Apostila - Curso IDUS Financiamento
Apostila - Curso IDUS Financiamento
Apostila - Curso IDUS Financiamento
A dimensão financeira
para o desenvolvimento
urbano sustentável
CURSO INSTRUMENTOS DE
DESENVOLVIMENTO URBANO
SUSTENTÁVEL I MÓDULO 6
EDUCAÇÃO À
DISTÂNCIA
Instrumentos de
Desenvolvimento
Urbano Sustentável
CURSO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA
MÓDULO 7
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento
urbano sustentável
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
GIZ NO BRASIL
Diretor Geral
Michael Rosenauer
Departamento de Estruturação do
Desenvolvimento Urbano e Metropolitano
Equipe participante
Ana Luísa Oliveira da Silva
Marcella Menezes Vaz Teixeira
Thomaz Machado Teixeira Ramalho
Verena Laura Mattern
Viktoria Yasmin Carvalho de Matos
ORGANIZAÇÃO E ELABORAÇÃO TREINAMENTO EM COMUNICAÇÃO E
GRAVAÇÃO DE VÍDEOS
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Natalia Aurélio de Sá
Vice-reitora
Maria Arminda do Nascimento Arruda
Assistente de Dados
PROJETO GRÁFICO Júlio Santos
Lara Isa Costa Ferreira
Mariana Ribeiro Pardo Assistente de Comunicação
Ana Luiza Aun Al Makul Jessamine Santos
Mariana Byczkowski Iglecias
Designer Gráfico Júnior
Sávio Araújo
PROJETO AUDIOVISUAL
Streamax Produtora Produtor Audiovisual
Márcio Coelho Demétrio Portugal
Camila Mazzini
Ele é uma parceria entre o Ministério das Cidades e o Ministério Federal da Economia e
Ação Climática (BMWK) da Alemanha como parte da Iniciativa Internacional para o Clima
(IKI). É implementado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ)
GmbH no contexto da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável.
ATENÇÃO!
Esse logotipo será apresentado na
apostila quando o conteúdo didático
remeter a processos e produtos
ANDUS.
Sobre o curso
A partir do projeto de cooperação técnica intitulado “Apoio à Agenda Nacional de
Desenvolvimento Urbano Sustentável no Brasil – ANDUS”, o objetivo desse curso é apoiar
as pessoas atuantes na administração pública em nível federal, estadual e municipal na
implementação de estratégias de desenvolvimento e gestão urbana sustentável, com
capacitação e difusão do conhecimento técnico e especializado. Também, pretende-
se ampliar o acesso ao tema e a processos de promoção do desenvolvimento urbano
sustentável a pesquisadoras e pesquisadores e pessoas interessadas na temática, de
modo geral.
Decorre daí o diálogo com a universidade pública, para a preparação de material didático
e informativo. As apostilas e as videoaulas foram produzidas por um conjunto de pessoas
com experiência na gestão pública e na universidade, fazendo pesquisa e aprendendo
nesse diálogo entre ensino, pesquisa e prática.
Destaca-se, ainda, que o curso é produzido por meio da articulação remota dessa rede
nacional de pesquisadoras, pesquisadores e profissionais. Ele é produto do trabalho
coletivo de uma equipe de vários profissionais, que contou com a coordenação do
Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos - LABHAB da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e com a participação de mais de
25 convidadas e convidados docentes, profissionais, acadêmicos de todo o país ao longo
do curso.
Por fim, convidamos para que desfrutem do seu conteúdo e usufruam de suas
ferramentas, explorando seu potencial enquanto catalisador de novas comunidades e
redes profissionais e de pesquisa.
ATENÇÃO!
Sempre que aparecer o ícone ao
lado você poderá clicar e acessar o
conteúdo indicado de forma direta.
