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Introdução AT - M1 - 3

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TEOLOGIA BÍBLICA - INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

MÓDULO
Unidade de Aprendizagem 1.3 – Inícios da História de Israel

Objetivos Didáticos

1 Analisar a cronologia dos patriarcas bíblicos e a complexa


01
interação entre diferentes povos e cidades-estado de Canaã.

2 Compreender o contexto histórico e geopolítico em torno do Êxodo dos israelitas.

Para início de conversa

Nesta seção, faremos uma imersão na história dos Patriarcas, explorando suas vidas
e o contexto histórico e cultural que os cercava. Vamos examinar as tradições e os relatos
bíblicos que descrevem personagens como Abraão, Isaque e Jacó, situando-os dentro do
período compreendido entre 1900 e 1450 a.C. Além de suas histórias pessoais, aborda-
remos os desafios e interações que os patriarcas enfrentaram com os povos cananeus e
outras culturas, incluindo hititas e amorreus.

Em seguida, investigaremos a intrigante figura dos Hapirus, um grupo mencionado em


vários textos cuneiformes do Oriente Próximo. Abordaremos a possível conexão entre os
Hapirus e os hebreus bíblicos, observando como ambos podem ter sido percebidos como
grupos sociais e políticos com características semelhantes. Além disso, analisaremos
como as narrativas bíblicas, como a de Abraão em Gênesis, dialogam com a realidade his-
tórica e social desse período.

Por fim, nos aprofundaremos no evento do Êxodo, conectando-o ao contexto histórico


do Egito e Canaã durante o final da Idade do Bronze. Examinaremos as evidências arqueo-
lógicas e literárias, como a “Estela de Merneptah”, que mencionam a presença de Israel na
Palestina por volta de 1207 a.C. Através dessa análise, tentaremos situar o Êxodo dentro do
cenário histórico da dominação egípcia em Canaã e a migração israelita, oferecendo uma
compreensão mais rica e fundamentada desse evento central na narrativa bíblica.

1.3.1 Diferentes Concepções de História

Diferentes Concepções de História. Uma Visão Transformadora

Antes de mergulharmos na compreensão mais profunda da história bíblica, é essencial


reconhecer que as diferentes concepções de história moldam significativamente a nos-
sa interpretação dos textos sagrados. Cada visão histórica não apenas influencia a for-

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FATIPI EAD

ma como enxergamos os eventos do passado, mas também direciona a maneira como


aplicamos essas lições à nossa vida espiritual e prática. Vamos explorar três concepções
fundamentais de história que afetam diretamente a interpretação bíblica. a história cíclica,
a história linear e a história dialética.

História Linear

Em contraste, a concepção linear da história vê o tempo como uma jornada que se de-
senrola com um começo, um meio e um fim definidos. Do ponto de vista bíblico, essa é uma
das visões mais predominantes, especialmente no que diz respeito ao plano redentor de
Deus. A criação, a queda, a promessa de redenção, a vinda de Cristo e o futuro cumprimen-
to do Reino de Deus são eventos que se desenrolam em uma linha do tempo, mostrando o
propósito de Deus sendo realizado ao longo da história. Essa perspectiva linear nos convida
a viver com uma expectativa de que a história está caminhando para um clímax redentor,
onde todas as coisas serão restauradas em Cristo. Para o cristão, essa visão traz esperan-
ça, pois entendemos que, apesar das dificuldades e das incertezas do presente, a história
tem uma direção clara e um fim glorioso no plano divino.

História Cíclica

A visão cíclica da história é baseada na ideia de que os eventos da vida tendem a se


repetir em padrões recorrentes ao longo do tempo. É como se a humanidade estivesse pre-
sa a um ciclo de experiências, onde as mesmas situações – desafios, conquistas, falhas e
redenção – se repetem geração após geração. No contexto bíblico, essa perspectiva pode
ser vista em temas como os ciclos de pecado, arrependimento e restauração do povo de
Israel. Os ciclos de juízes, por exemplo, mostram como o povo repetidamente se afastava
de Deus, enfrentava consequências, clamava por ajuda e era resgatado por Ele. Essa visão
cíclica da história nos lembra de que, embora os eventos possam parecer novos, as lições
espirituais muitas vezes permanecem as mesmas, revelando a necessidade contínua de
arrependimento e renovação na caminhada com Deus.

