Pagamento Por Serviços Ambientais: Salvador v.32 n.2 JUL./DEZ - 2022 ISSN 0103 8117
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2022 I SSN 0 1 0 3 8 1 1 7
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Econômicos e Sociais da Bahia. v. 1 (1991 - ).
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Barros Gonçalves de Souza, Manuel Lamartin Montes, Michele v. 32
Benetti Leite, Rachel Bardy Prado n. 2
Semestral
Colaboração
Israel Pedro Dias Ribeiro (GEEMA/UESC), Narjara Prates ISSN 0103-8117
EISSN 2595-2064
(GEEMA/UESC), Nayra Rosa Coelho (GEEMA/UESC)
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Produção CDU 338(813.8)
Ludmila Nagamatsu
Normalização
Eliana Marta Gomes da Silva Sousa
Patrícia Fernanda Assis da Silva
Revisão de Linguagem*
Laura Dantas
Projeto Gráfico
Julio Vilela
Editoração*
Nando Cordeiro
Apresentação 5
A remuneração por serviços ambientais e a taxação 9
pelo uso do capital natural: conquistas contemporâneas
de enfrentamento da crise ambiental
AMILC AR BAIARDI
DURVA L LIB Â NIO NE T TO MELLO
MAURO MOR AES VIC TOR
Entrevista 35
A importância de uma política pública para
a produção de serviços ambientais
PAU LO H EN R I Q U E PER E I R A
no entanto, ainda são insuficientes para frear o avanço dos danos ambientais provocados
pelo modo de produção atual.
Abstract
Espera-se uma Espera-se uma governança planetária que evite cataclismos frequentes
governança e questione radicalmente conceitos e valores que inspiram as políticas
planetária de crescimento econômico a qualquer custo. Cabem novas regras para
que evite usufruto dos recursos naturais, entre elas, a remuneração por serviços
cataclismos ambientais e a remuneração do capital natural.
frequentes
Os serviços ambientais consistem em ações humanas que visam contri-
e questione
buir para a manutenção e a recuperação da natureza e dos processos
radicalmente
ecossistêmicos, de acordo com o princípio jurídico do protetor-recebe-
conceitos e dor (HUPFFER et al., 2011). Sua implantação no Brasil está em processo
valores que de regulamentação com base na Lei 14.119/211, que define regras e for-
inspiram as mas de pagamento por serviços ambientais. As unidades da Federação
políticas de que se anteciparam em definir regras de pagamentos previstas na le-
crescimento gislação estadual, caso da Bahia, deverão, se necessário, compatibilizar
econômico a seus procedimentos com a lei referida acima.
qualquer custo
A remuneração do capital natural, 2 categoria também abordada no
presente texto, baseia-se no princípio oposto, o do poluidor-pagador.
Entende-se que a proteção da natureza esteja mais assegurada quan-
do os fluxos monetários operem nos dois sentidos. Esse ressarcimento
pelo mau uso do capital natural ainda não dispõe de arcabouço legal
e se inspira na Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, de 1992, visto que o princípio do poluidor-pagador foi
reafirmado nesse documento. O princípio provém do consenso de que
qualquer ação com impacto negativo sobre o ambiente impõe custos aos
atos agressivos à natureza (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1992).
1 Sancionada lei de pagamento por serviços ambientais - Portal da Câmara dos Deputados
(BRASIL, 2011).
Bahia anál. dados,
10 Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022
2 Por capital natural se entende o estoque de recursos naturais renováveis e não renováveis (flora,
fauna, ar, água, solos, minerais) que geram benefícios às pessoas (VICTOR, 2007).
Amilcar Baiardi, Durval Libânio Netto Mello, Mauro Moraes Victor Artigos
dos produtos desde o século XVII, o que sugeriria uma maior atenção na A destruição
preservação dos recursos naturais, somente após a publicação do rela- das florestas e
tório The limits to the Growth (Os Limites do Crescimento), pelo Clube a contaminação
de Roma3 (MEADOWS, 1972), é que surgiram preocupações de caráter das fontes
planetário com o ambiente. de água já
existiam,
Essas preocupações se acentuaram, induzindo uma governança plane-
assim como
tária em questões ambientais por parte das Nações Unidas, quando a
a exploração
comunidade científica assumiu protagonismo no debate ao alertar sobre
descontrolada
os riscos iminentes ao meio ambiente. Entre os anos de 2002 e 2006,
no Santa Fe Institute, Novo México, EUA, um grupo de cientistas sociais, de minas, mas
descontentes com as análises da economia tradicional sobre os fenô- a magnitude
menos contemporâneos da acumulação produtiva, fez enfaticamente desse impacto
menção à possibilidade de grandes riscos planetários se nada fosse feito ainda não havia
(BEINHOCKER, 2007). A questão central, segundo os pesquisadores, impossibilitado
residiria nas expectativas criadas no que tange ao alcance do denomi- a resiliência
nado bem-estar que, em princípio, deve ser estendido a todos os habi- dos recursos
tantes do planeta, mas que deve ser melhor conceituado, mensurado e naturais
antecedido de regras claras quanto aos meios para alcançá-lo. renováveis
3 Em 1972 foi publicado o relatório intitulado The limits to the Growth (Os Limites do Crescimento),
que alertou sobre as consequências das políticas econômicas de expansão dos PIBs nacionais
(MEADOWS, 1972).
4 A escravidão entendida como trabalho compulsório não remunerado se classifica, grosso modo,
como escravidão da Antiguidade, patriarcal ou clássica, e escravidão colonial, que aparece
quando a anterior já não existia e que tinha como propósito tornar mais competitivos no mercado
Bahia anál. dados,
internacional os produtos obtidos nas colônias, fossem eles derivados da agricultura ou da mine-
ração (GORENDER, 1985, p. 46).
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11
A remuneração por serviços ambientais e a taxação pelo uso do capital natural: conquistas contemporâneas de
Artigos enfrentamento da crise ambiental
qualquer ideia mais permanente em relação à finitude dos recursos na- Os fisiocratas
turais (COUTINHO, 1993; SMRECSÁNYI, 1982). viam a terra
como a ‘mãe’
O pensamento econômico clássico, identificado em autores como Adam que gerava a
Smith, David Ricardo, Thomas Malthus e Stuart Mill, à exceção de Karl abundância e
Marx, inserido em outra classificação, sempre esteve impregnado da o excedente
filosofia moral e da ética social, sendo o resultado econômico, o lucro,
na produção
bem-vindo, sempre que este não ferisse princípios essenciais. Todos os
agrícola e
pensadores clássicos leram as obras dos fisiocratas que os precederam,
entendiam que
mas não viam na natureza, na terra, a origem da produtividade, o valor
adicionado aos bens produzidos como resultante da fertilidade dos so- todos poderiam
los. As ideias de Petty, Cantillon, Quesnay e Mirabeau foram assimiladas se beneficiar
pelos economistas clássicos no que se refere às bases do sistema eco- dos produtos
nômico e à importância do mercado, mas a paridade dos fatores terra da terra, a qual
e trabalho, como fontes de riqueza, foi desprezada pelos clássicos, que deveria ser bem
incluíram o capital na equação (COUTINHO, 1993). cuidada
Muito se tem falado que Marx não teve maior preocupação com a prote-
ção da natureza. Estas afirmações, segundo Foster (2005), são infunda- Bahia anál. dados,
das. Para esse autor, o envolvimento de Marx com a ecologia teria sido
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13
A remuneração por serviços ambientais e a taxação pelo uso do capital natural: conquistas contemporâneas de
Artigos enfrentamento da crise ambiental
Os economistas Por volta dos anos 1930, houve a transformação da ciência econômi-
que, nos anos ca de uma área do saber na qual predominava a análise da escassez,
1930 e 1940, em outra que passou a se preocupar com a escassez e a incerteza.
