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RCL 58500 AgR - Nunes Marques

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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 33

22/08/2023 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NA RECLAMAÇÃO 58.500 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. NUNES MARQUES


REDATOR DO : MIN. GILMAR MENDES
ACÓRDÃO
AGTE.(S) : NADJA DURAES TEIXEIRA
ADV.(A/S) : ARI ALVES DE OLIVEIRA FILHO
AGDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SÃO PAULO
INTDO.(A/S) : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO
PAULO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

Agravo Regimental em Reclamação. 2. Ofensa à decisão do STF nas


ADIs 4901, 4902, 4903 e 4937. 3. Decisão reclamada aplicou o antigo
Código Florestal para fins de cumprimento do Termo de Ajustamento de
Conduta firmado com o Ministério Público do Estado de São Paulo. 4.
Regra do novo Código Florestal considerada mais benéfica. Norma
declarada constitucional pelo STF. 5. Reclamação julgada procedente
para, cassando as decisões reclamadas, proferidas nos autos do Processo
n. 1000611- 15.2018.8.26.0483, determinar que outra seja proferida com
observância do que decidido por esta Corte no julgamento das ADIs
4.901, 4.902, 4.903 e 4.937.
AC ÓRDÃ O
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do
Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a presidência do
Senhor Ministro Dias Toffoli, na conformidade da ata de julgamento e das
notas taquigráficas, por maioria de votos, dar provimento ao agravo
regimental e julgar procedente o pedido para, cassando as decisões
reclamadas, proferidas nos autos do Processo n. 1000611-
15.2018.8.26.0483, determinar que outra seja proferida com observância
do que decidido por esta Corte no julgamento das ADIs 4.901, 4.902, 4.903
e 4.937, nos termos do voto do Redator para acórdão.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 0640-0914-8C2C-79E2 e senha AF32-8407-0F3F-28F0
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Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 2 de 33

RCL 58500 AGR / SP

Brasília, Sessão Virtual de 11 a 21 de agosto de 2023.


Ministro GILMAR MENDES
Redator para o acórdão
Documento assinado digitalmente

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 0640-0914-8C2C-79E2 e senha AF32-8407-0F3F-28F0
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Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 3 de 33

03/07/2023 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NA RECLAMAÇÃO 58.500 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. NUNES MARQUES


REDATOR DO : MIN. GILMAR MENDES
ACÓRDÃO
AGTE.(S) : NADJA DURAES TEIXEIRA
ADV.(A/S) : ARI ALVES DE OLIVEIRA FILHO
AGDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SÃO PAULO
INTDO.(A/S) : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO
PAULO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES: Nadja Duraes


Teixeira interpôs agravo interno de decisão em que neguei seguimento à
reclamação por entender que não há estrita aderência entre o conteúdo do
ato reclamado e a orientação firmada nas ADIs 4.901, 4.902, 4.903 e 4.937 e
na ADC 42.

Insiste que o debate travado na origem coincide com a matéria


versada nos paradigmas indicados.

Segundo narra, o acórdão reclamado foi prolatado no âmbito de


embargos à execução relacionados a cumprimento de termo de
ajustamento de conduta (TAC) firmado com o Ministério Público do
Estado de São Paulo.

Sustenta que o Tribunal reclamado negou aplicabilidade à Lei n.


12.651/2012, cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo Supremo, em
razão de o acordo ter sido celebrado na vigência do antigo Código
Florestal (Lei n. 4.771/1965).

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código DCB9-90E4-8E98-43B3 e senha A23A-75B5-12B1-CEA8
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Relatório

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RCL 58500 AGR / SP

Pontua determinada a demarcação da reserva legal sem o cômputo


da área de preservação permanente, o que, segundo argui, implica
desrespeito ao entendimento fixado nos aludidos processos objetivos.

Aduz que a observância, no caso, dos princípios do tempus regit


actum e da vedação ao retrocesso, para fins de definição da legislação
aplicável na execução do termo de ajustamento de conduta, implica
contrariedade aos paradigmas.

Requer a cassação da decisão reclamada.

É o relatório.

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Voto - MIN. NUNES MARQUES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 5 de 33

03/07/2023 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NA RECLAMAÇÃO 58.500 SÃO PAULO

VOTO

O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES (RELATOR): O


agravo interno, protocolado por advogado constituído, foi interposto no
prazo legal. Conheço do recurso.

Entendo que o pronunciamento agravado deve ser mantido.

Esta Corte, no julgamento conjunto das ADIs 4.901, 4.902, 4.903 e


4.937 e da ADC 42, analisou a compatibilidade, com a Constituição de
1988, de diversos preceitos normativos encartados na Lei n. 12.651/2012
(Código Florestal).

O Tribunal reclamado, por sua vez, considerou inaplicável o novo


diploma em virtude de o termo de ajustamento de conduta (TAC), objeto
da execução promovida na origem, ter sido firmado sob a égide da
legislação ambiental revogada (Lei n. 4.771/1965). Transcrevo a ementa do
acórdão questionado:

EXECUÇÃO DE TAC – EMBARGOS – DEMARCAÇÃO,


INSTITUIÇÃO E AVERBAÇÃO DE RESERVA LEGAL –
RECUPERAÇÃO DE APP – ALEGAÇÃO DE
DESCUMPRIMENTO DO TAC FIRMADO – OBRIGAÇÃO
ASSUMIDA NA VIGÊNCIA DO ANTERIOR CÓDIGO
FLORESTAL – DEVER DE INSTITUIÇÃO DE TAL ÁREA DE
ACORDO COM A LEI Nº 4.771/65 – DESCUMPRIMENTO
DOTERMO, ADEMAIS, COMPROVADO POR LAUDO
PERICIAL – EMBARGOS À EXECUÇÃO IMPROCEDENTES –
RECURSO PROVIDO. Tendo sido demonstrado por meio das
provas periciais contidas nos autos [...] que houve o
descumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta
firmado com o Ministério Público no que concerne à instituição,

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Voto - MIN. NUNES MARQUES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 6 de 33

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demarcação e isolamento de reserva legal e, ainda, à


recomposição das áreas de preservação permanente, vê-se que
por ter sido firmado aludido termo quando estava em vigor a
Lei nº 4.771/65, deve seguir os preceitos do Código Florestal
anterior, conforme entendimento predominante exarado pelo C.
STJ. Assim, de rigor o reconhecimento da improcedência do
feito, mas determinando que os executados procedam à
instituição da área de reserva legal de acordo com os arts. 16, IV,
e 44, bem como que recupere as áreas de preservação
permanente, de modo que se proceda à regeneração natural.
Recurso do autor provido para tal fim.

Inexiste, no caso, pronunciamento a respeito da validade de


dispositivos do atual Código Florestal, mas simples análise acerca do
diploma legislativo incidente à luz de regras de direito intertemporal.

Não se verifica, portanto, estrita aderência entre a situação narrada e


o objeto de julgamento nos paradigmas de efeito vinculante evocados.

A meu sentir, as alegações da parte agravante decorrem de mero


inconformismo com a decisão impugnada. Com efeito, não foram
articulados argumentos aptos a infirmá-la, o que sinaliza pretender a
recorrente apenas a rediscussão da matéria.

Do exposto, nego provimento ao agravo.

É como voto.

