecnológico na área de
caldeiras, que levou a dispositivos de combustão que reduzem as emissões de GEE e
aumentam sua eficiência. Uma das grandes mudanças nas caldeiras que permitiram
esses benefícios foi a conexão de tanques (reservatórios de água) para
armazenamento de calor [4].
Em relação ao combustível utilizado nas caldeiras, as composições de biomassa
podem variar de acordo com valores de propriedades térmicas, segundo o teor de
umidade, a temperatura e o grau de degradação térmica [3]. A umidade, os gases
voláteis, o carvão e a cinza são produtos da degradação térmica dos combustíveis.
Algumas propriedades do combustível, principalmente madeira, variam de acordo
com a espécie e condições de crescimento, além de características do ambiente de
combustão. O excesso de umidade do combustível e o excesso de ar durante sua
combustão influenciam negativamente na quantidade de emissões [4]. Percebe-se,
portanto, a quantidade de variáveis relacionadas à queima de biomassa e,
consequentemente, a dificuldade de quantificação das emissões de gases que
favorecem o aumento do efeito estufa, além da escassez de informações sobre
emissões de partículas relacionadas às caldeiras de biocombustíveis residenciais [4].
Nesse cenário, o presente estudo objetiva comparar, quanto à emissão de gás
carbônico, sistemas de aquecimento residencial de água por meio de painéis solares,
aquecedores alimentados por gás natural e gás liquefeito de petróleo, resistência
elétrica e caldeiras. Será dada ênfase ao uso de caldeiras, que apesar de não serem

ENTAC2022 - Ambiente Construído: Resiliente e Sustentável 2


tão utilizadas quanto os outros sistemas nas residências brasileiras, é uma alternativa
limpa quanto à obtenção de energia.

METODOLOGIA

O presente estudo baseia-se na metodologia apresentada no trabalho de Taborianski


[5]. Essencialmente, foram adotados os cálculos e resultados dos sistemas de
aquecimento estudados pela autora - eletricidade, gás natural, gás liquefeito de
petróleo e energia solar - mantidas as mesmas fronteiras da ACV simplificada,
introduzindo-se o estudo do aquecimento por caldeiras.
Em relação às caldeiras foi considerado o sistema provido de reservatório, como no
sistema solar, porém sem o auxílio da resistência elétrica. O princípio de
aquecimento é o de termossifão com circulação da água sob pressão, não
considerando a utilização de bombas para a circulação da água. A água do
reservatório, fornecida pela caixa d’água da residência, é aquecida pelo princípio da
troca de calor, com a passagem de água quente por uma serpentina interna,
aquecida pela caldeira.
Existe uma ampla gama de combustíveis para o setor residencial de aquecimento por
biomassa [6]. Serão analisados os combustíveis mais encontrados e utilizados nas
caldeiras por biomassa florestal: lenha de eucalipto, cavaco de madeira, restos de
madeira de obra sem resinas ou tintas e biomassa densificada.
Assim como na pesquisa da Taborianski [5], foi considerado o tempo de vida de 20
anos para todo o sistema de aquecimento por caldeiras, sem necessidade de nenhum
tipo de troca. Considerou-se uma habitação com quatro habitantes que tomam um
banho por dia de sete minutos, com vazão de 0,20 litros por segundo. Portanto, a
unidade funcional é definida como o aquecimento de 2.452.800 litros de água
(volume total de água dos banhos na residência em 20 anos) de 18 °C até atingir a
temperatura 38 °C, ideal para o banho.
A adoção de uma ACV simplificada se deve, tanto nesse trabalho quanto naquele
usado como referência, à dificuldade de obtenção de dados de alguns estágios do
ciclo e à sua baixa influência ou de seus materiais envolvidos. Portanto, serão
analisadas as etapas mais relevantes para as quais foi possível a obtenção de dados, a
saber: mineração, transformação, uso e transporte entre os estágios considerados.
Os dados de entrada para cálculos foram a energia e os materiais consumidos nesses
estágios e, os de saída, as emissões atmosféricas de gases de efeito estufa.

