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Pagamento Por Serviços Ambientais: Salvador v.32 n.2 JUL./DEZ - 2022 ISSN 0103 8117

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SA LVA D OR • v. 3 2 • n .2 • JUL . /D EZ .

2022 I SSN 0 1 0 3 8 1 1 7

Pagamento por Serviços Ambientais


Bahia anál. dados l Salvador l v. 32 l n. 2 l p. 1-160 l jul.-dez. 2022
INSTITUCIONAL
Governo do Estado da Bahia
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Secretaria do Planejamento
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Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia
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Diretoria de Pesquisas
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Diretoria de Estudos
Editoria-Geral
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Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da
Conselho Editorial Bahia (SEI), autarquia vinculada à Secretaria do Planeja-
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Ribeiro Soares Guimarães, Laumar Neves de Souza, Lucigleide de que a fonte original seja creditada de forma explícita.
Nery Nascimento, Luiz Filgueiras, Luiz Mário Ribeiro Vieira, Esta publicação está indexada no Library of Congress,
Moema José de Carvalho Augusto, Mônica de Moura Pires, Nádia Ulrich’s Periodicals Directory, Diadorim, Latindex-
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Pimentel, Tereza Lúcia Muricy de Abreu, Vitor de Athayde Couto
Conselho Temático*
Bahia Análise & Dados / Superintendência de Estudos
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Econômicos e Sociais da Bahia. v. 1 (1991 - ).
Cristina Cardoso Fidalgo, Felipe Deodato da Silva e Silva, Gabriel Salvador : SEI, 2023.
Barros Gonçalves de Souza, Manuel Lamartin Montes, Michele v. 32
Benetti Leite, Rachel Bardy Prado n. 2
Semestral
Colaboração
Israel Pedro Dias Ribeiro (GEEMA/UESC), Narjara Prates ISSN 0103-8117
EISSN 2595-2064
(GEEMA/UESC), Nayra Rosa Coelho (GEEMA/UESC)
Editoria de Arte
Produção CDU 338(813.8)
Ludmila Nagamatsu
Normalização
Eliana Marta Gomes da Silva Sousa
Patrícia Fernanda Assis da Silva
Revisão de Linguagem*
Laura Dantas
Projeto Gráfico
Julio Vilela
Editoração*
Nando Cordeiro

*Referente a esta edição.

Av. Luiz Viana Filho, 4ª Avenida, 435, CAB


Salvador (BA) Cep: 41.745-002
Tel.: (71) 3115 4822 Fax: (71) 3116 1781
www.sei.ba.gov.br sei@sei.ba.gov.br
Sumário

Apresentação 5
A remuneração por serviços ambientais e a taxação 9
pelo uso do capital natural: conquistas contemporâneas
de enfrentamento da crise ambiental
AMILC AR BAIARDI
DURVA L LIB Â NIO NE T TO MELLO
MAURO MOR AES VIC TOR

Entrevista 35
A importância de uma política pública para
a produção de serviços ambientais
PAU LO H EN R I Q U E PER E I R A

Implementação do Programa Estadual de 41


Pagamento por Serviços Ambientais da Bahia
LUANA PIMENTEL RIBEIRO
M A R C E L L E S I LVA O L I V E I R A C H A M U S C A
TIAGO JORDÃO PORTO
C I R O TAVA R E S F LO R E N C E
N AY R A R O S A CO E L H O

A importância das instituições no 61


fomento ao instrumento econômico de Pagamento
por Serviços Ambientais: relato de experiência na
Universidade Estadual de Santa Cruz (BA)
ISR AEL PEDRO DIAS RIBEIRO
N A R J A R A P R AT E S G O N Ç A LV E S
N AY R A R O S A CO E L H O
MÔNICA DE MOUR A PIRES
A N D R É A D A S I LVA G O M E S

Projeto guardiões das águas como contribuinte 79


para inserção do Pagamento por Serviços Ambientais
em mananciais de abastecimento de água na
Região Metropolitana de Salvador (BA)
GENECI BR A Z DE SOUSA
JAILDO SANTOS PEREIR A

Pagamento por Serviços Ambientais: a experiência pioneira 109


na Bahia do Programa Produtor de Água de Ibirapitanga
N A R J A R A P R AT E S G O N Ç A LV E S
ISR AEL PEDRO DIAS RIBEIRO
N AY R A R O S A CO E L H O
A N D R É A D A S I LVA G O M E S
MÔNICA DE MOUR A PIRES

Pagamento por Serviços Ambientais: tipos dos participantes 135


do Projeto Protetor das Águas em Vera Cruz (RS)
M AT H E U S N I E N O W
S A M A N TA O N G A R AT T O G I L
MARCELINO DE SOUZ A
Apresentação
Desenvolver maneiras sustentáveis de estabelecer o relacionamento do homem
com a natureza é atualmente uma das demandas mais urgentes postas ao mun-
do. O avanço dos impactos do desgaste ambiental tem-se apresentado cada
dia mais acelerado e preocupante, a exemplo das inundações, do aumento das
temperaturas médias globais, da extinção de espécies animais e vegetais, da
elevação do nível dos oceanos, entre outros. A intervenção humana nos espaços
naturais pode gerar degradação, assim como recuperação dos danos. As con-
tínuas destruição e superexploração dos recursos naturais e da biodiversidade,
por pressão antrópica, estão pondo em risco a manutenção do bem-estar do
próprio ser humano. Ante a necessidade e a urgência em recuperar e conservar
esses espaços, foi desenvolvido um instrumento de incentivo econômico, deno-
minado de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), com intuito de estimular
a preservação dos ecossistemas.

Podem ser consideradas como serviços ambientais as iniciativas individuais ou


coletivas que possibilitem a conservação, a manutenção, a recuperação ou o
melhoramento dos serviços ecossistêmicos, a partir inclusive da adoção de prá-
ticas agrícolas sustentáveis. As práticas do PSA tem aumentado no campo das
políticas ambientais, visto que seu objetivo é fortalecer ações de conservação
de ecossistemas, além de, simultaneamente, promover melhorias no rendimen-
to dos prestadores de serviços ambientais rurais e urbanos, seja por meio de
transferência de renda ou de outras formas de remuneração, a exemplo da con-
sultoria técnica. Assim, enquanto instrumento econômico, o PSA tem-se tornado
promissor na complementação dos mecanismos de comando e controle desti-
nados a preservar o meio ambiente, constituindo uma importante ferramenta
de incentivo na busca pelo desenvolvimento sustentável.

Considerado como uma inovação política recente, o Pagamento por Serviços


Ambientais tem atraído a atenção de países desenvolvidos e em desenvolvimen-
to. Nos últimos anos, observa-se um aumento no número de projetos viabiliza-
dos pela política de PSA no Brasil, com experiências estaduais e também em
nível municipal, a exemplo do número crescente de inciativas de PSA voltadas
para o sequestro de carbono e a conservação dos recursos hídricos. O Progra-
ma Produtor de Água, concebido em 2006 pela Agência Nacional das Águas
(ANA) e por instituições parceiras, é um programa voluntário que tem como
propósito principal o controle da poluição difusa rural, sendo dirigido priori-
tariamente à preservação das bacias hidrográficas de importância estratégica
para o país. A primeira experiência de PSA hídrico – o Projeto Conservador das
Águas – ocorreu em Extrema (MG) e influenciou estados e municípios brasileiros
a implementarem inciativas afins em todo o território nacional. Esses projetos,
Apresentação

no entanto, ainda são insuficientes para frear o avanço dos danos ambientais provocados
pelo modo de produção atual.

Assim, se faz notória a importância dessa temática e da urgência do seu desenvolvimento.


Diante disso, a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) apresen-
ta mais uma edição da Revista Bahia Análise & Dados intitulada Pagamento por Serviços
Ambientais (PSA) como estratégia de desenvolvimento regional. Esta publicação traz a con-
tribuição de diversos pesquisadores da temática, além de uma entrevista com o idealizador
do Projeto Conservador das Águas, Paulo Henrique Pereira.

Destarte, agradecemos aos colaboradores que possibilitaram o lançamento desta revista.


A SEI espera contribuir para a discussão de tema tão relevante para a conservação ambien-
tal e o desenvolvimento sustentável.
Resumo

O presente texto procura estabelecer uma relação causal entre a história do


pensamento econômico e a imperiosa necessidade de remunerar os serviços
ambientais, de taxar a utilização do capital natural e também de explicar a
adoção tardia dessas medidas. Pretende também mostrar a necessidade de
associar os pagamentos pelos serviços ambientais, uma premiação pela prote-
ção da natureza, à remuneração do capital natural, mecanismo de desestímulo
às ações que venham comprometer o meio ambiente. A metodologia utilizada
foi a revisão bibliográfica. Na sua elaboração, como abordagem, procedeu-se
uma incursão nos fundamentos da história do pensamento econômico bus-
cando identificar as raízes do reconhecimento do papel da natureza nessa
área. Como procedimento, no percurso evolutivo do pensamento econômico,
deu-se destaque aos autores que, de algum modo, incorporaram a natureza
nas análises dos sistemas produtivos, conceberam-na como fator de produ-
ção e avaliaram as consequências econômicas e ambientais daí decorrentes.
Supõe-se que este trabalho possa cobrir uma lacuna em termos de análise
teórica e conceitual e subsidiar políticas ou inciativas que visem regulamentar/
aperfeiçoar os pagamentos pelos serviços ambientais e implantar mecanis-
mos de remuneração do capital natural.
Palavras-chave: pensamento econômico; economia ecológica; tecnologia
verde; desenvolvimento sustentável.

Abstract

This text seeks to establish a causal relationship between the history of


economic thought and the imperative necessity to remunerate environmental
services, to tax the use of natural capital and also to explain the late adoption
of these measures. It also intends to show the need to associate payments for
environmental services, an award for nature protection, to the remuneration of
natural capital, a mechanism to discourage actions that may compromise the
environment. The methodology used was the literature review. In its framing,
as an approach, an incursion into the fundamentals of the history of economic
thought was carried out, seeking to identify the roots of the recognition of
the economic role of nature and its appropriation as a production factor. As a
procedure, in the evolutionary path of economic thought, emphasis was given
to authors who, in some way, incorporated nature in the analyzes of productive
systems, conceived it as a production factor and evaluated the economic and
environmental consequences resulting therefrom. It is assumed that it can fill
a gap in terms of theoretical and conceptual analysis and subsidize policies
or initiatives aimed at regulating/improving environmental services and
implementing mechanisms for remuneration of natural capital.
Keywords: economic thinking; ecological economy; green technological;
sustainable development.
Artigos

A remuneração por serviços


ambientais e a taxação
pelo uso do capital natural:
conquistas contemporâneas
de enfrentamento da
crise ambiental
A M I LC A R B A I A R D I EXISTE UM IMPERATIVO de reconstrução
Doutor em Economia, pela Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), mestre
do pacto entre o homem e a natureza, que
em Desenvolvimento, Agricultura e
restabeleça uma relação mais equilibrada
Sociedade, pela Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). entre as partes, visando ao enfrentamento
Professor titular aposentado da
Universidade Federal do Recôncavo da da crise ambiental. Nessa relação, a
Bahia (UFRB) e professor da
Pós-graduação da Universidade natureza, que é a parte fragilizada pela
Católica do Salvador (UCSal).
amilcar.baiardi@gmail.com ação antrópica que vem criando ameaças
D U R VA L L I B Â N I O N E T TO M E L LO ambientais, deve adquirir centralidade.
Mestre e doutorando em Produção
Vegetal, pela Universidade Estadual de
No processo de transição da sociedade
Santa Cruz (UESC). Professor adjunto do industrial para a sociedade pós-industrial,
Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia Baiano (IF Baiano). durval. ante a percepção universal de que a
mello@ifbaiano.edu.br
pegada ecológica ultrapassou os limites
M AU R O M O R A E S V I C TO R
Pós-graduado em Planejamento da capacidade de regeneração do Planeta,
Territorial e Zoneamento
Ecológico-econômico, pela Wageningen- emerge uma oportunidade de a natureza
Stichting Bosbouwproefstation de
Dorschkamp, pesquisador científico da
influenciar mais afirmativamente os valores,
Secretaria do Meio Ambiente do Estado costumes, hábitos e estilos de vida no
de São Paulo e ex-diretor do Instituto
Florestal de São Paulo. planeta. Para isso, impõe-se definir novas
mamvictor@yahoo.com.br
regras no processo de relacionamento
doi.org/10.56839/bd.v32i2.a1 homem/natureza, que desestimulem a
exploração dos recursos naturais não
renováveis e reduzam os impactos negativos
sobre a biosfera, a atmosfera e a litosfera.

Bahia anál. dados,


Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022
9
A remuneração por serviços ambientais e a taxação pelo uso do capital natural: conquistas contemporâneas de
Artigos enfrentamento da crise ambiental

Espera-se uma Espera-se uma governança planetária que evite cataclismos frequentes
governança e questione radicalmente conceitos e valores que inspiram as políticas
planetária de crescimento econômico a qualquer custo. Cabem novas regras para
que evite usufruto dos recursos naturais, entre elas, a remuneração por serviços
cataclismos ambientais e a remuneração do capital natural.
frequentes
Os serviços ambientais consistem em ações humanas que visam contri-
e questione
buir para a manutenção e a recuperação da natureza e dos processos
radicalmente
ecossistêmicos, de acordo com o princípio jurídico do protetor-recebe-
conceitos e dor (HUPFFER et al., 2011). Sua implantação no Brasil está em processo
valores que de regulamentação com base na Lei 14.119/211, que define regras e for-
inspiram as mas de pagamento por serviços ambientais. As unidades da Federação
políticas de que se anteciparam em definir regras de pagamentos previstas na le-
crescimento gislação estadual, caso da Bahia, deverão, se necessário, compatibilizar
econômico a seus procedimentos com a lei referida acima.
qualquer custo
A remuneração do capital natural, 2 categoria também abordada no
presente texto, baseia-se no princípio oposto, o do poluidor-pagador.
Entende-se que a proteção da natureza esteja mais assegurada quan-
do os fluxos monetários operem nos dois sentidos. Esse ressarcimento
pelo mau uso do capital natural ainda não dispõe de arcabouço legal
e se inspira na Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, de 1992, visto que o princípio do poluidor-pagador foi
reafirmado nesse documento. O princípio provém do consenso de que
qualquer ação com impacto negativo sobre o ambiente impõe custos aos
atos agressivos à natureza (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1992).

A pergunta que guia a atual reflexão na forma do presente artigo é por


que os serviços ambientais e a remuneração do capital natural tardaram
tanto para ingressar na pauta das medidas/iniciativas essenciais para
preservar e recuperar a natureza? Além da experiência-piloto da Costa
Rica em 1997, cerca de 49 países já tentaram implantar o sistema de
remuneração por serviços ambientais, mas a taxação pelo uso do capi-
tal natural não se difundiu tanto (ARGUETA, 2020). O suposto é que a
causa do atraso se deve ao posicionamento de economistas, filósofos,
formadores de opinião e influenciadores de normas e leis, ao explicar
e prescrever como os sistemas produtivos deveriam atender às neces-
sidades humanas e solucionar os problemas da escassez. Dito de outro
modo, não perceberam ou não deram a devida importância aos impac-
tos desastrosos e às externalidades negativas, provocados por alguns
sistemas produtivos e pela sua magnificação. Inobstante os fisiocratas
já haverem enfatizado a importância da natureza na formação do valor

1 Sancionada lei de pagamento por serviços ambientais - Portal da Câmara dos Deputados
(BRASIL, 2011).
Bahia anál. dados,
10 Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022
2 Por capital natural se entende o estoque de recursos naturais renováveis e não renováveis (flora,
fauna, ar, água, solos, minerais) que geram benefícios às pessoas (VICTOR, 2007).
Amilcar Baiardi, Durval Libânio Netto Mello, Mauro Moraes Victor Artigos

dos produtos desde o século XVII, o que sugeriria uma maior atenção na A destruição
preservação dos recursos naturais, somente após a publicação do rela- das florestas e
tório The limits to the Growth (Os Limites do Crescimento), pelo Clube a contaminação
de Roma3 (MEADOWS, 1972), é que surgiram preocupações de caráter das fontes
planetário com o ambiente. de água já
existiam,
Essas preocupações se acentuaram, induzindo uma governança plane-
assim como
tária em questões ambientais por parte das Nações Unidas, quando a
a exploração
comunidade científica assumiu protagonismo no debate ao alertar sobre
descontrolada
os riscos iminentes ao meio ambiente. Entre os anos de 2002 e 2006,
no Santa Fe Institute, Novo México, EUA, um grupo de cientistas sociais, de minas, mas
descontentes com as análises da economia tradicional sobre os fenô- a magnitude
menos contemporâneos da acumulação produtiva, fez enfaticamente desse impacto
menção à possibilidade de grandes riscos planetários se nada fosse feito ainda não havia
(BEINHOCKER, 2007). A questão central, segundo os pesquisadores, impossibilitado
residiria nas expectativas criadas no que tange ao alcance do denomi- a resiliência
nado bem-estar que, em princípio, deve ser estendido a todos os habi- dos recursos
tantes do planeta, mas que deve ser melhor conceituado, mensurado e naturais
antecedido de regras claras quanto aos meios para alcançá-lo. renováveis

Segundo Beinhocker (2007), malgrado, desde tempos imemoriais, se


venha avançando nas assimetrias de riqueza da humanidade, preten-
dendo cada grupo social aumentar sua parte na dotação material por
habitante, associando a posse e a ostentação ao bem-estar e à felicida-
de, o sinal vermelho foi aceso a partir de 1750, com o início da Revolução
Industrial. A destruição das florestas e a contaminação das fontes de
água já existiam, assim como a exploração descontrolada de minas, mas
a magnitude desse impacto ainda não havia impossibilitado a resiliência
dos recursos naturais renováveis. Contudo, a busca incessante de cres-
cimento da renda e do acúmulo material, em níveis individual e social,
vinculada aos conceitos de riqueza e de progresso, infletiu para cima a
curva da adoção de tecnologias produtivas em meados do século XVIII.

Esse processo de acumulação material de riqueza, excedendo as ne-


cessidades de sobrevivência, nasce nas civilizações antigas (Minoica,
Suméria, Acádia, Fenícia, Egípcia, Assíria, Babilônica etc.) com a institui-
ção da escravidão por conquista, por vitórias em guerras, denominada
escravidão da Antiguidade4. Generalizou-se a crença de que o traba-
lho não remunerado era a principal fonte de geração de excedentes.

3 Em 1972 foi publicado o relatório intitulado The limits to the Growth (Os Limites do Crescimento),
que alertou sobre as consequências das políticas econômicas de expansão dos PIBs nacionais
(MEADOWS, 1972).
4 A escravidão entendida como trabalho compulsório não remunerado se classifica, grosso modo,
como escravidão da Antiguidade, patriarcal ou clássica, e escravidão colonial, que aparece
quando a anterior já não existia e que tinha como propósito tornar mais competitivos no mercado
Bahia anál. dados,
internacional os produtos obtidos nas colônias, fossem eles derivados da agricultura ou da mine-
ração (GORENDER, 1985, p. 46).
Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022
11
A remuneração por serviços ambientais e a taxação pelo uso do capital natural: conquistas contemporâneas de
Artigos enfrentamento da crise ambiental

Entre os Entretanto, mais tarde, durante o período do Iluminismo, o conceito de


clássicos, progresso iria surgir, sugerindo a expansão do uso de tecnologias cada
havia uma vez mais eficientes na conversão de recursos naturais em produtos, fa-
preocupação zendo com que a humanidade, em apenas 0,01 do seu tempo de existên-
com a perda da cia, já tenha gerado entropia de magnitude ameaçadora para os demais
sistemas complexos, inclusive a natureza, que reage, em determinados
fertilidade dos
casos, com adaptações que retroalimentam desequilíbrios de todos os
solos, e as teses
tipos (BAIARDI; VEIGA, 2015).
malthusianas
alertavam No presente artigo evocam-se alguns pensadores da Economia que, de
para os limites algum modo, se referiram ao papel da natureza nos processos produ-
naturais da tivos, com graus variáveis de preocupação preservacionista, presente
expansão ou futura. A forma como essas referências foram feitas permite avaliar
demográfica se tais pensadores influenciaram no atraso da adoção de medidas de
proteção ambiental.

A metodologia utilizada neste trabalho foi a revisão bibliográfica. Como


abordagem, procedeu-se uma incursão acerca dos fundamentos do
pensamento econômico, buscando identificar as raízes do reconheci-
mento do papel econômico da natureza. Como procedimento, no per-
curso evolutivo do pensamento econômico, deu-se destaque aos au-
tores que, de algum modo, incorporaram a natureza nas análises dos
sistemas produtivos, conceberam-na como fator de produção e ava-
liaram as consequências econômicas e ambientais daí decorrentes. O
artigo é formado por nove seções que vão da introdução até as consi-
derações finais, passando pelos pensamentos clássico e marxiano, pelas
visões do mainstream, neoclássica e keynesiana, pelas críticas ao desen-
volvimentismo a qualquer custo e o surgimento da economia ecológica,
pela busca de soluções de mercado, a emergência da tecnologia verde
e a procura por outro paradigma, com foco em novos indicadores de
bem-estar. As principais abordagens, que na esfera do pensamento eco-
nômico analisaram os processos produtivos levando em consideração
algum papel da natureza, são apresentadas a seguir, em uma sequência
lógico-sistemática que se aproxima da cronologia.

A VISÃO DOS ECONOMISTAS CLÁSSICOS


SOBRE OS RECURSOS NATURAIS

Entre os clássicos, havia uma preocupação com a perda da fertilidade


dos solos, e as teses malthusianas alertavam para os limites naturais
da expansão demográfica, propondo a abstenção sexual (à época não
havia anticoncepcionais) como medida de equilíbrio. Os economistas
clássicos, entre eles Malthus, tinham uma preocupação em harmoni-
Bahia anál. dados, zar a produção com a renda e o consumo, sem, entretanto, expressar
12 Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022
Amilcar Baiardi, Durval Libânio Netto Mello, Mauro Moraes Victor Artigos

qualquer ideia mais permanente em relação à finitude dos recursos na- Os fisiocratas
turais (COUTINHO, 1993; SMRECSÁNYI, 1982). viam a terra
como a ‘mãe’
O pensamento econômico clássico, identificado em autores como Adam que gerava a
Smith, David Ricardo, Thomas Malthus e Stuart Mill, à exceção de Karl abundância e
Marx, inserido em outra classificação, sempre esteve impregnado da o excedente
filosofia moral e da ética social, sendo o resultado econômico, o lucro,
na produção
bem-vindo, sempre que este não ferisse princípios essenciais. Todos os
agrícola e
pensadores clássicos leram as obras dos fisiocratas que os precederam,
entendiam que
mas não viam na natureza, na terra, a origem da produtividade, o valor
adicionado aos bens produzidos como resultante da fertilidade dos so- todos poderiam
los. As ideias de Petty, Cantillon, Quesnay e Mirabeau foram assimiladas se beneficiar
pelos economistas clássicos no que se refere às bases do sistema eco- dos produtos
nômico e à importância do mercado, mas a paridade dos fatores terra da terra, a qual
e trabalho, como fontes de riqueza, foi desprezada pelos clássicos, que deveria ser bem
incluíram o capital na equação (COUTINHO, 1993). cuidada

Os fisiocratas viam a terra como a ‘mãe’ que gerava a abundância e o


excedente na produção agrícola e entendiam que todos poderiam se
beneficiar dos produtos da terra, a qual deveria ser bem cuidada. Os
clássicos foram mais longe. Começaram a reconhecer o valor dos bens
relacionados diretamente com a quantidade de trabalho alocado e, sem
desconsiderar a importância da terra na geração de excedente, torna-
ram mais complexa a análise do valor dos bens.

Há indícios de que os clássicos se preocupavam com a natureza, mas a


atenção não ia além de preceituar cuidados com a fertilidade do solo e
com os cursos d’água. No célebre debate entre David Ricardo e Thomas
Malthus, eles concordavam com o prognóstico de haver fome no mundo
caso o crescimento da produção de alimentos (progressão aritmética)
não acompanhasse o crescimento da população (progressão geomé-
trica). Entretanto, discordavam porque Ricardo defendia que a renda
da terra apropriada pelos latifundiários seria um estímulo permanen-
te à falta de cuidado com a fertilidade do solo, enquanto Malthus en-
tendia que o direito à apropriação da renda pelo proprietário da terra
seria sagrado, não cabendo interferências (BAIARDI; TEIXEIRA, 2010;
COUTINHO, 1993; DORFMAN, 1989).

O PENSAMENTO DE MARX E SEGUIDORES SOBRE


A RELAÇÃO ENTRE A ACUMULAÇÃO CAPITALISTA
E A NATUREZA: A ‘FALHA METABÓLICA’

Muito se tem falado que Marx não teve maior preocupação com a prote-
ção da natureza. Estas afirmações, segundo Foster (2005), são infunda- Bahia anál. dados,

das. Para esse autor, o envolvimento de Marx com a ecologia teria sido
Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022
13
A remuneração por serviços ambientais e a taxação pelo uso do capital natural: conquistas contemporâneas de
Artigos enfrentamento da crise ambiental

Segundo Marx, equivalente ao de Darwin, ambos influenciados por Epicuro, inspirador


a transformação do Materialismo. As leituras que Marx fez de Epicuro o ajudaram em sua
do campo, que tese de doutorado. Marx via também a influência de Epicuro nos escritos
ele chamava de Francis Bacon e de Immanuel Kant.
de segunda
Para sua concepção materialista da história, Marx usou os estudos de
revolução
Darwin e extraiu deles a ideia de que, em seu processo evolutivo, o
agrícola,
homem teria uma relação metabólica com o meio ambiente, entendida
promoveu
como relação equilibrada ao longo do tempo, retirando da natureza o
o distancia- necessário a sua sobrevivência e restituindo ao meio o que retirou para
mento entre consumo. Seria uma forma do que hoje se define como retirada susten-
o consumo tável, segundo Heringer (2008) e Lovelock (2006).
humano e a
terra, o que A ideia de Marx (1974, 1978, 1980) é que os sistemas econômicos pré-
empobreceu -capitalistas faziam isso harmonicamente, em uma forma permanente
os solos e de reciclagem. Para Foster (2005), Marx entendia que, na medida em
acentuando que o homem naturalmente habitasse o campo, ele saberia promover
a renda formas eficientes de reparar o que retirou do solo. Segundo Baiardi
diferencial da (1997), as técnicas de produção agrícola na Idade Média seriam, por
terra excelência, a demonstração de como isso ocorreria. Marx via neste tipo
de agricultura e na relação do camponês com a terra – abstraindo o
feudalismo – um perfeito metabolismo, no qual nada se desperdiçava e
tudo se aproveitava.

Para Marx (1968, 1974), no capitalismo plenamente constituído, a agri-


cultura capitaliza-se na forma trinitária: empresário capitalista, proprie-
tário fundiário e trabalhador assalariado. Os atos de fechamento de
campo, enclosure acts, ocorridos na Inglaterra no início da Revolução
Industrial, obrigaram os camponeses a migrarem para as cidades, redu-
zindo a população rural. Ao mesmo tempo, e para compensar a falta de
braços, promoveu-se a intensificação do uso do solo mediante o conhe-
cimento científico-tecnológico. Segundo Marx (1974), a transformação
do campo, que ele chamava de segunda revolução agrícola, promoveu
o distanciamento entre o consumo humano e a terra, o que empobreceu
os solos e acentuando a renda diferencial da terra, que tem sua origem
na fertilidade original ou na artificial, obtido por meio de fertilizantes.
Marx chegou a tais conclusões após leitura que fez da obra de Justus
Von Liebig sobre química agrícola e fertilizante. A ‘falha metabólica’
seria, então, esta ruptura do homem com a natureza provocada pela
agricultura moderna que usa intensivamente máquinas e fertilizantes
e que despovoa o campo, criando cidades superpovoadas (BAIARDI;
DULLEY, 2012; FOSTER, 2005).

Não há registros de outras preocupações explícitas de Marx com a


Bahia anál. dados, ecologia, salvo sua oposição em relação à “Lei do Roubo da Madeira”,
14 Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022 que o levou para o campo da economia política. Esta lei era vista por
Amilcar Baiardi, Durval Libânio Netto Mello, Mauro Moraes Victor Artigos

Marx como ameaçadora de direitos consuetudinários e históricos dos Somente a


pobres, que recolhiam a madeira seca sem destruir as florestas que es- partir dos anos
tivessem localizadas nas terras de propriedade privada. Para Marx, esta 1970, diante
atividade dos pobres não ameaçaria as florestas, que deveriam ser pre- de inúmeras
servadas para prover a caça, as frutas silvestres e a retirada disciplinada externalidades
da madeira (FOSTER, 2005). negativas
ao ambiente
Kautsky (1984), seguidor de Marx, não avançou nestas considerações
decorrentes de
quando tratou da ‘industrialização da agricultura’ com mais detalha-
intervenções
mento, expondo as transformações que reforçariam o domínio da natu-
reza pela agricultura capitalista. Nos anos 1930, a ecologia voltou a ter econômicas,
expressão no pensamento marxista por meio dos trabalhos de Caudwell é que se
(2020) sobre a necessidade de se reconceituar a relação do homem esboçaram
com a natureza, para que esse vínculo deixasse de ser de dominação manifes-
para ser de cooperação. Este mesmo pensador chamou a atenção para tações de
o fato de o sistema econômico oligopolista, que começava a prevalecer pensamento [...]
no início do século XX, ser o mais desperdiçador de que se tem registro que revelavam
na história da humanidade (FOSTER, 2005). preocupação
com a natureza

A DOMINAÇÃO SOBRE A NATUREZA NO PENSAMENTO


NEOCLÁSSICO E NOS DESDOBRAMENTOS
KEYNESIANOS E DESENVOLVIMENTISTAS

A corrente neoclássica, que sucede à clássica, via, até recentemente,


os recursos naturais como um fator de produção dado, a ser explora-
do com vista à maximização de resultados, sem que se cogitasse sua
extinção ou seu aproveitamento indevido como causador de degrada-
ção da natureza (SHACKLE, 1991). Os economistas que pesquisavam o
crescimento econômico não percebiam ou não associavam o processo
produtivo a um comprometimento progressivo dos recursos naturais.
Somente a partir dos anos 1970, diante de inúmeras externalidades ne-
gativas ao ambiente decorrentes de intervenções econômicas, é que
se esboçaram manifestações de pensamento, algumas herdeiras do
mainstream neoclássico e outras não, que revelavam preocupação com
a natureza, adotando, em alguns casos, argumentos e base empírica
presentes na economia ecológica, subsidiando-se também na tecnolo-
gia verde (VEIGA, 2008).

O conceito de desenvolvimento econômico já continha alguns reparos


no olhar para os recursos naturais e aparece no pensamento econômico
com mais nitidez a partir da crítica ao crescimento econômico que, por
sua vez, foi um conceito originado de outra crítica, voltada para o mains-
tream neoclássico, que demonstrava uma obsessão pelo equilíbrio, ou
ótimo estático. Bahia anál. dados,
Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022
15
A remuneração por serviços ambientais e a taxação pelo uso do capital natural: conquistas contemporâneas de
Artigos enfrentamento da crise ambiental

Os economistas Por volta dos anos 1930, houve a transformação da ciência econômi-
que, nos anos ca de uma área do saber na qual predominava a análise da escassez,
1930 e 1940, em outra que passou a se preocupar com a escassez e a incerteza.
tratavam do Naquele momento, não se podia mais conter a ideia de que a condição
crescimento normal das economias eficientes não estava atrelada ao melhor uso
de determinados recursos, mas ao crescimento, ao uso continuamente
não percebiam
aperfeiçoado de recursos constantemente crescentes. O crescimento
ou não
seria, então, uma tendência integradora das flutuações ou ondas dos
associavam o
ciclos econômicos, as explosões e os colapsos do sistema, como diria
processo com Sir John Hicks. O crescimento, portanto, foi visto não como um impulso
um compro- restaurador do equilíbrio, mas sim como um movimento que elevava a
metimento dotação de capital a cada pulsação e, com ela, o aumento da produção
progressivo (SHACKLE, 1991).
dos recursos
naturais, mas Os economistas que, nos anos 1930 e 1940, tratavam do crescimento
sim como não percebiam ou não associavam o processo com um comprometi-
uma trajetória mento progressivo dos recursos naturais, mas sim como uma trajetória
absolutamente absolutamente virtuosa. Os recursos naturais eram vistos como de ofer-
virtuosa ta elástica e sem horizontes de finitude, pelo menos em nível macroe-
conômico e de expansão e integração permanente de novos territórios.

Embora a Europa ocidental já exibisse o efeito da expansão econômica,


seja no esgotamento de minas e na destruição dos bosques a Leste, Sul
e além-mar, ou seja, para onde a economia poderia ir se expandindo,
não se cogitava escassez de recursos naturais. Eram fatores de produ-
ção dados e abundantes, assim, equivocadamente, conceituados. Os
fatores escassos poderiam ser o trabalho e o capital, não a terra, que
simbolizava todos os recursos naturais (SHACKLE, 1991).

Quando muito, esses economistas estavam atentos às diferenças em


termos de qualidade e quantidade dos recursos naturais e a sua dis-
tribuição no território, o que poderia levar a rendas diferenciais, sem
cogitar mesmo que estas poderiam ser consequência do próprio es-
gotamento, decorrente da intensificação de seu uso e exploração ou
do manejo inadequado dos solos e da vegetação, como lembra Marx
(1974, 1978, 1980). O fim desse período de total desprezo pela análise
dos impactos ambientais, segundo Baiardi e Teixeira (2010), tem início
com a crítica, ocorrida no interior da Escola de Cambridge, ao para-
digma dominante na economia, por meio das obras de Keynes, Joan
Robinson, Chamberlin e outros, e se estende até as constatações de
Jacob Schmookler sobre o papel da mudança técnica no crescimento
econômico, e as teorias de Hayami e Ruttan sobre a inovação induzida,
dependente da dotação dos recursos naturais. Antes, o único reparo
teórico a esta visão simplificada foi dado por Myrdal (1957), ao propor
Bahia anál. dados, a diferenciação nos intervalos da dinâmica econômica, distinguindo o
16 Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022 ex ante do ex post e reconhecendo o futuro como sendo, qualitativa e
Amilcar Baiardi, Durval Libânio Netto Mello, Mauro Moraes Victor Artigos

fundamentalmente diferente do passado. Pode-se dizer que, por volta O incentivo


dos anos 1970, emergem as primeiras preocupações com o descontrole ao consumo
do crescimento ou seu descolamento de alguns indicadores de progres- e, consequen-
so, entre eles o de padrão de vida (BAIARDI; TEIXEIRA, 2010). temente, à
produção traz
A partir de análises sobre o que acontecia no chamado “socialismo real” e alguns dese-
sobre os impactos da reconstrução no pós-Segunda Guerra, perspectivas
quilíbrios,
designadas heterodoxas (incluindo as abordagens Institucional, Pós-
como a falta de
Keynesiana, Austríaca, Marxista e Neo-Schumpeteriana) surgiram como
produção de
teorias alternativas, em que o agente econômico deixou de ser visto
como otimizador e, inserido num contexto ético, institucional e tecno- bens públicos
lógico, nem sempre perfeitamente ajustado a esse contexto. Da mesma face aos bens
forma, na discussão sobre excedente e distribuição e sobre as trajetórias privados
do desenvolvimento no pós-guerra, vê-se a importância de mudança produzidos
em um padrão estrutural de análise, uma vez que se constatavam di-
ficuldades nas estratégias de desenvolvimento e industrialização con-
vencionais, no lograr aumentar o salário real e os padrões de vida na
América Latina e na Índia, onde a agricultura não se modernizava no
ritmo adequado (BAIARDI; TEIXEIRA, 2010).

Estas contribuições trouxeram mais clareza à ideia de definir o desen-


volvimento como uma qualificação do crescimento econômico, na me-
dida em que seriam transformações expansionistas da economia que
viriam associadas com melhorias da qualidade de vida que fossem além
da garantia da ocupação e do aumento da renda. Indicadores educa-
cionais, de saúde e de infraestrutura de serviços seriam os elementos a
diferenciar o crescimento econômico do desenvolvimento econômico. A
demanda efetiva deixa de ser a essência dos programas de intervenção
econômica, e os multiplicadores passam a ser observados com maior
cuidado. Numa síntese de todas essas ideias, Galbraith (1998) afirma
que o incentivo ao consumo e, consequentemente, à produção traz al-
guns desequilíbrios, como a falta de produção de bens públicos face aos
bens privados produzidos. Essa reflexão já significa, em si, um ponto de
inflexão em relação à natureza.

A difusão dessas ideias, ainda que geradas nos países industrializados,


se apresentavam como mais adaptadas a países periféricos que, em
nomenclatura posterior, passaram a ser designados como países em
desenvolvimento. O modelo de desenvolvimento, nas obras de Myrdal
(1953, 1957), principalmente as da década de 1950, quando o autor se
afasta da Escola Sueca, e nas de Prebisch (1950, 1951, 1973), adqui-
riu estatuto de teoria e de aplicabilidade, passando então os preceitos
deste ‘receituário’ a serem seguidos pelas agências de desenvolvimen-
to nacional e internacional. Curiosamente, Myrdal, que foi vencedor do
Prêmio Nobel de Economia em 1974, recomendou Prebisch à primeira Bahia anál. dados,

premiação nesta categoria. Este conjunto de princípios sofreu no Brasil


Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022
17
A remuneração por serviços ambientais e a taxação pelo uso do capital natural: conquistas contemporâneas de
Artigos enfrentamento da crise ambiental

A partir da mediações criativas com as obras de Rangel (1960), em primeiro lugar,


primeira e Furtado (1964), em segundo. Entretanto, estas abordagens continua-
conferência vam omissas no que tange aos recursos naturais, salvo alguns conceitos,
internacional derivados dos avanços na gestão da inovação tecnológica, que estimu-
sobre meio lavam a adoção de inovações de processos que privilegiassem menor
consumo de matérias-primas, que diminuíssem a relação insumo/produ-
ambiente [...]
to, que elevassem o aproveitamento de subprodutos e que reciclassem
em 1972 [...]
componentes do produto final.
emergiu a
consciência não Se essas práticas trouxeram alguma redução na extração de recursos
só da finitude naturais, as causas foram mais microeconômicas que resultado de uma
dos recursos, reflexão que somente iria surgir após o Relatório Brundtland: nosso fu-
mas também turo comum, publicado em 1987, no qual o desenvolvimento sustentá-
dos impactos vel é concebido como “o desenvolvimento que satisfaz as necessida-
negativos sobre des presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras”
o ambiente (BAIARDI; TEIXEIRA, 2010).
trazidos pela
expansão
puramente A CRÍTICA AO DESENVOLVIMENTISMO A QUALQUER
econômica, CUSTO E A EMERGÊNCIA DA ECONOMIA ECOLÓGICA
dissociada da
Foi a partir da primeira conferência internacional sobre meio ambiente,
elevação do
realizada em 1972, na cidade de Estocolmo, que emergiu a consciência
padrão de vida,
não só da finitude dos recursos, mas também dos impactos negativos
ou de natureza
sobre o ambiente trazidos pela expansão puramente econômica, disso-
desenvolvimen- ciada da elevação do padrão de vida, ou de natureza desenvolvimentis-
tista ta, acarretando também mudanças no standard de vida e no aumento
do consumo, espelhado nos exemplos das sociedades mais afluentes.

É neste momento que, para os ambientalistas, se igualaram, do ponto de


vista dos impactos, as intervenções produtivas na natureza, sejam elas
visando a expansão econômica tipo enclave, tipicamente dissociada de
efeitos virtuosos, ou seja, aquelas com externalidades positivas visando
à expansão que se faz acompanhar de melhorias nas condições de vida
das populações.

