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que outras há muito se ufanavam e outras ainda levavam, por
essa altura, aos últimos limites (Proust, Joyce, Gide, Huxley,
Lawrence, etc.) é combate de quem gosta de dar tiros certeiros
nos próprios pés.
Por outro lado, a literatura da Presença — e não só a de
Régio — intersectava muitos outros pelouros que muito lhe
complicavam e enriqueciam o perfil e a substância. Os «valores»
de Serpa, Navarro, Bugalho, Casais, Branquinho, Régio — e
mesmo Simões —, visitam áreas e interesses que nada têm que
ver com a psicologia. Mas é singularmente míope que o acinte
tenha particularmente visado uma obra como a de Régio, que
vigorosamente intersecta o social, o político, o moral, o metafísico,
o simbólico, o místico, etc. Por outro lado, ainda, não é curial
esquecer textos doutrinários que, na presença, conferiram inteira
«liberdade de espírito» aos seus colaboradores e aos artistas em
geral: a arte de comprometimento político ou religioso ou outro
que fosse, disse-o Régio ad nauseam, tem todo o direito de cidade,
desde que obedecendo a um mandato interior — autêntico —
do próprio artista.
Seja como for, Elói, bem como quase toda a literatura ficcio-
nal de Simões, pertence também (mas não só) à categoria de
literatura de introspecção. Num total de oito espécies (sete roman-
ces e uma colectânea de contos), a ficção de Simões não pode
considerar-se um aspecto marginal da sua obra, embora o crítico,
o ensaísta, o biógrafo e o historiador de literatura sejam respon-
sáveis por um enorme débito que, para muitos, ofusca quase por
completo o autor de ficções. Injustamente, mas compreensi-
velmente.
Para esta semiofuscação muito terá contribuído também a
curiosa campanha de autodenegrimento, como ficcionista, desen-
cadeada pelo autor de Elói. Lançado, durante anos, numa incan-
sável «pedagogia» da falta de vocação dos portugueses para a
ficção, Simões dava-se como exemplo de um fracasso que, no
fim de contas, não era só dele, mas de todos os filhos de Camões...
«Não somos dotados com o génio do romance», observava, por
exemplo, no Caderno de um Romancista (p. 180), ou, ainda no
mesmo livro: «O português só sabe escrever histórias de que é
protagonista. Só com dificuldade consegue extrair de uma série
de pequenas ou mínimas experiências uma obra compacta,
desdobrada, objectiva — um romance» (pp. 69-70). Durante três
porfiados anos, no Diário de Lisboa, o futuro autor de Pântano
irá debater o problema da viabilidade de um romance português,
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concluindo pela negativa: «que o português não é dotado com
aquilo a que poderemos chamar, por comodidade — o génio do
romance» (Caderno de um Romancista, p. 179). Simões, dando
de barato a obra de Eça, de Camilo, Malheiro Dias, ou a que
ele próprio trazia no ventre, sem falar na que já publicara, apoia-
-se no mot de Stendhal — «um povo só é grande num género
de cada vez» — e não arreda pé da sua convicção que faz eco
do próprio Camilo: «Confessemos todos, em voz alta, uma dolo-
rosa verdade. Nós, os Portugueses, não nos ajeitamos com o
romance.» Stendhal era fácil de contradizer: a literatura inglesa
era grande, pelo menos, em quatro géneros: ficção, teatro, poesia
e ensaio. A literatura russa, no século XIX, dera-nos grande ficção
e grande teatro, deixando agora de lado a poesia de Pushkine.
A França, além de grandes moralistas e dramaturgos, dera-nos
uma ficção que compreendia Balzac, Stendhal e Proust (entre
outros...) e uma poesia que nos ofereceu Villon, Ronsard, Du
Belay, Hugo, Baudelaire e Rimbaud. É certo que Gide duvidava
da vitalidade do romance francês e achava que o maior poeta
da França era Victor Hugo, hélas! Mas Gide tinha as suas per-
versidades e gostava de mostrar que lia bem inglês e era sensível
ao tónus vigoroso da «English poetry». Por outro lado, Balzac
não era Tolstoi e Stendhal não era Dostoievsky.
