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Histoquímica

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Arch Health Invest (2013) 2(1): 40-49 ISSN 2317-3009

Uso de técnicas de análise histológica e


imunohistoquímica em Odontologia

Technical analysis histological and immunohistochemical in dentistry

El uso de técnicas histopatológicas y inmunohistoquímicas


en la practica odontologica

Ellen Cristina Gaetti Jardim1


Gustavo Rodrigues Manrique1
José Carlos Garcia de Mendonça2
Ângela Hanssessian3
Rosana Mara Giordano de Barros4

1
Cirurgião-Dentista Residente do Programa de Residência em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (CTBMF)
do Núcleo de Hospital Universitário “Maria Aparecida Pedrossian” – UFMS
2
Especialista em CTBMF/ Mestre e Doutor em Ciências da Saúde (CTBMF) pela Faculdade de Medicina da UFMS / Professor Adjunto
de CTBMF da FAODO-UFMS/ Coordenador do Programa de Residência em CTBMF do
Núcleo de Hospital Universitário “Maria Aparecida Pedrossian” – UFMS
3
Mestre em Estomatologia/ Professora Estomatologia da FAODO-UFMS
4
Mestre e Doutora em Patologia Bucal/ Professor Associada III da Disciplina de Patologia Bucal da FAODO-UFMS

Inúmeros são os métodos de detecção e o significado prognóstico deles para com as patologias bucais, sejam elas benignas ou malignas.
Deste modo, é objetivo revisar a cerca dos vários métodos de coloração histológica, sobretudo o uso da hematoxilina e eosina e a
imunohistoquímica e seu impacto no estadiamento dos pacientes. Para tanto, realizou-se uma revisão de literatura incluindo o tema nas
bases de dados: Pubmed, Cochrane, ISI e Dentistry Oral Science nos últimos 20 anos. É indispensável para o clínico entender as
manifestações e complicações da doença frente à terapia a ser empregada. A observação de métodos diagnósticos é imprescindível para a
instituição de terapêuticas fidedignas e assim um sucesso da terapia.
Palavras chave: Técnicas Histológicas; Microtomia; Coloração e Rotulagem; Imunohistoquímica.

INTRODUCÃO As estruturas orais podem desenvolver neoplasias


Histologia é o ramo da anatomia que estuda os benignas e malignas de origens teciduais variadas e o
tecidos animais e vegetais. A maioria dos tecidos é conhecimento das entidades patológicas mais
formada por células e matriz extracelular. Nesta frequentemente encontradas na cavidade oral e de
categoria se enquadram os diferentes tipos de tecidos grande importância e interesse para o cirurgião-dentista
conjuntivos especializados. cartilaginoso, adiposo, já que a análise microscópica dos tecidos patológicos é
sangüíneo e ósseo além dos tecidos conjuntivo primordial para a definição de um resultado
propriamente dito, muscular e nervoso1. diagnóstico2.

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Desta feita, inúmeras são as colorações provisórias. A seguir, serão descritas as etapas de
empregadas para análise patológica dos tecidos bucais, confecção de lâminas histológicas permanentes de
dentre as quais a hematoxilina e eosina (HE) acordo com1.
enquadram-se como as mais utilizadas. Nas células 1 Coleta do material
coradas com HE os ácidos nucléicos presentes no núcleo
Inicialmente se dá a remoção de pequenos
são corados pela hematoxilina, dando ao núcleo tom
fragmentos do tecido/órgão para que possa ser analisada
azul-púrpura. A eosina é atraída pelos elementos básicos
em um microscópio óptico.
da proteína do citoplasma da célula, corando-o de róseo
a vermelho sendo a associação de ambas amplamente 2 Fixação do material

