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Sedução Amarga

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COPYRIGHT © 2024 MAITÊ ALBUQUERQUE

Todos os direitos desta edição reservados para a autora.

Capa
Bruna Silva

Revisão

Diagramação
Heloísa Batistini

É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por


qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos
xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão de seu editor
(Lei 9.610 de 19/02/1998).
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação do autor qualquer semelhança com
acontecimentos reais é mera coincidência.
Dedicatória
Prólogo
1: Mães exageradas
2: Príncipe Naveen
3: Idiota Convencido
4: Cabernet Sauvignon
5: Caixa de Metal
6: Talento de persuasão
7: Hormônios Acumulados
8: Sua filha é solteira?
9: Reuniões indesejadas
10: Sonho Erótico
11: Igualzinha a 5 anos atrás!
12: Dia de Merda
13: Garoto Abusado
14: Você merece muito mais que isso!
15: Chupão
16
17: Balões de coração
18: Confuso
19: Ciúmes?
20: Ela aceitaria?
21: Sem sono?
22: Birra Besta!
23: Olhos atenciosos
24: Hipótese namoro
25: Alguém verdadeiro
26: Vinho seco ruim
27: Calcinha vermelha
28: Falso do Caralho
29
30: Fujona
31: Preparado?
32
33: Decisão involuntária
34: Amor
35: Viagem surpresa
36: Eu não planejei isso
37: 4 meses depois
38: Acredita em mim
39: Não se mexe com um Magalhães!
40: Festa de Natal
41
42: Duas-caras!
43: Érika
44: Prova Essencial
45: Me perdoa!
46: Lute!
47: Jantar convencional
48: Sobre o "quanto" você me ama!
49: Sentimento de culpa
50: Meu entretenimento
51: Cadê os seus brincos?
52: Perfect
53: Melzinho
54: Mergulho?
55: Morangos e piano
56: Bolinha
57: Meraki
58: Nova página
59: Esmeralda
Epílogo
Agradecimentos
Dedico este livro para todas as leitoras que, assim como eu, são umas
verdadeiras “santas do pau oco”, que amam esses livros de putaria, mas os
mantêm escondidos a sete chaves do resto do mundo.
Bem-vindas ao meu universo de personagens sarcásticos, com
sorrisos maliciosos e senso de humor excitante. Cruzem bem as pernas para
sentir melhor cada palavra, porque, a partir de agora, eu lhes desejo uma
leitura muito quente e emocionante, queridas santinhas!
Sexo e dinheiro são dois dos maiores fatores que movimentam o
mundo.
Não adianta me dizer que o amor também está inserido nessa
categoria de “coisas importantes”, porque não está. E, pior ainda, nunca
esteve.
Você sempre tem que ter algo para mostrar, pode ser o seu corpo ou a
sua conta bancária. Isso lhe dá poder e oportunidades na vida. Quando você
já nasce no meio do dinheiro, aprende a se defender de muitas coisas.
Comigo não foi diferente.
Acredite, eu tenho motivos suficientes para pensar que o amor é um
zero à esquerda quando falamos sobre fortunas e promiscuidades do sexo e
acabar aqui, fazendo o que eu estou fazendo neste exato momento, que nada
mais é do que vasculhar como uma ladra o celular do meu namorado.
Mas, Hanna, você chegou a essa conclusão apenas agora enquanto
olhava o celular do seu amado?
Infelizmente, eu fui avisada pelo meu pai desde pequena sobre toda
essa soberba envolvida com o dinheiro, e não acreditei nele. Então, sim,
exatamente agora eu percebi que os avisos de “cuidado com quem você
coloca na nossa família, minha filha!” não foram em vão. Também não é à
toa que o ponteiro do relógio martela em meu ouvido, me denunciando como
criminosa, só para me deixar ainda mais nervosa a cada segundo badalado.
As pontas dos meus dedos suam sob a tela do celular enquanto eu
verifico cada mensagem que tem ali, na esperança de encontrar respostas
dentro do curto período de tempo que tenho. Acesso o aplicativo de
conversas com uma leve tremedeira nas mãos e clico exatamente no grupo de
futebol e… pronto, aí está, homens e mais homens desprezíveis.
Ter confiança no seu instinto é a melhor escolha a se fazer em
qualquer situação, porque eu encontrei milhares e milhares de mensagens que
me deixaram totalmente atordoada e com o estômago aflito.
Não tinha como negar o que os meus olhos estavam lendo.
Tudo não passou de uma aposta de interesse!
Aqui, retornamos ao que eu citei no começo: patamares de poder
podem acabar com a sua saúde mental. Nunca deseje algo que você não está
preparado para ter. Eu infelizmente não pude escolher, nasci com essa
decisão tomada.
Estava me remoendo por dentro e sentindo todo aquele sentimento do
primeiro amor se tornando uma grande pedra de gelo ao passar dos segundos,
enquanto o nojo se formava em meu estômago, a cada mensagem asquerosa,
e uma lágrima contida descia por minha face. Minha desconfiança só crescia
mais e mais nos últimos dias. Suas atitudes recentes mostravam aos poucos a
verdadeira face de interesseiro, e ter acreditado nesse idiota por um ano só me
deixava ainda pior, porque o amor é genuíno — ele não pensa mal e nem
desconfia. Eu sabia dentro do meu peito que poderia fazer de tudo por esse
homem, pelo menos até ler aquelas mensagens.
Comecei a namorar o Matheus na faculdade. Não foi um
relacionamento rápido, eu sempre fui muito receosa por causa da quantidade
de conselhos que recebia do meu pai sobre a maldade que existe no mundo
em volta do dinheiro; então, eu o deixei fazer de tudo para me conquistar e,
após meses de atos românticos, já estava, enfim, encantada, a ponto de
decidir aceitar o seu pedido de namoro. Ele me tratava como uma rainha, mas
tudo começou a desandar quando ele passou a insistir sem parar que
fizéssemos sexo. Isso me deixava desconfortável, eu realmente não estava
preparada para perder a virgindade com ele, ainda mais com o desconforto
causado por toda aquela insistência, porém chegou um momento em que
pensei que não tinha mais motivos para ser tão medrosa e aceitei.
Não façam isso. O medo também é um bom aliado.
Depois disso, eu acabei me sentindo um pouco distante dele e, então,
pude abrir os olhos para as demais coisas erradas no nosso relacionamento.
E, para quem ainda não entendeu toda essa situação, as mensagens
que estavam presentes no celular do babaca intitulado como “meu namorado”
consistiam em provas de que ele estava comigo somente pelo meu dinheiro e
por uma aposta feita entre os amigos da faculdade, já que eu nunca saía com
ninguém.

“Porra, ela caiu como uma patinha! Falei que estava


precisando de um relógio, e a trouxa me apareceu
com um Montblanc no dia seguinte, acreditam?”

“Da próxima vez, eu vou pedir um carro. Nunca


imaginei que eu iria ‘amar’ tanto essa mulher
kkkkkkkkk.”

“Não se esqueça dos amigos depois que ficar rico ao


se casar com a princesinha dos Menezes!”

“Ainda bem que você me lembrou, não posso


demorar muito para pedir ela em casamento, senão
eu perco a fortuna kkkkk. Será que ela pagaria a
nossa aliança? �� ”

Tinha mais essas mensagens para me fazer revirar o estômago em


ânsia enquanto os demais homens do grupo o veneravam por ter ganhado um
presente que eu passei horas escolhendo e caçoavam da minha cara. Como
alguém conseguia se aproveitar dos sentimentos de outra pessoa apenas por
causa do dinheiro?
Então, voltamos a cair na questão do nosso querido “amor”.
Quão amargo é o sabor da sedução que utilizam para chegar até a sua
conta bancária? Eu sei a resposta, estava debaixo da minha língua agora, me
deixando ainda mais enjoada.
Como conseguem iludir alguém apenas para chegar até as coisas que
a sua fortuna pode oferecer? Isso eu realmente nunca achei descrito em
nenhum lugar, só tive o incrível prazer de experimentar que o falso amor
pode te enganar — e, de verdade, acredite em mim quando eu digo que será
bastante dolorido.
Por isso eu reafirmo que o dinheiro tem, sim, um sabor. E ele é
amargo.
Enquanto eu lia as demais mensagens em seu grupo de amigos, eu
congelava os meus sentimentos e deixava a frustação me tomar. O amor não
é e nunca foi tão importante quanto o dinheiro pode ser. Para mim, só usaram
o nome desse sentimento para alcançar o meu corpo e as famosas notinhas
verdes.
— Anna… — Matheus sussurra em minha frente com a voz medrosa.
Ele está somente de toalha. Eu estava vasculhando o seu celular
enquanto ele tomava banho. Seus cachos estão molhados e bagunçados, o
corpo ainda precisa ser seco, mas o terror está ali, cruzando não somente o
seu rosto, mas todas as suas ações. Tranco a tela do aparelho e estendo o
celular em sua direção ao mesmo tempo que paro na sua frente.
— Pegue todas as suas coisas e saia daqui!
— Não é o que parece, meu amor… — Ele tenta se aproximar, mas
eu me afasto. — Anna, acredite em mim, não é o que parece. Deixa eu
explicar!
— Não tem o que explicar, Matheus. Suas mensagens já fizeram esse
serviço para você, pode ir embora.
— Por favor, Anna, não faz isso comigo! — Sua voz alta me assusta,
enquanto ele se joga no chão de joelhos para se humilhar.
A ânsia embrulha ainda mais o meu estômago.
— Pare de me chamar de Anna. Esse não é o meu nome e me irrita
toda vez que sai da sua boca. — Matheus me chamava assim porque dizia
que não fazia sentido ter um H no meu nome e que na verdade Hanna era
para ser Anna. — Agora chega desse show. Saia daqui, deixe apenas o
relógio Montblanc que a trouxa aqui te deu!
— Espera, Hanna. Eu juro que não fui eu que escrevi aquelas coisas!
— Lágrimas começam a brotar em seus olhos, e a sua mentira tão descarada
fica ainda mais nojenta à medida que sua voz aumenta. — EU TE AMO!
— Já chega, Matheus. Isso é ridículo. Nada mais vai me fazer
enxergar esse seu amor falso. Na verdade, nem precisa deixar esse maldito
relógio. Para mim, não tem serventia.
— Não, Hanna! Me deixe explicar! Eu te amo, meu amor! Eu te
amo…
Ai, ai. O “amor”…
Essa palavra acabou de perder totalmente o encanto para mim.
Vou lhes poupar das próximas cenas, porque se trata apenas de um
homem em seu máximo desespero, praticamente deitado no chão, procurando
pelos meus tornozelos para se agarrar, perdendo a toalha da cintura e
mostrando a mixaria que tinha entre as pernas enquanto se rastejava para não
perder uma grande “fonte de dinheiro”.
Bem-vindo ao mundo das notinhas verdes.
Reconheço que a falta de sono está afetando o meu humor.
Já faz exatos cinco dias que as dores de cabeça são constantes e que
os meus sorrisos se tornaram praticamente um evento. Eu não tiro a minha
responsabilidade sobre a quantidade de taças de vinho antes de dormir
estarem aumentando, mas obviamente eu uso a justificativa de que é para
melhorar as minhas noites de sono, embora também contribua muito com
minha enxaqueca.
Minha amiga e também secretária particular já entendeu que, em
semanas muito cheias de compromissos, eu acabo perdendo o meu sono
ajeitando os materiais necessários das reuniões, e, consequentemente, a “dona
do pavio curto” aparece. Também tem a festa do meu aniversário se
aproximando, e eu não estou nem um pouco animada para sábado, mas minha
mãe sempre insiste nisso, mesmo eu achando totalmente desnecessário por
estar chegando aos meus 25 anos.
Encaro-me no espelho, ajeitando a gola da minha camisa, e noto as
olheiras se aprofundando em meu rosto. É quando escuto as três batidinhas
habituais na porta do meu quarto.
— Bom dia, princesa. Tudo certo para almoçar com o Jonas hoje? Ele
já me mandou mensagem perguntando. — Meu pai entra, olhando para o
celular.
— Claro, pai. Pode confirmar com ele.
Jonas é desses sanguessugas de família rica que procuram a
oportunidade de ficar ainda mais ricos o tempo todo. O problema é que ele
me enxerga como um degrau para conseguir seu objetivo e investe
descaradamente em nossos encontros. Pior ainda é o fato de os nossos pais
serem amigos. Isso me deixa em uma posição delicada, pois eu não posso ser
grosseira com ele e, além disso, ainda tenho que lidar com os assuntos de
negócios frequentemente.
— Você vai participar do almoço com a gente?
— Infelizmente não, filha. Tenho que ver os preparativos para o seu
aniversário. Sabe como é a sua mãe, né? Ela está me enchendo para a gente
terminar de ver os últimos detalhes.
— Eu preciso mesmo fazer festa este ano, pai? Todos os anos são a
mesma coisa. Tenho que sorrir tanto, que a minha bochecha chega a doer, e a
mamãe fica me arrastando pelo salão para me apresentar a todos os homens
solteiros da festa.
— Ela faz isso porque tem medo de que você nunca mais arrume
alguém, princesa.
— Não defenda ela, porque eu sei que o senhor fica no canto com os
seus amigos apenas dando risada da minha situação! — digo, fingindo estar
brava.
— Porque é engraçado, filha. Você quer que eu faça o quê? — Ele dá
risada, provavelmente relembrando as cenas patéticas pelas quais já passei
por deixar minha mãe fazer isso comigo.
— É sério, pai. Precisa de aniversário este ano?
— Precisa, sim. Os convites já foram todos enviados.
Reviro os meus olhos.
— Quantas pessoas desta vez?
— Um pouquinho a mais do que da última vez! — Ele disfarça.
— Da última vez, teve quatrocentos convidados! A mamãe convidou
quem mais? Ela não conheceu muita gente em um ano, né?
— Você conhece a sua mãe, gosta tanto de festas grandes…
— Pai! — repreendo-o por estar fugindo da minha pergunta.
— Ela convidou umas seiscentas pessoas desta vez. — Ele dá uma
risada nervosa.
— Seiscentas pessoas?? — Espanto-me. — Onde ela arruma tanta
gente? Meu Deus!
Pego o meu blazer em cima da cama, a minha bolsa, as pastas da
empresa e o notebook enquanto saio às pressas do quarto, indo em direção à
cozinha, onde avisto a senhora “exagerada” tomando seu café.
— Mãe… — Controlo-me para não brigar com ela por um motivo tão
pequeno. — O papai me contou que a senhora convidou seiscentas pessoas
para a minha festa, por que isso? Se eu conhecer umas duzentas pessoas lá, já
será muito.
— Bom dia para você também, filha! — Ela diz enquanto revira os
seus olhos verdes para mim.
— Mãe, é sério! Eu já estou cansada dessas festas exageradas.
— Filha, eu sei que parece desnecessário tudo isso, mas precisamos
conhecer os novos empresários do nosso mercado de trabalho. O seu
aniversário também servirá para fazermos novos aliados, não podemos ficar
para trás. E não briga comigo, essa é a única festa no ano que eu tenho
motivos para exagerar, já que nas demais o seu pai me segura.
— É verdade, filha, a sua mãe tem razão! — Meu pai aparece
roubando um pedaço de bolo sobre a mesa. — O mercado de vidros está
crescendo a cada ano, e nós não podemos deixar o nosso nome morrer.
Eles têm um ponto, e eu tenho que entender.
— Eu até aceito essa desculpinha esfarrapada, dona Eliza, mas, por
favor, nada de ficar me arrastando pelo salão para tentar me arrumar um
namorado. Eu estou mais interessada na nossa empresa do que em
relacionamentos. — Aperto a ponta do seu nariz e vou para o meu lugar de
costume.
— Richard, olha como a sua filha está me tratando! — Minha mãe faz
o seu drama típico de uma indicada ao Oscar, e meu pai dá risada. — Fala
para ela, amor, que ela precisa sim de um namorado, porque ultimamente está
muito estressadinha.
— São as noites sem dormir, eu já disse. — Tento justificar o mau
humor enquanto me sirvo de suco de laranja.
— Ou a falta de garrafas de vinho na nossa adega, né, bonequinha?
— Deixa ela, Eliza. Se for para ter um namorado igual ao último, é
melhor que sumam as garrafas mesmo. — Meu pai mexe as mãos no ar,
como se tentasse esquecer toda aquela história com o Matheus.
Ainda me sinto uma trouxa sempre que me lembro daquele idiota. Já
se passaram cinco anos, mas a humilhação está sempre presente.
— Muito obrigada, pai, por me lembrar daquele traste.
— Por que falar daquele garoto, Richard? Assim a menina nunca vai
querer namorar mesmo. — Minha mãe fala, semicerrando os lábios.
— Ela é adulta, já sabe o que quer da vida. — Meu pai faz o mesmo,
e, de repente, eles estão se encarando em um duelo de falsos cochichos.
— Mesmo assim, esses comentários só pioram a situação.
— Pare de forçar a Hanna a conhecer quem ela não quer!
— Não paro! Ela vai conhecer alguém ainda este ano, eu sinto.
— Eu estou aqui! — Desta vez, sou eu que reviro os meus olhos
verdes.
— Você vai amar a festa deste ano, bonequinha. Vai até querer uma
festa maior ano que vem. — Minha mãe me oferece aquele sorriso
gigantesco, mudando da água pro vinho, e eu dou risada da sua troca maluca
de assunto.
— Eu duvido muito, mãe, e eu tenho que ir para a empresa agora. —
Termino o suco em um gole rápido.
— Não se cobre muito, filha. Você já fez tanto pela nossa empresa,
que está precisando de umas férias.
— É verdade, minha princesa. Graças a você, a nossa empresa
triplicou as vendas nesse último ano. — Meu pai relembra. — Falando em
merecimento, me diga o que você quer de aniversário, Hanna, e te darei
qualquer coisa!
— Que tal um apartamento? Estou precisando ficar longe de vocês
antes que a mamãe me arrume um namorado de presente! — Dou risada e um
beijo na testa de meu pai, despedindo-me.
— Você é tão maldosa, Hanna. Sempre é mais amorosa com o seu
pai! — A dona do drama fala com a voz chorosa.
— Exagerada. — Aproximo-me e dou um beijo na testa de minha
mãe também. — Vejo vocês na empresa depois. Bom café!
— Não estarei lá, vou escolher o seu vestido. — Minha mãe fala mais
alto enquanto eu saio. — Esteja em casa às 18h para experimentar as opções
que trarei!
Pelo menos eu não vou precisar me preocupar com isso.
O senhor Diogo já estava me esperando ao lado do carro na entrada de
casa. Ele é meu motorista desde que eu era pequena e me levava para a
escola, para as aulas de piano, de inglês, para os treinos de tênis, isso até o
ensino médio e mesmo durante a faculdade.
Devido à sua idade, 68 anos para ser mais exata, eu o considero um
avô que eu nunca tive. Sempre lhe dei liberdade para falar o que desejasse,
porque ele escutou todo o meu desabafo após o término com o Matheus, e os
seus conselhos, sempre tão amáveis, foram fundamentais para que eu não
estrangulasse todo e qualquer homem que dizia me amar.
Eu tenho consciência de que me tornei uma mulher extremamente
chata e arrogante quando o assunto é homens interessados em mim, mas não
tem como acreditar neles depois de tudo; afinal, era a minha experiência
contra palavras vazias de desconhecidos.

Retorno para a empresa após o meu almoço estressante com o senhor


Jonas, que mais ficou me cantando do que falando sobre os nossos negócios,
e então avisto Andréia, minha secretária e amiga, que é louca pelas fofocas da
minha vida. Assim que ela me vê, já resplandece, larga as papeladas em que
está mexendo e se ajeita no seu uniforme.
— Oi, Andréia! Como foi a sua manhã por aqui? Muito trabalho? —
pergunto enquanto me aproximo da mesa dela.
— Não, hoje está mais tranquilo. Preciso saber do seu almoço com o
senhor metrossexual para me dar energia, vai, me conta tudo. — Nós
chamamos o Jonas assim devido à sua vaidade excessiva.
O homem não deixa nem um fio de barba fora do lugar.
— Horrível como sempre. Parece que ele nunca entende que eu não
tenho interesse. Queria tanto não ter que me encontrar com ele nesses
almoços de negócios.
— Se quiser, eu vou no próximo. — Seu sorriso me entrega um
possível interesse.
— Pode ir, eu iria amar!
— Falando em negócios, seu pai está agora mesmo finalizando uma
reunião com uma empresa de alumínio no andar de cima.
Isso é interessante. Estamos há um tempo procurando fornecedores
que possam substituir os nossos antigos, já que eles entregaram a carta de
falência na semana passada.
— Qual empresa ele está entrevistando?
— Aluxmil.
Lembro-me rapidamente da pesquisa que eu fiz sobre essa empresa.
Estava no mercado há apenas três anos e ainda era de pequeno porte, não era
a nível nacional como a nossa, mas poderíamos ajudá-los a crescer.
Nossa empresa é de família, começou com meu bisavô vendendo
pequenas mesas de vidro muito tempo atrás, depois foi mudando para janelas
e portas. Hoje em dia, estamos tentando fechar com algumas empresas
internacionais as fachadas de vidro inteiras das suas corporações.
— São dois sócios, não são? — questiono.
— Isso mesmo. O senhor Anderson Magalhães e o senhor Kauan
Rodrigues. — Andréia comenta enquanto verifica os nomes em seu tablet.
— Você viu eles? — pergunto, curiosa.
— Vi sim. Parecem modelos, acredita? Um é um moreno alto, tem um
semblante mais fechado, mas é exatamente isso que o deixa um grandíssimo
de um gostoso, e o outro é loirinho, um pouco menor, parece ter uns vinte
anos, novinho do jeitinho que eu gosto. — Suas sobrancelhas se movem
quando ela cita a beleza dos dois.
— Sério? Minha mãe anda te convencendo a falar esses tipos de
coisas para mim? — Suspeito, já que ela está falando tão bem deles.
— Só as mesmas coisas de sempre, que você precisa de um namorado
porque está insuportável nesses últimos dias. — Andréia dá risada, e eu passo
o dedo na linha do meu nariz nervosamente.
— Você pelo menos me defendeu?
— Sabe que eu nem sonharia em fazer isso, amiga. Sua mãe é a
pessoa mais insistente que eu conheço. Com certeza ela montaria o escritório
dela aqui do meu lado só para me convencer a te fazer namorar alguém;
então, é claro que eu não te defendi.
— Pior que é verdade. Minha mãe está cada dia mais implacável em
sua missão de cupido. — Giro um dos meus anéis nervosamente. — Enfim,
fez a ficha deles como eu pedi?
— Claro! — Andréia pega a prancheta com as informações dos donos
da Aluxmil e me entrega. — Isso foi tudo que eu consegui achar sobre eles.
— Obrigada, Andréia. Eu vou entrar em uma reunião on-line agora.
Se meu pai passar por aí, pergunte se essa empresa preencheu nossos
requisitos e se eles foram aceitos. Caso a resposta dele seja “sim”, envie os
convites do meu aniversário aos dois sócios. Quero conhecê-los, e só será
possível na minha festa. Isso se eu conseguir encontrar eles, já que minha
mãe decidiu chamar a cidade inteira.
— Eu que o diga. Eram tantos nomes, que eu achei que a minha mão
iria cair quando fui pedir os convites. — Andréia ri. — Mães exageradas, eu
tenho uma também!
— Nem me fala, acho que um dia ela vai me enlouquecer.
— Fica tranquila, amiga, ela vai fazer isso comigo primeiro. Eu fiquei
encarregada de te entregar uma lista de pretendentes lá na festa.
Eu até ia revirar os olhos, mas acho engraçado esse esforço todo da
minha mãe. Eu estou literalmente me sentindo aquelas donzelas de anos atrás
que eram prometidas em casamento para os homens bem-sucedidos. Não
mudava muito no meu caso.
— Depois eu te dou um aumento por esse serviço extra — brinco.
— Eu vou cobrar!
— Só não se esqueça dos convites deles, tá bom?
— Pode deixar!
Entro na minha sala e aproveito os minutos antes da próxima reunião
para olhar as fichas dos rapazes da Aluxmil que a Andréia preparou. O
primeiro papel contém as informações do Kauan Rodrigues.
O garoto é dois anos mais novo que eu, o que me surpreende muito, já
que não temos tantos jovens no mundo dos negócios. Pela foto tirada do seu
perfil profissional, eu posso notar um espírito alegre nele. Kauan é branco e
tem os cabelos em um loiro-escuro. Na fotografia, veste um terno cinza muito
bem-ajustado a seu corpo e uma camisa branca alinhada. Talvez seja seu
sorriso branco e de lado que o denuncia como uma pessoa mais jovem ainda.
Já na ficha do senhor Anderson Magalhães, observo uma idade um
pouco distante da de seu amigo. Ele é seis anos mais velho, com 28 anos.
Como eles poderiam ter se conhecido para fazer essa parceria?
A papelada me informa de que a empresa deles é uma filial de
Curitiba criada há pouco tempo, mas a primeira nasceu vinte anos atrás em
Brasília e pertencia aos pais do Anderson Magalhães.
Anderson tem uma aparência mais séria em sua foto, sem sorrisos e
com um olhar turvo. Isso me faz lembrar da observação da Andréia, sobre ele
ficar mais gostoso por causa dessa característica. Ele veste uma camisa azul-
escura, aberta no limite máximo para não ser informal demais, e seus cabelos
alinhados lhe fornecem uma beleza oculta. Passo minha unha na foto,
seguindo a linha de sua mandíbula, e noto o leve crescimento da barba, além
de seu cabelo escuro, que combinava com a sua pele morena.
Sua aparência chamou minha atenção, mas eu ainda não sei dizer se
isso é bom ou ruim. Gosto de pensar que sou uma boa observadora depois do
que aconteceu no meu primeiro e único relacionamento, já que fiquei muito
receosa com as pessoas. Então, tento decifrá-lo apenas por aquela imagem.
Ele também parece ter um ar de mulherengo por meros detalhes na
foto; como, por exemplo, ele ter deixado os pelos do seu peito aparecerem no
pequeno “V” da abertura da sua camisa, que aparentemente haviam sido
depilados há algum tempo e estavam crescendo. Também tem a beleza dele.
Que homem que não utiliza da beleza para conseguir mulheres? Sua boca
selada também deixa passar um pequeno sorriso de canto, que, para mim,
contém malícia.
Ou talvez eu esteja muito enganada e ele seja gay!
Mas a Andréia tem razão, os dois parecem modelos.
— Recebemos alguma resposta dos Menezes? — pergunto ao Kauan
assim que o encontro na recepção da nossa empresa.
— Nada ainda, Naveen. Cheguei até mais cedo de tanta ansiedade,
não consegui dormir direito.
Eu também estou no mesmo barco que meu sócio Kauan. Os Menezes
são a nossa maior chance dos últimos três anos, nada pode melhorar e
alavancar a nossa empresa como eles podem, porque são simplesmente a
maior empresa fornecedora de vidros da região Sul do nosso país.
Agora, acho que devo explicações sobre esse apelido chulo e infantil
que ganhei do meu amigo na época da faculdade. Para quem não conhece, o
Príncipe Naveen é o protagonista do famoso filme A Princesa e o Sapo, cujo
destaque é a personalidade de mulherengo e egoísta que gosta de curtir a
vida.
Kauan vive dizendo que eu pareço com o tal desenho animado, não só
nas atitudes, como um pouco na aparência, mas eu mesmo nunca cheguei a
assistir ao filme, somente pesquisei a imagem do príncipe por curiosidade e
aceitei os fatos.
— Então, por favor, me avise se as notícias mudarem. Também estou
ansioso.
— Pode deixar, senhor! — Kauan presta continência para brincar
comigo, e eu bagunço o seu topete cheio de gel.

Saio da recepção e sigo para a minha sala, cumprimentando os


funcionários que encontro pelo caminho. Nossa empresa fica em um edifício
comercial no centro da cidade e ocupa o décimo andar inteiro, o que nos
privilegia com uma vista fantástica das árvores da praça. Porém, nem toda
essa paisagem me deixa menos ansioso. Assim que termino o lançamento de
todas as notas fiscais, percebo que fiquei a todo momento esperando a notícia
da Transparency, a empresa dos Menezes, que nos entrevistou ontem para o
cargo de fornecedores de alumínio.
Tudo corre muito bem, na minha opinião. As perguntas que o Senhor
Richard Menezes nos dirige são tranquilas e consigo segurar as falas
inconvenientes do Kauan, então saímos no lucro.
O Kauan é um piadista nato, e às vezes suas falas aparecem nos
momentos mais errados possíveis. Realmente chegam a ser engraçadas as
suas palhaçadas, porque ele passa vergonha em algumas cenas e tem que se
virar para não irritar as pessoas, mas ontem nós dois não podíamos errar, era
a chance das nossas vidas.
Relembro tudo que foi perguntado para verificar se existiria a
possibilidade de não sermos aceitos. Enquanto isso, meus olhos encaram
minha caneta dourada, que já estava cansada de ser atingida na mesa devido à
minha impaciência em receber logo a notícia que mudaria as nossas vidas.
Levanto-me e saio da sala, decidido a fazer o tempo passar mais rápido, e vou
almoçar.
O restaurante no térreo do nosso prédio é o melhor da região. Eu
almoço quase todos os dias nesse estabelecimento. Meu único problema é
que a Érika trabalha lá, a garçonete que eu chamo de “carrapato”.
Eu não posso ser hipócrita de negar que a mulher é muito gostosa.
Pensa em uma loira de quase um metro e setenta de altura, que arranca os
olhares de todos no local. Mas infelizmente a Érika é um pouco obcecada por
mim. E nem pensem que eu estou me achando a última bolacha do pacote,
apenas quero ressaltar o quanto ela faz da minha vida um inferno, sempre
mandando mensagens sem parar e se assanhando quando vem me servir.
Quando eu a conheci, pedi o seu número na maior cara de pau; afinal,
ela é linda. No entanto, após dois finais de semana em motéis, ela começou a
exigir informações minhas que eu não estou acostumado a dividir, e é por
isso que eu não me firmo com ninguém. Eu quero a paz que a vida de solteiro
me proporciona, mesmo eu pensando agora que não estou tendo paz nesses
últimos dias por causa dessa loira. Enfim, ela continua o seu joguinho
cansativo, e eu sempre procuro ir almoçar no horário mais corrido do
restaurante, para que ela não consiga vir me atender, mas, infelizmente, hoje,
os seus olhos me encontraram, e os seus passos se direcionam para a minha
mesa.

— Oi, gatinho, quanto tempo! Eu estava com saudades. — Érika se


inclina enquanto tenta ao máximo me fazer encarar os seus seios.
— Oi, Érika! O que tem pra hoje? — Ignoro suas insinuações e pego
o cardápio.
— O mesmo de todas as terças: lasanha. Posso trazer para você?
— Claro!
— E para beber? — Ela muda o tom de voz, tentando parecer mais
sedutora. — Quer um pouco de álcool para esquentar?
— Érika, para com isso, aqui é o seu local de trabalho, e eu não gosto
dessas brincadeiras. — Firmo minha voz para fazê-la entender que eu não
estou interessado. — Me traz uma água com gás.

— Ai, Anderson, que falta de humor! Você era bem mais interessante
antes. — Eu estava interessado antes, é diferente! — Já trago o seu pedido.
Não quero ser um escroto que transa e simplesmente some, mas eu
sempre deixo bem claras as minhas intenções para as mulheres. Eu só quero
sexo.
Não suporto ter que cuidar de cada passo que dou para não acabar
magoando alguém. Já tive algumas namoradas, e, no final, eu sempre ficava
irritado com as cobranças excessivas e tinha que lidar com os choros sem
motivo. Eu cheguei à conclusão de que o sexo sem compromisso era a
melhor opção para mim. Nada de relacionamentos.
— Senhor, recebemos a resposta dos Menezes. O e-mail chegou agora
pouco, e o senhor Kauan está o aguardando na sua sala. — Meg fala assim
que eu retorno do almoço.

Meg é a nossa recepcionista, uma moça jovem, mas séria. Raramente


eu a vejo dando risadas ou tendo conversas aleatórias com os demais
funcionários.
— Torça pela notícia boa, Meg!
— Certeza de que eles aceitaram a Aluxmil, senhor. — Sua voz é
confiante.
Vou em direção ao meu escritório e noto que a porta já está aberta.
— E aí, pirralho? — falo para Kauan, que está sentado na minha
cadeira. — Qual a resposta deles?
— Não sei, eu esperei você chegar para abrir o e-mail e as cartas. —
Ele diz com um sorriso de orelha a orelha.
— Que cartas?
— Chegaram duas cartas endereçadas a nós, uma para mim e uma
para você. — Kauan desliza o envelope com o meu nome sobre a mesa.
— Então abra logo o e-mail! O que estamos esperando? — Pego a
carta para começar a rasgar o envelope enquanto ele já está com o notebook
em mãos.
— “É com entusiasmo que nós da Transparency, por meio deste e-
mail, anunciamos o nosso interesse na possível parceria com a Aluxmil,
recebendo os representantes Anderson Magalhães e Kauan Rodrigues como
os nossos mais novos fornecedores dos produtos com matéria-prima de
alumínio, se assim vocês desejarem. Tomamos a liberdade de já redigirmos o
nosso contrato. Por favor, leiam com atenção e retornem em até 24 horas para
prosseguirmos com essa nossa nova união”.
— Caralho, não acredito! — digo enquanto o Kauan continua olhando
para a tela.
— Porra, nós conseguimos… — Ele me encara com os olhos
arregalados.

— Nós conseguimos! — repito.


— Nós conseguimos, merda!! Hoje vai ser tudo por minha conta,
vamos comemorar! — Ele sai de trás da mesa com a felicidade estampada em
seu rosto.
Não só ele. Eu ainda estou tentando assimilar a informação, porque a
nossa empresa, enfim, teria o crescimento esperado pelo qual lutamos por
tantos anos. Esse contrato com os Menezes vai alavancar muito o nosso nome
no mercado. O status é uma coisa importante no mundo dos negócios, e nós
vamos conseguir muita coisa graças a eles.
— Hoje eu vou até transar com alguém. — Kauan brinca.
— Até que enfim a sua mão vai ter sossego, então! — Aproveito a
oportunidade para zoar com ele.
— Falou o precoce. Certeza de que as mulheres não ficam com você
por muito tempo porque você é um coelho.
— Deve ser por isso que a garçonete gostosa lá de baixo que você
quer tanto pegar não sai do meu pé, né? — Sorrio, achando graça do nosso
pequeno duelo.
— Ela só não saiu comigo ainda porque eu não mandei mensagem. —
Kauan tenta se justificar.
— Tá perdendo tempo, então. — Tiro o papel de dentro do envelope
que eu estava abrindo.
— Mas hoje eu pego ela. Quero comemorar em grande estilo.
— Porra! — falo ao ler a caligrafia desenhada do convite. — Nós
fomos convidados para o aniversário da filha dos Menezes!
— O quê? — Kauan fala, abismado, enquanto corre até a mesa para
pegar o seu convite, que ele ainda não tinha visto. — Eu nem sabia que eles
tinham uma filha.
— Nem eu! — falo automaticamente enquanto continuo lendo.
— O que comprar para uma mulher que será herdeira daquela
empresa? Com certeza ela tem de tudo. — Concordo ao reparar que ela fará
25 anos.
— Hanna Menezes… — sussurro o nome escrito no papel.
— Nossa, se nós fomos convidados, significa que eles convidam os
demais fornecedores e possivelmente até as demais empresas do mesmo
ramo. Sabe o que isso significa, né? — Encaro o Kauan. — Significa que nós
teremos oportunidade de conhecer mais empresários importantes.
— Eu ainda me surpreendo quando sai alguma frase inteligente dessa
sua boca! — comento, abismado.
— Vai tomar no cu, Ander. — Ele fala, sem conter a risada.
— Mas é sério, você falou algo muito importante, pirralho! A festa
será sábado agora, então nós temos menos de cinco dias para fazer a maior
pesquisa de mercado possível para não ficarmos tão deslocados lá!
— Certo, eu tô vazando antes que você acabe com a minha
empolgação e me empurre mais trabalhos desnecessários. — Kauan fala, ao
sair da minha sala.

— Não será desnecessário!


Vou para trás do meu notebook e digito o nome do convite. Senhorita
Hanna Menezes… por que você nunca apareceu nas minhas pesquisas
recentes da empresa Transparency?
Sábado demorou uma eternidade para chegar, mas, enfim, eu
estaciono o meu Audi R8 na entrada do salão de festa e entrego as chaves
para o manobrista. Eu combinei com o Kauan de ir mais tarde, porque o meu
presente ficou pronto em cima da hora. Então, o local já está bem cheio
quando chego. É provável que ele já esteja lá me aguardando.
O lugar é extremamente luxuoso. Logo que passo pela recepção, meus
olhos ficam abismados com a cascata de rosas brancas que emoldura o teto e
desce pelas paredes, reduzindo as flores gradativamente. Uma moça vestida
com um terno luxuoso branco se aproxima com sua prancheta, anotando o
meu nome e o nome da minha empresa.
Em seguida, outra mulher se aproxima, vestida da mesma maneira,
para receber a pequena caixa de presente que está em minhas mãos. Confesso
que eu nunca fui a algo desse nível. É tudo de um luxo sem igual.
Sou liberado por essas mulheres, que me direcionam ao salão
principal. É uma área gigantesca, na qual caberiam mil pessoas
tranquilamente. O ambiente é mais escuro que a entrada, e o cheiro doce se
intensifica no ar a cada passo lá dentro, deixando o clima confortável.
Os burburinhos de conversas quase nem aparecem conforme a música
ambiente faz o seu trabalho. As mesas são todas espelhadas, há rosas brancas
para todos os lados. Eu poderia jurar que isso tudo é um casamento, se não
fosse pelo clima que a luz baixa deixa. Após mais alguns passos, encontro
meu amigo sentado à mesa destinada para nós.
O sem-vergonha já está conversando com uma mulher, que com
certeza deve ser alguma das pessoas da nossa pesquisa. Encaro o ambiente e
reconheço mais alguns convidados que incluímos no nosso estudo de
mercado.

— Daê, pirralho! Chegou faz tempo? — pergunto antes de me sentar.


— Que nada, acabei de chegar. Viu o que estão oferecendo na festa?
— Como assim?
— Está tendo passeio de helicóptero lá fora para os convidados. —
Arregalo os meus olhos.

— Quê? — falo, incrédulo.


— É sério. Depois eles vão liberar a área de massagem, os jogos de
cassino, a degustação de vinhos com folhas de ouro junto de os drinques
tropicais; aliás, me parece que eles fazem todas as bebidas com fogo.
— Você tá me zoando, né?
— Não, está tudo aqui. — Kauan pega um folheto da mesa.
Leio com calma e realmente todas essas atrações estão ali, até mesmo
o horário em que cada coisa vai começar.
— Caralho!
— Pois é.
Um dos muitos garçons que vêm e vão de todos os lados, vestidos em
seus ternos brancos, faz uma parada a fim de oferecer um Merlot para a nossa
mesa. Uns trinta minutos depois, o cerimonialista começa a chamar a atenção
de todos no salão. O microfone dele emite os primeiros sons de teste.
— Boa noite a todos. É com grande alegria que o senhor Richard
Menezes e a senhora Eliza Menezes recebem todos os familiares e amigos
aqui hoje para a celebração de 25 anos da sua filha. Uma salva de palmas aos
nossos anfitriões da noite.
Em uníssono, escuto as palmas e acompanho todos. As luzes se
direcionam a uma escada no meio do salão, e o senhor Richard e sua esposa
descem com elegância, acenando para todos do topo da escadaria com um
sorriso no rosto. Richard traja um terno verde-escuro, que quase parece preto,
e está combinando com a sua mulher, que usa um vestido verde-brilhante. Os
dois chegam ao centro do salão em poucos segundos e recebem o microfone.
— Agradecemos a todos que estão presentes hoje aqui. Espero que
aproveitem muito a festa e que possamos beber sem as restrições das nossas
esposas. Os uísques serão liberados mais tarde. — Todos compartilham da
piada do senhor Richard, e eu noto o revirar de olhos de sua esposa, que pega
o microfone em seguida.
— E, para nós, mulheres, eu escolhi a dedo os melhores go-go boys.
Perdão, os melhores massagistas para a nossa sessão de reclamação e
fofocas! Já os nossos champanhes estão liberados. Aproveitem!
Dá pra notar que as risadas soam mais altas com o senso de humor da
senhora Menezes. Se sua filha for igual, com certeza será uma mulher
bastante interessante. Novamente, o cerimonialista chama a atenção de todos
para que fiquemos de pé para a entrada da aniversariante assim que as risadas
cessam.
— Se ela for gostosa, eu vou ser o próximo dono da empresa dos
Menezes, anota aí! — Kauan sussurra no meu ouvido.
— Tenha respeito pela sua namorada. — Dou risada e indico com a
cabeça a mulher ao lado dele, que não para de se insinuar para o meu amigo.
— Sai fora, eu quero aquela de lá! — Kauan encara o topo da escada.
Direciono o meu olhar para o mesmo local e travo a minha visão
naquela mulher descendo os degraus com confiança, enquanto a música
combina com os movimentos do tecido leve do vestido que molda seu corpo.
Hanna Menezes com certeza consegue congelar o momento, porque até os
garçons param para observá-la. Sem brincadeira, eu vejo quando um deles
quase derruba o vinho que servia a uma das convidadas.
Ela usa um vestido verde longo, mas não é o mesmo tom de verde que
os pais dela usam. Hanna usa um verde mais claro. Essa cor combina tanto
com ela e com cada rosa branca desse salão, que agora todas essas flores não
parecem um exagero, mas o fundo perfeito para destacar a sua beleza. Seu
sorriso é contagiante. Pego-me sorrindo sem ao menos perceber. Assim como
seus pais, ela acena para todos.

Uma fenda que chega até a altura das coxas mostra seu salto agulha
preto que desenha os músculos de sua panturrilha. Também há um pequeno
decote na região dos seios. Ela sabe o que causa em todo o salão, e comigo
não é diferente.
Quando ela chega ao centro do salão, é aplaudida por todos os
convidados, inclusive pelos seus pais, que a abraçam com cuidado, falam
alguma coisa em seu ouvido e a soltam, retornando aos seus lugares. Por estar
sentado a uma mesa próxima do centro do salão, consigo notar seus traços:
ela é delicada.
Hanna tem uma pequena pinta embaixo da boca do lado esquerdo,
quase acima do lábio inferior. São lábios carnudos e que desenham
perfeitamente o arco do cupido na parte superior, fora que seu sorriso é
perfeito, com dentes retos e brilhantes. Há mais uma pinta perto do seu olho,
só que essa é do lado direito. A jovem tem os olhos verdes: lindos olhos
verde-esmeralda. Seus cílios marcantes a deixam ainda mais sedutora.
Ela é clara demais, com cabelos em um castanho-escuro que me
lembra conhaque. Além disso, tem o nariz arrebitado. Uma verdadeira
patricinha; isso não tem nem como negar, já que a família faz questão de
exibir a fortuna nesta festa. Hanna vai até o cerimonialista e pede pelo
microfone, e eu não consigo parar de encará-la, abismado com tamanha
perfeição.
— Boa noite! — Ela fala, testando o microfone. Surpreendo-me com
sua voz calma. — Quero, inicialmente, agradecer a cada um presente aqui
hoje. Obrigada por terem tirado um tempo para comemorar esta data comigo.
Para os meus familiares, eu desejo que se divirtam e que possamos matar um
pouco da saudade. Para os nossos sócios, eu agradeço por todo o
companheirismo e o comprometimento que desenvolvemos durante esses
anos. E, por favor, bebam muito. Minha coleção de melhores vinhos está hoje
aqui. E, aos futuros sócios… — Hanna faz um silêncio, examinando o salão,
e, por milésimos de segundo, os nossos olhares se cruzam. — Me
surpreendam! — Sua voz sai quase como um sussurro, com um sorriso
suspeito nos lábios. — Por favor, quero todos se divertindo. Não fiquem
parados. Obrigada pela presença, e que comece a festa!
Ela devolve o microfone ao cerimonialista e caminha até sua mesa,
deixando que todos a observem por mais alguns segundos. Só então eu
percebo que estou sem respirar, porque segurei o ar na maior parte do tempo
de seu discurso. Deve ter sido para que nem o meu próprio som pudesse me
atrapalhar de escutar aquela voz.
A música retorna mais alta, e os convidados se espalham. Alguns vão
para as mesas de conhecidos, outros se direcionam à pista de dança, outros
vão até os aperitivos e pouquíssimos vão conversar com Hanna.
Encaro Kauan, que está ao meu lado ainda de pé, encarando-a como
um bobo, e sou obrigado a puxá-lo para que se sente.
— Que mulher, né? — Ele diz, atordoado.
— Ela é realmente linda — concordo com ele.
— E gostosa!
— Fala baixo, cara. Você está falando da filha dos Menezes na festa
dela. — Verifico se ninguém escutou as asneiras que meu amigo falou.
— Acho que devo agradecer à mãe dela por ter feito aquela
deusa ali.
— Fecha a boca, Kauan. Acabamos de fechar um contrato com eles,
não precisamos perder essa parceria por causa dessa sua boca grande, né?
— Você tem razão, vou ficar quieto. — Enfim, ele para de encará-la.
— Deixa eu ver se consigo me distrair com outra coisa.
— Vai dar um passeio de helicóptero para ver se o ar fresco melhora
essas suas duas cabeças! — Sorrio para ele, que se levanta e começa a se
afastar.
— Eu vou atrás desse tal uísque que estão prometendo.
Assim que ele atravessa o salão, meu olhar volta para a senhorita
Hanna Menezes, que agora recebe os parabéns de um pequeno grupo de
pessoas à sua volta. Enquanto isso, me pergunto por que eu estava julgando
tanto o Kauan se eu também não consigo tirar meus olhos dela.
Hanna Menezes ultrapassou as expectativas que criei de sua imagem,
e quero conhecê-la melhor.
— Bonequinha? — Escuto o apelido pelo qual a minha mãe me
chama e paro de conversar com Andréia, já sentindo um frio atravessar a
minha espinha.
— Sim? — Viro-me em sua direção.
— Eu quero te apresentar a algumas pessoas. Você me empresta ela,
Andréia? — Eu encaro a minha amiga, pedindo-lhe socorro com os olhos.
Minha mãe com certeza iria começar a me arrastar pelo salão para me
mostrar aos homens disponíveis, iniciando minha sessão de maior
desconforto. Pior que eu sei que a Andréia virou sua cobaia, então não
adianta de nada o meu olhar desesperado.
— Claro, senhora. Vão lá. — Semicerro os olhos para Andréia, que
sussurra em seguida: — Me desculpe!
— Quantos vão ser dessa vez? — falo, assim que ela entrelaça os
nossos braços e que começamos a caminhar pelo salão.
— Nove. — Sorrimos juntas para alguns conhecidos.
— Olha, que eu vou entrar naquele helicóptero e não volto mais para
esta festa! — sussurro.
— É por isso que eu pausei os passeios de helicóptero e falei para o
piloto ir comer algo. Por acaso você já aprendeu a pilotar, Hanna?

— Você venceu, dona Eliza! — comento, ainda sentindo desgosto por


ter que me apresentar para nove homens como um objeto.
— Eu só vou me sentir vitoriosa quando você estiver namorando
alguém, filha.
— Então eu vou arrumar um namorado falso — brinco.
— Boa ideia, bonequinha. Confio no seu caráter para você não
escolher um idiota.
— Afinal, eu já escolhi um idiota antes, né, mamãe?
— Princesa! — Meu pai vem em nossa direção com um sorriso no
rosto.
— Oi, pai — falo, aliviada, porque ele pode me salvar das garras da
minha mãe.
— Vem comigo, eu quero te apresentar a algumas pessoas. — Meu
Deus, o que está acontecendo aqui?
— Estão de complô contra mim? — pergunto, indignada, e meu pai
me busca dos braços da minha mãe.
— Richard, o que está fazendo? Me devolve ela.
Minha mãe tenta nos acompanhar, mas os saltos são um pequeno
empecilho para ela.
— Já disse, a Hanna precisa conhecer alguém.
— Mas quem? — Céus, nunca pensei que seria disputada pelos meus
pais.
— Quando eu virei uma peça de xadrez para vocês movimentarem
para onde quiserem?
— Filha, eu estou te salvando da sua mãe. — Meu pai cochicha em
meu ouvido.

— Está mesmo? — Desconfio, e minha mãe alcança a gente.


— Onde ele está, Richard? — Ela comenta, curiosa.
— Bem ali! — Encaro a direção para onde o meu pai está olhando e
vejo nossos novos sócios.
O alívio me toma, porque eu não preciso ficar na defensiva. Esses
homens eu realmente quero conhecer. Confesso que eu peguei as fichas dos
donos da Aluxmil mais duas vezes durante a semana para encarar as fotos dos
dois, então eu os teria reconhecido mais rápido, não fossem as seiscentas
pessoas dentro desse salão. O senhor Anderson está com um terno verde-
escuro ajustado em seu corpo, com um colete que o desenha e,
coincidentemente, combina com as cores da festa. A camisa aberta mostra o
seu peitoral, sem pelos dessa vez. Ele não nota quando nós nos aproximamos,
porque está conversando com o seu sócio, Kauan Rodrigues, que veste um
terno azul-claro. Ele é ainda mais novo pessoalmente e é o primeiro a nos
notar.
O mais novo se levanta tão empolgado, que a cadeira quase cai.
Quero dar risada, mas me seguro. Anexo às minhas anotações mentais que
ele é um pouco atrapalhado. Anderson, por sua vez, crava os olhos em mim
assim que se vira, e eu noto seus olhos pretos, sem qualquer expressão, como
nas fotos.
Ele é mais bonito pessoalmente do que pela pequena imagem dos
meus documentos e bem mais alto do que eu imaginava também. Geralmente
isso me incomoda, mas eu não estou me importando com nada disso agora.
Eu quero mesmo é saber como esses dois homens se comportam. Quero saber
sobre o caráter e a personalidade deles; afinal, faz menos de uma semana que
a nossa empresa fechou contrato com eles, e eu preciso aprovar algo para o
qual meu pai já havia batido o martelo.
Eu não sou do tipo que desvia o olhar quando alguém me encara,
então é claro que, quando meu pai chama a atenção do senhor Magalhães, eu
me satisfaço por ele ter tirado os olhos de mim para se direcionar à conversa.
Seu sorriso é discreto, movendo apenas os cantos da sua boca,
enquanto Kauan exibe uma simpatia inocente, que até chega a ser fofa.

— Anderson! Kauan! Que bom que conseguiram vir. — Meu pai


estende a mão aos dois, que o cumprimentam. — Hanna, estes são os nossos
mais novos fornecedores de alumínio: Anderson…
— Anderson Magalhães e Kauan Rodrigues — falo sorrindo com
simpatia enquanto também os cumprimento.
Seus olhos surpresos me informam que somente eu tenho as
informações sobre eles, mas eles não sabem nada sobre mim.
Assim que Kauan alcança meu cumprimento, sinto que ele faz um
carinho em minha mão com o seu polegar. Puxo meu braço na mesma hora,
ignorando aquela tentativa de chamar a minha atenção. Em seguida, me
direciono ao senhor Anderson, que sobe seu olhar da minha mão até o meu
rosto como se me avaliasse, até encostar a sua mão na minha. E, por uma
surpresa interessante, eu sinto calor, ansiedade e só volto a respirar
normalmente quando ele me solta, aparentemente abalado da mesma maneira.
— Foi a Hanna que fez a pesquisa sobre a empresa de vocês e os
selecionou como os possíveis fornecedores. — Meu pai justifica, e os dois
concordam, entendendo o porquê de eu saber os nomes deles.
— É um prazer enfim ter esse encontro. Infelizmente não pude
participar da reunião na segunda com vocês, mas estou ciente de que os
contratos já foram assinados.
Kauan se coloca entre nós, ficando mais à frente de todos para poder
falar comigo.
— Senhorita Hanna, gostaria de agradecer muito por você nos ter
convidado para o seu aniversário. É uma honra poder conhecê-la.
— Todos os anos nós gostamos de juntar nossos sócios no meu
aniversário. Sabe como é, né? Nós nos consideramos todos uma grande
família! — minto, lembrando o quanto eu odeio alguns que estão aqui.
— Para de ser cínica! — Minha mãe sussurra em meu ouvido assim
que eu me afasto do senhor Rodrigues.
— Estou apenas sendo simpática. — Mantenho meu sorriso nos
lábios.
— Simpatia não é muito o seu forte.
Noto que o senhor Magalhães mantém os seus olhos em mim,
fazendo-me pensar se ele capturou o meu momento de intriguinha com minha
mãe. Para minha raiva, ele está encarando a região dos meus seios. Eu sabia
que ele tinha um jeito de mulherengo, mas não imaginava que seria tão
explícito e descarado. Se o meu cabelo não estivesse em um penteado, com
certeza eu o colocaria em meu busto para me esconder desse homem tarado.
— Filha, você não os conhecia? — A fala sugestiva da minha mãe
entra na conversa.
— Ainda não, estava ocupada na segunda.
— Isso é ótimo, que tal marcarmos um almoço qualquer dia desses?
— Mãe? O que está fazendo? — falo em um sussurro rápido.
— Seria ótimo, senhora. — O Kauan fala e, pelo jeito, ele é o mais
comunicativo dos dois. Até agora o Anderson não falou uma palavra sequer.
— Nós adoraríamos.
— Só me chamem de Eliza, nada de “senhora”!
A cada frase comentada enquanto a conversa rola, eu noto que o
senhor Anderson se desvia um pouco do radar dos meus olhos, mas nunca o
suficiente para parar de me encarar. Ele intercala sua visão dos meus olhos
para a minha boca e, então, retorna ao meu decote. Isso me deixa cada vez
mais irritada.
— Tenho certeza de que todos aqui são muito ocupados. Teremos que
ver melhor essa questão, mãe! — comento, já tentando me desvencilhar desse
compromisso após muitas falas paralelas.
— Verdade, filha. Se formos todos, ficará complicado. Afinal, temos
compromissos em datas diferentes, não é mesmo?
— Eu posso no dia que ficar melhor para vocês! — O senhor
Rodrigues novamente se pronuncia.
— Vamos fazer o seguinte, senhor Anderson. Que dia o senhor pode
almoçar com a minha filha? — Meus dedos chegam a gelar com a fala
inusitada da minha mãe.
Não somente os meus olhos se arregalam com a sugestão, como os do
meu pai, do senhor Rodrigues e do senhor Magalhães. Nós estávamos
comentando que deveríamos almoçar todos juntos, não que ela marcaria um
encontro para mim sem ao menos me informar.
Encaro o meu pai, que transparece em seu rosto a derrota da sua
tentativa de me afastar das apresentações da minha mãe. Ela conseguiu
chegar ainda mais longe este ano.
— Eu não po… — Sou interrompida bruscamente.
— Posso almoçar com a senhorita Hanna amanhã. Estou disponível.
— Anderson abre a boca, mostrando um sorriso alinhado e claro.
Afinal, ele sabe sorrir, e, meu Deus, eu me arrepio ao escutar a voz
rude dele. Ela tem um tom áspero, mais baixo que o nosso, e é claro que sua
resposta só diminui meu nível de paciência.
— Eu não posso amanhã! — falo o que eu queria ter dito antes
daquele egocêntrico me interromper.
Na verdade, eu não tenho nenhum compromisso para o meu domingo,
a não ser descansar, porque com certeza eu estarei desfalecida após horas de
salto. Mas eu não quero ter que ficar sozinha com um homem desconhecido
desperdiçando o meu dia, já bastam os almoços com o Jonas uma vez ao mês
para me estressar.
— Na segunda-feira você pode, filha. Já confirmei a sua agenda com
a Andréia ontem. — Ai, que vontade de estrangular a minha mãe! Sinto-me
derrotada. — E você, senhor Anderson?
— Na segunda fica bom também.
Deus, que ódio!
— E você senhor Kauan, pode que dia? — Ótimo, mãe. Quer marcar
almoço com os outros nove rapazes também?
Controlo-me ao máximo para não fazer cara feia na frente de todos e,
para a minha sorte, vejo o cerimonialista se aproximando do nosso grupo para
me chamar.
— Com licença, senhorita Hanna, suas amigas da época da faculdade
querem uma foto com todas juntas.
Acho que nesse momento o meu sorriso vai parar na orelha. Pelo
menos alguém consegue me salvar da minha mãe.
— Certo. — Começo a me distanciar do grupo. — Me desculpem ter
que sair assim, mas depois continuamos a nossa conversa. Prometo retornar à
mesa dos senhores.
— Filha… — Minha mãe tenta falar algo, mas eu já havia dado os
primeiros passos para longe deles, então eu apenas aceno uma despedida
rápida e sorrio.
Confesso que me esqueço da mesa deles. Mantenho-me ocupada com
outras coisas, fujo da minha mãe toda vez que a vejo e dos homens que
imagino serem possíveis pretendentes.
Só não consigo fugir do Jonas porque ele aparece com o seu pai, o
senhorzinho que é amigo da família, então não posso ser tão ríspida com o
filho dele como geralmente sou após as suas cantadas. Mas a conversa dura
pouco, ele apenas se despede, porque já é tarde para eles.
Infelizmente, após duas horas andando pelo salão e conversando com
muitos conhecidos, eu escuto aquela voz grave atrás de mim chamando a
minha atenção.
— Senhorita Hanna? — Viro-me já sabendo que o senhor Anderson
está a menos de um metro de mim.
— Senhor Magalhães. — Eu o encaro, e mais passos o trazem para
perto.

— Podemos conversar a sós?


Suas palavras me deixam inquieta na mesma hora. Por que
deveríamos conversar a sós? O que ele gostaria de dizer que não pode ser dito
em público?
— Sobre o que seria, senhor Anderson?
— Nosso almoço na segunda-feira! — Por um breve momento, achei
que o almoço não estivesse firmado.
— Entendi, por aqui então.
Seguimos para a sala privativa, que fica no mesmo andar em que
estamos. Conforme entramos, vejo que o local está quieto e com pouca
luminosidade. Luzes amareladas e suaves trazem uma certa sensação de
perigo. O problema realmente é a inquietude que eu sinto perto desse homem.
— Sobre o que gostaria de falar? — pergunto assim que ele fecha a
porta atrás de nós, mantendo-se perto dela.
Anderson incendeia o espaço com o seu perfume. Dá para sentir a
leve fragrância de dominância. Seu cabelo está mais caído após algumas
horas de festa; o sorriso no canto dos lábios também está presente, e o
olhar… o olhar não está mais sondando os meus seios, e sim perambulando
em cada detalhe do meu rosto.
Esse ambiente silencioso me deixa ansiosa. Eu geralmente não fico
sozinha com homens que nunca vi na vida, então é claro que ao que quer que
ele me diga eu responderei na defensiva.
— Queria conversar sobre o almoço marcado pela sua mãe.
— Me perdoe, a minha mãe é muito receptiva, então quis marcar esse
almoço para nós. Não precisamos fazer isso.
— Mas eu quero fazer isso! — Merda!
— Mas não precisamos — repito em um sorriso nervoso.
— Senhorita Hanna, não quer sair em um almoço com o seu novo
sócio?
Deus, falando dessa maneira, parecerá mesmo estranho se eu cancelar
o almoço agora. E ainda tem o fato de que tantos “senhorita” estão me
deixando irritada. Pelo menos agora o senhor Anderson não está sendo um
tarado.
— Quero sim! — falo seriamente.
— Que bom, porque eu queria te perguntar onde eu deveria te buscar
na segunda.
Era isso?
— Não precisava me chamar aqui para ter essa informação.
— Isso é verdade, mas você aceitou vir! — Ele sorri como se fosse
um vitorioso e se aproxima, saindo de perto da porta para me alcançar.
— Achei que fosse algo mais importante!
Reconheço a irritação em minha voz por ter sido enganada para estar
neste local abafado. Só eu estou sentindo todo esse calor?
— Para mim, é bem importante te conhecer melhor, ainda mais depois
de ver o desespero em seus olhos quando a sua mãe marcou o nosso almoço.
O que foi? Não tem costume de almoçar com os seus fornecedores?
Que perverso da parte dele falar dessa maneira.
— Se tenho ou não esse costume, não é algo que deveria incomodar o
senhor. Pode ficar tranquilo, que eu irei a esse almoço, a menos que o senhor
realmente não possa ir…
— É claro que eu vou! Estou ansioso para isso, na verdade. —
Nefasto do sorriso bonito.
— Não precisa ter tantas expectativas, será apenas para conhecermos
mais da empresa um do outro. — Essa é minha cartada final para afastá-lo de
qualquer interesse em mim.

Vou em direção à porta e fico entre a cruz e a espada querendo sair, já


que ele divide o caminho.
— Então, onde eu te busco?
— Na minha empresa, meio-dia. — Estou com zero paciência para
joguinhos de homens safados.
— Estarei lá no horário. Muito obrigado pelo convite, senhorita
Hanna. Foi fantástico poder te conhecer!
— Eu agradeço por vocês terem comparecido — falo com o máximo
da minha simpatia. — Espero que tenha gostado de tudo.
— Gostei muito de uma coisa em específico.
Nem pergunto sobre o que ele está falando, porque a resposta está
bem óbvia. Que tentativa de cantada brega! Talvez seus 28 anos o atrapalhem
em ter cantadas criativas.
— Então era esse o assunto? Posso retornar à minha festa? — falo ao
dar um passo para o lado, quando, de repente, duas mãos se chocam e uma
tensão diferente cresce entre nós.
Não é exatamente o que eu estava esperando para o final dessa
conversa, mas, assim que eu dou um passo para o lado, ele se aproxima,
fazendo sua sombra me cobrir, e pega minha mão sem titubear. Fico
espantada e completamente sem reação.
O.k., isso foi inesperado. Mas tem algo a mais que me faz reagir
imediatamente ao seu toque.
Anderson Magalhães acabou de criar uma possível barreira entre mim
e a porta. Eu o encaro, erguendo a sobrancelha, incrédula pela sua atitude,
enquanto simplesmente ignoro meu coração acelerado pela sua mão estar
segurando a minha.
— O que está fazendo?
— Está incomodada comigo? — Que merda é essa?
— Agora estou! — falo, percebendo que ele havia notado o meu
desconforto desde o início. — Por que acha que pode segurar a minha mão?
— A surpresa é uma ótima arma contra os despreparados!
— O quê? — Quase falo alto demais pela raiva que sinto.
Ele acabou de me chamar de despreparada?
— Estou ansioso para o nosso almoço, não me faça esperar!
Anderson simplesmente toma mais uma liberdade e sela um beijo
contra os nós do meio dos meus dedos, saindo como se não tivesse feito nada
de mais. Esse homem é louco, por acaso?
Sorte a minha que o sofá está por perto, porque eu preciso me sentar
na mesma hora. Observar a porta após ele ter saído nunca foi tão confuso.
Abano-me com a minha mão que não foi pega por ele e olho para os meus
dedos com um sorriso irônico, que apareceu em meus lábios no meu
momento de fúria reprimida.
— Idiota convencido!

Entro em silêncio para dentro de casa, cuidando para não fazer


barulho. As luzes apagadas indicam que meus pais já devem estar dormindo.
Retiro meus saltos e ando com cuidado para não os acordar. Meu quarto é o
último do corredor, enquanto o deles fica na primeira porta do andar de cima.
Eu só teria que passar com calma, mas sou pega pela minha mãe, que abre a
porta quando o piso laminado range. Ela está vestindo uma camisola longa de
seda preta com o seu robe do mesmo tecido.

— Como foi a sua conversa com o senhor Anderson?


— Deus, mãe! Quer me matar do coração? — Levo a mão ao peito.
— Não, só quero que me conte para onde foram quando saíram do
salão. Eu estava de olho em você o tempo todo. Me conta sobre o que
conversaram.
— A senhora não deveria estar trabalhando na nossa empresa, mas
como espiã — cochicho, mas ela escuta, por estarmos perto uma da outra.
— Desembucha. Seu pai vai acordar se você demorar.
— Não conversamos nada de mais. Ele apenas queria saber onde
poderia me buscar na segunda para o nosso almoço.
— E por que ele não perguntou isso no salão? — Dou risada por
termos pensado igual.
— Eu fiz a mesma pergunta para ele!
— Estranho… — Suas sobrancelhas se contraem em desconfiança.
— Não estou mentindo para a senhora, sabe que eu não faço isso. —
Pelo menos na maioria das vezes.
— Gostou dele? — Minha mãe dispara.
— Tive raiva dele, isso sim! — Reviro os olhos.
— Por quê?
Quero falar que é porque ele estava olhando para os meus seios, mas
sei que a minha mãe poderia até acabar com a parceria das empresas só por
causa disso.
— Acredita que ele disse as seguintes palavras para mim: “a surpresa
é uma ótima arma contra os despreparados”? — Os olhos dela se arregalam.
— Sério? Em que tipo de situação ele te disse isso?
É, eu sabia me lascar conversando com a minha mãe.
— Nenhuma! — Minto 50 segundos após dizer que eu não mentiria
para ela. — Ele disse aleatoriamente na nossa conversa, e isso me estressou.
Ele parece soberbo demais para o meu gosto, e o jeito como ele ficava
sorrindo para mim… — Reviro os olhos novamente. — Aquilo me irritou.
— O sorriso dele te irritou? — Agora quem está me olhando com uma
cara estranha é ela.
— Chega desse assunto, mãe. Eu estou morrendo de sono, quero
descansar… — Desvio das suas especulações.
— Tudo bem. — Minha mãe se coloca para dentro do quarto
novamente. — Amanhã você me conta tudo.
— Não tem mais nada para contar!
— Claro que tem, vocês ficaram uns dez minutos lá dentro.
— Foram no máximo cinco minutos.
— Vai dormir, filha. Você já está fora da casinha após tantos vinhos.

— Que mentira! — Reviro os meus olhos pela terceira vez, e a minha


mãe me manda um beijo antes de fechar a porta.
Assim que entro no meu quarto, dou de cara com uma quantidade de
presentes inexplicável. Caixas e embrulhos de todos os tamanhos estão
empilhados ao lado da minha cama.
Qual seria o presente daquele idiota convencido?
Eu deveria me arrumar para me deitar, mas a curiosidade é maior que
o cansaço, e, na verdade, eu nem sei se tem realmente um presente dele.
Procuro em todos os pacotes o nome do senhor Magalhães e, enfim,
encontro uma caixa pequena, bem-embalada e com uma fita dourada. Seu
nome está na tampa, e é claro que eu nem pensava na possibilidade de ele ter
levado um presente, porque o convite foi em cima da hora. Mas aí está o
embrulho, causando-me uma ansiedade descomunal. Abro o presente com
cuidado e, após retirar a fita dourada e a tampa, dou de cara com mais uma
caixa. No mesmo instante, uma risada escapa pelos meus lábios. Ele é esse
tipo de pessoa que gosta de tirar sarro dos outros com os presentes?
A caixa é menor do que a primeira e de um estilo diferente. Pego-a
em minhas mãos, sentindo o seu peso. Provavelmente é de madeira, algo
artesanal, confesso que foi muito bem-feita. Há molduras com detalhes em
dourado nos quatro cantos do recipiente e uma pedra verde no centro da
tampa; na parte de baixo, os pezinhos dourados dão um charme a mais à
caixa, que parece um porta-joias.
Giro-a em minhas mãos, observando com muita atenção os detalhes,
enquanto imagino o que pode haver dentro. Para a minha frustração, a caixa
não tem abertura. Tento abri-la, mas não encontro uma forma. Ela está
trancada, mas como? Não tem uma fechadura e nem uma chave.
Sorrio ainda mais, pensando em como ele foi sacana. Deu-me um
presente que eu não posso abrir sem seu conhecimento. Chego até a procurar
alguma marca descrita na caixa para eu pesquisar a loja na internet e ver
como a abrir, mas não encontro nada. Balanço a caixa com cuidado e escuto
um barulho abafado de algo metálico, alguma joia ou caneta, talvez.
Bufo para mim mesma por sentir a raiva da curiosidade crescendo e
porque eu perdi cerca de vinte minutos da minha vida com isso.
Desisto de tentar descobrir o enigma da caixa e a coloco em cima da
minha mesa, pensando seriamente se eu deveria jogar aquele treco fora;
afinal, não me serve de nada uma caixa que não abre. Eu até chego a levá-la
para a lixeira, mas não tenho coragem de jogar, pois ela é linda.
Fico inquieta na cama após o meu banho, lembrando-me das coisas
que ele havia me falado:
“Para mim, é bem importante te conhecer melhor…”
“Gostei muito de uma coisa em específico”.
“A surpresa é uma ótima arma contra os despreparados!”
— Seu maldito idiota! Você que será o despreparado!
“Está atrasado!”

Meu celular apita com a mensagem. “Senhorita Espirituosa”, é como


eu decidi chamá-la, já que sua inteligência aparentemente é aguçada, além de
ser perceptiva nas situações e de difícil acesso. E, como eu imaginava, ela
tem até o meu número.
Caminho pelo estacionamento subterrâneo do prédio da minha
empresa e paro para verificar a sua imagem de perfil. Hanna tem uma foto
mais profissional, usando uma camisa branca e os cabelos presos. Mesmo
com essa pequena imagem, eu consigo sentir o ar de soberba vindo dela ao
me lembrar da nossa conversa particular no sábado.
Eu não quero irritá-la, mas tenho certeza de que foi isso que eu fiz.
Minha única intenção é me aproximar para tentar uma abertura entre nós. Em
vez disso, ganhei uma pequena gata arisca que está sendo grosseira em
qualquer tentativa da minha parte. Não minto em dizer que fiquei encantado
por ela, nunca tinha visto uma beleza como aquela; como ela pode ser tão
bonita assim? Caralho! E, ao mesmo tempo, ela tem um espírito presunçoso
que me deixa descontrolado querendo provocá-la.
Noto o que acontece entre ela e a mãe quando elas começam com os
pequenos cochichos, com certeza algum tipo de disputa estranha. Mas eu não
me importo, agradeço mentalmente por ter conseguido esse almoço com ela,
pois o coitado do meu amigo ficou o restante da noite reclamando de como
eu havia sido sortudo, porque, logo após a saída da senhorita Hanna, os pais
dela também se despediram de nós. Claro que, antes de eles saírem, fizeram
questão de tecer muitos elogios à filha, que, aparentemente, além de ter um
gênio muito difícil, é inteligente e fez a empresa triplicar as vendas em pouco
tempo.
Paro de relembrar a festa, porque o assunto que me interessa nesse
momento está bem na tela do meu celular, especificamente me recriminando
após eu ter afirmado que não me atrasaria, pois já se passaram cinco minutos
do nosso horário marcado.
“Já estou indo!”

Respondo-lhe com pressa e guardo meu celular no bolso enquanto


entro no meu carro. Hoje eu não estou com o meu R8, e sim com a BMW M8
azul. Pensando bem, foi uma escolha bem chamativa para um almoço com a
princesinha dos Menezes, mas eu não me importo, com certeza ela anda com
carros assim o tempo todo.
Chego em menos tempo do que eu imaginava conseguir. Quinze
minutos foi o necessário para alcançar a parte mais calma da cidade, onde
várias empresas de grande porte se localizam. Talvez um dia eu e Kauan
possamos ter um galpão aqui também.
Assim que estaciono no local, tenho que obrigatoriamente parar na
portaria e me identificar. Fico surpreso por eles liberarem a minha passagem
apenas com o meu documento em mãos. Da última vez que estive aqui,
quando fizemos a entrevista, só faltou eles pedirem minha carteira de vacinas;
devo ter ficado uns vinte minutos só lhes fornecendo informações minhas, do
meu sócio e da nossa empresa. Dessa vez não foi necessário nenhum
comunicado a mais, eu já era aguardado.
É impossível não notar a grandiosidade da empresa deles, localizada
em um imponente prédio de vidro espelhado. A sede da empresa se destaca
pela elegância e por seus diversos andares que reluzem ao sol. O ambiente é
meticulosamente planejado para causar impacto visual e despertar um
sentimento de fascínio. Há funcionários por todos os lados vestidos
elegantemente com uniformes em tons leves de verde-claro. Noto que o
mesmo manobrista da semana passada se aproxima do meu carro.
Antes mesmo que eu posse lhe informar que eu não precisava de que
ele estacionasse meu carro, ele leva sua mão até o fone em sua orelha e fica
alguns segundos do meu lado, apenas concordando com o que lhe falam.
— Senhor Anderson Magalhães? — Ele pergunta.

— Sim, vim buscar a senhorita Hanna Menezes.


— Ela já vem, está ali na recepção com um fornecedor. — Ele me
oferece um sorriso simpático.
Como ela pode me dizer que estou atrasado, sendo que ela mesma
estava ocupada com outras questões?
O manobrista se retira e vai em direção à entrada do prédio. As portas
automáticas se abrem, e, então, eu a vejo lá dentro com o tal fornecedor. Um
homem negro, provavelmente na casa dos trinta e poucos anos. Os sorrisos
entre os dois são aparentemente amigáveis, diferente de como ela agiu
comigo na sua festa, com um total de zero sorrisos.
Hanna está usando uma camisa preta de tecido fino com um decote
generoso e uma saia bege que lhe deixa com uma bela bunda ao moldar o seu
corpo. Os saltos aparentemente são uma coisa de que ela gosta, já que os
utiliza até no serviço.
Quando menos espero, ela me encara por breves, mas eternos, dois
segundos, antes de começar a caminhar para fora com aquela pessoa, que
repentinamente atravessa o braço para alcançar o ombro dela e a puxa para
um abraço lateral. Hanna mantém aquele seu sorriso, e, então, eu me lembro
de que ela estava conversando com esse mesmo homem em seu aniversário
também. Talvez eles tenham algum tipo de relação.
Eles se despedem com um beijo rápido no rosto, e eu saio do meu
transe quando ela vem sozinha em direção ao meu carro. Saio rapidamente do
meu lugar para poder abrir a porta para ela e, enfim, ficamos cara a cara outra
vez.
Noto novamente as pintinhas em seu pescoço, que trilham um
caminho perigoso até a abertura do seu decote, e desvio meus olhos antes que
possam descer mais. Ela é ainda mais linda à luz do dia. Com certeza aquele
homem tem algo com ela, talvez um sexo casual não assumido, porque para
mim é obvio que uma mulher desse nível tenha alguém ao seu lado. Ela é
perfeita, mesmo sendo arisca.
— Senhorita Hanna. — Ofereço-lhe a minha mão.

— Apenas Hanna, por favor! Acho que eu não preciso te chamar de


senhor Anderson o tempo todo, né? Não quero essa formalidade. — Ela
aparenta estar sem paciência… novamente.
— Claro, não é necessário. — Hanna me pede um favor tão informal,
com uma voz tão profissional, que eu até cogito se ela poderia não aceitar a
minha mão, mas ela aceita e, logo em seguida, abro a porta do carro para ela.
— Onde quer almoçar?
— Tente me surpreender. — Essas palavras de novo?
Hanna entra com cuidado e elegância. Seu perfume começa a me
chamar a atenção. Que cheiro bom! Com certeza terei que me esforçar para
tirar esse cheiro do meu carro.
Escuto o som do couro do banco se aproveitando enquanto ela se
ajeita e deposita sua bolsa no chão perto dos seus pés, que reparo como são
fofos! Isso mesmo. Fofos. Ela mantém as unhas pintadas de branco, e seus
pés são pequenos, com os dedos gordinhos. Como eu disse, fofos.
Estranhamente, ignoro meus pensamentos, que desejam ir a um rumo sexual,
ao notar essa sua característica física.
Fecho a porta e dou a volta no carro para entrar, e ela coloca o cinto
de segurança. Sua saia está malposicionada, e o tom branco demais da sua
pele está à mostra. Provavelmente está incomodada, pois se mexe para
arrumar a pequena fenda lateral que mostrava metade da sua coxa.
— Aqui é realmente muito grande! — falo, para quebrar o gelo. Ligo
o carro novamente e começo a dirigir.
— Sim, é uma empresa de mais de trinta anos. Crescemos muito no
último ano! — Ela comenta com orgulho, mantendo o profissionalismo.

— Tenho certeza de que sua influência foi grande para esse


crescimento!
— Não posso atribuir esse sucesso somente a mim. Nossa empresa é
uma grande família, todos são importantes aqui! — Seu rosto se mantém
virado para o vidro.
Eu tenho uma leve impressão de que ela não quer mesmo esse almoço
comigo, mas, para a infelicidade dela, eu estou adorando deixá-la
desconfortável, só porque ela gosta de manter o nariz empinado. Ainda que,
no fundo, no fundo, eu admita a mim mesmo que estou mesmo é
aproveitando meu momento com uma mulher tão bela.
— Mas creio que não podemos diminuir o seu esforço também.
Conversei com os seus pais na sua festa, eles falaram o quanto você é
dedicada à empresa.
— Gosto de focar apenas uma coisa e, no momento, é a nossa
empresa, sem mais nenhuma distração. — Isso foi uma indireta bem direta.
— Você está certa! — A essa altura da conversa, eu já estou
atravessando a rodovia e penso se deveria testar um novo assunto, ou se seria
massacrado pelo seu mau humor.

— Estava aqui pensando… — Ela decide falar.


— Sim? — Coloco minha mão na marcha do carro e passo os olhos
pelas suas pernas, que estão tensionadas.
— BMW azul. Sério isso? — Hanna fala, encarando-me com um
sorriso de canto. Provavelmente ela não está feliz, e sim se divertindo com
algo à minha custa. Só que essa porra de sorriso é bonito demais para eu
conseguir encarar. — Gosta desse tipo de atenção?
— Como assim?
— Na minha percepção, esse carro é para você esbanjar o seu status
social. Notei que as janelas não têm insulfilm, então concluo que você se
sente bem com as pessoas à sua volta te admirando neste automóvel. Gosta
de que os outros saibam o que você tem?
O que ela espera que eu responda? Afinal, todas as pessoas que eu
conheço que têm carros de luxo gostam da atenção que recebem. E, também,
que tipo de pergunta é essa?
— Admito que, além de toda a beleza do carro, ele tem um
desempenho muito bom na estrada, então não é apenas pelo status social.
Mas não nego que, para mim, o meu carro demonstra o meu sucesso.

— Então o dinheiro é algo muito importante para você? — Hanna


fala, com uma voz mais fria.
— Acho que o dinheiro é importante para todo mundo.
— Tenho certeza de que o nosso contrato o beneficiou muito! — Pela
sua fala, isso foi um pensamento conclusivo.
— Aonde quer chegar com essas perguntas?
— Creio que isso não importa. — E eu creio que a arrogância dela é
um dos seus traços mais fortes.
— Importa quando você está deduzindo algo a respeito do nosso
contrato apenas por causa do meu carro.

— O senhor está pensando demais, não deveria se sentir incomodado


com as minhas palavras.
— Não estou incomodado — digo, um pouco contrariado.
— Certo, eu finjo que acredito.
Hanna dá uma risada interna e se volta novamente para a janela,
deixando-me completamente sem resposta. Enfim, o feitiço se virou contra o
feiticeiro: “a surpresa é uma ótima arma contra os despreparados!”. Eu não
estou preparado para as suas perguntas.
Não adianta eu ser um mentiroso com ela, porque não vai colar.
Todas as pessoas que têm um carro de luxo querem, sim, atenção, mas tem
muitos outros fatores que esses tipos de carros oferecem, e eu não seria
hipócrita de lhe dizer que dinheiro não é importante.
Até tento não pensar nas suas últimas falas, mas só falta minha cabeça
soltar fumaça de tanto que o meu raciocínio martiriza a nossa conversa, até
que, enfim, chegamos ao hotel que escolhi para nossa refeição. É a melhor
comida da cidade. O restaurante deles fica localizado no último andar do
prédio e tem uma vista espetacular. Eu o visitei apenas uma vez, mas agora já
não tem mais sentido eu fazer por ela, já que a senhorita espirituosa dificulta
até a nossa conversa mais simples.
— Chegamos.
— Eu percebi! — Seu tom é seco, e, meu Deus, que mulher difícil de
lidar!
Engulo em seco o meu orgulho e saio do carro, indo em direção à sua
porta para abri-la, mas ela sai antes que eu possa alcançá-la.
— Você não precisa ser tão cavalheiro. Eu posso abrir uma porta. —
Seus olhos se semicerram para mim.
Ela está me julgando por ser educado?
— Você merece que eu seja educado — digo para desconcertá-la e
percebo seus olhos esmeralda se direcionando ao meu sorriso.
— Só não faça mais! — O.k., talvez ela esteja me tirando do sério
também.
Indico com a minha mão para que ela vá na frente, e, por instinto,
meus olhos descem para a sua bela bunda. Sua saia é de um tecido grosso,
então não consigo enxergar o desenho da sua calcinha. Geralmente essas
coisas ficam destacadas, ou talvez a senhorita espirituosa não esteja nem
usando uma calcinha! Merda, por que eu pensei nisso, se essa mulher
grosseira só está procurando as brechas para me desestabilizar?
Entramos no hotel, e o recepcionista nos indica o andar e o elevador.
Hanna anda o caminho todo na minha frente e atrai os olhares de muitos ali.
Eu não deixo meu ego se sentir bem de estar em sua companhia, porque
talvez eu esteja com a mulher de outro homem, já que ela e o tal sócio com
quem estava conversando têm muita intimidade. O elevador espelhado é bem
grande, mas com as portas fechadas parece sufocante.
— Está incomodada comigo? — repito a mesma pergunta que fiz em
sua festa.
— Por que essa pergunta de novo? — Hanna encosta na parede do
elevador e mantém a sua voz seca.

— Porque você claramente me trata com indiferença, e, pelo que eu


saiba, eu não fiz nada de errado.
— Eu trato qualquer desconhecido assim.
— Coitados de todos que ainda vão te conhecer, então! — falo com
graça na voz.
— Relaxa, esse nosso almoço me dirá muito sobre você.
— Daí, então, a senhorita vai me tratar bem? — Sorrio.
— Não estou te tratando mal.
— Parece sempre estar na defensiva, e eu acho que está, sim, me
tratando mal.
— Realmente, o senhor acha que eu devo ficar relaxada do seu lado?
— Eu não vou fazer nada. — As portas se abrem. — Afinal, estamos
em público.
Dou risada ao ver a sua reação por ter sugerido que, se ficássemos a
sós, ela não estaria segura. Saio do elevador, deixando aquela gata arisca
travada lá dentro. Dois a um para mim.
Decido, enfim, deixar o assunto de lado e me direciono a um dos
garçons, que nos leva até a mesa. O local está bem cheio, já que estamos no
horário alto do almoço. Aqui também há muitos olhos direcionados a nós.
Mesmo eu estando um pouco estressado com esse meio metro de petulância,
eu sou educado e puxo a cadeira para ela se sentar.
— Desculpa, eu nem perguntei se você come carne vermelha —
comento, trocando o nosso antigo assunto.
— Sim, só não como camarão. — Hanna diz enquanto olha o
cardápio, e eu penso que talvez ela seja alérgica.
— Você vai gostar daqui, então. O que vai querer comer?
— Não sei qual é o melhor prato, então pode escolher por mim. —
Sua sugestão me faz quebrar um pouco da defensiva que eu também estava
criando contra ela.
— Certo. — O garçom se aproxima, e eu escolho as nossas comidas e
bebidas enquanto Hanna verifica algumas mensagens em seu celular. —
Gosta de vinho?
— Oi? — Ela retorna sua atenção a mim.
Como estamos sentados um de frente para o outro, não tem como eu
não me fascinar por seus olhos verdes. São tão lindos. E também tem aquelas
pintinhas marcantes em seu rosto, as quais observo a quase todo momento.
— Eu vi o seu colar na festa… — Aponto para o pequeno pingente.
— Reparei no pingente de taça, então concluí que você gosta de vinho.
No instante em que digo isso, seus olhos se arregalam, e sua mão vai
direto ao pingente dourado que está usando. Ainda não tinha visto essa
mulher com vergonha, mas o rosto dela fica em um vermelho prazeroso, e eu
quero muito saber o motivo que a deixou assim.
— Você ficou encarando o meu colar? — Ela diz, agindo de maneira
um pouco estranha.
— Sim, no começo eu demorei para entender o desenho e reparei
também que havia diversos tipos de vinhos sendo servidos; então, eu achei
que os vinhos tivessem sido uma escolha sua, já que sua mãe falou sobre os
champanhes; e seu pai, sobre os uísques.
— Claro… — Hanna permanece pensativa, mas também parece ter se
desarmado um pouco. — Quem não gosta de vinho, não é mesmo?

— Eu pedi um Cabernet Sauvignon. — Suas sobrancelhas se juntam,


e noto que acertei na minha escolha. Ela não gosta de vinhos secos.
No dia da sua festa, eu experimentei cada um dos vinhos oferecidos, e
não tinha um vinho seco sequer. Muitas pessoas não gostam de vinho seco,
eu mesmo odeio, mas eu precisava fazer esse teste com ela, já que a sua
chatice está no extremo.

O garçom aparece bem no momento em que a surpreendo. Seus olhos


verdes queimam em mim enquanto ele abre a garrafa na nossa frente e coloca
um pouco nas nossas taças para experimentarmos antes de ele servir mais.
— Então, Anderson! — Meu nome parece brigar dentro da sua boca.
— Me diga, por que você escolheu o Kauan para ser o seu parceiro nos
negócios? Vocês são tão… diferentes.
Ela gira o líquido na taça por breves segundos e, então, o aprecia em
seus belos lábios, concordando em seguida para o garçom colocar mais.
Talvez eu tenha me enganado.
— Eu sei que não parece, mas o Kauan é um garoto muito esperto. A
gente sempre se deu muito bem, desde a faculdade. — O garçom se afasta da
nossa mesa assim que nos serve. — Eu tinha o sonho de ampliar a empresa
do meu pai, e o Kauan tinha a lábia para convencer a todos. Nosso começo
foi difícil, mas eu tenho que confessar que, se não fosse por ele, com certeza
não teríamos conseguido os parceiros que temos hoje.
— Eu fico feliz que a amizade de vocês seja tão forte assim. E você,
gosta do que faz na sua empresa?
— Cálculos e mais cálculos? — Sorrio, pensando que sou do
financeiro, e, para a minha surpresa, ela sorri também. Talvez agora a nossa
conversa entre em um rumo melhor. — Sim, eu gosto muito.
— Você se acostumou bem a estar longe da sua família? Sei que eles
são de Brasília.
Lembro-me de que, em seu aniversário, Hanna já sabia os nossos
nomes antes mesmo de conhecer a gente. Com certeza ela tem um amplo
campo de pesquisa para conseguir as nossas informações, e aí está mais uma
delas — ela sabe de onde os meus pais são.
— Eu sinto muita falta dos meus pais; afinal, eu trabalhava com eles
lá, mas, pelo menos duas vezes ao mês, eu vou para Brasília. — O garçom se
aproxima com os nossos pratos e os posiciona em nossa frente. — Já conhece
a cidade?
— Não muito, fui apenas uma vez e somente para resolver coisas da
empresa. Mas eu sei que você tem um irmão mais novo. Ele não sente sua
falta? — Meu Deus, até do meu irmão ela tem conhecimento!
Hanna desliza a faca pela carne e a leva até a sua boca. Desvio meu
olhar para meu prato de comida, porque em minha mente isso é algo sexy
demais para se suportar, e, se eu continuar encarando sua boca,
provavelmente terei uma ereção indesejada.
Noto que, desde que resolveu ter uma conversa civilizada comigo,
Hanna não para de fazer perguntas. Mas sou eu que estou curioso para
descobrir informações dela — ela já tem uma ficha técnica sobre mim.
— Meu irmão tem quinze anos, então no momento ele está sendo um
ser humano insuportável — brinco, e ela solta uma pequena risada. Começo a
comer.
Não era para eu ter gostado disso, porque, desde o seu aniversário, eu
estava recebendo mais e mais bordoadas dela, mas ter feito ela sorrir de
verdade me alegra, e quero muito poder ver seu semblante descontraído. Eu
só não sei em que momento o humor dela mudará novamente. Talvez seja
TPM, ou talvez ela seja bipolar. Independentemente, eu vou aproveitar a
onda de bom humor.
— Qual o nome dele?
— Anthony.
— Vocês homens da família Magalhães começam todos com a letra
A? — Ela é observadora pra caralho.
— Isso mesmo, coisa do meu pai.
— Senhor Andres, né?
— Sim! — Antes que ela engate outra pergunta, eu continuo falando.
— Creio eu que este almoço não seja uma entrevista sobre a minha vida, né?
Deixe-me descobrir coisas sobre você também!
— Certo! Pode perguntar. O que eu achar necessário, eu respondo. —
Hanna sorri e continua comendo.
— Com quantos anos começou a trabalhar na empresa dos seus pais?

— Com dezenove. — Ela responde assim que engole.


— Nossa, foi bem nova! E você tem irmãos?
— Não! — Filha única. Com certeza foi bem mimada.
— Gosta de trabalhar com os seus pais?
— É sempre um desafio. Minha mãe torna todos os meus dias
emocionantes.
— Notei algo no aniversário — comento, e vamos conversando entre
garfadas e goles de vinho. — Vocês parecem muito amigas.
— E somos. Ela sempre sabe de quase tudo da minha vida, mas você
viu como ela é, né? Estamos aqui graças aos seus talentos de persuasão. —
Hanna revira seus olhos verdes, e eu acho um charme.
— Tem namorado, Hanna? — Solto as palavras sem ao menos pensar
direito, e ela me encara sem nenhuma expressão.
— Não acho que seja relevante eu responder a essa pergunta.
— É relevante para mim. Quero saber se estou em um almoço com a
mulher de outro homem — falo sarcasticamente.
— Eu não sabia que mulheres eram posses de homens.
Sua sobrancelha se levanta, e imediatamente a minha mente dispara:
“se você fosse minha, entenderia muito bem o que eu estou dizendo”.
— E não são mesmo, mas…
— Então não é relevante que eu te responda.
— Hanna, eu tenho que te confessar que você é uma pessoa
extremamente chata, sabia? — Seus olhos neste momento não estão mais
claros, e eu acho que agora ela está com muita raiva da minha sinceridade. —
É uma pergunta simples, não precisa vir com sete pedras nas mãos para me
atacar. Está me atacando desde o momento em que nos vimos pela primeira
vez.
Já era previsto que o nosso almoço terminaria assim se eu e ela não
parássemos de nos provocar. Ok, eu sei que passei dos limites em vários
momentos, mas Hanna também não facilitava para mim. Não que eu queira
algo dela, mas uma conversa descontraída não custa nada, né?
— Eu não acredito que estou aqui escutando isso. — Sua voz raivosa
denuncia os seus atos, e suas mãos largam os talheres, que trepidam sobre a
porcelana.
— Tenho certeza de que muitas pessoas não falam as coisas que você
precisa ouvir.
— E você acha que tem esse direito de falar, sendo que nem me
conhece?
— Eu acho que a honestidade é melhor que a falsidade. Gosto de ser
sincero.
— Você passou dos limites. — Hanna se levanta com tudo, emitindo
os sons dos pratos na mesa, e eu faço o mesmo. — Eu vou embora!
— Hanna, espera…
— Senhorita Hannah pra você! — Ela explode, pega a bolsa e dá o
primeiro passo.
Por desespero por ter feito algo terrível que poderia até mesmo acabar
com a recente parceria entre as nossas empresas, eu simplesmente ajo no
impulso de segurá-la para mantê-la ali, pelo menos para tentar explicar algo
inexplicável. E, por causa dessa maldita aflição em pausá-la, acabo
esbarrando minha mão em sua taça de vinho, que derrama todo o conteúdo
em sua saia bege. Como se não fosse o bastante, o vidro se espatifa pelo
chão, chamando a atenção dos demais clientes.
Para piorar a minha situação, o tecido se faz como papel na água –
assim que o líquido bordô atinge a malha, a sua calcinha vermelha se destaca
na transparência formada pela umidade. Hanna fica congelada, com as pernas
molhadas pelo vinho e com o belo quadro de sua bunda um tanto quanto
exposta, desenhada em carmim.
Mesmo com a angústia de ter feito isso com ela no meio de um
restaurante lotado de pessoas, eu estou tendo que lidar com a ereção
gigantesca que está marcada em minha calça, de tão erótica que toda a cena
se tornou.
Giro meus saltos com uma lentidão torturante, notoriamente
incrédula. O som estridente da minha sandália ecoa pelo salão quase
silencioso demais, e eu encaro Anderson com a maior indiferença que
consigo reunir neste momento de humilhação, tentando dar o mínimo de
importância possível para o fato de a minha calcinha estar totalmente
marcada na minha bunda após um banho gratuito de vinho.
— Hanna, me perdoe! — Anderson pega o guardanapo da mesa e
vem em minha direção, mas eu não permito que ele se aproxime. — Deixa eu
te ajudar.
— Eu não preciso de ajuda, muito menos a do senhor.
Sinto a fúria nos meus olhos. Provavelmente minhas sobrancelhas
estão tão arqueadas, que as marcas de expressão na minha testa são evidentes.
Ele conseguiu juntar toda a tensão que eu venho segurando nessas últimas
semanas para que eu explodisse logo agora.
— Me desculpe se o que eu disse te irritou.
— Sério que está se desculpando pelo que me disse, e não pelo que
fez comigo agora? — Tento manter a voz calma, mas eu quero tanto gritar
com esse idiota!
— Não, claro que não…
— Foi ótimo conversar com o senhor. — Forço a minha voz
profissional, que rasga a minha garganta. — Muito obrigada pelo almoço.
Mande lembranças minhas ao seu sócio e, por favor, se precisar conversar
comigo, não me procure!
Decido deixar bem clara a minha aversão a ele neste momento. Não
consigo sequer esperar por sua resposta e me direciono ao elevador, tentando
manter a maior confiança que existe dentro do meu ser, por estar ciente de
que a maioria das pessoas daquele estabelecimento estão encarando a minha
bunda neste exato momento, inclusive o maldito Anderson.
Se hoje de manhã tivessem me perguntado o que eu esperava desse
almoço, eu nem em sonhos imaginaria isso!
Entro no elevador com pressa e me encaro no espelho. Estou tão
vermelha, que facilmente poderia ser confundida com um pimentão. Aperto o
botão do térreo o mais rápido possível e já procuro na minha bolsa o meu
celular para mandar imediatamente uma mensagem ao senhor Diogo para que
ele venha me buscar.
Antes que as portas se fechem totalmente, eu consigo escutar o som
de sapatos sociais se aproximando rapidamente e, infelizmente, tenho uma
falsa esperança de ele estar longe. Sua mão aparece no vão das portas, que se
abrem novamente com seu movimento. Anderson entra transtornado naquele
pequeno espaço e encara os meus olhos como se eu fosse um bicho
indecifrável.

Com um movimento rápido, ele aperta o botão para as portas se


fecharem e, ao mesmo tempo, aperta um outro botão que trava o elevador no
andar. Agora quem está transtornada sou eu. Além da raiva por causa do
vinho, estou em pânico por estar trancada sozinha com ele. Dá para medir o
quanto o ar está pesado dentro dessa caixa de metal.
Decido simplesmente o ignorar e apertar o botão para que o elevador
volte a funcionar, mas sou impedida pela sua mão, que me segura com
cuidado, dando-me o recado de que eu não vou sair sem escutá-lo.
— Hanna, deixa eu me desculpar corretamente. — Ele fala. Assim
que liberta minha mão, eu me afasto.
— Solte o elevador! — Não consigo encarar seu rosto por mais de um
segundo.

— Você pode parar de mandar um pouco e me escutar? — A voz de


Anderson carrega aquela honestidade de antes, e ele dá um passo em minha
direção.
— Não estou mandando em ninguém. Eu só não estou me sentindo
bem trancada aqui. — Revelo. — E eu não dei liberdade alguma para o
senhor tentar tirar informações da minha vida pessoal — falo com a voz
áspera e bato meu indicador contra o seu peito conforme ele tenta se
aproximar mais, já que eu o quero bem longe.
— Hanna, era só uma pergunta, não precisava de todo esse show. —
Show? Deus, que vontade de dar um tapa na cara desse homem.
— Sou solteira! — digo no máximo da minha raiva. — Pronto, agora
destrave o elevador, estou ficando sem ar. — Eu nunca fui claustrofóbica,
mas estou me sentindo assim agora.
— Viu? Você está mandando.
— Não estou. — Eu não iria pedir “por favor” a ele.
— Céus, que gênio difícil você tem!
Anderson esfrega a testa nervosamente e, a cada segundo trancada, eu
sinto que o ar fica mais difícil de ser inspirado. Eu estou com a pele quente
desde as minhas bochechas até o meio das minhas pernas e me nego a pensar
que isso tudo seja porque eu estou sentindo uma tensão entre nós dois.
— Vamos acabar logo com isso. Eu preciso ir embora e acho que só
está aqui para me “pedir desculpas corretamente”, não é mesmo? — repito o
que ele falou quando entrou no elevador.
Anderson fica sem reação e dá mais um passo em minha direção,
fazendo-me encostar no espelho, em choque. Fico com medo por sua
aproximação, mas mantenho o olhar mais intimidador que consigo no
momento.
— A senhorita não pode falar o que bem entende e esperar que eu
peça desculpas agora. — Sua voz está levemente raivosa, e ele se aproxima
mais. — Eu não sou um cachorro para te obedecer.

Abro a minha boca, incrédula com a sua suposição. Realmente,


“cachorro” tinha várias definições.
— Eu nunca te considerei um cachorro. — Galinha seria mais correto.
— Mas me trata como um. Vamos, me diga, por que está com tanta
raiva de mim?
— Você acabou de me envergonhar em um restaurante lotado. —
Reviro os olhos como se a resposta fosse óbvia, e surge um sorriso em sua
face.
— Nós dois sabemos que essa não é a verdade para a minha pergunta.
Você está me tratando mal desde o seu aniversário. Por quê?
Deus, eu não quero ter que anunciar a minha verdade, mas, se ele se
aproximar mais do meu corpo, eu vou cair com a maior certeza do mundo,
pois esse perfume está me deixando zonza.
— Me diga, Hanna!
Anderson se esquece do limite entre nós, e seus braços me deixam
encurralada entre o seu corpo e o espelho. Eu viro o meu rosto para não
ficarmos cara a cara, e o pavor me toma. As hipóteses de chutar o seu saco ou
de cuspir em seu rosto martelam fortemente em minha mente. Ele não sabe
respeitar o limite do espaço pessoal, não?
— Não se aproxime mais — sussurro, sentindo minhas bochechas
queimarem.
— Eu não vou me afastar se não me falar.
Fecho os meus olhos, angustiada.
— Saia!
— Fale!
Por medo de estar diante de um verdadeiro louco, eu disparo as
verdades de tudo que se passou na minha mente durante essas últimas horas.

— O senhor não parava de olhar para o decote do meu vestido na


minha festa, e eu fiquei com raiva, achei uma falta de respeito e não imaginei
que talvez estivesse encarando o meu colar, além do fato de falar coisas que
me deixam sem respostas. Você me frustra e me assusta!
Anderson não diz nada, então eu o encaro, esperando por uma
resposta sua, e dou de cara com aquele sorriso nefasto de novo. Eu não quero
encarar seu sorriso, porque a sua boca é bem atraente. Estamos tão perto, que
eu poderia facilmente esquecer que somos parceiros de negócios, mas,
mesmo tendo essa consciência, eu não consigo afastá-lo.
— Eu não estava encarando o seu colar. — A vermelhidão em minha
bochecha aumenta.
— Então estava mesmo encarando os meus seios? — Franzo meu
olhar com raiva. — Deus, saia de perto de mim!
— Não, eu não estava encarando os seus seios, eu estava observando
suas pintas. — Seus olhos encontram a região do meu pescoço, e eu me sinto
nua. — Elas fazem um belo caminho em sua pele, sabia? Achei muito
atraente.
O último ar dos meus pulmões foge do meu ser quando a mão que
estava na parede encosta em meu pescoço, deixando-me com a visão turva e
totalmente desarmada. Ninguém nunca tinha falado sobre essa característica
minha.
— Não encosta em mim! — clamo, sentindo a raiva se dissipando.
— Senão a “senhorita” vai fazer o quê? — Ele dá ênfase na palavra
para me provocar, e eu escuto meu coração saltando do peito pela eletricidade
do momento.
— Por favor! — suplico pela primeira vez ao saber que, neste exato
momento, o meu corpo está me traindo.
Minha respiração está inexistente. Eu estou tentando me acalmar para
formular melhor as palavras, mas ele está perto demais, está me sufocando
em um desejo esquecido por mim há muito tempo.

— Agora que sabe que eu não estava encarando os seus seios, pode
por favor se acalmar em relação a mim? — Seus dedos seguem para o meu
ombro esquerdo.
— Não me sinto confortável ao seu lado. Destrave o elevador. —
Nossos olhos não se largam.
— Mas ainda me acha desrespeitoso? — Seu sorriso cresce.
— Com toda a certeza! — Respiro fundo. — Em menos de cinco
minutos, você já me chamou de chata, mandona, gênio difícil e me
envergonhou no meio de um restaurante lotado!
— Então não vai fazer diferença se eu te beijar agora, né? —
Anderson desce suas pupilas escuras para a minha boca, e eu travo com a
revelação.
Não tenho como puxar mais o ar. Está quente. Está dolorido. Está
perto demais. Está sufocante, excitante, confuso e raivoso.
Em um momento de fraqueza e de uma vontade incontrolável que se
instalou após tantas palavras implicadas com ódio de ambos os lados,
Anderson não espera eu responder. Suas mãos se encaixam embaixo de
minhas orelhas e mandíbula para me levar aos seus lábios. Nós nos chocamos
em questão de milésimos, e a minha pressão desaba em sua pegada.
Ele me instiga a abrir os lábios, e sua língua comanda os movimentos
esquecidos por mim há tantos anos. Eu tenho a maior certeza de que o meu
beijo é horrível, já que, depois do Matheus, eu nunca mais fiz isso, mas,
Deus, isso está bom, está me fazendo despertar um desejo acumulado, e o
meu coração se agita violentamente, ansiando por cada toque. Eu sinto o seu
perfume misturado com o meu calor, e parece que a sensação é avassaladora
demais para uma mulher enferrujada.
Sua língua explora cada centímetro da minha boca como se os anos de
ausência não tivessem existido, e eu quero mais. Suas mãos começam a
descer até minha cintura. Elas são firmes e quentes. Eu posso sentir o ardor
do seu corpo quando ele se encosta em mim.
Mesmo sabendo que os meus pensamentos estavam confusos em
relação a tudo isso, eu tenho consciência de que ele está tomando o controle
das minhas ações. E, para acabar ainda mais com o meu ego, eu deixo.
Largo meu celular no chão para dar lugar às minhas vontades e
alcanço sua nuca com minhas mãos. Entro com as unhas em seus cabelos
enquanto nos beijamos com uma necessidade que é impressionante até para
mim. Meus dedos lhe percorrem a nuca, sentindo apenas levemente os seus
cabelos. Ele se arrepia em resposta, e isso me traz confiança nos meus toques.
Talvez eu não esteja tão mal.
Sua língua não me deixa respirar nesses segundos ou minutos
enlouquecedores em que ficamos grudados, e eu acabo quebrando o nosso
contato na busca do oxigênio de que preciso. Sem perceber, dou-lhe a
abertura para que ele mire os lábios em meu pescoço, atingindo o meu ponto
fraco, o que, em resposta, derrete o meu corpo todo.
— Eu desejei beijar essas pintinhas na sua pele desde o momento em
que coloquei meus olhos em você! — Seus dedos empurram o meu colar para
poder moldar ainda mais o seu calor.
Sua voz quente dança em minha pele, que até parece estar em brasa
com essa informação, enquanto ele não para com os beijos muito bem-
executados em cada centímetro próximo da minha clavícula.
— Cala a boca! — falo, sem ar.
Se eu continuar escutando a voz dele, com certeza esse beijo vai
acabar, e eu não quero isso. Confesso que não sou eu que digo isso, e sim o
meu tesão acumulado, que me sufoca de desejo. Eu não estou permitindo que
o meu lado racional tome posse, e continuamos fazendo essa loucura.
— Mandona! — Anderson sussurra próximo da minha pele e desce
suas mãos para a minha bunda. — Você não perde a marra nem por um
segundo, né?
Por que eu estou deixando ele fazer isso?
— Não é o meu estilo.
Ele para suas mãos a fim de poder sorrir contra os meus lábios um
sorriso malicioso, um sorriso que se aprofunda novamente em uma junção
das nossas línguas, enquanto seus dedos atrevidos apertam com força minha
pele e se encaixam exatamente na curva da minha bunda.
Sem pensar, estamos sendo atraídos cada vez mais. O calor das nossas
respirações se mistura incontrolavelmente, criando uma sinfonia de excitação.
Seus lábios são macios e experientes, fazendo-me querer mais e mais desse
gosto fraco de vinho seco. Eu sinto como se o elevador não tivesse uma saída
de ar sequer, pois o ar rasga os meus pulmões. Eu estou me derretendo. O
perfume do Anderson tem um efeito de envenenamento, que só me deixa
mais inconsciente e com a respiração alterada.
Existe uma excitação sem igual a cada toque dele, junto de um
sentimento de urgência e de um calor tomando-me o corpo todo. Mantenho
meus olhos fechados e lhe bagunço o cabelo arrumadinho. Uma de suas mãos
decide largar minha bunda para ir até a fenda da minha saia. Minha pele está
quase seca, mas se mantém grudenta pelo vinho. Sua outra mão segura o meu
quadril contra a parede, para que as minhas pernas não me abandonem e
decidam simplesmente me largar no chão. A mão abusada encontra o começo
da abertura do tecido e ignora a malha, para começar a subir em direção à
minha calcinha.
A palma de sua mão percorre minha pele, deixando-me excitada. Ele
é meticuloso, mesmo com o desespero enquanto nos agarramos, e aperta
minha coxa ao mesmo tempo que, sem pudor algum, o membro rígido seu se
faz presente entre nós dois, pressionando contra minha barriga, dando sinais
para a minha intimidade latejar de desejo com uma pulsação constante.
Antes que a sua mão chegue até a minha calcinha, ele decide deslizar
para a parte interna da minha coxa, que estava tão quente, que qualquer um
poderia jurar ser o inferno. Foi aí que o meu desespero retornou e os meus
olhos se abriram. Esse ato me fez cair na real do que realmente estava
acontecendo e, droga, eu acabei de quebrar a única muralha que me impedia
de não cair no mesmo golpe de anos atrás. Repentinamente, eu seguro a sua
mão, tomando novamente o meu controle, envergonhada pela liberdade que
havia lhe dado.
Esse homem quase tocou em minha intimidade com um único beijo
— então, eu estou assustada, sim, com a presença dele. Agora ainda mais.
Respiro fundo em busca de ar para poder organizar os meus
pensamentos, e ele se afasta com as mãos erguidas para cima após o meu
movimento, encarando-me como quem pensa na mesma coisa que eu: "que
merda a gente fez?".
Nossos olhares estão arregalados, e as respirações parecem clamar por
socorro enquanto ele passa as mãos pelo rosto, demonstrando sua
preocupação.
— Eu preciso sair daqui! — falo, após alguns segundos, sem saber o
que eu deveria sentir: se raiva, medo ou tesão.
Meu olhar traiçoeiro desce para o seu membro sobressaltado em sua
calça, sendo impossível disfarçar, e eu não me sinto mais tão culpada por
estar neste exato momento encharcada por causa dele. Eu também já estou
assustada com todo o tesão repentino que eu senti. Não preciso ter gravado
em minha memória que o senhor Anderson possui um pau enorme, mas o que
eu vou fazer se já tenho a imagem na minha cabeça?
— Desculpa. — Ele desvia os olhos dos meus, ajeitando o seu volume
aparente, e eu encaro o chão.

O silêncio parece se prolongar a cada segundo do relógio. Nós dois


realmente temos o mesmo efeito um no outro, mas também temos os mesmos
pensamentos, e agora a gente não sabe nem o que dizer.
— Vamos fingir que nada aconteceu. — Quebro o nosso silêncio,
tomando coragem para dizer isso antes que ele fale e eu acabe me sentindo
uma idiota.
Mas, sendo realista, nada aconteceu? Sério? Eu só posso ter pirado.
Tudo aconteceu! Por que tantos homens tentaram de tudo comigo, e
eu beijei logo esse? E não foi qualquer beijo; foi um que me despertou até a
vontade de transar, coisa que não existia nem com o meu ex-namorado!
— É o certo! — Ele parece ainda estar pensando. — Eu não paguei a
conta, preciso voltar lá.

Abaixo-me para pegar o meu celular no chão e noto que o seu terno
parece lhe sufocar após o nosso beijo, já que ele afrouxa o nó da gravata e
abre os primeiros botões da camisa enquanto ajeita os fios de cabelos que eu
mesma baguncei. Eu também preciso ser ajeitada. Além da minha vestimenta,
preciso organizar minha mente.
— Eu chamei o meu motorista. Ele já deve estar lá embaixo.

— Não quer que eu te leve de volta?


— Não — falo rápido demais, quase desesperada. — Não precisa.
Nós dois mantemos a voz mais estranha possível. Tivemos um
momento bem íntimo, mas somos parceiros de negócios. Então, como
devemos agir?
— Se eu precisar conversar com você a respeito dos nossos assuntos
profissionais, eu posso te procurar? — Anderson fala enquanto destrava o
elevador.
— Melhor não. Vou pedir para a minha secretária te mandar uma
mensagem, e, se for necessário, você conversa com ela.
— Eu espero mesmo que isso não atrapalhe a nossa parceria.

— Não vai atrapalhar. — Seus passos o guiam para fora, e ele


continua tentando enxergar algo em meu rosto.
— Me desculpe pela falta de respeito, senhorita Hanna.
Anderson sorri assim que termina de falar, e as portas se fecham. Aí
está o que eu temia: ele não entendeu o meu recado, e o beijo piorou tudo.
Direciono-me ao painel de botões e aperto o térreo. Assim que o ar
puro atinge o meu rosto, sinto como se uma culpa gigantesca caísse sobre os
meus ombros. Eu respiro fundo milhares e milhares de vezes, mas de nada
adianta, aquele sentimento do passado havia entrado na minha mente para me
deixar mal.
Noto que o senhor Diogo já me esperava estacionado na frente do
hotel e me direciono até o carro, tentando ficar calma.
— Oi, senhor Diogo. Me leve para a empresa, por favor — falo ao me
sentar no banco de trás.
— Sim, querida. — Ele fecha a porta do meu lado.
Aos poucos, vou recuperando a sanidade mental que perdi dentro
daquele elevador, junto com a minha respiração, que provavelmente devo ter
deixado dentro da boca daquele miserável. A paisagem que passa pelos meus
olhos não consegue me distrair da minha própria mente, que me consome.
Parece que ainda consigo sentir a sua mão na minha perna, que eu não parava
de encarar por um minuto sequer, e intercalo a minha visão entre a janela do
carro e a mancha em minha saia.
— Está tudo bem, querida? — O senhor Diogo pergunta, fazendo com
que eu pare de encarar o nada.
— Estou confusa — falo a verdade.
— Faz tempo que eu não te vejo confusa. — Ele dá um leve sorriso, e
eu acho graça em seu comentário.
— É, estranho, né?

— Precisa de um conselho?
— Eu amaria um conselho do senhor!
— A confusão não faz bem para a nossa mente e para o nosso
coração, querida. Então, o que faz morada nos seus pensamentos deve ser
resolvido o quanto antes para que não enlouqueça a sua alma.
— Mas eu não quero resolver, senhor Diogo. Eu quero esquecer! —
falo para mim mesma.
— Confesso que esse processo é mais difícil, querida. O
esquecimento não depende da gente, e sim do tempo. Eu gosto de dizer que o
tempo é um amigo traiçoeiro: ele nos ajuda, mas sempre nos rouba algo.
O senhor Diogo me deu muitas informações para processar. Ele
sempre esteve muito presente na minha vida como um ombro amigo, já
chorei muito com ele e, graças ao seu carinho por mim, consegui passar pela
fase do término com o Matheus. Mas agora eu estou me sentindo mais
perdida do que há cinco anos.

Assim que chegamos à empresa, dou de cara com a minha mãe no


hall de entrada. Não queria ter que encontrar com ela logo agora, porque foi
ela quem me colocou nessa situação e é claro que vai me encher de
perguntas.
Tenho sorte. Dona Eliza está conversando com o meu pai e talvez
nem me note, mas até ele parece estar tentando fugir dela também. Passo por
trás dos dois com o máximo de silêncio que eu consigo, mas sou pega antes
de chegar aos elevadores por causa do som estranho que a minha sandália faz
no chão liso.
— Aonde a mocinha pensa que está indo sem cumprimentar a sua
mãe? — Ela vem em minha direção, e meu pai dá risada.
— Estou tentando fugir da senhora, que me arrumou uma armadilha
logo no horário do almoço. Nem comi direito.
— Senhora só no céu, filha. Volta aqui e me conta direito o que
aconteceu.
Paro na frente do elevador e, se não fosse o fato de essa empresa ter
quinze andares, eu provavelmente iria de escada só para não entrar nesse tipo
de caixa metálica novamente.
— Olha o estado da minha saia. Deduza a senhora mesma. — Aponto
para a mancha que agora estava seca e que por sorte não mais transparece a
minha calcinha.
— Uau, o que rolou? — Ela mexe as sobrancelhas em sinal de
animação.
— A definição de desastre se encaixa muito bem nessa situação.
— Com quem a Hanna almoçou? — Meu pai pergunta ao se
aproximar de nós, e o elevador se abre.
— Meu Deus, Richard, como você está esquecido! Lembra que
marcamos um almoço para ela com aquele novo fornecedor? Como é o nome
dele mesmo? — Minha mãe aponta para mim.
— Anderson. — Reviro os meus olhos. — Anderson Magalhães.
— Eu não marquei almoço algum para a Hanna. Isso tudo foi ideia
sua, Eliza. Tem que parar com isso.
— Me conta, filha, o que aconteceu? — Ela simplesmente ignora a
fala do meu pai.
— Ele não sabe ter uma conversa normal, me encheu de perguntas.
Eu fiquei irritada, e, então, teve o vinho para piorar tudo. — Aperto
novamente o meu andar, querendo sair desse interrogatório.
— Nossa, eu nunca vi você tão transtornada! — Meu pai fala com
uma risada em sua voz. — Ele realmente te irritou.
— E como! — digo.
— Convenhamos que você anda muito estressada, filha. Tem que
parar de dizer que são as noites maldormidas. Às vezes o menino nem fez
nada. Essa história está muito malcontada! — Minha mãe se pronuncia, e o
elevador se abre novamente.
— Preciso sair. Vejo vocês depois. — Fujo assim que consigo.
— Termine seus compromissos mais cedo. Hoje vamos sair! — As
portas se fecham a tempo de ela não inventar de ficar comigo.

Quando me viro para ir até o meu escritório, dou de cara com a


Andréia me encarando. Ela também está ansiosa para obter informações do
meu almoço; com certeza a minha mãe encheu a cabeça dela também.
— Me conta, o que aconteceu? Sua saia está um estrago. —
Começamos a caminhar juntas.
— Tivemos uma briga e ainda estou decidindo se ele derrubou vinho
em mim de propósito ou sem querer.
— Por que brigaram? — Ela fala, assustada.
— Acredita que ele me chamou de chata?
— Meu Deus! — Seus olhos se arregalam.
— Também falou que eu estava mandando nele e que eu tinha um
gênio muito difícil.
— Amiga, não tem como acreditar que ele teve coragem de falar essas
coisas para você. O que deu nele?
— Eu não sei, mas estou começando a achar que o vinho foi
proposital.
— Eu também acho. — Andréia dá risada ao me analisar melhor.
— Pensa em um vinho horrível. Acho que ele me odeia mesmo, pediu
um Cabernet Sauvignon seco de propósito, porque ele notou que, na minha
festa, não tinha vinho nesse sabor.
— Sério? Ele foi bem detalhista, né?
— Foi, mas somente para me fazer beber aquelas uvas estragadas, e
ainda estou elogiando por chamá-las de uvas.
— Meu Deus, ele estragou uma Prada! — Ela ainda avalia minha
saia. — Essa era nova, né?
— Era, mas, no momento, esse é o menor dos meus problemas.
— Por que diz isso?
— Ele me beijou — revelo, quase sem voz, e o grito que vem a seguir
me assusta.
— O QUÊ!?
— Não grita! É sério. — Paramos perto da sua mesa. — Não conta
para a minha mãe, você sabe como ela é, vai surtar se souber e vai tentar
juntar nós dois.

— Minha boca é um túmulo, amiga; pelo menos desta vez. Mas, me


diga, como saíram de uma briga para o beijo?
— Exatamente dessa maneira que você falou. — Relembro a
sensação.
— Amiga, isso significa muito! — Seus olhos chegam a brilhar.
— Por quê?
— Vocês estavam brigando e começaram a se beijar. Com certeza
existe uma química bem grande entre vocês.
— Não seja louca, eu estou com raiva dele até agora.

— A raiva também significa algo.


— Para, eu quero esquecer esse beijo. — Reviro os olhos.
— Boa sorte, então, porque aquele homem é um pedaço de mau
caminho.
Eu não posso negar isso. Ele é atraente demais. Eu atribuo a minha
fraqueza dessa tarde a esse fator. Eu só não posso deixá-lo se aproximar de
novo, e tudo ficará bem.
Por mais que eu tente trabalhar, minha cabeça insiste em me lembrar
de uma certa sensação entre meus lábios e de umas pintinhas. Sorrio,
pensando em como a senhorita Hanna tinha gostado dos meus beijos naquela
região, já que o peso do seu corpo se entregou aos meus braços naquela hora.
E, por ironia do destino, agora o meu terno está com o seu cheiro.
E, também, por mais que eu tente esquecê-la, é impossível não me
lembrar daquela pele tão quente e cheirosa. Ela tinha fragrância de pêssego e
vinho. E pensar que eu quase encostei em sua calcinha vermelha que estava
destacada naquela bunda perfeita, que cheguei tão perto da sua intimidade a
ponto de sentir o seu calor — isso só me deixava ainda mais de pau duro. Se
a gente não tivesse parado, eu iria fodê-la ali mesmo naquele elevador,
esquecendo-me de qualquer tipo de câmera.
Os meus arrepios no pescoço insistem em voltar toda vez que eu me
lembro das suas unhas passando pelos meus cabelos e da sua respiração
arrastada, que era quase um gemido. Como eu queria poder escutar algo
parecido, mas sei que, se ela fizesse isso, eu estaria perdido.
Realmente, eu sou louco de ter feito aquela pergunta sobre seu
relacionamento e admito que ela estava certa em ficar nervosa. Todas as
vezes que sua boca me acertava com aquela agressividade em formato de
palavras, eu queria calá-la, mas só notei nitidamente que queria beijá-la
quando ficamos bem próximos.
Repreendo-me por ter agido sem pensar e relembro as coisas que eu
disse ao Kauan no dia do aniversário de Hanna. Falei para ele não se envolver
para não estragar o nosso contrato, mas no fundo fui eu que não me policiei e
caí direto naqueles lábios carnudos. Espero realmente que ela não tenha
ficado tão nervosa a ponto de cancelar a nossa parceria, mas, pensando agora,
sozinho em meu escritório, aquela boca atrevida me enche de raiva e tesão a
todo momento. Como eu não iria pecar depois de tanta tentação?
Escuto as repetidas batidas da minha caneta sobre a mesa e respiro
fundo à medida que me lembro daquele beijo. Eu realmente acariciei aquela
bunda, apertei, senti seu corpo se esfregando no meu, aceitando o meu toque,
se envolvendo com nossas línguas. Céus! Eu agarrei a filha dos Menezes
como um animal no cio.
Com certeza eu não chegarei mais perto dela, não posso estragar o
meu futuro e do Kauan por causa de uma mulher por quem eu não sinto nada
além de atração sexual, algo que eu sinto por várias outras.
As batidas na porta me tiram dos meus pensamentos perversos, e eu
largo a caneta na mesa para dar atenção a quem quer que seja.
— E aí, príncipe-sapo? Encantou a herdeira dos Menezes? — O
Kauan fala enquanto entra.
Eu não esperava conversar com ele tão cedo sobre esse assunto. O
meu amigo foi até nossos fornecedores de matéria-prima para garantir uma
quantidade maior do que a que foi solicitada pela Transparency, então eu não
o vi de manhã. O almoço foi irreal, e eu cheguei à empresa no momento mais
corrido da tarde. Portanto, agora, que ele está com tempo livre, vem me
relembrar do que já está queimando em minha mente.
— Não fiz esse esforço. — Não pretendo lhe contar o episódio do
beijo.
— Para, vai! Me conta como foi. — Ele se senta na minha frente.
— Um almoço normal, sabe? Ela me perguntou sobre a nossa
empresa, como nos conhecemos, essas coisas…
— Naveen, fala a verdade. Não rolou nada de mais? — Noto um olhar
bem especulativo e mantenho o que eu decidi falar.
— Nada de mais. Aquela mulher é fria como um gelo, não teve nem
aquela troca de olhar, sabe? — Teve só a porra da troca de saliva!
— Caralho, pior que eu imaginei que ela fosse assim mesmo.
— Ela é terrível! — Terrivelmente gostosa, só se for!
— Mas sabe quem não é terrível? A mãe dela, a senhora Eliza. Olha o
que eu acabei de receber nas minhas mensagens. Com certeza você recebeu
uma também. — O Kauan vira a tela do seu celular para mim.

“Boa tarde, senhor Kauan. Lamentavelmente, a Hanna não conseguiu


agendar um almoço com o senhor no sábado. No entanto, já tomamos
providências aqui para promover um encontro não apenas entre você e o
senhor Anderson, mas também incluindo os pais dele, proprietários da sede
de Brasília. Ao que tudo indica, a sexta-feira foi selecionada como opção para
todos nós almoçarmos juntos. Gostaríamos de confirmar se o senhor estará
disponível nesse dia.”
— Você estava sabendo disso? Que seus pais vão vir para cá? — Meu
Deus, realmente a mãe dela tinha aquele talento de persuasão que Hanna
comentou.
— Não, eu não estava ciente.
Pego o meu celular no bolso do meu terno e acesso as minhas
mensagens. Estava lotado, eu não mexi nele desde que saí da empresa de
manhã. Além dos meus pais, que haviam me mandado mensagem, eu tinha o
mesmo recado que foi enviado ao Kauan, alterado apenas em alguns detalhes.
— Eu já respondi dizendo que a gente vai, tá bom? — Ele sorri,
vitorioso.
— Você verificou as nossas agendas? — comento, ainda pensando no
fato de que eu vou ter que me encontrar com a senhorita mandona
novamente.
— Não, mas eu não perderia essa oportunidade. Então, se tivermos
algo na sexta, só remarque para nós. — Passo a mão na minha testa
novamente por trabalhar com esse garoto emocionado.
— Simples, né?
— Com certeza. Se você perdeu a sua oportunidade com a filha dos
Menezes, o problema é seu. Eu só jogo para ganhar.
— Boa sorte, então. Eu espero que ela não te fuzile apenas com um
olhar.
— Fica tranquilo, porque eu me garanto. — Sua fala brincalhona me
incomoda, mas eu ignoro a sensação na mesma hora.

— Oi, mãe. Como vocês estão? Como foi a viagem? — Abraço a


dona Magda assim que eu encontro minha família no portão de desembarque
do aeroporto.
— Tranquila, meu filhote. Fazia tempo que eu não entrava em um
avião, foi sufocante. — Ela sorri nervosamente e me dá um beijo no rosto. —
Eu estava morrendo de saudades.
— Eu também. Não pude ir semana passada por causa desse contrato
com os Menezes, mas estou feliz de ter vocês aqui comigo.
— Realmente foi uma surpresa e tanto esse convite da Transparency.
Se não fosse por isso, seria muito difícil nós largarmos a empresa. — Meu
pai se aproxima e bate nas minhas costas.
— Você não fez nada de errado para eles chamarem os seus pais, né,
Anderson?
Eu fiz sim. Mas com certeza esse almoço não estava acontecendo por
causa de um beijo (ou um pouco mais que isso) — uma coisa que na verdade
foi muito bem-esquecida por mim… na maior parte do meu dia, pelo menos.

— Sai, que eu preciso dar um abraço no meu irmão. — Anthony


aparece de trás do meu pai. Ele está quase com a minha altura, então não é
como se estivesse escondido.
— Eu fico quinze dias sem te dar umas broncas, e você perde o
respeito pelos nossos pais? — Agarro seu pescoço para esfregar os nós dos
meus dedos nos seus cabelos, e começamos a caminhar em direção ao meu
carro.
Meus pais chegaram algumas horas antes do horário marcado para o
almoço, então ainda temos algum tempo para conversar tranquilamente até
chegarmos ao restaurante que escolheram.
— Verdade, filho. O Tony está terrível! Dê uns conselhos para ele.
— O que está acontecendo? — Mantenho o meu irmão debaixo do
meu braço.
— Ele levou uma menina lá para casa semana passada, está todo
assanhadinho.
— Você tá doido, menino? — Solto-o, já que ele está se esforçando
para se afastar há um tempo.
— Eu faço o que você não faz, seu lerdo. A mamãe está falando faz
tempo que quer uma nora. Eu providenciei!
— Eu falo isso para o Ander, não para você! — Minha mãe acerta
uma cotovelada nele. — Não quero o título de avó por sua causa.
— Você ainda é uma criança, cuidado em como você está utilizando
essa coisinha que você tem no meio das pernas. — Todos dão risada, menos
o meu irmão.
— Pelo menos eu estou usando, né? E você que não acha ninguém?
— Eu não acho ninguém porque eu sou inteligente, diferente de você!
— Não é bem assim, Anderson! — Meu pai fala após escutar toda a
conversa. — Você não vai escutar muito isso de mim, porque todos aqui
sabem que eu não sou muito sentimental, geralmente deixo esse meu lado
carinhoso mais para a sua mãe, mas é importante achar alguém, filho.
— É verdade, filhote, você já tem 28 anos. Faz quatro anos que
terminou com a Brenda e, depois dela, nunca mais me disse nada sobre
ninguém. Ainda está apaixonado por ela?

Brenda foi a minha última namorada. Naquela época, eu ainda insistia


nesse negócio de namorar e achava que meu interesse por ela era o suficiente
para manter o nosso relacionamento, mas confesso que foi ela que me deu um
choque de realidade ao me dizer que eu não sabia amar. Eu sei o que sinto
pela minha família e tenho certeza de que nenhuma mulher poderia me fazer
sentir o mesmo tipo de amor e carinho.
— Eu nunca estive apaixonado por ela. — Chegamos ao carro, e eu
abro o porta-malas para guardar as bagagens deles.
— Anderson, não acredito nisso. Estava só enganando a menina?
— Claro que não, mãe! — falo, estressado por relembrar o passado,
enquanto ajudo meu pai a guardar as malas. — Eu só notei depois que não
sentia nada, daí terminei.

— Então por que começou a namorar com ela? — Minha mãe para na
minha frente para que eu encare os seus olhos.
— Eu preciso mesmo responder a isso? — Não quero falar que eu só
estive com a Brenda por causa de sexo. — Já passou, mãe. Agora eu sei que o
amor que eu preciso sentir tem que ser suficiente para querer ter uma família.
Não adianta eu ficar namorando várias mulheres se eu não quero me casar
com nenhuma delas, entende?
— Falou muito bem, filho. Não tome o tempo de alguém com quem
você não tem intenções sérias. As mulheres precisam ser respeitadas, e eu
estou orgulhoso desse seu pensamento! — Meu pai me abraça pelo ombro. —
Agora vamos logo, antes que a gente se atrase. Não quero parecer alguém
irresponsável para os Menezes.
— Mas nós ainda temos que dar um jeito nesse moleque aqui, que se
acha adulto! — Olho para o meu irmão, que achou que tinha escapado da
conversa.
— Eu já sei até dirigir. Quer me dar a chave? — Anthony abre a mão.
— Sai fora, ninguém encosta na minha Evoque. — Fecho o porta-
malas e dou um tapa em sua mão.
Minha mãe me enviou mensagem há trinta minutos com um endereço
logo abaixo do seu “oi, bonequinha” me pedindo para encontrá-la no local
indicado para sabe-se lá o quê.
Claro que, quando se trata da minha mãe, eu tenho que manter todas
as hipóteses em aberto. Nunca sei o que essa mulher está aprontando, mas,
mesmo se eu insistir para ela contar o porquê de eu ter que sair no meu
horário de almoço para ir até ela, provavelmente eu só receberei um “venha
logo” irritado.
Pego minha bolsa e me despeço de minha amiga, chamando o senhor
Diogo para irmos até o endereço. Chegamos rapidamente ao local onde ela
supostamente está. É quase do lado de casa, não dá nem sete quadras de
distância, e é um condomínio bastante fechado. Somos identificados na
portaria, e o carro volta a andar. Paramos na frente de um portão preto. É uma
garagem, que se abre, revelando o carro dos meus pais, que já estava lá.
Saio do carro assim que o senhor Diogo estaciona na garagem e
caminho até a porta, observando enquanto o portão se fecha novamente. Os
muros são altos, e a casa tem a frente toda de vidro. Simplesmente perfeita.
Poderia jurar que é um spa, de tantas plantas que vejo. Consigo observar a
parte de dentro da casa através dos vidros. Tem um sofá de couro preto na
sala, luminárias com detalhes em madeira, mais e mais vasos de plantas
gigantes, tudo muito moderno. Assusto-me quando meu pai abre a porta da
entrada do nada.

— O que o senhor está fazendo aqui? — falo, surpresa.


— Preciso mesmo justificar? — Nós dois damos risada. — Sua mãe,
né?
— Eu nada! Para de colocar sempre a culpa em cima de mim,
Richard. Isso aqui foi esquema nosso! — Ela aparece, vindo de um corredor.
— Entra, filha. — Meu pai dá espaço para que eu entre, mas dou um
passo para trás.

— Espera aí, pai. — Aceno para o carro. — Vem aqui, senhor Diogo.
Quando não estava resolvendo assuntos de negócios, eu sempre o
incluía nos nossos momentos. No dia do meu aniversário, ele estava lá, não
como meu motorista, e sim como um amigo. Estava ele e a sua esposa, Tiana.
Eles nunca tiveram filhos, então, assim como eu os considero muito, sinto
que é recíproco o carinho entre as nossas famílias. A senhora Tiana sempre
deixa uma tigela dos morangos da sua horta na mesa da cozinha, porque ela
sabe que eu sou apaixonada por eles. O senhor Diogo sai do carro, vem ao
nosso encontro e cumprimenta os meus pais.
— Posso saber o que vocês dois estão tramando desta vez? — Passo
os meus olhos pelo local, e entramos todos na casa.
— Você não contou para ela, Eliza? — Meu pai questiona minha
mãe.
— Decidi que ficaria melhor se fizéssemos isso juntos. — Minha mãe
pega a mão do meu pai e, de repente, todos sorriem para mim.
— Ai, Deus, vocês dois estão realmente me assustando.
— Calma, querida. — Minha mãe solta uma risada.
— Não me arrumaram mais um encontro, né? — falo, assustada. —
Estou traumatizada.
— Quem você acha que nós somos, filha? — Minha mãe começa com
o drama.
— Já fizeram uma vez, eu não confio mais. — Encaro minha mãe e,
no mesmo momento, meu pai direciona o seu olhar para ela também.
— Eliza, você tem que parar com isso. — Ele fala, com um tom de
reprovação.
— Ai, não falem assim comigo! — Reviro os meus olhos ao escutar o
charme que a minha mãe ama fazer. — Eu arrumei apenas uma reunião de
negócios para você, filha!
— Vamos todos fingir que é isso mesmo que a senhora fez. —
Semicerro os meus olhos para ela.
— Senhora só no céu, já disse! — Ela faz careta para mim.
— Tá bom, vamos falar sobre o real motivo de estarmos todos aqui.
— Meu pai troca de assunto antes que piore.
— Até que enfim! Estou curiosa.
— Então, filha… — Minha mãe começa. — Eu e o seu pai pensamos
muito em demonstrar pelo menos um pouco do amor, carinho,
reconhecimento e gratidão que temos por você, bonequinha. Você sempre foi
tão amorosa conosco e dedicada com a empresa, que decidimos atender a um
pedido seu.

