TESE Dweison Nunes Souza da Silva (1)
TESE Dweison Nunes Souza da Silva (1)
TESE Dweison Nunes Souza da Silva (1)
Recife
2023
1
Recife
2023
Catalogação na Fonte
Bibliotecário: Rodriggo Leopoldino Cavalcanti I, CRB4-1855
Inclui referências.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
Profa. Dra. Edvânia Torres Aguiar Gomes (Orientadora)
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
______________________________________________________
Profª. Drº. Maria do Carmo Martins Sobral (Examinador Interno)
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
___________________________________________________
Profª. Drª. Ana Lúcia Bezerra Candeias (Examinador Interno)
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
____________________________________________________
Profª. Drª. Christiana Cabicieri Profice (Examinador Externo)
Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC
__________________________________________________________
Prof. Dr. Guilherme José Ferreira de Araújo (Examinador Externo)
Universidade de Pernambuco – UPE
4
Dedico
À minha mãe, filhos e esposa, por serem
fontes permanentes de inspiração para lutar
pela construção de uma sociedade melhor.
5
AGRADECIMENTOS
À professora Dra. Edvânia Torres Aguiar Gomes, por ser orientadora desta
tese, e à professora Dra. Aura González Serna, pela co-orientação. Agradeço
imensamente pelos impulsos, aportes, oportunidades e lembranças contínuas; por
serem referência no que se dispõem a realizar.
Por fim, registro minha felicidade de poder contribuir, com Ciência e uma pitada
de ousadia, em torno de um tema importante, o da educação em sua correlação com
a sociedade e natureza.
6
RESUMO
ABSTRACT
Environmental Education stands as an element of combat and action, especially for its
ability to form individuals capable of critically acting on their socio-environmental
realities. Its emergence is related to the unequal and exclusive way in which capitalist
society has acted on nature and society. Currently, a considerable portion of the
international scientific community discusses the gaps associated with the effectiveness
of environmental education pedagogies. In Brazil, the pedagogical gap incorporates
evidence of dismantling and erasure of the environmental theme in basic education.
Thus, the general objective was to analyze the challenges and pedagogical potential
of implementing Environmental Education as an instrument in educational policy in
Brazil over time. This is a study of theoretical contribution, based on literature review
research and empirical conclusions that are presented in the form of data and solid
information obtained in the cited literature. The results reveal a process of dismantling
environmental and educational policies in Brazil, in which the Common National
Curriculum Base (CNCB) contributes to the erasure of environmental education in
school environments. Transversality stands as the non-place of environmental
education. The absence of the social critical element of the dominant pedagogy of
Education for Sustainable Development (ESD) is characterized by its ineffectiveness
in the social practice of individuals. The inseparable relationship between ESD and
sustainable development places it in a condition close to non-scientific, as it does not
produce enough empirical evidence to support it. Examining the historical process of
environmental education laws and policies highlights two important conclusions as
options for renewing environmental education in Brazilian secondary education: the
dimension of presence is revealed by an environmental education raised to the level
of a curricular component, becoming a core part of the school curriculum. The
pedagogical renewal is revealed by the incorporation of a new pedagogy, the
Historical-Critical Ecopedagogy (EHC).
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
EA Educação Ambiental
EM Ensino Médio
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 13
1. 2 OBJETIVOS ................................................................................................. 25
1 INTRODUÇÃO
Por outro lado, são raros os exemplos na literatura de sua efetivação como
elemento integrativo e de presença contínua, o que coloca a transversalidade numa
posição fortemente ideológica1. Tampouco há motivos – pelo menos na atualidade –
de que o caráter transversal da educação ambiental tenha promovido alterações nas
práticas sociais de indivíduos (SILVA, GOMES & SERNA, 2022; CARVALHO, 2020).
Por isso, afirma-se ser uma contradição2 o fato de o conceito de transversalidade ser
colocado como um mecanismo legal “impeditivo” (SILVA, GOMES & SERNA; 2022;
CARVALHO, 2020) da presença da educação ambiental como componente curricular,
por exemplo.
Essa constatação confirmou a hipótese inicialmente levantada “de que não há,
nas políticas educacionais no Brasil, lugar para o ensino de educação ambiental no
Ensino Médio brasileiro”.