História Dialética

A visão dialética da história, por sua vez, entende que a história avança por meio de
tensões e conflitos, um processo de tese, antítese e síntese. Em outras palavras, as contra-
dições e lutas da vida levam a uma evolução e desenvolvimento maiores. Quando aplicada
à interpretação bíblica, essa concepção pode ser vista nas muitas tensões presentes nas
Escrituras – entre fé e dúvida, justiça e misericórdia, lei e graça. Essas tensões não são
meramente obstáculos a serem superados, mas são meios pelos quais Deus revela Suas
verdades mais profundas e permite o crescimento espiritual do Seu povo. A história de Jó,
por exemplo, é uma representação clara dessa dialética. por meio de seu sofrimento, ele foi

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TEOLOGIA BÍBLICA - INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

levado a uma compreensão mais profunda de Deus e de si mesmo. Assim, a visão dialética
nos desafia a enxergar os conflitos e as dificuldades da vida como oportunidades para o
desenvolvimento espiritual e para uma compreensão mais madura dos planos de Deus.

Essas três concepções de história – cíclica, linear e dialética – moldam profundamente


a maneira como os estudiosos, pastores e leitores da Bíblia interpretam os acontecimentos
bíblicos. Seja vendo-os como parte de um ciclo repetitivo, como eventos únicos em uma
linha temporal ou como parte de um processo de desenvolvimento por meio de conflitos,
cada concepção nos oferece uma lente distinta. Ao compreender essas diferentes visões,
somos capacitados a ler as Escrituras com uma perspectiva mais ampla e a aplicar seus
ensinamentos de maneira mais rica e transformadora em nossas vidas.

1.3.2 Os Patriarcas. A Jornada dos Antepassados de Israel

A cronologia dos patriarcas bíblicos, conforme a tradição israelita, é geralmente situa-


da entre 1900 e 1450 a.C., um período significativo e transformador que podemos chamar
de a “idade dos patriarcas”. Durante esse meio milênio, os relatos sobre Abraão, Isaque e
Jacó formam uma narrativa não apenas literária, mas também histórica, refletindo even-
tos que se estenderam por séculos. Esses patriarcas são figuras-chave que representam o
início da caminhada de fé de Israel com Deus, estabelecendo o fundamento da identidade
do povo escolhido. Atravessando desertos, terras estrangeiras e culturas diversas, essas
histórias bíblicas revelam não apenas a fé individual de cada patriarca, mas também como
eles interagiam com um cenário geopolítico em constante mudança.

As “Cartas de Amarna”, documentos históricos do século XV e XIV a.C., revelam que


Canaã estava fragmentada em pequenos reinos independentes, cada um centrado em uma
cidade fortificada e governado por reis vassalos do Egito. As cartas mostram reis de cidades
como Biblos, Sidom, Tiro, Acro, Ascalon, Megido, Gezer, Laquis e Jerusalém. Esses pequenos
reinos, embora submetidos ao Egito, buscavam se libertar do domínio egípcio, um cenário
que fomentava constantes tensões e conflitos. Entre essas lutas de poder, os patriarcas is-
raelitas também se encontravam, conforme descrito em Gênesis 14.1-24, onde Abrão luta
contra alguns desses reis. Este texto mostra que, mesmo em tempos de incerteza e guerra,
os patriarcas desempenhavam um papel ativo na defesa de suas terras e famílias.

