Período Helenístico
Período Helenístico
Período Helenístico
com
1
PERÍODO HELENÍSTICO
. O desmoronamento da pólis:
- Enfraquecidos pela Guerra do Peloponeso, os gregos não resis�ram ao
ataque macedônico na batalha de Queroneia (338 a.C.) e sucumbiram diante
do rei Filipe II. O domínio macedônico não ficou só na Grécia. Com a morte do
rei Felipe II, seu filho Alexandre (336-323 a.C.) de apenas 18 anos, assume o
poder e conquista os grandes domínios do Império Persa, expandindo o pode-
rio macedônico até a Índia.
- Alexandre foi educado nos costumes gregos, teve Aristóteles como seu pro-
fessor e espalhou a cultura grega por um vas�ssimo território. A expansão e
mistura da cultura grega com a dos povos orientais originou o que foi conheci-
do de helenismo ou cultura helenís�ca. Seu império não resis�u à sua morte.
Foi dividido entre seus generais e foi conquistado pelos romanos. No entanto,
as cidades fundadas por ele con�nuaram transmi�ndo a cultura grega para
diversos povos ao longo de séculos. Como exemplo, podemos citar Alexandria
no Egito, Pérgamo na Ásia Menor e a Ilha de Rodes no Mar Egeu.
- A grande expedição de Alexandre Magno para o oriente e as sucessivas con-
quistas territoriais, com a formação de um império vas�ssimo e a teorização
de uma monarquia universal divina, �veram como efeito imediato o de colocar
em gravíssima crise a pólis. Não se tratou apenas de revolução política, mas
também e, sobretudo, de revolução espiritual e cultural. Alexandre com sua
expansão promove gradualmente a queda da pólis.
. Mudanças:
- Com o declínio da importância da par�cipação do cidadão na pólis, pois
Atenas perdeu sua hegemonia para a Macedônia, a reflexão polí�ca é abando-
nada e surgem as filosofias da era helenís�ca. Agora temos os grandes impé-
rios: de Alexandre (IV) e depois dos romanos.
- Há, neste período, a passagem da helênica à helenís�ca, do ideal da pólis
para o ideal cosmopolita (o mundo é uma grande pólis), do homem citadino ao
homem-indivíduo.
- Surgiu a exigência de novas filosofias mais eficazes do ponto de vista prá�co,
que ajudassem a enfrentar os novos acontecimentos e a inversão dos an�gos
valores aos quais estavam estreitamente ligadas. Todos buscam a ataraxia (au-
sência de preocupação) (termo que surge com Demócrito), mas por caminhos
diferentes: 1. Cínicos (autarquia); 2. Epicuristas (prazer = ausência de dor – na
alma, ataraxia e no corpo, aponia (ausência de dor); 3. Estoicos: apatia (au-
sência de paixões); 4. Cé�cos (afasia = não falar / epoché).
- A cultura helênica difundiu-se em vários lugares e tornou-se a cultura hele-
nís�ca e o centro da cultura passou de Atenas para Alexandria, cidade que
mais se destacou ao possuir a maior biblioteca do mundo de sua época e por
ter formado uma escola com grandes pensadores.
- Em busca de uma pessoa que não fosse corrupta, ele andava com uma lanter-
na interpelando a todos que encontrava. Certa vez, o imperador Alexandre foi
ao seu encontro e disse-lhe que daria qualquer coisa que pedisse. Diógenes
pediu apenas que ele saísse da frente do sol, pois estava impedindo-o de rece-
ber sua luz.
- DEPOIS DE DIÓGENES, o cinismo manteve a linha an�culturalista e an�ssocial
que o mestre lhe havia imposto. CRATES procurou realizar uma vida matrimo-
nial de �po cínico, fora de qualquer convenção. Ele casou-se com HIPARQUIA,
que abraçara o Cinismo e com ela viveu uma vida cínica.
. Hedonismo de Epicuro:
- Epicuro de Samos (341 – 271 a. C), que fundou sua Escola em Atenas em
307/306 a.C., retomou de Leucipo e Demócrito a teoria atomista, de Sócrates
o conceito de filosofia como arte de viver e estabeleceu uma estreita relação
entre felicidade e prazer.
- Epicuro ensinava que os homens devem se libertar dos medos e viver uma
vida voltada para os simples prazeres (hedonismo), como beber quando se tem
sede, comer quando se tem fome, aproveitar a presença dos amigos e familia-
res. Tudo com moderação. Estes prazeres seriam entendidos como a superação
dos desejos estimulados em sociedade, como a busca por fama, riqueza e
poder.
