A2 - História Contemporanea Das RI
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A2 - História Contemporanea Das RI
AULA 1
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esmagadora da população, com aproximadamente 24 milhões de pessoas. No
entanto, este grupo também não era homogêneo, era composto pela alta
burguesia (empresários, grandes comerciantes, banqueiros), pela média
burguesia (burocratas, médicos, advogados) e pela pequena burguesia
artesões, pequenos lojistas) e também pelos trabalhares do campo e das
cidades. Trata-se de um grupo bastante diverso, com aspirações e interesses
divergentes, no entanto todos eles pagavam impostos.
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Figura 2 – Palácio de Versalhes, 1668
Quando Luís XVI assumiu o trono, o país passava por uma crise financeira
significativa, que perdurou bastante tempo. A crise econômica tinha múltiplas
razões. A participação na Guerra dos Sete Anos (1756-1763) e na Guerra de
Independência dos Estados Unidos (1775-1783) afetou demasiadamente os
cofres do Estado. Somado a isso, os nobres, com suas pensões e gratificações,
consumiam uma parte expressiva dos gastos públicos. Além disso, o estilo de
vida extravagante do rei e da sua Maria Antonita também contribuíam para
aumentar os gastos públicos.
Saiba mais
Guerra dos Sete Anos (1756-1763): conflito entre a Inglaterra e França
que disputavam terras na América do Norte e no continente asiático e que
envolveu ainda outros reinos, como a Prússia, Áustria, Portugal e Espanha.
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para o povo. Ainda, tentaram criar uma arrecadação de impostos sobre as
propriedades fundiárias, mas essa ideia foi rechaçada pelo clero e pela alta
nobreza, que não estavam dispostos a perder nenhum privilégio. Porém, o rei
Luís XVI precisava encontrar uma solução para melhorar os cofres públicos.
Assim, decidiu convocar os Estados Gerais para se discutir sobre o assunto.
Havia mais de século que ele não era consultado.
Os Estados Gerais eram um antigo órgão consultivo da monarquia,
constituído pelos três estados: clero, nobreza e povo. Todavia, cada ordem tinha
direito apenas a um voto, de maneira que, frequentemente, o clero e a nobreza
se uniam, totalizando dois votos. Assim, o voto do povo se tornava indiferente.
A primeira Assembleia dos Estados Gerais aconteceu no Palácio de
Versalhes e já foi bastante tensa. Líderes do povo reivindicavam que o voto fosse
por cabeça e não por Estado. A partir daí, a convocação dos Estados Gerais
serviu para escancarar os abusos, as desigualdades, as injustiças sociais
presentes na sociedade francesa.
Diante desse cenário hostil, o rei ficou com medo de perder sua autoridade
e resolveu suspender a Assembleia. Em reação, os representantes do Terceiro
Estado ocuparam o salão de jogos do palácio e determinaram que continuariam
em Assembleia e só sairiam dali quando fosse votada uma nova Constituição
para o reino. Assim, naquele momento, foi criada a Assembleia Nacional, que foi
transformada em Assembleia Constituinte.
A partir daí, o clima na França ficou cada dia mais dramático, a população
se mobilizou e em 14 de julho de 1789 a invadiram a Bastilha, prisão de Paris,
onde ficavam encarcerados os inimigos políticos do rei. Sobre esse episódio, o
historiador Eric Hobsbawm pontua que
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Figura 3 – Tomada da Bastilha. Jean-Pierre Houël, 1789
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Em setembro de 1791 a Constituição foi aprovada, consolidando as
decisões revolucionários como a abolição dos dízimos eclesiásticos, proibição
de venda de cargos públicos e a suspensão dos privilégios da nobreza. O voto
era censitário, ou seja, somente homens com comprovada renda ou propriedade
poderiam votar, de modo que muitos trabalhadores e mulheres foram excluídos.
A França não era mais uma país absolutista, agora se tornava uma monarquia
constitucional, com divisão dos poderes, isto é, o rei deveria se submeter à
Constituição.
Luís XVI teve seu poder drasticamente reduzido, o que o levou a conspirar
com outros nobres de países absolutistas vizinhos, visando retomar seu poder
centralizador. Em junho de 1791 ele tentou fugir para Áustria, mas foi descoberto
e obrigado a retornar para Paris.
A Assembleia manteve-se ativa até 1792, entretanto dentro dela havia
duas forças políticas distintas: aqueles que eram favoráveis a profundas
mudanças e aqueles que não desejavam grandes transformações sociais. Os
mais radicais sentavam-se à esquerda do plenário e os mais conservadores
sentavam-se ao lado direito. Foi daí que nasceu o conceito de direita e esquerda
na política ainda em voga até os dias atuais, todavia cabe ressaltar que
atualmente estas definições são polissêmicas.
Cada vez mais esses grupos foram se diferenciando. Nessa esteira,
nasceram os Girondinos, que defendiam interesses mais moderados e eram em
sua maioria membros da alta burguesia e os Jacobinos, representado pelos
trabalhadores que defendiam ideias mais radicais. Georges Danton, Jean-Paul
Marat, Louis-Antoine Saint-Just e Maximilien Robespierre foram importantes
líderes dos Jacobinos.
Uma coligação estrangeira se uniu na tentativa de ajudar o rei e retomar
o poder centralizado. Assim, em agosto 1791 os governos da Prússia e da
Áustria assinaram a Declaração de Pillnitz, anunciando a intervenção militar na
França afim de conter a revolução. Desse modo, a França começou a ser
atacada, inicialmente ocorreram algumas derrotas, mas ao final os franceses
obtiveram êxito, devido, sobretudo, à adesão entusiástica dos sans-culottes
(trabalhadores urbanos) que formaram um exército popular vitorioso.
Diante desse cenário o rei foi acusado de conspiração, e por isso foi preso.
Visando melhorar a segurança do Estado e a defesa da Revolução, foi criado
pelos jacobinos em Paris um centro do poder revolucionário, chamado de
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Comuna.
A Assembleia Nacional foi abolida e no seu lugar foi criada a Convenção
Nacional, eleita por sufrágio universal. Os girondinos comandavam a Convenção
e tentavam elaborar uma constituição republicana, além de procurar solucionar
os problemas internos que a França vinha enfrentando como dissipação do
tesouro público, guerra externas e revoltas internas. A República foi
conclamada e junto disso a Convenção decidiu julgar Luís XVI pelo crime de
traição à pátria, condenando-o a morte. Assim, no início do ano de 1793 o rei, e
depois sua esposa Maria Antonieta, foram guilhotinados em praça pública.
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colocar fim aquele período do terror, assim Robespierre e mais de 70 jacobinos
foram guilhotinados. Esse evento sinalizava a retomada do poder pelos
girondinos.
Em agosto de 1795 uma nova constituição foi aprovada, menos radical,
sob a perspectiva da burguesia, retomando algumas medidas que haviam sido
suspensas anteriormente. Tratava-se de uma constituição com características
acentuadamente burguesas como o direito à propriedade e ao lucro.
Nesta constituição o poder executivo foi transformado num diretório
composto por cinco diretores e oito ministros. Nesse momento, a França passou
por um período de crise interna e externa, o que levou os girondinos a endurecer
o governo. Os jacobinos continuavam disputando o poder. Assim, a burguesia
com receio de que os jacobinos tomassem o poder novamente, investiu no
fortalecimento do exército.
Em 9 de novembro de 1799, conhecido como 18 de Brumário no
calendário revolucionário francês, alguns membros do Diretório deram um golpe
e promulgaram uma nova constituição, estabelecendo um Consulado, no qual a
França passaria a ser governada por três cônsules, dos quais o mais poderoso
era Napoleão Bonaparte, que pouco tempo depois assumiu o poder de maneira
integral na França, tornando-se imperador e colocando fim, depois de uma
década, ao processo revolucionário francês.
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Esse processo de cercamentos desvinculou o homem da terra. Assim,
sem trabalho no campo, milhares de famílias de camponeses precisaram partir
para as cidades em busca de trabalho. Desse modo, a Inglaterra passou por um
intenso êxodo rural, o que consequentemente impactou as cidades que não
estavam preparadas para receber todas essas pessoas, gerando superlotação,
promovendo um crescimento desenfreado nas cidades, aumentando a violência
urbana, além da massa de desempregados, pois era impossível emprego para
todos.
Já fazia algumas décadas que os ingleses queriam criar uma máquina de
vapor, porém foi somente em 1769 que James Watt criou uma máquina eficiente,
barata e que pôde ser adaptada para diferentes usos industriais. Essa máquina
foi usada especialmente para a fabricação de tecidos de lã e de algodão, o que
alavancou a produção têxtil no país. Com o passar do tempo, cada vez essas
máquinas foram aperfeiçoadas, tornando-se mais rápidas e eficientes,
possibilitando a produção em larga escala.
