Rodrigo Garcia Vilardi
Rodrigo Garcia Vilardi
Rodrigo Garcia Vilardi
São Paulo
2020
Cap PM Rodrigo Garcia Vilardi
Dissertação apresentada no
Centro de Altos Estudos de
Segurança como parte dos
requisitos para a aprovação no
Curso de Aperfeiçoamento de
Oficiais.
São Paulo
2020
VILARDI, Rodrigo Garcia.
CDD:
Capitão PM Rodrigo Garcia Vilardi
BANCA EXAMINADORA
Orientador: _______________________________
Cap PM Alexandre Roberto Luiz
Membro 1: _______________________________
TCel PM Carlos Eduardo de Oliveira
Membro 2: ______________________________
Cap PM Marco Antonio da Silva Rodrigues
Agradecimento
The work had as its theme the Electronic Police Bulletin (BOe) of the São Paulo
State Military Police (PMESP) and its use as a police record of criminal occurrence
valid for the citizen and as the primary source for criminal statistics systems. The
objective of the research was to identify the reasons why, despite the innumerable
transformations that raised the quality of the police report issued by the Military
Police in recent years, including its informatization, it has not yet been possible to
consolidate it abroad. Institution with regard to the registration of criminal matters,
remaining the obligation of a new record, on the same facts, before the Civil Police,
which then will be valid for the citizen and source of criminal statistics. This
overlapping of human, material and financial resources, as well as the damage to
police management and the quality of public security services provided to the
citizens, is the reason why this research also needs to identify the means of change
in this scenario in favor of greater efficiency of police service focused on the citizen.
In order to reach the objectives of the study, an exploratory and descriptive field
research was carried out, with a qualitative and quantitative approach to the attempts
to change in São Paulo and to successful experiences in other states on the subject.
A bibliographic and documentary survey was also performed in relation to the
criminal statistics systems at the state and federal levels that identified weaknesses
in the collection system and the absence of releases of relevant statistical information
related to the activities developed by PMESP. As a result, the research concluded
that the difficulty of consolidating PMESP's BOe as a criminal police record and
source of statistics stems directly from the “paradigmatic crisis” that is currently
affecting the Brazilian public security system because it is still based on a police
model developed in Brazil. eighteenth century no longer adopted in the modern world
for inefficiently sectioning police activities and privileging the exclusivity of the
exercise and authorities and attributions over efficiency and focus on the citizen,
principles that should guide the modern police who adopted, as the PMESP, a
problem-solving community police model in response to the political and criminal
crises experienced in the last decades of the twentieth and early twenty-first
centuries.It was also demonstrated that the implementation of the PMESP BOe,
alone or integrated in a single police report system, such as police report of criminal
occurrence and primary source of criminal statistics systems, from minor changes in
the structural level of the system. This can result in annual savings of about R $ 6
million, as well as improved service to the population and the credibility and
functionality of official criminal statistics. Regarding criminal statistics, two projects
were underway regarding the automation by means of data extraction from the
Military Police Operational System, suggesting the continuation of these projects.
Finally, it was concluded that in addition to the immediate and concrete gains, the
implementation of the proposals will assist in the gathering of forces to propel the
public security system towards a movement of evolution based on the new
paradigms, thus exponentialising the gains for the whole. society.
1 INTRODUÇÃO ………………………………………………………………. 08
2 DO BO/PM-TC AO BOe: PARA NOVAS DEMANDAS NOVAS
SOLUÇÕES ………………………………………………………………….. 13
2.1 1997, do BO/PM ao BO/PM-TC: as novas demandas
constitucionais ……………………………………………………………... 15
2.2 2009, um passo para trás: a Resolução SSP nº 233/09 ..................... 19
2.3 2011, a Resolução SSP nº 35/11: uma nova frente é aberta ............. 23
2.4 2014, sistema de registro único de ocorrência: primeira tentativa e
a resistência das “autoridades” ……………………………………….… 25
2.5 2015, a Resolução SSP nº 57/2015: problema resolvido? ................. 36
2.6 2017, Boletim de Ocorrência Eletrônico (BOe): tudo pronto? .......... 38
3 O BOLETIM ELETRÔNICO DE OCORRÊNCIA (BOe) DA PMESP A
SERVIÇO DO CIDADÃO …………………………………………………… 47
3.1 Da exclusividade para eficiência: mudando-se o paradigma ……… 47
3.2 A exclusividade da autoridade policial: origem e prejuízos………… 52
3.3 Novo paradigma: “eficiência no exercício da autoridade e foco no
cidadão ………………………………………………………………………. 79
3.4 Os Estados inovadores …………………………………………………… 104
3.4.1 Rio Grande do Sul …………………………………………………………… 106
3.4.2 Paraná ………………………………………………………………………… 108
3.4.3 Santa Catarina ……………………………………………………………….. 110
3.4.4 Minas Gerais …………………………………………………………………. 112
3.4.5 Goiás ………………………………………………………………………….. 114
3.5 Tipificação penal: preparando a PMESP para a transição …………. 117
4 O BOLETIM ELETRÔNICO DE OCORRÊNCIA (BOe) DA PMESP
COMO FONTE PRIMÁRIA DE ESTATÍSTICA CRIMINAL E
OPERACIONAL …………………………………………………...………… 133
4.1 A Polícia que a sociedade exige e a estatística que essa Polícia
precisa ……………………………………………………………………….. 133
4.2 Os sistemas oficiais de estatística criminal federal e estadual 145
O Sistema Estadual de Estatística Criminal (Resolução SSP nº 160/01) 148
Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e
de Rastreabilidade de Armas e Munições, de Material Genético, de
Digitais e de Drogas – Sinesp………………………………………………. 155
4.3 Automatização da estatística oficial: eficiência, transparência e
prestação de contas ……..………………………………………………… 162
5 CONCLUSÃO ………………………………………………………………... 173
REFERÊNCIAS ……………………………………………………………… 177
8
1 INTRODUÇÃO
torná-lo apto a ser utilizado como registro oficial de ocorrência criminal e fonte
primária da estatísca criminal.
Para tanto, realizou-se pesquisa de campo e de cunho exploratório-
descritivo, com abordagem quali-quantitativa tanto no que diz respeito às tentativas
anteriores de mudanças realizadas no Estado de São Paulo, objeto do primeiro
capítulo do trabalho, quanto no que se refere a experiências bem sucedidas
implementadas em outros estados a respeito do tema apresentadas em um dos
itens do segundo capítulo, inteiramente dedicado à questão do registro policial no
atual sistema de segurança pública e seus paradigmas.
Realizou-se levantamento bibliográfico e documental em relação à questões
jurídicas, técnicas e até filosóficas 1 , sobre o registro policial criminal, a atual
estrutura do sistema de segurança pública brasileiro e os respectivos sistemas de
estatísticas oficiais sobre criminalidade e produtividade policial, nos âmbitos estadual
e federal, estes últimos objetos do terceiro capítulo, por meio do qual foram
apresentadas as fragilidades nos atuais sistemas de coleta de dados e ausências de
relevantes de lançamentos de dados e informações relativas às atividades
desenvolvidas pela PMESP.
Como resultados, a pesquisa conseguiu comprovar parcialmente a hipótese
visto que a demonstração dos benefícios advindos da implementação da medida em
outros estados e os ganhos estimados em São Paulo a partir da supressão de
procedimentos burocráticos e simplificação de serviços prestados à população
tornam inócuos argumentos contrários à medida calcados exclusivamente em
interpretações de texto legais que não traduzem, necessariamente, o sentido da
norma nem o posicionamento pacífico jurisprudencial pátrio.
No mesmo sentido, verificou-se que diante da capacidade já demonstrada
em diversas oportunidades pela PMESP em relação à implantação e implementação
de inovações teconológicas, inclusive em relação ao próprio BOe, das economias
estimadas com a adoção da medida e da qualidade do sistema projetado e
responsável por gerar mais de um milhão de boletins de ocorrências por ano
elaborados pelos policiais militares do serviço operacional, aperfeiçoamentos
pontuais, a exemplo da inserção de um campo destinado à especificação do tipo
penal relativo as fatos com base em tabela já padronizada no âmbito nacional pela
1
A crise paradigmática do atual sistema de segurança pública apontou no sentido dessa
necessidade.
11
2
Nos termos das Normas para o Serviço Operacional (NORSOP), deve ser objeto de registro em
BOe todo e qualquer atendimento de Unidade de Serviço envolvendo infração penal ou dano
patrimonial, ou, ainda, nos casos de preservação de direitos. É dispensável a elaboração do BOe
14
3
O Formulário PM O-3 – PMESP foi publicado no item 9 do Boletim Geral PM 115 de 19 de junho de
1997.
17
Polícia Civil o denominado BO/PC) quanto como documento apto a subsidiar o início
de procedimentos judiciários de persecução penal no âmbito dos Juizados Especiais
Criminais.
No entanto, apesar da adequação do BO/PM para BO/PM-TC ter sido
adotada em 1997 pela PMESP visando atender determinações legais vigentes
desde 1995 (Lei Federal nº 9.099/95), apenas em outubro de 2001, após a expressa
manifestação do Poder Judiciário4, foi editada a Resolução nº 403/01 pela Secretaria
da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP/SP) (SECRETARIA DA
SEGURANÇA PÚBLICA, 2001) que passou a disciplinar a elaboração de Termos
Circunstanciados pela Polícia Militar do Estado de São Paulo em experiências
pilotos em algumas regiões ou municípios5 ou por algumas unidades especializadas.
A “cronologia” de “implementação” do Termo Circunstanciado pela PMESP
já demonstrava, há cerca de vinte anos, a dificuldade em se “quebrar paradigmas”
na área da segurança e ordem pública, especialmente no que diz respeito às
questões estruturais e interligadas a interesses corporativos. Como visto, apesar de
prevista expressamente na Constituição Federal em 1988 os Juizados Especiais
Criminais só foram efetivamente criados em 1995 por meio da Lei Federal nº
9.009/95 que também definiu o conceito inicial de infrações penais de menor
potencial ofensivo e seus respectivos procedimentos de apuração que, no âmbito
policial, priorizou a simplificação dos registros policiais por meio do Termo
Circunstanciado de Ocorrência elaborado por qualquer “autoridade policial”.
Ainda assim, foram necessários mais cinco anos para que se iniciasse no
Estado de São Paulo uma “experiência piloto” que permitisse a elaboração, mais
simples e célere para toda a sociedade, do referido procedimento por qualquer
policial (como expressamente previsto na lei). Em resumo, da previsão constitucional
ao início das experiências pilotos em solo paulista foram necessários mais de treze
anos para adoção de um procedimento tão lógico e relevante tanto para a atividade
polícia quanto para a sociedade6.
4
A manifestação foi proferida por meio do do Provimento nº 758 do Conselho Superior da
Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo em agosto daquele mesmo ano
5
na capital apenas a área do Comando de Policiamento Metropolitano – 4 –, na Grande São Paulo
apenas o município de Guarulhos e no Interior apenas o município de São José do Rio Preto
6
Mais problemática do que a demora na implementação foi o fato de que, como se verá a seguir, a
iniciativa do Termo Circunstanciado pela PMESP em São Paulo foi descontinuada cerca de oito anos
depois, em 2009 e, até hoje, transcorridos mais de 30 anos da promulgação da Constituição Cidadã,
referida previsão constitucional parece ser “letra morta” no Estado de São Paulo.
18
todos os municípios do Interior (4.162 TCs elaborados pela Polícia Militar e 37.460
elaborados pela Polícia Civil em todo o Interior).
Em que pese os dados a respeito dos Termos Circunstanciados lavrados
pela Polícia Militar naquele período não serem disponibilizados por Batalhão e
Seccionais, a análise dos dados no formato publicado deixa claro que na única
região do Interior em que ambas instituições elaboravam Termos Circunstanciados
(município de São José do Rio Preto) o número de Termo Circunstanciados
elaborados pelos policiais militares era provavelmente superior ao número de
Termos Circunstanciados elaborados pela Polícia Civil visto que o número de TCs
elaborados pela Polícia Militar (4.162) mesmo com todas as limitações indicadas
pela Secretaria da Segurança Pública era superior ao número de Termos
Circunstanciados elaborados em todo o Departamento de Polícia Judiciária de São
Paulo Interior 5 (DEINTER 5) (3.963) que abrigava diversos outros municípios .