Esse foi o momento em que se esboçou o conceito de desenvolvimento


sustentável, que vai além do desenvolvimento sustentado. Isto porque,
mais do que a capacidade de gerar renda e ocupação, ele tem a dimen-
são da sustentabilidade, que significa preservar os recursos naturais
para as gerações futuras e ser reprodutivo até onde convenha. Atingido
certo nível de renda, de serviços e de emprego ou capacidade de re-
munerar o não trabalho, a economia ingressaria, ceteris paribus, em es-
tagnação ou reprodução simples. Nesse estágio, qualquer extração de
Bahia anál. dados, recursos naturais dar-se-ia não com vistas à acumulação, mas à reposi-
18 Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022 ção do capital necessário à reprodução simples e com uso de recursos
Amilcar Baiardi, Durval Libânio Netto Mello, Mauro Moraes Victor Artigos

naturais renováveis, no modelo que Sachs (1986) chama de biociviliza- O maior


ção. Esse novo entendimento de desenvolvimento emerge no momento equívoco
em que se difunde a consciência de que desde a Revolução Industrial, se da visão
iniciou um processo irreversível de destruição da natureza, baseado na econômica
expansão do consumo convencional e na criação permanente de novas hegemônica
necessidades, com origem no simbolismo e nos desejos criados, que seria, então,
ultrapassam, infinitamente, as exigências indispensáveis à vida humana.
ignorar o fluxo
inevitável
Embora as declarações oficiais não aludissem ao fato, não há como
de resíduos
dissociar este estado de tomada de consciência feitas durante a pri-
meira conferência internacional sobre meio ambiente, da publicação no e apostar na
ano anterior do livro de Georgescu-Roegen (1971). Georgescu foi um substitutibi-
economista muito respeitado no mainstream, discípulo de Schumpeter lidade sem
e enaltecido por Samuelson, cuja magnum opus A Lei da Entropia e o limites dos
processo econômico revolucionou o ambiente acadêmico e deu base fatores
teórica sólida para a Economia Ecológica. Ele ofereceu uma nova visão
de sistema econômico, centrada na termodinâmica, com acréscimos
decorrentes da explicação da evolução humana mediante a combina-
ção de fatores endossomáticos e exossomáticos. Dito de outro modo,
Georgescu-Roegen (1971) aduziu argumentos incontestáveis de que o
processo econômico consiste na transformação contínua de baixa en-
tropia em alta entropia. Assim, o processo econômico é entrópico: não
cria nem consome matéria e energia, apenas transforma baixa em alta
entropia. O maior equívoco da visão econômica hegemônica seria, en-
tão, ignorar o fluxo inevitável de resíduos e apostar na substitutibilidade
sem limites dos fatores (BEINHOCKER, 2007).

Para Funtowicz e O’connor (1999), Georgescu-Roegen trouxe uma pers-


pectiva epistemológica para a prática científica que ajuda a resolver
os desafios da coexistência planetária, a partir de uma real e concre-
ta ciência da sustentabilidade, fazendo a ponte entre os domínios das
ciências físicas e as questões éticas e políticas nos domínios da ação
social. Georgescu-Roegen, na linha de complexificação dos processos
produtivos e de participação da natureza nestes, propôs que a função
de produção simplificada, P=f (K, N, T), sendo N natureza, K capital e T
trabalho, seja substituída por uma função que incorpore a dimensão t,
tempo, P(t)= f [ K(t), N(t), T(t)] (CECHIN; VEIGA, 2010).

Outra contribuição para os fundamentos da economia ecológica vem


de Galbraith (1998), ao dissociar o consumo necessário do consumo
supérfluo. Para o autor, os padrões de consumo contemporâneos são
formados por um longo processo de evolução econômica, social e cul-
tural, e têm um papel fundamental na manutenção do nível de produção
e emprego. Pode-se, portanto, dizer que o impulso econômico é asse-
gurado pela existência de padrões sociais de consumo conspícuo, que Bahia anál. dados,

garantem a demanda efetiva, assegurando o funcionamento do sistema


Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022
19
A remuneração por serviços ambientais e a taxação pelo uso do capital natural: conquistas contemporâneas de
Artigos enfrentamento da crise ambiental

Diante de econômico. Resolve-se, assim, o problema da procura enunciado por


inúmeros Malthus e Marx, e que estava já implícito na análise de Adam Smith. Esse
problemas processo, do qual a Revolução Industrial foi uma consequência para
ambientais, atender ao impulso mercantilista, tem origem mais recuada, nasce com
a visão o impulso para acumular, enriquecer (BAIARDI; TEIXEIRA, 2010).
neoclássica
propunha que
MITIGAÇÃO, COMPENSAÇÃO E SOLUÇÕES DE
o mais eficiente
MERCADO PARA A CRISE AMBIENTAL
seria buscar
instrumentos A economia neoclássica tem se caracterizado ao longo da história eco-
econômicos, nômica pela capacidade de incorporar à sua doutrina concepções que
de mercado, nasceram de sua omissão ou da sua incapacidade de reconhecer certos
avaliados problemas e, para eles, apresentar propostas. Assim foram as contri-
como mais buições de Keynes e, mais recentemente, na explicação do progresso
adequados que técnico na dinamização da economia. As evidências e as causas para
as intervenções elas vieram de fora do arcabouço teórico do pensamento neoclássico,
públicas o mainstream do pensamento econômico gerou a Síntese Neoclássica
Keynesiana para incorporar as obras de Keynes à Teoria da Mudança
Técnica como saída para superar o enfoque neoclássico padrão, ba-
seado na estática comparativa e em modelos de equilíbrio geral, nos
quais o progresso técnico aparecia vinculado ao conceito de função de
produção (SHACKLE, 1991).

Comportamento idêntico foi adotado diante dos problemas ambientais


e da emergência das externalidades negativas geradas pelas interven-
ções produtivas nos vários setores da economia. Diante de inúmeros
problemas ambientais, a visão neoclássica propunha que o mais efi-
ciente seria buscar instrumentos econômicos, de mercado, avaliados
como mais adequados que as intervenções públicas. Essa provocação
levou ao surgimento de vertentes ambientalistas no interior da econo-
mia neoclássica, denominadas economia ambiental, economia verde,
economia circular e economia de baixo carbono (ROMEIRO, 2001). A
diferença entre elas está na ênfase ou prioridade dada em uma ou outra
abordagem e nas mudanças sugeridas nos processos produtivos. Outra
diferença é a maior ou menor adaptabilidade aos setores econômicos.
De acordo com essa visão ampliada e agregada de transformações nos
sistemas produtivos, um conjunto de taxas devidamente aplicadas às
intervenções que gerassem impactos negativos ao ambiente sinalizaria
uma ‘poluição ótima’ ou zero poluição, sem externalidades negativas
ao ambiente.

A ideia das soluções de mercado para problemas ambientais parte do


princípio de que se devem estabelecer ônus e bônus adequados à pro-
Bahia anál. dados, dução industrial e agropecuária ou ao serviço que provoquem polui-
20 Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022 ção ou dano à natureza. Supõe-se que as forças de mercado possam
Amilcar Baiardi, Durval Libânio Netto Mello, Mauro Moraes Victor Artigos

remediar suas ineficiências e brechas com a produção de um marco Se deve


regulatório. Essa corrente assimilou que o sistema biológico não é um examinar a
problema secundário que interesse somente aos ecologistas e que o sis- anatomia dos
tema econômico é dependente do sistema biológico, cuja degradação subsídios, sejam
representa a degradação da própria humanidade. São imperativos para eles recurso,
o mercado os corretivos que evitem a externalização de danos ambien- dinheiro ou
tais (ROMEIRO, 2001).
infraestrutura.
[...] além de
Um dos economistas de maior reconhecimento nessa corrente é
cortar todos os
Roodman (1998), para quem as primeiras medidas deveriam incluir a
revisão de todos os subsídios, visto que entre eles há o que se poderia subsídios, dos
denominar de subsídios perversos porque estimulam claramente se- que agridem a
tores econômicos que não têm se empenhado em gerar tecnologias natureza, taxar
menos agressivas ao ambiente, como aqueles que atuam no setor de estes setores
combustíveis fósseis, de transportes, de uso da água, da mineração e e proceder
da pesca. Concretamente, se deve examinar a anatomia dos subsídios, inversamente
sejam eles recurso, dinheiro ou infraestrutura. O segundo passo é, além com quem não
de cortar todos os subsídios, dos que agridem a natureza, taxar estes colabora com
setores e proceder inversamente com quem não colabora com a degra- a degradação
dação ambiental, dando-lhe subsídios e estímulos outros. ambiental,
dando-lhe
Além dessas medidas de mais fácil implantação, dever-se-ia pensar em
subsídios e
uma ampla reforma fiscal ecológica que defina isenções fiscais e pre-
estímulos
miações para toda a iniciativa privada de manutenção ou recuperação
outros
de ativos ambientais e que institua e regule a cobrança por serviços
ambientais de forma ampla e para a totalidade de ecossistemas, tanto
no meio rural como nas cidades. Conforme o paradigma neoclássico, os
economistas que se interessam por ecologia creem que tal conjunto de
medidas e políticas irá promover o desenvolvimento sustentável da eco-
nomia globalizada, a partir da regulação feita pelos poderes nacionais
e locais. No âmbito desses entendimentos cabem, portanto, as ideias
de pagamento por serviços ambientais e de remuneração do capital
natural presente nos sistemas produtivos.

A EMERGÊNCIA DA TECNOLOGIA VERDE E OS


LIMITES ENTRE A UTOPIA E A REALIDADE

A tecnologia verde, green technology, é uma abordagem presente no


amplo arco que Romeiro (2001) define como vertentes ambientalistas
no interior da economia neoclássica, que propõem caminhos para o de-
senvolvimento sustentável, defendendo ingentes esforços para mudar
a base técnica dos sistemas produtivos. O termo ‘tecnologia’ refere-se
à aplicação do conhecimento para fins práticos e engloba, quando arti-
culado com a palavra ‘verde’, engloba um grupo em constante evolução Bahia anál. dados,

de inovações de processos e de produtos as quais, atualmente, se aplica


Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022
21
A remuneração por serviços ambientais e a taxação pelo uso do capital natural: conquistas contemporâneas de
Artigos enfrentamento da crise ambiental

A tecnologia à geração de energia, meios de transporte, construções civis, eletrodo-


verde, também mésticos, eletrônicos, vestuário, produtos não tóxicos de limpeza etc.
chamada Em princípio, todas as vertentes ambientalistas no interior da economia
tecnologia neoclássica, como a economia verde, a economia circular e a economia
ambiental e de baixo carbono, estariam estimulando a adoção da tecnologia verde.
tecnologia
A tecnologia verde define-se como a tecnologia “amiga do ambien-
limpa, embora
te”, concebida para conservar os recursos naturais e não degradar a
se encontre
natureza. A tecnologia verde, também chamada tecnologia ambiental
ainda nos e tecnologia limpa, embora se encontre ainda nos estágios iniciais de
estágios iniciais seu desenvolvimento, é uma grande promessa de novos conceitos ino-
de seu desen- vadores capazes de mudar aspectos da civilização. A expectativa atual
volvimento, é é que esse campo irá trazer mudanças à vida diária de magnitude se-
uma grande melhante à tecnologia da informação, como uma inovação radical que
promessa de mudará os sistemas de produção, a prestação de serviços e o cotidiano
novos conceitos das populações.
inovadores
capazes de Nesses estágios iniciais, é impossível prever o que tecnologia verde pode
mudar aspectos eventualmente abranger. De acordo com Hinterberger, Luks e Stewen
da civilização (1999), essas tecnologias verdes poderão demonstrar ainda mais efi-
ciência se associada ao esforço da sociedade civil e do Estado para
reduzir a materialização do consumo. Para os autores citados, a desma-
terialização deve ser vista como princípio-guia de uma política ambien-
tal. Nesse sentido, implica revisão de conceitos que possa repercutir na
base epistemológica da pesquisa e desenvolvimento (P&D). Segundo
eles, obter mais com menos não é uma utopia, mas requer mudanças
de paradigma no mundo científico e tecnológico. Implica também remo-
ver resistências nos processos políticos-administrativos, no poder e nos
interesses pessoais, e, ainda, um processo de mudança social por meio
de novas instituições e de definições do que seriam os comportamentos
estruturais danosos à sociedade e ao ambiente.

Na linha da adoção de tecnologias verdes está a relevante publicação


do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) (2013) que incor-
pora a abordagem do pensamento neoclássico em relação às políticas
para a sustentabilidade da economia, por meio de medidas mitigatórias
e compensatórias. Propõe uma série de preceitos de desenvolvimento
limpo com os quais diferentes Estados-nações devem concordar visan-
do à redução da emissão de CO2 ou à compensação via transferência
de recursos aos países que poluam menos.

A Política de Ciência e Tecnologia (PCT) seria essencial, de acordo com


a visão da tecnologia verde, para induzir a P&D nas empresas, univer-
sidades e institutos de pesquisa com o enfoque da tecnologia verde e
Bahia anál. dados, da desmaterialização. Embora não se negue a importância de explorar
22 Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022 essas vertentes econômicas como táticas preservacionistas, entende-se
Amilcar Baiardi, Durval Libânio Netto Mello, Mauro Moraes Victor Artigos

que as conquistas definitivas contra a destruição da natureza só virão As conquistas


com radical mudança de valores que altere padrões de consumo e es- definitivas
tilos de vida. contra a
destruição
da natureza
A NECESSIDADE DE UM NOVO PARADIGMA só virão
PARA A CRISE AMBIENTAL COM DEFINIÇÃO DE
com radical
NOVOS INDICADORES DE BEM-ESTAR
mudança de
valores que
No âmbito das ciências sociais, e de modo simplificado, podem-se pro-
por duas correntes de pensamento no que tange ao enfrentamento altere padrões
da crise ambiental. Uma delas não só chama a atenção para os riscos de consumo e
da pegada ecológica e da finitude dos recursos naturais, como defen- estilos
de a adoção de novos valores relacionados à ideia de bem-estar e à de vida
emergência de uma civilização com propósitos conservacionistas. É
uma visão diferente de toda a produção teórica das correntes herdei-
ras do pensamento neoclássico e está bem representada nas obras de
Beinhocker (2007) e Jackson (2009).

A outra corrente, aparentemente, tem caráter mais pragmático e se vol-


ta para medidas compensatórias ou mitigadoras de intervenções agres-
sivas ao meio ambiente. Em essência, essa segunda corrente sugere
novos marcos regulatórios que visem reduzir a emissão de CO2 e outros
indicadores de comprometimento da biosfera, bem como estabelecer
acordos, pactos etc. para gerar novas mercadorias e estipular serviços e
cobranças, a partir dos diferentes ativos ambientais. Essa corrente tam-
bém propõe mudanças na pesquisa e desenvolvimento (P&D) industrial
e agrícola, de modo a se obterem processos e produtos amigáveis ao
ambiente, a chamada green technology, bem representada na obra de
Hinterberger, Luks e Stewen (1999).

A primeira corrente, por sua vez, se divide atualmente em duas verten-


tes: uma delas defende a ideia de que a prosperidade e o bem-estar
podem ser promovidos e distribuídos sem expansão econômica, sem
intervenções de elevada entropia. É a tese da prosperidade sem cresci-
mento, de ideias utópicas, trazida pelos pesquisadores Kinsley (1997) e
Jackson (2009). A outra vertente, com origem nas reflexões sobre siste-
mas complexos, ocorridas no Santa Fe Institute, cujo principal porta-voz
é Beinhocker (2007), é mais consistente e menos afim às retóricas e às
utopias, se aprofunda nas reflexões mais determinantes de Georgescu-
Roegen (1971), as quais deram embasamento teórico e empírico à eco-
nomia ecológica.

A primeira vertente, mais utópica, baseia-se nas obras de Kinsley (1997)


e Jackson (2009) e tenta demonstrar que nem todo bem-estar pro- Bahia anál. dados,

vém de uma expansão do sistema econômico. Defende ser um equívoco


Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022
23
A remuneração por serviços ambientais e a taxação pelo uso do capital natural: conquistas contemporâneas de
Artigos enfrentamento da crise ambiental

Uma concepção associar o crescimento econômico ao bem-estar, pois, em que pese a


de prosperidade expansão da economia global, um quinto da população mundial ganha
sem apenas 2% da renda global. O crescimento econômico, além de não ter
crescimento se difundido de forma justa, no último quarto de século, quando a eco-
não é nomia mundial dobrou, fez com que cerca de 60% dos ecossistemas do
planeta se degradassem. Portanto, essa expansão não oferece garantia
impossível, mas
de prosperidade compartilhada e duradoura.
exige arranjos
políticos de
Argumenta-se ainda que a mudança climática, a segurança de combus-
envergadura tível, a biodiversidade em colapso e as desigualdades globais passaram,
para promover inexoravelmente, a ocupar lugar de destaque na política internacional.
a redução Destarte, a ideia de que o crescimento econômico isoladamente pode
da pobreza, superar crises é profundamente problemática, afirma. Mesmo que algo
capacitar as consiga ser feito, a longo prazo persistirá a insustentabilidade financeira
pessoas e e ecológica. Diante disso, a resposta mais apropriada à atual crise am-
retirar mais biental são as propostas alternativas de como haver prosperidade com
benefícios do impacto reduzido sobre o meio ambiente. Uma visão alternativa de en-
aumento da carar a relação homem/natureza na perspectiva de continuado usufruto
produtividade dos recursos naturais exige formas estratégicas de enfrentamento da
do trabalho agressão planetária ao meio ambiente.
com redução
Na mesma linha de argumentação, a primeira vertente afirma que, mes-
de jornadas
mo com os avanços ao prover as pessoas de alimento, abrigo, roupas
laborais
etc., a prosperidade tem dimensões sociais e psicológicas que vão além,
como a capacidade de dar e receber, o respeito de seus pares, o tra-
balho útil e o senso de pertencimento e de confiança em comunidade.
Por essa razão, o Produto Interno Bruto (PIB) não mensura bem-estar
e felicidade. A prosperidade justa e duradoura não pode estar isolada
das realidades, da escalada da população mundial e uso dos recursos
do planeta por pessoa. Ignorar esses limites é condenar os nossos des-
cendentes à pobreza.

De outro lado, lembra a primeira vertente, a possibilidade de que os


seres humanos possam prosperar e, ao mesmo tempo, consumir menos
não é de todo impossível, embora não se deva supor que isso será fácil
de conseguir. Cogitar, entretanto, esta possibilidade significa buscar
uma prosperidade duradoura. Uma concepção de prosperidade sem
crescimento não é impossível, mas exige arranjos políticos de enver-
gadura para promover a redução da pobreza, capacitar as pessoas e
retirar mais benefícios do aumento da produtividade do trabalho com
redução de jornadas laborais. O crescimento econômico só é tido como
indispensável porque é visto como única forma de gerar emprego diante
do desemprego estrutural, que se eleva com aumento da produtivida-
de do trabalho. Diante das crises econômico-financeiras, defender a
Bahia anál. dados, retomada do crescimento econômico é seguir a receita do ‘mais do
24 Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022 mesmo’, mais crédito, mais consumo, o que não é a solução. A redução
Amilcar Baiardi, Durval Libânio Netto Mello, Mauro Moraes Victor Artigos

do crescimento não pode ser desconsiderada em todos os casos. Por Passos


exemplo, nas regiões do planeta nas quais a demografia pouco se altera, decisivos para
o dinamismo econômico não pode ser o mesmo daquelas em que se a construção
observa aumento da população. de uma macro-
economia
Abordando talvez a questão mais sensível, os argumentos da primeira sustentável
vertente sugerem que existem duas características inter-relacionadas
devem ser
da vida econômica moderna: a produção de novidade e o consumo de
dados, e o
novidade. Os bens materiais têm um papel simbólico em nossas vidas,
processo deve
permitindo-nos comunicar e interagir socialmente, definindo nossas
identidades e sentimentos. Os desejos dos consumidores são comple- desenvolver
mento à inovação do empreendedor, combinação oportuna para impul- a prudência
sionar o crescimento. As instituições são distorcidas em busca do con- financeira e
sumismo materialista, e a economia se torna dependente do aumento ecológica em
do consumo para sua sobrevivência. Segundo Jackson (2009), essa é todos os níveis
uma «jaula de ferro», um sistema patológico do qual ninguém está livre.

A argumentação defende que o rumo à sustentabilidade é penosamente


lento porque visa estagnar o compromisso mais global para o cresci-
mento econômico. Por isso, uma mudança na vontade política e uma
nova visão de governança global são essenciais. Passos decisivos para
a construção de uma macroeconomia sustentável devem ser dados, e o
processo deve desenvolver a prudência financeira e ecológica em todos
os níveis, começando a corrigir os incentivos perversos e danosos ao
meio ambiente e a estabelecer novas competições para atingir metas
de sustentabilidade, não mais baseadas no crescimento implacável do
consumo. A mensagem mais clara a partir da crise ambiental é que
o presente modelo de sucesso econômico é fundamentalmente falho
(JACKSON, 2009; KINSLEY, 1997).

A segunda vertente desenvolvida no Santa Fe Institute, por sua vez,


sinaliza para os grandes riscos planetários, que surgiram quando se as-
sociaram os conceitos de riqueza e de progresso com a curva de adoção
de tecnologias produtivas, a partir de 1750, com o início da Revolução
Industrial. Consequentemente, defende um estilo de vida no qual os
complexos sistemas natureza e sociedade possam estar em harmonia,
desde que o conceito de riqueza e as tecnologias sociais sejam equi-
valentes aos adotados pelos Massai, uma etnia do Kenya que, segundo
Beinhocker (2007), os sistemas produtivos não desorganizam a natu-
reza, que é um sistema fechado, porque as atividades produtivas são
mantidas em um nível de baixa entropia.

Beinhocker (2007), em diálogo com um chefe Massai, no Kenya, , obser-


va que os complexos sistemas natureza e sociedade poderiam continuar
em harmonia se o conceito de riqueza e as “tecnologias sociais” fossem Bahia anál. dados,

equivalentes aos padrões adotados pelos Massai, os quais possibilitam


Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022
25
A remuneração por serviços ambientais e a taxação pelo uso do capital natural: conquistas contemporâneas de
Artigos enfrentamento da crise ambiental

Para salvar o que as aberturas do sistema produtivo não cheguem a desorganizar


planeta, ambas a natureza como sistema fechado, mantendo as atividades produtivas
as vertentes em um nível de baixa entropia. Nesse diálogo, o chefe tribal definia
propõem a sua identidade como associada a uma série de animais, árvores e áreas
criação de plantadas, necessários a sua sobrevivência, pois com esses ativos ele
não necessitaria de mais nada. Na concepção de existência e visão de
novos valores
mundo dos Massai, todos os conflitos desapareceriam se esse tipo de
civilizatórios,
relação se generalizasse entre os habitantes do planeta. Obviamente
seja para conter
que, para essa hipótese se tornar viável, a população mundial deveria
o crescimento parar de crescer e de aumentar o seu consumo, renunciando à acumu-
econômico, seja lação individual, à riqueza material, vide Beinhocker (2007), Heringer
para mudar (2008) e Lovelock (2006).
o padrão de
consumo Os argumentos acima sugerem que as duas vertentes convergem quan-
to à necessidade de mudanças civilizatórias, cujos primeiros passos de-
pendem da adoção dos preceitos da economia ecológica para bloquear
a destruição planetária, com o imperativo de relacionar a estabilidade
econômica com a estabilidade ecológica. Para salvar o planeta, am-
bas as vertentes propõem a criação de novos valores civilizatórios, seja
para conter o crescimento econômico, seja para mudar o padrão de
consumo. O agir dessa maneira aponta para a construção de uma bio-
civilização, no sentido idealizado por Sachs (1986), que seria a transição
natural para uma sociedade pós-industrial. Essa construção não é tarefa
de nenhuma entidade ou nação isoladamente, mas sim da comunidade
mundial, guiada pelas Nações Unidas e fiscalizada pela sociedade civil
organizada em escala planetária.

Para as economias avançadas do mundo ocidental, a prosperidade sem


crescimento material já não é um pensamento utópico. Há inúmeras
cidades na Europa que praticam com rigor a reciclagem e outras prá-
ticas sustentáveis que podem servir de exemplo. Os casos da comuna
de Monteveglio, na Província de Bolonha, Itália, e das cidades arroladas
no The European Green Cities Index (2009) mostram que a opção por
modificar os padrões de consumo e fixar metas de economia de energia
e de redução de emissões de CO2 é perfeitamente viável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS E NEXOS ENTRE SERVIÇOS


AMBIENTAIS E REMUNERAÇÃO DO CAPITAL NATURAL

Os itens anteriores permitem concluir que a discussão tardia acerca de


medidas mais efetivas de proteção da natureza resulta de processos
civilizatórios de acumulação e de consumo, que foram legitimados por
boa parte do pensamento econômico ao longo dos séculos. Malgrado os
Bahia anál. dados, alertas dos economistas e filósofos fisiocratas, clássicos e marxianos, o
26 Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022 mainstream econômico manteve sua hegemonia até a segunda metade
Amilcar Baiardi, Durval Libânio Netto Mello, Mauro Moraes Victor Artigos

do século XX, considerando os recursos naturais como fator de produ- A adoção e a


ção dado, sem horizonte de finitude. propagação
dos serviços
É hora, portanto, de tentar compensar o atraso com propostas mais ambientais e
estruturantes e holísticas, sugerindo que, no século XXI, sejam lançadas da taxação pelo
as bases de outra civilização, sem a obsessão por bens materiais que uso predatório
incorporam o fetiche de felicidade e realizações. Essa outra civilização
dos recursos
restabeleceria o equilíbrio entre o indivíduo e a natureza, mais próximo
naturais
ao que existia antes da Revolução Industrial do século XVIII. Para tanto,
ajudarão a
o foco da valorização humana deixará de ser o capital nas suas diver-
sas formas, produtivo, especulativo, patrimonial etc., para ser o capital manter e a
natural que poderá conviver com todas as outras formas de capital, ampliar o
sobretudo os capitais social e humano (VICTOR, 2007). estoque de
capital natural
O conceito de capital natural é essencial para que se justifiquem os
serviços ambientais e a taxação pelo uso predatório dos recursos na-
turais. A natureza não é um fator de produção a mais, mas incorpora
um tipo de capital especial, cujo estoque não pode ser reduzido sem
que daí decorram consequências. A adoção e a propagação dos servi-
ços ambientais e da taxação pelo uso predatório dos recursos naturais
ajudarão a manter e a ampliar o estoque de capital natural. Os serviços
ambientais emergem como uma forma legítima de proteger a natureza,
com instrumentos de premiação e de estímulos, não se configurando
como um mecanismo de desestímulo às ações que venham a compro-
meter o ambiente. Daí a conveniência de combinar os princípios jurí-
dicos de protetor-recebedor com os de poluidor-pagador, estando a
natureza mais assegurada quando os fluxos monetários operam nos
dois sentidos. Muitos negócios poderiam, simultaneamente, gerar ser-
viços ambientais e serem tributados, podendo, em alguns casos, haver
compensações entre receitas e despesas.

O mecanismo mais óbvio de taxação pelo uso da natureza e pelo des-


gaste do capital natural é considerar essa prática como parte do valor
final dos bens em uma equação do preço da produção, um conceito
mediatizado da contribuição econômica de Marx (1974), como demons-
trado a seguir.

Na equação de valor criado/adicionado, o capital natural deve apare-


cer desgastando-se, como o capital fixo e contribuindo para o valor
do produto final. Toda a análise de viabilidade econômica se pautará
nestes critérios, que devem ser empregados também na precificação de
ativos ambientais que medem o capital natural e que podem orientar a
cobrança dos serviços ambientais. Utilizando-se o conceito de Marx, de
preço de produção na formação do preço em atividades na agricultura
empresarial, onde P seria o preço final de produção de um determinado Bahia anál. dados,

bem, tem-se:
Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022
27
A remuneração por serviços ambientais e a taxação pelo uso do capital natural: conquistas contemporâneas de
Artigos enfrentamento da crise ambiental

P = pc + pv + (pc + pv)t + rt, no qual:

pc: preço do capital constante;

pv: preço do capital variável;

(pc + pv)t: taxa de lucro sobre o capital e

rt: renda da terra, ou o suposto direito de remuneração advindo da


propriedade da terra.

Estimando-se o preço de produção final com a inclusão do capital


natural, P’, a equação seria:

P’ = pc + pv + (pc + pv)t + pn + rt, na qual pn seria o preço do capi-


tal natural, estimado de modo diferente para cada setor econômico e
levando-se em conta que se trata de um recurso natural renovável ou
não renovável. No caso de produção que não envolva a terra, o preço
de produção não incluiria a renda da terra e seria:

P’’= pc + pv + (pc + pv)t + pn

Outorgando-se centralidade ao capital natural seria possível sugerir


encaminhamentos para enfrentar as crises ambientais e econômicas,
apresentando propostas de políticas coerentes que facilitem a transição
para uma economia sustentável e para uma civilização que vislumbre
para si um destino de racionalidade, como, segundo Ferrarotti (1985),
previu Max Weber. A partir desse entendimento, tanto os serviços am-
bientais como a remuneração do capital natural no preço de produção
são essenciais.

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Bahia anál. dados,


32 Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022
Entrevista

PAULO HENRIQUE PEREIR A

A importância de uma política


pública para a produção
de serviços ambientais
SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DA PREFEITURA
MUNICIPAL DE EXTREMA (MG), Paulo Henrique Pereira é biólogo,
pós-graduado em Gerenciamento Ambiental pela Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (ESALQ/
USP). Idealizador, coordenador e gestor do Projeto Conservador das
Águas, iniciativa que lhe valeu o Prêmio Internacional de Melhores
Práticas, recebido em Dubai, em 2013, estabelecido em conjunto
com a Organização das Nações Unidas (ONU) em 1995. Atualmente,
várias cidades brasileiras e de outros países empregam o modelo do
Conservador das Águas em outros projetos ambientais.

BA&D – Com pouco mais de dois anos da criação do marco legal


do Pagamento por Serviços Ambientais no Brasil (PSA) – Lei
Federal n.º 14.119/2021, ainda não regulamentada –, quais as
oportunidades que a Política Nacional de PSA oferece e quais os
pontos de melhoria e aperfeiçoamento que devem ser observados
para uma plena execução das oportunidades do mecanismo de
fortalecimento das iniciativas já em curso no território brasileiro?

Paulo Henrique Pereira – Penso que a Lei Federal oferece caminhos para
que os estados e municípios possam exercer suas atribuições na produ-
ção de serviços ambientais e no Pagamento por Serviços Ambientais. Os
estados sendo os fomentadores da Política Estadual de PSA e apoiando
os municípios executores das ações em seus territórios. A lei dá suporte
para que estados e municípios tenham a possibilidade de realizar paga-
mentos aos provedores de serviços ambientais. O Programa Produtor de
Água, da Agência Nacional de Águas (ANA), já opera nesse sistema e é
um bom exemplo.

Bahia anál. dados,


Salvador, v. 32, n. 2,
p.34-38, jul.-dez. 2022
35
Entrevista A importância de uma política pública para a produção de serviços ambientais

Quando houver BA&D – O instrumento de Pagamento por Serviços Ambientais,


um bom arranjo apesar da sua crescente popularidade, cria, por um lado, dificuldade
para a produção e insegurança aos gestores públicos pela possibilidade de
de serviços incorrer em ônus ao orçamento municipal e, por outro lado, atrai
ambientais proprietários de terra com altas expectativas de remuneração.
Como equalizar essa conta? De que forma convencer gestores
(água, biodiver-
públicos a investirem nessa nova abordagem de gestão ambiental?
sidade, clima,
solo, paisagem
PHP – Devemos criar uma política pública para a produção de serviços
e outros) que ambientais, em que se tenha clareza da importância de se protegerem
beneficie uma os mananciais, a biodiversidade, o solo, a paisagem, o clima. Isso traz
sociedade grandes benefícios para toda a sociedade, visto que os investimentos na
local, regional, gestão ambiental, com essas ações, são fundamentais para o desenvol-
nacional ou vimento do Brasil. Há de se considerar que o investimento no pagamen-
global, penso to aos agricultores representa uma pequena parcela do investimento to-
que há possi- tal (obras, insumos e serviços) para a produção de serviços ambientais.
bilidade de se
implantar uma BA&D – O Pagamento por Serviço Ambiental, criado como uma
política de PSA abordagem complementar aos mecanismos de comando e controle
na promoção dos esforços de conservação e/ou restauração dos
ecossistemas, apesar da sua crescente expansão, não deve ser
utilizado como o “remédio para todos os males” na solução de
problemas ambientais, econômicos e sociais. Em quais situações o
PSA seria mais recomendado e quando não deveria ser empregado?

PHP – Quando houver um bom arranjo para a produção de serviços


ambientais (água, biodiversidade, clima, solo, paisagem e outros) que
beneficie uma sociedade local, regional, nacional ou global, penso que
há possibilidade de se implantar uma política de PSA. Quando não hou-
ver essa cadeia de produção de serviços ambientais, penso que ainda
não há condições de se implantar uma política de PSA, mas acredito
que todos os municípios podem implantar uma política pública para a
produção de serviços ambientais e obter receitas.

BA&D – A existência do arcabouço legal é de extrema importân-


cia para o desenvolvimento das iniciativas de PSA, principalmente
pela segurança jurídica que confere aos programas. Hoje, contamos
com a Lei n.º 14.119/2021 que instituiu a Política Nacional de Paga-
mento por Serviços Ambientais (PNPSA) e leis estaduais presentes
em quase todos os estados brasileiros, além de leis municipais de
PSA em diversas localidades do país. Nesse cenário, o município de
Extrema, em Minas Gerais, é considerado o primeiro a instituir uma
política local de PSA em 2005. Qual é a importância de se ter uma
legislação municipal para o PSA e qual foi a necessidade de adequa-
Bahia anál. dados, ção da lei ao novo marco legal federal, instituído 16 anos depois?
36 Salvador, v. 32, n. 2,
p.34-38, jul.-dez. 2022
Paulo Henrique Pereira Entrevista

PHP – Para se ter uma política pública é preciso que ela seja implemen- Penso ser
tada através de leis, como a lei específica do Projeto Conservador das possível a
Águas, mas também o PPA, a LDO, a LOA, o Plano Diretor, o Plano de criação de uma
Saneamento, a [Política de Combate às] Mudanças do Clima, o Sistema política pública
Municipal de Unidade de Conservação, o Licenciamento Ambiental. para a produção
Essas constituem o conjunto de normas que forma o arcabouço legal de serviços
para a gestão ambiental municipal. Não identificamos a necessidade de
ambientais
adequação da lei de Extrema, pois acompanhamos o trâmite da legisla-
e, ao valorar
ção federal desde o primeiro PL, de 2007.
esses serviços,
BA&D – A lógica do PSA está muito associada ao princípio do podemos
protetor-recebedor ou provedor-recebedor, o qual supõe que transformar o
aqueles que protegem o meio ambiente mediante práticas de manejo projeto em uma
sustentável dos recursos ambientais podem ser recompensados fonte de receita,
de maneira monetária e não monetária. Como então valorar os ser recebedor
serviços ambientais e efetuar, de maneira equânime, os pagamentos de serviços
pelas atividades de conservação desenvolvidas de forma eficiente? ambientais e
Como poderia contextualizar a experiência de Extrema (MG) em depois ser o
termos de instrumentos de valoração e formas de pagamentos por pagador
serviços ambientais voltados à implementação da política do PSA?

PHP – A identificação das atividades agrícolas exercidas em uma loca-


lidade deve ser o fator de referência para verificar a rentabilidade por
hectare e, a partir daí, estabelecer nexo com os serviços ambientais pro-
duzidos na área equivalente – o chamado custo de oportunidade pela
atividade agrícola exercida e sua rentabilidade. Penso que a Academia
deve avançar nas pesquisas de definição de métricas para valorar os
serviços ambientais stricto sensu. Para os projetos de sequestro de car-
bono, por exemplo, o valor da tonelada também pode ser uma referên-
cia concreta.

BA&D – a realidade brasileira, a implementação de políticas


ambientais é sempre um desafio, principalmente para a maioria
dos municípios, que muitas vezes não dispõe de quadro técnico
adequado, estrutura administrativa suficiente e recursos financeiros
para uma efetiva gestão do meio ambiente. No caso do
PSA, a captação de recursos financeiros é considerada um
gargalo para o desenvolvimento de projetos e programas. Como
o município de Extrema (MG) vem enfrentando esse problema
e quais ações têm sido desenvolvidas para dar suporte ao
financiamento e à continuidade do programa municipal de PSA?

PHP – Penso ser possível a criação de uma política pública para a pro-
dução de serviços ambientais e, ao valorar esses serviços, podemos
transformar o projeto em uma fonte de receita, ser recebedor de servi- Bahia anál. dados,

ços ambientais e depois ser o pagador. Em Extrema, implantamos esse


Salvador, v. 32, n. 2,
p.34-38, jul.-dez. 2022
37
Entrevista A importância de uma política pública para a produção de serviços ambientais

O que buscamos formato através de projetos de compensação de licenciamento, pegada


e estamos hídrica, sequestro de carbono, doadores voluntários. Com isso, conse-
conseguindo guimos formar um quadro de técnicos ambientais de carreira.
em Extrema é
transformar BA&D – A experiência de Extrema (MG) é conhecida nacionalmente
e internacionalmente pelo arranjo institucional diversificado,
o município
abrangendo o poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil.
em produtor
Quais foram os benefícios da gestão desse projeto e quais os desafios
de serviços
enfrentados em relação à governança ao longo desse tempo?
ambientais
PHP – Sem dúvida, a diversidade de atores e entidades parceiras que con-
seguimos estabelecer no início foi o motivo do sucesso do Conservador
das Águas. Isso nos deu conhecimento, confiança e credibilidade para
avançar cada vez mais. E agora, com 18 anos, com a maioridade con-
quistada, podemos dizer que é uma política pública consolidada na so-
ciedade de Extrema, assim como as políticas públicas de educação e
saúde. Nenhum futuro administrador proporia fechar escolas ou postos
de saúde, como também não deixaria de produzir serviços ambientais.

BA&D – O Projeto Conservador das Águas foi instituído em 2005,


objetivando manter a qualidade dos mananciais do município de
Extrema e promover a adequação ambiental das propriedades
rurais. Ao longo desse período, quais foram os principais
desafios para a implementação e a condução desse projeto?

PHP – O primeiro desafio foi convencer os atores envolvidos, os políti-


cos, a equipe, os agricultores, os parceiros, etc. Como não havia nenhum
projeto desse tipo no Brasil, conseguir adeptos não foi fácil. O segundo
foi a execução das ações. O processo de restauração florestal requer
conhecimento técnico e prática, competências que não tínhamos. O ter-
ceiro foi manter a determinação e persistir. Só assim se consolida uma
política pública.

BA&D – Apesar de serem comumente incentivados projetos des-


tinados a um único serviço ambiental, a exemplo do Conservador
das Águas, na promoção dos serviços hídricos, e do Extrema no
Clima, voltado aos serviços de estoque de carbono, a literatura tem
recomendando projetos que reúnam múltiplos serviços ambientais
(PSA multialvo) na mesma área provedora, como estratégia para
superar o custo de oportunidade associado ao uso da terra e gerar
maiores incentivos à conservação. Como essa questão tem sido vis-
ta a partir da experiência do município de Extrema (MG) e de que
forma as inciativas de PSA do Brasil caminham nessa direção?

Bahia anál. dados, PHP – O que buscamos e estamos conseguindo em Extrema é transfor-
38 Salvador, v. 32, n. 2,
p.34-38, jul.-dez. 2022 mar o município em produtor de serviços ambientais. Os nossos projetos
Paulo Henrique Pereira Entrevista

visam à produção de água, à proteção da biodiversidade, ao sequestro O principal


de carbono, à manutenção da paisagem, às boas práticas agrícolas. E, a legado é que
partir dessa produção, elaborar um comércio local para esses produtos, é possível
transformando as propriedades rurais em provedoras desses serviços começar
e fazendo com que os agricultores passem a ser remunerados por isso. pequeno e,
E, ao mesmo tempo, acompanhar as ações do município no cuidado às com pouco
áreas prioritárias para a conservação ambiental do seu território.
investimento
em uma
BA&D – Quais os principais aprendizados que o Projeto
propriedade,
Conservador das Águas, de Extrema (MG), com quase 20
anos de experiência e pioneirismo no Brasil, pode deixar com um
para os municípios baianos com leis de PSA aprovadas, agricultor e
porém ainda não implementadas (“PSA de papel”)? a partir da
experiência
PHP – O principal legado é que é possível começar pequeno e, com adquirida,
pouco investimento em uma propriedade, com um agricultor e a partir ganhar
da experiência adquirida, ganhar confiança e credibilidade para avançar confiança e
com o projeto para todo o território municipal. Para consolidar o PSA credibilidade
como política pública, são importantes a constância e a persistência. para avançar
com o projeto
BA&D – Quantos beneficiários já foram contemplados no mu- para todo
nicípio mineiro com o projeto e quais as mudanças econômi-
o território
cas, ambientais e sociais que já ocorreram por conta do PSA?
municipal
PHP – Iniciamos os pagamentos aos agricultores em 2007. Até 2023
foram assinados mais de 300 termos de compromissos com os proprie-
tários rurais, distribuímos renda de R$ 8 milhões, contribuindo para a
melhoria da qualidade de vida dos agricultores e transformando-os em
produtores de serviços ambientais.

BA&D – Após a implantação e a execução do PSA


no município, houve outras legislações e ações que
integrassem o PSA com outras políticas? Se sim, quais
foram essas iniciativas e como esse processo ocorreu?

PHP – Houve implementação de outras legislações no município para


consolidar a governança ambiental, como o Plano Diretor, o Sistema
Municipal de Unidades de Conservação, o Licenciamento Ambiental, o
Plano de Saneamento e a Política de Combate às Mudanças do Clima.