utilizadas. Importante etapa da confecção de uma lâmina


Portanto, núcleos basófilos, bactérias, cálcio e histológica, esta etapa consiste na utilização de
outros são corados pela hematoxilina e o procedimentos físicos ou químicos para evidenciar
citoplasma eosinófilo e outros tecidos são corados de multiplicação ou mesmo deterioração das substâncias
vermelho pela eosina3. constituintes das células e dos tecidos, fornecendo maior
Outro tipo de análise microscópica enquadra-se a resistência para suportar as demais etapas, mantendo a
reação imunohistoquímica, que pode ser utilizada nas arquitetura normal do tecido a ser analisado. O agente
mais diferentes situações dentro de um laboratório de de fixação amplamente utilizado é o formol tamponado
patologia. As mais importantes são: 1) elucidação do que fixa as proteínas evitando sua degradação.
tecido de origem de uma neoplasia indiferenciada; 2) O formol, por ser mais acessível e de uso simples,
determinação do órgão de origem de uma neoplasia é o fixador mais utilizado nas técnicas histológicas, é
diferenciada; 3) subclassificação de linfomas; 4) confeccionado da seguinte forma de acordo com
pesquisa de fatores prognósticos, terapêuticos e índices Junqueira, Junqueira3:
proliferativos de algumas neoplasias; 5) identificação de . Formol (solução a 37% de formaldeído) _ 100ml
estruturas, organismos e materiais secretados pelas . Água destilada ______________________ 900ml
células; 6) detecção de células neoplásicas . Fosfato de sódio monobásico __________ 4,0g
metastáticas4,11. . Fosfato de sódio dibásico (anidro) ______ 6,5g
Para tanto, é objetivo deste trabalho ressaltar as O tempo de fixação dependerá do tamanho do
características das colorações de hematoxilina e eosina e fragmento do tecido, podendo variar entre 6 e 24h. É
a aplicabilidade da imunohistoquímica para diagnóstico recomendado que, sempre que possível, não ultrapasse a
de lesões bucais por meio de uma revisão de literatura. 3mm de espessura e se utilize, no mínimo, um volume
20 vezes maior de fixador, em relação ao tecido a ser
REVISÃO DE LITERATURA
fixado, para que o material reaja satisfatoriamente. Uma
Muitas são as técnicas utilizadas em histologia e não
vez fixado, a peça deve ser transferida para álcool 70%,
seria possível, abordá-las separadamente. Sendo assim,
onde poderá permanecer indefinidamente.
algumas técnicas frequentemente utilizadas serão
3 Inclusão
abordadas a seguir de acordo com a sequência:
Obtenção da peça a ser examinada (coleta do material), Este procedimento consiste na impregnação do
Fixação, Inclusão e Microtomia1. Sem esquecer que tecido com uma substância de consistência firme que
para a análise sob microscopia óptica é necessária a permita, posteriormente, seccioná-lo em camadas finas,
confecção de lâminas delgadas dos tecidos que formam sendo a parafina a mais utilizada para este fim dada a
os órgãos. Estas lâminas podem ser permanentes ou facilidade de uso e resultados satisfatórios. Como ela

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não é miscível em água, a primeira etapa da inclusão fina camada de albumina para facilitar a adesão da peça.
compreende a desidratação, quando ocorre a retirada da Os cortes obtidos podem ser transferidos, inicialmente,
água dos tecidos e a sua substituição por álcool. A para uma estufa onde ficam alguns minutos (não mais
diafanização é a etapa seguinte, com a substituição do que dez minutos) para posteriormente serem colocados
álcool, agora presente nos tecidos, por xilol. Finalmente, em um suporte inclinado. Finalmente, os cortes devem
na impregnação, última etapa, o xilol é substituído por ser depositados em uma estufa a 60º para secagem entre
parafina fundida a 60° em pequenos blocos. Neste uma e 24 horas.
momento a catalogação do bloco é importante para a TÉCNICAS DE COLORAÇÃO DE CORTES
posterior identificação da peça. HISTOLÓGICOS
4 Microtomia A coloração consiste numa etapa essencial para a
Esta fase consiste, em utilizar um micrótomo visualização das estruturas do tecido. Normalmente são
(Figura 1), aparelho formado por uma lâmina de aço, utilizados corantes hidrossolúveis, sendo necessário,
afiada, e um braço ao qual se prende o bloco e que se deste modo, a remoção da parafina da peça que foi
desloca verticalmente para obter cortes sucessivos, preparada nas etapas descritas anteriormente e que
delgados e uniformes, a partir dos blocos de parafina permanece na lâmina de vidro. Uma série de corantes
com as peças incluídas. pode ser utilizada, mas de acordo Gartner, Hiatt7 podem
ser agrupados em três classes distintas:
1. Corantes que diferenciam os componentes ácidos e
básicos das células;
2. Corantes especializados que diferenciam os
componentes fibrosos da matriz extracelular;
3. Sais metálicos que precipitam nos tecidos.
Os corantes mais utilizados nos procedimentos
histológicos são a Hematoxilina e a Eosina (HE). A
Hematoxilina é uma base que cora, preferencialmente,
Figura 1- Fotografia de um micrótomo para cortes em componentes ácidos das células em um tom de azul
12
resina (Retirado de Junqueira, Carneiro )
escuro. Como os componentes ácidos mais abundantes
são o DNA e o RNA, tanto o núcleo, quanto certas
5 Montagem da lâmina histológica partes do citoplasma, se tornam azulados. Esses
As fitas obtidas a partir do micrótomo são componentes são chamados de basófilos.
transferidas para um banho-maria, com o auxílio de uma A Eosina, ao contrário, é um ácido que cora as
pinça, para serem distendidas. A água deve estar entre estruturas básicas da célula de rosa. Estas estruturas são
3° e 8º abaixo do ponto de fusão da parafina utilizada. abundantes no citoplasma e são chamadas de acidófilas7.
Nesta etapa, são retiradas as dobras e evitadas as bolhas Em peça incluída em parafina a retirada da
abaixo da fita. Após a distensão, os cortes são separados mesma se faz necessário. Esta fase é caracterizada por
individualmente ou em grupos, conforme a uma sequência de banhos em xilol, álcool e água,
conveniência, utilizando-se lâminas de vidro inversamente ao procedimento executado na etapa de
previamente limpas com detergente, estocadas em inclusão. Segundo Junqueira, Junqueira3, o
álcool 80% e previamente secas. Antes da utilização das procedimento é o seguinte:
lâminas, é necessário revestir suas superfícies com uma . 1º Banho de xilol ___________________5min