tratavam do Naquele momento, não se podia mais conter a ideia de que a condição
crescimento normal das economias eficientes não estava atrelada ao melhor uso
de determinados recursos, mas ao crescimento, ao uso continuamente
não percebiam
aperfeiçoado de recursos constantemente crescentes. O crescimento
ou não
seria, então, uma tendência integradora das flutuações ou ondas dos
associavam o
ciclos econômicos, as explosões e os colapsos do sistema, como diria
processo com Sir John Hicks. O crescimento, portanto, foi visto não como um impulso
um compro- restaurador do equilíbrio, mas sim como um movimento que elevava a
metimento dotação de capital a cada pulsação e, com ela, o aumento da produção
progressivo (SHACKLE, 1991).
dos recursos
naturais, mas Os economistas que, nos anos 1930 e 1940, tratavam do crescimento
sim como não percebiam ou não associavam o processo com um comprometi-
uma trajetória mento progressivo dos recursos naturais, mas sim como uma trajetória
absolutamente absolutamente virtuosa. Os recursos naturais eram vistos como de ofer-
virtuosa ta elástica e sem horizontes de finitude, pelo menos em nível macroe-
conômico e de expansão e integração permanente de novos territórios.
bem, tem-se:
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p.8-32, jul.-dez. 2022
27
A remuneração por serviços ambientais e a taxação pelo uso do capital natural: conquistas contemporâneas de
Artigos enfrentamento da crise ambiental
REFERÊNCIAS
Bahia anál. dados, MARX, K. O capital, livro 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.
30 Salvador, v. 32, n. 2,
p.8-32, jul.-dez. 2022
Amilcar Baiardi, Durval Libânio Netto Mello, Mauro Moraes Victor Artigos
THE EUROPEAN GREEN CITY INDEX. The European Green City Index
measures the environmental performance of 30 major European cities.
[S. l.], 8 Dec. 2009. Disponível em: https://impact.economist.com/perspectives/
sustainability/european-green-city-index. Acesso em: 16 out. 2021.
Paulo Henrique Pereira – Penso que a Lei Federal oferece caminhos para
que os estados e municípios possam exercer suas atribuições na produ-
ção de serviços ambientais e no Pagamento por Serviços Ambientais. Os
estados sendo os fomentadores da Política Estadual de PSA e apoiando
os municípios executores das ações em seus territórios. A lei dá suporte
para que estados e municípios tenham a possibilidade de realizar paga-
mentos aos provedores de serviços ambientais. O Programa Produtor de
Água, da Agência Nacional de Águas (ANA), já opera nesse sistema e é
um bom exemplo.
PHP – Para se ter uma política pública é preciso que ela seja implemen- Penso ser
tada através de leis, como a lei específica do Projeto Conservador das possível a
Águas, mas também o PPA, a LDO, a LOA, o Plano Diretor, o Plano de criação de uma
Saneamento, a [Política de Combate às] Mudanças do Clima, o Sistema política pública
Municipal de Unidade de Conservação, o Licenciamento Ambiental. para a produção
Essas constituem o conjunto de normas que forma o arcabouço legal de serviços
para a gestão ambiental municipal. Não identificamos a necessidade de
ambientais
adequação da lei de Extrema, pois acompanhamos o trâmite da legisla-
e, ao valorar
ção federal desde o primeiro PL, de 2007.
esses serviços,
BA&D – A lógica do PSA está muito associada ao princípio do podemos
protetor-recebedor ou provedor-recebedor, o qual supõe que transformar o
aqueles que protegem o meio ambiente mediante práticas de manejo projeto em uma
sustentável dos recursos ambientais podem ser recompensados fonte de receita,
de maneira monetária e não monetária. Como então valorar os ser recebedor
serviços ambientais e efetuar, de maneira equânime, os pagamentos de serviços
pelas atividades de conservação desenvolvidas de forma eficiente? ambientais e
Como poderia contextualizar a experiência de Extrema (MG) em depois ser o
termos de instrumentos de valoração e formas de pagamentos por pagador
serviços ambientais voltados à implementação da política do PSA?
PHP – Penso ser possível a criação de uma política pública para a pro-
dução de serviços ambientais e, ao valorar esses serviços, podemos
transformar o projeto em uma fonte de receita, ser recebedor de servi- Bahia anál. dados,
Bahia anál. dados, PHP – O que buscamos e estamos conseguindo em Extrema é transfor-
38 Salvador, v. 32, n. 2,
p.34-38, jul.-dez. 2022 mar o município em produtor de serviços ambientais. Os nossos projetos
Paulo Henrique Pereira Entrevista
Abstract
The State of Bahia published in 2015 the State Policy for Payment for
Environmental Services (PSA) and the State Program for Payment for
Environmental Services (PEPSA). The adoption of this incentive mechanism
for environmentally desirable behavior represents an important advance
in the promotion of new instruments for the State’s environmental public
management agenda. In this article, we report the experience of the beginning
of the implementation of the State PSA Policy in the State of Bahia. We present
and discuss the structure of this public policy to encourage conservation,
the paths already taken by SEMA-BA and the strategic planning for the full
implementation of the PSA in the State. We will also present the results of
the strategy carried out by SEMA-BA for the dissemination of the PSA and
for the decentralization of this policy through continuous training processes
and technical assistance. At the end, we present general considerations
about this experience at the beginning of the implementation of this public
policy in Bahia.
Keywords: ecosystem services; public policies; environmental management;
economic incentives; “provider-receiver” principle.
Artigos
Implementação do Programa
Estadual de Pagamento por
Serviços Ambientais da Bahia
LUA N A P I M E N T E L R I B E I R O PARA ATENDER ao Art. 225 da Constituição
Especialista em Gerenciamento
Ambiental pela Universidade Federal de 1988 (BRASIL, 1988), que afirma ser
Católica do Salvador (UCSal) e bacharela
em Ciências Biológicas pela Universidade um direito de todos o acesso ao meio ambiente
Federal da Bahia (UFBA).
ecologicamente equilibrado, o arcabouço da
luana.ribeiro@sema.ba.gov.br
Figura 1
Ambiente virtual da Capacitação em Pagamento por Serviços Ambientais, acessível pela Plataforma do
Programa de Formação em Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Formar)
Figura 2 A Prefeitura de
Primeira Capacitação em Pagamento por Serviços Ambientais ministrada
para representantes de municípios da Chapada Diamantina-BA, em Ibirapitanga
Andaraí (Dezembro/2021) instituiu, em
2014, a primeira
lei de PSA da
Bahia, com
o objetivo de
recompensar
os agricultores
que mantinham
as nascentes e
matas ciliares
preservadas.
