Sedução Amarga
Sedução Amarga
Sedução Amarga
Capa
Bruna Silva
Revisão
Diagramação
Heloísa Batistini
— Ai, Anderson, que falta de humor! Você era bem mais interessante
antes. — Eu estava interessado antes, é diferente! — Já trago o seu pedido.
Não quero ser um escroto que transa e simplesmente some, mas eu
sempre deixo bem claras as minhas intenções para as mulheres. Eu só quero
sexo.
Não suporto ter que cuidar de cada passo que dou para não acabar
magoando alguém. Já tive algumas namoradas, e, no final, eu sempre ficava
irritado com as cobranças excessivas e tinha que lidar com os choros sem
motivo. Eu cheguei à conclusão de que o sexo sem compromisso era a
melhor opção para mim. Nada de relacionamentos.
— Senhor, recebemos a resposta dos Menezes. O e-mail chegou agora
pouco, e o senhor Kauan está o aguardando na sua sala. — Meg fala assim
que eu retorno do almoço.
Uma fenda que chega até a altura das coxas mostra seu salto agulha
preto que desenha os músculos de sua panturrilha. Também há um pequeno
decote na região dos seios. Ela sabe o que causa em todo o salão, e comigo
não é diferente.
Quando ela chega ao centro do salão, é aplaudida por todos os
convidados, inclusive pelos seus pais, que a abraçam com cuidado, falam
alguma coisa em seu ouvido e a soltam, retornando aos seus lugares. Por estar
sentado a uma mesa próxima do centro do salão, consigo notar seus traços:
ela é delicada.
Hanna tem uma pequena pinta embaixo da boca do lado esquerdo,
quase acima do lábio inferior. São lábios carnudos e que desenham
perfeitamente o arco do cupido na parte superior, fora que seu sorriso é
perfeito, com dentes retos e brilhantes. Há mais uma pinta perto do seu olho,
só que essa é do lado direito. A jovem tem os olhos verdes: lindos olhos
verde-esmeralda. Seus cílios marcantes a deixam ainda mais sedutora.
Ela é clara demais, com cabelos em um castanho-escuro que me
lembra conhaque. Além disso, tem o nariz arrebitado. Uma verdadeira
patricinha; isso não tem nem como negar, já que a família faz questão de
exibir a fortuna nesta festa. Hanna vai até o cerimonialista e pede pelo
microfone, e eu não consigo parar de encará-la, abismado com tamanha
perfeição.
— Boa noite! — Ela fala, testando o microfone. Surpreendo-me com
sua voz calma. — Quero, inicialmente, agradecer a cada um presente aqui
hoje. Obrigada por terem tirado um tempo para comemorar esta data comigo.
Para os meus familiares, eu desejo que se divirtam e que possamos matar um
pouco da saudade. Para os nossos sócios, eu agradeço por todo o
companheirismo e o comprometimento que desenvolvemos durante esses
anos. E, por favor, bebam muito. Minha coleção de melhores vinhos está hoje
aqui. E, aos futuros sócios… — Hanna faz um silêncio, examinando o salão,
e, por milésimos de segundo, os nossos olhares se cruzam. — Me
surpreendam! — Sua voz sai quase como um sussurro, com um sorriso
suspeito nos lábios. — Por favor, quero todos se divertindo. Não fiquem
parados. Obrigada pela presença, e que comece a festa!
Ela devolve o microfone ao cerimonialista e caminha até sua mesa,
deixando que todos a observem por mais alguns segundos. Só então eu
percebo que estou sem respirar, porque segurei o ar na maior parte do tempo
de seu discurso. Deve ter sido para que nem o meu próprio som pudesse me
atrapalhar de escutar aquela voz.
A música retorna mais alta, e os convidados se espalham. Alguns vão
para as mesas de conhecidos, outros se direcionam à pista de dança, outros
vão até os aperitivos e pouquíssimos vão conversar com Hanna.
Encaro Kauan, que está ao meu lado ainda de pé, encarando-a como
um bobo, e sou obrigado a puxá-lo para que se sente.
— Que mulher, né? — Ele diz, atordoado.
— Ela é realmente linda — concordo com ele.
— E gostosa!
— Fala baixo, cara. Você está falando da filha dos Menezes na festa
dela. — Verifico se ninguém escutou as asneiras que meu amigo falou.
— Acho que devo agradecer à mãe dela por ter feito aquela
deusa ali.
— Fecha a boca, Kauan. Acabamos de fechar um contrato com eles,
não precisamos perder essa parceria por causa dessa sua boca grande, né?
— Você tem razão, vou ficar quieto. — Enfim, ele para de encará-la.
— Deixa eu ver se consigo me distrair com outra coisa.
— Vai dar um passeio de helicóptero para ver se o ar fresco melhora
essas suas duas cabeças! — Sorrio para ele, que se levanta e começa a se
afastar.
— Eu vou atrás desse tal uísque que estão prometendo.
Assim que ele atravessa o salão, meu olhar volta para a senhorita
Hanna Menezes, que agora recebe os parabéns de um pequeno grupo de
pessoas à sua volta. Enquanto isso, me pergunto por que eu estava julgando
tanto o Kauan se eu também não consigo tirar meus olhos dela.
Hanna Menezes ultrapassou as expectativas que criei de sua imagem,
e quero conhecê-la melhor.
— Bonequinha? — Escuto o apelido pelo qual a minha mãe me
chama e paro de conversar com Andréia, já sentindo um frio atravessar a
minha espinha.
— Sim? — Viro-me em sua direção.
— Eu quero te apresentar a algumas pessoas. Você me empresta ela,
Andréia? — Eu encaro a minha amiga, pedindo-lhe socorro com os olhos.
Minha mãe com certeza iria começar a me arrastar pelo salão para me
mostrar aos homens disponíveis, iniciando minha sessão de maior
desconforto. Pior que eu sei que a Andréia virou sua cobaia, então não
adianta de nada o meu olhar desesperado.
— Claro, senhora. Vão lá. — Semicerro os olhos para Andréia, que
sussurra em seguida: — Me desculpe!
— Quantos vão ser dessa vez? — falo, assim que ela entrelaça os
nossos braços e que começamos a caminhar pelo salão.
— Nove. — Sorrimos juntas para alguns conhecidos.
— Olha, que eu vou entrar naquele helicóptero e não volto mais para
esta festa! — sussurro.
— É por isso que eu pausei os passeios de helicóptero e falei para o
piloto ir comer algo. Por acaso você já aprendeu a pilotar, Hanna?
— Agora que sabe que eu não estava encarando os seus seios, pode
por favor se acalmar em relação a mim? — Seus dedos seguem para o meu
ombro esquerdo.
— Não me sinto confortável ao seu lado. Destrave o elevador. —
Nossos olhos não se largam.
— Mas ainda me acha desrespeitoso? — Seu sorriso cresce.
— Com toda a certeza! — Respiro fundo. — Em menos de cinco
minutos, você já me chamou de chata, mandona, gênio difícil e me
envergonhou no meio de um restaurante lotado!
— Então não vai fazer diferença se eu te beijar agora, né? —
Anderson desce suas pupilas escuras para a minha boca, e eu travo com a
revelação.
Não tenho como puxar mais o ar. Está quente. Está dolorido. Está
perto demais. Está sufocante, excitante, confuso e raivoso.
Em um momento de fraqueza e de uma vontade incontrolável que se
instalou após tantas palavras implicadas com ódio de ambos os lados,
Anderson não espera eu responder. Suas mãos se encaixam embaixo de
minhas orelhas e mandíbula para me levar aos seus lábios. Nós nos chocamos
em questão de milésimos, e a minha pressão desaba em sua pegada.
Ele me instiga a abrir os lábios, e sua língua comanda os movimentos
esquecidos por mim há tantos anos. Eu tenho a maior certeza de que o meu
beijo é horrível, já que, depois do Matheus, eu nunca mais fiz isso, mas,
Deus, isso está bom, está me fazendo despertar um desejo acumulado, e o
meu coração se agita violentamente, ansiando por cada toque. Eu sinto o seu
perfume misturado com o meu calor, e parece que a sensação é avassaladora
demais para uma mulher enferrujada.
Sua língua explora cada centímetro da minha boca como se os anos de
ausência não tivessem existido, e eu quero mais. Suas mãos começam a
descer até minha cintura. Elas são firmes e quentes. Eu posso sentir o ardor
do seu corpo quando ele se encosta em mim.
Mesmo sabendo que os meus pensamentos estavam confusos em
relação a tudo isso, eu tenho consciência de que ele está tomando o controle
das minhas ações. E, para acabar ainda mais com o meu ego, eu deixo.
Largo meu celular no chão para dar lugar às minhas vontades e
alcanço sua nuca com minhas mãos. Entro com as unhas em seus cabelos
enquanto nos beijamos com uma necessidade que é impressionante até para
mim. Meus dedos lhe percorrem a nuca, sentindo apenas levemente os seus
cabelos. Ele se arrepia em resposta, e isso me traz confiança nos meus toques.
Talvez eu não esteja tão mal.
Sua língua não me deixa respirar nesses segundos ou minutos
enlouquecedores em que ficamos grudados, e eu acabo quebrando o nosso
contato na busca do oxigênio de que preciso. Sem perceber, dou-lhe a
abertura para que ele mire os lábios em meu pescoço, atingindo o meu ponto
fraco, o que, em resposta, derrete o meu corpo todo.
— Eu desejei beijar essas pintinhas na sua pele desde o momento em
que coloquei meus olhos em você! — Seus dedos empurram o meu colar para
poder moldar ainda mais o seu calor.
Sua voz quente dança em minha pele, que até parece estar em brasa
com essa informação, enquanto ele não para com os beijos muito bem-
executados em cada centímetro próximo da minha clavícula.
— Cala a boca! — falo, sem ar.
Se eu continuar escutando a voz dele, com certeza esse beijo vai
acabar, e eu não quero isso. Confesso que não sou eu que digo isso, e sim o
meu tesão acumulado, que me sufoca de desejo. Eu não estou permitindo que
o meu lado racional tome posse, e continuamos fazendo essa loucura.
— Mandona! — Anderson sussurra próximo da minha pele e desce
suas mãos para a minha bunda. — Você não perde a marra nem por um
segundo, né?
Por que eu estou deixando ele fazer isso?
— Não é o meu estilo.
Ele para suas mãos a fim de poder sorrir contra os meus lábios um
sorriso malicioso, um sorriso que se aprofunda novamente em uma junção
das nossas línguas, enquanto seus dedos atrevidos apertam com força minha
pele e se encaixam exatamente na curva da minha bunda.
Sem pensar, estamos sendo atraídos cada vez mais. O calor das nossas
respirações se mistura incontrolavelmente, criando uma sinfonia de excitação.
Seus lábios são macios e experientes, fazendo-me querer mais e mais desse
gosto fraco de vinho seco. Eu sinto como se o elevador não tivesse uma saída
de ar sequer, pois o ar rasga os meus pulmões. Eu estou me derretendo. O
perfume do Anderson tem um efeito de envenenamento, que só me deixa
mais inconsciente e com a respiração alterada.
Existe uma excitação sem igual a cada toque dele, junto de um
sentimento de urgência e de um calor tomando-me o corpo todo. Mantenho
meus olhos fechados e lhe bagunço o cabelo arrumadinho. Uma de suas mãos
decide largar minha bunda para ir até a fenda da minha saia. Minha pele está
quase seca, mas se mantém grudenta pelo vinho. Sua outra mão segura o meu
quadril contra a parede, para que as minhas pernas não me abandonem e
decidam simplesmente me largar no chão. A mão abusada encontra o começo
da abertura do tecido e ignora a malha, para começar a subir em direção à
minha calcinha.
A palma de sua mão percorre minha pele, deixando-me excitada. Ele
é meticuloso, mesmo com o desespero enquanto nos agarramos, e aperta
minha coxa ao mesmo tempo que, sem pudor algum, o membro rígido seu se
faz presente entre nós dois, pressionando contra minha barriga, dando sinais
para a minha intimidade latejar de desejo com uma pulsação constante.
Antes que a sua mão chegue até a minha calcinha, ele decide deslizar
para a parte interna da minha coxa, que estava tão quente, que qualquer um
poderia jurar ser o inferno. Foi aí que o meu desespero retornou e os meus
olhos se abriram. Esse ato me fez cair na real do que realmente estava
acontecendo e, droga, eu acabei de quebrar a única muralha que me impedia
de não cair no mesmo golpe de anos atrás. Repentinamente, eu seguro a sua
mão, tomando novamente o meu controle, envergonhada pela liberdade que
havia lhe dado.
Esse homem quase tocou em minha intimidade com um único beijo
— então, eu estou assustada, sim, com a presença dele. Agora ainda mais.
Respiro fundo em busca de ar para poder organizar os meus
pensamentos, e ele se afasta com as mãos erguidas para cima após o meu
movimento, encarando-me como quem pensa na mesma coisa que eu: "que
merda a gente fez?".
Nossos olhares estão arregalados, e as respirações parecem clamar por
socorro enquanto ele passa as mãos pelo rosto, demonstrando sua
preocupação.
— Eu preciso sair daqui! — falo, após alguns segundos, sem saber o
que eu deveria sentir: se raiva, medo ou tesão.
Meu olhar traiçoeiro desce para o seu membro sobressaltado em sua
calça, sendo impossível disfarçar, e eu não me sinto mais tão culpada por
estar neste exato momento encharcada por causa dele. Eu também já estou
assustada com todo o tesão repentino que eu senti. Não preciso ter gravado
em minha memória que o senhor Anderson possui um pau enorme, mas o que
eu vou fazer se já tenho a imagem na minha cabeça?
— Desculpa. — Ele desvia os olhos dos meus, ajeitando o seu volume
aparente, e eu encaro o chão.
Abaixo-me para pegar o meu celular no chão e noto que o seu terno
parece lhe sufocar após o nosso beijo, já que ele afrouxa o nó da gravata e
abre os primeiros botões da camisa enquanto ajeita os fios de cabelos que eu
mesma baguncei. Eu também preciso ser ajeitada. Além da minha vestimenta,
preciso organizar minha mente.
— Eu chamei o meu motorista. Ele já deve estar lá embaixo.
— Precisa de um conselho?
— Eu amaria um conselho do senhor!
— A confusão não faz bem para a nossa mente e para o nosso
coração, querida. Então, o que faz morada nos seus pensamentos deve ser
resolvido o quanto antes para que não enlouqueça a sua alma.
— Mas eu não quero resolver, senhor Diogo. Eu quero esquecer! —
falo para mim mesma.
— Confesso que esse processo é mais difícil, querida. O
esquecimento não depende da gente, e sim do tempo. Eu gosto de dizer que o
tempo é um amigo traiçoeiro: ele nos ajuda, mas sempre nos rouba algo.
O senhor Diogo me deu muitas informações para processar. Ele
sempre esteve muito presente na minha vida como um ombro amigo, já
chorei muito com ele e, graças ao seu carinho por mim, consegui passar pela
fase do término com o Matheus. Mas agora eu estou me sentindo mais
perdida do que há cinco anos.
— Então por que começou a namorar com ela? — Minha mãe para na
minha frente para que eu encare os seus olhos.
— Eu preciso mesmo responder a isso? — Não quero falar que eu só
estive com a Brenda por causa de sexo. — Já passou, mãe. Agora eu sei que o
amor que eu preciso sentir tem que ser suficiente para querer ter uma família.
Não adianta eu ficar namorando várias mulheres se eu não quero me casar
com nenhuma delas, entende?
— Falou muito bem, filho. Não tome o tempo de alguém com quem
você não tem intenções sérias. As mulheres precisam ser respeitadas, e eu
estou orgulhoso desse seu pensamento! — Meu pai me abraça pelo ombro. —
Agora vamos logo, antes que a gente se atrase. Não quero parecer alguém
irresponsável para os Menezes.
— Mas nós ainda temos que dar um jeito nesse moleque aqui, que se
acha adulto! — Olho para o meu irmão, que achou que tinha escapado da
conversa.
— Eu já sei até dirigir. Quer me dar a chave? — Anthony abre a mão.
— Sai fora, ninguém encosta na minha Evoque. — Fecho o porta-
malas e dou um tapa em sua mão.
Minha mãe me enviou mensagem há trinta minutos com um endereço
logo abaixo do seu “oi, bonequinha” me pedindo para encontrá-la no local
indicado para sabe-se lá o quê.
Claro que, quando se trata da minha mãe, eu tenho que manter todas
as hipóteses em aberto. Nunca sei o que essa mulher está aprontando, mas,
mesmo se eu insistir para ela contar o porquê de eu ter que sair no meu
horário de almoço para ir até ela, provavelmente eu só receberei um “venha
logo” irritado.
Pego minha bolsa e me despeço de minha amiga, chamando o senhor
Diogo para irmos até o endereço. Chegamos rapidamente ao local onde ela
supostamente está. É quase do lado de casa, não dá nem sete quadras de
distância, e é um condomínio bastante fechado. Somos identificados na
portaria, e o carro volta a andar. Paramos na frente de um portão preto. É uma
garagem, que se abre, revelando o carro dos meus pais, que já estava lá.
Saio do carro assim que o senhor Diogo estaciona na garagem e
caminho até a porta, observando enquanto o portão se fecha novamente. Os
muros são altos, e a casa tem a frente toda de vidro. Simplesmente perfeita.
Poderia jurar que é um spa, de tantas plantas que vejo. Consigo observar a
parte de dentro da casa através dos vidros. Tem um sofá de couro preto na
sala, luminárias com detalhes em madeira, mais e mais vasos de plantas
gigantes, tudo muito moderno. Assusto-me quando meu pai abre a porta da
entrada do nada.
— Espera aí, pai. — Aceno para o carro. — Vem aqui, senhor Diogo.
Quando não estava resolvendo assuntos de negócios, eu sempre o
incluía nos nossos momentos. No dia do meu aniversário, ele estava lá, não
como meu motorista, e sim como um amigo. Estava ele e a sua esposa, Tiana.
Eles nunca tiveram filhos, então, assim como eu os considero muito, sinto
que é recíproco o carinho entre as nossas famílias. A senhora Tiana sempre
deixa uma tigela dos morangos da sua horta na mesa da cozinha, porque ela
sabe que eu sou apaixonada por eles. O senhor Diogo sai do carro, vem ao
nosso encontro e cumprimenta os meus pais.
— Posso saber o que vocês dois estão tramando desta vez? — Passo
os meus olhos pelo local, e entramos todos na casa.
— Você não contou para ela, Eliza? — Meu pai questiona minha
mãe.
— Decidi que ficaria melhor se fizéssemos isso juntos. — Minha mãe
pega a mão do meu pai e, de repente, todos sorriem para mim.
— Ai, Deus, vocês dois estão realmente me assustando.
— Calma, querida. — Minha mãe solta uma risada.
— Não me arrumaram mais um encontro, né? — falo, assustada. —
Estou traumatizada.
— Quem você acha que nós somos, filha? — Minha mãe começa com
o drama.
— Já fizeram uma vez, eu não confio mais. — Encaro minha mãe e,
no mesmo momento, meu pai direciona o seu olhar para ela também.
— Eliza, você tem que parar com isso. — Ele fala, com um tom de
reprovação.
— Ai, não falem assim comigo! — Reviro os meus olhos ao escutar o
charme que a minha mãe ama fazer. — Eu arrumei apenas uma reunião de
negócios para você, filha!
— Vamos todos fingir que é isso mesmo que a senhora fez. —
Semicerro os meus olhos para ela.
— Senhora só no céu, já disse! — Ela faz careta para mim.
— Tá bom, vamos falar sobre o real motivo de estarmos todos aqui.
— Meu pai troca de assunto antes que piore.
— Até que enfim! Estou curiosa.
— Então, filha… — Minha mãe começa. — Eu e o seu pai pensamos
muito em demonstrar pelo menos um pouco do amor, carinho,
reconhecimento e gratidão que temos por você, bonequinha. Você sempre foi
tão amorosa conosco e dedicada com a empresa, que decidimos atender a um
pedido seu.
— Você pode mudar tudo que quiser aqui, princesa. — Meu pai beija
o topo da minha cabeça.
— Eu amo vocês. — Seco as lágrimas e me afasto deles, puxando o
senhor Diogo, que também estava emocionado.
— Você merece, minha querida! — O cheirinho do seu colete é
confortável.
Após toda a comoção, meu pai abre um champanhe que já estava na
sala, destinado para esta ocasião, e é claro que, quando terminamos de tomar
o nosso brinde, minha mãe me puxa pela casa toda em meio à sua completa
euforia. Tenho que admitir que eles souberam escolher. A casa tem uma sala
ampla, toda em tons amadeirados, com visão para o corredor e a cozinha.
Meus dedos passam pelas coisas espalhadas, procurando por algo que
fosse algum tipo de medicamento, e ela se esforça para falar.
— E_pi_ne_fri_na! — Sua mão esquerda demonstra o tamanho do
objeto, enquanto a outra mão massageia a região abaixo do seu pescoço.
Encontro a única coisa que eu imagino ser o medicamento a que ela
estava se referindo, mas não faço ideia de como aplicar essa injeção. Noto a
sua tontura e a seguro em meus braços. Em seguida, sento-me no chão e a
viro, para que as suas costas descansem contra o meu peito.
Giro a injeção na minha mão e tenho sorte de as instruções estarem na
própria embalagem. Meus olhos passam o mais rápido possível pelas letras
pequenas; sinto que cada segundo conta, para que algo pior não aconteça.
— Hanna, está comigo?
Seguro-lhe o queixo para observar o seu rosto, e ela assente assim que
seus olhos se encontram com os meus. Eles estão bem cansados, e eu estou
tão nervoso por ter que fazer isso, que a minha mão começa a suar. Parece
que esses segundos não terminam nunca, mas provavelmente eu não estou
neste banheiro nem há dois minutos.
— Escute a minha voz… — Começo a falar para que ela não desmaie
e abro a embalagem. — Eu vou aplicar isso. Tente respirar fundo.
As instruções são claras, devo aplicar na lateral de sua coxa. Não
penso por muito tempo, apenas destravo a injeção e ergo seu vestido para
pressionar a caneta contra sua pele.
Espero me acalmar um pouco depois de o desespero dela passar, solto
a epinefrina e passo meus dedos sobre a marca que se formou em sua pele,
esperando que o medicamento faça efeito o quanto antes. Posso sentir quando
sua respiração volta ao normal, e ficamos por mais algum tempo, até que paro
com as carícias, que já estão ficando estranhas, e Hanna leva a mão até sua
barra para retornar o vestido ao seu devido lugar.
— Obrigada… por ter me ajudado. — Sua voz está um pouco rouca e
mais lenta.
— Realmente você tem uma reunião aqui hoje, só que não é comigo!
— Encaro-o novamente. — Por que veio para a minha sala?
— Me mandaram para cá!
— Te mandaram para cá? Quem? — Levanto uma sobrancelha em
dúvida!
Ele percebe minha incredulidade e se levanta, encarando-me e criando
um fio de eletricidade entre nós conforme ele segue em linha reta até minha
direção.
— Por que tanta dúvida?
— Minha secretária não sabia da sua presença hoje aqui! — Ele para
na minha frente, e eu deposito o meu tablet sobre a mesa.
— Nem eu imaginei que eu estaria hoje aqui. Está sendo bastante
conveniente para vocês ficarem me chamando a qualquer momento, né? —
Ele cruza os braços na minha frente.
O senhor Anderson está com uma camisa preta e uma calça social
cinza. Quando ele movimenta os braços, noto o tecido angustiado por causa
de seus bíceps, mas desvio rapidamente a minha atenção.
— Quem te mandou vir até a minha sala?
— Você é tão desconfiada, Hanna. — Ele instiga a minha raiva
propositalmente.
— Eu achei que a gente já tinha se acertado! — Sorrio para ele.
Estamos tão próximos, que eu sinto cada célula do meu corpo
inquieta. Da última vez que isso aconteceu, o resultado não foi muito legal.
— E está tudo certo entre nós, mesmo!
— Certo. Eu vou verificar onde é a sua reunião, já que o senhor está
perdido.
— Meu pai marcou a reunião com você. — Ela me tira dos meus
pensamentos assim que encerra a ligação.
— Certo! — concordo, analisando suas ações.
Deveríamos conversar novamente sobre isso que acabou de acontecer,
né? Mas creio que ela vai ignorar como fez da última vez.
— Ele está no andar de cima. — Hanna complementa. Ela me vê
encarando seu sutiã branco, o que a faz notar a abertura de sua camisa— Não
vou me desculpar por nada que aconteceu aqui.
— Devemos mesmo ignorar! — Como é que é?
Como ela pode simplesmente ignorar isso tudo e continuar fingindo
que não estamos sendo afetados um pelo outro? Como sempre, suas palavras
me causam raiva, e decido ignorá-la. Vou até a porta e saio sem me despedir.
