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INTRODUÇÃO

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INTRODUÇÃO

A Reforma Psiquiátrica no Brasil ocorre no período de eclosão do


movimento sanitário1 nos anos 70, em que lutou-se para a realização de mudanças
nos modelos de atuação e gestão das práticas de saúde coletiva, quais sejam:
equidade na oferta de serviços de saúde com qualidade e protagonismo dos
trabalhadores e usuários dos serviços de saúde nos processos de gestão e
produção de tecnologia de cuidado.
Ainda que esse processo tenha surgido concomitante a Reforma
Sanitária, a Reforma Psiquiátrica brasileira tem suas particularidades históricas, pois
está inserida em um contexto internacional de mudanças que visavam combater a
violência asilar. Tem origem na crise dos modelos de assistência de saúde
centrados no Hospital Psiquiátrico e na organização de movimentos sociais que
lutavam e ainda lutam pelos direitos dos pacientes psiquiátricos que vivem em
condições precárias, são esquecidos pelo estado e estigmatizados pela sociedade.
De acordo com Amarante (1995, p.91),
Esta sendo considerada reforma psiquiátrica, o processo histórico de
reformulação crítica e prática que tem como objetivos e estratégias o
questionamento e a elaboração de propostas de transformação do modelo
clássico e paradigma da psiquiatria. No Brasil, a reforma psiquiátrica é um
processo que surge num modelo mais concreto e principalmente a partir da
conjuntura da redemocratização em fins da década de 1970, fundado não
apenas nas criticas conjuntural ao subsistema nacional de Saúde Mental,
mas também, e principalmente, na critica estrutural ao saber e as
instituições psiquiátricas clássicas, o bojo de toda a movimentação político-
social que caracteriza esta mesma conjuntura de redemocratização.

A Reforma Psiquiátrica é, portanto, um processo político-social complexo,


que inclui diferentes segmentos na defesa dos direitos, incidindo em diferentes
territórios. Segundo Tenório (2002), o ponto inicial que era a contestação da
cidadania do louco, desdobrou-se em uma amplitude de defesa e direitos em
diferentes ramos de atuação, em diversidades e práticas de saberes, mostrando-se
como um campo heterogêneo que inclui discursos sobre a clínica, a política, o
social, o cultural e as relações com o jurídico. Desta maneira, a reforma psiquiátrica
foi compreendida como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores
culturais e sociais.
Nesse processo, destaca-se o Movimento dos Trabalhadores em Saúde
Mental (MTSM), que era um espaço plural formado por trabalhadores do movimento
1
sanitário, familiares, sindicalistas, membros de associações de profissionais e
pessoas com longo histórico de internações psiquiátricas. Esse movimento foi
responsável por protagonizar denúncias de violência em asilos, manicômios e
hospitais, como também combatia a mercantilização da loucura e o monopólio das
redes privadas no atendimento aos pacientes com transtornos mentais. Construiu
coletivamente uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo que era
imposto nos hospitais que prestavam assistência nessa área.
O MTSM realizou diversas ações como intervenção de humanização para
reorientação do tratamento para pacientes com transtornos mentais na colônia
Juliano Moreira, no estado do Rio de Janeiro, onde havia mais de 2.000 pessoas em
estado deplorável; o II Congresso Nacional do MTSM, em Bauru-SP, no ano de
1987, que tinha o lema “Por uma sociedade sem Manicômios”; e a I Conferência
Nacional de Saúde Mental, neste mesmo ano e Estado.
Vale ressaltar que o surgimento do primeiro Centro de Acompanhamento
Psicossocial (CAPS), na cidade de São Paulo; a aprovação do Sistema Único de
Saúde (SUS)2, em 1988; a intervenção realizada pela Secretária Municipal de Saúde
de Santos em São Paulo, em 1989, no Hospital Psiquiátrico, denominado Casa de
Saúde Anchieta, que tinha denuncia de maus-tratos e mortes de pacientes; e a
criação de cooperativas, de associações, de residências deram impulso ao
movimento no Brasil.
No campo parlamentar, o movimento ganha força quando o Deputado
Paulo Delgado (PT-MG) elabora e dá entrada, em 1989, em um projeto de lei que
propõe a regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos mentais e a
extinção progressiva dos manicômios no país. A partir desse projeto de lei,
consegue-se aprovar em vários estados as primeiras leis que determinam a
substituição progressiva dos leitos em hospitais psiquiátricos por uma rede integrada
de atuação em Saúde Mental, ganhando apoio do Ministério da Saúde.
Nesse mesmo período, ocorre a II Conferência Nacional de Saúde Mental
e o Brasil participa e assina a Declaração de Caracas, o que impulsionou a criação
das primeiras normas federais que regulamentavam a implantação dos serviços de
atenção diária, inspirados nas experiências dos CAPS 3, NAPS e Hospitais Dias, bem