- Epicuro dividiu sua filosofia (finalizando as primeiras duas partes com a ter-
ceira), em: 1) Lógica (chamada “cânon”); 2) �sica; 3) é�ca. Xenócrates foi
quem pensou esta tripar�ção da filosofia: a lógica elabora os cânones que
reconhecemos a verdade; a �sica estuda a cons�tuição do real; a é�ca trata do
fim do homem (a felicidade) e as maneiras para alcançá-la.
. Lógica/cânon:
- Epicuro diz que o conhecimento se fundamenta sobre a sensação, sobre a
prolepse e sobre os sen�mentos de dor e de prazer.
-- Platão disse que a sensação confunde a alma. Epicuro diz que a SENSAÇÃO
“colhe o ser” de modo infalível. Epicuro prova a veracidade absoluta das sen-
sações da seguinte maneira: 1) a sensação é uma afecção e, portanto, passiva;
como tal, é produzida por alguma coisa da qual é o efeito correspondente e
. Ontologia materialista:
- Sobre a Física, Epicuro diz que para fundamentar uma “ontologia materialis-
ta” (visão geral da realidade em sua totalidade e em seus princípios úl�mos) é
necessário tomar dos atomistas o “conceito de átomo” e a “ideia de que não
existe geração do nada nem aniquilamento”. O NASCIMENTO e a MORTE se
dão por agregação ou desagregação de átomos.
átomos não caem em linhas paralelas, ao infinito, sem nunca se tocar? Epicuro
introduz a teoria da declinação ou desvio. A declinação (clinámen) ou desvio
representa o deslocamento mínimo e casual da linha de queda (que é do alto
para baixo) dos átomos. De outro modo, eles não teriam se encontrado,
caindo em linha reta. O “desvio” tem importância para o plano MORAL, pois
permite uma certa LIBERDADE.
- Também a ALMA (dis�nta em racional e irracional) é um agregado de
átomos; trata-se, porém, de átomos diferentes dos outros. E ainda átomos de
caráter especial são os que cons�tuem os DEUSES, cuja existência Epicuro se
mostra absolutamente certo. Os deuses de Epicuro tem numerosas caracterís-
�cas em comum com os deuses da religião tradicional, exceto por um detalhe:
não se ocupam de modo nenhum do mundo e dos homens e vivem uma vida
absolutamente feliz e beata. Assim, tudo o que existe é composto de corpos
(até mesmo a alma e Deus, que são átomos especiais) (provados pelos sen�-
dos) e de vazio (provado pelo movimento).
. Quadrifármaco:
- Epicuro forneceu uma síntese de sua mensagem no assim chamado quadri-
fármaco, ou seja, no quádruplo remédio para os males do mundo:
-- 1) são vãos os temores dos deuses e do além;
-- 2) é absurdo o medo da morte;
-- 3) o prazer, quando for entendido de modo justo, está à disposição de todos;
-- 4) o mal ou é de breve duração ou é facilmente suportável.
- Aplicando estas regras, o homem pode assumir a atitude de absoluta imper-
turbabilidade que dis�ngue o sábio e que lhe concede felicidade intangível,
análoga a divina: com exceção da eternidade – diz Epicuro –, Zeus não possui
nada mais que o sábio. A felicidade seria, portanto, essa libertação dos desejos
e prazeres, com o obje�vo de se levar uma vida serena e simples, própria de
um sábio, com uma alma imperturbável, em serenidade, para eles, em ata-
raxia.
. Moral hedonista:
- A moral epicurista é uma moral hedonista. O fim supremo da vida é o prazer
sensível; o critério único de moralidade é o sentimento. O único bem é o prazer,
como o único mal é a dor; nenhum prazer deve ser recusado, a não ser por
causa de consequências dolorosas, e nenhum sofrimento deve ser aceito, a não
ser em vista de um prazer, ou de nenhum sofrimento menor. No epicurismo não
se trata, portanto, do prazer imediato, como é desejado pelo homem vulgar
(cirenaicos); trata-se do prazer mediato, refletido, avaliado pela razão, escolhi-
2.1.1 An�ga Estoá: Zenão de Cí�o (IV), Cleanto (IV/III) e Crisipo (III)
. Lógica:
- A SENSAÇÃO nasce da impressão dos objetos sobre os sen�dos. A verdade é
algo de material, “é um corpo”. Da sensação surge a REPRESENTAÇÃO que
nasce quando o dado sensível se apresenta à alma. O LOGOS (razão humana)
examina a representação: catalép�ca/compreensiva ou acatalép�ca/descarta-
da (a representação da verdade não implica só um “sen�r”, mas postula um
“assen�r”, um aprovar proveniente do logos que está em nossa alma). Após, a
REPRESENTAÇÃO CATALÉPTICA torna-se intelecção e conceito, ou seja, torna-
-se universal.
