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10- Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto

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SANEAMENTO

AMBIENTAL
Projeto de
sistema de coleta
e tratamento
de esgoto
Márcia Elisa Jacondino Pretto

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Dimensionar um sistema de coleta de esgoto sanitário.


>> Expressar noções básicas de dimensionamento de sistema de tratamento
de efluentes domésticos.
>> Descrever os padrões de lançamento de efluente tratado.

Introdução
À medida que as comunidades e a concentração humana se tornam maiores, as
soluções individuais para remoção e destino do esgoto doméstico devem dar lugar
a soluções de caráter coletivo, denominadas sistema de esgotos.
Entre os tipos de esgotos, existem os domésticos, que incluem as águas con-
tendo matéria fecal e as águas servidas, resultantes de banho e de lavagem de
utensílios e roupas; os industriais, que compreendem os resíduos orgânicos, de
indústria de alimentos, matadouros, etc.; as águas residuárias agressivas, que
procedem de indústrias de metais, entre outras; as águas residuárias, que vêm
de indústrias de cerâmica, água de refrigeração, etc.; as águas pluviais, águas
procedentes das chuvas; e a água de infiltração, água do subsolo que se introduz
na rede (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, [200-]).
2 Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto

Neste capítulo, você vai ver como dimensionar um sistema de coleta de esgoto
sanitário, assim como as noções básicas que permitem o dimensionamento de
um sistema de tratamento de efluentes domésticos e os padrões de lançamento
para efluentes tratados.

Sistema de coleta de esgoto sanitário

Tipos de sistemas
O sistema unitário consiste na coleta dos esgotos domésticos e dos despejos
industriais juntamente aos esgotos de águas pluviais em um único coletor.
Portanto, no dimensionamento do sistema unitário, deve-se conhecer as
precipitações máximas que ocorrem em um período de cinco a dez anos
(FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, [200-]).
Esse sistema não é vantajoso porque apresenta problemas de deposições
de resíduos nos tubos coletores nos períodos de estiagem. Além disso, pos-
sui alto custo de implantação em função de ser projetado com capacidade
máxima para atender a demanda de esgoto pluvial, o que também interfere
na operação, que é prejudicada pela brusca variação da vazão na época das
chuvas em relação ao período de estiagem, afetando a qualidade do efluente
(FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, [200-]).
Já o sistema separador absoluto, como o próprio nome diz, separa o es-
goto doméstico e o industrial do esgoto pluvial. Possui custo de implantação
inferior ao sistema unitário em virtude das seguintes razões (FUNDAÇÃO
NACIONAL DE SAÚDE, [200-], documento on-line):

as águas pluviais não oferecem o mesmo perigo que o esgoto doméstico, podendo
ser encaminhadas aos corpos receptores (rios, lagos, etc.) sem tratamento; este
será projetado apenas para o esgoto doméstico;
nem todas as ruas de uma cidade necessitam de rede de esgotamento pluvial. De
acordo com a declividade das ruas, a própria sarjeta se encarregará do escoamento,
reduzindo assim, a extensão da rede pluvial;
esgoto doméstico deve ter prioridade, por representar um problema de saúde
pública. O diâmetro dos coletores é mais reduzidos;
nem todo esgoto industrial pode ser encaminhado diretamente ao esgoto sanitário.
Dependendo de sua natureza e das exigências regulamentares, terá que passar
por tratamento prévio ou ser encaminhado à rede própria.

No sistema misto, a rede é dimensionada para receber tanto o esgoto


sanitário como parte do esgoto pluvial, cujas águas podem ser coletadas
Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto 3

tanto dos telhados quanto das bocas de lobo, em que um dispositivo limita
a contribuição das chuvas de grande intensidade (FUNDAÇÃO NACIONAL DE
SAÚDE, [200-]).

