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Os Gêmeos Rejeitados Do Mafioso Duologia Amores Proibidos Livro

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Direitos Autorais © J.

S Cherry

Todos os direitos são reservados. É proibida a reprodução, distribuição, exibição,


transmissão ou qualquer outra forma de uso do conteúdo deste eBook, no todo
ou em parte, sem a prévia autorização por escrito do autor. A violação dos
direitos autorais (Lei n° 9.610/98) é crime estabelecido pela legislação brasileira.
Qualquer semelhança com nomes, idades, características, é mera coincidência.

Capa: Hesse Designer


Revisão: @revisa_litera
Diagramação: Kia Arantes (@diagramacaodasautoras)
SUMÁRIO

Direitos Autorais © J.S Cherry


Sumário
Sinopse
Notas da Autora
Dedicatória
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Epílogo
Agradecimentos
SINOPSE

AGE PAG + CHEFE × EMPREGADA + MOCINHA


VIRGEM + PLOT DE GRAVIDEZ + SECOND CHANCE +
GÊMEOS + MÁFIA

Luna Lombardi não era ninguém, não passava da


empregada boazinha do Capo da Camorra, um homem
proibido e noivo, por quem não deveria se apaixonar.
Alguém como ela, jamais seria cogitada para ser a esposa
de um homem como Alessandro Esposito, mas não só foi
escolhida por ele para ser a sua amante, como também lhe
entregou a sua virgindade e o seu coração. Porém, não
esperava engravidar na sua primeira noite juntos.
Um mal-entendido aconteceu e o homem por quem
ela era apaixonada, a rejeitou grávida, a deixando
destruída. Bastardos não são aceitos na máfia e a fuga para
proteger os seus filhos foi a única saída que encontrou,
mesmo isso significando que passaria por dificuldades e
perigos, mas Luna se surpreenderá ao ser caçada pelo
mafioso furioso, que a reivindicará de volta.
NOTAS DA AUTORA

Sejam bem vindos a mais um dos meus


“devaneios”. Esse livro é um drama, mas também um
romance clichezinho para deixar o seu coração quentinho e
também passar um pouco de raiva, ou esse não seria um
livro meu. É narrado em primeira pessoa pela mocinha que
vocês vão descobrir ser mais forte do que imaginam, então
deem uma chance para ela.
Desde já agradeço por chegar até aqui e ler os meus
livros. Espero que goste desse, se não rolar com você,
experimente ler outros livros meus, tenho certeza de que
algum irá te agradar.
Boa leitura e diga não a pirataria. Se estiver lendo
esse livro em algum PDF saiba que está contribuindo com
um crime e menosprezando o trabalho de uma autora
independente, que tem essa fonte de renda para sobreviver.
Avisos: O livro é recomendado para maiores de 18,
contém cenas de violência, tortura, assassinato, sequestro,
llinguagem imprópria, nudez e sexo.
DEDICATÓRIA

Para as mulheres que vivem entre as páginas de um


romance eloquente e devastador, espero que sejam felizes
contemplando as páginas deste livro.
EPÍGRAFE

– O que aconteceu quando ele subiu na torre e a salvou?


– Ela o salvou também!

Uma Linda Mulher (filme)


PRÓLOGO

3 anos antes
— Está perdida, menina?
Assustei-me quando um homem se aproximou
de mim de repente, e engoli em seco, ao notar que
se tratava de Alessandro Esposito, o dono da casa e
meu patrão, que não deveria gostar de me ver
vagando pelo seu jardim.
— Não senhor, eu queria ver as tulipas —
Abaixei o olhar para não ser inconveniente, com
medo de levar uma bronca por estar aqui.
Não era adequado falar com ele, a não ser
para cumprir uma das suas ordens. Os empregados
não costumavam olhar em seus olhos, porque diziam
que ele era assustador. Eu não achava isso, porque
gostava de observá-lo de longe, principalmente os
seus olhos azuis, que eram bonitos e inexpressivos.
Eram uma incógnita interessante, porque pareciam
esconder muitos mistérios.
— Gosta delas? — Ele continuou a perguntar,
eu consegui sentir o poder do seu olhar em mim.
Alessandro emanava autoridade e respeito.
— Muito — sussurrei.
— Quais são as suas preferidas?
Ele estava mantendo uma conversa comigo,
então significava que estava interessado no que eu
pensava e isso me deixava feliz.
— As azuis — sorri levantando o rosto, mas o
meu sorriso se foi, ao ver o machucado em volta do
seu olho direito e não pude deixar isso passar
despercebido — Está ferido.
— Foi apenas uma briga de irmãos. O
merdinha está crescendo e ficando rebelde — Ele riu
sem humor, tirando uma carteira de cigarro do bolso,
como se aquilo não fosse nada demais.
Observei ele morder a ponta de um cigarro e
acendê-lo com calma, começando a fumar, enquanto
observava o jardim colorido à sua frente.
— Queria dizer que entendo, mas não tenho
nenhum irmão — comentei, não querendo deixar o
assunto morrer, porque algo me dizia que uma
conversa entre nós não voltaria a acontecer.
— Sorte grande a sua.
— Nem tanto, eu queria ter uma família bem
grande, mas só me restou a minha avó — respondi
desanimada.
— Se ela for uma boa avó, isso já é o
suficiente.
— Ela é sim.
— Vejo como ela trata você e a esconde de
todos. Ela se preocupa. Está se escondendo dela
agora?
— Na verdade, eu queria uma flor e ela
ordenou que eu ficasse longe do jardim da sua mãe
— confessei baixinho, esperando ele brigar comigo.
A mãe de Alessandro estava morta e hoje, ele
cuida do jardim que era dela com muito zelo, para
guardar as suas memórias e mantê-las vivas, então
poucas pessoas estão autorizadas a vir aqui.
— Por que quer a flor? — Perguntou,
interessado.
— Hoje é meu aniversário de dezoito anos e
eu só queria que fosse especial, porque sempre
observo essas flores da minha janela.
Ele assentiu e ficamos em silêncio, até ele
terminar o seu cigarro. Eu observei as suas diversas
tatuagens que cobriam as suas mãos e pescoço,
imaginando como seriam por baixo da camisa,
mesmo que tais pensamentos fossem inadequados.
Então, Alessandro começou a caminhar para
dentro do jardim e eu observei o seu corpo grande se
perder entre as flores. Ele era o único ponto preto em
meio a tantas cores e isso era um engraçado.
E quando ele voltou, arregalei os olhos ao
encontrar a tulipa azul na sua mão. O homem parou
em frente a mim, me olhando de cima, com os seus
olhos azuis, iguais a flor que me estendia.
O meu coração errou a primeira batida por ele,
naquele momento eu sabia que o seu gesto ficaria
impregnado em mim e que não seria fácil esquecer o
que ele estava fazendo por mim hoje.
— Feliz aniversário, Lua — a sua voz baixa era
encantadora e eu estava presa, apenas pelo fato de
ele saber o significado do meu nome.
Eu arfei e as minhas mãos tremiam quando
peguei a flor.
— Obrigada, senhor — sussurrei, quase sem
voz.
Ele inspirou fundo, dando um passo para trás,
parecendo estar incomodado com algo.
— Vá para a mansão e não volte aqui
novamente — ordenou, mas não parecia irritado.
Apenas abri um sorriso e assenti lentamente,
enquanto corria para longe, apertando a flor contra o
peito, como se fosse o meu bem mais precioso.
CAPÍTULO 1

Eu gostava de procurar problemas, era o que a


minha avó sempre me dizia. Mas a verdade, era que eu não
conseguia controlar a intensidade das minhas emoções, o
que me tornava corajosa e impulsiva para fazer as coisas,
me causando arrependimentos depois.
Como agora, no momento exato em que eu deveria
estar na cama, mas estou espiando pela janela do meu
quarto, desde que ouvi o barulho de vidro quebrando do
lado de fora da casa, em direção a piscina.
Não deveria sair do quarto, os seguranças
resolveriam qualquer situação, mas eu logo soube do que se
tratava aquele problema, desde o momento em que vi
Alessandro chegar transtornado em casa, através da janela
do meu quarto .
Alessandro estava irado e quando quebrava as
coisas assim, os empregados inteligentes não se
intrometiam. Mas eu nunca disse que era inteligente, na
verdade era uma grande tola, que mal conseguia controlar o
meu coração e a obsessão que nutria pelo meu patrão, que
era dez anos mais velho.
Sei que era errado desejar um homem que eu não
poderia ter, mas de forma alguma me envergonho dos meus
sentimentos puros e sinceros, mesmo que não pudesse
contá-los a ninguém, muito menos para a minha avó que
me mataria se soubesse.
Eu só queria amá-lo e não havia maldade nisso.
Respirei fundo algumas vezes, tentando voltar para
a cama, mas vi o momento em que Alessandro jogou a
espreguiçadeira contra a parede, soltando xingamentos
altos.
Ele não estava bem e alguém precisava ajudá-lo,
mesmo que fosse apenas a empregada da casa.
Saí do quarto apressada e segui o caminho pelos
corredores vazios da mansão, o meu peito estava apertado
em preocupação, porque não era a primeira vez que essa
cena acontecia. Alessandro sempre descontava as suas
frustrações nos objetos ou nos seus próprios homens
quando as coisas fugiam do seu controle.
Mas eu preferia vê-lo quebrando coisas, do que
matando alguém.
Usei a porta dos fundos da cozinha para alcançar a
área da piscina e encontrá-lo sozinho, sentado na beirada,
segurando uma garrafa, que deveria ser uísque. Outra
garrafa estava quebrada a alguns metros a frente, junto
com as pernas da espreguiçadeira e eu me pergunto, o que
aconteceu para ele fazer tamanha bagunça?
O seu paletó estava jogado ao lado, junto com a sua
camisa, deixando os seus braços cheios de músculos,
cicatrizes e tatuagens à mostra. Tatuagens que eu gostava
de admirar quando ele não estava olhando.
— Senhor? Você está bem? — Aproximei-me a
passos curtos e cautelosos.
Ele poderia considerar uma afronta e me expulsar
daqui, mas eu só sairia aliviada, quando notasse que ele
estava bem, o que não parecia ser o caso.
Ele estava bebendo, poderia cair na piscina e se
afogar, não havia nenhum segurança por perto para ajudá-
lo, caso precisasse.
Alessandro estalou o pescoço e me olhou por cima
do ombro. Os seus olhos azuis escuros transmitiam
profunda tristeza e raiva. Ele estava infeliz e saber disso,
partiu o meu coração tolo e ingênuo.
— Pareço bem pra você? — A pergunta soou seca e
ele deu mais um gole na sua bebida.
Mordi os lábios, dando mais um passo involuntário
na sua direção. O vento gelado me fez cruzar os braços
contra o peito e me arrependi de não ter colocado ao menos
um casaco sobre a camisola branca.
— O senhor está triste — afirmei, aguardando um
momento em silêncio, esperando ele dizer que nada ali era
da minha conta.
— Irei me casar amanhã — sua voz era rouca, baixa
e profunda.
Eu sabia sobre o casamento e estava tentando fazer
o meu coração entender que eu não era ninguém, que
Alessandro nunca olharia para mim de outra forma.
— Não deveria ser um dia feliz? — Perguntei,
tentando encorajá-lo.
— É a porra de um casamento arranjado! Quem
diabos é feliz casando assim?! — A sua voz soou irônica e
frustrada.
— Sinto muito — falei a verdade.
A ideia de assisti-lo se casando era assustadora. Há
anos, eu trabalhava com a minha avó nessa mansão e
admirava Alessandro de longe. Apesar de toda a crueldade
do mundo da máfia, ele era um homem bom e eu era
completamente apaixonada por ele, desde o momento em
que havia me dado uma flor no meu aniversário de dezoito
anos.
Foi o único presente que recebi na vida, o único
gesto de bondade que alguém já fez por mim, por isso, eu
nunca o esqueceria.
— Quantos anos você tem, menina? — Ele
perguntou um tempo depois e eu fiquei incomodada por ele
me chamar de menina, porque já era uma mulher há muito
tempo.
— Vinte e um, senhor.
— Me impressiona, que nenhum marmanjo a tenha
pedido em casamento ainda — soltou uma risadinha baixa,
passando a mão pelos cabelos curtos.
— Não entendi o que quis dizer.
— Volte a dormir e não ande por aí com esse pedaço
de pano, que mal cobre a sua bunda — A sua voz era uma
repressão, enquanto olhava para a minha camisola.
Puxei para baixo a barra da minha camisola, que
batia no meio das minhas coxas, e olhei em volta para ter a
certeza de que realmente não havia mais ninguém aqui.
— Me desculpe, eu estava indo dormir e ouvi o
barulho, fiquei preocupada.
Alessandro respirou fundo e se levantou meio
cambaleante, enquanto os seus olhos percorreram todo
meu corpo, em uma mistura de admiração e repreensão.
— Pare de se desculpar, que merda! E não precisa
se preocupar comigo, eu sei me cuidar.
Balancei a cabeça, não acreditando naquela ideia de
que ele realmente sabia se cuidar.
— Você não deveria ficar tão perto da piscina — me
aproximei e o homem arqueou uma sobrancelha,
debochando de mim.
Ele olhou para os meus olhos e depois para a
piscina, enquanto abria os braços e brincava com a própria
sorte, zombando de mim.
— Senhor… — mal terminei de falar, ele jogou o seu
corpo para trás, caindo na água e levando a garrafa de
uísque junto na queda.
Soltei um grito mudo, correndo em sua direção e
não pensei muito quando pulei atrás dele, porque aquela
piscina era extremamente funda. Pessoas embriagadas
geralmente não sabem o que fazem, e Alessandro não
estava pensando direito.
Gemi quando a água gelada entrou em contato com
a minha pele. Alessandro afundou e eu me desesperei, ao
tentar encontrá-lo.
— Isso não é engraçado.
Chamei o seu nome, mas ele não me respondeu.
— Alessandro, por favor — supliquei, quase sem ar.
Estava me preparando para pedir ajuda, quando o
seu corpo grande surgiu na minha frente, me assustando.
Nadei para trás, observando incrédula o sorriso cruel
estampado em seu rosto bonito. Ele riu, como uma criança
se divertindo com o seu brinquedo preferido.
Por um momento, eu esqueci o que ele fez comigo e
fiquei abobalhada, observando o seu sorriso lindo. Eu não o
via sorrindo por aí, pois ele sempre estava sério e de mau-
humor.
— Eu sei nadar, Lua — a sua voz debochada, soou
um tanto zombeteira e sensual.
Alessandro me encarava, como se eu fosse a coisa
mais engraçada ou irritante que ele já tinha visto,
parecendo pensar se valia a pena perder o seu tempo
comigo.
— Eu me apavorei, me descu… — mordi os lábios
nervosa e envergonhada pela minha atitude impensada.
Minha fala foi cortada com brusquidão quando ele
avançou sobre mim e prendi o fôlego no instante em que as
suas mãos molhadas agarraram o meu rosto e pescoço.
— Você cresceu, se tornou uma bela mulher —
deduziu, percorrendo o olhar pelo meu rosto, pescoço e
seios.
— Se isso for um elogio, eu agradeço.
— Por que você se preocupa tanto comigo? O que
quer de mim, menina? — Exigiu saber, os olhos brilhando
com algo que eu não sabia explicar o que era.
Quis dizer que eu queria tudo, mas sabia me colocar
no meu devido lugar. Sou apenas uma empregada, que não
tinha nada a lhe oferecer.
— Nada — Suspirei, sustentando o seu olhar
profundo e intenso.
O meu coração batia forte com aquela aproximação
e eu, tentava controlar a minha respiração ofegante.
— Você não me engana e não deveria estar aqui,
uma garota como você não deveria ficar sozinha comigo.
— Uma garota como eu? — Perguntei confusa,
tentando encontrar o problema.
— Ingênua, boa demais — ele riu ao terminar a sua
constatação.
— Quero estar aqui e não sou ingênua — respondi,
com a maior certeza que eu tinha naquele momento.
— Eu vou arruiná-la, se não sair da porra da minha
frente agora — o seu sussurro era baixo e frio, o que me
causou calafrios por todo o corpo.
Tudo o que eu queria naquele momento, era que ele
cumprisse a sua promessa.
— Não se eu quiser isso tanto quanto você.
— Não sabe o que está dizendo.
— Estou certa do que digo — sussurrei, tomando
coragem para encurtar a nossa distância, mas Alessandro
me impediu de alcançar os seus lábios.
Ele me virou com brusquidão e me empurrou contra
a parede da piscina, esmagando os meus peitos contra a
cerâmica, enquanto o seu corpo grande cobria o meu, por
trás.
Senti a sua respiração ofegante no meu pescoço e o
seu nariz deslizou pela minha pele, inspirando o meu
perfume.
O meu coração batia forte contra o peito e o meu
corpo respondia aos estímulos dos seus toques.
— É virgem? — A sua mão apertou o meu quadril,
com força.
— Não, senhor — Gemi, embriagada pelos seus
toques, desejando que ele fizesse de novo.
— Se me chamar de senhor de novo, eu não
respondo por mim…
— senhor… — Suspirei e involuntariamente, movi a
bunda de encontro ao seu quadril.
Senti a sua dureza me pressionar com força e queria
muito mais.
— Você é uma putinha e quer que a foda, não é?
Quis gritar que sim, ao mesmo tempo em que queria
dizer que o desejava muito mais, desejava algo proibido e
de difícil acesso: o seu coração.
Alessandro riria de mim e me chamaria de tola se
pudesse ler os meus pensamentos conturbados e inocentes.
Ele só desejava o meu corpo, enquanto eu queria o seu
coração, mas estava contente pela migalha que ele
desejava me dar.
— Sim — sussurrei, sentindo o meu corpo
estremecer contra o seu.
O homem mordeu o lóbulo da minha orelha e eu
senti o calor se apossar do meu corpo, quando sussurrou no
meu ouvido:
— Vou me casar amanhã e você será a minha
despedida hoje à noite, garota.
Eu seria a sua despedida e o que ele quisesse que
eu fosse, apenas por uma noite.
CAPÍTULO 2

Alessandro me ajudou a sair da água e me entregou


um dos roupões que estava na espreguiçadeira. Eu me
encontrava confusa e analisava cada um dos seus passos
firmes, principalmente quando ele segurou a minha cintura
e me guiou para dentro da casa.
Pensei que iríamos fazer isso na piscina, o meu
coração bombeava forte em ansiedade e nervosismo,
porque ainda não era capaz de acreditar que Alessandro
queria passar uma noite comigo.
Passei anos sonhando com esse homem e agora,
finalmente, ele tinha me enxergado, não como uma menina,
como costumava me chamar, mas sim, como uma mulher,
que era apaixonada por ele.
Caminhamos em silêncio pela casa e o meu coração
errou uma batida quando chegamos na porta do quarto, que
eu conhecia muito bem. Era um dos quartos de hóspedes.
Ele nunca usava o seu quarto pessoal para isso, porque as
mulheres chegavam e iam embora na mesma noite.
Sim, eu vigiava todas as mulheres que ele trazia
para casa, com o objetivo de dizer a mim mesma que eu
não seria uma delas. E agora, aqui estava eu, prestes a ser
uma das mulheres que sempre invejei.
Como a vida era irônica, não era?
Quando entramos no quarto, o meu olhar estava em
todo o canto, não acreditando que estava realmente aqui
dentro, sem ser para limpá-lo.
— Se seque e tire as roupas, quero você nua, na
cama — ordenou, apontando para a cama redonda coberta
por lençóis pretos, no centro do quarto.
Fiz o que ele pediu devagar, sentindo as minhas
mãos tremerem em ansiedade, porque toda a atenção dele
estava em mim, calculando cada movimento meu, como se
eu fosse a sua presa e, de certo modo, eu realmente era.
Alessandro se sentou em uma poltrona de frente à
cama e continuou a me observar, enquanto acendia um
cigarro. O seu corpo estava molhado, juntamente com a sua
calça, mas ele não parecia se importar com isso no
momento.
Quando terminei de me secar, tirei a camisola
molhada que estava grudada no meu corpo, percebendo
que foi uma atitude impensada ter pulado naquela piscina,
mas quando se tratava daquele homem, eu nunca pensava
direito, apenas seguia os meus instintos, por isso, estava
aqui agora.
— Abra as pernas e se toque para mim —
Alessandro deu outra ordem, me deixando inquieta — Se
toque, como faz quando pensa em mim.
— Eu…
— Não precisa fingir ser inocente agora. Já vi os seus
olhos em mim nesta casa, garota. Eu conheço todos os
meus funcionários e as suas cobiças.
Por um momento, me senti envergonhada, mas
surpresa por ele ter prestado atenção em mim, pois
pensava que era invisível.
Então, ele estava de olho em mim o tempo todo.
— Os seus olhos parecem dois abismos devoradores
de almas. Eu gosto deles, gosto quando me olha com
inocência, disfarçando a sua cobiça e os seus desejos — sua
voz rouca era profunda e sincera.
Quanto mais falava sobre mim, mais encantada eu
ficava.
Deitei-me na cama, sentindo os meus cabelos
molhados, esparramando-se sobre os travesseiros, em
seguida, abri as pernas como ele me pediu.
Como Alessandro havia dito, eu já havia me tocado
pensando nele algumas vezes e agora, fiz exatamente como
me lembrava, me sentindo adorada, enquanto ele me
assistia, porque Alessandro tinha razão, eu não era
inocente.
Fechei os olhos, inclinando os meus quadris na
medida em que os meus dedos iam mais fundo. Subi uma
mão ao meu seio pequeno, o massageando também,
puxando e beliscando o bico com os dedos.
Continuei os movimentos circulares e leves, do jeito
que eu gostava, sentindo o meu desejo se intensificar por
saber que o homem que eu queria estava me admirando.
Abri os olhos encarando Alessandro e ele não estava
mais na poltrona, mas sim, em pé, me observando, vidrado.
O cigarro, esquecido em seus dedos, caiu no chão e eu
soltei um gemido sôfrego, implorando por ele.
Eu queria tocar seu corpo e senti-lo inteiro dentro de
mim, até tirar toda a obsessão que sentia por ele.
— Você é a coisa mais linda que eu já vi na vida —
disse impressionado, avançando para cima do meu corpo.
Alessandro abriu as minhas pernas, enfiando o rosto
entre elas, então, me beijou com afinco, arrancando um
gemido surpreso da minha boca, por eu nunca ter sentido
prazer igual.
A sua língua deslizou por toda minha intimidade, me
lambuzando inteira e eu apenas revirava os olhos, gemendo
o seu nome, enquanto puxava os seus fios de cabelos
curtos.
A sua boca me devorava de maneira exigente, como
se eu fosse sua e eu queria implorar para ele fazer isso
todos os dias, porque era incrível e o meu corpo já estava
relaxado.
— O seu gosto é incrível, garota. Difícil de esquecer
— A sua constatação fascinada, me fez soltar um grunhido
mais alto.
Eu não queria ser esquecida, desejava apenas que
ele me desejasse e amasse pelo tempo que fosse permitido.
Alessandro se afastou de mim de repente e puxou
as suas calças, se livrando delas, me deixando admirar o
seu corpo e as tatuagens que eu sempre desejei tocar. Ele
caminhou pelo quarto, abrindo algumas gavetas e tirou
alguns preservativos de lá, me fazendo ter a certeza de
como terminaria a nossa noite.
— Eu preciso apenas estar dentro de você, agora
mesmo.
Observei ele tirar a cueca preta e logo, o seu corpo
estava sobre o meu, apoiando os braços ao lado da minha
cabeça, enquanto os seus olhos me admiravam. Passei a
mão pelo seu rosto, tão bonito, desejando sentir a sua boca
na minha e eu deveria estar com os olhos tão pidões, que
Alessandro soltou uma risada baixa, aproximando a sua
boca da minha.
Nós nos beijamos, eu senti o verdadeiro prazer e a
certeza de estar com a pessoa certa.
— Eu preciso de você, Alessandro — Ele suspirou,
mordendo os meus lábios ao me ver implorando por ele.
— Repita — Ele ordenou, sugando os meus lábios
com mais força.
— Eu preciso de você.
Logo em seguida, me arrancou um grunhido de dor,
quando empurrou para dentro de mim, me fazendo sentir
tudo o que desejava há muito tempo.
Eu queria mais, então o abracei com as pernas,
arqueando os quadris, o sentindo todo dentro de mim, me
rasgando inteira e tocando em partes que ninguém jamais
tocou.
A sua boca deixou a minha, percorrendo o meu
pescoço e seio, Alessandro foi carinhoso, mesmo que
tivesse um tanto de urgência nos seus gestos.
Arranhei as suas costas com força, o sentindo
prender o seu braço abaixo da minha cintura, me elevando
para ele, enquanto os seus movimentos se intensificaram.
Alessandro gemeu o meu nome e eu repeti o seu, o
glorificando, enquanto puxava a sua boca para me beijar
mais uma vez, porque estava apaixonada por ela.
O seu corpo se moveu contra o meu por mais algum
tempo, até eu sentir o suor escorrendo pela minha testa e a
sua mão apertou a minha bunda com força.
Naquele momento, a dor tinha passado e eu sentia
um prazer intenso que me fazia querer gritar.
Principalmente, quando Alessandro tocou no meio das
minhas pernas, enquanto a sua boca devorava o meu seio,
eu não consegui me controlar e o meu gemido soou mais
alto, quando senti o orgasmo me alcançando.
Talvez, as minhas unhas tenham furado a sua pele
pela força com que o apertei, mas ele não pareceu se
importar, porque estava inerte em seu próprio prazer.
Eu estava ofegante e alucinada, quando ele
encostou a testa na minha, me deixando abraçá-lo e beijá-lo
mais uma vez. Era como se ele estivesse permitindo que eu
fizesse o que quisesse, apesar de eu ser desajeitada.
Sentia os seus olhos em mim o tempo todo,
surpresos e impressionados, com algo que eu sequer sabia
explicar, mas eu também estava surpresa e não conseguia
parar de sorrir, apesar do incômodo nas minhas pernas.
— Isso foi diferente — Ele comentou alguns
segundos depois, parecendo estar pensativo, enquanto
observava os meus lábios.
— Diferente ou ruim? — Perguntei, sentindo o meu
corpo ficar tenso.
Será que ele havia notado que eu era inexperiente?
É claro que sim. Isso estava óbvio e Alessandro não era
idiota.
— Não, mas eu nunca transei com uma mulher
deixando ela me beijar ou me tocar com carinho, como se…
— Estivesse apaixonada por você? — Completei a
frase e ele suspirou, assentindo pensativo.
Toquei o seu rosto, acariciando os seus olhos,
sentindo a sua mão pegar um cacho do meu cabelo e o tirar
da minha testa suada.
— Você é a mulher mais linda que eu já vi — a sua
confissão me deixou abobalhada.
— Isso é um tanto engraçado, porque você é o
homem mais lindo que eu já vi.
Ele abriu um pequeno sorriso divertido para mim,
voltando a me beijar.
— Isso é ótimo, porque eu ainda não terminei com
você.
Quis o peso do seu corpo em mim por mais tempo,
mas ele precisou se afastar, me deixando vazia por dentro e
querendo mais da sua companhia.
— O que é isso? — Alessandro parou o que estava
fazendo e agora, encarava um ponto fixo na cama.
Segui o seu olhar, enquanto me cobria, notando a
mancha vermelha nos lençóis. Era o meu sangue e a prova
da minha mentira.
Fiquei envergonhada, olhando para o seu rosto
transtornado em busca de respostas. Eu não iria conseguir
enganá-lo o tempo todo, em algum momento Alessandro
descobriria que eu era virgem.
— Você está machucada? — Exigiu saber, se
levantando da cama.
— Não — Neguei rapidamente, querendo que ele
voltasse.
— Então, que merda é essa?!
— Você acabou de tirar a minha virgindade —
respondi, notando o seu maxilar ficar tenso e não havia
mais aquele carinho em seu olhar.
Alessandro agora, só sentia raiva de mim. Eu havia
destruído a ideia de uma noite perfeita.
— Como diabos? Você me disse que não era virgem!
— sua voz soou impaciente, enquanto esfregava o rosto.
— Se eu dissesse a verdade, você não me traria até
aqui.
— Você é maluca? Como pode ter me entregado a
sua virgindade dessa maneira? — Alessandro me olhava
agora, como se eu tivesse cometido um grande crime.
Eu só não conseguia entender o porquê de todo
aquele desespero por causa de uma virgindade, que era
uma preocupação apenas minha.
— Não vê que eu sou apaixonada por você? Você é o
único a quem eu me entregaria — respondi abaixando a
cabeça.
Ouvi a sua respiração pesada e os seus resmungos
pelo quarto, enquanto ele balançava a cabeça em negação.
— É melhor você ir para o seu quarto, agora.
— Mas…
A nossa noite não podia acabar daquela maneira,
estava tudo tão perfeito.
— Eu não gosto de mentiras, Luna. Eu poderia ter
machucado você hoje — brigou e eu notei a frustração nos
seus olhos.
Alessandro realmente estava surtando por causa de
uma maldita virgindade.
— Mas não machucou, eu gostei de tudo — tentei
persuadi-lo, mas os meus esforços não pareciam adiantar.
— Pode ir descansar agora, quero ficar sozinho —
virou de costas para mim, dando o assunto por encerrado.
Ele estava me expulsando do quarto e zangado pela
minha mentira. Decidi que não iria me humilhar mais. A
única coisa que consegui fazer, foi assentir e me vestir
apressada, lançando um último olhar para o homem
frustrado, antes de sair do quarto em silêncio e caminhar
envergonhada até o meu.
A minha sorte, é que não havia ninguém nos
corredores e que ninguém saberia o que aconteceu aqui
essa noite, muito menos assistiria a minha humilhação.
CAPÍTULO 3