Sua secretária me olha, intrigada. Com certeza não devo estar com as
melhores das caras, mas não posso ficar discutindo com essa mulher sobre o
que devemos ignorar ou não. A tal Andréia força um som com a garganta
para que eu a encare antes de entrar no elevador, e sua mão limpa a própria
boca como um sinal.
O elevador se abre, e eu me olho no espelho antes de entrar. Noto que
estou todo manchado de batom. Era esse o seu sinal! Bom, se Hanna queria
mesmo manter isso em segredo, alguém acabou de descobrir.
Entro no elevador e pego o meu lenço do bolso para limpar meu rosto
antes de chegar ao andar de cima. Assim que as portas se abrem, já estou
apresentável novamente. Vou até as recepcionistas, que prontamente me
atendem com uma simpatia descomunal. Elas me anunciam para o senhor
Richard, que, em poucos minutos, chama-me para sua sala.
Meu corpo todo está em alerta, denunciando-me por ter acabado de
beijar sua filha no andar de baixo. Estou sentindo como se essa informação
estivesse estampada na minha cara.
— Boa tarde, senhor Richard — digo, simpático.
— Boa tarde, Anderson. Que prazer revê-lo. — Ele indica uma das
cadeiras para que eu me sente à sua frente.
Não sei ao certo o que devo esperar dessa conversa, então
simplesmente aguardo que ele inicie o assunto.
— Creio que devo uma explicação para marcar esta reunião de última
hora, né? — Ele fala, ao se sentar.
— Confesso que eu estou bem curioso, senhor — comento. — Não
me diga que já fizemos alguma coisa de errado!? — Passo minhas mãos
sobre os meus cabelos, mantendo um sorriso desanimado.
— Eu não sei, isso é vocês que têm que me dizer. — Ele também
sorri, mas não sei se isso é um bom sinal.
— Que eu saiba, não tem nada de errado acontecendo.
— Peço desculpa desde já por talvez ser indiscreto com você,
Anderson, mas, como pai, eu preciso ser. — Puta que pariu, parece que eu já
sentia que esse assunto seria abordado.
— Imagina, não sei sobre o que o senhor quer falar, mas sou todo
ouvidos. — Mantenho o tom de seriedade.
— Eu sei que minha mulher forçou um almoço entre você e minha
filha na segunda-feira da semana passada. A Hanna é uma boa menina, então
ela não iria negar…— Boa menina? Aquela Hanna que estava pegando no
meu pau agora há pouco e que discute comigo o tempo inteiro?
— Senhor Richard, pode ir direto ao ponto? Estou ficando confuso.
— Desculpe, só não sei como falar sobre isso; afinal, eu não deveria
estar me metendo, mas a Hanna voltou muito perturbada daquele almoço, e,
na sexta, eu também notei algo estranho entre vocês.
— E o senhor acha que algo ruim aconteceu? — falo, um tanto
confuso.
— Ela nos disse que houve um acidente com uma taça de vinho.
Bom, eu acho que deveria devolver o quanto antes, já que ela veio até
em sonhos me pedir isso de volta. E que porra de sonho, hein!
Preciso bater uma.
— Acabaram as minhas tarefas por hoje, Andréia? — falo, antes de ir
embora, para que eu possa começar a ajeitar a minha bolsa e as tarefas. Ela
me olha com um olhar de culpa. — Vai, pode me falar.
— Desculpe, Hanna! — Ela me entrega seu tablet com a minha
agenda.
— Imagina. Vamos logo acabar com essa tortura.
— A senhorita marcou um jantar com o senhor Kauan, da empresa
Aluxmil.
— Marquei?
Levanto uma sobrancelha, surpresa por eu ter feito isso. Geralmente
me lembro de todos os meus compromissos, mas esse realmente me fugiu da
memória.
— Sim! Na segunda ele ligou aqui no escritório pedindo um encontro
para mostrar os novos produtos deles, e você estava bastante estressada por
causa daquela situação com o batom, sabe? — Ela sorri para mim, e eu sinto
vergonha novamente.
Não que eu não tenha visto o batom espalhado pela boca do
Anderson, mas ele saiu tão nervoso da minha sala, que eu nem tive tempo de
avisá-lo.
— Boa noite — falo, sem jeito. Eu nunca dei tanta liberdade para
alguém assim. — Desculpe ir entrando, a porta estava aberta. — Refiro-me às
portas de vidro que ficam em frente ao elevador.
— Eu já as deixei abertas para você entrar mesmo. Venha, o jantar já
está nos esperando. — Sigo para dentro da sala em que ele me guia e me
surpreendo com a decoração.
A luz do ambiente está mais baixa do que a do saguão, e há apenas
uma mesa próximo à sacada, toda de vidro, que tem uma vista linda para a
cidade.
Na mesa em que vamos jantar, percebo um dos meus vinhos favoritos,
velas, flores e porcelanas, que dão um clima romântico ao lugar. Kauan se
aproxima da mesa e puxa a cadeira para que eu sente, e assim eu faço. Se isso
for uma tentativa de me conquistar, está me fazendo querer rir de toda a
situação.
— O cheiro está ótimo — comento.
— Eu mesmo que fiz. — Sério? — Levanto minhas sobrancelhas com
a sua resposta.
— Eu gosto de cozinhar. Qualquer dia desses, podemos marcar lá na
minha casa, só para você ter certeza de que fui eu mesmo que fiz.
Dou risada da sua constatação.
— Se minha agenda aliviar, quem sabe, né?
— Mas, me diga, senhorita Hanna, quer jantar primeiro ou falar sobre
negócios?
— Podemos jantar? — Lanço-lhe um sorriso. — Estou com fome.
— Claro, eu também estou morrendo de fome. — Espero de verdade
que essa fala não tenha segundas intenções. — Já volto aqui.
Ele se retira por alguns minutos e, então, eu escuto o som dos nossos
pratos sendo trazidos em um carrinho, junto a mais algumas opções de vinho.
Kauan é fofo, não nego. Se juntar com a sua simpatia, prevejo boas
risadas ao seu lado. Seu charme de ser um garoto mais novo e um tanto
quanto despreocupado com a vida me deixa mais à vontade também.
Assim que ele termina de nos servir, ele se senta à minha frente, e
temos uma conversa boa e descontraída durante toda a noite. Falamos apenas
sobre os nossos gostos em diferentes coisas. Sinto-me muito mais confortável
ao lado dele do que com o senhor Anderson.
Terminamos de comer, e ele tira todos os pratos da mesa e traz uma
sobremesa que eu acho simplesmente divina. Enquanto falamos sobre os
negócios, eu aprecio a sua boa culinária. Se ele realmente fez tudo isso como
disse, eu estou verdadeiramente impressionada.
— Muito obrigada por tudo, Kauan. Estava uma delícia — digo,
assim que termino de comer.
— Que bom que gostou. Fiquei morrendo de medo de fazer coisas de
que talvez você não gostasse. E acredita que eu olhei os ingredientes de tudo
para ver se não tinha alguma essência de camarão? Me assustei muito aquele
dia no restaurante e não queria fazer você passar mal. — Acho tão inocente
sua preocupação e acabo sorrindo pela sua sinceridade.
— Não, acabei de sair de um bar. Deve ser por conta das bebidas. —
Dou uma risada fraca.
— Não quero filho meu bêbado por aí, pode parar com isso! — Sua
reprovação faz com que eu permaneça com o sorriso no rosto.
— Relaxa, mãe. Não bebi muito, mas confesso que foi o suficiente
para fazer uma bela cagada. — Esfrego a testa e, então, puxo uma das
cadeiras na minha frente para me sentar.
— E quando você não faz cagada, Anderson? Não preciso nem
perguntar se tem a ver com alguma mulher, porque tenho certeza que a
resposta será “sim”.
— Obrigado pela sinceridade, dona Magda. E, sim, você está certa,
como sempre.
— Quer dividir?
— Vai me julgar como fez quando descobriu que eu não amava a
Brenda?
— Depende, me conta, e eu te falo. — Sua risada me faz ter saudade
de casa.
Não respondo mais nada, pois tenho medo de essa conversa ir para
um lado com que não estou acostumada. Pelo jeito, a minha noite será muito
longa. Minha mente não vai desligar tão fácil depois da cena que eu
presenciei.
— Tenho certeza de que ficaria ainda mais linda. — Essa já deve ser a
terceira ou a quarta cantada de hoje. Todas eu ignorei.
— Tem mais um pouco de vinho? — Desvio do assunto novamente.
— Claro!
O Kauan me serve com cuidado, e a cena me faz relembrar o desastre
no restaurante quando eu estava com o Anderson. Será que, depois daquele
beijo, ele foi atrás de outra mulher para poder se aliviar? Afinal, a sua ereção
estava tão aparente. Brigo comigo mesma por ter me lembrado dele de novo.
Assim que o nosso jantar acaba, Kauan faz questão de me levar até o
meu carro. Isso não me dá espaço para poder ligar ao senhor Diogo e, como
não estou tão embriagada, acabo aceitando.
— Obrigada pelo jantar, Kauan, estava esplêndido — digo, assim que
chegamos ao meu carro.
— Venha mais vezes.
— Se você fizer aquela sobremesa, talvez eu volte. — Sorrio, e ele
pega em minha mão.
— Farei tudo que você pedir. — Ele encosta os seus lábios nos meus
dedos, e novamente eu me lembro do Anderson na minha festa de
aniversário, quando ele fez o mesmo.
Tudo bem, o Kauan é mais novo que eu, e eu sei que não devo deixar
esse garoto iludido, mas, ao mesmo tempo, ele é tão fofo, que eu desejo a sua
atenção.
— Boa noite, Kauan. — Corto nosso contato mais uma vez e decido ir
embora logo, antes que suas investidas comecem a dar certo.
— Obrigado pela noite perfeita. Eu gostei muito de te conhecer
melhor, Hanna. — Ele fala, enquanto eu entro no carro e abro o vidro.
— Acho que bebemos demais. — Ligo o carro e sorrio para ele.
— Então tome cuidado! — Ele coloca os braços na porta e se
aproxima.
— Pode deixar, agora entra no seu apartamento, porque é perigoso
aqui fora — falo como uma mãe.
— Tá bom. — Rapidamente ele se aproxima do meu rosto e beija o
canto da minha boca. — Boa noite, Hanna. — Ele sorri assim que se afasta,
como se tivesse ganhado um doce.
Balanço a cabeça para mim mesma enquanto dou risada da sua
petulância. Ajeito a marcha do meu carro e começo a dirigir. Garoto
abusado.
Após o jantar que eu tive com Kauan quinze dias atrás, ele começou a
manter um certo contato comigo. Eu não preciso de alguém para namorar,
nem para ficar, nem um amigo, eu já tenho as minhas pessoas, mas ele insiste
em ser presente.
Conversamos de vez em quando, e ele gosta de me divertir. Acabou
que, após tanto papo furado, eu saí para comer com ele novamente. Ele
também me chamou para uns dois cafés da tarde e, por incrível que pareça,
ele até apareceu em uma das minhas caminhadas matinais. Confesso que
aquilo me assustou um pouco.
A companhia dele fica cada vez mais frequente na minha vida, e eu
não gosto disso. O medo de algo familiar é constante. Eu tive a experiência
de alguém que foi se aproximando aos poucos e não acabou muito bem, então
é compreensível que eu fique desconfiada. Eu também não quero que o
Kauan entenda errado os nossos passeios, já que não tenho intenção alguma
com ele, então não fico lhe dando esperança de nada.
Se ele for esperto, vai entender que da nossa relação não sairá nada
que não seja amizade.
Bom, pelo jeito ele é assim mesmo. O meu recado estava dado.
Muito obrigada novamente!
Mando essa última mensagem e largo meu celular para voltar minha
atenção aos papéis na minha frente, mas escuto novamente o som da
mensagem chegando ao meu celular.
Em nenhuma das vezes que eu saí com o Kauan, fui no carro dele.
Sempre saí ou com o meu carro, ou com o senhor Diogo, então eu estranho o
fato de ele querer me levar. Eu sempre desconfio de uma segunda intenção.
Mesmo eu o considerando um amigo, não quero passar o endereço da minha
casa para ele por enquanto. Vai que começo a receber rosas lá, ou até uma
visita inesperada. Desligo a tela do meu celular e sigo para a recepção.
— Andréia, tenho um convite para te fazer! — Ela me olha com
curiosidade.
— Ai, meu Deus! Me fala logo.
— Vamos ir a um bar no sábado? Recebi dois convites.
— Deixa eu ver na nossa agenda. — Ela brinca, sabendo que não
fazemos compromissos nos sábados à noite, a não ser que seja uma festa ou
algo do tipo.
— Estamos liberadas?
— Mais que liberadas. Estamos solteiras; então, vamos curtir.
— Você está solteira, Andréia!
— Não me diga que o rapaz que te mandou as flores te pediu em
namoro? — Seus olhos procuram por resposta.
— Claro que não, e, mesmo se ele pedisse, eu negaria. Eu quis dizer
que eu estou comprometida com a empresa, então não quero namorar, mas
com certeza eu posso aproveitar a minha noite ao lado de uma amiga.
— Às vezes eu apoio muito os papos da sua mãe sobre namoro e,
pensando bem, até com o senhor Anderson eu concordo: você é bem chata
quando fala sobre isso. — O nome que eu não estava esperando aparece em
nossa conversa.
— Não quero escutar o nome dele! — Ela já sabia o que tinha
acontecido, porque eu contei.
— Desculpa, mas vamos falar sério, Hanna. Por que você se agarrou
com ele duas vezes se não gosta desse tipo de “interação”?
— Foi inesperado. Eu não estava planejando. Senão, com certeza, os
beijos não teriam acontecido.
— Se você diz...
O dia até que foi bem tranquilo. A Andréia deixou tudo muito bem-
organizado para mim. O Kauan já confirmou o nosso passeio, e eu já
combinei com o senhor Diogo para ele me buscar em casa e trazer até a
empresa.
Volto o meu rosto para cima com receio de quem quer que fosse e, no
mesmo instante, o perfume familiar me atinge. Encaro aqueles olhos negros,
e o meu sangue some do rosto.
Faz mais de quinze dias que eu não me encontro com Hanna, mas,
mesmo assim, eu não consigo tirá-la da cabeça, porque seu colar ainda está
em minha posse. Consequentemente, os sonhos também, e eu não consigo
esquecê-la depois daquela situação, em que ela deve ter imaginado mil e uma
coisas sobre o mulherengo que eu sou. Pior foi ter que ficar me lembrando
dos conselhos da minha mãe.
No fundo, além de estar incomodado com o Kauan, que a cada dia da
semana me conta algo novo que descobriu sobre a Hanna por meio de algum
almoço ou café, eu também não consigo parar de pensar naquilo que o pai
dela comentou no dia da reunião. Ela já foi machucada por alguém, eu deduzi
isso após ter pensado demais, e não sei por que estou inquieto.
Perguntei-me várias e várias vezes como poderia existir um trouxa
que decidiu fazer a Hanna de boba, sendo que ela é uma mulher de muitas
qualidades, e me peguei pensando também e entendendo, enfim, por que a
sua armadura é tão forte e tão protetora. Ela não quer se machucar
novamente.
E, agora mesmo, eu estou vendo o seu rosto extremamente pálido e a
sua face assustada, que demonstra o lado que ela tanto lutou para esconder.
Quando senti que alguém se segurou em meus braços para não cair,
imediatamente segurei a mão da pessoa com força, mas, quando notei que era
a Hanna, o meu mundo caiu. Ela estava ainda mais linda — talvez pelo
tempo em que me mantive longe. Seu vestido vermelho parecia brilhar na sua
pele, que estava em um tom pálido até demais.
— Hanna! — Seguro seus braços, como se a proteger fosse o que eu
mais precisasse fazer agora, e deposito minha bebida na mesa mais próxima.
— Ander! — Ela fala o meu nome informalmente pela primeira vez.
Seu corpo responde ao meu toque, e, se eu não estivesse olhando para
a sua boca, não iria entender o que ela havia falado devido ao som alto.
— Você está bem? — Seu olhar vai em direção à escada, e eu repito o
seu movimento.
— Estou bem… — Percebo que sua respiração está mais calma, mas,
mesmo assim, ela continua procurando por alguém.
— Você veio acompanhada? — pergunto, ainda mantendo minhas
mãos em seus braços. Estamos quase colados devido à multidão.
— Sim, com o Kauan. — Reviro os meus olhos mentalmente. Claro.
— E com a minha amiga.
Talvez os dois não estejam tão bem assim como eu pensei. Olho em
volta e consigo encontrar o Kauan com uma moça de cabelos curtos mais à
frente, um se esfregando no outro, embalados pelo ritmo da música.
— Eles estão ali — grito para que ela me escute.
— Certo! — Ela olha em volta novamente. — Eu vou lá me despedir
deles. — Sua boca se aproxima do meu ouvido, e consigo sentir novamente
aquele seu perfume de pêssego. Que saudade que eu estava!
— Já está indo? — questiono, sentindo o incômodo que ela
transparecia.
— Sim, me acompanha até eles? — Ela segura o meu braço com
força, e eu sei que tem algo de errado.
— Claro, vamos lá.
Despeço-me rapidamente de alguns colegas de trabalho com quem eu
conversava antes de ela trombar comigo e seguro a sua mão com firmeza.
Vou na frente, abrindo o caminho necessário para que eu e ela
possamos passar. Hanna não desgruda as nossas mãos em nenhum momento,
e eu consigo até sentir o suor se formando entre nossos dedos. De quem será
que ela está fugindo?
Percebo que a maioria dos homens a comem com os olhos. Esse
vestido vermelho que ela está usando está tirando a paz de todos esses
machos, provavelmente até de algumas mulheres, mas não tem como negar o
quanto ela está linda. Por que ela tem que ser a porra da mulher mais gostosa
daqui?
— Dae, cara! — Cumprimento o Kauan assim que nos aproximamos
e solto a mão da Hanna em seguida para que ele não notasse nada de
estranho.
— Dae, Ander! Já se encontrou com a Hanna?
— Já, sim — digo, enquanto ela se aproxima da amiga.
— Kauan, eu já vou indo, tá bom? Não estou me sentindo muito bem.
— Eu a escuto falar perto dele e me questiono o que estaria lhe fazendo tão
mal.
— Então eu te levo para casa, Hanna.
— Imagina, não precisa. Curte a noite. Eu já chamei meu motorista.
— Percebo que ela está mentindo.
— Então você vai ficar me devendo outra noite. — Ele a abraça, e eu
viro o rosto na mesma hora. Foi o incômodo mais estranho que eu senti
nesses últimos dias.
— Vamos marcar, sim. — Ela fala assim que se solta.
Hanna dá um abraço na amiga, despede-se novamente do Kauan,
encara-me rapidamente e vai em direção à porta. Quando eu começo a segui-
la, o Kauan entra na minha frente.
Volto o meu olhar para a frente, mas não encontro mais a Hanna.
Caminho mais rápido entre a multidão, procurando por aquele vestido
vermelho. Não tem como perder um ponto vermelho dentro de uma balada,
né? Considero também que ela não iria ficar sozinha lá fora esperando o seu
carro chegar, iria?
Porra! Claro que ela iria.
Corro em direção à porta de saída. O clima fora do estabelecimento
está mais frio. O ar gelado refresca a minha mente. Identifico algumas
pessoas fumando e outras se pegando. Procuro por mais alguns segundos e lá
está ela, no final da esquina. Caminho em sua direção e percebo, quando me
aproximo mais, que ela está discutindo com alguém — com um homem.
Chego mais perto deles e começo a escutar a conversa pouco a pouco.
As vozes deles estavam alteradas, e a Hanna mantinha aquele ar de durona
que eu conhecia bem.
— Volta para mim, Hanna. É sério, eu mudei. Não sou mais aquele
moleque que você namorou.
— Você se acha a última bolacha do pacote, né, Matheus?
— Eu sei do que você gosta, pelo menos.
— Muitos homens também sabem. — Ai, essa doeu até em mim.
O movimento do tal Matheus me assusta quando ele se inclina sobre
ela, querendo mostrar uma autoridade estranha.
— Não adianta você querer ficar de “mãozinha dada” com qualquer
idiota dessa balada, sendo que eu sei que você só está fazendo isso para me
causar ciúmes. — O estranho agarra o braço dela, e eu acelero o meu passo
por conta de seu ato.
— Me solta, Matheus!
— Hanna, para de fingimento. Eu sei que você está com saudade de
um homem de verdade, que sabe te comer de jeito. — Ele a puxa para perto
do seu corpo.
Quem esse cretino pensa que é?
— Seu nojento. — Ela cospe na cara dele, e, de verdade, eu nunca
imaginei que a Hanna fosse capaz de fazer algo assim.
— Sua vadia!! — Ele de imediato levanta a sua mão livre, já que a
outra está segurando o punho de Hanna, e felizmente eu consigo chegar a
tempo de impedi-lo, apertando seus dedos com toda a minha força.
— Solta ela! — falo firmemente, e os dois me encaram, em choque.
— Olha só se não é o idiota da balada. — Ele abaixa o braço no
momento em que eu o solto.
— Eu escutei ela pedindo para você soltar. Acho melhor você fazer
isso.
Hanna está com o mesmo olhar de antes. Assustada e pálida.
— E quem você acha que é para se meter na nossa conversa?
— Não importa. A Hanna merece respeito, e você está sendo um
babaca agora. — Direciono toda a minha raiva para o meu punho, que deseja
muito acertar a cara dele.
— Então vocês se conhecem? Ela já deu para você também, né?
Porra, ele escolheu o meu pior dia para vir falar essas merdas. Não
penso muito quando eu acerto o seu nariz com raiva por ele ter insinuado
algo tão baixo a respeito dela. O homem cai no chão no mesmo instante,
cambaleando para trás e esbarrando em uma lata de lixo, que vai ao chão
junto com ele. Desconfio que ele tenha apagado com um único soco meu,
mas não fico no lugar para conferir.
Logo algumas pessoas começam a se aproximar para ver o que
aconteceu, e eu seguro a mão de Hanna, tirando-a dali e a levando para perto
do meu carro, que está mais afastado da aglomeração.
— Você está bem? Ele te machucou? — digo, preocupado, enquanto
pego o seu braço para ver se ficou alguma marca.
Aquele lixo… queria tê-lo esmurrado até ver todos os seus dentes
quebrados, para nunca mais o ver sorrindo sarcasticamente e falando aquelas
bostas para a Hanna.
— Eu estou… — Ela não termina de falar, está em choque.
Eu a abraço com força e lhe afago os cabelos, que cheiram como
frutas, enquanto lhe acaricio o rosto, totalmente abalado por ver como aquele
homem a tratou. A Hanna tem, sim, um gênio forte, mas com certeza é uma
defesa que ela criou para a vida. Ela não merece ter passado por isso.
— Ele nunca mais vai levantar a mão para você! — Beijo o topo da
sua cabeça apenas para que ela se sinta segura comigo. — Eu tô aqui!
— Sim.
Ela quer subir. Isso é algo bom, né?
Desço do carro no mesmo instante e vou para o outro lado do veículo.
Abro a porta para ela, que, desta vez, me aguarda com aquele sorriso de
canto.
— Um cavalheiro, como sempre. — Seu sorriso branco brinca com a
situação.
— Você merece — repito o que falei no nosso primeiro almoço. —
Por aqui.
Guio nossos passos para o elevador e aperto o botão indicado para
subir. O estacionamento está silencioso devido ao horário. Escutamos apenas
o barulho da chuva, que parece se intensificar à medida que a noite se adentra
na madrugada.
Quando retorno meu olhar para o rosto de Hanna, percebo que sua
visão está mudada: seus lábios entreabertos ressoam o ar estridente da sua
respiração; suas bochechas de tom avermelhado parecem queimar a sua pele
branca; e seus olhos verdes agora se encontram escuros como uma floresta.
O som do elevador indicando que chegamos ao subsolo tira nossa
concentração um do outro, e as luzes da parte de dentro iluminam nossos
rostos assim que as portas se abrem. Entramos em silêncio, e eu pressiono o
botão do vigésimo andar, para que as portas se fechem. Como se aquelas
paredes paralisassem o tempo para nós, pendo minha cabeça para o lado
esquerdo no mesmo instante em que o som das portas se fechando indicam
meu fim. Encontrei em seu rosto a mesma expressão e sinto o tesão
acumulado fervilhando entre os espaços à nossa volta.
Como se fôssemos placas de um mesmo ímã que se encontram, os
nossos corpos se chocam um no outro, atingindo o objetivo que ambos
buscávamos desde a primeira palavra de provocação. Seus lábios se juntam
com os meus em milésimos de segundos, e minha língua sente o seu gosto
doce de bebida.