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Crédito: Akg-images/Album/ Fotoarena.
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TEMA 4 – PROCESSO DE URBANIZAÇÃO
Ou seja, Marglin defende que a adoção das fábricas é uma estratégia dos
burgueses para lucrar mais, para ter um controle direto dos trabalhadores. Para
tanto, era necessário, controle, disciplina, fiscalização e divisão do trabalho.
Segundo ele, “não foi a fábrica a vapor que nos deu o capitalismo; foi o
capitalismo que produziu a fábrica a vapor” (Marglin, 1996, p. 77)
É importante salientar que, mesmo com o surgimento das máquinas,
muitos trabalhadores ainda realizavam o trabalho de casa, o trabalho manual e
doméstico ainda era necessário. Desse modo, ainda havia uma certa autonomia
do trabalhador no controle do tempo e da produção. Daí então surgiu a
necessidade do burguês de criar as fábricas, lugares nos quais os trabalhadores
teriam horário, seriam vigiados em relação ao desperdício da matéria-prima,
teriam seus corpos controlados a fim de aumentar a produção.
Outro aspecto importante que merece destaque é a divisão de trabalho
que foi uma estratégia dos burgueses de dominação. Cada trabalhador passou
a realizar apenas uma parte específica da produção, perdendo o controle de todo
o processo da produção da mercadoria. Assim, os trabalhadores se tornavam
mais facilmente dispensáveis.
No final do século XVIII e início do século XIX, observou-se o crescimento
vertiginoso de fábricas por toda a Inglaterra, especialmente na região de
Manchester. Essas primeiras fábricas apresentavam péssimas estruturas, o
ambiente era insalubre, não havia nenhuma regulamentação de leis e direitos
trabalhistas. A jornada de trabalho era extenuante, superando 12 horas diárias.
Os salários eram baixíssimos. Abusos, maus tratos, acidentes de trabalho,
exploração da mão de obra infantil faziam parte do dia a dia das fábricas.
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O historiador Edward Thompson, pesquisador da classe trabalhadora e
do mundo do trabalho, afirma, baseado em fontes históricas da época, que a
primeira geração de trabalhadores das fábricas resistiu com afinco a se dobrar
ao sistema fabril, faltavam ao trabalho, chegavam atrasados, bebiam antes de ir
trabalhar, trabalhavam lentamente, conversavam e cantavam durante o trabalho.
Foi necessário, portanto, um trabalho disciplinar árduo, envolvendo punições e
descontos salariais para construir o perfil de trabalhador disciplinado, assíduo e
responsável almejado pelos patrões.
Muitos trabalhadores indignados com horrível situação das fábricas
resolveram protestar, daí nasceu o movimento ludista, que consistia em invadir
as fábricas e quebrar as máquinas. Os ludistas eram contrários à
industrialização, alegavam que os homens foram substituídos pelas máquinas e
que, portanto, o desemprego era culpa das máquinas.
NA PRÁTICA
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FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
_____. A Era das Revoluções: Europa 1789 -1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2005.
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HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
AULA 2
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realidade, baseados na razão e na ciência. Todavia, cabe salientar que os
iluministas não eram ateus, apenas anticlericais, ou seja, criticavam a instituição
católica. Eles eram considerados deístas, ou seja, acreditavam em Deus, na
natureza e nos Homens.
As ideias defendidas por estes filósofos traziam em seu bojo muitos
aspectos que a burguesia almejava, como defesa da propriedade privada e a
liberdade política, econômica, religiosa e de expressão, criticando
veementemente a sociedade do Antigo Regime, permeada pelo Absolutismo,
pela intolerância religiosa e pelo mercantilismo.
Diante disso, nasceu o liberalismo político, pautado na defesa da divisão
de poderes, da meritocracia, da representatividade; e o liberalismo econômico,
cuja premissa era diminuir as intervenções do Estado na economia, de modo
que os Estados pudessem buscar novos mercados consumidores para os
produtos resultantes da expansão da revolução industrial, tendo livre
concorrência.
O historiador Daniel Gomes de Carvalho chama atenção para a história
deste conceito:
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O economista e pastor anglicano, o inglês Thomas Malthus (1766-1834),
se preocupou com o crescimento populacional, afirmando que chegaria em um
ponto que não haveria mais alimento para toda a população. Assim, ele defendia
que as doenças, as guerras e as epidemias eram bem-vindas, na medida em
que diminuiriam a população. Ainda nessa esteira, era contrário à elaboração de
leis protetoras às pessoas mais carentes, alegando que isso só traria ainda mais
problemas, porque não iria diminuir o número de pessoas pobres. Dessa
maneira, ele propunha, como maneira de diminuir a pobreza, que o casamento
das classes populares fosse tardio e uma houvesse um rígido controle sexual.
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TEMA 2 – O PRIMEIRO ATO – UMA GUERRA E SUA RACIONALIDADE
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Com a revolução industrial, a procura por mercados se tornou essencial,
o que resultou numa nova onda expansionista, conhecida por Neocolonialismo
ou Imperialismo, que consistiu em explorar pessoas e recursos dos continentes
africanos e asiáticos.
Neste contexto, alguns países, como a Itália e a Alemanha, estavam
passando por um processo de unificação, o que acabou tardando suas entradas
na corrida imperialista.
Ademais, havia muitos conflitos internos ocorrendo, principalmente no
leste europeu, na região dos Balcãs. Os impérios da Áustria-Hungria e o
Otomano passavam por diversas conturbações internas. Além disso, havia,
ainda, diversas rusgas entre os países centrais, as quais surgiram em conflitos
anteriores, principalmente entre a Alemanha e a França.
O imbróglio envolvendo a França e a Alemanha remete ao conflito
ocorrido na década de 1870, a chamada guerra franco-prussiana, na qual a
Prússia saiu vitoriosa contra a França, inclusive dominando parte de seu
território, a Alsácia-Lorena, e criando o chamado Segundo Império Alemão. Essa
situação gerou nos franceses um forte sentimento de revanche.
A Prússia era um reino que existiu na Europa entre 1701 e 1918, e seu
território cobria a maior parte da Alemanha atual. Juntamente com outros reinos
alemãs eles formaram, após a guerra Franco-prussiana, o Segundo Império
Alemão. O reino da Prússia foi dissolvido após a derrota na Primeira Guerra.
Essa disputa entre alemães e franceses gerou, ainda no final do século
XIX, uma política de alianças que foram fundamentais na Primeira Guerra.
Enquanto a Alemanha buscava se aliar com a Áustria-Hungria e com a Itália, a
França usava a sua diplomacia para se aproximar da Rússia e da Inglaterra.
Esses esforços diplomáticos deram origens às chamadas Tríplice Entente e
Tríplice Aliança.
A Tríplice Entente era formada pela França, Grã-Bretanha e pelo Império
Russo, já a Tríplice Aliança foi formada pela Alemanha, Áustria-Hungria e pela
Itália.
No caso do leste europeu, ocorriam diversas disputas políticas e militares,
e a região era conhecida como o barril de pólvora da Europa. A Áustria-Hungria
tentava manter o controle sobre diversos territórios, enquanto isso o Império
Russo instigava diferentes movimentos pela independência. Ficava cada vez
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mais evidente que se avizinhava uma guerra, a questão era saber quando ela
começaria.
Mesmo com este cenário tenso, havia, antes da guerra, um clima de
otimismo e uma crença de que o progresso só poderia trazer alegria e
prosperidade. No entanto, a guerra devastou com essas ideias.
Esse momento histórico, pautado pela positividade e crença no progresso,
que antecedeu o início da Primeira Guerra, ficou conhecido como a Belle
Époque, termo francês para Bela Época, marcada por uma série de inovações
tecnológicas, como o advento da luz elétrica, do cinema, do carro, do avião, entre
tantas outras invenções.
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Como mencionado anteriormente, foi justamente por causa dessas
disputas políticas, marcadas por múltiplos nacionalismos, que teve início a
Primeira Guerra. Um jovem sérvio, em 28 de junho de 1914, assassinou o
príncipe da Áustria-Hungria na cidade de Sarajevo. Esse fato desencadeou uma
série de acusações entre os países e declarações de guerra.
No dia primeiro de agosto a Alemanha declara guerra contra a Rússia e,
dois dias depois, também declarou guerra contra a França e a Bélgica. No quarto
dia, a Grã-Bretanha, seguindo os princípios das alianças, declarou guerra contra
a Alemanha.
