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Entre A Espera Pelo Céu E A Busca Por Bem-Estar Material Na Terra: A Assembleia de Deus E Os Modelos Teológicos Neopentecostais

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ENTRE A ESPERA PELO CÉU E A BUSCA POR BEM-

ESTAR MATERIAL NA TERRA: A ASSEMBLEIA DE DEUS E


OS MODELOS TEOLÓGICOS NEOPENTECOSTAIS

Introdução

Em 2011 vimos por todo o Brasil as comemorações dos cem anos das Assembleias de
Deus. Tal fato não pode passar despercebido pelas ciências sociais pelo fato de esta igreja ter
construído sólidas bases na sociedade brasileira. Ao longo desse século, a Assembleia
interagiu com vários fatos que perpassaram nossa história: os golpes de 1930 e 1964, o
fundamentalismo de matriz norte-americana, a Nova República e a Constituinte.
No entanto, o foco do presente texto é a sua relação com as igrejas neopentecostais,
surgidas no final da década de 1970 e os modelos teológicos introduzidos por elas.
Compreendemos que essa relação tem se pautado por uma disputa pela hegemonia no campo
protestante, ao que as neopentecostais lançaram mão do uso intensivo da mídia, especialmente
a televisão, de estratégias de marketing da economia da mercado, a Teologia da Prosperidade,
a doutrina da Confissão Positiva, entre outros.
Buscamos compreender como a Assembleia tem lidado com essas questões nas últimas
décadas, mantendo um diálogo reticente com essas igrejas, ora marcado pela rejeição, ora pela
aceitação e incorporação de seus métodos, ora ambos, o que tem levado a dissidências,
divergências e fortes debates em seu interior. Nossa abordagem é pautada numa perspectiva
histórico-sociológica, buscando compreender como a pós-modernidade afetou o
protestantismo brasileiro, especialmente a Assembleia de Deus, forçando-a a sair das
trincheiras de um etos religioso puritano e hermético a influências seculares, provocando em
seu interior mudanças substanciais, uma abertura a formas empresariais de prática da religião.

A posição da Assembleia de Deus na histórica brasileira

As comemorações do centenário da Assembleia de Deus em 2011 buscaram mostrar


uma igreja monolítica, preocupada com o trabalho de proselitismo religioso e centrada em
torno dos princípios de seus fundadores suecos do início do século XX. Porém, em cem anos,
houveram diversas divisões, secessões e embates com a cultura secular que marcaram sua
abertura a um mundo para além das fronteiras das representações religiosas.
No entanto, há muito a ser comemorado. Seu posto de maior igreja evangélica do Brasil,
com mais de oito milhões de fiéis, foi resultado de sua exitosa inserção nos sertões e em
regiões de fronteiras, amalgamando a mensagem milenarista com os anseios de retirantes e
migrantes em busca de uma nova terra, a fim de recomeçarem suas vidas.
O baixo nível de instrução de seus primeiros missionários, a resistência, no primeiro
meio século, à construção de seminários teológicos, a estrutura patriarcal de sua hierarquia e a
adoção de um etos puritano marcaram a canalização de suas ações para a expansão,
inicialmente aglutinando sobretudo as camadas menos favorecidas da população. Esse é um
importante dado que pode ser verificado na leitura da “História da Convenção Geral das Assembleias
de Deus no Brasil” e que contrasta fortemente com o caráter de outras missões estrangeiras que
estiveram no Brasil entre o final do século XIX e o início do XX, como nos informa Léonard 1
Muitos trabalhos de evangelização de batistas, episcopais, presbiterianos e metodistas eram
reforçados com a construção de escolas e atendimento médico às populações. Léonard
também nos informa de missionários que possuíam doutorado em Teologia e outros que
trabalhavam numa incipiente imprensa evangélica.
Mas a AD nunca foi um movimento sectário na história brasileira. Em outro estudo, 2
mostramos como sua liderança sempre teve preocupação de ganhar legitimidade política a
partir da Era Vargas. Um dos maiores problemas para a liderança da igreja foi a adoção de
elementos da cultura secular por seus membros. As mudanças sociais ocorridas a partir da
década de 1960 levaram a instituição a repensar seus meios de controle sobre o
comportamento dos fiéis. Ecos do movimento feminista na cultura brasileira, com a
disseminação do uso de minissaias e vestidos curtos, logo foram condenados em seu jornal
“Mensageiro da Paz” e nos cultos por pastores.
Em 1975, numa Convenção realizada em Santo André, foram estabelecidos oito itens
proibitivos aos fiéis, que, além dos já citados, incluíam o uso de cabelos compridos por
homens, corte de cabelos e uso de maquiagem por mulheres, consumo de bebidas alcoólicas e
uso do aparelho de televisão, sobretudo por pastores, sendo os fiéis desestimulados a
comprarem TV, alegando a igreja eventuais problemas de saúde decorrentes de seu uso. Essas
normas, no entanto, não foram cumpridas integralmente por todas as filiais do país, tendo sido
mais fortemente aplicadas em regiões do interior, onde a penetração da cultura secular ocorria
de forma mais lenta.