— Um pedido meu? — questiono, pensativa. — Eu não me lembro de


ter pedido nada.
— Princesa … — Meu pai decide falar e olha para a minha mãe. —
Nós sabemos que você já é uma mulher formada, com muitas obrigações nas
costas e com pouco tempo livre, mas, ainda assim, queremos que você
aproveite o máximo da vida. Eu e sua mãe queremos te dar mais conforto e
também privacidade. — Ele fala, um pouco desconfortável.
— Por favor, me contem logo, vocês estão me matando. — Os três
dão risada. Minha mãe segura uma das minhas mãos; e meu pai, a outra.
— Se for da sua vontade, minha princesa… — Ele olha para a minha
mãe nervosamente. — Queremos te dar esta casa.

Sou acometida por trilhões de pensamentos e sinto que meus olhos se


arregalam na mesma hora. No fundo, eu ainda estou assimilando o que meu
pai acabou de falar. Esta casa?
— Filha, não ache que estamos querendo te tirar lá de casa, não é
nada disso! — Minha mãe começa a explicar nervosamente, já que eu ainda
estou calada.

— Sim, princesa. Só pensamos na sua privacidade. Sabemos que lá


em casa você tem pouca liberdade. — Meu pai também tenta explicar,
angustiado.
— Se não quiser morar aqui, ficaremos superfelizes de ainda termos
você grudadinha lá com a gente.
— Meu Deus! — Abraço os dois com a maior das minhas alegrias. —
Eu falei para vocês que não precisava de nada, não consigo colocar em
palavras o que estou sentindo agora. Vocês sabem que eu sou muito grata por
todo o amor, a dedicação e os sacrifícios que fizeram por mim. Obrigada, de
coração — repito, sem pausa, e sinto as lágrimas enchendo-me os olhos.
— Ai, filha, eu estava assustada achando que você não tinha gostado.
— Minha mãe passa as mãos sobre os meus cabelos, já que ainda estamos
todos abraçados.

— Você pode mudar tudo que quiser aqui, princesa. — Meu pai beija
o topo da minha cabeça.
— Eu amo vocês. — Seco as lágrimas e me afasto deles, puxando o
senhor Diogo, que também estava emocionado.
— Você merece, minha querida! — O cheirinho do seu colete é
confortável.
Após toda a comoção, meu pai abre um champanhe que já estava na
sala, destinado para esta ocasião, e é claro que, quando terminamos de tomar
o nosso brinde, minha mãe me puxa pela casa toda em meio à sua completa
euforia. Tenho que admitir que eles souberam escolher. A casa tem uma sala
ampla, toda em tons amadeirados, com visão para o corredor e a cozinha.

A cozinha tem uma mesa de jantar bem grande de mármore branco


que se destaca de todos os demais móveis, e a parede externa dá uma bela
visão do jardim na parte de trás da casa, já que também é de vidro. Mas o que
mais me chama a atenção é o quarto, completamente escondido por uma
parede de espelhos. Só dá para acessá-lo usando minha digital em um painel
localizado no canto da parede.
Assim que minha mãe cadastra minha digital, a porta se abre e me dá
a visão de uma suíte perfeita. O quarto é inteiro branco, e é possível ver o
restante do jardim através das janelas gigantescas.
O quarto é do mesmo tamanho que a área social. Assusto-me quando
vejo o banheiro todo em mármore branco como o da cozinha. Surpreendo-me
com as paredes de vidro, que dão a visão completa do design, ou seja, esse
banheiro dentro do meu quarto não tem privacidade alguma. No final do
quarto, há mais duas portas, uma sem tranca e a outra com o mesmo painel
digital. Na primeira porta, está o meu closet, e, na segunda, o meu escritório
— tudo muito bem-arquitetado e mobiliado.
Por fim, depois de agradecer pela milésima vez por ganhar um lar tão
lindo, minha mãe me encara novamente com aqueles olhos de que teremos
uma conversa séria.
— Filha.
— Fala, dona Eliza — brinco.
— Bonequinha, eu conversei muito com o seu pai sobre esta casa. Ele
não quis muito aceitar no início, mas eu expliquei melhor por que seria bom
você ter o seu espaço, e, por fim, ele aceitou. Eu sei que você precisa da sua
privacidade, não perca essa oportunidade. — Ela me lança um sorriso
malicioso.
— Claro que eu preciso de privacidade, não discordo de você, mãe,
mas não para esses assuntos em que a senhora está pensando. — Reviro os
meus olhos. — Mas agradeço muito por isso.
— Sei que eu e o seu pai colocamos muitas responsabilidades em
cima de você por causa da empresa e que, por esse e outros motivos, você
acabou se privando do amor, mas eu quero muito, filha, que você se permita
amar novamente. — Ela me encara com carinho. — Ou pelo menos faça
essas loucuras que os jovens da sua idade fazem. — Dou risada em resposta.
— É complicado, mãe. A senhora lembra pelo que eu passei. Eu não
quero acreditar em alguém para depois ser feita de trouxa novamente. —
Sento-me na cama, e ela me acompanha.
— O que o Matheus te fez foi horrível, Hanna, mas já passou. Deixe o
seu passado onde ele deve estar. Os homens não são todos iguais.
— Claro que são. Se eu passo mais de quinze minutos com qualquer
um, eu vejo que se interessam por mim pelos mesmos motivos que o Matheus
se interessou.
— Não generalize. Está querendo dizer que o seu pai é um
interesseiro? E o senhor Diogo?
— Claro que não, mãe, eles são exceções.
— Então a sua exceção está esperando você dar algum tipo de
abertura. Já te disse que você está insuportável nesses últimos dias. Com
certeza está com os hormônios acumulados. Na minha opinião, você está
precisando transar!

— Mãe!! — grito, assustada com a sua coragem para falar isso.


— O quê? Só estou falando a verdade. Quando foi a última vez que
fez isso? Deve estar cheio de teia de aranha aí embaixo. Quer que eu marque
uma depilação?
— Não vamos falar sobre isso. — Nego-me a ter essa conversa com
ela.
— Eu até deixei uns brinquedinhos para você naquela última gaveta.
— Minha mãe aponta para a cômoda ao lado da cama. — Mas claro que eu
preferia que você tivesse alguém para fazer essas coisas.
Deus, alguém para essa mulher!
— Sobre o que estão falando? — Meu pai e o senhor Diogo entram
no quarto, e eu queimo de vergonha.
— Nada, não — falo, antes que a minha mãe abra a boca novamente.
— Então, vamos almoçar? Já estamos atrasados.
— Atrasados para quê?
Meu pai encara a minha mãe, e o olhar dela se volta para mim. Assim
que ele percebe algo, começa a balançar a cabeça, aparentemente indignado
de novo com ela.
— Eliza, você não contou para ela?
— Ela iria negar se eu contasse!
— Contasse o quê?
— Sua mãe organizou um almoço com os donos da Aluxmil hoje.
Engulo em seco ao escutar aquelas palavras. O frio passa pela minha
espinha, deixando-me completamente sem reação. Um almoço com aquele
idiota convencido novamente? Isso não seria nada bom.
— Não briga comigo, filha. Nós precisávamos conhecer os pais do
Anderson, e você também não marcou nenhum almoço com o senhor Kauan,
estava devendo isso a ele.
— Tudo bem — falo com naturalidade. — Podem ir vocês, eu preciso
voltar para a empresa. — Todos me encaram como se eu fosse louca.
— Hanna, você precisa ir com a gente. — Meu pai se pronuncia.
— E você nem tem nada na empresa a essa hora. — Minha mãe fala.
— Mãe, para de vasculhar a minha agenda. — Levanto-me.
— Eu já avisei ao senhor e à senhora Magalhães que você estaria
presente. É melhor você ir, senão ficará feio para a nossa empresa.
— Meu Deus, tá bom! Que pressão! Vamos logo, já que estamos
atrasados, e, por favor, não façam mais isso comigo!
Sua face me encara com uma certa indiferença, enquanto nossos pais
se cumprimentam e se conhecem. O Kauan, como sempre, está ansioso
demais, e, por isso, chegou antes de nós no restaurante. É ele o primeiro a
receber a todos.
Hanna se mantém distante em nosso aperto de mão e tece sorrisos
simpáticos para todos, menos para mim. Ela caminha ao meu lado em seu
vestido tubinho preto e salto agulha vermelho, e um garçom direciona todos à
mesa reservada. Ela só abre a boca para me manter afastado.
— Espero que o senhor saiba controlar essa mão hoje. Não quero que
mais uma roupa minha vá para o lixo. — Ai!
A princesinha dos Menezes não me deixa responder e se aproxima da
mesa redonda de oito lugares. O senhor Richard puxa uma das cadeiras para
sua mulher, e todos nós presenciamos o seu carinho. Em seguida, ele se senta
ao seu lado. Meu pai nunca foi de agir dessa maneira, então tanto ele quanto
minha mãe se sentam sem a ajuda um do outro, e meu irmão fica entre a
senhora Eliza Menezes e a nossa mãe. Talvez ele estar nesse lugar não seja
uma boa ideia.
Eu fico com o lugar ao lado do meu pai; e Hanna, ao lado do seu.
Kauan está nos separando, e dá para ver em seu rosto todo contente que ele
está amando se sentar tão próximo da senhorita ditadora. Coitado! Ela vai
comê-lo vivo com toda a grosseria e a amargura que tem.
Todos nós fazemos pedidos aleatórios de comida. Pelo menos assim
não vai haver um Cabernet Sauvignon seco de surpresa para a gata arisca que
está na minha frente. Inconscientemente, noto que ela pediu apenas um suco
de laranja, enquanto todos se aventuram nos drinques alcoólicos. Eu mesmo
pedi um uísque. Meu irmão foi o único que, por intervenção nossa, teve
negada a cerveja artesanal que tanto queria.
— Senhora Eliza, me diga, sua filha é solteira? — Tony fala alto até
demais, fazendo todos pararem o que estão dizendo, e escuto tosses baixas de
espanto. — Ela é muito linda!
Meu Deus, meu irmão só pode estar louco! Onde ele aprendeu a falar
desse jeito? Por acaso ele nasceu sem filtro?
Na hora, eu observo todos ao redor da mesa. Minha mãe está
vermelha, e eu consigo ler em seu rosto o quanto ela quer sumir. Meu pai
continua comendo como se não fosse nada de mais. O senhor Richard está
com a sobrancelha franzida, enquanto sua esposa começa a rir alto no meio
daquele silêncio. Hanna passa seus olhos verdes por mim antes de encarar o
meu irmão caçula, e então aquele sorriso de canto aparece, de modo que não
consigo ignorá-lo.
— Realmente, minha filha é linda. — Dona Eliza fala, após respirar.
— Adorei esse garoto.
— Você acha relevante a resposta, Anthony? — Hanna fala em
seguida, e os olhos dele se arregalam por escutar a voz dela. Eu me lembro de
que ela me disse quase a mesma coisa quando eu lhe fiz essa mesma pergunta
na segunda-feira.
Eu te entendo, meu irmãozinho. A voz de Hanna é indescritível. Por
incrível que pareça, eu ainda não me acostumei com o tom sedutor que ela
tem naturalmente, e não é apenas a voz que me encanta: as pintinhas são
chamativas, suas unhas bem-delicadas, seus pés fofos, seu corpo… enfim,
não tem como ninguém nessa mesa não notar.
— Acho sim, se eu tenho a intenção de te elogiar. — Ele diz, ainda
sem pudor.
Hanna solta uma pequena risada, mostrando seu sorriso perfeito a
todos nós, e nos mantemos em silêncio, apenas esperando para ver onde vai
dar essa conversa.
— Você pode me elogiar sem saber se eu namoro!
— Isso é verdade, mas eu tenho princípios, senhorita Hanna. Eu e o
Ander fomos muito bem-ensinados pela nossa mãe a tratar bem as mulheres.
E, se você for comprometida, eu estaria sendo indelicado. — Os olhos do
meu irmão me encontram, e provavelmente a minha cara é de raiva no
momento.
— Você e seu irmão? — Ela fala, indignada, e me encara novamente,
provavelmente criticando em pensamento o que o Tony disse.
— Isso mesmo. Não me diga que ele fez algo de errado?
Os olhos de todos se voltam para mim, e eu sinto a obrigação de calar
a boca do meu irmão antes que a conversa tome o rumo errado.
— Chega, Tony. Acho que esse assunto é muito particular. Pare de
incomodar a senhorita Hanna. — O pestinha está adorando toda a situação.
— Eu sou solteira, sim, Anthony! — Hanna me ignora e continua o
assunto.

— Então, se o meu irmão não teve a capacidade de te elogiar, eu


tenho que te dizer o quanto a sua beleza é hipnotizante. Esses seus olhos e
esse seu sorriso são muito encantadores.
Deus, eu quero bater nesse moleque! Como ele pode dizer essas
coisas completamente decoradas de um livrinho de cantadas baratas estando
sentado a uma mesa cheia de gente importante? Meus pais já estão com os
olhos arregalados, e os Menezes estão se divertindo.
— Muito obrigada pela sinceridade, eu fico lisonjeada. — Hanna sorri
e experimenta a sua comida.
Todos da mesa voltam a conversar, adorando o novo assunto criado
por Anthony. Minha mãe se desculpa com os Menezes, que, na verdade, a
elogiam por ter criado um menino tão bom.

— Seu irmão é muito parecido com você, senhor Anderson. —


Aquela voz me atinge de surpresa enquanto estou focado no meu prato.
— Eles são parecidos mesmo. O Anderson tinha essa mesma
aparência quando era mais novo. Literalmente eles são uma cópia. — O
Kauan entra na nossa conversa.

— Digo isso também sobre as atitudes. Eles gostam de dizer o que


pensam.
Hanna aborda a situação do almoço que tivemos na segunda, e eu fico
apreensivo, já que meu amigo não sabe a respeito do que aconteceu. Tento
buscar em seu rosto aonde ela quer chegar trazendo essa informação à tona,
mas só noto suas bochechas levemente avermelhadas.
— Isso é verdade. Eu vivo escutando as verdades do Naveen. —
Merda. O apelido logo agora, Kauan?
— Naveen? — Hanna pensa por alguns segundos. — Como o da
Princesa e o Sapo?
— Você conhece o filme? — Ele diz, todo empolgado.
— Sim, esse personagem é bem mulherengo, né?
— Parem de falar de mim, eu estou aqui! — interrompo-os, sem
paciência.
— É exatamente por esse motivo que eu o apelidei assim.
Porra, Kauan!
Hanna se afoga com a comida no exato momento em que termina de
escutá-lo e começa a tossir. Eu entendo seu espanto, já que ela deve ter em
mente que eu sou alguém completamente sem caráter. E, após essa revelação
do Kauan, com certeza ela tem certeza.
Seu pai se vira para ela, preocupado, e começa a passar a mão em
suas costas, tentando fazê-la se recompor. Hanna já está com os olhos cheios
de lágrimas e tenta tomar mais um pouco do seu suco de laranja, mas o ar lhe
falta, e ela se levanta.
— M-me perdoem! — Ela limpa seus lábios com o guardanapo. — Já
retorno!
Com pressa e ainda tossindo um pouco, ela pega a sua bolsa e vai em
direção aos banheiros.

— Não se preocupem, a Hanna já volta. — A mãe dela fala,


continuando o assunto que estava tendo com a minha mãe.
— O que pensa que está fazendo? Por que disse isso? O que acha que
ela vai pensar sobre a nossa empresa? — sussurro, encarando o meu amigo
burro.
— Acha que ela vai pensar algo ruim sobre nós? — Agora ele parece
pensar no que disse.
— Eu não sei, mas vou tentar consertar isso.
Levanto-me, jogando meu guardanapo em cima da mesa, e digo um
rápido “já volto” aos demais. Sigo na mesma direção em que vi Hanna
desaparecendo e, em um ponto mais afastado e calmo do restaurante, eu
avisto o banheiro feminino. Meus olhos vasculham todo o ambiente enquanto
eu me aproximo da porta, e consigo escutá-la ainda tossindo. Meu coração
acelera pela tensão de ser pego, mas, assim que verifico que não tem nenhum
funcionário por perto, minha mão alcança o trinco, e eu entro.
O som da sua falta de ar me assusta, e eu caminho adentro e levo um
choque. Hanna está ajoelhada, e as coisas da sua bolsa estão despejadas no
chão, por conta de seu ato desesperado.
— Hanna! — chamo por ela, mas não recebo uma resposta.
Aproximo-me e noto que seu rosto está vermelho. Vermelho demais.
Ela está tendo uma reação alérgica! Corro até seu pequeno corpo. Ela está
apavorada buscando por algo no meio das coisas, e eu paro em sua frente.
— Hanna, você comeu camarão? — falo imediatamente ao me
lembrar dessa hipótese, e ela concorda com a cabeça, enquanto a sua tosse
permanece. — O que eu faço? O que você está procurando?

Meus dedos passam pelas coisas espalhadas, procurando por algo que
fosse algum tipo de medicamento, e ela se esforça para falar.
— E_pi_ne_fri_na! — Sua mão esquerda demonstra o tamanho do
objeto, enquanto a outra mão massageia a região abaixo do seu pescoço.
Encontro a única coisa que eu imagino ser o medicamento a que ela
estava se referindo, mas não faço ideia de como aplicar essa injeção. Noto a
sua tontura e a seguro em meus braços. Em seguida, sento-me no chão e a
viro, para que as suas costas descansem contra o meu peito.
Giro a injeção na minha mão e tenho sorte de as instruções estarem na
própria embalagem. Meus olhos passam o mais rápido possível pelas letras
pequenas; sinto que cada segundo conta, para que algo pior não aconteça.
— Hanna, está comigo?
Seguro-lhe o queixo para observar o seu rosto, e ela assente assim que
seus olhos se encontram com os meus. Eles estão bem cansados, e eu estou
tão nervoso por ter que fazer isso, que a minha mão começa a suar. Parece
que esses segundos não terminam nunca, mas provavelmente eu não estou
neste banheiro nem há dois minutos.

— Escute a minha voz… — Começo a falar para que ela não desmaie
e abro a embalagem. — Eu vou aplicar isso. Tente respirar fundo.
As instruções são claras, devo aplicar na lateral de sua coxa. Não
penso por muito tempo, apenas destravo a injeção e ergo seu vestido para
pressionar a caneta contra sua pele.
Espero me acalmar um pouco depois de o desespero dela passar, solto
a epinefrina e passo meus dedos sobre a marca que se formou em sua pele,
esperando que o medicamento faça efeito o quanto antes. Posso sentir quando
sua respiração volta ao normal, e ficamos por mais algum tempo, até que paro
com as carícias, que já estão ficando estranhas, e Hanna leva a mão até sua
barra para retornar o vestido ao seu devido lugar.
— Obrigada… por ter me ajudado. — Sua voz está um pouco rouca e
mais lenta.

— Você me deu um susto. — Suas costas se afastam do meu peito, e


ela se move apenas o suficiente para me encarar.
— Eu não sabia que tinha camarão naquele purê, desculpe.
Pela primeira vez depois de tanto tempo com provocações entre nós
dois, eu sinto que ela está falando normalmente comigo, já que aquele rosto
todo vermelho e vulnerável por causa daquele momento mostra sua
verdadeira face.
A Hanna tem uma máscara!
— Não se desculpe com isso. — Sem pensar, levo minha mão até seu
rosto e passo meu dedo abaixo dos seus olhos, que ficaram levemente
inchados. — Eu fiquei preocupado de verdade.
— Não precisa, já estou bem! — Sua mão vai para cima da minha.
— Tem certeza? — Nossos rostos se aproximam, e eu desejo de novo
poder beijá-la. — Seu rosto ainda está vermelho.
— É normal, já passa. O medicamento está fazendo efeito ainda. —
Nossos dedos continuam juntos, como se ela tentasse me acalmar e eu
tentasse o mesmo.

— Você está bem mesmo, Hanna? Só essa injeção já funciona, ou eu


preciso chamar uma ambulância?
— Meu Deus, filha! — A voz da dona Eliza ecoa no banheiro e faz
com que nós dois nos afastemos imediatamente. Ela se aproxima, ajuda a
Hanna a se levantar e em seguida a abraça, totalmente preocupada. — Você
comeu camarão?
— Já estou bem, mãe. O senhor Anderson me ajudou. — Noto,
enquanto eu junto as coisas dela espalhadas pelo chão, que a nossa
formalidade havia retornado.
— Me desculpe por não estar por perto para te ajudar, filha. Meu
Deus, eu não quero nem imaginar o que aconteceria se o senhor Anderson
não estivesse aqui. — A senhora Eliza me encara com gratidão em seus
olhos. — Notei que estava demorando para voltar e, quando olhei para o seu
prato, o desespero me tomou na mesma hora, e eu vim direto para cá.
— Eu passei perto do banheiro e escutei a Hanna tossindo, senhora
Eliza. Ela está bem mesmo? Não devemos levá-la para o hospital? — Coloco
a bolsa dela em cima da pia.
— Não, meu querido. Essa medicação é o suficiente. A Hanna já
voltou ao normal, graças a Deus. Não precisa se preocupar, não!
— Deu tudo certo, senhor Anderson. Foi só um susto mesmo. Me
perdoem se estraguei o almoço!
— Para, filha! Claro que não estragou.
O senhor Richard aparece em seguida, assustado, e noto através da
porta que os meus pais também estão do lado de fora. Acho que agora eu
deveria deixar os Menezes sozinhos para conversarem e explicarem o que
havia acontecido.
— Hanna, senhora Eliza, senhor Richard, eu vou sair e informar os
meus pais sobre o ocorrido. Se precisarem de mim, não hesitem em me
chamar.

Eles concordam comigo e se reúnem para verificar como a filha está.


Antes de sair, encaro os olhos verdes de Hanna por mais alguns segundos
para verificar se eu realmente posso ficar tranquilo. Algo estranho está me
incomodando, sei que ela já está bem, mas nada me acalma.
Não demora muito para eles retornarem à mesa bem mais calmos.
Hanna só pede uma água, enquanto os demais terminam suas refeições e os
pais dela relembram as primeiras vezes que ela teve a alergia causada pelo
camarão. Kauan até tenta conversar com ela, mas é em vão. Hanna está
quieta, respondendo apenas o necessário. Antes de nos despedirmos para ir
embora, ela se aproxima de mim.
— Por que foi atrás de mim no banheiro?
— Não queria que entendesse errado o que o Kauan falou sobre mim,
ainda mais depois do que aconteceu com a gente na segunda; então, eu quis
me explicar. — Seus olhos esmeralda observam cada fala minha.

— E o que eu deveria entender sobre o senhor?


Porra, o que eu posso dizer? Eu sei que gosto muito de pegar
mulheres, eu sou mesmo um mulherengo, mas não quero que ela se sinta
usada e não gosto de mentir.
— Eu não tenho uma resposta agora.
— Compreendo… — Hanna abaixa os seus olhos dos meus,
aparentemente decepcionada. — Afinal, a surpresa é uma ótima arma contra
os despreparados!
Dois a dois para a Hanna.
Mas agora parece bem irrelevante continuar contando.
— Obrigada mesmo assim por ter ido, você me ajudou de verdade.
— Estou feliz que você esteja bem.
— Até mais, senhor Anderson.
Seu sorriso fraco se despede, e eu permaneço parado, observando-a ir
embora com seus pais. Meu amigo também aproveita para retornar à
empresa, já que combinamos que hoje eu iria aproveitar o restante do dia com
a minha família.
— Posso dirigir agora? — Tony se aproxima de mim.
— Sai fora. Vou contar para a sua namoradinha que você estava
cantando uma mulher bem mais velha.
— Tô pensando seriamente em pedir pra morar aqui em Curitiba com
você. Olha as mulheres desse lugar!
— Nem se empolgue muito, porque essa aí é a primeira que eu vi aqui
em todos esses anos. Até achava que uma beleza dessa não existia.
— Será que ela gosta de mais novos?
— Aquela ali não gosta de ninguém, não!
— Eu sabia que você tinha tentado algo com ela. Levou um toco, foi?
— Por que você acha isso?
— Porque, pra você falar isso de uma mulher, significa que você
investiu nela, e ela te rejeitou. — Tinha que ser meu irmão para ser tão rápido
nesses raciocínios.

— Significa que rolou algo e, por isso, eu tenho motivos para


argumentar. — Sorrio maliciosamente para o meu irmão, que arregala os
olhos.
— Caralho, o que rolou? Beijo? Mão boba? Vocês transaram?
— Cala a boca, Tony!
— Porra, você tirou uma casquinha daquela beldade?
— Fica quieto! — comento, bravo, e nossos pais se aproximam. —
Que falta de respeito. Não é você o senhor educação?
— Eu preciso saber! — Ele fala, curioso.
— Pois eu não vou te contar. Agora fica quieto, que eles estão vindo.
— Eu faço você me contar até o final dessa viagem!
— Vamos? Quero levar vocês para conhecer a cidade — falo, e meus
pais chegam perto do carro.
Arrumo-me com pressa, pois acabei me atrasando devido à mudança
que fiz no final de semana. Foram quase vinte caixas com as minhas coisas, e
eu estou falando apenas de roupas, calçados e acessórios, já que não preciso
de móveis, porque ganhei a casa toda mobiliada. Mesmo que eu tente
encontrar as minhas coisas naquelas caixas, eu acabo bagunçando ainda mais
o meu quarto e não encontro nada. Então, hoje eu tenho que ir sem meu colar,
meus anéis e meus brincos habituais, pois não sei onde estão.
Assim que chego à empresa toda apressada, encaro meu celular, que
já contém uma mensagem de Andréia. Não demora muito para eu dar de cara
com a minha amiga na saída do elevador. Ela transparece nervosismo com o
meu atraso, porque com certeza eu estou estragando todos os compromissos
do dia.
— Bom dia, Andréia. Perdi muito por não vir no sábado trabalhar? —
Sorrio para ela enquanto caminho apressadamente.
— Confesso que foi solitário, não conseguimos colocar a fofoca em
dia. — Nós duas damos risadas, e ela coloca o seu tablet sobre a minha mão
para poder me explicar o roteiro do dia. — Como foi a mudança?
— Cansativa. Eu nem queria ter vindo hoje. — Começo a andar em
direção à minha sala, mas minha amiga entra na frente, assustando-me. — O
que foi?

— Hanna, é melhor conversarmos antes de entrar. — Paro de andar


ao ouvir o comentário dela.
— O que aconteceu? É algo sério?
— Depende. Na verdade, não consigo imaginar qual será a sua reação
para isso. — Eu começo a temer por surpresas ruins.
— Vamos para a minha sala, conversamos melhor lá.

— Não! — Andréia não me deixa sair do lugar, e os meus olhos


crescem com a sua atitude.
— Me conte logo o que está acontecendo!
— Calma, não é nenhuma tragédia, Hanna.
— Mas vai virar se você não me contar o que é todo esse seu
desespero! — Tento dar um passo, mas sou interrompida novamente.
— Não entre!
— Para com isso, eu quero entrar.
Desvio dela e abro a porta mais rápido do que sua mão tenta me
impedir e, antes mesmo que eu consiga ver o interior da minha sala por
completo, eu sinto o perfume que tem me assombrado nesses últimos dias.
Dou um passo à frente e lá está ele, o idiota convencido, sentado em
umas das poltronas da minha sala, aguardando-me.
Por que ele está aqui?
— Hanna, me desculpe por não ter te informado antes! — Andréia
para atrás de mim. — Eu tentei… — Sim, ela tentou.
— Está tudo bem! — Viro-me para ela e procuro ignorar essa
presença tão forte me encarando.
— Apareceu no meu sistema que a senhorita tinha uma reunião com o
senhor Anderson, mas só apareceu agora há pouco. Eu não estava ciente. Foi
então que o senhor Anderson chegou.

Ótimo, quem marcou essa reunião?


— Obrigada por me explicar, Andréia! Pode retornar para a sua mesa,
eu resolvo com o senhor Anderson. — Volto o meu olhar para ele, que ainda
me encara, só que agora sorrindo.
Assim que ela sai, eu fecho a porta e me recomponho do meu susto.
Passo minhas mãos suadas sobre o meu corpo, ajeitando o que possa estar
fora do lugar, e ando encostando na minha mesa para poder ficar bem de
frente para ele.
Assim como eu, Anderson parece estar desconfortável com a situação,
mas, mesmo assim, nós dois estamos nos esforçando para evitar repetir o que
aconteceu na segunda e na sexta.
Eu nunca imaginei na minha vida que ele pudesse me ajudar na
questão da minha alergia. Afinal, quem é o louco que coloca camarão
triturado em um purê de batatas? Estava bom, não nego, eu amava camarão,
mas infelizmente sou alérgica. Quando senti o gosto, demorei para assimilar,
mas já era tarde, eu já estava passando mal e morrendo de vergonha com ele
do meu lado.
Ter meu corpo sendo abraçado pelo dele foi demais para mim. Eu já
não estava bem por causa da comida e ainda tive que lidar com o meu
coração acelerado. Depois ele mesmo confirmou o quanto ele era um fodão
por comer muitas mulheres. Eu sei que não foi isso que ele disse, mas foi
exatamente o que eu entendi!
Respiro fundo, tentando ao máximo esquecer aquele momento, mas
quanto mais o senhor Anderson me encara, mais as memórias vêm à tona.
— Como o senhor conseguiu uma reunião comigo? Eu não marquei
nada e não te mandei nenhuma mensagem.
— Eu recebi um e-mail de vocês marcando esta reunião! — Ele se
ajeita na poltrona, sem perder aquele sorriso convencido.
Acesso o tablet que ainda está na minha mão e procuro no meu e-mail
a que exatamente ele se refere. Não encontro nada e, então, decido ver o e-
mail da empresa. E lá está! A merda do e-mail existe.

— Realmente você tem uma reunião aqui hoje, só que não é comigo!
— Encaro-o novamente. — Por que veio para a minha sala?
— Me mandaram para cá!
— Te mandaram para cá? Quem? — Levanto uma sobrancelha em
dúvida!
Ele percebe minha incredulidade e se levanta, encarando-me e criando
um fio de eletricidade entre nós conforme ele segue em linha reta até minha
direção.
— Por que tanta dúvida?
— Minha secretária não sabia da sua presença hoje aqui! — Ele para
na minha frente, e eu deposito o meu tablet sobre a mesa.
— Nem eu imaginei que eu estaria hoje aqui. Está sendo bastante
conveniente para vocês ficarem me chamando a qualquer momento, né? —
Ele cruza os braços na minha frente.
O senhor Anderson está com uma camisa preta e uma calça social
cinza. Quando ele movimenta os braços, noto o tecido angustiado por causa
de seus bíceps, mas desvio rapidamente a minha atenção.
— Quem te mandou vir até a minha sala?
— Você é tão desconfiada, Hanna. — Ele instiga a minha raiva
propositalmente.
— Eu achei que a gente já tinha se acertado! — Sorrio para ele.
Estamos tão próximos, que eu sinto cada célula do meu corpo
inquieta. Da última vez que isso aconteceu, o resultado não foi muito legal.
— E está tudo certo entre nós, mesmo!
— Certo. Eu vou verificar onde é a sua reunião, já que o senhor está
perdido.

Movo-me em direção à porta, e seus braços se prendem na mesa,


rodeando-me com sua presença. Estou me vendo novamente na mesma
situação da semana passada: olhares cruzados, e pele exalando hormônios
indesejados por nós dois.
— Me fala a verdade, Hanna. Foi você que me chamou aqui. Você
acha que, só porque eu assinei um contrato com vocês, eu vou vir correndo
sempre que você chamar? Eu já te disse que você me trata como um
cachorro, só falta assobiar quando fala comigo. — Sinto o meu sangue ferver
com sua insinuação.
— Eu nunca te chamei de cachorro. Para de insistir nisso!
— Você é tão mandona, que me dá nos nervos! — Sua testa franze
enquanto me acusa. — Tenta impor isso até no nosso contrato.
— Anderson, para com isso! Nós já conversamos sobre as nossas
diferenças de pensamento e decidimos encerrar as intrigas. — Eu já sinto o
cheiro de sua pasta de dente, de tão próximos que estamos.
— Mas você pode continuar com os seus “para com isso” e “não faça
aquilo”, né? — Suas palavras me atacam, mesmo enquanto tento me manter
neutra. Eu não aguento mais sua insistência para que o meu caos retorne.

— Já que você quer tanto ser um cachorrinho, eu posso te chamar de


spitz-alemão. De tantas salas nessa empresa, por que o senhor correu logo
para a minha?
— Deus, você é insuportável! — Seus olhos fervem desejo.
— Você está me provocando e sabe disso.
— Eu sei!
Sem pensar, movido apenas pela emoção do momento, ele solta a
mesa e agarra o meu rosto, puxando-me em direção aos seus lábios. Sinto o
alívio da tensão toda. Seu beijo bruto e urgente me faz agir sem pensar de
novo. Minhas mãos se guiam sozinhas até seus cabelos, na esperança de
sentir seus arrepios como da última vez.
— Por que sua boca é tão atrevida? — Ele fala na brecha dos nossos
lábios, voltando, então, a agarrar meu lábio inferior.
— Você faz perguntas de mais! — digo, com urgência, indo em
direção ao seu pescoço e atacando a região que percebi ser sensível.
Em resposta ao meu gesto, ele me levanta, sentando-me em cima da
mesa. Então, coloca o joelho entre minhas pernas e esfrega naquele ponto
específico, com a pressão necessária para o meu prazer imediato, enquanto
comanda minha boca com a sua língua.
Conforme o beijo e aquele gesto se intensificam, faço sem pensar a
única coisa que nunca fiz na minha vida — coloco minha mão no seu
membro —, enquanto me esfrego em sua perna e sinto que ele está mais
atiçado que da última vez. A minha cabeça não para de me questionar onde
eu aprendi a agir desse jeito.
Meus dedos atravessam sua extensão por completo. Sinto-o tendo a
mesma sensação que eu. Não há mais ar suficiente para nós dois aqui, não
existe um inferno mais quente do que as nossas intimidades e nem um tesão
tão descontrolado quanto o nosso.
— É melhor… — digo, num sussurro, sem parar o nosso beijo.

— Pararmos? — Ele completa.


— Sim.
Suas mãos ignoram completamente o que acabamos de falar e seguem
para o primeiro botão da minha camisa. Não conseguimos parar. Não tem
como interromper.
Os três primeiros botões já estão soltos com poucos movimentos, e
meu sutiã está à mostra. Sem aguentar mais a pressão que ele coloca sobre
meu sexo, agarro-me ainda mais ao seu corpo, e ele entende o passe para
continuar. Sua mão aperta um dos meus seios por cima da camisa, e um lapso
de pensamento me joga na cara o desejo que eu tenho por esse homem.
Ele não quebra o contato do nosso beijo, insistindo em acariciar-me o
seio. Seu joelho continua friccionando e, pouco a pouco, minha respiração
fica pesada. Se não me controlar, eu vou gemer contra a boca desse homem.

Sinto a minha intimidade tão molhada, que chega a me incomodar,


por não estar mais livre para o contato, já que as roupas não permitem uma
melhor sensação. Uma das minhas mãos puxa a barra da sua camisa de dentro
da calça, na esperança de alcançar algo a mais, e então eu toco seu abdômen
por baixo do tecido. Levamos um susto quando meu telefone toca em cima da
mesa.
— Não atenda! — Ele fala, mantendo nossos lábios grudados.
— Eu preciso! — Respiro fundo e desço da mesa, desviando-me do
seu corpo.
— Hanna Menezes — digo, assim que recupero meu fôlego.
— Oi, princesa! — Identifico a voz do meu pai e me surpreendo.
Como ele já está na empresa?
— Pai?
Encaro o Anderson, que ajeita os cabelos que eu acabei de bagunçar.
Ele me encara de volta quando me escuta falando com o meu pai.
— O senhor Anderson está aí? — Sinto minha pele gelada. Como ele
sabe disso?
— Ele está aqui, sim!
— Sua mãe disse que se encontrou com ele no saguão e o mandou aí
achando que vocês dois tinham uma reunião, mas sou eu que preciso falar
com ele!
Se o Anderson tivesse me falado isso, talvez esse beijo não teria
acontecido. Ele tinha que fazer esses joguinhos de cão e gato, né?
— Entendi, pai. Quer que eu participe da reunião também?
— Não precisa, filha. Vai ser uma reunião bem curta, não se
preocupe.
Como eu não iria me preocupar?
— Tá bom. Vou avisá-lo, ele já chega aí!
— Estou aguardando!
Desligo o telefone e caminho até ele, que coloca a camisa para dentro
da sua calça enquanto eu tento novamente não comentar sobre o seu membro
marcando a roupa. Noto que, mesmo após ele ter ajeitado o cabelo,
continuava bagunçado.

— Acho que você errou de sala, senhor spitz-alemão!


Meu pau pulsa dentro da calça, angustiado por ter sentido o toque
dela, que estava bem na minha frente falando com o seu pai por ligação.
Meus olhos acompanham seus movimentos. De tão concentrada, ela nem
percebeu que seu sutiã ainda está à mostra.
Eu realmente fiquei surpreso com o e-mail que recebi no domingo
marcando uma reunião logo pela manhã na empresa dos Menezes. Claro que
o e-mail tinha me causado muitas dúvidas. Não tinha o nome de ninguém na
descrição e eu não sabia se tinha sido a Hanna, sua secretária ou qualquer
outra pessoa lá de dentro que enviara. Também não sabia o assunto que seria
abordado na reunião, então passei essas últimas horas em uma angústia sem
tamanho, já que só eu fui chamado.
Quando eu cheguei à empresa, acabei me encontrando com a senhora
Menezes na entrada, que me perguntou como foi meu almoço com a sua filha
na segunda-feira. Surpreendi-me por a Hanna talvez não ter falado nada para
ela, já que foi a própria mãe que “armou” aquilo tudo, e eu não sabia o que eu
deveria falar, então apenas disse que tinha sido ótimo; afinal, eu não menti.
Perguntei para ela se saberia me dizer com quem eu teria a reunião
hoje, e ela me pareceu bastante surpresa, pedindo a mim que eu fosse até a
sala da Hanna no décimo andar. Foi quando cheguei, e sua secretária me
colocou para dentro desta sala toda branca. Senti-me terrivelmente
incomodado, pois pareceu que eu invadi um lugar tão limpo, que a qualquer
momento eu poderia sujá-lo.

A Hanna me passa essa sensação o tempo todo, como se ela fosse


pura demais para algo tão bagunçado como eu.
Foi então que, após dez longos minutos, eu escutei sua voz na parte de
fora da sala. Meu coração novamente me incomodava com a ansiedade de
poder vê-la, e ignorei ao máximo o meu desejo crescendo enquanto ela me
questionava e duvidava de cada fala minha. Eu queria tanto poder calar
aquela boca para que ela parasse de ficar tanto na defensiva, que no final
aconteceu o que eu já imaginava que seria possível.

— Meu pai marcou a reunião com você. — Ela me tira dos meus
pensamentos assim que encerra a ligação.
— Certo! — concordo, analisando suas ações.
Deveríamos conversar novamente sobre isso que acabou de acontecer,
né? Mas creio que ela vai ignorar como fez da última vez.
— Ele está no andar de cima. — Hanna complementa. Ela me vê
encarando seu sutiã branco, o que a faz notar a abertura de sua camisa— Não
vou me desculpar por nada que aconteceu aqui.
— Devemos mesmo ignorar! — Como é que é?
Como ela pode simplesmente ignorar isso tudo e continuar fingindo
que não estamos sendo afetados um pelo outro? Como sempre, suas palavras
me causam raiva, e decido ignorá-la. Vou até a porta e saio sem me despedir.
Sua secretária me olha, intrigada. Com certeza não devo estar com as
melhores das caras, mas não posso ficar discutindo com essa mulher sobre o
que devemos ignorar ou não. A tal Andréia força um som com a garganta
para que eu a encare antes de entrar no elevador, e sua mão limpa a própria
boca como um sinal.
O elevador se abre, e eu me olho no espelho antes de entrar. Noto que
estou todo manchado de batom. Era esse o seu sinal! Bom, se Hanna queria
mesmo manter isso em segredo, alguém acabou de descobrir.
Entro no elevador e pego o meu lenço do bolso para limpar meu rosto
antes de chegar ao andar de cima. Assim que as portas se abrem, já estou
apresentável novamente. Vou até as recepcionistas, que prontamente me
atendem com uma simpatia descomunal. Elas me anunciam para o senhor
Richard, que, em poucos minutos, chama-me para sua sala.
Meu corpo todo está em alerta, denunciando-me por ter acabado de
beijar sua filha no andar de baixo. Estou sentindo como se essa informação
estivesse estampada na minha cara.
— Boa tarde, senhor Richard — digo, simpático.

— Boa tarde, Anderson. Que prazer revê-lo. — Ele indica uma das
cadeiras para que eu me sente à sua frente.
Não sei ao certo o que devo esperar dessa conversa, então
simplesmente aguardo que ele inicie o assunto.
— Creio que devo uma explicação para marcar esta reunião de última
hora, né? — Ele fala, ao se sentar.
— Confesso que eu estou bem curioso, senhor — comento. — Não
me diga que já fizemos alguma coisa de errado!? — Passo minhas mãos
sobre os meus cabelos, mantendo um sorriso desanimado.
— Eu não sei, isso é vocês que têm que me dizer. — Ele também
sorri, mas não sei se isso é um bom sinal.
— Que eu saiba, não tem nada de errado acontecendo.
— Peço desculpa desde já por talvez ser indiscreto com você,
Anderson, mas, como pai, eu preciso ser. — Puta que pariu, parece que eu já
sentia que esse assunto seria abordado.
— Imagina, não sei sobre o que o senhor quer falar, mas sou todo
ouvidos. — Mantenho o tom de seriedade.
— Eu sei que minha mulher forçou um almoço entre você e minha
filha na segunda-feira da semana passada. A Hanna é uma boa menina, então
ela não iria negar…— Boa menina? Aquela Hanna que estava pegando no
meu pau agora há pouco e que discute comigo o tempo inteiro?
— Senhor Richard, pode ir direto ao ponto? Estou ficando confuso.
— Desculpe, só não sei como falar sobre isso; afinal, eu não deveria
estar me metendo, mas a Hanna voltou muito perturbada daquele almoço, e,
na sexta, eu também notei algo estranho entre vocês.
— E o senhor acha que algo ruim aconteceu? — falo, um tanto
confuso.
— Ela nos disse que houve um acidente com uma taça de vinho.

— Acidentes acontecem — defendo-me.


— Eu sei, eu sei. Eu não chamei o senhor aqui para falar sobre vinho,
mas sim para pedir que se mantenha longe da Hanna.
Pela segunda vez no meu dia: como é que é? Esses Menezes só
podem estar tirando com a minha cara.
— Não quero parecer grosseiro, mas eu escutei o seu próprio amigo te
chamando de mulherengo no nosso almoço da sexta. Foi algo relacionado a
um desenho, se eu não me engano. Eu não queria me intrometer, mas eu
estava do lado da Hanna, dava para escutar. — Maldito Kauan, eu sabia que
isso viria à tona a qualquer momento.
— Eu me lembro dessa conversa.
— Anderson, eu não gosto de julgar as pessoas apenas por
comentários secundários, mas por que eu devo desconfiar do seu amigo? Que
te conhece bem melhor do que eu? — O senhor Richard levanta uma
sobrancelha, e eu noto a semelhança. Hanna faz o mesmo movimento quando
está me afrontando. — Só estou tocando nesse assunto porque a Hanna me
pareceu bem irritada sobre isso tudo e eu só quero protegê-la. Me perdoe por
isso.
Mesmo ele mantendo todo o profissionalismo nas palavras para tocar
no assunto, eu consigo sentir o quanto está desconfortável. Com certeza só
está fazendo isso porque cuida muito da filha.
— Tudo bem, senhor Menezes, eu entendo perfeitamente o seu lado.
Só quero que entenda que foi apenas um acidente com um vinho. — Claro
que não foi só isso. — Se ela ficou tão irritada com isso, eu me manterei
distante.
— Fico feliz! — Um sorriso aparece em seu rosto. — Novamente, eu
me desculpo por isso. Só não quero ver minha filha sofrendo de novo, então
sou superprotetor. — “De novo”? Como assim? — Se a nossa relação for
apenas profissional, eu tenho certeza de que será muito duradoura.
— Pode ficar tranquilo, senhor Richard. Eu quero que a nossa
parceria tenha recorde em vendas. — Levanto-me. — Seria apenas isso?
— Sim, me desculpe por tomar o seu tempo com esse assunto tão
trivial. Queria me desculpar também pela minha esposa, já que ela acabou
armando esse almoço para cima de vocês dois.
— Imagina, está tudo certo.
— Mesmo eu tocando em um assunto tão delicado, eu queria
aproveitar para te agradecer por ter ajudado a minha filha lá no restaurante.
Tenho certeza de que, se não estivesse passando por lá na hora, algo pior
poderia ter acontecido. — Sua voz soa mais carinhosa.
Tá, agora me sinto culpado. Por que ele tinha que me agradecer logo
após eu quase comer a filha dele na sala de baixo?

— Não precisa me agradecer por isso, senhor. Era o mínimo que eu


poderia fazer naquele momento.
— O seu mínimo foi muito para nós.
— Fico feliz em ter ajudado. — Sou verdadeiro com as minhas
palavras.
— Certo. Obrigado por ter vindo, Anderson, e vocês sabem que, se
precisarem de algo, é só mandar uma mensagem para um dos nossos e-mails,
que ficaremos contentes em ajudá-los.
— Eu sei! — Cumprimento-o assim que a gente se levanta.
Despedimo-nos, e eu sinto um peso enorme sair das minhas costas.
Não sei como passei por essa prensa do senhor Richard vivo. Também não
sei pelo que a Hanna passou, mas isso tudo foi extremamente desnecessário.
Só esses ricos mesmo para me tirarem de casa para uma “reunião” tão besta
como essa. Pelo menos a minha manhã não foi tão perdida, porque não
consigo dizer que beijar aquela mulher é um desperdício do meu tempo.
Mas juro a mim mesmo que, a partir de hoje, eu não vou mais me
aproximar desses loucos, a não ser para assuntos de negócios. Hanna foi
somente uma curiosidade muito gostosa que eu espero que me deixe em paz
depois do susto de hoje.
Eu estou bem crescidinho para ter que ficar levando sermão de pai
“superprotetor", e também não sou um adolescente sem limites para ficar tão
fascinado por uma mulher só porque não consegui transar com ela.
Chega de “spitz-alemão”!

— Vem aqui! — Escutei uma voz familiar me chamando, mas minha


visão não conseguia enxergar a pessoa em um todo. Tudo estava turvo e em
cores fracas.
Eu conseguia definir, ao menos, aqueles olhos verdes, olhos
familiares, olhos sedutores. Reconheci a pintinha, mas não relacionei a quem
ela pertencia. Os olhos estavam mais estranhos do que eu imaginava, eram
obscuros, como se o puro tesão alterasse a química das suas pupilas, e me
alcançavam, mudando os lapsos de visões para focos do seu corpo.
— Vem aqui! — Um assobio me chamou, soprando em minha nuca.
Virei-me e encarei seus lábios carnudos. O canto da boca
demonstrava uma malícia ousada, enquanto seu sorriso branco brilhava na
escuridão. Havia uma pintinha bem ali também, guiando algo. Quem era?
— Olha para mim, Ander!
Suas mãos passearam por seu corpo de pele branca. Ela usava uma
lingerie minúscula em um vermelho marcante, que chamava ainda mais a
minha atenção. Inesperadamente, ela começou a tirar as peças na minha
frente, com uma demora angustiante. Via, de repente, aquele corpo perfeito
em uma cama de lençóis de seda verde-escuros, que destacavam cada
centímetro daquela pele.

Minhas visões mudavam o tempo todo, tanto os ângulos quanto as


imagens, até que consegui vê-la de cima, totalmente nua. Ela quase
ronronava um gemido, por estar se tocando com as duas mãos.
— Ander, olha pra mim!
Seus seios eram pequenos, os mamilos também. Eles estavam duros, e
comecei a sentir uma necessidade de me aproximar, mas sentia como se
estivesse preso. Eu queria tocá-los, mas não conseguia. Na verdade, eu não
podia.
Ela era proibida para mim.
Aquela mão começou a descer por aquele corpo cheio de pintinhas, e
então ela abriu as pernas, fazendo-me salivar ao ver sua intimidade lisa,
rosada e molhada, escorrendo em excitação. Antes que ela se tocasse, eu
consegui ver que ela gemia ao ritmo de seus próprios movimentos, mas eu
não conseguia escutar, era como se eu estivesse vendo um filme no mudo
enquanto perdia a melhor cena.
Agora eu já estava de frente para a sua boceta; mais alguns
centímetros, e eu poderia me juntar a ela e sentir ainda mais forte o seu
cheiro, mas infelizmente minhas mãos estavam amarradas.
— Consegue me escutar? — Porra de voz gostosa.
Conforme os seus dedos retornavam para a parte de cima da sua
boceta, minha respiração se acelerava. Não demorou muito para que suas
unhas achassem um colar de taça de vinho e para que o enroscasse em seus
dedos, balançando o pequeno pingente, enquanto eu a observava se esfregar
no lençol e abrir a boca como se estivesse gemendo.

De repente, a escuridão devastou minha visão, e aquela respiração


cansada soou ao lado do meu ouvido, sussurrando maldosamente:
— Você não deveria roubar o que não é seu, spitzinho!

Meus olhos se abrem em um susto aterrorizante, como se, ao invés de


um sonho erótico, eu tivesse tido um terrível pesadelo.
Eu sonhei com ela e me sinto derrotado, como se tivesse perdido uma
batalha contra mim mesmo. O pior de tudo é que eu consegui ver seu rosto
antes das suas palavras me acordarem.
Hanna Menezes!

Encaro o teto do meu quarto, com suor escorrendo pelos meus


cabelos. Tenho a sensação de que meu pau vai explodir a qualquer momento
de adrenalina após vê-la nua. Como nossa mente é capaz de fazer isso? Criar
a imagem de alguém sem roupa, sendo que eu nunca vi a Hanna pelada.
Nunca sonhei assim com ninguém, ainda mais porque parecia tão real,
que o meu pau estava a ponto de gozar. Demoro para assimilar o sonho da
realidade. Meus olhos vão para a cômoda ao lado da minha cama, e minha
mão alcança o colar que está ali. Eu encaro o pingente, quando ele começa a
balançar no ar.
Por que eu peguei esse colar dela no dia em que ela passou mal?
Agora estou me sentindo um ladrão covarde, mas eu sei que ter essa
joia nas minhas mãos é um passe livre para encontrar com a senhorita
mandona novamente.

Bom, eu acho que deveria devolver o quanto antes, já que ela veio até
em sonhos me pedir isso de volta. E que porra de sonho, hein!
Preciso bater uma.
— Acabaram as minhas tarefas por hoje, Andréia? — falo, antes de ir
embora, para que eu possa começar a ajeitar a minha bolsa e as tarefas. Ela
me olha com um olhar de culpa. — Vai, pode me falar.
— Desculpe, Hanna! — Ela me entrega seu tablet com a minha
agenda.
— Imagina. Vamos logo acabar com essa tortura.
— A senhorita marcou um jantar com o senhor Kauan, da empresa
Aluxmil.
— Marquei?
Levanto uma sobrancelha, surpresa por eu ter feito isso. Geralmente
me lembro de todos os meus compromissos, mas esse realmente me fugiu da
memória.
— Sim! Na segunda ele ligou aqui no escritório pedindo um encontro
para mostrar os novos produtos deles, e você estava bastante estressada por
causa daquela situação com o batom, sabe? — Ela sorri para mim, e eu sinto
vergonha novamente.
Não que eu não tenha visto o batom espalhado pela boca do
Anderson, mas ele saiu tão nervoso da minha sala, que eu nem tive tempo de
avisá-lo.

— Agora eu lembrei. Você entrou logo em seguida na minha sala para


saber o que tinha acontecido e já me perguntou sobre esse jantar!
— Isso mesmo. Quer que eu desmarque?
— Não, pode confirmar o jantar com ele. Me mande o local e o
horário no meu celular.
Volto para a minha sala, ajeito minha bolsa e me despeço de todos, ao
que leio as informações que pedi para Andréia.
Chegando em casa, corro para o meu closet para escolher uma roupa
antes de ir para o banho e me deparo com a caixa que ganhei do Anderson.
Fico preocupada, porque ainda não encontrei o meu colar favorito, mesmo
após arrumar toda a bagunça. Eu o ganhei no meu aniversário de vinte anos
do senhor Diogo e da senhora Tiana, porque eles sabiam que eu amava
apreciar os vinhos. Esse colar é especial, e eu preciso encontrá-lo.
Pego a caixa misteriosa e escuto o som metálico novamente. Nem
essa porcaria eu consegui jogar fora para poder me esquecer mais rápido dele.
Ainda consigo sentir o formigamento no meu seio ao relembrar o nosso
último encontro. Eu transaria com ele na minha sala mesmo se não fosse a
ligação do meu pai. Decidi nem perguntar sobre o que eles conversaram para
não ter mais nenhuma informação daquele homem.

Pego minha roupa e vou para o chuveiro, depositando a caixa


novamente em seu lugar. Escolho um vestido de cetim soltinho que eu amo,
já que a noite está bastante quente. Solto meus cabelos e escolho uma das
minhas sandálias mais altas. Geralmente, quando preciso sair à noite, eu vou
sozinha. Não gosto muito de dirigir, mas gosto menos ainda de incomodar o
senhor Diogo.
Noto que o jantar será na empresa Aluxmil e penso duas vezes antes
de acelerar, porque eu realmente não quero me encontrar com o Anderson.
Novamente, tento não pensar nele e começo a dirigir.
O caminho todo foi bem tranquilo; até para acessar o prédio onde fica
a empresa deles eu não tive problemas. Eu odeio estacionar, e lá tem
motorista. Saio no andar indicado na mensagem da Andréia, e as portas
automáticas de vidro se abrem assim que me aproximo.
Logo o Kauan sai de uma das salas e vem ao meu encontro. Ele está
usando uma camisa azul. Aparentemente ele gosta dessa cor, e a calça é
social. O look todo o deixa mais novo, já que ele também não deixa sua barba
crescer, diferente de Anderson, que sempre está com sombra da barba.
— Oi, senhorita Hanna. Que bom que chegou! — Ele me abraça logo
de cara, e eu me sinto desconfortável com o seu ato.

— Boa noite — falo, sem jeito. Eu nunca dei tanta liberdade para
alguém assim. — Desculpe ir entrando, a porta estava aberta. — Refiro-me às
portas de vidro que ficam em frente ao elevador.
— Eu já as deixei abertas para você entrar mesmo. Venha, o jantar já
está nos esperando. — Sigo para dentro da sala em que ele me guia e me
surpreendo com a decoração.
A luz do ambiente está mais baixa do que a do saguão, e há apenas
uma mesa próximo à sacada, toda de vidro, que tem uma vista linda para a
cidade.
Na mesa em que vamos jantar, percebo um dos meus vinhos favoritos,
velas, flores e porcelanas, que dão um clima romântico ao lugar. Kauan se
aproxima da mesa e puxa a cadeira para que eu sente, e assim eu faço. Se isso
for uma tentativa de me conquistar, está me fazendo querer rir de toda a
situação.
— O cheiro está ótimo — comento.
— Eu mesmo que fiz. — Sério? — Levanto minhas sobrancelhas com
a sua resposta.
— Eu gosto de cozinhar. Qualquer dia desses, podemos marcar lá na
minha casa, só para você ter certeza de que fui eu mesmo que fiz.
Dou risada da sua constatação.
— Se minha agenda aliviar, quem sabe, né?
— Mas, me diga, senhorita Hanna, quer jantar primeiro ou falar sobre
negócios?
— Podemos jantar? — Lanço-lhe um sorriso. — Estou com fome.
— Claro, eu também estou morrendo de fome. — Espero de verdade
que essa fala não tenha segundas intenções. — Já volto aqui.
Ele se retira por alguns minutos e, então, eu escuto o som dos nossos
pratos sendo trazidos em um carrinho, junto a mais algumas opções de vinho.

— Desculpa, eu não sabia de qual você gostava. — Ele aponta para os


vinhos.
— Este daqui é o meu preferido. — Indico o vinho que já estava na
mesa.
— É o meu também. — Kauan abre um sorriso sincero, e eu me
lembro de quão simpático ele é.
Com toda a tensão que eu senti com o Anderson em todas as vezes
que a gente se encontrou, eu acabei ignorando a presença do seu sócio. Já
tinha anotado em minha mente que ele era um pouco desastrado, mas,
pensando bem, para poder cozinhar tudo isso, ele tem que pelo menos ter um
pouco mais de autocontrole, né?

Kauan é fofo, não nego. Se juntar com a sua simpatia, prevejo boas
risadas ao seu lado. Seu charme de ser um garoto mais novo e um tanto
quanto despreocupado com a vida me deixa mais à vontade também.
Assim que ele termina de nos servir, ele se senta à minha frente, e
temos uma conversa boa e descontraída durante toda a noite. Falamos apenas
sobre os nossos gostos em diferentes coisas. Sinto-me muito mais confortável
ao lado dele do que com o senhor Anderson.
Terminamos de comer, e ele tira todos os pratos da mesa e traz uma
sobremesa que eu acho simplesmente divina. Enquanto falamos sobre os
negócios, eu aprecio a sua boa culinária. Se ele realmente fez tudo isso como
disse, eu estou verdadeiramente impressionada.
— Muito obrigada por tudo, Kauan. Estava uma delícia — digo,
assim que termino de comer.
— Que bom que gostou. Fiquei morrendo de medo de fazer coisas de
que talvez você não gostasse. E acredita que eu olhei os ingredientes de tudo
para ver se não tinha alguma essência de camarão? Me assustei muito aquele
dia no restaurante e não queria fazer você passar mal. — Acho tão inocente
sua preocupação e acabo sorrindo pela sua sinceridade.

— Obrigada por toda essa atenção. Você é um verdadeiro chef.


— Eu que agradeço, Hanna, por ter aceitado vir! Mas, me diga,
gostou das nossas novidades? — Ele se refere ao material na minha mão;
surpreendentemente já estamos sem as formalidades.
— Eu gostei de praticamente todos os novos modelos — falo
sinceramente.
O Kauan tem um jeito sutil de chegar com cautela. Aos poucos, ele
vai se aproximando de mim ali à mesa e se encostando levemente no meu
braço para poder observar os modelos de que eu gostei. Chegou até a relar na
minha mão.
— E quais te interessaram mais?
— Este. — Começo a apontar os que considero melhores para as
vendas. — Este também. — Ele segura a prancheta e começa a circular os
modelos de que eu mais gostei.
— Ótimas escolhas! Eu não faria diferente. — Ele sorri novamente
para mim assim que terminamos.
Suas mãos fecham o portfólio, e ele sai do meu lado e começa a
ajeitar as papeladas dos meus pedidos. Aproveito para me levantar, precisava
sair dali, pois já estava muito tarde e também eu havia bebido vinho de mais.
Sinto minha bochecha quente e minha visão cansada.
Decido chamar o senhor Diogo para me buscar, porque com certeza
eu iria dormir no carro se tentasse dirigir. Amanhã eu peço para algum
funcionário vir buscar o meu carro e levar até a empresa para mim. Ao
terminar minha breve ligação, Kauan já está do meu lado novamente.
— Muito obrigado por ter vindo hoje aqui, Hanna. Sei que trabalhar à
noite é bem ruim, mas espero que tenha gostado do nosso jantar. — Ele fala
todo meigo para mim, diferente do Anderson, que sempre acaba me irritando
pela astúcia que esconde em sua voz.
— Eu gostei! — Sorrio para ele. — Agradeço pela refeição, estava
incrível.

— Quando quiser um segundo round, é só me ligar. — Ele se


aproxima. — Tenho uma receita perfeita de costela para lhe apresentar.
— Vou me lembrar disso. Agora eu preciso ir, meu motorista deve
estar chegando.
— Certo! Não vou te prender mais aqui.
Sou pega de surpresa pela segunda vez quando ele me abraça, só que
dessa vez eu recebo um beijo na bochecha. Sinto minha pele queimar e,
talvez pelo vinho em excesso, não consigo afastá-lo. Não esperava por isso.
Geralmente ninguém chega tão perto, e eu considero que ele já está passando
dos limites.
Escutamos um barulho na porta da sala e nos afastamos do abraço
forçado. Vemos a cara confusa do senhor Anderson estagnado na entrada,
encarando nós dois, de mãos dadas com uma loira. Seus cochichos terminam
com o nosso encontro inesperado, e o silêncio cresce entre nós.
— O que estão fazendo aqui? — Sua voz está calma, e imediatamente
ele solta a mão da sua acompanhante e vem em nossa direção.
— Aquela reunião que te comuniquei mais cedo, Anderson — diz
Kauan, sem entender direito aquela situação, mas noto que ele mantém seus
olhos na loira.
— Esse horário não era para ter mais ninguém aqui. — Ele sussurra
ao seu amigo, e começo a entender melhor toda a situação.
Ele achava que não teria ninguém na empresa, por isso decidiu trazer
uma mulher para cá, para poder transar com ela. Quando a minha ficha,
enfim, cai, eu me sinto uma idiota por ter ignorado todos os sinais bem na
minha cara, igualzinho a cinco anos atrás.
Como eu posso ser tão burra de acreditar que nós estávamos na
mesma sintonia? Que estávamos sentindo o mesmo desejo um pelo outro?
Sentindo o mesmo tesão?
Mas eu mesma respondi às minhas dúvidas. Tudo se tratou apenas de
tesão. Esse tipo de coisa a gente sente por qualquer um, e meio que eu já
sabia que ele é um mulherengo, por isso fui sempre tão chata, por isso eu
queria distância. Mas está na hora de relembrar aquela antiga Hanna que
suprimia qualquer sombra de sentimentos.
— Por que está com a Érika aqui, então, Ander, se não era para ter
ninguém aqui? — Kauan fala, irritado, e eu percebo que os três se conhecem.
— Bom, eu creio que já está tarde e já resolvemos nossos assuntos.
Com licença, Kauan, preciso ir embora, meu motorista já chegou. Muito
obrigada por hoje. — Eles que se resolvam.
Falo apenas um boa-noite para todos eles e começo a caminhar sem
olhar para trás. Nesse momento, a porta me parece tão longe como nunca
antes. Sinto-me como uma pulga sendo pisada por milhões de pessoas, sem
conseguir alcançar o elevador para poder desabar em mais pensamentos
reprobatórios.
Quando atravesso a porta e pressiono com pressa o botão do elevador
para as portas se abrirem, sinto uma mão segurando o meu braço. Meu corpo
se vira para encontrar aquele idiota com um olhar duro.
— Hanna, não é nada disso que está pensando. — Anderson me
segura com firmeza, e o elevador se abre.
— Eu não tenho nada para pensar, Anderson. Você não precisa me
dar satisfação da sua vida pessoal. — Puxo o meu braço.
— Nós precisamos conversar. — Encontro um resquício de desespero
na sua voz assim que entro no elevador e o encaro totalmente sem emoção, da
mesma maneira que aprendi há cinco anos.
— Eu acho que não. — O elevador se fecha em seguida.
Continuo encarando o elevador sem saber ao certo o que fazer; afinal,
eu já não queria me envolver com ela mesmo, por que eu deveria correr atrás
dela? Essa situação serviu para colocar um ponto final a isso tudo.
Esta semana foi um verdadeiro porre para mim, porque eu estava
lutando contra certos sonhos excitantes que vinham me trazendo ereções
noturnas bem inconvenientes, então o meu único motivo de querer conversar
seriamente com a Hanna seria para devolver aquele maldito colar que
provavelmente me causava culpa, e por isso os sonhos vinham me atazanar,
como uma maldição.
Na segunda-feira, o Kauan me avisou que iria chegar a nossa mais
nova remessa de produtos e que iria convidar todos os fornecedores para
escolherem os melhores modelos para seus negócios. Eu nem me atentei ao
fato de que ele também poderia chamar Hanna, e pior, ele tinha me avisado
que faria todas as reuniões no período da noite. Eu estava avisado e vacilei.
Como hoje é sexta, decidi ir até um barzinho próximo da empresa e
acabei me encontrando com a Érika lá. Claro que eu não estou interessado
nela, mas, papo vai e papo vem, acabei bebendo demais. E eu nem consigo
me lembrar da última vez que eu transei, estava precisando sair com alguém,
e esse "alguém" estava na minha frente. Não achei errado investir nela
naquela hora; afinal, ela estava tão provocante em seu vestido apertado, que
quase deixava seus seios para fora, e a minha mão já estava cansada de fazer
o trabalho sozinha.

Quando eu já estava cansado do nosso papinho, ofereci para que


fôssemos até a empresa, já que era o local mais próximo, e ela aceitou. Claro
que iria aceitar.
Em hipótese alguma eu imaginaria ver a Hanna e o Kauan abraçados
naquela sala. Confesso que o meu sangue ferveu no mesmo instante e eu
simplesmente quis voar no pescoço daquele desgraçado, por causa da
liberdade que estava tendo com ela, mas no fim percebi que o desgraçado sou
eu.
Hanna estava ainda mais perfeita do que em todas as vezes que eu a
vi, parecia fazer meses que eu não encontrava o seu rosto pessoalmente. Não
entendo ao certo por que havia tanta raiva dentro de mim, mas ignoro essa
sensação para voltar para a realidade na hora em que Érika aparece na minha
frente apertando o botão do elevador.
— Gatinho, acho melhor eu ir embora. Conversamos depois. —
Surpreendo-me com a sua sensatez.
— Claro, Érika, conversamos. — Despeço-me com um beijo em seu
rosto, e ela entra no elevador.
Assim que as portas se fecham novamente, vou até a sala onde Kauan
ficou, ainda parado no mesmo lugar. Ele parece totalmente decepcionado, e
eu não tiro sua razão.
— Cara… — Aproximo-me. — Me desculpa mesmo por hoje. —
Coloco uma mão em seu ombro, e ele se afasta.
— "Cara" uma ova, seu filho da puta. — Ele me empurra com raiva.
— Calma, Kauan! — exclamo.
— Você sabia que eu queria ficar com a Érika e mesmo assim não
poupou esforços em ir correndo transar com ela. Pior ainda, você iria transar
com ela aqui, na nossa empresa. — Suas palavras são como um soco na boca
do meu estômago; realmente eu sou um filho da puta.
Nesse momento, o Kauan chega até a parecer mais velho que eu.
— Não foi bem assim. Me escuta. — Tento falar.
— Eu não quero escutar nada de você agora, eu quero ir embora.
Diferente de você, eu estou trabalhando desde as sete horas e só parei agora
às dez da noite, então estou cansado. — Ele me alfineta.
— Deixa eu me explicar pelo menos. — Nem eu sabia o que eu
deveria falar, porque ele estava certo.
— Segunda a gente conversa. — Ele pega o seu terno, que estava na
cadeira, e sai pela porta.
Porra, que dia de merda!
Permaneço no mesmo lugar, pensando um pouco em tudo que
aconteceu, e então o som do meu celular tocando me faz reagir e atender à
chamada.
— Oi, mãe.
— Oi, filhote. Como você está?
— Bem. Como estão todos por aí?
— Estamos bem, mas sua voz está um pouco estranha. Aconteceu
alguma coisa? — Arranho a garganta, incomodado.

— Não, acabei de sair de um bar. Deve ser por conta das bebidas. —
Dou uma risada fraca.
— Não quero filho meu bêbado por aí, pode parar com isso! — Sua
reprovação faz com que eu permaneça com o sorriso no rosto.
— Relaxa, mãe. Não bebi muito, mas confesso que foi o suficiente
para fazer uma bela cagada. — Esfrego a testa e, então, puxo uma das
cadeiras na minha frente para me sentar.
— E quando você não faz cagada, Anderson? Não preciso nem
perguntar se tem a ver com alguma mulher, porque tenho certeza que a
resposta será “sim”.
— Obrigado pela sinceridade, dona Magda. E, sim, você está certa,
como sempre.
— Quer dividir?
— Vai me julgar como fez quando descobriu que eu não amava a
Brenda?
— Depende, me conta, e eu te falo. — Sua risada me faz ter saudade
de casa.

— Roubei o colar de uma mulher só para poder me encontrar com ela


de novo, e, agora, eu não quero e, na verdade, nem posso mais olhar para a
cara dela. Ela não sabe que eu fiz isso, e eu acho que era algo bem especial.
— Meu Deus, Anderson! Eu achei que eu ia te dar conselho amoroso,
e agora tenho que te dar conselhos de como não ser preso? Está ficando
louco aí em Curitiba?
— Está me julgando!
— Eu não prometi que não iria te julgar, e ainda bem, já que você
anda cometendo crimes! — Permanecemos alguns segundos nas nossas
risadas. — Ela deve ser importante, né? Já que você fez algo tão sério.
— Você quer que ela seja, né?
— O que eu quero não importa, Ander. Eu só quero te mostrar algo
diferente da sua visão de homem que só gosta de sexo casual com diversas
mulheres.
— Não é bem assim também, mãe — falo um pouco envergonhado da
sua voz reprovativa.
— Anderson, se desligue um pouco desse estilo de vida e procure
entender por que você fez esse esforço para se encontrar de novo com essa
mulher. E, de verdade, devolva esse colar, eu não criei filho ladrão!
— Você está certa de novo, dona Magda.
— Filho, eu tenho que ir, porque seu irmão acabou de chegar em
casa com uma menina. Não acredito que terei que dar conselhos para ele
também.

— Ele precisa de mais juízo do que eu.


— Não sei não, hein! Beijos, filhote. Te amo.
— Também te amo, mãe!
Assim que ela desliga, eu procuro o número da Hanna em meu celular
e entro na nossa conversa. Encaro sua foto por longos minutos e penso em
tudo que a minha mãe falou.
Realmente, homens são todos iguais.
Sinto-me enjoada em pensar que o Anderson chegou a me tocar. Se eu
tivesse deixado ele continuar com aquelas carícias, como estaria a nossa
relação agora? Com toda certeza, eu seria apenas mais uma mulher na sua
longa lista. Pior que a minha intuição me alertou sobre ele. Eu tive certeza de
que ele era do tipo “transar é a única coisa que me importa!”.
Ao tirar meus sapatos perto da cama, escuto meu celular apitar e sou
surpreendida por uma mensagem do Kauan.:

Boa noite, Hanna! Espero que tenha chegado em


segurança em casa. Muito obrigado por ter aceitado o
meu convite.

Imediatamente eu respondo a ele:


Boa noite, Kauan, acabei de chegar! Eu que agradeço
pelo jantar. Se aquele convite de ir à sua casa ainda
estiver de pé, eu aceito!
Talvez eu esteja sendo muito invasiva caso ele tivesse oferecido
aquele jantar só por educação, mas agora, neste momento, com a cabeça
cheia de álcool e com a raiva correndo pelas minhas veias, parece uma ótima
ideia.
Após alguns minutos, ele me retorna.

Claro que está de pé! Se amanhã você estiver livre,


me avisa, que daí eu já passo no mercado para
comprar aquele vinho!

Estou livre sim! Às 20h?

Perfeito! Estarei te aguardando.

Não respondo mais nada, pois tenho medo de essa conversa ir para
um lado com que não estou acostumada. Pelo jeito, a minha noite será muito
longa. Minha mente não vai desligar tão fácil depois da cena que eu
presenciei.

Viro na rua da casa do Kauan, de acordo com a localização que ele


me passou, e estaciono o meu carro na frente do apartamento. Não sei por
que insisto em dirigir se depois vou ter que chamar o senhor Diogo para me
buscar, porque, como o próprio Kauan me falou, ele iria comprar vinho,
então com certeza eu terei que pedir novamente para alguém buscar o meu
carro depois.
Chego à portaria e informo o meu nome. Em alguns minutos, sou
liberada para subir. Assim que aperto a campainha da porta, sou recebida
com um aroma maravilhoso.
— Bem-vinda ao meu cafofo. — Seu sorriso brincalhão aparece.
— Obrigada pelo convite.
— Imagina, Hanna. É um prazer ter você aqui comigo hoje. Se não
fossem as panelas no fogo, eu iria te buscar na portaria.

— Até parece, o porteiro me informou o caminho. Mas, me diga, o


que está preparando para mim hoje? — comento ao entrar em seu
apartamento.
— Tente adivinhar. Consegue sentir o cheiro?
— Pelo cheiro não é a costela que me prometeu — falo, após puxar o
ar.
— Ravióli ao forno! — Aquele sorriso não saía do seu rosto. —
Desculpe, não encontrei a carne perfeita.
— Não me diga que foi você que preparou a massa.
— Isso mesmo.
Conforme entro em seu apartamento, surpreendo-me com o tamanho
maior do que eu imaginava. Há uma sala elegante na entrada e, logo à frente,
a cozinha.
— Eu tenho um fraco para massas. Não se surpreenda se eu comer
demais — falo, colocando minha bolsa em cima da mesa.
— Fico feliz em ter acertado o seu gosto mais uma vez, já que eu não
pude cumprir com a minha promessa. E juro que, se você quiser raspar a
panela, eu lhe trago uma sobremesa de recompensa. — Kauan fala e, então,
corre até as panelas para verificar todas.
— Vou me esforçar. — Dou a primeira risada com um homem depois
de muito tempo; uma risada sem medo e sem ser por educação. — Mas, me
fala, Kauan, onde aprendeu a cozinhar assim?
— Minha mãe tem um restaurante lá em Brasília. Ajudei ela por
muito tempo na cozinha. Tem hábitos que a gente nunca esquece. — Ele
comenta enquanto cuida dos alimentos.
— Que ótimo hábito que você adquiriu. Tenho certeza de que a sua
mãe deve ser uma cozinheira de mão cheia. — Após ajustar os temperos, o
Kauan vem até mim e puxa a cadeira para que eu me sente.
— Ela é, sim. Minhas comidas não chegam nem aos pés das que ela
faz. — Ele anda até a adega e pega o vinho.
— Sente saudade de lá? — Sento-me, e ele serve duas taças de vinho.
— De Brasília? Não. Sinto saudades somente dos meus pais, mas
tenho planos de ano que vem trazer eles para morar aqui. — Ele me entrega a
taça e volta para as panelas. — Tenho certeza de que o restaurante da minha
mãe aqui daria ainda mais certo que lá.
— Você me deixou com vontade de experimentar a comida que ela
faz.
— Talvez ano que vem! — Ele sorri. — Ou se quiser eu te levo até lá.
— Seu tom de voz muda, e eu percebo sua intenção.
— Quem sabe... — comento brevemente.
— Vamos comer? Já está tudo pronto. — Ele pega um prato e me
serve.
— O cheiro está maravilhoso. — Kauan termina de ajeitar todas as
coisas e se senta na minha frente.
Nosso jantar corre muito bem de novo. O tempo passa depressa, já
que o assunto flui bem melhor do que com Anderson. Em vários momentos
me pego pensando nele e em como seria a nossa relação se ele não fosse tão,
tão… ele. No fim das contas, eu forço meu cérebro a esquecê-lo a cada gota
de álcool que coloco para dentro e agradeço muito aos céus pela minha
resistência. Ao terminarmos de jantar, Kauan traz a mesma sobremesa que
tinha preparado na noite anterior.
— Não é possível! — Nossa conversa já está mais alegre devido ao
vinho.
— Espero que você não tenha falado que gostou apenas por educação,
porque hoje eu fiz mais. — Ele me entrega uma taça.
— Você só pode estar querendo me engordar. — Coloco uma colher
na boca e sinto a textura maravilhosa do doce.

— Tenho certeza de que ficaria ainda mais linda. — Essa já deve ser a
terceira ou a quarta cantada de hoje. Todas eu ignorei.
— Tem mais um pouco de vinho? — Desvio do assunto novamente.
— Claro!
O Kauan me serve com cuidado, e a cena me faz relembrar o desastre
no restaurante quando eu estava com o Anderson. Será que, depois daquele
beijo, ele foi atrás de outra mulher para poder se aliviar? Afinal, a sua ereção
estava tão aparente. Brigo comigo mesma por ter me lembrado dele de novo.
Assim que o nosso jantar acaba, Kauan faz questão de me levar até o
meu carro. Isso não me dá espaço para poder ligar ao senhor Diogo e, como
não estou tão embriagada, acabo aceitando.
— Obrigada pelo jantar, Kauan, estava esplêndido — digo, assim que
chegamos ao meu carro.
— Venha mais vezes.
— Se você fizer aquela sobremesa, talvez eu volte. — Sorrio, e ele
pega em minha mão.
— Farei tudo que você pedir. — Ele encosta os seus lábios nos meus
dedos, e novamente eu me lembro do Anderson na minha festa de
aniversário, quando ele fez o mesmo.
Tudo bem, o Kauan é mais novo que eu, e eu sei que não devo deixar
esse garoto iludido, mas, ao mesmo tempo, ele é tão fofo, que eu desejo a sua
atenção.
— Boa noite, Kauan. — Corto nosso contato mais uma vez e decido ir
embora logo, antes que suas investidas comecem a dar certo.
— Obrigado pela noite perfeita. Eu gostei muito de te conhecer
melhor, Hanna. — Ele fala, enquanto eu entro no carro e abro o vidro.
— Acho que bebemos demais. — Ligo o carro e sorrio para ele.
— Então tome cuidado! — Ele coloca os braços na porta e se
aproxima.
— Pode deixar, agora entra no seu apartamento, porque é perigoso
aqui fora — falo como uma mãe.
— Tá bom. — Rapidamente ele se aproxima do meu rosto e beija o
canto da minha boca. — Boa noite, Hanna. — Ele sorri assim que se afasta,
como se tivesse ganhado um doce.
Balanço a cabeça para mim mesma enquanto dou risada da sua
petulância. Ajeito a marcha do meu carro e começo a dirigir. Garoto
abusado.

Após o jantar que eu tive com Kauan quinze dias atrás, ele começou a
manter um certo contato comigo. Eu não preciso de alguém para namorar,
nem para ficar, nem um amigo, eu já tenho as minhas pessoas, mas ele insiste
em ser presente.
Conversamos de vez em quando, e ele gosta de me divertir. Acabou
que, após tanto papo furado, eu saí para comer com ele novamente. Ele
também me chamou para uns dois cafés da tarde e, por incrível que pareça,
ele até apareceu em uma das minhas caminhadas matinais. Confesso que
aquilo me assustou um pouco.
A companhia dele fica cada vez mais frequente na minha vida, e eu
não gosto disso. O medo de algo familiar é constante. Eu tive a experiência
de alguém que foi se aproximando aos poucos e não acabou muito bem, então
é compreensível que eu fique desconfiada. Eu também não quero que o
Kauan entenda errado os nossos passeios, já que não tenho intenção alguma
com ele, então não fico lhe dando esperança de nada.

Em todos os nossos encontros, ele foi muito respeitoso, fazia apenas


elogios para mim e, às vezes, na hora de nos despedirmos, tentava me dar
outro beijo no canto da boca, mas eu já estava mais esperta e evitava.
Já o seu amigo se manteve distante, e eu fiquei mais relaxada por isso
— não saberia como reagir a ele depois do que vi naquela noite.

Enfim, após algumas horas revisando papeladas e mais papeladas, a


Andréia bate na porta e pede licença para entrar.
— Oi, Andréia? — comento, sem tirar os olhos do meu computador.
— Hanna…
Espero mais alguns segundos para que ela fale algo, mas o seu
silêncio permanece, então eu levanto a cabeça rapidamente em sua direção e
vejo que ela está com um buquê gigante nos braços, com lindas rosas
vermelhas.
— Uau! — expresso, espantada. — Pra quem é isso?
— Para você, é claro. — Ela se aproxima da mesa.
— E quem mandou entregar?
— O entregador não me falou, mas tem um bilhete dentro do buquê.
— Ela entrega as flores em meus braços.
— Certo. Obrigada, Andréia! — agradeço, e ela se despede e sai logo
em seguida.
Assim que a porta se fecha, eu pego o pequeno papel e o encaro por
alguns segundos antes de abrir. Não tem cara de ser de quem eu estou
imaginando.
Para a mais bela das rosas. De seu cozinheiro favorito.
Sorrio com a sua atitude. Ele me surpreendeu em plena segunda-feira
e conseguiu me tirar por alguns segundos da minha rotina. Decido lhe mandar
uma mensagem agradecendo o buquê e, talvez, de alguma forma,
demonstrando novamente que estamos nos tornando apenas amigos. Pego o
meu celular e encontro o seu contato:
Bom dia, Kauan! Tudo bem? Acabei de receber as
flores que me mandou. São lindas! Você tem se
tornado um ótimo amigo. Obrigada!

Se ele for esperto, vai entender que da nossa relação não sairá nada
que não seja amizade.

Bom dia, Hanna! Que bom que gostou das rosas. Eu


pensei em você quando eu as vi. Mandei com muito
carinho.

Bom, pelo jeito ele é assim mesmo. O meu recado estava dado.
Muito obrigada novamente!
Mando essa última mensagem e largo meu celular para voltar minha
atenção aos papéis na minha frente, mas escuto novamente o som da
mensagem chegando ao meu celular.

Sábado será a inauguração de um bar muito bom,


vamos? Sou amigo do dono, e ele me deu vários
ingressos para a pista vip.

Logo em seguida, ele me manda fotos do local, e percebo que se


parece muito com uma balada de alto padrão. Um bar? Não seria má ideia.
Faz tanto tempo que não saio.

Claro, posso chamar uma amiga?

Com certeza. No sábado, às 21h, eu busco vocês!


Tá bom! Estarei na empresa.

Beleza, até sábado!

Em nenhuma das vezes que eu saí com o Kauan, fui no carro dele.
Sempre saí ou com o meu carro, ou com o senhor Diogo, então eu estranho o
fato de ele querer me levar. Eu sempre desconfio de uma segunda intenção.
Mesmo eu o considerando um amigo, não quero passar o endereço da minha
casa para ele por enquanto. Vai que começo a receber rosas lá, ou até uma
visita inesperada. Desligo a tela do meu celular e sigo para a recepção.
— Andréia, tenho um convite para te fazer! — Ela me olha com
curiosidade.
— Ai, meu Deus! Me fala logo.
— Vamos ir a um bar no sábado? Recebi dois convites.
— Deixa eu ver na nossa agenda. — Ela brinca, sabendo que não
fazemos compromissos nos sábados à noite, a não ser que seja uma festa ou
algo do tipo.
— Estamos liberadas?
— Mais que liberadas. Estamos solteiras; então, vamos curtir.
— Você está solteira, Andréia!
— Não me diga que o rapaz que te mandou as flores te pediu em
namoro? — Seus olhos procuram por resposta.
— Claro que não, e, mesmo se ele pedisse, eu negaria. Eu quis dizer
que eu estou comprometida com a empresa, então não quero namorar, mas
com certeza eu posso aproveitar a minha noite ao lado de uma amiga.
— Às vezes eu apoio muito os papos da sua mãe sobre namoro e,
pensando bem, até com o senhor Anderson eu concordo: você é bem chata
quando fala sobre isso. — O nome que eu não estava esperando aparece em
nossa conversa.
— Não quero escutar o nome dele! — Ela já sabia o que tinha
acontecido, porque eu contei.
— Desculpa, mas vamos falar sério, Hanna. Por que você se agarrou
com ele duas vezes se não gosta desse tipo de “interação”?
— Foi inesperado. Eu não estava planejando. Senão, com certeza, os
beijos não teriam acontecido.
— Se você diz...

— Ótimo! No sábado não precisa vir trabalhar, tá bom? Só esteja na


minha casa às 19h. Vamos nos arrumar juntas.
— Tem tanta coisa para sábado. Não posso deixar você sozinha aqui.
— Claro que pode! Eu sei me virar, amiga. Caso tenha alguma
reunião, remarque para semana que vem, tá bom? E aproveite o seu dia. —
Sorrio para ela.
— Certo, às 19h na sua casa, né?
— Isso. Você já tem o meu endereço novo, né?
— Tenho sim, pode ficar tranquila.

— Certo. Vou estar te esperando!

O dia até que foi bem tranquilo. A Andréia deixou tudo muito bem-
organizado para mim. O Kauan já confirmou o nosso passeio, e eu já
combinei com o senhor Diogo para ele me buscar em casa e trazer até a
empresa.

Chego do serviço e vou direto para o banho antes de começar a ajeitar


as coisas que vamos usar. Lavo meus cabelos e faço toda a minha rotina de
skincare. Óleos, cremes e secagem do cabelo. Assim que termino, escuto o
barulho do interfone.
Abro o portão para Andréia e, então, começamos a nos arrumar. Ela
acabou trazendo vários vestidos lindos para que eu escolha um. Pelo jeito, ela
vai mais a baladas do que eu imaginava, pois nem tenho peças tão curtas.
No fim, ela me convence a usar um dos seus vestidos vermelhos, que
fica muito marcado em meu corpo. Ele tem um detalhe em corset e as alças
bem brilhosas. O decote mostra até demais, de tão escandaloso, e é claro que
eu me sinto exposta, porque eu não tenho muito seio, mas Andréia não me
deixa trocar, falando que eu estou estonteante e que seria um desperdício eu
sair com outra roupa.
Ela também capricha em seu look, usando um vestido preto mais
curto que o meu e que lhe cai superbem. Ele tem detalhes de correntes
douradas, e eu tenho certeza de que os homens vão se arrastar aos seus pés.
Como eu não estou acostumada a fazer maquiagens muito
mirabolantes, ela me ajuda com esse detalhe também, e eu a ajudo com os
cabelos, que são bastante curtos.
Quando ficamos prontas, o senhor Diogo já está nos esperando, e, em
poucos minutos, estamos na empresa. Esperamos por mais um tempo até o
carro do Kauan aparecer e trocamos de veículo. Não sei por que ele insistiu
em me buscar. Ele sabia que seria mais trabalhoso dessa forma.
Assim que entro dentro do carro, sinto seu perfume, que para mim já é
familiar. Apresento Andréia ao Kauan, que nos elogia, e logo já saímos para
o tal bar/balada. Ele está usando algo completamente diferente do seu
habitual. Uma calça preta, uma camisa jeans e um tênis branco.
Quando chegamos à frente do local, vejo uma fila enorme de pessoas
querendo entrar para poder comprar ingressos, mas passamos direto por causa
dos convites vip. Ainda não está tão cheio do lado de dentro, mas a música
estimula todos os corpos a dançarem. Eu, pelo contrário, preciso de pelo
menos uns três ou quatro drinks para me soltar, já que este não é muito o meu
tipo de lugar.
Seguimos para o segundo andar, onde ficam as pistas vip, e nos
sentamos a uma das mesas. Fazemos nossos pedidos, que chegam super-
rápido. Andréia se enturma facilmente com Kauan, e os dois saem para
dançar.
Fico olhando o movimento lá embaixo, que agora já aumentou, e
consigo enxergar os dois dançando. No fundo, estou aliviada de perceber que
o Kauan talvez não esteja interessado amorosamente em mim, já que
convidou minha amiga para descer. Os dois combinam.
As pessoas na pista já estão se esfregando uma na outra e algumas se
agarram em beijos. Sinto-me como um peixe fora d'água, já que não sou
acostumada a esse tipo de lugar. Nunca na minha vida eu conseguiria ter
essas liberdades com algum estranho.
Tomo meu drink em um só gole para criar coragem e poder aproveitar
o local, nem que seja um pouco, e, então, sinto o sofá se afundar ao meu lado,
assustando-me. Rapidamente me viro, encarando a pessoa, e meu ar some
quando dou de cara com Matheus.
O ex babaca e interesseiro.
— Oi, Anna, quanto tempo.
Prendo a minha respiração ao vê-lo em minha frente, e as lembranças
me chicoteiam a verdade de que esse homem do meu lado tinha arrancado
dinheiro de mim apenas por dizer me amar e desgraçou com a minha mente.
O amargor retorna para a minha boca, e eu travo. Meu corpo se enrijece, e
sinto um frio atravessar minha barriga. Nunca imaginei encontrá-lo
novamente, pelo menos não aqui.
O sorriso em seu rosto é o mesmo. Ele só deixou o cabelo crescer,
então seus cachos estão quase na altura dos olhos. Suas vestimentas são de
alguém que tem condições, então deduzo que, no final das contas, ele tenha
conseguido alguém para extorquir.

— Posso sentar aqui? — Matheus me encara de cima a baixo com


luxúria nos olhos. Como esse maldito conseguiu entrar na nossa área vip?
— Já sentou, né? — digo, afastando-me dele. — Você não veio com
ninguém, não? Por que está aqui do meu lado?
— Ei, não me trata desse jeito. Você sabe que eu não fiz nada daquilo
que você acha, né? — Ele se aproxima novamente e coloca um dos seus
braços no estofado do sofá, atrás de mim.
— Eu realmente não me importo se você fez ou não, Matheus. Agora
eu só quero que você vá embora, pode se retirar? — Não sei como eu ainda
consigo ser educada.
— Eu acabei de chegar. Aproveita o momento comigo. — Seu
perfume chinfrim me causa ânsia.
— Você realmente acha que nada aconteceu, né? Por que está agindo
como se tivéssemos intimidade? — Meu olhar o encara com muita fúria.
— Porque nós realmente já fomos bem íntimos, se é que você me
entende.
Que nojo! Eu não me lembrava de ele ser tão sem noção, e isso só me
faz pensar em como eu o enxergava antes. Já chega disso.
— Se não sai você, saio eu. — Levanto-me do sofá.
— Espera. — Ele segura a minha mão e se levanta em seguida. —
Você está tão linda, nunca te vi com uma roupa dessas. Está bem gostosa.
— Quem você acha que é para ficar me tocando desse jeito? — falo,
sentindo uma raiva imensa a cada palavra que sai da minha boca.
— Relaxa, tenho certeza de que você veio aqui hoje para se divertir,
né? — Sua mão me aperta. — Me usa e abusa, Aninha. — Ele sussurra perto
do meu ouvido, e sinto o seu cheiro de álcool.
Como ele já pode estar bêbado se o bar mal abriu?
Não respondo, apenas puxo o meu braço com força e vou em direção
à escada o mais rápido possível. Não tem como aproveitar este lugar se o
maldito do meu ex está aqui! Desço cada degrau em busca de alguma placa
indicando o banheiro feminino e a encontro próximo da entrada do bar.
Desvio de algumas pessoas e entro no local olhando para trás para ver se não
estava sendo seguida por ele.
Aqui dentro está bem mais calmo. Escuro como o bar, mas o som está
mais baixo. Tem apenas algumas meninas se maquiando e outras esperando
as cabines desocuparem. Respiro fundo e me encaro no espelho enorme,
pensando no que eu deveria fazer. Ignorar a presença do Matheus é a solução
mais óbvia na minha cabeça para que eu possa curtir a minha noite, mas
infelizmente ele me parece bastante alterado; não quero ter que discutir com
ele o tempo todo e acabar causando alguma briga. Então, no momento, vejo
que a melhor solução é ir embora.
Puxo o ar mais uma vez para poder criar a coragem que está me
faltando para talvez acabar esbarrando com ele de novo e saio do banheiro,
observando quem está por perto. Enquanto procuro por minha amiga e pelo
Kauan, dando o primeiro passo em direção a eles, sinto o calor das pessoas
que se esfregam umas nas outras e também o cheiro das bebidas e dos
perfumes, que são bem enjoativos para mim.
Meus próximos passos são impedidos quando escuto a voz de
Matheus me chamando em um grito no meio daquela multidão. Sua voz vem
do topo da escada, e, então, ele vem em minha direção. Talvez, se eu mostrar
para ele que não estou sozinha, ele me deixe em paz, então acelero o passo.
Desvio o mais rápido possível das pessoas na minha frente para poder
alcançar a minha amiga e, por causa do meu desespero em querer fugir do
Matheus, acabo tropeçando e me seguro na pessoa ao meu lado.
Sinto que estou desesperada. Minha respiração está ofegante, e meus
olhos estão em alerta, indo em direção à escada no mesmo instante e
procurando por aquele maldito que não está mais lá. Um arrepio percorre a
minha pele por imaginar que a pessoa em que me agarrei e criei um apoio
possa ser o Matheus. Eu não posso ser tão azarada assim, né?
— Me desculpe! — exclamo com a voz falha, ainda com medo de
erguer os meus olhos.

Volto o meu rosto para cima com receio de quem quer que fosse e, no
mesmo instante, o perfume familiar me atinge. Encaro aqueles olhos negros,
e o meu sangue some do rosto.
Faz mais de quinze dias que eu não me encontro com Hanna, mas,
mesmo assim, eu não consigo tirá-la da cabeça, porque seu colar ainda está
em minha posse. Consequentemente, os sonhos também, e eu não consigo
esquecê-la depois daquela situação, em que ela deve ter imaginado mil e uma
coisas sobre o mulherengo que eu sou. Pior foi ter que ficar me lembrando
dos conselhos da minha mãe.
No fundo, além de estar incomodado com o Kauan, que a cada dia da
semana me conta algo novo que descobriu sobre a Hanna por meio de algum
almoço ou café, eu também não consigo parar de pensar naquilo que o pai
dela comentou no dia da reunião. Ela já foi machucada por alguém, eu deduzi
isso após ter pensado demais, e não sei por que estou inquieto.
Perguntei-me várias e várias vezes como poderia existir um trouxa
que decidiu fazer a Hanna de boba, sendo que ela é uma mulher de muitas
qualidades, e me peguei pensando também e entendendo, enfim, por que a
sua armadura é tão forte e tão protetora. Ela não quer se machucar
novamente.
E, agora mesmo, eu estou vendo o seu rosto extremamente pálido e a
sua face assustada, que demonstra o lado que ela tanto lutou para esconder.
Quando senti que alguém se segurou em meus braços para não cair,
imediatamente segurei a mão da pessoa com força, mas, quando notei que era
a Hanna, o meu mundo caiu. Ela estava ainda mais linda — talvez pelo
tempo em que me mantive longe. Seu vestido vermelho parecia brilhar na sua
pele, que estava em um tom pálido até demais.
— Hanna! — Seguro seus braços, como se a proteger fosse o que eu
mais precisasse fazer agora, e deposito minha bebida na mesa mais próxima.
— Ander! — Ela fala o meu nome informalmente pela primeira vez.
Seu corpo responde ao meu toque, e, se eu não estivesse olhando para
a sua boca, não iria entender o que ela havia falado devido ao som alto.
— Você está bem? — Seu olhar vai em direção à escada, e eu repito o
seu movimento.
— Estou bem… — Percebo que sua respiração está mais calma, mas,
mesmo assim, ela continua procurando por alguém.
— Você veio acompanhada? — pergunto, ainda mantendo minhas
mãos em seus braços. Estamos quase colados devido à multidão.
— Sim, com o Kauan. — Reviro os meus olhos mentalmente. Claro.
— E com a minha amiga.
Talvez os dois não estejam tão bem assim como eu pensei. Olho em
volta e consigo encontrar o Kauan com uma moça de cabelos curtos mais à
frente, um se esfregando no outro, embalados pelo ritmo da música.
— Eles estão ali — grito para que ela me escute.
— Certo! — Ela olha em volta novamente. — Eu vou lá me despedir
deles. — Sua boca se aproxima do meu ouvido, e consigo sentir novamente
aquele seu perfume de pêssego. Que saudade que eu estava!
— Já está indo? — questiono, sentindo o incômodo que ela
transparecia.
— Sim, me acompanha até eles? — Ela segura o meu braço com
força, e eu sei que tem algo de errado.
— Claro, vamos lá.
Despeço-me rapidamente de alguns colegas de trabalho com quem eu
conversava antes de ela trombar comigo e seguro a sua mão com firmeza.
Vou na frente, abrindo o caminho necessário para que eu e ela
possamos passar. Hanna não desgruda as nossas mãos em nenhum momento,
e eu consigo até sentir o suor se formando entre nossos dedos. De quem será
que ela está fugindo?
Percebo que a maioria dos homens a comem com os olhos. Esse
vestido vermelho que ela está usando está tirando a paz de todos esses
machos, provavelmente até de algumas mulheres, mas não tem como negar o
quanto ela está linda. Por que ela tem que ser a porra da mulher mais gostosa
daqui?
— Dae, cara! — Cumprimento o Kauan assim que nos aproximamos
e solto a mão da Hanna em seguida para que ele não notasse nada de
estranho.
— Dae, Ander! Já se encontrou com a Hanna?
— Já, sim — digo, enquanto ela se aproxima da amiga.
— Kauan, eu já vou indo, tá bom? Não estou me sentindo muito bem.
— Eu a escuto falar perto dele e me questiono o que estaria lhe fazendo tão
mal.
— Então eu te levo para casa, Hanna.
— Imagina, não precisa. Curte a noite. Eu já chamei meu motorista.
— Percebo que ela está mentindo.
— Então você vai ficar me devendo outra noite. — Ele a abraça, e eu
viro o rosto na mesma hora. Foi o incômodo mais estranho que eu senti
nesses últimos dias.
— Vamos marcar, sim. — Ela fala assim que se solta.
Hanna dá um abraço na amiga, despede-se novamente do Kauan,
encara-me rapidamente e vai em direção à porta. Quando eu começo a segui-
la, o Kauan entra na minha frente.

— Vai embora também, Ander?


— Não — comento imediatamente. — Deixei meu copo de bebida lá
na mesa do Silvio. Vou voltar lá e conversar com eles mais um pouco.
— Ah, tá, entendi. — Ele sorri. Com certeza já está alterado de
bebida.
— Qualquer coisa me procura por lá — digo.

Volto o meu olhar para a frente, mas não encontro mais a Hanna.
Caminho mais rápido entre a multidão, procurando por aquele vestido
vermelho. Não tem como perder um ponto vermelho dentro de uma balada,
né? Considero também que ela não iria ficar sozinha lá fora esperando o seu
carro chegar, iria?
Porra! Claro que ela iria.
Corro em direção à porta de saída. O clima fora do estabelecimento
está mais frio. O ar gelado refresca a minha mente. Identifico algumas
pessoas fumando e outras se pegando. Procuro por mais alguns segundos e lá
está ela, no final da esquina. Caminho em sua direção e percebo, quando me
aproximo mais, que ela está discutindo com alguém — com um homem.
Chego mais perto deles e começo a escutar a conversa pouco a pouco.
As vozes deles estavam alteradas, e a Hanna mantinha aquele ar de durona
que eu conhecia bem.
— Volta para mim, Hanna. É sério, eu mudei. Não sou mais aquele
moleque que você namorou.
— Você se acha a última bolacha do pacote, né, Matheus?
— Eu sei do que você gosta, pelo menos.
— Muitos homens também sabem. — Ai, essa doeu até em mim.
O movimento do tal Matheus me assusta quando ele se inclina sobre
ela, querendo mostrar uma autoridade estranha.
— Não adianta você querer ficar de “mãozinha dada” com qualquer
idiota dessa balada, sendo que eu sei que você só está fazendo isso para me
causar ciúmes. — O estranho agarra o braço dela, e eu acelero o meu passo
por conta de seu ato.
— Me solta, Matheus!
— Hanna, para de fingimento. Eu sei que você está com saudade de
um homem de verdade, que sabe te comer de jeito. — Ele a puxa para perto
do seu corpo.
Quem esse cretino pensa que é?
— Seu nojento. — Ela cospe na cara dele, e, de verdade, eu nunca
imaginei que a Hanna fosse capaz de fazer algo assim.
— Sua vadia!! — Ele de imediato levanta a sua mão livre, já que a
outra está segurando o punho de Hanna, e felizmente eu consigo chegar a
tempo de impedi-lo, apertando seus dedos com toda a minha força.
— Solta ela! — falo firmemente, e os dois me encaram, em choque.
— Olha só se não é o idiota da balada. — Ele abaixa o braço no
momento em que eu o solto.
— Eu escutei ela pedindo para você soltar. Acho melhor você fazer
isso.
Hanna está com o mesmo olhar de antes. Assustada e pálida.
— E quem você acha que é para se meter na nossa conversa?
— Não importa. A Hanna merece respeito, e você está sendo um
babaca agora. — Direciono toda a minha raiva para o meu punho, que deseja
muito acertar a cara dele.
— Então vocês se conhecem? Ela já deu para você também, né?
Porra, ele escolheu o meu pior dia para vir falar essas merdas. Não
penso muito quando eu acerto o seu nariz com raiva por ele ter insinuado
algo tão baixo a respeito dela. O homem cai no chão no mesmo instante,
cambaleando para trás e esbarrando em uma lata de lixo, que vai ao chão
junto com ele. Desconfio que ele tenha apagado com um único soco meu,
mas não fico no lugar para conferir.
Logo algumas pessoas começam a se aproximar para ver o que
aconteceu, e eu seguro a mão de Hanna, tirando-a dali e a levando para perto
do meu carro, que está mais afastado da aglomeração.
— Você está bem? Ele te machucou? — digo, preocupado, enquanto
pego o seu braço para ver se ficou alguma marca.
Aquele lixo… queria tê-lo esmurrado até ver todos os seus dentes
quebrados, para nunca mais o ver sorrindo sarcasticamente e falando aquelas
bostas para a Hanna.
— Eu estou… — Ela não termina de falar, está em choque.
Eu a abraço com força e lhe afago os cabelos, que cheiram como
frutas, enquanto lhe acaricio o rosto, totalmente abalado por ver como aquele
homem a tratou. A Hanna tem, sim, um gênio forte, mas com certeza é uma
defesa que ela criou para a vida. Ela não merece ter passado por isso.
— Ele nunca mais vai levantar a mão para você! — Beijo o topo da
sua cabeça apenas para que ela se sinta segura comigo. — Eu tô aqui!

— Ander, me tira daqui — Ela fala, com a respiração acelerada. —


Por favor!
— Claro, vamos.
No mesmo instante, eu abro a porta do carro para ela, querendo fazê-
la se esquecer daquele momento.
Ligo o carro, observando cada gesto que ela faz. Seus olhos verdes
me encaram com pequenas lágrimas que se formam, e, por instinto, eu as
seco. Hanna fecha as pálpebras com meu toque, e eu me desvio no mesmo
instante, questionando a mim mesmo por que que eu estou fazendo isso. Era
para eu estar me afastando, mas aqui estou, quebrando as minhas próprias
regras e provavelmente as dela também.
Coloco a minha atenção para frente e começo a dirigir. Aos poucos,
as gotas da chuva começam a inundar o momento. O som do impacto da água
no vidro aumenta, aliviando a tensão no ar. Mesmo assim, a minha mente
está a milhão. Até agora ela ainda não comentou nada sobre o ocorrido, e eu
já estou dirigindo há quinze minutos.
— Hanna. — Chamo a sua atenção.
— Ele era o meu namorado. Um escroto, né? — Ela fala, retirando o
silêncio do ar, e percebo de canto de olho o seu sorriso fraco no rosto
tentando me explicar algo.
— Você não precisa falar sobre isso se não quiser.
Viro na rua do meu apartamento.
— Eu não me importo. Já faz mais de cinco anos que terminamos,
mas, pelo jeito, ele não superou.
— Ele realmente é um escroto — falo, dando risada, e ela me encara
com um leve sorriso nos lábios.
— É sim. Pensa no meu arrependimento!
— Me desculpe pela pergunta, mas ele alguma vez já foi agressivo
com você assim? — digo, enfim, o que estava me incomodando.
— Não! Ele nunca fez isso antes. Foi um susto e tanto para mim
também.
— Como você está?
— Agora eu vejo que foi apenas um susto.
— Me desculpe por ter agido daquela maneira. Ele me tirou do sério.
— Na verdade, eu queria te agradecer por você ter feito algo. Se não
chegasse a tempo, com certeza eu não estaria aqui, e sim em um hospital. —
Sua fala me causa arrepio.
Paro na frente do meu apartamento e acesso a garagem subterrânea.
Eu não sei ao certo para onde deveria levá-la e também não quero deixá-la
sozinha após o susto que ela passou.

— Se quiser ficar, eu tenho um quarto a mais no meu apartamento.


Podemos conversar e tomar um vinho — falo assim que estaciono. — Ou
pode esperar pelo seu motorista aqui, acho mais seguro.
— O.k.
O que isso significa?
Sem ter sua resposta e também sem pensar direito, vou em direção ao
seu cinto de segurança e a solto com cuidado, sem perder o contato que
estamos tendo. Seu sorriso de canto aparece, denunciando a química que
fortemente estamos segurando, a fim de não cairmos em nossa própria
tentação.
— Ander… — Hanna sussurra.
Eu gostei muito de como o meu nome ficou em sua boca. Desta vez,
não existia aquela irritação de sempre e nem todo aquele barulho da balada.
— Sim? — Tento me manter distante, mas meu corpo chama pelo seu
toque.
— Que tal a gente… entrar?

— Sim.
Ela quer subir. Isso é algo bom, né?
Desço do carro no mesmo instante e vou para o outro lado do veículo.
Abro a porta para ela, que, desta vez, me aguarda com aquele sorriso de
canto.
— Um cavalheiro, como sempre. — Seu sorriso branco brinca com a
situação.
— Você merece — repito o que falei no nosso primeiro almoço. —
Por aqui.
Guio nossos passos para o elevador e aperto o botão indicado para
subir. O estacionamento está silencioso devido ao horário. Escutamos apenas
o barulho da chuva, que parece se intensificar à medida que a noite se adentra
na madrugada.
Quando retorno meu olhar para o rosto de Hanna, percebo que sua
visão está mudada: seus lábios entreabertos ressoam o ar estridente da sua
respiração; suas bochechas de tom avermelhado parecem queimar a sua pele
branca; e seus olhos verdes agora se encontram escuros como uma floresta.
O som do elevador indicando que chegamos ao subsolo tira nossa
concentração um do outro, e as luzes da parte de dentro iluminam nossos
rostos assim que as portas se abrem. Entramos em silêncio, e eu pressiono o
botão do vigésimo andar, para que as portas se fechem. Como se aquelas
paredes paralisassem o tempo para nós, pendo minha cabeça para o lado
esquerdo no mesmo instante em que o som das portas se fechando indicam
meu fim. Encontrei em seu rosto a mesma expressão e sinto o tesão
acumulado fervilhando entre os espaços à nossa volta.
Como se fôssemos placas de um mesmo ímã que se encontram, os
nossos corpos se chocam um no outro, atingindo o objetivo que ambos
buscávamos desde a primeira palavra de provocação. Seus lábios se juntam
com os meus em milésimos de segundos, e minha língua sente o seu gosto
doce de bebida.
Empurro-lhe o corpo para o fundo do elevador e colo nossos corpos,
junto da necessidade que meu membro sentia de entrar nela. Ver seus seios
descompassados, devido à sua respiração acelerada, e tão perto me mata
ainda mais de tesão. Depois que essa mulher apareceu na minha vida, desisti
de tentar algo com outras mulheres, porque sabia que, no fundo, nada
aconteceria se não fosse com ela. E, querendo ou não, eu a tinha todas as
noites comigo, em meus sonhos. Eu só precisava saber o quanto daquilo era
real.
Hanna solta um gemido baixo ao se libertar dos meus lábios, e o som
de sua voz pulsa dentro da minha calça, que se esquenta ainda mais com os
toques de suas mãos na minha nuca. Eu preciso de mais. Eu desejo mais.
Quero descobrir o verdadeiro som do seu gemido, já que é a única coisa que
meu sonho não entregava.
Minhas mãos, que antes estavam enroladas em seu cabelo, agora
deslizam para o meio das suas pernas grudadas, que não se abriam por nada.
Consigo senti-la quente e, quanto mais deslizo meus dedos em direção à sua
entrada, mais ela cede aos meus toques. Quando, enfim, atinjo sua
intimidade, ela já liberou a intromissão dos meus dedos.
— Se você não parar de gemer desse jeito… — Esfrego a ponta do
meu dedo do meio no tecido da sua calcinha, friccionando sobre seu clitóris,
e ela geme, abafando o som rente ao meu pescoço. — Eu vou te foder aqui
mesmo.
Encaro seu rosto, que está ainda mais vermelho, e repito o movimento
em sua boceta, fazendo-a fechar os olhos e abafar outro gemido. Quando meu
dedo se esforça para empurrar sua calcinha para o lado, o elevador apita o
andar, abrindo a bolha. Respiro fundo e seguro sua mão.
— Você merece muito mais que isso. — Abaixo o seu vestido e a
levo para fora. — Deixa eu te fazer esquecer tudo que aconteceu esta noite.
— Por favor! — Hanna fala, enquanto puxa o ar.
Nem percebi o nosso percurso entre o elevador e a porta do meu
apartamento, mas ali estávamos, atracados em um beijo sem fim e com a
necessidade que tanto evitamos. Era como se toda aquela espera fizesse
nossos corpos se esquentarem mais.

Sem perder nosso contato, chego até a porta com dificuldade e digito
a senha no painel praticamente sem olhar. Com um empurrão, abro a porta
assim que escuto o som da fechadura se destrancando. Entramos, procurando
qualquer lugar que desse para continuarmos o que paramos no elevador, e,
com o meu pé, eu empurro a porta, que se fecha.
Hanna faz questão de arrancar meu terno e de arranhar o começo das
minhas costas, enquanto sua língua habilidosa me entorpece de tesão. Por
estarmos tão grudados, quase caímos no primeiro degrau que divide a entrada
da minha casa e a sala. Pausamos o beijo e acabamos rindo da situação. Fico
mais tranquilo ao ver que ela não está fugindo deste momento.
Nós estamos abraçados com os corpos colados, e eu sei que ela
consegue sentir meu pau pulsando contra a sua barriga. Minhas mãos já
encontraram o caminho até sua bunda, e suas mãos passavam levemente as
unhas pelo meu pescoço, então não tem como dizer que isso não é íntimo
demais.
— Eu acho que eu deveria te oferecer alguma bebida — falo, para ter
certeza se ela realmente quer esperar pelo seu motorista ou se deveríamos
continuar.
— Eu acho que você deveria me mostrar o seu quarto. — Seus olhos,
ainda mais escuros e determinados, acabam de assinar a sua sentença.
— Depois você ainda tem a coragem de me dizer que não é mandona,
né? — Sorrio malicioso para ela.
— Eu não tenho culpa se os spitz-alemães são tão obedientes. — Que
mulher sem vergonha!
Puxo-lhe a nuca para chocar os nossos lábios novamente, e ela
começa a desabotoar minha camisa, deixando-me com o peito e o abdômen
expostos. Termino de tirar aquele tecido, e andamos em passos lentos em
direção ao meu quarto. Agradeço aos céus pela porta já estar aberta, porque
seria difícil abri-la no estado em que estamos.
Pauso o nosso beijo para girar o seu corpo para frente da minha cama,
colando a sua bunda no meu pau sufocado pela calça, e seguro firme em sua
cintura.
— Como eu sou obediente, vou te mostrar cada centímetro do meu
quarto — sussurro na sua orelha enquanto abaixo o zíper do seu vestido.
Acima da minha cama só há espelhos, então nós dois conseguimos
nos ver através daquele reflexo. Hanna está com as maçãs do rosto
vermelhas, e seus olhos não se desviam dos meus toques em seu corpo.
— Vou começar pela minha cama.
Esfrego o meu membro na sua bunda, e ela olha para baixo,
encarando os lençóis.
— Quero que você conheça bem a minha cabeceira também. Acho
que você de quatro se segurando nela será uma ótima vista.

Minhas palavras sopram contra o seu ouvido enquanto a Hanna volta


a me encarar pelo espelho. Eu, em seguida, deslizo uma alça de seu ombro,
que cai com facilidade, e de repente sua respiração se torna mais audível.
— Acho que ficaria lindo também ver a marca das suas mãos naquele
espelho.
Sustento a outra alça em meus dedos antes de descer o seu vestido por
completo, enquanto minha outra mão desliza pelo seu braço. Direciono seu
olhar para o meu espelho novamente e desço a alça restante com certa
demora, libertando seus seios perfeitos, que se movimentam com o meu ato.
Encaro-os no nosso reflexo e vejo que são ainda mais lindos do que vi nos
meus sonhos.
Seu vestido termina o serviço sozinho, caindo ao chão, deixando-a
apenas vestida com uma calcinha preta fio-dental de renda. Sua bunda roça
no meu pau, e eu seguro um gemido de sofrimento.
Que mulher gostosa, porra! Eu poderia gozar apenas com essa visão.
Ela se vira para mim, encarando cada detalhe da minha pele e, não
fosse a minha necessidade tão grande de entrar nela, eu poderia dizer que
estou totalmente perdido em seus olhos — que a escuridão do meu quarto
insiste em deixar ainda mais brilhantes.

Seus dedos descem pelo meu pescoço até chegarem nos meus bíceps
e, então, ela se volta para o abdômen, onde tenho uma tatuagem. Suas mãos
tão delicadas passeiam pelos traços finos do desenho, e eu me excito ainda
mais.
As frestas das cortinas salientam as poucas luzes da cidade que
insistem em entrar no quarto para iluminar nossos corpos. Deito-a na minha
cama assim que ela retorna os seus olhos aos meus e me levanto, observando
a sua beleza.
— Você tem noção do quanto está linda assim? — Hanna coloca o
seu salto em cima da marca da minha ereção na calça e me pressiona ali. —
Porra, não faça mais isso.
Ela me encara em cada um dos meus movimentos quando eu lhe
seguro o pé atrevido e abro as suas pernas para mim. Meus sonhos definiram
tantas vezes esse momento, mas nada era tão real e tão bom quanto o agora,
já que é real e eu posso tocá-la. Deslizo minha mão pela sua pele, sentindo
seu corpo todo quente, e então começo a trilhar beijos por onde os meus
dedos passavam. Alcanço a lateral de sua calcinha e vejo os seus olhos se
fechando para sentir o que eu estava prestes a fazer em seguida.
Hanna puxa o ar, ressaltando os ossos abaixo dos seios, e eu vejo que
seus mamilos estão arrepiados. Lambo meus lábios enquanto penso neles na
minha boca e puxo a sua calcinha com tanta força, que acabo rasgando uma
das laterais. Tá bom, isso foi totalmente proposital.
Hanna solta o ar que estava prendendo, e minha visão se encontra
vidrada em sua intimidade. Mesmo com o tecido tampando ainda metade da
sua boceta, eu consigo ver a sua pele lisa e rosada.
Meu pau protesta, querendo participar logo da nossa brincadeira, e ela
coloca a mão na frente reativamente.
— Não se preocupe, eu te compro outra calcinha — falo, sorrindo,
para poder distraí-la da sua vergonha, e retiro sua mão do meio do meu
caminho.
— Idiota! — Ela fala, sorrindo, e eu não aguento não sorrir também.

— Quero ver você repetir isso quando estiver gozando! — Tomo sua
boca com um beijo, mordendo com força seus lábios, e ela reclama,
provocando-me prazer.
Minha mão livre separa as suas pernas novamente para que eu me
acomode melhor e, por uma curiosidade que eu estava reprimindo, passo um
dos meus dedos na sua entrada, que está encharcada.
— Se masturbe para eu ver — falo, enquanto desço pelo seu corpo até
chegar ao meio das suas pernas e rasgo com força o outro lado da calcinha,
jogando o pequeno tecido longe.
Hanna me encara, incrédula, por eu ter terminado de estragar aquela
peça frágil e também pelas coisas que falei. Já eu, por outro lado, satisfaço-
me ao vê-la totalmente sem sua armadura: tudo por minha causa, entregue ao
momento.
— Pode começar — exijo, e ela se apoia em seus cotovelos na cama
para determinar se eu estou falando sério ou brincando.
— Não farei isso! — Hanna fala, assim que conclui minha seriedade.
— Será que eu vou ter que te ensinar, então? — Sorrio ao encarar sua
boceta perfeita em minha frente e o seu olhar de dúvida.
Pego sua mão e a levo até sua entrada. Essa visão, por mais breve que
seja, deixa-me extremamente louco para fodê-la. Hanna franze a testa, mas
não afasta a mão, e então eu continuo.
— Primeiro eu quero que pense em algo que te excite… — Faço o
primeiro movimento, segurando a sua mão em seu clitóris, e ela reage ao seu
próprio toque. — Continue com os movimentos circulares… — Hanna
mantém seu dedo se tocando, e eu lhe solto a mão. — Me conte, Hanna, no
que está pensando?
Observo seus olhos se fechando e desejo estar dentro da sua mente, já
que essa cena eu já vi repetidas vezes nos meus sonhos.
— Por favor! — Ela fala, ofegante, querendo que eu mantenha o
contato com ela.
— Está pensando em mim? — Passo o meu dedo pela sua fenda
molhada e coloco dois dedos nela de uma só vez. — Entrando aqui? —
Hanna geme sedutoramente, e meu pau baba ao pensar na mesma coisa.
Meus dedos encontram a parede do seu interior e se esfregam em
baixa velocidade com um vaivém torturante. Logo sinto Hanna começando a
se acelerar. Ela está tão molhada, que meus dedos começam a pingar, e eu
introduzo mais um dedo em seu corpo, que se arqueia ao me sentir. Seus
peitos estão espremidos pelos seus braços, e, se ela pudesse se ver, veria a
própria Afrodite me seduzindo.
— Continue! — Ela fala, praticamente sem voz, em um sussurro
excitante.

— Você quer mais? — Sua mão ainda continua se movimentando em


seu clitóris, e eu pego o mesmo ritmo que ela com os meus dedos. — Me
fala, Hanna, no que você está pensando? — Sinto seu interior se contrair.
— Só continue, por favor! — Sua cabeça pende para trás, mas sua voz
lhe entrega. Ela está quase gozando enquanto me suplica.
— Você não está merecendo. — Paro os meus movimentos e me
levanto, percebendo seu olhar furioso sobre mim.
— Anderson! — Meu nome em sua boca atrevida e em tom raivoso
me excita ainda mais, causando um frenesi em meu corpo.
— Me fale, no que está pensando?
Abaixo-me entre as suas pernas, mas desta vez para retirar a sua mão,
que estava parada, e introduzir a minha língua no lugar. Imediatamente
Hanna solta um seu gemido alto ao sentir prazer e, então, puxa meus cabelos,
fazendo-me investir nos movimentos. Seu gosto é ainda melhor do que eu
imaginava, e vê-la tão entregue a mim me fascina.
Saber o verdadeiro som do seu gemido era algo maravilhoso. Eu não
consigo descrever o quanto aquele som mexe comigo, e ela não para de se
deleitar pelo caminho aonde a estou levando.
Meus dedos voltam para dentro dela, e, como se eu não tivesse parado
em nenhum momento, seu ápice retorna firme e forte. Acelero os meus
movimentos e a sinto tremer, fechando as pernas em volta de mim e
atingindo o orgasmo gloriosamente. Hanna relaxa os dedos que seguravam
meus cabelos, e, então, eu posso encará-la de novo.
— Em você, Ander… — Ela solta, em meio aos seus suspiros
cansados. — Eu penso em você dentro de mim!
— Porra, você quer me matar? — Aproximo-me dos seus lábios,
beijando-a com a necessidade de dividir o seu orgasmo entre as nossas bocas.
Pego a camisinha na primeira gaveta da minha cabeceira e volto para
perto de Hanna, que ainda está recuperando o ar. Suas pequenas mãos vão em
direção ao meu cinto e o soltam com dificuldade. Em seguida, ela abre a
minha calça, abaixando o cós junto com a minha cueca e liberando o meu
pau, que está molhado por conta de todo o tesão que senti em vê-la gozando
por minha causa.
Hanna me encara maliciosamente, observando o meu membro louco
para se derramar nela. Termino de tirar a minha calça e volto para o meio das
suas pernas, que me recebem quentes e suadas. Rasgo o pacote da camisinha
entre os meus dentes e retiro o preservativo. Suas mãos se aproximam,
pegando-o dos meus dedos, e então ela mesma o desliza em meu pau, como
se estivesse curiosa com o que estava vendo. Suas mãos delicadas e até meio
desajeitadas fazem meu membro ficar mais rígido, e, logo que ela termina,
pego sua mão e deposito um beijo no nó dos seus dedos. Vou deitando seu
corpo novamente na cama, e ela entrelaça as pernas em volta de mim,
chocando nossas intimidades uma com a outra.
— Você não está querendo que eu seja gentil, né? — Sorrio para ela,
que começa a esfregar a sua boceta molhada em meu pau.
— Estou querendo que você dê o seu melhor. — Vejo o humor que
ela mantém no canto dos lábios, e aqueles movimentos me angustiam.
— Então aguente as consequências. — Entro nela forte e duro,
sentindo o seu calor absorvendo o meu membro por completo, e seu grito
dolorido revela alguns palavrões incoerentes.
Percebo pelas suas expressões que ela sente dor assim que me
aprofundo nela, e também pela maneira como fincou suas unhas nas minhas
costas. Eu não reclamei do seu ato porque o tesão era bem mais forte do que a
dor, mas estranhei aquela reação.
Sinto os nossos sexos se moldando por ela ser tão apertada e retiro
metade do meu membro para fora, para que a dor possa diminuir. Agarro um
de seus seios com a minha boca, retomando o prazer que estamos formando.
Começo a mordiscar seu mamilo direito, fazendo leves chupões ao redor dele
ao ritmo que a Hanna me deixa possuí-la mais e mais, e meus dedos rodeiam
o bico do seu outro seio. Suas mãos deslizam pelo meu corpo até chegarem
em meu rosto. Ela, então, me puxa em direção aos seus lábios, que eu agarro
com desejo, e volto a entrar nela vagarosamente enquanto ela própria domina
os nossos movimentos.

Quando sinto que ela já está mais segura, entro com mais força. O
quarto silencioso evidencia o som das minhas estocadas e de nossas
respirações excitadas, e o barulho da chuva, agora mais alto, também se
mistura com os nossos sons. Por Deus (se é que eu poderia falar uma coisa
dessas), eu juro que esta está sendo umas das coisas mais marcantes da minha
vida.
Encosto minha testa na dela e aumento ainda mais a minha
velocidade. Sinto minhas costas suadas e percebo que Hanna também parece
estar quase gozando novamente por sentir sua parte interna se fechado em
volta do meu membro. Seus gemidos baixos e sedutores quebram com o meu
ritmo. Seguro-me para não gozar em cada vez que eu me aproximo dos seus
lábios e acabo escutando aquele som que eu tanto desejo. Seus seios também
insistem em tirar minha concentração. Eles são pequenos e se encaixam em
minhas mãos e boca. Ela é tão perfeita, que eu desejo ficar dentro dela a noite
toda.
— Ander… eu estou quase… — Ela fala com dificuldade, e eu não
facilito, continuando o nosso vaivém.
— Gozando? — completo sua fala, e ela concorda rapidamente com a
cabeça, abraçando-me forte no mesmo instante e prendendo ainda mais suas
pernas em volta do meu corpo.
Procuro por sua língua em meu beijo desesperado e urgente, e Hanna
se explode de prazer embaixo de mim, gemendo mais alto. Em seguida, eu
também me liberto dentro dela.
Puta que pariu! Eu já sei onde tudo isso vai dar.
Meu coração dispara com tudo; acordo assustada por estar em um
lugar diferente do meu habitual. Olho o quarto e percebo que já está de
manhã, e um corpo pesado sobre mim descarrega milhares de lembranças da
noite anterior.
— Merda! — sussurro ao encarar o rosto do Anderson ao meu lado, e
ele me aperta ainda mais em seus braços.
Seu rosto dormindo é ainda mais lindo do que eu estou acostumada, e
pensar nisso me causa um sentimento de arrependimento. Não posso negar
que ontem à noite foi incrível. Ele me tratou superbem e ainda repetimos o
sexo mais duas vezes. Ele realmente me fez esquecer completamente o
quanto é um mulherengo. E aqui estou eu, tornando-me mais uma das
mulheres que ele coloca nesta cama.
Sim, eu cedi porque queria esquecer o susto que o Matheus me deu e
eu estava querendo ser acolhida depois das coisas que ele me falou, cedi
porque estava envolvida pelo momento e, pior… eu cedi porque eu estava
querendo muito o Anderson já faz um tempo. Agora, encarando o seu rosto
perfeito enquanto ele dorme, eu percebo exatamente o que estou sentindo e…
droga! Sinto uma sensação estranha no peito. Meu coração insiste em
acelerar, e eu insisto em ignorar tudo isso, porque meus sentimentos querem
trazer à tona o que o Matheus fez para conseguir estar ao meu lado.
Eu preciso ir embora!
Levanto-me com cuidado para não o acordar e retiro o seu braço de
cima da minha barriga. Meus movimentos acabam o fazendo se mexer, e eu
me assusto, chegando até a segurar o meu ar para que ele não acorde. O vento
frio arrepia o meu corpo nu, e sinto vergonha ao me lembrar de tudo que fiz e
falei para ele. Nunca mais tomo uma gota sequer de álcool antes de transar
com alguém, mesmo sabendo que só foi um copo e que eu estava
praticamente em meu juízo perfeito. Eu também não pretendo sair transando
por aí; então, isso não acontecerá novamente.
Encaro seu corpo e consigo reparar melhor na tatuagem em seu
abdômen, já que fizemos tudo à meia-luz na noite anterior, e isso privou um
pouco a minha visão, mas ele tinha uma imagem de um anjo caindo. Nunca
imaginei que o Ander poderia ter uma tatuagem, já que a sua camisa sempre a
escondeu esse tempo todo. E, na verdade, não era só uma tatuagem, eram
várias! Esse anjo se destacava mais por estar centralizado logo abaixo do seu
peito, mas seus braços estavam repletos de esculturas, linhas, números,
formas geométricas, escritas e desenhos aleatórios.
Novamente, flashes da nossa noite passam pelos meus olhos, fazendo
eu me lembrar dos momentos em que aqueles braços fortes me seguraram
brutalmente contra o espelho enquanto eu gozava. As marcas das minhas
mãos e do meu corpo ainda estão ali, manchando o meu reflexo, que
denuncia a minha cara de recém-fodida. Que vergonha!
Não posso simplesmente aceitar o que estou sentindo, pois não quero
me envolver com ninguém; então, fugir se tornou a melhor opção nesse
momento. Fugir dele e principalmente de mim. Dou passos cautelosos para
não o acordar, mas também devido à ardência que se faz presente na minha
intimidade. Isso, Hanna. Fica mais de cinco anos sem sexo e depois transa
umas três vezes em uma noite com um cara que tem um pau que quase não
cabe dentro de você!
Vou ter que continuar me lembrando desse momento até esse
desconforto passar. Busco no chão pelo meu vestido e recolho os meus saltos
sem fazer barulho. A calcinha seria difícil de encontrar no meio dos lençóis e
também seria um desperdício, já que está rasgada. Fica de lembrança para ele
de algo que não acontecerá novamente. Anderson, deitado de barriga para
cima, mas com o lençol cobrindo o seu membro, vira-se, assustando-me. Ele
tem mais uma tatuagem nas costas, localizada no final do seu pescoço: o
número 111. Se eu quero saber sobre o significado dela? Com certeza, mas
meu orgulho é bem maior, e eu simplesmente não preciso saber. Caminho
para fora do quarto sem fazer barulho, mas não sem antes dar uma bela
olhada para aquela bunda que estava descoberta. Que desperdício eu não a ter
apertado ontem; agora não terei mais essa oportunidade. Certo. Foco, Hanna!
Você nunca mais vai transar com esse homem! Repito novamente para mim
mesma e vou em direção à porta. Em seguida, pego minha bolsa, que estava
caída no chão, e me visto rapidamente.
Assim que eu pego o meu celular, encontro várias chamadas perdidas
do senhor Diogo e sinto o meu coração pesar pela culpa. Tadinho, eu tinha o
avisado para ir nos buscar na balada e não lhe retornei. Ele deve estar tão
preocupado comigo. Também encontro mensagens da minha mãe, que, pelo
jeito, está desesperada. E tem uma mensagem da Andréia, à qual decido
responder depois.
Antes de entrar no elevador, eu ligo para o senhor Diogo e peço para
ele vir me buscar aqui. Também peço desculpas pela preocupação que causei,
mas não explico por que estou nesse local. Na verdade, quero esquecer que
estive aqui e esquecer o que estou sentindo.
Talvez, por algum milagre, o Ander não me procure nos próximos
dias, mas já começo a esquematizar o que devo lhe responder por sair sem
falar nada caso ele venha atrás de mim.
O elevador me causa mais um sentimento de arrependimento. Eu o
estou deixando fazer tudo o que quer comigo. Como eu sou tola! Encaro a
câmera do interior daquele local, e meu rosto ferve de vergonha. Será que deu
para ver algo nas filmagens? Ou será que o porteiro já está acostumado com a
quantidade de mulheres que o Anderson traz para cá?
Deus, eu vou ficar louca!

Durante todo o caminho até a casa da minha mãe, eu me mantenho


em silêncio. O senhor Diogo também não me faz nenhuma pergunta, e eu
agradeço muito mentalmente por isso; apenas peço perdão novamente por tê-
lo preocupado e digo que isso não irá mais se repetir. Seus olhos, aliviados ao
me verem sã e salva, apertam-me ainda mais o coração. Como pude não o
avisar?
Decido ir até a casa dos meus pais, até mesmo para poder deixar a
minha mãe mais tranquila. Assim que chego, sou recepcionada pelo seu
abraço apertado.
— Meu Deus, filha, eu estava tão preocupada! — Ela fala, enquanto
me sufoca.

— Calma, dona Eliza. Eu apenas saí para beber com alguns amigos
— falo com dificuldade e, então, ela me solta.
— O senhor Diogo me ligou ontem de noite preocupado com você, e
eu não sabia onde você estava. Eu nem dormi essa noite, você não é de fazer
isso. — Sorrio ao pensar que sou uma mulher de 25 anos que ainda preocupa
os pais por sair sem avisar.
— Eu sei, me perdoe — falo, fazendo um carinho no ombro da minha
mãe. — Essa noite foi muito esquisita. — Reviro os meus olhos.
— Como esquisita? — Minha mãe cata as minhas palavras no ar.
— O Matheus estava lá na balada. — Vou em direção à cozinha para
tomar um café, já que estava morrendo de fome.
— Meu Deus. Não acredito! — Seus olhos se arregalam.
— Não quero nem me lembrar das coisas que ele me falou. Acredita
que ele ameaçou me bater por ciúmes? — Fecho o meu semblante ao
lembrar. — Se não fosse o Anderson para pará-lo, talvez ele realmente
tivesse me batido. — Reviro os olhos e me sento no mesmo lugar que sempre
sentei para começar a comer. A mesa está farta, então já pego um pedaço de
bolo e um suco de laranja.
— O Anderson?
Minha mãe ergue uma sobrancelha, e eu percebo que me lasquei de
novo. Eu pensei que ela ficaria assustada com o fato de o Matheus quase ter
me batido, mas ela foca a informação errada.
— É… — Olho para a mesa, pensando em como eu poderia fugir
desta conversa, mas creio que o meu próprio corpo me denuncia, pois sinto
minha bochecha arder. — Ele estava lá também.
— Que coincidência! — Minha mãe fala, em tom de malícia.
— Foi coincidência mesmo, mãe!
— E onde a mocinha passou a noite?