"A capacitação Público (OSCIP) que já atuava com projetos na Área de Proteção
para a Ambiental (APA) do Pratigi. Em 2016, esses atores conseguiram, junto a
implantação Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), a classificação
do PSA – para o Programa Produtor de Água, o que proporcionou a ampliação
Pagamento de sua área de atuação, prestando assistência técnica e financeira a
propriedades que adotam práticas de conservação do solo e da água.
por Serviços
Por esses motivos, tanto a Prefeitura de Ibirapitanga quanto a OCT se
Ambientais foi,
uniram à Sema para realizar as capacitações estaduais, servindo como
ao meu ver, um
exemplo aos municípios participantes.
divisor de águas
na direção de A UESC também tem sido parceira nas capacitações de PSA e nas dis-
implantação do cussões acerca da Política Estadual de PSA da Bahia, por meio de proje-
programa no tos de pesquisa de pós-graduação. Pesquisadores da UESC têm contri-
município" buído para a produção de conhecimento técnico-científico e aportado
informações para o planejamento e o fomento do PSA no estado.
usuários dos recursos naturais, reconhecendo seus esforços para en- "O mais incrível
contrarmos um equilíbrio ambiental e, com isso, fortalecer os princípios foi a possi-
da sustentabilidade (informação verbal)1. bilidade de
sermos parte
O curso de formação em Pagamentos por Serviços Ambientais dispo- integrante da
nibilizado pela Sema trouxe para mim uma grande oportunidade de
elaboração
conhecimento e de troca de vivência com diversos parâmetros ambien-
da minuta de
tais de outros municípios que compõem nossa região. Um ponto muito
lei da Política
interessante foi a identificação de potenciais ambientais, bem como de
pontos de fragilidade em nossos municípios em relação aos serviços
Municipal de
ambientais existentes. O curso nos apresentou um outro olhar para as
Pagamentos
questões ambientais e fez correlação principalmente com parâmetros de Serviços
ambientais intitulados pelo mundo como a Agenda 2030, mecanismos Ambientais
de sustentabilidade, Environmental, Social and Corporate Governan- do nosso
ce– (ESG), entre outros conceitos. E o mais incrível foi a possibilidade município,
de sermos parte integrante da elaboração da minuta de lei da Política corroborando
Municipal de Pagamentos de Serviços Ambientais do nosso município, com o processo
corroborando com o processo de participação popular. Dessa forma, de participação
agradeço a oportunidade e o conhecimento transbordado em mim, de popular"
forma que ecoe e crie asas para contribuir com meu município, meu
estado, minha região, meu país e certamente com o meu planeta (in-
formação verbal)2.
Figura 3
Visita técnica nas áreas provedoras de serviços ambientais do Programa
Produtor de Água Ibirapitanga, na comunidade de Joaquim da Mata, no município
de Ibirapitanga (Maio/2022)
Figura 4
Workshop da segunda capacitação em Pagamento por Serviços Ambientais
para os municípios do território do Baixo Sul (Maio/2022)
Figura 5
Visita técnica para os cursistas da segunda capacitação em Pagamento por Serviços Ambientais
para os municípios do território do Baixo Sul (Maio/2022)
Figura 6
Assessoria técnica ao Projeto Guardiões das Águas, na Região Metropolitana
de Salvador (Junho/2022)
Figura 7
Docentes da terceira capacitação em Pagamento por Serviços Ambientais
(Setembro/2022)
Figura 8
Participantes certificados e docentes da terceira capacitação em Pagamento por Serviços Ambientais
no evento de encerramento, no município de Camaçari (Setembro/2022)
REFERÊNCIAS
BAHIA. Lei Municipal n.º 864, de 8 de outubro de 2014. Institui a Política Mu-
nicipal de Pagamento por Serviços Ambientais, cria o Programa Municipal de
Pagamento por Serviços Ambientais e o Fundo Municipal de Pagamento por
Serviços Ambientais e dá outras providências. Diário Oficial do Município, Ibira-
pitanga, 8 out. 2014. Disponível em: https://www.ibirapitanga.ba.gov.br/Hand-
ler.ashx?f=diario&query=663&c=307&m=0. Acesso em: 10 out. 2022.
CHAN, K. M. et al. Payments for ecosystem services: rife with problems and po-
tential - for transformation towards sustainability. Ecological Economics, [s. l.],
v. 140, p. 110-122, 2017. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/
article/abs/pii/S0921800916307042. Acesso em: 14 fev. 2023.
SALZMAN, J. et al. The global status and trends of payments for ecosystem
services. Nature Sustainability, [s. l.], v. 1, n. 3, p. 136-144, 2018.
Abstract
The Payment for Environmental Services (PES), as an economic instrument
of environmental policy, has proved to be promising in complementing the
command and control instruments, constituting an important incentive tool
in the search for sustainable development. Despite the legal framework
constituted by state (Legislation nº 13.233/2015) and federal (Legislation
nº 14.119/2021) legislation, PES experiences in Bahia are still in their infancy,
translating into difficulties in the operationalization of public policy in the state.
In this context, cooperation actions and partnerships between entities of the
Public Power, the private sector and the third sector are fundamental for the
composition of PES arrangements, in order to make this type of instrument
feasible in the environmental management of Bahia`s municipalities. Thus, this
article aims to present the report of the experience of the State`s University
of Santa Cruz (UESC), through postgraduate programs, in the construction
of knowledge and support for the formation of institutional arrangements
for the promotion of PSA in Bahia. The methodology adopted comprises
the description of the activities developed by UESC in the dissemination of
knowledge about the PSA in the period between 2015 and 2022. There was
a growing academic-scientific production on the subject, observed from
the number of research and extension projects with this theme, which has
allowed the articulation and formation of a network of institutions aimed at the
dissemination and implementation of the PES instrument in Bahia.
Keywords: ecosystem services; economic incentives; institutional arrangement;
governance.
Artigos
A N D R É A DA S I LVA G O M E S
à conservação dos serviços providos pela na-
Doutora em Desenvolvimento Rural pelo tureza se desenvolveram nas últimas décadas,
Instituto Nacional Agronômico Pais-Grignon
(INA-PG, França) e mestra em Economia a exemplo do Pagamento por Serviços Am-
pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Professora Plena/Titular do Departamento bientais (PSA), devido à antropização sobre o
de Ciências Econômicas da Universidade
Estadual de Santa Cruz (UESC) do Programa
capital natural (LORENZO; BUENO, 2020).
de Pós-Graduação em Desenvolvimento Bahia anál. dados,
Regional e Meio Ambiente. asgomes@uesc.br Salvador, v. 32, n. 2,
p.60-76, jul.-dez. 2022
61
doi.org/10.56839/bd.v32i2.a3
A importância das instituições no fomento ao instrumento econômico de Pagamento por Serviços Ambientais:
Artigos relato de experiência na Universidade Estadual de Santa Cruz (BA)
Alguns títulos Na UESC, as discussões acerca do PSA iniciaram-se em 2015, tendo como
pesquisados protagonistas os Programas de Pós-graduação em Desenvolvimento
sobre a Regional e Meio Ambiente (nível mestrado) e em Desenvolvimento e
temática foram: Meio Ambiente - Associação Plena em Rede (nível doutorado). Por
Uma análise meio das pesquisas desenvolvidas no âmbito da pós-graduação,
tem-se buscado contribuir com o debate relacionado à Política Estadual
para a aplicação
de Pagamento por Serviços Ambientais (PEPSA) (BAHIA, 2015). As pri-
do Pagamento
meiras dissertações tratam da valoração ambiental relacionada com o
por Serviços
processo de captura e sequestro de carbono associado ao agroecossiste-
Ambientais ao ma cabruca – plantio do cacau em sistema agroflorestal –, muito comum
sistema agroflo- na região e de grande potencial para provisão de serviços ambientais.
