Transfer I R
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Resumo Abstract
A
presentada durante a Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.), possivelmente
na primeira metade da década de 430-20 a.C., a Andrômaca1 de Eurípides
aborda dois motivos do mito da guerra de Troia de forma agregada: um sobre
a viúva de Heitor (Andrômaca), sua vida como exilada na Grécia e concubina do filho
de Aquiles, Neoptólemo; outro sobre o casamento de Neoptólemo com Hermíone e
seu assassinato por Orestes, a quem Hermíone tinha sido originalmente prometida
em casamento (CHONG-GOSSARD, 2015, p. 143). Na realidade, Andrômaca coloca no
centro de sua ação um conflito familiar enraizado na própria instituição matrimonial.
A epígrafe que inicia este texto, uma fala de Andrômaca na iminência da morte de
seu filho com Neoptólemo, faz referência às desgraças vivenciadas pela personagem
no passado frente à destruição de Troia, e àquelas do presente, notadamente a morte
de seu filho e a sua condição de cativa de guerra. Esse jogo entre passado e presente
é certamente uma metáfora para o poeta fazer com que os atenienses ponderassem
sobre duas guerras: a de Troia, no imaginário homérico, e a do Peloponeso, vivenciada
no momento pelos helenos. Até mesmo porque a “sua própria atividade literária [...] foi,
como veremos, fortemente influenciada pela laceração interna do Estado ateniense
durante a guerra do Peloponeso” (DI BENEDETTO, 1971, p. ix).
Tucídides, com tons realistas de sua narrativa historiográfica, descreve as atrocidades
vivenciadas devido à guerra: morte dos homens capturados em idade militar e redução
de mulheres e crianças à escravidão (cf. TUCIDIDES. V, 116). Logo, enquanto os heróis,
mortos em combates, serão recompensados pela memória coletiva; mulheres e
crianças, diante da morte de seus pais e esposos, ficam relegados à escravidão e à
morte (SILVA, 2013, p. 361). A própria personagem Andrômaca (vv. 396-7) admite que,
em tempos de guerra, os filhos não são bem-vindos, porque somente contribuem
para aumentar o sofrimento que afeta às suas mães.
É nesse cenário que Eurípides nos propicia uma reflexão sobre as relações de
poder estabelecidas entre mulheres – Andrômaca versus Hermíone -, entre homens
– Peleu versus Menelau -, entre mulheres e homens – Andrômaca versus Menelau
– e entre gregos e não gregos / gregos e bárbaros. Todas essas relações de poder
nos remetem a dois conceitos teóricos norteadores deste texto, a saber: gênero e
etnicidade, ambos discursos de poder construídos socioculturalmente.
No plano ideológico/simbólico, a sociedade helênica parece ter assumido
prioritariamente uma polaridade antagônica e desigual entre homens e mulheres
(GURINA, 2008, p. 11). Polaridade essa que também pode ser estendida para as
relações entre gregos e não gregos. Podemos resgatar Jean-Pierre Vernant (1999, p.
9) quando afirma que a tragédia “não poderia refletir uma realidade que, de alguma
forma, lhe fosse estranha”.
esposa de Heitor e mãe dos seus filhos. Na Ilíada (6. 429-30) observamos uma clara
dependência de Andrômaca em relação a Heitor: “Heitor, tu para mim és pai e excelsa
mãe; és irmão | e és para mim o vigoroso companheiro do meu leito”.5 A sua absoluta
dependência pode ser explicada por dois fatores interligados: primeiro, porque a morte
de Heitor e a previsível derrota de Troia serão, para Andrômaca, fonte de sofrimento,
conforme vemos na narrativa de Eurípides; segundo, porque o mundo da personagem
tem um único centro e esse é Heitor, haja vista a citação acima (DESERTO, 2012, p.
94). Importa lembrar que, na Ilíada, a cidade de proveniência de Andrômaca, Tebas,
foi antes arrasada por Aquiles e os seus parentes, mortos. O mesmo Aquiles será
responsável pela morte de Heitor. É, portanto extremamente penoso que Andrômaca
venha a caber em sorte ao filho de Aquiles, o seu pior inimigo.
A fidelidade ao passado troiano e à memória de Heitor sobressai na construção
da personagem euridipiana e se justifica pela sua condição de nobre e de esposa
legítima do filho de Príamo. Ela própria destaca que “digna de inveja, no tempo
passado, era Andrômaca” (v. 5).