A análise acima dos dados disponibilizados não tem por objetivo comparar
“eficiência” ou fomentar “atritos” em prejuízo do “interesse público”, pelo contrário, a
análise dos dados acima visa refletir sobre a correção ou não de dos motivos da
expedição da Resolução SSP 233/09, expressamente indicado nos considerandos
da citada norma, no sentido de que a experiência de Termos Circunstanciados
elaborados pelos policiais militares “criavam” e “estimulavam” “antagonismos” “sem
qualquer impacto” na “celeridade da prestação jurisdicional”. A análise, ao menos
preliminar, dos dados consolidados pela própria Secretaria da Segurança Pública,
parece indicar exatamente o contrário, ou seja, que a questão da elaboração ou não
de Termos Circunstanciados pelos policiais militares consistia exatamente na
“ampliação” dos meios de acesso à justiça por parte da população paulista.
Analisando-se os dados disponibilizados pela Secretaria da Segurança
Pública relativos aos nove primeiros meses de 2007 (quando a Polícia Militar
elaborava TC no 17º BPM/I e nas unidades especializadas), verifica-se que foram
elaborados 154.122 de Termos Circunstanciados no Interior do Estado ao passo que
no mesmo período do ano de 2010 (quando a Polícia Militar já não mais elaborava
Termos Circunstanciados por força da proibição contida na Resolução em comento)
o número de Termos Circunstanciados elaborados no Interior foi de 115.562, ou
seja, no intervalo de apenas dois anos entre um período e outro, apesar do número
de inquéritos policiais instaurados no período, no Interior, ter crescido (138.210 em
2007 para 143.840 em 2010) o número de Termos Circunstanciados elaborados
21
penais de menor potencial ofensivo não parece ser, s.m.j., um ato discricionário do
Secretário Estadual da Segurança Pública mas sim um mandamento constitucional e
legal e, portanto, manifestação legítima e democrática da população brasileira.
Não obstante, para o presente tópico, importa o fato de que, a partir de
então, ao invés de ampliar a iniciativa a PMESP deixou definitivamente de elaborar o
Termo Circunstanciado de Ocorrência sendo que o BO/PM-TC retomou novamente
sua destinação prioritária ao âmbito interno institucional, ainda que a nomenclatura e
suas características permanecessem praticamente inalteradas mesmo após esse
retrocesso.
Como positivo de todo o processo iniciado em 1997 que visou preparar a
Instituição, seus integrantes e o BO/PM-TC para uma melhor prestação de serviço
público a toda a sociedade restou o fato de que referido documento e diversos
procedimentos e sistemas internos foram aperfeiçoados para atender novas
demandas sociais resultando, no mínimo, em uma significativa melhora em relação a
esta importante ferramenta de coleta de dados e informações operacionais e
criminais.
Neste sentido, vale lembrar que apesar da existência do Sistema
Operacional da Polícia Militar (SIOPM) com inúmeras informações já informatizadas
a respeito de cada atendimento de ocorrência pelos policiais militares, os dados
constantes no BO/PM-TC, elaborados obrigatoriamente em algumas ocorrências e
facultativamente em outras, sempre foram mais completos e forneciam detalhes
pormenorizados, ainda que elaborados por meio da via impressa 7 . A fim de
dimensionar o impacto desta importante melhoria basta mencionar que entre os
anos de 2001 e 2018, foram elaborados milhões de BO/PM-TC. Mesmo se
comparado à quantidade total de registros de atendimentos policiais no SIOPM, os
chamados “talões”, o número de BO/PM-TCs é significativo. Em 2017 por exemplo,
dos 9.109.304 (nove milhões, cento e nove mil, trezentos e quatro) “talões” de
ocorrências policiais gerados no SIOPM em cerca de 15% deles, ou seja, em
1.337.547 (um milhão, trezentos e trinta e sete mil, quinhentos e quarenta e sete)
7
A grande maioiria dos atendimentos policiais militares são registrados no SIOPM por meio do
popularmente conhecido “talão “ de ocorrências e, em alguns casos há necessidade da elaboração
do BO/PM-TC. Até então, portanto, nas ocorrências em fosse elaborado o BO/PM-TC as informações
básicas eram registradas no SIOPM e o BO/PM-TC, impresso, incluía outras informaçõpes mais
detalhadas.
23
dos registros, além das informações digitais inseridas nos “talões” do SIOPM foram
elaborados BO/PM-TCs.
Os dados acima destacam a consolidação e relevância do BO/PM-TC até os
dias atuais, mesmo após a descontinuidade da utilização deste documento como
Termo Circunstanciado ocorrida em 2009. Agora, para continuidade da análise
cronológica proposta para este capítulo interessa retornar ao cenário pós 2009, no
qual o BO/PM-TC, apesar da consolidação da qualidade e nomenclatura, voltou a ter
como função principal a alimentação de bancos e sistemas internos para registro,
controle e gestão estratégica-operacional.
8
Por meio da plataforma SIOPM WEB, disponível aos policiais militares por meio da INTRANET da
Instituição, são inseridos dados e informações no SIOPM tais como registros de início e término de
unidades de serviço, situação da frota, efetivo, dentre outros, bem como são realizadas consultas e
extraídos relatórios internos.
25
uma via física do B.O. (Formulário PMO-56) deveria ser elaborada para posterior
lançamento no R.D.O.
Uma análise das informações extraídas diretamente do R.D.O. revelam que
já em 2012, no ano seguinte ao início do procedimento previsto pela nova norma,
mais de 78 mil Boletins de Ocorrências foram elaborados por policiais militares em
todo o Estado nos termos da Resolução SSP nº 35/11, ou seja, diretamente no
sistema R.D.O. administrado pela Polícia Civil. Em 2013 foram mais de 76 mil
Boletins lavrados diretamente pelo policial militar nas centenas de Organizações
Policiais Militares (OPMs) distribuídas em todo o Estado.
Ou seja, em apenas dois anos, por meio desse sistema, foram elaborados
mais de 150 mil Boletins de Ocorrência por policiais militares, com validade imediata
aos cidadãos, sem que fosse necessário, aos policiais militares e/ou aos envolvidos,
providenciar um outro Boletim, sobre os mesmos fatos e com a mesma finalidade,
por meio do comparecimento a um Distrito ou Delegacia da Polícia Civil ou de um
registro eletrônico pela rede mundial de computadores
Frise-se que os registros lavrados pelos policiais militares nos termos da
Resolução SSP nº 35/11 eram realizados nos mesmos moldes dos BO/PCs lavrados
pelos policiais civis nos Distritos ou Delegacias da Polícia Civil do Estado de São
Paulo. Tais números, especialmente se considerados que os registros foram
limitados a ocorrências de apenas algumas naturezas, demonstram a importância da
medida e a capacidade dos policiais militares em operacionalizá-la além de
traduzirem a melhoria do serviço de segurança pública prestado à população
paulista.
Este cenário pode ter fomentado uma importante iniciativa buscada no ano
seguinte, em 2014, por meio de um projeto de lei que visava instituir um sistema de
registro único de ocorrência policial no Estado. Esta iniciativa é o objeto do tópico a
seguir.
O projeto de lei, por si, era simples e direto e indicava que as questões
operacionais e detalhes de implementação seriam definidos por meio de Decreto ou
Resolução da Secretaria da Segurança Pública:
Lei nº , de de 2014
Institui o sistema unificado de ocorrência para registro de infrações penais e
administrativas relacionadas à Segurança Pública.
DAS EMENDAS
este continuaria sendo realizado pelo primeiro policial civil, militar, ou servidor que
tomasse conhecimento dos fatos.
Contudo, é importante destacar que das oito emendas apresentadas seis
delas focaram em definir quem é a autoridade policial sendo que destas, cinco
tinham por objetivo garantir que esta autoridade é única e exclusivamente o
Delegado de Polícia, inclusive mencionando decisões proferidas pelo Supremo
Tribunal Federal a respeito da impossibilidade de “outras autoridades policiais”
elaborarem Termo Circunstanciado de Ocorrência.
Esta preocupação e os demais fundamentos presentes no parecer aprovado
demonstram de modo claro a estreita relação, já destacada anteriormente, entre os
motivos dos entraves à plena implementação da racionalização e simplificação dos
procedimentos policiais previstos pela Lei Federal nº 9.099/95 e as dificuldades para
adoção de um sistema de registro único de evento de segurança e ordem pública:
qual seja a obsolescência do sistema de “autoridades” de segurança pública calcado
em uma divisão de atribuições policiais construída no século XVIII e que pode ser
denominada de “modelo policial napoleônico”. No transcorrer do trabalho será
demonstrado o modo pelo qual esse modelo foi abandonado nos próprios países
que influenciaram o sistema brasileiro. Neste momento, importa o destaque que,
mais uma vez, a defesa dos interesses “corporativos” parecem ter sobreposto à
medidas de eficiência, racionalidade e melhoria do serviço público prestado à
sociedade.
Ainda mais “caricato” que a defesa consistente das “atribuições” das
“autoridades” constituídas frente à proposta de simplificação e melhoria na prestação
de serviços aos cidadãos tenha sido realizada de modo tão contundente justamente
na “casa do povo”, qual seja, na Assembléia Legislativa, órgão do Poder Legislativo
destinado exatamente à representação dos interesses da sociedade por meio dos
parlamentares democraticamente eleitos.
Esta frequente divergência de interesses entre o que a sociedade como um
todo demanda e as posições efetivamente adotadas pelos parlamentares
(municipais, estaduais e federais) é apontada e explicada por alguns doutrinadores
como uma crise de representatividade democrática que é exponencializada em
nosso país por algumas questões históricas, culturais e econômicas (FAORO, 2001,
p. 823-824; CARVALHO, 2013, p. 221-224) e uma introdução da atividade de lobby,
corporativos ou não, que acabam prevalecendo no processo legislativo.
32
9
Último andamento 19/09/2014 - Publicado parecer nº 1144, de 2014, de Relator Especial, em
substituição ao da Comissão de Constituição de Justiça e Redação, Deputado Roque Barbiere,
33
FONTE: R.D.O.
favorável à proposição e às emendas de nºs 01, 02, 04 e 08, na forma da subemenda ora
apresentada neste parecer, e contrário às emendas nºs 03, 05, 06 e 07. (DA. págs 3 e 4)
10
Desde 2000, a Secretaria de Estado de Segurança Pública disponibiliza um campo em seu site
para o registro do Boletim de Ocorrência (BO). A ideia é facilitar e incentivar o registro de ocorrências
para evitar a subnotificação de crimes. A ferramenta funciona 24h por dia e proporciona comodidade
às vítimas, uma vez que não precisam mais de deslocar até os Distritos Policiais. Basta acessar o site
do órgão www.ssp.sp.gov.br e clicar na aba ‘Delegacia Eletrônica’.Em seguida, é necessário escolher
a ocorrência e seguir as orientações em tela. O próximo passo será preencher um formulário com os
dados do crime. Para usar o serviço, o usuário precisa de um endereço eletrônico, pois após o
cadastro é enviado por e-mail um link e senha para impressão do BO.O serviço, que recebia
inicialmente apenas sete tipos de ocorrências, praticamente dobrou de capacidade. Nos últimos oito
anos, a Secretaria de Segurança Pública catalogou um aumento de mais de 45% de registros no
site.
11
Segundo dados do IBGE, na região sudeste o percentual de pessoas que utilizaram a internet, no
período de referência de três meses anteriores à pesquisa, na população de 10 anos ou mais de
idade, foi de 54,2% em 2011 para 65,1% em 2015. Fonte IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação
de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2008/2015.
34
do total de 2.844.170 BO/PCs emitidos pela Polícia Civil naquele mesmo ano.
(FLORÊNCIO, 2018, p. 105; SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA, 2010).
Aliás, sobre a Delegacia Eletrônica cabe uma interessante observação.
Atualmente, o cidadão pode registrar 13 modalidades (naturezas) de boletim de
ocorrência pela Delegacia Eletrônica. Isso foi possível devido as expansões sofridas
pela Delegacia Eletrônica (DE) desde 2011. A primeira incluiu em seu sistema
denúncias de calúnia, injúria, difamação e ameaça no rol das naturezas. A mais
relevante aconteceu em 2013, que inseriu roubo de veículo e rouba a transeunte ou
de objetos (roubo de rua) (SÃO PAULO, 2013). O Gráfico abaixo auxilia na
compreensão dessa evolução:
Ainda que avanços tenham sido obtidos até o ano 2014, nenhuma das
medidas até o momento adotadas havia conseguido resolver um grave problema
que afetava cada vez mais o serviço prestado pela Polícia Militar à população: o
tempo desnecessário em que as equipes policiais militares permaneciam nas
Delegacias de Polícia ou Distritos Policiais apenas para acompanhar envolvidos no
registro do BO/PC, sem que houvesse necessidade de nenhuma outra providência
por parte dos policiais militares. Isto ocorria porque não raras vezes ao chegar na
Delegacia ou nos Distrito Policial com as partes, a equipe da Polícia Civil de serviço
está registrando outros fatos, seja apresentados por policiais que ali chegaram
antes, seja por cidadãos que também ali compareceram buscando a elaboração de
um Boletim de Ocorrência.
