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Dark House - Nicole Leather

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Copyright © 2023 por Nicole Leather

Livro digital
2° edição Brasil (2024)
Título: Dark House - A iniciação
Autora: Nicole Leather (pseudônimo)
Série: Dark House (trilogia)
Revisão gramatical: Aline Panda (Instagram @pandarevisando)
Assessoria: Aline Panda (Instagram @pandalendo)
Imagem de capa: Snake Designer (Instagram @sn4kedesigner)
Imagens internas: https://pngtree.com e https://www.canva.com/
Diagramação: Angela de Sara (Instagram @angeladesara)

Esta é uma obra de ficção.


Todos os nomes, personagens, lugares, cenários e acontecimentos descritos aqui são
frutos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência.

Nenhuma parte desta história pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida, por
nenhuma forma ou meio, seja online ou offline, sem prévia autorização por escrito da
autora, salvo breves citações em revisões críticas e usos não-comerciais permitidos pela lei
de direitos autorais.
De acordo com a Lei n° 10.695, de 1° de julho de 2023, em seu artigo n° 184, violar direitos
de autor e os que lhe são conexos, é passível de pena de detenção, que pode variar entre
três meses a um ano, e pagamento de multa, entre outras sanções, conforme a violação
cometida.
Dedicatória
Para todas as mulheres que já precisaram,
ou ainda precisarão,
ser fortes!
Epígrafe
Eu coloco minha armadura, te mostro o quão forte sou
Eu coloco minha armadura, vou te mostrar que eu sou
Sou imparável
Sou um Porsche sem freios
Sou invencível
Sim, eu ganho todos os jogos
Sou tão poderosa
Não preciso de baterias para funcionar
Estou tão confiante, sim, hoje eu sou imparável
Imparável hoje, imparável hoje
Imparável hoje, hoje eu sou imparável

Unstoppable - Sia
Atenção!
Esta obra é destinada apenas para maiores de 18 anos.
Ela contém descrição detalhada de cenas de sexo explícito e diversos gatilhos relacionados a abuso e
violência física, mental e emocional
contra mulheres.
Se você é sensível a esses temas,
avalie sua condição e seus limites antes de iniciar a leitura.

A ideia é falarmos sobre empoderamento feminino, porém, para isso, é preciso apresentar as dores e
traumas primeiro.
Sumário
Dedicatória
Epígrafe
Atenção!
Sumário
Aviso da Autora
Prólogo
Sofia Venturini
Capítulo 1
Sofia Venturini
Capítulo 2
Sofia Venturini
Capítulo 3
Sofia Venturini
Capítulo 4
Sofia Venturini
Capítulo 5
Sofia Venturini
Capítulo 6
Sofia Venturini
Capítulo 7
Sofia Venturini
Capítulo 8
Sofia Venturini
Capítulo 9
Sofia Venturini
Capítulo 10
Sofia Venturini
Capítulo 11
Sofia Venturini
Capítulo 12
Sofia Venturini
Capítulo 13
Sofia Venturini
Capítulo 14
Sofia Venturini
Capítulo 15
Sofia Venturini
Capítulo 16
Sofia Venturini
Natália Lopez
Sofia Venturini
Capítulo 17
Yan Meyer
Capítulo 18
Sofia Venturini
Rodolfo Fabregat
Capítulo 19
Natália Lopez
Capítulo 20
Sofia Venturini
Rodolfo Fabregat
Capítulo 21
Yan Meyer
Sofia Venturini
Rodolfo Fabregat
Rodolfo Fabregat
Sofia Venturini
Capítulo 22
Yan Meyer
Yan Meyer
Sofia Venturini
Sofia Venturini
Capítulo 23
Rodolfo Fabregat
Sofia Venturini
Capítulo 24
Rodolfo Fabregat
Capítulo 25
Marisol Sanchez
Sofia Venturini
Sofia Venturini
Sofia Venturini
Marisol Sanchez
Sofia Venturini
Agradecimentos
Prólogo
Sofia Venturinni Fabregat
Legendas
Aviso da Autora
Leia este livro com a mente e o coração abertos. É só o que peço a você.
"Dark House - A iniciação" conta a história de Sofia Venturinni, uma mulher jovem, linda, e
cheia de desejos. Porém, assim como muitas de nós, ela nunca teve a oportunidade de
expressar esse lado e de realizar suas fantasias.
Ao lado do namorado machista e controlador, as únicas coisas que Sofia conseguiu foram
dores e marcas profundas em seu corpo e emocional. Mesmo assim, ela não se deu por
vencida.
Sua força e coragem de buscar mais a levaram do Brasil para Madrid, e foi lá que tudo
começou.
Ao conhecer Rodolfo em um dia de chuva, Sofia descobriu uma sociedade secreta na qual
todos os participantes podiam realizar os desejos sexuais que tinham em total segurança e
sem nenhum julgamento.
No entanto, quando tudo parecia perfeito, ela se deu conta, da pior maneira possível, que a
Dark House era muito mais do que apenas prazer.
A ávida disputa pelo poder, e a volta do ex-namorado, não deram à Sofia o tão esperado
final feliz. Entretanto, entregou-lhe algo muito além do esperado.
Vivencie comigo o primeiro volume da trilogia Dark House, e se surpreenda com hots e
experiências sexuais nunca antes descritas, e muito empoderamento feminino.
Com carinho,
Nicole Leather
Prólogo
Sofia Venturini

E
nquanto eu era presa na estrutura em X fixada na parede da sala
principal da Dark House, a única coisa que passava na minha mente
era como a minha vida havia mudado tanto em menos de um ano.
Eu não sentia medo e nem me sentia exposta, apesar das poucas fitas que
estavam enroladas ao meu corpo servindo de vestimenta. Apenas pensava
em como havia me deixado chegar àquele ponto. Ponto esse que, na
verdade, eu desejei secretamente por muitos e muitos anos.
Minutos antes eu estava no que as assistentes da DH chamavam,
carinhosamente, de “sala de preparo para o abate”.
Uma das meninas havia me entregado uma sacola com duas peças de roupa
e uma bota de couro lindíssima, de cano alto e salto agulha.
As “roupas”, na verdade, eram apenas tiras de couro que sugeriam um
pequeno biquíni. Isso porque o bojo da parte de cima não existia, bem como
o forro da calcinha. Ou seja, meus seios e partes íntimas estavam totalmente
à mostra.
Meu cabelo foi preso em um rabo de cavalo bem alto, e a maquiagem forte
e escura nos olhos completou o visual. Mas confesso que, depois, pensei
porquê aquela make foi feita, se meus olhos não puderam ser vistos por
ninguém a noite toda.
Quando finalmente estava pronta, fui com a assistente até a sala principal e
me posicionei de costas para o X. Ela então prendeu meu punho esquerdo
na parte de cima da estrutura, com as algemas que estavam fixadas nela. Em
seguida, fez o mesmo com o meu punho direito e com meus tornozelos, na
parte inferior da plataforma.
Eu estava completamente exposta, sem nenhuma condição de me proteger
ou impedir que algo fosse feito com meu corpo. Mas eu confiava
plenamente nele para me colocar naquela situação.
Inclusive, acho que ele leu meus pensamentos naquele momento, pois parou
na minha frente com uma venda nas mãos e, sem dizer nada, colocou sobre
meu olhos.
A fantasia estava completa, e eu, totalmente entregue.
Senti sua respiração na minha nuca e a voz forte no meu ouvido: “Espero
que esteja pronta”.
Apenas fiz que sim com a cabeça e, tão logo estava vendada, ouvi
novamente sua voz, agora, vinda do lado onde ficava o trono: “Que
comecem os jogos!”
Capítulo 1
Siga-me agora e você não vai se arrepender
Deixando a vida que tinha antes de nos encontrarmos
Você é a primeira que teve este meu amor
Sempre comigo até o fim dos tempos
N.i.b | Ozzy Osbourne

Sofia Venturini

A
música alta e sexy tomou conta do ambiente. Comecei a ouvir os
primeiros passos, algumas risadas, e frases soltas em volta de mim:
“Nossa, que delícia!”
“Hoje o Mestre caprichou”
“Se eu pego, faço gozar em dois minutos”
A excitação começou a tomar conta de mim, não sei se pelo fato de as
pessoas estarem me olhando e me desejando daquela forma, ou por saber
que ele estava sentado a poucos metros, acompanhando tudo.
Do seu trono imponente e posicionado estrategicamente, meu Mestre, e
Mestre da Dark House, tinha uma visão privilegiada do X que era o ponto
alto do local. Ou seja, ele assistiria de camarote tudo o que aconteceria
comigo naquela noite.
Eu, claro, não queria decepcionar nem a ele, nem a mim. Afinal, havia
chegado muito longe para fazer alguma merda.
Uma voz masculina que eu não conhecia me tirou dos meus pensamentos:
“Puedo?”. A assistente que cuidava de mim respondeu: “Sabes las reglas.
¡Siéntete como en casa!".
As regras às quais ela se referia eram sobre como “usar” quem estava no X.
A DH era extremamente rígida e, para esse tipo de iniciação, era imposto:
1. não ficar mais do que cinco minutos com a pessoa exposta;
2. não machucá-la, de forma alguma, nem deixar marcas em seu
corpo;
3. não maltratá-la emocional e/ou psicologicamente;
4. parar imediatamente qualquer ação assim que a palavra de
segurança fosse dita;
5. respeitar os limites pessoais de cada dark.

Como queria experimentar todos os prazeres daquela noite, meus limites


iniciais eram apenas dois: nada de beijo na boca ou sexo anal. Para esse
último, permiti apenas o uso de alguns brinquedos que eu mesma escolhi, e
que foram expostos na mesa ao meu lado.
Mas esses dois limites tinham um motivo maior do que a minha própria
vontade: respeito e obediência ao meu Mestre.
Na verdade, essas duas limitações foram pedidas por ele, e eu aceitei por
entender e concordar com os motivos: “Somente eu posso usar você dessas
maneiras tão íntimas e profundas”.
O homem que havia pedido permissão para a assistente chegou bem perto
do meu ouvido e disse, em espanhol que entendi perfeitamente: “Vou fazer
você gozar de um jeito que nunca gozou antes”.
Em seguida ele pegou os dois bicos dos meus seios ao mesmo tempo,
apertou e puxou com toda a força que os dedos indicadores e polegares das
suas mãos permitiam.
Foi impossível não sentir dor e dar o primeiro grito. Mas, ao mesmo tempo,
um forte tesão tomou conta de mim.
O jogo havia começado, e um total estranho estava usando meu corpo
enquanto meu Mestre e outros desconhecidos assistiam.
Ele torturava os bicos dos meus seios sem dó, alternando entre puxões e
tapas. E quanto mais fazia isso, mais a parte de baixo do meu corpo
respondia aos estímulos.
Em um certo momento, ele começou a chupar um dos meus seios, enquanto
continuava a maltratar o bico do outro. Em uma coisa ele tinha razão: a
chance de eu gozar como nunca havia gozado antes era cada vez mais real.
Ele alternava entre um seio e outro, chupando, mordendo, apertando e
batendo nos bicos. Quanto mais ele fazia isso, mais minha boceta implorava
para ser tocada.
A certa altura ele perguntou: “Está gostando?”. Eu me contorcia de dor e
prazer e comecei a suplicar a ele entre um gemido e outro: “Por favor, por
favor”, na esperança de que ele entendesse que eu precisava ser penetrada
de alguma forma.
Mas, sem qualquer aviso, ele parou. Eu simplesmente fui largada ofegante
presa ao X, com a boceta pingando de tão excitada.
Acredito que os cinco minutos dele haviam acabado, mas aquilo já me deu
uma boa ideia de como seria o restante da minha noite.
Eu nem tinha recuperado o fôlego quando ouvi uma mulher dizer: “Amor,
eu quero ela”. O homem respondeu: “Vou adorar ver você chupando essa
bocetinha”.
Pelo barulho do salto imaginei que ela havia se ajoelhado na minha frente, o
que foi confirmado com a língua quente da desconhecida passando sobre
meu clitóris inchado e dolorido de tanto tesão.
Nunca uma mulher havia me chupado, e eu estava tão excitada com a
tortura que meus seios receberam que quase gozei só dela encostar em mim.
A boca da desconhecida era quente e úmida na medida certa, e seus
movimentos macios e delicados, o que só piorava a minha situação, já que
meu corpo implorava por algo forte, bruto e doloroso.
Ela estava me deixando ainda mais louca e desesperada para gozar, e eu
acho que seu parceiro percebeu isso. Após alguns momentos de chupada, o
homem diz: “Deixa eu ajudar você, querida”, e começou a chupar minha
boceta também.
As línguas dos dois começaram a brincar sem nenhuma piedade no meu
órgão, e eu me contorcia e gritava cada vez mais alto conforme toda aquela
energia ia se acumulando no meu corpo.
Prestes a explodir, ele enfiou dois dedos em mim e começou a socar com
força. Não pude aguentar mais e gozei forte na língua deles.
Ouvi a risada dos dois ao verem que tinham me feito gozar daquele jeito e o
homem dizendo para a parceira: “Abre a boca, sente o gosto dela nos meus
dedos”. Pela gemida que ela deu, o sabor parecia ser bom, e os dois se
afastaram de mim.

Ao contrário do que acontece nas relações sexuais tidas como “normais”,


aquelas que o ato termina quando você goza, na Dark House isso é somente
um sinal de que o jogo deve continuar.
Pelo tempo que cada pessoa pode ficar com quem está no X, tinha uma
noção de que a noite estava apenas começando, e que muitos prazeres ainda
seriam sentidos pelo meu corpo.
Ouvi um homem dizendo para a assistente: “Quero o pacote completo”. Em
seguida, ela liberou meus pés das algemas, deixando minhas pernas livres.
Eu já havia assistido ao jogo antes e sabia exatamente o que aquele
movimento queria dizer: penetração.
Uma grande mão masculina passou pela minha boceta, alisou e, em
seguida, deu um forte tapa. Eu gritei e curvei um pouco as pernas, na
tentativa de aliviar a dor.
O homem as abriu novamente e enfiou três dedos de uma só vez na minha
boceta, e disse: “Ela está pronta. Assim que eu gosto”. Neste momento
agradeci a mim mesma por ter gozado tanto minutos antes e por ainda estar
bastante lubrificada.
Ele pegou minhas pernas, entrelaçou ao redor da sua cintura e enfiou seu
pênis em mim em um único movimento brusco e direto. Arqueei meu corpo
para frente, mas minhas mãos ainda algemadas me impediram de me mexer
mais.
Ele então começou a socar e socar e socar repetidas vezes, enquanto eu
sentia seu órgão engrossar cada vez mais dentro de mim, até latejar, me
mostrando que ele estava gozando.
Antes de sair de dentro de mim ele ainda chupou meus seios por alguns
instantes, acho que aproveitando os últimos minutos que tinha.
Dessa vez eu não gozei, mas saber que era a primeira vez em que o Mestre
assistia outro homem me comer me deixou muito, muito excitada.
Após ser colocada no chão por aquele homem, minhas pernas não foram
algemadas de novo. O que me fez acreditar que outras penetrações viriam.
E foi justamente o que aconteceu.
Geralmente, quando as relações desse tipo começam, é sinal de que a
reunião está na metade e que, daquele ponto em diante, tudo pode
acontecer, pois o número de darks no local já é bem maior.
Fui penetrada mais três vezes. Em uma delas, colocaram prendedores nos
bicos dos meus seios e, enquanto o cara gozava, ele os puxou com toda
força, apenas para meu grito de dor aumentar seu prazer.
Entre uma e outra foda fui masturbada e chupada tantas vezes que perdi as
contas. Meu ânus também foi penetrado por dedos, línguas e alguns
brinquedos.
Gozei mais umas quatro vezes e, àquela altura, eu já não tinha mais nenhum
domínio sobre mim, meus desejos ou meu corpo, tamanha minha exaustão.
Tanto que ouvi um homem dizendo: “Mija em mim, mija”. Eu simplesmente
atendi à ordem, sem pensar em nada ou nas consequências.
O mais importante de tudo isso era que eu estava satisfeita, muito satisfeita,
e bastante orgulhosa de mim mesma, porque não havia dito a palavra de
segurança, nem ao menos pedido para tirar a venda, que é um claro e
importante sinal de confiança no Mestre.
Além disso, estava tranquila psicologicamente, porque tudo o que havia
acontecido naquela noite tinha sido opção minha, totalmente minha. Eu quis
viver aquela experiência. Eu quis sentir aquele nível de prazer. Eu, somente
eu!
Depois de tudo isso, a última coisa que senti foram os braços do Mestre em
volta de mim e ele dizendo no meu ouvido: "Vem. Agora vou cuidar de
você".
Capítulo 2
Estou aqui no limite novamente
Eu gostaria de poder deixar pra lá
Eu sei que estou apenas a um passo de mudar tudo
Você ainda pode ver um coração em mim?
All I Need | Within Temptation

Sofia Venturini

T
inha desembarcado em Madrid exatamente 15 dias antes da data de
início da minha pós-graduação em Marketing de Moda. Queria
aproveitar as duas semanas livres para conhecer a cidade, a cultura, as
pessoas, mas, principalmente, aperfeiçoar meu espanhol.
No Brasil, havia feito um curso completo do idioma e conseguia falar, ler e
escrever muito bem. Entretanto, sabia que entre os nativos muitas
expressões e colocações eram diferentes, e eu não queria passar vergonha.
Além disso, havia a possibilidade de os três melhores alunos da turma
serem contratados por uma grande marca de roupa parceira da universidade,
o que garantiria um excelente emprego e a permanência em Madrid por,
pelo menos, dois anos. E eu, no auge da minha exigência pessoal, não
poderia deixar essa oportunidade passar.
Por isso, tudo o que eu faria durante minha estadia na capital da Espanha
precisa ser absolutamente perfeito, e nada, nem ninguém, poderia me
atrapalhar ou me desviar do meu propósito.
Uma maneira que encontrei de começar essa caminhada rumo ao meu
sonho com o pé direito, e eliminar qualquer risco de não dar certo, foi
chegar na cidade com tudo pronto e definido.
Assim, antes mesmo de sair do Brasil, o apartamento mobiliado e equipado
que eu moraria já estava devidamente escolhido e alugado, e as matrículas
no curso avançado de espanhol para brasileiros e da pós feitas.
Graças ao meu planejamento perfeito, pelo menos do meu ponto de vista,
desembarquei no aeroporto de Madrid, peguei um táxi, e desci já na porta
da minha nova moradia, que ficava em uma área residencial, mas muito
bem localizada.
A viagem havia sido tranquila, mas eu estava bastante cansada. Porém,
antes de tomar o banho que meu corpo tanto desejava, precisava buscar algo
para comer.
Era sexta à noite, os bares estavam movimentados, mas eu só queria algo
pronto e bem gostoso que pudesse comprar, levar para o meu quarto, e
comer assistindo televisão.
Em menos de 15 minutos eu havia feito isso. No restaurante mais próximo
que encontrei escolhi uma paella e, em uma adega quase ao lado, peguei
uma garrafa de vinho tinto que o atendente me indicou.
Cheguei ao apartamento, deixei as compras na cozinha e levei as malas que
estavam na sala para o quarto. Tirei de dentro somente o necessário para
tomar um bom banho e colocar uma roupa confortável.
— Amanhã eu arrumo isso e vou ao mercado. — Disse para mim mesma.
A paella estava divina, e o vinho deu a sensação de relaxamento que eu
tanto precisava depois de horas voando.
Resolvi dar uma espiadinha pela janela do meu quarto e uma casa, que
ficava em uma rua quase em frente, me chamou a atenção. Primeiro, porque
seu estilo era totalmente diferente das demais.
As paredes externas eram revestidas com tijolos de um tom vermelho
escuro, quase amarronzado. Sem quintal na frente, uma escada de cinco
degraus levava diretamente à porta de entrada.
O segundo motivo que me deixou intrigada foi que algumas pessoas
estavam entrando lá. Até aí tudo bem, mas o curioso era que todas as
mulheres usavam sobretudo e salto alto; e os homens, calça e camisa social.
Eles simplesmente subiam a escada, abriam a porta, e entravam. Alguns em
casal, outros desacompanhados.
— Deve ser alguma festa. — Pensei alto e deixei pra lá.
Sentei para assistir um filme qualquer que estava passando na TV e
aproveitei para treinar os meus ouvidos com o novo idioma, mas, em
poucos minutos, peguei no sono.
Acordei assustada algum tempo depois, sem lembrar onde estava. Demorei
alguns segundos para me situar e lembrar que estava em Madrid, sozinha.
Peguei o celular e vi que ainda eram duas horas da manhã. Levantei, fui ao
banheiro, passei pela cozinha para beber um pouco de água e, antes de
voltar para a cama, olhei novamente pela janela e vi que um casal estava
saindo da casa estranha.
— A festa deve estar boa. — Sorri e me permiti voltar para a cama para
dormir novamente.

Minha programação era curtir o sábado, conhecer os comércios e lojas que


ficavam perto do meu prédio, dar uma olhadinha onde era a escola de
idiomas, ir ao mercado abastecer a despensa e, claro, comer muita comida
local.
Saí de casa por volta das 10 horas com a ideia de encontrar um lugar para
tomar café da manhã. Com o GPS do celular ligado e fones de ouvido para
me orientar e ninguém perceber, o aplicativo me indicou para seguir pela
rua da casa vermelha.
— Já percebi que essa casa vai ser meu ponto de referência e caminho
obrigatório todos os dias.
A padaria que escolhi não ficava muito longe, e o café da manhã era tão
maravilhoso quanto sugeria o perfil no Instagram. De lá, saí para andar
meio que sem rumo.
Vi algumas lojas de roupas maravilhosas em Salamanca, o bairro mais
nobre de Madrid e ao lado de onde eu estava morando. Descobri
restaurantes, almocei e fui a alguns pontos turísticos. Nem me dei conta de
que o dia havia passado e eu ainda precisava ir ao mercado.
Entrei no primeiro que estava no meu caminho, porque o céu estava ficando
cada vez mais escuro e era nítido que uma chuva forte cairia a qualquer
momento.
Tive apenas o tempo suficiente para comprar o que precisava e dar os
primeiros passos rumo ao meu apartamento. Mas, por mais que eu me
apressasse, a chuva foi mais rápida e me pegou no meio do caminho.
Ficou praticamente impossível chegar à portaria do meu prédio, mesmo
faltando bem pouco.
— Preciso parar em algum lugar se não quiser ser levada pelo vento. — O
lugar mais perto de mim, que poderia me proteger um pouco, era a escada
da tal casa vermelha. — Vai ser aqui mesmo!
Subi as escadas correndo e me encolhi sob o toldo que ficava acima da
porta. Ainda assim, era impossível permanecer seca do joelho para baixo.
— Mas é melhor do que correr o risco de me desequilibrar nessa rua
molhada e cair. — Tentei me convencer.
Fiquei alguns minutos me abrigando ali e o frio começou a tomar conta de
mim, mas nada da chuva cessar. Ao contrário, estava ficando ainda mais
forte. Foi então que eu vi um carro preto, bastante estiloso, parar bem no pé
da escada.
Um homem, aparentando uns 35 anos, saiu do carro e também subiu as
escadas correndo. Ele me olhou bem nos olhos, e sem desviar o olhar,
pegou uma chave no bolso e abriu a porta da casa.
— Entra.
— Não, obrigada…é, quero dizer, no, gracias. — Respondi sem jeito ao
perceber que ele morava ali e eu estava, praticamente, invadindo a casa.
— Brasileira? — Ele falou já do lado de dentro.
— Sim. Desculpa, já estou indo.
Ao tentar descer o primeiro degrau, um raio cortou o céu, seguido
imediatamente de um forte trovão. Meu susto foi tão grande que dei um
grito sem nem tentar segurar minha reação.
— EU FALEI ENTRA! — O tom de voz do grandalhão desconhecido era
tão assustadora quanto o trovão, e eu não vi outra opção, a não ser, obedecê-
lo.
— Pode colocar suas coisas aqui. — Disse ele me dando mais uma ordem e
apontando para um banco revestido de couro preto e um cabideiro para
casacos e bolsas preso sobre ele, na parede.
Fiz o que ele disse e, ao olhar ao redor, percebi que a casa era tão peculiar
por dentro quanto era por fora.
O longo e estreito corredor onde estávamos tinha as paredes revestidas por
uma espécie de veludo vermelho. Alguns quadros, com desenhos no estilo
renascentista, decoravam o espaço pouco iluminado.
O primeiro deles tinha uma mulher no centro, com os seios de fora, as mãos
levantadas como se quisesse pegar algo no céu, e um homem sentado aos
seus pés, tentando tocá-la na região íntima.
O segundo trazia a imagem de três mulheres, também com a parte de cima
dos seus corpos despidos, tocando umas nos seios das outras.
O terceiro foi o que me chamou mais a atenção. Era de uma mulher, pintada
no mesmo estilo, mas com vários homens ao redor com as mãos em todo o
seu corpo, inclusive no seu sexo.
Olhando para frente, vi que o corredor levava para uma escada, indicando
que a casa tinha um andar abaixo do nível da rua. Confesso que fiquei com
medo de o estranho mandão me levar para lá, mas isso não aconteceu. Ele
entrou na única porta que tinha no corredor, do lado direito, acendeu a luz, e
fez sinal para eu entrar também.
O ambiente que surgiu na minha frente era absolutamente diferente do que
eu tinha visto até então. O que me deixou ainda mais confusa sobre o que
acontecia naquele lugar.
Um espaço totalmente aberto, no estilo industrial, extremamente bem
iluminado e com paredes brancas.
O primeiro cômodo era a cozinha, que tinha uma ilha enorme no meio, para
umas oito pessoas, mais ou menos, dispensando a necessidade de uma mesa
para as refeições. Vários eletrodomésticos modernos, todos de aço inox,
davam a entender que a pessoa que morava ali gostava bastante de cozinhar.
Seguindo para a esquerda, estava uma sala gigantesca, com um sofá em L
cinza que parecia ser revestido em suede, e que comportava
confortavelmente umas 10 pessoas.
A sala, com pé-direito alto, se estendia para a lateral da casa e tinha uma
das paredes feita com grandes pedras em tons de cinza. Uma televisão que
mais parecia uma tela de cinema fazia um belo contraste entre o rústico e o
moderno. A escada de ferro do outro lado mostrava que, possivelmente, os
quartos ficavam no andar superior.
Porém, o ponto alto desse ambiente era a outra parede, feita de vidro, que
pegava toda a extensão da sala e dava para uma vista linda da cidade, a qual
eu via, em partes, da janela do meu apartamento, já que este lado da casa do
desconhecido era virada para outra rua.
Fui até essa parede para olhar mais de perto e outro raio caiu no exato
momento, me fazendo dar um pulo para trás.
— Essa chuva não vai parar tão cedo, melhor você se sentar. Aceita um
vinho? — Disse o, até então, desconhecido mandão me tirando totalmente
do meu transe.
Eu não vinha de uma família com dificuldades financeiras. Na verdade, era
o contrário disso, e a gente até que vivia muito bem em São Paulo. Meu pai
era gerente de um grande banco há muitos anos, e minha mãe tinha uma
loja de roupas em um shopping na zona nobre da cidade, e foi dela que
herdei meu gosto por moda.
Com 20 anos, ainda na faculdade, decidi morar sozinha, e meus pais me
deram meu primeiro apartamento para “começar a vida”. Desde então eu
trabalho e me viro por minha própria conta. Mas, ainda que tenha vindo de
um estilo de vida assim, confesso que aquela casa havia me deixado de
queixo caído!
Aceitei o vinho, afinal, não tinha mesmo o que fazer, pois era visível que a
chuva estava ficando cada vez mais forte.
Outro raio fez as luzes apagarem e acenderem rapidamente, bem no
momento que o desconhecido me entregava uma taça de vinho tinto e se
sentava ao meu lado no sofá.
— Desculpe, eu nem me apresentei. Sou Rodolfo Fabregat, e você é a
brasileira…
— Sofia Venturinni. — Respondi dando um gole na minha bebida que,
aliás, estava na temperatura perfeita.
— Me perdoe ter sido um tanto rude com você ali na porta. É que realmente
me incomoda ver uma mulher precisando de ajuda, eu podendo ajudar e ela
querendo ser autossuficiente.
Não contive a risada, pois o pedido de desculpas ia absolutamente contra a
imagem que ele passava.
Era impossível negar, Rodolfo era um homem muito, muito bonito! Alto,
com ar de ser extremamente autoritário, o cabelo castanho escuro alinhado
contrastava com a barba por fazer, deixando-o ainda mais sexy. Porte
musculoso, ele devia ter, mais ou menos, 1,80m de altura, e tudo combinava
muito bem com as inúmeras tatuagens que ele tinha nos braços.
Curiosamente, ou não, ele estava vestindo o mesmo estilo de roupa dos
homens que vi entrando ali na sexta-feira: calça e camisa social. A
diferença é que ele estava todo de preto, e a camisa parecia uns dois
números menores do que o ideal, deixando seus músculos ainda mais
evidentes.
Eu, no entanto, ainda estava um pouco molhada da chuva, mas não posso
dizer que estava malvestida.
No auge dos meus 1,64 (ok, não sou tão alta), estava muito confortável e
elegante no meu jeans preferido, que deixava minha bunda avantajada
ainda mais avantajada, e minha regata de cetim preta. Meu casaco caban e
minhas sapatilhas de bico fino, também pretos, haviam ficado na entrada da
casa, mas completavam meu visual.
Tinha prendido meus cabelos em um coque rápido para disfarçar o frizz que
havia se formado no ondulado por conta da chuva, deixando meus brincos
longos de ouro em destaque.
— Eu estou morrendo de fome, vou preparar alguma coisa para comermos.
— Rodolfo disse já se levantando do sofá e indo para a cozinha com a taça
de vinho na mão.
— Não precisa! Eu agradeço, mas não quero te dar esse trabalho e pretendo
ir embora logo. Fora que sua esposa deve estar chegando a qualquer
momento e não quero gerar um constrangimento para você. — Respondi
meio que me preparando para sair.
— Primeiro, não tenho nem esposa, nem namorada, nem nada desse tipo.
Então, você pode ficar aí sem medo de “cenas constrangedoras”. — Ele
debochou — Segundo, você não vai conseguir sair daqui com essa chuva.
Portanto, senta e espera a janta. Você come carbonara?

As horas seguintes foram agradáveis e passaram sem que eu percebesse.


Rodolfo era extremamente inteligente, gentil e tinha um papo muito bom.
Em nada parecia aquele brutamonte que tinha gritado comigo horas antes
por causa da tempestade.
Ele contou que era nascido e criado em Madrid, mas que a mãe era
brasileira, por isso, falava tão bem português. Ele não veio de família rica e
o pai morreu quando ele tinha 10 anos, não acompanhando seu crescimento
ou ajudando-o a se estruturar.
A mãe ficou doente tempos depois e faleceu quando ele já era um adulto,
com 22 anos, deixando-o sozinho, já que era filho único.
Tudo aquilo que tinha era fruto de muito estudo, esforço e trabalho, o que o
transformou em um empresário de sucesso, dono de uma grande rede de
lojas de carros importados e um consultor financeiro respeitado, em toda
Madrid, aos 35 anos.
Eu também falei um pouco de mim enquanto jantávamos o carbonara mais
delicioso que já tinha comido na vida. O cara era lindo, charmoso, atraente,
e ainda sabia cozinhar muito bem. Ou seja, perfeito demais para ser real.
Algo tinha ali, não era possível!
Disse a ele que estava na cidade para a fazer minha pós e que, apesar da
cara de “menininha-mimada-riquinha-bancada-pelo-papai”, eu já tinha 29
anos e cuidava de tudo da minha vida sozinha desde os 20, incluindo
minhas contas, despesas, decisões certas e erradas.
Quando ele sugeriu abrirmos a terceira garrafa de vinho, olhei para o
relógio na parede da cozinha e percebi que faltavam apenas 10 minutos para
a meia-noite.
— Meu Deus, preciso ir embora! A conversa estava tão boa que nem notei
que a chuva já parou. Deixa eu ajudar com estes pratos. — Levantei
pegando a louça que havíamos usado.
— De forma alguma. — Rodolfo disse pegando nas minhas mãos para me
impedir de tirar os pratos. Naquele momento, uma corrente de energia
percorreu todo meu corpo, parando exatamente lá embaixo. Quis acreditar
que talvez fosse o vinho.
O clima foi quebrado com o celular dele tocando.
— Desculpe, mas preciso atender. Me dá só mais uns minutinhos, e não se
atreva a fazer nada, brasileira! — Sorri vendo que a versão mandona dele
havia voltado.
Como estava “proibida” de lavar a louça, matei o tempo dando uma olhada
no outro lado da cozinha, que era um cômodo tão grande quanto a sala.
Perto da área de serviço, que ficava nos fundos, tinha uma pequena mesa
com alguns envelopes, correspondências e uma caixa grande de papelão
semiaberta.
Minha curiosidade, que sempre foi maior do que tudo, me fez olhar o que
tinha lá dentro. Meu susto foi grande quando, ao abrir as abas da caixa,
percebi que ela estava repleta de brinquedos sexuais. Eram chicotes de
diferentes tipos e materiais, algemas, vibradores, mordaças…
— Perdeu alguma coisa, brasileira? — Me virei com Rodolfo tão colado em
mim que quase tive que sentar sobre a mesa para conseguir olhar para ele.
— É… Eu… É que… bem, você disse que não tinha namorada. Você tem
um sexshop também? — minha desculpa soava extremamente idiota, mas
foi a única coisa que consegui falar após ser pega xeretando.
— Não, Sofia, não sou dono de um sexshop e, definitivamente, não tenho
namorada. Essas coisas na caixa não são para mim, não diretamente. — Ele
respondeu tão perto da minha boca que juro que pude sentir o gosto de
vinho dos lábios dele.
— Vem, vou levar você para sua casa. — Rodolfo falou quebrando a
atmosfera tensa que estava entre nós, e eu agradeci internamente por isso.
— Obrigada, mas não precisa, eu moro no prédio aqui na rua da frente.
— No Plaza?
— Esse mesmo!
— Interessante.
— Por quê?
— Nada. Acompanho você até a portaria então. Está tarde para uma moça
como você andar sozinha por aí, ainda que seja um trecho tão curto.
Caminhamos em silêncio o pequeno trecho entre a casa dele e meu
apartamento. Após eu agradecer a hospedagem, o vinho e o jantar, ele
disse: — Volte quando quiser, a porta fica sempre aberta. É só entrar.
Sorri, acenei com a cabeça e me despedi de longe, sem beijo no rosto,
abraço ou aperto de mão. Preferi não correr o risco de atender ao que o
vinho e a imagem dos brinquedos eróticos estavam me sugerindo naquele
momento.
Capítulo 3
Dê-me algo em que eu possa acreditar
Não me deixe mal
Você abriu a porta, agora não a deixe fechar
All I Need | Within Temptation

Sofia Venturini

A
semana seguinte transcorreu como planejado, o que para mim era
extremamente satisfatório. Ter o controle de tudo o que eu fazia e
queria, definitivamente, me deixava muito feliz, confiante e me
sentindo empoderada.
Minhas aulas de espanhol já tinham começado e estavam agendadas para
todas as segundas, quartas e sextas à noite, e era um intensivão de apenas
duas semanas.
Como todos os participantes eram adultos e já falavam bem o idioma, a
metodologia de ensino era diferenciada: como proposta, a cada dia iríamos
a um lugar diferente, tais como lojas, galerias de arte, shows e restaurantes.
Ou seja, nada de ficarmos presos na escola, mas sim, “turistando” pela
cidade e interagindo com os nativos.
Já que era a primeira semana juntos, o professor sugeriu um barzinho
bastante badalado para a aula da sexta-feira. Seria uma espécie de happy
hour para nos conhecermos melhor, beber um bom vinho e treinar o idioma.
Experiência perfeita!
A ideia deu certo e, mais uma vez, tudo estava indo bem, mas depois de
tantas botellas de vino senti que era melhor voltar para o meu apartamento.
Me despedi do pessoal, que decidiu ficar por mais um tempo, e comecei a
caminhar rumo ao Plaza.
O bar não era tão longe de onde eu morava, cerca de uns 10 minutos
andando, mas as taças a mais me obrigaram a caminhar um pouco mais
devagar do que eu gostaria.
Passar em frente à casa do Rodolfo já tinha se tornado um trajeto
obrigatório para mim. E mesmo que eu tivesse saído outras vezes naquela
semana, em nenhuma tinha visto ele. Como também não lembramos de
trocar os números dos nossos celulares na noite da chuva, não havíamos
conversado desde então.
Ao chegar perto da entrada da casa dele, percebi o mesmo movimento que
vi da minha janela na noite que cheguei em Madrid. Na hora lembrei do que
Rodolfo tinha falado: — "Volte quando quiser, a porta fica sempre aberta.
É só entrar”.
Não sei se foram as inúmeras taças de vinho, a curiosidade de saber o que
aquelas pessoas faziam ali todas as sextas, ou apenas uma desculpa
esfarrapada para vê-lo novamente, só sei que subi as escadas sem pensar e
entrei na casa de tijolos vermelhos.
O corredor estava escuro, somente com pequenas luzes iluminando os
quadros. Caminhei até a entrada da cozinha e vi que tudo também estava
apagado e em completo silêncio. Certamente, Rodolfo não estava ali.
Porém, das escadas que sugeriam um andar abaixo da casa, vinha uma
música um tanto sugestiva e luzes vermelhas piscantes, dando um ar
estranho de ser uma espécie de boate.
Definitivamente, eu deveria ter virado as costas e voltado para o meu
apartamento. Afinal, ele disse que eu poderia entrar a hora que quisesse,
mas não seria nada elegante fazer isso quando o dono da casa estava dando
uma festa, para a qual eu não tinha sido convidada.
Acontece que não, eu não saí de lá. De novo minha curiosidade falou mais
alto e eu comecei a descer os degraus daquela escada um por um, devagar,
praticamente me arrastando pela parede, com se isso me impedisse de ser
vista caso alguém surgisse.
No último degrau me deparei com uma cortina feita com tiras grossas de
plástico, como aquelas de açougue. A luz vermelha estava mais forte, assim
como a música mais alta. O cheiro que vinha de dentro era uma mistura de
cigarro, vários perfumes, bebida e, por fim: sexo!
— Eu devo estar muito louca de vinho mesmo, não é possível! — Falei para
mim mesma na tentativa de me confortar da doideira que estava fazendo.
Afastei uma tira da cortina com cuidado, na esperança de conseguir entrar
sem chamar a atenção. Dei os primeiros passos e esperei meus olhos se
acostumarem com a pouca luminosidade.
Quando consegui ver melhor o que acontecia na tal “festa da sexta-feira”,
fiquei travada no lugar: algumas das tais pessoas que entravam elegantes de
sobretudo e roupa social estavam seminuas, outras, completamente nuas.
Logo ao lado direito da entrada ficava um grande bar, com bartenders
jovens, lindos, de gravata borboleta preta e sem camisa atendendo os
convidados.
Uma mulher de uns 30 anos, mais ou menos, tomava um drink azul celeste
enquanto massageava o pênis, ainda dentro da calça, do homem que parecia
ser seu namorado ou marido. Deduzi isso por conta do olhar de
cumplicidade que trocavam, assim como os beijos quentes vez ou outra.
Do nada, um homem aparentando uns 40 anos chegou perto deles, disse
algo que eu não consegui ouvir e, em seguida, colocou a mulher com as
costas no balcão, de frente para ele. O desconhecido simplesmente abaixou
as alças do vestido vermelho dela, olhou para os seios expostos, e começou
a beijá-los.
O acompanhante da mulher apenas ficou olhando a cena, enquanto ela
mantinha a mão em seu pau o tempo todo.
Poucos minutos após começarem essa brincadeira, a mulher pegou os dois
pelas mãos e os levou em direção à outra porta com cortina de açougue, que
ficava quase ao lado da que eu tinha usado para entrar. Os três sumiram por
essa entrada, dando a entender que ali havia algum espaço privado.
Somente quando deixei de acompanhar o trisal foi que consegui sair do
transe que entrei e olhar o que estava acontecendo ao meu redor. O lugar era
bem espaçoso, sugerindo ter a mesma metragem de toda a casa do Rodolfo,
que ficava logo acima.
Eram vários sofás, mesas com cadeiras, puffs e tapetes com almofadas pelo
chão. Tudo nas cores preto e vermelho, alternando entre peças revestidas de
couro e veludo. Para onde eu olhava tinham pessoas se tocando, se
beijando, se chupando, ou mesmo transando. Ora em casais, ora sozinhas,
ora em grupos.
Não sei por qual motivo aquilo tudo me hipnotizou e, ao invés de sair
correndo assustada, meu instinto me fazia entrar mais e mais e explorar o
ambiente.
Ninguém mexeu comigo enquanto eu caminhava pela sala, nem me tocou,
ou fez qualquer gracinha. Era como se eu estivesse invisível bem no meio
de uma cena de filme pornô, ou do sonho mais louco, excitante, sensual e
sexual que já tive na vida.
Segui andando cada vez mais excitada e em êxtase até olhar em direção à
parede do fundo da sala e ver um trono majestoso em uma plataforma um
nível acima do restante do lugar. Nele, estava Rodolfo.
Com uma camisa social preta totalmente desabotoada, mostrando os
gominhos perfeitos do abdômen musculoso, ele estava sentado com o
quadril um pouco jogado para frente. Com a mão direita sob queixo e a
esquerda espalmada no braço do trono, entre as pernas afastadas Rodolfo
tinham duas mulheres lindas vestidas com espartilhos e calcinhas de couro e
salto alto nos pés, chupando delicadamente seu pênis que estava para fora
da calça social também preta.
Quando me viu, em um primeiro momento ele também se espantou, mas em
questão de segundos olhou para as mulheres que não pararam o “serviço” e,
em seguida, para mim, como se estivesse me convidando para participar da
“brincadeira”.
A única coisa que consegui foi dar três passos para trás e me virar para sair
correndo de lá, antes que meus instintos e minha boceta me traíssem. Mas,
ao fazer isso, trombei violentamente contra um homem do tamanho de um
guarda-roupa, que devia ser um segurança, que com os braços cruzados na
altura do peito me disse: — “¿Necesita algo, señorita?”.
Não sei como consegui desviar dele, mas saí correndo em direção à escada.
Sem olhar para trás, corri para fora daquela casa e só parei quando já estava
dentro do elevador do meu prédio. Com certeza, o porteiro não entendeu
nada.
Só depois de apertar o botão do quinto andar, que era o meu, tomei coragem
para olhar e ver se não tinha sido seguida.
Entrei rapidamente no meu apartamento e bati a porta nas minhas costas,
lembrando de virar as chaves para garantir que estava trancada e segura ali
dentro. Parecia que era a primeira vez que respirava desde o momento em
que vi Rodolfo naquele trono.
Puxei o ar com força, aproveitando para tentar colocar todos os meus
sentidos em seus devidos lugares. Chacoalhei a cabeça para ver se afastava
da minha mente todas aquelas cenas, especialmente a dele tão sexy sendo
chupado daquele jeito.
Minha cabeça estava confusa e latejando. — Não vou pensar nisso. Não
posso pensar nisso. Não quero pensar nisso. — Repetia em voz alta
enquanto tirava a roupa e preparava a água para entrar em um merecido
banho.
Tudo estava tão misturado nos meus pensamentos que fiquei extremamente
exausta. Literalmente, caí na cama assim que saí do banheiro e peguei no
sono daquele jeito mesmo, só enrolada na toalha.