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 7 de 33

AG.REG. NA RECLAMAÇÃO 58.500 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. NUNES MARQUES


AGTE.(S) : NADJA DURAES TEIXEIRA
ADV.(A/S) : ARI ALVES DE OLIVEIRA FILHO
AGDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SÃO PAULO
INTDO.(A/S) : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO
PAULO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

VOTO–VOGAL

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES: Trata-se de agravo


regimental interposto contra decisão monocrática que negou provimento
a reclamação proposta por Nadja Duraes Teixeira, em face de acórdão
proferido pela 2ª Câmara Reservada ao Meio Ambiente do Tribunal de
Justiça de São Paulo, nos autos do Processo n. 1000611- 15.2018.8.26.0483.
Na petição inicial, a reclamante sustenta, em síntese, que a decisão
reclamada ofende a autoridade desta Corte, consubstanciada na ADIs
4901, 4902, 4903 e 4937.
Narra que o Juízo reclamado aplicou o antigo Código Florestal (Lei
4.771/1965) para fins de cumprimento de Termo de Ajustamento de
Conduta firmado com o Ministério Público do Estado de São Paulo.
Sustenta que o Código Florestal de 2012 (Lei n. 12.651/12) prevê
regras mais benéficas ao proprietário rual e, por isso, deveria ser aplicado
ao caso concreto. Além disso, anota que esta Corte afastou os princípios
do tempus regit actum e da vedação ao retrocesso ambiental da
interpretação da nova legislação ambiental.
O relator encaminhou voto pela manutenção de sua decisão
monocrática, por entender não haver “estrita aderência entre a situação
narrada e o objeto de julgamento nos paradigmas de efeito vinculante
evocados”.
Peço vênia para divergir.

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Voto Vogal

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Destaco, inicialmente, que a reclamante sustenta violação ao


decidido por esta Corte no julgamento das ADIs 4901, 4902, 4903 e 4937
(Rel. Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, DJe 13.8.2019).
Eis a ementa desse julgado conjunto, na parte em que interessa:

“DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO AMBIENTAL.


ART. 225 DA CONSTITUIÇÃO. DEVER DE PROTEÇÃO
AMBIENTAL. NECESSIDADE DE COMPATIBILIZAÇÃO
COM OUTROS VETORES CONSTITUCIONAIS DE IGUAL
HIERARQUIA. ARTIGOS 1º, IV; 3º, II E III; 5º, CAPUT E XXII;
170, CAPUT E INCISOS II, V, VII E VIII, DA CRFB.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. JUSTIÇA
INTERGERACIONAL. ALOCAÇÃO DE RECURSOS PARA
ATENDER AS NECESSIDADES DA GERAÇÃO ATUAL.
ESCOLHA POLÍTICA. CONTROLE JUDICIAL DE POLÍTICAS
PÚBLICAS. IMPOSSIBILIDADE DE VIOLAÇÃO DO
PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO. EXAME DE RACIONALIDADE
ESTREITA. RESPEITO AOS CRITÉRIOS DE ANÁLISE
DECISÓRIA EMPREGADOS PELO FORMADOR DE
POLÍTICAS PÚBLICAS. INVIABILIDADE DE ALEGAÇÃO DE
VEDAÇÃO AO RETROCESSO. NOVO CÓDIGO FLORESTAL.
AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE E AÇÃO
DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE JULGADAS
PARCIALMENTE PROCEDENTES.
(...)
22. Apreciação pormenorizada das impugnações aos
dispositivos do novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012):
(...)
(n) Art. 68 (Dispensa de os proprietários que realizaram
supressão de vegetação nativa respeitando os percentuais da
legislação revogada se adaptarem às regras mais restritivas do
novo Código Florestal): A aplicação da norma sob a regra
tempus regit actum para fins de definição do percentual de
área de Reserva Legal encarta regra de transição com vistas à
preservação da segurança jurídica (art. 5º, caput, da
Constituição). O benefício legal para possuidores e

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Voto Vogal

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proprietários que preservaram a vegetação de seus imóveis


em percentuais superiores ao exigido pela legislação anterior,
consistente na possibilidade de constituir servidão ambiental,
Cota de Reserva Ambiental e outros instrumentos congêneres,
traduz formato de política pública inserido na esfera de
discricionariedade do legislador; CONCLUSÃO: Declaração
de constitucionalidade do artigo 68 do Código Florestal;
(…)
(p) Art. 15 (Possibilidade de se computar as Áreas de
Preservação Permanente para cômputo do percentual da
Reserva Legal, em hipóteses legais específicas): As Áreas de
Preservação Permanente são zonas específicas nas quais se
exige a manutenção da vegetação, como restingas, manguezais
e margens de cursos d’água. Por sua vez, a Reserva Legal é um
percentual de vegetação nativa a ser mantido no imóvel, que
pode chegar a 80% (oitenta por cento) deste, conforme
localização definida pelo órgão estadual integrante do Sisnama
à luz dos critérios previstos no art. 14 do novo Código Florestal,
dentre eles a maior importância para a conservação da
biodiversidade e a maior fragilidade ambiental. Em regra,
consoante o caput do art. 12 do novo Código Florestal, a fixação
da Reserva Legal é realizada sem prejuízo das áreas de
preservação permanente. Entretanto, a incidência cumulativa
de ambos os institutos em uma mesma propriedade pode
aniquilar substancialmente a sua utilização produtiva. O
cômputo das Áreas de Preservação Permanente no percentual
de Reserva Legal resulta de legítimo exercício, pelo legislador,
da função que lhe assegura o art. 225, § 1º, III, da Constituição,
cabendo-lhe fixar os percentuais de proteção que atendem da
melhor forma os valores constitucionais atingidos, inclusive o
desenvolvimento nacional (art. 3º, II, da CRFB) e o direito de
propriedade (art. 5º, XXII, da CRFB). Da mesma forma, impedir
o cômputo das áreas de preservação permanente no cálculo da
extensão da Reserva Legal equivale a tolher a prerrogativa da
lei de fixar os percentuais de proteção que atendem da melhor
forma os valores constitucionais atingidos; CONCLUSÃO:

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Declaração de constitucionalidade do artigo 15 do Código


Florestal;
(s) Arts. 59 e 60 (Programas de Regularização Ambiental -
PRAs): Os Programas de Regularização Ambiental (PRAs)
promovem transição razoável entre sistemas legislativos,
revelando técnica de estabilização e de regularização das
situações jurídicas já utilizada em outras searas do Direito
brasileiro que igualmente envolvem a proteção de bens
jurídicos igualmente indisponíveis. Eventual mora dos entes
federados na regulamentação dos PRAs deverá ser combatida
pelas vias próprias, não fulminando de inconstitucionalidade a
previsão do novo Código Florestal. Necessidade de resguardar
a interrupção da prescrição punitiva durante a execução do
PRA, mediante interpretação conforme dos dispositivos
questionados. CONCLUSÃO: Interpretação conforme do artigo
59, §§4º e 5º, de modo a afastar, no decurso da atuação de
compromissos subscritos nos Programas de Regularização
Ambiental, o risco de decadência ou prescrição, seja dos ilícitos
ambientais praticados antes de 22.07.2008, seja das sanções dele
decorrentes, aplicando-se extensivamente o disposto no §1º do
art. 60 da Lei 12.651/2012 (vencido o relator); Declaração de
constitucionalidade do artigo 60 da Lei n. 12.651/2012 (vencido
o relator)
(t) Art. 66, § 3º (Possibilidade de plantio intercalado de
espécies nativas e exóticas para recomposição de área de
Reserva Legal): Não existem elementos empíricos que
permitam ao Judiciário afirmar, com grau de certeza, que a
introdução de espécies exóticas compromete a integridade dos
atributos de áreas de Reserva Legal. Tampouco há provas
científicas de que utilização de espécies exóticas para o
reflorestamento de biomas sempre prejudica as espécies nativas
ou causa desequilíbrio no habitat. A autorização legal para a
recomposição de áreas de Reserva Legal com plantio
intercalado de espécies pode ser justificada em diversas razões
de primeira e de segunda ordem: pode ser que o conhecimento
da composição original da floresta nativa seja de difícil