Partes constituintes do sistema de coleta de esgoto


sanitário
O sistema público convencional é constituído por ramal predial, coletor
tronco, interceptor, emissário, poços de visita, estação elevatória e estação
de tratamento de esgoto.
O percurso do esgoto sanitário inicia no ramal predial, que é o ramal
que transporta o esgoto de cada uma das edificações até a rede pública
de coleta. Então, o coletor de esgoto recebe os esgotos das edificações,
transportando-os ao coletor tronco, que é a tubulação da rede coletora
(FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, [200-]).
Já os interceptores possuem diâmetros maiores que o coletor tronco em
função de maior vazão, pois são responsáveis pelo transporte dos esgotos
gerados na sub-bacia, localizados nos fundos de vale margeando cursos
d’água ou canais e evitando que os esgotos sejam lançados nos corpos d’água
(FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, [200-]). Emissários são tubulações similares
aos interceptores, mas não recebem contribuição ao longo do percurso,
apenas visam o deslocamento até o curso d’água.
Poços de visita (PV), popularmente chamados de bueiro, são o elemento
que dá acesso às redes de esgoto, permitindo, assim, sua inspeção e limpeza
da rede. Devem estar localizados no início da rede, nas mudanças de direção,
nas mudanças de declividade, nas junções, locais com alteração de diâmetro
ou de material da tubulação, e em trechos longos. A distância máxima entre
os entre PVs será limitada pelo alcance dos equipamentos de desobstrução
(FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, [200-]).
A estação elevatória pode ou não ser necessária, dependendo da neces-
sidade de se bombear os esgotos para um nível mais elevado, principalmente
se as profundidades das tubulações se tornam elevadas, em função de baixa
declividade do terreno ou, ainda, devido à necessidade de se transpor uma
elevação. A partir desse ponto, os esgotos podem voltar a fluir por gravidade.
Já a estação de tratamento de esgotos (ETE) só é necessária nos casos em
que não há rede pública de esgoto sanitário na região em questão, a fim de
que seja dada uma destinação correta ao esgoto para que não polua os cursos
d’água e o solo. O tratamento busca a remoção dos poluentes dos esgotos,
4 Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto

e a ETE é composta dos seguintes componentes, que variam de acordo com


a necessidade e o tipo de instalação:

„„ sistema de gradeamento;
„„ caixa de areia ou desarenador;
„„ sedimentador primário;
„„ estabilização aeróbica;
„„ filtro biológico ou de percolação;
„„ lodos ativados;
„„ sedimentador secundário;
„„ digestor de lodo;
„„ secagem de lodo;
„„ desinfecção final do efluente.

Após a etapa de tratamento, os esgotos podem ser lançados nos cursos


d’água ou no solo. Porém, cabe salientar que mesmo o tratamento de es-
gotos não tem como objetivo a utilização da água para consumo final, pois
outros poluentes ainda permanecem após esse processo, como organismos
patogênicos e metais pesados.

Dimensionamento da rede coletora de esgoto


A seguir, confira o roteiro de dimensionamento, conforme apresentado por
Fernandes ([202-?]a) e ilustrado no quadro da Figura 1, a seguir.
Figura 1. Planilha de dimensionamento de rede de esgoto.
Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto

Fonte: Fernandes ([202-?]b, documento on-line).


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6 Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto

„„ No dimensionamento da rede coletora, primeiramente, deve-se definir


o traçado e, em seguida, medir os trechos (em m) e identificá-los com
números (colunas 1 e 2).
„„ Taxa de contribuição linear inicial e final (Tx) (coluna 3):

Txi = Qi/Lt    Txf = Qf/Lt

„„ São anotados os valores de vazões a montante (coluna 4):

Em que:

■■ Lt — comprimento total da rede coletora;


■■ Qf — vazão do esgoto sanitário de fim de plano (L/s);
■■ Qi — vazão do esgoto sanitário de início de plano (L/s);
■■ K1 = 1,2 e K 2 = 1,5;
■■ Pi,f — população de início e fim de plano (hab.) I = 0,0005 L.s/m x Lt
(vazão de infiltração do solo);
■■ qi e qf — consumo diário por habitante (150 ou 200 L/hab.dia);
„„ Vazão do trecho (coluna 5) no início e fim do plano (Qti);

Qti = Txi x Lt    Qtf = Txf x Lt

■■ Txi e Txf — taxa de contribuição linear de início ou final do plano (L/s.m);