2
Sistema Único de Saúde.
3
Os CAPS são serviços de saúde mental abertos e comunitários, que funcionam como referência
para o tratamento de pessoas com transtornos mentais graves e persistentes. Eles oferecem
como as primeiras normas para fiscalização e classificação dos Hospitais
Psiquiátricos. No entanto, não houve expansão continuada desses processos.
Após doze anos de tramitação no Congresso Nacional é aprovada a Lei
Federal 10.216, de abril de 2001, que redireciona o atendimento na saúde mental,
levando em consideração o oferecimento de tratamento em serviços de base
comunitária e dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos
mentais, sem instituir mecanismos claros para a progressiva extinção dos
manicômios. Por isso, a III Conferência Nacional de Saúde Mental foi realizada
nesse mesmo ano com o objetivo de fomentar a discussão sobre a política
implantada, bem como consolidar, sustentar e dar visibilidade ao novo modelo
conquistado.
A partir desse momento, ampliam-se o financiamento do Ministério da
Saúde e os serviços oferecidos nos Estados, com a criação de redes integradas.
Ganha força o processo de desinstitucionalização de pessoas longamente internada,
são criados programas como “de volta para minha casa” e organiza-se uma politica
voltada para o combate ao álcool e outras drogas, incorporando estratégias da
Política de Redução de Danos. Esses são alguns aspectos do processo de luta na
área da Saúde Mental. Luta que se realiza cotidianamente devido a precarização e
falta de investimentos nessa politica, mostrando que são muitos os desafios para os
tempos atuais.
No processo de construção de um Sistema Único de Saúde (SUS), nos
deparamos com diversas dimensões como: prevenção; cuidado; proteção;
tratamento; recuperação; promoção, entre outras diretrizes e princípios, ou seja,
uma constante busca para produzir saúde de qualidade e de acesso universalizado.
Muitos são os desafios e dilemas que atravessam o que costumamos nomear de
“defesa pela vida” e garantia de direitos (MS, 2010). Assim, temos avanços,
retrocessos e surgimento de novas questões que demandam outras respostas,
outros desafios e impõe ao Sistema Único de Saúde (SUS) a urgência de
aperfeiçoamentos e novas diretrizes para melhor atender as demandas postas pela
sociedade.

acolhimento, acompanhamento clínico, psicoterapia, atividades terapêuticas, orientação familiar e