Empurro-lhe o corpo para o fundo do elevador e colo nossos corpos,
junto da necessidade que meu membro sentia de entrar nela. Ver seus seios
descompassados, devido à sua respiração acelerada, e tão perto me mata
ainda mais de tesão. Depois que essa mulher apareceu na minha vida, desisti
de tentar algo com outras mulheres, porque sabia que, no fundo, nada
aconteceria se não fosse com ela. E, querendo ou não, eu a tinha todas as
noites comigo, em meus sonhos. Eu só precisava saber o quanto daquilo era
real.
Hanna solta um gemido baixo ao se libertar dos meus lábios, e o som
de sua voz pulsa dentro da minha calça, que se esquenta ainda mais com os
toques de suas mãos na minha nuca. Eu preciso de mais. Eu desejo mais.
Quero descobrir o verdadeiro som do seu gemido, já que é a única coisa que
meu sonho não entregava.
Minhas mãos, que antes estavam enroladas em seu cabelo, agora
deslizam para o meio das suas pernas grudadas, que não se abriam por nada.
Consigo senti-la quente e, quanto mais deslizo meus dedos em direção à sua
entrada, mais ela cede aos meus toques. Quando, enfim, atinjo sua
intimidade, ela já liberou a intromissão dos meus dedos.
— Se você não parar de gemer desse jeito… — Esfrego a ponta do
meu dedo do meio no tecido da sua calcinha, friccionando sobre seu clitóris,
e ela geme, abafando o som rente ao meu pescoço. — Eu vou te foder aqui
mesmo.
Encaro seu rosto, que está ainda mais vermelho, e repito o movimento
em sua boceta, fazendo-a fechar os olhos e abafar outro gemido. Quando meu
dedo se esforça para empurrar sua calcinha para o lado, o elevador apita o
andar, abrindo a bolha. Respiro fundo e seguro sua mão.
— Você merece muito mais que isso. — Abaixo o seu vestido e a
levo para fora. — Deixa eu te fazer esquecer tudo que aconteceu esta noite.
— Por favor! — Hanna fala, enquanto puxa o ar.
Nem percebi o nosso percurso entre o elevador e a porta do meu
apartamento, mas ali estávamos, atracados em um beijo sem fim e com a
necessidade que tanto evitamos. Era como se toda aquela espera fizesse
nossos corpos se esquentarem mais.
Sem perder nosso contato, chego até a porta com dificuldade e digito
a senha no painel praticamente sem olhar. Com um empurrão, abro a porta
assim que escuto o som da fechadura se destrancando. Entramos, procurando
qualquer lugar que desse para continuarmos o que paramos no elevador, e,
com o meu pé, eu empurro a porta, que se fecha.
Hanna faz questão de arrancar meu terno e de arranhar o começo das
minhas costas, enquanto sua língua habilidosa me entorpece de tesão. Por
estarmos tão grudados, quase caímos no primeiro degrau que divide a entrada
da minha casa e a sala. Pausamos o beijo e acabamos rindo da situação. Fico
mais tranquilo ao ver que ela não está fugindo deste momento.
Nós estamos abraçados com os corpos colados, e eu sei que ela
consegue sentir meu pau pulsando contra a sua barriga. Minhas mãos já
encontraram o caminho até sua bunda, e suas mãos passavam levemente as
unhas pelo meu pescoço, então não tem como dizer que isso não é íntimo
demais.
— Eu acho que eu deveria te oferecer alguma bebida — falo, para ter
certeza se ela realmente quer esperar pelo seu motorista ou se deveríamos
continuar.
— Eu acho que você deveria me mostrar o seu quarto. — Seus olhos,
ainda mais escuros e determinados, acabam de assinar a sua sentença.
— Depois você ainda tem a coragem de me dizer que não é mandona,
né? — Sorrio malicioso para ela.
— Eu não tenho culpa se os spitz-alemães são tão obedientes. — Que
mulher sem vergonha!
Puxo-lhe a nuca para chocar os nossos lábios novamente, e ela
começa a desabotoar minha camisa, deixando-me com o peito e o abdômen
expostos. Termino de tirar aquele tecido, e andamos em passos lentos em
direção ao meu quarto. Agradeço aos céus pela porta já estar aberta, porque
seria difícil abri-la no estado em que estamos.
Pauso o nosso beijo para girar o seu corpo para frente da minha cama,
colando a sua bunda no meu pau sufocado pela calça, e seguro firme em sua
cintura.
— Como eu sou obediente, vou te mostrar cada centímetro do meu
quarto — sussurro na sua orelha enquanto abaixo o zíper do seu vestido.
Acima da minha cama só há espelhos, então nós dois conseguimos
nos ver através daquele reflexo. Hanna está com as maçãs do rosto
vermelhas, e seus olhos não se desviam dos meus toques em seu corpo.
— Vou começar pela minha cama.
Esfrego o meu membro na sua bunda, e ela olha para baixo,
encarando os lençóis.
— Quero que você conheça bem a minha cabeceira também. Acho
que você de quatro se segurando nela será uma ótima vista.
Seus dedos descem pelo meu pescoço até chegarem nos meus bíceps
e, então, ela se volta para o abdômen, onde tenho uma tatuagem. Suas mãos
tão delicadas passeiam pelos traços finos do desenho, e eu me excito ainda
mais.
As frestas das cortinas salientam as poucas luzes da cidade que
insistem em entrar no quarto para iluminar nossos corpos. Deito-a na minha
cama assim que ela retorna os seus olhos aos meus e me levanto, observando
a sua beleza.
— Você tem noção do quanto está linda assim? — Hanna coloca o
seu salto em cima da marca da minha ereção na calça e me pressiona ali. —
Porra, não faça mais isso.
Ela me encara em cada um dos meus movimentos quando eu lhe
seguro o pé atrevido e abro as suas pernas para mim. Meus sonhos definiram
tantas vezes esse momento, mas nada era tão real e tão bom quanto o agora,
já que é real e eu posso tocá-la. Deslizo minha mão pela sua pele, sentindo
seu corpo todo quente, e então começo a trilhar beijos por onde os meus
dedos passavam. Alcanço a lateral de sua calcinha e vejo os seus olhos se
fechando para sentir o que eu estava prestes a fazer em seguida.
Hanna puxa o ar, ressaltando os ossos abaixo dos seios, e eu vejo que
seus mamilos estão arrepiados. Lambo meus lábios enquanto penso neles na
minha boca e puxo a sua calcinha com tanta força, que acabo rasgando uma
das laterais. Tá bom, isso foi totalmente proposital.
Hanna solta o ar que estava prendendo, e minha visão se encontra
vidrada em sua intimidade. Mesmo com o tecido tampando ainda metade da
sua boceta, eu consigo ver a sua pele lisa e rosada.
Meu pau protesta, querendo participar logo da nossa brincadeira, e ela
coloca a mão na frente reativamente.
— Não se preocupe, eu te compro outra calcinha — falo, sorrindo,
para poder distraí-la da sua vergonha, e retiro sua mão do meio do meu
caminho.
— Idiota! — Ela fala, sorrindo, e eu não aguento não sorrir também.
— Quero ver você repetir isso quando estiver gozando! — Tomo sua
boca com um beijo, mordendo com força seus lábios, e ela reclama,
provocando-me prazer.
Minha mão livre separa as suas pernas novamente para que eu me
acomode melhor e, por uma curiosidade que eu estava reprimindo, passo um
dos meus dedos na sua entrada, que está encharcada.
— Se masturbe para eu ver — falo, enquanto desço pelo seu corpo até
chegar ao meio das suas pernas e rasgo com força o outro lado da calcinha,
jogando o pequeno tecido longe.
Hanna me encara, incrédula, por eu ter terminado de estragar aquela
peça frágil e também pelas coisas que falei. Já eu, por outro lado, satisfaço-
me ao vê-la totalmente sem sua armadura: tudo por minha causa, entregue ao
momento.
— Pode começar — exijo, e ela se apoia em seus cotovelos na cama
para determinar se eu estou falando sério ou brincando.
— Não farei isso! — Hanna fala, assim que conclui minha seriedade.
— Será que eu vou ter que te ensinar, então? — Sorrio ao encarar sua
boceta perfeita em minha frente e o seu olhar de dúvida.
Pego sua mão e a levo até sua entrada. Essa visão, por mais breve que
seja, deixa-me extremamente louco para fodê-la. Hanna franze a testa, mas
não afasta a mão, e então eu continuo.
— Primeiro eu quero que pense em algo que te excite… — Faço o
primeiro movimento, segurando a sua mão em seu clitóris, e ela reage ao seu
próprio toque. — Continue com os movimentos circulares… — Hanna
mantém seu dedo se tocando, e eu lhe solto a mão. — Me conte, Hanna, no
que está pensando?
Observo seus olhos se fechando e desejo estar dentro da sua mente, já
que essa cena eu já vi repetidas vezes nos meus sonhos.
— Por favor! — Ela fala, ofegante, querendo que eu mantenha o
contato com ela.
— Está pensando em mim? — Passo o meu dedo pela sua fenda
molhada e coloco dois dedos nela de uma só vez. — Entrando aqui? —
Hanna geme sedutoramente, e meu pau baba ao pensar na mesma coisa.
Meus dedos encontram a parede do seu interior e se esfregam em
baixa velocidade com um vaivém torturante. Logo sinto Hanna começando a
se acelerar. Ela está tão molhada, que meus dedos começam a pingar, e eu
introduzo mais um dedo em seu corpo, que se arqueia ao me sentir. Seus
peitos estão espremidos pelos seus braços, e, se ela pudesse se ver, veria a
própria Afrodite me seduzindo.
— Continue! — Ela fala, praticamente sem voz, em um sussurro
excitante.
Quando sinto que ela já está mais segura, entro com mais força. O
quarto silencioso evidencia o som das minhas estocadas e de nossas
respirações excitadas, e o barulho da chuva, agora mais alto, também se
mistura com os nossos sons. Por Deus (se é que eu poderia falar uma coisa
dessas), eu juro que esta está sendo umas das coisas mais marcantes da minha
vida.
Encosto minha testa na dela e aumento ainda mais a minha
velocidade. Sinto minhas costas suadas e percebo que Hanna também parece
estar quase gozando novamente por sentir sua parte interna se fechado em
volta do meu membro. Seus gemidos baixos e sedutores quebram com o meu
ritmo. Seguro-me para não gozar em cada vez que eu me aproximo dos seus
lábios e acabo escutando aquele som que eu tanto desejo. Seus seios também
insistem em tirar minha concentração. Eles são pequenos e se encaixam em
minhas mãos e boca. Ela é tão perfeita, que eu desejo ficar dentro dela a noite
toda.
— Ander… eu estou quase… — Ela fala com dificuldade, e eu não
facilito, continuando o nosso vaivém.
— Gozando? — completo sua fala, e ela concorda rapidamente com a
cabeça, abraçando-me forte no mesmo instante e prendendo ainda mais suas
pernas em volta do meu corpo.
Procuro por sua língua em meu beijo desesperado e urgente, e Hanna
se explode de prazer embaixo de mim, gemendo mais alto. Em seguida, eu
também me liberto dentro dela.
Puta que pariu! Eu já sei onde tudo isso vai dar.
Meu coração dispara com tudo; acordo assustada por estar em um
lugar diferente do meu habitual. Olho o quarto e percebo que já está de
manhã, e um corpo pesado sobre mim descarrega milhares de lembranças da
noite anterior.
— Merda! — sussurro ao encarar o rosto do Anderson ao meu lado, e
ele me aperta ainda mais em seus braços.
Seu rosto dormindo é ainda mais lindo do que eu estou acostumada, e
pensar nisso me causa um sentimento de arrependimento. Não posso negar
que ontem à noite foi incrível. Ele me tratou superbem e ainda repetimos o
sexo mais duas vezes. Ele realmente me fez esquecer completamente o
quanto é um mulherengo. E aqui estou eu, tornando-me mais uma das
mulheres que ele coloca nesta cama.
Sim, eu cedi porque queria esquecer o susto que o Matheus me deu e
eu estava querendo ser acolhida depois das coisas que ele me falou, cedi
porque estava envolvida pelo momento e, pior… eu cedi porque eu estava
querendo muito o Anderson já faz um tempo. Agora, encarando o seu rosto
perfeito enquanto ele dorme, eu percebo exatamente o que estou sentindo e…
droga! Sinto uma sensação estranha no peito. Meu coração insiste em
acelerar, e eu insisto em ignorar tudo isso, porque meus sentimentos querem
trazer à tona o que o Matheus fez para conseguir estar ao meu lado.
Eu preciso ir embora!
Levanto-me com cuidado para não o acordar e retiro o seu braço de
cima da minha barriga. Meus movimentos acabam o fazendo se mexer, e eu
me assusto, chegando até a segurar o meu ar para que ele não acorde. O vento
frio arrepia o meu corpo nu, e sinto vergonha ao me lembrar de tudo que fiz e
falei para ele. Nunca mais tomo uma gota sequer de álcool antes de transar
com alguém, mesmo sabendo que só foi um copo e que eu estava
praticamente em meu juízo perfeito. Eu também não pretendo sair transando
por aí; então, isso não acontecerá novamente.
Encaro seu corpo e consigo reparar melhor na tatuagem em seu
abdômen, já que fizemos tudo à meia-luz na noite anterior, e isso privou um
pouco a minha visão, mas ele tinha uma imagem de um anjo caindo. Nunca
imaginei que o Ander poderia ter uma tatuagem, já que a sua camisa sempre a
escondeu esse tempo todo. E, na verdade, não era só uma tatuagem, eram
várias! Esse anjo se destacava mais por estar centralizado logo abaixo do seu
peito, mas seus braços estavam repletos de esculturas, linhas, números,
formas geométricas, escritas e desenhos aleatórios.
Novamente, flashes da nossa noite passam pelos meus olhos, fazendo
eu me lembrar dos momentos em que aqueles braços fortes me seguraram
brutalmente contra o espelho enquanto eu gozava. As marcas das minhas
mãos e do meu corpo ainda estão ali, manchando o meu reflexo, que
denuncia a minha cara de recém-fodida. Que vergonha!
Não posso simplesmente aceitar o que estou sentindo, pois não quero
me envolver com ninguém; então, fugir se tornou a melhor opção nesse
momento. Fugir dele e principalmente de mim. Dou passos cautelosos para
não o acordar, mas também devido à ardência que se faz presente na minha
intimidade. Isso, Hanna. Fica mais de cinco anos sem sexo e depois transa
umas três vezes em uma noite com um cara que tem um pau que quase não
cabe dentro de você!
Vou ter que continuar me lembrando desse momento até esse
desconforto passar. Busco no chão pelo meu vestido e recolho os meus saltos
sem fazer barulho. A calcinha seria difícil de encontrar no meio dos lençóis e
também seria um desperdício, já que está rasgada. Fica de lembrança para ele
de algo que não acontecerá novamente. Anderson, deitado de barriga para
cima, mas com o lençol cobrindo o seu membro, vira-se, assustando-me. Ele
tem mais uma tatuagem nas costas, localizada no final do seu pescoço: o
número 111. Se eu quero saber sobre o significado dela? Com certeza, mas
meu orgulho é bem maior, e eu simplesmente não preciso saber. Caminho
para fora do quarto sem fazer barulho, mas não sem antes dar uma bela
olhada para aquela bunda que estava descoberta. Que desperdício eu não a ter
apertado ontem; agora não terei mais essa oportunidade. Certo. Foco, Hanna!
Você nunca mais vai transar com esse homem! Repito novamente para mim
mesma e vou em direção à porta. Em seguida, pego minha bolsa, que estava
caída no chão, e me visto rapidamente.
Assim que eu pego o meu celular, encontro várias chamadas perdidas
do senhor Diogo e sinto o meu coração pesar pela culpa. Tadinho, eu tinha o
avisado para ir nos buscar na balada e não lhe retornei. Ele deve estar tão
preocupado comigo. Também encontro mensagens da minha mãe, que, pelo
jeito, está desesperada. E tem uma mensagem da Andréia, à qual decido
responder depois.
Antes de entrar no elevador, eu ligo para o senhor Diogo e peço para
ele vir me buscar aqui. Também peço desculpas pela preocupação que causei,
mas não explico por que estou nesse local. Na verdade, quero esquecer que
estive aqui e esquecer o que estou sentindo.
Talvez, por algum milagre, o Ander não me procure nos próximos
dias, mas já começo a esquematizar o que devo lhe responder por sair sem
falar nada caso ele venha atrás de mim.
O elevador me causa mais um sentimento de arrependimento. Eu o
estou deixando fazer tudo o que quer comigo. Como eu sou tola! Encaro a
câmera do interior daquele local, e meu rosto ferve de vergonha. Será que deu
para ver algo nas filmagens? Ou será que o porteiro já está acostumado com a
quantidade de mulheres que o Anderson traz para cá?
Deus, eu vou ficar louca!
— Calma, dona Eliza. Eu apenas saí para beber com alguns amigos
— falo com dificuldade e, então, ela me solta.
— O senhor Diogo me ligou ontem de noite preocupado com você, e
eu não sabia onde você estava. Eu nem dormi essa noite, você não é de fazer
isso. — Sorrio ao pensar que sou uma mulher de 25 anos que ainda preocupa
os pais por sair sem avisar.
— Eu sei, me perdoe — falo, fazendo um carinho no ombro da minha
mãe. — Essa noite foi muito esquisita. — Reviro os meus olhos.
— Como esquisita? — Minha mãe cata as minhas palavras no ar.
— O Matheus estava lá na balada. — Vou em direção à cozinha para
tomar um café, já que estava morrendo de fome.
— Meu Deus. Não acredito! — Seus olhos se arregalam.
— Não quero nem me lembrar das coisas que ele me falou. Acredita
que ele ameaçou me bater por ciúmes? — Fecho o meu semblante ao
lembrar. — Se não fosse o Anderson para pará-lo, talvez ele realmente
tivesse me batido. — Reviro os olhos e me sento no mesmo lugar que sempre
sentei para começar a comer. A mesa está farta, então já pego um pedaço de
bolo e um suco de laranja.
— O Anderson?
Minha mãe ergue uma sobrancelha, e eu percebo que me lasquei de
novo. Eu pensei que ela ficaria assustada com o fato de o Matheus quase ter
me batido, mas ela foca a informação errada.
— É… — Olho para a mesa, pensando em como eu poderia fugir
desta conversa, mas creio que o meu próprio corpo me denuncia, pois sinto
minha bochecha arder. — Ele estava lá também.
— Que coincidência! — Minha mãe fala, em tom de malícia.
— Foi coincidência mesmo, mãe!
— E onde a mocinha passou a noite?
— Não quero ter que começar tudo de novo, então é melhor que ele
nem venha atrás, para eu não confundir minha mente mais do que ela já está
confusa. — Volto para trás da minha mesa.
— Certo, certo. — Ela me dá um sorriso e se volta para a porta. —
Não se esquece do seu compromisso.
— Não vou esquecer. Obrigada. — Olho para o relógio assim que ela
sai e percebo que já são 9h20.
Nossas empresas ficam próximas uma da outra, mas às vezes tem um
trânsito inesperado, então eu ajeito as minhas papeladas rapidamente. Pego
minha bolsa e vou em direção ao estacionamento. O senhor Diego sempre
fica me esperando na recepção caso eu precise sair, então, em poucos
minutos, já estamos na estrada principal indo até a Aluxmil.
— Certo, vamos falar sobre o real motivo pelo qual me chamou aqui?
— Sorrio para ele na esperança de que ele fale algo sobre a Andréia.
— Certo… o real motivo… — Seus olhos percorrem a sua sala,
procurando uma forma para me falar o que o incomodava.
— Sim.
— Bem… — Escutamos passos no corredor, e ambos encaramos a
porta.
Anderson aparece segundos depois em frente à sua porta. Meu
coração se acelera com a expectativa da situação. Espero realmente que ele
não olhe em nossa direção, mas, enquanto ele destranca a porta e mexe no
trinco, seus olhos se guiam para nós.
Meu Deus, como ele é lindo.
Sinto minhas bochechas arderem apenas com o seu olhar sobre o meu.
Sinto-me nua debaixo desses olhos. Suas sobrancelhas se erguem e voltam ao
normal novamente em tempo recorde. Seus dedos largam a porta, que já
estava começando a se abrir, e escutamos todos uma voz sair de lá de dentro.
— Surpresa!!
Seu rosto, que tinha dado o indício de que estava surpreso por me ver,
fica realmente assustado quando todos nós escutamos o grito vindo de dentro
da sua sala. Aquela voz infelizmente era feminina, o que acabou me
embrulhando o estômago em pensar no que eu estaria prestes a ver.
A moça que estava lá dentro termina de abrir a porta, e todos nós
vemos sua sala cheia de balões vermelhos em formato de coração. Ela está
com um vestido rosa, tão curto e tão decotado, que todos também
conseguimos entender a sua real intenção.
Os vários balões lá dentro balançam devido às janelas abertas. Tudo
acontece tão rápido, que é apenas uma questão de segundos para eu reagir,
sentindo o incômodo brotar dentro de mim. No fundo eu tenho certeza de que
todos nós temos a mesma expressão de surpresa pelo exagero de tudo aquilo.
A cor vermelha se espalha pelo andar, e o vento traz vários papéis
brilhantes em nossa direção. Há balões de coração do teto ao chão, que
enjoam qualquer um que olhe aquela cor tão vibrante. Encaro o meu reflexo e
confirmo, através de um espelho que está na minha frente, que a minha cara
está da mesma cor que aqueles corações por estar vendo essa cena tão
deplorável, ou talvez por eu estar com raiva de mim mesma por ter me
deitado com esse cretino mulherengo, ou pelo ciúme maldito que sinto e sei
que não deveria existir.
— Surpresa, meu gatinho! — A loira se agarra em seu pescoço,
fazendo-o expressar uma cara de culpa enquanto seus olhos me encaram. —
Você demorou.
Reconheço a moça após alguns segundos, enquanto minha mente
insiste em gritar para mim mesma o quanto eu fui uma trouxa. Eles devem ser
algo, não apenas conhecidos. Só espero não ter transado com um homem
comprometido. Ele não faria isso comigo, né?
— Érika… — Ele fala o nome da loira após conseguir tirar os olhos
de mim. — O que está fazendo aqui? Por que fez tudo isso? — O seu tom de
voz é forte, e ele segura um dos seus braços para que ela o solte, mas ela
permanece grudada em seu pescoço.
— Vim te fazer essa surpresinha. Hoje eu estava de folga… — Seus
dedos caminham sobre o peitoral dele. Por que eu tenho que estar vendo essa
cena?
— Kauan, eu vou indo! — falo alto o suficiente para não ter que
escutar a voz dela, que cessa no mesmo instante, e me levanto de supetão.
Ela me encara, e seu rosto muda para uma carranca amarga. Acho que
acabei provocando a onça com vara curta ao impedi-la de terminar seu
showzinho. O Anderson volta a me encarar e parece querer muito se
justificar, mas eu não estou interessada, eu preciso realmente me afastar
deles.
Kauan se levanta junto comigo e me oferece o seu sorriso de sempre.
Para ele, parece ser uma cena comum. Ele não está incomodado como eu,
então tento me manter ainda mais calma.
Deus, me perdoa!
— Tudo bem, querida? Você está pálida como um papel. — O senhor
Diogo fala assim que liga o carro.
— Sim… — Ainda tento encher o meu pulmão com ar, mas sinto
como se tivesse corrido uma maratona. — Vamos voltar para a empresa.
— Claro, a principal está livre nesse horário. — Ele fala, para me
distrair, e o caminho todo eu tento decidir o que devo fazer. A partir de hoje,
eu não voltarei mais à empresa deles e passarei todas as futuras reuniões para
outra pessoa fazer.
Quando eu acordo no domingo sem ela do lado, confesso que procuro
por qualquer vestígio de algum bilhete que Hanna tivesse deixado para mim,
mas não encontro nada. Se não fosse o seu perfume nos meus lençóis, eu
poderia afirmar que tudo foi apenas mais um dos meus sonhos.
Minha pele se arrepia só de sentir seu aroma no ar, e tudo vem à tona
como uma cachoeira. Eu sei muito bem onde estou me metendo, desde
quando a vi naquela escadaria em seu aniversário, e também quando me meti
dentro daquela sala privada na festa. E toda a questão de escutá-la com aquela
língua atrevida me fez querer entrar nessa brincadeira.
Eu quero tanto estar com ela, que meus próprios sonhos jogavam isso
na minha cara todas as noites. Se consigo fugir dela durante o dia, de noite eu
não escapo. Se eu nego sua presença, meu corpo faz questão de me trair. E, se
eu tento me controlar, eu me contradigo logo que nos esbarramos.
Quando Kauan chega em minha casa, é óbvio que ainda estou
processando tudo o que tinha acabado de sentir. É algo novo, um sentimento
que me deixa inquieto. E ele chegou em um péssimo momento. Além de ter
absorvido um milhão de pensamentos, eu me sinto culpado por ter traído
novamente a sua confiança. Eu soube no mesmo instante que a nossa amizade
acabou ali, ainda mais depois que ele encontrou a calcinha dela debaixo da
minha cama.