— O que está acontecendo com você? Anda


esquisita demais — Carllota brigou quando eu derrubei uma
cesta de frutas, estava perdida nos pensamentos da noite
anterior.
Eu simplesmente, não conseguia tirar o meu chefe
da cabeça, e sentia o meu rosto esquentar sempre que a
imagem dele sobre mim vinha à minha mente.
— Não é nada vó, eu só estou pensativa — me
abaixei rapidamente para recolher a minha bagunça.
— Eu conheço você, menina. Está mais triste do que
o comum.
Costumava contar todos os meus problemas para
ela, porque a minha avó sempre me ajudava a resolvê-los.
Mas eu não poderia dizer à ela que transei com o nosso
chefe. Seria uma vergonha e ela nunca me perdoaria.
— A senhora já pensou na possibilidade de irmos
embora daqui? — Perguntei algo que estava rondando a
minha cabeça há algum tempo.
Estava certa de que eu não conseguiria dividir essa
casa com a esposa de Alessandro, eu não conseguiria
chamá-la de senhora, ou assistir outra mulher tomar conta
do homem que eu amava.
O casamento seria hoje e eu ainda conseguia senti-
lo entre as minhas pernas. Mas agora, ele pertenceria a sua
esposa e eu me sentia suja e usada, mesmo colhendo as
consequências de uma ação minha.
Eu quis que ele me levasse para a cama, não era
ingênua ou inocente.
— Esse é o meu lar, trabalho para a família Esposito
desde que era uma garotinha. Por que está pensando nisso
agora? Quer ir embora? Quer largar a família que nos dá
tudo o que precisamos? Isso é considerado uma traição — a
voz da minha vó era repreensível.
— Só estava pensando no que nós poderíamos ser
longe daqui.
— Nada, não seríamos nada — me cortou com
grosseria.
Aqui eu também sentia que não era nada, mas não
iria decepcionar a minha avó, mais do que ela já deveria
estar comigo, então fiquei em silêncio e me concentrei em
fazer o meu serviço.
Estávamos preparando um jantar para receber os
noivos e as suas famílias, porque era um dia importante.
Alessandro se casou e eu tive uma crise de ansiedade
quando a sua esposa chegou na mansão.
Ela era linda, tinha a postura de uma dama, mas os
olhos de uma pessoa fria. Ele esteve com as mãos nela o
tempo todo e eu odiei assistir aquela cena, porque
precisava admitir, eles faziam um belo casal.
Ela seria uma boa esposa e era exatamente o que
ele precisava. Mas Alessandro não parecia feliz, ainda
assim, ordenou que todos respeitassem a sua mulher e a
tratassem bem, porque ela também mandaria em nós
agora.
Enquanto eu ajudava a minha avó a servir as mesas,
os meus olhos estavam nos dois e nos seus
comportamentos frios e robóticos, como se não houvesse
nenhum sentimento ali. Alessandro não me olhou em
nenhum momento, mesmo tendo conhecimento da minha
presença, o que me fez ter a certeza de que aquela noite
não significou nada para ele e que ainda estava com raiva
de mim.
— Queria ter empregadas assim na minha casa —
ouvi um comentário malicioso, que fiz questão de ignorar.
Alessandro tinha um irmão mais novo, que sorria
para mim todas as vezes que eu passava perto dele.
Lorenzo era charmoso, mas pelo que diziam dele por aí, era
muito inconsequente e gostava de provocar o irmão.
— Irmão, você se importa de me emprestar essa
empregada? — Ele falou de repente, abrindo um sorriso
cínico na minha direção.
Arregalei os olhos quando todos da mesa se
silenciaram para me olhar. A minha avó abaixou a cabeça
ao meu lado, envergonhada por mim e por aquela
exposição.
— Deixe as minhas funcionárias em paz, Lorenzo —
a voz de Alessandro soou grave e o seu olhar era duro.
— Você nem vai sentir falta dela, eu só preciso de
uma noite com essa linda garota — Lorenzo tocou na barra
do vestido do meu uniforme e eu prendi a respiração.
— Não toque na garota.
Alessandro bateu na mesa com agressividade,
fazendo algumas taças caírem. Olhei incrédula na sua
direção, notando o caos que se instalou à nossa volta. A sua
noiva estava com o olhar sério para mim e um tanto
envergonhada com a cena, o restante dos convidados
pareciam confusos.
— Calma, irmão, não precisa perder o controle. Eu
não vou tocar na sua garota, porque aposto que ela é a sua
preferida — Lorenzo zombou, tirando as mãos de mim.
Os seus olhos estavam cheios de cinismo e
maldade, dando a entender que eu pertencia a Alessandro
de uma forma inadequada.
Alessandro fuzilava o irmão com os olhos e parecia
estar furioso devido ao seu comportamento infantil.
— Vamos limpar tudo, senhor — minha vó falou por
mim, me puxando pelo braço para longe do local.
O aperto dela era firme e estava me machucando,
mas ela só me soltou quando chegamos a cozinha, me
fazendo tropeçar nos próprios pés.
Eu mal conseguia respirar de tão tensa que estava,
depois daquela situação constrangedora.
— O que foi isso, Luna? — Ela exigiu saber, irritada.
— Eu não sei — respondi confusa e ainda
impactada.
— O senhor Esposito se descontrolou por sua causa
e a noiva dele ficou envergonhada na frente de todos. O que
as pessoas vão pensar? — Acusou.
— O único culpado foi o irmão dele.
— Se eu souber que você está de gracinha pra cima
do nosso patrão, vai se arrepender — ela alterou o tom de
voz e eu me encolhi, assentindo.
Ela me mataria se soubesse o que aconteceu na
noite passada, então eu nunca contaria para ela.
— Eu não estou, vó.
— Vou voltar para lá, mas você ficará aqui. Não
precisamos de mais vexames.
— Sim, vó.
— Se coloque no seu devido lugar, garota, você não
é nada — as suas palavras arrogantes me atingiram com
força.
Se a sua única família pensa que você não é nada,
então você começa a acreditar nisso.
— Eu sei — Forcei um sorriso triste, segurando as
lágrimas.
Carllota me lançou um último olhar zangado, antes
de me deixar sozinha na cozinha com a minha vergonha.
Respirei fundo, me escorando no balcão e sentindo os meus
olhos arderem pela vontade de chorar, mas eu não me
recriminaria por algo que não tive culpa.
Lorenzo foi o único que quis estragar o jantar de
noivado do seu irmão ao constranger todo mundo, mas me
pergunto qual o seu objetivo em fazer isso, afinal, a
situação não havia sido nada engraçada.
Percebi que estava chorando e tentei limpar o rosto
ao ouvir passos pesados se aproximando. Não quero que a
minha vó me encontre assim e me humilhe ainda mais.
— Tudo bem com você? — A voz grave e agitada de
Alessandro preencheu a cozinha, me assustando.
Observei o homem elegante que estava dentro de
um terno caro, me olhando com seriedade e preocupação.
Pensei que depois da noite passada, ele nunca mais
iria querer olhar na minha cara, muito menos sair do seu
jantar de noivado para vir atrás de mim, na cozinha.
— Senhor Alessandro — sussurrei, ser acreditar que
ele estava falando comigo depois de tudo.
— Lorenzo a machucou? — Perguntou, me
analisando inteiramente.
— Estou bem.
— Por que está chorando?
— Não queria causar todo aquele constrangimento.
— O imbecil do meu irmão foi quem causou aquele
constrangimento. Não foi culpa sua — respondeu irritado e
eu apenas assenti em resposta, feliz por ele não estar me
julgando como a minha avó fez.
Ficamos em silêncio, apenas olhando um para o
outro, e as lembranças da noite anterior voltaram a minha
mente, me deixando tensa. Além disso, havia o fato de que
a forma tão intensa como ele me olhava agora, não estava
ajudando.
— Parabéns pelo casamento — falei rapidamente,
sentindo a minha boca seca, porque eu não estava feliz com
isso.
Alessandro franziu o cenho e eu reparei no seu
maxilar tensionado, em seguida, ele levou as mãos para os
bolsos da calça.
— Está zombando de mim? — Perguntou, rabugento.
— Não, senhor — Neguei rapidamente, ao me
lembrar que ele estava infeliz.
Eu só não sabia como agir perto dele agora, e não
entendia o que ele esperava de mim, porque o seu
comportamento era confuso.
— Pare de me chamar de senhor. Quero que me
encontre mais tarde no quarto, o mesmo de ontem — a sua
ordem me deixou surpresa.
— Mas eu pensei que você não quisesse mais me
ver.
— Vamos esquecer que você me enganou na noite
passada. Acho que fui rude com você.
— Está tudo bem, mas eu não posso fazer isso outra
vez — Neguei, olhando para os lados, sem acreditar que ele
queria me ver no dia do seu casamento.
Sabia o que aconteceria se eu fosse até aquele
quarto e seria totalmente errado, mesmo que o meu
coração estivesse acelerado e ansioso.
— Não pode ou não quer? — Perguntou e eu notei a
frustração na sua voz.
— O senhor está casado. O que a sua esposa vai
pensar se…
— Ela não precisa pensar nada. Quero você hoje,
mas se não quiser, é só não aparecer e eu ficarei com a
minha esposa entediante — Foram as suas últimas palavras,
antes de me dar as costas e sair apressado da cozinha.
Levei uma mão ao peito, ainda impactada com o
que havia acontecido, me perguntando se seguiria a razão
ou as minhas emoções.
Era para ter sido apenas uma noite, mas Alessandro
me queria outra vez, mesmo estando casado e na própria
lua de mel. Isso era errado de todas as formas possíveis e
eu já sabia o que deveria ser feito.
CAPÍTULO 4

Naquela noite, eu não fui ao encontro de Alessandro


e isso deixava clara a minha escolha de não querer ser
usada por ele outra vez. Em resposta, ele não veio atrás de
mim, porque deveria estar com a sua esposa, o que era o
certo a ser feito.
Alessandro não pertencia a mim, e sim, a Maya
Fontana. Eu deveria esquecer a noite que passamos juntos
e só assim, conseguiria seguir em frente, guardando nas
memórias aquela fantasia da minha mente doentia.
Não dormi direito naquela noite e nem nas seguintes
que se passaram. Sentia-me triste e sufocada naquela casa,
como se ela não fosse mais o meu lugar. Carllota havia
notado que havia algo errado comigo, e eu tentava agir o
mais naturalmente possível para que ela não descobrisse
nada.
A esposa de Alessandro era discreta e assim como
ele, mal ficava em casa. Os dois só se encontravam para o
jantar e pareciam dois estranhos à mesa, não trocavam
sequer uma palavra, como se estivessem fazendo um
esforço enorme para aturar um ao outro.
Era um casamento estranho e que só poderia dar
certo se os dois se dedicassem. Então, eu não deveria
atrapalhar, mesmo que estivesse odiando aquela situação.
Alessandro também não falou mais comigo depois
daquela noite, porém, todas as vezes em que ele estava
presente no mesmo cômodo que eu, conseguia sentir os
seus olhos em mim de soslaio, como se buscasse ler os
meus pensamentos.
Também estava o evitando, porque era o mais
saudável a ser feito e assim, ficaria mais fácil superá-lo. Mas
só consegui fazer isso por duas semanas, até ele exigir a
minha presença no seu escritório para lhe levar um pouco
de café.
Poderia ser qualquer um dos empregados, mas ele
exigiu especificamente a minha presença, o que deixou a
minha vó desconfiada, mas ela não ousou dizer nada para
mim.
Respirei fundo algumas vezes quando cheguei na
porta do seu escritório. Os meus cabelos loiros estavam
amarrados em um rabo de cavalo e o meu uniforme preto
se encontrava alinhado, em ordem. Eu deveria me manter
séria e agir profissionalmente, esquecendo do que fizemos
juntos.
Tomei coragem para bater na porta e ouvi a sua voz
abafada, pedindo para que eu entrasse. Mal conseguia olhar
nos seus olhos, me apressei em deixar a xícara sobre a
mesa em que ele estava trabalhando.
— O seu café, senhor — Dei um passo para trás, de
cabeça baixa.
Quando iria me afastar para ir embora, ouvi o seu
suspiro impaciente.
— Eu fiz algo de errado para você? — Perguntou,
mostrando o seu desagrado.
Eu me assustei, porque não imaginei que ele seria
capaz de me abordar dessa maneira tão direta.
— Não, senhor.
— Então, por que caralhos você não olha mais na
minha cara? — A sua indagação veio irritada.
Mordi os lábios e ergui o olhar, sentindo os seus
olhos sérios e tempestuosos em mim, como se desejasse ler
a minha alma.
— É o certo a ser feito.
Ouvi a sua risada irônica e Alessandro se levantou,
contornando a mesa e andando em minha direção,
enquanto eu dava passos para trás, encarando os botões
abertos da sua camisa.
— Acha certo procurá-la em todos os malditos
cantos desta casa, porque não consigo tirá-la da minha
cabeça?
— Eu..
— Quero você outra vez, Lua — sua voz soou calma
e suplicante, fazendo as minhas pernas tremerem
— E a sua esposa? — Perguntei o que me
incomodava.
— O que tem ela?
— Não acho certo fazer isso com ela.
— Pode ter certeza de que ela não se importa com
quem eu fodo.
Então era isso, eu seria apenas uma foda, enquanto
à noite, ele voltaria para os braços da sua mulher.
— Eu não quero ser isso, um caso, uma amante —
Neguei aborrecida.
Os meus sentimentos por ele eram grandes demais
para me permitir ser apenas usada dessa maneira.
— E o que você quer? Romance? Quer tomar o lugar
da Maya? Se está esperando sentimentos da minha parte,
então você está certa em me evitar, porque eu não posso te
dar o que está nos seus sonhos — a sua voz soou
incomodada, enquanto o seu cenho estava franzido.
— Eu sei qual é o meu lugar, mas eu não suporto a
ideia de ficar com um homem, sabendo que ele é casado.
— Se a faz se sentir melhor, o meu casamento é
uma fachada.
— Mas…
— Preciso de uma esposa ao meu lado, mas não há
sentimentos e eles nunca existirão, Maya está de acordo
com isso. Ela vai se portar como a Máfia quer que ela seja,
mostrará ser uma boa esposa e eu lhe darei uma vida boa,
contudo, nunca seremos um casal.
— Mas apesar de tudo, ela merece respeito. Você
dormiu com ela? — Perguntei em um resmungo, notando a
sua sobrancelha arqueada e o seu sorriso divertido, como se
estivesse zombando de mim.
Eu também o faria no seu lugar, porque a minha
pergunta foi muito idiota. Ele poderia dormir com a esposa
dele o quanto quisesse, isso não era da minha conta.
— Quer saber se eu fodo a minha esposa todas as
noites? Quer saber se eu a levei para cama, na noite em
que você me deixou plantado naquele quarto te esperando?
— A sua voz era pura provocação e ele estava se divertindo
com o meu ciúme.
— Isso não é da minha conta, preciso ir — respondi
baixo, tentando esconder a minha raiva.
— Apesar de tentar respeitar o seu espaço, não
consigo lidar muito bem com a rejeição — Alessandro entrou
na minha frente, me cercando contra a mesa.
Inspirei o seu perfume e desviei o olhar para o
colarinho aberto da sua camisa. Ele estava tão perto e eu
tão frágil, propensa a ceder.
— Não foi uma rejeição, eu só não quero causar
mais confusão.
— Então, se eu tocar em você, vou sentir que está
pronta para mim? Que me deseja tanto quanto eu a desejo?
Fechei os olhos quando as suas mãos tocaram a
minha cintura e me escorei totalmente na mesa, cedendo a
ele. Alessandro ergueu a saia do meu uniforme e a sua boca
seguiu diretamente para o meu pescoço.
Ele me mordeu e beijou a minha pele, me
arrancando suspiros baixos. As suas mãos desceram e
puxaram a minha calcinha para me tocar.
— Como eu imaginei — rosnou na minha boca,
quando os seus dedos passaram pela minha boceta
molhada — Não negue o que nós dois queremos.
Eu estava mais uma vez me sujeitando a ser usada,
o que me fez lembrar das palavras duras da minha avó. Não
posso me entregar a um homem casado.
— Não, eu não posso. Não enquanto você estiver
com ela — afastei as suas mãos de mim.
Alessandro suspirou, assentindo, enquanto levava
uma mão ao próprio rosto, me dando o espaço que eu
precisava para sair correndo da sua sala.
Ignorei o meu coração acelerado e o desejo de
continuar naquela sala com ele, porém, não iria aceitar as
migalhas de um homem casado. Se Alessandro me
quisesse, teria que escolher a mim, mesmo que fosse
impossível ficarmos juntos.
CAPÍTULO 5

— Hoje chegaram essas flores para você — minha


avó avisou logo que entrei na cozinha, pela manhã.
Abri os lábios, surpresa com o buquê enorme de
tulipas azuis sobre o balcão. Involuntariamente, abri um
grande sorriso, porque sabia de quem havia recebido
aquelas flores.
Três anos atrás, ele me deu uma flor e hoje, um
buquê enorme e sem motivo algum. Mas saber que ele se
lembrava que as tulipas azuis eram as minhas favoritas, me
deixava emocionada.
— Não tem o nome de quem mandou, só o seu —
ela comentou, me olhando com desconfiança.
Eu sabia que havia sido Alessandro. Só não entendia
se aquilo era um pedido de desculpas ou uma forma de
dizer que não desistiria de mim, mas uma coisa era certa,
ele conseguiu amolecer o meu coração.
Coração que bateu forte, com a ideia de que o
homem por quem eu sempre fui apaixonada, poderia sentir
o mesmo que eu. Era um sonho distante e quase irreal, do
qual eu desejava não acordar para a realidade.
— Quem mandou essas flores para você, menina? —
Carllota exigiu saber.
— Eu não sei — menti, me recompondo.
— Se não soubesse, não estaria sorrindo desse jeito.
— Como eu vou saber, se não há nomes? —
Esforcei-me a ficar séria.
— Você sabe sim. E quem poderia te mandar flores,
se você mal sai de casa? Está se engraçando com um dos
seguranças?
— Não estou me engraçando com ninguém. Por que
pensa tão mal de mim?
— Você é igual a sua mãe. Se faz de boa moça para
tentar dar o golpe, mas a sua mãe fracassou no final. Não
cometa os mesmos erros que ela.
Minha mãe morreu nas mãos de um mafioso. Ela era
prostituta e eu mal a conhecia, porque quando na época da
sua morte, eu era bem pequena. Até entendo o porquê da
minha avó pegar tanto no meu pé, tem medo que eu
cometa os mesmos erros, mas às vezes, ela me machuca
com toda a sua proteção excessiva.
— Eu não sou igual a ela e não quero dar o golpe em
ninguém.
Peguei as minhas flores e saí dali irritada, ainda
ouvindo os seus resmungos. Odiava ser comparada à minha
mãe e odiava ainda mais, ser rebaixada a nada, porque eu
não era igual a ela.
Iria subir para o meu quarto para guardar o meu
presente, mas encontrei Alessandro descendo as escadas
com pressa. Ele arrumava o relógio no pulso e só me viu
quando desceu os últimos degraus, porque eu estava
parada à sua frente, o encarando toda abobalhada.
Nos olhamos e ele encarou as flores nos meus
braços, me fazendo respirar fundo e pensar em dizer
alguma coisa.
— Obrigada, eu amei as flores — forcei um sorriso.
Ele assentiu analisando o meu rosto, a sua
expressão era suave e curiosa, como se quisesse ler os
meus pensamentos.
— Não quero que se sinta pressionada, mas… — ele
deu um passo em minha direção e parou, assim que a sua
esposa apareceu nas escadas.
Os passos dela eram suaves e delicados, era
realmente perfeita, como a mulher que Alessandro
precisava ao seu lado.
— Estou pronta — Maya avisou, nos lançando um
olhar sutil e arqueando uma sobrancelha para as minhas
flores.
Observei o vestido elegante e os saltos que a
deixavam mais alta do que eu. Seus cabelos escuros
estavam amarrados em um coque no alto da cabeça, e ela
estava adornada de joias caras, que mostravam o seu
poder.
Aquela mulher poderia me esmagar como se eu
fosse um inseto se ela quisesse. Ela poderia me tirar do seu
caminho se soubesse que eu era um empecilho e aposto,
que já estava desconfiada de mim.
Olhei para Alessandro e ele tinha os seus olhos
profundos focados no meu rosto e não na sua esposa, o que
deixava a cena ainda mais constrangedora.
— Alessandro? — ela o chamou.
— Vamos.
Alessandro se afastou de mim e seguiu o caminho,
deixando a sua esposa para trás sem sequer olhá-la. A
mulher me lançou um último olhar curioso antes de segui-lo,
não se importando com o desprezo do marido.
Será que esse casamento é mesmo uma farsa?

Eu costumava ajudar em todos os serviços da


mansão, mas o meu passatempo preferido era cozinhar. E
hoje, queria agradecer Alessandro pelo presente, então
passei a tarde fazendo cupcakes de café, um dos seus
preferidos, porque ele não gostava muito de doces.
Não quero que as coisas fiquem estranhas entre
nós, então esse será o meu agradecimento e também um
pedido de paz. Quero que ele saiba que eu o respeito e que
os meus sentimentos são sinceros.
Quando coloquei os toques finais nos bolinhos, ouvi
o barulho do motor do carro do lado de fora da mansão,
anunciando a sua chegada.
Deixei tudo organizado sobre a mesa e me apressei
para ir até a sala, arrumando os meus cabelos para não
parecer tão bagunçada ou eufórica demais.
O local foi preenchido pelo barulho de risadas, o que
não era comum. Engoli em seco, quando Alessandro entrou
em casa com a sua esposa e ela estava rindo, agarrada ao
braço dele, que estava com uma expressão tranquila e um
quase sorriso no rosto.
Talvez, eles estejam se apaixonando e com o tempo,
ele vai aprender a gostar dela. A colocará em um pedestal e
eu não passarei de uma aventura, uma amante esquecida e
não era isso o que queria para a minha vida.
Tinha o sonho de me casar um dia, ter filhos.
Desejava ter uma família grande e bonita, um marido
amoroso e que me amasse, não às migalhas de alguém
casado.
Deus, o que eu estava pensando em fazer?
Conquistar um homem casado? Se é que Alessandro
pudesse ser conquistado, porque ele mesmo havia dito que
não era um homem de sentimentos.
Saí do local rapidamente, antes que eles me
notassem e corri para fora da casa, pelos fundos, até me
encontrar na área da piscina.
Passei a mão pelo rosto, limpando as lágrimas
intrusas, não entendendo o porquê de estar tão sensível.
Alessandro não pertencia a mim e eu precisava entender
isso de uma vez por todas ou sofreria pelo resto da vida.
— Não quero atrapalhar, mas está tudo bem com
você? — Uma voz desconhecida se aproximou, me fazendo
olhar para trás, assustada.
Encontrei um homem de terno e pelo seu jeito, era
um dos seguranças da casa. Ele era jovem, tinha cabelos
escuros e os olhos da mesma cor, eu nunca o vi por aqui.
— Sim — falei rapidamente, limpando o rosto.
Ele se aproximou, me olhando inteiramente e agora,
eu estava com vergonha de ter sido pega nessa situação
constrangedora.
— Vi você vindo para cá chorando e fiquei
preocupado. O seu nome é Luna, não é? Me falaram que
você é neta de uma das empregadas mais velhas da casa —
a voz dele era suave e preocupada.
— Você é novo por aqui? Costumo conhecer todos os
seguranças.
— Fui contratado há dois meses. Sou Nicolas — se
apresentou, estendendo a mão.
— É um prazer conhecê-lo, Nicolas — Forcei um
sorriso, tentando não ser mal educada, peguei a sua mão e
ele a apertou de volta com firmeza.
— Vai me contar por que estava chorando? Não
acho que seja atoa.
— Eu fiz uns cupcakes e ficaram horríveis — falei a
primeira desculpa que me veio à mente.
Ele me analisou em silêncio por alguns segundos,
como se quisesse descobrir a minha mentira e depois, abriu
um pequeno sorriso.
— Eu posso ver?
— Você não está em horário de trabalho?
— Não acho que alguém irá sentir a minha falta.
— Tem certeza de que isso não trará problemas para
você? Não acho que você possa entrar na cozinha, mas
ninguém nunca entra lá mesmo — perguntei preocupada
em prejudicá-lo.
— Então, seremos rápidos. Eu vejo os seus cupcakes
e decidimos se estão tão ruins assim, o que eu acredito que
não estejam.
— Tudo bem, vamos lá.
Ele me acompanhou até a cozinha, que estava
vazia, e os cupcakes continuavam no mesmo lugar em que
os deixei. Eles estavam bonitos e gostosos, caprichei,
porque sabia que Alessandro iria gostar, mas agora eu teria
que me livrar deles.
Nicolas olhou para os cupcakes e em seguida, me
lançou um olhar confuso. Eu fiquei envergonhada por ter
mentido para ele, porque com certeza, os bolinhos estavam
ótimos.
— Não acho que estejam horríveis — Ele comentou.
— Talvez eu seja um pouco dramática — Dei de
ombros.
— É, talvez — concordou com humor na voz.
— Pode experimentar — lhe estendi um.
Ele o recebeu de bom grado e deu uma mordida
generosa, arregalando os olhos em seguida.
— Isso com certeza é incrível. Agora entendo o
porquê de você ser a cozinheira desta casa — falou
impressionado.
— Não cozinho muito, é mais a minha avó, eu
aprendi muitas coisas com ela.
— Isso é uma delícia, você se incomoda se eu comer
mais? São para os donos da casa?
— Não, eu fiz apenas para passar o tempo — lhe
entreguei mais dois.
Nicolas puxou um dos bancos para se sentar e eu
fiquei do outro lado do balcão, o encarando atentamente,
enquanto ele continuava a me elogiar.
— E então Luna, há quanto tempo você trabalha
aqui? — Puxou assunto.
— Fui criada aqui, porque a minha avó e eu temos o
privilégio de morar nesta casa, mas só comecei os trabalhos
com dezesseis anos.
— E como é o patrão?
— Você nunca o viu?
— O vi de relance, não trocamos palavras. Quem faz
os contratos é o chefe da segurança.
— Alessandro é um homem muito ocupado, mas ele
é bom e justo com os seus funcionários, as pessoas não
costumam ter problemas aqui — respondi orgulhosa, me
pegando suspirando por ele outra vez.
— Então, eu vou gostar de trabalhar aqui.
— Tenho certeza que sim.
Ele assentiu e quando lhe entreguei mais uma
cupcake, as nossas mãos se encontram por alguns
segundos. Nicolas olhou para os meus olhos com um sorriso
e eu não pude evitar de sorrir também, porque ele era lindo
e gentil.
Eu não tinha amigos na casa, mas por um segundo,
vi aquele cara como alguém com quem poderia conversar
quando estivesse entediada.
— O que está acontecendo aqui? — Uma voz grave
nos interrompeu e o meu sorriso morreu, ao ver Alessandro
entrar na cozinha olhando para Nicolas, como se ele fosse o
seu inimigo.
O que ele estava fazendo aqui?
CAPÍTULO 6

O olhar julgador de Alessandro estava por toda


parte, e eu percebi a sua mandíbula tensionada e os punhos
cerrados quando olhou para a minha mão entrelaçada com
a de Nicolas, desaprovando o ato.
Seja o que quer que tenha acontecido, ele não havia
gostado do que tinha visto e eu, deveria me afastar de
Nicolas agora mesmo.
— Nós só estávamos conversando — Me apressei a
dizer, afastando as mãos de Nicolas de mim.
— No horário de trabalho? — A sua voz soou
agressiva e eu abaixei a cabeça, com medo da bronca que
iria levar — Quem diabos é você? — Direcionou a sua fala
para o homem que estava comigo.
— Nicolas, senhor, um dos seguranças — Ele se
levantou rapidamente e manteve uma postura rígida.
— E por que diabos, você está comendo cupcakes
ao invés de fazer o seu serviço?
— Eu sinto muito, senhor.
— Fui eu quem o convidei — me apressei a falar
para defender Nicolas — Eu fiz os bolinhos e queria que
alguém os provasse.
Nicolas não pode perder o emprego por minha
causa, porque tudo o que fez foi me ajudar a melhorar o
humor, que Alessandro havia destruído. E agora, o culpado
da minha tristeza estava aqui, me acusando de algo criado
na sua cabeça possessiva.
Os olhos azuis de Alessandro escureceram quando
miraram em mim, e eu nunca tinha o visto tão furioso antes.
— Dê o fora daqui e nunca mais coloque os pés
nesta cozinha— ordenou para o homem, que saiu quase
correndo, sem nem ao menos olhar para trás.
— Não o demita, ele é um homem bom e realmente,
só veio porque eu o chamei para comer os cupcakes —
supliquei, observando o meu chefe se aproximar de mim a
passos lentos.
A forma como ele me olhava era assustadora,
acusadora e eu estava preocupada com o que Alessandro
estava pensando agora, porque parecia que ele estava
entendendo as coisas do jeito errado, como se a minha
atitude fosse abominável.
— Está dando pra porra do segurança? É por isso
que você não me quer? — A sua voz era baixa e controlada.
Os meus olhos se arregalaram com aquela
insinuação. Ele pensava que eu era uma qualquer, que
aceitava migalhas de qualquer um? A sua acusação havia
me decepcionado profundamente, tanto que fiquei sem fala
por alguns segundos.
— Não é nada disso — respondi, ficando séria,
sentindo a raiva crescer no meu peito.
Ele estava falando igual a minha avó e isso me fazia
lembrar da minha mãe, mas eu não queria ser como ela. Eu
não era uma prostituta e não deixaria os homens me
usarem do jeito que queriam.
— Então, o que foi isso que eu vi aqui? — Ele exigiu
saber.
— Duas pessoas conversando.
Alessandro balançou a cabeça em negação e eu vi a
decepção passar pelos seus olhos.
— Me enganei sobre você. É igual a todas as outras
— o seu comentário fez o meu peito doer.
— Eu não estou dormindo com ninguém! Você não
pode me acusar dessa maneira — elevei o tom de voz,
tentando me defender.
— Não dormirá mais, porque aquele filho da puta
será demitido.
— Não faça isso, ele só comeu os cupcakes. Qual é o
seu problema?! — Revoltei-me e quando percebi, estava
gritando com ele.
— Eu deveria fazê-lo engolir a própria língua — ele
estava preso na sua própria raiva.
— Por que está falando assim? Por que está tão
irritado? — Rodeei o balcão, me aproximando dele.
O homem apontou o dedo em direção ao meu rosto,
mostrando toda a sua revolta.
— Não acho que deixei claro para você, mas não sou
um homem que divide o que é meu.
— Seu? Está querendo dizer que eu sou o seu
objeto, que você usa e descarta quando quer? — Perguntei,
incrédula.
Ele respirou fundo, tentando se controlar.
— Não quero você perto ou envolvida com outro
homem.
— E eu não quero você com a sua esposa, mas não
estou agindo como uma maluca ciumenta — respondi,
irritada
— Me chamou de maluco? — Alessandro me olhou
surpreso e indignado.
— Se não é maluco, que show foi esse aqui?
Estava com muita raiva e revoltada com a sua
injustiça, então, não estava medindo as palavras e acabei
me esquecendo do fato de que ele era o meu chefe, que
poderia me demitir a qualquer momento por aquela afronta.
Alessandro suspirou, passando a mão pela barba por
fazer, enquanto andava pela cozinha e olhava para o
balcão, onde ainda restavam alguns cupcakes.
— Isso são cupcakes de café? — Franziu o cenho,
curioso.
— Sim.
O meu chefe se aproximou dos bolinhos e segurou
um deles, com um olhar pensativo.
— Eu gosto deles, por que estava dando-os para
aquele filho da puta?
— Ele não é filho da puta. E você estava ocupado
com a sua noiva.
— Não deveria ter ciúmes de Maya.
— Não deveria ter ciúmes do segurança — devolvi, o
assistindo arquear uma sobrancelha.
— Acho que gosto da sua boca respondona — a sua
voz tinha uma pitada de humor agora.
Era a primeira vez que eu estava agindo daquela
maneira com ele, mas não conseguia me controlar devido a
minha raiva.
Estava odiando aquele comportamento mesquinho e
infantil. Não era possível que um homem como ele sentisse
ciúmes, ainda mais da sua empregada.
— Não gosto do seu jeito mandão e arrogante —
confessei chateada.
Alessandro respirou fundo e parecia estar se
acalmando agora.
— Aquele homem estava se aproveitando de você.
— Ele estava apenas comendo e sendo gentil,
porque me viu chorando.
— Por que estava chorando? — A sua atenção agora
estava nos meus olhos.
— Eu me emocionei com os bolinhos — Dei de
ombros, não querendo confessar o meu ato que também
havia sido infantil.
Eu também estava com ciúmes dele, então, não
poderia julgar as suas atitudes.
— Posso comer, ou é apenas para o maldito
segurança? — resmungou apontando para o cupcake.
— Eles são para você, eu os fiz para você, mas
então o vi com a sua esposa e acho que perdi a cabeça por
um momento — confessei a verdade, enquanto virava o
rosto envergonhada.
Alessandro olhou para o bolo em suas mãos e
depois para mim, enquanto se aproximava. Eu deixei que
ele tocasse no meu rosto e no meu cabelo, porque o seu
gesto era gentil, diferente das suas atitudes de alguns
momentos atrás.
— Então, nós dois perdemos a cabeça. Isso não é
nada bom — falou frustrado.
— Nós temos que parar com o que estamos fazendo
— sussurrei, presa no seu olhar.
Odiava me sentir daquela maneira por causa de
alguém, tão fragilizada e sem forças.
— Parar com as brigas? Concordo, é só você não se
aproximar de nenhum homem que queira tirar as suas
roupas.
— Digo, que temos que parar de fazer o que quer
que estejamos fazendo — corrigi, notando o incômodo que
passou pelos seus olhos.
— Você não quer isso, e muito menos eu quero.
— O que você quer comigo? Sou apenas uma
empregada — a minha voz demonstrou o quanto estava
nervosa.
— Eu não sei, mas você não é apenas uma
empregada para mim, pode acreditar nisso — Alessandro
apertou o meu queixo, me encarando com confiança.
Abri um pequeno sorriso, porque aquelas palavras
eram tudo o que eu desejava ouvir um dia.
— Você é linda e na maior parte do dia, está em
meus pensamentos.
A sua mão desceu para o meu pescoço e os seus
toques se intensificaram, me deixando ansiosa por mais,
mesmo que aquilo fosse errado.
— Você esteve nos meus pensamentos quase a vida
inteira — confessei, com um pequeno sorriso envergonhado.
— Estive? Não estou mais? — Ele arqueou uma
sobrancelha.
— Não tem um dia sequer em que eu não pense em
você.
Um mínimo sorriso que ele abriu, antes de me
beijar, me fez suspirar. O seu beijo sempre era faminto,
como se quisesse devorar a minha boca.
Alessandro me encostou contra o balcão, enlacei o
seu pescoço, o abraçando com força, enquanto ele tomava
tudo de mim. O meu fôlego, os meus desejos e os
sentimentos eram totalmente dele, porque eu estava
completamente entregue ao seu beijo devastador.
Ele puxou os meus cabelos, beijando o meu maxilar
e garganta, enquanto as minhas mãos agora, percorriam o
seu peito. Comecei a brincar com os botões da sua camisa,
desejando abri-los, contudo, parei quando o barulho de uma
bandeja caindo nos interrompeu.
Alessandro me soltou e eu olhei para trás,
assustada, encontrando o olhar horrorizado da minha avó.
Ela estava parada na entrada da cozinha, com os olhos
apertados em mágoa e raiva.
Em sua mente, ela deveria estar me xingando de
todos os nomes ruins possíveis, e sei que nunca vai me
perdoar por isso.
— Vó.
— Preciso resolver algumas coisas agora, nos vemos
depois — Alessandro tocou as minhas mãos, não parecendo
se importar com a presença de Carllota.
Assenti, e ele deixou um beijo na minha testa, antes
de se afastar de mim. Quando passou pela minha avó, a
lançou um olhar sutil, que a fez abaixar a cabeça e não
dizer nada.
Ela não iria dizer nada para ele, porque as ofensas
estavam guardadas unicamente para mim. Seria eu quem
pagaria o preço e já estava com medo das suas reações.
— Vó, eu posso explicar — me aproximei dela,
mesmo diante do seu olhar enojado.
Ela estava decepcionada comigo e ao mesmo
tempo, frustrada, como se soubesse que não deveria ter
confiado em mim.
— Você é uma puta e vai ferrar com toda a nossa
vida — As suas palavras soaram baixas e o meu rosto virou,
graças ao tapa forte que ela me deu.
Dei um passo para trás, assustada, com a sua
atitude, porque ela não costumava ser violenta.
— Fique longe daquele homem — foi o seu aviso,
antes de me dar as costas e sair da cozinha, apressada.
Passei a mão na bochecha, que ardia, percebendo
que a minha vida não era um sonho ou um conto de fadas.
Não havia nenhuma possibilidade daquele romance que eu
inventei dar certo.
CAPÍTULO 7

Vomitei tudo o que comi no café da manhã e me


sentei sobre a tampa do vaso, enquanto limpava o suor frio
da minha testa.
Já faz quatro semanas desde que a minha avó me
flagrou com Alessandro e eu vinha passando mal todos os
dias, com tonturas e enjoos. No início, pensei ter comido
algo estragado, mas como os enjoos estavam frequentes, a
possibilidade de estar doente era grande.
Carllota não estava falando comigo, então ela não
me ajudaria, Alessandro estava viajando a trabalho e
Nicolas não falou comigo depois daquele incidente,
portanto, eu estava sozinha.
O que me deixava aliviada, era saber que
Alessandro não o demitiu. Eu me culparia pelo resto da vida
se isso acontecesse e também, não perdoaria o homem por
quem eu era apaixonada pela sua crise de ciúmes.
Não vou negar, que uma parte minha ficou
empolgada com a ideia de Alessandro sentir ciúmes de
mim. Isso significava que eu era importante e que ele
gostava de mim, de algum modo.
Mas eu não poderia criar tantas esperanças assim,
não quando os nossos mundos não se completavam.
Alessandro era um mafioso e tinha um dever com a sua
família e organização, e eu sou apenas uma empregada,
que mal tinha dinheiro para sobreviver sozinha.
— Qual é o seu caso com o meu marido?
Estava aspirando o pó do chão da sala de visitas,
quando Maya apareceu me colocando contra a parede.
— Não entendi, senhora — respondi, nervosa, não
esperando que aquela afronta fosse acontecer tão cedo.
A mulher me olhou dos pés à cabeça com ar de
acusação e desprezo. Ela viu as minhas flores naquele dia e,
de alguma forma, sabia que foi Alessandro quem as tinha
dado.
— Entendeu sim, não precisa se fazer de sonsa.
Quero saber o que você tem com o meu marido — repetiu
com a voz mais firme, mostrando estar impaciente.
— Não temos nada.
— Ah, tem sim. Eu percebo a forma como ele te olha
e a maneira como age para te defender — acusou.
Abaixei a cabeça, apavorada, não sabendo o que
dizer, porque não era boa com mentiras. Ela iria acabar
descobrindo tudo e me demitindo.
— Quanto você quer para sumir das nossas vidas?
— A sua pergunta nada discreta, me fez arregalar os olhos.
— Eu…
— Me diga uma quantia e desapareça daqui, antes
que essa palhaçada termine em alguma desgraça.
— Eu não quero o seu dinheiro — engoli em seco,
me sentindo humilhada.
— Mas quer o de Alessandro? — Zombou.
— Não, eu não quero o dinheiro de ninguém — Ergui
o queixo, a encarando com seriedade.
— Então vá embora dessa casa, você é bonita e
pode encontrar o trabalho em algum bordel.
Ela estava me maltratando com palavras, me
diminuindo e me tratando como um nada, desejando me
expulsar dessa casa e da vida de Alessandro.
— Não sou nenhuma prostituta.
— Não? E o que está fazendo com um homem
casado? — Sua voz era de puro cinismo e raiva.
A minha cabeça doeu com todas aquelas acusações,
mas eu sabia que estava errada nessa história. Ela tinha
todo o direito de dizer aquelas coisas para mim.
— Não estou com ele — Me afastei dela, levando as
mãos à cabeça.
— Você é uma vadia oportunista e eu não vou deixar
que destrua o meu casamento.
— Eu…
Não consegui terminar de falar, porque a sala
começou a girar e depois tudo escureceu, junto com o
baque do meu corpo contra o chão quando desmaiei.