1
LÉONARD, É. G. O Protestantismo Brasileiro, p. 88-90.
2
SOUSA, B. O. Uma Perspectiva Histórica sobre Construções de Identidades Religiosas: a Assembleia de Deus
em Imperatriz, MA. Imperatriz, MA: Ética, 2011.
Uma das características do pentecostalismo clássico, que, além da AD, inclui a
Congregação Cristã no Brasil, e, posteriormente, a Igreja Pentecostal Deus é Amor, é a
valorização da espiritualidade extática, a ênfase na santidade e nos aspectos proibitivos da
vida social. Há uma desvalorização do corpo, como agente que tende inevitavelmente ao
pecado. Sobretudo temas referentes à sexualidade, como felação, masturbação, relação sexual
antes ou fora do casamento, sempre se constituíram em tabu para essas igrejas.
A negação da sexualidade é uma constante na história do Cristianismo, que, segundo Le
Goff e Troung remontam à doutrina de Paulo que, convicto da iminência do fim do mundo,
contribuiu para a estruturação de uma doutrina antissexual. Mesmo em igrejas mais liberais
como as neopentecostais, que, como veremos, secundarizam vários temas historicamente
ligados ao Cristianismo, esse moralismo é praticamente intocado. Nessas igrejas, também
relações sexuais antes ou fora do casamento são proibidas, embora não seja dado a esses
temas a mesma ênfase que em outros segmentos protestantes.3
Isso se deve ao fato de que, no contexto da segunda metade do século XX, outras
questões vinham à tona a uma reformulação do protestantismo brasileiro: sem dúvida, a
secularização dos costumes e dos padrões de comportamento era uma das principais,
acompanhada pela necessidade de autorrealização pessoal, de integração a uma economia de
mercado cada vez mais globalizada a partir dos anos 1970, prosperidade econômica, lazer,
busca da felicidade e visibilidade social fora da comunidade religiosa.

Considerações sobre a expansão e as características do neopentecostalismo

É nesse contexto que surgem as igrejas neopentecostais que, a partir dos anos 1980,
aglutinam cada vez mais fiéis, muitos deles pentecostais clássicos. O seu surgimento ocorreu,
no Brasil, no período do “milagre econômico” (1969-1973) do governo Médici. A propaganda
governamental enfatizava ostensivamente a emergência de um Brasil potência como forma de
desviar a atenção da repressão, que recrudesceu durante seu governo, e também dos
agravantes sociais. O período foi marcado por avanço das telecomunicações, facilidades de
crédito, ampliação do consumo, sobretudo das classes média e alta. Isso representou maior
diversificação econômica e, consequentemente, menor dependência de um produto de
exportação.4 Foi numa sociedade cujo “milagre econômico” não representou inclusão social