Nos primeiros meses a guerra se desenvolveu em movimento. A
Alemanha atacou em duas frentes. Na frente ocidental as tropas alemãs
avançaram contra a Bélgica com objetivo de chegar ao norte da França. Com
isso chegaram a se aproximar de Paris. Entretanto, mudando seu objetivo inicial,
acabaram sendo repelidos pelos franceses que contavam com o apoio do
exército britânico. Na frente oriental, rapidamente os alemães avançaram contra
os russos, impondo severas derrotas ao exército do Czar Nicolau II.
No início do conflito em 1914, a Primeira Guerra tinha caraterísticas muito
similares com os conflitos do século XIX, como o uso de cavalos, por exemplo.
Todavia, em pouco tempo novas armas foram adicionadas ao conflito, o que
modificou completamente as estratégias de guerra. Entre as novas tecnologias
empregadas, pode-se destacar os canhões cada vez mais poderosos e capazes
de atingir locais mais distantes com maior precisão. Os aviões que a princípio
serviam para espionar o inimigo passaram a carregar bombas, as granadas de
mão se tornaram cada vez mais recorrentes, assim como o uso de diversos tipos
de gases, os quais levavam o inimigo à morte e ao sofrimento.
Além disso, as metralhadoras foram melhoradas e se tornaram
imprescindíveis durante o conflito, provavelmente a arma que mais fez estragos
na Primeira Guerra. No mais, foi nesse momento que os navios foram
aprimorados para as batalhas, e começou a testar submarinos. E, por fim, no
final da guerra surgiu como um elemento importante o tanque de guerra.
Todas essas novas armas foram fruto de um enorme desenvolvimento
tecnológico, porém foram responsáveis por uma carnificina nunca vista na
história da humanidade, a qual jogou por terra todas as esperanças e sonhos
dos europeus. Vale dizer que, no início do conflito, era esperado que a guerra
não durasse mais que poucos meses.
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Figura 4 – Mark I, o primeiro tanque de guerra da história, utilizado na Primeira
Guerra Mundial
Crédito: CC/PD.
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Durante os três anos que durou a guerra de trincheiras, milhares de
soldados, dos dois lados, morreram na tentativa de atravessar a terra de
ninguém para chegar na trincheira inimiga. Era nesse momento que as
metralhadoras mais trabalhavam.
A vida nas trincheiras era extremamente caótica e sem condições
sanitárias. As acomodações eram péssimas e havia pouca comida. Além dos
bombardeios constantes, havia o perigo das granadas inimigas e dos gases.
O combatente francês Émile Moniotte, relata a Alain Pigeard, especialista
em história militar, as suas lembranças das trincheiras:
Saiba mais
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aristocracia rural.
Já a população que vivia nos centros urbanos também passava por sérios
problemas, como desemprego, fome e péssimas condições de vida. O país ainda
era bastante atrasado industrialmente. Nas incipientes indústrias russas, a
situação dos trabalhadores era horrível: péssimos salários, maus tratos,
extensas jornadas de trabalho etc.
Desse modo, os grupos sociais se dividiam da seguinte maneira: de um
lado, os privilegiados, formados pela aristocracia rural, o alto clero da Igreja
Ortodoxa Russa, os militares de alta patente, a nobreza imperial e a alta
burguesia (donos das indústrias e comércios); e do outro lado encontravam-se
os camponeses e operários vivendo em extrema pobreza.
Diante desta conjuntura injusta, em 1905 os operários decidiram protestar,
pedindo por melhorias de vida. Uma concentração enorme de pessoas se
estabeleceu, de maneira pacífica, em frente ao Palácio de inverno do czar em
São Petersburgo. A reação da polícia czarista foi violentíssima, abriram fogo
contra os revoltosos e mataram mais de 90 pessoas e milhares de operários
ficaram feridos. Este episódio ficou conhecido como o Domingo Sangrento.
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Um exemplo disso é que, numa pequena cidade próxima de Moscou, os
trabalhadores de uma fábrica criaram uma maneira de organização bastante
original, que funcionava da seguinte forma: os trabalhadores elegiam
representantes que não tinham mandato fixo, cuja função eram manter os
colegas informados e preparar a mobilização, caso necessário. Surgia aí o
primeiro soviet, que rapidamente se espalhou por toda a Rússia. Portanto, os
soviets eram espécies de sindicatos, onde os trabalhadores exerciam, ao mesmo
tempo, o poder executivo e legislativo. Mais tarde, em 1912, foi formado o Partido
Bolchevique, que representava os operários, cujo líder era Vladimir Lenin.
Para agravar ainda mais a situação, o czar Nicolau II decidiu entrar na
Primeira Guerra Mundial. Todavia, tal decisão foi catastrófica. A Rússia não
estava preparada, de modo que somou várias derrotas, com aproximadamente
4 milhões de soldados mortos no final de 1915. Sem contar que faltavam
alimentos, armas e munições, o que revoltou os soldados russos.
Além disso, a guerra gerou aumento os impostos, resultando numa
carestia de mercadorias e muito desemprego. Assim, em 1916, ocorreram muitas
revoltas criticando a guerra. Iniciava-se um discurso, que cada dia se tornou mais
forte, que pregava “paz, pão e terra”, isto é, desejavam a saída imediata da
Rússia da Guerra e uma vida digna.
Soldados desertando, miséria, revoltas, greves, a situação estava
insustentável, diante desse momento de instabilidade, os bolcheviques,
comandado por Vladimir Lenin, aproveitaram para radicalizar e colocar em curso
a ideia da revolução operária.
Figura 7 – Pintura de Lenin na frente do Instituto Smolny, feita por Isaak Brodski
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Assim, em meados dos anos de 1917, os camponeses tomaram posse
das terras de grandes latifundiários, distribuindo entre si de maneira igualitárias.
Nas cidades, os operários ocuparam o Palácio de Inverno do Czar e somou-se
a luta os soldados, que desistiram da Guerra e foram lutar ao lado da população.
Era o início da Revolução Russa, que em 25 de outubro de 1917 colocou os
bolcheviques no poder.
Uma das primeiras medidas foi retirar a Rússia da guerra, depois, os
bolcheviques aprovaram uma nova constituição. Lenin estatizou a marinha
Mercante e os bancos, criou tribunais revolucionários em substituição às
instituições judiciárias, acabou com os latifúndios, desapropriando as terras e
dividindo-as entre os camponeses. As fábricas também foram estatizadas e
passaram a ser controladas pelos trabalhadores. Houve ainda confisco dos bens
da Igreja Ortodoxa e extinção dos privilégios clerical. A educação se tronou laica.
Portanto, os bolcheviques colocaram em prática, pela primeira vez na
história, um governo socialista. Em 1918, os bolcheviques mudaram de nome e
se tornaram Partido Comunista.
É importante mencionar que, entre os anos 1917 e 1921, a Rússia se
transformou num palco de guerras, pois, internamente, o conflito entre os
bolcheviques (trabalhadores) e mencheviques (burgueses/conservadores)
continuaram latentes.
Em 1921, foi criada a NEP, Nova Política Econômica, cujo objetivo era
estimular a produção agrícola e as pequenas indústrias, que foram reativadas,
momentaneamente, de maneira privada. Em 1922, a Rússia se expandiu e
formou um bloco com outros países vizinhos, formando a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas, a URSS.
Crédito: CC/PD.
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Em 1924, Lenin veio a óbito em decorrência de um derrame cerebral. Era
necessário, portanto, estabelecer quem assumiria seu lugar na liderança da
URSS. A disputa se deu entre Josef Stalin e Leon Trotsky, membros ativos do
Partido Comunista e figuras de destaque durante todo o processo revolucionário.
O embate entre Stalin e Trotsky colocava em xeque a disputa de dois
projetos: Stalin defendia o fortalecimento da revolução internamente, para depois
se estender a outros países. Já Trotsky acreditava que era necessário
internacionalizar o movimento para somar forças contra o capitalismo.
Stalin dominava a máquina burocrática do partido, de modo que não foi
difícil para dar um golpe e assumir o poder. Com esta nova realidade, Trotsky foi
expulso do partido e mandado para fora do país. Daí em diante, andou fugitivo
por diversos países, até que 1940 foi morto, a mando de Stalin, em sua casa no
México.
Stálin ocupou o governo da URSS durante décadas, entre 1924 e 1953,
ano da morte. O Stalinismo se caracterizou como um governo totalitário,
marcado por expurgos de camaradas, perseguições políticas, torturas,
repressão, vigilância estatal, espionagem, censura e culto à personalidade.