Acordei um tempo depois com frio e a sensação de que alguém me olhava.


Abri os olhos lentamente, percebi que a toalha havia caído, e quase infartei
quando vi a silhueta de uma pessoa sentada na poltrona que ficava em
frente a minha cama.
Rapidamente sentei, puxei o edredom para me cobrir, acendi a luz da
cabeceira, e vi que a tal figura era Rodolfo.
— Como conseguiu entrar aqui? — Falei extremamente irritada tanto por
ele ter invadido meu quarto no meio da noite quanto por ter ficado, sabe
Deus quanto tempo, me olhando dormir nua.
— Tem várias coisas que você ainda não sabe sobre mim, e uma delas é que
eu sou dono deste prédio e, por consequência, deste apartamento. Por isso,
entro e saio daqui sem problemas, a hora que eu quero.
— E você costuma invadir os apartamentos das outras inquilinas enquanto
elas dormem também? — Perguntei ainda mais nervosa.
— Não, só quando uma delas invade o porão da minha casa primeiro. —
Rodolfo respondeu com um sorrisinho sacana nos lábios.
Ok! Errado ele não estava sobre eu ter entrado naquela “festa” sem convite.
Mas nada justificava ele ter ido até meu quarto, no meio da noite, também
sem ser convidado.
— Está certo, eu realmente não deveria ter entrado na sua casa daquele
jeito, ainda mais “naquele” ambiente — Ressaltei. — Mas isso não é
motivo para você estar aqui — Olhei para o celular — Às três da manhã!
Levantando da cadeira e vindo na minha direção, Rodolfo colocou as mãos
sobre a cama e começou a engatinhar sobre ela. Chegando cada vez mais
perto de mim, como uma fera prestes a atacar uma presa, ele disse: — Eu
precisava sim vir aqui o mais rápido possível, porque o que você presenciou
lá é para poucos, pouquíssimos. E eu preciso garantir que você não vai sair
por aí contando o que viu para todo mundo.
Seu tom era ameaçador, mas extremamente sexy, apesar disso não me
intimidei. Ao contrário, fui atrevida o suficiente para perguntar, quando ele
já estava com o corpo inteiro sobre mim.
— E se eu contar sobre a sua “seita sexual secreta”, vai fazer o que comigo?
— Bem, na verdade, serei obrigado a te matar, brasileira.
Meus olhos quase pularam para fora do meu rosto, tamanho meu medo e
espanto. Sem pensar nas consequências, comecei a me debater como uma
louca na cama, com Rodolfo sobre mim, em uma tentativa frustrada de sair
dali correndo e para pedir ajuda.
Como resposta, ele me segurou pelos punhos, prendendo os dois juntos
sobre a minha cabeça, com apenas uma das suas mãos. Com a outra, ela
tampou minha boca assim que eu comecei a gritar.
O problema era que a minha tentativa de fuga fez com que o edredom saísse
de cima do meu corpo, me deixando com os seios totalmente à mostra.
Rodolfo olhou para eles como quem via o prato de comida mais delicioso
do mundo à sua frente. Confesso que quase dava para vê-lo salivar. Aquilo
me constrangeu, e comecei a puxar meus braços com toda a força que tinha
para tentar me cobrir.
Por outro lado, aquele olhar teve reflexo direto na minha parte de baixo, que
estava molhada e pulsando com aquele homem lindo e misterioso em cima
de mim, visivelmente me desejando.
— Você não quer acordar os vizinhos, não é mesmo? Pode ficar calma, eu
falei que teria que te matar, mas não disse como. Mas, quando descobrir,
pode até ser que você goste. — Rodolfo disse enquanto encarava com
visível tesão meus seios.
Voltando o olhar para os meus olhos, ele continuou: — Agora vou soltar
você, e te contar o que precisa saber. Mas antes, prometa que ficará
quietinha. — Concordei com a cabeça, afinal, a curiosidade era meu ponto
fraco e eu queria muito descobrir o que acontecia naquela casa.
Rodolfo tirou a mão que cobria minha boca, soltou meus punhos, e ainda
sobre mim, com cada uma das suas coxas musculosas em volta do meu
quadril, ele olhou para os meus seios mais uma vez, enquanto subia o
edredom lentamente para me cobrir.
Ao se levantar, foi até o cabideiro preso na parede ao lado da porta, pegou
meu roupão e jogou sobre a cama. — Veste isso. É impossível falar sobre
qualquer coisa com você desse jeito.
Aproveitei que ele virou de costas, levantei para vestir o roupão e me
permiti dar uma risadinha. Apesar da tensão dos últimos minutos, não
deixava de ser uma situação engraçada, e muito excitante.
Capítulo 4
Tenho medo de tudo que eu sou.
Minha mente parece uma terra estrangeira.
O silêncio ressoa dentro da minha cabeça.
Por favor, me leve, me leve, me leve para casa
Arcade | Duncan Laurence

Sofia Venturini

F
ui até a cozinha, busquei uma garrafa de vinho, duas taças e fiz sinal
com a cabeça para Rodolfo me seguir até a sala.
Sentamos no sofá, coloquei as taças sobre a mesinha de centro, servi a
bebida para nós dois e peguei meu celular que estava lá para colocar minha
playlist favorita.
"Você realmente pensou que eu apenas perdoaria e esqueceria? Não!
Depois de pegar você com ela, seu sangue deve correr tão frio, tão frio" —
Achei a música que começou tocar perfeita pela raiva e pelo susto que ele
tinha me feito passar minutos antes.
— Ok, estou pronta. O que você tem a dizer sobre aquela “festinha”? —
Disse fazendo sinal de aspas no ar com os dedos.
— Bom, Sofia, vou direto ao assunto. Eu não sei nada sobre você, muito
menos sobre sua vida sexual. Mas desde que te vi na porta da minha casa,
tive a sensação que você esconde algo sobre esse assunto. — Ouvir aquilo
fez o vinho descer atravessado pela minha garganta, e eu tossi várias e
várias vezes seguidas.
— Oi, calma, respira. Você está bem?
— Sim, estou bem. Só tomei o vinho rápido demais. — Respondi com o
rosto vermelho, tentando retomar o ar e disfarçar o quanto aquela
observação tinha me afetado. — Pode continuar.
— Então, por conta desse meu achismo, algo me diz que o que eu vou
contar agora pode não abalar tanto você.
— Caramba, fala logo. É algum tipo de ritual macabro? Vocês entregam
vidas humanas em sacrifício? — Falei em tom de deboche porque já estava
irritada com aquela enrolação.
— Não, Sofia. Definitivamente não. Não fazemos mal a ninguém, e tudo o
que acontece ali é são, seguro e consensual.
— Isso me parece tão BDSM… — Falei baixo para mim mesma enquanto
colocava um pouco mais de vinho na minha taça, achando que ele não ia me
ouvir.
— Não necessariamente, Sofia. — Rodolfo respondeu me fazendo olhar
rápido de volta para ele, assustada e, até mesmo, um pouco envergonhada.
— Você supor isso é uma prova de que eu estava certo a seu respeito, mas
ainda não é o momento de falarmos sobre isso. Deixa eu te explicar sobre a
Dark House.
“É difícil precisar quando a Dark House surgiu, porque há muitos e muitos
séculos ela passa de Mestre em Mestre. Eu mesmo assumi a sociedade aqui
da Espanha há cinco anos, quando minha Mestra resolveu 'se aposentar'
após concluir que eu estava pronto. Mas como dark, que é como chamamos
os aceitos, eu já estava lá quatro anos antes de tomar meu lugar no trono.
A proposta da DH não é sexo por sexo. Isso, qualquer pessoa, de qualquer
gênero, encontra fácil por aí. Lá, a ideia é a estruturação de um ambiente
absolutamente seguro, no qual as pessoas podem realizar todas as fantasias
que têm e viver os prazeres que seus corpos desejam, desde que isso não
afete psicológica, emocional ou fisicamente ninguém.
Infelizmente, vivemos em uma sociedade que, por mais moderna que seja
atualmente, ainda é muito limitada e extremamente preconceituosa. Muito
disso foi imposto por pessoas que, na verdade, criaram essas barreiras para
camuflar seus próprios desejos sexuais, por achá-los errados, sujos ou
mesmo pecaminosos.
Minha Mestra dizia que os primeiros darks acreditavam que, na nossa
época, não precisaríamos mais viver escondidos em porões para as fazer os
encontros. Mas, como você mesma pôde ver, isso não aconteceu.”
Rodolfo deu uma pausa enquanto colocava mais vinho em sua taça, na
maior tranquilidade do mundo.
Eu, por outro lado, estava com a cabeça dando mil voltas. Precisava,
desesperadamente, entender direito toda essa história de Mestre e Mestra,
de trono, sobre o que é ser um dark, ou melhor, como se tornar uma dark.
Porque, possivelmente, aquilo era tudo o que eu tinha buscado a minha vida
inteira, e ainda não tinha encontrado.
Já surtando com a pausa de Rodolfo fui obrigada a perguntar: — Tá, mas
como vocês escolhem os darks? Qualquer um pode entrar? Paga? Tem
regras? Me fala! — Disse quase pegando ele pelo colarinho da camisa e
gritando. Rodolfo deu uma alta e gostosa risada, o que me deixou até meio
constrangida, porque me senti como uma criança curiosa enchendo o pai de
perguntas.
— É, meu faro de Mestre Dark não falha. — Respondeu depois de tomar
mais um gole de vinho e dar a sua risadinha sacana “de canto de boca”.
— Bom, brasileira, não, não é qualquer pessoa que se torna um dark. E isso
não tem nada a ver com dinheiro, posição ou classe social, tem a ver com o
real interesse pela nossa comunidade e, principalmente, com a garantia de
sigilo sobre as identidades dos frequentadores e frequentadoras.
“Por conta disso, eu, enquanto Mestre, preciso garantir que a pessoa
interessada em entrar não esteja fazendo isso apenas por curiosidade ou
'fogo no rabo' . Que não vá a uma ou duas festas, mate o desejo, e não volte
mais.
Quem é dark tem uma predisposição para viver esse mundo que flui
naturalmente. O dark side de quem é aceito na nossa sociedade é altamente
aguçado e nunca fica satisfeito. Sempre fica a sensação de querer mais e
mais e mais.
Meu papel também é controlar esses instintos e evitar que os desejos e
realizações saiam do controle e machuquem alguém. Se eu falhar e deixar
que isso aconteça, posso ser drasticamente punido pelo Conselho Maior.”
— Existe um Conselho Maior? — Questionei, me segurando para não
perguntar de novo qual era o critério para se tornar uma dark.
— Sim. A Dark House não é, nem nunca foi, terra de ninguém. Existem
DHs em diversos países pelo mundo, e todas são obrigadas a seguir os
mesmos padrões, que são extremamente rígidos.
“Essa foi a forma encontrada para dar mais segurança a todos e para
facilitar a migração dos darks entre uma casa e outra, já que muitos são
pessoas poderosas e influentes que fazem viagens internacionais o tempo
todo, mas que não abrem mão de satisfazer seus prazeres, não importa onde
estejam.”
Após essa fala de Rodolfo, outra música começou a tocar "Tenho medo de
tudo que eu sou. Minha mente parece uma terra estrangeira, O silêncio
ressoa dentro da minha cabeça. Por favor, me leve, me leve, me leve para
casa", e não sei por qual motivo, ficamos alguns instantes em silêncio
apenas ouvindo-a e tomando vinho.
Eu simplesmente não sabia o que dizer depois de descobrir que realmente
existe uma grande “sociedade secreta sexual”, formada por pessoas
cuidadosamente escolhidas, muitas conhecidas publicamente, para
satisfazer suas vontades mais loucas.
Outro ponto que eu precisava assimilar, ou melhor, ser sincera comigo
mesma, era assumir, intimamente, que o conceito da Dark House podia até
ser uma ideia meio maluca, mas que, muitas vezes, eu já tive.
Eu, que sempre lutei contra os meus demônios, e me dei muito mal no
passado por causa deles, estava vendo na minha frente uma oportunidade
única de realizar meus desejos mais secretos.
A questão era que eu ainda não podia falar isso para Rodolfo, especialmente
sem antes ter certeza se aquela história era real e segura mesmo.
Além disso, o impacto dos últimos acontecimentos ainda me assombravam
e eu precisava resolvê-los na minha mente, no meu coração e,
principalmente, no meu corpo, antes de seguir adiante ou tentar qualquer
experiência nesse sentido.
Por outro lado, eu estava longe de casa, de conhecidos e daquele monstro.
Podia ser quem eu quisesse, da forma que eu preferisse, sem ameaças,
agressões ou apontamentos.
Quando me virei para Rodolfo para continuar a conversa ele olhou no
relógio e disse — Está tarde, preciso ir. Bom, na verdade, está cedo. Já são
quase 6 da manhã e logo meu dia de trabalho começa.
— Mas… Eu tenho perguntas. Muitas, aliás — Respondi enquanto o via
levantar do sofá, dar um último gole no vinho, colocar a taça sobre a mesa e
andar em direção à porta.
— Eu imaginei que tivesse, mas acho que, por hora, você já tem informação
demais para assimilar. Porém, é nítido que você não vai sossegar até
descobrir tudo. Por isso, vamos jantar hoje à noite para conversarmos mais.
Pego você às 21 horas, esteja pronta. Quem sabe damos os primeiros passos
rumo à sua iniciação.
Fiquei paralisada olhando para ele que, naquele momento, já estava
caminhando em direção à porta para sair. Como assim “dar os primeiros
passos rumo à minha iniciação”? Eu não havia dito nada. Será que estava
tão visível assim meu segredo? A única coisa que consegui responder foi
um sim contido com a cabeça enquanto acompanhava Rodolfo sair do meu
apartamento dizendo: — 21 horas, brasileira. Não se atrase!
Capítulo 5
Dor, você me fez, você me fez acreditar, acreditar
Dor, você me destrói e me reconstrói, eu acredito, acredito
Dor, deixe as balas voarem, oh, deixe-as chover
Minha vida, meu amor, minha motivação, eles vieram da
dor!
Believer | Imagine Dragons

Sofia Venturini
— M aldita curiosidade — Pensei enquanto escolhia qual roupa
poderia usar para o jantar com o Rodolfo mais tarde.
Era sábado e eu estava com meu dia livre. Como a madrugada tinha sido
bastante agitada, havia me permitido dormir até um pouco mais tarde, e já
eram quase 11 horas quando levantei para ver o que tinha no guarda-roupa
que seria aproveitável para aquela noite.
— Bom, um pretinho básico nunca falha! — Falei para mim mesma ao
separar um vestido midi com uma fenda generosa sobre a coxa esquerda,
um casaco trench da mesma cor, e um scarpin vermelho para quebrar a
monotonia do look. No final, vi que ficaria bem parecida com as mulheres
que frequentavam a casa do Rodolfo às sextas-feiras, mas deixei para lá.
Enquanto pensava no cabelo e na maquiagem, uma notificação no celular
me tirou dos meus pensamentos. — Meu Deus, não! De novo não! — Gritei
enquanto sentia as lágrimas escorrerem sem conseguir controlá-las.
Quando fui para Madrid, tomei cuidado de não contar para ninguém, exceto
para os meus pais, para onde estava indo e quanto tempo ficaria. Os amigos
e amigas mais próximos achavam que eu tinha tirado um ano sabático e
estava viajando pelo mundo, sem destino, para me recuperar de tudo o que
tinha me acontecido.
Para esse meu plano dar certo, deixei de postar nas minhas redes sociais, e
as coloquei como privadas para garantir que uma certa pessoa não me
incomodaria.
O problema era que eu não tinha como bloqueá-lo no e-mail e evitar que me
mandasse algo. E foi justamente isso que ele fez, mesmo depois de todo
sofrimento e dor que tinha me causado durante os últimos cinco anos.
Yan: Oi, minha princesinha. Espero que esteja bem. Passando para dizer
que sinto sua falta e lamento muito ter reagido daquela forma. Me liga,
vamos conversar. Você é tudo para mim e sei que também sou tudo para
você. Nós pertencemos um ao outro e nada vai mudar isso, nem a distância.
Me diga onde está, vou até o inferno por você. Para sempre seu namorado.
O clone do demônio estava de volta!

Yan e eu nos conhecemos na escola. Na época, eu tinha 16 e ele 17 anos.


Estudávamos na mesma sala, tínhamos o mesmo grupo de amigos e, por
isso, frequentávamos praticamente os mesmos lugares.
Durante a adolescência ficamos algumas vezes, mas nada sério. Só
queríamos curtir, e como um gostava muito da companhia do outro, era um
prato cheio.
Quando fomos para a faculdade nos distanciamos, mas acabamos nos
reencontrando anos depois, por acaso, em uma balada. Eu já estava com 24
e ele 25 anos e foi a partir desse dia que o namoro deslanchou.
Yan Meyer era a personificação de genro perfeito para qualquer mãe.
Extremamente bonito e educado, até demais na frente dos mais velhos, ele
vinha de família rica e com costumes rígidos e tradicionais. Uma dessas
regras inflexíveis era que tanto ele quanto os outros dois irmãos, um mais
velho e um mais novo, precisavam da aprovação dos pais para namorar.
Antes de anunciar publicamente o namoro, a menina tinha que ser
apresentada a toda a família para decidirem se a escolhida era "moça
decente" ou não, e se estava apta para entrar naquele grupo familiar estilo
comercial de margarina.
Minha família não tinha tanto poder aquisitivo quanto a de Yan, mas eu
estudava na mesma escola que ele porque o banco em que meu pai
trabalhou a vida inteira pagava os estudos dos filhos dos profissionais que
ocupavam cargos elevados. Por isso, apesar de ser bolsista, esse era um
ponto positivo para mim perante seu pai e sua mãe. Afinal, para eles, o que
importava era a educação da pessoa, e não como ela pagou para conseguir
isso.
Ainda assim, no fundo eu sabia que as chances de estar me metendo em
uma roubada eram grandes ao começar a namorar com ele e, por tabela, ter
que conviver com sua família e jantares infinitos com diversos talheres
sobre a mesa, sendo que eu, definitivamente, preferia a lasanha da minha
mãe em refeições simples, mas cheias de amor, em frente à televisão.
O problema foi que eu não resisti àqueles olhos verdes que compunham um
rosto perfeito, quase angelical, mas ao mesmo tempo absurdamente
másculo e muito, muito sexy.
O dinheiro da família contribuía para Yan ter os melhores cuidados
possíveis com a saúde e com a beleza. Além disso, trabalhar na empresa
fundada pelo pai garantia a ele horários flexíveis que eram ocupados com
horas e mais horas na academia.
Apesar de tudo isso, com o tempo descobri que, o que ele despendeu em
cuidado com o corpo e com a aparência, faltou em cuidado com a mente.

Como todo começo de namoro, o meu com Yan foi perfeito. Jantares,
viagens, festas, eventos… Éramos o exemplo de casal feliz e apaixonado
em todos os lugares que íamos juntos.
Hoje, vejo que meu maior erro foi, aos 16 anos, ter perdido a virgindade
com ele no dia em que matamos aula para assistir um filme no apartamento
milionário dos Meyer. Nada mais clichê!
A primeira vez não foi nada demais. Na verdade, eu diria que foi
exatamente isso: nada. A única coisa física que senti foi dor.
Emocionalmente, é claro, me apaixonei por ele. Mas sabia que, naquele
momento, não seríamos mais nada do que “amigos com privilégios”.
Yan era o cara que todas as meninas queriam namorar e o que todos os
meninos queriam ter como amigo. Era o popular da escola, o mais bonito e
o mais cobiçado, em todos os sentidos.
Eu apenas tive a sorte (pelo menos achava que era sorte) de ser a amiga
mais próxima, e nunca tinha entendido o motivo de ele ter me escolhido
para ocupar esse lugar em sua vida, até anos depois, quando nos
reencontramos e começamos a realmente namorar.
A questão é que, nesse intervalo de quase oito anos, eu conheci outros
rapazes, tive outros namorados e rolos, e descobri que minha sexualidade ia
além do que eu havia experimentado na sala de cinema do apartamento dos
pais de Yan.
Na verdade, ia muito, mas muito além do conceito de “adequado e aceito”
que a família Meyer tinha colocado na cabeça dele como sendo o certo. E
isso acabou virando uma conta altíssima que eu paguei, a prazo, durante os
cinco anos que namoramos. Uma dessas parcelas teve a ver com o fato de
eu ler muitos livros no estilo hot romance, que me levaram a querer
entender mais sobre as práticas do BDSM.

Eu já morava sozinha quando voltei a namorar Yan. Um dia, combinamos


de fazer o esquenta no meu apartamento antes da festa de aniversário de um
dos nossos amigos em comum.
— Princesa, vou atrasar um pouco. Meu pai me prendeu em uma reunião
chata aqui. Desculpe. — Dizia a mensagem de texto dele. Como já estava
pronta, peguei uma taça de vinho, o livro que estava lendo, e fui para a
varanda matar o tempo até Yan chegar.
O livro era mais um do estilo hot romance que eu tanto gostava, e contava a
história de uma moça que foi trabalhar como babá para os filhos de um
viúvo ricaço que, no final, se tornava submissa dele.
“Richard pediu para eu me ajoelhar de frente para ele. — Coloque as mãos
para trás e abra a boca. — Ele disse, sentado na beirada da cama que
estava coberta com um fino lençol de cetim vermelho.
Obedeci e recebi a mordaça gancho entre meus lábios sem expressar
absolutamente nada. Sabia que o Mestre não tolerava nenhuma reação sem
sua clara autorização.
— Vire de costas. — Continuou. Virei sem soltar as mãos e senti ele
amarrar meus punhos com a corda preta que antes estava no chão do
quarto.
Em seguida, ele prendeu a parte superior do gancho anal nela e disse: —
Vou colocá-lo em você agora. Não quero que se mexa ou que emita
qualquer gemido, entendeu? — Fiz que sim com a cabeça e, logo em
seguida, senti o metal frio e lubrificado entrando no meu corpo sem pedir
licença.
Não sei se o mais excitante era estar com aquele acessório dentro de mim,
sabendo que qualquer movimento que fizesse com o corpo ele se moveria
também, ou se era não poder gemer quando queria gritar.
Richard se levantou da cama e, sem nenhuma pressa, pegou o vibrador que
estava sobre a cama e veio na minha direção. Lentamente ele se abaixou na
minha frente, e sem tirar os olhos dos meus, posicionou o aparelho sobre
meu clitóris.
— Não grite, não gema e não expresse nenhum som. Absorva todo seu
orgasmo em silêncio, sem se movimentar ou fechar os olhos, entendeu? Se
descumprir uma dessas regras, serei obrigado a punir você.
Com o olhar fixo no meu, Richard ligou o vibrador, dando início à minha
primeira sessão de tortura da noite."
Estava tão envolvida com essa parte do livro que pulei da rede em que
estava quando a campainha tocou, indicando que meu namorado havia
chegado.
Coloquei o marcador na página em que estava, deixei o livro sobre a
bancada que dividia a sala da cozinha, e fui abrir a porta da sala.
— Oi, princesa! Acho que está na hora de você me dar uma chave do seu
apartamento — Yan disse enquanto me abraçava.
— Hum, vou pensar no seu caso. Me dá só um minutinho que vou retocar o
batom e já saímos — Falei indo em direção ao banheiro enquanto meu
namorado se servia sozinho de um pouco de vinho.
— Vamos, estou pronta. — Avisei assim que voltei, poucos minutos depois.
Porém, notei que a cara de Yan não era das melhores.
— Que tipo de livro é esse que você está lendo?
— Um tipo de livro que eu gosto, simples assim.
— Um tipo de livro totalmente inadequado para uma mulher que tem
namorado, como você!
— Ai, Yan, sem essa de falso moralismo agora. Vamos que já estamos
atrasados — Respondi ao mesmo tempo em que abria a porta da sala e fiz
sinal com a cabeça para ele sair.
Daquele momento em diante a noite foi completamente diferente do que
costumava ser. Aquele cara alegre e simpático de todas as festas deu lugar a
um homem de semblante fechado, com ar de poucos amigos e me
supervisionando a cada passo que eu dava.
— O que você tem? — Perguntei meio que já sabendo a resposta.
— Nada, só um pouco de dor de cabeça. O dia de hoje foi complicado. —
Ele respondeu, mas não me convenceu. Eu já o conhecia há uns bons anos
para saber que ele nunca tinha dores de cabeça devido a problemas na
empresa. Ainda assim, arrisquei: — Você vai dormir lá em casa, né?
— É, vamos ver até o fim da noite. Mas acho que sim.
Continuamos na festa, mas tão logo o parabéns foi cantado e o bolo cortado,
saímos de fininho sem nos despedirmos de ninguém. E assim foi todo o
trajeto até meu apartamento: Yan dirigindo quieto, e eu do mesmo jeito ao
lado dele.
Para minha surpresa, tão logo subimos pelo elevador e abri a porta do meu
apartamento, ele me empurrou contra a parede e começou a me beijar. O
sexo com ele não era ruim, mas, digamos que era o básico necessário para
ele gozar e, às vezes, com muita, mas muita sorte, eu gozar também.
A culpa disso era do pai dele, que tinha um conceito muito enraizado de que
existia mulher para casar e mulher para trepar, e passou essa percepção para
ele e os irmãos a vida inteira. Como eu era a namorada assumida, nossas
transas tinham que ser bem no estilo "papai e mamãe".
Mas, naquela noite, algo estava muito diferente no comportamento de Yan,
e não dava para falar que era efeito do álcool, porque fora o gole de vinho
que tinha dado na minha casa antes da festa, ele não havia bebido mais
nada.
Prensada contra a parede e com o peso do corpo de Yan me impedindo de
sair, só ouvi o barulho do meu vestido rasgando.
Com as duas mãos, uma de cada lado do meu decote, ele simplesmente
partiu a roupa que eu estava usando ao meio.
— O que você está fazendo? — Gritei, tentando empurrá-lo para longe de
mim enquanto cobria meus seios com as mãos, já que eu estava sem sutiã
por baixo.
— Não é disso que você gosta, sua vagabunda?
— Como é que é? Do que você está falando? Está louco Yan?
— Eu li um trecho daquele seu livrinho imundo. É daquilo que você gosta?
Então eu vou te dar o que você quer, sua cadela.
Só senti a mão dele contra o meu rosto, o barulho do tapa forte próximo ao
meu ouvido, e meu corpo caindo no chão ao perder o equilíbrio.

— Não, de novo não — Era só o que falava baixinho enquanto as


lembranças corriam soltas pela minha mente ao ler aquele maldito e-mail.
— Dessa vez não! Ele não vai atrapalhar minha vida novamente, não vai!
Fechei a tela, joguei o celular sobre a cama, enxuguei as lágrimas e fui para
o banheiro hidratar o cabelo. Precisava me arrumar para o jantar com
Rodolfo mais tarde, e lidar com o clone de demônio não estava na minha
programação daquele dia.
Capítulo 6
Toda essa conversa e você simplesmente não consegue passar
Disse que você poderia me satisfazer
Sentado ao volante, mas você não pode me levar
Consegue acompanhar?
Garotinho, me faça perder o fôlego
Traga o barulho, me faça perder o fôlego
Lose my breath | Rhea Robertson

Sofia Venturini

C
abelo ok. Maquiagem ok. Sapatos ok. Vestido ok. Lingerie ok
também. Afinal, nunca se sabe como uma noite de sábado pode
acabar.
Olhei para o relógio do celular: 20h59 — Logo ele deve chegar. — Pensei.
Mas antes mesmo de concluir esse pensamento, a campainha tocou.
— Pontual, gostei! Mas não posso deixar de comentar que hoje você bateu
antes de entrar. Que interessante! — Debochei de Rodolfo enquanto abria a
porta e dava espaço para ele passar.
— Veremos até quando você fará piadinhas, brasileira! — Ele respondeu
com um ar sério e um sorriso perverso de canto de boca.
Engoli seco enquanto um arrepio estranho percorreu todo meu corpo. Mas o
que me impactou mesmo foi quando me virei e pude olhar Rodolfo mais
detalhadamente.
Já tinha ficado claro para mim que a roupa social de tons escuros era sua
marca registrada, mas a que ele usava naquela noite tinha um toque
especial, diferente.
O casaco chesterfield em tweed era de um cinza chumbo bem fechado,
quase preto, que o deixava parecido com aqueles chefões da máfia que
vemos em filmes, ou mesmo com um poderoso vampiro.
Fiquei parada um tempo sem conseguir me mexer, nem mesmo disfarçar
que estava completamente hipnotizada.
— Você também está muito bonita, Sofia — Ele disse, me trazendo de volta
para a realidade.
— Ah, obrigada! Podemos ir se você quiser — Foi o máximo que saiu da
minha boca naquele momento.

Da hora que saímos do meu apartamento, e durante todo o trajeto de carro


até o local que ele havia escolhido, conversamos sobre temas neutros: como
era Madrid, a diferença do clima com o do Brasil, a cultura, os costumes
etc.
Ao parar na porta do restaurante, já pude notar que era um lugar
extremamente fino e caro. Rodolfo desceu primeiro, deu a volta no carro,
abriu a porta para mim e estendeu a mão para me ajudar a descer.
Assim que fiquei em pé fora do veículo, ele colocou a mão nas minhas
costas, na altura da cintura, e me direcionou para dentro do
estabelecimento.
— Boa noite, Dom Rodolfo. Sua mesa já está preparada — Disse a
recepcionista que mais parecia uma daquelas modelos internacionais que eu
via nas semanas de moda que costumava acompanhar.
Com apenas um aceno positivo com a cabeça, Rodolfo entrou no recinto e
continuou a me guiar rumo à mesa que ficava no segundo andar do
restaurante, estrategicamente posicionada em um canto isolado, ao lado de
grandes paredes de vidro que davam para uma vista linda da noite
madrilena.
— Tem algo que não gosta de comer, Sofia?
— Creio que não. Como de tudo e também gosto de provar sabores novos.
— Muito bom saber disso. Me permita sugerir o prato de hoje então?
— Claro, fique à vontade.
Para a entrada ele pediu um gazpacho, e como prato principal algo feito
com jamón e batatas, que não me atentei ao nome, mas parecia ser muito
bom. Dispensamos a sobremesa, e o vinho foi indicação do garçom,
devidamente aprovado por Rodolfo.
— Acho que podemos começar nossa conversa até a comida chegar. Tudo
bem para você, Sofia?
— Sim, claro! — Minha curiosidade naquela hora para saber mais sobre a
Dark House era mil vezes maior que minha fome.

