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TestePreparação-Fernando Pessoa (Ortónimo)

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Teste-Preparação: Fernando Pessoa (Ortónimo)

12.º ano

GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

A
Leia o poema.

Ah, que maçada o piano


Eternamente a tocar
Lá em cima, no outro andar!

Ah, que tristeza o cessar!


Sempre era gente a tocar!
Sempre tinha companhia
Nessa constante arrelia.

Vizinha, se não morreu,


Que aquele piano seu
Volte de novo a maçar!
Sem ele penso e sou eu,
Com ele esqueço a sonhar…

Má música? Sim, mas há


Até na música má
Um sentimento de alguém.
Não sei quem o sente ou dá,
Não sei quem o dá ou tem.

Não deixe de me maçar


Com o contínuo tocar
Do seu piano frequente.
Ah, torne-me a arreliar
E mace-me eternamente!

A quem é só, tudo é mais


Que o que está naquilo que é.
Notas falsas, desiguais —
Não se importe: a minha fé,
Meu sonho, vão a reboque
Do que toca mal e até
Do piano, do não sei quê…
Toque mal; mas toque, toque!

Fernando Pessoa, Poesia do Eu, edição de Richard Zenith, 2.ª ed.,


Lisboa, Assírio & Alvim, 2008, pp. 313-314

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Teste-Preparação: Fernando Pessoa (Ortónimo)
12.º ano

1. Explique o modo como o sujeito poético perceciona o som do piano, de acordo com o
conteúdo das duas primeiras estrofes.

2. Explicite o sentido dos versos «Sem ele penso e sou eu, / Com ele esqueço a sonhar…» (vv.
11-12).

3. Refira três das marcas linguísticas que, a partir da terceira estrofe, sugerem a existência de
um diálogo e transcreva um exemplo de cada uma dessas marcas.

Leia, atentamente, o texto a seguir transcrito.

Em toda a noite o sono não veio. Agora


Raia do fundo
Do horizonte, encoberta e fria, a manhã.
Que faço eu no mundo?
Nada que a noite acalme ou levante a aurora,
Coisa séria ou vã.

Com olhos tontos da febre vã da vigília


Vejo com horror
O novo dia trazer-me o mesmo dia do fim
Do mundo e da dor
Um dia igual aos outros, da eterna família
De serem assim.

Nem o símbolo ao menos vale, a significação


Da manhã que vem
Saindo lenta da própria essência da noite que era,
Para quem,
Por tantas vezes ter sempre ’sperado em vão,
Já nada ’spera.

Fernando Pessoa, Poesias, 15.ª ed., Lisboa, Ática, 1995

Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. Caracterize os momentos temporais representados na primeira estrofe do poema.

2. Refira um dos sentidos produzidos pela interrogação «Que faço eu no mundo?» (v. 4).

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Teste-Preparação: Fernando Pessoa (Ortónimo)
12.º ano

3. Atente nos três primeiros versos da terceira estrofe. Explicite, sucintamente, a relação entre
a «noite» e a «manhã» estabelecida nos versos 14 e 15.

4. Tendo em conta todo o poema, identifique duas das razões do sentimento de «horror»
referido no verso 8.

Leia o poema.

Suavemente grande avança


Cheia de sol a onda do mar;
Pausadamente se balança,
E desce como a descansar.

Tão lenta e longa que parece


De uma criança de Titã
O glauco seio que adormece,
Arfando à brisa da manhã.

Parece ser um ente apenas


Este correr da onda do mar
Como uma cobra que em serenas
Dobras se alongue a colear.

Unido e vasto e interminável


No são sossego azul do sol,
Arfa com um mover-se estável
O oceano ébrio de arrebol.

E a minha sensação é nula,


Quer de prazer, quer de pesar...
Ébria. de alheia a mim ondula
Na onda lúcida do mar.

Fernando Pessoa, Cancioneiro, Comp. José Aguiar, Rio de Janeiro, 1972

1. O poema transmite impressões causadas pelo movimento do mar. Descreva as


impressões transmitidas. Justifique-o com expressões do texto que personifiquem esse
movimento.

2. “Como uma cobra que em serenas/ Dobras se alongue a colear.” (vv. 11 e 12)
Identifique os recursos expressivos dos versos e comente a sua expressividade.