RESULTADOS

INVENTÁRIO DO CICLO DE VIDA SIMPLIFICADO – TRANSFORMAÇÃO/MINERAÇÃO

No trabalho realizado por Taborianski [5], foi analisado o grau de influência de cada
estágio do ciclo de vida no resultado. A Tabela 1 apresenta os resultados dessa
análise e observa-se a adoção de simplificações. Os estágios de mineração e

ENTAC2022 - Ambiente Construído: Resiliente e Sustentável 3


transformação foram representados juntos pela autora daquele estudo, pois são
processos associados e suas emissões são calculadas de forma conjunta.
Tabela 1: Análise do grau de influência, em porcentagem, de cada estágio do ciclo de vida
dos sistemas de aquecimento de água residencial
Emissão total e participação percentual de cada estágio de acordo com o tipo de
aquecimento
Chuveiro Gás Gás Liquefeito
Solar
Elétrico Natural de Petróleo
Total das emissões (kg
17.910 6.387 6.722 8.338
CO2eq/uf)
Emissão (kg CO2eq/uf) 253 493 493 815
Transformação
/Mineração % em relação ao total
1,41% 7,72% 7,33% 9,77%
de emissões
Emissão (kg CO2eq/uf) 10.707 684 1.019 2.464
Uso % em relação ao total
de emissões 59,78% 10,71% 15,16% 29,55%
Emissão (kg CO2eq/uf) 6.950 5.210 5.210 5.059
Transporte % em relação ao total
38,81% 81,57% 77,51% 60,67%
de emissões
Fonte: [5], adaptada.

Devido à dificuldade de obtenção de dados junto a fabricantes referentes à


composição do equipamento de aquecimento e visto que é um estágio pouco
representativo no resultado de emissões, pode-se concluir que os materiais
empregados no sistema não exercem papel decisivo no estudo comparativo.
Portanto, decidiu-se pela adoção de valores para esse estágio. Partiu-se do
pressuposto que o sistema de caldeiras se assemelharia ao de gás no que tange ao
equipamento e, ao solar, no que tange à tubulação utilizada e à necessidade de um
reservatório. De acordo com essa análise, o valor adotado para os estágios de
mineração/transformação terá que se encontrar na faixa de 700 a 1.160 KgCO2eq/uf.

INVENTÁRIO DO CICLO DE VIDA SIMPLIFICADO – ESTÁGIO USO

Em relação ao estágio de uso, notou-se uma grande variação entre os sistemas que
influenciou diretamente o resultado. Seus valores foram calculados com o auxílio de
dados de emissões encontrados na literatura. Para os valores de emissões de CO 2 e
CH4 foram consideradas emissões provenientes de equipamentos que proporcionam
uma queima mais controlada e menores emissões de GEE [8] [9] quando comparadas
com a queima de fogões à lenha e lareiras [10] [11]. Nesses estudos pode-se
perceber que existe uma diferença pequena entre as emissões de biomassa
densificada e outras biomassas. Portanto, foram adotados os seguintes valores de
emissões por m³ de combustível para todas as biomassas florestais avaliadas no
presente estudo: 120.000 mgCO2/m³ e 12 mgCH4/m³. Estes valores são os maiores
considerados às duas fases da queima analisadas no estudo de Olsson e Kjällstrand
[9]. Quando comparados aos do estudo de Kjällstrand e Olsson [8], mostraram-se
próximos e, portanto, adequados para a adoção no presente trabalho.