Seja como for, João Gaspar Simões jogava jogo limpo: ao
afirmar que o português não tinha «green fingers» para a agri-
cultura do romance, oferecia ao leitor a perspicácia da sua pró-
pria experiência: ele falava de um ofício que sabia de um saber
de experiências feito. Em 1927, a romancista Virginia Woolf,
referindo-se a dois livros recentes sobre a arte da ficção (o pós-
tumo de Sir Walter Raleigh, Some Authors, e o hoje célebre The
Craft of Fiction, de Percy Lubbock) e fazendo alusão ao facto
de nenhum dos autores ser praticante do ofício da ficção, decla-
rava, com ironia, que faziam um pouco de cerimónia com «ela
[a ficção]» porque «ambos, sentia-se, tinham grande conhecimento
dela, mas não muita intimidade com ela». Gaspar Simões, ao
falar de ficção, estava a falar de algo com que tinha grande inti-
midade. Aí ia, pois, colher autoridade. A verdade é que nos dá,
nos seus textos sobre a arte da ficção (e o ofício da ficção), a
par de afirmações discutíveis ou até inaceitáveis, páginas de
grande perspicácia, como só poderia fazê-lo, em relação à ficção,
alguém «muito da casa». Numa conferência feita no Salão do
Teatro de S. Luís em 8 de Fevereiro de 1947 e mais tarde publi-
cada com o título A Arte de Escrever Romances, o autor de
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Amigos Sinceros tem passagens notabilíssimas sobre o «aprovei-
tamento» que o autor de romances faz das suas emoções pessoais
para uso na complexa estrutura da prosa ficcional. «Integrar»,
diz, por exemplo, «uma experiência pessoal num quadro nove-
lístico é o que há de mais difícil e de mais decisivo como prova
do verdadeiro talento do romancista.» Ou, ainda, tocando a mesma
tecla: «Eis o ponto mais delicado da arte de escrever romances.
A passagem da experiência emocional do escritor para a expe-
riência emocional das suas personagens sem que se estabeleça
uma relação directa entre as circunstâncias da vida delas e as
circunstâncias da vida dele — é a prova decisiva do talento do
romancista» (A Arte de Escrever Romances, p. 21).
Nesta notabilíssima conferência, João Gaspar Simões oferece
dois exemplos singulares da transmutação de um profundo abalo
emocional «em valores de drama, de conflito, de acção ou de
intriga». Os dois autores exemplificados são: Eça de Queirós,
de que uma perturbadora experiência nocturna, em Coimbra,
terá estado na origem do «tema fundamental de toda a sua obra:
a impossibilidade trágica de consumar o amor, a espada de fogo
que separa o Padre Amaro de Amélia, Carlos Eduardo de Maria
Eduarda, Basílio de Luísa, a rapariga loira de Macário, e assim
por diante», e Oscar Wilde, que traduziu um encontro e uma
experiência pessoal com o pintor Ward no drama alegórico, bri-
lhante, perverso e dilacerante que tem lugar nas páginas do
romance O Retrato de Dorian Gray.
Esta intimidade com a forja do romance experimentou-a o
escritor, pela primeira vez, com a elaboração de Elói. Se o livro
— vinte e quatro horas no interior de um ciumento — acusa
ainda, na sua factura, muito da inexperiência do autor, ele
oferece-nos, também, desde logo, páginas que são fruto da fina
intuição psicológica que nos dará passagens penetrantes em
romances como Pântano ou O Marido Fiel, e em páginas sobre
Eça de Queirós ou Pessoa e em tanto folhetim de crítica da sua
vasta obra de crítica e ensaísta. São altamente significativas,
por exemplo, em Elói, as passagens em que, no momento em que
o protagonista bate no fundo do desespero, da humilhação e da
degradação, lhe sobem à consciência cenas da infância — esse
paraíso perdido. Esta coincidência manifesta-se por mais de uma
vez... É que, para João Gaspar Simões — e apesar de toda a
guerrilha que, por isto, lhe foi movida por neo-realistas e não
só —, a verdade psicológica das personagens era um ingrediente
não dispensável desde que se tratasse de romance de personagens!
