Introdução AT - M1 - 3
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MÓDULO
Unidade de Aprendizagem 1.3 – Inícios da História de Israel
Objetivos Didáticos
Nesta seção, faremos uma imersão na história dos Patriarcas, explorando suas vidas
e o contexto histórico e cultural que os cercava. Vamos examinar as tradições e os relatos
bíblicos que descrevem personagens como Abraão, Isaque e Jacó, situando-os dentro do
período compreendido entre 1900 e 1450 a.C. Além de suas histórias pessoais, aborda-
remos os desafios e interações que os patriarcas enfrentaram com os povos cananeus e
outras culturas, incluindo hititas e amorreus.
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História Linear
Em contraste, a concepção linear da história vê o tempo como uma jornada que se de-
senrola com um começo, um meio e um fim definidos. Do ponto de vista bíblico, essa é uma
das visões mais predominantes, especialmente no que diz respeito ao plano redentor de
Deus. A criação, a queda, a promessa de redenção, a vinda de Cristo e o futuro cumprimen-
to do Reino de Deus são eventos que se desenrolam em uma linha do tempo, mostrando o
propósito de Deus sendo realizado ao longo da história. Essa perspectiva linear nos convida
a viver com uma expectativa de que a história está caminhando para um clímax redentor,
onde todas as coisas serão restauradas em Cristo. Para o cristão, essa visão traz esperan-
ça, pois entendemos que, apesar das dificuldades e das incertezas do presente, a história
tem uma direção clara e um fim glorioso no plano divino.
História Cíclica
História Dialética
A visão dialética da história, por sua vez, entende que a história avança por meio de
tensões e conflitos, um processo de tese, antítese e síntese. Em outras palavras, as contra-
dições e lutas da vida levam a uma evolução e desenvolvimento maiores. Quando aplicada
à interpretação bíblica, essa concepção pode ser vista nas muitas tensões presentes nas
Escrituras – entre fé e dúvida, justiça e misericórdia, lei e graça. Essas tensões não são
meramente obstáculos a serem superados, mas são meios pelos quais Deus revela Suas
verdades mais profundas e permite o crescimento espiritual do Seu povo. A história de Jó,
por exemplo, é uma representação clara dessa dialética. por meio de seu sofrimento, ele foi
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TEOLOGIA BÍBLICA - INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
levado a uma compreensão mais profunda de Deus e de si mesmo. Assim, a visão dialética
nos desafia a enxergar os conflitos e as dificuldades da vida como oportunidades para o
desenvolvimento espiritual e para uma compreensão mais madura dos planos de Deus.
Na época patriarcal, a Palestina era habitada por uma diversidade de povos. A Bíblia
Hebraica menciona listas de povos que viviam em Canaã antes da chegada dos israelitas,
como hititas, amorreus, ferezeus e jebuseus. Esses grupos são frequentemente chamados
genericamente de cananeus e, segundo a tradição bíblica, tinham uma origem semita, com-
partilhando características culturais e linguísticas com outros povos do Oriente Médio. Tex-
tos como Josué 3.10 e Josué 9.1 mencionam esses povos em listas que ilustram a com-
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plexidade da coexistência e dos conflitos por territórios. Essa variedade de nações explica
“
parte das dificuldades enfrentadas pelos patriarcas, que precisavam lidar com diferentes
alianças e culturas enquanto buscavam estabelecer-se na terra prometida.
Conceito – O termo “semita” se refere aos povos que falavam línguas semíticas, um
subgrupo da família afro-asiática. Entre eles, incluíam-se os hebreus, árabes, ara-
meus, assírios, fenícios e babilônios. A palavra “semita” vem de Sem, um dos filhos
de Noé, conforme o relato bíblico, sendo ele considerado o ancestral de todos esses
povos (Gênesis 10.21-31). A narrativa bíblica busca mostrar que, apesar das diferen-
tes nações que surgiram, elas compartilham uma origem comum, o que traz à tona a
interconexão das histórias bíblicas e a forma como Deus trabalha através dos sécu-
los para cumprir Seus propósitos.