- Mesmo admi�ndo que a verdade é algo de material, eles defendiam a exis-
tência de ideias inatas, inerentes à natureza humana, chamadas de NOÇÕES
ou PROLEPSES. O ser é sempre e somente “corpo” e individual; o universal não
pode ser corpo, é um incorpóreo, não no sen�do posi�vo platônico, mas no
sen�do nega�vo de “realidade empobrecida de ser”, uma espécie de ser
ligado somente à a�vidade do pensamento.
. Física:
- O mundo é corpo. A matéria é o princípio passivo e o logos é o princípio ativo.
O ser, dizem os estoicos, se iden�ficava com o “corpo”, razão pela qual tudo o
que existe (também os vícios, o bem e as virtudes) são “corpos”. E todo corpo
é formado pela ação de uma causa a�va com uma causa passiva, isto é, pela
ação da razão (logos) sobre a matéria, produzindo entes de caráter “hilemórfi-
co”, isto é, feitos de matéria e forma. A forma de cada objeto seria, portanto,
o resultado da ação de uma única força racional que dá forma (definição) a um
substrato indefinido.
- O fogo (pneuma, natureza, Deus, panteísmo) penetra toda a realidade, aque-
cendo-a, dando vida a ela. Esta força racional iden�fica-se com a natureza
(physis) e, portanto, com o princípio divino, e em sen�do mais específico, com
o fogo ou sopro (pneuma) afogueado que penetra toda a realidade, aquece-a
e (segundo as concepções cien�ficas da época, que viam no calor o princípio
vital) lhe dá vida. Aparece, portanto, evidente que para os estoicos o cosmo é
como um imenso organismo vivo em que tudo é vida.
- A matéria penetra a matéria, pois há a infinita divisibilidade dos corpos.
Como é possível que o fogo (natureza-Deus), que, como sabemos é corpóreo
e material, penetre o cosmos que é também material? É possível que os
corpos se penetrem mutuamente? Os estoicos introduziram o princípio da
infinita divisibilidade dos corpos e, portanto, admi�ram a possibilidade de que
as partes de um corpo penetrem completamente entre as partes de outro
(princípio da “mistura total dos corpos”).
- O logos gera tudo, pois ele é a semente (razão seminal) de todas as coisas.
Como pode o fogo (logos), que é único, produzir infinidades de forma? Os
estoicos representaram o logos como “semente de todas as coisas”, ou seja,
como semente capaz de gerar muitas outras sementes (razões seminais).
Como a semente, que é única, consegue produzir a infinita variedade dos
ramos, das flores e dos frutos de uma árvore, do mesmo modo o único logos
produz a infinita variedade das formas presentes no mundo.
- Tudo é Deus, o todo são corpos/materialismo e tudo tende ao seu melhor,
pois tudo é dirigido por Deus. A presença do Deus-logos na realidade implica
que tudo seja por ele dirigido de modo infalível, isto é, que tudo seja endere-
çado ao melhor fim (o logos não pode errar). O finalismo universal se traduz
em Providência.
- A vontade do homem não é livre; a liberdade é querer o que o destino quer. A
verdadeira liberdade estaria em uniformizar-se ao logos.
. �ca:
- Todos os seres vivos são dotados de um princípio de conservação (instinto pri-
mário chamado oikéiosis), que instintivamente os leva a evitar aquilo que os
prejudica e a buscar aquilo que os beneficia. O bem de um ser é aquilo que lhe
é benéfico, e o mal é o que danifica. Todo ser vivo pode e deve viver segundo
a natureza. Ora, a natureza do homem é racional e a sua essência é a razão.
Assim, para o homem atuar via o princípio de conservação, ele deve buscar as
coisas e apenas as coisas que incrementam sua razão e fugir das que o prejudi-
cam.
- Quando o princípio da conservação se aplica ao logos (bem: virtudes, mal:
vício, que nasce das paixões – apatheia: ausência de paixões) e quando se
aplica ao corpo (prejudica: indiferente rejeitadas; beneficia: indiferente prefe-
ríveis). As realidades que correspondem a estas caracterís�cas são a virtude e
o vício, portanto, apenas a virtude é “bem” e só o vício é “mal”. E todas as
outras condições que concernem à natureza �sica do homem (ex.: saúde,
doença, riqueza, fama, morte etc.), como deverão ser julgadas? Não são nem
males nem bens, mas moralmente indiferentes. Por ser uma resposta drás�ca
e pouco pra�cável, ela foi posteriormente refeita: os estoicos admi�ram que
também para a componente �sica devia exis�r uma oikéiosis específica, que
permi�ria dis�nguir as coisas que prejudicam o corpo das que o beneficiam,
atribuindo às primeiras o caráter de “indiferente que devem ser rejeitadas” e
às segundas de “indiferentes preferíveis”.