— Por que ontem você achou que a DH tinha algo a ver com BDSM? O
que você sabe sobre isso, brasileira? — Ele foi direto ao ponto, me fazendo
engasgar de novo com o vinho — Nossa, parece que esse assunto é um
tanto delicado para você — completou.
— Bem, na verdade sim e não. — Achei melhor começar a abrir o jogo, já
que estávamos ali justamente para isso — Não posso dizer que tenho
experiência com BDSM, mas tenho muita curiosidade nesse conceito e em
outros relacionados. O que sei são as coisas que vejo nos livros de hot
romance que costumo ler, e algumas loucuras que crio na minha cabeça.
— Bom, Sofia, tenho uma notícia boa e uma ruim para dar a você sobre
isso. Vou começar pela ruim. Te garanto que o que você lê nesses livros não
chega nem aos pés do que acontece na Dark House ou em uma sessão de
BDSM — Meus olhos se arregalaram ao ouvir isso, pois muito do que eu
lia era um tanto, digamos, forte para sair das páginas de um livro e se tornar
realidade. E agora fico sabendo que existia mais do que aquilo?
— A boa notícia, que na verdade é ótima para mim, é o fato de você
fantasiar sobre o assunto. Isso é sinal de que a primeira barreira, que inclui
medo e preconceito, você já quebrou sozinha. Dito isso, acho que sua
curiosidade e intenção já me permitem ir para os próximos passos.
Tentei abrir a boca para perguntar quais eram os próximos passos, mas o
garçom chegou com a entrada, interrompendo temporariamente nossa
conversa. Tão logo ele se retirou, Rodolfo deu a primeira colherada no
gaspacho, e eu fiz o mesmo.
O sabor realmente era delicioso, mas meu interesse pela DH ainda era
maior do que pela comida. Para minha sorte, Rodolfo continuou a conversa
sem que eu precisasse perguntar nada.
— De tudo o que você viu na Dark House quando a invadiu. — E deu um
sorriso sarcástico para enfatizar a palavra — O que mais chamou sua
atenção? O que deu medo ou repulsa? O que você faria ou não faria?
Dando mais uma colherada no jantar, pensei que aquela era a hora do tudo
ou nada. Com certeza, a resposta que eu desse naquele momento ditaria
todo o restante da conversa.
Em segundos um filme passou pela minha cabeça: todas as cenas quentes
que eu li e tinha vontade de reproduzir; o fato de estar um outro país, longe
de todos que me conheciam, o que me permitia ser quem eu quisesse; mas
também lembrei de todos os momentos difíceis, traumatizantes e cruéis que
tive com Yan por conta dos meus desejos, antes secretos.
Eu só tinha duas opções naquele instante: arriscar entrar no jogo de
Rodolfo, mesmo sem conhecê-lo, e me permitir ser quem eu sempre quis,
mas escondi; ou seguir em frente com meus planos, fazer minha pós, tentar
um emprego em Madrid e continuar me virando com meu vibrador, livros e
filmes. Obviamente, a primeira opção era mais a minha cara.
— Olha, você não me conhece, o que pode ser bom ou ruim também,
porque isso pode me ajudar na resposta que darei agora, ou deixará você
assustado por saber o que eu realmente quero. — Comecei a explicar.
— Sofia, garanto que nada, absolutamente nada do que você me disser vai
me assustar ou fazer eu te julgar. Meus anos como dark, e agora como
Mestre, me permitiram presenciar desejos que são inconcebíveis para a
maioria das pessoas.
Ouvir aquilo só me deu mais certeza da decisão que tinha tomado e do
quanto os próximos passos tinham tudo para ser o que eu busquei por boa
parte da minha vida, mas ainda não havia encontrado. Por isso, respirei
fundo e completei: — Não tem nada do que eu vi naquela noite que eu não
gostaria de fazer ou que me desse medo, repulsa, ou qualquer outro
sentimento ruim. Na verdade, em algum lugar dentro de mim, eu sempre
imaginei que um lugar como aquele existia, e até achava que, um dia, o
encontraria, por mais louco que esse pensamento fosse.
Rodolfo ficou quieto por alguns segundos, apenas me olhando nos olhos,
com os cotovelos apoiados na mesa e as mãos sob o queixo. Confesso que
aquela situação era um tanto incômoda, mas eu não ia ceder, não desviaria o
meu olhar do dele antes de ele fazer isso.
Aqueles pareceram os segundos mais longos da minha vida. Parecia que
todo o restaurante à nossa volta havia sumido. Madrid, ou melhor, o mundo
inteiro, se resumiu a nós dois naquele instante, sentados um de frente para
outro, como se mais nada existisse.
Uma sensação inexplicável percorreu todo o meu corpo, de cima para
baixo, voltando de baixo para cima. Algo me dizia que, naquele momento,
eu estava selando meu destino ao de Rodolfo, e que algo mais forte do que
eu tinha conhecido ou sentido até então estava nos unindo para sempre.
O momento foi quebrado com ele, mais sério do que o normal, dizendo: —
Minha Mestra sempre me dizia que existem muitas pessoas por aí que
sabem da existência da Dark House, mesmo nunca tendo ouvido falar sobre.
Ela contava que são darks que, praticamente, nascem prontos, que sentem a
existência da comunidade e são atraídos por ela. Tanto que, em um certo
momento de suas vidas, o destino se encarrega de levá-los até alguém que
abra as portas para entrarem. Mas eu nunca imaginei que conheceria uma
pessoa assim, até ver você na porta da minha casa e ter a intuição de que era
um desses indivíduos. E agora, você dizendo que sempre imaginou um
lugar com a DH, mesmo sem qualquer referência, só comprovou o meu
achismo. Bem-vinda ao lar, Dark Sofia!
Não consegui dizer nada. Continuei olhando para Rodolfo mesmo depois de
ele ter quebrado contato visual para dar atenção ao garçom, que havia
chegado para retirar a entrada e servir o prato principal. — Nossa, isso está
com uma cara ótima. Coma, brasileira, tenho certeza de que você vai gostar.
Rodolfo começou a comer como se não tivesse jogado uma bomba sobre
mim. Eu tentei dar algumas garfadas, mas parecia que um nó tinha se
formado na minha garganta e a comida não descia, por mais deliciosa que
estivesse.
Quando pensei em retomar o assunto, um homem aparentando uns 70 anos
veio até nossa mesa, me olhou de cima a baixo de uma maneira muito
estranha e, em seguida, cumprimentou Rodolfo em espanhol, que eu pude
entender perfeitamente, apesar do sotaque italiano um tanto carregado.
— Boa noite, Dom Rodolfo. Ótimo dia para trazer uma linda dama para
jantar, não? Espero que sua tranquilidade seja decorrente do fato de ter
pensado na minha proposta.
— Senhor, esta é Sofia Venturini, minha nova discípula. Sofia, este é
Mastrinni Salvatore, atual presidente do Conselho Maior da Dark House.
Não sei quem estava mais chocado com aquela apresentação, se eu por ter
sido nomeada discípula do Dom da DH sem ao menos ter sido questionada
sobre isso, ou se o tal do Mastrinni por saber que Rodolfo tinha uma
discípula.
— Bem, pelo visto sua decisão está seguindo um caminho oposto ao que eu
sugeri. Mas espero, fortemente, que você se lembre dos detalhes
importantes de tudo isso e mude sua rota em alguns dias. Ainda há tempo
para isso. — O velho me cumprimentou apenas com um aceno de cabeça,
fez o mesmo com Rodolfo, e saiu se apoiando em sua bengala que, apesar
de entregar a idade e a saúde visivelmente debilitada, dava a ele um ar de
homem extremamente poderoso, o que combinava muito bem com terno
preto risca de giz de corte tradicional que usava.
Segui o homem até vê-lo pegar o elevador que o levaria para o andar de
baixo do restaurante, onde ficava a saída, e imediatamente voltei os olhos
para Rodolfo.
— Que história é essa de eu ser sua nova discípula? — Disse nervosa e um
pouco mais alto do que gostaria. Sem tirar os olhos dos meus, ele pegou a
taça e tomou um gole do vinho, visivelmente irritado com minha postura.
— Sofia, eu duvido muito que, com o seu suposto histórico, você deixará
passar uma oportunidade como essa. Você mesma disse que buscou pela
Dark House, ainda que inconscientemente. E agora está aqui, com os pés na
porta da entrada. Tenho certeza de que sua curiosidade não a deixará mais
dormir se não se permitir viver isso. E mais uma coisa, se não estivesse
interessada, não teria aceitado jantar comigo. Era só ter gritado, chamado
ajuda e me expulsado do seu apartamento na noite passada.
A raiva tomou conta de mim e minha vontade era jogar a taça de vinho na
cara dele, tamanha arrogância. Mas o problema era que ele não estava
errado. Eu realmente procurei minha vida toda por algo como a Dark House
e, sim, minha curiosidade era maior do que tudo em mim.
Sem dizer nada, tomei o último gole de vinho da minha taça enquanto
Rodolfo fazia sinal para o garçom fechar a conta. Tão logo pagou o jantar
ele levantou e estendeu a mão para mim. — Venha, essa conversa, e a noite,
ainda não acabaram. Temos muitos pontos para resolver. — Novamente, o
arrepio tomou conta de mim, mas só me restava segui-lo. Afinal, eu era sua
nova discípula.
Capítulo 7
Você não vai me encontrar no meio do caminho para provar
Fale profundamente, preciso de proteção
Você não pode nadar na direção certa
Ooh, movendo-se devagar, você não tem ideia
Você não entende que estou tentando te pegar
Lose my breath | Rhea Robertson

Sofia Venturini

U
ma música muito sexy tocava no som do carro enquanto Rodolfo
dirigia de volta para casa — “Disse que você poderia me satisfazer
sentado ao volante, mas você não pode me dirigir. Consegue
acompanhar? Garoto, me faça perder o fôlego. Traga o barulho, me faça
perder o fôlego. Bata-me com força, faça-me perder o meu…” — Achei
bem apropriada para o momento e para o que se passava na minha cabeça.
— Não sei se é hora de perguntar isso. Bem, na verdade nem sei se devo
perguntar algo para você, considerando a posição que me colocou, como
discípula. — Pronunciei a palavra fazendo aspas com os dedos no ar. —
Mas, por que aquele senhor mencionou que você precisava tomar uma
decisão e deu a entender que minha presença tinha algo a ver com isso?
— Sofia, vamos por partes. Primeiro, se você aceitou ser minha discípula,
como está dando a entender, precisa saber que pode me perguntar qualquer
coisa, a qualquer tempo, sobre qualquer assunto. Afinal, eu sou seu Mestre
e é meu papel orientar e direcionar você.
Dei um leve sorriso por fora, mas estava sorrindo bem mais por dentro. Ter
um “mestre” era algo que fazia parte das minhas fantasias, mas aquilo se
tornar real, de repente, me fez sentir uma alegria na alma que eu não
conseguia descrever.
— Segundo, o que o velho Mastrinni falou não tem nada a ver com você.
Ele quer que eu nomeie logo meu sucessor ao trono da Dark House.
Quando disse que você era minha discípula, ele deve ter imaginado que isso
seria uma ameaça aos planos dele.
— Eu, uma ameaça? Ainda nem sei o que estou fazendo aqui! — Respondi
um pouco aflita por ter a sensação de estar entrando em algo muito maior
do que minha imaginação conseguia criar.
— Deixa eu explicar melhor. Todo Mestre Dark precisa indicar quem será
seu sucessor ou sucessora, porque quem ocupa o trono se torna um
verdadeiro alvo ambulante e começa a correr vários riscos, inclusive de
morrer. Por isso, é preciso deixar claro para o Conselho Maior o nome de
quem deve assumir o cargo, caso algo aconteça.
— Como assim correr risco de morrer? Planos do Mastrinni? Mas rola
dinheiro na Dark House? Não estou entendendo mais nada! — Questionei,
começando a entender que a Dark House ia muito além das reuniões às
sextas-feiras no porão da casa de Rodolfo.
— Diretamente, não rola dinheiro na DH, não visando lucro. Mas todo dark
precisa contribuir financeiramente para manter a estrutura do espaço, pagar
as assistentes, os bartenders, garantir as bebidas, entre outras despesas. A
questão é que, nos bastidores, vários negócios acontecem, muitos
milionários.
“Como diversos membros são homens e mulheres poderosos e grandes
empresários, várias fusões, compra e venda de empresas, e outros negócios
acontecem entre uma fantasia e outra. Afinal, se você confia seu corpo à
pessoa, no nível de confiança que a Dark House exige, por que não confiar
seu dinheiro também?
E tudo o que acontece na casa, absolutamente tudo, precisa passar pelo
Mestre, não necessariamente para aprovar, mas para quem está no trono ter
ciência de quem está se envolvendo com quem, seja sexual ou
financeiramente. Isso porque parcerias que não dão certo geram muitos
problemas para a DH e para os darks, e é obrigação do Mestre garantir a
segurança e satisfação de todos, em todos os âmbitos.
Como você deve estar imaginando, brasileira, quanto mais tempo no trono,
mais segredos o Mestre sabe e guarda, consequentemente mais visado ele
fica e, por isso, mais perigo corre.”
— Uau! Nunca imaginaria que tanta coisa acontecia por trás desses
encontros — Disse, verdadeiramente surpresa, assim que Rodolfo
estacionou o carro em frente à sua casa e fez sinal para descermos. —
Obrigada pela noite — Falei dando a entender que iria para o meu
apartamento quando, na verdade, queria saber o restante daquela história e
meu papel naquilo tudo.
— Eu disse que a noite e a nossa conversa ainda não tinham acabado, Sofia.
Então, venha, vamos entrar.

Entrei sem hesitar e Rodolfo indicou que eu fosse para a sala. Enquanto
isso, ele ficou na cozinha e, pelos ruídos que vinham de lá, percebi que
estava pegando taças e um vinho.
Após voltar e colocar tudo sobre a mesinha de centro, pegou o controle
remoto e ligou o sistema de som do ambiente. — “Estou aqui no limite
novamente. Eu gostaria de poder deixar pra lá. Eu sei que estou apenas a
um passo de mudar tudo…”, dizia a música.
Me sentei no sofá de frente para a grande parede de vidro que tinha gostado
tanto, vendo Madrid iluminada à minha frente. Depois de nos servir,
Rodolfo continuou.
— Ser Mestre da Dark House significa ter muito poder nas mãos, mais do
que qualquer pessoa de fora pode imaginar que exista. Você conhece, vê,
participa, autoriza ou não os prazeres, desejos e fantasias de muitas pessoas.
Do trono é possível ver cenas que destruiriam impérios inteiros se
vazassem. Guardar os segredos mais obscuros, muitos impronunciáveis e
sujos, de inúmeros homens e mulheres, cobra um preço alto, muito alto. Às
vezes, a própria vida.
— Por isso, nada de namorada ou esposa, por conta do risco? — Me
arrisquei a perguntar, já que ele disse que eu poderia questionar tudo a
qualquer tempo.
— Não necessariamente, mas também. Para se relacionar com um dark, ou
a pessoa precisa esconder muito bem essa condição, ou encontrar alguém
que seja dark também e firmar um bom contrato de relacionamento. Sendo
Mestre então, a situação é ainda mais difícil, porque os outros membros
precisam ter a garantia que seus segredos não serão divididos com o
parceiro ou parceira de quem ocupa o trono, entende? — Fiz que sim com a
cabeça, enquanto tomava mais um gole de vinho, e ele continuou.
— Fora o risco que a outra pessoa corre, até maior do que o do próprio
detentor do título. Já houve casos de esposas de mestres que foram mortas
como punição por supostos vazamentos de informações, e não foram
poucos. Por isso, acabei não colocando ninguém na minha vida. Para ter
uma pessoa, precisaria separar muito bem o mundo A, que é uma rotina
normal de família tradicional feliz, do mundo B, onde o submundo da
luxúria vive e eu domino. Enfim, é um dos preços que se paga por ocupar
esse cargo.
Rodolfo finalizou a frase com um pouco de pesar no tom da voz. Como vi
que aquilo estava indo muito para o lado pessoal, resolvi voltar para um
campo mais neutro.
— E o velho Mastrinni, qual o plano dele e o que isso tem a ver com o
anúncio do seu sucessor?
— Esse crápula quer que eu nomeie o neto dele, Matteo, como meu
sucessor. Um moleque mimado que mal saiu das fraldas e se acha o dono do
mundo. Ele é a herança deixada pelo único filho do poderosíssimo
Mastrinni Salvatore, um ser humano desprezável que, o que sobra de
dinheiro, falta de caráter e humanidade. Dizem que o velho é tão rico que
não faz ideia de quanto tem no banco, nem de quantas empresas, carros,
imóveis e navios é dono.
“Esse homem é tão ruim e desprezível, que quando o filho morreu em um
acidente de carro, deixando Matteo bebê, Mastrinni o arrancou dos braços
da nora recém-viúva, totalmente descontrolado, acreditando que poderia
criar o menino como sendo uma cópia do filho que tinha acabado de morrer.
A mulher, coitada, não tinha força física ou emocional para bater de frente
com o velho, tampouco dinheiro para isso. Dizem que ela ficou louca e ele
a jogou em um hospício, e ninguém nunca mais teve notícias.”
— Meu Deus, que homem terrível! — Disse, completamente chocada, mas
já sentindo os efeitos de tantas taças de vinho que tinha tomado naquela
noite. — Mas se ele já é tão rico assim, porque quer o neto como Mestre da
Dark House? O que ele ganha com isso?
— Poder, Sofia, mais poder. Matteo é um otário marionete nas mãos do
avô. Tem tudo o que quer sem esforço algum ou qualquer consequência. Ele
atende todos os pedidos do velho, não se importando com o que há por trás
das suas artimanhas. Ao colocar Matteo no meu lugar, é como se ele próprio
fosse o Mestre, abrindo caminho para manipular quem quisesse e fazer
todos os acordos comerciais que fossem financeiramente rentáveis para ele.
Isso seria a destruição da DH.
— Tem uma coisa que não se encaixa nisso tudo. — Questionei enquanto
tirava os sapatos e colocava os pés sobre o sofá, visivelmente à vontade por
conta da bebida, mas ainda bastante lúcida. — Como uma pessoa como o
velho Mastrinni chega a um cargo tão alto como o de presidente do
Conselho Maior da Dark House?
— O problema é que ele nem sempre foi assim. Mastrinni foi Mestre Dark
por mais de uma década, e dizem que foi um dos melhores que a
comunidade daqui já teve. Íntegro e absolutamente confiável, ele conseguia
separar muito bem o mundo A do mundo B, sem negligenciar ou colocar
em risco nenhum deles. Por estar tanto tempo no trono foi natural, e
esperado, o convite para fazer parte do Conselho.
“Mas parece que os acidentes de carro são a maldição do velho, porque sua
esposa também tinha morrido anos antes dessa forma quando estava indo
buscá-lo em uma das reuniões da DH. Inclusive, naquela noite, o filho
deles, pai de Matteo, tinha uns 10 anos na época e estava no carro, mas, por
um milagre, nada aconteceu com ele.
Quem estava lá diz que Mastrinni surtou ao receber a notícia e, daquele dia
em diante, mudou completamente. Ele continuou no Conselho e foi subindo
de cargo, até chegar ao último e mais alto, de presidente, que é o que ocupa
hoje. Mas ele já não era a mesma pessoa. Sua vida se resumiu ao filho
pequeno, que se tornou sua razão de viver, e a ter cada vez mais poder,
como forma de controlar o destino. Depois que o filho morreu, ele
direcionou tudo para o neto Matteo.”
— É até compreensível o comportamento do velho, mas não acho
justificável — Disse. — Mas ele sendo presidente do Conselho Maior, não
pode interferir na sua decisão?
— Na verdade, não. A decisão de quem deve assumir o trono é única e
exclusiva do Mestre, e ninguém, nem mesmo os membros do Conselho,
independentemente do cargo, podem intervir. O que acontece são situações
como essas, nas quais um ou outro sugere um nome e tenta influenciar na
escolha. Mas ninguém é tão baixo e sujo quanto Mastrinni.
— Ele ameaçou você? — Perguntei enquanto Rodolfo se levantava do sofá,
pegava minha mão e me guiava em direção à escada que dava para o porão.
— Sim, mas isso não vem ao caso agora. O que preciso saber, depois de
todas essas informações, é se sua curiosidade e vontade ainda farão de você
minha discípula.
Capítulo 8
Eu olho tão profundamente em seus olhos
Eu toco você cada vez mais e mais
Quando você sai eu te imploro para não ir
Chamo seu nome duas ou três vezes
É algo tão engraçado pra eu tentar explicar
Como eu estou me sentindo e meu orgulho é o único culpado, sim
Crazy in love | Beyoncé feat Jay-Z

Sofia Venturini

E
ra totalmente diferente entrar no espaço da Dark House em um dia
comum, quando o local não estava cheio de pessoas e de luxúria.
Rodolfo apertou um interruptor que ligou apenas algumas luzes
vermelhas estrategicamente posicionadas: uma sobre um grande sofá de
couro preto, outra sobre o trono do Mestre e mais uma sobre a estrutura em
formato de X que ficava em um lugar de destaque na sala.
Ele seguiu pelo espaço e eu o acompanhei, até chegarmos ao sofá e ele
indicar para eu me sentar. Fiz o que me pediu e ele permaneceu em pé na
minha frente. Para minha surpresa, aquele homem enorme, extremamente
bonito e atraente, começou a desabotoar a camisa bem devagar, botão por
botão, sem tirar os olhos dos meus.
O ar começou a faltar nos meus pulmões, ainda assim não me movi
enquanto assistia aquela cena, o que foi uma grande briga interna porque eu
comecei a sentir meu corpo responder fortemente àquele estímulo visual.
Quando a camisa estava toda desabotoada ele a retirou do corpo, jogando-a
ao meu lado no sofá. Se inclinando sobre mim, com um braço de cada lado
do meu quadril e a boca a uma distância perigosa da minha, Rodolfo
finalmente quebrou o silêncio do ambiente.
— Sofia, se você vai mesmo ser minha discípula, eu preciso saber até onde
você está disposta a ir, quais são seus medos, limites e vontades. Preciso ter
certeza de que confiará em mim plenamente, e que eu poderei confiar em
você da mesma forma.
Apenas consenti com a cabeça, prestando mais atenção naqueles lábios do
que nas palavras que saiam dele.
Tão logo fiz o sinal positivo, ele me pegou novamente pela mão e caminhou
em direção ao seu imponente trono. Antes de subir os três degraus que
levavam ao assento do Mestre, ele me soltou, dando a entender que eu só
poderia ir até ali.
Rodolfo se posicionou da mesma forma que estava quando o vi na noite que
invadi a Dark House, com o quadril um pouco jogado para a frente, as
pernas afastadas, mão direita sob queixo e a esquerda espalmada no braço
do trono.
— Você tiraria esse vestido se eu pedisse, Sofia? — Novamente, só
consegui fazer que sim com a cabeça, completamente hipnotizada com o
que estava acontecendo, mesmo não tendo a menor ideia do que era ou
onde essa noite me levaria. — Então tire, agora!
Olhando fixamente para ele, abaixei primeiro a alça que estava sobre o
ombro direito. Em seguida, sem pressa, como ele havia feito comigo, fiz o
mesmo com a alça do lado esquerdo.
Assim que passei a peça pelos meus seios, deixei a gravidade tomar conta
do resto, levando o vestido ao chão. Tirei o pé direito de dentro do círculo
de tecido que havia se formado ao meu redor, depois o esquerdo, e o chutei
lentamente para o lado.
— Tire o sutiã. — Rodolfo ordenou do alto da sua posição de Mestre Dark
e, agora, meu mestre também. Obedeci, levando os braços para trás do meu
corpo para desabotoar o fecho do modelo tomara-que-caia que eu usava.
Segurando a peça solta com a mão esquerda, estiquei o braço e a deixei cair
sobre o vestido no chão.
Não me preocupei em esconder meus seios, como acaba sendo instintivo
quando uma mulher está sem roupa na parte superior. Na verdade, fiz o
contrário disso, arrumando minha postura para ficar mais imponente e meus
seios mais empinados. Rodolfo até poderia ser meu mestre, mas eu não
abaixaria a cabeça para ele, nunca, a não ser que eu quisesse.
Ele me observou por alguns segundos e eu pude sentir seu olhar queimar a
minha pele, tanto que os bicos dos meus seios se enrijeceram na hora.
Levantando do trono, ele desceu os degraus e caminhou até o grande X que
ficava em destaque na sala da Dark House.
— Venha até aqui, Sofia. — Obedeci novamente e o deixei me posicionar
com as costas encostadas na estrutura.
Ele se ajoelhou na minha frente, colocou as mãos uma de cada lado da
minha calcinha, e a tirou do meu corpo, aproximando a boca da minha
boceta enquanto fazia isso. Deixando a peça no chão, ele se levantou e
pegou meus braços, colocando-os acima da minha cabeça.
— Não vou prender você, mas quero que segure as amarras que seriam para
seus pulsos, posicione seus pés como se fosse ser contida e fique o tempo
todo de olhos fechados, entendeu? Deixar você desamarrada e sem a venda
é a prova que dou que pode confiar totalmente em mim. Também é a
garantia de que você está livre para sair daqui quando quiser. Mas a partir
do momento que passarmos dessa fase, tudo muda. Você se torna minha
discípula e definiremos juntos as regras desse acordo. E só para deixar
claro, não amarrar ou vendar seu corpo agora é a minha aposta de que eu
também posso confiar em você, como imagino poder.
Me arrumei conforme Rodolfo pediu e olhei para ele em aprovação, mas
transparecendo um ar um pouco desafiador, apenas para deixar claro que
tudo aquilo só estava acontecendo porque eu queria, porque eu estava
autorizando.
Ele me deixou ali e foi até uma estante próxima, abriu uma das gavetas e
voltou com um vibrador nas mãos. Meu corpo respondeu só de ver aquilo, e
percebi que nem se eu quisesse conseguiria ir embora, pois minha
curiosidade estava no auge, só esperando para ver o que aconteceria.
Rodolfo ligou o aparelho, o segurou com a mão direita e chegou bem
próximo à lateral do meu rosto, tanto que pude sentir sua respiração na
minha orelha. Apoiando a mão esquerda no grande X, ele começou a passar
o aparelho sobre o meu corpo. Primeiro pelo pescoço, depois desceu
lentamente em direção aos meus seios, brincando entre eles durante um
tempo para, somente após isso, explorar cada um dos meus bicos.
A sensação era indescritível, mas absurdamente torturante. O Mestre da
Dark House se demorou no meu seio direito, deixando o bico cada vez mais
duro, e eu mais e mais excitada. Em seguida, ele fez o mesmo com o
esquerdo. Foi impossível segurar os gemidos que teimavam em sair da
minha boca, e notei que, quanto mais eu respondia àquilo, mais ele
explorava meu peito.
Poucos minutos depois minha boceta estava implorando por atenção, e não
poder mexer as pernas para apertá-la um pouco só piorava aquele vazio.
Rodolfo deve ter percebido, porque foi descendo o vibrador pelo meu
abdômen até chegar ao meu monte de Vênus. Mesmo parecendo uma
tortura, a sensação era ótima, a melhor que um homem já tinha me feito
sentir até então. Mas, ainda assim, meu corpo tinha urgência e implorava
silenciosamente que meu sexo fosse tocado.
Os segundos seguintes pareceram horas, pois Rodolfo passou o vibrador
pelas minhas coxas e grandes lábios da minha boceta, mas evitava meu
clitóris.
Eu segurava o ar cada vez que o sentia chegar perto da região, mas soltava
logo depois junto com a frustração. Até que ele finalmente encostou o
aparelho na parte extremamente sensível e enrijecida, disparando uma onda
de choque que percorreu todo o meu corpo imediatamente.
Naquele momento, foi quase impossível me manter na posição sem ter as
amarras nas mãos e pés para me deter, mas eu não podia correr o risco de
estragar aquela experiência ou induzi-lo a parar. Então, me mantive firme,
apenas absorvendo tudo o que estava sentindo.
Minha vontade era chupar Rodolfo em retribuição, pois minha boca
também estava vazia e sedenta por algo dentro dela. Porém, minha boceta
pedia o mesmo, e eu só queria que ele me penetrasse de alguma forma.
Entretanto, ele não me tocou e seus dedos não exploraram diretamente meu
corpo. Mas isso não foi tão decepcionante, porque somente com o vibrador
ele me deu o maior e mais intenso orgasmo que já tive na vida.

Eu estava exausta. Meus braços doíam por conta da força que fiz para me
manter presa ao X, assim como minhas pernas. Por outro lado, a sensação
de plenitude e satisfação era extraordinária, me dando absoluta certeza de
que era aquilo que eu queria viver, mesmo que as consequências que
viessem junto fossem incertas.
Abri os olhos quando ouvi Rodolfo desligar o vibrador e colocar o aparelho
sobre uma mesinha de apoio que estava próxima. Antes de dar a ordem para
eu soltar as amarras, ele passou o braço pela minha cintura, me apoiando.
— Venha até o sofá, vamos conversar — Ele me colocou sentada, entregou
minhas roupas e esperou um pouco até eu me recompor.
— Sofia, essa é apenas uma pequena amostra do que posso dar a você e do
que acontece dentro da Dark House. É isso que você quer para sua vida? É
isso que procurou durante tantos anos? É esse estilo de sexo que lhe
satisfaz?
— Sim, é exatamente isso — Respondi ansiosa para agarrar a oportunidade
e ainda sob o efeito do orgasmo no meu corpo. — Mas e você? Não posso
fazer nada disso com você? — Precisava perguntar, especialmente por ainda
querer provar seu gosto.
— Poderá, mas não é uma regra. Eu me satisfaço deixando minhas
discípulas satisfeitas. Proporcionar isso é tão satisfatório para mim quanto
ter um orgasmo. Mas claro que também quero ter alguns. E já que você
questionou isso, acho que devemos conversar sobre nossos limites. O que
você não permite que façam contigo? O que não quer viver comigo e com a
Dark House? — Pensei por alguns segundos antes de falar algo.
— É complicado responder isso agora porque, na verdade, eu quero
experimentar tudo. Mas pensando rapidamente, acho que dores intensas,
práticas que envolvem secreções, cortes, sensação de afogamento ou
privação de ar, eu cortaria da minha lista.
— Entendo e dou minha palavra que sua vontade será respeitada, sempre.
Inclusive, se em algum momento mudar de ideia sobre seus limites,
desejando incluir ou excluir práticas, você é livre para falar comigo a
qualquer tempo.
"Quanto às minhas regras, a primeira é não mentir para mim, nunca! Não
me esconda absolutamente nada, porque se eu descobrir por conta própria,
será muito pior. Obedeça fielmente tudo o que eu ordenar, sem questionar
ou retrucar. Faça com o meu corpo somente o que eu mandar. E jamais, em
hipótese alguma, se apaixone por mim ou por qualquer dark. Quebrar
qualquer uma dessas regras rompe o nosso acordo imediatamente, e você
está fora da DH e da minha supervisão e proteção".
Ponderei um pouco sobre o que ele falou, olhando ao redor e tentando
imaginar como seria minha vida naquele submundo de prazer e segredos.
Será que eu conseguiria equilibrar o mundo A e manter o foco no que vim
fazer em Madrid e, ainda assim, viver tudo que sempre sonhei no mundo B
que ele estava me apresentando? Minha intuição e desejo gritavam que sim,
então só virei para Rodolfo e concordei com a cabeça.
— Outra coisa muito importante que você precisa entender, Sofia, é que, a
partir de agora, eu sou seu Mestre, eu tenho você! Isso significa também
que estará sob minha total proteção e responsabilidade, em todos os
sentidos e aspectos. Por isso, não deixarei que nada ruim aconteça com
você, e isso vale enquanto me quiser como seu dono ou até que um de nós
morra.
Apesar de ser um acordo um tanto assustador, por algum motivo eu me
sentia em casa. Era como se minha alma tivesse se encontrado e,
finalmente, estava encaixada no lugar que era seu por direito.
Rodolfo se colocou em pé na minha frente e esticou a mão para mim para
selar o compromisso que havíamos assumido. Fiz o mesmo e apertei sua
mão.
A partir daquele momento eu deixava de ser apenas a Sofia Venturinni, e
me tornava Sofia Venturini, dark da DH e discípula protegida do Mestre
Rodolfo Fabregat.
— Venha, vou levá-la para o seu apartamento.
Seguimos em silêncio, e tão logo Rodolfo me deixou no hall do meu prédio
e eu entrei sozinha no elevador, a primeira coisa que pensei foi o que eu
estava fazendo com a minha vida.
Definitivamente, não tinha saído do Brasil para viver aquilo. Na verdade,
nem nas minhas fantasias mais loucas imaginei que encontraria alguém
como ele ou um lugar como a Dark House.
A questão era que eu queria, e muito, experimentar tudo o que estava sendo
proposto. Por isso, precisava rapidamente encontrar um equilíbrio entre a
DH, o curso de espanhol que estava acabando e a pós-graduação que
começaria em poucos dias. Mas decidi pensar naquilo depois.
Àquela hora da madrugada, e depois de tudo o que tinha sentido, meu corpo
só queria um bom banho e uma noite de sono tranquila. Mas não foi bem o
que aconteceu.
Capítulo 9
Tantos anos e brigas estúpidas
Até aceitarmos ver
Como isto era e como sempre será
Por que isto tem que ser assim
Por que nós não percebemos
Por que nós somos tão cegos para ver
Quem está ao nosso lado
Why! | Enigma

Sofia Venturini
— P ARA, YAN, VOCÊ ESTÁ ME MACHUCANDO! — Gritei enquanto
me debatia na cama, tentando evitar que ele amarrasse meus
braços na cabeceira.
— Está fingindo que não quer, Sofia? Faz parte do joguinho? Beleza, então
vou entrar nele também!
Yan deu mais um tapa na minha cara e, em seguida, colocou a manga da
camiseta que tinha tirado na minha boca. — Agora você não vai falar mais
nada, vagabunda. Não quero ouvir seus gritos, só gemidos pelo tanto de
prazer que vou te dar hoje.

Quando conseguiu prender meus punhos um de cada lado da cama, Yan foi
até meu guarda-roupa e pegou alguns dos meus cintos. Prendendo um ao
outro, ele amarrou meus tornozelos ao pé da cama, me deixando com as
pernas abertas e totalmente exposta a ele.
— Está com muita roupa, princesa. Acho que vadias não trepam desse jeito,
né? — Ele abriu a gaveta da cabeceira e procurou por algo. — Droga, já
volto, não saia daí. Bem, você não iria conseguir mesmo.
Ele saiu rindo em direção à cozinha, e logo pude ouvir o barulho da gaveta
de talheres caindo no chão. — Acho que isso serve — Voltando para o
quarto com uma faca nas mãos, ele cortou meu vestido, meu sutiã e minha
calcinha, me deixando nua.
Eu já não conseguia mais segurar as lágrimas, e também tinha desistido de
tentar me soltar. Só queria entender o porquê de Yan estar fazendo aquilo
comigo. Ou melhor, com a gente.
— Vamos ver o que mais você tem aqui além dos seus livrinhos safados —
Ele abriu minhas gavetas e começou a jogar para fora tudo o que achava,
até que encontrou meus vibradores.
Batendo um deles com força contra o meu rosto, gritou: — PRA QUE
ISSO, SOFIA? PRA QUE? EU NÃO SOU HOMEM SUFICIENTE PARA
VOCÊ? EU NÃO TE SATISFAÇO? Quer mais do que minha rola para
sentir prazer? Ah…acho que vou descobrir agora! — Eu tinha três
vibradores, cada um de tamanho. Ele jogou todos na cama e ligou um por
um.
— Nossa, que aparelhos interessantes. Onde será que eles se encaixam? —
Sem nenhuma preparação ele tentou colocar um deles na minha vagina. —
Por que não está entrando, sua vaca? Não está excitada com tudo isso? Já
sei, quem sabe se eu enfiar o maior no seu rabo você não se anima?
Eu tentei o máximo que pude mexer meu quadril para evitar que ele fizesse
aquilo, mas percebi que, quanto mais me mexesse, mais machucada sairia
daquele quarto. Então, resolvi aceitar meu destino.
Yan cuspiu nos dois vibradores e, com dificuldade, enfiou o primeiro na
minha boceta e o outro maior na minha bunda. Gritei alto de dor, ainda
com a camiseta dele na minha boca, especialmente por nunca ter sido
penetrada por trás, mas ele entendeu aquilo como um gemido de
aprovação.
— Sabia que você ia gostar! E agora, faço o que com o terceiro? Já sei,
acho que cabe mais um nessa bocetinha. — Yan usou os dedos para alargar
minha abertura e enfiou o terceiro vibrador na minha boceta, aumentando
a dor que já estava sentindo.
Em pé, ao lado da cama, ele ficou em silêncio por alguns minutos, só
observando os aparelhos vibrando dentro de mim, até que colocou o pênis
duro para fora e começou a se masturbar feito um louco.
Enquanto se tocava, ele pegou o bico do meu seio direito com o dedo
indicador e polegar e começou a apertar e puxar com força, como se
quisesse arrancar. Gritei novamente e ele entendeu de novo com um gemido
de prazer.
— Ah, que delícia! Se eu soubesse antes que era disso que você gostava, a
gente tinha se divertido muito mais!
Ele continuou a se masturbar, mas se abaixou para chupar meus seios,
alternando entre um e outro, com lambidas e mordidas que pareciam que
nunca iam acabar. — Não sei você, princesa, mas eu não aguento mais. —
Apertando meu pescoço com força a ponto de quase me sufocar, Yan gozou
em cima de mim, despejando toda sua porra sobre meu rosto e esfregando
com raiva em seguida.

De: yanmeyer@meyercorporation.com
Para: sofiaventurinni@venturinnimodas.com
Mensagem:
Eu acho você, princesa. Me espere
Acordei assustada, suada, com um grito de horror preso na garganta, e só
então percebi a notificação de novo e-mail no meu celular. Não era possível
que aquele pesadelo ia mesmo voltar. Coloquei as mãos no rosto e senti a
ansiedade querendo tomar conta. — Não! De novo não!
Respirei fundo e aproveitei que estava com o celular na mão para olhar as
horas. Já passava das 10 da manhã, era domingo, e eu sabia que meus pais
estariam em casa. Mas no Brasil ainda era madrugada.
Ligar aquela hora era loucura e daria um susto nos dois à toa. — Vou
esperar mais um pouco. Ligo mais tarde para saber se estão bem, e se eles
tiverem alguma notícia de Yan, com certeza vão comentar sem eu nem
precisar perguntar. — Pensei.
O pesadelo com o clone do demônio me fez perder o sono. Levantei, fui até
a janela e percebi que estava chovendo bastante. — Ótimo dia para ficar em
casa e assistir uns filmes para treinar o idioma.
Olhei para a casa de Rodolfo e vi que nenhuma luz estava acesa. — Será
que devo contar a ele sobre as ameaças de Yan? Não, melhor não. Muito
cedo, pequena dark, muito cedo. — Dei um sorriso triste para mim mesma
e fui até a cozinha preparar algo de café da manhã.
Voltei e passei o dia na cama, comendo e assistindo filmes e séries para
melhorar meu vocabulário espanhol. Quando percebi que já eram 13 horas
em São Paulo, fiz uma chamada de vídeo para meus pais.
Eles perguntaram como eu estava, como era Madrid, o curso, as pessoas e
coisas que os pais normalmente costumam perguntar para os filhos.
Perguntei sobre eles, se estavam se cuidando, e notei que nada estranho
tinha acontecido, já que os dois estavam com um semblante ótimo.
Como eles não sabiam mentir, era sinal de que Yan não tinha dado as caras
por lá. Se tivesse, eu saberia só de olhar para eles.
Desliguei mais tranquila. — Cão que ladra não morde. Babaca! — Falei
olhando para o telefone, e na mesma hora percebi que não tinha notícias de
Rodolfo o dia todo. — Tudo bem, amanhã começo minha jornada dupla.
Hoje, ainda quero ser apenas uma mulher “normal”.
Capítulo 10
Sussurro: quem é você?
O que você está fazendo aqui?
Não há como voltar atrás
A sorte está lançada
Você está brincando com a vida
Você está brincando com sua vida
A sorte está lançada!