3
LE GOFF, J.; TROUNG, N. Uma História do Corpo na Idade Média, p. 50.
4
FAUSTO, B. História do Brasil, p. 484-486.
nem ampliou os ganhos reais da maioria dos trabalhadores, que o neopentecostalismo fincou
raízes e se expandiu.5
O Neopentecostalismo é uma religiosidade pós-moderna, marcado pela liberalização
dos costumes, ênfase no indivíduo como único responsável por seu bem-estar físico e
material, pautada num discurso que tem como eixos centrais a Teologia da Prosperidade 6 e a
guerra espiritual. E também se caracteriza pela flexibilidade quanto aos padrões de usos e
costumes de santidade (modos de vestir, maquiagem, prática de esportes) e a estrutura
empresarial, fugindo ao discurso estritamente religioso e organizando-se e difundindo-se
dentro dos princípios da economia de mercado. As primeiras do ramo foram a Igreja
Universal do Reino de Deus (IURD, RJ, 1977), Internacional da Graça de Deus (RJ, 1980),
Cristo Vive (RJ, 1986), Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra (Goiânia, 1976) e Renascer
em Cristo (SP, 1986).7
Mais recentemente, outras igrejas destacaram-se por seu crescimento meteórico e sua
expressividade midiática, como a Igreja Bola de Neve (SP, 1999), voltada quase
exclusivamente para as classes média alta e alta, e caracterizada por seu liberalismo
doutrinário, tem atraído principalmente jovens. Também a Igreja Mundial do Poder de Deus
(IMPD, Sorocaba, SP, 1998), fundada por um bispo dissidente da IURD, Valdemiro Santiago,
a IMPD já possui filiais em todo o país e em quase todos os continentes, e uma emissora
própria, com transmissão ao vivo, por vinte e quatro horas no próprio site da igreja.
Um fato que contribuiu para o crescimento rápido de igrejas neopentecostais por todo o
país foi o projeto de “igreja em células”, que consiste na reunião de grupos em casas com um
líder designado pela liderança da igreja com o objetivo de atrair novos fiéis. Não raramente, o
crescimento das células leva ao surgimento de novas igrejas, decorrente de divergência
doutrinária em relação à liderança, ou gera igrejas-satélite dependentes de uma sede. Ao
mesmo tempo em que promove uma remagicização do mundo, deixa de lado temas históricos
do Cristianismo como salvação, caridade, ênfase na santidade, negação do mundo (incluindo
riquezas materiais) em nome da busca pela vida eterna, pobreza e sofrimento em nome da fé.
Não pretendemos aqui fazer juízo de valor a respeito de qual forma de vivência da
religião é mais correta ou qual estaria errada. Não é nesse sentido que trabalha um cientista
social. O objetivo dessa abordagem é demonstrar como as mudanças no interior do

5
VIEIRA, E. Brasil: do golpe de 1964 à redemocratização, p. 200.
6
Surgiu nos Estados unidos entre as décadas de 1920 e 1940, onde é mais conhecida pelo nome the health-and-
wealth gospel sendo que seus primeiros representantes foram William Essek Kenyon (1867-1948) e Kenneth
Erwin Hagin (1917-2003).
7
MARIANO, R. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil, p. 32-34.
protestantismo brasileiro se articulam com as transformações históricas pelas quais a
sociedade tem passado e como isso atingiu, especialmente, a Assembleia de Deus, levando-a a
redefinir estratégias de forma a não perder fiéis e manter a hegemonia que alcançou no campo
protestante.
Compreendemos aqui o pós-modernismo a partir da definição de Bauman, de um
período caracterizado pela diluição de “padrões, códigos e regras a que podíamos nos
conformar, que podíamos selecionar como pontos estáveis de orientação [...]”. 8 Jameson fala
de uma expansão da economia de mercado, engendrando rupturas e conduzindo os indivíduos
à busca de novas realidades.9 O avanço dos meios de comunicação, os discurso em torno da
cultura, liberdade e identidade impuseram uma nova forma de organização do espaço e de
afirmação do sujeito. Nesse sentido, recuam as identidades coletivas e as lealdades a elas
subjacentes.10 Do ponto de vista religioso, esse contexto acarretou o recrudescimento de
fundamentalismos religiosos, sobretudo no Oriente Médio e nos Estados Unidos.11
Bauman também chama a atenção para o fato de a modernidade ter atingido o
Cristianismo ao valorizar as atividades terrenas, ao mesmo tempo em que provocou “o
abrandamento do impacto da consciência da mortalidade”. 12 No entanto, isso foi mais visível
nos países europeu após a Segunda Mundial, onde a secularização se consolidou e abriu
espaço para formas de vivência de espiritualidades não-cristãs. Um outra afirmação deste
autor é particularmente reveladora acerca do contexto pós-moderno que, no caso do Brasil,
contribuiu para alavancar as igrejas neopentecostais. Ao comentar acerca das incertezas que
pesam sobre a identidade individual, ele afirma:

A pós-modernidade é a era dos especialistas em “identificar problemas”, dos


restauradores da personalidade, dos guias do casamento, dos autores de
livros de “auto-afirmação”: é a era do “surto de aconselhamento”. [...] A
incerteza de estilo pós-moderno não gera a procura da religião, ela concebe,
em vez disso, a procura sempre crescente de especialistas na identidade.
Homens e mulheres assombrados pela incerteza de estilo pós-moderno não
carecem de pregadores para lhes dizer da fraqueza do homem e da
insuficiência dos recursos humanos. Eles precisam da reafirmação de que
podem fazê-lo – e de um resumo a respeito de como fazê-lo (grifos do
autor).13

8
BAUMAN, Z. O Mal-estar da Pós-Modernidade, p. 14.
9
JAMESON, F. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio, p. 13-14.
10
HALL, S. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 11 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
11
BAUMAN, Z. O Mal-estar da Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
12
Ibid., p. 217.
13
Ibid., p. 221-222.
Pelos motivos apontados pelo autor, é que o medo do contingente, de correr riscos, de
fracassar, leva milhares de pessoas a buscarem em lideranças carismáticas as respostas que
apontam o caminho a seguir, as soluções, os métodos, as estratégias – o segredo do sucesso. O
título do conhecido livro de Rhonda Byrne sintetiza o que muitos procuram dentro ou fora da
religião, com o diferencial de que na religião é possível o indivíduo usar o sobrenatural a seu
favor.14 Correr riscos ou encontrar respostas na algaravia do mundo contemporâneo,
especialmente em sociedades periféricas, onde o desenraizamento cultural produz orfandade
identitária, é algo que está fora das possibilidades de muitos indivíduos. A ênfase na
liberdade, muitas vezes associada à capacidade de consumo e desengajamento, que levaria os
indivíduos a forjarem seus próprios referenciais de vida, leva muitos a não quererem “assumir
os riscos e responsabilidades que acompanham a autonomia e auto-afirmação genuínas”. 15
É desse modo que muitos líderes neopenteocostais se caracterizam como “especialistas
na identidade”. Nessas igrejas, praticamente não há apelo à tradição cristã, predominando o
exemplo carismático e paradigmático de seus líderes, como Edir Macedo, R.R. Soares,
Valdemiro Santiago ou René Terra Nova. O que é há de pós-moderno no neopentecostalismo
é a cultura de massas (midiática), entretenimento, consumo, bem-estar material, relativização
e/ou abandono de princípios caros ao Cristianismo (santidade, negação do mundo, caridade,
pobreza, sofrimento). O neopentecostalismo é uma religiosidade de espetáculo, de consumo,
de imediatismo. Em meio a uma profusão de escatologias e de seitas emergentes anunciadoras
do fim do mundo, o neopentecostalismo deixa de lado a expectativa do fim do mundo,
transformando a prosperidade no elemento-chave de seu discurso e na principal causa de seu
sucesso.

Posicionamentos da Assembleia de Deus face ao crescimento neopentecostal: entre a


adesão e a rejeição

Buscamos esclarecer que o que caracteriza o neopentecostalismo não é apenas o uso da


mídia, o que grande parte das igrejas protestantes já fazia antes de seu surgimento, inclusive a
Assembleia de Deus, através de seu jornal “Mensageiro da Paz”, além de programas de rádio.
O que o neopentecostalismo fez foi midiatizar a religião, ou seja, transformá-la em espetáculo
de multidões que se reúnem em torno um líder em busca de cura, libertação e prosperidade. O
desengajamento com relação a padrões de comportamento atraiu principalmente os jovens,