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. 2º Banho de xilol ___________________2min observada nas etapas abaixo uma variação muito grande
. 3º Banho de xilol ___________________1min em relação ao tempo que pode ser ajustado durante o
. Álcool 100% ______________________1min procedimento no laboratório. De acordo com Junqueira,
. Álcool 95% _______________________1min Junqueira3, as etapas são:
. Álcool 70% _______________________1min 1. Remover a parafina e hidratar os cortes;
. Água ____________________________2min 2. Corar em hematoxilina entre 5 e 15min;

Após a hidratação, os cortes são corados de 3. Lavar em água corrente por 10min;

acordo com o procedimento mais apropriado para a 4. Corar em eosina entre 1 e 10min;

análise que será realizada posteriormente. Neste 5. Lavar em água e desidratar em álcool 70% rapidamente;

contexto o método da hematoxilina-eosina, por ser o 6. Diafanizar e montar em resina.

mais utilizado e por ter um resultado final satisfatório d) Montagem Final da Lâmina:
será apresentado. Este processo consiste em depositar uma gota de
TÉCNICA DA HEMATOXILINA-EOSINA (HE)1,12 resina líquida sobre o corte que está aderido à lâmina de

a) Material necessário para a solução de Hematoxilina: vidro e cobri-lo com uma lamínula. Nesta etapa deve-se

. Hematoxilina ______________________ 2,5g evitar as bolhas de ar que se formam na resina durante a


colocação da lamínula. Finalmente a lâmina é
. Álcool 100% ______________________ 25ml
catalogada. A resina depois de seca garantirá uma
. Alúmen de amônio ou potássio ________ 50g lâmina permanente que poderá durar anos (Figura 2).
. Água destilada ____________________ 500ml

. Óxido vermelho de mercúrio _________ 1,25g

. Ácido acético _____________________ 20ml

Inicialmente, a hematoxilina deve ser dissolvida


no álcool e o alúmen seja ele de amônio ou de potássio,
na água destilada. Posteriormente, as duas soluções
devem ser misturadas e aquecidas até a fervura. O óxido
de mercúrio é adicionado à solução que deve ser
Figura 2- Aumento de 10x evidenciando as colorações
resfriada, mergulhando-se o frasco em água fria. O de hematoxilina e eosina