Bahia anál. dados,


Salvador, v. 32, n. 2,
p.34-39, jul.-dez. 2022
39
Resumo

Em 2015, a Política Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e


o Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais (PEPSA) foram
instituídos na Bahia. A adoção desse mecanismo de incentivo a comporta-
mentos ambientalmente desejáveis representa um importante avanço na pro-
moção de novos instrumentos para a agenda de gestão pública ambiental
do estado. O artigo relata a experiência do início da implementação da Polí-
tica Estadual de PSA na Bahia, apresenta e discute a estrutura dessa política
pública de incentivo à conservação, os caminhos já percorridos pela Secre-
taria do Meio Ambiente (Sema) e o planejamento estratégico para a plena
implementação do PSA no estado. Discorre-se também sobre os resultados
da estratégia conduzida pela Sema-BA para a divulgação do PSA e para a des-
centralização dessa política por meio de processos formativos e assistência
técnica continuados. Ao final, apresentam-se as considerações gerais sobre o
início da implementação da política pública de PSA na Bahia.
Palavras-chave: serviços ecossistêmicos; política pública; gestão ambiental;
incentivo econômico; princípio “provedor-recebedor”.

Abstract

The State of Bahia published in 2015 the State Policy for Payment for
Environmental Services (PSA) and the State Program for Payment for
Environmental Services (PEPSA). The adoption of this incentive mechanism
for environmentally desirable behavior represents an important advance
in the promotion of new instruments for the State’s environmental public
management agenda. In this article, we report the experience of the beginning
of the implementation of the State PSA Policy in the State of Bahia. We present
and discuss the structure of this public policy to encourage conservation,
the paths already taken by SEMA-BA and the strategic planning for the full
implementation of the PSA in the State. We will also present the results of
the strategy carried out by SEMA-BA for the dissemination of the PSA and
for the decentralization of this policy through continuous training processes
and technical assistance. At the end, we present general considerations
about this experience at the beginning of the implementation of this public
policy in Bahia.
Keywords: ecosystem services; public policies; environmental management;
economic incentives; “provider-receiver” principle.
Artigos

Implementação do Programa
Estadual de Pagamento por
Serviços Ambientais da Bahia
LUA N A P I M E N T E L R I B E I R O PARA ATENDER ao Art. 225 da Constituição
Especialista em Gerenciamento
Ambiental pela Universidade Federal de 1988 (BRASIL, 1988), que afirma ser
Católica do Salvador (UCSal) e bacharela
em Ciências Biológicas pela Universidade um direito de todos o acesso ao meio ambiente
Federal da Bahia (UFBA).
ecologicamente equilibrado, o arcabouço da
luana.ribeiro@sema.ba.gov.br

M A R C E L L E S I LVA O L I V E I R A C H A M U S C A legislação ambiental brasileira foi sendo apri-


Pós-graduanda em Direito morado e hoje é um dos mais bem avaliados
Público e Direito Administrativo pelo
Complexo de Ensino Renato internacionalmente. No entanto, historicamen-
Saraiva (CERS) e bacharela em
Direito pela União Metropolitana de te, os dispositivos dessa legislação voltados às
Educação e Cultura (Unime).
marcelle.chamusca@sema.ba.gov.br estratégias de comando e controle (licencia-
T I A G O J O R DÃ O P O R TO mento ambiental e fiscalização ambiental, por
Doutor em Ecologia, mestre em
exemplo) foram fortalecidos e incorporados à
Diversidade Animal/Zoologia e
bacharel em Ciências Biológicas pela prática da gestão ambiental em detrimento de
Universidade Federal da Bahia (UFBA).
tiago.porto@sema.ba.gov.br outros mecanismos de incentivo à conservação,
C I R O TAVA R E S F LO R E N C E a exemplo de instrumentos econômicos. Os ins-
Doutorando e mestre em Ecologia
e Biomonitoramento e bacharel em trumentos econômicos para a tutela ambiental
Ciências Biológicas pela Universidade
Federal da Bahia (UFBA). utilizam mecanismos de incentivo positivo para
ciro.florence@sema.ba.gov.br
induzir comportamentos desejáveis, ou seja,
N AY R A R O S A CO E L H O
avançam para além da perspectiva punitiva e
Doutora e mestra em Desenvolvimento
e Meio Ambiente pela Universidade fiscalizatória do comando e controle (FUNDA-
Estadual de Santa Cruz (UESC),
especialista em Análise Ambiental ÇÃO GRUPO BOTICÁRIO DE PROTEÇÃO À
pela Universidade Federal de Juiz de
Fora (UFJF) e licenciada em Ciências NATUREZA et al., 2017). Por possibilitarem uma
Biológicas pela Universidade
Federal dos Vales do Jequitinhonha e nova abordagem, esses instrumentos econômi-
Mucuri (UFVJM).
nayracoelho@hotmail.com
cos vêm ganhando espaço no cenário nacional
de valorização dos ativos ambientais e sendo
doi.org/10.56839/bd.v32i2.a2
utilizados como estratégia complementar ao
tradicional comando e controle, a exemplo do
Pagamento por Serviços Ambientais (PSA)
(ALTMANN; STANTON, 2018; BRASIL, 2021).

Bahia anál. dados,


Salvador, v. 32, n. 2,
p.40-58, jul.-dez. 2022
41
Artigos Implementação do Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais da Bahia

O PSA é um Ecossistemas naturais fornecem, de maneira gratuita, bens e serviços


instrumento fundamentais à sadia qualidade de vida, como a regulação climática, a
que prevê diversidade biológica e o ciclo hidrológico, que resultam em benefícios
transações diretos e indiretos ao bem-estar humano, denominados serviços ecos-
de benefícios sistêmicos (CAMPANHA et al., 2019). Por sua vez, a intervenção humana
nesses ecossistemas possui tanto a capacidade de impactar a geração
(monetários
desses serviços quanto de gerar incremento na provisão deles. Quando
ou não) que,
o ser humano adota uma conduta que favorece a conservação, manu-
seguindo o
tenção, melhoria ou recuperação dos serviços providos pela natureza,
princípio do ele atua como um provedor de serviços ambientais e pode receber um
“protetor- benefício pelo reconhecimento da sua ação (SIQUEIRA, 2018).
-beneficiário”,
recompensa a O PSA é um instrumento que prevê transações de benefícios (monetá-
boa conduta rios ou não) que, seguindo o princípio do “protetor-beneficiário”, recom-
daqueles que pensa a boa conduta daqueles que promovem externalidades positivas,
promovem de modo a estimular a reprodução de comportamentos ambientalmente
externalidades desejáveis (SIQUEIRA, 2018). Essa estratégia tem sido apontada como
positivas um mecanismo viável de incentivo às condutas que geram melhoria na
gestão do patrimônio ambiental, e vem sendo amplamente adotada no
Brasil e no mundo. Um levantamento global registrou, até o ano de 2018,
mais de 550 transações de PSA, tanto em países desenvolvidos como
naqueles em desenvolvimento (SALZMAN et al., 2018). Estes números
podem estar subestimados, haja vista que, apenas para o Brasil, foram
contabilizados 316 projetos de PSA em 2019 (JODAS, 2021).

A Lei Federal n.° 14.119, de 13 de janeiro de 2021, estabelece os con-


ceitos, objetivos, diretrizes, ações e critérios para a implantação da
Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais (PNPSA),
institui o Cadastro Nacional de PSA e o Programa Federal de PSA
(BRASIL, 2021). Essa iniciativa, em trâmite no Congresso Nacional des-
de 2007, tem como objetivo garantir maior segurança jurídica e diretri-
zes gerais nacionais, já que alguns estados e municípios brasileiros já
haviam saído na frente nessa temática, aprovando suas leis de PSA e
implementando programas e projetos desde o ano 2005 (ALTMANN;
STANTON, 2018).

Na Bahia, a Lei estadual n.º 13.223 foi publicada em 12 de janeiro de


2015 e, desde então, instituiu a Política Estadual de PSA e o Programa
Estadual de PSA (PEPSA) (BAHIA, 2015). Apesar de ainda não regula-
mentada, a lei prevê, entre suas diretrizes, o apoio aos esforços dos de-
mais programas e projetos de PSA já implementados no estado. Assim,
a Secretaria do Meio Ambiente do Estado da Bahia (Sema), na função de
órgão executor, de assistência técnica e de monitoramento do PEPSA,
vem atuando na disseminação, implementação e apoio para a descen-
Bahia anál. dados, tralização da Política Estadual de PSA no estado da Bahia.
42 Salvador, v. 32, n. 2,
p.40-58, jul.-dez. 2022
Luana Pimentel Ribeiro, Marcelle Silva Oliveira Chamusca, Tiago Jordão Porto, Ciro Tavares Florence, Nayra Rosa Coelho Artigos

Neste artigo, relata-se a experiência do início da implementação da A referida lei


Política Estadual de PSA do Estado da Bahia. É apresentada e discutida [nº 13.223/2015]
a estrutura dessa política pública de incentivo à conservação, os cami- reconhece como
nhos já percorridos pela Sema e o planejamento estratégico para a dese- modalidades
jável e plena implementação do instrumento no estado. Apresentam-se de serviços
também os resultados da estratégia capitaneada pela referida secretaria ambientais a
para a divulgação do PSA e a descentralização dessa política por meio
conservação
de processos formativos e assistência técnica continuados. Ao final, são
de florestas
feitas considerações gerais acerca dessa experiência que foi o início da
nativas, a
implementação da política pública de PSA na Bahia.
manutenção
da biodiver-
A POLÍTICA DE PSA DA BAHIA sidade, dos
monumentos
Por meio da Lei n.º 13.223, de 12 de janeiro de 2015, o Governo do de beleza cênica
Estado da Bahia instituiu a Política Estadual de Pagamento por Serviços e dos valores
Ambientais (BAHIA, 2015). A política tem como objetivo estimular a imateriais e
conservação e a restauração dos ecossistemas e da biodiversidade a conhecimentos
partir da valorização, monetária ou não, dos serviços prestados a favor tradicionais
dos ecossistemas. Além disso, essa política busca promover alternativas associados ao
econômicas para os provedores de serviços ambientais (pessoas físicas meio ambiente
ou jurídicas), principalmente em cadeias de produção sustentável e em
territórios de Povos e Comunidades Tradicionais (PCT) e dos agriculto-
res familiares.

A referida lei reconhece como modalidades de serviços ambientais a


conservação de florestas nativas, a manutenção da biodiversidade, dos
monumentos de beleza cênica e dos valores imateriais e conhecimen-
tos tradicionais associados ao meio ambiente. Reconhece também o
sequestro de carbono, a regulação do clima, a conservação das águas
e do solo, a gestão de resíduos, as construções sustentáveis e a edu-
cação ambiental como importantes serviços potencialmente elegíveis
para pagamento. Além da modalidade de pagamento em dinheiro, a
política baiana de PSA prevê que estes serviços ambientais poderão ser
reconhecidos e valorizados também por meio de incentivos fiscais, se-
los, certificações, premiações, assistência técnica e educação ambien-
tal. Foram criadas subcontas específicas para o PSA no Fundo Estadual
de Recursos para o Meio Ambiente (Ferfa) e no Fundo Estadual de
Recursos Hídricos da Bahia (FERHBA), que poderão ser alimentadas
por recursos oriundos de fundos públicos nacionais, acordos bilaterais,
doações, recurso próprio do estado, receitas oriundas da cobrança pelo
uso de recursos hídricos, dentre outras fontes.

Na lei, foram instituídos como importantes instrumentos da Política


de PSA: 1) o Sistema de Informação da Política Estadual de PSA, 2) a Bahia anál. dados,

Plataforma de Fomento ao Mercado de PSA, e 3) o Programa Estadual


Salvador, v. 32, n. 2,
p.40-58, jul.-dez. 2022
43
Artigos Implementação do Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais da Bahia

A implantação de PSA (PEPSA), dentre outros (BAHIA, 2015). O Sistema de Informações


do PEPSA foi criado pela Lei e sua implementação está sendo planejada pela Sema
materializará (BAHIA, 2015). Ele deverá conter informações sobre os projetos de PSA
a política como do estado, inclusive os firmados exclusivamente entre particulares, com
um todo, pois é dados sobre os beneficiários, as áreas e os serviços ambientais e ecossis-
têmicos fornecidos. A Plataforma de Fomento ao Mercado de PSA estará
por meio desse
integrada ao Sistema de Informação e promoverá a transparência, a tro-
programa que
ca de informações, bens e serviços para a formação de um mercado es-
os serviços
tadual de serviços ambientais, mediante a promoção do fluxo de intera-
ambientais ções de ordem econômica entre pagadores, mediadores e beneficiários.
poderão ser
reconhecidos, Por fim, a implantação do PEPSA materializará a política como um todo,
pagos e pois é por meio desse programa que os serviços ambientais poderão
monitorados ser reconhecidos, pagos e monitorados. A Sema é o órgão executor,
de assistência técnica e de monitoramento do PEPSA, mas a lei criou
também um Conselho com representações diversas para promoção da
transparência, participação e controle social (membros de secretarias
do governo do estado; representantes de povos e comunidades tra-
dicionais e agricultores familiares; organizações não governamentais;
representações municipais e de setores empresariais) (BAHIA, 2015).
Os prestadores de serviços ambientais interessados em participar do
PEPSA deverão respeitar requisitos mínimos também estabelecidos na
lei, que, entre outros, dizem respeito à comprovação da propriedade
ou posse do imóvel, à adequação do projeto às diretrizes do PEPSA e à
comprovação de adicionalidade, ou seja, os ganhos ambientais promo-
vidos deverão estar além das exigências legais básicas.

A instituição da Política Estadual de PSA da Bahia, por meio da Lei n.º


13.223 (BAHIA, 2015), representa um importante avanço no que concer-
ne à promoção de novos instrumentos para a agenda de gestão pública
ambiental do estado. Tal diversificação nas estratégias de tutela do meio
ambiente coloca o estado da Bahia em posição de destaque, junto com
outros estados brasileiros que também instituíram seus programas de
PSA. Baseado na função promocional do direito, a partir de um esque-
ma de incentivo, o PEPSA representa um avanço na criação de políti-
cas sistêmicas de preservação ambiental (CASTRO; YOUNG; PEREIRA,
2018; SIQUEIRA, 2018).

DESAFIOS E SOLUÇÕES PARA O INÍCIO DA


IMPLEMENTAÇÃO DO PEPSA NA BAHIA

A Secretaria do Meio Ambiente do Estado da Bahia (Sema) vem cum-


prindo seu papel de órgão executor da Política Estadual de Pagamento
Bahia anál. dados, por Serviços Ambientais (PSA), com destaque para as frentes de traba-
44 Salvador, v. 32, n. 2,
p.40-58, jul.-dez. 2022 lho descritas abaixo.
Luana Pimentel Ribeiro, Marcelle Silva Oliveira Chamusca, Tiago Jordão Porto, Ciro Tavares Florence, Nayra Rosa Coelho Artigos

Sensibilização e divulgação A ementa


do curso
Por ser uma política ambiental relativamente recente, o PSA conta, na [capacitação]
Bahia, com a atuação da Sema no processo de sensibilização do público aborda
e divulgação do incentivo junto aos diversos setores de gestão ambien- conceitos
tal da Bahia. Ao longo dos últimos três anos, a equipe da secretaria pau- inerentes ao
tou o tema do PSA em mais de 20 seminários e palestras proferidas para
tema de PSA
diferentes públicos, como: equipes técnicas de outras instituições do
[...] e busca
governo do estado, representantes de municípios e consórcios intermu-
desenvolver nos
nicipais, produtores rurais, empresários, órgãos colegiados do estado,
comitês de bacias hidrográficas, conselhos gestores de Unidades de participantes
Conservação, dentre outros públicos estratégicos. habilidades
voltadas à
Capacitação para representantes dos elaboração
municípios e consórcios intermunicipais de minutas
de lei para os
A Sema desenvolveu e tem implementado um curso teórico-prá- municípios
tico, com carga-horária de 40h (somadas as horas on-line síncronas que ainda
e presenciais), para formação em PSA, tendo como público-alvo, não possuem
nessas primeiras edições do curso, representantes dos municípios e política local de
consórcios públicos intermunicipais. A capacitação é implementada
PSA aprovada
por meio do PEPSA e do Programa de Formação em Meio Ambiente
e Recursos Hídricos (Formar) (Figura 1). A escolha do público-alvo
para as primeiras turmas se deve ao potencial de tais representantes
atuarem como multiplicadores do conteúdo em seus territórios, além
de contribuírem para uma das diretrizes do Governo do Estado da
Bahia, a de fortalecimento e descentralização da gestão ambiental, com
fortalecimento do Sistema Municipal de Meio Ambiente.

A ementa do curso aborda conceitos inerentes ao tema de PSA (legis-


lação, serviços ecossistêmicos e ambientais, casos de sucesso na imple-
mentação dessa estratégia de conservação) e busca desenvolver nos
participantes habilidades voltadas à elaboração de minutas de lei para
os municípios que ainda não possuem política local de PSA aprovada.
Para os municípios que já dispõem da lei de PSA, o curso promove es-
tratégias de impulsionamento e aceleração dos programas e projetos
de PSA. As aulas são ministradas por profissionais com competências
técnico acadêmicas em cada uma das temáticas.

Os cursistas assumem participação ativa ao longo das aulas, visto que


o conteúdo aplicado é inserido e estimulado nas discussões voltadas à
realidade local de cada território municipal, haja vista que a finalidade
das capacitações é a elaboração de uma minuta de Política Municipal de
PSA. Isso estimula os cursistas a refletirem sobre quais são os serviços
ecossistêmicos mais relevantes que estão sob ameaça diante das ativi- Bahia anál. dados,

dades degradadoras praticadas nos ecossistemas locais.


Salvador, v. 32, n. 2,
p.40-58, jul.-dez. 2022
45
Artigos Implementação do Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais da Bahia

As capacitações são finalizadas com encontros presenciais, nos quais é


oportunizada a integração do conhecimento, o planejamento de ações
futuras a partir de rodas de conversas e dinâmicas participativas, além
do estímulo ao compartilhamento de informações e integrações regio-
nais para elaboração de projetos. Na ocasião, os cursistas recebem o
certificado de capacitação, caso tenham cumprido a carga horária exi-
gida de aulas síncronas e realizado a entrega do trabalho final com a
produção da minuta da Política Municipal de PSA (Figura 2).

Figura 1
Ambiente virtual da Capacitação em Pagamento por Serviços Ambientais, acessível pela Plataforma do
Programa de Formação em Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Formar)

Fonte: Bahia (2021).

Bahia anál. dados,


46 Salvador, v. 32, n. 2,
p.40-58, jul.-dez. 2022
Luana Pimentel Ribeiro, Marcelle Silva Oliveira Chamusca, Tiago Jordão Porto, Ciro Tavares Florence, Nayra Rosa Coelho Artigos

Figura 2 A Prefeitura de
Primeira Capacitação em Pagamento por Serviços Ambientais ministrada
para representantes de municípios da Chapada Diamantina-BA, em Ibirapitanga
Andaraí (Dezembro/2021) instituiu, em
2014, a primeira
lei de PSA da
Bahia, com
o objetivo de
recompensar
os agricultores
que mantinham
as nascentes e
matas ciliares
preservadas.

Fonte: Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento do Circuito do Diamante da Chapada Diamantina (c2020).

Com essas capacitações em PSA, a gestão estadual tem expandido o


apoio aos municípios no que se refere às agendas positivas de conser-
vação e educação ambiental. A participação dos entes municipais é
essencial para a viabilidade e o fortalecimento de instrumentos eco-
nômicos como o PSA, que permite a diversificação das estratégias de
gestão pública ambiental.

Como resultado do curso, cada prefeitura, já com a sua minuta da Política


Municipal de PSA elaborada, assume o compromisso de implementá-la
por meio da efetivação da lei nas Câmaras Municipais, da articulação
institucional e da captação de recursos para financiamento de projetos.
A Sema, por sua vez, assume também o compromisso de assistência
técnica aos municípios, mesmo após o encerramento da capacitação.

A capacitação desenvolvida pela Sema conta com o apoio de institui-


ções parceiras, representadas por profissionais especialistas que com-
põem a equipe docente da formação em políticas de PSA. Entre os par-
ceiros estão: o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema),
a Prefeitura Municipal de Ibirapitanga, a Organização de Conservação
da Terra (OCT) e a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC).

A Prefeitura de Ibirapitanga instituiu, em 2014, a primeira lei de PSA da


Bahia, com o objetivo de recompensar os agricultores que mantinham
as nascentes e matas ciliares preservadas (BAHIA, 2014). O programa
de PSA do município foi viabilizado por meio da parceria e da assistên- Bahia anál. dados,

cia técnica da OCT, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse


Salvador, v. 32, n. 2,
p.40-58, jul.-dez. 2022
47
Artigos Implementação do Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais da Bahia

"A capacitação Público (OSCIP) que já atuava com projetos na Área de Proteção
para a Ambiental (APA) do Pratigi. Em 2016, esses atores conseguiram, junto a
implantação Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), a classificação
do PSA – para o Programa Produtor de Água, o que proporcionou a ampliação
Pagamento de sua área de atuação, prestando assistência técnica e financeira a
propriedades que adotam práticas de conservação do solo e da água.
por Serviços
Por esses motivos, tanto a Prefeitura de Ibirapitanga quanto a OCT se
Ambientais foi,
uniram à Sema para realizar as capacitações estaduais, servindo como
ao meu ver, um
exemplo aos municípios participantes.
divisor de águas
na direção de A UESC também tem sido parceira nas capacitações de PSA e nas dis-
implantação do cussões acerca da Política Estadual de PSA da Bahia, por meio de proje-
programa no tos de pesquisa de pós-graduação. Pesquisadores da UESC têm contri-
município" buído para a produção de conhecimento técnico-científico e aportado
informações para o planejamento e o fomento do PSA no estado.

Entre os anos de 2021 e 2022, a Sema, em parceria com as institui-


ções colaboradoras relatadas acima, capacitou representantes de 70
municípios na temática do PSA, incluindo das regiões como: Chapada
Diamantina, Baixo Sul, Região Metropolitana de Salvador e Litoral Norte
e Agreste Baiano. Foram atendidos e certificados mais de 150 técnicos
das prefeituras e dos consórcios públicos municipais, viabilizando-se a
aprovação de seis leis municipais já publicadas (Itaberaba, Iaçu, Piatã,
Ibiquera, Ruy Barbosa e Inhambupe) e de muitas outras em processo de
aprovação, o que tem contribuído com a descentralização do PSA no
estado (BAHIA, 2021, 2022a, 2022b).

Relatos de alguns dos gestores ambientais que


concluíram a capacitação

Os relatos a seguir fazem parte do levantamento realizado pela Sema


– por meio de questionários semiestruturados e disponibilizados via
formulário on-line da plataforma virtual Google Forms – para avaliar a
satisfação dos participantes da capacitação e o desempenho dos ob-
jetivos alcançados pela iniciativa, como estratégia de melhoria contí-
nua das metodologias adotadas. Algumas impressões e perspectivas
de gestores e técnicos municipais egressos da capacitação em PSA são
apresentadas em seguida.

As muitas deficiências e propostas sem soluções na área de meio am-


biente são, na verdade, oriundas da ausência de políticas públicas que
atentem para as necessidades de valoração das atividades que visam
à proteção ou conservação dos recursos naturais. A capacitação para
a implantação do PSA – Pagamento por Serviços Ambientais foi, ao
Bahia anál. dados, meu ver, um divisor de águas na direção de implantação do programa
48 Salvador, v. 32, n. 2,
p.40-58, jul.-dez. 2022 no município e, com isso, [a forma de] oferecer uma contrapartida aos
Luana Pimentel Ribeiro, Marcelle Silva Oliveira Chamusca, Tiago Jordão Porto, Ciro Tavares Florence, Nayra Rosa Coelho Artigos

usuários dos recursos naturais, reconhecendo seus esforços para en- "O mais incrível
contrarmos um equilíbrio ambiental e, com isso, fortalecer os princípios foi a possi-
da sustentabilidade (informação verbal)1. bilidade de
sermos parte
O curso de formação em Pagamentos por Serviços Ambientais dispo- integrante da
nibilizado pela Sema trouxe para mim uma grande oportunidade de
elaboração
conhecimento e de troca de vivência com diversos parâmetros ambien-
da minuta de
tais de outros municípios que compõem nossa região. Um ponto muito
lei da Política
interessante foi a identificação de potenciais ambientais, bem como de
pontos de fragilidade em nossos municípios em relação aos serviços
Municipal de
ambientais existentes. O curso nos apresentou um outro olhar para as
Pagamentos
questões ambientais e fez correlação principalmente com parâmetros de Serviços
ambientais intitulados pelo mundo como a Agenda 2030, mecanismos Ambientais
de sustentabilidade, Environmental, Social and Corporate Governan- do nosso
ce– (ESG), entre outros conceitos. E o mais incrível foi a possibilidade município,
de sermos parte integrante da elaboração da minuta de lei da Política corroborando
Municipal de Pagamentos de Serviços Ambientais do nosso município, com o processo
corroborando com o processo de participação popular. Dessa forma, de participação
agradeço a oportunidade e o conhecimento transbordado em mim, de popular"
forma que ecoe e crie asas para contribuir com meu município, meu
estado, minha região, meu país e certamente com o meu planeta (in-
formação verbal)2.

A experiência foi muito gratificante, participar da formação para de-


senvolvimento da Política de PSA oferecida pelo Programa Formar. Foi
uma oportunidade única, a de poder interagir com a equipe PSA-Sema,
que esteve durante a capacitação nos orientando, muito prontamente
nos ajudando com esse novo ambiente de estudos (EAD) e dando todo
suporte necessário para o sucesso alcançado por todos nós. Ganham
os municípios envolvidos por contarem com uma equipe ainda mais
capacitada, ganha a Gestão Ambiental Compartilhada, ganham os pro-
vedores dos serviços ambientais e, no final de tudo, a vida agradece!
Parabéns à Sema, parabéns à equipe PSA! Que venham mais capacita-
ções! (informação verbal)3.

Assistência técnica aos programas e projetos

A Sema vem prestando, por meio do PEPSA, assistência técnica aos


municípios que possuem Programa Municipal de PSA (PMPSA) em ope-
ração, assim como tem dado suporte às administrações que desejam
implementar seus programas de PSA.

1 Informações recebidas por servidor municipal de Ibicoara, em 16 de dezembro de 2021.


Bahia anál. dados,
49
2 Informações recebidas por servidor municipal de Dias d’Ávila, em 29 de setembro de 2022.
Salvador, v. 32, n. 2,
3 Informações recebidas por servidor municipal de Bonito, em 16 de dezembro de 2021. p.40-58, jul.-dez. 2022
Artigos Implementação do Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais da Bahia

Os represen- A assistência técnica consiste em apoiar os gestores ambientais muni-


tantes dos cipais por meio de reuniões virtuais ou presenciais, visitas de campo,
municípios disponibilização de materiais de apoio, esclarecimento de dúvidas, as-
baianos com sessoria na formalização de arranjos institucionais, captação de recur-
leis de PSA sos para os programas municipais e participação em eventos/reuniões
nas prefeituras para tratar sobre o tema.
aprovadas
tiveram a
Da mesma forma, a equipe do PEPSA também fornece assistência téc-
oportunidade
nica na elaboração de projetos de PSA públicos e privados, por meio de
de participar de apoio institucional, visitas técnicas e reuniões.
um diagnóstico
para Arranjo institucional/Pesquisa e Desenvolvimento
levantamento
dos desafios e Com o propósito de promover conhecimento acerca da temática PSA, re-
oportunidades presentantes da Sema têm participado de grupos técnicos e rodadas de
da situação de discussão promovidos pela Superintendência de Estudos Econômicos e
cada localidade Sociais da Bahia (SEI), em parceria com a UESC. Essa iniciativa resultou
para a imple- na criação de um Grupo de Trabalho sobre PSA que realizou, no período
mentação do de julho a novembro de 2021, rodadas de entrevistas com os principais
PSA representantes do tema em âmbito nacional e internacional, a exemplo
de profissionais da Costa Rica, primeiro país a adotar a estratégia de
PSA. Nessas oportunidades, foram discutidos os caminhos percorridos
em experiências exitosas de PSA brasileiras, bem como as dificuldades
e gargalos enfrentados por essas iniciativas.

A Sema vem promovendo arranjos institucionais que envolvem diver-


sas entidades, com intuito de fortalecer o PEPSA e os projetos de PSA
no estado. A Prefeitura Municipal de Ibirapitanga, pioneira em PSA no
estado da Bahia, tem sido importante referência nesse processo, con-
tribuindo com seu know-how para incentivar novas iniciativas na im-
plementação do PEPSA. Por meio dessa cooperação, apoiada ainda
por uma pesquisa de pós-graduação da UESC, os representantes dos
municípios baianos com leis de PSA aprovadas tiveram a oportunida-
de de participar de um diagnóstico para levantamento dos desafios e
oportunidades da situação de cada localidade para a implementação do
PSA. Também participaram de um workshop sobre planejamento de es-
tratégias de aceleração e realizaram uma visita de campo para conhecer
propriedades rurais contempladas pelo Programa Produtor de Água de
Ibirapitanga (figuras 3, 4 e 5).

Bahia anál. dados,


50 Salvador, v. 32, n. 2,
p.40-58, jul.-dez. 2022
Luana Pimentel Ribeiro, Marcelle Silva Oliveira Chamusca, Tiago Jordão Porto, Ciro Tavares Florence, Nayra Rosa Coelho Artigos

Figura 3
Visita técnica nas áreas provedoras de serviços ambientais do Programa
Produtor de Água Ibirapitanga, na comunidade de Joaquim da Mata, no município
de Ibirapitanga (Maio/2022)

Fonte: Bahia (2022).

Figura 4
Workshop da segunda capacitação em Pagamento por Serviços Ambientais
para os municípios do território do Baixo Sul (Maio/2022)

Fonte: Bahia (2022).

Bahia anál. dados,


Salvador, v. 32, n. 2,
p.40-58, jul.-dez. 2022
51
Artigos Implementação do Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais da Bahia

Figura 5
Visita técnica para os cursistas da segunda capacitação em Pagamento por Serviços Ambientais
para os municípios do território do Baixo Sul (Maio/2022)

Fonte: Bahia (2022).

A Sema também tem atuado junto à SEI no Projeto Regiões Integradas,


desenvolvendo o Plano Regional de PSA para os municípios da Chapada
Diamantina. O objetivo do projeto é estimular a elaboração de projetos
para o desenvolvimento do estado da Bahia, que já conta com estudos
e ações iniciais para implantação do PSA hídrico em 19 municípios lo-
calizados na Bacia do Rio Paraguaçu. Os técnicos da Sema e do Inema,
juntamente com pesquisadores da UESC e da OCT, estão construindo
um plano para implementar ações regionais relacionadas ao mercado
de carbono e ao PSA hídrico com vistas à implementação de um projeto
na Chapada Diamantina.

A Sema realizou, em junho de 2021, reuniões com a equipe do Instituto


Estadual do Ambiente (Inea) do Rio de Janeiro, que apresentou suas
experiências com a plataforma e os editais para PSA. Também houve a
participação da equipe da Sema na iniciativa promovida pela Associação
Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema), em agos-
to de 2022, para levantar as principais necessidades dos estados rela-
cionadas ao tema. Em novembro de 2022, no XIV Encontro Paulista de
Biodiversidade (EPBIO) promovido pela Secretaria de Infraestrutura e
Meio Ambiente de São Paulo (SIMA), a Sema novamente esteve repre-
sentada para debater sobre o tema PSA. O I Intercâmbio de Estados
e DF, promovido pela SIMA parceria com a GIZ4, debateu a agenda de
PSA nos estados brasileiros. Na oportunidade, a Sema integrou uma

Bahia anál. dados,


52 Salvador, v. 32, n. 2,
p.40-58, jul.-dez. 2022
4 A Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) Gmbh é uma empresa federal
alemã para cooperação técnica que atua no Brasil na promoção do desenvolvimento sustentável.
Luana Pimentel Ribeiro, Marcelle Silva Oliveira Chamusca, Tiago Jordão Porto, Ciro Tavares Florence, Nayra Rosa Coelho Artigos

mesa-redonda em que a experiência baiana com as capacitações em


PSA foi elogiada como caso de sucesso junto com outras iniciativas em
estados brasileiros que estão na vanguarda no tema, como Minas Gerais,
Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo.

Na Região Metropolitana de Salvador, a Empresa Baiana de Águas e


Saneamento S. A. (Embasa) tem desenvolvido o Projeto Guardiões das
Águas e conduzido a elaboração do Plano Regional de PSA hídrico para
a região. A iniciativa destina-se à recuperação ambiental das bacias hi-
drográficas dos rios Joanes e Jacuípe, com vistas a contribuir para a
melhoria da qualidade ambiental dos mananciais utilizados no abasteci-
mento público dessa região. A Sema tem sido parceira nas etapas de im-
plementação desse projeto, tendo participado das reuniões ordinárias
da Unidade Gestora do Projeto (UGP) e apoiado tecnicamente a cons-
trução do Plano Regional de PSA Hídrico, viabilizando também reuniões
técnicas com as demais secretarias do estado e outras instituições po-
tencialmente parceiras do projeto (Figura 6). Por meio da cooperação
técnica firmada entre Sema, Embasa e OCT, foi realizada, em novembro
de 2022, a capacitação de representantes dos 12 municípios da Região
Metropolitana de Salvador (RMS) com vistas à descentralização da po-
lítica de PSA para viabilização de arranjos institucionais, assim como à
formação de fundos municipais e à operacionalização do Plano de PSA
Hídrico da RMS (Figuras 7 e 8).

Figura 6
Assessoria técnica ao Projeto Guardiões das Águas, na Região Metropolitana
de Salvador (Junho/2022)

Bahia anál. dados,


Fonte: Bahia (2022).
Salvador, v. 32, n. 2,
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53
Artigos Implementação do Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais da Bahia

Figura 7
Docentes da terceira capacitação em Pagamento por Serviços Ambientais
(Setembro/2022)

Fonte: Bahia (2022).

Figura 8
Participantes certificados e docentes da terceira capacitação em Pagamento por Serviços Ambientais
no evento de encerramento, no município de Camaçari (Setembro/2022)

Fonte: Bahia (2022).

Bahia anál. dados,


54 Salvador, v. 32, n. 2,
p.40-58, jul.-dez. 2022
Luana Pimentel Ribeiro, Marcelle Silva Oliveira Chamusca, Tiago Jordão Porto, Ciro Tavares Florence, Nayra Rosa Coelho Artigos

CONSIDERAÇÕES FINAIS Um bom arranjo


institucional
A expansão do interesse no instrumento de Pagamento por Serviços viabiliza a
Ambientais (PSA) no Brasil tem gerado um crescimento significativo sustentabili-
de políticas públicas dessa natureza nos âmbitos local e regional, espe- dade do PSA a
cialmente para a implementação de iniciativas relacionadas aos servi- longo prazo, já
ços ambientais hídricos (COELHO et al., 2021). No entanto, a literatura
que possibilita
evidencia inúmeras dificuldades operacionais inerentes à complexidade
a parceria entre
de implementação do instrumento de PSA diante das várias dimensões
diversos entes
contextuais necessárias ao seu sucesso (CHAN, 2017).
no que se refere
Tendo em vista as limitações para a efetivação de políticas públicas que a planejamento,
tendem a criar novas despesas para o estado, já sobrecarregado, a Sema gestão, siste-
vem adotando frentes de trabalho que fomentem a descentralização, a matização,
exemplo das capacitações em PSA, atividades de educação ambiental, implantação,
assistência técnica, palestras e estudos sobre valoração econômica dos comunicação,
ativos ambientais da Bahia. A SEMA optou por iniciar a implementação transparência e
do Programa Estadual de PSA com a execução dessas ações em peque- oportunidades
na escala. No entanto, paulatinamente, as demandas foram crescendo,
ganhando publicidade e consolidando-se em uma agenda estratégica
prioritária. Hoje, o PEPSA já é reconhecido como modelo em capacita-
ção em nível estadual e nacionalmente, e tem-se tornado mais efetivo
a cada capacitação.

Os arranjos institucionais formados junto a outras entidades foram ex-


tremamente importantes para alavancar o PEPSA e para a sua descen-
tralização, visto que esses arranjos são um dos pilares do PSA (VATN,
2010), assim como as ações do PEPSA, em especial para as capacita-
ções coordenadas pela Sema. Um bom arranjo institucional viabiliza a
sustentabilidade do PSA a longo prazo, já que possibilita a parceria entre
diversos entes no que se refere a planejamento, gestão, sistematização,
implantação, comunicação, transparência e oportunidades. A literatu-
ra ressalta que, diante dos altos custos de transação, um bom arranjo
institucional, envolvendo órgãos públicos, comunidade, financiadores
e intermediários, em que se definem os papéis e a dinâmica das partes
envolvidas, facilita a coordenação e os custos praticados (VATN, 2010).

Diante dos aprendizados e das experiências obtidas até aqui, compre-


ende-se que o Estado tem um importante papel como articulador de
programas e projetos, tendo em vista que as fontes de recursos podem
ter origem pública ou privada, nacional ou internacional, e podem ser
destinadas para arranjos institucionais com composição mista. O Estado
pode desempenhar o papel de articular e promover os arranjos neces-
sários para o desenvolvimento e o êxito dos projetos, além de evitar
sobreposição, otimizar recursos e distribuir melhor as ações de PSA Bahia anál. dados,

diante das demandas regionais.


Salvador, v. 32, n. 2,
p.40-58, jul.-dez. 2022
55
Artigos Implementação do Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais da Bahia

Além de dar continuidade às ações iniciadas, a Sema pretende também


avançar em novas frentes de trabalho, envolvendo cada vez mais par-
cerias entre setores públicos e privados para ampliar: 1) a continuidade
da disseminação de informação e as capacitações sobre o tema; 2) a
assistência técnica voltada para boas práticas ambientais; 3) as parce-
rias com entes financiadores de projetos de PSA; 4) a articulação com
comitês e outros órgãos colegiados, e 5) o desenvolvimento de projetos
do PEPSA na Bahia. Dessa forma, a Sema objetiva consolidar a política
pública de PSA como um instrumento econômico de valorização dos
prestadores de serviços ambientais, promovendo o aumento da oferta
dos serviços ecossistêmicos e a melhoria da qualidade de vida de toda
a sociedade baiana.

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p.40-58, jul.-dez. 2022
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Bahia anál. dados,


58 Salvador, v. 32, n. 2,
p.40-58, jul.-dez. 2022
Resumo
O Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), enquanto instrumento econômi-
co de política ambiental, tem se revelado promissor na complementação dos
instrumentos de comando e controle, constituindo uma importante ferramen-
ta de incentivo na busca pelo desenvolvimento sustentável. Não obstante o
arcabouço jurídico constituído pela legislação estadual (Lei n.º 13.233/2015) e
federal (Lei n.º 14.119/2021), as experiências de PSA na Bahia ainda são iniciais,
traduzindo-se em dificuldades na operacionalização da política pública no es-
tado. Nesse contexto, ações de cooperação e parcerias entre entidades do
poder público, da iniciativa privada e do terceiro setor são fundamentais para
a composição dos arranjos de PSA, a fim de tornar factível esse tipo de instru-
mento na gestão ambiental dos municípios baianos. Desse modo, o presente
artigo tem como objetivo apresentar o relato da experiência da Universidade
Estadual de Santa Cruz (UESC), por meio dos programas de pós-graduação,
na construção do conhecimento e apoio à formação de arranjos institucionais
para fomento do PSA na Bahia. A metodologia adotada compreende a des-
crição das atividades desenvolvidas pela UESC na difusão do conhecimento
acerca do PSA no período entre 2015 e 2022. Verificou-se uma crescente pro-
dução acadêmica-científica acerca do tema, observada a partir do quantitati-
vo de projetos de pesquisa e extensão com essa temática, o que tem permitido
a articulação e a formação de uma rede de instituições visando à dissemina-
ção e à implementação do instrumento de PSA na Bahia.
Palavras-chave: serviços ecossistêmicos; incentivos econômicos; arranjo ins-
titucional; governança.