13
APRESENTAÇÃO
14
INTRODUÇÃO
16
CAPÍTULO 1 - CONTEXTO FEDERAL E A EXPERIÊNCIA
BRASILEIRA NO FINANCIAMENTO FISCAL DO
DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL
25
CAPÍTULO 2 - PLANEJAMENTO, GESTÃO E EXECUÇÃO
DO ORÇAMENTO PÚBLICO E OS TIPOS DE FUNDOS
ORÇAMENTÁRIOS
40
CAPÍTULO 3 – INSTRUMENTOS E MECANISMOS PARA
AMPLIAÇÃO DA ARRECADAÇÃO MUNICIPAL
51
CAPÍTULO 4 – COOPERAÇÃO SUPRANACIONAL,
FINANÇAS VERDES E O TERCEIRO SETOR
59
CONSIDERAÇÕES FINAIS
60
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Sobre o
autor
Raphael Faustino
GLOSSÁRIO
Fonte de recursos: origem dos recursos disponíveis que serão usados nas diversas áreas
de intervenção do Estado.
Receita Orçamentária: recursos obtidos para o atendimento das políticas públicas, tais
como os decorrentes de impostos, taxas, contribuições, operações de crédito e alienação
de bens. (Glossário de Termos Orçamentários do Congresso Nacional).
Tributo: receita instituída pela União, pelos Estados, Distrito Federal e Municípios,
compreendendo os impostos, as taxas e contribuições de melhoria, nos termos da
Constituição e das leis vigentes em matéria financeira. (Glossário da Secretaria do
Tesouro Nacional).
13
Financiamento: A dimensão financeira para o desenvolvimento urbano sustentável
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
As finanças públicas podem ser entendidas a partir das definições das três funções do
setor público: a) a função alocativa, em que o Estado foca na oferta de bens públicos
que não são oferecidos pelo mercado para atender as necessidades da sociedade; b) a
função distributiva, que leva a uma distribuição da renda mais justa, em especial a partir
da arrecadação de impostos; e c) a função estabilizadora, que busca a estabilidade de
preços, a criação de empregos e o crescimento econômico (GIAMBIAGI; ALEM, 2011;
GREMAUD et al., 2015).
A CF/88 é entendida aqui como o marco institucional que inicia o padrão de intervenção
no desenvolvimento urbano como o compreendemos neste curso. É importante
destacar que a constituição não estruturou mecanismos de financiamento necessários à
implementação da política urbana, embora a CF/88 tenha incluído essa política em um de
seus capítulos. Ainda hoje em dia, os gastos com as políticas urbanas e habitacionais são
tidos como discricionários, ao menos em termos orçamentários. Ou seja, de um modo
geral não são obrigatórios no país.
Entre o final dos anos 1980 e a metade dos anos 1990, políticas setoriais urbanas são
constantemente destinadas a diversos ministérios criados no período. Mas eles não
tinham o destaque necessário para enfrentar os problemas urbanos. Em termos práticos,
essa instabilidade institucional apresenta desafios para se formular, implementar,
monitorar e avaliar as políticas públicas. E isso apenas é possível com uma estrutura
administrativa adequada.
?
não orçamentários, que são importantes para
VOCÊ SABIA o financiamento do desenvolvimento urbano.
Primeiramente, destacamos os recursos
Recursos não onerosos são
do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
aqueles que não exigem
retorno ou pagamento de quem (FGTS). Ele é um fundo formado pela poupança
o utiliza. Por outro lado, os obrigatória de trabalhadores. Também serve
recursos onerosos são aqueles
como fundo e fonte de financiamento de
que vêm de financiamentos, e
quem o utiliza é responsável destaque para investimentos nos setores de
pelo seu pagamento ao longo habitação, saneamento, mobilidade urbana e
do tempo. Em alguns casos, são
outras áreas ligadas à infraestrutura urbana.
cobrados juros.
O FGTS foi criado ainda no início da Ditadura
Militar e desde então serviu como fonte de
investimentos na política urbana.
Ainda que o FGTS se mantivesse como fonte importante das políticas de desenvolvimento
urbano, entre 1988 e 2004 seu acesso se tornou bastante difícil. Os investimentos
foram insuficientes em termos nacionais para as necessidades e fragilidades das cidades
brasileiras.
De maneira geral, uma política econômica restritiva reduz gastos públicos e/ou a
capacidade das instituições públicas de tomarem empréstimos para seus investimentos.
18
Financiamento: A dimensão financeira para o desenvolvimento urbano sustentável
Outro elemento-chave para o aumento dos investimentos nas áreas da política urbana.