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Numa «Carta aos novos romancistas portugueses», que tem, como
pretexto, uma reacção de Joaquim Paço d’Arcos a uma crítica
de Simões ao romance Ana Paula, o autor de Pântano nota com
vigor: «As objecções que eu tenho feito aos romancistas portu-
gueses resumem-se, principalmente, no seu pouco respeito pela
verdade psicológica das personagens.» (O sublinhado é de J. G.
S.) E, mais adiante, insiste, implacável: «A verdade humana das
personagens de um romance é uma exigência fundamental de
toda e qualquer estética do romance.» Poder-se-á argumentar
com fundamento — e já o temos feito — que certas modalidades
de romance poderão ser pouco ou muito pouco exigentes quando
se trate da espessura psicológica das personagens. Mas se, por
exemplo, o romance de aventuras não deve embaraçar-se com
demasiadas minúcias ou labirintos psicológicos, uma total inve-
rosimilhança na estrutura psíquica das personagens produzirá,
no leitor, no mínimo, algum desconforto... Com Elói, João Gaspar
Simões faz uma declaração de convicções: a introspecção é um
valor perene, dependendo o seu doseamento do tipo de romance.
Ainda na carta referida acima, ele afirma: «o romance intros-
pectivo não é um fenómeno dos nossos dias. O romance introspec-
tivo já vem do meado do século passado [XIX]. Pode ir buscar-se
ao século XVIII francês. E não acham os romancistas portugueses
que seria vantajoso para a literatura nacional o aparecimento
entre nós de alguns romances introspectivos?» Com Elói, Simões
deu a primeira resposta. A que se seguiram O Marido Fiel, Ami-
gos Sinceros e o inesquecível Pântano. Hoje, a pergunta já não
se faz. Mas ficou a atravancar o percurso crítico em Portugal,
por muitos e bons anos. E alguma história literária ainda per-
siste em falar, como de um defeito vergonhoso, no «psicologismo
da Presença».
EUGÉNIO LISBOA
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ELÓI
ou romance numa cabeça
1.ª edição: Presença, 1932.
2.ª edição: Coimbra Editora, 1941.
3.ª edição: Arcádia, s. d. (1959?).
4.ª edição: Publicações Europa-América, 1983.
5.ª edição: a actual.
CAPÍTULO I
MANHÃ
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Raciocina ou não? Nisto, sente alguma coisa quente, volumosa
e imóvel, ao seu lado. Volta a perguntar a si mesmo: «Que será?»
De repente, porém, percebe que se trata de outro corpo. Tem
a impressão indistinta de que «aquilo» lhe não pertence. «Mas,
que será?», interroga ainda. E, pouco a pouco, vai compreen-
dendo. Consegue mexer-se já como um todo. Alguém pergunta:
— Que tens, Elói?
Ao princípio não percebe, embora as palavras lhe tenham
chegado ao ouvido como se tivessem atravessado um meio muito
mais acessível à transmissão do som do que o ar. A voz deve
ter ultrapassado a velocidade de 340 metros por segundo. Re-
pete-se:
— Que tens, Elói?
Será uma nova interrogação? Será a mesma? Lentamente,
sente a cabeça sair-lhe do nevoeiro que a envolve. Devagar, com
vontade de ser natural, responde:
— Não tenho nada...
E, sem mesmo findar a última sílaba, compreende. Acaba
de acordar.