Andrômoca Hermíone
Troiana (vv. 1-4) Espartana (vv. 29-30)
Bárbara (vv. 174/80, 261, 631, 869-74) Grega (vv. 29-30, 243)
Cativa de guerra (vv. 12, 96-102, 110-11, 136-40, Nobre (vv. 869-74)
155-60, 185-87, 399-407, 582, 869-74)
Trazida para coabitar com Neoptólemo - Esposa legítima (vv. 619-21)
Concubina (vv. 12-15)
Mãe (vv. 26, 68, 70, 74-5, 310, 339/40...) Estéril (vv. 29-30, 155-60, 355-56, 710, 711-12)
Impedida de falar (vv. 185-87) Pode falar livremente (vv. 152-3)
Mais velha Jovem (v. 238)
- Mulher malvada / respira arrogância (vv. 189-91)
Fraca7 (v. 755) -
Podemos dizer que Andrômaca é uma obra que gira em torno de uniões malfadadas
que conduzem à ruína de uma casa (RODRÍGUEZ CIDRE, 2010, p. 60). O início da
obra (vv.1-56) já apresenta esse quadro: Andrômaca se encontra no altar da deusa
Tétis suplicando pela vida do filho e pela sua própria, pois Hermíone decidiu matá-los
para salvaguardar a sua condição de esposa legítima. A diferença de status entre
as personagens pode ser entendida como o elemento estruturante da peça e não
propriamente o contexto da guerra em si, mesmo que tenha sido a guerra de toda
a questão envolvendo as duas personagens. Talvez o cerne da questão esteja na
discussão acerca do estatuto da concubina que gravita entre o da esposa legítima
e o da hetaira (cortesã). De fato, o conflito se encontra entre dois leitos de status
diferentes. No prólogo, Andrômaca evidencia essa diferença: “Mas desde que o meu
senhor desposou a lacônia Hermíone, | desprezando o meu leito servil, sou por ela
perseguida com insultos cruéis” (vv. 29-31).8
Para um cidadão ateniense manter uma esposa legítima e uma concubina, com
o conhecimento da própria esposa, era algo comum. Porém, a tensão se dá pela
coabitação no oîkos do casal. Certamente é uma afronta para uma esposa conviver
com outra mulher no seu espaço de administração e atuação. Orestes afirma na
tragédia que “má coisa disseste: um homem possuir dois leitos” (v. 909).
A diferença de status entre as personagens é inquestionável na tragédia, porém
o conceito grego para concubina, pallaké, se encontra ausente9 , talvez porque o
termo pallaké se refira a uma mulher livre que possa conceber filhos igualmente
livres. Eva Keuls (1993, p. 268-69) menciona a ausência do concubinato escravo na
documentação, mas assinala que a palavra grega pallaké não tem um significado
legal preciso e pode se referir a mulheres que vivem em relações não legalizadas,
quer tenham status de escrava, livre ou liberta. O importante é destacar que é comum
nas tragédias as mulheres cativas de guerra compartilharem o leito com os seus
senhores, podendo fazê-lo como concubina e/ou escrava. Em parte, isso dependerá
de sua condição social prévia. No caso de Andrômaca, ela pertencia a um grupo social
elevado em Troia, o que a transforma em concubina e não em uma simples escrava, em
se tratando de sua nova situação social (RODRÍGUEZ CIDRE, 2010, p. 54). A tragédia
acaba reafirmando os riscos desta ausência de diferenciação de status entre esposa
legítima e concubina, ao apresentar uma cativa convivendo sob o mesmo teto de uma
esposa e, dessa forma, anular a distância espacial que demarca a separação entre
ambas (GAMBOM, 2009, p. 174).
Esse conflito se agrava com a oposição maternidade versus esterilidade. É sabido
que a principal função social feminina é a concepção de filhos, em especial do sexo
masculino, e que o casamento visa a continuidade do grupo doméstico e da comunidade
política. Não nos esqueçamos de que “a capacidade de gerar crianças cidadãs é o
direito político fundamental reservado aos cidadãos/cidadãs” (CUCHET, 2018, p. 148).
Reforçamos tal aspecto porque o conflito entre as duas personagens se encontra
essencialmente na esfera da maternidade, algo interditado a Hermíone. Apesar de
Andrômaca ter mais idade do que ela (v. 238), o seu potencial fértil é indiscutível. É
salutar destacar que neste aspecto de faixa etária observamos no universo trágico
A fuga de Helena para se unir com Páris (vv. 601-10) gera, na visão de Eurípides,
a destruição de Troia – “... durante dez anos, andaram os jovens em armas. E nunca
os tálamos teriam ficado desertos e órfãos de filhos os velhos” (vv. 305-07); “Muitas
lágrimas me correram nas faces, por deixar em cinzas a cidade, casa e marido!” (vv.