restal cabruca Alguns títulos pesquisados sobre a temática foram: Uma análise para a
e Pagamento aplicação do Pagamento por Serviços Ambientais ao sistema agroflo-
por Serviços restal cabruca (LEMOS, 2017) e Pagamento por Serviços Ambientais
Ambientais e o e o sistema agroflorestal cacau cabruca: uma análise para o estado da
sistema agro- Bahia (MACEDO, 2017).
florestal cacau
cabruca: uma Na sequência, outra pesquisa de mestrado buscou investigar as inicia-
análise para o tivas brasileiras de PSA hídrico e as metodologias empregadas para o
estado da Bahia cálculo dos valores a serem pagos, sob o título Pagamento por Serviços
Ambientais hídricos: sistematização metodológica das experiências bra-
sileiras (COELHO, 2018). O referido trabalho apresenta dados referentes
a 68 iniciativas de PSA hídrico no Brasil até o ano de 2017, destacando
o protagonismo dos estados e municípios na adoção do instrumento
em suas legislações ambientais; a dissertação foi publicada em dois
artigos científicos (COELHO et al., 2021; COELHO; GOMES; CASSANO,
2021). Ressalta-se a continuidade da pesquisa em nível de doutorado,
pelo Prodema/Associação Plena em Rede-UESC, sob o título Política de
Pagamento por Serviços Ambientais: potencialidades, desafios e contri-
buições ao fomento na Bahia, que se encontra em andamento.
Quadro 1
Produção acadêmico-científica relacionada ao tema PSA na UESC, no período 2015-2022
Ano Título do trabalho Modalidade Situação
Pagamento por Serviços Ambientais e o Sistema Agroflorestal Cabruca: Dissertação de
Concluído
uma análise para o estado da Bahia mestrado
2015-2017
Uma análise para a aplicação do Pagamento por Serviços Ambientais ao Dissertação de
Concluído
Sistema Agroflorestal Cabruca mestrado
Pagamentos por Serviços Ambientais Hídricos: sistematização Dissertação de
2016-2018 Concluído
metodológica das experiências brasileiras mestrado
Política de Pagamento por Serviços Ambientais: potencialidades, desafios
Tese de doutorado Em andamento
e contribuições ao fomento na Bahia.
Política de Pagamento por Serviços Ambientais na Região Geográfica
Iniciação científica Concluído
2018-2022 Imediata de Valença: desafios e potencialidades
piloto de PSA, em seu primeiro ano de atividade, foi reconhecido pela A Secretaria
Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) como inte- do Meio
grante do Programa Produtor de Água. O objetivo é apresentar uma Ambiente do
experiência local de PSA hídrico, a fim de incentivar os municípios in- Estado da Bahia
tegrantes da Área de Proteção Ambiental (APA) do Pratigi (Ituberá, (Sema) é parte
Igrapiúna, Nilo Peçanha, Ibirapitanga e Piraí do Norte) a implementarem integrante da
políticas municipais de PSA para dar início à operacionalização de seus
rede de PSA
programas e projetos.
enquanto
órgão público
Em 2014, Ibirapitanga destacou-se nesse cenário com a criação
da Política Municipal de PSA e do Fundo Municipal de PSA (Lei n.º responsável
864/2014), destinando recursos para o primeiro edital de contrata- pela execução,
ção do Produtor de Água Pratigi – Ibirapitanga (Edital PSA Hídrico n.º a assessoria
01/2015) (IBIRAPITANGA, 2014, 2015). Atualmente essa experiência, técnica e o
que contou com grande contribuição da OCT em todo o processo, é monitoramento
referência estadual na aplicação do instrumento de PSA, podendo ser do Programa
utilizada como benchmarking baiano para replicação em outros muni- Estadual de
cípios, dentro e fora do estado. Pagamento
por Serviços
Consórcios e municípios atuam na configuração da rede de PSA na Ambientais
Bahia, em que se evidencia o papel preponderante dos governos lo- (PEPSA), nos
cais na formulação e implementação da política de PSA, especialmente,
termos da
no que diz respeito ao estabelecimento de leis instituidoras de políti-
Lei n.º 13.223
cas municipais e de outros instrumentos normativos responsáveis pelo
(BAHIA, 2015).
direcionamento dos projetos e programas. Para tanto, as instituições
que compõem a rede devem atuar de forma promotora e integrada, de
modo a fomentar ações que contemplem as esferas locais, tendo em
vista que estas apresentam inúmeras dificuldades no que se refere à im-
plantação de instrumentos econômicos na gestão ambiental. O suporte
aos municípios, por exemplo, pode ser viabilizado por meio da articu-
lação do poder público com consórcios territoriais de desenvolvimento
sustentável, mencanismo presente nas diversas regiões administrativas
do estado da Bahia.
Figura 1
Rede de instituições e suas respectivas funções em coordenação mista de PSA no
estado da Bahia – 2022
Articulação com outras instituições e municípios,
SEI desenvolvimento de estudos econômicos e sociais e
divulgação do PSA
Uma vez que a Academia pode contribuir cada vez mais com a matéria,
algumas perspectivas de ações práticas também estão sendo ideali-
zadas pela Universidade, como a capacitação de gestores públicos e
a realização de atividades extensionistas tanto na graduação quanto
na pós-graduação. Com a consolidação da pesquisa e da extensão na
UESC, pretende-se ampliar os eventos sobre o tema nos próximos anos
e promover o III Seminário de Serviços Ambientais do Sul da Bahia, com
a participação de membros da rede de PSA-Bahia e a apresentação de
resultados das ações e pesquisas realizadas conjuntamente.
REFERÊNCIAS
COELHO, N. R. et al. Banco das Águas: uma ferramenta lúdica para o ensino
da gestão dos recursos hídricos. Ciência em Tela, Rio de Janeiro, v. 14, p. 1-20,
2021. Disponível em: http://www.cienciaemtela.nutes.ufrj.br/artigos/14sa1.pdf.
Acesso em: 10 set. 2022.
Abstract
Densely urbanized areas such as the Metropolitan Region of Salvador (RMS/BA),
put heavy pressure on water resources by demanding large volumes of water
for public supply and productive activities, while causing the deterioration of
water quality. The intensification and extent of urbanization makes urban water
supply systems more vulnerable in a climate change scenario, to more frequent
and/or severe droughts, as recently observed in Brazilian metropolises, making
the management of water resources increasingly complex. In this context,
Payment for Environmental Services (PES) has been used as a strategic
mechanism to stimulate and contribute to the production of ecosystem and
environmental services, from the perspective of conservation and continuity
of water production. This paper aims to present the main actions developed by
the Project for Forest Recovery in Areas of Permanent Preservation (Guardians
of the Waters) and its contributions to the application of PES mechanisms in
the watersheds of the rivers Joanes and Jacuípe, responsible for about 40% of
the water supply for the capital of Bahia and metropolitan cities. The results
obtained with the execution of the Waters Guardians Project, involving priority
actions of environmental recovery, it is understood that the insertion of the
PES mechanism in the Joanes and Jacuípe river basins, subjected to critical
situations of anthropization and fundamental in meeting the water supply
demands of the Bahian capital and metropolitan cities, indicate that the PES
mechanisms can contribute to increase the water supply security of the RMS.