3. Justifique a constituição do título, através de expressões textuais.

4. “Parece ser um ente apenas” (vv.9).

Explicite o sentido do verso transcrito. Transcreva um adjetivo presente no poema que


exprima o mesmo significado.

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Teste-Preparação: Fernando Pessoa (Ortónimo)
12.º ano

5. O cenário descrito não deixa marcas emotivas no “eu” poético. Comprove a afirmação
com marcas textuais.

6. Indique marcas características da poesia do ortónimo de Fernando Pessoa, presentes


no poema.

D
Leia o poema.

Ao ver o neto a brincar,


Diz o avô, entristecido:
ʺAh, quem me dera voltar
A estar assim entretido!

ʺQuem me dera o tempo quando


Castelos assim fazia,
E que os deixava ficando
Ás vezes p’ra o outro dia;

ʺE toda a tristeza minha


Era, ao acordar p’ra vê-lo,
Ver que a criada já tinha
Arrumado o meu castelo. ʺ

Mas o neto não o ouve


Porque está preocupado
Com um engano que houve
No portão para o soldado.

E, enquanto o avô cisma, e, triste,


Lembra a infância que lá vai,
Já mais uma casa existe
Ou mais um castelo cai;
E o neto, olhando afinal,
E vendo o avô a chorar,
Diz, ʺCaiu, mas não faz mal:
Torna-se já a arranjar. ʺ

Fernando Pessoa in “Tesouro” | 1934


Escrita original

1. Distingue as duas tristezas do avô referidas no poema.

2. Explicita a conceção de infância presente no poema.

3. Justifica o choro do avô- presente na última estrofe.

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12.º ano

GRUPO II
Escreve um texto expositivo para cada um dos temas abaixo sobre a poesia do ortónimo de
Fernando Pessoa:

Tema A

"A arte é o resultado da colaboração entre o sentir e o pensar."


Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias

Num texto de 80 a 130 palavras, desenvolva esta ideia, a partir das suas impressões de leitura
da poesia de Fernando Pessoa ortónimo.

Tema B

"O ato poético por excelência, diz Pessoa, resulta de um processo de despersonalização de
emoções e sentimentos, não necessariamente coincidentes com os do artista, implicando, no
mais alto grau, o desdobramento do autor em várias personalidades poéticas."
Maria Teresa Schiappa de Azevedo, "Em torno do Poeta fingidor", in Os Rostos de Pessoa

Num texto de 80 a 130 palavras, exponha a sua perspetiva de leitura, a partir da análise do
pensamento transcrito.

Tema C

"A infância que lembramos não é, portanto, a infância que tivemos, mas uma representação
atual da infância; nem é preciso ter vivo uma infância feliz para que a infância seja para nós
uma idade feliz."
Jacinto Prado Coelho, Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa, Lisboa, Editorial Verbo, 1985, p. 91

A partir da citação apresentada, explica a importância do tema da infância mítica na poesia de


Pessoa ortónimo, baseando-te na tua experiência de leitura.

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Teste-Preparação: Fernando Pessoa (Ortónimo)
12.º ano

GRUPO III

Leia o texto.

