Cap 3 - Flexão - Morfema) )
Cap 3 - Flexão - Morfema) )
Cap 3 - Flexão - Morfema) )
3 Flexão Nominal
No capítulo II da Unidade A, estudamos os diferentes tipos de morfemas, as
respectivas funções, a hierarquia e o ordenamento, entre outros aspectos relevantes
na descrição e análise mórfica. Vamos agora focalizar uma característica específica
dos nomes e pronomes, que é a flexão de gênero (masculino e feminino) e de núme-
ro (singular e plural). Vamos demonstrar, também, que grau não é flexão.
masculino
de gênero
de nomes e feminino
pronomes singular
de número
plural
Flexão
de modo e tempo
de verbos
de número e pessoa
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Morfologia do Português
NOME SD RAIZ VL SD SD VT DG DN
1. anzol anzol
2. folhetins folh- -et- -in- -s
3. ele el- -e
4. elas el- -a- -s
5. finalzinho fim- -al- -zinh- -o
6. desatualizados des- -atual- -iz- -ad- -o- -s
7. atualizada atual- -iz- -ad- -a
8. afinadíssimos a- -fin- -ad- -íssim- -o- -s
9. florezinhas flor- -e- -zinh- -a- -s
10. terceiro terc- -eir- -o
66
Flexão nominal CAPÍTULO 03
ficamente pela possibilidade de apresentar desinências de gênero e de
número, o que é próprio dos substantivos e adjetivos (verdadeiros no-
mes), uma vez que pronomes, artigos e numerais ora são substantivos,
ora são adjetivos, de acordo com o sentido e a função que exercem na
estrutura sintagmática (ou frasal). Por outro lado, devemos considerar
que qualquer palavra pode substantivar-se e, como tal, submeter-se Trataremos oportunamen-
te da classificação dos
aos processos flexionais e mesmo derivacionais específicos dos nomes, vocábulos, com base em
como: os sins, os nãos, os prós, os contras, o fazer, uma mãozinha, critérios mórficos, sintáti-
cos e semânticos.
agorinha, um quezinho, um ai, euzinha etc.
Exemplos:
Ӳ Espertinho (diminutivo)
Ӳ Espertalhão (aumentativo)
67
Morfologia do Português
Ӳ Espertíssimo (superlativo)
68
Flexão nominal CAPÍTULO 03
3.4 Flexão de gênero
Tradicionalmente, as gramáticas abordam com certa superficiali-
dade a questão de gênero, limitando-se a afirmar que, em português,
há dois gêneros (masculino e feminino) e fazendo certa confusão entre
gênero e sexo.
69
Morfologia do Português
o braço a braça
o cabeça a cabeça
o capital a capital
o porto a porta
o chinelo a chinela
o bolso a bolsa
o ovo a ova
o lotação a lotação
o lenho a lenha
o rádio a rádio
o sapato a sapata
o espinho a espinha
o cinto a cinta
o barco a barca
70
Flexão nominal CAPÍTULO 03
um substantivo que tem a propriedade privativa de se referir às pessoas
do sexo feminino.
Já se disse que todos os nomes têm gênero, porém nem todos se fle-
xionam em gênero. Com base na descrição de gênero que acabamos de
apresentar, os nomes, diferentemente do que sugere a NGB e as gramáti-
cas escolares, se distribuem em três grupos (CÂMARA JR., 1979, p. 92):
1) nomes substantivos de gênero único: (a) flor, (o) livro, (o) car-
ro, (a) mão, (a) lua, (o) avião, (o) cônjuge, (a) cobra, (o) jacaré
etc.
71
Morfologia do Português
Exemplos:
Ӳ pai –mãe
Ӳ homem – mulher
Ӳ genro – nora
Ӳ cão – cadela
Ӳ carneiro – ovelha
Ӳ zangão – abelha
Como você pode ver, esses heterônimos não são aparentados mor-
fologicamente, isto é, não têm o mesmo semantema, nem são derivados
uns dos outros.