- Os estoicos elaboraram também um quadro das ações, distinguindo as
“ações retas” (ou moralmente perfeitas) e as “ações convenientes” ou “deve-
res”. A diferença entre os dois �pos depende não da natureza da ação (uma
mesma ação pode ser tanto dever como ação correta), mas sobretudo da
intenção de quem a realiza. Se quem a realiza está em sintonia com o logos e,
portanto, é um sábio, e suas ações serão sempre ações corretas; se, ao contrá-
rio, age sem esta consciência, suas ações, embora formalmente conformes a
natureza, são deveres. Disso derivam duas consequências significa�vas: de um
lado, que quem não é sábio, faça o que fizer, jamais realizará uma ação correta;
do outro, que quem é sábio, qualquer coisa queira ou faça, realizará sempre
ações corretas, justamente porque sua vontade quer aquilo que o logos quer.
- Os estoicos consideravam que a oikéiosis não era um fato apenas individual,
mas devia estender-se a toda a humanidade, de modo a definir o homem como
“animal comunitário” (isto é, participante da comunidade humana), e não
mais, como queria Aristóteles, “animal político” (isto é, inserido na pólis). Esta
mudança de perspec�va favoreceu a difusão de ideais de igualitarismo e de
aversão a escravidão (todos os homens par�cipam do logos e, portanto, todos
os homens são iguais, e ninguém é por natureza escravo). Não se deve pensar
que o sábio provê um “sen�mento” de simpa�a ou solidariedade com os
outros homens. Com efeito, os sen�mentos de misericórdia, de par�ci-
- A média Estoá, desenvolvida nos séc. II-I a.C., teve como representantes
Panécio de Rodes e Possidônio de Apaméia, que, embora deixando intacto os
fundamentos da doutrina, corrigiram alguns pontos dela, em perspec�va eclé-
�ca.
- Panécio desenvolveu a doutrina dos deveres. Mi�gou a aspereza da é�ca, sus-
tentando que a virtude sozinha não é suficiente para a felicidade, sendo preci-
so ainda boa saúde, meios econômicos e força. Valorizou os deveres e, por fim,
repudiou a apa�a. Sua obra Sobre os deveres influenciou Cícero.
- Possidônio empenhou-se em colocar a filosofia estoica a par do progresso
científico de seu tempo. Seguindo a linha de seu mestre Panécio, Possidônio
abriu o Pór�co às influencias platônicas e aristotélicas, não hesitando corrigir
Crisipo com Platão, embora mantendo firme a visão de fundo da Estoá. Ele foi
considerado, na época, do tamanho de Aristóteles.
. Sobre o neoestoicismo:
- O úl�mo grande florescimento da filosofia do Pór�co deu-se em Roma (estoi-
cismo romano, neoestoicismo). O estoicismo foi a filosofia que, em Roma,
sempre teve maior número de seguidores e admiradores, tanto no período
republicano como no período imperial. Por quê?
-- interesse pela é�ca (o interesse pela lógica e pela �sica reduziu-se e a teolo-
gia, que era um ramo da �sica, assumiu uma versão mais espiritualista);
-- reduzidos os laços com o Estado e com a sociedade, o indivíduo passou a
buscar a própria perfeição na interioridade da consciência, criando assim um
clima in�mista, nunca encontrado até então na filosofia;
for bela, serás belo”. Essa escolha de fundo poderia parecer um ato de vonta-
de, mas é um ato da razão.
- Não são as coisas que perturbam os seres humanos, mas as avaliações que
eles fazem das coisas. O que isso significa? Que os males não vêm da natureza,
mas de nossas próprias avaliações. Toda a infelicidade dos seres humanos de-
ve-se ao fato de que eles confundem o que está em seu poder e o que não está
em seu poder. Por isso, desejam o que não depende deles, tornando-se escra-
vos dos acontecimentos. O obje�vo de Epicteto é que nos tornamos senhor de
nós mesmos, vivendo assim uma vida sem perturbações.
- Devemos desempenhar bem o nosso papel. O ser humano é um ator numa
peça que ele não escolheu. Ou como diz Shakespeare, “o mundo inteiro é um
palco e todos os homens e mulheres não passam de meros atores. Eles entram
e saem de cena e cada um no seu tempo representa diversos papéis”. Uma
vida bem-sucedida é aquela em que se terá cumprido da melhor maneira seu
papel.
- Deus é inteligência, ciência, bem. Deus é providência, que não cuida somente
das coisas em geral, mas também de cada um de nós em par�cular. Obedecer
ao logos e fazer o bem, portanto, significa obedecer a Deus e fazer sua vonta-
de. A liberdade coincide com a submissão à “vontade de Deus”.