Keywords: payment for environmental services; water supply springs; water
security.
Artigos
Assim, desde 2006, tendo em vista a necessidade de reverter a situa- Bahia anál. dados,
De acordo com Coelho e outros (2021, p. 411), o Brasil contava, até 2017,
com 68 experiências de PSA implantadas, sendo: 44 localizadas na
Região Sudeste; nove na Região Sul; oito no Centro-Oeste: quatro na
Região Norte e três no Nordeste.
Figura 1
Modelo básico de execução dos projetos de PSA hídrico
- Edital de Licitação
Elaborar o diagnós- Engajar os
Criar a parceria tico socioambiental proprietários
envolvendo instituições - Celebração dos
da bacia rurais
relevantes Contratos
- Implatação das
Fazer a valoração Ações
Definir o valor
econômica do
do PSA
serviço ambiental - Metas verificadas
Definir papéis e e certificadas
responsabilidades
PSA suportado por - Pagamentos
arcabouço legal Fundos alocados efetuados
específico para o PSA
- Monitoramento
O estado da Bahia conta com a Lei n.º 13.233/2015, que institui a Política
Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais e o Programa Estadual
de Pagamento por Serviços Ambientais (PEPSA), ainda sem regula-
mentação (BAHIA, 2015). A sua execução está atribuída à Secretaria
Estadual de Meio Ambiente (SEMA), cujas iniciativas estão voltadas
para a capacitação/formação de gestores e técnicos para a constru-
ção das políticas municipais de PSA, com destaque para as regiões da
Chapada Diamantina, do Baixo Sul, Metropolitana de Salvador, Litoral
Norte e Agreste de Alagoinhas (BAHIA, 2022b; ORGANIZAÇÃO E
CONSERVAÇÃO DA TERRA, 2022b, p. 15).
Figura 2
Localização das bacias hidrográficas Joanes e Jacuípe – Bahia
A área de abrangência das bacias dos rios Joanes e Jacuípe está in-
serida no Bioma Mata Atlântica, onde a cobertura e o uso do solo for-
mam diferentes unidades ambientais, representadas por florestas, áreas
alagáveis, áreas urbanizadas, agricultura e pastagem que concentram
a maior porção do território (ORGANIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DA
TERRA, 2022a, p. 33).
Simões Filho, Dias D’Ávila, Camaçari e Salvador, sendo o Rio Ipitanga Recentes
o principal afluente. Limita-se com a Bacia do Rio Jacuípe, as bacias levantamentos
da área urbana de Salvador e, a sudeste, com o Oceano Atlântico, socioambien-
contando com três barramentos no Rio Ipitanga (Ipitanga I, II e III) tais realizados
e dois no Rio Joanes (Joanes I e II), segundo Bahia (2016, p. 13) e na região pela
Menezes (2006, p. 28). Organização de
Conservação
O Rio Jacuípe apresenta área de influência da nascente formada via
da Terra (OCT),
subterrânea no município de Conceição do Jacuípe, seguindo por
reforçam a que
cerca de 140 Km até a foz em Camaçari e interceptando os territó-
rios municipais de Amélia Rodrigues, Terra Nova, Santo Amaro, São a maior parte
Sebastião do Passé, Mata de São João, Dias D’Ávila e Camaçari, con- da área está
forme descreve os estudos de Lima (2007, p. 4) e da Companhia de sendo ocupada
Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM) (2013, p. 23). A Bacia do Rio por pastagens,
Jacuípe limita-se ao sul com a Bacia do Rio Joanes; ao norte com a contribuindo
Bacia do Rio Pojuca, a oeste com o Rio Subaé e, a leste, com o Oceano com processos
Atlântico, contando no seu curso com a Barragem Santa Helena, con- erosivos, aliados
forme o Plano de Abastecimento de Água da RMS (BAHIA, 2016, p. 19) e à precária
Sousa (2021, p. 73). distribuição
dos serviços de
Em função da sua localização estratégica, da intensa urbanização e dos saneamento
serviços de infraestrutura, a região contempla uma diversidade de ati-
vidades produtivas de diferentes tipologias que propiciam suporte ao
setor econômico, aspectos que contribuem para diversas modalidades
de ações antrópicas e impactos socioambientais que tensionam os ma-
nanciais, influenciando na disponibilidade e na qualidade hídrica, con-
forme Sousa (2014, p. 34).
Figura 3
Área de atuação do Projeto Guardiões das Águas – Bahia
Desde 2016, o Projeto Guardiões das Águas vem sendo executado pela
Embasa, tendo como parceiros o Instituto de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos (Inema), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA), sendo o controle so-
cial exercido pela Unidade Gestora do Projeto (UGP). Para o alcance da
sua finalidade foram estabelecidas três metas:
Bahia anál. dados,
Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
89
Projeto guardiões das águas como contribuinte para inserção do Pagamento por Serviços Ambientais em mananciais de
Artigos abastecimento de água na Região Metropolitana de Salvador (BA)
Quadro 1
Áreas contempladas pelo Projeto Guardiões das Águas dos rios Joanes e Jacuípe – Bahia
Coordenadas
Bacia Assentamento/ (24L Sirgas 2000)
Hidrográfica Comunidade Municípios
x y
PA Panema Dias D’Ávila/São Sebastião do Passé/Mata São João 567220 861322
J
a PA Paulo Jackson São Sebastião do Passé 567468 8618375
c PA Três de Abril São Sebastião do Passé 546441 8622075
u
i Núcleo Colônia JK Mata de São João 583597 8618389
p Cancelas Camaçari 592173 8611203
e
Alto de Santa Helena Dias D’Ávila 589659 8609725
J Fazenda Santa Maria Camaçari 569871 8594546
o
a Fazenda Guerreiro Simões Filho 569553 8592411
n Fazenda Petecaba Candeias 560997 8598341
e
s Quilombo Dandá Simões Filho 565522 8594621
Fonte: Elaboração do autor.
RESULTADOS ALCANÇADOS
Quadro 2
Panorama das metas do Projeto Guardiões das Águas dos rios Joanes e Jacuípe – Bahia
Metas Descrição Período Resultados
Mobilização de pequenos proprietários rurais dos dez
320 imóveis cadastrados
municípios para o cadastro de 300 imóveis rurais no CEFIR1 e 2017 a 2018
1 UGP em atividade
formação da Unidade Gestora do Projeto (UGP)
Dez projetos elaborados
Elaboração, implementação e manutenção de dez projetos de 104 nascentes, 109 ha de margens
2018 a 2022
2 Recuperação Florestal de APP e Educação Ambiental Crítica de rios recuperados e 39 oficinas
de EA realizadas
Elaboração do Plano Regional de Pagamento por Serviços
3 12/2022 Concluído
Ambientais (PSA)
Fonte: Bahia (2022a).