Exemplos:
Ӳ cônsul – consulesa
Ӳ galo – galinha
Ӳ profeta – profetisa
Ӳ herói – heroína
Ӳ czar – czarina
72
Flexão nominal CAPÍTULO 03
Exemplos:
Ӳ europeu – europeia
Ӳ teu – tua
Ӳ judeu – judia
Ӳ plebeu – plebeia
Ӳ ilhéu – ilhoa
Ӳ leão – leoa
73
Morfologia do Português
Esquema 1:
Esquema 2:
Esquema 3:
Esquema 4:
74
Flexão nominal CAPÍTULO 03
Além da alternância vocálica submorfêmica, ocorre um alarga-
mento (formação do ditongo [éi]). Exemplos: ateu ≠ atei-a (ateu → ateu-
a → ate-a → ateia), plebeu ≠ plebei-a, europeu ≠ europei-a, pigmeu ≠
pigmei-a etc.
Esquema 5:
Esquema 6:
Esquema 7:
Esquema 8:
75
Morfologia do Português
Além desses casos de subtração, citam-se réu ≠ ré, mau ≠ má, em-
bora não se enquadrem no mesmo esquema.
Esquema 9:
Esquema 10:
Esquema 11:
76
Flexão nominal CAPÍTULO 03
tra palavra (respectivamente, mulher, nora e égua) que possa suprir
essa lacuna. Trata-se de um processo supletivo (ou heteronímico), se-
gundo o qual uma forma supre a inexistência da outra.
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Morfologia do Português
Ӳ o lápis → os lápis
Ӳ o pires → os pires
Ӳ o cais → os cais
Ӳ o ônibus → os ônibus
Ӳ o xis → os xis
Ӳ o tórax → os tórax
Ӳ o ourives → os ourives
78
Flexão nominal CAPÍTULO 03
3.5.3 A descrição do número
Esquema 1:
Esquema 2:
Esquema 3:
Ocorre com os nomes terminados pelas consoantes /l/, /s/, /r/ e /z/.
Exemplos: mal → males, mês → meses, mar → mares, algoz → algozes
etc.
Esquema 4:
Ocorre com os nomes terminados em /al/, /el/, /ol/ e /ul/, que têm
um tema teórico em *lê, tais como: bananal (*bananale), anel (*anele),
anzol (*anzole), azul (*azule). Exemplos: capital → capitai-s, final → fi-
nais, coronel → coronéis, anel → anéis, farol → faróis, anzol → anzóis,
azul → azuis, paul → pauis etc.
79
Morfologia do Português
Esquema 5:
Ocorre com os nomes terminados em /il/, sendo /i/ uma vogal áto-
na. Exemplos: útil → úteis, fóssil → fésseis, ágil → ágeis, contábil → con-
tábeis, provável → prováveis etc.
Esquema 6:
Ocorre com os nomes terminados em /il/, sendo /i/ uma vogal tô-
nica. Exemplos: funil → funis, estudantil → estudantis, hostil → hostis
etc.
Esquema 7:
Esquema 8:
Os nomes em “ão” que não
se incluem nos esquemas T (R + VT) + DN + alomorfia da vogal temática (tema, mais desi-
7 e 8 descrevem-se de nência de número, mais alomorfia da vogal temática /o/ para /e/.)
acordo com os nomes do
esquema 1.
Ocorre com alguns nomes terminados em “ão”. Exemplos: pão →
pães, cão → cães, alemão → alemães, capitão → capitães etc.