Acordei, notando que estava no meu quarto, deitada


na minha cama de solteiro. Mas o que me deixou confusa,
foi encontrar a minha vó em pé, parada à minha frente, com
um olhar sério e transtornado.
Ela não falou mais comigo depois do tapa que me
deu quando me encontrou com Alessandro. Perguntei-me o
que ela estava fazendo aqui e me lembrei, que acabei
desmaiando ao conversar com Maya.
Quem me trouxe para a cama?
— Vó? — A minha voz soou confusa quando me
sentei.
— Você está transando com Alessandro Esposito?
Não minta para mim — a sua pergunta soou cortante.
Os meus olhos se encheram de lágrimas e eu
balancei a cabeça, envergonhada. Maya deve ter contado
tudo para ela e provavelmente, nos despediu e agora,
estamos sem emprego e sem casa.
— Aconteceu apenas uma vez, eu sinto muito — a
minha voz soou baixa.
Ela se manteve em silêncio e respirou fundo,
caminhando pelo quarto, murmurando o quanto eu era
inconsequente.
— Você se preveniu? — exigiu saber.
— Por que isso agora?
— Está vomitando, comendo mal e desmaiando
pelos cantos. É tão tola ao ponto de cometer os mesmos
erros da sua mãe?
— Eu só estou doente — me encolhi na cama,
abraçando a minha barriga.
A ideia de estar grávida me aterrorizava, ao mesmo
tempo em que me deixava emocionada.
— Você está grávida! — Ela gritou irritada, me
assustando.
— Não, não estou — falei certa, me levantando,
apesar de ainda me sentir zonza.
A minha avó soltou uma risada incrédula e irritada,
me olhando como se eu fosse inocente e burra.
— Vivi tempo o suficiente pra saber quando uma
mulher está grávida e você, com certeza, está.
— Não é possível. Eu não posso estar…
Olhei para a minha barriga, não conseguindo
acreditar que uma vida crescia ali dentro.
— Eu já arrumei as suas coisas, você vai embora
dessa casa — ela apontou para uma mochila, que estava no
canto do quarto.
Não era grande, porque eu não tinha muita coisa,
mas não me agradava a ideia de ir embora sozinha, sem
nenhuma direção.
O desespero tomou conta de mim, assim que eu
comecei a acreditar que tudo isso era real, que eu
realmente estava grávida de um homem casado.
— Para onde eu vou? Não tenho para onde ir — a
minha voz mostrava todo o meu desespero.
— Eu não sei, mas ir embora daqui, é o único jeito
de manter essa criança viva.
— Do que está falando? — Perguntei, preocupada.
— Bastardos não sobrevivem na máfia — Carllota
olhou com repulsa para a minha barriga.
— Alessandro vai me ajudar, eu vou….
— Vai dizer o que para ele? Que engravidou
acidentalmente? Ele é um homem casado, não vai assumir
o seu bastardo e sim, mandar matá-lo — a minha avó
segurou os meus ombros, me balançando, como se quisesse
colocar algo na minha cabeça.
A ideia de estar grávida e ver o meu filho morrer era
assustadora. Carllota estava criando um filme de terror na
minha mente, porém, isso não era real. Ela queria apenas
me assustar e estava conseguindo.
— Alessandro não faria isso — sussurrei, abraçando
a minha barriga, tentando proteger um bebê que eu nem
sequer sabia se existia.
Alessandro era um homem bom, se eu estivesse
realmente grávida, ele daria um jeito, mas não me deixaria
desamparada.
— Você é tão ingênua. O que fez com os meus
ensinamentos, menina? — A minha vó balançou a cabeça,
decepcionada.
— Saia do meu quarto — Avisei cansada, apontando
para a porta.
Não queria ouvir mais nada do que ela tinha a me
dizer, porque Carllota só me fazia sofrer, ela estava
envenenando a minha mente com as suas mentiras.
— Vai se arrepender do que fez Luna, eu não vou
ajudá-la quando cair.
— Está tudo bem vó, sei me cuidar.
Ela balançou a cabeça ao passar por mim e eu
fechei a porta, me escorando na madeira e começando a
chorar, estava em pânico.
CAPÍTULO 8

Acordei com o barulho de passos pelo meu quarto e


me sentei na cama, assustada, quando as luzes foram
acendidas. Não sabia que horas eram, mas já deveria ser
noite, porque passei a tarde inteira chorando, sem sair do
quarto, até pegar no sono.
— Alessandro? Você voltou? — Esfreguei os olhos,
notando que ele estava parado no meio do quarto, com as
mãos no bolso da sua calça preta.
O homem me analisava em silêncio com o rosto
sério, e eu tentava entender o que ele estava fazendo aqui.
Alessandro nunca havia invadido a minha privacidade antes
e pela sua expressão dura, fiquei preocupada.
— Está surpresa? Não queria que eu voltasse? — A
sua voz soou seca e com puro descaso, o que me assustou.
Alguma coisa estava errada com ele. Na verdade,
tudo estava dando errado hoje, desde o momento em que
eu desmaiei.
— O que aconteceu? — Perguntei preocupada.
Ele deu um passo na minha direção, enquanto os
seus olhos me analisavam minuciosamente, como se
buscassem alguma coisa em mim.
— Durante todos esses anos, vi você me olhando
pelos cantos, parecia tão encantada e apaixonada, mesmo
eu achando isso uma tolice — comentou, parecendo estar
com o pensamento longe, me deixando assustada — Mas
depois, comecei a gostar disso, pensei até que fosse real,
que eu poderia sentir alguma coisa por alguém que
realmente gostasse de mim.
— Por que está dizendo essas coisas? É real, todos
os meus sentimentos são verdadeiros — sussurrei nervosa.
— Diz isso pra mim, e para mais quantos? — A sua
voz era uma mistura de deboche e raiva.
A minha boca secou e eu engoli em seco, tentando
entender o que estava acontecendo.
— Do que está falando? — Levantei-me da cama,
apressada, sentindo os meus pés entrarem em contato com
o piso frio.
— Não precisa mais se fazer de sonsa e de
boazinha. Maya já me contou que você andou trepando com
o segurança, enquanto eu estive fora.
Arregalei os olhos, sentindo o desespero tomar
conta de mim, porque eu já deveria saber que aquela
mulher tentaria me ferrar de alguma forma.
— Ela está mentindo.
— Ela também mentiu sobre você estar grávida? —
O seu olhar raivoso e decepcionado, desceu até a minha
barriga.
Arfei, sem saber o que dizer, não acreditando que
aquela mulher seria capaz de algo assim.
— Posso estar grávida, mas o filho seria seu.
— Naquela noite, nós usamos preservativo —
retrucou, me olhando como se eu fosse uma mentirosa que
ele repugnava.
— Pode não ter funcionado. Não sei o que aconteceu
naquela noite, mas esse filho é seu — A minha voz saiu
desesperada.
— Eu não acredito em você. Você mentiu pra mim
naquela noite, me fez tirar a sua virgindade, para depois ir
se divertir com outros homens — a sua fala dura, partiu o
meu coração em pedaços.
— Alessandro, eu só dormi com você! Essa criança é
sua.
— Essa coisa não é minha! — A sua expressão
agora, era de puro desprezo.
— Coisa? — Sussurrei, dando um passo para trás,
me lembrando das palavras de Carllota.
Alessandro não aceitaria o meu filho, bastardos não
sobrevivem na máfia.
— E é uma pena que ele vá crescer sem um pai,
porque vou matá-lo agora mesmo — me deu as costas,
caminhando em direção a porta.
— Não, por favor, não faça isso — me apavorei,
correndo atrás dele.
Alessandro se virou bruscamente, apontando o dedo
para o meu rosto, que já estava coberto de lágrimas.
— Se chorar por aquele desgraçado, o sofrimento
dele será pior — ameaçou transtornado.
— Por favor, ele não fez nada. Nicolas é inocente.
— Inocente fui eu, que acreditei em você.
— Você é casado, nós não temos nada. Por que está
me colocando como a traidora da situação?
— Eu disse a você, não disse? Eu não divido o que é
meu.
Dei um passo para trás, assustada com a sua
explosão e a crise de raiva. Alessandro mudava totalmente
quando estava enciumado, e eu odiava isso, porque não sou
um objeto dele.
— Eu não sou sua e pelo visto, nunca vou ser —
Soltei uma risada triste, me afastando ainda mais dele —
Não vou ficar com alguém que pensa que eu sou uma vadia.
Você prefere acreditar nas mentiras da sua esposa? Então,
seja feliz com ela.
— O que vai fazer? — Ele exigiu saber.
— Vou embora dessa casa, para bem longe de você.
— Quer fugir com o pai da sua coisa?
— Cala a boca e não chame o meu filho de coisa! —
Gritei totalmente alterada, tentando controlar a minha
respiração ofegante.
Alessandro estava sendo horrível. Ele não era o
homem que eu conhecia, e sim, o mafioso cruel que as
pessoas falavam por aí. Talvez, o meu lado inocente tenha
criado uma imagem boa e irreal na minha cabeça, talvez eu
tenha me apaixonado por um homem que eu mesma
inventei.
Ele apertou os olhos com força e veio pra cima de
mim, segurando o meu braço.
— Não me importo com essa criança.
— O que está fazendo? Me solta! — Gritei quando
ele me puxou para fora do quarto.
Alessandro não me respondeu, mas também não me
soltou. Estava apavorada, enquanto era arrastada pelas
escadas e tentava me soltar do seu agarrão.
— Não — sussurrei ao encontrar Nicolas preso em
uma cadeira, no centro da sala, com dois homens ao seu
lado.
Ele parecia nervoso e arregalou os olhos quando me
viu, como se entendesse o que iria acontecer.
O erro dele foi ter entrado no meu caminho, eu
nunca deveria tê-lo levado para comer aqueles malditos
cupcakes.
— Diga-me que ele não tocou em você, e eu posso
deixá-lo ir — Alessandro grunhiu no meu ouvido.
— Eu juro, ele não tocou em mim! Por favor, não
faça isso! — implorei, me agarrando à sua camisa.
Ele olhou para a sua esposa, que estava parada do
outro lado da sala, ostentando um olhar sério e uma postura
arrogante. Ela me lançou um olhar debochado, como se
estivesse gostando daquela situação, do meu sofrimento.
Maya pediu para eu ir embora e como eu não fui, ela
iria me fazer sofrer ao pagar pelas minhas escolhas.
— Eu vi os dois juntos na cozinha e no quarto dela.
Só avisei a você, porque acho que não gostaria de saber
que os seus funcionários estão trepando debaixo do seu
teto — mentiu descaradamente.
— Mentirosa. O que você vai ganhar com isso?
Avancei para cima dela por impulso, mas Alessandro
me segurou pela cintura, me arrastando até Nicolas, que se
debatia na cadeira, tentando sair.
— Sinto muito — sussurrei em meio ao choro,
quando fui colocada em frente ao homem inocente.
— Isso é pra você entender o que eu faço com
traidores e mentirosos.
Solucei quando Alessandro puxou uma arma da
cintura, apontando para a cabeça de Nicolas. A minha avó
estava certa, ela sempre esteve certa, eu fui a única burra e
inocente nessa história.
Alessandro era um monstro. Eu me apaixonei por
um monstro, que pensava que tinha posse sobre mim.
— Por favor, não faça isso.
— Eu deixei ele ir uma vez, mas não irei cometer o
mesmo erro de novo.
Quando o barulho do tiro soou pela sala, gritei,
esperneando em meio aos soluços, apavorada com a cena à
minha frente. O corpo de Nicolas caiu sem vida no chão, em
meio a uma poça de sangue, me fazendo ter ânsia de
vômito.
— Você vai pensar duas vezes antes de trair alguém,
e eu espero que realmente não esteja grávida, porque está
no olho da rua — As suas palavras duras no meu ouvido,
foram como um tapa na minha cara.
Alessandro me largou e eu caí de joelhos, próxima
ao corpo de Nicolas, enquanto ouvia ele pedir aos
seguranças para limparem aquela sujeira. Eu estava
apavorada e me tremia inteira, até que ouvi os seus passos
se distanciando, me deixando ali, completamente arrasada
e quebrada.
Alessandro havia destruído todos os sentimentos
bons que sentia por ele.
Naquele momento, eu só conseguia sentir horror e
vontade de vomitar, diante de tamanha crueldade.
Maya se aproximou de mim e se ajoelhou
elegantemente ao meu lado, enquanto aproximava o rosto
do meu, com um sorriso satisfeito. Queria tirar o sorriso do
seu rosto, mas não tinha forças nem para me mexer.
— Eu disse a você que tudo acabaria em desgraça.
Foi inocência da sua parte não me dar ouvidos. Os únicos
filhos que Alessandro terá serão os meus, agora desapareça
daqui com esse bastardo, ou eu mesma irei matá-la —
sussurrou a sua ameaça, me fazendo temer pela vida do
meu suposto filho.
Eu precisava desaparecer dessa casa o mais rápido
possível se quisesse continuar viva.
CAPÍTULO 9

A minha cabeça estava encostada na janela do


ônibus, enquanto eu observava as ruas de Nápoles. Os
meus olhos estavam secos, desde que a minha vó me
levantou daquele chão sujo e me arrastou para fora da
mansão pela madrugada, com apenas uma mochila de mão.
Ela teve compaixão de mim, pois estava me levando
embora dali para algum lugar, que eu não fazia ideia de
onde seria. Não fazia ideia de como seria a minha vida
agora, porque eu não tinha nada, nem mesmo dinheiro.
Mas ir para bem longe de Alessandro era a única
forma de me manter viva, com o meu filho. Além da mágoa
e da decepção, o que me mantinha em pé agora, era a raiva
e o desejo de me vingar de Maya por aquela desgraça.
Uma vida inocente havia sido tirada pelo ciúme e
mentiras dela, e eu não pude fazer nada para conseguir me
defender.
— Para onde está me levando? — Perguntei para
Carllota quando descemos do ônibus e pegamos um táxi.
O dia estava clareando e nenhuma de nós havia
dormido. Minha avó permaneceu séria e silenciosa o
caminho inteiro, porém, eu sabia que ela estava procurando
uma maneira de nos livrar da situação em que nos coloquei.
Mesmo estando com a expressão fechada, eu
conseguia perceber que ela estava preocupada e com
medo, porque só queria nos manter em segurança.
— Você vai ficar com a sua tia — ela me respondeu
um tempo depois.
Pisquei os olhos, confusa, não entendendo o que ela
queria dizer.
— O quê? Que tia?
— A irmã gêmea da sua mãe — confessou, soltando
um suspiro cansado.
Fiquei boquiaberta por alguns segundos, pensando
ter entendido errado.
— Está brincando comigo? Como a minha mãe tem
uma irmã gêmea, e eu nunca soube da sua existência?
— Amélia e a sua mãe eram brigadas e ela acabou
se afastando de mim também, por causa disso. Ela
costumava dizer que a sua mãe era a filha preferida e que
eu não gostava dela.
— Por que nunca me disse nada sobre ela, vó?
— Porque você ia querer ir atrás dela.
— E qual o problema de querer ver a minha tia? — A
minha voz era de pura indignação.
— Ela não é adequada — respondeu com o cenho
franzido.
— O que quer dizer com isso?
— Ela é igual a sua mãe foi um dia, uma prostituta
— havia apenas desgosto na sua voz.
Então, as suas duas filhas foram prostitutas, talvez,
seja por isso que Carllota tenha tentado me criar de uma
forma diferente. Ela não queria cometer os mesmos erros
que cometeu com as próprias filhas.
— E por que acha que agora, ela é adequada? —
Perguntei confusa.
Não fazia sentido ela me esconder uma tia por todos
esses anos e só agora, me levar até ela.
— Porque você não tem mais ninguém. E ela vai te
ajudar a esconder essa criança — respondeu, olhando para
a minha barriga em desagrado.
Abracei minha barriga, tendo cada vez mais certeza
de que havia um pequeno ser ali dentro, de quem eu
deveria cuidar e proteger com toda a minha vida.
Todas as pessoas falavam do meu bebê como se ele
fosse uma maldição e eu só queria poder cuidar dele, bem
longe desse lugar, lhe dando todo o amor que ele merecia.
— Acha que Maya e Alessandro teriam coragem de
mandar alguém atrás do meu filho? — Perguntei
preocupada.
— Você viu o que ele foi capaz de fazer apenas pela
ideia de uma traição. E mesmo que soubesse que essa
criança é dele, a sua esposa nunca a aceitaria, ela poderia
levar a traição ao conselho, o que obrigaria Alessandro a
matar o bastardo.
— Ele me deixou ir embora.
— De alguma forma que eu não consigo entender,
ele deve se importar com você ou a teria matado também.
— Ele acha que eu o traí, preferiu acreditar mais na
sua esposa do que em mim.
Eu sentia raiva e mágoa apenas de lembrar do que
aconteceu.
— Amantes não significam nada, Luna. São apenas
usadas e descartadas — a minha avó bufou.
Ela havia me alertado tanto e eu não a escutei,
agora estou pagando pelos meus erros.
— Eu sei que você está decepcionada comigo, me
desculpe por tudo.
— Você preferiu seguir o seu coração, ao invés de
ouvir a verdade. Não posso culpá-la por ser uma tola
apaixonada, nunca teve contato com outros homens e o
primeiro que lhe deu uma migalha, você pegou. Mas ele era
o homem errado.
— Eu pensei que ele gostava de mim, pensei que ele
fosse diferente — confessei baixinho.
— Ele é um mafioso, Luna. Homens com ele, não
fazem as suas mulheres felizes, eles a destroem.
Segurei a sua mão e forcei um sorriso fraco e triste,
por ela estar falando a verdade.
— Eu vou ouvir os seus conselhos a partir de hoje e
ninguém, nunca mais, vai destruir o meu coração —
prometi.

Amélia era idêntica a foto que eu tinha da minha


mãe, só que mais velha. Os cabelos loiros, cacheados, eram
parecidos com os meus e os olhos verdes pareciam
cansados e estavam cercados com algumas rugas.
Quando ela abriu a porta do seu apartamento e nos
encontrou, ficou paralisada por alguns segundos, assim
como eu, afinal, não esperava ter mais alguém da família
viva, ainda mais uma tia.
E agora, estávamos sentadas no seu sofá em
silêncio, enquanto ela nos observava de perto da janela,
fumando um cigarro e parecendo pensar no que faria
conosco.
— O que significa isso? — Amelia quebrou o silêncio,
um tempo depois.
— Precisamos da sua ajuda — A voz da minha avó
estava séria e ela engoliu em seco, destruindo o seu
orgulho.
— Depois de anos, você simplesmente aparece na
minha porta e diz que precisa de mim? — A sua filha soltou
uma risada irônica e debochada.
— Luna está com problemas, precisa de um lugar
pra ficar.
— Ela se parece muito com a Anne.
— E com você também — minha vó retrucou.
— Qual é o problema dela? — Amélia mudou de
assunto, não parecendo gostar de ser comparada comigo.
Minha avó me encarou e eu assenti, permitindo que
ela contasse tudo. Se ela nos trouxe até aqui, é porque
podíamos confiar na sua filha
— Ela está grávida de um mafioso.
Houve um momento de silêncio, antes da minha tia
explodir.
— Repetindo os mesmos erros da sua mãe? Você é
burra garota? — Ela gritou comigo.
Abaixei a cabeça me sentindo uma idiota. Como eu
pude cometer os mesmo erros que levaram à morte da
minha própria mãe?
— Mas não é qualquer mafioso. É o Capo da família
Esposito, ela era a amante e ele pensa que foi traído.
Amélia jogou o cigarro pela janela e balançou a
cabeça, nos chamando de malucas.
— Deem o fora da minha casa. Ela está carregando
o carma da mãe dela nas costas, e eu não vou assistir a
outra morte — a sua voz agora estava irritada.
— Amélia, ela só tem a nós. Faça isso pela sua irmã.
— Como vou saber que estamos protegidas? —
Perguntou com desconfiança.
— Ninguém vai encontrar vocês aqui. Vou voltar
para a mansão e dizer que a Luna saiu da cidade.
— Você vai voltar? Não é perigoso? — Perguntei,
preocupada para a minha avó.
— Eu sei me cuidar, eles não fariam nada com uma
velha.
— Estraguei tudo, não foi vó? Desculpe-me.
— Não tem porquê se desculpar. Agora, vamos
tentar sobreviver e criar essa criança longe do mundo da
máfia, igual eu tentei fazer com você, quando a sua mãe
morreu — ela passou a mão pelos meus cabelos, mostrando
o um lado carinhoso, que estava escondido.
A abracei, afundando o rosto no seu peito e me
sentindo segura. Eu não queria que ela voltasse para a
mansão e me deixasse aqui. Nunca fiquei longe da minha
avó e agora, tudo era assustador demais.
— Tudo bem, ela pode ficar, mas vai ter que
trabalhar para ajudar a pagar as contas da casa.
— Isso não é problema, o que a Luna faz de melhor
é trabalhar, mas ela não vai se prostituir — minha avó
respondeu por mim.
— Acho que ela já fez isso o suficiente com o chefe
— A voz zombeteira de Amélia me causou arrepios.
— Eu era apaixonada por ele — retruquei,
aborrecida com as suas insinuações.
— Claro que era. Você é inteligente garota, tentou
pescar um peixe grande, mas se esqueceu de que é
pequena demais para ele.
Ignorei os seus insultos, não me deixando afetar
pelas suas palavras vazias. Ela não sabia nada sobre mim e
Alessandro, porque por um breve momento, nós fomos reais
e os sentimentos estavam florescendo entre nós.
E agora, ele me tinha como uma traidora e eu o
odiava, enquanto esperava um filho dele. Não era dessa
maneira que eu esperava que a minha história de romance
teria um fim.
CAPÍTULO 10

Eu estava grávida. Isso se tornou nítido nos meses


que se passaram, porque a minha barriga estava cada vez
maior. Tinha que suportar enjoos matinais e fome acima do
normal, além de um mau humor e irritação profundos por
tudo o que existia.
Havia dias que eu passava horas chorando e em
outros, sentia vontade de matar alguém, principalmente a
minha tia, que estava fazendo questão de transformar a
minha estadia na sua casa em um inferno.
Ela não escondia o desprezo que sentia por mim e
pelo meu bebê e às vezes, me fazia desejar voltar para a
casa de Alessandro, seria mais tolerável do que ter que
suportar o seu descaso.
A minha vó me ligava às vezes para me dizer que as
coisas estavam bem, mas nunca tocava no nome dele,
então eu nem sequer sabia se Alessandro queria saber onde
eu estava. O que não me importava mais, porque aquela
deveria ser apenas uma página virada na minha vida,
mesmo que eu carregasse um pedaço dele na minha
barriga.
Ele sempre estaria impregnado em mim e eu nunca
o esqueceria, apesar de ter partido o meu coração e me
desprezado por um erro que nem ao menos cometi.
Durante a minha vida inteira eu trabalhei na mansão
Esposito e de alguma forma, eu me sentia presa nas
proteções daquela casa. Eu sequer conhecia direito a cidade
em que morava, porque não me permitia sair, mas agora
tinha a sensação de estar livre.
A minha tia não me ajudou a procurar um emprego,
então, eu fui por conta própria e consegui encontrar um
trabalho lavando pratos em um restaurante, durante o dia,
e um de garçonete em um bar, à noite.
Agora com o meu filho a caminho, eu precisava de
todo o dinheiro possível para poder criá-lo sozinha e em
breve, eu poderia sair da casa de Amélia, mesmo que para
isso, tivesse que me matar de trabalhar.
— Não volto pra casa hoje — ela avisou, colocando
uma bolsa no ombro.
Suas roupas eram bem vulgares e ela não parecia se
importar com isso, afinal, aquele era o seu trabalho. Eu
preferia quando ela passava a noite fora, ao invés de trazer
homens para cá, me obrigando a ouvir os seus barulhos
pela madrugada.
Ver homens saindo do seu quarto pela manhã, era
algo mais normal do que eu gostaria, principalmente os
velhos, que me lançavam olhares nojentos.
— Eu vou trabalhar até mais tarde — respondi,
fazendo um pouco de café para tomar, antes de seguir para
o bar onde eu trabalhava.
Estava cansada de ter passado o dia em pé, lavando
pratos, e tinha criado bolhas nos meus pés. Eu nem sequer
tinha um tempo de sono decente, o que ocasionou o
surgimento de várias olheiras embaixo dos meus olhos.
— Você está horrível, deveria seguir o meu
conselho, iria ganhar mais, mesmo estando grávida, você
não está tão gorda — Amélia comentou, me analisando
inteira.
Às vezes, eu só gostaria que ela ficasse em silêncio
e ignorasse a minha existência. Nós nos daríamos muito
bem se ela fizesse isso.
— Não vou me prostituir — retruquei, porque aquela
ideia era ridícula.
Estava grávida, deveria respeitar o meu corpo e o
meu filho, além de que, carregava o fardo e a promessa de
não ser igual a minha mãe.
— Não sei o porquê de tanto orgulho, vindo de
alguém que está na miséria.
Soltei uma risada irônica, torcendo os lábios para
não xingá-la e piorar ainda mais a minha situação. Amélia
não perdia uma oportunidade de me humilhar.
— Eu não estou na miséria — respondi, mantendo a
calma.
— Sem teto e grávida de um homem que pode te
matar. Se existe uma vida mais miserável que essa, me diga
qual é.
Soltei a minha xícara de café sobre o balcão com
força, encarando o seu rosto debochado, com raiva. Ela
sentia prazer em me ver perdendo o controle e parecia fazer
isso de propósito.
— A sua por exemplo, morando nessa imundície e
tendo que vender o próprio corpo para um bando de velhos
pervertidos para conseguir sobreviver — retruquei, olhando
para o apartamento pequeno e sujo à minha volta.
Pela primeira vez vi os seus olhos crescerem em
surpresa por eu ofendê-la daquela maneira, mas eu estava
tão cansada, que não conseguia ficar calada.
— Você está na minha casa, sua putinha. Como ousa
falar assim comigo?
— Só cansei de apanhar, sem ter como me
defender. As pessoas me tratam como se eu fosse um nada
e eu não vou tolerar mais isso — retruquei, sem abaixar a
cabeça.
— Quer um conselho? Continue de boca fechada ou
não vai conseguir sobreviver por muito tempo. E aceite essa
vidinha miserável, porque é a maldição das mulheres dessa
família — ela abriu um sorriso desprezível, antes de sair de
casa e bater à porta.
Eu não iria aceitar coisa nenhuma. Quando
ganhasse dinheiro o suficiente, iria embora dessa cidade e
construiria uma nova vida, na qual seria feliz com o meu
filho.
A maldição dessa família acabaria aqui.