Tanto para o PAC quanto para o Minha Casa, Minha Vida, “a grande novidade foi a entrada
significativa de recursos do Orçamento Geral da União (OGU), no desenvolvimento
urbano, em programas federais de larga escala, especialmente de urbanização de
assentamentos precários.” (MARICATO; ROYER, 2017). Os recursos do Orçamento
Geral da União ligados ao PAC foram definidos como transferências obrigatórias (Lei
20
Financiamento: A dimensão financeira para o desenvolvimento urbano sustentável
2
PARA MAIS
Para entendermos melhor as possibilidades de INFORMAÇÕES
financiamento das políticas de desenvolvimento SOBRE O TEMA
VER TAMBÉM O
urbano sustentável discutiremos o papel e a
MÓDULO 2.
importância do Orçamento Geral da União no
próximo subcapítulo.
2
INFORMAÇÕES
junto com as possibilidades de financiamento que
SOBRE O TEMA têm por base os recursos orçamentários, ou seja,
VER TAMBÉM O o financiamento fiscal. Contudo, é fundamental
MÓDULO 2. termos em mente a distribuição de competências
estabelecidas no sistema federativo brasileiro, pois
afeta o financiamento das políticas públicas de
desenvolvimento urbano sustentável.
21
Financiamento: A dimensão financeira para o desenvolvimento urbano sustentável
VOCÊ SABIA ?
A dependência do município em
relação ao FPM varia a partir de alguns
determinantes. De acordo com Reis et al.
(2022), municípios pequenos e/ou com
baixo Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDHM) tendem a apresentar
um elevado grau de dependência ao FPM.
Você pode consultar os recursos recebidos
pelo seu município em:
https://www.tesourotransparente. ATIVIDADE
gov.br/temas/estados-e-municipios/
transferencias-a-estados-e-municipios.
PROGRAMADA
Você consegue identificar a
estrutura de receitas do município
onde trabalha ou mora? Essa busca
pode ser realizada no portal da
prefeitura ou através do portal:
https://siconfi.tesouro.gov.br/
siconfi/index.jsf.
desenvolvimento urbano. Isso é feito a partir das transferências 5 “[...] o valor financeiro
exigido enquanto
interfederativas, em particular com recursos da União. Este contrapartida por esfera
aspecto precisa ser entendido em condições amplas, como federal; a capacidade de
buscamos apresentar neste subcapítulo. Os baixos orçamentos endividamento financeiro e
fiscal local; o licenciamento
da grande maioria dos municípios brasileiros impedem ou da obra; a titularidade do
limitam o uso de seus recursos em desenvolvimento urbano território; a qualidade do
e ambiental. O aumento da receita e da despesa municipal é projeto; a regularidade
de concessão de serviços
essencial. Mas também é indicado que os municípios trabalhem urbanos; a realização de
com outras esferas de governo para realizar os investimentos repasses financeiros de
necessários. acordo com etapas de
obras, por exemplo, podem
Por fim, destacamos que os investimentos com recursos significar dificuldades às
cooperações interfederativas
do Orçamento Geral da União passaram por importantes organizadas em torno de
transformações nos últimos anos, principalmente depois de convênios e contratos
2015. Isso merece ser compreendido por pesquisas específicas por obras (KUHN, 2018).”
(FILOCOMO, 2020, p. 173).
e é um debate em construção.
CF/88, o orçamento público brasileiro passou a ter três elementos-chave. Eles são as
chamadas peças orçamentárias: o Plano Plurianual de Ações (PPA), a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). Essas três peças são aprovadas
por lei e têm prazos específicos para apresentação e de duração.
Por fim, a Lei Orçamentária Anual (LOA) apresenta detalhes das previsões de receitas e
de gastos para o ano seguinte a sua aprovação. A LOA é a condição legal para a execução
orçamentária, pois é por meio dela que são autorizados os gastos públicos. Ela traz os
detalhes do que foi planejado no PPA e priorizado na LDO.
Essas três peças estruturam os orçamentos de cada um dos diferentes entes federados
do país. Assim Oliveira (2009) define as etapas e fases do processo orçamentário:
Ressaltamos que há a fase de criação e aprovação do PPA, que deve anteceder a criação
e aprovação da LDO e LOA.