14
BYRNE, R. O Segredo. 2 ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2011.
15
BAUMAN, Z. Modernidade Líquida, p. 26.
sobretudo após o sucesso de igrejas como Renascer em Cristo e, mais recentemente, a Bola de
Neve.
Por outro lado, essas instituições mantêm forte noção de comunidade, sobretudo nas
grandes cidades, onde o isolamento social se tornou uma regra para se evitar o contato direto
com a violência. “Podemos dizer que ‘comunidade’ é uma versão compacta de estar junto, e
de um tipo de estar junto que quase nunca ocorre na ‘vida real’: um estar junto de pura
semelhança, do tipo ‘nós que somos todos o mesmo”. 16 Se o espaço urbano dissolve vários
laços comunitários e de convívio, acarretando vigilância e militarização do espaço público,
devido à proliferação dos medos, ele também proporciona a criação de grupos que se reúnem
com base em uma identidade comum. Por conseguinte, a igreja neopentecostal, mais do que
outras protestantes, se coloca melhor nessa posição de comunidade pós-moderna: ela louva o
consumo, os modos de ser, cantar e vestir do jovem urbano, mas se defende da desagregação
identitária e da atomização que a cultura urbana pós-moderna traz em seu bojo. Ao
parafrasear Zukin, Bauman afirma que “os anos 1960 e 1970 foram um divisor de águas na
institucionalização dos medos urbanos”.17 Não por acaso, muitas igrejas neopentecostais
trazem em seu nome o substantivo “comunidade”, a exemplo da Comunidade Evangélica Sara
a Nossa Terra. Uma breve pesquisa no Google com o nome “Comunidade Evangélica” gera
mais de um milhão e meio de resultados e listagem de milhares de igrejas com esse título
espalhadas pelo Brasil.
Nas últimas décadas foi notável a dificuldade da Assembleia de Deus de concorrer com
essas igrejas no mercado religioso brasileiro. A hegemonia da liderança sueca nas primeiras
décadas, que veio de um grupo social e religioso marginalizado, de rejeição ao aprendizado
formal e pouco afeito à pluralidade de pensamento e ação 18, além do fato de, inicialmente,
seus fiéis serem majoritariamente oriundos de camadas pobres, sobretudo nas regiões Norte e
Nordeste deixou essa liderança vigilante quanto à necessidade de manter a unidade e rigidez
doutrinária.19
Hoje, porém, não é mais possível cogitar que a Assembleia de Deus seja uma igreja
voltada para os pobres, haja vista o grande contingente de pessoas de outros grupos sociais
que têm se filiado a ela, seja por conversão ou por mudança de denominação protestante. Isso
tem conduzido a uma pressão, em parte silenciosa, por mudanças, por flexibilização
doutrinária e pela incorporação da Teologia da Prosperidade.

16
Ibid., p. 116.
17
Ibid., p. 110.
18
FRESTON, P. Breve História do Pentecostalismo Brasileiro, p. 77-79.
19
ROLIM, F. C. Pentecostais no Brasil: uma interpretação sócio-religiosa, p. 42.
Embora nas grandes cidades essas transformações ocorram a passos mais largos do que
no interior do país, há resistências e grupos divergentes. Um dos momentos em que isso veio
à tona foi na Convenção Geral de 1995, onde alguns itens de “usos e costumes” deliberados
na Convenção de 1975, conforme afirmamos, foram revogados ou suavizados. Em junho de
2000 foi publicado, na revista “Obreiro” uma resolução do 5° Elad (Encontro dos líderes das
Assembleias de Deus), onde se reafirmava a importância de seguir a tradição e se apelava à
historicidade da igreja, mais antiga que as neopentecostais e a uma noção de identidade como
argumento para evitar a liberalização doutrinária. O texto termina com uma retórica
triunfalista e um forte apelo a que os fiéis não se filiem a outras igrejas:

Cada igreja tem seu público alvo que pretende alcançar. A nossa igreja é
bem conhecida em todo o país e tem sua linha traçada. As Assembleias de
Deus não nasceram com projeto político, empresarial e nem com plano
específico para evangelizar as elites da sociedade. O nosso projeto é ganhar
o povo para Jesus e fundar igrejas locais em todas as cidades e bairros do
país. [...] Não é necessário copiar. Nós somos pentecostais clássicos. Isso
significa que somos modelos para os outros. São eles, portanto, que devem
aprender com as Assembleias de Deus e não nós com eles, em matéria de
doutrina pentecostal. É muita falta de bom senso e de respeito copiar de
grupos neopentecostais, que sequer sabemos quem são, nem de onde vêm e
nem para onde vão. Com a avalanche de igrejas neopentecostais, liturgias e
crenças para todos os gostos têm levado alguns de nossos líderes a se
fascinarem por esses movimentos, imitando e copiando seu sistema litúrgico.
Ora, quem pertence a nosso igreja não está enganado, são crentes que sabem
o que querem, que conhecem nossa doutrina, tradição, usos e costumes e
com a nossa forma de adoração. É também correto afirmar que a maioria se
sente bem em nossos cultos de adoração a Deus. As tentativas de mudança
são sempre um fiasco, porque quem não gosta de nossa maneira de cultuar a
Deus já saiu, já foi embora para outras denominações. Por que imitar e
copiar outros movimentos? [...] Imitação sempre é imitação. Não conquista
os pecadores para Cristo, pois não tem público alvo definido. Não conquista
outro público, porque essas pessoas já conhecem as Assembleias de Deus.
Por mais que se queira provar que são outros costumes, que as coisas
mudaram, não persuade as pessoas, porque as marcas das Assembleias de
Deus são muito fortes.20