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apuração; a espécie exótica pode apresentar crescimento mais


rápido, acelerando a recuperação da floresta; a literatura
científica pode conferir mais certeza sobre as características da
espécie exótica, como a sua interação com outras espécies ou
resposta a pragas, em contraposição ao possível
desconhecimento do comportamento da espécie nativa etc.
Todos esses elementos devem ser considerados pelo órgão
competente do Sisnama ao estabelecer os critérios para a
recomposição da Reserva Legal, consoante o cronograma
estabelecido pelo art. 66, § 2º, do novo Código Florestal. É
defeso ao Judiciário, sob pena de nociva incursão em tarefa
regulatória especializada, impor ao Administrador espécies de
plantas a serem aplicadas em atividades de reflorestamento.
CONCLUSÃO : Declaração de constitucionalidade do artigo 66,
§ 3º, do Código Florestal;
(...)
(u) Arts. 61-A, 61-B, 61-C, 63 e 67 (Regime das áreas rurais
consolidadas até 22.07.2008): O Poder Legislativo dispõe de
legitimidade constitucional para a criação legal de regimes de
transição entre marcos regulatórios, por imperativos de
segurança jurídica (art. 5º, caput, da CRFB) e de política
legislativa (artigos 21, XVII, e 48, VIII, da CRFB). Os artigos 61-
A, 61-B, 61-C, 63 e 67 da Lei n. 12.651/2012 estabelecem critérios
para a recomposição das Áreas de Preservação Permanente, de
acordo com o tamanho do imóvel. O tamanho do imóvel é
critério legítimo para definição da extensão da recomposição
das Áreas de Preservação Permanente, mercê da legitimidade
do legislador para estabelecer os elementos norteadores da
política pública de proteção ambiental, especialmente à luz da
necessidade de assegurar minimamente o conteúdo econômico
da propriedade, em obediência aos artigos 5º, XXII, e 170, II, da
Carta Magna, por meio da adaptação da área a ser recomposta
conforme o tamanho do imóvel rural. Além disso, a própria lei
prevê mecanismos para que os órgãos ambientais competentes
realizem a adequação dos critérios de recomposição para a
realidade de cada nicho ecológico; CONCLUSÃO: Declaração

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de constitucionalidade dos artigos 61-A, 61-B, 61-C, 63 e 67 do


Código Florestal”. (Grifos acrescidos)

Verifico, portanto, que a matéria de que tratam os autos guarda


similitude com o decidido no julgamento conjunto das ADIs 4.901, 4.902 e
4.903, 4.937, propostas pelo Ministério Público para questionar a validade
de diversos dispositivos da Lei 12.651/2012 – Novo Código Florestal.
Na oportunidade, esta Corte reconheceu a constitucionalidade de
determinados artigos da citada lei. Nos termos do voto condutor, restou
consignado o seguinte:

“Os dispositivos impugnados, todos constantes do


Capítulo XIII do Código Florestal (Disposições Transitórias),
apresentam regras de transição para a regularização de áreas
consolidadas em APPs e em reservas legais. Conforme já
assentado nas seções anteriores, regimes de transição são
constitucionais desde que o núcleo constitucional de outros
valores constitucionais não seja esvaziado.
No presente caso, tenho que as regras impugnadas, a
despeito de relativizarem algumas obrigações ambientais,
promovem transição razoável entre sistemas legislativos,
revelando técnica de estabilização e regularização das situações
jurídicas já utilizada em outras searas do Direito brasileiro que
igualmente envolvem a proteção de bens jurídicos igualmente
indisponíveis. Relativamente ao art. 61-A, § 13, IV, do novo
Código Florestal, também renovo os argumentos já expendidos
quanto ao art. 66, § 3º, do mesmo diploma, sobre a
constitucionalidade da previsão legal de plantio de espécies
exóticas em espaços protegidos.
(…)
Os artigos ora analisados estabelecem critérios para a
recomposição das Áreas de Preservação Permanente, de acordo
com o tamanho do imóvel. (…) O tamanho do imóvel rural é
igualmente relevante para a incidência do art. 67 da Lei em
comento. Segundo esse dispositivo, a Reserva Legal será
constituída com a área de vegetação nativa existente em 22 de

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julho de 2008 para os imóveis rurais que detinham, naquela


data, até quatro módulos fiscais e não atendiam aos percentuais
de vegetação nativa do novo Código Florestal.
(…) A impugnação não comporta acolhimento, mercê da
legitimidade do legislador para estabelecer os critérios
norteadores da política pública de proteção ambiental. Resta
evidente que a lei pretendeu assegurar minimamente o
conteúdo econômico da propriedade, em obediência aos artigos
5º, XXII, e 170, II, da Carta Magna, por meio da adaptação da
área a ser recomposta conforme o tamanho do imóvel rural. De
outra forma, a fixação da área a ser recomposta poderia ocupar
substancialmente a propriedade, esvaziando o seu potencial
produtivo. Não se deve ignorar que, conforme o art. 185,
parágrafo único, da Constituição, a ‘lei garantirá tratamento
especial à propriedade produtiva’, motivo pelo qual deve ser
reputada constitucional a medida eleita pelo Legislativo para
compatibilizar a necessidade de proteção ambiental e os
imperativos de desenvolvimento socioeconômico.
(…)
Ex positis, declaro a constitucionalidade dos artigos 61-A,
61-B, 61-C, 63 e 67 do novo Código Florestal, julgando, no
ponto, improcedentes as ADIs nº 4.902 e 4.937, bem como
procedente a ADC nº 42”. (pp. 150/153; grifo nosso)

Restou ainda reconhecida a constitucionalidade dos arts. 15, 59, 61-


A, 66 e 68 da norma em questão, confirmando, desta feita, a incidência de
normas com eficácia retroativa à circunstâncias pretéritas.
No entanto, o Juízo de origem negou a imediata aplicação dos
comandos estabelecidos pela Lei 12.651/2012, consoante decisão com o
seguinte teor:

“EXECUÇÃO DE TAC - EMBARGOS DEMARCAÇÃO,


INSTITUIÇÃO E AVERBAÇÃO DE RESERVA LEGAL -
RECUPERAÇÃO DE APP - ALEGAÇÃO DE
DESCUMPRIMENTO DO TAC FIRMADO –
OBRIGAÇÃOASSUMIDA NA VIGÊNCIA DO ANTERIOR

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 14 de 33

RCL 58500 AGR / SP

CÓDIGO FLORESTAL - DEVER DE INSTITUIÇÃO DE TAL


ÁREA DE ACORDO COM A LEI Nº 4.771/65 -
DESCUMPRIMENTO DO TERMO, ADEMAIS,
COMPROVADO POR LAUDO PERICIAL - EMBARGOS À
EXECUÇÃO IMPROCEDENTES - RECURSO PROVIDO. Tendo
sido demonstrado por meio das provas periciais contidas nos
autos de que houve o descumprimento do Termo de
Ajustamento de Conduta firmado com o Ministério Público no
que concerne à instituição, demarcação e isolamento de reserva
legal e, ainda, à recomposição das áreas de preservação
permanente, vê-se que por ter sido firmado aludido termo
quando estava em vigor a Lei nº 4.771/65, deve seguir os
preceitos do Código Florestal anterior, conforme entendimento
predominante exarado pelo C. STJ. Assim, de rigor o
reconhecimento da improcedência do feito, mas determinando
que os executados procedam à instituição da área de reserva
legal de acordo com os arts. 16, IV, e 44, bem como que recupere
as áreas de preservação permanente, de modo que se proceda à
regeneração natural. Recurso do autor provido para tal fim.”