Ademais, aqueles considerados inimigos eram mortos, mandados para
hospitais psiquiátricos ou levados para os gulags, campos de trabalho forçado.
Estima-se que mais de um milhão de pessoas morreram nos gulags soviéticos.
No que se refere à economia, a partir de 1927 Stalin lançou o Plano
Quinquenais, que foram implementados a cada cinco anos e cujo objetivo era
fortalecer a indústria, a agricultura, as universidades etc. Assim, milhares de
pessoas foram beneficiadas por essa política pública estatal.
O historiador Angelo Segrillo realiza um panorama de como a Revolução
Russa foi retratada pela historiografia, desde 1917 até os dias atuais. É muito
interessante notar que no período em que a revolução ocorria, já estava sendo
produzidas versões histográficas sobre ela, escrito por participes do evento, e
obviamente, influenciadas pelo calor do momento. Mais tarde, com a queda do
Muro de Berlim, o fim da União Soviética e a abertura de novos arquivos, muitos
estudos foram realizados privilegiando diferentes temáticas como a vida social e
política das comunidades soviéticas do interior,
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a população local comum se inseria neste espaço de jogo de poder
(Segrillo. 2010, p. 82-83).
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afirmaram como uma das maiores potências, considerado por muitos como os
“donos do mundo”, desse modo, o “velho mundo” perdeu sua centralidade e
protagonismo.
Devido a sua rápida industrialização no final do século XIX, o que
acarretou numa aceleração econômica, os Estados Unidos ofereceram
empréstimos para os países envolvidos no conflito, sobretudo para Tríplice
Entente para reconstruir financeiramente seus países.
Com o final da guerra, as ideias liberais sofreram muitas críticas e, nesse
cenário, as ideologias autoritárias começaram a se fortalecer. Portanto, é visível
que a reorganização pós-guerra não sanou todos os conflitos que haviam
originado a guerra. Mais que isso, estes conflitos foram somados a outros novos,
resultantes da própria guerra. Desse modo, a reconstrução do mundo pós-guerra
se transformou, na verdade, em um descanso temporário, uma espécie de
intervalo entre atos, onde os atores estavam apenas descansando e se
preparando para a segunda parte do espetáculo, ou seja, a Segunda Grande
Guerra.
NA PRÁTICA
Como vimos, uma série de fatores acabaram fazendo com que o mundo
entrasse em um grande conflito mundial. No início dessa discussão, afirmamos
que os liberalismos (que criam o cenário para o desenvolvimento do capitalismo)
foram essenciais no período. Apoiando-se no que você já estudou, faça uma
dissertação (entre 20-30 linhas) sobre o tema, relacionando o desenvolvimento
do capitalismo com os liberalismos e a Primeira Grande Guerra Mundial.
FINALIZANDO
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neste caso, o desenvolvimento tecnológico foi utilizado para exterminar seres
humanos em menos tempo.
Durante a Primeira Guerra, ocorreu a Revolução Russa, instaurando o
primeiro governo socialista da história. Era o início de uma disputa que vai
permear quase todo o século XX, o capitalismo versus o socialismo.
Atualmente, os Estados Unidos são uma das maiores potências mundiais
e esse título nasceu ao final da Primeira Guerra, quando os norte-americanos
emprestaram dinheiro aos países europeus e se tornaram aos maiores
exportadores de mercadorias.
Todavia, a Primeira Guerra não se encerrou definitivamente com o
armistício, pois seu resultado final foi mais uma espécie de entreatos que uma
finalização efetiva. Os acordos não satisfizeram a todos e um certo ar de
revanchismo permanecia fortemente.
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REFERÊNCIAS
HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX: 1914- 1991. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
19
_____. Historiografia da Revolução Russa: antigas e novas abordagens. Projeto
História, n. 4.
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HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
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todo o seu valor, levando milhares de pessoas, que haviam investido dinheiro
nelas, à falência. Muitas fábricas, comércios e bancos entraram em colapso e
faliram. A quebra da Bolsa de Nova York teve reflexos imediatamente, uma vez
que, logo em seguida, o número de desempregados cresceu expressivamente,
gerando pobreza e miséria. Além da questão financeira, a crise gerou também
significativos problemas psicológicos, vide o crescimento do alcoolismo e muitos
casos de suicídio.
3
Diante desse panorama de profunda recessão, os norte-americanos
suspenderam as importações e cortaram os empréstimos aos países europeus,
o que, por sua vez, desencadeou também uma crise na Europa e em outros
países americanos e até mesmo na Ásia. O historiador René Rémond (1974, p.
71) ressalta que essa crise, quase que mundial, acarretou importantes
consequências políticas, pois a opinião pública perdeu a confiança nas
instituições democráticas capitalistas, bem como afetou a concepção de
liberalismo econômico, levando os governos a intervirem na economia. Cabe
destacar, todavia, que a União Soviética saiu intacta dessa crise. Ou seja:
enquanto o capitalismo fracassava, o socialismo prosperava.
O contexto intitulado entreguerras ainda foi palco do surgimento do
fascismo italiano. A Itália perdeu cerca de 2 milhões de homens na Grande
Guerra, isso lhe gerando um trauma coletivo. Somou-se a isso uma grave crise
econômica, que acarretou, por sua vez, uma intensa crise social. Ou seja, no
início da década de 1920, a Itália encontrava-se com sérios problemas. Nessa
conjuntura de crise, os movimentos de esquerda cresceram, o que causava
pavor na burguesia italiana, temerosa de que algo similar à Revolução Russa
acontecesse ali. Ainda sobre esSe cenário, é conveniente lembrar que A
Alemanha foi considerada culpada pela Primeira Guerra e, por isso, foRA
penalizada. Assim, perdeu 13,5% do seu território, foi obrigada a pagar uma
indenização aos países vitoriosos e, ainda, teve seu Exército e Marinha limitados
e sua força aérea suprimida.
As exigências do Tratado de Versalhes acarretaram um significativo
impacto econômico e moral à população alemã. Além do luto da perda de quase
2 milhões de homens e 4 milhões de feridos e inválidos, os alemães ainda
precisavam lidar com o sentimento da derrota e, sobretudo, com o da humilhação
imposta pelo acordo de paz. O exorbitante gasto na indenização do Tratado de
Versalhes gerou uma profunda crise econômica no país, com crescimento
exorbitante da dívida externa da Alemanha. Somou-se a isso o desemprego, o
que acarretou um empobrecimento de boa parte da sociedade alemã. Foi nesse
contexto de densa fragilidade da população que nasceu o Partido Nacional
Socialista dos Trabalhadores Alemães, o Partido Nazista, em 1919.
Portanto, foi diante desse momento de incertezas e vulnerabilidades que
surgiram o fascismo italiano e o nazismo alemão, os quais estudaremos com
mais profundidade no próximo tópico.
4
TEMA 2 – OS TOTALITARISMOS
Saiba mais
Fascismo vem de fascio, termo italiano que significa feixe e remete a
fasces, palavra latina usada na época dos romanos para designar um machado
amarrado com um feixe de varetas. Na época do Império Romano, o fascio era
utilizado para abrir caminhos para a passagem dos magistrados. Assim, o fascio
era atrelado à ideia de poder e autoridade. Esse objeto foi retomado e usado por
Mussolini como símbolo do fascismo italiano.
5
Figura 2 – Emblema do Partido Nacional Fascista
Crédito: NsMn/CC-PD.
6
Fascismo [...] era uma invenção nova, criada a partir do zero para a era
da política das massas. Ele tentava apelar sobretudo às emoções,
pelos rituais, de cerimônias cuidadosamente encenadas e de retórica
intensamente carregada. [...] o fascismo não se baseia de forma
explícita num sistema filosófico complexo, e sim no sentimento popular.
Crédito: Shawshots/Alamy/Fotoarena.
Saiba mais
Em 1932, o líder nazista disse: “Socialismo é a ciência de lidar com o bem
comum. Comunismo não é socialismo. Marxismo não é socialismo. Os marxistas
roubaram o termo e confundiram seu significado. Eu irei tomar o socialismo dos
socialistas”. Cabe destacar que, no contexto do final da Primeira Guerra Mundial,
a palavra socialismo estava na moda e atraía os trabalhadores. Hitler se
aproveitou dessa popularidade e também da própria estética socialista, ao usar
a cor vermelha, por exemplo, em panfletos e cartazes, para conquistar grupos
de esquerda e trabalhadores.