ENTAC2022 - Ambiente Construído: Resiliente e Sustentável 4


Para facilitar os cálculos foram analisadas as emissões de CO 2 equivalentes
considerando-se o potencial de aquecimento global do CH 4, 23 vezes maior que o do
CO2, ou seja, 0,1203 kgCO2eq/m³ de combustível [12].
A quantidade de energia necessária para aquecer um banho nas condições de
temperatura fixadas no estudo (de 18 °C a 38 °C) é de 1.680 kcal [5]. Como são
quatro banhos diários na habitação padrão, em 20 anos serão 29.200 banhos. A
partir dos valores de poder calorífico, da densidade das biomassas florestais
apresentadas na Tabela 2 e do gasto energético por banho, pode-se chegar à
quantidade de madeira necessária para aquecer a água através da queima de
biomassa na habitação, apresentada na Tabela 3.
Tabela 2: Poder calorífico e densidade das biomassas florestais
Combustível Poder Calorífico (kcal/kg) Densidade (kg/m³)
Biomassa Densificada 3.712 738
Lenha 2.830 464
Cavaco 2.830 243
Resíduo de obra 2.830 243
Fonte: [13].

Tabela 3: Quantidades necessárias de combustível para os banhos na habitação padrão


Quantidade necessária Quantidade Quantidade
Material
para um banho (kg) necessária por uf (kg) necessária por uf (m³)
Biomassa Densificada 0,45 13.215,52 17,91
Lenha 0,59 17.334,28 37,36
Cavaco 0,59 17.334,28 71,33
Resíduo de CC 0,59 17.334,28 71,33
Fonte: os autores.

No estudo de Taborianski [5] não foram consideradas as emissões referentes à


produção de energia relacionada ao uso dos equipamentos. No presente trabalho
adota-se o combustível biomassa densificada (pellets e briquetes), cujos processos de
produção emitem GEE. Assim, não só foram calculadas as emissões de produção da
biomassa, como também os valores dessa fase foram acrescentados para os demais
sistemas.
Para o chuveiro elétrico considerou-se que durante seu uso não existiriam emissões
referentes à produção de combustível para a queima, já contabilizadas no processo
de produção de energia elétrica da matriz brasileira. Para o sistema solar também
não existem emissões referentes à produção de energia. Para a biomassa florestal, só
foram consideradas emissões para a produção dos pellets, uma vez que as outras
fontes gastam pouca ou nenhuma energia nesta etapa ou, então, são sobras de
materiais provenientes de outros processos que já contabilizaram essa energia.
Para os sistemas a gás existem emissões referentes à sua produção. Esses valores
estão relacionados na Tabela 4, juntamente com os das emissões dos pellets e foram
ajustados para as unidades utilizadas no trabalho, para fins de comparação. Para o
gás natural foi adotada a emissão por kg. Para a conversão, foi utilizada a tabela da
GASMIG [14], que traz a densidade do GN igual a 0,71 m³/kg. Do mesmo modo, para
o GLP foi necessário converter a unidade de kg para MJ, utilizando-se o valor

ENTAC2022 - Ambiente Construído: Resiliente e Sustentável 5


encontrado em [15], de 0,045837 MJ/kg. Os valores necessários para os banhos
foram retirados das informações relativas à fase de uso do trabalho de Taborianski
[5], expostos na Tabela 5, transformados para 20 anos de utilização.
Tabela 4: Emissões durante as fases de produção e uso
Referênci
Combustível Emissão Unidade
a
GN 0,11526 kg CO2eq/kg [16]
GLP 0,00018 kg CO2eq/MJ [15]
3
Pellet 27,92 kg CO2eq/ton [17]
Fonte: os autores.
Tabela 5: Emissões relativas ao estágio de uso dos sistemas a gás
Tipo de
Consumo horário Consumo anual
aquecimento
GLP 1,45 kg 244 kg
Gás natural 1,68 kg 282 m³
Fonte: [5].