Ora, entendo que a autoridade reclamada, ao recusar formalmente a


incidência de norma com eficácia retroativa a circunstância pretérita, sob
o fundamento de prevalecer o princípio tempus regit actum, nega, em
verdade, a aplicação de norma reconhecidamente constitucional (Lei
12.651/2012).
Ademais, não há se falar em ofensa à coisa julgada, vez que o
trânsito em julgado do decisum ocorreu em 2016, ou seja, após a
publicação do novo Código Florestal, o qual entrou em vigor no ano de
2012.
Nesses termos, confiram-se os seguintes precedentes:

“AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. NOVO


CÓDIGO FLORESTAL. ÍLICITOS AMBIENTAIS PRATICADOS
ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI. ADC 42/DF. ADIs 4.901/DF,
4.902/DF, 4.903/DF E 4.937/DF. DESRESPEITO ÀS REFERIDAS

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 15 de 33

RCL 58500 AGR / SP

DECISÕES DO STF. SÚMULA VINCULANTE 10. VIOLAÇÃO.


RECLAMAÇÃO. DESCABIMENTO. AGRAVO A QUE SE
NEGA PROVIMENTO. I - As razões do agravo regimental são
inaptas para desconstituir os fundamentos da decisão agravada,
que, por isso, se mantêm hígidos. II – Esta Suprema Corte, em
reiteradas reclamações, tem considerado que o raciocínio
adotado pelo Superior Tribunal de Justiça, fundado nos
princípios do tempus regit actum e da vedação de retrocesso
ambiental, acarreta burla às decisões proferidas pelo Plenário
desta Corte na ADC 42/DF e nas ADIs 4.901/DF, 4.902/DF,
4.903/DF e 4.937/DF. III – Por implicar no esvaziamento do
conteúdo normativo de dispositivo legal, com fundamento
constitucional implícito, também existe afronta à Súmula
Vinculante 10. IV - Agravo regimental a que se nega
provimento”. (Rcl 44.645 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
Segunda Turma, DJe 26.5.2021; grifei)

“Segundo agravo regimental em reclamação. ADI nº


4.903/DF e ADC nº 42/DF. Compensação de reserva legal. Área
de preservação permanente. Artigo 15 do Novo Código
Florestal. Lei nº 12.651/12. Norma de transição. Aplicação
imediata. Agravo regimental ao qual se nega provimento. 1. No
julgamento da ADI nº 4.903/DF e da ADC nº 42/DF, o Supremo
Tribunal Federal decidiu pela constitucionalidade do art. 15 do
Código Florestal, consignando que ‘impedir o cômputo das
áreas de preservação permanente no cálculo da extensão da
Reserva Legal equivale a tolher a prerrogativa da lei de fixar os
percentuais de proteção que atendem da melhor forma os
valores constitucionais atingidos’. 2. A não aplicação do art. 15
do Novo Código Florestal ao caso concreto acaba por esvaziar a
força normativa do dispositivo legal, recusando-se eficácia
vinculante às decisões do Supremo Tribunal Federal proferidas
na ADI nº 4.903/DF e na ADC nº 42/DF. 3. Agravo regimental
não provido”. (Rcl 45.546 AgR-segundo, Rel. Min. Dias Toffoli,
Primeira Turma, DJe 15.3.2022)

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 16 de 33

RCL 58500 AGR / SP

Destaco, ainda, entendimento esposado pelo Ministro Alexandre de


Moraes quando do julgamento da Reclamação 42.889/SP, in verbis:

“(...)
Não se trata, em termos finais, de simples discussão a
respeito da retroatividade ou não da Lei 12.651/2012 como regra
geral a partir das disposições da Lei de Introdução às normas
do Direito Brasileiro e da Constituição Federal, mas de
reconhecer-se a eficácia jurídica de norma que expressamente
destina-se a produzir seus efeitos a partir de circunstância de
fato passada.
A fixação pela lei de um fato passado como objeto da
norma com eficácia futura, como no caso dos arts. 61-A, 61-B,
61-C, 63 e 67 do Código Florestal, apesar da especialidade e
importância da temática ambiental, foi reconhecida como
constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, razão pela qual
não se justifica seu afastamento, ainda que sob as vestes de
questão de direito intertemporal de natureza
infraconstitucional.
Inexiste, assim, uma questão legal e infraconstitucional de
conflito de leis no tempo, a justificar solução final pelo Superior
Tribunal de Justiça, considerando sua competência
constitucional. Há, isto sim, recusa formal de aplicação de uma
norma com eficácia retroativa sobre fato passado, apesar do
reconhecimento, pela CORTE, da constitucionalidade das
disposições”. (DJe 10.2.2021)

Desse modo, entendo que o ato reclamado, ao recusar a aplicação


imediata do disposto no art. 68 do novo Código Florestal ao caso
concreto, esvaziou a força normativa do dispositivo legal em
dissonância com a decisão vinculativa formalizada por esta Suprema
Corte no julgamento das ADIs 4.901, 4.902 e 4.903, 4.937.
Ante o exposto, julgo procedente o pedido para, cassando as
decisões reclamadas, proferidas nos autos do Processo n. 1000611-
15.2018.8.26.0483, determinar que outra seja proferida com observância

10

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 17 de 33

RCL 58500 AGR / SP

do que decidido por esta Corte no julgamento das ADIs 4.901, 4.902, 4.903
e 4.937.
É como voto.

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Extrato de Ata - 03/07/2023

Inteiro Teor do Acórdão - Página 18 de 33

SEGUNDA TURMA
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NA RECLAMAÇÃO 58.500


PROCED. : SÃO PAULO
RELATOR : MIN. NUNES MARQUES
AGTE.(S) : NADJA DURAES TEIXEIRA
ADV.(A/S) : ARI ALVES DE OLIVEIRA FILHO (117096/SP)
AGDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO
PAULO
INTDO.(A/S) : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

Decisão: Após o voto do Ministro Nunes Marques (Relator), que


negava provimento ao agravo interno, no que foi acompanhado pelo
Ministro Edson Fachin, e do voto divergente do Ministro Gilmar
Mendes, que julgava procedente o pedido para, cassando as decisões
reclamadas, proferidas nos autos do Processo n. 1000611-
15.2018.8.26.0483, determinar que outra fosse proferida com
observância do que decidido por esta Corte no julgamento das ADIs
4.901, 4.902, 4.903 e 4.937, pediu vista dos autos o Ministro Dias
Toffoli. Segunda Turma, Sessão Virtual de 23.6.2023 a 30.6.2023.

Composição: Ministros André Mendonça (Presidente), Gilmar


Mendes, Dias Toffoli, Edson Fachin e Nunes Marques.

