CAPS e Internamento Involuntário
CAPS e Internamento Involuntário
CAPS e Internamento Involuntário
Para uma melhor percepção do que é o caps e sua funcionalidade atual no país
podemos trazer algumas definições referenciadas como:
Hoje os CAPS são o “carro-chefe” da Reforma Psiquiátrica, diferenciando-se do
manicômio pela qualidade de suas respostas e dependência de toda a rede (Miranda,
Oliveira & Santos, 2014).
Tem como objetivo ofertar cuidado para as pessoas com transtornos mentais, de
forma territorial, visando à organização da rede de serviços de saúde mental, a
construção de projetos terapêuticos singulares, o suporte à saúde mental na Atenção
Básica e unidades hospitalares, entre outras atividades. Sempre em busca de um
modelo que priorize a reabilitação e a reintegração psicossocial do portador de
transtorno mental e dependência química, mediante acesso ao trabalho, lazer,
exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares (Ministério da
Saúde, 2004; Luzio & Yasui, 2010).
Outro fator que necessita ser considerado na relação internamentos e caps pois
pode influenciar o número de internações psiquiátricas, é a disponibilidade de leitos
de internação. No Brasil, houve redução do número de leitos disponíveis para
internação psiquiátrica de 51.393 em 2002 para 32.284 em 2011. Esta queda é
compatível com os preceitos da Reforma Psiquiátrica 12. Estudo de Fagundes mostra
redução de aproximadamente 2.400 leitos psiquiátricos no município do Rio de
Janeiro nos últimos quinze anos; no mesmo período, as internações foram reduzidas
de 42.762, em 2002, para 20.404, em 201213
Conforme o psicólogo explicou "Ele está naquele mundo bem agudo, bem
compulsivo. Daí chega aqui e quer um internato. A gente fala, olha, vamos com
calma. Como é que está a situação? A gente vai propondo estratégias para que não
precise internar, por exemplo, fica em acolhimento de olho, fica aqui com a gente
durante o dia, qual o horário que é pior para você, e a gente acompanha aqui, inicia a
medicação, e vamos fazendo o possível"
Com relação a utilização dos leitos, o psicólogo informa que "Então, a gente
empresta um leito. A gente não tem leito, mas a gente tem um paciente que demanda.
Então a gente entra em contato com a central, que regula os leitos, fala que gostaria
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de um leito para um paciente, explica o caso da demanda de um leito de CAPS
Porque o leito de CAPS, a gente precisa que o paciente seja voluntário, seja
voluntário de internamento, que seja de sua vontade ir para uma casa como um
hospital psiquiátrico, porém que ele vai dormir lá, vai participar das oficinas muito
mais tranquilo que um hospital psiquiátrico, né? Só que fica menos tempo também.
Uma, duas semanas, às vezes dez dias, né? Só que tem que ser voluntário. Ou, às
vezes, precisa fazer um internamento involuntário. Então, tem gente desorganizada,
tem críticas sobre a própria vida, se colocando em situações de risco. A família vem,
traz isso, a gente encontra o que realmente está desorganizado e baseado nas
circunstâncias vamos precisar fazer um internamento involuntário."
Com base nas afirmações do psicólogo é perceptível que um grande problema dos
internamentos do CAPS não se dá apenas pelo alto volume de pacientes em estado de
gravidade avançada de suas doenças mentais ou de dependência química, mas sim da
infraestrutura e disponibilidade de absorção dessas pessoas pelo próprio CAPS. Além
disso, é notório que os pacientes suscetíveis ao internamento involuntário estão em
estado de risco a si mesmo ou a qualquer público seja familiar ou outros e também
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para determinar seu internamento demandam de uma clausula onde os familiares,
médicos e envolvidos do CAPS definam o processo, diferente do internamento
voluntário onde o paciente tem livre arbítrio para concluir sua estadia.
Referências
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