INVENTÁRIO DO CICLO DE VIDA SIMPLIFICADO – ESTÁGIO TRANSPORTE

Ao analisar o estágio de transportes, percebe-se que é o mais representativo no


resultado total e, ao mesmo tempo, apresenta uma baixa variação entre os sistemas
analisados no estudo. Portanto, adotou-se, seguindo o mesmo critério do estágio de
mineração e transformação, um valor entre os sistemas a gás e solar. Essa adoção
considerou que o transporte é referente aos materiais utilizados nos sistemas e que,
portanto, se os impactos relativos aos materiais são próximos, o mesmo acontece em
relação ao transporte. De acordo com essa análise, o valor adotado para os estágios
de mineração/transformação terá que se encontrar na faixa de 5.059 a
5.210 KgCO2eq/uf.
No entanto, os sistemas a gás (GLP) e por caldeiras necessitam de transportes
automotivos para que o combustível chegue até as residências. Considerando
veículos a diesel e distância de 10 km dos postos de distribuição até o ponto de
entrega, foram acrescidos nas emissões totais os valores relativos ao transporte,
calculados pela expressão de Teixeira e Bizzo [7]:

C esp =0 ,2487∗1 ,0096C a

Cesp corresponde ao consumo específico de diesel (l/km) e C a corresponde ao


carregamento do caminhão, considerado de zero a 14 toneladas.
Utilizando-se os dados referentes ao peso específico do óleo diesel e à emissão de
CO2, adotados [7], 0,852kg/m³ e 3,198 CO 2/kg de óleo diesel consumido,
respectivamente. Além das Tabelas 3 e 5, esses valores puderam ser calculados e
estão expostos na Tabela 6.

ENTAC2022 - Ambiente Construído: Resiliente e Sustentável 6


Tabela 6: Emissões referentes ao combustível gasto em transporte
Dados GLP Biomassa Densificada Lenha Cavaco Resíduo de CC
Carregamento do 17.334,2
4.880,00 13.215,52 17.334,28 17.334,28
caminhão (Ca) (kg) 8
Consumo específico
0,26 0,28 0,29 0,29 0,29
de diesel (Cesp) (l/km)
Gasto de Diesel (l) 2,61 2,82 2,93 2,93 2,93
Emissão de CO2 7,10 7,69 8,00 8,00 8,00
Fonte: os autores.

INVENTÁRIO DO CICLO DE VIDA SIMPLIFICADO – RESULTADOS

Na Tabela 8 são apresentados os resultados para os sistemas estudados por


Taborianski [5], já incluindo as fases de transporte do combustível e emissão
referente à produção de energia relacionada ao uso para garantir a possibilidade de
comparação entre todos os sistemas analisados.
Tabela 8: Resultado das emissões por tipo de aquecimento dos sistemas estudados por
Taborianski [5]

Emissões (kg CO2 eq/uf) Chuv. Elet. GN GLP Solar


Mineração/Transformação 368,0 700,0 700,0 1.160,0
Transporte 6.950,0 5.210,0 5.210,0 5.059,0
Transporte do combustível 0,0 0,0 7,1 0,0
Uso 13.145,0 3.904,0 1.019,0 3.016,0
Emissão referente à produção
0,0 461,5 0,0 0,0
de energia relacionado ao uso
TOTAL 20.463,0 10.275,5 6.936,1 9.235,0
Fonte: os autores.

Na Tabela 9 são expostos os resultados para o sistema de aquecimento de água


residencial por caldeiras, com os valores referentes a cada combustível estudado no
trabalho.
Tabela 9: Resultado de emissões dos sistemas por caldeira para cada tipo de biomassa
utilizada
Emissões (kg CO2/uf) Biomassa densificada Lenha Cavaco Resíduo
Mineração/Transformação 1.000,0 1.000,0 1.000,0 1.000,0
Transporte 5.150,0 5.150,0 5.150,0 5.150,0
Transporte da biomassa
7,7 8,0 8,0 8,0
florestal
Uso 2,2 4,5 8,6 8,6
Emissão referente à produção
369,0 0,0 0,0 0,0
de energia relacionado ao uso
TOTAL 6.528,8 6.162,5 6.166,6 6.166,6
Fonte: os autores.