Abstract
The Payment for Environmental Services (PES), as an economic instrument
of environmental policy, has proved to be promising in complementing the
command and control instruments, constituting an important incentive tool
in the search for sustainable development. Despite the legal framework
constituted by state (Legislation nº 13.233/2015) and federal (Legislation
nº 14.119/2021) legislation, PES experiences in Bahia are still in their infancy,
translating into difficulties in the operationalization of public policy in the state.
In this context, cooperation actions and partnerships between entities of the
Public Power, the private sector and the third sector are fundamental for the
composition of PES arrangements, in order to make this type of instrument
feasible in the environmental management of Bahia`s municipalities. Thus, this
article aims to present the report of the experience of the State`s University
of Santa Cruz (UESC), through postgraduate programs, in the construction
of knowledge and support for the formation of institutional arrangements
for the promotion of PSA in Bahia. The methodology adopted comprises
the description of the activities developed by UESC in the dissemination of
knowledge about the PSA in the period between 2015 and 2022. There was
a growing academic-scientific production on the subject, observed from
the number of research and extension projects with this theme, which has
allowed the articulation and formation of a network of institutions aimed at the
dissemination and implementation of the PES instrument in Bahia.
Keywords: ecosystem services; economic incentives; institutional arrangement;
governance.
Artigos

A importância das instituições


no fomento ao instrumento
econômico de Pagamento por
Serviços Ambientais: relato de
experiência na Universidade
Estadual de Santa Cruz (BA)
ISR AEL PEDRO DIA S RIBEIRO A QUESTÃO AMBIENTAL emergiu no século
Especialista em Direito Público pela Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC XX a partir da constatação da finitude dos
Minas), mestrando em Desenvolvimento
Regional e Meio Ambiente pela Universidade recursos naturais e da necessidade de se di-
Estadual de Santa Cruz (UESC) e bacharel
mensionarem os impactos da ação antrópica no
em Direito pela Universidade do Estado da
Bahia (Uneb). ipdribeiro@uesc.br planeta. O agravamento das mudanças climáti-
N A R J A R A P R AT E S G O N Ç A LV E S
cas, o aumento da poluição e, sobretudo, o uso
Especialista em Cidades Inteligentes e
Sustentáveis pela Universidade Nove de Julho imprudente dos bens e serviços fornecidos pela
(Uninove), mestranda em Desenvolvimento
Regional e Meio Ambiente pela Universidade natureza são preocupações que vêm ganhando
Estadual de Santa Cruz (UESC) e bacharela
em Engenharia Ambiental pela Universidade espaço na agenda global e local de proteção ao
Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB).
npgoncalves@uesc.br
meio ambiente (PÖRTNER et al., 2022).
N AY R A R O S A CO E L H O
Os resultados da Avaliação Ecossistêmica do
Mestra e doutoranda em Desenvolvimento e
Meio Ambiente pela Universidade Estadual de Milênio constataram que cerca de 60% dos
Santa Cruz (UESC), especialista em Análise
Ambiental pela Universidade Federal de Juiz serviços ecossistêmicos que garantem o bem-
de Fora (UFJF). nayracoelho@hotmail.com
-estar humano encontram-se degradados
MÔNIC A DE MOUR A PIRES
Doutora e mestra em Economia Rural pela ou sob pressão (MILLENNIUM ECOSYSTEM
Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Professora Plena/Titular do Departamento
ASSESSMENT, 2005). Diante do diagnósti-
de Ciências Econômicas da Universidade
co, diversas estratégias para promover o uso
Estadual de Santa Cruz (UESC) do Programa
de Pós-Graduação em Desenvolvimento racional dos recursos ambientais e o incentivo
Regional e Meio Ambiente. mpires@uesc.br

A N D R É A DA S I LVA G O M E S
à conservação dos serviços providos pela na-
Doutora em Desenvolvimento Rural pelo tureza se desenvolveram nas últimas décadas,
Instituto Nacional Agronômico Pais-Grignon
(INA-PG, França) e mestra em Economia a exemplo do Pagamento por Serviços Am-
pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Professora Plena/Titular do Departamento bientais (PSA), devido à antropização sobre o
de Ciências Econômicas da Universidade
Estadual de Santa Cruz (UESC) do Programa
capital natural (LORENZO; BUENO, 2020).
de Pós-Graduação em Desenvolvimento Bahia anál. dados,
Regional e Meio Ambiente. asgomes@uesc.br Salvador, v. 32, n. 2,
p.60-76, jul.-dez. 2022
61
doi.org/10.56839/bd.v32i2.a3
A importância das instituições no fomento ao instrumento econômico de Pagamento por Serviços Ambientais:
Artigos relato de experiência na Universidade Estadual de Santa Cruz (BA)

No território O PSA consiste em uma transação voluntária entre usuários e provedores


baiano, a de serviços ambientais, segundo critérios de condicionalidade, estabele-
primeira cidos para a gestão dos recursos naturais (WUNDER, 2015). Trata-se de
iniciativa de um mecanismo por meio do qual são efetuadas transferências monetá-
PSA ocorreu no rias ou não monetárias entre atores sociais, visando à mudança de com-
portamento individual e/ou coletivo na administração desses recursos
município de
(MURADIAN et al., 2010). Portanto, o PSA, enquanto instrumento econô-
Ibirapitanga, no
mico de política ambiental, tem-se revelado promissor na complementa-
sul do estado,
ção dos instrumentos de comando e controle, constituindo uma importan-
como o projeto te ferramenta de incentivo na busca pelo desenvolvimento sustentável.
denominado
Produtor de No Brasil e no mundo, os programas de PSA mais frequentes estão
Água Pratigi, relacionados ao sequestro e estoque de carbono, conservação da bio-
com apoio da [...] diversidade, serviços hídricos e beleza cênica (SCHULER et al., 2017).
ANA No território brasileiro, os programas hidrológicos são os mais dissemi-
nados e bem-sucedidos (COELHO et al., 2021; PARRON et al., 2019), e o
PSA voltado a essa vertente ganhou maior impulso a partir do Programa
Produtor de Água, criado pela Agência Nacional de Águas (ANA) em
2001, para promover a conservação dos recursos hídricos em bacias
hidrográficas de grande relevância (OUVERNEY et al., 2017). Nesse ce-
nário nasce o Projeto Conservador das Águas, no município de Extrema,
Minas Gerais, implementado em 2006 pelo poder público municipal,
uma iniciativa pioneira em estabelecer um sistema diversificado de apoio
financeiro aos produtores rurais que provêm serviços ambientais, tor-
nando-se uma referência nacional (PEREIRA; ALVES SOBRINHO, 2017).

Até a edição da Lei n.º 14.119, de 13 de janeiro de 2021, a qual instituiu


a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais (PNPSA) e
o Programa Federal de Pagamento por Serviços Ambientais (PFPSA)
(BRASIL, 2021), as experiências de PSA no Brasil extraíam os seus fun-
damentos das legislações estaduais e municipais, bem como de leis
federais que tratam esparsamente sobre o tema. Na Bahia, a Política
Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais (PEPSA) e o Programa
Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais (PEPSA) foram insti-
tuídos pela Lei Estadual n.º 13.233/2015 (BAHIA, 2015).

No território baiano, a primeira iniciativa de PSA ocorreu no município de


Ibirapitanga, no sul do estado, como o projeto denominado Produtor de
Água Pratigi, com apoio da Agência Nacional de Águas e Saneamento
Básico (ANA), tendo sido implementado em 2014, através da Lei n.º 864
que instituiu a Política Municipal de Pagamentos por Serviços Ambientais
(PMPSA), mesmo antes do advento da Lei Estadual n.º 13.233 (BAHIA,
2015; IBIRAPITANGA, 2014). Não obstante o arcabouço jurídico cons-
tituído pela legislação estadual e federal, as experiências de PSA na
Bahia anál. dados, Bahia ainda são iniciais, apontando para dificuldades na utilização e
62 Salvador, v. 32, n. 2,
p.60-76, jul.-dez. 2022 implementação do instrumento pelos municípios na gestão ambiental.
Israel Pedro Dias Ribeiro, Narjara Prates Gonçalves, Nayra Rosa Coelho, Mônica de Moura Pires, Andréa da Silva Gomes Artigos

As ações de cooperação e parcerias entre entidades do poder públi- As ações de


co, da iniciativa privada e do terceiro setor são fundamentais para a cooperação e
composição dos arranjos de PSA, a fim de tornar factível esse tipo de parcerias entre
instrumento econômico pela política pública. Com efeito, as experiên- entidades do
cias de PSA revelam uma disposição para esquemas formados por uma poder público,
multiplicidade de atores, como instituições públicas e privadas, socie- da iniciativa
dade civil, organizações e governos locais (COUDEL et al., 2013). Assim,
privada e
a governança ambiental na estruturação do PSA deve estar assentada
do terceiro
no planejamento, gestão, transparência, sustentabilidade financeira e
setor são
participação social dentro dos programas (JODAS, 2021).
fundamentais
Nesse contexto, o papel das universidades é de extrema importância para a
para a difusão de conhecimento acerca do PSA, através das atividades composição dos
de ensino, pesquisa e extensão, bem como do seu potencial de articu- arranjos de PSA
lação institucional entre o governo e a sociedade no tocante à temática.
Desse modo, o presente artigo tem como objetivo apresentar o relato da
experiência da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), localizada
no sul do estado da Bahia, por meio dos programas de pós-graduação,
na construção do conhecimento e apoio à formação de arranjos institu-
cionais para fomento do PSA na Bahia.

Este trabalho está dividido em três partes, além da introdução e das


considerações finais. Na primeira seção relata-se a experiência da
Universidade Estadual de Santa Cruz na difusão do conhecimento acer-
ca do PSA, por meio de atividades desenvolvidas com base no tripé
ensino, pesquisa e extensão. Na segunda parte demonstra-se o prota-
gonismo da Universidade na produção acadêmico-científica e no apoio
institucional a ações e projetos relacionados ao PSA na Bahia. Na tercei-
ra seção discute-se o papel das instituições para o espraiamento da po-
lítica de PSA no estado e apresenta-se a rede formada pelos principais
atores envolvidos nesse processo, dentro do contexto da governança.

A EXPERIÊNCIA DA UESC NAS DISCUSSÕES ACERCA DO PSA

A Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) é uma autarquia vincu-


lada à Secretaria de Educação do Estado da Bahia, com sede localizada
no eixo Ilhéus-Itabuna, especificamente no Distrito de Salobrinho, per-
tencente ao município de Ilhéus, região sul da Bahia. A UESC é consi-
derada uma das principais instituições de ensino superior do território
baiano, com uma comunidade acadêmica de mais de dez mil pessoas,
entre alunos de graduação e pós-graduação, professores e servidores
técnicos e terceirizados. Além disso, encontra-se situada em uma região
de grande relevância do ponto de vista da conservação ambiental, o
bioma Mata Atlântica (SANTOS, 2013). Bahia anál. dados,
Salvador, v. 32, n. 2,
p.60-76, jul.-dez. 2022
63
A importância das instituições no fomento ao instrumento econômico de Pagamento por Serviços Ambientais:
Artigos relato de experiência na Universidade Estadual de Santa Cruz (BA)

Alguns títulos Na UESC, as discussões acerca do PSA iniciaram-se em 2015, tendo como
pesquisados protagonistas os Programas de Pós-graduação em Desenvolvimento
sobre a Regional e Meio Ambiente (nível mestrado) e em Desenvolvimento e
temática foram: Meio Ambiente - Associação Plena em Rede (nível doutorado). Por
Uma análise meio das pesquisas desenvolvidas no âmbito da pós-graduação,
tem-se buscado contribuir com o debate relacionado à Política Estadual
para a aplicação
de Pagamento por Serviços Ambientais (PEPSA) (BAHIA, 2015). As pri-
do Pagamento
meiras dissertações tratam da valoração ambiental relacionada com o
por Serviços
processo de captura e sequestro de carbono associado ao agroecossiste-
Ambientais ao ma cabruca – plantio do cacau em sistema agroflorestal –, muito comum
sistema agroflo- na região e de grande potencial para provisão de serviços ambientais.
restal cabruca Alguns títulos pesquisados sobre a temática foram: Uma análise para a
e Pagamento aplicação do Pagamento por Serviços Ambientais ao sistema agroflo-
por Serviços restal cabruca (LEMOS, 2017) e Pagamento por Serviços Ambientais
Ambientais e o e o sistema agroflorestal cacau cabruca: uma análise para o estado da
sistema agro- Bahia (MACEDO, 2017).
florestal cacau
cabruca: uma Na sequência, outra pesquisa de mestrado buscou investigar as inicia-
análise para o tivas brasileiras de PSA hídrico e as metodologias empregadas para o
estado da Bahia cálculo dos valores a serem pagos, sob o título Pagamento por Serviços
Ambientais hídricos: sistematização metodológica das experiências bra-
sileiras (COELHO, 2018). O referido trabalho apresenta dados referentes
a 68 iniciativas de PSA hídrico no Brasil até o ano de 2017, destacando
o protagonismo dos estados e municípios na adoção do instrumento
em suas legislações ambientais; a dissertação foi publicada em dois
artigos científicos (COELHO et al., 2021; COELHO; GOMES; CASSANO,
2021). Ressalta-se a continuidade da pesquisa em nível de doutorado,
pelo Prodema/Associação Plena em Rede-UESC, sob o título Política de
Pagamento por Serviços Ambientais: potencialidades, desafios e contri-
buições ao fomento na Bahia, que se encontra em andamento.

Com um conjunto de informações levantadas sobre a temática e o cres-


cente interesse sobre o potencial do instrumento na região, a UESC, por
meio do Departamento de Ciências Econômicas (DCEC), do Programa
de Pós-graduação em Economia Regional e Políticas Públicas (PERPP),
do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Meio
Ambiente (PPGDMA) e do Programa de Pós-graduação em Ecologia
e Conservação da Biodiversidade (PPGECB), realizou, nos dias 20 e
21 de setembro de 2018, o I Seminário de Serviços Ambientais do Sul
da Bahia na sede da universidade. O evento reuniu cientistas, agentes
do governo, proprietários rurais, pesquisadores, discentes e egressos
de diversos PPG/UESC. Na ocasião, especialistas de instituições brasi-
leiras da Embrapa Solos e da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) debateram questões relacionadas às pesquisas em serviços
Bahia anál. dados, ambientais, políticas públicas, valoração econômica e processos de
64 Salvador, v. 32, n. 2,
p.60-76, jul.-dez. 2022 tomada de decisão.
Israel Pedro Dias Ribeiro, Narjara Prates Gonçalves, Nayra Rosa Coelho, Mônica de Moura Pires, Andréa da Silva Gomes Artigos

Em 2019 foi realizado o II Seminário de Serviços Ambientais na UESC, Espera-se


com o tema: Pagamento por Serviços Ambientais: experiências no sul ampliar a
da Bahia. O evento foi organizado pelo Departamento de Ciências discussão
Econômicas (DCEC), o Programa de Pós-graduação em Economia acerca do tema
Regional e Políticas Públicas (PERPP) e o Programa de Pós-graduação [PSA] na Bahia
em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (PPGDMA) e contou e identificar
com a participação de representantes da Agência Nacional das Águas
os principais
(ANA) e de organizações não governamentais como a Organização de
entraves para
Conservação da Terra (OCT) e Mecenas da Vida, ambas com experiência
alcance das
em projetos de PSA no sul da Bahia. O intuito do seminário foi acompanhar
a difusão e os desdobramentos da política de PSA no estado da Bahia. potencialidades
do instrumento,
Durante a 16ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em 2019, foi de forma a
realizado evento de popularização da ciência e tecnologia denominado contribuir para
Bioeconomia: diversidade e riqueza para o desenvolvimento sustentá- a operacio-
vel, a partir da aprovação no Edital Fapesb n.º 003/2019 (FUNDAÇÃO nalização da
DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DA BAHIA, 2019). O projeto política pública
reuniu discentes e docentes do PPGECB, PPGDMA e DCEC e foi destina- instituída pela
do a estudantes do ensino fundamental do Colégio Municipal Cândido Lei Estadual
Romero Pessoa, localizado no distrito Colônia de Una, município de Una n.º 13.223
(BA). Durante o evento, aproximadamente 200 estudantes participaram
de oficinas e prática de campo sobre: 1) controle de pragas; 2) dispersão
de sementes e regeneração florestal; 3) estoque de carbono, e 4) pro-
dução de água e Pagamento por Serviços Ambientais. Sobre o último
tema foi elaborado um jogo didático que buscou, de maneira lúdica,
abordar assuntos referentes à gestão das águas no Brasil e apresentar
o instrumento do PSA. O jogo Banco das Águas foi publicado em arti-
go científico (COELHO et al., 2021) como uma ferramenta pedagógica
de educação ambiental, disponível em versão Print and Play (PaP) (em
português ‘imprima e jogue’) para que os interessados tenham acesso
a seu próprio jogo de forma gratuita.

Desde 2019, a UESC, por meio do Grupo de Estudo em Economia e Meio


Ambiente (GEEMA), composto por professores e discentes do PPGDMA
e do curso de Ciências Econômicas, também desenvolve o projeto de
pesquisa Desafios e potencialidades da política de Pagamento por
Serviços Ambientais no sul da Bahia, cadastrado na Pró-reitoria de
Pesquisa e Pós-graduação (PROPP). Ainda em andamento, o projeto faz
parte de uma pesquisa de doutorado e tem como objetivo compreen-
der os desafios e oportunidades vivenciados pelos municípios no sul da
Bahia para implementação de suas políticas de PSA. Assim, espera-se
ampliar a discussão acerca do tema na Bahia e identificar os principais
entraves para alcance das potencialidades do instrumento, de forma a
contribuir para a operacionalização da política pública instituída pela Lei
Estadual n.º 13.223 (BAHIA, 2015), ainda não regulamentada no estado. Bahia anál. dados,
Salvador, v. 32, n. 2,
p.60-76, jul.-dez. 2022
65
A importância das instituições no fomento ao instrumento econômico de Pagamento por Serviços Ambientais:
Artigos relato de experiência na Universidade Estadual de Santa Cruz (BA)

UESC EM NÚMEROS: PESQUISAS EM PSA

Na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) há mais de 15 trabalhos


com a temática Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), desenvolvi-
dos ou em desenvolvimento, desde 2015 até 2022, em nível de doutorado,
mestrado, iniciação científica e graduação (Quadro 1). Desse modo, ao
longo de sete anos, são três dissertações defendidas e duas em desen-
volvimento, uma tese de doutorado finalizada em 2022, dois trabalhos de
iniciação científica concluídos, duas monografias de graduação defendi-
das e duas em andamento, além de três artigos publicados em periódicos.

O Quadro 1 apresenta, de forma detalhada, a produção acadêmico-cien-


tífica da UESC, no que tange à temática PSA, no período de 2015 a 2022,
contemplando os trabalhos desenvolvidos ou em desenvolvimento e a
modalidade de cada um deles.

Quadro 1
Produção acadêmico-científica relacionada ao tema PSA na UESC, no período 2015-2022
Ano Título do trabalho Modalidade Situação
Pagamento por Serviços Ambientais e o Sistema Agroflorestal Cabruca: Dissertação de
Concluído
uma análise para o estado da Bahia mestrado
2015-2017
Uma análise para a aplicação do Pagamento por Serviços Ambientais ao Dissertação de
Concluído
Sistema Agroflorestal Cabruca mestrado
Pagamentos por Serviços Ambientais Hídricos: sistematização Dissertação de
2016-2018 Concluído
metodológica das experiências brasileiras mestrado
Política de Pagamento por Serviços Ambientais: potencialidades, desafios
Tese de doutorado Em andamento
e contribuições ao fomento na Bahia.
Política de Pagamento por Serviços Ambientais na Região Geográfica
Iniciação científica Concluído
2018-2022 Imediata de Valença: desafios e potencialidades

Política de Pagamento por Serviços Ambientais na Região Geográfica


Iniciação científica Concluído
Imediata Ilhéus-Itabuna: desafios e potencialidades

Como se paga pelo serviço ambiental hídrico? Uma revisão das


Artigo científico Concluído
experiências brasileiras
Panorama das iniciativas de Pagamento por Serviços Ambientais
2021 Artigo científico Concluído
hídricos no Brasil
Banco das Águas: uma ferramenta lúdica para o ensino da gestão
Artigo científico Concluído
dos recursos hídricos
Potencialidades e fragilidades da Política de Pagamento por Serviços Dissertação de
Em andamento
Ambientais: um recorte para a Chapada Diamantina, Bahia mestrado
2021-2022
Trabalho de
Pagamento por Serviços Ambientais: uma análise teórico-prática no Brasil Em andamento
conclusão de curso
Pagamento por Serviços Ambientais segundo a ótica dos produtores Dissertação de
Em andamento
rurais da microrregião cacaueira da Bahia mestrado
Programas de Pagamentos por Serviços Ambientais: uma análise Trabalho de
Concluído
comparativa das diferentes modalidades de financiamento no Brasil conclusão de curso
2022
Análise do Código Florestal Brasileiro sob a perspectiva dos instrumentos Trabalho de
Concluído
de gestão ambiental conclusão de curso
Instrumentos econômicos de gestão ambiental: uma análise comparativa Trabalho de
Em andamento
entre os países da América Latina conclusão de curso
Fonte: elaborado pelos autores (2022).

Bahia anál. dados,


66 Salvador, v. 32, n. 2,
p.60-76, jul.-dez. 2022
Israel Pedro Dias Ribeiro, Narjara Prates Gonçalves, Nayra Rosa Coelho, Mônica de Moura Pires, Andréa da Silva Gomes Artigos

Entre as pesquisas mais recentes, em desenvolvimento desde 2021, Em caráter


destacam-se os trabalhos de mestrado Potencialidades e fragilidades inicial, o
da Política de Pagamento por Serviços Ambientais: um recorte para a tema PSA foi
Chapada Diamantina, Bahia e Pagamento por Serviços Ambientais se- escolhido pela
gundo a ótica dos produtores rurais da microrregião cacaueira da Bahia. SEI para ser
No nível de graduação, especialmente no bacharelado em Ciências trabalhado
Econômicas da UESC, foram defendidas no ano corrente as monogra-
na Chapada
fias Programa de Pagamentos por Serviços Ambientais: uma análise
Diamantina,
comparativa das diferentes modalidades de financiamento no Brasil e
região piloto
Análise do Código Florestal Brasileiro sob a perspectiva dos instrumen-
tos de gestão ambiental. Além disso, estão sendo desenvolvidos dois para o desen-
trabalhos de conclusão do curso com aderência ao tema PSA, quais volvimento e
sejam: Pagamento por Serviços Ambientais (PSA): uma análise da abor- a execução do
dagem teórico-prática e Instrumentos econômicos de gestão ambiental: Projeto Regiões
uma análise comparativa entre os países da América Latina. Integradas:
Águas da
O Quadro 1 mostra a evolução das discussões acerca do PSA e como Chapada
essas foram ganhando consistência na UESC, ante a crescente produ-
ção acadêmica e as atividades desenvolvidas nos últimos sete anos,
pois a temática foi adquirindo notoriedade também em outros espaços
institucionais, extrapolando os muros da Universidade. Nesse aspecto,
é possível notar o protagonismo da UESC no estabelecimento de par-
cerias e articulações com órgãos governamentais, instituições públicas
e privadas, organizações e sociedade civil, a fim de disseminar o conhe-
cimento científico e apoiar projetos e ações destinadas ao espraiamento
da política de PSA na Bahia.

A inserção da UESC em espaços para além da academia pode ser ob-


servada na sua participação e apoio institucional ao Projeto Regiões
Integradas da Bahia, promovido pela Superintendência de Estudos
Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), por meio plataforma SEIColab –
Estudos Colaborativos. O referido projeto reúne instituições públicas e
privadas com o propósito de estimular setores da sociedade a elabora-
rem ideias e projetos para as diversas regiões do território baiano. Em
caráter inicial, o tema PSA foi escolhido pela SEI para ser trabalhado na
Chapada Diamantina, região piloto para o desenvolvimento e a execu-
ção do Projeto Regiões Integradas: Águas da Chapada.

Dessa forma, a UESC, por meio do GEEMA, vem contribuindo com o


debate promovido pela SEI, tendo participado efetivamente das roda-
das de discussões sobre PSA realizadas entre os meses de julho e ou-
tubro de 2021 e de grupos técnicos criados para a execução de ações
específicas para a região. Tais ações culminaram na construção, pela
SEI, do Projeto Águas da Chapada, desenvolvido em parceria com o
Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) e a Secretaria Bahia anál. dados,

do Meio Ambiente (Sema), com o intuito de implementar ações para a


Salvador, v. 32, n. 2,
p.60-76, jul.-dez. 2022
67
A importância das instituições no fomento ao instrumento econômico de Pagamento por Serviços Ambientais:
Artigos relato de experiência na Universidade Estadual de Santa Cruz (BA)

As atividades gestão dos recursos hídricos na região, a partir da utilização do PSA.


desenvolvidas O Projeto Águas da Chapada foi lançado em maio de 2022, em even-
pela UESC no to realizado no município de Ibicoara, e contou com a presença de
que concerne prefeitos e secretários d Meio Ambiente dos municípios integrantes
ao PSA possi- do Consórcio Chapada Forte, além de representantes das instituições
parceiras do projeto.
bilitaram a
mobilização
Ademais, salienta-se a participação da UESC em eventos externos orga-
de pesquisa-
nizados pela Sema, em especial, na Capacitação de Gestores Municipais
dores, técnicos para Implementação dos Programas Municipais de Pagamento por
e gestores Serviços Ambientais no Estado da Bahia, realizada em maio de 2022,
em busca de na sede da Organização de Conservação da Terra (OCT), situada no
estratégias município de Ibirapitanga. Nesse evento estiveram presentes gestores
visando à de meio ambiente de 15 municípios da região sul da Bahia, diretores da
disseminação SEI, superintendente da Sema, representante do Inema, além de repre-
desse sentantes da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) e de insti-
instrumento de tuições do terceiro setor que atuam na área ambiental.
política pública
na Bahia (...) As atividades desenvolvidas pela UESC no que concerne ao PSA possi-
bilitaram a mobilização de pesquisadores, técnicos e gestores em busca
de estratégias visando à disseminação desse instrumento de política
pública na Bahia e, consequentemente, à articulação entre instituições
públicas, privadas e do terceiro setor para esse fim. Isso resultou em
um arranjo institucional e uma rede constituída por diversos atores do
estado, o que será apresentado a seguir.

ARRANJO INSTITUCIONAL E GOVERNANÇA

Para um bom arranjo institucional de política pública de PSA, são im-


prescindíveis planejamento, gestão, regulação, sistematização, im-
plantação, comunicação e transparência, conforme exposto no Guia
para Formulação de Políticas Públicas Estaduais e Municipais de
Pagamentos por Serviços Ambientais (FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO
DE PROTEÇÃO À NATUREZA et al., 2017). O arranjo institucional com-
preende o “[...] conjunto de instituições selecionadas e capacitadas para
realizar, na medida de suas competências, os atos de gestão e adminis-
tração determinados pela política pública de PSA” (FUNDAÇÃO GRUPO
BOTICÁRIO DE PROTEÇÃO À NATUREZA et al., 2017, p. 28).

O modo como as instituições se relacionam e desempenham funções


em um arranjo de PSA diz respeito à governança, e, conforme Cavalcanti
(2004, p. 1), essa governança ambiental é um “[...] arcabouço institucio-
nal de regras, instituições, processos e comportamentos que afetam a
Bahia anál. dados, maneira como os poderes são exercidos na esfera de políticas ou ações
68 Salvador, v. 32, n. 2,
p.60-76, jul.-dez. 2022 ligadas às relações da sociedade com o sistema ecológico”. Por isso, a
Israel Pedro Dias Ribeiro, Narjara Prates Gonçalves, Nayra Rosa Coelho, Mônica de Moura Pires, Andréa da Silva Gomes Artigos

estruturação do PSA, permeada por relações público-privadas, pode Nessa


ampliar os processos decisórios da política pública, garantindo maior perspectiva,
participação social e operacionalização das ações governamentais, em é possível
razão da existência de governança (JODAS, 2021). vislumbrar no
estado da Bahia
Partindo-se dessa compreensão, o processo de formulação e implemen- a formação de
tação de programas de PSA deve envolver diversos atores, mediante di-
uma rede de
álogo institucional contínuo e aprofundamento do vínculo estatal com a
instituições
sociedade. Arranjos de PSA, quando compostos por várias instituições,
que, articu-
tendem a diminuir as limitações de algumas entidades, que nem sempre
possuem estrutura suficiente para disponibilizar serviços qualificados ladamente,
de monitoramento, técnicas de conservação e restauração, capacitação, têm envidado
entre outros (NUSDEO; JODAS, 2017). esforços na
construção de
Nessa perspectiva, é possível vislumbrar no estado da Bahia a forma- um desenho de
ção de uma rede de instituições que, articuladamente, têm envidado política de PSA,
esforços na construção de um desenho de política de PSA, que abarque que abarque
dimensões regionais e locais específicas no território baiano. A UESC, dimensões
na medida da sua competência enquanto instituição pública de ensino regionais
superior, tem contribuído de maneira significativa nesse aspecto, tanto e locais
no desempenho das suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, específicas
conforme já explicitado na seção anterior deste trabalho, como também
no território
na articulação entre os diversos atores envolvidos e na coordenação de
baiano.
ações pontuais.

O desenvolvimento de parcerias e estratégias de planejamento tem sido


essencial para a implementação da política de PSA na Bahia e para a
consolidação de uma rede de instituições comprometidas com a tutela
do meio ambiente. Notam-se, alguns avanços em relação à temática,
como o estabelecimento de um sistema de governança, o fortalecimen-
to de iniciativas e de projetos territoriais, a publicação de leis municipais
tratando sobre PSA e a capacitação de gestores ambientais.

A UESC tem firmado parcerias para a formulação, o desenvolvimento e a


execução de projetos ligados ao tema PSA com as seguintes instituições:
SEI, órgão vinculado à Secretaria de Planejamento do Estado da Bahia;
Organização de Conservação de Terras do Baixo Sul da Bahia (OCT),
organização da sociedade civil pertencente ao terceiro setor, Sema e
outras universidades, inclusive internacionais, como a Universidade de
Pádua, na Itália. Essa última ingressou nas discussões recentemente,
enquanto as demais instituições já constituem importantes parcerias
técnico-científicas em diversas atividades relacionadas com o tema.

O intuito da rede estabelecida na Bahia é viabilizar a implementação


de arranjos institucionais público-privados que viabilizem uma gestão Bahia anál. dados,

participativa em relação à política pública em questão.


Salvador, v. 32, n. 2,
p.60-76, jul.-dez. 2022
69
A importância das instituições no fomento ao instrumento econômico de Pagamento por Serviços Ambientais:
Artigos relato de experiência na Universidade Estadual de Santa Cruz (BA)

As atividades A rede de PSA na Bahia


organizadas
pela SEI possibi- A rede de PSA na Bahia é composta por diversas instituições, cada uma
litaram o apro- delas com papel específico na conformação e estruturação da gover-
fundamento de nança ambiental. Nesse sentido, as principais instituições que compõem
esse quadro têm sido responsáveis por fortalecer e expandir as ações e
conhecimento,
os projetos de PSA pelo estado. A seguir, destaca-se a atuação de cada
a verificação
entidade na constituição da rede de PSA na Bahia.
de como as
experiências de A Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI),
PSA evoluíram por meio da atuação de um grupo de trabalho (GT) sobre PSA, realizou
ao longo do seis rodadas de discussões sobre o assunto em 2021, com a participa-
tempo e o acom- ção de especialistas nacionais e internacionais. As atividades organiza-
panhamento das pela SEI possibilitaram o aprofundamento de conhecimento, a verifi-
dos principais cação de como as experiências de PSA evoluíram ao longo do tempo e o
aprendizados acompanhamento dos principais aprendizados sobre esse tema com es-
sobre esse tema pecialistas da área, visando formular estratégias para o estado da Bahia.
com espe-
cialistas da As discussões tiveram como colaboradores o costarriquenho Álvaro
área, visando Cedenõ Molinari, que relatou a experiência da Costa Rica, país pioneiro
formular na formulação de uma política nacional de PSA; a pesquisadora Raquel
Brandy Prado, representante da Embrapa e presidente do Portfólio
estratégias para
Serviços Ambientais; o consultor ambiental Flávio Ojidos, fundador da
o estado da
empresa Jataí Capital e Conservação, que atua no ramo de ativos am-
Bahia.
bientais e na geração de valor em áreas como Reserva Particular do
Patrimônio Natural (RPPN); o gestor ambiental Paulo Henrique Pereira,
servidor público vinculado à Secretaria de Meio Ambiente do município
de Extrema (MG), que apresentou o Projeto Conservador das Águas,
primeira experiência brasileira de PSA; a representante da Secretaria de
Infraestrutura e Meio Ambiente de São Paulo, Helena Carrascosa, que
abordou os avanços na temática no estado; e Iago Oliveira, servidor da
Prefeitura Municipal de Ibirapitanga e colaborador do Programa Produtor
de Água de Ibirapitanga, primeira iniciativa de PSA do estado da Bahia.

A Organização de Conservação da Terra (OCT) atua na região do Baixo


Sul da Bahia e, em parceria com prefeituras municipais, está envolvida
com ações que têm como finalidade promover a conservação de impor-
tantes fragmentos de Mata Atlântica e a restauração de áreas alteradas.
Em relação às estratégias de conservação e restauração ambiental, a
OCT é pioneira na utilização de incentivos econômicos e na adoção de
práticas vegetativas e mecânicas para geração e valoração de serviços
ambientais por meio de PSA.

Desde 2012, a OCT desenvolve projeto de PSA com foco em água e


Bahia anál. dados, carbono, o Produtor de Água Pratigi, sendo considerada a propulsora
70 Salvador, v. 32, n. 2,
p.60-76, jul.-dez. 2022 da primeira iniciativa na Bahia com essa finalidade. O referido projeto
Israel Pedro Dias Ribeiro, Narjara Prates Gonçalves, Nayra Rosa Coelho, Mônica de Moura Pires, Andréa da Silva Gomes Artigos

piloto de PSA, em seu primeiro ano de atividade, foi reconhecido pela A Secretaria
Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) como inte- do Meio
grante do Programa Produtor de Água. O objetivo é apresentar uma Ambiente do
experiência local de PSA hídrico, a fim de incentivar os municípios in- Estado da Bahia
tegrantes da Área de Proteção Ambiental (APA) do Pratigi (Ituberá, (Sema) é parte
Igrapiúna, Nilo Peçanha, Ibirapitanga e Piraí do Norte) a implementarem integrante da
políticas municipais de PSA para dar início à operacionalização de seus
rede de PSA
programas e projetos.
enquanto
órgão público
Em 2014, Ibirapitanga destacou-se nesse cenário com a criação
da Política Municipal de PSA e do Fundo Municipal de PSA (Lei n.º responsável
864/2014), destinando recursos para o primeiro edital de contrata- pela execução,
ção do Produtor de Água Pratigi – Ibirapitanga (Edital PSA Hídrico n.º a assessoria
01/2015) (IBIRAPITANGA, 2014, 2015). Atualmente essa experiência, técnica e o
que contou com grande contribuição da OCT em todo o processo, é monitoramento
referência estadual na aplicação do instrumento de PSA, podendo ser do Programa
utilizada como benchmarking baiano para replicação em outros muni- Estadual de
cípios, dentro e fora do estado. Pagamento
por Serviços
Consórcios e municípios atuam na configuração da rede de PSA na Ambientais
Bahia, em que se evidencia o papel preponderante dos governos lo- (PEPSA), nos
cais na formulação e implementação da política de PSA, especialmente,
termos da
no que diz respeito ao estabelecimento de leis instituidoras de políti-
Lei n.º 13.223
cas municipais e de outros instrumentos normativos responsáveis pelo
(BAHIA, 2015).
direcionamento dos projetos e programas. Para tanto, as instituições
que compõem a rede devem atuar de forma promotora e integrada, de
modo a fomentar ações que contemplem as esferas locais, tendo em
vista que estas apresentam inúmeras dificuldades no que se refere à im-
plantação de instrumentos econômicos na gestão ambiental. O suporte
aos municípios, por exemplo, pode ser viabilizado por meio da articu-
lação do poder público com consórcios territoriais de desenvolvimento
sustentável, mencanismo presente nas diversas regiões administrativas
do estado da Bahia.

A Secretaria do Meio Ambiente do Estado da Bahia (Sema) é par-


te integrante da rede de PSA enquanto órgão público responsável
pela execução, a assessoria técnica e o monitoramento do Programa
Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais (PEPSA), nos termos
da Lei n.º 13.223 (BAHIA, 2015). Além disso, com vistas a descentrali-
zar a gestão pública do meio ambiente no estado, a Sema tem apoia-
do os municípios baianos por meio do Programa Estadual de Gestão
Ambiental Compartilhada (GAC), que constitui uma importante ferra-
menta para a estruturação de políticas ambientais nas realidades locais,
inclusive o instrumento de PSA. Por meio do GAC e dos consórcios
públicos territoriais, tem sido possível a realização de treinamento do Bahia anál. dados,

corpo técnico disponível, capacitação de gestores municipais sobre


Salvador, v. 32, n. 2,
p.60-76, jul.-dez. 2022
71
A importância das instituições no fomento ao instrumento econômico de Pagamento por Serviços Ambientais:
Artigos relato de experiência na Universidade Estadual de Santa Cruz (BA)

PSAe acompanhamento das diversas ações desenvolvidas por estes.


Destaca-se, ainda, o auxílio do Instituto do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos (Inema), autarquia estadual vinculada à Sema, que tem por
finalidade executar ações e programas relacionados à Política Estadual
de Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversidade, à Política Estadual de
Recursos Hídricos e à Política Estadual sobre Mudança do Clima.

A Figura 1 apresenta o desenho institucional formado entre os principais


atores na disseminação da política de PSA na Bahia: SEI, OCT, municí-
pios, consórcios intermunicipais, Sema e Universidades. O modelo é de
coordenação mista, considerando a complexidade do sistema e a neces-
sidade de uma governança ambiental que resulte em sustentabilidade e
continuidade dos programas de PSA.

Figura 1
Rede de instituições e suas respectivas funções em coordenação mista de PSA no
estado da Bahia – 2022
Articulação com outras instituições e municípios,
SEI desenvolvimento de estudos econômicos e sociais e
divulgação do PSA

Terceiro setor atua como intermediários/mediadores


OCT do processo e oferecem suporte técnico para
Composição Mista PSA

mobilização e execução local/regional

Instância local de implementação da política pública


Município por meio de programas e projetos de PSA

Instrumento de descentralização da gestão


Consórcios ambiental que prestam apoio e fortalecimento
aos municípios associados

Órgão executor, de assessoria técnica e de


SEMA monitoramento do Programa Estadual de PSA

Instituições de pesquisa possuem papel no


Universidades planejamento, desenvolvimento de metodologias
e monitoramento
Fonte: Jodas (2021). Elaborada pelos autores.

Importante salientar que o arranjo institucional ilustrado é fruto de uma


experiência recente – implementada em 2021 –, estando ainda em for-
mação. Por ser um processo dinâmico, não se encerra na presente confi-
guração, sendo desejável a adesão de outras instituições e organizações
à medida que as ações ganhem escala no território baiano e que novos
mecanismos de fomento à participação sejam criados. Portanto, a atual
composição da rede de PSA não se constitui em um sistema fechado,
mas intersetorial, podendo ser ampliada e potencializada ao passo que
outras instituições sejam identificadas no cenário de formulação e im-
Bahia anál. dados, plementação dessa política pública.
72 Salvador, v. 32, n. 2,
p.60-76, jul.-dez. 2022
Israel Pedro Dias Ribeiro, Narjara Prates Gonçalves, Nayra Rosa Coelho, Mônica de Moura Pires, Andréa da Silva Gomes Artigos

Prognóstico e metas futuras A formação de


uma rede de
A formação de uma rede de instituições tem-se mostrado fundamental instituições
para a aplicação eficaz do PSA na Bahia. A coexistência de múltiplos tem-se
atores possibilita a criação de grupos técnicos-científicos para realiza- mostrado
ção de atividades de planejamento e execução de diversas ações, bem fundamental
como de uma estrutura de governança ambiental. O fortalecimento das
para a aplicação
instituições e, como consequência, da rede PSA-Bahia faz-se necessário,
eficaz do PSA na
a fim de que a política pública de PSA seja consolidada no território baia-
Bahia
no como uma estratégia promissora em termos ambientais e socioeco-
nômicos. A criação de um plano regional e/ou estadual, nessa área, reve-
la-se de grande importância para o alcance dos resultados pretendidos.

Considerando-se o papel da UESC nesse cenário, pretende-se que o


tema continue a ser abordado no meio acadêmico em trabalhos de
conclusão de curso (monografias, dissertações e teses), fortalecendo a
linha de pesquisa de docentes do Programa de Mestrado em Economia
Regional e Políticas Públicas (PERPP) e do Programa de Pós-Graduação
em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema). Também está sendo
discutida a proposta de organização e escrita de um livro, visto que o
avanço do conhecimento científico acerca do PSA é essencial para o
aperfeiçoamento desse mecanismo.

Uma vez que a Academia pode contribuir cada vez mais com a matéria,
algumas perspectivas de ações práticas também estão sendo ideali-
zadas pela Universidade, como a capacitação de gestores públicos e
a realização de atividades extensionistas tanto na graduação quanto
na pós-graduação. Com a consolidação da pesquisa e da extensão na
UESC, pretende-se ampliar os eventos sobre o tema nos próximos anos
e promover o III Seminário de Serviços Ambientais do Sul da Bahia, com
a participação de membros da rede de PSA-Bahia e a apresentação de
resultados das ações e pesquisas realizadas conjuntamente.