8
Figura 4 – Retrato de Adolf Hitler, 1938
10
importante salientar que a ideia da raça ariana se tratava de uma classificação
ideológica e não científica. Em 1935 foram promulgadas as Leis de Nuremberg,
que oficializaram a perseguição sistemática aos judeus e os transformaram em
inimigo número 1 do regime nazista. Milhares de judeus foram presos pelo crime
de serem judeus, bem como tiveram seus bens (negócios, comércios, joias,
carros, obras de arte) confiscados pelos nazistas. Iniciou-se assim a segregação
dos judeus da sociedade alemã, pois a partir daquele momento eles estavam
proibidos de frequentar qualquer lugar público, como praças, museus, piscinas,
parques, escolas, restaurantes.
Numericamente, os judeus foram os inimigos mais penalizados durante o
governo nazista, porém eles não foram os únicos. Homossexuais, negros,
ciganos, testemunhas de Jeová, inimigos políticos (comunistas, socialistas,
sindicalistas, anarquistas ou qualquer pessoa contra o Partido Nazista), pessoas
com problemas físicos e mentais também foram classificados como seres
racialmente inferiores e, portanto, passíveis de eliminação. Além do
antissemitismo, da crença na superioridade da raça ariana, o nazismo também
se caracterizou pela defesa do espaço vital, isto é, pelo domínio de um vasto
território para que os alemães puros pudessem viver e se desenvolver
plenamente, livres das raças inferiores. Portanto, nitidamente, havia uma
pretensão de dominar o mundo, expandir o nazismo para além das fronteiras
alemãs, o que ficará visível na Segunda Guerra Mundial.
Por fim, não tem como falar sobre nazismo sem abordar os campos de
concentração, que foram, infelizmente, uma marca registrada do governo
nazista. Os alemães construíram tais campos com diferentes desígnios: havia
campos de trânsito, campos para prisioneiros de guerra, campos para
prisioneiros civis e, depois, campos de trabalho e de extermínio. Os campos de
concentração foram fundamentais para a economia de guerra alemã, na medida
em que toda a logística necessária para a guerra era produzida com mão de obra
escrava. Além disso, os alemães vendiam essa mão de obra escrava para outras
empresas interessadas.
11
Figura 5 – Prisioneiro tendo a cabeça raspada no campo de concentração de
Sachsenhausen, Alemanha, 1942
13
a devastadora crise econômica de 1929 desempenhou um papel
central. (Gonçalves, 2000, p. 168)
14
Figura 6 – Tropas alemãs desfilam em Varsóvia, depois da rendição da Polônia
16
Figura 7 – Soldados do Exército Vermelho num telhado em Stalingrado, em
janeiro de 1943
Crédito: Vintage_Space/Alamy/Fotoarena.
18
Figura 8 – Nuvens de cogumelo sobre Hiroshima (esquerda) e Nagasaki (direita),
após o lançamento das bombas atômicas nas duas cidades, nos dias 6 e 9 de
agosto de 1945, respectivamente
19
economias e tecnologias dos dois campos, a superioridade ocidental
[...] superava qualquer cálculo. (Hobsbawm, 1995, p. 243-244)
Desse modo, Hobsbawm (1995) defende a ideia de que foi a histeria dos Estados
Unidos, a crença de que o capitalismo estava ameaçado que deram origem à
Guerra Fria. Como mencionamos anteriormente, a Guerra Fria foi o nome dado
à disputa entre duas superpotências, EUA e URSS. Todavia, essa não se
concretizou num enfrentamento direto entre os países, mas numa rivalidade
ideológica, armamentista e espacial. Logo após o fim da Segunda Guerra, os
Estados Unidos se comprometeram a prestar ajuda a todo e qualquer país que
precisasse conter o avanço comunista. Esse fato deu início à Doutrina Truman,
que se constituiu numa ofensiva americana contra a expansão do comunismo no
mundo. Além disso, os EUA lançaram o Plano Marshall, que objetivava a
recuperação europeia por meio de empréstimos a baixíssimos juros, aos países
arruinados pela Segunda Guerra. Nesse contexto, a Organização do Tratado do
Atlântico Norte (Otan) foi criada e consistia numa aliança militar permanente,
contra a dita ameaça soviética, que reunia os Estados Unidos, os países da
Europa Ocidental e o Canadá.
Em contrapartida, a URSS criou o Comitê de Informações dos Partidos
Comunistas e Operários (Cominform), com o intuito de coordenar e controlar as
ações dos partidos comunistas da Europa Oriental. Ademais, reuniu os países
socialistas do Leste Europeu e criou o Pacto de Varsóvia, uma aliança militar
cuja finalidade era a autoproteção. Cabe lembrar que foi a Alemanha Nazista
que deu o pontapé inicial da Segunda Guerra Mundial, além de ser responsável
por milhões de mortes no conflito e nos campos de concentração. Sendo assim,
ao fim do conflito, em 1945, os Aliados decidiram dividir a Alemanha e Berlim em
quatro zonas de ocupação sob o comando de franceses, ingleses, americanos e
soviéticos. Ressalta-se, ainda, que Stalin nutria uma grande desconfiança em
relação aos alemães, sobretudo a partir do Cerco de Berlim, que criara inúmeros
bolsões de resistência nazista na Alemanha e em outras regiões da Europa.
Ademais, Stalin estava obstinado a dominar Berlim, para concretizar sua
vingança contra os nazistas, que, durante a guerra, haviam destruído alguns
territórios soviéticos. Somado a isso, Stalin almejava controlar os alemães de
perto, para sondar se não havia, em território alemão, a construção de armas
atômicas.
20
Figura 9 – As zonas de Berlim, por responsáveis pela sua ocupação externa
Em 1949, a cidade de Berlim ficou dividida assim: o seu lado oeste ficou
sob o domínio dos países capitalistas, enquanto o seu lado leste, comandado
pelos soviéticos. No seu lado oeste surgiu a República Federal da Alemanha
(RFA); já no seu lado oeste, foi criada a República Democrática Alemã (RDA).
Apesar de haver bastante tensão entre as partes, inicialmente a população
alemã podia circular livremente pelos dois territórios. Porém, em 1961, a URSS
decidiu construir uma barreira física para impedir a passagem das pessoas entre
os lados: o famoso Muro de Berlim. O Muro de Berlim acabou se tornando o
grande símbolo da Guerra Fria, na medida em que uma única cidade fora dividida
entre a ideologia capitalista e a ideologia socialista. Durante 28 anos (1961-
1989), ele dividiu não somente um território, mas separou inúmeras famílias.
21
Figura 10 – Localização do Muro de Berlim em frente ao Portão de
Brandemburgo, em 1961
23
Figura 11 – Os Estados Unidos e a chegada do homem à Lua, em 1969
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
25
Esse foi o conflito mais traumático da história: deixou um saldo de 60 milhões de
mortos e mais de 20 milhões de mutilados. Milhares de crianças perderam suas
famílias, e muitas cidades foram destruídas. A Segunda Guerra envolveu, de
maneira direta ou indireta, todos os países do globo. Após o seu fim, um novo
conflito surgiu: um mundo bipolarizado entre Estados Unidos e União Soviética,
em uma disputa, entre o capitalismo e o socialismo, que pautou a metade do
século XX.
26
REFERÊNCIAS
RÉMOND, R. O século XX: de 1914 aos nossos dias. São Paulo: Editora Cultrix,
1974.
27
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
AULA 4
2
políticas, apesar de ideais diferentes, se uniram com o mesmo propósito: lutar
contra dos senhores da guerra que controlavam o país.
Até 1927 essa aliança obteve êxito, de modo que os nacionalistas e os
comunistas tinham controle sobre grande parte do país. Todavia, nesse ano
ocorreu uma grave traição, o Partido Nacionalista (Kuomintang), sob o comando
de Chiang Kai-shek, matou milhares de comunistas, mas ainda assim não
conseguiram destruir sua organização.
A partir desse episódio, iniciou-se uma guerra civil entre os dois grupos
políticos. Em 1934, depois de diversas derrotas do exército comunista, viram-se
obrigados a se retirar para fugir à perseguição do exército do Kuomintang.
Assim, iniciou o que ficou conhecido como a Grande Marcha: em um ano os
comunistas percorreram mais de 10 mil quilômetros pelo interior da China. Em
1935 Mao Tsé-Tung (1893 – 1976) assumiu a direção do Partido, consolidando-
se como o grande líder dos comunistas e inaugurando uma nova fase política e
estratégica.
3
Paralelamente à guerra civil, os japoneses se aproveitaram da situação
de instabilidade para invadir a China, almejando torná-la sua colônia. Portanto,
tendo em vista essa ameaça externa, em 1936 o PCC e o Kuomintang entram
em um acordo para interromper a guerra civil e enfrentar os japoneses.