The dies is cast | Enigma

Sofia Venturini

A
cordei na segunda-feira com a campainha tocando pouco antes das 8
horas. Me enrolei no roupão, fui até a porta da sala, olhei pelo olho
mágico antes de abrir e vi que era um dos funcionários do prédio.
— ¡Buen día! Esto es para la señorita. — Peguei a grande caixa preta das
mãos dele e agradeci. — Muchas gracias.
Tranquei a porta e voltei para o quarto enquanto lia o cartão que estava
preso no laço vermelho que a enfeitava.
“Estou indo para Portugal a negócios. Volto na sexta para a reunião da
Dark House. Esteja pronta e na minha casa às 21 horas. Precisamos
conversar antes. PS: Espero que goste da roupa que escolhi para você.
Rodolfo”.
Abri o pacote curiosa e me deparei com um lindo vestido de modelo
envelope, de mangas compridas, em lurex preto. Tirei o roupão e a camisola
e o vesti para ver como ficava no meu corpo. Como profissional de moda eu
não podia negar, Rodolfo tinha mesmo muito bom gosto.
O transpasse do vestido formou um generoso decote V que deixou meus
seios em evidência. Com a saia um palmo acima do joelho, a fenda lateral
quase mostrava o que não devia. Mesmo assim, dava um ar extremamente
sexy e poderoso.
Coloquei a nova peça no cabide e pendurei do lado de fora do meu guarda-
roupa, para ficar observando e ver se me inspirava a montar o look
completo. Preciso pensar em uma maquiagem e um penteado que
complementem esse visual, mas antes, vou agradecer pelo presente.
Peguei o celular e me arrisquei a mandar uma mensagem. Na noite que
firmamos o acordo, trocamos nossos números antes de nos despedirmos.
“Sofia, minha agenda é corrida e não tenho muito tempo para ligações ou
troca de mensagens. Mas pode mandar se precisar falar algo, não importa
o que. Estou sempre de olho no celular, pode ter certeza, e quando
conseguir falar, eu respondo.” Com essa orientação na cabeça digitei, em
português mesmo:
Sofia: Muito obrigada pelo vestido. Ficou ótimo. Estarei na sua casa no
horário combinado. Boa viagem e bons negócios.
Simples, direta, formal e educada. Acho que é assim que discípulas darks se
comportam, não? Joguei o celular na cama e fui me arrumar para começar
meu dia. Precisava comprar algumas coisas no mercado e me preparar para
a aula de espanhol mais tarde. Quando estava me trocando depois do banho,
ouvi o som de notificação do meu celular.
Rodolfo: Que bom que gostou. Aproveitando, seu aluguel está quitado por
toda sua estadia em Madrid. Aproveite o Plaza!
Tinha esquecido completamente que ele era dono do apartamento onde eu
estava morando. Na verdade, do prédio! — Merda, não posso aceitar isso.
Quem ele pensa que é?
Mas quando comecei a digitar a mensagem recusando, lembrei das regras e
de que não devia questionar as ordens dele. É.., ele é meu Mestre agora.
Então escrevi apenas obrigada e fechei a tela. — Cedo demais para se
arriscar, querida, cedo demais. — Disse para mim mesma na tentativa de
controlar meu lado indomável.
A semana havia passado rápido, mas tranquila, e com tudo de acordo com
meu planejamento, como eu gostava. Não tinha recebido mais os e-mails
ameaçadores do Yan, e isso tirou um grande peso das minhas costas.
Por outro lado, também não tinha falado com Rodolfo nenhuma vez, o que
não foi de todo ruim, porque deixou minha cabeça focada nas últimas aulas
do curso intensivo de espanhol e na preparação para começar a pós na
segunda-feira seguinte.
Já era sexta-feira e, em pouco tempo, eu precisava estar na casa do Mestre
para conversarmos sobre a minha primeira noite na Dark House. Melhor
começar a me arrumar. Atrasar logo de cara é horrível.
Coloquei o vestido que ele me deu sobre a cama, separei um colar longo e
fino que passava pelo meio dos meus seios e descia até o meu umbigo, um
scarpin cinza chumbo, uma bolsa de mão no mesmo tom, um conjunto de
lingerie de renda prata e, pronto, look completo. Menos é mais!
Coloquei minha playlist favorita para tocar durante o banho. Precisava me
acalmar um pouco e entrar no clima do que aquela noite me prometia.
"Quem é você? O que você está fazendo aqui? Compartilhe o que você está
pensando. Compartilhe tudo o que você está sonhando. Me diga quem você
é…" — Música mais do que apropriada para o momento. — Pensei comigo
mesma.
Ao finalizar o banho me enrolei na toalha, sequei o corpo, um pouco o
cabelo e me olhei no espelho. Decidi fazer uma maquiagem bem marcante,
que refletisse quem eu era, mas que também combinasse perfeitamente com
o vestido e com aquele tipo de reunião, se é que isso era possível.
Sombra, delineador e lápis pretos nos olhos garantiram um olhar misterioso,
que eu adorava e usava sempre que podia, virando quase que minha marca
registrada. O batom nude fechava o visual garantindo que a make não
ficasse pesada além do ideal.
Deixei meu cabelo o mais liso que consegui com ajuda da escova secadora
e prendi os fios em um rabo de cavalo bem alto, usando uma mecha do
próprio cabelo para dar acabamento sobre o elástico que o prendia.
Voltei para o quarto, vesti a calcinha, o sutiã, o vestido, coloquei o colar,
passei meu perfume favorito em locais estratégicos e me olhei no espelho
maior que ficava pendurado na parede. — Perfeito!
Peguei a bolsa e o celular para colocar dentro dela. Aproveite para ver as
horas: 20h55. — Melhor ir, não quero irritar o Mestre logo no primeiro dia
de trabalho — Ri enquanto pegava os sapatos para calçar na sala.
Ao entrar no elevador do meu prédio e apertar o botão para o térreo, me
olhei novamente no espelho que ficava dentro dele.
— Você pode desistir se quiser, basta voltar para o seu apartamento, tirar
toda essa produção, colocar seu lindo pijama vermelho de cetim e viver a
vidinha meticulosamente programada que você tanto preza. — Falei em
voz alta para mim mesma, olhando bem no fundo dos meus olhos. — O
problema é que você não quer voltar, não é Sofia? Não quer desistir desse
seu outro lado. Então, garota, seja você mesma a partir de agora e
aproveite a oportunidade que estão colocando na sua frente. Coragem!
Você é forte, muito forte, e merece se libertar de tudo de ruim que já viveu
por conta dos seus desejos. — O elevador abriu, me virei e a passos firmes
e seguros caminhei até a casa de Rodolfo.

Entrei direto. Sabia que às sextas a porta ficava destranca para os darks
entrarem sem demorarem do lado de fora e correrem o risco de serem
identificados. Encontrei Rodolfo na cozinha, colocando vinho em duas
taças que estavam sobre a bancada.
— Pontual… Gostei. Mas não posso deixar de comentar que hoje você não
bateu antes de entrar. Que interessante! — Debochou.
— Engraçadinho! Usando minha frase contra mim? — Ele deu um breve
sorriso, mas logo o ar sério logo voltou e, me entregando uma das taças,
indicou irmos para a sala.
— Sofia, preciso que entenda mais uma coisa. Todo Mestre Dark tem o
direito de eleger uma discípula ou um discípulo. Mas como sabemos da
complexidade que é colocar uma nova pessoa na comunidade, raramente
isso acontece. Por isso, quando alguém é escolhido para carregar esse título,
é obrigatório que haja uma apresentação oficial a todos os membros. E a
sua é hoje.
Engasguei e quase cuspi no tapete o gole vinho que estava na minha boca.
— Como assim ser apresentada oficialmente? Você está louco? Na minha
cabeça eu seguiria suas orientações e só. Quietinha no meu canto. No
máximo, no máximo, indo a uma ou outra reunião com você.
Rodolfo me olhou com o semblante ainda mais sério, e era visível que não
tinha gostado nem um pouco de tê-lo chamado de louco. Pensei em pedir
desculpas pelo termo, mas não cedi. Ele podia ser meu mestre, mas
tínhamos um acordo e ele deveria me comunicar certas situações antes. Pelo
menos eu achava que deveria ser assim.
— Sofia, essa formalidade é mais para sua segurança do que por qualquer
outro motivo. Ao deixar claro para todos qual seu papel na Dark House,
teremos a certeza de que ninguém mexerá com você. Você poderá circular
pelo espaço e assistir tudo o que quiser sem ser importunada, entende? É
como um sinal verde para ir e vir, mas com a devida proteção de ser uma
propriedade do Mestre.
Propriedade do Mestre. Por mais que eu fosse uma mulher que não abria
mão da minha total independência, sexualmente falando aquele termo era
bastante excitante.
— Ok, colocando sob esse ponto de vista eu entendo, e até acho
interessante. Mas o que terei que fazer durante essa apresentação? Um
discurso agradecendo a todos a oportunidade e prometendo um bom
mandato? — Confesso que vi Rodolfo tentando segurar uma risada, mas ele
não cedeu, voltando para sua postura de Mestre e sendo bem enfático na sua
colocação.
— Não, não tem que fazer nada, somente o que eu mandar você fazer.
Venha, está na hora.
Sem discutir ou questionar, como ditava a regra, deixei a taça sobre a mesa
de centro da sala, peguei minha bolsa e segui Rodolfo em direção às
escadas que levavam para o espaço da Dark House no porão.
Enquanto o seguia, prestei mais atenção na roupa que ele estava usando.
Curiosamente, ele estava descalço naquela noite, o que dava um ar um tanto
selvagem e sexy que, no fim, até que combinava bem com a calça social
preta de corte clássico e com a camisa de viscose azul Oxford de mangas
compridas que estavam dobradas até a metade do antebraço.
Descemos os degraus em silêncio e, ao entrar na DH, percebi que o espaço
ainda estava vazio. Somente as assistentes e os rapazes que serviam os
drinks circulavam por lá, fazendo os últimos ajustes para mais um noite de
prazer e luxúria.
Rodolfo caminhou em direção ao trono, cumprimentando a todos apenas
com um leve aceno de cabeça. Ele se sentou e apontou para que eu me
sentasse do seu lado direito, mas no chão. Me posicionei, cruzando as
pernas lateralmente e apoiando os pés no segundo degrau que levava ao
assento suntuoso. Logo que me arrumei uma das assistentes veio até nós e
me entregou uma máscara prateada muito bonita, de estilo veneziana. —
Coloque — Rodolfo ordenou — Seu rosto só será visto na hora certa.
Capítulo 11
Eu estou fora em uma nova estrada em busca de uma terra sem nome.
E eu nunca olho para trás porque estou andando através da luz do
sol e da chuva.
Eu sou um homem que viveu nos túmulos e quebra as correntes.

Amen | Enigma

Sofia Venturini

O
s primeiros darks começaram a chegar. Alguns iam até Rodolfo
cumprimentá-lo, outros faziam isso de longe. Mas todos, sem
exceção, homens e mulheres, me olhavam com ar de curiosidade.
Confesso que, em alguns momentos, me senti um cachorrinho ao lado dele,
o que me causou uma sensação incômoda e estranha muitas vezes durante a
noite. Praticamente, eu tinha virado o centro das atenções e era visível que
entre uma trepada e outra os membros da DH estavam falando de mim. Mas
eu não ia desistir. Se aquilo era um teste, eu passaria com louvor.
As assistentes trouxeram uma bandeja com algumas frutas e duas taças de
vinho. Rodolfo se serviu de uma e me entregou a outra, e assim que levantei
meus olhos após dar o primeiro gole, vi Mastrinni parado na minha frente,
com mais cinco velhos que pareciam ter saído do mesmo mausoléu que ele
e ar de poucos amigos de quem queria me chutar para bem longe dali como
um cão velho e sarnento.
— Então minhas suspeitas estavam certas, Dom Rodolfo? Ela é mesmo sua
discípula? — O meu então Mestre colocou uma mão em cada braço do
trono e, lentamente, se levantou sem tirar os olhos do presidente do
Conselho Maior da Dark House. Como o assento ficava três degraus acima
do nível da sala da DH, ao ficar totalmente em pé Rodolfo encarou
Mastrinni de cima para baixo.
— Sim, ela é minha discípula, Dom Salvatore. E eu entendo que, ao tomar
essa decisão, estou apenas exercendo um dos meus direitos como Mestre
Dark, não é mesmo? A não ser que as regras tenham mudado em benefício
de alguém e eu não fui informado.
O ar ficou visivelmente pesado e o desconforto dos outros homens que
acompanhavam Mastrinni quase palpável. Apenas observei enquanto
pensava por quais motivos Rodolfo estava comprando uma briga daquelas.
Eu valia mesmo tanto a pena a ponto de ele entrar em um atrito declarado
com o chefe do Conselho da DH?
Será que era por mim que ele estava fazendo aquilo, ou estava
descaradamente me usando em benefício próprio?
A verdade era que eu só teria essas respostas se seguisse em frente. Então,
sem me deixar abalar, me levantei e fiquei ao lado de Rodolfo, encarando o
velho Mastrinni tanto quanto ele me encarava.
No meu íntimo eu sabia que aquilo era uma afronta e tanto, principalmente
porque o Mestre não tinha me dado autorização para sair de onde estava.
Me arrisquei, e muito, perante ele e o Conselho. Mas precisava me impor e
mostrar àqueles homens que eu não era a cachorrinha do Rodolfo, que
exigia respeito como pessoa, como mulher e merecia isso pela posição que
ocuparia na Dark House a partir daquela noite.
Batendo a bengala contra o chão, Mastrinni olhou para mim, em seguida
para Rodolfo e disse em tom de ameaça.
— Bem, você já é grandinho o suficiente para saber o que faz, e os riscos de
tomar decisões erradas.
— Sim, eu sei, Dom Salvatore. E saiba que sou ainda maior do que você
acredita. — Naquele momento, a guerra entre eles havia sido
explicitamente declarada.
Rodolfo fez sinal com a cabeça para uma das assistentes, que
imediatamente veio em nossa direção e encaminhou Mastrinni e os outros
membros do Conselho para um espaço reservado na DH próximo ao trono.
— Depois conversamos sobre seu comportamento. — Ele me disse sem
tirar os olhos dos homens que se acomodaram no grande sofá de couro
preto.
Ele então levantou a mão e, com um estalar de dedos, todas as luzes do
espaço se apagaram. Os gemidos e burburinhos cessaram imediatamente em
resposta à escuridão inesperada. Uma única luz vermelha foi acesa sobre
Rodolfo tão logo o silêncio se fez no local.
Com as mãos nos meus ombros, ele me colocou na sua frente, no degrau
abaixo de onde estava. Eu não conseguia enxergar nada, mas sabia que o
lugar estava lotado e que todos olhavam para mim naquela hora, inclusive
Mastrinni e os demais membros do Conselho.
Senti as mãos de Rodolfo indo em direção à minha nuca, mais
especificamente das fitas de cetim prata que prendiam a máscara que cobria
meu rosto.
— Esta é Sofia Venturini, minha discípula e, por consequência, a mais nova
membra da Dark House.
Quando me dei conta, minha máscara estava na mão dele e minha face
exposta para que todos me conhecessem.
O barulho das palmas tomou conta do ambiente e, logo em seguida, as luzes
posicionadas em pontos estratégicos foram acesas novamente e todos os
darks voltaram ao que estavam fazendo antes do anúncio.
Simplesmente fiquei ali parada, por segundos que pareceram horas, apenas
tentando entender no que havia me metido e até onde minha curiosidade e
desejo me levariam.
— Fique à vontade. Agora, a casa também é sua. — Rodolfo disse enquanto
me entregava a máscara e ia em direção ao centro do salão. Eu continuei ali,
vendo-o “fazer uma social” com homens e mulheres nus que eram
claramente muito poderosos, mas ao mesmo tempo tão vulneráveis naquele
momento, como se fosse o happy hour mais normal do mundo.
— Com licença, Senhorita Sofia. — Uma voz feminina falando um
portunhol marcado me tirou do meu transe. — Sou Natália, serei sua
assistente particular aqui na DH. Pode me pedir o que quiser, quando quiser,
sem nenhum receio ou pudor. — Ela concluiu enquanto me direcionava
para sentar em uma poltrona de veludo vermelho que havia sido colocada
ao lado do trono de Rodolfo em algum momento que eu não tinha
percebido.
Fisicamente, Natália era bem parecida comigo. Não muito alta, pele branca,
cabelo escuro longo e um pouco ondulado, mas ela tinha olhos esverdeados,
enquanto os meus eram castanhos escuros.
Ela estava vestindo uma roupa igual a das outras assistentes, uma espécie de
uniforme formado por um biquíni de couro preto e bota de salto alto e cano
longo. A única diferença é que ela usava uma fita de cetim vermelho
amarrada no braço direito, e as outras não tinham esse acessório.
— É… Muito obrigada. Mas não acho que seja necessário ter uma
assistente aqui.
— Desculpe, mas com o tempo a senhorita verá que é necessário, sim.
— Se você está dizendo, não vou discutir. Então, meu primeiro pedido é
que você não me chame de senhorita, por favor. Pode ser só Sofia.
— Desculpe novamente, senhorita Sofia, mas esse é um dos poucos pedidos
que não poderei atender. São ordens do Dom Rodolfo que todos a tratem
dessa forma, sem exceção.
— Ordens do Dom sobre mim? Hum, interessante. Quais outros pedidos
meus você não pode atender pelas regras dele? — Perguntei, meio em tom
de ironia, achando aquilo uma verdadeira loucura.
— Trazer outro homem para fazer qualquer tipo de sexo com a senhorita
sem a permissão clara dele. — Naquele momento um frio percorreu minha
espinha. Todo aquele espetáculo que envolveu briga com os membros do
conselho, apresentação e assistente particular me fizerem esquecer que eu
estava em uma comunidade secreta voltada para satisfazer os desejos
sexuais mais secretos. E que, justamente, eu havia me permitido tudo aquilo
para ter um lugar seguro para ser quem eu realmente era, mas sempre
precisei esconder.
— Está certo, Natália. Obrigada por enquanto. Se precisar de algo,
chamarei você. — Foi tudo o que consegui dizer.
Apesar de estar em um local lotado, precisava ficar um pouco sozinha para
pensar rapidamente no que estava acontecendo e recuperar minhas forças
para continuar seguindo com a escolha que tinha feito quando saí do
elevador do meu prédio naquela noite.
Nem tive coragem de sair do meu pequeno trono depois daquela conversa.
Fiquei sentada tomando o vinho que, de tempos em tempos, Natália me
servia. Observei os darks, o que faziam e o quanto demoravam na DH. Vi
Rodolfo interagindo com as pessoas e, por inúmeras vezes, se
desvencilhando de algumas mulheres que, mesmo acompanhadas, não
deixavam de flertar descaradamente com ele.
Uma coisa era certa, a beleza, o porte e o cargo que ele ocupava ali
garantiam qualquer boceta ou bunda que quisesse. Mas, pelo visto, ele não
queria o que estava ali, o que não deixava de ser curioso por conta do
propósito do lugar.
Notei que o espaço estava esvaziando, e tão logo o último casal de darks foi
embora, Rodolfo veio na minha direção e esticou a mão direita. — Venha, a
noite ainda não acabou para você.

Fomos para a casa dele, deixando as assistentes e os bartenders arrumando


o espaço da Dark House. Subimos as escadas e entramos pela porta
principal, que dava diretamente na grande cozinha, e seguimos para a sala.
Quando ia me sentar no sofá, Rodolfo me interrompeu. — Não, vamos lá
para cima conversar.
Eu nunca havia ido ao andar superior da casa, mas imaginava que ali
ficavam os quartos, e eu estava certa. Logo após o último degrau, me
deparei com um corredor com três portas. Ele seguiu para a que estava à
direita, a abriu e, segurando a maçaneta, fez sinal para eu entrar.
O quarto era enorme. A cama king no centro do cômodo estava forrada por
um jogo de lençol de cetim preto extremamente brilhante, mas muito
luxuoso. O piso era coberto com um carpete cinza chumbo que parecia bem
macio, o que me fez, intuitivamente, tirar os sapatos e deixá-los ao lado da
porta.
O espaço tinha poucos detalhes, mas todos eram bem masculinos e seguiam
uma paleta de cor entre o preto, cinza em vários tons, branco e algumas
poucas peças decorativas em prata. De onde eu estava também dava para
ver a porta do closet e do banheiro, logo ao fundo. Realmente, tudo era
muito elegante e de extremo bom gosto.
— Seu quarto é muito bonito. — Ousei dizer e quebrar o silêncio.
— Obrigado. Quer uma bebida? — Rodolfo respondeu e fiz que sim com a
cabeça. Ele foi até o frigobar que ficava próximo à cama, tirou uma garrafa
de vinho tinto, pegou duas taças que estavam em cima do eletrodoméstico,
nos serviu e me entregou uma delas.
Me sentei no recamier de suede cinza escuro que ficava aos pés da cama,
enquanto ele sentou na poltrona em frente que tinha o mesmo revestimento.
Rodolfo se ajeitou, praticamente, da mesma forma que costumava ficar no
trono da DH: quadril um pouco para a frente e uma mão no braço da
poltrona, a diferença era que a outra segurava a taça de vinho.
Confesso que era bastante intimidador, mas um pouco excitante, ficar
sozinha com ele naquele espaço tão íntimo.
Pensei em dizer algo para aliviar a atmosfera pesada que se formava entre
nós, mas ele foi mais rápido e, enquanto pegava o celular para ligar o som
ambiente, perguntou: — O que achou da sua primeira noite como minha
discípula?
— Um tanto assustador. Achei que tudo na Dark House se resumisse a sexo,
fantasias e fetiches. Mas notei que tem muito mais por trás disso. —
Respondi. Ele deu mais um gole no vinho e completou:
— Você não imagina o quanto.
— Então me conta — Retruquei.
— Ainda não é o momento, brasileira. Melhor você dar um passo de cada
vez. — E antes que eu pudesse questionar qualquer coisa, ele estava na
minha frente, com o rosto próximo ao meu e uma mão de cada lado do meu
quadril, se apoiando no recamier.
— Algo excitou você essa noite, Sofia? — A tensão com Mastrinni,
seguida da conversa com Natália, não tinham me deixado focar nesse lado
da DH. Mas como eu não podia mentir para o Mestre, me vi obrigada a
confessar.
— Na verdade, não, eu estava muito nervosa para pensar em qualquer outra
coisa.
Sem desviar o olhar, como já era de praxe, Rodolfo tirou a taça da minha
mão, a colocou no chão, e lentamente inclinou o corpo musculoso e sexy
sobre o meu. Com a boca próxima ao meu pescoço, pude sentir o calor da
sua respiração, até ouvir sua voz no meu ouvido.
— Então preciso resolver isso. Afinal, seu bem-estar e satisfação é uma das
minhas obrigações e responsabilidades como seu Mestre.
Rodolfo se afastou, pegou nas minhas mãos e me colocou em pé. — Você
consegue entender que isso aqui não é, e nunca será, um relacionamento
amoroso? — Confirmei com a cabeça que sim, enquanto o sentia
desamarrar o laço que segurava meu vestido. — Escolhi esse modelo
justamente porque sabia que seria fácil tirar — Ele disse ao mesmo tempo
em que me despia.
Nas caixas de som do quarto, uma música estilo canto gregoriano tocava:
“Eu estou fora em uma nova estrada em busca de uma terra sem nome. E
eu nunca olho para trás porque estou andando através da luz do sol e da
chuva. Eu sou um homem que viveu nos túmulos e quebra as correntes”.
Quando me dei conta, já estava sentada na beirada da cama, com Rodolfo
em pé na minha frente tirando a camisa. Ele se virou para colocar a peça
sobre outra poltrona e notei um grande falcão azul tatuado em suas costas,
cobrindo a região inteira. Fiquei curiosa sobre o desenho, mas aquele não
era o melhor momento para perguntar, especialmente porque meu Mestre
estava tirando minha calcinha e me fazendo deitar de costas na cama.
Ele abriu gentilmente minhas pernas, dobrando-as e colocando meus pés
apoiados na cama. Aquela situação, por si só, já era excitante, e foi
impossível meu corpo não responder.
“Eu estou vivo outra vez. O passado se foi para o bem, é hora de dizer
amém”, a música dizia e eu me deixava levar por aquele jogo de sedução e
poder que não tinha a menor ideia de onde ia dar.
Rodolfo passou a língua pela parte interna da minhas coxas, chegando
várias vezes perto do meu sexo, mas não o tocou. Sua mão brincou com os
lábios da minha boceta, que já implorava para ser penetrada de alguma
forma. Finalmente, senti sua língua quente sobre meu clitóris, e foi
impossível não contrair meu tronco e soltar o primeiro gemido.
Como um verdadeiro Mestre no que estava fazendo, ele chupou minha
boceta como ela nunca havia sido chupada. Rodolfo intercalava
movimentos lentos e rápidos com a língua, e usava dois dedos para forçar
minha entrada, aproveitando minha lubrificação para me penetrar
suavemente.
O movimento de vai e vem que ele fazia começou a seguir o mesmo ritmo
da língua, e eu já não sabia mais quem era, tamanho o prazer que estava
sentindo. Quando achei que aquilo não poderia melhorar, Rodolfo subiu
uma das mãos para os meus seios, empurrando o sutiã para cima para
apertar, puxar e provocar meus bicos.
Aquela trilogia era alucinante: língua no meu clitóris, dois dedos dentro de
mim e outros brincando com meus bicos. Eu gozaria a qualquer momento, e
tentei avisar gemendo seu nome. Ele somente tirou a boca da minha boceta
para dizer:
— Abra as pernas o máximo que puder e não segure seu prazer. —
Obedeci, principalmente porque, àquela altura, eu já não era mais dona de
mim.
Rodolfo seguiu alternando entre movimentos rápidos e lentos, em uma
majestosa sincronia por todas as partes do meu corpo que ele tocava. Sentia
que ia explodir a qualquer instante, até que um forte orgasmo começou no
meu clitóris e tomou conta de todo o meu corpo.
Me agarrei nos lençóis e soltei um gemido alto, enquanto Rodolfo me
segurava forte contra sua boca, sugando todo meu prazer. Eu nunca havia
sentido nada parecido, e quase desmaiada na cama depois daquela sensação
indescritível, ouvi ele abrir o zíper da calça e pegar uma embalagem na
gaveta da mesinha que ficava ao lado da cama. Era certo que era uma
camisinha e, sem dizer nada, ele me virou, me deixando de barriga para
baixo no colchão.
Rodolfo me pegou pela cintura, o que me fez empinar o quadril. Sem aviso
ele me penetrou com força e começou a movimentar seu pau dentro de mim
em uma mistura de raiva, fúria, luxúria, carinho e pressa.
As estocadas ficavam cada vez mais fortes, assim como nossas respirações.
Não satisfeito em me foder com força, ele se inclinou sobre minhas costas
e, chegando com uma das mãos até minha boceta, começou a estimular meu
clitóris novamente. Aquilo era demais para mim e eu não aguentaria por
muito mais tempo antes de gozar de novo.
— Vamos, Sofia. Goza no meu pau. Quero sentir sua boceta me apertando.
—- Ouvir a voz dele me dando aquela ordem, seguida de uma sequência de
tapas na minha bunda, foi o suficiente para eu me entregar ao prazer mais
uma vez naquela noite.
Ao sentir que eu estava gozando, Rodolfo meteu ainda mais forte e rápido,
quase me rasgando ao meio, até que soltou um gemido alto e pude sentir
seu pau pulsando violentamente dentro de mim.

Largada na cama e completamente sem forças, eu não sabia como me portar


após aquela trepada. Afinal, não era um encontro tradicional no qual ambos
se deitam ao final, conversam e trocam carinhos. Eu deveria me levantar e
ir embora imediatamente? Precisava esperar uma ordem do Mestre?
Na dúvida, e respeitando o pedido urgente de descanso do meu corpo, me
ajeitei na cama e usei o lençol para me cobrir enquanto Rodolfo ia até o
banheiro se livrar do preservativo. Ele voltou e, para minha surpresa, se
sentou ao meu lado na cama.
— Está bem, brasileira?
— Sim, muito bem — Disse sem conseguir conter o sorriso de satisfação do
meu rosto.
— Quer me perguntar alguma coisa? — Na verdade, eu queria perguntar
várias coisas, por exemplo, se aquilo viraria uma rotina ou não, se fazia
parte da minha função como discípula, o que mais eu teria que fazer etc.
Mas meu cérebro ainda não estava funcionando o suficiente para lidar com
assuntos mais sérios, então, fui bem neutra na conversa.
— Essa sua tatuagem nas costas, tem algum significado?
— Com tantas perguntas que poderia fazer você escolheu essa? Ok… A
tatuagem é do meu arquétipo. O falcão representa pontos como poder, foco,
estratégia e percepção. Porém, em troca de tudo isso, tenho que lidar com
seu lado sombra, que inclui solidão, arrogância e agressividade.
— Mas por ser um arquétipo, você não tinha que olhar para ele todos os
dias? Então, por que o tatuou justamente em um lugar que não consegue
ver?
— Porque, apesar de não olhar para ele constantemente, sei que ele está
aqui, fazendo peso sobre mim. Isso ajuda a direcionar minhas decisões e
não me deixa desistir. Você acredita nisso, brasileira? — Mal sabia ele o
quanto, especialmente tendo Lilith como meu arquétipo pessoal.
Capítulo 12
Eu vejo as nuvens que estão rolando
Elas escondem o sol, mas não o meu pecado
O beijo de Judas ainda nos meus lábios
Não me posso afastar de onde estive
Ouve o chamamento, caminhando sobre a água
Escuridão debaixo dos meus pés
Vou fazer o diabo gritar
The Rigs | The Calling

Sofia Venturini

T
rês meses tinham se passado desde a minha primeira noite na Dark
House e na cama de Rodolfo, e minha nova rotina se resumia em fazer
pós-graduação durante a semana, o que tomava todos os meus dias,
cumprir meu papel de discípula sexta à noite e descansar nos finais de
semana, o que não estava, nem de longe, ruim.
Ir para o quarto dele assim que as sessões terminavam também fazia parte
dessa agenda e, a cada novo encontro, Rodolfo me proporcionava prazeres
diferentes, sempre testando meus limites e desejos.
Algemas, vibradores, plugs, gag [1], nipple clamps [2], nipple play [3], açoites
de todos os tipos, bondagem [4], spanking [5], shibari [6], facesitting [7], fisting
[8]
, age play [9], a tudo isso ele me submeteu, me provando cada dia mais
porque carregava o título de Mestre.
Porém, ainda que essas práticas fossem incríveis, tudo era feito somente
entre nós dois, e eu comecei a sentir que queria mais.
Como já estava ficando bastante habituada ao que acontecia dentro da Dark
House, por vezes me sentia tão excitada que despertava uma vontade louca
de interagir com os darks, mas sabia muito bem que aquilo era totalmente
proibido para mim. Eu queria muito, mas estava sem coragem de pedir algo
do tipo para ele, até que, uma noite, achei a oportunidade perfeita.
Mais uma vez estávamos nos nossos tronos na DH quando Natália se
aproximou e falou algo no ouvido de Rodolfo. Ele se levantou e disse: —
Venha comigo, Sofia — Na parte de trás de onde ficávamos era o escritório
do Mestre. Eu sabia da existência daquela sala, mas nunca tinha entrado
nela.
Um homem de uns 50 anos, muito charmoso com seus cabelos grisalhos
bem cortados, vestindo um terno tradicional de tecido azul escuro, gravata e
lenço cor de vinho, nos esperava acompanhado de uma moça de uns 20 e
poucos anos, visivelmente acuada atrás dele em seu tubinho preto e
sapatilhas da mesma cor.
— Dom Giordano, que honra recebê-lo aqui. — Rodolfo disse, em
espanhol.
— A honra é minha de ser recebido na sua casa, Dom Rodolfo. Soube que
escolheu sua discípula e, por isso, me senti confortável em trazer a minha
até aqui. — O homem respondeu em um espanhol carregado de sotaque
italiano, o que dificultava bastante entender o que ele estava dizendo, mas
me esforcei para não perder nada da conversa.
— Sim, Dom Giordano. Esta é Sofia Venturini, minha escolhida. Quem é a
moça que está contigo?
— Jordanna Poli, estamos iniciando a conversa e achei que seria um teste
interessante iniciá-la em sua Cruz de Santo André [10].
— Mas por que quer fazer isso aqui, na Dark House da Espanha e não na
sua própria sede, na Itália?
— Bem, como sabe, podemos escolher onde, como e de que maneira iniciar
nossas discípulas. A única regra que precisamos seguir é apresentá-la
oficialmente aos nossos darks. Porém, com Jordanna ainda tenho algumas
ressalvas. Apesar do potencial que vejo nela, não me sinto seguro em dar
minha cara a tapa e comprar uma bela briga com a Dark House italiana sem
antes testá-la adequadamente. Ah, e fique tranquilo, ela não entende uma
palavra em espanhol, mas conversamos antes e ela sabe bem o que viemos
fazer aqui.
— Entendo, mesmo porque escolher Sofia me gerou uma guerra declarada
com Dom Salvatore. Mas isso não vem ao caso agora, porque estou certo da
minha escolha. Mas, Dom Giordano, tem certeza de que deseja expor sua
futura discípula desse jeito, se considera que ela não é capaz de suportar o
peso físico, mental e emocional da função?
— Justamente por isso, mio amico, que quero fazer isso aqui. Colocá-la,
logo de cara, na maior prova de fogo que uma discípula pode enfrentar na
DH, me mostrará se ela tem mesmo capacidade e coragem para enfrentar
todo o restante que vem com essa posição. E fazer isso longe de casa é uma
forma de não queimar um cartucho à toa, capisce?
Rodolfo pensou um pouco, andou pela sala, olhou para mim, depois para
Jordanna que seguia olhando para as próprias mãos, e questionou: — Ela
está mesmo ciente do que acontecerá lá dentro? Tem como me provar isso,
Dom Giordano, já que ela não fala meu idioma?
O Mestre da Dark House italiana retirou o celular do bolso, abriu um
aplicativo de tradução e, na sua língua materna, perguntou para sua suposta
discípula:
— Jordanna, querida, explique para Dom Rodolfo o que viemos fazer aqui
hoje e o que você espera dessa noite.
Ela pegou o celular da mão dele e gravou uma mensagem em italiano, que
logo foi traduzida: — Estou aqui para me iniciar como sua discípula.
Escolhemos a Cruz de Santo André para isso por ser a maior prova pela
qual posso passar. Eu sei de tudo que pode acontecer lá dentro, mas eu
quero viver aquilo e, principalmente, quero provar para você que estou à
altura da posição que pretende me dar.
Ainda que Jordana tenha se mostrado um tanto receosa durante toda a
conversa, naquele momento ela se posicionou como uma mulher que sabia
exatamente o que queria.
Seu tom de voz firme e preciso, e o olhar fixo no seu futuro Mestre, não
deixavam dúvidas de que ela tinha pleno conhecimento do que estaria por
vir, ao contrário de mim, que não tinha a menor ideia do que era tudo aquilo
e por quais motivos Rodolfo ainda não havia me submetido àquela prova.
— Ok. Vamos preparar tudo então. — Ele respondeu, abrindo a porta e
apontando a todos para voltarem para o salão da Dark House.

Após ordens claras de Rodolfo, Natália e mais duas assistentes levaram


Jordanna para uma outra sala, que eu também desconhecia qual era. Ele
então sentou em seu trono, eu fui para minha poltrona ao lado dele, e Dom
Giordano foi direcionado para o mesmo sofá de couro preto no espaço
reservado próximo de nós, o qual Mastrinni havia ocupado em sua última
visita.
Depois de alguns minutos as luzes foram apagadas, fazendo os gemidos e
conversas cessaram imediatamente. Um único foco de luz vermelha foi
direcionado para o grande X que ficava na sala, e lá estava Jordanna, com
pés e mãos amarrados e totalmente exposta.
Ela vestia uma espécie de biquíni que deixava os bicos dos seios e sua
vagina à mostra. Uma venda de cetim preto tampava seus olhos e, ao seu
lado, havia uma mesa com vários acessórios sexuais e uma assistente à
disposição. Rodolfo se levantou e disse de modo que todos pudessem ouvir.
— Esta noite teremos, literalmente, o prazer de colaborar com a iniciação
de mais uma discípula da Dark House. Ela não fala nosso idioma, portanto,
cuidado redobrado para se atentar à palavra de segurança, caso ela a
mencione. Vocês sabem das regras, então, que comecem os jogos!
A luz vermelha continuava sobre Jordanna, mas outros pontos foram
acesos, me deixando ver que alguns darks seguiram com o que estavam
fazendo, enquanto outros iam em direção à Cruz de Santo André na qual ela
estava presa.
Um homem de uns 30 anos chegou perto e, sem qualquer aviso, começou a
chupar e bater em seus seios. A futura discípula deu os primeiros gemidos
em resposta.
Lembrei de quando Rodolfo havia me colocado lá, no dia do nosso acordo.
Sem estar amarrada, como seria o certo, eu já senti um prazer indescritível.
Mas naquela posição que Jordanna estava, sendo estimulada por vários
estranhos, sem nem conseguir enxergar se eram homens ou mulheres, devia
ser uma sensação ainda mais intensa.
A sessão de iniciação seguiu com uma mulher se posicionando entre as
pernas de Jordanna enquanto o primeiro homem continuava a brincar com
seus seios. De onde estava, pude ver que a dark iniciou um oral na
discípula, usando língua e dedos para fazê-la gozar. Eu já estava
terrivelmente excitada, querendo estar no lugar dela e perguntando porquê
Rodolfo não havia me deixado viver aquilo ainda.
Jordanna teve o primeiro orgasmo da noite, notado por todos por conta dos
gritos que deu e do tremor intenso do seu corpo. Sem intervalo, outro dark,
de uns 40 anos, tomou o lugar dos que estavam ali, pegou um dos
vibradores que estava sobre a mesa e enfiou na boceta dela, em fortes
movimentos de entra e sai enquanto o aparelho emitia a vibração e ele
chupava com brutalidade os bicos dos seus seios.
Pela maquiagem borrada, percebi que algumas lágrimas começavam a
escorrer pelo rosto da discípula, mas não tinha como saber se eram por
prazer ou não.
Aquilo continuou por mais alguns minutos, com homens e mulheres se
revezando no corpo exposto e sensível de Jordanna, até que um dark, de uns
30 anos, pediu para a assistente soltar os pés dela. Ele então a pegou pelas
pernas e a subiu até a altura da sua cintura. O homem, que deveria ter quase
1,90 cm de altura e um membro significativamente grande, a penetrou com
força e começou a fodê-la sem dó.
As lágrimas rolaram com mais intensidade de seus olhos, deixando claro
que não eram de prazer. Coloquei a mão no braço de Rodolfo, na tentativa
de dizer para ele parar a sessão, mas ele apenas fez um sinal para eu esperar
e ficar onde estava.
Eu defendia totalmente a ideia de as mulheres buscarem o prazer como
queriam, com quem queriam e da forma que queriam, mas me parecia que
aquilo estava indo além do que Jordanna podia suportar.
Por outro lado, sabia também que, enquanto ela não pedisse para
interromper, ninguém poderia fazer nada, a não ser que a vida dela estivesse
em risco. Então, me convenci de que ela estava tentando se superar e
mostrar para Dom Giordano que era a escolha certa.
O dark que a fodia começou a gemer mais alto, quase que urrando como um
animal. Ele estava prestes a gozar, era nítido. Mas antes que ele terminasse,
Jordanna gritou.
— Red! Red! Red! — Enquanto soluçava de tanto chorar e se debatia na
tentativa falha de se soltar do X.
O homem parou no mesmo instante e se afastou, visivelmente contrariado.
A luz vermelha sobre ela se apagou e o ambiente voltou à formatação
normal. Acompanhei enquanto as assistentes tiravam Jordanna da Cruz de
Santo André e a levavam de volta para a sala que havia sido preparada.
Dom Giordano veio até nossa direção e falou brevemente com Rodolfo. —
Muito obrigado, mio amico. Isso me poupou um constrangimento enorme
na DH italiana. Por favor, diga à bambina Jordanna que a espero no carro.
Arrivederci.