Além disso, a UESC, junto com as demais instituições que compõem


a rede de PSA-Bahia, tem concorrido em editais de chamadas públi-
cas, com o propósito de disseminar projetos de incentivo a serviços
hídricos e carbono, fomentando práticas que promovam serviços am-
bientais e iniciativas dessa natureza. Entre as instituições parceiras nos
projetos em rede, destaca-se a Università degli Studi di Padova, Itália,
com experiência em estudos referentes à implementação de arranjos
institucionais público-privados por meio da adoção de metodologias
digitais inovadoras.

A participação conjunta dessas instituições em editais auxilia no forta-


lecimento da rede já constituída e possibilita o ingresso de novos par- Bahia anál. dados,

ceiros e o surgimento de novos projetos pilotos no estado.


Salvador, v. 32, n. 2,
p.60-76, jul.-dez. 2022
73
A importância das instituições no fomento ao instrumento econômico de Pagamento por Serviços Ambientais:
Artigos relato de experiência na Universidade Estadual de Santa Cruz (BA)

O PSA CONSIDERAÇÕES FINAIS


mostra-se como
uma política O PSA mostra-se como uma política ambiental importante para criar
ambiental ferramentas que gerem mais sustentabilidade e convivência amigável
importante entre ser humano e natureza. Destarte, sua implantação e execução
necessitam do estabelecimento de parcerias que o tornem exequível
para criar
e, para tanto, a forma como são definidos os critérios de governança é
ferramentas
fundamental para o seu sucesso.
que gerem
mais susten- A experiência de Ibirapitanga (BA) demonstra que é possível imple-
tabilidade e mentar essa política e criar mecanismos que a tornem factível. O re-
convivência curso destinado a esse tipo de iniciativa permite valorizar a natureza e
amigável entre manter os serviços ecossistêmicosgerados por ela e usufruídos pelos
ser humano e seres humanos.
natureza
Nesse sentido, para que todos se beneficiem agora e no futuro, é impor-
tante contar com o fomento à pesquisa, a fim de avançar para outras
possibilidades de operacionalização do PSA e também criar condições
para que os municípios possam apoiar esse tipo de política. O que pode
ser desonerado pelo estado para que o município possa destinar recur-
so a esse tipo de política? Que linhas de crédito com juros subsidiados
poderiam beneficiar produtores que adotassem essa ferramenta em
suas unidades produtivas? Como fazer com que a sociedade seja par-
ceira nesse tipo de iniciativa? Como fomentar novas ações?

Essas e tantas outras perguntas necessitam ser feitas e respondidas


para que se expandam cada vez mais iniciativas de PSA moldadas à re-
alidade local, e que a natureza e o ser humano tenham uma convivência
harmoniosa, permitindo que as futuras gerações possam ter acesso aos
benefícios gerados a partir dessa interação positiva.

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Salvador, v. 32, n. 2,
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Bahia anál. dados,


Salvador, v. 32, n. 2,
p.60-77, jul.-dez. 2022
77
Resumo
Áreas densamente urbanizadas, como a Região Metropolitana de Salvador
(RMS), pressionam fortemente os recursos hídricos ao demandar grandes
volumes de água para o abastecimento público e atividades produtivas, ao
mesmo tempo que provocam a deterioração da qualidade das águas. A inten-
sificação e a extensão da urbanização tornam os sistemas urbanos de abaste-
cimento mais vulneráveis em um cenário de mudança do clima, em particular
de secas mais frequentes e/ou mais severas, como observado recentemente
em metrópoles brasileiras, tornando a gestão dos recursos hídricos cada vez
mais complexa. Nesse contexto, o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA)
vem sendo utilizado como mecanismo estratégico para estimular e contribuir
para a produção de serviços ecossistêmicos ou ambientais, na perspectiva
da conservação e continuidade da produção de água. O presente trabalho
tem por objetivo apresentar as principais ações desenvolvidas pelo Projeto
de Recuperação Florestal em Áreas de Preservação Permanente (Guardiões
das Águas) e suas contribuições para a aplicação dos mecanismos de PSA nas
bacias hidrográficas dos rios Joanes e Jacuípe, responsáveis por cerca de 40%
do abastecimento de água para a capital baiana e cidades metropolitanas. Os
resultados obtidos com a execução do Projeto Guardiões das Águas, envol-
vendo ações prioritárias de recuperação ambiental nas bacias citadas, sub-
metidas a situações críticas de antropização e fundamentais no atendimento
às demandas de abastecimento da capital baiana e cidades metropolitanas,
indicam que os mecanismos de PSA podem contribuir para ampliar a seguran-
ça hídrica da região.
Palavras-chave: pagamento por serviços ambientais; mananciais de abasteci-
mento de água; segurança hídrica.

Abstract
Densely urbanized areas such as the Metropolitan Region of Salvador (RMS/BA),
put heavy pressure on water resources by demanding large volumes of water
for public supply and productive activities, while causing the deterioration of
water quality. The intensification and extent of urbanization makes urban water
supply systems more vulnerable in a climate change scenario, to more frequent
and/or severe droughts, as recently observed in Brazilian metropolises, making
the management of water resources increasingly complex. In this context,
Payment for Environmental Services (PES) has been used as a strategic
mechanism to stimulate and contribute to the production of ecosystem and
environmental services, from the perspective of conservation and continuity
of water production. This paper aims to present the main actions developed by
the Project for Forest Recovery in Areas of Permanent Preservation (Guardians
of the Waters) and its contributions to the application of PES mechanisms in
the watersheds of the rivers Joanes and Jacuípe, responsible for about 40% of
the water supply for the capital of Bahia and metropolitan cities. The results
obtained with the execution of the Waters Guardians Project, involving priority
actions of environmental recovery, it is understood that the insertion of the
PES mechanism in the Joanes and Jacuípe river basins, subjected to critical
situations of anthropization and fundamental in meeting the water supply
demands of the Bahian capital and metropolitan cities, indicate that the PES
mechanisms can contribute to increase the water supply security of the RMS.
Keywords: payment for environmental services; water supply springs; water
security.
Artigos

Projeto guardiões das águas


como contribuinte para
inserção do Pagamento por
Serviços Ambientais em
mananciais de abastecimento
de água na Região
Metropolitana de Salvador (BA)
GENECI BR A Z DE SOUSA O PROCESSO de urbanização ocasiona
Mestre em Desenvolvimento Sustentável
pela Universidade de Brasília (UnB), o aumento da demanda de água, ao
mestre em Gestão e Regulação de
Recursos Hídricos e graduado em mesmo tempo que contribui para a
Engenharia Agrônoma pela Universidade
degradação dos mananciais, podendo
Federal da Bahia (UFBA), especialista em
Meio Ambiente e Recursos Hídricos do comprometer a segurança hídrica. A busca
Instituto do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos do Estado da Bahia (Inema). pela sustentabilidade tem demandado
geneci.sousa@inema.ba.gov.br
a adoção de medidas estruturais e não
J A I L D O S A N TO S P E R E I R A
Doutor e mestre em Recursos Hídricos e estruturais. Feltran-Barbieri e outros
Saneamento Ambiental pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), (2018, p. 6,7) destacam que, nas últimas
especialista em Economia e Política
de Gestão de Água para a Agricultura
décadas, vêm ganhando força os programas
pela Universidade Politécnica de caracterizados como de infraestrutura
Madri (Espanha). Professor adjunto da
Universidade Federal do Recôncavo da natural, que são representados por
Bahia (UFRB). jaildo@ufrb.edu.br
ecossistemas manejados, restaurados ou
doi.org/10.56839/bd.v32i2.a4 conservados com capacidade de fornecer
bens e serviços essenciais à produção
material, à saúde e ao bem-estar humano,
tendo como premissas a conservação e a
restauração dos recursos naturais que visam
melhorar a segurança hídrica.

Bahia anál. dados,


Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
79
Projeto guardiões das águas como contribuinte para inserção do Pagamento por Serviços Ambientais em mananciais de
Artigos abastecimento de água na Região Metropolitana de Salvador (BA)

O Pagamento De acordo com Jardim e Bursztyn (2015, p. 353), o mecanismo de


por Serviços Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) tem-se constituído como um
Ambientais importante instrumento para a implementação de ações relacionadas
(PSA) tem-se à preservação e à recuperação de bacias hidrográficas, na perspectiva
caracteri- de fortalecer e incorporar, de maneira sustentável, os diversos aspectos
econômicos, sociais e ambientais.
zado como
um dos mais
Nas bacias hidrográficas dos rios Joanes e Jacuípe estão localizados
promissores
dois mananciais considerados estratégicos, por serem responsáveis
instrumentos pelo atendimento de aproximadamente 40% das demandas de abaste-
econômicos cimento de água da capital baiana e cidades metropolitanas. Entretanto,
de gestão essas bacias vêm passando por intensos processos de antropização,
ambiental (...) contribuindo para que ocorram situações de criticidade hídrica, poden-
do comprometer a continuidade do atendimento às demandas por água
(ORGANIZAÇÃO E CONSERVAÇÃO DA TERRA, 2022b).

O Projeto de Recuperação Florestal em Áreas de Preservação


Permanente entorno de nascentes e faixas marginais dos rios Joanes
e Jacuípe (Guardiões das Águas), objetiva promover a melhoria da dis-
ponibilidade e da qualidade da água utilizada para o abastecimento da
Região Metropolitana de Salvador (RMS). O referido projeto contempla
metas relacionadas à regularização ambiental de imóveis rurais, à recu-
peração florestal de nascentes e margens de rios e à elaboração de um
plano regional de PSA. O presente trabalho destaca as atividades con-
templadas no Projeto Guardiões das Águas e suas contribuições para
a aplicação do mecanismo de PSA nas bacias hidrográficas dos rios
Joanes e Jacuípe.

PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS

O Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) tem-se caracterizado


como um dos mais promissores instrumentos econômicos de gestão
ambiental, visto que oferece incentivos a práticas que resultem na re-
cuperação, manutenção ou melhoria dos serviços ecossistêmicos e am-
bientais (ALTMANN, 2015, p. 8; SALZMAN et al., 2018, p. 136).

Baseado no princípio do provedor-recebedor, preconiza-se que aqueles


produtores adeptos de boas práticas ambientais, que contribuem para
a melhoria da disponibilidade hídrica em uma bacia hidrográfica, devem
ser remunerados pelos serviços prestados (LIMA; RAMOS, 2018, p. 82).

Este aspecto está evidenciado por Wunder (2005, p. 3) reforçando que


o PSA apresenta como principais características: 1) acordo voluntário
Bahia anál. dados, entre as partes; 2) o objeto do negócio é um serviço ambiental cla-
80 Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022 ramente definido, por exemplo, o uso sustentável do solo, de forma a
Geneci Braz de Sousa, Jaido Santos Pereira Artigos

assegurar o serviço ambiental; 3) ser necessária a existência de, pelo As tratativas


menos, um comprador e um provedor do serviço, e 4) o provedor dos sobre PSA só
serviços ambientais deve assegurar a prestação desses serviços, geran- vieram a ser
do condicionalidade. iniciadas no
Brasil a partir
Nesse contexto, Santos, Melo e Carvalho (2013, p. 235) destacam que, do ano 2000,
à medida que os provedores dos serviços ambientais adotam práticas
no âmbito do
sustentáveis, os benefícios sociais são gerados. É o que ocorre quando
Ministério
os usuários dos recursos hídricos passam, em princípio, a usufruir de
do Meio
mais água com melhor qualidade para atendimento a suas demandas e
usos múltiplos. Ambiente, com
o Programa
Analisando a experiência do Projeto PSA Água Vale do Paraíba, o de Desenvolvi-
Instituto Oikos de Agroecologia (2015, p. 12) destaca que, de maneira mento Socio-
geral, os investimentos em PSA hídricos têm sido direcionados para ambiental
ações que visam à revitalização de bacias que atendem a demandas de da Produção
abastecimento público, arregimentando, como potenciais parceiros em Familiar Rural
seus arranjos, usuários expressivos, com destaque para concessionárias (Proambiente),
de água e energia, empreendimentos industriais de grande porte e co- que incorporava
mitês de bacias. experiências de
PSA em várias
Como resultado da análise dos programas e projetos que tratam de PSA
localidades
hídrico, Franco e Prado (2014, p. 64) relatam que os usuários do recurso
da região
remuneram os produtores rurais que, por sua vez, potencializam e ga-
amazônica
rantem a produção de água em qualidade e quantidade, mediante a pro-
teção e a restauração de ecossistemas naturais, em áreas estratégicas,
a exemplo de nascentes, matas ciliares e áreas de captação, por meio
da adoção de práticas de manejo do solo, assim como de recuperação
e manutenção de áreas florestais.

Assim, alguns projetos de produção de água possibilitam aos proprietá-


rios de terra, além de ganhos monetários, o cumprimento de normativas
legais que tratam da conservação e preservação dos recursos ambien-
tais (TAFFARELLO et al., 2017, p. 4).

As tratativas sobre PSA só vieram a ser iniciadas no Brasil a partir do


ano 2000, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, com o Programa
de Desenvolvimento Socioambiental da Produção Familiar Rural
(Proambiente), que incorporava experiências de PSA em várias loca-
lidades da região amazônica (LIMA, 2010, p. 88). Conforme destaca a
referida autora, a inexistência de uma base legal para PSA em âmbito
nacional, que assegurasse a remuneração por serviços ambientais pres-
tados, corroborou notadamente para a fragilidade do programa.

Assim, desde 2006, tendo em vista a necessidade de reverter a situa- Bahia anál. dados,

ção de bacias hidrográficas onde o uso do solo e dos recursos naturais


Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
81
Projeto guardiões das águas como contribuinte para inserção do Pagamento por Serviços Ambientais em mananciais de
Artigos abastecimento de água na Região Metropolitana de Salvador (BA)

A utilização concorria para a degradação da qualidade e a redução da disponibili-


do PSA como dade hídrica, afetando os demais processos hidrológicos, o Programa
instrumento de Produtor de Água, da Agência Nacional de Águas (ANA), tem contri-
fortalecimento buído para o apoio e difusão dos programas de PSA hídrico no país
da gestão (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2012, p. 4).
sustentável
A cidade de Extrema, em Minas Gerais, foi pioneira em criar uma legis-
dos recursos
lação específica para PSA na modalidade hídrica, a Lei no 2.100/2005,
hídricos tem
que deu início ao Projeto Conservador das Águas (JARDIM; BURSZTYN,
sido cada 2015, p. 355).
vez mais
requisitada Esse fato contribuiu para que diversas iniciativas de PSA voltadas à pro-
teção dos recursos hídricos começassem a ser executadas em outros
municípios do país, reforçando o pagamento pelo serviço de proteção
de bacias hidrográficas como importante ferramenta de conservação
ambiental no Brasil, conforme Alves (2021, p. 14).

De acordo com Coelho e outros (2021, p. 411), o Brasil contava, até 2017,
com 68 experiências de PSA implantadas, sendo: 44 localizadas na
Região Sudeste; nove na Região Sul; oito no Centro-Oeste: quatro na
Região Norte e três no Nordeste.

Segundo dados da ANA (2019, p. 40), em 2018 o Brasil contava com


80 projetos integrados à modalidade do Programa Produtor de Água,
que, desde 2006, envolve investimentos da ordem de R$ 40,2 milhões.
Esses projetos beneficiam cerca de três mil produtores rurais com ações
de conservação em mais de 40 mil hectares localizados em bacias hi-
drográficas estratégicas para o abastecimento de grandes centros, in-
cluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Rio Branco, Goiânia
e Campo Grande.

A utilização do PSA como instrumento de fortalecimento da gestão


sustentável dos recursos hídricos tem sido cada vez mais requisitada.
São exemplos de experiências que adotaram esse instrumento: Projeto
Conservador das Águas, em Minas Gerais; Projeto Oásis, em São Paulo;
Produtor de Água da Bacia do Rio Pipiripau, no Distrito Federal; Bolsa
Verde, em Minas Gerais; Projeto Manancial Vivo, em Mato Grosso do Sul;
Produtor de Água das bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari
e Jundiaí (PCJ), em São Paulo; Projeto Oásis Apucarana, no Paraná;
Projeto ProdutorES, no Espírito Santo; Produtores de Água e Florestas
da Bacia do Rio Guandu, no Rio de Janeiro, e Produtor de Água da Bacia
do Rio Camboriú, em Santa Catarina.

O Manual Operativo do Programa Produtor de Água, da ANA (2012, p.


Bahia anál. dados, 23-24), reforça que os programas e projetos de PSA implantados em de-
82 Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022 terminada bacia hidrográfica são baseados em critérios técnicos, sociais
Geneci Braz de Sousa, Jaido Santos Pereira Artigos

e econômicos, em que são adotadas as práticas conservacionistas, elen-


cadas as parcerias, estabelecidos os instrumentos legais, selecionadas
as propriedades rurais e remunerados os provedores, mediante a valo-
ração dos serviços ambientais e a adoção de processos de acompanha-
mento e monitoramento, dentre outros.

De forma sintética, a Figura 1 expressa uma sequência de etapas que


normalmente vem sendo aplicada em projetos de PSA.

Figura 1
Modelo básico de execução dos projetos de PSA hídrico

- Edital de Licitação
Elaborar o diagnós- Engajar os
Criar a parceria tico socioambiental proprietários
envolvendo instituições - Celebração dos
da bacia rurais
relevantes Contratos

- Implatação das
Fazer a valoração Ações
Definir o valor
econômica do
do PSA
serviço ambiental - Metas verificadas
Definir papéis e e certificadas
responsabilidades
PSA suportado por - Pagamentos
arcabouço legal Fundos alocados efetuados
específico para o PSA

- Monitoramento

Fonte: Adaptado da Agência Nacional de Águas (2012, p. 24).

No que se refere aos mecanismos financeiros de suporte aos projetos


de PSA, Sousa (2021, p. 30, 121) destaca a cobrança pelo uso dos re-
cursos hídricos, aplicada como exemplo no Produtor de Água no PCJ
(SP) e no Programa Produtores de Água e Floresta do Rio Guandu (RJ),
seguida das contribuições dos estados e municípios, mediante a cria-
ção de legislação com fundos específicos, a exemplo dos projetos Mina
D’Água (SP) e ProdutorES de Água (ES), com recursos disponibiliza-
dos pelas companhias de saneamento, como é o caso do Produtor de
Água do Pipiripau (DF) e do Produtor de Água de Balneário Camboriú
(SC), ou até mesmo por meio de cobrança direta na tarifa de água
e esgoto, a exemplo do projeto Produtor de Águas de Tangará da
Serra (MT).

Em que pese a diversidade de desafios, Leitão e Silva (2022, p. 274)


destacam que os programas de PSA hídricos se constituem em uma
prática atual, em constante crescimento, fortalecendo os processos
participativos de gestão das águas, a exemplo dos Comitês de Bacias
Hidrográficas, com vistas à tomada de decisões mais seguras no con- Bahia anál. dados,

texto das realidades locais.


Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
83
Projeto guardiões das águas como contribuinte para inserção do Pagamento por Serviços Ambientais em mananciais de
Artigos abastecimento de água na Região Metropolitana de Salvador (BA)

O estado da Nesse aspecto, no que se refere à governança e ao controle social, a


Bahia conta criação de uma Unidade Gestora do Projeto (UGP) propicia o envolvi-
com a Lei n.º mento de diferentes atores na formação de arranjos institucionais, téc-
13.233/2015, nicos e financeiros, possibilitando o desenvolvimento de programas e
que institui projetos de PSA mais participativos e com melhor qualidade técnica,
favorecendo o aumento no número de adesões e resultados satisfató-
a Política
rios (SOUSA, 2021, p. 121).
Estadual de
Pagamento
Embora arranjos de PSA tenham sido implementados em diversas re-
por Serviços giões do Brasil, apenas em 2021 a Lei n.º 14.119/2021 instituiu a Política
Ambientais e Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais (PNPSA), explicitando
o Programa conceitos, objetivos, diretrizes e critérios para a execução dessa polí-
Estadual de tica, cuja gestão está atribuída ao Ministério do Meio Ambiente. Esse
Pagamento dispositivo criou ainda o Programa Federal de Pagamento por Serviços
por Serviços Ambientais (PFPSA), trazendo segurança jurídica e princípios nortea-
Ambientais dores aos projetos de PSA, de modo a promover maior efetividade à
(PEPSA), ainda conservação dos recursos naturais (MERIDA; GUIMARÃES; SILVA, 2022,
sem regulamen- p. 273; SOUSA, 2021, p. 26).
tação
Em âmbito estadual, Reis e Silva (2019, p. 242-243) registram a criação
de políticas específicas relacionadas ao PSA no Rio de Janeiro (1999);
no Amazonas (2007); em Minas Gerais e Tocantins (2008); em São Paulo
(2009); no Acre e em Santa Catarina (2010); no Paraná e no Espírito
Santo (2012); no Mato Grosso e em Goiás (2013); na Bahia (2015), e
em Pernambuco (2016). Incluem-se, ainda, os estados de Mato Grosso
do Sul (2018) e do Rio Grande do Sul (2022), conforme verificado em
Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) (2018) e
estado do Rio Grande do Sul (2022), respectivamente.

O estado da Bahia conta com a Lei n.º 13.233/2015, que institui a Política
Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais e o Programa Estadual
de Pagamento por Serviços Ambientais (PEPSA), ainda sem regula-
mentação (BAHIA, 2015). A sua execução está atribuída à Secretaria
Estadual de Meio Ambiente (SEMA), cujas iniciativas estão voltadas
para a capacitação/formação de gestores e técnicos para a constru-
ção das políticas municipais de PSA, com destaque para as regiões da
Chapada Diamantina, do Baixo Sul, Metropolitana de Salvador, Litoral
Norte e Agreste de Alagoinhas (BAHIA, 2022b; ORGANIZAÇÃO E
CONSERVAÇÃO DA TERRA, 2022b, p. 15).

Nesse contexto, em 2022 foram aprovadas normativas específicas


que instituem as Políticas Municipais de Pagamento por Serviços
Ambientais, a criação do Programa Municipal de Pagamento por
Serviços Ambientais e o Fundo Municipal de Pagamento por Serviços
Bahia anál. dados, Ambientais nos municípios de Iaçu, Itaberaba, Piatã, Inhambupe, Ruy
84 Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022 Barbosa e Ibiquera, que se somam às já existentes nos territórios de
Geneci Braz de Sousa, Jaido Santos Pereira Artigos

Ibirapitanga (2014), Ituberá (2014), Amélia Rodrigues e Ilhéus (2016), Conforme a


Barra do Rocha (2017), Alagoinhas (2019), Vitória da Conquista e Organização e
Jussari (2021). Conservação
da Terra, as
Entretanto, mediante a Lei no 864/2014, que instituiu a Política Municipal experiências
de Pagamentos por Serviços Ambientais, a aplicabilidade pionei- na condução
ra com PSA no território baiano tem sido atribuída ao município de
e execução de
Ibirapitanga, na região do Baixo Sul., com o Projeto Produtor de Água
programas e
Pratigi-Ibirapitanga, na sub-bacia do rio Oricó, adotando práticas de
projetos com
conservação e restauração da vegetação nativa em áreas prioritárias
para conservação dos recursos hídricos, práticas agropecuárias com PSA hídricos no
manejo de conservação do solo e da água e a gestão da propriedade Brasil, em suas
(MOREIRA, 2018, p. 23; SOUSA, 2021, p. 61). variadas formas
e modelos,
Diante desse cenário, conforme a Organização e Conservação da Terra evidenciam
(2022a, p. 9), as experiências na condução e execução de programas similaridades
e projetos com PSA hídricos no Brasil, em suas variadas formas e mo- nas suas
delos, evidenciam similaridades nas suas estratégias e metodologias, estratégias e
desde as fontes de recursos e normativas legais até os sistemas de go- metodologias
vernança, arranjos institucionais e sociais, processos de monitoramento,
dentre outras, que são essenciais para o funcionamento do instrumento
e o fortalecimento da política pública.

AS BACIAS DOS RIOS JOANES E JACUÍPE

Inseridas na Região de Planejamento e Gestão das Águas (RPGA) do


Recôncavo Norte e Inhambupe, a Bacia do Rio Joanes (com área de
drenagem de 767,5 km2) e a Bacia do Rio Jacuípe (com área de 1.331,2
km2) totalizam 2.098,7 km2, envolvendo os municípios de Conceição do
Jacuípe, Amélia Rodrigues, Terra Nova, Santo Amaro, Mata de São João,
São Sebastião do Passé, São Francisco do Conde, Candeias, Camaçari,
Simões Filho, Dias D’Ávila, Lauro de Freitas e Salvador (Figura 2), de
acordo com Sousa (2021, p. 65).

Bahia anál. dados,


Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
85
Projeto guardiões das águas como contribuinte para inserção do Pagamento por Serviços Ambientais em mananciais de
Artigos abastecimento de água na Região Metropolitana de Salvador (BA)

Figura 2
Localização das bacias hidrográficas Joanes e Jacuípe – Bahia

Fonte: Elaboração dos autores.

Esses municípios concentram 26,5% da população baiana, conforme


dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2019), bem
como importantes centros industriais, a exemplo do Polo Industrial de
Camaçari e do Centro Industrial de Aratu. Também inclui a maior parte
da Região Metropolitana de Salvador (RMS), barramentos de água es-
tratégicos para o abastecimento público e o aquífero São Sebastião, um
dos principais do estado, além de uma malha rodoviária que interliga a
região a diversos trechos do país.

A área de abrangência das bacias dos rios Joanes e Jacuípe está in-
serida no Bioma Mata Atlântica, onde a cobertura e o uso do solo for-
mam diferentes unidades ambientais, representadas por florestas, áreas
alagáveis, áreas urbanizadas, agricultura e pastagem que concentram
a maior porção do território (ORGANIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DA
TERRA, 2022a, p. 33).

O Rio Joanes tem sua área de nascentes em São Francisco do Conde,


Bahia anál. dados, percorrendo cerca de 82 Km até sua foz em Lauro de Freitas, integran-
86 Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022 do territórios dos municípios de São Sebastião do Passé, Candeias,
Geneci Braz de Sousa, Jaido Santos Pereira Artigos

Simões Filho, Dias D’Ávila, Camaçari e Salvador, sendo o Rio Ipitanga Recentes
o principal afluente. Limita-se com a Bacia do Rio Jacuípe, as bacias levantamentos
da área urbana de Salvador e, a sudeste, com o Oceano Atlântico, socioambien-
contando com três barramentos no Rio Ipitanga (Ipitanga I, II e III) tais realizados
e dois no Rio Joanes (Joanes I e II), segundo Bahia (2016, p. 13) e na região pela
Menezes (2006, p. 28). Organização de
Conservação
O Rio Jacuípe apresenta área de influência da nascente formada via
da Terra (OCT),
subterrânea no município de Conceição do Jacuípe, seguindo por
reforçam a que
cerca de 140 Km até a foz em Camaçari e interceptando os territó-
rios municipais de Amélia Rodrigues, Terra Nova, Santo Amaro, São a maior parte
Sebastião do Passé, Mata de São João, Dias D’Ávila e Camaçari, con- da área está
forme descreve os estudos de Lima (2007, p. 4) e da Companhia de sendo ocupada
Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM) (2013, p. 23). A Bacia do Rio por pastagens,
Jacuípe limita-se ao sul com a Bacia do Rio Joanes; ao norte com a contribuindo
Bacia do Rio Pojuca, a oeste com o Rio Subaé e, a leste, com o Oceano com processos
Atlântico, contando no seu curso com a Barragem Santa Helena, con- erosivos, aliados
forme o Plano de Abastecimento de Água da RMS (BAHIA, 2016, p. 19) e à precária
Sousa (2021, p. 73). distribuição
dos serviços de
Em função da sua localização estratégica, da intensa urbanização e dos saneamento
serviços de infraestrutura, a região contempla uma diversidade de ati-
vidades produtivas de diferentes tipologias que propiciam suporte ao
setor econômico, aspectos que contribuem para diversas modalidades
de ações antrópicas e impactos socioambientais que tensionam os ma-
nanciais, influenciando na disponibilidade e na qualidade hídrica, con-
forme Sousa (2014, p. 34).

Nesse contexto, trechos do entorno dos reservatórios Joanes I, II e Santa


Helena têm passado por processos de descaracterização no que refere
à manutenção da cobertura vegetal, em decorrência da expansão das
atividades agropecuárias e das áreas urbanas situadas nas suas áreas
de influência (BAHIA, 2016, p. 16).

Recentes levantamentos socioambientais realizados na região pela


Organização de Conservação da Terra (OCT), reforçam a que a maior
parte da área está sendo ocupada por pastagens, contribuindo com
processos erosivos, aliados à precária distribuição dos serviços de sa-
neamento, com destaque para o abastecimento de água, a coleta e o
tratamento de esgotos, a coleta e a destinação correta dos resíduos só-
lidos e os serviços de drenagem pluvial. Esses processos erosivos con-
tribuem ainda para a expansão das áreas de risco capazes de provocar
desastres naturais e alteração da qualidade da água decorrente da ins-
talação de diversas modalidades de empreendimentos (ORGANIZAÇÃO
DE CONSERVAÇÃO DA TERRA, 2022a, p. 57). Bahia anál. dados,
Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
87
Projeto guardiões das águas como contribuinte para inserção do Pagamento por Serviços Ambientais em mananciais de
Artigos abastecimento de água na Região Metropolitana de Salvador (BA)

A crise hídrica Dessa forma, considerando a importância dos mananciais em estudo e


ocorrida em os processos antrópicos neles incidentes, iniciativas vinculadas à recu-
2014, resultante peração, à conservação e à preservação dos recursos naturais se tor-
dos baixos nam estratégicas para ampliar a disponibilidade da produção hídrica
índices pluvio- com mais qualidade.
métricos
registrados
O PROJETO GUARDIÕES DAS ÁGUAS
principal-
DOS RIOS JOANES E JACUÍPE
mente desde
2012, assumiu A crise hídrica ocorrida em 2014, resultante dos baixos índices pluvio-
gravidade métricos registrados principalmente desde 2012, assumiu gravidade
nacional nacional (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2015, p. 5). Aliado a esse
aspecto, conforme destacado no Plano Nacional de Recuperação da
Vegetação Nativa (Planaveg) do Ministério do Meio Ambiente, o país
apresentou um grave déficit florestal de 4,8 milhões de hectares, que
se tornou expressivo quando associado à situação de degradação dos
mananciais que abastecem os reservatórios brasileiros, notadamen-
te aqueles que atendem às demandas dos grandes centros urbanos
(BRASIL, 2015, p. 2-4).

Diante desse cenário, foi lançado o Edital 01/2015, do Fundo Nacional


do Meio Ambiente (FNMA), com o objetivo de promover ações de recu-
peração florestal em Áreas de Preservação Permanente localizadas em
bacias hidrográficas cujos mananciais de superfície contribuem, dire-
ta ou indiretamente, para o abastecimento de reservatórios de regiões
metropolitanas com alto índice de criticidade hídrica. A perspectiva do
FNMA foi a de ampliar a oferta de água, oportunizando a participação
de instituições públicas municipais ou estaduais, instituições privadas
sem fins lucrativos que atendiam à Portaria Interministerial nº. 507/2011
e as concessionárias de abastecimento de água (BRASIL, 2015, p. 2).

Nesse contexto, as bacias dos rios Joanes e Jacuípe, integrantes do


Sistema de Abastecimento de Água de Salvador, foram contempladas
pelo referido edital a partir de proposta da Empresa Baiana de Águas
e Saneamento (Embasa), surgindo então o Projeto de Reabilitação
Florestal de Áreas de Preservação Permanente dos rios Joanes e
Jacuípe, denominado posteriormente Projeto Guardiões das Águas,
cujo objetivo primordial é:

[...] recuperar vegetação nativa no entorno de cem nascentes e de


cem hectares de áreas marginais dos rios Jacuípe e Joanes contri-
buintes diretos dos reservatórios responsáveis pelo abastecimento de
água da Região Metropolitana de Salvador, com o propósito de am-
Bahia anál. dados, pliar a oferta de água para a Região Metropolitana de Salvador (RMS).
88 Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022 (BAHIA, 2022a, p. 4).
Geneci Braz de Sousa, Jaido Santos Pereira Artigos

A área de atuação do Projeto Guardiões das Águas incorpora territórios


situados a montante das represas que formam os reservatórios Joanes
I e II e Santa Helena, totalizando 1.472,1 Km2, sendo 592,7 Km2 na Bacia
do Rio Joanes e 879,4 Km2 situados na Bacia do Rio Jacuípe. O projeto
abarca 70,1% da área total das duas bacias, compreendendo trechos
dos municípios de Conceição do Jacuípe, Amélia Rodrigues, Terra Nova,
Santo Amaro, Mata de São João, São Sebastião do Passé, São Francisco
do Conde, Candeias, Camaçari, Simões Filho, Dias D’Ávila, Lauro de
Freitas e Salvador (Figura 3), conforme Sousa (2021, p. 66).

Figura 3
Área de atuação do Projeto Guardiões das Águas – Bahia

Fonte: Elaboração dos autores.

Desde 2016, o Projeto Guardiões das Águas vem sendo executado pela
Embasa, tendo como parceiros o Instituto de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos (Inema), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA), sendo o controle so-
cial exercido pela Unidade Gestora do Projeto (UGP). Para o alcance da
sua finalidade foram estabelecidas três metas:
Bahia anál. dados,
Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
89
Projeto guardiões das águas como contribuinte para inserção do Pagamento por Serviços Ambientais em mananciais de
Artigos abastecimento de água na Região Metropolitana de Salvador (BA)

Meta 1: cadastramento de 300 propriedades com até quatro módulos


fiscais no Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais (CEFIR);

Meta 2: elaboração e implementação de dez projetos de recupera-


ção florestal para 100 nascentes e 100 hectares de margens de rios,
incluindo o monitoramento das atividades e a realização de oficinas de
Educação Ambiental e;

Meta 3: elaboração de um Plano Regional de PSA.

A execução do Projeto de Reabilitação Florestal de Áreas de Preservação


Permanente dos rios Joanes e Jacuípe aportou recursos da ordem de
R$ 3.223.075,44, que incluiu a contrapartida da Embasa, corresponden-
te a 10%, do montante total (R$ 322.433,57), a ser destinada para dar
suporte ao cadastramento das propriedades rurais no CEFIR e à elabo-
ração do Plano Regional de PSA (ORGANIZAÇÃO E CONSERVAÇÃO
DA TERRA, 2022b, p. 4).

Estudos realizados por pesquisadores da UFBA (2019, p. 17-23) desta-


cam que a definição das áreas prioritárias para as ações de restauração
florestal nas bacias hidrográficas foi realizada mediante a elaboração
de material cartográfico (mapas), incluindo cobertura vegetal, imó-
veis rurais, malha hidrográfica, uso e ocupação do solo, associada a
visitas de campo.

A partir de então, a seleção de dez áreas para intervenção, distribuídas


entre assentamentos rurais, comunidades quilombolas e núcleos rurais,
foi procedida de critérios referentes a: 1) produção e manutenção da
quantidade e qualidade da água (densidade de nascentes – macroesca-
la); 2) qualidade e quantidade da vegetação no entorno (formação de
corredores, tamanho do fragmento, qualidade ambiental, tamanho da
área a ser restaurada – mesoescala) e; 3) nível local, onde as ações de
planejamento e recuperação serão efetivamente executadas (organiza-
ção, consciência ambiental e política local – microescala). As áreas es-
tão distribuídas pelos municípios de São Sebastião do Passé, Candeias,
Simões Filho, Dias D’Ávila, Camaçari, Terra Nova e Mata de São João,
conforme o Quadro 1.

Bahia anál. dados,


90 Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
Geneci Braz de Sousa, Jaido Santos Pereira Artigos

Quadro 1
Áreas contempladas pelo Projeto Guardiões das Águas dos rios Joanes e Jacuípe – Bahia
Coordenadas
Bacia Assentamento/ (24L Sirgas 2000)
Hidrográfica Comunidade Municípios
x y
PA Panema Dias D’Ávila/São Sebastião do Passé/Mata São João 567220 861322
J
a PA Paulo Jackson São Sebastião do Passé 567468 8618375
c PA Três de Abril São Sebastião do Passé 546441 8622075
u
i Núcleo Colônia JK Mata de São João 583597 8618389
p Cancelas Camaçari 592173 8611203
e
Alto de Santa Helena Dias D’Ávila 589659 8609725
J Fazenda Santa Maria Camaçari 569871 8594546
o
a Fazenda Guerreiro Simões Filho 569553 8592411
n Fazenda Petecaba Candeias 560997 8598341
e
s Quilombo Dandá Simões Filho 565522 8594621
Fonte: Elaboração do autor.

RESULTADOS ALCANÇADOS

Com vigência de junho 2016 a dezembro de 2022 junto ao Fundo


Nacional do Meio Ambiente (FNMA), o Projeto Guardiões das Águas
apresenta panorama situacional relacionado à execução das metas con-
forme disposto no Quadro 2.

Quadro 2
Panorama das metas do Projeto Guardiões das Águas dos rios Joanes e Jacuípe – Bahia
Metas Descrição Período Resultados
Mobilização de pequenos proprietários rurais dos dez
320 imóveis cadastrados
municípios para o cadastro de 300 imóveis rurais no CEFIR1 e 2017 a 2018
1 UGP em atividade
formação da Unidade Gestora do Projeto (UGP)
Dez projetos elaborados
Elaboração, implementação e manutenção de dez projetos de 104 nascentes, 109 ha de margens
2018 a 2022
2 Recuperação Florestal de APP e Educação Ambiental Crítica de rios recuperados e 39 oficinas
de EA realizadas
Elaboração do Plano Regional de Pagamento por Serviços
3 12/2022 Concluído
Ambientais (PSA)
Fonte: Bahia (2022a).

META 1 - Cadastramento de propriedades

Realizada a partir da mobilização dos representantes das secretarias mu-


nicipais de Agricultura e Meio Ambiente, sindicatos rurais, agricultores
familiares e assentados de reforma agrária, complementada por visitas
de campo nas propriedades rurais e encerrada com o cadastramento de
320 propriedades rurais com áreas de até quatro módulos fiscais, com a Bahia anál. dados,

entrega dos respectivos Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas


Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
91
Projeto guardiões das águas como contribuinte para inserção do Pagamento por Serviços Ambientais em mananciais de
Artigos abastecimento de água na Região Metropolitana de Salvador (BA)

As estratégias (PRAD) e Programas de Regularização Ambiental (PRA), contribuindo


de recuperação para ampliar o conhecimento ambiental dos proprietários rurais sobre a
florestal das conservação dos recursos hídricos e florestais (SOUSA, 2021, p.78, 123).
nascentes e
margens de Esta meta foi superada em seu quantitativo, uma vez que, com o intenso
processo de mobilização realizado na região, a disponibilização de re-
rios incluíram
cursos pela Embasa e a variabilidade no tamanho das propriedades de
plantios de enri-
até quatro módulos fiscais, enquadradas como agriculturas familiares,
quecimento,
muitos produtores rurais se interessaram pelo projeto e em regularizar
plantios totais seus imóveis, possibilitando, assim, a incorporação de mais áreas.
e regeneração
natural Para garantir um planejamento participativo e o controle social das
ações do projeto, além de atrair e fortalecer parcerias com instituições
que pudessem oferecer contribuições significativas nas suas áreas de
atuação, foi criada a Unidade Gestora do Projeto (UGP) com a seguin-
te composição: Embasa (dois representantes); UFBA (um representan-
te); INCRA (um representante); Inema (um representante); agricultores
familiares; assentados de reforma agrária e comunidades tradicionais
(16 representantes); poder público municipal (oito representantes), e
sociedade civil organizada (oito representantes) (ORGANIZAÇÃO DE
CONSERVAÇÃO DA TERRA, 2022b, p. 27).

Os integrantes da UGP reúnem-se a cada dois meses, quando são apre-


sentadas e discutidas as atividades planejadas e executadas no projeto,
além de outros encaminhamentos.

META 2 - Projetos de Recuperação


Florestal e Educação Ambiental

Os Projetos de Recuperação Florestal e Educação Ambiental foram


elaborados mediante Termo de Cooperação Técnica celebrado entre a
Embasa e a UFBA e contextualizados a partir de visitas a campo, reu-
niões com as comunidades e demais parceiros institucionais, incluindo
aplicação metodológica da avaliação hidroecológica em escala local, em
que as nascentes e os cursos d’água foram analisados segundo o Índice
do Estado Florestal (SOUSA, 2021, p. 81; UNIVERSIDADE FEDERAL DA
BAHIA, 2019, p. 28).

As estratégias de recuperação florestal das nascentes e margens de


rios incluíram plantios de enriquecimento, plantios totais e regeneração
natural. Destaca-se a ampliação de reforços no atendimento à demanda
dos beneficiários, referente à introdução de sistemas agroflorestais for-
mados por linhas de espécies frutíferas, intercaladas com espécies nati-
vas de boa cobertura. Esses sistemas visam compor um arranjo onde é
Bahia anál. dados, possível agregar a produção de frutos com as espécies florestais, con-
92 Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022 forme demonstrado na Figura 4.
Geneci Braz de Sousa, Jaido Santos Pereira Artigos

Figura 4
Representação das linhas de plantio para restauração florestal do Projeto
Guardiões das Águas – Bahia

Fonte: Universidade Federal da Bahia (2019).