Fiquei ainda mais possesso por ele ter dado algo tão íntimo assim para
Hanna. Segurei-me para não deixar o meu lado irracional agir, mas no fundo
fiquei feliz de ter rasgado aquele presente, assim ela nunca mais teria aquilo.
Ver meu amigo desconfiado de mim e mentir na cara dura me deixou muito
mal. Ele havia passado dias e dias falando dela para mim, e agora eu transei
com ela como se ele simplesmente não importasse — e, realmente, naquele
momento, não importava. Mas, agora, eu vejo a armadilha que eu criei para
mim mesmo.
Assim que Hanna saiu do nosso andar, eu decidi não discutir com o
Kauan. Eu estava errado no fim das contas, mas no fundo eu sei o porquê de
ele ter se esforçado tanto para criar toda essa cena. Ele queria respostas,
queria ter certeza de que eu e Hanna não tínhamos nada.
Entro na minha sala e novamente sinto o meu controle se esvaindo do
meu corpo ao visualizar toda aquela cor vermelha. Encaro Érika, que mantém
o mesmo entusiasmo de hoje mais cedo. Ela está sentada no meu sofá, e suas
pernas estão praticamente totalmente à mostra.
— Meu Deus, Érika, por que fez tudo isso? O que você está fazendo
aqui? — Começo a puxar as bexigas do teto.
— O Kauan me avisou que hoje era o seu aniversário. — Filho da
puta, até eu tinha esquecido isso após todo o transtorno do final de semana.
— Tá, certo, mas por que você fez uma decoração romântica para
isso? — Estouro as bexigas com as mãos para me ajudar a manter a calma
que eu não estou tendo.
— Porque você sabe que eu amo você, gatinho. — Ela se levanta e
tira das minhas mãos a próxima bexiga que eu iria esmagar, jogando-a no
chão.
— Érika, nós não somos crianças. Você sabe que eu não quero nada
com você. — Respiro fundo, tentando manter o resto da minha paciência.
— Ander, eu acho que você deveria ter um pouco de consideração
comigo, poxa. Deu um trabalhão arrumar tudo isso para você. — Como que
eu vou lhe dizer que ela fez tudo isso porque simplesmente quis?
— Me desculpe se eu estou parecendo um babaca agora, mas eu
preciso mesmo trabalhar. Conversamos depois, tá bom? — Respiro fundo,
afastando-me de perto dela e abrindo a porta para que ela vá embora.
Falo entusiasmado até demais, sem perceber minha alegria de ela dar
essa iniciativa para me dar uma possível liberdade para… sei lá, não deveria
estar querendo algo dela, mas eu quero… quero vê-la, quero beijá-la, quero
explicar tudo que aconteceu na segunda-feira. Minha mãe e meu irmão me
encaram, espantados por ela ter me ligado.
— Sim! Eu… eu preciso de uma indicação sua! — Indicação? Às sete
da noite de uma quinta-feira?
— No que eu posso te ajudar? — falo, saindo da cozinha para
conversar mais à vontade e indo até a sacada.
— Desculpa a ligação tão tarde, mas eu preciso de uma indicação de
algum hotel aqui em Brasília. — Hotel em Brasília? — Sei que você morava
por aqui, e o hotel onde eu sempre fico está lotado.
— Magda. Meu pai chegou agora há pouco, então deve estar saindo
do banho, mas logo ele se juntará a nós para jantarmos, e minha mãe está na
cozinha lá em cima.
— Que bom! Pelo jeito, está tendo algum evento perto do hotel onde
eu sempre fico. Estava lotado.
— Não ouvi falar de nada, mas com certeza meus pais devem saber.
Por aqui. — Indico a escada, e Hanna para na minha frente antes de subir.
— Ander, desculpe a sinceridade. — Ela me encara, contrariada. —
Eu só vim hoje aqui por educação. Nós não conversamos depois da nossa
noite, mas o que você fez não foi certo. Eu achava que você fosse solteiro. Se
não fosse isso, nada teria acontecido. — Seus olhos vacilam para as suas
mãos enquanto ela gira os anéis dos seus dedos impacientemente, retornando,
em seguida, seu olhar para o meu rosto. — E eu só te liguei hoje porque era a
única pessoa que eu conheço que também conhece esta cidade. Não estou
falando com o Kauan por alguns motivos pessoais; caso contrário, eu teria
ligado para ele, e não para você. Então, novamente, eu te aviso: serão apenas
vinte minutos, e eu vou embora. Já estou me sentindo mal por várias coisas
que aconteceram esta semana, não quero aumentar essa lista hoje.
Porra, que belo soco no estômago!
Encaro seu rosto por mais alguns segundos, esperando que ele fale
alguma coisa, e não obtenho nada em resposta. Então, começo a subir as
escadas que ele indicou para mim. Meus passos são lentos para que eu não
caia após falar o que estava entalado na minha garganta. Escuto os seus
passos pesados atrás de mim e, quando atingimos o segundo andar, deparo-
me com um corredor gigantesco. Saio da sua frente para que ele possa
novamente guiar o caminho até a cozinha e, quando ele passa por mim,
empurra-me para dentro de um dos quartos, que está com a porta aberta.
— O que está fazendo? — sussurro, com medo de causar algum
escândalo.
O quarto está totalmente escuro, iluminado apenas pelas luzes
distantes do corredor, que desenham o seu corpo. Sua mão agora está
segurando a minha mão, que tento a todo custo soltar.
— Calma, eu só preciso que saiba que eu sou um homem solteiro.
Aquilo que você viu foi apenas uma armação… — Ele respira fundo, e seus
olhos brilham. — Do Kauan.
— Do Kauan? — Franzo o meu cenho com a sua revelação. — Como
assim?
— Agora não é hora e nem lugar, meus pais estão nos esperando; só
não quero que fique se sentindo culpada por algo que não existe. Por favor,
vamos conversar depois? — Ele solta a minha mão.
Apenas confirmo com a cabeça e não respondo mais nada. Ele sai do
quarto, e eu o sigo, sentindo-me estranha. O que ele falou era verdade? Ele
realmente não tinha nada com aquela mulher? Como o Kauan poderia armar
aquilo? E, se realmente fosse verdade, eu deveria estar extremamente
envergonhada por ter falado tudo aquilo para ele lá embaixo. Não só isso, eu
estaria criando uma amizade com alguém bem estranho.
O caminho me causa desconforto e um pressentimento de estar
fazendo a escolha errada ao aceitar vir aqui. Assim que adentramos a sala de
jantar, o cheiro delicioso me lembra que já faz mais de seis horas que eu não
como; não tive tempo.
A senhora Magda está terminando de colocar o último prato na mesa
quando o som anuncia nossa chegada. Eu não pude conversar muito com ela
no nosso almoço em Curitiba, mas, observando-a mais de perto hoje, eu vejo
o quanto a dona Magda é linda. Seus traços a mantêm como se ainda tivesse
uns 35 anos, que eu sabia que não tinha, devido ao formulário detalhado que
a Andréia fez para mim sobre os Magalhães. Seu sorriso brota sutilmente em
seus lábios assim que me vê.
— Senhorita Hanna, que bom que chegou em segurança e está aqui
conosco hoje. — Ela se aproxima e me cumprimenta com um beijo carinhoso
em meu rosto.
— Boa noite, senhora Magda. Obrigada por me receber tão em cima
da hora para o jantar de vocês. Espero não estar incomodando — falo, assim
que ela solta as minhas mãos, que eu nem havia percebido que ela tinha
pegado.
— Nunca! Uma amiga do Anderson sempre será muito bem-vinda em
nossa casa. — Amiga? — Filho, vai lá chamar o seu pai. Ele deve estar
assistindo ao noticiário.
Tento fingir indiferença na presença do Anderson, que passa do meu
lado voltando para o corredor. Eu queria não sentir nada por ele, ainda mais
depois da cena que eu vi na segunda e depois de tudo que pensei sobre ele,
mas eu consigo sentir a nossa eletricidade rondando à nossa volta.
— Oi, senhorita Hanna. Está linda como sempre. — O irmão do
Anderson se levanta para me cumprimentar e faz o mesmo que a mãe ao colar
os lábios na minha bochecha.
— Antony! — Ele é repreendido logo em seguida.
— O que eu fiz agora? — Ele se afasta ,todo sorridente.
Ainda fico incrédula com a semelhança dos dois irmãos.
"Sem sono?"
— Não imaginava que eu iria dormir na sua casa. Você sabe que, por
mim, eu estaria em um hotel. — Pego um dos seus braços e tiro da minha
direção, fugindo dele. — Está muito tarde, eu vou voltar para a cama, preciso
dormir.
— Dormir? — Ele se encosta onde eu estava encurralada segundos
atrás, e seu corpo se ilumina pela luz da noite. Seu abdômen definido e
tatuado parece uma ótima miragem na qual estou impelida a me afogar. —
Você não estava conseguindo dormir, né? Vem para o meu quarto, que eu te
ajudo.
Eu sabia que ele estava aqui querendo sexo, era evidente em seu
sorriso a todo momento. Seu corpo dá sinal de que me queria, mas eu acabei
de pensar em me afastar dele. Por que as minhas justificativas não parecem
tão importantes agora?
— Você está se escutando, Ander? Olha o que você está me
sugerindo. — Aproximo-me dele para que escute os meus sussurros,
enquanto mantenho as minhas palavras firmes.
— Eu só ia te oferecer… — Seu sorriso idiota aparece. — Um
remédio.
Dessa vez sou eu que dou um sorriso cínico, mantendo o som dentro
da minha garganta. Ele acha que sou boba por acreditar em algo tão besta
como essa conversa?
— Vamos fingir que eu acredito nessa besteira que você acabou de
falar. — Minha respiração pesada vibra pela cozinha, que se completa com os
nossos sussurros. — Eu não preciso da sua ajuda para nada!
— Você e essa sua boca atrevida. Sabe que quanto mais você fala
comigo desse jeito, mais eu tenho vontade de te foder, né?
Meus olhos se arregalam na mesma hora ao escutar as suas palavras
sem filtro. Ele sabe muito bem arrancar o meu ar e até a minha consciência, e
isso me esquenta.
— Ander! — repreendo-o enquanto me sinto culpada só de escutar
uma coisa dessas e olho à nossa volta, para ter certeza de que mais ninguém
estava escutando aquilo.
— Eu gosto muito do som do meu nome na sua boca.
— Não me fale essas coisas.
— Que eu quero te foder ou que eu gosto quando você me chama
assim?
Reviro os olhos para ele, que, na mesma hora, dá uma risada fraca ao
me observar, reagindo com desespero. E, então, seus passos ficam a menos
de 30 centímetros de distância.
— As duas coisas!
— Por quê? — Seu cheiro está tão próximo, que eu identifico o seu
banho recente. — Você sabe que eu sou bem sincero.
— Eu sei que você gosta de dizer o que pensa. Não significa que você
seja sincero.
— Estou pensando agora mesmo que eu quero transar com você de
novo! — Minha mão vai até a sua boca imediatamente para que ele pare de
falar.
— Chega!
— Desculpa, mas esse spitz-alemão não será tão obediente hoje!
Um pequeno movimento dele mordendo os lábios e se aproximando
de mim é o suficiente para que eu caia em contradição e para que comecemos
a nos agarrar. Suas mãos já estão familiarizadas com o meu corpo, e elas se
espalharam por ele todo, puxando-me para o seu colo. Sim, eu estou com as
pernas em volta da sua cintura enquanto ele me segura pela bunda, totalmente
grudada em seu corpo. Nossas línguas sabem excitar o restante dos nossos
corpos, e elas brincam com as nossas sensações de tesão e irritação,
formando uma dupla inseparável.
— Para de falar assim comigo… — sussurro, enquanto ele me separa
do seu corpo por breves momentos, apenas para me colocar em cima do
balcão. — Você não tem esse direi…
O som da minha voz acaba no momento em que as suas mãos
deslizam nas laterais do meu corpo e chegam até meus seios, tornando aquela
sensação uma tortura constante, por seus dedos se apoderarem dos meus
sentidos e arrepiarem o meu corpo todo ao encostar em meu mamilo.
Como chegamos tão rápido aqui?
— Pode terminar de falar, não estou te impedindo.
Seu sorriso aparece novamente, e ele se aproxima do meu peito, por
cima do tecido fino do baby-doll. Os bicos dos meus seios se destacam,
atiçando seus dentes, que foram diretamente para aquele ponto, molhando a
seda do meu pijama e umedecendo outras áreas do meu corpo também.
Enquanto isso, meu outro seio é torturado pelos seus dedos, que me fazem
segurar o gemido sufocado enquanto minhas mãos apoiam o meu corpo no
mármore.
— Ander, não podemos… — Suspiro, quase sem voz. — Não aqui!
— Meus olhos se fecham, saboreando aquela sensação e sabendo que eu nem
estava mais consciente.
— Ótimo, vamos para o meu quarto! — Ele para imediatamente o que
estava fazendo e me puxa, colocando-me sobre o seu ombro tão rápido, que
até chega a me dar tontura.
Abafo um grito com a minha mão enquanto me questiono como ele
consegue me carregar sem a menor dificuldade e com todo o direito que ele
não tem sobre o meu corpo pelos corredores da casa dos seus pais.
— Ander, me solta!! — O repreendo novamente, tentando me
levantar, mas seus braços me prendem com força.
— Vai acordar os meus pais se continuar falando alto assim, e, se eu
te largar no chão, o barulho vai ser maior! — Ele sussurra com seu tom de
diversão e dá um tapa na minha bunda, assustando-me novamente, ecoando o
som pelo corredor.
Meu Deus, o que eu estou fazendo da minha vida?
— Não foi isso que eu quis dizer, e você sabe muito bem. Me solta!
— Tento me comunicar mesmo estando de cabeça para baixo.
— Exatamente. Eu sei muito bem o que você quer me dizer, então não
importa muito a desculpa que você for inventar agora, porque eu sei o que
nós dois queremos. — Ele entra dentro do seu quarto e tranca a porta.
— Me coloca no chão! — Apoio minhas mãos nas suas costas para
não ficar ainda mais tonta.
— Desculpa, mas o seu corpo fica bem melhor no meu colchão. —
Em segundos, a minha pele se encosta no edredom, que já estava bagunçado.
Sem deixar espaço para qualquer outra reação minha, ele me ataca
com os seus lábios novamente, misturando a nossa saliva quente, o que só
serve para excitar partes bem indecentes dos nossos corpos.
— Vai me torturar até quando? — digo, com uma certa raiva, e ele
sorri.
— Até eu ver você prestes a gozar. — Seu dedo gira dentro de mim,
e, sem aviso, ele coloca mais um dedo, fazendo-me arquear. — Daí quem
sabe eu deixo você explodir com os meus dedos.
Puta merda! Ele já sabia que o meu orgasmo estava preparado para
vir a qualquer momento depois do trabalho bem-feito com a sua língua.
Sua outra mão segura minha cintura, puxando-me para o seu colo,
enquanto ele se ajoelha na cama, encaixando nossos corpos sem parar a
loucura que fazemos, e demonstrando mais e mais que não tem escapatória
para o nosso sexo. Minhas mãos seguem até o seu cabelo, que ainda cheira
frescor pelo seu banho; já os meus cabelos grudam no meu pescoço, deixando
desconfortável a sensação de calor em meu corpo. Eu quero urgentemente
terminar o vaivém incessante dos seus dedos.
Em seguida, os seus lábios se encostam nos meus e me procuram para
mais. Nosso beijo até que é calmo, em vista do que está acontecendo na
minha parte de baixo. Encaixo minhas pernas na sua cintura, encostando
ainda mais nossas intimidades, e seu membro duro permanece se esfregando
em mim, deixando um sinal molhado acentuado na sua calça.
— Para… por favor — suplico, em um tom de repreensão por não
aguentar mais sentir os seus dedos só me provocando sem que eu alcance
alívio.
— Acho que eu quero ver até onde você aguenta. — Merda!
O terceiro dedo que ele tenta colocar é a minha linha de barreira, não
tem como eu suportar, ainda mais porque o seu polegar atinge o meu ponto
fraco, que está melado de tanto ser estimulado. Eu estou prestes a gozar, mas
já estou com receio de ele me parar.
— Você está se segurando, né? Eu estou sentindo, aqui dentro. — Eu
apenas sorrio como resposta.
Dá para me escutar. Eu estou segurando os gemidos, mas o ar que sai
dos meus pulmões a cada estocada dos seus dedos é impossível de reter. O
som no quarto é apenas o da minha boca e dos seus dedos, que se chocam
contra o meu sexo molhado.
Tento prolongar o meu máximo para que, no fim, ele simplesmente
me deixe gozar em tremores contidos na sua mão, que com toda certeza está
toda encharcada. E, para que eu não faça nenhum barulho ao atingir o meu
ápice, ele me cala com os seus lábios, o que fez aquele momento ser ainda
mais delicioso.
— Não se segure da próxima vez!
Se eu não estivesse completamente em êxtase pelo orgasmo
maravilhoso que eu acabei de ter, com certeza eu falaria algo a respeito.
Como ele poderia ter tanta certeza de que teríamos uma próxima vez? Mas
minha mente só me pergunta por que eu me privei tanto disso tudo?
Afasto os meus pensamentos antes que eles cheguem até o homem do
meu passado, quando percebo que o real motivo de eu nunca mais ter me
deitado com ninguém era ele.
Meus sons permaneceram pesados mesmo eu tentando segurar o eco
no quarto silencioso. Ele me beija, abafando minha respiração, e, entre suas
mãos, o suor pegajoso dos nossos corpos escorria, enquanto nossas línguas se
entrelaçavam novamente. Sou despida em poucos segundos pelas suas mãos
grandes, ficando apenas com o meu pequeno shorts molhado no centro das
minhas pernas.
Meus seios pequenos já estão arrepiados desde o início dos seus
toques, mas agora, com eles desprotegidos, minha insegurança está maior.
Eles estão levemente inchados por terem sido usados para me excitar. Como
eu já não me sentia bem com o tamanho deles, quero me esconder na mesma
hora.
— Sabe o quanto eu queria isso? — Ele começa a abaixar a calça,
ficando apenas de cueca.
— Ficar nu? — brinco com ele, sorrindo, e meus olhos procuram algo
para me cobrir.
Não, não, não, não, não, não, não! Isso não era para acontecer. Por
que eu simplesmente aceito tudo que vem dele quando estamos juntos?
Encaro o chão e vejo a prova do crime: o quadro que fez barulho ontem e
acordou sua mãe estava caído no chão com a lateral quebrada; fora o meu
baby-doll, que também estava por ali.
— Bom dia, fujona. — Sua voz grossa em meus ouvidos me
confirmam as minhas memórias, e percebo que estamos de conchinha.
Pulo da cama no mesmo instante, querendo sumir de tanta vergonha, e
puxo comigo um pedaço do lençol, cobrindo o meu corpo, que está
estranhamente relaxado demais após o que fizemos. Com certeza o meu rosto
revela o meu arrependimento de novamente ter feito isso, mas é claro que a
minha mente já estava em uma confusão diferente por saber que aquilo tudo
não era tão errado assim.
Olhando para ele agora, nem parece aquele homem de poucos sorrisos
que eu conheci no meu aniversário, mas não era apenas um sorriso comum:
ele estava pensando em mim nua e onde as minhas pintas se encontravam no
meu corpo.
— Para de me olhar assim. — Desvio os meus olhos dos dele e sinto
quando sou puxada para mais perto.
— Bom dia, querida. Dormiu bem? — Ela não parecia saber de nada
da noite passada, já que mantinha o mesmo sorriso da noite anterior.
— Muito bem, obrigada por ter me oferecido um quarto tão
confortável. Você tem que ir para Curitiba agora, para eu poder retribuir esse
carinho! — Sinto-me culpada por mentir na sua cara.
— Vou combinar com o Andres, e iremos, sim! Agora vamos tomar
um café? Já está tudo na mesa. — Café? E eu achando que iria conseguir sair
cedo daqui.
— Eu adoraria!
Caminhamos juntas até a cozinha, onde os dois garotos dos
Magalhães se provocavam em uma conversa esquisita, com cotoveladas e
sorrisinhos sarcásticos. Eu ainda não me acostumei com a semelhança entre
eles dois. É exatamente como se eu estivesse vendo o Anderson mais novo.
Quando o Anthony me vê entrar, ele abre um sorriso com a mesma
simpatia da noite anterior e se levanta. Eu entendi que ele quer que eu me
sente ao lado do seu irmão, o que, de verdade, eu não quero.
Encaro os seus dedos, que parecem trêmulos segurando seu copo de
suco de laranja ao meu lado. Eu notei naquele almoço que Hanna gostava
desse suco, então saí mais cedo do quarto para pedir à minha mãe que fizesse,
já que nós não tínhamos costume de tomar isso de manhã. E agora estou feliz
de ela ter escolhido justamente o suco para beber.
Nós nos sentamos exatamente como na noite anterior, com exceção
do meu pai, que ainda está dormindo. Minha mãe permanece do outro lado da
mesa com o meu irmão, e eu e Hanna de frente com eles.
— Não dá para você ficar transando com a menina sem pedir ela em
namoro. — Ela comenta em um tom de brincadeira com verdade e abre a
porta enquanto arregalo os meus olhos com a sinceridade dela.
— Do que a senhora está falando? — comento, com o coração na
mão.
— Ninguém se esforça tanto para esconder que o barulho da
madrugada foi esse quadro que misteriosamente caiu, né, meu querido? —
Dona Magda aponta para o quadro quebrado e sai do meu quarto, deixando a
porta aberta, enquanto continua falando do corredor. — E o meu quarto é em
cima do seu, filhote.
Merda, ela escutou!
Eu estava decidida a esquecer esse homem depois que me deitei a
primeira vez na cama dele. Decidi realmente não fazer mais nada com ele,
nem mesmo lhe dar um beijo. Eu sabia o que eu estava sentindo e juro por
Deus que não queria sentir. Previa que os meus sentimentos poderiam me
cegar novamente. Era óbvio que eu não estava preparada para me envolver
com alguém, mas, depois que eu visitei os seus pais, imaginei-me tentando de
novo um relacionamento. No entanto, o medo de a esperança estar me
privando de enxergar a verdade me fez recuar ainda mais.
Até porque ele mesmo me falou que não queria namorar. Por que eu
tinha que ser tão emotiva em imaginar um relacionamento? E o que foi aquilo
que ele me sugeriu? Tentarmos algo sem ser namoro? Eu com certeza não
sou o tipo de pessoa que aceita sexo casual.
A sorte do meu dia foi que eu não consegui pensar no Anderson por
muito tempo, pois aproveitei a viagem para ajudar mais alguns clientes e,
quando, enfim, me vi liberada para voltar para casa, os pensamentos
começaram a cair de monte, ainda mais quando eu tive que ficar esperando o
meu voo.
Ele queria tentar algo, e era algo que eu não estou acostumada e nem
disposta, mas, se eu não aceitar, terei que deixá-lo ir. Independentemente da
minha escolha, eu terei que manter o meu sentimento enterrado, e não sai da
minha cabeça toda a desconfiança que criei por todos esses anos. Se o Ander
não quer o meu dinheiro, com certeza ele deseja o meu corpo, e isso é bem
óbvio para mim.
Eu queria ter uma resposta para a sua pergunta assim que pisasse em
Curitiba, mas chego à cidade ainda mais confusa do que quando saí. Fico
feliz ao ver o senhor Diogo me aguardando no aeroporto, porque, assim, eu
poderia pedir conselhos para ele novamente.
— Boa noite, minha querida, como foi a viagem? — Ele comenta
logo que eu entro dentro no carro.
— Foi ótima, senhor Diogo. Consegui resolver vários probleminhas,
mas confesso que eu acabei trazendo novos problemas para casa.
— A senhorita é esperta, tenho certeza de que logo tudo estará
resolvido. — Ele liga o carro.
— Desculpe a minha curiosidade, mas faz quanto tempo que o senhor
e a senhora Tiana estão casados?
— Imagina, Hanna. Vai fazer quarenta anos.
— É muito tempo… — sussurro para mim mesma. Como eu poderia
escolher alguém para passar o resto da minha vida junto se eu era dessa
maneira? Toda receosa com tudo e todos? — E como foi que se conheceram,
senhor Diogo?
— A Tiana sempre foi uma mulher muito bonita, chamava atenção de
todos por onde passava, e eu era taxista na época, ficava com o meu carro
parada na praça da cidadezinha onde morávamos. — Ele encara as ruas como
se pudesse ver a cena que descrevia. — O pai dela só deixava ela ir à
pracinha aos domingos para tomar um sorvete. Foi então que eu a conheci.