suporte social. Além disso, promovem ações de prevenção, reabilitação e inclusão social, buscando
fortalecer os vínculos sociais e combater o estigma associado à doença mental (MS, 2010).
Desta forma, nos cabe perguntar: Qual o impacto de um bom acolhimento em
um Centro de Atenção Psicossocial?
O CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) é uma importante iniciativa
brasileira na área de saúde mental, que surgiu como uma alternativa ao modelo
tradicional de tratamento psiquiátrico. Sua história remonta ao final da década de
1980, quando os movimentos sociais e profissionais da saúde mental passaram a
questionar as práticas manicomiais e a luta por uma assistência mais humanizada e
inclusiva.
Os primeiros CAPS foram criados em 1989, sendo aprimorados inicialmente
em municípios como Santos (SP), Campinas (SP) e Sobral (CE). A proposta desses
centros era oferecer um atendimento integral e multidisciplinar, com ênfase na
valorização da autonomia, na reinserção social e no cuidado humanizado. No início
dos anos 1990, foi promulgada a Lei da Reforma Psiquiátrica (Lei 10.216/2001), que
determinou a manutenção da assistência psiquiátrica no país, visando a substituição
progressiva dos hospitais psiquiátricos por serviços comunitários.
Nesse contexto, os CAPS apresenta-se como uma das principais estratégias
para promover a desinstitucionalização e a reinserção social das pessoas com
transtornos mentais. Atualmente, existem diferentes tipos de CAPS, como o CAPS I
(para atendimento diário), o CAPS II (com atendimento noturno) e o CAPS AD
(voltado para pessoas com problemas relacionados ao uso de álcool e outras
drogas).
A criação dos CAPS representou um avanço importante na área de saúde
mental no Brasil, promovendo a desospitalização, a reabilitação psicossocial e a
inclusão das pessoas com transtornos mentais na sociedade. Esses serviços
contribuíram para uma transformação significativa no modo como a saúde mental é
abordada no país, valorizando a cidadania e os direitos humanos das pessoas com
transtornos mentais.
Uma boa acolhida em um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) é
fundamental para estabelecer uma relação de confiança e segurança entre os
profissionais de saúde mental e as pessoas que buscam o atendimento. Acolher os
usuários do CAPS contribui para uma experiência positiva e fortalece o vínculo
terapêutico.
Segundo a OMS, em 2019, quase um bilhão de pessoas, entre elas, 14%
adolescentes do mundo, vivenciam algum tipo de transtorno mental, o suicídio
aparece a cada 100 mortes, como causa e 58% dos suicídios ocorreram antes dos
50 anos de idade. Os transtornos mentais são a principal causa das incapacidades,
pessoas com a saúde mental fragilizada morrem em media entre 10 a 20 anos mais
cedo do que a população em geral.
Estigma, discriminação e violações de direitos humanos contra pessoas com
problemas de saúde mental são comuns em comunidades e sistemas de atenção
em todos os lugares; 20 países ainda criminalizam a tentativa de suicídio. Em todos
os países, são as pessoas mais pobres e desfavorecidas que correm maior risco de
problemas de saúde mental e que também são as menos propensas a receber
serviços adequados (OMS, 2022).
Antes da pandemia de COVID-19, somente uma pequena fração da
população tinha acesso a cuidados de saúde mental eficaz. No mundo 71% das
pessoas com psicose não acessam serviços de saúde mental, Enquanto 70% das
pessoas com psicose são tratadas em países de alta renda, apenas 12% das
pessoas com essa condição recebem cuidados de saúde mental em países de baixa
renda (OMS, 2022). Nesse cenário a depressão, mesmo em países de alta renda,
apenas um terço das pessoas recebem cuidados formais de saúde mental e estima-
se que o tratamento minimamente adequado, em países de baixa renda apenas
23% recebe um tratamento.
Muitos especialistas afirmam que o Brasil esta vivenciando uma segunda
pandemia. Números do Datasus apontam que o total de óbitos por lesões
autoprovocadas dobrou nos últimos 20 anos, de 7 mil para 14 mil. os dados
anteriores à pandemia apontou episódios depressivos como a principal causa de
pagamentos de auxilio doença não relacionado a acidentes de trabalho,
correspondendo a 30,67% do total, seguida de outros transtornos ansiosos( 17,9%).
Assim, é evidente a necessidade de estudos, pesquisas, discussões capazes
de abranger esse cenário de luta na saúde mental, desta feita, o acolhimento é a
porta de entrada nos mais diversos níveis de atendimento, tornando-se necessário
esse olhar cientifico que já possui uma gama de saberes dobre a temática.

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