Observa-se que os melhores sistemas, no quesito ambiental, são os sistemas por


caldeiras que utilizam a biomassa florestal, seguidos pelo sistema a GLP. São os
sistemas que menos emitem GEE durante seu ciclo de vida. O chuveiro elétrico
continuou sendo o pior sistema, com grande diferença em relação ao demais. O

ENTAC2022 - Ambiente Construído: Resiliente e Sustentável 7


sistema de aquecimento solar e por gás natural apresentaram valores intermediários,
porém mais próximos dos sistemas com emissões reduzidas.
A diferença entre os valores encontrados para os sistemas a biomassa foi muito
pequena. A lenha apresentou melhor desempenho ambiental. Este resultado deve-se
ao fato de a lenha apresentar maior densidade quando comparada aos cavacos e
resíduos e por não apresentar emissões durante sua produção, como é considerado
na biomassa densificada.
Com a inserção dos valores relacionados à produção dos combustíveis, o gás natural
apresentou-se mais poluente do que o sistema que utiliza a energia solar, emitindo
mais CO2eq durante esse estágio quando comparado à produção de biomassa
densificada. Este fato, aliado às emissões fugitivas de metano, citadas por
Taborianski [5], levaram esse sistema para essa posição.
Ao observar o estágio de uso percebe-se que se fosse o único analisado, ainda assim
a ordenação dos sistemas permaneceria a mesma. Mostra-se, assim, que a fase de
uso é muito decisiva no resultado. Além disso, pode-se perceber que a fase de
transporte de cada sistema representou o maior impacto, para todos os sistemas,
algo ligado ao alto poder de poluição dos combustíveis.

CONCLUSÃO

Uma das ferramentas utilizadas no controle dos impactos ambientais é a ACV,


escolhida para o desenvolvimento do presente trabalho. No Brasil, ainda se
encontram muitas dificuldades para a realização dessa avaliação, devido à falta de
dados que retratem as condições de produção das indústrias, principalmente.
Este trabalho teve como objetivo analisar impactos gerados pelos sistemas de
aquecimento de água residencial mais usuais no Brasil. Por se usar a ACV simplificada
e com a ausência de dados, optou-se pela adoção de informações da literatura.
Ressalta-se, portanto, que o estudo poderá ser complementado com a utilização de
mais dados referentes à realidade brasileira, principalmente ligada à matriz
energética. Situações simplificadas, como a distância de 10 km para o fornecimento
de GLP também poderão ser adaptadas a regiões que que diferem desse cenário.
Dados mais detalhados da produção dos equipamentos também podem alterar
alguns resultados, visto que o transporte de matérias primas e de peças pode ter
destaque na proporção de gases emitidos nessa fase em relação ao total. Além disso,
deve-se fazer a ressalva que nem todos os cenários adotados no estudo, ou seja,
tipos de combustível são de fácil acesso em todas as regiões do país.
O incentivo ao uso de energia renovável pode ajudar na redução das emissões de
GEE. A inclusão da biomassa florestal no estudo foi incentivada por esse aspecto e,
de acordo com os resultados encontrados, observou-se melhor desempenho em
comparação aos sistemas tradicionais, principalmente o chuveiro elétrico.