Diante de tal cenário, considerando que a proposta de um sistema de
registro único de ocorrências não havia avançado, a Secretaria da Segurança
Pública do Estado, sob a justificativa, dentre outras, de que “compete ao Estado
aprimorar a qualidade e eficiência dos serviços prestados à coletividade” assim
como em virtude da necessidade de que “o atendimento e o registro das ocorrências
apresentadas nas unidades policiais devem ser céleres, de modo a permitir o
imediato retorno dos agentes ao patrulhamento”, com base em experiências
realizadas em algumas regiões do Estado, editou a Resolução nº 57 de 08 de maio
de 2015 prevendo, dentre outras medidas, que “nas ocorrências criminais de mera
transmissão de dados, a Polícia Militar deverá tão somente elaborar BO/PM,
devendo encaminhar cópia ao órgão da Polícia Civil, com atribuição do local dos
fatos”.
Ora, ainda que não houvesse um “sistema único” uma vez que, em tais
casos de mera transmissão de dados, aos policiais militares bastaria a realização do
próprio registro que seria posteriormente encaminhado à Polícia Civil a solução
adotada, ao menos aparentemente, chegaria quase ao mesmo fim, visto que o
atendimento ao cidadão prestado pelos policiais militares resolveria, de imediato, a
questão tanto para os policiais militares quanto para os envolvidos na ocorrência, os
cidadãos.
37
elaborados pela Polícia Militar naquele mesmo ano. Conclui-se, portanto, que na
quase totalidade dos casos (demais ocorrências não abrangidas pela Resolução nº
35/11), as informações inseridas apenas no BO/PM-TC (Formulário PM 0-3) e não
replicadas no SIOPM, continuam a ser registradas e armazenadas na via física
(papel).
A fim de exemplificar e quantificar o volume de informações que podem ser
extraídas do conteúdo dos BO/PM-TCs basta mencionar que naquele ano de 2017
foram elaborados 1.337.547 (um milhão, trezentos e trinta e sete mil, quinhentos e
quarenta e sete) Boletins de Ocorrência pela Polícia Militar do Estado de São Paulo,
sendo que destes 809.246 (oitocentos e nove mil, duzentos e quarenta e seis) foram
relativos a ocorrências criminais, 4.291 (quatro mil duzentos e noventa e um)
referentes a contravenções penais, 23.643 (vinte e três mil, seiscentos e quarenta e
três) sobre atos infracionais e 500.367 (quinhentos mil, trezentos e sessenta e sete)
boletins relativos a ocorrências não criminais (SECRETARIA DA SEGURANÇA
PÚBLICA, 2001).
Ao mesmo tempo em que este volume de informações consistia em
excelente e imprescindível “fonte para estudos técnicos e estatísticos, controle,
planejamento operacional” também demandava, como já afirmado, em razão do
formato físico e impresso até então utilizado, um trabalho hercúleo, por vezes até
inviável, de análise gerencial no âmbito macro tendo em vista que apesar de muitas
informações dos BO/PM-TCs serem também inseridas no Sistema Operacional da
Polícia Militar (SIOPM) de modo a permitir o cruzamento digital e inteligente das
informações por meio de ferramentas como o Business Intelligence (BI) permitindo a
célere produção de uma ampla gama de conhecimento, infelizmente, muitos dados
ainda eram registrados apenas no formulário impresso do BO/PM-TC (Formulário
PM O -3).
Deste modo, a Polícia Militar, buscando a gestão pela qualidade e “a adoção
de processos e padrões com base em recursos tecnológicos de última geração
destinados ao planejamento, organização, liderança e controle das atividades” por
meio do “desenvolvimento de soluções inteligentes na área de segurança pública,
em especial as alicerçadas em conceitos, equipamentos e inovações
proporcionadas pela Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC)” vislumbrou, no
ano de 2017:
40
4. OBJETIVOS
4.1. reduzir o tempo de envolvimento de Unidades de Serviço (US) e de
partes interessadas em ocorrências policiais, otimizando meios, reduzindo
custos e tornando mais célere o atendimento à população;
4.2. aumentar a presença de policiais militares em suas respectivas áreas
de atuação;
4.3. propiciar melhor acesso e maior agilidade à população nos serviços de
segurança pública oferecidos;
4.4. reduzir a subnotificação de registros pertinentes a infrações penais,
considerando a celeridade e desburocratização do processo;
4.5. valorizar o policial militar, aperfeiçoando seus conhecimentos e
aprimorando sua prestação de serviços;
4.6. aumentar a capacidade de gerar informações em tempo real, desde as
elementares até as mais complexas;
4.7. possibilitar o acesso direto aos bancos de dados para fins de consulta
(informações sobre pessoas, veículos, armas, aparelhos celulares, etc.),
sem a dependência e intermediação do controlador do Centro de
Operações, liberando a rede-rádio para outras comunicações e exigências;
4.8. melhorar o monitoramento operacional-administrativo, por meio,
principalmente, do gerenciamento das US e da verificação do que foi
realizado durante o turno de serviço;
4.9. fornecer informações que possibilitem a extração de relatórios
operacionais e administrativos [Relatório de Serviço Operacional (RSO),
Impresso de Controle de Tráfego, etc.] e a geração de estatísticas;
4.10. possibilitar a substituição, paulatina, de formulários impressos pelo
registro eletrônico das ocorrências. (PMESP, 2017)
identificarmos, nos dizeres de Morin (2000, p. 25), algo que está “oculto”, ou seja,
por detrás da regra em análise (duplicidade ou triplicidade do registro policial).
Para tanto, é necessário lembrar que por detrás desta aparentemente
incompreensível regra contida na Resolução SSP nº 57/15 o que está “oculto” é a
ideia, ou o conceito, de que no Brasil somente o Delegado de Polícia é autoridade
policial. A maioria das emendas parlamentares apresentadas durante a tramitação
do Projeto de Lei nº 928/14 buscaram justificar-se exatamente sobre esse conceito,
tido como regra inflexível, como dogma do sistema de segurança pública brasileiro.
A argumentação contrária à determinação legal de elaboração de Termo
Circunstanciado de Ocorrência Policial por outros policiais que não o Delegado de
Polícia também se fundamenta principalmente sobre este dogma: apenas e tão
somente o Delegado de Polícia é autoridade policial no Brasil.
Uma recente decisão proferida pelo juiz substituto da 6ª Vara Federal Cível
do Distrito Federal, Manoel Pedro Martins de Castro Filho, que suspendeu
dispositivo constante em um Decreto Federal que autorizava a Polícia Rodoviária
Federal a lavrar termos circunstanciados de ocorrência sob alegação de que
somente os delegados das polícias Civil e Federal poderiam elaborar tais
documentos é emblemática a respeito de como esse conceito, para alguns, se
apresenta como dogma do atual sistema:
[…] nas palavras do próprio Kuhn (1998; p. 59): “uma comunidade científica,
ao adquirir um paradigma, adquire igualmente um critério para a escolha de
problemas que, enquanto o paradigma for aceito, poderemos considerer
como dotados de uma solução possível”. Não por um acaso o Filósofo
identifica a prática da ciência à resolução de quebra-cabeças, cujo sentido
usual está “na certeza de que este possui uma solução”. Kuhn (Ibid.) ainda
observa que um quebra-cabeça deve “obedecer a regras que limitam tanto
a natureza das soluções aceitáveis quanto os passos necessários para
obtê-las”. Um jogo deste tipo não é solucionado simplesmente com a
montagem de um quadro, o que poderia ser feito dispondo as peças
aleatoriamente num espaço definido, em vez disso, sua resolução obriga
que se respeitem preceitos tais como: o lado liso das peças deve ficar para
baixo, não deve haver espaços entre as peças e etc. (KUHN, 1998; pp. 61-
2). Analogamente, um paradigma proporciona aos cientistas problemas
solucionáveis e, ao mesmo tempo, as regras, o passo a passo, das
soluções, exigindo deles previamente um conjunto de adesões conceituais,
teóricas, metodológicas e instrumentais: eles devem se comprometer
sempre, necessariamente e sem maiores questionamentos com
determinados tipos de instrumentos científicos e com certos modos de
utilizá-los, com determinadas concepções metafísicas acerca da
constituição do Universo e dos modos de abordá-lo. (NETO, 2011, p. 348)
Isso não significa que um “paradigma” não possa ser substituído por outro,
mas isso só ocorrerá a partir do momento em que o “paradigma” vigente não
conseguir mais resolver os problemas daquela determinada comunidade científica.
Portanto, se o “paradigma” da “exclusividade no exercício da autoridade
policial” que na verdade decorre e integra o “paradigma” do “modelo policial
dicotômico de polícias administrativas e polícias judiciárias” estiver solucionando
adequadamente as atuais demandas da segurança pública brasileira não haverá
espaço para substituí-los e, por consequência, a adoção do Boletim de Ocorrência
Eletrônico da PMESP como registro policial válido de ocorrência criminal e como
fonte primária da estatística oficial pode tornar-se inviável visto que, ao menos em
São Paulo, iniciativas anteriores de natureza semelhante foram inviabilizadas
exatemente sob o argumento de estarem em desacordo com tais conceitos .
Entretanto, a partir do momento em que um determinado paradigma deixa
de solucionar adequadamente os problemas daquela comunidade, no caso a
50
Ciência normal > Crise > Revolução > Nova ciência normal > Nova
crise > Nova revolução...
[…]
Inicialmente, a falha na solução dos quebra-cabeças é atribuída mais à
incompetência dos cientistas do que à incapacidade do paradigma.
Entretanto, a persistência dessas falhas conduz outra percepção: a de que
o paradigm tradicional tem limites, não explica determinados aspectos da
realidade e falha na solução de certos quebra-cabeças. Isso é o que Kuhn
conceitua as anomalias do paradigma, ou seja, “o reconhecimento de que,
de alguma
maneira, a natureza violou as expectativas paradigmáticas que governam a
ciência normal” (Ibid.; p. 78).
Se novas anomalias forem descobertas, aumentará a consciência dos
limites do paradigma por parte dos cientistas. Eles vão perdendo então,
pouco a pouco, a confiança nessa estrutura e vivenciam “um período de
insegurança profissional”: uma situação de crise. Quando um paradigma
demonstra impotência para resolver problemas, ou diante do “fracasso
constante dos quebracabeças da ciência normal em produzir os resultados
esperados” (KUHN, 1998; p. 95), a prática normal da ciência começa a
perder a confiabilidade e entra em crise, decretando a excepcionalidade.
(NETO, 2011, p. 351-352)
Vale notar que essa crise não ocorre somente em função da desconfiança
de alguns indivíduos; ela se torna ainda mais séria quando os indivíduos, ao
lado da percepção dos limites do paradigma em vigência, propõem um
paradigm rival. O paradigma rival trilha obviamente caminhos lógicos e
metodológicos diferentes daqueles do paradigma vigente e, por isso, está
em condição de responder a questões que aquele mais tradicional já não
consegue. Kuhn evoca a Gestalt para exemplificar tal diferença: trata-se de
formas distintas de percepção, ou melhor, cientistas de paradigmas
distintos, dirigindo o olhar para os mesmos objetos, vêem realidades
igualmente distintas. “É como se a comunidade profissional tivesse sido
subitamente transportada para um novo planeta...” (Ibid.; p. 145). Apesar de
tudo, o paradigma rival nasce das próprias anomalias do paradigma
tradicional e emerge como alternativa: “O fracasso das regras existentes é o
prelúdio para a busca de novas regras” (Ibid.; p. 95). É da constatação dos
limites do paradigma tradicional e do desejo de superá-los que emergirá o
seu rival.
O paradigma rival será, nesses termos, um paradigma emergente. Das
falhas do paradigma tradicional, ele surge como alternativa coerente,
dividindo a comunidade dos cientistas entre “conservadores”, que confiam
no paradigm tradicional, e “inovadores”, que optam por seguir o paradigma
emergente.
A luta que caracteriza a crise paradigmática só se resolve quando um dos
dois paradigmas concorrentes adquire o consenso da comunidade dos
cientistas, ou pelo menos da maior parte dela. O processo de transição dos
paradigmas é lento e pode envolver séculos. Mas é importante notar que a
vitória de um paradigma sobre outro, dada a incomensurabilidade dos
paradigmas concorrentes, advém de uma espécie de conversão religiosa.