As mudas das espécies nativas e frutíferas utilizadas nos plantios


da iniciativa foram provenientes de viveiros instalados na Região
Metropolitana de Salvador (RMS) e no Recôncavo Baiano, circunvizi-
nhos às áreas das bacias hidrográficas em estudo, assim como oriundas
de produções dos agricultores locais, sendo observados, quando da
aquisição, aspectos relacionados a: altura, diversidade, vigor, sanidade,
porte, desenvolvimento e procedência do Bioma da Mata Atlântica e de
transição para o Cerrado, priorizando-se a diversidade, com registros
de utilização de número superior a 70 espécies diferentes (EMPRESA
BAIANA DE ÁGUAS E SANEAMENTO, 2022, p. 47).

A Educação Ambiental Crítica é parte integrante de todas as etapas do


projeto, sendo transversal às três metas, na medida em que incorpora a
mobilização e a sensibilização dos atores envolvidos, a constituição da
unidade de gestão e a elaboração do Plano Regional de PSA (SOUSA,
2021, p. 84).

Essa ação se materializou por meio de oficinas preparatórias de diálo-


gos de saberes, construção de mapas biorregionais, construção de mi-
nhocários, horticultura, produção de mudas, ecogincanas e criação de
banco de sementes crioulas, jardins de ervas aromáticas e medicinais,
tecnologias sociais de acesso/uso da água, formação de educadores
ambientais, defensivos naturais e saneamento ambiental simplifica-
do (EMPRESA BAIANA DE ÁGUAS E SANEAMENTO, 2022, p. 64-80; Bahia anál. dados,

SOUSA, 2021, p. 85).


Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
93
Projeto guardiões das águas como contribuinte para inserção do Pagamento por Serviços Ambientais em mananciais de
Artigos abastecimento de água na Região Metropolitana de Salvador (BA)

As metas As metas de plantio das áreas de nascentes e margens de rios foram


de plantio atendidas, obtendo inclusive valores superiores ao estabelecido pelo
das áreas de edital do FNMA, em função da desistência de alguns proprietários ini-
nascentes e cialmente cadastrados e o posterior aceite do projeto por outros com
margens de rios imóveis de tamanhos de áreas diferenciadas. Por sua vez, a demanda
por cercas para as propriedades que ingressaram no projeto foi me-
foram atendidas
nor do que a prevista, gerando, consequentemente, redução no quan-
[...] em função
titativo total previsto para essa finalidade, o que foi positivo quanto à
da desistência
redução dos custos, visto que os recursos puderam ser direcionados
de alguns para a ampliação das áreas de plantio (EMPRESA BAIANA DE ÁGUAS
proprietários E SANEAMENTO, 2022, p. 9, 20).
inicialmente
cadastrados e o META 3 - Elaboração do Plano Regional de PSA
posterior aceite
do projeto por Para a elaboração do Plano Regional para Pagamento por Serviços
outros com Ambientais, o regulamento do Edital FNMA n.º 01/2015 prevê que
imóveis de esta etapa seja empreendida após o encerramento dos investimentos
tamanhos de correspondentes às metas 1 e 2, não sendo objeto do certame a sua
áreas diferen- implementação.
ciadas
Trata-se de um “planejamento para o futuro”, ou seja, o plano a ser
apresentado deve conter a estratégia de “pagamento por serviços am-
bientais” considerando o aprendizado adquirido durante a execução do
projeto, a participação dos usuários da água e a expectativa de conti-
nuidade e aperfeiçoamento da recuperação ambiental realizada (BRA-
SIL, 2015, p. 12).

Elaborado a partir das diretrizes das Leis n.º 14.119/21 e n.º 13.223/2015,
que instituem, respectivamente, as políticas federal e estadual de
Pagamentos por Serviços Ambientais, o Plano Regional de PSA configu-
ra-se como um instrumento de apoio à criação e à implementação das
políticas públicas municipais de PSA nas bacias hidrográficas (BAHIA,
2015; BRASIL, 2021).

Os recursos destinados à execução dessa meta são de responsabilida-


de da Embasa, em contrapartida ao projeto. As atividades referentes à
realização do Plano entraram em curso no mês de abril de 2022, sendo
encerradas em dezembro do mesmo ano, com a entrega à Embasa do
Plano Regional de PSA, por meio da Unidade Gestora do Projeto.

A condução dos trabalhos de manutenção das áreas, conforme previsto


no Edital 01/2015, em conjunto com a elaboração do Plano Regional de
PSA e a mobilização de empresas e prefeituras em torno da temática,
ficou a cargo da Organização de Conservação da Terra (OCT), contra-
Bahia anál. dados, tada pela Embasa por um período de 15 meses, com encerramento em
94 Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022 julho de 2023.
Geneci Braz de Sousa, Jaido Santos Pereira Artigos

De acordo com Organização de Conservação da Terra (2022b, p. 5, 6),


o Plano Regional de PSA está estruturado seguindo os procedimentos
estabelecidos em um plano de trabalho apresentado pela Embasa e
trazendo como principais componentes:

• abordagem teórica sobre PSA hídrico, com a descrição de experi-


ências nacionais e destaque para o crescente uso do instrumento
como estratégia complementar à gestão ambiental;

• caracterização das políticas federal e estadual de PSA, com indi-


cação das diretrizes para sua implementação e descentralização
em nível municipal e destaque para a importância da construção
coletiva de minutas de leis de PSA dos municípios da área de
abrangência do Projeto Guardiões das Águas, mediante apoio e
suporte técnico da Sema;

• a governança como estratégia essencial para a construção de


uma estrutura capaz de operacionalizar programas e projetos de
PSA, com ênfase para a atuação da Unidade Gestora do Projeto
e a identificação de potenciais parceiros visando fortalecer os
arranjos institucionais;

• diagnóstico socioambiental da área de abrangência do projeto,


destacando a situação do uso e ocupação do solo e da cobertura
florestal, considerando a microbacia hidrográfica como unidade
de planejamento e gestão para projetos de PSA hídrico;

• estratégias de valoração econômica para reconhecimento e in-


centivo aos serviços ambientais providos, incluindo o custo de
oportunidade da terra, a metodologia aplicada para o cálculo
da valoração ambiental e a tábua para bonificação dos atributos
físico-ambientais e socioeconômicos das propriedades rurais be-
neficiadas pelo projeto;

• atuação da gestão integrada da propriedade rural com vistas à


provisão de serviços ambientais hídricos, enfatizando na restaura-
ção e/ou conservação das APPs; na conservação de remanescen-
tes de vegetação nativa; na produção agropecuária de bases sus-
tentáveis; no saneamento rural e no combate à poluição difusa;
na adequação de estradas e no controle de processos erosivos;

• o monitoramento e a verificação dos resultados como aspectos


condicionados aos projetos de PSA hídrico, haja vista a necessi-
dade periódica de avaliar os efetivos retornos aos investimentos e
a efetividade das estratégias adotadas para provisão dos serviços Bahia anál. dados,

ambientais;
Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
95
Projeto guardiões das águas como contribuinte para inserção do Pagamento por Serviços Ambientais em mananciais de
Artigos abastecimento de água na Região Metropolitana de Salvador (BA)

• os aspectos econômicos e financeiros a serem considerados para


atração de investidores e formação de fundos, considerando-se
a inserção do projeto em uma região onde existem importan-
tes centros industriais com empresas utilizadoras dos recursos
hídricos.

Como componentes dessa meta e integrantes do Plano Regional de


PSA, obtidos durante o período de sua execução, registram-se os se-
guintes produtos:

• Construção de políticas municipais de PSA na RMS: mediante


capacitação junto aos gestores e técnicos ambientais das secreta-
rias municipais de meio ambiente de municípios que integra a Re-
gião Metropolitana de Salvador, incluindo a área de abrangência
do Projeto Guardiões das Águas, culminando com a elaboração
de 12 minutas de lei municipais de PSA contendo princípios, ob-
jetivos, diretrizes, criação de programas e fundos municipais com
adequação às respectivas realidades locais (ORGANIZAÇÃO DE
CONSERVAÇÃO DA TERRA, 2022b, p. 15, 19);

• Governança: acompanhamento das reuniões da UGP, com a


apresentação das ações propostas e desenvolvidas no projeto e
identificação de potenciais instituições a serem envolvidas para
compor o arranjo institucional e de governança do Plano Regional
de PSA Hídrico, a exemplo do Comitê de Fomento Industrial de
Camaçari (Cofic), da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR),
da Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão
Rural (Bahiater), da Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia
(Sefaz) e de empresas privadas utilizadoras de recursos hídricos
(ORGANIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DA TERRA, 2022b, p. 35);

• Diagnóstico ambiental da área de abrangência do Plano Re-


gional de PSA: levantamento de microbacias hidrográficas en-
quadradas em 23 Unidades de Paisagem, seguido de análise do
uso e ocupação da terra com predomínio do cultivo de pastagem
(48%), da cobertura florestal (23%), da agricultura (17%), da área
urbanizada (8%) e da área alagada (4%); além dos 18.303 hectares
de APP hídrica para os rios Joanes e Jacuípe, no entorno de nas-
centes, rios e barramentos (ORGANIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO
DA TERRA, 2022b, p. 38, 39);

• Valoração econômica: estudo para a obtenção do custo de opor-


tunidade da terra no meio rural para a região do Projeto Guardi-
ões das Águas, construído a partir da parceria técnico-científica
Bahia anál. dados, entre a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e a Orga-
96 Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022 nização de Conservação de Terras do Baixo Sul da Bahia (OCT),
Geneci Braz de Sousa, Jaido Santos Pereira Artigos

com o custo por hectare estimado para todos os estabelecimen-


tos agropecuários da região (com todos os tamanhos de área to-
tal) correspondente a R$ 528,09 (quinhentos e vinte e oito reais e
nove centavos) (ORGANIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DA TERRA,
2022b, p. 43, 47);

• Tábua de valoração ambiental adaptada ao Plano Regional de


PSA Hídrico: a partir do custo de oportunidade, o cálculo do va-
lor a ser pago para cada hectare destinado ao projeto considera
os aspectos naturais e de manejo em toda a área da proprieda-
de, e não apenas as áreas naturais, organizados e avaliados por
meio de uma tábua de valoração, a partir de pesos e notas das
variáveis: 1) qualidade hídrica, 2) qualidade das áreas destinadas
à conservação e 3) qualidade da produção agrícola e gestão da
propriedade rural. Considerando-se a extensão das bacias hidro-
gráficas, recomenda-se ainda que sejam adotadas, para avaliação
e caracterização das áreas provedoras de serviços ambientais,
informações relacionadas aos componentes: 1) o estado de con-
servação das áreas naturais preservadas e das áreas mais ame-
açadas; 2) o estado de conservação dos recursos hídricos; 3) as
principais práticas de produção agrícola; 4) a sustentabilidade
da gestão da propriedade rural (ORGANIZAÇÃO DE CONSERVA-
ÇÃO DA TERRA, 2022b, p. 50);

• Indicativo de boas práticas ambientais e produtivas: como es-


tratégias de apoio às propriedades rurais foram elaborados mo-
delos de dois Projetos Integrados da Propriedade (PIP) – Fazen-
da Santa Maria, em Camaçari, e Alto de Santa Helena, em Dias
D’Ávila –, com a proposta do roteiro metodológico para servir de
guia para a elaboração de outros PIPs na região de abrangência
do Plano Regional de PSA, conforme Figura 5.

Os PIPs são obtidos a partir da aplicação de geotecnologias para a


construção dos mapas de uso da terra atual e o planejamento futuro
do imóvel, como indicativo das modalidades de PSA a serem aplicadas
na propriedade rural (ORGANIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DA TERRA,
2022b, p. 57).

Bahia anál. dados,


Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
97
Projeto guardiões das águas como contribuinte para inserção do Pagamento por Serviços Ambientais em mananciais de
Artigos abastecimento de água na Região Metropolitana de Salvador (BA)

Figura 5
Mapa das modalidades propostas de PSA para o Sítio São Francisco, Alto de Santa Helena – Dias d’Ávila, Bahia

Fonte: Organização de Conservação da Terra (2022c).

Mesmo não havendo um fundo para investimentos em projetos na re-


gião, duas empresas utilizadoras de recursos hídricos instaladas na área
de abrangência do Projeto Guardiões das Águas, por meio de investi-
mento social privado, apoiaram a execução das obras de adequação
do saneamento rural para combate à poluição difusa, com instalação
de fossas sépticas em duas comunidades, beneficiando 62 famílias
(ORGANIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DA TERRA, 2022b, p. 91).

Dando prosseguimento às ações do Projeto, estarão sendo realizadas,


junto às prefeituras municipais e câmaras de vereadores, mobilização
no sentido de sensibilizar o Poder Executivo para a aprovação da Minuta
de Lei do PSA, com vistas à iniciar a implementação do Plano Regional
de PSA Hídrico.

AVALIAÇÃO CRÍTICA E RECOMENDAÇÕES

Não há dúvidas de que a execução do Projeto Guardiões das Águas


nos rios Joanes e Jacuípe tem contribuído de forma significativa para
Bahia anál. dados, oferecer a essa região hidrográfica novos conhecimentos, concei-
98 Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022 tos, abordagens diferenciadas, experiências e práticas até então não
Geneci Braz de Sousa, Jaido Santos Pereira Artigos

vivenciadas. O projeto viabilizou a integração dos atores locais, o Destaca-se


diagnóstico situacional dos aspectos socioambientais da região e, de que o Projeto
forma inovadora, a introdução do mecanismo de PSA com visas à di- Guardiões das
fusão e à implantação dessa política pública nos municípios de abran- Águas não
gência, com o propósito de ampliar a produção hídrica e melhorar as é específico
condições ambientais. à política de
PSA, traz como
Destaca-se que o Projeto Guardiões das Águas não é específico à polí-
propósito
tica de PSA, traz como propósito promover a recuperação da vegeta-
promover a
ção nativa no entorno de nascentes e áreas marginais dos rios Jacuípe
e Joanes, incorporando, em uma de suas etapas, a elaboração de um recuperação
Plano Regional de PSA. da vegetação
nativa no
Destarte, considerando-se a execução das metas propostas pelo Edital entorno de
01/2015 do FNMA no âmbito do Projeto Guardiões das Águas, alguns nascentes e
pontos podem ser evidenciados: áreas marginais
dos rios Jacuípe
• referido edital não contemplou recursos para o monitoramento e Joanes,
hidrometeorológico das nascentes localizadas em áreas reflores- incorporando,
tadas e áreas ripárias dos corpos hídricos; em uma de
suas etapas,
• na fase inicial do projeto registrou-se a desistência de alguns pro-
a elaboração
prietários rurais de pequenas áreas, por entenderem que a recu-
de um Plano
peração ambiental iria afetar a criação de animais, atividade esta
Regional de PSA
contribuinte para sua fonte de renda;

• desconhecimento do mecanismo de PSA e do Projeto Guardiões


das Águas por parte do Poder Executivo de alguns munícipios e
de técnicos que atuam na área ambiental;

• alguns prefeitos acreditavam que os recursos destinados ao finan-


ciamento do PSA teriam origem no orçamento dos municípios;

• frequentes alterações no corpo técnico das prefeituras que par-


ticiparam do projeto;

• precariedade nos serviços de assistência técnica e extensão rural


na região objeto do Projeto, que poderia atuar junto aos agri-
cultores beneficiados com orientações técnicas, fortalecendo a
realização de boas práticas ambientais na propriedade.

Ainda nesse aspecto, para contribuir com a efetivação do mecanismo


de PSA em mananciais que atendem demandas de abastecimento da
capital baiana e sua região metropolitana, tomadas de decisões visan-
do encaminhamentos futuros são consideradas essenciais, dentre as Bahia anál. dados,

quais destacam-se:
Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
99
Projeto guardiões das águas como contribuinte para inserção do Pagamento por Serviços Ambientais em mananciais de
Artigos abastecimento de água na Região Metropolitana de Salvador (BA)

• a regulamentação da Política Estadual de PSA (Lei n.º 13.223/2015),


que proporcionará uma maior segurança jurídica às iniciativas,
além de fortalecer e orientar o processo de implementação do
mecanismo de PSA nos municipios (BAHIA, 2015);

• a aprovação das leis de PSA nos municípios da área de influência


das bacias hidrográficas Joanes e Jacuípe;

• o lançamento de editais pelo Executivo do estado da Bahia, de


apoio a projetos de PSA, de forma a incentivar a construção de
políticas públicas locais e fortalecer as existentes mediante a apli-
cabilidade do mecanismo;

• a implantação da cobrança pelo uso dos recursos hídricos nas


bacias hidrográficas dos rios Joanes e Jacuípe e a utilização de
parte dos recursos arrecadados para apoiar projetos de PSA;

• os esforços para ampliar o leque de instituições parceiras;

• a continuidade do apoio financeiro proveniente da concessionária


de águas e saneamento do estado da Bahia;

• a atração, mediante o Plano Regional de PSA, de investidores


para suporte financeiro (empresas inseridas na RMS e usuárias de
recursos hídricos das bacias Joanes e Jacuípe) e;

• o fomento à formação de uma instância de gestão técnica para


dar continuidade às ações do Projeto Guardiões das Águas, nota-
damente para a aplicabilidade do Plano Regional de PSA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por serem caracterizadas como mananciais de abastecimento de água


para uso urbano ou industrial; por contarem com instrumentos de ges-
tão previstos na Lei n.º 9.443 (BRASIL, 1997); por apresentarem proble-
mas de poluição difusa de origem rural, erosão e déficit de cobertura
vegetal em áreas legalmente protegidas, e por disporem de um número
mínimo de produtores rurais interessados, as bacias hidrográficas dos
rios Joanes e Jacuípe reúnem as condições necessárias de elegibilidade
para projetos de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), incluindo
aqueles estabelecidos pelo Programa Produtor de Água, da Agência
Nacional de Águas (ANA).

Bahia anál. dados, O Plano Regional de PSA, na modalidade de incentivo à produção de


100 Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022 serviços ambientais hídricos, fortalece a aplicação dos mecanismos de
Geneci Braz de Sousa, Jaido Santos Pereira Artigos

PSA e orienta o planejamento com vistas ao fomento do instrumento Os resultados


numa escala mais ampliada. obtidos com
a execução
Os resultados obtidos com a execução do Projeto Guardiões das Águas, do Projeto
envolvendo ações prioritárias de recuperação ambiental, indicam que os Guardiões
mecanismos de PSA podem contribuir para ampliar a segurança hídrica das Águas,
no que se refere ao abastecimento de água da Região Metropolitana de
envolvendo
Salvador (RMS). Entende-se que as bacias dos rios Joanes e Jacuípe,
ações
submetidas a situações críticas de antropização ao longo dos anos, são
prioritárias de
fundamentais ao atendimento das demandas de abastecimento de água
para a capital baiana e cidades metropolitanas. Ressalta-se ainda que, recuperação
diante da pluralidade de temáticas e interfaces requeridas para a apli- ambiental,
cabilidade das políticas públicas de PSA, o Projeto Guardiões das Águas indicam que os
apresenta-se como um campo vasto de possibilidades para a atração mecanismos
de pesquisadores, universidades, instituições públicas e outros agentes de PSA podem
interessados pela temática, incluindo as possibilidades de replicação em contribuir
outras bacias hidrográficas que contemplam mananciais destinados ao para ampliar
abastecimento público. a segurança
hídrica no que
se refere ao
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Bahia anál. dados,


Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
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102 Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
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Bahia anál. dados,


106 Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
Resumo
A emergência das questões ambientais em nível global impulsionou estra-
tégias para mitigar as degradações antrópicas e promover o fornecimento
dos serviços ambientais, dentre elas a difusão de um instrumento econômi-
co conhecido como Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Na Bahia, o
município de Ibirapitanga, situado na região do Baixo Sul, foi o pioneiro na
adoção desse instrumento, a partir da aprovação da Lei Municipal de PSA em
2014. Nesse contexto, este artigo relata a experiência, evidenciando avanços
e desafios para a consolidação e a expansão do PSA na Bahia. A metodologia
utilizada baseia-se em pesquisa bibliográfica e documental, além de coleta
e análise de dados, obtidos a partir da plataforma Terrabrasilis, relativos às
áreas desmatadas entre os anos de 2015 e 2021. Os resultados apontam que,
após quatro anos da implementação dessa política, o PSA soma 20 ha de
pastos degradados em recuperação, 30 ha de restauração florestal em Área
de Proteção Permanente (APP) de rio e 1.225 ha de florestas conservadas por
práticas vegetativas. Os incentivos financeiros para a promoção das práticas
sustentáveis foram possíveis em função do arranjo institucional da parceria
público-privada. Apesar dos avanços, há desafios a serem superados, como o
fortalecimento do arranjo institucional, adoção de mecanismos para atrair in-
vestidores privados, ampliação da equipe técnica do programa e dos serviços
de assistência e monitoramento dos resultados. O pioneirismo e a implemen-
tação bem-sucedida do projeto Produtor de Água de Ibirapitanga fazem do
município um modelo indutor do PSA no estado da Bahia.
Palavras-chave: PSA hídrico; Mata Atlântica; sustentabilidade; incentivo
econômico.

Abstract
The emergence of environmental issues on a global level has driven strategies
to mitigate anthropic degradation and promote the provision of environmental
services; among them is the diffusion of the economic instrument known
as Payment for Environmental Services (PES). In Bahia, the municipality of
Ibirapitanga, located in the Baixo Sul region, was the pioneer in adopting
the instrument, with the approval of the Municipal Law of PES in 2014. In
this context, this article reports on this experience, highlighting advances
and challenges for the consolidation and expansion of PES in Bahia. The
methodology used was based on bibliographic and documentary research,
besides the collection and analysis of data obtained from the Terrabrasilis
platform, related to deforested areas in the period between the years 2015 and
2021. The results show that four years after the implementation of the policy,
the PES adds up to 20 ha of degraded pastures under recovery and 30 ha
of forest restoration in permanent protection area (APP) of a river, and 1,225
ha of forests conserved by vegetative practices. The financial incentives for
the promotion of sustainable practices were possible due to the institutional
arrangement of the public-private partnership. Despite the advances, there
are challenges to be overcome, such as the strengthening of the institutional
arrangement, adoption of mechanisms to attract private investors, expansion
of the program’s technical team, and expansion of technical assistance services
and monitoring of results. The pioneering and successful implementation of
the Ibirapitanga Water Producer Program makes the municipality an inductive
model of PES in the state of Bahia.
Keywords: hydric PES; Mata Atlântica; sustainability; economic incentive.
Artigos

Pagamento por Serviços


Ambientais: a experiência
pioneira na Bahia do
Programa Produtor de
Água de Ibirapitanga1
N A R J A R A P R AT E S G O N Ç A LV E S AS DISCUSSÕES em torno dos impactos
Especialista em Cidades Inteligentes e
Sustentáveis pela Universidade Nove ambientais estão cada vez mais presentes
de Julho (Uninove), mestranda em
Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente no cotidiano social. Os desequilíbrios
pela Universidade Estadual de Santa Cruz
climáticos, o esgotamento do uso da terra,
(UESC) e bacharel em Engenharia Ambiental
pela Universidade Estadual do Sudoeste da a poluição da água, as altas emissões de
Bahia (UESB). npgoncalves@uesc.br

ISR AEL PEDRO DIA S RIBEIRO


carbono, o desmatamento, os incêndios
Especialista em Direito Público pela Pontifícia e a degradação geral da biodiversidade
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC
Minas), mestrando em Desenvolvimento resultam em uma série de danos
Regional e Meio Ambiente pela Universidade
Estadual de Santa Cruz (UESC) e bacharel irreversíveis aos meios de subsistência
em Direito pela Universidade do Estado da
Bahia (Uneb). ipdribeiro@uesc.br
individuais e coletivos (COSTA; COSTA,
N AY R A R O S A CO E L H O 2022). Diante desse cenário, é necessário
Doutora e mestra em Desenvolvimento e que a gestão dos recursos hídricos
Meio Ambiente pela Universidade Estadual
de Santa Cruz (UESC), especialista em contemple aspectos sociais, econômicos
Análise Ambiental pela Universidade
Federal de Juiz de Fora (UFJF) e licenciada e ambientais para o fortalecimento de
em Ciências Biológicas pela Universidade
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri novas estratégias de controle que possam
(UFVJM). nayracoelho@hotmail.com
contribuir para a manutenção e uso eficiente
A N D R É A DA S I LVA G O M E S
Doutora em Desenvolvimento Rural pelo
dos ecossistemas naturais (OLIVEIRA;
Instituto Nacional Agronômico Pais-Grignon NOGUEIRA, 2021).1
(INA-PG, França) e mestra em Economia
pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Professora Plena/Titular do Departamento
de Ciências Econômicas da Universidade
Estadual de Santa Cruz. Programa de 1 Os autores agradecem à Prefeitura Municipal de Ibirapi-
Pós-Graduação em Desenvolvimento tanga, em especial ao engenheiro ambiental Iago Oliveira,
Regional e Meio Ambiente. asgomes@uesc.br técnico da Secretaria Municipal de Agricultura, Turismo,
Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente (Satuderma), pela
MÔNIC A DE MOUR A PIRES
disponibilização de dados e informações sobre o PSA do
Doutora e mestra em Economia Rural pela município, permitindo assim registrar e disseminar uma
Universidade Federal de Viçosa (UFV). experiência exitosa implementada no estado da Bahia.
Professora Plena/Titular do Departamento
de Ciências Econômicas da Universidade
Estadual de Santa Cruz. Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Regional e
Bahia anál. dados,
Meio Ambiente. mpires@uesc.br Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022
109
doi.org/10.56839/bd.v32i2.a5
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: a experiência pioneira na Bahia do Programa Produtor de Água de Ibirapitanga

O instrumento No Brasil, nas últimas décadas, mecanismos baseados no princípio


do PSA poluidor-pagador, de punição dos responsáveis pela degradação am-
destaca-se como biental, estão sendo substituídos ou complementados por instrumentos
uma forma de incentivo econômico ou financeiro fundamentados no princípio do
complementar protetor-recebedor (FERRAZ et al., 2019). Os instrumentos econômi-
cos têm sido utilizados para fomentar a proteção e a restauração dos
aos
ecossistemas, atuando estrategicamente na garantia da provisão de re-
instrumentos
cursos hídricos, a exemplo do denominado Pagamento por Serviços
de comando e
Ambientais (PSA) (GIORDANI; LAPCHENSKI, 2022).
controle, sendo
uma nova Conceitualmente, os serviços ambientais referem-se às atividades hu-
abordagem em manas que contribuem para a manutenção e a promoção dos servi-
complemento ços ecossistêmicos, e os serviços ecossistêmicos referem-se aos bene-
às estratégias fícios gerados pelos ecossistemas naturais sem interferência humana
de minimização (MURADIAN et al., 2010; VINHOLIS et al., 2021).
dos impactos
ambientais Assim, o PSA caracteriza-se como uma transação voluntária de um ser-
viço ambiental ou de uso da terra que possa assegurar a existência
desse tipo de serviço, entre partes, por, ao menos, um comprador e, no
mínimo, um provedor, condicionando este à garantia da provisão desse
serviço, com base nos conceitos da economia ambiental neoclássica
(WUNDER, 2005).

As variadas modalidades de PSA abordam o mecanismo financeiro em


instrumentos jurídicos que tratam de temáticas relacionadas aos recur-
sos hídricos, à gestão de Unidades de Conservação (UC), à proteção, à
conservação e ao manejo de florestas nativas, e às mudanças climáticas
(REIS; SILVA, 2019). Essas modalidades baseiam-se no princípio do pro-
vedor-recebedor presente na Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Lei
n.º 12.651/2012) e, mais recentemente, na Política Nacional de Pagamento
por Serviços Ambientais (Lei n.º 14.119/2021) (BRASIL, 2012, 2021).

O instrumento do PSA destaca-se como uma forma complementar aos


instrumentos de comando e controle, sendo uma nova abordagem em
complemento às estratégias de minimização dos impactos ambientais
(NISHIZIMA; HILÁRIO, 2019). Dessa forma, o PSA se constitui em uma
ferramenta para estimular pessoas à promoção de ações que beneficiem
o meio ambiente, seja pela renúncia com fins de conservação e preser-
vação ou pelo manejo da terra de forma ambientalmente amigável.

À medida que o conceito de PSA foi difundindo-se globalmente, muitos


programas se adaptaram aos contextos institucionais e socioambientais
locais ou regionais, resultando em diferentes formas de implementação
do conceito (WUNDER et al., 2018). A Forest Trends, organização sem
Bahia anál. dados, fins lucrativos que reúne dados e análises sobre mercados e pagamen-
110 Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022 tos por serviços ambientais, até o ano de 2015 identificou 419 projetos
Narjara Prates Gonçalves, Israel Pedro Dias Ribeiro, Nayra Rosa Coelho, Andréa da Silva Gomes, Mônica de Moura Pires Artigos

no mundo destinados a pagar por serviços ambientais relacionados à No Brasil, foram


conservação de bacias hidrográficas. Até 2018 foram levantados mais identificados,
de 550 programas de PSA ativos no mundo (SALZMAN et al., 2018). A até 2019, 316
partir de seu programa chamado Watershed Connect, aponta que exis- programas de
tem cerca de 62 países com leis e políticas de PSA instituídas (BENNETT; PSA
RUEF, 2016), com ênfase para os programas de proteção florestal da
Costa Rica e do México e políticas públicas dos EUA e da União Europeia
(BÖRNER et al., 2017; SANTOS; VIVAN, 2012).

No Brasil, foram identificados, até 2019, 316 programas de PSA


(FOREST TREND, 2019 apud JODAS, 2021). Com a Lei Federal n.º
14.119, sancionada em janeiro de 2021, foi instituída a Política Nacional
de Pagamento por Serviços Ambientais (PNPSA) (BRASIL, 2021). No
entanto, iniciativas de PSA hídrico no país existem desde 2005, a exem-
plo do projeto Conservador das Águas, no município de Extrema (MG),
reconhecido como iniciativa piloto do Programa Produtor de Água, da
Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Desde en-
tão, houve uma demanda crescente em conhecer e replicar o projeto
em diversos municípios brasileiros, demonstrando a necessidade de se
expandir o uso do instrumento de PSA enquanto modelo inovador de
desenvolvimento socioambiental (ANJOS et al., 2022; CONSERVADOR
DA MANTIQUEIRA, 2017).

Com a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais, passou


a estimular oportunidades e delinear diretrizes para a expansão de ini-
ciativas em níveis estadual e municipal (COELHO et al., 2021). Na Bahia,
a Política Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e o
Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais (PEPSA)
foram criados por meio da Lei Estadual n.º 13.223, de 12 de janeiro de
2015 (BAHIA, 2015). No entanto, iniciativas locais de PSA já desponta-
vam e construíam seus primeiros aprendizados em 2012, com destaque
para a experiência do projeto “Produtor de Água Pratigi, na Área de
Proteção Ambiental (APA) do Pratigi, no Baixo Sul da Bahia, que conta
com o apoio de uma Organização da Sociedade Civil atuante na região,
a Organização de Conservação da Terra (OCT) (2022)2.

Precursor da política baiana de PSA, em 2014, o município de Ibirapitanga


sancionou a Lei n.º 864 que instituiu a Política Municipal de Pagamento
por Serviços Ambientais (PMPSA), criando o Programa Municipal de
Pagamento por Serviços Ambientais (Prompsa) e o Fundo Municipal

2 A Organização de Conservação da Terra (OCT), uma Organização da Sociedade Civil, fundada


em 2001, atua na Área de Proteção Ambiental (APA) do Pratigi, diretamente nas ações munici-
pais voltadas à preservação de fragmentos da Mata Atlântica e à recuperação de áreas degra-
dadas, através da criação de incentivos financeiros e da adoção de práticas produtivas de
Bahia anál. dados,
baixo impacto, para valoração de serviços ambientais (ORGANIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DA
TERRA, 2015).
Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022
111
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: a experiência pioneira na Bahia do Programa Produtor de Água de Ibirapitanga

A fim de de Pagamento por Serviços Ambientais (FMPSA), tornando-se o pri-


constatar as meiro município baiano a ter uma política de PSA envolvendo parceria
mudanças público-privada (IBIRAPITANGA, 2014). Assim, Ibirapitanga tornou-se
decorrentes referência no estado pelo pioneirismo e o sucesso na aplicação desse
do PSA na instrumento, sendo utilizada como benchmarking para replicação em
outros municípios baianos.
paisagem do
município de
Nesse contexto, este trabalho tem como objetivo apresentar a experi-
Ibirapitanga,
ência de Ibirapitanga, a fim de discutir os ganhos sociais, econômicos e
realizaram- ambientais e os desafios da aplicação do instrumento de PSA, servindo
-se coleta e também como estudo de caso para orientar outras iniciativas na Bahia
análise de e no Brasil.
dados relativos
às áreas
desmatadas PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE
no período
compreendido Neste estudo, os procedimentos de análise basearam-se em pesquisa
entre os anos bibliográfica e pesquisa documental.
2015 e 2021
A pesquisa bibliográfica baseou-se na busca por palavras-chave em ba-
ses de dados do Google Acadêmico, portal Periódicos, da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Biblioteca
Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), Scientific Electronic
Library Online (SciELO) Brasil, artigos científicos, dissertações, teses,
e-books e em demais publicações que pudessem contribuir com os con-
ceitos, o desenvolvimento e os referenciais do presente trabalho. As pa-
lavras-chave utilizadas foram: 1) pagamento por serviços ambientais; 2)
serviços ecossistêmicos; 3) serviços ambientais e 4) programa produtor
de água. Os trabalhos encontrados foram selecionados de acordo com
a aderência ao tema proposto e as questões suscitadas nesta pesquisa.

Em seguida, realizou-se o levantamento de documentos públicos, como


editais de chamada pública, legislações e relatórios gerenciais disponi-
bilizados pela Secretaria de Agricultura, Turismo Desenvolvimento Rural
e Meio Ambiente (Satuderma) da Prefeitura Municipal de Ibirapitanga.

A fim de constatar as mudanças decorrentes do PSA na paisagem do


município de Ibirapitanga, realizaram-se coleta e análise de dados re-
lativos às áreas desmatadas no período compreendido entre os anos
2015 e 2021, obtidos por meio da plataforma Terrabrasilis. Essa plata-
forma organiza, de forma didática, os dados dos programas de monito-
ramento ambiental do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
(2023). Para o levantamento desses dados, foram usados os resultados
do Dashboard de Desmatamento, com as taxas anuais de incremento
Bahia anál. dados, de desmatamentos na Mata Atlântica, especificamente para o recorte
112 Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022 do município de Ibirapitanga.
Narjara Prates Gonçalves, Israel Pedro Dias Ribeiro, Nayra Rosa Coelho, Andréa da Silva Gomes, Mônica de Moura Pires Artigos

A HISTÓRIA DO PSA EM IBIRAPITANGA

Situado no Baixo Sul da Bahia, a 508,2 km da capital Salvador, o muni-


cípio de Ibirapitanga possui população estimada de 23.433 habitantes,
em que mais de 70% da população reside na zona rural (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2022). O município está
inserido parcialmente na Área de Proteção Ambiental do Pratigi (APA
do Pratigi) de aproximadamente 170.900 ha (Figura 1), instituída em
2 de abril de 1998, através do Decreto n.° 7.272 (ORGANIZAÇÃO DE
CONSERVAÇÃO DA TERRA, 2015).

Figura 1
Mapa de localização do município de Ibirapitanga, no estado da Bahia, e sua inserção na APA do Pratigi

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2022).


Elaboração própria.

A APA do Pratigi possui uma diversidade de espécies da fauna e flo-


ra das regiões litorâneas, formando expressivo conjunto de ecossiste-
mas associados da Mata Atlântica, de importante valor ambiental. Essa
grande diversidade de espécies contrasta com a alta pressão antró-
pica, o que justifica a inserção dessa região entre as áreas de maior Bahia anál. dados,
Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022
113
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: a experiência pioneira na Bahia do Programa Produtor de Água de Ibirapitanga

A história prioridade para a conservação da biodiversidade (LOPES; MOREAU;


do PSA no MORAIS, 2011).
município de
Ibirapitanga Geologicamente, a região é formada por rochas muito antigas, que in-
está relacionada fluenciam tanto na sua geomorfologia como na hidrografia. Apresenta
também algumas porções preservadas com remanescentes da Mata
à necessidade
Atlântica, além de uma rica hidrografia, que abrange toda a sub-bacia
de proteção
do Rio Juliana e algumas nascentes dos rios Oricó e dos Peixes, utiliza-
ambiental da
dos para o abastecimento da população local (BRASIL, 2004a).
APA, a qual tem
nas ações da O Rio Oricó faz parte da Sub-bacia do Rio Oricó (SBRO), estendendo-se
Organização de por uma área de 14.973,37 ha e 78 km de extensão, sendo o maior corpo
Conservação hídrico dessa sub-bacia, conforme Moreira (2018). Nos limites do muni-
da Terra cípio de Ibirapitanga, o Rio Oricó é formado por 22 afluentes, com área
(OCT) parceria de drenagem pela bacia hidrográfica de 41.532,74 ha, o que correspon-
importante de a 85% da extensão territorial do município. A SBRO é composta por
para a imple- nove microbacias: Rio Buris, Rio do Meio e Gatos, Rio Jacuba, Rio Médio
mentação de Oricó, Rio Pardo, Rio Santo, Rio Baixo Oricó, Rio Tanque e Rio Revés
tal política na (PROGRAMA MATA ATLÂNTICA DA BAHIA, 2021).
região
A base agrícola do município é de cultivos tradicionais como cacau,
banana, borracha, milho e feijão, e do segmento da pecuária, a cria-
ção de bovinos e suínos (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA, 2022; ORGANIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DA TERRA,
2022), predominantemente oriunda da agricultura familiar, num ambien-
te de Mata Atlântica.

A história do PSA no município de Ibirapitanga está relacionada à ne-


cessidade de proteção ambiental da APA, a qual tem nas ações da
Organização de Conservação da Terra (OCT) parceria importante para
a implementação de tal política na região. A APA abriga fragmentos flo-
restais e manguezais característicos do ecossistema da Mata Atlântica
dessa sub-região, áreas remanescentes da floresta ombrófila densa
adjacente em estágio avançado de regeneração e complexo hídrico
que contribuem para todo o sistema hidrográfico da microrregional
(BRASIL, 2004b). Nesse território, a OCT atua há mais de dez anos,
com ações de conservação e restauração dos recursos ambientais
(MATOS et al., 2021).

Nesse contexto, em março de 2012, a OCT iniciou um projeto pilo-


to de implementação de Sistemas Agroflorestais (SAF) em unida-
des de agricultores familiares com apoio financeiro da Companhia de
Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), tendo como foco a inclusão
socioprodutiva, a qualidade de vida e a sustentabilidade. O projeto visa-
Bahia anál. dados, va à promoção de uma economia de baixo impacto na APA do Pratigi,
114 Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022 com estratégias para a implantação de SAFs, o incentivo a práticas
Narjara Prates Gonçalves, Israel Pedro Dias Ribeiro, Nayra Rosa Coelho, Andréa da Silva Gomes, Mônica de Moura Pires Artigos

agrícolas sustentáveis, além da valorização dos ativos naturais existen- As ações


tes na região e da manutenção dos serviços ambientais agregados à estimularam
geração de trabalho e renda (MATOS et al., 2021). os produtores
locais a
As ações estimularam os produtores locais a adotarem melhores práti- adotarem
cas de proteção e conservação da água e do solo, com vistas à provi- melhores
são de serviços ambientais. Tais objetivos foram alcançados por meio
práticas de
da adequação ambiental relacionada à adoção de práticas agrícolas
proteção e
sustentáveis, demonstrando a importância do uso da água no dia a dia.
conservação
Os agricultores familiares que participaram do projeto receberam in-
centivos financeiros e apoio técnico para adotar as práticas propostas da água e do
de proteção ambiental e produtiva, baseadas em um planejamento in- solo, com vistas
tegrado do patrimônio rural, por meio do mapeamento participativo à provisão
(ORGANIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DA TERRA, 2015). Assim, o pri- de serviços
meiro projeto piloto de PSA do estado da Bahia foi implementado em ambientais
formato privado-privado.

Em 2013, a OCT estabeleceu uma cooperação técnica com a Agência


Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e a Fundação Grupo
Boticário para a Conservação da Natureza (FGBPN), parcerias que pos-
sibilitaram adequar o projeto às necessidades locais, dado o conheci-
mento e a experiência dessas instituições. Assim, em 2014 foi instituído
o projeto Produtor de Água Pratigi, primeira iniciativa de PSA da Bahia,
a partir de uma parceria público-privada, associada a uma política pú-
blica por meio da Lei Municipal n.º 864 (IBIRAPITANGA, 2014).