Eu nem trabalhava aos domingos, mas, quando a vi pela primeira vez,
comecei a trabalhar todos os domingos para poder ver ela naqueles breves
instantes.
— Os homens antigamente eram bem mais românticos que hoje em
dia — comento.
— Isso é o que você imagina, querida. Tenho certeza de que tem
vários rapazes que pensam muito em você. — Sorrio, achando graça da sua
fala.
“Que horas?”
Na casa dele?
Se nós íamos conversar, por que deveria ser lá? Se ele queria transar,
era só ter falado; eu teria negado antes. Na minha casa, talvez essa questão
não acontecesse — apenas um “talvez”, porque eu não me garantia muito
quando estava perto dele.
“Prefiro na minha casa”
“Está mandando?”
Sorrio para a tela do celular, achando graça de sua pergunta. Eu nem
sou tão mandona. Não entendi esse apelido que recebi de graça desde que nos
conhecemos.
“Com certeza!”
Com ela, eu me dedicava a algo sem ver. Desejo que ela sinta o
mesmo, estou sempre querendo mais e, por incrível que pareça, eu vejo que
se trata de uma paixão, porque a paixão deixa as pessoas nesse estado de
euforia. É ela que causa a ansiedade que eu sinto, e eu estou agora mesmo
com o coração a mil porque ela me mandou vir para a casa dela, e aqui eu
estou.
Sou um puto bem-mandado!
Penso e repenso sobre o que eu devo falar para ela. Demoro alguns
minutos para sair do carro, enquanto meus dedos batucam o volante. E, então,
percebo que o portão se abre para mim. Vejo que tem espaço para o meu
carro na garagem e estaciono na vaga, enxergando-a dentro de sua sala
através das paredes de vidro.
Hanna sai para a parte exterior da casa usando uma calça bege folgada
de um tecido mole que aparenta ser linho e uma regata branca de cetim, um
visual que eu nunca a vi usando, mas que lhe caía superbem. Dava para ver
que ela estava sem sutiã, porque os seus mamilos se acendem e marcam o
tecido quando o vento frio da noite encosta em sua pele. Busco pela minha
lucidez antes de ter um contato com ela. Eu não posso tentar nada de mais
esta noite; pelo menos não se ela não quisesse.
— Boa noite, Ander! — Ela fala, sorrindo, intimidadora como
sempre, enquanto eu saio do carro. — Achou fácil a minha casa?
— Muito fácil — respondo rápido e nervoso.
Nós seguimos para dentro, e não me surpreendeu nada ver o quanto o
imóvel se parecia com ela. Tudo tem aquele ar de elegância, mas ao mesmo
tempo demonstrando transparência.
— É óbvio que aconteceu algo, mas isso não vem ao caso. Por que
está preocupado com isso? — Desta vez, é ela que toma quase todo o seu
vinho.
— Não queria que tivesse passado seja lá pelo que teve que aturar
com aquele… — Ofereço a garrafa para que ela possa encher sua taça
novamente, e Hanna aceita, enquanto desisto de terminar de falar a minha
frase. — Não me entra na cabeça que alguém poderia terminar com você.
Minha mente não desligava pensando nas coisas que teríamos que
acertar por causa desse namoro, enquanto meus dedos passeavam em sua
tatuagem, com a qual eu já estava me acostumando. Anderson descansava,
acariciando-me os cabelos após o nosso segundo round ter quase destruído a
minha cama. Parecia mesmo que ele estava se esforçando para isso.
— Por que você tem essa tatuagem? — Desenho as asas em sua pele,
e ele respira ao meu toque. — Você não tem muitas, pelo que eu reparei.
Então, imaginei que elas tivessem significados.
— Andou reparando no meu corpo, então? — Vi seu sorriso.
— Você não fez o mesmo comigo? Não desejou beijar as minhas
pintinhas?
— Verdade, agora eu posso fazer isso sempre que eu quiser! — Seus
braços me apertam um pouco mais. — Mas o anjo... já ouviu falar sobre a
Queda de Ícaro?
— Não — respondo, após pensar um pouco.
— Então eu vou ter que te contar uma história mitológica antes de
falar do significado. — Acho engraçada a forma como ele aborda o assunto.
— Ícaro era filho de um habilidoso inventor. Um dia os dois foram presos em
um labirinto e, para escapar, seu pai criou asas de penas e cera. Antes de
voar, ele alertou seu filho para não voar muito alto, pois o calor do sol
derreteria a cera das asas, e também lhe disse que não voasse muito baixo,
pois a umidade do mar deixaria as penas pesadas, porém Ícaro desprezou o
aviso de seu pai e voou cada vez mais alto, ficando deslumbrado com a
sensação de liberdade e se cegando com a sua confiança. No entanto, suas
asas derreteram com o calor, e ele caiu no mar e morreu afogado.
— Por que tatuar um personagem que morreu por ser irresponsável?
— Exatamente por isso. A história é para alertar sobre os perigos das
ambições que temos. Claro que ser ambicioso é importante para que
alcancemos os nossos objetivos, mas temos que ser realistas com a vida. —
Levanto a cabeça assim que ele fala isso, pensando em como eu tinha medo
de o Anderson ser mais um interesseiro na minha vida, enquanto na verdade
era o contrário, ele tinha receio da ambição. — Para mim você é o Sol,
Hanna.
— Por quê?
— Na minha cabeça, seria uma ambição muito grande eu querer você
como minha. Parecia errado eu não ter um relacionamento sério com uma
mulher que merece uma família linda.
— E o que mudou?
— Eu descobri que você também é as minhas asas. Não faz sentido
nenhum eu me aprofundar nos meus planos se eu não tenho você neles.
— Foi boa, bem boa mesmo. — Não posso negar este fato, já que
hoje eu amanheci em um relacionamento com a mulher dos meus sonhos,
literalmente. Encosto no meu bracelete pela vigésima vez hoje pensando nela.
— Você está bem? Notei desde a semana passada que você parece
preocupado com algo.
Eu precisava abordar o assunto e imaginei que, se eu começasse por
esse fato, a conversa iria tomando o devido rumo aos poucos, mas eu
realmente estava enganado.
— A cara? Mulher, né? — Kauan passa as mãos pelos cabelos.
Como ele conseguia agir naturalmente depois do que fez com a
Hanna? É claro que não é apenas qualquer mulher, é a porra da MINHA
mulher. Puxo o meu ar, tentando me manter calmo.
— Sabe, Kauan, eu andei conversando com a Hanna… — falo e
observo a sua reação. No mesmo instante, ele fica alerta por escutar o nome
dela. — E ela me falou algumas coisas ao seu respeito.
Falou dormindo, mas já conta. Tenho que tentar descobrir se é
verdade agora.
O Kauan muda a sua feição, decidindo o que deveria pensar a respeito
da minha afirmação, e seu rosto denuncia que a sua raiva o tomou pelo fato
de eu estar falando com ela.
— Quando vocês se encontraram? — Ele se levanta, nervoso, e vem
em minha direção. Eu me levanto por reflexo, ajeitando o meu terno. —
Vocês estão transando, né, seu filho da puta?
— Sou eu que deveria estar bem nervoso aqui. — Ficamos frente a
frente, mas a sua altura não o ajudava muito na conversa; afinal, ele era bem
mais baixo que eu.
— Então você não nega? Eu sabia! Eu tive todas as evidências na
minha cara e não quis enxergar. A calcinha… eu vi o carro dela também,
saindo da frente da sua casa aquele dia, mas eu só fui me ligar na semana
passada quando o seu motorista chegou para buscar ela com o mesmo carro
enquanto eu estava…
— Não quero saber, Kauan; para mim, esse assunto já deu. O que
você fez acabou com qualquer indício de amizade que eu sentia por você. Por
favor, pode se retirar. — Levanto-me subitamente e, agora sim, eu notei
desespero da parte dele.
Seu rosto ficou pálido, seus olhos se arregalaram e a sua boca abria e
fechava procurando as palavras. Seus atos faziam parecer que a qualquer
momento ele poderia se ajoelhar na minha frente para tentar se desculpar pela
sua besteira, igualzinho a uma cena patética que eu tenho gravada em minha
mente de 5 anos atrás. Ele se levanta, e sua postura muda para algo mais
determinado.
— Não sem antes você me perdoar. Por favor, Hanna. Eu preciso que
me perdoe pelo que eu fiz. — Ele se aproxima.
— Kauan, pelo amor de Deus, como quer que eu te perdoe por algo
que você estava me forçando a fazer? Abra os seus olhos, eu não sou burra —
falo, quase perdendo a minha paciência.
— Eu fui um babaca, me desculpe. Eu entendi errado as coisas, mas
estou te pedindo para me entender. Isso nunca mais vai acontecer. Você sabe
que eu não sou assim, nunca fiz nada de mau para você! — Ele tenta se
aproximar ainda mais, chegando a três passos de distância de mim.
— Ok, eu vou pensar sobre tudo isso. Agora, por favor, Kauan, saia.
Eu preciso trabalhar. — Estendo o meu braço, mostrando-lhe a saída.
— Vamos voltar a ser o que éramos, por favor. Eu não consigo mais
cozinhar sem pensar que te magoei, que te deixei triste ou até mesmo
abalada. Quero fazer as pazes, mostrar que estou realmente arrependido.
Confia em mim, Hanna. — Ele deu passos lentos em minha direção, e, desta
vez, eu me afastei.
— Já disse que vou pensar, Kauan! Eu te mando uma mensagem, tá
bom? — digo logo algo que lhe dê esperanças, para que saia da minha sala, e
realmente parece funcionar quando ele sorri.
— Sério mesmo? Vai me responder?
— Eu te chamo assim que puder! — Continuo pensando que talvez eu
nunca mais retorne qualquer mensagem dele.
— Certo, vou esperar pela sua mensagem. Me desculpe mesmo,
Hanna. Me dê mais uma chance, que não irá se arrepender. Não vamos deixar
a nossa amizade ir para o lixo. — Seus passos o guiam para perto da porta, e
eu não me atrevo a responder-lhe, para que a nossa conversa não se
prolongue.
Faço um sinal com a cabeça, despedindo-me dele, quando o seu
último olhar me encara antes de fechar a porta. Solto um suspiro, aliviada por
ter escapado dessa situação. Depois das coisas que o Anderson me contou
sobre a armação que o Kauan fez para nós, eu não consigo mais encará-lo da
mesma forma. Eu via mentiras em seus atos e falas a cada segundo aqui
dentro desta sala; mesmo assim, no fundo, o meu coração me deixava
confusa, fazendo eu me perguntar se realmente eu não estava pegando muito
pesado com ele.
Eu não iria testar a minha felicidade com o Anderson. Mal
começamos a namorar, não poderia deixar essas pequenas situações nos
atrapalhar. Então, decidi manter o Kauan distante por enquanto. Eu iria lhe
responder para acalmar um pouco os seus ânimos, mas nada mais
aconteceria; era o correto a se fazer.
Chego em casa cansada pela semana corrida que tive. Como eu fiquei
alguns dias da semana passada em Brasília, o meu serviço na empresa
acumulou. Mesmo assim, tanto eu quanto o Ander não nos desgrudamos. Se
eu não ia para a casa dele depois do meu trabalho, com certeza ele aparecia
na minha casa, e, por saber do falatório que o nosso relacionamento iria
tomar, eu acabei não contando para ninguém — o que estava me corroendo
por dentro, já que, pelo menos para a Andréia, eu contava tudo da minha
vida.
Vou direto para o meu banho e acabo reparando que, na maioria dos
lugares mais privados do meu corpo que tinha alguma pintinha, também tinha
alguma marca de mordida ou chupão feita pelo maníaco do meu namorado,
principalmente nos meus seios, que até estavam doloridos de tanto que eles
foram usados.
Não demorei muito debaixo da água, porque hoje eu tinha marcado de
sair para jantar com o Anderson. Eu queria muito saber um pouco mais sobre
ele; afinal, foi repentino o nosso namoro, e nós estávamos matando uma certa
atração sexual fortíssima que estava nos consumindo devido aos últimos
meses de provocação.
Pensando bem sobre isso, eu precisava contar para os meus pais sobre
nós dois. As festas de fim de ano estavam chegando, e eu queria o Anderson
do meu lado em todas elas. Lembro também que ele me contou que o meu pai
o colocou contra a parede sobre a nossa situação, e eu justamente o escolhi
para namorar. Meu pai vai matá-lo.
Saio do banho e vejo que o Anderson havia me mandado uma
mensagem informando o horário que iria chegar na minha casa para me
buscar. Eu ainda tinha algum tempinho para me arrumar, então escolhi um
vestido preto de tecido leve. Ele desenhava as minhas costas em um decote
aprofundado e tinha uma fenda na minha perna esquerda; já a parte da frente
cobria bem os meus seios pequenos. Minha sandália prateada combinava com
o colar que decidi usar. Fiz uma maquiagem leve e prendi o cabelo em um
rabo de cavalo alto.
Quando escutei a buzina do seu carro, eu já estava o esperando na
sala. Saí e o encontrei ainda mais lindo do que eu me lembrava da noite
anterior. As lembranças do que eu fiz me deixaram novamente com
vergonha, já que eu estava aprendendo muito com ele.
Recrimino-me por ter lembrado, mas o modo como ele estava vestido
não estava ajudando a minha calcinha a se manter seca. Seu terno estava
desenhando perfeitamente o seu corpo na cor azul-escuro. Sorrio, totalmente
mexida por ele, e tenho certeza de que ele nota.
— Meu Deus! Eu não sei o que eu fiz na outra vida para merecer uma
mulher tão linda assim, mas eu agradeço aos céus por você ser minha! — Ele
estende a mão, e eu vejo o seu bracelete.
— O que você está querendo me elogiando desse jeito? — falo,
sentindo o meu rosto esquentar enquanto entrelaço os nossos dedos.
— Creio que você merece mais esse apelido do que eu, seu fujão! —
Volto a me encostar no banco, sentindo uma leve frustração.
Anderson passou a mão pelo meu ombro e deslizou seus dedos pelo
meu braço, puxando a minha mão para os seus lábios e beijando os nós dos
meus dedos, ainda observando o meu sorriso bobo.
— Creio que não tem nada mais lindo e com maior significado para
mim do que o seu nome. — Ele voltou em direção ao meu pescoço e
depositou seus lábios calmamente ali. — Então continuarei te chamando
assim, minha Hanna!
Aquilo tinha tanto carinho para mim, que eu tenho certeza de que ele
não conseguia nem imaginar a importância das suas palavras. O Matheus
(meu ex) gostava de me chamar de Anna naquela brincadeira de que o meu
nome estava errado, e escutar do meu namorado o quanto as letras na ordem
correta eram algo com muito significado para ele fazia meu coração tão
machucado e desconfiado se desprender ainda mais do meu passado.
Seu beijo veio logo em seguida, tomando conta da minha mente, que
se afundava no meu desejo de querê-lo por completo agora mesmo. Nossas
línguas se encaixaram, e seu corpo me empurrou no banco, trazendo a sua
outra mão para a minha nuca, para que eu me aprofundasse ainda mais em
seus lábios.
Eu conseguia sentir o seu tesão por mim nos seus toques e jurava que,
se encostasse em seu membro, ele estaria duro como uma pedra, mas ainda
estávamos no meio da rua do meu condomínio. Anderson deslizou uma mão
para a fenda da minha perna, e creio que, quando a sua mão encostou no
tecido, a sua lucidez retornou, deixando o ar entrar em nossos pulmões
novamente.
— Vamos logo para esse restaurante, antes que eu estacione o meu
carro na sua garagem e não saia mais da sua casa.
— Eu não ligo se quiser fazer isso! — Sorrio para ele, enquanto
passava os meus dedos sobre os meus lábios inchados.
— Nem pensar, eu já fiz as nossas reservas.
Pude conhecer um pouco mais do Anderson durante o caminho, já
que tivemos um pequeno tempo para comentarmos alguns fatos sobre nós e
sobre o nosso dia. Conclui também que ele era safado demais, já que sua mão
insistia em ficar na minha perna, e, ora ou outra, ele deslizava os seus dedos
em direção à minha intimidade, os quais eu tirava rapidamente, negando ficar
encharcada tão cedo.
— Acho que não precisa, meio que eles vão entender quando nos
virem juntos.
Suas mãos seguram a minha cintura, encostando-me em seu membro,
que estava bem presente entre nós. Eu não contenho o sorriso travesso por
pensar que o tesão que esse homem sentia por mim era gigantesco. Não vou
ser hipócrita de falar que é somente ele que sente isso, porque é recíproco.
— Tenho certeza de que a minha mãe irá fazer um show. Se prepare
para a vergonha alheia. — Deito minha cabeça para trás, visualizando de
canto de olho o seu rosto.
— Falando em vergonha alheia, você nem imagina o que eu tive que
passar por sua causa. — Meu coração acelera, e eu tiro as suas mãos da
minha cintura para poder girar o meu corpo e encarar o seu rosto.
— Por minha causa? O que aconteceu?
— Lembra daquela noite na casa dos meus pais?
Um calor imediato preenche o meu corpo ao me lembrar da cena de
nós dois na cama dele e da mãe do Ander batendo na porta e perguntando se
ele estava bem. Deus! Ela nos ouviu! Senhor! Que vergonha! Tinha certeza
de que a minha cara de espanto estava engraçada quando ele deu risada.
— Não acredito! — Levanto-me. — Sério mesmo? Sua mãe…
— Acho que sim.
— Por que você acha isso?
— Ela veio conversar comigo depois que você foi embora e falou
para a gente não ficar transando sem namorar. — Meus olhos, que eu já
achava estarem arregalados, arregalaram-se ainda mais. — E ela também
mencionou algo como “Meu quarto é em cima do seu”. — Seu sorriso
aparece, achando graça.
— Meu Deus! Que vergonha… — Coloco as minhas mãos na minha
frente, tampando o meu rosto. — Eu falei para você não continuar com
aquilo. — Empurro seu ombro, tentando demonstrar alguma raiva, mas meus
lábios estavam sorrindo.
— Não precisa ficar assim, foi bom, e você gostou. — Ele puxou a
minha mão, fazendo os nossos corpos caírem na cama, enquanto a nossa
risada preenchia o quarto. — Eu segui o conselho dela pelo menos, e foi a
melhor escolha da minha vida. E, de verdade, eu desconfio de que
deveríamos exercer esse conselho de novo. — Sua mão sobe, parando em
minha bunda.
— Vai me pedir em namoro de novo? — brinco com ele.
— Posso te pedir em namoro todas as vezes que a gente for transar
sem problema algum; afinal, você merece. — Seu beijo quente se aproxima e
me faz mergulhar nas sensações que nos últimos dias têm sido constantes.
— Agora não podemos, senão iremos se atrasar. — Paro o beijo,
evantando-me.
— Ahhh! — Anderson reclama, levantando-se logo em seguida para
vir na minha direção. — Por que você tinha que ser tão viciante? Eu quero
fazer de novo. — Ele encara meu corpo inteiro, fazendo-me pensar que talvez
a minha roupa esteja um pouco provocante.
— Já fizemos de manhã; então, sossega. Quem sabe você consiga
algo depois que voltarmos — digo, andando para fora do quarto.
— Então vamos logo, para voltarmos logo. — Ele passa na minha
frente, abrindo a porta da sala.
— Céus! Que pressa é essa? Pode relaxar, que a gente vai passar o dia
lá — brinco com ele, e o seu rosto muda.
— Não me obrigue a te comer na casa dos seus pais. — Ele fala sério,
e, desta vez, sou eu que paraliso com a sua resposta.
— Você não teria coragem. — Semicerro os meus olhos, passando do
seu lado, e vou em direção ao carro.
— Eu literalmente analiso todos os lugares em que estamos para
poder transar com você. — Anderson se aproxima e direciona o seu olhar
para baixo quando fica na minha frente. Por que eu escolhi rasteirinhas hoje?
Me sinto uma smurf. — Então, sim! Eu teria coragem! — Ele sorri,
convencido, e abre a porta para mim.
— Nem tente. — Coloco autoridade nas minhas palavras, mesmo
sabendo que ele não as obedece.
Ajeito-me no banco, ainda analisando as suas palavras, enquanto ele
atravessava o carro para podermos sair. Rapidamente sua mão veio parar na
minha coxa assim que ele começou a dirigir e por ali ficou durante todo o
percurso. Eu escolhi um vestido mais curto do que normalmente uso, e isso
estava fazendo o Anderson querer pegar na minha bunda o tempo todo. O
tecido era de seda branca e modelava o meu corpo. Estava um dia gostoso,
então eu queria usar algo fresco, mas, agora, pensando bem, eu me tornei
uma presa fácil. Seu rosto demonstrava que ele iria tentar algo contra mim o
quanto antes.
Minha semana pareceu demorar para passar. Eu queria ver a Hanna
todos os dias, mas infelizmente não conseguimos tempo, e a minha ansiedade
só aumentava. Quando, enfim, parei de sonhar com ela por estarmos mais
tempo juntos, comecei estranhando por não tê-la lá depois de tantos dias, mas
eu a desejava mesmo assim. Acordava sempre com o meu pau duro querendo
alívio, então eu ignorei minhas necessidades durante a semana para atacá-la
no sábado logo pela manhã, assim que cheguei à sua casa.
Hanna estava mais solta depois das coisas que me contou sobre o seu
passado. Eu conseguia sentir que antes algo a segurava muito; ela tinha os
motivos dela, assim como eu tinha os meus, mas, em nenhum momento, eu
imaginei que iria se tratar de um cara que tirou a sua virgindade por dinheiro
e que se aproveitou do seu status social para enganá-la. Agora eu entendia o
porquê de aquele filho da puta ficar correndo atrás dela sem parar.
Vê-la tão bem junto comigo me deixava realmente feliz e, pela
primeira vez na minha vida, eu estava sentindo um carinho diferente por
alguém.
Uma preocupação constante com o bem-estar dela, um desejo de
mimá-la, uma sensação de felicidade que não me deixava, e eu queria muito
que a nossa relação desse certo; então, me acertei com o Kauan (mesmo ainda
duvidando dos seus atos) e, agora, eu queria me acertar com o pai dela e com
quem mais fosse necessário para que ficássemos bem.
— Bobo! — Ela ri. — Vamos tomar logo esse café e sair daqui. Eu
quero ir para casa!
Céus! Essa mulher com certeza vai acabar comigo de tantas formas
possíveis, que eu já notei o quanto eu virei refém dos seus toques e beijos!
Batuco os dedos na mesa, ansioso pela sua chegada. O café está
completamente vazio devido ao horário e, pelo jeito quase, ninguém vem em
uma cafeteria em uma segunda às 14:00h. Olho novamente para a porta
quando escuto o sino indicar que alguém havia entrado, mas não era ele, e
sim uma moça que foi direto para a vitrine observar os bolos. Eu não o
conhecia pessoalmente, mas sabia que se tratava de um homem que iria vir
falar comigo. Busco o meu celular em meu bolso enquanto molho a minha
boca na xícara de café e observo a tela, na esperança de que tenha alguma
mensagem, mas não tinha nada. Ele estava atrasado há 15 minutos. Talvez
não tenha acreditado na minha conversa e simplesmente desistira de vir.
Comecei a pensar que toda essa vingança que eu estou planejando
seja um pouco demais, mas é claro que o Anderson não pensou assim quando
me apunhalou pelas costas e me fez de otário por todo esse tempo. Eu queria
que ele sentisse tudo o que eu senti ao descobrir sobre os dois. Eu também
queria a Hanna para mim. Falei isso para ele desde o primeiro dia em que a
vi, então era evidente que eu tinha motivos suficientes para querer acabar
com aquele maldito. No fundo, eu estava sentindo que tudo isso estava
ficando extremo demais, mas eu não queria voltar atrás agora.
— Você é o Kauan? — Escuto a voz na minha frente e encaro o rapaz
com cabelo liso.
— Sim! — Sorrio, aliviado por ele ter vindo. — Matheus, não é
mesmo?
— Boa tarde, Hanna, tudo bem? Quanto tempo. — Ela fala assim que
fecha a porta.
— Boa tarde, doutora. Queria vir para poder fazer um check-up. —
Ajeito-me na cadeira, e ela senta logo em seguida.
— Que bom, já vou pedir a liberação para os seus exames aqui. —
Ela digita em seu notebook. — Me conte, no que mais eu posso te ajudar
hoje?
— Eu não estou utilizando nenhum método contraceptivo no
momento, então gostaria de ver o que seria o mais indicado para mim.
— Isso é muito bom. Vamos fazer o seguinte: vou te entregar as
requisições dos exames, tanto de sangue quanto de imagens, para vermos se
está tudo bem com você e, daí, poderemos escolher o melhor método.
— Certo.