Naquela noite, quando a DH fechou e fomos para o quarto de Rodolfo, a


excitação tomava conta de mim, mas eu tinha muitas perguntas que
precisavam ser respondidas antes de resolvermos esse problema. Antes
mesmo de ele dizer algo, comecei.
— O que acontece com Jordana agora e por que você nunca me sugeriu
passar por aquilo? — Rodolfo olhou para mim e, enquanto tirava a camisa,
explicou.
— Uma coisa de cada vez, brasileira, uma coisa de cada vez. Primeiro,
Jordana perdeu a chance de ser discípula de Dom Giordano. Ela terá que
assinar um termo de confidencialidade, sob a pena de pagar uma multa
milionária caso conte para alguém sobre a Dark House e tudo o que
acontece lá. Segundo, eu nunca sugeri você passar por esse tipo de iniciação
porque não considerei necessário.
— Como assim não considerou necessário? Pelo que entendi, essa é uma
prova importante, tanto que ela não conseguiu passar e está fora. Você tem
medo que eu não consiga? Não pensou que eu gostaria de viver aquilo?
Meu tom era de afronta e ficou visível que Rodolfo não gostou do meu
comportamento. Mas antes de responder ele fez o procedimento que eu já
estava acostumada: pegou uma garrafa de vinho no frigobar, as duas taças
que ficavam sobre o eletrodoméstico e nos serviu da bebida. Assim que
entregou a minha, ele sentou na poltrona em frente ao recamier que eu
estava e começou.
— Eu nunca duvidei do seu potencial como submissa, Sofia. Por isso, não
vi necessidade de submeter você à Cruz de Santo André. Aquela, realmente,
é uma prova física e psicológica muito extrema, e o dark que se expõe a ela
precisa ter certeza de que é capaz de aguentar. Se eu colocar você naquela
posição, depois de todo esse tempo de contrato, e você não suportar, serei
obrigado a romper nosso acordo, mesmo contra a minha vontade, porque
essa é uma humilhação inaceitável para qualquer Mestre, principalmente
porque não dá para escondê-la dos outros darks, entende?
— Em resumo, você não quer correr o risco de me perder, é isso? —
Rodolfo não respondeu, apenas tomou mais um gole de vinho e foi até o
armário pegar os acessórios que usaríamos naquela noite. — E se eu disser
que quero viver aquilo? Se eu te garantir que consigo aguentar até o final?
Se eu confessar que aquela experiência sempre esteve nas minhas fantasias,
o que você diria? Me deixaria passar por aquela prova?
Ele soltou o açoite de couro e as algemas ao meu lado e disse: — Vou
pensar no seu pedido.
Capítulo 13
Corra, se esconda, oh, você está acabado
Melhor dormir com um olho aberto esta noite.
I seed red | Everybody loves an outlaw

Sofia Venturini

N
ada acontecia em segredo na Dark House, e Mastrinni já estava
sabendo da minha presença na tentativa de iniciação de Jordanna, o
que gerou uma discussão acalorada entre ele e o Rodolfo na sala do
Mestre na Dark House, algumas semanas depois.
— Dom Salvatore, quando o senhor vai entender que Sofia é a minha
escolhida e ponto final? Eu não vou mudar minha decisão e nenhuma de
suas ameaças vai me abalar. Essa conversa acabou para mim!
— Dom Rodolfo, este é meu último aviso. Garanta Matteo como seu
sucessor e não falarei mais nada sobre a cadelinha que escolheu para
satisfazer você. Na verdade, não estou nem aí para ela, só quero a certeza de
que meu neto tomará o trono da Dark House tão logo você deixe o cargo.
Do contrário, você já sabe.
O velho saiu furioso da sala, me deixando sozinha com Rodolfo, com o
sangue fervendo tanto quanto o dele pelo xingamento gratuito que recebi.
— O que ele quis dizer com "você já sabe"? O que ele pode fazer de tão
grave contra você? — Perguntei.
Pela primeira vez, em meses de convivência, vi meu Mestre perder o
controle. Rodolfo deu um soco sobre a mesa e, seguido de um ataque de
fúria, empurrou tudo o que estava sobre ela para o chão. Fiquei travada no
lugar, sem saber como reagir ou o que pensar.
Ele passou as mãos pelo cabelo, deu um longo suspiro e se sentou em uma
das poltronas. Depois de alguns minutos em silêncio, começou.
— Me desculpe, Sofia. Nada disso tem a ver com você. Mas, sim, Mastrinni
tem algo contra mim que pode me destruir como Mestre Dark, além de
afetar seriamente minha vida pessoal e profissional.
Como vi que ele estava tentando se acalmar, e que suas desculpas tinham
sido sinceras, me sentei ao seu lado para ouvi-lo.
— Quando eu era apenas um frequentador da Dark House, a Mestra Marisol
escolheu a mim e a outro dark para treinar. A ideia dela era, no final, o
melhor e mais preparado ser nomeado seu discípulo.
"Em uma das sessões o outro rapaz tentou se superar, passou dos limites
que o corpo aguentava e teve um ataque cardíaco, morrendo ali mesmo, na
nossa frente.
Ela entrou em desespero porque, além de trágico, aquilo traria sérios
problemas para nós dois, tanto na DH quanto judicialmente.
A Mestra então pegou o telefone e chamou Mastrinni, que já era presidente
do Conselho naquela época. A única coisa que ouvi ela dizer foi: 'Você me
deve isso'.
Ela me mandou embora antes de ele chegar e me orientou a não comentar
nada com ninguém, nunca. Saí de onde estávamos sem olhar para trás. Não
sei o que eles fizeram, mas acho que deram sumiço no corpo e abafaram o
caso entre eles."
— Meu Deus, Rodolfo! Sinto muito por isso. E você guardou esse segredo
todos esses anos? Mas como Dom Salvatore pode usar isso contra você, se
ele também está envolvido, na verdade, até mais que você?
— Marisol nunca me disse o que aconteceu depois que saí de lá. Também
não sei o que Mastrinni devia de tão grave para ela a ponto de sumir com
um corpo, mesmo que a morte do outro dark tenha sido natural e sem
qualquer culpa nossa. Porém, em uma das nossas discussões sobre a
indicação de Matteo, o velho me acusou de ter matado o rapaz para ganhar
o cargo de discípulo e, posteriormente, convencer Marisol de me dar o trono
que era dela aqui na DH da Espanha.
— Mas ele tem como provar isso?
— Não, Sofia, não tem. Mesmo porque, isso não é, nem de longe, verdade.
Na realidade, eu tentei me afastar da Mestra depois disso, mas ela disse que
já tinha me escolhido para ser seu discípulo e que ia anunciar isso na noite
em que o outro rapaz morreu. A indicação para sucedê-la no trono veio
anos depois, e acho que nem ela tinha planejado isso naquela época. Só
aconteceu porque, como já comentei com você, ela decidiu que era hora de
se aposentar, sem outras explicações.
— E o que acontece se o velho Mastrinni trouxer essa história à tona? —
Questionei preocupada com ele, mas também pensando no meu futuro e no
quanto essa história poderia respingar em mim.
— Eu perco meu posto na Dark House, a maior parte dos meus clientes de
investimento, já que quase todos são darks, e corro o risco de ser
processado se a justiça aceitar a denúncia e considerar que o crime ainda
não prescreveu, já que isso tem menos de 10 anos.
— Tem algo que eu possa fazer por você? Temos como provar para o velho
que eu não sou uma ameaça para ele ou para o neto?
— Sofia, ele não se preocupa se você é minha discípula ou não, mas com
quem indicarei para me suceder, caso algo me aconteça. O que Dom
Salvatore esqueceu é que uma coisa não tem a ver com a outra, que eu
posso muito bem designar você como minha discípula e não como minha
sucessora, entende? Mas, por algum motivo, ele acha que farei o mesmo
que minha Mestra e colocarei você nos dois cargos.
— E colocará? — Questionei, com medo da resposta.
— Não penso nisso, pois criaria um grande alvo nas suas costas, com toda
certeza, e sua vida nunca mais seria a mesma.
E ele estava certo. Apenas com a suposição de Mastrinni, percebi que
minha vida estava começando a virar de cabeça para baixo.
Algumas semanas depois da última vez que estivemos com o velho,
comecei a me sentir vigiada em todos os lugares que ia. Na faculdade, no
shopping, no mercado, na rua, sempre tinha a impressão de que alguém me
observava.
— Você está ficando louca, Sofia. — Disse para mim mesma enquanto
olhava pela janela do meu apartamento em um sábado à noite, observando
pela décima vez um carro preto que estava estacionado há horas na esquina.
Mas, por via das dúvidas, acho melhor comentar com Rodolfo.
Meu iPad tocou e vi que era uma chamada de vídeo dos meus pais. Depois
das conversas triviais do tipo "como está tudo aí", "a comida é boa", "tem se
alimentado direito", meu pai tocou em um assunto que me deixou em total
alerta.
— Filha, preciso te contar uma coisa. Um homem me abordou, há alguns
dias, no estacionamento do banco. Se apresentou como um dos
representantes do reitor da sua faculdade. Disse que estava pesquisando
mais a fundo os melhores alunos que concorriam à vaga de emprego para
aquela marca de roupa parceira da universidade. Falou que como é uma
empresa mundialmente famosa e extremamente conceituada, precisam ter
todos os cuidados com que será contratado.
Achei aquilo muito estranho, mesmo porque, eu só estava há pouco mais de
seis meses fazendo a pós e sabia que a escolha dos alunos só aconteceria
três meses antes do final do curso.
— Pai, o que mais ele disse? O que você disse?
— Ah, filha, como você tinha falado dessa possibilidade, achei que estava
tudo bem responder às perguntas dele. Ele queria saber onde morávamos, se
você tinha intenção mesmo de se mudar de vez para Madrid, se tinha
deixado marido e filhos aqui no Brasil, coisas que poderiam te impedir de
assumir o cargo, se for uma das escolhidas.
Um frio percorreu a minha espinha e fiquei pensando se aquilo era coisa do
Yan ou de Dom Salvatore. A questão era que nenhum dos dois sabia da
minha pós, muito menos da possibilidade de emprego. Então, seja lá quem
fosse, precisaria ter bons contatos para descobrir esses detalhes.
Considerando que os dois tinham muito dinheiro e pessoas influentes ao
redor, poderia ser qualquer um deles. Para completar, minha mãe solta outra
bomba sobre meus ombros.
— Sofia, tem mais uma coisa. Yan veio aqui dias atrás e queria saber de
você. Onde você estava, quando voltaria. Ele parece bem interessado em
reatar o namoro. Fiquei até com dó do menino.
— Mãe, pelo amor de Deus! O que você disse para ele? — Falei mais alto
do que devia do outro lado da tela.
— Calma, filha, eu não disse nada. Não vou quebrar a promessa que
fizemos para você de não contar para ninguém onde está. Mas por que essa
reação? O que nós não sabemos sobre esse término? — Precisei me
recompor rapidamente para não chamar a atenção dos meus pais para o
pavor que tinha de encontrar Yan novamente.
— Nada, mãe, nada demais. É que ex reaparecendo é sempre dor de cabeça,
né? E eu realmente não tenho intenção de voltar para o Brasil tão cedo.
Reatar com ele agora atrapalharia meus planos de carreira, só isso. Quem
sabe no futuro, não é? Se for para ser.
Mudei de assunto rapidamente e logo finalizamos a conversa. Agora eu
estava, verdadeiramente, com dois problemas: saber quem me investigava e
garantir que Yan não chegasse até mim em Madrid. Definitivamente,
Rodolfo precisava saber o que estava acontecendo.
Capítulo 14
Seu infiel, mentiroso, pretensioso
Você é um idiota
Se pensou que eu apenas superaria isso
Eu vejo vermelho, vermelho, oh, vermelho
Arma na sua cabeça, cabeça
Agora tudo o que vejo é vermelho, vermelho, vermelho.
I seed red | Everybody loves an outlaw

Sofia Venturini
— P rincesa, tem o aniversário de um colega de trabalho hoje. Como
não tínhamos programação para essa noite, confirmei nossa
presença. Tudo bem? — Yan disse por telefone, agindo como se nada
tivesse acontecido dias depois de abusar de mim física, mental e
emocionalmente.
Eu estava tão abalada, tão destruída por dentro, que não tinha forças nem
para falar sobre o assunto ou tentar terminar o namoro com ele. Me sentia
anestesiada depois daquilo, então, simplesmente respondi que sim.
Às 21h, como combinado, Yan chegou na porta do meu prédio para me
buscar. Segundo ele, a festa seria algo bem íntimo, no próprio apartamento
do aniversariante.
Notei ele estranhamente animado aquela noite, dirigindo e cantando, coisa
que ele não costumava fazer. De tempos em tempos pegava minha mão,
levava até os lábios e dava pequenos beijos.
— Princesa, você vai adorar essa festa, te garanto.
Minha vontade era pular do carro mesmo em movimento, porque tudo que
eu queria era me afastar dele e sair correndo, sem olhar para trás e nunca
mais ter contato. Mas, por algum motivo, um medo surreal me impedia de
tomar qualquer atitude.
Chegando no apartamento, percebi que somente homens estavam no lugar.
— Yan, só estou eu de mulher aqui. É uma reunião de rapazes? Acho
melhor ir embora.
— Que nada, princesa, relaxa. As namoradas de alguns dos rapazes já
estão chegando e você terá com quem conversar.
Não tinha muito o que fazer naquele momento, e também não queria
arrumar confusão com ele ali, na frente de todos, ainda mais agora que
conhecia o outro lado dele. Mas algo naquele ambiente estava estranho.
Percebi que alguns dos caras me olhavam, davam risadinhas e
cochichavam entre si.
— Yan, acho melhor deixar você à vontade com seus amigos. Vou chamar
um Uber e ir para casa. Você me encontra lá depois.
— Nada disso. Já falei que as meninas estão para chegar. Elas só foram
buscar uma surpresa para ele. Toma, bebe um pouco de vinho e se acalma.
Peguei a taça que ele me ofereceu, sentei em um dos sofás da sala e
comecei a beber enquanto olhava minhas redes sociais no celular. Quando
a taça estava quase vazia, senti algo errado comigo.
Olhei para frente e via todos em dobro, minha cabeça começou a rodar e,
ainda que estivesse ali, parecia que não tinha controle sobre meu corpo.
Tentei me levantar e ir até Yan, que estava do outro lado da sala, mas caí
sentada de volta no sofá.
Daquele momento em diante tudo o que lembro são borrões e algumas
frases soltas, sendo a mais aterrorizante vinda da voz do meu namorado.
— Ótimo! O remédio já fez efeito. Podem se divertir como quiserem, vou só
filmar e observar.
Alguém tirou meu vestido e, em seguida, a lingerie que eu usava. Tentei
falar, me proteger com os braços, gritar, lutar contra aquilo, mas meu
corpo não respondia a absolutamente nenhum dos meus comandos.
Sei que eram vários homens, e que eles alternavam entre si para chupar
meus seios, minha boceta, enfiar os dedos em mim, até que começaram a
me penetrar, pela frente e por trás, ao mesmo tempo.
Eu sentia dor, medo, raiva, fúria, nojo. Queria chorar, me debater, impedir
aquilo de alguma forma, mas não tinha controle de nada, o que deixava
tudo ainda mais desesperador.
No meio daquele terror, senti alguém puxar meu cabelo e forçar meu rosto
para cima. Era Yan. Lembro da voz dele bem próximo ao meu ouvido.
— Era isso que você queria, vadia? Pois então toma a fodida dos seus
sonhos — Ele deu um tapa na minha cara, depois cuspiu em mim e saiu de
perto.
Meu corpo todo doía. Podia sentir o sangue escorrendo pelas minhas
pernas, as risadas dos caras que faziam aquilo, os deboches, os gemidos,
as gozadas no meu rosto.
Acho que, em algum momento, apaguei de vez. Acordei no dia seguinte, no
meu quarto, com Yan dormindo ao meu lado. Teria sido um sonho, ou
melhor, um pesadelo? Eu realmente tinha passado por aquele abuso?
Levantei, ainda me sentindo um pouco tonta, e fui para o banheiro. Ao
sentar no vaso para urinar, senti minha vagina arder demais. Meu ânus
também não estava diferente.
Passei a mão no meu corpo, tentando sentir o que havia de errado. Aquela
sensação era a prova de que eu tinha sido violentada mesmo, que não era
coisa da minha cabeça. Yan tinha me levado naquele apartamento para me
submeter àquilo. Que tipo de monstro ele era? Como pode fazer aquilo com
a pessoa que ele dizia amar?
Voltei para o quarto e o acordei sem muita delicadeza. Yan me olhou com
um ar extremamente frio, mas mantendo o personagem.
— Oi, princesa. Bom dia! Está melhor? — Aquilo era demais para
qualquer pessoa aguentar.
— Como assim, melhor, Yan? Você está louco? O que você fez comigo? Por
que planejou tudo aquilo? Por que deixou aqueles caras abusarem de mim
daquela forma? — As lágrimas rolavam pelo meu rosto sem controle.
— Do que você está falando, Sofia? Está louca? Você desmaiou na festa
ontem, do nada. Tive que pegar você no colo, colocar no carro e trazer
para cá. O que fiz foi cuidar de você, trocar sua roupa e colocar você para
dormir.
— Você é doente, Yan, doente! — Meus gritos começaram a tomar conta do
quarto. — Meu corpo inteiro dói, eu lembro de tudo, de tudo! De todos os
seus supostos amigos me violentando e você assistindo. Ou pior, você
permitindo. Você me levou lá para isso, foi tudo planejado, combinado,
armado. Você é um louco, um nojento, um doente!
Quando me dei conta, ele estava em pé na minha frente e eu socava seu
peito como conseguia. Deixando a máscara cair ele segurou meus punhos
com força e me jogou contra a parede.
— Escuta aqui, sua putinha. Você fica lendo esses livros podres de sexo,
sonha com essas coisas e vem me acusar de algo que eu não fiz. Essa você
não vai colocar na minha conta, está entendendo? Tem noção do que você
está me acusando? Doente é você que gosta dessas histórias lixo.
Yan me jogou no chão com força e se virou para pegar a roupa que estava
na cadeira perto da janela e se vestir. Eu não conseguia me levantar,
tamanha a dor moral e psicológica que sentia, mas consegui gritar.
— SOME DAQUI, YAN! SOME DA MINHA VIDA. EU ODEIO VOCÊ!
DESAPARECE DAQUI, SEU MALDITO!
Ele veio com fúria até a minha direção, se abaixou, me puxou pelos cabelos
com força e, com o rosto colado ao meu, disse: — Tem certeza disso,
princesa? Pensa direitinho para não se arrepender depois, hein. Vou te dar
só mais uma chance, porque já estou me cansando desse seu
comportamento infantil. Peça desculpas do que falou agora e tudo voltará
a ser como antes.
Olhei bem nos olhos dele e, tirando coragem de onde nem sabia que tinha,
reforcei minha decisão.
— Some da minha frente, Yan. Acabou! Não quero mais nada com você.
Não quero ouvir falar de você. Desaparece daqui! — E finalizei cuspindo
na cara dele, como ele havia feito comigo na noite anterior.
Yan bateu minha cabeça contra a parede duas vezes, e quando coloquei os
braços em volta para me proteger das pancadas, ele me deu dois chutes nas
costelas, do lado direito, me deixando sem ar e quase desmaiada no chão.
Ouvi a porta bater, mas não consegui sair dali. Passei algumas boas horas
chorando, na tentativa de lavar todos os absurdos que meu amor da
adolescência tinha me feito passar. Aquele foi o último dia que vi o clone do
demônio.

— Ficou quieta a noite toda. O que houve, brasileira? — Rodolfo me


questionou assim que chegamos ao seu quarto após mais uma noite na Dark
House.
— Acho que estou com um problema. — A palavra "problema" chamou sua
atenção, pois ele virou rapidamente para mim, com a garrafa de vinho em
uma das mãos e uma taça na outra.
— Me conta o que está acontecendo.
— Acho que estou sendo seguida aqui em Madrid. Além disso, um homem
procurou meu pai no Brasil, com a desculpa que era sobre a possível vaga
de emprego relacionada à minha pós.
— Dom Salvatore. — Ele respondeu ao me entregar a bebida.
— Então, eu imaginei que poderia ser ele. Mas tem mais uma pessoa que
pode estar atrás de mim. Meu ex-namorado.
Rodolfo se sentou ao meu lado e contei sobre Yan para ele. Não tive
coragem de falar tudo, porque dizer em voz alta me faria voltar ao passado.
Fora que ninguém sabia do que realmente aconteceu e o motivo do nosso
término. O Mestre era a primeira pessoa para quem eu contava parte do
horror que eu vivi.
Após um tempo de conversa ele parou, pensou um pouco, e sugeriu uma
solução para o que estava acontecendo.
— Quanto ao seu ex, no momento, acho que não tem nada que possamos
fazer. A não ser que seus pais contem algo, acho um tanto improvável ele
chegar até você aqui na Espanha. Apenas continue tomando cuidado com e-
mails, telefone e redes sociais, para não ser rastreada. Mas, se ele aparecer,
pode deixar que cuidarei do rapazinho pessoalmente, com muito gosto.
— E quanto a Mastrinni?
— Bom, tenho uma estratégia que, possivelmente, tirará você do alvo dele.
— Então me fala. Não quero viver com medo de novo.
— Dias atrás você me questionou o porquê de eu não ter submetido você à
iniciação de discípula na Cruz de Santo André, certo? Como disse, sabia do
seu potencial e não achei necessário colocar você naquela situação. Além
disso, se você não aguentar até o final, terei que romper nosso contrato,
mesmo contra minha vontade. Ah, e já respondendo sua outra pergunta,
não, eu não quero perder você como minha discípula, pois foi a melhor que
conheci até hoje.
Ouvir aquilo me encheu de orgulho e me fez extremamente bem. Nós não
tínhamos um relacionamento amoroso, mas, por algum motivo que não
sabia explicar, Rodolfo tinha se tornado um ótimo parceiro e uma das
pessoas em quem eu mais confiava no mundo. Tanto que entregava a ele
meu corpo, meus desejos, meus segredos e, agora, minha segurança.
— Voltando ao plano para afastar Mastrinni, e juntando isso ao seu pedido
de passar por essa experiência de iniciação, acho válido submeter você a
ela. Porém, entenda uma coisa: o principal motivo é que, até hoje, nenhum
Mestre ou Mestra Dark House passou por essa exposição. Assim como eu,
outros discípulos ocuparam o trono, mas nunca um que tivesse ido para a
Cruz de Santo André. Por isso, se você passar por essa prova, Dom
Salvatore terá a certeza de que seu nome não será indicado por mim para
me suceder, e te deixará em paz.
— Entendi. Tiramos o velho da minha cola, ao mesmo tempo em que
realizamos mais um desejo meu. Até aí tudo bem, eu topo. Mas isso só dará
mais argumentos para ele insistir na indicação do neto.
— Sim, você está certa. Mas vamos um passo de cada vez. Cuidarei dessa
parte depois.
Capítulo 15
Eu não tenho mais medo
Estou parada no olho da tempestade
Pronta para encarar, morrendo para provar esse doce calor doentio
Eu não tenho mais medo
Eu quero o que você tem planejado
Estou pronta para provar agora, vá para o seu lugar
Not Afraid Anymore | Halsey

Sofia Venturini

E
ra a noite da minha iniciação. Rodolfo havia cuidado de tudo
pessoalmente, não deixando nenhum detalhe passar. Como bom
Mestre que era, garantiu que somente os darks mais confiáveis
estariam no espaço e fez questão de chamar pessoalmente Dom Salvatore e
o neto Matteo para assistirem ao espetáculo.
Quando fui levada pelas assistentes para a "sala de preparo para o abate”,
como elas costumavam chamar, pude ver os dois no sofá VIP parecendo
coiotes famintos em busca de uma presa fácil.
Depois de pronta, com uma roupa bem parecida à usada por Jordanna,
Natália e mais duas assistentes me levaram até o grande X e me amarraram
nele.
Rodolfo veio logo em seguida, com uma venda de cetim preta nas mãos. Se
posicionou atrás de mim e, antes de tampar meus olhos com ela, perguntou:
— Espero que esteja pronta. — Fiz que sim com a cabeça, dando permissão
para ele me vendar.
Os dados haviam sido lançados. Não tinha mais volta. Daquele momento
em diante, tudo dependia única e exclusivamente de mim. Meu futuro como
discípula, minha convivência com Rodolfo, que eu também não queria que
acabasse, o relacionamento dele com o velho Mastrinni, a indicação do
sucessor ao trono da Dark House espanhola, tudo!
Era muita responsabilidade sobre mim, eu sabia disso. Por outro lado,
estava tendo a oportunidade de realizar um dos meus maiores desejos
sexuais, e sabia que nunca mais teria uma chance como aquela. Ou seja, não
podia deixar passar.
Todos esses pensamentos passaram muito rápido na minha cabeça,
inclusive, em meio a flashes da tal festa de aniversário do amigo de Yan.
Naquela noite, eu havia sido violentamente abusada, e não, aquilo não tinha
nada a ver com a realização de uma fantasia.
Estar ali na DH, naquele momento, era totalmente diferente. Eu havia
pedido, eu havia autorizado, eu queria. Minha mente e meu corpo estavam
preparados para aquilo, e isso era o mais importante. Além disso, tinha
Rodolfo por perto, que me protegeria de qualquer coisa ruim.
Eu não podia deixar aqueles pensamentos tomarem conta. Tinha que
controlar minha ansiedade, curiosidade e medo de estragar tudo e perder
meu Mestre. Então, respirei fundo quando o ouvi dizer: — Que comecem
os jogos!
Minha sorte estava lançada.

Rodolfo tinha repassado as regras do X inúmeras vezes comigo e


confirmado se eu tinha entendido todos os riscos. No fundo, tive a
impressão de que ele estava mais nervoso do que eu. Mas o frio na minha
espinha começou quando ouvi as primeiras vozes perto de mim:
“Nossa, que delícia!”
“Hoje o Mestre caprichou”
“Se eu pego, faço gozar em dois minutos”
Um misto de medo e excitação tomou conta do meu corpo, especialmente
quando ouvi Natália dar permissão ao primeiro dark para me tocar. O nipple
play ao qual ele me submeteu realmente quase o fez cumprir a promessa:
“Vou fazer você gozar de um jeito que nunca gozou antes”.
Todos os meus sentidos começaram a responder com força, e saber que
Rodolfo assistia a tudo aquilo só me deixava mais louca e excitada.
Tão logo o primeiro dark saiu, um casal começou a explorar meu corpo. Eu,
que nunca havia sido tocada, muito menos chupada por uma mulher, me vi
gozando a primeira vez naquela noite na boca dela e do parceiro.
Daquela hora em diante perdi totalmente a noção de tempo, mas em
nenhum momento pensei em desistir. Na verdade, eu queria mais, muito
mais. Alguma coisa dentro de mim estava sendo alimentada, e ela tinha
muita fome.
Foram vários orgasmos depois daquele, vindos de penetrações, dedos,
línguas, brinquedos sexuais, e tudo mais o que eu havia pedido e permitido.
Até que uma hora ouvi um dark me dizer “Mija em mim, mija”. Já exausta
e plenamente satisfeita, apenas obedeci sem pensar muito.
Apesar de cansada e com braços e pernas doloridos, eu estava feliz, muito
feliz. Tinha realizado minha maior fantasia e ainda dado orgulho para meu
Mestre. Finalmente, Mastrinni me deixaria em paz e eu tinha conseguido
exorcizar o pesadelo da violência que vivi pelas mãos de Yan.
Bom, pelo menos eu achava que sim.

A última coisa que me lembro da noite da iniciação era de Rodolfo me


segurando e dizendo “Vem. Agora vou cuidar de você”. Acordei no dia
seguinte na cama dele, e eu nunca havia dormido lá, apesar de toda
intimidade e parceria que tínhamos.
— Bom dia, brasileira. Como se sente? — Ele disse enquanto entrava no
quarto com uma bandeja enorme de café da manhã.
Me sentei na cama, ajeitei os travesseiros nas costas e me posicionei para
ele colocar na minha frente a tábua que tinha café, leite, suco, frutas, pães,
queijos e geleias. Enquanto ele sentava ao meu lado, respondi: — Bem! Na
verdade, muito bem! E você, o que achou da noite de ontem? Conseguimos
convencer o velho?
Me servindo um pouco de suco, ele respondeu: — Sim, sem sombra de
dúvidas. E eu estou muito orgulho de você, grato pelo que fez e contente
por ter te ajudado a realizar sua fantasia. Mas, preciso falar sobre outra
coisa agora. — Seu tom de voz ficou mais sério e aquilo me preocupou. —
O que aconteceu, Rodolfo? Alguma coisa deu errado ontem?
— Não, Sofia, na Dark House deu tudo certo e, definitivamente, você se
consolidou perante a todos no cargo de minha discípula. O que quero saber
é o que aconteceu nos seus sonhos.
Eu não estava entendendo nada do que ele dizia, e acho que minha
expressão deixou isso bem claro.
— Sofia, depois que te coloquei na cama, você apagou imediatamente, o
que era de se esperar. Até aí, tudo bem. Eu demorei um pouco mais para
dormir e aproveitei para resolver umas pendências da empresa pelo
notebook. Certa hora, você começou a se mexer muito na cama, gritar, pedir
para parar, dizendo que estava te machucando. Eu realmente preciso que
você me diga a verdade. A noite de ontem te traumatizou de alguma forma?
Apesar de estar tomando suco, engoli a seco. Eu não havia contado tudo
sobre Yan e sabia que mentir para o Mestre poderia ser um erro grave. Mas,
na verdade, eu tinha apenas omitido uma parte da história. Ainda assim,
precisava contar com jeitinho o que faltava, que era justamente o trecho
mais tenso e problemático de tudo o que vivi com meu ex.
— Não, a noite de ontem não me traumatizou. Muito pelo contrário, me
ajudou a me curar de um evento passado.
— Qual evento, Sofia?
Deixei o café da manhã de lado e contei tudo para Rodolfo. A tal festa de
aniversário, o remédio na bebida, o abuso coletivo, Yan no outro dia
tentando me fazer acreditar que era coisa da minha cabeça e os chutes que
me deu quando, finalmente, tomei coragem de terminar o namoro.
Ele sabia dos e-mails e da ida do meu ex na casa dos meus pais, mas saber
desse episódio, realmente, o tirou do sério.
Rodolfo levantou da cama extremamente nervoso e fazendo um esforço
visível para não se alterar, virou para mim novamente.
— Sofia, eu tenho ainda mais orgulho de você agora, depois de saber que
lidou com tudo isso sozinha. Mas você tinha a obrigação de ter me contado
essa história antes da sua iniciação. Entendo que o que Yan fez não matou
sua fantasia sexual, o que é ótimo, mas estar ontem na Dark House, exposta
daquele jeito, poderia ter dado um gatilho tão forte a ponto de fazer você
surtar, colocando tudo a perder.
Eu apenas fiquei em silêncio, olhando para ele, já que estava totalmente
certo. O que passei naquela noite com Yan foi muito forte e eu demorei
anos para deixar alguém me tocar novamente. Na verdade, isso só tinha
acontecido agora com Rodolfo, cinco anos depois, e eu ainda não sabia
explicar o motivo de ter confiado tanto nele para isso.
— Sofia, quando eu disse "tudo a perder", não estava falando da DH ou de
Mastrinni, mas, sim, de você. Você é o que me preocupa. Você é o meu
principal foco nisso tudo. Sua força fez com que sua mente e seu corpo
ficassem bem e se curassem. Porém, se a noite de ontem não fosse como
você esperava e tudo isso se destruísse, o que eu faria com você? Como
curaria você de novo?
Meus olhos se encheram de lágrimas quando me dei conta que a
preocupação que Rodolfo tinha comigo era genuína, quando ele deixou
claro que seu posto de Mestre pouco importava, quando o risco à minha
vida e saúde mental era o mais importante.
Aquilo me fez ver que, aquela relação, mesmo que não fosse amorosa, tinha
tanto valor e peso quanto.
— Me desculpe e, muito obrigada por sua preocupação, de verdade. —
Rodolfo me deu um beijo na testa, outra coisa que nunca havia feito e, antes
de sair do quarto, me orientou:
— Vou deixar você terminar seu café e se arrumar. Preciso ir em uma das
lojas agora pela manhã, mas fique à vontade, a casa é sua. Aliás, vou deixar
uma cópia da chave daqui de casa em cima da mesa da cozinha para você.
Quando quiser ir para o seu apartamento, vá e nos falamos depois. Ah! E
mais uma coisa. Qualquer problema que tiver, absolutamente qualquer um,
me ligue ou venha direto para cá. Estou te dando as chaves também por
isso.
Capítulo 16
Você está com as costas contra a parede
Diga, onde está seu caráter, irmão?
Backbone | Kaleo

Sofia Venturini

D
ois meses tinham se passado desde a noite da minha iniciação. Nossa
rotina continuava a mesma e o relacionamento com Rodolfo cada vez
melhor, ainda que não fôssemos um casal, no sentido romântico dessa
palavra.
Um dos pontos interessantes disso tudo era que, apesar da grande e intensa
intimidade física que tínhamos todas as noites depois da DH, nunca
havíamos nos beijado. O mais próximo disso foi o beijo na testa que ele me
deu quando contei sobre o último abuso de Yan, assunto esse que, aliás, não
tinha sido mais comentado.
Fora isso, a única coisa que tinha mudado nos últimos tempos era a
presença certa de Matteo todas as sextas-feiras na Dark House. Desde que
foi "me assistir", o neto do velho Mastrinni ia a todos os encontros, mas
ficava sozinho no sofá VIP, apenas bebendo e observando o que acontecia
ao redor. Percebi que, apesar de ter outras assistentes atendendo seus
pedidos, somente com Natália ele conversava, e aquilo estava começando a
me incomodar.
Era visível que o nível de intimidade entre eles ia muito além de uma
funcionária servindo um cliente importante, mas também não era algo
sexual, como esperado entre as pessoas que frequentavam a DH. Havia algo
a mais ali, e minha intuição e curiosidade estavam gritando na minha
cabeça para eu descobrir o que era. Então, comecei a dar os primeiros
passos para isso.
Apesar de saber que estávamos em lados opostos daquele jogo, me
aproximar de Matteo era o mais inteligente a fazer naquele momento, já que
Natália era minha assistente pessoal e não diria nada com medo de perder o
emprego.
— Esta nova safra de vinhos que o Dom trouxe está maravilhosa. — Disse
a ele enquanto me aproximava e sentava ao seu lado no sofá, com duas
taças do tal vinho nas mãos, uma para mim e outra para ele. Ele agradeceu
com um aceno de cabeça e, logo em seguida, deu um gole na bebida.
— Hum, realmente está ótima. Não duvidava. É visível que Dom Rodolfo
tem bom gosto e sabe escolher bem tudo o que consome. — E, naquele
momento, percebi que ele não estava mais falando do vinho, já que me
olhou dos pés à cabeça, praticamente me comendo com os olhos.
Confesso que aquilo foi um tanto desconfortável, e até grosseiro e invasivo,
mas não podia falar nada ou reagir, precisava seguir com meu plano. Além
do mais, eu estava totalmente segura, pois não havia o menor risco de
Matteo fazer nada contra mim ali na DH.
— Vou aproveitar sua vinda aqui para lhe parabenizar, Sofia. Aceitar aquela
iniciação e chegar até o final, realmente, não é para qualquer um. Já vi
vários darks, tanto homens quanto mulheres, desistirem no meio da sessão.
Só lamento que, ao fazer isso, você tenha jogado fora a chance de ocupar o
lugar do seu Mestre no trono da Dark House.
— Agradeço, Matteo. Realmente não foi uma experiência fácil
mentalmente, mas posso garantir que fisicamente é extremamente
prazeroso. — Não pude segurar um risinho sacana quando afirmei isso. —
Quanto a ocupar o trono no lugar de Rodolfo, garanto a você que essa
nunca foi minha pretensão. Na verdade, até pouco tempo, nem sabia que
isso era uma possibilidade. Então, pode ficar tranquilo, você ainda tem
chances.
— Acredita que o Dom pode me indicar para sucedê-lo?
— Não sei, nunca conversamos sobre esse assunto. Aliás, as decisões do
meu Mestre não me dizem respeito, estou aqui apenas para acatar suas
ordens. Mas, se você quer tanto isso, prove para ele que merece o cargo. —
Joguei a isca para fazê-lo acreditar que eu poderia me tornar uma aliada.
Tomando uma liberdade que eu não dei, e se sentando mais perto de mim,
Matteo falou de uma distância próxima demais do meu rosto, tão curta que
pude sentir seu hálito de vinho na minha boca.
— Que discípula mais obediente. Cada vez entendo mais porque Dom
Rodolfo escolheu você em meio a tantas opções.
Antes que ele pudesse me tocar ou dizer mais alguma coisa, me levantei
rapidamente e fui em direção à porta da área VIP, deixando claro que minha
visita havia acabado. O interessante foi que, ao fazer isso, trombei com
Natália, que estava entrando no lugar. Ao me ver, o susto que ela tomou foi
praticamente impossível de disfarçar.
— Ah…desculpe, senhorita Sofia. Desculpe, senhor Matteo. Não sabia que
estavam em reunião. Apenas quis me certificar que estava tudo bem por
aqui e se precisava de algo.
— Tudo bem, Natália. Eu e Matteo já conversamos o que precisávamos por
hoje. Pode servi-lo com o que ele pedir, literalmente. — Alfinetei para ver a
expressão no rosto dela.
Virei logo após ver uma faísca no olhar de Natália, mas antes de voltar para
minha cadeira ao lado do trono de Rodolfo, fiquei um pouco atrás das
grandes cortinas vermelhas que davam privacidade para o espaço. Foi o
tempo suficiente para ouvir Matteo dizer:
— Mais cuidado, sua burra! Acabei de perceber que a escolhida do seu
Dom pode estar no papo. Não coloque tudo a perder, sua anta.
Sabia que tinha algo ali, mas o que era? Ou melhor, qual seria a relação
entre minha assistente e o neto do velho Mastrinni? Acho que descobrir isso
e proteger Rodolfo e seu cargo seria minha primeira grande missão como
sua discípula.
Por isso, considerei melhor não contar nada para ele sobre minha
desconfiança, nem o que tinha acontecido acabado de acontecer na sala VIP
da Dark House.
— Tecnicamente, você não está mentindo, Sofia, só está omitindo. — Falei
mentalmente para mim mesma, tentando me convencer que estava tomando
a decisão certa.