Eu a encarei no mesmo instante, e sua expressão demonstra que ela já


percebeu tudo.
— Na casa…
— Dele, né? — Seu sorriso vitorioso aparece.
— Sim, mas foi só porque ele me protegeu — falo rápido, tentando
achar alguma outra justificativa. — Não aconteceu nada de mais também.
— Filha… — Ela pega na minha mão. — Você já é grandinha, sabe o
que faz, não precisa se justificar para mim. — Minha mãe sorri
amorosamente. — E você está com um chupão no seu pescoço, então foi bem
óbvio, na verdade.
Meus olhos arregalam, e eu me encaro no espelho mais próximo da
cozinha, questionando-me como eu não vi nada no elevador do prédio do
Ander e como simplesmente poderia ter algo agora? Martirizo-me até notar
que foi apenas um truque dela, e eu caí como uma patinha.
— Eu amo essa sua ingenuidade, minha filha. — Eliza ri sem parar
enquanto eu retorno para a mesa. — Eu sabia desde o início que vocês
sentiam algo um pelo outro.
— Calma lá, mãe, nem eu nem ele queremos relacionamentos no
momento. Foi só uma noite.
— Isso é o que as consciências de vocês querem, não o que o coração
está gritando. Na verdade, vocês são dois teimosos, e está na cara que têm
que se conhecer melhor para aceitarem esse relacionamento.
— Ultimamente a senhora está falando muito sobre esses assuntos. —
Coloco um pedaço de bolo na boca.
— Você tem razão, estou parecendo um disco arranhado. — Ela dá
risada, e seu sorriso muda para a malícia. — Mas foi bom?
— Não vou falar sobre isso! — Coloco o restante do bolo na boca e
me arrependo no mesmo instante por não conseguir mastigar direito.
— Qual é, filha, tem cinco anos que nada de interessante acontece na
sua vida. Me conta, vai! Eu tenho que descobrir tudo através da Andréia, e
ela não sabe contar as coisas com emoção. — Arregalo meus olhos em pensar
que a minha amiga dividia tudo com a minha mãe.
— Então a senhora já sabia de tudo e por isso marcou aquele segundo
encontro com os pais do Anderson?
Assim que a minha boca se fecha, eu noto que a minha mãe não sabia
do beijo que tinha acontecido no nosso primeiro encontro, pois sua expressão
fica ainda mais curiosa, como se estivesse ajeitando as peças de informação
em sua mente.
— Eu sabia! Aquele vinho na sua saia naquele dia não foi sem querer,
teve história atrás daquela mancha. — Na verdade, teve uma mão bem
abusada por baixo daquela mancha. — Mas, não, bonequinha, eu marquei
aquele almoço para saber mais sobre a empresa deles de Brasília e também
para que aquele garotinho não se sentisse excluído. Como é mesmo o nome
dele? Kauen?
— Kauan — corrijo.
— Esse mesmo. Ele e o irmão do Anderson para mim têm a mesma
idade, não faz nem sentido tentar marcar um encontro para você com aquele
menino. Ainda bem que eu acertei em juntar vocês dois. Estou tão feliz de
você, enfim, ter se permitido tentar, Hanna.
— Eu não me permiti tentar nada não, mãe. Só aconteceu, e não vai
acontecer de novo.
— Mas foi bom? — Sua pergunta retorna, e as minhas bochechas
quentes também. — Nem precisa responder, boneca. Vai acontecer de novo
sim, eu sei. — Seu sorriso chega até a me assustar.

— Eu estou precisando marcar outra viagem para você e o papai.


Assim, eu consigo viver sem medo de aparecer em encontros indesejáveis por
sua causa, mãe — brinco com ela.
— Nossa última viagem faz três meses, não precisamos de outra!
— Só passei aqui para te tranquilizar. Tenho que passar na casa da
Andréia agora. Ela também está preocupada comigo.
— Venha almoçar aqui depois. — Minha mãe se levanta junto
comigo.
— Não prometo. — Pego um morango de cima da mesa antes de sair.
— Quem sabe eu volte no jantar.
Despeço-me da minha mãe depois de mais alguns minutos de abraços
apertados e volto para o carro. O senhor Diogo já estava na frente da mansão
dos meus pais me esperando, e logo seguimos para a casa da minha amiga.
Nas últimas semanas, investi como ninguém na Hanna, preocupei-me
com cada passo dela para poder agradar-lhe. Eu quero ser algo para ela,
impressioná-la a qualquer custo. Isso está nos meus planos desde o momento
em que a vi em seu aniversário. Então, mesmo que ela tenha falado com
todas as letras que eu sou apenas um amigo, não consigo deixar de pensar que
talvez esse sentimento possa mudar.
Cada jantar, cafezinho de fim de tarde, flores no meio do dia,
mensagens pela manhã, tudo isso foi muito bem-pensado. E, quando a
convidei para ir até o bar, não imaginei que ela nem iria ligar. Eu não quis
pressioná-la, por isso chamei sua amiga para dançar, dando um tempo para
ela se soltar e beber um pouco, mas a noite não terminou como eu planejei.
Hanna foi embora depois de apenas uns trinta minutos, e eu quase
acabei ficando com a amiga dela, o que seria um desastre para os meus
planos. No fim, bebi tanto, que agora estou com uma dor de cabeça
fortíssima, não sei o que é pior. Pelo menos consegui deixar a Andréia segura
em um táxi antes de ir embora. Talvez ela fale bem de mim para a Hanna.
Saio da minha cozinha depois de tomar dois comprimidos para dor de
cabeça e desço para a garagem. Preciso conversar com o Anderson. Passo na
padaria para comprar algo de café da manhã e vou para a casa dele. Quando
desço do carro, já na frente do apartamento, percebo um carro familiar
estacionado ao atravessar a rua. Até tento enxergar quem está dentro dele,
mas os vidros escuros me fazem desistir disso. O porteiro do prédio já me
conhece, então libera a minha entrada, e eu subo, enquanto ele avisa ao
Anderson que eu cheguei. Quando sou recebido por Anderson em sua casa,
ele está somente de cueca, e seus olhos estão assustados, como se tivesse
caído da cama.
— Bom dia, peladão. Tudo bem com você?
— Sim, por quê? — Seu olhar me examina.
— Sua cara… — Ele começa a olhar pela sala, pelo jeito procurando
alguma coisa. — Você está com alguém aqui? — sussurro, após visualizar
sua camisa no chão.
— Não, claro que não. Por que diz isso?
— Você está muito estranho. O que aconteceu? — Deixo os pães em
cima do balcão.
— Não aconteceu nada. Eu acabei de acordar, estou meio fora do ar
ainda.
— Nossa, você geralmente não acorda nesse horário. A noite de
ontem foi boa, então? — Retorno até ele e me sento no sofá.
— Nem tanto.
— Vim para saber o que tanto você conversou com o Silvio. Ele
comentou comigo algo sobre uma nova produção de lixadeiras para as
máquinas, o que você acha?
— Se for mais eficiente, dá para nós vermos, sim. — Ele encara a
porta do seu quarto, e eu sigo o seu olhar, observando que ela está fechada.
Levanto-me na mesma hora, incomodado com o seu jeito de agir. Ele
está me escondendo alguma coisa. Se eu resolvi perdoá-lo pelo que ele fez na
última vez, não consigo entender por que ele está com tanto receio de me
contar o que aconteceu; afinal, sempre contamos tudo um para o outro.
— Eu preciso usar o banheiro. Faz um café aí para a gente. —
Começo a ir em direção ao banheiro.
Demoro alguns minutos lá dentro, esperando escutar algum
movimento dele na cozinha ou talvez alguém dentro do seu quarto, e logo
abro a porta com cuidado sem fazer barulho. Seu banheiro fica em um
corredor próximo da porta do seu quarto, então saio em silêncio e espero o
momento de ele se virar na cozinha para que eu consiga alcançar a porta sem
que ele me veja. E lá estava eu, como um curioso, apertando o trinco
cautelosamente para que ele não me notasse. Tenho sorte por essas portas não
rangerem e por ele não olhar para trás.
Abro a porta apenas o espaço suficiente para passar e entro
rapidamente, encostando novamente a porta. Viro-me e vejo a cama
bagunçada. Com certeza ele transou com alguém aqui, ainda mais por
encontrar o pacote de camisinha amassado na cabeceira da cama. Por que
tanto mistério para me contar que dormiu com alguém? Isso só seria algo
grave se fosse com a Hanna, já que ele sabe que eu e ela estamos…
Meus pensamentos somem quando vejo um tecido preto embaixo da
cama. Vou até lá e me abaixo, pegando a pequena renda em minhas mãos.
Eu me estresso no mesmo momento ao ver a marca e o modelo,
quando minhas mãos abrem a calcinha rasgada na minha frente. Eu havia
escolhido aquela peça, eu havia dado de presente para ela, eu…
Porra, não pode ser verdade!
Eu comprei esse modelo para a Hanna, dei de presente para ela no seu
aniversário. Comprei da melhor loja que eu conhecia, e, agora, essa etiqueta
está me assombrando: La Perla. Não coloquei o meu nome na caixa do
presente para ela não estranhar na época, mas não tem como eu não
reconhecer, é dela sim. Anderson, seu filho da puta.
— O que você está fazendo aqui?
Escuto a voz do meu amigo, que me tira do meu transe, e o encaro,
assustado por ter sido pego, bravo com as minhas hipóteses fervilhando em
minha mente.
— Quem tava aqui com você ontem? — Mostro-lhe a calcinha, e o
seu semblante acaba o entregando.
— Eu falei que ninguém estava aqui. Por que está mexendo no meu
quarto? Meus assuntos particulares não são da sua conta. — Ele entra no
quarto e tira o tecido das minhas mãos, colocando em uma gaveta.
— Eu estou te dando uma chance de ser sincero comigo — falo e sei
que o meu rosto denuncia a minha raiva.
— Ninguém. Por que essa neurose? Que saco! — Anderson abre o
seu guarda-roupa e coloca uma calça de moletom.
— Eu dei essa calcinha para a Hanna! — Engulo a raiva para não
acertar a cara desse cínico sem antes ter provas. — Eu comprei esse modelo,
seu filho da puta. — Vou até perto dele extremamente conturbado em pensar
que talvez os dois tenham transado.
— Espera aí, por que você está dando calcinhas para a nossa sócia?
— Não muda de assunto, porra. Ela estava aqui com você, né?
— Porra, Kauan. Para de ser criança! Nem sei de quem é essa
calcinha. Trago tantas mulheres aqui. E é claro que essa calcinha não é da
Hanna, eu não faria isso com você. — Ele fala, olhando nos meus olhos.
— Mas qual a probabilidade de você trazer uma mulher aqui que
tenha a mesma calcinha que eu dei de presente para ela?

— Não sei, cara. Caramba! Tem tantas calcinhas no mundo, para de


loucura! Não confia em mim?
Depois do que ele me fez, eu deveria confiar nele? Eu realmente não
sei o que estou fazendo. Ele pode estar mentindo na cara dura para mim, mas
não quero brigar por algo de que não tenho provas. Tenho que manter a
calma e realmente aceitar que muitas mulheres podem ter essa calcinha preta.
— Confio — digo, passando as mãos nos meus cabelos. — Mas,
porra, tô alucinando por causa da Hanna. Estou inventando coisas. Eu sei!
Desculpa.
— Tá maluco mesmo. — Ele se levanta e vem até mim. — Relaxa,
o.k.? Nada aconteceu! Você sabe que eu não faria isso, né? Vamos tomar
nosso café!

— Acredita que é até da mesma marca? — Seguimos para a cozinha.


— Você é um doido por ficar comprando calcinhas para ela. —
Anderson dá um sorriso nervoso e logo muda a sua feição. — Como está a
sua relação com ela?
— Pô, cara. Não faço ideia. Ela parece gostar de mim, mas me
chamou de amigo! Não ligo, claro, vou continuar tentando, ainda mais
porque ela não parece interessada em ninguém. — Ele serve o café para nós e
derruba um pouco enquanto olha para mim.
— Droga! — Ele pega um pano e limpa. — Pega os pães de queijo no
forno?
— Claro. — Levanto-me e fico observando os seus atos. — Ontem eu
achei que iria rolar alguma coisa, mas você viu ela indo embora cedo, né?
— Vi, sim. — Ele me olha de relance e me entrega o meu café.
— Será que ela chegou bem em casa? — Seu rosto está nervoso. —
Vou mandar mensagem para ela. — Pego o meu celular na frente dele, que
parece não ligar.
Talvez eu só esteja realmente maluco. Estou inventando coisas,
preciso manter a calma. Mas, durante todo o nosso café, eu fico tentando
arrumar alguma forma de descobrir a verdade ou mesmo de afastar os dois
para que eu consiga ter uma prova de que nada está acontecendo.
Ontem acabei contando tudo que tinha acontecido para a Andréia, e
ela me contou que também quase ficou com Kauan. Ela se sentiu superatraída
por ele, então pensei em talvez tentar juntar os dois caso eu percebesse
interesse da parte dele. Ele também me mandou uma mensagem perguntando
se eu poderia ir até a empresa dele hoje, talvez até queira falar sobre ela,
pedir seu número, quem sabe.
Sento-me calmamente na minha cadeira após a minha madrugada de
sábado dolorida e relembro os dedos do Anderson dentro de mim. Aqueles
movimentos foram diferentes do que estou acostumada a fazer sozinha. Seus
beijos pareciam que iam me consumir por inteiro. Ele dentro de mim me
preenchia por completo. Minhas lembranças retornam ao pensar em seu
membro. Por que ele tinha que ser um puto de um gostoso? Se eu olhar para
ele de novo, é claro que meus olhos não vão conseguir disfarçar a curiosidade
de encarar o seu pau.
Passo a mão em meu pescoço, sentindo como se fosse ele, e a
lembrança dos seus dedos dentro de mim faz surgir a sensação de
formigamento entre as minhas pernas.
Será que ele percebeu que sou inexperiente? Sentiu o meu medo e a
minha vergonha? Se bem que ele me deixou tão à vontade falando aquelas
coisas, que minha intimidade traiçoeira se umedece só de eu me lembrar de
sua voz grossa na minha orelha. Eu nem sabia que conseguia fazer sexo
tantas vezes seguidas em uma só noite, já que eu não tinha um lado sexual
muito aflorado no meu antigo relacionamento.

— Com licença, Hanna. — Andréia me tira dos meus pensamentos


impuros quando entra na minha sala.
Abano minha agenda, tentando não ficar vermelha novamente.
— Sim? O que tenho para hoje? — Vejo que ela carrega o seu tablet e
me levanto, indo em sua direção.
— Você me avisou ontem que marcou algo com o Kauan hoje às dez,
isso mesmo? — Ela passa uma caneta sob a tela do aparelho.
— Isso, acho que ele quer falar sobre uma certa amiga minha. —
Sorrio, e ela não esconde o seu entusiasmo.
— Se ele não comentar nada sobre mim, deixe quieto, não gosto de
correr atrás de homem. Se ele tiver interesse, vai vir falar comigo.
— Claro, amiga. Eu tenho o mesmo pensamento que você. Se alguém
não manda mensagem, eu devo seguir para o próximo homem da fila. — Dou
risada. — No meu caso, eu não quero ninguém da minha fila.
— Eu acho que só tem um homem capaz de tirar essa ideia da sua
cabeça. — Andréia brinca.

— Não quero ter que começar tudo de novo, então é melhor que ele
nem venha atrás, para eu não confundir minha mente mais do que ela já está
confusa. — Volto para trás da minha mesa.
— Certo, certo. — Ela me dá um sorriso e se volta para a porta. —
Não se esquece do seu compromisso.
— Não vou esquecer. Obrigada. — Olho para o relógio assim que ela
sai e percebo que já são 9h20.
Nossas empresas ficam próximas uma da outra, mas às vezes tem um
trânsito inesperado, então eu ajeito as minhas papeladas rapidamente. Pego
minha bolsa e vou em direção ao estacionamento. O senhor Diego sempre
fica me esperando na recepção caso eu precise sair, então, em poucos
minutos, já estamos na estrada principal indo até a Aluxmil.

— Querida… — Sinto o meu coração palpitar quando o senhor Diogo


tem esse tom de voz de que quer saber o que se passa na minha cabeça.
— Sim? — digo.
— A senhorita está diferente desde ontem, parece mais feliz. Algo
bom aconteceu? — Ele sorri através do retrovisor.
— Eu não sei se o que aconteceu foi bom ou não, mas, sim, estou me
sentindo mais feliz por talvez estar ajeitando os meus pensamentos. — Sou
sincera com o que posso com ele; realmente estava com as minhas ideias
determinadas.
— Isso é ótimo. Quando seus objetivos são traçados com mais
firmeza, o caminho para o seu resultado é mais rápido. — Ele e as suas frases
motivacionais que eu amo.
— Com certeza os meus objetivos terão que ficar de lado caso eu
deseje me aprofundar nisso… — Penso um pouco mais antes de continuar. —
Mas acho pouco provável de acontecer.
— Tenho certeza de que a senhorita saberá o que fazer. — Ele
estaciona na frente do prédio do Kauan, e sinto a ansiedade me tomar por
talvez esbarrar no Anderson. — Estarei estacionado do outro lado da rua
quando sair.
— Obrigada, senhor Diogo. — Abro a porta e vou em direção à porta
do prédio.
Dá última vez que vim aqui, tive o infortúnio de ver Anderson de
mãos dadas com aquela mulher loira, e minha consciência me joga debaixo
da sola do meu salto por pensar que me entreguei para esse miserável. Nada
me garante que ele não havia transado com outra mulher naquela cama um
dia antes de eu me deitar lá, ou até mesmo no mesmo dia.
Aperto o número do andar da empresa deles, e parece que estou sendo
torturada por mim mesma ao me lembrar do que ele fez comigo dentro do
elevador do seu prédio. As portas se abrem para me livrar da minha própria
mente, e Kauan aparece na entrada, conversando com sua secretária. Quando
me vê, abre um sorriso familiar.
— Oi, Hanna. Bom dia! — Sua mão pega a minha, e ele deposita um
beijo nela.
— Bom dia, Kauan. Como foi o seu domingo? — Ele me guia para
sua sala e mantém a porta aberta.

— Foi ótimo, mas seria melhor se tivéssemos saído. — Kauan puxa a


cadeira para eu me sentar, e assim o faço.
— Desculpa, eu tinha marcado para almoçar com a Andréia e para
jantar com os meus pais. — Sento-me, e ele vai para trás de sua mesa.
— Está perdoada desta vez. — O Kauan parece mais eufórico e talvez
até mais nervoso do que o normal.
— Quem sabe podemos marcar algo esta semana. Um café, talvez.
— Ou outro jantar na minha casa, quem sabe. — Ele olha para o
corredor, e eu faço o mesmo por reflexo. Observo que a porta na nossa frente
tem o nome do Anderson em uma placa. Será que ele está lá dentro?
— Quem sabe, estou com a semana bem corrida. — Volto a minha
atenção ao seu rosto.
— Por isso mesmo, tira uma noite para relaxar lá em casa. — Nossa!
Ele está insinuando alguma coisa entre nós?
— Tenho que ver com a Andréia. Minha secretária, lembra? Aquela
que eu levei aquele dia na balada. — Quem sabe o nome dela ajude em algo
nesta situação.
— Sim, lembro… — Seus olhos tremem rapidamente e encaram
novamente o lado de fora da sua sala.
— Estamos esperando mais alguém? — questiono, incomodada.
— Não, só pensei ter escutado algo. — Seus olhos se voltam para
mim.

— Certo, vamos falar sobre o real motivo pelo qual me chamou aqui?
— Sorrio para ele na esperança de que ele fale algo sobre a Andréia.
— Certo… o real motivo… — Seus olhos percorrem a sua sala,
procurando uma forma para me falar o que o incomodava.
— Sim.
— Bem… — Escutamos passos no corredor, e ambos encaramos a
porta.
Anderson aparece segundos depois em frente à sua porta. Meu
coração se acelera com a expectativa da situação. Espero realmente que ele
não olhe em nossa direção, mas, enquanto ele destranca a porta e mexe no
trinco, seus olhos se guiam para nós.
Meu Deus, como ele é lindo.
Sinto minhas bochechas arderem apenas com o seu olhar sobre o meu.
Sinto-me nua debaixo desses olhos. Suas sobrancelhas se erguem e voltam ao
normal novamente em tempo recorde. Seus dedos largam a porta, que já
estava começando a se abrir, e escutamos todos uma voz sair de lá de dentro.
— Surpresa!!

Seu rosto, que tinha dado o indício de que estava surpreso por me ver,
fica realmente assustado quando todos nós escutamos o grito vindo de dentro
da sua sala. Aquela voz infelizmente era feminina, o que acabou me
embrulhando o estômago em pensar no que eu estaria prestes a ver.
A moça que estava lá dentro termina de abrir a porta, e todos nós
vemos sua sala cheia de balões vermelhos em formato de coração. Ela está
com um vestido rosa, tão curto e tão decotado, que todos também
conseguimos entender a sua real intenção.
Os vários balões lá dentro balançam devido às janelas abertas. Tudo
acontece tão rápido, que é apenas uma questão de segundos para eu reagir,
sentindo o incômodo brotar dentro de mim. No fundo eu tenho certeza de que
todos nós temos a mesma expressão de surpresa pelo exagero de tudo aquilo.
A cor vermelha se espalha pelo andar, e o vento traz vários papéis
brilhantes em nossa direção. Há balões de coração do teto ao chão, que
enjoam qualquer um que olhe aquela cor tão vibrante. Encaro o meu reflexo e
confirmo, através de um espelho que está na minha frente, que a minha cara
está da mesma cor que aqueles corações por estar vendo essa cena tão
deplorável, ou talvez por eu estar com raiva de mim mesma por ter me
deitado com esse cretino mulherengo, ou pelo ciúme maldito que sinto e sei
que não deveria existir.
— Surpresa, meu gatinho! — A loira se agarra em seu pescoço,
fazendo-o expressar uma cara de culpa enquanto seus olhos me encaram. —
Você demorou.
Reconheço a moça após alguns segundos, enquanto minha mente
insiste em gritar para mim mesma o quanto eu fui uma trouxa. Eles devem ser
algo, não apenas conhecidos. Só espero não ter transado com um homem
comprometido. Ele não faria isso comigo, né?
— Érika… — Ele fala o nome da loira após conseguir tirar os olhos
de mim. — O que está fazendo aqui? Por que fez tudo isso? — O seu tom de
voz é forte, e ele segura um dos seus braços para que ela o solte, mas ela
permanece grudada em seu pescoço.
— Vim te fazer essa surpresinha. Hoje eu estava de folga… — Seus
dedos caminham sobre o peitoral dele. Por que eu tenho que estar vendo essa
cena?
— Kauan, eu vou indo! — falo alto o suficiente para não ter que
escutar a voz dela, que cessa no mesmo instante, e me levanto de supetão.
Ela me encara, e seu rosto muda para uma carranca amarga. Acho que
acabei provocando a onça com vara curta ao impedi-la de terminar seu
showzinho. O Anderson volta a me encarar e parece querer muito se
justificar, mas eu não estou interessada, eu preciso realmente me afastar
deles.
Kauan se levanta junto comigo e me oferece o seu sorriso de sempre.
Para ele, parece ser uma cena comum. Ele não está incomodado como eu,
então tento me manter ainda mais calma.

— Sério? Nem pudemos conversar direito. — Seu sorriso se torna


galanteador, e ele dá a volta na sua mesa e pega em minha mão.
— Eu volto mais tarde. — Ele me guia até a porta e, antes de sair,
beija a minha bochecha. — Ou podemos ter aquele jantar que você sugeriu.
— O que eu estou fazendo?

Arrependo-me no mesmo instante de ter sugerido esse jantar. Não


quero demonstrar nada além da minha amizade ao Kauan. Se eu acabar
falando algo que me comprometa, ficarei ainda mais envergonhada. Ele tem
sido muito bom para mim nesses dias, mas não sinto nada por ele e não quero
forçar um sentimento inexistente.
Os olhos de Anderson não demonstram nada ao nos ver nessa
situação, e tento continuar evitando seu olhar para não perceberem o quanto
estou aflita ao ver tudo isso. Nós não temos nada, não preciso ficar tão
nervosa. Foi somente uma noite, mas sei o quanto estou decepcionada por ele
ser esse tipo de homem.
— Perfeito! — Kauan responde, ainda mais feliz, e solta a minha
mão. — Estarei te esperando no mesmo horário de sempre e vou fazer aquela
sobremesa de que você gosta. — Seguimos para fora da sua sala.
— Estarei ansiosa. Bom dia, senhor Anderson — digo, olhando para
os dois pombinhos que ainda estão agarrados. — Parabéns para vocês dois,
deve ser uma data muito… — Encaro seu rosto, que apenas ergue uma
sobrancelha em resposta. — Especial.
— Obrigada, madame. Realmente é uma data muito, muito, especial.
— A tal Érika diz enquanto suas mãos agarram ainda mais o braço de
Anderson. O que será que eles estão comemorando?
— Érika, entra nessa sala logo, por favor. Depois conversamos. —
Ela finalmente solta o pescoço dele, e ele se vira para mim quando a porta
novamente se fecha. — Bom dia, senhorita Hanna. Desculpe por essa cena.
— Ele fala, olhando para o Kauan também.
— Tranquilo, irmão. Ela me ligou hoje cedo e pediu para fazer essa
surpresa. Como eu sei do relacionamento de vocês, é claro que eu a deixei vir
aqui e ajudei a montar tudo isso. — Como é que é? Relacionamento??
— Você a ajudou? — O rosto de Anderson parece realmente nervoso,
e eu desejo sair o mais rápido daqui.
— Claro. Não pense que foi fácil encher todas aquelas bexigas. Dá
valor para ela, Anderson. Ela é uma menina esforçada. — Ele dá risada, e
prevejo que isso não vai acabar bem.
— Meninos, desculpem eu interromper a conversa de vocês, mas
realmente preciso ir, tá bom? Foi muito boa nossa conversa, Kauan. Te vejo
de noite. — Dou um beijo no seu rosto e me mantenho longe do Anderson.
— Tchau, Anderson. — Seu olhar diz quanto ele gostaria de conversar
comigo, mas eu ignoro.
— Tchau, Hanna. — Os dois falam juntos, e eu saio rapidamente de
lá.
Respiro fundo quando, enfim, piso do lado de fora do edifício,
tentando buscar no ar a resposta certa para a minha confusão. Procuro o carro
e o encontro onde o senhor Diogo falou que estaria. Entro como se tivesse
visto um fantasma. A vermelhidão do meu rosto já passou, e a palidez reina
na minha pele. Eu realmente transei com um homem comprometido.

Deus, me perdoa!
— Tudo bem, querida? Você está pálida como um papel. — O senhor
Diogo fala assim que liga o carro.
— Sim… — Ainda tento encher o meu pulmão com ar, mas sinto
como se tivesse corrido uma maratona. — Vamos voltar para a empresa.
— Claro, a principal está livre nesse horário. — Ele fala, para me
distrair, e o caminho todo eu tento decidir o que devo fazer. A partir de hoje,
eu não voltarei mais à empresa deles e passarei todas as futuras reuniões para
outra pessoa fazer.
Quando eu acordo no domingo sem ela do lado, confesso que procuro
por qualquer vestígio de algum bilhete que Hanna tivesse deixado para mim,
mas não encontro nada. Se não fosse o seu perfume nos meus lençóis, eu
poderia afirmar que tudo foi apenas mais um dos meus sonhos.
Minha pele se arrepia só de sentir seu aroma no ar, e tudo vem à tona
como uma cachoeira. Eu sei muito bem onde estou me metendo, desde
quando a vi naquela escadaria em seu aniversário, e também quando me meti
dentro daquela sala privada na festa. E toda a questão de escutá-la com aquela
língua atrevida me fez querer entrar nessa brincadeira.
Eu quero tanto estar com ela, que meus próprios sonhos jogavam isso
na minha cara todas as noites. Se consigo fugir dela durante o dia, de noite eu
não escapo. Se eu nego sua presença, meu corpo faz questão de me trair. E, se
eu tento me controlar, eu me contradigo logo que nos esbarramos.
Quando Kauan chega em minha casa, é óbvio que ainda estou
processando tudo o que tinha acabado de sentir. É algo novo, um sentimento
que me deixa inquieto. E ele chegou em um péssimo momento. Além de ter
absorvido um milhão de pensamentos, eu me sinto culpado por ter traído
novamente a sua confiança. Eu soube no mesmo instante que a nossa amizade
acabou ali, ainda mais depois que ele encontrou a calcinha dela debaixo da
minha cama.
Fiquei ainda mais possesso por ele ter dado algo tão íntimo assim para
Hanna. Segurei-me para não deixar o meu lado irracional agir, mas no fundo
fiquei feliz de ter rasgado aquele presente, assim ela nunca mais teria aquilo.
Ver meu amigo desconfiado de mim e mentir na cara dura me deixou muito
mal. Ele havia passado dias e dias falando dela para mim, e agora eu transei
com ela como se ele simplesmente não importasse — e, realmente, naquele
momento, não importava. Mas, agora, eu vejo a armadilha que eu criei para
mim mesmo.
Assim que Hanna saiu do nosso andar, eu decidi não discutir com o
Kauan. Eu estava errado no fim das contas, mas no fundo eu sei o porquê de
ele ter se esforçado tanto para criar toda essa cena. Ele queria respostas,
queria ter certeza de que eu e Hanna não tínhamos nada.
Entro na minha sala e novamente sinto o meu controle se esvaindo do
meu corpo ao visualizar toda aquela cor vermelha. Encaro Érika, que mantém
o mesmo entusiasmo de hoje mais cedo. Ela está sentada no meu sofá, e suas
pernas estão praticamente totalmente à mostra.
— Meu Deus, Érika, por que fez tudo isso? O que você está fazendo
aqui? — Começo a puxar as bexigas do teto.
— O Kauan me avisou que hoje era o seu aniversário. — Filho da
puta, até eu tinha esquecido isso após todo o transtorno do final de semana.
— Tá, certo, mas por que você fez uma decoração romântica para
isso? — Estouro as bexigas com as mãos para me ajudar a manter a calma
que eu não estou tendo.
— Porque você sabe que eu amo você, gatinho. — Ela se levanta e
tira das minhas mãos a próxima bexiga que eu iria esmagar, jogando-a no
chão.
— Érika, nós não somos crianças. Você sabe que eu não quero nada
com você. — Respiro fundo, tentando manter o resto da minha paciência.
— Ander, eu acho que você deveria ter um pouco de consideração
comigo, poxa. Deu um trabalhão arrumar tudo isso para você. — Como que
eu vou lhe dizer que ela fez tudo isso porque simplesmente quis?
— Me desculpe se eu estou parecendo um babaca agora, mas eu
preciso mesmo trabalhar. Conversamos depois, tá bom? — Respiro fundo,
afastando-me de perto dela e abrindo a porta para que ela vá embora.

— Passe no restaurante na hora do almoço. Como eu disse, estou de


folga hoje, então poderemos conversar melhor. — Ela se dirige até a saída.
— Se der tempo, eu passo lá. — Despeço-me com um leve aceno de
cabeça e fecho a porta antes que ela resolva voltar.
Sento-me em minha cadeira e sinto uma vontade gigantesca de
simplesmente quebrar este escritório inteiro ao ver essa cor vermelha. Só
aceito enxergar essa cor novamente se for a Hanna usando aquele maldito
vestido, ou a calcinha vermelha que eu vi no dia do nosso almoço.
Hanna, Hanna…
O que ela deve estar pensando disso tudo?
Nem conversamos depois que ela saiu da minha casa. Até pensei em
lhe mandar mensagem, mas ela mesma não deixou nenhum sinal de vida
quando saiu do meu apartamento. Achei por bem dar o tempo e o espaço de
que ela precisava. Mas agora, depois desse show, vejo que não termos nos
comunicado direito só foi pior, ainda mais porque Kauan fez questão de
deixar a situação a pior possível.
Eu realmente quero conversar com ela sobre tudo isso.
— Pô, cara, não acredito que você mandou a coitada da Érika embora.
Ela se esforçou muito por você. — O Kauan fala ao entrar na sala.
— Por que você incentivou ela? Qual a necessidade disso tudo? —
Assopro os pequenos papéis brilhantes que estão na minha mesa.
— É seu aniversário. Eu queria que você tivesse uma surpresa boa.
— Foi péssimo, eu quero me afastar da Érika, não a enganar, Kauan
— falo pelo menos essa verdade ao meu amigo.
— Eu não sabia, Naveen, senão com certeza eu não teria ajudado
nisso tudo. Juro que vou te compensar. Que tal sairmos hoje?
— E o jantar que você tem com a senhorita Menezes?
— Eu remarco, não tem problema.
Se eu fosse um cara sacana, com certeza lhe pediria que fizesse isso
mesmo, mas no momento eu só quero ser um bom amigo para que não haja
mais desconfianças entre nós dois; afinal, nós temos uma empresa juntos e
não podemos deixar qualquer coisa levá-la para o buraco.
— Não se preocupe, comemoramos outro dia — digo, um tanto
quanto confuso. — Acho que vou na quinta-feira para Brasília visitar os meus
pais. Tudo bem pra você, Kauan? Daí eu já vou começar a agilizar a minha
parte aqui na empresa.
— Aproveite, Ander. Com certeza a sua família também vai querer
comemorar o seu aniversário de alguma maneira.
— Certo. Agora eu quero ver como eu vou trabalhar em meio a tantos
corações. — Dou risada, e o meu amigo arranca mais alguns balões do teto.
— Boa sorte!

Novamente eu me pego pensando naquelas mãos pequenas que


dedilharam meu corpo com curiosidade e desenharam minha tatuagem com
as unhas. Meu pau responde no mesmo instante ao me lembrar de suas mãos
trêmulas, que pareciam tão genuínas, como se ela não tivesse experiência
alguma, mas que me fascinaram de um jeito que me fez gravar na minha
mente exatamente cada detalhe daquela noite.
Seu corpo pequeno embaixo do meu se encaixou de uma forma que
eu não esperava. Eu achei que ela não aceitaria repetir o sexo, mas, após
terminarmos a primeira vez, ela já se encaixou na minha cintura, girando
nossos corpos, e iniciou sua feitiçaria contra mim, cavalgando sobre o meu
corpo.

Eu consigo me lembrar de cada movimento e sensação de quando


nossos corpos começaram a suar e deslizar com mais facilidade, e é claro
que, no fim de tudo, eu já imaginava muito bem o que eu estava sentindo. Eu
nunca senti algo assim por alguém, nunca fiquei pensando e repensando na
mesma pessoa, desejando-a o tempo todo e ficando doente em pensar naquele
desgraçado do Kauan com ela.
Eu estava tentando apoiá-lo com a Hanna, mas estou sendo tão idiota
por fazer isso, que acabei em maus lençóis quando percebi que o ciúme do
meu amigo o fez trazer a Érika para a minha sala da empresa.
Mas a questão aqui é que os meus pensamentos e sonhos pioraram
depois que dormi com a Hanna; então, novamente, vim me abrigar no meu
antigo quarto na casa dos meus pais, onde eu sei que pelo menos vou
conseguir dormir um pouco melhor. E, agora, aqui estou eu, olhando para o
teto do meu quarto após meu banho, tentando esquecê-la para que o meu pau
relaxe e pare de me incomodar. Ajeito-me para descer para jantar, pegando o
meu celular na escrivaninha, e vou para a cozinha ao vestir uma roupa mais
confortável. Minha mãe está terminando o jantar, então eu me sento em uma
das cadeiras mais altas que ficam no balcão em sua frente.
— Nem tivemos tempo de conversar muito hoje, né, filho? Você quis
ir direto para a empresa com o seu pai. — Minha mãe anda pela cozinha e
termina de ajeitar as coisas.
— Pois é, estava querendo ocupar a cabeça. — Passo a mão pelos
meus cabelos molhados.
— A moça dos Menezes ainda está te incomodando… — Ela sorri,
achando graça porque eu acabei comentando com ela que o colar que eu
havia roubado era da Hanna, já que minha própria mãe insistia que eu
devolvesse a joia o quanto antes, mas a oportunidade não aparecia.
— Com toda a certeza, ainda mais depois de sábado — falo baixo,
mas minha mãe escuta.
— O que aconteceu sábado? — Ela para do meu lado, curiosa.
— Nada de mais. — Rezo para que ela mude de assunto.
— Suspeito… Eu só quero te ajudar, filhote. Sabe que pode dividir
esses assuntos comigo. — Ela dá uma leve cotovelada em mim.
— Eu resolvo meus problemas, mãe.
— Não está resolvendo muito bem, né? A garota não te deixa em paz
até nos seus sonhos. — Minha mãe dá risada e sai do meu lado, voltando para
as panelas. Pois é, eu comentei com ela sobre esse fator. Vai que ela sabe
como desfazer feitiços, né? Afinal, mãe sabe de tudo.
— Tão falando do quê? — Meu irmão aparece.
— Seu irmão está tendo problemas com uma mulher.
— A filha dos Menezes? Aquela que você pegou? — Tony abre a
boca, e minha mãe me encara na hora.
— Meu Deus. Como assim, Ander?
— Eu não peguei ela! — Minto, porque já aconteceram coisas bem
mais sérias depois do nosso primeiro almoço juntos. — Nós nos beijamos, e
foi apenas isso.
— Então os seus sonhos não estão sendo em vão, filho.

— Tá sonhando com ela, é? — Anthony faz uma cara maliciosa para


mim, e eu o empurro da cadeira.
— Vocês podem parar com isso… — Meu celular toca, e paro de
falar quando o tiro do bolso. Minha mãe faz sinal para que eu atenda, e eu
aperto o botão para aceitar a chamada do número desconhecido.
— Anderson falando. — Espero alguns segundos, e ninguém
responde. — Alô?
— Ander. — Aquela voz me arrepia o corpo todo. Ela está realmente
me ligando ou eu estou alucinando? — É a Hanna. Hanna Menezes. — Sua
voz sai com receio.
Ela não precisava se identificar para mim, caramba! Eu reconheceria a
sua voz de longe; se duvidar, reconheceria até sua respiração. Não consigo
acreditar que isso realmente está acontecendo. Tiro o celular do ouvido para
confirmar a minha incredulidade, e minha mãe me encara, curiosa. Logo fico
pensando no motivo por que a Hanna trocou de número do celular.
— Hanna? Tudo bem? — Meu corpo está eufórico, mas sinto a
preocupação correr pelas minhas veias.

Falo entusiasmado até demais, sem perceber minha alegria de ela dar
essa iniciativa para me dar uma possível liberdade para… sei lá, não deveria
estar querendo algo dela, mas eu quero… quero vê-la, quero beijá-la, quero
explicar tudo que aconteceu na segunda-feira. Minha mãe e meu irmão me
encaram, espantados por ela ter me ligado.
— Sim! Eu… eu preciso de uma indicação sua! — Indicação? Às sete
da noite de uma quinta-feira?
— No que eu posso te ajudar? — falo, saindo da cozinha para
conversar mais à vontade e indo até a sacada.
— Desculpa a ligação tão tarde, mas eu preciso de uma indicação de
algum hotel aqui em Brasília. — Hotel em Brasília? — Sei que você morava
por aqui, e o hotel onde eu sempre fico está lotado.

— Você está aqui em Brasília? — falo, surpreso, e o Tony entra na


sacada.
— Aqui? Então você também está aqui? — Ela responde, mais
surpresa ainda.
— Sim, cheguei hoje de tarde. — Penso um pouco antes de sugerir as
próximas palavras, que saem quase em milésimos de segundos. — Posso te
buscar aí se… não estiver acompanhada, é claro.
— Imagina, você é um homem comprometido, não precisa se
incomodar comigo. — Ela suspira, e, neste momento, sinto minhas
esperanças desmoronarem com a sua sugestão. — Eu estou de carro também,
só preciso de…
— Chame ela para jantar com a gente. — Minha mãe aparece atrás de
mim como um fantasma, interrompendo a minha audição, e de repente só
falta o meu pai para completar a família ali.
— Caramba, mãe, que susto! — Coloco o celular sob o meu peito
para que Hanna não escute.
— O que aconteceu? Onde ela está? — Minha mãe tira o pano de
prato do ombro e começa a gesticular com ele em sua mão. — Se ela está
aqui em Brasília, seja educado e a chame para jantar com a gente.
— Certo, mãe. Farei isso. Agora volta lá para a cozinha. — Tento
falar baixo. — Você também, pirralho.
— Estarei esperando lá dentro. Quero que ela venha aqui, então
insista. — Ela sai em seguida, colocando o pano sobre o ombro novamente.
Retorno o celular ao ouvido e sinalizo para que o meu irmão saia, e ele vai
junto com minha mãe.
— Alô? Anderson? — Hanna fala, provavelmente achando que a
ligação caiu. — Droga, caiu… não quero ter que ligar para o Kauan. —
Escuto essa informação, e meu coração se acelera, devolvendo um milésimo
da esperança ridícula que tenho.
— Oi, tô aqui, desculpa. Minha mãe veio falar comigo — falo, antes
que ela desligue.
— Desculpa mesmo pelo incômodo. Está tão tarde.
— Hanna, você sabe que nunca é um incômodo para mim. Vamos
fazer assim… você já jantou?
— Ainda não, mas já estava vendo…
— Venha jantar aqui comigo, na casa dos meus pais, daí conversamos
melhor. Minha mãe está insistindo. — Corto-a antes que ela termine a frase.
— E eu quero muito conversar com você, esclarecer algumas coisas.
— Imagina, não quero atrapalhar. Já tenho um restaurante onde
sempre como por aqui, só quero uma indicação de hotel mesmo! — Eu tenho
que convencê-la.

— É apenas um jantar. Vinte minutinhos. Você não irá se atrasar com


nada. Minha mãe ficará muito triste se não vier. — Deus me ajude.
— Ander… — Gostei que, mesmo após o que aconteceu entre a gente,
ela continua me chamando assim. Seu silêncio me mata por longos segundos
enquanto eu espero. — Vinte minutinhos apenas. Amanhã tenho um dia
cheio. Pelos seus pais, eu vou.

— Certo! — Comemoro no mesmo instante com um sorriso de orelha


a orelha. — Vou te mandar a minha localização. Estamos te esperando.
Desligamos depois de nos despedirmos, e eu lhe envio minha
localização. Sinto que agora conseguirei colocar tudo o que precisa ser dito
em palavras. Talvez eu tenha mudado alguma chave dentro de mim que
simplesmente me fez ver o que eu estava perdendo. Mas, também, não acho
justo ver uma mulher tão linda e esperta gastando tempo com o Kauan, e
talvez as coisas possam ser diferentes.
Pensando bem, ela falou algo sobre o Kauan na ligação. Algo de não
querer ligar para ele. Talvez ela tenha percebido as intenções dele ou esteja
apenas cansada de aturar uma criança com alto senso de humor.
Volto para a cozinha, e os olhos dos dois recaem sobre mim.

— E aí? Ela vem? — Minha mãe pergunta com um sorriso no rosto.


— Digamos que eu vou colocar mais um prato na mesa.
— Ai, meu Deus! Não acredito que vou receber na minha casa a
mulher que fez o meu menino mudar.
— Para, mãe! E ela não me mudou, só não consigo dormir direito. —
Passo a mão novamente nos meus cabelos, sentindo-os ainda úmidos.
— Posso chamar a minha namorada também? — Tony abre a boca.
— Ele ainda está namorando? — comento, incrédulo.
— Sim, vamos ver até quando. E, não, ela não pode vir. A Hanna é
parceira de negócio do seu irmão, e eu quero que ela se sinta bem aqui em
Brasília. Se você chamar a sua namorada, aí sim ela vai achar que pode morar
nesta casa.
— Pelo jeito, o relacionamento deles está sério — falo, e o meu irmão
sorri.
— Acho que a mamãe quer falar mais sobre esse seu distúrbio
superesquisito de ficar tendo sonhos indecentes com uma mulher que nem é
sua namorada.
— Não são sonhos indecentes — falo, sem jeito. Para mim, eles são
bem decentes!
— Seu irmão tem razão, Ander. Você acha que é à toa que você perde
o sono por ela? Para de se enganar, filho. Você já tem quase trinta anos.
— Mesmo assim, ela não quer nem olhar na minha cara. Ela acha que
estou namorando.
— Por quê? O que ela viu? — Minha mãe tem a voz mais duvidosa.
— Uma suposta declaração para mim.
— Meu Deus, como isso aconteceu?
Conto todos os detalhes da cena que rolou na segunda-feira para a
minha mãe, explicando toda a história, desde o dia em que a conheci até a
cena da Érika na minha sala. Claro que não menciono nada sobre a nossa
transa. Minha mãe escuta tudo com paciência, e meu irmão faz comentários
especulativos para ver se eu revelo algo a mais, o que eu não faço. Quando,
enfim, termino toda a história, escutamos a buzina do carro de Hanna,
indicando que ela havia chegado.
— Vai lá receber ela, filhote. E lembre-se: é só esclarecer as coisas. A
mentira aumenta com a desconfiança. Seja você mesmo. — Ela beija a minha
testa.
— Eu sei, mãe. Depois do jantar, vou tentar conversar com ela. —
Levanto-me.

Desço as escadas em direção à porta, abro o portão e, assim que o


carro dela estaciona na garagem, vou até o veículo e abro a porta logo que ela
desliga o motor. Como sempre, ela está deslumbrante em um dos seus
terninhos, que a deixam extremamente sexy. Seus olhos verdes me encaram
por um breve momento antes de desviarem, e noto uma leve olheira embaixo
deles.
— Boa noite, Hanna! Que bom que veio. — Ofereço minha mão, e
ela ignora o meu ato, saindo do carro logo em seguida.
Ela tem total direito de fazer isso. Afinal, está com uma hipótese
maluca na cabeça que eu não fiz nada para mudar, mas isso só piora a
situação para mim. Não esperava ser destratado tão friamente assim.
— Desculpa a demora, horário de trânsito. — Hanna se justifica
rapidamente, e eu não consigo decifrar a sua voz.
— Imagina, chegou antes do que eu imaginava. Venha, minha mãe
está ansiosa para conversar mais com você. — Sorrio para ela, que ainda não
me encarou novamente.
— Me perdoa, mas como é o nome da sua mãe mesmo? — Fecho a
porta do carro, e começamos a andar.

— Magda. Meu pai chegou agora há pouco, então deve estar saindo
do banho, mas logo ele se juntará a nós para jantarmos, e minha mãe está na
cozinha lá em cima.
— Que bom! Pelo jeito, está tendo algum evento perto do hotel onde
eu sempre fico. Estava lotado.
— Não ouvi falar de nada, mas com certeza meus pais devem saber.
Por aqui. — Indico a escada, e Hanna para na minha frente antes de subir.
— Ander, desculpe a sinceridade. — Ela me encara, contrariada. —
Eu só vim hoje aqui por educação. Nós não conversamos depois da nossa
noite, mas o que você fez não foi certo. Eu achava que você fosse solteiro. Se
não fosse isso, nada teria acontecido. — Seus olhos vacilam para as suas
mãos enquanto ela gira os anéis dos seus dedos impacientemente, retornando,
em seguida, seu olhar para o meu rosto. — E eu só te liguei hoje porque era a
única pessoa que eu conheço que também conhece esta cidade. Não estou
falando com o Kauan por alguns motivos pessoais; caso contrário, eu teria
ligado para ele, e não para você. Então, novamente, eu te aviso: serão apenas
vinte minutos, e eu vou embora. Já estou me sentindo mal por várias coisas
que aconteceram esta semana, não quero aumentar essa lista hoje.
Porra, que belo soco no estômago!
Encaro seu rosto por mais alguns segundos, esperando que ele fale
alguma coisa, e não obtenho nada em resposta. Então, começo a subir as
escadas que ele indicou para mim. Meus passos são lentos para que eu não
caia após falar o que estava entalado na minha garganta. Escuto os seus
passos pesados atrás de mim e, quando atingimos o segundo andar, deparo-
me com um corredor gigantesco. Saio da sua frente para que ele possa
novamente guiar o caminho até a cozinha e, quando ele passa por mim,
empurra-me para dentro de um dos quartos, que está com a porta aberta.
— O que está fazendo? — sussurro, com medo de causar algum
escândalo.
O quarto está totalmente escuro, iluminado apenas pelas luzes
distantes do corredor, que desenham o seu corpo. Sua mão agora está
segurando a minha mão, que tento a todo custo soltar.
— Calma, eu só preciso que saiba que eu sou um homem solteiro.
Aquilo que você viu foi apenas uma armação… — Ele respira fundo, e seus
olhos brilham. — Do Kauan.
— Do Kauan? — Franzo o meu cenho com a sua revelação. — Como
assim?
— Agora não é hora e nem lugar, meus pais estão nos esperando; só
não quero que fique se sentindo culpada por algo que não existe. Por favor,
vamos conversar depois? — Ele solta a minha mão.

Apenas confirmo com a cabeça e não respondo mais nada. Ele sai do
quarto, e eu o sigo, sentindo-me estranha. O que ele falou era verdade? Ele
realmente não tinha nada com aquela mulher? Como o Kauan poderia armar
aquilo? E, se realmente fosse verdade, eu deveria estar extremamente
envergonhada por ter falado tudo aquilo para ele lá embaixo. Não só isso, eu
estaria criando uma amizade com alguém bem estranho.
O caminho me causa desconforto e um pressentimento de estar
fazendo a escolha errada ao aceitar vir aqui. Assim que adentramos a sala de
jantar, o cheiro delicioso me lembra que já faz mais de seis horas que eu não
como; não tive tempo.
A senhora Magda está terminando de colocar o último prato na mesa
quando o som anuncia nossa chegada. Eu não pude conversar muito com ela
no nosso almoço em Curitiba, mas, observando-a mais de perto hoje, eu vejo
o quanto a dona Magda é linda. Seus traços a mantêm como se ainda tivesse
uns 35 anos, que eu sabia que não tinha, devido ao formulário detalhado que
a Andréia fez para mim sobre os Magalhães. Seu sorriso brota sutilmente em
seus lábios assim que me vê.
— Senhorita Hanna, que bom que chegou em segurança e está aqui
conosco hoje. — Ela se aproxima e me cumprimenta com um beijo carinhoso
em meu rosto.
— Boa noite, senhora Magda. Obrigada por me receber tão em cima
da hora para o jantar de vocês. Espero não estar incomodando — falo, assim
que ela solta as minhas mãos, que eu nem havia percebido que ela tinha
pegado.
— Nunca! Uma amiga do Anderson sempre será muito bem-vinda em
nossa casa. — Amiga? — Filho, vai lá chamar o seu pai. Ele deve estar
assistindo ao noticiário.
Tento fingir indiferença na presença do Anderson, que passa do meu
lado voltando para o corredor. Eu queria não sentir nada por ele, ainda mais
depois da cena que eu vi na segunda e depois de tudo que pensei sobre ele,
mas eu consigo sentir a nossa eletricidade rondando à nossa volta.
— Oi, senhorita Hanna. Está linda como sempre. — O irmão do
Anderson se levanta para me cumprimentar e faz o mesmo que a mãe ao colar
os lábios na minha bochecha.
— Antony! — Ele é repreendido logo em seguida.
— O que eu fiz agora? — Ele se afasta ,todo sorridente.
Ainda fico incrédula com a semelhança dos dois irmãos.

— Não deixe a nossa convidada desconfortável.


— Desculpa! — Seus olhos me encaram de uma maneira sapeca.
— Está tudo certo, Antony, não precisa se desculpar por isso.
— O que achou da cidade, Hanna? — Magda comenta enquanto ajeita
os talheres na mesa.
— Achei linda. Não tive muito tempo para passear, então não tenho
uma opinião formada, mas gosto de vir para cá. — Acomodo-me melhor
sobre os meus saltos. — Precisa de ajuda, dona Magda? Com a arrumação da
mesa.
— Pode ficar tranquila, querida. Já está tudo encaminhado aqui, mas,
quando puder vir com mais tempo, quero te levar aos nossos pontos
turísticos. — Ela sorri, e eu sinto um carinho enorme por ela.
— Com certeza. Quero conhecer todos. — Sou sincera no que eu
digo, mesmo tendo a certeza de que talvez isso nunca aconteça.
— O Anderson conhece bem mais lugares que eu. Tenho certeza de
que ele poderá te levar em vários.
— O Anderson?
— O que tem eu? — Ele aparece na porta no mesmo instante em que
falo o seu nome, e seu sorriso branco tem uma certa curiosidade.
— Boa noite, Hanna! — O pai do Ander me cumprimenta com um
sorriso curto. — Que surpresa boa você jantando com a gente hoje.

— Boa noite, senhor Andres, me perdoe aparecer do nada aqui. —


Sorrio para ele, observando que os dois têm o mesmo estilo de vestimenta.
— Hanna, nós estamos felizes em tê-la aqui. — A voz do Ander tem
um certo carinho quando me diz essas palavras.
Rapidamente a dona Magda retira todas as tampas de cada panela,
revelando ainda mais o cheiro maravilhoso da sua comida, e, então, se senta
ao lado do seu marido. Anderson, por sua vez, aproxima-se da mesa, puxando
uma das cadeiras para mim e se senta ao meu lado, próximo do seu pai
também. O Antony fica na minha frente, no lugar vago ao lado de sua mãe.
— Hanna, o Anderson comentou que você está em uma viagem de
negócios. Vai ficar por muitos dias? — Andres fala, tirando um pouco da
tensão do ar.
— Creio que não, se conseguir resolver tudo amanhã. Quero estar em
Curitiba amanhã mesmo. — Reparo que o Anderson pegou o prato da minha
frente e começou a me servir.
— Que pena, querida. Queria te levar para conhecer pelo menos um
ponto turístico. — Magda comenta enquanto observa seu filho depositar meu
prato na mesa novamente com a comida, servindo-se logo em seguida.

— Imagina, Magda. Não quero atrapalhar vocês em nada, só vim hoje


porque vocês são nossos mais novos parceiros, mas eu sei que está tarde. A
propósito, a mercadoria de vocês está nos surpreendendo muito em todos os
quesitos.
— Que bom ouvir isso! Significa que a nossa empresa já pode abrir
mais uma filial daqui a algum tempo. Esses são os nossos planos para daqui a
um ou dois anos. — O pai do Anderson fala, mais interessado no assunto.
Percebo imediatamente que ele é dessas pessoas que se importam muito mais
com o dinheiro. Dá para entender o fascínio do Ander por carros luxuosos.
— Tenho certeza de que está fazendo a escolha certa. — Pego o meu
talher e experimento a refeição.
O jantar corre mais tranquilamente do que eu imaginava, porque,
quando o assunto é sobre as nossas empresas, eu simplesmente sei o que
dizer, de modo que tudo flui com mais naturalidade. Nem percebi os minutos
passando, mas, quando a dona Magda traz nossas sobremesas, olho para meu
celular, que se iluminou com mais uma mensagem do Kauan. Neste instante,
percebo que já estou aqui a quase uma hora.
O Kauan… Eu estou com pena por estar lhe dando um gelo, mas
nosso último jantar não acabou muito bem. Ele estava bem mais romântico
por algum motivo e tentou me beijar. Beijar-me de verdade, e não os leves
selinhos que ele tentava alcançar no canto da minha boca, mas sim aquele
tipo de beijo de segurar até o meu corpo à força. Então, eu resolvi ignorar um
pouco das suas conversas e os possíveis pedidos de desculpas que ele
mandava sem parar.
A partir daí, começo a ficar inquieta querendo ir embora, tanto pelo
horário, que já passa das onze da noite, tanto por perceber que Anderson
também encarou meu celular e leu o nome de seu amigo na tela. Sua mão
pousa na minha perna enquanto seus pais conversam sobre um assunto só
deles, e, então, ele cochicha em minha orelha, passando sua mão pelo tecido
da calça.
— É falta de respeito você não responder às mensagens do seu amigo.
— Sua voz sai sarcástica, mas ao mesmo tempo provocante.
— É falta de respeito mexer no celular na hora da refeição. — Sorrio
nervosamente, tirando a mão dele dali.
— Mas você já terminou de comer! Dê atenção para o seu carrapato.
— Ele está com ciúmes?
— Isso tudo é ciúmes? — Sorrio para ele.
— Ciúmes eu tenho dessa calça que está encostando onde eu não
estou. Da próxima vez, coloque uma saia. — Como ele consegue ser tão
indecente com seus pais tão perto?
— Pare com isso! — Tento fechar as minhas pernas quando ele
retorna com a mão no meu joelho, mas ele não permite.
— Por que eu deveria? Eu sei que você está gostando!
Sua mão se aproxima mais do centro das minhas pernas e, enfim, toca
onde eu temia, pressionando com força a minha intimidade e me fazendo
soltar um leve grunhido baixo, que chama a atenção do seu irmão na nossa
frente. Imediatamente eu tento disfarçar com uma pequena tosse, mas tenho
certeza de que estou vermelha. Minha intimidade responde aos seus toques
no mesmo instante, e me sinto fraca por deixar essa sensação e esse
sentimento tomarem conta de mim.
— A comida estava deliciosa. Muito obrigada por me receberem hoje
aqui. — Coloco a minha mão sobre a dele para afastá-lo, mas ele consegue
pegar minha perna de uma forma que eu não consigo me soltar.
— Que bom que gostou, querida. Eu fiquei muito feliz de ter você
conosco hoje.
— O Ander não parava de falar em você, Hanna. — Anthony revela,
deixando todos sem jeito. Encaro seu rosto para decifrar aquela situação e o
encontro levemente envergonhado. Seu semblante está igual ao dia em que eu
fui à sua casa: sério e muito quente.
— Espero que tenha falado apenas coisas boas. — Dou risada, ainda
nervosa com a sua mão me influenciando.
Por que ele não está me largando? Isso está me deixando nervosa, e
eu não consigo afastá-lo, nem com a minha força e nem pelo meu instinto.
Sua mão, enfim, já estava na minha parte mais quente, e eu estava gostando.
— Só tenho elogios para falar de você, Hanna. — Um dos seus dedos
acertam exatamente em cima do meu clitóris, e eu me levanto no mesmo
instante, sentindo o meu rosto queimar.
— Eu preciso ir. Já está muito tarde, não quero atrapalhar mais ainda
vocês. — Todos se levantam logo depois.
— Hanna, você poderia dormir aqui em casa hoje. Temos um quarto
de hóspede. Não seria correto a nossa sócia dormir em qualquer lugar. — O
senhor Andres fala, mas sua sugestão é muito maluca para mim.
— Me desculpem, mas terei que negar. Amanhã os meus
compromissos se iniciam muito cedo, odiaria ter que incomodar ainda mais
vocês. — Saio de perto do Anderson, que parece ainda estar curtindo a minha
reação.
— Imagina, querida. Pare de falar que está incomodando e, por favor,
aceite a nossa proposta. O que te garante que os outros hotéis não estarão
cheios também? Sem falar que é muito perigoso você ficar em um hotel
muito cheio, ainda mais sozinha. — Ai, Deus, como eu fujo disso?
— Pode ficar tranquila, dona Magda, já estou acostumada com
viagens e hotéis. — Ela caminha até o meu lado e pega na minha mão.
— Eu ficaria bem mais tranquila se você pudesse ficar aqui. Aceite o
nosso convite. — Ótimo, eu estava sem saída.
— Certo. — Sinto que fui vencida por eles e encaro o Anderson, que
não soltou nenhuma palavra desde que essa conversa se iniciou. Seus olhos e
sorriso demonstram que ele está convencido, o que me faz pensar se tudo isso
não foi combinado antes entres eles.
— Ótimo! — Magda comemora, feliz com as minhas palavras. — Se
quiser buscar as suas coisas enquanto eu arrumo o quarto para você, fique à
vontade, querida. O Anderson vai lá te ajudar com as malas!
Com certeza eles estavam sabendo demais sobre nós dois!
Descemos as escadas para ir até o seu carro, e eu começo a ficar
nervoso. Quero conversar com ela, mas não sei como abordar esse assunto.
De qualquer forma, eu preciso tentar. Era bem mais fácil quando não
precisávamos conversar. Nós só sabíamos brigar e nos beijar, mas agora eu
queria que fosse diferente.
Hanna abre seu carro e retira a mala de rodinhas com facilidade. Não
é muito grande, com certeza ela vai ficar pouco tempo aqui em Brasília. Eu
me aproximo e ofereço minha mão para que ela a entregue a mim.
— Precisamos conversar — digo, quando ela me entrega a mala e eu
a deposito no chão propositalmente, aproximando-me dela.
— Hoje não, Ander. Eu te falei que esta semana foi cheia, e você já
me deu mais coisas para pensar do que eu gostaria. — Ela se encosta no
carro, para manter a nossa distância.
— Eu sei, eu sei, só me escuta. — Pego sua mão e fico feliz por ela
deixar.
— Eu não estou conseguindo entender por que você e o Kauan estão
fazendo isso comigo. Isso tudo é um jogo de vocês? Uma brincadeira de mau
gosto? — Ela está vermelha.
— O.k., eu sei que a sua mente deve estar te enchendo de milhões de
possibilidades malucas, mas, calma, eu quero falar tudo para você. — Solto a
sua mão e encosto os meus dedos nas suas bochechas quentes.

— Fala rápido. Sua mãe vai estranhar se demorarmos. — Ela vira o


rosto, fugindo dos meus olhos e do meu toque.
— Vou tentar, mas olha para mim. — Puxo seu queixo em minha
direção, e nossos olhos novamente se encontram. — Hanna, a Érika não é
nada minha. Talvez ela seja uma louca, eu ainda não descobri… — Seu
sorriso aparece no canto dos seus lábios, achando graça nas minhas palavras.
— Mas, quando eu falo que o Kauan armou aquilo tudo, é verdade. Ele
encontrou a sua calcinha lá em casa…
— Minha calcinha? — Seus olhos se arregalam, e eu dou risada desta
vez. — Por que minha calcinha está rodando em tantas mãos assim?
— Calma, ele chegou cedo em casa naquele domingo e entrou no meu
quarto sem permissão. Eu também odiei ver a sua calcinha na mão dele.
Fiquei mais irado ainda em saber que foi ele que te deu ela. — Seus olhos
permanecem arregalados.
— Ele que me deu? Você só pode estar louco, eu nunca recebi uma…
— Foi no seu aniversário — explico.
— Eu não sabia… espera, você disse que ficou nervoso por causa
disso?
— É… — Desvio os meus olhos dela, completamente sem jeito. —
Desculpa, eu sei que não tenho direito, mas acredita em mim, Hanna. Ele
armou aquilo tudo porque desconfiou da gente. Segunda-feira era apenas o
meu aniversário, e ele chamou a Érika porque sabia que ela gostava de mim,
mas eu não sinto o mesmo por ela. O Kauan gosta de você, e ele vai fazer de
tudo para separar a…
— Separar a gente? — Sua boca entreaberta e sua respiração forte e
descompassada me confundem ainda mais. Meu desejo é agarrá-la aqui
mesmo, encostando-a nesse carro e devorando sua boca com todo o desejo
que venho sentindo, mas não quero que ela se sinta usada ou algo do tipo.
Quando a sua língua umedece seus lábios no meio de suas respirações
descompassadas, eu não consigo me controlar: simplesmente ataco sua boca
sem pensar em mais nada.
Ela responde ao meu toque, puxando-me para mais perto e
intensificando o nosso beijo. Nossos corpos colados sentem o calor um do
outro, e isso me faz me mover sem pensar, colocando uma das minhas pernas
entre as suas e pressionando o seu corpo no carro enquanto suas mãos
bagunçam-me o cabelo.
O perfume dela me atrai até seu pescoço. Beijo cada centímetro atrás
da sua orelha, fazendo o caminho das suas pintinhas, que eu já conhecia. Seu
gemido baixo e sedutor fez eu me lembrar da cena dela na minha cama me
excitando, ainda mais enquanto eu pressionava meu membro contra a sua
barriga.
Uma das minhas mãos lhe segura o pescoço, dando-me acesso livre
para beijá-la cada vez mais forte, marcando levemente sua pele. Enquanto
isso, minha outra mão pressiona a sua cintura, puxando-a para mais perto do
meu membro, que se esfrega nela. Quando volto a beijar-lhe a boca,
distanciando-me da área do seu pescoço, seu telefone toca, e ela desvia as
pernas do meu joelho, que comprimia sua intimidade quente.
— Merda! — Hanna se afasta e pega o celular, percebendo que a
chamada era do Kauan.
— Você vai atender?
— Não, não estou mais falando com ele. — Ela permanece de costas.
— Vamos entrar, amanhã será um dia cheio.
Eu ainda vou descobrir o que aquele otário fez para ela falar assim
dele; à toa os dois não iriam parar de se falar, né? Mas isso só me importa
agora porque me causa uma esperança boba no peito.
— Não sem antes eu saber se estamos bem. — Ela não se vira.
— Ander, a gente não tem nenhuma relação estabelecida aqui, então,
pode ficar tranquilo, eu acredito em você. Obrigada por me explicar tudo, eu
fico mais tranquila em não ter ficado com alguém comprometido. — Ela pega
sua bolsa no banco da frente do carro e começa a entrar na casa, deixando-me
na garagem.
Porra! Eu sei que não temos nada um com o outro, mas, droga, “a
gente” tem algo que existe, só não sei descrever.
Se eu realmente quisesse mudar isso, teria que dar um passo que eu
realmente não quero. Já havia prometido para mim mesmo que eu só servia
para sexo casual. E, mesmo se eu conseguisse propor algo, ela aceitaria?
Afinal, nós dois não gostamos de relacionamento.
A noite foi uma tortura incessante para mim. Eu também não
imaginava ter que me encontrar com o Anderson aqui em Brasília. Claro que
isso era uma possibilidade; afinal, ele morava aqui antigamente. Mas ele
tinha que estar para cá justamente quando eu também estou? Exatamente nos
mesmos dias?
Após o nosso beijo na garagem, que mais me pareceu o meu corpo
gritando querer ser fodido por ele, eu percebi o quanto eu estava vulnerável
aos toques do Ander. A minha intimidade latejava pedindo por alívio em cada
beijo nosso, e não somente nos beijos: eu acostumei o meu corpo nas últimas
noites a se lembrar de certo momento quente entre nós dois, o que me fazia
utilizar os tais brinquedos que eu havia ganhado da minha mãe. Eu estava me
tocando pensando nele e nunca tinha feito uma coisa dessas.
Fico feliz quando vejo que o quarto que a senhora Magda me ofereceu
tem um banheiro. Posso tomar um banho bem gelado para me refrescar, e,
com toda certeza, o Anderson tem que fazer o mesmo, porque seu pau insistiu
em mostrar presença no nosso beijo. Era sempre assim: não queria pensar que
a nossa atração era apenas por causa do sexo, mas também ficava satisfeita
pensando que poderia ser somente isso.
Quando me deito, escuto o chuveiro ligado. Para piorar a minha
situação, ele estava no quarto ao lado. Isso só serviu para me excitar
novamente, imaginando-o completamente nu e molhado em seu banho
espumado. Chego até a pensar que ele poderia estar batendo uma por minha
causa.
Meu Deus, eu estou ficando louca.
Quando a casa fica em silêncio, posso, enfim, pensar sobre as últimas
horas. Tudo o que aconteceu na segunda foi apenas uma armação do Kauan,
porque simplesmente ele deduzia que eu e o Anderson estávamos juntos.
Bom, eu entendi dessa maneira por causa do que foi me passado, mas eu
também não poderia ignorar tudo e acreditar no Ander de pé junto; afinal, ele
chegou com aquela loira naquele dia da reunião com o Kauan, então
provavelmente eles têm algo que eu não entendo muito bem, e o Kauan se
aproveitou dessa situação para nos afastar.
Eu estou tão confusa! É como se todo o conhecimento que eu tenho
adquirido sobre os homens e sobre os seus talentos de enganação tivesse
piorado. Eu não imaginava que o Kauan pudesse fazer o que fez, mas eu
deveria ter desconfiado desde o início. Em que momento eu passei a acreditar
neles novamente?
São tantas coisas que passam na minha mente para que eu me proteja.
Por isso o medo constante de relacionamentos aumentava. Nos últimos dias,
eu me lembrei muito do meu antigo relacionamento, e eu sei que acabei
baixando a guarda quando o Anderson apareceu na minha vida, mas,
independentemente da ordem dos fatores, eu estou mais aliviada por não ter
transado com alguém comprometido. Não quero mais ter o meu nome
envolvido com esses dois. Estou cansada e com medo.
Claro que eu já entendi muito bem o que eu estou sentindo pelo
Anderson, mas, para me esquecer disso, eu preciso me manter longe dele, o
que está me parecendo algo impossível, já que nós dois nem conseguimos
ficar afastados quando estamos no mesmo ambiente. É uma provocação aqui,
um aperto de mão ali, e, quando eu menos espero, nós já estamos nos
beijando.
Encaro o meu celular mais uma vez, percebendo que eu não iria
conseguir dormir. Decido me levantar para pegar um copo de água. O relógio
já indica 2h26 da manhã, o que só me causa ainda mais desespero, porque eu
precisaria descansar para que o meu dia fosse produtivo.

Se eu soubesse que iria ficar na casa deles, talvez eu tivesse colocado


um pijama mais decente na minha mala, pois eu estou somente com um baby-
doll de seda rosa, supercurto e decotado. Essa vestimenta me deixa
desconfortável para sair do quarto. Certamente todos estão dormindo, pelo
silêncio da casa, o que me causa um alívio momentâneo e me permite ir até a
cozinha.
Saio com cuidado para não fazer barulho e agradeço aos céus a
iluminação que há nos corredores, que me guia até a cozinha. A casa dos
Magalhães é enorme e me confunde com facilidade, pois cada corredor
parece muito com o anterior. Perco-me nas várias portas que vou abrindo
durante o percurso e, enfim, encontro a cozinha. Não consigo encontrar o
interruptor para acender as luzes, então sou obrigada a usar a lanterna do
celular.
Termino meu copo de água e o deposito na pia. O temporizador da
minha lanterna indica que meu tempo acabou quando a luz do celular desliga.
Eu pego o aparelho de cima do balcão, vou em direção à porta para retornar à
cama, mas a tela do celular se acende com uma nova mensagem. Eu fico
desacreditada ao pensar que até de madrugada o maldito do Kauan me enche
o saco. Talvez eu deva responder algo para esclarecer as coisas e terminar
logo essa tortura. Mas, ao olhar para a mensagem, percebo que não é do
Kauan, e sim do Anderson.

"Sem sono?"

Minhas pernas tropeçam quando eu encosto em um corpo muito


maior, que acaba me dando um susto. Obviamente eu dou alguns passos para
trás antes de a tela acesa do meu celular denunciar seus olhos escuros
sentindo diversão no ar. Pior foi ver a nossa real diferença de altura: era
gigantesca, e eu só notei isso agora, porque é a primeira vez que estou sem
salto perto dele.
A pouca iluminação que entra na cozinha reflete em seu corpo
seminu, o que o deixa extremamente gostoso. Já que ele está usando apenas
uma calça de moletom, essa vista me faz perder o equilíbrio, e rapidamente a
minha mão se apoia no balcão da cozinha, tentando recuperar algo que eu
sentia que já havia perdido.
— Não vai me responder, “senhorita” Hanna? — Voltamos com essas
provocações? — Vai me tratar igual ao seu amiguinho? — Sua voz mais
grossa do que o normal sai sussurrada devido à nossa situação.
— Céus, quer me matar do coração? — Aconchego-me ainda mais do
mármore frio para poder me distanciar dele, enquanto minhas mãos vão em
direção ao meu coração acelerado.
— Não foi a minha intenção fazer o seu coração disparar… — Ele se
aproxima e pega uma das fitas do meu baby-doll, que desenha um laço entre
os meus seios. — Pelo menos não dessa maneira.
— Ander, não começa! — Puxo o fio que ele segurava, enquanto
tento manter a minha voz baixa. — Achei que estivesse dormindo.
— Como vou dormir com você no quarto do lado? É meio que
impossível uma coisa dessas. E você pretende me deixar maluco também
usando algo assim na minha casa, né?
Sinto o meu rosto queimar de vergonha. Ele se aproveita para me
prender entre si e a bancada. A cada centímetro que ele se aproximava, eu
prendo ainda mais a minha respiração.

— Não imaginava que eu iria dormir na sua casa. Você sabe que, por
mim, eu estaria em um hotel. — Pego um dos seus braços e tiro da minha
direção, fugindo dele. — Está muito tarde, eu vou voltar para a cama, preciso
dormir.
— Dormir? — Ele se encosta onde eu estava encurralada segundos
atrás, e seu corpo se ilumina pela luz da noite. Seu abdômen definido e
tatuado parece uma ótima miragem na qual estou impelida a me afogar. —
Você não estava conseguindo dormir, né? Vem para o meu quarto, que eu te
ajudo.
Eu sabia que ele estava aqui querendo sexo, era evidente em seu
sorriso a todo momento. Seu corpo dá sinal de que me queria, mas eu acabei
de pensar em me afastar dele. Por que as minhas justificativas não parecem
tão importantes agora?
— Você está se escutando, Ander? Olha o que você está me
sugerindo. — Aproximo-me dele para que escute os meus sussurros,
enquanto mantenho as minhas palavras firmes.
— Eu só ia te oferecer… — Seu sorriso idiota aparece. — Um
remédio.

Dessa vez sou eu que dou um sorriso cínico, mantendo o som dentro
da minha garganta. Ele acha que sou boba por acreditar em algo tão besta
como essa conversa?
— Vamos fingir que eu acredito nessa besteira que você acabou de
falar. — Minha respiração pesada vibra pela cozinha, que se completa com os
nossos sussurros. — Eu não preciso da sua ajuda para nada!
— Você e essa sua boca atrevida. Sabe que quanto mais você fala
comigo desse jeito, mais eu tenho vontade de te foder, né?
Meus olhos se arregalam na mesma hora ao escutar as suas palavras
sem filtro. Ele sabe muito bem arrancar o meu ar e até a minha consciência, e
isso me esquenta.
— Ander! — repreendo-o enquanto me sinto culpada só de escutar
uma coisa dessas e olho à nossa volta, para ter certeza de que mais ninguém
estava escutando aquilo.
— Eu gosto muito do som do meu nome na sua boca.
— Não me fale essas coisas.
— Que eu quero te foder ou que eu gosto quando você me chama
assim?
Reviro os olhos para ele, que, na mesma hora, dá uma risada fraca ao
me observar, reagindo com desespero. E, então, seus passos ficam a menos
de 30 centímetros de distância.
— As duas coisas!
— Por quê? — Seu cheiro está tão próximo, que eu identifico o seu
banho recente. — Você sabe que eu sou bem sincero.
— Eu sei que você gosta de dizer o que pensa. Não significa que você
seja sincero.
— Estou pensando agora mesmo que eu quero transar com você de
novo! — Minha mão vai até a sua boca imediatamente para que ele pare de
falar.
— Chega!
— Desculpa, mas esse spitz-alemão não será tão obediente hoje!
Um pequeno movimento dele mordendo os lábios e se aproximando
de mim é o suficiente para que eu caia em contradição e para que comecemos
a nos agarrar. Suas mãos já estão familiarizadas com o meu corpo, e elas se
espalharam por ele todo, puxando-me para o seu colo. Sim, eu estou com as
pernas em volta da sua cintura enquanto ele me segura pela bunda, totalmente
grudada em seu corpo. Nossas línguas sabem excitar o restante dos nossos
corpos, e elas brincam com as nossas sensações de tesão e irritação,
formando uma dupla inseparável.
— Para de falar assim comigo… — sussurro, enquanto ele me separa
do seu corpo por breves momentos, apenas para me colocar em cima do
balcão. — Você não tem esse direi…
O som da minha voz acaba no momento em que as suas mãos
deslizam nas laterais do meu corpo e chegam até meus seios, tornando aquela
sensação uma tortura constante, por seus dedos se apoderarem dos meus
sentidos e arrepiarem o meu corpo todo ao encostar em meu mamilo.
Como chegamos tão rápido aqui?
— Pode terminar de falar, não estou te impedindo.
Seu sorriso aparece novamente, e ele se aproxima do meu peito, por
cima do tecido fino do baby-doll. Os bicos dos meus seios se destacam,
atiçando seus dentes, que foram diretamente para aquele ponto, molhando a
seda do meu pijama e umedecendo outras áreas do meu corpo também.
Enquanto isso, meu outro seio é torturado pelos seus dedos, que me fazem
segurar o gemido sufocado enquanto minhas mãos apoiam o meu corpo no
mármore.
— Ander, não podemos… — Suspiro, quase sem voz. — Não aqui!
— Meus olhos se fecham, saboreando aquela sensação e sabendo que eu nem
estava mais consciente.
— Ótimo, vamos para o meu quarto! — Ele para imediatamente o que
estava fazendo e me puxa, colocando-me sobre o seu ombro tão rápido, que
até chega a me dar tontura.
Abafo um grito com a minha mão enquanto me questiono como ele
consegue me carregar sem a menor dificuldade e com todo o direito que ele
não tem sobre o meu corpo pelos corredores da casa dos seus pais.
— Ander, me solta!! — O repreendo novamente, tentando me
levantar, mas seus braços me prendem com força.
— Vai acordar os meus pais se continuar falando alto assim, e, se eu
te largar no chão, o barulho vai ser maior! — Ele sussurra com seu tom de
diversão e dá um tapa na minha bunda, assustando-me novamente, ecoando o
som pelo corredor.
Meu Deus, o que eu estou fazendo da minha vida?

— Não foi isso que eu quis dizer, e você sabe muito bem. Me solta!
— Tento me comunicar mesmo estando de cabeça para baixo.
— Exatamente. Eu sei muito bem o que você quer me dizer, então não
importa muito a desculpa que você for inventar agora, porque eu sei o que
nós dois queremos. — Ele entra dentro do seu quarto e tranca a porta.
— Me coloca no chão! — Apoio minhas mãos nas suas costas para
não ficar ainda mais tonta.
— Desculpa, mas o seu corpo fica bem melhor no meu colchão. —
Em segundos, a minha pele se encosta no edredom, que já estava bagunçado.
Sem deixar espaço para qualquer outra reação minha, ele me ataca
com os seus lábios novamente, misturando a nossa saliva quente, o que só
serve para excitar partes bem indecentes dos nossos corpos.

— Anderson, espera! — Empurro o seu rosto para me livrar da sua


boca.
— Você não quer?
Seu olhar me encara seriamente enquanto o movimento das suas mãos
retorna aos meus seios juntamente com a sua língua, e eles reagem aos seus
toques como os traidores que são. Seus dedos se divertem enquanto deslizam
para baixo da minha regata e, enfim, chegam aos meus mamilos, tirando-me
do meu raciocínio.
— Droga, pare com isso! — As palavras que consigo dizer não
condizem com o que eu estou sentindo. Empurro-o para tentar dizer alguma
coisa, e seus olhos finalmente entendem as minhas renúncias. — Não
podemos!
— Você realmente não quer? Porque eu estou sedento por isso,
sedento por você desde quando fizemos isso aquele dia da balada. — Ele não
para com os movimentos em meus mamilos só porque está me analisando. —
Você simplesmente saiu da minha casa aquele dia e não conversamos mais.
Sabe o quanto eu sonhei com isso? O quanto eu pensei em você? O quanto eu
quis mais?
— Sonhou com isso?— Seu sorriso retorna, e seu corpo começa a
descer, passeando em mim com aqueles dedos pecaminosos. Ele não parou,
apenas se guiou para o meu ponto central, enquanto eu ainda processava as
suas palavras.
— Sonhei, sonho sempre com esses seus olhos verdes. Chega a ser
aterrorizante o fato de não poder te tocar e de que, quanto mais eu tento, mais
você se afasta… — Sua mão entra no meio das minhas pernas através do meu
shorts folgado e encosta no meu clitóris. Porra que maldito! — Você está sem
calcinha??
Ele se surpreende ao perceber e me olha no mesmo instante,
esquecendo seu antigo assunto.
— Não fala alto! — Meus dedos tentam afastar os dele. — Eu durmo
sem calcinha às vezes. Tire a sua mão daí!
— Eu ainda não sou louco de deixar o meu sonho que já está na
minha cama escapar dos meus braços. — Por que ele tinha que ser esse
idiota convencido? E que papo de sonho é esse?
Antes mesmo que eu possa dizer mais alguma coisa, seu rosto se
encaixa entre minhas pernas e, com movimentos rápidos, suas mãos puxam o
meu shorts para o lado. Em seguida, sua língua adentra a minha intimidade,
deixando-me sem fôlego, enquanto a minha mente só grita o quanto eu estou
sendo fraca por deixá-lo me possuir assim, com poucos toques e beijos, mas
ele sabia muito bem o que conseguia fazer com a língua; então, eu deixei.
Longos e torturantes minutos se passaram com o movimento
repetitivo da sua língua em minha intimidade, que queimava de tesão, e um
dos seus dedos descobriram rapidamente o quanto eu estava molhada quando
preencheu o espaço dentro de mim, fazendo-me gemer e quase rasgar os
lençóis com as minhas unhas. Seguro meus sons por medo de me escutarem e
simplesmente me esqueço da minha resistência nessa situação ao notar quão
difícil é aguentar aquela habilidosa função que a sua boca me proporciona.
Por mais que eu tente me lembrar do quanto isso é arriscado, meu
corpo faz questão de tornar a minha mente em uma morada de prazeres
carnais, saciados pelo homem que eu imaginei me fodendo enquanto eu me
masturbava quase todas as noites no meu quarto. E vê-lo tão concentrado em
mim me derrete ainda mais, fazendo eu esquecer, de novo, e de novo, o fato
de que não quero entrar nessa situação perigosa.
— Você achou mesmo que eu iria aguentar dormir hoje sem colocar
as minhas mãos em você? — Ele para de me lamber para falar, e a frustração
me toma.
Que merda eu fui inventar quando aceitei dormir aqui?
Seus dedos continuam os movimentos sem calma, deixando-me
completamente sem ar a cada centímetro alcançado. Já seu corpo estava
começando a suar, o que tornava a sua pele ainda mais linda. Apenas uma luz
distante está acesa em seu quarto, deixando-me confortável pela pouca
luminosidade.

— Vai me torturar até quando? — digo, com uma certa raiva, e ele
sorri.
— Até eu ver você prestes a gozar. — Seu dedo gira dentro de mim,
e, sem aviso, ele coloca mais um dedo, fazendo-me arquear. — Daí quem
sabe eu deixo você explodir com os meus dedos.

Puta merda! Ele já sabia que o meu orgasmo estava preparado para
vir a qualquer momento depois do trabalho bem-feito com a sua língua.
Sua outra mão segura minha cintura, puxando-me para o seu colo,
enquanto ele se ajoelha na cama, encaixando nossos corpos sem parar a
loucura que fazemos, e demonstrando mais e mais que não tem escapatória
para o nosso sexo. Minhas mãos seguem até o seu cabelo, que ainda cheira
frescor pelo seu banho; já os meus cabelos grudam no meu pescoço, deixando
desconfortável a sensação de calor em meu corpo. Eu quero urgentemente
terminar o vaivém incessante dos seus dedos.
Em seguida, os seus lábios se encostam nos meus e me procuram para
mais. Nosso beijo até que é calmo, em vista do que está acontecendo na
minha parte de baixo. Encaixo minhas pernas na sua cintura, encostando
ainda mais nossas intimidades, e seu membro duro permanece se esfregando
em mim, deixando um sinal molhado acentuado na sua calça.
— Para… por favor — suplico, em um tom de repreensão por não
aguentar mais sentir os seus dedos só me provocando sem que eu alcance
alívio.
— Acho que eu quero ver até onde você aguenta. — Merda!
O terceiro dedo que ele tenta colocar é a minha linha de barreira, não
tem como eu suportar, ainda mais porque o seu polegar atinge o meu ponto
fraco, que está melado de tanto ser estimulado. Eu estou prestes a gozar, mas
já estou com receio de ele me parar.
— Você está se segurando, né? Eu estou sentindo, aqui dentro. — Eu
apenas sorrio como resposta.
Dá para me escutar. Eu estou segurando os gemidos, mas o ar que sai
dos meus pulmões a cada estocada dos seus dedos é impossível de reter. O
som no quarto é apenas o da minha boca e dos seus dedos, que se chocam
contra o meu sexo molhado.
Tento prolongar o meu máximo para que, no fim, ele simplesmente
me deixe gozar em tremores contidos na sua mão, que com toda certeza está
toda encharcada. E, para que eu não faça nenhum barulho ao atingir o meu
ápice, ele me cala com os seus lábios, o que fez aquele momento ser ainda
mais delicioso.
— Não se segure da próxima vez!
Se eu não estivesse completamente em êxtase pelo orgasmo
maravilhoso que eu acabei de ter, com certeza eu falaria algo a respeito.
Como ele poderia ter tanta certeza de que teríamos uma próxima vez? Mas
minha mente só me pergunta por que eu me privei tanto disso tudo?
Afasto os meus pensamentos antes que eles cheguem até o homem do
meu passado, quando percebo que o real motivo de eu nunca mais ter me
deitado com ninguém era ele.
Meus sons permaneceram pesados mesmo eu tentando segurar o eco
no quarto silencioso. Ele me beija, abafando minha respiração, e, entre suas
mãos, o suor pegajoso dos nossos corpos escorria, enquanto nossas línguas se
entrelaçavam novamente. Sou despida em poucos segundos pelas suas mãos
grandes, ficando apenas com o meu pequeno shorts molhado no centro das
minhas pernas.
Meus seios pequenos já estão arrepiados desde o início dos seus
toques, mas agora, com eles desprotegidos, minha insegurança está maior.
Eles estão levemente inchados por terem sido usados para me excitar. Como
eu já não me sentia bem com o tamanho deles, quero me esconder na mesma
hora.
— Sabe o quanto eu queria isso? — Ele começa a abaixar a calça,
ficando apenas de cueca.
— Ficar nu? — brinco com ele, sorrindo, e meus olhos procuram algo
para me cobrir.

Puxo um dos travesseiros para o meu peito, escondendo-me


rapidamente da vergonha de estar despida. Da última vez, eu bebi algo muito
alcoólico e estava mais tranquila em estar nua; desta vez, não era bem assim,
e tinha mais luzes nesse quarto.
— Errado. Ficar nu com você. — Ele me corrige, e, então, eu sou
segurada no mesmo instante. — Você é linda, Hanna. Eu quero ver cada
pintinha do seu corpo, não quero esse travesseiro te escondendo.

Meu rosto queima, porque, de verdade, eu não queria atenção neles,


mas eu sei que não adiantaria começar a discutir neste momento. Então, solto
o travesseiro, que é rapidamente jogado em direção à parede, derrubando um
quadro que estava ali.
— Ander! — repreendo-o o mais baixo possível por causa dos sons
altos causados pela queda.
— Droga. — Ele encolhe os ombros pelo seu ato.
— Pare de ser irresponsável! — Tento me manter séria, mas o meu
sorriso não sai da minha face. Seu rosto o deixa sexy demais.
— O sono deles é pesado, relaxa! — Sua mão corre pela minha
barriga, entrando no meu shorts, e ele o tira em um único movimento,
fazendo eu me esquecer momentaneamente do que havia acontecido.
Eu não tenho pelo algum na região, porque, depois de tantas sessões
de depilação a laser, mais nada nasce ali. Minha intimidade não me causava
tanta vergonha como os meus seios pequenos. Para mim, eles eram
insuficientes. Acho que cabem na palma da minha mão.
Tento tirar a sua cueca com os dedos dos meus pés e claro que eu não
consigo. Mas já dá para ver a cabeça do seu membro melada, e confesso
quase ter esquecido sobre o quanto ele é tão indescritivelmente grande e
grosso. Foi esse seu negócio que me fez sentir dor por uns dois dias depois do
que fizemos. Meu pé se coloca em cima da sua ereção, pressionando ainda
mais contra a sua pele, e o sorriso dele aumenta, gostando do que estou
sentindo. Suas mãos pegam minha perna e, então, ele agarra o meu calcanhar.
— Já tenho um fascínio bem grande pelo seu pé, sabia?
— Sonha com ele também? — Sinto o carinho que ele faz, relaxando
meus dedos e me causando cócegas ao mesmo tempo.
— Você nem imagina! — Ele só o larga para poder tirar a cueca.
Ander permanece ajoelhado na cama e me puxa ao seu encontro,
encostando dessa vez sem tecido algum nossas intimidades quentes e
molhadas. Ele se esfrega na minha entrada, e sinto como se meu útero pedisse
por ele cada vez mais forte enquanto me tortura com a repetição do vaivém
em cima do meu clitóris.
— Coloca logo a camisinha. — Abafo o som em seu ouvido quando o
puxo para se deitar em cima de mim.
— Você manda tanto em mim, que eu estou começando a achar lindo,
sabia?
Seu olhar me encara, e eu sei o quanto ele quer me foder. Ele estava
se segurando muito para não acabar de uma vez com a nossa tortura, mas, em
segundos, ele muda, como se algo estivesse errado. Então, escutamos passos
no corredor. O desespero entra em meu corpo na mesma hora que a primeira
batida atinge a porta do seu quarto. Eu sabia que isso iria dar merda!
— Fique em silêncio, nada vai acontecer! — sussurro em seu ouvido,
enquanto simplesmente eu a deito na cama e busco a minha carteira na
cabeceira para pegar a camisinha, agindo na maior naturalidade.
Quem quer que sejanão conseguiria entrar no quarto, porque a porta
está trancada e, pelo horário, provavelmente não se esforçaria em me
“acordar”.
— Você não pode estar falando sério, Anderson! — Ela fala mais
baixo ainda, ressaltando o meu nome inteiro, que meu se excitar ainda mais
em resposta a essa situação por estar grudado em sua boceta, essa voz…
— Filho, está acordado? — Minha mãe sussurra do lado de fora do
quarto.
Permaneço imóvel e encosto meus dedos nos meus próprios lábios,
fazendo sinal de silêncio para Hanna enquanto deslizo o meu pau na sua
entrada mais uma vez, observando os seus olhos se arregalarem ainda mais
com a minha atitude. Como se nada estivesse acontecendo, desembrulho a
camisinha e encaixo na ponta do meu pau, trazendo as mãos dela para perto
do meu membro, enquanto ela percebe e entende a sua nova missão.
— Filho? Escutei alguns barulhos. Está tudo bem? Foi aqui? —
Escutamos novamente, e minha mãe dá outra batida fraca na porta.
— Coloque. — Suas reações tão ingênuas me excitam quando o pavor
corre pelos seus olhos e ela foge do meu ato.
— Você está louco? — Seus lábios trêmulos imploram para que essa
situação acabe, e eu me divirto, esfregando novamente o meu membro em
seu clitóris, fazendo um pequeno suspiro sair pela sua garganta.
Isso está uma delícia!
— Não faça barulho — digo em seu ouvido enquanto pego a sua mão
novamente e a coloco sobre a camisinha, ajudando-a a se desenrolar.
Ainda sentimos a presença da minha mãe do lado de fora do quarto
por escutarmos alguns sussurros dela falando com sigo mesma, mas isso só
faz o momento ser ainda mais emocionante.
Hanna permanece com as suas pequenas mãos em mim sem se mexer,
como se a cama fosse gritar que estávamos ali. Eu me aproximo novamente
dos seus seios e os assopro, vendo sua pele se arrepiar novamente.
Propositalmente passo minha língua por um deles, sentindo seu corpo
responder tão prontamente preparado para me receber, mesmo com o seu
medo crescendo.
Ela segura sua voz presa na garganta enquanto eu continuo a instigar
seus mamilos tão lindos, que estavam cada vez mais duros. Minhas mãos, que
ainda estavam sobre as suas em meu membro, instigam novos movimentos
em mim, masturbando-me com os seus dedos enquanto eu me delicio em seus
seios. Ela é tão perfeita, que me seguro em cada segundo para não me
descontrolar e acabar mordendo-os.
— Qualquer coisa é só me chamar. Eu vou subir! — Minha mãe se
mantém silenciosa, provavelmente com medo de acordar os demais nos
outros quartos.
Escutamos os seus passos se distanciando, e eu me afasto do meu
mais novo vício — seus seios — para ajeitar as suas pernas em volta da
minha cintura. Enquanto a mantenho deitada na cama, endireito-me de
joelhos para entrar em seu corpo com urgência, não deixando brecha para
nenhum pensamento.
— Agora você pode gritar, senhorita mandona!
A boceta pequena e apertada que ela tem faz seu corpo arquear com a
brutalidade da minha pressa. Hanna, então, abafa um gemido, mordendo os
seus lábios ao me receber. Eu não facilito seu sofrimento e me coloco para
dentro dela novamente, mesmo sem o seu interior ter se acostumado comigo.
Seus braços procuram por outro travesseiro para poder se esconder de mim e
também para que os seus sons saiam mais baixos. Percebo que, desta vez, ela
está mais envergonhada do que da primeira vez em que transamos.

— Se tentar se esconder de novo, eu vou jogar esse travesseiro na


parede também. — Pego os seus punhos e prendo-lhe as mãos acima da sua
cabeça para me deitar sobre ela. Talvez, com os nossos corpos encostados, a
vergonha não apareça.
— Você é realmente um louco! — Hanna cochicha em cima dos meus
lábios e me beija em seguida, desencadeando ações que eu não consigo
controlar, e eu me afundo ainda mais nela.
Ela geme em meu ouvido quando nosso beijo se desfaz, e, se eu não
me segurasse, poderia gozar imediatamente pelo seu som tão gostoso.
Consigo entender por que os meus sonhos não me entregam esses sons que
ela faz, já que são um pedaço do paraíso.
Enquanto sinto a base do pau se molhar pelo mel que ela produz,
insisto em fazer os movimentos lentos, indo e voltando, sem pressa alguma.
Seu cheiro de creme de pêssego se impregna no meu quarto inteiro, e eu
tenho uma leve impressão de que amanhã ele ainda estará presente aqui nos
lençóis, entregando o sexo que estamos fazendo.
Encaixo as minhas mãos na sua cintura e forço meus movimentos
cada vez mais fortes para dentro dela. Eu até tento me desvencilhar, mas
nossos beijos se transformam em mãos com apertos marcantes, chupões
avermelhados para todos os lados, arranhões descontrolados e mordidas
leves: isso tudo combinado com a necessidade inquietante de torná-la
inteiramente minha. Nossos movimentos incessantes e agora mais rápidos
produzem sons mais altos, e, em cada ponto que ela desliza suas unhas em
meu corpo, eu me arrepio, forçando minha lucidez a permanecer para que não
a ataque feito um animal no cio.
Giro o seu corpo, deitando-me na cama para poder observá-la por
cima de mim. Suas curvas chegam a parecer uma escultura com a luz perfeita
do meu quarto lhe iluminando as cavalgadas incessantes. Ajudo nos seus
movimentos, pegando sua bunda e lhe apertando a cintura para baixo,
percebendo sua satisfação em cada estocada. Os cabelos longos de Hanna
encostam na minha perna toda vez que a sua cabeça pende para trás.
Mantenho-me no nosso ritmo, sem deixá-la parar.
Se ela não tivesse que se segurar em meus ombros para continuar com
os seus movimentos de cavalgada, com certeza esconderia os seios de mim,
mesmo eu os considerando no tamanho exato para as palmas das minhas
mãos, que se aproveitavam da nossa posição.
— Para, por favor! — Ela fala, baixo, quase explodindo em seu
segundo orgasmo, já cansada de rebolar em mim.
— Olhe para mim! — Solto sua cintura rapidamente, buscando pelos
seus olhos verdes.
— Ander, eu não aguento mais. — Seu rosto está vermelho, e sua
boca entreaberta ressoa sua respiração.
— Aguenta, sim! — Volto-me novamente para dentro dela sem parar!

— Mais rápido… — Hanna pede, quase em um gemido, e eu realizo o


seu desejo no mesmo instante.
Sem perder a nossa sincronia, eu me movo mais forte e acelerado
junto com ela, quebrando-me por completo em uma onda de prazer que se
atraca dentro de mim, indicando que poderíamos novamente explodir em um
único movimento.
— Não pare de olhar para mim! — Ajudo o seu corpo em mais alguns
movimentos.
Hanna não sabe se fala ou se puxa o seu ar, mas, independentemente
do que decidisse, eu não a deixo tentar. Movo-me na cama para ir até os seus
lábios, procurando novamente em seu beijo a minha fuga.
Nossas línguas duelam enquanto nossos corpos se fundem com a
nossa ligação de prazer estourando o desejo incessante que sentimos um pelo
outro, e eu não posso evitar jogá-la novamente contra o edredom para atingir
o seu ponto de orgasmo junto com o meu.
Posso sentir todo o seu interior se contraindo contra o meu pau, e a
sua voz se torna a minha maior perdição. É maravilhoso ter a possibilidade de
fazê-la se sentir assim em meus braços e ainda poder guardar em minha
mente cada detalhe do nosso sexo.

Meu peito parece querer explodir com a sensação louca da nossa


transa, enquanto Hanna aos poucos retorna ao seu estado calmo nos segundos
seguintes em que suspira com as nossas testas encostadas.
— Você vai me matar qualquer dia desses — comento, com a voz
cansada.
— E quem te garante que isso irá acontecer de novo? — Ela fala,
demonstrando a sua brincadeira em um sorriso de canto.
— Eu garanto! — Deito-me ao seu lado, puxando-a para os meus
braços e sentindo o arrepio da nossa conexão, rompida após nossas partes se
afastarem.
Puxo a coberta, que está quase caindo da cama, para cima dos nossos
corpos, querendo mantê-la ali enquanto o meu próprio cérebro me alerta de
que nunca mais eu conseguiria dormir naquele quarto sem me lembrar da
noite de hoje.
— Eu acho que a gente deveria parar com isso. — Suas mãos
passeiam em minha tatuagem no peito.
— Com essa birra besta? — falo, enquanto Hanna se ajeita em meu
braço e nossas pernas se entrelaçam no momento em que o sorriso fraco
aparece em seus lábios.
Mesmo sem conseguir enxergar o seu sorriso por completo, tenho a
maior certeza de que ele ainda é o mesmo irresistível que pude ver aquele dia
no salão do seu aniversário.
— Isso também! Mas estou falando disso aqui! — Hanna gesticula
com os dedos, sinalizando os nossos corpos, e, então, eu sinto a pressão me
cercando.
— Eu não acho. — Seguro-lhe a mão e a beijo, formulando em minha
mente o que eu deveria dizer. — Hanna, eu gosto de quando estamos
juntos…
— Ander, nós dois sabemos que essa nossa relação trará problemas
futuros. — Sua fala me interrompe. — Na verdade, já está trazendo… — Sua
voz soou sonolenta demais, e eu nem sei como ela ainda conseguia falar. —
Toda essa situação do Kauan armar algo para tentar nos afastar, ou de ele
forçar aquele beijo comigo, isso não deveria estar acontecendo. — Seus
dedos simplesmente param de me desenhar. — Antes de vocês dois
aparecerem, a minha vida era bem mais calma.
Encaro o seu rosto na mesma hora e observo seus olhos fechados após
suas palavras enroladas de sono cercarem a minha mente. Meu coração
disparou por ter escutado sua revelação, ao mesmo tempo que eu rapidamente
encaixo todas as minhas suposições sobre a amizade dos dois.
Tento manter a calma ao descobrir o que o Kauan fez com ela, porque
agora a Hanna estava totalmente indefesa cochilando em meu peito com o seu
rosto relaxado.
Ele tentou forçar um beijo? Quando foi isso? Ele chegou a conseguir?
Passa em minha mente a última vez que estivemos juntos e ele a
convidou para jantar. Se ele foi capaz de forçar um beijo, será que ele tentou
algo a mais nesse jantar?
Claro que a possibilidade de os dois já terem se beijado passou pela
minha cabeça; afinal, o Kauan sempre me contava sobre os encontros com a
Hanna. Mas, após algumas conversas indiferentes que tivemos, porque eu não
quis mais escutar sobre esse assunto, ele parou de falar.
Pelo que será que ela vem passando nesses últimos meses com esse
idiota? Merda, esse tipo de preocupação é coisa nova no meu coração, e eu
não quero deixar que mais nada aconteça com ela.
O desespero no fundo da minha mente me alerta sobre algo errado,
algo fora do lugar. Aquele som deveria estar ali? A neblina que cega os meus
olhos parece pesada demais para que eu possa erguer minhas pálpebras, mas
eu consigo sentir o sol quente na minha pele.
Pequenos beijos no meu pescoço descem e sobem pela minha pele,
causando-me cócegas. Um único movimento que realizo me faz sentir a falta
de tecido em meu corpo, e, novamente, uma montanha de informações caem
sobre mim, de modo que abro os olhos imediatamente no susto dos meus
atos.

Não, não, não, não, não, não, não! Isso não era para acontecer. Por
que eu simplesmente aceito tudo que vem dele quando estamos juntos?
Encaro o chão e vejo a prova do crime: o quadro que fez barulho ontem e
acordou sua mãe estava caído no chão com a lateral quebrada; fora o meu
baby-doll, que também estava por ali.
— Bom dia, fujona. — Sua voz grossa em meus ouvidos me
confirmam as minhas memórias, e percebo que estamos de conchinha.
Pulo da cama no mesmo instante, querendo sumir de tanta vergonha, e
puxo comigo um pedaço do lençol, cobrindo o meu corpo, que está
estranhamente relaxado demais após o que fizemos. Com certeza o meu rosto
revela o meu arrependimento de novamente ter feito isso, mas é claro que a
minha mente já estava em uma confusão diferente por saber que aquilo tudo
não era tão errado assim.

— Ei, calma. — Ander está somente de cueca, deitado, e eu consigo


ver o seu pau marcado sob o tecido.
— Merda! — É a única coisa que consigo dizer enquanto desvio o
meu olhar para o meu celular caído no chão.
— Ainda é cedo! Tenho certeza de que não está atrasada. Volta aqui!
Deus, por que o sexo relaxa tanto a gente? Eu dormi assim que
terminamos e, pensando nisso agora, tenho uma vaga lembrança de que o
Anderson estava falando comigo, ou seja, ele me viu dormindo, e isso é
muito vergonhoso. Eu poderia ter voltado para a minha cama, mas aqui estou
eu, vendo o spitz-alemão balançando o rabinho por ter conquistado o
ossinho!
Isso significa que eu era o osso, né? Merda!
— Eu preciso de um banho! — Olho para a porta do seu banheiro.
Seus movimentos são cautelosos, como se eu fosse fugir caso ele
fosse bruto demais em vir até mim — e, francamente, eu acho que iria sair
correndo se ele fizesse isso. Mas permaneço imóvel, esperando pelo seu
próximo passo. E lá está ele, de pé na minha frente.
— Para com essa vergonha. Eu já encostei nesse corpo todo e
provavelmente já fiz até um mapa das suas pintas na minha mente. — Ele
pega em uma das mãos que eu estou segurando o lençol e a puxa para si.
Eu tenho certeza de que o Anderson deve ser algum tipo de tarado por
marcas nos corpos das pessoas, porque ele nunca deixa de citar o quanto nota
as pintas pelo meu corpo, e todas as vezes eu me sinto totalmente pelada
quando ele as menciona. Pior que agora eu estou mesmo.
— Você é um pouco obcecado pelas minhas pintas, né? — Semicerro
os meus olhos, sentindo-me estranha por ele estar tão perto.
— Elas têm um certo charme, eu confesso. — Mais um sorriso
aparece.

Olhando para ele agora, nem parece aquele homem de poucos sorrisos
que eu conheci no meu aniversário, mas não era apenas um sorriso comum:
ele estava pensando em mim nua e onde as minhas pintas se encontravam no
meu corpo.
— Para de me olhar assim. — Desvio os meus olhos dos dele e sinto
quando sou puxada para mais perto.

— Como eu imaginei, você vai voltar a fugir, né?


— Não estou fugindo, eu realmente preciso de um banho. — Fico
sem jeito com a sua atitude. Ele está diferente, não consigo identificar o
porquê.
Olhos mais atenciosos, talvez?
— Vamos tomar um banho juntos, então! — Ander puxa o lençol em
sua direção, e é claro que eu vou junto para não ficar pelada no meio do
quarto, mas infelizmente minha opção acaba com a sua mão na minha bunda.
— Quem te deu esse direito? — Tento tirar a sua mão do meu
traseiro, mas é totalmente em vão.
— Você, ontem de noite, suplicando para eu entrar mais rápido em
você!
Porra, maldito convencido e descarado! Como ele pode fazer isso
comigo? Sinto a minha raiva crescer vendo seu sorriso, vitorioso por ter
conseguido novamente o meu corpo apenas por ter me encontrado no meio da
noite.
— Idiota! — Afasto-me dele, jogando o lençol no chão para entrar no
banheiro, enquanto ignoro completamente o fato de eu estar nua.
Tranco a porta antes que ele possa tentar entrar, mesmo eu
imaginando que ele nunca forçaria algo como o Kauan fez. Sigo para o meu
banho rápido e quente, prendo o meu cabelo e deixo a água limpar o meu
corpo, que, na verdade, está aceso, sedento por mais, suplicando por mais do
seu toque firme e determinado.
Olho para a minha pele através do espelho de cima da pia e percebo
vários pontos com pequenos chupões por onde a sua boca passou e brincou
comigo. Sorte a minha que são em lugares fáceis de esconder.
Desisto do meu banho quente nos primeiros segundos e logo mudo a
água para gelada. E o que eu queria que fosse um banho relaxante me fez
terminar o quanto antes para parar de ter os flashbacks das suas mãos em
mim me fazendo gozar. Enrolo-me na toalha e saio, encontrando o quarto
vazio. Para a minha própria surpresa, eu estava esperando que ele estivesse
ali para me irritar mais um pouco com aquelas falas indiscretas.
Ele havia ajeitado o meu pijama e o dobrado em cima da sua cama.
Então, eu me vesti rapidamente, mas o vestígio do nosso sexo estava ali, nos
lençóis bagunçados.
Volto para o quarto ao lado, que era onde eu deveria ter dormido, e
me sinto uma sortuda por não esbarrar com ninguém. Escolho o único vestido
que eu trouxe, pois não imaginava que Brasília fosse tão quente. Esta opção é
a mais refrescante no momento: é um vestido rodado e florido em um verde-
musgo musgo. Calço também sandálias confortáveis na cor bege. Em
seguida, ajeito a minha mala para poder ir embora, mas esbarro com a dona
Magda no corredor assim que abro a porta. Minha mente me repreende na
mesma hora pelo que eu fiz em sua casa.

— Bom dia, querida. Dormiu bem? — Ela não parecia saber de nada
da noite passada, já que mantinha o mesmo sorriso da noite anterior.
— Muito bem, obrigada por ter me oferecido um quarto tão
confortável. Você tem que ir para Curitiba agora, para eu poder retribuir esse
carinho! — Sinto-me culpada por mentir na sua cara.
— Vou combinar com o Andres, e iremos, sim! Agora vamos tomar
um café? Já está tudo na mesa. — Café? E eu achando que iria conseguir sair
cedo daqui.
— Eu adoraria!
Caminhamos juntas até a cozinha, onde os dois garotos dos
Magalhães se provocavam em uma conversa esquisita, com cotoveladas e
sorrisinhos sarcásticos. Eu ainda não me acostumei com a semelhança entre
eles dois. É exatamente como se eu estivesse vendo o Anderson mais novo.
Quando o Anthony me vê entrar, ele abre um sorriso com a mesma
simpatia da noite anterior e se levanta. Eu entendi que ele quer que eu me
sente ao lado do seu irmão, o que, de verdade, eu não quero.
Encaro os seus dedos, que parecem trêmulos segurando seu copo de
suco de laranja ao meu lado. Eu notei naquele almoço que Hanna gostava
desse suco, então saí mais cedo do quarto para pedir à minha mãe que fizesse,
já que nós não tínhamos costume de tomar isso de manhã. E agora estou feliz
de ela ter escolhido justamente o suco para beber.
Nós nos sentamos exatamente como na noite anterior, com exceção
do meu pai, que ainda está dormindo. Minha mãe permanece do outro lado da
mesa com o meu irmão, e eu e Hanna de frente com eles.

Hoje ela simplesmente decidiu acabar comigo usando um vestido que


a deixava com um ar de “garota boa”, coisa que ela não é, já que gosta tanto
de me xingar e me provocar com aquela boca atrevida. Seus seios estão tão
apertados no tecido, que marcam perfeitamente o desenho deles, fazendo-me
lembrar que há algumas horas eu estava apertando aquela pele macia.
— Desculpe, querida. O Adriano não tem costume de acordar cedo.
Talvez mais tarde ele venha tomar um café. — Minha mãe justifica a
ausência do meu pai.
— Não se preocupe, dona Magda. Esta sexta está maravilhosa para
dormir um pouco mais, né?
— Eu mesmo só acordei cedo para me despedir de você, senhorita
Hanna. — Tony abre a boca para começar a falar as primeiras merdas do dia.

Hanna leva na brincadeira, e eu vejo a minha mãe mexendo a perna,


provavelmente para acertar o meu irmão, e ela simplesmente ignora a fala
dele para que a nossa convidada não note a falta de respeito do engraçadinho.
— Eu adoro acordar cedo e aproveitar esses dias quentes. — A
princesinha dos Menezes escolhe os morangos para comer e, então, seus
dedos os levam para a sua boca, mordendo a fruta de uma maneira que o
líquido vermelho escorre pela sua mão.

Porra, agora o adolescente da mesa parece eu. Passo a mão na testa e


foco o meu café. Meu irmão tenta reclamar de algo com a minha mãe, e a
atenção dela sai da gente. Então, eu aproveito para provocar a ditadora.
— Por que não aproveitou para ficar na cama comigo, então? —
sussurro em seu ouvido, e ela bate o seu cotovelo em minha costela. — Ai!
— Cale a boca! — Entrego-lhe o guardanapo para que limpe as mãos.
— Filho, ontem de madrugada, escutei um barulho no seu quarto!
Estava dormindo? — Dona Magda relembra o momento que eu achei que
seria esquecido.
— Eu também escutei! — Anthony fala. — Levei um susto, já que eu
durmo no andar de baixo, e o som veio do teto.
Merda, eram dois contra um.
— No meu quarto? Que estranho, eu estava dormindo — falo com
naturalidade e percebo que o rosto da Hanna já está da mesma cor do
morango que ela comia.
Se a pergunta fosse feita para ela, com toda a certeza ela iria engasgar
ou acabar entregando a verdade. Está escrito em seu rosto que fizemos algo
na noite passada, e, para piorar o seu estado de espírito, eu encosto a minha
perna na dela, esfregando os nossos joelhos.
— Eu acho que o som veio de lá. — Minha mãe volta a falar sobre o
assunto.
— Veio de lá sim, mãe! — Meu irmão já está me encarando de uma
maneira estranha. Ele poderia entender o que aconteceu a qualquer momento.
— Se não foi no seu quarto, filho, pode ter sido no seu, Hanna, que
era do lado. Aconteceu algo, querida? — Hanna solta o copo e sorri
nervosamente.
— Acho que foi no quarto do Anderson. Eu escutei um barulho vindo
de lá mesmo.
Ah, então é essa brincadeira que ela quer fazer? Isso será bem
divertido.
— Você estava acordada, senhorita Hanna? — Encosto nossos pés.
— Acordei na hora do barulho — justifica-se.
— Engraçado, que eu escutei sons vindo do seu quarto quase a noite
inteira também. — Seu rosto, que já estava vermelho, ficou quase roxo de
vergonha.
— Acho que eu resmungo um pouco dormindo. — Ela encara a mesa,
observando a reação da minha mãe e do meu irmão, que também nos
encaravam. — Desculpa se atrapalhei o seu sono.
— Não atrapalhou, não. Eu dormi muito bem! — Tomo um gole de
café. — Mas não me pareciam resmungos, pareciam… — Batuco os meus
dedos na mesa, fingindo tentar lembrar da palavra.
— Eu falo! Eu geralmente falo dormindo também. — Aí está o seu
desespero.
— Então me conta, senhorita Hanna, com o que você estava sonhando
que a fez fazer tantos barulhos? — Seus olhos se semicerram para mim.
— Não me lembro, provavelmente foi um pesadelo. Sonho com
lagartixas e tenho nojo desses animaizinhos. — Ela sorri, sugestiva.
— Acho que era uma cobra, então. Você estava quase gritando! —
Meu sorriso malicioso causa espanto em seu rosto após o que falo, e ela se
afoga.
— Meu Deus, filho! Tenha educação com a moça. — Minha mãe faz
cara feia.
— Se estava tão acordado quando escutou sons do meu quarto,
provavelmente se lembra de ter derrubado algo no seu quarto. — Ela fala,
exaltada, assim que se recupera.
— Mãe, faz uma pipoquinha lá! — Escuto o meu irmão cochichando.
— Pior que não me lembro de nada mesmo. — Meu sorriso cresce. —
Será que a senhorita não se mexe muito enquanto dorme? Pode ter derrubado
um travesseiro.
— Todos os meus travesseiros estavam na cama quando eu acordei.
— A sobrancelha dela estava erguida, como se me perguntasse até aonde eu
queria chegar.
— Então você caiu da cama, só pode. — Minha voz já estava
divertida demais.
— Anderson! — Mais uma vez a minha mãe reclama.
— Tô apenas falando que o barulho veio do quarto dela.
— Você fala como se tivesse dormido comigo. — Hanna perde a
paciência, e desta vez, é minha mãe que se afoga, assustando a todos nós.
— Mãe, está tudo bem? — Anthony se levanta.
— Sim… — Escutamos mais alguns arranhões em sua garganta. —
Não se preocupem comigo. Vou ao banheiro e já volto. Tony, vem comigo.
— Quê? Por quê? — Meu irmão fala, incrédulo por a diversão ter
acabado.
— Preciso de ajuda. — Ela começa a sair da cozinha, mas, antes,
passa do meu lado e encosta no meu ombro para sussurrar no meu ouvido. —
Não sei o que está acontecendo aqui, mas se acertem logo.
Assinto com a minha cabeça, e ela sai rapidamente com o meu irmão,
que agora aparentemente já tinha entendido tudo, porque ele nos deixou
fazendo um sinal um tanto constrangedor com os braços. Isso mesmo, aquele
sinal de que você traçou alguém. Que moleque sem limites.
— Está louco, Anderson? — Hanna se vira para mim, ficando de pé, e
eu me levanto também.
— Aonde você achou que essa conversa iria terminar, Hanna? — Dou
risada. — Você que começou.

— Você parece criança. Eu não estava começando nada; estava


tentando esconder o que fizemos ontem.
— O que fizemos acordou a casa toda.
— Então você quer contar logo para a sua mãe que a gente transou?
Vá em frente, eu vou embora daqui. — Ela joga o guardanapo em cima da
mesa e começa a sair.
— Espera! — Seguro a sua mão com rapidez. — Me desculpe por
tudo isso.
— Como se fosse mudar a vergonha que você me fez passar.
— Ver você tão vermelha compensou as vezes que você me
provocou, eu confesso, mas me perdoe, de verdade! — Não aguento ver seu
nariz empinado em seu rostinho tão nervoso.
— Eu vou embora. — Hanna puxa sua mão.
— Precisamos conversar.
— Agora você quer conversar? Sério?
— Sim! Sério! — Busco palavras para tentar demonstrar o que eu
preciso falar, ainda mais depois de ontem.
— Fala logo, então, porque o resto da minha paciência eu estou
usando agora. — Ela cruza os braços, encarando-me.
— Hanna, eu não sei exatamente o que está rolando entre nós, mas
tem algo. Eu gosto e eu sei que você também. Vamos parar de fugir. Eu
quero mais disso com você. Vamos nos encontrar assim que eu retornar para
Curitiba. — Certo, o primeiro passo foi dado.
Ela me escuta e fica alguns segundos processando as minhas
intenções.
— Se encontrar para quê, exatamente? — Hanna queria verificar se eu
estava querendo marcar para transarmos de novo.

— Para conversarmos, para deixarmos essa situação em pratos


limpos, para decidirmos nossa relação. — Puxo seu braço para mais perto.
— Eu não sei ao certo o que devemos discutir sobre a nossa relação.
— Ela está piorando a minha situação sendo tão inflexível.
— Vamos tentar!
— Tentar? Está querendo me pedir em namoro?
Droga, não isso! Namoro não dá certo comigo.
— Não! — falo rapidamente, e minha mãe retorna, quebrando o nosso
assunto.
— Voltamos. Desculpem a demora, crianças!
— Pensa sobre isso! — Solto a sua mão, e Hanna simplesmente muda
de assunto, como se aquilo que eu falei não fosse importante.
— Dona Magda, eu tenho que ir. Marquei de me encontrar com o meu
cliente às oito horas. Muito obrigada pelo café, estava tudo maravilhoso! —
Ela vai em direção à minha mãe, agradecendo.
Seus elogios à nossa hospedagem duraram mais alguns minutos e,
logo depois, nos despedimos. Levo-a até o seu carro junto de minha mãe;
então, não posso comentar mais nada a respeito do que estávamos
conversando. Eu tive a sensação de que deixei a sugestão errada no ar e senti
a culpa se grudar em meus ombros. Talvez eu tivesse ferrado com tudo.
Retornei para o quarto e, assim que eu tomei o meu banho e me deitei
na cama, senti o seu cheiro nos lençóis. Acabei dando risada sozinho do que
eu havia pensado sobre isso ontem à noite ter se concretizado. Remoía em
minha mente o que ela sugeriu para mim: namoro. Isso não é algo em que eu
quero pensar, eu não gosto disso, desse título. Eu pensei em sexo casual, mas
sem nos relacionarmos com outras pessoas. Eu fiquei com raiva só de pensar
que talvez ela pudesse estar transando com outros caras além de mim, mas e
se ela não quiser só sexo? Vamos ter que cortar essa relação como já
tentamos antes e talvez realmente largar um do outro? Eu não quero isso, eu a
quero.

— Filhote? — Minha mãe aparece no quarto, tirando-me da hipótese


“namoro”. — Posso entrar?
— Oi, mãe. Claro! — Sento-me na cama.
— O que aconteceu ontem? — Seus olhos me encaram, deixando-me
com vários pontos de interrogações, enquanto ela se senta do meu lado.
— Sobre o que está falando? — Fujo um pouco da sua pergunta
vazia.
— Sobre você e a Hanna. Está na cara que algo aconteceu. Vocês dois
não paravam de se cutucar como duas onças. Seu irmão quase me estrangulou
porque queria continuar lá assistindo a vocês. — Ela dá risada, tirando-me
um sorriso também.
— Esse é o nosso jeito. Desde o início, ela me provoca, e eu não me
aguento.
— Como duas crianças? — A risada continua.
— Exatamente.
— Vocês conversaram depois que eu saí? Sobre aquele assunto.
— Sim, eu esclareci tudo para ela.
— E ela?
— Ela entendeu, disse que acreditava em mim.
— E então? Pediu a moça em namoro? — Ela abriu um sorriso ainda
maior, e a palavra trouxe um aperto no meu peito.
— Claro que não, mãe. Eu nem sei o que estou sentindo por ela
direito e nem sei o que ela sente.
— Você perguntou para ela? — Minha mãe ergue as sobrancelhas,
parecendo irritada.
— É complicado, mãe. — Levanto-me, e minha mãe faz o mesmo.

— Não dá para você ficar transando com a menina sem pedir ela em
namoro. — Ela comenta em um tom de brincadeira com verdade e abre a
porta enquanto arregalo os meus olhos com a sinceridade dela.
— Do que a senhora está falando? — comento, com o coração na
mão.
— Ninguém se esforça tanto para esconder que o barulho da
madrugada foi esse quadro que misteriosamente caiu, né, meu querido? —
Dona Magda aponta para o quadro quebrado e sai do meu quarto, deixando a
porta aberta, enquanto continua falando do corredor. — E o meu quarto é em
cima do seu, filhote.
Merda, ela escutou!
Eu estava decidida a esquecer esse homem depois que me deitei a
primeira vez na cama dele. Decidi realmente não fazer mais nada com ele,
nem mesmo lhe dar um beijo. Eu sabia o que eu estava sentindo e juro por
Deus que não queria sentir. Previa que os meus sentimentos poderiam me
cegar novamente. Era óbvio que eu não estava preparada para me envolver
com alguém, mas, depois que eu visitei os seus pais, imaginei-me tentando de
novo um relacionamento. No entanto, o medo de a esperança estar me
privando de enxergar a verdade me fez recuar ainda mais.
Até porque ele mesmo me falou que não queria namorar. Por que eu
tinha que ser tão emotiva em imaginar um relacionamento? E o que foi aquilo
que ele me sugeriu? Tentarmos algo sem ser namoro? Eu com certeza não
sou o tipo de pessoa que aceita sexo casual.
A sorte do meu dia foi que eu não consegui pensar no Anderson por
muito tempo, pois aproveitei a viagem para ajudar mais alguns clientes e,
quando, enfim, me vi liberada para voltar para casa, os pensamentos
começaram a cair de monte, ainda mais quando eu tive que ficar esperando o
meu voo.
Ele queria tentar algo, e era algo que eu não estou acostumada e nem
disposta, mas, se eu não aceitar, terei que deixá-lo ir. Independentemente da
minha escolha, eu terei que manter o meu sentimento enterrado, e não sai da
minha cabeça toda a desconfiança que criei por todos esses anos. Se o Ander
não quer o meu dinheiro, com certeza ele deseja o meu corpo, e isso é bem
óbvio para mim.
Eu queria ter uma resposta para a sua pergunta assim que pisasse em
Curitiba, mas chego à cidade ainda mais confusa do que quando saí. Fico
feliz ao ver o senhor Diogo me aguardando no aeroporto, porque, assim, eu
poderia pedir conselhos para ele novamente.
— Boa noite, minha querida, como foi a viagem? — Ele comenta
logo que eu entro dentro no carro.
— Foi ótima, senhor Diogo. Consegui resolver vários probleminhas,
mas confesso que eu acabei trazendo novos problemas para casa.
— A senhorita é esperta, tenho certeza de que logo tudo estará
resolvido. — Ele liga o carro.
— Desculpe a minha curiosidade, mas faz quanto tempo que o senhor
e a senhora Tiana estão casados?
— Imagina, Hanna. Vai fazer quarenta anos.
— É muito tempo… — sussurro para mim mesma. Como eu poderia
escolher alguém para passar o resto da minha vida junto se eu era dessa
maneira? Toda receosa com tudo e todos? — E como foi que se conheceram,
senhor Diogo?
— A Tiana sempre foi uma mulher muito bonita, chamava atenção de
todos por onde passava, e eu era taxista na época, ficava com o meu carro
parada na praça da cidadezinha onde morávamos. — Ele encara as ruas como
se pudesse ver a cena que descrevia. — O pai dela só deixava ela ir à
pracinha aos domingos para tomar um sorvete. Foi então que eu a conheci.
Eu nem trabalhava aos domingos, mas, quando a vi pela primeira vez,
comecei a trabalhar todos os domingos para poder ver ela naqueles breves
instantes.
— Os homens antigamente eram bem mais românticos que hoje em
dia — comento.
— Isso é o que você imagina, querida. Tenho certeza de que tem
vários rapazes que pensam muito em você. — Sorrio, achando graça da sua
fala.

— Continue a história, fiquei curiosa.


— Teve um dia que ela apareceu namorando um rapaz. Eu fiquei
muito triste, sabe? Pensei comigo mesmo que deveria ter falado para ela que
eu gostava dela antes daquele homem. Naquele dia eu fui para casa desolado,
mas eu não desisti, não parei de ir aos domingos na praça para ver ela.
Algumas semanas depois, estava eu lá, parado, a observando de longe, e
escutei alguém batendo no vidro do carro. E adivinhe? — Ele olhou para o
retrovisor, sorrindo para mim.
— Era ela? — falei, ansiosa.
— Não, era o namorado dela.
— Meu Deus! Ele descobriu que o senhor gostava dela? — comento,
assustada.
— Não, não. Eu nunca contei para ninguém. Ele veio pedir uma
viagem para os dois. Perguntou quanto custaria para levá-lo até a casa dele e,
depois, levá-la à casa dela.
— E então, o senhor fez a viagem?
— Fiz! — O senhor Diogo sorriu, fazendo-me estranhar esse ato. —
Eu agi normalmente com os dois, conversei bastante com o namorado dela, e
ela ficou quieta a viagem toda, mas, quando ele saiu do carro, eu senti o meu
coração pular pela boca. Queria falar para ela que eu gostava dela, mas não
tinha coragem. E foi então que eu vi uma lágrima escorrer pelos seus olhos, e
todo aquele meu medo sumiu. Ela queria chorar, mas não na frente de um
estranho. Então, ela estava se segurando.
— Por que ela estava triste?
— Eu perguntei se ela estava bem, e ela me contou que não estava
nada bem. Simplesmente ela desabou. Tiana não amava aquele rapaz. O pai
dela queria que ela casasse com aquele namorado, mas ela não sentia nada
por ele e estava morrendo de medo de ter que se casar com um estranho com
quem ela nem havia conversado direito. — Como eu imaginei, o senhor
Diogo sempre teve o dom de escutar o desabafo de todos.

— E o que o senhor fez?


— Eu parei o carro na esquina da casa dela e me confessei! — Meu
coração acelerava, como se eu estivesse vendo o que ele descrevia. — Eu
falei para a Tiana que eu a achava a mulher mais linda desse mundo e que
sempre estava na praça para poder vê-la, que eu gostava dela e que, se
estivesse tudo bem para ela, eu queria conquistar o coração dela antes de
qualquer outro homem.
— Meu Deus! Que corajoso! — digo, encarando sua felicidade pelo
retrovisor. — O que ela disse depois disso?
— Ela sorriu, limpou os seus pequenos olhos e disse que estaria
ansiosa para eu conquistá-la, e ainda exigiu que eu fizesse isso o mais rápido
possível, para que ela não tivesse que casar com aquele namorado que ela
chamava de grosseirão.
— Que história linda, senhor Diogo… — Penso bem antes de falar o
que quero e percebo que posso dividir isso com ele. — O senhor sabe o que
aconteceu comigo, com o Matheus…
— Sim, pequena. — Ele comenta com tristeza na voz. — Ele foi um
dos seres humanos mais sem caráter que eu conheci nessa minha vida.

— Pois é, ele me causou muitas inseguranças e medos, e agora tem


um novo homem na minha vida… — Procuro as palavras certas, sentindo a
minha garganta se fechando e a minha voz tremular enquanto me lembro do
meu passado. — Ele é bom, parece ser um homem correto, mas eu tenho
medo: medo de passar de volta por tudo isso, sabe? Medo de depositar
confiança em quem não merece.
— Filha, eu te considero como uma neta. Sabe que tudo o que vou
falar é para o teu bem, né? Quero ver você feliz. — Sinto seu carinho em sua
voz.
— Eu sei!
— Não tem como eu saber como está a sua relação com esse rapaz e
nem como é o caráter dele, mas, se vocês se gostam, tente! Dê o primeiro
passo, minha filha. Vai com calma, um tijolinho de cada vez. Talvez, se você
abrir o seu coração, poderá enxergar melhor os sentimentos dele. E, se o seu
coração se acelera por ele, com certeza deve ter um motivo para isso. Ainda
mais um coração tão blindado como o seu, querida.
— Mas eu não quero errar de novo. — Solto o monstro que eu seguro
dentro de mim há anos. — Não quero colocar dentro da minha família uma
pessoa que pode só estar querendo me usar, que esteja querendo esse maldito
dinheiro que seduz de forma amarga e mentirosa a todos. Estou cansada de
ter medo. Eu sempre quis alguém que estivesse comigo pelo que sou, mas eu
não consigo identificar isso nos homens. Eles parecem querer mentir o tempo
todo, e eu não aguento mais isso! — Minha garganta tranca com o choro que
eu mantenho preso.
Seu Diogo se mantém em silêncio, pensando, talvez, no que dizer a
essa mulher louca que simplesmente acha que todos que se aproximam dela
são interesseiros e só se relacionam para conseguir algo.
— Hanna, minha querida… — Ele fala, assim que estaciona o carro
na frente da minha casa. — Eu não posso te dizer o que você deve fazer, mas
se pergunte apenas uma coisa: futuramente você acha que seria melhor ter o
arrependimento de não ter tentado ou o aprendizado que isso possa te trazer?
— Como assim?

— Com certeza você ficará se remoendo pensando “e se eu tivesse


dado uma chance para ele?”. Imagine se eu não tivesse me declarado para a
Tiana, querida? Eu tive esse mesmo medo que limita as nossas ações, mas eu
enfrentei isso, tive até que convencer o pai dela para podermos casar. —
Escuto a sua risada e me junto a ela. — Você pode perder algo bom na sua
vida por causa desse medo, ou você pode aprender com esse relacionamento.
O que você deseja? — Meu coração se acelera, respondendo à sua pergunta
antes mesmo do meu cérebro. — Siga o seu coração.
A lágrima que eu tanto segurei durante todo o caminho enfim se livra
das minhas pálpebras e desce pelo canto do meu olho. Eu a limpo
rapidamente, sentindo o senhor Diogo pegar minha mão e apertar com
carinho, dando algumas batidinhas logo em seguida.
— Obrigada pela conversa, senhor Diogo. — Permaneço olhando
para baixo, secando o resto das lágrimas. — Amanhã ficarei em casa. Pode
ficar tranquilo e curtir o seu dia com a dona Tiana.
— Tenha uma ótima noite de sono, minha querida. — Ele sorri para
mim, e eu faço o mesmo, pegando minha mala no banco.
— Para o senhor também. — Aceno com a cabeça e fecho a porta do
carro.
Entro na minha casa sentindo todo o cansaço da viagem em meus pés.
Assim que me sento no sofá, encaro o meu celular, decidida a colocar todos
os pontos nos ‘I’s. A proposta que Ander me fez era para que ficássemos sem
compromisso. Já o Kauan queria algo a mais, com as suas diversas tentativas
de me conquistar. Estava nítida a vontade de cada um, e eu precisava
esclarecer tudo.
Vou direto ao meu quarto, procurando pelo pijama no meu closet. Eu
precisava de um banho, essa agonia toda me deixou tensa. Em meio às
minhas roupas, encontro a caixinha misteriosa que ele me deu de aniversário.
Até essa bendita caixa é uma incógnita para mim.
A água pesada que bate em meu corpo cansado relaxa os meus
músculos enquanto a minha mente me perturba com as lembranças daquele
corpo em baixo de mim, forçando a minha cintura para que nossos sexos se
encontrassem naquele choque forte dos movimentos. Minha intimidade já
não está tão dolorida quanto estava hoje de manhã. Realmente, ficar um
tempo sem sexo desacostuma uma pessoa. Não que eu tenha o direito de falar
sobre isso, já que nem sexo eu fazia direito antes dessas duas transas que eu
tive com o Anderson, mas já foi o suficiente para eu novamente me deitar na
cama com um calor estranho em meu corpo.
Desde que eu comecei a me tocar pensando nele, senti-me cada vez
mais exposta em relação à proteção que eu queria criar para afastá-lo. Ele
estava sendo alguém muito frequente em minha mente. É uma fraqueza que
eu tenho certeza de que acabaria comigo; por isso, tentei até me manter
distante de mim mesma, privando-me de fazer isso. Mas aquela sua voz
brincalhona e ao mesmo tempo maliciosa me faz arrepiar. Meu interior clama
por alívio, como se fosse algo extremamente fácil de se revolver.
Então, eu simplesmente aceitei fazer isso por mais uma vez, repetindo
a mim mesma que seria a última, e nesta noite não estava sendo diferente. O
calor me tomava, e eu senti o tesão percorrer o meu corpo todo como uma
febre, guiando cada movimento meu. O molhado entre os meus dedos
aumentou a cada toque e pensamento irracional que eu tive dele me tomando
como aconteceu ontem. A sensação de orgasmo me alcançava.
Minha mão não para de me torturar, ao mesmo tempo que a minha
mente deseja o seu toque, deseja as suas palavras idiotas que me
enlouquecem ainda mais enquanto eu entro com os meus dedos
incessantemente, cansando o meu punho. Eu o queria aqui, queria aquele
cheiro bom, a barba por fazer roçando em meu rosto durante os nossos beijos,
e a pegada… O que era aquela pegada?
Minha pele se arrepiou, intumescendo os meus mamilos sensíveis
pelas mordidas que recebi na noite anterior, com um leve ardor em volta
deles, que se esfregavam sob o tecido da minha camisola, formando
contrações de prazeres dentro do meu útero e movimentos involuntários.
Em meio aos meus atos, a minha mente me denunciava como uma
idiota por estar fazendo isso novamente, mas o meu corpo traiçoeiro está
prestes a se explodir em um desejo sem fim imaginando novamente o pau
dele entrando com força dentro de mim sem parar. Penso, então, na agonia do
seu tamanho me fazendo gemer alto e me deixando ofegante pelo direito de
estar sozinha em minha casa, enquanto eu rompo a minha consciência por
chegar ao meu ápice.
Derreto-me por completo, desejando que ele gozasse em mim,
enquanto uma onda de prazer eletrizante percorre-me o corpo todo,
acelerando o meu coração durante todo o processo de tentar respirar
calmamente. Lambo os meus dedos úmidos, sentindo o meu sabor e me
lembrando de que ele já me sentiu ali, já me viu exposta, em posições e
maneiras diferentes que eu ainda nem tinha feito com ninguém.
Bufo por novamente ter cedido aos meus desejos carnais, encaro por
alguns segundos a caixinha misteriosa que deixei do lado da cama sem
motivo algum e, então, meus sentimentos confusos retornam. Estou cansada
dessa minha vida tão sozinha, tão medrosa e tão na defensiva.