Figura 4
Representação das linhas de plantio para restauração florestal do Projeto
Guardiões das Águas – Bahia
Elaborado a partir das diretrizes das Leis n.º 14.119/21 e n.º 13.223/2015,
que instituem, respectivamente, as políticas federal e estadual de
Pagamentos por Serviços Ambientais, o Plano Regional de PSA configu-
ra-se como um instrumento de apoio à criação e à implementação das
políticas públicas municipais de PSA nas bacias hidrográficas (BAHIA,
2015; BRASIL, 2021).
ambientais;
Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
95
Projeto guardiões das águas como contribuinte para inserção do Pagamento por Serviços Ambientais em mananciais de
Artigos abastecimento de água na Região Metropolitana de Salvador (BA)
Figura 5
Mapa das modalidades propostas de PSA para o Sítio São Francisco, Alto de Santa Helena – Dias d’Ávila, Bahia
quais destacam-se:
Salvador, v. 32, n. 2,
p.78-107, jul.-dez. 2022
99
Projeto guardiões das águas como contribuinte para inserção do Pagamento por Serviços Ambientais em mananciais de
Artigos abastecimento de água na Região Metropolitana de Salvador (BA)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
COELHO, Nayra Rosa et al. Panorama das iniciativas de pagamento por servi-
ços ambientais hídricos no Brasil. Engenharia Sanitária e Ambiental, Rio de Ja-
neiro, v. 26, n. 3, p. 409-415, maio/jun. 2021. Disponível em: https://www.scielo.
br/j/esa/a/KYdQZCSVWYDK8Sg7vSpCPvQ/. Acesso: 5 abr. 2023.
MATO GROSSO DO SUL. Lei n.º 5.235, de 16 de julho de 2018. Dispõe sobre
a Política Estadual de Preservação dos Serviços Ambientais, cria o Programa
Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais (PESA) e estabelece um
Sistema de Gestão deste Programa. Diário Oficial do Estado do Mato Grosso
do Sul, Campo Grande, 17 jul. 2018. Disponível em: https://leisestaduais.com.
br/ms/lei-ordinaria-n-5235-2018-mato-grosso-do-sul-dispoe-sobre-a-politica-
-estadual-de-preservacao-dos-servicos-ambientais-cria-o-programa-estadual-
-de-pagamento-por-servicos-ambientais-pesa-e-estabelece-um-sistema-de-
-gestao-deste-programa. Acesso em: 16 jan. 2022.
REIS, Josimar Vieira; SILVA, Leônio José Alves. Análise do panorama da legisla-
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em: https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/desenvolvimentoemquestao/
about/contact. Acesso em: 19 out. 2022.
SALZMAN, James et al. The global status and trends of Payments for Ecosys-
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ponível em: https://agriculture.vermont.gov/sites/agriculture/files/documents/
Water_Quality/Ryan/PES/Salzman_et_al-2018-Nature_Sustainability.pdf.
Acesso em: 14 mar. 2023.
SOUSA, Geneci Braz de. Conselho gestor da APA Joanes-Ipitanga e suas con-
tribuições para o fortalecimento da gestão ambiental de municípios da Região
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tão Ambiental em Municípios) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
Medianeira, 2014. Disponível em: https://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstre-
am/1/22706/2/MD_GAMUNI_2014_2_38.pdf. Acesso em: 24 nov. 2022.
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Rede Nacional) - Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, Salvador,
2021. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/33919/1/TCC%20
-%20GENECI%20BRAZ%20DE%20SOUSA.pdf. Acesso em: 21 out. 2022.
Abstract
The emergence of environmental issues on a global level has driven strategies
to mitigate anthropic degradation and promote the provision of environmental
services; among them is the diffusion of the economic instrument known
as Payment for Environmental Services (PES). In Bahia, the municipality of
Ibirapitanga, located in the Baixo Sul region, was the pioneer in adopting
the instrument, with the approval of the Municipal Law of PES in 2014. In
this context, this article reports on this experience, highlighting advances
and challenges for the consolidation and expansion of PES in Bahia. The
methodology used was based on bibliographic and documentary research,
besides the collection and analysis of data obtained from the Terrabrasilis
platform, related to deforested areas in the period between the years 2015 and
2021. The results show that four years after the implementation of the policy,
the PES adds up to 20 ha of degraded pastures under recovery and 30 ha
of forest restoration in permanent protection area (APP) of a river, and 1,225
ha of forests conserved by vegetative practices. The financial incentives for
the promotion of sustainable practices were possible due to the institutional
arrangement of the public-private partnership. Despite the advances, there
are challenges to be overcome, such as the strengthening of the institutional
arrangement, adoption of mechanisms to attract private investors, expansion
of the program’s technical team, and expansion of technical assistance services
and monitoring of results. The pioneering and successful implementation of
the Ibirapitanga Water Producer Program makes the municipality an inductive
model of PES in the state of Bahia.
Keywords: hydric PES; Mata Atlântica; sustainability; economic incentive.
Artigos
Figura 1
Mapa de localização do município de Ibirapitanga, no estado da Bahia, e sua inserção na APA do Pratigi
Tabela 1
Número de nascentes e extensão dos rios por microbacias do Programa Municipal de Pagamento por Serviços
Ambientais – Ibirapitanga, Bahia – 2019
N.º de Rede de
N° Microbacia nascentes drenagem Rios/Riachos
(km)
1 Rio Buris 347 896 Rio Buris; Riacho Dantas e Riacho da Papuã
2 Rio do Meio e Gatos 212 519 Rio do Meio e Rio dos Gatos
3 Rio Jacuba 226 573 Riacho Pitiã; Riacho do Jacarandá e Rio Jacuba
Rio Oricó Grande; Riacho Palmeira e Riacho do
4 Rio Médio Oricó 221 743
Oricozinho
5 Rio Pardo 192 353 Rio Pardo e Rio Cajazeiras
6 Rio Santo 80 196 Rio Santo
7 Rio Baixo Oricó 132 463 Rio Acarás e Rio Oricó Grande
8 Rio Tanque 132 344 Rio Tanque e Riacho da Serra de Areia
Rio Revés; Rio Cachoeira do Pau; Riacho da Água
9 Rio Revés 34 45
Vermelha e Riacho do Marimbú
Total Geral 1.576 4.133 22
Fonte: Organização de Conservação da Terra (2019).
Segundo Moreira (2018), a escolha da área para a fase inicial do proje- Os benefícios
to foi reforçada quando se observa a forma do arranjo social, econô- do PSA para
mico e ambiental. E revela a tradição local do cultivo de cacau através os produtores
de sistemas agroflorestais dos proprietários rurais que, associado às rurais de
características topográficas de solo e clima, fortaleceram o argumento Ibirapitanga
para implantação do PSA. se revestem
não apenas
As primeiras intervenções foram realizadas nas microbacias do Rio Buris,
pelos aportes
do Rio do Meio e Gatos e do Rio Jacuba, que juntas abrangem 13.353
monetários,
ha e representam 32,15% das microbacias do Rio Oricó (IBIRAPITANGA,
2015b). O edital do projeto, em janeiro de 2015, contemplou as seguintes mas também
etapas: 1) lançamento e divulgação do edital; 2) adesão dos proprie- pelas doações
tários; 3) pré-seleção dos inscritos; 4) visita de campo às proprieda- recebidas, a
des; 5) validação das áreas e cálculo das remunerações; 6) classifica- exemplo de
ção dos proprietários; 7) contratação mediante o Projeto Integrado da mudas, cercas,
Propriedade e elaboração do Plano de Trabalho; 8) execução de pro- fossas sépticas,
jetos; 9) monitoramento das atividades contratadas e; 10) premiação máquinas,
pelos serviços ambientais (OCT, 2019; SOUSA, 2021). assistência
técnica e
O Comitê Gestor era formado por membros das seguintes instituições: extensão rural
Prefeitura Municipal de Ibirapitanga; Consórcio Intermunicipal da Área
de Proteção Ambiental (APA) do Pratigi; Empresa Baiana de Águas
e Saneamento (Embasa); Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia da Bahia (IFBA); Universidade Estadual de Feira de Santana
(UEFS); Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); OCT;
Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio das Contas; Instituto Cabruca;
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar); ANA; Sindicato
Rural de Ibirapitanga e Associação Comunitária Joaquim da Mata
(ORGANIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DA TERRA, 2019; SOUZA, 2021).