Natália Lopez
— Nunca mais ouse me chamar de burra, Matteo. Lembre-se que, sem
mim, você não chegará aonde quer. — Falei assim que entrei no escritório
dele, no dia seguinte.
— Nem tão pouco você, Natália. Então baixa a bola, sua bastardinha.
Raras vezes meus encontros com Matteo não terminavam em briga. Mas
esse já tinha começado desse jeito, o que mostrava que um de nós ficaria
machucado fisicamente naquela tarde.
Apesar dessa possibilidade, sabia que ele era meu passaporte para ocupar o
lugar que era meu por direito, tanto na Dark House quanto na maldita
família Salvatore. Por isso, precisei pensar rápido.
— Respira, Natália. Logo você também dará um jeito de se livrar desse
otário e se tornar a preferida do velho Mastrinni. — Continuei tentando
ficar um pouco mais centrada.
— Ok, Matteo. Não vim até aqui, correndo um risco enorme de ser vista,
para ficarmos batendo boca por besteira. Se queremos tirar a “escolhida” do
caminho, precisamos pensar e agir juntos. — Disse frisando a palavra
escolhida fazendo aspas no ar com as mãos e me sentando na cadeira em
frente à mesa dele.
— Você está certa. Então, qual é o seu plano? — Matteo me questionou
enquanto fechava a porta do luxuoso escritório que ocupava em uma das
empresas da família e vindo logo em seguida na minha direção, se sentando
em sua cadeira de chefe.
Ele era um empresário bastante influente e reconhecido para alguém que
tinha apenas 25 anos, dois a menos que eu.
Contudo, não era segredo para ninguém que ele só tinha atingido aquele
patamar graças ao avô, que mexeu todos os pauzinhos possíveis e
imagináveis para Matteo passar na faculdade e ter lugar garantido como um
dos C-Level do Grupo Salvatore. Se não fosse essa influência, ele seria só
mais um moleque riquinho gastando a herança deixada pelo pai.
Eu, por outro lado, comi o pão que o diabo amassou desde que nasci. Filha
de mãe solteira que precisou se desdobrar em dois empregos para conseguir
pagar o aluguel, colocar um pouco de comida na mesa e garantir o mínimo
de estudo que eu precisava, entendi muito cedo que meu corpo era a melhor
fonte de renda que poderia ter, e que ninguém iria me tirar.
No entanto, sabia também que já era considerada velha para vendê-lo, e que
meninas cada vez mais novas estavam ocupando espaço nesse mercado.
Por isso, ainda que estivesse fisicamente jovem, bonita e atraente, precisava
garantir meu futuro para quando os programas e os stripteases não fossem
mais opções de sobrevivência financeira. E o caminho que descobri para
isso passava por Matteo, Dom Salvatore e a Dark House.
— Dom Rodolfo me deu ordens claras e diretas de como atender Sofia.
Uma delas era que eu deveria acatar a todos os pedidos que ela fizesse,
exceto, trazer outro homem para ela transar sem a expressa autorização
dele. E vai ser justamente nessa brecha que nós vamos entrar.
— Você quer que eu coma a escolhida? Hum, que grande sacrifício terei
que fazer. — Matteo respondeu ao mesmo tempo em que passou a mão
sobre seu pênis, movimento que pude ver claramente graças à mesa de
vidro entre nós.
— Bom, não acho que você consiga comê-la com a permissão dela. Porém,
se souber usar a força certa, talvez consiga se divertir um pouco com a
discípula.
— A ideia é tentadora, mas não estou entendendo aonde você quer chegar,
Natália, nem como isso será benéfico para nós dois e para o que queremos.
— Depois a anta e burra sou eu, né, Matteo? — Não podia deixar de
cutucá-lo e devolver a ofensa inicial. — É muito simples! Dom Rodolfo não
quer que nenhum outro homem toque sexualmente em Sofia. Se ela fizer
isso sem autorização dele, será expulsa e deixará o cargo de discípula vago,
pois garanto que ele entenderá como uma grave traição.
— Ah! E você quer colocar a minha cabeça a prêmio, como o otário que vai
foder a boceta de protegidinha? Tem noção do que ele pode fazer comigo
quando descobrir?
— Aí que está o charme de tudo, Matteo. Faremos de um jeito que ele não
verá quem está comendo Sofia. E isso na Dark House é fácil, já que as
máscaras e as luzes certas deixam qualquer um irreconhecível. Só preciso
colocar você e ela juntos, no lugar certo, e depois atrair Dom Rodolfo pra
lá. Mas isso é simples para mim. O complicado será fazer seu pau
adolescente funcionar. — Disse sem conter uma alta gargalhada.
Matteo não gostou da brincadeira. Ele se levantou, bateu as duas mãos
sobre a mesa, e veio como um louco para cima de mim, abrindo o zíper da
calça e colocando o pau, enorme, diga-se de passagem, para fora.
— Quer ver como eu dou conta da minha parte nesse plano, vagaba? Te
fodo agora mesmo sem me preocupar com quem você é. — Ele me pegou
pelo braço, me levantou e me virou com força contra a mesa. Em segundos,
Matteo prendeu meus braços nas minhas costas, segurando com uma de
suas mãos, enquanto a outra subia meu vestido e colocava minha calcinha
de lado.
Ouvi quando ele cuspiu na mão e senti o líquido na entrada da minha
vagina tão logo ele passou nela.
— MATTEO, NÃO SE ATREVA! — Gritei tentando me livrar dele, mas ao
mesmo tempo querendo ficar por estar verdadeiramente excitada com
aquela situação.
Sem responder, ele enfiou o pau em mim, e eu arqueei o corpo para trás,
pois não estava pronta para aquilo. Matteo enrolou meu cabelo na mão e
puxou, como se segurasse as rédeas de um cavalo, e meteu o pau umas
cinco vezes em mim. A força que ele usou foi tanta que a mesa chegou a
sair do lugar.
Quando meu corpo estava começando a se acostumar com a grossura dele,
Matteo saiu de dentro da minha vagina, com a mesma rapidez com a qual
entrou, me deixando vazia, excitada e frustrada.
— Sorte sua ser quem é, senão eu terminaria o serviço e te daria uma
amostra grátis do que farei com Sofia. — Ouvir aquilo foi humilhante, mais
do que a situação em si.
Ambos arrumamos nossas roupas em silêncio. Eu ajeitei o cabelo, peguei
minha bolsa e, já na porta para ir embora, avisei.
— Eu te falo o dia que colocaremos o plano em prática. — E saí pensando
em qual vibrador usaria quando chegasse em casa para aliviar aquele tesão

Sofia Venturini
Passei a semana inteira pensando em Matteo e Natália e em como descobrir
o que eles estavam tramando.
Da parte dele, com toda certeza, era algo sobre uma possível indicação para
ocupar o cargo de Rodolfo na Dark House. Mas Natália, o que ela ganharia
com isso?
Por mais que eu tentasse imaginar algo, nada que vinha na minha cabeça
fazia muito sentido. A não ser que ele pagasse uma boa grana para ela
ajudá-lo. Mas também não vejo como ela conseguiria convencer o Mestre e
receber uma possível recompensa pelo trabalhinho sujo.
Era sexta-feira e, em menos de duas horas, eu deveria estar na casa de
Rodolfo. Quando levantei da minha cama, onde estava deitada assistindo
um filme, para ir ao banheiro tomar um banho e começar a me arrumar,
meu celular tocou.
O número não era conhecido, o que me fez, em um primeiro momento,
pensar em não atender. Mas a insistência da chamada e minha curiosidade
me fizeram mudar de ideia. E foi aí que o chão abriu sob meus pés.
— Oi, princesa. Disse que te encontraria, se lembra? Bem, sou um homem
de palavra. Pronta para voltar para o Brasil e para os braços do amor da sua
vida?
Era Yan. Não sei como, mas ele tinha descoberto meu número. O pavor
percorreu meu corpo e quase desliguei o telefone. Mas, em um lapso de
sensatez pensei que, se fizesse isso, não saberia o que ele pretendia fazer, se
estava apenas blefando ou se realmente sabia onde eu estava.
— Como você descobriu meu número, Yan? O que você quer comigo? Não
lembra que eu falei para você sumir da minha vida, seu doente?
— Opa! Vamos com calma, princesa! Uma pergunta de cada vez. Como eu
descobri seu telefone é até uma história bem interessante. Mas prefiro
contá-la pessoalmente, quando estiver aí, no seu apartamento em Madrid,
ajudando você a arrumar as malas para voltar comigo para o lugar de onde
nunca deveria ter saído.
Caí sentada na cama. Yan sabia mesmo onde eu estava.
— Você é mesmo doente, Yan. Precisa de ajuda, de tratamento. Eu não vou
com você para lugar algum. Nem mesmo se você me matar!
— Ah, princesa. Acho que vai sim, e sabe por que? Porque você não vai
querer que aquele vídeo maravilhoso, de você se divertindo e gozando
muito com meus amigos, naquela festa de aniversário, caia nas redes
sociais, não é mesmo? Pensa no desastre que seria! Seus pais vendo a
vagabunda que criaram, ou pior, possíveis empregadores assistindo um belo
pornô no melhor estilo gang bang, estrelado pela fabulosa Sofia Venturinni,
expert em marketing de moda. Garanto que nenhuma marca vai querer se
vincular a uma imagem podre como a sua, cadela!
Fiquei em silêncio, enquanto as lágrimas caiam como cachoeiras no meu
rosto.
— Yan, o que você quer? — Foi o máximo que consegui dizer em meio a
soluços.
— QUERO VOCÊ, SOFIA, VOCÊ! VOCÊ ME PERTENCE, PORRA!
ENTENDE ISSO! — Yan berrou do outro lado da linha, me fazendo chorar
ainda mais, enquanto afastava um pouco o telefone do ouvido. — Me
pertence e estou indo buscar nos próximos dias. E para provar a você que
não estou blefando, aqui vai um trechinho da sua atuação perfeita como
atriz pornô. Aproveite e mate as saudades daquela linda noite que eu sei que
você adorou, não é, minha putinha?
Ele desligou e, logo em seguida, meu celular avisou que uma mensagem
tinha chegado.
Yan realmente me filmou naquela maldita festa. Como tinha sido drogada
naquela noite, não me lembrava de quase nada.
Rever aquilo, ainda que fossem apenas alguns minutos de vídeo, fez minhas
lembranças voltarem com tudo, assim como o medo de ter que lidar com
Yan novamente.
Mas não tinha mais como fugir. O clone do demônio havia me encontrado,
e estava voltando do inferno para me atormentar.
Capítulo 17
Mantenha a linha, hei
Você luta por orgulho ou por glória?
Você mantém suas cicatrizes perto do seu coração?
Deixando para trás, ei
Quem viverá para contar sua história?
Você foi ensinado a não deixar ninguém para trás
Backbone | Kaleo

Yan Meyer
té que persuadir os pais de Sofia não foi tão difícil assim. Na
—A verdade, nem precisei me esforçar, já que Senhor Oswaldo e
Dona Carmen eram dois grandes otários medrosos. — Falei para
mim mesmo, debochando, enquanto arrumava minha mala para voar até
Madrid, buscar o que era meu por direito e dar aos meus pais o casamento
que eles tanto estavam me enchendo o saco para ter.
Meus velhos tinham aqueles costumes bestas de família rica e tradicional, e
viviam enchendo meus ouvidos e os dos meus irmãos sobre o quanto era
importante para eles termos bons casamentos, com moças decentes, bonitas,
educadas, preferencialmente, herdeiras ou, no mínimo, com a mesma
criação que tivemos.
— Dinheiro nós temos, precisamos apenas de moças à altura dos nossos
valores. — Minha mãe sempre nos lembrava disso. — Ah! E com
casamentos com acordos pré-nupciais e separação total de bens, para
evitarmos as interesseiras. — Reforçava ao final.
— Mal sabem eles que Sofia não é nada disso! Puta do caralho! —
Esbravejei. Mas, era o que tinha para mim. Isso porque, das regras que
meus pais determinaram para as futuras noras da família Meyer, ela atendia
o fato de ter estudado no mesmo colégio caríssimo que eu, e de ter perdido
a virgindade comigo. Só por ter feito essa merda gigantesca eu era obrigado
a casar com ela. Do contrário, seria deserdado.
"Yan, existe mulher para casar e mulher para nos satisfazer, e ela não
precisa ser a mesma. Porém, a partir do momento que seu pau toca o hímen
de uma garota, você tem que ser homem suficiente para transformá-la em
sua esposa. Você tirou a virgindade da menina Sofia hoje, não foi? Vi pelas
câmeras que vocês passaram a manhã toda aqui, quando deveriam estar na
escola. Me responde, Yan, você desvirginou essa garota?"
Lembro direitinho das palavras do meu pai no dia em que Sofia e eu
resolvemos matar aula para assistir um filme na minha casa. Maldito dia!
Eu tinha apenas 17 anos, gostava dela, mas não era apaixonado. Mas sabia
que ter deixado a cabeça de baixo falar mais alto do que a de cima tinha
definido meu destino.
Depois que confirmei a transa, meu pai me obrigou a casar com ela, eu
querendo ou não, ou me expulsaria de casa e da família. Sim, parece algo
absurdo, ainda mais para um rapaz da minha idade e pela época em que
estávamos, mas o velho Meyer não abria mão disso e dizia que era postura
de homem honrado.
— Se desvirginou, tem que casar, e convencê-la disso é sua obrigação.
Acho que não será tão difícil, já que elas ficam bestinhas e caidinhas por
nós quando tiramos seu cabaço. — Falou sorrindo dando uma baforada no
charuto que fumava todas as noites. Odiava aquele cheiro desde pequeno, e
odiava ele.
Entre uma peça de roupa e outra que colocava na mochila, lembrei também
do escândalo que foi em casa, e da surra que tomei quando, naquela época,
disse que não namoraria com ela, muito menos me casaria.
— Nem fodendo me caso com Sofia, eu nem gosto dela. Quero sair, zoar, me
divertir. E se vocês me obrigarem a casar com cada boceta que eu comer,
isso aqui vai virar o harém do Yan. — O tapa do meu pai veio forte na
minha cara, tanto que eu fui ao chão.
— Quer comer essas putas por aí, coma, mas entre os Meyers não existe
isso de ficar trocando de namorada toda hora. É uma só, para a vida
inteira. Se você a desvirginou, entendo que ela foi a escolhida, e ponto
final, sem discussão. Agora, se só queria aliviar seu saco, escolhesse uma
mais rodada e sem pudor para isso, porque quando somos o primeiro
homem de uma mulher, nos tornamos seus donos, e ela nos pertencerá para
todo o sempre.
Me pegando pelos ombros e olhando dentro dos meus olhos, meu pai
continuou: — Yan, meu filho, entenda uma coisa: valores, honra e a
formação de uma família perfeita é inegociável sob nosso teto. Você acha
que eu amava sua mãe quando me casei com ela? Não, não mesmo! Mas fiz
a mesma besteira que você e meu pai me obrigou a casar com ela, para
provar que eu era um homem de verdade.
"Ela também não queria se casar comigo, mas eu precisava cumprir a
ordem do meu pai, então, dei um jeito de conquistá-la, e logo tratei de
colocar seu irmão na barriga dela para garantir nossa união. Hoje, vejo o
quanto seu avô estava certo e que isso foi o melhor para minha vida. Por
isso, garantirei que você e seus irmãos sigam exatamente os meus passos.
Agora, se não quer seguir o mesmo caminho que eu, entendo que não
merece herdar nada do que é meu. Então, você pode ir embora quando
quiser, levando apenas o que te pertence. Como até as cuecas que usa
foram compradas com meu dinheiro, acredito que começará sua nova vida
nu, assim como veio a este mundo".
Não discuti, sabia que ele falava sério, pois meu irmão mais velho também
tinha passado por aquilo, ficando quase dois anos fora de casa, e proibido
de ter qualquer contato com a gente, até voltar casado com a menina que
tinha desvirginado, conseguindo retomar seu lugar na família.
Desde aquele dia enrolei meu pais enquanto pude, com a desculpa de que
me casaria com Sofia como eles queriam, mas antes queria terminar meus
estudos. Minha mãe convenceu meu pai de que isso era o melhor a ser feito.
— Se o menino quer estudar primeiro, que seja, mas tão logo acabe tudo,
que comecem os preparativos para o casamento. — O velho Meyer deu
minha sentença.
Aproveitei o quanto pude por aqueles anos , escondido, é claro, até meu
encontro com Sofia naquela balada, quando ela já estava com 24 anos e eu
com 25, o que não foi nada por acaso.
Por todo aquele tempo, mesmo distantes fisicamente, eu rastreei cada passo
dela, obtendo notícias por amigos em comum e a acompanhando pelas
redes sociais por um perfil falso que criei para mim.
Vi o quanto ela havia se tornado uma mulher linda. — É, talvez comer
essa boceta todo dia não seja tão ruim assim. — Me convenci uma noite,
vendo as fotos dela, antes de “esbarrar” com Sofia novamente e começar
oficialmente nossa relação amorosa.
Foram cinco anos de um namoro perfeito, no qual éramos vistos como o
casal dos sonhos. Íamos a todas as formalidades da minha família, incluindo
até os jantares entediantes que minha mãe insistia em dar para as tais
”amigas”. Meus pais estavam felizes e isso trazia paz para minha vida, além
de me ajudar a tirar tudo o que queria dos velhos: carros, viagens,
eletrônicos, até o veleiro que tanto queria.
E desfilar com Sofia por aí era fácil, já que ela era uma mulher realmente
muito bonita. O único problema mesmo era o sexo: chato, sem graça,
parecendo de dois velhos casados há quarenta anos. Mas como meu pai me
ensinou, existia mulher para casar e para nos satisfazer, e Sofia não se
encaixava na segunda opção.
Por isso, sempre que saía da casa dela, ia “caçar”. Com o tanque do carro
cheio, percorria as cidades vizinhas em busca de uma bocetinha que me
agradasse. Por vezes, via alguma garota na rua, conversava só o necessário
e comia onde dava mesmo. Em outras, queria algo mais sofisticado. Então,
ia para baladas mais chiques, escolhia uma boa vítima, pagava um motel
caro para impressionar, fodia do jeito que queria e, depois, sumia.
Não foram poucas as vezes que dei nome e telefone falso, justamente para
nenhuma delas me encontrar depois e me trazer problemas.
Até estava conformado com isso. O mais importante era atender o que meu
pai queria e garantir meus luxos e minha herança. E mais, foder com outras
mulheres era parte do processo e um costume ensinado pelo próprio velho
Meyer que, mesmo com quase 70 anos, seguia chifrando minha mãe com as
novinhas que ele pagava e nem se preocupava mais em esconder.
Minha mãe, por outro lado, para manter as aparências e o título que
sustentava na alta sociedade que frequentava, se fazia de cega para as
eternas puladas de cerca do meu pai.
Mas, para mim, tudo mudou na noite em que li um trecho daquele maldito
livro que estava na bancada da cozinha do apartamento de Sofia.
“— Não grite, não gema e não expresse nenhum som. Absorva todo seu
orgasmo em silêncio, sem se movimentar ou fechar os olhos, entendeu? Se
descumprir uma dessas regras, serei obrigado a punir você. — Com o olhar
fixo no meu, Richard ligou o vibrador, dando início à minha primeira
sessão de tortura da noite".
Ao ler aquilo, descobri que ela não era ruim de cama, ela só não gostava de
trepar comigo! Por que isso, se meu pau era enorme, grosso e eu a fodia
com força? O que tinha errado em mim que ela preferia aquelas histórias
podres a uma boa noite de luxúria com o homem que seria seu marido para
sempre? Fora os vibradores que achei em sua gaveta depois. Por que eu não
era o suficiente para Sofia?
Aquilo me cegou e eu não admiti ser substituído por aparelhos e
personagens de livro, e decidi que daria para Sofia o que sua boceta tanto
pedia. A primeira trepada hard na casa dela foi apenas um aperitivo. A
armação com os caras que contratei para o falso aniversário, uma bela
amostra grátis do que a esperaria logo após o casamento.
Já que ela gostava tanto daquele tipo de sexo, minha ideia era, depois de
transformá-la na senhora Yan Meyer, tratá-la como a puta rampeira que ela
merecia ser.
Não, eu não seria um corno manso, mas sim, o gigolô de Sofia. Eu poderia
fazer isso! Eu era o único no mundo que tinha o direito de fazer isso! A
virgindade dela era minha, logo, o corpo também era meu e eu poderia fazer
o que quisesse, como quisesse, a hora e com quem eu determinasse.
Por isso, pensei em um belo roteiro: gang bang uma vez na semana seria
parte da nossa rotina. Também iria emprestá-la para quem a quisesse comer,
na minha frente, na nossa cama, quantas noites fossem possíveis. Diria
exatamente como fodê-la, com qual intensidade, onde enfiar e quando
chupar, amarrar e bater. A cereja do bolo seriam as mulheres que eu levaria
para casa para foder na frente de Sofia, obrigando-a a assistir tudo
amarrada, amordaçada e com um vibrador enfiado no rabo, por longas
horas.
O problema era que minha raiva tomou conta e eu coloquei tudo a perder.
— Deveria ter esperado um pouco mais para dar aquela festinha de
presente para ela. — pensei.
Agora, só me restava consertar as coisas o quanto antes, principalmente
porque meus velhos já estavam desconfiando daquela história de namoro à
distância que eu tinha inventado por não saber onde Sofia estava.
— É, seria o relacionamento dos sonhos. Então, bora torná-lo realidade!
— disse alto para mim mesmo, colocando a mochila nas costas, pegando a
outra mala, a passagem e indo em direção ao táxi que me esperava na porta
do apartamento dos meus pais para me levar ao aeroporto rumo à Madrid.

Jantando no avião, confortavelmente na primeira classe, comecei a rir


lembrando de como meus futuros sogros eram dois imbecis.
— Seu Oswaldo, Dona Carmen, os senhores sabem o quanto eu amo a
Sofia desde que éramos adolescentes. Entendo e respeito perfeitamente essa
necessidade dela de conhecer o mundo e de se consolidar como
profissional. Estou disposto a esperá-la pelo tempo que for preciso, mas
não estou me aguentando mais de tanta saudade. — Falei na sala da casa
dos Venturinni, usando minha melhor versão "moço de família / genro dos
sonhos" e imaginando que Sofia não tinha contado detalhes sobre nosso
término catastrófico.
Notando que a atenção deles estava totalmente em mim, continuei.
— Como todo casal, tivemos um pequeno desentendimento. Vocês já
tiveram também, não? Então, Sofia acabou indo sem que pudéssemos
conversar para acertar tudo, mas eu a amo demais e não estou mais
conseguindo viver assim. Por isso, vim aqui pedir para me ajudarem. Só me
digam onde ela está, ou ao menos o novo número do telefone dela, e eu
resolvo tudo! Aposto que os senhores também estão sentindo falta dela, não
estão?
Mantive a cara de apaixonado e ainda apelei para o lado emocional deles.
Vi que Dona Carmen balançou com a minha visita e com o que eu disse,
tanto que olhou para o marido, que estava sentado ao lado dela no sofá,
como se esperasse sua aprovação para revelar o paradeiro de Sofia. Mas
foi Seu Oswaldo quem tomou a frente.
— Yan, como pai fico muito feliz em saber que Sofia tem um rapaz tão bom,
direito e de boa família buscando um compromisso sério com ela.
Conhecemos você e sua família há anos, e ficamos tranquilos com esse
relacionamento. Ter você como genro é, realmente, parte de tudo o que
sonhamos para a nossa filha. Porém, Sofia nos fez jurar que não
falaríamos para ninguém onde ela está. Quebrar essa promessa poderia
abalar nossa relação e fazê-la perder a confiança na gente, entende? Mas
podemos fazer assim: vou ligar para ela hoje à noite e pergunto se ela
autoriza passarmos o número dela para você. Ou melhor, podemos pedir
para a própria Sofia entrar em contato direto contigo. O que acha?
Se aquele velho desse com a língua nos dentes, Sofia escaparia novamente,
e eu não podia correr esse risco. Segurando minha raiva e ansiedade,
pensei rápido.

— Seu Oswaldo, agradeço muito a ajuda, mas sou um romântico


incorrigível e, realmente, queria fazer uma surpresa para ela. Por isso,
prefiro que nem comentem da minha vinda aqui. Faremos assim: vou
esperar um pouco mais, mandar outro e-mail, algo assim. Quem sabe ela
resolve me atender, não? Aguardarei o tempo dela, mesmo com a saudade
tomando conta de mim.
Tomei o suco que Dona Carmen tinha me oferecido, conversei brevemente
sobre assuntos aleatórios, e logo fui embora.
Se ficasse mais cinco minutos naquela casa, bateria naqueles velhos até
eles falarem onde Sofia estava e, depois, dava um fim neles para não
dizerem que eu tinha sido o agressor. Mas uma esposa órfã não seria bom
aos olhos da sociedade e o luto pela perda dos pais poderia atrasar ainda
mais o casamento, e eu já estava ficando sem tempo.
Usar minha versão amigável não tinha dado o resultado esperado, então o
jeito foi ser o Yan de sempre. E foi justamente isso que permitiu que eu
estivesse aterrizando, naquele momento, na Espanha.

Peguei um táxi no aeroporto de Madrid e fui direto para o hotel que havia
reservado. Como já era tarde, minha busca por Sofia começaria só no dia
seguinte.
Eu tinha o endereço do apartamento onde ela estava morando e também o
nome da faculdade. Poderia bater direto na porta dela, mas achei melhor
analisar antes onde eu estava pisando.
Precisava observar sua rotina, quando ela entrava e saía de casa, horário do
curso e, o mais importante, se estava namorando alguém. Ter que socar a
cara de um engraçadinho que estava com o que era meu não era a ideia,
mas, estava disposto a fazer tudo para ter minha princesa de volta, mesmo
porque o próprio pai dela eu já tinha, praticamente, nocauteado.
— É, Sr Oswaldo, deve ser muito complicado, um gerente tão respeitado e
reconhecido como o senhor, ser pego por roubar os seus clientes
investidores — Comentei quando interceptei meu querido futuro sogro no
estacionamento do banco no qual ele trabalhava desde que Sofia era
pequena.
— Do que você está falando, seu moleque? Nunca, jamais, em toda a minha
vida, roubei algo, muito menos dos clientes. Essa é uma acusação
gravíssima. Você está louco? Se alguém ouvir isso eu posso ser despedido,
ou até mesmo preso.
— Pois é, e ninguém quer isso, não é mesmo? Mas, nunca se sabe quando
um documento pode vazar do computador e cair nas mãos dos CEOs do
banco. Inclusive, olha que coincidência, alguns deles são grandes amigos
do meu pai, e tem uns que até devem favores a ele. Como a vida é
engraçada, não? Nunca sabemos quando teremos que cobrar essas coisas.
Já pensou nisso?
O velho já estava sem cor, encostado na porta do carro com a maior cara
de medo que eu já tinha visto.
— O que você quer, Yan?
— O telefone e o endereço da Sofia, só isso, nada demais.
— Eu não vou dizer para você, nem para ninguém, onde minha filha está.
Se ela fugiu de você, deve ter algum motivo e, agora, começo a imaginar
qual foi.
Peguei ele pelo colarinho e bati suas costas repetidas vezes contra o carro,
para ver se entendia, de uma vez por todas, que eu não estava brincando.
— Escuta aqui, seu velhote de merda. Sofia nunca fugiria de mim, porque
ela me ama mais do que tudo nesse mundo, mais do que ama você, só para
ter uma ideia. O que aconteceu foi um simples mal-entendido. Sabe como
são as mulheres, os hormônios às vezes dominam. Então, se quer que sua
filha tenha um bom casamento e uma vida feliz e tranquila, ao lado de um
homem que a ama e a respeita verdadeiramente, me fala agora onde ela
está. Eu tentei conversar com jeito com você e sua mulher, mas acho que a
idade começou a atrofiar o cérebro de vocês, e os dois não me entenderam.
Por isso, resolvi falar em uma língua que você compreende bem.
Dei mais um tranco nele e o soltei. Ajeitando a camisa e a gravata, um
pouco sem ar, ele insistiu.
— Não vou te dizer nada, moleque insolente. E ainda vou conversar com
seus pais. Onde já se viu vir aqui, na porta do meu trabalho, me ameaçar?
— Se o Sr Oswaldo achava que eu estava blefando, ia provar ali mesmo
que não.
Um pouco mais adiante, vi que um dos CFOs estava indo pegar o carro.
Por sorte, era um dos executivos que sempre se reunia com meu pai.
— Olha quem vem lá, sogrinho, se não o principal Chief Financial Officer
daqui. Vamos ver o que ele acha sobre a nossa conversa. — Me virando,
chamei a atenção do homem para mim.
— Amaro, que surpresa boa te encontrar aqui! Como estão a esposa e os
filhos? Faz um tempinho que não os vejo lá em casa. Ah, que falta de
respeito da minha parte. Conhece o Sr. Oswaldo? Ele é meu sogro.
Estávamos aqui conversando sobre como é inaceitável ter funcionários
bancários, com anos de carreira, que fazem fortuna desviando valores dos
investimentos de correntista, não?
Apesar do pânico visível para mim, Sr Oswaldo disfarçou bem, e a
conversa breve entre nós três sobre o tema que levantei fluiu tranquila e um
tanto agradável. Mas assim que Amaro se despediu e entrou em seu carro,
voltei a olhar para Oswaldo.
— E aí, ainda duvida que consigo te derrubar? Anda logo, me dá o telefone
e endereço da Sofia, que eu já estou perdendo a paciência com você.
— Não tenho aqui, e não sei de cabeça. Vou ver lá em casa e amanhã te
passo. Mas, por favor, não diga para ela ou para Carmen que fui eu quem
revelou onde ela está. Perder a confiança delas pode ser pior do que perder
meu emprego.
— Fique tranquilo. Será nosso segredinho.

No dia seguinte, voltei ao estacionamento e peguei com meu querido futuro


sogro o número do telefone novo da minha princesa, nome do prédio e da
faculdade. Ele não queria passar por meios digitais para não deixar nenhum
rastro de que foi ele quem traiu a filha. Não posso deixar de reparar que ele
foi esperto.
Assim que entrei no carro não consegui mais me segurar. Peguei o telefone
e liguei para Sofia. — Oi, princesa. Disse que te encontraria, se lembra?
Bem, sou um homem de palavra. Pronta para voltar para o Brasil e para os
braços do amor da sua vida?
Capítulo 18
Eu sinto as páginas virando
Eu vejo a vela queimando
Diante dos meus olhos
Diante dos meus olhos selvagens
Eu sinto que você está me segurando com mais força, não consigo ver
Quando vamos finalmente respirar?

Breathe | Tommee Profitt

Sofia Venturini
— O que aconteceu, Sofia? — Aquela foi a primeira vez, desde
quando começamos nossa relação de Mestre e discípula, que
entrei na casa de Rodolfo correndo e, principalmente, me lancei em seus
braços.
Eu já estava devidamente arrumada para mais uma noite na Dark House
com outro presente que ele havia me dado: um vestido longo de veludo
vermelho e mangas compridas, com um generoso decote em V e uma fenda
sobre a minha coxa direita ainda mais provocativa. Nos pés, scarpins da
mesma cor. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto, com um
comprido aplique que fazia os fios chegarem até minha bunda. No rosto a
maquiagem que era minha marca registrada: sombra e lápis bem pretos e
marcados e batom nude.
Sorte que aquela make era muita boa e não escorria, porque eu não
conseguia parar de chorar.
Depois de algum tempo abraçada a ele, somente soluçando, finalmente
consegui me acalmar um pouco e soltá-lo para dizer: — Yan me achou. Ele
está vindo para Madrid.
— Como assim, Sofia, Yan te encontrou? Você não tomou os devidos
cuidados, conforme conversamos? Achei que esse otário tinha deixado você
em paz. — No rosto dele era possível ver uma mistura de raiva e
preocupação.
— Sim, eu continuo fazendo tudo o que falamos. Eu não tenho ideia de
como ele me encontrou. Somente meus pais têm meu número e o nome do
Plaza. Ninguém mais, tenho certeza!
— Sofia, você acha que seus pais contaram para Yan onde você está?
— Não, jamais, de forma alguma. Eles não sabem nada do que aconteceu,
não têm ideia do porquê terminei com ele e vim embora. Mas eles nunca
quebrariam uma promessa que me fizeram. Nunca! Pelo menos, é nisso em
que acredito.
Rodolfo pegou nas minhas mãos, retirou a pequena bolsa que eu estava
segurando, a deixou sobre a bancada da cozinha, e me levou até a sala.
Sentados, vejo que ele tem um olhar frio, mas ainda assim preocupado.
— Sofia, faremos assim: primeiro você vai ligar para os seus pais e, sem
alarmá-los, tenta descobrir se foram eles que contaram para aquele verme
sobre o seu paradeiro. Depois, nós dois vamos até seu apartamento buscar
suas coisas e trazê-las para cá. A partir de hoje você passa a morar aqui
comigo. E sem discussão. É uma ordem.
— COMO É QUE É? — Dei um pulo do sofá e me coloquei na frente dele.
— Está louco, Rodolfo? Não, nem pensar! Isso já é demais e vai muito, mas
muito além do nosso acordo. Como assim morar com você? Isso não tem o
menor cabimento!
Comecei a andar pela sala pensando que chamá-lo de louco também não
estava no acordo, nem tampouco gritar com ele. Mas, naquele momento,
tinha esquecido completamente qual era minha posição naquela relação.
Além disso, ser sua discípula e submissa não dava a Rodolfo o direito de
ditar meu destino, muito menos dizer o que eu deveria fazer da minha vida
pessoal. Tinha aprendido a aceitar a proteção que ele me dava, e até
gostava, mas ser livre para tomar todas as minhas decisões era algo
inegociável.
— Sofia, aquele lixo já fez coisas demais contra você, mesmo sabendo que,
a qualquer momento, você poderia pedir socorro para um amigo ou familiar.
Pensa agora, em outro país, longe de conhecidos, o que ele não pode fazer?
Fora que, depois de todo esse tempo, a raiva dele só deve ter aumentado,
especialmente se achar que foi trocado ou enganado por você.
Me puxando para o seu lado e me sentando novamente no sofá, ele
continuou — Por favor, pense nisso como uma forma de ficar mais segura e
viver mais tranquila. Aqui, eu conseguirei proteger você ainda mais.
Pensando por esse lado, Rodolfo até que tinha razão. Tudo o que Yan já
havia feito deixava mais do que claro que ele não tinha limites. Sozinho
comigo, em outro país, realmente, eu corria muito mais perigo.
Parei para refletir um pouco, fiquei olhando para a sala, reparando em cada
canto daquela casa que eu gostava tanto e que até já sentia como sendo um
pouco minha, de tão à vontade que ficava lá. Mas não. Aceitar morar com
Rodolfo era fugir de um problema que somente eu podia resolver. E isso
não tem nada a ver com ele, com meus pais, ou com qualquer outra pessoa.
Era apenas um surto da cabeça de Yan que eu precisava colocar um basta.
— Eu até concordo com você, Rodolfo. Yan pode mesmo estar mais
perigoso e louco agora, especialmente protegido pela ideia de não estarmos
perto de nenhum conhecido. Mas também preciso que você entenda que eu
não abro mão de tomar minhas próprias decisões, e isso não inclui
simplesmente aceitar uma ordem sua para vir morar aqui. Além disso, eu
preciso encará-lo de frente. Preciso enfrentá-lo para fazê-lo parar de vez e
também para acabar com esse pesadelo que me assombra até hoje. Se eu
não fizer isso, se vier me esconder aqui, debaixo da sua asa, essa história
nunca terá fim.
É visível que essa não era a resposta que ele queria ouvir de mim. Percebi
isso pela reprovação em seus olhos, que não paravam de me encarar, e da
tensão em sua mandíbula.
No mesmo instante, o celular dele tocou no bolso da calça e, sem desviar o
olhar do meu, Rodolfo atendeu a ligação. Sustentei e também continuei
olhando para ele, deixando claro que não mudaria de opinião.
— Fala Natália. Ok. Já estou indo. — Finalmente ele tirou os olhos dos
meus, se levantou, colocou o telefone no bolso e disse: — Preciso resolver
um problema lá embaixo. Mas você não precisa ir agora. Ligue para seus
pais daqui e veja o que descobre. Te espero na Dark House e, mais tarde,
conversamos sobre a sua não mudança para minha casa.
Apenas consenti com a cabeça. Definitivamente, não queria discutir com
ele, especialmente por causa de Yan, que não merecia um segundo da nossa
atenção, e por saber que tudo o que Rodolfo fazia por mim era apenas para
o meu bem e para me proteger.

Subi para o escritório, que ficava no andar de cima, montado em um dos


quartos. Sentei na cadeira da mesa que Rodolfo usava para trabalhar quando
estava em casa, liguei seu note, e fiz uma chamada de vídeo para os meus
pais. Era pouco mais de 22 horas em Madrid, então, em São Paulo, ainda
eram 17 horas. Ótimo horário para conversar com meus pais em uma sexta-
feira.
— Oi, filha! Que surpresa boa! Nossa, como você está bem arrumada e
ainda mais bonita do que já é. — Minha mãe começou a conversa, me
fazendo lembrar que eu estava preparada para mais uma noite como
discípula do Dom da Dark House Espanha, e não como uma estudante de
pós-graduação em marketing de moda que estava ligando para os pais para
contar as novidades. Precisava pensar em algo rápido para justificar toda
aquela produção.
— Oi, mãe. Obrigada. É… Hoje é a formatura da turma anterior à minha.
Eu e algumas amigas vamos para ver como é e se é muito diferente das
formaturas aí do Brasil. — Não dando tempo para ela continuar o assunto,
logo emendei. — E meu pai, onde está?
— Ah, filha, ele ainda não chegou. Pedi para Oswaldo comprar algumas
coisas antes de vir para casa. Sabe como ele é, peço para comprar pão e ele
traz, praticamente, o mercado inteiro.
Sorri lembrando de como era a época em que vivia com eles, antes de ir
morar sozinha. E realmente duvidei que Sr Oswaldo e Dona Carmen teriam
coragem de quebrar alguma promessa que me fizessem, mesmo sem saber o
motivo pelo qual tinha pedido total segredo.
Conversamos sobre algumas coisas aleatórias. Ela falou como estavam as
vendas na loja, da nova gerente que tinha contratado para ter mais tempo de
desenhar e criar as próprias coleções, como estava Bob, o cachorrinho deles
e outros assuntos sem muita importância. Mas minha ansiedade estava
gritando no peito, me empurrando para perguntar logo sobre Yan e ficar
livre para descer e encontrar com Rodolfo na Dark House. Especialmente
porque eu odiava chegar quando a casa já estava cheia.
— Mãe, deixa eu te perguntar uma coisa. Por acaso, vocês tiveram contato
com Yan por esses dias?
— Ah, sim, filha. Ia te contar. Ele veio aqui em casa semana passada, queria
saber de você e onde estava morando.
Senti que meu coração parou na hora. Não era real que meus próprios pais
haviam me jogado de volta para o colo do clone do demônio.
— E vocês falaram algo? — Disse tentando esconder meu pavor.
— Lógico que não, Sofia. Não prometemos que não contaríamos nada a
ninguém? Desde quando faltamos com a palavra com você alguma vez? —
Ela respondeu até um pouco ofendida. Mas, após respirar fundo, continuou.
— Filha, mas não vou mentir que fiquei morrendo de dó dele. Me pareceu
tão apaixonado, tão arrependido. Olha, não sei o que aconteceu entre vocês,
mas, não seria interessante reconsiderar esse namoro? — Minha mãe não
tinha ideia do absurdo que estava falando, e eu não estava com a menor
vontade de explicar meus motivos. Então, resolvi encerrar a ligação.
— Mãe, preciso ir agora. Minha carona chegou. Manda um beijo pro pai.
Depois falo com vocês. Beijo.
Encerrei a ligação, fechei a tela do note, joguei as costas contra o encosto
da cadeira e, finalmente mais aliviada, consegui respirar.
É, não foram eles. Preciso contar para Rodolfo. Mas então, como ele me
achou?