1 Ideologia entendida como um conjunto de ideias que ao invés de revelar oculta a realidade, que produz
ou se expressa numa inversão; que naturaliza aquilo que não é natural (DUNKER, 2015). Neste caso,
a Ideologia transversal da educação ambiental já aparece como se fosse natural na política educacional
brasileira. É imperativo, então, fazer a crítica sobre os seus limites (grifos do autor).
2 A categoria contradição é utilizada em sintonia com a lógica dialética, que trabalha com a inclusão
das contradições buscando a superação por incorporação, como forma de superar os limites materiais
do objeto que se deseja conhecer e pesquisar. Portanto, situando-se em oposição à lógica formal, que
trabalha com o princípio de exclusão dos opostos; no campo educacional, por exemplo, “se é teoria
não é prática e se é prática não é teoria”. Consultar Netto, (2020) e Saviani (2014).
3 As contribuições teóricas de nosso estudo foram publicadas no periódico científico Retratos da Escola,
em junho de 2022. Acessar: SILVA, D. N. S.; GOMES, E. T. A.; SERNA, A. G. Educação Ambiental no
Novo Ensino Médio: o que há de ‘novo’? Retratos da Escola, [S. l.], v. 16, n. 34, p. 127–147, 2022. DOI:
https://doi.org/10.22420/rde.v16i34.1466.
15
inexistente na BNCC, de modo a ser citada uma única vez, em um breve parágrafo, e
junto a outros temas da BNCC (SILVA, GOMES & SERNA, 2022; GRIMM, 2022). É
possível ainda inferir que há um processo de apagamento da temática ambiental na
educação básica no Brasil (ROSA, SORRENTINO & RAYMUNDO, 2022;
CARVALHO, 2020).
Como explicar essa constatação diante de uma educação ambiental com seus
longevos 50 anos, em 2022? As recomendações para o ensino de educação
ambiental não estão sendo implementadas como deveriam, ou estamos diante de uma
problemática educacional em termos de pedagogia e formação docente? Certamente,
a responsabilidade pela crise ecológica não recai apenas sobre a educação ambiental.
No entanto, a educação ambiental tal como tem sido inserida e trabalhada possui
evidentes deficiências de efetivar-se como prática social, que precisam ser superadas.
16
Essa é uma das dimensões que esta tese põe sob crítica: a da presença. Há
verdadeiramente uma “ausência de presença” da educação ambiental na educação
básica brasileira. A contradição do lugar e o não-lugar com o qual se convive desde a
20
Dentre outras razões, isso justifica minha posição contrária ao que está previsto
na BNCC e ao que se tem tentado colocar em prática com o novo currículo para o
Ensino Médio no Brasil. Nas seções 2 e 3 se demonstra com suficiente literatura que
a BNCC representa um retrocesso para a educação básica, em todas as suas etapas,
modalidades e áreas do conhecimento. A Educação Ambiental se limita a ocupar um
breve parágrafo, quando mencionada junto a outros temas notadamente periféricos.
Em 2023, por exemplo, com a conjuntura criada pela posse do novo governo
federal e consequentes mudanças nas pastas ministeriais da educação e meio
ambiente, o debate sobre a BNCC e NEM entra novamente em pauta, ocupando
atualmente o status de análise e ou revogação7. Os perfis antidemocrático e
excludente pelos quais se aprovou o NEM justificam e revelam a importância de se
rediscutir seus horizontes.
6 Os relatos podem ser consultados na página oficial do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras
em Educação de Pernambuco, disponível em: https://www.instagram.com/sintepedigital/.
7 Para maiores informações consultar: https://nossaluta.com.br/.
21
Portanto, acredito ser preciso que a horta escolar sirva como mediação, por
exemplo, para se refletir sobre questões mais profundas e que fazem parte da
realidade da maioria dos estudantes brasileiros: uma questão seria quem produz a
fome? Ou ainda quem lucra com a fome? E, finalmente, por que esta sociedade
produz fome ao mesmo tempo em que se jogam fora alimentos?
Um breve parêntese. É neste sentido que o sujeito histórico não pode ser
considerado como imutável e determinado; portanto, a-histórico e a-processual
(RODRIGUES & BICALHO, 2022). É antes, processual e histórico através de seu
processo de vida real. Reafirmo isto porque a experiência “Trilha histórica, geográfica
e biológica no Outeiro/Maracaípe – Ipojuca/PE” é de minha autoria, e cujo conteúdo
tem estreita relação com o que preconiza a EDS e com o exemplo da horta escolar.
Ou seja, um projeto de ensino de temática importante, porém ausente de crítica social,
em 2012.