80
Flexão nominal CAPÍTULO 03
3.6 Estrutura pronominal
Quanto à estrutura morfológica, nomes e pronomes são muito se-
melhantes. Sendo assim, pronomes flexionam-se em gênero (ele → ela,
teu → tua, nosso → nossa, algum → alguma, aquele → aquela etc.) e em
número (você → vocês, minha → minhas, este → estes, qual → quais
etc.), podendo ser descritos de acordo com os mesmos esquemas. Às
vezes, do mesmo modo que nos nomes, além da desinência que marca
o gênero ou o número, podem ocorrer alomorfias na raiz, representadas
da seguinte maneira:
a) Na formação do feminino:
b) Na formação do plural:
Se em tudo o que se disse até aqui nada difere os pronomes dos no-
mes, precisamos explicitar em que eles se diferenciam. Primeiramente,
observamos que, diferentemente dos nomes, os pronomes não se sub-
metem aos processos derivacionais, ou seja, aos pronomes não se pode
adicionar prefixos e sufixos. Dito de outra forma, os pronomes são sem-
pre constituídos de um morfema básico, primário. Além disso, de acor-
do com Monteiro (2002, p. 94), os pronomes podem ser distribuídos em
três categorias inexistentes para os nomes, a saber:
81
Morfologia do Português
a) gênero neutro
b) caso
PRONOMES
Retos Oblíquos átonos Oblíquos tônicos
eu me mim, (com)igo
tu te ti, (com)tigo
nós nos nós, (com)vosco
vós vos vós, (com)vosco
ele(s), ela(s) se, o(s), a(s), lo(s), la(s), si, (com)sigo, lhe(s),
no(s), na(s) ele(s), ela(s)
82
Flexão nominal CAPÍTULO 03
função de pronome, corresponde à primeira pessoa, pois indica
a pessoa que fala, mas a concordância também se faz na terceira
pessoa. Em resumo, têm-se realizações como: eu me explico, tu
te explicas, você se explica, a gente se explica, nós nos ex-
plicamos, vocês se explicam, eles se explicam. E, em certos
registros, tu se explica, nós se explicamos, nós se explica. As
alterações no sistema pronominal de sujeito coocorrem com alte-
rações no sistema flexional do verbo e no emprego de pronomes
relativos e possessivos.
c) pessoa
83
Morfologia do Português
PRONOMES
Substantivos Adjetivos
eu meu
tu teu
ele(s), ela(s) dele
nós nosso
vós vosso
isto este
isso esse
aquilo aquele
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Flexão nominal CAPÍTULO 03
alguém algum
ninguém nenhum
outrem outro
quem qual
tudo todo
Resumo do capítulo
Leia mais!
O Nome e suas Flexões. In: CÂMARA Jr, Joaquim M. Estrutura da lín-
gua portuguesa. Petrópolis/RJ: Vozes, 1979. p. 87-96.
Pessoa e Número, de José Lemos Monteiro. Disponível em: <http://www.
geocities.com/jolemos.geo/>. Acesso em: 29 maio 2008.
85
Morfologia do Português
86
Flexão verbal CAPÍTULO 04
4 Flexão Verbal
Na língua portuguesa, não são apenas os nomes e pronomes que se
submetem a processos de flexão. Verbos também se flexionam. Neste caso, as
desinências servem para indicar o modo, tempo, número e pessoa. Vamos ver
como isso acontece?
87
Morfologia de Português
TEMA DESINÊNCIAS
Verbo R VT DMT DNP
falávamos fal- -a- -va- -mos
escrever escrev- -e- -r Ø
trocam troc- -a- Ø -m
servisse serv- -i- -sse Ø
levemos lev- Ø -e- -mos
88
Flexão verbal CAPÍTULO 04
O infinitivo impessoal é: lav-a-r.
a) Modo indicativo
Ӳ presente
Ӳ pretérito perfeito
Ӳ pretérito mais-que-perfeito
Ӳ pretérito imperfeito
Ӳ futuro do presente
Ӳ futuro do pretérito
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Morfologia de Português
b) Modo subjuntivo
Ӳ presente
Ӳ pretérito imperfeito
Ӳ futuro
c) Formas nominais
Ӳ infinitivo impessoal
Ӳ infinitivo pessoal
Ӳ particípio
Ӳ gerúndio
90
Flexão verbal CAPÍTULO 04
4.2 Padrão geral de flexão verbal
A seguir, vamos examinar a segmentação dos verbos ditos regula-
res em todos os tempos verbais, nas três conjugações. O padrão geral
caracteriza-se pela ausência de modificações na raiz e regularidade no
uso de desinências modo-temporais e número-pessoais. Faremos uma
segmentação com base na primeira pessoa do plural e, logo após, apre-
sentaremos algumas observações importantes. As pessoas gramaticais
serão numeradas de P1 a P6, sendo as três primeiras do singular e as três
últimas do plural.