— Os de sangue você pode fazer hoje mesmo no andar de baixo. Tem
alguns aqui que você não precisa estar em jejum. Os resultados saem em dois
dias úteis. — Ela coloca os papéis na minha frente, indicando cada folha. —
Esses outros exames são ecografias. Você vai ter que marcar com as meninas
da recepção. O resultado sai no mesmo dia.
— Você nunca teve chances com ela, Tony. Vai atrás das meninas da
sua idade.
— Relaxa, agora estou namorando. — Essa informação deixou até a
Hanna indignada. — Fico feliz em saber que nós, os homens Magalhães,
conseguimos mulheres tão lindas. Está de parabéns por ter parado de ser tão
burro, irmãozinho.
— Ele está pedindo para apanhar — falo para a Hanna, e minha mãe
aparece logo atrás dele.
— Meu Deus, que surpresa boa! — Minha mãe diz, piscando sem
parar, como se tentasse entender o que estava acontecendo ali. — Vocês por
aqui!
Hanna se esconde um pouco atrás de mim e entrega uma de suas mãos
nas minhas, para que eu recebesse a minha mãe primeiro.
— O Tony estragou a surpresa, mãe! — Sorrio para ela, mas logo o
meu sorriso some quando minha mãe vem ao meu encontro e eu vejo a
pessoa atrás dela.
— Brenda — falo, vendo-a se aproximar de nós também.
Por que a minha ex está aqui? Eu não planejei este dia assim.
MERDA!
Hanna procura os meus olhos, sem entender a minha reação imediata,
que provavelmente deve ser uma cara fechada por ver a Brenda aqui. Ela
continua igual a quando namorávamos, com o mesmo estilo de roupas
casuais, o mesmo cabelo curto ruivo, e consigo até notar que ainda está
usando um colar que dei a ela de aniversário. Aquele colar não simbolizava
tanto para mim quanto aparentemente simbolizava para ela, já que eu o
comprei às pressas minutos antes de chegar à sua festa, porque eu havia me
esquecido da data.
Encarei a minha mãe, que continuava sorrindo, tentando manter a
situação amenizada, mas meus olhos lhe pediam respostas. Em hipótese
alguma eu imaginei que a minha mãe pudesse receber a minha ex aqui. Ela
era a última pessoa que eu queria ver hoje na face da Terra; para piorar a
situação, meu irmão fez uma cara de que agora eu estava lascado.
Quando os meus olhos retornaram para a Brenda, ela já estava
próxima demais de mim e, sem que eu lhe desse abertura, ela me abraçou. Ela
é mais alta que a Hanna, então consegue alcançar o meu pescoço sem
dificuldade alguma.
— Ander, quanto tempo, que bom te ver. — Sua voz sai em alto e
bom som enquanto eu me afasto assim que consigo.
— Brenda, por que está aqui? — Sou direto, vendo minha mãe fazer
uma cara de reprovação pelas minhas palavras ásperas.
— Eu vim fazer uma visita para a sua mãe. — Seu olhar encara a
Hanna, que agora não está mais atrás de mim.
— Depois de anos? — falo, indignado.
— Anos? — Anthony fala, no meio de uma risada presa.
— Na verdade, filho… — Minha mãe vem até mim e pega em meu
braço. — A Brenda vem aqui desde que vocês … — Ela olha para a Hanna,
percebendo que só iria piorar a situação. — Desde sempre, ela nunca deixou
de vir.
Suas palavras são como um choque para mim, já que em nenhum
momento a minha mãe me comunicou que a minha ex ficava vindo na nossa
casa para que elas ficassem com conversinhas fiadas. Talvez ela tenha
omitido isso por saber que eu não iria gostar nenhum pouco disso,
exatamente como não estou gostando agora.
Quando eu comecei a namorar a Brenda, minha mãe e ela se tornaram
grandes amigas, e provavelmente a minha ex comunicava as coisas de que
não gostava em mim, porque eu recebia muitos conselhos. Não demorou
muito para que eu terminasse com toda essa chatice. Não consigo me lembrar
ao certo, mas tenho a leve impressão de que o nosso namoro durou uns três
meses.
— E você deve ser a nova namorada do Ander. — Brenda fala,
fazendo-me retornar à realidade. Ela estende a mão para a Hanna, que me
encara e move as suas sobrancelhas em questionamento enquanto aperta a
mão da minha ex! — Prazer, eu sou a Brenda.
— Eu sei! — Hanna demonstra a autoridade que ela sabe que tem.
— Me chamo Hanna! — Em um piscar de olhos, ela deixa a minha ex
de lado, ignorando-a por completo, e vai em direção à minha mãe, abraçando-
a. Creio até que eu cheguei a sorrir com a cena. — Bom dia, Dona Magda,
que bom revê-la! Desculpa vir incomodá-la logo cedo. Você conhece o seu
filho, né?
Percebo que a minha mãe está incomodada, mas tenta manter a
situação sob controle. Mesmo assim, a minha raiva permanece. Este final de
semana não era para ser assim.
— Vocês não estão incomodando. Imagina, Hanna. Pode ficar
tranquila, minha filha! — Ela bate as mãos com carinho nas costas das Hanna
e a solta. — Já tomaram café? Eu e a Brenda acabamos de sair da mesa,
vamos voltar para lá.
Sinto-me desconfortável com a situação, mas decido simplesmente
ignorar a presença dela, assim como a Hanna, que com certeza já entendeu
tudo o que está se passando aqui. E, se ela estiver com raiva de mim ou de
alguém, ela está disfarçando muito bem, porque o seu sorriso não demonstra
o incômodo que essa circunstância formou — isso levando em conta que até
o meu irmão parecia incomodado.
Assim que chegamos à mesa, eu puxo a cadeira para ela, que se senta
no mesmo lugar em que esteve na primeira vez, e eu me sento ao seu lado.
Minha mãe estava na minha frente, Antony de frente com a Hanna, e a
Brenda se sentou entre mim e a minha mãe.
— Nossa, Ander, como você está mudado! Tão atencioso com a sua
namorada! Você não era assim. — Brenda abre a boca, e minha mão mastiga
um pedaço de pão, completamente sem jeito.
— As pessoas mudam. Mãe, me passa a garrafa de café — respondo-
lhe apenas por educação e me desvio dos seus assuntos.
— Me conte, filho, como foi a viagem de vocês? Vieram bem rápido,
né?
Hanna estava cortando pedaços de morangos em seu prato quando
parou imediatamente com a faca, e seus dedos tensionaram sob o metal ao me
encarar. Provavelmente ela estava lembrando que, há algumas horas, ela
estava toda molhada com o meu gozo entre os seus seios no banheiro daquele
avião. Sorrio ao me lembrar também e volto a olhar para a minha mãe.
"Pode deixar."
Volto para os meus afazeres antes de ter que sair para ir à minha
consulta.
Pelo menos a gente não estava naquele clima todo estranho de não se
suportar no mesmo ambiente. Eu me questionei várias e várias vezes se o fato
de estarmos tão afastados prejudicaria a nossa empresa, mas concluí que não
quando ele continuou dando o seu melhor.
— Você vai à confraternização da empresa, né? — Ele se senta na
minha frente.
— Vou sim, por quê?
— Hoje eu não vou beber, porque amanhã eu terei que fazer alguns
exames de sangue, coisa de rotina mesmo, e queria ver se você vai querer
uma carona. — Surpreendo-me com a sua proposta. Faz tempo que não
saímos juntos também.
— Fechou, cara!
— Não demore para se arrumar, príncipe Naveen! — Ele brinca, para,
talvez, retornar ao normal toda a nossa situação; afinal, estávamos
construindo essa empresa juntos. Seria muito estranho se continuássemos
assim.
— Você que não se atrase, pirralho! — chamo-o como eu sempre fiz,
e ele se levanta, saindo da sala em seguida.
Acho que ele amadureceu muito nesses últimos meses. Talvez tudo o
que eu falei para ele tenha, enfim, colocado um pouco de juízo na sua cabeça.
"Não falei com ele hoje, não. Quer que eu ligue para
ele, Hanna?"
Decido abrir a conversa dos dois, com certeza estão falando sobre
mim. Acho que é algo referente à noite de ontem. No instante em que abro a
mensagem, ele manda mais uma, fazendo-me focar a nova mensagem, e não
a conversa antiga.
Meus olhos passam rapidamente pelas letras, e a raiva me consome no
mesmo instante, fazendo com que eu sinta as minhas mãos apertarem o
aparelho.
Porra, que merda é essa?
"Não falei com ele hoje, não. Quer que eu ligue para
ele, Hanna?"
Que assunto é esse que só os dois têm para acertar e eu estou de fora?
O que a Hanna não pode me falar? E como assim sexta você vai estar livre,
seu imprestável?
Porra, eu vou surtar!
Passo as minhas mãos sobre a minha boca, sentindo toda a raiva
percorrer o meu corpo. Ele me falou que iria para a casa da mãe dele, ele
inventou um aniversário só para não ir para o Rio Grande do Sul na
inauguração da própria empresa? Tudo isso só para poder se encontrar com a
Hanna. Deus, que merda!
— Amor? — Levo um susto com a voz da Hanna. — O que você está
fazendo? — Ela encara o seu celular na minha frente e retorna os seus olhos
para mim.
— Nada! — Ando em sua direção, mas paro sem ao menos saber por
que eu menti. Eu quero esclarecer essas mensagens agora. — Estava te
esperando!
— Me esperando? — Sua expressão é inconclusiva. Ela está brava?
— Mexendo no meu celular enquanto isso? — Sim, ela está brava!
— Eu acho que a gente precisa conversar! — Declaro, por fim,
pegando o seu celular de cima da mesa e entregando nas suas mãos.
— Vamos para a sala! — Seu rosto torna-se sério, e ela vira as costas
para mim.
Os segundos que levamos a cada passo lento que demos até a sala
foram o bastante para que eu pudesse pensar no que falar, mas somente um
monte de questões surgiram, e nada fez sentido em minha mente. Em nenhum
momento, Hanna olhou para trás até chegarmos ao sofá — e droga, era eu
que deveria estar bravo aqui!
Ela e o Kauan estão fazendo algo pelas minhas costas, e eu estou que
nem bobo aqui, então por que ela está tão brava? Ela se vira para mim
quando os seus pés encontram o centro da sala.
— O que você quer conversar que justifique você mexer nas minhas
coisas, Ander? — Certo, vamos nos tratar pelos nossos nomes agora. — Você
está desconfiado de algo? — Sua sobrancelha se levanta, e a sua voz
demonstra um aperto em meu peito.
— Nada justifica eu mexer nas suas coisas e já peço desculpa por
isso, mas eu preciso saber o que são essas mensagens entre você e o Kauan?
— disparo e tento falar no tom mais tranquilo possível. Seu rosto fica pálido!
Eu sabia, tinha algo escondido!
Hanna imediatamente abre a tela do seu celular e lê as mensagens
daquele idiota. Eu precisava conversar com o Kauan de novo e não garanto
que dessa vez a conversa será tão amigável quanto da última.
Porra, eu estava voltando a acreditar naquele idiota.
— Ander, eu não sei por que ele escreveu dessa forma tão sugestiva,
mas não é nada disso que você está pensando! — Por que todos falam isso
quando realmente acontece alguma merda?
— Não é? — falo, desconfiado.
— O Kauan te falou alguma coisa? — Ela se aproxima.
— Que tipo de coisa ele deveria ter me falado se claramente eu não
estou sabendo de nada? Porra! — Saio da sua frente, e Hanna aparenta
preocupação após escutar as minhas palavras.
Por que ela estaria envolvida com assuntos da minha empresa que não
fossem sobre a nossa parceria? Meu Deus, que confusão é essa? A cada
segundo, eu me sinto ainda mais irritado por estarmos discutindo sobre tudo
isso.
— Hanna, em poucas horas, estarei viajando e não quero ir com essa
dúvida para Brasília! — Esfrego a minha têmpora! — Se não me falar o que
realmente está acontecendo, além de eu ir cheio de paranoias, a gente vai
ficar nessa situação! — Fixo o meu olhar no dela, e eu vejo o crescente terror
correr pelos seus olhos!
— Eu não posso te dizer muitas coisas, porque eu não sei dos
detalhes, mas aparentemente… o Kauan caiu em um golpe e gastou muito
dinheiro da empresa de vocês! — Ela revela, por fim, apreensiva.
MAS QUE CARALHO! A nossa empresa estava envolvida em um
golpe e, pior ainda, com um furo no financeiro que eu não observei? Desde
quando a Hanna sabia dessa situação? E por que eu não estava ciente disso?
— Por que você sabe disso? Por que está envolvida? O que o Kauan
te pediu? — Meus dentes ficam semicerrados após disparar as perguntas, ao
passo que seu rosto fica ainda mais branco.
— Por favor, Ander, ligue para o Kauan e converse com ele. — Ela
aponta para o meu celular no bolso. — Eu juro que não sei de nada.
— Não tem como te entender, Hanna! Me fala logo tudo, eu estou me
sentindo um idiota suplicando essas informações para você, sendo que eu
deveria estar sabendo disso já.
— Eu o ajudei! Nada de mais! — Seus olhos estavam medrosos.
— Eu vou embora! — Saio da sua frente, desistindo da nossa
conversa, e vou em direção à porta, segurando o trinco, com raiva disso tudo.
— Ander! — Ela se levanta, assustada, e vem até mim! — Vai ir
assim? Sem a gente se acertar? — Hanna segura minha mão.
— O que mais eu tenho para fazer aqui? Você não quer que a gente se
acerte, Hanna! Você está omitindo as coisas!
— Não fala dela, seu fodido. Eu já falei para não tocar no nome dela.
— Vou para cima dele, segurando na gola da sua camisa.
— Acho melhor você tirar as suas mãos de mim! — Ele para de
sorrir, mas ainda se mantém sério. — Eu coloquei câmeras nesta sala. —
Suas mãos apontam nas direções das lentes que nos filmam.
— Você fala dela como se ela fosse um objeto, seu animal nojento. —
Se eu o agredir agora, ele terá provas contra mim e será pior. — Acha mesmo
que ela vai acreditar nesse esquema todo? Acha mesmo que ela ficaria com
você?
— Ela não acreditaria em mim se eu lhe mostrasse que o precioso
namoradinho me enganou em um golpe para roubar o dinheiro dela? E, pior,
que você está gastando tudo com prostitutas? Acha mesmo que ela não
acreditaria nisso? — Ele com certeza sabe algo sobre o passado dela. — Você
acha mesmo que ela não acreditaria nessas fotos com uma mulher nua em
cima de você? Uma mulher que ela já viu se agarrando em seu pescoço e
fazendo uma surpresa cheia de corações...
Deus, ele armou essa merda tão bem-pensado, que eu me sinto
envergonhado por ter caído, e, pior, eu sei que ele quer algo em troca; tudo
isso aqui não seria em vão.
— E o que você quer de mim, Kauan? Quer dinheiro? Quer separar a
nossa sociedade? Que porra você quer, seu filho de uma puta?
— Termine com ela! — Ela dispara seriamente, e meu peito se arde
com a sua sugestão. — Termine hoje mesmo. Sei que vai ser moleza para
você fazer isso, porque você terminava direto com as várias mulheres com
que você já saiu.
— Eu não vou fazer isso. Você só pode estar delirando, né? Kauan,
pelo amor de Deus, abra os seus olhos, você está fazendo tudo isso por uma
mulher que não sente o mesmo por você; está acabando com a minha e a sua
vida à toa, apenas porque não conseguiu aquilo que você queria. Para de ser
infantil! — falo, ofegante, como se a minha garganta estivesse esmagada.
— Você pode até estar certo sobre ela não sentir nada por mim, mas
eu tenho certeza de que, assim que ela vir qualquer um desses envelopes, ela
vai precisar de um ombro para chorar, e vai ser o meu.
— Para com isso, por favor… — suplico, não querendo aceitar as
suas palavras.
Ele se sentou, e eu fiz o mesmo, puxando uma grande manta que fica
em cima do sofá apenas por decoração para cobrir o meu corpo.
— Hanna… — Ele pega a minha mão e a beija. — Eu vou te pedir
uma coisa muito difícil de aceitar, mas eu quero e eu preciso que confie em
mim. Não estou fazendo isso por maldade.
— E o que exatamente eu preciso aceitar? — Sinto a minha mão ficar
trêmula e gelada pelo nervosismo que cresce dentro de mim.
— Vamos dar um tempo.
O meu coração apertou no peito, e o ar me faltou, quando escutei as
suas palavras. Pensei até em dar risada, mas eu vi em seus olhos que ele
estava falando a verdade. Ele estava querendo terminar!
Senti como se algo tivesse me empurrado com toda a força para o
chão sem ao menos eu saber o motivo da agressão, mas eu sabia que não
estava sendo agredida; eu fui dispensada, e tudo o que eu achei saber sobre o
Anderson desapareceu com o desespero das suas palavras, deixando-me em
uma corda bamba.
— Um tempo? — Meus olhos imediatamente se enchem de lágrimas,
mesmo sem que eu queira. — O quê? Como assim? Por quê?
— Amor… — Ele puxa os meus braços para perto dele, e eu vou. —
Não será para sempre, eu preciso resolver alguns assuntos e vou precisar me
afastar por um tempo.
— Tá, mas não precisamos dar um tempo para você poder resolver os
seus assuntos. — Eu aperto os seus dedos, e uma lágrima desce pelo meu
rosto. — Tudo isso é por causa do dinheiro que eu dei para o Kauan? Ele te
explicou a história direito?
— Não é nada sobre esse assunto, eu juro. — Sua boca tremeu ao
falar. — Eu só estou te pedindo para aceitar e acreditar em mim, não será por
muito tempo. — Ele me abraça, e eu noto a dor na sua voz. Mais lágrimas
descem pelo meu rosto.
Sinto que ele estava falando a verdade, mesmo sem eu poder saber do
que se tratava a nossa separação. Céus! A gente está se separando mesmo?
— Você prometeu que não iria sair do meu lado. — Minha voz está
mais aguda que o normal pelo choro entalado na garganta.
— Eu não estou saindo, Hanna. Aquilo que eu falei ainda é verdade.
— Ele se justifica.
— Ander, você sabe que pode dividir as coisas comigo. Me conta o
que está acontecendo? — Seguro o seu rosto entre as minhas mãos, e seus
olhos também se enchem de lágrimas. — Ander… Por favor…
Ele corta aquele contado nosso sem me responder, saindo
rapidamente de perto de mim, deixando-me naquele chão frio com uma
sensação horrível no coração, Anderson começou a se vestir, e eu me levantei
em seguida, cobrindo-me com a manta. Eu não sabia como, mas o meu
celular estava no chão e apitou, acendendo a tela com uma mensagem do
Kauan. Peguei o aparelho na mão para, em seguida, caírem quatro fotos.
Desbloqueei a tela e me deparei com uma das piores coisas que eu poderia
ver hoje.
— É por causa disso? — Ele me encara, abalado. — É por causa disso
que está querendo um tempo, Anderson? Quer um tempo mesmo ou quer
terminar?
Expulso as palavras com raiva, sentindo-se usada por ele, enquanto o
choro retorna com ainda mais força. Ander se aproxima e pega o celular da
minha mão, vendo do que se tratava as imagens: ele parcialmente nu com
aquela tal Érika totalmente pelada em cima do seu corpo.
— Hanna, isso não aconteceu! — O desespero toma os seus olhos.
— Não aconteceu? Então por que as provas estão bem na minha mão?
— Quase grito.
— Eu fui drogado, não me lembro de nada disso, e eu não transei com
ela!
— Se você foi drogado, como sabe que não transou com ela?
Anderson, você sabia do meu passado, sabia que eu não aguentaria uma
traição dessas e, mesmo assim, você fez isso comigo? — Bato o celular
contra o seu peito, sentindo o meu coração ser esmagado em meio às minhas
palavras molhadas pelo choro.
— Hanna, acredita em mim, por favor! — Sua voz me causava
desespero.
— E ainda por cima você teve coragem de vir aqui usar o meu corpo
para o seu prazer para depois fazer toda essa cena?
— Não, você sabe que eu não faria uma coisa dessas.
— SAI! — grito, jogando o celular contra o vidro para não acertar
nele. — SAI DAQUI, ANDERSON! VOCÊ NÃO QUERIA UM TEMPO?
POIS PODE IR EMBORA, NÃO PRECISA NEM VOLTAR MAIS AQUI!
— Pode tentar, mas, com as provas das coisas que eu tenho contra
você, eu sei que não irá conseguir nunca me superar.
— Você também não irá conseguir ficar com ela. Ela é totalmente
minha, e isso não vai mudar só porque eu ficarei longe. — Afasto-me, indo
em direção à porta da sua sala. — Não se acostume com isso, Kauan. Uma
hora a sua máscara vai cair.
— Tem muitas coisas nas nossas vidas que não fazem sentido no
momento em que estamos passando por isso. São como se fossem muros
enormes que não têm saída, mas umas das maiores coisas que a vida já me
ensinou é sobre ter paciência exatamente nesses momentos, Hanna!
— É, eu também acho… — comento com dificuldade, sentindo os
meus olhos me traírem. — Como lidamos com a saudade?
— Não lidamos, querida. A saudade sempre estará ali, você convive
com ela, ignora ela, daí você sai, toma um café, conversa, dá risada, respira
fundo e depois sente a saudade de novo. Até o momento que talvez, apenas
talvez, todo esse sentimento se evapore e você consiga esquecer que a
saudade esteve ali.
— Você é realmente um ótimo psicólogo, senhor Diogo — comento,
dando risada, enquanto limpo os últimos vestígios de dor que escorrem pelo
meu rosto. — Obrigada, de novo. Creio que ainda precisarei de muitos
conselhos!
— Eu estarei sempre aqui, minha filha. Fico feliz de ter ajudado nem
que seja um pouco. — Observo que já chegamos à empresa.
— Ajudou muito. — Abro a porta e me despeço dele.
— Bom dia, Andréia, pode vir aqui na minha sala? — falo assim que
chego à sua mesa.
— Meu Deus, o que eu fiz? — Ela se levanta depressa, seguindo-me.
— Você não fez nada. — Dou risada. — Mas vai fazer por mim.
Fecha a porta, por favor.
— Sim, ele falou que estará disponível depois das seis horas.
— Só depois das seis? — falo, indignada. — Fica muito tarde para eu
ir lá.
— Quer que eu cancele?
— Não, eu realmente preciso conversar com ele, então eu vou nesse
horário mesmo.
— Quê? Você já sabia que ele queria terminar comigo? O que ele te
falou?
Meus olhos acompanham os seus movimentos enquanto ele não
consegue me encarar de volta. Então, o Kauan se afasta para sair da sala
completamente sem motivos, entrando na sala do Ander, que era de frente
para a sua, deixando-me ainda mais assustada. Eu o sigo sem que ele me
chame e rapidamente fecho a porta. Não sei o que ele vai me mostrar, mas já
começo a sentir que não será coisa boa.
Suas mãos digitam a senha do computador do Ander, e Kauan acessa
várias pastas de arquivos, chegando a uma que estava praticamente vazia,
com apenas uns quatro arquivos. Então, o mouse escolhe um deles.
— Hanna, me desculpe mesmo por eu não ter avisado sobre isso. Eu
achei que ele iria mudar de ideia após tudo o que vocês viveram. Você é uma
mulher tão incrível, que eu achei absurdo o fato de ele querer terminar por
uma besteira dessa, mas…
— Me mostra logo! — corto-o, sentindo uma mistura de raiva e
desespero.
Ele, enfim, clica no arquivo e se vira, saindo de perto do computador,
e eu me aproximo da mesa, sentando-me na cadeira de Ander. Quando o
vídeo se inicia, eu sinto uma náusea gigantesca crescendo dentro de mim, e
minhas mãos começaram a tremer, percebendo cada detalhe do que aquele
vídeo se tratava.
Eu reconheceria aquele carro em qualquer lugar do mundo, mesmo se
não houvesse eu e o Matheus no vídeo, e mesmo se não desse para ver o
interior do carro. Só de escutar a voz daquele cretino, eu poderia vomitar. A
imagem já não estava tão nítida, e a minha cabeça girava, deixando-me tonta.
Mesmo assim, as lágrimas nasceram nos meus olhos, deixando-me ainda
mais vulnerável.
Senti um arrepio passar pela minha nuca enquanto o meu estômago se
fechava mais e mais vendo os segundos se passando naquela filmagem. Eu
conseguia escutar a minha respiração acelerada pelo desespero e, junto com a
dor que eu sentia, a raiva crescia também. Em um momento de fuga do que
eu estava vendo, as minhas mãos simplesmente pegaram aquela tela,
mandando-a para o chão sem piedade.
O Kauan se afasta do meu movimento, para, depois, vir até o meu
lado novamente. Meu mundo simplesmente caiu em cima de mim sem aviso
prévio. Eu vim até aqui para receber algum tipo de resposta sobre aquele dia
tão fatídico e recebi o meu passado embrulhado de presente acertando a
minha cara.