Na época patriarcal, a Palestina era habitada por uma diversidade de povos. A Bíblia
Hebraica menciona listas de povos que viviam em Canaã antes da chegada dos israelitas,
como hititas, amorreus, ferezeus e jebuseus. Esses grupos são frequentemente chamados
genericamente de cananeus e, segundo a tradição bíblica, tinham uma origem semita, com-
partilhando características culturais e linguísticas com outros povos do Oriente Médio. Tex-
tos como Josué 3.10 e Josué 9.1 mencionam esses povos em listas que ilustram a com-

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plexidade da coexistência e dos conflitos por territórios. Essa variedade de nações explica

parte das dificuldades enfrentadas pelos patriarcas, que precisavam lidar com diferentes
alianças e culturas enquanto buscavam estabelecer-se na terra prometida.

Conceito – O termo “semita” se refere aos povos que falavam línguas semíticas, um
subgrupo da família afro-asiática. Entre eles, incluíam-se os hebreus, árabes, ara-
meus, assírios, fenícios e babilônios. A palavra “semita” vem de Sem, um dos filhos
de Noé, conforme o relato bíblico, sendo ele considerado o ancestral de todos esses
povos (Gênesis 10.21-31). A narrativa bíblica busca mostrar que, apesar das diferen-
tes nações que surgiram, elas compartilham uma origem comum, o que traz à tona a
interconexão das histórias bíblicas e a forma como Deus trabalha através dos sécu-
los para cumprir Seus propósitos.

Os hititas, um povo indo-europeu que estabeleceu um império poderoso na Ásia Menor
no início do segundo milênio, são mencionados diversas vezes no Antigo Testamento. Eles
aparecem desde o período patriarcal até a época pós-exílica, mostrando sua relevância na
história de Israel. Por exemplo, Abraão comprou dos hititas um terreno em Hebrom, o Cam-
po de Macpela, para sepultar sua esposa, Sara (Gênesis 23.9, 17, 19). Essa história enfatiza
a busca dos patriarcas por um lugar de descanso, uma terra para chamar de sua, mesmo
em um território dominado por outros povos. Esse ato de compra é muito mais do que uma
transação; ele simboliza a fé de Abraão nas promessas de Deus de que, um dia, essa terra
seria definitivamente sua herança.

Os patriarcas eram pastores nômades, e suas jornadas muitas vezes os colocavam


em confronto com as cidades-estado e a cultura sedentária da Palestina e do Egito. As
narrativas “trigêmeas” de Gênesis 12.10-20, 20.1ss e 26.1ss ilustram esses desafios. Em
cada uma dessas passagens, os patriarcas enfrentam perigo ao entrar em uma cidade,
especialmente ao serem confrontados por reis que desejam tomar suas esposas. Essas
histórias compartilham estruturas semelhantes, destacando a vulnerabilidade dos pastores
ao adentrarem territórios urbanos e como, pela providência divina, são protegidos dos peri-
gos. A fidelidade de Deus a seus servos é evidente nessas histórias, apesar das ameaças e
incertezas que eles enfrentavam.

O status social dos patriarcas também era um fator importante em suas interações
com os povos sedentários. Eles são chamados de “hebreus” (do termo hebraico ‘ivrim),
que, como explicado, não deve ser confundido com “israelitas”. O termo hebreu se refere

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a um período anterior à formação da nação de Israel e está associado à sua condição de


estrangeiros, pastores e nômades. Nos textos bíblicos, esse termo carrega uma conotação
de distinção social e cultural em relação aos povos estabelecidos. Por outro lado, “israelita”
está ligado ao período em que Israel se estabeleceu como nação na terra prometida, e “ju-
deu” se refere ao período após a destruição de Jerusalém e o exílio babilônico.

Na Tanak as designações hebreu, israelita e judeu se refe-


rem, respectivamente, aos períodos bíblicos distintos. Grosso
VOCÊ SABIA?

modo podemos dizer que hebreu está ligado ao período ante-


rior à formação de Israel. Israelita está conectado ao período
após a formação de Israel. E judeu se refere ao período após
a destruição de Jerusalém.