Os cientistas, não por motivos exclusivamente teóricos, mas ainda
psicológicos e sociológicos – por “idiossincrasias de natureza
autobiográficas”, pela “nacionalidade ou reputação prévia do inovador”
(KUHN, 1998; p. 193) – começam a migrar em número sempre crescente do
paradigma tradicional para o emergente. Esse processo de substituição
gradual é o que Kuhn chama de revolução científica e “não ocorre apesar
de os cientistas serem humanos, mas exatamente porque eles o são” (Ibid.;
p. 192). Enquanto um paradigma é abandonado ao esquecimento, o outro
se torna popular na comunidade científica, sendo agora objeto de uma nova
prática normal. Inaugura se então um novo processo que certamente, com o
correr das épocas, culminará em novas crises, na emergência de um novo
paradigma rival e numa futura revolução científica. (NETO, 2011, p. 352-
353)
12
A denominação da polícia do Condado de Orange é “Orange County Sheriff’s Office”
13
Battery (Domestic Violence)
53
socorro, voz de prisão ao autor da ação e assim por diante. Provavelmente o tempo
transcorrido para adoção dessas medidas seria semelhante em ambos os países.
Contudo, como destacado, a partir de então os procedimentos policiais passariam a
ser significativamente diversos.
Senão, veja-se. Após a adoção das as medidas imediatas os policiais
militares, em São Paulo, assim como o policial norteamericano, elaborariam um
Boletim de Ocorrência Eletrônico (BOe), no formato digital, contendo todos os dados
da ocorrência, assinatura das partes e o relatório com as providências adotadas e
conclusão dos policiais a respeito dos fatos. Este BOe poderia ser elaborado ainda
no local dos fatos e, em certos termos, seria até mais completo do que o formulário
ICJIS Arrest Affidavit preenchido pelo policial norteamericano.
Contudo, diversamente do que ocorre nos Estados Unidos, mesmo após
esta formalização e registro realizado, os policiais militares seriam obrigados a
conduzir todas as partes até uma outra instituição policial, qual seja, um Distrito
Policial ou uma Delegacia da Polícia Civil que, na maioria das vezes, estaria
funcionando em uma circunscrição diversa, mais distante, visto que desde 2009
(SÃO PAULO, 2009; G1, 2013) 14 , aos finais de semana, feriados e períodos
noturnos, fora do horário de expediente regular portanto, tem-se adotado o
procedimento de fechamento de diversos Distritos Policiais ou Delegacias da Polícia
Civil mantendo-se apenas algumas em regime de plantão, normalmente na sede da
Delegacia Seccional. Apesar de referido procedimento, denominado como “Central
de Polícia Judiciária” ter sido divulgado como meio de “mordenização da Polícia
Civil” e de “melhoria no trabalho de investigação”, entidades representativas dos
policiais civis do Estado alegam que o procedimento decorre do “déficit de efetivo
policial” e não são raros os casos em que a própria sociedade e seus representantes
políticos se manifestam no sentido dos possíveis prejuízos e inconvenientes
decorrentes dessa medida que acaba por resultar em um tempo maior de empenho
dos policiais militares e de espera por parte dos cidadãos envolvidos nas ocorrências
14
A partir desta terça-feira, 13, a Polícia Civil implanta um novo sistema de atendimento – à noite, nos
finais de semana e feriados – em 25 delegacias das zonas norte e leste da Capital. Os 25 distritos
policiais das zonas norte e leste – que integram a 4ª e 5ª Seccionais de Polícia – permanecerão
abertos 24 horas por dia, entretanto, com modo de funcionamento alterado. A partir das 20 horas de
cada dia útil, até as 8 horas do dia útil seguinte, e nos finais de semana e feriados, o atendimento nos
distritos policiais será diferenciado: 18 distritos funcionarão como Pré-Atendimento e 7, como Pronto-
Atendimento. Em 2013 o sistema foi modificado mas permanecendo, por exemplo, com apenas 27
unidades em funcionamento durante a noite na Capital que conta com 96 Distritos Policiais.
55
um outro policial, um perito médico legal, que realizaria o exame pericial e elaboraria
o respectivo laudo. Durante a maior parte desse tempo os policiais militares, o
escrivão e o Delegado de Polícia estariam empenhados conjuntamente em todos
estes procedimentos para registro dos fatos. Ao final, seriam necessários quatro
policiais (um policial militar, um escrivão, um Delegado de Polícia e um perito médico
legal) para realizar o mesmo procedimento que um único policial norteamericano
providenciou: o procedimento de prisão do autor de um crime que se destina, ao
mesmo tempo, subsididar o início da persecução penal por parte do Estado e
garantir os direitos fundamentais do preso.
Como outro exemplo do “apego” do atual sistema de segurança pública
brasileiro às questões formais e à defesa de um conceito de “autoridade” em
detrimento muitas vezes da eficácia e eficiência do serviço público que deve ser
voltado às necessidades do usuário final, qual seja, o cidadão, pode-se citar ainda
os desdobramentos de uma recente “medida” adotada pela Secretaria da Segurança
Pública do Estado de São Paulo, depois “desmedida” pela própria Secretaria e
curiosamente a respeito dos mesmos crimes relacionados à violência doméstica,
objeto ora utilizado para exemplificar o excesso de formalismo policial brasileiro face
ao norteamericano.
Em 2019, buscando dar maior celeridade e eficácia às medidas urgentes de
proteção à mulher quando vítima de crimes relacionados à violência doméstica, foi
aprovada uma alteração legislativa que incluiu o art. 12-C dentre os dispositivos da
Lei Federal nº 11.340 de 7 de agosto de 2006 que previu, dentre outros pontos, a
possibilidade do próprio policial que realizasse o atendimento de ocorrência, no caso
de inexistir Delegado de Polícia disponível no momento, efetivar as medidas
urgentes de proteção à vítima no caso de risco atual ou iminente à vida ou
integridade física desta:
interpretação sistemática dos §§ 1º., e 4º., do artigo 144, CF). Dessa forma,
os Policiais Civis, até podem conceder medidas protetivas, pois que são
componentes da Polícia Judiciária, mas sempre sob a direção e orientação
do Delegado de Polícia de seu cargo, nunca de forma absolutamente
autônoma. Ademais, a Lei 12.830/13 determina que as funções de Polícia
Judiciária e apuração de infrações penais realizadas pelo Delegado de
Polícia são de natureza jurídica, cabendo-lhe a condução da investigação.
Assim também o cargo é privativo de Bacharel em Direito (artigo 2º., § 1º., e
artigo 3º., da Lei 12.830/13). Nesse ponto, ou seja, no que diz respeito ao
disposto no artigo 12– C, III, da Lei 11.340/06 com nova redação dada pela
Lei 13.827/19, entende-se haver parcial inconstitucionalidade devido à
possível interpretação de atribuição de atos de Polícia Judiciária, privativos
do Delegado de Polícia a Policiais que não detém, por força constitucional,
atribuições dessa espécie. Além disso, o dispositivo sobredito confronta com
as determinações da Lei 12.830/13. Em suma, o inciso III, do artigo 12-C,
da Lei Maria da Penha será inconstitucional se interpretado como
autorizador da concessão de medidas cautelares por quaisquer policiais.
Somente o poderão os Policiais Civis, mesmo assim, sob a orientação e
direção do Delegado de Polícia. Sabe-se que há falta de profissionais
Delegados, de modo que há acúmulo de plantões, sendo, por vezes, a
presença física constante impossível. Entretanto, a orientação e direção
deve sempre ocorrer, nos termos da lei e da Constituição.
Diverso não é o entendimento de Sannini Neto:
“Particularmente, nos valendo de uma interpretação sistemática,
entendemos que apenas o policial civil poderá aplicar a medida protetiva de
afastamento, mas desde que haja a análise do delegado de polícia de forma
remota. Dizendo de outro modo, nas cidades em que não houver delegado
de polícia de plantão in loco, o caso deverá ser apreciado pela autoridade
policial da cidade mais próxima, em analogia com o artigo 308, CPP”.
Há policiais em que salta aos olhos que a atribuição nada tem a ver
com a concessão de cautelares, muito menos medidas protetivas em
casos de violência doméstica e familiar contra a mulher. Por exemplo,
o que tem a ver com essa atribuição um Patrulheiro Rodoviário
Federal? Ou um Policial Ferroviário? Ou mesmo um Guarda Municipal?
Até mesmo o Policial Militar, somente tem função constitucional de
policiamento, patrulhamento e apresentação de ocorrências à
Autoridade Policial quando necessário. Ainda mais gritante seria a
atuação dos chamados integrantes das “Polícias Técnicas” (sic). O Perito é
um auxiliar da Justiça e da Polícia Judiciária e não propriamente um policial
que administra medidas restritivas no curso de uma investigação.
Efetivamente os Peritos estão arrolados no Código de Processo Penal, ao
lado dos Funcionários da Justiça, como “Auxiliares da Justiça” (Vide Título
VIII, “in fine”, Capítulos V e VI, artigos 274 e 275 a 281, e ainda o
artigo 6º., VII, CPP). Imagine-se o absurdo de um Perito Técnico ou, ainda
mais estranho, um Médico Legista, concedendo medidas protetivas de
urgência!
A absurdidade legal e constitucional de uma interpretação ampla do
artigo 12– C, III, da Lei 11.340/06, com redação da Lei 13.827/19 é tão
grande que, no Estado de São Paulo, chegou a ser publicada a
Resolução SSP 43, de 28.06.2019. Essa malfadada Resolução
determinava a possibilidade de concessão de medidas protetivas de
urgência por Policiais Militares, por Policiais Civis em geral e, pasmem,
por denominados “policiais” técnico científicos (o que abrangeria
Peritos, Médicos Legistas, fotógrafos, auxiliares de necropsia,
atendentes de necrotério, papiloscopistas, auxiliares de papiloscopista
etc.). O impacto ante o inusitado da Resolução 43/19 foi tamanho, que
a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, poucos
dias depois, em data de 03.07.2019, a revogou total e expressamente
por meio da Resolução 54/19. (grifo nosso) (CABETTE, 2019).
61
Pelos fundamentos supracitados mais uma vez resta claro que no Brasil, nas
discussões a respeito de inovações ou aperfeiçoamentos de procedimentos policiais,
independentemente de serem concretizadas por meio do devido processo legal
constitucional e resultarem em ganho efetivo para a população, para muitos ainda
deve prevalecer o foco na definição de quem é, ou deva ser, a “autoridade policial”
em detrimento da avaliação de eficiência e eficácia da prestação do serviço público
de segurança pública.
Apenas esta ideia ou concepção de exclusividade no exercício da autoridade
policial, incrustada em nosso sistema e consolidada para muitos como um
“paradigma” ajuda a compreender a patente e irracional sobreposição de funções
policiais e de recursos públicos para simples formalização de atos, exemplificada por
meio da comparação entre os procedimentos adotados por uma das milhares de
instituições policiais norteamericanas e aqueles realizados no âmbito do sistema
policial brasileiro para efetivação de uma simples prisão em flagrante nos casos de
violência doméstica.
E esta mesma concepção, de exclusividade no exercício da autoridade
policial, este “paradigma” consiste no “pano de fundo” de todos os movimentos de
resistência a mudanças procedimentais que impediram até o momento a
implentação, no Estado de São Paulo, da determinação legal de elaboração de
Termos Circunstanciados de Ocorrência por qualquer policial e prejudicaram a
adoção de um sistema de registro único de ocorrências que permitira o registro dos
fatos por qualquer policial.
Ainda que referida concepção aparente estar em claro descompasso com a
realidade concreta atual de nossa sociedade, cada vez mais complexa e não
estanque, o simples fato de que ainda hoje se encontram defensores contundentes e
perspicazes deste paradigma construído, como se verá, há dois séculos atrás,
recomenda que não se menosprezem seus fundamentos, nem tampouco que seja,
de plano, desqualificado. Exatamente por existirem vozes contrárias ao que se
defende no presente estudo (que este “sistema de autoridades” em segurança
pública é obsoleto, contraproducente e hoje praticamente único no mundo) faz-se
necessário perquirir a origem desta concepção a fim de verificar se este paradigma
no campo da segurança pública brasileira deva ser “derrubado” ou, ao contrário, por
efetivamente alinhar-se com as peculiaridades da sociedade brasileira, deva ser
“defendido” e “reforçado”. Em outras palavras, faz-se necessário buscar entender se
62
15
Um histórico sobre a criação das polícias no Brasil pode ser encontrado no artigo “Desmilitarização
das Polícias Militares e Unificação de Polícias – Desconstruindo Mitos” de autoria de Fernando Carlos
Wanderley Rocha. ROCHA, Fernando Carlos Wanderley. Desmilitarização das Polícias Militares e
Unificação de Polícias - Desconstruindo Mitos. Brasília: Câmara dos Deputados, 2014. (disponível em
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/estudos-e-notas-tecnicas/publicacoes-da-consultoria-
legislativa/fiquePorDentro/temas/unificacao-de-policias/Texto%20Consultoria.pdf )
64
16 Embora a Polícia Militar do Estado de São Paulo tenha atualmente o maior efetivo, dentre as suas
coirmãs, acredita-se que a Polícia Militar do Estado de Minas Gerais é a instituição mais antiga, tendo
sua origem no Regimento Regular de Cavalaria de Minas, em 9 de junho do ano de 1775, no distrito
de Cachoeira do Campo, município de Ouro Preto, o qual tinha como missão guardar as minas
de ouro descobertas na região de Vila Rica (atual Ouro Preto) e Mariana.