Como ele conseguiu isso?
Seu rosto estava assustado, manchado pela maquiagem que escorreu
junto com as suas lágrimas ao ver o vídeo em que ela está exposta com o
Matheus. Só de pensar que tudo deu tão certo, eu me excito vendo a sua ira
exercida contra o computador do Ander, que agora estava em pedaços no
chão.
Quando a secretária dela me mandou mensagem me avisando que ela
estava querendo conversar comigo, eu elaborei uma forma de tentar descobrir
se o término dos dois realmente tinha acontecido e também achar alguma
forma de ela se apoiar em mim, então eu corri para a sala do Ander e passei o
vídeo que eu havia comprado do Matheus para os arquivos dele. Dependendo
da nossa conversa, eu iria ver como eu poderia mover as peças desse nosso
jogo de xadrez.
No fim, tudo saiu muito melhor do que o planejado. Eu não tinha
certeza ainda se eles haviam terminado e o que o Anderson havia contado
para ela, mas aos poucos ela dividiu as informações necessárias sem pensar
duas vezes.
— Calma, Hanna, eu tô aqui! Me desculpa por isso — digo, indo até
ela e a abraçando, como se ela fosse um passarinho machucado. — Eu não
deveria ter te mostrado.
Seu rosto se afunda em meu peito, enquanto eu sinto as suas lágrimas
molharem a minha camisa. Tão vulnerável de uma maneira que eu nunca a vi
e, porra, eu estava adorando ver isso — era isso que eu queria, ela aqui, nos
meus braços.
— C-como? — Sua voz sai abafada. — Da onde veio esse vídeo? —
Ela olha nos meus olhos, e sinto que ela estava desorientada.
— Eu não sei, não sei como ele conseguiu, Hanna, mas me desculpa
por ter te mostrado. Eu não queria ter te deixado nesse estado. — Afago a sua
cabeça em meu ombro, acariciando os seus cabelos.
Não posso deixar aquele ser humano desprezível acabar com o meu
relacionamento por meio de tantas mentiras.
— Ok! — Eu consigo notar as engrenagens da cabeça do meu
advogado trabalhando para entender tudo. — Consiga esse vídeo, e vamos
colocar esses dois atrás das grades.
— Pode deixar comigo!
Um MÊS!
Um mês inteiro sem notícias dela!
Sem vê-la, sem tocá-la, sem beijá-la.
Exatos 31 dias sentindo uma angústia torturante por ter me afastado.
Essa semana foi realmente uma das piores da minha vida toda,
porque, no começo, quando tudo aconteceu, eu estava muito focado em
conseguir todas as provas, então os dias passavam mais rápido, mas, agora
que a minha busca tinha estagnado, eu só conseguia me frustrar ainda mais
por não ter a minha pequena comigo.
Eu sentia a cada segundo que eu estava fazendo a maior loucura da
minha vida por ela, mas eu precisava limpar o meu nome antes de contar tudo
para a Hanna. E o meu pai me ajudou com toda a questão da empresa e dos
advogados. Conseguimos as provas necessárias das fraudes de Kauan sobre
cada boleto e e-mails falsificados, além, é claro, da falsificação de identidade
para obter a vantagem em abrir uma conta no banco em meu nome.
Então, na última semana, mantive-me em Brasília acertando tudo que
fosse necessário para desvincular o seu nome da empresa, buscando por
provas, que consegui com muito esforço. Ainda faltava uma última coisa a
ser feita: eu teria que ir até a única pessoa que poderia me salvar de todas as
provas criadas pelas fotos do Kauan.
Érika.
Eu poderia jurar que denunciar o Kauan por tudo que ele fez estava
sendo mais fácil do que criar coragem para enfrentar aquela mulher louca e
descontrolada, mas eu precisava fazer isso pelo meu relacionamento. Agora
mesmo eu estava em frente ao restaurante, com receio de entrar, mas também
com medo de que ela não estivesse trabalhando hoje.
— O que aquele idiota fez? Eu falei para ele não magoar você. EU
VOU ACABAR COM A VIDA DAQUELE MOLEQUE. — Meu pai fala,
chamando a nossa atenção por sair do jardim no mesmo instante, indo em
direção à garagem da mansão.
— Meu Deus, pai! — falo, assustando-me com a sua reação. — ELE
NÃO FEZ NADA! — tento chamar a sua atenção, mas ele já estava longe em
seus passos largos.
— Richard, escute a Hanna primeiro. — Minha mãe e eu começamos
a ir atrás dele e o alcançamos somente porque ele parou ao lado do seu carro.
— Eu conheço esse seu olhar, filha. É o mesmo olhar de quando o
Matheus te enganou. — Meu pai pega a chave da sua SW4 em cima da
bancada. — Eu não quero nunca mais ver você assim, Hanna, e eu tinha
falado isso para ele. Então, é claro que eu vou atrás daquele…
— Por que você não contou antes, Hanna? Esse garoto era para estar
atrás das grades por isso. — Vejo a lágrima descer pelo rosto da minha mãe
enquanto ela fala. — Me desculpa, filha, eu não sabia disso, eu deveria ter
notado…
— A culpa não é de vocês. Eu me coloquei nessa situação. Não se
sintam culpados, eu já estou resolvendo isso tudo.
— Como? — Meu pai volta para a nossa direção.
— O Paulo está neste exato momento tentando juntar provas
suficientes para abrir um processo contra ele, e… também contra o Kauan.
— Por que o Kauan, filha? — Minha mãe levanta os olhos, que já
estão mais secos.
— Porque ele está chantageando o Ander com esse vídeo. Pelo menos
eu acho que está. Toda a situação está bem confusa no momento para mim,
então eu também estou sem muitas respostas; enfim, a história é realmente
bem complicada. Eu só queria vir aqui desabafar com vocês sobre isso,
porque o processo será longo a partir de agora e estará envolvendo a nossa
empresa com a Aluxmil.
Meus pais voltam para perto de mim, abraçando-me novamente.
— Ok, está perdoada. Agora pode ir. Volte para o restaurante. O seu
chefe deve estar preocupado já. — Demonstro tranquilidade para ela.
— Obrigada, Ander! Você é um homem muito bom. Cuide bem da
sua namorada, ela vai precisar de você! — Érika sai em seguida, voltando
para perto da Meg.
Eu sei!
Meu corpo estava dolorido. A minha cabeça também estava pesada,
como se um caminhão tivesse passado por cima de mim. Eu queria desligar,
apagar o que eu havia passado nas últimas horas, mas aqui estava eu, tendo
que detalhar cada coisa que aconteceu, torturando-me com os detalhes de que
eu conseguia me lembrar.
O Kauan estava preso. Não sabíamos ao certo o que a polícia iria
decidir, mas as provas contra ele eram várias. Eu nem imaginava que toda
aquela cena estava sendo filmada, além das ameaças e do meu vídeo.
Fazia muito tempo que ele não me via completamente sem roupa.
Acho que apenas algumas vezes ele me viu de calcinha com alguma camiseta
sua na hora de dormir e, por isso, eu estava me sentindo envergonhada
novamente, mas a vergonha durou pouco quando os seus beijos em cima das
minhas pintinhas começaram a se espalhar pelo meu corpo, trazendo à tona
lembranças boas. Era estranho perceber que a pessoa com quem eu tinha
criado tanta intimidade estava me deixando nervosa, mas o meu corpo estava
recebendo os seus toques com as mesmas reações de antes; eu estava
realmente feliz de estar recebendo todo o amor que ele sempre teve por mim.
Já estávamos indo mais longe do que da última vez que tentamos, e eu
parei, e até agora nada me fez tremer de medo; pelo contrário, eu estava me
derretendo querendo mais, eu estava sedenta por isso, respondendo a cada
ação dele. Seus dedos eram determinados, mas cautelosos ao mesmo tempo,
cuidando para que eu me sentisse bem. Ander ficou apenas de cueca e me
deixou com as minhas roupas íntimas também, enquanto me puxava para
debaixo da água quente, que nos molhava por completo. Nós não ligamos,
apenas voltamos a nos beijar e a marcar o corpo um do outro com pequenos
chupões.
Com agilidade, ele desprendeu o meu sutiã, e logo o pequeno tecido
molhado já estava no chão. O que eu achei que seria um susto, na verdade foi
o desespero da minha carne, que o desejava ainda mais.
— Você sabe que pode parar isso se não se sentir bem, que nem nas
outras vezes… — Ele cessou os beijos para me dizer isso. — Não precisamos
fazer isso só porque eu te pedi em casamento.
— Ei… — Eu segurei o seu rosto para que ele entendesse bem o que
eu estava falando. — Se eu quisesse parar, eu já teria feito isso. Não se
preocupe, só continue, porque eu estou com muito tesão!
Quem diria... intimada pela própria mãe para parar de trabalhar. Acho
que realmente eu preciso desse tempo. Saio da minha sala e vou para a mesa
da Andréia.
— Andréia, minha mãe cancelou toda a minha agenda? — Ergo o
post-it para que ela veja que eu já sei.
— Acho que eu peguei muito pesado com você! — Ela limpa os meus
olhos. — Está até chorando.
— Foi só um cisco! — Viro o meu rosto. — Só estou muito grato por
ter vocês, mesmo com o meu pai sumido por aí! — Dou risada, limpando os
olhos.
— Vou procurá-lo, acho que a cerimônia já está quase começando, e
o seu irmão sumiu com a namorada. Não quero nem saber onde se
esconderam! — Ela beija o meu rosto e sai pelo salão buscando pelo meu pai.
Em poucos minutos, todos os funcionários começam a guiar os
convidados para a parte externa do salão, onde aconteceria a cerimônia. Nós
escolhemos um local que tinha um castelo antigo, e tudo estava decorado
com branco, até a parte externa estava repleta de flores brancas, fazendo com
que eu me lembrasse do aniversário da Hanna do ano passado, mas, hoje,
tudo estava ainda lindo do que naquele dia. Era um final de tarde de um dia
quente, e nada poderia me abalar.
Quando eu já estava no altar esperando por ela, consegui observar
todos que estavam ali: o senhor Diogo estava ao lado da sua esposa Tiana, e
eu até consegui ver os dois dando um selinho; a Andréia (secretária da
Hanna) estava ao lado do meu irmão, e aquilo não me parecia uma boa ideia;
já a Meg me surpreendeu por levar a Érika no casamento, e, pelo pouco que
eu notei, eu entendi que elas eram um casal agora.
Eu havia reparado mesmo que as duas estavam saindo muito juntas,
mas em nenhum momento imaginei que elas estavam se relacionando. Fiquei
feliz de ver o quanto a Érika havia mudado. Ela parecia outra mulher, e eu
tenho certeza que a Meg a ajudou muito.
— Eu até tentei, mas não passa Uber por aqui, não tem sinal também!
— Ela brinca de volta. — Acho que a minha mãe fez isso de propósito.
— Com certeza foi de propósito. Você está perfeita, juro que eu vi um
anjo tocando aquele piano.
— Você também está lindo de morrer. Se me der a honra, poderia se
casar comigo?
Seus olhos verdes me encaravam com um brilho especial.
— Só se for agora!
O cerimonialista, que estava na nossa frente, chamou a atenção de
todos os convidados que estavam ali para que ele iniciasse. E, depois dizer
belas palavras, chegou o momento dos nossos votos, quando ele destinou o
microfone para a Hanna, que pegou uma carta na mesa à nossa frente.
— Certo, peço que me perdoem se eu falar alguma coisa errada,
nunca tive que fazer isso antes!
Aquela voz que eu amava tanto tirou risadas dos nossos convidados
logo nos primeiros segundos, e, então, Hanna voltou aqueles olhos verdes
para a sua folha.
— Eu estava pensando comigo mesma se o amor tem limites, se ele
tem um tamanho ou forma, e eu descobri que não existe um método de medi-
lo, até porque, em muitos anos da minha vida, eu achava que o amor nem
existia, mas daí eu conheci você, Ander, que me fez pensar que o amor
morava no coração, pois, toda vez que eu te via, eu sentia meus batimentos
acelerarem. — Não tinha como eu aguentar a emoção vendo-atransbordando
seu sentimento naquelas palavras, então eu limpei meu choro pela segunda
vez no dia, para que ninguém notasse, mas a Hanna notou, sorriu e continuou.
— Depois de um tempo, ouvir a sua voz era o meu som da felicidade, e eu
achei que o amor morava nos meus ouvidos, mas, quando eu te beijei pela
primeira vez, as minhas mãos ficaram geladas pelo nervosismo; e as minhas
bochechas, quentes. Foi aí que eu senti como se o amor se espalhasse por
cada veia do meu corpo. O tempo foi passando, e o amor nasceu em mim.
Você plantou esse sentimento, você cuidou dele e se dedicou, Anderson.
Então eu descobri que o amor na verdade floresce. Ele cresce no coração,
passa pelos ouvidos, entra na corrente sanguínea e preenche o estômago, ou
melhor, o corpo todo!
Seu sorriso me tirou o fôlego, e eu achei que não iria conseguir ler os
meus votos se ela continuasse, mas ela não sabia disso e continuou me
encarando, largando o papel ao lado para segurar as minhas mãos.
— O amor é ver, é sentir, é ouvir, é prever, é cuidar, é curar e é amar.
Então, eu agradeço aos céus por você decidir ficar! — O sol bate na lágrima
que desce pelo seu rosto, e ela a limpa, surrando. — Eu amo você!
— Eu amo você!
Respondo na mesma intensidade, enquanto escutamos os aplausos.
Vejo muitos convidados também limpando os olhos, até que, então, o
cerimonialista se vira para mim, oferecendo-me o microfone. Meus dedos
foram em direção à minha carta, mas, assim que eu a abri, não conseguia ler
as letras. Aquilo que eu havia escrito não era o suficiente para o que eu
precisava dizer agora.
— Tá bom, eu não sei por que eu deixei você falar por primeiro,
porque agora eu não sei se vou conseguir dizer alguma coisa. — Sua boca dá
uma risada guardada, e eu já queria poder beijá-la. — Hanna, se estamos
falando especificamente sobre como nasce o amor, eu tenho certeza de que o
nosso começou em alguma vinícola que produz Cabernet Sauvignon, porque
foi em um gole desse vinho ruim que o nosso amor brotou no nosso primeiro
encontro; não ofendendo quem gosta — defendo-me. — Aquele nosso
almoço me mostrou que nem sempre as coisas perfeitas são as mais
significativas, porque foi um verdadeiro desastre!
Sua risada contagia a todos, que começam a rir com ela. Então, eu
continuo:
— Você achava que não existia o amor, e eu não acreditava nele
também, mas eu considero que Deus tem um senso de humor maravilhoso
para juntar exatamente essas duas pessoas para aprenderem a desenvolver
esse sentimento do zero. Eu já te disse uma vez: eu tenho medo de ser
ambicioso demais, mas eu confesso que eu quero ser quando se trata de estar
ao seu lado. Com você eu quero lar, quero família, quero sempre ser seu lugar
de aconchego, porque eu te amo, Hanna. — Os olhos dela brilharam quando
eu falei o significado do seu bracelete, e ela segurou o choro.
— Eu te amo! — Hanna respondeu, enquanto as lágrimas desciam.
Notamos, também, que praticamente todos os convidados estavam emotivos.
Hanna fez todos ficarem surpresos ao me puxar para os seus lábios de
uma só vez, arrancando até alguns sons assustados dos nossos amigos e
aplausos de todos.
— Tá bom, a noiva pode beijar o noivo! — O cerimonialista fala em
vão e ironicamente por nós finalizarmos a cerimônia antes de ele dizer as
palavras certas e também por ela me beijar, e não o contrário.
Eu aprofundo os meus lábios nos dela, para, em seguida, passar os
braços embaixo da sua bunda, levantando o seu corpo, enquanto a Hanna
ergue o seu buquê, comemorando a nossa união, ao passo que todos se
levantam, jogando arroz em nós.
— Agora não tem mais volta! — falo em seu ouvido assim que a
coloco no chão.
— Bem-vindo ao mundo dos casados, meu amor!
A cerimônia foi linda. Tudo o que eu planejei foi realizado ainda mais
perfeito. Os votos do Ander para mim foram a coisa mais linda desse mundo,
e ainda bem que estava tudo gravado, porque, depois disso, foi muito difícil
eu prestar atenção em outra coisa que não fosse ele.
Os convidados já estavam sendo direcionados para dentro, enquanto
eu e ele fomos guiados pelos fotógrafos para outra área do salão, onde batia o
restante do sol para fazermos as nossas fotos do álbum. Minha maquiadora
me arrumou novamente depois de tantas lágrimas, e logo os fotógrafos
começaram a ajeitar a gente nas melhores posições, afastando-se para
arrumarem as câmeras.
— A gente pode fugir da nossa própria festa? — Ander sussurra
assim que me abraça.
— Não seja louco! Você pagou uma lua de mel por nada?
— Então vamos logo para o aeroporto! — Ander aperta a minha
cintura e me gruda nele, que estava extremamente rígido.
— Você já aguentou bem mais do que quinze dias. Por que está assim
agora? — Esfrego-me em seu membro.
— Esse teu decote está me torturando. — Ele beija o meu pescoço, e
escutamos os cliques. — E antes você não ficava se masturbando na minha
frente.
— Tem muita gente aqui, é melhor você parar com isso, ou esse pau
marcando vai aparecer em todas as fotos! — Trocamos novamente de
posição.
— Pelo menos você poderá usar as fotos como você quiser!
— Eu tenho você para usar como eu quero, por que eu usaria as fotos?
— Safada!
— Eu sou mesmo. Agora se acalme, porque estamos quase
terminando, e a minha bunda não vai mais esconder esse volume aí.
— Você realmente não é mais a Hanna Menezes, né?
Ignoro o que ele disse apenas por estar vermelha de vergonha, mas
sinto quando ele desliza o seu pau molhado pela minha fenda sem entrar em
mim, roçando em meu clitóris. O calor que ainda persistia dentro da minha
boceta me alertou do meu desejo.
Droga, eu queria mais.
— Um estimulante. E eu acho que essa sensação não vai passar tão
cedo. — Claro que não iria, eu tinha acabado de gozar e estava enlouquecida
querendo sentir isso novamente.
— Eu nunca mais vou tomar isso! — Pendo a minha cabeça para trás,
desejando que aquilo não tivesse acontecido.
Vejo-o passar os dedos onde ainda tinha o tal líquido para, em
seguida, levá-los para a boca e experimentar.
Só de pensar que o meu pau estava todo molhado com o seu líquido,
eu ficava ainda mais duro. E eu também sabia que isso era um efeito do mel.
Talvez o meu membro fosse ficar assim a noite toda, mas eu queria satisfazê-
la até ela não aguentar mais, então eu ignorei tudo que dizia respeito a mim.
— Vem aqui! — Eu disse, assim que o seu corpo começou a se
afastar.
— Eu acho que você precisa de um banho depois do que eu fiz e… eu
também. — Hanna se vira na cama para conseguir sair, mas acaba deixando a
sua bunda virada para cima.
E, então, eu noto algo que nunca esteve ali. Ela tinha feito uma
tatuagem, bem pequena; poderia facilmente passar despercebida, mas eu
conhecia o corpo dela como a palma da minha mão e sabia que da última vez
que transamos aquilo não estava ali.
— O que é isso? — falo, surpreso, aproximando-me para entender o
desenho.
— Uma taça de vinho! — Então, eu noto os traços finos marcando os
contornos daquele desenho exatamente no final da sua coluna e no início da
sua bunda, do lado direito. O vinho estava até pintado de vermelho-vivo. —
Não era para você ter visto nessa situação, mas fiz como uma brincadeira
nossa!
— Quando? — Fico surpreso por eu não ter notado, mas claro que eu
não iria ver, já que passei os últimos dias de greve.
— Faz alguns dias, já até cicatrizou! Você gostou? — Hanna encara o
desenho e começa a sair da posição.
— Eu já disse que não acabamos, para de tentar fugir de mim. —
Agarro-a pela cintura e rapidamente o meu pau se encosta em sua pele. — E
falar que eu gostei seria muito pouco. Isso simboliza muito mais do que você
imagina. Você me deixa louco, sabia?
Ela está de quatro, ainda mais empinada para mim, colando os nossos
corpos enquanto concorda com o que eu disse. Sua bunda se empurrou contra
o meu pau, e eu consegui sentir o desejo em sua pele quente. Ela estava
emanando excitação, assim como eu. Meu pau, avermelhado de tanta pressão
na região, respingava em sua pele o restante do seu líquido que havia nele,
influenciando-me a estralar um tapa em sua bunda, tirando todo o seu ar em
um gemido torturante de prazer.
O tom de rosa em sua bunda começou a ficar ainda mais forte — acho
que agora o vinho ficou ainda mais tinto! Eu massageei o local antes de
acertar novamente mais um tapa.
— Ander… — Hanna sussurrou, sentindo eu me esfregar nela.
— Pare de se importar com o que a sua mente está gritando, Hanna.
Se concentra em mim, nos meus dedos, na sua pele. Sente isso? — Eu aperto
o seu quadril, passando o polegar em sua nova tatuagem e, ao mesmo tempo,
sentindo os seus ossos enquanto me ajeito atrás dela. — Foque em você!
— As sensações… dentro de mim… — Uma das suas mãos vão para
o meio das suas pernas, e ela pressiona a sua intimidade!
— Você está estranhando tanto assim o fato de que você me quer aqui
dentro? — Passo a minha mão por cima da sua, para, em seguida, colocar os
meus dedos em sua intimidade quente.
— Isso… — Não consigo entender se ela está concordando com a
minha pergunta ou com os meus dedos a penetrando, os quais eu começo a
movimentar em seu interior.
— Se concentre, Hanna!
Ajeito os meus dedos, virando-os para baixo, criando o atrito na
parede interna da sua boceta, e continuo os movimentos, atingindo o seu
prazer. Hanna se arrepia, e eu consigo notar até o seu meio-sorriso quando o
seu rosto se afunda nos lençóis aproveitando os meus toques.
— Como é que você sabe onde me tocar? — Ela fala abafado.
— Como eu não iria saber onde a minha mulher gosta de ser tocada?
— Eu me inclino e mordo próximo da sua tatuagem.
— Ai… — Hanna reclama. — Isso doeu. — Esfrego o local,
aliviando a sua dor.
— Bem, você nem deixou eu terminar de ler, mas, pelo pouco que eu
li, tenho certeza de que é sério. Meus pais não brincariam com isso. — Ander
se senta e me entrega os papéis.
Meus pais estavam oferecendo a junção das nossas empresas e
também disponibilizando uma área do nosso prédio para ser o novo escritório
do Ander, tornando as nossas empresas uma só, em todos os quesitos
necessários. Eu nunca imaginei que uma coisa assim fosse possível, mas, se
os meus pais estavam oferecendo, significava que eles já tinham feito a
pesquisa para isso, e eu estava impressionada com a decisão deles.
— É um passo muito grande, né? — Ander fala, nervoso, passando a
mão pelos seus cabelos.
— Estamos casados, não estamos? Então não é um passo grande, mas
você não precisa aceitar se estiver se sentindo desconfortável. Além do mais,
você teria que conversar com o seu pai sobre isso — falo para tranquilizá-lo.
— E o que os meus pais estão propondo pode ser modificado também, se
você não gostar de algo.
— Eu não quero em hipótese alguma que eles pensem que eu estou
me aproveitando da empresa de vocês para me erguer. — Suas mãos apertam
as minhas.
— Ander, por que você está pensando em uma coisa dessas? Se eles
ofereceram, é claro que eles não pensam isso de você. — Passo a minha mão
pelo seu rosto.
— Sei lá! Só tenho receio. Não quero nunca decepcioná-los.
Claro que ele tem receio, depois de tudo que ele já escutou sobre o
meu ex e também depois das prensas que o meu pai deu nele, não tinha como
ele se sentir confortável com essa proposta.
— Não se preocupe com isso, não é algo que você precise fazer agora.
Ninguém vai ficar triste se vocês não aceitarem também. Apenas pense que
agora estamos juntos para o resto das nossas vidas e não precisa ter medo de
me falar aquilo que te incomoda, assim como você não deveria nutrir essa
insegurança sobre esse assunto. — Encosto a minha cabeça em seu ombro. —
A proposta ainda estará válida daqui a 10 anos, pode aceitar quando achar
melhor. E eu conheço o homem com quem eu me casei. Você tem caráter,
então nunca deixe algo te atrapalhar por receio. Seja ambicioso, como você
disse nos seus votos!
— Eu amo você, sabia? — Ele beija o meu nariz.
— Eu desconfiei mesmo quando você parou de pedir aquele vinho
seco horrível! — Sorrio ao sentir o seu toque.
Sigo com o meu pé até a base da sua calça, onde já dava para ver o
seu membro saindo de dentro da cueca, e abaixo um pouco mais, libertando-
o. Seu sorriso se abre enquanto ele observa os meus movimentos.