■■ Lt — comprimento do trecho (m).
„„ Vazão jusante (coluna 6):

Q j = Qm + Q t

„„ Vazão de projeto (Qp) (coluna 7):


■■ caso 1 — adotar 1,5 L/s, quando a vazão de jusante for menor que
esse valor;
■■ caso 2 — utilizar o valor da vazão de jusante quando esse valor for
maior ou igual a 1,5 L/s.
„„ Diâmetro do coletor (D) (coluna 9):

D = 0,3145.(Qf / Ip0,5)3/8  para  n = 0,013


Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto 7

Em que:

■■ D = diâmetro do tubo (m) – mínimo 150 mm para o CAGECE;


■■ Qf — vazão de fim de plano (m3/s);
■■ Ip — declividade de projeto (m/m).
„„ Declividade de projeto (Ip) (coluna 8): é necessário calcular a declividade
do terreno (It) e a declividade mínima (Imín) do coletor, sendo necessário
adotar o valor que resulte em menor escavação do terreno.

It = (CTM – CTJ)/Lt  Imín = 0,0055x Qi-0,47  Imín ≤ Ip < It

Em que:

■■ CTM — cota do terreno de montante;


■■ CTJ — cota do terreno de jusante;
■■ Lt — comprimento do trecho;
■■ Qi — vazão de projeto de início de plano do trecho.
„„ Diâmetro adotado (coluna 10): inicialmente, arbitra-se um diâmetro e
procede-se aos cálculos das colunas seguintes. Caso os parâmetros
de norma não sejam atendidos, volta-se a essa coluna e altera-se o
diâmetro, em um processo iterativo, repetindo até que as condições
sejam atendidas.
„„ Altura da lâmina liquida (Y/D) (coluna 11): determinar a relação Qi,f/Qp
(vazão de ínicio e fim de plano/vazão para a seção do tubo cheio); se
o valor da relação Y/D for maior que 0,75, ou seja, não atender a NBR
9649/1986, deve ser utilizado o diâmetro maior e repetido o procedi-
mento para determinar Y/D.
„„ Velocidade final de escoamento ou média (V) de início e final de plano
(coluna 12): uma vez determinada a relação Y/D no passo anterior,
obter o valor de V a partir do gráfico pela relação V/Vp e pela equação
da continuidade. Se a velocidade (V) for superior à velocidade crítica,
deve ser alterada a declividade de projeto ou o diâmetro do coletor.
„„ Cota do terreno (coluna 13): são anotadas as cotas do terreno a mon-
tante (CTM) e a cota do terreno a jusante (CTJ).
„„ Cota do coletor (coluna 14):

CCJ = CCM – (Ip x Lt)


8 Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto

Em que:

■■ CCM — cota do coletor a montante;


■■ Ip — declividade de projeto;
■■ Lt — comprimento do trecho.

Segundo Fernandes ([202-?]b):


„„ quando o trecho da rede coletora de esgoto tiver apenas uma
contribuição, a CCM é igual à CCJ do trecho anterior;
„„ quando o trecho da rede coletora tiver duas ou três contribuições no poço de
visita, a cota do coletor a montante será igual à menor CCJ entre os trechos
anteriores.

„„ Profundidade do coletor (P) (coluna 15): adotar o recobrimento (R) de,


no mínimo, 0,6 e 0,9m para coletor assentado no passeio e na rua
respectivamente — P = R + D.
„„ Tensão trativa (coluna 17):

s = 104.R.Ip ≥ 1,0

Em que:

■■ s — tensão trativa (Pa);


■■ R — raio hidráulico (m);
■■ Ip — declividade de projeto (m/m).
„„ Velocidade crítica (coluna 18):

Vc = 6 x (R.g)0,5

Em que:

■■ Vc — velocidade crítica, m/s;


■■ g — aceleração da gravidade, (9,8 m/s2) m/s2;
■■ R — raio hidráulico (m).