- A nulidade das coisas: ele defende a caducidade das coisas, sua passagem
inevitável, sua monotonia, insignificância e substancial nulidade. O mundo
an�go está se dissolvendo e o cris�anismo começa a conquistar os espíritos.
Encontra-se em andamento a maior revolução espiritual. E é essa reviravolta
que dá ao homem o sen�do da nulidade de tudo. Marco Aurélio, porém, está
profundamente convencido de que o an�go verbo estoico con�nua em condi-
ções de mostrar que as coisas e a vida, para além de sua aparente nulidade,
têm sen�do preciso.
-- a) No plano ontológico e cosmológico, é a visão panteísta do Uno-todo, fonte
e estuário de tudo, que resgata as existências individuais da falta de sen�do;
-- b) No plano ético e antropológico, é o dever moral que dá sen�do ao viver.
- A antropologia: a Estoá dis�nguira o corpo da alma no homem, dando clara
proeminência à alma. Entretanto, essa dis�nção nunca chegou a ser radical,
porque a alma con�nuava como ente material, um sopro quente, ou seja,
pneuma, permanecendo, portanto, com a mesma natureza ontológica do
corpo. Marco Aurélio rompeu esse esquema, assumindo três princípios como
cons�tu�vos do homem: a) o corpo, que é carne; b) a alma, que é sopro ou
pneuma; c) o intelecto ou mente (nous), superior à própria alma. Enquanto a
Estoá iden�ficava o princípio diretor do homem (a inteligência) com a parte
mais alta da alma, Marco Aurélio o coloca fora da alma, iden�ficando-o preci-
samente com o nous, o intelecto. A alma intelec�va cons�tui nosso verdadeiro
eu, o refúgio seguro para o qual devemos nos re�rar para nos defendermos de
qualquer perigo e para encontrar as energias de que necessitamos para viver
uma vida digna de homens.
alma descreve a coisa tal qual ela é na realidade, ou inadequado, quando ela o
interpreta acrescentando-lhe julgamentos de valores subje�vos decorrentes
das paixões e dos preconceitos. São esses úl�mos que perturbam a paz da
alma, e não as coisas em si mesmas, que são indiferentes e necessárias. O
sábio também deve controlar seu discurso interior para “não dar seu assen�-
mento ao que é falso ou duvidoso”. E no poder absoluto que ele tem sobre
seus julgamentos que está sua liberdade.
- Alegrar-se com o que nos acontece: o curso dos acontecimentos é inteira-
mente determinado e querido pela razão universal. Portanto, é preciso reinte-
grar o que nos acontece no movimento geral do todo, no seio do qual todos os
eventos se harmonizam. Por conseguinte, o sábio não deseja mudar a ordem
do mundo, porque compreende sua perfeição de conjunto e consente inteira-
mente com sua harmonia: ele não se revolta com seu des�no, mas lhe dá seu
consenso, iden�ficando assim sua vontade com a vontade divina. Agir de tal
forma que a alma “não se afeiçoe senão ao que depende dela e que ela queira
tudo o que lhe é atribuído pela natureza universal”. Esta é a disciplina de
desejo.
- Só fazer o que presta serviço à comunidade humana (cidade do mundo): o
sábio se compreende como membro da “cidade do mundo”, que é a comuni-
dade dos seres racionais. Ele também só deve realizar ações apropriadas à sua
natureza, conformando sempre sua vontade às leis da razão, isto é, elevando-
-se do ponto de vista individual do egoísmo ao ponto de vista universal do inte-
resse comum. Ele entende que fazer bem aos outros é fazer bem a si mesmo.
É guiado pelo ideal da jus�ça divina, “que cons�tuiu os seres racionais uns
para os outros, a fim de que eles se ajudem mutuamente, segundo seu respec-
�vo valor, sem prejudicar-se absolutamente”. Cumprir o papel que a Providên-
cia lhe atribuiu é, para Marco Aurélio, trabalhar para o bem de sua pátria, mas
também, em sen�do mais amplo, para o bem da humanidade, enquanto ele é
não apenas cidadão romano, mas também cidadão do mundo.
- Não criou uma escola (como Stoá e Jardim) nem escreveu (como Sócrates).