Hannah Gevartosky
Secretária

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Voto Vista

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22/08/2023 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NA RECLAMAÇÃO 58.500 SÃO PAULO

VOTO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:


Cuida-se de reclamação constitucional ajuizada por Nadja Duraes
Teixeira, com pedido de tutela de urgência, contra decisão proferida no
Processo nº 1000611-15.2018.8.26.0483, mediante a qual o Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo teria afrontado a autoridade do Supremo
Tribunal Federal e desrespeitado a eficácia do julgado nas ADI nºs
4.901/DF, 4.902/DF, 4.903/DF e 4.937/DF e na ADC nº 42/DF.
Na peça vestibular, a reclamante, ora agravante, assim delineia a
moldura fático-jurídica subjacente à presente ação:

“Trata-se, na origem, de embargos à execução opostos pela


reclamante em face do Ministério Público do Estado de São
Paulo, tendo por objeto o cumprimento do Termo de
Ajustamento de Conduta Firmado na vigência do antigo
Código Florestal (Lei 4.771/65).
A tese defendida pela embargante era a de que com a
entrada em vigor do Novo Código Florestal (Lei nº 12.651/12), o
Termo de Ajustamento de Conduta perdeu a liquidez, certeza e
exigibilidade, devendo-se proceder a sua revisão e adequação
às regras do novo Código Florestal, até porque a sua cláusula
3.3 possibilitava essa adequação.
A r. sentença proferida pelo juízo de primeiro grau, em
anexo, acolheu os embargos à execução e julgou extinta a
execução, ante a inexigibilidade do título executivo (TAC).
[...]
Irresignado, o Ministério Público apelou almejando a
reforma da r. sentença, aduzindo, em especial, que não devem
ser aplicadas aos autos as normas materiais inseridas na Lei nº
12.651/12 (Novo Código Florestal), uma vez que o Termo de
Ajustamento de Conduta - TAC foi firmado antes de sua
vigência, e que não se aplicam os prazos da nova legislação

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RCL 58500 AGR / SP

ambiental, por irretroatividade da lei.


[...]
Na ocasião, foi revisto o anterior posicionamento de que
seria aplicado à espécie o novo Código Florestal (Lei nº
12.651/2012, com redação dada pela Lei nº 12.727/2012), dando
o provimento ao recurso do Ministério Público do Estado de
São Paulo, sob fundamentação de que termo de ajustamento de
conduta - TAC foi firmado quando estava em vigor o antigo
Código Florestal (Lei nº 4.771/65) e, assim, deveria se seguir os
preceitos do antigo Código Florestal, e não do novo.
De acordo com os fundamentos do v. acórdão, objeto desta
reclamação:
Quanto ao mais, conquanto tenha constado no
anterior acórdão que deve ser aplicado à espécie o novo
Código Florestal (Lei nº 12.651/2012, com redação dada
pela Lei nº 12.727/2012), verifica-se que, em verdade, deve
haver neste caso a revisão do anterior posicionamento
esposado em conformidade com o atual entendimento
predominante exarado pelo Colendo Superior Tribunal de
Justiça.
Assim, o presente caso deve ser apreciado de acordo
com os preceitos contidos na Lei nº 4.771/65 (Código
Florestal anterior), eis que firmado em 23.05.2012, antes da
entrada em vigor da sobredita Lei nº12.651/2012, devendo,
assim, quanto à instituição da reserva legal e à
recuperação das áreas de preservação permanente, ser
respeitado o ato jurídico perfeito e a estabilidade das
relações jurídicas por meio do princípio da segurança
jurídica previsto no art. 5º, XXXVI, da CF.
Eis o que preconiza a jurisprudência do STJ:

‘PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO


NO RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO DOS ARTS. 1º, II E III, E
59 DA LEI N. 12.651/12. INCIDÊNCIA DA SÚMULA

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N. 211/STJ. DIREITO AMBIENTAL.


IRRETROATIVIDADE DA NOVA CODIFICAÇÃO
FLORESTAL. TERMO DE AJUSTAMENTO DE
CONDUTA. ONEROSIDADE EXCESSIVA.
REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N. 7/STJ
INCIDÊNCIA. ARGUMENTOS INSUFICIENTES
PARA DESCONSTITUIR ADECISÃO ATACADA.
APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 1.021, § 4º, DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
DESCABIMENTO.I - Consoante o decidido pelo
Plenário desta Corte na sessão realizada em
09.03.2016, o regime recursal será determinado pela
data da publicação do provimento jurisdicional
impugnado. In casu, aplica-se o Código de Processo
Civil de 2015. II - A ausência de enfrentamento da
questão objeto da controvérsia pelo tribunal a quo,
não obstante oposição de Embargos de Declaração,
impede o acesso à instância especial, porquanto não
preenchido o requisito constitucional do
prequestionamento, nos termos da Súmula n.
211/STJ. III - Esta Corte Superior possui o
entendimento de que o novo Código Florestal não
pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, os
direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada,
tampouco para reduzir de tal modo e sem as
necessárias compensações ambientais o patamar de
proteção de ecossistemas frágeis ou espécies
ameaçadas de extinção, a ponto de transgredir o
limite constitucional intocável e intransponível da
incumbência do Estado de garantir a preservação e a
restauração dos processos ecológicos essenciais. IV -
In casu, rever o entendimento do Tribunal de origem,
no sentido de reconhecer a onerosidade excessiva do
Termo de Ajustamento de Conduta, demandaria
necessário revolvimento de matéria fática, o que é
inviável em sede de recurso especial, à luz do óbice

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contido na Súmula n.7/STJ.V Não apresentação de


argumentos suficientes para desconstituir a decisão
recorrida. VI - Em regra, descabe a imposição da
multa, prevista no art.1.021, § 4º, do Código de
Processo Civil de 2015, em razão do mero
improvimento do Agravo Interno em votação
unânime, sendo necessária a configuração da
manifesta inadmissibilidade ou improcedência do
recurso a autorizar sua aplicação, o que não ocorreu
no caso. VII - Agravo Interno improvido. (AgInt no
REsp 1676786/SP, Rel.Ministra REGINA HELENA
COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em12/06/2018,
DJe 18/06/2018)’.

‘ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL.


AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEFESA DO
MEIO AMBIENTE. RESPONSABILIDADE CIVIL
POR DANO AMBIENTAL. ALEGADA OFENSA AO
ART. 535 DO CPC/73. INCIDÊNCIA DA SÚMULA
284/STF. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.
POSSIBILIDADE. CONTROVÉRSIA RESOLVIDA,
PELO TRIBUNAL DE ORIGEM, À LUZ DAS
PROVAS DOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE DE
REVISÃO, NA VIA ESPECIAL SÚMULA 7/STJ.
RESPONSABILIDADE DE NATUREZA OBJETIVA.
JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DO STJ.
INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO TEMPUS REGIT
ACTUM. INAPLICABILIDADE DO NOVO
CÓDIGO FLORESTAL. AGRAVO INTERNO
IMPROVIDO. I [...]. VI. Consoante a jurisprudência
do STJ, 'a responsabilidade civil pelo dano ambiental,
qualquer que seja a qualificação jurídica do
degradador, público ou privado, é de natureza
objetiva, solidária e ilimitada, sendo regida pelos
princípios poluidor-pagador, da reparação in

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integrum, da prioridade da reparação in natura e do


favor debilis, este último a legitimar uma série de
técnicas de facilitação do acesso à justiça, entre as
quais se inclui a inversão do ônus da prova em favor
da vítima ambiental’ (STJ, REsp 1.454.281/MG,Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, DJe de 09/09/2016). Assim, estando o
acórdão recorrido em consonância com a
jurisprudência sedimentada nesta Corte, merece ser
mantida a decisão ora agravada, em face do disposto
no enunciado da Súmula 568 do STJ. VII. Acerca da
independência das instâncias civil e administrativa, a
orientação jurisprudencial do STJ é firme no sentido
de que, ‘de acordo coma tradição do Direito
brasileiro, imputar responsabilidade civil ao agente
causador de degradação ambiental difere de fazê-lo
administrativa ou penalmente. Logo, eventual
absolvição no processo criminal ou perante a
Administração Pública não influi, como regra, na
responsabilização civil, tirantes as exceções em
numerus clausus do sistema legal, como a inequívoca
negativa do fato ilícito (não ocorrência de
degradação ambiental, p.ex.) ou da autoria (direta ou
indireta), nos termos do art. 935 do Código Civil’
(STJ, REsp 1.198.727/MG, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDATURMA, DJe de 09/05/2013).
VIII. A despeito de o novo Código Florestal ter
mantido o regime de proteção das Áreas de
Preservação Permanente, ‘tratando-se de matéria
ambiental, prevalece o disposto no princípio tempus
regit actum, que impõe obediência à lei em vigor por
ocasião da ocorrência do fato ilícito, sendo, portanto,
inaplicável o novo Código Florestal a situações
pretéritas. Precedentes’ (STJ, AgInt no REsp
1.381.085/MS, Rel. Min. OG FERNANDES,
SEGUNDA TURMA, DJe de 23/08/2017). IX. Agravo

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interno improvido.’ (AgInt no AREsp 1100789/SP,


Rel. Min. ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 07/12/2017, DJe 15/12/2017).