Segundo a ABNT NBR 9649/1986, o valor da velocidade média de escoa-


mento (V) não deve ser maior que o valor da velocidade crítica.
Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto 9

Dimensionamento de sistema de
tratamento de efluentes
O tratamento dos esgotos é uma combinação de três processos conforme
(NAÇÕES UNIDAS, 2007 apud TOMAZ, 2010): processos físicos, químicos e
biológicos. Nos processos físicos, as impurezas são removidas por peneira-
mento, sedimentação, filtração, flotação, absorção ou adsorção, ou ambas,
e centrifugação. Nos processos químicos, as impurezas são removidas por
meio de coagulação, absorção, óxido-redução, desinfecção e troca iônica. Já
nos processos biológicos, os poluentes são removidos por mecanismos como
tratamento aeróbico, tratamento anaeróbico e processo de fotossíntese,
como ocorre nas lagoas.
O tratamento dos esgotos é dividido em etapas: tratamento preliminar,
tratamento primário, tratamento secundário e tratamento terciário (TOMAZ,
2010).
O tratamento preliminar consiste basicamente em remoção de sólidos de
tamanho grande e partículas de detritos: gradeamento, remoção de areia,
caixa de retenção de óleo e gordura, peneiras. Já o tratamento primário inclui
remoção de sólidos em suspensão. Ocorre por decantação primária ou simples,
precipitação química com baixa eficiência, sedimentação, flotação por ar
dissolvido e coagulação (TOMAZ, 2010). O tratamento secundário é biológico e
remove os poluentes biodegradáveis, ou seja, a matéria orgânica dissolvida e
em suspensão. Os processos de tratamento secundário, conforme Nunes (1996
apud TOMAZ, 2010), são: processo de lodos ativados, lagoas de estabilização,
sistemas anaeróbicos com alta eficiência, lagoas aeradas, filtros biológicos,
precipitação química com alta eficiência. O tratamento terciário consiste
na remoção de poluentes específicos como nitrogênio, fósforo, cor e odor.
Ocorre por coagulação química e sedimentação, filtros de areia, adsorção em
carvão ativado, osmose reversa, eletrodiálise, troca iônica, filtros de areia,
tratamento com ozônio, remoção de organismos patogênicos e reator com
membranas (TOMAZ, 2010).
Neste capítulo, serão abordados os sistemas mais comumente empregados:
gradeamento, caixas de areia ou desarenador, filtro biológico aeróbio, reator
anaeróbio e decantação.

Gradeamento
As grades devem permitir o escoamento dos esgotos sem produzir grandes
perdas de carga. São constituídas por barras paralelas de ferro ou aço, po-
10 Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto

sicionadas transversalmente no canal de chegada dos esgotos na estação


de tratamento, perpendiculares ou inclinadas, dependendo do dispositivo
de remoção do material retido (PIVELI, [20--]).
Piveli ([20--]) destaca que as barras das grades são fabricadas com di-
mensões padronizadas, de 5 a 10mm, para a menor dimensão da seção, que
é posicionada frontalmente ao escoamento, e de 3,5 a6,5 cm para a dimensão
maior, paralela ao escoamento. O autor ainda comenta que as grades devem
ter inclinações entre 70° a 90°, com dispositivo de remoção mecanizada de
material retido, enquanto as de remoção manual possuem fundo do canal
a jusante.
A ABNT NBR 12209 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2011)
recomenda que as grades devem contar com dispositivo de remoção meca-
nizada do material retido sempre que as vazões de dimensionamento forem
superiores a 250 L/s.

Dimensionamento das grades


Piveli ([20--]) salienta que o escoamento entre as grades devem ter uma
velocidade de 0,6 a 1m/s, tomando-se por referência a velocidade máxima
horária de esgotos sanitários. O autor recomenda, também, que se considere
no máximo 50% da área da grade a obstruída, devendo-se adotar como perdas
de cargas mínimas para grades de limpeza manual o valor de 0,15m e, para
grades de limpeza mecanizada, o valor de 0,1m.
Para o cálculo da perda de carga nas grades, o autor recomenda utilizar
a fórmula de Metcalf & Eddy:

∆H = 1,43 . (v2 – vo2)/2g

Onde:

„„ v é a velocidade de passagem pela grade;


„„ vo é a velocidade de aproximação.