- Os 3 pilares do pirronismo: é possível viver “com arte” uma vida feliz, ainda
que sem a verdade e sem os valores, ao menos como eles foram concebidos e
venerados no passado. O divino é estável; as coisas, provisórias. Tímon diz que
Pirro mostra que as coisas:
-- 1) TODAS AS COISAS SÃO SEM DIFERENÇA. São igualmente sem diferença,
sem estabilidade, indiscriminadas; logo, nem nossas sensações nem nossas
opiniões são verdadeiras ou falsas. São as coisas que, sendo feitas assim,
tornam os sen�dos e a razão incapazes de verdade e de falsidade. Pirro negou
o ser e os princípios do ser, e resolveu tudo na “aparência”. Esse “fenômeno”
(aparência) transformou-se, nos cé�cos posteriores, no fenômeno entendido
como aparência de algo que está além do aparecer (ou seja, de uma “coisa em
si”). Dessa transformação, foram extraídas numerosas deduções que, na ver-
dade, não parecem estar presentes em Pirro;
-- 2) O PERMANECER SEM OPINIÕES E INDIFERENTE. Não é necessário ter fé
nelas, mas sim permanecer sem opiniões, sem inclinações, sem agitação. Se as
coisas são “indiferentes”, “sem medida” e “indiscerníveis” e se os sen�dos e a
razão não podem dizer nem o verdadeiro nem o falso, a única a�tude correta
que o homem pode ter é a de não dar nenhuma confiança, nem aos sen�dos
nem à razão, mas permanecer “sem opinião”, ou seja, abster-se de julgar (o
opinar é sempre um julgar) e, em consequência, permanecer “sem nenhuma
inclinação” (não se inclinar mais em direção a uma coisa do que em direção a
outra), e permanecer “sem agitação”, ou seja, não se deixar perturbar por
algo, isto é, “permanecer indiferentes”. Esta “abstenção de juízo” se expressa
posteriormente com o termo epoché, que é de derivação estoica, mas exprime
o mesmo conceito.
-- 3) A AFASIA E A FALTA DE PERTURBAÇÕES. A afasia comporta a ataraxia e a
imperturbabilidade, ou seja, a ausência de perturbação, a quietude interior, “a
vida mais igual”. Afasia, significa, literalmente, falta de palavra. Do ponto de
vista filosófico indica a a�tude do não-dizer-nada de defini�vo e com valor de
verdade.
- Em suma, as coisas são indeterminadas, incomensuráveis, indiscrimináveis e
indiferenciáveis, não tendo em si uma essência estável, sendo pura aparência.
Não existe uma verdade certa. Segue-se que o homem deve permanecer: sem
inclinações, indiferente (porque não existe nada que seja digno de interesse e
de temor), sem opinião (deve abster-se do julgamento), sem exprimir julga-
. Neoce�cismo:
- ENESIDEMO DE CNOSSOS (I a. C.): heracli�smo. Resolve o ser no parecer, a
substância nos acidentes, o que é estável no que muda constantemente. Tudo
. Ciência:
- Com as expedições de Alexandre (IV) para o Oriente há o deslocamento de
Atenas para Alexandria. O Egito é dado para Ptolomeu. Ele e seus sucessores
conservaram a cultura milenar do Egito, mas com uma exceção: Alexandria
(Museu e Biblioteca).
- Com Ptolomeu II, havia 500 mil livros e ocorreu o desenvolvimento das ciên-
cias por um século e meio: geometria (Euclides e Apolônio), mecânica (Arqui-
medes e Heron), astronomia (Eudóxio, Calipo, Hiparco e Aristarco), medicina e
geografia (Eratóstenes).
- Mas no ano 145 a.C. (primeira crise), houve o desentendimento de Ptolomeu
com intelectuais gregos e ele abandonou Alexandria.
- Em 47 a.C. (segunda crise), durante a campanha de César no Egito, a bibliote-
ca foi incendiada (�nha 700 mil livros e muitos se perderam).
- Em 30 a.C. (terceira crise), Otaviano conquista Alexandria e o Egito se torna
uma província do Império Romano (centro do mundo), com interesses apenas
prá�cos. Há, assim, a crise da ciência, com exceção da astronomia (Ptolomeu)
e da medicina (Galeno).
. Neo-aristotelismo:
- Andrônico de Rodes (tradutor, I a. C) e Alexandre de Afrodísia (comentador,
II/III).
- A Escola peripaté�ca ou Peripatoi (do grego, que caminha), fundada por Aris-
tóteles, permaneceu exis�ndo ao longo da época helenís�ca. Aristóteles
morreu um ano após Alexandre e a direção do Liceu ficou a cargo de Teofrasto.
O pensamento aristotélico se manteve como base fundamental, embora
novas tendências na noção de universalidade tenham se estabelecido. Para os
peripaté�cos, o modo de obter a felicidade estava em encontrar a moderação
(média) entre dois extremos (ausência e excesso). Assim, para uma vida de vir-
tudes era importante um equilíbrio entre razão, hábitos e natureza.
. Médio-platonismo:
- Com a destruição da academia, em 86 a.C., o platonismo cessava suas a�vida-
des em Atenas, mas ressurgia em Alexandria. Destaque para: Eudoro (I a.C.),
Trasilo, Plutarco, Gaio, Albino, Apuleio, Téon e Á�co (I e II d.C.).