Essas marcas, no entanto, não são fortes o suficiente pra mantê-la isolada do mundo
exterior. Mesmo que o texto afirme que a igreja não nasceu com “planos para evangelizar as
elites da sociedade”, a adesão paulatina destas levou inevitavelmente a discussões e mudanças
de paradigmas doutrinários e/ou teológicos. O convívio com outras igrejas, outros modelos de
protestantismo, geram essa discussão. Isso é um processo natural em sociedades seculares
onde coexistem diferentes tipos de religião, ao invés da hegemonia de uma só – situação que

20
HISTÓRIA da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, p. 583-584.
fora enfrentada pelas primeiras protestantes históricas no século XIX ou pela própria
Assembleia de Deus, que, nas primeiras décadas, não teve preocupações maiores do que
evangelizar um país esmagadoramente católico em sua maioria.
Em grande parte, a resolução constitui letra morta, já que mesmo muitos pastores
ligados à CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil) incorporaram a
Teologia da Prosperidade em seus sermões. O caso nacionalmente mais conhecido é o de
Silas Malafaia, pastor da Assembleia de Deus da Penha, no Rio de Janeiro. Inicialmente
avesso à Teologia da Prosperidade21, aderiu posteriormente a ela, realizando longas
campanhas em seus programas de televisão.
A Teologia da Prosperidade rejeita um modelo de Cristianismo voltado para a pobreza,
além do abandono da pregação apocalíptica. A expansão do modelo de igreja eletrônica, que
originalmente surgiu nos Estados Unidos, foi acompanhado, no Brasil, pela aquisição de
emissoras de rádio e TV de forma frequente por igrejas evangélicas, sobretudo a partir da
redemocratização na década de 1980. Nessa teologia é feita uma positivação do mundo, que
não é mais visto apenas como o lugar do pecado ou da atuação do mal. O crente pode
desfrutar de seus benefícios, desde que não deixe de doar dinheiro à igreja e professe as
palavras certas no sentido de pressionar Deus a lhe conceder as bênçãos que pretende
alcançar. A consolidação da democracia e da meritocracia nas sociedades ocidentais
engendrou uma consciência que desvaloriza a pobreza e até mesmo a rigidez doutrinária, para
dar lugar a uma religião de valorização da riqueza, do consumo e do lazer, ficando de lado o
medo do inferno e a esperança de riquezas apenas em outra vida, no céu. O sucesso midiático
de televangelistas como R.R. Soares e Edir Macedo logo atraiu a atenção de pastores de
outras vertentes pentecostais.
No caso de Silas Malafaia, suas campanhas sempre contam o apoio e participação, em
seus programas, de dois conhecidos pregadores da prosperidade nos Estados Unidos: Mike
Murdock e Morris Cerullo. Com Murdock, por exemplo, ele encabeça, desde 2010, a
campanha do “clube de um milhão de almas”. O objetivo é conseguir a adesão de um milhão
de pessoas que façam uma doação de um mil reais ao ministério de Malafaia, totalizando um
bilhão de reais, dinheiro que seria empregado para a manutenção do programa de Malafaia em
canais via satélite para mais de cem países, dublado em inglês.
Em uma ocasião, em Agosto de 2011, lançou a campanha “Medida Extra”, dessa vez
com Morris Cerullo, que esteve no Brasil várias vezes desde a década de 1980. O nome é
21
É possível encontrar no site youtube um antigo vídeo em que Malafaia denuncia da Teologia da Prosperidade
como uma importação inadequada de um modelo teológico dos Estados Unidos. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=7btY6EMm05A> Acessado em: 14/02/2012.
baseado em uma numerologia que ele estabeleceu como sendo importante para Deus.
Segundo ele, os números nove e dez significam “nada faltando” e o número onze quer dizer
“medida extra”, o excedente. A campanha pede aos ouvintes uma doação de novecentos e
onze reais. Malafaia tem sido o televangelista brasileiro que pede as mais altas doações, com
valores fixos. Talvez por isso sua insistência de trabalhar com pregadores norte-americanos
que já são conhecidos há décadas no mercado religioso da prosperidade e contam com uma
tradição estabelecida.
Nas duas campanhas é sempre frisado que a doação é uma chave que levará o fiel a
receber muito mais, uma casa própria, um carro, um emprego melhor. A igreja se coloca
como intermediária entre o contribuinte e Deus, devendo o fiel atender ao “chamado”, como é
compreendida a adesão ao discurso realizado pelo pastor, que se coloca sempre como
autoridade, na posição de alguém instituído por Deus, e que por isso pode garantir que a
“promessa” seja cumprida. Aqui chamamos a atenção para a forma como é exercido o poder
simbólico do pastor, nesse caso, um poder de mobilização, de criar relações de sentido, de
validar uma definição de realidade social e econômica que atenda aos interesses do grupo que
faz o apelo, conforme colocado por Bourdieu.22
Outro elemento teológico neopentecostal é a Confissão Positiva. Tendo começado entre
os primeiros pregadores da Prosperidade, como Kenyon e Hagin, um de seus principais
propagadores no Brasil é R.R. Soares, que defende que o fiel deve falar com Deus no
imperativo, no sentido de exigir, determinar que Deus lhe dê saúde e/ou prosperidade. 23 Em
um dos sites da Assembleia de Deus do ministério de Belém (ligado à CGADB), um pastor
redigiu um texto se posicionando contra estes e outros elementos neopentecostais. Ele afirma