ATIVIDADE
APROFUNDE-SE
PROGRAMADA
Caso queira se aprofundar mais no
assunto, acesse o canal Orçamento
Fácil do Senado Federal. Você consegue identificar as peças
orçamentárias e as etapas do
Ver vídeos de 1 a 11. processo orçamentário, a partir
das informações disponíveis no
Disponível em: https://www.youtube. portal da prefeitura do município
com/c/Or%C3%A7amentoF%C3%A- onde trabalha ou mora?
1cil/videos
28
Financiamento: A dimensão financeira para o desenvolvimento urbano sustentável
As receitas orçamentárias são definidas como o dinheiro disponível que entra durante
o exercício da instituição e que aumenta o seu saldo (STN, 2021, p. 39). Ainda segundo
STN (2021), considera-se as receitas orçamentárias como o instrumento que permite a
execução de políticas públicas. Elas são a principal fonte de recursos do Estado em seus
programas e ações para atender as necessidades da sociedade.
Nesse sentido, as receitas orçamentárias tem uma relação importante com a estrutura
tributária, outro elemento central da economia do país6. A arrecadação de recursos
pelo Estado brasileiro é classificada em três categorias: os impostos, as taxas e as
contribuições.
As contribuições são cobradas quando a administração pública realiza obras que trazem
algum benefício para a população local, como a construção de ruas e estradas.
As contribuições ganharam relevância tributária a partir dos anos 1990, com o objetivo
de aumentar a arrecadação da União. Isso seria feito sem precisar repassar recursos
obrigatórios aos demais entes federados O objetivo era aumentar o financiamento
dos direitos sociais estabelecidos. Após o Plano Real, o objetivo passou a ser garantir
as receitas necessárias para cumprir as metas fiscais. Podemos destacar a Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) ou a Contribuição de Intervenção no Domínio
Econômico (CIDE) como exemplos de contribuições sociais e econômicas.
A Tabela 1 resume os principais impostos do país e quem realiza a sua cobrança. A CF/88
definiu como deve ser feita a arrecadação de tributos. Segundo Maleski (2021), “[...] todos
os entes federativos podem criar taxas e contribuições de melhoria, conforme o ente que
prestar o serviço ou realizar a obra pública”. Esses tipos de tributos são de competência
comum a todos os entes. Os impostos apresentados na Tabela 1 são definidos na CF/88
como de competência exclusiva de cada esfera de governo.
a) a classificação institucional;
b) a classificação funcional; e
A STN (2021) define a classificação por estrutura programática como aquela que dialoga
com as ações governamentais definidas no PPA. Os programas são formas de operação
de políticas públicas, e a eles estão associados uma ou mais ações orçamentárias. Dessa
32
Financiamento: A dimensão financeira para o desenvolvimento urbano sustentável
Isto nos permite entender a distribuição territorial de recursos da União e demais entes
federados em determinada área da política pública. Considerando a distribuição dos
entes federados contemplados, o volume de recursos transferidos, os programas e ações
utilizados, pode-se avaliar a dimensão social dos gastos públicos. Isso também poderia
ser um exemplo para os bairros que recebem recursos municipais, na escala urbana.
APROFUNDE-SE AULA 3
MÓDULO 6
Caso queira se aprofundar mais no
assunto, acesse os artigos sobre
o tema publicados pela Fundação
Tide Setubal.
Segundo Paluso (2010 apud COSTA, 2017, p. 7), fundos são instrumentos orçamentários
criados por lei para vincular recursos ou conjuntos de recursos. Eles serão usados para
executar programas, projetos ou atividades com objetivos devidamente definidos. Essa
é uma definição que parte do ponto de vista do orçamento.
A estrutura legal que determina a criação de um fundo orçamentário pode ser resumida
da seguinte forma: a) o fundo será criado através de lei específica; b) ela determinará as
receitas que alimentarão o fundo; c) determinará a sua finalidade, ou seja, como serão
utilizados os recursos do fundo; e d) como ocorrerá a incorporação dos saldos dos fundos.
Essa estrutura nos permite entender o movimento para se criar fundos orçamentários.