O doutorado, então, tem contribuído para perceber que a função desta tese é
de oferecer alternativas para o ensino de educação ambiental no Brasil. No que se
refere a sua presença, explicito (seção 2) os circuitos pelos quais é possível entender
as razões do precário quadro atual e, por outro lado, advogar pela sua incorporação
como componente curricular no ensino formal. Ou seja, sua saída histórica como
“ponto de passagem” para o de “ponto de chegada” do conhecimento.
8
Período de intercambio como bolsista vinculado ao Grupo de investigación Territorio da Universidad Pontificia
Bolivariana (UPB), na Colômbia.
24
9 Esse parágrafo faz parte de nossas reflexões, publicadas no artigo científico “O Uso da
Sustentabilidade como Argumento Legitimador da Artificialização da Natureza e do Social no
Capitalismo Contemporâneo”, na Revista Pesquisa em Educação Ambiental, em 2020.
25
No final, esta tese encontra sintonia com uma educação caracterizada por ser
de “incontrolável resistência”. Não é um termo cunhado por mim, mas que faz muito
sentido. Mesmo diante de todo o avanço político neoliberal e do mercado sobre a
educação, os(as) professores(as) e outros(as) profissionais da educação continuam a
resistir; pesquisadores(as) do campo educacional (e ambiental) continuam a resistir;
coletivos e entidades ligadas à educação continuam resistindo, a sociedade civil
continua resistindo...
1. 2 OBJETIVOS
1.4.2.2 Delineamento
10Foram utilizadas para pesquisa: Web of Science; SCOPUS; SciELO; Taylor & Francis Online; Google
Acadêmico; Portal de periódicos da Capes; REDALYC - Red de Revistas América Latina, Caribe,
España y Portugal; Science Direct.
29
Quadro 1: Síntese das principais referências utilizadas para sustentar esta tese, com base em cada objetivo específico e palavras-chave pesquisadas.
Objetivo Palavras-chave Palavras-chave Base(s) de dados Principais referências
pesquisada(s)
(em Português) (em Inglês)
Avaliar alternativas - Políticas de - Environmental - Web of Science; - Rosa, Sorrentino &
de incorporação da educação ambiental education policies - SCOPUS; Raymundo, 2022.
educação - Legislação - Educational and - SCIELO; - Silva, Gomes & Serna, 2022.
ambiental como educacional e environmental legislation - Taylor & Francis - Unesco, 2021.
componente ambiental; - Transversality and Online; - Saivani, 2020; 2019.
curricular na - Transversalidade e environmental education - Google Acadêmico; - Carvalho, 2020.
educação básica educação ambiental, - Interdisciplinarity - Portal de periódicos - Mec, 2019*.
brasileira, etapa do - Interdisciplinaridade - Historical Critical da Capes; - Feil & Schreiber, 2017.
Ensino Médio - Pedagogia Histórico Pedagogy (PHC); - REDALYC; - Silva & Gomes, 2019.
Crítica (PHC); - Science Direct. - Guimarães, 2016.
- Agenda 2030, 2015b.
- Brasil, 1999*.
Comprovar de que - Ensino Médio, - High school, - Web of Science; - Garcia, Czernisz & Pio, 2022.
maneiras - Educação Básica, - Basic education, - SCOPUS; - Dias & Ramos, 2022.
comparece e se - Conceito e - Concept and objectives - SCIELO; - Souza, 2021.
pretende trabalhar objetivos da of Education - Taylor & Francis - Koepsel, Garcia & Czernisz,
a educação Educação - New Brazilian High Online; 2020.
ambiental no - Novo Ensino Médio School - Google Acadêmico; - Consenza, 2020.
ensino médio brasileiro - National Curriculum - Portal de periódicos - Saviani, 2020; 2019.
brasileiro a partir - Base Comum Common Base (NCCB) da Capes; - Chamorro Et Al., 2019.
do que está Curricular Nacional - Educational Policy and - Science Direct. - Ivenicki, 2019.
previsto na Base (BNCC) Legislation; - Brasil, 2018*.
Comum Curricular - Política e - Curriculum - Neira, 2018.
Nacional (BNCC) Legislação - School
Educacional;
- Currículo
- Escola
31
Nota 1: As referências foram escolhidas com base em dois aspectos principais: 1. Sua relevância seminal, no sentido de ser um referencial científico para
outras pesquisas que se seguiram e; 2. A novidade científica mais atual sobre a temática.