A relação entre a área da seção transversal do canal e a área útil da grade


é dada por (PIVELI, [20--]):

S = Au . (a + t)/a
Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto 11

Onde:

„„ S — área da secção transversal do canal, até o nível de água;


„„ Au — área útil da grade;
„„ a — espaçamento entre as barras;
„„ t — espessura das barras.

Caixas de areia ou desarenador


As caixas de areia devem ser previstas para sedimentar com velocidade
média de 2cm/s as partículas de areia com diâmetros de 0,2 a 0,4mm e massa
específica ρ = 2,54ton/m3, que podem danificar equipamentos eletromecânicos
(PIVELI, [20--]).
A ABNT NBR 12209 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2011)
recomenda que, nos sistemas de remoção manual, sejam projetados dois
canais desarenadores paralelos nas caixas de areia para que, enquanto um
é limpo, o outro permaneça em uso.
Na remoção mecanizada, são empregadas sistemas de air lift (por injeção
de ar comprimido), bandejas de aço removidas por talha e carretilha, raspa-
dores, parafusos sem fim, bombas, etc. (PIVELI, [20--]).
A areia retida deve ser destinada a aterro ou pode ser lavada para outras
finalidades. Como previsão de volumes coletados de areia, pode-se considerar
30 litros por 1000m3 de esgotos, para redes de esgotos novas e não imersas
no lençol freático, e 40L/1000m3 para situações desfavoráveis (PIVELI, [20--]).
Segundo Pivelli ([20--]), as caixas de areia são projetadas para uma velo-
cidade média dos esgotos de 0,3m/s. Essa velocidade é mantida aproxima-
damente constante a partir da instalação de uma calha Parshall a jusante,
apesar das variações de vazão. Valores acima, em especial superiores a 0,4m/s,
provocam arraste de areia e redução da quantidade retida. Já velocidades
baixas, notadamente as inferiores a 0,15m/s, provocam depósito de matéria
orgânica na caixa e exalação de maus odores devido a decomposição.

Dimensionamento
O comprimento (L) da caixa de areia é determinado considerando-se a ve-
locidade dos esgotos, que é de aproximadamente 0,3m/s, e a velocidade de
sedimentação da areia, que é em torno de 2cm/s. Para que a partícula atinja
a câmara de estocagem de areia, quando atravessa sobre a caixa na linha
de corrente mais alta, é preciso que percorra a altura H na vertical enquanto
12 Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto

percorre o comprimento L na horizontal, conforme mostrado na Figura 2, a


seguir (PIVELI, [20--]).

Figura 2. Desenho esquemático para dimensionamento de caixas de areia.


Fonte: Piveli ([20--], documento on-line).

É recomendável empregar um coeficiente de segurança de 1,5 devido ao


efeito de turbulência. Então, considera-se (PIVELI, [20--]):

L = 22,5.H   ou   L = 25 x H

A ABNT NBR 12209 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2011)


recomenda que com base na vazão máxima, a taxa de escoamento superficial
resulte na faixa de (600 a 1300) m3/m2.d.
Para Qmín e Qmáx, mantendo-se a mesma velocidade na caixa de areia tipo
canal, com velocidade constante controlada por calha Parshall (Figura 3),
tem-se (PIVELI, [20--]):

A fórmula da calha Parshall é:


Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto 13

Q = K.HN

Onde:

„„ Q = vazão (m3/s);
„„ H = altura de água (m).

Figura 3. Controle da velocidade a partir de calha Parshall.


Fonte: Piveli ([20--], documento on-line).

No Quadro 1, a seguir, confira os valores de K e N.

Quadro 1. Valores de K e N

Largura
Nominal N K Capacidade (L/s)

Mínimo Máximo

3" 1,547 0,176 0,85 53,8

6" 1,580 0,381 1,52 110,4

9" 1,530 0,535 2,55 251,9

1' 1,522 0,690 3,11 455,6

1/2' 1,538 1,054 4,25 696,2

2' 1,550 1,426 11,89 936,7

Fonte: Adaptado de Piveli ([20--]).