Em textos cuneiformes do século XIX a.C., encontramos referências a grupos conheci-


dos como “habiru” ou “hapiru”, que parecem estar relacionados aos hebreus bíblicos. Esses
grupos eram descritos como nômades ou soldados que, muitas vezes, ameaçavam as cida-
des da Mesopotâmia superior. No reino de Mari, por exemplo, os habiru eram mencionados
como uma ameaça às cidades. Essas descrições são importantes porque confirmam que
os patriarcas bíblicos não eram figuras isoladas, mas faziam parte de uma realidade maior
de deslocamentos e conflitos nômades que moldaram a história do Oriente Médio.

Assim, os patriarcas bíblicos não apenas representam os ancestrais de Israel, mas


também fazem parte de uma narrativa mais ampla de encontros, conflitos e alianças no
cenário geopolítico da Palestina e do Oriente Médio antigo. Suas histórias refletem a luta por
identidade, terra e a fé em Deus, que os guiou através de cada desafio, e essa fé permanece
como um legado que atravessa os séculos.

1.3.2 Os Hapirus

O grupo conhecido como Hapiru é mencionado pela primeira vez em documentos


cuneiformes da Terceira Dinastia de Ur, por volta de 2050 a.C., e continuou a ser registrado
em várias partes do Oriente Próximo nos séculos seguintes. Eles aparecem em regiões
como Larsa, Babilônia, Mari, Nuzi, Amarna e Ugarit.

Em algumas listas, os Hapirus são classificados entre as classes sociais que incluem
tanto cidadãos livres quanto escravos. Em Mari, eles são identificados como seminôma-
des, e nas Cartas de Amarna, os reis das cidades-estado da Palestina se queixam de que
os Hapirus perturbavam a paz, agindo como um grupo fora da lei ou como mercenários

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que recrutavam pessoas das populações oprimidas para realizar ataques contra as cida-
des estabelecidas.

Conceito – As palavras “hebreu” e “hapiru” têm a mesma forma nas línguas semíti-

cas, isto é, as mesmas consoantes (hbr). Por isso, alguns estudiosos entendem que
designam a mesma grandeza social.

Originalmente, os hapirus parecem ter sido uma classe social em vez de um grupo
étnico, pois, embora muitos deles tivessem nomes semitas, muitos outros não possuíam
nomes semitas.

A relação entre os hebreus bíblicos e os hapirus tem sido objeto de estudo cuidadoso.
É possível que os hebreus fossem vistos de maneira semelhante aos hapirus. Abrão é de-
signado como “hebreu” (hapiru?) em Gênesis 14.13.
Porém veio um, que escapara, e o contou a Abrão, o hebreu; este ha-
bitava junto dos carvalhais de Manre, o amorreu, irmão de Escol e de
Aner, os quais eram aliados de Abrão.

O contexto de conflito nesse versículo é bastante semelhante àquele descrito nas Car-
tas de Amarna.

Os processos migratórios na região eram fortemente influenciados por fatores ecológi-


cos e geográficos. A escassez de recursos, como a fome causada por secas ou desastres
naturais, levava grupos como o de Abraão a buscar novas terras. Abraão, originário de Ur
dos Caldeus, migrou em busca de uma terra melhor, conforme descrito na narrativa bíblica.
Sua jornada ao Egito foi motivada pela fome na terra de Canaã, demonstrando como fatores
ecológicos determinavam os fluxos migratórios.

Esses movimentos não eram necessariamente atribuídos a intervenções divinas, mas


sim às condições ambientais que forçavam as populações a se deslocarem em busca de
sobrevivência. Os fatores ecológicos e geográficos desempenhavam um papel crucial na
determinação dos movimentos dos povos na região.

1.3.3 O Êxodo

Por volta de 1400 a.C., encontramos a primeira menção aos Shasu. Shasu era a forma
egípcia de dizer “Nômades”. Os arqueólogos afirmaram que Amenhotep III conquistou este
povo e os conquistadores se referiam a eles como “os nômades de YHW (O nome de Deus
é YHWH). em registros egípcios localizados ao sul do Mar Morto. Entre os Shasu, há um
grupo “javista”, sugerindo que o nome de Yahweh (YHWH) já era conhecido nessa época.