Odiava trabalhar naquele bar, porque o assédio era


grande, contudo, me contentava com as gorjetas que, às
vezes, colocavam nos bolsos da minha calça.
O movimento não era tão bom e o bar ficava mais
vazio do que cheio, como hoje, então, eu não teria gorjetas
boas e precisaria ouvir as reclamações do meu chefe.
— Poderia me servir, lindinha?
Uma voz conhecida soou em uma mesa próxima a
que eu estava limpando, fiquei tensa achando que estava
trabalhando demais e ficando maluca.
Isso não podia ser real. Eu estava longe daquele
mundo em que estive a vida toda e não havia como me
encontrarem aqui.
— Estou falando com você, Luna Lombardi.
Engoli em seco e ergui a cabeça, encontrando os
olhos incrivelmente azuis de Lorenzo Esposito, o irmão mais
novo de Alessandro, que estava sentado, sozinho à mesa,
com uma postura desleixada e arrogante.
Havia um brilho curioso nos seus olhos cheios de
malícia e maldade. Ele era diferente de Alessandro, Lorenzo
gostava de chamar atenção e do caos, então, eu deveria me
preocupar com a sua vinda aqui.
Alessandro teria mandado o irmão até mim? Já faz
cinco meses que eu fui embora, não fazia sentido me
procurar agora.
— Você? — Dei um passo para trás, assustada,
sentindo a minha respiração alterada.
— Está decepcionada? Queria que fosse Alessandro?
— Ele fingiu estar ofendido.
— Não. Como me encontrou? — Mantive a minha
postura séria.
— Você está subestimando a minha inteligência,
lindinha.
— O que você quer? — Fui ríspida, porque não
estava gostando das suas provocações.
Ele percorreu o olhar pelo meu corpo, parando na
minha barriga com interesse. Automaticamente a abracei,
pensando em como poderia proteger o meu bebê de alguma
forma.
— É uma pena que tenha saído da casa do meu
irmão para trabalhar em um local tão desprezível —
comentou, olhando à nossa volta com asco.
Não poderia discordar sobre o local ser desprezível,
mas era o meu trabalho e eu deveria agradecer por tê-lo.
— Fale logo o que quer.
— Estou impressionado com a sua astúcia, você
costumava ser mais boazinha.
— Eu estou trabalhando, não me traga problemas —
resmunguei, olhando à minha volta para ter certeza de que
o meu chefe não estava de olho em mim.
— Só quero conversar e estou esperando o seu
expediente acabar.
— Ele acaba em…
— Trinta minutos, eu sei — me cortou, olhando para
o seu relógio de pulso.
Agora eu estava incrédula e entrando em pânico
com a ideia de estar sendo perseguida por esse louco há
muito tempo.
— Está me vigiando? — Grunhi, começando a me
irritar por não ter percebido antes.
Será que Alessandro também sabia onde eu estava?
Talvez tenha sido inocente demais para não perceber,
achando que estava segura.
— Acho que nós dois podemos ser bons amigos e
ajudar um ao outro — respondeu casualmente, com um
pequeno sorriso espertalhão.
— Por que pensa isso? — Não escondi a curiosidade.
Lorenzo voltou a olhar para a minha barriga e deu
de ombros.
— Porque temos objetivos em comum — tentou me
manipular.
— Acho muito difícil eu ter algum objetivo em
comum com você — foi a minha vez de rir, porque ele só
podia estar ficando louco.
— Vai perceber que sim, e vai gostar disso —
prometeu, me fazendo ficar receosa.
Eu não podia confiar em Lorenzo, muito menos
voltar a ter contato com o mundo de Alessandro, mas esse
homem não iria embora se eu não escutasse o que ele tinha
a me dizer e também, estava curiosa, então, suspirei e
assenti, torcendo para não me arrepender.
CAPÍTULO 11

— Eu sei que você está grávida do meu irmão —


Lorenzo começou a falar quando me sentei ao seu lado,
dentro do seu carro luxuoso.
O meu expediente tinha acabado e ele fez questão
de conversarmos no seu carro, porque não queria ficar
naquele ambiente pobre, com cheiro de cerveja barata e
pessoas duvidosas.
— Se nem ele acreditou em mim, por que você
acreditaria? — Olhei para as minhas mãos magras, tentando
entender aonde ele queria chegar com aquela conversa.
— Quando o meu irmão está com ciúmes, não
enxerga o que está embaixo do seu próprio nariz — Ele
soltou um suspiro cansado, atraindo a minha atenção.
Lorenzo era muito bonito, mesmo com todo o seu
humor duvidoso. Suas roupas eram todas finas e caras e a
sua postura, elegante, mostrando que ele não era alguém
comum.
— Ele preferiu acreditar nela, mas eu não me
importo, porque foi melhor assim. O meu filho não estaria
seguro naquela casa. Maya o ameaçou e Alessandro,
também — Minha voz soou rancorosa ao me lembrar do
desprezo de Alessandro.
É claro que Alessandro iria preferir acreditar na sua
esposa. Quem eu era, comparada a ela? Eu era apenas a
empregada, por quem ele estava obcecado.
— Aquele idiota apaixonado não faria nada com
você — Ele bufou soltando, uma risadinha.
A ideia de que Alessandro era apaixonado por mim,
realmente me fazia querer rir, porque era uma grande
mentira. Uma pessoa apaixonada não faria o que ele fez. Ele
não me trataria daquela maneira ou me causaria aquele
trauma, tirando a vida de Nicolas na minha frente.
— Ele não é apaixonado por mim, caso contrário,
teria ficado do meu lado — resmunguei.
— Se ele não fosse apaixonado por você, não teria
feito o que fez, não teria matado o homem que achava ser o
seu amante — a sua voz soou debochada.
A atitude de Alessandro foi totalmente fora de
controle e assustadora, mas isso porque ele pensava que eu
era um objeto, que só ele poderia ter. Ele queria estar
comigo e com a sua esposa ao mesmo tempo, e eu não
aceitaria viver uma vida sendo humilhada dessa maneira.
— Ele achava que eu era uma posse e eu não quero
ser isso para ninguém — Minha voz era firme, porém triste.
Lorenzo me olhou com curiosidade e assentiu,
parecendo entender, estranhamente, a minha forma de
pensar.
— Você tem algo diferente das pessoas do nosso
meio, talvez seja isso que tenha chamado a atenção do meu
irmão.
Fiquei em silêncio, porque não queria ser tratada
como um nada ou me sentir especial, apenas por ser
diferente. Essa era a única certeza que eu tinha. Eu não era
igual aquelas pessoas, mesmo tendo sido criada em volta
delas.
— Vou tirar a Maya da mansão e do seu caminho.
Alessandro será dado como viúvo e você poderá voltar e se
casar com ele. Pode esconder a gravidez por um tempo,
então, o seu filho não seria dado como bastardo — Lorenzo
falou de repente, me fazendo olhá-lo surpresa, diante de
toda aquela loucura.
A sua expressão agora era séria e ele estava
realmente falando a verdade, o que me deixou assustada
com aquela ideia maluca.
— Eu não estou entendendo essa história maluca,
mas Alessandro me odeia, me expulsou da sua vida e eu
estou decepcionada com ele, então não tenho motivos para
voltar.
— Nada que uma conversa não resolva. Se ele está
em dúvida sobre a criança, faremos um teste de DNA.
— Você disse que vai tirar a Maya do meu caminho.
Como fará isso? A matando? — Perguntei confusa, tentando
entender a sua cabeça doentia.
— Tenho algumas pendências para resolver com ela
— foi a única resposta que ele me deu, não me deixando ler
nada a mais nos seus olhos.
Balancei a cabeça e me afastei dele, querendo sair
daquele carro e voltar a seguir a minha vida, porque sentia
que estava entrando em uma maldita bola de neve.
— Eu agradeço pela preocupação e por ter perdido o
seu tempo vindo até aqui, mas eu não quero. Estou muito
bem assim.
— É perceptível o quanto você está bem — Lorenzo
zombou, apontando para o meu estado.
Eu sabia que não estava com a melhor aparência,
mas eu não iria aceitar qualquer migalha.
— É melhor você cuidar da sua vida — retruquei
aborrecida e ele ergueu as mãos como um pedido de
desculpas.
— Irei fazer a minha parte. Maya não será mais um
problema e você poderá voltar para a vida do meu irmão
babaca. Todos nós ficaríamos felizes.
— Por que quer me ajudar? — Perguntei com
desconfiança.
— Isso não é por você, lindinha — abriu o seu sorriso
sacana.
É claro que não era por mim, ele iria ganhar alguma
coisa com toda essa brincadeira. Lorenzo não parecia ser o
tipo de pessoa que fazia caridade, sem esperar por algo em
troca.
— Qual é o seu interesse em Maya? — Perguntei a
única desconfiança que tinha.
Por um instante, uma ideia passou pela minha
cabeça, mas eu preferi ignorá-la. Ele não estaria interessado
na esposa do próprio irmão, estaria? Talvez ele só quisesse
uma forma de se vingar de Alessandro, destruindo o seu
casamento.
A única certeza que eu tinha, era a de que Lorenzo
não estava tentando fazer o bem, e que eu não deveria
confiar nele.
— Um que não é da sua conta — respondeu
desinteressado.
Então, ele poderia saber da minha vida, mas eu não
poderia saber da dele. O quão hipócrita Lorenzo era?
— Você acha que Alessandro me encontraria, assim
como você me encontrou? — mudei o assunto para algo que
estava começando a me preocupar.
— Se ele quiser, te encontrará até em outro país.
Não tem como se esconder, dele garota — respondeu o
óbvio, fazendo eu me sentir burra, porque nunca estive
segura.
— Você viu ele? Sabe se ainda está com raiva de
mim.
— A última vez que mencionei o seu nome, ele
quase quebrou uma garrafa de uísque na minha cabeça —
respondeu, encarando o meu rosto e esperando por alguma
reação minha.
— Jesus — sussurrei assustada, imaginando a cena.
— Você mexe com a cabeça do cara. Ele está
apaixonado por você.
— Acha que ele me machucaria? — Perguntei,
esperando uma resposta sincera.
Não queria ter medo de Alessandro, me partiria o
coração saber que ele teria coragem de me machucar, ferir
uma inocente.
— Ah não, ele não seria capaz disso.
— Mas o meu filho ainda corre perigo.
— O seu filho é valioso para qualquer um, que
colocar as mãos nele. Ele é o herdeiro primogênito do Capo,
nem a esposa dele conseguiu engravidar ainda.
— Mas o meu filho não vai crescer nesse meio, eu
vou escondê-lo.
— Está o escondendo muito mal, pelo visto. Aquele
muquifo onde você mora não é adequado, nem seguro — a
sua voz era pura repressão.
— Você está me seguindo há quanto tempo? —
Resmunguei indignada.
— Tempo o bastante. Vou mandar dois seguranças
pra ficar com você, eles vão te acompanhar aonde você for,
também vou mandar um carro.
— Não, eu não quero favores seus — Neguei
rapidamente.
Todas as pessoas querem algo em troca quando
oferecem ajuda a alguém, e eu não queria dever para um
mafioso.
— Não são para você, e sim, para o meu sobrinho.
Se quer proteger ele, faça direito — a sua voz era pura
repressão.
— Obrigada, mas eu não tenho como pagar.
— Não quero o seu dinheiro, lindinha. Mas a minha
oferta ainda está de pé. Você pode voltar para a mansão e
resolver as coisas com Alessandro.
— Eu não o quero — ofeguei, sentindo o meu peito
doer, ao pensar no homem pelo qual fui apaixonada a vida
inteira.
Porém, não iria perdoá-lo pelo que fez comigo, se é
que ele tenha se sentido arrependido alguma vez.
— Tudo bem, pode pensar melhor depois. Agora, te
deixarei em casa.
— Não precisa, vou de ônibus — Neguei
rapidamente, não querendo mais ficar na sua presença.
— Já são quase meia-noite, deveria cuidar melhor da
sua segurança.
— Estamos em um lugar seguro — respondi receosa.
— Nenhum lugar é seguro para o filho de um Capo
— alertou, como se me achasse burra.
— Ninguém sabe que estou grávida do filho de um
Capo — resmunguei, abraçando minha barriga e Lorenzo
revirou os olhos.
— Ficaria surpresa em saber o quanto as notícias
correm por aqui. Toda proteção é pouca.
Lorenzo parecia estar realmente preocupado comigo
e eu não deveria brigar com ele por causa disso. Se ele
queria me ajudar, então, eu aceitaria a sua ajuda e
acreditaria que ele estava sendo sincero.
— Tudo bem, eu aceito a sua carona — respirei
fundo, querendo apenas ir embora e descansar.
— Eu não estava pedindo permissão, lindinha —
Debochou.
Revirei os olhos quando ele abriu um sorriso e pediu
para o motorista começar a dirigir, rumo à minha casa.
CAPÍTULO 12

Agora eu tinha dois seguranças e um motorista


particular, como se fosse alguém importante. Sebastian era
um senhor que me levava para o trabalho e buscava, além
de estar sempre disponível para quando eu precisava,
mesmo que não fosse de falar muito. Os seguranças
também só faziam o seu trabalho em silêncio, apesar de
não serem nada discretos, porque pareciam duas muralhas
gigantes atrás de mim.
No início, fiquei receosa, mas depois percebi que ter
um carro confortável era melhor do que andar de ônibus e
me sentia mais segura e relaxada com os rapazes. Lorenzo
não apareceu mais e eu não sabia se ele já tinha colocado o
seu plano em ação.
Na verdade, eu não me importava com o que ele
pensava em fazer com a Maya, estava aliviada por ele estar
tentando se livrar dela para mim, seja qual for o seu
interesse naquela mulher. Alessandro iria surtar com os
planos do irmão, contudo, eu também não me importava
com isso.
— Já encontrou outro homem rapidinho, hein? Por
que esse cara não a leva embora? — Amélia perguntou, ela
viu o carro me esperando quando saímos de casa.
Já faz um tempo que ela notou que eu tinha um
motorista e dois seguranças, mas permaneceu de boca
fechada para a minha surpresa.
— Não se preocupe, eu vou sair da sua casa em
breve.
— Está demorando mais do que imaginei.
— Por que me odeia tanto? — Perguntei, não
conseguindo ignorá-la como sempre.
A mulher desceu o olhar para a minha barriga, que
eu tentava esconder debaixo do suéter e de um casaco, era
visível para qualquer um que eu estava grávida.
— Não odeio você. Só não suporto assisti-la se fingir
de boa moça, quando na verdade, é uma vadia — a sua
resposta veio dura e cortante.
Eu não era uma vadia e muito menos, me fazia de
boa moça, mas Amélia não me suportava mesmo assim,
sendo que eu nunca lhe fiz nenhum mal. Talvez ela só
odiava o fato de que eu a lembrava da minha mãe.
— Eu não sou uma vadia.
— Está grávida de um homem casado — Jogou o
meu erro na minha cara.
Ela sempre fazia isso, tentava me menosprezar,
falando sobre a minha gravidez.
— Ele não estava casado quando engravidei —
tentei me defender, porque não suportava mais aquelas
acusações.
— Mas já estava comprometido.
— Você quer me ofender para esconder o fato, de
que é uma pessoa horrível e amargurada — mantive a
minha postura para não deixar as suas palavras me
afetarem.
— Só quero que você abra os olhos e entenda que a
vida não é um conto de fadas, não vai ter a porra de um
príncipe para te salvar — seu grunhido baixo me assustou.
— Mas terá as bruxas, iguais a você — retruquei
aborrecida.
Amélia sustentou o meu olhar sério, mas não negou
ou se sentiu ofendida por eu respondê-la daquela maneira.
— Você não é nenhuma princesa inocente.
— Não sou inocente, eu me colocaria como a
guerreira dessa história.
— Boa sorte guerreira, pelo visto você irá precisar,
porque até os seguranças precisam protegê-la — ela
debochou, descendo as escadas do apartamento e me
deixando para trás.
Senti-me uma inútil naquele momento, porque era a
mais pura verdade, eu nem sabia manusear uma arma para
me defender.
Amélia passou pelos meus seguranças, mandando
piscadelas para os homens, que continuaram sérios,
guardando a porta do carro que me esperava.

Havia algo de errado hoje, além de sentir o mal-


estar rotineiro da gravidez, tinha a estranha sensação de
estar sendo vigiada o tempo todo e não era pelos meus
seguranças.
O movimento do bar estava grande, de forma que
não consegui parar para procurar o motivo das minhas
paranoias. Alguns velhos me olhavam quando eu passava,
mas eu sentia que eles não eram a causa da minha
preocupação.
Pensei na ideia de Lorenzo estar por aqui, porém, já
faz algumas semanas que ele veio propor a sua oferta e não
apareceu mais, então, acredito que tenha se esquecido de
mim e que esteja trabalhando no que importa para ele:
Maya.
Confesso que gostei de ter a sensação de que havia
alguém preocupado e querendo cuidar de mim, mas talvez
só estivesse carente o suficiente para aceitar migalhas de
qualquer um. E eu me odiava por isso.
Terminei de servir todos os clientes que estavam ali,
corri apressada para ir ao banheiro por dois minutos para
respirar um pouco e me livrar de toda aquela barulheira.
A minha barriga já estava pesada e incomodando
não só eu, mas também ao meu chefe, que sempre me
olhava com repreensão, soltando piadas sobre eu estar
lenta e não dar conta do serviço. Eu sabia que logo ele me
demitiria, então precisava aproveitar o máximo possível
para juntar algumas gorjetas.
Parei em frente à pia do banheiro e lavei o meu
rosto, tentando melhorar a minha expressão cansada, mas
isso era impossível. Eu havia emagrecido durante esses
meses que passei aqui e não tinha sequer um plano de
saúde para ir a algum hospital, sequer sabia como estava o
meu bebê, se era um menino ou uma menina, se estava
forte ou fraco, igual a mãe.
Estávamos apenas sobrevivendo e eu me sentia
péssima, porque não conseguiria lhe dar uma vida melhor.
Talvez ele me culpasse quando nascesse, talvez essa seria a
forma de pagar pelos meus pecados.
Virei-me para sair dali e me assustei, ao me esbarrar
com um homem, que tinha o dobro do meu tamanho. Tentei
dar um passo para trás e gritar, já imaginando as suas más
intenções, mas não tive tempo, porque a sua mão grande
cobriu a minha boca com um pedaço de pano, que tinha um
cheiro forte.
Debati-me quando os seus braços rodearam a minha
cintura e tentei gritar, chorando de desespero. Não podia
deixar a minha vida acabar dessa maneira, não era justo.
Eles me encontraram, eles iriam me machucar ou
me matar.
Não consegui pensar em mais nada, porque tudo
escureceu e a minha mente apagou.
Quando acordei, estava deitada em uma cama, com
os braços amarrados na cabeceira e deveria estar lá há
muito tempo, porque os meus pulsos doíam e as cordas
machucaram a minha pele.
Recordei o que aconteceu e tentei não entrar em
pânico, pelo fato de ter sido sequestrada. Não conseguia
entender como aquele homem tinha conseguido me tirar do
bar sem que alguém percebesse.
Teria o meu chefe conspirado com aquele
sequestro? Eu não podia confiar em ninguém naquele
momento, nem mesmo na minha própria sombra.
Observei o quarto estranho à minha volta, notando
apenas uma poltrona vazia em um canto. Tentei falar, mas a
minha garganta estava muito seca, o que me fez tossir
repetidamente e implorar por um pouco de água.
— Socorro! — A minha voz soou fraca e baixa.
A porta abriu de repente, me fazendo encolher o
corpo e observar a figura de preto que entrou no quarto. Era
um homem mais velho, junto com o brutamontes que havia
me desacordado no bar.
Eu não sabia quem eles eram, mas com certeza
eram pessoas ruins e que iriam me machucar.
— Então, essa é a garota que carrega o filho de
Alessandro? Pensei que ela fosse mais forte, me parece
doente — o homem me analisou com desconfiança.
Além de ser sequestrada, ainda tinha que ser
humilhada por um desconhecido maluco.
— Nós a seguimos há algum tempo, ela estava
sendo monitorada por seguranças da família Esposito.
— Então Alessandro está tentando esconder o filho
bastardo — Agora havia um sorrisinho contente no rosto do
velho.
Lembrei-me das palavras de Lorenzo, me dizendo
que nenhum lugar era seguro para o filho de um Capo. Eles
queriam o meu filho.
— Está enganado, não estou grávida de Alessandro
e não significo nada para ele. Vocês pegaram a garota
errada — intervi no meio da conversa, atraindo os seus
olhares para mim.
Eu precisava fugir daqui e fazê-los acreditar que
pegaram a mulher errada.
— É o que nós vamos descobrir — abriu um sorriso
falso.
— O que vai fazer? — Perguntei apavorada quando
dois homens de jaleco branco entraram no quarto, cada um
carregava uma maleta e vinham em minha direção.
— Um teste de DNA. Sorte a nossa que ainda tenho
o sangue de Alessandro, desde o nosso último encontro.
— Quem é você? — Exigi saber quem era o maluco
que estava fazendo isso comigo.
O velho deu um passo à frente, me fazendo notar a
sua boa postura e os olhos azuis familiares, que só me
fizeram lembrar de uma pessoa.
— Sou Vittorio, o querido tio do cara com quem você
andou fodendo. Ele não está sendo generoso comigo
ultimamente, mas isso mudará quando souber que estou
com o seu herdeiro.
Engoli em seco, querendo gritar, mas já não tinha
forças. O que me restou foi chorar e rezar para essa tortura
acabar logo.
CAPÍTULO 13

Os homens tiraram o meu sangue e depois, foram


embora, conversando com o suposto tio de Alessandro
sobre quando o teste ficaria pronto. Eu não pude fazer nada
para impedi-los, porque além de estar presa, nem forças
tinha, lutar era inútil e agora, eles teriam a certeza de que o
meu filho era de Alessandro.
Vittorio me deixou sozinha com o seu capanga, o
homem grande estava sentado em uma poltrona na lateral
do quarto, enquanto me vigiava.
— Qual é o seu nome? — Perguntei, tentando atrair
a sua atenção.
O grandalhão não parecia ser alguém gentil, mas eu
precisava fazer amizade com aquele homem, se quisesse
sair desse lugar. Se conseguisse persuadi-lo, ele me
ajudaria ou talvez, eu estivesse sendo inocente demais.
— Vittorio disse que não posso conversar com a
prisioneira — a sua voz soou rude.
— Meu nome é Luna, pensei que seria bom saber o
nome do capacho do meu sequestrador — mordi os lábios, o
encarando atentamente.
— Não sou capacho — o homem retrucou, me
olhando zangado.
Estava aí o seu ponto fraco, talvez não seria tão
difícil enganá-lo.
— Se não é um capacho, então você tem um nome.
Ou o seu chefe não te chama por ele?
— É Marco — a sua voz agora soava como
impaciente.
— Marco, pode me soltar dessas cordas? Os meus
pulsos estão doendo — Soltei um murmuro choroso, mal
conseguindo me mexer.
— Não vai tentar nenhuma gracinha? — Ele me
olhou com desconfiança.
— E para onde eu iria?
— Não sei, mulheres são trapaceiras.
— Não se garante com uma mulher grávida? —
Continuei as provocações.
— Me garanto, tanto que você está aqui —
Debochou, me fazendo revirar os olhos.
— Eu sei, mas só quero descansar os meus pulsos e
beber um pouco de água.
— Não sei se devo.
— É assim que vocês tratam uma mulher grávida?
— A minha voz soou triste e decepcionada — Quando
morrerem, nem a terra irá querer o corpo de vocês.
— Não estamos a maltratando — Ele franziu o
cenho, não parecendo gostar da minha acusação.
— Mas então me negando água, estão prejudicando
o meu filho — Apelei para o sentimentalismo, percebendo
que o homem ficou incomodado.
— Irei buscar água pra você, mas é melhor ficar
quieta — Marco resmungou ao se levantar.
Suspirei agradecida e esperei ele voltar com a água.
Alguns minutos depois, o grandalhão voltou, trazendo uma
garrafa, e eu me molhei, engasgando devido a velocidade
com que a bebi para conseguir matar a minha sede.
Ele riu do meu desespero e voltou a se sentar, não
fazendo menção alguma de querer me soltar daquelas
cordas. O tempo passou, fiquei horas deitada naquela cama
e só me sentei para comer e ir ao banheiro, acompanhada
por Marco.
Perdi a noção de há quanto tempo estava ali, não
tinha respostas e muito menos, sabia quais eram os planos
de Vittorio para mim depois que saísse o resultado do DNA.
— O que Vittorio vai fazer comigo? — Perguntei
quando fui solta para o banho.
Os meus pulsos estavam vermelhos e doloridos,
faria qualquer coisa para ele não me prender de novo.
— Essa criança é muito valiosa para ele — Marco
olhou para minha barriga.
— Ele quer o meu bebê? — Perguntei temerosa.
— Ele vai fazer um acordo com Alessandro Esposito
e usará o bebê para isso.
Respirei fundo, tentando controlar o meu desespero,
sabendo que não terá acordo, porque Alessandro não se
importa comigo ou com essa criança, então Vittorio irá me
descartar ou talvez até me matar.
— Não há como eu sair daqui? Meu filho irá nascer
em um cativeiro? — Continuei as perguntas, pelo menos ele
estava me respondendo.
— Aqui não é tão ruim como pensa.
— Ainda estamos em Nápoles?
— Vittorio foi banido de Nápoles.
— Estamos muito longe, então?
Eu não saberia para onde ir se conseguisse fugir
desse lugar.
— Estamos perto, agora cale a boca, porque você
fala demais e Vittorio vai cortar a minha língua se eu
continuar falando com você — resmungou impaciente.
— Ele é tão cruel assim?
— Não vai querer irritá-lo.
— Obrigada por conversar comigo, Marco — forcei
um sorriso realmente agradecida, sentindo os seus olhos
desconfiados me analisarem.
— Eu sequestrei você, não me agradeça — a sua voz
agora era brava.
— Me desculpe, eu só não gosto de estar sozinha.
— Tome o seu banho, garota — resmungou saindo
do banheiro e me deixando sozinha com as minhas
preocupações.

— Você é mãe de um herdeiro, mas não uma


princesa, acorde — Vittorio invadiu o quarto me assustando
e me tirando do meu sono profundo.
Estava tão cansada, que simplesmente apaguei, não
sabendo sequer que horas eram.
Sentei-me na cama, puxando os cobertores para me
cobrir, porque usava apenas uma camisa masculina, que eu
não fazia ideia de a quem pertencia, mas foi a única peça
de roupa que Marco me deu para vestir quando tomei
banho.
— O que você quer? — Perguntei em um resmungo.
O homem de cabelos grisalhos parou no meio do
quarto, me encarando de uma forma ameaçadora e me
fazendo encolher no colchão.
— Nós vamos conversar com o papai do ano, quero
você disposta — ele levantou o celular, me fazendo engolir
em seco ao saber o que iria fazer.
Alessandro não iria se importar comigo e Vittorio me
mataria, me descartando como um nada.
— Eu não quero — sussurrei, olhando à minha volta,
procurando uma maneira de fugir daqui.
Marco estava barrando a porta, como um segurança
e não teria como eu passar por lá, sem ser pega por ele.
— Não perguntei o que você quer, não confunda as
coisas, porque a única pessoa que manda aqui sou eu — O
velho deu um passo à frente, me encarando com
repreensão.
— Quando você vai me deixar ir embora?
— Se Alessandro cooperar, ele terá de volta a
mulher e o filho.
Mordi os lábios em ansiedade, o assistindo a discar
os números no telefone, torcendo para que Alessandro não
atendesse.
Os toques ecoaram pelo quarto, até a chamada cair
na caixa postal, me fazendo respirar aliviada. Vittorio tentou
uma segunda vez e ficou frustrado, por ser ignorado mais
uma vez.
Então, ele mirou o telefone na minha direção e tirou
uma foto minha, me fazendo virar o rosto para não
compactuar com aquilo.
— Vamos ver se ele me atende agora — sorriu,
enquanto provavelmente enviava a foto, começando a ligar
outra vez.
Por favor, Alessandro, não atenda. Faça alguma
coisa por mim e finja que eu nunca existi na sua vida. Era o
que implorava em pensamentos, rezando por um pouco de
sorte ao menos uma vez na vida, mas o bip do celular parou
dando-me a resposta do meu fracasso e a voz furiosa de
Alessandro soou do outro lado da linha, explodindo por todo
o quarto.
— Eu espero que esteja brincando comigo, Vittorio,
ou eu mesmo o encontro e arranco a sua cabeça.
O sorriso no rosto de Vittorio só não foi tão grande
quanto as batidas do meu coração.
CAPÍTULO 14

O clima pesou no quarto e o único que parecia feliz


ali era Vittorio. Ele estava radiante por ter conseguido o que
queria: o descontrole de Alessandro.
— Vejo que os seus ânimos não estão bons, querido
sobrinho — a voz de Vittorio saiu debochada e toda a minha
atenção estava naquela conversa.
As minhas mãos começaram a suar de nervosismo,
enquanto me perguntava qual seria o fim de tudo isso.
— Pare de brincar com a minha cara, Vittorio, que
merda é essa? — Alessandro gritou do outro lado da linha.
— Se eu fosse você, não chamaria a mãe do seu
filho de merda.
Alessandro respirou fundo e xingou alguma coisa,
para em seguida ficar em silêncio, parecendo pensar em
quais seriam as suas próximas palavras.
— Deixe a mulher ir, ela é apenas uma empregada
— a sua voz soou um pouco mais calma agora.
Eu não deveria ter mais nenhum sentimento por
Alessandro dentro de mim, mas as suas palavras
conseguiram atingir as feridas que ainda não haviam
cicatrizado.
Como eu já sabia, era vista apenas como uma pobre
empregada, a qual ele usou por alguns dias e se cansou.
Enquanto eu era a boba apaixonada, que o amou quase a
vida inteira e que nunca me desligaria dele, pois todas as
vezes que olhasse para o meu filho, me lembraria de
Alessandro e isso, doeria muito.
— Se ela fosse apenas a empregada, você não teria
a engravidado — seu tio retrucou.
— Ela não está grávida de mim — Ele rangeu os
dentes, mas eu pude perceber a dúvida na sua voz.
Como poderia ser tão cego? Como não pôde
enxergar o meu amor por ele todo esse tempo? Alessandro
deveria saber que eu não seria capaz de traí-lo, mesmo que
não tivéssemos nada concreto.
— Não foi isso que o exame de DNA disse. Essa
garota está grávida e você é o pai.
Prendi a respiração, olhando para a minha barriga
grande, eu não tinha nenhuma dúvida sobre o exame de
DNA, mas não queria ser exposta dessa maneira, não queria
que a minha vida e a do meu filho fossem apenas um jogo
para essas pessoas.
Houve um silêncio, que logo foi substituído por
agitação e vozes, do outro lado da linha, mostrando que
Alessandro não estava sozinho.
— Eu vou te matar, Vittorio — Ele parecia não
conseguir conter a sua fúria agora.
— Acho que não. Ou você não vai encontrar a sua
amante e o bastardo vivos.
— O que você quer para deixá-la ir?
Ele estava mesmo se preocupando comigo? Soltei
uma risada irônica e baixa, enquanto balançava a cabeça.
Alessandro me expulsou da casa dele, se estivesse mesmo
preocupado comigo, não teria me deixado ir embora.
— Quero o meu cargo e a minha vida de volta.
— Você foi expulso da Camorra, não tem volta.
— Você é o Capo, pode mudar as regras. Já vai ter
que fazer isso para as pessoas aceitarem o seu bastardo.
Queria pular na garganta de Vittorio para fazê-lo
parar de chamar o meu filho de bastardo.
— Me deixe falar com ela — Alessandro estava
impaciente e eu pude ouvir os seus passos apressados,
como se ele estivesse andando de um lado para o outro.
— Ela está ouvindo tudo — Vittorio riu.
— Luna — a sua voz era suplicante e exigente.
— Alessandro — respondi baixo e desanimada, nem
mesmo sabia se ele tinha conseguido me ouvir.
— Como você está? Ele machucou você? — Ouvi sua
respiração profunda e uma parcela de preocupação na sua
voz.
Parecia até o mesmo homem por quem me
apaixonei, mas agora ele não passava de uma farsa.
— E isso importa? Só faça o que precisa ser feito,
porque eu quero ir embora daqui — A minha voz soou um
tanto rude.
— Você está mesmo grávida? — Ele demorou um
pouco para fazer essa pergunta.
— Sim — resmunguei.
Mais um xingamento ecoou do outro lado, como se
ele estivesse odiando aquela situação.
— O que ele disse sobre ser meu…
— Nos poupe disso, Alessandro, você teve a chance
de acreditar em mim no dia em que me expulsou da sua
casa. Só faça um único favor a mim e ao meu filho, nos livre
desse maníaco do seu tio — forcei minha voz a sair firme e
séria.
Ele ficou em silêncio e a única coisa que consegui
ouvir, foi algum móvel se quebrando, porque era isso que
ele sempre fazia quando estava fora de si: destruía tudo à
sua volta.
— Liberte-a, Vittorio, e terá o que quiser.
— E isso, porque ela era apenas uma empregada.
— Deixa-a em paz, ela não tem nada a ver com os
nossos problemas.
— Eu acho que tem sim.
— Me dê a droga do endereço, vou buscá-la e te dar
o que você quer.
Mordi os lábios com força, sentindo vontade de
chorar, mas eu não iria derramar mais nenhuma lágrima por
Alessandro. Não depois do inferno que ele fez a minha vida
se tornar, se eu estava nessa maldita situação, era por
causa dele.
— Acho que sou tolo, Alessandro? Você me matará
assim que pegar a garota.
— Fala logo que porra você quer, e eu penso se
pouparei a sua vida miserável.
— A garota ficará comigo, até que você resolva o
meu retorno à família. Se tentar alguma coisa contra a
minha vida, todos saberão do seu bastardo e eu não serei o
único a tentar matá-lo.
— Desgraçado. Você sabe que eu vou encontrá-lo no
buraco em que está escondido.
— Escondido? Estou mais perto do que imagina e
não tenho medo de você, querido sobrinho.
— Então, é mais burro do que eu pensava. Se tocar
em um fio de cabelo dessa mulher, se arrependerá
amargamente — Alessandro ameaçou.
Era até confuso o fato de ele querer me defender de
alguma forma. Poderia dizer que ele estava fingindo, no
entanto, o conheço o suficiente para saber que não.
— Veremos — Vittorio desligou a chamada na cara
de Alessandro — Isso foi melhor do que eu pensava — me
lançou um olhar divertido.
— O que irá fazer agora? — Perguntei preocupada,
porque ele não parecia ser uma pessoa de confiança.
— Agora vamos esperar o Capo perder a cabeça e
cometer algumas besteiras, enquanto isso você continuará
neste quarto — deu o seu veredito antes de sair, sendo
acompanhado por Marco, me deixando sozinha.
Alessandro iria tentar me tirar daqui, ou ele deu um
show de preocupação apenas para impressionar o tio?
CAPÍTULO 15