— Não tenho nada — responde naturalmente. — Será
manhã?
— Talvez. Dorme; ainda deve ser cedo.
Manuela obriga-o a continuar deitado. Muito embrulhado
nos lençóis, Elói experimenta, então, essa desagradável lem-
brança da vida que o espera lá fora.
Lembra-se do escritório, do patrão, que barafusta no meio
da casa, de pernas alargadas e braços atirados para o ar; vê-
-lhe mesmo os lábios despegando-se como as folhas húmidas
da tipografia em que se passam as facturas do armazém. Enche-
-se de desgosto. O que há instantes era uma coisa desgarrada,
incerta, volta, de novo, a ser o local de paixões, de angústias,
de subserviências ridículas. Caetano Ramos, o patrão, aparece-
-lhe outra vez em toda a sua omnipotência, berrando na cara
dos empregados: «Bestas! Grandessíssimas bestas!...»
Contudo, talvez ainda seja muito cedo. O calor da cama, o
conforto dos colchões e aquele corpo, macio e tépido, convidam-no
a esquecer. O dia ainda vem longe. E as pernas de Elói pro-
curam as de Manuela.
Elói sabe que a amante ainda dorme, ou, se não dorme, tem
sono, mas não resiste à tentação. Uma força maior do que toda
a sua delicadeza impele-o. Sim, ele não lhe desconhece a fadiga
nem a sonolência; não lhe desconhece mesmo a frieza. Sabe até
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que aquela fadiga e aquela necessidade de repouso estão a ser
multiplicadas pelo pressentimento de que ele a deseja. Apesar
disso, insiste. Procura-a entre esperança e desalento. É sempre
assim. Quando as pernas se cruzarem, Elói acabará por ceder
à compreensão da repugnância que ela experimenta. «Repug-
nância, sim», parece dizer-se a si mesmo. Acabou-se. Já lhe não
interessa o corpo de Manuela. Como tudo ajuda a complicar a
sua recém-chegada consciência da vida! Por que não ter ficado
para sempre perdido, afogado, naquela água dos sonhos que nos
torna leves, fantásticos, ausentes?
Manuela percebeu tudo. O retraimento imprevisto de Elói
descobriu-lhe o seu próprio retraimento. E Manuela não quer
que o amante a suponha retraída.
Volta-se na cama, tentando enleá-lo:
— Então?
— Então, quê? — imita Elói.
— Por que fugiste?
— Fugir, eu? — torna, fingindo indiferença.
— Sim, tu.
— Estás enganada...
Procura colar o corpo ao do amante, que lhe sente os seios
premidos contra as costas. Resiste. Resiste, principalmente, por-
que não é capaz de esquecer que tudo aquilo é forçado.
Manuela não desanima. Deixa escorregar um braço entre
a cabeça de Elói e a almofada e poisa-lhe os lábios frios no pes-
coço. Ele fica imperturbável. «Bem sei, conheço-te. Tens feito
isso centenas de vezes», murmura para si mesmo. Todavia, a
própria certeza de que o ataque de Manuela é uma complacência
fá-lo estremecer de maneira nervosa e deprimente.
Manuela já lhe não interessa. Ali, aos pés da cama, estão
os seus sapatos cambados, as suas meias pontiadas. É preciso
calçar-se para sair. Procura mesmo convencer-se de que são
horas; o sol deve já brilhar alto no horizonte. Mas a amante
não desiste. Elói percebe que ela começa a inquietar-se com a
sua indiferença. Há pequenos movimentos das suas mãos que
ele interpreta como sinais de desgosto. Já não deve haver só
cálculo na sua provocação, deve haver, também, angústia.
É fácil o triunfo. Elói vai levantar-se, dizer-lhe que são horas.
O corpo, todavia, não se lhe desprende da cama.