A luta contra o exército nipônico se estendeu até o final da Segunda
Guerra em 1945. Nesse meio tempo, parte do país foi liderado pelo Exército
Vermelho do Partido Comunista, que cada vez mais ganhava a confiança e a
simpatia da sociedade chinesa.
Ao término da guerra, com o aniquilamento do Japão, os comunistas
propuseram uma unidade com o Partido Nacionalista, entretanto essa proposta
não foi aceita e houve um retorno da guerra civil. Todavia, tratava-se de um outro
cenário, no qual o Partido Comunista contava com muito mais apoio e prestígio
popular, principalmente entre os camponeses.
A guerra civil chegou ao fim apenas em 1949 com a derrota do Partido
Nacionalista e a tomada de poder pelos comunistas. A partir deste momento a
China se tornava República Popular da China, um governo marcadamente
socialista. Porém, uma guerra longa como essa deixou muitos problemas para o
novo governo que começava. O jornalista Wladimir Pomar destaca que
Crédito: Lou-Foto/Alamy/Fotoarena
5
Dez anos mais tarde, em 1959, do outro lado do mundo, uma ilha também
passou por um processo de luta que culminou num governo socialista. Cuba,
localizada na América central, é a maior ilha do Caribe. Foi colonizada no final
do século XV pelos espanhóis, que passaram a dominar a região, investindo na
produção de café e açúcar.
No final do século XIX, Cuba passou por uma intensa guerra para
conquistar sua independência. Em 1902 formalizou-se a Soberania Cubana, no
entanto, a paz ainda não reinava no país. Internamente, havia disputa entre
diferentes grupos pelo poder.
Cabe ainda destacar o papel dos EUA no contexto de independência
cubana. Os norte-americanos participaram ativamente do processo, pois tinham
interesses econômicos na ilha. Desse modo, os EUA se sentiam os provedores
da independência cubana, a ponto de aprovarem a Emenda Platt que funcionava
como um dispositivo legal que estabelecia que os EUA poderiam interferir em
Cuba, caso se sentissem ameaçados. Além dessa interferência política e
econômica, a emenda Platt ofereceu aos norte-americanos uma área de 117
quilômetros quadrados para a construção de uma base militar na baía de
Guantánamo.
Saiba mais
A base militar norte-americana de Guantánamo ainda funciona em
território cubano. No decorrer do tempo, ela serviu de prisão para vários
terroristas e líderes políticos que ameaçaram a hegemonia política dos Estados
Unidos. Hoje, há uma forte campanha que defende a extinção dessa base militar.
O atual presidente dos EUA, Joe Biden, sinalizou o desejo de fechar
Guantánamo, mas isso ainda não ocorreu.
6
Parte da elite cubana legitimou o governo ditatorial, porém surgiram outros
grupos de oposição, entre os quais a juventude universitária, que cada vez mais
acreditava que era preciso radicalizar. Era nesse grupo que estava o futuro líder
da Revolução Cubana, Fidel Castro (1926 – 2016), o qual já defendia a
necessidade de uma revolução, meses após a chegada de Batista ao poder.
Diante disso, Castro formou com alguns colegas universitários o MNR
(Movimento Nacional Revolucionário), objetivando iniciar um processo
revolucionário para derrubar a ditadura de Batista. Para tanto, decidiram tomar
o quartel general de Moncada, localizado em Santiago de Cuba no dia 26 de
julho. O plano fracassou e Fidel Castro e seu irmão Raul Castro foram presos.
Em 1955, foram soltos, mas com a condição de censura, ou seja, não podiam
falar em redes de rádio ou escrever em jornais. Assim, foram se exilar no México
para organizar uma nova tentativa de revolução.
Durante a sua estada no México, os irmãos Castro conheceram Ernesto
Guevara de La Serna (1928-1967), jovem médico argentino, que ficou conhecido
posteriormente como Che Guevara. No México, rebatizaram seu grupo, que
passou a ser denominado Movimento 26 de Julho (M-26-7) e contaram com o
apoio de Guevara.
Descontentes com o governo ditatorial de Batista e com a influência
americana na ilha, no final de 1956, com mais de 80 homens abordo do barco
Granma, os revolucionários do M-26-7 chegaram ao litoral de Cuba dispostos a
fazer a revolução. Nesse primeiro momento sofreram um ataque, culminando em
muitas mortes. Os sobreviventes precisaram se esconder nas montanhas de
Sierra Maestra.
7
Figura 3 – Che Guevara e Fidel Castro, 1961
8
Os guerrilheiros souberam conquistar a confiança dos camponeses,
tratando-os com uma atenção a qual não estavam habituados.
Pagavam regularmente tudo o que recebiam. Expunham
pacientemente os princípios da reforma agrária que planejavam
realizar, explicando que essa medida correspondia aos interesses e
necessidades dos camponeses. No tempo livre, entre combates e
caminhadas, ocupavam-se da alfabetização de adultos e crianças.
(Blanco; Dória, 1982. p. 75)
9
a ser exercido pelos EUA e pela URSS, gerando uma bipolaridade mundial onde
capitalistas e socialistas buscavam aumentar suas áreas de influência.
O período foi marcado por uma forte tensão e, embora não tenha existido
nenhum confronto direto entre EUA e URSS, o clima foi bastante belicoso,
marcado por uma corrida armamentista e uma corrida espacial; dois processos
revolucionários (Cuba e China), conflitos na Coreia e no Vietnã; por ditaduras na
América Latina, pelo Muro de Berlim, que dividiu de maneira concreta o lado
capitalista do lado socialista.
Ao tratar da Guerra Fria, é importante salientarmos também a vida das
pessoas comuns, que estavam vivendo aqueles tensos anos polarizados. O
medo certamente foi um sentimento presente entre a população, não só dos
países envolvidos, mas do mundo todo, que temiam a iminência de uma guerra
real entre ambas potências. As tirinhas da personagem argentina Mafalda,
criadas no contexto da Guerra Fria, servem como exemplo disso, pois retratam
como o medo da guerra nuclear estava presente no seu cotidiano.
Nesse período, especialmente nos EUA, foram rotineiros treinamentos de
como reagir caso houvesse um ataque nuclear. Essa ação gerava um
engajamento da população e fortalecia a ideia de um inimigo a combater.
Se não houve um combate diretamente entre americanos e soviéticos,
ocorreram outros conflitos, nos quais ambos países estavam envolvidos. Um
exemplo disso foi a Guerra do Vietnã.
Saiba mais
É importante mencionar também a Guerra da Coreia (1950-1953), divisora
de águas no conjunto de fases da Guerra Fria, que foi a primeira “guerra quente”
do contexto.
10
Figura 4 – Mapa mostrando a divisão do país em 1954
13
Figura 5 – Marcha das Madres de Plaza de Mayo em 1982
14
Figura 6 – José Mujica, 2009
Crédito: Ymphotos/Shutterstock.
15
Figura 7 – Presidente Salvador Allende com a faixa presidencial
16
A ditadura chilena, comandada com mãos de ferro por Pinochet, durou até
1990. As duas principais características desse governo autoritário foram a
extrema violência governamental e as medidas econômicas, que, diferente dos
vizinhos latino-americanos, tinham como princípio ideias liberais e a diminuição
do papel do Estado na economia, realizando diversas privatizações.
No Brasil, João Goulart (Jango), depois de um conflituoso período,
conseguiu assumir plenamente a presidência que lhe era de direito em 1963.
Tão logo assumiu a presidência, Jango lançou seu programa das Reformas de
Base, programa composto por medidas econômicas e sociais com teor
nacionalista que previam uma maior intervenção do Estado na economia.
As reformas anunciadas por Jango causaram muita polêmica, sobretudo
aquelas que versavam sobre reforma agrária e reforma tributária. A sociedade
brasileira se dividiu entre a favor e contra. A partir desse momento, a sociedade
foi ficando bipolarizada: de um lado, estudantes, operários, servidores públicos
que defendiam as reformas; de outro, os empresários, e setores conservadores
civis e militares que acusavam Jango de comunista.
O historiador Rodrigo Motta afirma que foi essa crise política que
desencadeou o golpe civil-militar de 1964. Portanto, a “ameaça comunista” foi
um argumento político decisivo para justificar os possíveis golpes e para
convencer a sociedade da necessidade da repressão contra a esquerda (Motta,
2002, p. XXII).