111-14) – e todo o sofrimento de Andrômaca – viúva, escrava e na eminência de ver mais
um de seus filhos assassinados. Interessante é pensarmos no sentido da guerra. Ela
é, para as famílias, separação e ruptura. Os dois campos de batalha estão sujeitos a
igual ruptura, porque a guerra é impiedosa e devora as pessoas (SILVA, 2013, p. 363-4).
A visão negativa de Helena se estende ao conjunto das espartanas. É resgatado
o tipo de vida feminino lacedemônio, da prática dos exercícios físicos junto com os
homens, frente ao ateniense, mais caracterizado pela reclusão no interior do oîkos:
V a.C. o termo bárbaro não tinha sido usado no plural, isto é, como um nome que
denotava um mundo não grego (HALL, 2004, p. 9).
À Andrômaca fica claro que ela se encontra em uma terra estranha - xénas – na
condição de cativa de guerra – dmoìs (vv.136-140). Ela, uma nobre troiana, agora vivendo
sem liberdade na Hélade. Interessante é refletirmos sobre a posição, geográfica e
cultural, de Troia na avaliação dos gregos. Ela ocupa um espaço meio fronteiriço entre
o não ser grego e o ser grego, pois “embora asiática e estrangeira, a cidade de Príamo
sempre gozou, dentro do critério grego, de um estatuto que tendeu a aproximá-la,
em termos de estádio de progresso, da própria Hélade e a colocou na posição de
um inimigo à altura” (SILVA, 2005, p. 44).
Os troianos não eram, para os helenos, bárbaros de mesmo patamar que os
persas, por exemplo. Ou seja, Troia nunca foi vista sob o estigma de selvagem e/ou
primitiva. Logo, Troia era bárbara apenas por não ser grega. Vidal-Naquet (2002, p.
37-8) menciona que tanto para Heródoto quanto para os poetas trágicos – Ésquilo,
Sófocles e Eurípides -, os troianos são bárbaros, apesar de Eurípides se questionar
acerca do valor desta relação de oposição. Em Homero, por exemplo, não encontramos
claramente uma diferença marcante no que se refere à oposição gregos e bárbaros.
O helenista (VIDAL-NAQUET, 2002, p. 39) faz uso de dois argumentos para defender
essa proximidade entre gregos e troianos em Homero. O primeiro é a inexistência de
problemas de comunicação entre as duas sociedades, isto é, não há alusão ao fato
de falarem línguas diferentes. Emílio Crespo (2004/2005, p. 36) também ressalta tal
similitude: “Os personagens falam a mesma língua”. O segundo, o fato de Heitor não
ter sido para a posterioridade o nome de um bárbaro. Quanto à questão de helenos
e troianos falarem uma mesma língua, isso pode ser um recurso literário que atende
ao público receptor dos poemas de Homero. Se autor e receptores são helenos, era
comum que a língua utilizada na epopeia fosse aquela do domínio do emissor e de
seu público.
Podemos vislumbrar em Troia uma arquitetura que a aproximava de uma pólis
com suas muralhas, obra dos deuses (EURÍPIDES. Troianas, vv. 4-6, 814), um convívio
social com valores semelhantes àqueles presentes nas comunidades tidas como
civilizadas à época, como a xenia. Segundo Cuchet (2006, p. 57), a muralha troiana
(alta, intransponível) pode ser concebida como metáfora do seu povo, oferecendo a eles
um sentimento de invencibilidade que possivelmente era entendido como arrogância.
Para além da língua, Emilio Crespo (2004/2005, p. 36-7) enumera outras semelhanças
entre helenos e troianos: veneram os mesmos deuses e oferecem os mesmos tipos
de sacrifícios; alguns heróis gregos e troianos compartilham uma genealogia comum;
vestimentas, costumes e armas são semelhantes; a organização cívica dos troianos
parece mais complexa do que a dos gregos, mas isso pode se dar pelo fato de os
helenos estarem em acampamento militar.
Apesar das semelhanças, a imagem dos troianos é construída a partir de diferenças
com os gregos: os gregos atacam em silêncio, já os troianos ruidosamente; Aquiles
enfatiza que eles oferecem cavalos vivos ao rio Escamandro; Príamo é polígamo; os
troianos são arrogantes diante da vitória enquanto os gregos são prudentes; e, os
gregos, diferentemente dos troianos nunca suplicam pela vida, abraçando os joelhos
dos vencedores, quando capturados (CRESPO, 2004/2005, p. 36-7; MORAES, 2009,
p. 65).