- As caracterís�cas do Médio-platonismo são:
-- 1) recuperação da dimensão do suprassensível;
-- 2) interpretação das ideias platônicas como objetos do pensamento de
Deus;
-- 3) reformulação da é�ca em chave religiosa segundo o princípio da “imita-
ção de Deus” ou da “assimilação a Deus”.
- Este movimento é importante tanto para a compreensão do primeiro pensa-
mento cristão, como para a compreensão do Neoplatonismo, do qual prepa-
rou o nascimento.
. Neopitagorismo:
- Nos anos I e II d.C., ao mesmo tempo que o Médio-platonismo, renasceu o
pitagorismo, cujos representantes centrais são Moderato de Gades, Nicôma-
co de Gerusa e, sobretudo, Numênio de Apaméia.
- Os Neopitagóricos repuseram em primeiro plano a dimensão do imaterial,
caída em total esquecimento durante o período do Helenismo. Retomaram a
doutrina da Mônada e da Díade de Platão, modificando-a em alguns pontos.
. Neoplatonismo:
- Amônio e Plotino: Amônio Sacas (175-242) fundou a Escola Neoplatônica de
Alexandria. Entre seus discípulos se sobressai Plo�no (205-270), o úl�mo dos
grandes pensadores gregos que, com um imponente sistema, se coloca no
mesmo plano de Platão e Aristóteles.
- Enéadas: Há 3 hipóstases: processão é o movimento pelo qual os seres
emanam do uno e isso opõe-se a criação que implica reflexão, temporalidade
e divisão: 1) Uno-bem: único, imóvel, eterno, infinito, ilimitado e sem forma;
tudo o que existe é ser, mas acima do ser há o uno; o uno não pode ser (e aqui
há uma crí�ca a Parmênides que diz que o uno é); todo ente é tal por causa de
sua unidade; o uno se autocria e, portanto, é livre; o nosso raciocínio não con-
segue captar aquilo que extrapola a finitude, aquilo que vai além do ser e da
linguagem; podemos, assim, falar do uno apenas pela via nega�va (aquilo que
ele não é) ou por meio de analogias (sol, fonte): se o uno é o pensamento, ele
é o super-pensamento, se ele for a vida, ele é a super-vida; 2) Nous (intelecto
ou espírito): introduz a dualidade pensamento/pensado e a mul�plicidade das
ideias; o nous é pensamento/ser/vida por excelência; o uno torna-se nous
para poder pensar; 3) Alma: sua a�vidade é criar o mundo; é a úl�ma deusa,
isto é, a úl�ma realidade inteligível; em sen�do horizontal, ela é uma-e-mui-
tas, enquanto se divide nos vários corpos; em sen�do ver�cal, ela divide-se em
alma suprema/universal (que permanece em união com o espírito), alma do
todo (que cria o cosmo �sico) e almas par�culares (que nascem para animar os
corpos); o uno torna-se alma para poder criar; não há oposição entre forma-
-matéria e espírito-corpo, porque tudo par�cipa do uno, em diversos graus de
afastamento e cada grau da realidade se explica pelo grau superior. Agora,
vamos aprofundar isso.
- O Uno supremo: para Plo�no, a realidade se ar�cula em três hipóstases
(substâncias): o Uno, a Inteligência/Espírito e a Alma. No vér�ce da realidade
há uma hipóstase, o Uno-bem, capaz de dar unidade a todas as coisas, de infi-
nita potência. Todavia, nosso raciocínio pode captar apenas entes finitos e co-
notações definidas das coisas. Por conseguinte, deste Um supremo se pode
falar prevalentemente em termos nega�vos, ou seja, pode-se dizer sobretudo
o que não é. Ou se pode falar dele em termos posi�vos, mas por via analógica:
por exemplo, pode-se dizer que é pensamento, entendendo com isso que se
“assemelha” ao pensamento, mas, na realidade, é “super-pensamento”; ou se
pode dizer que é “vida”, mas na realidade é “super-vida”.
- Por que o Uno existe e por que é aquilo que é? Plo�no lança esse problema
que é totalmente novo no pensamento grego. E ele responde introduzindo o
revolucionário conceito de “autocriação”. O Uno existe porque se auto-criou;
e é aquilo que é, ou seja, Bem absoluto, porque quis ser no melhor modo pos-
sível.
- Por que e como do Uno derivam os muitos? Se o Uno gozava já de absoluta
perfeição, por qual mo�vo produziu algo diferente de si? Plo�no responde,
notando primeiro que o gerar do Uno não o empobrece (como a luz produzida
por uma fonte não empobrece aquela fonte), além disso que o gerado é
sempre de natureza inferior em relação àquele que gera. A geração dos entes
a par�r do Uno não deve ser entendida como “emanação”, mas como “proces-
são”, fruto de uma a�vidade par�cular.
