10- Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto
10- Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto
10- Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto
AMBIENTAL
Projeto de
sistema de coleta
e tratamento
de esgoto
Márcia Elisa Jacondino Pretto
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
À medida que as comunidades e a concentração humana se tornam maiores, as
soluções individuais para remoção e destino do esgoto doméstico devem dar lugar
a soluções de caráter coletivo, denominadas sistema de esgotos.
Entre os tipos de esgotos, existem os domésticos, que incluem as águas con-
tendo matéria fecal e as águas servidas, resultantes de banho e de lavagem de
utensílios e roupas; os industriais, que compreendem os resíduos orgânicos, de
indústria de alimentos, matadouros, etc.; as águas residuárias agressivas, que
procedem de indústrias de metais, entre outras; as águas residuárias, que vêm
de indústrias de cerâmica, água de refrigeração, etc.; as águas pluviais, águas
procedentes das chuvas; e a água de infiltração, água do subsolo que se introduz
na rede (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, [200-]).
2 Projeto de sistema de coleta e tratamento de esgoto
Neste capítulo, você vai ver como dimensionar um sistema de coleta de esgoto
sanitário, assim como as noções básicas que permitem o dimensionamento de
um sistema de tratamento de efluentes domésticos e os padrões de lançamento
para efluentes tratados.
Tipos de sistemas
O sistema unitário consiste na coleta dos esgotos domésticos e dos despejos
industriais juntamente aos esgotos de águas pluviais em um único coletor.
Portanto, no dimensionamento do sistema unitário, deve-se conhecer as
precipitações máximas que ocorrem em um período de cinco a dez anos
(FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, [200-]).
Esse sistema não é vantajoso porque apresenta problemas de deposições
de resíduos nos tubos coletores nos períodos de estiagem. Além disso, pos-
sui alto custo de implantação em função de ser projetado com capacidade
máxima para atender a demanda de esgoto pluvial, o que também interfere
na operação, que é prejudicada pela brusca variação da vazão na época das
chuvas em relação ao período de estiagem, afetando a qualidade do efluente
(FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, [200-]).
Já o sistema separador absoluto, como o próprio nome diz, separa o es-
goto doméstico e o industrial do esgoto pluvial. Possui custo de implantação
inferior ao sistema unitário em virtude das seguintes razões (FUNDAÇÃO
NACIONAL DE SAÚDE, [200-], documento on-line):
as águas pluviais não oferecem o mesmo perigo que o esgoto doméstico, podendo
ser encaminhadas aos corpos receptores (rios, lagos, etc.) sem tratamento; este
será projetado apenas para o esgoto doméstico;
nem todas as ruas de uma cidade necessitam de rede de esgotamento pluvial. De
acordo com a declividade das ruas, a própria sarjeta se encarregará do escoamento,
reduzindo assim, a extensão da rede pluvial;
esgoto doméstico deve ter prioridade, por representar um problema de saúde
pública. O diâmetro dos coletores é mais reduzidos;
nem todo esgoto industrial pode ser encaminhado diretamente ao esgoto sanitário.
Dependendo de sua natureza e das exigências regulamentares, terá que passar
por tratamento prévio ou ser encaminhado à rede própria.
tanto dos telhados quanto das bocas de lobo, em que um dispositivo limita
a contribuição das chuvas de grande intensidade (FUNDAÇÃO NACIONAL DE
SAÚDE, [200-]).
sistema de gradeamento;
caixa de areia ou desarenador;
sedimentador primário;
estabilização aeróbica;
filtro biológico ou de percolação;
lodos ativados;
sedimentador secundário;
digestor de lodo;
secagem de lodo;
desinfecção final do efluente.
Em que:
Q j = Qm + Q t
Em que:
Em que:
Em que:
s = 104.R.Ip ≥ 1,0
Em que:
Vc = 6 x (R.g)0,5
Em que:
Dimensionamento de sistema de
tratamento de efluentes
O tratamento dos esgotos é uma combinação de três processos conforme
(NAÇÕES UNIDAS, 2007 apud TOMAZ, 2010): processos físicos, químicos e
biológicos. Nos processos físicos, as impurezas são removidas por peneira-
mento, sedimentação, filtração, flotação, absorção ou adsorção, ou ambas,
e centrifugação. Nos processos químicos, as impurezas são removidas por
meio de coagulação, absorção, óxido-redução, desinfecção e troca iônica. Já
nos processos biológicos, os poluentes são removidos por mecanismos como
tratamento aeróbico, tratamento anaeróbico e processo de fotossíntese,
como ocorre nas lagoas.
O tratamento dos esgotos é dividido em etapas: tratamento preliminar,
tratamento primário, tratamento secundário e tratamento terciário (TOMAZ,
2010).