Porém o que melhor exprime o bárbaro é a sua condição de escravo, conforme
Eurípides reforça na Andrômaca em uma das falas de Menelau (vv. 664-66):15“... se
minha filha [Hermíone] não der à luz e desta nascerem filhos, sobre a terra da Ftia |
serão eles soberanos e, bárbaros pelo nascimento, vão governar os gregos?!”.
Não obstante o seu comportamento de excessos que seria mais condizente com
os bárbaros do que com os helenos, Hermíone caracteriza a raça bárbara como aquela
em que pai une-se à filha, filho à mãe, irmã ao irmão e os parentes matam-se uns aos
outros, não havendo leis que impeçam tais costumes (vv. 174-76). Esta caracterização
feita pela personagem, além de reiterar a desvalorização do bárbaro ante o heleno,
nos remete ainda ao narrado por Heródoto (3. 31) acerca de Cambises que teria se
unido à sua própria irmã. Aqui os persas são recuperados como alteridade máxima
dos gregos. A ausência de leis e de uma sociedade organizada remete a uma situação
de barbárie frente à complexidade políade. Na vida civilizada em pólis, segundo
ainda Hermíone, não é decente que um só homem coabite com duas mulheres (vv.
177-80). Destaca-se que a pólis é elemento fundamental para a construção do sentido
de ser grego.
Segundo Renata Cardoso de Sousa (2019, p. 159), “embora Hermione frise o
discurso helênico acerca do bárbaro, ela mesma é mostrada no limiar entre os dois
grupos étnicos, justamente porque o espartano é, cada vez mais, visto como um
Outro”, principalmente no contexto da Guerra do Peloponeso. De forma semelhante,
Andrômaca e os troianos têm o seu estatuto de bárbaro reforçado; ele é ratificado,
isto porque, ainda na interpretação de Renata C. de Sousa, “a tragédia euripidiana
reforça as fronteiras étnicas entre os bárbaros para, ela mesma, aproximar aqueles
que estão contra os atenienses a eles”.
Para Edith Hall (2004, p. 1, 2 e 11), quando os gregos escreveram sobre os bárbaros
- que são vistos como seus opostos -, eles estavam experimentando um exercício
de autodefinição. A helenista enfatiza que tal invenção teria sido forjada a partir
das Guerras Greco-Pérsicas (490-479 a.C.)16 . Mas como as peças de Eurípides são
marcadas pela atualidade e a realidade atual do poeta é a da Guerra do Peloponeso17,
essa invenção do bárbaro ganha novas matizes.
Com os conflitos entre atenienses e espartanos e seus respectivos aliados, “a
apreciação etnográfica e a esquematização que transforam os não-gregos, tornados
os bárbaros ou o bárbaro, em puro instrumento crítico em um discurso dos gregos
sobre os gregos” (PESCHANSKI, 1993, p. 58). A partir desse momento temos o discurso,
no qual as tragédias de Eurípides se inserem, que transforma os não-atenienses
em bárbaros. O bárbaro agora é o próprio grego, o que permite ao poeta construir
Hermíone, uma espartana, com traços barbarizados, conforme vimos anteriormente.
Assim como Jonathan Hall (2000, p. 33), também compreendemos a etnicidade como
um fenômeno relacional, isto é, constituído a partir do contato com os Outros e é a
partir desse contato que ela também se define e se mantém. E esses Outros, no caso
de Eurípides, são os gregos não-atenienses.
No seu embate com Hermíone, o que sobressai é o fato de Andrômaca, apesar
de estrangeira e supostamente bárbara, se mostrar mais grega nas atitudes, na sua
moderação e na sua virtude, do que a princesa espartana. Esta opta pela violência
desmedida e por toda a espécie de excessos que eram entendidos pelos gregos
como esperados de um bárbaro. Os gregos barbarizados de Eurípides invertem a
tese aceita de que os helenos são superiores ao resto do mundo, um cânon tantas
vezes sublinhado pelos poetas trágicos nas suas celebrações dramáticas de uma
identidade coletiva grega (HALL, 2004, p. 222-23).
O que percebemos na Andrômaca é a guerra atuando no sentido de criar uma
nova ordem sem fronteiras na qual predomina a ideia do grego/barbarizado e do
bárbaro/civilizado. A noção da barbárie no Outro dá lugar à barbárie no próprio grego,
afinal são os helenos matando e escravizando helenos. Algo que para a ideologia da
comunidade política seria uma anomalia.