ácido acético é então colocado na solução fria para


finalmente ser filtrada. O prazo de envelhecimento desta TÉCNICAS UTILIZADAS PARA CONFECÇÃO
solução é entre dois e três meses. A partir desta data o DE LÂMINAS ÓSSEAS
corante perde suas propriedades e não reage Para a confecção de lâminas ósseas são utilizadas
adequadamente com o tecido. duas técnicas: a primeira consiste no desgaste do osso
através do polimento com lixa. Inicialmente, é retirado
b) Material necessário para a Eosina:
um fragmento do osso a ser analisado. Esse fragmento é
. Eosina solúvel em água _______________ 1g
colado com bálsamo do Canadá sobre uma superfície de
. Água destilada ___________________ 100ml
madeira plana. Em um bloco de madeira é colada uma
c) Procedimentos para a coloração: lixa de granulometria grossa para o primeiro polimento.
Embora as etapas possam ser definidas, o tempo O polimento final é feito com uma lixa mais fina, com
em cada fase depende da qualidade e da idade das movimentos firmes e no mesmo sentido, até que se
soluções dos corantes. Deste modo, poderá ser tenha obtido uma camada de osso delgada.

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O osso é retirado da madeira com xilol e aderido à eletrônicos, os eletromagnetos focalizam um feixe de
superfície da lâmina de vidro. Sobre ele é colocada uma elétrons. A resolução é cerca de mil vezes maior do que
lamínula e fixada com resina1,13. a de um microscópio óptico, podendo ampliar em
A segunda técnica implica na descalcificação do 150.000 vezes a imagem de um objeto.
osso. Este procedimento tem por objetivo retirar o MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE
fosfato de cálcio do tecido ósseo para que possa ser TRANSMISSÃO (MET)
seccionado posteriormente. A descalcificação pode ser
A preparação de amostras de tecido para o MET
feita por meio da imersão em ácidos ou compostos
envolve as mesmas etapas básicas da microscopia
quelantes que são os responsáveis pela remoção dos íons
óptica. Contudo, fixadores especiais (lutaraldeído,
metálicos (entre os quais o cálcio), dos tecidos. Uma das
paraformaldeído, tetróxido de ósmio e permanganato de
fórmulas mais usadas, segundo Junqueira, Junqueira3:
potássio) têm sido desenvolvidos, uma vez que as
. Etileno Diamino Tetra Acetato (EDTA) __ 5,5g
ligações cruzadas entre proteínas devem ser mais finas
. Água ____________________________ 90ml
em função da alta resolução do aparelho além da
. Formol ___________________________ 10ml
inclusão também foi desenvolvida uma resina especial,
Após a fixação, o material é lavado para retirar o
como a resinas epóxi e o bloco resultante não maior do
excesso de fixador e transferido para um
que 1mm3. Os tecidos são corados com metais pesados
descalcificador. Não é recomendado utilizar fragmentos
(urânio ou chumbo) que precipitam nas membranas
maiores do que 3mm de diâmetro. Deve-se usar, no
lipídicas, fazendo com que os elétrons percam parte da
mínimo, 40 vezes o volume do tecido, agitando o frasco
sua energia cinética à medida que interagem com o
várias vezes ao dia e trocando o descalcificador a cada 2
tecido. É feito um registro permanente da imagem
ou 3 dias. Os tecidos descalcificados não devem ser
resultante, através da substituição de um filme sensível
transferidos diretamente ao álcool 70%, e sim, lavados
ao elétron no local da placa fluorescente, com a
em água corrente por algumas horas. Para a confecção
produção de um negativo a partir do qual pode ser
das lâminas histológicas de ossos descalcificados
impressa uma fotomicrografia em preto e branco.
seguem-se as etapas rotineiras citadas anteriormente.
Para a visualização microscópica das lâminas MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA

confeccionadas alguns tipos de microscopia podem ser (MEV)

utilizados dentre as quais7,14: Diferentemente da MET, a Microscopia


Eletrônica de Varredura é utilizada para observar a
MICROSCOPIA ÓPTICA DE ALTA RESOLUÇÃO
superfície de um espécime sólido (ao invés de cortes),
Resolução das estruturas pela microscopia óptica proporcionando uma imagem tridimensional. O material
é da ordem de 0,2 micrômetros Na prática histológica é preparado com uma camada de metal pesado como
em parafina, raramente é inferior a 0,6 micrômetros, o ouro ou paládio, depositado na sua superfície. Conforme
que mesmo assim proporciona um bom resultado visual o feixe de elétrons varre a superfície do material, alguns
quatro lentes objetivas que ampliam a imagem em 4, 10 se refletem (elétrons de dispersão) e outros são ejetados
e 40 vezes e uma lente de imersão que amplia a imagem (elétrons secundários) a partir da cobertura do metal
em 100 vezes, onde deve ser utilizado um óleo mineral. pesado. Estes elétrons são capturados por detectores,
MICROSCOPIA ELETRÔNICA interpretados, coletados e mostrados em um monitor
Nos microscópios ópticos, as lentes focalizam a com uma imagem tridimensional. A imagem pode ser
luz visível (feixe de fótons). Nos microscópios fotografada ou digitalizada.