Observações:
91
Morfologia de Português
Observações:
c) Pretérito mais-que-perfeito
92
Flexão verbal CAPÍTULO 04
Observações:
Observações:
93
Morfologia de Português
e) Presente do indicativo
Observações:
Observações:
94
Flexão verbal CAPÍTULO 04
Ӳ Entre as DNP, registram-se [ste] na P2, [stes] na P5 e [u] na
P3, que são exclusivas deste tempo verbal. Considerando que
a DMT é zero, exceto em P6, deduz-se que essas DNP exclu-
sivas acumulam também a função de diferenciar o passado do
presente.
g) Presente do subjuntivo
Observações:
95
Morfologia de Português
Observações:
i) Futuro do subjuntivo
Observações:
96
Flexão verbal CAPÍTULO 04
d) Para fazeres o serviço cedo, é preciso esforço (infinitivo flexio-
nado).
Observações:
l) Formas nominais
Observações:
97
Morfologia de Português
98
Flexão verbal CAPÍTULO 04
dar [d-a]
passear [passe-a]
99
Morfologia de Português
100
Flexão verbal CAPÍTULO 04
4.4 Verbos irregulares ou desvios do padrão
geral
Já vimos que a flexão dos verbos retoma certos temas, a saber:
1) estar e dar
T1 = esta-r / da-r
T2 = estive-ste / de-ste
T3 = est-ou / d-ou
2) caber
T1 = cabe-r
3) cair
101
Morfologia de Português
4) crer e ler
cr + i + Ø + i = cr + i + Ø + Ø
5) dar
T1 = [da]
T2 = [de] (de-ste)
102
Flexão verbal CAPÍTULO 04
T2 = [disse], [fize], [trouxe]
7) estar
T1 = [esta]
T2 = [estive] (estive-ste)
8) verbos em -ear
Cinco verbos em -iar, por analogia, mudam o (i) em (ei) nas for-
mas rizotônicas: ansiar, incendiar, mediar, odiar e remediar.
9) ir
T1 = [i]
T2 = [fo]
T3 = [v] ~ [va]
103
Morfologia de Português
va i Ø Ø v Ø á Ø
va Ø Ø mos v Ø a mos
i Ø Ø des v Ø a des
vã Ø Ø o v Ø ã o
10) poder
T1 = [pode]
T2 = [pude]
T3 = [poss]
11) pôr
T2 = [puse]
T3 = [ponh]
presente do indicativo
R VT DMT DNP
ponh Ø Ø o
põ e Ø s
põ e Ø
po Ø Ø mos
pon Ø Ø des
põ e Ø m
12) querer
T1 = quere
T2 = quise
104
Flexão verbal CAPÍTULO 04
No presente do subjuntivo, o radical é alargado com a ditongação
do e → ei: quer(o) → queir(a). Note-se, no entanto, requeir(o), de re-
querer. Na terceira pessoa do singular do presente do indicativo, a vogal
temática é zero.
13) saber
T1 = [sabe]
T2 = [soube]
T3 = [sei]
14) ser
T1 = [se]
T2 = [fo]
T3 = [e]
No pretérito imperfeito: er - Ø - a - Ø
15) ter
105
Morfologia de Português
presente do indicativo
R VT DMT DNP
tenh Ø Ø o
ten Ø Ø s
tem Ø Ø Ø
te Ø Ø mos
ten Ø Ø des
tê Ø Ø m
16) Vir
presente do subjuntivo
R VT DMT DNP
presente do indicativo venh Ø a Ø
R VT DMT DNP
venh Ø Ø o pretérito perfeito
ven Ø Ø s R VT DMT DNP
vem Ø Ø Ø vim Ø Ø Ø
vi Ø Ø mos vi e Ø ste
vin Ø Ø des vei Ø Ø o
vê Ø Ø m vi e Ø mos
vi e Ø stes
vi e ra m
a) {val-} ~ {valh-}
b) {med-} ~ {meç-}
106
Flexão verbal CAPÍTULO 04
c) {ped-} ~ {peç-}
d) {perd-} ~ {perc-}
e) {ouv-} ~ {ouç-}
Idem consumir.
Leia mais!
Estrutura Verbal. In: ZANOTTO, Normélio. Estrutura mórfica da lín-
gua portuguesa. Caxias do Sul: EDUCS, 1986. p. 73-89.
Mecanismo da Flexão Verbal e Desvios do Padrão Geral. In: MONTEI-
RO, José Lemos. Morfologia portuguesa. Campinas/SP: Pontes, 2002.
107