Afirmam os pregadores da confissão positiva que a prosperidade financeira é


uma prova de fidelidade do crente à [sic] Deus. Dizem, por exemplo, que o
ministério de Jesus era muito rico, por isso é que tinha um tesoureiro.
Dizem, ainda, que a pobreza é o ápice da maldição do homem. É claro que
devemos evitar quaisquer extremos: a Doutrina da Prosperidade e a Doutrina
da Miserabilidade. A prosperidade bíblica é verdadeira, e para Deus, ser
próspero significa ter todas as necessidades supridas (Salmos 1:3), e não ser,
especificamente, abastado.24

O embate travado entre essas concepções religiosas também reflete um aspecto


relevante da pós-modernidade: o fato de religião se tornar um bem de consumo, se privatizar,

22
BOURDIEU, P. O Poder Simbólico. 3 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
23
SOARES, R. R. Como Tomar Posse da Bênção. 5 ed. Rio de Janeiro: Graça Editorial, 1997 (E-book).
24
Disponível em <http://www.ad.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=156&Itemid=124>.
Acessado em: 14/02/2012.
atendendo apenas a parcelas específicas da população. Vimos em uma citação anterior de uma
resolução do Elad que a Assembleia de Deus coloca sua ancestralidade em relação às igrejas
neopentecostais para demonstrar legitimidade frente a elas, mostrá-las como fugazes e a si
mesma como tendo princípios enraizados.25 Tais afirmações, porém, não surtem efeito para
muitas pessoas, que procuram na religião soluções rápidas e eficazes para determinados
problemas, como demonstra Reginaldo Prandi:
A religião nem tem mais a idade dos séculos, como sempre preferiu
apresentar-se, mas a idade do adolescente. Por isso se enganam os que
imaginam que vivemos um momento de grande reflorescimento religioso,
que nega a secularização e leva a sociedade, de novo, a entregar os pontos ao
sagrado. A velha religião fonte de transcendência para a sociedade como um
todo foi estilhaçada, perdeu toda a utilidade. A religião que tomou o seu
lugar é uma religião para causas localizadas, reparos específicos. 26

São essas características que garantem o sucesso de algumas instituições


neopentecostais, dos espetáculos de curandeirismo de Valdemiro Santiago na Igreja Mundial
do Poder de Deus, passando pelas campanhas de prosperidade de Malafaia até a ênfase na
Confissão Positiva de R.R. Soares, e que tem gerado uma crise interna na Assembleia de Deus
há décadas.
Trata-se de uma forma pós-protestante de vivência da fé, voltada mais para a busca de
soluções mágicas do que para uma devoção integral à religião, pautadas em métodos de
conduta e leituras constantes da Bíblia.27 A igreja torna-se, desse modo, uma empresa
econômica, que concorre com outras a fim de oferecer os melhores serviços e atrair a maior
clientela possível. Dentre as pentecostais clássicas, a Assembleia de Deus é a que mais tem
sofrido com um crise de identidade, vendo sua hegemonia no campo protestante ser ameaçada
pela avalanche de novas igrejas que surgem quase que diariamente ou pela adesão de seus
pastores a essa teologia.
Isso porque a Assembleia nasceu e se desenvolveu em um contexto predominantemente
rural, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste. Em seus cem anos de história, sua membresia
foi recrutada especialmente no catolicismo popular, “abundante em rezas e devoção aos
santos, pedidos de proteção e promessas”.28 Por outro lado, as igrejas neopentecostais
nasceram com a expansão da mídia, sobretudo a televisão, e é por este veículo que tem
recrutado seus fiéis. Por isso substituem uma vivência religiosa pautada apenas na