O tratamento preliminar consiste basicamente em remoção de sólidos de
tamanho grande e partículas de detritos: gradeamento, remoção de areia,
caixa de retenção de óleo e gordura, peneiras. Já o tratamento primário inclui
remoção de sólidos em suspensão. Ocorre por decantação primária ou simples,
precipitação química com baixa eficiência, sedimentação, flotação por ar
dissolvido e coagulação (TOMAZ, 2010). O tratamento secundário é biológico e
remove os poluentes biodegradáveis, ou seja, a matéria orgânica dissolvida e
em suspensão. Os processos de tratamento secundário, conforme Nunes (1996
apud TOMAZ, 2010), são: processo de lodos ativados, lagoas de estabilização,
sistemas anaeróbicos com alta eficiência, lagoas aeradas, filtros biológicos,
precipitação química com alta eficiência. O tratamento terciário consiste
na remoção de poluentes específicos como nitrogênio, fósforo, cor e odor.
Ocorre por coagulação química e sedimentação, filtros de areia, adsorção em
carvão ativado, osmose reversa, eletrodiálise, troca iônica, filtros de areia,
tratamento com ozônio, remoção de organismos patogênicos e reator com
membranas (TOMAZ, 2010).
Neste capítulo, serão abordados os sistemas mais comumente empregados:
gradeamento, caixas de areia ou desarenador, filtro biológico aeróbio, reator
anaeróbio e decantação.
Gradeamento
As grades devem permitir o escoamento dos esgotos sem produzir grandes
perdas de carga. São constituídas por barras paralelas de ferro ou aço, po-
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Onde:
S = Au . (a + t)/a
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Onde:
Dimensionamento
O comprimento (L) da caixa de areia é determinado considerando-se a ve-
locidade dos esgotos, que é de aproximadamente 0,3m/s, e a velocidade de
sedimentação da areia, que é em torno de 2cm/s. Para que a partícula atinja
a câmara de estocagem de areia, quando atravessa sobre a caixa na linha
de corrente mais alta, é preciso que percorra a altura H na vertical enquanto
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L = 22,5.H ou L = 25 x H
Q = K.HN
Onde:
Q = vazão (m3/s);
H = altura de água (m).
Quadro 1. Valores de K e N
Largura
Nominal N K Capacidade (L/s)
Mínimo Máximo
Decantação
No tratamento de esgotos, o que ocorre como concentração de fase sólida é
removido na forma de lodo. Primeiramente, são removidos sólidos grosseiros
no sistema de gradeamento e sólidos facilmente sedimentáveis nas caixas
de areia.
Piveli ([20--]) destaca que, nos decantadores primários, ocorre remoção
de cerca de 40 a 60% de sólidos em suspensão dos esgotos sanitários, o que
corresponde a cerca de 30 a 40% da demanda bioquímica de oxigênio (DBO).
Já nos decantadores secundários, ocorre a remoção do produto da flocu-
lação de matéria orgânica, que, posteriormente, sedimenta. Isso se deve à
mineralização dos compostos orgânicos que ocorre no tratamento biológico.
Em processo de lodos ativados, no que se refere a esgotos sanitários, é
típico um coeficiente de produção celular da ordem de 0,6, salienta Piveli
([20--]). O autor informa que, de cada 100kg de DBO removidos no processo
biológico, há produção de 60kg de sólidos suspensos voláteis (SSV), o que
significa que apenas 40% da matéria orgânica dos esgotos foi de fato mine-
ralizada e a maior parte, apenas convertida em flocos.
Reator anaeróbio
Os reatores anaeróbios reproduzem de forma compacta a digestão anae-
róbia que ocorre naturalmente nos ecossistemas naturais. São constituídos
por tanques simples, sem recirculação de lodo, com ou sem agitação, e seu
tempo de retenção pode ser de 15 dias a 60 dias. São chamados de reatores
convencionais, de baixa taxa (COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO
PAULO, 2020).
Já o tanque com um decantador com defletor de gases na sua parte su-
perior — que fornece a separação dos sólidos, líquidos e gases — é chamado
de reator UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket) — em português, manta
de lodo anaeróbico de fluxo ascendente).
O lodo gerado apresenta ótimas características de sedimentação e alta
atividade metanogênica graças às condições hidráulicas impostas por meio
de parâmetros, favorecendo a retenção da biomassa no seu interior. Tem
como vantagem o fato de não requerer materiais sofisticados, material de
enchimento e tampouco equipamentos eletromecânicos (COMPANHIA AM-
BIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2020).
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pH entre 5 a 9;
temperatura: inferior a 40°C — a variação de temperatura do corpo
receptor não deverá exceder a 3°C no limite da zona de mistura;
materiais sedimentáveis: até 1mL/L em teste de 1 hora em cone Inmhoff
— para o lançamento em lagos e lagoas, cuja velocidade de circulação
seja praticamente nula, os materiais sedimentáveis deverão estar
virtualmente ausentes;
regime de lançamento com vazão máxima de até 1,5 vez a vazão média
do período de atividade diária do agente poluidor, exceto nos casos
permitidos pela autoridade competente;
óleos e graxas:
óleos minerais: até 20mg/L;
óleos vegetais e gorduras animais: até 50mg/L;
ausência de materiais flutuantes;
DBO 5 dias a 20°C — remoção mínima de 60% de DBO, limite que só
poderá ser reduzido no caso de existência de estudo de autodepuração
do corpo hídrico que comprove atender as metas do enquadramento
do corpo receptor.