66
17
Composto de cem praças a pé e trinta praças a cavalo, eram os chamados “cento e trinta de trinta
e um”, tal corpo foi criado por decreto imperial do Regente Feijó, cuja missão era “manter a ordem
pública e auxiliar a justiça”.
67
18
Em verdade, o Brasil adotou, desde 1891, o sistema da jurisdição única . A
experiência nacional, portanto, é a de que todos os litígios,
independentemente de quem figure como parte, será resolvido perante o
Poder Judiciário. Assim é que as causas envolvendo diretamente atos da
Administração são de responsabilidade das instâncias originárias do Poder
Judiciário. Não há, portanto, espaço para se falar em contencioso
administrativo no Brasil, nos mesmos moldes do que ocorre na França
e em Portugal.
Não obstante a tradição constitucional calcada no sistema da jurisdição una,
o ordenamento jurídico nacional prevê uma série de instrumentos e meios
processuais que podem ser aviados perante a autoridade administrativa.
Todavia, ao contrário do que ocorre na França e em Portugal, esses
processos não fazem coisa julgada material, sendo sempre passíveis de
revisão pelo Poder Judiciário.
É nesse ponto crucial que reside a dicotomia do modelo policial
brasileiro, no que se refere as suas principais “forças policiais”, quais
sejam, a Polícia Militar e a Polícia Civil, imperfeitamente tratadas como
polícia administrativa e polícia judiciária, respectivamente. Tal
dicotomia, sob o aspecto político/jurídico, advém do modelo de
jurisdição francês, herdado por Portugal, onde, como se apresentou,
há uma clara divisão de funções (executivas e jurisdicionais)
intrínsecas a cada poder, modelo este que foi transmutado para o
Brasil em relação à sua polícia, mas que não foi reverberado no
Estado-jurisdição brasileiro.
18
Com o advento da República, o Brasil optou definitivamente pelo sistema da unidade da jurisdição,
embora a Constituição de 1969 tenha previsto, no art. 111, que a lei poderia criar contencioso
administrativo para julgar as causas ali mencionadas, além de estabelecer, no art. 205, que lides
entre entidades maiores de direito público e suas respectivas autarquias, empresas públicas e
sociedades de economia mista seriam decididas, com eficácia vinculativa plena, pela autoridade
administrativa, ressalvado ao acionista da sociedade de economia mista o direito de recurso ao
Judiciário, por meio de ação anulatória. Mas a lei referida no art. 111 nunca foi editada e o art. 205
não chegou a ser implementado, porque, segundo o Supremo Tribunal Federal – STF, dependia de
lei regulamentadora, também não editada pelo Congresso Nacional (STF. Recurso Extraordinário nº
90.102/SP. Relator: Ministro Moreira Alves. DJ de 19/02/1979, p. 1.064.).
68
19
Que na verdade positivou as estruturas consolidadas à época da Constituinte.
20
A discussão sobre a possibilidade de considerar as guardas municipais como polícias ou não será
analisada a frente em tópico específico.
69
A polícia pode ser considerada sob diversos prismas, daí advindo esta ou
aquela divisão. Nesse particular, tornou-se clássica a divisão da polícia
em três ramos principais: a polícia administrativa ou preventiva, a
polícia repressiva ou judiciária e a polícia mista.
[…]
Embora não seja denominação corrente nos autores especializados,
denominamos policia mista ao organismo estatal que acumula ou exerce,
sucessiva ou simultaneamente, as duas funções, a preventuiva e a
repressiva, como é o caso da polícia brasileira em que o mesmo agente
previne e reprime.
Criticando a divisão da polícia em "de segurança" e "administrativa",
Brandão Cavalcanti mostra que "a divisão, embora aceita pela generalidade
dos autores, merece ser criticada, porque dificilmente será possível
estabelecer distinção perfeita entre as duas categorias de polícias. A
verdade é que, mesmo dentro de determinada manifestação do poder de
polícia, a medida pode revestir-se ou de caráter administrativo, ou
puramente policial, quer a sua finalidade seja a tranqüilidade pública, quer o
cumprimento de um regulamento administrativo. A classificação interessa,
por conseguinte, mais à natureza da medida, do que propriamente à esfera
dentro da qual deve agir a autoridade".31 (Tratado de direito administrativo,
4.- ed., 1956, voI. 111, p. 10-11).
No Brasil, a distinção da polícia em judiciária e administrativa, de
procedência francesa e universalmente aceita, menos pelos povos
influenciados pelo direito inglês (Grã-Bretanha e EUA), defeituosa e
arbitrária, não tem integral aplicação, porque a nossa polícia é mista,
cabendo ao mesmo órgão, como dissemos, atividades preventivas e
repressivas. (JÚNIOR, 184, p. 44).
21
Se para uma legislação ordinária 30 anos pode ser um tempo até demasiado a depender do tema
disciplinado, em termos de normas constitucionais este é um tempo absolutamente exíguo.
22
Exemplo da ebulição e até antagonismos de algumas propostas: PEC 275/2016 (Inclui a guarda
municipal entre os órgãos de segurança pública.), PEC 33/2014 (Altera os art. 23 e art. 24 da
Constituição Federal para inserir a segurança pública entre as competências comuns da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios), PEC 365/2017 (Acresce dispositivo ao art. 144 da
Constituição Federal, criando os corpos de segurança socioeducativa), PEC 336/2017 (Altera os arts.
21, 22, 32 e 144 da Constituição, para dispor sobre a federalização da segurança pública do Distrito
Federal), PEC 51/2013 (Altera os arts. 21, 24 e 144 da Constituição; acrescenta os arts. 143-A, 144-A
e 144-B, reestrutura o modelo de segurança pública a partir da desmilitarização do modelo policial),
PEC 430/2009 (Altera a Constituição Federal para dispor sobre a Polícia e Corpos de Bombeiros dos
Estados e do Distrito Federal e Territórios, confere atribuições às Guardas Municipais e dá outras
providências)
71
brasileiro), o que diferencia as polícias civil e militar não é mais a atividade por elas
desenvolvida (administrativa ou judiciária) mas principalmente a área territorial de
atuação, visto que hoje ambas realizam tanto a prevenção quanto a investigação
dos crimes. Em linhas gerais a Gendarmaria Nacional (GN), militar, é responsável
pelas cidades com menos de vinte mil habitantes e demais regiões do País ao passo
que a Polícia Nacional (PN), civil, é responsável pela atuação nas cidades com mais
de 20 mil habitantes.
Ambas (GN e PN) realizam o chamado “ciclo completo” da atividade policial
em seus respectivos territórios, ou sejam, atuam preventiva e repressivamente na
integralidade. Portanto, nem mesmo a nação que criou o modelo policial napoleônico
no século XIX, do qual se originou o modelo policial brasileiro, permanece com uma
divisão estanque, burocrática e ineficaz entre Polícia Administrativa e Polícia
Judiciária.
Em novembro de 2016 uma comissão da Câmara dos Deputados realizou
visita àquele País para conhecer a estrutura policial daquele País de modo mais
detalhado e identificou que a média de esclarecimentos de crimes em ambas as
polícias era de 45% dos casos registrados sendo que este percentual subia para
80% em casos de violência contra a pessoa (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016). O
mapa a seguir apresenta a distribuição territorial de atuação das duas principais
forças policiais da França:
23
A PM indicada no quadro trata-se da Polícia Marítima, também militar.
74
24
Como já mencionado, a diversidade de propostas de modificação constitucional do sistema de
segurança pública brasileiro pode ser exemplificada por meio das seguintes PECs: PEC 275/2016
(Inclui a guarda municipal entre os órgãos de segurança pública.), PEC 33/2014 (Altera os art. 23 e
art. 24 da Constituição Federal para inserir a segurança pública entre as competências comuns da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios), PEC 365/2017 (Acresce dispositivo ao art.
144 da Constituição Federal, criando os corpos de segurança socioeducativa), PEC 336/2017 (Altera
os arts. 21, 22, 32 e 144 da Constituição, para dispor sobre a federalização da segurança pública do
Distrito Federal), PEC 51/2013 (Altera os arts. 21, 24 e 144 da Constituição; acrescenta os arts. 143-
A, 144-A e 144-B, reestrutura o modelo de segurança pública a partir da desmilitarização do modelo
policial), PEC 430/2009 (Altera a Constituição Federal para dispor sobre a Polícia e Corpos de
Bombeiros dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, confere atribuições às Guardas Municipais
e dá outras providências)
81
prática de uma infração penal, nos termos do art. 5o, § 3o, do CPP. Dentro
de uma interpretação sistemática do Microssistema dos Juizados Especiais,
especialmente em decorrência da informalidade e celeridade que norteiam o
procedimento sumaríssimo, inexiste nulidade nos Termos de Ocorrência
Circunstanciados quando lavrados pela Polícia Militar.(...)Registro por
oportuno que, na Reclamação 6612/SE, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe
6.3.2009, esta Corte especificamente analisou a mesma matéria que agora
se apresenta, com a diferença de que, na reclamação mencionada, o
dispositivo questionado era o Provimento 13/2008, da Corregedoria-Geral
de Justiça do Estado de Sergipe, que: “dispõe sobre o recebimento de
Termo de Ocorrência Circunstanciado lavrado pela Polícia Militar, no âmbito
dos Juizados Especiais Criminais do Estado de Sergipe e dá outras
providências”. Transcrevo trecho da decisão da Min. Cármen, na referida
reclamação: “Cumpre ainda que se divise, no entanto, se o ato de lavrar um
termo circunstanciado se limita à formalização de um relato devido por
praça que atenda a um chamado do cidadão, ou se se dá em um ato mais
elaborado, a ‘tomar lugar jurídico de delegado de polícia’, envolvendo um
juízo jurídico de avaliação (técnica), como mesmo reconhecido pelo Ministro
Cezar Peluso em seu voto na Ação Direta da Inconstitucionalidade no
3.614/PR. Na mesma assentada consta o registro do Ministro Gilmar
Mendes (vencido na ocasião), remetendo-se ao voto do Ministro Celso de
Melo, em que destaca algo que para o caso agora apreciado muito
interessa: ‘(...) Por outro lado, a própria expressão ‘termo circunstanciado’
remete, como agora destacado pelo Ministro Celso de Melo, à Lei n. 9.099,
que, na verdade, não é função primacial da autoridade policial civil. A
doutrina registra que essa é uma função que pode ser exercida por qualquer
autoridade policial. (...)” Em caso idêntico por mim já julgado, RE
1.051.393/SE, DJe 1o.8.2017, transitado em julgado em 13.9.2017, destaco
do parecer ofertado pela PGR o seguinte trecho: “28. A interpretação
restritiva que o recorrente quer conferir ao termo ‘autoridade policial’, que
consta do art. 69 da Lei no 9.099/95, não se compatibiliza com o art. 144 da
Constituição Federal, que não faz essa distinção. Pela norma constitucional,
todos os agentes que integram os órgãos de segurança pública – polícia
federal, polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, policias civis,
polícia militares e corpos de bombeiros militares –, cada um na sua área
específica de atuação, são autoridades policiais”. Assim, o entendimento
adotado pela Turma Recursal do Estado de Sergipe da Comarca de Aracaju
não diverge do entendimento desta Corte. Ante o exposto, nego seguimento
ao recurso (art. 21, § 1o, do RISTF) ((RE 1050631, Relator(a): Min. GILMAR
MENDES, julgado em 22/09/2017, publicado em PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-221 DIVULG 27/09/2017 PUBLIC 28/09/2017). (STF,
2017)
10. A controvérsia posta nos autos, e que já foi analisada por esta
Consultoria Jurídica e pela Consultoria-Geral da União em algumas
oportunidades é a seguinte: Diante do Art. 69 da Lei no 9.099/95, a Polícia
Rodoviária Federal pode lavrar termo circunstanciado de ocorrência - TCO,
o qual restringe-se aos crimes de menor potencial ofensivo? Essa questão
envolve divergências tanto doutrinárias quanto jurisprudenciais, as quais,
muito embora foram expostas no PARECER n. 00475/2019/CONJUR-
MJSP/CGU/AGU, convém aqui renová-las resumidamente, ao passo em
que aproveita-se para fazer remissão à integralidade deste parecer.