Rodolfo Fabregat
Sofia poderia até não aceitar o convite para morar comigo, e eu tinha que
respeitar isso. Porém, ela não me impediria de zelar por sua segurança, pelo
menos até colocar minhas mãos naquele animal, dar a ele tudo o que
merecia e garantir que nunca mais a perturbaria.
Aproveitei que ela estava na minha casa ligando para os pais e chamei meu
chefe de segurança até meu escritório da DH assim que desci.
— Joseph, boa noite. Tenho uma importante missão para você. Preciso que
coloque o máximo de seguranças que for possível na cola de Sofia, dia e
noite, mas ela não pode saber, nem sequer desconfiar, disso. E se alguém te
perguntar, você também não pode dizer nada.
— Sem problemas, Dom Rodolfo. Entendi. Providenciarei tudo agora
mesmo. Preciso me atentar a algo especial?
— Sim, tem um brasileiro babaca que está aterrissando em Madrid nos
próximos dias e pode me dar algum trabalho. Mas esse não é o problema. O
que me preocupa é que ele pode colocar a vida de Sofia em risco. Vou ver
se consigo uma foto dele para vocês ficarem de olho no indivíduo.
Inclusive, qualquer um que se meter a engraçadinho com ela, pegue e traga
para mim. A Cruz de Santo André será usada de uma maneira como nunca
foi antes.
— Sim, Dom Rodolfo. Pode ficar tranquilo.
— Mais uma coisa Joseph. Quero apenas homens da sua extrema confiança
nesse trabalho, alertas 24 horas por dia, mesmo quando ela estiver no Plaza.
Lá, ninguém pode subir no apartamento de Sofia sem eu saber antes quem
é. Se ela pedir alguma comida, ou receber alguma encomenda, verifique e
confirme o remetente antes, e só permita que um dos seus homens leve até a
porta dela. Hoje, ela dorme aqui comigo, mas a partir de amanhã, logo no
primeiro horário, quero todos fazendo a segurança dela. Entendido?
— Sim, Dom Rodolfo. Considere seu pedido atendido.
— Assim espero. Obrigado, Joseph. Pode ir agora.
Logo que ele abriu a porta, deu de cara com Natália. A forma como ela
estava parada me deu a impressão de que estava ouvindo a conversa. Mas
antes que eu questionasse algo, ela informou: — Dom Rodolfo, com
licença. Posso falar um instante com o Senhor?
— Seja breve, Natália. Já fiquei tempo demais longe do salão.
— Só queria avisar que a senhorita Sofia já chegou.
— Obrigado. Já estou indo encontrá-la.
Aquilo me soou um tanto estranho, mas não tinha tempo de resolver nada
naquela hora. Queria ficar o máximo de tempo possível ao lado da minha
discípula, para protegê-la de tudo e de todos.
Capítulo 19
Você cavou sua própria cova, agora deite nela
Você é tão cruel (você era cruel)
Mas a vingança é um prato que se serve frio
I See Red | Everybody Loves an Outlaw

Natália Lopez
— M atteo, tem algo errado com a protegida. — Falei assim que entrei
na área VIP para servi-lo e vi que ele estava sozinho.
— Seja mais específica, Natália, e discreta, por favor. Hoje, nada pode dar
errado, e você já pisou na bola várias vezes.
Ignorei a provocação. Não era dia, nem lugar, para começarmos mais uma
de nossas brigas. Ainda mais quando a última tinha me feito usar o vibrador
por mais de duas horas seguidas, até me sentir sexualmente satisfeita. Então
só mostrei a garrafa de bebida que estava na minha mão e continuei.
— Ouvi o Dom pedir para Joseph colocar seguranças atrás da Sofia 24
horas por dia. Parece que tem alguém que não gosta dela chegando do
Brasil. Ouvi até ele falar que ela corre risco de morrer.
Matteo pegou a garrafa de whisky e ele mesmo se serviu de uma dose. Indo
até a grade que dividia a área especial das demais, olhou para Sofia que já
estava sentada em sua cadeira ao lado do trono de Dom Rodolfo.
Sem deixar de observá-la, deu um gole na bebida, olhou um pouco a
movimentação ao redor, e então se virou de volta para mim.
— Saber que tem alguém que quer acabar com a vida da discipulazinha é
música para os meus ouvidos e, na verdade, resolveria metade dos nossos
problemas. Mas, não posso esperar alguém que eu não conheço, e que não
sei a intenção, fazer o serviço por mim. Vai que essa pessoa não dá conta do
recado, amarela na hora, ou pior, caia nas mãos de Rodolfo. Se o plano
desse desconhecido der certo, melhor para nós, mas prefiro não arriscar.
Vamos seguir com o planejado para hoje. Não vou perder a chance de foder
muito aquele bocetinha e ainda ter o prazer de ver o Dom expulsá-la da
Dark House.
— Ok, como você quiser. Vou preparar sua fantasia e, assim que estiver
tudo certo, venho te chamar.
Matteo consentiu com a cabeça e continuou onde estava. Eu precisava ser
rápida para colocar nosso plano em ação e fazer tudo sem levantar a menor
suspeita sobre nenhum de nós dois.
— Vamos, Natália, hora de agir. — Disse em voz alta para mim mesma. —
Seu futuro está nas suas mãos e depende desta noite dar certo. Coragem
garota, você consegue e merece. Logo, a nova discípula da Dark House
será você, ao lado de Matteo, o novo Dom.

Atrás de uma das cortinas estilo açougue da DH tinha um corredor


comprido, com várias portas tanto do lado direito quanto do lado esquerdo
que davam para os quartos privados. Eles eram usados pelos darks que
queriam privacidade para realizar suas fantasias e fazer absolutamente tudo
o que quisessem sem plateia.
O espaço ali não tinha câmeras, justamente para garantir que ninguém fosse
identificado. Saber disso me dava a certeza que precisava de que eu e
Matteo não deixaríamos nenhuma prova para trás.
Além do mais, havia uma espécie de passagem secreta nos fundos que
ligava a área das assistentes a esse corredor, o que me ajudaria a levá-lo
para lá sem ter que passar pelo meio do salão e sermos vistos por todos.
Escolhi o último quarto, que era o que ficava mais perto da passagem
secreta que eu e as meninas usávamos para levar bebidas para os darks.
Coloquei em cima da grande cama uma máscara de couro de cara de
cachorro para Matteo cobrir o rosto e uma longa capa preta, feita de cetim,
que ajudaria a esconder seu corpo.
Antes de sair do quarto, acendi a luz vermelha que ficava sobre a porta e
indicava para quem passava que aquele espaço estava ocupado.
Em todas as noites na Dark House, em algum momento, Dom Rodolfo
deixava seu trono e ia interagir com os darks que não estavam transando.
Geralmente, eles ficavam no bar, e era lá que conversavam e fechavam
vários negócios.
Sofia nunca o acompanhava, pois não fazia parte da função dela como
discípula. Além disso, essas negociações eram secretas, e fora os
envolvidos, somente o Dom podia saber o que era acordado. Eu ia
aproveitar justamente esse momento para atraí-la para o quarto.
Peguei mais uma garrafa de whisky como desculpa para voltar à área VIP e
falar com Matteo. Enquanto servia a ele outra dose, dei as orientações.
— A máscara e a capa estão sobre a cama do último quarto, que fica do
lado esquerdo, logo após a porta da passagem secreta. Assim que eu sair
daqui espere 30 segundos e use a entrada que te mostrei mais cedo para
chegar até lá. Se vista e fique atrás do biombo. Assim, quando ela entrar,
não verá você. — Tomando um gole da bebida sem olhar para mim, para
não levantar suspeitas aos demais darks que estavam no espaço, Matteo fez
que sim com a cabeça.
Servi mais alguns darks, peguei os pedidos de outros, só para garantir que
todos me vissem trabalhando normalmente, inclusive Sofia e Dom Rodolfo,
que conseguiam me ver claramente de seus tronos.
Saí da área VIP, fui até as outras assistentes e repassei as solicitações de
bebidas, pedindo para que fossem levar porque eu precisava atender minha
senhorita.
Cheguei ao lado dela e, como de costume, perguntei se queria algo. Ela fez
um sinal com a mão que não e continuou a conversar com Rodolfo. Eu
fiquei em pé ao lado dela, como fazia a maior parte da noite.
Não demorou muito para o Dom ir até o bar conversar com alguns membros
da DH. Olhei para a área VIP e vi que Matteo não estava mais lá. Era a hora
de agir.
— Senhorita, me desculpe, mas notei que não está muito animada esta
noite. Posso fazer algo para satisfazê-la?
— Não, Natália, obrigada. Estou bem, só um pouco cansada. Mas agradeço
sua preocupação.
— Senhorita, desculpe a insistência, mas, se me permite, acho que tenho
algo que pode deixá-la um pouco mais feliz, e sem se cansar. — O tempo
que estava convivendo com ela já tinha deixado claro o quanto Sofia era
curiosa, e eu usaria essa fraqueza para levá-la até Matteo. Vi que ela me
olhou intrigada, então continuei. — A Senhorita sempre me perguntou o
que tem atrás daquelas cortinas. Podemos aproveitar que Dom Rodolfo está
ocupado para irmos rapidamente lá dar uma olhada. O que acha?
Ela ficou alguns segundos pensativa. Ambas sabíamos que desobedecer a
qualquer ordem do Dom era o mesmo que assinar a sentença de morte. Mas,
indo até os quartos, não estaríamos sendo desobedientes. Afinal, ele nunca
nos deu essa proibição. Acho que ela também chegou a essa conclusão
porque se levantou:
— Ok, estou sem fazer nada aqui mesmo. Vamos lá.
Cruzamos o salão em meio aos darks que se lambiam, beijavam, chupavam
e trepavam. Um cenário absolutamente normal para nós duas.
Reparei que ela até olhou para Dom Rodolfo, mas ele estava de costas no
momento em que passamos pelo bar, o que foi perfeito para o meu plano.
Se ele a visse, tenho quase certeza de que tiraria satisfação com ela só
depois, nunca na frente daqueles homens importantes.
No auge da sua altivez, que para mim soava mais como arrogância, Sofia
foi na frente. Sem titubear, abriu a cortina de tiras de plástico largas com as
mãos e deu dois passou para dentro do longo corredor. O quarto em que
Matteo estava era o último, então, precisava de uma boa desculpa para levá-
la até lá e ainda fazê-la entrar.
Praticamente todos estavam com as luzes vermelhas acesas, indicando que
estavam ocupados. Conforme passávamos em frente as portas, era possível
ouvir uma melodia formada por gritos, gemidos, sons de tapas e até choro.
Sofia continuou andando até que, na metade do corredor, parou.
— Droga! Todos estão ocupados. Não vou conseguir entrar para ver como é
por dentro.
Tão idiota a escolhida! Tendo acesso aos dois lugares mais cobiçados da
Dark House, que eram a cama e o pau do Dom, queria entrar naquele antro
onde os darks comuns frequentavam.
— Senhorita, o último quarto está livre. Vamos até lá e eu mostrarei tudo o
que tem lá dentro.
— Mas a luz vermelha está acesa, Natália.
— Sim, mas é porque a hidromassagem quebrou. Foi justamente por isso
que liguei para o Dom antes de começarmos. Ele pediu para deixarmos com
a luz acesa para ninguém entrar por achar que estava ocupado. Sabe como
Dom Rodolfo é, ele faz questão que absolutamente tudo esteja funcionando
e perfeito.
— Ok, se você está falando, vamos lá, já estou aqui mesmo.
Demos mais alguns passos e chegamos ao tal quarto. Meu sangue corria
rápido e eu estava cada vez mais excitada, só de imaginar o que Matteo
faria com ela, já que não podia fazer comigo, apesar da tensão sexual quase
palpável entre nós dois.
Abri a porta, dei espaço para Sofia passar e entrei em seguida, logo após
olhar rapidamente para o corredor e confirmar se ninguém tinha nos visto, e
então fechei nós duas lá dentro.
Todos os quartos eram iguais: paredes revestidas com veludo vermelho,
cama king size forrada com jogo de lençol e fronhas também em vermelho
e estrutura para amarrar pés e mãos, cadeira erótica na qual dava para fazer
várias posições, suporte com diferentes modelos de chicotes e açoites, e
uma Cruz de Santo André na parede lateral direita.
O espaço não tinha janela, mas era bem climatizado, e a temperatura do ar,
inclusive, podia ser usada como uma forma de punição.
Atrás do biombo, onde pedi para Matteo se esconder, ficava um grande
banheiro com piso, revestimento e louças em preto, dois chuveiros e uma
hidromassagem que comportava, tranquilamente, umas seis pessoas.
A iluminação ficava por conta de um suntuoso lustre estilo medieval, com
lâmpadas que podiam ser controladas pelo painel ao lado esquerdo da cama
para iluminar mais ou menos o local com luz branca ou outras cores.
Eu tinha deixado o ambiente o mais escuro possível, apenas com um foco
em vermelho direcionado para a cama, para deixar ainda mais difícil para
Sofia identificar quem a atacou.
— Uau! Esse espaço é realmente lindo. Vou ser obrigada a perguntar para o
Mestre porque ele nunca me trouxe aqui. — Sofia disse enquanto explorava
cada canto do quarto.
— O que tem atrás desse biombo, Natália?
— Ah, senhorita, é o banheiro. Mas como disse, está fechado para conserto.
— Ela parou em frente à divisória e deu um passo à frente, dando a
entender que ia entrar. — Vadia curiosa. — Pensei, mas logo vi que ela
mudou de ideia e se virou de volta para a cama.
Assim que Sofia fez isso, Matteo saiu do esconderijo e a pegou por trás,
tapando sua boca antes que ela desse o primeiro grito. Para nem ela, nem o
Dom desconfiarem de mim, a ideia era Matteo fingir que me agredia, assim,
ficaria claro para todos que eu era outra vítima da emboscada à discípula.
Sem falar nada para não correr o risco de ser reconhecido pela voz, Matteo
jogou Sofia com força contra a cama. O espetáculo tinha começado!
— O que está fazendo com a minha Senhorita, seu louco. Vou chamar o
Dom. — Disse enquanto socava o peito dele, para Sofia achar que eu a
estava defendendo.
Ele então deu um tapa no meu rosto e eu me joguei no chão, para dar a
entender que tinha sido forte.
Foi então que Sofia partiu para cima dele, repetindo a mesma tentativa de
impedi-lo que eu. A diferença foi que o soco que Matteo deu no rosto dela
foi real, fazendo Sofia cair em direção à cama, bater o outro lado da fase no
dossel e cair desacordada.
— Ops, isso não estava nos planos. Mas como eu ia imaginar que a
escolhida era tão feroz? — Matteo disse enquanto eu me levantava.
— E agora, bonitão. Vai fazer o que?
— Bom, não curto necrofilia [11] , mas vai dar para me divertir enquanto ela
não acorda. E quando ela retornar à consciência, será tarde demais, já
estarei inteiro dentro dela. Vem, me ajuda a colocá-la na cama.

Eu e Sofia já estávamos tempo demais longe do salão, e logo nossa


ausência chamaria a atenção do Dom. Por isso, precisávamos ser rápidos.
Colocamos a escolhida sobre a cama e Matteo se posicionou sobre ela,
sentando sobre suas coxas, com uma perna de cada lado de seu quadril.
— A danada é mesmo muito bonita. — Ele falou enquanto abria o decote
do vestido e deixava os seios de Sofia à mostra. — Sai daqui, Natália, sua
participação nesse teatro acabou. Me dá uns quinze minutos para fodê-la
gostoso e quando me vir de volta na área VIP, chame o Dom para ver o
estrago que vou deixar.
— Matteo, se eu voltar para o salão agora sem ela, em dois segundos Dom
Rodolfo colocará a Dark House inteira abaixo, e você não terá tempo nem
para fazer esse seu pau murcho subir. — Ele soltou uma gargalhada alta e
debochada sob a máscara de cachorro.
— Seu sonho é eu te foder, né, vadia? Olha, não digo que também não
queria comer essa sua boceta rodada e mostrar como um homem de verdade
faz. Mas para sua sorte, ou não, o que nos liga me impede de fazer isso.
Deixa para a próxima encarnação, se isso existir.
— Na próxima encarnação, Matteo, quero distância de você e de toda sua
família. Já basta o que fizeram contra mim e minha mãe nessa vida. Vai,
anda logo, faz seu trabalho porco aí que eu só posso sair daqui quando você
terminar.
— Como você quiser, querida titia. Será um prazer ter você como plateia.
Sentei na cadeira erótica e pude ver Matteo começar a possuir Sofia, que
ainda estava desmaiada. Ele se debruçou sobre ela e começou a chupar o
bico dos seus seios, em uma mistura de força e raiva. Mesmo desacordada,
era possível ouvir leves gemidos que saiam da boca dela.
— Hum, parece que ela está gostando, titia.
Depois de brincar um pouco com os seios, Matteo saiu de cima dela e, em
pé de frente para a cama, puxou o corpo de Sofia para baixo, levantou o
vestido, tirou a calcinha que ela usava, e abriu as pernas dela o máximo que
conseguiu.
— Puta que pariu! Essa boceta é uma obra de arte. O Dom está bem servido
mesmo — Ele falou antes de meter a boca nela e começar a chupá-la.
Eu já não estava aguentando mais assistir aquilo. Minha boceta latejava e
pingava de tão excitada que eu estava. Deixando o tesão tomar conta,
esqueci completamente o que estávamos fazendo e o risco que corríamos, e
me arrumei na cadeira erótica, de forma que minha pernas ficassem tão
abertas quanto as dela, e comecei a me tocar.
— Ora, ora, titia não está se aguentando? Deixa o sobrinho preferido te
ajudar.
Matteo puxou a cadeira para perto da cama, e enquanto chupava a boceta de
Sofia e a penetrava com dois dedos da mão esquerda, enfiou dois dedos da
mão direita na minha boceta e começou a socar fundo também.
— Vem, titia. Como você me obedeceu direitinho, vou te dar a chance de
sentir o mesmo prazer que estou dando para a putinha do Dom. — Matteo
começou a alternar a boca entre a minha boceta e a de Sofia, enquanto
mantinha o estímulo com os dedos em nós duas.
— Vem cá, titia, chupa seu sobrinho, já que a falecida aqui não pode fazer
isso. Mas senta na cara dela antes, quero ver você esfregando esse bocetão
na carinha de anjo da escolhida.
A vontade de gozar era tanta que fiz o que ele pediu. Subi na cama, prendi a
cabeça de Sofia entre minhas coxas, e me abaixei sobre seu rosto,
colocando meu clitóris bem em cima de seus lábios. Matteo também subiu
sobre ela e se sentou sobre seu quadril. Me inclinei apenas o suficiente para
colocar o pau dele na minha boca que, diga-se de passagem, era enorme e
delicioso.
Enquanto tentava me satisfazer no rosto de Sofia, me esfregando com força,
Matteo me segurou pelo cabelo e ditou o ritmo queria ser chupado.
Estávamos em um êxtase tão grande que nem percebemos quando Dom
Rodolfo, Joseph e mais dois seguranças entraram no quarto.
— SAIAM DE CIMA DELA, SEUS FILHOS DA PUTA!
O Dom gritou e praticamente voou para cima de Matteo. Puxando-o pela
máscara, deu o primeiro soco em seu rosto. Joseph veio logo em seguida,
me tirou da cama pelos cabelos e, desse jeito, me arrastou pelo chão até a
cadeira erótica.
— PRENDA ESSA VAGABUNDA AÍ, JOSEPH, QUE EU JÁ ME
ENTENDO COM ELA. — Ele gritava enquanto trocava socos com Matteo,
que lutava para se proteger e para não ter a máscara arrancada, na falha
tentativa ser descoberto.
Os outros dois seguranças apenas fecharam a porta e, parados do lado de
dentro, garantiram que ninguém sairia de lá.
Eu sabia que o Dom faria de tudo para aquilo não vazar, então, o que
acontecesse naquele quarto, ficaria naquele quarto, enquanto os outros
darks se divertiam normalmente do lado de fora, como faziam em todas as
reuniões.
Capítulo 20
Estou cansado de ver sombras sangrar
Lutando por nada, mas uma necessidade
A sétima queda é de joelhos
Deixe suspiros e segredos me cobrir
The Calling | The Rigs

Sofia Venturini

A
cordei zonza e com uma forte dor de cabeça, sem entender nada do
que estava acontecendo. Aos poucos percebi que estava no quarto
onde Natália havia me levado.
Com um pouco de dificuldade, me apoiei nos cotovelos, levantei o tronco e
só então vi que estava sem calcinha e completamente exposta. Ao me dar
conta de minha situação, uma carga de adrenalina tomou meu corpo e
rapidamente me encolhi na cama e me cobri com o lençol. — Não, não,
não, de novo não!
Estava tão confusa que achei que Yan tinha me achado, me dopado e
abusado de mim novamente, Mas, conforme tudo foi ficando mais claro, vi
Natália amarrada na cadeira com Joseph ao seu lado, dois seguranças que
pareciam guarda-roupas bloqueando a porta, e Rodolfo socado um cara
vestido com uma capa preta e uma máscara de cachorro.
— RODOLFO, PARA, POR FAVOR! VOCÊ VAI MATAR ELE! — Me
vendo acordada, ele deu ordem para Joseph algemar o desconhecido e veio
rápido na minha direção.
— Sofia, você está bem?
— Sim, minha cabeça dói um pouco, mas acho que o resto está tudo certo.
— Foi a forma que consegui falar para ele, nas entrelinhas, que não tinha
sido violentada novamente. Bom, pelo menos eu não me sentia assim.
— Quem é ele, Rodolfo?
— Boa pergunta. Hora de descobrir quem é o louco que ousou desrespeitar
minhas regras bem embaixo do meu nariz, e o que essazinha tem a ver com
isso.
Puxando a máscara violentamente, sem se preocupar se machucaria o rosto
daquele homem ou não, descobrimos quem está por trás de tudo aquilo.
— Matteo? — Falamos praticamente juntos.
Rodolfo o tirou do chão com uma única mão, puxando-o pelo colarinho da
camisa, e bateu as costas de Matteo várias e várias vezes contra a parede,
proferindo socos e mais socos nas costelas com a mão que estava livre.
— Foi aquele velho que te mandou aqui? Mastrinni está por trás desse
absurdo, ou melhor, desse crime? Fala, desgraçado. FALA!
Tentando recuperar o ar que fugia dos pulmões, o neto do presidente do
conselho da Dark House respondeu, ainda com dificuldade.
— Não, meu avô não tem nada a ver com isso. Ele nem sabe que estou aqui
hoje. Tudo isso é culpa dessa cadela da Natália, que me deu alguma coisa
para beber e me obrigou a fazer isso. —
Cuspindo o sangue que estava em sua boca, Matteo continuou.
— Você sabe muito bem, Dom Rodolfo, que sou fiel às suas regras. Jamais
quebraria esse laço que une todos da comunidade. Eu estava totalmente fora
de mim e, na verdade, nem sei o que aconteceu aqui.
— MENTIRA! É TUDO MENTIRA DELE — Natália gritava e se debatia
contra a cadeira, não sei se tentando se soltar para fugir, ou se queria socar a
cara de Matteo que, visivelmente, debochava dela.
Rodolfo chegou bem perto da minha, até então, assistente pessoal, e apertou
o pequeno rosto contra suas mãos.
— Se ele está mentindo, Natália, então, me conte a verdade. Eu adoraria
saber.
Sentando ao meu lado na cama, eu e Rodolfo ouvimos a história
inacreditável que saiu da boca dela.
— Eu vou contar tudo. Já não tenho mais nada a perder mesmo. E fiquem
sabendo que tudo o que eu disser aqui, tenho como provar. Bom, o plano de
Matteo era fazer o senhor acreditar que Sofia o traiu, o que o faria expulsá-
la da Dark House. Ele convenceria Dom Salvatore a me indicar para ser sua
discípula. Uma vez no cargo, minha função era acabar com seu mandado
para Matteo assumir o trono de Mestre e eu permaneceria como protegida
dele.
— Hum, interessante. Bem interessante, na real. — Rodolfo se levantou da
cama, andou um pouco pelo quarto, olhou para Matteo, em seguida para
Sofia e questionou — O interesse desse moleque e do avô dele pelo meu
cargo de Mestre é bastante claro. Mas você, vadiazinha, o que ganharia com
isso? Dinheiro não é porque as discípulas não recebem nenhuma
remuneração. Seria status?
— Não, Dom Rodolfo. Acima de tudo eu ganharia vingança. Uma doce e
merecida vingança.
Olhamos um para o outro sem entender nada. Natália esperou Rodolfo
voltar para o meu lado e continuou. E a sorte era que estávamos sentados,
porque, senão, com certeza, teríamos caído com a revelação dela.
— Eu sou filha de Mastrinni Salvatore. Ou seja, tia desse verme aí. —
Falou apontando para Matteo com o rosto.
— Isso não tem a menor lógica, Natália. Como assim filha de Mastrinni?
Ele sempre foi reconhecido como um exemplo de dark que separava muito
bem a vida A a vida B. Fora que você tem idade para ser neta dele — tomei
a liberdade de dizer.
— Falei que a culpa era toda dela. Agora está inventando essa maluquice.
Vai ver tomou a mesma droga que me deu.
— CALA A BOCA, MATTEO. Não te dei permissão para falar nada.
Continue, Natália.
— Obrigada, Dom.
“Bom, como eu estava dizendo, sou filha do velho Mastrinni, fruto de um
relacionamento que ele teve com a minha mãe que, na época, era uma
assistente aqui na DH.
Dom Salvatore já era presidente do conselho da DH, estava viúvo há muitos
anos, e o pai do Matteo já era adulto e até mesmo casado, mas a esposa dele
ainda não tinha engravidado desse lixo aí.
O velho começou a dar em cima da minha mãe, se dizendo apaixonado e
que queria algo realmente sério com ela, que não era só sexo ou fetiche. A
coitada acreditou, se apaixonou por ele, e durante quase um ano eles
mantiveram um relacionamento secreto.
Aqui dentro ela não tinha nenhuma regalia, nem era tratada diferente das
demais assistentes.
Na época, o comando da DH estava nas mãos da Mestre Marisol. Não a
conheci, mas ouvi que ela era extremamente esperta, sagaz e ótima nos
negócios e na gestão da Dark House. Porém, nem essa esperteza toda fez
ela perceber o que acontecia entre minha mãe e aquele velho. Talvez, se
tivesse percebido, eu e ela não tínhamos passado pelo que passamos.
Minha mãe estava feliz e acreditava que realmente tinha encontrado o amor
da sua vida, só que tudo mudou quando ela engravidou.
Dom Salvatore ficou furioso e a acusou de querer dar o golpe da barriga.
Ameaçou contar para a Mestra Marisol e dizer que era de um dos darks, o
que a faria ser demitida na hora.
Não contente, disse que se ela reivindicasse a paternidade, a qualquer
tempo, a mataria e me jogaria em um orfanato, sem nenhuma referência ou
pista da minha origem.
Como ela sabia que ele era muito influente e capaz de fazer aquilo, preferiu
não arriscar e decidiu ir embora, deixando tudo para trás.
Durante muitos anos nós duas moramos nas ruas, até o dono de um bar ficar
com dó da gente e nos deixar dormir no quartinho dos fundos do
estabelecimento. Em troca, durante o dia, minha mãe trabalhava para ele
como faxineira.
Comida e um teto a gente tinha, mas não tínhamos dinheiro para roupas,
remédios, produtos de higiene, outras coisas, só quando recebíamos alguma
doação. Como minha mãe ainda era uma mulher nova e muito bonita,
começou a se prostituir para trazer dinheiro extra para casa.
Com muita luta e economia conseguimos sair do bar e alugar um quartinho
podre em um cortiço. Eu via a batalha diária dela para dar o mínimo que eu
precisava. Então, quando o primeiro homem me ofereceu dinheiro para
tocar no meu corpo, eu aceitei sem questionar ou pensar nas consequências
daquilo.
Eu tinha só 15 anos e fui paga somente para ele tocar nos meus seios. Fiz
isso por mais algum tempo, até que, com 18 anos, virei prostituta também.
Ela não queria que eu tivesse o mesmo destino dela, e tivemos brigas feias
por conta disso. Mas ela também sabia que o dinheiro dos meus programas
era essencial para dar uma vida um pouquinho mais digna para gente, já que
ela estava envelhecendo e não conseguia mais clientes como antes.”
Se antes eu já tinha ranço daquele velho, ouvir a história de Natália me fez
odiá-lo ainda mais, além de fazer meu estômago revirar. Segurei a mão de
Rodolfo e apertei, chamando a atenção dele para mim e dando um olhar
como quem diz “ — Ela é só mais uma vítima. Não a castigue”. Não sei se
ele entendeu, mas fez sinal para ela continuar.
— Vocês devem estar se perguntando onde está minha mãe agora e em que
momento eu me aliei a este bostinha de moleque, não é? Minha mãe morreu
quando eu tinha 20 anos.
"Um antigo cliente a contratou para passar um final de semana inteiro com
ele. A grana era boa e ela foi, mesmo não querendo fazer mais programas,
pois já está com 40 anos e achava que tinha passado da hora de sair daquela
vida. Na verdade, a coitada saiu, mas não do jeito que queria.
O desgraçado fodeu tanto ela, abusou com todos os objetos que encontrava
na frente, que perfurou o útero da coitada. Ao invés de socorrer, ele a
deixou na rua de casa, sangrando até morrer. Quando os vizinhos a
encontraram no dia seguinte e me chamaram, já não tinha mais nada que eu
pudesse fazer.
— Realmente não é uma história de vida bonita, Natália. Mas não justifica
o que vocês fizeram com Sofia agora. Afinal, de quem foi a ideia, sua ou de
Matteo? Onde ele entra nesse seu plano de vingança? O velho Mastrinni
sabe sobre você?
— Dom Rodolfo, muito tempo antes de morrer, minha mãe me contou tudo
isso que acabei de falar para vocês. Ela nunca perdoou Mastrinni, nem eu,
mesmo sem conhecê-lo, mas ela queria que eu soubesse como era a cara do
monstro que a engravidou e a largou na rua com uma recém-nascida.
"Então, quando eu já era adolescente, viemos algumas vezes na porta da
Dark House, e uma noite o velho estava entrando e ela me mostrou quem
ele era. Anos depois fui atrás dele em uma das empresas e contei quem eu
era. O velho surtou, falou que ia me matar e o caralho a quatro.
Como sabia que ele ia fazer isso, fui respaldada. Mostrei um vídeo que
tinha gravado contando tudo isso, que era filha dele e o que rolava aqui na
Dark House, dei uns nomes de darks e tudo. Disse que tinha deixado uma
cópia com uma amiga, e que se algo acontecesse comigo, ela tornaria minha
confissão pública".
Rodolfo levantou em um salto e agarrou Natália pelo pescoço.
— Este vídeo está por aí, sua puta? RESPONDE!
— Não, Dom, por favor, não. — Ela respondeu tentando puxar o ar.
— Eu blefei com ele. Não passei o vídeo para ninguém, eu juro. Mesmo
porque, para quem passaria? Éramos somente eu e minha mãe no mundo e
ela sempre deixou bem claro que tinha assinado um termo de
confidencialidade quando se tornou assistente. Se alguém soubesse de algo
do que acontece aqui dentro, nós poderíamos pagar caro, ainda que não
fosse pelas mãos de Mastrinni. Mas ele acreditou na minha história do
vídeo e perguntou o que eu queria em troca.
Apesar de não parecer ter ficado muito convencido, Rodolfo a soltou e a
deixou continuar a história.
— Eu disse para o velho que o reconhecimento da paternidade e uma boa
mesada já seriam um bom começo, mas também que queria que ele me
colocasse dentro da Dark House, de alguma forma. Ele não entendeu o que
eu queria fazer aqui, se já teria dinheiro suficiente para viver bem. Então eu
só falei que também tinha fantasias para realizar e que queria seguir o
legado da minha mãe. O babaca acreditou e me colocou como assistente.
No fim, até concordou que até era uma boa ideia, porque assim ele ficaria
de olho em mim e, como eu também assinaria o termo de confidencialidade,
teria certeza de que eu nunca falaria nada sobre nosso vínculo familiar com
ninguém, ou sobre a DH.
— Mas de verdade, Natália, por que você fez tanta questão de entrar para a
Dark House, se o principal você já tinha conseguido, que era boa parte da
herança do Mastrinni? — Perguntei.
— Vingança, Sofia. Como eu disse antes, vingança! Eu queria, e ainda
quero, todo o dinheiro e o poder do velho. Meu objetivo é tirar tudo dele,
começando pelo querido neto que ele idolatra tanto que, praticamente,
colocou no lugar do filho falecido. Depois, tirarei o cargo dele de presidente
do conselho da DH.
Matteo, que estava em silêncio até aquele momento, deu uma alta e longa
gargalhada. — Acabar comigo, sua biscate? Impossível!
— Aí, tolinho, sua cabeça de baixo sempre pensa mais que sua cabeça de
cima, né? Conta para eles como você ficou quando me viu pela primeira
vez aqui. Fala que a tensão sexual entre nós dois foi instantânea, e assim
que ficamos sozinhos na área VIP, você me jogou contra a parede e passou
a mão na minha boceta, sem pedir licença.
"Na hora tudo fez sentido, e ficou claro que seria fácil, muito fácil, usar
você no meu plano. Então, correspondi e deixei você explorar meu corpo
como queria. Me chupou e mordeu meus seios à vontade, se lembra? Mas
quando virou para me penetrar, não deixei e contei a verdade.
Achei que quando você soubesse que eu era irmã do seu pai iria sossegar a
pica, mas não, sempre que nos encontramos algum tipo de sacanagem tem
que rolar. Não é, amado sobrinho?"
— PUTA! VAGABUNDA! BISCATE! — Matteo se levantou e começou a
chutar Natália, que caiu rindo, amarrada na cadeira erótica. Enquanto os
seguranças o detiveram e a levantaram, ele continuou. — Ia acabar comigo
como, sua vaca, como? Pensa que eu sou otário como meu avô? A mim
você não engana. Ah não mesmo!
— Não só é otário como seu avô, como eu te enganei direitinho, querido
sobrinho. A matemática foi bem simples, inclusive: juntos, faríamos o Dom
expulsar Sofia, eu assumiria o posto de discípula e não, EU NÃO
AJUDARIA A TE COLOCAR NO TRONO DA DARK HOUSE!
"Enrolaria você pelo tempo que fosse necessário. Enquanto isso, ficaria ao
lado de Dom Rodolfo, ganhando sua confiança dia após dia, contando todos
os seus planos e de seu avô, mostrando a ele que eu era fiel e confiável, até
ele me indicar como sua sucessora.
Lógico que, se não desse certo, ou demorasse muito, eu tinha um plano B, e
ele incluía um pouquinho de droga no vinho que sirvo para o Dom toda
sexta, o que ajudaria para ele assinar os documentos certos, e uma dose
maior depois daria um belo ataque cardíaco, dando a impressão de que ele
morreu naturalmente.
Uma vez como Mestra, era só dar uma ajudinha para aquele velho bater as
botas também e assumir o cargo dele, já que eu, por ser filha e estar como
Mestra, teria o currículo perfeito, anos luz na sua frente, Matteo, que ficaria
apenas com o posto de netinho mimado de um vovô morto".

O quarto ficou totalmente em silêncio. Acho que porque todos ali estavam
chocados e precisavam de um tempo para digerir tudo aquilo.
Rodolfo se levantou calmamente, mas eu sabia que aquilo era apenas por
fora. Por dentro, ele estava segundo uma grande fúria, eu tinha certeza.
Especialmente por ele não tolerar mentiras.
Entretanto, pensando bem, as mentiras eram fichinha perto do plano de
matá-lo para conseguirem o cargo de Mestre da Dark House.
Após poucos minutos andando pelo quarto, olhando nos olhos de cada um
que estava lá dentro, ele virou para mim: — Como você está se sentindo?
Consegue ficar em pé? Consegue andar? Eles machucaram você?
— Eu estou bem, mesmo. Não sinto dor ou que estou machucada. Posso
andar normalmente. Quer que eu volte para o salão?
— Não, Sofia, por hoje, já deu para você. Quero que vá para minha casa,
mas espere que irei com você, para garantir que ninguém toque NA
MINHA DISCÍPULA novamente. — Falou olhando com ódio para Natália
e Matteo. — Joseph, amordace esse verme, amarre pés e mãos, e o coloque
no porta-malas do carro.
— Não, Dom, por favor, não. O que vai fazer comigo? Eu juro que não
toquei na sua discípula. Você mesmo ouviu a Natália, foi tudo plano dela.
Você vai me matar? Meu avô saberá que foi você e acabará com sua raça!
— Dando outro soco na cara de Matteo, que o fez perder o equilíbrio e cair
novamente, Rodolfo completou.
— CALA A PORRA DA BOCA, MOLEQUE! O plano de vingança contra
o seu avô era dela, mas o pau que ia foder minha discípula era o seu. E
outra, sempre foi você que desejou meu lugar, não? E, agora, para
completar, também quer a mulher que é minha? Vai se foder, seu otário.
— Quer, saber, senhor e amado Dom? Sim! Eu ia foder muito sua
protegidinha, mas você chegou e estragou nossa festinha. Mas, tudo bem,
tive tempo de chupar muito a boceta dela e enfiar os dedos com força,
alternando entre ela e minha deliciosa titia.
Só ouvi o som dos ossos do rosto de Matteo batendo contra o chão, quando
Rodolfo subiu em cima dele e deu uma sequência de vários socos, com um
fúria que eu nunca tinha visto nele.
— PARA, RODOLFO, PARA. ELE NÃO VALE A PENA. NÃO SE SUJE
COM ESSE LIXO —- Gritei enquanto tentava tirá-lo de cima de Matteo, e
ouvia as gargalhadas sarcásticas de Natália ao fundo.
— Aí, ai, que patético! Vocês três se merecem mesmo. Já pensaram em
formar um trisal? Assim, os dois garanhões aí comem a discípula e ainda
podem sentar juntinhos no trono.
Foi a minha vez de ser tomada pela raiva. Larguei Rodolfo, me virei e, sem
pensar direito, dei um belo tapa na cara de Natália.
Quando ela se deu conta do que eu tinha feito, me olhou com os olhos
arregalados de surpresa. A peguei pelos cabelos e, puxando para trás com
força, a ponto de fazê-la gritar, falei bem perto dela.
— Juro mesmo, de todo o coração, que sinto muito por tudo o que você
passou na vida. Mas, enquanto mulher, ter sido tão violentada e agora
esquematizar a violência de outra, é imperdoável! O inferno é pouco para
você, querida!
—- Vem, Sofia, você está certa. Eles não valem a pena. Mas não quer dizer
que não pagarão pelo que fizeram aqui hoje. Como não posso chamar a
polícia aqui na Dark House, eu mesmo tomarei as providências. Joseph,
faça o que falei com esse moleque. Com essa vadia, leve-a para a sala das
assistentes, garanta que pegue apenas o que é dela e que não fale com
absolutamente ninguém. Depois, a coloque no carro também. Teremos uma
pequena reunião de família na mansão dos Salvatore.