O projeto Produtor de Água Pratigi – Ibirapitanga (PAP) foi uma ação do


Programa Municipal de Pagamento por Serviços Ambientais (PMPSA),
executada pela Prefeitura Municipal de Ibirapitanga, por intermédio
da Secretaria de Agricultura, Turismo, Desenvolvimento Rural e Meio
Ambiente (Satuderma). Assim, com a criação da Lei Municipal n.º 864,
em outubro de 2014, estabeleceram-se as normas para estimular a
conservação de áreas naturais e sua biodiversidade, a produção de água,
o incremento de renda de proprietários de imóveis rurais e a geração
de serviços ambientais. Em 2015, foi criado o Comitê Gestor do Projeto
(CGP), por meio do Decreto municipal n.º 036, do Programa Municipal
de Pagamentos por Serviços Ambientais (PMPSA) de Ibirapitanga, com
o objetivo de contribuir com a execução do projeto e deliberar sobre as
ações do PMPSA (IBIRAPITANGA, 2014, 2015a).

O PAP é uma política de incentivo aos produtores rurais na adoção de


boas práticas de proteção e conservação da água e do solo, buscando
promover a geração de serviços ambientais. Para tanto, são realizadas
atividades que proporcionem melhoria na qualidade das áreas naturais e
da biodiversidade, do saneamento ambiental e pela adequação ambien- Bahia anál. dados,

tal atrelada (ORGANIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DA TERRA, 2016b).


Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022
115
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: a experiência pioneira na Bahia do Programa Produtor de Água de Ibirapitanga

Assim, foram estabelecidas áreas prioritárias para conservação e ma-


nutenção de corpos d’água, seguindo o critério das propriedades rurais
com maior densidade na rede de drenagem, considerando a quantida-
de de nascentes e o comprimento dos corpos hídricos. A restauração
da vegetação nativa nessas áreas, de acordo com a legislação vigente,
vincula a produção agrícola à vegetação nativa por meio da adoção de
sistemas agroflorestais (MOREIRA, 2018).

O financiamento do Programa é de caráter público, cabendo à prefeitura


local a gestão conjuntamente com a OCT e o pagamento aos proprietários
participantes com o suporte do fundo conhecido como Bolsa Verde, con-
forme disposto na Portaria Municipal 030/2015 (IBIRAPITANGA, 2015).

O primeiro Edital de PSA Hídrico n.º 01/2015 lançou chamada públi-


ca para a seleção de propriedades rurais para o projeto Produtor de
Água Pratigi – Ibirapitanga. No edital estavam previstas ações para
um período de 36 meses, inaugurando a primeira fase do Programa
(IBIRAPITANGA, 2015b). Essa primeira fase contemplou a Sub-bacia do
Rio Oricó com uma área aproximada de quase 93 mil ha, cujo arranjo
topográfico e espacial abrange cerca de 1.576 nascentes e 4.133 km
de drenagem, considerando córregos, riachos e rios distribuídos nove
microbacias integrantes (MOREIRA, 2018; SOUSA 2021). Dessas nove
microbacias, o Programa abrangeu inicialmente quatro, pela maior den-
sidade de drenagem, e conjuntamente contemplou um total de 1.006
nascentes: Rio Buris, Rio do Meio e Gatos, Rio Jacuba e Rio Médio
Oricó (Tabela 1).

Tabela 1
Número de nascentes e extensão dos rios por microbacias do Programa Municipal de Pagamento por Serviços
Ambientais – Ibirapitanga, Bahia – 2019

N.º de Rede de
N° Microbacia nascentes drenagem Rios/Riachos
(km)
1 Rio Buris 347 896 Rio Buris; Riacho Dantas e Riacho da Papuã
2 Rio do Meio e Gatos 212 519 Rio do Meio e Rio dos Gatos
3 Rio Jacuba 226 573 Riacho Pitiã; Riacho do Jacarandá e Rio Jacuba
Rio Oricó Grande; Riacho Palmeira e Riacho do
4 Rio Médio Oricó 221 743
Oricozinho
5 Rio Pardo 192 353 Rio Pardo e Rio Cajazeiras
6 Rio Santo 80 196 Rio Santo
7 Rio Baixo Oricó 132 463 Rio Acarás e Rio Oricó Grande
8 Rio Tanque 132 344 Rio Tanque e Riacho da Serra de Areia
Rio Revés; Rio Cachoeira do Pau; Riacho da Água
9 Rio Revés 34 45
Vermelha e Riacho do Marimbú
Total Geral 1.576 4.133 22
Fonte: Organização de Conservação da Terra (2019).

Bahia anál. dados,


116 Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022
Narjara Prates Gonçalves, Israel Pedro Dias Ribeiro, Nayra Rosa Coelho, Andréa da Silva Gomes, Mônica de Moura Pires Artigos

Segundo Moreira (2018), a escolha da área para a fase inicial do proje- Os benefícios
to foi reforçada quando se observa a forma do arranjo social, econô- do PSA para
mico e ambiental. E revela a tradição local do cultivo de cacau através os produtores
de sistemas agroflorestais dos proprietários rurais que, associado às rurais de
características topográficas de solo e clima, fortaleceram o argumento Ibirapitanga
para implantação do PSA. se revestem
não apenas
As primeiras intervenções foram realizadas nas microbacias do Rio Buris,
pelos aportes
do Rio do Meio e Gatos e do Rio Jacuba, que juntas abrangem 13.353
monetários,
ha e representam 32,15% das microbacias do Rio Oricó (IBIRAPITANGA,
2015b). O edital do projeto, em janeiro de 2015, contemplou as seguintes mas também
etapas: 1) lançamento e divulgação do edital; 2) adesão dos proprie- pelas doações
tários; 3) pré-seleção dos inscritos; 4) visita de campo às proprieda- recebidas, a
des; 5) validação das áreas e cálculo das remunerações; 6) classifica- exemplo de
ção dos proprietários; 7) contratação mediante o Projeto Integrado da mudas, cercas,
Propriedade e elaboração do Plano de Trabalho; 8) execução de pro- fossas sépticas,
jetos; 9) monitoramento das atividades contratadas e; 10) premiação máquinas,
pelos serviços ambientais (OCT, 2019; SOUSA, 2021). assistência
técnica e
O Comitê Gestor era formado por membros das seguintes instituições: extensão rural
Prefeitura Municipal de Ibirapitanga; Consórcio Intermunicipal da Área
de Proteção Ambiental (APA) do Pratigi; Empresa Baiana de Águas
e Saneamento (Embasa); Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia da Bahia (IFBA); Universidade Estadual de Feira de Santana
(UEFS); Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); OCT;
Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio das Contas; Instituto Cabruca;
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar); ANA; Sindicato
Rural de Ibirapitanga e Associação Comunitária Joaquim da Mata
(ORGANIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DA TERRA, 2019; SOUZA, 2021).

O produtor ao se candidatar e ser contemplado se compromete a cum-


prir as exigências previstas no edital. O diagnóstico de contratação
e monitoramento do projeto é realizado pela Satuderma e, segundo
Moreira (2018), tem como função o cumprimento das condicionantes
estabelecidas nos contratos dos proprietários, pois o pagamento é re-
alizado de acordo com as práticas previstas no edital, podendo ocorrer
semestralmente até o fim da vigência do contrato.

Os benefícios do PSA para os produtores rurais de Ibirapitanga se re-


vestem não apenas pelos aportes monetários, mas também pelas doa-
ções recebidas, a exemplo de mudas, cercas, fossas sépticas, máquinas,
assistência técnica e extensão rural, além de auxílio para a realização
do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e do Planejamento Integrado da
Paisagem (PIP), que são de grande valia para o desenvolvimento ru-
ral da região. No edital de PSA Hídrico de 2015, o aporte ao progra- Bahia anál. dados,

ma de PSA foi de R$ 90 mil, com repasses em seis parcelas por um


Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022
117
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: a experiência pioneira na Bahia do Programa Produtor de Água de Ibirapitanga

período de três anos, sendo o repasse efetuado após o monitoramento


da Satuderma acerca do cumprimento, por parte dos participantes, das
condições estabelecidas nos contratos (IBIRAPITANGA, 2015b).

Os mesmos critérios estabelecidos no edital de 2015 foram estabele-


cidos nos editais de chamada pública do PSA Hídrico n.º 01/2016, de
10 de maio de 2016 e do PSA Hídrico n.° 01/2017, de 3 de abril de 2017
(IBIRAPITANGA, 2016, 2017). Esses editais destinados às quatro micro-
bacias (Rio Buris, Rio do Meio e Gatos, Rio Jacuba e Rio Médio Oricó),
com um fundo de R$ 30 mil por ano, por um período de três anos, to-
talizando R$ 90 mil, com repasse de parcelas semestrais condicionado
ao monitoramento do projeto.

O cálculo do valor pelos serviços prestados por cada propriedade par-


ticipante do projeto teve como base metodológica a valoração ambien-
tal Oásis, da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza (LIMA;
STANTOM, 2019), devendo ser observadas as seguintes informações nas
visitas de campo às propriedades:

• situação das áreas naturais;

• situação das áreas de preservação permanente em corpos


hídricos;

• práticas agropecuárias adotadas na conservação do solo e da


água;

• modelo de gestão utilizado pelo proponente.

Para cada propriedade rural há um cálculo específico que possibilita a


classificação das propostas em um ranking de critérios de priorização,
observados numa tábua de valoração, que indica os valores do PSA na
modalidade financeira. Esse cálculo é feito da seguinte forma:

VALOR PSA HÍDRICO = X * [1 + (N1 + N2 + N3 + N4) ] * Z

Em que:

X = Valor base da fórmula para o qual é considerado um percentu-


al do custo de oportunidade da terra na região, N = Somatório dos
pesos atribuídos às características e ações que garantem a qualida-
de dos serviços ambientais prestados pela propriedade (Quadro 1) e
Z= Hectares de área de vegetação nativa ou destinada à restauração
na propriedade.

Bahia anál. dados,


118 Salvador, v. 32, n. 2,
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Narjara Prates Gonçalves, Israel Pedro Dias Ribeiro, Nayra Rosa Coelho, Andréa da Silva Gomes, Mônica de Moura Pires Artigos

Quadro 1
Caracterização dos grupos que integram a valoração do PSA Ibirapitanga
Grupo Composição da nota
Critérios relacionados às características e ações que garantem a
N1 = RECURSOS
qualidade e disponibilidade de água na propriedade, especialmente nos
HÍDRICOS
aspectos relacionados a nascentes e rios presentes na área.
N2 = CONSERVAÇÃO Critérios relacionados às características ambientais, localização e ações
DE ÁREAS NATURAIS que garantem a qualidade dos ambientes naturais da propriedade.
Critérios relacionados à produção agropecuária da propriedade,
N3 = PRODUÇÃO
buscando reconhecer e incentivar a adoção de práticas conservacionistas
AGROPECUÁRIA
de uso do solo.
N4 = GESTÃO DA Critérios relacionados à gestão da propriedade, buscando reconhecer
PROPRIEDADE e incentivar a valorização da propriedade.
Fonte: Organização de Conservação da Terra (2019).

No edital PSA Hídrico n.° 02/2021 foram abarcadas nove microbacias


do Rio Oricó, o que implicou na ampliação de mais 67% da área do
Programa, sendo feitas readequações e alterações, com período mí-
nimo dois anos, e um valor estipulado de R$ 150 mil, pagos em qua-
tro parcelas durante a vigência do edital. Além disso, foi permitida a
participação de pessoa jurídica, através da apresentação, no ato da
inscrição, do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) com a
constituição da entidade, composição de sócios e DAP Jurídica, pre-
ferencialmente, associações ou cooperativas de pequenos agricultores
(IBIRAPITANGA, 2022).

RESULTADOS DO PROGRAMA PRODUTOR


DE ÁGUA DE IBIRAPITANGA

O Quadro 2 resume os principais resultados alcançados pelo Programa


Produtor de Água de Ibirapitanga, referentes aos editais n.º 01/2015, n.º
05/2016 e n.º 01/2018 e os avanços até o ano de 2021.

Bahia anál. dados,


Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022
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Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: a experiência pioneira na Bahia do Programa Produtor de Água de Ibirapitanga

Quadro 2
Quantitativo alcançado pelo Programa Produtor de Água de Ibirapitanga (2018 a 2021)
Período

2018 2021
125 famílias de agricultores beneficiadas pelo PSA 310 famílias de agricultores beneficiadas pelo PSA financeiro
financeiro e não financeiro e não financeiro
RESULTADOS ALCANÇADOS

300 imóveis rurais cadastrados no Cadastro Estadual


687 imóveis rurais cadastrados no CEFIR
Florestal de Imóveis Rurais (CEFIR)
120 nascentes recuperadas 242 nascentes em processo de restauração florestal
- 150 fossas sépticas instaladas
- 50 hectares de cacau com manejo de qualidade
- + 150 ha de APP hídrica em processo de restauração florestal
34 produtores contratados com o PSA financeiro 32 produtores contratados com o PSA financeiro
110 projetos de Planejamento Integrado da 174 imóveis com Planejamento Integrado da
Propriedade (PIP) Propriedade (PIP)
Assistência técnica: 120 famílias, 50 hectares remanejados,
Assistência técnica: 88 famílias assistidas, 50 hectares
21 unidades de secador solar, 21 casas de fermentação, 21
remanejados, implantação de duas estufas solares e 22
Kit SAF e fomento a associações rurais: sete associações
famílias com selo de produção orgânica.
aprovadas no Edital Bahia Produtiva
5 km de estrada vicinal readequada para estradas ecológicas
-
com 100 bacias de infiltração
Fonte: Ibirapitanga (2021).

A partir do lançamento do primeiro edital em 2015, foram realizados 34


contratos de PSA financeiro com agricultores, distribuídos da seguinte
forma: 16 no primeiro edital, sete no segundo e 11 no terceiro. Dos pro-
dutores beneficiados, houve uma desistência e apenas um descumpri-
mento do acordo contratual, conforme situação diagnosticada pelas
visitas de campo realizadas na fase de monitoramento com exclusão do
produtor do programa. Nos editais estavam previstas a renovação do
contrato com os produtores participantes do Programa e o recrutamen-
to de novos participantes, seguindo os mesmos critérios de contratação.

Os avanços poderiam ser constatados, mesmo com pouco tempo de im-


plantação do programa, pois existia um número consideravelmente maior
de produtores beneficiados, 148% a mais em relação ao edital inicial.

Para Moreira (2018), em relação aos aspectos socioeconômicos, o pro-


grama propiciou renda à comunidade por meio do pagamento das par-
celas contratuais, aumentando o poder de compra e o bem-estar social.
Mesmo que o foco do programa não seja o combate à pobreza, o tema
está diretamente relacionado ao desenvolvimento e às políticas públi-
cas, pois, ao permitir acréscimo na renda dos produtores, este pode
gerar melhoria na qualidade de vida da população local, em razão do
recurso adicional e das práticas adotadas e outros benefícios financeiros
decorrentes da política. Nusdeo (2013) corrobora que o PSA tem o po-
tencial de promover benefícios sociais, como a melhora das condições
Bahia anál. dados, de vida de populações que habitam áreas ecossistemicamente ricas,
120 Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022 como assentados e pequenos proprietários.
Narjara Prates Gonçalves, Israel Pedro Dias Ribeiro, Nayra Rosa Coelho, Andréa da Silva Gomes, Mônica de Moura Pires Artigos

De acordo com as informações obtidas dos relatórios gerenciais da Essas ações


Secretaria de Agricultura, Turismo Desenvolvimento Rural e Meio geram impactos
Ambiente (Satuderma), as primeiras mudanças na concepção am- positivos que
biental da população foram cruciais para o desenvolvimento do pro- podem mudar
grama. Quando os produtores estão direta ou indiretamente ligados a paisagem
à implantação do PSA, isso gera expectativas em outros produtores, local, como
estimulando-os a participarem, pois, além do PSA financeiro, ou seja,
por exemplo,
sem a efetuação de pagamento monetário.
a redução
das taxas de
Os resultados obtidos são expressivos nas ações desenvolvidas no pe-
ríodo analisado, como, por exemplo, a aquisição de 30 unidades de desmatamento.
fossas sépticas no início do projeto e, posteriormente, a inclusão de 60
unidades e mais 60 contemplados no último edital contabilizando um
total de 150 fossas sépticas.

Existem algumas restrições de uso da propriedade nas Áreas de


Preservação Permanente (APPs) e Reserva Legal (RL). Nas demais áreas
da propriedade, as atividades podem ser desenvolvidas e incentivadas.
O programa está inserido em área onde as atividades são basicamente
agrícolas e com manejo agroflorestal, o que não restringe a atividade
econômica do produtor e gera para este fonte de renda e ao mesmo
tempo sem impactos severos ao ambiente (MOREIRA, 2018).

O projeto Produtor de Água de Ibirapitanga é bastante promissor quan-


do se trata de critérios socioambientais relacionados a custos de tran-
sação e execução, pois introduz boas práticas de manejo agropecuário
nas propriedades rurais do município. Nesse sentido, o PSA vem propi-
ciando mudanças positivas em relação à produtividade agrícola e aos
benefícios sociais, pela adoção de boas práticas de proteção e con-
servação do solo, como o terraceamento, o plantio de mudas nativas,
a bacias de infiltração, a restauração, o sistemas agroflorestais (SAFs),
além das construções de estradas ecológicas3.

Essas ações geram impactos positivos que podem mudar a paisagem


local, como por exemplo, a redução das taxas de desmatamento. De
acordo com o relatório da Satuderma, nos municípios que fazem parte
da APA do Pratigi, o índice de desmatamento em Ibirapitanga, no ano
de 2019, foi um dos menores quando comparado aos outros municípios
integrantes da APA (Gráfico 1 e, mais detalhadamente, na Tabela 2).

3 As estradas vicinais ecológicas consistem na inclinação vertical do eixo da estrada, que evita
o acúmulo de água em seu leito e canaliza a água de chuva, a fim de evitar que cause buracos
nas estradas e assoreie os cursos de água. Dessa forma, aumenta-se a durabilidade da estrada,
evita-se a degradação do solo e ainda aproveitam-se as águas da chuva que se infiltram no
Bahia anál. dados,
solo recarregando o lençol freático e contribuindo para o desenvolvimento da cobertura vegetal
(SILVA FILHO, 2022).
Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022
121
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: a experiência pioneira na Bahia do Programa Produtor de Água de Ibirapitanga

Gráfico 1
Incrementos de desmatamento – Ibirapitanga, Bahia – 2015-2021
2,5

1,5
Áreas (km2)

0,5

0
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
-0,5
Período

Ibirapitanga Igrapiúna Ituberá Nilo Peçanha Piraí do Norte

Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2023).

Tabela 2
Incremento de desmatamento em área (km2), acumulado por ano – Mata Atlântica,
Ibirapitanga, Bahia – 2015-2021

Período Ibirapitanga Igrapiúna Ituberá Nilo Peçanha Piraí do


(km2) (km2) (km2) (km2) Norte (km2)
2015 1,33 2,25 1,55 0,8 1,33
2016 1,33 2,25 1,55 0,8 1,33
2017 0,71 0,67 0,39 0,35 0,28
2018 0,50 0,21 1,4 0,25 0,33
2019 0,77 1,1 0,86 1,02 0,86
2020 0,50 0,33 0,05 0,14 0,04
2021 0,50 0,65 0,29 0,24 0,07
Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2023).

Os dados do Terrabrasilis (INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS


ESPACIAIS, 2023) confirmam que o desmatamento no município de
Ibirapitanga, no período 2015 a 2021, apresentou uma tendência de que-
da, o que pode ser um dos efeitos quantitativos do Programa Produtor
de Água - Pratigi. No entanto, em 2019 observou um pequeno acrésci-
mo, que não se manteve nos anos seguintes.

Outra iniciativa adotada pelo Programa Produtor de Água de Ibirapitanga


foi o Planejamento Integrado da Propriedade (PIP), um diferencial do
programa. O PIP é uma ferramenta contida no Manual Operacional
Programa Produtor de Água da ANA, que possibilita ao produtor gerir
e otimizar a administração da propriedade rural, bem como potenciali-
zar seus resultados (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS E SANEAMENTO
BÁSICO, 2012). Além disso, O PIP auxilia os produtores na construção do
diagnóstico e planejamento produtivo, e essas ações, atreladas ao PSA,
despertam um maior interesse em participar do programa, conforme
informações obtidas nos relatórios da Satuderma.
Bahia anál. dados,
122 Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022
Narjara Prates Gonçalves, Israel Pedro Dias Ribeiro, Nayra Rosa Coelho, Andréa da Silva Gomes, Mônica de Moura Pires Artigos

Até 2018, apenas nas primeiras quatro microbacias Rio Buris, Rio do
Meio e Gatos, Rio Jacuba e Rio Médio Oricó, foram readequados cerca
de 20 ha de pasto degradado com 10 mil metros de terraços e realizada
a restauração florestal de 30 ha de área de Proteção Permanente (APP)
de rio, além de aproximadamente 1.225 ha de florestas conservadas por
práticas vegetativas (IBIRAPITANGA, 2021).

Figuras 1 a 4 – Início das Práticas vegetativas adotadas pelo Programa


Produtor de Água de Ibirapitanga e a mesma área recuperada anos de-
pois, localizada ao norte do município.

Figura 1
Início das ações de boas práticas ambientais (ano 2017)

Fonte: Ibirapitanga (2021).

Figura 2
Mesma área recuperada (ano 2021)

Bahia anál. dados,


Fonte: Ibirapitanga (2021). Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022
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Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: a experiência pioneira na Bahia do Programa Produtor de Água de Ibirapitanga

Figura 3
Início das ações de boas práticas ambientais (ano 2019)

Fonte: Ibirapitanga (2021).

Figura 4
Mesma área recuperada (ano 2021)

Fonte: Ibirapitanga (2021).

Para Andrade e Freitas (2018), esse conjunto de práticas promove a


preservação e a melhoria da estrutura do solo, o aumento da infiltra-
ção de água e do conteúdo de matéria orgânica no solo, a ciclagem de
nutrientes e a manutenção do solo sempre com cobertura, o que faz
aumentar sua resistência contra a erosão, contribuindo assim para a sua
conservação e recuperação.
Bahia anál. dados,
124 Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022
Narjara Prates Gonçalves, Israel Pedro Dias Ribeiro, Nayra Rosa Coelho, Andréa da Silva Gomes, Mônica de Moura Pires Artigos

DESAFIOS E PERSPECTIVAS O Programa


Produtor
O Programa Produtor de Água de Ibirapitanga vem promovendo uma de Água de
série de benefícios coletivos e individuais que se estendem para além do Ibirapitanga
ambiente físico e das fronteiras do município. Apesar disso, esbarra em vem
alguns desafios que vão desde a complexa tarefa de promover o engaja- promovendo
mento dos produtores rurais até a resolução de problemas relacionados
uma série de
à descrença, falta de informações sobre do PSA, além da dificuldade de
benefícios
monitoramento adequado.
coletivos e
A necessidade da participação da população evidencia que, quando individuais que
isso não ocorre de modo satisfatório, a manutenção e os benefícios se estendem
das ações implementadas pelo Programa são prejudicados (RAMIRES para além do
JUNIOR et al., 2015). Sendo assim, a existência, a abrangência e a conti- ambiente físico
nuidade do PSA é resultado das responsabilidades assumidas pelo con- e das fronteiras
junto de atores envolvidos (WUNDER et al., 2008). do município

Segundo Moreira (2018), as limitações do programa estão diretamente


relacionadas à prestação de supervisão, pois a falta de técnicos respon-
sáveis pelo monitoramento contínuo de todas as propriedades partici-
pantes compromete a avaliação do programa. O déficit de assistência
técnica também limita a realização dessas atividades, impedindo que as
necessidades dos produtores sejam plenamente atendidas.

As parcerias se constituem em elemento fundamental do ponto de vista


do aporte de recursos financeiros e humanos, em especial a expertise da
equipe da OCT na implementação do Programa. Além disso, o cenário
político também é um fator relevante, sendo necessária uma estratégia
que permita que o programa não sofra impacto negativo em função de
alteração do gestor público, devendo ser assegurados estrutura e me-
canismos de continuidade da política.

Apesar desses desafios, a efetividade das ações é positiva e pode ser


constatada pela boa adesão e permanência dos participantes no pro-
grama; pelo cumprimento das metas estabelecidas como boas práticas
agrícolas e pela melhoria da situação hídrica da bacia, além dos reflexos
no meio social.

Destacam-se também alguns pontos constantes nos relatórios e no


planejamento anual da Satuderma, relativos às perspectivas futuras,
tais como: 1) a criação da Casa do Programa Produtor de Água de
Ibirapitanga com o objetivo de oferecer mais comodidade e agilidade
nos atendimentos aos produtores rurais participantes; 2) a implemen-
tação da Lei n.º 1.138/2021, de 21 de dezembro de 2021, que institui a
Política Municipal de Agroecologia, Produção Orgânica e Alimentação Bahia anál. dados,

Saudável, que objetiva incentivar políticas públicas, programas e ações


Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022
125
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: a experiência pioneira na Bahia do Programa Produtor de Água de Ibirapitanga

A iniciativa do indutoras da transição agroecológica e da produção orgânica e de base


Produtor de agroecológica, com apoio direto aos agricultores; 3) a criação da Lei
Água Pratigi de Turismo que visa promover a recreação e opções de turismo, funda-
de Ibirapitanga mentais para o desenvolvimento social e econômico dos produtores e
é pioneira no do município; 4) aperfeiçoamento em relação aos recursos financeiros
e material e 5) a efetivação de mais parcerias (IBIRAPITANGA, 2021).
estado da Bahia

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A iniciativa do Produtor de Água Pratigi de Ibirapitanga é pioneira no


estado da Bahia. O modelo utiliza fontes de financiamento público e
investimentos de parceiros privados para promover a restauração por
meio de PSA, o qual, guardadas as devidas proporções, pode ser inspi-
ração para outras experiências, disseminando esse tipo de instrumento
de política ambiental na Bahia.

O programa vem alcançando os objetivos traçados por meio de boas


práticas de adequação ambiental e melhoria da situação hídrica da ba-
cia, gerando efeitos socialmente positivos. Dessa forma, esses resulta-
dos traduzem a qualidade e a eficiência na execução do programa em
relação aos objetivos esperados.

O Programa Produtor de Água de Ibirapitanga apresenta diversos bene-


fícios que contribuem para o desenvolvimento rural de maneira susten-
tável e para mudanças nos aspectos socioambientais, apesar de também
possuir limitações que podem ser atribuídas ao estágio inicial dessa ex-
periência. Assim como outras iniciativas de PSA já implantadas no país,
as restrições observadas na fase inicial do programa são importantes
pois servem de aprendizado, evitando ou minimizando falhas futuras.

A insuficiência de equipe técnica com preparo científico e a falta de


recursos do programa são os gargalos que podem ser superados via
parcerias com instituições e universidades. Mas é preciso atentar, des-
de a fase de articulação e planejamento financeiro, a viabilidade de um
monitoramento eficiente e adequado à realidade local.

A participação conjunta de diversos agentes na execução do programa


é outro aspecto relevante. No entanto, um ponto-chave observado é a
importância do governo local e o fortalecimento institucional da pre-
feitura na liderança de ações ambientais. Devido à complexidade de
um esquema de PSA, que inclui o desenho e a implantação de todo um
arcabouço institucional, a Prefeitura de Ibirapitanga assumiu um papel
de liderança fundamental para a concretização do Programa Produtor
Bahia anál. dados, de Água de Ibirapitanga, além de se responsabilizar por boa parte das
126 Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022 ações de manutenção e pelo pagamento aos participantes.
Narjara Prates Gonçalves, Israel Pedro Dias Ribeiro, Nayra Rosa Coelho, Andréa da Silva Gomes, Mônica de Moura Pires Artigos

Quanto à avaliação do Programa Produtor de Água de Ibirapitanga, Quando se trata


mesmo com poucos serviços ambientais decorrentes de práticas de PSA, não
conservacionistas implantadas, não se pode ignorar o mérito dessa há um único
experiência pioneira no estado da Bahia, que se estruturou em aspectos modelo a ser
sociais, ambientais e econômicos, com o intuito de buscar a conserva- generalizado,
ção dos recursos hídricos aliada à conservação dos solos por meio do pois esse deve
mecanismo de PSA.
se adequar à
realidade local
Quando se trata de PSA, não há um único modelo a ser generalizado,
pois esse deve se adequar à realidade local. Percebe-se que os resulta-
dos positivos do Produtor de Água de Ibirapitanga estão diretamente
relacionados com o contexto regional. O município está inserido, numa
Unidade de Conservação (UC) sustentável, a APA do Pratigi e possui
uma prefeitura na liderança de ações ambientais.

Desse modo, é importante considerar que esquemas de PSA em recur-


sos hídricos devem ser desenvolvidos de forma que se ajustem aos con-
textos particulares e às condições locais. Nota-se também a importância
de se fortalecer o programa a partir de arcabouços jurídicos e teóricos
bem definidos e estruturados. As pesquisas voltadas à evolução desse
programa ajudam na adaptação e no melhoramento das bases estraté-
gicas dos programas, devendo incluir o acompanhamento dos diversos
fatores que interferem na sustentabilidade, inclusive a percepção dos
proprietários rurais em relação às atividades de conservação e estudos
visando da relação homem-ambiente e o fortalecimento das institui-
ções administrativas que envolvem a gestão dos recursos hídricos no
país. Os resultados dessas experiências de PSA auxiliam na evolução
da gestão de recursos hídricos sob a perspectiva do desenvolvimento
rural mais sustentável.

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Bahia anál. dados,


Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-133, jul.-dez. 2022
133
Resumo
Programas de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) estão sendo disse-
minados no Brasil e o Projeto Protetor das Águas, de Vera Cruz (RS), é um dos
pioneiros no país quanto à geração de água. O objetivo geral deste trabalho é
analisar os segmentos populacionais a partir dos tipos de proprietários rurais
que fazem parte do referido projeto e as variáveis socioeconômicas, situacio-
nais e de atitude e comportamento. Este artigo faz uso de uma abordagem
de pesquisa qualitativa e descritiva a partir da base de dados de Gil (2020).
Utiliza-se também o teste estatístico U de Mann-Whitney para averiguar se há
diferença entre os tipos de participantes do projeto. Os resultados demons-
tram que os do tipo B (aposentados e estilo de vida) são mais propensos a
confiar em algumas instituições do que os do tipo A (agricultores em tempo
parcial ou integral). Esses resultados podem ser explicados pelo fato de o cus-
to de oportunidade dos proprietários rurais do tipo A ser maior que o custo
do tipo B. Além disso, infere-se também que os participantes do tipo A podem
estar sub-representados no projeto se comparados ao seu potencial de par-
ticipação. Para ampliar o entendimento sobre essa realidade, são sugeridos
trabalhos que possam clarear essa hipótese.
Palavras-chave: pagamento por serviços ambientais; água; serviços
ecossistêmicos.

Abstract
Payment for environmental services programs are spreading in Brazil and
the “Protetor das Águas” Project in Vera Cruz/RS is one of the pioneers in
the country in terms of water generation. The general objective of this work
was to analyze the population segments, based on the types of rural owners,
that are part of the “Protetor das Águas” Project of Vera Cruz/RS and the
socioeconomic, situational, and attitude and behavior variables. The article
used a qualitative and descriptive research approach based on the Gil (2020)
database. The Mann-Whitney U statistical test was used to determine if there
is a difference between the types of project participants. The results showed
that Type B participants (retired and lifestyle) are more likely to trust some
institutions than Type A participants (part-time or full-time farmers). These
results can be explained by the fact that the opportunity cost of type A
landowners is higher than those of type B. Furthermore, it can also be inferred
that type A participants may be underrepresented in the project compared to
the potential for participation. To broaden the understanding of this reality,
studies are suggested that can clarify this hypothesis.
Keywords: payment for environmental services; water; ecosystem services.
Artigos

Pagamento por Serviços


Ambientais: tipos dos
participantes do Projeto
Protetor das Águas
em Vera Cruz (RS)
M AT H E U S N I E N O W A PERMANENTE provisão de serviços
Graduado em Ciências Econômicas
pela Universidade do Vale do Rio dos ecossistêmicos é um dos desafios que a
Sinos (Unisinos), mestrando do Programa
de Pós-Graduação em Desenvolvimento sociedade enfrenta na atualidade. Fatos
Rural da Universidade Federal do
como a escassez e a desigualdade de
Rio Grande do Sul (UFRGS).
mathznienow@gmail.com. acesso a recursos naturais e as mudanças
https://orcid.org/0000-0002-9799-8369

S A M A N TA O N G A R AT TO G I L
climáticas são alguns fatores que estão
Mestra e doutoranda do Programa de ligados à desregulação dos serviços
Pós-Graduação em Agronegócios da
Universidade Federal do Rio Grande do ecossistêmicos. Resolver esses problemas
Sul (UFRGS), graduada em Administração
de Empresas pela Pontifícia Universidade passa decididamente pelo suporte a práticas
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
samantaogil@gmail.com.
que promovam esses serviços.
https://orcid.org/0000-0001-8360-1546

MARCELINO DE SOUZ A A escassez de água é um dos problemas


Doutor em Engenharia Agrícola pela mais urgentes a serem enfrentados pela
Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), mestre em Extensão Rural sociedade, já que, em 2018, conforme
pela Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM). Professor dos Programas de a Organização Meteorológica Mundial
Pós-Graduação em Agronegócios e de
Desenvolvimento Rural da Universidade (OMM) (WORLD METEOROLOGICAL
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
marcelino.souza@uol.com.br.
ORGANIZATION, 2021), 2,3 bilhões de
https://orcid.org/0000-0001-6044-6694 pessoas estavam vivendo em países

doi.org/10.56839/bd.v32i2.a6
com estresse hídrico. Além disso,
aproximadamente 3,6 bilhões de pessoas
enfrentaram acesso inadequado à água
durante, ao menos, um mês desse ano.
A previsão é que, em 2050, mais de cinco
bilhões de pessoas estejam nessa situação.

Bahia anál. dados,


Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022
135
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: tipos dos participantes do Projeto Protetor das Águas em Vera Cruz (RS)

Embora o Ainda que o Brasil tenha grande quantidade de água disponível para
Brasil já tenha consumo, o país teve uma redução de 15,7% em sua superfície de água,
a presença de de 1991 a 2020, de acordo com o MapBiomas (2021). Conforme Lesk et
muitas ações al. (2021), os rendimentos de alimentos como milho e soja são aproxima-
de pagamentos damente 40% mais sensíveis ao calor quando cultivados em locais em
que as altas temperaturas são acompanhadas por secas, em oposição a
de serviços
plantações em terras agrícolas, onde o clima mais quente não significa
ambientais, a
efetivamente menos água.
pesquisa sobre
essa temática Conforme a Food and Agriculture Organization of the United Nations
ainda merece (2015), cerca de 9% das exportações agrícolas mundiais tiveram como
destaque origem o Brasil, que é um dos maiores produtores de açúcar, suco de
laranja, café, carne de aves, milho, arroz e carne bovina.

Um dos caminhos possíveis para evitar essas crises é através do


Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Esse instrumento, conforme
Wunder (2015), é definido como as transações voluntárias entre usuá-
rios e provedores de serviços ecossistêmicos que firmaram acordos na
gestão dos recursos naturais. De acordo com Feng et al. (2018), inicia-
tivas de PSA aumentaram no mundo e no Brasil. O país já conta com
quase 100 projetos desse tipo (COELHO et al, 2021; PAGLOLA; GLEHN;
TAFFARELLO, 2013).

Embora o Brasil já tenha a presença de muitas ações de pagamentos


de serviços ambientais, a pesquisa sobre essa temática ainda merece
destaque. Os participantes desses programas, de acordo com Morrison
e Greig (2008), costumam ser heterogêneos, já que os motivos que os
levam à participação individual diferem a depender do perfil dos inte-
grantes. Entender quais são as razões que motivam os participantes a
fazerem parte dos programas é útil para atrair novos membros e manter
os já existentes.

Logo, o intuito deste artigo é verificar se é possível afirmar que os parti-


cipantes do Projeto Protetor das Águas de Vera Cruz são heterogêneos,
a partir dos tipos de proprietários rurais e das variáveis socioeconômi-
cas, situacionais e de atitude e comportamento.

Assim, este artigo está dividido em quatro partes, desconsiderando


a presente introdução. A próxima seção trata da revisão bibliográfi-
ca e é seguida pela apresentação dos procedimentos metodológicos.
A terceira apresenta os resultados e a discussão e encerra-se com as
considerações finais.

Bahia anál. dados,


136 Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022
Matheus Nienow, Samanta Ongaratto Gil, Marcelino de Souza Artigos

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Os Pagamentos


por Serviços
Conforme Harrison et al. (2014), o termo “serviços ecossistêmicos” ainda Ambientais
está em disputa e é relativamente novo na literatura. Para Braat e Groot (PSA) são
(2012), a expressão foi cunhada por Paul Ehrlich e Anne Ehrlich em 1981. sempre
Nesse período em que ainda havia diferenças marcantes entre os aspec- pensados para
tos ecológicos, sociais e econômicos do objeto em estudo.
gerar bônus a
quem preserva
Na segmentação mais próxima da ecologia, os primeiros pesquisadores
a tratarem da temática foram Leopold (1949), Vogt (1948) e Obsborn
(1948). Já autores como Carson (1962), Ehrlich (1968), Helliwell (1967)
e Meadows et al. (1972) começaram a trabalhar o conceito de “funções
da natureza para a sociedade humana” (SANTOS, 2018).

Mais recentemente, Groot et al. (2010) introduziram o termo “funções


ambientais”, a fim de reduzir a fronteira entre os aspectos econômi-
cos e ecológicos. Esse conceito, para os autores, é entendido como os
bens e serviços da natureza que trazem bem-estar humano e benefícios
ecológicos e ambientais.

Para autores como Costanza et al. (2017), o estudo do termo “servi-


ços ecossistêmicos” foi alavancado a partir da publicação Millennium
Ecosystem Assessment (MEA), segundo a qual, serviços ecossistêmicos
são os benefícios que as pessoas obtêm dos ecossistemas (MILLENNIUM
ECOSYSTEM ASSESSMENT, 2005). Esses serviços são classificados em
quatro categorias: suporte, provisão, regulação e cultural.

Para Costanza et al. (1997), os serviços ecossistêmicos são os benefí-


cios que as populações humanas obtêm, direta ou indiretamente, das
funções ecossistêmicas. Boyd e Banzhaf (2007, p. 619) afirmam que
os serviços ecossistêmicos são “componentes da natureza, diretamen-
te desfrutados, consumidos ou usados para fomentar o bem-estar hu-
mano”. Por sua vez, Kumar (2010) considera que os serviços ecossis-
têmicos são as contribuições diretas e indiretas dos ecossistemas ao
bem-estar humano.

Na teoria econômica neoclássica, os serviços ecossistêmicos começa-


ram a ser abordados em tentativas de aproximá-los de valores mone-
tários. Inicialmente eram vistos como externalidades, positivas ou ne-
gativas, quando envoltos na tomada de decisão econômica. Assim, os
estudiosos procuraram maneiras de internalizar os serviços ecossistê-
micos enquanto bens econômicos (BRAAT; GROOT, 2012).

A partir disso, os Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) são sem-


pre pensados para gerar bônus a quem preserva. Esta política dife- Bahia anál. dados,

re substancialmente das políticas de comando e controle existentes.


Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022
137
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: tipos dos participantes do Projeto Protetor das Águas em Vera Cruz (RS)

Um dos maiores De acordo com Bithas (2011), para que as externalidades possam ser
problemas internalizadas, é preciso que os valores sejam definidos em termos
enfrentados monetários.
pelo PSA diz
respeito à Ainda assim, para Farley (2012), o PSA é mais bem definido como ma-
rket like em vez de market based. Isso ocorre porque os serviços ecos-
viabilidade
sistêmicos não podem preencher os critérios de classificação enquanto
financeira dos
mecanismos de mercado. Logo, embora haja uma aproximação com a
projetos no
ideia de bens econômicos, de acordo com Farley e Costanza (2010), a
decorrer dos transformação dos serviços em bens de mercado é improvável, já que a
anos maioria desses bens são públicos ou bens comuns por natureza.

Muradian et al. (2013, p. 276) concordam que a maioria dos PSAs não
pode ser considerada instrumentos de mercado porque a sua formulação
não se adequa à complexidade do conceito de mercado.

O PSA originou-se a partir de discussões sobre como manter ou promo-


ver os serviços ecossistêmicos. O primeiro caso ocorreu na Costa Rica,
mas modelos semelhantes já vigoravam em outros países, embora não
com essa denominação (PAGLOLA; GLEHN; TAFFARELLO, 2013). Os
modelos de PSA mais comuns são os de geração de água e de cotas
de carbono.

A teoria dominante de PSA, conforme Engel, Pagiola e Wunder (2008),


é baseada na crença que a falta de demanda por serviços ecossistêmi-
cos é uma falha de mercado. De acordo com essa teoria, a valoração
e o pagamento desses serviços podem contribuir para eliminar essas
externalidades da natureza.