Assim, no dia 31 de março de 1964, instaurou-se um golpe civil-militar no
Brasil, que deu início a uma ditadura que vigorou durante vinte e um anos,
período durante o qual houve a ausência de eleições diretas. Para dar uma ilusão
de normalidade e uma falsa impressão de que havia legalidade, a ditadura
brasileira foi gerida por diferentes presidentes, de modo que ocorreu uma
alternância de poder, todavia todos eram membros das Forças Armadas.
Logo que assumiram o poder, os militares laçaram o primeiro Ato
Institucional, o AI-1, que estabelecia poderes excepcionais ao presidente e
suspendia os direitos individuais e as garantias constitucionais. Por meio desse
Ato, o governo poderia cassar os mandatos e suspender direitos políticos de
diversas personalidades da oposição.
Os Atos 2, 3 e 4 determinavam eleições indiretas para presidência e
governador; conferiam poderes para o presidente interferir nos estados e demitir
funcionários civis e militares; baixaram decretos-leis; extinguiram os inúmeros
17
partidos políticos existentes; suspenderam eleições de prefeitos que passaram
a ser indicados pelos governadores, entre outras medidas. Sendo assim, a partir
destas medidas a população perdeu o direito do voto, da liberdade de escolha
dos seus governantes.
18
arbitrárias sem nenhum questionamento. Tanto assim que entre 1969-1974 o
Brasil viveu o auge da repressão, com a criação de novos órgãos repressivos,
que perseguiram, prenderam, torturaram e mataram milhares de pessoas.
No Brasil, a saída de cena dos militares foi um processo “lento, gradual e
seguro”, para que os militares não perdessem o controle da sociedade. A Lei da
Anistia (n. 6.683/79), em 28 de agosto de 1979, que estabelecia perdão aos
presos políticos e permitia a volta dos exilados para o país, o que foi um marco
importante no processo de redemocratização. Ainda nesse ano ocorreu a volta
dos partidos políticos, o pluripartidarismo.
Em 1985, a ditadura militar brasileira chegou ao fim e pouco tempo depois
foi formada uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova Constituição.
Finalmente, depois desse longo processo de abertura, da luta pelas Diretas, da
construção de uma nova constituição, o povo brasileiro pôde votar de maneira
direta para presidente em novembro de 1989.
20
afirmou Hobsbawm (1995), percebeu que tinha um poder muito grande em suas
mãos. Esse fato mudou o jogo de forças no Ocidente, que precisou criar
mecanismos para lidar com esse novo cenário internacional.
NA PRÁTICA
Saiba mais
No link a seguir você encontrará na íntegra o Ato Institucional I, de 09 de
abril de 1964.
Ato Institucional n. 1, de 9 de abril de 1964. Diário Oficial da União, Poder
Legislativo, Brasília, DF, 9 abr. 1964. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ait/ait-01-64.htm>. Acesso em: 21 set.
2022.
Leia com bastante atenção e cite os trechos que evidenciam o caráter
autoritário do regime militar que se instaurou a partir de 1 de abril de 1964.
FINALIZANDO
21
REFERÊNCIAS
22
POMAR, W. Uma só faísca; frente única bem chinesa; ainda sob fogo. In: _____.
A Revolução Chinesa. São Paulo: Ed. da Unesp, 2003.
23
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
AULA 5
Nesta etapa, vamos refletir sobre o final das utopias representada pela
queda do muro de Berlim. Somada a isso veremos a releitura do liberalismo,
denominado de Neoliberalismo, e a suas consequências econômicas, políticas
e culturais. Abordaremos ainda os novos sujeitos da história, buscando
compreender a lógica de organização dos movimentos sociais, finalmente,
acompanhando mais de perto o movimento feminista.
Figura 1 – Placa no chão que indica por onde o Muro de Berlim passava. Berlim,
2019
2
Devemos relembrar que, ao final da Segunda Guerra Mundial, os países
aliados, grandes vencedores do conflito, dividiram a Alemanha em quatro zonas
de ocupação: francesa, inglesa, americana e soviética. A justificativa para tanto
era de que a Alemanha, depois dos absurdos crimes nazistas, deveria ficar sob
tutela.
Anos depois, em 1961, a União Soviética construiu, do dia para a noite, o
Muro de Berlim, uma barreira física para separar concretamente a Alemanha
comandada pelos Estados Unidos, situada no lado oeste (República Federal da
Alemanha, RFA), e a Alemanha comanda pela URSS, localizada no lado leste
(República Democrática Alemã, RDA).
Já tratamos de mais detalhes sobre o Muro de Berlim em outra etapa, por
ora, basta-nos lembrar que o muro durou quase três décadas (1961-1989) e foi
o grande símbolo da Guerra Fria. Nosso objetivo aqui é focar no processo que
levou à queda do Muro em 1989.
3
Cabe destacar que, entre os anos 1969 e 1975, a política de disputa entre
os EUA e a URSS passou por um momento de relaxamento, uma redução das
tensões entre essas superpotências, que ficou conhecido na historiografia como
deténte. Durante esses anos, buscou-se uma abordagem mais diplomática entre
os EUA e a URSS, tanto assim que, em 1971, houve a tentativa de
negociações para que as Alemanhas reatassem as relações diplomáticas.
Ainda nessa esteira, em 1972 foi assinado o plano Salt I (Conversações sobre
Limites para Armas Estratégicas). Esse acordo colocava um limite, pela primeira
vez, para o número de armas intercontinentais com mais de 5 mil quilômetros.
A partir de 1980, iniciou-se um acirramento de políticas neoliberais, assim,
se durante a década de 1970, a URSS e os seus países satélites conseguiram
um grande desenvolvimento econômico e uma enorme melhora nas condições
de vida de sua população, com esse novo cenário, o modelo econômico e político
soviético começou a entrar em colapso.
Sobre isso, o historiador Eric Hobsbawm pontua que
4
Crédito: Zef art/Shutterstock.
5
também falhas significativas ao lidar com o acidente, causando ainda mais
mortes e feridos e deixando sequelas gravíssimas na sociedade.
Estipula-se que, diretamente, o acidente causou a morte de 31 pessoas,
porém, indiretamente, milhares de pessoas morreram, vítimas de doenças, como
diferentes tipos de câncer que podem ter sido causados pelo contato com a
radiação.
Além do descrédito em relação à condução das medidas de segurança,
da crítica em relação à censura, o acidente afetou seriamente a economia
soviética, pois foi necessário gastar muito para conter os estragos, o que
prejudicou demasiadamente o país que já estava enfrentando uma crise
financeira.
Desse modo, o acidente de Chernobyl lançou uma sombra de descrédito
sobre o governo soviético e afetou severamente a economia desse país, uma
vez que somas altíssimas tiveram de ser gastas para conter os estragos.
Portanto, com base no exposto, verifica-se que o acidente de Chernobyl foi
fundamental para a antecipação do fim da União Soviética.
Cabe, ainda, salientar que, durante a Guerra Fria, em 1979, a União
Soviética interveio militarmente no Afeganistão, participando de uma guerra que
durou dez anos. Os soviéticos apoiavam o governo afegão socialista
implementado por meio de um golpe, que, por sua vez, recebia forte resistência
dos mujahedins, povos islâmicos que se opunham às medidas adotadas pelo
governo socialista. Objetivando enfraquecer a União Soviética, os EUA,
sobretudo no governo de Ronald Reagan, decidiram financiar os mujahedins,
fornecendo aos guerrilheiros unidades portáteis Stinger de lançamento de
mísseis. Portanto, Reagan investiu pesado em armas para vencer os soviéticos.
Com tais armas, os guerrilheiros passaram a se esconder nas montanhas e
destruir helicópteros soviéticos, de modo que não demorou muito para que a
URSS fosse derrotada.
6
Figura 3 – Presidente Reagan encontra-se com os combatentes da Liberdade
Afegãos para discutir as atrocidades soviéticas no Afeganistão. 2/2/83
7
Figura 4 – Alemães estão no topo do muro em frente ao Portão de Brandemburgo
nos dias antes de ele ser derrubado, 1989
Cada dia mais, os países que faziam parte da URSS conclamavam por
liberdade e autonomia e, em 1991, ocorreu um referendo para que a população
decidisse sobre a manutenção da União Soviética. Diversos países boicotaram
essa votação, em outros, grande parte da população votou a favor da unidade,
assim, houve tentativa de criar uma nova união, porém, sem sucesso. Nos
últimos meses de 1991, os países que compunham a URSS declaravam as suas
independências.
Assim, em 21 de dezembro de 1991, dirigentes das repúblicas
independentes assinaram um documento declarando extinta a União Soviética.