O julgamento ocorreu em 03.02.2020 e v. acórdão foi


publicado no DJe em 12.05.2020.
Diante disso, a recorrente interpôs Embargos de
Declaração. No entanto, sob fundamento de suposta
infringência, foi lhes conhecidos, porém, negado provimento.
A reclamante, então, interpôs Recurso Especial, cujo
transito foi negado, provocando a remessa dos autos mediante
agravo em recurso especial.
No STJ, o recurso foi distribuído ao Ministro Presidente
Humberto Martins, que não conheceu do agravo em recurso
especial, o que ensejou a interposição do agravo interno,
distribuído à Segunda Turma, tendo como Relator o Ministro
Francisco Falcão.
Por unanimidade, foi negado provimento ao agravo
interno, ensejando a oposição de um primeiro embargos de
declaração, rejeitados por unanimidade pela Segunda Turma,
do qual foram opostos novamente um segundo embargos de
declaração, também rejeitados.
A [r]eclamante, então, interpôs Recurso Extraordinário,
distribuído ao Ministro Vice-Presidente do STJ (Og Fernandes),
que, em decisão monocrática, negou seguimento ao Recurso.
A certidão anexa a esta reclamação demonstra que a r.
decisão foi disponibilizada no DJe/STJ em 27/02/2023, tendo
sido publicada no dia 28/02/2023. Logo, a questão debatida
ainda não transitou em julgado, visto que o último dia de prazo
recursal para interposição do agravo interno contra a r. decisão
se escoará apenas em 21/03/2023. Recurso, este, que será
interposto pela reclamante antes de findar referido prazo legal.”

Em sede monocrática, o Ministro Nunes Marques negou


seguimento à reclamação pelo fundamento da ausência de “aderência
estrita entre a situação narrada nestes autos e o objeto de julgamento nos

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paradigmas de efeito vinculante invocados”, pois,

“[e]mbora esse Tribunal tenha, de fato, examinado [nas


ações paradigmas] a constitucionalidade de dispositivos do
novel diploma disciplinadores de regras de transição (como o
art. 68), nenhum deles trata da situação específica dos autos: a
de um Termo de Ajustamento de Conduta firmado sob a
vigência do antigo código e executado sob a égide do atual.”

Em sessão virtual da Segunda Turma de 23/6/23 a 30/6/23, o Ministro


Nunes Marques apresentou o agravo regimental interposto contra essa
decisão para julgamento, votando pelo não provimento do agravo
regimental.
O Ministro Gilmar Mendes apresentou voto vogal divergindo do
Relator, por meio do qual destacou que, nas ações paradigmas, houve a
declaração de constitucionalidade de diversos dispositivos da Lei nº
12.651/2012, dentre eles os arts. 15, 59, 61- A, 66 e 68, os quais disciplinam
a eficácia retroativa da nova disciplina legal na regulamentação de
situações pretéritas.
Pedi vista dos autos para melhor analisar a questão, os quais
devolvo para a continuidade de julgamento, pedindo vênia ao Relator
para divergir de seu entendimento.
No caso, a questão cinge-se em saber se a autoridade reclamada
desrespeitou a autoridade do Supremo Tribunal Federal no que decidido
nas ADI nºs 4.901/DF, 4.902/DF, 4.903/DF e 4.937/DF e na ADC nº 42/DF
ao negar a aplicação ao Novo Código Florestal na execução da decisão
fundamentada na Lei nº 4.771/65, embora transitada em julgado em
9/1/14, portanto, já na vigência da Lei nº 12.651/12 (Novo Código
Florestal), que teve a constitucionalidade de alguns de seus dispositivos
questionados na Suprema Corte nas ADI nºs 4.901/DF, 4.902/DF, 4.903/DF
e 4.937/DF e na ADC nº 42/DF (indicadas como paradigmas).
Dentre os entendimentos firmados no julgamento das referidas
ações do controle concentrado de constitucionalidade, o STF declarou a
constitucionalidade de diversos dispositivos da Lei nº 12.651/12 que

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regulamentam a aplicação da nova disciplina legal na regulamentação de


situações consolidadas em momento pretérito, conforme trecho abaixo
transcrito do voto exarado pelo Ministro Luiz Fux (Relator do acórdão):

“DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO AMBIENTAL. ART. 225


DA CONSTITUIÇÃO. DEVER DE PROTEÇÃO AMBIENTAL.
NECESSIDADE DE COMPATIBILIZAÇÃO COM OUTROS VETORES
CONSTITUCIONAIS DE IGUAL HIERARQUIA. ARTIGOS 1º, IV; 3º, II E
III; 5º, CAPUT E XXII; 170, CAPUT E INCISOS II, V, VII E VIII, DA CRFB.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. JUSTIÇA INTERGERACIONAL.
ALOCAÇÃO DE RECURSOS PARA ATENDER AS NECESSIDADES DA
GERAÇÃO ATUAL. ESCOLHA POLÍTICA. CONTROLE JUDICIAL DE
POLÍTICAS PÚBLICAS. IMPOSSIBILIDADE DE VIOLAÇÃO DO
PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO. EXAME DE RACIONALIDADE
ESTREITA. RESPEITO AOS CRITÉRIOS DE ANÁLISE DECISÓRIA
EMPREGADOS PELO FORMADOR DE POLÍTICAS PÚBLICAS.
INVIABILIDADE DE ALEGAÇÃO DE VEDAÇÃO AO RETROCESSO.
NOVO CÓDIGO FLORESTAL. AÇÕES DIRETAS DE
INCONSTITUCIONALIDADE E AÇÃO DECLARATÓRIA DE
CONSTITUCIONALIDADE JULGADAS PARCIALMENTE
PROCEDENTES.
(...) 20. A propósito, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
demonstra deferência judicial ao planejamento estruturado pelos demais
Poderes no que tange às políticas públicas ambientais. No julgamento do
Recurso Extraordinário nº 586.224/SP (Rel. [Min.] LUIZ FUX, julgamento
em 05/03/2016), apreciou-se o conflito entre lei municipal proibitiva da
técnica de queima da palha da cana-de-açúcar e a lei estadual definidora
de uma superação progressiva e escalonada da referida técnica. Decidiu a
Corte que a lei do ente menor, apesar de conferir aparentemente
atendimento mais intenso e imediato ao interesse ecológico de proibir
queimadas, deveria ceder ante a norma que estipulou um cronograma
para adaptação do cultivo da cana-de-açúcar a métodos sem a utilização
do fogo. Dentre os fundamentos utilizados, destacou-se a necessidade de