Sulfeto 1mg/L S
(Continua)
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(Continuação)
Benzeno 1,2mg/L
Clorofórmio 1mg/L
Estireno 0,07mg/L
Etilbenzeno 0,84mg/L
Tricloroeteno 1mg/L
Tolueno 1,2mg/L
Xileno 1,6mg/L
Essa Resolução, no seu artigo 21, também determina que, para o lança-
mento direto de efluentes oriundos de sistemas de tratamento de esgotos
sanitários, deverão ser obedecidas os seguintes padrões específicos e con-
dições (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, 2011):
pH entre 5 e 9;
temperatura: inferior a 40°C — a variação de temperatura do corpo
receptor não deverá exceder a 3°C no limite da zona de mistura;
materiais sedimentáveis: até 1mL/L em teste de 1 hora em cone Inmhoff.
Para o lançamento em lagos e lagoas, cuja velocidade de circulação
seja praticamente nula, os materiais sedimentáveis deverão estar
virtualmente ausentes;
DBO (5 dias, 20°C): máximo de 120mg/L, limite que só poderá ser ultra-
passado no caso de efluente de sistema de tratamento com eficiência
de remoção mínima de 60% de DBO ou mediante estudo de autode-
puração do corpo hídrico que comprove ter atendido as metas do
enquadramento do corpo receptor;
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Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 9649: projeto de redes
coletoras de esgoto sanitário: procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 1986.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 12209: elaboração de pro-
jetos hidráulico-sanitários de estações de tratamento de esgotos sanitários. Rio de
Janeiro: ABNT, 2011.
COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Reatores. 2020. Disponível em:
https://cetesb.sp.gov.br/biogas/biogas/reatores/. Acesso em: 4 fev. 2021.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 430, de 13 de maio de 2011.
Dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa
e altera a Resolução nº 357, de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio
Ambiente-CONAMA. Brasília, DF: CONAMA, 2011. Disponível em: http://www2.mma.gov.
br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=646. Acesso em: 4 fev. 2021.
FERNANDES, R. O. Formulário para dimensionamento de rede coletora de esgoto. [202-?]
a. Material da disciplina Saneamento Básico, do Curso Superior de Tecnologia da
Construção Civil, da Universidade Regional do Cariri. Disponível em: http://wiki.urca.
br/dcc/lib/exe/fetch.php?media=formulario_dimensionamento_rede_esgoto.pdf.
Acesso em: 4 fev. 2021.
FERNANDES, R. O. Planilha de dimensionamento da rede de esgoto. [202-?]b. Material da
disciplina Saneamento Básico, do Curso Superior de Tecnologia da Construção Civil, da
Universidade Regional do Cariri. Disponível em: http://wiki.urca.br/dcc/lib/exe/fetch.
php?media=planilha_calculo_rede_esgoto.xlsx. Acesso em: 4 fev. 2021.
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Manual de saneamento. 3. ed. Brasília, DF: Ministério
da Saúde, [200-]. Disponível em: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/manuais/
ambiente/Manual%20de%20Saneamento.pdf. Acesso em: 4 fev. 2021.
PIVELI, R. P. Tratamento de esgotos sanitários. [20--]. Apostila da disciplina Tratamento
de águas residuárias e produção de bioenergia, da Universidade Federal de Alagoas.
Disponível em: https://ctec.ufal.br/professor/elca/APOSTILA%20-%20TRATAMENTO%20
DE%20ESGOTOS.pdf. Acesso em: 4 fev. 2021.
TOMAZ, P. Reúso de esgotos. In: TOMAZ, P. Água pague menos. São Paulo: CREA-SP,
2010. cap. 4. Disponível em: http://www.creasp.org.br/biblioteca/wp-content/uplo-
ads/2012/08/Capitulo-04-Reuso-de-esgotos.pdf. Acesso em: 4 fev. 2021.
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Leituras recomendadas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 7229: 1993: versão corrigida:
1997: projeto construção e operação de sistemas de tanques sépticos. Rio de Janeiro:
ABNT, 1997.
INSTITUTO TRATA BRASIL. Manual do saneamento básico: entendendo o saneamento
básico ambiental no Brasil e sua importância socioeconômica. [S. l.]: Instituto Trata
Brasil, 2012. Disponível em: http://www.tratabrasil.org.br/datafiles/uploads/estudos/
pesquisa16/manual-imprensa.pdf. Acesso em: 4 fev. 2021.