O fim da União Soviética acarretou também o fim da Guerra Fria. O socialismo
real havia desmoronado. Nesse sentido, a abertura do primeiro McDonalds em
Moscou, ainda em 1990, foi muito simbólico. As pessoas fizeram filas espantosas
para provar um dos maiores ícones do capitalismo global.
A dissolução da URSS teve várias consequências além das econômico-
políticas, trazendo também influências subjetivas muito importantes, na medida
em que trouxe consigo o final das utopias e certezas que dividiam o mundo em
8
dois. A multilateralização tornou o mundo, novamente, um lugar inseguro, já que
não é possível mais definir com clareza quais são os jogadores, o jogo e as
regras na disputa pelo poder.
TEMA 2 – NEOLIBERALISMO
9
Ao se tratar de neoliberalismo, os nomes de Ronald Reagan e Margaret
Thatcher merecem destaque. A primeira-ministra inglesa Margareth Thatcher
assumiu o poder em 1979 e governou o país com “mãos de ferro” até 1990.
Durante seu governo, promoveu um programa de privatizações das empresas
estatais, combatendo veementemente os movimentos sindicais trabalhistas.
Com sua atuação, houve estabilização do valor da libra, redução de impostos e
dinamização da economia. Todavia, rapidamente se percebeu que o efeito
benéfico atingia apenas as classes mais abastadas da sociedade inglesa, de
modo que as desigualdades sociais aumentaram, os indicadores ligados à
qualidade de vida regrediram, e o nível de desemprego manteve-se elevado.
Se muitos consideram Thatcher a “mãe do neoliberalismo”, sem dúvidas
o presidente norte-americano Ronald Reagan pode ser considerado o “pai do
neoliberalismo”. Em 1980, Reagan assumiu o poder e colocou em prática a
política neoliberal com as seguintes medidas: redução nos gastos públicos
(programas sociais); reforma na legislação trabalhista e nos direitos sindicais;
política de privatização e diminuição de direitos sociais. Rapidamente, verificou-
se uma diminuição nos números dos indicadores de qualidade de vida, e a
recessão intensificou-se, ao passo que a desigualdade social avançou.
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Ainda no tocante à política neoliberal, na América Latina, merece
destaque o exemplo chileno. Como vimos em outra etapa, em 1973, o Chile
passou por um golpe no qual o ditador Augusto Pinochet tomou o poder.
Alinhado à Escola de Chicago, Pinochet permitiu que o Chile se tornasse um
verdadeiro laboratório das experiências neoliberais. Assim, o Chile reduziu
drasticamente o tamanho e as funções do Estado, eliminando qualquer
obstáculo para a “liberdade do capital”.
Realizou-se uma série de privatizações que retirou inúmeros benefícios
sociais que eram concedidos à população pelo Estado, com o objetivo de reduzir
os gastos estatais. A política neoliberal de Pinochet deixou marcas até os dias
atuais na sociedade chilena, tanto assim que, recentemente, em 2019-2020,
milhares de pessoas foram às ruas protestar contra o elevado custo de vida, as
baixas pensões, os altos preços de medicamentos e a falta de tratamentos de
saúde.
Crédito: Chomen/Shutterstock.
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como já vimos acima, o México no governo de Salinas, a Venezuela no governo
de Carlos Andrés Perez, o Peru no governo de Fujimori, a Argentina no governo
de Menem. No Brasil, a implementação de um governo neoliberal iniciou-se com
Fernando Collor de Melo e deu continuidade com o governo de Fernando
Henrique Cardoso. Entretanto, cabe salientar que o neoliberalismo é bastante
criticado, sobretudo pelos grupos e partidos de esquerda.
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Figura 7 – Protesto realizado pelo movimento negro norte-americano com a frase
“Eu sou um homem”, 1968
Crédito: Museum of Fine Arts, Houston/Museum purchase funded by the African American Art
Advisory Association/Bridgeman/Fotoarena.
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Figura 9 – A artista holandesa Phil Bloom em 1967, conhecida como a primeira
pessoa que ficou completamente nua em um programa de televisão
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Figura 10 – Marcha das Vadias, Curitiba, 14 de julho de 2012
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possibilitou que as mulheres possam escrever sua própria história, criando redes
de apoio e de comunicação.
Desse modo, os protestos que até pouco tempo ocorriam apenas nas ruas
agora ganham espaço também online com campanhas de hashtags (#) que
ampliam o protagonismo das mulheres. Por fim, é relevante mencionar que
contar a trajetória do movimento feminista por meios dessas ondas pode causar
alguns problemas, podendo ressaltar ou menosprezar algum grupo e/ou fato
histórico. Por outro lado, a metáfora das ondas é valiosa porque possibilita criar
uma visão imagética das feministas ao longo da história, nas diferentes
gerações, permitindo uma conexão com o passado e o futuro, mostrando que o
feminismo foi atuante nos diferentes momentos históricos e que essa luta ainda
continua.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
Vimos, nesta etapa, o final das utopias, marcado pela queda do muro de
Berlim. Acompanhamos, ainda, o surgimento de um movimento de releitura do
liberalismo – Neoliberalismo, que apresentava um modelo bastante restritivo
para o Estado. Estudamos os movimentos sociais como uma forma de buscar
garantir a manutenção e a expansão dos direitos dos indivíduos frente ao Estado
e, finalmente, acompanhamos o movimento feminista – seus avanços e suas
perspectivas.
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REFERÊNCIAS
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SILVA, K. W.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo:
Contexto, 2005.
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HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
AULA 6
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Figura 1 – Vista aérea de Paris, França, de balão, mostrando a Torre Eiffel em
primeiro plano no centro, tirada durante a Exposição de Paris de 1889
5
apenas nos Estados Unidos), criados na prosperidade econômica que
os países desenvolvidos atingiram depois da Segunda Guerra
Mundial. Esses jovens - diferentemente de seus pais, que precisaram
sujeitar-se ao trabalho quer pela depressão econômica ou pela guerra
- desejavam ficar jovens eternamente. Para esses “jovens mimados”
e criados na abundância, não acostumados às convenções sociais
(muito mais suaves nas suas casas, nas escolas e nas
universidades), a sociedade tinha de ser mudada para a busca do
prazer que tais convenções sociais impediam. (1972: 15-53) Assim,
procurou-se criar uma nova cultura, ou seja, uma Contracultura.
(Biagi, 2009, p.165)
6
adulto” apreensivo, quando não apavorado. O consumo de drogas e
o “amor livre” talvez tenham sido muito mais falados do que
executados, mas as imagens de jovens drogados e pervertidos
tomando conta do poder eram fortes demais para qualquer sociedade
tolerar. No final dos anos 60, podemos verificar a ascensão de
políticos conservadores que enfatizavam o combate à “imoralidade”
dos jovens nos seus programas, como, por exemplo, Richard Nixon e
Ronald Reagan. A “maioria silenciosa” atacava a “minoria
barulhenta”. (Biagi, 2009, p.175)
7
O ano de 1968 com certeza foi singular na história do século XX, pois a
sociedade ocidental foi abalada por uma forte onda de contestação, na qual a
juventude conclamava por profundas mudanças.
Crédito: TANGOPASO/CC-PD.
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O governo do general De Gaulle lidou com os manifestantes de maneira
violenta, escolhendo alguns líderes estudantis para serem punidos e
suspendendo as aulas. Além disso, os estudantes foram duramente reprimidos,
inclusive muitos foram feridos pela brutalidade policial. Essa atitude truculenta
do governo só gerou ainda mais revolta e ampliou o movimento. De modo que
milhares de estudantes foram às ruas pedir por mudanças na política
educacional do país. Nessa esteira, os jovens pregavam ainda contra o
capitalismo, o imperialismo norte-americano, o consumismo e o desemprego.
Durante os intensos dias de maio de 1968, os muros da cidade de Paris foram
tomados por grafites e cartazes com as frases dos estudantes, tais como:
“Sejam realistas, exijam o impossível”; “É proibido proibir” e
“A imaginação ao poder”.
9
sua legitimidade. Paris ficou impraticável: sem ônibus, metrô, telefone e demais
serviços, mais de 50 empresas foram ocupadas.
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Figura 6 – Em Praga, os tchecoslovacos carregam sua bandeira nacional em
frente a um tanque soviético em chamas
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TEMA 3 – UM MUNDO LÍQUIDO
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Figura 7 – Zygmunt Bauman, 2013
Crédito: Andersphoto/Shutterstock.
NA PRÁTICA
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REFERÊNCIAS
17
HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX: 1914–1991. São
Paulo: Companhia das Letras, 1995.
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