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acomodar, na formulação da política pública, outros interesses


igualmente legítimos, como os efeitos sobre o mercado de trabalho e a
impossibilidade do manejo de máquinas diante da existência de áreas
cultiváveis acidentadas. Afastou-se, assim, a tese de que a norma mais
favorável ao meio ambiente deve sempre prevalecer (in dubio pro
natura), reconhecendo-se a possibilidade de o regulador distribuir os
recursos escassos com vistas à satisfação de outros interesses legítimos,
mesmo que não promova os interesses ambientais no máximo patamar
possível. Idêntica lição deve ser transportada para o presente julgamento,
a fim de que seja refutada a aplicação automática da tese de ‘vedação ao
retrocesso’ para anular opções validamente eleitas pelo legislador.
22. Apreciação pormenorizada das impugnações aos dispositivos do
novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012):
(...)
(p) Art. 15 (Possibilidade de se computar as Áreas de Preservação
Permanente para cômputo do percentual da Reserva Legal, em hipóteses
legais específicas): As Áreas de Preservação Permanente são zonas
específicas nas quais se exige a manutenção da vegetação, como restingas,
manguezais e margens de cursos d’água. Por sua vez, a Reserva Legal é
um percentual de vegetação nativa a ser mantido no imóvel, que pode
chegar a 80% (oitenta por cento) deste, conforme localização definida pelo
órgão estadual integrante do Sisnama à luz dos critérios previstos no art.
14 do novo Código Florestal, dentre eles a maior importância para a
conservação da biodiversidade e a maior fragilidade ambiental. Em regra,
consoante o caput do art. 12 do novo Código Florestal, a fixação da
Reserva Legal é realizada sem prejuízo das áreas de preservação
permanente. Entretanto, a incidência cumulativa de ambos os institutos
em uma mesma propriedade pode aniquilar substancialmente a sua
utilização produtiva. O cômputo das Áreas de Preservação Permanente
no percentual de Reserva Legal resulta de legítimo exercício, pelo
legislador, da função que lhe assegura o art. 225, § 1º, III, da Constituição,
cabendo-lhe fixar os percentuais de proteção que atendem da melhor
forma os valores constitucionais atingidos, inclusive o desenvolvimento

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nacional (art. 3º, II, da CRFB) e o direito de propriedade (art. 5º, XXII, da
CRFB). Da mesma forma, impedir o cômputo das áreas de preservação
permanente no cálculo da extensão da Reserva Legal equivale a tolher a
prerrogativa da lei de fixar os percentuais de proteção que atendem da
melhor forma os valores constitucionais atingidos; CONCLUSÃO:
Declaração de constitucionalidade do artigo 15 do Código Florestal;
[…]
(r) Arts. 44; 48, § 2º; e 66, §§ 5º e 6º (Cota de Reserva Ambiental –
CRA): A Cota de Reserva Ambiental (CRA) consiste em mecanismo de
incentivos em busca da proteção ambiental, não se limitando às
tradicionais e recorrentemente pouco efetivas regras de imposições e
proibições (command-and-control), por meio da criação de ativos
correspondentes à preservação dos recursos ecológicos, de modo que
qualquer tipo de degradação da natureza passa também a ser uma
agressão ao próprio patrimônio. As soluções de mercado (market-based)
para questões ambientais são amplamente utilizadas no Direito
Comparado e com sucesso, a exemplo do sistema de permissões
negociáveis de emissão de carbono (European Union Permission Trading
System – ETS). Um grande caso de sucesso é o comércio internacional de
emissões de carbono, estruturado em cumprimento aos limites de
emissões fixados pelo Protocolo de Kyoto. A União Europeia, por
exemplo, estabeleceu em 2005 um sistema de permissões negociáveis de
emissão de carbono, especificando os limites que cada poluidor deve
atender, os quais são reduzidos periodicamente (European Union
Permission Trading System – ETS). Ao final de cada ano, as companhias
devem possuir permissões suficientes para atender às toneladas de
dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa emitidos, sob pena de
pesadas multas. Dessa forma, a possibilidade de negociação (cap-
andtrade) incentiva a redução de emissões como um todo e, ao mesmo
tempo, possibilita que os cortes sejam feitos em setores nos quais isso
ocorra com o menor custo. Nesse sentido, além de atender aos ditames do
art. 225 da Constituição, no que se refere à proteção do meio ambiente,
esse instrumento introduzido pelo novo Código Florestal também satisfaz

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o princípio da eficiência, plasmado no art. 37, caput, da Carta Magna. Por


fim, a necessidade de compensação entre áreas pertencentes ao mesmo
bioma, bem como a possibilidade de compensação da Reserva Legal
mediante arrendamento da área sob regime de servidão ambiental ou
Reserva Legal, ou, ainda, por doação de área no interior de unidade de
conservação, são preceitos legais compatíveis com a Carta Magna,
decorrendo de escolha razoável do legislador em consonância com o art.
5º, caput e XXIV, da Constituição; CONCLUSÃO : Declaração de
constitucionalidade dos artigos 44, e 66, §§ 5º e 6º, do novo Código
Florestal; Interpretação conforme a Constituição ao art. 48, §2º, para
permitir compensação apenas entre áreas com identidade ideológica
(vencido o relator);
[…]
(u) Arts. 61-A, 61-B, 61-C, 63 e 67 (Regime das áreas rurais
consolidadas até 22.07.2008): O Poder Legislativo dispõe de legitimidade
constitucional para a criação legal de regimes de transição entre marcos
regulatórios, por imperativos de segurança jurídica (art. 5º, caput, da
CRFB) e de política legislativa (artigos 21, XVII, e 48, VIII, da CRFB). Os
artigos 61-A, 61-B, 61-C, 63 e 67 da Lei n. 12.651/2012 estabelecem critérios
para a recomposição das Áreas de Preservação Permanente, de acordo
com o tamanho do imóvel. O tamanho do imóvel é critério legítimo para
definição da extensão da recomposição das Áreas de Preservação
Permanente, mercê da legitimidade do legislador para estabelecer os
elementos norteadores da política pública de proteção ambiental,
especialmente à luz da necessidade de assegurar minimamente o
conteúdo econômico da propriedade, em obediência aos artigos 5º, XXII,
e 170, II, da Carta Magna, por meio da adaptação da área a ser
recomposta conforme o tamanho do imóvel rural. Além disso, a própria
lei prevê mecanismos para que os órgãos ambientais competentes
realizem a adequação dos critérios de recomposição para a realidade de
cada nicho ecológico; CONCLUSÃO : Declaração de constitucionalidade
dos artigos 61-A, 61-B, 61-C, 63 e 67 do Código Florestal;
[…].” (Tribunal Pleno, DJe de 13/8/9, grifos nossos).

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Disciplina o art. 493 do CPC:

“Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato


constitutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no
julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em consideração,
de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a
decisão.
Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz
ouvirá as partes sobre ele antes de decidir.”