O referido Art. 69 da Lei no 9.099/95 assim dispõe:
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará
termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o
autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames
periciais necessários
Analisando esse diploma, parte da doutrina entende ser possível que polícia
não judiciária lavre TCO. Por todos, cita-
se Damásio de Jesus, segundo o qual o TCO consiste em "registro oficial de
ocorrência, sem qualquer necessidade de tipificação legal do fato, bastando
a probabilidade de que constitua alguma infração penal. Não é preciso
qualquer tipo de formação técnico-jurídica para se efetuar esse relato" pelo
que "[a] lei, em momento algum, conferiu exclusividade da lavratura do
termo circunstanciado às autoridades policiais, em sentido estrito" (g.n.)
(JESUS, Damásio de. Lei dos Juizados Especiais Anotada. Ed. Saraiva: 12a
ed, 2011, p. 46-54).
13. Por outro lado, parte da doutrina defende "a apuração das infrações
penais cabe à polícia federal e às polícias civis,segundo dispõem os §§ 1o,
I, e 4o do art. 144 da Constituição Federal. Às demais polícias, a polícia
88
25. Desta feita, com vistas à conferir segurança jurídica à uma atividade que
já vêm sendo exercida pela PRF, de forma fundamentada na Portaria no
224, de 05/12/2018 e na Nota DECOR/CGU/AGU no 328/2009-MCL, então
é de sugerir que os Delegados de Polícia Federal evitem a instauração de
inquérito policial.
Fonte: Conselho Nacional dos Comandantes Gerais das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros
Militares, 2019.
25
A recente decisão judicial que suspendeu dispositivo do Decreto Federal que dispõe sobre este
procedimento foi proferida em primeira instância e em sede liminar. O Decreto, que consolida
procedimento já realizado pela Polícia Rodoviária Federal representa o posicionamento do Ministério
da Justiça e a Presidência da República.
92
sistema de segurança pública pátrio nada mais são do que regras decorrentes do
paradigma da “exclusividade do exercício da autoridade policial e das atribuições
das instituições policiais” e não interpretações extraídas de modo incontestável e
claro do ordenamento jurídico brasileiro.
A inovação sugerida pelos autores, de que policiais militares passem a
elaborar o Auto de Prisão em Flagrante para simplificação e melhoria do serviço
prestado demonstra, mais uma vez que, dentro do contexto de crise paradigmática
vivenciado pelo sistema de segurança pública brasileiro, já está sendo desenhado o
paradigma rival e emergente a substituir o já ultrapassado conceito de “polícias pela
metade”. O ineditismo da solução apresentada exemplifica as “novas realidades”,
antes inimagináveis, que surgem a partir das novas perspectivas abertas no perído
de transição de paradigmas, como explicado por Neto:
Ao que tudo indica, após a Portaria 36, de 1987, último ato formal da polícia
sobre os BIs, houve a orientação para paralisar o envio e o preenchimento
do boletim. Funcionários mais novos das polícias, quando indagados sobre
a obrigatoriedade prevista no Artigo 809, nem sabem do que esse último
trata e nem que precisam preencher os BIs - de acordo com a legislação os
cartórios policiais deveriam guardar a primeira parte dos BIs., porém,
segundo informações do Diretor da Delegacia de Homicídios e Proteção à
Pessoa e do Diretor da de São Paulo, esse último responsável pelas mais
antigas delegacias do município, os chamados cartórios policiais descartam
seus documentos a cada cinco anos. (LIMA, 2005, p. 116)
Isso não significa que cada Estado não estabelecesse e elaborasse seus
próprios registros policiais ou Boletins de Ocorrência. Lima identificou que em São
Paulo, no período compreendido entre 1956 e 1971, o Serviço de Organização do
Gabinete do Secretário de Segurança Pública recebia uma via dos “Boletins de
Ocorrência” para contabilização e contagem das ocorrências ainda que apenas das
Delegacias da Grande São Paulo (LIMA, 2005, p. 116). Em 1972, ainda consoante
levantamentos apresentados por Lima, as ocorrências policiais eram registradas da
seguinte forma:
26
Em 2001 a Fundação Seade dispunha de 2 milhões de Boletins Individuais armazenados e sem
condições de apuraçòes estatísticas em decorrência da irregularidade e ausência de sistematização
dos envios.
98
E o Boletim elaborado pela Polícia Civil nos moldes acima, dera utilizado
como base da identificação criminal e denominado como “Boletim Criminal”:
[…] motivados pelo Artigo 6º, Alínea IX, do mesmo CPP, os operadores da
justiça e da segurança tinham de produzir um outro documento, que
versava sobre a identificação de cada pessoa criminalmente. Nesse
documento, deveriam constar informações biográficas, datiloscópicas e de
características físicas, bem como dados processuais sobre os crimes pelos
quais estavam sendo objeto de acusação, seja no Inquérito ou no processo.
Mesmo de naturezas diversas, não é de se es- tranhar, assim, que possa ter
havido confusão entre esse último documento e os Boletins Individuais, pois
entrevistado o Diretor do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt
– IIRGD, ele afirmou que a base da identificação criminal feita em São Paulo
é um documento intitulado Boletim Criminal e que contém, basicamente,
muitas das informações dos BIs. (LIMA, 2005, p. 109)
[…]
oficial deste tipo de atividade pode e deve ser realizado pela autoridade ou
instituição policial que o praticou.
Portanto, em relação à grande maioria dos atos praticados ou constatados
pelas polícias ou bombeiros militares, polícia rodoviária federal, guardas municipais
ou policiais penais, por tratar-se de atos não criminais, inexiste fundamento legal que
exija a obrigatoriedade de registro no âmbito das instituições policiais responsáveis
pela denominada “policia judiciária”.
Se em relação à questões não criminais não há que se falar em
exclusividade sobre atribuição do registro policial também entende-se como
improcedente que essa “exclusividade” se verifique nos casos de mero registro ou
formalização dos atos policiais relativos à uma infração penal cometida.
A simples ausência de previsão legal a respeito da atribuição para
elaboração do Boletim de Ocorrência policial em conjunto com sua natureza
meramente descritiva relativa ao atendimento prestado pela instituição policial já
afastaria qualquer argumento de exclusividade sobre o registro.
Ademais, se a Constituição Federal estabeleceu que às polícias militares
compete a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública, inserindo-se a
segurança pública (infrações penais) no conceito de ordem pública, inclui-se também
dentre as atribuições das polícias militares a atuação frente às crimes e
contravenções penais, ainda que no aspecto repressivo o foco seja a repressão
imediata. Sendo atribuição das polícias militares a atuação perante as infrações
penais, automaticamente possui competência legal para registrar suas próprias
atividades neste sentido.
Ora, se diante de uma vítima de um crime, é atribuição das polícias militares
prestar-lhes o atendimento imediato, compete-lhe também, registrar o motivo do
atendimento (o crime ou a infração penal).
Não bastasse esta relação entre o registro e a atribuição constitucional, em
2018 foi finalmente instituído por lei o Sistema Único de Segurança Pública e a
Política Nacional de Segurança Pública (PNSPDS) com a finalidade de “preservação
da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, por meio de
atuação conjunta, coordenada, sistêmica e integrada dos órgãos de segurança
pública e defesa social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
em articulação com a sociedade”.
102
Seção III
Das Diretrizes
Art. 5º São diretrizes da PNSPDS:
I - atendimento imediato ao cidadão;
II - planejamento estratégico e sistêmico;
III - fortalecimento das ações de prevenção e resolução pacífica de conflitos,
priorizando políticas de redução da letalidade violenta, com ênfase para os
grupos vulneráveis;
IV - atuação integrada entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios em ações de segurança pública e políticas transversais para a
preservação da vida, do meio ambiente e da dignidade da pessoa humana;
V - coordenação, cooperação e colaboração dos órgãos e instituições
de segurança pública nas fases de planejamento, execução,
monitoramento e avaliação das ações, respeitando-se as respectivas
atribuições legais e promovendo-se a racionalização de meios com
base nas melhores práticas;
VI - formação e capacitação continuada e qualificada dos profissionais de
segurança pública, em consonância com a matriz curricular nacional;
VII - fortalecimento das instituições de segurança pública por meio de
investimentos e do desenvolvimento de projetos estruturantes e de inovação
tecnológica;
VIII - sistematização e compartilhamento das informações de segurança
pública, prisionais e sobre drogas, em âmbito nacional;
103
Fonte: Conselho Nacional de Comandantes Gerais das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros
Militares do Brasil, 2019
estado apenas sob uma outra denominação, qual seja, Registro de Atendimento
Integrado (RAI) o que pode ter motivado a resposta na pesquisa realizado pelo
CNCG como “não”.
Uma vez identificados os Estados que já haviam implementado o
procedimento, foi realizada inicialmente uma pesquisa de campo ao Estado de
Goiás tendo em vista que o sistema adotado naquele Estado, ao menos em uma
primeira análise, era o que melhor se adequava à diretriz do Sistema Único de
Segurança Pública relativa à unidade de registro policial.
Em relação aos demais Estados foram realizados contatos por meio de
canais disponibilizados nas páginas oficiais das instituições policiais assim como por
meio de contatos pessoais do autor em cada uma das instituições a fim de coleta de
dados destinadas à uma breve descrição sobre o modo pelo qual o procedimento foi
implementado e tem sido realizados naquela localidade.
Através das pesquisas supracitadas foram obtidas informações relativas aos
estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais e Goiás.
Em relação aos estados de Rondônia (Decreto Estadual nº 21.256, de 13 de
setembro de 2016) e Piauí (Decreto Estadual nº 17.998, de 19 de novembro de 2018
e Portaria do Comandante Geral nº 337 de 29 de novembro de 2018) e ao Distrito
Federal (Provimento nº 27 de 23 de agosto de 2018 do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios) apesar de terem sido identificados os atos normativos
que regulamentaram o procedimento, não se logrou obter dados junto às instituições
daqueles estados ou de seus integrantes.
Nos subitens subsequentes apresenta-se as principais informações obtidas
durante a pesquisa.
3.4.2 Paraná
3.4.5 Goiás
Resposta:
Prezado Sr,
Sobre a questão: O Estado de São Paulo atendeu a todas as condições
estabelecidas no art. 9º da Portaria nº 845 de 19 de novembro de 2019 do
Ministério da Justiça e Segurança Pública?
a) assinar Termo de Adesão ao Sinesp Integração e/ou Sinesp PPE: Segue
cópia do Termo Assinado
b) integrar e transmitir dados e informações, de forma automatizada, de
Boletins eletrônicos de Ocorrência Policial à Base Nacional de Dados do
Sinesp: A integração foi concluída com êxito
c) não possuir pendências no que concerne à Pesquisa Perfil das
Instituições de Segurança Pública: Não há pendências.
d) estiver regular com a plataforma Dados Nacionais de Segurança
Pública: Não há pendências.
Plataforma disponível para o
cidadadão: http://dados.mj.gov.br/dataset/sistema-nacional-de-estatisticas-
de-seguranca-publica
Att,
SIC/SSP
certo que para tanto foi necessário estabelecer antes uma tabela de
correspondência entre as tabelas, do RDO e do Sinesp.
Isso significa que ambas, ainda que distintas, são compatíveis entre si,
acarretando também que uma vez utilizada a tabela padronizada pela Senasp a
tabela de correspondência entre as naturezas do RDO e do Sinesp facilitaria o
trabalho de correspondência com as tabelas do RDO.
A opção pela utilização das naturezas previstas no RDO também seria um
caminho válido, contudo, diante do processo cada vez mais consistente de
padronização dos dados em âmbito nacional, a adoção da tabela Sinesp
posicionaria o Sistema da PMESP de modo já alinhado à tendência atual.
Enfim, ainda que a inclusão do campo natureza (tipificação penal) da
ocorrência no sistema do Boletim de Ocorrência Eletrônico não seja suficiente para a
absoluta preparação do Boletim de Ocorrência Eletrônico (BOe) estar pronto para
ser reconhecido como registro de ocorrência criminal válido para o cidadão, entende-
se que esta seria a alteração mais delicada tendo em vista que sobre ela recai toda
a resistência e o ponto de crítica daqueles contrários à medida.
Soma-se a esse detalhe ainda a cultura policial militar que tradicionalmente
compreende as naturezas das ocorrências policiais por meio da padronização
estabelecida no Manual de Codificação de Ocorrências da PMESP (M-16-PM). Na
presente proposta não se realizaria a substituição da padronização mas seria
adicionado um campo a mais, com as naturezas do Sinesp ou do RDO, podendo
inclusive as naturezas estabelecidas pelo M-16-PM auxiliar nas regras para
direcionar o policial militar para as tipificações possíveis. Assim, não haveria
impactos operacionais, pois todo o sistema está baseado nesta codificação, e ainda
poder-se-ia utilizá-la de modo positivo, buscando facilitar o trabalho de identificação
da tipificação penal pelo policial militar.