25
PRANDI, R. Religião paga, conversão e serviço, p. 272.
26
Ibid., p. 273.
27
Ibid., p. 275.
28
ROLIM, F. C. Pentecostais no Brasil: uma interpretação sócio-religiosa, p. 29.
convivência no templo, por uma lógica midiática, tendo proposto novas formas de interação
entre o religioso e o secular e em que a Teologia da Prosperidade e a Confissão Positiva
ganharam forte adesão entre grupos sociais mais escolarizados e urbanos. Isso torna o
neopentecostalismo uma religiosidade urbana, mercadológica, pós-moderna. 29 O futuro da
Assembleia de Deus dependerá em grande parte da concorrência com essas instituições, o que
deverá ser feito não através da rejeição de seus métodos, mas da absorção deles, o que muitos
de seus líderes já vem praticando.

Considerações finais

Buscamos trabalhar as mudanças que a Assembleia tem passado frente ao crescimento


vertiginoso das instituições neopentecostais. O fato de estas igrejas se organizarem como
empresas de bens de salvação, ou seja, oferecendo serviços rápidos e práticos como cura
divina, libertação de males físicos e espirituais à distância, pela TV, prosperidade – um
elemento importante de garantia de segurança ontológica para muitos diante da iminência de
crises econômicas, ou restauração afetiva e emocional, afetou a forma como muitos na
Assembleia de Deus praticavam a religião.
Portanto, para termos uma compreensão adequada de sua trajetória a partir das três
últimas décadas do século XX, é necessário levar em conta sua concorrência com essas
igrejas. Apesar das tentativas de alguns em sua liderança nacional de manter a igreja afastada
da Teologia da Prosperidade e outros elementos mais peculiares às igrejas neopentecostais,
compreendemos que ela não ficou incólume a esse processo, tendo sido fortemente afetada
por ele. Se, como vimos, para alguns diretores da CGADB, não é necessário copiar padrões de
religiões mais jovens, não é isso o que pensam muitos de seus fiéis e pastores em grandes e
médias cidades do Brasil.
A Teologia da Prosperidade, por exemplo, não é apenas uma inovação teológica,
representa a adequação do protestantismo à ansiedade de muitos por inserção e sucesso na
economia de mercado. O mesmo se aplica à Confissão Positiva, que rejeita uma religiosidade
apenas de obediência a uma divindade, e coloca o fiel na posição de protagonista, como um
cliente que exige satisfação, determina o que é melhor para si e se torna um agente que
pressiona a divindade a atendê-lo; ele tem o direito, por isso é instado a fazê-lo.

29
GASPARETTO, P. R. Midiatização da Religião: processos midiáticos e a construção de novas comunidades
de pertencimento. São Paulo: Paulinas, 2011.
Se, na maior parte de seus cem anos de atuação no Brasil, a Assembleia de Deus lançou
mão de uma religiosidade messiânica, puritana, militante, mais voltada à incorporação de
normas de conduta da igreja, o que se adequava ao que muitos de seus prosélitos esperavam
de uma religião, neste início de século XXI, ela se vê na encruzilhada de hibridizar sua
identidade. Se os tempos mudaram, a Assembleia de Deus naturalmente também mudou: não
é mais apenas a igreja glossolálica fundada por modestos missionários suecos, também é
igreja de megatemplos, de representantes da bancada evangélica, que faz forte lobby em
campanhas eleitorais a exemplo das eleições presidenciais de 2010, que possui emissoras de
rádio e televisão e de renomados pastores que pregam a prosperidade. Isso, no entanto, não a
torna neopentecostal, mas prova como tem se adequado a novos tempos.

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Fontes

http://www.ad.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=156&Itemid=124 Acessado
em: 14/02/2012
http://www.youtube.com/watch?v=7btY6EMm05A Acessado em: 14/02/2012.

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