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INTERPRETAÇÃO DE CORTES homogênea garantindo que não ocorram variações na


HISTOLÓGICOS preservação das proteínas celulares ou ácidos nucléicos.
Inicialmente se entender o que se está observando Quanto à etapa de fixação, afirma-se que o
é ter em mente que apesar do órgão a ser analisado ser fixador mais comumente utilizado é a formalina neutra
tridimensional, agora está seccionado, preparado, corado tamponada 10%, com a vantagem de ter um baixo custo
e fixado em uma lâmina de vidro então as estruturas, e ser comprovadamente um bom fixador de tecidos.
quando cortadas transversalmente, se apresentam de Para uma perfeita fixação com essa solução, um
modo distinto de quando cortadas longitudinalmente dos aspectos a ser observado é o pH da formalina, capaz
embora fique evidente que a visualização será em duas de afetar o tipo de reação cruzada que ocorrerá no
dimensões apenas. tecido. Dessa forma, é conveniente o emprego da

IMUNOHISTOQUÍMICA formalina neutra tamponada. Tanto o tamanho do


fragmento quanto o tipo de fixador são determinantes ao
A imunohistoquímica é uma técnica cada vez
perfeito processamento histológico8.
mais utilizada tanto em pesquisa quanto em diagnóstico.
Quanto à importante etapa da técnica
Sua contribuição no avanço do conhecimento em
imunohistoquímica que é a recuperação antigênica,
patologia é inquestionável e, em muitos casos,
vários métodos, como recuperação com enzimas
indispensável para um diagnóstico.
proteolíticas, uso de forno de microondas, panela de
A imunohistoquímica surgiu com as pesquisas em
pressão, panela a vapor, autoclave, ultra-som e métodos
imunopatologia que começaram na década de 1940. Só
químicos, enfatizando que a escolha deles depende do
a partir de 1974, quando foi possível demonstrar alguns
tecido e do anticorpo primário são utilizados (Figura 3).
antígenos tissulares pela técnica de imunoperoxidase em
tecidos fixados em formalina e incluídos em parafina, é
que a imunohistoquímica foi aceita como um método
simples e prático na rotina diagnóstica de patologia
cirúrgica5,8,9,10,15,.
O desenvolvimento de anticorpos monoclonais,
que propiciaram uma enorme fonte de reagentes
altamente específicos para a demonstração de vários
antígenos tissulares ou celulares, e o advento da
recuperação antigênica foram fatos marcantes na
evolução da imunohistoquímica5. Houve tal avanço na
contribuição e na aplicação da imunohistoquímica na
patologia cirúrgica que o fenômeno passou a ser Figura 3- Expressão de proteína p53 (coloração
acastanhada). Extraído de Pinho16
conhecido como a revolução marrom do laboratório de
histopatologia8. Levando-se em conta a imunohistoquimica vem
Devem ser observadas todas as etapas de ganhando um grande destaque nos laboratórios de
processamento do material, uma vez que este pode patologia, sobretudo no tocante a facilitação no
servir de instrumento a pesquisas futuras. Inicialmente, diagnóstico de determinada patologias, a mesma de
as peças precisam ser seccionadas em fragmentos não acordo com os trabalhos de Pinho16 e Pereira17 segue
superiores a 1 cm, de modo a permitir uma fixação tais etapas:

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1. Definição da doença a ser estudada; deve empenhar-se para conseguir os resultados mais
2. Levantamento bibliográfico a respeito das fiéis para cada anticorpo e material empregado.
proteínas mais frequentemente envolvidas na
fisiopatologia biomolecular da doença em questão. DISCUSSÃO

3. Escolha da proteína a ser estudada; A importância do conhecimento da Patologia

4. Obtenção dos reagentes específicos para sua Bucal pelo clínico e por outros especialistas reside no

análise por imunoistoquímica; fato de que, quando na presença de doenças do

5. As amostras teciduais são descalcificadas complexo buco-maxilo-facial onde procedimentos de

quando se faz menção a estruturas ósseas, em ácido citopatologia e anatomia patológica serão requisitados, a

etileno-diamino-tetracético (EDTA) a 5%, por 3 meses. coleta e conseqüente preservação e encaminhamento das