Como destacamos, o gasto público pode ser entendido como uma arena de disputas
políticas pela utilização de recursos. Os fundos aparecem muitas vezes como resultado e
como parte dessa disputa, ao propor um conjunto de receitas estáveis ao longo do tempo
para um determinado objetivo. Além de objetivos específicos, os fundos têm a vantagem
de poder carregar saldos de recursos de um ano para o outro, sem precisar executar o
orçamento no ano que se define a receita. Isso também estabelece estratégias na disputa
35
Financiamento: A dimensão financeira para o desenvolvimento urbano sustentável
Segundo Bassi (2019), é possível que exista uma centena de fundos federais. O número
pode ser três vezes maior, se incluirmos os três níveis de governo: estados, Distrito
Federal e municípios.
O Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) é o mais antigo fundo ambiental da América
Latina, segundo o Ministério do Meio Ambiente. Ele apoiou mais de 1.450 projetos
socioambientais e investiu quase 275 milhões de reais em iniciativas de conservação
e de uso sustentável dos recursos naturais. A principal fonte dos recursos do FNMA é
20% do valor das multas aplicadas pelo Ibama e pelo ICMBio. Além disso, já contou com
recursos de cooperação internacional.
1
SP) em 2002. Seu objetivo é destinar recursos PARA MAIS
da Outorga Onerosa do Direito de Construir INFORMAÇÕES
SOBRE O TEMA
(PERES et al., 2021), instrumento urbanístico
VER TAMBÉM O
consolidado no Estatuto da Cidade. Ainda MÓDULO 1.
segundo Peres et al. (2021), a revisão do PDE
de 2014 contribuiu para aumentar muito os
recursos arrecadados por meio da Outorga.
De acordo com Paim e Peres (2021, p. 3), o FUNDURB definiu que tem prioridade de
investimento: (1) habitação de interesse social; (2) transporte coletivo; (3) ordenamento
e direcionamento da estruturação urbana, incluindo infraestrutura, drenagem,
saneamento, parques lineares e vias públicas; (4) equipamentos urbanos e comunitários;
(5) proteção de áreas de interesse histórico, cultural ou paisagístico; e (6) criação de
unidades de preservação ambiental.
1
4
3 2
É importante destacar que os dois exemplos são estratégias para se gerar receitas
e destinar recursos públicos. Eles criam uma possibilidade real de financiamento de
políticas públicas no Município de São Paulo. Esses exemplos podem ser estudados e
adaptados por outros municípios, de acordo com suas realidades.
APROFUNDE-SE APROFUNDE-SE
Caso queira se aprofundar Caso queira se aprofundar no assun-
mais no assunto, destacamos o to, acesse os portais do Fundo de
trabalho “A liquidez da água: um Desenvolvimento Urbano (FUN-
estudo de caso sobre o Fundo DURB) e do Fundo Municipal de
Municipal de Saneamento Saneamento (FMSAI)
Ambiental e Infraestrutura de
São Paulo”. (FERREIRA, 2020) Disponível em: https://www.prefei-
tura.sp.gov.br/cidade/secretarias/
Disponível em: https://www. habitacao/fmsai/apresentacao/in-
academia.edu/43410026/A_LIQ- dex.php?p=145635
UIDEZ_DA_%C3%81GUA_Um_
Estudo_De_Caso_Sobre_O_Fun- https://www.prefeitura.sp.gov.br/
do_Municipal_De_Saneamen- cidade/secretarias/licenciamento/
to_Ambiental_e_Infraestrutu- desenvolvimento_urbano/partici-
ra_De_S%C3%A3o_Paulo pacao_social/fundos/fundurb/
AULA 3
MÓDULO 6
O IPTU é um imposto, como o seu próprio nome deixa claro. Portanto, os recursos
arrecadados a partir dele não podem ser associados a uma despesa definida
anteriormente. O que se arrecada com IPTU entra no “caixa geral” da prefeitura. Essas
arrecadações são receitas do município que podem ser usadas em quaisquer despesas
da administração municipal. Além disso, o IPTU deve ser entendido como um mecanismo
que se articula com a política urbana, não apenas como parte da estrutura tributária e
fiscal dos municípios.