“
Os hititas, um povo indo-europeu que estabeleceu um império poderoso na Ásia Menor
no início do segundo milênio, são mencionados diversas vezes no Antigo Testamento. Eles
aparecem desde o período patriarcal até a época pós-exílica, mostrando sua relevância na
história de Israel. Por exemplo, Abraão comprou dos hititas um terreno em Hebrom, o Cam-
po de Macpela, para sepultar sua esposa, Sara (Gênesis 23.9, 17, 19). Essa história enfatiza
a busca dos patriarcas por um lugar de descanso, uma terra para chamar de sua, mesmo
em um território dominado por outros povos. Esse ato de compra é muito mais do que uma
transação; ele simboliza a fé de Abraão nas promessas de Deus de que, um dia, essa terra
seria definitivamente sua herança.
O status social dos patriarcas também era um fator importante em suas interações
com os povos sedentários. Eles são chamados de “hebreus” (do termo hebraico ‘ivrim),
que, como explicado, não deve ser confundido com “israelitas”. O termo hebreu se refere
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TEOLOGIA BÍBLICA - INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
1.3.2 Os Hapirus
Em algumas listas, os Hapirus são classificados entre as classes sociais que incluem
tanto cidadãos livres quanto escravos. Em Mari, eles são identificados como seminôma-
des, e nas Cartas de Amarna, os reis das cidades-estado da Palestina se queixam de que
os Hapirus perturbavam a paz, agindo como um grupo fora da lei ou como mercenários
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“
que recrutavam pessoas das populações oprimidas para realizar ataques contra as cida-
des estabelecidas.
Conceito – As palavras “hebreu” e “hapiru” têm a mesma forma nas línguas semíti-
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cas, isto é, as mesmas consoantes (hbr). Por isso, alguns estudiosos entendem que
designam a mesma grandeza social.
Originalmente, os hapirus parecem ter sido uma classe social em vez de um grupo
étnico, pois, embora muitos deles tivessem nomes semitas, muitos outros não possuíam
nomes semitas.
A relação entre os hebreus bíblicos e os hapirus tem sido objeto de estudo cuidadoso.
É possível que os hebreus fossem vistos de maneira semelhante aos hapirus. Abrão é de-
signado como “hebreu” (hapiru?) em Gênesis 14.13.
Porém veio um, que escapara, e o contou a Abrão, o hebreu; este ha-
bitava junto dos carvalhais de Manre, o amorreu, irmão de Escol e de
Aner, os quais eram aliados de Abrão.
O contexto de conflito nesse versículo é bastante semelhante àquele descrito nas Car-
tas de Amarna.
1.3.3 O Êxodo
Por volta de 1400 a.C., encontramos a primeira menção aos Shasu. Shasu era a forma
egípcia de dizer “Nômades”. Os arqueólogos afirmaram que Amenhotep III conquistou este
povo e os conquistadores se referiam a eles como “os nômades de YHW (O nome de Deus
é YHWH). em registros egípcios localizados ao sul do Mar Morto. Entre os Shasu, há um
grupo “javista”, sugerindo que o nome de Yahweh (YHWH) já era conhecido nessa época.
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TEOLOGIA BÍBLICA - INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
Entre 1350 e 1330 a.C., temos um período de grande importância para a compreensão
da história bíblica e o contexto geopolítico da Palestina. É nessa época que encontramos a
correspondência de Amarna, um conjunto de cartas trocadas entre os governantes locais
de Canaã e o faraó do Egito, que na época era Akenaton. Esse material histórico revela
detalhes fascinantes sobre a relação entre o Egito e os pequenos reinos de Canaã, que
estavam sob o domínio egípcio. Governantes como Abdi Khepa de Jerusalém e Labaya
de Siquém serviam como vassalos do faraó, defendendo os interesses egípcios na região.
O Egito controlava essas cidades-estado não apenas politicamente, mas também militar-
mente, enviando forças para manter a ordem. Akenaton, por exemplo, enviou um regimento
da Núbia para suprimir rebeliões e garantir que as rotas comerciais e a influência egípcia
permanecessem intactas.