Em seguida, as secções teciduais são incluídas em amostras ao laboratório sejam feitos dentro de critérios

parafina e cortadas em micrótomo, a aproximadamente técnicos adequados e acompanhados de informações


clínicas que funcionarão como subsídio para o
5 m de espessura. Para o processamento
diagnóstico. Várias doenças bucais e até condições
imunohistoquímico são utilizados como anticorpos
sistêmicas podem ser diagnosticadas através de exame
primários e a detecção pode ser por imunoperoxidases e
anátomo-patológico. Assim, o diagnóstico resultará de
a utilização de um cromógeno a fim de possibilitar a
uma atuação orquestrada do cirurgião-dentista
visiualização em nível microscópico;
requisitante e do patologista bucal, além de outros
6. As células positivas para as proteínas
profissionais que atuarem em outros exames
analisadas são avaliadas qualitativamente por meio de
complementares.
microscópio óptico com objetivas de aumento 16X e
Neste sentido, apesar da técnica de hematoxilina-
20X. Parte das amostras teciduais seccionadas são
eosina ser clássica, básica, dicrômica e geral, uma vez
coradas com HE servindo como referência para a
que possui dois corantes: hematoxilina, que cora todos
citoarquitetura dos cortes processados pela
os núcleos de todas as células, e eosina, que cora o
imunoistoquímica;
citoplasma de todas as células, atua de forma
7. Definição de um protocolo de avaliação dos
inespecífica.
pacientes;
Deste modo é evidente que desde a sua
8. Correlação entre os resultados da
introdução, na década de 70, as publicações científicas
imunoistoquímica e os respectivos achados clínicos.
com aplicações da imunohistoquímica em patologia
Com o passar do tempo, os sistemas de detecção
cirúrgica aumentaram significativamente. Esse fato
foram aprimorados, de modo a tornarem-se cada vez
apenas reflete a posição que a imunohistoquímica hoje
mais sensíveis e menos sujeitos a reações cruzadas. A
ocupa em um laboratório de patologia cirúrgica, ou seja,
escolha do sistema de detecção empregado pode estar
a de técnica complementar indispensável na resolução
relacionada a custos; no entanto, não devemos esquecer
de certos problemas de diagnóstico diferencial
que determinados marcadores exigem sistemas
formulados nas lâminas coradas com a coloração básica
especiais. A técnica imunohistoquímica continua sendo
de rotina de HE4,-9,10,18-25.
aprimorada e otimizada, e ainda resultará em muitos
Leong, Wright8, patologistas australianos,
avanços na solução de problemas clínicos. A técnica
escreveram o primeiro artigo que avalia a contribuição
imunohistoquímica é sensível a vários fatores capazes
da imunohistoquímica na área de diagnóstico de
de interferir nos resultados. É fato que é uma técnica
tumores. Segundo os autores, a imunohistoquímica foi
que deve ser utilizada com muito critério, tanto para
particularmente de grande auxílio nos diagnósticos
diagnóstico quanto para pesquisa, e que cada laboratório

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diferenciais entre linfoma anaplásico e carcinoma, e na Quando correlacionamos os resultados obtidos