Afonso et al. (2013) definem o IPTU como um
imposto local, que será cobrado de quem possui
imóveis dentro do perímetro urbano dos municípios. ATIVIDADE
Os autores explicam que a cobrança do imposto PROGRAMADA
ocorre a partir do valor venal do imóvel. Esse valor é
a soma do valor do terreno e da construção definidos Você consegue identificar se
o seu município possui as suas
na Planta Genérica de Valores. Não há definição próprias leis de IPTU? Quais são
constitucional de porcentagem para cobrança do os principais pontos da lei que
IPTU. O município é o responsável por definir sua regulamenta o IPTU?
cobrança através de sua legislação.
41
Financiamento: A dimensão financeira para o desenvolvimento urbano sustentável
Segundo Afonso et al. (2013), a CF/88 permite que o IPTU seja 8 As cidades escolhidas
pelo autor foram: São Paulo,
cobrado por meio de alíquotas variadas. Isso significa que a Rio de Janeiro, Salvador,
cobrança será maior nas regiões das cidades mais valorizadas Brasília (DF), Fortaleza,
e com infraestrutura. Desse modo, o imposto serve como Belo Horizonte, Goiânia,
Guarulhos, Aracaju e Olinda.
mecanismo importante para capturar os investimentos públicos
em infraestrutura. Contudo, os autores destacam que essa
possibilidade nem sempre é adotada por causa das dificuldades
de se alterar as políticas locais.
O IPTU serve para coletar recursos e pode ser utilizado junto com outras políticas
públicas. Ele também pode servir como forma de se articular uma política urbana que
diminua a desigualdade, por ser um tributo cobrado sobre a propriedade imobiliária.
Ainda assim, reforçamos que o IPTU é um instrumento importante de uma política de
desenvolvimento urbano mais justa para a sociedade. O imposto é importante para
reduzir a desigualdade socioespacial.
O IPTU pode ajudar a distribuir a renda de maneira mais justa, assim como outros
impostos. É possível cumprir essa condição com mecanismos de isenção e cobrança
de acordo com definições locais, levando-se em conta as áreas da cidade e a renda da
população.
3
de IPTU mais alto sobre imóveis PARA MAIS
comerciais e industriais, e valeria para INFORMAÇÕES
SOBRE O TEMA
imóveis urbanos que antes eram rurais;
VER TAMBÉM O
b) a atualização dos valores venais de MÓDULO 3
imóveis, que são a base para cobrança
de IPTU, e dos outros instrumentos
incluídos no Estatuto da Cidade.
Por fim, ressaltamos a possibilidade que surgiu com o Estatuto da Cidade: o IPTU
progressivo no tempo. De acordo com Carvalho Jr. (2016, p. 210), o IPTU progressivo no
tempo é aplicado quando o parcelamento, a construção e a utilização obrigatórios não
são realizados. As porcentagens do IPTU aumentam por cinco anos, até o limite de 15%.
O município poderá desapropriar o imóvel pagando-o com títulos da dívida pública, caso
o imóvel continue subutilizado. Assim, o IPTU progressivo no tempo é um mecanismo
importante para se cumprir a função social da propriedade urbana. Essa função também
foi estabelecida no Estatuto da Cidade, ainda que sua prática seja bastante limitada
atualmente.
APROFUNDE-SE
Caso tenha interesse em se aprofundar
mais no assunto, acesse o “Relatório de
aplicação do Parcelamento, Edificação
ou Utilização Compulsórios (PEUC) e do
IPTU progressivo no tempo: São Bernar-
do do Campo, 2013-2016”. (BRAJATO;
SOUZA, 2016)
Ortiz et al. (2022) definem o imposto usando o conceito dos tributos com caráter
extrafiscal. Segundo os autores, os incentivos fiscais são formas de reduzir os impostos,
que o Estado oferece ao deixar de receber receitas, diferente do que ocorre com o IPTU.
O objetivo é estimular ações e comportamentos que tragam benefícios para toda a
sociedade. Assim, os autores consideram que os impostos apresentam caráter extrafiscal
quando são utilizados não apenas para arrecadar recursos, mas quando têm objetivos
sociais e ambientais.