Eu queria ter alguém verdadeiro.

É segunda de manhã, e infelizmente eu tenho aquele almoço marcado


com o Jonas novamente. Eu tenho a impressão de que estava vendo-o mais
do que o normal, e não queria ter que olhar para a cara daquele homem que
só sabe sorrir como um idiota sempre que seus olhos passeiam por todo o
meu corpo.
— Andréia, o Jonas confirmou o almoço? — falo antes dela, assim
que ela acessa a minha sala.
— Vim falar exatamente sobre isso. — Percebo seu olhar de “algo
errado”.
— O que aconteceu?
— Ele está aí! — Seu rosto demonstra espanto.
— Sem ter avisado? Como ele passou pela portaria?
— Alguém liberou, não sei quem, mas ele está ali na recepção!
— Aqui no nosso andar?
— Sim, isso mesmo, está te esperando.
— Meu Deus! Fala que eu estou ocupada, sei lá. Não quero atendê-lo
agora. — Levanto-me para ir até a porta a fim de observá-lo através das
persianas fechadas.
— Mas ele estava conversando com a sua mãe. Acho que ele já sabe
que você está aqui. — Andréia me acompanha.

— Então foi ela que liberou a entrada dele.


— Provavelmente… — Encaro a silhueta do seu terno roxo e o
estranho pelas janelas enquanto noto as flores em seus braços. — Ele te
trouxe até um buquê.
— Odeio rosas cor-de-rosa. Se ele prestasse atenção em um milésimo
da minha festa de aniversário, notaria que só tinha flores brancas lá. Ele
poderia pelo menos tentar, né? — Penso em como o Ander notou toda a
questão dos vinhos sem nunca ter me visto antes na vida e em como o Jonas
não sabia nem me comprar um buquê correto.
— Quer que eu fale o quê, Hanna?
— Eu já saio. Vou acabar com isso hoje! — falo, sem paciência.
— Tá bom!
Andréia se encaminha para fora da minha sala e conversa com ele por
breves segundos, enquanto ele se senta em um dos sofás dispostos na
recepção. Eu retorno até a minha mesa e termino o que eu estava fazendo.
Antes de sair da sala, verifico o meu celular, assustando-me com a mensagem
que eu havia recebido.

“Vamos conversar? Estou em Curitiba!”

Anderson tinha retornado, e toda a sensação que eu estava tendo


desde que saí do quarto dele em Brasília também. Bom, aparentemente, o
universo também está desejando que eu me resolva com todos os homens que
estão na minha vida.

“Que horas?”

Respondo-lhe antes de sair e, então, coloco o celular no bolso para me


encontrar com o senhor metrossexual. Assim que eu chego à recepção e ele
me encara com o ar de “eu sou confiante e gostoso”, seguro-me para não
revirar os olhos.

— Bom dia, senhor Jonas. No que eu posso te ajudar antes mesmo do


nosso almoço acontecer? Pelo que eu me lembro, não marcamos nada para
agora! — Noto os olhos da Andréia se arregalarem com a minha fala e, então,
ela retorna para o seu tablet, fingindo não escutar a nossa conversa.
— Eu já havia esquecido o quanto a senhorita é charmosa com toda
essa sinceridade. — Desta vez, eu não me aguento e reviro os olhos.

— Vá logo ao assunto, Jonas. Sabe que estou ocupada.


— Lhe trouxe essas flores! — Sua mão se coloca entre nós, e eu pego
o buquê por educação, enquanto os olhos escuros dele me encaram com
segundas intenções.
Pelo menos eu ainda entendia esse homem, já que o Kauan e o
Anderson só estavam na minha vida para me confundir.
— Obrigada. Era somente isso? — Mantenho o sorriso profissional.
— Que tal se formos mais cedo para o restaurante? Assim, poderemos
conversar um pouco mais, enquanto tomamos uns drinques.
— Se eu negar, o senhor vai embora?

Andréia me olha novamente.


— Provavelmente não. — Ele passa a mão em seus cabelos baixos,
como se os estivesse ajeitando.
— O.k., mas, se o almoço acabar mais cedo, a culpa não será minha!
— brinco, com tom de verdade.
— Vamos no mesmo carro desta vez?
Ele fala como se o fato de ter me dado essas flores cafonas fosse
motivo suficiente para que eu aceitasse ficar sozinha ao seu lado. Se bem que
eu já fiquei sozinha ao lado do Anderson desde o nosso primeiro encontro,
mas isso não vem ao caso agora.
— Claro que não. O senhor pode me passar qual o restaurante que
escolheu, e o meu motorista me leva.
— Hanna, não me custa nada te levar e depois te trazer aqui.
— Mas custa para mim; então, pode ir na frente, que eu só vou
terminar o que eu estava fazendo e te encontro lá. — Sorrio e lhe dou as
costas, para que ele não tenha oportunidade de responder.
Consigo ver através dos diversos espelhos e reflexos de janelas a sua
indignação com a minha resposta. Meio que o Jonas já está acostumado a
levar patadas minhas, mas nunca aprendia, então por que eu deveria ser
simpática e dar laudo para que ele deduzisse coisas erradas?
Assim que eu me afasto o suficiente, pego o celular novamente com
aquele pequeno suor nas pontas dos dedos por estar aguardando sua resposta,
que já estava ali enquanto eu deposito as rosas na lixeira.

“Às 20:00h, na minha casa. Já sabe o endereço, né?”

Na casa dele?
Se nós íamos conversar, por que deveria ser lá? Se ele queria transar,
era só ter falado; eu teria negado antes. Na minha casa, talvez essa questão
não acontecesse — apenas um “talvez”, porque eu não me garantia muito
quando estava perto dele.
“Prefiro na minha casa”

Encaminho o meu endereço para ele em seguida, já determinando a


minha decisão, e, em segundos, a sua resposta aparece.

“Está mandando?”
Sorrio para a tela do celular, achando graça de sua pergunta. Eu nem
sou tão mandona. Não entendi esse apelido que recebi de graça desde que nos
conhecemos.

“Com certeza!”

Escuto uma breve batida na minha porta, e, então, a Andréia entra.


— Hanna, o senhor Diogo já está lá embaixo te esperando.

— Obrigada por ter chamado ele, amiga. Já estou saindo.


— O que foi aquilo que você disse para o Jonas agora há pouco? —
Seus olhos se arregalaram na curiosidade para querer saber mais sobre a
minha atitude.
— Já estou cansada dele. Lembra a última vez que ele esteve aqui? —
Ela concorda com a cabeça. — Nós estávamos lá no saguão do térreo, e ele
simplesmente me abraçou como se fôssemos próximos. Eu só não deixei ele
com vergonha aquele dia porque tinha muitas pessoas em volta, mas hoje só
tinha nós duas aqui. O que ele poderia fazer? Me denunciar para o pai dele?
— Você foi muito corajosa. Boa sorte para aguentar o almoço com
ele. — Seus dentes se semicerram, indicando que ela sabia do meu
desconforto.

— Você não falou que queria me substituir no próximo almoço?


Aproveita! — brinco com a minha amiga.
— Quem sabe na próxima. Hoje eu não sei do que vocês vão
conversar.
— Não sendo sobre cantadas idiotas, eu já fico menos estressada.
— Às vezes eu acho que a dona Eliza tem razão quando diz que você
é nervosa demais. — Andréia me provoca.
— Eu preciso pelo menos de você ao meu lado, Andréia. Não se
debande para o time da minha mãe. — Dou risada.
— Sou do time da estressadinha para toda a minha vida! — Ela me
manda um beijo enquanto sai da sala.
Respiro fundo antes de sair do escritório, porque eu sabia que teria
que enfrentar uma conversa superchata com o Jonas nas próximas horas, e,
assim que o senhor Diogo estaciona na frente do restaurante, o senhor
metrossexual já está me esperando no estacionamento. Não demorou muito
para que nós nos juntássemos na mesa que foi reservada.

O engraçado é que, em todos os momentos em que passamos perto de


algum espelho, ele parou para mexer um pouco no seu look extravagante.
Quando fomos sentar, eu nem esperei que ele puxasse a minha cadeira, já que
ele ainda estava estagnado na frente do seu reflexo. Quando fomos realizar os
pedidos, ele só escolheu comidas sem graça, como um mix de saladas e ovos.
Claro que eu não quis o mesmo.
— Como está o seu pai, Jonas? — pergunto, para que os seus assuntos
não girem em torno das suas próprias conquistas para tentar me impressionar.
— Ele está bem melhor neste último mês. Está até me incentivando a
casar com uma certa mulher de olhos verdes.
— Fico feliz que a saúde dele tenha melhorado. — Ignoro a sua fala.
— Sua mãe veio falar comigo quando eu cheguei na empresa. — Eu
sabia que ele havia entrado nesse assunto para que eu lhe desse mais atenção.
— Sério, sobre o quê? — Meu suco de laranja chega bem na hora, e a
bebida dele também.
— Ela queria me perguntar se eu conhecia os sócios da Aluxmil. Eles
são novos no mercado, né? — Tento não parecer surpresa com a sua
revelação, mas eu não consigo entender o porquê de a minha mãe querer
saber sobre o Kauan e o Anderson.
— São sim. Estamos adorando os produtos que eles estão fornecendo
para a gente, são de ótima qualidade!
— Eu até conheço o rapaz mais novo. Se eu não me engano, ele fez
um curso de informática no mesmo local que o meu irmão.

Querendo ou não, essa informação me pegou de surpresa, porque, em


todos os momentos em que eu saí com o Kauan nessas últimas semanas, ele
nunca chegou a me contar sobre isso, ou talvez o Jonas estivesse enganado.
— Mas não quero falar sobre isso com você, Hanna. Quero um
encontro de verdade desta vez!
— Encontro de verdade? — falo, achando graça.
— Acho que você já entendeu que eu sempre utilizo esses nossos
almoços de negócio para te ver, quase nunca consigo outra oportunidade, mas
você só sabe falar sobre as nossas empresas, e eu quero um encontro de
verdade com você hoje, Hanna. — As comidas chegam bem na hora,
fazendo-o parar de falar.
Jonas começa a comer antes mesmo que eu encoste no meu garfo,
provavelmente pelo nervosismo que está sentindo em falar algumas verdades
para mim, mas eu só identifico a sua falta de educação por comer como um
porco.
— Já que você foi tão sincero em dizer essas coisas, quero que você
entenda que eu não tenho nenhum interesse em você, Jonas.
Noto na mesma hora que as suas sobrancelhas se enrugam junto com
a sua testa ao escutar a minha resposta. Seu corpo se ajeita na cadeira
desconfortavelmente, e ele passa os dedos em seu cabelo baixo, ficando
completamente sem respostas.
— Qual a sua intenção em querer um “encontro de verdade” comigo?
— Te conhecer melhor, é claro! — Não sinto nenhuma verdade em
sua voz.
— Certo. Se você parasse de encarar somente o seu reflexo no
espelho e olhasse em volta, notaria rapidamente que eu não gosto das suas
cantadas e que, se não fossem as atualizações frequentes que passamos sobre
as nossas empresas, esses almoços nem existiriam. — Deposito os talheres na
mesa antes mesmo de eu comer e começo a me levantar.
— Espera, Hanna. Que falta de respeito! — Ele fica olhando para
todos os cantos daquele salão, menos para mim, já que o seu medo de passar
vergonha era maior que tudo.
— Falta de respeito é você fingir que precisamos dessas reuniões,
sendo que tudo poderia ser muito bem-resolvido por e-mail. — Afasto-me da
mesa, pegando a minha bolsa. — Creio que não precisaremos mais nos
encontrar, né?

Jonas me encara, como se eu fosse uma mulher horrível, mas eu estou


apenas colocando um fim nas suas atitudes sem cabimento que já aconteciam
há anos. Eu odeio ter que ser simpática com nossos fornecedores que me
assediaram somente para que a imagem da nossa empresa não seja
prejudicada, e a minha determinação só me fez querer ainda mais acertar as
coisas com o Anderson. Por que eu tinha que me moldar à ideia dele, se ele
também estava interessado?
Meus antigos relacionamentos nunca deram certo. A minha primeira
namorada veio logo que eu completei os meus 14 anos. Foi com ela que eu
transei pela primeira vez e achei que estivesse apaixonado por causa disso.
Quando se tem essa idade, é bem comum confundir tesão com amor, mas daí
eu notei que queria outras; então, eu terminei.
A Brenda foi a minha última namorada. Eu lembro que eu ainda
estava tentando entender o que era o amor. Ela foi o mais próximo de
consideração que eu criei por uma mulher que não fosse a minha mãe, mas
ainda demorou um tempo para que eu a colocasse como alguém importante.
Lembro muito bem o quanto ela era apaixonada por mim. Aquilo me deixava
mal. Chegou um momento em que eu não conseguia mais corresponder ao
tamanho dos seus sentimentos e também decidi terminar.
Se eu ficasse por muito tempo em um relacionamento, as mulheres
exigiam informações de mais de mim, e eu não estava acostumado a ter que
dar tantas satisfações da minha vida. Então, tudo acabava por falta de afeto.
Eu não queria cuidar de um relacionamento, não queria me dedicar.
Mas, com a Hanna, estava sendo tão incomum, que eu fico inquieto a
todo momento. Seus olhos verdes são uma tortura pra mim. Sua boca atrevida
me faz imaginar diversas vezes do meu dia ela ao meu lado, e, pensando bem,
eu já estava me considerando o próprio spitz-alemão de que ela tanto fala. Se
ela me pedisse qualquer informação, eu lhe daria sem pensar.

Eu não queria afastar a Hanna com um possível pedido de namoro. Eu


não sei o que ela estaria disposta a tentar comigo; sem falar, é claro, do pai
dela, que me colocou contra a parede daquela vez ao mencionar o primeiro
almoço que tive com a sua filha. E também tem o Kauan nessa história toda.
Se realmente for existir algo entre nós, tem que ser sem o Kauan saber, ou
isso tudo pode prejudicar muito a nossa parceria.
Onde eu estou me metendo por essa mulher?

Com ela, eu me dedicava a algo sem ver. Desejo que ela sinta o
mesmo, estou sempre querendo mais e, por incrível que pareça, eu vejo que
se trata de uma paixão, porque a paixão deixa as pessoas nesse estado de
euforia. É ela que causa a ansiedade que eu sinto, e eu estou agora mesmo
com o coração a mil porque ela me mandou vir para a casa dela, e aqui eu
estou.
Sou um puto bem-mandado!
Penso e repenso sobre o que eu devo falar para ela. Demoro alguns
minutos para sair do carro, enquanto meus dedos batucam o volante. E, então,
percebo que o portão se abre para mim. Vejo que tem espaço para o meu
carro na garagem e estaciono na vaga, enxergando-a dentro de sua sala
através das paredes de vidro.
Hanna sai para a parte exterior da casa usando uma calça bege folgada
de um tecido mole que aparenta ser linho e uma regata branca de cetim, um
visual que eu nunca a vi usando, mas que lhe caía superbem. Dava para ver
que ela estava sem sutiã, porque os seus mamilos se acendem e marcam o
tecido quando o vento frio da noite encosta em sua pele. Busco pela minha
lucidez antes de ter um contato com ela. Eu não posso tentar nada de mais
esta noite; pelo menos não se ela não quisesse.
— Boa noite, Ander! — Ela fala, sorrindo, intimidadora como
sempre, enquanto eu saio do carro. — Achou fácil a minha casa?
— Muito fácil — respondo rápido e nervoso.
Nós seguimos para dentro, e não me surpreendeu nada ver o quanto o
imóvel se parecia com ela. Tudo tem aquele ar de elegância, mas ao mesmo
tempo demonstrando transparência.

— Espero que não tenha jantado, pois eu preparei algo!


— Não comi nada. — “Ainda”, penso comigo mesmo, abrindo um
sorriso cínico, tentando conter a minha imensa vontade de brincar com ela, e
ela percebe a minha intenção.
— Ótimo, venha para cá. — Hanna anda em direção a um pequeno
corredor.
Entramos na cozinha da sua casa, que estava com uma claridade
reduzida, deixando o ambiente mais aconchegante. As portas que dão para o
fundo da casa estão abertas, de modo que a entrar o ar da noite; a vista de seu
quintal é linda, cheia de verde; a mesa de vidro estava posta com dois pratos,
um de frente para o outro, e duas taças de vinho.
— Desculpa não preparar nada de mais. Eu não sou boa na cozinha.
— Ela diz, sorrindo, enquanto vai até a sua adega. — O que prefere tomar?
Me lembro que pediu vinho seco naquela vez que almoçamos juntos… —
Seus olhos se semicerram para mim, e seu sorriso de canto aparece. —
Comprei um especialmente para você.
Ela anda até mim segurando a garrafa em suas pequenas mãos e me
entregando, para que eu fizesse o serviço de abrir.

— Cabernet Sauvignon, o mesmo daquele dia! — Sua voz deliciosa


produz as palavras perfeitamente em seus lábios.
— Eu não gosto de vinho seco — falo a verdade, dando risada ao
notar os seus lábios se erguendo maliciosamente.
— Mas você vai tomar! — Com sua outra mão, ela me entrega o
abridor de garrafa. — Aquele almoço me saiu muito caro; então, no mínimo,
você terá que secar essa garrafa hoje.
— A senhorita não é nem um pouco justa, porque aquele almoço
também me saiu bem caro. — Abro o vinho com calma e sirvo as nossas
taças.
— Fui eu que passei vergonha com o restaurante inteiro encarando a
minha bunda. — Sua sinceridade provoca o meu pau, que tenta permanecer
quieto na calça.
— Bem, fui eu que tive que ver a cena de você desfilar por aquela
restaurante com todos te encarando sentindo uma vontade imensa de matar
cada homem daquele lugar. Também fui eu que saí com o meu pau marcado
daquele elevador, e fui eu que tive que escutar do seu pai uma chamada de
atenção, porque a princesinha dele chegou brava comigo de um almoço de
negócios. — Acomodo-me na cadeira, agindo como se tudo que eu tivesse
falado não fosse nada de mais.
Confesso que disparei tudo que eu estava pensando sem ao menos ter
bebido algo; imagina o que eu poderia dizer após a garrafa inteira. Merda,
acho que falei demais. Sua reação petrificada indicava que ela não sabia nem
por onde começar as perguntas.
— Talvez você tenha ganhado desta vez, mas, mesmo assim, irá tomar
todo esse vinho.
Ela não vai me perguntar nada?
Hanna pega o meu prato e me serve a comida com calma, assim como
eu fiz com ela no jantar na minha casa. Recebo a porcelana que aquelas
lindas mãos me entregam.

— Você não precisava ter feito isso.


— Não gosto de ficar devendo favores. — Deus, por que ela é assim?
— Você só está me devendo uma coisa. — Pego a minha taça na
mesa, tomando quase todo o conteúdo.
Que vinho horrível!
— Na verdade, é você que está me devendo algo, né? Uma
explicação, talvez, sobre o que conversamos na cozinha da casa dos seus pais.
— Direta e reta como sempre!
— Talvez depois do jantar. — Encho a minha taça novamente,
buscando naquele líquido a decisão final que eu ainda não sabia ao certo.

— Depois do jantar, então. — Ela coloca a salada na boca, encarando-


me enquanto o silêncio toma conta. — Então, a reunião que o meu pai
marcou com você aquele dia foi para te dar uma bronca? — Pela primeira
vez, escuto sua risada contida, causando os mesmos sintomas em mim.
— Pensa na bronca! Eu achei que ia sair capado daquela sala. — Ela é
esperta em ter relacionado o fato que eu acabei de contar com o dia que isso
ocorreu, mas disso eu já sabia, do quanto ela era astuta com palavras e
pensamentos.
— Meu Deus! — Sua gargalhada preenche a cozinha, produzindo um
som ainda mais gostoso. — O que tanto ele te falou? — Hanna comenta,
assim que o seu ar retorna.
— Pediu que eu me mantivesse distante de você. — Encosto em sua
mão, contrariando o que acabei de dizer. — Falou que você chegou bem
irritada daquele nosso almoço… — Percorro os meus dedos, notando cada
anel que adornava os seus dedos. — E que ele não queria mais ver a filha
dele sofrer — digo, encarando a sua reação.
Nossos toques não eram mais tão estranhos. Hanna não me afastou, e,
então, eu segui para o seu punho, satisfeito por a sua mesa não ser tão grande
a ponto de me manter distante dela.
— Meu pai é um exagerado, me desculpe por isso. — Ela puxa o seu
braço, colocando a mão no pescoço.
Peguei pesado em comentar sobre isso.
— Foi aquele cara da boate, não foi? O seu ex? — Corto um pedaço
da carne e saboreio-a derretendo na minha boca.
— Que me fez “sofrer”? — Hanna faz as aspas com os dedos, ainda
tentando manter aquela conversa normal. — Não pense bobagens. Foi o meu
primeiro namorado, é claro que não iria durar. — Ela pega a sua taça e molha
os lábios.
— Do jeito que o seu pai falou, não me pareceu bobagem. Acho que
ele não me chamaria na sala dele e faria isso tudo por nada.

— É óbvio que aconteceu algo, mas isso não vem ao caso. Por que
está preocupado com isso? — Desta vez, é ela que toma quase todo o seu
vinho.
— Não queria que tivesse passado seja lá pelo que teve que aturar
com aquele… — Ofereço a garrafa para que ela possa encher sua taça
novamente, e Hanna aceita, enquanto desisto de terminar de falar a minha
frase. — Não me entra na cabeça que alguém poderia terminar com você.

— Fui eu que terminei — Ela fala, sorrindo.


— Agora, sim, faz sentido. Então ele fez uma grande merda mesmo.
Hanna parece pensar sobre algo enquanto o seu sorriso se perde.
— Fez sim!
Sinto meu coração apertar com a possibilidade do que ele poderia ter
feito a ela; talvez fosse traição.
Decido mudar de assunto, comentando o quanto a minha mãe adorou
conhecê-la, mas, em minha mente, eu começo a entender por que Hanna
sempre mantém a sua guarda tão alta e não dá bola para gracinhas alheias.
Mesmo assim, ela desenvolveu essa maneira de rebaixar os homens com
autoritarismo.
Quando terminamos de comer, sinto-me desconfortável novamente;
afinal, eu teria que abordar o assunto de uma vez por todas. Hanna se
levantou, tirando nossos pratos, e retornou com as taças de sobremesas.
— Vamos voltar para a sala? Conversamos melhor lá. — Ela sugere,
e eu pego as nossas taças de vinho e a segunda garrafa que ela havia aberto
para nós.
— Não podemos deixar esse vinho horrível para trás.
— Não derrubando em mim, está ótimo. — Ela brinca e se senta de
um lado do sofá, e eu do seu lado oposto, mantendo a nossa distância.
— Aquilo não foi culpa minha. — Sirvo as taças, achando graça na
sua fala.
— Como não? Você estava todo desesperado. — Seu sorriso
hipnotizante aparece. — Mas o que foram aquelas perguntas?
— Você estava parecendo que iria sair correndo a qualquer momento,
Hanna. Eu só quis saber mais de você. — Dou risada, e ela se aproxima de
mim.
— Agora quem está parecendo que vai sair correndo é você.
— É um assunto confuso — revelo, iniciando a minha própria
armadilha.
— Mas foi você que quis começar com isso. Fez toda aquela cena
para nada? — Seu sorriso de canto se acentua.
— Claro que não foi para nada. Eu quero tentar algo com você… —
confesso de uma vez. — De verdade.
— Algo que não seja um namoro? — Hanna bate a colher na sua taça
de sobremesa, encarando-me, mais séria. — Foi isso que você disse, pelo
menos.
— Eu quero algo que você queira também! — Minha respiração fica
descompassada com a situação.
— E se eu quiser um namoro? — Ela sabe o que exatamente está me
travando.
A colher volta para os seus lábios, tornando difícil pensar, e o silêncio
se estende pela sala. Eu tento buscar em minha mente as palavras certas para
discutirmos isso, mas sinto sua paciência se esvaindo enquanto eu mantenho
minha boca fechada.
Hanna se levanta, bufando por deduzir a minha resposta, e, no
momento que ela passa na minha frente, eu largo a taça de vinho na mesa de
centro e me levanto, bloqueando a sua passagem. Seus olhos, que, durante o
dia, são claros como uma pedra preciosa, agora estão como um lago escuro.
Minhas mãos vão para o seu pescoço, segurando-lhe o rosto em minha
direção para definir bem o que vou dizer.
— Então vamos namorar.
Aceito, por fim. Eu não vou perdê-la por um medo bobo. Eu a quero.
Quero como nunca quis alguém. Vou fazer isso entre nós dar certo. Vou me
dedicar!

Encosto a minha testa na dela e lhe acaricio as bochechas enquanto


me seguro para não a beijar e acabar com o assunto antes mesmo de
definirmos algo.
— Eu não sou mulher de sexo casual, nem sou mulher para
brincadeiras. Se você está apenas querendo transar, não vai acontecer nada
entre nós; então, por favor… — Hanna sussurra. — Me diga exatamente o
que você quer, Ander.
Lembro-me da conversa que eu tive com o meu pai um tempo atrás
sobre não ocupar o tempo de alguém se você não tem intenção de fazer uma
família e rapidamente várias situações passam em minha mente
demonstrando um futuro. Então, eu falo quase em um desespero.
— Eu quero você, Hanna! A qualquer custo! Sem Kauan, sem Érika,
sem ex-namorado, sem nossos pais ou esse medo interferindo na nossa
relação! Eu não durmo mais em paz, eu sonho com você quase todas as
noites, não consigo trabalhar direito de tanto que os seus olhos aparecem em
minha mente, não tenho sossego, não tenho mais equilíbrio, me sinto falho,
me sinto incompleto. Eu quero você, Hanna. Quero mais momentos para
tomarmos a droga de um vinho seco ruim, quero estar do seu lado quando um
bendito camarão se esconder em sua comida para que eu possa te ajudar,
quero escutar você me chamando de “spitz-alemão” quando quiser brincar
com a minha cara, para que eu possa te chamar de “mandona” e, mesmo
assim, fazer todos os seus gostos, e eu quero ser o único a encostar em cada
pinta que tem nesse seu corpo lindo! Quero que seja minha!
Eu podia sentir nas suas palavras o quanto ele estava sendo
verdadeiro. Meu instinto me dizia para confiar, e eu não mais resistia à
emoção que senti em escutar tudo aquilo. Meu coração passava os batimentos
para a minha orelha; minha garganta estava seca; e meus olhos não se
desviavam da sua boca, enquanto eu pensava que essa era a confissão que o
senhor Diogo mencionou na nossa última conversa.
Não estávamos distantes. Suas mãos já estavam em mim. Então, eu o
beijei como se algo pudesse ser perdido se eu deixasse aquele momento
passar e o puxei para que os nossos corpos se juntassem, enquanto ele
levantou meu corpo com rapidez, puxando as minhas pernas para se lançarem
ao redor da sua cintura.
Sua mão desceu pelo meu corpo, alcançando a minha bunda, e a
apertou com força, fazendo a minha pele responder aos seus toques e beijos.
Minha intimidade clamou por mais, umedecendo-se em cada movimento
lento do seu pau roçando em mim.
— Eu preciso de você. Agora! — falo, quando o nosso beijo se cala
por pequenos instantes, sentindo a vergonha me ruborizar por tomar a partida
para esse ato.
— Isso é o tipo de coisa que você não precisa nem me pedir. — Ele
sorri, convencido, e imediatamente encosta o meu corpo no couro gelado do
sofá.

Suas mãos seguem para debaixo da minha regata, fazendo-me arrepiar


sob o seu olhar desejoso, e propositalmente ele vai direto para os meus
mamilos, para ressaltá-los ainda mais no tecido. Seus dedos tendem a me
causar um calor ainda maior entre as minhas pernas, e eu me seguro em seu
corpo rígido.
— Espero que os seus vizinhos não tenham acesso a essas paredes de
vidro. Só eu posso te ver sem roupa! — Ele fala, abafado em meu pescoço,
enquanto me beija, tirando pequenos sons da minha garganta.
Imediatamente, eu visualizo as janelas atrás de nós. Como as paredes
da minha sala são inteiramente de vidro, eu não deixo de desconfiar que
algum louco poderia nos ver aqui; mesmo com os muros altos, nada
impediria de que as casas com dois andares tivessem uma visão daquela área.
— Vamos sair daqui — digo, receosa, pensando que eu não
conseguiria transar tão exposta pela luz da noite.
— Nem pensar. Quero que eles pelo menos escutem que essa mulher
aqui tem dono. — Seus dedos pressionam os bicos dos meus seios no mesmo
instante, e eu sinto os seus olhos denunciarem a sua vontade de me foder
naquele sofá.
Anderson procurou por algo na sala que eu só entendi quando o notei
pegando o controle das luzes. Em seguida, ele apagou tudo, talvez para me
tranquilizar. Ainda assim, a noite estava clara, iluminando o seu corpo
musculoso por cima do meu.
Solto o ar que me resta nos pulmões, procurando não gritar com a
pressão que ele me exerce com os dedos retorcendo com força os meus
mamilos. Sua língua traça um caminho entre os meus seios, molhando o
cetim da minha regata. Por que ele tinha que ser tão sedutor dessa maneira?
Nessa posição.
A visão dele fazendo isso aumenta o meu desejo e me faz sentir tudo
com mais intensidade, deixando-me ainda mais úmida, pois ele parece me
querer como se eu fosse tudo aquilo que ele acabou de falar.
Quando os seus dedos me dão alívio, por pouco tempo, eu consigo
notar as nossas ações desesperadas, como se fôssemos adolescentes querendo
transar a todo custo, porque o afastamento dos toques dele, que foi somente
para tirar a minha regata, já me deixou angustiada querendo mais.
Meus cabelos se espalham pelo sofá quando eu me reclino
novamente, e ele se acomoda no meio das minhas pernas, colando seus
joelhos na base do sofá e me deixando ainda mais vermelha pela posição em
que eu me encontro.

Seu sorriso aparece em seus lábios quando me vê sem o sutiã, e posso


observar que as mordidas da nossa última transa ainda estão marcadas em
minha pele. Ander se abaixa, indo em direção a elas, que estavam por toda a
área dos meus seios, e então ele passa sua língua nos fracos hematomas,
encarando os meus olhos como se me provasse, para, então, se afastar e
deixar a sua saliva formar uma linha entre o meu corpo e a sua boca.
Eu estava perdendo um pouco da minha vergonha dos seios pequenos
que tenho. Eles são uma das partes do meu corpo que o Ander não largava
quando fazíamos essas coisas. Parece que ele iria enlouquecer se não os
colocasse em sua boca, e eu já estava me acostumando com isso, porque ele
sabia muito bem usar a língua e fazer a sucção neles.
Suas mãos quase que passaram despercebidas por mim quando ele
quis tirar a minha calça, porque eu me deleitava com a sua língua, que
começou a brincar com os meus mamilos. Mesmo assim, eu sinto quando ele
aperta minha bunda com aquelas mãos enormes, para, em seguida, alcançar o
cós alto da minha calça e a abaixar em um movimento rápido.
Aqueles olhos cheios de tesão me observam, enquanto ele morde seu
lábio inferior em uma estranha veneração por me ver somente de calcinha.
— Tinha que usar a porra da calcinha vermelha hoje? — Sua voz é
grave e desejosa.
— Não foi intencional. — Minto, sabendo o quanto pensei nessa
possibilidade.
— Eu duvido muito que você não tenha pensado em mim te fodendo.
Eu mesmo não conseguia afastar esses pensamentos! — Sinto as minhas
bochechas se avermelharem com suas palavras, e, então, as suas mãos
seguram com confiança em minha cintura para me ajudar a levantar. — Vire!
De costas? Ele me queria de quatro?
Claro que, em todos os momentos em que ficamos juntos, eu me
questionei se o que estava fazendo estava certo; afinal, eu só tive uma
experiência e nunca mais. Creio que o meu rosto confuso lhe expressou meus
pensamentos, e, com destreza, o Anderson me girou no sofá, fazendo-me
apoiar os joelhos no estofado e as mãos no encosto.
Ele se encaixou na minha bunda empinada, fazendo-me sentir a sua
ereção. A calça o sufoca, com certeza. Suas mãos deslizam para os meus
seios, apertando os bicos que já estão ardidos pelos minutos anteriores em
que ele estava os chupando. Eu já não estou aguentando mais o incômodo do
molhado entre as minhas pernas, e, então, ele se volta para trás, chegando até
as alças da minha calcinha.
— É claro que isso aqui foi intencional, senhorita mandona. Por que
tem a porra de um fio tão fino no meio da sua bunda? — Como ele consegue
falar algo assim? — Isso aqui poderia ser considerado crime.
Anderson acaricia um dos lados da minha bunda e, sem que eu esteja
esperando, ele me morde no mesmo local.
— Só tire logo ela! — suplico, sentindo minha pele arder por causa
dos seus dentes.
— Não mesmo! — Ele começa a massagear onde me mordeu, e eu
sinto quando um dos seus dedos se encaixa no fio da calcinha para empurrá-
la para o lado. — Vamos fazer assim!
Porra, isso é vergonhoso demais. Eu deveria ter bebido mais.
Viro-me para encará-lo e encontro o seu sorriso se aproximando do
outro lado da minha bunda, para, em seguida, me morder com força. A
sensação era dolorida, mas se misturava com todo o meu prazer, que só me
entregava sensações ainda mais estranhas. Ele se afasta para tirar a camisa e
começa a desabotoar a calça. Seu membro grosso sai para fora da cueca, e ele
o ajeita melhor para buscar em seus bolsos a camisinha, que eu o observo
rasgar com rapidez e encaixar em seu pau.
— Parece que não foi só eu que fiz coisas intencionais hoje. —
Sorrio, virando-me para frente novamente.
— Não posso negar, você não é santa, e eu também não sou um padre,
né? — Ele dá um tapa na minha bunda, fazendo o som estralar na sala.
Sua palmada foi uma surpresa e tanto. O local já estava sensível
devido à mordida, e a sensação me deu um aperto no útero. Se eu não
estivesse com aquela pequena calcinha, com certeza o meu pré-gozo já estaria
escorrendo pelas minhas pernas. Sem demora, ele desliza seu pau entre minha
bunda, fazendo eu me molhar ainda mais de desejo. Meu corpo naturalmente
se empurra em sua direção, desejando-o dentro de mim para acalmar o meu
calor.
Anderson desliza a mão em minha intimidade, sentindo o tecido da
calcinha denunciar o meu prazer por estar encharcada, para, em seguida, tirar
o restante da calcinha da sua direção, deixando-me totalmente visível ao seu
toque e introduzindo o seu dedo do meio na minha boceta, abrindo-a.
— Você está tão molhada! — Sua voz parece desejosa demais, como
se ele estivesse se segurando.
— Não me diga o óbvio, eu já te falei que eu quero você — falo,
completamente possuída pela excitação que preenche o meu corpo.
— Logo, logo eu vou calar essa sua boquinha atrevida. — Percebo
seu sorriso se tornar uma risada baixa.
Ele entra de uma só vez em mim, tirando de mim um gemido alto, que
escapa do fundo da minha garganta. E ele não para de me abrir cada vez mais
fundo, modificando a minha respiração, que sai mais ofegante e audível para
nós.
Ergui o meu corpo para que eu me encostasse em seu peito no
momento em que eu senti que poderia fazer isso. Sua pele estava quente atrás
da minha, e, sem demora, eu levei os meus braços para lhe alcançar os
cabelos. Seus movimentos começaram a se acelerar, e uma das suas mãos foi
para o meu pescoço, agarrando-o com a força necessária para me manter
grudada nele, enquanto a outra se manteve na minha cintura, guiando-me em
cada estocada barulhenta.
Meus gemidos se acentuavam com a palma da sua mão, que sentia o
meu respirar e os meus batimentos loucos. Eu também sentia o meu sangue
correr pelas minhas veias enquanto o meu corpo todo se harmonizava com o
nosso vaivém. Senti o meu interior me dizer que estava se preparando para
explodir quando ele puxou a tira da calcinha que estava em sua mão,
rasgando-a por completo.
— Pare de rasgar as minhas calcinhas! — digo, ofegante.
— Elas são frágeis demais, não é culpa minha! — Escuto sua risada
no pé do meu ouvido. — E eu sei que você gosta disso!
Anderson me puxou mais forte contra o seu corpo, fazendo as nossas
peles provocarem um som ainda mais excitante, e simplesmente parou os
nossos movimentos repentinamente. Meu corpo se esfriou como um fogo que
estava crescendo e aumentando, e do nada jogaram água apagando as suas
chamas. Em seguida, ele entrou forte novamente, fazendo o meu ser se
contrair pelo impacto e o meu gemido alto ecoar no ambiente. Céus! Eu
estava me viciando no sexo com ele.
— Acelera! — suplico, pedindo pelo nosso antigo ritmo.
— Ainda não, aguenta mais um pouco!
Minhas mãos já estavam em cima da sua, que ainda se encontrava no
meu pescoço, enquanto eu tentava me movimentar sozinha, mas eu sabia que
era em vão, porque ele conseguia me manter sob o seu controle. Eu estava
sendo guiada pelos seus toques e pelas suas estocadas. Anderson liberou o
meu pescoço e me apoiou para a frente no sofá. Ele segurou um dos meus
seios, que se encaixava perfeitamente em sua mão, enquanto voltava com
tudo para dentro de mim.
Eu consegui sentir meu líquido deslizar em minhas pernas, e aquilo só
aumentava em cada estocada mais forte. Demonstrei para ele que eu queria
me virar, queria ver o seu rosto, vê-lo gozando junto comigo, e ele entendeu
no mesmo instante, saindo de dentro para que pudéssemos ficar cara a cara
um com o outro.

— Mais, eu preciso de mais! — Minha voz já estava quase inaudível


quando ele voltou a me penetrar.
— Você ainda não me disse se aceita. — Ele entrou de novo, e de
novo.
Como ele queria que eu respondesse algo naquele instante, se a minha
mente estava vazia e o meu orgasmo estava prestes a chegar quebrando o
meu corpo a cada segundo que se passava?
— O quê?
Organizo meus pensamentos enquanto meu corpo ficava em alerta,
gritando que eu estava prestes a gozar. Anderson não me disse mais nada,
apenas investiu ainda mais rápido, alcançando o meu limite. Eu me derreti
nele; foi mais intenso que das outras vezes — talvez fosse a posição, ou todas
as palavras ditas em nossas confissões para que chegássemos até aqui, mas
não me contive em segurar o gemido, que veio junto com milhares de
sensações em meu corpo.
— Você não me disse se aceita namorar comigo!
Sua voz se mistura ao momento, enquanto eu atinjo o meu extremo,
de modo que o meu "sim" quase nem é escutado em meio aos suspiros. Eu
sabia que o meu corpo confundia cada sentido meu em um único ponto do
meu corpo, e os seus lábios se agarravam nos meus após a minha resposta
abafada, mordendo com força a minha boca. Então, senti o calor dele se
derramando dentro em mim.
Nossas testas agora encostadas se apoiavam, ao passo que nossos
corpos retornavam ao ritmo natural. Eu sorri, achando graça na sua última
frase mencionada, enquanto eu nem conseguia pensar direito, e na minha
resposta súbita.
— Se você me pediu em namoro… — Paro para respirar, porque
ainda estava ofegante. — Um pedido que eu ainda não escutei formalmente, a
sua resposta é sim, spitzinho, podemos namorar.
Anderson abriu um sorriso malicioso para mim, e, pela primeira vez,
eu notei que toda a raiva que eu sentia desse sorriso era por causa da
excitação escondida. Ele era tão lindo, que eu o irritava para ver se pelo
menos o seu caráter o deixava menos desejável, mas a provocação criada por
nós dois era a nossa maneira de nos aproximarmos, até que os nossos lábios
se chocassem.
Era difícil demais me manter longe dele, então, assim que
conseguimos nos afastar para que enxergássemos o rosto um do outro, minha
ficha, enfim, caiu, dizendo-me que eu o havia deixado entrar. Estávamos
juntos, e o meu coração receoso estava se entregando para aquele sentimento.
— Então agora você é minha senhorita mandona! — Anderson sorriu
ainda mais e me prendeu ao seu corpo firmemente no momento em que se
levantou, enquanto ainda estávamos conectados. — Não tem mais volta!
— Você está louco? — Dou risada após o meu susto, e seus passos
me fazem sentir seu membro ainda duro se movimentar dentro de mim,
fazendo todo o desejo retornar. — Por que levantar desse jeito?
— Cadê o seu bendito quarto? — Ele caminha pelo corredor,
procurando pela porta.
— Ali! — Aponto o painel na parede, e ele se aproxima.

Coloco o meu dedo no sensor digital, e a porta se abre para nós.


Anderson entra me olhando e sorrindo sem parar, ao mesmo momento em
que me deposita na cama, saindo de dentro de mim com cuidado, causando
aquele pequeno arrepio devido à nossa separação. Ele retirou a camisinha do
seu pau, amarrando-a e jogando-a no chão; então, buscou em seu bolso por
algo, mostrando-me outra camisinha quando a encontrou.
— Seu sem vergonha. — Dou risada quando ele a entrega para mim.
— Por que trazer duas camisinhas?
— Eu poderia perder a outra, não poderia?
— E o que você acha que vai fazer com isso? — Giro a embalagem
em meus dedos.
— Eu falei que não tinha mais volta. Agora aguente!
Ele me puxou pelas pernas de novo ao seu encontro e me agarrou.

Minha mente não desligava pensando nas coisas que teríamos que
acertar por causa desse namoro, enquanto meus dedos passeavam em sua
tatuagem, com a qual eu já estava me acostumando. Anderson descansava,
acariciando-me os cabelos após o nosso segundo round ter quase destruído a
minha cama. Parecia mesmo que ele estava se esforçando para isso.
— Por que você tem essa tatuagem? — Desenho as asas em sua pele,
e ele respira ao meu toque. — Você não tem muitas, pelo que eu reparei.
Então, imaginei que elas tivessem significados.
— Andou reparando no meu corpo, então? — Vi seu sorriso.
— Você não fez o mesmo comigo? Não desejou beijar as minhas
pintinhas?
— Verdade, agora eu posso fazer isso sempre que eu quiser! — Seus
braços me apertam um pouco mais. — Mas o anjo... já ouviu falar sobre a
Queda de Ícaro?
— Não — respondo, após pensar um pouco.
— Então eu vou ter que te contar uma história mitológica antes de
falar do significado. — Acho engraçada a forma como ele aborda o assunto.
— Ícaro era filho de um habilidoso inventor. Um dia os dois foram presos em
um labirinto e, para escapar, seu pai criou asas de penas e cera. Antes de
voar, ele alertou seu filho para não voar muito alto, pois o calor do sol
derreteria a cera das asas, e também lhe disse que não voasse muito baixo,
pois a umidade do mar deixaria as penas pesadas, porém Ícaro desprezou o
aviso de seu pai e voou cada vez mais alto, ficando deslumbrado com a
sensação de liberdade e se cegando com a sua confiança. No entanto, suas
asas derreteram com o calor, e ele caiu no mar e morreu afogado.
— Por que tatuar um personagem que morreu por ser irresponsável?
— Exatamente por isso. A história é para alertar sobre os perigos das
ambições que temos. Claro que ser ambicioso é importante para que
alcancemos os nossos objetivos, mas temos que ser realistas com a vida. —
Levanto a cabeça assim que ele fala isso, pensando em como eu tinha medo
de o Anderson ser mais um interesseiro na minha vida, enquanto na verdade
era o contrário, ele tinha receio da ambição. — Para mim você é o Sol,
Hanna.
— Por quê?
— Na minha cabeça, seria uma ambição muito grande eu querer você
como minha. Parecia errado eu não ter um relacionamento sério com uma
mulher que merece uma família linda.
— E o que mudou?
— Eu descobri que você também é as minhas asas. Não faz sentido
nenhum eu me aprofundar nos meus planos se eu não tenho você neles.

Não o encarei, permaneci com as minhas mãos naquela tatuagem,


porque eu não precisava escutar sobre os sentimentos dele para ter confiança
no nosso relacionamento. O Anderson era um homem de 29 anos que sabia
muito bem o que queria. Se ele estava comigo, era que por um milagre dos
nossos pensamentos terem se encaixado no momento certo, aquilo não se
tratava mais de dinheiro ou aparência.
Observei a pequena sacola que eu deixei em cima da minha
penteadeira, lembrando-me de que eu havia preparado aquilo antes de ele
chegar.
— Tenho algo para você! — Levanto a minha cabeça, e ele me olha,
desconfiado.
Vou buscá-la enrolada em meu robe e pego aquela sacola,
entregando-lhe logo em seguida.
— O que é isso? — Ele diz, segurando com cuidado.
— Seu aniversário foi segunda, não foi? Este é o seu presente. —
Bato na sacola e sorrio para ele. — Abre logo.
Anderson retira o embrulho da sacola com cuidado e logo começa
abrir a embalagem, chegando até uma caixa que ele mesmo me deu, a tal
caixinha misteriosa.
— O que isso significa? — Ele me encara.
— Significa que só você consegue abrir isso. Então, é mais seu do que
meu. — Retiro da caixa o presente que ele havia me dado de aniversário,
entregando-o em suas mãos.
— Você não conseguiu abrir até hoje? Todo esse tempo o meu
presente esteve fechado? — Seu sorriso se abre, achando graça.
— Você não me deixou o manual de instruções desse negócio.
— Meu Deus, Hanna! Venha aqui do meu lado. — Ander bate na
cama, chamando-me. — Coloque seu dedo aqui. — Sua mão agarra a minha
assim que eu me sento, e ele a coloca de um lado da caixa. — E agora essa
outra mão aqui. — Faço o mesmo movimento com a outra mão. — Consegue
sentir esse relevo no detalhe da caixa? — Aceno que sim. — Aperte!
Quando os meus dedos apertaram a pequena caixa dos dois lados, a
pedra de cima se levantou, e eu a retirei rapidamente para me deparar com
uma fechadura.
— E a chave? — falo, ansiosa por poder abrir logo a caixa.
— Vire a caixa de cabeça para baixo! — Eu giro o presente em
minhas mãos, não encontrando nada embaixo. Encaro o seu rosto, com as
minhas sobrancelhas juntas.
— Sabe esses pezinhos da caixa? Tente puxar! — Seus olhos
pareciam estar se divertindo com as minhas reações.

Os dois primeiros pezinhos da caixa não saíram, deixando-me com


apenas duas opções. Peguei o terceiro pezinho, e nada aconteceu, fazendo eu
ficar frustrada. Quando puxei o último com força, ele se desconectou rápido
demais, quase acertando o meu rosto. Anderson deu risada do meu ato
desajeitado. Olhei para a minha mão novamente e observei a chave, pequena
e linda, toda detalhada naquele pezinho da caixa.
— Abra! — Ele falou em meu ouvido.

Girei novamente a caixa em minhas mãos e encaixei a chave na


fechadura, escutando as engrenagens se abrirem. Levantei a tampa e me
deparei com dois braceletes, um de ouro e outro de prata. Eles estavam
perfeitamente encaixados em um estofado, tocando-se levemente. Era esse
contato que eu escutava quando mexia a caixa.
— Uau! São lindos, Ander! — falo, sem tirar os olhos da caixa.
— Eu nunca tinha te visto, não sabia se gostava de coisas douradas ou
prateadas, então pedi com as duas cores. Agora olhe dentro! — Anderson me
encara, como se dissesse “ainda não acabou”.
Tirei uma delas de dentro da caixa e vi que, na parte interna, havia
uma gravação a laser escrito "Hygge" e, na outra, estava escrito "Ukiyo".

— O que significam? — digo, e Anderson pega uma das minhas


mãos.
— Hygge significa "lugar de aconchego". Claro que eu não iria te dar
qualquer tipo de presente; gosto de coisas que tenham significado, que se
tornam importantes por causa de algo!
— Eu amei, nunca imaginei que poderia ser uma coisa dessas. —
Entrego-lhe a outra, para que ele me diga o significado.
— Ukiyo significa "viver o seu presente".
— Onde você encontrou peças tão únicas assim? — Encosto a minha
cabeça em seu ombro, observando-as em suas mãos.
— Tenho um conhecido que faz. Qual vai ser a minha? Você me
prometeu um presente. — Anderson abriu as suas mãos, deixando os dois
braceletes expostos para que eu escolhesse.
— Eu fico com a Hygge, porque agora você será o meu lugar de
aconchego. — Pego da sua mão o bracelete dourado, colocando-o em meu
braço.
— E você será o meu presente… — Ele beija a minha testa e coloca a
outra peça prateada em seu braço. — Senhorita Mandona.
O som do chuveiro ligado aos poucos foi me despertando, fazendo os
meus olhos abrirem devido ao susto de estar atrasado para algo. Encarei o
quarto, observando que ele estava mais arrumado do que notei na noite
anterior. Procurei por ela, encontrando-a em seu banho quente, que formava
fumaça em seu box. As paredes do banheiro no quarto da Hanna eram de
vidro, ajudando-me a observá-la lavar o seu cabelo com muita espuma.
Creio que ela não conseguia entender o quanto era linda. Percebi que,
em alguns momentos, ela sentia muita vergonha de si, mas seu corpo se
desenhava por si só, tendo curvas perfeitas para mim. Desejei memorizar
cada detalhe do seu corpo, vendo brilharem as suas estrias como se fossem
desenhadas por um fino pincel de tinta dourada. Seus cabelos definiam bem a
cor castanho-escuro enquanto eram molhados. Suas costas magras também
ressaltavam os ossos da sua coluna. Consegui notar, ainda, o tom
avermelhado que deixei marcado em sua bunda ontem…
Certo, certo, certo, hora de levantar!
Meu corpo, já aceso, guiou-se pelo quarto até chegar perto dela,
totalmente sem sons. Deslizei a porta com calma e logo os meus passos me
deixaram atrás do seu corpo. Enquanto ela estava concentrada lavando os
seus cabelos, beijo o seu pescoço, abraçando-a por trás. Seu susto vem logo
em seguida.
— Por que me assustar assim? — Hanna bate em meu braço, e seu
sorriso aparece através da água que desce pelo seu rosto.

— Bom dia, moça fujona! — Abraço-a mais forte, entrando embaixo


do chuveiro também.
— Eu já disse que não sou fujona, só estava precisando de um banho.
— Ela se encosta em mim, ajudando-me a ficar totalmente molhado.
— Você ainda tem tempo antes de ir para a sua empresa ou está
atrasada? — Deslizo as minhas mãos pelos seus braços, encostando os nossos
braceletes.
— Tenho tempo, sempre acordo cedo para sair e caminhar. — Hanna
passa as mãos pela minha joia, acariciando-a, tornando aquela joia o que eu
desejei que elas se tornassem: algo especial.
— Que bom, então. Que tal você fazer outro tipo de exercício hoje?
— Giro o seu corpo e descanso as mãos em sua bunda, vendo a sua cara
entender as minhas palavras.
— Não me diga que você trouxe uma terceira camisinha! — Hanna
sorri, encostando a sua barriga em meu membro.
— Você não tem?
— Digamos que não é uma coisa que eu sempre compro! — Percebo
seu rosto corar com as suas palavras.
— Então eu acho melhor você comprar um estoque para usarmos. Já
te falei que eu não vou te deixar em paz. — Beijo-a, buscando pelo seu lábio
inferior e o mordendo com desejo enquanto ela se esfrega em mim.
Sua mão direita desce para o meu membro e começa a me masturbar,
puxando-me com a sua outra mão no meu pescoço para que o nosso beijo não
acabasse. Eu a instigo para mais, abaixando-me um pouco para que os nossos
lábios ficassem na altura perfeita para nós dois.
— Podemos fazer outra coisa em vez de transarmos, né? — Ela fala,
após pausar o nosso beijo.
— No que está pensando?
— Nisso aqui! — Hanna começou a se ajoelhar na minha frente.
Ela vai fazer isso mesmo que eu estou pensando?
Droga! Ela vai sim!
Imaginar como eu já imaginei tantas vezes ela me fazendo um
boquete nunca me pareceu tão tentador quanto ver isso realmente na minha
frente, e, agora, com as suas pequenas mãos me tocando como se eu fosse um
completo mistério para ela descobrir, eu já estava em meu máximo de tesão.

Hanna desceu beijando a minha barriga e, enfim, seus joelhos se


encostaram no chão, trazendo a sua boca em direção ao meu pau. Fechei os
olhos quando seus lábios se abriram, engolindo-me quase por completo. A
sensação da sua boca em mim me fazia sentir um frenesi; se eu não me
concentrasse, poderia me derramar nela em poucos minutos.
Hanna insistiu, colocando-o novamente em sua boca, e eu percebi o
movimentar da sua língua em volta da cabeça do meu membro quando abri os
meus olhos. Ela tentou mais uma vez colocá-lo inteiro em sua boca, e seus
movimentos demonstraram seus limites. Ela iria se afogar se continuasse
tentando, então eu direcionei a sua mão para poder ajudá-la.
A água quente do chuveiro escorria pelo meu abdômen, passando
perto do seu rosto. Hanna estava em uma posição simplesmente inexplicável;
tão linda, que eu cheguei a pensar se eu não estava em um sonho. Sua mão
direita permanecia segurando o meu pau, enquanto a sua outra mão se
apoiava na minha perna em seu movimento de me chupar. Sua bunda se
destacava, empinada, enquanto seus olhos não se afastavam dos meus. A sua
mão me masturbava junto com os movimentos da sua boca e, quando ela
parava por breves segundos, limpava o canto da boca, que escorria a sua
saliva, fazendo-me querer penetrá-la forte e duro contra todos esses vidros.
Quando sua boca quis me engolir por inteiro novamente, eu não me
aguentei em segurar o seu cabelo molhado em minhas mãos e, então, a sua
língua, por fim, decidiu me torturar, passeando por toda a extensão do meu
pau, babando nele todo.
— Venha aqui! — Levanto-a, sabendo que não conseguiria aguentar
aquilo por muito tempo. — Eu não posso mais te ver nessa posição.

— Estava tão ruim assim?


Ela dá risada, e eu viro o seu corpo contra o box, que estava marcado
pela fumaça, fazendo-a protestar por causa do vidro frio.
— Eu ia gozar na sua boca se não parasse! — Deslizo a minha mão
pela sua bunda e aperto a sua pele quente com força, marcando-a. — Não
quero nem te perguntar como aprendeu isso, que eu sei que irei ficar irritado.
— Acerto um tapa mais leve logo em seguida, aliviando a pressão que exerci
com os dedos.
— Eu nunca tinha feito isso antes. — Percebo o seu reflexo
ruborizado ao falar.
Tento raciocinar sobre o que a Hanna havia acabado de me dizer,
enquanto minha mão passeava pela sua cintura e encontrava o meio das suas
pernas. Com a palma da minha mão, comecei a esfregar seu clitóris,
encostando as pontas dos meus dedos em sua entrada. Hanna não parecia
mentir, mas ela realmente soube fazer um boquete. Como isso seria possível?
Talento natural?
— O que você está querendo me dizer com isso? — Encaixo o meu
queixo na curva do seu pescoço, beijando a sua pele enquanto via o seu corpo
se derreter em minha mão. Meu pau, ávido por mais, encostou em sua bunda
para se encaixar. — Como nunca fez?
— Eu nunca fiz… — Hanna tenta manter o diálogo, mas a minha mão
insiste em tirar a sua concentração. — Estou fazendo… muitas coisas… pela
primeira vez… com você. — Sua voz sai abafada quando sua cabeça encosta
no vidro, liberando gemidos baixos junto de cada palavra.
Essa mulher só pode estar querendo me matar me revelando essas
coisas agora, em um momento no qual eu nem posso estar dentro dela. Meus
dedos entram para o seu interior como se a sua bocetinha estivesse me
chamando, e meu pau inicia um vaivém, esfregando-se no meio da sua bunda,
no mesmo ritmo dos meus dedos, enquanto a minha outra mão me ajuda a
segurar a sua cintura.
Meus movimentos aceleram e eu consigo sentir cada parte do seu
corpo se quebrando quando o prazer a atinge. Meus dedos ficam melados,
mas eu não cesso o vaivém, sugando o seu pescoço para marcá-lo de
propósito. Eu já havia entendido que a Hanna não se importava com as
marcas —ela gostava, até se desarmava; ela pedia por mais, liberando a
minha passagem.
Quando sinto o seu interior se fechar em meus dedos, puxo-a para
mais perto ainda e coloco mais um dedo em seu interior, sem parar com o
nosso ritmo. Observo suas costas molhadas pelos pingos dos meus cabelos, já
que o meu corpo permanece debaixo d’água. Hanna geme mais alto quando o
seu orgasmo a atinge, e eu grudo nossos corpos debaixo do chuveiro,
gozando em suas costas.
— Porra! — Ela fala, cansada, em um linguajar que eu nunca tinha
escutado.
— Eu pensei a mesma coisa! — digo, sorrindo, enquanto a Hanna
tenta se virar para mim. — Pode ficar assim mesmo, vou te lavar — digo,
segurando a sua cintura.
Durante todo o nosso banho, eu pensei em como abordar aquilo que
ela me revelou, sentindo-me como alguém que acabou de tirar a virgindade
de uma puritana. O quanto Hanna tinha de experiência sexual? Não que ela
não quisesse me chupar, até porque foi ela que se ajoelhou na minha frente,
mas eu quis muito saber o quanto ela já se aventurou nessa vida e, talvez,
levá-la ainda mais para o meu mau caminho.
Após o ótimo “bom-dia” que recebi, arrumei-me rapidamente para ir
até a minha empresa. Logo me despedi de Hanna, marcando de encontrar
com ela de noite novamente. Agora eu tinha uma namorada, e uma de quem
eu queria muito cuidar, para que a nossa relação desse certo!
Chego à empresa como se tivesse passado uma eternidade,
considerando tantos acontecimentos. Eu precisava conversar com o Kauan,
descobrir o que aconteceu entre ele e a Hanna na segunda passada, e eu sabia
que não poderia perguntar isso para ela, porque com toda a certeza a Hanna
tentaria amenizar a situação, já que eu e o Kauan somos sócios de uma
empresa que ainda está em crescimento. E, caso houvesse algum rompimento
entre uma das partes, nós poderíamos falir.
— Bom dia, Meg. O Kauan já chegou? — Vou em direção à mesa
dela.
— Bom dia, Senhor Anderson. Já sim, ele está na sala dele.
— Obrigado! — Busco em meu bolso a minha carteira. — Tome aqui
o cartão da empresa. Chame o restante do pessoal para ir tomar um café com
você. Preciso ficar a sós com o Kauan. — Meg me olha, preocupada, mas se
levanta sem questionar.
— Certo! Já estamos indo! — Fico parado, encostado em sua mesa,
vendo-a passar de sala em sala buscando pelos outros funcionários e saindo
para o elevador.
Assim que as portas se fecham, eu me dirijo para a porta do Kauan e
deposito algumas batidas, enquanto organizo em minha mente as coisas que
eu precisava dizer. Kauan abriu a porta como se ele estivesse do lado dela, e a
sua aparência estava como a de um louco: cabelos bagunçados, olheiras
fundas e roupas malpassadas.
— Bom dia, Kauan! — falo, estranhando aquela situação, e entro em
sua sala.
— Bom dia, Naveen. Como foi a sua viagem? — Ele fecha a porta e
se senta.

— Foi boa, bem boa mesmo. — Não posso negar este fato, já que
hoje eu amanheci em um relacionamento com a mulher dos meus sonhos,
literalmente. Encosto no meu bracelete pela vigésima vez hoje pensando nela.
— Você está bem? Notei desde a semana passada que você parece
preocupado com algo.
Eu precisava abordar o assunto e imaginei que, se eu começasse por
esse fato, a conversa iria tomando o devido rumo aos poucos, mas eu
realmente estava enganado.
— A cara? Mulher, né? — Kauan passa as mãos pelos cabelos.
Como ele conseguia agir naturalmente depois do que fez com a
Hanna? É claro que não é apenas qualquer mulher, é a porra da MINHA
mulher. Puxo o meu ar, tentando me manter calmo.
— Sabe, Kauan, eu andei conversando com a Hanna… — falo e
observo a sua reação. No mesmo instante, ele fica alerta por escutar o nome
dela. — E ela me falou algumas coisas ao seu respeito.
Falou dormindo, mas já conta. Tenho que tentar descobrir se é
verdade agora.
O Kauan muda a sua feição, decidindo o que deveria pensar a respeito
da minha afirmação, e seu rosto denuncia que a sua raiva o tomou pelo fato
de eu estar falando com ela.
— Quando vocês se encontraram? — Ele se levanta, nervoso, e vem
em minha direção. Eu me levanto por reflexo, ajeitando o meu terno. —
Vocês estão transando, né, seu filho da puta?
— Sou eu que deveria estar bem nervoso aqui. — Ficamos frente a
frente, mas a sua altura não o ajudava muito na conversa; afinal, ele era bem
mais baixo que eu.
— Então você não nega? Eu sabia! Eu tive todas as evidências na
minha cara e não quis enxergar. A calcinha… eu vi o carro dela também,
saindo da frente da sua casa aquele dia, mas eu só fui me ligar na semana
passada quando o seu motorista chegou para buscar ela com o mesmo carro
enquanto eu estava…

— Tentando agarrá-la, né? — Agora era a minha vez de partir para


cima dele, nervoso, quando o seu rosto lhe entregou a verdade, confirmando
aquilo que a Hanna me confessou. Agarrei o colarinho da sua camisa,
apertando o tecido. — Desde quando você se tornou um animal? Forçando
uma mulher a te beijar, Kauan?
— Me fala você, seu merda! Vocês estão fodendo esse tempo todo
enquanto eu estava tentando conquistar aquela vadia fingida.
Minha paciência se esgotou naquele momento, e eu atingi o rosto dele
com um único soco. Kauan caiu para o lado e me encarou, com raiva, do
chão, enquanto alisava o local que eu havia acertado.
— NÃO TOQUE MAIS NO NOME DELA, SEU FODIDO! NÃO
TENTE MAIS NADA COM ELA… — Respiro fundo para tentar me
acalmar e também para diminuir o volume da minha voz. — E... sim! Eu não
nego que estamos juntos agora. Então, não me provoque mais com esses
assuntos. Tenha respeito por ela.
— Seu, seu, s-seu… — Sua voz sai baixa e pensativa, mas, ainda
assim, dá para notar que está irado.
— A Hanna sempre deixou bem claro que só te queria como amigo,
Kauan, e você perdeu essa única oportunidade quando tentou forçá-la a um
beijo… — Ajeito a minha camisa e paro de olhar em seus olhos. — Eu
realmente achava que tinha um sócio mais humano e estou decepcionado com
o que você fez com ela.
— SEU FALSO DO CARALHO! — Ele grita e levanta, alterado,
vindo para cima de mim novamente. Eu o empurro contra a parede, fazendo o
seu corpo bater com força.
— Não me teste, Kauan! Você sabe que não é inteligente da sua parte
brigar comigo. A gente tem uma empresa para cuidar, então acalma esses
seus hormônios de adolescente e começa a trabalhar! — Direciono-me para a
sua porta. — E fique longe da Hanna. Ela não lhe pertence. — Saio da sua
sala bufando por todo esse enrolo em que acabei me metendo.

Se eu fosse mais sincero com os meus sentimentos desde o início, isso


nunca iria estar acontecendo. Pelo menos agora eu pude estabelecer limites
para aquele idiota infantil. Tenho que manter muito a minha calma para que
ele não rompa com a nossa parceria nos próximos dias; então, eu entendo que
precisarei voltar mais tarde para conversarmos tranquilamente.
Encaro a porta, sentindo a raiva consumir todo o meu ser!
Esse filha da puta do Anderson ainda vai me pagar por essa
humilhação. Eu simplesmente não vou aceitar ele vir aqui até a minha sala,
começar com esse assunto do nada, me bater, falar na minha cara que está
comendo a Hanna e sair como certo!
Já estava com a impressão de que os dois estavam de alguma forma
juntos, mas, após a sua confirmação, entendi que o tempo todo ele queria o
que era meu! Ele queria o que eu estava lutando para conseguir. Primeiro foi
com a Érika, já que ele simplesmente apareceu do nada com ela aqui na
empresa; agora, a Hanna. É claro que ele é um invejoso que só está esperando
eu escolher uma próxima mulher para tentar arrancá-la de mim, mas isso não
iria acontecer, porque eu não iria desistir tão fácil assim.
Quando tudo aconteceu com a Érika, eu não liguei, porque não
consegui conversar muito com ela, mas a Hanna... eu estava a conquistando
há muito tempo. Foram dias e dias enchendo o ego dela para simplesmente
ele a roubar de mim do dia para noite.
Passo a mão novamente onde ele acertou o meu rosto, sentindo o local
arder, e desejo com todas as minhas forças acabar com a vida dele. Para isso,
eu preciso reconquistar a Hanna; se não for por bem, será por mal.
No momento, eu entendo que, para que o meu plano dê certo, eu
tenho que continuar tendo essa amizade falsa com o Anderson e tentar ser o
porto seguro da Hanna novamente, mas como eu vou voltar a conseguir o que
tínhamos se ela parou de falar comigo? Maldita hora em que eu tentei beijá-
la! Com certeza eu a assustei. Deveria ter esperado um pouco mais. Ela não
estava preparada, mas agora eu tinha que aturar esse relacionamento dos dois;
como isso foi acontecer? Como eles ficaram juntos? Em que momento se
encontravam?
Com certeza o Anderson fez a cabeça dela com alguma coisa. E se ele
descobriu algo sobre ela e a está chantageando? Nessa porra de mundo dos
negócios, vale tudo. Todos estão a todo momento tentando dar uma rasteira
em alguém, e eu nunca na minha vida imaginei que isso iria começar dentro
da minha própria empresa.
Direciono-me à minha mesa e procuro por um contato antigo que eu
tinha certeza de que me ajudaria com algumas informações necessárias sobre
a minha querida senhorita Hanna.

Após o almoço, eu me direcionei para a sala do Anderson com toda a


minha cara de pau, para pedir "desculpas". Precisava arrumar um jeito de ter
a confiança dele de volta depois das coisas que acabei lhe dizendo no
momento da raiva. Se eu fosse mais esperto, não teria surtado, teria mantido a
calma e armado algo muito melhor sendo silencioso. Bato em sua porta e
logo ele abre.
— Podemos conversar? — digo, tentando demonstrar o quanto estou
falsamente arrependido.
— Claro, entre. — Ele abre mais a porta para que eu entre.
— Ander, me desculpe por hoje! — falo, com a voz mais lamentável
possível. — Você me pegou de surpresa contando tudo aquilo e, bem, você
sabia que eu estava tentando algo com a Hanna há muito tempo.
— Eu sei! — Ele fala sério e cruza os braços. — Não vou me
desculpar com você pelas coisas que eu disse e fiz. Todos os fatos são
verdade: estamos juntos, e eu quero que você a respeite.
— Eu só queria que você entendesse o meu lado, Anderson. Não falei
aquelas coisas de propósito sobre você e ela, só estava nervoso e confesso
que estou envergonhado e arrependido agora. — Finjo a minha melhor cara
de coitado. — Você tem razão por estar decepcionado comigo, porque eu
também estou.
— Kauan, a gente tem uma empresa para cuidar. Sem mim você não é
nada, e vice-versa.
— É por isso que eu estou aqui. Queria te dizer que pode ficar
tranquilo, você tem razão, vamos cuidar da nossa empresa. Esse sempre foi o
nosso sonho, não vamos acabar com tudo por causa dessa briga. — Vou dar
um jeito de acabar com esse idiota ainda.
— Certo! Então vamos trabalhar! — Anderson volta para a direção da
porta, e eu o sigo.

— Antes de sair, eu também queria te dizer para ficar tranquilo em


relação à Hanna. Eu vou ficar na minha. Não iremos mais tocar nesse
assunto, tá bom? — digo sério, mostrando a minha determinação.
— Para mim está ótimo! — Ele abre a porta sem me demonstrar se
acreditou em mim ou não. Mesmo assim, eu saio.
— Te enviei um e-mail pedindo orçamento para um novo produto.
Me retorne assim que puder — falo naturalmente.
— Pode deixar!
Afasto-me e o escuto encostar a porta.
Você nem imagina o que eu irei fazer com você, Anderson
Magalhães!
Minha manhã foi tão diferente do meu habitual, que quase me atrasei
para o meu trabalho. Eu estava namorando de novo, e, desta vez, era alguém
em quem eu decidi depositar toda a minha confiança após tantos anos com
medo. Não queria ficar o tempo todo desconfiada dele, então decidi esquecer
o meu passado com o Matheus. Eu não iria deixar esse fantasma ficar em
meus ombros para sempre.
Já tinha desenvolvido sentimentos pelo Ander bem antes de tudo isso
e eu precisava perceber que ele também sentia algo na mesma intensidade.
Agora mesmo eu estava observando o meu bracelete. Mesmo sem me
conhecer, ele havia comprado algo com um significado tão grande, que era
impossível desconfiar do sentimento dele por mim. A todo momento, eu
alisava a joia como se pudesse sentir a presença dele mais perto se eu
continuasse fazendo isso. Eu estava realmente feliz.
Escuto leves batidas na porta, que fazem os meus olhos desviarem do
meu pulso.
— Pode entrar!
Andréia aparece com o seu tablet em mãos.
— Hanna, o Kauan chegou. — Minha cara revela o meu
descontentamento. — Desculpa, mas você falou que eu poderia marcar um
horário para ele hoje depois do almoço.

— Eu sei, eu sei, me desculpe! Só não queria ter essa conversa com


ele agora. — Suspiro pesadamente.
— O que eu faço? Posso mandar ele entrar, ou você quer que eu o
mande embora?
— Pede para ele entrar, mas lhe avise que não tenho muito tempo.
Andréia sai rapidamente da sala, deixando-me pensar sobre o que iria
acontecer aqui hoje. Se ele tentasse algo novamente, iria sair daqui arrastado
pelos seguranças e de preferência sem as bolas. Meu corpo gelou quando a
porta se abriu novamente, obrigando-me a girar a cadeira para recebê-lo.
— Oi, Hanna! — Ele se aproximou, enquanto eu indiquei a cadeira na
minha frente.
— Oi, Kauan! — falo, sem tirar os meus olhos das janelas gigantes de
vidro. — Posso saber por que está aqui?
— Creio que te devo desculpas pelo que eu fiz na semana passada.
— Você já me pediu desculpas por mensagem… — Giro a cadeira,
encarando-o friamente. — Várias vezes.
— Você não me respondeu. Eu não queria que a gente ficasse assim,
então eu vim… — Sua voz sai triste.
— Não existe a gente, Kauan! — falo, áspera. — Eu quero ser bem
sincera com você, nunca existiu nada aqui, nunca te dei liberdades; no
máximo eu o considerei como um amigo, algo que você demonstrou não ser.
Percebi que o seu semblante não pareceu se abalar com as minhas
palavras, mas o seu olhar insistiu em demonstrar o quanto ele se sentia
arrependido com o que havia acontecido no nosso último encontro, fazendo-
me duvidar da raiva gigantesca que criei para cima dele.
— Hanna, por favor! Não deixe aquilo acabar com a nossa amizade.
Eu confesso que estava gostando de você, mas, quando percebi que não
sentia o mesmo por mim, eu desencanei. Eu juro! — Ele aproximou a sua
cadeira da mesa.

— Não quero saber, Kauan; para mim, esse assunto já deu. O que
você fez acabou com qualquer indício de amizade que eu sentia por você. Por
favor, pode se retirar. — Levanto-me subitamente e, agora sim, eu notei
desespero da parte dele.
Seu rosto ficou pálido, seus olhos se arregalaram e a sua boca abria e
fechava procurando as palavras. Seus atos faziam parecer que a qualquer
momento ele poderia se ajoelhar na minha frente para tentar se desculpar pela
sua besteira, igualzinho a uma cena patética que eu tenho gravada em minha
mente de 5 anos atrás. Ele se levanta, e sua postura muda para algo mais
determinado.
— Não sem antes você me perdoar. Por favor, Hanna. Eu preciso que
me perdoe pelo que eu fiz. — Ele se aproxima.
— Kauan, pelo amor de Deus, como quer que eu te perdoe por algo
que você estava me forçando a fazer? Abra os seus olhos, eu não sou burra —
falo, quase perdendo a minha paciência.
— Eu fui um babaca, me desculpe. Eu entendi errado as coisas, mas
estou te pedindo para me entender. Isso nunca mais vai acontecer. Você sabe
que eu não sou assim, nunca fiz nada de mau para você! — Ele tenta se
aproximar ainda mais, chegando a três passos de distância de mim.
— Ok, eu vou pensar sobre tudo isso. Agora, por favor, Kauan, saia.
Eu preciso trabalhar. — Estendo o meu braço, mostrando-lhe a saída.
— Vamos voltar a ser o que éramos, por favor. Eu não consigo mais
cozinhar sem pensar que te magoei, que te deixei triste ou até mesmo
abalada. Quero fazer as pazes, mostrar que estou realmente arrependido.
Confia em mim, Hanna. — Ele deu passos lentos em minha direção, e, desta
vez, eu me afastei.
— Já disse que vou pensar, Kauan! Eu te mando uma mensagem, tá
bom? — digo logo algo que lhe dê esperanças, para que saia da minha sala, e
realmente parece funcionar quando ele sorri.
— Sério mesmo? Vai me responder?
— Eu te chamo assim que puder! — Continuo pensando que talvez eu
nunca mais retorne qualquer mensagem dele.
— Certo, vou esperar pela sua mensagem. Me desculpe mesmo,
Hanna. Me dê mais uma chance, que não irá se arrepender. Não vamos deixar
a nossa amizade ir para o lixo. — Seus passos o guiam para perto da porta, e
eu não me atrevo a responder-lhe, para que a nossa conversa não se
prolongue.
Faço um sinal com a cabeça, despedindo-me dele, quando o seu
último olhar me encara antes de fechar a porta. Solto um suspiro, aliviada por
ter escapado dessa situação. Depois das coisas que o Anderson me contou
sobre a armação que o Kauan fez para nós, eu não consigo mais encará-lo da
mesma forma. Eu via mentiras em seus atos e falas a cada segundo aqui
dentro desta sala; mesmo assim, no fundo, o meu coração me deixava
confusa, fazendo eu me perguntar se realmente eu não estava pegando muito
pesado com ele.
Eu não iria testar a minha felicidade com o Anderson. Mal
começamos a namorar, não poderia deixar essas pequenas situações nos
atrapalhar. Então, decidi manter o Kauan distante por enquanto. Eu iria lhe
responder para acalmar um pouco os seus ânimos, mas nada mais
aconteceria; era o correto a se fazer.

Chego em casa cansada pela semana corrida que tive. Como eu fiquei
alguns dias da semana passada em Brasília, o meu serviço na empresa
acumulou. Mesmo assim, tanto eu quanto o Ander não nos desgrudamos. Se
eu não ia para a casa dele depois do meu trabalho, com certeza ele aparecia
na minha casa, e, por saber do falatório que o nosso relacionamento iria
tomar, eu acabei não contando para ninguém — o que estava me corroendo
por dentro, já que, pelo menos para a Andréia, eu contava tudo da minha
vida.
Vou direto para o meu banho e acabo reparando que, na maioria dos
lugares mais privados do meu corpo que tinha alguma pintinha, também tinha
alguma marca de mordida ou chupão feita pelo maníaco do meu namorado,
principalmente nos meus seios, que até estavam doloridos de tanto que eles
foram usados.
Não demorei muito debaixo da água, porque hoje eu tinha marcado de
sair para jantar com o Anderson. Eu queria muito saber um pouco mais sobre
ele; afinal, foi repentino o nosso namoro, e nós estávamos matando uma certa
atração sexual fortíssima que estava nos consumindo devido aos últimos
meses de provocação.
Pensando bem sobre isso, eu precisava contar para os meus pais sobre
nós dois. As festas de fim de ano estavam chegando, e eu queria o Anderson
do meu lado em todas elas. Lembro também que ele me contou que o meu pai
o colocou contra a parede sobre a nossa situação, e eu justamente o escolhi
para namorar. Meu pai vai matá-lo.
Saio do banho e vejo que o Anderson havia me mandado uma
mensagem informando o horário que iria chegar na minha casa para me
buscar. Eu ainda tinha algum tempinho para me arrumar, então escolhi um
vestido preto de tecido leve. Ele desenhava as minhas costas em um decote
aprofundado e tinha uma fenda na minha perna esquerda; já a parte da frente
cobria bem os meus seios pequenos. Minha sandália prateada combinava com
o colar que decidi usar. Fiz uma maquiagem leve e prendi o cabelo em um
rabo de cavalo alto.
Quando escutei a buzina do seu carro, eu já estava o esperando na
sala. Saí e o encontrei ainda mais lindo do que eu me lembrava da noite
anterior. As lembranças do que eu fiz me deixaram novamente com
vergonha, já que eu estava aprendendo muito com ele.
Recrimino-me por ter lembrado, mas o modo como ele estava vestido
não estava ajudando a minha calcinha a se manter seca. Seu terno estava
desenhando perfeitamente o seu corpo na cor azul-escuro. Sorrio, totalmente
mexida por ele, e tenho certeza de que ele nota.
— Meu Deus! Eu não sei o que eu fiz na outra vida para merecer uma
mulher tão linda assim, mas eu agradeço aos céus por você ser minha! — Ele
estende a mão, e eu vejo o seu bracelete.
— O que você está querendo me elogiando desse jeito? — falo,
sentindo o meu rosto esquentar enquanto entrelaço os nossos dedos.

— Se eu te contar, você vai ficar assustada. — Sorrio, imaginando as


coisas que eu penso em fazer com ele. — Posso saber por que a "senhorita"
está sorrindo à toa?
— Não é à toa… — Ele me guia para o lado do passageiro. — E, a
partir de agora, você está liberado. — Seu rosto se torna uma interrogação.
— Liberado?
— Não precisa mais me chamar de senhorita. — Solta a sua mão,
ainda sorrindo para poder entrar no carro.
— Esse sorriso é maldade, sabia?
Ele fala baixo, mas, ainda assim, consigo escutar; e, então, ele abre a
porta para mim.
— Nem se atreva a abrir essa porta sem eu estar do seu lado para
fazer isso.
— Só se parar de me chamar assim. — Entro, e ele se aproxima do
meu rosto.
— Do que quer eu te chame? — Sinto seu beijo se aproximar.
— Não sei, você tem que me chamar de algo? — sussurro, quase em
seus lábios.
— "Fujona", talvez? — Sinto meu corpo esquentar desejando beijá-lo.
Aproximo-me para selar os nossos lábios, e ele se afasta, querendo
que eu insista no meu movimento. Seu ato me faz rir.

— Creio que você merece mais esse apelido do que eu, seu fujão! —
Volto a me encostar no banco, sentindo uma leve frustração.
Anderson passou a mão pelo meu ombro e deslizou seus dedos pelo
meu braço, puxando a minha mão para os seus lábios e beijando os nós dos
meus dedos, ainda observando o meu sorriso bobo.
— Creio que não tem nada mais lindo e com maior significado para
mim do que o seu nome. — Ele voltou em direção ao meu pescoço e
depositou seus lábios calmamente ali. — Então continuarei te chamando
assim, minha Hanna!
Aquilo tinha tanto carinho para mim, que eu tenho certeza de que ele
não conseguia nem imaginar a importância das suas palavras. O Matheus
(meu ex) gostava de me chamar de Anna naquela brincadeira de que o meu
nome estava errado, e escutar do meu namorado o quanto as letras na ordem
correta eram algo com muito significado para ele fazia meu coração tão
machucado e desconfiado se desprender ainda mais do meu passado.
Seu beijo veio logo em seguida, tomando conta da minha mente, que
se afundava no meu desejo de querê-lo por completo agora mesmo. Nossas
línguas se encaixaram, e seu corpo me empurrou no banco, trazendo a sua
outra mão para a minha nuca, para que eu me aprofundasse ainda mais em
seus lábios.
Eu conseguia sentir o seu tesão por mim nos seus toques e jurava que,
se encostasse em seu membro, ele estaria duro como uma pedra, mas ainda
estávamos no meio da rua do meu condomínio. Anderson deslizou uma mão
para a fenda da minha perna, e creio que, quando a sua mão encostou no
tecido, a sua lucidez retornou, deixando o ar entrar em nossos pulmões
novamente.
— Vamos logo para esse restaurante, antes que eu estacione o meu
carro na sua garagem e não saia mais da sua casa.
— Eu não ligo se quiser fazer isso! — Sorrio para ele, enquanto
passava os meus dedos sobre os meus lábios inchados.
— Nem pensar, eu já fiz as nossas reservas.
Pude conhecer um pouco mais do Anderson durante o caminho, já
que tivemos um pequeno tempo para comentarmos alguns fatos sobre nós e
sobre o nosso dia. Conclui também que ele era safado demais, já que sua mão
insistia em ficar na minha perna, e, ora ou outra, ele deslizava os seus dedos
em direção à minha intimidade, os quais eu tirava rapidamente, negando ficar
encharcada tão cedo.

Não que eu estivesse na dúvida sobre a sua safadeza, já que eu cedi a


ele várias e várias vezes, mesmo sem ele tentar qualquer coisa contra mim,
mas, encarando o seu corpo agora, dirigindo, eu quase cheguei a pensar que
eu estava sendo mais safada do que ele por realmente ter desejado ficar em
casa para que ele pudesse fazer o que quisesse comigo, ou até mesmo me
dominasse dentro deste carro, contra aquele volante em que a sua mão
deslizava sem pressa.
Anderson tinha habilidade nisso também. Ele dirigia com confiança,
deixando o meu corpo confortável durante todo o caminho. Não pude deixar
de notar que a braguilha da sua calça o incomodava de tempo em tempo, já
que o volume não cedia. Foi então que ele decidiu se lembrar de um dos
nossos primeiros assuntos quando nos conhecemos.
— Agora, me fala, qual a sua implicância com a minha BMW azul?
Aquele dia eu quase pensei em vender ela depois das suas palavras. — Dou
risada ao imaginar a hipótese.
— Não estava implicando com ela, e sim com o seu caráter! —
revelo, encarando o seu rosto para ver a sua reação.
— Por isso me perguntou se o dinheiro era importante para mim?
— Não me ache maluca. Estou nesse mundo das notinhas verdes há
muito tempo e já vi e escutei muitas coisas por causa do dinheiro… —
Procuro nos flashes das ruas a continuação da minha voz, já que a minha
mente gritava sobre o meu passado. — Sei que muita gente deseja ser podre
de rico e poder usufruir de tudo que a riqueza fornece, mas a ambição é muito
perigosa.
— O que já fizeram para você? — A sua pergunta é tão certeira, que
eu paraliso em minha resposta.
— Não pense sobre isso, vamos curtir a nossa noite — falo, assim que
ele estaciona o carro na frente do mesmo restaurante onde comemos no nosso
primeiro encontro. Eu aproveito para trocar de assunto, achando graça
naquilo. — Você tem um humor tão duvidoso.
— Aquele dia você nem chegou a experimentar a sobremesa, então eu
te trouxe de novo aqui! — Ele dá risada.
— Eu não preciso de sobremesa. — Minha voz fica sugestiva.
— Você só pode estar me testando, né? — Ele passa a mão
novamente na fenda da minha saia, levantando-a ainda mais. — Eu vou me
acabar de tanto comer essa sobremesa aqui!
Anderson se aproximou do meu corpo e tirou o meu cinto de
segurança em um piscar de olhos. Sem demora, ele encontrou novamente o
meio das minhas pernas, mas, desta vez, seus dedos alcançaram a minha
calcinha com facilidade, empurrando-a para o lado sem pestanejar.
— Para com isso! — digo, envergonhada por estarmos no
estacionamento.
— Ninguém pode nos ver aqui. Diferente da BMW, este carro em que
estamos tem os vidros escuros. — Seu beijo vem quente no vão do meu
pescoço, fazendo-me arrepiar. — Pode ficar tranquila, Hanna.
— Eu não consigo… — sussurro, culpada, vendo as pessoas passarem
do lado de fora.
Seu beijo desceu pelo meu ombro, e seu dedo entrou em mim com
facilidade devido à minha umidade acumulada pelo tesão que eu tentei evitar.
Seu gesto me fez gemer baixo, já entrando em sua brincadeira perigosa.
— Eles só vão estranhar se você fizer muito barulho, Hanna.
— Aqui não, por favor! — Pego o seu rosto com as minhas mãos,
fazendo-o parar com os beijos, que já estavam virando pequenas
mordidinhas.

— Você não consegue entender o quanto está me seduzindo com essa


roupa, né? Eu poderia muito bem perder o controle por causa desse decote
que mostra tantas pintinhas na suas costas, ou por causa dessas suas pernas
lindas. — Ele bufa, tirando os dedos de dentro mim. Enquanto solto o seu
rosto, sorrio pela sua resposta frustrada.
— Você está fazendo o mesmo comigo. Eu poderia muito bem
estourar todos os botões da sua camisa agora mesmo para te tirar de dentro
desse terno, mas estou me controlando, então faça o mesmo! — Dou risada
com a cara incrédula que ele faz ao me escutar.
— Agora que você falou isso, ficou mais difícil de me controlar. —
Seus dedos se direcionam para a sua boca, e sua língua passeia pela sua pele
molhada, sentindo o meu gosto. — Tire a sua calcinha! — Ele comenta, com
um olhar determinado.
— Como? — falo, descrente.
— Me dê a sua calcinha! — Ele estende a mão.
— Agora?
— Quer que eu tire para você? — Seu sorriso malicioso apareceu, e
ele voltou a pôr as mãos em mim. — Seria um enorme prazer!
— Não precisa, eu tiro, calma!
Anderson voltou a colocar as suas mãos no volante, enquanto me
observava tirar a minha calcinha de renda azul-bebê! Minhas mãos tremem, e
as sinto suadas enquanto levanto o meu vestido longo, até alcançar as laterais
de renda. Então, eu as desço com rapidez, para aquele momento acabar
rápido.
— O que vai fazer com ela? — digo, entregando-a em sua mão.
— Você verá mais tarde. — Anderson cheira o tecido que está
enrolado e demonstra a sua satisfação. — Eu amo o seu cheiro, sério mesmo,
e confesso que gostaria de ver essa cor em você hoje! — Observo-o
guardando-a em seu bolso.
— Pelo menos no seu bolso ela não vai se rasgar, né? — brinco e me
ajeito no banco, sentindo o ar entrar entre as minhas pernas.
— Isso é o que você acha! — Ele abre a porta e vem em minha
direção.
Entramos no restaurante, que estava mais cheio do que da última vez
que viemos aqui. O elevador deixou as lembranças do nosso último encontro
no ar, fazendo-me erguer o canto dos lábios para o Ander, que me encarava
com desejo. Ele me puxou para sua frente, tampando o volume das suas
calças e fazendo o tecido do meu vestido se esfregar em minha bunda,
deixando a sensação de que eu precisava dos seus dedos de novo dentro de
mim.
Assim que alcançamos o andar do restaurante, fomos direcionados à
nossa mesa. Ele soltou da minha cintura somente no momento em que puxou
a cadeira para mim. Fizemos os pedidos, e o garçom chegou alguns minutos
depois com os nossos pratos e com um vinho bom, pela primeira vez.
— Até que enfim você acertou — comento, erguendo a taça.
— Hoje eu não quero a minha mulher nervosa. Nada de vinho ruim,
só o melhor para a minha gata arisca. — Ander brinca e experimenta um
gole, apreciando o sabor.
— É assim que você me vê? — Ergo uma sobrancelha. — Como uma
gata arrisca?
— Você não pode negar que você foi muito medrosa todo esse tempo,
né, Hanna? Claro que eu te via como uma mulher extremamente linda, que só
sabia ficar na defensiva para tudo e todos.
Ele reparou em toda a defensa que eu criava para me proteger dos
homens, e isso me surpreendeu. Era como se apenas eu enxergasse esse véu
de proteção que eu criei ao longo dos anos, mas lá estava o Ander
atravessando minha mente e minhas sensações com suas poucas palavras de
carinho.
— Sei que está cedo, mas eu queria lhe fazer um pedido! — comento,
trocando novamente de assunto.
— Hanna, estamos juntos, não estamos? Pode me pedir o que quiser!
— Vou contar para os meus pais que estamos juntos e quero marcar
um jantar para todos nós. — Anderson sorri assim que termino de falar.
— Eu preciso mesmo conversar com o seu pai. Pode marcar esse
jantar. Acho que sua mãe vai adorar a ideia! — Sinto-me aliviada pela sua
decisão positiva.
— Foi ela que aprontou tudo isso, não é mesmo? Claro que ela vai
adorar — brinco.
— Mas foi a mocinha aqui que aceitou as minhas provocações!
Levanto a minha perna de baixo da mesa e levemente pressiono o seu
membro com o meu salto, vendo os seus olhos se arregalarem com a minha
atitude. Meu pé faz um movimento cuidadoso de sobe e desce, acariciando
desde as suas bolas até chegar próximo ao seu cinto. O garçom retorna com
as nossas entradas, e eu continuo instigando o prazer de Ander, notando pela
primeira vez a vergonha tomar conta do seu rosto. Assim que o garçom se
retirou, ele agarrou o meu salto e me puxou ainda mais para perto do seu
volume, aproveitando-se daquela sensação.
— Você também está aceitando muito bem as minhas provocações —
falo, enquanto me ajusto com as suas mãos, que obrigam o meu pé a ficar
parado em vão.
— Não esperava que você soubesse brincar nesse jogo! — Sua mão
logo acompanha a minha ação.
— Eu aprendo rápido! — Sorrio, sentindo o mesmo prazer que ele,
enquanto cruzo as minhas pernas com força, esquentando a minha intimidade
com o atrito.
— Pode continuar "isso aqui" sem desviar o olhar de mim, mas coma,
por favor! — Ele bate em meus talheres.
— Você tem um fetiche em me ver fazendo certas coisas, não é
mesmo? — comento baixo enquanto pego a comida, levando-a até minha
boca.
— Eu tenho mesmo, não nego! — Sua resposta reage em mim.
— Podemos ver até onde você aguenta? — Empurro meu pé em seu
pau novamente, pressionando a sua rigidez.
— Não aguento muito. Você já está me matando… — Anderson
ainda não tocou em sua comida por estar com as mãos na minha perna.
— Tenho a impressão de que você está aproveitando muito essa
brincadeira.
— É claro que eu estou, mas agora pare com esse pé atrevido, senão
eu irei gozar aqui mesmo!
Sua voz sai baixa, mas, ainda assim, tenho quase certeza de que o
casal da mesa do lado o escutou, porque eles nos encararam no mesmo
instante, fazendo-me puxar a minha perna com vergonha. Demos risadas,
ignorando os demais, e voltamos para a nossa refeição. Conversamos
bastante durante o jantar, sentindo a tensão sexual rodear as nossas palavras
e, após a sobremesa, seguimos com presa para o seu carro, na ansiedade de
ficarmos a sós.
Em poucos minutos, nós chegamos ao seu apartamento, que era o
mais próximo do restaurante. Nossas preliminares já começaram antes
mesmo de eu sair de casa. Eu sabia que ele nem precisaria me estimular para
perceber que eu estava pingando de tesão.
Anderson abriu a porta do seu apartamento, direcionando-me sem
calma até o seu sofá e, em um único movimento, eu já estava deitada no
estofado macio. Todo o percurso foi rápido demais, fazendo-me perder a
noção das coisas básicas, como se fechamos a porta ou onde eu deixei a
minha bolsa cair, mas, enfim, agora eu só tinha a minha visão direcionada a
ele, que estava tirando os meus saltos com calma enquanto beijava as pontas
dos meus dedos, fazendo-me arrepiar.
— Eu queria ter feito isso no restaurante, mas eu não iria gostar dos
outros escutando os seus gemidos.

— Só os meus vizinhos que podem me escutar, então? — brinco com


ele.
— Os meus também podem! — Nossas brincadeiras davam abertura
para que eu relaxasse ainda mais, e eu nunca fui essa minha versão com
ninguém como eu estava sendo com o Ander.
Suas mãos pararam de massagear os meus pés doloridos pelos saltos
após alguns minutos e seguiram para as minhas coxas, levantando o meu
vestido, enquanto ele se deitava sobre mim, começando a estimular meus
seios por cima do tecido. Meu corpo sentia a eletricidade passar pelos nossos
corpos, e logo os meus mamilos ficaram rígidos, assim como o seu membro,
que roçou em minha parte, pedindo para entrar em mim.
Sem que eu percebesse, as suas mãos já estavam em minha cintura
terminando de puxar o meu vestido para cima, deixando-me completamente
exposta, por já estar sem sutiã e por eu ter perdido a calcinha dentro do seu
carro. Ander desceu para beijar a minha barriga, causando formigamento em
minha pele, e, sem pensar, ele me pegou no colo, depositando-me em seu
ombro, e me levou para o seu quarto.
— Você sabe que eu posso andar, né? — falo ironicamente.
— Claro que eu sei.

— Então, você poderia, por favor, parar de me levantar assim?


— Meio que eu não quero tirar as minhas mãos de você; então, a
resposta será não!
— Céus! Você é mais teimoso que eu. — Dou risada, enquanto ele
me coloca em cima da cama e se encaixa entre as minhas pernas, começando
a tirar a sua roupa na minha frente.
Ander retirou o seu terno e, quando desabotoou o primeiro botão para
tirar a camisa, eu me levantei, parando suas mãos.
— Você tem que perder algo também. Não é justo só eu ter calcinhas
estragadas. — Meus dedos se encaixam entre os botões da sua camisa e, com
um único movimento, eu puxo tudo, escutando o som deles caindo no chão.
— E você já sabia que eu queria fazer isso desde quando estávamos dentro do
carro, né?
— Você pode estragar todas as minhas camisas, porque, quando eu
for comprar novas, vou me lembrar do motivo.
— Não se esqueça de ir comprar calcinhas novas para mim também.

Puxo o tecido dos seus braços, visualizando o seu corpo desenhado


pelo seu belo físico e as suas tatuagens, enquanto os seus olhos escuros
praticamente sorriam em satisfação por me ver totalmente nua em cima da
sua cama.
— Minha vez! — Seu semblante muda, demonstrando algo que eu
nunca havia notado nele.
Anderson abriu a sua calça e, antes de baixá-la, ele colocou a sua mão
no bolso, buscando por algo. Então, puxou a minha calcinha azul que estava
ali. Se ele pudesse se ver nesse momento, notaria o quanto estava gostoso
nesses trajes prestes a me foder. Sua mão desceu ao seu pau, abaixando a
cueca rápido, de modo que pude ouvir o som do seu membro batendo em sua
pele, para, em seguida, ele enrolar a minha calcinha ali e se masturbar com
aquele pequeno tecido.
— Tente não se mexer muito, ou essa coisinha fina aqui não vai
aguentar. — Ander fala, parando o movimento para terminar de tirar sua
calça e sua cueca.
Fico em dúvida quanto ao que ele estava pensando em fazer comigo;
mesmo assim, aceito quando ele se aproxima do meu corpo, deitando-me por
completo e subindo em cima de mim. Então, suas mãos prendem as minhas
para o alto da minha cabeça, amarrando com agilidade a calcinha nos meus
punhos.
Após ele conferir que o nó não iria se soltar tão fácil, as suas mãos
desceram, acariciando o meu corpo todo, e logo os beijos começaram a
surgir, Anderson se aproximou do meu seio esquerdo e, com a outra mão,
apertou o bico do outro seio dolorido. Meu corpo reagiu com os seus toques,
protestando, enquanto os meus gemidos demonstraram o prazer que senti
devido ao contato bruto de Ander.
Sua língua desceu, desenhando um caminho de saliva pelo meu corpo,
e invadiu o meio das minhas pernas em torturantes segundos. Seus
movimentos foram precisos, fazendo os meus batimentos se aceleram a cada
investida sua. Já não sentia o controle do meu corpo quando os minutos
foram se passando, sentindo-me completa por desejos e espasmos. Minhas
mãos amarradas desceram em direção à sua cabeça, puxando-lhe os cabelos
com força, ao passo que eu tentava reter os gemidos que saíam
involuntariamente.
Anderson suspendeu seu ato sem me informar, e confesso ter sentido
um choque entre os nossos corpos pelo vento que se instalou devido à
distância momentânea entre nós. Em seguida, ele apertou a parte interna das
minhas coxas antes de encaixar o seu membro em mim, puxando-me com
força em sua direção, tornando as minhas contrações leves ao o sentirem todo
dentro de mim.
— Você …— falo sem fôlego. — Você não colocou a camisinha! —
protesto.
— Eu precisava sentir o seu calor!
Seu desejo era uma tortura para mim, porque o prazer estava bem ali,
descrito em suas feições. Era claro o quanto aquilo estava bom para ele, e
quanto mais ele entrava em mim com seus movimentos lentos para me
provar, mais eu me apaixonava por tudo isso. Eu não estava falando somente
da nossa transa, mas sim de tudo que eu estava vivendo nesta última semana
ao lado dele.
— Já sentiu, agora coloca a camisinha. — Meu interior nega o que eu
disse quando minhas pernas puxam a sua cintura para mais perto de mim.
— Assim é sacanagem! — Ele encosta a sua testa na minha. — Como
quer que eu faça isso, se o seu interior está me sugando?
— Se vira, spitzinho! — Sorrio, travessa, movendo minha intimidade
contra ele, e seu sorriso aparece.

— Então eu vou gozar dentro!


— Você não é louco! Coloque a camisinha. — Solto-me dele, e
rapidamente o Ander procura pela gaveta o preservatido, vestindo-o em seu
membro em seguida.
Sua mão encaixa um dedo em meu clitóris, e seu pau retorna para
dentro de mim, fazendo-me arrepiar com a sensação daquele material. E,
então, ele começa a movimentar os dois no mesmo ritmo; não consigo
entender como o seu corpo sabe exatamente o que está causando em mim,
mas ele sabia. Meu ventre se contrai de prazer, e os sons das estocadas
estralam no quarto. Meus gemidos escapam descompassados, e, cada vez que
ele entra mais fundo e mais forte em mim, eu sinto que poderia me
desmanchar em um orgasmo.
Anderson força um movimento lento em mim e, em seguida, entra
bruto, fazendo todo o ar dos meus pulmões sair mais alto. Isso me deixa
frustrada pela troca de ritmo, mas ao mesmo tempo extremamente excitada.
Com facilidade, ele me vira de quatro na cama assim que as minhas
mãos foram desamarradas, mas logo ele as guia para trás e as amarra
novamente nas minhas costas. Meus ouvidos identificam que desta vez ele
rasgou a calcinha e, sem demora, seu membro entra fundo em mim de novo,
deixando-me completa, totalmente preenchida.
Ele, então, acelera o nosso vaivém, aumentando o meu desejo de
senti-lo. Sua respiração está ofegante e alta, tendo um efeito imediato na onda
de prazer que crescia dentro de mim. Eu estava me segurando para não
explodir, porque não queria que aquilo acabasse.
— Goza no meu pau, eu quero sentir! — Ao escutar a sua voz, meu
corpo treme em seu membro, liberando meu orgasmo nas próximas estocadas
que recebo.
Os movimentos não param. Ander me fode rápido e sem calma,
deixando-me sem sentido, com as minhas sensações confusas. Em seguida,
sinto o seu pau pulsar dentro de mim com o seu gozo. Nossas respirações
cansadas ecoam pelo quarto no desencaixe do nosso ritmo. Após alguns
minutos ainda conectados, Ander solta as minhas mãos e beija as minhas
costas, fazendo-me arrepiar.
Quando ele me gira, posso olhar novamente para o meu deus grego,
que está mais sedutor do que nunca com os seus cabelos bagunçados e o seu
corpo todo suado.
— Você sabe que já está me devendo três calcinhas novas né? —
brinco enquanto o vejo andar pelo quarto retirando a camisinha.

— Você não precisa delas. — Ander caminha até o banheiro e volta


após alguns segundos.
— Então posso andar por aí sem calcinha? — Seu olhar raivoso cai
sobre os meus, e ele vem para cima de mim, para me atacar com o seu beijo
intenso.
— Nem pense nisso, senão terei que mudar a minha empresa inteira
para o seu andar e vou ser o seu chofer dia e noite. — Anderson se deita ao
meu lado, e eu me embolo nos lençóis, aconchegando-me nele. — Se bem
que aqui em casa você pode andar nua.
— Daí eu não viveria em paz, tenho certeza.
— Se eu te deixasse em paz, estaria fazendo o meu papel errado de
namorado.
Assim que me acomodo melhor em seus braços, percebo que já criei o
hábito de passar os meus dedos pelas suas tatuagens. Então, eu me lembro
dos números um pouco abaixo da sua nuca, os quais reparei na primeira vez
em que transamos.
— O que significa a sequência de 1 que você tem nas costas? —
Rapidamente a sua mão vai até a região.
— É o número da intuição. — Ander justifica.
— E o que a sua intuição lhe disse quando me conheceu?
— Que, se você tinha uma armadura tão forte contra as pessoas, só
poderia ter acontecido algo com você. — Sua mão acaricia o meu braço, e eu
permaneço imóvel. É a segunda vez que esse assunto retorna, e eu já estava
ficando desconfortável.
— Vou marcar com os meus pais no domingo, pode ser? — comento,
mudando de assunto, enquanto ele segura a minha mão, batendo os nossos
braceletes.
— Por mim tudo bem, pode marcar.

— Independentemente do que o meu pai te falar, ignore, tá bom? Só


escute por um ouvido e solte pelo outro — digo, ficando preocupada por
talvez o meu pai comentar sobre o Matheus.
— Você quer dividir algo comigo, Hanna?
Não que eu não quisesse contar, mas esse assunto era delicado para
mim ainda. Se eu havia deixado o Ander entrar na minha vida, não
significava que eu deixaria qualquer pessoa se aproximar a partir de agora;
pelo contrário, eu estava ainda mais alerta nos últimos dias. Eu tinha medo de
falar sobre o Matheus; ele era um passado que eu buscava constantemente
esquecer. Era humilhante. Eu me sentia ainda mais tola quando as palavras
saíam da minha boca, mas eu sabia que agora eu precisava falar sobre isso,
era importante. No entanto, o medo estava ali, atormentando a minha mente.
E se ele entendesse errado?

E se ele pensasse que eu também o considerava um interesseiro?


Eu não sabia abordar esse assunto, era complicado demais para mim,
e, no começo, de tudo, eu realmente pensei que o Ander achasse que o meu
corpo e o dinheiro que eu tinha eram as coisas mais importantes, até começar
a conhecê-lo aos poucos. Mesmo assim, eu tinha uma pequena esperança de
que ele pudesse me entender, ainda que, talvez, eu não me expressasse
direito.
— Não é nada tão grave assim. — Deito a minha cabeça em seu peito
e volto a passar a minha mão pelas suas tatuagens. — É sobre o meu ex…
— O que ele te fez? — Mesmo sem encará-lo, eu senti os seus
músculos ficarem rígidos após as minhas palavras.

— Digamos que eu tenha sido uma aposta para ele… — Anderson se


manteve em silêncio enquanto eu buscava ordem no que eu tinha que falar.
— E teve também toda a questão do dinheiro envolvido.
Droga! Eu sabia que aquilo estava ficando confuso, mas eu nunca
precisei contar esses fatos para alguém e, ainda por cima, tomando cuidado
para não ser mal-interpretada.

— Espera. — Ele fala.


Seu corpo se mexeu na cama para que ele pudesse se sentar e, talvez,
conversar olhando em meu rosto, mas eu apenas me afastei do seu corpo e me
sentei, puxando os meus joelhos ao meu encontro enquanto encarava a
parede, evitando o seu olhar. Não era algo que me doía a ponto de me fazer
chorar, mas era vergonhoso contar o quanto eu fui ingênua para cair nessa
armação.
— Foi na época da faculdade. — Continuei sentada de costas para ele.
— Eu nunca tinha namorado alguém, mas sabia que tinha que ter cuidado
com a pessoa que eu colocasse do meu lado…
— Hanna, espera, calma. Me conta isso direito. — Sua mão encostou
em meu ombro, pedindo pela minha atenção, e eu me virei, fitando os seus
olhos confusos. — Aquele idiota apostou o quê?

— Minha virgindade! — falo rápido e quase inaudível aos nossos


ouvidos, enquanto ainda tentava dizer tudo de uma só vez, para que a história
terminasse logo. Suas sobrancelhas se arquearam na mesma hora,
demonstrando a sua raiva. — Não precisa se preocupar com isso, já faz mais
de 5 anos. Só queria te justificar por que talvez o meu pai tenha agido
daquela forma com você. Foi algo totalmente estranho, sabe? Ser usada por
alguém por causa de dinheiro. — Meus olhos fugiram dos seus, evitando
possíveis julgamentos.
Seu silêncio foi angustiante. Mesmo assim, mantive a minha visão
fixada no chão. O que eu deveria fazer agora? As palavras voltaram a sair da
minha boca como uma cachoeira, para, talvez, ajudá-lo a recuperar a sua voz
assim que entendesse um pouco mais.

— Eu não considero que foi um namoro, porque, afinal, foi falso da


parte dele. Ele tinha feito uma aposta com os rapazes da nossa sala de que
conseguiria tirar a minha virgindade, então ele me conquistou durante muitos
meses. Começamos a namorar, apresentei ele para os meus pais, conheci os
pais dele também e, no fim, ele conseguiu o que queria, uma pequena quantia
de dinheiro sujo; logo depois, eu descobri tudo, mas daí já era tarde também.
Ele só estava comigo pela boa vida que eu lhe proporcionava. Eu dava
presentes caros, roupas, calçados, relógio… — Minha voz some ao me
lembrar.
— Hanna…
Eu não deixava o Ander começar a falar pela sensação de que ele
pudesse estar me julgando; mesmo assim, os meus olhos curiosos buscaram
os seus, e, então, eu percebi que o peito dele subia e descia fora do normal.
Minha mente me manipulava, jogando mil e uma possibilidades do que ele
poderia estar pensando, mas fui pega de surpresa quando ele segurou com
força a minha mão.
— Foi algo que mexeu muito com a minha cabeça e com a minha
vida. Claro que isso influenciou na minha família também. Foi por isso que te
falei para ignorar o meu pai se ele for rude com você.
— Hanna, como você pode me dizer que não foi nada grave? — Seu
braço me puxou com força, chocando os nossos corpos. — Porra! Eu sabia
que deveria ter matado aquele filho da puta no soco. — Ele soltou o ar com a
sua raiva misturada. — Quando eu o vi indo para cima de você aquele dia na
balada, eu queria ter destruído aquele porco imundo, desculpa!
— Está se desculpando por quê? Você não fez nada. — Sinto que sou
mais apertada por ele e guio as minhas mãos aos seus cabelos.
— Eu queria ter feito algo, queria que isso não tivesse acontecido com
você. Você não merecia…— Seus músculos começam a relaxar um pouco.
— Eu nunca mais vou deixar ninguém falar ou fazer nada contra você,
Hanna, nunca! — Anderson encaixou seu rosto em meu pescoço e me beijou
com cuidado.
Suas palavras facilmente aqueceram o meu coração, deixando-me
feliz por me sentir completa em seus braços. Era caloroso e confortável, mas
eu conseguia sentir o medo por trás daquele sentimento tão forte. Havia uma
voz me dizendo para não depositar todo o meu amor em algo invisível para
mim; mesmo assim, fechei os meus olhos e ouvidos para aquela sensação e o
apertei em meu peito, aceitando e acreditando em suas palavras.
— Eu confio em você! — disse, por fim, buscando os seus lábios.

Eu estava morrendo de medo desse almoço de hoje, mas confesso que


também estava ansiosa. Mesmo tendo a constante preocupação com a reação
dos meus pais e vivendo o estresse por não conseguir dormir direito, o
Anderson tentava me acalmar, dizendo que, independentemente do que
pudesse acontecer, ele não iria se abalar. Embora eu quisesse muito que a
relação dele com o meu pai fosse boa, esse era um dos maiores motivos do
meu mau estar nessa semana. Já com a minha mãe eu conseguia sentir que
tudo ficaria bem.
Neste final de semana, o Ander não foi para Brasília. Ele não me
explicou o motivo, mas, pelo menos, veio dormir comigo. Não conseguimos
nos encontrar nos outros dias da semana devido aos nossos serviços, mas
ontem acabamos passando o dia todo juntos, e, agora, eu estava terminando
de me arrumar, enquanto o observava vestindo sua roupa.
Não expliquei nada para a minha mãe, apenas liguei para ela na terça
falando que, no domingo, eu estaria na casa deles para almoçar e que levaria
uma pessoa. Ela me encheu de perguntas, mas eu contornei todas, deixando-a
extremamente curiosa ao lhe dar uma única informação: a de que eles já
conheciam essa pessoa.
— No que está pensando? — Sou surpreendida enquanto escovava os
meus cabelos.
— Na reação da minha mãe quando te ver. — Sorrio, enquanto ele me
abraça por trás.
— Você falou por que estamos indo lá? — Anderson me puxa para
sentarmos na cama, e ele me encaixa entre as suas pernas.
— Não, eu deveria? — brinco.

— Acho que não precisa, meio que eles vão entender quando nos
virem juntos.
Suas mãos seguram a minha cintura, encostando-me em seu membro,
que estava bem presente entre nós. Eu não contenho o sorriso travesso por
pensar que o tesão que esse homem sentia por mim era gigantesco. Não vou
ser hipócrita de falar que é somente ele que sente isso, porque é recíproco.
— Tenho certeza de que a minha mãe irá fazer um show. Se prepare
para a vergonha alheia. — Deito minha cabeça para trás, visualizando de
canto de olho o seu rosto.
— Falando em vergonha alheia, você nem imagina o que eu tive que
passar por sua causa. — Meu coração acelera, e eu tiro as suas mãos da
minha cintura para poder girar o meu corpo e encarar o seu rosto.
— Por minha causa? O que aconteceu?
— Lembra daquela noite na casa dos meus pais?
Um calor imediato preenche o meu corpo ao me lembrar da cena de
nós dois na cama dele e da mãe do Ander batendo na porta e perguntando se
ele estava bem. Deus! Ela nos ouviu! Senhor! Que vergonha! Tinha certeza
de que a minha cara de espanto estava engraçada quando ele deu risada.
— Não acredito! — Levanto-me. — Sério mesmo? Sua mãe…
— Acho que sim.
— Por que você acha isso?
— Ela veio conversar comigo depois que você foi embora e falou
para a gente não ficar transando sem namorar. — Meus olhos, que eu já
achava estarem arregalados, arregalaram-se ainda mais. — E ela também
mencionou algo como “Meu quarto é em cima do seu”. — Seu sorriso
aparece, achando graça.
— Meu Deus! Que vergonha… — Coloco as minhas mãos na minha
frente, tampando o meu rosto. — Eu falei para você não continuar com
aquilo. — Empurro seu ombro, tentando demonstrar alguma raiva, mas meus
lábios estavam sorrindo.
— Não precisa ficar assim, foi bom, e você gostou. — Ele puxou a
minha mão, fazendo os nossos corpos caírem na cama, enquanto a nossa
risada preenchia o quarto. — Eu segui o conselho dela pelo menos, e foi a
melhor escolha da minha vida. E, de verdade, eu desconfio de que
deveríamos exercer esse conselho de novo. — Sua mão sobe, parando em
minha bunda.
— Vai me pedir em namoro de novo? — brinco com ele.
— Posso te pedir em namoro todas as vezes que a gente for transar
sem problema algum; afinal, você merece. — Seu beijo quente se aproxima e
me faz mergulhar nas sensações que nos últimos dias têm sido constantes.
— Agora não podemos, senão iremos se atrasar. — Paro o beijo,
evantando-me.
— Ahhh! — Anderson reclama, levantando-se logo em seguida para
vir na minha direção. — Por que você tinha que ser tão viciante? Eu quero
fazer de novo. — Ele encara meu corpo inteiro, fazendo-me pensar que talvez
a minha roupa esteja um pouco provocante.
— Já fizemos de manhã; então, sossega. Quem sabe você consiga
algo depois que voltarmos — digo, andando para fora do quarto.
— Então vamos logo, para voltarmos logo. — Ele passa na minha
frente, abrindo a porta da sala.
— Céus! Que pressa é essa? Pode relaxar, que a gente vai passar o dia
lá — brinco com ele, e o seu rosto muda.

— Não me obrigue a te comer na casa dos seus pais. — Ele fala sério,
e, desta vez, sou eu que paraliso com a sua resposta.
— Você não teria coragem. — Semicerro os meus olhos, passando do
seu lado, e vou em direção ao carro.
— Eu literalmente analiso todos os lugares em que estamos para
poder transar com você. — Anderson se aproxima e direciona o seu olhar
para baixo quando fica na minha frente. Por que eu escolhi rasteirinhas hoje?
Me sinto uma smurf. — Então, sim! Eu teria coragem! — Ele sorri,
convencido, e abre a porta para mim.
— Nem tente. — Coloco autoridade nas minhas palavras, mesmo
sabendo que ele não as obedece.
Ajeito-me no banco, ainda analisando as suas palavras, enquanto ele
atravessava o carro para podermos sair. Rapidamente sua mão veio parar na
minha coxa assim que ele começou a dirigir e por ali ficou durante todo o
percurso. Eu escolhi um vestido mais curto do que normalmente uso, e isso
estava fazendo o Anderson querer pegar na minha bunda o tempo todo. O
tecido era de seda branca e modelava o meu corpo. Estava um dia gostoso,
então eu queria usar algo fresco, mas, agora, pensando bem, eu me tornei
uma presa fácil. Seu rosto demonstrava que ele iria tentar algo contra mim o
quanto antes.
Minha semana pareceu demorar para passar. Eu queria ver a Hanna
todos os dias, mas infelizmente não conseguimos tempo, e a minha ansiedade
só aumentava. Quando, enfim, parei de sonhar com ela por estarmos mais
tempo juntos, comecei estranhando por não tê-la lá depois de tantos dias, mas
eu a desejava mesmo assim. Acordava sempre com o meu pau duro querendo
alívio, então eu ignorei minhas necessidades durante a semana para atacá-la
no sábado logo pela manhã, assim que cheguei à sua casa.
Hanna estava mais solta depois das coisas que me contou sobre o seu
passado. Eu conseguia sentir que antes algo a segurava muito; ela tinha os
motivos dela, assim como eu tinha os meus, mas, em nenhum momento, eu
imaginei que iria se tratar de um cara que tirou a sua virgindade por dinheiro
e que se aproveitou do seu status social para enganá-la. Agora eu entendia o
porquê de aquele filho da puta ficar correndo atrás dela sem parar.
Vê-la tão bem junto comigo me deixava realmente feliz e, pela
primeira vez na minha vida, eu estava sentindo um carinho diferente por
alguém.
Uma preocupação constante com o bem-estar dela, um desejo de
mimá-la, uma sensação de felicidade que não me deixava, e eu queria muito
que a nossa relação desse certo; então, me acertei com o Kauan (mesmo ainda
duvidando dos seus atos) e, agora, eu queria me acertar com o pai dela e com
quem mais fosse necessário para que ficássemos bem.

— Chegamos! — Hanna fala, um pouco eufórica, apontando para a


direção dos portões da casa dos pais dela.
Ela se identificou para o porteiro, que nos deixou entrar logo depois.
Era um lugar enorme. Só os portões pareciam ter uns 6 metros, e o caminho
até a mansão dos Menezes era totalmente limpo, somente com grama em
volta da casa e a estrada de pedras.

Estacionei o meu carro na entrada e fui buscar a minha namorada do


outro lado do carro. Ter que abaixar a minha cabeça ainda mais do que o meu
habitual para poder beijá-la me fez rir, e seu nariz empinado reclamou da
minha reação junto com os seus olhos verdes.
Droga! Ela estava ainda mais linda, e com certeza os vestidos de
seda agora serão a minha nova religião.
— Você está realmente maravilhosa nesse vestido. — Beijo sua testa,
sussurrando perto dela. — Não sei se conseguirei me controlar até o final
desse almoço. Estou ficando louco querendo tirar ele agora.
— Agora seria meio indecente! — Hanna demonstra o seu senso de
humor.
— Isso iria me relaxar! — falo maliciosamente.
— Está tão nervoso assim? — Identifico que ela está achando graça
nisso tudo.
— Você já me viu nervoso? — Pego em sua mão, e começamos a
andar.
— Na primeira vez que nos vimos, você parecia que queria sair
correndo de mim. — Ela comenta, referindo-se à conversa que tivemos no
seu aniversário.
— Você parecia mais ameaçadora. Agora parece um pequeno spitz-
alemão. — Dou risada em referência e sinto seu cotovelo me acertar. — É
brincadeira.
A porta se abre no instante em que Hanna iria falar alguma coisa, e
nós nos deparamos com os seus pais, que se direcionam para fora, vindo em
nossa direção. Notoriamente a expressão da sua mãe se alegra ao me ver, já a
do seu pai permanece a mesma, sem nem movimentar um centímetro do seu
lábio ou da sua sobrancelha.
— Meu Deus! Eu não acredito! Vocês chegaram! — Sua mãe fala
alto, mostrando euforia, enquanto vem ao nosso encontro. — Filha, você está
tão linda!

— Oi, mãe, que saudades! — Hanna a abraça rapidamente.


— Senhores Menezes! — falo, cumprimentando os dois com um
aceno de cabeça, e sua mãe me encara, sorridente, enquanto Richard apenas
balança a cabeça em resposta.
— Pra que tanta formalidade, Anderson? Me chame de Eliza, por
favor! — Arregalo os meus olhos, surpreso, quando ela me puxa para baixo,
abraçando-me fortemente.
— Obrigado por me receberem hoje aqui — consigo dizer assim que
sou solto.
— Eu estou tão feliz em te ver! E surpresa também. — Dona Eliza
encara a sua filha, buscando por respostas.
— Meio que eu precisava conversar com vocês. — Deu para ver que
o seu pai arranhou a garganta quando eu falei e que sua mãe sorriu,
entendendo o meu recado.
— Venham, vamos entrar. A Catarina acabou de fazer um suco
delicioso para nós. Vamos conversar lá dentro. E a Dona Tiana entregou
agora cedo mais morangos para você, bonequinha.
— Sério? Queria tanto ver ela, já faz um tempo, estava com saudade
daqueles morangos.
Hanna estava se segurando para não rir da minha situação; afinal, o
seu pai, mesmo contrariado, entrou logo atrás da sua esposa e teve que parar
de me encarar com aquela feição fria que estava me deixando realmente
nervoso, enquanto a sua mãe estava tão feliz, que poderia me deixar em
situações como essa o dia inteiro.
— Preparado? — Hanna fala, assim que os pais estão a uma certa
distância de nós.
— Para enfrentar o seu pai? — brinco.
— Acho que a minha mãe é mais perigosa. — Ela sussurra para que
eles não nos escutem.
— Eu também acho!
— É só não ficar sozinho com ela, que dará tudo certo.
Sua mão acaricia a minha e me puxa para começarmos a andar.
Logo após passarmos direto pelo hall de entrada, que era enorme e
continha uma escadaria central de mármore bege, seguimos para a parte de
trás da casa, onde tinha uma área coberta com piscina, churrasqueira, redes,
sofás e a mesa, que já estava arrumada para comermos.
Entramos alguns minutos depois dos Menezes. Sua mãe estava
conversando sobre algo aleatório com um dos funcionários que estava por ali,
enquanto o seu pai se sentou perto da mesa. Hanna e eu nos aproximamos
deles, e uma senhora apareceu praticamente junto com a gente, trazendo os
sucos.
— Anderson, acredita que a Hanna quase me matou de curiosidade
quando me disse que iria trazer alguém aqui? Ela não quis me dizer que seria
você. — Sua mãe se engancha em meu braço, dando umas pequenas
batidinhas em minha mão.
— Acho que ela não queria assustar vocês — brinco, enquanto
observo Hanna se sentar do lado do seu pai.
— Por que assustaria? Você é um colírio para os meus olhos. Se eu
estivesse desmaiada, eu precisaria ver você para me animar novamente. —
Com certeza a Hanna puxou o pai, penso comigo mesmo.
Não, o pai, não. Não é para tanto também. Ele é muito sério.
— Mãe, pare de falar essas coisas para ele. — Hanna comenta entre
risos.
— Passei dos limites? — A senhora Eliza me encara, e eu acho graça
em toda a situação.
— Não, eu particularmente me senti muito feliz com o seu
comentário.

— Passou dos limites sim, mãe. A senhora está agarrando o braço do


meu namorado agora. — Seu tom se mantém como brincadeira, mas era um
assunto sério. Ela havia acabado de revelar a eles o motivo da nossa visita.
Eu não estava esperando que Hanna soltasse essa notícia tão do nada
— não que isso já não fosse evidente; provavelmente eles viram nós dois de
mãos dadas, mas eu estava esperando entrar nesse assunto mais tarde. Sua
mãe me olhou, espantada, arregalando os olhos, que eram ainda mais verdes
que os da Hanna; em seguida, a nossa atenção foi chamada para o barulho na
mesa causado pelas mãos do senhor Richard, que cravava os olhos em mim.
— Anderson, podemos conversar em particular?
Ele estava bravo, e eu era o culpado pela sua raiva.

Assim que o senhor Richard me chamou para essa conversa


particular, eu apenas consenti, enquanto rapidamente a senhora Eliza foi até
ele para cochichar alguma coisa em seu ouvido. Notoriamente ela estava
pedindo para ele não se exaltar. Hanna, por sua vez, olhou-me e apenas
moveu os lábios, dizendo sem som: "Vai ficar tudo bem!". E aqui estava eu.
Fechei a porta atrás de mim assim que entramos em uma sala que me
parecia ser o escritório dele. Os móveis de madeira escura tornavam aquela
sala um conjunto de uma casa, e não de um ambiente de trabalho. As paredes
estavam repletas de livros, e os sofás de couro davam um ar mais rústico para
aquele lugar.
— Então você nem considerou me escutar depois do que
conversamos? — Richard quebra o silêncio, encostando-se em sua mesa.

— Senhor Richard, eu sei que deve estar estressado comigo, mas eu


quero que saiba que eu tentei de verdade me afastar. — Sua mandíbula estava
rígida, com certeza ele não iria facilitar para mim.
— Deve ser por isso que agora vocês estão namorando, não é mesmo?
— A raiva era evidente em sua voz.
— Me desculpe por não ter sido sincero com os meus sentimentos em
relação à Hanna naquele dia, mas, na verdade, quando conversou comigo, eu
realmente estava disposto a me afastar dela. Eu me mantive distante, mas…
— Mas você não resistiu, não é mesmo? — Ele fala, em um tom de
sarcasmo.
— Não resisti a quê? — Eu espero mesmo que ele não esteja
sugerindo aquilo que eu imagino. — Do que está falando?
— Você não resistiu ao nosso dinheiro. Não quis deixar escapar uma
oportunidade dessa, né? Uma mulher rica como a Hanna e com sentimentos
feridos deve ser perfeita para enganar, não é mesmo? — Porra!
Ele estava sendo ridículo por pensar, falar e me tratar dessa maneira,
mas como eu poderia não o entender? Isso já aconteceu antes com eles, não
seria surpresa se acontecesse de novo, então ele estava apenas fazendo o
trabalho dele como pai. Respiro fundo para não ser grosseiro antes de lhe
responder.
— Richard, você realmente acha que estou interessado no dinheiro de
vocês? Eu não preciso disso, eu tenho minha empresa. Eu entendo a situação
pela qualvocês passaram, mas, por favor, me dê um voto de confiança — falo
firme, encarando seus olhos.
— Eu darei esse voto, não por você, mas pela minha filha, porque
você é o primeiro que conseguiu entrar em nossas vidas depois do que
aconteceu. Porém saiba que você sempre estará sendo observado por mim;
terá que provar que merece ela.
— Eu provo o que você quiser; afinal, em nenhum momento, eu
relacionei o dinheiro a nossa relação. A Hanna é muito importante para mim,
e eu não vou deixar nada nos atrapalhar. Você verá que os meus sentimentos
por ela são verdadeiros. — Acalmo-me um pouco após falar o que estava
entalado em minha garganta.
— Anderson, eu quero acreditar em você, de verdade. — Seu suspiro
sai pesado. — Então, por favor, não me decepcione.
— Eu não irei!

— Se fizer a minha filha sofrer, eu te garanto que vou acabar com a


sua vida. A sua empresa não irá conseguir parceria com mais ninguém, e
você estará falido. A Hanna é tudo para mim, e eu quero que você entenda
que ela está entregando a felicidade dela em suas mãos. Faça a minha filha
feliz! — Richard se levanta da beirada da mesa e vem ao meu encontro,
colocando a mão em meu ombro.
Sei que as suas palavras eram uma ameaça, mas quem não faria isso
por uma filha? Eu o entendia perfeitamente e, no fundo, fiquei feliz por
existirem pessoas que fariam de tudo pela Hanna. Agora tinha mais eu para
poder protegê-la de qualquer coisa.
— Eu farei, Richard. Você não tem motivo nenhum para acreditar em
mim. Eu sou um completo estranho para vocês, então eu quero provar que eu
mereço fazer a sua filha feliz, assim como ela me faz feliz. Só me dê um voto
de confiança. — Sua mão relaxa, e ele bufa, olhando para o chão depois do
que eu disse.
— Estou me sentindo um verdadeiro filho da puta por te tratar assim!
— Ele dá risada em seguida, fazendo-me relaxar. — Mas tudo o que eu falei
é verdade. Eu sou um pai preocupado, não me culpe por isso.
— Eu faria exatamente a mesma coisa se tivesse uma filha. Entendo
perfeitamente a sua atitude e concordo com tudo que você falou — confesso,
após recuperar o meu ar, que havia sumido fazia um tempo.
— Bom, vamos voltar antes que elas surtem e entrem aqui para ver se
está tudo bem! — Richard sorri, batendo em minhas costas com calma.
— A Hanna já deve ter roído todas as unhas. Ela estava muito
nervosa. — Dou risada por lembrar que, durante toda a semana, ela me ligou
ou mandou mensagens umas mil vezes falando para cancelarmos esse
almoço.
— Vocês que me deixaram nervoso com toda essa novidade. Estão
namorando desde quando? — Ele comenta, enquanto andamos pelo corredor.
— Começamos a namorar semana passada.
— Faz mais ou menos uns três meses que conversamos lá na empresa,
não faz?
— Pois é. — Coço a cabeça, percebendo o quanto fomos rápidos
desde que nos conhecemos.
Hanna e sua mãe aparecem vindo ao nosso encontro assim que somos
vistos por elas. Richard não demonstrou nenhum sorriso propositalmente, e
entendo o que ele está fazendo. Entro em sua brincadeira, fechando a cara, e é
claro que elas entenderam que talvez a nossa conversa não tivesse atingido
um sucesso.
— Richard, o que falou para o menino? — Eliza fala, preocupada, e
Hanna franze as sobrancelhas ao ver a minha expressão.
— Tudo o que ele merecia ouvir! — O senhor Menezes comenta
friamente, assustando as duas.
— Ai, meu Deus! Anderson, perdoe o meu marido. Ele fala demais às
vezes e sem necessidade. — Sua mãe me encara com os olhos receosos.
— Eliza, nós dois sabemos que você é quem fala demais por aqui. —
Richard sorri em tom de brincadeira, e eu o acompanho, causando olhares
confusos.
— Está tudo bem, já nos acertamos — falo, acalmando-as, e Hanna
vem em minha direção.
— Fala a verdade, Richard. Não destratou o nosso genro, né? —
Divirto-me vendo a dona Eliza me chamando assim e depois tentando tirar
informações do marido. Aproveito a brecha para puxar Hanna pela cintura,
parando-a em minha frente.
— Achei que você já estivesse capado! — Hanna cochicha em meu
ouvido assim que nota a mãe "brigando" com o seu pai.
— Quer conferir? — sussurro, grudando a sua bunda em meu
membro.
— Acho que você ficaria envergonhado se eu abaixasse a sua calça
agora. — Ela fala, sem me encarar.
— Daí sim eu seria capado pelo seu pai, e provavelmente você seria
deserdada! — Encosto a minha cabeça em sua nuca, sorrindo.
— Crianças, vamos almoçar? — Eliza chama a nossa atenção. — O
almoço já está na mesa.
— Vamos! — Hanna se desencosta, puxando-me pela mão.
Eu já havia entendido que só teria a confiança do senhor Richard com
o tempo, então relaxei após a nossa conversa; afinal, ele veria que eu só
queria o melhor para a Hanna. Decidi curtir a nossa tarde me abrindo para
eles. Conversamos bastante, e tive a oportunidade de lhes contar a minha
história. Tivemos até o momento de vergonha quando a minha sogra
praticamente me chamou de lerdo por ela ter arrumado o nosso primeiro
encontro e eu ter estragado. Ela não estava errada, mas eu considero que
aquele almoço teve muitos pontos positivos.
Quando o relógio marcou 17:00h, a mesma senhora que havia trazido
o suco na hora do almoço retornou à sala para nos avisar de que o café da
tarde já estava na mesa. Todos nós nos levantamos, e, neste instante, meu
celular vibrou, indicando uma ligação. Estranhei, porque quase nunca recebia
ligações no domingo. Mesmo assim, retirei o celular do bolso e observei o
número desconhecido na tela. Pedi licença a todos, avisando à Hanna que eu
precisava atender; afinal, eu não sabia do que poderia se tratar a ligação.
Todos assentiram e me pediram para os encontrar na mesma área em que
estivemos no almoço.
Atendi a ligação assim que fui para o hall de entrada, já que estava
sem sons.
— Anderson falando.
— Oi, gatinho. Quanto tempo! Estava preocupada com você. Não nos
vimos mais depois do seu aniversário, e você disse que passaria no
restaurante! — Érika!
Ela estava com um número novo. Merda! Que assombração essa
mulher!
Procuro algum quarto para que eu não fique tão exposto em um lugar
aberto como esse e entro no primeiro cômodo que encontro, notando que se
tratava de uma sala de música, com um piano de cauda enorme no centro.
— Érika, por que está me ligando? — falo, ríspido e grosseiramente
com ela, baixando um pouco a altura da minha voz.
— Como assim, gatinho? Eu estou com saudades. Precisa de um
motivo mais forte que esse?
— Precisa. Eu não quero que me ligue mais! — Coloco um ponto
final em sua insistência.
— Sério, Ander? Está me dando um fora? Por telefone? — Respiro
fundo, controlando a minha vontade de surtar.
— Se eu estivesse na sua frente, eu daria um fora mais adequado, mas
a verdade é que eu estou pouco me importando com você agora, Érika. Não
me ligue, ok? Não irei mais atender!
— CALMA! — Ela grita do outro lado da linha! — Ander, eu sei que
está apenas estressado nesse momento, desculpe por ligar hoje, deve estar
ocupado. No fundo eu sei o quanto gosta de mim. — Da onde ela tirou isso?
— Você só pode estar brincando comigo, né? — falo, enquanto tiro
do fundo do meu estômago a graça para rir daquilo.
— Não fala assim comigo, Ander. Você gosta de mim, que eu sei. —
Deus! Eu só posso ter jogado pedra da cruz. Isso não pode estar acontecendo
comigo.
— Você só pode estar ficando louca, Érika. Quem te falou uma coisa
dessas?
— Não importa quem falou se eu sei que me ama.
Meu Deus! Ela está realmente maluca.
— Isso é mentira, já chega pra mim. Parece que eu estou
conversando com uma parede! — explodo, enfim, notando a minha voz mais
alta.