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Entre 1350 e 1330 a.C., temos um período de grande importância para a compreensão
da história bíblica e o contexto geopolítico da Palestina. É nessa época que encontramos a
correspondência de Amarna, um conjunto de cartas trocadas entre os governantes locais
de Canaã e o faraó do Egito, que na época era Akenaton. Esse material histórico revela
detalhes fascinantes sobre a relação entre o Egito e os pequenos reinos de Canaã, que
estavam sob o domínio egípcio. Governantes como Abdi Khepa de Jerusalém e Labaya
de Siquém serviam como vassalos do faraó, defendendo os interesses egípcios na região.
O Egito controlava essas cidades-estado não apenas politicamente, mas também militar-
mente, enviando forças para manter a ordem. Akenaton, por exemplo, enviou um regimento
da Núbia para suprimir rebeliões e garantir que as rotas comerciais e a influência egípcia
permanecessem intactas.

Essas cartas de Amarna lançam luz sobre as tensões políticas e os conflitos locais en-
tre os líderes de Canaã, e também mostram como os poderes regionais se esforçavam para
manter sua autonomia, enquanto os egípcios consolidavam sua influência. Nesse período,
os pequenos reinos, embora fragmentados e frequentemente em disputa, formavam uma
rede crucial para o Egito, pois controlavam rotas comerciais importantes e agiam como
uma barreira contra outros impérios. Um exemplo dessas disputas internas está nas tenta-
tivas de Labaya de Siquém de expandir seu território, ações que atraíram a ira de outros go-
vernantes, como Abdi Khepa, que frequentemente pedia ao faraó ajuda militar para conter
as ambições de seus vizinhos.

Por volta de 1300 a.C., temos outro evento significativo na história bíblica. o nascimen-
to de Moisés. Segundo a tradição bíblica, Moisés nasceu em uma época de grande opres-
são para os hebreus no Egito, enquanto eram submetidos à escravidão (Êxodo 1.8-22). Esse
período coincide com o início da XIX Dinastia Egípcia, marcada pelo reinado de Ramsés
I em 1292 a.C.. Ramsés I foi sucedido por Ramsés II, que reinou de 1279 a 1213 a.C. e é
lembrado como um dos maiores faraós do Egito. Ramsés II foi um governante militarmente
ativo, conduzindo várias campanhas militares para consolidar o poder egípcio em Canaã,
nas regiões que mais tarde seriam conhecidas como Israel.

O reinado de Ramsés II está intimamente ligado aos acontecimentos bíblicos, principal-


mente porque muitos estudiosos situam o Êxodo dos israelitas sob seu reinado ou logo após.
A opressão dos israelitas no Egito, seguida pela liderança de Moisés e a saída para a terra pro-
metida, é um dos eventos centrais do Antigo Testamento (Êxodo 12). Ramsés II, conhecido
por sua grandeza militar e pela construção de monumentos, como o famoso templo de Abu
Simbel, reforçou o controle egípcio sobre Canaã, criando uma tensão crescente na região que
pode ter influenciado as migrações e conflitos que moldaram a história bíblica.

Outro evento importante no final do século XIII a.C. é a chegada dos Povos do Mar, um

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grupo de povos migrantes e guerreiros que causaram grande instabilidade na região. Em


1187 a.C., esses povos, entre os quais estavam os Filisteus, invadiram o Egito, ameaçando
diretamente o domínio egípcio. Ramsés III registrou essa invasão em uma inscrição em um
templo, onde ele descreve suas batalhas contra esses invasores. Os Filisteus, que poste-
riormente se estabeleceram nas regiões costeiras de Canaã, desempenhariam um papel
significativo nas histórias bíblicas, especialmente nos conflitos com os israelitas, como no
relato da luta entre Davi e Golias (1 Samuel 17).