ENTAC2022 - Ambiente Construído: Resiliente e Sustentável 8


REFERÊNCIAS
[1] EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (EPE). Balanço energético nacional 2018: ano-base
2017. Acesso em 25.04.2019.
[2] GHISI, E.; GOSCH, S.; LAMBERTS, R. Electricity end-uses in the residential sector of Brazil.
Energy Policy, v. 35, n. 8, p. 4107-4120, 2007.
[3] DEMIRBAS, A. Potential applications of renewable energy sources, biomass combustion
problems in boiler power systemsand combustion related environmental issues.
Progress in Energy and Combustion Science, v. 31, p. 171-192, 2005.
[4] JOHANSSON, L.S.; LECKNER, B.; GUSTAVSSON. L.; COOPER D.; TULLIN C.; POTTER A.
Emission characteristics of modern and old-type residential boilers fired with wood logs
and wood pellets. Atmospheric Environment, v.38, p. 4183-4195, 2004.
[5] TABORIANSKI, V.M. Avaliação da contribuição das tipologias de aquecimento de água
residencial para a variação dos balanços de gases de efeito estufa na atmosfera. 134p.
Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.
São Paulo, 2002.
[6] VICENTE E. D.; ALVES C. A. An overview of particulate emissions from residential biomass
combustion. Atmospheric Research, v. 199, p.159-185, 2018.
[7] TEIXEIRA, M.A.; BIZZO, W.A. Análise de ciclo de vida no transporte do carvão vegetal e
mineral para redução em alto forno. In: SEMINÁRIO DE BALANÇOS ENERGÉTICOS
GLOBAIS E UTILIDADES, 22., João Monlevade, MG, 2000. Anais. p. 69-77.
[8] KJÄLLSTRAND, J.; OLSSON, M. Chimney emissions from small-scale burning of pellets and
fuelwood – examples referring to diferente combustion appliances. Biomass &
Bioenergy, v.27, p. 557-561, 2004.
[9] OLSSON, M.; KJÄLLSTRAND, J. Low emissions from wood burning in an ecolabelled
residential boiler. Atmospheric Environment, v. 40, p.1148-1158, 2006.
[10] GONÇALVES C.; ALVES C.; PIO C. Inventory of fine particulate organic compound
emissions from residential wood combustion in Portugal. Atmospheric Environment, v.
50, p.297-306, 2011.
[11] WEI, W.; ZHANG, W.; HUA, D.; OU, L.; TONG, Y.; SHEN, G.; SHEN, H.; WANG, X. Emissions
of carbon monoxide and carbon dioxide from uncompressed and pelletized biomass fuel
burning in typical household stoves in China. Atmospheric Environment, v. 56, p. 136-
142,2012.
[12] IPCC. Inter-governmental Panel on Climate Change. Technical summary of the Working
Group I report. Disponível em: <http://www.meto.gov.uk/sec5/CR_div/ipcc/wg1/WGI-
TS.pdf>. Acesso em 15.10.2001.
[13] FOELKEL, C. Utilização da Biomassa do Eucalipto para Produção de Calor, Vapor e
Eletricidade. Eucalyptus Online Book & Newsletter. Capítulo 45, 2016c.
[14] GASMIG. Tabela para converter o consumo de um energético para gás natural.
Disponível em: http://www.gasmig.com.br/GasNatural/Paginas/Tabela-de-
Conversao.aspx. Acesso em: 22.10.2017.
[15] AFRANE G.; NTIAMOAH A. Comparative Life Cycle Assessment of Charcoal, Biogas, and
Liquefied Petroleum Gas as Cooking Fuels in Ghana. Journal of Industrial Ecology, v.15,
n.4, p. 539-549, 2011.
[16] KHOO, H. H.; TAN, R. B. H. Environmental Impact Evaluation of Conventional Fossil Fuel
Production (Oil na Natural Gas) and Enhanced Resource Recovery with Potential CO2
Sequestration. Energy & Fuels, v.20, p.1914-1924, 2006.

ENTAC2022 - Ambiente Construído: Resiliente e Sustentável 9


[17] HAN, T. W. Life Cycle Assessment of Pellet Burning Technologies. University
Amsterdam, 2010. Disponível em:
<http://www.forgreenheat.org/issues/docs/TomdeHaan.pdf>. Acesso em: 22.10.2017.

ENTAC2022 - Ambiente Construído: Resiliente e Sustentável 10

Você também pode gostar