Os dias passaram e eu cheguei à conclusão de que


iria enlouquecer naquele quarto. Marco me soltava apenas
para ir ao banheiro e comer, mas depois eu voltava a ser
amarrada como um animal, naquela maldita cama.
Ele me fazia companhia e conversava um pouco
comigo, até que eu enchesse os seus ouvidos de perguntas,
o deixando irritado. Vittorio não apareceu mais, então eu
não sabia o que ele estava aprontando, mesmo tendo a
certeza de que não era algo bom.
Estava ansiosa e ao ponto de surtar, sabendo que,
se o meu fim fosse nesse lugar, ninguém iria me encontrar
e talvez, apenas a minha avó procurasse por mim.
Dei tanto desgosto a ela, que não merecia passar
por isso. Se eu tivesse a escutado desde o início, não estaria
aqui hoje.
Encontrava-me agora, contando as listras da parede
pela milésima vez, na tentativa de não enlouquecer, na
verdade, sequer sabia se ainda continuava sã, até que ouvi
um barulho estrondoso vindo lá de fora.
Sentei-me no colchão, olhando diretamente para a
porta e me encolhendo ao ouvir sons de tiros. De repente, a
porta abriu com brusquidão e eu suspirei aliviada ao ver
Marco.
O homem se aproximou rapidamente de mim,
segurando uma arma e olhando para a porta, como se
alguém fosse passar por ela a qualquer momento.
— Eles atacaram.
— Quem? — Perguntei com medo.
— Alessandro e os seus homens.
Prendi a respiração por um momento, sem acreditar
que ele havia conseguido me encontrar. Não sabia o que era
mais apavorante: ficar aqui ou ser levada por ele.
— Me tira daqui, eu preciso sair! — Gritei, tentando
puxar as cordas e sentindo minha pele arder, mas não
desisti.
Estava pronta para quebrar os pulsos e todos os
meus dedos, mas nada me manteria neste quarto para ser
pega por Alessandro.
— Ele veio salvar você — Marco respondeu,
parecendo estar confuso com a minha atitude.
— Eu não o quero! Ele não pode me encontrar aqui.
— Droga, ele vai matar a todos nós se não encontrar
você.
— Ele vai matar o meu bebê se me encontrar —
rosnei.
— Por que ele mataria o próprio filho?
Porque ele era um bastardo. Me doía pensar daquela
forma, mas infelizmente era a verdade.
— Você sabe o porquê. O meu filho não será bem-
vindo na máfia. Por favor, me ajude! — Implorei aos berros
com as últimas forças que tinha, ouvindo os tiros ficarem
mais próximos.
Então, Marco se aproximou, tirando um canivete do
bolso e cortou as cordas que eu tentava arrebentar, me
libertando e provando que ele não é tão ruim quanto
aparenta ser.
Pulei para fora da cama com as pernas bambas,
encarando o meu salvador com um pequeno sorriso no
rosto.
— Obrigada — Suspirei emocionada
— Vem, vou te tirar pelos fundos. Mas saiba que
estarei botando a minha vida em risco por você.
Marco segurou a minha mão e me puxou para fora
do quarto, tentei acompanhá-lo sem tropeçar, porque as
suas pernas eram mais longas do que as minhas.
Nós passamos por um corredor escuro e eu pude
ouvir os barulhos dos tiros cada vez mais próximos. Fiquei
com medo, mas Marco estava na minha frente, com a sua
arma e algo me dizia que ele me defenderia de qualquer
coisa, o que me deixava confusa.
— E por que você faria isso por uma desconhecida?
— Perguntei, tentando entender o porquê de ele estar me
ajudando e se arriscando por isso.
— Você é diferente — respondeu simplesmente.
— Você tem família, Marco?
— Já tive um dia. Vittorio matou a minha esposa e o
meu filho — Sua voz soou baixa, me deixando incrédula e
paralisada.
Como ele poderia trabalhar para um homem que
destruiu a sua família? Pensei que Marco estava brincando,
mas pela sua expressão, ele falava muito sério.
— E por que você está do lado dele? — Perguntei,
sem entender.
— Porque eu vou me vingar. Na verdade, já estou
começando.
Ele olhou para mim e eu vi nos seus olhos, que me
libertar seria uma parte da sua vingança.
— Espero que você consiga tudo o que deseja — Fui
sincera.
— Você também, espero que seja livre com o seu
pequeno — percebi a dor na sua voz.
Provavelmente, ele havia se lembrado da perda de
sua família e eu fui capaz de sentir o seu sofrimento.
Assenti agradecida e voltamos a caminhar. Só
então, percebi que estava descalça, usando apenas uma
camisa branca e larga. Os meus cabelos estavam presos no
topo da cabeça e eu me sentia horrível, mas naquele
momento, só queria fugir daquele lugar.
Assustei-me, quando Marco parou de repente, me
fazendo esbarrar nas suas costas. O seu corpo estava tenso
e ele se colocou em posição de alerta.
— Largue-a agora, antes que estoure os seus miolos
— a voz firme que eu conhecia soou, me fazendo encarar
Alessandro, no topo da escada que estávamos prestes a
descer.
Ofeguei, observando a sua expressão assassina e a
arma que apontava para Marco. Mesmo banhado em ira, a
sua beleza era estonteante e eu não estava preparada para
reencontrá-lo agora.
— Não, Alessandro! — Gritei, atraindo o seu olhar
furioso para mim.
Ele me analisou dos pés à cabeça e eu pude ver o
desagrado no seu rosto, misturado com a raiva e a revolta
que estava sentindo.
— Venha aqui, Luna — a sua ordem foi baixa e a sua
mandíbula estava travada.
— Não, eu não vou com você — respondi dura,
notando a surpresa em seu rosto.
— Eu estou salvando a sua vida.
— Depois de quase destruí-la.
— Conversaremos quando chegarmos em casa — A
sua atenção foi voltada para Marco e para a arma que ele
segurava.
Alessandro estava suado, como se tivesse lutado ou
corrido bastante para chegar até aqui.
— A sua casa não é a minha, eu sou livre.
— Você é, mas enquanto estiver comigo — ele
estava irredutível e a forma como me olhava, indicava que
já não me reconhecia.
— Não — apertei a camisa de Marco, que segurou
uma das minhas mãos, como forma de apoio.
Mas isso foi o suficiente para enlouquecer
Alessandro, que avançou na nossa direção.
— Tire a porra das suas mãos dela!
Marco me empurrou para trás quando recebeu o
primeiro soco, fazendo a sua arma voar pelo corredor.
— Fuja! — Foi tudo o que ele gritou para mim,
enquanto eles socavam um ao outro.
Não podia fugir, não podia deixar nenhum dos dois
morrer.
Alessandro prendeu Marco, o enforcando com um
braço e o homem que me ajudou, começou a ficar vermelho
e sem ar, eu não podia deixar que ele morresse daquela
maneira.
— Solta ele! — Gritei, me ajoelhando ao seu lado,
socando o braço do pai do meu filho.
Alessandro me ignorou, não se importando com as
minhas súplicas ou com os meus socos. Lágrimas
mancharam os meus olhos e eu olhei a minha volta
desesperada, encontrando a arma de Marco jogada no chão.
Arrastei-me até ela, conseguindo pegá-la com as
mãos trêmulas. Nunca havia tocado em uma arma na minha
vida e estava apavorada.
— Se você matar mais uma pessoa que eu gosto, eu
nunca mais vou perdoar você — as minhas palavras saíram
duras, enquanto mirava a arma na direção de Alessandro,
mesmo sabendo que nunca atiraria nele.
Os braços de Alessandro afrouxaram e ele soltou
Marco, que caiu no chão, tossindo desesperadamente. O
seu olhar na minha direção agora era transtornado, mas ele
não parecia se importar com o fato de eu estar apontando
uma arma para a sua cara.
— Fui um grande merda com você, deixei o ciúmes
me cegar e a afastei de mim — a sua voz soou baixa,
enquanto ele se aproximava calmamente de mim.
— Já se passaram meses, Alessandro — balancei a
cabeça, tentando esconder a minha tristeza, mas eu estava
horrível.
— Meses em que eu nunca fiquei sem pensar em
você, por um dia sequer — a sua confissão me deixou
assustada, não conseguia acreditar que era real.
— Engraçado, porque eu nunca mais pensei em
você — menti, tentando me manter séria, porque aquela era
a minha única armadura.
Alessandro sabia dos meus sentimentos e pensava
que poderia fazer o que quisesse comigo graças à isso, mas
eu não o deixaria me dominar dessa maneira.
— Me dá uma chance de mudar isso — pediu, com a
voz mais mansa.
— Ou eu posso matar você — sugeri, apontando
para a arma.
Ele abriu um sorriso irônico, seria até charmoso, se
não fosse aquela situação de merda.
— Se quer tanto se vingar de mim, então atire.
Mesmo sabendo que você não é capaz, porque é pura
demais para isso — me desafiou.
— Tem razão, não sou capaz. Não sou igual a você
— Abaixei a arma frustrada e me senti uma tola.
A verdade é que eu nunca seria capaz de matar
alguém, principalmente o homem por quem já fui
fortemente apaixonada um dia.
— Só volte para casa comigo, Luna — Alessandro
parecia cansado agora.
— Não vou — me mantive firme.
— Se não vai por mim, vá pela sua avó ou pelo bebê
— Ele suspirou, olhando para a minha barriga sem nenhuma
expressão — A essa altura, muitos dos meus inimigos já
sabem dele e vão tentar matá-lo por isso.
— Agora você se importa com o meu filho? — Foi a
minha vez de soltar uma risada irônica.
— Só quero proteger você e a criança.
A criança, aquela era a forma que ele se referia ao
próprio filho, não havia nem mesmo emoção na sua voz.
Como um homem poderia ser tão frio a esse ponto?
— Eu sei me proteger sozinha — continuei com a
minha decisão e passei por ele, indo ver Marco, que já
estava sentado, observando nós dois.
Mal completei o segundo passo e Alessandro me
agarrou, erguendo-me em seus braços.
— Se não vai por bem, lamento, mas terei que levá-
la à força.
— Você não tem o direito, tire as mãos de mim! —
Soquei o seu peito com a arma.
— Isso só faz cócegas, Lua — Ele tentou zombar
daquela situação de merda.
— Não me chame assim, seu imbecil! — Gritei
enraivecida.
— Gostava quando você era mais gentil, mas devido
a toda essa situação, vou relevar o seu estresse.
— Vá se foder, eu odeio você! — Coloquei toda a
minha frustração para fora, mas ele não me pareceu nada
afetado.
Olhei para Marco desesperada, mas ele apenas
balançou a cabeça para mim, fazendo um movimento com a
mão, em sinal de adeus. Ele simplesmente desistiu de me
ajudar e ficou assistindo Alessandro me levar embora.
E quando saímos da casa, encontramos um
verdadeiro banho de sangue. Encarei os corpos dos homens
mortos, assustada, enquanto Alessandro me levava para o
seu carro.
CAPÍTULO 16

— O que a sua esposa vai pensar quando ver a sua


ex-amante de volta naquela casa? — A minha voz soou
arrogante quando quebrei o silêncio entre Alessandro e eu.
Ele estava dirigindo e eu me encontrava sentada, no
banco do carona ao seu lado, segurando uma garrafinha de
água. Os seus homens estavam nos seguindo com mais
alguns carros atrás de nós.
— Não vai pensar nada, porque ela não está lá.
— Como, não está lá?
— Maya desapareceu há um mês — respondeu sem
interesse, como se não fosse nada demais.
Lembrei-me instantaneamente do plano de Lorenzo
e a sua afirmação de que iria tirar Maya do meu caminho.
Então, ele simplesmente a sequestrou? Será que ela estava
viva? Por que Alessandro não estava preocupado com a sua
esposa?
— E você está tranquilo quanto a isso?
— Na verdade, eu não me importo, mas a minha
paciência agradece por ela estar bem longe de mim — deu
de ombros, realmente sem se importar com a mulher que
fez a cabeça dele contra mim.
— Quão duro é o seu coração? — Perguntei
inconformada.
— Não o suficiente, porque eu simplesmente
atravessei a cidade e cometi uma chacina para te salvar.
Encolhi-me com aquela acusação, porque ele não
tinha nenhum dever comigo, mas por algum motivo, ele foi
me salvar e eu me pergunto, se deveria ser por causa da
culpa que estaria sentindo.
— O que aconteceu com Vittorio? E como você me
achou?
— Os urubus estão comendo o seu corpo nesse
exato momento. Ele estava na minha cidade, Luna, não tem
nada que aconteça aqui sem eu saber — a sua mão apertou
o volante com força.
— Por que me libertou dele? Você poderia
simplesmente deixá-lo desaparecer comigo, para sempre, e
aí não teria mais esse problema.
— Percebe a merda que está dizendo? Nunca mais
repita isso — ele me repreendeu.
— Você me expulsou da sua vida, Alessandro, não
pode me trazer de volta como se nada houvesse acontecido
— alterei o tom de voz, recebendo um olhar acusatório em
troca.
— Seis meses aconteceram. Seis malditos meses
longe de você, do seu sorriso, da sua voz e eu tentando me
enganar dizendo que estava tudo bem, mas não estava. Eu
preciso de você Luna, mais do que eu poderia imaginar — a
sua voz não passava de um sussurro contido, mas eu
conseguia ver todos aqueles sentimentos conturbados nos
seus olhos.
Ele realmente sentiu a minha falta ou estava apenas
blefando para tentar me levar de volta? Alessandro era um
homem inteligente e sabia que podia me atingir com
sentimentalismo.
— Você preferiu acreditar na sua esposa enciumada,
me tratou como um lixo e matou um homem inocente —
acusei, percebendo o seu corpo tenso — Podem se passar
anos, mas eu não vou esquecer o que você fez, Alessandro.
— O que eu preciso fazer para me desculpar? —
Perguntou, me olhando quase em súplica.
O que era irônico, porque um homem como
Alessandro não pedia desculpas.
— Só me deixe em paz, apenas não insista no que já
está quebrado — eu repeli, sentindo o meu peito apertar,
apenas por me lembrar das dores que ele causou.
Alessandro matou uma pessoa inocente na minha
frente, me quebrou em mil pedaços, que nunca conseguirão
ser moldados para voltar a ser o que eram antes.
Ele assentiu e virou o rosto, concentrando a sua
atenção na estrada, a sua mandíbula estava tensionada, ao
menos, não me perturbaria mais.

— Jesus, você está bem?


Fui recebida por um abraço apertado e desesperado
da minha avó. Ela me analisou dos pés à cabeça, tateando a
minha barriga, tentando ver se estava tudo bem com o
bebê.
Eu olhei a mansão a nossa volta, me lembrando dos
bons momentos que vivi aqui, mas isso também me trazia
os ruins de volta. Um sentimento familiar invadiu o meu
peito, mas eu não tinha a certeza de que queria voltar para
esse lugar.
Porém, mesmo depois de tudo, eu me sentia segura.
E era isso o que Alessandro desejava ao me trazer para cá,
manter a minha segurança.
— Agora eu estou bem — Suspirei, abraçando
Carllota, porque estava com muita saudade.
Carllota é a única família que me resta e os dias
longe dela foram terríveis, mesmo que, às vezes, ela fosse
um pouco dura comigo.
— Você está pálida e tão magrinha.
— Não foram dias fáceis, vó — sussurrei sem forças
para falar sobre o que aconteceu.
— Não acreditei quando ouvi Alessandro dizer sobre
o sequestro. Liguei para Amélia e ela sequer sabia me dizer
onde você estava.
— Ela não se importava comigo — Suspirei feliz, por
não estar mais perto daquela mulher.
— Pensei que ela seria a sua única alternativa, mas
pelo visto, me enganei. Eu sinto muito por tudo, Luna.
— A culpa não foi sua, vó — segurei as suas mãos,
exibindo um pequeno sorriso.
Tudo o que ela fez, foi tentar me ajudar o tempo
todo e eu não fui grata por isso.
— Você arrumou o quarto dela? — Alessandro se
aproximou, nos interrompendo.
— Sim, senhor — Carllota assentiu, abaixando a
cabeça.
— Vou providenciar um médico para você — avisou,
a sua voz saiu séria.
— Estou bem — o cortei, não querendo aceitar os
seus favores.
— Não quer ver como está o bebê? — Perguntou,
mexendo com a minha curiosidade.
Na verdade, eu queria muito. Desde que descobri
que estava grávida, eu sequer consegui ouvir o coração do
meu filho.
— Tudo bem, eu aceito.
Alessandro me olhou por alguns segundos,
parecendo querer me dizer alguma coisa, mas apenas
suspirou e se afastou.
— Fique à vontade e descanse Luna, se precisar de
alguma coisa, peça para a sua avó me falar, que eu
providenciarei — a sua voz estava desanimada.
Alessandro não esperou pela minha resposta,
apenas subiu as escadas para o segundo andar, me fazendo
acompanhá-lo com os olhos a todo instante.
— Em todos esses anos, eu nunca o vi dessa forma,
como você o deixa — Carllota comentou, observando o seu
patrão partir.
— Como? — Perguntei interessada
— Agitado, transtornado. Eu acho que esse homem
nutre sentimentos por você.
— Isso não importa mais — respondi, não deixando
aquela ideia me afetar.
Ainda estava digerindo tudo o que aconteceu,
estava confusa e com medo do meu futuro.
— Se ele está disposto a cuidar de você e da
criança, deve aceitá-lo — a minha avó aconselhou.
— Você queria que eu fugisse dele, porque o meu
filho não seria aceito. Agora quer que eu fique com
Alessandro? Não consigo entender você, vó — minha voz
soou confusa.
— Isso foi antes de perceber que você está mais
segura com ele, do que fora daqui. E ele parece se importar
com você de verdade.
— Não posso ficar aqui, ele é um homem casado —
Neguei aquela ideia absurda.
— A esposa dele se foi. Use essa oportunidade para
se aproximar e tomar o lugar dela.
Eu me sentia roubando o posto de alguém e não
queria isso, Alessandro não escolheria uma empregada para
ser a sua esposa.
— Não vou tomar o lugar de ninguém. Esse posto
não me pertence.
— Agora, ele pertence mais a você, do que a
qualquer outra pessoa. Está esperando um herdeiro de
Alessandro, torne-se a esposa dele e resolverá todos os
seus problemas.
— Antes você me acusou de querer dar o golpe nele,
de agir igual a minha mãe, e agora quer que eu faça
exatamente o que disse para eu não fazer? — Perguntei em
revolta.
— Isso é para o seu bem — ela respondeu
seriamente, mas eu não queria mais ouvir aquilo.
— Eu vou descansar, é o melhor que eu faço nesse
momento — encerrei aquele assunto, subindo para o meu
antigo quarto.
Ao menos, eu poderia descansar sem medo, porque
se Alessandro disse que me protegeria, então, eu deveria
acreditar nele.
CAPÍTULO 17

A gravidez me fazia sentir muita fome,


principalmente na madrugada. Então, eu me esgueirei pelos
corredores da mansão, às duas horas da manhã, até a
cozinha de Alessandro, sabendo que ele não se importaria
que eu a assaltasse no meio da noite.
Não é como se ele viesse à cozinha com frequência
ou soubesse o que tinha aqui. Apenas a minha avó
perceberia a ausência de algo, mas ela entenderia os meus
desejos.
Abri a geladeira, encontrando uma torta de maçã
que fez a minha boca salivar em desejo, sabendo que era
isso o que o meu bebê queria comer. Só um pedacinho não
faria mal nenhum.
Peguei a torta e um prato pequeno, equilibrando
tudo em minhas mãos, enquanto me virava em direção ao
balcão.
— Calma filho, a sua mãe vai alimentar você —
Suspirei quando a minha barriga roncou.
Ultimamente, eu já sentia o bebê chutar,
juntamente com as dores nas costas que tentava ignorar,
ou caso o contrário, não levantaria da cama nunca.
Os meus planos eram comer e voltar a dormir, mas
Alessandro quase me matou de susto, quando o encontrei
sentado no balcão, tomando uma xícara de café, enquanto
me assistia roubar a sua comida.
— Não sabia que você estava aqui — falei levando a
mão ao peito, tentando me recuperar daquele susto.
Ele apenas balançou a cabeça, sem parecer afetado.
Observei o seu peito nu, notando que ele não usava uma
camisa e ficar olhando para o seu corpo era
uma distração e tanto.
— Não se preocupe comigo, apenas finja que não
estou aqui — respondeu calmamente, não parecendo se
importar com a minha presença.
Alessandro conseguia controlar tão bem as suas
emoções, que parecia que eu não o afetava, como ele fazia
comigo.
— É um pouco difícil fazer isso com você me
encarando assim — resmunguei, tentando dar atenção para
a minha torta.
Mas de repente, parecia que até mesmo o meu
apetite tinha ido embora.
— Só estou admirando você — a sua resposta veio
curta e direta, porque ele não era um homem de fazer
enrolação.
— Estou horrorosa, tenho emagrecido — Olhei para
o meu corpo, embaixo de um pijama preto, que estava
folgado.
Eu encontrei roupas novas no meu guarda-roupas,
tantas que eu tinha certeza de que não poderia usar todas
elas. E sabia que elas eram obras do Alessandro. Ele estava
tentando me agradar para que eu ficasse em sua casa.
Ele parecia estar arrependido por tudo o que fez,
mas isso não muda o fato de que me machucou bastante.
— O que aconteceu? Onde esteve todo esse tempo?
— Perguntou interessado.
— Você não sabe? — Perguntei com desconfiança e
ele negou.
— Não procurei por você Luna, pensei que merecia a
sua liberdade, bem longe de mim, porque eu estragaria a
sua vida — respondeu envergonhado, passando uma mão
pela sua barba.
Puxei uma cadeira para me sentar, enquanto
cortava um pedaço da torta, tentando não me
desconcentrar com os seus olhos intensos sobre mim.
— Estava morando com a minha tia e trabalhando
em dois empregos, mal tinha tempo para comer bem.
— Você foi imprudente, deveria pensar nessa
criança e se alimentar melhor.
Torci os lábios, perdendo a paciência, porque não
acreditava que ele estava me repreendendo, sendo que eu
estava dando tudo de mim para sobreviver.
— Estava pensando nela quando trabalhava todos
os dias e noites para ter dinheiro o suficiente para criá-la —
alterei o tom de voz, o encarando com raiva.
Como ele ousava falar daquela forma comigo,
depois de tudo o que passei por sua causa? Eu não
precisaria me alimentar mal e trabalhar em dois empregos,
se ele não tivesse me expulsado de casa e me tratado como
um lixo, rejeitando o seu filho.
— Deveria ter pedido ajuda.
— É engraçado ver você falando assim, porque me
lembro bem quando disse que não se importava com essa
criança.
— Antes eu não sabia que era o meu filho — havia
frustração na sua voz.
— E agora você sabe? Acreditou facilmente nas
palavras do seu tio, mas não pôde acreditar nas minhas? —
Retruquei, sem conseguir conter a minha raiva.
Alessandro desceu o olhar para a minha barriga e
balançou a cabeça.
— Estava cego, vi você sorrindo e feliz com aquele
homem na cozinha e depois, Maya me contou que vocês
estavam juntos, então eu surtei. Ele era jovem, parecia ser
do mesmo mundo que o seu, vi nos seus olhos que você
gostava dele — confessou esfregando a mão no rosto,
parecendo estar se sentindo um fracassado.
— Amizade, sabe o que essa palavra significa,
Alessandro?
— No meu mundo, não existe amizade entre homem
e mulher — resmungou.
— Então, é uma pena os nossos mundos serem tão
diferentes — respondi, realmente entristecida.
Nós apenas chegamos a essa situação deprimente
por causa de um mal entendido.
— O que você deseja fazer no futuro? Alguma
faculdade? Um trabalho específico, uma arte? — Ele
perguntou de repente, interessado.
— Por que quer saber disso agora?
— Só quero saber quais são os seus sonhos. Eu sei
que você os possui e que foi privada deles muito cedo.
— Os meus sonhos não importam — respondi a
verdade, porque naquele momento, eu não tinha tempo
para sonhar.
— Importam, porque agora eu quero que viva todos
eles. Nunca mais vai precisar escolher entre comer ou
trabalhar, porque vai poder fazer o que quiser.
Engoli seco, sentindo os seus olhos me engolindo,
enquanto me prometia tudo o que eu quisesse, porque
agora, ele estaria ao meu lado. Mas eu tinha medo de ser
escorraçada outra vez. Homens como Alessandro, com tanto
poder, podem fazer o que quiserem com as pessoas, ele
poderia me controlar e até mesmo, tirar a minha vida.
— Quem me garante isso?
— Eu estou garantido, mesmo que tenha que
reparar o erro que cometi com você pelo resto da minha
vida — as suas palavras pareciam ser sinceras.
— Não quero o seu dinheiro, Alessandro, não sou
nenhuma oportunista.
— Você é a mãe do meu filho, nada mais irá te
faltar.
— A sua esposa vai adorar saber disso — zombei,
virando o rosto para ele não notar a minha tristeza.
Seria “linda” a nossa convivência, Maya nunca iria
me aceitar nesta casa.
— Ela não vai se importar, porque vou pedir o
divórcio — Alessandro respondeu, me surpreendendo.
— Ouvi dizer que não existem divórcios na máfia.
— Se a minha esposa tiver fugido com outro, eu
posso matá-lo e pedir o divórcio — deu de ombros, sem
parecer preocupado com a Maya.
— Você sabe onde ela está, não é? Sabe que ela
está com o seu irmão — falei com calma, notando a
desconfiança nos seus olhos.
— Como você sabe disso? — Perguntou confuso.
— Lorenzo me procurou. Ele contou o seu plano e
colocou alguns seguranças na minha cola, mas não foram o
suficiente, porque o seu tio me encontrou.
— Aquele merdinha, atrevido — ele suspirou
balançando a cabeça.
— Você realmente não se importa com o fato de que
ela esteja com ele? — Perguntei com desconfiança, sem ver
nenhuma alteração no seu rosto.
Alessandro piscou os olhos, me encarando com
impaciência e cansaço.
— Quantas vezes terei que repetir a você, que Maya
não me interessa e que você é importante para mim? Ela
teve sorte de desaparecer ou iria me pagar por aquela
mentira.
Era difícil acreditar nisso depois de tudo o que
aconteceu, apesar de ele ter me salvado das mãos do seu
tio, eu ainda não confiava completamente em Alessandro.
— Até eu esquecer que você preferiu acreditar nas
palavras dela, do que em mim — Peguei o meu pedaço de
torta e apressei os passos, saindo da cozinha.
Ainda ouvi o suspiro pesado e as lamúrias de
Alessandro lá atrás. Espero que ele sinta muito remorso e
que pense em todas as coisas ruins que me fez.
CAPÍTULO 18

Na manhã seguinte, quando encontrei Alessandro na


mesa para o café da manhã, pensei em recuar, mas não
queria agir como uma covarde na sua frente, porque ele não
iria me amedrontar. Foi ele quem me trouxe até aqui, então
eu iria usufruir do que tinha direito, inclusive da comida
maravilhosa da minha avó, da qual eu estava morrendo de
saudades.
Carllota parecia contente, enquanto me servia
panquecas e um pouco de café. Talvez, pensasse que o seu
plano de me juntar com Alessandro estivesse dando certo e
que eu não causaria mais problemas para ela resolver.
Sabia que ela só queria o melhor para mim, por isso,
no início ela tentou me afastar de Alessandro, porque sabia
dos problemas que o nosso relacionamento poderia causar
e agora, ironicamente, acreditava que o melhor para mim,
seria eu ficar com o homem que rejeitou a mim e ao meu
filho.
— Depois que terminar, vamos ao hospital ver como
está o bebê — foi tudo o que Alessandro disse para mim ao
se levantar e sair da mesa, me dando o espaço que eu
precisava, porque ele sabia que a sua presença me
incomodava.
Notei que ele estava preocupado em relação ao meu
filho, mesmo parecendo um pouco distante, depois que
descobriu que seria pai. Eu não fazia ideia do que ele estava
pensando ou planejando, mas percebi que Alessandro
estava diferente do homem que deixei aqui, meses atrás e
diria que agora, ele até parecia assustado.
— Ele está tentando, dê uma chance — Carllota
comentou quando ficamos sozinhas — Você não vai querer
criar um filho sozinha, não sabe das dificuldades que irá
passar.
— Se acha que vou ficar com ele só porque é o pai
do meu filho, está completamente enganada — respondi
calmamente.
— E o que está fazendo nesta casa? — Retrucou,
ficando séria, jogando na minha cara o fato de eu estar aqui
na casa dele.
— Ele me arrastou até aqui, disse que estaria
segura. Mas não ficarei por muito tempo.
— Você é apaixonada por ele, pode até tentar negar,
mas está deixando o orgulho falar por você.
— Se o meu orgulho for mais inteligente do que o
meu coração, então pode ter a certeza de que ele falará por
mim sempre — me levantei, cansada daquela conversa —
Com licença, irei me arrumar.
— Espero que esteja tudo bem com o seu filho — ela
disse por fim, soltando um suspiro, sabendo que não iria
ganhar aquela discussão.
— Eu também, ou nunca irei me perdoar por não ter
me cuidado melhor.
— Você fez o que pôde.
— Eu sei vó.
— É por isso que o seu lugar é aqui, ao lado de
Alessandro. Ele vai cuidar de você e dessa criança — a
certeza na sua voz quase me fez rir.
— Quando descobri a gravidez, esse era o meu
sonho, mas depois ele foi destruído, lembra?
Carllota não me respondeu mais nada, se
concentrando em tirar a mesa, porque ela sabia que eu
estava certa.
Alguns momentos depois, eu estava tentando ficar
no mesmo ambiente que Alessandro, sem entrar em pânico
ou deixar as minhas emoções falarem mais alto do que a
minha razão.
Ele estava respeitando o meu espaço e não falou
comigo mais do que o necessário. E por incrível que pareça,
estávamos agindo como dois adultos civilizados, sem brigas
ou indiretas cheias de remorso.
Estávamos a caminho de um hospital de sua
confiança e ele fez questão de ir comigo. Eu não fiz nenhum
comentário sobre a sua companhia, porque estava surpresa
pelo fato de ele estar ao meu lado naquele momento.
Mas também, não criaria falsas expectativas,
apenas porque ele estava demonstrando interesse e
preocupação comigo e com o meu bebê, o mesmo bebê que
ele chamou de coisa e rejeitou, sem pensar duas vezes.
Alessandro não entrou no consultório médico
comigo, porque queria me dar privacidade e respeitar o
meu momento, mas ficou na sala de espera, no meio das
outras mães, que esperavam a sua vez e que pareciam
encantadas por ele estar ali.
Ainda estava impactada quando o deixei lá,
arrancando suspiros de pelo menos dez mulheres. Mas nada
era mais forte do que a ansiedade de ver o meu filho e
talvez, até descobrir qual era o seu sexo.
O médico que me atendeu era um homem gentil,
que me fez algumas perguntas sobre a gestação e me
deixou relaxada ao perceber o meu nervosismo.
— Uau, parece que temos uma surpresa — ele falou
de repente, quando já estávamos fazendo a
ultrassonografia.
Engoli em seco, começando a ficar apavorada com a
ideia de ter acontecido algo com o meu filho.
— Está tudo bem com o meu filho, doutor?
— Está tudo bem com os seus filhos — a sua voz
soou animada.
Pensei ter ouvido errado, mas pelo seu olhar
contagiante eu tinha entendido muito bem. Eu estava
grávida de gêmeos, como a minha vó também esteve um
dia.
— Filhos — Suspirei boquiaberta, sentindo a minha
mente entrar em pane.
— A senhora está esperando dois meninos, meus
parabéns.
Ofeguei por um momento, pensando estar em um
mundo paralelo. A minha vida havia mudado tão
drasticamente em tão pouco tempo, que eu fiquei
assustada com tamanhas surpresas.
Meus filhos eram gêmeos, eu tinha dois bebês
dentro de mim e não conseguia acreditar que isso era real e
nunca mais estaria sozinha na minha vida, porque eles
sempre estariam comigo.
— Ai meu Deus — comecei a chorar de emoção —
Muito obrigada!
O meu plano para o futuro não era engravidar aos
vinte e um, porém, eu sempre quis ter uma família grande,
a família que nunca tive, mas que agora estava se formando
dentro de mim.
Os meus filhos seriam um laço que ninguém nunca
poderia cortar e eu faria de tudo por eles, até mesmo tirar a
vida de alguém, se fosse necessário.
Quando saí do consultório eu não conseguia parar
de chorar e talvez, não pararia pelo resto do dia.
Alessandro estava na minha frente assim que notou
o meu estado e por incrível que pareça, ele parecia estar
preocupado.
— O que aconteceu? — Perguntou com urgência
olhando para dentro do consultório — Luna, me responda,
está me deixando preocupado. Aquele homem fez alguma
coisa com você? Está tudo bem com o bebê?
Ele me bombardeou de perguntas, enquanto parecia
ansioso e prestes a invadir o consultório para colocar o
médico contra a parede.
— São gêmeos. Dois meninos — limpei o rosto,
tentando parar de chorar.
Pela primeira vez na vida, eu vi Alessandro ficar
pálido, paralisado e sem falar por alguns segundos,
enquanto apenas me encarava como o cenho franzido.
— O quê?
— São dois meninos — repeti com calma, não
sabendo se queria dividir a minha felicidade com ele.
Ele deu um passo para trás, levando uma mão aos
cabelos, parecendo estar desorientado.
— Dois meninos — ele sussurrou para si mesmo,
como se estivesse tentando acreditar nas próprias palavras
— Uma confusão em dobro.
Fiquei séria, sentindo toda aquela emoção ir
embora, porque Alessandro tinha o dom de destruir os meus
momentos mais felizes com as suas falas amarguradas.
— Primeiro, chamou os meus filhos de coisas e
agora, de confusões? Deveria manter os seus pensamentos
imbecis só para você — falei baixo, para que as outras
pessoas não ouvissem e passei por ele, caminhando em
direção a saída.
— Luna eu não quis ofender, apenas estou surpreso.
Você sempre traz surpresas para a minha vida — Alessandro
me alcançou e eu apressei os passos.
Notei que ele fez menção de me tocar, mas logo
esquivou a mão, como se soubesse que eu iria repudiá-lo,
pois sabia que havia perdido a chance de me consolar há
muito tempo.
— Não precisa se preocupar, porque nós vamos
sumir da sua vida o mais rápido possível — balancei a
cabeça, inconformada.
— Se acha que vou deixar você ir embora com os
meus filhos, só pode estar louca.
— Você os rejeitou, não tem nenhum direito sobre
eles agora — cuspi as palavras na sua cara, notando o seu
olhar transtornado.
O deixei para trás e caminhei até o carro, notando
que não conseguiria abri-lo, sem que ele o destravasse.
— Inferno, por que eu não tenho o meu próprio
carro?
— Essa é a sua vingança? Vai me manter longe dos
meus filhos? É capaz de fazer isso, Luna? Porque eu acho
que não. E tenho a certeza de que não me odeia como
pensa — Alessandro se aproximou, com toda a sua
arrogância — E se quiser a porcaria de um carro, eu dou um
a você.
— Então o seu ego é maior do que você imagina. E
não, eu não quero nada vindo de você.
— Você vai se casar comigo, ser a minha mulher,
vamos criar os nossos filhos juntos e o meu ego não tem
nada a ver com isso.
Encontrava-me incrédula com aquela constatação.
Havia tanta certeza na sua voz, que ele parecia mesmo
acreditar nas idiotices que saiam da sua boca.
— Você é maluco e arrogante, além de já ser casado
— quase gritei na cara dele, mas não queria parecer uma
descontrolada, porque ele sabia que conseguia mexer com
as minhas emoções.
— Já estou providenciando o divórcio.
— Se acha que vou ficar com você, depois de ter se
casado com aquela mulher, está totalmente enganado —
balancei a cabeça em negação.
— Não acho, eu tenho certeza. Agora vamos parar
de discutir, porque isso pode fazer mal aos meus filhos —
Ele abriu a porta do carro para que eu entrasse, fingindo ser
um cavalheiro.
— Tem razão, é uma perda de tempo discutir com
você — retruquei, entrando no carro e eu mesma puxei a
porta, a batendo com um pouco de força.
— Você é a única cabeça dura aqui, espero que as
crianças não sejam assim, ou terei muitos problemas no
futuro.
Alessandro se sentou ao meu lado, mas não parecia
irritado, na verdade, ele estava ansioso até demais, como
se estivesse gostando da ideia de ter gêmeos, o que era
engraçado, porque até alguns meses atrás, ele repudiou a
ideia de ter um filho comigo.
— E eu espero que eles não tenham a sua
personalidade arrogante e bipolar, ou eu ficarei louca —
resmunguei comigo mesma, enquanto encostava a cabeça
na janela, buscando um pouco de paciência.
Mas parece que Alessandro estava disposto a ser
uma pedra no meu sapato.
CAPÍTULO 19