— ANDERSON! — Ela grita.


Levo um susto quando escuto os passos no corredor, e a porta se abre
rapidamente, revelando o rosto da Hanna. Desligo a ligação na mesma hora,
ignorando seus gritos. Hanna não precisa se lembrar da Érika neste momento,
e também eu estava colocando um fim no meu passado.
— Tudo bem? — Ela pergunta, parecendo preocupada.
— Sim, tudo certo — falo, acalmando os meus ânimos enquanto
guardo o celular no bolso.
— Parecia estressado. — Em poucos passos, ela me alcança.
— Não estou, pode ficar tranquila. Foram apenas alguns problemas
no trabalho — minto.
— Espero que sim. — Ela olha ao redor. — Parece que você
encontrou a minha antiga sala de música.
— Você toca piano? — falo, surpreso.
— Tocava, parei há alguns anos, quando comecei a trabalhar na
empresa do meu pai. — Ela se aproxima do piano e abre a tampa, revelando
as teclas.
— Que pena que o seu trabalho te tirou isso. Consegue tocar alguma
música para mim? — Encosto em seu ombro, e ela se senta na banqueta.
— Deixa eu ver o que consigo lembrar.
Hanna encara as teclas do piano por alguns segundos, como se o seu
cérebro buscasse pelas notas de alguma partitura, e ela desliza os seus dedos,
ressoando o som pelas paredes da pequena sala. Seus olhos se fecham
enquanto ela se encontra dentro de si, levando junto com ela todo o estresse
que senti há poucos minutos.
Sento-me ao seu lado sem atrapalhá-la e observo mais de perto seus
dedos brincarem com cada tecla, como se aquilo fosse a coisa mais fácil do
mundo. Sem perceber, ela tocou, deixando o tempo passar junto com a
harmonia da música que eu conhecia muito bem, por ser do filme La La
Land. Engagement Party, do Justin Hurwitz.
— Eu amava essa música, tocava tanto, que até decorei cada nota. —
Ela diz, assim que termina e sorri para mim.
— É linda mesmo. Obrigado por me mostrar. Você toca muito bem.
Por que não leva o piano para a sua casa?
— Não sei se terei tempo de tocar. Ainda mais agora que tenho um
namorado que não me deixa em paz e ocupa todo o restante do meu tempo.
— Ela bate o seu ombro no meu e sorri com malícia.
— Não faço nada que você também não queira. — Coloco a minha
mão em sua perna, que está completamente exposta agora. — E, de verdade,
confesse que você tocou nesse assunto porque está com tesão desde que falei
que iria transar com você aqui na casa dos seus pais.
Seu rosto se tornou uma pimenta no mesmo momento, como se eu
tivesse acertado os seus pensamentos, e me sinto mais confiante para agir
contra ela, ou melhor, a favor dela.
— Eu falei para você nem tentar uma coisa dessas aqui. Vamos logo
para o café. Meus pais vão notar a nossa demora. Eu só vim aqui para te
buscar. — Hanna se levanta, e eu a levanto com facilidade em cima do piano,
assustando-a.
— Então se concentre no que vou fazer e tente não gemer tão alto.
Juro que será rápido. — Minha mão encosta em seu peito, empurrando o seu
corpo para se deitar.
— A porta não está trancada.
— Então é melhor você gemer alto mesmo, assim ninguém vai entrar,
porque já vão saber o que estamos fazendo aqui.
Hanna até iria protestar mais uma vez, mas eu coloquei as minhas
mãos nas laterais das suas pernas e puxei a sua calcinha até os seus joelhos
com rapidez, fazendo-a soltar um grito abafado em sua garganta. Abaixei-me
para ter acesso ao seu centro de prazer, e automaticamente ela se fechou em
mim, prendendo-se em volta do meu pescoço por reflexo. Ao mesmo tempo,
minhas mãos seguraram as suas coxas com força.
Minha língua deslizou na parte interna da sua coxa, e pude ver sua
cabeça pender para trás. Ela estava se esforçando para não ecoar os seus sons,
já que a sala estava preparada para libertar o melhor de cada som. Aos
poucos, eu fui subindo até atingir a sua boceta, que estava molhada me
esperando. Hanna estava preparada de um jeito que eu conseguia sentir o meu
pau protestar na calça, crescendo cada vez mais.
Minha língua entrou em seu interior quente, e consegui sentir o seu
cheiro maravilhoso, que já estava marcado em minha mente. Minha mão
buscou pelo seu clitóris e, sem demora, começou a girar em volta dele, quase
sentindo a pulsação passando por aquele local.
Com a outra mão, eu apertei a sua bunda, que estava me atiçando o
dia inteiro, e, observando através do tecido do seu vestido erguido, consegui
notar a sua respiração subir e descer em seu peito. Eu queria ver a sua pele se
arrepiando, então meus dedos buscaram pela minha saliva, que escorria em
sua bunda para se molhar e deslizar com mais facilidade na parte interna da
sua bunda.
Não queria assustá-la, então somente o meu indicador molhado
passou sobre o seu ânus, e todo o som que ela estava se esforçando tanto para
segurar saiu pela sua boca como um sopro. Seu rosto se levantou vermelho,
encarando-me medrosa.
— Não farei o que está pensando. Não por enquanto! — falo, sem ar,
mas sorrio satisfeito com a sua reação, de quem parecia confiar em mim. —
Pode ficar tranquila. Relaxa e goza!

Voltei para a minha missão quando a Hanna deitou sobre o piano


novamente, sentindo meu dedo entrar em sua boceta, atingindo o local onde a
minha língua não alcançava. Hanna pegou a minha outra mão, que estava
parada, e a puxou para a sua boca, que chupou os meus dedos com vontade.
Ela repetia os meus movimentos de vaivém com a mesma intensidade que me
chupava.
— Porra, eu quero mesmo te foder agora! — digo, enquanto a sua
língua girava entre os meus dedos.
Com mais velocidade, eu senti o seu corpo se preparar para explodir
quando mais um dos meus dedos entrou no seu interior quente, enquanto a
minha língua atingia exatamente em cima do seu clitóris, que já estava
inchado de tantas repetições. Meus dedos que estavam em sua boca se
distanciam dela para poder se esfregarem em sua parte de trás, e ela se
arqueou em cima daquela madeira.
Quando o seu gemido alto indicou o seu limite, eu abafei o som do
seu orgasmo com a minha boca e segurei os meus dedos em seu interior, que
sentiam enquanto ela tremia, deixando-me louco para entrar e me lambuzar
em seu molhado. Nosso beijo só terminou quando eu senti que o seu coração
havia se desacelerado também.
— Minhas pernas… — Hanna fala, assim que nos separamos.
— O que tem elas? — digo, enquanto subo a sua calcinha.
— Não consigo ficar de pé, ainda estão bambas. — Sorrio pela sua
resposta.
— Obrigado pelo elogio disfarçado. — Pego-a no colo e a coloco no
chão, segurando o seu corpo ao lado do meu. — Eu te ajudo.
— Eles com certeza vão notar.
— Eu também acho. As suas bochechas estão muito vermelhas. —
Caçoo dela.
— Deus! Que vergonha. — Hanna passa a mão no rosto, sentindo sua
temperatura.

Começamos a andar em direção ao corredor, e, aos poucos, ela


conseguia ir se livrando do meu braço para poder andar sozinha; devagar,
mas sozinha.
— Sabe que aquele piano nunca mais será o mesmo para mim, né? —
Ela dá risada.
— Fico feliz por isso. — Sorrio, ainda tentando acalmar o meu pau
nas calças.
— Você poderia ter me fodido. Não queria ter te deixado nesse
estado.
— Eu te fodi, com os meus dedos, e foi uma delícia, mas pode ficar
tranquila, que em casa você poderá acalmar esse meu estado. — Abraço-a por
trás enquanto sussurro em seu ouvido.
— Minha mãe com certeza teve que segurar o meu pai, porque
demoramos muito. — Hanna comenta assim que avistamos os seus pais à
mesa.
— Não demoramos tanto, você estava apenas tocando o piano para
mim… — Penso malícias ao falar isso. — Na verdade, foi ao contrário.

— Bobo! — Ela ri. — Vamos tomar logo esse café e sair daqui. Eu
quero ir para casa!
Céus! Essa mulher com certeza vai acabar comigo de tantas formas
possíveis, que eu já notei o quanto eu virei refém dos seus toques e beijos!
Batuco os dedos na mesa, ansioso pela sua chegada. O café está
completamente vazio devido ao horário e, pelo jeito quase, ninguém vem em
uma cafeteria em uma segunda às 14:00h. Olho novamente para a porta
quando escuto o sino indicar que alguém havia entrado, mas não era ele, e
sim uma moça que foi direto para a vitrine observar os bolos. Eu não o
conhecia pessoalmente, mas sabia que se tratava de um homem que iria vir
falar comigo. Busco o meu celular em meu bolso enquanto molho a minha
boca na xícara de café e observo a tela, na esperança de que tenha alguma
mensagem, mas não tinha nada. Ele estava atrasado há 15 minutos. Talvez
não tenha acreditado na minha conversa e simplesmente desistira de vir.
Comecei a pensar que toda essa vingança que eu estou planejando
seja um pouco demais, mas é claro que o Anderson não pensou assim quando
me apunhalou pelas costas e me fez de otário por todo esse tempo. Eu queria
que ele sentisse tudo o que eu senti ao descobrir sobre os dois. Eu também
queria a Hanna para mim. Falei isso para ele desde o primeiro dia em que a
vi, então era evidente que eu tinha motivos suficientes para querer acabar
com aquele maldito. No fundo, eu estava sentindo que tudo isso estava
ficando extremo demais, mas eu não queria voltar atrás agora.
— Você é o Kauan? — Escuto a voz na minha frente e encaro o rapaz
com cabelo liso.
— Sim! — Sorrio, aliviado por ele ter vindo. — Matheus, não é
mesmo?

— Sim. — Ele parece estranhamente confortável com a minha


presença.
Meu contato para tentar descobrir algo sobre a Hanna conseguiu
encontrar esse tal Matheus relacionado ao passado dela, e, aqui, na minha
frente, estava a minha chave secreta para descobrir o que seria necessário
para o meu próximo passo.

— Sente-se, por favor. — Indico a cadeira à minha frente.


— Você entrou em contato comigo para obter informações de algo
que eu ainda não sei do que se trata e me disse que o dinheiro seria bom.
Estamos falando de quanto dinheiro exatamente? — Ele fala assim que se
acomoda.
Ele foi mais direto do que eu esperava, mas isso mostrava o quanto
ele poderia estar disposto a me contar qualquer coisa por dinheiro, e eu não
me importo de gastar essa grana com ele, porque, se tudo desse certo, no
futuro, eu estaria com a Hanna como namorada ou até mesmo esposa.
— 5.000,00 seria o suficiente? — falo, nervoso.
— Depende do que você quer saber. Se quer pagar tanto assim,
significa que a informação é extremamente importante para você. — Como a
Hanna se envolveu com alguém assim? — Sobre quem é esse assunto?
— Hanna Menezes! — disparo.
Assim que eu falo o nome dela, os olhos dele se arregalam por breves
segundos, e ele fica incomodado em sua cadeira, tentando se ajeitar no banco,
aproximando-se da mesa.
— Como conhece ela? — Seu semblante fica sombrio.
— Não te interessa. Eu preciso de informações, e você está aqui
apenas para me passar.
— Eu quero o dobro do valor para falar sobre ela. — Como é fácil
comprá-lo.

— Tudo bem… — Logo um sorriso enorme aparece em sua face. —


Sem nem um real a mais.
— O que quer saber? — Ele volta a se encostar na cadeira, mais
relaxado.
— Tudo. Me conta como se conheceram até o porquê de vocês terem
terminado. Eu quero a verdade.
— Isso está mais fácil do que eu imaginei. — Sua risada fraca
resplandece em sua face. — Bom, eu conheci a Hanna na faculdade. Ela era
totalmente diferente naquela época. Completamente fechada, parecia um
bicho do mato. Foi quando começou a rolar um papo de que ela era virgem, e
eu lembro que todos os caras ficaram loucos querendo tirar a virgindade dela;
tipo, como alguém com 19 anos ainda era virgem? — Ele deu risada
novamente por se lembrar daquele fato.
— Tá, me conta o resto — falo, sem paciência.
— Então todos fizemos uma aposta: quem conseguisse tirar a
virgindade dela ganhava a grana. Não lembro o valor exato, mas creio que
fechamos o valor em quase 2.000,00. — Ele encara o ambiente à nossa volta.
— Com o passar do tempo, os rapazes foram desistindo, porque notaram o
quanto ela era de difícil acesso, mas eu não desisti. Se ela ainda era realmente
virgem, com toda certeza era ingênua também, e eu iria conseguir.
Senti o meu estômago dar um nó ao escutar esse filho da puta falando.
— E o que você fez?
— Conquistei ela com romantismo, é claro. Foi simples, e ela caiu. —
No fundo, eu entendi por que as minhas investidas românticas não deram tão
certo. Ela não acreditava muito naquilo. — Claro que tudo isso levou tempo,
mas, caramba, eram 2.000,00, eu não iria perder aquela grana tão fácil. Então,
deixei o tempo agir a meu favor.
— E o que aconteceu quando você conseguiu transar com ela? —
digo, sem paciência.
— Calma, você está me pagando uma grana muito boa, então vou
contar tudo. — Ele dá um sorriso, como se aquela história fosse
extremamente engraçada. — Eu comecei a namorar ela, descobri tudo que
consegui sobre os seus gostos; nós até conhecemos a família um do outro e,
quando eu percebi que talvez ela estaria disposta a fazer o que eu pedisse,
insisti para transarmos, até que um dia ela cedeu. — Seu corpo se inclinou
sobre a mesa para falar algo mais baixo. — Agora o que eu vou te falar tem
que ser mantido em sigilo, porque nem a própria Hanna sabe.
— Eu estou te pagando por essas informações, é claro que eu não vou
contar para ninguém. — Reviro os olhos, sem paciência.
— Certo, certo. Então, continuando, para poder receber a grana da
nossa aposta, eu precisaria de provas de que havia transado com ela. Quando
ela aceitou, eu gravei toda a cena. Fizemos o sexo no carro, então foi fácil.
Deixei o celular na porta, e ela nem desconfiou de nada, e, de verdade, foi
uma delicia foder aquela bocetinha virgem.
— Você é um verdadeiro filha da puta, né?
— Eu sei. — Seu sorriso psicótico chega até a me dar vontade de
socá-lo.
— O que você fez com esse vídeo?

— Se está querendo saber se eu mandei para alguém, a resposta é não,


pode ficar tranquilo. Apenas mostrei para todos os rapazes no meu próprio
celular e guardei. Tenho uma cópia aqui. — Ele balançou o celular na minha
frente. — E tenho outra em meu notebook em casa.
— Eu quero esse vídeo!
— Quero mais dez mil por ele. — Ele ergue a sobrancelha,
convencido.
— Pago cinco. — Esse cara só pode estar fodido por querer tanto
dinheiro assim, ou ele é apenas um verdadeiro filho da puta.
— 7.000,00, e eu te mando ele agora. — Balanço a cabeça em
concordância.

— Ok, agora termine de me contar a história.


— Quando eu mostrei o vídeo, é claro que todos me pagaram e ainda
fui muito parabenizado, mas a minha felicidade durou pouco. Ela não quis
mais transar depois da nossa primeira vez, e eu quis manter o relacionamento
para tentar ganhar mais coisas dela, mas teve um dia em que eu vacilei e
deixei o meu celular aberto, e a Hanna viu todas as mensagens do nosso
grupo, e terminamos. Depois disso, tentei várias vezes voltar com ela, mas
ela me ignorou. Acho que agora ela deve estar com alguém.
— Por que você acha isso? — Fico curioso pela sua revelação.
— Encontrei com ela em uma balada esses dias. Ela estava com um
homem alto. Ele me deu um belo de um soco quando tentei beijá-la. — Ele
parece esconder alguns fatos sobre esse acontecimento.
Sinto-me com um misto de emoções quando escuto as suas últimas
palavras; afinal, senti-me aliviado pelo Anderson ter conseguido bater nesse
idiota, coisa que eu não posso fazer por estar recebendo as suas informações,
mas a minha raiva contra o Anderson cresceu ainda mais por conseguir
compreender que os dois estão juntos há mais tempo do que eu imaginava.
Além disso, as contas todas batem: eles realmente transaram naquele dia, e
aquela calcinha no quarto dele era dela.
— Agora vamos aos pagamentos. — Pego o meu celular para fazer a
transferência pra ele, e ele faz o mesmo para me mandar o vídeo.
— Não vai me contar mesmo por que está me pagando tanto por essa
mulher?
— Digamos que eu quero acabar com esse cara que te bateu e
precisava saber como fazer isso. Você me deu a resposta para os meus
próximos passos. — Sorrio, pensando exatamente o que eu poderia fazer para
separar os dois.
— Entendi. Espero que consigo; afinal, ele me deu um soco, então
quero mesmo que ele se foda.
Terminamos a nossa negociação, e eu segui para o meu carro. Assim
que entrei, fui assistir ao vídeo que recebi do tal Matheus e, pela primeira
vez, pude ver o corpo nu da Hanna. Ela era realmente gostosa. Caralho! Eu
precisava muito dela. Sem pensar direito, estacionei em um beco mais
fechado e pouco movimentado da cidade e me masturbei vendo a cena dela
gemendo com dor pela sua primeira vez, me imaginei no lugar daquele
maldito, entrando nela e sentindo o seu sangue em meu pau.
Assim que terminei o que eu nem estava imaginando fazer nesse
lugar, eu sai dali, indo em direção ao escritório. Cheguei um pouco atrasado,
mas apenas a Meg me viu entrando. Já na minha sala, eu organizei os meus
próximos passos contra o Anderson. Eu precisava fazer tudo o mais sigiloso
possível, mas tudo seria em vão se a Hanna não acreditasse em mim.
Vi-me em um beco sem saída em relação a ela; afinal, ela havia me
prometido que me mandaria uma mensagem e já fazia mais de uma semana
que eu não tinha recebido nenhuma resposta sua.
Eu precisava de um motivo forte que a fizesse me dar ouvidos
novamente, e eu não iria vacilar desta vez.
Encarei a clínica para a qual já fazia mais de 6 meses que eu não
retornava e entrei no local assim que estacionei o meu carro. Eu havia
marcado com a minha ginecologista para poder me cuidar novamente com
algum método contraceptivo, já que eu havia parado de me cuidar desde
quando terminei o meu namoro com o Matheus. Agora, precisava voltar com
algum medicamento. Eu não estava preparada para ter nenhuma surpresa.
Após alguns minutos sentada, fui chamada pelo painel no canto da
sala de espera que indicava o número do consultório da minha doutora.

— Boa tarde, Hanna, tudo bem? Quanto tempo. — Ela fala assim que
fecha a porta.
— Boa tarde, doutora. Queria vir para poder fazer um check-up. —
Ajeito-me na cadeira, e ela senta logo em seguida.
— Que bom, já vou pedir a liberação para os seus exames aqui. —
Ela digita em seu notebook. — Me conte, no que mais eu posso te ajudar
hoje?
— Eu não estou utilizando nenhum método contraceptivo no
momento, então gostaria de ver o que seria o mais indicado para mim.
— Isso é muito bom. Vamos fazer o seguinte: vou te entregar as
requisições dos exames, tanto de sangue quanto de imagens, para vermos se
está tudo bem com você e, daí, poderemos escolher o melhor método.

— Certo.
— Os de sangue você pode fazer hoje mesmo no andar de baixo. Tem
alguns aqui que você não precisa estar em jejum. Os resultados saem em dois
dias úteis. — Ela coloca os papéis na minha frente, indicando cada folha. —
Esses outros exames são ecografias. Você vai ter que marcar com as meninas
da recepção. O resultado sai no mesmo dia.

— Entendi! Quero ver se consigo retornar esta semana ainda com


todos os resultados. — Levanto-me assim que pego toda a papelada.
— Perfeito! Assim poderemos ver o quanto antes algum método que
melhor se encaixe para o seu corpo.

Quase me matei de tanta correria nesta semana para conseguir fazer


todos os exames a tempo de retornar para a doutora. Eu precisava o quanto
antes desses remédios, não queria que o Anderson tivesse que utilizar a
camisinha por muito mais tempo, pois imagino que isso o incomode.
— Oi, Hanna, que bom que conseguiu fazer todos esses exames! — A
doutora fala assim que deposito as pastas em sua mesa.
— Foi corrido, mas eu consegui.
— Eu imagino. Deixa eu ver o que você me trouxe.
Ela pega os meus exames de sangue e começa a analisar cada
resultado, então eu percebo que os seus olhos procuram pelo outro exame que
eu realizei, pegando a pasta logo em seguida. Assim que ela anota algumas
coisas em seu notebook, os seus olhos se encontraram com os meus
novamente.
— Hanna, quando foi a sua última menstruação? — Sua pergunta me
pega de surpresa.
— Eu acho que faz umas três semanas, não me lembro direito.
— E você sente cólicas, dores na parte inferior das costas ou dores na
hora do sexo?
— Por quê, doutora? —questiono, intrigada pelas perguntas.
— Não vamos nos preocupar por enquanto, mas os seus exames de
sangue identificaram algumas alterações nos seus hormônios, e o ultrassom
mostrou que possivelmente você deve ter endometriose.
Suas palavras me deixam sem reação. Eu não sabia o que isso poderia
significar, mas eu sabia que a maneira como ela havia abordado aquele
assunto não era em vão.
— O que isso significa? — comento, um pouco assustada.
— Que essas alterações nos seus hormônios não estão deixando você
ovular. Tenho certeza de que a sua menstruação é irregular, né?

— Sim, eu também tenho dores fortes de cólicas e dores nas costas.


— São sintomas da endometriose.
— E isso significa que eu não posso engravidar?
— Eu precisaria de exames mais detalhados para poder concluir isso,
mas, sim, geralmente quem tem a endometriose no estado em que a sua está
não consegue engravida. Porém, não precisa se preocupar por enquanto.
— Isso tem tratamento?
— Tem sim, mas fique tranquila, já estou fazendo a requisição para
você poder fazer outro exame. Marque esse ultrassom quando descer a sua
próxima menstruação, assim poderemos visualizar e constatar melhor o que
está acontecendo com você!

— Entendi — falo, sentindo minha mente se turvar.


— Por enquanto, procure fazer relações com camisinhas. Ainda não
temos a conclusão exata do seu diagnóstico.
Concordo, ainda meio perdida com tantas informações que recebi.
Não estava esperando estar nessa situação e fui realmente pega de surpresa
com a notícia. A doutora me passou mais algumas informações para tentar
me acalmar e, assim que ela terminou, despedi-me, indo em direção ao meu
carro.
Meu celular tocou antes que eu conseguisse entrar no veículo e
visualizei o nome do Kauan na tela. Céus! O que ele quer justamente agora?
Eu não estou legal para suportar as suas gracinhas, e minha cabeça está
realmente em outro lugar no momento. Mesmo assim, sinto-me na obrigação
de atender, já que eu havia falado que mandaria uma mensagem a ele.
— Oi, Kauan! — falo, mantendo a minha seriedade.
— Hanna, ainda bem que me atendeu. Não sabia mais para quem
ligar! — Noto desespero em sua voz e fico preocupada.
— O que aconteceu?
— Eu preciso da sua ajuda, é urgente! Me ajuda, por favor, Hanna!
— Onde você está? — Senhor! Que não seja nada grave!
— Podemos nos encontrar? É melhor eu te contar pessoalmente, não
vou conseguir por celular.
— Sim! Me manda a sua localização.
— Obrigado, Hanna, estou mandando.
Enquanto eu procurava uma vaga para estacionar o meu carro, os
meus olhos procuravam pelo Kauan. Sua ligação até tirou o peso do meu
coração em relação ao que eu havia acabado de escutar no consultório da
minha ginecologista sobre a bomba relacionada à minha fertilidade e a uma
possível vida sem filhos… Ainda não sabia ao certo o que eu deveria pensar
quanto a tudo isso, porque a bagagem sobre essa decisão involuntária era
muito grande e nem era tão concreta também.
Mas todos esses pensamentos sumiram da minha mente para dar lugar
a um novo peso relacionado ao Anderson. Deus! Por que eu me preocupo
muito antes de saber do que se trata?
Queria ver o seu rosto como se apenas de olhar em seus olhos eu
pudesse revelar o que estava o afligindo e, ao mesmo tempo, acalmar o meu
coração, que lançava novas e mais novas teorias sobre o que iríamos
conversar.
A localização que ele havia me mandado era em um restaurante um
pouco afastado da cidade. Eu nunca havia estado naquele local e, por causa
da preocupação presente que eu estava sentindo, não pude nem observar o
restaurante em si, mas ao menos notei que eu estava em uma rua mais calma.
Logo que adentrei no ambiente climatizado, encontrei o Kauan sentado a uma
mesa do fundo do restaurante, próximo a umas janelas de madeira enormes,
em que dava para ver através do vidro o pequeno movimento da rua. Ele se
levantou assim que me viu e veio ao meu encontro quando eu já estava mais
perto. Seu rosto estava demonstrando cansaço, e eu conseguia observar até as
olheiras suaves embaixo dos seus olhos.
— Meu Deus, Kauan, o que está acontecendo? Por que me ligou
daquela maneira? Você me assustou — digo, quando, enfim, ficamos um de
frente para o outro.
— Hanna, eu não sei nem como te dizer o que eu preciso falar. Estou
sem chão até agora. — Ele diz amargamente. — Você não tem noção de
como tem estado a minha cabeça nesses últimos dias, e te confesso que ligar
para você foi a minha última opção. — Logo em seguida, ele se senta,
esfregando as mãos em seu rosto em desespero. — Se sente, por favor.
— Está me deixando ainda mais aflita. Por que não me explica logo?
— falo até meio grosseira, mas a minha ansiedade estava me privando de
pensar antes de falar.

— Eu fiz a maior burrada da minha vida, Hanna. — Seu rosto com


toda a certeza demonstrava o seu arrependimento. — Mas, antes de eu te
contar, eu preciso te dizer que o Anderson não está sabendo de nada dessa
confusão em que eu me meti.
Sinto um enorme peso sair das minhas costas quando ele revela que o
Anderson não está envolvido nisso tudo. A principio, eu só vim até aqui
porque eu estava imaginando que talvez ele estivesse em perigo ou algo ainda
mais grave; não se pode controlar a mente de uma mulher preocupada, mas
agora me intriguei ainda mais em pensar no que ele poderia ter se metido para
ter que me chamar em um lugar afastado do centro da cidade e, ainda por
cima, escondido do Ander.
— O que você fez, Kauan? — falo, em um tom de julgamento.
— Eu caí em um golpe! — Ele dispara sem ao menos conseguir olhar
na minha cara.
— Você o quê? — falo, um pouco mais alto, e sinto um misto de
raiva e dúvida crescer dentro de mim.
— Calma, Hanna, o assunto é sério. Eu preciso que você me prometa
que não vai contar isso para o Anderson. Por favor! — Imediatamente
estranho ainda mais a sua atitude. Por que eu não deveria contar para ele?
— Okay! — digo curta e grossa, sem rodeios. Eu precisava saber no
que ele estava metido, e a minha confirmação não era verdadeira no fim das
contas.
— Certo! — Ele repete mais para si mesmo. — Pode ficar tranquila,
tá bom? O que eu vou te falar não vai prejudicar ele; na verdade, se você
puder me ajudar, estará ajudando nós dois, estará ajudando a nossa empresa.
— Seu rosto evidencia um certo medo de falar enquanto tenta me contar o
que aconteceu.
— Pode falar, então.
— Recentemente eu acabei fazendo um investimento para a nossa
empresa e, se eu não conseguir reverter essa situação, eu e o Anderson
podemos perder a empresa… nós vamos falir! — Seu corpo bate contra a
cadeira, e seu pulmão puxa o ar pesadamente. — Eu fiz esse investimento
sem a autorização dele, por isso não posso deixar ele descobrir antes que eu
conserte tudo.
— Meu Deus, Kauan, me explique melhor tudo isso! Que
investimento foi esse? Por que vocês vão falir por causa disso? — Céus! O
Anderson precisa saber disso o quanto antes.
— Um homem entrou em contato comigo nesta semana me
oferecendo a mesma matéria-prima que utilizamos na nossa empresa. Resolvi
pegar os produtos deles por serem mais baratos, dessa forma também iríamos
conseguir um lucro maior, mas esses novos fornecedores sumiram com o
dinheiro de entrada que eu paguei. As informações que eles me passaram
também eram falsas, e esse dinheiro que eu utilizei era para pagar outras
coisas na empresa. Já fiz um B.O. na delegacia, mas provavelmente os
detetives vão demorar para encontrar esse pessoal, e, se eu ficar esperando,
eu tenho certeza de que a empresa não vai se manter em pé até o final desse
processo. — Seus olhos encaravam seus dedos, que constantemente se
estralavam com o seu puxar.
— Que merda! — Penso com calma nas informações que ele me
passou. — Então você está precisando de dinheiro? — concluo, por fim.
— Infelizmente sim! — Sua vergonha o faz baixar a cabeça. Chego
até a sentir pena da sua escolha triste, mas por pouco tempo, já que a sua
irresponsabilidade me causa raiva. — Hanna, eu tenho vergonha de ter que te
pedir isso, mas você pode emprestar essa grana para a empresa não falir por
minha causa? Não quero acabar com o sonho do Anderson, é o meu sonho
também, mas a empresa é da família dele, né? Não posso fazer isso com ele!
— Poderia jurar até que os seus olhos ficaram marejados ao me confessar
tudo aquilo. — Hanna, eu te juro, eu vou te pagar tudo, pode ficar tranquila,
não vou falhar com você de novo. — Entendo que ele está se referindo ao
fato de ter me agarrado.
— Eu até posso, Kauan, mas você não acha que deveria contar para o
Ander essa história toda? Ele que cuida do financeiro da empresa, com
certeza vai saber sobre esse furo no faturamento, e também eu acho que ele
saberá o que fazer em relação a tudo isso — digo, enquanto a minha mente
questionava vários fatos da sua história.
— Hanna, eu já dei uma mancada muito grande com você, e eu sei
que vocês dois estão juntos agora. — Sinto-me desconfortável quando ele
toca nesse assunto; não sabia que o Anderson havia contado para ele. — Ele
me contou, estou feliz por vocês, de verdade, mas, como eu estava falando, já
dei uma mancada e não queria ter que contar para o Anderson mais essa
besteira que eu fiz! É provável até que ele queira acabar com a nossa parceria
e, em questão do financeiro, eu conseguirei arrumar alguma desculpa para ele
não desconfiar; esse seria o menor dos meus problemas.
Isso me parecia tão errado, mas, no fundo, eu sentia que ele tinha
razão. O Anderson provavelmente não aceitaria esse erro do Kauan, ainda
mais um desse tamanho relacionado ao dinheiro, e, se eu não ajudar, a
parceria deles pode realmente acabar. Nesse caso, a empresa também acaba,
e, só de pensar no Ander arrasado por essa perda, eu fico triste. Eu sei que eu
o ajudaria no que fosse possível, mas creio que ele não aceitaria a minha
ajuda depois de tudo que contei sobre o Matheus em relação ao dinheiro.
— Ok, eu vou ajudar você. — Aceito. — Me diga, qual seria o valor
de que você precisa para se reerguer desse furo? — Pego meu cheque na
bolsa e uma caneta.
— Eu nunca na minha vida imaginei ter que pedir isso para você, me
perdoe mesmo, Hanna, mas eu vou pagar, tá? — Concordo com a cabeça,
enquanto começo a escrever as informações necessárias no papel. — Preciso
de 1.000.000,00
Meus olhos vão em sua direção, totalmente indignada, e olha que ele
me disse que esse valor era somente o custo de entrada para pegar os
materiais; imagina se eles pedissem o valor inteiro. Claro que é um valor alto,
mas eu imaginava que seria bem mais. Minha vontade nesse momento era de
lhe dar uma lição de moral, mas o seu semblante culposo já demonstrava o
seu arrependimento. Não sei como ele vai me pagar isso, mas assino aquele
cheque pensando no Ander e entrego em sua mão.
— Aqui está! — Mantenho a minha autoridade para que saiba que
esse dinheiro não é uma doação.
— Hanna, você não sabe o quanto está ajudando! — Ele pega o
pequeno papel da minha mão com um sorriso fraco.
— Kauan, eu estou confiando em você, não me decepcione! —
Encaro os seus olhos, que me parecem sinceros.
— Pretendo devolver esse valor em até no máximo três meses, tá
bom? — Ele segura forte em minha mão quando diz essas palavras, como se
tentasse passar confiança para mim.
— Não irei falar nada para o Ander por enquanto e te peço que não
conte a ele que fui eu que emprestei esse dinheiro também, mas, depois
desses três meses, eu quero que revele tudo a ele. — Retiro minha mão de
baixo da sua.
Após alguns minutos pensando bem sobre isso tudo, eu concluí que,
se ele descobrir sobre isso, provavelmente vai ficar irado com nós dois: com
o Kauan por ter perdido tanto dinheiro e, principalmente, por ter vindo pedir
para mim; e imagino que ele iria ficar bravo comigo também por ter ajudado
o Kauan, sendo que eu não tenho nada a ver com a empresa deles. Ele poderá
se sentir ofendido em relação ao dinheiro.
— Nunca! Esse será o nosso segredo. Eu realmente não quero que ele
descubra sobre isso agora, senão estarei ferrado, mas, assim que essa maré
baixa passar, eu juro que contarei tudo para ele.
— Assim eu espero. — Respiro fundo. — Seria apenas isso?
— Sim, apenas isso. Me desculpa novamente, Hanna, por ser tão
burro e ter que te pedir uma coisa dessas. — Ele ergue o cheque e guarda na
sua carteira. — Você está salvando a minha vida.
— Estou fazendo isso pelo Anderson, Kauan. — Ele me encara,
entendendo o recado, e logo se levanta, e eu me levanto em seguida.
— Obrigado!
Sou pega de surpresa pelo seu abraço e, em vez de sentir o conforto
que antes eu sentia ao lado dele, sinto-me totalmente invadida. Aquela
sensação aconchegante de confiar nele não existia mais. Retribuo o abraço
em breves segundos e me afasto. Eu ainda tenho muito medo do que ele pode
ser capaz de fazer; na verdade, não se tratava de um medo, e sim da minha
confiança que não existia mais. Despedi-me dele e saí, indo direto para a
minha casa.
Durante o caminho de volta, eu me questionei sobre vários fatos que
eu deveria ter perguntado para ele, mas o meu coração mole ficou com dó de
pressioná-lo, já que ele estava passando por um momento difícil. Mas como
ele conseguiria esconder isso do Anderson? E como ele foi cair nesse golpe,
se ele teria que conversar com o Anderson sobre um investimento novo? Já
que é o Anderson que trata sobre os assuntos do financeiro.
Isso tudo era muito estranho para mim, mas o meu maior medo era de
o meu namorado ficar arrasado por uma perda tão grande, e isso me fez agir
primeiro do que raciocinar melhor sobre esse assunto.
O final de semana chega, e é minha vez de contar para os meus pais
sobre eu e Hanna. Queria ter ido hoje mesmo para Brasília, mas não tive
tempo. Mesmo assim, comprei as passagens para mim e para ela. Sairemos
amanhã cedo e retornaremos no domingo à tarde.
Eu já havia comentado brevemente com a Hanna sobre o nosso final
de semana, então eu sabia que ela não tinha nada de mais para fazer. Assim,
juntei o útil ao agradável para poder fazer essa surpresa para ela. Estacionei
na frente da sua casa e buzinei, aguardando ela abrir o portão para mim. Já
estava de noite, e eu confesso que fazia um tempo que eu não saía tarde do
serviço. O céu anoitecendo indicava o horário das 19:00h.
Hanna abriu o portão, e eu estacionei o meu carro em sua garagem. Já
estava começando virar rotina ir para a casa dela e observá-la me esperar na
porta enquanto eu tirava a minha mochila do carro com algumas coisas
minhas. Quando, enfim, ela saiu para me esperar, notei uma toalha na sua
cabeça, indicando que ela já havia tomado banho. Ao me aproximar,
consegui sentir o cheiro do seu sabonete, que estava se tornando algo familiar
para mim.
— Oi, pequena — digo, provocando-a, enquanto lhe beijo o pescoço.
— Já estava com saudades.
— Pequena? Esse será meu novo apelido? — Seu sorriso lindo
aparece.

— Com certeza, combina com você.


— Só vou aceitar porque achei bonitinho, e saiba que eu também
estava com saudade. Vem, vamos entrar. — Ela me puxa e encosta a porta.
— Que tal você trazer mais algumas coisas suas para cá? Tenho certeza de
que tenho algumas gavetas vazias no closet. — Hanna comenta, pegando a
minha mochila e a levando em direção ao seu quarto.

— Se eu começar a trazer as minhas coisas para cá, tenho certeza de


que será mais difícil de eu sair daqui quando acabar o final de semana! —
Sorrio, falando a verdade.
— E quem te disse que você tem que sair daqui? — Sinto uma leve
sugestão nas suas palavras, ficando confortável com a proposta.
— Está me chamando para morar com você? — brinco, sabendo que
não era isso que ela estava dizendo.
Seu rosto se virou para mim com os seus olhos verdes arregalados
assim que depositou a minha mochila em cima da sua cama, e logo as suas
bochechas já estavam vermelhas.
— Não é bem assim, na verdade… — Ela desvia o olhar de mim. —
Você quer?
— Hanna, calma, eu só estava brincando com você. Eu entendi o que
você quis dizer! — Abraço-a, achando graça na sua reação. — Vou trazer
algumas coisas semana que vem, tá bom?
— Ótimo! Agora venha comer, você deve estar com fome. — Sua
habilidade de trocar de assunto era muito notável.
— Você nem imagina o quanto eu quero comer — falo
maliciosamente, cochichando em seu ouvido.
— Nada disso. — Hanna até tenta esconder o seu sorriso, mas eu sei o
quanto ela também quer isso; afinal, foi uma semana extremamente longa. —
Você vem aqui para transar ou para ter a companhia da sua namorada?
— Isso que você disse não é a mesma coisa? Tanto a primeira opção
quanto a segunda fazem parte de um conjunto, né? — Dou risada,
pressionando o meu pau em seu ventre.
— Não, não é a mesma coisa.
Antes que a Hanna pudesse dizer mais alguma coisa, eu me aproximei
dos seus lábios rapidamente e beijei a sua boca, entrelaçando as nossas
línguas. Nós ainda não havíamos nos beijado, e eu desejava muito que não
fosse só eu que tivesse percebido isso.
Minhas mãos, que antes estavam na sua cintura, direcionaram-se para
o seu pescoço, moldando os meus movimentos ao beijá-la. Senti quando a
toalha em sua cabeça caiu e o cheiro do seu xampu se espalhou entre nós.
Hanna estava com a mesma regata larga e solta que usava para dormir em
algumas das vezes em que pude observar. Usava também um shorts curto,
que praticamente deixava a popa da sua bunda exposta, linda como sempre.
Seus cabelos molhados e gelados encostaram em minhas mãos e nos seus
ombros; logo o seu corpo se arrepiou em alerta, deixando evidente os bicos
dos seus seios através do tecido.
— Ander… — Ela se separa de mim e respira fundo. — Vamos fazer
depois, tá bom? Agora eu quero que você jante. Eu preciso te contar algo.
Minha mente fica em alerta com as suas palavras, e eu me preocupo
na mesma hora. Eu sentia a minha intuição falando em alto e bom som: "Por
que você não perguntou se ela estava bem antes de parecer um tarado, seu
idiota?" .
— Desculpa… — falo, ainda tentando saber em seu rosto se aquele
assunto se trataria de algo sério ou mais tranquilo. — Eu também tenho algo
para te falar — comento ao lembrar.
— Fala primeiro, então, enquanto eu termino de arrumar a mesa. —
Eu a solto, vendo-a ir em direção à cozinha.
— Então… Eu comprei as nossas passagens para irmos amanhã cedo
para Brasília. — Espero a sua reação, que imediatamente recebo ao ver os
cantos dos seus lábios denunciarem um sorriso.
— Não brinca comigo, Ander.
— Vou te apresentar como minha namorada para os meus pais.
— Ai, Deus! Como vou encarar a sua mãe depois daquilo que você
me contou? — Hanna bate a mão na testa, envergonhada.
— Esquece isso, amor. Ela vai ficar tão feliz quando eu contar que
estamos namorando, que ela nem vai se lembrar disso. Ela já queria que a
gente… — Percebo que o seu rosto muda praticamente de imediato, fazendo-
me notar que eu a havia chamado de "amor".
Isso era novo até para mim. Não conseguia nem me lembrar se
alguma vez na minha vida eu cheguei a chamar alguém assim, e saiu com
uma naturalidade que eu nem percebi, se não fosse a sua reação.
— O que você disse? — Ela fala após o meu silêncio, e eu sinto o
meu coração acelerar no peito.
— Amor! — repito, até meio baixo, e Hanna sorri ainda mais,
aliviando a minha tensão.
— Gosto dessa palavra na sua boca… amor! — Ela dá a volta na
mesa e vem ao meu encontro. — Fica melhor que “pequena”.
— Confesso que eu também gostei — falo, tentando disfarçar a minha
vergonha. — Mas não vamos mudar de assunto, não. O que você queria me
contar?
Seu sorriso, antes divertido pela situação, sumiu de imediato ao
escutar as minhas palavras. Concluo agora que o que ela precisava me contar
talvez não fosse uma coisa tão boa e sinto o temor nos seus olhos.
— Te contei que eu estava realizando alguns exames, né? — Ela tenta
falar com naturalidade enquanto coloca a travessa de comida na mesa, mas
noto suas mãos trêmulas.
— Sim, para começar a utilizar os anticoncepcionais, não é mesmo?
— Isso mesmo. Então, a doutora descobriu que talvez eu possa estar
infértil! — Seu sorriso aparece fracamente, e ela não me encara. Hanna tem
essa mania de falar coisas sérias como se fosse nada e ignorar o meu olhar
por medo. — Eu ainda não tenho certeza se eu sou estéril, ainda tenho que
fazer mais alguns exames…
— Isso não precisa ficar martelando na sua cabeça, amor. — Eu
interrompo seus pensamentos negativos, porque eu entendia muito bem o que
estava acontecendo em sua mente neste momento, e seus olhos me encaram. -
Vai ficar tudo bem. Independente de qualquer resultado, eu vou estar do seu
lado.
Estava escrito em seus olhos que ela estava com medo de não poder
ter filhos, por isso já estava me alertando do nosso possível futuro, mas
aquilo não me causava medo — não que eu não tivesse sonho de ser pai; pelo
contrário, eu gostava muito de crianças, mas eu levava comigo o lema: o que
for para ser será. Nós iríamos enfrentar tudo juntos a partir do momento em
que eu a havia pedido em namoro.
Foi então que eu senti algo muito importante mudar dentro de mim.
— Eu não queria estar enchendo a sua cabeça com algo que ainda é
incerto, mas, se o resultado for positivo, eu quero que você pense a respeito
disso, Ander. É algo bem futuro ainda, mas precisa ser pensado e…
— A gente vai pensar a respeito disso quando for a hora. Por
enquanto, não precisamos nos preocupar, certo? — Puxo a sua mão e a beijo.
De certa forma, sinto que o seu coração se acalma.
— Certo! — Hanna respira um pouco aliviada.
— Então, se acalme. Não fale bobagens!
— Tá bom, tá bom! Esse assunto não saiu da minha cabeça o dia
todo! — Passo os meus braços em torno do seu corpo, sentindo-me
estranhamente incomodado por não ter passado isso com ela.
— Quando será o seu exame?
— Será na terça da semana que vem.
— Posso ir com você?
— Se quiser vir junto, pode vir, mas será um exame simples, não tem
necessidade de ficar preocupado.
— Eu fico preocupado em não estar junto com você. — Beijo o topo
da sua cabeça.
— Ok, vamos jantar agora, antes que você morra de fome. — Sua voz
mais relaxada me deixa feliz.
— Já comentei que eu gosto da sua comida? Isso está uma delícia! —
falo, assim que me sento e experimento a primeira colherada. Seu sorriso
aparece com o humor das minhas palavras.
— Não fiz nada de mais. Isso é apenas macarrão.
— Um dos melhores macarrões que eu já comi. — Coloco novamente
o garfo cheio na boca.
— Para de ser bobo. Termine logo de comer. Precisamos dormir,
porque vamos sair amanhã cedo, não é mesmo? Preciso arrumar a minha
mala ainda. — Hanna se senta na minha frente e serve nós dois com vinho.
— Ainda é cedo… — Pego o celular no bolso e encaro a tela. — Olha
só, não são nem oito ainda, e você, mocinha, não pense que irá fugir de mim
hoje.

— Quando que eu fugi de você? — Ela apoia o queixo na mão,


encarando-me com brincadeira.
— Literalmente desde que nós nos conhecemos.
— Para com isso, ou eu vou te trocar pelas minhas malas. — Hanna
fala, fingindo seriedade.
— Vai fugir mesmo de mim, então? — Paro de comer, identificando
o tipo de conversa que estávamos tendo. Aquelas provocações eram
familiares demais para mim, e eu sabia muito bem onde iríamos parar.
A atmosfera daquela cozinha já havia mudado.
— E se eu fugir? — Sua sobrancelha se ergueu em resposta.
— Meio que não tem para onde você fugir, e, independente para onde
você corra, eu vou te alcançar! — Empurro meu prato para o lado, e seus
olhos não largam. — Vem! Senta aqui no meu colo. — Gesticulo com a mão,
batendo em minha perna.
— Não vai terminar de comer?
— Eu já terminei. — Assim que eu termino de falar, Hanna também
empurra o seu prato ao se levantar e vem até mim.
Afasto a minha cadeira ao mesmo tempo que passo os meus braços
em volta da sua cintura, para colocá-la em cima do meu membro duro, que
roçou em sua boceta através do tecido fino aquele calção curto.
— Abra a minha calça.
— Por que eu deveria te obedecer? — Aqueles olhos verdes me
desafiaram mesmo ela já sabendo que iria cumprir o que eu havia mandado.
— Você deveria me obedecer porque, senão, eu vou te deixar
suplicando para que eu te faça gozar — digo, direcionando meus beijos na
pele do seu pescoço, nos mesmos lugares em que sempre me encaixo, bem
em cima daquelas pequenas pintas. — E na verdade… eu amo ver você
suplicar por mim.
Hanna não me responde mais, apenas cede ao meu pedido e coloca
sua mão em cima da minha cinta, desfazendo-se dela rapidamente enquanto
minhas mãos se encaixam em sua cintura para movimentar o seu quadril em
cima do meu pau sedento.
Ela se afastou assim que abriu todas as etapas da minha calça para
poder colocar o meu membro para fora daquele tecido apertado. Seus olhos
brilhavam desejo de que eu a fodesse enquanto ela observava a cabeça do
meu pau reluzir na luz fraca da cozinha, mostrando o molhado que se
formava ali. Seu dedo indicador se esfregou em minha pele, lubrificando a
região com o meu próprio pré-gozo.
Antes mesmo que eu pudesse lhe guiar no seu próximo passo, Hanna
inclinou a cabeça para baixo e deixou a sua saliva descer pela boca até ter
contato com o meu membro, para lambuzar até o tecido da minha cueca.
Reativamente, o meu corpo tremeu ao sentir aquele líquido quente escorrer
por toda a minha extensão, até seus dedos se misturarem com ele para me
masturbar.
Seu calção largo facilitava muito no que eu estava decidido a fazer
com ela em cima dessa mesa. Enquanto isso, o seu prazer só aumentava,
porque eu a estava deixando testar as suas vontades de brincar com o meu
membro, que estava explodindo de tesão.
Surpreendi-me quando ela colocou a sua calcinha para o lado para
grudar sem demora o meu pau em sua boceta molhada. Eu me empurrei em
sua fenda, abrindo os lábios aos poucos com os meus deslizes compassados
naquele movimento de masturbação, enquanto eu me roçava nela e
aproveitada a sensação de senti-la sem a camisinha.
— Porra! — Sussurro em seu ouvido. — Te sentir tão molhada assim
é pedir para que eu morra de tesão agora mesmo!
— Essa é a intenção. — Seu quadril novamente se empurra para cima
do meu membro, e seus olhos se fecham ao me sentir. — Te matar de prazer.
Minhas mãos se abaixam para chegar até a popa da sua bunda; dessa
maneira, eu sabia que teria mais mobilidade em seu corpo. Em seguida, eu as
apertei, fazendo os seus movimentos de vaivém quase encaixarem meu pau
em seu interior quente.
Caralho, a sensação estava me matando!
Nossos fluidos já estavam misturados, encharcando os nossos sexos.
Com apenas mais um movimento intenso, eu senti o meu membro deslizar
para dentro dela, abrindo um espaço tão apertado, que obrigatoriamente me
relaxou por finalmente eu estar onde queria estar. Seu vaivém fez com que o
meu pau entrasse ainda mais fundo, e, quando empurrei o seu corpo em
minha direção, pude escutar o seu som que estava preso na garganta.
Hanna não tinha muita habilidade naquela posição em que estávamos.
Mesmo assim, eu não facilitei para ela. Seus pés estavam longe do chão, mas
os meus ombros estavam ali para auxiliá-la, e minhas mãos em sua cintura a
ajudavam em seu equilíbrio. Apertei-lhe o quadril pela sensação de prazer
que estava me tomando, e os primeiros minutos foram angustiantes, já que
ela mantinha um ritmo lento. Foi então que eu a levantei em cima da mesa,
sem sair de dentro dela.
— Você está queimando por dentro — sussurro contra os seus lábios
úmidos, e ela se arrepia.
Minhas mãos seguiram para debaixo da sua regata, levantando-a para
que saísse do nosso meio e, enfim, eu chegasse até aqueles seios deliciosos
que eu queria tanto morder. Puxei o tecido até os seus braços e amarrei suas
mãos, deixando o seu olhar confuso enquanto eu encostava seu corpo na
mesa fria. Ela estava esplêndida com aqueles braços para cima e com seus
seios arrepiados, tão pronta para mim, tão relaxada, tão minha. Suas pintas já
estavam prontas para serem marcadas novamente pelos meus chupões,
enquanto sua pele de porcelana brilhava na pouca luz da cozinha.
— Você está me fazendo queimar. — A voz que ela tinha era surreal
e me deixava com ainda mais tesão. Eu queria muito me desmanchar dentro
dela.
Em um único movimento, eu arranco a minha camiseta, jogando-a no
chão, e ajeito aquele calçãozinho curto dela mais para o lado.
— Coloque as suas pernas na minha cintura. — Imediatamente ela
realiza a minha ordem.
Puxei ainda mais as suas pernas em torno de mim, ajeitando-me
melhor ao seu corpo para, em seguida, entrar fundo novamente em seu ventre
quente. Hanna se segurou na beirada da mesa enquanto eu ia ao encontro de
seu corpo para poder escutar os seus gemidos baixos que me deixavam louco.
— Você sabe que está sorrindo? — Ela fala, um pouco sem fôlego.
— Você estaria sorrindo também se estivesse vendo o que eu estou
tendo o privilégio de ver. — Guio-me até os seus lábios carnudos e começo a
puxá-los para mim enquanto ela acompanha minha língua.
— Eu tenho o meu privilégio também! — Ela fala assim que a gente
se afasta, e as suas pernas me puxam para mais perto, indicando a sua
vontade.
Encarei o pequeno balde de gelo que estava do nosso lado, e a Hanna
me seguiu com os olhos, entendendo imediatamente o que eu ia fazer.
— Não! — Ela fala, em desespero, enquanto eu pego um cubo. —
Não, não, não!
Meu sorriso aparece novamente por ver a sua reação, e, então, eu
ignoro as suas palavras e vou em direção aos seus punhos, travando-os na
mesa para que ela não me parasse. Com cuidado e diversão, eu encostei o
gelo no bico do seu seio direito e comecei a me mover ao mesmo tempo com
força dentro dela. Imediatamente o seu corpo respondeu, em um arrepio forte,
que deixou os seus mamilos duros como pedras. Um grito abafado ressoava
em sua garganta pela sensação; consequentemente, ela tentou recuar da
minha mão, que só a poupou nos milésimos para se direcionar para o outro
seio.
— Por favor, pare! — Hanna suplicou em vão.
— Alguma vez eu tive piedade de você?
O gelo começou a derreter tanto na minha mão quanto na sua pele, e a
água desceu pelo seu corpo. Dependendo do movimento que ela fazia, uma
hora o líquido ia em direção à sua clavícula e outra hora em direção ao seu
umbigo, mas, no fim, o resultado era o mesmo, e a mesa começou a ficar
molhada.
Eu me abaixei e comecei a passar a língua pelo caminho que o gelo
trilhou nos seus seios. Novamente, seus mamilos se arrepiaram por sentir a
minha língua brincar com eles, enquanto, sem pausa, eu aumentei a
velocidade das estocadas, fazendo-lhe o corpo arquear e os seus gemidos
saírem mais alto.
Seus seios balançavam naquele nosso vaivém, e seus olhos se
fechavam todas as vezes que eu entrava bruto em sua boceta encharcada. Seu
suor já era evidente, fazendo-lhe a pele brilhar ainda mais. Foi então que eu
colei nossos corpos novamente para poder segurar as suas mãos sob a minha
cabeça, enquanto eu lhe marcava o pescoço.
Ela fez o mesmo comigo, beijando-me o pescoço com calma, e eu lhe
dei abertura para que se aprofundasse naquele gesto, enquanto, sem demora,
eu mordia de leve o lóbulo da sua orelha. Hanna começou devagar e, de
repente, já estava chupando minha pele com vontade. Foi então que eu me
afastei dela, parando os nossos movimentos.
— Só retribuindo os diversos chupões que você me deu, amor. — A
palavra sai em tom de brincadeira, e eu sorrio para ela.

— Então serei obrigado a marcar o seu corpo inteiro, porque eu sou


bem vingativo e, desta vez, não vai ser somente em lugares que ninguém
possa ver.
Eu saí de dentro dela, fazendo o seu rosto protestar, querendo que eu
voltasse para o nosso ritmo, mas o meu interesse era outro nesse momento.
Puxei o seu calção junto com a calcinha, arrancando-os em um único
movimento, para, em seguida, eu pegar a sua perna esquerda e depositar em
cima do meu ombro. Beijei-lhe a coxa e suguei-lhe a pele em seguida,
fazendo seu rosto se retrair pela dor. Claro que eu não parei, fui subindo e
puxei sem piedade a sua cintura para mais perto, levantando as suas costas da
mesa e trazendo a sua intimidade para o meu rosto. Quando ela percebeu do
que se tratava os meus gestos, seu rosto queimou.
— O que você está fazendo? — Estava nítido que a sua vergonha
gritava.
— Isso aqui! — Encaixo a minha boca em sua boceta melada,
sentindo o seu gosto.
Minha língua rapidamente entra em sua vagina, e eu escuto um
protesto baixo, mas permaneço focado em me afundar nela. Ela só retorna a
resmungar quando vou em direção ao seu clitóris inchado.
— Ander… — Hanna fala, enquanto geme meu nome, e com certeza
isso é uma das coisas que eu mais amava escutar.
Eu queria devorar seu corpo por inteiro enquanto eu observava o
restante das gotas do gelo irem em direção aos seus seios pelo fato de ela
estar inclinada. Meu rosto se afundou em seu meio e a chupei forte, fazendo-a
gritar de tesão. Quando eu percebi que ela estava quase gozando, soltei-a e
procurei em meu bolso a camisinha, o que francamente em nenhum momento
passou pela minha cabeça, até eu sentir que, da próxima vez que eu
retornasse para dentro dela, eu iria gozar — e, honestamente, isso me fez
perceber que a sensação dentro dela sem aquele látex era dez vezes melhor.
Assim que a camisinha já estava em meu pau, eu retornei para seu
interior, permanecendo com uma das suas pernas em meu ombro.
Imediatamente, o seu interior se retraiu ao me sentir novamente. Sem demora,
as estocadas ecoaram naquela cozinha e, então, a Hanna se soltou daquela
regata, que acabou caindo no chão. Eu continuei segurando a sua perna com
força contra o meu corpo e entrei sem pausa em seu calor, fazendo crescer a
sensação de explodir.
Depois de muitas repetições, percebi que ela estava querendo gozar,
então aumentei a nossa velocidade para chegarmos juntos ao nosso ápice. Foi
aí que ela alcançou uma das minhas mãos e a apertou em resposta, gozando
em tremores e gemidos maravilhosos. Eu não queria parar de sentir o seu
interior me apertando, mas aquilo era demais! Gozei logo em seguida,
abaixando a sua perna para poder chegar até os seus lábios. Nossas
respirações tentavam retornar ao normal, mas eu não deixei: encaixei as suas
pernas novamente em minha cintura e a levantei da mesa, segurando-lhe o
corpo.
— Não me diga que você quer mandar mais um pouquinho em mim?
— Hanna se agarra em meu pescoço e sorri.
— Se você continuar bem-comportada assim, com certeza, mas saiba
que eu estou longe de terminar hoje. Acho melhor você fazer as suas malas
amanhã cedo. — Caminho em direção ao quarto. — E eu prometi deixar o
seu corpo com novas marcas, né? Não posso deixar de cumprir as minhas
próprias palavras.
Passamos pelos portões de embarque assim que foi liberada a entrada
dos passageiros. Anderson estava com um sorriso enorme no rosto, enquanto
o meu nervosismo era evidente por vários motivos.
Primeiro, pelo fato de que, da última vez em que eu estive me
apresentando para os pais de alguém como "namorada", era junto com o
Matheus, e nem durou muito. Às vezes a curiosidade sobre esses assuntos
vinha em minha mente, fazendo-me questionar o que o Matheus disse aos
seus pais quando terminamos. Eu nunca mais os vi. Segundo, que o meu
nervosismo se dava também porque, da última vez que eu estive em Brasília,
há mais ou menos três ou quatro semanas, eu e o Anderson estávamos em
conflito, e teve a transa também, que a mãe dele havia escutado. Essa viagem
me pegou de surpresa.
Céus! Minhas mãos estavam suando, e eu não sou de ficar intimidada
assim. Tenho certeza de que o Ander simplesmente está ignorando a minha
perna inquieta batendo o meu salto sem cessar no carpete do avião, porque
não tinha mais o que fazer, e com certeza ele também estava fingindo não
escutar os pequenos suspiros que eu estava soltando sem perceber quando os
meus pensamentos se aglomeravam demais em minha mente.
Assim que o avião se estabilizou em sua rota, eu segurei a mão de
Ander, encostando em seu bracelete para poder escutar o som metálico
ressoar ao bater na minha joia também.

— Eles sabem que eu estou indo? — pergunto de novo, porque não


consigo me lembrar da sua resposta há cerca de 30 minutos, quando eu já
havia perguntado isso.
— Não amor, é surpresa! — Ele sorri e coloca a sua mão sobre a
minha perna, tentando acalmá-la. — Eu liguei avisando que iria passar o final
de semana lá. Quero notar a reação deles ao verem você de novo, já que eu
não voltei mais para Brasília. Minha mãe já tinha se encantado por você;
então, pode ficar tranquila, que ela vai amar a notícia.
— Seu irmão vai zoar muito a gente, né? — penso alto.
— Com certeza. Esteja preparada para as brincadeirinhas dele.
— Deus, me ajuda. — Solto o meu ar que estava preso. — Pior vai
ser ter que encarar a sua mãe. Não sai da minha cabeça aquilo que você me
contou.
— Para de pensar nisso também, não tem nada de mais no fato de a
gente ter transado. Eu sou adulto, e você também. As pessoas fazem isso o
tempo todo, e eu tenho quase certeza de que ela não estava se referindo
àquela noite especificamente. — Arregalo os meus olhos com a sua
revelação.

A que noite ela estaria se referindo, então?


— O que você contou para ela? — Viro-me bruscamente para encará-
lo, e ele sorri pela minha reação.
— Um pouco do nosso envolvimento, não foi nada de mais, relaxa. —
Sua risada me deixa ainda mais nervosa.
— Não sei como eu vou relaxar. — Suspiro novamente, enquanto
cruzo as minhas pernas, deixando a fenda da minha saia se abrir na altura dos
meus joelhos. — Você nem me deixou dormir — sussurro.
— Não me faça de vilão aqui se você também me pediu por mais. —
Dava para ver que ele estava tranquilo demais, diferente de mim. Sua mão
caiu em direção ao meu joelho e levantou poucos centímetros da minha saia.
— Tem gente aqui, pare com isso! — Olho em volta, notando a
comissária no final do corredor explicando alguma coisa para outro
tripulante.
Geralmente não tem tantas pessoas na primeira classe, mas hoje,
talvez por ser final de semana, estava mais cheio. Felizmente ao nosso lado
não havia nenhum passageiro que poderia ter presenciado essa cena.

— Quer relaxar? — Ele fala em meu ouvido, puxando ainda mais a


minha saia.
— Quê? — falo, sem entender.
— Quer esquecer as coisas que estão te incomodando e ficar mais
calma?
— Claro, mas como você… — Sua mão aperta a minha coxa com
força.
— Vai para o banheiro! — Ander sussurra ainda mais baixo contra a
minha pele.
— Eu não vou relaxar assim! — Fico indignada pela sua sugestão.
— Vamos fazer um teste, ok? — Sua não sobe um pouco mais.
— Hum? — Dou abertura para ele expressar o que estava pensando.
— Se você ainda estiver nervosa quando sair daquele banheiro, eu irei
fazer o que você quiser o final de semana inteiro. Pode me pedir qualquer
coisa, tá bom? — Aceno, concordando. — Agora… — Seus dedos brincam
com uma mexa do meu cabelo. — Se você sair molinha de lá, daí eu poderei
fazer o que eu quiser com você! — Seus dentes brancos aparecem pela
felicidade evidente nas suas falas.
— Você até pode me chamar de fujona agora, porque eu não vou ter
coragem de fazer isso. Tem muitas pessoas aqui, e as comissárias irão notar
duas pessoas entrando no banheiro. — Ajeito a minha saia que estava quase
com a fenda na minha calcinha.

— É por isso que eu já mandei você ir indo. Eu vou daqui a alguns


minutos! — Enquanto eu estou pensando nessa possibilidade, toda aflita com
mil e uma conjecturas na cabeça, ele parece tão tranquilo, que eu desejo
realmente ter a coragem do Ander.
— Ok! — concordo, pensando seriamente em como eu vou confundir
esse homem. — Só estou aceitando porque tenho certeza de que estarei ainda
mais nervosa depois. — Sorrio.

— Eu me garanto, senhorita mandona! — Ele bate em seu bolso, em


que, com toda a certeza, tem uma camisinha.
Levanto-me com calma, ajeitando a minha saia, e procuro pelo
banheiro, que está bem próximo da comissária. De canto de olho, observo o
sorriso dele achando aquela situação provavelmente divertida, mas será a
minha vez de fazê-lo se sentir "mandado" de verdade. Dou alguns passos pelo
corredor e vou até a pequena porta do banheiro, abrindo-a e fechando-a logo
em seguida, apenas para simular o som.
Retorno até a comissária, que ainda estava resolvendo a reclamação
do passageiro, e chamo a sua atenção.
— Oi, desculpe a minha intromissão — falo baixo para o Ander não
escutar e sou gentil para que ela e o passageiro pudessem se acalmar. —
Poderia me ajudar em um assunto rapidinho?
— Só um momento, senhor, já irei retornar com os seus pedidos. —
Ela me encara sorrindo, quase em agradecimento por livrá-la daquele homem,
e começa a andar, chegando próximo da sua cabine de suprimentos
praticamente atrás do banheiro. — Pois não, senhorita?
— Estou precisando de um remédio para enjoo. Por acaso vocês
teriam algum? Acabei deixando o meu na mala que foi despachada.
— Senhorita, não é do nosso feitio fornecer medicação aos
tripulantes, nem podemos, na verdade; então, não comente com ninguém, tá
bom? — Ela diz seriamente, e eu percebo o seu nome em seu crachá:
"Emily". — Estou fazendo isso como um agradecimento por aquilo! — Seus
olhos vão em direção ao passageiro chato.
— Muito obrigada, Emily. Não sabe como estará me ajudando. —
Passo a minha mão pela minha testa, demonstrando um mal-estar inventado,
e ela se surpreende quando digo o seu nome.
Ela me entrega o medicamento e volta a mexer nas gavetas, ajeitando
possivelmente o pedido do rapaz que a incomodava. Eu fico por ali até
escutar os passos do Ander no corredor. Inclino-me para poder visualizar as
fileiras de bancos e, então, escuto o som da pequena porta do banheiro se
abrindo. A porta se fecha, e meus olhos voltam para a comissária, que estava
dispersa, nem notando a minha presença. Isso me deu coragem de ir até
aquele pequeno cômodo, se é que eu poderia chamar aquele banheiro assim.
A distância da cabine dos funcionários até o banheiro era de praticamente 5
passos, então isso poderia dar muito certo ou muito errado.
Assim que eu fiquei de frente para a porta, ela se abriu, dando-me o
privilégio de ver o rosto do Anderson, nervoso por eu não estar lá dentro, e,
logo em seguida, assustando-se por me ver do lado de fora. Meu indicador
encostou em seus lábios, empurrando-o para dentro novamente, e meu sorriso
apareceu assim que eu tranquei a porta. O espaço era terrivelmente pequeno e
me questiono se realmente conseguiríamos fazer algo ali, mas agora a
vontade era minha de o fazer se arrepender por ter sugerido isso aqui.
— Por que não estava aqui? — Ele pega uma das minhas pernas e
desliza a mão para o tecido subir.
— Porque você não manda em mim. — Sorrio ainda mais e o paro,
puxando a minha perna das suas mãos. — Agora abra a sua calça. — Repito
o que ele me falou ontem. — E seja rápido, não temos muito tempo.
De início, ele arregalou os olhos quando entendeu as minhas
intenções. Em seguida, ele sinalizou com as sobrancelhas como se me
desafiasse a fazer aquilo mesmo. Então, passou a língua em seus lábios
lentamente, seguindo o mesmo ritmo para abrir o seu cinto.
— O que você vai fazer? — Ele ainda me olha com dúvidas,
definindo se deve sorrir ou não.
— Faça o que eu estou mandando. — Passo as minhas mãos nas
laterais da sua calça, encontrando a camisinha em seus bolsos, e a seguro em
minhas mãos, enquanto ele termina de tirar o seu pau para fora da cueca. —
Segure a camisa com a boca. — Levanto o tecido, e ele me obedece.
Agradeço mentalmente por eu ter escolhido um cropped que faz
conjunto com a saia, porque ele é bem maleável; então, abaixo-me na frente
de Ander, sentindo os meus pés encostarem na parede daquele banheiro. O
ambiente começa a esquentar rapidamente por ser pequeno, e, sem demora,
eu juntei a saliva na minha boca para, enfim, introduzir todo o seu membro
duro em minha boca. Esse movimento o fez atingir logo de início a minha
garganta, e eu pude vê-lo reagindo ao meu toque imediatamente. Sua boca se
abriu, deixando cair a sua camisa, que deslizou por sua barriga trincada.
— Porra, Hanna, assim não… — Ander fala, sem fôlego, ao me
sentir.
Passo a minha língua até o final da sua extensão, observando as suas
bolas ficarem molhadas também, enquanto as gotas da saliva escorriam por
elas. Minha mão começou a masturbá-lo, fazendo-lhe a cabeça pender para
trás, encostando na parede. Seu som saiu abafado, e eu desejei torturá-lo
ainda mais.
Com a minha outra mão que estava livre, peguei em suas bolas e as
massageei, vendo o seu abdômen puxar o ar com dificuldade e o segurar ao
mesmo tempo, para não chamar atenção do restante do avião. Minha boca
voltou a chupá-lo devagar, e eu senti a minha calcinha ficar molhada só de ter
essa visão ajoelhada aos seus pés.
— Caralho, isso não é justo! — Sua voz mais grossa denuncia que os
seus pensamentos estão perdidos dentro de si enquanto eu aumento a
velocidade.
Não parei em nenhum segundo de chupar seu pau quase por completo
enquanto o masturbava junto. E, quando, enfim, senti o meu maxilar cansado
pelas repetições, eu retirei o pau dele da minha boca e puxei o meu top para
baixo, fazendo os meus seios pularem para fora do tecido e ficarem
empinados pelo sutiã, que permaneceu embaixo deles.
Anderson semicerrou os seus olhos no mesmo instante, surpreso com
o que eu estava fazendo, e, sem demora, eu encaixei o seu pau encharcado
entre os meus seios. Seu membro deslizava com facilidade por eles, por
estarem molhados, e eu comecei a fazer o movimento de vaivém com a ajuda
das minhas mãos. Por um breve momento, a minha mente me lembrou de que
estávamos em um avião e cheguei a me preocupar se não estávamos ali há
muito tempo, pois toda a situação realmente me envolveu, fazendo-me
esquecer todo o resto.
— Hanna, pare, eu vou gozar assim! — Ele me alerta em vão, já que
esse era o meu objetivo desde o início.
Minha respiração acelerada quase parece um gemido naquele local
abafado, e eu conseguia ver a minha pele suada. O rosto dele estava vermelho
também; era difícil o ver assim, mas, céus, era uma visão perfeita. Eu poderia
gozar por ver o prazer que estava lhe proporcionando. Seu membro estava
todo molhado, melecando os meus seios, e dava para observar as veias
saltadas, tanto em suas mãos, quanto em seu pescoço. Não tinha como eu
parar com isso, eu queria vê-lo gozar.
Repeti os movimentos mais algumas vezes, quando sua mão segurou
os meus cabelos e ele liberou todo o seu jato de sêmen em mim, lambuzando
desde os meus seios até o meu rosto. Sua respiração estava alta; e sua testa,
molhada. Seus olhos me encaravam como se eu estivesse feito uma loucura,
ou ele, por ter sugerido isso. Passei o dedo pelo seu sêmen que estava
próximo da minha boca e, por curiosidade, o provei — era salgado e tinha o
gosto muito parecido com o seu pré-gozo, só que era bem mais forte.
— A surpresa é uma ótima arma contra os despreparados! — falo essa
frase que até hoje me deixa nervosa, mostrando para ele que o ponto dessa
partida era minha.
— Céus… Você é incrível, sabia? — Ander fala, sem ar. — Deixa eu
te limpar!
— Melhor você sair. Acho que demoramos aqui! — Sorrio ao me
levantar. — Eu vou depois!
— Não! Eu nem usei a camisinha! — Ele se refere ao fato de eu não
ter gozado.
— Teremos outra oportunidade. Agora saia! — ordeno para ele e
abaixo o restante da sua camiseta, enquanto ele fecha o zíper da sua calça.
— Você ficou ainda mais gostosa mandando assim. Só não prometo
te obedecer nas próximas vezes, porque eu amo ver você gozar. — Ander
termina de se ajeitar e sai logo em seguida.
Encaro-me no espelho da pia e vejo o meu rosto totalmente vermelho.
Deus, eu sempre fico assim? Limpo os meus seios, verificando se nenhum
sêmen veio parar no meu cabelo ou na minha saia, e procuro a camisinha que
deixei cair no chão, guardando-a entre os meus seios. Em seguida, saio assim
que termino de me arrumar.
Passo pelas poltronas, fingindo cara de paisagem, como se há poucos
minutos eu não estivesse chupando o meu namorado no banheiro minúsculo
em um avião cheio de pessoas.
— Acho que eu ganhei no seu teste, né? — Sorrio assim que me sento
do seu lado.
— Não. Não valeu! — Ele fala sério, querendo rir ao perceber o golpe
em que caiu. — Você fez isso de propósito?
— Claro, assim eu terei hoje e amanhã para poder mandar ainda mais
em você! — Meu sorriso quase fica sem espaço no meu rosto.
— Não acredito! — Ele passa a mão no rosto e solta uma risada
incrédula. — Amo esse seu espírito competidor.
Assim que chegamos à frente da casa dos meus pais, eu abro o portão
com o controle que já tinha e, então, estaciono o carro na garagem. Dou a
volta no automóvel para buscar a minha pequena do outro lado e, assim que
ela sai do seu lugar, eu reparo em seu cropped, que tive que ignorar a viagem
toda, porque a visão que eu tive dos seus seios balançando sob aquele tecido
me deixou maluco, fazendo-me gozar quase de imediato. Eu queria ver
aquela cena de novo e com mais calma!
Ela me enganou de tal maneira, que me deixou ainda mais excitado.
Foi fácil demais para ela me enganar e mandar em mim e no meu pau, que
ficou apertado novamente na cueca só de eu me lembrar da cena no banheiro.

Respiro fundo, tentando esquecer para acalmar o meu membro, e a


guio para a entrada de casa. Eu decidi pegar um carro alugado no aeroporto
desta vez, porque não queria que a surpresa acabasse assim que a minha mãe
visse Hanna e eu saindo do portão de desembarque; por isso, acabei não
avisando o horário em que eu iria chegar.
Olhei para o meu pulso, observando no relógio que já eram 9h27.
Então, eu tinha certeza de que tanto a minha mãe quanto o meu pai já
estavam acordados.
— Vamos entrar escondidos? — Hanna diz, achando graça pelo fato
de eu não abrir a porta.
— Acho que sim! — Mexo os ombros e abro a porta.
Entramos em passos leves e escutamos os sons vindo do andar de
cima. Aparentemente tem mais vozes do que de costume por aqui e, assim
que subimos as escadas, aos poucos eu percebo que a minha mãe e o meu pai
estão conversando com alguém na sala de jantar. Com certeza devem estar
tomando café da manhã com o Tony.
— Tem mais alguém aí, vamos atrapalhar a conversa deles! — Hanna
sussurra, apreensiva.

— Para de ficar tão nervosa. Independente de quem seja, não vai


importar, meus pais ficarão felizes em nos ver. — Abraço o seu corpo, e
Hanna beija o meu pescoço.
— Tá bom! — Ela concorda e me encara sem jeito.
Conversamos muito ontem de noite depois do sexo sobre o porquê de
ela não precisar ficar nervosa, mas acho que não foi uma boa ideia contar a
ela que minha mãe descobriu que estávamos transando aquele dia. Parece que
eu depositei uma tonelada de preocupações em cima dos seus ombros. Beijo
os seus lábios com calma e direciono as minhas mãos para o seu rosto,
envolvendo-a ainda mais em meu beijo para que ela relaxasse. Sua boca se
abriu para a minha língua entrar, e Hanna abraçou o meu corpo enquanto
retribuiu o meu beijo.
Simplesmente nos assustamos quando escutamos alguém fazer um
som com a garganta para chamar a nossa atenção. Afasto-me dela, vendo os
seus olhos se arregalarem pela vergonha e, em segundos, ela virar um
pimentão ao ver que meu irmão estava no corredor nos encarando, encostado
na parede.
— Depois sou eu que tenho que controlar o meu negócio no meio das
pernas, né, Ander? Seu cínico! — Tony fala, em tom de brincadeira.
— Tenha respeito, moleque.
— É, pelo jeito eu não vou ter mais chances com a senhorita Hanna!
— Ele se aproxima de nós dois e oferece a mão para ela, que a entrega a sua
para receber um beijo educado. — Bem-vinda de volta, Hanna.
— Obrigada! — Sua voz sem jeito me faz ter raiva do meu irmão por
ter estragado o nosso momento.

— Você nunca teve chances com ela, Tony. Vai atrás das meninas da
sua idade.
— Relaxa, agora estou namorando. — Essa informação deixou até a
Hanna indignada. — Fico feliz em saber que nós, os homens Magalhães,
conseguimos mulheres tão lindas. Está de parabéns por ter parado de ser tão
burro, irmãozinho.

— Ele está pedindo para apanhar — falo para a Hanna, e minha mãe
aparece logo atrás dele.
— Meu Deus, que surpresa boa! — Minha mãe diz, piscando sem
parar, como se tentasse entender o que estava acontecendo ali. — Vocês por
aqui!
Hanna se esconde um pouco atrás de mim e entrega uma de suas mãos
nas minhas, para que eu recebesse a minha mãe primeiro.
— O Tony estragou a surpresa, mãe! — Sorrio para ela, mas logo o
meu sorriso some quando minha mãe vem ao meu encontro e eu vejo a
pessoa atrás dela.
— Brenda — falo, vendo-a se aproximar de nós também.
Por que a minha ex está aqui? Eu não planejei este dia assim.
MERDA!
Hanna procura os meus olhos, sem entender a minha reação imediata,
que provavelmente deve ser uma cara fechada por ver a Brenda aqui. Ela
continua igual a quando namorávamos, com o mesmo estilo de roupas
casuais, o mesmo cabelo curto ruivo, e consigo até notar que ainda está
usando um colar que dei a ela de aniversário. Aquele colar não simbolizava
tanto para mim quanto aparentemente simbolizava para ela, já que eu o
comprei às pressas minutos antes de chegar à sua festa, porque eu havia me
esquecido da data.
Encarei a minha mãe, que continuava sorrindo, tentando manter a
situação amenizada, mas meus olhos lhe pediam respostas. Em hipótese
alguma eu imaginei que a minha mãe pudesse receber a minha ex aqui. Ela
era a última pessoa que eu queria ver hoje na face da Terra; para piorar a
situação, meu irmão fez uma cara de que agora eu estava lascado.
Quando os meus olhos retornaram para a Brenda, ela já estava
próxima demais de mim e, sem que eu lhe desse abertura, ela me abraçou. Ela
é mais alta que a Hanna, então consegue alcançar o meu pescoço sem
dificuldade alguma.
— Ander, quanto tempo, que bom te ver. — Sua voz sai em alto e
bom som enquanto eu me afasto assim que consigo.
— Brenda, por que está aqui? — Sou direto, vendo minha mãe fazer
uma cara de reprovação pelas minhas palavras ásperas.
— Eu vim fazer uma visita para a sua mãe. — Seu olhar encara a
Hanna, que agora não está mais atrás de mim.
— Depois de anos? — falo, indignado.
— Anos? — Anthony fala, no meio de uma risada presa.
— Na verdade, filho… — Minha mãe vem até mim e pega em meu
braço. — A Brenda vem aqui desde que vocês … — Ela olha para a Hanna,
percebendo que só iria piorar a situação. — Desde sempre, ela nunca deixou
de vir.
Suas palavras são como um choque para mim, já que em nenhum
momento a minha mãe me comunicou que a minha ex ficava vindo na nossa
casa para que elas ficassem com conversinhas fiadas. Talvez ela tenha
omitido isso por saber que eu não iria gostar nenhum pouco disso,
exatamente como não estou gostando agora.
Quando eu comecei a namorar a Brenda, minha mãe e ela se tornaram
grandes amigas, e provavelmente a minha ex comunicava as coisas de que
não gostava em mim, porque eu recebia muitos conselhos. Não demorou
muito para que eu terminasse com toda essa chatice. Não consigo me lembrar
ao certo, mas tenho a leve impressão de que o nosso namoro durou uns três
meses.
— E você deve ser a nova namorada do Ander. — Brenda fala,
fazendo-me retornar à realidade. Ela estende a mão para a Hanna, que me
encara e move as suas sobrancelhas em questionamento enquanto aperta a
mão da minha ex! — Prazer, eu sou a Brenda.
— Eu sei! — Hanna demonstra a autoridade que ela sabe que tem.
— Me chamo Hanna! — Em um piscar de olhos, ela deixa a minha ex
de lado, ignorando-a por completo, e vai em direção à minha mãe, abraçando-
a. Creio até que eu cheguei a sorrir com a cena. — Bom dia, Dona Magda,
que bom revê-la! Desculpa vir incomodá-la logo cedo. Você conhece o seu
filho, né?
Percebo que a minha mãe está incomodada, mas tenta manter a
situação sob controle. Mesmo assim, a minha raiva permanece. Este final de
semana não era para ser assim.
— Vocês não estão incomodando. Imagina, Hanna. Pode ficar
tranquila, minha filha! — Ela bate as mãos com carinho nas costas das Hanna
e a solta. — Já tomaram café? Eu e a Brenda acabamos de sair da mesa,
vamos voltar para lá.
Sinto-me desconfortável com a situação, mas decido simplesmente
ignorar a presença dela, assim como a Hanna, que com certeza já entendeu
tudo o que está se passando aqui. E, se ela estiver com raiva de mim ou de
alguém, ela está disfarçando muito bem, porque o seu sorriso não demonstra
o incômodo que essa circunstância formou — isso levando em conta que até
o meu irmão parecia incomodado.
Assim que chegamos à mesa, eu puxo a cadeira para ela, que se senta
no mesmo lugar em que esteve na primeira vez, e eu me sento ao seu lado.
Minha mãe estava na minha frente, Antony de frente com a Hanna, e a
Brenda se sentou entre mim e a minha mãe.
— Nossa, Ander, como você está mudado! Tão atencioso com a sua
namorada! Você não era assim. — Brenda abre a boca, e minha mão mastiga
um pedaço de pão, completamente sem jeito.
— As pessoas mudam. Mãe, me passa a garrafa de café — respondo-
lhe apenas por educação e me desvio dos seus assuntos.
— Me conte, filho, como foi a viagem de vocês? Vieram bem rápido,
né?
Hanna estava cortando pedaços de morangos em seu prato quando
parou imediatamente com a faca, e seus dedos tensionaram sob o metal ao me
encarar. Provavelmente ela estava lembrando que, há algumas horas, ela
estava toda molhada com o meu gozo entre os seus seios no banheiro daquele
avião. Sorrio ao me lembrar também e volto a olhar para a minha mãe.

— A viagem estava boa, mãe. Eu até relaxei mais do que de costume.


— Hanna pisca várias vezes, tentando ignorar as minhas palavras sugestivas.
— Ai, que bom… — Minha mãe diz, antes de ser cortada pela
Brenda.
— Uau, vocês até viajam juntos! O Ander nunca fez uma viagem
comigo. — Deus, eu quero matar essa mulher. Por que ela não cala a
PORRA da boca?
— Talvez porque você seja chata demais! — Anthony sussurra
novamente, mas acho que todos na mesa escutam.
— Brenda, por favor. — Respiro fundo.
— Me diga, Hanna… — Seu sorriso falso aparece. — Ele alguma vez
já falou que te ama?
Suas palavras calam a todos no ambiente. Meu estômago se contrai ao
ouvir a frase da sua boca, e o clima, que já estava estranho, muda, ficando
ainda mais tenso. Meu irmão começa a descer na cadeira, demonstrando que
a conversa iria ficar horrível, e minha mãe se afoga com o seu chá.
Sinto o meu corpo gelar pelo silêncio nos poucos segundos em que a
Hanna termina de engolir o pedaço de fruta que estava na sua boca. Eu nunca
havia falado isso para ela, assim como ela também não havia falado para
mim, mas esse assunto não era algo que deveria ser abordado agora, porque é
um sentimento de que apenas nós dois devemos tratar.
Hanna me encara sem expressão, e, neste momento, eu pagaria o que
fosse preciso para saber como os seus pensamentos reagiram às falas da
Brenda. Em seguida, ela volta a olhar para a minha ex e coloca um pedaço de
manga em sua boca, ignorando-a novamente.
— Pela sua reação, ele não falou, né? — Brenda solta uma risada que
estava presa. — E ele não irá falar, porque ele não te ama, ele não ama
ninguém… — Seu sorriso perde o ânimo, e eu perco meu chão. Isso não é
verdade! — Bom, pelo menos os pais dele, ele ama, né, Dona Magda?
— Eu acho que esse assunto não lhe diz respeito. — Hanna comenta
de imediato, sem perder a sua elegância na voz.
— Eu estou falando apenas como uma amiga, não perca o seu tempo
com alguém que não irá te amar. — Brenda levanta as sobrancelhas, irritada
com a resposta que recebeu da minha namorada. — Não é o suficiente o que
ele tem a te oferecer. Eu sei muito bem disso, porque, no futuro, você vai
sentir a falsidade.
— Cala a boca, Brenda! — digo, no meu limite.
— Isso quem tem que decidir sou eu, e eu não vou pedir desculpas
pelo que eu vou falar, mas você está se sentindo bem em falar mal do Ander
na frente da mãe dele? Uma mulher que te acolhe nesta casa sempre que você
aparece. Para mim, isso é uma falta de respeito e me mostra muito mais sobre
você do que sobre ele.
— Caralho! — Tony comenta, sem voz, totalmente surpreendido pela
Hanna, e eu praticamente tenho a mesma reação que ele.
— Anderson, você vai continuar enganando essa mulher assim? —
Seu dedo aponta para a Hanna, enquanto seu corpo se levanta. — Vai falar
que a ama só para poder ficar com um rostinho bonito mesmo sem amá-la de
verdade?
— JÁ CHEGA! — Minha mãe grita, assustando a todos nós, quando
as suas mãos batem na mesa e ela se levanta. — Brenda, eu não queria ter
que fazer isso, mas você está sendo inconveniente com a minha nora. Vou
pedir, por favor, que se retire da minha casa. Não posso aceitar que você trate
tanto ela quanto o meu filho assim. Você não é da família, não tem esse
direito.

Acho que nunca em minha vida toda eu havia presenciado a minha


mãe exaltada com alguém que não fosse com o meu irmão, que às vezes a
estressava.
Brenda encara a minha mãe como se ela fosse um monstro, algo que
ela não estava esperando. Talvez o ciúme por me ver com a Hanna aqui a
tenha feito perder o controle falando essas merdas, e, por isso, o seu
semblante desanimado demonstrava que ela havia perdido a sua amiga após
as suas palavras.
— Magda! — Ela fala, com tom de arrependimento. — Me
desculpe…
— O que está acontecendo aqui?
Meu pai aparece na porta, fazendo com que todos nós o encarem. Seu
rosto mostra que ele acabou de acordar e talvez nem tenha escutado o que a
Brenda acabou de falar. Mesmo assim, ele se preocupa por ver que todos nós
estamos exaltados.
— Amor, a Brenda já está de saída. Pode acompanhá-la até lá
embaixo? Estamos com uma visita muito especial hoje, como pode ver, e eu
não quero deixar os dois sozinhos aqui! — Minha mãe fala, empolgada,
sorrindo para a Hanna, que fica vermelha.

— Claro! — Meu pai concorda, ainda sem entender do perrengue que


ele nos libertou ao chegar.
Brenda agora é a única que está de pé entre nós, e a cena fica ainda
mais patética ao a vermos tendo que pegar a sua bolsa e sair calada por
vergonha. Assim que estamos livres de sua presença, noto que a tensão no ar
ainda permanece. Eu sei que vou ter que resolver isso depois, porque agora
não tinha como.
— Me desculpem por isso. — Minha mãe respira fundo ao falar. —
Eu não estava esperando-a hoje aqui.
— Tudo bem. — Hanna comenta, sem graça.
— Não está nada bem, mãe. Por que nunca me contou que ela vinha
aqui direto? — Passo a mão pelo meu rosto, indignado.
— Ela não vem sempre, filho. Só uma vez por mês, e às vezes ela
passa bem rapidinho. — Ela tenta se justificar. — Eu não queria chatear
vocês com a presença dela. Ela apareceu de surpresa aqui em casa. Nem
imaginei que ela ainda gostasse tanto de você para fazer essas coisas.
Respiro fundo e tento não me exaltar ainda mais com a minha mãe; de
certa forma, ela não tem culpa, as duas se dão bem, então era meio que óbvio
que ela não cortaria os laços com a Brenda do nada, a não ser que a própria
Brenda fizesse isso. Mas isso não justifica tudo que acabou de acontecer
graças à presença dessa louca.
— Droga! — falo, ainda indignado.
— Em minha defesa, a mamãe pediu para eu não contar. — Anthony
só falava, para deixar a situação pior.
— O que aconteceu aqui? — Meu pai aparece no ambiente e se senta
no mesmo lugar em que a Brenda estava.
— Vamos esquecer esse assunto! — Minha mãe comenta, tentando
animar o astral. — Ander… — Ela sorri para mim. — Você finalmente ouviu
os meus conselhos?
É impossível ficar bravo com a minha mãe, já que a sua empolgação
faz todos na sala sorrirem, até mesmo a Hanna, que ainda me parece bem
pensativa. Meu pai arregala os olhos quando nota que a minha mão está sobre
a dela e se vira para mim.
— Vocês dois… — Ele aponta o dedo, incrédulo. — Estão…
— Juntos? — falo por fim. — Estamos, pai. E, sim, mãe, os seus
conselhos me ajudaram a pedir a Hanna em namoro. — Passo o meu braço
sobre os ombros dela, abraçando-a, e sinto os seus músculos relaxarem ao
meu toque.
— Ai meu Deus, eu estou tão feliz por vocês! — Minha mãe se
levanta e vem ao nosso encontro. — Muito obrigada por aceitar o Ander na
sua vida, Hanna. Você não tem noção do quanto esse menino do seu lado
estava sofrendo pelos cantos desta casa tentando dormir sem pensar em você.
Reviro os meus olhos, indignado com as suas palavras, enquanto
Hanna me presenteia com a sua gargalhada que eu amo escutar. Pela segunda
vez, o meu pai arregala os olhos e bate o seu cotovelo no meu, oferecendo-
me um sorriso que praticamente diz "que ótima escolha". Eu o ignoro, porque
sabia muito bem o que aquilo significava para ele.
— Mãe, quando o Ander te contou isso, você não entendeu os tipos de
sonhos que ele estava tendo com ela. — Tony fala, mastigando uma torrada.
— Anthony! — brigo com ele, enquanto todos caem na risada.
Ficamos a manhã inteira falando sobre o nosso namoro. Minha mãe
não parava de encher a Hanna de perguntas, enquanto o meu pai descobria
desde o início sobre a nossa história.

Encosto a porta do meu quarto, trancando-a logo em seguida.


Nós havíamos acabado de nos despedir dos meus pais depois do jantar
para podermos dormir. O dia foi cheio de acontecimentos: minha mãe quis
levar a Hanna a um shopping depois do almoço, então passeamos próximo da
nossa casa e voltamos bem na hora de comer.
— Sua mãe não vai ligar de dormirmos na mesma cama? — Hanna
fala, ao perceber que eu trouxe a sua mala para o meu quarto.
— Por que ela deveria ligar? Somos um casal, e os casais dormem
juntos — digo, enquanto me sento na cama.
— Eu não sei, vai que ela não gosta. — Ela se senta do meu lado. —
Não quero desagradar à sua mãe logo de cara.
— Minha mãe te ama, Hanna. Você não tem noção do quanto. Eu
acho que nada que você faça pode aborrecê-la, porque ela queria muito que a
gente desse certo. — Seguro em sua mão para que ela sinta a verdade na
minha voz.
— E você? — Fico confuso com as suas palavras.
— Se eu posso aborrecê-la?
Hanna está com as mãos geladas, e seu rosto se concentra no tapete
do chão do meu quarto. Não sei por quanto tempo ficamos em silêncio,
porque, nesses momentos, geralmente os segundos parecem minutos, e os
minutos parecem horas, mas, assim que sinto os seus dedos mais rígidos e
suados, ela se afasta, dando-me a resposta da sua dúvida.
— Você me ama? — Ela dispara assim que os seus olhos se
encontram com os meus. — Eu não quero te pressionar a nada, Ander. Só
quero que seja sincero comigo.
Eu já imaginava que uma hora ou outra esse assunto iria vir à tona. Se
não fosse por causa da Brenda, que abriu a boca só para falar merda, seria por
outro motivo mais pra frente. Amar era algo que eu não sabia definir quando
se tratava das mulheres com que eu fiquei ou namorei; eu sabia disso, não
tinha um significado tão grande para mim. Meu amor pelos meus pais era
totalmente diferente do que aquilo que eu sentia por elas, mas, quando se
tratava da Hanna, eu sentia tudo que ela demonstrava por mim e muito mais.
Cada dor que ela revelou para mim nessas últimas semanas eu
conseguia sentir, cada toque, cada beijo, cada carinho ou provocação, cada
respiração descompassada e cada risada sem pausa — eram essas as coisas
mais importantes para mim quando se tratava da Hanna. E eu já sabia disso
há um tempo.
Levanto da cama e me ajoelho em sua frente. Puxo a minha mala, que
está ao lado da cama, abrindo o zíper do compartimento certo e retirando de
lá a pequena caixa que eu organizei para poder lhe entregar aqui, hoje cedo,
antes de a Brenda atrapalhar os meus planos.
— Hanna, por mais que isso pareça uma desculpa esfarrapada depois
de tudo que você foi obrigada a escutar hoje… — Observo o seu semblante
preocupado. — Eu amo você, pequena. — Abro a caixa, revelando as nossas
alianças de compromisso que eu havia comprado antes da viagem. — Amo
de verdade. Acordo pensando em você e fico frustrado quando não estou do
seu lado. Aprendi a diferenciar esse sentimento, porque o que eu sinto na sua
presença é surreal, não tem como eu explicar tudo que eu quero te oferecer…
Suas mãos, que estavam em seu colo, começam a tremer, e eu sinto
que ela é o ser mais fofo deste mundo. Sua boca se abre e se fecha por pelo
menos umas três vezes enquanto me escuta e, no fim, ela me encara
novamente, molhando os lábios, que estão secos. Pego a sua mão direita e a
seguro.
— É por isso que, oficialmente, eu te peço em namoro, Hanna
Menezes. Porque verdadeiramente eu amo você e quero que, daqui a alguns
meses, eu esteja fazendo esse pedido com alianças douradas. Eu não me
enxergo mais sem você! — Beijo a sua mão. — Por favor, me dê a honra de
continuar sendo o seu namorado chato e tarado que não larga do seu pé nem
por um segundo.
— Quando você preparou tudo isso? — Seu comentário me faz dar
risada.

— Hanna, eu acabei de me declarar, e é só isso que você tem para me


dizer? — falo, ainda entre risos, enquanto me levanto.
— Ai Deus! Me desculpa! — Ela também sorri e fica vermelha como
um morango. — Sim! SIM! Eu aceito oficialmente ser a sua namorada! —
Hanna fala, com os olhos cheios de lágrimas. — Eu também te amo, Ander.
— Sei que, para você me dizer essas palavras, teve que passar por
cima de muitos dos seus ideais, depois de tudo que você passou, pequena,
mas eu quero que não tenha medo de depositar a sua confiança em mim.
— Eu não tenho mais medo!
Sou pego de surpresa quando ela pula em meus braços e me beija,
ansiosa pelos meus lábios. Largo a pequena caixa que estava na minha mão,
escutando-a bater no chão, e seguro a minha mulher com força, levantando o
seu corpo em cima da cama. Os momentos seguintes passaram como um
flash em minha mente, enquanto as nossas roupas foram tiradas com pressa e
sem ao menos descolarmos os nossos lábios.
Estava sendo intenso demais, como se estivéssemos a quase um ano
sem nos vermos ou sem nos tocarmos. Eu entrei nela rápido, assim que as
suas pernas se abriram e a sua boca mordeu o meu lábio inferior pela
sensação que sentiu. Hanna não tirava os braços de mim, que ainda estavam
entrelaçados no meu pescoço, e eu não poderia julgá-la, porque, em nenhum
momento, larguei a sua cintura, que também se mexia junto com os meus
movimentos. O quarto parecia mais silencioso do que da última vez em que
transamos aqui, mas, desta vez, não se tratava de uma transa, e sim de
fazermos amor.
Entrei nela de novo, e de novo, enquanto escutava os seus gemidos
baixos e quentes em meus lábios. Era aquilo que me causava calor, era a
essência dela, o fato de ser minha Hanna. E as nossas respirações
completavam o quarto naquela sensação boa de estarmos na mesma sintonia
de amor.
Ela me ofereceu o seu pescoço e, só então, eu pude notar que a
maquiagem que ela havia passado para esconder o chupão que eu lhe deixei
ontem de noite estava saindo. Logo beijei aquele local com carinho e desci,
beijando cada pintinha em seu pescoço.
Seus seios estavam raspando em minha pele, excitando-me ainda
mais. Não queria que aquele momento acabasse, então desacelerei o meu
ritmo, e a Hanna me acompanhou, acalmando até a sua voz, que chamava
pelo meu nome baixinho toda vez que eu entrava mais fundo, atingindo o seu
ponto de prazer.
Passei a mão pela sua perna e senti a sua pele se arrepiar pelo meu
toque, enquanto ela a colocava em minha cintura. Abaixei-me mais para
alcançar os seus seios e fui recebido pelos seus mamilos, que estavam duros
pelo atrito que estava sofrendo. Com desejo, eu os beijei, colocando um deles
na minha boca e o chupando forte.
Já conhecia o seu corpo bem o suficiente para perceber que ela estava
gostando dos meus movimentos, e eu sabia que ela estava se derretendo em
meus braços. Eu não parei, continuei no mesmo ritmo, querendo ver o seu
rosto de prazer, que me chamava para mais perto, quando, enfim, eu senti os
indícios do seu orgasmo se aproximando e a sua respiração começando a
ficar incompleta. Suas pernas me prenderam com força e, sem demora, o seu
interior pareceu mais quente que o normal. Seu corpo tremeu embaixo do
meu assim que a Hanna jogou a sua cabeça para trás, atingindo o seu limite.
Beijei-lhe o pescoço em meus últimos movimentos antes de explodir
dentro dela. Nossas respirações longas e pesadas eram satisfatórias, porque se
tratava dos nossos corpos que se amavam. Saí de dentro dela, e ela se virou
por cima de mim, parando as suas mãos em meu peito.
— Cadê a minha aliança? — Ela diz, balançando o seu dedo anelar
enquanto sorri.
Levanto-me, já colocando a minha cueca antes de pegar a caixinha
caída no tapete. Quando me viro para ela, os lençóis já estão escondendo o
seu corpo. Será que ela imagina que fica ainda mais sexy assim?
Pego a sua mão e coloco a aliança que escolhi, para, então, abrir a
parte de baixo da caixa, revelando o seu colar, que eu havia pegado faz algum
tempo.
— Acho que isso também lhe pertence. — Meu sorriso entrega o meu
divertimento.
— Não acredito! Por que ele estava com você? Procurei em tudo que
é lugar esse colar.
— Se eu lhe falar, você não pode brigar comigo! — Dou risada.
— Sério, Anderson? Roubou meu colar e não quer que eu fique
brava?
— Roubei para poder te ver de novo. — Ela abre um sorriso, achando
graça, e, então, beija-me novamente.
— Agora eu não consigo ficar brava com você, porque o meu dia foi
perfeito. Então, desta vez, vai passar. Agora me dê a caixinha. — Hanna
estende a mão e tira a minha aliança em seguida.

Ela nota a gravação antes de colocar a aliança em meu dedo.


— Ukiyo! — Repete ao ler. — Ainda sou o seu presente? — Ela
sorri.
— O meu melhor presente da vida! — Hanna coloca a aliança em
meu dedo e, em seguida, tira a sua aliança, para ler que está gravada a mesma
palavra que se encontra em nossos braceletes.
— Eu amei, você sempre pensa em tudo! — Ela beija a minha mão.
— Eu te amo, Anderson Magalhães. Meu lugar de aconchego.
Encaro a minha mão com a minha aliança assim que me sento no
escritório e me acomodo na minha cadeira. Ainda acho inacreditável tudo que
vem acontecendo em minha vida nesses últimos 4 meses. A maioria dos meus
dias são tão corridos, que quase sempre durmo em algumas chamadas de
vídeo com o Ander. Se não sou eu que caio no sono, é ele que dorme cansado
também.
Sua empresa atingiu um recorde inacreditável de vendas, e eles
começaram a abrir uma filial no Rio Grande do Sul; por isso, ele tem viajado
mais ainda. Mesmo assim, ele consegue tirar nem que seja o domingo para
ficarmos juntos. Agora mesmo eu acabei de sair de uma ligação com alguns
fornecedores da Alemanha para podermos ampliar as vendas para fora do
país. Isso me deixa apreensiva, mas sei que vamos conseguir e,
consequentemente, que vai aumentar a produção da Aluxmil também. Meus
pais estão fora do país nessa última semana para tentar fechar com os Estados
Unidos; nossas ampliações estão a todo vapor.
Mexo em minha aliança, ajeitando-a em meu dedo. Ela não era tão
fina, mas a considero delicada, assim como o bracelete, que combina
perfeitamente com ela. Eu ainda não conseguia acreditar como o Ander podia
ser tão atencioso com os pequenos detalhes quando se tratava de nós, e isso
fazia o meu coração bater mais rápido todas as vezes que eu me lembro de
quão amoroso ele é comigo.
Se me falassem no começo do ano que eu voltaria a acreditar no
amor, eu daria risada, muita risada, porque era uma coisa impossível até ele
aparecer, e tenho certeza de que, se não fosse ele na minha vida, eu ainda
seria a mesma pessoa fechada.
Respiro fundo, tentando retornar ao meus afazeres, mas ainda me
sinto como uma adolescente boba sorrindo de meia em meia hora quando
recebo alguma mensagem dele informando algo sobre o seu dia.
Concentração, Hanna! Escuto leves batidas na porta e falo para a Andréia
entrar.
— Hanna, desculpe a intromissão! — Ela se aproxima da minha
mesa.
— Imagina, Andréia. Me diga, qual foi a bomba que estourou desta
vez?
— Nenhuma, por enquanto… — Ela sorri para mim. Meu humor tem
estado ótimo nos últimos dias. — Só vim te avisar que hoje você marcou a
sua consulta com a ginecologista para as 15:00h. Posso confirmar?
— Pode sim! Obrigada por me lembrar! — Andréia sai logo em
seguida, deixando-me com os meus pensamentos.
Ela nem imagina que eu não posso ter filhos, por enquanto. Depois
que os resultados dos meus exames indicaram que eu realmente estava
infértil, comecei o meu tratamento. Minha doutora me explicou que eu
poderia me curar com os medicamentos, o que era a primeira alternativa
como possível solução. Caso não funcionasse, eu teria que passar por um
processo mais complicado, mas ela evitou falar sobre isso por enquanto,
mesmo eu entendendo que teria que ir para cirurgia e, na pior das hipóteses,
eu nunca teria filhos.
Ander passou por cada consulta e exame comigo. Eu sempre pensei
que ele não precisaria dispor do seu tempo para isso; era um processo que eu
tinha que passar, e ele já tem tanta coisa para pensar e fazer, que eu só sentia
que estava lhe roubando esse tempo. E, para falar bem a verdade, eu não
estava incomodada com a minha condição, ainda era muito recente. Eu estava
esperançosa. Mesmo assim, ele não saiu do meu lado, e talvez seja por isso
que a minha esperança estava tão alta, Ander sabe exatamente o que me dizer
e quando dizer. Sorrio, observando a notificação da sua mensagem
aparecendo na tela.

"Está ocupada hoje à noite?"

"Não sei que horas vou conseguir sair da empresa,


por quê?"

"Nossa filial no Rio Grande foi concluída, e vamos


comemorar com todo o pessoal do escritório!"

" Acho que não vou conseguir ir, mas se divirta,


amor! Vai chegar tarde?"

Eu não estava nem um pouco animada para sair devido à quantidade


de serviço nesta semana. O cansaço estava me vencendo, e eu tenho quase
certeza de que iria sair da empresa por volta da 22:00h, como na última sexta.
Senti-me culpada por não estar ao lado do Ander nesse momento tão
importante para ele, mas tenho certeza de que apareceram outras
oportunidades para comemorarmos juntos.

"Acho que vou para o meu apartamento hoje, amor.


Talvez eu saia tarde e não quero te acordar. Amanhã
estarei cedo aí te acordando!"

"Vou esperar! Me avise quando chegar."

"Pode deixar."
Volto para os meus afazeres antes de ter que sair para ir à minha
consulta.

Escuto batidas leves na porta do meu escritório assim que eu respondo


a última mensagem da Hanna.
— Oi, Ander. A porta estava aberta… — O Kauan se explica, pelo
fato de já estar vindo em minha direção.
— Sim, pode entrar.
Depois que a gente se acertou após a briga referente à Hanna, o
Kauan mudou completamente. Nunca mais conversamos sobre ela, e ele
também deixou de vir falar sobre qualquer mulher comigo. Não que eu queira
saber da sua vida amorosa, mas isso significa que a amizade que a gente tinha
não existia mais, porque ele não se sentia à vontade para dividir as coisas
comigo; ao mesmo tempo, eu não me importava também, porque não estava
interessado em lhe contar a minha vida.

Pelo menos a gente não estava naquele clima todo estranho de não se
suportar no mesmo ambiente. Eu me questionei várias e várias vezes se o fato
de estarmos tão afastados prejudicaria a nossa empresa, mas concluí que não
quando ele continuou dando o seu melhor.
— Você vai à confraternização da empresa, né? — Ele se senta na
minha frente.
— Vou sim, por quê?
— Hoje eu não vou beber, porque amanhã eu terei que fazer alguns
exames de sangue, coisa de rotina mesmo, e queria ver se você vai querer
uma carona. — Surpreendo-me com a sua proposta. Faz tempo que não
saímos juntos também.

— Claro, seria ótimo! Você está querendo sair cedo?


— Ainda não sei, depende da festa! — Ele sorri, e eu o acompanho.
— Beleza, não quero chegar muito tarde! Amanhã tenho que sair
cedo. — Não lhe falo que é por causa da Hanna.
— Beleza, sem problemas para mim. Eu também tenho que sair cedo
por causa do exame. Posso passar no seu apartamento às 19:00h?

— Fechou, cara!
— Não demore para se arrumar, príncipe Naveen! — Ele brinca, para,
talvez, retornar ao normal toda a nossa situação; afinal, estávamos
construindo essa empresa juntos. Seria muito estranho se continuássemos
assim.
— Você que não se atrase, pirralho! — chamo-o como eu sempre fiz,
e ele se levanta, saindo da sala em seguida.
Acho que ele amadureceu muito nesses últimos meses. Talvez tudo o
que eu falei para ele tenha, enfim, colocado um pouco de juízo na sua cabeça.

Meu celular se acendeu, indicando que o Kauan havia chegado ao


meu apartamento. Peguei as minhas coisas em cima do balcão e saí logo em
seguida, mandando uma mensagem para a Hanna lhe avisando que estava
indo para a confraternização. Sorrio para tela ao lembrar o quanto isso me
estressava antes e como hoje eu o faço sem que ela me peça.
Ela ainda estava trabalhando, e eu até pensei em não ir, não parecia
certo sem ela do meu lado, mas a confraternização era da nossa própria
empresa, seria estranho se eu não fosse.

Em poucos minutos, eu já estava na entrada do meu apartamento,


seguindo para o carro do Kauan, que estava do outro lado da rua.
— Dae, irmão! Achei que iria demorar mais para descer. Não é fácil
fazer toda essa maquiagem! — O Kauan fala, assim que eu entro no carro.
— Você que chegou atrasado. Como eu iria demorar? — Dou risada.
— 15 minutos só! — Ele ri e liga o carro. — Você pegou o endereço
do lugar?
— Claro, pode seguir nessa rua mesmo.
Guio todo o caminho para ele até chegarmos ao local indicado, que
estava lotado de gente, mas a nossa mesa estava reservada. Escolhi um
restaurante gourmet ao qual eu já havia levado todo o pessoal no ano passado
e do qual eles gostaram.
— Acho que nos atrasamos mesmo! — O Kauan comenta ao notar
que quase todos os nossos colegas de trabalho já estavam lá.
— Você que se atrasou, não eu! — Dou risada, e a gente se senta,
após cumprimentarmos todos.

As horas até que se passaram rápido. Eu mantive uma conversa boa


com o Kauan o tempo todo. Essa nossa interação não acontecia fazia um bom
tempo; era estranho, mas eu estava me sentindo bem por podermos conversar
sobre outros assuntos que não fossem somente os assuntos de trabalho.
Encarei o meu celular para ver o horário e já era quase 1:00h da
manhã. O sono começou a deixar aquele ambiente chato e ainda mais
cansativo. Eu realmente estava mudado; antigamente, nesse horário, eu
estaria chegando às baladas.
— Ei, vamos? — comentei com o Kauan.
— Vamos! Quer tomar a última cerveja antes de irmos?
— Não, já estou cansado —aviso. — Pode ir acertar tudo lá no caixa?
— comento, entregando-lhe o cartão para o pagamento.
— Claro, já volto.
Levanto e começo a me despedir dos últimos funcionários que
ficaram por ali, avisando a todos que poderiam pegar mais coisas se
quisessem. Fui em direção à saída, e o Kauan já estava lá me esperando.
— Quer uma água? — Ele me entrega uma garrafa. — Eu estava com
sede, aquela comida estava muito salgada.
— Obrigado. — Pego a garrafa, que ainda continha metade do seu
conteúdo, e começo a beber. — Estavam mesmo.
— O que você tem que fazer amanhã cedo mesmo? — Começamos a
ir em direção ao carro.
Merda! Eu não queria mesmo falar para ele sobre a Hanna, não
gostaria nem de escutar o nome dela saindo da sua boca após as últimas
coisas que ele havia falado sobre ela, então aproveitei a garrafa na minha mão
e tomei outro gole da água, para que aquele assunto fosse esquecido. Tomei
até sentir a garrafa ficar vazia.
— Ei, eu estava lembrando agora, precisamos ir à inauguração da
nossa terceira empresa lá no Rio Grande. Você vai poder ir? — comento,
livrando-me da sua pergunta.
— Ainda não sei. Quando vai ser mesmo? — Paramos do lado do
carro de Kauan, enquanto ele abria as portas.
— Sexta que vem.
— Putz, pior que é o aniversário da minha mãe. — Entro assim que
ele abre o carro. — Não vou poder.
— Entendi! Seria bom que você fosse, mas eu entendo, faz tempo que
você não vê a sua mãe, né? — Ele começa a dirigir.
— Faz sim. Como você tem viajado muito por causa da sede do Rio
Grande do Sul, eu estou ficando na empresa. Se nós dois viajarmos na mesma
data, fica ruim.

— E como vamos fazer nessa sexta que será a inauguração da


empresa e o aniversário na mesma data?
— Estou deixando tudo organizado. A Meg também está ficando por
dentro de alguns detalhes.
— Obrigado por estar dando conta de tudo por aqui.
— Eu que agradeço, Ander, pelo seu esforço nessa nova empresa.
Estamos crescendo muito rápido.
— Verdade. Independente, aproveite o dia com a sua mãe e leve as
minhas felicitações para ela. Eu te falo tudo que acontecer na inauguração. —
Dou risada.

Abro os meus olhos várias e várias vezes enquanto a minha mente me


mostrava lembranças dos acontecimentos das últimas horas em que estive
acordado. Percebo que o meu celular chamava sem parar e, em seguida,
assusto-me em um desespero estranho, pulando da cama no mesmo instante.
Merda! A Hanna!
Eu não me lembro de ter avisado a ela se cheguei ou não em casa. Ela
deve estar preocupada. Procuro o telefone nas minhas calças, que estão no
chão, e, em seguida, a chamada para, indicando que a ligação não foi
atendida. Abro a tela e noto as ligações perdidas dela; havia em torno de 15
chamadas e já passava das 11:30h também. Droga, eu dormi demais. Retorno
a sua ligação, e ela atende imediatamente.
— Ander? Tudo bem? — Sua voz estava preocupada, e o meu
coração se cortou por ter feito isso com ela.
— Oi, amor! Desculpa não ter te mandado mensagem ontem —
justifico-me, quase tão rápido quanto as suas palavras. — Eu estava muito
cansado, nem consigo lembrar como eu cheguei até a cama.
— Eu estava morrendo de preocupação. Você disse que estaria aqui
cedo e não chegou ainda. Poxa, estou te ligando desde as 9:00h.
— Acabei de acordar, pequena; por isso, não atendi antes. Acho que
o cansaço estava acumulado. — Sento na cama, meio atordoado ainda.
— Você tem que tirar uns dias de folga. — Noto que ela já estava
mais calma.
— Vou tirar… — Vejo a bagunça que eu fiz ontem no quarto. —
Daqui a uns 30 minutos, chego aí, amor!
— Tá bom, eu estou te esperando.
— Eu te amo — falo, despedindo-me.
— Eu também te amo.
Deus, como eu pude dormir tanto? Pego as primeiras roupas que
encontro no meu guarda-roupa e vou para o banheiro. Preciso despertar
direito antes de sair. Em alguns minutos, eu já estava dentro do meu carro,
indo em direção à casa dela. Precisamos morar juntos logo, não aguento essas
semanas conturbadas que me proíbem de poder ver a Hanna. Abro o portão
com a cópia que ela me deu do seu controle alguns meses atrás e, assim que
ela escuta o meu carro estacionando ao lado do seu na garagem, ela aparece
na porta.
— Oi, amor! — Ela fala, quando eu saio do carro! — Tudo bem? —
Sua voz ainda estava preocupada.
— Sim, pequena, desculpa eu não ter te mandado mensagem ontem
depois que eu cheguei em casa. Eu apaguei! — Dou-lhe um beijo no canto da
boca.

— Percebi! Que horas você chegou em casa? — Ela começa a entrar,


e eu a acompanho.
— Não me lembro, acho que foi lá pelas 2:00h.
— E como estava a confraternização? — Noto que ela estava
perguntando muito mais do que o seu normal. Eu entendia seus motivos e não
me importava em deixar tudo às claras.
— Estava boa. O Kauan foi me buscar em casa e me levou de novo.
— O almoço está na mesa! — Hanna demonstra um incômodo em sua
voz, e eu fico apreensivo. Geralmente ela não é assim.
— Ei, pequena… — chamo a sua atenção, tocando em sua mão
enquanto ela se serve. — Está tudo bem?
— Sim! — Ela não me encara, e eu fico inquieto. — Eu já volto aqui,
tenho que pegar algo no quarto.
Começo a deduzir várias hipóteses assim que ela sai da cozinha. Não
é possível que ela esteja com ciúmes de mim ou desconfiando da minha
lealdade com ela, sendo que eu nem fiz nada, né? Tudo bem que eu errei por
não ter avisado, mas eu quero muito que ela confie em mim a ponto de não
precisar desconfiar do meu caráter. Droga, eu não gosto disso.
O seu celular vibra na mesa, indicando uma mensagem, enquanto a
tela se acende. Sem pensar, eu pego o aparelho na mão e vejo a mensagem do
Kauan! Eles estavam conversando? Desde quando?
Meu coração acelera, e eu sinto a minha pele ferver pela ansiedade de
saber sobre o que os dois estavam comentando; então, digito a senha do seu
celular e vejo a mensagem pela barra de notificação.

"Não falei com ele hoje, não. Quer que eu ligue para
ele, Hanna?"
Decido abrir a conversa dos dois, com certeza estão falando sobre
mim. Acho que é algo referente à noite de ontem. No instante em que abro a
mensagem, ele manda mais uma, fazendo-me focar a nova mensagem, e não
a conversa antiga.
Meus olhos passam rapidamente pelas letras, e a raiva me consome no
mesmo instante, fazendo com que eu sinta as minhas mãos apertarem o
aparelho.
Porra, que merda é essa?

Outra mensagem cai, e a minha respiração fica acelerada lendo


aquelas pequenas letras. Milhões de perguntas rondam pela minha mente
enquanto leio aquelas linhas rápido demais pela situação em que eu me
encontro. Eu sentia as minhas mãos trêmulas e o meu peito subindo e
descendo em uma velocidade incontrolável enquanto aqueles milésimos de
segundos alteravam tudo o que eu pensava sobre o nosso relacionamento.
Merda, o que eu estou fazendo, mexendo nas coisas dela como um
rato escondido? Mas o pior de tudo é ver que eu estou certo de desconfiar.
O que é isso que eu estou lendo? O que significam essas palavras?
Mais uma mensagem aparece, e eu a leio. Levanto-me na mesma hora
da mesa, fechando a tela com raiva e largando o celular em cima do vidro.
Kauan, seu filho da puta, você não mudou nadinha!

“Bom dia, Kauan, tudo bem? Você foi à festa de


confraternização da sua empresa ontem?”

“Fui sim, Hanna, por quê?”

“Você viu o Ander? Viu se ele chegou bem em


casa?”

“Desculpa as perguntas, mas você conversou com ele


hoje? Ele não me responde e estou preocupada.”

"Não falei com ele hoje, não. Quer que eu ligue para
ele, Hanna?"

“Não falou nada sobre aquele assunto com ele, né?”

“Podemos marcar de nos ver? Quero acertar as


coisas com você!”

“Sexta eu estou livre!”

Que assunto é esse que só os dois têm para acertar e eu estou de fora?
O que a Hanna não pode me falar? E como assim sexta você vai estar livre,
seu imprestável?
Porra, eu vou surtar!
Passo as minhas mãos sobre a minha boca, sentindo toda a raiva
percorrer o meu corpo. Ele me falou que iria para a casa da mãe dele, ele
inventou um aniversário só para não ir para o Rio Grande do Sul na
inauguração da própria empresa? Tudo isso só para poder se encontrar com a
Hanna. Deus, que merda!
— Amor? — Levo um susto com a voz da Hanna. — O que você está
fazendo? — Ela encara o seu celular na minha frente e retorna os seus olhos
para mim.
— Nada! — Ando em sua direção, mas paro sem ao menos saber por
que eu menti. Eu quero esclarecer essas mensagens agora. — Estava te
esperando!
— Me esperando? — Sua expressão é inconclusiva. Ela está brava?
— Mexendo no meu celular enquanto isso? — Sim, ela está brava!
— Eu acho que a gente precisa conversar! — Declaro, por fim,
pegando o seu celular de cima da mesa e entregando nas suas mãos.

— Vamos para a sala! — Seu rosto torna-se sério, e ela vira as costas
para mim.
Os segundos que levamos a cada passo lento que demos até a sala
foram o bastante para que eu pudesse pensar no que falar, mas somente um
monte de questões surgiram, e nada fez sentido em minha mente. Em nenhum
momento, Hanna olhou para trás até chegarmos ao sofá — e droga, era eu
que deveria estar bravo aqui!

Ela e o Kauan estão fazendo algo pelas minhas costas, e eu estou que
nem bobo aqui, então por que ela está tão brava? Ela se vira para mim
quando os seus pés encontram o centro da sala.
— O que você quer conversar que justifique você mexer nas minhas
coisas, Ander? — Certo, vamos nos tratar pelos nossos nomes agora. — Você
está desconfiado de algo? — Sua sobrancelha se levanta, e a sua voz
demonstra um aperto em meu peito.
— Nada justifica eu mexer nas suas coisas e já peço desculpa por
isso, mas eu preciso saber o que são essas mensagens entre você e o Kauan?
— disparo e tento falar no tom mais tranquilo possível. Seu rosto fica pálido!
Eu sabia, tinha algo escondido!
Hanna imediatamente abre a tela do seu celular e lê as mensagens
daquele idiota. Eu precisava conversar com o Kauan de novo e não garanto
que dessa vez a conversa será tão amigável quanto da última.
Porra, eu estava voltando a acreditar naquele idiota.
— Ander, eu não sei por que ele escreveu dessa forma tão sugestiva,
mas não é nada disso que você está pensando! — Por que todos falam isso
quando realmente acontece alguma merda?
— Não é? — falo, desconfiado.
— O Kauan te falou alguma coisa? — Ela se aproxima.
— Que tipo de coisa ele deveria ter me falado se claramente eu não
estou sabendo de nada? Porra! — Saio da sua frente, e Hanna aparenta
preocupação após escutar as minhas palavras.

O ar sai áspero pela minha garganta. Estou me segurando para não


discutirmos feio aqui, mas tudo me parece tão errado, então eu simplesmente
explodo, falando tudo que passou pela minha mente nesses últimos minutos.
— Eu não sei de nada, Hanna… — Pressiono os dedos entre os meus
olhos, tentando pensar. — E essa é a droga do problema aqui! —exalto-me!
— Eu só sei que ele tem um assunto para resolver com você, um assunto de
que eu não posso saber. O que está acontecendo entre vocês dois, hein? E por
que eu estou fora da porcaria dessa história? Vocês dois estão…
— NÃO! — Hanna fala em desespero e até um pouco decepcionada
pela minha sugestão. — Ander, não perca sua razão agora, eu não faria isso!
— Me conta logo, o que está acontecendo?
— Ok, se acalma. — Ela se senta e faz sinal com as mãos para que eu
faça o mesmo. — Eu vou contar!
— Hanna, me fala a verdade, o que está acontecendo aqui? — Sento-
me e passo as mãos pelos meus cabelos.
— É um assunto que diz respeito a vocês dois. Eu não queria me
envolver com isso desde o início. — Ela encosta na minha perna, e eu me
afasto, irritado.
— Mas, pelo jeito, você está bem envolvida, né? — disparo com
raiva, culpando-a.
— Ander… — Ela respira fundo, assim como eu. — Seria melhor que
você perguntasse sobre isso para o Kauan. Eu não posso te esclarecer muitas
coisas, porque eu não sei dos detalhes.
— Espera! — É tão sério assim? — Eu confio em você para me falar,
Hanna. Se eu for me resolver com ele, é capaz de ele mentir. Eu não confio
no Kauan!
— É um assunto sobre a empresa de vocês! — Ela se aproxima mais
de mim no sofá, e eu me levanto, sem paciência.

Por que ela estaria envolvida com assuntos da minha empresa que não
fossem sobre a nossa parceria? Meu Deus, que confusão é essa? A cada
segundo, eu me sinto ainda mais irritado por estarmos discutindo sobre tudo
isso.
— Hanna, em poucas horas, estarei viajando e não quero ir com essa
dúvida para Brasília! — Esfrego a minha têmpora! — Se não me falar o que
realmente está acontecendo, além de eu ir cheio de paranoias, a gente vai
ficar nessa situação! — Fixo o meu olhar no dela, e eu vejo o crescente terror
correr pelos seus olhos!
— Eu não posso te dizer muitas coisas, porque eu não sei dos
detalhes, mas aparentemente… o Kauan caiu em um golpe e gastou muito
dinheiro da empresa de vocês! — Ela revela, por fim, apreensiva.
MAS QUE CARALHO! A nossa empresa estava envolvida em um
golpe e, pior ainda, com um furo no financeiro que eu não observei? Desde
quando a Hanna sabia dessa situação? E por que eu não estava ciente disso?
— Por que você sabe disso? Por que está envolvida? O que o Kauan
te pediu? — Meus dentes ficam semicerrados após disparar as perguntas, ao
passo que seu rosto fica ainda mais branco.
— Por favor, Ander, ligue para o Kauan e converse com ele. — Ela
aponta para o meu celular no bolso. — Eu juro que não sei de nada.
— Não tem como te entender, Hanna! Me fala logo tudo, eu estou me
sentindo um idiota suplicando essas informações para você, sendo que eu
deveria estar sabendo disso já.
— Eu o ajudei! Nada de mais! — Seus olhos estavam medrosos.
— Eu vou embora! — Saio da sua frente, desistindo da nossa
conversa, e vou em direção à porta, segurando o trinco, com raiva disso tudo.
— Ander! — Ela se levanta, assustada, e vem até mim! — Vai ir
assim? Sem a gente se acertar? — Hanna segura minha mão.
— O que mais eu tenho para fazer aqui? Você não quer que a gente se
acerte, Hanna! Você está omitindo as coisas!

Digo as palavras extremamente abalado por não ter a informação de


que eu preciso e por não poder confiar na minha namorada para me falar a
verdade!
— Mas eu te falei o que aconteceu. — Hanna me olha, intrigada.
— Você não me falou tudo, e eu vou atrás daquele idiota para poder
saber. — Abro a porta.
— E a gente? — Ela aperta os meus dedos.
— A gente se entende depois! — Olho dentro dos seus olhos e me
seguro para não falar mais coisas desnecessárias enquanto me solto das suas
mãos.
Hanna arregala mais seus olhos verdes ao escutar as minhas palavras,
e eu sigo em direção ao meu carro. Mantenho-me firme para não voltar até
ela e beijá-la, e falar "foda-se essa merda!", mas não é tão simples, ela tem
que entender que toda essa situação me deixa desconfortável e,
principalmente, desconfiado. Não nego que a raiva dentro de mim está
grande, mas me seguro. Ela se mantém petrificada e apenas me segue com os
olhos! Eu não posso continuar neste lugar se ela não pode me dar as
informações de que eu preciso.

— Eu tô indo, meu voo sai hoje à noite. Não precisa me mandar


mensagens por enquanto, eu preciso de um tempo para pensar! Nos falamos
depois!
Abro a porta do meu carro e, sem olhar para trás, eu a fecho, saindo
rapidamente da casa dela. O silêncio dentro do carro é angustiante, e meu
coração se quebra! MERDA!!!
Por que eu estou me sentindo tão abalado por isso tudo? Essa é apenas
nossa pior briga, não é o fim do mundo!
Vejo-me sozinho e explodo, acertando o volante com raiva, enquanto
grito os xingamentos que estão entalados na minha garganta! Hoje era para
ter sido um dia perfeito, como acabamos brigando?

Entro na sala do Kauan assustando-o, porque a porta bate com tudo


contra a parede. Ele estava concentrado em seu computador, e eu já sabia que
ele estaria aqui na empresa, então foi fácil de encontrá-lo.
— Quer me matar? Que susto, Ander! — Ele comenta, colocando a
mão no peito e agindo normalmente.
Você não tem ideia de como eu quero te matar neste momento!
— Precisamos conversar. — Seu rosto muda, mas ainda consigo
perceber que ele está confuso.
— Aconteceu alguma coisa? — Ele se levanta lentamente.
— Eu vi as suas mensagens no celular da Hanna — falo, esperando
uma reação diferente, mas ele continua do mesmo jeito. — Acho que você
precisa me explicar essa merda toda que está acontecendo.

Seu rosto se transforma em uma única risada, sem pausa e exaustiva


de escutar. Aquela risada que mais parecia feita propositalmente para
estressar ainda mais.
— Porra, Ander, demorou, hein? Sabe há quanto tempo eu estou
esperando por isso? — Estranho as suas falas, e ele abre uma gaveta, pegando
três envelopes, enquanto me encara, achando graça em algo invisível para
mim. — Até que enfim, cara.
Suas palmas vêm em seguida, fazendo o meu sangue ferver.
— Do que você está falando? — Estresso-me com o seu teatro.
— A Hanna é uma namorada tão boa, né? Ela sabe muito bem
esconder as coisas de você. É só eu pedir com jeitinho, que ela me obedece.
— Ele se encosta na parte da frente da mesa.

— Não fala dela, seu fodido. Eu já falei para não tocar no nome dela.
— Vou para cima dele, segurando na gola da sua camisa.
— Acho melhor você tirar as suas mãos de mim! — Ele para de
sorrir, mas ainda se mantém sério. — Eu coloquei câmeras nesta sala. —
Suas mãos apontam nas direções das lentes que nos filmam.

Sinto os meus dentes se comprimirem ainda mais dentro da minha


boca. Minha garganta fica seca, enquanto o amargor percorre pela minha
língua. Afasto-me dele, empurrando-o. Como eu não consegui enxergar a
verdadeira face desse filho da puta?
— Do que se trata tudo isso? — pergunto, olhando para a janela e,
depois, encarando o seu rosto novamente.
— Da Hanna, é claro! — Ele ajeita a camisa e pega a primeira pasta
na mesa.
— Ela me falou que você caiu em um golpe — falo sobre a única
informação que eu obtive dela.
— Era mentira! — Ele sorri, e o meu mundo cai! Era tudo mentira?
Como assim? Suas mãos abrem com calma o envelope, entregando-me as
primeiras folhas. — Eu falei para ela que eu sofri um golpe terrível e que
precisava de dinheiro, senão a nossa empresa iria falir. Ela me ajudou
imediatamente, sem questionar. Foi lindo de ver a devoção dela por mim,
sabe? — Sinto nojo ao escutar as suas palavras sem sentido! — E isso que
você está vendo nesses papéis é o dinheiro dela depositado em uma conta no
seu nome. Fui eu que criei. Foi difícil no começo, mas você sabe que eu
tenho uma especialização em informática, né? Resolvi tudo rapidinho.
Arregalo os meus olhos com as suas palavras e analiso a folha com
cuidado, percebendo que todos os meus dados estão corretos. Será que isso
era verdadeiro?
— QUE MERDA É ESSA? — Amasso as folhas na sua frente.
— Não precisa fazer isso, eu tenho cópias! De tudo! — Ele não tira o
maldito sorriso da cara e, em seguida, puxa o restante das folhas. — Com
essas outras provas, a Hanna verá que você é um fodido mulherengo de
quinta. Veja só quantos puteiros de luxo você frequentou nesses últimos dias!
Encaro os extratos dos últimos meses e confirmo as merdas que ele
disse. Se realmente esse dinheiro está sendo usado, significa que os meus
dados nessa conta estão corretos. O Kauan só pode ter algum problema
mental! Ele pegou o dinheiro dela para transar com outras mulheres e ainda
está tentando colocar a culpa em mim?
Como ele conseguiu fazer essas coisas?
— Por que está fazendo isso? — Minha voz sai como uma faca da
minha garganta, mas as palavras são expelidas com raiva.
— Eu já falei. Tá surdo, seu idiota? É porque você roubou a Hanna de
mim. Se não fosse você, eu e ela estaríamos juntos! — Sua mão busca pela
segunda pasta. — E olha só, não acabou, eu organizei tudo com muita calma
para poder te ferrar!
Minha mente dispara milhões e milhões de perguntas sem pausa,
desejando nunca ter conhecido esse filho da puta do Kauan.
— Ontem você realmente estava cansado, né? Eu fiz até umas fotos
bem legais suas, quer ver? — A pasta é arremessada contra o meu peito.

Abro o envelope quase tremendo pela pressa em ver do que se tratava.


As primeiras imagens revelavam o meu quarto. Eu estava deitado na cama.
Nas outras fotos, já aparecia uma mulher nua em cima de mim. Todos os
retratos eram sugestivos, como se eu estivesse transando com ela e, quando
as últimas fotos passaram pelos meus dedos, eu pude ver a cara da Érika se
esfregando em mim naquelas imagens.
— Como você…
— Como eu fiz isso? Foi fácil também. Você tomou a água que eu te
dei sem esforço algum. Tinha ótimos remédios para dormir lá dentro, e você
cochilou no carro antes mesmo de chegar ao seu apartamento. — Ele fala
cada palavra sem tirar o maldito sorriso do rosto. — Eu ajudei você a subir
para o seu apartamento e juntei "A com B". A Érika é tão gostosa, né? As
fotos ficaram boas demais! — Kauan encara algumas fotos. — Quando eu
pedi a ajuda dela para fazer isso, ela nem negou. Ela gosta tanto de você, que
fez tudo isso de graça. Foi um prazer para ela acabar com o seu
relacionamento. Parece que você a deixou bem nervosa da última vez que ela
te ligou.
Jogo as fotos contra ele com raiva e ando de um lado para o outro
sala, controlando-me para não acertar o seu rosto e quebrar todos os seus
malditos dentes. Eu quero mesmo matar esse filho da puta!
— E olha só. — Ele pega a última pasta e a balança do ar. — Tem
mais uma! Essa foi a mais difícil das provas que juntei contra você. — Ele
pega as folhas e começa a descrever o que está descrito ali. — Eu alterei
vários dados de pagamentos que você deveria ter feito nesses últimos meses
para algumas empresas; notas fiscais também não foram emitidas. Creio que
tudo isso já se tornou uma bola de neve e que a dívida da empresa cresceu
consideravelmente. Não quero nem ver a multa que vai vir na hora que os
impostos chegarem! Você está fodido, Ander!
Meu coração acelera com a possibilidade. Não pode ser real, não pode
ser real. Não pode ser real!!
Leio cada folha e noto que os pagamentos que eu deveria realizar para
cada produtor nem chegaram até o meu conhecimento. Ele estava excluindo
cada um dos e-mails relacionados aos boletos; em outros casos, ele falsificou
os boletos e escondeu de alguma forma que eu não notei os valores que
estavam sendo estornados para a nossa conta. O Kauan tinha razão, nossa
dívida provavelmente iria acabar com a nossa empresa, e eu nem sabia que
esse fodido sabia falsificar tantas coisas assim.
— Tudo isso por causa da Hanna? Você acabou com a nossa empresa
por causa da Hanna? — Cuspo as palavras, sentindo o nojo na minha voz.
— A Hanna é o "MEU" bônus, Anderson! — Ele fala com desejo
enquanto junta algumas das fotos que se espalharam em cima da sua mesa
quando eu as joguei. — Eu acabei com a sua empresa e com a sua vida por
causa de você mesmo! Você roubou a Hanna de mim, você tenta roubar tudo
que eu tento conquistar. Você sabia que eu gostava dela e, mesmo assim, não
se esforçou em tentar ser sincero comigo, pegou ela para você sem pensar
duas vezes e, agora, eu estou tomando ela de você. — Seus passos o guiam
para trás da mesa, protegendo-se.