Os Povos do Mar provocaram uma mudança drástica na geopolítica do Oriente Mé-


dio. Suas invasões enfraqueceram o poder egípcio sobre Canaã, abrindo caminho para que
novas forças regionais, incluindo os israelitas, pudessem se estabelecer na terra que, até
então, estava sob domínio egípcio. O enfraquecimento do Egito e a instalação dos Filisteus
nas costas da Palestina criaram um novo cenário de conflitos que dominaram grande parte
do período dos juízes e dos primeiros reis de Israel, como Saul e Davi.

Os hititas são mencionados como um dos povos que participaram dos fluxos migrató-
rios e influenciaram a região. Contudo, é importante não misturar eventos de épocas distin-
tas, pois o império hitita antecede a chegada dos povos do mar à Palestina. A reconstrução
histórica é complexa e fragmentária, exigindo cuidado na interpretação dos dados e na
compreensão das diferentes camadas temporais.

É nesse contexto que ocorre o Êxodo dos israelitas do Egito. Embora a cronologia do
Êxodo continue sendo debatida, muitos estudiosos argumentam que uma data provável deve
ser situada durante o reinado de Ramsés II. Esse argumento se baseia, entre outras evidências,
nas cidades egípcias mencionadas no livro do Êxodo. Pithom (Pi-Atum) e Ramessés.
E os egípcios puseram sobre eles feitores de obras, para os afligirem
com suas cargas. E os israelitas edificaram a Faraó as cidades-celei-
ros, Pitom e Ramessés. (Êxodo 1.11)

Outra evidência da presença dos hebreus na Palestina nesse período é a “Estela de


Merneptah”, que, embora um pouco posterior (1210 a.C.), menciona Israel. Em 1896 o ar-
queólogo inglês Sir Flinders Petrie encontrou a assim chamada “Estela de Merneptah”, um
Faraó que reinou entre 1212 a 1202 a.C. fez registrar suas conquistas militares em Canaã
por volta do ano 1207 a.C. Entre os povos que figuram como os derrotados pelo Faraó, figu-
ra Israel, como se pode ler nas últimas linhas da inscrição.
Ascalon tem conquistado. Gezer tem sido capturado. Yanoam foi
aniquilado. Israel tem sido devastado, e sua semente já não existe.
Entre as conquistas de Merneptah na Síria e Palestina se encontra
Ysr’r (egípcio para Y’sr’l), que se reconhece claramente como ‘Israel’
[...] assim, na estela de Merneptah encontramos um ponto de partida
para determinar em que momento estiveram os israelitas na Palestina

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TEOLOGIA BÍBLICA - INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

“ […] (The International Standard Bible Encyclopedia, 1988, vol. 3, p. 324)


[ver imagem 5 no AVA]

Síntese
Esta unidade explorou a pré-história do povo de Israel, começando com o surgimento
dos patriarcas bíblicos, situados entre 1900 e 1450 a.C., e abrangendo as complexas
relações entre diferentes povos e cidades-estado de Canaã.
Durante este período, Canaã era dividida em pequenos reinos, que muitas vezes se
rebelavam contra o domínio egípcio, como evidenciado nas Cartas de Amarna. Os
patriarcas, como Abraão, interagiam nesse cenário de tensão e diversidade cultural.
Ela também discutiu os hapirus, mencionados em registros cuneiformes a partir de
2050 a.C. e presentes em várias regiões do Oriente Próximo. Embora originalmente
considerados uma classe social, e não um grupo étnico, alguns estudiosos sugerem
uma forte ligação entre os hapirus e os hebreus bíblicos.
Finalmente, a unidade abordou o Êxodo, que, apesar de sua cronologia ainda ser
debatida, é frequentemente associado ao reinado de Ramsés II, com evidências ar-
queológicas como as cidades de Pithom e Ramessés, e a “Estela de Merneptah”, que
menciona Israel por volta de 1207 a.C. Esses elementos históricos e arqueológicos
ajudam a contextualizar o Êxodo e a formação do povo de Israel.
[ver imagem 6 no AVA]

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