Pelo seu lado, Manuela precisa de ganhar a partida. Quer
mostrar-lhe — como sempre — que não é verdade o que ele
supõe e que os seus braços continuam a ser fortes. Elói, pelo
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menos, assim o julga, e apesar disso sente-se incapaz de partir,
deixando-a naquela irritação. Inclina-se a condescender. Revolta-
-se: mas não pode resistir.
Vira-se na cama. Aperta-lhe os braços macios, que o estrei-
tam pelo pescoço, comprime-lhe os lábios contra os dele e parte...
Finge que desfalece. Os dois, enganados, pensadamente exci-
tados pelo estremecimento dos membros que se debatem, se
estreitam, se torcem, talvez com ódio, talvez com amor, impa-
cientes por se livrarem um do outro, mergulham num espasmo
violento e traiçoeiro. Pensam todos os gestos, calculam todos
os gemidos, um e outro profundamente revoltados consigo pró-
prios. A boca sabe-lhes mal. Elói sente-se indigno de si mesmo,
embora conserve a vaga consciência de ter sido bom. Que será
Manuela para ele? Amá-la-á, ainda? E, enquanto se abandona
outra vez, de olhos fechados, ao sossego dos lençóis, passam-
-lhe pela mente as lembranças de Manuela. Diante dele está
a caixa registadora National e no vidrinho dos registos os núme-
ros 4 5 0. Quatro escudos, cinquenta centavos. Um sabonete.
Elói acaba de comprar um sabonete. Detrás da caixa surge uma
mão fina. Elói espreita. Está ali uma mulher que o faria feliz.
Por que continua só no mundo? E enquanto as notas lhe passam
para a mão, mergulha os olhos abstractos nos olhos da mulher.
Manuela sorri. Uma moeda cai. É um momento: tornou a apa-
nhá-la. No dia seguinte volta. Volta muitos dias. Agora já ela
o conhece. «O Sr. Elói deseja?..., o Sr. Elói precisa?..., como
queira, Sr. Elói...» Não pode passar sem aquilo. É uma música
celestial. Volta sempre, todos os dias. Encontram-se pela pri-
meira vez à saída da loja. «Dá licença? Posso acompanhá-la?»
«Por que não?» E subiram muitas tardes a Rua do Pinhal. Ela
fechava a cancela de madeira; conversavam um bocadinho recos-
tados na madressilva. «Adeus.» «Adeus.» Num dia de folga foram
mais longe. Passaram a Fonte do Castanheiro. Embrenharam-se
na várzea, sentaram-se naquele recanto sossegado de onde se
vê correr um regato no fundo. Havia silêncio. A voz dela tre-
mia. Confessou-lhe: enviuvara. Não queria casar. Não. Para quê?
Era preferível ficar toda a vida assim. Engrácia, a sua melhor
amiga, tratava-a como irmã. O velho capitão Flaviano tratava-a
como um pai. Elói pegou-lhe nas mãos, pediu-lhe que o não
deixasse. As bocas encontraram-se-lhes, os corpos caíram por
cima do musgo, que sujou de verde o vestido de étamine. Que
silêncio! Nada perturbaria aquela paz. Contudo, dentro da sua
alma, Elói sentia um vácuo. Nada era verdade. O amor não
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ÍNDICE
Um romance introspectivo,
por EUGÉNIO LISBOA ....................................................................... 7
ELÓI
ou romance numa cabeça
PÂNTANO
381
CAPÍTULO XI — Mais sinuosidades... ................................................ 302
CAPÍTULO XII — Voltemos ao Café ................................................... 312
CAPÍTULO XIII — Rita ......................................................................... 325
CAPÍTULO XIV — Desespero ............................................................... 334
CAPÍTULO XV — Dois pobres românticos ......................................... 346
CAPÍTULO XVI — Despedida ao luar ................................................. 353
CAPÍTULO XVII — Confissão ............................................................... 364
CAPÍTULO XVIII — A vida tem momentos belos... ......................... 372
382