Nota 2: Os artigos científicos, principais fontes utilizadas, foram definidos em função da confiabilidade dos periódicos nos quais foram pulicados.
Nota 3: As referências sinalizadas com asterisco (*) se referem a leis, normativas e livros disponíveis em formato digital, cujo acesso é de domínio público e
podem ser facilmente pesquisadas em outras plataformas, tais como o Google.
32
Quadro 2 – Desmonte das políticas de Educação Ambiental no Governo Federal, período 2019-
2021 - Coordenação-Geral de Educação Ambiental (CGEA/MEC)
Quadro 3 – Desmonte das políticas de Educação Ambiental no Governo Federal, período 2019-
2021 – Departamento de Educação Ambiental (DEA/MMA).
Quadro 4 – Desmonte das políticas de Educação Ambiental no Governo Federal, período 2019-
2021 - Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental (MEC & MMA)
ser trabalhada nas redes de ensino e nas ações pedagógicas escolares. Há, no
campo teórico, duas vertentes, que possuem objetivos antagônicos.
Como revela Carvalho (2020, p. 45) com a BNCC “se radicaliza uma
política de invisibilidade, apagamento, e silenciamento da EA”, demonstrando
que a histórica transversalidade da educação ambiental traduziu, dentre outros
aspectos, o seu “não lugar” na educação nacional. Assim, não é por acaso que
o Brasil vivencia crises de vários tipos, em que o desprezo sobre as pautas
educacional14 e ambiental, por exemplo, refletem a crise socioambiental sem
precedentes, que o posiciona dentre os países que “são abertamente ecocidas
e negacionistas do clima” (LOWY, 2020, p. 12).
menciona, por exemplo, que mais de 50% dos currículos não fazem qualquer
referência às mudanças climáticas e que somente 19% sinalizaram trabalhar
com o tema biodiversidade (UNESCO, 2021b).
Biologia Biologia
EDUCAÇÃO AMBIENTAL Física Física EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Filosofia Filosofia
Geografia Geografia
Matemática Matemática
que produz no âmbito da prática social global por ela mediada. Sua
eficácia é aferida, portanto, pelas mudanças qualitativas que provoca
na prática social" (SAVIANI, 2016, p. 69).
16No website oficial do Senado Federal, local em que tramita virtualmente o Projeto de Lei, há
dados que demonstram a participação favorável ou não de parte da sociedade brasileira sobre o
tema. Ir até: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/120737.
51
Por fim, esta primeira aproximação abre espaço para o debate sobre o
lugar ou o não-lugar da educação ambiental na BNCC e Novo Ensino Médio
(NEM) brasileiro.
52
Finalmente, a LDB - Lei nº 9.394/1996, em seu art. 35, define como uma
das finalidades do EM “III - o aprimoramento do educando como pessoa humana,
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico” (BRASIL, 2017, p. 24), enquanto etapa final da educação
básica.
E por que isso importa? Porque o currículo não se trata apenas de uma
relação de conteúdos que compõem uma determinada disciplina, tampouco
significa o entendimento comum de que seria uma relação de disciplinas que
constituem um curso. O conceito prevalecido entre os especialistas é o de
considerar o currículo como sendo o conjunto de todas as atividades da escola,
incluindo material físico e humano, visando a se atingir determinados fins
(SAVIANI, 2020; KRUG, 2001; SACRISTÁN e GOMES, 1998, MOREIRA e
SILVA, 1994).
No que se refere a instituições de ensino, o currículo engloba todos os
elementos a elas associados. Para Saviani (2020, p. 55):
p. 57). Portanto, a questão central é fazer com que a escola esteja focada em
sua função principal, em suas atividades nucleares.
A escola pública ganha centralidade como espaço de lutas, então, por ser
o lugar em que a educação pode efetivamente contribuir para transformação de
sujeitos e mundos, visando garantir o direito de todos à educação. Como está
previsto na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 205: a educação visa
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania
e sua qualificação para o trabalho, reafirmando o conceito enriquecido de
educação como de apropriação da cultura, que assegura uma leitura crítica da
realidade (CONSENZA, 2020; CARA 2019).