Outrossim, a cláusula rebus sic stantibus orienta que a “eficácia [da


relação jurídica pre-estabelecida] permanece enquanto se mantiverem
inalterados os pressupostos fáticos e jurídicos [que lhe deram suporte]”
(v.g. RE nº 596663, Red. do ac. Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe
de 26/11/14).
Assim, atento que a edição da Lei nº 12.651/12 constitui fato
modificativo de direitos, nos termos do art. 493 da CPC. Além disso,
considerando que incide a cláusula rebus sic stantibus em sentença
transitada em julgado atinente à recuperação de áreas de preservação
permanente e de reserva legal, entendo que a autoridade reclamada, ao
recusar a análise do Processo nº 1000611-15.2018.8.26.0483 à luz da Lei nº
12.651/12, esvazia a força normativa de dispositivos legais cuja validade
constitucional fora afirmada pelo STF na ADI nº 4.903/DF e na ADC nº
42/DF (sessão de julgamento de 28/2/2018, ata de julgamento publicada
no DJe de 2/3/2018).
Por oportuno, destaco os seguintes precedentes em que se admitiu a
retroatividade do Novo Código Florestal:

“PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL. AGRAVO


INTERNO NA RECLAMAÇÃO. ALEGADA OFENSA AO QUE
DECIDIDO POR ESTE TRIBUNAL NOS JULGAMENTOS DAS
ADC 42, ADI 4.901, ADI 4.902, ADI 4.903 e ADI 4.937. ATO
IMPUGNADO QUE AFASTOU A EFICÁCIA DO ARTIGO 4º, I,
E DO ARTIGO 61-A DA LEI 12.651/2012 AO FUNDAMENTO

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DE QUE EM MATÉRIA AMBIENTAL DEVE PREVALECER O


PRINCÍPIO TEMPUS REGIT ACTUM. INEXISTÊNCIA DE
QUESTÃO LEGAL OU INFRACONSTITUCIONAL DE
CONFLITO DE LEIS NO TEMPO. RECUSA FORMAL DE
APLICAÇÃO DE NORMA RECONHECIDAMENTE
CONSTITUCIONAL PELA SUPREMA CORTE. AFRONTA
CONFIGURADA. AGRAVO QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1.
O ato impugnado desrespeitou o decidido no controle
concentrado de constitucionalidade pela CORTE, ao afastar a
incidência da Lei 12.651/2012 (Novo Código Florestal), sob o
fundamento de que em matéria ambiental, deve prevalecer o
princípio tempus regit actum, de forma a não se admitir a
aplicação das disposições do novo Código Florestal a fatos
pretéritos, sob pena de retrocesso ambiental (doc. 23). 2. Esta
eficácia retroativa da Lei 12.651/2012, que permitiu, por força
geral dos arts. 61-A, 61-B, 61-C, 63 e 67, o reconhecimento de
situações consolidadas e a regularização ambiental de imóveis
rurais a partir de suas novas disposições, e não a partir da
legislação vigente na data dos ilícitos ambientais, é justamente
um dos pontos declarados constitucionais no julgamentos das
ADIs e da ADC indicadas como paradigma contrariado. 3. A
fixação pela lei de um fato passado como objeto da norma com
eficácia futura, como no caso dos arts. 61-A, 61-B, 61-C, 63 e 67
do Código Florestal, apesar da especialidade e importância da
temática ambiental, foi reconhecida como constitucional pelo
Supremo Tribunal Federal, razão pela qual não se justifica seu
afastamento, ainda que sob as vestes de questão de direito
intertemporal de natureza infraconstitucional. 4. Recurso de
Agravo a que se nega provimento” (Rcl nº 42.889-AgR, Primeira
Turma, Rel. Min. Alexandre de Moraes, DJe de 9/4/21).

“AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO.


CONSTITUCIONAL. DECISÃO RECLAMADA PELA QUAL
SE APLICA O PRINCÍPIO TEMPUS REGIT ACTUM.
AFASTAMENTO DAS NORMAS DE TRANSIÇÃO DA LEI N.
12.651/2012 (NOVO CÓDIGO FLORESTAL).

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DESCUMPRIMENTO DO DECIDIDO NAS AÇÕES DIRETAS


DE INCONSTITUCIONALIDADE NS. 4.937, 4.903 E 4.902 E
NA AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE
N. 42 CONFIGURADO. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL
SE NEGA PROVIMENTO” (Rcl nº 43.703-AgR, Primeira Turma,
Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe de 21/9/21).

“AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. NOVO


CÓDIGO FLORESTAL. ÍLICITOS AMBIENTAIS PRATICADOS
ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI. ADC 42/DF. ADIs 4.901/DF,
4.902/DF, 4.903/DF E 4.937/DF. DESRESPEITO ÀS REFERIDAS
DECISÕES DO STF. SÚMULA VINCULANTE 10. VIOLAÇÃO.
RECLAMAÇÃO. DESCABIMENTO. AGRAVO A QUE SE
NEGA PROVIMENTO. I - As razões do agravo regimental são
inaptas para desconstituir os fundamentos da decisão agravada,
que, por isso, se mantêm hígidos. II – Esta Suprema Corte, em
reiteradas reclamações, tem considerado que o raciocínio
adotado pelo Superior Tribunal de Justiça, fundado nos
princípios do tempus regit actum e da vedação de retrocesso
ambiental, acarreta burla às decisões proferidas pelo Plenário
desta Corte na ADC 42/DF e nas ADIs 4.901/DF, 4.902/DF,
4.903/DF e 4.937/DF. III – Por implicar no esvaziamento do
conteúdo normativo de dispositivo legal, com fundamento
constitucional implícito, também existe afronta à Súmula
Vinculante 10. IV - Agravo regimental a que se nega
provimento” (Rcl nº 44.645-AgR, Segunda Turma, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, DJe de 26/5/21).

Por essas razões, pedindo vênia ao Relator, dou provimento ao


agravo regimental e julgo procedente o pedido para cassar o ato
reclamado, determinando que a autoridade reclamada profira outra
decisão, procedendo à análise do Processo nº 1000611-15.2018.8.26.0483 à
luz do entendimento firmado por esta Suprema Corte nas ADI nºs
4.901/DF, 4.902/DF, 4.903/DF e 4.937/DF e na ADC nº 42/DF.
É como voto.

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Extrato de Ata - 22/08/2023

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SEGUNDA TURMA
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NA RECLAMAÇÃO 58.500


PROCED. : SÃO PAULO
RELATOR : MIN. NUNES MARQUES
REDATOR DO ACÓRDÃO : MIN. GILMAR MENDES
AGTE.(S) : NADJA DURAES TEIXEIRA
ADV.(A/S) : ARI ALVES DE OLIVEIRA FILHO (117096/SP)
AGDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO
PAULO
INTDO.(A/S) : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

Decisão: Após o voto do Ministro Nunes Marques (Relator), que


negava provimento ao agravo interno, no que foi acompanhado pelo
Ministro Edson Fachin, e do voto divergente do Ministro Gilmar
Mendes, que julgava procedente o pedido para, cassando as decisões
reclamadas, proferidas nos autos do Processo n. 1000611-
15.2018.8.26.0483, determinar que outra fosse proferida com
observância do que decidido por esta Corte no julgamento das ADIs
4.901, 4.902, 4.903 e 4.937, pediu vista dos autos o Ministro Dias
Toffoli. Segunda Turma, Sessão Virtual de 23.6.2023 a 30.6.2023.

Decisão: A Turma, por maioria, deu provimento ao agravo


regimental e julgou procedente o pedido para, cassando as decisões
reclamadas, proferidas nos autos do Processo n.
1000611-15.2018.8.26.0483, determinar que outra seja proferida com
observância do que decidido por esta Corte no julgamento das ADIs
4.901, 4.902, 4.903 e 4.937, nos termos do voto do Ministro Gilmar
Mendes, Redator para o acórdão, vencidos os Ministros Nunes
Marques (Relator) e Edson Fachin. Segunda Turma, Sessão Virtual de
11.8.2023 a 21.8.2023.

Composição: Ministros Dias Toffoli (Presidente), Gilmar


Mendes, Edson Fachin, Nunes Marques e André Mendonça.

Hannah Gevartosky
Secretária

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