A minha rotina havia mudado drasticamente nos


dias que se passaram e a Luna de alguns meses atrás, que
trabalhava como uma condenada para sobreviver agradecia
as mudanças, mas a Luna que estava com o coração
partido, ainda sentia o orgulho ferido, o desejo de ir embora
e nunca mais ver o rosto do homem que a magoou.
Alessandro me proibiu de trabalhar até os bebês
nascerem, ele havia contratado uma nutricionista e uma
enfermeira para cuidar de mim e agora, elas me
atormentavam pela mansão, dizendo o que eu devia ou não
fazer, porque eu estava abaixo do peso e precisava mudar
isso.
É claro que, pelos meus filhos, eu estava
colaborando e fazendo todas as indicações que me foram
dadas, até me esforçava para uma caminhada matinal e
alguns exercícios físicos.
Eu também tinha dois seguranças, eles ficavam
parados na porta do meu quarto e me seguiam como uma
sombra, até mesmo para o banheiro. Era estranho, porque
eu não tinha mais privacidade e estava sendo tratada como
se fosse alguém importante. Na realidade, os meus filhos
eram importantes, então Alessandro estava causando todo
aquele alvoroço por eles, o que me deixava nervosa com o
futuro das minhas crianças.
É claro que eu planejava ir embora quando eles
nascessem, mas tinha medo de não conseguir sair dessa
casa, porque Alessandro não parecia disposto a me deixar ir.
Eu não queria ser apenas uma propriedade que ele não
abriria mão para deixar partir, alguém que ele cuidaria
apenas por ser a mãe dos seus filhos.
Então, entraremos em um impasse que eu não
estarei disposta a perder, mesmo ele tendo mais poder que
eu. Alessandro não teria o direito sobre mim ou aos meus
filhos.
Ele ainda me dava espaço, mas fazíamos as
refeições juntos, nos quais eram os únicos momentos em
que o via, apesar de ele passar mais tempo em casa,
trabalhando no seu escritório, do que na rua.
Eu sabia que tudo isso era para me vigiar, porque
mesmo não o vendo, eu sentia os seus olhos em mim, por
toda a parte.
— Pra onde está me levando, Alessandro? —
perguntei preocupada por ele ter me abordado logo cedo,
quando voltei da minha corrida matinal.
— É uma surpresa — falou entusiasmado.
— Não sei se gosto de surpresas.
— Dessa você vai gostar, não se preocupe, eu não
vou fazer nada que não queira ou que irá decepciona-lá.
Ele parecia estranhamente animado do seu jeito,
enquanto me esperava na entrada da mansão, dizendo que
tinha uma surpresa para mim, o que me deixou desconfiada
e confusa. Não sei se o que me fez segui-lo foi a curiosidade
sobre o que queria me mostrar ou o desejo de saber o que
havia acontecido com ele.
Paramos em frente à porta de um dos quartos de
hóspedes, que ficava próximo ao meu. Notei que ele estava
em reforma, porque ouvi barulhos durante o dia, mas eu
não compreendia o que estava acontecendo, apesar de
agora ter duas tulipas azuis desenhadas na porta.
Olhei para Alessandro, tentando entender os seus
pensamentos e ele abriu a porta, me olhando com
expectativas, deixando espaço para que eu pudesse entrar
e encontrar algo, que nunca imaginei que seria feito por ele.
— Eu não acredito.
Por um momento, pensei estar sonhando, porque o
homem que me colocou para fora desta casa não parecia
ser capaz de criar algo tão lindo.
O quarto estava todo pintado de azul e nas paredes
tinham detalhes das tulipas, que eu amava. Havia dois
berços de cor dourada, poltronas, brinquedos e um espaço
que deveria levar para o closet e ao banheiro.
Estava tudo tão delicado e luxuoso, que eu sequer
conseguia encontrar algum defeito. Alessandro pensou nos
quartos dos bebês antes mesmo de mim, que estava mais
preocupada em mantê-los vivos e esse gesto fez o meu
coração aquecer, mesmo estando com mágoa.
Nunca poderia dar algo assim para os meus filhos e
isso me entristeceu, porque quando estivessem grandes, é
claro que Alessandro iria querer comprá-los com todo esse
luxo. E se eles escolhessem o pai ao invés de mim?
— Você fez um quarto para os bebês — a minha voz
soou surpresa e eu estava em choque com o que via à
minha volta.
— Eles vão precisar de um quarto, então pensei em
adiantar logo — respondeu, levando as mãos ao bolso da
sua calça.
A sua postura estava relaxada, enquanto observava
as minhas expressões, esperando por alguma reação ou
algo que eu tinha a dizer, mas estava tão impactada, que
não sabia o que falar.
— Está tudo tão lindo — suspirei, percorrendo a mão
por um dos berços.
— É banhado a ouro.
— Claro que é — resmunguei, tirando a mão do
berço que deveria valer mais do que a minha vida
miserável.
Alessandro exagerava tanto, que chegava a ser
engraçado, se a situação não fosse tão tensa.
— Sabia que iria gostar. Mas se tiver algo que queira
mudar, é só dizer e nós mudamos — Alessandro falou,
caminhando pelo quarto, orgulhoso do seu trabalho.
Nem quero pensar no quanto ele gastou para fazer
tudo isso. Acho que agora não é o momento de dizer que
não vou ficar nesta casa, apesar de que aparentemente, ele
está querendo me comprar.
— Acho que eu preciso respirar um pouco — Dei um
passo para trás, caminhando pelo quarto até as portas
duplas, que levavam à sacada, dando exatamente para a
vista do jardim da sua mãe.
— Há algo que não gostou?
Senti a presença de Alessandro atrás de mim e a
sua voz estava ansiosa.
Balancei a cabeça, enquanto passava a mão pelo
meu rabo de cavalo cacheado. Odiava quando ele me
impressionava e eu não sabia como agir perto dele.
— Sinto que está tentando me comprar — lancei um
olhar sério, notando o seu arquear de sobrancelha e riso
baixo.
— Por dar um quarto aos nossos filhos? — Perguntou
com diversão.
— Você não queria esses filhos.
— O que preciso fazer para você entender que eu
quero? Eu quero os nossos filhos, quero você ao meu lado.
— Se você conseguisse mudar o passado… — dei as
costas, me escorando no corrimão da sacada.
Observei as flores lá embaixo sentindo o vento frio
atingir o meu rosto e como se também sentissem, os meus
filhos chutaram dentro de mim, me fazendo sorrir, enquanto
colocava a mão sobre a minha barriga, coberta por uma
regata branca.
Alessandro se aproximou, observando-me com
cautela, me fazendo notar o remorso nos seus olhos e a sua
postura tensa.
— Não posso fazer isso, mas posso transformar o
seu futuro em algo tão bonito, que irá esquecer o babaca
que eu fui — as suas palavras eram promessas que eu não
sabia se queria ouvir.
O meu maior medo era acreditar em promessas
vazias, tinha medo de Alessandro me fazer sofrer outra vez,
mesmo que já tivesse me quebrado totalmente.
Graças a ele, pude ver o mundo da maneira como
era: duro e cruel. E não sei se quero voltar a todo aquele
sofrimento outra vez, porque estava me reerguendo aos
poucos.
— Não acho que isso seja possível — lamentei,
sentindo a dor na minha voz, porque as lembranças eram
muito ruins.
— Se ficar presa ao passado, nunca dará uma
chance ao futuro, Luna — a sua voz agora era repreensível.
— Eu quero ter escolhas e não acho que isso seja
possível ao seu lado.
— Vai poder fazer o que quiser, é claro que, com
limites e proteção. Acho que você ainda não entendeu a
quantidade de inimigos que eu tenho e que fariam tudo
para colocar as mãos na minha família. Eu só quero
proteger você e os nossos filhos e não estará segura longe
dessa casa.
— Estou aqui apenas pela sua proteção, já entendi
— tentei me afastar, mas ele segurou a minha mão.
O seu toque me causou calafrios e me fez lembrar
de todos os nossos momentos juntos, de como o meu
coração sempre batia forte por ele, não importava o tempo
que passasse, era como se Alessandro tivesse me marcado
para ser apenas dele.
Estava arruinada para qualquer outro homem, mas
não é como se eu quisesse entrar em algum
relacionamento, porque não tinha cabeça para isso. A minha
vida agora, era cuidar dos meus filhos e lhes dar toda a
atenção possível.
— Você está aqui, porque eu quero, porque essa é a
sua casa — ele corrigiu, me lançando um olhar repreensivo.
— Essa nunca foi a minha casa — suspirei, me
lembrando de todos os momentos que passei aqui.
Morava nessa casa desde que me entendia por
gente e Alessandro era bom com os seus funcionários.
— Aqui será. Até os últimos dias da sua vida e terá
que se contentar com isso.
Uma discussão agora seria um caso perdido, porque
Alessandro era irredutível.
— Não precisava de todo esse luxo para o quarto —
mudei de assunto, voltando a observar o cômodo.
— Os meus filhos sempre terão o melhor e você
também — havia orgulho na sua voz a constatar isso e eu
não duvidava.
Não sei se Alessandro seria um bom pai, mas com
certeza seria do tipo que compensaria a sua ausência com
bens materiais. Eu não poderia privar os meus filhos de ter
um pai, sabia como era ruim crescer sem uma família, mas
ao mesmo tempo, queria os proteger desse mundo cruel em
que Alessandro vivia.
— Não precisa fazer coisas pra mim também. Eu não
tenho como retribuir.
— Você já retribui estando ao meu lado, — ele ousou
tocar no meu rosto e eu respirei fundo, me odiando por
gostar do seu toque — vai retribuir aceitando ser a minha
esposa.
As suas palavras não passaram de um sussurro, mas
foram o bastante para me deixar impactada e com a mente
perturbada. Nunca vi tanta seriedade nos seus olhos antes,
e depois de tudo, esse era o seu objetivo final: se casar
comigo.
Mas talvez já fosse tarde demais para isso, mesmo
que aquele tivesse sido um dos meus maiores desejos no
passado.
CAPÍTULO 20

O meu maior desejo na gravidez, era comer


morangos. E eu estava me deliciando com um pote cheio
deles, enquanto descansava em uma espreguiçadeira, na
área da piscina e lia um livro sobre maternidade.
Ludovica, a minha enfermeira, havia conseguido
vários deles para mim, porque eu estava ansiosa demais e
com medo de não ser uma boa mãe, ainda mais de dois
bebês. Apesar de ter ela para me ajudar, Alessandro já
estava fazendo um processo seletivo para as babás.
Era um mundo novo para mim, mas eu não queria
errar. Quero cuidar bem dos meus filhos e quando eles
crescerem, poderão se sentir felizes e realizados por me ter
como mãe.
Não posso falhar, como a minha mãe falhou comigo,
quero ver cada fase dos meus meninos e estar lá para eles
em todos os momentos em que precisarem de mim.
Os meus pensamentos foram interrompidos, quando
Alessandro surgiu, usando apenas um short de banho e um
óculos escuros. Desconcentrei-me por um minuto o
encarando, pensando que seria melhor ele ter ficado
trancado no seu escritório, do que ter vindo me perturbar,
porque estava óbvio que esse era o seu objetivo.
— Vocês podem dar uma volta — ele expulsou os
meus seguranças, que estavam parados a poucos metros
atrás de mim.
Os homens assentiram e saíram, me fazendo
suspirar em resignação quando Alessandro se deitou,
justamente na espreguiçadeira ao meu lado, disposto a me
fazer companhia.
Mas a sua presença era um tanto perturbadora para
mim, mesmo ele parecendo não se dar conta disso ou que
estivesse fazendo justamente de propósito.
— Achei que só eu pudesse mandar neles —
comentei, passando uma página do meu livro, mesmo que
não estivesse conseguindo ler mais nada.
— Não precisa deles agora, eu estou aqui.
— Talvez eu precise deles para me proteger de você
— olhei de relance para os seus músculos, que não
deveriam ser tão chamativos assim.
Chega a ser uma piada a forma como eu caia nas
suas provocações, mas acontece que eu me sentia mais
tensa e com os desejos mais aflorados agora que estava
grávida.
Era vergonhoso acordar a maioria das noites
sofrendo em desejo, tendo que me contentar com as
minhas próprias mãos.
Alessandro arqueou uma sobrancelha e tirou os
óculos, me fazendo sentir toda intensidade daqueles olhos
azuis impressionantes.
— É, talvez você realmente precise, mas agora terá
que dar conta de mim sozinha — olhou diretamente para o
meu corpo, que estava coberto apenas por um biquíni
vermelho.
— Não me olhe assim — resmunguei, sentindo o
meu rosto esquentar junto com o restante do meu corpo.
— Estou incomodando você?
— Estava um pouco entediada, mas também não
estou a fim de discutir com você.
— Esse não é o meu objetivo. Não tenho mais idade
para discutir com uma garota de vinte e um anos — ele
debochou, conseguindo me irritar, porque eu não aceitava a
ideia de ele me achar imatura, pelo fato de ser dez anos
mais velho.
É claro que ele tinha mais experiência, mas eu não
era nenhuma garotinha boba, que não sabia lidar ou
conversar com um homem mais velho.
— Está querendo dizer que sou imatura?
— Nossos pensamentos são diferentes.
Estava ficando cada vez mais frustrada, então
desisti do meu livro de vez, disposta a fazê-lo mudar os seus
pensamentos sobre mim.
— Isso não o impediu de me engravidar — não
controlei a raiva na minha voz quando o encarei seriamente.
— E engravidaria de novo, se soubesse que ficaria
tão linda grávida — Alessandro forçou um sorriso, como se
estivesse gostando de me ver descontrolada.
Ele estava tentando me seduzir. Alessandro era um
cretino sem escrúpulos.
— Não vai funcionar — retruquei.
— Perdão? — Se fez de desentendido.
— A sua tentativa barata de me cantar. Eu não vou
cair na sua lábia outra vez.
— Engraçado, porque na primeira vez fui em quem
caiu na sua lábia — a sua resposta engraçadinha me
enfureceu.
— O que está insinuando?
— Era você que estava doida para me dar a sua
virgindade.
— Eu não estava doida.
— Parecia uma gatinha manhosa, se esfregando em
mim naquela piscina, lembra? — Apontou para a piscina à
nossa frente e o meu corpo se arrepiou inteiro quando me
lembrei da noite, que pensei ter sido a melhor da minha
vida.
— Foi você quem me seduziu — grunhi em resposta.
— Estava na minha, curtindo a minha raiva na
piscina e você veio atrás de mim, toda carente…
Ele tinha razão, eu também tive culpa naquela noite.
— Isso não importa mais agora — tentei guardar o
que restou da minha dignidade.
— Bom, eu não me arrependo de qualquer forma —
comentou atraindo a minha atenção.
— Está querendo dizer que gostou daquela noite?
— Você não?
— Você me expulsou do quarto depois, não foi muito
agradável — resmungou.
— Se quiser repetir pode até dormir na minha cama,
quantas vezes quiser. Se quiser tomar ela pra você, eu
também não me importo — falou, como se não fosse nada
demais.
— Você ficou maluco? — Olhei para ele, incrédula
com tamanha audácia.
— Preferia quando você me chamava de senhor —
suspirou frustrado.
— Por que acha que eu dormiria na cama que você
dividia com a sua esposa? — A minha voz soou indignada e
um tanto enciumada.
— Maya tinha o seu próprio quarto.
— E era pra lá que você ia passar as noites com ela?
Não sei o que estava acontecendo comigo, mas
aquele ciúme idiota estava voltando, mesmo que Maya não
estivesse mais entre nós.
— Nunca passei uma noite com ela — confessou de
repente, me fazendo prender a respiração — Como eu iria
dormir com outra mulher, se você era a única que estava na
minha cabeça o tempo todo?
O meu coração tolo bateu forte, amando aquela
confissão, mas a minha mente estava em pane.
— Está mentindo — foi a única coisa que consegui
dizer, mesmo que os seus olhos gritassem todos os seus
sentimentos e a verdade.
— Pergunte a Maya se tem alguma dúvida, mas
nesse momento, ela deve estar fodendo com o meu irmão
— a sua voz soou irônica, mas não havia nenhum vestígio
de ciúmes.
Falar de Maya com o seu irmão não o enlouquecia
tanto, quanto pensar na ideia de eu estar com outro
homem.
— E você fala isso com tamanha naturalidade? O
que de fato aconteceu? — Perguntei, realmente interessada
na história, mesmo que Alessandro parecesse apenas estar
entediado.
— Maya foi prometida a mim desde que nasceu,
mas era Lorenzo que tinha olhos para ela, porque eu nunca
me interessei pela garota. Ele criou alguma obsessão
possessiva e no início, ela parecia odiá-lo, mas nunca me
olhou como olhava para o meu irmão e eu não sou nenhum
tolo. Lorenzo quis me provocar no jantar de noivado usando
você, porque estava com ciúmes de Maya e queria estragar
o nosso casamento.
Agora tudo fazia sentido. Detestava Maya pelo o que
fez comigo e estava feliz por ela estar fora do meu caminho,
mas não desejava o seu mal.
— Onde eles estão agora?
— Pelo o que os meus seguranças viram, Lorenzo a
sequestrou.
— E você vai deixar o seu irmão roubar a sua
esposa? — Perguntei impressionada com tamanha loucura.
— Eu só me casei com Maya para cumprir um dever
e a minha palavra, mas sempre soube que esse casamento
seria um fiasco. Lorenzo pode fazer o que quiser com ela, eu
não me importo.
— Nem se ele a machucar?
— Ele não vai machucá-la, mas eu sim, quando ela
aparecer. Maya me pagará pelas mentiras que contou e por
fazer parte do meu descontrole naquela noite. Não deveria
ter tratado você como uma vadia, nem mesmo a expulsado
de casa — a promessa e a raiva na sua voz, me fizeram
acreditar que Maya estava muito encrencada.
— Foi tudo por ciúmes ou você só pensava que eu
era algum objeto do qual você tinha posse?
Alessandro soltou uma lufada de ar e se levantou,
vindo na minha direção. Eu o encarei com desconfiança
quando ele se ajoelhou a minha frente, me encarando com
expectativas.
— Você não é um objeto, linda. Você é a única
mulher que conseguiu me fazer lembrar que existia um
coração dentro de mim, a sua pureza, inteligência e
bondade me encantam, mesmo você sendo mais jovem, o
que me deixa impressionado — a sua voz era grave e
calma, enquanto ele jogava as suas confissões na minha
cara e eu estava paralisada, apenas ouvindo — Eu só quero
cuidar de você e que me mostre como é o seu amor, porque
irei retribui-la à minha maneira, mas eu vou amar você,
porque o meu coração e os meus pensamentos só gritam o
seu nome.
Ele tocou o meu cabelo com carinho, me fazendo
prender a respiração e tentar controlar as minhas emoções.
— Eu amo como o seu cabelo é selvagem, eu amo
os seus olhos que dizem tantas coisas sem nem mesmo
você perceber, amo a forma que me olha, até mesmo
quando está zangada, amo o seu jeito gentil e a forma que
quer proteger todo mundo, mesmo sendo impossível. Você é
mais forte do que pensa, tenho orgulho e estou feliz de que
você seja a mãe dos meus filhos.
Quando Alessandro terminou, eu estava em prantos,
os meus hormônios estavam loucos, queria gritar para que
ele não dissesse mais essas coisas e ao mesmo tempo,
queria abraçá-lo e beijá-lo desesperadamente, mas tudo o
que consegui fazer foi chorar, mesmo depois de prometer
que nunca mais derramaria uma lágrima por esse homem.
A minha promessa estava sendo quebrada e todos
os sentimentos que acreditei sentir por ele um dia, estavam
vivos aqui dentro, sendo jogados na minha cara e me
chamando de idiota.
— Eu não sou ninguém — foi a única coisa que eu
consegui sussurrar em meio às lágrimas.
O meu peito estava apertado e eu queria dizer
tantas coisas, mas o meu choro significava tudo o que
estava sendo colocado para fora, a minha alma estava
sendo limpa, me livrando de todo o rancor e a raiva que
Alessandro me causou.
— Você é a minha Lua, a única mulher que eu quero
ao meu lado, mesmo que eu tenha que esperar a sua raiva
passar.
CAPÍTULO 21

Alessandro limpou as minhas lágrimas com


delicadeza e as suas mãos tocaram o meu rosto, como se
estivessem decorando cada detalhe dele. Observei a sua
barba por fazer e as pequenas olheiras embaixo dos seus
olhos, notando que talvez eu não fosse a única a estar
sofrendo com aquela situação.
Ele não perderia o seu tempo dizendo aquelas
coisas para mim se não fossem a verdade, porque não era o
tipo de homem que distribuía sentimentos por aí.
Alessandro estava arrependido e eu deveria lhe dar uma
chance de curar o meu coração aos poucos.
Aproximei o meu rosto do seu, beijando a sua boca
ao deixar a ansiedade falar mais alto, foi um encostar de
lábios que me deixou ansiosa por mais e logo, ele segurou o
meu pescoço, me puxando para mais perto, enquanto a sua
língua devorava a minha boca.
Suspirei, subindo no seu colo, ele agarrou a minha
cintura, me colando ao seu corpo, que eu estava ansiosa
para tocar desde que ele apareceu aqui sem camisa, se
exibindo para mim. Faz tantos meses que o senti, que agora
eu parecia um tanto desesperada.
Alessandro apertou as minhas coxas, me fazendo
enrolar as pernas na sua cintura e me ergueu, voltando a se
acomodar na sua espreguiçadeira, comigo sentada em cima
dele.
A sua mão passeou pela minha barriga com
admiração, até encontrar os meus seios, que estavam bem
maiores, desde a primeira vez que dormimos juntos.
— Os seus seios estão maiores.
— Isso é ruim? — A minha voz soou sôfrega quando
ele tocou um dos meus mamilos.
— Estão perfeitos — elogiou, afastando o sutiã, os
cobrindo com a boca, sugando a minha pele, com fome.

Esfreguei-me nele com ansiedade, o sentindo duro


no meio das minhas pernas, bem aonde eu desejei que ele
estivesse há muito tempo. Eu gemi com o atrito, querendo
mais e deslizei as unhas pelo seu peito, até alcançar o
elástico do short.
Toquei no seu membro, me sentindo desinibida ao
puxá-lo para fora, sob os seus olhos também ansiosos.
— Você está mais ansiosa que o normal — ele
suspirou com a mandíbula tensa.
— Talvez eu só esteja cansada de brincar com os
meus dedos — acariciei o seu membro grosso, notando que
os meus dedos não conseguiam apertá-lo por completo.
— Puta merda.
Esfreguei nele outra vez, ouvindo a sua respiração
ofegante, porque eu não era a única que estava
desesperada aqui. Alessandro estava tão louco por mim,
quanto eu estava por ele.
— Vou cuidar de você, linda — os seus dedos
afastaram a minha calcinha, tocando a minha boceta já
melada por ele.
Eu estava tão tensa que ele era o único que podia
me aliviar. Não haveria outro homem para mim de qualquer
forma.
— Alessandro, eu preciso de você — movi os meus
quadris contra os seus dedos, desesperadamente.
— Sei que sim e eu vou dar o que você quer, porque
a minha mulher não passa vontades.
Alessandro se livrou da parte debaixo do meu
biquíni ao desatar os laços e logo, estava conduzindo o seu
pau pela minha entrada.
Eu gemi, arranhando os seus braços, quando ele me
deixou guiar os seus movimentos, sentando no seu pau,
como se ele fosse a única coisa que eu precisava naquele
momento.
— Devagar linda, você está grávida e eu nem sei se
pode sentar em um pau.
— Eu posso fazer sexo e atividades físicas — a
minha mente estava nublada, enquanto eu tentava me
lembrar das palavras dos médicos — Ah, eu queria muito
isso — confessei, entre uma arfada e outra, sentindo
Alessandro me encher completamente.
Era a segunda vez que fazíamos isso, então ainda
era incômodo, mas o prazer estava mais forte naquela vez.
— E por que diabos você não veio até mim, se
estava tão necessitada assim? — perguntou ofendido,
enquanto brigava comigo.
— Estava com raiva de você, ainda estou na
verdade — resmunguei, gemendo o seu nome quando uma
onda de prazer me atingiu — Minha nossa, isso é muito
bom.
— Eu sou seu, você pode vir até mim quando quiser.
Dou o que você quiser — confessou, deixando um beijo na
minha boca e me fazendo ficar totalmente a mercê dele.
Alessandro segurou a minha bunda, me ajudando a
rebolar sobre ele, me fazendo desacelerar todas as vezes
que eu tentava ir mais rápido, como se estivesse querendo
prolongar aquele momento e isso, me fazia gemer
frustrada.
— Você vai acabar comigo desse jeito — a sua frase
soou em meio a um gemido.
Amava quando ele me olhava tão faminto e
desesperado para que eu lhe desse um pouco de alívio. Era
como se ele precisasse de mim, da mesma forma que eu
precisava dele.
— Isso é coisa da sua idade? — Provoquei, querendo
atingir o seu ego.
Alessandro franziu o cenho, mas logo um sorriso
cretino estava em seus lábios, como se ele tivesse acabado
de ter uma ideia perversa.
— Quando não estiver grávida, vou mostrar o que
posso fazer na minha idade — prometeu me deixando
estranhamente ansiosa — Eu só não quero induzir o parto
dos nossos filhos e você está sentando em mim como se o
mundo fosse acabar.
— São desejos de grávida — respondi em minha
defesa, porque o meu orgulho não aceitaria que a culpa
fosse totalmente minha.
Estava louca por aquele homem e seria uma grande
burrice negar isso. Eu disse a mim mesma que iria esquecê-
lo e que seria forte para isso, mas o meu coração era dele,
não importa o que acontecesse.
— A sua boceta é tão apertada, tão boa. Esperei
tanto tempo por ela, que não vou durar muito.
Alessandro estava tentando dizer que não transou
com mais nenhuma mulher desde que eu fui embora? Não
podia ser real, ele sempre esteve acompanhado de
mulheres e não ficaria tanto tempo sem uma.
Mas a ideia de ele ter me esperado todo esse
tempo, aumentou o meu tesão, me fazendo intensificar os
meus movimentos e Alessandro suspirou abaixo de mim, me
deixando controlá-lo, parecendo até gostar disso.
Naquele momento, eu estava no comando e isso me
excitou pra caramba, porque era bom saber que um homem
como ele se deixava ser dominado por mim.
Pedi-me naquela onda de prazer, o sentindo apertar
a minha cintura com força ao gozar dentro de mim, me
levando junto a um orgasmo devastador, que eu mal sabia
onde terminava.
Encostei a testa na sua, ofegante, sentindo o meu
corpo amolecer sobre o seu e Alessandro me abraçou,
mesmo não sendo um homem de abraços.
Sorri por um momento, me sentindo relaxada e
surpresa comigo mesma, por me permitir viver tamanha
aventura e falta de noção.
Mas apesar de tudo, o meu coração estava tranquilo
e eu não me sentia arrependida, na verdade, eu gostaria de
fazer outra vez. Quero viver com Alessandro todos os
momentos, os quais não tivemos a oportunidade antes e
enfim, buscar a minha felicidade.
— Você ficou com outras enquanto estive fora? —
Perguntei para tirar a dúvida da minha mente ou iria
enlouquecer.
Ele colocou o meu sutiã no lugar, deixando um beijo
em um dos meus seios, enquanto acariciava o outro. Isso foi
o bastante para fazer os mamilos enrijecerem.
Sentia que poderia ficar em cima dele por horas e
que aquele desejo insano nunca acabaria.
— Não. Se quiser confirmar com a sua avó, fique à
vontade.
Eu não queria mais mal entendidos ou mentiras
entre nós, então resolvi acreditar nas suas palavras. Se
Alessandro estivesse realmente disposto a fazer a coisa
certa agora, eu iria lhe dar uma chance.
Não havia mais porque ter ciúmes entre nós, porque
ninguém mais estaria no meio do nosso relacionamento, se
é que eu já poderia chamar assim o que tínhamos.
— Não será necessário, eu acredito em você.
— Não usamos camisinhas, mas você já está grávida
e sempre me protejo, não tenho nenhuma doença — a sua
expressão se tornou séria agora e ele me encarava como se
buscasse alguma reação negativa.
Nem sequer me lembrei de um preservativo quando
estava me esfregando nele igual a uma cadela no cio e me
envergonhava pelo ato impulsivo.
— Está tudo bem, eu gostei — sorri, me afastando
para olhar a nossa volta, percebendo que poderíamos ser
pegos a qualquer momento por algum funcionário — Não
sei o que deu eu mim, eu não faço esse tipo de coisa,
alguém poderia ter nos visto.
Senti o meu rosto ficar vermelho pela possibilidade
de alguém nos pegar aqui. Alessandro me desestabilizava
ao ponto de cometer loucuras, sem nem ao menos
perceber.
— Ninguém ousaria nos atrapalhar. E eu tiraria os
olhos de qualquer um que visse você — a sua ameaça
contida me fez revirar os olhos.
Alessandro não se importou e me ajudou a colocar o
meu biquíni no lugar, me auxiliando a ficar de pé em
seguida, porque me encontrava com as pernas bambas.
— Vamos dar um mergulho e esquecer os nossos
problemas por hoje, eu só quero te mostrar o quanto somos
bons juntos — ele segurou a minha mão, deixando um beijo
nela, antes de seguir em direção a piscina.
— Esquecer é uma boa — suspirei, o
acompanhando.
Era a primeira vez depois de meses que eu me
sentia bem e queria que esse sentimento continuasse,
porque não queria mais guardar mágoa e rancor dentro do
peito ou aquele sofrimento nunca teria fim.
CAPÍTULO 22