- A atividade do Uno e das outras hipóstases: para sermos precisos, o Uno
(como qualquer outra hipóstase) tem duas a�vidades: 1 – uma, chamada ativi-
dade do Uno, que lhe permite subsis�r; 2 – outra, chamada atividade a partir
do Uno, que faz com que do Uno derivem todas as coisas. E se a primeira é a�-
vidade livre, a segunda é necessária, como é necessário que, uma vez acesa a
chama, desta derive o calor. De um ponto de vista meta�sico, poderemos dizer
que o Uno deve gerar as outras hipóstases para realizar toda a sua potência
infinita.
- O nascimento do Espírito: a par�r do Uno deriva uma potência informe (que
é como matéria inteligível), a qual, para subsis�r, deve voltar-se para contem-
plar o princípio do qual derivou, e depois deve autocontemplar-se. Quando a
matéria inteligível contempla o Uno, ela “se fecunda”, ou seja, se enche das
Ideias, entendidas no sen�do platônico do verdadeiro ser; quando, ao contrá-
rio, se autocontempla, nasce o pensamento verdadeiro e próprio. O Uno devia
produzir o Espírito se queria se atuar como pensamento.
- Ser, Pensamento e Vida: desse processo temos consequências significa�vas:
1) antes de tudo, o Nous, Inteligência ou Espírito, se qualifica como Ser (o
cosmo inteligível das ideias que contêm), como Pensamento (a a�vidade que
desenvolve) e como Vida (justamente enquanto vida de pensamento); 2) em
segundo lugar, com o pensamento nasce a mul�plicidade sob a forma de duali-
dade de “pensamento” e “pensado”.
- A contemplação criadora: além disso, devemos salientar que a produção de
toda realidade, a “criação” em geral e em par�cular, ocorre por meio da “con-
templação”, e os dois termos criação e contemplação em sen�do filosófico se
iden�ficam.
- A Alma e a hierarquia das almas: como o Uno para pensar deve tornar-se
Espírito, também para criar deve tornar-se Alma. E o modo de produção da
Alma por parte do Espírito é idên�co ao do Espírito por parte do Uno: também
aqui é preciso dis�nguir a atividade do e a atividade a partir de (desta vez do e
a par�r do Espírito), ou seja, o nascimento de uma potência, a definição desta
potência por via de contemplação (desta vez do Espírito, e, através do Espírito,
do Uno) e, por fim, a autocontemplação (da Alma). Como, à medida que nos
afastamos do Uno, a força unificante diminui, a Alma como hipóstase perde
em parte a forte unidade, que era própria do Espírito e ainda mais do Uno. A
Alma se ar�cula em três almas: 1) a Alma Suprema, que contempla a hipóstase
superior; 2) a Alma do Todo, que é a que cria o mundo; 3) e por fim as almas
par�culares, que dão vida aos corpos.
- Relação com o mundo: exatamente porque a tarefa da Alma é a de criar o
cosmo, dando-lhe vida, ela se encontra, por assim dizer, dividida no mundo
material, sem, por isto, perder completamente sua unidade, porque – diz Plo-
�no – ela se encontra toda em tudo.
- A matéria: também a matéria, apesar da sua nega�vidade, tem razão de ser
no sistema plo�niano. Ela cons�tui a etapa extrema da processão a par�r do
Uno, em que a potência que deriva do Uno se enfraqueceu, a ponto de não ter
mais a força para contemplar. E, uma vez que a contemplação é a força que
permite criar, a matéria é um nega�vo. Mas, enquanto ela é vivificada e como
que resgatada pela Alma, de algum modo espelha as formas das hipóstases
superiores e assume, à medida do possível, o posi�vo.
- O homem é a sua alma: o homem é fundamentalmente sua alma, e a alma
humana é um momento da hipóstase Alma, da qual par�cipa o caráter de a�-
vidade; portanto, também quando está no corpo, a alma exercita todas as a�-
vidades cognosci�vas, incluindo a sensação, que Plo�no não entende como
momento passivo, mas como “pensamento oculto” da alma.
car que o ano de 529 d. C., como todas as datas que abrem ou encerram uma
época, nada mais faz do que sancionar com um acontecimento de repercussão
aquilo que já era realidade produzida por toda uma série de acontecimentos
anteriores. O édito de 529 d. C., portanto, nada mais fez do que acelerar e
estabelecer de direito aquele fim ao qual, de fato e por si mesma, a filosofia
pagã an�ga estava des�nada inexoravelmente.
INDICAÇÕES DE LEITURAS