14 Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto

Decantação
No tratamento de esgotos, o que ocorre como concentração de fase sólida é
removido na forma de lodo. Primeiramente, são removidos sólidos grosseiros
no sistema de gradeamento e sólidos facilmente sedimentáveis nas caixas
de areia.
Piveli ([20--]) destaca que, nos decantadores primários, ocorre remoção
de cerca de 40 a 60% de sólidos em suspensão dos esgotos sanitários, o que
corresponde a cerca de 30 a 40% da demanda bioquímica de oxigênio (DBO).
Já nos decantadores secundários, ocorre a remoção do produto da flocu-
lação de matéria orgânica, que, posteriormente, sedimenta. Isso se deve à
mineralização dos compostos orgânicos que ocorre no tratamento biológico.
Em processo de lodos ativados, no que se refere a esgotos sanitários, é
típico um coeficiente de produção celular da ordem de 0,6, salienta Piveli
([20--]). O autor informa que, de cada 100kg de DBO removidos no processo
biológico, há produção de 60kg de sólidos suspensos voláteis (SSV), o que
significa que apenas 40% da matéria orgânica dos esgotos foi de fato mine-
ralizada e a maior parte, apenas convertida em flocos.

Reator anaeróbio
Os reatores anaeróbios reproduzem de forma compacta a digestão anae-
róbia que ocorre naturalmente nos ecossistemas naturais. São constituídos
por tanques simples, sem recirculação de lodo, com ou sem agitação, e seu
tempo de retenção pode ser de 15 dias a 60 dias. São chamados de reatores
convencionais, de baixa taxa (COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO
PAULO, 2020).
Já o tanque com um decantador com defletor de gases na sua parte su-
perior — que fornece a separação dos sólidos, líquidos e gases — é chamado
de reator UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket) — em português, manta
de lodo anaeróbico de fluxo ascendente).
O lodo gerado apresenta ótimas características de sedimentação e alta
atividade metanogênica graças às condições hidráulicas impostas por meio
de parâmetros, favorecendo a retenção da biomassa no seu interior. Tem
como vantagem o fato de não requerer materiais sofisticados, material de
enchimento e tampouco equipamentos eletromecânicos (COMPANHIA AM-
BIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2020).
Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto 15

Filtro biológico aeróbio


O filtro biológico aeróbio (ou aerado) complementa o tratamento de efluentes
realizado pelos reatores UASB (reatores anaeróbios de fluxo ascendente e
manto de lodo) e representa uma alternativa possivelmente viável para o
atendimento a comunidades de diferentes portes (PIVELI, [20--]).
O filtro biológico é constituído basicamente por três camadas (PIVELI,
[20--]):

„„ um fundo falso, na sua parte inferior, constituído de lajotas perfuradas,


que garante a drenagem do esgoto tratado;
„„ material de preenchimento constituído de material inerte, geralmente
brita nº 4 ou material plástico, que pode ser na forma de blocos estru-
turados ou de anéis lançados aleatoriamente nos filtros;
„„ na parte superior, sobre a superfície do leito, cresce a biomassa res-
ponsável pela depuração do esgoto.

Piveli ([20--]) explica que o esgoto, então, é recalcado para a superfí-


cie dos filtros, que possui o distribuidor rotativo, cuja função é garantir o
umedecimento uniforme de toda a área do filtro. A matéria orgânica dos
esgotos penetra na película biológica (ou biofilme) que se forma em torno
do enchimento, conjuntamente ao ar que circula em contracorrente a partir
de janelas para a ventilação posicionadas na parte inferior do filtro.
O autor destaca, ainda, a necessidade de utilização em conjunto com os
decantadores secundários para a separação de sólidos que se desprendem do
biofilme e aponta que os filtros biológicos aerados passaram a constituir-se
em opção importante como substituição aos decantadores primários, após
o surgimento dos reatores UASB, porque podem receber o excesso de lodo
dos filtros biológicos para complementar a mineralização, dispensando os
digestores de lodo.
Cabe destacar, além disso, a diferenciação entre o tempo de retenção
hidráulica, que é de apenas algumas horas, e o tempo de residência celular,
que ocorre em dias (PIVELI, [20--])
Os esgotos tratados pelos filtros biológicos aerados são bem clarificados
e a eficiência na desinfecção final é garantida por meio de cloração ou de
aplicação de radiação ultravioleta, dentre outras técnicas (PIVELI, [20--]).
16 Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto

Padrões de lançamento de efluente


A Resolução do Conama nº 430 (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, 2011),
em seu artigo 16, determina que os efluentes de qualquer fonte poluidora
somente poderão ser lançados diretamente no corpo receptor depois de
atenderem condições e padrões previstos, como:

„„ pH entre 5 a 9;
„„ temperatura: inferior a 40°C — a variação de temperatura do corpo
receptor não deverá exceder a 3°C no limite da zona de mistura;
„„ materiais sedimentáveis: até 1mL/L em teste de 1 hora em cone Inmhoff
— para o lançamento em lagos e lagoas, cuja velocidade de circulação
seja praticamente nula, os materiais sedimentáveis deverão estar
virtualmente ausentes;
„„ regime de lançamento com vazão máxima de até 1,5 vez a vazão média
do período de atividade diária do agente poluidor, exceto nos casos
permitidos pela autoridade competente;
„„ óleos e graxas:
„„ óleos minerais: até 20mg/L;
„„ óleos vegetais e gorduras animais: até 50mg/L;
„„ ausência de materiais flutuantes;
„„ DBO 5 dias a 20°C — remoção mínima de 60% de DBO, limite que só
poderá ser reduzido no caso de existência de estudo de autodepuração
do corpo hídrico que comprove atender as metas do enquadramento
do corpo receptor.

A Resolução do Conama nº 430 (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE,


2011) ainda determina os padrões de lançamento de efluentes que você
confere no Quadro 2.
Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto 17

Quadro 2. Padrões de lançamento de efluentes

Parâmetros inorgânicos Valores máximos

Arsênio total 0,5mg/L As

Bário total 5mg/L Ba

Boro total (não se aplica para o 5mg/L B


lançamento em águas salinas)

Cádmio total 0,2mg/L Cd

Chumbo total 0,5mg/L Pb

Cianeto total 1mg/L CN

Cianeto livre (destilável por ácidos 0,2mg/L CN


fracos)

Cobre dissolvido 1mg/L Cu

Cromo hexavalente 0,1mg/L Cr+6

Cromo trivalente 1mg/L Cr+3

Estanho total 4mg/L Sn

Ferro dissolvido 15mg/L Fe

Fluoreto total 10mg/L F

Manganês dissolvido 1mg/L Mn

Mercúrio total 0,01mg/L Hg

Níquel total 2mg/L Ni

Nitrogênio amoniacal total 20mg/L N

Prata total 0,1mg/L Ag

Selênio total 0,3mg/L Se

Sulfeto 1mg/L S

Zinco total 5mg/L Zn

(Continua)
18 Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto

(Continuação)

Parâmetros orgânicos Valores máximos

Benzeno 1,2mg/L

Clorofórmio 1mg/L

Dicloroeteno (somatório de 1,1 + 1,2 1mg/L


cis + 1,2 trans)

Estireno 0,07mg/L

Etilbenzeno 0,84mg/L

Fenóis totais (substâncias que 0,5mg/L C6H5OH


reagem com 4-aminoantipirina)

Tetracloreto de carbono 1mg/L

Tricloroeteno 1mg/L

Tolueno 1,2mg/L

Xileno 1,6mg/L

Fonte: Adaptado de Conselho Nacional do Meio Ambiente (2011).