A beleza pode ser consoladora, perturbadora, sagrada ou profana; pode revigorar,


atrair, inspirar ou arrepiar. Pode afetar-nos de inúmeras maneiras. Todavia, nunca a olhamos
com indiferença: a beleza exige visibilidade. Ela fala-nos diretamente, qual voz de um amigo
íntimo. Se há pessoas indiferentes à beleza, é porque são, certamente, incapazes de a
perceber.
No entanto, os juízos de beleza dizem respeito a questões de gosto e este pode não ter
um fundamento racional. Mas, se for o caso, como explicar o lugar de relevo que a beleza
ocupa nas nossas vidas e porque lamentamos o facto – se disso se trata – de a beleza estar a
desaparecer do nosso mundo? Será verdade, como sugeriram tantos escritores e artistas
desde Baudelaire a Nietzsche, que a beleza e a bondade podem divergir e que uma coisa pode
ser bela precisamente por causa da sua imoralidade?
Além disso, uma vez que é natural que os gostos variem, como pode o gosto de uma
pessoa servir de critério para aferir o de outra? Como é possível dizer, por exemplo, que um
certo tipo de música é superior ou inferior a outro, se os juízos comparativos refletem apenas o
gosto daquele que os faz?
Este relativismo, hoje familiar, levou algumas pessoas a rejeitarem os juízos de beleza
por serem puramente «subjetivos». Os gostos não se discutem, argumentam, pois, quando se
critica um gosto, mais não se faz do que expressar um outro; assim sendo, nenhum
ensinamento ou aprendizagem pode vir de uma «crítica». Esta atitude tem posto em questão
muitas das disciplinas que tradicionalmente pertencem às humanidades. Os estudos de
arte, música, literatura e arquitetura, libertados da disciplina imposta pelo juízo estético, dão a
sensação de terem perdido a sustentação firme na tradição e na técnica, que tinha levado os
nossos predecessores a considerarem-nos nucleares ao currículo. Daí a atual «crise das
humanidades»: haverá alguma razão para estudar a nossa herança artística e cultural, se o
juízo acerca da sua beleza é destituído de alicerces racionais? Ou, se resolvermos estudá-
la, não deveria esse estudo ser feito com um espírito cético, questionando as suas pretensões
ao estatuto de autoridade objetiva, desconstruindo a sua pose de transcendência?
Roger Scruton, Beleza: Uma Muito Breve Introdução, trad. Carlos Marques, Lisboa, Guerra & Paz, 2023, pp.
9-10.

1. Segundo o autor, é impossível ser indiferente à beleza,


(A) sempre que quem a observa entende o que essa beleza comunica.
(B) pois está inequivocamente associada a valores reconhecidos pela sociedade.
(C) dado o seu carácter simultaneamente sagrado e profano.
(D) porque todos os seres humanos interpretam essa beleza da mesma maneira.

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Teste-Preparação: Fernando Pessoa (Ortónimo)
12.º ano

2. As interrogações utilizadas, no segundo e no terceiro parágrafos, constituem uma estratégia


argumentativa que visa:
(A) exprimir as dúvidas do autor do texto.
(B) suscitar a reflexão sobre o tema abordado.
(C) embelezar estilisticamente o discurso.
(D) pôr em causa o conceito de beleza.

3. De acordo com o texto, a «atual “crise das humanidades”» (linhas 22 e 23) é motivada pela:
(A) rejeição do relativismo inerente aos juízos estéticos subjetivos.
(B) subjugação dos juízos de valor à herança artística e cultural.
(C) desvalorização do rigor crítico que deve reger o juízo estético.
(D) recusa do espírito cético que contesta o conceito de beleza.

4. Nas expressões «qual voz de um amigo íntimo» (linha 3) e «alicerces racionais» (linha 24)
está presente:
(A) uma metonímia, no primeiro caso, e uma hipérbole, no segundo caso.
(B) uma comparação, no primeiro caso, e uma metáfora, no segundo caso.
(C) uma comparação, no primeiro caso, e uma metonímia, no segundo caso.
(D) uma metonímia, no primeiro caso, e uma comparação, no segundo caso.

5. Todos os vocábulos e expressões abaixo apresentados contribuem para a coesão


interfrásica, exceto:
(A) a expressão «Além disso» (linha 11).
(B) o vocábulo «Todavia» (linha 2).
(C) a expressão «No entanto» (linha 5).
(D) a expressão «Esta atitude» (linha 18).

6. Todos os constituintes sublinhados desempenham a função sintática de complemento do


adjetivo, exceto em:
(A) «indiferentes à beleza» (linha 4).
(B) «incapazes de a perceber» (linha 4).
(C) «juízos de beleza» (linha 5).
(D) «inferior a outro» (linha 13).

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12.º ano

7. Os vocábulos «que», na linha 12 e na linha 19, são


(A) um pronome, no primeiro caso, e uma conjunção, no segundo caso.
(B) pronomes, em ambos os casos.
(C) conjunções, em ambos os casos.
(D) uma conjunção, no primeiro caso, e um pronome, no segundo caso.

GRUPO IV

O cartoon aqui representado é da autoria do ilustrador


Juan Cavia, e reflete sobre a ausência do silêncio nas
sociedades contemporâneas.

Numa apreciação crítica de duzentas a trezentas e


cinquenta palavras:

- A descrição do cartoon;

- O significado pretendido pelo cartoonista;

- A tua opinião sobre o tema retratado, e se discordas ou


concordas com a critica pretendida.

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