— Você fala dela como se ela fosse um objeto, seu animal nojento. —
Se eu o agredir agora, ele terá provas contra mim e será pior. — Acha mesmo
que ela vai acreditar nesse esquema todo? Acha mesmo que ela ficaria com
você?
— Ela não acreditaria em mim se eu lhe mostrasse que o precioso
namoradinho me enganou em um golpe para roubar o dinheiro dela? E, pior,
que você está gastando tudo com prostitutas? Acha mesmo que ela não
acreditaria nisso? — Ele com certeza sabe algo sobre o passado dela. — Você
acha mesmo que ela não acreditaria nessas fotos com uma mulher nua em
cima de você? Uma mulher que ela já viu se agarrando em seu pescoço e
fazendo uma surpresa cheia de corações...
Deus, ele armou essa merda tão bem-pensado, que eu me sinto
envergonhado por ter caído, e, pior, eu sei que ele quer algo em troca; tudo
isso aqui não seria em vão.
— E o que você quer de mim, Kauan? Quer dinheiro? Quer separar a
nossa sociedade? Que porra você quer, seu filho de uma puta?
— Termine com ela! — Ela dispara seriamente, e meu peito se arde
com a sua sugestão. — Termine hoje mesmo. Sei que vai ser moleza para
você fazer isso, porque você terminava direto com as várias mulheres com
que você já saiu.
— Eu não vou fazer isso. Você só pode estar delirando, né? Kauan,
pelo amor de Deus, abra os seus olhos, você está fazendo tudo isso por uma
mulher que não sente o mesmo por você; está acabando com a minha e a sua
vida à toa, apenas porque não conseguiu aquilo que você queria. Para de ser
infantil! — falo, ofegante, como se a minha garganta estivesse esmagada.
— Você pode até estar certo sobre ela não sentir nada por mim, mas
eu tenho certeza de que, assim que ela vir qualquer um desses envelopes, ela
vai precisar de um ombro para chorar, e vai ser o meu.
— Para com isso, por favor… — suplico, não querendo aceitar as
suas palavras.

— Escolhe logo, Anderson. Você demorou muito para descobrir,


então agora temos que recuperar o tempo perdido. Ou você termina com ela
agora, ou todas essas fotos vão parar agora mesmo no celular dela. — Ele
balança o celular na minha frente.
Nossos olhos se encaram, exalando raiva de ambos os lados.
Sinto-me encurralado como um rato, sem escolhas, a não ser aceitar
aquilo que em nenhum momento passou pela minha cabeça nesses últimos 4
meses. Encaro o bracelete no meu pulso, sentindo uma dor gigantesca
atravessar o meu corpo, e suspiro totalmente derrotado por esse moleque de
22 anos. Consigo sentir os meus olhos esquentarem com a sensação da
decepção que me atinge.
— Que merda… — sussurro, passando os meus dedos sobre a aliança.
— Eu vou terminar!
— Pode ligar para ela agora.
— Eu quero todas essas provas contra mim e quero acabar com a
nossa parceria! — digo, tentando pensar em algo que não seja o que terei que
fazer daqui a alguns minutos, porque, na verdade, a minha mente só estava se
envolvendo na dor de ter que quebrar uma promessa muito importante que eu
fiz para ela.

— Você pode ir atrás de um advogado para podermos separar cada


centavo da nossa empresa, mas as provas ficam comigo. Eu não vou me dar
ao luxo de lhe entregar tudo e vocês voltarem amanhã!
— Você é um lixo, Kauan, de verdade. Eu nunca imaginei que você
fosse um ser humano tão desprezível assim! Você me dá nojo, e eu espero
muito que você se ferre nessa sua vida de merda!
Saio da sua sala no mesmo instante, indo direto para o elevador, e
desabo o meu corpo contra a parede, sentindo a raiva e a dor brotarem em
meus olhos. Pego o meu celular e vejo a mensagem da Hanna de
preocupação. Meus dedos tremem, sentindo a tortura de ter que escrever algo
para ela. Sem forças, eu digito as palavras necessárias e, sem que eu queira
que aconteça, as gotas pesadas escorrem pela tela, indicando as lágrimas que
eu me recusei a aceitar.
"Eu preciso conversar com você!" (Mensagem do Anderson)
Eu abri a porta da sala como eu sempre fiz em todas as vezes em que
eu escutei o som do seu carro estacionando na minha garagem e o vi na
minha frente como um fantasma branco. Ele estava pálido demais, e isso me
deu um susto. Não era exatamente esse Anderson que eu estava aguardando,
e o pânico me tomou na mesma hora.
Seus olhos estavam vermelhos, e a minha preocupação aumentou
ainda mais vendo que ele saiu daqui totalmente enraivecido e agora me
parecia completamente sem chão.
Ele chorou? Céus! Eu nunca o vi assim.
Mil e uma possibilidades passaram pela minha cabeça, mas me
mantive calada, apenas o esperando se manifestar e me falar os seus motivos
para estar aqui depois da sua mensagem, que claramente me indicava que
teríamos uma conversa extremamente difícil, sendo que faltavam poucas
horas antes de o seu voo sair. Meu coração quase movia o meu peito pelo
medo que surgia. Dei espaço para que ele entrasse e saísse do sereno da noite,
mas eu me surpreendi quando os seus braços me envolveram em um abraço
apertado, que mais me parecia um pedido de socorro.
Meus olhos arderam sem ao menos eu saber direito o porquê, mas a
sensação era dolorosa, e eu quis chorar.
— Ander… — sussurro em seu ouvido. — Está tudo bem?
— Depois… — Ele me abraça mais forte, e percebo que ele inspira
profundamente, como se sentisse o cheiro dos meus cabelos. — Depois
conversamos, agora eu preciso de você.
Ele se afasta apenas o suficiente para encostar os seus lábios nos
meus, enquanto os nossos narizes acariciam um ao outro. Os meus sentidos
estavam totalmente dopados pela preocupação que corria pelas minhas veias
e pela sensação de desespero que ele emitia para mim. Deus, o que
aconteceu?

Suas mãos se encaixaram na minha nuca, puxando-me para mais


perto, e ele invadiu a minha boca com a sua língua, explodindo urgência entre
nós dois.
Eu estava confusa, mas deixei que ele se acalmasse em meus lábios e
retribuí, por também querer os seus beijos depois da briga que tivemos. Seus
passos me guiaram para dentro de casa, e só paramos de nos beijar para que
ele pudesse fechar a porta, surpreendendo-me em seguida pelos seus
movimentos ao retirar a sua camiseta, puxando-a para cima. Ele veio ao meu
encontro novamente e queimou os meus lábios com os seus ao me morder
com desejo. Minha mente deixou de lado toda a angústia que eu estava
sentindo para me preencher de prazer ao sentir tudo que ele me
proporcionava.
Ander colocou as suas mãos nas minhas costas e me abaixou com
cuidado até o chão, para que eu me deitasse no tapete felpudo da sala sem
que o nosso beijo cessasse. A sensação era gostosa pela pelagem do tecido
que roçava o meu corpo, e, no fundo, eu estava querendo acreditar que ele
estava fazendo isso porque viu que a nossa briga era um assunto besta.
Ele se ajoelhou entre as minhas pernas, puxou a minha calça com
rapidez, o que compensou no momento em que ele retirou a minha camisa,
observando cada botão revelar a minha pele. Meu coração já estava acelerado
pelo momento, mas, quando ele se afastou para me encarar demoradamente,
eu senti o sangue esquentar a minha pele, deixando-me com ainda mais calor.
Eu tinha certeza de que eu estava vermelha.
Seus dedos desenhavam sem pressa uma linha imaginária ligando
cada pintinha do meu corpo, fazendo a minha pele se arrepiar. Ele começou
pela minha barriga e seguiu até a base do meu sutiã. Foi quando ele parou e
puxou o bojo para cima, expondo os meus seios. Meus mamilos ficaram
rígidos assim que sentiram o ar bater neles. Anderson não parou de me
observar totalmente exposta a ele, para, em seguida, puxar-me para o seu
colo, fazendo com que os nossos rostos se aproximassem e que roçassem os
nossos narizes.
— Eu amo você, pequena… Amo muito! — Ele sussurrou contra a
minha pele enquanto beijava o canto da minha boca.
— Eu também amo você!
Nossos corpos se deitaram no chão, que estava macio pelo tapete, e
Ander foi em direção aos meus seios com a ponta da sua língua, que me
torturava com as sensações que me causava. Eu já estava molhada e
conseguia sentir a minha intimidade pedindo que ele entrasse em mim. Suas
mãos foram para as minhas costas e abriram o fecho do meu sutiã,
terminando de arrancar a minha camisa e o pequeno tecido. Dava para
enxergar o volume na sua calça, e o meu pé pressionou o seu membro,
tirando uma reação maravilhosa do seu rosto, que parecia apreciar a sensação,
enquanto os seus dedos abriam a sua calça, libertando o seu pau do sufoco.
— Vem aqui! — chamo a sua atenção, que estava com a cabeça
inclinada para trás, sentindo o meu pé massagear o seu membro. — Eu quero
te sentir dentro de mim.
Ander não escutou mais nenhuma palavra depois dessas, porque as
suas ações se concentraram em mim.
Minha calcinha foi arrebentada facilmente de um dos lados, e suas
mãos desceram até os meus tornozelos com aquele tecido. Em seguida, ele
passou os dedos firmemente entre as minhas coxas e se abaixou no meio das
minhas pernas, beijando a minha intimidade. Ander me chupou e esfregou a
sua língua em mim, encharcando-me ainda mais. Era impossível segurar os
vários sons que a minha boca reproduzia entre as minhas respirações
ofegantes.
— Você sabia que tem pintinhas até aqui embaixo? — Ander falou
assim que se afastou, fazendo-me querer enxergar o que ele estava vendo.

— Acho que algumas eu conheço.


Seus olhos não paravam de me examinar, e seu dedo trilhou cada
pontinho que eu tinha ali naquela região. Depois, ele desceu até exatamente o
final da minha intimidade. Suspirei quando ele passou para a parte de trás.
— Tem aqui atrás também e são todas lindas. É impossível esquecer
os seus detalhes! — Sua língua fez um caminho muito perigoso entre a minha
intimidade, e eu senti que eu poderia desmaiar a qualquer momento!
— Pare com isso! — Puxei o seu rosto para cima, buscando pelos
seus lábios, e o beijei, notando o seu meio-sorriso entre os meus lábios.
Então, ele me colocou deitada de lado e se encaixou atrás do meu
corpo. Um dos seus braços estava embaixo do meu pescoço, segurando a
minha mão, e, assim que o seu membro entrou dentro de mim, arrancando um
gemido da minha garganta, a sua outra mão segurou firme o meu quadril,
empurrando-o contra ele para que o meu interior ficasse ainda mais
preenchido. Estávamos encaixados no meio da minha sala, deitados no chão,
somente com a luz da noite batendo em nossos corpos, que se mexiam sem
pausa, tornando o ambiente apenas repleto de gemidos e respirações.
Quando eu sentia que estava quase gozando, ele desacelerava o nosso
ritmo, prolongando todo aquele sentimento, e eu apertava a sua mão, que
estava entrelaçada na minha. Às vezes eu mesma tentava controlar os
movimentos, mas logo ele me parava.
— Por favor… — supliquei a ele que deixasse eu terminar quando
senti que não poderia aguentar mais.
Ander passou o braço que estava livre por cima do meu e me abraçou
forte, entrando em mim rápido, fazendo tudo ficar nublado e confuso dentro
de mim. Quando o orgasmo me atingiu, eu deixei a minha cabeça se jogar
para trás, e ele encaixou os lábios em meu pescoço, terminando com mais
algumas estocadas logo depois.
Assim que tudo se acalmou, ele saiu de dentro de mim e começou a
acariciar as minhas costas com cuidado e uma certa demora. Toda vez que ele
enxergava uma nova pintinha, ele a beijava. Aquele momento poderia ser
eterno, mas eu sabia que havia algo errado. Eu me virei para encará-lo,
quando senti que deveria abordar o assunto que o trouxe até aqui.
— Esses seus olhos verdes… — Ander passou a mão pelo meu rosto,
encarando-me. — Quero guardá-los na minha memória para sempre.
— É a segunda coisa estranha que você me diz. O que está
acontecendo? — confesso, ao me lembrar de ouvi-lo comentando sobre as
minhas pintinhas.

Ele se sentou, e eu fiz o mesmo, puxando uma grande manta que fica
em cima do sofá apenas por decoração para cobrir o meu corpo.
— Hanna… — Ele pega a minha mão e a beija. — Eu vou te pedir
uma coisa muito difícil de aceitar, mas eu quero e eu preciso que confie em
mim. Não estou fazendo isso por maldade.
— E o que exatamente eu preciso aceitar? — Sinto a minha mão ficar
trêmula e gelada pelo nervosismo que cresce dentro de mim.
— Vamos dar um tempo.
O meu coração apertou no peito, e o ar me faltou, quando escutei as
suas palavras. Pensei até em dar risada, mas eu vi em seus olhos que ele
estava falando a verdade. Ele estava querendo terminar!
Senti como se algo tivesse me empurrado com toda a força para o
chão sem ao menos eu saber o motivo da agressão, mas eu sabia que não
estava sendo agredida; eu fui dispensada, e tudo o que eu achei saber sobre o
Anderson desapareceu com o desespero das suas palavras, deixando-me em
uma corda bamba.
— Um tempo? — Meus olhos imediatamente se enchem de lágrimas,
mesmo sem que eu queira. — O quê? Como assim? Por quê?
— Amor… — Ele puxa os meus braços para perto dele, e eu vou. —
Não será para sempre, eu preciso resolver alguns assuntos e vou precisar me
afastar por um tempo.
— Tá, mas não precisamos dar um tempo para você poder resolver os
seus assuntos. — Eu aperto os seus dedos, e uma lágrima desce pelo meu
rosto. — Tudo isso é por causa do dinheiro que eu dei para o Kauan? Ele te
explicou a história direito?
— Não é nada sobre esse assunto, eu juro. — Sua boca tremeu ao
falar. — Eu só estou te pedindo para aceitar e acreditar em mim, não será por
muito tempo. — Ele me abraça, e eu noto a dor na sua voz. Mais lágrimas
descem pelo meu rosto.
Sinto que ele estava falando a verdade, mesmo sem eu poder saber do
que se tratava a nossa separação. Céus! A gente está se separando mesmo?
— Você prometeu que não iria sair do meu lado. — Minha voz está
mais aguda que o normal pelo choro entalado na garganta.
— Eu não estou saindo, Hanna. Aquilo que eu falei ainda é verdade.
— Ele se justifica.
— Ander, você sabe que pode dividir as coisas comigo. Me conta o
que está acontecendo? — Seguro o seu rosto entre as minhas mãos, e seus
olhos também se enchem de lágrimas. — Ander… Por favor…
Ele corta aquele contado nosso sem me responder, saindo
rapidamente de perto de mim, deixando-me naquele chão frio com uma
sensação horrível no coração, Anderson começou a se vestir, e eu me levantei
em seguida, cobrindo-me com a manta. Eu não sabia como, mas o meu
celular estava no chão e apitou, acendendo a tela com uma mensagem do
Kauan. Peguei o aparelho na mão para, em seguida, caírem quatro fotos.
Desbloqueei a tela e me deparei com uma das piores coisas que eu poderia
ver hoje.
— É por causa disso? — Ele me encara, abalado. — É por causa disso
que está querendo um tempo, Anderson? Quer um tempo mesmo ou quer
terminar?
Expulso as palavras com raiva, sentindo-se usada por ele, enquanto o
choro retorna com ainda mais força. Ander se aproxima e pega o celular da
minha mão, vendo do que se tratava as imagens: ele parcialmente nu com
aquela tal Érika totalmente pelada em cima do seu corpo.
— Hanna, isso não aconteceu! — O desespero toma os seus olhos.
— Não aconteceu? Então por que as provas estão bem na minha mão?
— Quase grito.
— Eu fui drogado, não me lembro de nada disso, e eu não transei com
ela!
— Se você foi drogado, como sabe que não transou com ela?
Anderson, você sabia do meu passado, sabia que eu não aguentaria uma
traição dessas e, mesmo assim, você fez isso comigo? — Bato o celular
contra o seu peito, sentindo o meu coração ser esmagado em meio às minhas
palavras molhadas pelo choro.
— Hanna, acredita em mim, por favor! — Sua voz me causava
desespero.
— E ainda por cima você teve coragem de vir aqui usar o meu corpo
para o seu prazer para depois fazer toda essa cena?
— Não, você sabe que eu não faria uma coisa dessas.
— SAI! — grito, jogando o celular contra o vidro para não acertar
nele. — SAI DAQUI, ANDERSON! VOCÊ NÃO QUERIA UM TEMPO?
POIS PODE IR EMBORA, NÃO PRECISA NEM VOLTAR MAIS AQUI!

Uma decepção monstruosa me jogava de novo e de novo no meu


passado dolorido, e eu me questionava sem parar por que eu dei uma chance
para ele, por que eu aceitei, por que eu acreditei em suas palavras de amor
falso da mesma maneira que o Matheus fez? Sexo e dinheiro são sim as
únicas coisas que importam no mundo.
— Hanna, acredita em mim! — Ele tenta se aproximar, e eu o
empurro.
— NÃO ENCOSTA EM MIM. VAI EMBORA!
Viro-me de costas, envolvendo-me ainda mais naquela manta do sofá,
enquanto o choro não cessava e já começava a doer o meu peito. Eu não tive
coragem de olhar para trás, apenas escutei seus passos se distanciarem de
mim até a sua voz aparecer em um sussurro.

— Eu vou consertar tudo isso!


Chorei, totalmente derrotada. Não queria falar mais nada, só queria
que ele desaparecesse, e assim ele fez. Quando eu consegui olhar para a
garagem, não tinha mais nenhum vestígio dele ali, e o meu mundo desabou
de uma vez por todas em um grito rasgado dentro daquela sala vazia e escura.
Maldito! MALDITO!
Como ele pôde mandar as fotos para ela, sendo que eu avisei que iria
terminar? Como ele pôde? Grande e miserável maldito moleque de merda!
Ele fez isso sabendo que, assim, não iria ter a possibilidade de
voltarmos, e não importava o que eu falasse para a Hanna, ela não acreditaria.
Agora não era o momento de tentar mostrar a minha inocência nisso tudo.
Mesmo assim, ver seus olhos em uma completa desilusão me machucou mais
do que tudo pelo que eu já passei na minha vida. A última coisa que eu queria
nesse mundo era magoá-la dessa maneira, porque ela era a única coisa que eu
prezava proteger.
Sigo em direção à empresa antes de sair de uma vez desta cidade,
sentindo uma dor imensa em pensar que não irei poder falar, ver, mandar
mensagens para a Hanna nas próximas semanas, mas o pior de tudo para mim
era ter que seguir os meus dias com aquela última visão que eu tive dela. Eu
juro que praticamente escutei os seus batimentos desesperados quando ela
começou a gritar no meio do seu choro decepcionado.
Hanna é uma mulher inteligente, com certeza ligaria os pontos e veria
que o Kauan estava envolvido nessa história toda; mesmo assim, ver as suas
lágrimas caindo entrou como uma faca em minha pele, doendo e sangrando
por ter que fazer isso com ela.
Eu não queria que a Hanna se envolvesse ainda mais nesse assunto.
Se ela soubesse de todo o resto que o Kauan fez, com certeza iria se sentir
culpada por ter tentado ajudar e por ter caído nas garras daquele maldito. Ela
acharia que tudo seria culpa dela, e o pior de tudo é que eu não tinha como
provar a minha inocência para ela. Então, também não adiantaria se eu lhe
contasse que o dinheiro que ele pegou estava em uma conta no meu nome,
mas não era para mim. Eu estava sem provas.
Assim que eu cheguei à empresa novamente, fui até a sua sala, e ele
estava com os pés em cima da mesa, apenas me aguardando, achando tudo
aquilo divertido, um jogo — um jogo no qual ele manipulava vidas. Eu não
sabia como iria acabar com aquele sorriso, mas com certeza ele não iria mais
ter dentes no final dessa história.
— Por que fez aquilo, seu merda? — Chego perto de dar um soco em
seu rosto, mas acerto a parede.
— Para te ajudar. Assim, o término poderia ter um motivo decente.
— Não precisava ser assim!
— Claro que precisava, Anderson. Você acha que eu sou idiota? Acha
mesmo que eu não iria desconfiar das suas atitudes?
— Seu monte de bosta, você vai pagar por tudo isso!
— Para de “blá-blá-blá” e me fala logo. Terminaram ou não? — Ele
se levanta.
— Sim — digo, sem encará-lo.
— Que bom que eu pude ajudar. Então, agora o meu caminho está
livre.
— Cala a boca, seu fodido! — ameaço-lhe, batendo as minhas mãos
em sua mesa.
— Você sabe que eu vou dar um jeito de descobrir se vocês realmente
não estão se falando, né? Não tente fazer joguinhos comigo.
— Pode pagar quantas pessoas você quiser para ficar me observando,
mas, mesmo assim, eu vou acabar com você, Kauan. Eu vou ter o prazer de
tirar esse sorrisinho da sua cara.

— Pode tentar, mas, com as provas das coisas que eu tenho contra
você, eu sei que não irá conseguir nunca me superar.
— Você também não irá conseguir ficar com ela. Ela é totalmente
minha, e isso não vai mudar só porque eu ficarei longe. — Afasto-me, indo
em direção à porta da sua sala. — Não se acostume com isso, Kauan. Uma
hora a sua máscara vai cair.

— Você contou algo para ela sobre tudo o que eu te mostrei?


— Não, eu fiz questão de deixar você quebrar a cara sozinho.
Saio de lá sem olhar para trás, determinado a procurar todos os podres
possíveis sobre esse garoto para acabar com cada célula do seu corpo.

— Oi, filho! — Meu pai comenta, assim que eu entro em seu


escritório.
Eu havia chegado há alguns minutos à casa dos meus pais. Perdi
algum tempo tirando as malas do carro, e eu até consegui desviar das
perguntas da minha mãe sobre a Hanna. Dona Magda sempre nota quando eu
não estou bem, então eu tive a certeza de que ela não tocou no assunto de
propósito, mas agora eu precisava abordar a questão com o meu pai.
— Oi, pai! Como está a empresa? — falo, dando passos lentos em sua
direção.
— Bem. Semana que vem vamos nos ver lá no Rio Grande do Sul,
né? — Ele levanta os seus óculos, tirando a atenção do seu computador.
— Vamos… — Sento-me na frente da sua mesa.
— O que aconteceu? — Ele comenta, sério.
— O Kauan. Foi isso que aconteceu! — reclamo.
— Eu sabia que uma hora ou outra isso poderia acontecer.
Assusto-me quando ele fala essas palavras. Não tinha como ele saber,
eu não havia falado sobre nada e eu tenho certeza de que o Kauan não iria
ligar para o meu pai para contar.
— Do que você está falando, pai? — falo, confuso.
— Seu amigo está tentando te extorquir, né? Ou te enganar. Nós
notamos uns furos em alguns pagamentos de Curitiba e sabemos que não é
culpa sua, porque você nunca atrasou nenhum dos pagamentos; então, eu
comecei a estranhar.
Por um momento, eu esqueci que a sede da nossa empresa tem o
controle de tudo.
— Claro que estranharam… — Sinto-me envergonhado. — Eu tô
fodido, pai. Ele armou vários esquemas para cima de mim, e eu não sei o que
fazer. — Seu rosto não demonstra nada de preocupação.
— Ele está te ameaçando com o quê?
— Eu ainda não sei como ele conseguiu fazer tudo isso, mas ele
estava desviando vários e-mails que eu recebo sobre pagamentos. Dessa
forma, eles não foram realizados, e a nossa empresa pode falir a qualquer
momento se juntarmos tudo. Ele está pedindo que dividamos a Aluxmil.
Meu pai pega uma pasta preta da sua estante e coloca na minha frente.
Sinto até um déjà vu com a cena — pastas agora me dão pavor. Foco o
contrato, que se tratava da papelada da minha empresa com o Kauan.
— Filho, você tem sorte de ter um pai com experiência… — Ele sorri.
— Esse contrato na sua frente é falso! — Como é que é? — Quando você
veio conversar comigo querendo fazer uma parceria com o seu melhor amigo
da faculdade, eu imaginei que futuramente isso poderia ser um problema,
então eu falsifiquei toda a papelada da sua empresa. A original é esta aqui. —
Meu pai coloca outra pilha de papéis na minha frente. — Você assinou tudo
sem nem perceber, porque eu coloquei as folhas entre esse contrato falso.
— Meu Deus, então…
— Então você não tem que dividir nada com ele. O Kauan é apenas o
seu empregado. Pode despedi-lo a hora que você quiser e até por justa causa.
Ele também assinou o contrato original se declarando um empregado.

Deus, obrigado por pelo menos isso ter uma saída!


— Mesmo assim, eu estou falido. — Passo as mãos pelos meus
cabelos.
— Você não está falido… — Meu pai se levanta e guarda os seus
óculos na gaveta. — O meu financeiro acertou tudo o que você deixou
passar! Está tudo em dia!
— Pai… — Encaro-o, extasiado com tudo que ele acabou de me
confessar. — Eu nem sei como agradecer — digo, realmente sem palavras.
— Você não precisa me agradecer, filho. Eu passei pelo mesmo que
você; também tive amigos que eu queria ajudar, então eu preveni tudo antes
de acontecer.
Eu nunca imaginei que o meu pai poderia ter passado pela mesma
situação. Deve ter sido difícil para ele, já que não teve o apoio que eu estou
tendo dele.
— Eu ainda não consigo acreditar nas coisas de que o Kauan me
acusou… — Bufo.
— É realmente só a empresa que ele está tentando tirar de você?
— Não, mas você já me ajudou muito, pai. Você nem imagina o peso
que tirou das minhas costas por ter pensado nisso tudo antes de a merda
acontecer. Pode deixar, que as outras coisas eu resolvo.
— Independente do que seja, Anderson, não o deixe tomar nada de
você.

— Eu vou mostrar para o Kauan que não se mexe com um


Magalhães.
O teto do meu quarto nunca pareceu tão grande quanto nesta manhã.
A chuva também não estava ajudando muito.
O som alto das gotas lá fora fazia deste dia a ocasião ideal para ficar
enterrada na cama, mas eu me amaldiçoei com mais serviço esta semana só
por estar longe dele, só para não lembrar da punhalada nas costas que tomei.
Eu deixo as lágrimas descerem pelo meu rosto, enquanto a minha
mente repassava diversas e diversas vezes o meu último momento com o
Ander. Minha cabeça estava pesada, deixando tudo mais nublado do que a
chuva. Talvez eu estivesse assim por causa do choro constante, talvez pelas
noites maldormidas, ou talvez pela falta da minha alimentação, que ficou
mais fora de ordem do que nunca.
Eu estava forçando o meu cérebro a todo momento para não pensar no
que ele poderia estar fazendo, se estava bem, se não estava com alguém, se
estava com aquela Érika, ou talvez até com a Brenda… O pior era que,
mesmo eu tendo as provas daquelas fotos no meu celular, não conseguia
parar de pensar nas nossas promessas, nos nossos momentos, nas nossas
noites em claro conversando, em tudo que me dizia, sobretudo que as fotos
não eram nada e que o Anderson estava me falando a verdade.
Mesmo assim, tudo isso não mudava o fato de eu me sentir sozinha.
Eu me apeguei a ele, e isso era novo para mim; fazia com que doesse mais.
Respirei fundo, limpando o meu rosto, e me levantei da cama. Eu precisava
trabalhar.
Entrei debaixo da água quente do chuveiro e deixei a minha ansiedade
ir embora, mas me lembrei de que, algumas semanas atrás, foi a inauguração
da empresa dele no Rio Grande do Sul. Eu queria estar lá para parabenizá-lo,
para apoiá-lo, só para ver seu rosto, mas não adiantaria nada disso, porque eu
sabia que esses sentimentos só vinham para tentar tranquilizar toda a
decepção que eu estava sentindo.
Doía! Doía noite e dia, sem pausa, sem calma, sem paz. Era como se
eu estivesse em um mar totalmente sem saída. Havia momentos em que
aparecia uma tempestade, de modo que eu precisava sair de perto de todos
para desabar, para gritar em choros sem fim, assim como havia os momentos
de calmaria, de modo que eu acabava me esquecendo um pouco dele. Mas eu
tinha uma certeza naquele mar sem fim: eu estava perdida, sem terra à vista,
sem qualquer ajuda para me tirar daquela situação, e eu precisava continuar
lá.
É realmente muito difícil você se separar de alguém com quem criou
tantas memórias ao seu lado. Vocês criam apelidos e metáforas que só vocês
dois entendem, criam momentos especiais, fora o fato de que todo o lugar era
uma carta de saudade — as comidas, as cores favoritas e os carinhos, tudo
isso formava a personalidade de cada casal.
Tudo machuca muito quando você tem que continuar convivendo com
cada coisa que faz o seu coração bater mais rápido, como este bracelete no
meu braço, que eu me recusei a tirar. A gente não terminou… Repito pela
milésima vez.
Enquanto as gotas do chuveiro tiravam toda a espuma do meu corpo,
a minha mente fazia-me lembrar as últimas palavras do Ander me dizendo
que ele havia sido drogado e também a mensagem do Kauan, que ele havia
enviado junto com as fotos, dizendo que precisava me contar o que havia
descoberto. Retorno um pouco mais no tempo e relaciono que ele disse que
estaria aqui em Curitiba. Não fazia sentido algum o Ander ter saído da minha
casa no sábado para conversar com ele e ter voltado pedindo para a gente
terminar, tendo ou não uma traição no meio disso tudo.
Acho que chegou o momento de o Kauan me esclarecer algumas
coisas!

— Bom dia, senhor Diogo! —cumprimento-o assim que entro no


carro, deixando o meu guarda-chuvas no tapete do veículo.
Depois que comecei a namorar o Ander, eu contei para o senhor
Diogo sobre nós, e ele ficou extremamente feliz por mim; afinal, foi ele que
me ajudou com os seus conselhos.
Ele sempre perguntava como estava a nossa relação e quase sempre
eu dividia meus momentos com ele, como quando ganhei o meu bracelete
que eu demorei meses para descobrir o que era. Também contei sobre o
escândalo que a ex dele fez quando eu fui para Brasília. Foram muitas risadas
compartilhadas, mas agora, com toda a certeza, ele havia notado que há uma
semana eu estava calada.
— Bom dia, minha querida. — Ele responde amigável como todos os
dias.
— Hoje eu terei alguns compromissos no horário da tarde, então,
depois que o senhor me deixar na empresa, pode voltar para a casa e retornar
somente às 16:00h.
— Certo… — Ele começa a dirigir. — Estarei na empresa nesse
horário.
— Obrigada, senhor Diogo. Não sei nem como agradecer por toda a
ajuda.
— Não precisa agradecer, minha filha. Eu amo o que faço e amo
ainda mais porque eu faço para a senhorita.
— E eu amo que o senhor possa me acompanhar todos os dias. —
Sorrio por pensar em cada lembrança que já dividi com ele dentro deste carro.
— A senhorita parece mais animada esta manhã. — Ele me olha pelo
retrovisor.
Fico em choque com a sua fala. Eu não estava esperando que ele
tentasse abordar o assunto, porque eu sabia que o senhor Diogo havia evitado
isso durante os últimos dias, então imaginei que continuaria assim. Mas agora
ele estava querendo conversar, e eu não sabia se eu estava querendo dividir
esse assunto.
— Sim… Digamos que hoje eu preciso estar, vou tratar de um assunto
muito importante.
— E é esse assunto que estava te incomodando todos esses dias? —
Xeque-mate.
Demoro um pouco para que eu consiga lhe responder; eu não sabia
nem como pronunciar aquelas palavras de novo sem que a vontade de chorar
entrasse em meu corpo, mas eu sabia que quanto mais eu escondia, mas me
parecia que isso tudo não estava acontecendo.
— O Anderson me pediu um tempo do nosso relacionamento, e, logo
em seguida, eu descobri uma traição da parte dele, então eu terminei. —
Observo as suas sobrancelhas se juntarem, como se o que eu acabei de
revelar não fosse algo possível. — Estou deixando o tempo resolver as coisas
que precisam ser resolvidas.
— Creio que o senhor Anderson não iria fazer uma coisa dessas com
você, minha querida. Eu já conversei com ele uma vez. Ele não é esse tipo de
homem. — O senhor Diogo me revela, deixando-me surpresa.
— Vocês já conversaram? — falo, curiosa. — Quando?
— Sim! Naquele dia que vocês foram para a festa de Natal da
empresa. A senhorita ainda estava trabalhando, mesmo com a empresa
praticamente vazia, e eu havia esquecido que não precisava que eu fosse até
lá te buscar. Você já tinha me avisado que o senhor Anderson iria, mas eu
esqueci… — Ele deu risada enquanto cuidava do trânsito. — Então me
encontrei com ele na entrada principal da empresa. Ele estava te esperando.
Era tão bom escutar sobre o Ander por meio de outra pessoa. E ver o
senhor Diogo falar dele com tanto carinho me ajudou com os meus
pensamentos sabotadores desses últimos dias.
— Sinto muito por ter perdido a viagem aquele dia — comento,
enquanto passo os meus dedos sobre o bracelete no meu braço.
— Eu gostei de ter ido. O senhor Anderson e eu ficamos conversando
sobre você por alguns minutos, antes de eu deixá-lo para poder ir para casa
me arrumar para a festa.
— O que vocês falaram sobre mim? — Procuro ver a sua reação
através do espelho, mas não consigo.
— Na verdade, foi mais ele que falou, minha querida. — O senhor
Diogo dá risada ao lembrar. — Ele perguntou se eu trabalhava há muito
tempo com a senhorita, e eu contei sobre como eu comecei a trabalhar com
vocês.
— O Ander sabe puxar assunto com qualquer pessoa. — Sorrio.

— E eu confesso que gostei da nossa conversa, porque, em seguida,


eu falei que a senhorita amava tanto a empresa de vocês, que não parou de
trabalhar nem no dia 24 de dezembro. O senhor Anderson sorriu quando eu
falei isso e disse bem assim: "Acho que é por isso que eu me encantei tanto
por ela, senhor Diogo. Ela é esperta, é determinada e é claro que ela é linda
demais; isso não deveria nem ser um questionamento. Mas o fato de ela ser
tão implacável assim… eu amo, amo mesmo ela, por causa de cada detalhe
que eu encontrei somente nela. E, poxa, se não fosse pelos dois meses e meio
que estamos juntos, eu a pediria em casamento hoje mesmo, porque eu quero
tanto casar com ela…".
O senhor Diogo contou tudo isso tentando imitar a voz dele, e eu juro
que eu escutei essas palavras saindo da boca do próprio Ander, como se ele
estivesse do meu lado. O meu coração acelerou e doeu de uma forma que eu
não estava esperando; doeu de uma forma que eu não queria; e eu escondi o
meu rosto para o lado da janela, limpando as minhas lágrimas desesperadas
que queriam cair...
— Em seguida, ele ficou todo vermelho… — O senhor Diogo volta a
contar e sorri ao lembrar. — Acho que ele não queria ter falado aquilo em
voz alta, mas eu confesso, Hanna, que eu fiquei muito feliz de ver que a
senhorita tinha encontrado um homem tão bom. Então, eu realmente acho que
ele não iria te trair, querida. O que ele te disse quando você o questionou
sobre essa situação?
— Disse que não havia me traído. — A cena vem à tona novamente.
— E por que a senhorita não acreditou nele?
— Porque o meu passado me apavora. Na mesma hora que eu
descobri tudo, aquele medo me invadiu, e eu quis afastá-lo, exatamente como
eu fiz com o Matheus cinco anos atrás.
— Hanna, minha querida, você mesma disse que o medo reagiu por
você, não foi o seu coração e nem a sua razão.
— Eu sei… — Limpo as lágrimas novamente. — Mas ele me deixou
primeiro. Eu só queria me proteger, senhor Diogo, mas está doendo tanto.

— Tem muitas coisas nas nossas vidas que não fazem sentido no
momento em que estamos passando por isso. São como se fossem muros
enormes que não têm saída, mas umas das maiores coisas que a vida já me
ensinou é sobre ter paciência exatamente nesses momentos, Hanna!
— É, eu também acho… — comento com dificuldade, sentindo os
meus olhos me traírem. — Como lidamos com a saudade?
— Não lidamos, querida. A saudade sempre estará ali, você convive
com ela, ignora ela, daí você sai, toma um café, conversa, dá risada, respira
fundo e depois sente a saudade de novo. Até o momento que talvez, apenas
talvez, todo esse sentimento se evapore e você consiga esquecer que a
saudade esteve ali.
— Você é realmente um ótimo psicólogo, senhor Diogo — comento,
dando risada, enquanto limpo os últimos vestígios de dor que escorrem pelo
meu rosto. — Obrigada, de novo. Creio que ainda precisarei de muitos
conselhos!
— Eu estarei sempre aqui, minha filha. Fico feliz de ter ajudado nem
que seja um pouco. — Observo que já chegamos à empresa.
— Ajudou muito. — Abro a porta e me despeço dele.

— Bom dia, Andréia, pode vir aqui na minha sala? — falo assim que
chego à sua mesa.
— Meu Deus, o que eu fiz? — Ela se levanta depressa, seguindo-me.
— Você não fez nada. — Dou risada. — Mas vai fazer por mim.
Fecha a porta, por favor.

— O que eu vou fazer? — Andréia fala assim que encosta a porta e


volta a segurar a sua caneta, escrevendo em seu tablet.
— Por favor, marque um encontro para mim.
— Com o Ander? — Ela ergue a sobrancelha, sugestiva.
— Não, infelizmente não! — Tento manter a farsa de que ainda
estamos juntos. — Eu preciso me encontrar com o Kauan.
Andréia muda o seu rosto rapidamente de uma expressão feliz para
uma cara emburrada, revirando os olhos na mesma hora. Não sei quando ela
pegou esse ranço tão grande dele, mas eu a entendia.
— Desculpa se eu vou ser indiscreta, mas por que quer se encontrar
com ele? Você não estava o evitando meses atrás? — Sua caneta bate na tela.
— Porque eu preciso descobrir algumas coisas e acho que ele pode
me dar as respostas. — Ela acha as minhas palavras interessantes e se
aproxima.
— Entendi. Só precisa disso? — Andréia me fala, com curiosidade
para que eu divida um pouco mais do assunto com ela.
— A empresa deles abriu uma nova filial lá no Rio Grande do Sul
recentemente, mas, na semana retrasada, o Kauan me falou que estaria por
aqui e não lá. Tente descobrir se isso é verdade.
Eu queria que ela abordasse uma conversa diferenciada com ele, e é
claro que ela estava entendendo. Eu precisava de informações.
— Já entendi, tá bom, daqui a pouco eu volto.
Ela se virou rapidamente, saindo da sala. Eu acho que no fundo ela até
gostou da missão que eu dei para ela, e foi assim que, exatamente uma hora
depois, ela retornou à minha sala.
— Sobre o Kauan… — Ela entra.
— Sim. O que descobriu?
— Ele estava aqui em Curitiba mesmo.
— Que estranho! Conseguiu descobrir o porquê? Ou descobrir
alguma coisa diferente?
— Eu perguntei por que ele não foi na inauguração, e ele me
informou que o Ander já estava lá para representar a empresa e ele não
poderia deixar a empresa daqui de Curitiba sem supervisão… — Ela mexe
levemente a sobrancelha em estranheza. — E ele também me disse que o
Ander está lá no Rio Grande do Sul há mais de duas semanas. Você não sabia
disso? — Droga.
— A semana dele está meio corrida. — Disfarço. — E aí, conseguiu
marcar o meu encontro com ele?

— Sim, ele falou que estará disponível depois das seis horas.
— Só depois das seis? — falo, indignada. — Fica muito tarde para eu
ir lá.
— Quer que eu cancele?
— Não, eu realmente preciso conversar com ele, então eu vou nesse
horário mesmo.

— Tá bom… — Ela começa a sair da sala, mas se vira quando chega


perto da porta. — Quer que eu vá com você? Se não estiver confortável em ir
sozinha.
— Imagina, Andréia, não quero te obrigar a trabalhar mais do que o
necessário. Você me ajudou muito esta semana, pode ficar tranquila.
Estávamos falando do Kauan, e não de um serial killer. — Nós duas damos
risada, e ela sai logo em seguida.

Encarei o prédio da Aluxmil por longos minutos desejando que, só de


olhá-lo, eu não me lembrasse do Ander, mas era exatamente isso que eu
estava imaginando agora. Crio coragem para sair do carro na chuva, que
ainda permanecia, e sigo para dentro do prédio. Eu precisava saber o que foi
conversado aquele dia entre os dois, e eu não queria ficar me martirizando dia
e noite com tantas possibilidades, mas o difícil seria como eu iria abordar isso
com ele. Era certo que ele já sabia que eu havia contado sobre o golpe, e eu
fiquei sem conversar com ele depois que o Ander descobriu, então eu sentia
que a situação ficaria estranha.
— Bom dia, Meg — cumprimento a secretária deles, que eu já
conhecia pelas diversas vezes que vim aqui.

— Bom dia, senhorita Hanna. O senhor Kauan já a está aguardando.


— Certo, obrigada!
Caminho em passos lentos, encarando mais a sala do Ander do que a
sala a que eu precisava ir, tendo uma pequena esperança de vê-lo ali, mesmo
a Andréia me comunicando que ele estava no Rio Grande do Sul. Bato na
porta, que já está aberta, apenas para chamar a atenção do Kauan.
— Hanna, quanto tempo! — Ele se levanta sorridente e vem até mim.
— Oi, Kauan, como vai? — Entro na sala e lhe ofereço a minha mão
antes que ele me abrace, porque eu o conhecia muito bem.
— Eu estou bem, estou feliz que você esteja aqui.
— Pois é, eu precisava conversar com você.
— Sobre aquele nosso assunto? Você não respondeu às minhas
últimas mensagens, então imaginei que você veio aqui hoje para que eu lhe
pague, né? — Seu tom de voz demonstra um certo nervosismo no ar.
— Não se preocupe com o dinheiro, Kauan. Não vim aqui para isso.
— Sento-me na poltrona que tem na frente da sua mesa.
Eu consigo notar que o Kauan que eu conheci há alguns meses está
totalmente diferente. Ele não parecia mais aquele garotinho que mal
conseguia conversar com os meus pais no meu aniversário por causa da sua
euforia; agora ele parecia mais confiante, e eu não sei se isso era uma coisa
boa ou ruim.
— Então você veio aqui por causa das fotos, né? — Kauan comenta
baixo.
— Por que me mandou aquelas imagens? — Pela primeira vez desde
que eu cheguei aqui, eu falo seriamente.
— Quando você me mandou mensagem perguntando do Anderson
aquele dia, eu não sabia se deveria contar para você ou não sobre as coisas
que ele fez na confraternização, então eu neguei no começo da nossa
conversa; depois, me senti mal e mandei as fotos. A própria Érika havia me
encaminhado elas, porque ela estava me questionando se ele não estava
namorando.
Sua história era estranha, mas poderia sim ter acontecido.
— Posso ver a mensagem dela? — Levanto uma sobrancelha,
duvidando da sua fala.

— Claro! — Kauan desbloqueia a tela e rapidamente me mostra a


mensagem da Érika.

“O Ander não estava namorando? Me pareceu o


contrário, quando ele me trouxe aqui para o
apartamento dele!”

Minha garganta se fechou na mesma hora, e a dor percorreu o meu ser


como um choque. Desviei meus olhos daquelas fotos que eu também havia
recebido e, então, devolvi o seu celular com uma leve tremedeira nas mãos.
— Você queria marcar de me ver naquele dia, e quem veio aqui foi o
Ander. O que aconteceu? Sobre o que conversaram?
— Ele não te falou? — Sua boca se moveu em um riso por breves
milésimos.
— Não me falou nada. — Minha mente me faz lembrar do nosso
término. — A gente só conversou, mas ele não me falou o que vocês
discutiram aqui.
— Bom, ele veio me perguntando sobre o golpe, e é óbvio que eu
contei tudo para ele, todos os detalhes de como aconteceu, e então ele me
disse que iria atrás desses golpistas. — Ele desvia o olhar enquanto fala.
— Só isso? — Tem que ter mais coisas.
— Ele te falou mais alguma coisa? — Suas perguntas em vez de
respostas me dão raiva, mas eu me controlo.

— Não, Kauan, eu preciso saber de você.


— Ele ficou abalado depois que contei, mas a gente se resolveu.
Explodo pela falta de respostas.
— Então você está me dizendo que ele queria terminar comigo só por
causa disso? — disparo, enraivecida, levantando para sair dali ao lembrar
que, na verdade, deve ter sido pela culpa por ter me traído.

Seus olhos se arregalaram na mesma hora pela minha atitude, e ele


veio até mim imediatamente, colocando uma de suas mãos em meu ombro e
me abraçando em seguida.
— Hanna, me desculpe, de verdade. — Seu abraço fica ainda mais
apertado, e eu sinto uma vontade de chorar novamente. — Se eu soubesse
que você ia ficar assim ao descobrir sobre a traição, com certeza eu não teria
te mandado as fotos. Eu não queria te ver assim.
— Você não tem que pedir desculpas por nada. — Limpo os cantos
dos meus olhos enquanto me afasto dele. — Ele fez aquilo porque ele quis!
— Claro que eu tenho, porque eu já sabia antes mesmo de a Érika
aparecer que ele queria terminar com você. — Se o meu coração pudesse
parar, eu estaria neste exato momento morta.

— Quê? Você já sabia que ele queria terminar comigo? O que ele te
falou?
Meus olhos acompanham os seus movimentos enquanto ele não
consegue me encarar de volta. Então, o Kauan se afasta para sair da sala
completamente sem motivos, entrando na sala do Ander, que era de frente
para a sua, deixando-me ainda mais assustada. Eu o sigo sem que ele me
chame e rapidamente fecho a porta. Não sei o que ele vai me mostrar, mas já
começo a sentir que não será coisa boa.
Suas mãos digitam a senha do computador do Ander, e Kauan acessa
várias pastas de arquivos, chegando a uma que estava praticamente vazia,
com apenas uns quatro arquivos. Então, o mouse escolhe um deles.
— Hanna, me desculpe mesmo por eu não ter avisado sobre isso. Eu
achei que ele iria mudar de ideia após tudo o que vocês viveram. Você é uma
mulher tão incrível, que eu achei absurdo o fato de ele querer terminar por
uma besteira dessa, mas…
— Me mostra logo! — corto-o, sentindo uma mistura de raiva e
desespero.
Ele, enfim, clica no arquivo e se vira, saindo de perto do computador,
e eu me aproximo da mesa, sentando-me na cadeira de Ander. Quando o
vídeo se inicia, eu sinto uma náusea gigantesca crescendo dentro de mim, e
minhas mãos começaram a tremer, percebendo cada detalhe do que aquele
vídeo se tratava.
Eu reconheceria aquele carro em qualquer lugar do mundo, mesmo se
não houvesse eu e o Matheus no vídeo, e mesmo se não desse para ver o
interior do carro. Só de escutar a voz daquele cretino, eu poderia vomitar. A
imagem já não estava tão nítida, e a minha cabeça girava, deixando-me tonta.
Mesmo assim, as lágrimas nasceram nos meus olhos, deixando-me ainda
mais vulnerável.
Senti um arrepio passar pela minha nuca enquanto o meu estômago se
fechava mais e mais vendo os segundos se passando naquela filmagem. Eu
conseguia escutar a minha respiração acelerada pelo desespero e, junto com a
dor que eu sentia, a raiva crescia também. Em um momento de fuga do que
eu estava vendo, as minhas mãos simplesmente pegaram aquela tela,
mandando-a para o chão sem piedade.
O Kauan se afasta do meu movimento, para, depois, vir até o meu
lado novamente. Meu mundo simplesmente caiu em cima de mim sem aviso
prévio. Eu vim até aqui para receber algum tipo de resposta sobre aquele dia
tão fatídico e recebi o meu passado embrulhado de presente acertando a
minha cara.
Como ele conseguiu isso?
Seu rosto estava assustado, manchado pela maquiagem que escorreu
junto com as suas lágrimas ao ver o vídeo em que ela está exposta com o
Matheus. Só de pensar que tudo deu tão certo, eu me excito vendo a sua ira
exercida contra o computador do Ander, que agora estava em pedaços no
chão.
Quando a secretária dela me mandou mensagem me avisando que ela
estava querendo conversar comigo, eu elaborei uma forma de tentar descobrir
se o término dos dois realmente tinha acontecido e também achar alguma
forma de ela se apoiar em mim, então eu corri para a sala do Ander e passei o
vídeo que eu havia comprado do Matheus para os arquivos dele. Dependendo
da nossa conversa, eu iria ver como eu poderia mover as peças desse nosso
jogo de xadrez.
No fim, tudo saiu muito melhor do que o planejado. Eu não tinha
certeza ainda se eles haviam terminado e o que o Anderson havia contado
para ela, mas aos poucos ela dividiu as informações necessárias sem pensar
duas vezes.
— Calma, Hanna, eu tô aqui! Me desculpa por isso — digo, indo até
ela e a abraçando, como se ela fosse um passarinho machucado. — Eu não
deveria ter te mostrado.
Seu rosto se afunda em meu peito, enquanto eu sinto as suas lágrimas
molharem a minha camisa. Tão vulnerável de uma maneira que eu nunca a vi
e, porra, eu estava adorando ver isso — era isso que eu queria, ela aqui, nos
meus braços.
— C-como? — Sua voz sai abafada. — Da onde veio esse vídeo? —
Ela olha nos meus olhos, e sinto que ela estava desorientada.
— Eu não sei, não sei como ele conseguiu, Hanna, mas me desculpa
por ter te mostrado. Eu não queria ter te deixado nesse estado. — Afago a sua
cabeça em meu ombro, acariciando os seus cabelos.

— Quando ele te mostrou isso, Kauan? — Sua voz mostra o quanto


está triste, e as lágrimas ainda brotam em seus olhos.
— Há um mês mais ou menos. Ele falou que descobriu esse vídeo seu
e que não imaginava que você fosse assim. E eu sei que você não é dessa
maneira, Hanna. O Ander é um louco por pensar isso. Nem sei o que
aconteceu com você para esse vídeo ser feito, mas ele me falou isso e
comentou sobre terminar com você. — Vejo os seus olhos se fecharem ainda
mais quando a sua cabeça se voltou para o meu peito, distribuindo mais
lágrimas em sua face após as minhas palavras.
— Ele não faria isso comigo. — Ela envolve os seus braços em volta
de mim. — Faria?
Sinto a felicidade tomar conta de cada milímetro do meu corpo
quando eu percebo que ela está se apoiando em mim nesse momento de
sofrimento. Ela confia em mim o suficiente para desmoronar em meus
braços, e nada nesses últimos meses poderia superar o que eu estou sentindo
agora.
Deixo-a se reconfortar em meus braços por vários minutos, enquanto
sua respiração vai se acalmando e o choro vai cessando. Acaricio os seus
cabelos e até consigo sentir o perfume da sua pele. Sua boca vermelha pelo
choro me chama. Estamos tão próximos, que eu poderia tentar beijá-la, mas
me seguro para não a assustar como da última vez, porque o que eu mais
preciso agora é da sua confiança.
— Vamos sair daqui — digo, enquanto levanto a sua cabeça e limpo
os seus lindos olhos verdes.

— Eu quero ir embora… — Ela puxa o ar, acalmando-se mais ainda.


— Me desculpa, Kauan, mas eu preciso ir. Você me deu muitas coisas para
pensar. — Hanna se afasta de mim e ajeita o seu terninho.
— Hanna, eu sei que eu vacilei muito com você, mas em todas as
vezes que eu disse que você podia confiar em mim, eu estava falando a
verdade. Você é muito importante para mim.

— Eu sei. — Ela diz, tentando se recompor. — Obrigada por ter me


dado apoio nesse momento. Saiba que isso é importante para mim.
— Não precisa me agradecer por isso, eu sempre estarei aqui. — Seus
olhos verdes brilham ao me escutar. — O seu motorista está aí? Não quero
que você dirija nesse estado. — Hanna desvia o olhar e limpa o seu rosto
novamente.
— Sim, ele está, pode ficar tranquilo. — Ela vai em direção à mesa
para pegar a sua bolsa, que, em algum momento, foi parar ali, e eu não vi.
— Vamos nos ver na segunda? Eu quero ver e ter a certeza de que
você estará bem — sugiro, com receio.
— Eu não sei… Eu tenho que ver a minha agenda.
— Venha aqui na empresa. Vamos almoçar no restaurante do térreo;
dessa forma, você não ficará pensando tanto nisso. É melhor sair um pouco
— sugiro.
— Ta bom. — Isso aí! — Eu venho.
— Certo, eu vou estar te esperando. — Sorrio para ela. — Hanna, não
fique assim, por favor. Ele não merece as suas lágrimas. — Aproximo-me, e
ela se afasta.
Não seja tão afoito, Kauan, vai assustá-la novamente.
— Eu vou indo, Kauan. Preciso de um pouco de ar. Esse vídeo me
pegou desprevenida. — Ela se vira e vai em direção à porta.
— Me desculpe por ter feito isso, Hanna. Sei que te machucou ter que
ver esse vídeo, mas eu não podia deixar de lado tudo o que o Ander estava
fazendo pelas suas costas.
— Eu agradeço por ter sido um verdadeiro amigo comigo. — Seus
olhos vermelhos estão mais limpos agora.
— Por favor, venha na segunda, não fique pensando nisso tudo —
sugiro, com a minha voz mais preocupada.
— Eu vou vir. Obrigada mesmo, Kauan!
Hanna abre a porta e se despede, saindo sem ao menos olhar para trás.
Fico encarando o seu corpo até ela entrar no elevador e me fitar por um
último momento, totalmente arrasada com o que eu fiz; mas foi por um bem
maior.
Encaro a mesa da Meg e me pergunto em que horário ela foi embora.
Será que ela escutou o barulho do computador indo para o chão antes de sair?
Bom, espero que não. Terei que mandar arrumar aquela tela, que está toda
quebrada, antes que o Ander volte.
Se eu soubesse que eu estava sozinho com a Hanna, com todo esse
andar do prédio só para a gente, eu teria investido mais; quem sabe ela
cederia às minhas insistências por estar machucada e, assim, nós teríamos
uma noite agradável. Mas tudo bem, melhor assim, eu poderia perder a
oportunidade de conquistá-la novamente se eu forçasse algo.
Agora eu sei que estou no caminho certo!
Meu coração ainda estava saltando no peito depois de tantas coisas
ouvidas e faladas nesta noite. Eu não imaginava que tudo iria acabar assim, e
meus pelos dos braços estavam arrepiados pela proporção que tudo tomou.
Encaro-me no espelho do elevador, limpando o resto das marcas da
maquiagem que eu me esforcei para marcar o meu rosto.
A cena toda foi digna de um Oscar!
Sorrio, vendo o meu reflexo bagunçado, achando graça na situação
em que eu me propus a atuar para receber as respostas mais inusitadas do
Kauan.
Eu não iria vir aqui à toa para sair com as minhas mãos abanando. Eu
iria ter as informações necessárias para que eu montasse esse quebra-cabeça,
independentemente do que fosse necessário fazer, como, por exemplo,
abraçar o Kauan como se ele fosse o meu farol em meio ao meu mar de
desespero. Se todos nós estávamos sendo usados como fantoches desse teatro
do Kauan, que ele também fizesse parte da peça.
Eu precisava ver o quanto o Kauan estava sendo verdadeiro e, no
instante em que ele abriu aquele vídeo, abri os meus olhos em relação a tudo.
Ele era um ator! E dos bons.
Todas as suas falas passaram e repassaram na minha mente e, de
repente, tudo estava claro como uma folha em branco. Um verdadeiro mau-
caráter, duas-caras!
Eu já tinha o conhecimento sobre a existência daquele vídeo desde
quando todos da minha sala souberam sobre a aposta dos meninos. Esses
boatos geralmente não ficam em silêncio, e é claro que eu acabei sabendo. Eu
só não tive a oportunidade de ver pessoalmente a filmagem, que, no fim das
contas, era ainda mais asquerosa do que eu imaginava ser. Meu corpo se
arrepiou todo no instante em que eu vi do que se tratava aquilo tudo, fazendo-
me lembrar como eu sofri me sentindo exposta e com medo de que, a
qualquer momento, tudo pudesse explodir e vir à tona.
Na época, eu não quis denunciar o Matheus, porque eu não tinha tanto
conhecimento para poder fazer isso e porque eu estava tão envergonhada por
ter sido feita de palhaça por ele, que eu não conseguia contar para ninguém,
nem para os meus pais. Mas, depois que o Matheus me ameaçou na balada,
eu decidi verificar todo o processo para denunciá-lo sobre essa filmagem
sexual que foi feita sem autorização. O meu advogado já estava tomando
todas as providências necessárias para abrir um processo contra ele e colocá-
lo atrás das grades, caso ele viesse atrás de mim novamente.
E, hoje, depois de ver aquele vídeo pela primeira vez, o ódio me
tomou por completo, fazendo-me quebrar o computador do Ander. Meu
corpo tremia em ver que realmente aquele vídeo era real. Aquele desgraçado
do Matheus ainda tinha essa filmagem, e o maldito do Kauan a tinha também.
As minhas lágrimas eram reais, mas não pelos motivos que o Kauan
deduziu. Eu estava realmente abalada por me ver naquela situação, então eu
aproveitei as minhas lágrimas para persuadi-lo.
Lembrei-me de que, quando o Kauan desconfiou de que eu e o
Anderson estávamos juntos, ele armou aquela cena com a própria Érika. Eu
não estava querendo ver a verdade, porque eu estava com medo de me
machucar de novo, mas agora eu tinha tirado a minha venda; eu tinha certeza
de que o Anderson não teria coragem de fazer isso comigo, e a culpa tomava
a minha mente pelo que eu fiz para ele. Só restava o Kauan como suspeito
principal dessa armação. Ele já fez isso uma vez, não seria diferente agora.
Bom… se o Kauan tem o meu vídeo em sua posse, provavelmente o
Ander devia estar tentando me ajudar e, agora, estava sendo chantageado por
ele, até porque ele havia me dito que estava drogado aquele dia e que não se
lembrava de nada. Como o Kauan tinha coragem de fazer uma coisa dessas?
Eu decidi aceitar o almoço com o Kauan na segunda-feira, porque,
dessa forma, eu conseguiria ter tempo de juntar as informações necessárias
para incriminá-lo por estar fazendo o compartilhamento desse tipo de vídeo.
Eu nunca desejei o mal do Kauan, mas ele estava sendo tão baixo usando
algo tão íntimo contra o próprio amigo, que despertou o meu pior lado. Ele
não iria crescer para cima da gente.
Ele decidiu jogar com a pessoa errada!
Saio do elevador e procuro pelo número do meu advogado, ligando
para ele logo em seguida. Conversamos por breves minutos apenas para que
eu pudesse saber onde ele estaria nesse horário; não queria falar sobre esse
assunto ao celular, então, assim que ele desligou, eu segui direto para o meu
carro.
— Senhor Diogo, posso utilizar mais um pouco do seu tempo? —
digo, assim que me sento.
— Com certeza, Hanna. Aonde vamos? — Ele liga o carro.

— Você sabe onde é o escritório do meu advogado, né?


— Sei sim. Vamos para lá? — Seus olhos se encontram com os meus
no retrovisor.
— Sim, por favor!
Não sei se o senhor Diogo pressentiu alguma coisa ou se o meu rosto
demonstrava algo, mas chegamos tão rápido, que eu jurei que ele estava no
emprego errado; deveria ser piloto de corrida. Despedi-me dele e entrei no
prédio, indo rapidamente para a sala do Paulo, que já estava me esperando.
— Hanna, está tudo bem? A sua ligação me deixou nervoso. — Ele
diz assim que fecha a porta e nós dois se sentamos.
— Não foi uma situação muito boa a que eu acabei de passar, mas
creio que veio bem a calhar nesse momento para nós.
— Do que está falando? — Paulo me encara, com dúvida.
— Do meu vídeo! — Seus olhos se semicerram, e eu consigo escutar
até um suspiro seu. — Eu descobri alguém que tem o vídeo. Eu vi
pessoalmente. Agora nós podemos incriminar o Matheus com essa prova. Era
a chave que faltava para iniciarmos o processo, né? Eu quero incriminar até
essa pessoa que me mostrou o vídeo.
— Creio que poderemos processar os dois, sim. Só temos um
problema: nós precisamos de uma cópia desse vídeo para a gente fazer um
mapeamento das informações dele. Toda foto ou vídeo tem a data, a hora e o
local da sua criação, até mesmo de que dispositivo foi filmado; isso pode nos
ser útil.
— Entendi! E com essa cópia daria certo para adquirir essas
informações? — falo, preocupada.
— Temos que tentar, né? Porque a filmagem original está
provavelmente com o Matheus e nunca conseguiríamos ter acesso a ela.
— Sim, verdade! — concordo.
— Você consegue pegar uma cópia com essa pessoa que você
mencionou? — O Kauan nunca me daria esse vídeo. Tenho certeza de que ele
inventaria milhares de desculpas.
— Eu vou tentar! Vou conseguir! — Segunda-feira eu pego esse
vídeo.
— Assim que você conseguir pegar, você me avisa, que eu inicio todo
o processo. Eu só preciso saber o nome da outra pessoa que você quer
denunciar.
— Kauan. Kauan Rodrigues! — Seus olhos se arregalaram quando eu
revelei o nome daquele traste.
— O seu fornecedor de alumínio da Aluxmil?
— Ele mesmo. Nem me pergunte como tudo isso aconteceu, que eu
estou com a cabeça girando até agora.
— Meu Deus, Hanna! Isso pode acabar com o contrato entre as
empresas. Tudo bem para você?
Droga! Eu não havia pensado nisso!
— Sim!

Não posso deixar aquele ser humano desprezível acabar com o meu
relacionamento por meio de tantas mentiras.
— Ok! — Eu consigo notar as engrenagens da cabeça do meu
advogado trabalhando para entender tudo. — Consiga esse vídeo, e vamos
colocar esses dois atrás das grades.
— Pode deixar comigo!
Um MÊS!
Um mês inteiro sem notícias dela!
Sem vê-la, sem tocá-la, sem beijá-la.
Exatos 31 dias sentindo uma angústia torturante por ter me afastado.
Essa semana foi realmente uma das piores da minha vida toda,
porque, no começo, quando tudo aconteceu, eu estava muito focado em
conseguir todas as provas, então os dias passavam mais rápido, mas, agora
que a minha busca tinha estagnado, eu só conseguia me frustrar ainda mais
por não ter a minha pequena comigo.
Eu sentia a cada segundo que eu estava fazendo a maior loucura da
minha vida por ela, mas eu precisava limpar o meu nome antes de contar tudo
para a Hanna. E o meu pai me ajudou com toda a questão da empresa e dos
advogados. Conseguimos as provas necessárias das fraudes de Kauan sobre
cada boleto e e-mails falsificados, além, é claro, da falsificação de identidade
para obter a vantagem em abrir uma conta no banco em meu nome.
Então, na última semana, mantive-me em Brasília acertando tudo que
fosse necessário para desvincular o seu nome da empresa, buscando por
provas, que consegui com muito esforço. Ainda faltava uma última coisa a
ser feita: eu teria que ir até a única pessoa que poderia me salvar de todas as
provas criadas pelas fotos do Kauan.

Érika.
Eu poderia jurar que denunciar o Kauan por tudo que ele fez estava
sendo mais fácil do que criar coragem para enfrentar aquela mulher louca e
descontrolada, mas eu precisava fazer isso pelo meu relacionamento. Agora
mesmo eu estava em frente ao restaurante, com receio de entrar, mas também
com medo de que ela não estivesse trabalhando hoje.

O ambiente estava calmo, porque ainda eram 10:00h; mesmo assim,


fui até o rapaz do caixa e perguntei sobre a Érika. Ele saiu para verificar se
ela estava no trabalho e voltou minutos depois pedindo que eu fosse até a sala
dos funcionários.
Esperei alguns minutos lá, até que ela apareceu, com a mesma roupa
de garçonete de sempre, insinuando-se para mim antes mesmo de abrir a
boca.
— Meu Deus! Que honra a minha saber que o meu gatinho veio até
aqui me procurar. — Ela se aproximou de mim e segurou o colarinho da
minha camisa, puxando-me em direção aos seus seios.
— Sai, Érika! — falo, ríspido, tirando as suas mãos de mim.

— Céus! Você ainda tem o mesmo temperamento. — Ela cruza os


braços, nervosa.
— Piorou depois da sua grande armação com o Kauan. — Seus olhos
se arregalaram.
— E-eu, eu… — Ela se afastou, e seu corpo se encostou em um dos
armários, assustando-a.
— Acho que chegou a hora de você me falar o que aconteceu naquela
noite, né? — Bato a minha mão em um dos armários, encurralando-a em um
canto.
Eu não estava com um humor muito bom, então não iria aturar as suas
brincadeiras. Eu só iria sair dali com a sua confissão.

A primeira vez que eu vi o Anderson, ele estava com as suas roupas


sujas de pó pela mudança que estava fazendo para o seu escritório. Mesmo
assim, ele estava lindo com os cabelos grudados na testa pelo suor, os braços
com as veias saltadas e a sua camiseta grudada em seu corpo malhado.
O restaurante onde eu trabalho é no térreo de um prédio comercial,
então eu tinha a visão perfeita dele indo e vindo o tempo todo.
Meus olhos não o perderam de vista até que fosse embora.
Acompanhei cada ida dele até o elevador e, depois, até o caminhão de
mudança. Dava para ver que ele não precisava estar ajudando com esse
serviço pesado, mas ele queria ajudar, e eu agradeci aos céus pela bela visão
que estavam me proporcionando deixando um homem gostoso bem na minha
frente.

Foi somente uma semana depois que eu pude vê-lo novamente,


quando ele veio almoçar no restaurante pela primeira vez. Levei um susto e
tanto vendo que as suas roupas sociais lhe caíam ainda melhor do que as
roupas suadas e manchadas de sujeira daquele dia. Se eu pudesse me exibir
ainda mais em meu uniforme, assim eu faria para chamar a sua atenção. Não
demorou muito para que os seus olhos não desgrudassem da minha bunda ou
dos meus seios, que eu deixava quase à mostra quando passava perto dele.
Ele me queria, e era evidente que eu o queria também. Foram vários e
vários dias assim, apenas flertando com os olhos, até que, então, um dia, ele
me chamou até a sua mesa e pediu o meu número. No mesmo instante, eu
anotei em um guardanapo para ele, e, algumas horas depois, a sua mensagem
já estava em meu celular.

Ander me levou para um barzinho e depois fomos para um motel.


Quase toda sexta-feira ou sábado era a mesma rotina: saíamos para beber ou
comer algo e depois íamos transar. Ele sabia tratar bem uma mulher, e cada
palavra dele demonstrava o seu interesse por mim, mas, quando os meus
sentimentos ficaram maiores que os dele, ele parou de me mandar mensagens
e se afastou. Eu nem cheguei a falar nada para ele, mas ele deduziu que eu
estava me apegando e sumiu. Começou a me tratar friamente e a me procurar
menos.
Confesso que cheguei a contar nos dedos as quantidades de vezes que
transamos. Eu nunca havia me deitado com alguém tão bom de cama quanto
ele e, quando eu senti o seu afastamento, eu fiquei triste e furiosa ao mesmo
tempo. Comecei a buscar informações de todas as formas possíveis sobre a
sua rotina, quando chegava ao escritório, quando saía, com quem saía, para
que eu pudesse saber se ele estava com outra pessoa; perguntava até para a
sua secretária, a Meg, de quem eu me tornei amiga bem rapidamente.
Eu não queria ser a mulher que ele iria usar e jogar fora a hora que
bem entendesse. Eu queria que ele criasse sentimentos por mim, eu o amava
tanto, que era impossível na minha cabeça ele ficar com outra mulher que não
fosse eu, mas essa hipótese caiu por terra na última vez que transamos,
quando ele deixou bem claro que só queria sexo. Doeu escutar aquelas coisas,
mas eu não desisti. Ligava e mandava mensagens sempre que eu percebia
qualquer movimento dele que sinalizasse uma possível volta de nós dois. Foi
então que eu descobri sobre o seu namoro por meio do Kauan, o amigo dele.
Ele já havia dado em cima de mim algumas vezes, mas eu o recusei.
Depois, fui descobrir que o Kauan não era o garoto chato que eu imaginava.
Ele estava tentando me ajudar com o Ander, até me mandou mensagem
avisando um dia antes do aniversário dele, para que eu pudesse fazer uma
surpresa. Não deu tão certo quanto eu imaginei. Mesmo assim, não me abalei.
Eu sabia que o destino iria juntar a gente.
O Kauan também me contou quando o Anderson começou a namorar
e me confessou que, na verdade, ele estava gostando tanto de mim, que
estava namorando alguém para poder me esquecer. No mesmo dia, eu liguei
para ele querendo lhe dizer que não precisa fazer esse sacrifício tão grande.
Eu queria o namorar também. No fim, foi uma das piores conversas que tive.
Não sei ao certo até hoje o que aconteceu para eu ser tratada daquela maneira,
mas, depois das coisas que tive que escutar dele, eu me afastei por estar
arrasada. Nunca ninguém havia feito isso comigo, foi tão humilhante, que só
de lembrar eu tenho vontade de chorar mais ainda.
Foi quando o Kauan apareceu no restaurante depois do meu horário
de serviço mais ou menos um mês atrás, perguntando como eu estava e me
questionando se eu ainda gostava do Anderson.
No momento que ele falou isso, eu fiquei em choque com a sua
sinceridade. Eu não respondi. Foi então que ele me disse que estava querendo
acabar com o namoro do Ander, e eu senti aquela gigantesca vontade de
ferrar com ele também. Ele me humilhou naquela ligação, nada mais justo do
que acabar com o relacionamento dele.
Se o Kauan conseguisse fazer isso, talvez ele voltasse correndo para
mim; então, eu aceitei participar do seu plano maluco. Foi vergonhoso ter que
fazer fotos nua para mandar para o Kauan, mas, quando eu vi o resultado,
notei o quanto tinham ficado lindas. Aguardei ansiosa para que ele viesse até
mim arrependido, mas não imaginava que estaria furioso.
— Acho que chegou a hora de você me falar o que aconteceu naquela
noite, né? — Anderson bateu uma de suas mãos nos armários dos
funcionários e me encurralou em um canto.
— Do que você está falando, gatinho? — Sorrio para ele, que parece
até mais nervoso depois de me escutar.
— Estou falando do fato de vocês dois terem se juntado para me
drogar e fazer a porra de um compilado de fotos sensuais sem a minha
autorização. — Ele explode, quase gritando comigo. Se não fossem as
paredes finas da sala dos funcionários, eu tenho certeza de que ele já estaria
gritando.
— Espera, Ander, eu não sabia que você estava drogado. — O Kauan
me disse que ele tinha tomado um remédio para dormir.
— Pois é, você estava tirando fotos com uma pessoa sem consciência
e que estava dopado de alguma droga que o Kauan colocou na minha água. E
agora eu estou sendo chantageado por ele. VOCÊ TEM NOÇÃO DO QUE
FEZ, ÉRIKA? VOCÊ TEM NOÇÃO DO CRIME QUE COMETEU?
Ele grita, fazendo-me tremer, enquanto se aproxima ainda mais de
mim, batendo a mão no metal novamente, assustando-me ainda mais. Eu me
encolhia no canto, piscando várias e várias vezes, pensando em como eu ia
sair dali. Isso é muito sério, merda! No que eu me meti?
— Gatinho…

— Para de me chamar assim, caralho! — Ele respira fundo e se afasta.


— Ander, o que você quer que eu faça? Já rolou, já passou essa merda
toda. — Aproveito a brecha que ele me deu e saio do encurralamento em que
eu estava.
— Eu preciso que você diga para a minha namorada que foi o Kauan
que te obrigou a fazer aquilo tudo, que eu não tenho nada a ver com essa
armação de vocês dois.
Ele só pode estar louco. Ele ainda está namorando? Mesmo depois de
tudo a que eu me submeti? As minhas fotos não serviram de nada? Merda, eu
não podia deixar isso acabar tão fácil assim, sendo que talvez eu nunca mais
o teria e, ainda por cima, eu estaria me humilhando para a namorada idiota
dele.

— Transe comigo uma última vez, então! — Viro-me para ele. —


Vamos fazer uma última vez, e eu farei isso que está me pedindo.
Eu até chego a dar risada da sua proposta indecente. Se bem que eu
não imaginaria nada diferente dessa cena, já que estamos falando da Érika.
Porra, que mulher maluca! Eu fui a vítima nisso tudo, e ela ainda quer se
aproveitar de mim depois de tudo isso.
— Você sabe que, se eu for até a polícia com as fotos alegando que eu
não autorizei essa merda toda, você estará ferrada, né? — Encaro o seu rosto,
que está pálido.
— Você não faria isso comigo. Qual é, Anderson? Eu sou uma
garçonete, você realmente quer tanto assim ferrar com a minha vida? — Ela
permanece séria.
— Você pensou quando decidiu ferrar com a minha vida? — Encaro-
a com mais raiva. Seus olhos estavam medrosos, e o silêncio se instalava
entre nós por alguns segundos.
— Anderson, você sabe que eu gosto de você, gosto muito mesmo,
por isso eu fiz o que fiz. Então, eu te peço, por favor, aceite dormir comigo
uma última vez antes de tudo isso acabar. Eu juro que nunca mais vou
aparecer na sua frente. — Seu desespero é evidente em sua voz.
— Érika, mesmo se você estivesse colocando uma faca na minha
garganta para que eu fizesse isso, eu não faria! Eu amo a Hanna, eu nunca
faria algo que deixasse a minha consciência pesada em relação a ela. — Vou
em direção à saída.
— Espere! — Ela segura o meu braço. — Um beijo, então? Nosso
último beijo.
— Pare de fazer isso! Você está ridícula se submetendo a falar essas
coisas para mim. — Puxo o meu braço. — E eu não preciso mais de você. A
gravação dessa nossa conversa será de grande ajuda.
Pego o meu celular no bolso, mostrando a tela, que sinaliza a linha
vermelha do áudio que subia e descia de acordo com as nossas vozes que
estavam sendo gravadas. Seus olhos se arregalaram, e ela ficou estagnada no
local, enquanto eu me retirava de lá.
Agora só resta desmascarar o Kauan e ir atrás da minha mulher.
Chego à casa dos meus pais sentindo o medo de ter que explicar tudo
o que tem acontecido nos últimos dias enquanto eu metia a minha cara no
serviço e não lhes dava a atenção que geralmente eu dou, só para não ter que
responder qualquer pergunta que pudesse ser relacionada ao Ander.
Aproximei-me da entrada principal e os observei no jardim. Eles
estavam sentados em cima de uma toalha de piquenique enquanto
aproveitavam o sol do final da tarde. Saí do meu carro em passos lentos e fui
até eles, que conversavam animadamente sobre algum assunto, até os olhos
do meu pai me enxergarem e ele fechar a cara, como se entendesse que eu
não estava bem com apenas um olhar.
— Oi, pai! — falo, e ele se levanta, assustando a minha mãe, que faz
o mesmo. — Oi pra você também, dona Eliza. — brinco, e ela junta as
sobrancelhas, vindo até mim.
— Oi, filha. Como você está? — Suas mãos buscam as minhas, e ela
me puxa para perto do meu pai.
— Passei a semana preocupada com você. Não respondeu a nenhuma
das minhas mensagens dos últimos dias e nem apareceu na minha sala lá na
empresa.
— Foi um mês bem conturbado, na verdade — confesso.
— O Anderson esteve no Rio Grande do Sul esta semana, né? Foi isso
que te abalou? — Minha mãe perguntou, e o meu pai permaneceu com os
seus olhos sérios, avaliando-me.
— Sim e não — comento, desanimada, tentando organizar na minha
mente como eu deveria falar que eu estava entrando com um processo em
cima do sócio do Ander por causa de um vídeo de sexo meu que eles nem
imaginavam que existia.

— O que aquele idiota fez? Eu falei para ele não magoar você. EU
VOU ACABAR COM A VIDA DAQUELE MOLEQUE. — Meu pai fala,
chamando a nossa atenção por sair do jardim no mesmo instante, indo em
direção à garagem da mansão.
— Meu Deus, pai! — falo, assustando-me com a sua reação. — ELE
NÃO FEZ NADA! — tento chamar a sua atenção, mas ele já estava longe em
seus passos largos.
— Richard, escute a Hanna primeiro. — Minha mãe e eu começamos
a ir atrás dele e o alcançamos somente porque ele parou ao lado do seu carro.
— Eu conheço esse seu olhar, filha. É o mesmo olhar de quando o
Matheus te enganou. — Meu pai pega a chave da sua SW4 em cima da
bancada. — Eu não quero nunca mais ver você assim, Hanna, e eu tinha
falado isso para ele. Então, é claro que eu vou atrás daquele…

— O Ander não fez nada, foi o Matheus. — Minhas palavras o


fizeram parar, e seus olhos se arregalaram na mesma hora junto com os da
minha mãe.
Os dois pareciam ter ficado sem chão com a minha revelação, porque
realmente ninguém fica feliz quando o passado retorna para bater na porta.
Respiro fundo, acalmando o meu corpo do susto que o meu pai tinha acabado
de me dar com a explosão da sua raiva, e limpo os meus olhos antes mesmo
de que qualquer evidência de lágrima deseje cair.
Neste um mês longe do Ander, eu acabei ficando muito chorona;
mesmo assim, eu não deixava ninguém me ver nesse estado, não gostava de
mostrar esse meu lado vulnerável, e só deixei o Kauan entrar nessa minha
bolha porque eu sabia que era o que ele queria ver para baixar a guarda.
— O Matheus, bonequinha? Como assim? — Minha mãe se põe na
minha frente, e o meu pai sai de perto do carro, vindo até mim.
— Tem uma coisa que aconteceu naquela época que eu nunca contei
para vocês. Eu não queria decepcionar vocês, ainda mais depois da pior
escolha da minha vida! — digo, praticamente sem encará-los.
— Filha! — Minha mãe me repreende por eu falar dessa maneira. —
Você é o nosso maior orgulho, não tem nada que você possa fazer que deixe
a mim e a seu pai decepcionados. — Ela me abraça, e eu desisto por um
momento de tentar segurar as lágrimas.
— Meu Deus, princesa. Pelo que você passou nesses últimos anos
totalmente sozinha? — Meu pai fala, assim que abraça nós duas juntas.
— É realmente humilhante para mim ter que falar isso em voz alta,
ainda mais para vocês! — digo, sorrindo, apenas para não chorar ainda mais,
e os dois se afastam para me ouvir. — O Matheus fez um vídeo de sexo…
meu, de nós dois, da minha primeira vez, para ter uma prova daquela aposta
do pessoal da faculdade. — Meu rosto queima, sentindo o olhar dos dois em
mim.
— FILHO DA PUTA! — Meu pai bate no próprio carro com raiva e
começa a andar de um lado para o outro na garagem.

— Por que você não contou antes, Hanna? Esse garoto era para estar
atrás das grades por isso. — Vejo a lágrima descer pelo rosto da minha mãe
enquanto ela fala. — Me desculpa, filha, eu não sabia disso, eu deveria ter
notado…
— A culpa não é de vocês. Eu me coloquei nessa situação. Não se
sintam culpados, eu já estou resolvendo isso tudo.
— Como? — Meu pai volta para a nossa direção.
— O Paulo está neste exato momento tentando juntar provas
suficientes para abrir um processo contra ele, e… também contra o Kauan.
— Por que o Kauan, filha? — Minha mãe levanta os olhos, que já
estão mais secos.

— Porque ele está chantageando o Ander com esse vídeo. Pelo menos
eu acho que está. Toda a situação está bem confusa no momento para mim,
então eu também estou sem muitas respostas; enfim, a história é realmente
bem complicada. Eu só queria vir aqui desabafar com vocês sobre isso,
porque o processo será longo a partir de agora e estará envolvendo a nossa
empresa com a Aluxmil.
Meus pais voltam para perto de mim, abraçando-me novamente.

— Princesa, eu queria tanto tirar todo esse fardo de cima de você. —


Meu pai passa as suas mãos em meus cabelos. — Você não merecia estar
passando por tudo isso.
— Vocês criaram uma mulher que sabe se defender — brinco,
conseguindo tirar alguns sorrisos dos dois.
— Criamos mesmo, mas você tem pais que te amam, Hanna. Não
esconda mais nada da gente. A gente daria tudo o que temos só para te
proteger. — Minha mãe beija a minha testa.
— Eu sei, eu amo muito vocês. — Abraço-os com mais força. —
Vamos entrar? Eu quero contar como tudo aconteceu.

Giro o bracelete no meu braço como se estivesse em um ciclo sem fim


de desespero e ansiedade, e eu realmente estava; já a minha aliança eu tinha
parado de usar logo depois da nossa briga, e eu sentia uma falta gigantesca
dela, mesmo sabendo que não era bem dela que eu estava sentindo saudade.
Minha ansiedade se dava pelo que eu iria fazer agora, pois poderia ser
considerado um roubo, e eu estava desesperada para desenrolar toda essa
história logo.

Faltavam apenas alguns minutos para que eu chegasse até a empresa


do Ander para "almoçar" com o Kauan. Eu precisava conseguir o vídeo como
prova para o processo que eu estava ansiosa para iniciar contra ele e, em
minha mente, eu já tinha tudo planejado de como faria isso. Era só eu dar um
jeito de tirar o Kauan de perto de mim por alguns minutos para que eu
encontrasse o vídeo, ou na sala dele, ou na sala do Anderson, mas eu tinha
uma leve impressão de que o vídeo talvez não estivesse mais lá.
— Chegamos, senhorita Hanna. — O senhor Diogo chama a minha
atenção, e eu encaro a rua.
Suspiro uma última vez, criando coragem para sair do carro e ir até
aquele andar, que, para mim, estava sombrio sem o meu Ander. Eu só iria
embora de lá com o vídeo em minha posse.
— Obrigada por me trazer no seu horário de almoço, seu Diogo. Pode
almoçar ali dentro do prédio, tem um restaurante bem bom. — Pelo menos eu
acho que é bom, né? O Kauan quer almoçar ali comigo.
— Pode ficar tranquila, senhorita. Eu geralmente almoço mais tarde.
— Ele me encara pelo retrovisor.
— Imagina, seu Diogo. Pode pegar o meu cartão aqui e vá almoçar.
Eu acho que vou demorar e não sei que hora vamos sair daqui, então almoce,
tá bom? Senão eu vou ficar preocupada. — Entrego-lhe o meu cartão, e ele
pega, totalmente contrariado.
— Muito obrigado, senhorita. — Ele segura as minhas mãos por mais
tempo que o normal, então decido pedir um favor para ele.
— Seu Diogo… se eu demorar mais de uma hora lá dentro, o senhor
pode subir? — Seus olhos se preocupam no instante em que eu falo isso.
— Claro, minha querida. Está tudo bem?
— Sim, está sim, estarei no andar da Aluxmil. — Não prolongo a
conversa.
— E eu estarei de olho no relógio. — Ele aperta as minhas mãos com
carinho, e eu me despeço dele, saindo do carro logo em seguida.
Caminho até o outro lado da rua e me encontro com a Meg saindo do
elevador assim que eu entro no prédio. Cumprimento-a rapidamente enquanto
passo por ela. Merda! Espero mesmo que tenha outras pessoas lá, ou talvez
seja melhor que não tenha ninguém, assim será mais fácil de procurar. Não
tive muito tempo para pensar sobre como eu tiraria o Kauan do meu caminho,
porque, assim que cheguei ao andar da Aluxmil, ele já estava encostado na
mesa da recepção esperando.
— Hanna! — Ele vem até mim sorrindo, quase me tirando de dentro
do elevador. — Que bom que veio, estava com medo de que não aparecesse.
— Eu nunca te deixei esperando, né? — Sorrio para ele, totalmente
nervosa por saber de tudo e ter que fingir. Em seguida, sou surpreendida por
um abraço.
— Não mesmo, mas por que não me avisou que estava vindo? Eu
poderia ter descido lá. — Afasto-me dele assim que consigo.
— O que acha de a gente comer aqui em cima? Na sua sala? É mais
privado, né? — Sugiro, e eu tenho certeza de que ele interpretou exatamente
da maneira que eu queria, pois o seu rosto animado o denunciou. Enganá-lo
dessa maneira é a melhor saída nessa situação. Eu preciso do maior tempo
possível naquela sala.
— Você não liga de comermos aqui?
— Claro que não, eu até prefiro. Você pode descer lá, pedir a comida
para viagem e trazer aqui para a gente, o que acha?
— Ótima ideia. Então, espera ali na minha sala, que eu já volto. — Eu
seguro o elevador para ele entrar.
— Pode deixar, eu sei o caminho, estarei lá. — Sorrio e solto a porta
para que ela se feche.
Minha ansiedade dispara quando, enfim, eu vejo os seus olhos
sumirem naquela parede de metal, e eu volto a sentir as minhas mãos suadas.
Vou para a sua sala, encarando todos os cantos do andar para verificar que
não há mais ninguém aqui, e concluo que realmente estou sozinha. Que Deus
me ajude a conseguir essa filmagem!
Entro em sua sala perfeitamente organizada e caminho direto para a
sua mesa. Eu literalmente estava correndo contra o tempo. O computador
estava com a tela apagada e, assim que eu apertei uma das teclas do teclado,
ele se acendeu, pedindo uma senha.
Merda! É claro que teria uma senha.
Tento algumas palavras e números aleatórias que qualquer pessoa
tentaria, mas é claro que não deram certo; então, começo a procurar nas
gavetas por algum papel que pudesse ter a senha, mas não encontro nada. Por
fim, decido colocar algumas sugestões que fossem relacionadas à minha
pessoa. Meu nome, meu aniversário, o almoço que tivemos juntos com os
Magalhães e, quando eu estava quase desistindo, a tela se abriu após eu
digitar a primeira vez que jantamos juntos.
Isso é realmente loucura. Por que ele é tão obcecado assim? Eu nunca
lhe dei motivos para se apegar. Meu Deus!
Começo a procurar pelo vídeo em cada pasta do seu computador,
enquanto o meu coração dispara por qualquer som que pudesse ser ele
entrando. Os meus dedos clicam sem parar em tudo que encontro relacionado
a vídeos e, então, eu me frustro, porque sabia que isso iria demorar muito.
Faço uma busca rápida para que o computador me entregue todos os
vídeos adicionados recentemente e, quando encontro o que eu estava
procurando, sinto uma mistura de alegria por ter encontrado e de enjoo. O
meu estômago se torce querendo jogar para fora tudo o que eu comi no meu
café da manhã. Respiro fundo, ignorando a minha ânsia e todos os meus
questionamentos de como esse idiota conseguiu esse vídeo e por que o
mantinha em um computador da empresa.
Busco na minha bolsa um pen-drive para poder passar o arquivo para
a minha posse e copio rapidamente a filmagem para o dispositivo, retirando-o
do computador em seguida. O alívio me toma por ter conseguido fazer isso, e
o meu coração volta a ter um batimento um pouco mais calmo, só que por
pouco tempo.
Assusto-me quando a porta se abre de repente, com o Kauan entrando
na sala e perdendo o sorriso do seu rosto assim que me vê atrás da sua mesa.
— O que está fazendo aí, Hanna? — Ele fecha a porta, e
imediatamente os seus olhos encaram a tela do seu monitor.
— Kauan… eu só precisava ver o meu vídeo de novo — tento me
justificar e escondo o pen-drive no bolso da minha saia.
— E por que não me pediu para te mostrar? — Seu rosto muda
rapidamente, como se tentasse manter a calma, mas estivesse prestes a
explodir.
— Você não estava aqui… — Dou de ombros.
— E por que estava fazendo isso escondido? — Ele força o maxilar.
— Não estava fazendo escondido, Kauan. Nós somos amigos, não
somos? Só estava procurando. — Ele coloca a comida em cima da sua mesa
de centro e se aproxima da mesa.
— Como você acessou o computador? — Seus olhos seguem cada
movimento meu, e eu fico ainda mais desconfortável.

— Já estava aberto quando eu entrei. — Pego a minha bolsa.


— Não estava, não. Eu fechei antes de sair.
— Acho que é melhor eu ir embora, Kauan. Me desculpe por ter
mexido sem a sua autorização.
— VOCÊ NÃO VAI! — Ele bate a mão na mesa, e eu me assusto
com o seu grito.
Era essa situação que eu não queria imaginar quando decidi fazer essa
loucura. Eu sabia que tudo poderia dar errado, mas eu ignorei essa opção
completamente porque essa era uma prova essencial para que a minha
denúncia fosse válida.
— Eu preciso ir! — falo, desesperada, enquanto desvio os meus olhos
dos dele, porque ele está realmente assustador.
— VOCÊ NÃO QUER VER A PORRA DO VIDEO DE NOVO,
HANNA? — A minha pressão sanguínea acelera, deixando todo o meu corpo
em estado de alerta.
Com certeza, se houvesse alguém aqui nesse andar, a pessoa iria
entrar nesta sala com esses gritos raivosos que estavam tornando aquele
menino de vinte e poucos anos em um verdadeiro monstro.
— Kauan, você está me assustando! — Uma das minhas mãos fica na
minha frente para mantê-lo longe, enquanto ele me ignora e simplesmente
avança sobre a mesa, apertando o botão para que o vídeo comece a rodar.
Eu estou presa entre a sua mesa e a parede, acuada e apavorada,
buscando ficar o mais longe possível dele, enquanto os sons do vídeo ecoam
no ambiente e eu fico extremamente envergonhada e irritada por ele estar
tentando me forçar a ver essa nojeira de novo.
— Você não terminou de ver o vídeo aquele dia, né? Quer ver o final?
É um verdadeiro espetáculo! — Ele fala, irônico e com a voz um pouco mais
baixa, mas eu vejo que ele não está nem um pouco em seu raciocínio normal.
Com alguns cliques, ele puxou a filmagem para frente e, de repente,
as cenas mostravam o meu corpo nu na tela do seu computador, humilhando-
me ainda mais por ter que ver o maldito do Matheus entrando em mim como
um animal que só estava fazendo aquilo por dinheiro. Ter que relembrar
aquele momento e escutar aqueles gemidos era de fazer qualquer um vomitar.
Meus gemidos de dor.
A situação estava realmente tensa, e o ar me sufocava. Eu estava
assustada, mas a cópia do vídeo já estava comigo, eu só precisava sair daqui
agora.
— Para com isso! — digo, com a voz tremida.
— Ou o quê? — Ele me provoca, e os sons daquele computador
continuam.
— Kauan, isto está sendo ridículo. Me deixa ir embora!
— Você queria ver o vídeo; então, termine de ver.
— Você é um otário nojento — falo baixo, segurando-me para voar
contra o seu pescoço para esganá-lo.
Meus passos são rápidos, e eu tento sair do seu alcance para ir em
direção à porta, mas uma dor lancinante percorre o meu couro cabeludo em
questão de segundos quando sinto o meu cabelo sendo puxado com toda a
força para, em seguida, o meu rosto bater com tudo contra a madeira da sua
mesa.
A minha visão girava todo o ambiente como uma imagem borrada
sem definição, e os segundos da confusão criada pela minha mente foram o
suficiente para que ele conseguisse me deixar na posição que me impedisse
de fugir. Com a metade de cima do meu corpo preso sobre a sua mesa pelos
seus braços, fico com o resto do corpo preso entre as suas pernas.
— O QUE VOCÊ ESTAVA PENSANDO EM FAZER COM ESSE
VÍDEO, HANNA? — O Kauan grita contra o meu ouvido, enquanto puxa os
meus braços para trás me machucando. Meu corpo tremia, aterrorizado,
sentindo muita dor, e ele me segurava para tirar o pen-drive do meu bolso
com brutalidade, atirando-o do outro lado da sala. — PORRA, VOCÊS DOIS
NEM TERMINARAM, NÉ? SÓ FICARAM FINGINDO PARA MIM!
ACHA QUE SOU BURRO MESMO? QUE EU NÃO SEI O QUE VOCÊ
PODE FAZER COM ESSA PROVA?
As palavras altas me assombravam e também me deixavam confusa.
Era impossível que eu me livrasse daquela situação. O Kauan já havia
entendido a minha intenção; mesmo assim, eu precisava tentar persuadi-lo.
— Nada! Nada, Kauan! Eu não ia fazer nada com o vídeo… Kauan,
você não é assim! Me solte, por favor, está me machucando! — suplico, com
muito medo do que eu sinto que vai acontecer.
— EU SEMPRE FUI ASSIM! VOCÊ SÓ NÃO QUIS VER! — Ele
respira como um búfalo em meu pescoço e fala mais baixo. — Eu só tentei
ter respeito por você, Hanna, mas você gosta de ser tratada assim, né? —
Sinto o seu membro rígido atrás de mim, e meu corpo começa a suar em
desespero. — Eu fiz de tudo para que olhasse para mim. Foram vários
jantares, cafés e flores, mas você só estava querendo aquele filho da puta do
Ander, né? Em todos os momentos, os seus olhos estavam nele, e não em
mim. Foda-se isso tudo também!
— KAUAN! — grito, e tudo lateja. Sinto as minhas bochechas
molhadas pelas minhas lágrimas, que eu não sei exatamente quando
começaram. Soluços escapavam da minha garganta devido à agonia que eu
estava sentindo, — Por que você está fazendo isso? — Minha voz sai baixa,
sussurrada entre o meu choro esganado.
Tanto na minha cabeça quanto nos meus ombros, eu sentia a aflição,
porque os meus braços estavam presos na minha costas, e a minha mente
alertava todo o meu corpo.
— PORQUE VOCÊS DOIS ESTÃO TENTANDO ME FODER! —
Sinto a sua outra mão, que não estava me segurando, descer pelas minhas
pernas, levantando a minha saia em cima da minha costas. O desespero grita
em minha cabeça.
— Não! — Eu tento. — Não! — Eu luto. — NÃO! — Eu me
despedaçava. — KAUAN, PARE! POR FAVOR! — grito com toda a minha
força, ignorando a minha dor de cabeça, enquanto me debato debaixo dele, e
ele praticamente torce os meus braços de uma maneira que rasga os músculos
das minha costas. Minha garganta dói pela mistura do choro e da cortante
altura dos meus gritos. — NÃO FAZ ISSO COMIGO!
— Não adianta gritar! Não tem ninguém aqui, e aquela porta abafa
qualquer som. — Ele sussurra perto dos meus cabelos, enquanto encosta na
minha intimidade com a mão e abaixa a minha calcinha com brutalidade,
raspando-a com força na minha pele. Sinto a ardência do tecido percorrer a
minha coxa por eu fazer de tudo para que ele não a tire, mas tudo é em vão.
— Acho melhor você assistir ao seu pornozinho para se excitar. Não gosto de
entrar no seco. — Ele puxa a tela bem na minha frente, e eu fecho os meus
olhos, desejando morrer para acabar logo com aquele pesadelo.
Nunca na minha vida eu imaginei que ele fosse fazer isso; nunca
achei que fosse um animal desalmado; nunca passou pela minha cabeça que
ele fosse um monstro, mas todos dizem que sempre vem de quem você
menos espera!

— Seu merda!! Eu te odeio, Kauan!! Eu vou te matar! Eu vou te


colocar na cadeia! — grito, sem saber de onde sai minha força, enquanto me
debato sem parar e sinto a canseira me dominar.
— Vai fazer isso antes ou depois que eu liberar esse vídeo na
internet? — Novamente a sua mão agarra os meus cabelos, puxando-me para
trás apenas para me acertar de novo contra a mesa, enquanto ele forçava o seu
pau na minha bunda nua, somente para que eu o sentisse! — Tenta algo
contra mim para ver se eu não acabo com você.
Minhas pernas tremeram sem parar na mesma frequência que o meu
peito descia e subia, como se eu não conseguisse puxar mais o ar para dentro
de mim, aumentando a minha dor pela sensação de que eu estava sendo
rasgada. Isso não pode estar realmente acontecendo. Burra! Hanna, sua
burra!
Perguntas vêm e vão na minha mente enquanto o escuto se
desvencilhar do seu cinto, causando-me ainda mais medo. Eu tento me
debater mais algumas vezes para me soltar dele, querendo ao máximo sair da
prisão dos seus braços, não acreditando no que estava realmente se
concretizando comigo.
Por que eu decidi fazer isso? Por que eu decidi incriminá-lo? Se eu
não tentasse pegar esse maldito vídeo, eu não estaria nesta situação.
Por favor, qualquer pessoa…
Por favor… Meg… Senhor Diogo… Ander…
— Acho que chegou a minha vez de foder com a sua vida, Hanna
Menezes. — Ele sussurra em meu ouvido antes de bater a minha cabeça
novamente contra a mesa, fazendo com que o meu ouvido zumbisse pelo
impacto, deixando-me tonta e com o gosto metálico do sangue na boca, ao
tempo que o som sumia totalmente da minha percepção.
Meu choro já estava molhando toda a minha bochecha e o meu
cabelo. No meu tormento assustador, a voz não saía mais, e eu nem sabia se
era por causa dos golpes, da minha descrença, da desistência ou se era algo
mais grave. Eu não queria aceitar. Talvez, se eu entendesse que ninguém iria
me ajudar naquele momento, toda aquela situação seria mais suportável, mas
não estava sendo. Eu chorava por medo, por dor e por sentir que, debaixo
daquele homem, eu não era nada além de um corpo. Nada.
Nada!
Sua mão voltou ao meio das minhas pernas depois de ele ter batido a
minha cabeça com muita força, e eu senti como se ele tivesse deslocado o
meu ombro pelo puxão dos meus braços na minha costas. Não tinha como
descrever o raio da dor que corria pelo meu corpo, deixando-me exausta. Foi
então que ele passou aquela coisa nojenta em mim, esfregando-se na minha
entrada, que eu trancava com as minhas pernas utilizando o restante de
energia que eu ainda tinha para que ele não conseguisse seguir em frente,
mesmo ele insistindo no meu afastamento com o seu joelho.
— Porra, será que você é apertada por dentro assim como se esforça
para ser aqui fora? — A voz dele estava abafada. Eu não conseguia ouvir
claramente pelo zumbido sem fim, mas eu sentia a sua risada assustadora. —
Não me negue com tanta força, senão eu terei que deixar você inconsciente, e
eu não quero isso!
Eu não sabia rezar, nunca fui muito religiosa, mas eu pedi pela
primeira vez com a minha última força de voz, no máximo do meu medo, em
um sussurro molhado:
— Deus… por favor, me ajuda!
Confiro novamente todo o material que eu consegui juntar contra o
Kauan assim que eu estacionei o meu carro dentro da garagem da nossa
empresa. Estava tudo ali, não tinha mais como ele me chantagear. Fecho as
minhas pastas e vou em direção ao elevador. Eu quero jogar tudo que eu
descobri na cara dele e tirar todo o poder que ele achava que tinha sobre mim.
Um moleque sempre será um moleque, independentemente da idade.
Ele sempre almoçava no escritório, então é claro que ele estava em
sua sala agora, e, mesmo se não estivesse, eu poderia esperar. Já esperei
praticamente 30 dias para ter essa conversa com ele; desta vez, eu estava
equipado com todas as provas contra ele e com o meu celular pronto para
gravar a nossa conversa.
Quando as portas do elevador abriram, os meus olhos estranharam a
ausência da Meg à sua mesa. Ela ainda não voltou do seu horário de
almoço? Geralmente ela almoça mais cedo. O ambiente também estava bem
quieto. Não tinha ninguém trabalhando hoje, não? Caminho calmamente,
entrando no escritório. E quanto mais eu me aproximo da porta do Kauan,
mais eu escuto sons estranhos e abafados. Quando eu chego de frente para a
sua porta, escuto um choro abafado, e eu não sei por quê, mas o meu coração
dispara imediatamente, fazendo-me abrir a porta com tudo.
A dor de se ter perdido algo especial, de se ter quebrado algo especial
ou até ferido alguém especial por sua própria causa é surreal, é indescritível,
não pode ser lida e nem presenciada. O chão simplesmente não existe, e é
impossível de se segurar em algo quando o amor da sua vida está no
momento mais assustador da vida dela sem você do lado. Eu prometi protegê-
la, eu prometi ficar do lado dela, eu prometi que nada iria acontecer, e agora
ela estava ali, bem na minha frente, toda machucada.
Seu rosto estava suado e com sangue, que se desenhava na mesa.
— Deus… por favor, me ajuda! — Hanna sussurrou, com os seus
olhos fechados, quase sem voz em meio às suas lágrimas, enquanto o Kauan
tentava abrir as pernas dela com o joelho e a sua mão se encontrava na
intimidade dela.
Ele estava a pressionando contra a mesa com o seu corpo, mas eu não
conseguia entender se ele estava a penetrando ou não, porque as suas calças
ainda estavam no lugar. Um vídeo dela nua passava na tela do seu
computador, deixando-me ainda mais confuso e irritado. Aquela sala parecia
um verdadeiro purgatório onde eu estava vivendo o meu maior pesadelo na
Terra. Deus… Por que eu a deixei sozinha?
Os olhos dele se encontraram com os meus assim que o barulho da
porta batendo contra a parede anunciou que eu estava ali. E o filho da puta
sorriu para mim enquanto levava as suas duas mãos para a camisa dela e
estourava todos os botões de uma só vez, tentando demonstrar algum poder
ao agarrar um dos seios dela por cima do seu sutiã.
— SEU CRETINO DESGRAÇADO!
Voo para cima dele, acertando-lhe o rosto com toda a minha força.
Ele tenta se segurar no sofá atrás dele, mas cai no chão, sentando no instante
seguinte. Eu miro em seu rosto novamente e consigo sentir o seu nariz se
quebrando nos golpes seguintes que eu desfiro contra ele. O sangue se
espalhava entre os meus dedos, e eu nem conseguia identificar de qual dos
seus cortes começou o sangramento.
Ele não conseguiu nem se defender, porque eu fiz o mesmo
movimento sem pausa na direção dos seus olhos, quebrando ainda mais os
ossos da sua face enquanto o momento se repetia em minha mente e enquanto
a minha fúria só aumentava, querendo matá-lo de todas as formas possíveis.
Em cada golpe que eu acertava em sua pele, eu me questionava por que eu
não enxerguei que ele era esse tipo de homem? Por que eu deixei ele entrar
na minha vida? Um verdadeiro psicopata.
Só parei de socá-lo quando eu senti alguém me puxando para trás.
Meus olhos imediatamente buscaram pela Hanna, que estava encolhida no
chão, próximo da mesa, ainda chorando e tremendo, mas parecia paralisada
olhando toda a cena. Desvencilhei-me das mãos da Meg, que estava
extremamente assustada, gritando o meu nome o tempo todo, mas eu só
consegui escutar depois de alguns segundos parado. Foi então que eu encarei
o Kauan no chão, totalmente desmaiado, ou realmente morto, não dava ao
certo para saber.
O sangue se espalhava tanto pelo chão quanto pelas paredes e pelos
móveis. Meus dedos sentiram as gotas quentes descendo e caindo no chão; já
o meu coração não desacelerou, e isso não iria acontecer tão cedo.
— O que aconteceu aqui? — Um senhor entra na sala, totalmente
assustado, encarando a todos nós.
Meu olhar vai ao encontro do de Hanna novamente, e eu podia quase
confirmar com todas as minhas palavras que ela estava vazia, sem nada, sem
alma. Vou em sua direção no mesmo instante, ajoelhando-me no chão bem na
sua frente, reparando em cada detalhe dela, até mesmo que estava bem
magra, chocando-me.
— Deus… Me perdoa, me perdoa, me perdoa, meu amor… — Eu
repetia sem parar enquanto desejava com todas as minhas forças que isso
tudo fosse apenas um pesadelo horrível. Desesperado, eu a acolhia em meus
braços, trazendo-a ainda mais para perto de mim.
Hanna continuava tremendo. Eu sentia o seu desespero. Era
angustiante e estava fora do meu alcance acalmá-la.
— Hanna… Olha para mim, está machucada? O que ele fez com
você? — Minhas mãos sujas seguram o seu rosto com cuidado, observando a
sua testa, que tinha um corte que molhava o seu rosto com sangue.
Passei os meus dedos ali e notei que estava tudo bem, era um corte
leve e superficial. Voltei meus olhos para os seus punhos, que já estavam
roxos. Maldito animal! Segurei-me para não voltar até o Kauan e esmagá-lo
por completo, acabando com a possível vida que ele ainda tinha, porque eu
precisava deixar a raiva de lado para ficar junto à Hanna.
Ela, por sua vez, manteve-se em silêncio, com os seus olhos vidrados
no corpo que estava atrás de mim, caído do chão. Hanna estava submersa em
seu medo.
— Ei! — chamo a sua atenção, e seus olhos se encontram com os
meus enquanto se enchem de lágrimas novamente. — Ele… ele fez… porra,
eu vou matar ele, eu juro! — tento falar, mas a sala está cheia demais agora.
Limpo as suas lágrimas, que descem em seu rosto.
— Senhorita Hanna! — O senhor se aproxima de nós dois e coloca a
mão no meu ombro; então, eu percebo que é o seu motorista. — Minha
querida, vamos sair daqui, eu vou levá-la para um hospital…
— A polícia está chegando. — A Meg fala, assustada. — Não
podemos sair daqui!
— A Hanna tem que sair daqui, ela não está bem. — O senhor Diogo
fala, querendo levantá-la, mas ela se aperta nos meus braços novamente,
derrubando lágrimas na minha camisa.
— Eu chamei a ambulância. — A Érika aparece na porta com o rosto
assustado encarando toda a situação.
— O que você está fazendo aqui? — falo, irado com a sua presença.
Ela estava envolvida nessa merda toda e tinha parte de culpa no que tinha
acabado de acontecer com a Hanna.
— Senhor Anderson, ela que me avisou! — A Meg entra na frente da
minha visão. — Eu contei que esbarrei com a sua namorada na saída do
elevador, e ela me disse que eu deveria voltar aqui para a empresa
imediatamente e não deixar o Kauan sozinho com a senhorita Hanna, porque
ele não era confiável.
— Eu escutei as duas conversando no restaurante, senhor Anderson, e
então eu subi imediatamente também. — O senhor Diogo comenta. — Elas
estão falando a verdade!
Surpreendo-me com a revelação dos dois. No fim das contas, a Érika
tentou ajudar. Talvez ela não seja uma pessoa tão ruim quanto eu imaginei,
mas, neste exato momento, eu tinha medo de confiar até na minha própria
sombra.
— Isso tudo não importa agora. Eu vou tirar a Hanna daqui e vou
levá-la para a minha sala. — Ajeito a Hanna em meus braços, arrumando as
suas roupas. Sua camisa estava destruída; e a sua saia, toda amassada. Então
a escondo com o meu corpo. — Senhor Diogo, por favor, não deixe esse filho
da puta sair daqui caso ele acorde. E, Meg, tire esse vídeo da tela desse
computador. O Kauan tem câmeras aqui. Procure as filmagens, mas não olhe
nada, entregue à polícia quando eles chegarem. Não comentem nada com
ninguém também, nos deixem sozinhos por enquanto e me chamem quando a
polícia chegar.
Saio em seguida, assim que todos concordam com o que eu orientei
que fizessem, e entro na minha sala, sentando-me em meu sofá com ela no
meu colo.
— Hanna? — Seus olhos finalmente retornam com alguma cor, mas
ela se diminui em meus braços, tentando se esconder em meio aos tecidos da
sua camisa.
— Não me olhe… — Sua voz está estrangulada, como se doesse
falar.
— Hanna, não me afaste, por favor. A culpa disso tudo ter acontecido
é minha! — falo, tirando as suas mãos da frente.
— COMO A CULPA É SUA? — Ela se exalta, voltando a chorar, e,
então, a tosse a toma em seguida, porque ela aumentou o volume das suas
palavras.
— Hanna! — Aperto-a assim que ela recupera o seu fôlego, querendo
que tudo o que ela havia passado sumisse com esse meu ato.
— Como sua culpa, Anderson? Fui eu que tentei pegar aquele maldito
vídeo; fui eu que me coloquei naquela situação. A culpa é toda minha. — Eu
sentia o seu choro se misturar às suas palavras e me doía ainda mais ver que
ela acreditava nisso.
O meu coração se rachava em ver que ela estava destruída. Aquela
mulher forte e poderosa que todos conheciam tinha acabado de desaparecer;
estava escondida, e eu cheguei até a me questionar que talvez ela nunca mais
voltasse. A minha mulher determinada estava trincada, rachada como uma
taça sem conserto.
— Não, não… Hanna, a culpa é minha. Eu me afastei, eu te coloquei
nessa situação. Se eu não tivesse dado um tempo, você não tentaria nada
disso. — Seguro o seu rosto entre as minhas mãos e me aproximo, beijando
as suas lágrimas após cada pequena frase que eu dizia. — Me desculpe… por
favor, me desculpe… me perdoa por não ter chegado antes… por ter deixado
isso acontecer… por não ter te protegido… eu prometi… e eu falhei. —
Meus olhos ardem, e eu encosto a minha cabeça em seu ombro, deixando as
minhas lágrimas caírem.
— E-eu… eu tentei, Ander… — Hanna sussurrou contra o meu
pescoço. — Eu juro que eu tentei afastá-lo… mas eu não consegui.
— Não precisa me dizer, eu sei que você lutou. Você nunca desiste,
pequena. — Puxo-a para o meu peito e sinto o seu perfume que tanto me fez
falta, mas, naquele momento, até o seu cheiro era dolorido.
— Eu desisti!
— Você não desistiu!
— Eu errei, eu fui ingênua demais. — Suas lágrimas não paravam.
— Não se culpe, por favor. Se realmente for para culpar alguém,
vamos culpar o Kauan. Ele é o culpado disso tudo. Ele se tornou o que nós
nunca imaginamos, ele nos manipulou e fingiu várias mentiras para nos
enganar.
— Mesmo assim, eu poderia ter evitado. — Puxo o seu rosto em
minha direção para que ela me encarece.
— Não tem como evitar um abusador, Hanna. Quando eles decidem
agir, nada os impede. A culpa não é sua, e a culpa nunca será da vítima.
Independentemente do que você ache que fez de errado para ele ter feito isso
com você, nada neste mundo justificaria o que ele fez por desejo da doença
que ele carrega na mente. As pessoas não sentem desejo de fazer o que ele te
fez; aqueles atos são de um doente mental! — Seu silêncio era dolorido. —
Leve o tempo que precisar para você se recuperar, só não deixe a culpa te
consumir se eu estou do seu lado para tirar esse fardo da suas costas. Eu estou
aqui para você e juro que nunca mais irei me afastar. Eu não passei pelo que
você acabou de sofrer, mas eu farei de tudo para que este dia seja apenas um
péssimo dia na sua vida, e não o dia que te empurrou para um buraco do qual
você nunca conseguirá sair.
Seus olhos estavam me encarando com um pesar difícil de lidar. Ela
absorveu cada palavra que eu lhe falei, quando, então, escutamos uma batida
leve na porta.
— Entre — comunico, e o senhor Diogo abre a porta.
— Os policiais já chegaram. — Seu rosto estava mais preocupado por
algum motivo.
— Com licença. — Uma mulher fardada entra na sala e se aproxima
de nós, enquanto o senhor Diogo encosta a porta novamente. — Sou a
policial Luana. Fomos acionados para atender a um caso de abuso sexual. A
senhorita é a vítima?

— Sim! — Hanna permanece com os olhos abaixados sem encará-la


e, enquanto se levanta do meu colo, segurando a sua camisa para se tampar,
sua mão limpa a sua maquiagem borrada.
— O meu colega já está na sala ao lado algemando o abusador. —
Neste momento, eu consigo entender a cara que o senhor Diogo havia feito.
Provavelmente o Kauan já está consciente. — Os paramédicos já realizaram o
atendimento dele.Enquanto isso, eu posso fazer algumas perguntas?
— Sim. — Hanna se senta do meu lado, e a policial na nossa frente.
— O senhor pode se retirar por alguns minutos? — Ela se direciona
para mim.
— NÃO! — A Hanna segura o meu braço. — Ele fica, por favor.
— Tudo bem, então. Como a senhorita se chama?
— Hanna. Hanna Menezes.
— Hanna, você conhecia o abusador? — Ela tira um bloco de notas
do seu bolso e seu celular, que, em seguida, é colocado para gravar.
— Conhecia, ele é um dos donos desta empresa. — Hanna me encara
e se encosta em mim, como se eu fosse o seu apoio.
— E, antes desse momento de hoje, ele já havia tentado algo
parecido?
— Ele tentou me beijar à força uma vez. — Acho que esta foi a
primeira vez que ela revelou isso em voz alta.
— Entendi. E, sobre hoje, poderia descrever como tudo aconteceu?
— Eu havia marcado de almoçar com ele… — Seu silêncio doía o
tempo todo, ainda mais porque ela segurava as lágrimas dentro daqueles
olhos manchados pelo abuso. — Porque eu descobri que ele estava
chantageando o meu namorando com um vídeo íntimo meu. Um vídeo que eu
não sabia que existia até ele me mostrar, então eu queria pegar uma cópia do
vídeo para denunciá-lo.
Do que ela estava falando? Chantageando-me com algo que eu
também não sabia que existia? Como o Kauan conseguiu esse vídeo?
Então ela não sabe o que ele fez comigo também. Ele estava sendo
ardiloso com nós dois, e minha mente me culpava por ter deixado o Kauan
brincar com as nossas vidas e os nossos sentimentos.
— Esse vídeo está nos arquivos do computador dele?
— Sim, eu encontrei. — Ela treme ao dizer isso.
— Continue, por favor.
— Eu pedi para ele buscar o nosso almoço no restaurante lá embaixo,
para que eu pudesse procurar o vídeo. Quando ele entrou na sala e viu que eu
tinha encontrado, ele se exaltou… — A voz dela falhou neste momento. Eu
não sabia dizer se era pela dor de reviver o momento ou por sua dor física. —
Ele agarrou os meus cabelos e puxou os meus braços para trás, me
pressionando contra a sua mesa.
Percebo que os seus lábios tremem a todo o momento, e é como se o
medo retornasse para dentro dela; não que a sensação tivesse sumido, porque
eu sabia que estava tudo ali, mas vê-la lembrando era um inferno para nós
dois.
— Hanna, ele penetrou você? — A policial a encara, notando cada
reação.
— Com os dedos… sim! — Eu me aperto no sofá, querendo voltar na
outra sala para matá-lo de vez, mas me mantenho ao seu lado. — E, então, o
meu namorado chegou antes que ele fizesse algo pior.
Hanna aperta a minha mão, e eu sinto que consigo respirar
novamente. Nojento de merda! Como ele conseguiu fazer uma coisa dessas
com ela?
— Entendo. Teremos que realizar alguns exames em você depois, e
eu imagino que foi ele que bateu no rapaz que estava no chão. — Ela encara
os nós dos meus dedos, que estão machucados e com sangue, sinalizando que
ela já sabia que eu era o namorado.
— Sim, fui eu! — falo pela primeira vez desde que esta conversa se
iniciou.
— O senhor sabe que teremos que informar tudo isso, né?
— Com certeza, eu não me arrependo do que fiz.
— Certo. Os paramédicos podem entrar para verificar o seu estado,
senhorita Hanna? Terminamos o seu testemunho na delegacia. — Ela se
levanta.
— Podem! — Hanna me encara, receosa.
— Não se preocupe, ficarei aqui!
Os próximos minutos pareceram acalmá-la, já que os paramédicos
ficaram fazendo testes com a sua coordenação para ver se ela estava bem
após informar que ele havia batido a sua cabeça três vezes na mesa. Foi
difícil ter que escutar os detalhes que ela contava e passou pela minha cabeça
o quanto foi assustador para ela, já que para mim era de se embrulhar o
estômago só por saber. Quando eles foram mexer em seus braços, ela travou
com muita dor, e, então, eu tive que fechar os meus olhos ao vê-la sofrendo
ainda mais.
Quando eles terminaram o atendimento e enfaixaram um dos seus
ombros, que havia se deslocado, eu fui até a sala do Kauan, para acertar o que
mais fosse necessário. A Meg ainda estava lá conversando com outro policial
e entregando as filmagens que ela havia encontrado. A Érika também
permanecia lá.
— Ander, eu posso conversar com você bem rapidinho? — Érika fala,
aproximando-se e indicando com os olhos para que a gente se afastasse dos
demais.
— Sim, vamos ali. — Caminhamos até o canto da sala.
— Eu queria te pedir desculpas. Eu sei que fui péssima com você
nesses últimos meses, ainda mais depois daquelas fotos. Me sinto tão
envergonhada pelo que eu te sugeri também. Não imaginava que tudo poderia
acabar tão mal assim.
— Você realmente não facilitou as coisas para mim — digo, ainda
suspeitando das suas falas.
— Eu sei, eu queria conversar com a sua namorada, pedir perdão para
ela também e falar que o que fizemos para adquirirmos aquelas fotos também
foi um crime. Só peço, por favor, para não me denunciar. Você sabe que eu
não tenho dinheiro para…
— Não farei nada sobre aquelas fotos, pode ficar tranquila, Érika. Só
não invente mais essas coisas — falo sério. — A Hanna não está bem. Quem
sabe outro dia vocês possam conversar!
— Se você soubesse o quanto estou me sentindo horrível por tudo
isso, entenderia que nunca mais eu vou fazer as coisas que eu fiz. Por favor,
me perdoe por tudo isso. — Seus olhos indicam a sua sinceridade.

— Ok, está perdoada. Agora pode ir. Volte para o restaurante. O seu
chefe deve estar preocupado já. — Demonstro tranquilidade para ela.
— Obrigada, Ander! Você é um homem muito bom. Cuide bem da
sua namorada, ela vai precisar de você! — Érika sai em seguida, voltando
para perto da Meg.

Eu sei!
Meu corpo estava dolorido. A minha cabeça também estava pesada,
como se um caminhão tivesse passado por cima de mim. Eu queria desligar,
apagar o que eu havia passado nas últimas horas, mas aqui estava eu, tendo
que detalhar cada coisa que aconteceu, torturando-me com os detalhes de que
eu conseguia me lembrar.
O Kauan estava preso. Não sabíamos ao certo o que a polícia iria
decidir, mas as provas contra ele eram várias. Eu nem imaginava que toda
aquela cena estava sendo filmada, além das ameaças e do meu vídeo.

Puxei a blusa do Ander para a minha frente, tampando o meu corpo o


máximo possível, enquanto eu dava as últimas informações para os policiais.
Desta vez, não deixaram ele entrar junto comigo, mas a Luana (a policial que
me interrogou na empresa) ficou do meu lado o tempo todo.
Encaro o Ander sentado do lado de fora da sala assim que eu saio. Ele
estava com a cabeça encostada na parede. Suas olheiras estão fundas, e ele
está mais magro. Sua barba também está por fazer e, assim que os seus olhos
me enxergam, ele se levanta em um pulo e vem ao meu encontro.
— Estamos liberados? — Ele pega na minha mão, encarando o meu
rosto.
— Sim, podemos ir. Eu quero tomar um banho. — Seu beijo na
minha bochecha vem em seguida, puxando-me para mais perto.

— Como você está? — Seu perfume me acalma.


Essa pergunta era algo a que nem eu sabia responder ainda. Era uma
mistura de raiva, culpa, choque e sujeira, tudo junto e misturado! Minha
mente gritava sem pausa, mas também estava vazia. Eu estava literalmente no
olho do furacão.
— Eu não sei! Vamos sair daqui. — Vou em direção à porta, e ele me
acompanha.
Anderson estava sendo ótimo comigo, atencioso além da medida e
dando o espaço de que eu precisava. Até dispensei o senhor Diogo e pedi
para ele não falar nada para ninguém, por enquanto, já que eu ainda estava
fora do ar e não queria lidar com isso.
— Estamos bem? — Eu pergunto assim que alcançamos o lado de
fora da delegacia.
Fazia mais de um mês que eu o havia mandado embora da minha casa
naquele dia tão fatídico, e nunca mais pude abraçá-lo. Não sabia se tínhamos
voltado ou se ele só estava me ajudando porque ele acabou chegando naquele
momento.
— Você quer ir para a sua casa ou para a minha? — Minha pergunta
não é respondida, e eu fico inquieta. Tínhamos tantas coisas para conversar.
— Quero ficar com você — digo, e ele abre a porta para que eu entre.
— Eu não iria te deixar sozinha nem se você me suplicasse. Vamos!
Em nenhum momento, os seus beijos passaram da minha testa ou da
minha bochecha. Consegui notar o seu receio e cuidado. Eu o queria perto,
mas também não sabia quão perto.
A delegacia era longe das nossas casas, então o caminho demorou
bastante e foi silencioso. Assim que chegamos ao seu apartamento, ele foi
direto até o banheiro e ligou o chuveiro para mim. Em seguida, pegou toalhas
e algumas roupas, deixando tudo arrumado.
— Seu banho está pronto. Se precisar de algo, é só me pedir e… —
Ele se aproxima. — Não tranque a porta.
Concordo e entro no banheiro em seguida.
A porta é uma ótima amiga, isolando dois mundos. Aqui dentro do
banheiro é diferente do lado de fora. Eu só não sabia se isso era bom ou não.
Eu estava sozinha pela primeira vez desde que tudo isso aconteceu e sabia
que poderia fazer o que quisesse, mas as sensações ruins me rondavam.
Retirei as minhas roupas tão rápido, que, no fundo, questionei-me se
elas estavam tão destruídas que nem precisaram de esforço. A água do
chuveiro estava morna, e eu me afundei ali e fiquei por vários minutos,
deixando o sangue, o suor e as lágrimas irem para o ralo, como se eu
conseguisse me tornar um quadro em branco.
Eu não queria pena, não queria dó, não queria me sentir assim. Eu não
queria mais ver aqueles olhos culpados. Eu queria ignorar tudo.
Que merda, Hanna! Que merda!
Meu peito ardia em ódio, e eu queria mesmo que nada disso tivesse
acontecido. Minha mente me entregava milhões de possibilidades diferentes
se eu não tivesse tomado exatamente aquela maldita decisão.
Aumento a pressão da água.
Era só ter deixado ele com o vídeo.
Começo a me esfregar com o sabonete.
Era só ter pedido o vídeo como quem não queria nada.
Esquento a temperatura.
Era só fingir, Hanna.
Mais sabão.
Era só o enganar.
Minha pele parecia não se limpar.
Era só contar a verdade, era só pedir a ajuda do Ander, era só…
Tudo queimava, ardia, doía.
— HANNA! PARA! — Seus braços seguraram as minhas mãos, que
me esfregam sem pausa. — Deus! Essa água está muito quente!
— ME DEIXE AQUI! — Percebo, enfim, que os meus olhos estão
chorando em meio àquela água fervendo, e eu estava vermelha. — EU
AINDA ESTOU SUJA!
— Não! Você não vai fazer isso com você. — Ele entra embaixo do
chuveiro, apertando-me contra si, e eu sei que ele estava se queimando
também. — Você não vai se culpar. Não vai se machucar por causa daquele
monstro.
— Eu quero que ele pague por isso! — Choro contra o seu peito,
batendo a minha mão fechada contra o meu coração, como se a dor viesse de
lá. — Eu realmente quero que ele pague por essa dor, Ander!
— Ele vai pagar, amor. Ele vai… — Sua mão desliga o chuveiro atrás
de nós. — Vem aqui!
Ele me tirou de baixo do chuveiro e começou a me secar, dos meus
cabelos até os meus pés. Em seguida, colocou uma camiseta sua em mim,
grande o suficiente para me esconder, e sem que eu percebesse quando
exatamente ele havia começado com aqueles atos. As suas mãos passavam
creme em todo o meu corpo, que ardia. Suas roupas estavam encharcadas, e
os seus cabelos molhados grudando em sua testa.
Pego as suas mãos, parando-o, e seus olhos se encontram com os
meus. Ele estava tentando me entender e, então, eu peguei a base da sua
camiseta e a puxei para cima. Ander se afastou para que eu conseguisse tirá-
la, deixando-me agir.
— Me beije — falo, querendo saber se ainda estávamos bem.
— Hanna… — Ele passou as mãos no meu rosto e encostou nossas
testas. — Eu não quero forçar isso.

— Não está me forçando, eu quero. — Puxo-o pelo pescoço para


perto de mim, colando os nossos corpos. — Me beije.
— Você está bem?
— Estou.
— Se quiser parar…

— Ander — falo, em um tom apressado.


— Só me fala.
Sinto as suas mãos deslizarem pelas minhas pernas desnudas, para,
em seguida, ele me levantar em cima da pia. Sou acomodada com cuidado e
me arrepio quando ele passa os seus dedos pelos meus braços, até alcançarem
os meus punhos, batendo os nossos braceletes. Ele ainda o usava também,
como eu!
Seus lábios se encostaram em cada roxo presente na minha pele,
fazendo quase um carinho com os seus beijos, deixando-me absorver os seus
toques com calma para que eu não me assustasse. Assim que ele terminou os
beijos naquela região, os seus polegares alcançaram os meus lábios,
pressionando com leveza enquanto ele se aproximava.

— Se você não estiver confortável… — Ele começa a falar


novamente para sinalizar o que eu já sabia.
— Sim, eu paro. — Coloco as minhas mãos em cima das suas.
Ele não demorou muito para me beijar. Foi calmo como eu imaginei
que seria e ele conseguia demonstrar que estava depositando toda a sua
compreensão ali. Eu aprofundei o nosso beijo com a necessidade que eu
estava de senti-lo, para, talvez, acalmar os meus sentimentos, e ele entendeu o
que eu estava declarando com essa atitude.
Eu dei espaço para que a sua língua entrasse, e ele não foi afoito,
deixou o momento rolar. Com calma, o nosso beijo foi se intensificando, até
que a sua mão pousou sobre a minha perna. O meu susto foi imediato, mas eu
ignorei no mesmo instante. Eu sei que ele também sentiu o meu tremor, mas
eu o segurei em nosso beijo, não o deixando se afastar. Era apenas um
reflexo.
Seus dedos subiram para a minha coxa até alcançarem os meus
quadris, e, então, ele me apertou, sendo totalmente atencioso com os seus
toques. Eu coloquei as minhas pernas em volta da sua cintura, puxando-o
para perto até senti-lo contra mim.
A minha mente me lançava choques de memórias que me faziam
arranhar a garganta para que eu focasse o que estava acontecendo aqui, neste
momento, e não a guerra que eu travei em minhas lembranças.
Dei espaço para que ele beijasse o meu pescoço e, no mesmo instante,
ele compreendeu o que eu estava querendo. Eu gostava tanto daquele beijo
ali, que sempre me desmontava por completo, e, quando ele trilhou beijos em
minha clavícula, eu me deixei levar pelo momento e aproveitei as sensações
conhecidas que o meu corpo lançou dentro de mim. Ander se afundou em
minha pele, arrepiando-me mais e mais, enquanto as suas mãos apertaram a
minha cintura novamente. Em seguida, ele me puxou para mais perto,
fazendo-me sentir seu membro, e eu travei.
Minha respiração ficou pesada.
Tentei novamente engolir algo para me concentrar no momento, mas
eu já estava tremendo e não conseguia cessar aquela sensação. As lembranças
do que eu havia sentido de manhã ainda estavam percorrendo as minhas
veias. Medo e choque.
— Eu vou cuidar de você! — Ander falou, selando o nosso beijo. —
Vamos superar isso.
Em seguida, ele me abraçou, e o choro foi meio que inevitável.
— Eu queria estar bem! — sussurrei baixinho.
— Mas agora você não precisa ser forte. Eu estou aqui para te
segurar; então, você pode desmoronar, Hanna. Eu vou te esperar, e nós
vamos ficar bem.
— Nós estamos bem mesmo? Você não me respondeu quando saímos
da delegacia, e eu te tratei tão mal naquele dia. Me desculpa, Ander, eu estava
sendo tão... — As palavras saíam rápido da minha boca e com medo, até ele
me interromper.
— Nós vamos ter tempo para falarmos sobre tudo o que aconteceu,
pequena. E eu não quero mais te escutar se culpando. Nós estamos bem. Eu te
falei que nada iria interferir no nosso namoro, nem o afastamento que
tivemos, nem o medo, nem essa dor.

Ele me acolheu entre o seu pescoço e acariciou os meus cabelos.