Conclusão
Andrômaca, assim como outras tragédias de Eurípides, coloca em relevo um dos
traços característicos do poeta: a concessão de espaço de ação às personagens
femininas. Por mais que Hermíone dependesse de seu pai, Menelau, para concretizar
o seu plano de assassinar Andrômaca e o filho e que a viúva de Heitor tenha sido
salva por Peleu, os personagens masculinos não são aqueles responsáveis pelo
desenvolvimento da narrativa na peça. As ações determinantes são femininas.
Complexa é a composição da personagem Andrômaca. Ela é bárbara - porque é
cativa troiana -, mas possui um comportamento mais esperado de uma esposa ideal
grega. E acima de tudo, ela é capaz de discorrer em defesa do casamento grego:
Não é pelos meus fármacos que teu marido te odeia, mas por
não seres dotada para viver em comum. Filtro também é o
seguinte: não é a beleza, mulher, mas as virtudes que alegram
os companheiros do leito. (...) Deve a mulher, ainda que dada
a alguém de baixa condição, amar o marido e não ter com ele
discussões sobre nobreza (vv. 205-14).
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Notas
1Muitos helenistas defendem que a peça Andrômaca, de Eurípides, não possua uma unidade
(PHILLIPPO, 1995, p. 355).
2 Ver: GILHULY (2009); SCHMITT PANTEL (1990, p. 591-603); MATOS (2006, p. 9-23).
3 Além de relacional e historicamente construído, o gênero é plural; isto porque, “existem muitos
‘femininos’ e ‘masculinos’, e esforços vêm sendo feitos no sentido de se reconhecer diferenças
dentro da diferença, apontando que mulher e homem não constituem simples aglomerados:
...” (MATOS, 2006, p. 13).
4Dentre os diversos fatores neste quadro de oposições entre gregos e bárbaros, temos a língua
a marcar a diferença e a distância: “... no critério helênico, o bárbaro, ao mesmo tempo que
articula sons que obedecem a uma cadeia incompreensível, realiza um processo mental que o
distingue do grego” – SILVA (2005, p. 15). Ver também: HALL (2004, p. 3-4).
5 Tradução de Frederico Lourenço (2013).
6Segundo P. Vidal-Naquet (2002, p. 79), “impossível não ligar o seu nome ao que se pode
chamar de supermasculinidade do seu círculo”, isto devido ao fato de ela possuir sete irmãos e
viver em um universo masculinizado. Seus irmãos, além do próprio pai, teriam sido mortos por
Aquiles (cf. Ilíada. 6. 413-24).
7 Certamente Andrômaca se vê como fraca por sua condição de escrava, mulher e concubina.
8 Todas as citações da tragédia Andrômaca foram traduzidas por José Ribeiro Ferreira (2010).
9 Quanto a esta questão, ver: RODRÍGUEZ CIDRE, 2010, p. 63-64.
10Podemos também pensar, a título de exemplo, na relação Fedra e Hipólito, além de Jocasta
e Édipo.
“Pois diz que, por meio de drogas secretas, a torno estéril e odiada ao marido e que desejo
11
habitar esta casa, em sua vez, expulsando-a à força do seu tálamo” (vv. 33-35).
12 A partir desta lei atribuída a Péricles, somente seriam cidadãos os filhos de pai e mãe atenienses.
13Consultar também os versos 248, 595-601, 601-10, 631, 680-85. Em Hécuba a situação se
repete nos versos 265-70, 441-43 e 943-51.
14Num diálogo entre Andrômaca e a Escrava, Eurípides não deixa de mencionar os artifícios
femininos para as saídas de casa (vv. 84-85).
15 Sobre essa questão, cf. Helena, v 276, Troianas, v. 933, Ifigênia em Áulide, vv. 1400-401.
16Jonathan M. Hall (2000, p. 44) também é partidário de que o conceito de bárbaro tem por
referencial as Guerras Greco-Pérsicas. Consultar também: PESCHANSKI, 1993, p. 56. Já François
Hartog (1999), defende que as Guerras Greco-Pérsicas não foram o marco dessa diferenciação,
visto que ela já ocorria antes.
17“E as peças de Eurípides estão marcadas pela atualidade, seja pela guerra (a do Peloponeso),
seja pelas ideias sofísticas, predominando a presença concreta do sofrimento humano, venha
ele da paixão, da guerra, do erro ou dos deuses” (LESSA, 2016, p. 48).
Submissão: 18/10/2019
Editores: Karina Anhezini e André Figueiredo Rodrigues Aceite: 05/12/2019