— Tenho uma reunião em Palermo hoje, mas volto


amanhã — Alessandro comentou, enquanto fazia carinho
nas minhas costas.
Era algum momento da tarde, de algum dia da
semana, que eu mal vi passar, presa no quarto do meu
futuro marido, porque ele me fez aceitar o seu pedido de
casamento e quis adiantar a nossa lua de mel.
Foram momentos incríveis e pela primeira vez, eu
me sentia amada por alguém, principalmente quando
Alessandro beijava a minha barriga e conversava
silenciosamente com os nossos filhos. Ele não precisava
dizer nada, porque eu via no seu olhar tudo que queria dizer
e todas as suas emoções.
— Algum problema? — Ergui a cabeça preocupada,
porque quando ele saia da cidade, significava que ia
resolver algum problema.
Problema que não era da minha conta, por sinal.
Estava totalmente por fora do que acontecia na máfia, era
como se os meus olhos estivessem fechados o tempo todo,
mas agora queria saber mais aos poucos, sem que
Alessandro se sinta incomodado por eu parecer enxerida.
Sei que as mulheres no mundo dele são apenas
troféus, que os homens usam para exibir por aí e dizer que
são direitos. Mas não quero ser isso para Alessandro, quero
que confie em mim, que divida a sua vida comigo e me
deixe ajudá-lo de alguma forma.
— Irei resolver assuntos com a família de Maya,
apesar de não querer ir, eu preciso me livrar dessa família.
Quero estar totalmente livre quando me casar com você —
a sua voz estava frustrada, mas eu estava contente pelo
seu esforço de querer resolver o nosso casamento.
Nem sequer estava acreditando nisso. Eu iria me
casar e ter uma família com o único homem que amei e que
com certeza, amarei pelo resto da minha vida.
Era como se eu tivesse saído do inferno e agora
estava vivendo o conto de fadas que sempre sonhei, apesar
de saber que havia espinhos pelo caminho e que havia
muita coisa a ser superada.
— Você passou a semana inteira preso comigo nesse
quarto. Se não aparecer, as pessoas pensarão que está
morto e eu serei a principal suspeita — tentei fazer a minha
voz soar divertida, mas eu estava cansada.
— Eu realmente acredito que você é capaz de me
matar — ele deixou um beijo na minha boca e se levantou.
Observei sua bunda durinha e o quanto ele era um
pecado quando estava nu. Eu me viciei em cada parte do
seu corpo e seria difícil largar esse vício agora que
estávamos perdidos um no outro.
— Sinto o seu olhar em mim, Lua — comentou, me
olhando por cima do ombro, com aquele sorriso que eu era
apaixonada e que parecia ser dado apenas para mim.
— Só estava o admirando — confessei, não me
sentindo envergonhada por isso.
Porque eu também sentia os olhos dele em mim o
tempo todo.
— Não me olhe assim ou voltarei para essa cama —
ameaçou e um brilho de luxúria passou pelos olhos que eu
amava admirar.
Abri um sorriso fraco e neguei com a cabeça,
sentindo a minha barriga roncar de fome. A minha avó
costumava trazer as refeições aqui no quarto e eu ficava
envergonhada quando ela me lançava um olhar sutil, que
entregava todos os seus pensamentos. É claro que ela
jogaria na minha cara que estava certa o tempo inteiro
sobre os meus sentimentos por Alessandro.
— Eu até diria que gostaria, mas estou faminta de
comida agora. Os seus filhos sentem muita fome.
— Vou pedir para trazerem algo pra você, não quero
que meus filhos pensem que sou um desnaturado — ele
pegou o telefone, que estava na mesa da cabeceira.
— Posso ir buscar — reclamei, esticando as minhas
pernas porque não queria parecer uma incompetente.
Ele deu as ordens, pedindo tudo o que eu gostava
de comer e logo, desligou o telefone, me olhando como se
eu fosse uma criança esfomeada.
— Não quero que saia do quarto.
— Não vou me tornar uma mulher mimada,
Alessandro — revirei os olhos.
— Você vai e é melhor se acostumar com isso,
porque eu quero dar o melhor para você agora — ele me
deu outro beijo e avisou que iria tomar um banho, antes que
me atacasse outra vez.
Suspirei, assentindo e me enrolei em um roupão, me
levantando para abrir as portas da sacada, enquanto a
comida não chegava. Precisava tomar um pouco de ar,
porque deveria estar pálida.
Ouvi o barulho do chuveiro de Alessandro e um
tempo depois, batidas na porta.
Apressei-me para abrir e encontrei a minha avó com
uma bandeja repleta de comida. Deixei ela entrar no quarto
e Carllota levou a bandeja com a comida até a cama de
Alessandro.
— Vejo que esses dias fizeram bem a você —
comentou, observando os lençóis bagunçados.
— Me sinto melhor sim, obrigada pela comida, vó.
Eu poderia ter ido buscar, mas Alessandro insistiu que
alguém trouxesse — respondi envergonhada, mas ela não
parecia ofendida.
— Não me incomodo, é bom que ele esteja fazendo
bem a você.
— Apesar de tudo o que aconteceu, Alessandro
gosta de mim de verdade.
Sentei-me na cama e peguei uma maçã, dando uma
mordida generosa quando a minha barriga roncou.
— A sua tia esteve aqui — mudou de assunto, me
deixando surpresa.
Não ouvi falar de Amélia desde o sequestro. Não
sentia falta dela, porque era uma baranga má, mas estava
surpresa com a possibilidade de ela estar por perto.
— Como ela chegou até aqui? — perguntei
preocupada com a ideia daquela mulher estar cercando a
casa.
Se Alessandro soubesse disso, talvez não reagisse
bem, principalmente se eu contasse o quanto ela havia sido
ruim comigo.
— Ela tem contatos, não é boba.
— E o que ela queria?
— Saber o porquê de você ter desaparecido e me
ameaçar, querendo dinheiro, porque ela sabe que você está
com Alessandro — minha avó explicou, soltando um suspiro
cansado.
Ela ter vindo atrás de mim era realmente uma
surpresa. Todo o tempo em que estive morando na sua
casa, Amélia repudiou a minha presença. Mas me irritava a
ideia de ela vir perturbar a minha avó.
— Você está bem? Como ela ousa ameaçar a própria
mãe? — perguntei inconformada com o caráter daquela
mulher.
Mas nada que vinha de Amélia deveria me
surpreender.
— Só quero que fique alerta, se ela aparecer outra
vez, não hesite e colocá-la para fora e não dê ouvidos às
bobagens que fala.
— Apesar de tudo, você não se preocupa com ela?
Amélia é amargurada e parece ver o mundo de uma forma
ruim. Talvez ela apenas precise de apoio — comentei
pensativa.
— Ela não gosta de nós, foi um erro ter levado você
até ela — Carllota resmungou.
— Ela me tratou mal todo o tempo, realmente
deixou claro que me odeia — lamentei.
— Sinto muito, mas eu não tinha outro lugar para
mandar você.
— Eu sei vó, não se preocupe, já passou.
— O que me conforta é que agora você está bem.
— Também me sinto aliviada. Me sinto segura aqui
— respondi não querendo me lembrar do terror que vivi
antes de voltar para essa casa.
Imaginar o que doente do Vittorio faria com os meus
filhos, se Alessandro não tivesse me salvado, me deixava
apavorada.
— Vou deixar vocês a sós — Carllota falou quando o
barulho do chuveiro cessou.
Assenti a observando sair do quarto e fechar a
porta.
Alessandro voltou para o quarto, enxugando os
cabelos, enquanto uma toalha estava presa na sua cintura.
— Alessandro, por que o seu tio foi expulso da
máfia? — perguntei o que martelava em minha mente há
algum tempo.
— Ele era o meu conselheiro e foram reunidas
provas de que estava passando informações para os nossos
rivais. Gostava muito dele para matá-lo, então apenas o
mandei para o exílio. Mas Vittorio se ergueu e estava
criando uma gangue para me atacar e tentar me tirar do
poder, encontrar você foi lucro para ele.
— Mas você o matou agora — comentei notando sua
postura tensa.
— Não sabe o quanto foi aterrorizante a ideia de te
perder. Eu o reviveria e o mataria de novo se fosse possível.
Apesar de ter sido aterrorizante, um lado meu ficava
feliz em saber que ele se importava comigo ao ponto de
destruir o seu próprio tio.
— Eles não me machucaram. O capanga dele,
Marco, era um homem bom e também queria vingança.
Quando você chegou, ele estava tentando me ajudar a fugir
para algum lugar longe de vocês dois — tentei amenizar o
clima tenso que se formou.
— Mas então, eu atrapalhei os planos — ele deduziu
me fazendo assentir — Não existe lugar no qual você
consiga fugir de mim, Luna. Se eu quiser, sempre vou
encontrá-la.
— Mas você não foi atrás de mim antes — minha voz
soou relutante.
Se Alessandro não soubesse do sequestro, será que
iria atrás de mim para buscar o meu perdão ou me deixaria
ir embora para sempre?
Se ele não tivesse aparecido eu guardaria aquela
mágoa para sempre e não o perdoaria, e talvez por causa
disso, nunca conseguiria ser realmente feliz.
— Pensei que estava melhor longe de mim, mas me
enganei, porque o seu lugar é ao meu lado.
— O meu lugar é onde eu quero estar — respondi,
esperando que ele soubesse que eu era livre para comandar
a minha vida.
Alessandro não tinha que tomar todas as decisões
por mim ou se achar o meu dono.
— E aonde você quer estar? — arqueou uma
sobrancelha com desconfiança.
— Ainda irei descobrir, mas você faz parte disso —
forcei um sorriso, vendo sua expressão tensa desmanchar.
Ele abriu um sorriso e beijou a minha testa,
roubando uma das minhas maçãs, enquanto seguia para o
seu closet, alegando que não iria demorar a se vestir.
Concentrei-me na minha comida, enquanto passava
a mão pela barriga, desejando sentir os meus pequenos.
— Está tudo bem, queridos. Estamos seguros, nada
irá acontecer conosco agora e eu prometo que vocês terão
um bom pai e uma boa mãe.
CAPÍTULO 23

Hoje o dia estava ensolarado e eu me encontrava no


jardim, podando algumas roseiras. Alessandro havia me
dado livre arbítrio para cuidar do jardim da sua mãe, porque
confiava em mim e sabia o quanto eu amava aquele lugar,
então eu passava a maior parte do meu tempo distraída
aqui e era maravilhoso.
— Senhora, há uma mulher no portão que deseja vê-
la e ela está sendo um pouco inconveniente — um dos
seguranças se aproximou a alguns metros de mim,
abaixando a cabeça para falar comigo.
Alessandro já deixou claro para todos que eu seria a
sua esposa, mas eu ainda estava tentando me acostumar
com todo aquele comportamento estranho dos empregados
em relação a mim.
Sabia que era sinal de respeito, mas também
percebia os olhos olhares incômodos e curiosos sobre mim.
Eles já me conheciam, sabiam que eu era empregada nesta
casa e agora devem pensar que sou uma golpista, por estar
grávida do homem que um dia foi o meu patrão.
Mas no momento, não me importava com os
julgamentos das pessoas, porque eu sabia dos meus reais
sentimentos e Alessandro também.
— Quem é? — perguntei confusa, porque nem
sequer amigas eu tinha.
Não havia ninguém que pudesse querer me ver.
— Está alegando ser a sua tia — respondeu,
atraindo a minha atenção.
Amélia estava aqui outra vez e algo me dizia, que
ela não pararia de rondar a casa enquanto eu não desse o
que ela queria, então era melhor eu resolver isso de uma
vez por todas.
— Devo mandá-la embora?
— Eu irei até ela — me levantei e o homem assentiu,
me seguindo pelo caminho que levava até a entrada da
casa.
Como a mansão era grande, foi uma caminhada um
pouco longa, mas logo avistei a pose impaciente de Amélia
atrás das grades do grande portão, enquanto reclamava
alguma coisa com um dos seguranças.
Ela estava da mesma forma que eu me lembrava,
roupas curtas, postura impaciente, os cabelos cacheados
curtos, soltos e assim que me viu, avaliou todo o meu corpo.
— Eu disse que ela viria — respondeu orgulhosa
para o homem que se afastou, me dando espaço para me
aproximar, mas ficaram por perto, nos observando.
— Oi, tia — falei cordialmente.
— Não é uma boa aparência para a mulher de um
Capo — Amélia comentou, observando o meu macacão sujo
de terra.
— Você não veio até aqui para reparar na minha
roupa — deduzi, sem me sentir afetada, porque já conhecia
o seu jeito indiscreto.
— Ah, eu não perderia o meu tempo.
— Então, não perca o meu e me diga o que quer —
suspiro, a assistindo abrir a boca dramaticamente.
— Está mais arrogante, o poder já subiu à cabeça?
Não tinha onde cair morta há alguns dias e nem mesmo me
agradeceu por abrigá-la debaixo do meu teto.
— Obrigada pela estadia, mas como pode ver, estou
ocupada, será que pode dizer logo o que está fazendo aqui?
— Não vai nem me convidar para entrar? — Ela
olhou para dentro com interesse.
— Não quero problemas ou chatear a minha avó. Ela
disse que você andou a perturbando.
— Foi isso o que ela disse? Só queria falar com você,
mas Carllota fará de tudo para eu não conseguir — Amélia
zombou, mas eu pude ver a frustração passar pelos seus
olhos.
— Tudo bem, estou ouvindo agora.
— Os seus filhos correm perigo, aqui não é um lugar
seguro para você — ela falou de repente, olhando para a
minha barriga.
— O que quer dizer com isso? Do que você sabe? —
franzi o cenho, tentando enxergar alguma mentira no seu
rosto.
— Carllota não é a pessoa que você pensa que é —
a sua voz soou mais baixa agora, para que os seguranças
não a ouvissem.
Houve um momento de silêncio e eu tentava
entender o que ela queria com todo esse teatro.
— Como ousa vir até aqui insultar a minha avó? —
Irritei-me.
— Ela quer se vingar pela morte da minha irmã. Por
que acha que ela está presa nessa casa por todos esses
anos?
— O que a morte da minha mãe tem haver com essa
casa?
— Nunca perguntou a Carllota quem foi o mafioso
que matou a sua mãe? — Olhou-me com interesse.
Não quero pensar em um passado que só me fazia
mal. A morte da minha mãe me abalou muito, a única coisa
que sabia, foi que ela se envolveu com um mafioso, que
tirou a sua vida depois, o meu pai é um homem que eu
nunca quis conhecer e que esperava que estivesse morto.
— Não faz diferença — engoli em seco.
— Faz toda a diferença. Você precisa sair daqui,
antes que os seus filhos nasçam ou o plano de vingança
dela estará completo — Amélia estava totalmente séria e
perturbada agora.
Agora eu entendi o porquê da minha avó querê-la
bem longe de mim. Amélia era louca e queria enlouquecer
as pessoas à sua volta também.
— Você é louca, vá embora da minha casa e nunca
mais ouse voltar aqui — a minha voz soou firme.
— Você não está entendendo…
— Afastem essa mulher da redondeza e não deixem
que ela volte a se aproximar — avisei aos seguranças,
dando as costas para aquela maluca.
Não perderia o meu tempo discutindo com ela ou
ouvindo as suas loucuras, porque isso me irritaria e poderia
fazer mal aos bebês.
Tudo o que eu menos precisava naquele momento
era de estresse, porque tudo estava perfeito.
— Vai se arrepender de não ter me ouvido, Luna.
Você é a única que está convivendo com uma louca aqui.
Quem você acha que deu a sua localização para aquele
homem que a sequestrou? Foi ela, isso faz parte da
vingança de Carllota.
Os seus gritos invadiram a minha mente, me
deixando confusa, mas eu não me virei para ouvi-la
enquanto os seguranças a expulsavam daqui. Estava
disposta a tentar ajudá-la de alguma maneira, mesmo
depois de tudo, mas acusar a minha avó de um ato de
vingança sem sentido foi o seu maior erro.
— Fiz uma torta de amoras pra você. Acho que será
a preferida dos meninos — minha avó comentou quando
entrei na cozinha um tempo depois.
Ela usava um avental e cortava um pedaço da torta
suculenta, que estava sobre a mesa e que tinha se tornado
a minha preferida nos últimos dias.
A tensão do meu corpo foi embora, porque eu estive
preocupada desde que Amélia esteve aqui. Carllota parecia
tranquila e eu percebi uma boa diferença nela, desde que
voltei para essa casa e para Alessandro.
Minha vó estava feliz por mim e pela família que eu
estava construindo, então eu não deveria me importar com
as loucuras da sua filha. Ela era apenas uma senhora que
gostava de cozinhar. Cuidou de mim a vida inteira como se
eu fosse a sua filha e não faria mal a uma mosca.
— Também acredito que sim, o meu desejo por ela
está cada vez mais intenso — me sentei à mesa, aceitando
o pedaço da torta deliciosa, que só ela sabia fazer.
— Quando Alessandro volta? — Ela perguntou um
tempo depois me observando comer.
— Ele disse que vai atrasar um pouco. Talvez chegue
pela madrugada — respondi, me lembrando da ligação que
recebi a pouco tempo.
Ele me ligou pelo menos duas vezes hoje para ter a
certeza de que eu estava bem e ainda disse que estava com
saudades.
Ainda estava me acostumando com o seu lado
romântico, mas estava gostando disso e não queria que ele
mudasse.
— Ele está realmente apaixonado por você, não é?
Vejo a forma como ele te olha e como tenta te agradar.
— Ele me ama, vó — respondi orgulhosa, não
escondendo o sorriso.
Mas Carllota não parecia feliz agora, a sua
expressão estava séria e cheia de desgosto.
— E mais uma vez a história se repete, um homem
mais velho se aproveitando de uma garotinha — sua voz
soou irônica e zangada.
— O que quer dizer com isso? Ele não está se
aproveitando de mim, eu sou maior de idade, sei o que
estou fazendo e sei também do amor que tenho por ele.
— Um amor tolo que a levará à desgraça e a morte
— ela elevou o tom de voz, me assustando.
— Por que está falando essas coisas? Você me
apoiou a voltar para Alessandro — falei confusa.
— Queria apenas ter a certeza do que ele sentia por
você. É obsessão, posse e agora tudo isso é bonitinho, mas
depois ele não medirá esforços para acabar com você, igual
aconteceu com a sua mãe.
— O que quer dizer com isso, vó? — A minha
respiração ficou pesada e eu me levantei, esquecendo da
torta.
Primeiro a minha tia veio com histórias malucas e
agora, Carllota falava coisas sem sentido, que me
provocavam um mau pressentimento.
— Ele é sujo igual ao pai dele, que se aproveitou da
sua mãe, igual esse desgraçado está fazendo com você.
— O pai dele… — não consegui terminar a frase,
porque a minha voz morreu.
— Ele a matou sem pensar duas vezes, sem remorso
algum. Aquele desgraçado matou a minha filha inocente,
que apenas sonhava com o amor e você é exatamente igual
a ela.
As suas palavras eram puro desespero e ódio e de
repente, a minha garganta ficou seca, não conseguia pensar
em nada, apenas sentia o meu corpo inteiro tremer em
desespero.
— Tem alguma coisa errada comigo — sussurrei, me
sentindo zonza e de repente, a cozinha inteira ficou
embaçada.
— Essa família irá pagar por tudo o que fez conosco,
querida. Vou destruir toda essa linhagem desgraçada e
depois, nós vamos embora, só nós duas e seremos felizes
juntas. Eu prometo a você que será feliz.
A sua voz estranha ficou distante e eu olhei uma
última vez para a minha torta, antes de uma lágrima
escorrer pelo meu rosto e tudo escurecer.
CAPÍTULO 24

Acordei, sentindo o meu corpo fraco, dolorido e a


garganta seca, como se eu estivesse há dias sem beber
água. As memórias de quando fui sequestrada voltaram à
minha mente, me fazendo choramingar apavorada, ao
reviver aquele pesadelo outra vez.
Mais uma vez, a cena se repetia e eu acordava
amarrada em um local desconhecido, mas dessa vez,
estava sentada no chão empoeirado e as minhas mãos se
encontravam presas atrás das minhas costas.
O meu cabelo estava preso no alto da cabeça e eu
percebi alguns arranhões no meu corpo, provavelmente
causados pela pessoa que me trouxe até aqui, a pessoa que
cuidou de mim a vida inteira e que havia me apunhalado
pelas costas. Senti um calafrio e uma ânsia de vômito ao
me lembrar o que realmente aconteceu, desejando que
fosse apenas um pesadelo, mas de fato era real.
A minha avó fez isso comigo. Carllota me traiu
assim, como Amélia tinha dito que faria. Ela não estava
louca e mesmo depois de tudo, ainda tentou me salvar, mas
eu não lhe dei ouvidos.
Pisquei os olhos para afastar as lágrimas quando a
dor da traição me atingiu. Eu a amava tanto, ela era a
minha única família. Como foi capaz de me maltratar tão
friamente?
— A bela adormecida acordou — ouvi a sua voz
rouca pelo local mal iluminado.
Havia uma lâmpada em cima da minha cabeça,
iluminando o lugar onde eu estava, mas o resto era
escuridão e eu não sabia quem mais estava ali.
Eu estava sufocando, ao me sentir um animal
enjaulado e exposto, com medo do meu futuro incerto.
— Vó? Onde estamos? — Minha voz soou seca e
falha.
Ouvi os seus passos pelo local e logo, ela surgiu à
minha frente, com os braços para trás e a expressão mais
fria e sombria que já vi em seu rosto.
Por um momento, senti medo. Porque se ela
realmente estivesse buscando vingança, seria capaz de
fazer qualquer coisa para cumprir os seus objetivos, até
mesmo me machucar.
— Em um porão abandonado na mansão, que
ninguém sabe a localização, apenas eu — respondeu
tranquilamente.
— O que você fez comigo?
— Apenas um sonífero, as doses foram baixas,
apesar de você ter dormido algumas horas.
Engoli em seco, me recordando de todo o discurso
que ela fez antes que eu desmaiasse ao comer aquela torta.
Nada fazia sentido, mas algo martelava em minha mente,
deixando-me preocupada.
— Você disse que o pai de Alessandro foi o causador
da morte da minha mãe — falei com cautela, vendo um
sorrisinho cruel surgir nos seus lábios — Mas também me
disse uma vez, que quem matou a minha mãe foi o meu pai.
— Você é inteligente, ligue os pontos.
As lágrimas começaram a cair involuntariamente do
meu rosto, e eu buscava desesperadamente uma solução
para aquele problema.
— Não!
Solucei, sentindo o desespero em todo o meu corpo.
Antes eu pensava que não era ninguém, agora sei que sou
uma pecadora imunda, que se apaixonou pelo meio-irmão.
Carllota precisava estar mentindo. O que eu sentia
por Alessandro era muito forte para ser destruído dessa
maneira. Mas se isso fosse verdade, talvez tenham sido os
nossos laços sanguíneos que nos aproximaram, talvez, eu
tenha confundido os meus sentimentos e agora a minha
vida havia se tornado um pesadelo.
— Meu Deus. Me diga que isso é mentira, por favor.
Eu não posso ser irmã de Alessandro — minha voz soou
desesperada.
O meu peito apertou e eu estava sufocando com
aquele pesadelo.
— Não é irônica, a vida? Uma bastarda se apaixonou
pelo irmão herdeiro e agora, terão dois bastardos. Essa
maldição precisa acabar aqui. Não vou deixar que a minha
linhagem continue se contaminando com essa sujeira. Você
e a sua mãe só me trouxeram vergonha e desgosto — havia
nojo e ódio na sua face.
— O que vai fazer? — Perguntei sentindo o medo me
dominar.
Não conseguia me livrar das cordas, elas apertavam
forte o meu pulso e me machucavam. Estava totalmente a
mercê de Carllota.
— Vou eliminar esses bastardos, antes que seja
tarde demais — olhou diretamente para a minha barriga.
— Não, não vai tocar nos meus filhos! — Encolhi-me,
tentando protegê-los.
As minhas crianças nem sequer tiveram a
oportunidade de nascer, e todos já queriam destruí-las.
— Eu poderia tê-los tirado de você há muito tempo,
mas eu quero ver as feições dos bastardos. Quero que
Alessandro sinta na pele a dor e que pague pelos erros do
pai.
— Por favor, não faça isso! Eu sei que no fundo,
você me ama. Você não me machucaria não é, vó? Não
machucaria os meus filhos? — Implorei com o último fio de
orgulho que ainda tinha.
— É por amar você, que irei te libertar disso.
— Alessandro vai matar você — foi a única coisa que
consegui dizer.
Se ela não parasse por amor à mim, talvez o fizesse
por amor à sua vida miserável.
— Morrerei feliz, sabendo que destruí essa maldição
— respondeu, não se importando com a ideia de morrer.
Eu não estava blefando, sabia do que Alessandro era
capaz de fazer e eu sentia ânsia ao imaginar o que ele faria
com Carllota quando nos encontrasse.
A minha avó estava agindo sem nenhuma razão. Ela
não sabia o que estava fazendo, afinal, aquele plano não
daria certo. Quando chegasse em casa e não me
encontrasse, Alessandro me procuraria por cada canto
desse lugar, nem que precisasse destruí-lo, pedra por
pedra.
Acreditava no seu amor por mim e até onde ele iria.
Alessandro me encontraria aqui, e colocaria um fim em todo
esse terror.
— Foi você quem deu a minha localização para
Vittorio? — Perguntei, me lembrando da fala de Amélia.
Agora eu não duvidava de mais nada que Carllota
pudesse ser capaz de fazer. Eu nunca estive segura com
ela, nunca a conheci de verdade e fui enganada a vida
inteira.
— Se ele tivesse feito o trabalho direito, eu não
precisaria fazer tudo sozinha — confessou os seus planos,
inconformada.
— Então, você não me mandou para a casa da
minha tia para me proteger. Você me colocou em uma
armadilha — acusei.
— Seu destino já foi traçado no momento em que
resolveu abrir as pernas para aquele maldido. Eu avisei a
você, que bastardos não sobrevivem na máfia, mas você
não me ouviu — lançou-me um olhar irritado.
— Eu sou uma bastarda, eu sobrevivi — retruquei,
sentindo a coragem me invadir.
— Porque eu a salvei, ou o desgraçado do seu pai a
teria matado também. Não se iluda com esses malditos
homens, porque eles só causam destruição.
Ela queria que eu a agradecesse? Carllota queria
matar os meus filhos e destruir a minha vida.
— Alessandro me ama. A única pessoa que está
causando destruição aqui é você e não vou perdoá-la —
sussurrei a única certeza que tinha em meu coração.
Mesmo que toda aquela história fosse real e se
formos realmente irmãos, iríamos dar um jeito, porque os
nossos sentimentos eram verdadeiros e nada, nem
ninguém, iria destruir isso.
— Pode perdoá-lo por tratá-la como uma vadia, mas
não à mim, que cuidei de você a vida inteira? Você é uma
ingrata igual a sua mãe, só pensa com a boceta — Carllota
me lançou um olhar repugnante e ofendido.
— No fim das contas, a minha mãe teve sorte de ter
se livrado de você. Agora eu entendo porque Amélia te
odeia, deveria ter dado ouvidos quando ela veio me alertar.
— Aquela idiota. Outra que só me traz desgosto. As
mulheres dessa família são todas tolas.
— Não somos culpadas pela sua amargura. Por
nunca ter encontrado o amor.
Carllota soltou uma gargalhada alta, me assustando.
— Amor? Querida, amor é um conto de fadas que
você inventou nessa sua cabecinha tola.
— É uma pena que você irá morrer sem nunca ter
amado de verdade — forcei um sorriso irônico.
— Se continuar a falar bobagens, a única que irá
morrer será você. Irei voltar lá para cima e fazer o meu
papel, enquanto assisto o seu amado procurar por você. E
sabe o que direi a ele? Que você fugiu, assim que ele lhe
deu as costas.
— Não seria capaz — arregalei os olhos diante de
tamanha maldade.
— Será que Alessandro continuará amando a mulher
que o rejeitou? Será que o amor dele é maior, do que o
orgulho de ter perdido a sua puta?
— Ele não vai acreditar em você.
— É claro que irá. Ele já não fez isso antes? Preferiu
acreditar em outra pessoa, do que na mulher por quem
estava apaixonado?
Alessandro estava diferente de antes, ele não
acreditaria mais em mentiras antes ver o meu lado, porque
a última vez quase nos destruiu.
— Ele vai me encontrar — falei a única certeza que
tinha.
— Ninguém tem conhecimento desse lugar, sua
garota tola. Você ficará aqui até os bastardos nascerem. E
então, vamos eliminá-los de uma vez por todas — soltou o
seu decreto final, enquanto me dava as costas.
Eu não suportaria, não conseguiria sobreviver neste
lugar, sem ter um ataque de pânico.
— Não vá, por favor, não me deixe aqui. Vó, por
favor! — Gritei, implorando pela sua misericórdia, mas ela
apenas desapareceu, me deixando sozinha aos gritos e
choro.
Estava apavorada e era como se a escuridão à
minha volta fosse me engolir a qualquer momento. Mas eu
precisava controlar as minhas emoções, ou surtaria e não
sobreviveria uma semana neste lugar asqueroso.
Eu lutaria pelos meus filhos e sobreviveria por eles.
CAPÍTULO 25

Os dias que se seguiram foram os piores da minha


vida, porque nas primeiras noites, passei frio e precisei
dividir o meu espaço com os ratos, o que resultou em
passar as madrugadas acordada, rezando para sobreviver à
minha fobia.
Carllota aparecia uma vez ao dia com comida e
água. Ela soltou as minhas mãos das cordas, mas amarrou
os meus pés com correntes, então eu só podia andar em um
curto espaço.
Tinha um penico por perto, no qual a minha urina já
estava fedendo, porque não consegui segurar por muito
tempo. Sentia-me humilhada e suja, porque nem mesmo
Vittorio me tratou dessa maneira tão nojenta.
No início, não comi a comida que Carllota trazia com
medo de ser envenenada, mas estava ficando fraca e
precisava alimentar os meus filhos.
Estava cada vez mais cansada e sentindo todo o
meu corpo inchado, sabendo que o dia do meu parto estava
se aproximando. Estava tudo planejado para ser em um
hospital, onde eu e os meus filhos teriam o melhor
tratamento possível, mas agora, estava presa em um
maldito porão, temendo pela vida deles.
Não poderia ter os meus filhos aqui, como um
animal. Não conseguiria sozinha, não teria forças para lutar
por eles sozinha, por isso, todas as vezes que Carllota
aparecia, eu implorava pela sua misericórdia.
Faria o que ela quisesse para conseguir fugir daqui,
imploraria de joelhos se fosse necessário, mas precisava
que a minha avó voltasse à sua sanidade.
Alessandro não me encontrou e estava apavorada
com a ideia de ele ter acreditado que eu havia fugido. Não
fazia ideia de onde ficava esse porão e não conseguia ouvir
ruídos externos, então, não sabia se Carllota estava dizendo
a verdade sobre o porão ser nas dependências da mansão.
Talvez ela estivesse brincando com a minha mente o
tempo todo, apesar de saber que seria impossível ela sair
despercebida da mansão, comigo desacordada. Os
seguranças a impediriam, a não ser que algum deles
estivesse do lado dela.
— Vejo que está dividindo a sua comida com os
ratos — Carllota surgiu a passos mansos, observando
friamente o estado em que eu me encontrava.
— Vó, por favor, eu não aguento mais — a minha
voz soou baixa e cansada.
— Você só sairá daqui quando os bastardos
nascerem. Está perto, não acho que passe de mais uma
semana.
— Não vou conseguir dar a luz nesse lugar, os meus
filhos podem morrer.
— Então a minha vingança será mais rápida e me
poupará esforços.
Como alguém que você conheceu a vida inteira
consegue ter duas faces e uma delas, tão horrível?
— Eles são inocentes. Você não seria capaz de
matar esses bebês inocentes, seria?
— Quando se perde tudo na vida, você não imagina
do que se é capaz — não havia emoção na sua voz.
— Você não perdeu tudo. Você tem a mim e logo
terá dois bisnetos lindos.
— Os bastardos carregam o sangue da família do
homem que matou a sua mãe.
— E eu também, também carrego esse sangue, mas
você me amou um dia, não é? — Alterei o tom de voz,
tentando fazê-la enxergar a lucidez.
— Não adianta Luna, nada que disser mudará os
meus planos. Deveria me agradecer por eu estar livrando
você desta maldição — manteve-se irredutível, me
mostrando que não havia mais um coração naquela mulher,
que um dia pensei ser bondosa.
O seu olhar de nojo para a minha barriga me fazia
querer agredi-la para proteger os meus filhos.
— Se acha que vou deixar você tocar nos meus
filhos, está completamente enganada, terá que me matar
também — respondo, erguendo o queixo em desafio.
— Se todos nós tivermos que morrer para acabar
com essa maldição, então, tudo bem. Encontraremos a sua
mãe do outro lado — Carllota foi dura e cruel.
Sentia tanto nojo dela naquele momento, que quis
cuspir na sua cara e foi exatamente o que fiz, não medindo
os meus instintos.
— A minha mãe não está no inferno e eu tenho
certeza que é pra lá que você vai, sua velha maldita! —
Gritei, perdendo todo o controle.
A minha avó torceu os lábios em repulsa, limpando o
cuspe e não hesitou em acertar um tapa no meu rosto, forte
o suficiente para fazê-lo virar.
Ofeguei, voltando a encará-la com ódio e levei mais
um tapa.
— Garota malcriada, eu deveria ter sido mais dura
com você, talvez assim, não teria me dado tanto desgosto.
Mas quer saber de uma coisa? Você é apenas uma bastarda,
que eu criei por pena, mas já estou arrependida.
As suas palavras duras foram piores do que os tapas
que me deu. Em algum momento da minha vida, pensei que
Carllota me amasse, mas tudo foi apenas uma ilusão da
minha cabeça carente.
Essa mulher nunca me amou, ela me repudiava.
— Vá se foder, sua desgraçada — grunhi em
resposta.
— Isso mesmo Luna, me mostre as suas garras e eu
terei ainda mais certeza de que estou apenas fazendo a
coisa certa. Vai ficar sem comer e beber por três dias, talvez
assim, aprenda a me respeitar.
Não deixei transparecer o quanto me senti afetada
com aquela ameaça. Eu poderia continuar resistindo e não a
deixaria vencer.
Ofeguei, a assistindo ir embora e gritei de raiva, me
sentando no chão, abraçando os meus joelhos, enquanto
tentava inútilmente não chorar, o que era exatamente o que
eu fazia nos últimos dias, mas já estava cansada de tanto
sofrer.
Eu iria conseguir sobreviver a isso. Só precisava
aguentar mais um pouco.