Se há anos os policiais militares do Rio Grande do Sul, do Paraná, de Santa
Catarina, de Minas Gerais e de Goiás estão elaborando os registros e identificando
adequadamente as tipificações penais respectivas, não se sustenta o argumento no
sentido de que os policiais militares do Estado de São Paulo não teriam capacidade
técnica para concretizar o mesmo procedimento.
Uma vez indicada a principal, e talvez mais delicada, alteração no sistema
atual do Boletim de Ocorrência Eletrônico (BOe) da PMESP, restaria uma análise em
123
relação ao impacto financeiro da medida antes do último passo que seria a indicação
do instrumento jurídico apto para esse processamento.
As limitações referentes à deliberação do modo pelo qual a medida seria
implementada, e consequente definição dos processos tecnológicos que seriam
necessários para as respectivas adaptações, torna praticamente impossível uma
estimativa, neste estágio, do impacto financeiro da medida.
Contudo, se essa análise resta prejudicada, uma outra análise pode auxiliar
na demonstração da viabilidade financeira da medida ora proposta.
Em pesquisa realizada por Liporoni (2016) no âmbito da própria Academia
da Polícia Civil do Estado de São Paulo, a autora, que inclusive exerceu por muito
tempo funções ligadas à Delegacia Eletrônica da Polícia Civil, estimou que em 2004
o custo de um Boletim de Ocorrência elaborado em uma Delegacia Física era de R$
37,56 (trinta e sete reais e cinquenta centavos) ao passo que o elaborado por meio
da Delegacia Eletrônica apresentava o custo de R$ 11,99 (onze reais e noventa e
nove centavos). Tais valores, corrigidos pelo Índice Geral de Preços do Mercado
(IGP-M) equivaleriam hoje a R$ 81,77 (oitenta e um reais e setenta e sete centavos)
em uma Delegacia Física e a R$ 26,10 (vinte e seis reais e dez centavos) por meio
da Delegacia Eletrônica.
Logo, considerando que no ano de 2019, consoante dados extraídos por
meio de ferramenta de Business Intelligence (BI) do Sistema de Operações da
Polícia Militar (SIOPM), foram elaborados 107.697 Notificações de Ocorrência
Policial (NOC) o que significa que estas foram as vezes em que o policial militar
elaborou o Boletim de Ocorrência Eletrônico (BOe) no local dos fatos porém teve
que cientificar o cidadão de que ele precisaria providenciar um outro registro, sobre
os mesmos fatos e em duplicidade perante à Polícia Civil, pode-se presumir que se o
BOe fosse válido como registro oficial de ocorrência criminal esse “segundo” registro
em duplicidade seria desnecessário, ou seja, não ocorreria.
Assim, levando-se ainda em consideração que em 2017 cerca de 47% dos
Boletins de Ocorrência elaborados pela Polícia Civil (BO/PC) foram feitos por meio
da Delegacia Eletrônica e 53% por meio de Delegacias Físicas, aplicando-se estes
percentuais para o ano de 2019 chega-se ao valor estimado de que, caso os BOe
em 2019 fossem suficientes para o cidadão e não houvesse a necessidade de
realizar um registro na Polícia Civil, tal qual o determinado pela Resolução SSP nº
57/15 a economia realizada pelo Estado de São Paulo segundo esta estimativa seria
124
Constituição Federal
Art. 144
Também o STF têm interpretado o rol previsto no art. 144 de modo muito
restrito e taxativo:
Não por outro motivo, tão logo a Lei nº 13.022/14 foi aprovada a Ação Direta
de Inconstitucionalidade 5156 foi recebida pelo STF e tem como finalidade
questionar exatamente o Estatuto Geral das Guardas Municipais. A Procuradoria
Geral da República manifestou-se pela inconstitucionalidade dessa ampliação de
competência e até pela incompetência da União de legislar sobre o tema. (STF,
2015).
Sob o aspecto jurídico, não parece haver dúvidas sobre a
inconstitucionalidade da Lei nº 13.022/14, contudo, a existência de guardas
municipais em quase mil municípios brasileiros com um efetivo próximo a 100 mil
guardas indica que uma análise mais ampla, não apenas jurídica, deve ser
realizada. O próprio STF já se socorreu de dados concretos para analisar a questão
do porte de arma por guardas municipais:
27
Mesmo em casos em que o município passa a investir e desenvolver atividades direcionadas à
segurança pública, é comum, em razão das limitações constitucionais referentes às atuações das
guardas civis e/ou das orçamentárias deste ente federativo, que as ações sejam desempenhadas
pelas polícias militares ou civis com base em convênios realizadas entre estado e município por meio
dos quais o primeiro oferece os equipamentos e os recursos humanos e segundo arca com
vencimentos ou gratificações extras, a exemplo do recente convênio celebrado no município de São
Paulo, com base na Lei Municipal nº 14.977/2009 (regulamentada pelo Decreto Municipal nº
50.994/2009), por meio do qual policiais militares, na hora de folga, fardados e com viaturas policiais
militares, de modo voluntário, são empregados em operações de fiscalização de comércio ambulante
irregular ou ilegal no município de São Paulo.
132
4.1 A Polícia que a sociedade exige e a estatística que essa Polícia precisa
o Estado (este sob a perspectiva do governo constituído) o que acabou por impactar
as instituições policiais que tiveram que se aproximar de modelos institucionais
voltados à comunidade, à eficiência e eficácia e à prestação de contas
(accountability) sobre suas ações e resultados alcançados.
Ocorre que quanto mais uma determinada instituição policial se aproxima
desse novo modelo de prestação de serviço público maior será a necessidade de
um sistema ágil e consistente que permita uma adequada gestão das informações,
especialmente nos campos operacional e criminal.
Não por outro motivo, ao dispor sobre a metodologia de aplicação de seus
ativos operacionais, o Sistema de Gestão da Polícia Militar do Estado de São Paulo
– GESPOL prevê que a autoridade policial militar deve orientar o policiamento para
resolução de problemas específicos a partir de um diagnóstico resultante da análise
de diversas fontes (sistemas inteligentes, bancos de dados, estatísticas e
comunidade em geral) com o objetivo de direcionar os recursos policiais de modo
eficaz e eficiente, o que só será possível se os resultados das estratégias e ações
adotadas forem continuamente avaliados e retroalimentarem as análises e decisões
sobre a necessidade de manutenção, aperfeiçoamento ou mudanças no
planejamento operacional.
Este processo previsto pelo sistema institucional de gestão da PMESP,
fundamentado no chamado ciclo PDCL (Plan - planejar, Do - executar, Check -
verificar, e, Learning – aprendizagem) 28 , resultou, em termos operacionais, na
adoção do Plano de Policiamento Inteligente (PPI) (PMESP, 2010, p. 72 e 73), o
qual, normatizado em 2007 pela PMESP, consolidou a adoção institucional do
policiamento orientado à solução de problemas, modelo de policiamento que se
originou de experiências práticas implementadas por diversas polícias no início dos
anos 70, especialmente norte-americanas, e teve o conceito delineado gradualmente
a partir de textos e obras publicadas por Herman Goldstein durante as décadas
2930
seguintes (1977, 1979, 1987 e 1990) .
28
Referido método foi criado na década de 1920 pelo físico norteamericano Walter Andrew Shewart e
se popularizou na década de 1950 especialmente por meio do estatístico e professor William
Edwards Deming que o utilizou para desenvolvimento do controle de qualidade nos processo
produtivos.
29
Livros: Herman Goldstein. Policing a Free Society. Cambridge, MA, Ballinger, 1977; Herman
Goldstein. Problem-oriented Policing. New York, McGraw-Hill, 1990. Artigos: Herman Goldstein.
Improving Policing_ A Problem-oriented Approach. Crime and Delinquency, 25, 236-258, 1979;
135
34
Para uma descrição deste processo, vide: Theodomiro Dias Policiamento comunitário e controle
sobre a polícia: a experiência norte-americana. São Paulo: IBCCrim, 2000. p. 26-30; e Marcos Rolim.
. A Síndrome da Rainha Vermelha: policiamento e segurança pública no século XXI. 2 ed. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2009. p. 21-36.
35
O termo tradicional, ou seja, derivado da repetição deste modelo de policiamento é verificado no
século XX, pois, na gênese da polícia moderna, como visto, finais do século XVIII e durante todo o
século XIX, o modelo era completamente distinto.
137
36
Apenas a título exemplificativo, pode-se citar experiências implementadas no estado de São Paulo
e Rio de Janeiro. Em São Paulo: (i) criação dos Conselhos Comunitários de Segurança no Estado de
São Paulo em 1985 (Wilson Greppi. O Conselho comunitário de segurança: proposta de
padronização do papel do policial militar como membro nato, 1998. Monografia (Curso Superior de
Polícia) – Centro de Altos Estudos de Segurança “Cel PM Nelson Freire Terra”, Polícia Militar do
Estado de São Paulo, São Paulo; Luiz Eduardo Pesce de Arruda. O líder policial e suas relações com
os conselhos comunitários de segurança em São Paulo. A Força Policial, São Paulo: Polícia Militar do
Estado de São Paulo, n. 16, out.-dez. 1997.); (ii) a implementação do Rádio Patrulhamento Padrão
em 1988 (Carlos Adelmar Ferreira. Alcance e relevância dos projetos comunitários de segurança
desenvolvidos pela Polícia Militar em Ribeirão Preto entre 1982 e 1990, Revista do Centro
Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto: CBM, vol. 2, n. 1, jan.-jun. 2009, p. 55.). No Rio de
Janeiro tentou-se implementar o policiamento comunitário a partir de 1994 e 1995, com destaque
especial à tentativa realizada no bairro de Copacabana que foi encerrada de modo precoce (Robert
Trojanowicz; Bonnie Bucqueroux. Policiamento comunitário: como começar. Trad. Mina Seinfeld de
Carakushansky. Rio de Janeiro: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, 1994; Carlos Magno
Nazareth Cerqueira (Org). Do patrulhamento ao policiamento comunitário. Rio de Janeiro: Freitas
Bastos, 1999.)
37
A adoção oficial do programa e os esforços consistentes em 73 medidas neste sentido iniciou-se
em 30.09.1997 e foram mencionados pelo Coronel da PMESP Valdir Suzano, à época presidente da
Comissão de Asseroramento para Implantação do Policiamento Comunitário, em apresentação da
reedição, ocorrida em 1999, da obra de Robert Trojanoviwicz e Bonnie Bucqueroux “Policiamento
Comunitário: como começar” que já havia sido publicada pela Polícia Militar do Estado do Rio de
Janeiro, em 1994, como medida necessária para implementação do policiamento comunitário naquele
estado.
139
desde 1996, representa a definição dos processos e dos padrões, com a utilização
de ferramentas modernas de gestão destinadas ao planejamento, organização,
liderança e controle” (PMESP, 2010, p. 15), neste sentido, a Gestão de Tecnologia
de Informação e Comunicação:
HOMICÍDIO DOLOSO
Nº DE VÍTIMAS EM HOMICÍDIO DOLOSO
HOMICÍDIO CULPOSO POR ACIDENTE DE TRÂNSITO
HOMICÍDIO CULPOSO – OUTROS
TENTATIVA DE HOMICÍDIO
LESÃO CORPORAL DOLOSA
LESÃO CORPORAL CULPOSA POR ACIDENTE DE TRÂNSITO
LESÃO CORPORAL CULPOSA – OUTRAS
LATROCÍNIO
Nº DE VÍTIMAS EM LATROCÍNIO
ESTUPRO
EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO
TRÁFICO DE ENTORPECENTES
PORTE DE ENTORPECENTES
APREENSÃO DE ENTORPECENTES
PORTE DE ARMA
ROUBO A BANCO
ROUBO DE CARGA
ROUBO DE VEÍCULO
ROUBO – OUTROS
FURTO DE CARGA
FURTO DE VEÍCULO
FURTO – OUTROS
HOMICÍDIO DOLOSO
Nº DE VÍTIMAS EM HOMICÍDIO DOLOSO
HOMICÍDIO CULPOSO POR ACIDENTE DE TRÂNSITO
HOMICÍDIO CULPOSO – OUTROS
TENTATIVA DE HOMICÍDIO
LESÃO CORPORAL DOLOSA
LESÃO CORPORAL CULPOSA POR ACIDENTE DE TRÂNSITO
LESÃO CORPORAL CULPOSA – OUTRAS
LATROCÍNIO
Nº DE VÍTIMAS EM LATROCÍNIO
ESTUPRO
EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO
TRÁFICO DE ENTORPECENTES
PORTE DE ENTORPECENTES
APREENSÃO DE ENTORPECENTES
PORTE DE ARMA
ROUBO A BANCO
ROUBO DE CARGA
ROUBO DE VEÍCULO
ROUBO – OUTROS
FURTO DE CARGA
FURTO DE VEÍCULO
FURTO – OUTROS
Nº DE VEÍCULOS RECUPERADOS
APREENSÕES DE ENTORPECENTES(quantidade/unidade)
Maconha
Cocaína
Crack
Outros
Nº DE PRISÕES EFETUADAS
Nº DE PESSOAS PRESAS EM FLAGRANTE
Nº DE PESSOAS PRESAS POR MANDADO
Nº DE INFRATORES APREENDIDOS EM FLAGRANTE
Nº DE INFRATORES APREENDIDOS POR MANDADO
Nº DE ARMAS DE FOGO APREENDIDAS
tomada de decisão para solucioná-lo. Não é possível que o responsável por adotar
medidas de ação para enfrentamento do problema tenha que limitar-se à
fundamentar suas decisões a partir única e exclusivamente de números
quantitativos.