Como, então, esse direito foi testado frente aos impactos da Covid-19 nas
aprendizagens escolares? Numa dimensão planetária, ainda que relativo, o
período pandêmico ocasionou atrasos na aprendizagem dos estudantes entre
nove e quinze meses, levando em conta conteúdos disciplinares de base comum
curricular dos diferentes países, tais como matemática, física, química,
geografia, biologia, língua vernácula etc. (DORN et al., 2021). Portanto, ao não
terem acesso a essas aulas em dado período (2020-2021), os estudantes foram
fortemente penalizados.
18Os recentes movimentos “Escola sem Partido” e “Educação sem Escola” visam desconsiderar
a função histórica e pedagógica da escola, limitando a formação de crianças de jovens (FLASH
& DARCOLETO, 2019).
67
19O termo foi pronunciado pela primeira vez por Francisco Gutiérrez, na década de 1990. Surge
como uma importante ferramenta na tentativa de reverter as consequências dos impactos
socioambientais, baseados nos ensinamentos de Paulo Freire (GUTIÉRREZ, 1999).
68
condição para esse quadro (KAHN, 2008). Como veremos, ainda que a EDS
tenha se tornado hegemônica não significa que a Ecopedagogia tenha se
colocado marginalizada e sem influência, pelo menos não em todos os seus
aspectos.
20 Termo consubstanciado por Capra (1996) e que pode ser entendido como princípios
ecológicos. É considerado acrítico porque não incorpora dimensões políticas, sociais e culturais
em sua abordagem, tampouco conseguem questionar a ordem social vigente estruturalmente
(grifos do autor).
70
Por fim, alguns dos princípios colocados por Freire (1959) igualmente são
assumidos pela Pedagogia Histórico-Crítica. Como observa Saviani (2021, p.
171-172):
anatomia do macaco” Marx (1973, p. 234). Ou seja, é a partir do mais desenvolvido que se pode
compreender o menos desenvolvido. Portanto, embora historicamente as formas de educação
não-escolar (não-formal) tenham precedido à forma escolar, a educação escolar é hoje a sua
forma mais desenvolvida, sendo improvável compreender a educação sem a escola.
77
o professor detém uma visão sintética da prática social enquanto o aluno se situa
numa visão sincrética” (SAVIANI, 2021b, p. 175).
aos conhecimentos (conteúdos) em sala de aula. O professor culto, por sua vez,
“domina os fundamentos científicos e filosóficos que lhe permitem compreender
o desenvolvimento da humanidade” (SAVIANI, 2011, p. 13), possibilitando-o
realizar um trabalho profundo de formação do estudante (MALANCHEN &
DUARTE, 2018).
Ademais, esta tese se situa como uma contribuição científica que visa
apresentar “saídas” para as limitações políticas e pedagógicas relativas à
presença e ensino de educação ambiental no Brasil. Por ser uma proposição
contra hegemônica se enfatiza que as condições atuais colocam os professores
em posição de orientar-se por dois caminhos: o de se contrapor às políticas
educacionais impostas pelo MEC (a BNCC) e, se possível, alterando-as para
uma outra direção25. Esses são os caminhos que se buscou percorrer
cientificamente até o momento.
Quadro 5 – Proposições para que a educação ambiental se efetive enquanto presença nas escolas e nas políticas públicas estaduais
da educação básica. A condição posta pelo atual governo é de que seja excluído do aumento o plano
de cargos e carreiras, desvalorizando a grande maioria dos professores e demais servidores da
educação. Maiores informações em: https://sintepe.org.br/2023/03/28/trabalhadores-em-educacao-
aprovam-dia-estadual-de-paralisacao-da-educacao/. Há diversas notícias, inclusive, de prefeituras
requerendo judicialmente a anulação do piso nacional dos profissionais da educação (grifos do autor).
96
Dito isto, surge a questão: que áreas do conhecimento priorizar para fins de
formação continuada em EHC e de conteúdos socioambientais? Num cenário de
transversalidade, todas as áreas demandam formação continuada. Todavia, o nível
de desenvolvimento atingido pela sociedade contemporânea coloca a exigência de
um conhecimento prévio mínimo, em que certamente as áreas de Ciências da
Natureza e das Ciências Sociais e Aplicadas deverão ser priorizadas.
29Pode-se utilizar como uma referência a experiência de criação do Programa de Mestrado Profissional
para Professores da Educação Básica - PROEB (PROFBIO, PROFMAT, PROFGEO...), em que a
CAPES fornece o apoio às instituições responsáveis pela implantação e execução dos cursos.
Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/educacao-a-
distancia/proeb.