Essas cartas de Amarna lançam luz sobre as tensões políticas e os conflitos locais en-
tre os líderes de Canaã, e também mostram como os poderes regionais se esforçavam para
manter sua autonomia, enquanto os egípcios consolidavam sua influência. Nesse período,
os pequenos reinos, embora fragmentados e frequentemente em disputa, formavam uma
rede crucial para o Egito, pois controlavam rotas comerciais importantes e agiam como
uma barreira contra outros impérios. Um exemplo dessas disputas internas está nas tenta-
tivas de Labaya de Siquém de expandir seu território, ações que atraíram a ira de outros go-
vernantes, como Abdi Khepa, que frequentemente pedia ao faraó ajuda militar para conter
as ambições de seus vizinhos.
Por volta de 1300 a.C., temos outro evento significativo na história bíblica. o nascimen-
to de Moisés. Segundo a tradição bíblica, Moisés nasceu em uma época de grande opres-
são para os hebreus no Egito, enquanto eram submetidos à escravidão (Êxodo 1.8-22). Esse
período coincide com o início da XIX Dinastia Egípcia, marcada pelo reinado de Ramsés
I em 1292 a.C.. Ramsés I foi sucedido por Ramsés II, que reinou de 1279 a 1213 a.C. e é
lembrado como um dos maiores faraós do Egito. Ramsés II foi um governante militarmente
ativo, conduzindo várias campanhas militares para consolidar o poder egípcio em Canaã,
nas regiões que mais tarde seriam conhecidas como Israel.
Outro evento importante no final do século XIII a.C. é a chegada dos Povos do Mar, um
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Os hititas são mencionados como um dos povos que participaram dos fluxos migrató-
rios e influenciaram a região. Contudo, é importante não misturar eventos de épocas distin-
tas, pois o império hitita antecede a chegada dos povos do mar à Palestina. A reconstrução
histórica é complexa e fragmentária, exigindo cuidado na interpretação dos dados e na
compreensão das diferentes camadas temporais.
É nesse contexto que ocorre o Êxodo dos israelitas do Egito. Embora a cronologia do
Êxodo continue sendo debatida, muitos estudiosos argumentam que uma data provável deve
ser situada durante o reinado de Ramsés II. Esse argumento se baseia, entre outras evidências,
nas cidades egípcias mencionadas no livro do Êxodo. Pithom (Pi-Atum) e Ramessés.
E os egípcios puseram sobre eles feitores de obras, para os afligirem
com suas cargas. E os israelitas edificaram a Faraó as cidades-celei-
ros, Pitom e Ramessés. (Êxodo 1.11)
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TEOLOGIA BÍBLICA - INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
Síntese
Esta unidade explorou a pré-história do povo de Israel, começando com o surgimento
dos patriarcas bíblicos, situados entre 1900 e 1450 a.C., e abrangendo as complexas
relações entre diferentes povos e cidades-estado de Canaã.
Durante este período, Canaã era dividida em pequenos reinos, que muitas vezes se
rebelavam contra o domínio egípcio, como evidenciado nas Cartas de Amarna. Os
patriarcas, como Abraão, interagiam nesse cenário de tensão e diversidade cultural.
Ela também discutiu os hapirus, mencionados em registros cuneiformes a partir de
2050 a.C. e presentes em várias regiões do Oriente Próximo. Embora originalmente
considerados uma classe social, e não um grupo étnico, alguns estudiosos sugerem
uma forte ligação entre os hapirus e os hebreus bíblicos.
Finalmente, a unidade abordou o Êxodo, que, apesar de sua cronologia ainda ser
debatida, é frequentemente associado ao reinado de Ramsés II, com evidências ar-
queológicas como as cidades de Pithom e Ramessés, e a “Estela de Merneptah”, que
menciona Israel por volta de 1207 a.C. Esses elementos históricos e arqueológicos
ajudam a contextualizar o Êxodo e a formação do povo de Israel.
[ver imagem 6 no AVA]
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