As contratações começaram em algum momento da


noite, me fazendo acordar de um cochilo, assustada. Toquei
na minha barriga grande com as minhas mãos trêmulas,
sem acreditar na minha má sorte.
— Não, por favor, por favor, agora não — implorei,
gemendo de dor, rastejando naquele chão sujo.
Tentei me levantar e só então percebi que a minha
calça estava molhada entre as pernas. Água que não era
xixi, então só poderia ser a minha bolsa estourada.
— Ai meu Deus — entrei em desespero, sem saber o
que fazer.
Precisava sair daqui, precisava dar um jeito de fugir.
Tentei me levantar, fazendo as correntes balançarem, mas
uma onda de dor me fez gritar e voltar a me sentar.
Ofeguei, tentando controlar a minha respiração,
respirando fundo algumas vezes, fincando as unhas no chão
quando as contrações vinham mais forte.
Sabia que doeria, mas não que seria tão
devastadoramente insuportável.
Não sabia por quanto tempo aquelas dores
permaneceriam, mas a certeza era a de que eu não teria
forças para suportar muito tempo. O meu corpo estava fraco
e a minha exaustão mental me prejudicava naquele
momento.
— Alessandro — meu grito soou mais alto. — Você
prometeu que não me abandonaria outra vez.
O meu sofrimento continuou por horas, e nos
intervalos das dores, eu tinha desmaios. A minha esperança
havia ido embora e a certeza da morte já era certa para
mim.
Não conseguiria, era uma fracassada que sequer
daria conta de colocar os filhos no mundo. Mas naquela
situação, era melhor que eles nem viessem, já que a morte
os estava esperando.
Estava chorando pelo meu fracasso, quando ouvi
passos se aproximando e Carllota surgiu, segurando uma
lanterna e parecendo agitada.
— Aquele desgraçado está com um cão farejador,
preciso tirar você daqui — falou rapidamente, mas parou
assim que viu a minha situação.
A minha mente estava nublada, mas eu consegui
entender que Alessandro estava me procurando e pelo
desespero de Carllota, ele estava perto.
Ele não desistiu de mim, ele viria. Eu só precisava
aguentar mais um pouco.
— Me ajuda, por favor, eu não vou conseguir —
implorei, sem forças para falar.
Carllota resmungou se ajoelhando à minha frente,
parecendo estar irritada. Ela tirou o casaco grosso que
vestia e colocou embaixo de mim.
— Péssima hora garota, péssima hora. Por que
diabos ainda não tirou as roupas? — repreendeu, olhando
para a minha calça ainda no lugar.
— As correntes — Apontei para os meus pés
inchados e presos.
— Inferno, morrendo desse jeito não vai conseguir
fugir mesmo. É melhor não tentar nenhuma gracinha ou
farei a sua situação ficar pior.
Ela resmungou mais alguma coisa, enquanto tirava
as chaves do bolso e se inclinava para abrir as correntes
presas aos meus pés.
Agradeci pelo intervalo das contrações,
concentrando o resto das minhas forças no que teria que
fazer agora. Seria a minha única chance de conseguir fugir,
mesmo que estivesse totalmente debilitada.
Em um ato de adrenalina, tirando forças de onde
não tinha, eu chutei o rosto de Carllota várias vezes, a
fazendo cair deitada no chão.
— Sua vadiazinha, você quebrou o meu nariz — ela
berrou, cobrindo o seu nariz coberto de sangue.
Por um momento, me senti vingada pelos tapas que
ela me deu, mas isso ainda não era o bastante.
Esforcei-me para conseguir me levantar e peguei
uma das correntes, avançando sobre o corpo da velha,
enquanto enrolava a corrente no seu pescoço.
As minhas pernas estavam bambas e as minhas
mãos tremiam, porém, não vacilei enquanto a enforcava,
mesmo quando ela grudou as unhas nos meus braços,
rasgando a minha pele.
Carllota rangia os dentes, se debatendo, e eu
mordia os lábios com força, controlando a minha própria
dor, enquanto lágrimas embaçaram os meus olhos.
Estava matando a mulher que me criou, a única
família que eu tive na vida e que agora, descobri não
significar nada. Mesmo que ela não me amasse, eu a amei
um dia e agora estava me libertando dela e libertando o seu
sofrimento.
Carllota estava totalmente doente, em meio à
loucura que havia criado na sua própria cabeça. Aquele
desejo de vingança só acabaria com ela e com as pessoas
que estavam à sua volta.
— Você jurou matar os meus filhos, vovó. Mas vai
morrer pelas mãos da bastarda que criou por pena.
CAPÍTULO 26

Assisti Carllota perder as forças e parar de se


debater, as suas unhas deixaram os meus braços e eu
segurei firme a corrente, até o seu corpo desfalecer de vez.
Soltei-a, a deixando cair no chão e não fazia ideia se
ela estava morta ou apenas desmaiada, mas não ficaria
aqui para saber, porque precisava aproveitar aquele tempo
para fugir.
Soltei um grunhido de dor, me arrastando pelo
porão imundo até encontrar a sua lanterna. Procurei pela
saída e avistei uma escada velha, que levava para uma
porta no teto e era ali que eu deveria chegar.
Eu mal tinha forças para andar, mas tentei subir as
escadas, sentindo as contrações cada vez mais fortes e
perturbadoras.
— Só mais um pouco, vou conseguir — murmurei
em meio às arfadas de dor.
Quando estava alcançando a porta, ouvi o barulho
de chuva lá fora, me avisando que talvez enfrentaria uma
tempestade. Torci para a maldita porta estar aberta e
quando dei alguns socos na madeira, ela se abriu, me
fazendo sentir o vento frio da noite e as gotas molhadas da
chuva.
Impulsionei o meu corpo para cima, senti a grama
molhada nas minhas mãos e me deitei nela, sem forças
para continuar a rastejar.
Eu finalmente estava livre. Sorri para a noite fria,
não me importando com a água que escorria por todo o
meu corpo, me deixando encharcada.
— Luna! — Ouvi o grito estrondoso de Alessandro
vindo de algum lugar e pensei estar alucinando.
Os gritos ficaram mais próximos, me fazendo ter a
certeza de que era real. Alessandro não havia desistido de
mim.
Uma luz iluminou o meu corpo e eu ouvi os latidos
de um cachorro. Talvez fosse o cão que Carllota temeu que
me encontraria.
— Senhor a encontramos! — Alguém gritou, me
fazendo suspirar aliviada.
E logo, passos pesados se aproximaram e uma
movimentação estava próxima de mim. Alessandro me
chamou mais uma vez e eu senti a sua presença quando ele
se ajoelhou ao meu lado, me tocando como se eu fosse
quebrar a qualquer momento.
— Querida — ele estava ofegante e eu senti a sua
mão fria tocando o meu rosto — Quem fez isso com você?
Quem foi o desgraçado?
Havia raiva e amargura na sua voz, enquanto
tateava toda a minha pele, buscando por algo de errado e
ouvi um xingamento quando tocou nos machucados do meu
braço. Soltei um gemido em meio às lágrimas de medo e
alívio, tentando pegar a sua mão para que a sua atenção
estivesse apenas nos meus olhos.
Queria olhar para ele, para a imensidão azul que eu
amava, mas Alessandro estava tão transtornado, que podia
enxergar apenas a sua fúria.
— Nossos bebês, você precisa salvá-los! — Implorei
para o seu olhar desnorteado.
Eu não iria desistir enquanto os meus filhos não
estivessem nos meus braços.
— Tragam um médico, rápido! — Ele gritou
desesperado, enquanto me pegava no colo — Rápido, porra.
Eu abracei o seu corpo molhado com força, me
sentindo finalmente segura. No final das contas, aquele
homem era a única pessoa que lutaria por mim nesse
mundo.

Momentos depois, eu estava no quarto,


descansando, nos lençois brancos da cama macia de
Alessandro. O médico e a enfermeira já estavam me
medicando e fazendo o meu parto. Eles disseram que eu
daria conta porque já estava dilatada o suficiente e o
primeiro bebê estava na posição correta, então o parto
normal era o mais seguro naquele momento.
O mundo parecia cair lá fora em uma tempestade,
se igualando aos meus pensamentos tempestuosos e tudo o
que eu estava sentindo naquele momento.
Alessandro ficou sentado ao meu lado o tempo todo
segurando a minha mão, deixando que eu quase quebrasse
os seus dedos a cada contração. Ele beijava os meus
cabelos molhados e enxugava a minha testa de suor, me
encorajando com palavras positivas.
Já me sentia segura, apenas por ele estar aqui
comigo. Tinha força e a confiança de que tudo ficaria bem e
que os meus filhos viriam ao mundo com saúde. E anos
depois, tudo o que enfrentamos seria apenas uma história
de superação, que eu contaria a eles antes de dormir.
E foi ao nascer dos primeiros raios de sol, que os
meus filhos vieram ao mundo, me trazendo a maior
felicidade que poderia ter e a recompensa por todo o
sofrimento que passei.
Renzo e Salvatore eram dois meninos grandes e
fortes, com cabelos claros e os olhos de um azul escuro,
intenso e encantador. Os seus choros ecoaram por todo o
quarto, trazendo a vida a todo o sofrimento que passamos.
Eu chorava de emoção e paixão, porque estava
apaixonada pelos meus filhos. Alessandro foi o primeiro a
pegá-los e eu nunca tinha o visto tão feliz e emocionado
antes.
E quando eles foram depositados nos meus braços,
dei um beijo na cabeça de cada um, agradecendo a Deus
pelo lindo presente em dobro que ganhei.
— Me perdoa, por tudo. Eu nunca deveria tê-los
rejeitado. — Alessandro se ajoelhou aos pés da cama, ao
meu lado. — Vocês são a melhor coisa que já aconteceu na
minha vida e eu não sei se conseguiria continuar vivendo
sem vocês.
Estava tão feliz e nada iria mudar isso, nem mesmo
o fato de termos uma história mal contada no passado e
que poderíamos ter o mesmo sangue.
— Você está aqui agora e é isso o que importa —
sussurrei de volta segurando a sua mão. — Eu sou grata por
tê-lo.
Vi o alívio passar pelos seus olhos, mesmo que
estivesse dominado pela culpa. Não quero que o passado
atrapalhe o nosso presente e o futuro, porque construiremos
uma nova vida a partir de agora.
Os bebês ficaram aos cuidados da enfermeira e do
pai, enquanto eu repousava, com a sensação de missão
cumprida, mas sentia que o meu corpo iria me deixar a
qualquer momento, se eu não descansasse um pouco.
Não sei por quantas horas dormi, mas tive um
pesadelo, no qual Carllota tentava matar os meus filhos e
eu não pude fazer nada para impedir.
Acordei ofegante e apavorada, encontrando
Alessandro sentado ao meu lado, lendo um livro sobre
paternidade. Seria engraçado, se eu não estivesse tão
assustada.
— Ei, tudo bem — Ele colocou uma não na minha
testa, preocupado.
— Onde estão os meus bebês? — Olhei à minha
volta ansiosa, não os encontrando em lugar nenhum.
— No quarto, a enfermeira e a babá que contratei
estão com eles. Tem três seguranças na porta, caso
aconteça alguma coisa, então não se preocupe, porque os
nossos filhos estão seguros — ele tentou me acalmar e só
então eu pude respirar um pouco aliviada.
— Eu senti tanto medo, Alessandro, pensei que não
conseguiria — confessei, vendo-o chegar mais perto de
mim.
— Eles são perfeitos. Você é incrível, é claro que
conseguiria — havia orgulho na sua voz.
— Por quanto tempo eu dormi?
— Algumas horas. Como se sente?
— Eu estou bem, preciso ver os meus filhos. Quero
que eles estejam aqui comigo, seguros.
— Vou pedir para trazê-los, não se exalte — falou
com calma.
— Carllota… — Estremeci ao falar o nome da mulher
que causou toda aquela confusão.
Mas precisava ter a certeza de que ela estava
realmente morta e de que os meus filhos estavam seguros,
ou eu nunca teria paz.
— Meus homens entraram no porão e encontraram
o corpo morto da sua avó. Foi ela quem desapareceu com
você não foi? Aquela desgraçada inventou mentiras sobre
você ter fugido de mim por medo. Eu procurei por você
Luna, por dias, estava disposto a trazê-la de volta, mesmo
que me odiasse. Em nenhum momento desisti de te
encontrar — a sua voz soou séria e ele não escondeu a raiva
que estava sentindo naquele momento.
Lágrimas escorreram pelos meus olhos, de angústia
e alívio. Eu havia matado a minha própria avó, a mulher que
me criou e cuidou de mim a vida inteira, mas agora os meus
filhos estavam seguros e era assustador saber que eu faria
tudo de novo por eles. Mataria qualquer um que tentasse
tirá-los de mim e não sentiria remorso por isso.
— Acredito em você, Alessandro, mas podemos
conversar sobre tudo depois? Só quero os meus bebês
agora — a minha voz soou baixa e eu limpei as lágrimas do
meu rosto, que estava inchado de tanto chorar.
O homem que eu amava segurou as minhas mãos e
deixou um beijo carinhoso na minha testa, me fazendo
sentir a sua respiração pesada e a preocupação em cada
toque.
Se antes eu não sabia que precisava dele, hoje eu
tinha a certeza de que sim. Alessandro era o meu alicerce,
ele estaria ali para me apoiar sempre que precisasse.
— Terá o que quiser, querida. Mas saiba que estarei
ao seu lado, mesmo que você não queira. Pode confiar em
mim e despejar as suas dores, porque eu vou cuidar de você
— as suas promessas me fizeram abrir um sorriso
encantador e me sentir amada.
— Sei que sim, eu te amo, sempre te amei e soube
que o meu coração havia feito a escolha certa.
Segurei o seu rosto, puxando-o para beijar a sua
boca e ele correspondeu com uma delicadeza que não era
de seu costume, me fazendo sentir todo o seu amor por
mim em cada toque.
Alessandro não precisava dizer que me amava,
porque demonstrava isso nos seus gestos e apesar de tudo,
eu conhecia o seu coração, que completava o meu.
CAPÍTULO 27

Renzo dormia no colo de Alessandro, que o ninava


em seus braços, caminhando pelo quarto, enquanto eu dava
de mamar para Salvatore, bocejando pelo sono das noites
mal dormidas desde que os meus bebês nasceram.
As primeiras semanas foram difíceis, mas eu estava
tendo a ajuda da minha enfermeira e de Anita, a babá que
Alessandro contratou. Elas nos socorrem quando precisamos
de alguma coisa, porque ter gêmeos era um trabalho
dobrado e eu sentia que enlouqueceria a qualquer
momento.
Os bebês choravam quase a noite inteira e era
impossível alguém nessa casa conseguir dormir, enquanto
eles não se acalmavam. Alessandro sempre se desesperava,
achando que eles tinham algum problema grave e
pressionava as meninas, porque eram pagas para resolver
qualquer problema dos gêmeos.
Então, eu tinha que acalmar dois bebês e um
homem zangado, que tentava demitir a minha babá a todo
instante. Mas o que me deixava contente, era que ele
estava se esforçando para me ajudar e eu não me sentia
sozinha.
Eu nunca mais estaria sozinha na minha vida.
— Ele sempre se acalma quando você o pega —
comentei um pouco enciumada, olhando para o bebê dentro
de um pijama azul, no colo de Alessandro.
Já não bastava eles serem bastante parecidos com o
pai, eu ficaria enciumada se Alessandro fosse o escolhido
para ser o preferido.
Era até engraçado um homem daquele tamanho,
segurando delicadamente o nosso bebê, como se ele fosse
se quebrar a qualquer momento, mas ele era o único que
conseguia fazer Renzo se acalmar.
— Mas é a você quem ele procura quando está com
fome — o meu futuro marido me mandou uma piscadela e
um sorriso discreto.
— Se está tentando me animar, está falhando.
— Você é uma mãe incrível, os meninos vão te amar
mais do que tudo, assim como eu te amo — respondeu,
amolecendo o meu coração.
— Sou muito grata por ter você comigo — confessei,
lhe mandando um beijo no ar.
— O único que tem que estar agradecido sou eu.
Você apenas correu riscos ao entrar na minha vida, mas
está aqui, forte ao meu lado e não desistiu em nenhum
momento.
Sorri para ele, exausta. Eu sabia que ser mãe não
seria fácil, eu tinha apenas vinte e um anos e muito o que
aprender, mas estava dando o meu melhor e Alessandro me
apoiava.
Quando os bebês finalmente dormiram, nós os
deixamos em seu quarto e voltamos para o nosso, na
esperança de conseguirmos dormir um pouco.
Alessandro me abraçou, nos cobrindo com o
cobertor quando deitamos na cama, e eu relaxei em seus
braços, porque aquele era um dos melhores momentos do
meu dia, quando ele me abraçava, fazendo-me sentir
segura.
— Quando vai me falar o que aconteceu naquele
porão? Já faz três semanas que demos o corpo da sua avó
aos urubus — a sua voz soou baixa no meu ouvido,
enquanto a sua mão acariciava a minha cintura.
Ele vinha me sondando às vezes sobre o que
aconteceu, mas eu não conseguia falar. Apavorava-me
lembrar daqueles dias, no entanto, Alessandro precisava
saber de tudo o que aconteceu, porque tudo estava
relacionado a ele.
Ele saberia o que fazer e eu sofreria sozinha por
aquele conflito.
— Talvez eu só esteja fugindo da verdade que
Carllota implantou na minha mente — sussurrei, me
encolhendo ainda mais contra o seu corpo, com medo de
ele desaparecer quando descobrisse a possibilidade de
sermos meio-irmãos.
Se tudo fosse verdade, o nosso amor seria um erro.
Porém, os nossos filhos eram tão certos, tão lindos, que eu
não conseguia acreditar que Alessandro poderia ser o meu
irmão. O meu coração nunca aceitaria essa ideia
assustadora.
— Que verdade? Lembra que combinamos de não
ter mais segredos entre nós? — A sua voz era mansa, mas
eu podia sentir a preocupação nela.
Assenti, respirando fundo para colocar aquela
história para fora, mas sentia ânsia apenas de me lembrar
de tudo o que Carllota despejou em cima de mim.
— Sobre os nossos pais. Carllota estava apenas
querendo se vingar da sua família, pelo que o seu pai fez à
minha mãe — confessei, segurando uma das suas mãos,
porque precisava de forças naquele momento.
— Nunca chegou aos meus ouvidos essa história, eu
não sabia que os nossos pais se conheceram. O que
Francesco fez à sua mãe? — A sua voz rouca demonstrava a
sua confusão.
Engoli em seco, sentindo os meus pelos se
arrepiarem pela angústia de saber que o meu próprio pai
matou a minha mãe.
— Ele a matou — forcei a minha voz trêmula sair.
Alessandro apertou os meus dedos com força e eu
notei o momento em que a sua respiração ficou pesada.
— Por quê? — Perguntou alguns segundos depois.
— Eu também gostaria de saber.
— Sinto muito, Lua. O que eu posso fazer para
redimir os erros dele?
Alessandro virou o meu corpo para ficar de frente
para mim e pude ver os seus olhos preocupados e tensos
com a minha confissão.
— Não é culpa sua, não quero que faça nada —
balancei a cabeça, ignorando aquele sentimento triste, que
apertava o meu peito.
— Não quero ver você chateada por algo, que a
minha família teve culpa.
— Isso não é o pior, Alessandro. Carllota disse que
eu sou filha dele.
— O quê?
— Sou uma filha bastarda de Francesco — doía-me
dizer aquelas palavras, porque sentia nojo daquele homem.
Alessandro respirou fundo e se sentou no colchão,
me levando junto, colocando-me na sua frente, enquanto os
seus olhos sérios e confusos me avaliavam, buscando
entender aquela bagunça.
— Você é filha de Francesco? Tem certeza disso?
— Desde pequena, sempre soube que o meu pai foi
um mafioso, que matou a minha mãe. Só nunca soube
quem ele era, mas agora ficou óbvio, porque Carllota nunca
saiu dessa casa. Ela só queria vingança — forcei um sorriso
triste, pela minha vida ser tomada por desgraças.
— Isso é sério, Luna. Se você for filha de Francesco,
tem direito a uma parte desse império, assim como Lorenzo
e eu — Alessandro estava agitado agora, enquanto
esfregava as mãos pelos seus cabelos.
De tudo o que eu disse, ele estava preocupado com
a herança?
— É só isso que chamou a sua atenção? Nós
podemos ser irmãos Alessandro! — Falei exaltada.
Ele franziu o cenho e depois negou, segurando o
meu rosto, enquanto me olhava atentamente, me
atormentando com o seu olhar intenso e profundo.
— Não sou filho legítimo de Francesco, na verdade
eu fui adotado ainda pequeno e esse é um dos motivos de
Lorenzo não ir com a minha cara. Porque Francesco
escolheu a mim para ser o seu sucessor e não, o seu filho
legítimo — a sua confissão veio em um sussurro baixo —
Isso é um segredo de família, então peço que guarde para
você.
Ele brincou com os meus lábios, que estavam
boquiabertos agora.
— Quer dizer, que se essa história for realmente
verdade, nós não somos irmãos? — A minha voz soou
aliviada, mesmo que eu estivesse totalmente surpresa com
aquela confissão.
Eu não fazia ideia de que Alessandro era adotado e
toda aquela história estava se tornando uma bola de neve
na minha cabeça.
— Nós podemos fazer um teste de DNA com você e
Lorenzo — comentou pensativo.
Poderia ser irmã de Lorenzo. Isso me fez rir
ironicamente, porque a nossa relação era esquisita e eu não
sabia se ele desejaria me ter como irmã.
— Não quero saber, esse homem matou a minha
mãe e mesmo que ele esteja morto, eu não quero nada que
venha de Francesco — a minha voz soou firme.
— Tudo bem, não vou pressioná-la. Quando nos
casarmos, tudo o que é meu será seu de qualquer forma.
— Alessandro, os nossos filhos serão aceitos na
máfia? Tenho tanto medo de que apareça mais algum
lunático tentando tirá-los de mim.
Sabia que ele era um Capo e a importância que os
meus filhos teriam, sendo filhos dele.
— Eles são os meus herdeiros. Talvez eu entre em
guerra com o conselho, mas ninguém toca em você ou nos
meus meninos. Você será a minha esposa, Luna, e nada e
nem ninguém impedirá que isso aconteça — respondeu, me
puxando para me sentar no seu colo e eu o abracei.
— Estou ansiosa para ser a sua esposa, Alessandro
— sussurrei no seu ouvido.
— Então se prepare, porque logo estará com um
anel de diamantes enorme no dedo — fez a sua promessa,
me fazendo sorrir.
— Não precisa ser tão grande, eu me contento com
algo simples.
— Todos os meus sentimentos por você estarão
explícitos na porcaria do anel, então precisa ser bem
grande. E eu também preciso que todos saibam que você é
a minha esposa.
— Vai me exibir por aí? — Perguntei risonha.
— Não tenha dúvidas disso. O que é belo, é para ser
apreciado.
Alessandro me pegou pela cintura e me jogou de
volta na cama, me abraçando e alegando que precisávamos
descansar, antes que as nossas pequenas bolas gordas e
choronas acordassem.
Sabia que logo eles acordariam e se tivéssemos
duas horas de sono, seria muito. Mas todas as noites em
claro valeriam a pena no final das contas.
Encostei a cabeça no seu peito e me deixei
descansar, me sentindo segura e em casa. Alessandro
sempre teve o cheiro de lar e o meu coração foi atraído por
ele, como um imã, já sabendo que aquele homem
pertenceria a mim e que eu pertenceria apenas a ele.
CAPÍTULO 28

— Obrigada, Anita — agradeci a babá, que deixou o


carrinho de Salvatore ao lado de Renzo, na sala de visitas.
Tínhamos dado um passeio no jardim, como
fazíamos todo o fim de tarde para acalmar os meninos e
agora eles estavam tranquilos, brincando com as suas
chupetas.
Hoje eles iriam conhecer o tio. Lorenzo havia dado o
ar da graça, aparecendo um mês depois de eu ter dado à
luz e agora, desejava ver os sobrinhos.
Ele e Alessandro estavam no escritório e eu vi o
momento em que Lorenzo chegou na mansão, com o seu
carro esportivo vermelho. Era totalmente diferente do
irmão, enquanto Alessandro era discreto, Lorenzo era um
exibido, que queria todas as atenções para si.
Confesso que antes eu o detestava, principalmente
pelo que fez no jantar de noivado, mas hoje estava ansiosa
para encontrá-lo.
Anita se afastou quando os passos dos irmãos se
aproximaram e eu me mantive em pé, de frente aos meus
filhos, sentindo um estranho nervosismo.
Não era a primeira vez que eu estaria na presença
de Lorenzo e não deveria estar impressionada, mas era a
primeira vez que eu o veria como o meu irmão, mesmo ele
não sabendo de nada.
Era tão irônico ser justamente ele o sangue do meu
sangue. Mesmo sendo um tanto arrogante, era agradecida
por ele ter me procurado quando eu mais precisei e ter me
ajudado de alguma forma.
Passei uma não no meu vestido florido, tirando
qualquer sinal de amassado, os meus cabelos estavam
soltos e selvagens ao vento, como Alessandro costumava
chamá-los.
Quando eles surgiram na sala, abri um pequeno
sorriso, encarando o homem vestido de preto e de olhar
prepotente. Lorenzo estava diferente da última vez que o vi,
havia algo na sua postura, como se ele estivesse tenso,
mostrando ser um homem sério e não o brincalhão de
sempre.
— Veja só, parece que está em condições melhores,
lindinha — a sua voz séria soou, com uma pitada de
deboche.
Ao contrário das outras vezes, não me irritei com o
seu comentário engraçadinho. Eu só queria abraçá-lo e dizer
que poderia contar comigo para o que quisesse, que estaria
ali o tempo todo, para ser a sua amiga e irmã.
Mas eu não podia fazer isso. Não queria mexer em
um passado que já estava morto e enterrado.
— A sua forma de elogiar uma pessoa é diferente —
revirei os olhos em resposta.
— Não estou elogiando. Até porque, o meu
irmãozinho odiaria perder você pra mim.
Ele me olhou dos pés à cabeça e depois encarou
Alessandro, que parecia entediado com o comentário do
irmão.
— Não há nenhuma chance disso acontecer —
Alessandro respondeu tranquilo, fazendo o irmão arquear
uma sobrancelha.
— Espero que as crianças tenham puxado a mãe,
porque o pai é uma miséria.
— Na verdade, eles são a cara de Alessandro —
respondi meio desanimada.
Os meus bebês são lindos, mas pelo visto, apenas
os cabelos são parecidos com os meus, já era notável a cor
clara e os pequenos cachos em suas madeixas.
— Pobres catarrentos — Lorenzo zombou.
— Pare de falar mal dos meus filhos, seu idiota —
Alessandro lhe deu uma cotovelada, porque ele não
aceitava que ninguém falasse mal dos nossos bebês.
Apenas balancei a cabeça, rindo dos dois idiotas
brigando, como se fossem crianças. E de repente, me dei
conta de que Renzo e Salvatore também poderiam ser
assim, porque quando dois irmãos crescem juntos, era
propício ter brigas.
Apesar de tudo, gostaria de ter tido um irmão e
agora saber que também tinha um, causava um grande
conforto no meu peito.
— Está cuidando bem deles agora? Nunca vi tanto
desleixo em uma gravidez. Deveria cuidar melhor da sua
mulher, irmão.
— Ela está sendo muito bem cuidada, não precisa
fingir estar preocupado com a mulher dos outros —
Alessandro respondeu com arrogância.
— Mas fui eu quem tentou ajudar quando você
estava depressivo, depois de mandá-la embora — Lorenzo
alfinetou, porque ele não era nada modesto.
— Pois não ajudou direito, já que Vittorio a
encontrou e a manteve em cativeiro — Alessandro
resmungou.
— Matou o desgraçado?
O clima de humor se tornou tenso e eu pude ver que
todos nós compartilhamos da mesma raiva.
— O que você acha?
— Podem parar de discutir? Os seus sobrinhos
querem conhecê-lo, Lorenzo — entrei no meio da conversa,
sem querer estragar o dia, me lembrando de um momento
ruim do passado.
O homem se aproximou e eu dei espaço para ele
conseguir ver os meninos, que pararam o que estavam
fazendo para encarar o tio. Salvatore até mesmo abriu um
sorriso, como se gostasse da presença do tio.
— Até que as coisinhas não são tão feias — Lorenzo
comentou, não demonstrando nada além do seu sarcasmo
— Qual deles será que vai querer tomar a sua cadeira um
dia, Alessandro?
— Nenhum, porque o meu sucessor será você, então
tenha filhos para que o império da família Esposito não
sucumba ou caia nas mãos de um desconhecido —
Alessandro falou orgulhoso, atraindo o olhar surpreso do
irmão.
Nós havíamos conversado sobre isso e eu lhe dei
total liberdade para tomar as decisões. Se ele quisesse que
os nossos filhos crescessem no meio da máfia, eu iria
entender, porque foi uma escolha minha me relacionar com
um mafioso, então deveria colher as consequências.
Nosso meninos seriam os futuros herdeiros e teriam
um alvo nas suas cabeças para sempre, porque era isso o
que se ganhava sendo dessa família. Mas eu sabia que
Alessandro teria a melhor escolha para todos nós.
— Acha que quero os seus restos? — Lorenzo se
manteve ereto, com um olhar orgulhoso.
Alessandro suspirou impaciente, apoiando um braço
em volta da minha cintura, me puxando para mais perto do
seu corpo.
Gosto quando ele demonstra gestos de carinho em
público.
— Você sempre quis ser Capo Lorenzo, não se faça
de difícil agora.
— Não gosto de ser a segunda opção. Você foi a
primeira do nosso pai.
— E você será a minha primeira. Resolva os seus
problemas e me faça confiar em você para lhe passar a
minha liderança.
— Não está falando sério — Lorenzo ainda estava
incrédulo.
— Nunca estive tão certo na minha vida.
— O que você fez com o meu irmão?
Lorenzo olhou para mim, buscando alguma
explicação, como se eu tivesse alguma culpa sobre as
decisões de Alessandro.
— Eu não fiz nada — Dei de ombros.
— É claro que fez, ele está menos ranzinza e até
educado.
— Vá se foder, Lorenzo. Não me faça mudar de
ideia.
— Não se preocupe, irmãozinho, eu serei um líder
melhor que você, até porque eu sempre fui melhor em tudo
— agora havia um humor verdadeiro na sua voz.
— E o mais exibido também.
— E o mais bonito.
— Babaca.
— Gostoso.
— Cale a boca, idiota.
Lorenzo ficou mais um tempo elogiando os
sobrinhos da sua forma debochada, mas não quis pegá-los,
porque não gostava de catarro. E quando ele foi embora,
nos deixou com um clima leve, eu sequer conseguia
esconder o sorriso do rosto.
Estava feliz por ele ser o meu irmão, mesmo que
nunca soubesse disso. Eu só queria poder lhe dar um abraço
um dia.
— E a Maya? — perguntei para Alessandro um
tempo depois.
Ele balançava um chocalho para os meninos,
quando me olhou por cima do ombro, com uma feição
tranquila.
— Ela fugiu e Lorenzo está louco atrás dela. Mas isso
não é problema meu, desfiz o acordo com a família dela e já
pedi o divórcio. Maya, não tem mais nada a ver comigo.
— Não há mais nenhum empecilho entre nós? —
perguntei esperançosa.
Não queria mais nenhum problema entre nós,
inclusive a sua ex-esposa desaparecida.
— Nada, querida. Estou livre para ser o seu marido e
você, a minha esposa, para sempre.
Sorri o abraçando por trás, enquanto observava os
nossos bebês rindo para nós, sorrisos puros e felizes, que
demonstravam todo o amor e a resiliência que tivemos para
chegarmos até aqui.
Antes, eu não era nada, mas hoje, sinto que sou a
mulher mais forte do mundo e que tenho tudo o que sempre
precisei.
A minha família.
EPÍLOGO

7 anos depois

— Mamãe, Salvatore escondeu a bola que o papai


me deu.
Renzo puxou a barra da minha saia, tentando
chamar a minha atenção. Eu estava preparando a mesa do
café da manhã e não fiquei nem um pouco surpresa com
aquela reclamação, porque todos os dias havia um
problema para eu resolver.
Desde que aprenderam a andar, eles sempre
implicaram um com o outro. E eu tentava dar o mesmo
tratamento aos dois, para que nenhum se sentisse
diferenciado. Apesar de que Renzo era mais apegado ao pai
e Salvatore, a mim.
— Salvatore, devolva a bola do seu irmão — falei
para o menino emburrado, que estava sentado na mesa à
minha frente, se lambuzando com a calda das suas
panquecas do café da manhã.
— Não peguei aquela bola feia, foi ele quem a
perdeu — resmungou.
— Foi você, seu mentiroso! — Renzo gritou, porque
era o mais estressado dos dois.
— Não chame o seu irmão de mentiroso. Vocês não
podem ficar sem brigar por cinco minutos?
— Era a minha bola preferida.
— Podemos comprar outra, querido.
— Você não entende, não é a mesma coisa.
Renzo fez um bico de choro e eu puxei uma cadeira
ao meu lado para que ele pudesse se sentar.
— Fiz o seu bolo de chocolate preferido, sente-se
para comer — pedi com calma.
— Não quero comer, quero a minha bola! — Ele
gritou, emburrado.
— Por que essa gritaria logo cedo? — Alessandro
entrou na cozinha, me fazendo suspirar aliviada, porque ao
menos eu não ouviria os desaforos sozinha.
Eles sempre escutam o pai, Alessandro tinha o
poder de acabar com qualquer desordem.
— Os seus filhos estão me deixando louca —
choraminguei, recebendo um olhar de compaixão do
homem que eu amava.
Renzo correu para abraçar as pernas do pai e para
dedurar o irmão. Alessandro deixou um beijo na cabeça dos
dois meninos, enquanto puxava uma cadeira para se sentar
no meio dos dois.
— Resolveremos o problema comprando outra bola,
não precisam dessa confusão toda.
— Foi o que eu tentei explicar — suspirei, tomando
um gole de café, quando os meninos finalmente se
aquietaram.
— Vou deixar os meninos na escola hoje.
— Obrigada, eu já estou atrasada.
Durante esses anos, abri uma rede de floriculturas e
descobri que realmente gostava de trabalhar no ramo,
graças a ajuda do meu marido, que me apoiava em tudo.
Alessandro havia passado a sua liderança para o
irmão e agora o seu trabalho era menor. Mesmo que ainda
houvesse riscos, podíamos viver tranquilos como qualquer
outra família normal.
Pelo menos era o que eu gostava de pensar, que
éramos apenas iguais as outras pessoas.
Nossos meninos eram inteligentíssimos e só nos
traziam orgulho, apesar das brigas bobas entre eles, os dois
eram unidos e se defendiam em tudo.
Quando os espertinhos terminaram de se alimentar,
correram para o quarto para escovarem os dentes e
desceram novamente, carregando as suas mochilas.
Levantei-me e tirei um cupcake de café da
geladeira, o colocando na frente do meu marido.
— Pra mim? O que eu fiz pra merecer isso? —
perguntou, arqueando uma sobrancelha com desconfiança.
— Você sabe que hoje é o nosso aniversário de
casamento, não é?
Cruzei os braços, começando a ficar emburrada com
a ideia de ele ter esquecido, o que não era do seu feitio.
— Como eu poderia esquecer do dia em que me
casei com a mulher mais linda do mundo? — Abriu um curto
sorriso, que me tirava o fôlego.
Ele abraçou a minha cintura fazendo-me sentar em
seu colo de lado. Segurei o seu rosto lindo, deixando ele
beijar a minha boca. Um beijo apaixonado e com gosto de
café.
— Vou levá-la para sair à noite, em um lugar
especial — prometeu.
— Acho que a babá ficará louca hoje — respondi
preocupada.
— Ela dá conta do recado.
— Os meninos atearam fogo nela na última vez.
— Ela ainda os ama.
Rimos juntos do desastre dos nossos filhos,
enquanto voltamos a nos beijar, porque se eu fosse me
preocupar com todos os problemas que os dois meliantes já
me causaram, eu ficaria maluca.
Um tempo depois me despedi dos meus meninos e
do meu marido, sabendo que eles iriam aprontar muito
sozinhos, mesmo que Alessandro sempre tomasse as rédeas
da situação.
Quando abri a porta do meu carro, tive uma
surpresa agradável, ao encontrar um enorme buquê de
tulipas azuis. Os mesmos que Alessandro me dava em todos
os anos e que continuavam sendo os meus preferidos.
Soltei uma risada feliz enquanto lia o seu bilhete,
sabendo que havia escolhido o homem certo para mim.

Para a mulher mais linda do mundo.


Obrigado por me amar por incríveis 7 anos.
Ps: Não use calcinha hoje, porque vamos fazer mais bebês,
mesmo que os nossos sejam dois pestinhas.
AGRADECIMENTOS

Muito obrigada a todos que chegaram até o final


deste livro e gostaram da história desse casal que passou
por tantas turbulências para ficarem juntos. Sou grata pela
sua leitura e se puder deixar uma avaliação eu ficarei muito
feliz. Me siga no Instagram @autorajscherry para
acompanhar os meus novos lançamentos e ficar por dentro
dos outros livros.
Um grande beijo da Cherry!

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