Em que:
Quadro 1
Caracterização dos grupos que integram a valoração do PSA Ibirapitanga
Grupo Composição da nota
Critérios relacionados às características e ações que garantem a
N1 = RECURSOS
qualidade e disponibilidade de água na propriedade, especialmente nos
HÍDRICOS
aspectos relacionados a nascentes e rios presentes na área.
N2 = CONSERVAÇÃO Critérios relacionados às características ambientais, localização e ações
DE ÁREAS NATURAIS que garantem a qualidade dos ambientes naturais da propriedade.
Critérios relacionados à produção agropecuária da propriedade,
N3 = PRODUÇÃO
buscando reconhecer e incentivar a adoção de práticas conservacionistas
AGROPECUÁRIA
de uso do solo.
N4 = GESTÃO DA Critérios relacionados à gestão da propriedade, buscando reconhecer
PROPRIEDADE e incentivar a valorização da propriedade.
Fonte: Organização de Conservação da Terra (2019).
Quadro 2
Quantitativo alcançado pelo Programa Produtor de Água de Ibirapitanga (2018 a 2021)
Período
2018 2021
125 famílias de agricultores beneficiadas pelo PSA 310 famílias de agricultores beneficiadas pelo PSA financeiro
financeiro e não financeiro e não financeiro
RESULTADOS ALCANÇADOS
3 As estradas vicinais ecológicas consistem na inclinação vertical do eixo da estrada, que evita
o acúmulo de água em seu leito e canaliza a água de chuva, a fim de evitar que cause buracos
nas estradas e assoreie os cursos de água. Dessa forma, aumenta-se a durabilidade da estrada,
evita-se a degradação do solo e ainda aproveitam-se as águas da chuva que se infiltram no
Bahia anál. dados,
solo recarregando o lençol freático e contribuindo para o desenvolvimento da cobertura vegetal
(SILVA FILHO, 2022).
Salvador, v. 32, n. 2,
p.108-132, jul.-dez. 2022
121
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: a experiência pioneira na Bahia do Programa Produtor de Água de Ibirapitanga
Gráfico 1
Incrementos de desmatamento – Ibirapitanga, Bahia – 2015-2021
2,5
1,5
Áreas (km2)
0,5
0
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
-0,5
Período
Tabela 2
Incremento de desmatamento em área (km2), acumulado por ano – Mata Atlântica,
Ibirapitanga, Bahia – 2015-2021
Até 2018, apenas nas primeiras quatro microbacias Rio Buris, Rio do
Meio e Gatos, Rio Jacuba e Rio Médio Oricó, foram readequados cerca
de 20 ha de pasto degradado com 10 mil metros de terraços e realizada
a restauração florestal de 30 ha de área de Proteção Permanente (APP)
de rio, além de aproximadamente 1.225 ha de florestas conservadas por
práticas vegetativas (IBIRAPITANGA, 2021).
Figura 1
Início das ações de boas práticas ambientais (ano 2017)
Figura 2
Mesma área recuperada (ano 2021)
Figura 3
Início das ações de boas práticas ambientais (ano 2019)
Figura 4
Mesma área recuperada (ano 2021)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
IBIRAPITANGA. Edital de PSA Hídrico n.º 01/2015. Chamada pública para ele-
ção de propriedades rurais para participar do Projeto Produtor de Água Pratigi
– Ibirapitanga. Diário Oficial do Município, Ibirapitanga, 3 dez. 2015b. Disponível
em: https://www.ibirapitanga.ba.gov.br/Handler.ashx?f=diario&query=960&c=3 Bahia anál. dados,
IBIRAPITANGA. Edital de PSA Hídrico n.º 01/2016. Chamada pública para sele-
ção de propriedades rurais para participar do Projeto Produtor de Água Pratigi
– Ibirapitanga. Diário Oficial do Município, Ibirapitanga, 10 maio 2016. Disponí-
vel em: https://www.ibirapitanga.ba.gov.br/Handler.ashx?f=diario&query=1096&
c=307&m=0. Acesso em: 30 set. 2022.
IBIRAPITANGA. Edital de PSA Hídrico n.º 01/2017. Chamada pública para sele-
ção de propriedades rurais para participar do Projeto Produtor de Água Pratigi
– Ibirapitanga. Diário Oficial do Município, Ibirapitanga, 3 abr. 2017. Disponível
em: https://www.ibirapitanga.ba.gov.br/Handler.ashx?f=diario&query=1321&c=3
07&m=0. Acesso em: 10 out. 2022.
SALZMAN, J. et al. The global status and trends of Payments for Ecosystem
Services. Nature Sustainability, [s. l.], v. 1, n. 3, p. 136-144, 2018.
Abstract
Payment for environmental services programs are spreading in Brazil and
the “Protetor das Águas” Project in Vera Cruz/RS is one of the pioneers in
the country in terms of water generation. The general objective of this work
was to analyze the population segments, based on the types of rural owners,
that are part of the “Protetor das Águas” Project of Vera Cruz/RS and the
socioeconomic, situational, and attitude and behavior variables. The article
used a qualitative and descriptive research approach based on the Gil (2020)
database. The Mann-Whitney U statistical test was used to determine if there
is a difference between the types of project participants. The results showed
that Type B participants (retired and lifestyle) are more likely to trust some
institutions than Type A participants (part-time or full-time farmers). These
results can be explained by the fact that the opportunity cost of type A
landowners is higher than those of type B. Furthermore, it can also be inferred
that type A participants may be underrepresented in the project compared to
the potential for participation. To broaden the understanding of this reality,
studies are suggested that can clarify this hypothesis.
Keywords: payment for environmental services; water; ecosystem services.
Artigos
S A M A N TA O N G A R AT TO G I L
climáticas são alguns fatores que estão
Mestra e doutoranda do Programa de ligados à desregulação dos serviços
Pós-Graduação em Agronegócios da
Universidade Federal do Rio Grande do ecossistêmicos. Resolver esses problemas
Sul (UFRGS), graduada em Administração
de Empresas pela Pontifícia Universidade passa decididamente pelo suporte a práticas
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
samantaogil@gmail.com.
que promovam esses serviços.
https://orcid.org/0000-0001-8360-1546
doi.org/10.56839/bd.v32i2.a6
com estresse hídrico. Além disso,
aproximadamente 3,6 bilhões de pessoas
enfrentaram acesso inadequado à água
durante, ao menos, um mês desse ano.
A previsão é que, em 2050, mais de cinco
bilhões de pessoas estejam nessa situação.