Ainda segundo Ortiz et al. (2022), não existe regulamentação ou diretriz nacional sobre
a forma de se colocar em prática o IPTU Verde. Assim, é possível buscar exemplos em
experiências municipais, organizadas a partir das condições locais. Em geral, podemos
destacar como características gerais do IPTU Verde estimular práticas sustentáveis em
construções residenciais ou comerciais. Exemplos dessas práticas são a instalação de
sistemas de captação de água de chuva, a captação de energia solar para gerar energia
elétrica e aquecer a água, e a manutenção da vegetação e de áreas permeáveis (ORTIZ
et al., 2022, p. 3).
SALVADOR-BA
a) Redução do valor venal de terrenos declarados como não edificáveis e não explorados
em áreas de proteção ambiental. Neste caso, o programa determina a redução de 80% do
valor venal dos imóveis não edificáveis e que não sejam explorados economicamente. São
considerados terrenos não edificáveis aqueles em Áreas de Proteção Ambiental (APA) e
Áreas de Proteção Permanente (APP), definidos pelo Plano Diretor do Município.
44
Financiamento: A dimensão financeira para o desenvolvimento urbano sustentável
OURO PRETO-MG
1
PARA MAIS
são instrumentos urbanísticos definidos pelo INFORMAÇÕES
Estatuto da Cidade associados ao conceito de SOBRE O TEMA
solo criado. Eles aumentam a arrecadação dos VER TAMBÉM O
municípios. MÓDULO 1.
Ainda segundo os autores, ela serve como instrumento de 9 Outras variáveis apoiam
o entendimento sobre o
arrecadação municipal. Para isso, o município deverá definir adensamento construtivo
em seu plano diretor coeficientes básicos de aproveitamento e/ou populacional de áreas
do território. Em conjunto, definirá em quais locais este urbanas, como a regulação do
uso e ocupação do solo, o que
coeficiente poderá ser ultrapassado, desde que se pague um não cabe desenvolvimento
valor estabelecido. Esta modalidade é utilizada como a principal neste subcapítulo.
fonte de arrecadação do FUNDURB no Município de São Paulo.
Outorga O plano diretor poderá fixar áreas nas quais o direito de construir
Onerosa do poderá ser exercido acima do
Direito de coeficiente de aproveitamento básico adotado, mediante
Construir contrapartida a ser prestada pelo beneficiário. (Art. 28 EC)
(OODC)
APROFUNDE-SE AULA 5
MÓDULO 6
Caso queira se aprofundar
mais no assunto, acesse o livro
“Aplicação dos instrumentos ur-
banísticos em São Paulo: limites
e possibilidades do planejamento
urbano”. (NOBRE; SEO, 2021)
A maioria dos municípios brasileiros tem pequeno e médio portes. A sua realidade
apresenta diferentes dinâmicas locais, com possibilidades e características de
instrumentos urbanísticos voltados à arrecadação através da valorização fundiária.
A estrutura de arrecadação baseada no conceito de solo criado deve ser considerada sob
outro ponto de vista quando se trata de cidades de pequeno e médio porte. Neste caso,
podemos considerar que o crescimento urbano ocorre horizontalmente e principalmente
com as alterações de uso do solo, com menos concentração de construções típica
das grandes cidades e metrópoles. Santoro et al. (2010) destacam que processos de
desvalorização de áreas rurais alteram o uso do solo. Ele passa de rural para urbano,
com a expansão de loteamentos residenciais ou modificações dentro das cidades, como
alterações de áreas residenciais para comerciais. Santoro et al. (2010, p. 424) afirmam:
1
da valorização ocorrida por causa da alteração PARA MAIS
do uso do solo. O estatuto considera que o plano INFORMAÇÕES
SOBRE O TEMA
diretor municipal deve delimitar as áreas em
VER TAMBÉM O
que esta alteração de uso será permitida. Uma MÓDULO 1.
lei municipal deverá estabelecer as fórmulas
de cálculo da cobrança, possíveis isenções e as
compensações dos beneficiários.