Chorei até que eu me cansasse e senti os meus olhos inchados pesarem as
minhas pálpebras. Então, eu me acalmei. Juro que eu não sei por quanto
tempo ficamos assim, mas foi a melhor parte do meu dia. Ander me levou
para o seu quarto e me colocou sentada na sua cama. Em seguida, ele se
ajoelhou na minha frente e pousou uma das mãos sobre o meu joelho,
encarando-me gentilmente.
— Hanna, você quer conversar sobre o que aconteceu? — Agora, foi
a minha vez de senti-lo tremer com o que ele mesmo disse.
— Não, não consigo, não agora. Eu preciso descansar. — Pensei que
eu realmente não queria dizer o que o Kauan havia feito, e, só de pensar no
nome dele, eu já sentia uma ânsia que me torturava.
Ele concordou, dando-me algo para comer, e começou a arrumar a
cama para que eu me deitasse. Por um breve momento, eu me senti mal por
ter tentado beijá-lo e até provocá-lo para conseguir algo a mais, mesmo
sabendo que eu não conseguia tirar aqueles momentos da minha cabeça, mas
eu queria tanto que o meu inconsciente estivesse bem para continuarmos.
Tirando o fato de que eu estava morrendo de saudade dele, queria sentir que a
nossa relação estava do mesmo jeito que deixamos antes da briga.
Ander se deitou e estendeu o braço para que eu me deitasse ali. Em
seguida, nós nos juntamos assim, de conchinha, e ele apagou as luzes,
começando a fazer carinho no meu braço. Imediatamente busquei a mão dele,
sentindo a aliança em seu dedo e, então, pude ter a sensação dos meus lábios
se movendo em um pequeno sorriso por isso.
— Eu não sei pelo que você passou hoje e talvez eu nunca saiba… —
Ele falou baixo em meu ouvido. — Eu não estava na sua pele e com certeza
deve ter sido algo horrível, algo que te machucou muito. Se eu pudesse,
tiraria toda a sua dor e colocaria em mim. Eu faria de tudo para que aquilo
não tivesse acontecido. Eu teria matado aquele… teria feito isso. Por você, eu
teria matado ele, mas você é a coisa mais importante da minha vida, e eu não
iria conseguir ficar longe de você. — Ele puxou o ar entre os meus cabelos,
como se estivesse se segurando para não chorar, mas eu já estava chorando.
— Eu preciso te pedir isso, Hanna. Não se afunde. Lute! Eu vou estar aqui
sempre. Pode cair milhares de vezes, mas você não pode desistir.
— Eu sei. — Era a única coisa que eu conseguia responder em meio
ao meu choro.
— Eu amo você, pequena. — Seu beijo na minha cabeça veio em
seguida.
Eu queria tanto que ele não se sentisse culpado também, assim como
ele me aconselhou. A culpa não era nossa, mas os sentimentos apareciam
como avalanches por sabermos quantos passos poderíamos ter dado diferente.
Seus carinhos foram constantes até que eu caísse no sono. E o que eu
achei que seria uma noite muito difícil foi tranquilo. Eu dormi bem rápido;
talvez a canseira fosse bem maior do que eu imaginava, mas a cama me traiu
em um dos momentos. Assustando-me com a falta dele ao meu lado, eu
encarei o relógio do lado da sua cama. 7h17. O quarto estava bem-iluminado,
e a minha mente estava mais limpa. Eu não estava mais tão confusa. A poeira
tinha se dissipado, mas a dor no meu corpo estava me lembrando de que tudo
foi real.
Escutei a voz do Ander fora do quarto; então, eu abri um pouco mais
a porta e fiquei escutando. Ele estava em uma ligação com alguém.
— … eu entendi, mas eu posso anexar tudo que eu descobri sobre ele
junto com as acusações de ontem?… sobre aquelas fotos, eu não vou mais
denunciar, não quero prejudicar a Érika… — Érika? Como assim? — Eu sei
que ajudaria muito no processo, mas daí ela estaria envolvida… e a Hanna
tem um vídeo também que apareceu, não sei de onde veio esse vídeo, mas ela
queria usar para incriminá-lo.
Ele não sabia nada sobre o vídeo? Então o Kauan estava o
chantageando com o quê? Com as fotos da Érika que ele havia me enviado?
Não faz sentido. Escuto quando ele desliga alguns minutos depois, e os seus
passos se aproximam do quarto. Seus olhos se arregalaram quando ele me viu
de pé ali.
— Você está acordada faz tempo? Por que não volta a dormir amor?

— Não podemos perder tempo, precisamos saber a versão de cada um


nessa história toda. — Vou em direção à cama e me sento.
— Sim, precisamos. — Ele se senta do meu lado.
— Com o que o Kauan estava te chantageando? — digo com
dificuldade o nome daquele verme.
— Lembra o dinheiro que ele pegou emprestado com você? — Ele
diz, após alguns segundos pensando em como iria começar. Então, eu
concordo com o que ele disse. — Aquele golpe era falso. Ele só te falou
aquilo para que você o "ajudasse".
— Por que ele faria isso? —questiono-me em voz alta.
— Para me prejudicar. Ele fez uma conta no meu nome e depositou o
cheque nessa conta. Ele estava gastando todo o seu dinheiro com prostitutas
fingindo ser eu. — Sua fala parecia até uma loucura.
— Meu Deus! Mas isso não faz sentido. Eu nem iria acreditar nisso
tudo.
— Pois é, mas não se preocupe, que dá para adicionar tudo isso ao
inquérito dele, e ele terá que te pagar. Não faço ideia como, mas você irá
receber o seu dinheiro de volta. — Ele segura a minha mão.
Depois disso, ele me contou o que aconteceu em relação à chantagem
com a Érika, à gravação, ao pedido de desculpas dela, e, por fim, ele encerrou
me revelando que o Kauan nem era sócio dele. Logo, ele não tinha nenhum
direito sobre a empresa. Foram tantas informações, que eu cheguei até a me
perder em cada problema que ele lançava no ar, revelando em seguida as
soluções que ele havia encontrado. Tranquilizei-me ao perceber que ele tinha
tudo sob controle.
— E você quer me contar sobre aquele vídeo? — Ele diz, por fim.
Respiro fundo, buscando forças para trazer tudo à tona de novo.
— O Kauan veio me dizer que você queria terminar comigo por causa
daquele vídeo.
— O quê? O vídeo que eu nem sabia que existia? — Ele se levantou
no mesmo instante, esfregando a testa, indignado.
— Sim, e na mesma hora eu percebi que ele estava mentindo. Então,
eu entrei em contato com o Paulo, o meu advogado, e ele me perguntou se eu
conseguiria uma cópia desse vídeo para que eu pudesse denunciar ele e o
Matheus. O restante da história você já sabe. — Minha mente revive a cena, e
eu noto que eu não o agradeci pelo que ele fez. — Obrigada por chegar a
tempo. Obrigada mesmo por ter chegado antes do pior. Eu pedi a Deus, e
você chegou. — Pego a sua mão, e ele aperta a minha.
— E eu agradeço a Ele por ter você em meus braços de novo.
Três meses se passaram desde quando tudo aconteceu — e realmente
foram os meses mais conturbados da minha vida.
Foram várias idas e vindas para a delegacia, e, em todo esse processo,
o Ander estava comigo. Ele não me deixou sozinha em nenhum segundo. Dei
muitos depoimentos, e ele também, após revelar para as autoridades tudo o
que o Kauan havia feito. Ele estava preso, enquanto todos nós esperávamos
pelo julgamento, mas os nossos advogados afirmavam que não tinha como
ele sair da cadeia, havia muitas provas contra ele e poucas coisas que o
ajudavam em sua defesa. No mínimo, ele teria 10 anos de prisão.
De alguma forma que eu não sabia explicar, ninguém ficou sabendo
do que havia acontecido, a não ser quem estava presente e os meus pais. Eles
quase invadiram a delegacia no dia em que eu lhes contei e também quase me
fizeram voltar a morar com eles.
Falando em morar… eu estava morando no apartamento do Ander.
Havia noites em que eu acordava com ataques de pânicos, e isso começou
quando eu tentei dormir na minha casa. Eu não sabia como eu relacionava
isso, mas aceitei quando ele simplesmente pegou uma mala minha e encheu
de roupas, falando que eu não voltaria para lá por enquanto.
Ele também não tinha me tocado mais. Nossos carinhos iam somente
até os beijos, e ele nem se aprofundava tanto. Eu sabia que ele só tentaria
algo quando eu pedisse, e eu até tentei algumas vezes, mas travei logo em
seguida. Não tinha como explicar todo esse carinho que ele dedicava a mim
sem me pressionar em nenhum momento. Nossas noites eram quentinhas em
abraços apertado e pés se roçando.
Anderson, enfim, estaciona o carro em sua garagem após me buscar
na empresa, enquanto eu contava sobre o meu dia e enquanto subíamos até o
seu andar. Eu, então, abri a porta com a minha cópia da chave, retirei os meus
saltos para acender as luzes, assustando-me em seguida quando olhei em
direção à mesa e me deparei com ela toda arrumada.
— O que está acontecendo aqui? O que vamos comemorar? — digo,
andando em direção às rosas, e ele me acompanha, indo em direção à cozinha
e pegando um vinho da sua adega.
— Hoje estamos completando onze meses juntos! — Ele sorri,
achando graça na minha reação, enquanto me entrega uma taça.
— Mas a gente nunca comemorou os outros meses. — Molho os
meus lábios, notando que se tratava de um vinho seco. — Por que esse
vinho? — Acho graça na sua escolha.
— Porque seria muito estranho te pedir em casamento com um jantar
convencional. — Ele me lança a informação no exato momento em que eu
tomo outro gole, e eu me engasgo.
Começo a tossir sem parar após o meu susto, e ele larga a sua taça em
cima do balcão e tira a minha das minhas mãos, para poder me socorrer e
bater nas minhas costas. Isso tudo é em vão, porque não me ajuda em nada.
— Do que você está falando? — falo, ainda incomodada com a minha
garganta. — Não brinque comigo assim.
— Por que você acha que eu estou brincando?
— Porque eu não vi nenhuma caixinha de alianças por aqui — falo,
inventando um motivo. — Cadê a pegadinha?
— Talvez esteja no fato de que as nossas alianças estão no mesmo
porta-joias que eu te dei de aniversário, guardadas há cerca de um mês, e
você não as tenha encontrado. — Arregalo os meus olhos imaginando que
talvez seja uma mentira, mas ele nunca mente.
Encaro o porta-joias que eu trouxe para cá e deixei em cima da mesa.
Ele nem tirou a caixa de lá para arrumar esse jantar, então era certo que
estaria lá. Meus olhos vão dos dele até a pequena caixa várias vezes. Vejo,
enfim, ele a pegar da mesa e colocar na minha frente.
— Quer que eu te lembre como se abre?

— Claro que não! — falo, ainda custando a acreditar.


Faço todo o processo que ele havia me ensinado aquela vez, e a
ansiedade me tomou ainda mais quando eu escutei o som da fechadura se
abrindo após eu virar a chave. Minhas mãos estavam tremendo quando eu
levantei a tampa e me deparei com as alianças em ouro brilhando. Então,
fechei na mesma hora, absorvendo a informação.
Ele está mesmo me pedindo em casamento?
Seus olhos ainda estão achando graça da minha reação.
— O que foi? Não gostou do modelo? — Ele tira a minha mão da
caixa e a abre novamente. — A gente pode trocar.
— Você quer mesmo se casar? — Encaro os seus olhos.
— Sem sombras de dúvidas. — Ander tira a aliança menor e coloca
entre o nosso campo de visão. — Mas, se você tiver dúvidas, pode me
responder quando souber o que quer. Eu não ligo de esperar.
Respiro fundo, observando-o girar a aliança em seus dedos, e eu sei
que ele ficou apreensivo pela minha demora, só tinha falado aquilo por medo.
— Vai ficar esperando mesmo, porque até agora eu não escutei
nenhum pedido de casamento com você ajoelhado aos meus pés. — Faço o
meu charme, vendo o sorriso dele brotar no seu rosto.
— Você vai me matar qualquer dia desses, mulher mandona. — Ele
se ajoelha, ainda rindo, e pega a minha mão. — Hanna Menezes… — Ele
arranha a garganta, tentando parecer formal, mas eu já não conseguia tirar o
meu sorriso do rosto. — Você poderia, por uma misericórdia divina, aceitar
se casar comigo para fazer desse homem aqui o mais feliz desse mundo?
Meus olhos estavam cheios de lágrimas enquanto eu sorria tanto, que
a minha bochecha doía. Joguei-me em seus braços, gritando um "sim" sem
parar de beijá-lo por todo o seu rosto e fazer nós dois cairmos no chão.
— Me chame de fujona agora!

— Enquanto a senhorita não estiver com essa aliança no dedo, eu não


vou considerar que estamos noivos.
— Cadê a aliança, então? — questiono, procurando pelo chão, já que
a caixinha tinha sumido da sua mão.
— Se a aliança sumiu, significa que você ainda é uma fujona. — Ele
fala, brincando, enquanto olha à nossa volta e encontra a aliança debaixo da
mesa.
— Coloca logo essa aliança no meu dedo, senão eu vou fugir mesmo!
— Sorrio, estendendo a mão enquanto balanço o meu dedo anelar.
Ele se estica e alcança o pequeno metal dourado sem sair do lugar, já
que estávamos deitados no chão. Em seguida, ele segurou a minha mão e
retirou a aliança de prata para deslizar a de ouro no meu dedo, até encaixá-la
no seu novo lugar. Seus lábios logo beijaram a minha mão, encarando a
minha reação com o seu gesto.
Sorrio, sentindo-me extremamente boba por notar que é realmente ele,
não tem como negar, sempre foi ele, desde o início, desde quando eu o vi no
salão do meu aniversário — cada toque, cada beijo, cada carinho, foi tudo
ele. Não que eu tenha acabado de descobrir isso, só que se tornou tão
evidente o meu amor por ele nesses últimos meses, que era algo que eu
realmente queria e, depois de tudo pelo que eu passei, ele foi a minha maior
fortaleza, o meu ponto de paz em meio à minha tempestade de confusão. Ele
não saiu do meu lado nem por um segundo e me apoiou em cada decisão
minha. Não tinha como eu não imaginar a minha vida com ele do meu lado;
todos os meus planos o incluíam.

Levantei-me para pegar a sua aliança dentro da caixinha que ainda


estava em cima do balcão e, em seguida, fiz o mesmo processo que ele — até
mesmo beijei a sua mão. Ele explodiu em felicidade, pegando-me no colo em
um único movimento rápido e sem dificuldade, assustando-me.
— NÓS VAMOS NOS CASAR! — Ele grita e me beija em meio aos
nossos sorrisos.

— Vamos, sim! — Aproveito cada um dos seus beijos, e ele me


coloca no chão.
— Agora temos que beber para comemorar. — Ander balança a
garrafa de vinho seco.
— Ei… — falo, apreensiva pelo que eu vou sugerir. — Vamos deixar
a comemoração para depois e vamos comemorar de outro jeito?
— O quê? — Ele me encara, largando a garrafa.
— Vamos tomar um banho juntos? Relaxar… — Puxo a sua gravata
vagarosamente, enquanto eu demonstrava a minha segunda intenção em meu
rosto.
Uma das suas sobrancelhas se levantou, estranhando a minha atitude
depois de tanto tempo. A oportunidade era perfeita, e eu estava tranquila com
a minha decisão. Já tínhamos tentado mais algumas vezes depois daquele dia,
mas eu travava sempre, então eu simplesmente parei de insistir. Acho que já
fazia mais ou menos um mês que eu estava quieta, porém eu sentia o meu
corpo desejando o dele; era somente a minha mente que era uma traiçoeira,
mas agora eu sentia algo diferente.
Nossos lábios se aproximaram, e eu o agarrei quando não aguentei
mais a nossa pequena distância. Ele aguardou cada movimento meu para
repetir o dele em seguida, e, desta vez, o beijo foi diferente, mais abafado,
mais quente, especial.
Os sorrisos haviam sumido, e ficamos curtindo o toque um do outro,
com cuidado, com calma e com amor. Ander me pegou no colo novamente e
começou a andar em direção à mesa. Sua língua percorreu sem medo cada
canto da minha boca, esquentando-me em todas as partes do meu corpo.

Eu o senti endurecer e me esfreguei em seu membro, desejando-o


tanto depois de todos esses meses longe. Um tanto dos meus movimentos era
realmente para provocá-lo, mas também eu mal estava parando no seu colo
devido à calça de tecido escorregadio que eu decidi usar hoje. Suas mãos
seguraram a minha bunda, tentando fazer com que eu parasse os meus
movimentos, mas não teve bem o resultado que ele queria; afinal, eu me senti
ainda mais molhada com a sua ação, e ele não parou por aí: tratou de apertar
a minha bunda com desejo, trazendo-me para ainda mais perto da sua ereção
antes de me colocar sobre a mesa.
— Podemos continuar? — Ele cessa o beijo para me perguntar.
— Sim! — respondo, mostrando o quanto estou relaxada com a
minha decisão.
Aproximo-me da sua orelha, fazendo carinho com o meu nariz para
provocá-lo, e sussurro em seguida:
— Eu estou realmente com saudade disso. — Sinto o seu pescoço se
arrepiar enquanto eu afrouxo a sua gravata, tirando-a em seguida.
— Eu só não quero forçar a barra. Estou com tanta vontade, que tenho
medo de perder o controle.

— Eu quero que você perca o controle comigo! — Mordo sua orelha,


e ele se afasta para me encarar.
— Cadê a minha namorada? O que você fez com ela?
— Sumiu. Agora você tem uma noiva! — Começo a desabotoar a sua
camisa com naturalidade.
— Não me dê tanta liberdade assim, você sabe como eu sou… —
Ander segura o laço da minha camisa e a puxa devagar, desfazendo o nó.
— Eu sei e confio em você! — Puxo a sua camisa pelos seus ombros,
tirando aquele tecido que estava tampando todo o seu corpo musculoso.
— Era o que eu precisava ouvir. Vamos para o banho!
Ele me pegou de novo no seu colo e me levou até o banheiro. Com
cuidado, as suas mãos me deixaram sobre a pia. Enquanto ele abria o
chuveiro para a água já ir esquentando, eu apenas observei cada gesto dele
sem me mexer. Em seguida, ele retornou a sua atenção para mim e começou a
tirar a minha blusa de dentro da minha calça. Foram rápidos os seus
movimentos, e o vento me arrepiou em seguida.

Fazia muito tempo que ele não me via completamente sem roupa.
Acho que apenas algumas vezes ele me viu de calcinha com alguma camiseta
sua na hora de dormir e, por isso, eu estava me sentindo envergonhada
novamente, mas a vergonha durou pouco quando os seus beijos em cima das
minhas pintinhas começaram a se espalhar pelo meu corpo, trazendo à tona
lembranças boas. Era estranho perceber que a pessoa com quem eu tinha
criado tanta intimidade estava me deixando nervosa, mas o meu corpo estava
recebendo os seus toques com as mesmas reações de antes; eu estava
realmente feliz de estar recebendo todo o amor que ele sempre teve por mim.
Já estávamos indo mais longe do que da última vez que tentamos, e eu
parei, e até agora nada me fez tremer de medo; pelo contrário, eu estava me
derretendo querendo mais, eu estava sedenta por isso, respondendo a cada
ação dele. Seus dedos eram determinados, mas cautelosos ao mesmo tempo,
cuidando para que eu me sentisse bem. Ander ficou apenas de cueca e me
deixou com as minhas roupas íntimas também, enquanto me puxava para
debaixo da água quente, que nos molhava por completo. Nós não ligamos,
apenas voltamos a nos beijar e a marcar o corpo um do outro com pequenos
chupões.
Com agilidade, ele desprendeu o meu sutiã, e logo o pequeno tecido
molhado já estava no chão. O que eu achei que seria um susto, na verdade foi
o desespero da minha carne, que o desejava ainda mais.
— Você sabe que pode parar isso se não se sentir bem, que nem nas
outras vezes… — Ele cessou os beijos para me dizer isso. — Não precisamos
fazer isso só porque eu te pedi em casamento.
— Ei… — Eu segurei o seu rosto para que ele entendesse bem o que
eu estava falando. — Se eu quisesse parar, eu já teria feito isso. Não se
preocupe, só continue, porque eu estou com muito tesão!

Ele concordou, com um sorriso satisfeito pela minha resposta,


enquanto a água descia pelos nossos corpos, esquentando cada célula da
nossa pele e se desenhando em nossas mãos.
— Tesão eu estou por esses seus seios que eu amo. Estava
enlouquecendo sem poder chupá-los.

Sua boca encontrou o meu mamilo direito na mesma hora, deixando-


me sem respostas, mas, sinceramente, eu já estava esperando esse seu
movimento. Meus seios estavam esperando por ele totalmente entorpecidos.
Eu estava muito ansiosa por isso, e o meu corpo queria que fôssemos para os
finalmente logo, mas a minha mente desejava senti-lo mais e mais. Sua
língua desenhava o círculo perfeito em volta dos bicos, trocando de um para
o outro. Concretizando o que ele havia dito, Ander estava os desejando há
muito tempo, enquanto a pressão do seu aperto na minha cintura causava
leves contrações dentro do meu ventre.
Ele se abaixou na minha frente, beijando a minha barriga e trilhando
os seus lábios para o meio das minhas pernas. Ander, então, manteve um dos
seus joelhos no chão e começou a passar a língua no interior das minhas
coxas, enquanto me encarava com os seus olhos negros, demonstrando o seu
desejo, a sua vontade.

As mordiscadas começaram em seguida. Uma das minhas pernas já


estava em cima do seu ombro, e a sua boca não tinha misericórdia nenhuma
de mim, indo em direção à minha intimidade. Seu nariz entrou na minha
fenda sem se importar com a água que corria encharcando a minha calcinha, e
os seus dedos se divertiram assim que ele encontrou o meu clitóris por cima
do tecido.
— Eu poderia gozar só de sentir esse seu cheiro. — Ele encarou o
fundo dos meus olhos apenas para me dizer isso.
E ali começou a minha perdição. Minhas pernas ficaram bambas só de
escutar as suas palavras, mas ele me segurou. Eu queria encostar em seu
membro para poder senti-lo, mas, na minha atual posição, eu não conseguia
nem me mover. Então, agarrei os seus cabelos assim que a sua língua decidiu
brincar com a minha boceta, após ele puxar a minha calcinha de lado sem
calma.
Os meus olhos me traíram no momento em que eu queria vê-lo se
aprofundando em mim com a boca, mas as sensações eram tão fortes, que
estava sendo impossível me manter no lugar. Ele verificou o quanto eu estava
molhada inserindo seu dedo do meio em mim e, quando eu achei que o meu
corpo se acalmaria, ele soltou a minha perna e se levantou, possuindo a
minha boca e misturando o meu sabor nas nossas salivas. Ele não parou o
movimento, que agora era feito com dois dedos dentro de mim, para não
quebrar essa nossa confiança.
Seu membro se encostou na minha barriga e só me fez aumentar ainda
mais o meu desejo de senti-lo. O formigamento foi crescendo e parecia ainda
maior depois de tanto tempo, então eu sabia que estava sendo especial para
nós dois.
Direcionei-me para fora do chuveiro, porque a água já estava
atrapalhando o nosso beijo, e me encostei no vidro frio do box. Ele me
acompanhou, parando os movimentos apenas para pegar nas laterais da
minha calcinha e deslizá-la pelas minhas pernas. Quando eu senti que o
tecido já havia passado dos meus joelhos, eu o ajudei a terminar de tirar com
os meus pés.
Ander me levantou do chão, erguendo-me contra a parede, e, no
mesmo instante, eu coloquei as minhas pernas em volta do seu corpo por
medo de cair. Sua mão apertou a minha bunda, e ele começou a chupar o meu
pescoço enquanto se esfregava na minha intimidade molhada. Eu poderia
morrer agora mesmo por tanto tesão que se direciona para um único ponto no
meio das minhas pernas.
Seu corpo molhado era a minha perdição, e poder ver suas tatuagens
de novo nessas circunstâncias, da mesma maneira que eu lembrava, deixa-me
ainda mais à vontade, porque ele estava se preservando muito nesses últimos
meses, até nisso.
Como ele ainda estava de cueca, eu me segurei no seu pescoço com
apenas uma mão, para levar a minha mão esquerda até o seu membro,
libertando-o. O som dele batendo contra a sua pele fez eu me molhar ainda
mais, e Ander o posiciona na minha entrada, fazendo-me sentir o seu pau
deslizar para dentro de mim com uma demora torturante.
Céus… era isso que eu queria.
— Você está me apertando. — Ele sussurra enquanto sente o meu
interior se contrair após alguns segundos de adaptação pelo seu tamanho.
— Eu sei, é porque eu estou gostando muito do que eu estou sentindo
— provoco, empurrando-me contra ele.
— Você não presta! — Escuto o seu riso ao lado do meu ouvido.
— Eu sei disso também; agora, por favor… me come! — Tenho até a
impressão de sentir o membro dele ficando maior dentro de mim após escutar
as minhas palavras.
Ander segurou minha cintura com força, colocando-me bem-
posicionada na parede para se chocar contra o meu sexo, entrando mais fundo
e mais forte. O meu corpo respondeu às suas estocadas, e eu gemi,
encostando a minha cabeça em seu ombro. O banheiro estava repleto de
vapor, e tudo me parecia pegar fogo: a água, o meu corpo, o corpo do Ander,
tudo queimava; até mesmo as pequenas gotas de água que permaneciam em
nossos corpos estavam quentes.

Os nossos sons se misturavam com o barulho da água, e ele não


parava nem por um segundo, aumentando a velocidade gradativamente.
Nesse momento, eu até cheguei a me questionar como eu fiquei tanto tempo
longe dele assim. Eu entendo que a minha mente não me permitia continuar,
mas os seus toques eram tudo de que eu precisava para me sentir mulher de
novo. Ele estava sendo tudo o que eu nunca pedi, atingindo os patamares
mais altos que eu também não imaginava existir. Bom… agora eu sabia
disso.
Quando as minhas pernas não aguentaram mais o nosso vaivém
incessante, ele me colocou no chão apenas por segundos, para que eu me
virasse contra o box. Em seguida, entrou em mim novamente. Uma das suas
mãos agarraram a minha cintura, e ele retomou o mesmo ritmo de antes. O
meu interior se contraiu novamente, desejando que o orgasmo chegasse o
quanto antes, e, então, a sua mão foi para a minha parte da frente, começando
a me masturbar enquanto me penetrava.
— Você está confundindo o meu corpo! — confesso, por começar a
sentir dois prazeres diferentes.
— E isso é bom ou ruim? — Ele não para os movimentos no meu
clitóris.

— Eu não faço ideia! — Respiro fundo com os pequenos espasmos


que o meu corpo lançava em mim.
— Então eu vou continuar! — Eu conseguia sentir o seu pau na parte
mais fundo dentro de mim, e ele não cessava.
Minha cabeça pendeu para trás, e ele beijou o meu pescoço, as minhas
bochechas, a minha orelha... era mais como uma onda de prazer que ele
lançava para dentro do meu corpo com apenas os seus lábios, que deslizavam
em minha pele. Eu estava completamente submersa nos seus movimentos,
que eram persistentes, caindo ainda mais para dentro de mim mesma
enquanto eu tentava me agarrar a qualquer coisa, mas o vidro do box não me
ajudava em nada — e, novamente, aquela sensação me preenchia, correndo
por todo o meu corpo, que quase não conseguia me entregar oxigênio.
— Eu não estou… aguentando mais… — falo entre as brechas de
fôlego que eu consigo.
— Mas a gente ainda nem começou! — Seus dedos me esfregavam
com mais força.
Como ele pode dizer isso? Eu já conseguia ver o meu líquido escorrer
nas minhas pernas.
Sua mão me puxou contra o seu peito, apertando-me e me segurando
como se eu pudesse escapar. Eu cheguei até a pensar que eu poderia derreter
se ele não parasse de me masturbar. E ele não parou! Eu apertei o seu braço
no instante em que o orgasmo penetrou cada músculo do meu ser, fazendo
com que eu me desmanchasse em gemidos completamente sem ar. As minhas
mãos chegaram até a machucar as suas por descontar toda a minha sensação
em sua pele.
Ele não cessou os movimentos só porque eu tinha atingido o meu
limite. Na verdade, ele continuou entrando em mim e me masturbando, e a
sensação se renovou quase de imediato. Eu iria gozar de novo em questão de
segundos, e ele sabia disso.
— Para um pouco… — peço, ainda sentindo o meu corpo gritando
por alívio.

— Por que eu deveria? Você está gostando! — Era verdade, eu nem


estava conseguindo me controlar.
— Mesmo assim… Eu tô…
— Confusa? — Ele cita o que eu falei alguns minutos atrás. — Acho
que não! Você está me sugando cada vez mais.
Ok, eu não tinha resposta contra o meu corpo! Ele falou sério quando
disse que estávamos apenas começando.
Minhas pernas já não estavam me obedecendo, então ele estava me
segurando mais firme, e entramos embaixo do chuveiro novamente,
queimando como um inferno, mas nada comparado ao que eu estava sentindo
dentro de mim.
Ele me penetrou de novo, forte e duro, e, quando eu achei que não
conseguiria suportar mais, eu gozei em seu pau outra vez, que também se
derramava dentro de mim em pulsações sequenciadas, deixando a minha
visão turva e o meu corpo em estado de satisfação completa.
Nossos peitos se mexiam na mesma velocidade, e a água não deixava
aparecer o nosso suor. Ficamos grudados, até que a nossa respiração
finalmente saciava os nossos pulmões.
— Que saudade que eu estava disso! — Ele me gruda de novo contra
o seu peito.
— Eu também!
— Vamos nos lavar. Os outros cômodos vão ficar com ciúmes se nós
só ficarmos trancados no banheiro! — Ele pega o sabonete e começa a
esfregar o meu corpo.

— Você é uma máquina, por acaso? — falo, assustada, virando-me


para ele.
— Você acha mesmo que uma vez seria suficiente para mim depois
de tanto tempo? — Ander encosta em mim, e sinto que ele ainda estava duro.

Foram tantas vezes que fizemos, que eu cheguei a perder as contas.


Fizemos na sala, depois em cima do balcão da cozinha, contra as janelas e no
quarto. Eu estava até dolorida, mas me sentia satisfeita com a ardência. Meu
corpo estava tão cansado, que eu não conseguia nem levantar um dedo.
Permaneci deitada no braço do Ander enquanto dávamos risada da nossa
"seca" e, depois, da nossa maratona de sexo.
— Agora falando sério! — Ele tenta manter o sorriso longe enquanto
eu peço, mas está difícil. — Vamos contar para os nossos pais que vamos
casar?
— Por mim tudo bem. Posso comprar as passagens para Brasília para
a gente ir amanhã mesmo! — Ele diz, acariciando os meus cabelos, que já
estão secos depois de tudo.
— Calma! — Dou risada. — Vamos marcar, então!
— "Calma" é o que eu não tenho quando se trata de você. Quero casar
amanhã também.
— Então já temos uma data para o casamento? — falo, levantando a
minha sobrancelha.
— Que tal daqui a um mês? —questiono-me se ele ainda está
brincando ou falando sério.
— Muito rápido. A dona Eliza não vai conseguir arrumar uma festa
em um mês! — Dou risada! — Que tal daqui a seis meses?
— Você realmente está procurando um jeito de me matar de
ansiedade, né? Sua mãe consegue organizar tudo em três meses! — Ele fala,
todo confiante.
— Três meses? — Não me parece tão ruim.
— Chegamos a um consenso? — Ele levanta a mão para que eu a
apertasse.
— Negócio fechado!
Ainda era muito cedo para um encontro no sábado, então eu tinha a
certeza de que os pais da Hanna iriam estranhar o nosso aparecimento por lá.
Ela havia avisado que iríamos tomar um café na casa deles, e provavelmente
eles estavam esperando a próxima bomba que nós iríamos lançar, já que só
aparecíamos por lá com alguma novidade ou notícia ruim, que foi o caso de
quando a Hanna foi abusada. Aquele dia eu vi o quanto os pais dela a
amavam, assim como eu.
— Você vai pedir a minha mão para o meu pai? — Hanna comenta,
brincando, assim que eu estaciono o carro na frente da casa deles.
— Eu achei que nós só iríamos avisar sobre o nosso casamento! —
falo sério, pensando nessa possibilidade se ela insistisse.
— Eu acho que você tem que pedir! — Ela se aproxima, passando os
seus dedos na minha barba, que estava começando a crescer. — Afinal, não
pode ser tão fácil assim para se casar comigo, não é mesmo? — Seu beijo
rápido estrala em meus lábios, e ela sai do carro dando risada.
— Mas não está sendo fácil, eu vou ter que esperar três meses para
poder te chamar de esposa. Isso é um sacrifício e tanto — comento assim que
eu saio do carro, indo atrás dela.
— Então vamos fazer uma aposta? — Ela se vira para mim antes de
entrarmos na casa.

— Que tipo de aposta? — Encaro seu sorriso lindo.


Seus olhos estavam brilhando de um modo travesso, e eu amava vê-la
assim. Finalmente eu estava reconhecendo a minha pequena mandona
novamente depois de tudo.
— Você pode pedir a minha mão para o meu pai e me dar um ótimo
entretenimento hoje, ou virar o meu entretenimento nos próximos três meses.
— Isso parece muito tentador, mas do que exatamente estamos
falando?
Ela morde os lábios, divertindo-se, e agarro a sua cintura, grudando os
nossos corpos.
— Faça a sua escolha, e eu lhe conto depois! — Nossos narizes se
roçam.
— Você é tão má, só me deu sugestões sem explicação alguma, e eu
não vi vantagem para mim. — Aproximo-me ainda mais para beijá-la.
— Problema seu!
Ela se afasta quando escutamos a porta se abrindo, e eu fico na
vontade de lhe dar um tapa na bunda pela petulância. Eu queria muito aquele
beijo, então fico decepcionado, encarando o coitado do empregado, que não
tinha culpa de fazer o seu serviço.
Somos direcionados para a cozinha interna, onde eu nunca estive em
todos esses meses que estamos juntos; afinal, o dia sempre estava lindo e
comíamos do lado de fora da casa. E, quando viemos aqui para contar sobre o
incidente com a Hanna, ficamos apenas na sala, até dormimos no antigo
quarto dela, porque eles não deixaram a gente ir embora.
Os pais dela estavam estranhamente felizes. Como a gente chegou
praticamente em silêncio, eles não viram quando entramos na cozinha, e o
senhor Richard estava dando uma bolacha doce para a dona Eliza. Fiquei
feliz de imaginar que a Hanna cresceu nesse lar tão amoroso, e triste ao
mesmo tempo por pensar que ela passou por coisas que a modificaram.
Hanna arranha a garganta para que eles parassem com a cena super-
romântica que estávamos presenciando, e os dois nos encararam no mesmo
instante.
— Nós não começamos o café sem vocês! — diz a sua mãe,
justificando-se o mais rápido possível.
— Só estávamos experimentando as bolachinhas que a Catarina
acabou de tirar do forno. — O senhor Richard empurra a vasilha em nossa
direção.
— Tudo bem se já tiverem começado. — Hanna comenta, enquanto
se aproxima da mesa e se senta. — Agora eu acho que vocês precisam se
sentar!
— Ai Deus! — Sua mãe reclamou quando observou os nossos rostos.
— O que aconteceu desta vez?
— Relaxa, gente, o assunto será bom. — Hanna fala, e o seu olhar
brincalhão vem em minha direção.
Ela estava querendo disparar a notícia o quanto antes para poder ver o
que eu iria decidir sobre a nossa suposta aposta sem benefícios para mim,
mas pedir a sua mão ao seu pai seria muito estranho para mim; afinal, nem
em namoro eu pedi, e a outra opção que ela me deu era muito mais sugestiva:
eu estava curioso e não poderia deixar esta oportunidade passar.
— Eu espero mesmo. Olha só as entradas nos meus cabelos; tudo isso
é por causa das coisas que têm acontecido nesses últimos meses. — Richard
comenta enquanto puxa os cabelos para trás, mostrando para nós que, na
verdade, os seus cabelos ainda estão normais, e não da maneira como ele está
enxergando. Hanna ri das suas palavras, e eu me sento ao seu lado.
— Deixa os dois falarem, Richard! — Minha sogra coloca uma xícara
de café na minha frente, do jeito que ela já sabia que eu gosto.
— Desculpem-me, crianças. Podem soltar a bomba! — Richard
levanta as mãos em sinal de paz.
— Eu vou deixar o Ander contar! — Sua mão sobe pelas minhas
costas, e novamente eu sinto um frio na barriga. — Ele está tão animado com
a novidade, que quase não me deixou dormir.
Tá, agora eu entendi o que significa estar do outro lado da história.
— Ela está brincando — disparo, enquanto os seus pais me encaram
com um sorriso no rosto, já que eles percebem o nosso tom de voz. — É claro
que a gente dormiu bem!
— Mais que "bem", né, meu amor? — Sua voz sai sugestiva demais.
Ela estava me dando o troco daquela vez em que brinquei sobre ela
"sonhar com cobras" lá na casa da minha mãe, e eu confesso que estou
impressionado com a sua coragem. Ela geralmente não é assim, mas eu sei
que está fazendo isso apenas para que fique ainda mais difícil de falar sobre o
assunto: casamento!
— Do que vocês dois estão falando? — Richard questiona,
encarando-nos sem perceber a malícia. — Nos contem logo sobre o que é o
assunto.
— Ai, Richard, para de ser tão lento. Esses dois devem estar curtindo
uma ótima de uma lua de mel, né? — Eu literalmente fico sem reação ao
escutá-la.
Minha respiração praticamente cessa, deixando um silêncio
angustiante na cozinha após a fala da dona Eliza. Seu pai me encara,
parecendo bravo, e apenas o meu sorriso bobo permanece no rosto. Eu não
queria ter que contar sobre o nosso casamento assim. Bem que a Hanna vive
falando que a sua mãe não tem muito limite, e ela ainda me observa com uma
cara do tipo: "Vocês estão mandando ver, né?", deixando a situação ainda
mais engraçada.
As risadas altas das duas mulheres melhoram o nosso humor, e eu
respiro novamente após a cena de segundos ter parecido durar horas.
— Não, ainda não, mãe. Mas quase. — Hanna fala assim que a sua
risada permite.
— Como não? Vocês são novos, não podem ser lerdos; então, voltem
para casa, ou, se preferirem, podem usar o segundo andar. — Sua mãe fala,
fazendo Hanna rir novamente. Havia tempo que eu não a via tão alegre.
Coloco a mão sobre a minha boca, tentando esconder o sorriso ao
pensar o quanto estávamos grudados nesses últimos dias, mas creio que todos
conseguiam ver através dos meus dedos.
— Para com isso, Eliza. O menino quer falar! — Richard ainda
balança a cabeça em negativa.
— Desculpe, querido, a gente não perde a oportunidade de brincar. —
Ela passa os dedos em minha mão, enquanto mantém o humor na voz.
— Ajuda a descontrair, com certeza! — falo, mais aliviado.
— Pode falar, Ander. — Richard gesticula com a mão.
— Nós vamos nos casar!
Disparo de uma só vez e noto que o clima na cozinha ficou esquisito.
Os dois estavam com os olhos arregalados esperando-me falar mais alguma
coisa, e a Hanna não deixava o sorriso de lado por descobrir qual decisão eu
havia tomado em relação à sua proposta.
E, pela segunda vez, a cozinha fica muda. Por que não tem nem um
mosquito para fazer barulho por aqui?
— AI, MEU, DEUS! — Sua mãe fala separadamente em um grito
agudo. — Quando aconteceu esse pedido? Por que não me avisou antes,
Hanna? Vocês já têm a data? Ele se ajoelhou? Cadê a aliança?
Somos bombardeados com muitas outras perguntas que simplesmente
ficaram perdidas durante o seu espasmo de alegria. A reação que eu não
estava esperando era ver a cara do senhor Richard, bravo novamente, que
nem quando ele soube que estávamos namorando. Achei que já tínhamos
passado dessa fase, mas ele estava me fuzilando, como se eu tivesse falado a
coisa mais louca do mundo.
— Vocês estão certos disso? — Sua voz fala, sobressaindo às
perguntas da dona Eliza. — Não estão achando que está muito cedo?
Casamento não é brincadeira.

— Richard, para de ser cafona. Eles podem casar quando eles


quiserem! — Sua esposa o encara, brava.
— Eu concordo com o senhor… — digo, encarando-o, e percebo que
os olhos das duas mulheres se direcionam para mim. — Realmente estamos
casando bem cedo, ainda mais se pensarmos que o casamento será marcado
para daqui a três meses; nem tempo temos para organizar as coisas direito.
Não que a gente queira um casamento grande, mas a questão aqui não é sobre
quanto tempo temos para organizar um casamento, e, sim, por que decidimos
nos casar. Eu realmente pensei que eu nunca iria saber o que significava esse
amor que a maioria das pessoas sentem, esse amor de ser feliz em uma manhã
de sábado dando bolachinhas na boca da sua esposa. Eu nunca havia sentido
isso por ninguém… Bom, até conhecer a Hanna! Eu amo muito a sua filha,
senhor Richard. Eu poderia dar a minha vida a ela se ela me pedisse agora.
Antes de qualquer coisa, eu penso nela, e não em mim. Eu desejo lhe entregar
uma coleção de momentos bons e as risadas mais longas e cansativas em
todos os dias que eu conseguir, mesmo sabendo que nem sempre teremos
esses dias bons, mas eu quero fazer tudo isso com ela sendo a minha esposa.
Eu não quero perder tempo, já que eu consegui encontrar a minha pessoa.
Realmente estamos casando bem cedo, mas por que nós não deveríamos fazer
isso?

Após me escutar sem mover um milímetro do seu rosto, ele encara a


Hanna, e eu noto que a sua mãe desliza seu indicador perto dos olhos,
provavelmente para retirar uma lágrima.
— Ele te faz feliz?
— Muito mais do que vocês possam imaginar. — Ela fala,
pigarreando um pouco por ter ficado emocionada com as minhas palavras
também.
— E você o ama?
— Amo, talvez um pouco menos do que ele me ama, mas eu o amo!
— Hanna me dá uma cotovelada, para que eu entenda que ela está somente
brincando.
O senhor Richard balança a cabeça em concordância, e o sorriso
preenche o seu rosto.
— Ainda bem que você fez valer a pena o voto de confiança que eu te
dei, hein, Anderson? Senão você seria um homem morto.
— Richard! — Dona Eliza o repreende novamente.
— Que foi? O garoto tinha que ser corajoso, afinal. — Ele se levanta
e vem até nós dois. — Vocês dois merecem toda a felicidade desse mundo.
Eu estou realmente muito feliz por ver a minha princesa escolhendo o homem
mais feio desse mundo para se casar, mas eu consigo ignorar esse fato, já que
ela me disse que está feliz! — Dou risada da sua forma de falar e sou
surpreendido com o seu abraço, que aperta a mim e à Hanna juntos. — Vocês
têm a minha bênção.
— Sai, Richard, deixa eu abraçar eles também! — Minha sogra nos
agarra assim que somos liberados. — Meu Deus, a minha bonequinha levou a
sério o meu conselho para casar logo. Então agora me deem um netinho, por
favor!
— MÃE! — Hanna fala alto, e eu caio na risada.
— Que foi? Pelo que você mesma contou, vocês estão providenciando
essa criança há muito tempo. Só continuem! — Ainda estou dando risada
quando a sua mãe passa a mão nas minhas costas. — Vocês têm a minha
bênção também!
— Obrigado, sogra!
— Obrigada, mãe! — respondemos juntos.
— Agora me respondam a coisa mais importante! — Dona Eliza
semicerra os olhos. — Quem vai organizar esse casamento?
Os olhos da Hanna procuram os meus no mesmo instante, achando
graça na nossa piada interna.
— Claro que será você, né, mãe? Mas, por favor, no máximo 200
pessoas.

— Do seu lado, e mais 200 pessoas do lado do Ander? 400


convidados no total? Fácil, eu consigo! — Ela faz uma cara de que seria um
sacrifício muito difícil.
— Não mãe, 200 no total. E não tente aumentar, senão vamos reduzir
para 150.
— Hanna, para de ser chata. Tantas pessoas vão querer ir ao seu
casamento.
— É por isso mesmo que eu só quero as pessoas que eu considero. —
Hanna se mantém firme, e, enquanto isso, eu e o meu sogro nos olhamos,
achando graça nas duas.
A conversa durou por várias horas, e ficamos na casa deles até o
horário do almoço, discutindo sobre os detalhes do casamento, mas tivemos
que sair logo depois, porque as passagens que compramos para Brasília eram
às 16:00h e não queríamos nos atrasar. O dia foi literalmente uma correria.
Acordamos cedo e agora já estávamos passando pelos portões de embarque.
Quando, enfim, sentamos dentro do avião, descansando enquanto alguns
passageiros ainda entravam, Hanna segurou a minha mão e encostou sua
cabeça no meu ombro.
— Foi lindo aquilo que você disse para os meus pais…

— Sobre como eu te amo? — digo, sorrindo para ela.


— Sobre o "quanto" você me ama. Eu sei que passamos por muitas
coisas nesses últimos meses, ainda está sendo bem surreal para mim, mas
você tornou tudo realmente mais fácil, você se manteve do meu lado, e eu
não tenho palavras para te agradecer por tudo isso. Eu amo muito você,
Ander, e não me arrependo de ter entregado o meu coração em suas mãos! —
Seus dedos ficaram desenhando algo imaginário na palma da minha mão
enquanto ela falava.
— Hanna, você não precisa me agradecer por nada disso. Eu fiz o
mínimo por você e tentarei sempre dar o meu melhor na nossa relação. —
Pego a sua mão e a beijo. — Amo você!
— Vamos parar de falar sobre isso, porque eu estou bem emotiva e
não quero começar a chorar dentro do avião. Deixa essa emoção toda para
quando eu estiver em cima do altar… — Ela limpa o canto dos olhos. —
Falando em "dar o melhor" para a nossa relação, você não pediu a minha mão
para o meu pai, né? — Seus olhos se semicerram.
— Ah, é mesmo! Ainda bem que a senhorita me lembrou de que eu
serei o seu entretenimento nos próximos meses, né? O que quis dizer com
isso?

— Você vai ver. — Ela se vira para frente, encarando o nada.


— Hanna, pode contar, não começa!
— Eu já disse, você será o meu entretenimento; então, já vai se
acostumando com isso. — Seu sorriso de canto aparece enquanto eu a
observo.
— Literalmente?
— Literalmente. — Ela concorda.
— Então eu serei tipo o quê? O seu brinquedo sexual? — Enfim, seus
olhos arregalados me encaram novamente.
— Fala baixo, tem muitas pessoas aqui. — Sua voz saiu sussurrada, e
eu notei a vermelhidão se formando próximo dos seus olhos.
— Você não me respondeu! — Eu sussurro, também aproveitando
cada segundo de diversão que ela me proporciona.
— Por que você relacionou a algo sexual? Eu não posso simplesmente
querer aproveitar um encontro romântico com o meu noivo? — Hanna se
recompõe novamente em seu lugar.
— Porque eu te conheço, senhorita Hanna Menezes. Posso até
confirmar que você é muito mais safada do que eu depois do que fizemos
ontem. — Ainda falo baixo, mas desta vez ao lado da sua orelha, notando o
quanto ela está parecendo um pimentão de tão vermelha.
— Pode pensar o que quiser sobre o assunto, mas, no momento em
que eu reivindicar o meu desejo, você tem que estar disposto. — Seu humor
volta.
— Você me dá medo às vezes! — brinco, e ela não me responde.
Trocamos de assunto durante o voo e logo já tínhamos chegado ao
aeroporto. A minha mãe, como sempre, já estava nos esperando. Depois que
aconteceu tudo aquilo com a Hanna, eu parei de vir para cá. Claro que ela
insistiu para que eu viesse, mas eu não conseguia deixar a Hanna sozinha e
não compensaria vir para Brasília e voltar no mesmo dia, então simplesmente
inventei uma desculpa falando que a minha empresa estava um caos depois
da saída do Kauan, o que não era totalmente uma mentira, mas eu já tinha
conseguido uma substituta para colocar no lugar dele: a Meg tinha muito
conhecimento sobre os assuntos que eram da alçada do Kauan; cheguei até a
pensar que ela já teve que fazer alguns dos serviços que era para ele realizar.
Enfim, ela estava ajudando muito.
Minha mãe me abraçou e pude observar os seus olhos cheios de
lágrimas. Em seguida, ela se afastou, dando o mesmo carinho para a Hanna.
Com certeza eu a deixei com muita saudade.
— Meu Deus! Eu estava achando que teria que ir até Curitiba para
poder ver vocês dois. Nunca mais quiseram vir a minha casa. O que eu fiz de
errado? — Ela se engancha em meu braço e puxa a Hanna do seu outro lado,
fazendo o mesmo.
— Desculpa, dona Magda, não foi nossa intenção demorar tanto para
te visitar. Sabe como são os negócios. — Hanna se justifica, sem perceber
que a minha mãe só estava sendo implicante.
— Para, mãe, a Hanna está levando o seu drama a sério.
— Eu não posso fazer drama para a minha norinha? — Ela pisca os
olhos para mim.
— Não pode, porque senão ela vai achar que é verdade, e eu já tinha
te avisado sobre o estado atual da Aluxmil! — Enfim, avisto o seu carro.
— Tá bom, tá bom, mas, Hanna, pode vir sem o Ander se ele não
quiser visitar a mãezinha chata dele! — Seus olhos brilham para a Hanna,
que acompanha a nossa brincadeira sem tirar o sorriso do rosto.

— Claro, eu venho mesmo! — Vejo-a me lançar uma piscadela.


— Vocês duas estão de complô contra mim? — Minha mãe nos solta
para abrir o porta-malas.
— Agora quem está fazendo drama aqui? — Hanna passa o seu dedo
indicador na ponta do meu nariz, e eu percebo o quanto ela está mais solta.
Após mais alguns minutos de conversa e uma pequena briga quanto a
quem iria dirigir, eu consegui pegar as chaves da minha mãe, convencendo-a
de que a Hanna tinha que ficar do meu lado no carro.
— Agora me contem as novidades. Hanna, eu li em uma reportagem
que a sua empresa conseguiu fechar com alguns patrocinadores do exterior,
né? Eu fiquei tão feliz por vocês. — Minha mãe se sentou no meio para poder
conversar melhor com a gente, ou para simplesmente cuidar de mim
enquanto eu estava dirigindo.
— Isso mesmo, nós também ficamos muito felizes. Creio que até o
ano que vem estará tudo pronto.
— Nossa, isso é realmente muito bom. E você, filho, o que me conta
de novo? — Sinto sua mão em meu ombro.
— Acho que já contei tudo por mensagem, mãe! — falo, querendo
esperar para revelar sobre o casamento quando chegássemos em casa, com
toda a família reunida.
— Então por que não me contou sobre essa aliança brilhando na sua
mão aí no volante? — Encaro a minha mão na mesma hora, e a Hanna não se
aguenta em dar risada.
— Sua mãe é muito observadora. Nem os meus pais foram tão
rápidos.
— Então os senhores Menezes já sabiam, e nós não?
— Se acalme, dona Magda. Nós noivamos nesta semana e contamos
aos pais da Hanna hoje de manhã — revelo antes que minha mãe comece a
chorar.

— Vocês noivaram mesmo? —assusto-me quando a sua mão aperta o


meu ombro. — E você nem me pediu conselhos para arrumar tudo? Que
péssimo filho você é! — Seu tom saiu bravo. — Espero que ele tenha feito
tudo da forma mais romântica possível, minha querida. — Não sei como ela
consegue mudar tão rápido de humor quando vai falar com a Hanna.
— Foi lindo, dona Magda. Você criou muito bem o seu filho. Ele me
surpreendeu!
Hanna se virou para trás e pegou a mão da minha mãe, contando nos
mínimos detalhes como foi o pedido, e logo já estávamos na casa dos meus
pais. Assim que chegamos, tanto o meu pai quanto o meu irmão estavam na
sala nos esperando, e a minha mãe fez as honras de entrar em completo
êxtase de felicidade contando que tínhamos novidades; e, assim como eu
havia feito de manhã, eu fiz de tarde.
— Nós vamos nos casar!
— Puta que pariu! — Meu irmão falou imediatamente, ignorando o
filtro que geralmente temos. — Vocês estão zoando, né?
— Tony! — Minha mãe acerta a mão em seu estômago. — Olha os
modos!

— Desculpa, eu só fiquei assustado. Eu achei que a notícia de que a


Hanna poderia estar grávida viria primeiro que essa, ou por acaso estão se
casando por causa disso? — Reviro os meus olhos e a minha noiva dá risada.
Ela ainda estava fazendo tratamento para sua infertilidade, e, nos
últimos exames, nada tinha mudado; pelo menos a médica dela lhe deu novas
sugestões de tratamento antes de testarmos a última opção, que seria a
cirurgia. Mesmo assim, a Hanna não demonstrava desespero por causa disso;
afinal, não estávamos pensando nisso ainda.
— Anthony! — Meu pai o repreende, e, então, ele entende que passou
um pouco dos limites.
— Tá, desculpa de novo, é que vocês são tão indiscretos, que eu achei
que já tinha bebê no forninho, mas, mesmo assim, eu estou feliz por vocês.
— Hanna fica vermelha, e eu me levanto para fazer algo a respeito da sua
boca grande.
— Já chega, Anthony! Eu vou te tirar desta sala! Não tem como dar
uma notícia séria com você na conversa.
— Não vou falar mais nada, eu juro! — Seu sorriso sacana continua
em sua cara, e eu não acredito muito nele, mas ele se levanta e me abraça. —
Parabéns, irmão! Até que enfim virou um homem de verdade. Cuida da
Hanna, porque ela vale ouro.
— Verdade, meu filho. — Minha mãe se levanta em seguida, indo em
direção à minha noiva para juntá-la conosco em o nosso abraço grupal.
Por um momento, eu até achei que o mau pai não havia gostado,
porque o seu rosto ficou branco como um papel, mas, em seguida, ele foi até
todos nós e nos abraçou. Ele nunca tinha feito isso, seu forte não eram os
abraços, então é claro que a Hanna ficou surpresa — não só ela, eu também;
mas foram breves os segundos do abraço. Em seguida, o Tony voltou a falar,
perguntando se ela estava sendo ameaçada por mim ou se estava passando
bem da cabeça por ter aceitado se casar comigo.
Minha mãe não poupou esforços em descrever cada um dos meus
defeitos, desde quando eu era criança até antes de eu sair da casa deles,
tentando alertá-la de que ela estava assumindo um marido cheio de defeitos.
Até as minhas fotos de bebê foram reveladas, mas valeu a pena, porque eu
nunca a vi tão feliz como quanto esteve hoje.
Pudemos sentir todo o amor da nossa família por nós, e eu entendi
estar naquele momento específico da vida em que você finalmente percebe
que está onde deveria estar!
E é a Hanna que está tornando tudo isso possível!
Meus saltos ecoavam no grande corredor por onde eu caminhava
enquanto tentava me manter calma após a ligação que eu recebi ainda no
domingo pela manhã.
Infelizmente, o meu final de semana foi tristemente interrompido por
uma ligação do meu advogado me informando que tínhamos novos assuntos a
serem tratados sobre o caso do Kauan. Isso não favoreceu muito o meu
humor. Eu já estava sendo informada de todo o assunto sobre o Kauan desde
o início do processo, mas, devido a tantas provas, eu não imaginava ter que ir
até o tribunal para dar o meu depoimento, e era sobre esse assunto que nós
iríamos tratar agora.
Não que a ligação dele exigisse que eu estivesse em Curitiba o quanto
antes para acertarmos os detalhes, mas me manteve com uma angustiante
ansiedade que surgia ora sim, ora não, atrapalhando a alegria daquele
momento tão especial na casa dos pais do Ander. Escuto o meu celular
chamar quando estou praticamente na frente da sala de reunião da minha
empresa e visualizo o nome da minha mãe na tela.
— Bom dia, minha princesa. Como foi o final de semana? Me conta
tudo, por favor! Hoje eu não estarei na empresa, porque vou visitar alguns
salões de festas para vocês. Juro que vou tirar fotos de todos para te mandar,
e, pode ficar tranquila, que eu vou esperar vocês dois antes de fechar o
contrato com uma das empresas de casamentos. Pode passar lá em casa
depois do serviço…

— Calma, mãe. — Dou risada por toda a sua empolgação. — Bom, o


final de semana foi ótimo, mas eu estou entrando em uma reunião agora.
Meu advogado veio aqui para tratarmos sobre… "aquele assunto”.
— Meu Deus! Aconteceu alguma coisa? Novidades sobre o caso? —
Sinto como se ela tivesse parado de andar no instante em que ela percebeu do
que eu estava falando.

— O senhor Paulo não me revelou muito pela ligação que tivemos


ontem, mas aparentemente eu terei que ir ao tribunal para o julgamento dele.
— Era um nome que eu só citava em voz alta se fosse realmente necessário,
mas, só de pensar nele, eu sentia um mal-estar incontrolável.
— Calma, que eu fiquei até tonta! — Dou risada, imaginando como
ela consegue ser dramática até nesses momentos. — Vamos ao tribunal?
Ficar frente a frente?
— Vou confirmar com ele agora, mas, se a resposta for sim, eu irei,
né? Fazer o quê?
— NÓS vamos. Todos nós vamos. — Sinto a determinação na sua voz.
— Tá bom, mãe. Agora eu preciso ir. Tire as fotos de todos os salões
para mim, e, depois, eu passo na sua casa com o Ander para decidirmos. Só
não poderei ir hoje!
— Filha, antes de desligarmos, eu queria te dizer que… e-eu falhei
com você… — Sua voz soa triste pelo aparelho.
— Mãe… — tento cortar, mas ela continua.
— Deixa eu falar! Eu preciso dizer essas coisas! — Permanecemos
em um pequeno silêncio preenchido apenas pelas nossas respirações. — Eu
acho que o meu papel como mãe foi falho. Você sempre foi tão esperta,
proativa, animada e digamos que sempre se virou muito bem sozinha, então
eu me descuidei e deixei você tomar conta de muita coisa, principalmente dos
seus próprios assuntos sérios… Eu me assustei tanto quando você nos contou
o que havia acontecido, que eu percebi que não deveria ter deixado tantas
responsabilidades em cima de você. Talvez nada disso teria acontecido se
você não fosse envolvida com a empresa. Eu não sei, mas eu queria te pedir
desculpas por me manter sempre tão distante em vez de ter estado do seu
lado quando isso aconteceu!
— Não é culpa sua, mãe!
— Deixa eu falar, Hanna! — Ela me repreende. — Eu fico realmente
feliz de você ter conseguido um homem tão bom quanto o Ander, porque você
merece o amor que ele te dá, mas era eu que deveria ter ficado do seu lado,
entende? Ai Deus… eu não sei me expressar. O que eu quero realmente dizer
é que você pode contar comigo, filha, para qualquer coisa, sempre! Eu quero
muito ser aquela em quem você pensa em primeiro lugar quando acontecer
qualquer coisa na sua vida, sendo ela boa ou ruim, meu amor! Acho que eu
estou sendo um pouco egoísta, mas eu não ligo…
Eu não estava preparada para escutar essas palavras dela, então era
evidente que os meus olhos estavam se esforçando muito para manter as
lágrimas contidas, mas eu já havia limpado os meus olhos algumas vezes.
— Mãe, a senhora não tem culpa. Tudo isso é uma coisa que
simplesmente aconteceu porque um ser humano monstruoso decidiu que
tinha algum poder sobre mim!
Suspiro pelo flash de memória que me percorreu. Ainda era muito
dolorido, mas eu o ignorei e continuei falando:
— A senhora sempre foi uma mãe extremamente atenciosa, me
ensinou o que é certo e errado, e hoje eu consigo enfrentar tudo isso de
cabeça erguida porque a senhora ficou do meu lado sempre, me apoiou e me
deu liberdade para que eu conseguisse agir sozinha em muitas situações. Eu
amo você, mãe, e não deixe esses pensamentos te consumirem!
— Eu amo você, minha princesa. Obrigada por não perder a
esperança em mim! — Sinto a voz agoniada dela, provavelmente pelo choro.
— Isso nunca entrou em cogitação, mãe. Pode ficar tranquila! Agora
eu tenho que ir… — falo com carinho, enquanto coloco a minha mão na
maçaneta da porta.

— Nas próximas reuniões, se precisar de mim, eu vou com você!


— Eu sei! Chamarei se for algo mais sério.
— Vai lá, princesa, não quero te atrapalhar mais.
— Beijos, mãe!
— Beijos, filha!
Sinto uma pontada de culpa percorrer o meu corpo ao imaginar que a
minha mãe se sentia dessa maneira, ainda mais porque, no próprio dia que
tudo isso aconteceu, eu nem me lembrei dela, nem pensei em contar para ela
imediatamente, e provavelmente isso a deixou ainda mais triste. No fim das
contas, esse tipo de coisa acabava afetando as pessoas à nossa volta, e
inevitavelmente o sentimento de culpa passa pela mente de todos.
Mas eu ignoro essa sensação momentaneamente apenas para poder
me concentrar na minha reunião com o senhor Paulo. Abro a porta da minha
sala e me deparo com ele de pé me esperando já.
— Me desculpe pela demora, Paulo. Recebi uma ligação agora. —
Cumprimento-o e indico a cadeira para ele se sentar.
— Imagina, senhorita Hanna, cheguei faz pouco tempo também.
— Me diga as novidades do caso do… Kauan. — Ignoro a dificuldade
de falar.
— Primeiramente, antes de qualquer coisa, eu queria lhe informar que
o senhor Matheus já foi indiciado à prisão por ter feito e compartilhado o
vídeo da senhorita sem qualquer consentimento seu. Dessa forma, a juíza
poderá decretar uma prisão de três a cinco anos para ele, mas, se a senhorita
quiser que eu entre com recurso, poderemos aumentar ainda mais a pena dele
se conseguirmos provar que esse ato foi realizado por vingança de um ex-
namorado.
Bom, eu não estava pensando no Matheus já fazia um tempo, tinha até
me esquecido dele depois de todo esse furacão em que eu estive, então foi
uma surpresa para mim saber que o meu advogado ainda estava mantendo a
acusação em cima dele e que ele já tinha sido indiciado à prisão.
— Você acha que, se entrarmos com recurso, conseguiremos vencer e
aumentar o decreto de prisão dele?
— Creio que sim, porque eu consegui acesso ao interrogatório dele e,
pelo que eu entendi, o Kauan pagou para o Matheus uma quantia bem alta
pelo vídeo. Isso pode ser o necessário para que todos percebam que ele fez
tudo isso por vingança e para se dar bem com a venda ilegal desse tipo de
conteúdo.
A informação me atingiu como um choque. Ele estava recebendo
dinheiro pelo vídeo? Ele era ainda mais nojento do que eu imaginava.
— Então pode entrar com o recurso. Quero que esses dois apodreçam
na prisão pelo que fizeram comigo.
— Certo! Agora, sobre o Kauan... — Ele faz uma cara não muito
agradável.
— Então o Matheus era a notícia boa? — Sorrio, incrédula. — Pode
me falar a notícia ruim, então!
— Ele tem um advogado muito bom o auxiliando agora. Creio que os
pais dele tenham conseguido contratá-lo, já que as contas e os bens dele estão
todos travados pela justiça. Teremos que ir ao tribunal, porque o advogado
dele está alegando que foi tudo uma grande armação sua e do Anderson para
conseguir a parte dele da empresa, ainda mais porque eles descobriram que o
primeiro contrato assinado foi uma farsa.
— Merda! Isso é bem ruim, né? — Bufo, enquanto me largo na
cadeira.
— Um pouco, mas eu já estou resolvendo esse assunto com o senhor
Anderson. Não precisa se preocupar. A única questão aqui é se a senhorita
vai querer testemunhar com a presença do Kauan na sala do tribunal. Ele
estará lá!
Vê-lo de novo? Eu não saberia dizer se iria conseguir fazer isso!
— O que você me diz? Eu preciso mesmo vê-lo?
— As reações em um tribunal são muito levadas em consideração,
então seria importante ver como será o comportamento dele diante do seu
testemunho. Mas, se a senhorita não quiser, não tem problema. Ele seria
retirado da sala antes que o interrogatório começasse.
— Entendi! E eu posso te dar a resposta até quando? — comento,
ainda pensando em suas palavras.
— Não tem pressa, senhorita Hanna. A audiência ainda nem foi
marcada.
— E você acha que ele tem alguma chance de conseguir escapar ileso,
agora que ele tem um advogado bom? — confesso o meu medo.
— Creio que não. Temos muitas provas contra ele, mas nunca se sabe
o tipo de argumentos que o advogado de defesa irá utilizar contra a gente. —
Concordo com a cabeça.
— Ok, então eu te darei um retorno quando eu tiver uma resposta.
— Tranquilo, senhorita Hanna. Vamos nos falando.
— Qualquer coisa, pode me ligar. — Andamos até a grande porta da
sala.
— Ligarei. Obrigado!
Assim que ele saiu, eu retornei aos meus afazeres, mas digamos que a
minha tarde foi repleta de pensamentos sobre tudo que conversamos nos
meros 10 minutos dentro desta sala. Eu ainda não estava acreditando que o
Kauan havia conseguido alguma forma de tentar manipular algo para que ele
fosse liberado de tudo isso, algo que o ajudasse a sair ileso. Como se isso
fosse possível! Tenho certeza de que ele não irá conseguir se safar dessa, por
mais que tente. Estou preocupada, mas a sensação é a de que tudo vai dar
certo no final, independentemente dos esforços daquele monstro.
Decidi tentar esquecer esse assunto com outras coisas e saí da
empresa um pouco mais cedo que o habitual. Avisei ao Ander que não
precisava me buscar e chamei o senhor Diogo para que me levasse aonde eu
precisava.
Desde que eu e a Hanna começamos a morar juntos, eu a levava até a
sua empresa e também a buscava. Então, quando ela me disse que havia saído
mais cedo e que o senhor Diogo a estava levando para casa, é claro que eu
estranhei — era mais fácil a Hanna sair mais tarde do serviço do que antes do
seu horário.
Até tentei me concentrar no meu serviço, mas a preocupação com ela
era constante. Eu não queria ficar enchendo o celular dela com mensagens
sem pausa, então me contive, pelo menos até que eu chegasse em casa.
Quando o meu relógio indicou que eu já poderia sair, eu já estava entrando
dentro do meu carro.
Eu poderia confessar que deixá-la sozinha depois de tudo que
aconteceu estava sendo um aprendizado sufocante, porque eu queria
permanecer ao lado dela dia e noite para sempre ter a certeza de que ela
estava bem, mas eu não poderia simplesmente dizer a ela que eu estava me
tornando um obsessivo totalmente controlador.
— Amor? — digo, assim que eu entro dentro do apartamento.
Tudo parecia exatamente como deixamos de manhã antes de sairmos
para o serviço, e o fato de eu chamá-la não havia mudado nada, porque o
ambiente permaneceu em silêncio, com apenas o barulho da chuva batendo
nos vidros, que ecoava no vazio presente.

Deixo as minhas coisas em cima da mesa, como chaves, carteira e o


meu terno, e passo o olhar em todos os cantos da casa procurando por ela.
Sigo para o quarto quando não a encontro no banheiro e quase caio de costas
assim que eu abro a porta.
Certo, eu não estava esperando por isso.
Meu coração ainda estava acelerado observando tantas informações.
Não é tão fácil sair de uma situação e cair em outra completamente diferente.
O quarto estava com todas as persianas fechadas e com uma meia-luz
vermelha que reluzia em seu corpo. Ela também não estava facilitando para
mim, vestida com uma lingerie preta cheia de tiras que percorriam o seu
corpo.
— Uau! — exclamo quase de imediato.
Meus olhos aproveitaram a vista desde os seus pés, que estavam com
um salto preto, até a sua cinta-liga, que estava presa em suas coxas, ligando-
se com outra fita em sua cintura. Eu passeava vagarosamente com a minha
visão pelo corpo de Hanna, para não perder nenhum detalhe. A calcinha era
ainda mais fina do que todas que eu já havia visto nela, e o tecido era
transparente. Dava para ver o desenho de um coração no centro daquela
perdição de caminho.

Seu sutiã também tinha o mesmo tecido transparente, e as fitas


tampavam os seus mamilos e seguiam do meio dos seus seios até alcançarem
o seu pescoço como um colar. Seus cabelos estavam soltos, e ela havia feito a
maquiagem de acordo com a sua roupa, mas o batom vermelho brilhava e se
destacava em seus lábios, sendo a única cor vibrante ali.
O quarto estava com um cheiro doce. Em cima da cama, tinha alguns
frascos e caixas que eu não identifiquei do que se tratava. Algumas velas
acessas também ajudavam na iluminação, e eu presumia que o perfume
estivesse vindo delas. Fechei a minha boca por medo de babar, já que eu
estava fascinado por ela. Então, os seus passos se iniciaram em minha
direção.
— O senhor está atrasado! — Ela sorri enquanto pega a minha
gravata e a deixa mais frouxa.
— Se eu soubesse que você estava fazendo isso tudo para mim, com
certeza eu teria chegado mais cedo — falo, enquanto as minhas mãos se
aproximam do seu corpo.
— Sem tocar! — Ela bate em minha mão com uma pequena chibata
que eu nem havia notado na sua mão, assustando-me com o seu ato. Seu
sorriso malicioso aparece quando ela vê a minha reação.
— Ai! — exclamo, esfregando o local que ela atingiu.
— O entretenimento é meu, e não seu. Se contenha.
Ela se virou, andando em direção à cama, e a visão da sua bunda era
ainda mais linda do que eu poderia imaginar, já que, em vez de tiras como na
parte da frente, a sua calcinha era composta de correntes douradas.
Essa brincadeira estava sendo bem interessante. Eu não estava mesmo
esperando que ela fosse fazer algo tão fantasioso, mas eu tenho certeza de que
o entretenimento também estava sendo meu, já que, em seguida, ela se
abaixou na cabeceira da cama para pegar o controle e me deu a visão da sua
intimidade completamente nua.
A calcinha dela era dividida ao meio, sendo de fácil acesso tocá-la.
Ela sabia brincar.
Cheguei até a fechar os meus olhos para tentar ignorar a tentação de
atacá-la agora mesmo e acabar com todo esse desempenho pelo qual ela se
esforçou tanto.
— Como a senhorita consegue ter essa cara de santa, se, no fundo,
deseja se vestir assim para mim? — falo, provocando-a, quando ela empinou
ainda mais a bunda.
— Xiu! — Seu indicador vai até a sua boca, pedindo pelo meu
silêncio. — Tire a roupa e se deite! — Hanna me ignora, ordenando. Assim
que me olha novamente, ecoa o som da chibata em sua mão. Começo a
desabotoar a minha camisa e vou em sua direção como um cachorro
obediente, retirando-a para, em seguida, fazer o mesmo com a minha calça.
— Se eu não for tão obediente como você está desejando, o que vai
acontecer? — Paro na sua frente somente de cueca e sinto o seu perfume
preencher todo o meu consciente. Eu amava o fato de ela ser tão cheirosa.
— Ótima pergunta! — Ela ainda tem aquele sorriso espirituoso no
rosto quando encosta a chibata em mim e começa a caminhar em volta do
meu corpo. — Toques sem permissão geram uma punição de três dias sem
sexo… — A chibata ecoa sem agressividade em minha pele, acertando
próximo da minha bunda.
— Ei! — Assusto-me, mas permaneço imóvel.
— Falar sem permissão contabiliza 2 dias sem sexo! — O próximo
estralo vem em meu abdômen, causando-me cócegas.
— Isso será um castigo para você também! — Seu rosto pende para o
lado, e o seu sorriso aumenta.
— Quem disse? — Ela vai novamente para perto da cama e levanta
uma caixa posicionada entre os objetos, que agora eu consigo observar
melhor: se tratava de um vibrador e também de vários outros produtos de sex
shop. — Eu comprei um amigo, e você terá que me ver utilizando "ele" em
vez de você. E você não poderá gozar. Esse será o meu entretenimento nos
próximos três meses. Você que escolheu, não se esqueça. Então, seja um bom
garoto… — Ela larga a caixa na cama e vem novamente em minha direção.
— Se comporte. — Sou empurrado sobre o colchão.
Safada! Só estava me provocando ainda mais escutá-la falando sobre
esses assuntos dessa maneira. E eu estava adorando esse seu novo lado.
— Mais alguma coisa que eu precise saber? — falo, observando-a
pegar o primeiro frasco do meu lado.
— Bom, creio que a última regra será fácil para você. — Ela abre um
óleo e começa a pingar em meu corpo, causando pequenos arrepios em mim
devido à sensação gelada. — Eu tenho que gozar primeiro! — Ela sobe em
cima do meu corpo, e a sua intimidade se abre em volta do meu pau, fazendo-
me sentir o seu calor. — Caso isso não aconteça, você terá 7 dias sem sexo.
Você consegue, né?
— Não me subestime!
Ela sorri novamente enquanto começa a passar as mãos em mim,
espalhando aquele óleo.
Os seus movimentos também são em cima do meu membro, que está
quase fugindo da cueca. Seguro minha voz pela torturante sensação do seu
vaivém e também pela pressão que estou exercendo em meu autocontrole
para não a tocar e acabar ficando os três meses sem sexo!
— Então, que comecem os jogos! — Ela sussurra em meu ouvido e
aperta o play da música, jogando o controle no chão em seguida.
A luz vermelha contornava o seu corpo em cima de mim, e eu me
mantive deitado, controlando os meus pensamentos para não a tocar sem a
sua ordem, enquanto ela se ajeitava em meu colo. Meu abdômen subia e
descia com a sensação dos seus dedos, que massageavam e colocavam
pressão em cada um dos gominhos da minha barriga, causando um
formigamento de cócegas e prazer que me percorriam.
Seus dedos com certeza sabiam fazer uma bela massagem, relaxando-
me desde os meus ombros até próximo do meu pau, o que estava sendo uma
puta sacanagem dela. O óleo que ela espalhou em mim descia nas laterais do
meu corpo, deixando um cheiro de amêndoas e a minha pele brilhosa. A
sensação era muito boa, ainda mais quando ela se lambuzava em mim com o
líquido que foi colocado em excesso para ter exatamente este objetivo: de nos
encharcar a ponto de nos escorregarmos um no outro.
Hanna levantou o quadril o suficiente para despejar uma quantidade
do líquido em minha cueca, até ver que o meu membro estava bastante
marcado no tecido. Ela, então, se sentou de novo em mim, formando um som
melado em nossos sexos. Minha vontade era de simplesmente deixar as
minhas mãos seguirem a própria vontade de encostar em sua intimidade nua e
lisa, que agora estava se esfregando em cima de mim e massageando as
minhas bolas, tonteando-me com o seu ato.
Puxei o ar e soltei dezenas de vezes para que a minha consciência não
me abandonasse com cada toque dela, que parecia muito bem-pensado e
arquitetado contra mim. Eu já conseguia sentir o meu pau produzindo o seu
próprio líquido pegajoso por ela estar me masturbando com o seu vaivém, e
provavelmente ela percebeu o meu desespero e pegou as algemas que
estavam ao nosso lado. Hanna começou a girar o brinquedo de metal em seus
dedos, enquanto o seu sorriso não perdia o brilho.
— Me dê as suas mãos. — Ela ordenou novamente, e eu obedeci.
— Quando eu poderei falar? — pergunto enquanto ela prende as
algemas nos meus punhos.
— Você tem a permissão para me responder quando eu perguntar
algo! Somente isso! — Ela confere as travas e empurra os meus braços para
trás, deixando as minhas mãos na minha nuca. — Inclusive… você falou sem
permissão. 2 dias sem sexo!
Porra! Claro que ela seria severa!
Nossos rostos estavam próximos, então ela conseguiu ver a minha
reação indignada pela punição repentina que recebi. Seus seios encostaram
em mim, já que ela havia se deitado sobre o meu corpo para ajeitar as minhas
mãos, e eu consegui sentir o seus mamilos intumescidos pelo tecido, vendo,
em seguida, que eles estavam quase escapando das fitas que os seguravam.
— Não adianta me olhar assim. — Ela passa a língua em minha
orelha e desce para o meu pescoço, levantando-se em seguida. — Aliás, pode
continuar me olhando assim. Você está lindo desse jeito, totalmente rendido!
Sorrio, porque a bendita gostosa estava incrivelmente linda com todo
o seu poder sobre mim. Seus saltos indicaram os seus passos no chão por
meio dos sons conforme ela se afastava, para, em seguida, o restante do
conteúdo do frasco de óleo ser despejado em seu corpo. Hanna deixou os
pingos deslizarem entre os seus seios e, logo depois, molhou os seus braços e
a sua barriga — tudo isso no ritmo exato da música, que deixava os
movimentos dessa mulher ainda mais sensuais. Ela deslizava os seus dedos,
espalhando a fragrância em todo o seu corpo, até chegar ao meio das suas
pernas. Então, ela começa a se tocar na minha frente.
Seus movimentos intercalaram entre as suas mãos, indo dos seus seios
até a sua intimidade, estimulando-se. Minha respiração pesada me entregava
como um tarado louco para fodê-la, e ela viu o quanto eu estava sedento.
Caralho, como ela quer que eu fique parado e calado vendo tudo isso?
— Eu até iria te perguntar se você está gostando do que está vendo,
mas eu estou amando te ver de boca aberta. Acho que você vai babar,
spitzinho. — Hanna colocou um pé em cima da cama e terminou de passar o
líquido pelas suas coxas torneadas.
Engoli a saliva após o seu comentário, notando que o canto da minha
boca realmente estava molhado. Eu queria abocanhar seus seios e raspar os
meus dentes neles o quanto antes.
Assim que ela terminou de espalhar o óleo, o seu corpo reluziu o
vermelho-vivo das luzes. Enquanto ela se abaixava na minha frente, suas
mãos foram ao encontro da barra da minha cueca, e, em segundos, eu estava
completamente nu, com ela lambendo os lábios para se abaixar e me colocar
em sua boca. Reativamente, os meus olhos se fecharam por sentir sua língua
quente me molhando, e eu me segurei para não gozar de imediato e também
para não xingar algo incoerente.
Ela não tem pressa e inicia o seu ritmo lento ao me chupar com a
ajuda da sua mão. Eu senti por várias vezes o meu mundo desabando no seu
vaivém, que tornou a minha respiração mais alta. Sua bunda ficou empinada,
dando a visão mais bela do mundo para mim, e o seu tronco subia e descia ao
me engolir, aumentando a sua velocidade com o passar dos minutos. A sua
outra mão começou a arranhar a minha barriga, e eu reagi, agoniado,
querendo escapar dos seus toques cruéis.
Isso é tão bom quanto um martírio sem fim.
Sua língua percorria toda a minha extensão para a sua boca me sugar
em seguida, formando uma repetição dos seus gestos, só que com mais
velocidade. Hanna me encarava, mostrando o que ela estava disposta a fazer.
Ela queria que eu gozasse, e eu estava quase cedendo, porque tudo estava me
esquentando muito e trazendo à tona um abismo do prazer.
— Eu vou gozar, para! Por favor! — digo, tirando as minhas mãos de
trás da minha cabeça para irem ao seu encontro, mas eu me contenho para
não a tocar e aumentar ainda mais a minha punição.
Hanna, enfim, levanta-se, limpando o canto da boca como uma
traiçoeira por ter feito eu pecar antes mesmo de entrar em seu ventre quente.
— Mais dois dias na sua conta! — Seu sorriso parecia o de alguém
que havia chegado primeiro em uma competição.
Eu não queria estar contando, mas quatro dias sem sexo? Eu não
poderia falhar mais; senão, daqui a pouco, seriam seis, oito, dez…
Hanna retornou as minhas mãos para a minha nuca e, em seguida,
ajeitou-se em cima de mim novamente, após retirar os seus saltos e separar
ainda mais a sua calcinha, que já era aberta no meio para ela poder se
encaixar em mim com facilidade. Senti, assim, o seu interior ainda mais
quente que a sua boca. Ela não deixou nem eu me acostumar com a sensação
e sentou em mim novamente, gemendo no meu colo ao me sentir invadindo-a
por completo, enquanto eu pendia a minha cabeça para trás, por tudo que
estava sentindo.
Ela puxou as fitas que tampavam os seus seios, libertando-os de
imediato para que eu pudesse vê-los balançar com a sua cavalgada. Observei
os bicos dos seus seios inchados pela pressão que ela exerceu antes, enquanto
se estimulava na minha frente.
Meus quadris começaram a ajudá-la com os seus movimentos, indo
contra ela e chocando mais forte os nossos corpos. Foi então que eu percebi
em seu rosto o exato momento em que eu atingia o ponto certo para ela
gozar. Repeti os movimentos e notei os seus olhos se fechando com prazer
enquanto tanto o meu esforço quanto o dela aumentavam a sensação do nosso
orgasmo.
Os próximos segundos foram essenciais para ela se derreter em seu
gozo, deixando toda a sua musculatura interna se fechar contra mim. Eu,
então, parei os movimentos, acalmando-me junto a ela. Assim que ela se
recuperou, o seu primeiro movimento foi se esfregar em mim novamente,
deixando-me louco.
— Você realmente manteve a sua palavra em me fazer gozar
primeiro. Agora venha aqui! — Ela sinalizou com as mãos, pedindo que eu
subisse o meu corpo até ela, e assim eu o fiz.

Nossos corpos ficaram quase colados e, sem que eu reagisse a tempo,


ela me beijou com uma necessidade que o momento pediu, invadindo a
minha boca com rapidez e me puxando para ainda mais perto dela. Eu
respondi querendo devorá-la por completo. Minhas mãos foram soltas em
seguida, enquanto as nossas respirações se acalmavam.
— Me come, agora, com força! — Ela disse, assim que as algemas
também foram parar no chão. Certo, ela mandando em mim assim me deixou
ainda mais duro e excitado.
Hanna se colocou novamente em cima do meu membro, nos
encaixando, e eu entrei nela com força como ela pediu, vendo o seu rosto se
contrair de prazer, mas fiz isso sem encostar nela, porque eu não iria errar
mais.
— Pode me segurar e meter sem dó! — Puta Merda, da onde ela
tirou esse linguajar?
Entrelacei no mesmo instante os meus braços em volta da sua cintura
e a agarrei, puxando o seu corpo para que ela grudasse em mim e se ajeitasse
melhor. Suas mãos entraram nos meus cabelos assim que eu me movi
novamente a atingindo fundo. Hanna, então, soltou todo o seu ar próximo do
meu ouvido, fazendo-me reagir passando as suas pernas por cima dos meus
braços, para que eu conseguisse movimentar o seu corpo sobre o meu. Ela é
leve, por isso foi fácil levantá-la para poder tomar conta do nosso ritmo, que
se transformou em algo totalmente novo para nós dois, já que nunca fizemos
nessa posição e nem nessas circunstâncias.
— Me fale o quanto você me quer! — Sua voz sai sussurrada.
— Porra, quero pra caralho! Quero mais que tudo! Quero por
completo, cada centímetro seu, de todas as formas possíveis! — Ela morde a
minha orelha assim que eu termino de falar, e a dor tem uma eletricidade
diferente em meu corpo, fazendo-me aumentar a nossa velocidade.
Por causa dos nossos movimentos, eu escuto algo cair da cama, e
tanto os meus olhos quantos os da Hanna notam os produtos de sex shop se
mexendo e indo em direção ao chão. Entendo imediatamente que ela quer
pegar mais alguma coisa para misturar em nós e a solto para que eu seja a sua
cobaia novamente.
Hanna levantou em suas mãos uma pequena bisnaga com um título
em evidência identificando um produto eletrizante, o que me deixou confuso,
já que eu não sabia imaginar como seria essa sensação.
— Vamos testar uma coisa nova! — Ela abre o produto e despeja em
sua mão, para, em seguida, sair de cima de mim e esfregar em meu pau com
calma e cuidado. — Está sentindo algo diferente?
— Não sei ainda! — Dou risada, já que ela acabou de colocar, então
não saberia dizer.
— Quem sabe eu precise te colocar dentro de mim novamente! —
Hanna comenta, sentando sem dó em mim, fazendo-me sentir uma vibração
na região que me tira totalmente o fôlego.
A sensação é exatamente como o produto dizia: eletrizante. Eu
conseguia sentir o pulsar do meu sangue correndo dentro do meu pau e queria
muito saber o que ela estava notando em seu interior, então a peguei na
mesma posição anterior e iniciei os movimentos lentos.
— Deus… isso está… — Ela arregala os olhos ao sentir o mesmo que
eu, provavelmente, mas não consegue terminar a frase, enquanto eu consigo
novamente atingir o local exato do seu prazer.
Aumento a nossa velocidade e percebo os nossos corpos entrando em
um completo caos de excitação intensa pelo produto. Logo os nossos
movimentos tornam a nossa sensibilidade ainda maior, estimulando o
orgasmo a chegar com mais força e mais rápido.
— Nem pense em parar… — Ela sussurra, e eu entro de novo, e de
novo, tirando toda a sua respiração em cada ato. — Eu vou… gozar!
Suas palavras são o estímulo perfeito de que eu precisava para ter
mais força de entrar nela, fazendo com que os seus braços me prendam ainda
mais em si, notando o seu rosto pedindo por mais em meio aos seus gemidos
confusos e misturados ao meu nome. Hanna gozou como nunca antes em
meus braços, que ainda a mantinham presa em mim, e eu me despejei dentro
dela, sentindo-me totalmente satisfeito após todo o formigamento que
sentimos graças ao produto.
Ficamos por alguns minutos assim, sentindo ainda o efeito em nós, até
ela se levantar do meu colo e se deitar ao meu lado, causando um frio
incomodativo por termos nos desconectado.
— Agora você pode falar, não vou aumentar a sua punição, porque,
de verdade, eu senti como se fosse morrer com tantas sensações assim!
— E eu senti como se você quisesse me matar! — Seu sorriso
vitorioso é apenas o que eu precisava ver hoje.
— Eu quase consegui! — Hanna se cobre com o lençol.
— Você saiu mais cedo do serviço porque estava querendo transar?
— questiono, pegando qualquer outro frasco do meu lado e lendo o rótulo.
— Eu saí mais cedo para comprar essas coisas. — Ela dá risada.
— Para a gente transar. Então, dá no mesmo.
— Por que ainda está assim? — Ela encara o meu membro, que
continua em pé.

— Acho que é o produto! — Sorrio ao notar e coloco um travesseiro


em cima. — Ou pode ser você. Na maioria das vezes, é você que me deixa
assim, né?
— Podemos fazer de novo se quiser. — Hanna segura a minha mão e
tira o travesseiro de cima do meu pau.
— Você que ordena aqui, senhorita mandona!
A ansiedade chegou a milhão nesse último mês, e eu comecei a contar
os dias para a grande data. Agradeci novamente aos céus o fato de a minha
mãe manter o seu entusiasmo desde o início para poder escolher não só o
salão, mas também as flores, o bolo, os doces, as comidas, as bebidas e, se
duvidar, até os trajes dos padrinhos e das madrinhas.
Só tirei do poder dela a escolha do meu vestido e dos convidados,
senão eu teria certeza de que o casamento iria terminar com mais de 800
convidados. Encaro a minha agenda e noto um pequeno post-it anexado por
ela em cima da tela do meu computador.

"Filha, eu já pedi para a Andréia cancelar toda a sua agenda dos


próximos 40 dias. Nem venha brigar comigo. Você precisa descansar. O seu
casamento está chegando e, depois, você irá para a lua de mel. Então, sim,
você precisa desse tempo!"

Quem diria... intimada pela própria mãe para parar de trabalhar. Acho
que realmente eu preciso desse tempo. Saio da minha sala e vou para a mesa
da Andréia.
— Andréia, minha mãe cancelou toda a minha agenda? — Ergo o
post-it para que ela veja que eu já sei.

— Quase. Eu não deixei tudo ser cancelado. Reorganizei todos os


eventos. Sua mãe vai assumir muitas das suas reuniões, e seu pai vai fazer a
viagem que estava marcada. — Ela se levantou, apressada, e começou a me
mostrar as alterações.
— Você vale ouro mesmo. — Sorrio para ela. — Não me arrependo
de ter aumentado o seu salário.

— Nem eu! — Ela dá risada ao comentar.


— Já que você sabe de todos os eventos da minha vida… — Inclino-
me em cima do balcão que nos separa. — Sabe me dizer para onde o Ander
resolveu me levar na lua de mel? Ele está mantendo isso em segredo.
Seu sorriso diminui, e eu noto que ela procura alguma mentira para
me contar.
— Claro que eu não sei, Hanna. Eu nem converso com o senhor
Anderson! — Andréia volta a se sentar, olhando para sua mesa. — E, mesmo
se eu soubesse, não seria certo eu te contar.
— Até você contra mim? — Sorrio e me ajeito para voltar à minha
sala.
— Não estamos contra você, estamos todos só querendo que se
divirta.
Eu não estava decepcionada por ela não me contar, mas o suspense
que o Ander estava fazendo sobre isso — não só ele, mas todos à minha
volta, que, pelo jeito, já sabiam — continuava me deixando aflita.
— Ta bom, eu posso conviver com isso! — Faço drama e começo a
andar novamente. — Ah, mais uma coisa: a agenda desta semana não foi
cancelada, né?
— A agenda está intacta até sexta. A partir disso, eu terei férias. —
Ela dá risada novamente.
— Aproveite as suas férias! — falo amorosamente, já que eu sei que
ela tira poucos dias de folga por minha causa.

— Você também, Hanna.


Assim que eu entro na minha sala novamente, sinto o meu celular
vibrar, indicando uma mensagem, que eu logo vejo ser do Ander:

"Ontem à noite não valeu. Como eu poderia ficar só


te olhando sem te tocar enquanto você fazia aquilo?
Se ficarmos 15 dias sem sexo, eu só vou poder te ter
de novo na lua de mel. "

Sorrio, lembrando-me da noite anterior em que eu utilizei o vibrador


pela primeira vez desde que o comprei e e em que o Ander me atacou assim
que introduzi o aparelho emborrachado em mim. Claro que não foi só isso;
no fim das contas, ele me prendeu para poder brincar com o aparelho em
mim, e a sua punição foi severa. Mesmo assim, eu gozei muitas vezes.

"Regras são regras! Bem-vindo à sua seca pré-


casamento!"

Com certeza essas meses foram os mais engraçados da minha vida,


porque eu pude me aproveitar muito bem do meu poder sobre o Ander,
deixando-o maluco em todas as vezes que eu quis brincar. Tirando o fato de
que eu realmente cobrei os dias sem sexo conforme ele não reagia de acordo
com as minhas brincadeiras, nós nos divertimos muito. Foi uma experiência
completamente nova para nós isso de utilizarmos tantos produtos de sex
shop. Acho até que eu acabei exagerando nas compras, já que as caixas dos
Correios chegavam quase toda semana.
Foram vários testes. Claro que algumas vezes não terminaram da
forma que a gente queria, já que os produtos de esquentar tiveram uma reação
bem estranha no Ander. Como eu disse, foram meses extremamente
engraçados. Mas, no final, deu tudo certo. A minha brincadeira de mandar me
ajudou a me lembrar de como eu era: uma mulher sem medo das coisas.
Porém eu confesso que já estava ficando com saudade da dominância do
Ander; então, eu estava bem feliz que o casamento já estava chegando.

Faltavam apenas 15 dias…

— Cadê os seus brincos?


Minha mãe passa atrás de mim, arrastando o seu vestido longo de cor
terracota, que incrivelmente combinou com os seus olhos verdes.
Os barulhos das pedras no tecido sendo empurradas pelo chão me
agoniavam enquanto ela procurava pelas minhas joias dentro de várias caixas
aleatórias de maquiagens, roupas e perfumes que ela ia encontrando em cima
da cama.
— Estão na minha orelha, mãe! — Reviro os olhos, observando a
moça que arrumava o meu cabelo dando risada disfarçadamente. — Se
acalma um pouco, está me deixando nervosa.
— Como eles foram parar aí? Eu te vi agora há pouco sem eles. —
Ela parou do meu lado para conferir as minhas orelhas.
— Mãe! Isso não é importante. Por que está fugindo da sua
maquiadora? Olhe só no espelho: tem um olho com o cílios postiço, e o outro
olho está sem. Volte para o seu quarto, já é a oitava vez que você entra aqui.
Minha mãe estava linda, quase pronta para o casamento, mas também
estava totalmente inquieta, andava sem pausa de um lado para o outro como
uma formiga, vindo e indo do seu quarto de arrumação para o meu, que
ficava em frente, como se isso fosse ajudar no seu nervosismo. E eu estava
deixando toda a minha paz de lado para ajudar a minha mãe a se acalmar.
— Eu preciso ver o tempo todo como você está ficando linda. Não
que você não seja linda; fui eu que te fiz, né? Então é claro que você é a
mulher mais linda desse mundo, mas eu não estou mais aguentando ficar
naquele quarto. Por que você escolheu os quartos separados para a gente se
arrumar? — Minha mãe gesticula com as mãos, mostrando o caminho que ela
estava fazendo de ir e vir.
— Foi a senhora que escolheu, mãe! — Começo a dar risada, e, desta
vez, a moça para de me arrumar, porque eu estou simplesmente me mexendo
muito na minha gargalhada para ela continuar.
— É verdade, mas por que você aceitou? Tudo bem que eu disse que
seria mais tranquilo para nós duas se ficássemos em quartos separados para
não encher o quarto, mas, como eu disse, eu não estou aguentando ficar lá.
— Então vem para cá! — digo, assim que consigo, encostando-me na
cadeira novamente.
— Não dá, senão eu vou te atrapalhar. Você está tão perfeita, que eu
quero te apertar. — Ela se aproxima para me beijar, mas para assim que a
maquiadora dela entra no quarto.
— Vai borrar a maquiagem! — Ela alerta a minha mãe em quase um
grito. — Senhora Eliza, podemos continuar?

Só a minha mãe mesmo para fazer a coitada da maquiadora ficar


parando de 5 em 5 minutos para poder vir aqui me ver. Ela para no meio da
sala e solta um longo suspiro, virando de costas para mim
— Ai meu Deus! Eu não quero terminar de me maquiar! — Minha
mãe encara a maquiadora e volta os seus olhos para mim, que eu noto
estarem inteiramente molhados. — Isso vai significar que, assim que nós
terminarmos, a minha filha também estará pronta para se casar, e ela não vai
ser mais a minha bonequinha; ela estará se juntando a um homem, e a vida
dela será com ele. Isso é tão estranho! É como se eu estivesse tendo que me
separar de você, mas ao mesmo tempo eu estou tão feliz, que não consigo
nem me expressar.
Sem que eu notasse, já estava a abraçando, segurando-me para não
borrar a minha maquiagem também, que já estava pronta.

— Mãe! Calma! Eu estou me casando, não indo embora para outro


país. Nada vai mudar! — Seco os seus olhos antes que eles se borrem mais.
— E eu vou morar na mesma rua da casa de vocês. Não precisa ficar assim.
Pense que é apenas mais uma das suas festas!
Meu pai também entra no quarto e, de repente, aquele local parece
cheio demais.

— O que está acontecendo aqui? — Ele se aproxima de nós duas. —


Tua mãe resolveu chorar aqui agora?
— Como assim "aqui"? — Solto-a dos meus braços e a encaro.
— Sua mãe está chorando a semana inteira. Já chorou duas vezes no
nosso quarto. — Meu pai dá risada.
— Por que tanto choro, mãe? Parece até que eu estou morrendo!
— Para de me dedurar, Richard! — Ela dá um tapinha no braço do
meu pai. — E você, pare de falar bobeira, não gosto dessas brincadeiras!
— Mas me explica: por que está chorando tanto? Quer que eu desista
do casamento? — Seus olhos se arregalaram quando eu menciono isso.
— Claro que não! Não fale esse tipo de coisa também. Eu estou tão
feliz por você, filha, que eu não consigo parar de chorar. Choro por vários
motivos. Essas semanas me lembraram muito da sua infância, adolescência,
tudo, mas, principalmente, eu estou te vendo tão feliz, que eu me sinto tão
realizada e transbordo em lágrimas!
Meu pai a abraça e me puxa também, tornando aquele momento bem
familiar. Quando eu olho para os lados, as meninas que nos arrumavam já
não estavam mais ali. Minha mãe me abraçou forte para, em seguida, o meu
pai tomar conta do abraço e me apertar.
— Parece que foi ontem que nós estávamos segurando você no colo,
filha. Agora eu tenho que te levar até o altar. — Ele beija o topo da minha
cabeça. — Se quiser desistir do casamento, eu estarei esperando no carro!
Dou risada, e a minha mãe fecha a cara para ele.
— Richard, eu já disse para você parar com essas brincadeiras!
— Eu só estou avisando ela, Eliza. Vai que ela quer! — Ele me solta.
— Tá bom, pai. Só me diga onde estará o carro! — brinco, e minha
mãe revira os olhos para mim também.
— Eu vou deixar vocês dois aí com esse papo de louco e vou voltar a
me arrumar. — Ela sai do quarto assim que diz isso, e eu e o meu pai caímos
na risada.
— Pelo menos a nossa brincadeira serviu para a sua mãe voltar a se
arrumar! — Meu pai procura algo em seu bolso para, em seguida, entregar-
me um envelope. — Este é o nosso presente para vocês dois. Queria que a
sua mãe estivesse aqui para a gente dar junto, mas pelo jeito ela está brava
com algo. — Ele dá de ombros, como se não soubesse por que a minha mãe
se "estressou".
— Vocês sabem que não precisavam nos dar nada, né? — Balanço o
envelope nas minhas mãos.
— Mas a gente quer, então está tudo certo. Não abram agora, abram
na lua de mel. — Ele fala, sério, e eu concordo, achando estranho.

— Mesmo eu não sabendo do que se trata, muito obrigada. Sei que


nós vamos amar. Vocês são tudo para mim. — Abraço-o de novo. —
Agradeça à mamãe também!
Nós nos despedimos, e eu fui até a minha mala de viagem, que estava
no canto do quarto, para guardar o envelope. Em seguida, a moça que estava
arrumando o meu cabelo retornou e ajeitou as partes que eu acabei
desarrumando por tantos abraços. Logo depois, a moça do vestido de noiva
apareceu para me ajudar a vesti-lo.
É, Hanna, parece que você pagou com a sua própria língua o seu
medo de amar!
Passo por alguns convidados assim que eu chego ao salão de festa e
os cumprimento, escutando várias brincadeiras do tipo: " Hoje tem, hein?" e "
Treinou bastante para a lua de mel?".
A verdade sobre esse assunto era que a Hanna fez questão de me
torturar nos últimos dias com greves de sexo, colocando-se em uma
exposição da obra de arte que é o corpo dela, ainda mais que ela se vestia
com as suas lingeries totalmente temáticas e se masturbava na minha frente,
não deixando nem que eu chegasse perto. Então, eu estava louco para atacá-la
assim que fosse possível. Isso significa que o ataque poderia vir em qualquer
oportunidade de ficarmos a sós.
— Filho? — Minha mãe me chama, puxando-me para um canto. —
Está quase na hora de começarmos. Deixa eu te arrumar de novo. — Suas
mãos apertam a minha gravata, quase me enforcando.
— Mãe, eu já estou sem ar por causa do nervosismo, não precisa
trancar a minha respiração de vez. — Afrouxo a gravata.
— Para de ser bobo, estava torta. Agora vou ter que arrumar de novo!
— Ela mexe novamente, só que sem apertar desta vez.
— Cadê o seu par, hein? — digo, enquanto ela passa a mão pelo meu
cabelo.

— Seu pai deve estar na mesa de bebidas.


— E por que não está tomando algo também?
— Porque eu vim aqui para te dar uns conselhos. — Dou risada.
— Conselhos a essa altura do campeonato? Não acha que chegou
meio tarde?

— Sim, realmente cheguei, mas preste atenção. — Seu rosto está


sério.
— Ok, só me deixa pegar minha agendinha — brinco, fingindo tirar
algo do bolso do meu terno.
— Anderson! — Paro, e ela volta a ajeitar o meu cabelo enquanto
pensa de novo no que queria me dizer. — Eu nunca imaginei que um dia
você estaria se casando. Você sempre foi tão incrédulo no amor, que até eu
acreditei em você. Muito menos imaginei que se casaria tão rápido, mas estou
realmente feliz que a Hanna tenha mudado o seu coração; então, por todas as
coisas nesse mundo, não magoe essa mulher! Ela realmente ama muito você,
meu filho, dá para notar! — Escuto um pequeno arranhado na sua garganta, e
ela continua.
— Mãe…
— Não me interrompa, senão vou perder o embalo. Por favor,
continue a tratando da mesma maneira de sempre, nunca mude com ela. Eu
sei que você é um menino bom, sempre foi, só não deixe o tempo fazer com
que a relação de vocês dois desmorone, porque muitas mulheres conhecem o
que é se sentir sozinha dentro de uma relação. O que eu quero te dizer é que a
conversa é a saída para qualquer situação na vida de um casal. Tenha um
diálogo com a sua esposa sempre que julgar necessário e nunca a deixe brava
por motivos banais, nem mesmo vão dormir brigados; isso afasta qualquer
pessoa. — Ela começa a se emocionar. — Eu amo você, Ander, e eu quero
que você a ame muito mais do que o amor que você sente por nós, muito
mais do que qualquer coisa! Você é a nossa vida, então se torne o mundo
para a Hanna. Ela merece!
As lágrimas brotam em seus olhos, e eu a puxo imediatamente para
um abraço sentindo um agradecimento gigantesco por tudo o que ela me
disse, por cada palavra. Então, algo molha o meu rosto, fazendo-me soltá-la
rapidamente.
— Obrigada por ser essa mãe incrível. Eu sei que ainda terei muitas
coisas para aprender, então, por favor, não desligue o seu celular,
provavelmente eu vou te ligar muito mais. — Aperto-a mais.

— Acho que eu peguei muito pesado com você! — Ela limpa os meus
olhos. — Está até chorando.
— Foi só um cisco! — Viro o meu rosto. — Só estou muito grato por
ter vocês, mesmo com o meu pai sumido por aí! — Dou risada, limpando os
olhos.
— Vou procurá-lo, acho que a cerimônia já está quase começando, e
o seu irmão sumiu com a namorada. Não quero nem saber onde se
esconderam! — Ela beija o meu rosto e sai pelo salão buscando pelo meu pai.
Em poucos minutos, todos os funcionários começam a guiar os
convidados para a parte externa do salão, onde aconteceria a cerimônia. Nós
escolhemos um local que tinha um castelo antigo, e tudo estava decorado
com branco, até a parte externa estava repleta de flores brancas, fazendo com
que eu me lembrasse do aniversário da Hanna do ano passado, mas, hoje,
tudo estava ainda lindo do que naquele dia. Era um final de tarde de um dia
quente, e nada poderia me abalar.
Quando eu já estava no altar esperando por ela, consegui observar
todos que estavam ali: o senhor Diogo estava ao lado da sua esposa Tiana, e
eu até consegui ver os dois dando um selinho; a Andréia (secretária da
Hanna) estava ao lado do meu irmão, e aquilo não me parecia uma boa ideia;
já a Meg me surpreendeu por levar a Érika no casamento, e, pelo pouco que
eu notei, eu entendi que elas eram um casal agora.
Eu havia reparado mesmo que as duas estavam saindo muito juntas,
mas em nenhum momento imaginei que elas estavam se relacionando. Fiquei
feliz de ver o quanto a Érika havia mudado. Ela parecia outra mulher, e eu
tenho certeza que a Meg a ajudou muito.

Quando eu menos esperava, a música encheu todo o lugar, alertando a


todos nós. Mesmo sendo uma área externa, a impressão de que estávamos
todos em um quarto pequeno era gigantesca, já que o som ecoou pelos nossos
ouvidos.
A voz de um cantor próximo do altar revela as letras de Perfect, do Ed
Sheeran, e as notas de um piano entraram em seguida, fazendo com que todos
os convidados se levantassem e começassem a apontar disfarçadamente para
trás. Então, eu entendi o porquê de todos estarem tão impressionado.
Viro-me imediatamente e vejo a Hanna no piano, a uma distância que
todos nós conseguíamos observá-la, como um quadro que reluzia a luz do sol
que estava se findando!
Deus…
Foi bem difícil conseguir continuar observando-a, porque os meus
olhos se encheram de água, e eu não contive a emoção. Eu me arrepiava. Era
lindo de se ver e de se ouvir. Ainda com a música tocando, o seu pai se
aproximou do piano e esperou para poder trazê-la até mim, e assim ele fez
quando ela encerrou e o seu braço se encaixou no dela.
Ela estava linda! Seus cabelos em um coque solto a deixavam
esplêndida, e a maquiagem leve só demonstrava o quanto a sua beleza natural
era inexplicavelmente perfeita. O vestido moldava o seu corpo com um tecido
brilhante, e ela não estava usando véu, mas sim uma cauda que saía da
cintura do seu vestido, trilhando um caminho atrás dela.
— Anderson Magalhães, eu estou te entregando o meu bem mais
precioso nesse mundo. Por favor, cuide bem dela! — O senhor Richard fala,
assim que estamos frente a frente.
Eu tento me focar para respondê-lo, porque, com ela ainda mais perto,
era como um ímã me chamando. Era impossível parar de olhá-la, mas eu
limpei os meus olhos e a minha garganta, voltando à minha sanidade.
— Pode deixar, Richard! Farei da sua filha a mulher mais feliz desse
mundo! — Ele me abraça e, então, sussurra no meu ouvido.
— Obrigado por provar que você a merece!
— Eu que agradeço por você ter acreditado em mim.
Ele pega a mão da Hanna e entrega para mim, para, em seguida, sair e
ir se sentar ao lado da sua esposa, que estava secando as lágrimas. Aproximo-
me de Hanna e beijo a sua mão extremamente delicada.
— Ainda bem que você não fugiu! — sussurro antes que nós
cheguemos ao altar.

— Eu até tentei, mas não passa Uber por aqui, não tem sinal também!
— Ela brinca de volta. — Acho que a minha mãe fez isso de propósito.
— Com certeza foi de propósito. Você está perfeita, juro que eu vi um
anjo tocando aquele piano.
— Você também está lindo de morrer. Se me der a honra, poderia se
casar comigo?
Seus olhos verdes me encaravam com um brilho especial.
— Só se for agora!
O cerimonialista, que estava na nossa frente, chamou a atenção de
todos os convidados que estavam ali para que ele iniciasse. E, depois dizer
belas palavras, chegou o momento dos nossos votos, quando ele destinou o
microfone para a Hanna, que pegou uma carta na mesa à nossa frente.
— Certo, peço que me perdoem se eu falar alguma coisa errada,
nunca tive que fazer isso antes!
Aquela voz que eu amava tanto tirou risadas dos nossos convidados
logo nos primeiros segundos, e, então, Hanna voltou aqueles olhos verdes
para a sua folha.
— Eu estava pensando comigo mesma se o amor tem limites, se ele
tem um tamanho ou forma, e eu descobri que não existe um método de medi-
lo, até porque, em muitos anos da minha vida, eu achava que o amor nem
existia, mas daí eu conheci você, Ander, que me fez pensar que o amor
morava no coração, pois, toda vez que eu te via, eu sentia meus batimentos
acelerarem. — Não tinha como eu aguentar a emoção vendo-atransbordando
seu sentimento naquelas palavras, então eu limpei meu choro pela segunda
vez no dia, para que ninguém notasse, mas a Hanna notou, sorriu e continuou.
— Depois de um tempo, ouvir a sua voz era o meu som da felicidade, e eu
achei que o amor morava nos meus ouvidos, mas, quando eu te beijei pela
primeira vez, as minhas mãos ficaram geladas pelo nervosismo; e as minhas
bochechas, quentes. Foi aí que eu senti como se o amor se espalhasse por
cada veia do meu corpo. O tempo foi passando, e o amor nasceu em mim.
Você plantou esse sentimento, você cuidou dele e se dedicou, Anderson.
Então eu descobri que o amor na verdade floresce. Ele cresce no coração,
passa pelos ouvidos, entra na corrente sanguínea e preenche o estômago, ou
melhor, o corpo todo!
Seu sorriso me tirou o fôlego, e eu achei que não iria conseguir ler os
meus votos se ela continuasse, mas ela não sabia disso e continuou me
encarando, largando o papel ao lado para segurar as minhas mãos.
— O amor é ver, é sentir, é ouvir, é prever, é cuidar, é curar e é amar.
Então, eu agradeço aos céus por você decidir ficar! — O sol bate na lágrima
que desce pelo seu rosto, e ela a limpa, surrando. — Eu amo você!
— Eu amo você!
Respondo na mesma intensidade, enquanto escutamos os aplausos.
Vejo muitos convidados também limpando os olhos, até que, então, o
cerimonialista se vira para mim, oferecendo-me o microfone. Meus dedos
foram em direção à minha carta, mas, assim que eu a abri, não conseguia ler
as letras. Aquilo que eu havia escrito não era o suficiente para o que eu
precisava dizer agora.
— Tá bom, eu não sei por que eu deixei você falar por primeiro,
porque agora eu não sei se vou conseguir dizer alguma coisa. — Sua boca dá
uma risada guardada, e eu já queria poder beijá-la. — Hanna, se estamos
falando especificamente sobre como nasce o amor, eu tenho certeza de que o
nosso começou em alguma vinícola que produz Cabernet Sauvignon, porque
foi em um gole desse vinho ruim que o nosso amor brotou no nosso primeiro
encontro; não ofendendo quem gosta — defendo-me. — Aquele nosso
almoço me mostrou que nem sempre as coisas perfeitas são as mais
significativas, porque foi um verdadeiro desastre!
Sua risada contagia a todos, que começam a rir com ela. Então, eu
continuo:
— Você achava que não existia o amor, e eu não acreditava nele
também, mas eu considero que Deus tem um senso de humor maravilhoso
para juntar exatamente essas duas pessoas para aprenderem a desenvolver
esse sentimento do zero. Eu já te disse uma vez: eu tenho medo de ser
ambicioso demais, mas eu confesso que eu quero ser quando se trata de estar
ao seu lado. Com você eu quero lar, quero família, quero sempre ser seu lugar
de aconchego, porque eu te amo, Hanna. — Os olhos dela brilharam quando
eu falei o significado do seu bracelete, e ela segurou o choro.
— Eu te amo! — Hanna respondeu, enquanto as lágrimas desciam.
Notamos, também, que praticamente todos os convidados estavam emotivos.
Hanna fez todos ficarem surpresos ao me puxar para os seus lábios de
uma só vez, arrancando até alguns sons assustados dos nossos amigos e
aplausos de todos.
— Tá bom, a noiva pode beijar o noivo! — O cerimonialista fala em
vão e ironicamente por nós finalizarmos a cerimônia antes de ele dizer as
palavras certas e também por ela me beijar, e não o contrário.
Eu aprofundo os meus lábios nos dela, para, em seguida, passar os
braços embaixo da sua bunda, levantando o seu corpo, enquanto a Hanna
ergue o seu buquê, comemorando a nossa união, ao passo que todos se
levantam, jogando arroz em nós.
— Agora não tem mais volta! — falo em seu ouvido assim que a
coloco no chão.
— Bem-vindo ao mundo dos casados, meu amor!
A cerimônia foi linda. Tudo o que eu planejei foi realizado ainda mais
perfeito. Os votos do Ander para mim foram a coisa mais linda desse mundo,
e ainda bem que estava tudo gravado, porque, depois disso, foi muito difícil
eu prestar atenção em outra coisa que não fosse ele.
Os convidados já estavam sendo direcionados para dentro, enquanto
eu e ele fomos guiados pelos fotógrafos para outra área do salão, onde batia o
restante do sol para fazermos as nossas fotos do álbum. Minha maquiadora
me arrumou novamente depois de tantas lágrimas, e logo os fotógrafos
começaram a ajeitar a gente nas melhores posições, afastando-se para
arrumarem as câmeras.
— A gente pode fugir da nossa própria festa? — Ander sussurra
assim que me abraça.

— Acho que não. — Sorrio para o primeiro clique.


— Mas eu posso roubar a minha esposa por alguns minutos, né? —
Nós trocamos de posição.
— O que você quer fazer comigo? — Outro clique.
— Nada que a gente já não tenha feito antes! — Os fotógrafos gritam
outras informações para nós.

— Não seja louco! Você pagou uma lua de mel por nada?
— Então vamos logo para o aeroporto! — Ander aperta a minha
cintura e me gruda nele, que estava extremamente rígido.
— Você já aguentou bem mais do que quinze dias. Por que está assim
agora? — Esfrego-me em seu membro.
— Esse teu decote está me torturando. — Ele beija o meu pescoço, e
escutamos os cliques. — E antes você não ficava se masturbando na minha
frente.
— Tem muita gente aqui, é melhor você parar com isso, ou esse pau
marcando vai aparecer em todas as fotos! — Trocamos novamente de
posição.
— Pelo menos você poderá usar as fotos como você quiser!
— Eu tenho você para usar como eu quero, por que eu usaria as fotos?
— Safada!
— Eu sou mesmo. Agora se acalme, porque estamos quase
terminando, e a minha bunda não vai mais esconder esse volume aí.
— Você realmente não é mais a Hanna Menezes, né?

— Não! Agora sou uma Magalhães! — Viro-me e lhe dou um beijo


repentino de tirar o nosso fôlego. Enquanto isso, escutamos os assobios de
muitos convidados que apareceram por ali sem que nós notássemos.
— Hanna Magalhães, o que eu faço com você? — Ele me coloca em
sua frente novamente, e eu noto o seu rosto um pouco vermelho.
— Não é você que diz que a surpresa é uma ótima arma contra os
despreparados? Me surpreenda!
Estava muito quente. O calor abafado da Grécia estava me deixando
provavelmente com a pressão baixa. Eu não estava me sentindo bem, ainda
mais depois de um voo de mais de 14 horas; na verdade, foram três voos. O
Ander até me ofereceu um remédio para que eu pudesse dormir, e isso
facilitou o trajeto da viagem mais longa; já os outros voos foram pura tontura
e estômago embrulhado.
A nossa festa de casamento "terminou" bem tarde. Digo dessa
maneira porque fomos nós que tivemos que sair antes de acabar. Foi difícil
nos despedirmos de tantas pessoas que ainda permaneceram no salão, mas as
nossas passagens estavam marcadas para a madrugada e não podíamos nos
atrasar. Então, voltamos para o hotel onde havíamos nos arrumado e
trocamos de roupas para podermos viajar. Eu coloquei um vestido branco
transpassado bem solto, que estava me favorecendo nesse calor infernal. O
Ander, por sua vez, usava uma bermuda preta e uma camisa de verão na cor
bege, que estava o deixando ainda mais gostoso.
Ele fez questão de não me revelar para onde estávamos indo até
chegarmos ao portão de embarque, que sinalizava o local. E, assim que eu
notei, fiquei em choque, agarrei o seu pescoço e o enchi de beijos, deixando
todos que estavam passando à nossa volta surpresos — mas eu não me
importei, pois estava muito feliz.
Eu nunca havia ido para a Grécia, e, com certeza, era um dos lugares
que eu queria muito conhecer. Mesmo sem eu nunca ter comentado com ele
sobre isso, de alguma maneira ele conseguiu descobrir. Isso me deixava com
o coração quentinho por saber que ele se esforçou tanto para procurar saber, e
agora eu estava que nem uma boba tirando foto de tudo. Quando, enfim, eu
achei que tínhamos chegado ao nosso destino, Ander me avisou que ainda
tinha mais um percurso de duas horas de barco para irmos até a Ilha de Creta.
E o que eu achei que seria um alívio para mim, por causa dos ventos fortes
nas áreas marítimas para amenizar o calor, na verdade me deu mais vontade
de vomitar pelo balanço do mar.
Só fiquei bem novamente quando encostei os meus pés em solo firme
e pude respirar novamente com tranquilidade.
— Desculpa, pequena, não imaginei que essa viagem iria te dar tanto
mal-estar. — Ander me abraçou por trás enquanto esperávamos por um táxi
para irmos até o hotel.

— Para! Não peça desculpas por me trazer ao lugar mais lindo do


mundo. Olha essa vista! É claro que vale a pena passar por isso para no final
poder ver essa paisagem!
Aponto para a costa, que está bem distante de nós, mas conseguimos
ver no final de tarde se iluminando o quanto aquele lugar era lindo. Isso não
poderia ser descrito. Várias casas brancas e hotéis maravilhosos próximos da
praia emolduravam aquela ilha, sem contar o mar azul-piscina que se
encaixava com o céu da mesma cor.
— Mesmo assim, eu já fico preocupado com a nossa volta. Teremos
que enfrentar todas essas horas de voo de novo. — Ele encaixa atrás da
minha orelha algumas mexas do meu cabelo que se soltaram devido ao vento.
— Para de se preocupar à toa, eu já estou bem, e a nossa volta só será
daqui a 10 dias; então, vamos aproveitar este lugar! — Solto-me dele e o
puxo para perto da rua assim que eu avisto um táxi, acenando ao motorista
que ele pare.
— Vamos descansar primeiro. Não é fácil aguentar mais de catorze
horas de viagem, mesmo estando na primeira classe! — Ele diz, enquanto
sorri para mim, e vai até o taxista para conversar com ele.
O caminho até o hotel até que foi rápido, e logo já estávamos
depositando as nossas malas dentro do quarto gigantesco que o Ander
escolheu para nós.
Era tudo tão lindo, que eu não conseguia parar de observar cada
pequeno detalhe. Ficamos em um resort exatamente na praia que estávamos
enxergando alguns minutos atrás, e o nosso quarto tinha a vista do mar que
ressonava o barulho das ondas até nós. O quarto estava climatizado e cheio
de flores para todos os lados. Foi um alívio, enfim, estar em um ambiente
mais fresco. Mesmo assim, a visão do lado de fora me chamou a atenção.
— Isso é incrível! — digo, entrando na sacada e observando a área de
lazer do hotel e a praia logo à frente.
— Consegui te surpreender, senhora Magalhães? — Sinto suas mãos
em minha cintura me puxando novamente para perto dele.

— Você vive me surpreendendo. Tipo agora mesmo. Eu não


imaginava que você já estaria duro nesse estado assim que atravessássemos
aquela porta. Nós mal chegamos ao quarto.
Ele estava pressionando o seu membro em minha barriga de
propósito, enquanto me prendia na proteção da varanda.
— Eu fico nesse estado por você o tempo todo, meu amor. Por que a
surpresa? E nós não viajamos mais de catorze horas para ficarmos sem fazer
nada, né?
— Você falou que nós iríamos descansar! — Reviro os olhos para ele.
— Falou não faz nem uma hora.
— Nós dois sabemos para que serve uma "lua de mel". Não se faça de
surpresa agora! — Uma das suas mãos sai da minha cintura e vai em direção
ao meu rosto para brincar com as mechas do meu cabelo, e as minhas mãos
descem para a base da sua bermuda.
— Eu sempre achei que a "lua de mel" fosse uma desculpinha para os
casais tirarem uns dias de folga! — digo, levantando a sua camisa, e passo as
minhas unhas na parte inferior da sua barriga, sentindo-o se arrepiar.
— Errada você não está. Nem sou louco de dizer uma coisa dessas,
mas não tem essa finalidade específica… — Ander sorri, desviando os olhos
de mim para se aproximar do meu ouvido. — Então, deixa eu te mostrar para
que serve uma "lua de mel" e aproveitar para te dar uma liçãozinha depois de
tudo que me fez passar nesses últimos três meses. — Seu olhar mudou assim
que aquelas palavras foram ditas, e, como se eu fosse apenas um travesseiro
de penas, ele me jogou para cima do seu ombro.
Apenas o meu grito de susto ecoou pelo quarto, seguido de uma risada
sua, antes que ele me deitasse em cima da cama branca e fofa, repleta de
pétalas de rosas.
— Por onde eu deveria começar com você, hein? — Ele deslizou os
dedos pelos botões da sua camisa, abrindo-os. — Acho que com isso! —
Ander tira de dentro do bolso da bermuda dois pequenos sachês.
— O que é isso? —questiono, encarando os pacotes dourados em sua
mão.
— Algo para você experimentar!
Ele pegou os meus pés e tirou as sandálias com uma certa demora
torturante. Depois eu senti os seus carinhos passeando em minha pele até ele
alcançar as minhas coxas e me puxar, para que o meu corpo deslizasse até o
final da cama.
Em seguida, ele abriu um dos sachês com os dentes e se deitou em
cima de mim.
— Abra a boca! — Seu pedido foi realizado no mesmo instante, já
que só faltou eu colocar a língua para fora querendo provar o que ele estava
me dando.
O líquido meloso preencheu a minha boca, e o gosto de mel ficou
forte. Era bem doce e estava quente por provavelmente ficar guardado no seu
bolso a viagem inteira; mesmo assim, estava bom.
— É muito doce! — revelo assim que termino de tomar.
— Deixa eu te provar, então. — Sua mão se encaixou na minha nuca,
puxando-me para o seu beijo.
O doce que ainda estava em minha boca se amenizou após a sua
língua misturar os nossos gostos. Naturalmente fomos deitando na cama sem
cortar essa conexão do beijo. Sua mão passeou pelo meu corpo até encontrar
o laço que transpassava o meu vestido, e ele se desfez daquele nó em
segundos, afastando as fitas.
— Eu prefiro muito mais o seu mel lá de baixo! — Ele diz assim que
pausa o beijo e se levanta.
— Sério? Então o meu gosto deve ser bom — brinco, sorrindo para
ele. — Agora, me diga, o que esse líquido faz?
— Ele abre ainda mais as suas pernas para mim! — Seu sorriso
malicioso resplandece em seu rosto, e, então, ele tira o tecido do meu vestido
que tampava o meu corpo, de modo que eu consigo capturar o exato
momento do seu espanto. — Caralho!
— Acho que essa expressão define a sua satisfação! — comento,
convencida, ao ver os seus olhos encarando a minha lingerie branca cheia de
brilhos e detalhes de rendas.
— Isso deveria ser proibido, sabia? — Ele morde o lábio inferior. —
Porra, eu sou sortudo mesmo!
Em seguida, ele terminou de tirar o meu vestido e tirou também a sua
roupa com pressa, ficando somente de cueca. Eu consegui ver a cabeça do
seu membro escapar para fora do tecido, e eu praticamente o imaginei me
preenchendo.
— Eu também acho. Concordo com as suas duas afirmações. Essa
lingerie deveria ser proibida, porque ficou me pinicando o tempo todo, então
tira logo isso de mim!
Ander se recupera assim que os seus dedos brincam um pouco com as
franjinhas de strass que pendiam pelo tecido e até com os meus mamilos, que
em segundos ficaram duros ao senti-lo.
— Que pecado tirar tão rápido essa obra de arte. Pode ficar tranquila,
que daqui a alguns minutos isso não vai te incomodar mais, porque o seu
interior vai estar queimando.
Queimando?
Sinto algo formigar dentro de mim no mesmo instante e concluo que
eu sou uma pessoa reativa; provavelmente seja somente porque ele falou.
Ander abre o segundo sachê de mel que ainda estava em sua mão, e
eu sinto os pingos que são dispensados do alto caírem e melarem o meu
corpo. Em seguida, ele se aproximou do meu umbigo, onde tinha caído uma
grande quantidade do mel, e, neste exato momento, eu tive a visão da coisa
mais excitante da minha vida: ele me encarando enquanto a sua língua
deslizava pela minha barriga procurando cada gota doce.
Novamente sinto o formigamento dentro de mim.

O caminho que ele trilhava começou a fazer cócegas, e o meu corpo


já estava respondendo aos seus toques de uma maneira diferente do que o
meu normal. Era estranho, mas muito bom, então permaneci apenas sentindo.
Meu interior estava realmente quente. Eu conseguia sentir a sensação
de desespero para ser preenchida me tomando na região da minha intimidade.
Era quase como se somente o seu pau dentro de mim pudesse amenizar o
desejo que estava crescendo rapidamente a cada segundo.
Seus dedos param em cima do meu clitóris, e ele começa a me
massagear, abrindo passagem para colocar a sua boca e me chupar. De início,
aquele molhado em mim foi o suficiente para que os seus dedos brincassem,
mas, depois, eu já estava desejando por mais. O que eu já estava
considerando quente ficou ainda mais depois de a sua língua me penetrar
internamente. Eu estava realmente queimando por dentro!
— Por favor, pare com isso! — supliquei, segurando-lhe o rosto
quando não aguentei mais a sensação desconhecida aumentando como se não
houvesse um fim.
— Quem disse que você manda aqui? — Ele segura as minhas mãos,
para me impedir de pará-lo, e volta a me lamber, só que, desta vez, com a sua
outra mão, ele deposita os dedos na minha entrada, penetrando-me com eles
em seguida. — Você está mais molhada que o normal, é impossível que eu
pare agora.
Perdi-me dentro de mim diversas e diversas vezes antes de não
aguentar mais e decidir deixar o orgasmo me atingir, mas ele parou quando
os meus olhos já estavam se fechando de tanto desejo. A frustração me tomou
e, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele abaixou a cueca e entrou em
mim, duro e satisfeito, sorrindo por ver que eu me perdi toda em um suspiro
alto.
— Vai gozar só quando eu deixar, pequena! — Assusto-me com o seu
tapa leve em minha boceta, que deixa o atrito prazeroso.
Ele estava ajoelhado em cima da cama com as minhas pernas em
volta da sua cintura enquanto o meu corpo permanecia deitado.

— Isso não foi justo! — falo, insatisfeita.


Ander solta as minhas mãos, e eu puxo um travesseiro para que eu
não o agarre novamente. Então, ele começa a se movimentar lentamente
dentro de mim.
— Você também não foi muito justa comigo nos últimos meses!
— Você que escolheu aquilo… — Meu interior se contrai a cada
entra e sai, trazendo mais prazer à tona para o meu corpo.
— E a consequência disso tudo é o que você está sentindo agora. —
Novamente, ele entra com tudo em meio aos movimentos lentos, fazendo-me
queimar como brasa. — Tenho certeza de que você vai derreter o meu pau
com o calor que está aqui dentro!
— É impossível derreter essa cobra gigante! — brinco, lembrando-me
daquele café da manhã na casa dos pais dele!
Seu sorriso aumentou, e ele me apertou, entrando com força de novo.
Logo eu senti o meu molhado escorrer para fora de mim, fazendo o som de
líquido no atrito entre nós. Com certeza tudo isso está acontecendo por causa
daquele mel desgraçado. Ander começou a acelerar os seus movimentos, e a
sua mão parou em cima do meu clitóris, massageando a região. Isso não foi
uma boa escolha, já que confundiu tudo o que eu estava sentindo.
Era quase como um interruptor com defeito, acendendo e apagando as
luzes com tanta rapidez, que poderia deixar qualquer pessoa com raiva ou
confusa, e isso estava acontecendo dentro de mim, acendendo e apagando,
pulsando e aumentando.
— Está… estranho… — consegui dizer com muito esforço.
— Eu estou sentindo também!
Enquanto para mim o efeito do mel era como se a minha boceta
estivesse na seca de sexo há mais de duzentos anos, para Ander era como se o
tivesse deixado ainda mais resistente. Era estranho de explicar, mas ele estava
mais rígido e sem piedade alguma comigo, atingindo o mais profundo de
dentro de mim no exato lugar onde parecia iniciar o meu fogo.
— Não é a mesma… coisa! — Puxo o ar. — Eu nunca… senti isso!
— Você acha que vai gozar? — Ele me questiona, mas não para os
seus movimentos; pelo contrário, Anderson aumenta ainda mais a velocidade.
— Eu não sei! — digo, entrelaçando uma de nossas mãos, já que a
outra ainda me masturbava.
— Então que tal a gente parar? — Novamente a pausa repentina
desestabiliza ainda mais a minha confusão interna.
— Ander! — digo, brava. — Para com isso!
— Você brava desse jeito me dá um tesão do caralho. — Aquele
sorriso era o seu ar de vitória e também a minha derrota.
Em seguida, ele puxou uma das minhas pernas para cima,
encaixando-a em seu ombro, e ele segurou a minha coxa para se estabilizar
no seu vaivém. Foi então que ele conseguiu entrar ainda mais fundo, onde eu
nunca havia sentindo, fazendo-me estremecer, totalmente sem ar.
— Deus… — Minha voz sai sussurrada enquanto eu largava a sua
mão e apertava o travesseiro, trazendo-o para perto do meu rosto.
— Você sabe que isso é um pecado, né? — Ele entra de novo, e eu
arregalo os meus olhos ao sentir todo o seu pau me preenchendo. Neste
instante, o meu calor atravessava o meu corpo inteiro, como um raio até
chegar às minhas bochechas. — Não o chame nessas horas.
As suas palavras já não tinham mais tanto nexo, mas os seus toques…
esses sim tinham destino certo.

Ele retornou com os movimentos acelerados, trazendo-me a sensação


de cair e levantar como em uma montanha-russa, com direito às suas várias
voltas e rodopios. Eu estava sentindo o ar me faltando sem piedade enquanto
o suor saía da minha pele por tanto calor. O ar-condicionado não estava
fazendo diferença nenhuma nessas horas.
A minha adrenalina corria pelo meu corpo, arrepiando-me. Estava
tudo interligado: nós dois nos tornando um; a nossa mistura de prazeres
totalmente diferentes e a experiência daquele orgasmo fora do meu controle
se aproximando novamente.
— Isso… não está… normal… — repito em voz baixa o que não saía
da minha mente.
— Eu já parei uma vez, e você não gostou muito, então agora
aguenta!
Ele roçou a boca na minha perna que estava próximo do seu rosto e,
então, o seu pau entrou de novo, e de novo, e de novo, com estocadas fundas
e encharcadas. Ander passou a mão esquerda em meu corpo até parar em
cima da minha calcinha. Ele, em seguida, enrolou a pequena tira da lateral em
seus dedos e a puxou com força, arrebentando-a, junto à sua força exercida
para me penetrar.
Aquilo que estava confuso dentro de mim saiu fora do meu controle,
trazendo à tona uma explosão. Exatamente isso! Uma explosão!
Os brilhos dos strasses da minha calcinha se espalhavam pela cama,
caindo em cima de mim enquanto eu pedia pela sua mão, que eu apertei
firme, sentindo uma contração forte pulsando em minha libertação. Meu ato
fez com que o corpo do Ander se desequilibrasse, e ele saiu de dentro de
mim, mas já era tarde, ele já havia me completado no momento certo, com as
repetições necessárias e exatamente no meu calor.
Ele havia atingido o meu ápice!
Meus olhos se fecharam tanto, que eu até consegui enxergar
estrelinhas no ponto escuro do meu prazer, e, sem que eu esperasse por tudo
isso, um líquido transparente se expeliu de dentro de mim, molhando não só a
cama, mas ele também, que me encarava com surpresa. Nada me acalmava,
meu coração parecia saltar, e os meus gemidos abafados pelos lençóis
escondiam também os tremores que corriam por todo o meu corpo.
Eu senti quando ele tirou o travesseiro do meu lado para poder me
observar melhor, mas a vergonha veio no mesmo instante em que eu percebi
o que eu havia feito. Encarei-o e vi que em seu abdômen deslizava o meu
líquido. Até o seu pau estava pingando aquela substância que eu não sabia o
que era. Foi muito mesmo! O seu rosto estava vermelho em êxtase; imaginei
como estaria o meu depois disso.
— Merda… — É a única coisa que eu consigo dizer enquanto eu
tento pegar o meu vestido que ainda estava em cima da cama.
— Nem pensar! — Ander puxa as minhas pernas ao seu encontro
assim que ele entende que eu quero me vestir. — Eu quero fazer isso com
você de novo!
— Tá louco? — falo, incrédula com a possibilidade.
— Porra, foi a coisa mais linda que eu já vi, Hanna, então talvez eu
esteja realmente ficando louco. Quero fazer você gozar assim de novo!
— Que droga é essa que você me deu?

Ignoro o que ele disse apenas por estar vermelha de vergonha, mas
sinto quando ele desliza o seu pau molhado pela minha fenda sem entrar em
mim, roçando em meu clitóris. O calor que ainda persistia dentro da minha
boceta me alertou do meu desejo.
Droga, eu queria mais.
— Um estimulante. E eu acho que essa sensação não vai passar tão
cedo. — Claro que não iria, eu tinha acabado de gozar e estava enlouquecida
querendo sentir isso novamente.
— Eu nunca mais vou tomar isso! — Pendo a minha cabeça para trás,
desejando que aquilo não tivesse acontecido.
Vejo-o passar os dedos onde ainda tinha o tal líquido para, em
seguida, levá-los para a boca e experimentar.

— Como eu disse antes, o seu mel é realmente o melhor! Agora


venha aqui, porque eu ainda não gozei e, com toda a certeza, eu quero ver
você fazendo isso de novo.
A noite já havia entrado pelo quarto. As luzes baixas nas paredes
refletiam-se nas pedrinhas da calcinha da Hanna que eu havia arrebentado
segundos atrás, as quais estavam agora por todos os lados da cama, em cima
do seu corpo e até entre os seus cabelos — isso a deixava ainda mais linda.
Eu conseguia notar os seus mamilos arrepiados por baixo daquele
tecido fino, enquanto o seu peito subia e descia, já que a sua respiração ainda
estava descompassada. Tratei, então, de passar os dedos ali. Hanna estava
com o seu rosto vermelho como uma pimenta, e ela também estava
queimando por dentro quando eu a senti. Então, com certeza, agora deveria
estar ainda mais, já que era notável que o efeito do mel se mantinha dentro
dela.
Melzinho abençoado! Tenho que me lembrar de comprar mais!
Ela parou os meus dedos que estavam se esfregando no bico dos seus
seios, a fim de rapidamente as suas mãos buscarem se esconder de mim,
fazendo uso do travesseiro que eu havia tirado do seu lado depois do que
aconteceu. Eu ainda não tinha acreditado no que tive o privilégio de ver
quando ela se deixou levar pelas suas sensações e me molhou todo. Os pingos
ainda estavam se escorrendo pelo meu abdômen até as minhas bolas,
deixando-me louco de desejo. E, como foi uma cena rápida, eu queria ver de
novo, eu queria fazê-la se libertar para fazer aquilo o quanto quisesse.