Essa Resolução, no seu artigo 21, também determina que, para o lança-
mento direto de efluentes oriundos de sistemas de tratamento de esgotos
sanitários, deverão ser obedecidas os seguintes padrões específicos e con-
dições (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, 2011):

„„ pH entre 5 e 9;
„„ temperatura: inferior a 40°C — a variação de temperatura do corpo
receptor não deverá exceder a 3°C no limite da zona de mistura;
„„ materiais sedimentáveis: até 1mL/L em teste de 1 hora em cone Inmhoff.
Para o lançamento em lagos e lagoas, cuja velocidade de circulação
seja praticamente nula, os materiais sedimentáveis deverão estar
virtualmente ausentes;
„„ DBO (5 dias, 20°C): máximo de 120mg/L, limite que só poderá ser ultra-
passado no caso de efluente de sistema de tratamento com eficiência
de remoção mínima de 60% de DBO ou mediante estudo de autode-
puração do corpo hídrico que comprove ter atendido as metas do
enquadramento do corpo receptor;
Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto 19

„„ substâncias solúveis em hexano (óleos e graxas) até 100mg/L;


„„ ausência de materiais flutuantes.

É importante destacar que os padrões apresentados são apenas parte da


abordagem da Resolução do Conama nº 430 (CONSELHO NACIONAL DO MEIO
AMBIENTE, 2011), que aborda, ainda, condições, parâmetros e diretrizes que
devem ser seguidos para a gestão do lançamento de efluentes em corpos
de água receptores.

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 9649: projeto de redes
coletoras de esgoto sanitário: procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 1986.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 12209: elaboração de pro-
jetos hidráulico-sanitários de estações de tratamento de esgotos sanitários. Rio de
Janeiro: ABNT, 2011.
COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Reatores. 2020. Disponível em:
https://cetesb.sp.gov.br/biogas/biogas/reatores/. Acesso em: 4 fev. 2021.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 430, de 13 de maio de 2011.
Dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa
e altera a Resolução nº 357, de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio
Ambiente-CONAMA. Brasília, DF: CONAMA, 2011. Disponível em: http://www2.mma.gov.
br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=646. Acesso em: 4 fev. 2021.
FERNANDES, R. O. Formulário para dimensionamento de rede coletora de esgoto. [202-?]
a. Material da disciplina Saneamento Básico, do Curso Superior de Tecnologia da
Construção Civil, da Universidade Regional do Cariri. Disponível em: http://wiki.urca.
br/dcc/lib/exe/fetch.php?media=formulario_dimensionamento_rede_esgoto.pdf.
Acesso em: 4 fev. 2021.
FERNANDES, R. O. Planilha de dimensionamento da rede de esgoto. [202-?]b. Material da
disciplina Saneamento Básico, do Curso Superior de Tecnologia da Construção Civil, da
Universidade Regional do Cariri. Disponível em: http://wiki.urca.br/dcc/lib/exe/fetch.
php?media=planilha_calculo_rede_esgoto.xlsx. Acesso em: 4 fev. 2021.
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Manual de saneamento. 3. ed. Brasília, DF: Ministério
da Saúde, [200-]. Disponível em: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/manuais/
ambiente/Manual%20de%20Saneamento.pdf. Acesso em: 4 fev. 2021.
PIVELI, R. P. Tratamento de esgotos sanitários. [20--]. Apostila da disciplina Tratamento
de águas residuárias e produção de bioenergia, da Universidade Federal de Alagoas.
Disponível em: https://ctec.ufal.br/professor/elca/APOSTILA%20-%20TRATAMENTO%20
DE%20ESGOTOS.pdf. Acesso em: 4 fev. 2021.
TOMAZ, P. Reúso de esgotos. In: TOMAZ, P. Água pague menos. São Paulo: CREA-SP,
2010. cap. 4. Disponível em: http://www.creasp.org.br/biblioteca/wp-content/uplo-
ads/2012/08/Capitulo-04-Reuso-de-esgotos.pdf. Acesso em: 4 fev. 2021.
20 Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto

Leituras recomendadas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 7229: 1993: versão corrigida:
1997: projeto construção e operação de sistemas de tanques sépticos. Rio de Janeiro:
ABNT, 1997.
INSTITUTO TRATA BRASIL. Manual do saneamento básico: entendendo o saneamento
básico ambiental no Brasil e sua importância socioeconômica. [S. l.]: Instituto Trata
Brasil, 2012. Disponível em: http://www.tratabrasil.org.br/datafiles/uploads/estudos/
pesquisa16/manual-imprensa.pdf. Acesso em: 4 fev. 2021.

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