99
Para tanto, uma limitação precisa ser superada pela área de Ciências
Ambientais: a ausência do tema educação ambiental em suas linhas pesquisa e áreas
de atuação. Vale retomar que a leitura do documento da área expõe suas
preocupações com a temática educação ambiental numa perspectiva de futuro, ao
mesmo tempo em que legitima o seu negligenciamento histórico. Essa constatação
dá indicativos de que é urgente inserir a temática em seu horizonte de ensino,
pesquisa e extensão.
Quadro 6 – Propostas para que a educação ambiental seja efetivada na educação básica brasileira
6 CONCLUSÕES
Com base nos fundamentos teóricos da PHC foi possível discutir e argumentar
sobre as alternativas para que a educação ambiental se torne componente curricular
obrigatório na educação básica. É literalmente vital reivindicar a sua presença como
peça nuclear nos currículos e sua ascendência como ponto de partida e de chegada
das preocupações pedagógicas.
REFERÊNCIAS
BATALLA, Oriol. Green Capitalism? Politics from the Necrocene to the leutherocene,
e-cadernos CES [Online], 34, 2020. Disponível em:
https://doi.org/10.4000/eces.5553. Access at: 03 ago. 2022.
BRASIL. Casa Civil. Lei nº 13005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional
de Educação – PNE e dá outras providências. Brasília: Casa Civil, 2014.
BRASIL. Casa Civil. Lei nº 13005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional
de Educação – PNE e dá outras providências. Brasília: Casa Civil, 2014.
CLARK, John P. Between Earth and Empire: From the Necrocene to the Beloved
Community. Oakland: PM Press, 2019.
COUTO, Marcos A. C. Para a crítica da geografia que se ensina através dos livros
didáticos. In: TONINI, I. et al. O livro didático de geografia e os desafios da
docência para aprendizagem. Porto Alegre: Sulina, 2017. p. 191-220.
DORN, E., et al. Covid-19 and education: an emerging K-shaped recovery. [S. l.]:
McKinsey&Company, 14 dez. 2021. Available from: https://www.
mckinsey.com/industries/education/our-insights/covid-19-and-education-anemerging-
k-shaped-recovery. Access at: 15 aug. 2022.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 46ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Traduzido por Moacir Gadotti e Lilian Lopes
Martins. 10 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
LÖWY, Michael (2018). Why Ecosocialism? A discussion of the case for a red-green
future. Climate & Capitalism. Available from:
https://climateandcapitalism.com/2018/12/19/why-ecosocialism-a-discussion-of-the-
case-for-a-red-green-future/. Access at: 12. Jun. 2022.
MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. 2ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1998.
RUSSO, K. Parceria entre ONGs e escolas públicas: alguns dados para reflexão.
Cadernos de Pesquisa, v. 43, n. 149, p. 614–641, 2013.
SCHNEIDER, Flurina et al. Como a ciência pode apoiar a Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável? Quatro tarefas para enfrentar a dimensão normativa
da sustentabilidade. Ciência da Sustentabilidade, v. 14, n. 6, pág. 1593-1604,
2019.
SILVA, Mônica Ribeiro da. O Ensino Médio e o direito à Educação – obrigatório para
quem? SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020. Disponível em:
<https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/07/07/o-ensino-medio-e-o-direito-a-
educacao-obrigatorio-para-quem/>. Acesso 05 nov. 2021.
UNESCO; UNICEF; WORLD BANK. The state of the 2021 global education crisis: a
path to recovery. Washington: World Bank Group, 2021. Available from:
https://openknowledge.worldbank.org/handle/10986/36744. Access at: 15 set. 2022.
VOLPATO, Gilson. Método lógico para redação científica. Botucatu: Best Writing,
2011. 320p.
VOLPATO, Gilson. Guia prático para redação científica. Botucatu: Best Writing,
2015. 268p.
WARLENIUS, Rikard Hjorth. Learning for life: ESD, ecopedagogy and the new spirit
of capitalism. The Journal of Environmental Education, vol. 53, n.3, 141-153,
2022. Available from: 10.1080/00958964.2022.2070102. Access at: 02 ago. 2022.
117
WARLENIUS, R., PIERCE, G., & RAMASAR, V. Reversing the arrow of arrears: The
concept of “ecological debt” and its value for environmental justice. Global
Environmental Change, 30, p. 21-30, 2015. Available from:
https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2014.10.014. access at: 8 ago. 2022.