Embora o Ainda que o Brasil tenha grande quantidade de água disponível para
Brasil já tenha consumo, o país teve uma redução de 15,7% em sua superfície de água,
a presença de de 1991 a 2020, de acordo com o MapBiomas (2021). Conforme Lesk et
muitas ações al. (2021), os rendimentos de alimentos como milho e soja são aproxima-
de pagamentos damente 40% mais sensíveis ao calor quando cultivados em locais em
que as altas temperaturas são acompanhadas por secas, em oposição a
de serviços
plantações em terras agrícolas, onde o clima mais quente não significa
ambientais, a
efetivamente menos água.
pesquisa sobre
essa temática Conforme a Food and Agriculture Organization of the United Nations
ainda merece (2015), cerca de 9% das exportações agrícolas mundiais tiveram como
destaque origem o Brasil, que é um dos maiores produtores de açúcar, suco de
laranja, café, carne de aves, milho, arroz e carne bovina.
Um dos maiores De acordo com Bithas (2011), para que as externalidades possam ser
problemas internalizadas, é preciso que os valores sejam definidos em termos
enfrentados monetários.
pelo PSA diz
respeito à Ainda assim, para Farley (2012), o PSA é mais bem definido como ma-
rket like em vez de market based. Isso ocorre porque os serviços ecos-
viabilidade
sistêmicos não podem preencher os critérios de classificação enquanto
financeira dos
mecanismos de mercado. Logo, embora haja uma aproximação com a
projetos no
ideia de bens econômicos, de acordo com Farley e Costanza (2010), a
decorrer dos transformação dos serviços em bens de mercado é improvável, já que a
anos maioria desses bens são públicos ou bens comuns por natureza.
Muradian et al. (2013, p. 276) concordam que a maioria dos PSAs não
pode ser considerada instrumentos de mercado porque a sua formulação
não se adequa à complexidade do conceito de mercado.
Figura 1
A lógica dos pagamentos por serviços ambientais
Conservação florestal
Conversão Conservação
com pagamento(s)
para pasto florestal
serviços ambientais
Pagamento(s)
Pagamento mínimo
Benefícios para
os gestores do
ecossistema
Redução
de serviços
hídricos
Pagamento por
serviços
Custos para as Perda de
populações a biodiversidade
jusante e outros
Pagamento máximo
Emissão de
carbono
Figura 2
Os dois tipos tradicionais de financiamento de PSA
Serviço Serviço
Usuários do
Promotores Usuários do serviço
do serviço serviço Promotores
do serviço
Pagamento
Governo
Pagamento
A Figura 3 indica a localização central de Vera Cruz no mapa do estado Bahia anál. dados,
Figura 3
Ilustração com a localização do município de Vera Cruz no estado do Rio Grande do Sul
Figura 4
Modelo de PSA utilizado no município de Vera Cruz (RS)
Usuários recebem Proprietários rurais
água de qualidade recebem pagamentos
e outros benefícios por
seus serviços
Disponibilidade de
água para população, Proprietários rurais
agricultura, indústria preservam o leito do
e outros Arroio Andréas
Promoção de serviços
ecossistêmicos, entre
os quais a produção e
melhora da qualidade
da água
Fonte: elaborado pelos autores (2022).
Em relação aos dados utilizados neste artigo, os mesmos são oriun- O estudo de
dos da base de dados de Gil (2020). A pesquisadora aplicou ques- Morrison et al.
tionários no campo de estudo, nos meses de agosto e setembro de (2008) foi um
2019, para agricultores participantes do Projeto Protetor das Águas de dos primeiros
Vera Cruz (RS) e obteve o retorno de 39 dos 63 integrantes do pro- na literatura
grama, totalizando aproximadamente 62% do total. De acordo com sobre serviços
Gil (2020), a coleta de dados foi feita individualmente e de forma pre-
ecossistêmicos
sencial nas propriedades dos participantes, e os questionários foram
que buscaram
preenchidos manualmente.
identificar
Os questionários contêm 45 questões principais, além de questões se- características
cundárias, e estão divididos em três grandes categorias. As diferentes promotoras da
partes dizem respeito ao conjunto de dados que foram coletados: dados participação
socioeconômicos, situacionais e de atitudes e comportamentos. Essa voluntária em
última parte do questionário foi subdividida em oito seções: confiança, programas
lucro, satisfação, responsabilidade ambiental, inovador, orientação em- de incentivo e
presarial, buscador de informação e conectividade social. os diferentes
tipos populacio-
É importante salientar que o questionário utilizado por Gil (2020) foi nais que fazem
baseado naquele utilizado por Morrison et al. (2008) em seu estudo parte de tais
realizado na Austrália e intitulado Encouraging Participation in Market iniciativas
Based Instruments and Incentive Programs. O objetivo desse estudo foi
gerar informações de como modelar e implementar incentivos e instru-
mentos de mercado para aumentar a participação de agricultores em
tais iniciativas. O estudo de Morrison et al. (2008) foi um dos primei-
ros na literatura sobre serviços ecossistêmicos que buscaram identifi-
car características promotoras da participação voluntária em progra-
mas de incentivo e os diferentes tipos populacionais que fazem parte
de tais iniciativas.
Quadro 1
Tipos de proprietários, conforme resposta ao questionário de Gil (2020)
Tipo A – Agricultor em tempo Tipo B – Aposentados
parcial ou integral e estilo de vida
Opção 1 - Eu sou um agricultor em tempo
Opção 3 - Eu sou um agricultor semi-
integral - é assim que eu ganho a vida e
aposentado. Moro e/ou trabalho na minha
trabalho na minha propriedade rural na
propriedade rural a maior parte do tempo.
maioria dos dias.
Opção 2 - Eu sou agricultor de meio período -
Opção 4 - Eu sou um agricultor aposentado -
trabalho fora da minha propriedade rural em
moro na terra, mas outra pessoa administra a
parte do tempo e/ou uma boa parte da minha
minha propriedade rural agora.
renda vem de fontes não agrícolas.
Opção 5 - Eu vivo na terra pelo estilo de vida
- sou alguém que mora na terra, mas não me
considero agricultor
Opção 6 - Aposentado e residente
Fonte: elaborado pelos autores (2022).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1
Análise estatística das respostas à pergunta 16 do questionário de Gil (2020)
O governo Federal pode ser confiável. O nível de concordância 0,489 Reter a hipótese nula -
com a sentença é igual
De um modo geral, outros agricultores para os dois tipos de 0,489 Reter a hipótese nula -
podem ser confiáveis. agricultores
Tabela 2
Análise estatística das respostas à pergunta 17 do questionário de Gil (2020)
Tabela 3
Análise estatística das respostas à pergunta 18 do questionário de Gil (2020)
Tabela 4
Análise estatística das respostas à pergunta 19 do questionário de Gil (2020)
2 Vale ressaltar que a pergunta 19 teve escala de numérica de resposta de 1 a 10, e a pergunta 39
teve escala numérica de 1 a 3, diferentemente das escalas numéricas das perguntas anteriores
(1 a 5). Nesse sentido, vale destacar que o questionário utilizado nesta pesquisa foi o mesmo que
Morrison et al. (2008) utilizaram em sua pesquisa, o qual foi testado anteriormente e gentilmente
Bahia anál. dados,
cedido para a realização desta análise. O aumento da escala tentou captar melhor as respostas
à pergunta realizada.
Salvador, v. 32, n. 2,
p.134-159, jul.-dez. 2022
151
Artigos Pagamento por Serviços Ambientais: tipos dos participantes do Projeto Protetor das Águas em Vera Cruz (RS)
Tabela 5
Análise estatística das respostas às perguntas 36 a 43 e 45 do questionário de Gil (2020)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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