identificação de melanoma amelanótico; além disso, a com a imunohistoquímica na decisão do tipo de
escolha de um painel de anticorpos baseado nos tratamento a ser oferecido ao paciente Wick et al.,28 em
diagnósticos presumidos nas lâminas coradas em HE é comparação com os obtidos pelo método de HE, são
de grande ajuda para a diferenciação de tumores de enfáticos em citar que a imunohistoquimica apresenta-se
células anaplásicas e fusiformes. Já para Werner et fundamental quando é usada para identificar agentes
al.,11 a imunohistoquímica rendeu um diagnóstico infecciosos e definir a linhagem celular de origem da
específico em 693 casos, ou 83%; a imunohistoquímica neoplasia. Corroborados por Leong, Wright8 que citam
diminuiu o número de diagnósticos diferenciais, que a mesma apresenta relação custo/benefício positiva,
auxiliando parcialmente o patologista em 103 casos, ou mas que as reações devem sempre ser interpretadas com
12%; e a imunohistoquímica não contribuiu para a cautela, levando em conta os achados morfológicos das
conclusão diagnóstica em 39 casos, ou 5%. Isso lâminas coradas em HE e os dados clínicos.
significa que em 95% dos casos nos quais o patologista Raab20 como também citado por Werner et al.,29
está diante de um caso de diagnóstico difícil nas lâminas prova que mesmo se a imunohistoquímica custasse
coradas em HE, a imunohistoquímica pode ajudá-lo a cinco a dez vezes mais, ainda assim traria grandes
firmar se não o diagnóstico correto pelo menos um vantagens no seu uso, embora ainda seja pouco
diagnóstico apropriado. explorada, em detrimento do HE24 o percentual de casos
Além de todo cuidado técnico necessário para que do laboratório que foram submetidos a reações
as reações imunohistoquímicas sejam de qualidade e imunohistoquímicas foi de 0,73% (todos casos de
possam ser interpretadas de maneira correta pelo biópsias), apontando a diligência na indicação da
patologista, a fase de escolha dos anticorpos a serem técnica.
testados, após a análise da lâmina corada em HE, é
CONCLUSÃO
igualmente importante6,26. Rudiger et al.,27 testaram a
Considerando tudo o que foi exposto, é lícito crer
proficiência de 172 patologistas nos quesitos qualidade
que a técnica imunohistoquímica é sensível a vários
de reações imunohistoquímicas dos seus laboratórios e
fatores capazes de interferir nos resultados. Consolida-
capacidade de interpretação dos resultados para a
se como uma ferramenta complementar e não essencial
composição de um diagnóstico final adequado. Apenas
para o exercício da patologia cirúrgica.
57% dos casos enviados aos patologistas retornaram
com os diagnósticos finais corretos, e a baixa ABSTRACT
sensibilidade de algumas reações não foi relacionada There are countless methods of detection and prognostic

com os erros diagnósticos. Os autores concluem que não significance to these pathologies mouth, whether benign or
malignant. Review about various methods of staining histology,
é a qualidade das reações, mas a escolha dos anticorpos,
particularly the use of hematoxylin and eosin and
a interpretação das colorações e a integração dos immunohistochemistry and its impact on the staging of patients. For
resultados imunohistoquímicos ao diagnóstico this there was a literature review including the issue on the basis of
suspeitado nas lâminas coradas em HE que são data: Pubmed, Cochrane, and ISI Science in Dentistry Oral last 20
years. It is indispensable to understand the clinical manifestations
importantes para a formulação de um diagnóstico final
and complications of disease before therapy to be employed. Thus,
pertinente. Tal fato nos leva a crer que a
observation of diagnostic methods is essential for the institution and
imunohistoquímica é eficaz quando há uma escolha thus a reliable therapeutic success of therapy.
direcionada do painel de anticorpos e este último fator é Keywords: Histological Techniques; Microtomy; Staining and

extremamente dependente da experiência do patologista. Labeling; Immunohistochemistry.

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RESUMEN 12. Junqueira LC, Carneiro J. Histologia básica. 8. ed. Rio de


Existen innumerables métodos de detección son numerosos, y la Janeiro: Guanabara Koogan; 1995.
importancia pronóstica para ellos con las patologías orales, ya sea 13. Amaral DM, Mendonça, OV, Laurino LB. Patologia óssea:
benigno o maligno. Por lo tanto, es opinión objetiva acerca de los fundamentos. São Paulo: BYK; 1994.
diversos métodos de tinción histológicos, especialmente el uso de
14. Stevens A, Lowe J. Histologia. São Paulo: Manole; 1995.
hematoxilina y eosina e inmunohistoquímica y su impacto en la puesta
15. Swanson PE. Hieranarchy: the state of the ar t in
en escena de los pacientes. Por lo tanto, se realizó una revisión
immunohistochemistry. Am J Clin Pathol. 1997; 107:139-40.
bibliográfica sobre el tema, incluyendo bases de datos: PubMed,
16. Pinho MSL. Imunoistoquímica: o estudo da biologia
Cochrane, Odontología y Ciencias oral ISI en los últimos 20 años. Es
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esencial para comprender las manifestaciones clínicas y
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Correspondência
Ellen Cristina Gaetti Jardim
Rua Uricuri, 475 Vila Olinda
Campo Grande – MS - CEP: 79060-040

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