— Amo esse pé atrevido, mas agora deixa eu ver como ficou a marca
na sua bunda! — Ele segura a minha perna e me gira na cama.
— Não temos, não. Você tá tão gostosa assim! Caralho! Não podemos
parar. Quem quer que seja vai embora daqui a pouco. — Ele se esfregou em
mim de novo, e a contração interna retornou junto com o segundo toque do
interfone.
— Ander… — falo, em meio ao gemido, e respiro fundo, tentando
ouvir a voz da minha razão. — Não vão embora. Pare, antes que a gente não
consiga mais.
— Você também!
Respiro fundo novamente, tentando fazer aquele mal-estar passar,
prendendo o coitado do meu celular em meus dedos suados, para, em
seguida, escutar passos atrás de mim.
— Hanna? Aconteceu algo? Você está branca, quase transparente. —
Ander para do meu lado e encosta em minha mão gelada. — Vim para te
levar de volta até a cozinha, mas parece que você nem consegue andar.
— Foi só uma ligação sobre o caso… — Levanto-me, sentindo a
minha mão tremer contra a dele. — Depois a gente conversa sobre isso.
— Ei! — Ele me puxa para o seu abraço e beija a minha testa. — Vai
dar tudo certo, não fica assim.
— Eu sei, eu sei! Só não queria ter que passar por isso.
— Você não está sozinha, filha! — Meus pais me abraçam também, e,
de repente, eu estou no meio daqueles abraços que me acalmam e me fazem
criar coragem para os meus próximos dias.
Giro a minha aliança no meu dedo sem pausa, enquanto me preparo
para encarar o Kauan. Estávamos quase chegando ao local da audiência, e eu
sabia que a minha pressão estava baixa, porque as tonturas eram frequentes.
Mas o que eu poderia fazer? Tinha que vir e olhar na cara daquele nojento.
Tudo foi muito bem-esclarecido para mim antes que eu chegasse ao
tribunal. Pela trigésima vez, o meu advogado me dava dicas e informações
para que eu soubesse como tudo iria acontecer e as possíveis perguntas às
quais eu teria que responder.
Desci do carro, ainda tentando me acalmar com a minha própria
respiração, e entrei no tribunal acompanhada do Ander, que estava ao meu
lado, segurando a minha mão. Ele parecia estar ainda mais nervoso que eu,
mas eu não sabia se era por como iria terminar aquele julgamento ou por
encontrar com o Kauan.
Eles eram amigos desde quando entraram na faculdade. Eu conseguia
imaginar que talvez fosse difícil de olhar para a cara daquele moleque depois
de tudo o que viveram e ver que ele havia se tornado um monstro, relembrar
tudo o que ele fez comigo.
Fiquei do lado de fora da sala de julgamento até que eu fosse
realmente necessária na discussão. Não queria ter que ficar olhando para a
cara do Kauan ou estar no mesmo ambiente que ele. Eu não ficaria lá mais
tempo do que o necessário. Ainda não o tinha visto depois do que havia
acontecido e, mesmo assim, eu sabia que seria um choque.
— Exato. Ainda não tive tempo de mandar lavar o meu carro. — Ele
nos observa. — O Atentado já ama você. Olha só, não sai do seu pé. E olha
que fui eu que fui buscá-lo. — Nós passamos a mão nele juntos. — E aí? Que
nome quer colocar nele?
— Que tal Simba?
Dou a sugestão, lembrando-me do leãozinho caramelo do filme "O
Rei Leão", e ele corre pela sala, encontrando a minha bolinha de anti-estresse
do lado do sofá.
— Simba? O do Hakuna Matata? — Ele dá risada.
— Exatamente, o do “Os seus problemas, você deve esquecer…”.
Cantarolo a musiquinha, que se encaixa perfeitamente na situação em
que estou neste momento, e então eu falo o seu novo nome para ver se o
cãozinho se identifica com ele.
— Simba? — O bolinha de pelos me olha como se estivesse sorrindo
e dá um passinho em minha direção. — Vem aqui.
— Ok, eu já percebi que ele te escolheu!
— Temos um favorito! — Ajoelho-me no chão, abraçando o nosso
doguinho.
— O cheiro desse é ainda mais viciante que o outro, e você sabe que
eu sou observador, sei onde está cada pintinha em seu corpo. Seria muito
estranho se eu não notasse a mudança do seu cheiro.
É… mas o mais importante ele não notou em meu corpo, então o seu
comentário foi a minha piada interna, mesmo eu sabendo que nem eu havia
notado as diferenças, a não ser pelos sintomas.
— Logo a água vai para o ralo. Só nos resta tomar um banho agora,
né?
— Por favor!
Eu ajudo a Hanna a se secar e pego o seu roupão de seda que estava
pendurado no banheiro. Enquanto ela começava a secar os seus cabelos,
passo a toalha pelo meu corpo e a amarro em minha cintura, indo em direção
ao nosso quarto para me vestir.
Assim que saio do banheiro, noto uma pequena caixa de presente
branca com um laço dourado em cima da cama e automaticamente olho em
direção ao banheiro de novo, vendo a Hanna encostada na porta, encarando-
me com os olhos apreensivos.
— O que é isso? — pergunto, e o sorriso dela se abre.
— Um presente para você! — Ela fala, empolgada. — Ou para nós
dois.
Sua voz sugestiva me dá curiosidade, e eu vou para perto da cama,
observando vagarosamente a caixa.
— Hanna, você sabe que não precisa me dar nada, eu já tenho tudo
por ter você. — Pego a caixa em minhas mãos, e ela vem até mim. — Por
que você não me avisou? Eu teria comprado algo para você também!
— Eu já ganhei o meu presente. Está na hora de você ganhar o seu!
— Ela se senta na cama, e eu faço o mesmo.
— Cheia de mistérios, né? — Eu desfaço o laço e tiro a tampa com
calma, por não saber o que teria dentro.
Ela nem consegue notar o quanto está mais linda do que normal com a
sua minibarriguinha de fora enquanto ela usa o seu baby-doll, que, daqui a
alguns meses, eu tenho certeza de que não estará servindo mais.
Suas mãos rapidamente se desfazem das muitas embalagens, e ela
pega o primeiro macacãozinho marrom de inverno, que tem o formato de um
ursinho com touquinha, pomponzinho no bumbum e orelhinhas.
— Olha isso, amor. A nossa filha é ainda mais linda do que a minha
mente foi capaz de imaginar! Ela é igualzinha a você! — Esmeralda ainda
chorava enrolada naquele cobertor hospitalar.
Minhas lágrimas desceram pelo meu rosto quando o Ander encostou o
rostinho quente e macio dela no meu, entregando-me a Esmeralda com o
maior cuidado do mundo.
— Ela é linda! — Assim que a nossa pequena escuta a minha voz, ela
começa a se acalmar, e o meu coração se completa ainda mais ao tê-la
coladinha em mim. — Filha, você é muito linda!
Sua pele ainda estava com resquícios do líquido da placenta,
deixando-a cheia de manchinhas brancas. Os dedos extremamente pequenos
chegavam a estar enrugados, e os pezinhos também. Após alguns minutos se
acalmando, os meus olhos clarearam depois de tanta dor sentida e choro
involuntário pela força que exerci — e também o choro voluntário pela
emoção de ter o meu DNA em meus braços.
Eu comecei a guardar em minha mente cada detalhe dela, e a primeira
coisa que eu notei foi que ela tinha uma minipintinha em seu pescoço. Igual
às minhas. Seu nariz era igual ao meu, e ela tinha pouquíssimos cabelos
castanho-escuros na sua cabeça. A cor era bem mais parecido com a do
cabelo do Ander. Sua boca também era parecida com a minha.
Ficamos por muito tempo a admirando e conversando com ela. O dia
passou rápido, e logo já estávamos no quarto com os avós babões, que quase
invadiram a maternidade antes do horário de visita.
Meus sogros ficaram sabendo de madrugada mesmo, então
compraram a primeira passagem que encontraram para vir para Curitiba. Já
os meus pais praticamente entraram de férias junto comigo assim que eu
decidi que realmente não conseguia mais trabalhar, só para não perderem o
nascimento.
Enfim, eu senti que aquela nova página que eu estava escrevendo era
a mais linda e perfeita da minha vida!
— Eu não acredito! — Meu sogro fala, causando curiosidade em
todos nós.
Estávamos na sala de casa conversando sobre como toda a nossa
rotina nova com a Esmeralda estava sendo fora de ordem, mas ao mesmo
tempo a coisa mais maravilhosa para se aprender, quando ele se espantou
com algo enquanto acariciava as orelhinhas da sua neta.
— O quê? — Hanna se aproxima, preocupada, e eu levanto do sofá
para olhar o que ele havia visto.
Hanna tinha se recuperado muito bem do seu parto, mas ainda andava
com uma leve dificuldade. Tanto a minha mãe quanto a mãe da Hanna
estavam sempre por perto ajudando nesse nosso novo mundo rosa. Às vezes
nós não conseguíamos convencê-las de que nós dois dávamos conta, de modo
que uma delas posava no quarto de hóspedes.
— A minha neta abriu os olhos. — Richard diz, todo sorridente, e, em
menos de três segundos, todos nós já estávamos em volta da Esmeralda.
E ali estava o fim do mistério que tanto esperamos para saber!
Verdes como esmeralda.
Iguais aos da sua mãe.
Os seus pequenos olhos brilhavam enquanto se ajustavam à claridade
das luzes da sala, piscando calmamente e nos encarando.
— Eu sabia! — A dona Eliza fala, batendo palmas e tirando a
Esmeralda do colo do meu sogro, causando um pequeno choro na minha
“pedrinha” como reação. — Nossa genética é forte! Olha, filha, que coisa
mais linda!
— Ainda não podemos ter certeza. A médica disse que a cor dos
olhos pode mudar.
— Mudar para que cor? Verde-musgo? Os seus olhos eram
exatamente assim quando você nasceu Hanna, e olha o verde-oliva aí na sua
cara.
— Vamos apostar? Se ficar verde-musgo, eu ganho o antigo
apartamento do Ander; e, se ficar verde-oliva, eu fico de babá da Esmeralda!
— Anthony diz, empolgado.
— Nada de apostas dentro desta casa! — falo, nervoso com a sua
proposta.
— O seu apartamento está parado. Deixa eu ficar com ele, Ander! —
Tony me encara com o seu sorriso malandro.
— Para você usar de motel? Sai fora! Quando você ficar de maior,
talvez eu venda para você.
Todos nós damos risada, e o Anthony fica indignado. Enquanto isso, a
minha sogra entrega a nossa Esmeralda novamente nos braços da Hanna.
Elas eram tão parecidas. Mesmo com a Esmeralda extremamente
pequena, nós conseguíamos ver a semelhança, tanto no rosto como nas mãos
e nos pés — e agora até na cor dos olhos. Eu sabia que eu era o homem mais
feliz do mundo por ter as duas na minha vida.
— A nossa filha é realmente perfeita, não dá para negar. Confesso
que nós treinamos muito! — brinco e recebo uma almofadada na cabeça
atirada pela minha esposa.
— Ander! — Toda a sala cai na risada novamente enquanto a Hanna
se transformava em um pimentão.
— Ué, mas eu estou mentindo?
— Nós conhecemos muito bem vocês dois, só não precisavam ter
tentado quebrar todo o quarto do Ander lá de casa. — Meu irmão fala, com o
seu sorriso travesso, e encara todo mundo.
Minha esposa quase se esconde debaixo do sofá para fugir da sua
maior vergonha, ainda mais porque os meus pais estavam ali, e foi o Anthony
que abriu a boca. Moleque tagarela!
— Não acredito! Eu preciso muito saber dessa história! — Dona Eliza
arregala os olhos curiosos e agarra o braço do meu irmão, levando-o para a
cozinha.
Volto a olhar em direção ao sofá em que o meu sogro estava sentado,
e ele nem estava mais ali, estava no quintal brincando com o Simba. Então,
aproveito para me sentar ao lado da minha esposa.
— Eu não acredito que tive que passar por essa vergonha com a
Esmeralda em meus braços. Ainda mais porque foi você que iniciou essa
conversa. — Ela me encara, fingindo braveza.
— Eu não poderia deixar de falar o quanto a nossa filha é linda. —
Sorrio, e, assim que a nossa pedrinha preciosa escuta a minha voz e encara a
nós dois, ela sorri.
— Ela é perfeita!
— Ela é perfeita!
Falamos juntos enquanto sorrimos iguais a dois bobos para ela.
Hanna passa as suas unhas pelo meu abdômen, aprofundando a
sensação de prazer em mim enquanto eu ainda estava submerso em meu
sono. O que ela está fazendo?
Meu corpo já estava respondendo às suas ações sem ao menos eu
saber o que estava acontecendo, e, quando, enfim, a minha consciência
decidiu me acordar, eu senti a sua boca em mim, e a minha mão foi
imediatamente para debaixo do edredom, agarrando a sua cabeça. Ela não
parou de me colocar inteiro dentro da sua boca só porque notou que eu havia
acordado; pelo contrário, sua mão começou a massagear as minhas bolas,
deixando-me ainda mais excitado.
Com a minha mão, que já havia enrolado os seus cabelos em um
coque malfeito, eu acompanhava o movimento que a sua boca me
proporcionava, e o meu corpo se arrepiava a cada arranhão novo que eu
ganhava, enquanto ela passava as suas unhas com desejo na minha pele.
— Hanna, eu vou gozar! — falo, tirando o edredom de cima do seu
corpo, revelando a sua bunda empinada com apenas uma minicalcinha
destacando a tatuagem linda que ela tinha ali. Porra, que golpe baixo.
Seus olhos verdes vibravam o escuro prazer que ela estava tendo em
fazer aquilo em mim. Ela parou a massagem nas minhas bolas para me
masturbar junto ao vaivém que a sua boca me fazia. Hanna não iria parar até
me sentir me derramando em sua língua atrevida, e não precisou de muito dos
seus truques com a língua para que eu chegasse ao meu limite e gozasse nela.
— Não engole… — Até tentei falar antes que ela fizesse isso, mas a
Hanna já estava limpando o canto da boca.
— Bom dia! — Ela se deita em cima de mim e sorri.
— Bom dia? Isso foi bem melhor que "bom". Estava tentando me
matar enquanto eu dormia? Acordou com tesão, é? — Tiro o cabelo do seu
rosto.
— Acordei com tesão ACUMULADO! — Hanna passa o dedo em
meus lábios, destacando a palavra. — Quando foi a última vez que fizemos
sexo? A Esmeralda está tendo tantos pesadelos ultimamente, que esta é a
primeira noite que ela dorme no quartinho dela depois de dois meses.
Estávamos sofrendo um pouco nas madrugadas trazendo a Esmeralda
para o nosso quarto e esperando-a dormir para levá-la novamente ao seu
quarto, mas ela acordava assustada depois de duas ou três horas, e nós
acabávamos a deixando dormir no nosso meio — isso quando nós não
pegávamos no sono antes mesmo de levá-la para a sua cama; e, como
estávamos organizando as coisas do seu aniversário de três anos na noite
anterior, já que seria daqui a um mês, nós acabamos perdemos a oportunidade
de fazermos algo.
— Então vamos aproveitar antes que ela acorde! — Vejo o horário no
celular e noto quão cedo a Hanna havia acordado, compreendendo que ainda
tínhamos duas horas antes de a pequenina acordar. — Vem aqui!
Troco a posição dos nossos corpos, empurrando-a para cima,
enquanto eu descia o meu rosto para o meio das suas pernas, abrindo-as
assim que aquela calcinha tentadora sumia entre os lençóis com um único
movimento rápido.
— Não faça barulho, senão você irá acordar ela! — comento, antes de
puxar o lençol por cima da minha cabeça e me afundar em sua intimidade.
Eu conseguia senti-la se retorcendo com a sensação da minha língua,
que sugava o seu clitóris, de modo que as suas unhas se fincavam na cama.
Hanna estava com cheiro de morangos, e eu tenho a certeza de que ela estava
comendo alguns antes de vir me atacar. Quando eu senti que ela já estava
molhada o suficiente, eu me coloquei em sua entrada e deslizei-me para
dentro devagar, enquanto os seus braços se pousavam em volta do meu
pescoço para me receber. Agarrei seus lábios no momento em que o meu pau
atingiu o seu ponto mais quente.
Desci uma das minhas mãos para debaixo do seu corpo e as encaixei
em suas nádegas, para poder pegá-la com força, guiando o nosso sexo. Hanna
gemeu baixo contra o nosso beijo, para que os nossos sons não se
espalhassem para fora daqueles edredons.
Nosso tesão estava à flor da pele; afinal, já havia completado 20 dias
que começamos a transar e alguma coisa acontecia, deixando os nossos
orgasmos acumulados. Então, quando eu comecei a entrar com mais força,
suas mãos me puxaram para mais perto, enrolando seus dedos em meus
cabelos e mordiscando o meu ombro.
— Me coloca por cima! — Ela sussurrou em meu peito, e assim eu
fiz.
Girei nossos corpos na cama, e suas mãos se apoiaram nos meus
ombros. Ela estava totalmente nua, sendo iluminada pela claridade do quarto,
e cavalgava em mim com vontade, mexendo os quadris em movimentos
circulares, para que ela se esfregasse em minha pele se masturbando. Esperei
que ela se abaixasse um pouco para eu sugar os seus mamilos e marcá-los da
maneira que eu gostava de deixá-los, ao mesmo tempo que eu segurei sua
cintura, empurrando-a ainda mais para mim.
Hanna tinha trocado os seus gemidos por respirações presas. Dessa
maneira, o som não se espalhava tanto, mas eu precisava ouvi-la, queria
gozar com ela se libertando em meu pau em um êxtase esplêndido; então, eu
me sentei na cama, grudei nossos corpos e levei a minha mão para o meio das
suas nádegas.
Consegui sentir quando o seu coração acelerou, porque eu havia
encostado em seu ânus. Ela sempre ficava apreensiva quando eu fazia isso,
mas eu sabia que ela gostava, por isso comecei a meter nela com mais força
enquanto esfregava aquele lugar, e os seus gemidos começaram a aparecer.
Nós estávamos na beira do abismo, mas não queríamos pular, porque
sabíamos que isso só poderia significar que o nosso próximo sexo demoraria
para acontecer; então, ela reduziu a velocidade para que o prazer se
prolongasse. Mesmo assim, eu não parei com o meu dedo em sua traseira,
apenas acompanhei o nosso ritmo.
Seus seios se encostaram no meu peito depois de alguns minutos, e
sua bunda se empinou mais. Eu a ajudei a voltar com os movimentos rápidos,
já que não podíamos demorar também, e, na verdade, não precisou de muito
para que nós dois atingíssemos o nosso ápice. Segurei-a em meu colo até que
que acabasse todo o meu sêmen, e ela tremeu em cada pulsação minha,
gemendo em meu ouvido.
— Tenho certeza de que desta vez eu te engravidei de novo! — Dou
risada para ela, que desgruda os nossos corpos suados.
— Vamos poder saber daqui a uma ou duas semanas, mas, por
precaução, acho que ainda temos um tempinho. Que tal tomarmos um banho
juntos para tentarmos de novo?
— Eu ia te sugerir a mesma coisa!
— Ei, ei, ei! Sem correria por aqui! — falo para a Esmeralda assim
que ela passa correndo por mim com a sua fantasia de algum desenho de
princesa que eu não conseguia lembrar qual, e as suas pequenas perninhas a
levam para o nosso quintal, sem ao menos olhar para trás.
Fizemos uma festa apenas para os amigos e familiares mais próximos,
então os amiguinhos da nossa filha eram as crianças do nosso círculo de
amizades.
Eu mudei a minha empresa, juntando-a com a dos Menezes, e aceitei
a proposta que o meu sogro havia feito há mais de três anos. Fiz isso para
poder ver a Esmeralda a todo momento, e a Hanna conseguiu conciliar,
levando-a todos os dias para a empresa. A sua sala agora já tinha o cantinho
da brincadeira, e, assim, nós íamos juntos para a empresa.
— Deixa ela, amor, não é sempre que ela se enche com tanto açúcar;
então, é melhor ela brincar muito pra cansar, senão de noite nós não vamos
conseguir dormir. — Hanna aparece, trazendo algumas caixas vazias dos
salgadinhos da festa.
— Ela vai cair se continuar correndo assim. — Olho para ela, e os
seus olhinhos verdes brilham enquanto ela dá risada para as outras crianças,
brincando com o Simba.
— Não vai, relaxa! — Hanna larga as embalagens em cima da pia. —
Vem, me ajuda a levar as caixas.
Puxo o seu corpo para perto do meu, fazendo com que nós dois
pudéssemos olhar para a nossa filha, que agora estava superconcentrada,
esperando a moça que contratamos para fazer os desenhos nos rostos das
crianças.
— Obrigado por ter ido àquele almoço! — Beijo o seu rosto.
— Que almoço? — Ela inclina a cabeça para trás, estranhando-me.
— Nosso primeiro almoço juntos. Aquele que a sua mãe marcou para
nós dois.
— Por que está falando isso agora? — Ela sorri pelo meu comentário.
— Porque, graças a ela, a você, ao vinho seco, ao elevador, ao
fornecedor que você foi atender em Brasília naquele dia que acabou indo até
a casa dos meus pais… — Passo meus dedos pela sua aliança e, em seguida,
em seu bracelete dourado. — Graças à sua confiança em mim quando
tivemos que terminar, e, principalmente, à sua força para se reerguer de tudo
pelo que teve que passar... graças a tudo isso, hoje eu tenho a família mais
linda desse mundo. Eu tenho uma princesinha e não desejo mais nada nesse
mundo que não tenha você e a nossa Esmeralda incluídas. Eu amo vocês,
mais que tudo nesse mundo!
— Mamãe! Papai! — Esmeralda vem correndo até nós dois com
aquele sorrisinho perfeito, e Hanna limpa a pequena lágrima que estava
escapando pelos seus olhos. — Olha essa boboleta. Foi a tia Mari que fez!
Ela aponta para o desenho próximo dos seus olhos, e a Hanna a pega
no colo. Eu abraço as duas mais forte.
— Que linda, filha! Será que ela faz uma na mamãe também?
— Acho que ela só faz em clianças, mãe! — Seus olhinhos duvidosos
encaram os olhos da sua mãe.
— Então ela faz no seu pai, já que ele é uma criança, né? —
Esmeralda dá risada.
— Qual desenho você vai queler, papai? — Sua pequena mão acaricia
o meu rosto.
— Que tal um do Rei Leão? — Eu digo, já que é um dos filmes a que
mais assistimos juntos.
— O bumba? — Essa pedrinha preciosa sabe muito bem fazer nós
dois darmos risada.
— Pode ser! — falo, e a Hanna a solta no chão novamente.
— Vamos lá ver se ela faz, papai! — Esmeralda pega a minha mão,
puxando-me enquanto balançava o seu minibracelete em seus bracinhos.
— Vai indo na frente, filha. O papai já vai! — Hanna diz, e
Esmeralda volta correndo para o quintal chamando pelo Simba.
Assim que nós dois conseguimos tirar por breves segundos os nossos
olhos da nossa pequena, a Hanna passa os seus braços em meu pescoço e me
beija calmamente.
— Obrigada por ter ido àquele almoço também, meu lugar de
aconchego. Mas eu acho que você vai querer abrir mais um espacinho nesse
seu coração aí!
— Por quê? — Minhas sobrancelhas mostram a minha dúvida.
Hanna se afasta para pegar uma caixinha de baixo do balcão da
cozinha exatamente igual à que ela me deu três anos atrás, para, então, vir ao
meu encontro e abri-la na minha frente, mostrando mais um minibracelete
metade dourado e metade prateado com a palavra Meraki gravada, assim
como o da Esmeralda, tendo também um teste de gravides positivo ao lado da
fotinha do seu ultrassom.
— Talvez tenhamos o August em nossos braços daqui a alguns meses
para começarmos a tradição da sua família. Então, já vai apertando a mim e à
Esmeralda aí dentro desse coraçãozinho.
Agarro-lhe as mãos, encarando a fita mais de perto, já sentindo o meu
coração totalmente descompassado.
Lembro-me exatamente do dia em que estávamos escolhendo o nome da
Esmeralda, antes de descobrirmos o sexo do nosso bebê. A própria Hanna
lembrou-se da tradição, dizendo que, se fosse um menino, tinha que começar
com a letra A. Eu falei para ela que não precisava seguir isso, mas ela
insistiu; então, começamos a pesquisar, até entrarmos em um comum acordo
de que seria August.
— Não brinca comigo, Hanna! — falo, sentindo a emoção me tomar.
— Não estou brincando. — Ela sorri com os olhos marejados e coloca
as mãos em sua barriga. — O August já está a caminho.