Só de pensar que o meu pau estava todo molhado com o seu líquido,
eu ficava ainda mais duro. E eu também sabia que isso era um efeito do mel.
Talvez o meu membro fosse ficar assim a noite toda, mas eu queria satisfazê-
la até ela não aguentar mais, então eu ignorei tudo que dizia respeito a mim.
— Vem aqui! — Eu disse, assim que o seu corpo começou a se
afastar.
— Eu acho que você precisa de um banho depois do que eu fiz e… eu
também. — Hanna se vira na cama para conseguir sair, mas acaba deixando a
sua bunda virada para cima.
E, então, eu noto algo que nunca esteve ali. Ela tinha feito uma
tatuagem, bem pequena; poderia facilmente passar despercebida, mas eu
conhecia o corpo dela como a palma da minha mão e sabia que da última vez
que transamos aquilo não estava ali.
— O que é isso? — falo, surpreso, aproximando-me para entender o
desenho.
— Uma taça de vinho! — Então, eu noto os traços finos marcando os
contornos daquele desenho exatamente no final da sua coluna e no início da
sua bunda, do lado direito. O vinho estava até pintado de vermelho-vivo. —
Não era para você ter visto nessa situação, mas fiz como uma brincadeira
nossa!

— Quando? — Fico surpreso por eu não ter notado, mas claro que eu
não iria ver, já que passei os últimos dias de greve.
— Faz alguns dias, já até cicatrizou! Você gostou? — Hanna encara o
desenho e começa a sair da posição.
— Eu já disse que não acabamos, para de tentar fugir de mim. —
Agarro-a pela cintura e rapidamente o meu pau se encosta em sua pele. — E
falar que eu gostei seria muito pouco. Isso simboliza muito mais do que você
imagina. Você me deixa louco, sabia?
Ela está de quatro, ainda mais empinada para mim, colando os nossos
corpos enquanto concorda com o que eu disse. Sua bunda se empurrou contra
o meu pau, e eu consegui sentir o desejo em sua pele quente. Ela estava
emanando excitação, assim como eu. Meu pau, avermelhado de tanta pressão
na região, respingava em sua pele o restante do seu líquido que havia nele,
influenciando-me a estralar um tapa em sua bunda, tirando todo o seu ar em
um gemido torturante de prazer.
O tom de rosa em sua bunda começou a ficar ainda mais forte — acho
que agora o vinho ficou ainda mais tinto! Eu massageei o local antes de
acertar novamente mais um tapa.
— Ander… — Hanna sussurrou, sentindo eu me esfregar nela.
— Pare de se importar com o que a sua mente está gritando, Hanna.
Se concentra em mim, nos meus dedos, na sua pele. Sente isso? — Eu aperto
o seu quadril, passando o polegar em sua nova tatuagem e, ao mesmo tempo,
sentindo os seus ossos enquanto me ajeito atrás dela. — Foque em você!
— As sensações… dentro de mim… — Uma das suas mãos vão para
o meio das suas pernas, e ela pressiona a sua intimidade!
— Você está estranhando tanto assim o fato de que você me quer aqui
dentro? — Passo a minha mão por cima da sua, para, em seguida, colocar os
meus dedos em sua intimidade quente.
— Isso… — Não consigo entender se ela está concordando com a
minha pergunta ou com os meus dedos a penetrando, os quais eu começo a
movimentar em seu interior.
— Se concentre, Hanna!
Ajeito os meus dedos, virando-os para baixo, criando o atrito na
parede interna da sua boceta, e continuo os movimentos, atingindo o seu
prazer. Hanna se arrepia, e eu consigo notar até o seu meio-sorriso quando o
seu rosto se afunda nos lençóis aproveitando os meus toques.
— Como é que você sabe onde me tocar? — Ela fala abafado.
— Como eu não iria saber onde a minha mulher gosta de ser tocada?
— Eu me inclino e mordo próximo da sua tatuagem.
— Ai… — Hanna reclama. — Isso doeu. — Esfrego o local,
aliviando a sua dor.

Meus dedos saem encharcados de dentro dela, e eu me posiciono,


passando o meu pau por cima do seu ânus, para, depois, voltar e preencher
todo o seu interior. Hanna se arrepia ao me sentir inteiro novamente, e, em
seguida, os seus sons se iniciam a cada ritmo nosso, sendo ele mais rápido ou
mais lento. Ela ainda está apertada, como se o mel a deixasse assim. Minha
mão, que antes a tocava, retornou para a sua cintura e foi subindo pelo seu
corpo até conseguir trazê-la junto a mim, deixando nossos corpos colados,
mas sem que o nosso padrão se perdesse.
Desta vez eu tomo cuidado para tirar o seu sutiã com calma a fim de
não a machucar com aquelas pedras, e ela me ajuda. Sem perda de tempo, eu
agarrei os seus seios, apertando-lhe os mamilos com a pressão exata para que
a Hanna se empurrasse ainda mais contra mim.
Curiosamente, eu senti o desejo de tocá-la por trás, exatamente
naquele ponto onde eu me esfreguei agora há pouco, e em segundos os meus
dedos passaram pelo seu corpo, indicando para onde eu queria ir. Então, eu
parei o meu polegar ali.
— O que você está fazendo comigo? — Hanna diz, absorta em
sensações, sentindo-me massagear o seu ânus enquanto eu entrava sem pausa
em sua boceta.
— Nada que eu já não tenha feito antes. — Minha língua passeia pela
sua clavícula, e ela inclina a sua cabeça para trás, encostando-a em meu
ombro.
— Isso é perigoso… — Mesmo as suas palavras me revelando o seu
medo, a sua boca entreaberta respirando pesadamente indicavam que ela
estava gostando.
— Então me diga quando parar!
Ela aproveitou por mais alguns segundos aquela nossa posição para,
então, pegar a minha mão que estava fazendo isso e a levar para debaixo do
seu umbigo, pressionando os meus dedos ali juntamente aos seus, bem na
base da sua barriga.
— Eu te sinto aqui! — Sua voz sai ainda mais quente do que o
normal, e eu fico louco ao notar aquilo que ela mencionou. — Seu pau está
me preenchendo!
— Porra, Hanna… — Aumento a velocidade e me sinto internamente
onde ela disse que me sentia também. — Pra que me falar isso agora?
Apertei-a contra o meu corpo e senti as suas pernas se fecharem,
quando ela, então, desmoronou-se novamente em seu segundo orgasmo, que,
desta vez, fez a incrível tarefa de molhar nós dois. Eu gozei em seguida, não
aguentando observar tudo aquilo que estava me dando um tesão do caralho.
Ela tremeu em meus braços, contraindo o seu interior com força, e eu a senti,
cada espasmo, cada oscilação, cada batida do seu coração acelerado, cada
respiração sussurrada e cada gotícula de suor cansado.
Deitamos na cama, encarando o teto, enquanto a Hanna colocava a
mão em seu rosto, envergonhada, mas dando risada.
— Isso é loucura! — Ela confirma. — Olha a bagunça que eu fiz!
— Isso é lindo! — Dou risada junto com ela. — E nós fizemos essa
bagunça, que, para mim, foi uma delícia.
— Isso não muda o fato de que eu ainda estou envergonhada. — Pego
uma das suas mãos na frente do seu rosto e me apoio em meu cotovelo para
encarar o seu rosto.
— Você não precisa ficar assim. Eu já disse, pare de se importar com
o que você está pensando sobre isso. Você gostou, e eu gostei muito mais,
então nós temos que fazer de novo para ver quantas vezes isso pode se
repetir. — Hanna me encara, assustada.
— Agora você pirou de vez… — Ela levanta e vai em direção ao
banheiro. — Eu vou tomar um banho para ver se consigo esfriar a minha
boceta. Se você quiser fazer de novo, use a sua mão. Essa cama já está
encharcada.
Sorrio sozinho enquanto eu me levanto para pegar o secador.
O cheiro de mel em meu nariz me desperta em poucos segundos, e,
com dificuldade, eu tento me mexer, mas o cansaço em meu braço faz com
que eu abra os meus olhos.
Hanna estava ali, aconchegada em mim com sua respiração baixa.
Mais alguns segundos se passaram, e eu pude notar melhor os seus detalhes.
Não que eu já não tenha feito isso milhares e milhares de vezes, mas agora,
sabendo que ela era a minha esposa e que eu poderia acordar todos os dias da
minha vida ao seu lado, isso estava fazendo o meu coração arder no peito. Eu
não aguentava de felicidade.
Seus cílios eram naturalmente longos, e ela também tinha algumas
pintinhas em seu rosto, como eu já havia notado em várias outras partes do
seu corpo também. Seus cabelos estavam cobrindo o meu braço, e isso
também estava me dando mais calor.
Dou-lhe um beijo leve na testa e começo a sair dali com calma para
não a acordar. Quando eu já estava longe o suficiente, peguei o telefone e
pedi tudo de melhor que tinha para o nosso café da manhã, combinando
também para que eles fizessem isso em todos os outros dias durante a nossa
estadia.
Enquanto isso, decidi tomar um banho rápido e saí do banheiro no
exato momento em que a campainha tocou. Hanna se mexeu na cama devido
ao som, mas notei que foi apenas isso; o seu sono ainda estava pesado. Fui
em direção à porta, que não ficava no mesmo cômodo do quarto, e a abri para
o funcionário, que estava empurrando um carrinho cheio de comida. Com
certeza eu exagerei no pedido. Assim que ele saiu, voltei para o quarto, e a
Hanna estava sentada na cama. Claro que eu me surpreendi, porque eu tinha
certeza de que ela estaria dormindo ainda, mas seus olhos pequenos tentando
se abrir significavam que ela estava se esforçando para acordar.
Seus cabelos estavam em um desarrumado lindo, e o seu corpo nu
coberto com o lençol branco a deixava como uma deusa: minha deusa.
— Bom dia, pequena! — Aproximo-me dela e lhe dou um beijo em
seus lábios quentes.
— Você atendeu à porta só de toalha? — Ela abriu um dos seus olhos,
que estavam extremamente claros hoje, e encarou a toalha em minha cintura
antes de fechar os olhos novamente para esfregá-los.
— Sim! Isso é um problema? — Dou risada do seu ciúmes.
— Deixa eu ver! — Mesmo com os olhos fechados, a sua mão pegou
exatamente em cima do meu pau, fazendo-me levantar assustado.
— Não pega desse jeito! — comento, achando graça da sua atitude, e
ela abre os seus olhos verdes e me encara brava. Deus! Ela está extremamente
linda assim. — Pode me machucar se pegar de mau jeito.
— Não muda de assunto. Temos um problema aqui. Como o meu
marido fica atendendo à porta somente de toalha se não está usando nem uma
cueca por baixo?
— Amor, era o nosso café da manhã — tento explicar, mas ela
permanece com o seu olhar cerrado. — Eu iria deixar a pessoa esperando?

— Poderia ter me acordado, daí a sua esposa poderia atender só de


lençol, o que acha? — Ela mexe os ombros, jogando a suposição na minha
cara, e, por mais boba que seja, eu senti ciúme só de imaginar.
— Era um homem. Para de pensar bobeiras! — confesso, por fim,
para acalmá-la.
— Isso não significa nada. Você é lindo para todos os gostos. —
Hanna mexe a ponta do nariz, fazendo uma careta fofa, e fecha os olhos
novamente, ainda sonolenta, tentando se manter sentada.
Termos viajado durante a madrugada e passado pelo fuso horário dos
países provavelmente deixou o sono dela fora de ordem; mesmo assim, eu
não poderia deixá-la dormir de novo, porque havia marcado muitas coisas
para a gente fazer hoje. Era o nosso primeiro dia na Grécia, e eu me esforcei
muito para descobrir que ela tinha vontade de conhecer este lugar, então é
claro que eu também procurei achar os pontos turísticos, restaurantes,
passeios e tudo que fosse de mais interessante para nós.
— Ei, não dorme. — Vou em direção ao carrinho e pego a bandeja
para comermos em cima da cama. — Eu marquei um mergulho para a gente
antes do almoço. — Sirvo-lhe um copo de suco de laranja, e Hanna abre os
olhos quando eu deposito o copo em suas mãos.
— Mergulho? — Ela parece ter gostado da ideia, já que os seus olhos
se abriram novamente.
— Sim, em uma caverna. — Seu rosto se transforma em uma
surpresa. Agora sim ela acordou de verdade.
— Sério? Eu nunca fiz um mergulho! — Sua mão procura por algo na
bandeja e para em cima de um bolo de chocolate, que logo está lambuzando a
sua boca. — Ai meu Deus, deve ser escuro lá, né? Ou não? Eu preciso levar
alguma roupa específica? Acho que também não, né? — Ela fica tão
engraçada falando de boca cheia enquanto pensa sem parar.
— Você não prefere coisas salgadas de manhã? — pergunto, ao
lembrar que ela sempre come ovos mexidos ou torradas, e também para ela
parar de se preocupar à toa.
— Prefiro, mas esse bolo estava muito bonito, e eu fiquei com
vontade de experimentar! — Hanna limpa o canto da boca, mas a região
ainda permanece suja com a calda de chocolate.
— Já estou vendo que a gente vai se atrasar! — Tiro o copo da sua
mão, retirando também a bandeja da cama, e me aproximo dos seus lábios,
lambendo o chocolate.
— Por quê? Que hora você marcou? — Ela permanece parada para
que eu termine de limpar com a minha língua.
— Não lembro, mas com certeza eu preciso te ajudar com isso aqui.
— Minhas mãos deitam o seu corpo novamente.
— Eu não preciso de ajuda com isso. — Hanna começa a entender o
que eu quero.
— Tem certeza? — Puxo o lençol, e o seu corpo nu se arrepia.
— Não… — Seus dedos puxam a minha toalha. — Eu preciso muito
provar você com gosto de café da manhã.

O nosso mergulho foi maravilhoso, a caverna a que fomos se


chamava "Caverna do Elefante", porque realmente existia um fóssil de um
elefante lá dentro. Mergulhamos por mais ou menos 2 horas antes de sermos
levados pelos barqueiros até uma das praias mais lindas de Creta.
Almoçamos por lá mesmo, em um restaurante bastante confortável, com
vestiários para podermos deixar as nossas coisas e também nos trocarmos
depois.

Como ainda não tínhamos aproveitado a praia, decidimos fazer isso


depois do almoço, mas a nossa escolha teve como consequência uma praia
extremamente lotada. Sorte a nossa de que o restaurante em si não estava tão
cheio.
A Hanna foi até o banheiro para trocar de roupa e simplesmente
voltou querendo causar algum tipo de acidente no local. Se eu já sofria com a
quantidade de olhares que caíam em cima dela quando ela estava de roupa,
imagine com aquele biquíni verde-militar minúsculo que estava combinando
não só com os olhos dela, mas também com o seu chinelo. E eu sabia que ela
estava desconfortável, porque até as suas orelhas estavam vermelhas.
— Com certeza isso foi arte da minha mãe, já que foi ela que montou
minha mala.
— E por que ela faria isso comigo? — falo, sorrindo, enquanto eu já a
abraço de costas para esconder a sua bunda.
— Eu não sabia que a minha mãe tinha colocado esse biquíni na
minha mala para você usar. Se bem que agora faz mais sentido! — Hanna me
zoa enquanto tira um lenço de dentro da sua bolsa e começa a amarrar em sua
cintura.
— Esse biquíni deveria ser usado somente dentro do nosso quarto! —
Passo os meus olhos ao redor de nós e, por sorte, ninguém estava a
encarando, porque senão com certeza aconteceria uma briga.
— Não se preocupe, daqui a pouco nós vamos voltar, e você terá o
prazer de tirá-lo. — Minha esposa ajeita o lenço. — Prontinho, agora eu me
sinto bem, e você também!
— Bem melhor! — Volto para perto do seu corpo, enchendo o seu
pescoço de beijos. — Agora vamos pegar uma corzinha, porque de noite eu
tenho uma surpresa para você!
— Agora você falou a minha língua. Me conta, não quero uma
surpresa como aquele mel de ontem. Ainda estou com vergonha daquilo. —
Andamos pelas escadas para chegarmos até à praia ainda abraçados.
— Nem me lembre de ontem, senão eu te levo para o hotel de novo, e
a gente não sai mais de lá até você esquecer essa sua vergonha e se sentir à
vontade o suficiente para fazer aquilo sem esse medo todo. Além disso, eu
ainda não estou satisfeito; você só quis fazer uma vez hoje cedo — sussurro
em seu ouvido.
— O mel ainda está fazendo efeito em você? Que disposição! —
Hanna dá risada, para, em seguida, pisar na areia morna e fechar os seus
olhos, aproveitando aquela sensação.
— Eu acho que sim. Você está tão linda fazendo essa expressão de
prazer, que eu não quero deixar mais ninguém a olhar. Podemos voltar para o
nosso quarto agora, e eu te mostro a minha disposição. — Seus olhos se
abrem imediatamente, e o seu rosto fica vermelho.
— Para de falar bobagens. Me fala, qual será a surpresa? — Voltamos
a caminhar assim que recebo a cotovelada na costela, que já estou
acostumado a ganhar.

— Ansiosa como sempre. — Dou risada. — Surpresa é surpresa, né?


Não posso revelar.
— Certo, então vamos aproveitar a nossa tarde e quem sabe voltar
mais cedo para o hotel. — Ela pisca um dos seus olhos para mim antes de
descer os seus óculos de sol em seu rosto quando a luminosidade atinge o seu
rosto.

Encontramos um local mais sossegado para a gente se sentar nas


muitas espreguiçadeiras disponibilizadas pelos restaurantes à beira da praia.
Hanna estendeu uma toalha na cadeira e começou a depositar as suas
coisas na mesa ao lado, deixando os seus chinelos perto dos meus. Então, ela
desamarrou o lenço que estava em sua cintura, chamando a atenção até das
gaivotas que estavam voando a quase seis metros longe de nós.
Porra, mulher! Ela quer me matar mesmo!
Tinha pouco tecido ali, pouco mesmo, e aquilo só me deixava com
ainda mais ciúme, mas também com um desejo intenso de brincar com ela,
em todos os sentidos.
— Hanna! — chamo-a e sinalizo para que se aproxime de mim.
— O que foi? — Ela para do meu lado, e, então, passo a minha mão
pelas suas pernas, deixando-a arrepiada. — Estamos em público. O que está
fazendo?
— Nada de mais, apenas admirando a minha esposa. — Meus dedos
sobem até a sua bunda. Eu logo a puxo para o meu colo, e ela abre as pernas,
sentando-se em mim. — Deixa eu passar protetor em você.
— Eu já passei protetor, lá no restaurante. — Ela se ajeita em cima do
meu membro duro.
— Acho que precisa de mais. Você não passou nas suas costas, né? —
Sua sobrancelha se ergue, e Hanna aceita minha proposta, pegando em sua
bolsa o frasco e entregando-o em minha mão. — Senta na minha frente.
Sua bunda se encaixa exatamente em minha ereção. Ela está me
provocando também... então, eu despejo o conteúdo na minha mão e começo
a esfregar em sua pele, que se arrepia.
Seu pescoço está livre, já que ela prendeu o cabelo em um coque, e
isso me dá abertura para beijar o local. Seu corpo se derrete ao sentir os meus
lábios ali, e ela se empurra contra os meus dedos, que ainda massageiam a
suas costas, empurrando-se consequentemente em meu pau.

— Isso é bom! — Ela solta um gemido baixo ao me sentir.


— E você não presta, sabia? — sibilo contra a sua pele.
— Sabia!
Beijo-a com mais intensidade e sei que a região logo ficará vermelha,
mas Hanna não nota os meus esforços para que isso aconteça e apenas
aproveita o carinho que eu lhe ofereço enquanto passo o protetor.
— Quer deitar? Eu posso continuar a massagem nas suas pernas. —
Hanna sinaliza que sim com a sua cabeça. Então, eu me levanto para ela se
deitar na espreguiçadeira.
Sento na espreguiçadeira do lado assim que o seu corpo está
posicionado de barriga para baixo e começo a passar as minhas mãos de uma
maneira que relaxe as suas pernas. Noto os seus olhos se fechando por trás
dos óculos. Sua bunda empinada e perfeitamente desenhada com aquele
minibiquíni destacava também a sua mais nova tatuagem, que me provoca; e
do lado, bem leve, está a minha mordida, que eu havia deixado na noite
anterior.
Ela dorme ao passar dos minutos, e, então, eu vejo a oportunidade de
cobri-la novamente. Até parece que essa bunda maravilhosa vai ficar
desfilando por aí. Acho que o fuso horário ainda estava deixando o sono da
Hanna desregulado, já que ela estava dormindo com facilidade, ou eu a fiz
cansar muito ontem, mas ver o seu corpo subindo e descendo, respirando
calmamente enquanto ela descansava tranquila, deixava-me feliz em tê-la ao
meu lado.
Os eventos pelos quais passamos este ano não foram fáceis. Nunca
imaginei que a minha presença na vida dela poderia trazer à tona a pior coisa
que já aconteceu com ela. Talvez, se eu realmente tivesse me mantido
afastado, ela nem teria contato com o Kauan, mas eu sabia que não deveria
pensar assim; afinal, a culpa disso tudo era somente dele.
Hanna parecia ter se recuperado bem de tudo. Ela fazia
acompanhamento com psicóloga algumas vezes no mês, mas a frequência já
tinha diminuído bem, porque ela estava melhor. Claro que essa viagem estava
nos ajudando a esquecer o processo jurídico que ainda estava em andamento,
então é evidente que eu iria lhe fornecer as melhores férias possíveis.
Acordo escutando uma conversa mais distante, que, aos poucos, vai se
aproximando da minha consciência. Minha boca está seca, e a voz fala de
água. Então, os meus olhos se abrem.
— Isso, duas garrafas de água. — Ander confirma para a garçonete.
— Mais alguma coisa, senhor?
— Por enquanto é só isso mesmo! — Escuto quando ele mexe na
minha bolsa para pegar a sua carteira. Eu, em seguida, já me levanto
preguiçosamente. — Boa tarde, bela adormecida. Quer algo para comer ou
beber?
Esfrego os meus olhos, assimilando as suas palavras. Ander estava
segurando uma taça de sorvete de chocolate com muita calda e morangos
quase caindo de dentro do recipiente.
— Eu quero essa taça aí! — falo, espreguiçando-me, e ele sorri.
— Eu pedi para nós mesmo, mas quer algo a mais, amor?
— Sim, mais morangos, por favor! — A moça anota o meu pedido e
pega o cartão na mão do meu marido, retirando-se em seguida. — Eu dormi
por muito tempo?
— Não muito, acho que deu uma hora. Não lembro direito que horas
chegamos aqui. — Caramba, foi muito tempo!

— Eu ainda estou me acostumando com o horário, e dormir realmente


me relaxou — revelo, ainda sonolenta.
— Podemos voltar para o hotel e descansar mais. Hoje eu te acordei
cedo também. — Ander ajeita alguns pedaços de morangos na colher e leva
até a minha boca.
Nossa, estava uma delícia! Nem tão doce, nem tão cítrico! Encheu a
minha boca de água, e eu logo a abri de novo, querendo mais.
— Vem aqui no meu colo experimentar o sorvete, pequena. — Sou
puxada pelo lenço que estava amarrado na minha cintura, e eu estranho, já
que eu me lembro muito bem de que havia tirado a peça.
— Você colocou o lenço em mim de novo? — questiono, ajeitando-
me entre as suas pernas enquanto os seus braços me rodeiam.
— O sol estava muito forte! — Ander sorri e enche a colher de
sorvete, para me calar.
— Mas estamos debaixo do guarda-sol — falo, assim que consigo,
mas sinto a calda escorrer em meu queixo e em meu pescoço.
— Viu só? Não fale com a boca cheia! — Ele sorri e pega o meu
queixo, virando-me para encará-lo enquanto me lambia onde estava o doce.
— Você está sem limites. — Acho graça e pego a colher, passando na
ponta do seu nariz.
Ander puxa a minha cintura em sua direção, e ficamos extremamente
perto um do outro. A colher que estava em minha mão cai, sujando a sua
barriga, deixando a calda escorrer até a base da sua bermuda.
— Isso está bem erótico… — Pego a colher novamente e a coloco na
taça.
— Pode me lamber se você quiser! — Ander diz, com o seu sorriso
malicioso, atentando-me.
Então, eu passo a minha língua em seu nariz, tirando o sorvete dali, e
logo escutamos a garçonete arranhar a garganta para chamar a nossa atenção.
Minhas mãos imediatamente pegam alguns guardanapos, passando na barriga
dele para limpá-lo. Eu sinto o meu rosto ferver de vergonha e me afasto, mas
ele não larga o meu quadril, adorando ver o meu desespero.
— As águas que os senhores pediram e algumas frutas. — Ela deixa
tudo em cima da mesa que estava do nosso lado e sai rapidamente.

Olho a bandeja, em que tinha uma pequena variedade de frutas.


— Me passa as uvas — digo, apontando para a pequena tigela.
Ander as alcança para mim, e, assim que pego a primeira uva verde e
a coloco na boca, ela acaba estragando o gosto das outras coisas que eu
experimentei.
— O que foi? — Ander me encara pela cara que faço.
— Água, por favor!
— A uva estava estragada? — Ele me entrega a garrafa.
Abro o mais rápido possível, tomando todo o conteúdo de uma só vez.
— Calma aí, Hanna, vai se afogar! — Sua mão segura a garrafa assim
que eu termino.
— O gosto estava horrível, credo. Quero mais sorvete para esquecer
aquele sabor — digo, pegando a taça da sua mão.
— Vai devagar, senão irá congelar o seu cérebro. — Ele brinca e pega
uma uva, experimentando. — Nem está ruim. Acho que você pegou
exatamente a única estragada.
— Sou muito azarada, então — falo, dando risada.
— Eu a considero bem sortuda, senhora Magalhães. Está na Grécia
com o melhor marido do mundo. — Ele comenta, convencido.
— É mesmo? Talvez você tenha razão! — Passo a minha língua na
colher, atentando-o.

Ander fica me encarando por alguns segundos antes de sorrir e molhar


os seus lábios, para, então, se aproximar de mim e sibilar bem perto da minha
boca.
— Vem, vamos voltar logo para o hotel, que eu estou ficando louco
sem poder fazer o que eu quero com você.
— Deixa eu terminar o sorvete! — Ander se levanta, ajeitando a sua
bermuda, que estava mostrando seu pau duro, e eu encho a boca para não
deixar a taça cheia.
— Eu te compro quantos você quiser depois. Vamos logo. — Sou
levantada em um único impulso dele e largo a taça antes que eu a quebre.
Meu Deus! Que desesperado! Fico morrendo de vontade de terminar
o sorvete.

A minha surpresa, a respeito da qual o Ander fez questão de me


deixar curiosa o restante da tarde, era um espaço totalmente fechado para nós
no hotel onde estávamos, para podermos jantar na nossa segunda noite aqui,
já que a primeira ficamos trancados no quarto.
Eu ainda não estava acreditando naquilo que os meus olhos estavam
vendo. Na área externa, um pouco mais afastada do hotel, tinha uma mesa
com muitas velas à sua volta e o caminho todo iluminado para nós.
— Você gostou? — Sou puxada ao encontro dele, que sussurrava em
meu ouvido. — Eu não sou muito bom nessas coisas, nunca fiz isso. Não sei
se estou no caminho certo.
— Se o caminho certo é você me deixar totalmente sem reação a cada
hora do nosso dia, desde quando nos conhecemos, eu posso dizer com
convicção que você está seguindo os passos certos. Eu amei, meu amor! —
Viro-me para ele e procuro pelos seus lábios. — Obrigada sempre por cada
detalhe.
Ele me aperta em seus braços e me recebe com aquele beijo ao qual
eu já estava muito acostumada. Nosso momento, como em todos os outros,
parando e deixando o restante do mundo quieto para a gente se curtir.

Nós nos sentamos, e logo começaram a chegar as entradas e os pratos


principais. Todas as comidas eram extremamente gostosas do jeito que eu
amo, e ele sabia disso. Assim que o nosso jantar foi passando, papo vai e
papo vem, eu decidi pegar o meu celular na minha bolsa e notei o papel
branco que eu havia colocado ali antes do nosso casamento.
— O que é isso? — Ele observa eu tirar o envelope de dentro da
minha bolsa.
Nem eu me lembrava de que isso estava aqui.
— O presente que os meus pais deram no nosso casamento — digo e
começo a abrir. — Eu nem sabia que eu havia colocado nesta bolsa.
— Você não lembrou antes? — Ele dá risada pela minha memória
curta.
— Não.
— E o que tem nesses papéis? — Ander traz sua cadeira para perto de
mim.
— Não faço ideia. Eles pediram para eu abrir somente aqui na lua de
mel! — falo, empolgada, desdobrando as folhas.
Com calma começamos a ler cada linha com muita atenção, e, assim
como eu fui ficando surpresa ao longo da carta, o Ander começou a tirá-la
das minhas mãos e a se levantar, totalmente surpreso.
— É sério isso? — Seus olhos castanhos quase brilharam ao tentar
confirmar em meu rosto aquilo que ele leu.

— Bem, você nem deixou eu terminar de ler, mas, pelo pouco que eu
li, tenho certeza de que é sério. Meus pais não brincariam com isso. — Ander
se senta e me entrega os papéis.
Meus pais estavam oferecendo a junção das nossas empresas e
também disponibilizando uma área do nosso prédio para ser o novo escritório
do Ander, tornando as nossas empresas uma só, em todos os quesitos
necessários. Eu nunca imaginei que uma coisa assim fosse possível, mas, se
os meus pais estavam oferecendo, significava que eles já tinham feito a
pesquisa para isso, e eu estava impressionada com a decisão deles.
— É um passo muito grande, né? — Ander fala, nervoso, passando a
mão pelos seus cabelos.
— Estamos casados, não estamos? Então não é um passo grande, mas
você não precisa aceitar se estiver se sentindo desconfortável. Além do mais,
você teria que conversar com o seu pai sobre isso — falo para tranquilizá-lo.
— E o que os meus pais estão propondo pode ser modificado também, se
você não gostar de algo.
— Eu não quero em hipótese alguma que eles pensem que eu estou
me aproveitando da empresa de vocês para me erguer. — Suas mãos apertam
as minhas.
— Ander, por que você está pensando em uma coisa dessas? Se eles
ofereceram, é claro que eles não pensam isso de você. — Passo a minha mão
pelo seu rosto.
— Sei lá! Só tenho receio. Não quero nunca decepcioná-los.
Claro que ele tem receio, depois de tudo que ele já escutou sobre o
meu ex e também depois das prensas que o meu pai deu nele, não tinha como
ele se sentir confortável com essa proposta.
— Não se preocupe com isso, não é algo que você precise fazer agora.
Ninguém vai ficar triste se vocês não aceitarem também. Apenas pense que
agora estamos juntos para o resto das nossas vidas e não precisa ter medo de
me falar aquilo que te incomoda, assim como você não deveria nutrir essa
insegurança sobre esse assunto. — Encosto a minha cabeça em seu ombro. —
A proposta ainda estará válida daqui a 10 anos, pode aceitar quando achar
melhor. E eu conheço o homem com quem eu me casei. Você tem caráter,
então nunca deixe algo te atrapalhar por receio. Seja ambicioso, como você
disse nos seus votos!
— Eu amo você, sabia? — Ele beija o meu nariz.
— Eu desconfiei mesmo quando você parou de pedir aquele vinho
seco horrível! — Sorrio ao sentir o seu toque.

— Deixa para outras ocasiões, hoje eu queria tudo perfeito.


— Senhores? — Novamente o garçom retorna com uma bandeja em
suas mãos. — As taças de sorvete.
Ele deposita em cima da mesa 7 taças com diversos sabores dentro
delas, e eu encaro o Ander, surpresa. Esse homem é impossível mesmo.
— Eu prometi, né? Quantas taças você quisesse.
— Talvez eu tenha mesmo o melhor marido do mundo!

— Nem pensar! — Ander diz, pegando-me em seu colo como se eu


fosse uma criança.
Ele passa um os seus braços por baixo dos meus joelhos e apoia as
minhas costas em seu outro braço livre, deixando-me bem-acomodada em seu
peito.
— Não precisa me carregar, eu já disse. — Dou risada, revirando os
olhos, enquanto ele tenta abrir a porta da nossa nova casa.
— Precisa sim, quero que entremos na nossa casa do jeito certo. —
Enfim, ele consegue abrir e empurrar a porta com o joelho.
— Cabeça-dura você, né?
— Você já sabia disso quando decidiu se casar comigo.
— Isso é verdade… Nossa! — falo, assim que vejo a parte de dentro
da casa, encantando-me por tudo.

Eu ainda não tinha visto a casa mobiliada. Quando decidimos nos


mudar para uma casa maior, já que a minha não era tão grande e já que o
apartamento do Ander também não, eu fui junto com ele para escolhermos a
nossa casa. Acabamos nos encantando por um sobrado na mesma rua da casa
dos meus pais. Era uma casa bem grande em um terreno espaçoso; tinha
muita vegetação, do jeitinho que eu gostava. Mas, assim que escolhemos o
local, eu não fui mais para visitar. O Ander ficou responsável por essa parte
de decoração, enquanto eu ajeitava os últimos detalhes do nosso casamento.
Então, assim que eu entrei na casa, fiquei petrificada. Estava tudo
muito lindo, com cores claras e muita iluminação. Nossa sala era enorme e
tinha uma vista para o quintal, assim como a cozinha, que também se
encontrava nesse mesmo espaço.
— Bem-vinda à nossa casa! — Ele me coloca no chão assim que
fecha a porta.
— Meu Deus! Você fez um ótimo trabalho aqui — revelo, andando e
absorvendo tudo de novo que estava ali e que antes era apenas uma sala
vazia.
— Eu tenho bom gosto, né? — Ele sorri, convencido, e pega na
minha mão.
— Disso eu não posso discordar. — Seus passos me guiam.
Ando pelo ambiente observando cada detalhe. Em cima do rack, na
sala, já haviam as fotos do nosso casamento, todas alinhadas uma do lado da
outra. Eu nem sabia que os fotógrafos já haviam entregado as imagens, mas
estávamos lindos em cada um dos porta-retratos.
Na cozinha, a adega estava cheia. Eu nem precisava olhar para saber
que com toda a certeza teria algum vinho seco ali. Havia também muitos
morangos sobre a bancada da pia. Ele pediu para alguém trazer aqui? Por que
ele é sempre tão detalhista?
— Você pensou em tudo mesmo, né? — Paro, encostando-me na
bancada e mordendo um morango extremamente suculento.

— Você comeu morangos quase todos os dias na viagem. Fiquei com


medo de que o seu humor mudasse se não tivéssemos aqui em casa. — Ele
pega um também e experimenta.
— Não foi quase "todos os dias". — Reviro os meus olhos e volto a
caminhar. — Que exagero.
— Verdade, porque teve uns dois dias que não tinha no hotel. — Ele
me acompanha, achando graça ao lembrar.
— Que culpa eu tenho se a Grécia tem ótimos…
Quando me viro no próximo cômodo, dou de cara com um piano de
cauda branco. Eu nunca havia visto um dessa cor, tão lindo, grande e
iluminado pelas amplas janelas que também havia ali e pelos lustres que
pendiam do teto por cima dele.
— Meu Deus! — Aproximo-me rapidamente do instrumento musical,
encostando os meus dedos em cada tecla com cuidado. — Amor…
— Você gostou? — Ander posiciona o seu queixo em cima da minha
cabeça. — Eu não sabia se você iria gostar dessa cor, mas eu acho que
combina com você.
— Eu amei! Onde você encontrou algo assim? Isso é muito…
exclusivo. — Afundo os meus dedos em algumas notas, e o som flui pelo
ambiente. — Nossa! E o som é maravilhoso também.
— Não importa como eu encontrei, e sim que você tenha gostado.
Amo escutar você tocando, e o rapaz me garantiu que esse modelo é especial.
— Sua mão para em cima da minha, acariciando-me.
— Você é especial, Ander. — Viro-me para ele e o agarro, beijando a
sua boca enquanto sou encostada no piano. — Eu realmente te amo, muito
mesmo, não pelos presentes, não pelo valor disso tudo, e sim pelo sentimento
que você colocou em cada detalhe por mim. Você é surreal, sabia? Olha só
tudo isso! — Encaro o ambiente à nossa volta.
— Hanna, eu já te disse, não foi uma e nem foram duas ou três vezes:
você merece, meu amor. Tudo que eu puder fazer por você, eu vou fazer! —
Seus lábios encostam em meu pescoço, e ele beija exatamente onde sempre
beija, em cima das minhas pintinhas, fazendo-me fechar os olhos. — Eu amo
você!
— Ah! — exclamo, ao sentir o arrepio.
— Esse som sim que é maravilhoso… Vem! Eu quero te mostrar o
nosso quarto. — Ele aperta a minha bunda assim que as suas mãos a
alcançam.
— Que pressa! Nem terminei de ver aqui embaixo.
— Depois nós estreamos cada uma das salas, temos tempo, mas agora
eu quero testar a cama! — Sou levantada e encaixo as minhas pernas em sua
cintura.

— Eu sei andar — falo, sorrindo, porque ultimamente ele tem me


levantado em qualquer oportunidade possível.
— Mas não precisa, é bem mais rápido assim! — Quando ele
começou a andar, entramos em um corredor e passamos por algumas portas,
levando-nos novamente à sala principal, onde estava a escada para o segundo
andar.
— Você não acabou de falar que temos tempo? Por que essa pressa?
— revelo a sua contradição.
— Hanna! — Ele junta as sobrancelhas como se estivesse bravo, mas
o seu sorriso aparece em seguida, enquanto os seus passos seguros sobem
cada degrau. — Aceite pelo menos uma vez que eu amo ter você em meus
braços e que vou usar dessa desculpa sempre que for preciso!

— Ok, eu não consigo ganhar nunca dos seus argumentos mesmo. —


Eu o abraço com calma para não nos desequilibrarmos, e ele tira os meus
tênis, deixando-os cair nos degraus.
Enfim, chegamos ao segundo andar, e, antes que nós entrássemos
onde tínhamos decido ser o nosso quarto, eu vejo um quadro imenso no final
da escada tomando conta da parede inteira. Eu sabia muito bem que era eu
deitada na cama do seu antigo apartamento, somente com o edredom por
cima do meu corpo enquanto eu dormia. Meu rosto não aparecia direito;
mesmo assim, eram as minhas costas cheias de pintinhas ali naquela tela.
— Meu Deus! — falo pela terceira vez desde que entramos nesta
casa, e ele para, encarando a mesma coisa que eu. — Por que fez esse
quadro? Desse tamanho…
— Seria um desperdício deixar essa foto apenas no meu celular, então
eu pedi para eternizar em um quadro. — Ander beija o meu pescoço
novamente, para me distrair, e seus passos são mais lentos.
— Quando mandou fazer?
— Antes do casamento. Chegou nesta semana.
— E quem fez? Onde encontrou um pintor que fizesse tão rápido?
— É uma pintora. Bethany Licup. Ela é bem famosa fora do Brasil.
Eu já havia visto algumas obras dela em museus aqui! Vê como é linda?
— Ander, realmente, o talento dela é maravilhoso, mas todos que
entrarem na nossa casa vão ver isso. — Eu estava nua naquela imagem; não
dava para ver muito, mas mesmo assim era vergonhoso.
— Não dá para saber que é você. Isso é uma obra de arte, tem que ser
apreciada. — Ele volta a andar mais rápido, ignorando qualquer outro
argumento que eu pudesse dar em relação ao quadro.
O nosso quarto era ainda mais claro que o ambiente na parte de baixo,
já que era repleto de vidros, e eu confesso nunca ter visto uma cama tão
grande quanto a nossa. Isso realmente foi um exagero. As cortinas claras
demonstravam o quanto ele me conhecia. Eu não gostava de acordar em
ambientes escuros, e sim com a claridade do dia. E notar o quanto ele se
esforçava por mim me deixava completa. Ele fez a casa toda pensando em
mim?
— Não achou nenhuma cama maior, não? — falo, assim que nós nos
aproximamos e caímos nela, misturando a minha piada com os nossos risos.
— Esta já serve para o que eu preciso fazer com você. — Sua mão
desce até encontrar o botão da minha calça e a abrir com calma.
— Eu achei que, depois desses dias na Grécia, você estaria cansado.
— Puxo a sua camiseta para cima, observando o seu abdômen definido,
querendo fazer isso mais que ele.
— Você está me testando, Hanna? — Sua boca toma a minha, e sua
língua me esquenta, mas o beijo dura menos do que eu imagino, e ele me
deixa frustrada. — Está muito difícil de resistir a você, então arque com as
suas brincadeiras. — Ander puxa a minha calça para baixo, e eu o ajudo,
empurrando o tecido com os meus pés. — Acho que tanto sexo te fez bem!
— Claro, acho que vou trocar as minhas corridas diárias por você, já
que você me manteve em forma. — Meus dedos abrem a sua calça, e eu
consigo abaixar o zíper antes que ele tirasse o poder das minhas mãos.
— Eu apoio a sua ideia. — Ele beija abaixo do meu umbigo, e meu
ventre contrai de desejo.
Ander se levanta na beirada da cama e puxa a minha camisa, para, em
seguida, deitar-me de novo. Eu já estava sem sutiã por baixo, então o arrepio
me toma, atravessando de fora a fora o meu corpo. Fico apenas de calcinha
enquanto ele me observa de cima a baixo e passa os dedos em meus mamilos
rígidos, fazendo-me gemer com os seus toques.
— Você ficou bem bronzeada nesses últimos dias. Está linda. — Ele
contorna os meus seios onde o biquíni me marcou e volta a pressionar os
bicos dos meus seios, deixando-me ainda mais molhada.
— Ainda bem que você deixou eu sair do quarto, né? — Aperto as
minhas pernas com força, sentindo o prazer se espalhar em mim, e ele passa a
língua em seus lábios, observando-me.

Sigo com o meu pé até a base da sua calça, onde já dava para ver o
seu membro saindo de dentro da cueca, e abaixo um pouco mais, libertando-
o. Seu sorriso se abre enquanto ele observa os meus movimentos.
— Amo esse pé atrevido, mas agora deixa eu ver como ficou a marca
na sua bunda! — Ele segura a minha perna e me gira na cama.

A familiaridade que eu sentia em seus toques me deixava confortável,


ainda mais agora, que ele fazia questão de beijar a minha nova tatuagem toda
vez que a via. Eu nunca tinha feito uma tatuagem, mas me acostumei a olhar
tantas no corpo dele, que eu tive o desejo de fazer algo que simbolizasse a
gente. No fim, o Ander estava deixando claro o quanto ele estava amando
aquele pequeno desenho.
Seu polegar pressionou a taça de vinho, para, em seguida, pegar a
minha calcinha e rasgá-la com força, enquanto os seus lábios selavam o seu
carinho por minhascostas todas, provavelmente beijando onde tinha
pintinhas. Assim que eu fiquei totalmente nua, senti o seu membro roçar
entre as minhas nádegas, e eu afundei o meu prazer abafado no colchão.
— Não precisa mais se preocupar com as calcinhas, porque eu
comprei muitas. Já estão todas guardadas no nosso closet.
— Bom mesmo, porque eu não aguento mais perdê-las.
— Agora eu vou fazer você se lembrar de como usamos a nossa casa
pela primeira vez. — O som do seu tapa estralando em minha bunda ressoa
pelo quarto, e eu sinto o calor crescer ainda mais em mim.
Quando ele se posicionou na fenda úmida da minha boceta segurando
o meu quadril para me empinar melhor e ter uma entrada mais satisfatória,
escutamos o interfone ressoar pela casa, assustando a nós dois.
— Porra! Tá me zoando? — Ele esbraveja, e eu não contenho a risada
entalada na minha garganta. — Continue assim. Seja quem for, já vai ir
embora! — Ander me mantém no mesmo lugar.
— A gente tem que atender! — comento, ainda me controlando para
parar a minha gargalhada.

— Não temos, não. Você tá tão gostosa assim! Caralho! Não podemos
parar. Quem quer que seja vai embora daqui a pouco. — Ele se esfregou em
mim de novo, e a contração interna retornou junto com o segundo toque do
interfone.
— Ander… — falo, em meio ao gemido, e respiro fundo, tentando
ouvir a voz da minha razão. — Não vão embora. Pare, antes que a gente não
consiga mais.

— Eu não consigo mais… Uma rapidinha, então? — A sua voz fica


mais baixa, e novamente ele se roça em mim.
— Sem essa! Vai lá ver quem é. — Viro-me embaixo dele e levanto a
sua cueca, escondendo o seu pau de mim mesma. Noto que o coitado quase
nem cabe dentro da sua calça. — Se acalme, esconda essa coisa aí. Eu vou
me vestir.
— Ahhhh, malditos empata-fodas! — Ele sai de cima de mim,
fechando novamente a sua calça com dificuldade, e pega a camiseta no chão.
— Independente de quem seja, eu vou matar por nos atrapalhar justo agora.
Não precisa se vestir, fique assim.
Sorrio pela sua reação exagerada e me enrolo no lençol, observando-o
sair do nosso quarto. Enquanto isso, fico esperando pelo momento em que ele
fosse voltar. Pego o meu celular que estava caído em cima da cama para
verificar as mensagens e me assusto com o assunto de uns dos meus e-mails.
Meu corpo reage, levantando-se imediatamente, e eu sinto a ansiedade
crescendo em meu peito conforme eu vou lendo a mensagem. Paro de encarar
a tela por alguns segundos e passo os meus dedos em meus cabelos, tentando
reorganizar a minha mente após ler que o meu advogado estava querendo me
encontrar para falar sobre o julgamento do Kauan.
Solto o celular novamente na cama e caminho de um lado para outro.
Eu tinha me esquecido desse infeliz nesses últimos dias. E voltar para
Curitiba foi como voltar para a realidade. Então, eu escuto as vozes no andar
de baixo e começo a me vestir rapidamente. Isso tira a minha atenção por um
momento, já que os sons vão ficando mais altos. Merda!

Reconheço as vozes, que são dos meus pais, e, no momento em que


eu respiro fundo ajeitando a minha camisa, minha mãe me chama em voz
alta.
Saio do quarto e vou em direção ao andar de baixo, ainda meio
perdida pelo sentido dos corredores, mas, quando chego até o alto da escada,
já consigo observar os meus pais andando pela nossa sala. Os olhos do Ander
me encaram e sinalizam o que a sua boca queria falar: "não tinha como eu
mandar eles embora!"; o que me fez lembrar e quase dar risada da sua fala
alguns minutos atrás, em que disse que"independente de quem seja, eu vou
matar por nos atrapalhar justo agora".
— Oi, mãe. Oi, pai… — falo, quando começo a descer nervosamente
a escada por causa das últimas informações.
— Ai, que bom que vocês voltaram da viagem! Eu estava com tanta
saudade de você, bonequinha! — Minha mãe diz, assim que me vê, e, antes
que eu possa responder-lhe, eu tropeço nos meus tênis.
O desespero de me prender em algo para não cair me faz rapidamente
guiar a minha mão para o corrimão, levando-a em seguida ao peito, sentindo
o meu coração acelerado. Acho que ele já estava assim antes mesmo do meu
susto, e uma mão me segura logo depois.
— Quem deixou isso aqui? — falo, dando risada.
— Você está bem, amor? — Meus olhos se levantam, e o Ander está
do meu lado, totalmente preocupado. — Desculpa, eu derrubei os seus tênis
aí enquanto estava levando as nossas malas para cima.
Ele sabia mentir. Nossas malas ainda estavam dentro do carro.
Mesmo assim, o seu sorriso malicioso estava ali. Era engraçado tentar
esconder dos meus pais o porquê de os meus tênis estarem ali.
— Tudo bem, eu estou bem! — Dou-lhe um beijo no rosto, já que
estávamos tão pertos, graças à sua mão, que se encaixou em volta da minha
cintura.
— Meu Deus! Filha, tome mais cuidado! Eu ia ter um treco se, mal
vocês chegassem em casa, eu já tivesse que levar você para o hospital! —
Meu pai fala, assim que nós terminamos de descer.

— Eu estou bem, já disse! Venham aqui, já conheceram a casa? —


falo, após abraçar os dois.
— Já sim! Nós que trouxemos os morangos que o Ander pediu! —
Fico surpresa com a revelação que a minha mãe faz. — É da senhora Tiana.
Ela e o senhor Diogo também estão com saudade de vocês.

— Sério? — Começamos a andar em direção à cozinha, e a gente se


senta nos banquinhos perto da bancada onde estavam os morangos. —
Obrigada por eles, estão maravilhosos. Vocês experimentaram? Depois eu
quero agradecer pessoalmente a eles.
— Me contem, como foi a viagem? Quero saber tudo, cada detalhe!
— Minha mãe pega alguns morangos, entregando-os para o meu pai,
enquanto me encara sugestivamente, deixando-me vermelha. Ela não tem
vergonha de fazer isso com a própria filha?
Minhas mãos começam a suar pela sua indiscrição, enquanto a minha
mente me entregava cada momento dentro do nosso quarto de viagem: as
mãos, os beijos, os gemidos, os apertões, nossos corpos colados, nossos
orgasmos. Meus olhos procuram pelos do Ander, e ele sorri para mim, dando
de ombros, demonstrando que ele não iria tentar responder àquilo.
— A Grécia é linda! Vocês já foram lá uns 5 anos atrás, né? Sabem
do que eu estou falando. É surreal! — digo, lembrando-me da viagem que
eles fizeram assim que eu assumi muitas coisas na empresa.
— Mas nós não fomos à ilha a que vocês foram! — Meu pai fala. —
O que tem de interessante lá?
— Fizemos alguns passeios… — Ander fala, mas o meu celular toca,
tirando a atenção de todos ali e talvez até salvando o momento.
— Desculpa! — Tiro-o do bolso e vejo o nome do meu advogado na
tela. — Eu tenho que atender.
Afasto-me da cozinha, deixando-os conversando, enquanto eu vou até
a sala e atendo no quarto. Cada toque do aparelho vai deixando toda aquela
sensação de angústia tomar conta de mim novamente.

— Alô, Paulo, quanto tempo!


— Senhora Hanna, que bom que conseguiu atender. Desculpa
atrapalhar a sua lua de mel, mas eu precisava te avisar sobre o caso do
Kauan. Eu até te mandei um e-mail para marcarmos um dia e organizarmos
os detalhes.

— Eu recebi o e-mail, não pude responder, me desculpe.


— Eu que peço perdão, não pude esperar a sua resposta, achei
melhor avisar por ligação de uma vez.
— Imagina, eu já estou em Curitiba de novo, então podemos marcar
para amanhã. Sobre o que seria a novidade? — Minha voz sai um pouco
estridente na hora da pergunta.
— Eu recebi as informações do dia do julgamento. — Ele fala,
apreensivo.
— O dia do julgamento… — Sento-me no sofá ao ter a sensação de
que a minha pressão está abaixando.
— Sim, será daqui a uma semana… Sei que está em cima, mas, não
se preocupe, eu vou te preparar para todas as possíveis perguntas que o
advogado dele poderá te fazer, como deve se comportar e…
— Espera, eu preciso comparecer? O senhor havia me falado que eu
poderia escolher.
— A senhora poderá escolher se vai querer a presença do Kauan
dentro da sala do tribunal ou não no momento do seu testemunho. — Ele me
esclarece.
— Verdade, eu havia esquecido.
— O que a senhora decidiu sobre isso?
Minha mente começa a girar de novo, e o mal-estar me toma. Eu não
queria participar disso, eu não queria nunca mais tocar nesse assunto. Queria
fingir que nada disso tinha acontecido para o resto da minha vida.

— Eu não sei ainda… — Respiro fundo.


— Podemos resolver isso amanhã.
— Tudo bem, me avise o melhor horário, que eu vou até o seu
escritório, Paulo.
— Mandarei uma mensagem. Tenha um ótimo dia, senhora Hanna.

— Você também!
Respiro fundo novamente, tentando fazer aquele mal-estar passar,
prendendo o coitado do meu celular em meus dedos suados, para, em
seguida, escutar passos atrás de mim.
— Hanna? Aconteceu algo? Você está branca, quase transparente. —
Ander para do meu lado e encosta em minha mão gelada. — Vim para te
levar de volta até a cozinha, mas parece que você nem consegue andar.
— Foi só uma ligação sobre o caso… — Levanto-me, sentindo a
minha mão tremer contra a dele. — Depois a gente conversa sobre isso.
— Ei! — Ele me puxa para o seu abraço e beija a minha testa. — Vai
dar tudo certo, não fica assim.
— Eu sei, eu sei! Só não queria ter que passar por isso.
— Você não está sozinha, filha! — Meus pais me abraçam também, e,
de repente, eu estou no meio daqueles abraços que me acalmam e me fazem
criar coragem para os meus próximos dias.
Giro a minha aliança no meu dedo sem pausa, enquanto me preparo
para encarar o Kauan. Estávamos quase chegando ao local da audiência, e eu
sabia que a minha pressão estava baixa, porque as tonturas eram frequentes.
Mas o que eu poderia fazer? Tinha que vir e olhar na cara daquele nojento.
Tudo foi muito bem-esclarecido para mim antes que eu chegasse ao
tribunal. Pela trigésima vez, o meu advogado me dava dicas e informações
para que eu soubesse como tudo iria acontecer e as possíveis perguntas às
quais eu teria que responder.
Desci do carro, ainda tentando me acalmar com a minha própria
respiração, e entrei no tribunal acompanhada do Ander, que estava ao meu
lado, segurando a minha mão. Ele parecia estar ainda mais nervoso que eu,
mas eu não sabia se era por como iria terminar aquele julgamento ou por
encontrar com o Kauan.
Eles eram amigos desde quando entraram na faculdade. Eu conseguia
imaginar que talvez fosse difícil de olhar para a cara daquele moleque depois
de tudo o que viveram e ver que ele havia se tornado um monstro, relembrar
tudo o que ele fez comigo.
Fiquei do lado de fora da sala de julgamento até que eu fosse
realmente necessária na discussão. Não queria ter que ficar olhando para a
cara do Kauan ou estar no mesmo ambiente que ele. Eu não ficaria lá mais
tempo do que o necessário. Ainda não o tinha visto depois do que havia
acontecido e, mesmo assim, eu sabia que seria um choque.

Enfim, após quase duas horas de espera, com o Ander tentando me


acalmar, mas, na verdade, parecia que ele que precisava ser acalmado, já que
levantava o tempo todo e andava de um lado para o outro, um funcionário
saiu da sala de audiência para me chamar. Entrei de cabeça erguida, sem
olhar para os lados, e me sentei em outra cadeira de espera, porque eu seria a
próxima a ser interrogada. Então, enfim escutei o meu nome ser chamado.
Eu fui em direção à cadeira onde prestaria o meu depoimento, e os
meus olhos se encontraram com os dele.
O Kauan estava magro, quase cadavérico em seu terno enorme. Suas
olheiras eram fundas, e a sua pele estava mais pálida do que a parede branca
do tribunal. Sua barba estava por fazer, e o cabelo, cujo corte antes ele
mantinha alinhado, agora estava grande e bagunçado. Eu estava aliviada de,
pelo menos, as suas mãos estarem algemadas na mesa à qual ele se
encontrava.
Eu tive uma leve impressão de que isso poderia ser um jogo para que
não somente o juiz, mas todos os presentes naquela sala tivessem dó dele, e
eu me neguei a me sentir assim também. Ele foi muito longe com isso. A
culpa não era minha de ele estar naquele lugar agora; não adiantava tentar
usar da manipulação.

— Senhora Magalhães, nos diga, por que compareceu ao escritório do


senhor Kauan no dia do ocorrido? — O advogado dele inicia as perguntas, e
eu tento me manter calma, voltando o meu olhar para o juiz.
— Eu havia combinado de almoçar com ele naquele dia.
— O almoço seria relacionado aos negócios de vocês?
— Não!
— Você tinha algum interesse nesse almoço, já que não iriam falar
sobre os negócios? — Ele insiste.
— Protesto, Meritíssimo! A pergunta é irrelevante quanto ao episódio
pelo qual a minha cliente passou. — Paulo se levanta da sua cadeira, batendo
contra a mesa.

— Negado. — O juiz fala. — Responda à pergunta, senhora.


— Sim, eu tinha um interesse específico naquele dia.
— E qual era o seu interesse para ir até o meu cliente por vontade
própria e não conversarem sobre os negócios que os dois mantinham juntos?
— O acusado me mostrou uma filmagem para tentar me manipular…
— Lembro-me daquele dia como se fosse ontem, e eu seguro todo o horror
que eu sinto dentro de mim. — Uma filmagem íntima minha que ele não
tinha o direito de ter; uma filmagem que eu nem sabia que existia! — Respiro
fundo e continuo, ainda sem olhar para o Kauan. — Eu queria muito
conseguir esse vídeo; é por isso que eu aceitei almoçar com ele. Um almoço
que ELE insistiu que tivéssemos. Provavelmente vocês têm a cópia desse
vídeo como prova — falo friamente.
— Certo, e a senhora não pensou que estava cometendo um crime ao
invadir um dispositivo informático que não era de sua posse?
O seu advogado franze as sobrancelhas, tentando me acuar ao vir em
minha direção. Eu sabia que isso era um jogo, para que, no fundo, eu
parecesse suspeita se hesitasse.

— E ele não cometeu um crime ao comprar um vídeo íntimo meu que


foi gravado sem a minha autorização? — Não o deixo responder e
simplesmente continuo a falar. — O que eu deveria fazer, advogado? Deveria
pedir o vídeo a ele com a maior educação do mundo, informando que eu
utilizaria aquilo para denunciá-lo e ter que presenciá-lo excluindo na minha
frente a única prova que eu tinha de que aquele vídeo existia?
Meus olhos rapidamente vão para o Kauan, e ele engole em seco com
as minha palavras. Eu noto os seus olhos vermelhos sempre fugindo de mim.
— Então o fato de o seu esposo ter forjado um contrato falso para se
beneficiar em cima do meu cliente não tem nada a ver com a intromissão da
senhora nesse dia?
— PROTESTO! — Meu advogado grita novamente. — Meritíssimo,
o que é isso? Não estamos aqui para discutirs sobre a parceria entre o senhor
Anderson e o senhor Kauan na empresa deles. Estamos aqui para falar sobre
o abuso sexual que a minha cliente sofreu do acusado!
— Mantido! Advogado, seja objetivo! — O juiz concorda.
— Vou reformular a minha pergunta. O seu esposo a influenciou a
tomar tal atitude, senhora Magalhães?
— NÃO! —exalto-me. Aonde ele estava querendo chegar com isso?
— Nós não estávamos juntos na época. O acusado estava chantageando o
meu marido para que ele se mantivesse longe de mim. — Encaro o Kauan
novamente, que passa os seus dedos sobre os olhos, sentindo o peso das
minhas palavras.
Provavelmente a minha fala prejudicou um pouco o advogado, já que
ele não estava esperando por isso. Com isso, ele acabou demorando alguns
segundos para formular a próxima pergunta. Os questionamentos
continuaram por um longo tempo, até chegar a vez de o meu advogado
também me fazer perguntas. Então, enfim, escutei ambas as partes falarem:
"Sem mais perguntas, Meritíssimo!" e pude relaxar os meus ombros
doloridos.
Eu sabia que isso significava um ponto final. Significava nunca mais
olhar na cara dele, nunca mais poder falar o que eu queria que ele ouvisse, o
que eu queria que ele sentisse. Os pais dele estavam ali, algumas pessoas que
eu não conhecia também, eles tinham que saber o porquê de aquele menino
que estava fazendo as suas lágrimas quase transbordarem pelos seus olhos,
como uma cena de um injustiçado, estar daquele lado da sala, o lado dos que
estavam sendo julgados. Todos tinham que ver o que ele causou em mim, em
minha pele, em minha alma, ver que aqueles olhos vermelhos não mereciam
piedade.
Então, eu abri a minha boca, mesmo sabendo que aquilo tinha
acabado, que agora eu só tinha que esperar a decisão do juiz. Mesmo assim
eu falei:
— A maioria de vocês que estão nessa sala não conseguem e nem
podem entender como é o medo que eu senti naquele dia… só quem passou
por esse desespero sabe o quanto a força de uma pessoa sobre nós nos deixa
sem voz. O coração quase explode em dor e súplica, mas principalmente…
nós sentimos algo morrendo dentro da gente! — Eu respiro fundo quando o
meu braço começa tremer, mas eu continuo sentindo todos aqueles olhares
em cima de mim. — O medo me perseguiu por muito tempo. Ele me prendeu
em um lugar em que eu não queria ficar, era sombrio, era doloroso, era frio, e
eu era tudo menos eu mesma! Hoje, olhando para ele, para quem me
empurrou para esse buraco e vendo que ele está onde deveria estar, sei que
isso vai me ajudar a guardar essas memórias ruins no lugar delas!
— Protesto! — Desta vez é o advogado do Kauan que fala. —
Meritíssimo, ela está fazendo um apelo contra o meu cliente. Isso não é
apenas uma declaração simples de uma testemunha sobre o que aconteceu.
Ela está buscando por um novo recurso para alterar as futuras decisões.
— Advogado… — O juiz começa a falar. — Não foi fácil para a
testemunha passar pelo que ela passou. Ela tem o direito de demonstrar todo
o sofrimento e dor que enfrentou, e nada irá fazer com que eu mude a decisão
final. Por favor, continue, senhora Hanna! — Ele deixa a sua compaixão
tomar o seu rosto, e eu volto a falar, quando os meus olhos encontram os do
Kauan.
— Você nunca vai saber o que é o desespero de não conseguir dormir
ou acordar assustada como se tivessem roubado algo de você, como se o seu
mundo fosse esmagado tão facilmente por um ser humano que acha que tem
o direito sobre o outro! — Seus olhos se fecham para não me encararem, e
ele abaixa a cabeça! — Eu quero que você definhe em algum lugar em que
você não enxergue a luz do dia, Kauan, assim como você fez comigo, como
me deixou no breu ao bater a minha cabeça contra aquela mesa como se eu
não fosse um ser humano. Eu quero que sinta a agonia, o vazio e a solidão de
estar em um poço cheio de imundície como você mesmo, para que pague pela
parte mais linda e pura que você tirou de mim! — Ele contorce o seu rosto
em uma aflição, mas continua sem me olhar, abrindo e fechando os olhos em
direção ao seu advogado e à sua família. — Nada justifica o que você me fez,
nada justifica o que você me falou, nada justifica a violência com que me
apunhalou, aquelas maldições que jogou em minhas costas como se eu
merecesse. Eu quero a justiça! — A lágrima quente desce pela minha pele. —
Quero conseguir proteger a próxima mulher que poderia entrar no caminho
desse homem. Quero que ele apodreça atrás das grades e que tudo o que me
fez o perturbe em cada noite de sono, em cada segundo de silêncio em sua
mente, em cada respirar, porque nada no mundo vai consertar o que você me
causou! Nada, Kauan!
— Pelo amor de Deus, Meritíssimo! — Seu advogado exclama,
apavorado.
— Senhora Hanna, já acabamos por hoje! — O juiz fala, encarando-
me, e eu me levanto após o seu anúncio dizendo a todos que o julgamento,
enfim, havia se encerrado.
O Kauan olhou uma última vez em minha direção antes de
começarem a tirá-lo dali. Quando ele ficou na minha frente, seus lábios se
mexeram silenciosamente em um "me perdoe!", ao passo que, enfim, a sua
lágrima que permaneceu durante todo o julgamento em seus olhos escorreu
pelo seu rosto.
Aquilo me deu náuseas. Como ele poderia simplesmente me pedir
perdão por tudo o que fez e tentar se sentir melhor com isso?
Ander estava do meu lado e, então, encarou o seu antigo amigo, que
abaixou o rosto de uma maneira envergonhada e voltou a andar, saindo da
sala. Respirei fundo vendo aquilo finalmente se encerrar e,
independentemente do que o juiz decidisse, eu estava em paz.
Aquela página estava no fim.
Aquele livro estava se fechando.
Ander me abraçou e beijou a minha testa, transmitindo-me tudo o que
eu precisava naquele momento, após ele escutar aquilo que eu nunca havia
falado para ninguém sobre os meus sentimentos relacionados à situação pela
qual eu passei. Não só ele escutou, como também os meus pais, o senhor
Diogo e a sua esposa, que vieram me apoiar, e aquela plateia ridícula de
pessoas.
O seu silêncio teve a reação que ele queria e de que eu necessitava.
Não precisávamos de palavras para descrever o que aquele momento
simbolizou para nós dois.
Fomos interrompidos pelo meu advogado, que arranhou a garganta
para chamar a nossa atenção. Ele me passou um feedback do que achou do
julgamento, garantindo-me que o Kauan pegaria no mínimo 10 anos de
prisão, mas comunicando que o resultado só sairia nos próximos dias. Disse
ainda que eu não precisaria estar presente, pois ele me avisaria por ligação.
Assim que eu me despedi dos meus pais, que chegaram um pouco
atrasados devido ao julgamento ser no meio da semana, nós seguimos para a
nossa casa. Cheguei tão cansada, que parecia que um caminhão havia passado
por cima de mim. Deixei os meus saltos na entrada e a minha bolsa em cima
de um aparador que tinha do lado da porta.
Quando eu levantei o meu olhar, enxerguei algumas bexigas
flutuando no nosso teto. Como era muito alto, explicava o fato de eu não ter
visto de primeira, mas isso me assustou, e eu olhei para o Ander.
— Por que os balões? Vai me pedir em casamento de novo?
— A gente vai comemorar!
— Por que comemorar? Ainda nem recebemos a mensagem do Paulo
para sabermos o que o juiz decidiu — falo, ainda pensando sobre tudo, e vou
em direção às escadas. — E não vamos receber essa notícia hoje mesmo.
— Nós já sabemos o que ele vai decidir, amor. Vamos abrir um
daqueles vinhos da nossa adega… — Ander vem atrás de mim e segura a
minha mão, passando em seguida as costas da sua mão em minha bochecha.
— E comemorar o novo membro da nossa família.
Meus olhos se semicerram com as suas palavras, duvidando daquela
declaração.
— O quê? Do que está falando?
Então ele assobia e olha em direção ao quintal. Sigo a sua visão, e,
então, uma pequena bola de pelo dourada vem correndo até nós com um laço
vermelho gigante amarrado em seu pescoço. O animalzinho logo passou
pelas grandes portas da sala. Meus olhos sorriem mais que a minha boca ao
ver aquele pequeno pacotinho de alegria vir em nossa direção batendo as
patinhas no chão de madeira, ecoando o som das suas unhazinhas.

— Ander! — Ainda o olho, impressionada, e a bolinha de pelos pula


em mim, alcançando os meus joelhos.
— Por favor, me diga que você gosta de cachorros. Eu juro que tentei
descobrir, mas os seus pais me falaram que nunca tiveram animais de
estimação. Então, me fala o que você está pensando, porque essa sua
expressão não está me dizendo nada.

Eu pego o filhotinho no colo, sentindo os seus pelos supermacios e o


seu cheiro extremamente gostoso de banho tomado. Ele me lambeu o rosto,
fazendo-me retrair pelo seu desespero de atenção. Dou uma risada alta,
relaxando após toda a tensão do dia.
— Eu amei ele… — Tento acalmar as suas lambidas incessantes, e
ele deita em meu ombro depois de um tempo. Era um filhote, mas o seu
tamanho quase não cabia em meu colo. — Amei mesmo, ele é tão lindo e tão
brincalhão!
— Como sempre me chamou de spitz-alemão, eu imaginei que talvez
não gostasse desse cachorro, porque fazia isso para me provocar. Por isso eu
trouxe um golden.
— Você poderia muito bem me sacanear e me dar um spitz, mas eu
amei o nosso golden. Como é o nome?

— Você pode escolher. Eu estava o chamando de Atentado. — Ander


passa a mão na cabecinha do cachorro, e ele volta a se debater em meus
braços, fazendo-me o entregar para o Ander.
— Que dó! Por que estava chamando ele assim? — Acaricio os pelos
dourados do bichinho.
— Ele mijou no meu carro quando eu fui buscar ele. — Ander o solta
no chão novamente no exato momento em que recebe uma lambida na boca e
se limpa em seguida, sentindo nojo. Isso me faz dar risada.
— Ah, então está explicado por que você quis ir com o meu carro
hoje de manhã. — O filhote de cachorro volta para os meus pés, e eu brinco
com o seu laço gigante enquanto ele tenta me morder e arrancar aquela fita.

— Exato. Ainda não tive tempo de mandar lavar o meu carro. — Ele
nos observa. — O Atentado já ama você. Olha só, não sai do seu pé. E olha
que fui eu que fui buscá-lo. — Nós passamos a mão nele juntos. — E aí? Que
nome quer colocar nele?
— Que tal Simba?
Dou a sugestão, lembrando-me do leãozinho caramelo do filme "O
Rei Leão", e ele corre pela sala, encontrando a minha bolinha de anti-estresse
do lado do sofá.
— Simba? O do Hakuna Matata? — Ele dá risada.
— Exatamente, o do “Os seus problemas, você deve esquecer…”.
Cantarolo a musiquinha, que se encaixa perfeitamente na situação em
que estou neste momento, e então eu falo o seu novo nome para ver se o
cãozinho se identifica com ele.
— Simba? — O bolinha de pelos me olha como se estivesse sorrindo
e dá um passinho em minha direção. — Vem aqui.
— Ok, eu já percebi que ele te escolheu!
— Temos um favorito! — Ajoelho-me no chão, abraçando o nosso
doguinho.

Entro no consultório da minha ginecologista após tanto tempo longe.


Ela havia me passado um tratamento e, se, por acaso, os resultados fossem o
mesmo, isto é, sem nenhuma melhora, daí eu teria que fazer cirurgia para que
a minha endometriose não aumentasse. Ela havia me pedido para retornar
depois de três meses. Acabei perdendo a data com os compromissos do
casamento e da lua de mel, mas, enfim, hoje eu estava aqui.
— Hanna, vamos fazer uma transvaginal agora para ver como estão
os seus ovários, tá bom? — fala, após todas as suas primeiras explicações.
— Sim! — concordo, e, então, ela me passa o avental para que eu
retire a minha saia e a calcinha e também me informa de tudo o que eu
precisava saber sobre o exame, mostrando-me o banheiro, em seguida, para
eu me trocar.
Tiro as peças de roupa bem rápido e retorno para a sala, deitando-me
em sua maca. Ela coloca a almofada embaixo do meu corpo, encaixando-me
na posição correta do exame e, então, inicia introduzindo o aparelho em mim.
Seu silêncio dura longos minutos, enquanto eu escuto o som do teclado e me
concentro para relaxar e não sentir nenhuma dor.
— Então, Hanna, você ainda está tomando a medicação que eu te
passei? — Penso e sinto o desespero me tomar.
— Eu parei neste último mês, porque acabou, e eu acabei me
esquecendo de comprar, mais por causa do casamento e da viagem… —
Começo a me preocupar pelo tom da sua voz. — Por quê?
— E como você se sentiu? Teve algum sintoma diferente por parar de
tomar? — Seus olhos ainda estão encarando a tela do computador.
— Não sei, não que eu tenha notado. Esses últimos dias foram bem
estressantes, então eu estive mais exausta que o normal.
— Como está o seu sono?
— Estou dormindo bem. Mais do que o normal, eu acho…
— Desejos? Ânsias? Vômitos? — Penso novamente e me lembro de
uma ocasião ou outra em que eu senti tudo isso, mas nada que fosse algo
frequente.
— Por quê? — pergunto novamente, mais nervosa, olhando também
para a tela do seu aparelho.

— Porque você está grávida! Meus parabéns!


Grávida!
Aquela palavra ficou ecoando em minha cabeça sem pausa enquanto
eu pensava no Ander, no fato de que nem conversamos mais sobre esse
assunto, e que agora eu tinha uma vida dentro de mim!
— De acordo com o que eu estou vendo aqui, a sua endometriose
reagiu bem ao tratamento e diminuiu. Isso deixou que o espermatozoide
tivesse acesso ao seu óvulo. Você está de quatro ou cinco semanas, Hanna.
Veja só. — Ela aponta para o seu computador, já que a notícia tinha me
deixado um tanto quanto muda. — Está vendo essa bolinha branca no centro
da tela? Esse é o seu bebê, crescendo forte bem aqui!
Sua breve explicação arranca o sorriso mais puro e sincero de dentro
de mim. Essa é a minha nova página, o próximo passo pelo qual eu tanto
esperei.
As minhas mãos vão até a minha barriga enquanto vejo o pontinho
branco extremamente pequeno simbolizando algo tão grande. Se ela mudasse
a sonda do aparelho um centímetro fora de lugar, a tela já mudava, sumindo
com aquele pequeno círculo.

— Quatro ou cinco semanas… — repito sussurrando.


Tento me lembrar em que data iria cair, e tudo se encaixa exatamente
nos dias em que eu comecei a me esquecer de tomar o remédio, porque já
estava se aproximando do meu casamento e a minha rotina havia me deixado
de cabeça para baixo.
— O tratamento funcionou perfeitamente bem. Agora temos que
cuidar da sua gestação e continuar acompanhando.
— Entendi… isso me pegou de surpresa! — Dou risada, e a doutora
também sorri. — Acho que eu andei tomando alguns vinhos e fazendo
algumas coisas que talvez não deveria. Teve alguma coisa que afetasse o
bebê?
Passei a minha mão pelo rosto, pensando nas loucurinhas que fiz com
Ander nas últimas semanas antes do casamento, na lua de mel e na casa nova.
Meu sorriso sem graça inconsequentemente preenche o meu rosto,
entregando-me para a doutora.
— Está tudo bem, Hanna. O seu bebê está ótimo, ou ótima, né? — Ela
diz. Sorrio novamente.
— Quando vou poder descobrir o sexo?
— A partir do quarto mês. Vou te passar todas as informações
necessárias para os seus cuidados, e já marcamos as próximas consultas.
Eu não estava esperando estar grávida, não sem antes conversar com
o Ander sobre isso e não sem antes ter certeza de que fosse algo com que nós
concordássemos, mas eu não podia negar também que eu estava feliz. Fiquei
com tanto medo de nunca conseguir ter filho, que, quando a médica me disse
que eu estava grávida, senti um grande alívio.
— Hanna, aqui está a primeira imagem do seu bebê! — Ela me
entrega a pequena fotografia do ultrassom, e eu mantenho os meus olhos
grudados naquela bolinha. — Creio que, na semana que vem, já poderemos
escutar o coraçãozinho.
Sinto O MEU coração disparar no peito quando ela me entrega essa
informação. Meu Deus! Eu estou realmente grávida! Eu realmente terei uma
criança que será metade minha e metade do Ander.
— Tá bom! — concordo.
A doutora me entregou alguns papéis para eu me limpar e sair da
maca, então eu voltei ao banheiro rapidamente para ficar mais decente e
podermos conversar sobre os detalhes importantes. Sentei em seu escritório, e
ela me passou alguns frascos de vitaminas para que eu começasse a tomar e
também algumas recomendações e cuidados que eu tenho que ter nesse início
de gravidez.
Se eu não me concentrasse para escutar tudo o que ela estava me
passando, eu acabava parando de prestar atenção e voltava a lembrar que eu
vou ter uma filha ou um filho, uma pequena criança em meus braços.

— Qualquer coisa, você pode me ligar, a qualquer momento. Não se


esforce muito, Hanna, pode ser perigoso agora no começo. Nada de pegar
muito peso, tá bom?
— Ok, pode deixar!
Despedi-me da ginecologista e fui para a empresa. Durante todo o
percurso, eu fiquei imaginando como que eu deveria contar para o Ander
sobre esse assunto, até ser interrompida pela ligação do meu advogado.
Eu já sabia do que iria se tratar aquela ligação; na verdade, eu estava
esperando por ela. Quando atendi, Paulo me disse que o Kauan havia sido
condenado a 20 anos de prisão pelo abuso sexual, que também se enquadra
como um estupro, e mais 5 anos pela divulgação de filmagens sexuais sem
consentimento. Além disso, ele teria que me pagar o valor que pediu
emprestado apenas para me enganar, entre outros encargos citados pelo juiz.
Meu mundo caiu por um breve momento, desejando que ele ficasse
preso o resto da vida, mas eu não deixaria essa notícia acabar com a sensação
que aquele pequeno pontinho dentro de mim estava me transmitindo.
Voltei a pensar no Ander, já que eu realmente não sabia como seria a
reação dele ao descobrir, então eu também não sabia se deveria fazer uma
surpresa pra ele. Mesmo assim, decidi fazer, já que eu queria ter esse
momento, que, para mim, estava sendo muito especial. Fiz todas as ligações
necessárias para poder encomendar o presente para a revelação, e eu não via a
hora de poder pegar a caixa no final da tarde e ir para a nossa casa.
Claro que a minha felicidade estava evidente no meu rosto. A Andréia
me perguntou várias vezes por que eu estava sorrindo sozinha na minha sala
que nem uma boba, e eu me segurei para não contar para minha mãe quando
ela veio me ver. Queria contar primeiro para o Ander. Assim, o dia passou
extremamente lento com essa minha ansiedade maluca.
O senhor Diogo me deixou na garagem de casa e deu a meia-volta
com o carro para retornar apenas no outro dia. Anderson até insistiu para me
levar e me buscar na empresa todos os dias, mas eu não queria deixar o meu
velho amigo de lado. Eu amava conversar com o senhor Diego, e parecia até
que ele já sabia o que estava acontecendo comigo hoje, pois se manteve em
silêncio, mas com o seu sorriso carinhoso no rosto.
— Oi, amor, já chegou? — falei alto assim que entrei em casa
enquanto arrancava os meus saltos.
— Já, estou aqui em cima! — Escutei a sua voz distante.
Fui em direção ao nosso quarto e o encontrei no banheiro, agachado,
ligando as torneiras da banheira e verificando a temperatura da água.
— Está preparando o nosso banho? — questiono, bem-humorada,
assim que eu entro, e ele me olha com aquele sorriso safado.
— Claro, esta semana foi muito estressante. Acho que precisamos
desse banho. — Ander caminha em minha direção e encosta os seus lábios
nos meus.
— É, eu também acho!
Consigo entender muito bem o que ele quer quando volta a me beijar,
puxando-me para si e envolvendo aquele momento com as nossas línguas.
Mesmo que tivéssemos tido uma lua de mel superativa e sem pausas
praticamente, assim que nós voltamos de viagem, os compromissos com as
nossas empresas ocuparam quase todo o nosso tempo, e eu tenho certeza de
que, se não fosse a gente dormindo junto, nós nem estaríamos nos vendo. Ele
estava saindo mais cedo que eu, e eu estava voltando mais tarde que ele.
Ander deslizou as suas mãos pelos meus quadris até alcançar o fim do
meu vestido, e, se não fosse a minha vontade gigantesca de fazermos o que
estávamos prestes a fazer, eu pausaria isso para contar a novidade, mas eu
também sabia que estava adiando o momento porque eu estava com receio da
sua reação, então apenas o deixei tirar a minha roupa para poder relaxar
agora, pois eu sabia que ficaria toda tensa novamente assim que eu fosse
contar sobre a gravidez.
— Você trocou de perfume? — Ele vira o meu corpo, e o seu nariz se
encaixa em meu pescoço.
— Sim. — Aproveito a sensação em minha pele, e ele abre o meu
sutiã, deslizando-o pelos meus ombros. — Impressionante que tenha notado.

— O cheiro desse é ainda mais viciante que o outro, e você sabe que
eu sou observador, sei onde está cada pintinha em seu corpo. Seria muito
estranho se eu não notasse a mudança do seu cheiro.
É… mas o mais importante ele não notou em meu corpo, então o seu
comentário foi a minha piada interna, mesmo eu sabendo que nem eu havia
notado as diferenças, a não ser pelos sintomas.

Suas mãos apalparam os meus seios até os seus dedos puxarem os


meus mamilos, e ele encostou o seu membro no final das minhas costas,
demonstrando o seu interesse. Sem deixar que eu me virasse novamente para
a sua frente, ele se abaixou e puxou a minha calcinha, deixando-me
completamente nua no meio do banheiro, enquanto a fumaça já estava
começando a se espalhar pelo ambiente.
O espelho extremamente grande na nossa frente refletia as suas mãos
apressadas passeando em volta da minha cintura e os seus braços me
apertando contra o seu corpo. Os nossos olhos se encontraram no reflexo, e,
então, eu me lembrei da nossa primeira vez em seu apartamento.
Aquele espelho no quarto dele. As palavras que ele sussurrou em meu
ouvido enquanto retirava o vestido vermelho. E tudo que aconteceu depois
daquilo. Bom, não foi uma decisão tão ruim ter aceitado ficar com ele aquela
noite; se bem que eu tenho a impressão de que, mesmo se eu não aceitasse, o
resultado seria o mesmo.
Ander passa os seus dedos na parte interna da minha perna, e a
sensação é agonizante, fazendo-me arrepiar de imediato. Seu joelho encosta
no chão, e os seus lábios beijam exatamente na curva de uma das minhas
nádegas, trilhando um caminho até alcançar a minha tatuagem, onde ele me
chupou com força, fazendo uma marca no local.
— Ah! — O som dolorido sai pela minha garganta, e eu me viro,
segurando o seu rosto.
Minha intimidade fica de frente com os seus olhos, e ele me ataca ali,
passando a língua pela minha fenda sem ao menos me dar um tempo para
reagir. Logo o meu corpo pende para trás, encostando-se no espelho gelado.
Ele passa os seus braços em volta da minha cintura, e meus dedos percorrem
os seus cabelos, enquanto minha voz de satisfação escapa da garganta para,
enfim, sentir o prazer que tanto esperamos durante a semana. Em poucas
lambidas, eu já estava me sentindo encharcada, tanto pela sua saliva quanto
pela minha excitação.
— Vamos para o banho? — Eu falo quase sem ar, mas ele segue me
chupando cada vez mais fundo, e eu me contraio quando ele para o
movimento da sua língua e coloca um dedo em mim.
— Tem certeza de que você quer que eu pare agora?
— Ander… — Meu interior quente pede pelos movimentos do seu
dedo. — Você sabe como eu gosto!
— Quer mais? — Céus! Por que ele gostava tanto de me torturar?
— Mais… — sussurro quando o seu segundo dedo entra em mim.
Então, puxo novamente o seu rosto em minha direção, fazendo com que ele
entenda que eu queria gozar em sua boca.
Sua mão pega a minha perna com cuidado e a coloca em cima do seu
ombro, para ter um melhor acesso à minha boceta, e os seus dedos
conseguem ir ainda mais fundo em seu vaivém delicioso. Deixo o meu corpo
relaxar contra o espelho para que a sua língua brinque ainda mais em mim. O
som dos meus gemidos ecoa pelas paredes do banheiro, enquanto o Ander se
diverte com cada espasmo familiarizado que temos e sentimos um pelo outro.
Ele busca pelo meu orgasmo indo e vindo, criando cada vez mais a sensação
de urgência em mim.
Como eu queria aquilo! Chegar ao meu ápice com o meu marido
gostoso entre as minhas pernas me chupando sem pausa e sem pudor... e,
pronto, aquela sensibilidade que eu sentia antes de gozar estava ali,
enlouquecendo o meu corpo.
Enfim, explodo! Ofegante e desesperada por ele.
Puxando o seu rosto ainda mais contra o meu corpo enquanto a
eletricidade corria pelas minhas veias, deixando-me mole.
— Esse foi mais rápido do que o normal. — Seu sorriso me acende
ainda mais, e eu o puxo para cima, agarrando a sua boca e sentindo o meu
gosto.
— Faz tempo que a gente não faz — falo, ainda ofegante, entre os
nossos lábios, arrancando a sua camisa, já que só eu estava nua ali. —
Duvido você não gozar rápido também! — Desta vez, sou eu que sorrio
travessa por desafiá-lo.

— Hanna, Hanna… — Ander morde o meu lábio inferior, fazendo


queimar a minha pele, e me vira de costas, encostando o meu rosto no
espelho enquanto atinge a minha bunda com um tapa forte. — Você gosta de
brincar com fogo, né?
Ele sente prazer ao escutar o som estridente e perfeitamente ressoado
do tapa pelo ambiente juntamente ao gemido dolorido que eu solto.
— Vai ser extremamente delicioso ouvir você me pedindo para parar
porque a sua boceta vai estar ardendo de tanto que eu vou meter nela! —
Escuto o som que ele faz abrindo o zíper da sua calça.
— Isso é o que vamos ver!
Observo o canto da sua boca sorrindo através do espelho, e, então, ele
se posiciona atrás de mim, enfiando de uma só vez o seu pau em minha
boceta, que ainda pulsava após o orgasmo que eu tive alguns minutos atrás.
O som ofegante que sai da minha garganta segue o ritmo do seu entra-
e-sai, e eu me perco naquela sensação obscura que estava me puxando
novamente ao orgasmo.
— Minha safada do caralho! — Sua mão pega os meus cabelos com
cuidado e movimenta a minha cabeça, dando espaço para novamente ele
beijar o meu pescoço.
A pressão com que os seus lábios sugam a minha pele é arrebatadora.
Eu sei que o Ander quer me testar, ele gosta de fazer isso, então ele me puxa
para o seu corpo sem parar de meter em mim e morde o meu ombro enquanto
eu visualizo a nossa conexão no espelho, perdendo-me ainda mais nos nossos
corpos suados. Ele quase me tira do chão quando levanta uma das minhas
coxas, abrindo-me diante do espelho, e eu consigo notar em seu olhar o
perigo daquela perdição, já que aquela posição o excitava ainda mais.
— Vê o quanto está gostosa assim? — A outra mão livre começa a
passear em meu corpo. — Olha como os seus seios ficam arrepiados
enquanto eu entro e saio de você. — Ele passa a mão em minhas costelas,
seguindo para os meus mamilos, e os aperta, fazendo o meu ventre contrair
de prazer. — Veja como a sua boca se abre toda vez que eu entro fundo?
Como os seus olhos nem conseguem ficar abertos ao me sentir tomando
conta do seu interior? — Minha mente protesta, querendo se desmanchar
nele, mas ao mesmo tempo se negando a ver o meu rosto de prazer naquele
espelho. — Minha! Você é inteiramente minha! — Ander reduz a velocidade
e segura o meu rosto em direção ao espelho. — Olha como a gente se
completa!
— Termina logo com isso, Ander! — suplico, querendo que ele
aumentasse a nossa velocidade novamente antes que essa posição nos fizesse
cair. — Eu quero mais…
— Eu amo você implorando assim! — Maldito.
— Ander, para de falar… — Coloco a minha mão para trás, tampando
a sua boca, já sem paciência pelo desejo urgente de gozar. — Só mete mais
rápido, por favor!

— Vai voltar a me punir se eu continuar falando? — Ele sorri e,


enfim, me tira do chão, segurando as minhas duas pernas uma em cada braço.
Estou tão aberta de frente para aquele espelho, que desejo
profundamente não ficar mais nessa posição, mas isso o permitiu ir mais
fundo, então a minha intimidade traiçoeira amou o sentir lá.
Seus movimentos são feitos com força, e, pelo reflexo, eu consigo
enxergar o meu molhado escorrendo pelo seu membro e pingando no chão.
Droga, isso me excita ainda mais! Minha cabeça pende em seu ombro, e eu
sinto os meus cabelos grudando em seu corpo suado. As estocadas repetitivas
e certeiras me fazem atingir o meu segundo orgasmo, e fica ainda mais
torturante quando o meu interior protestando com os tremores ainda são
atingidos pelo seu vaivém, até, enfim, ele gozar dentro de mim.
Nossa! Isso foi bom!
Esperamos nossas respirações se acalmarem, e ele me coloca no chão
novamente. Eu me viro para enxergar os seus olhos travessos.
— Acho que fizemos uma pequena bagunça aqui! — Ander fala,
encarando o chão, e eu noto a água da banheira transbordando.
— Você fez essa bagunça — falo, sorrindo. — Você vai limpar!

— Logo a água vai para o ralo. Só nos resta tomar um banho agora,
né?
— Por favor!
Eu ajudo a Hanna a se secar e pego o seu roupão de seda que estava
pendurado no banheiro. Enquanto ela começava a secar os seus cabelos,
passo a toalha pelo meu corpo e a amarro em minha cintura, indo em direção
ao nosso quarto para me vestir.
Assim que saio do banheiro, noto uma pequena caixa de presente
branca com um laço dourado em cima da cama e automaticamente olho em
direção ao banheiro de novo, vendo a Hanna encostada na porta, encarando-
me com os olhos apreensivos.
— O que é isso? — pergunto, e o sorriso dela se abre.
— Um presente para você! — Ela fala, empolgada. — Ou para nós
dois.
Sua voz sugestiva me dá curiosidade, e eu vou para perto da cama,
observando vagarosamente a caixa.
— Hanna, você sabe que não precisa me dar nada, eu já tenho tudo
por ter você. — Pego a caixa em minhas mãos, e ela vem até mim. — Por
que você não me avisou? Eu teria comprado algo para você também!
— Eu já ganhei o meu presente. Está na hora de você ganhar o seu!
— Ela se senta na cama, e eu faço o mesmo.
— Cheia de mistérios, né? — Eu desfaço o laço e tiro a tampa com
calma, por não saber o que teria dentro.

Antes que eu pudesse ver o que de fato era o meu presente, um


envelope preto que estava por cima do conteúdo me deixa inquieto, e eu
começo a pensar se não poderia ser ela oferecendo que eu juntasse as nossas
empresas novamente, mas, então, lembrei-me de que ela foi à ginecologista
hoje, o que fez meu coração acelerar pensando que o pior poderia ter
acontecido e que ela precisaria fazer a cirurgia. Mas por que isso seria um
presente?
— Uma cartinha? Acho que você nunca fez esse ato de amor por
mim! — Eu falo com um humor medroso assim que observo o pequeno papel
e o retiro da caixa.
— Para de ser bobo e leia logo! — Seu olhar começa a me deixar
nervoso, já que ela parece angustiada. Então, eu abro.
A letra belíssima dela destaca a palavra: Meraki.
— O que isso significa? — Olho a parte de trás da folha, procurando
por respostas, mas não encontro mais nada.
— Uma palavra com um significado como os dos nossos braceletes.
— Ela balança a joia em seu braço, e eu encaro a minha em meu braço
também, já que nunca mais as tiramos. — Significa deixar um pedaço de si
em tudo que faz, deixar uma parte da sua alma, dos seus sentimentos, do seu
ser. — Hanna pega a outra caixa que estava embaixo do envelope e me
entrega. — Colocar um pouco de amor nos pequenos detalhes.
Ela me explica com o seu sorriso mais carinhoso no rosto, passando
os seus dedos finos nos detalhes da caixa, e o meu coração fica
completamente relaxado pelas suas feições. Pensei muito antes de abrir
aquela caixa que cabia na palma da minha mão, mas nada do que eu imaginei
ser aquele presente era de fato o que continha no veludo preto.
Um minibracelete metade dourado e metade prateado contendo a
palavra “Meraki” gravado na parte superior, exatamente igual aos nossos.
Meus olhos foram até os seus, que estavam completamente cheios de
lágrimas esperando pela minha reação, e o meu coração, que já estava
acelerado, triplicou de velocidade. Pego a pequena joia em minhas mãos e
encaro a sua barriga relacionando tudo, ainda sem acreditar no que ela estava
querendo dizer com aquilo.
— Deixar um pedaço da sua alma… — Lembro-me da sua fala, e ela
concorda, abrindo seu sorriso perfeito para mim.
— Nos pequenos detalhes! — Ela completa a frase e coloca as suas
mãos sobre a barriga.

Eu arregalo os meus olhos e me levanto, respirando com dificuldade,


enquanto me viro para a parede, tentando colocar em palavras o que eu estava
sentindo. Aperto o braceletezinho entre os meus dedos enquanto levo as
minhas mãos aos meus olhos e começo a caminhar de um lado para o outro.
— Ander? — Seu tom preocupado me chama, e eu sei que ela está
atrás de mim.
— Hanna, pelo amor de Deus, não me diga nunca que está brincando
com um assunto desses! — Viro-me para ela, limpando os meus olhos cheios
de lágrimas, e encaro os seus olhos verdes, que se relaxam ao ver a minha
feição de felicidade. — Você está carregando o nosso bebê? Está mesmo
querendo dizer que está me dando o maior presente que eu poderia receber?
— Ela concorda incessantemente, fazendo-me explodir em alegria enquanto a
aperto em meus braços e guardo o braceletezinho na palma da minha mão.
— Sim! Eu estou grávida! — Ela se afasta e pega uma pequena
fotografia dentro da caixa para me entregar. — Esse é o nosso pontinho de
amor.
Ainda estou limpando o meu rosto das lágrimas quando vejo a
manchinha branca no ultrassom. Hanna também está chorando, mas o desejo
de beijar a sua barriga é maior do que tentar fazer algo para pararmos de
chorar, então eu me ajoelho em seus pés e a puxo, beijando embaixo do seu
umbigo.
— Deus, obrigado! — Encosto o meu rosto nela, agradecendo ainda
mais mentalmente. — Vamos ser pais! Vamos ter um bebê!
— Vamos!

Estaciono na garagem de casa e noto que já são quase oito da noite.


Certo, eu confesso que acabei perdendo muito tempo naquela loja. Retiro
todas as sacolas do carro e entro dentro de casa.
— Amor? — Subo as escadas com todas as compras nas mãos, indo
direto em direção ao quartinho do bebê.
— Sim, estou aqui no quartinho. Estava pensando em pintar as
paredes de bege, já que não sabemos ainda se vai ser menina ou menino. —
Hanna perambula pelo quarto vazio, gesticulando com as mãos. — Branco
também fica lindo.
— Ou podemos esperar nascer para pintarmos da cor que quisermos.
— Deposito as sacolas no chão.
— Tá louco? — Ela dá risada. — Esperar nascer? Esse quarto tem
que estar pronto dois ou três meses antes de nascer.
— Certo, senhora Magalhães. Pode ficar tranquila, que estará tudo
pronto, como a senhora mandar. — Aproximo-me e a beijo enquanto ela faz
uma cara emburrada pela minha brincadeira.
— O que você trouxe ali? — Sua mão aponta para as sacolas.
— Eu passei naquela farmácia perto da empresa para comprar as suas
vitaminas e eu nunca havia reparado que tinha uma loja de bebê ao lado,
então eu comprei umas roupinhas.
— Sério? — Seus olhos brilham, e Hanna vai em direção à sacola.
Não nego que, ao entrar na loja, eu queria comprar tudo, mas ainda
não sabemos o sexo do bebê, então comprei apenas as roupinhas neutras.

Ela nem consegue notar o quanto está mais linda do que normal com a
sua minibarriguinha de fora enquanto ela usa o seu baby-doll, que, daqui a
alguns meses, eu tenho certeza de que não estará servindo mais.
Suas mãos rapidamente se desfazem das muitas embalagens, e ela
pega o primeiro macacãozinho marrom de inverno, que tem o formato de um
ursinho com touquinha, pomponzinho no bumbum e orelhinhas.

Hanna decidiu manter a gravidez em segredo durante todo o primeiro


trimestre da gestação, porque a sua ginecologista pediu um repouso um
pouco maior quando tivemos um susto após um pequeno sangramento
durante uma noite. Tudo ficou bem depois disso, mas ela não queria dar
esperanças caso algo acontecesse, ainda mais porque o nosso medo era
constante e não relaxamos até a médica dizer que o nosso baby estava
perfeitamente bem e sem nenhum risco.
Minha sogra conseguiu descobrir logo no final do segundo mês
quando começou a desconfiar de algumas atitudes da Hanna e a encontrou
vomitando no banheiro da sua sala, então contamos aos meus pais algumas
semanas depois, que vieram pela primeira vez para Curitiba apenas para nos
parabenizar e trazer os presentes.
Agora a Hanna já estava no seu quarto mês de gestação, e estávamos
esperando pela consulta para saber o sexo do bebê.
— Eu amei! — Ela abraça a roupinha. — Tem até cheirinho de
neném.
— Sim, porque eu comprei perfume também. Está na outra sacola.
— E o que é isso no seu braço? — Sorrio na mesma hora por ela ter
notado tão rápido o plástico protetor.
— Uma tatuagem nova. Estava achando o meu antebraço muito
vazio! — Não tinha nada naquela região na verdade, eu só tatuava a parte de
cima, e decidi estrear com uma coisa especial.
— Não acredito! — Hanna fala, surpresa. — O que você fez?
Suas mãos pegaram o local para enxergar mais de perto.
— Não conseguiu descobrir ainda? — brinco com ela.
— São constelações?
— São suas pintinhas — falo, e suas sobrancelhas se juntam.
— Não entendi.
— Essas que estão perto do meu punho começam no seu pescoço;
essas mais abaixo são as que ficam nos seus seios; essas aqui são as que tem
perto do seu umbigo. — Deslizo os meus dedos nas linhas pontilhadas que
realmente imitavam constelações. — E essas últimas aqui são as que existem
no meio das suas pernas.
Hanna fica vermelha com as minhas falas, e eu acho lindo o fato de
que ela ainda se sinta envergonhada com algumas coisas que eu falo.
— Como pensou nisso? Está lindo! — Seus olhos brilham, e suas
unhas passam por cima do plástico.
— Eu só queria eternizar uma coisa pela qual eu sou fascinado: você
inteirinha! — Aproximo-me dos seus lábios, e ela me beija antes que eu faça
isso.
A cada dia eu ficava ainda mais apaixonado por essa mulher. Não
tinha como eu me manter longe desses lábios e, se, por um acaso do destino,
acontecesse de eu não conseguir beijá-la logo de manhã, o meu dia ficava
horrível. Hanna sorriu assim que parou o nosso beijo.
— Eu amei, ficou perfeito!
— Que bom, porque senão eu iria ficar louco se tivesse que tirar no
laser! — brinco com ela.
— Faria isso se eu não gostasse?
— Com certeza! — falo rápido e convicto.
— Você é louco mesmo! — Hanna me dá uma cotovelada.
— Verdade, quase comprei a loja toda para o nosso menino! — Dou
risada.
— Ou menina! — Ela semicerra os olhos para mim, porque eu só
conseguia pensar que viria um menino.
Ficamos alguns minutos desembrulhando tudo e colocando na
primeira cômoda que compramos, já que a equipe de móveis planejados só
viria montar todo o quarto na próxima semana. Depois, fomos jantar e deitar.
A Hanna se aconchegou em meu braço, puxando o seu cabelo para se
encaixar perfeitamente em mim.
— Nós temos que decidir o nome do bebê. Você está fugindo desse
assunto — falo para ela assim que apagamos as luzes.
— Os nomes que você sugeriu foram horríveis, eu não gostei de
nenhum.
— Isso não é verdade! — Coloco a minha mão em sua barriga e
começo a acariciá-la.
— Deixa eu escolher alguns, e discutimos sobre. — Ela encaixa a sua
mão em cima da minha.
— Que tal Simon se for menino e … — Meus dedos sentem uma
pequena pressão em sua barriga, e o meu coração dispara. — É o nosso filho?
Eu acabei de o sentir se mexendo, e, então, o segundo empurrãozinho
vem novamente, e a Hanna sorri.
— Ou filha, né? — Ela ajeitou a minha mão em outro local para que
eu sentisse o próximo chute. — Sim, comecei a sentir ela se mexendo ontem,
mas nem tive a oportunidade de te contar.
— Isso é muito… — Sinto o seu pezinho se encostar onde estavam as
nossas mãos. — Mágico!
— Isso é verdade. Nossa criança é realmente sapeca. Na hora de
dormir, começa com esses chutinhos.
— Tenho certeza de que será um piazinho arteiro.
— E eu tenho certeza de que será uma menininha bem arteira!
— Estou até vendo que eu vou ter muita dor de cabeça com esse
menino. — O chute de protesto atinge novamente a minha mão. — Viu só?
Já começou.
— Ander? — Sento-me com muita dificuldade na cama, sentindo a
dor pontiaguda percorrer o meu corpo enquanto seguro no mesmo momento o
braço do meu marido.
Quando completei 39 semanas, eu comecei a sentir algumas dores que
a minha obstetra me disse que seriam as contrações de treinamento para o
parto. Então, assim que eu acordei às duas e pouco da manhã tendo a tal dor
inicial, eu me mantive em silêncio, absorvendo exatamente que tipo de dor
era aquela que eu estava sentindo, mas não demorou muito para eu notar que
as contrações eram fortes e ritmadas, vindo de tempos em tempos,
exatamente como as que a doutora me disse que seriam as contrações de
parto.
Ander não acordou tão fácil com o meu toque; afinal, a minha voz
não saiu tão alta, e ele tem acordado muito cedo nos últimos dias. Eu respirei
fundo, concentrando-me para controlar aquela dor o máximo que fosse
possível, e encarei o relógio, notando que eram apenas 3h20 da manhã.
— Simba? — sussurro, chamando o meu cachorro, que agora já
estava literalmente do tamanho do leão do filme, e ele se levanta e se
aproxima, sonolento, lambendo a minha mão em seguida. — Me ajude a
acordar o seu dono, por favor!
Eu nem questiono mais a sua inteligência, já que eu sempre me
surpreendo com esse cachorro. Tenho certeza de que o Ander o está levando
para algum adestrador sem que eu saiba, porque é surreal como ele consegue
entender muitas coisas. Então, mais alegremente, ele me obedece, indo para o
outro lado da cama e batendo as suas patas pesadas com tudo sobre o
abdômen do Ander.
— AI! — Ele exclama, acordando bravo, mas Simba já havia
começado a lamber o seu rosto, o tirando ainda mais do sério. — Sério isso,
Simba? Que horas são?
— Ander! — chamo a sua atenção, respirando fundo no período de
tempo que a contração me dava de alívio. — Acho que é a hora…
E lá estava a maldita contração novamente!
— Droga! — Contraio-me e sinto quando o Ander se ajoelha na cama
e vem até mim, afastando os meus cabelos para trás, ajudando-me naquele
momento.
— Agora? — Sua voz sai em um desespero desconcertado pelo seu
sono.
— Sim! Agora!
— Agora mesmo? — Ok, agora sim ele está acordando de verdade.
— Exatamente agora!
— Neste momento? — Ander passa a outra mão pela minha barriga e
alivia minimamente a dor. — A bolsa estourou? Há quanto tempo está
sentindo as contrações?
— Não, a bolsa não estourou… — Minha pele começa a suar, e a
minha respiração fica mais difícil a cada minuto. — Não sei há quanto
tempo!
— Fica aqui, que eu já volto. Vou pegar as nossas coisas.
Ander se levanta e acende a luz. Meu marido está maravilhoso
andando pelo quarto somente de cueca, e eu tenho certeza de que estou
parecendo um espantalho com os meus cabelos totalmente desarrumados.

Como estou de 40 semanas agora, a minha mobilidade para algumas


coisas está terrivelmente difícil, tirando o fato de que a minha barriga está
enorme; então, o Ander está me ajudando cada vez mais nas pequenas coisas.
Simba pula na cama e fica o tempo todo do meu lado, talvez
entendendo toda a dor que eu estava sentindo e entortando a cabecinha para o
lado quando os meus gemidos angustiados o incomodavam. Tentei me
levantar, mas não consegui, então esperei o Ander voltar do closet já vestido
e com a bolsa da maternidade, que estava arrumada esperando para quando
essa situação acontecesse.
Eu estava forçando a minha mente a manter a calma; afinal, a doutora
me alertou que eu não precisava me desesperar: era só ligar para ela e ir para
o hospital. Mas, no fundo, eu estava ansiosa para conhecer a nossa menina.
— A Esmeralda escolheu o melhor horário para nascer, né? Porque as
ruas estão desertas. Vamos chegar em 10 minutos na maternidade! — Ander
fala, enquanto olha no celular o melhor caminho.
Sim, entramos em um consenso quando o Ander sugeriu o nome
ESMERALDA; afinal, ele sempre definia os meus olhos com aquela cor. Eu
gostava muito, e a nossa princesa era o nosso bem mais precioso, de modo
que não seria estranho dizer que ela era muito valiosa para nós.
— Ótimo! Ligou para a doutora avisando? — Aliso a minha barriga,
tentando me enganar que as contrações não estavam tão fortes.
— Claro, ela já está indo para lá.
— Então vamos logo. Acho que as minhas contrações já estão de 7
em 7 minutos. — Seus olhos se arregalam.
— Hanna, está muito rápido esse intervalo de tempo. Como você me
diz isso tão calma?
Calma? O fato de eu estar me controlando para não gritar é estar
calma?
— Ander, eu não estou calma, eu realmente estou surtando e
querendo quebrar qualquer coisa que apareça na minha frente quando eu sinto
essas concentrações, e é por isso que eu disse para a gente ir logo ao hospital,
porque é você que está na minha frente agora correndo esse risco! —
reclamo, sentindo a raiva dolorida em cada palavra pela situação em que eu
estava me encontrando naquele momento, e o Ander sorri para mim.
— Não está mais aqui quem falou. Vamos logo conhecer a nossa
pedrinha preciosa antes que eu perca essa oportunidade por estar morto. —
Ele me ajuda a levantar da cama e, quando eu ia reclamar sobre o apelido que
ele deu para a nossa filha depois que escolhemos o nome, eu senti a próxima
contração, que veio com a sensação do líquido descendo pelas minhas pernas.
Caramba, a bolsa estourou!
Quase quebro a mão do meu marido em cada segundo incessante de
dor, e ele se aproxima, abraçando-me e me aproximando do seu corpo como
um apoio.
— Acho que a Esmeralda quer que eu faça o seu parto!
Deus, como eu lido com um homem engraçadinho que brinca até
nessas horas?
— Ander! — Encaro-o, brava, e ele sorri.
— Tá bom, tá bom. Vamos logo.
— Agora eu tenho que tomar um banho antes de ir, né? Não posso
apenas trocar de roupa sentindo esse molhado.
— Hanna, acho que não temos esse tempo… — Ele me olha, tentando
conter o seu desespero.
— Um banho de três minutos não vai mudar nada. Me ajude a ir até o
chuveiro. — Ele balança a cabeça, ainda incrédulo, mas me ajuda.
— Não tem como discordar de você, né?
— Em breve, você não vai conseguir discordar nem da Esmeralda! —
Sorrio ao imaginar ela lhe pedindo qualquer coisa e o Ander não conseguindo
negar.

— Por que eu discordaria da nossa filha? — Começamos a andar até o


banheiro, e, agora sim, Ander estava me acalmando com as palavras certas.
— Às vezes você é um cabeça-dura. Não se sabe, né? — Ele pega a
base da minha camisola e começa a tirá-la.
— Banho rápido, tá? Nada de enrolar. Eu não sei fazer um parto e
seria traumatizante fazer um dentro do banheiro.
— E eu nem quero que você faça isso! — Dou risada, aproveitando o
intervalo de tempo que a dor me deixa livre.
Eu concordo com todas as suas demais objeções antes que o Ander
acabasse nem deixando eu me limpar. Ele liga o chuveiro, ajudando-me
novamente com o restante da roupa, e beija o meu pescoço, acariciando a
minha barriga novamente antes que eu entrasse no banho.
— Vou buscar as suas roupas.
— Um vestido, por favor. Não quero ter que me abaixar para colocar
uma calça agora.
Entro embaixo da água quente, e ela alivia a dor nas costas que eu
estava sentindo, mas não por muito tempo, já que a minha filha estava
querendo nascer, porque ela nem estava cabendo mais dentro de mim.
Ander volta exatamente no momento em que eu estou me secando, e
agradeço muito por ele me ajudar a secar as minhas pernas e costas.
— Você está parecendo uma deusa com esses cabelos caindo do seu
coque e com essa pele toda molhada.
— Não inventa — falo, incrédula por estar daquele jeito.
— Não estou inventando. Eu não mentiria uma coisa dessas. Olha
isso… — Suas mãos param na minha barriga, acariciando-a, e os nossos
olhos se encontram no espelho. — Nossa pedrinha preciosa está aqui, e você
está cada dia mais radiante. Consigo ver de longe a sua beleza ao sentir a
Esmeralda se mexendo. Eu não poderia estar mais grato por você me dar essa
bênção, amor! Então, vamos logo conhecer a nossa arteirinha, porque para
mim ela já passou da hora de nascer. Está me escutando, Esmeralda? Seu pai
está muito ansioso para te conhecer. — Ele se abaixa para conversar e beijar
a minha barriga.
— Eu amo você! — falo, após o escutar, e seus lábios se selaram nos
meus antes da próxima contração chegar, acabando com o nosso momento
mágico. — Merda!
Ander coloca a toalha sobre o meu corpo, enquanto eu ainda não
conseguia me vestir, e ele me ajudou com os treinamentos de respiração que
aprendemos. Quando a dor amenizou, ele pegou a minha roupa.
— Amor, por que não tem a porra de uma calcinha normal naquela
sua gaveta? — Ele pega a peça nas mãos, abrindo-a na minha frente, e
simplesmente escolhe uma das menores calcinhas que eu tinha. — São todas
minúsculas. Essa foi a maior que eu achei.
— Ander, como é que eu vou vestir uma coisa dessas para ir até a
maternidade ganhar a nossa filha? É claro que as calcinhas novas estão nas
gavetas de cima, onde só tem as minhas coisas de gestante. — Ele me encara
com aquele olhar de “eu não sabia”.
— Em minha defesa, eu não sabia. Todas as suas gavetas são iguais.
— Viu só? Respira, Hanna. Ele não está fazendo isso de propósito.
— Pega a calcinha certa, ou eu vou sem!
— Calma, não é como se você fosse precisar dela para dar à luz, né?
— Deus! O que eu fiz para escutar isso em plena quinta-feira às três e pouco
da manhã?
— Anderson!
— Tchau, estou saindo! Calcinha de gestante? Aí vou eu!
O caminho até o hospital foi um tanto conturbado, já que eu senti três
contrações e pedi para o Ander não correr tanto; afinal, as lombadas
pioravam as dores. Assim que chegamos, fui encaminhada para a sala de
preparo, e a minha médica já estava me aguardando.

Ander me acompanhou em todos os processos necessários, e, após


algumas horas, já estávamos na sala de operação paramentados com os
pijamas hospitalares, as touquinhas ridículas e as luvas esterilizadas.
Às 08h30, eu já estava fazendo a maior força que eu conseguia para
poder ver a minha menina o quanto antes. O meu único objetivo naquele
momento era tê-la nos meus braços. Eu precisava ver como eram os seus
pezinhos, as suas pequenas mãos, seus cabelos e escutar aquele chorinho tão
esperado. Então, chegou o momento caótico: a última força antes de ela
nascer, a médica me incentivando, quase gritando junto comigo, o Ander
segurando a minha mão — mas a verdade era que eu estava quebrando a mão
dele —, a dor indescritível da pressão que eu estava exercendo e, por fim, a
minha filha nos braços da médica.
Eu conseguia ver o sorriso da doutora por trás daquela máscara ao
escutarmos o tão esperado choro e eu tinha a maior certeza do mundo de que
o meu sorriso era ainda maior. Ela perguntou ao Ander se ele queria cortar o
cordão umbilical, mas era óbvio que ele queria, porque só faltava ele arrancar
a tesoura da mão da médica, de tão eufórico que ele estava.
— Sua filha é linda, Hanna! — A doutora entrega a Esmeralda nos
braços do Ander assim que as enfermeiras a limpam, e ele se aproxima, com
os olhos cheios de lágrimas.

— Olha isso, amor. A nossa filha é ainda mais linda do que a minha
mente foi capaz de imaginar! Ela é igualzinha a você! — Esmeralda ainda
chorava enrolada naquele cobertor hospitalar.
Minhas lágrimas desceram pelo meu rosto quando o Ander encostou o
rostinho quente e macio dela no meu, entregando-me a Esmeralda com o
maior cuidado do mundo.
— Ela é linda! — Assim que a nossa pequena escuta a minha voz, ela
começa a se acalmar, e o meu coração se completa ainda mais ao tê-la
coladinha em mim. — Filha, você é muito linda!
Sua pele ainda estava com resquícios do líquido da placenta,
deixando-a cheia de manchinhas brancas. Os dedos extremamente pequenos
chegavam a estar enrugados, e os pezinhos também. Após alguns minutos se
acalmando, os meus olhos clarearam depois de tanta dor sentida e choro
involuntário pela força que exerci — e também o choro voluntário pela
emoção de ter o meu DNA em meus braços.
Eu comecei a guardar em minha mente cada detalhe dela, e a primeira
coisa que eu notei foi que ela tinha uma minipintinha em seu pescoço. Igual
às minhas. Seu nariz era igual ao meu, e ela tinha pouquíssimos cabelos
castanho-escuros na sua cabeça. A cor era bem mais parecido com a do
cabelo do Ander. Sua boca também era parecida com a minha.
Ficamos por muito tempo a admirando e conversando com ela. O dia
passou rápido, e logo já estávamos no quarto com os avós babões, que quase
invadiram a maternidade antes do horário de visita.
Meus sogros ficaram sabendo de madrugada mesmo, então
compraram a primeira passagem que encontraram para vir para Curitiba. Já
os meus pais praticamente entraram de férias junto comigo assim que eu
decidi que realmente não conseguia mais trabalhar, só para não perderem o
nascimento.
Enfim, eu senti que aquela nova página que eu estava escrevendo era
a mais linda e perfeita da minha vida!
— Eu não acredito! — Meu sogro fala, causando curiosidade em
todos nós.
Estávamos na sala de casa conversando sobre como toda a nossa
rotina nova com a Esmeralda estava sendo fora de ordem, mas ao mesmo
tempo a coisa mais maravilhosa para se aprender, quando ele se espantou
com algo enquanto acariciava as orelhinhas da sua neta.
— O quê? — Hanna se aproxima, preocupada, e eu levanto do sofá
para olhar o que ele havia visto.
Hanna tinha se recuperado muito bem do seu parto, mas ainda andava
com uma leve dificuldade. Tanto a minha mãe quanto a mãe da Hanna
estavam sempre por perto ajudando nesse nosso novo mundo rosa. Às vezes
nós não conseguíamos convencê-las de que nós dois dávamos conta, de modo
que uma delas posava no quarto de hóspedes.
— A minha neta abriu os olhos. — Richard diz, todo sorridente, e, em
menos de três segundos, todos nós já estávamos em volta da Esmeralda.
E ali estava o fim do mistério que tanto esperamos para saber!
Verdes como esmeralda.
Iguais aos da sua mãe.
Os seus pequenos olhos brilhavam enquanto se ajustavam à claridade
das luzes da sala, piscando calmamente e nos encarando.
— Eu sabia! — A dona Eliza fala, batendo palmas e tirando a
Esmeralda do colo do meu sogro, causando um pequeno choro na minha
“pedrinha” como reação. — Nossa genética é forte! Olha, filha, que coisa
mais linda!
— Ainda não podemos ter certeza. A médica disse que a cor dos
olhos pode mudar.
— Mudar para que cor? Verde-musgo? Os seus olhos eram
exatamente assim quando você nasceu Hanna, e olha o verde-oliva aí na sua
cara.
— Vamos apostar? Se ficar verde-musgo, eu ganho o antigo
apartamento do Ander; e, se ficar verde-oliva, eu fico de babá da Esmeralda!
— Anthony diz, empolgado.
— Nada de apostas dentro desta casa! — falo, nervoso com a sua
proposta.
— O seu apartamento está parado. Deixa eu ficar com ele, Ander! —
Tony me encara com o seu sorriso malandro.
— Para você usar de motel? Sai fora! Quando você ficar de maior,
talvez eu venda para você.
Todos nós damos risada, e o Anthony fica indignado. Enquanto isso, a
minha sogra entrega a nossa Esmeralda novamente nos braços da Hanna.
Elas eram tão parecidas. Mesmo com a Esmeralda extremamente
pequena, nós conseguíamos ver a semelhança, tanto no rosto como nas mãos
e nos pés — e agora até na cor dos olhos. Eu sabia que eu era o homem mais
feliz do mundo por ter as duas na minha vida.
— A nossa filha é realmente perfeita, não dá para negar. Confesso
que nós treinamos muito! — brinco e recebo uma almofadada na cabeça
atirada pela minha esposa.
— Ander! — Toda a sala cai na risada novamente enquanto a Hanna
se transformava em um pimentão.
— Ué, mas eu estou mentindo?
— Nós conhecemos muito bem vocês dois, só não precisavam ter
tentado quebrar todo o quarto do Ander lá de casa. — Meu irmão fala, com o
seu sorriso travesso, e encara todo mundo.
Minha esposa quase se esconde debaixo do sofá para fugir da sua
maior vergonha, ainda mais porque os meus pais estavam ali, e foi o Anthony
que abriu a boca. Moleque tagarela!
— Não acredito! Eu preciso muito saber dessa história! — Dona Eliza
arregala os olhos curiosos e agarra o braço do meu irmão, levando-o para a
cozinha.
Volto a olhar em direção ao sofá em que o meu sogro estava sentado,
e ele nem estava mais ali, estava no quintal brincando com o Simba. Então,
aproveito para me sentar ao lado da minha esposa.
— Eu não acredito que tive que passar por essa vergonha com a
Esmeralda em meus braços. Ainda mais porque foi você que iniciou essa
conversa. — Ela me encara, fingindo braveza.
— Eu não poderia deixar de falar o quanto a nossa filha é linda. —
Sorrio, e, assim que a nossa pedrinha preciosa escuta a minha voz e encara a
nós dois, ela sorri.
— Ela é perfeita!
— Ela é perfeita!
Falamos juntos enquanto sorrimos iguais a dois bobos para ela.
Hanna passa as suas unhas pelo meu abdômen, aprofundando a
sensação de prazer em mim enquanto eu ainda estava submerso em meu
sono. O que ela está fazendo?
Meu corpo já estava respondendo às suas ações sem ao menos eu
saber o que estava acontecendo, e, quando, enfim, a minha consciência
decidiu me acordar, eu senti a sua boca em mim, e a minha mão foi
imediatamente para debaixo do edredom, agarrando a sua cabeça. Ela não
parou de me colocar inteiro dentro da sua boca só porque notou que eu havia
acordado; pelo contrário, sua mão começou a massagear as minhas bolas,
deixando-me ainda mais excitado.
Com a minha mão, que já havia enrolado os seus cabelos em um
coque malfeito, eu acompanhava o movimento que a sua boca me
proporcionava, e o meu corpo se arrepiava a cada arranhão novo que eu
ganhava, enquanto ela passava as suas unhas com desejo na minha pele.
— Hanna, eu vou gozar! — falo, tirando o edredom de cima do seu
corpo, revelando a sua bunda empinada com apenas uma minicalcinha
destacando a tatuagem linda que ela tinha ali. Porra, que golpe baixo.
Seus olhos verdes vibravam o escuro prazer que ela estava tendo em
fazer aquilo em mim. Ela parou a massagem nas minhas bolas para me
masturbar junto ao vaivém que a sua boca me fazia. Hanna não iria parar até
me sentir me derramando em sua língua atrevida, e não precisou de muito dos
seus truques com a língua para que eu chegasse ao meu limite e gozasse nela.

— Não engole… — Até tentei falar antes que ela fizesse isso, mas a
Hanna já estava limpando o canto da boca.
— Bom dia! — Ela se deita em cima de mim e sorri.
— Bom dia? Isso foi bem melhor que "bom". Estava tentando me
matar enquanto eu dormia? Acordou com tesão, é? — Tiro o cabelo do seu
rosto.
— Acordei com tesão ACUMULADO! — Hanna passa o dedo em
meus lábios, destacando a palavra. — Quando foi a última vez que fizemos
sexo? A Esmeralda está tendo tantos pesadelos ultimamente, que esta é a
primeira noite que ela dorme no quartinho dela depois de dois meses.
Estávamos sofrendo um pouco nas madrugadas trazendo a Esmeralda
para o nosso quarto e esperando-a dormir para levá-la novamente ao seu
quarto, mas ela acordava assustada depois de duas ou três horas, e nós
acabávamos a deixando dormir no nosso meio — isso quando nós não
pegávamos no sono antes mesmo de levá-la para a sua cama; e, como
estávamos organizando as coisas do seu aniversário de três anos na noite
anterior, já que seria daqui a um mês, nós acabamos perdemos a oportunidade
de fazermos algo.
— Então vamos aproveitar antes que ela acorde! — Vejo o horário no
celular e noto quão cedo a Hanna havia acordado, compreendendo que ainda
tínhamos duas horas antes de a pequenina acordar. — Vem aqui!
Troco a posição dos nossos corpos, empurrando-a para cima,
enquanto eu descia o meu rosto para o meio das suas pernas, abrindo-as
assim que aquela calcinha tentadora sumia entre os lençóis com um único
movimento rápido.
— Não faça barulho, senão você irá acordar ela! — comento, antes de
puxar o lençol por cima da minha cabeça e me afundar em sua intimidade.
Eu conseguia senti-la se retorcendo com a sensação da minha língua,
que sugava o seu clitóris, de modo que as suas unhas se fincavam na cama.
Hanna estava com cheiro de morangos, e eu tenho a certeza de que ela estava
comendo alguns antes de vir me atacar. Quando eu senti que ela já estava
molhada o suficiente, eu me coloquei em sua entrada e deslizei-me para
dentro devagar, enquanto os seus braços se pousavam em volta do meu
pescoço para me receber. Agarrei seus lábios no momento em que o meu pau
atingiu o seu ponto mais quente.
Desci uma das minhas mãos para debaixo do seu corpo e as encaixei
em suas nádegas, para poder pegá-la com força, guiando o nosso sexo. Hanna
gemeu baixo contra o nosso beijo, para que os nossos sons não se
espalhassem para fora daqueles edredons.
Nosso tesão estava à flor da pele; afinal, já havia completado 20 dias
que começamos a transar e alguma coisa acontecia, deixando os nossos
orgasmos acumulados. Então, quando eu comecei a entrar com mais força,
suas mãos me puxaram para mais perto, enrolando seus dedos em meus
cabelos e mordiscando o meu ombro.
— Me coloca por cima! — Ela sussurrou em meu peito, e assim eu
fiz.
Girei nossos corpos na cama, e suas mãos se apoiaram nos meus
ombros. Ela estava totalmente nua, sendo iluminada pela claridade do quarto,
e cavalgava em mim com vontade, mexendo os quadris em movimentos
circulares, para que ela se esfregasse em minha pele se masturbando. Esperei
que ela se abaixasse um pouco para eu sugar os seus mamilos e marcá-los da
maneira que eu gostava de deixá-los, ao mesmo tempo que eu segurei sua
cintura, empurrando-a ainda mais para mim.
Hanna tinha trocado os seus gemidos por respirações presas. Dessa
maneira, o som não se espalhava tanto, mas eu precisava ouvi-la, queria
gozar com ela se libertando em meu pau em um êxtase esplêndido; então, eu
me sentei na cama, grudei nossos corpos e levei a minha mão para o meio das
suas nádegas.
Consegui sentir quando o seu coração acelerou, porque eu havia
encostado em seu ânus. Ela sempre ficava apreensiva quando eu fazia isso,
mas eu sabia que ela gostava, por isso comecei a meter nela com mais força
enquanto esfregava aquele lugar, e os seus gemidos começaram a aparecer.
Nós estávamos na beira do abismo, mas não queríamos pular, porque
sabíamos que isso só poderia significar que o nosso próximo sexo demoraria
para acontecer; então, ela reduziu a velocidade para que o prazer se
prolongasse. Mesmo assim, eu não parei com o meu dedo em sua traseira,
apenas acompanhei o nosso ritmo.
Seus seios se encostaram no meu peito depois de alguns minutos, e
sua bunda se empinou mais. Eu a ajudei a voltar com os movimentos rápidos,
já que não podíamos demorar também, e, na verdade, não precisou de muito
para que nós dois atingíssemos o nosso ápice. Segurei-a em meu colo até que
que acabasse todo o meu sêmen, e ela tremeu em cada pulsação minha,
gemendo em meu ouvido.
— Tenho certeza de que desta vez eu te engravidei de novo! — Dou
risada para ela, que desgruda os nossos corpos suados.
— Vamos poder saber daqui a uma ou duas semanas, mas, por
precaução, acho que ainda temos um tempinho. Que tal tomarmos um banho
juntos para tentarmos de novo?
— Eu ia te sugerir a mesma coisa!

— Ei, ei, ei! Sem correria por aqui! — falo para a Esmeralda assim
que ela passa correndo por mim com a sua fantasia de algum desenho de
princesa que eu não conseguia lembrar qual, e as suas pequenas perninhas a
levam para o nosso quintal, sem ao menos olhar para trás.
Fizemos uma festa apenas para os amigos e familiares mais próximos,
então os amiguinhos da nossa filha eram as crianças do nosso círculo de
amizades.
Eu mudei a minha empresa, juntando-a com a dos Menezes, e aceitei
a proposta que o meu sogro havia feito há mais de três anos. Fiz isso para
poder ver a Esmeralda a todo momento, e a Hanna conseguiu conciliar,
levando-a todos os dias para a empresa. A sua sala agora já tinha o cantinho
da brincadeira, e, assim, nós íamos juntos para a empresa.
— Deixa ela, amor, não é sempre que ela se enche com tanto açúcar;
então, é melhor ela brincar muito pra cansar, senão de noite nós não vamos
conseguir dormir. — Hanna aparece, trazendo algumas caixas vazias dos
salgadinhos da festa.
— Ela vai cair se continuar correndo assim. — Olho para ela, e os
seus olhinhos verdes brilham enquanto ela dá risada para as outras crianças,
brincando com o Simba.
— Não vai, relaxa! — Hanna larga as embalagens em cima da pia. —
Vem, me ajuda a levar as caixas.
Puxo o seu corpo para perto do meu, fazendo com que nós dois
pudéssemos olhar para a nossa filha, que agora estava superconcentrada,
esperando a moça que contratamos para fazer os desenhos nos rostos das
crianças.
— Obrigado por ter ido àquele almoço! — Beijo o seu rosto.
— Que almoço? — Ela inclina a cabeça para trás, estranhando-me.

— Nosso primeiro almoço juntos. Aquele que a sua mãe marcou para
nós dois.
— Por que está falando isso agora? — Ela sorri pelo meu comentário.
— Porque, graças a ela, a você, ao vinho seco, ao elevador, ao
fornecedor que você foi atender em Brasília naquele dia que acabou indo até
a casa dos meus pais… — Passo meus dedos pela sua aliança e, em seguida,
em seu bracelete dourado. — Graças à sua confiança em mim quando
tivemos que terminar, e, principalmente, à sua força para se reerguer de tudo
pelo que teve que passar... graças a tudo isso, hoje eu tenho a família mais
linda desse mundo. Eu tenho uma princesinha e não desejo mais nada nesse
mundo que não tenha você e a nossa Esmeralda incluídas. Eu amo vocês,
mais que tudo nesse mundo!
— Mamãe! Papai! — Esmeralda vem correndo até nós dois com
aquele sorrisinho perfeito, e Hanna limpa a pequena lágrima que estava
escapando pelos seus olhos. — Olha essa boboleta. Foi a tia Mari que fez!
Ela aponta para o desenho próximo dos seus olhos, e a Hanna a pega
no colo. Eu abraço as duas mais forte.
— Que linda, filha! Será que ela faz uma na mamãe também?
— Acho que ela só faz em clianças, mãe! — Seus olhinhos duvidosos
encaram os olhos da sua mãe.
— Então ela faz no seu pai, já que ele é uma criança, né? —
Esmeralda dá risada.
— Qual desenho você vai queler, papai? — Sua pequena mão acaricia
o meu rosto.
— Que tal um do Rei Leão? — Eu digo, já que é um dos filmes a que
mais assistimos juntos.
— O bumba? — Essa pedrinha preciosa sabe muito bem fazer nós
dois darmos risada.
— Pode ser! — falo, e a Hanna a solta no chão novamente.
— Vamos lá ver se ela faz, papai! — Esmeralda pega a minha mão,
puxando-me enquanto balançava o seu minibracelete em seus bracinhos.
— Vai indo na frente, filha. O papai já vai! — Hanna diz, e
Esmeralda volta correndo para o quintal chamando pelo Simba.
Assim que nós dois conseguimos tirar por breves segundos os nossos
olhos da nossa pequena, a Hanna passa os seus braços em meu pescoço e me
beija calmamente.
— Obrigada por ter ido àquele almoço também, meu lugar de
aconchego. Mas eu acho que você vai querer abrir mais um espacinho nesse
seu coração aí!
— Por quê? — Minhas sobrancelhas mostram a minha dúvida.
Hanna se afasta para pegar uma caixinha de baixo do balcão da
cozinha exatamente igual à que ela me deu três anos atrás, para, então, vir ao
meu encontro e abri-la na minha frente, mostrando mais um minibracelete
metade dourado e metade prateado com a palavra Meraki gravada, assim
como o da Esmeralda, tendo também um teste de gravides positivo ao lado da
fotinha do seu ultrassom.
— Talvez tenhamos o August em nossos braços daqui a alguns meses
para começarmos a tradição da sua família. Então, já vai apertando a mim e à
Esmeralda aí dentro desse coraçãozinho.
Agarro-lhe as mãos, encarando a fita mais de perto, já sentindo o meu
coração totalmente descompassado.
Lembro-me exatamente do dia em que estávamos escolhendo o nome da
Esmeralda, antes de descobrirmos o sexo do nosso bebê. A própria Hanna
lembrou-se da tradição, dizendo que, se fosse um menino, tinha que começar
com a letra A. Eu falei para ela que não precisava seguir isso, mas ela
insistiu; então, começamos a pesquisar, até entrarmos em um comum acordo
de que seria August.
— Não brinca comigo, Hanna! — falo, sentindo a emoção me tomar.
— Não estou brincando. — Ela sorri com os olhos marejados e coloca
as mãos em sua barriga. — O August já está a caminho.

Levanto-a no meu colo durante minha súbita vontade de abraçá-la e a


aperto, beijando os seus lábios, que sorriam e davam risada pelo meu gesto
desajeitado.
— Por que demorou tanto para me contar? — falo, assim que a coloco
no chão.
— Porque a surpresa é uma ótima arma contra os despreparados, meu
querido spitz-alemão! — Hanna passa a mão em meu queixo e me dá mais
um beijo rápido.
— Você nunca vai esquecer isso, né? — Dou risada e a abraço por
trás enquanto voltamos a encarar a nossa filha.
— Nunquinha! — Seu sorriso se abre ainda mais.
— É por isso que eu te amo, Hanna Magalhães!
— Cabernet Sauvignon para comemorar?
Essa mulher com certeza um dia vai me matar de tantas emoções!
— Só se for agora!
Tenho que confessar que o fato de os meus pais me apoiarem mais do
que tudo neste projeto foi uma grande surpresa para mim. Então, sim, eu
preciso agradecer muito a eles, que ignoraram o fato de que a sua pequena
filha fez um livro extremamente duvidoso e que me incentivaram a seguir
este sonho. Eu espero mesmo que eles não leiam esta história, porque senão
vão ficar apavorados, kkkkk. Mas, mesmo assim, eu amo vocês, P. & R.
Também agradeço às minhas leitoras, que me incentivaram dia e
noite, fazendo o possível e o impossível para que este livro finalmente
chegasse em físico às nossas mãos. Amo vocês também.
Por último, mas não menos importante, agradeço à editora, que
acreditou em mim nisso tudo. E, mesmo após eu ter passado por um processo
difícil, as meninas não largaram a minha mão, e sim me ajudaram a me
levantar, publicando este livro lindo. De verdade, gente, elas tiveram muita
paciência comigo e muito carinho também. Obrigada, Frutinha, por tornar o
meu sonho possível. Meu coração todinho para vocês.

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