A Food and Agriculture Organization of the United Nations (2011) com-


preende que o PSA é um instrumento econômico promissor que conse-
gue prover incentivos positivos para donos de terras agrícolas e pessoas
envolvidas na gestão das costas marítimas.

Paralelamente, um dos maiores problemas enfrentados pelo PSA diz


respeito à viabilidade financeira dos projetos no decorrer dos anos.
Assim, a participação do Estado, enquanto agente promotor, colabora-
dor ou financiador, costuma ser essencial para a criação e a manutenção
dos programas. Também por isso, o PSA é comumente denominado de
instrumento market like e não market based. Por outro lado, no caso de
market like, há associações que podem ser feitas entre os instrumentos
de PSA e o mercado tradicional, como o custo de oportunidade1.

1 Conforme Motta (1998), o custo de oportunidade é mensurado tendo-se em conta o consumo


Bahia anál. dados,
138 Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022
de bens e serviços que deixou de ser realizado, isto é, os custos dos recursos alocados para a
preservação ambiental.
Matheus Nienow, Samanta Ongaratto Gil, Marcelino de Souza Artigos

A Figura 1 apresenta a lógica do PSA. Conforme Nienow (2022), em um


cenário em que a terra é utilizada para exploração de pastagens há cus-
tos para as populações a jusante e outros grupos populacionais. Já em
um cenário de conservação florestal, há benefícios (ambientais e sociais)
para os gestores do ecossistema, embora sejam geralmente menores
que aqueles financeiros propiciados pela conversão para exploração de
pastagem. Caso isso não ocorresse, a primeira ação não seria interes-
sante economicamente, provavelmente seria descartada pelos proprie-
tários. Já no terceiro cenário, há conservação florestal e, ademais, um
pagamento pelos serviços ambientais prestados pela propriedade. Por
isso, o valor recebido pelo proprietário é pelo menos levemente superior
àquele que ele receberia no caso de conversão para utilizá-la sob a
forma de pastagens. Simultaneamente, os custos para as populações
a jusante e outros são minimizados ou até eliminados completamente.

Figura 1
A lógica dos pagamentos por serviços ambientais

Conservação florestal
Conversão Conservação
com pagamento(s)
para pasto florestal
serviços ambientais

Pagamento(s)
Pagamento mínimo
Benefícios para
os gestores do
ecossistema

Redução
de serviços
hídricos
Pagamento por
serviços
Custos para as Perda de
populações a biodiversidade
jusante e outros
Pagamento máximo

Emissão de
carbono

Fonte: elaborado pelos autores (2022).

Na literatura é possível encontrar dois polos diferentes, mas possivel-


mente complementares, de ação acerca de transações financeiras por
serviços ambientais. O primeiro é o princípio do provedor-recebedor,
em que a pessoa que contribui na geração de serviços ecossistêmicos
deve ser remunerada por suas ações, o que ocorre geralmente de forma
financeira. O segundo é o princípio do usuário-pagador, em que aquele
que usufrui diretamente dos serviços ecossistêmicos deve contribuir,
usualmente de forma financeira, para a manutenção desses serviços,
financiando-os (ENGEL; PAGIOLA; WUNDER, 2008). Bahia anál. dados,
Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022
139
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: tipos dos participantes do Projeto Protetor das Águas em Vera Cruz (RS)

A fim de assegurar a existência de PSAs no longo prazo, muitas inicia-


tivas estão sendo regulamentadas por legislações específicas em seus
municípios ou estados (JARDIM; BURSZTYN, 2015; VERA CRUZ, 2015).
Além disso, em 2021, o Brasil instituiu a Política Nacional de Pagamento
por Serviços Ambientais (PNPSA) através da Lei n.º 14.119, de 13 de ja-
neiro de 2021 (BRASIL, 2021).

Na Figura 2 é possível identificar os dois tipos tradicionais de financia-


mento de PSA. No primeiro tipo, o pagamento é feito pelos usuários
para os promotores do serviço. Por sua vez, no segundo tipo, há a inser-
ção do governo no esquema, sendo ele o pagador dos serviços que são
usufruídos pelos usuários. Há ainda outro cenário, denominado híbrido
e que não consta na Figura 2, em que os pagamentos são feitos tanto
pelos usuários quanto pelo governo.

Figura 2
Os dois tipos tradicionais de financiamento de PSA

Programas de PSA CASO 1 Programas de PSA CASO 2


financiados pelos usuários financiados pelos governo

Serviço Serviço
Usuários do
Promotores Usuários do serviço
do serviço serviço Promotores
do serviço
Pagamento
Governo
Pagamento

Fonte: elaborado pelos autores (2022).

Em relação ao perfil e ao número de participantes pode-se afirmar


que estes se alteram a depender da configuração desses mecanismos.
Conforme Izquierdo-Tort (2021), os critérios de elegibilidade, os obje-
tivos e as ações necessárias para a manutenção dos programas são
algumas das principais diferenças entre distintos PSA. Para Morrison e
Greig (2008), a comparação entre os tipos de participantes do programa
é útil, pois os incentivos são selecionados e os modelos de programas
adequados aos segmentos populacionais interessados nos programas.

Conforme destacou Morrison e Greig (2008), em algumas regiões, a fal-


ta de confiança em instituições estatais pode ser um impedimento para
a participação dos proprietários. Ducos e Dupraz (2006) também afir-
mam que a confiança no andamento do programa está positivamente
relacionada com o aumento da participação. Por fim, Corbera, Soberanis
Bahia anál. dados, e Brown (2009) argumentam que grupos de interesse podem ter uma
140 Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022 influência significativa no traçado dos esquemas dos programas.
Matheus Nienow, Samanta Ongaratto Gil, Marcelino de Souza Artigos

Outros fatores que aumentaram a participação foram: agricultores Compreender


envolvidos na produção de alimentos orgânicos (DUCOS; DUPRAZ, as caracte-
2006) e maior idade (MORRISON; GREIG, 2008). Esse último fator, rísticas dos
contudo, foi controverso, já que a idade dos participantes, segundo participantes
Morrison e Greig (2008), apresentou efeitos positivos em alguns casos do programa
e negativos em outros. é importante
para melhorar
Em resumo, compreender as características dos participantes do pro-
as ações de
grama é importante para melhorar as ações de chamamento do público-
chamamento
alvo e para aprimorar os instrumentos de formatação e seleção dos
projetos. Na próxima seção deste artigo são apresentados os procedi- do públicoalvo
mentos metodológicos que foram utilizados na pesquisa. e para
aprimorar os
instrumentos
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS de formatação
e seleção dos
Em relação aos procedimentos metodológicos para a consecução desta projetos
pesquisa, utilizou-se parcialmente, do método estatístico para a análi-
se dos dados. A justificativa para o seu uso é que, conforme Machado
(2010, p. 7), esse método dá “maior importância aos fatos do que aos
conceitos abstratos”. O método estatístico admite e registra todas as
possíveis variações das causas presentes e busca identificar a influência
de cada fator no resultado final.

Adicionalmente, o presente trabalho usa a pesquisa descritiva ao traba-


lhar com dados secundários, sendo que esse método pretende descrever
os fatos e fenômenos de determinada realidade, de tal forma que sejam
estatisticamente inferidos em uma população. Assim, o presente artigo
consiste em uma pesquisa descritiva, que usa dados secundários oriundos
de Gil (2020), com abordagem qualitativa a partir do método estatístico.

Todavia, conforme ressalta Richardson (2009, p. 79):

[...] o aspecto qualitativo de uma investigação pode estar presente até


mesmo nas informações colhidas por estudos essencialmente quantita-
tivos, não obstante perderem seu caráter qualitativo quando são trans-
formadas em dados quantificáveis, na tentativa de assegurar a exatidão
no plano dos resultados.

Em relação à área da pesquisa, destaca-se que o município de Vera


Cruz está localizado a 166 quilômetros de Porto Alegre, a capital do Rio
Grande do Sul, e faz parte da região do Vale do Rio Pardo, pertencendo
ao bioma de Mata Atlântica.

A Figura 3 indica a localização central de Vera Cruz no mapa do estado Bahia anál. dados,

do Rio Grande do Sul.


Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022
141
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: tipos dos participantes do Projeto Protetor das Águas em Vera Cruz (RS)

Figura 3
Ilustração com a localização do município de Vera Cruz no estado do Rio Grande do Sul

Fonte: elaborado pelos autores.


Nota: figura extraída do Google Maps.

O município conta com 27.099 habitantes e, segundo o Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2010, 2020), do total da
população, 51% são mulheres e quase 45% da população ainda reside
na zona rural. Enquanto isso, no estado do Rio Grande do Sul, como um
todo, apenas 15% da população vivia em zonas rurais.

Sobre a questão hídrica, o município de Vera Cruz situa-se às margens


do Rio Pardo e do Rio Pardinho. Ainda assim, o Arroio Andréas é a prin-
cipal fonte de abastecimento de água para a população (MORAES, 2012;
VERA CRUZ, 2018). O arroio é responsável pelo fornecimento de cerca
de 70% da água consumida na zona urbana (BUBLITZ, 2021).

Os dados do IBGE (2017a), a partir do Censo Agropecuário de 2017,


revelam que cerca de 94% dos agricultores são classificados como agri-
cultores familiares, enquanto 80% possuem, no máximo, o ensino funda-
mental, enquanto grau de escolaridade. Além disso, aproximadamente
27% das terras são utilizadas para exploração com pastagens e 39% das
terras para a exploração com lavouras.

As atividades de lavoura temporária tem peso significativo no muni-


cípio e representa 87% da atividade econômica agrícola local. O mu-
Bahia anál. dados, nicípio conta com 1.597 estabelecimentos agrícolas, sendo a área
142 Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022 média de 13 hectares por estabelecimento (INSTITUTO BRASILEIRO
Matheus Nienow, Samanta Ongaratto Gil, Marcelino de Souza Artigos

DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2017a). Ainda segundo o IBGE, do “O pagamento


total de 1.519 estabelecimentos, 1.192 têm produção de fumo em fo- ou incentivo
lha seca, 1.199 apresentam produção de milho, 981 possuem cultivo a serviços
de mandioca, 646 tem cultivo de feijão preto e 351 estabelecimentos ambientais
cultivam cana-de-açúcar (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E serão priori-
ESTATÍSTICA, 2017b). tariamente
destinados aos
Vera Cruz é o único município do Rio Grande do Sul que possui um pro-
agricultores
jeto regulamentado e em parceria com a Agência Nacional de Águas
familiares
(ANA) que envolve o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), cujo
início ocorreu em março de 2011 (BUBLITZ, 2021). O suporte ao progra- como definidos
ma advém do setor público, da iniciativa privada e de organizações não no inciso V do
governamentais. Inicialmente, a Universal Leaf Tabacos – multinacional artigo 3º da
que atua na região – e a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) Lei Federal n.º
foram os incentivadores do projeto (BUBLITZ, 2021; GIL, 2020). 12.651/12”

No setor público, os participantes são: Prefeitura Municipal de Vera


Cruz e Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência
Técnica e Extensão Rural (Emater-RS). Os outros parceiros são: a em-
presa Philip Morris International (PMI) – uma companhia internacional
de tabacos –, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo, o Sindicato
Interestadual da Indústria do Tabaco (Sinditabaco), a Universidade de
Santa Cruz do Sul (Unisc) e a Afubra.

Recentemente, conforme Bublitz (2021), criou-se uma legislação mu-


nicipal específica para o programa. A Lei municipal de Vera Cruz
n.º 4.264, de 2015, instituiu a Política Municipal de Pagamento por
Serviços Ambientais, criou o Programa Municipal de Pagamento por
Serviços Ambientais e o Fundo Municipal de Pagamento por Serviços
Ambientais (VERA CRUZ, 2015). A partir dessa lei, o município regula-
riza o Pagamento por Serviços Ambientais e o define em seu artigo 2º,
folha 2, da seguinte forma:

Transação contratual mediante a qual um beneficiário ou usuário de


serviços ecossistêmicos transfere, diretamente ou através de inter-
mediário, recursos financeiros ou outra forma de remuneração a um
provedor desses serviços, nas condições acertadas, respeitadas as dis-
posições legais e regulamentares pertinentes. (VERA CRUZ, 2015).

Concomitantemente, em seu artigo 5º, está definido que: “o pagamento


ou incentivo a serviços ambientais serão prioritariamente destinados
aos agricultores familiares como definidos no inciso V do artigo 3º da
Lei Federal n.º 12.651/12”. O artigo 6º apresenta os benefícios possíveis
aos proprietários nos grupos de incentivos econômicos, incentivos fis-
cais, e assistência técnica e capacitação (VERA CRUZ, 2015). Assim, os Bahia anál. dados,

incentivos não se limitam ao aspecto financeiro.


Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022
143
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: tipos dos participantes do Projeto Protetor das Águas em Vera Cruz (RS)

Por fim, o financiamento do programa, conforme contido nos artigos


10º e 11º, é feito a partir do Fundo Municipal de Pagamento por Serviços
Ambientais (FMPSA), que é constituído por recursos advindos do orça-
mento do município, da cobrança de percentual pelo uso e consumo da
água, de acordos, convênios, contratos, consórcios, termos de coope-
ração com entidades públicas e privadas (VERA CRUZ, 2015). Por isso,
o modelo de financiamento presente em Vera Cruz pode ser descrito
como híbrido, visto que há participação de usuários privados mediante
financiamento direto e do governo, por meio de isenções fiscais e des-
tinação de serviços técnicos (ENGEL; PAGIOLA; WUNDER, 2008).

Na Figura 4 pode-se visualizar o esquema de PSA do município de Vera


Cruz. A Figura 4 mostra que os proprietários rurais preservam o leito do
Arroio Andréas e os seus arredores a partir de ações como plantio de
árvores nativas e cercamento, o que impede a presença de animais de
grande porte no leito do arroio.

Segundo Bublitz (2021), os resultados positivos do projeto já podem ser


vistos. Após cinco anos do início do projeto, o percentual de amostras
coletadas no arroio classificadas como ruim ou regular passou de 48%
para 10%, e a captação de água passou de três milhões para 5,4 milhões
de litros por dia. Com isso, a iniciativa salvaguardou o município de estia-
gens que afetaram regiões vizinhas e elevou a qualidade da água local.

Figura 4
Modelo de PSA utilizado no município de Vera Cruz (RS)
Usuários recebem Proprietários rurais
água de qualidade recebem pagamentos
e outros benefícios por
seus serviços

Disponibilidade de
água para população, Proprietários rurais
agricultura, indústria preservam o leito do
e outros Arroio Andréas

Promoção de serviços
ecossistêmicos, entre
os quais a produção e
melhora da qualidade
da água
Fonte: elaborado pelos autores (2022).

Bahia anál. dados,


144 Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022
Matheus Nienow, Samanta Ongaratto Gil, Marcelino de Souza Artigos

Em relação aos dados utilizados neste artigo, os mesmos são oriun- O estudo de
dos da base de dados de Gil (2020). A pesquisadora aplicou ques- Morrison et al.
tionários no campo de estudo, nos meses de agosto e setembro de (2008) foi um
2019, para agricultores participantes do Projeto Protetor das Águas de dos primeiros
Vera Cruz (RS) e obteve o retorno de 39 dos 63 integrantes do pro- na literatura
grama, totalizando aproximadamente 62% do total. De acordo com sobre serviços
Gil (2020), a coleta de dados foi feita individualmente e de forma pre-
ecossistêmicos
sencial nas propriedades dos participantes, e os questionários foram
que buscaram
preenchidos manualmente.
identificar
Os questionários contêm 45 questões principais, além de questões se- características
cundárias, e estão divididos em três grandes categorias. As diferentes promotoras da
partes dizem respeito ao conjunto de dados que foram coletados: dados participação
socioeconômicos, situacionais e de atitudes e comportamentos. Essa voluntária em
última parte do questionário foi subdividida em oito seções: confiança, programas
lucro, satisfação, responsabilidade ambiental, inovador, orientação em- de incentivo e
presarial, buscador de informação e conectividade social. os diferentes
tipos populacio-
É importante salientar que o questionário utilizado por Gil (2020) foi nais que fazem
baseado naquele utilizado por Morrison et al. (2008) em seu estudo parte de tais
realizado na Austrália e intitulado Encouraging Participation in Market iniciativas
Based Instruments and Incentive Programs. O objetivo desse estudo foi
gerar informações de como modelar e implementar incentivos e instru-
mentos de mercado para aumentar a participação de agricultores em
tais iniciativas. O estudo de Morrison et al. (2008) foi um dos primei-
ros na literatura sobre serviços ecossistêmicos que buscaram identifi-
car características promotoras da participação voluntária em progra-
mas de incentivo e os diferentes tipos populacionais que fazem parte
de tais iniciativas.

No questionário utilizado por Gil (2020), algumas questões são de múl-


tipla escolha e outras são fechadas, com respostas de sim ou não ou
respostas escritas. Contudo, a maior parte das questões utiliza a escala
de Likert, em que o participante é apresentado a uma escala de resposta
psicométrica que varia de acordo com a concordância do respondente
em relação à afirmação expressa na pergunta. Conforme Costa (2011),
geralmente a escala possui cinco pontos de diferenciação, em que, no
ponto mais baixo, o participante está totalmente em desacordo com a
afirmação, enquanto que, no ponto mais alto, o respondente está total-
mente de acordo com o enunciado.

Metodologicamente, optou-se em utilizar a pergunta número 15 do


questionário de Gil (2020) como guia em relação aos tipos de proprie-
tários, a fim de realizar a análise de dados. Essa questão indagou aos
proprietários: “Por favor, indique como você se define como proprietário Bahia anál. dados,

/gerente da propriedade rural” e ofereceu seis opções de respostas aos


Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022
145
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: tipos dos participantes do Projeto Protetor das Águas em Vera Cruz (RS)

entrevistados, gerando variáveis qualitativas nominais. Com base nessas


opções, dividiu-se a segmentação desses perfis em dois tipos distintos.
Esse procedimento foi adotado por dois motivos principais: em primeiro
lugar, algumas dessas opções tiveram apenas um ou dois respondentes,
o que as tornaram pouco significativas. O outro motivo é que a compa-
ração entre apenas dois segmentos poderia tornar a visualização das se-
melhanças e diferenças mais evidente entre os participantes do projeto.

Exemplos de estudos que segmentaram os participantes de PSA de


acordo com diferentes características são os de Darbyshire (1999),
Watson e Pryor (2002), Thomson (2001), Morrison et al. (2008), Motta
e Ortiz (2018) e Ito (2022). No Quadro 1 é possível visualizar os dois tipos
de proprietários que foram utilizados na presente pesquisa a partir do
questionário de Gil (2020). O tipo A é composto por 23 participantes
enquanto o tipo B é representado por 16 respondentes e engloba quatro
opções de resposta.

Levando em conta os dois tipos do quadro 1, foi utilizado o teste não


paramétrico U de Mann-Whitney, a partir de amostras independentes,
para tratar as variáveis. Um teste não paramétrico foi utilizado porque
os dados usados neste estudo não tendem a uma distribuição normal,
já que as respostas dos entrevistados tendem a ser mais próximas de
algum extremo na escala de resposta de Likert.

Quadro 1
Tipos de proprietários, conforme resposta ao questionário de Gil (2020)
Tipo A – Agricultor em tempo Tipo B – Aposentados
parcial ou integral e estilo de vida
Opção 1 - Eu sou um agricultor em tempo
Opção 3 - Eu sou um agricultor semi-
integral - é assim que eu ganho a vida e
aposentado. Moro e/ou trabalho na minha
trabalho na minha propriedade rural na
propriedade rural a maior parte do tempo.
maioria dos dias.
Opção 2 - Eu sou agricultor de meio período -
Opção 4 - Eu sou um agricultor aposentado -
trabalho fora da minha propriedade rural em
moro na terra, mas outra pessoa administra a
parte do tempo e/ou uma boa parte da minha
minha propriedade rural agora.
renda vem de fontes não agrícolas.
Opção 5 - Eu vivo na terra pelo estilo de vida
- sou alguém que mora na terra, mas não me
considero agricultor
Opção 6 - Aposentado e residente
Fonte: elaborado pelos autores (2022).

Para Siegel (1975), o teste U de Mann-Whitney é uma alternativa útil ao


teste paramétrico t, já que este último exige uma distribuição normal
para ser aplicado. Para aplicar o teste U é preciso ordenar ascenden-
temente todas as variáveis, de ambos os tipos. O valor da estatística
U é dado a partir do somatório do número de vezes que um valor do
Bahia anál. dados, segundo tipo precede um valor do primeiro tipo, cujo número de casos
146 Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022 é o menor entre os dois tipos independentes.
Matheus Nienow, Samanta Ongaratto Gil, Marcelino de Souza Artigos

A partir disso, foram verificadas duas hipóteses: , que é denominada A fim de


a hipótese nula, e . identificar se há
diferença entre
os dois tipos
de proprietá-
rios, o presente
Em relação aos testes de hipótese, se for rejeitada é possível concluir
estudo abordou
que e que existe uma diferença estatisticamente significativa
os dados socio-
entre os dois segmentos. Por sua vez, se não for rejeitada, não é pos-
econômicos e
sível afirmar que existe uma relação desigual entre as duas variáveis.
O estudo foi feito a partir de amostras com variáveis independentes e situacionais dos
variâncias diferentes, e a significância estatística usada foi de 5%. proprietários

A fim de identificar se há diferença entre os dois tipos de proprietários,


o presente estudo abordou os dados socioeconômicos e situacionais
dos proprietários, bem como as variáveis de confiança e conectividade
da base de dados de Gil (2020). Essa escolha foi feita porque, segun-
do Morrison et al. (2008), a conectividade é o fator que mais favorece
a participação em projetos de PSA, especialmente quando é feita de
boca a boca, entre um participante e um potencial participante. Além
disso, de acordo com os resultados obtidos no estudo de Gil (2020), as
variáveis de confiança e conectividade são as que mais se destacam, em
termos de atitudes e comportamentos favoráveis à participação.

Para a realização dos testes estatísticos, foi utilizada a ferramenta do


SPSS, que permite a realização dos testes já apresentados. Essa análise
foi feita pelos autores do presente artigo. Na próxima seção deste artigo
serão apresentados e discutidos os resultados obtidos na pesquisa com
a utilização do ferramental estatístico anteriormente descrito.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esta seção apresenta os resultados da pesquisa e a sua discussão. Os


resultados abordam as variáveis socioeconômicas e situacionais, de ati-
tude e comportamento, selecionadas para a análise.

Em relação aos dados situacionais pode-se afirmar que todos os par-


ticipantes entrevistados, de ambos os tipos, trabalham na agricultura
desde a infância. Paralelamente, todos os respondentes também são
proprietários das terras pelas quais responderam.

Quanto às características das propriedades, entre as 39 pesquisadas,


38 concederam até cinco ha para uso no Projeto Protetor das Águas de
Vera Cruz, e uma, pertencente a proprietário de tipo A, disponibilizou Bahia anál. dados,

entre cinco e dez ha para o programa. Por fim, quanto à presença de


Salvador, v. 32, n. 2,
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147
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: tipos dos participantes do Projeto Protetor das Águas em Vera Cruz (RS)

empregados na propriedade, apenas três proprietários, todos do tipo


A, responderam afirmativamente à pergunta, sendo que, em um desses
casos, há apenas emprego parcial.

A Tabela 1 apresenta os resultados da análise estatística das respostas à


pergunta 16 do questionário de Gil (2020). A pergunta contida no mes-
mo é a seguinte: “Qual é o seu nível de concordância com as seguintes
afirmações?”, sendo que esta pergunta possui opções de resposta a
partir da escala Likert, que vai de 1 a 5. Vale destacar que, quanto mais
próximo de 5, maior a concordância com a afirmação, e quanto mais
distante de 5, menor a concordância.

Nessa questão são apresentadas quatro afirmações e em apenas uma


delas foi rejeitada, a hipótese nula, isto é, houve diferença quanto à con-
cordância com a afirmação entre os tipos A e B do Projeto Protetor das
Águas de Vera Cruz. Nesse caso, é possível afirmar que os agricultores
do tipo B, se comparados aos do tipo A, concordaram em maior grau
com a afirmação de que o governo do município de Vera Cruz pode ser
confiável. Ademais, dos 16 participantes do tipo B, 11 concordaram com-
pletamente com a afirmação sobre a confiança nesse governo.

Tabela 1
Análise estatística das respostas à pergunta 16 do questionário de Gil (2020)

Afirmação Hipótese nula Resultado Decisão Posto médio


do teste U maior
O governo do município de Vera Cruz
0,037 Rejeitar a hipótese nula Tipo B
pode ser confiável.

O governo Federal pode ser confiável. O nível de concordância 0,489 Reter a hipótese nula -
com a sentença é igual
De um modo geral, outros agricultores para os dois tipos de 0,489 Reter a hipótese nula -
podem ser confiáveis. agricultores

De um modo geral, a maioria das


0,563 Reter a hipótese nula -
pessoas pode ser confiável.
Fonte: Gil (2020).
Nota: dados reprocessados pelos autores (2022).

A Tabela 2 mostra os resultados da análise estatística das respostas à


pergunta 17 do questionário de Gil (2020) que faz a seguinte solicitação:
“Por favor, indique o quanto (você) apoia ou se opõe a cada um dos se-
guintes tipos que gerenciam o Projeto Protetor das Águas de Vera Cruz/
RS”. Novamente foi utilizada a escala Likert para que os participantes
respondessem à pergunta, com possibilidades de escolha em uma esca-
la de 1 a 5. Considerou-se que, quanto mais próximo de 5, maior o apoio
e, quanto mais próximo de 1, maior a oposição. O nível de significância
utilizado no teste U de Mann-Whitney foi de 0,05.
Bahia anál. dados,
148 Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022
Matheus Nienow, Samanta Ongaratto Gil, Marcelino de Souza Artigos

Ressalta-se que os integrantes do tipo A e do tipo B tiveram uma média


de apoio maior à Agência Nacional de Águas (ANA) e à Universidade
de Santa Cruz do Sul (Unisc) em relação às outras instituições apresen-
tadas. Mesmo assim, os participantes do tipo B demonstraram maior
apoio àqueles dois grupos que os participantes do tipo A. Notou-
se que todos os 16 membros do tipo B sugeriram apoio máximo à
ANA e à Unisc.

Tabela 2
Análise estatística das respostas à pergunta 17 do questionário de Gil (2020)

Entidade Hipótese nula Resultado Decisão Posto médio


do teste U maior
Prefeitura Municipal de Vera Cruz 0,525 Reter a hipótese nula -
Governo Estadual A confiança na 0,489 Reter a hipótese nula -
Governo Federal entidade é igual 0,251 Reter a hipótese nula -
Agência Nacional de Águas (ANA) para os dois tipos 0,005 Rejeitar a hipótese nula Tipo B
UNISC de agricultores 0,022 Rejeitar a hipótese nula Tipo B
Indústria fumageira 0,043 Rejeitar a hipótese nula Tipo B
Fonte: Gil (2020).
Nota: dados reprocessados pelos autores (2022).

Os participantes do tipo B também foram mais favoráveis à indústria


fumageira que os do tipo A. Em relação aos outros três grupos, não
foi possível demonstrar se há diferença ou não entre os participantes
dos tipos A e B. Contudo, os membros do tipo B foram mais favoráveis
a cinco grupos, quando comparadas às médias, do que os integrantes
do tipo A. Assim, em linhas gerais, aqueles participantes demonstram
maior confiança nas organizações listadas.

Em síntese, é possível afirmar que os membros do tipo B demonstram


maior apoio que os do tipo A à indústria fumageira, à Unisc e à ANA.
Logo, verifica-se um comportamento diferente entre esses dois grupos.
Diversos autores já encontraram perfis heterogêneos quando desmem-
braram os participantes de projetos semelhantes em tipos específicos
(ITO, 2022; IZQUIERDO-TORT, 2021; MORRISON; GREIG, 2008).

Outro tópico analisado foi a média de apoio aos gestores municipais,


estaduais e federais, semelhante entre os dois tipos. Não obstante, ob-
servou-se que a média de aprovação da Prefeitura Municipal de Vera
Cruz foi maior, em ambos os grupos, que a das outras esferas de Estado.
Conforme destacou Morrison e Greig (2008), a falta de confiança em
instituições estatais pode ser um entrave à participação dos proprietá-
rios nesses programas em algumas regiões.

Isso posto, os dados parecem indicar que a aprovação ao Poder


Executivo, como a Prefeitura Municipal de Vera Cruz e os governos es- Bahia anál. dados,

tadual e federal, está mais afim àquela da sociedade, enquanto que a


Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022
149
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: tipos dos participantes do Projeto Protetor das Águas em Vera Cruz (RS)

aprovação às outras instituições, nomeadamente a indústria fumageira,


a Unisc e a ANA, é mais diversa e potencialmente menos sensível ao
sentimento coletivo de aprovação. Por isso, é possível que os diferentes
tipos de participantes se sintam menos coagidos a estarem em concor-
dância quanto à confiança em instituições que não são tão comumente
avaliadas pela sociedade.

A Tabela 3 exibe os resultados da análise estatística das respostas à


pergunta 18 do questionário de Gil (2020). Essas questões seguem o
padrão da escala Likert, variando de 1 a 5, em que, quanto mais próximo
de 5, maior a concordância com a afirmação.

Tabela 3
Análise estatística das respostas à pergunta 18 do questionário de Gil (2020)

Sentença Hipótese nula Resultado Decisão Posto médio


do teste U maior
Na maioria das vezes, você pode confiar nas
Rejeitar a
organizações envolvidas na implementação 0,004 Tipo B
hipótese nula
desses programas.
Estes programas são geridos por alguns interessados Reter a
0,682 -
que só pensam neles próprios. hipótese nula
As pessoas que executam esses programas são pessoas Reter a
0,159 -
inteligentes que geralmente sabem o que estão fazendo. hipótese nula
Esses programas desperdiçam muito dinheiro Reter a
O nível de 0,877 -
dos contribuintes. hipótese nula
concordância com
Pessoas como eu não têm nada a dizer sobre como a sentença é igual Reter a
0,095 -
esses programas são executados. para os dois tipos hipótese nula
Envolver-se com programas de incentivo é um erro, de agricultores Reter a
pois acabará por levar ao excesso de interferência 0,682 -
hipótese nula
do governo.
Não há problema em participar de um programa de
Reter a
incentivo, desde que eu ainda seja capaz de gerenciar 0,135 -
hipótese nula
minha propriedade rural sem interferências.
É um erro envolver-se em programas de incentivo
Reter a
porque eles mudam e você nunca sabe o que vai 0,789 -
hipótese nula
acontecer com este tipo de interferência.
Fonte: Gil (2020).
Nota: dados reprocessados pelos autores (2022).

Os resultados indicam que, em apenas uma afirmação, a diferença en-


tre os dois tipos é estatisticamente diferente a um nível de significância
de 0,05. Os participantes do tipo B se posicionaram mais favoravel-
mente à afirmação de que, na maioria das vezes, é possível confiar nas
organizações envolvidas na implementação desses programas, tais
como o Projeto Protetor das Águas de Vera Cruz/RS, do que os in-
tegrantes do tipo A. Esse resultado condiz com aqueles encontrados
para a pergunta 17. Em ambos os casos, os membros do tipo B mos-
traram ter mais confiança na maior parte das organizações com que se
relacionam no programa.
Bahia anál. dados,
150 Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022
Matheus Nienow, Samanta Ongaratto Gil, Marcelino de Souza Artigos

Conforme Ducos e Dupraz (2006), a confiança no Programa


está positivamente relacionada com o aumento da participação.
Consequentemente, se a confiança é um fator positivamente relaciona-
do à participação, então é possível que os participantes de tipo B es-
tejam super-representados no programa se comparados aos do tipo A.
Por conseguinte, há a possibilidade que proprietários do tipo A estariam
sub-representados.

A Tabela 4 mostra a análise estatística das respostas à pergunta 19 do


questionário de Gil (2020). Essa questão utiliza uma escala Likert de 1
a 10, em que, quanto mais próximo de 102, maior a confiança do parti-
cipante nas organizações envolvidas no Projeto Protetor das Águas de
Vera Cruz.

A diferença no nível de concordância com a sentença, com significân-


cia de 0,05, não pode ser considerada divergente, portanto, a hipó-
tese nula é retida. Ainda assim, é possível identificar que a confiança
dos participantes como um todo em relação aos gestores envolvidos é
próxima de 10.

Tabela 4
Análise estatística das respostas à pergunta 19 do questionário de Gil (2020)

Sentença Hipótese nula Resultado Decisão


do teste U

A pergunta a seguir também é sobre as organizações envolvidas no O nível de


programa “Projeto Protetor das Águas” de Vera Cruz/RS. Na escala concordância com Reter a
seguinte. Onde dez significa que você tem uma forte confiança nessas a sentença é igual 0,471 hipótese
organizações para fazer o que é certo e zero significa que você tem uma para os dois tipos nula
forte desconfiança, onde você se colocaria? Por favor, circule um número de agricultores
Fonte: Gil (2020).
Nota: dados reprocessados pelos autores (2022).

A Tabela 5 apresenta a análise estatística das respostas às pergun-


tas 36 a 43 e 45 do questionário de Gil (2020). Foram comparadas
as respostas dadas pelos dois tipos de participantes, por meio do tes-
te U de Mann-Whitney, a um nível de significância de 0,05. Algumas
questões possuem duas alternativas de respostas (“sim” e “não”), en-
quanto outras possuem três alternativas de respostas, sendo uma de
nível intermediário (“sim, uma vez na semana”, “sim, uma vez ao mês”
e “não”).

2 Vale ressaltar que a pergunta 19 teve escala de numérica de resposta de 1 a 10, e a pergunta 39
teve escala numérica de 1 a 3, diferentemente das escalas numéricas das perguntas anteriores
(1 a 5). Nesse sentido, vale destacar que o questionário utilizado nesta pesquisa foi o mesmo que
Morrison et al. (2008) utilizaram em sua pesquisa, o qual foi testado anteriormente e gentilmente
Bahia anál. dados,
cedido para a realização desta análise. O aumento da escala tentou captar melhor as respostas
à pergunta realizada.
Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022
151
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: tipos dos participantes do Projeto Protetor das Águas em Vera Cruz (RS)

No conjunto de perguntas da Tabela 5, observa-se que houve diferença


estatística nas respostas à pergunta 39, que indaga se o integrante do
programa participa de reuniões da indústria. Essa pergunta tinha como
alternativas “sim, mais da metade delas”, “sim, mas menos da metade
delas” e “não”. A escala numérica de respostas para essa questão era,
respectivamente, 1, 2 e 3. Os participantes do tipo B se mostraram me-
nos presentes nesses encontros do que os do tipo A. Vale destacar que,
entre os membros do tipo A, há pessoas que estão ativas no mercado de
trabalho, enquanto no tipo B há presença significativa de aposentados.
Contudo, conforme as informações contidas na Tabela 2, embora os
participantes do tipo B participem menos desses encontros, a sua con-
fiança na indústria fumageira é maior que a dos participantes do tipo A.

De forma geral, a confiança nas instituições, nas pessoas e no progra-


ma como um todo é um fator crucial para entender a participação e a
manutenção dos proprietários em projetos de conservação ambiental.
Conforme Ducos e Dupraz (2006), quanto maior a confiança em um
projeto, maior tende a ser a participação dos proprietários na iniciativa.

Tabela 5
Análise estatística das respostas às perguntas 36 a 43 e 45 do questionário de Gil (2020)

Questão Hipótese nula Resultado Decisão Posto médio


do teste U maior
Você ajuda algum grupo local (por exemplo. grupo de
Reter a
preservação ambientai, agricultores, grupo esportivo ou 0,329 -
hipótese nula
grupo da igreja) como voluntário?
Membros da sua família ajudam algum grupo local (por
Reter a
exemplo. Grupo de preservação ambiental, agricultores, 0,177 -
hipótese nula
grupo esportivo ou grupo da igreja) como voluntário?
Você participou de um evento da comunidade local
Reter a
nos últimos 6 meses (por exemplo. festa da igreja, 0,789 -
hipótese nula
evento da escola)?
O nível de Rejeitar a
Você participa de reuniões do seu grupo da indústria? 0,005 Tipo B
concordância com hipótese nula
Você participa de reuniões de uma organização ou a questão é igual
clube local (por exemplo. Sindicato, grupo de para os dois tipos Reter a
0,095 -
preservação ambiental, associações de agricultores, de agricultores hipótese nula
grupo esportivo ou da igreja)?
Você participa da direção de algum grupo ou Reter a
0,621 -
organização local? hipótese nula
Reter a
Quantas vezes você fala com seus vizinhos? 0,989 -
hipótese nula
Com que frequência você discute questões agrícolas Reter a
0,899 -
com seus vizinhos? hipótese nula
Você acha que tem interesses em comum com Reter a
0,601 -
proprietários rurais que moram perto de você? hipótese nula
Fonte: Gil (2020).
Nota: dados reprocessados pelos autores (2022).

Bahia anál. dados,


152 Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022
Matheus Nienow, Samanta Ongaratto Gil, Marcelino de Souza Artigos

Na próxima seção serão apresentadas as considerações finais, em que


será realizada uma síntese do presente estudo, mas abordar-se-ão es-
sencialmente as conexões que podem ser feitas para além do escopo
deste trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste estudo foi identificar as possíveis diferenças entre os


tipos de participantes do Projeto Protetor das Águas de Vera Cruz (RS).
O presente estudo indica que os tipos de participantes do programa são
heterogêneos em algumas características e anseios.

A confiança dos participantes do tipo A nas organizações que fomen-


tam o Projeto Protetor das Águas de Vera Cruz é recorrentemente me-
nor se comparada à do tipo B. Logo, os gestores do programa necessi-
tam compreender quais são os fatores que podem estar ocasionando
essas divergências. Isso é importante porque a menor confiança daque-
les participantes pode estar gerando uma participação potencial, de
proprietários locais, menor no programa do que a desejada pelos atores
envolvidos na execução do projeto. Mas, uma provável explicação para
os resultados pode estar vinculada ao custo de oportunidade que se
apresentaria maior para os proprietários rurais do tipo A (agricultores
em tempo parcial e integral) em relação aos proprietários rurais do tipo
B (aposentados e estilo de vida).

Os resultados do presente artigo também reforçam a ideia de que tipos


diferentes de participantes podem ser encontrados em outros progra-
mas de PSA no Brasil. Este estudo permite compreender que são neces-
sárias ações específicas para a atração de novos participantes e para a
manutenção dos que já são membros ativos.

Futuros estudos também podem buscar o aprofundamento de como es-


ses fatos modificam o número de participantes e a sua real participação
nos projetos ao longo do território brasileiro.

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A revista Bahia Análise & Dados aceita colaborações originais, escritas em português, inglês e es-
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Os trabalhos devem ser apresentados em conformidade com as normas atualizadas da Associação


Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o Manual de Redação e Estilo da SEI e as normas de tabula-
ção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atendendo às seguintes regras:

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fonte Times New Roman, tamanho 12;
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dos substantivos próprios e nomes científicos, de acordo com a Norma Brasileira (NBR)
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identificação do autor - ORCID (Open Researcher and Contributor ID), titulação acadêmica,
nome da(s) instituição(ões) a que está vinculado, e-mail, telefone e endereço para corre-
spondência. O ORCID é gerado no endereço orcid.org/signin;
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gráficos, mapas etc.) numeradas consecutivamente, com algarismos arábicos, na ordem em
que forem citadas no texto, com os títulos, legendas e fontes completas, e localizadas o mais
próximo possível do trecho a que se referem;
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cel). Fotografias e ilustrações devem apresentar resolução de 300 dpi (CMYK), com cor real
e salvas na extensão JPEG ou PNG;
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da ABNT);
• depoimentos devem ser apresentados em parágrafo distinto do texto, entre aspas, com letra e
espaçamento igual ao do texto e recuo esquerdo, de todas as linhas, igual ao do parágrafo;
• notas de rodapé devem ser explicativas ou complementares, curtas, numeradas em ordem se-
quencial, no corpo do texto e na mesma página em que forem citadas;
• referências bibliográficas devem ser completas e precisas (NBR 6023:2018 da ABNT).

Todos os números da Bahia Análise & Dados podem ser visualizados no site ww.sei.ba.gov.br, menu
“Biblioteca Romulo Almeida/Publicações SEI”.
Colaboraram nesse número:

Amilcar Baiardi Marcelle Silva Oliveira Chamusca

Andréa da Silva Gomes Matheus Nienow

Ciro Tavares Florence Mauro Moraes Victor

D u r v a l L i b â n i o N e tt o M e l l o Mônica de Moura Pires

Geneci Braz de Sousa Narjara Prates Gonçalves

Israel Pedro Dias Ribeiro Nayra Rosa Coelho

Jaido Santos Pereira Paulo Henrique Pereira

Luana Pimentel Ribeiro S a m a n t a O n g a r a tt o G i l

Marcelino de Souza Tiago Jordão Porto

SUPERINTENDÊNCIA
DE ESTUDOS ECONÔMICOS
E SOCIAIS DA BAHIA

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