A Outorga Onerosa de Alteração de Uso pode ser considerada não apenas uma forma
de arrecadação de recursos. Mas também uma forma do poder público municipal de
50
Financiamento: A dimensão financeira para o desenvolvimento urbano sustentável
4
PARA MAIS
pode ser considerada um instrumento pouco INFORMAÇÕES
comum entre os municípios brasileiros. Ela é SOBRE O TEMA
aplicada no Distrito Federal e no Município de VER TAMBÉM O
São Carlos, no estado de São Paulo. É importante MÓDULO 4.
entender e definir a dinâmica imobiliária para
se formular e executar políticas públicas e
instrumentos urbanísticos com fins fiscais e que
tenham como objetivo o desenvolvimento urbano
sustentável.
APROFUNDE-SE AULA 6
MÓDULO 6
Caso queira se aprofundar mais no
assunto, acesse o artigo “Cidades
que crescem horizontalmente: o
ordenamento territorial justo da
mudança de uso rural para urbano”
(SANTORO; COBRA; BONDUKI,
2010)
Como destacado por Souza (2019), o sucesso da execução da Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável, definida pela Organização das Nações Unidas (ONU),
depende de uma articulação supranacional. Isso envolve transformações importantes
nas formas de governar e nas relações entre os países. As questões ambientais e
climáticas dependem de ações globais e podem estar associadas a uma rede de apoio
para investimentos em países em desenvolvimento para se alcançar um desenvolvimento
sustentável.
Outras iniciativas importantes e que ganharam destaque nas últimas décadas são as
ações de entidades do terceiro setor. Organizações da sociedade civil têm desenvolvido
projetos associados a questões do desenvolvimento urbano sustentável.
Nesse sentido, podemos destacar projetos desenvolvidos pela Fundação Tide Setúbal.
Ela promove ações com o objetivo de requalificar espaços de convivência e melhorar o
uso de ruas e calçadas. Além disso, busca diminuir o impacto das enchentes, conectar
equipamentos públicos com um plano de “caminhabilidade” e segurança, e melhorar o
saneamento básico e a coleta de lixo.
1
PARA MAIS
de governo promovam o desenvolvimento urbano INFORMAÇÕES SOBRE
sustentável. Há muitas linhas de financiamento O TEMA VER TAMBÉM
hoje em dia para combater a mudança do clima. O MÓDULO 1.
Elas podem ser acessadas para se executar ações
tanto de redução quanto de adaptação.
Este conjunto organiza o que consideramos algumas das possibilidades das finanças
verdes. Ainda segundo Knoch e Plaskem (2020, p. 10), as finanças verdes se referem
a um conceito mais amplo, geralmente utilizado como sinônimo de investimentos
socialmente responsáveis. Elas também podem se referir à análise ASG, que avalia os
aspectos ambiental, social e administrativo dos produtos.
55
Financiamento: A dimensão financeira para o desenvolvimento urbano sustentável
Figura 7: Algumas áreas incluídas no conceito de aspectos Ambientais, Sociais e de Governança (ASG).
Fonte: Adaptado a partir de Finanças Sustentáveis. Um Panorama. Sebastian Sommer – junho de 2020.
Elaboração gráfica do LabHab. 2022.
As finanças verdes são postas em prática pela esfera privada, apesar de serem
regulamentadas pelo Estado. É preciso que algumas estratégias, como debêntures, sejam
pensadas neste sentido para que também se considere o interesse de agentes privados.
Questões como essas serão tratadas em entrevista e na videoaula do módulo.
• Energia Renovável;
• Eficiência Energética;
• Transporte Limpo;
AULA 7
MÓDULO 6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, apresentamos no Capítulo 4 mecanismos que vão além da arrecadação municipal,
estadual e federal. Destacamos que a cooperação supranacional pode contribuir para
levantar recursos para realizar o desenvolvimento urbano sustentável. Isso pode ser
feito principalmente através de acordos de cooperação técnica e financeira. Além
disso, consideramos as possibilidades que surgem do relacionamento com entidades do
terceiro setor. Na conclusão do módulo, apresentamos a importância de se consolidar
mecanismos de financiamento que se preocupem com a emergência climática e com as
ameaças à preservação ambiental.
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Financiamento: A dimensão financeira para o desenvolvimento urbano sustentável
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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