Sendo o princípio de policiamento orientado adotado pela PMESP por
meio do Plano de Policiamento Inteligente (VILARDI, 2010) torna-se absolutamente
necessário que os policiais militares, especialmente os gestores, possam analisar de
modo pormenorizado referido dado.
Um segundo ponto relevante consiste no fato de que, nos próprios termos
das Instruções para o Subsistema de Informações Quantitativas da Polícia Militar
(SIQuant), os dados a serem coletados para consolidação da estatística poderão ser
brutos, simples, combinados ou desdobrados conforme o interesse de análise,
contudo, deverão decorrer sempre a partir da padronização preconizada pelo
Manual de Codificação de Ocorrências da Polícia Militar - M-16-PM (PMESP, 2017)
que, por sua vez, possui diversas naturezas ou classificações não coincidentes com
as naturezas previstas no Anexo II da Resolução SSP nº 160/01. Apenas a título de
exemplo cite-se que enquanto o Sistema Estadual de Estatística Criminal prevê os
indicadores de Roubo a Banco, Roubo de Carga, Roubo de Veículos e Roubo-
Outros, o Manual de Codificação de Ocorrências da Polícia Militar (M-16-PM), base
do BO/PM-TC, BO/PM, TCO/PM e BOe, que originam os dados lançados no QMO,
possuem apenas a natureza “B04 Roubo”. Esta assimetria ou ausência de precisão
na correspondência será melhor abordada no “problema” a ser enfrentado pelo
presente projeto.
É certo que atualmente os dados oficiais do Sistema Estadual de Estatística
Criminal divulgados pela Secretaria de Segurança Pública têm por fonte primária o
Boletim de Ocorrência da Polícia Civil, na verdade, os dados quantitativos
informados pela Polícia Civil nos moldes do Anexo I da Resolução SSP nº 160/01
que estão, em tese, lastreados nos BO/PCs registrados no R.D.O.38, contudo, um
novo marco legal pode, se implementado, alterar este cenário no âmbito nacional
como um todo.
38
Resolução SSP nº 160/01
Art. 2º
Parágrafo único: os dados oficiais divulgados pela Secretaria de Segurança Pública têm por fonte
primária o Boletim de Ocorrência da Polícia Civil
155
o
Art. 3 Integram o Sinesp os Poderes Executivos da União, dos Estados e
do Distrito Federal.
o
§ 1 Os dados e informações de que trata esta Lei serão fornecidos e
atualizados pelos integrantes do Sinesp, na forma disciplinada pelo
Conselho Gestor.
156
o
§ 1 Os dados e informações de que trata esta Lei deverão ser
padronizados e categorizados e serão fornecidos e atualizados pelos
integrantes do Sinesp, na forma disciplinada pelo Conselho Gestor.
o
§ 2 O integrante que deixar de fornecer ou atualizar seus dados e
informações no Sinesp não poderá receber recursos nem celebrar parcerias
com a União para financiamento de programas, projetos ou ações de
segurança pública e do sistema prisional, na forma do regulamento.
com o advento da Lei nº 13.675/18 que criou o Sistema Único de Segurança Pública
(SUSP) a “unidade de registro de ocorrência policial” passou a ser definida como
uma das diretrizes da Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social
(PNSPDS). Assim, ressalte-se mais uma vez, o sistema de segurança pública
estadual, deve estar preparado para readequação dos procedimentos operacionais e
administrativos ao novo marco legal e sua regulamentação subsequente.
Consoante a proposta apresentada no capítulo anterior no sentido de
reconhecimento do BOe como documento oficial de registro criminal de ocorrência
policial ou ainda no sentido de criação de um sistema de registro único de
ocorrência, as alterações no sistema do BOe de modo a prepará-lo para ser utilizado
como fonte primária de estatística criminal frente às novas tendências.
Afora a questão das naturezas criminais, dentre os vários indicadores
constantes nos módulos PM e PC do SINESP, alguns deles são específicos a cada
uma das instituições em decorrência das atribuições específicas. Neste sentido, em
relação ao módulo PM no SINESP pode-se indicar os seguintes:
Por fim, ainda que não estejam sendo solicitados dados pessoais ou
sigilosos no presente pedido, esclareço que este tem por objetivo subsidiar
pesquisa científica desenvolvida no Mestrado Profissional em Ciências
Policiais de Segurança e Ordem Pública do Centro de Altos Estudos de
Segurança (CAES) da Polícia Militar do Estado de São Paulo cujo projeto
segue anexo à presente solicitação.
A sua solicitação de acesso a documentos, dados e informações, FOI
ATENDIDA.
Resposta:
Prezado Capitão PM Rodrigo,
Em atendimento à sua solicitação, esclareço que o Centro de Inteligência da
Polícia Militar, envia mensalmente os dados de produtividade da PMESP à
CAP/SSP, nos termos da Resolução SSP -160/01.
Cumpre destacar que a atribuição de alimentar os Módulos Polícia Militar e
Polícia Civil do SINESPJC era da SSP, nos termos da Lei Federal nº
12.681, de 04JUL12, regulamentada pelo Decreto Federal nº 8.075, de
14AGO13.
Entretanto, esclareço que as normas citadas no item anterior foram
revogadas pela Lei 13.675, de 11JUN18, que instituiu a Política Nacional de
Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS), e pelo Decreto 9.489, de
30AGO18, que regulamentou o estabelecimento de normas, estrutura e
procedimentos para a execução da PNSPDS, e até o momento não temos
conhecimento dos procedimentos sobre coleta, análise, sistematização,
integração, atualização e interpretação de dados e informações, que devem
ser propostos pelo Conselho Gestor do Sistema Nacional de Informações de
Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade de Armas e Munições, de
Material Genético, de Digitais e de Drogas (órgão consultivo do MJSP).
Atenciosamente,
167
ANEXO II
RESOLUÇÃO 160/01
JANEIRO A NOVEMBRO
BOLETINS DE OCORRÊNCIAS POLICIAIS REGISTRADAS POR
SIOPM BI QMO VARIAÇÃO
GRUPOS DE NATUREZA
1. Criminais 1.614.719 686.835 927.884
CONTRA A PESSOA 170.104 57.526 112.578
CONTRA O PATRIMÔNIO 193.880 173.926 19.954
CONTRA OS COSTUMES (contra a dign. sexual) 7.181 2.778 4.403
ENTORPECENTES 49.165 30.142 19.023
OUTROS 1.194.389 422.463 771.926
2.Contravencionais 20.527 4.150 16.377
3. Atos infracionais 17.596 15.378 2.218
4. Não criminais 463.981 475.787 -11.806
ANEXO II
RESOLUÇÃO 160/01
JANEIRO A ABRIL
ATOS INFRACIONAIS POR TIPO Total Total Total
HOMICÍDIO DOLOSO 16 12 4
HOMICÍDIO DOLOSO EM ESTABELECIMENTO PRISIONAL 0 0 0
HOMICÍDIO DOLOSO EM ACIDENTE DE TRÂNSITO 0 0 0
Nº DE VÍTIMAS EM HOMICÍDIO DOLOSO 16 13 3
Nº DE VÍT EM HOMICÍDIO DOLOSO EM ESTAB PRISIONAL 0 0 0
Nº DE VÍT EM HOMICÍDIO DOLOSO EM ACID. DE TRÂNSITO 0 0 0
HOMICÍDIO CULPOSO POR ACID TRÂNSITO 1 10 -9
HOMICÍDIO CULPOSO - OUTROS 2 0 2
TENTATIVA DE HOMICÍDIO 42 27 15
TENTATIVA DE HOMICÍDIO EM ESTAB PRISIONAL 0 0 0
LESÃO CORPORAL DOLOSA 274 323 -49
LESÃO CORPORAL CULPOSA POR ACID TRÂNSITO 67 394 -327
LESÃO CORPORAL CULPOSA - OUTRAS 69 24 45
LATROCÍNIO 5 2 3
Nº DE VÍTIMAS EM LATROCÍNIO 5 2 3
ESTUPRO 54 49 5
EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO 6 1 5
TRÁFICO DE ENTORPECENTES 6.399 5.927 472
PORTE DE ENTORPECENTES 897 1.486 -589
APREENSÃO DE ENTORPECENTES 63 89 -26
PORTE DE ARMA 221 204 17
ROUBO A BANCO 13 0 13
ROUBO DE CARGA 40 2 38
ROUBO DE VEÍCULO 749 184 565
ROUBO - OUTROS 1.240 1.084 156
FURTO DE CARGA 4 0 4
FURTO DE VEÍCULO 466 128 338
FURTO - OUTROS 1.189 1.223 -34
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.
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dez de 2019. Disponível em: <https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/apos-
audiencia-goleiro-jean-deixa-a-prisao-nos-estados-unidos/.> Acesso em: 20 dez.
2019
DOMINICI, Rodrigo Pinheiro. TEZA, Marlon Jorge. Lavratura do flagrante delito pelo
oficial da PM nos crimes comuns: uma reflexão sobre seus benefícios. IN: Revista
Ordem Pública. Santa Catarina, v. 8, n. 2, jul./dez., 2015. Disponível em:
<https://rop.emnuvens.com.br/rop/article/view/132/125>. Acesso em: 17 dez. 2019.
FENAPEF. Brasil faz parte da enxuta lista de países que não adotam ciclo
completo de investigação. 07 nov. 2019. Disponível em:
<https://fenapef.org.br/brasil-faz-parte-da-enxuta-lista-de-paises-que-nao-adotam-
ciclo-completo-de-investigacao.> Acesso em: 17 dez. 2019
ufscar/10657/PATRICIA_F_S_FLORENCIO%20%281%29.pdf?sequence=4&isAllow
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KUHN, T.S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1998.
LIMA, Renato Sérgio de. Contando crimes e criminosos em São Paulo: uma
sociologia das estatísticas produzidas e utilizadas entre 1871 e 2000. 2005.
Tese (Doutorado em Sociologia) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. doi:10.11606/T.8.2005.tde-
04022006-201043. Acesso em: 2018-08-17.
R7. Moraes pede mudança no SISP e votação fica para semana que vem. 06 de
março de 2018. R7, Brasília, 06 mar. 2018. Disponível em:
<https://noticias.r7.com/prisma/r7-planalto/moraes-pede-mudanca-no-sisp-e-
votacao-fica-para-semana-que-vem-26042019.> Acesso em: 17 dez. 2018
SÃO PAULO. Tire suas dúvidas sobre o novo sistema de atendimento nas
Delegacias da Capital. 13 out. 2009. Disponível em: <
http://www.saopaulo.sp.gov.br/ultimas-noticias/tire-suas-duvidas-sobre-o-novo-
sistema-de-atendimento-nas-delegacias-da-capital/.> Acesso em: 02 dez. 2019.
__________________________________________________________________.
Resolução SSP-35, de 23 de março de 2011. Estabelece rotina para o registro do
Boletim de Ocorrência pela Polícia Militar no Estado de São Paulo. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2011.
__________________________________________________________________.
Resolução SSP-88, de 24 de agosto de 2016. Amplia a análise e difusão das
informações relativas às ocorrências de morte dolosa e cria novos indicadores
criminais. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2016.
UOL. Goleiro Jean sera solto nos EUA: justiça proíbe contato com a mulher. 19
dez. 2019. Disponível em: < https://www.uol.com.br/esporte/futebol/ultimas-
noticias/2019/12/19/goleiro-jean-e-solto-nos-eua-apos-ser-acusado-de-agredir-a-
mulher.htm> Acesso em: 20 dez. 2019
183