— Como você descobriu onde eu estava? — Perguntei depois de Rodolfo


me ajudar a tomar banho e me colocar na cama dele para descansar.
— Já te disse uma vez, brasileira, meu instinto de Mestre Dark não falha. —
Ele respondeu me dando uma piscadinha, um beijo na testa, e me cobrindo
com o lindo lençol de cetim preto que forrava a cama.
— Ah, fala sério!
— Sério mesmo? Bom, foi um pouco de instinto sim. Mais cedo tinha
desconfiado que Natália estava atrás da porta ouvindo uma conversa minha
com Joseph. Liguei isso ao fato de que ela e você tinham saído do salão
havia muito tempo. Fui conferir onde estava Matteo, e ele não estava na
área VIP. Para fechar, lembrei dela ter pedido para isolar o quarto perto da
passagem secreta, alegando que a hidro estava quebrada. Bem, foi apenas
suposição da minha cabeça, ou intuição, não sei. Mas confesso que não
estava acreditando que eles tinham pegado você para me atingir até ver com
meus próprios olhos. E te garanto que não gostei nada do que vi.
— Me desculpe por ter sido tão otária e caído na conversa dela de me
mostrar os quartos. Minha cabeça estava tão bagunçada por causa de Yan
que eu não pensei direito.
— Sofia, quem tem que pedir desculpas sou eu. Eu falhei com você. Eu
confiei sua guarda dentro da DH à pessoa errada. Era minha obrigação
garantir sua segurança durante todo o tempo. Me perdoe por ter falhado e
deixado você passar por isso de novo. Por favor, me perdoe, eu imploro.
Era visível que o pedido de desculpas de Rodolfo era muito, muito sincero.
Posso até dizer que tive a impressão de ver seus olhos encherem de água.
Eu nunca tinha visto ele daquele jeito. Passando a mão por sua barba,
demonstrando que estava tudo bem, achei melhor quebrar aquela atmosfera
pesada para aliviar o sofrimento que poderia abater nós dois, se
insistíssemos naquele assunto.
— Por isso tem dois seguranças enormes na porta do quarto?
— Também, — ele deu uma risadinha — mas é só por hoje, ou melhor, só
enquanto eu vou devolver as duas crias do inferno àquele velho.
Me dando um beijo na mão, ele levantou da cama e deixou as ordens que eu
deveria seguir naquela noite.
— Fique deitada e durma, não se preocupe com nada. Aqui, você está
totalmente protegida, e logo volto para ficar com você, está bem? Se quiser,
podemos tomar café da manhã naquela padaria que você adora. Acho que te
deve um mimo.
— Ah, deve sim, com toda certeza! — Me arrumei confortavelmente na
cama e o vi sair pela porta, pegando no sono logo em seguida por conta do
cansaço e estresse daquela noite.
Rodolfo Fabregat
— E foi isso que aconteceu, Marisol. Acabei de deixar as duas crias do
velho na casa dele, e ele que se vire com aquelas criaturas do inferno.
Tiveram a sorte de fazerem toda essa merda dentro da DH, o que me
impede de chamar a polícia. Se não, os dois estariam na cadeia agora, que é
o lugar deles. E deixei bem claro que, se aparecerem na minha frente mais
uma vez, não responderei por mim. — Falei ao telefone com minha antiga
Mestra, no caminho de volta da casa de Mastrinni.
— Meu querido, percebeu que o cerco está se fechando, não? Se eles
fizeram isso dentro da Dark House, bem debaixo do seu nariz, não consigo
nem imaginar o que podem fazer contra você e sua discípula fora da
proteção do seu reinado. Eu quero muito fazer algo por vocês, mas,
diretamente, não posso agir contra Salvatore, pois, como sabe, eu e ele
estamos quites. Mas, se eu puder ajudar de outra forma, sabe que pode
contar comigo sempre.
— Eu sei, Mestra, e sim, precisarei muito de você.
— Só precisa me dizer quando, como e onde.
— Ok, entrarei em contato em breve. Obrigado.
— Te espero, cariño! Besos.
Capítulo 21
O destino chamou quando nos deparamos com os olhos um do outro
O destino me disse que mulher como você é única
Confiante sexy nos saltos que você está andando
Na presença de romancista, estou enlouquecendo
E eu sei que o amor é difícil de encontrar
Addicted | Jon Vinyl

Yan Meyer

M
eu primeiro dia em Madrid usei para alugar um carro e dirigir até os
dois lugares que tinha de referência para encontrar Sofia, que eram o
apartamento onde ela estava morando e a faculdade onde fazia a
pós.
Poderia bater direto na porta dela e dizer “Surpresa!”, sim, poderia, afinal,
ela me pertencia. Mas achei melhor sondar antes como estava a vida de
Sofia. Não queria ter que socar a cara de nenhum engraçadinho que se
apresentasse como namorado e ter que explicar meu real papel na vida dela.
Fora que, conversando sozinho com minha princesa, e usando minha versão
“bom-moço-arrependido”, seria fácil fácil conquistá-la novamente. Ela
sempre me amou, era nítido isso.
Se o que fez Sofia se afastar de mim foi a falta de um sexo mais violento,
eu e meu pau estávamos totalmente prontos e dispostos a dar o que ela
queria. Inclusive, meus planos sexuais pós-casamento incluíam muitos
desconhecidos, abusos e orgias. Ela iria adorar, com certeza, além de se
tornar a mulher mais feliz e mais bem comida do mundo.
Com tudo devidamente planejado, bastou dar um telefonema para a
universidade, e aplicar um papinho mole na atendente com meu espanhol
perfeito, para descobrir que a aula da turma de pós em marketing de moda
começava às 19 horas e terminava às 22 horas. Então, 18h30 em ponto, eu
estava na porta, estrategicamente posicionado para ver Sofia chegar sem
deixar ela me ver.
Acendi um cigarro e, de trás de uma árvore, observei cada uma das garotas
que chegavam. Definitivamente, nenhuma era tão linda ou tinha o brilho da
minha princesa.
Eu era um homem de muita sorte por ter sido escolhido por ela. Só o que
atrapalhou um pouco foi esse fetiche maluco dela, mas isso não me
impediria de dar o casamento que meus pais estavam cobrando há meses,
desde que ela veio para a Espanha.
Para minha alegria, Sofia não demorou muito para chegar e, como sempre,
estava perfeita. Eu não queria que ela me visse, mas precisava que soubesse
que eu estava perto, bem perto, que não era blefe meu a minha ida a Madrid
para buscá-la. Então, saquei o telefone do bolso de trás da minha calça e
liguei para ela.
— Oi, princesa! Está ainda mais linda com essa calça jeans justinha e esse
cardigan azul-turquesa. Notei também que seus cabelos estão bem mais
longos. Combinou muito com você.
Ela não respondeu, mas, de onde estava, pude vê-la olhando para todos os
lados, me procurando.
— Tentando ver onde estou, princesa? Tudo isso é saudade do seu homem?
Relaxa, estou muito mais perto do que você imagina — Desliguei e
comecei a caminhar em direção à Sofia, que continuava a olhar
desesperadamente para todos os lados tentando descobrir de onde eu viria.
— Buenas noches señor. ¿A dónde crees que vas? [12] — Dois seguranças do
tamanho de gorilas me param. Um deles, com a mão gigante parada aberta
sobre meu peito, me impedia de continuar andando. Outro, discretamente,
abriu o paletó para que eu visse a arma que estava em sua cintura.
— Hey, rapazes, calminha aí. Sou turista na terra de vocês. É assim que
recebem seus visitantes? Estou apenas indo encontrar minha namorada, que
voltará comigo para o Brasil — respondi em português mesmo, na tentativa
de provar que eu não era dali.
— Creo que hoy no, señor. Por favor, vuelve a tu tierra ahora, o volverás
en una caja de madera [13].
O cara que portava a arma me respondeu, já tirando a pistola da cintura e
encostando o cano na minha barriga. Apenas levantei as duas mãos, dei
alguns passos para trás e voltei para o meu carro. Eles me seguiram e
ficaram esperando eu entrar no veículo, ligar o motor e sair do campus.
De onde surgiram esses idiotas? Não podem ser seguranças da faculdade, eu
tomei cuidado ao observar isso antes. Tinha apenas um guardinha idiota na
portaria, que não estava nem aí para quem entrava e saía. Será que são
guarda-costas da Sofia? Não, não tem como. Ela não teria dinheiro para
isso.
No que será que ela se meteu para precisar de escolta particular? Quem está
bancando ela aqui? Será que ela agora é puta de algum cafetão? Seria bem a
cara daquela vadiazinha mesmo!
— Ah, mas eu vou descobrir! Pode ter certeza, princesinha, você voltará
comigo para o Brasil, nem que seja morta. — Pensei enquanto socava o
volante com raiva e pisava fundo no acelerador para ver se a adrenalina me
ajudava a pensar melhor e encontrar um bom caminho para passar por
aquelas duas muralhas e chegar perto da mulher que era minha, somente
minha.

Sofia Venturini
— Atende, Rodolfo, atende, por favor. — A chamada estava apenas no
segundo toque, mas eu já estava desesperada. Depois da ligação de Yan,
corri para dentro da faculdade e me escondi no primeiro banheiro feminino
que encontrei. Sabia que o Mestre estava jantando com alguns de seus
clientes de investimento, mas eu precisava falar com ele naquela hora.
— Sofia, o que houve? — Seu tom de voz era sóbrio, baixo, mas
nitidamente preocupado. Ele sabe que eu nunca ligaria para ele se não fosse
verdadeiramente importante e urgente.
— Yan está aqui, na faculdade. Eu estava entrando e ele me ligou. Falou até
da roupa que estou vestindo. Ele está aqui mesmo, é real. O que eu faço?
— Onde você está agora?
— Dentro da faculdade, em uma das cabines do banheiro.
— Não saia daí por nada. Estou indo te buscar.

Rodolfo Fabregat
— Que porra aconteceu, Joseph? — Gritei no viva-voz do carro enquanto
cortava todos os veículos da rua para chegar o mais rápido possível até
Sofia, sem me preocupar com sinais de trânsito ou limite de velocidade.
Não me importei nem mesmo em largar meus clientes na mesa do
restaurante. Apenas dei uma desculpa rápida de que era uma emergência de
família e sai, sem olhar para trás.
De forma alguma eu poderia deixar Sofia passar por algo ruim de novo. Ela
era minha responsabilidade, totalmente minha. Eu precisava cuidar dela,
protegê-la de tudo e de todos os que ela não queria por perto. Já bastava o
vacilo que tinha dado dias antes que resultou no abuso de Matteo e Natália.
— Dom Rodolfo, o rapaz realmente conseguiu entrar no campus da
faculdade, mas ele não chegou nem perto da senhorita Sofia. Meus homens
estavam bem atentos a tudo o que acontecia perto dela e logo que o viram
interceptaram o indivíduo, dando um recado alto e claro que ele não deveria
estar aqui.
— Ela percebeu isso, Joseph?
— Não, Dom Rodolfo, posso lhe garantir. Um dos seguranças viu quando
ela entrou no prédio da faculdade sem notar nossa presença ou desse rapaz.
Inclusive, meus homens permanecem lá, e ela não saiu do local.
— Sim, eu dei ordem para ela ficar lá, me esperando. Estou indo buscá-la
agora mesmo. E o lixo do Yan, foi para onde?
— Outros dois homens o seguiram e me disseram que ele está em um hotel
no centro de Madrid. Tomei a liberdade de mandá-los ficar lá esta noite,
caso ele tente algo novamente.
— Perfeito, Joseph, perfeito! Continue com a proteção total de Sofia, 24
horas por dia. Hoje, a levarei para minha casa. Mantenha seus homens lá
também, só para garantir. Tentarei convencer aquela teimosa a ir morar
comigo.
— Ok, Senhor.
Desliguei a ligação e, imediatamente, apertei o contato de Sofia.
— Estou bem na porta da sua faculdade. Saia do banheiro agora e venha em
direção ao portão, estou indo encontrar você.
— Estou indo. — A resposta foi rápida, mas o suficiente para perceber que
sua voz era de choro.

Sofia ficou calada por todo o trajeto, e eu respeitei. Ela nem precisava me
falar nada, porque sabia exatamente o que estava passando na sua mente.
O que ela tinha passado nas mãos daquele moleque doente tinha sido forte
demais, e eu a admirava por ter superado tudo sozinha, sem nunca contar
sua dor e marcas para ninguém.
Admirava ainda mais porque, mesmo após todos aqueles abusos, ela não
matou seus desejos, e se permitiu se tornar a mulher forte e sexualmente
segura com quem eu, nos últimos meses, dividia as noites de reinado na
Dark House e minha vida também.
Em um semáforo vermelho que parei o carro, aproveitei para pegar sua mão
esquerda, que estava sobre sua coxa, a apertando sem que ela nem mesmo
percebesse.
Em um primeiro momento ela tomou um susto, pois estava com os
pensamentos visivelmente longe, mas logo relaxou quando levei sua mão
até meus lábios e beijei os nós dos seus dedos carinhosamente. Olhando
para baixo, finalmente, Sofia soltou as primeiras palavras.
— Obrigada, Rodolfo, por ter vindo até aqui. Eu realmente não queria
atrapalhar seu jantar, mas entrei em pânico quando ouvi a voz dele no
telefone, ainda mais descrevendo detalhadamente a roupa que estou.
— Sofia, você fez certíssimo em me ligar. E não me atrapalhou em nada.
Minha prioridade é você, desde o dia em que fechamos o nosso acordo,
nunca se esqueça disso. Negócios são apenas negócios, posso facilmente
fazer outras reuniões. O que não tenho o direito é falhar com você
novamente e deixar que algo de ruim aconteça mais uma vez.
— Rodolfo, você não tem nenhuma culpa do que aconteceu naquela noite
na DH. Matteo e Natália tinham planejado tudo e não tínhamos como saber.
Na verdade, se for para culpar alguém, além dos dois, eu culparia Yan. Se
ele não tivesse me ligado pouco antes e deixado minha cabeça bagunçada,
com toda certeza eu teria pensado melhor e não cairia no papinho da Natália
de conhecer os quartos privativos.
— Vamos esquecer esses dois, está bem? Eles estão no passado e nunca
mais tentarão nada contra a gente. — Disse assim que estacionei o carro na
frente da minha casa.
Desci, dei a volta no veículo e abri a porta para Sofia descer também,
aproveitando para olhar ao redor e notar os seguranças devidamente
posicionados. — Vem, Sofia, vamos entrar. Você precisa descansar um
pouco.
— Rodolfo, eu realmente agradeço, mas preciso ir para o meu apartamento,
tomar um banho e colocar a cabeça em ordem.
— De jeito nenhum deixarei você sozinha, Sofia, ainda mais hoje. Assim
como ele descobriu onde é sua faculdade, com toda certeza, deve saber
também onde você está morando. Não vamos nos arriscar. Vem, entra. —
Sofia hesitou um pouco, olhou ao redor e retrucou.
— E o que garante que ele não está nos observando agora, já que o Plaza
está logo ali na esquina?
— Justamente por estar ali na esquina, Yan não viria para esta rua,
concorda? Se ele estivesse aqui por perto, estaria na porta do seu prédio,
não da minha casa.
— Estaria? No passado? Você sabe de algo? Fez algo?
— Não, Sofia, mas é meio óbvio. Ele não tentaria alguma coisa duas vezes
na mesma noite. Vem, chega de me questionar, ainda sou seu Mestre, então,
entra agora! — Menti a ela dizendo que não sabia de nada, e detestava
aquilo, mas era melhor assim e me daria espaço para protegê-la em segredo,
como eu achava melhor.

Sofia Venturini
Dormir na casa de Rodolfo não era nada ruim, na verdade, eu gostava
muito. Me sentia segura, protegida, respeitada, fora que o sexo era dos
deuses. Mas eu somente fazia isso às sextas-feiras, depois da DH, nunca em
uma quinta, como tinha acabado de acontecer por causa da visita inesperada
e indesejada de Yan.
Acordei e percebi que Rodolfo não estava na cama. Então fui até o
banheiro, tomei um bom banho e me troquei, usando algumas das peças de
roupas que deixava lá para não voltar sábado de manhã com traje de festa
para minha casa.
Desci as escadas na intenção de ir embora, pois era manhã de sexta e achei
que Rodolfo tinha ido trabalhar. Mas, para minha surpresa, ele estava
montando um café da manhã enorme para nós dois.
— Meu Deus, quantas pessoas virão para cá hoje? Não sabia que tinha
transferido a reunião de ontem para cá. — Falei em tom de deboche
enquanto me servia de uma uva e sentava em uma das banquetas da grande
ilha que ficava na cozinha.
— Ha, ha, ha, engraçadinha. Tudo isso é seu, e você só sairá daqui quando
comer tudo que preparei, entendido?
— É uma ordem, Mestre? — Rodolfo soltou um sinal de não com a cabeça,
com um sorrisinho de lado que eu adorava e que, com o tempo, tinha
percebido que ele só soltava para mim. Mas o clima descontraído logo
acabou quando ele, enquanto colocava o suco de laranja que tinha acabado
de fazer no meu copo, puxou o assunto que precisávamos debater.
— Sofia, precisamos conversar sério, muito sério. Não temos mais tempo
para evitar — Dei um gole na bebida, me ajeitei na banqueta, coloquei os
cotovelos sobre a mesa, as mãos juntas sob o queixo, e esperei ele falar o
que queria.
— Primeiro, tomei a liberdade de pegar seu celular enquanto você dormia e
bloquei o número do imbecil do Yan. Por favor, não pense que estou
invadindo sua privacidade, porque não é essa a minha intenção. Você sabe
que eu nunca faria isso, mas não quero dar a chance daquele moleque ligar
novamente e perturbar você.
Fiz que sim com a cabeça porque, de verdade, não via aquele gesto de
Rodolfo como uma afronta ou demonstração de posse. Na real, ele me fez
um grande favor, porque eu mesma tinha pensado em fazer isso, mas, com o
estresse da noite anterior, acabei deixando pra lá.
— Segunda coisa, Sofia, a partir de hoje esta é a sua casa, sem discussão. E
sim, antes que me pergunte, é uma ordem. Estou falando como seu Mestre,
e não mais como um amigo.
— Não, Rodolfo, ou melhor, não Mestre. — Respondi arriscando um tom
de afronta.
— Já falei que não virei morar aqui. Isso nunca esteve no nosso contrato.
Não é uma possibilidade, e também nunca passou pela minha cabeça. Você
sabe quanto prezo pela minha liberdade e não abro mão de tomar minhas
próprias decisões e ser dona da minha vida, ainda que você seja “meu
dono” no seu quarto e na DH. E outra, morar aqui daria a impressão de
sermos um casal, Rodolfo e, definitivamente, não somos.
As palavras saíram da minha boca de forma rápida e sem eu pensar muito.
Somente depois de parar de falar e olhar para ele, foi que percebi que talvez
o tivesse ofendido, e bastante, somente pela forma triste que ele me olhou, e
isso não era o que eu queria, não mesmo.
Só estava tentando lembrá-lo que eu era sua discípula e submissa, e amava
isso, mas ainda era dona de mim fora do nosso acordo e do nosso mundo B.
Rodolfo se levantou e puxou a banqueta na qual estava sentado para ficar
mais perto de mim, sentando novamente. Segurou minhas mãos com
carinho e, olhando dentro dos meus olhos, falou com uma calma que eu
nunca tinha visto vir dele. Diria até que suas palavras tinham um pouco de
emoção, o que era muito, muito estranho vindo do grande Dom Rodolfo.
— Sofia, se o seu medo é virarmos um casal, pode ficar tranquila que nossa
convivência aqui nessa casa não terá essa conotação. Eu só quero você
perto de mim, perto o bastante para eu conseguir te proteger sempre que
precisar. Aqui, eu garanto que aquele otário nunca entrará, nunca terá
acesso a você ou te fará mal. Fora que eu gosto cada vez mais da sua
companhia. Inclusive, dias atrás você comentou que suas economias
estavam acabando e que precisaria procurar um emprego para poder
continuar em Madrid. Bem, eu preciso de uma assistente. Se for para você
se sentir mais confortável com essa história de dividirmos o mesmo teto,
pode trabalhar para mim. Garanto que posso arrumar tarefas para você até
mesmo de madrugada.
Ele parou um pouco, deu um longo suspiro, passou a mão direita no meu
rosto, ajeitou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e continuou.
— Brasileira, eu quero você mais perto, como minha parceira diária,
independentemente de ser algo romântico ou não. Quero e vou te proteger
de tudo e de todos, sempre. Já disse e repito, desde quando fechamos nosso
acordo, você se tornou minha prioridade. Continuará sendo minha discípula
enquanto quiser esse cargo, mas terá outros na minha vida também, como
amiga, assistente, colega de quarto, e todos os outros que desejar, eu te
nomearei.
De verdade, mesmo, do fundo do meu coração, eu nunca tinha pensado em
morar com Rodolfo. Nossa relação como Mestre e discípula, Dom e
submissa e, às vezes Dom e brat [14], para mim era mais do que suficiente.
Eu me sentia feliz e absurdamente satisfeita sexualmente, como nunca havia
me sentido na vida.
Podia até mesmo arriscar e dizer que este era o melhor relacionamento que
eu já tive, mesmo sem ser um relacionamento no formato, digamos,
tradicional. Por outro lado, pensar em conviver com ele mais tempo, e não
apenas nas noites de sexta e manhãs de sábado, não parecia algo ruim,
muito pelo contrário.
Rodolfo era inteligente, tinha um papo ótimo, sempre foi gentil comigo e
nunca, nunca mesmo, tinha me desrespeitado, passado dos limites, ou me
forçado a fazer alguma coisa que eu não queria, na cama e fora dela. Mas
será que morarmos juntos não poderia colocar tudo isso em risco? Parando
para pensar um pouco, percebi que esse era meu medo: perder meu Mestre,
ou melhor, perder Rodolfo.
— Eu entendo sua preocupação, especialmente por conta de Yan, e
agradeço demais todo esse cuidado comigo, mas…
— Mas?
— Mas eu preciso enfrentar esse demônio que me atormenta há tantos anos.
Se eu vier morar aqui, para mim, soa como se estivesse fugindo dele, e
parece que, quanto mais eu fugir, mais longe esse pesadelo fica de ter um
fim.
— Sofia, jamais disse para você não enfrentá-lo, e conhecendo você como
conheço, sei que é forte o suficiente para conseguir. Mas, por que não fazer
isso com meu apoio, com minha proteção, sob a guarda do seu Mestre? Me
deixa te ajudar, me deixa cuidar de você como eu quero e como você
merece.
Soltei minhas mãos da dele, levantei da banqueta e andei um pouco pela
cozinha, pensativa. Ao mesmo tempo em que queria dizer sim, tinha medo
do que viria a seguir.
E se começássemos a brigar por estamos morando juntos? E se ele quisesse
namorar alguém? E quando acabassem minhas aulas? E se, por qualquer
motivo, eu precisasse voltar para o Brasil?
Inúmeras perguntas começaram a martelar na minha cabeça. Virei e fiquei
de frente para ele, novamente, mas, ao invés de respondê-lo, tentei mudar
um pouco de assunto.
— Você não vai trabalhar hoje?
— Não, brasileira. Preciso apenas fazer alguns telefonemas, mas tirei o dia
para você.
— COMO ASSIM? — Minha voz saiu mais alta do que o esperado e do
que eu queria, fazendo Rodolfo rir, se levantar e vir na minha direção.
— Sofia, não vou deixar você sozinha hoje. Esquece! Fora de cogitação!
Passaremos o dia juntos, vamos almoçar, relaxar um pouco e, mais tarde,
iremos até o seu apartamento para você se arrumar para a Dark House, pode
ser? — Sabia que não adiantava mais discutir com ele.
— Tá bom, tudo bem! Posso te pedir um favor então?
— Claro, tudo o que quiser.
— Me dá mais um tempinho para pensar sobre sua proposta de morar aqui?
Ainda preciso considerar alguns pontos.
— Ok. Então você tem até o final da noite de hoje. Quando acabar a sessão
da DH e voltarmos para cá, quero minha resposta, brasileira. E só para te
deixar mais confortável, se não aceitar meu convite, nada muda, nosso
contrato continua como está sendo até hoje, está bem? Mas, confesso que
estarei torcendo por um sim. — Rodolfo me deu um beijo na testa e,
voltando para a mesa, apontou para a banqueta em que eu estava antes,
indicando para eu sentar.
— Vem, termina seu café. Temos um longo dia pela frente e você terá uma
overdose de mim hoje, só para ter uma noção do que te espera.
Capítulo 22
Como o seu amor consegue fazer o que ninguém mais consegue
Está me fazendo parecer tão louca agora
Seu amor está me fazendo parecer tão louca agora (seu amor)
Está me fazendo parecer tão louca agora
Seu toque está me fazendo parecer tão louca agora (seu toque)
Me fez esperar que você me salve agora
Seu beijo me fez esperar que você me salve agora
Crazy In Love (feat. Jay-Z) | Beyoncé

Yan Meyer

S
e eu não podia chegar perto de Sofia no campus da faculdade, faria
plantão em frente ao prédio dela. Em algum momento, por algum
motivo, ela sairia de casa, isso era certo. Então, essa seria a hora
perfeita para fazer uma surpresinha para minha princesa.
Troquei o carro alugado por outro modelo, só para garantir que aqueles
brutamontes não me atrapalhassem de novo, caso estivessem fazendo a
segurança dela lá também.
Para ficar ainda mais discreto, coloquei uma calça e uma camisa social
pretas. Assim, se alguém viesse me abordar e perguntar porque estava com
o carro parado na rua, daria a desculpa que era motorista particular de
alguma madame.
Era sexta-feira, dia seguinte da minha tentativa frustrada de levar o que me
pertencia de volta para o Brasil. Passei em um mercadinho, peguei algumas
garrafas de água, uns petiscos e logo às 10 horas já estava estacionado na
frente do Plaza.
O prédio era bem bonito, mas nada que chamasse minha atenção. E outra,
nem se comparava à mansão para a qual eu levaria Sofia após o casamento.
Esse era mais um ponto que ela só tinha a ganhar em voltar comigo.
Durante todo o dia, pessoas entraram, pessoas saíram, prestadores de
serviços e entregadores foram até a portaria, mas nada da minha princesa
aparecer.
O cansaço estava tomando conta do meu corpo e da minha mente, o que me
deixava ainda mais irritado e com ódio, pronto para socar a cara de alguém.
Fora que o diabinho no meu ombro ficava me provocando e perguntando
como eu, um herdeiro dos Meyer, estava me submetendo a uma humilhação
como aquela.
Foda-se! Nada ia me fazer desistir. Levaria Sofia de volta comigo para o
Brasil, por bem ou por mal, não importa quanto tempo demorasse.
Por volta das 21 horas, vi um casal chegando a pé na porta do prédio. Era
ela, era minha princesa, com um cara tão grande quanto aqueles seguranças,
mas que deixou claro que não era um deles quando colocou a mão na
cintura da MINHA Sofia e abriu a primeira porta de vidro para ela entrar.
Meu sangue ferveu imediatamente. Então era aquele ser que estava com o
que era meu por direito? Não, não, não! Aquilo não podia ficar daquele
jeito. Eu precisava subir até o apartamento de Sofia, deixar bem claro para
aquele babaca quem eu era e tirá-la de lá antes que ele encostasse no corpo
que é, sempre foi e sempre será minha propriedade.
Mas como entrar lá? Qual desculpa dar? E se tivessem outros seguranças
por perto? Fiquei paralisado, mas precisava pensar rápido e achar uma
saída, precisava fazer algo, mas não sabia o que.
Perdi tanto tempo tentando criar um plano, pensando nos prós e nos contras,
observando todas as entradas que o prédio tinha, procurando uma brecha
para entrar lá, que nem me dei conta que havia se passado mais de uma hora
desde que eles tinham chegado.
Eu estava do lado de fora do meu carro, encostado na porta e fumando,
quando Sofia saiu do prédio de mãos dadas com o tal do indivíduo
grandalhão. Ela estava, simplesmente, deslumbrante. Não lembro de já ter
visto minha princesa tão linda daquele jeito. Na verdade, ela merecia ser
chamada de rainha, a partir daquele momento.
Ela estava com um vestido longo preto, totalmente transparente, com faixas
de tecido apenas na altura do quadril e dos seios, para cobrir suas partes
íntimas.
Uma fenda imensa abria sobre sua perna esquerda, com toda lateral e barra
do vestido bordadas com swarovski. Os cabelos soltos e ondulados, mais
longos do que da última vez que a vi no Brasil, a deixavam com um ar
selvagem, sexy, e dona de si.
Era isso que ela queria além de sexo doentio? Luxo? Isso eu podia dar de
olhos fechados. Meus pais tinham muito, muito dinheiro para comprar
vestidos tão chamativos quanto aquele que ela estava usando.
Mas por que estavam a pé, ainda mais considerando que Sofia usava
sapatos de salto altíssimos? Se o dito cujo fosse tão rico quanto aparentava,
a teria colocado, no mínimo, em uma limousine. Então, imaginei que
fossem pegar o carro na rua em frente, mas não.
Tão logo viraram a esquina, entraram em uma casa que tinha as paredes
externas revestidas por tijolos de um tom vermelho escuro, quase
amarronzado.
Parecia ser uma festa, porque assim como eles subiram os poucos degraus
que davam para a porta de entrada, outros casais tão bem vestidos quanto
eles fizeram o mesmo.
Fiquei um tempo observando a movimentação, e notei que não tinham
seguranças na entrada, nem hostess pedindo os convites. As pessoas,
simplesmente, subiam a escada, abriam a porta e entravam. Ou seja, nada
me impedia de fazer o mesmo. E eu fiz.

— Que porra de festa é essa? — Falei para mim mesmo assim que entrei na
sala escura, iluminada apenas com algumas poucas luzes vermelhas, e vi
pessoas se pegando, se chupando, se fodendo ali mesmo, na frente de todos.
Passei por entre elas desacreditado do que estava vendo, com uma mistura
de nojo e excitação. Afinal, nunca tinha visto cenas de sexo tão explícitas
como aquelas perto de mim, a não ser a festinha de aniversário do meu
suposto amigo que eu tinha levado Sofia.
É disso que essa vagabunda gosta? Então o que fiz com ela não chegou nem
perto. E ela se fazendo de vítima, dizendo que “ foi abusada” e blá blá blá.
Isso aqui é uma sem-vergonhice, uma orgia! Que tipo de gente frequenta
um lugar lixo como esse? Sofia só pode estar muito doente da cabeça, ou
drogada. Preciso tirá-la daqui agora mesmo, antes que essa doença sexual
dela piore.
Comecei a procurar Sofia entre aquelas bocetas, seios e paus expostos, já
me preparando para vê-la com um caralho ou uma língua enfiada dentro
dela. Mas, para minha surpresa, ela estava no final da sala, ainda vestida, e
sentada em uma cadeira que mais parecia um trono, ao lado do grandalhão
que tinha entrado com ela lá.
— SUA VAGABUNDA! Então foi para isso que você saiu do Brasil, para
satisfazer sua boceta? O que eu te fiz foi pouco, sua puta, biscate,
arrombada!
Pegando Sofia pelo braço, com todo o ódio que me consumia por dentro, e
sem dar chance para ela dizer nada, encarei seu olhar de surpresa e espanto,
a levantei daquela poltrona na base da força, mas decidido a perdoá-la por
todos os erros que cometeu comigo e levá-la embora para nos casarmos.
— SOLTA ELA AGORA! — Ouvi o gigante que estava no trono ao lado
dizer, ao mesmo tempo em que suas grandes mãos tiravam as minhas do
braço dela.
— Soltar ela? Soltar ela? Vou soltar PORRA nenhuma, seu bosta! Quem
você pensa que é para me dar ordens? Saiba que SOFIA É MINHA, ME
PERTENCE! Sempre me pertenceu. Faço com ela o que eu quiser, a hora
que eu quiser e, agora, ela vai voltar comigo para o Brasil.
O metido a rei se levantou e parou na minha frente, parecendo ainda mais
alto, mas não me intimidei. Me preparei para começar a socá-lo ali mesmo,
para todos aqueles doentes verem, mas fui parado por alguém que me deu
mata-leão e me arrastou para fora.
— Joseph, leva esse moleque para minha sala. Vou resolver meu assunto
com ele lá.

Sofia Venturini

C
omo sempre, as horas que passei com Rodolfo tinham sido perfeitas.
Mas aquela sexta-feira tinha algo especial que eu ainda não sabia o
que era, mas que estava me fazendo muito bem e, ao que tudo parecia,
para ele também.
Logo depois do café, ele rapidamente fez os telefonemas de trabalho que
precisava e, em seguida, pegamos o carro e saímos passeando por Madrid,
meio que sem rumo.
Depois de rodar um pouco, Rodolfo decidiu me levar a alguns pontos
turísticos que eu ainda não conhecia, incluindo os jardins do Palácio Real
de Madri e a Catedral Santa Maria Real de Almudena.
Almoçamos no restaurante de um dos clientes dele, visitamos mais alguns
lugares, demos uma voltinha no shopping, ele me comprou mais alguns
presentes, tomamos chá da tarde em uma padaria charmosíssima e, perto
das 21 horas, voltamos para o meu apartamento para eu me arrumar para
mais uma noite como sua discípula na Dark House.
— Acho que é a segunda vez que entro aqui, não?
— Sim, na primeira você invadiu no meio da noite, e passou sabe Deus
quanto tempo me olhando dormir pelada. Um verdadeiro abuso! —
Respondi rindo para Rodolfo, que estava sentado na ponta da minha cama,
com o tronco jogado para trás e o peso do corpo apoiado nos cotovelos.
— Vou tomar um banho e me trocar, já volto. Sinta-se em casa. Ops, essa
também é sua casa, não? — Disse pegando meu roupão.
— Posso ir com você brasileira?
— O que?
— É, eu também preciso tomar banho e me arrumar. Se fizer uma dessas
coisas aqui, será mais rápido.
Seu olhar não era de quem queria se higienizar depois de um dia inteiro na
rua, pois tinha luxúria no seu tom de voz e na sua postura, e eu pude ver
pela calça social que vestia seu membro começar a endurecer.
A questão era que, no meu apartamento, não tinha nenhum dos brinquedos
sexuais que costumávamos usar depois da DH. Então, não achei que ele
quisesse fazer um sexo baunilha [15], porque isso, definitivamente, não era o
estilo dele. Mas atendi seu pedido.
— Ok, Mestre. Vou pegar uma toalha para você.
Rodolfo tirou a roupa no banheiro, entrou no box primeiro e ajustou a
temperatura da água. Esticou a mão direita para mim, e me ajudou a entrar
logo que me despi. Ele pegou o sabonete líquido, despejou um pouco sobre
a esponja, e com meu corpo já molhado começou a me ensaboar
lentamente.
Eu havia aprendido a confiar totalmente no meu Mestre, em suas atitudes e
decisões quando estávamos juntos. Por isso, não questionei o que ele estava
fazendo, apenas me deixei ficar ali, sendo cuidada.
Rodolfo ensaboou, cuidadosamente, cada parte do meu corpo, literalmente,
da cabeça aos pés.
Quando se abaixou para passar a esponja nas minhas coxas, ele levantou o
olhar para mim, como se pedindo aprovação para fazer o que desejava.
Apenas fiz um suave sim com a cabeça, e menos de um segundo depois,
senti sua boca beijando meus lábios de baixo.
Me encostei na parede do box, meu Mestre colocou minha perna direita
sobre seu ombro e ficou com acesso livre à minha boceta.
Sem demonstrar nenhuma pressa, Rodolfo me chupou em um ritmo que
nunca tinha usado antes. Ele, que era intenso na hora do sexo, mostrou um
lado suave que, surpreendentemente, era tão bom quanto.
Cabe pedacinho do meu sexo foi devidamente chupado, lambido e
explorado. Dois de seus dedos entraram pela minha abertura, me fazendo
instintivamente estimular os bicos dos meus seios com minhas mãos. Se ele
não parasse logo, eu gozaria ali, na boca dele, sem saber se poderia ou não,
já que ele não tinha me dado nenhuma ordem de como agir.
Na beira do abismo para o qual ele estava me levando, o segurei pelos
cabelos e chamei seu nome e implorei, em um breve suspiro — Rodolfo,
por favor.
Parecia que eu tinha dado a senha para ele continuar a me torturar. Ele não
só não parou de me chupar, como intensificou os movimentos com a língua
e com os dedos, fazendo meu orgasmo explodir em sua boca.
Depois de lamber cada gota que saiu do meu sexo, Rodolfo se levantou,
segurou meu rosto carinhosamente e me beijou de forma intensa, mas, ainda
assim, gentil e carinhoso. Pude sentir meu gosto vindo de sua boca e seu
coração batendo forte bem perto do meu.
Meu Mestre segurou minhas coxas e me levantou do chão, me enroscando
em sua cintura. Me segurando pela bunda, ele apenas soltou uma das mãos
tempo suficiente para posicionar seu pênis na minha entrada e me deixar
escorregar sobre ele lentamente.
O pau de Rodolfo já pulsava dentro de mim, me alertando de que ele não
aguentaria muito tempo, tamanho o tesão que estava sentido. Mas me
surpreendendo, ele ditou um ritmo de entra e sai forte o bastante para me
satisfazer, sem pressa alguma de fazer aquilo acabar.
Não sei precisar quanto tempo ficamos ali, com Rodolfo entrando e saindo
repetidas vezes de dentro de mim e com a água quente do chuveiro caindo
sobre nós. Mas posso afirmar que o tempo parou e que Madrid inteira
sumiu.
Não tinha Dark House, não tinha Matteo, Natália, Salvatore, Yan. Não tinha
absolutamente nada. Éramos somente eu e ele, Mestre e discípula, Dom e
submissa, Rei e Rainha do nosso próprio império.
Pela primeira vez, desde que nos conhecemos, não trepamos ou realizamos
alguma fantasia. Eu e Rodolfo fizemos amor.
Assim que Joseph jogou Yan dentro da sala e saiu, sob ordens claras de
Rodolfo e um olhar furioso de “depois conversamos”, ele começou a socá-
lo sem dó.
Mesmo com as investidas sem trégua de Rodolfo, Yan conseguiu se
levantar e revidar os socos e chutes que recebia, ainda que sem nenhum
êxito.
Eu estava totalmente atordoada, não pela briga, mas por não entender como,
do nada, meu ex tinha aparecido dentro da Dark House.
Como ele sabia que eu estava ali? Quem contou onde eu estava morando?
Eram muitas lacunas que precisavam de respostas, mas eu não as tinha no
momento, e a única maneira de descobrir era perguntado para Yan, mas,
para isso, Rodolfo precisava deixá-lo vivo.
— Rodolfo, para, por favor. Me deixa esclarecer umas coisas com ele antes
— Segurando Yan no alto, pelo pescoço, meu Mestre me olhou sem
entender nada.
— Eu quero socar ele tanto quanto você, pode ter certeza, mas, antes,
preciso saber como ele chegou até aqui, quem falou para ele onde eu estava.
Por favor!
Soltando Yan no chão como um saco de batatas, e visivelmente a
contragosto, meu ex bateu contra o solo e começou a tossir, tentando puxar
o ar novamente, até que, finalmente, soltou a bomba em cima de mim.
— Seu pai, minha princesa. Seu querido papai entregou você para mim, em
uma bandeira de prata. Para você ver como a vida é. Nem mesmo seu
progenitor te ama, apenas EU te amo neste mundo, apenas EU. — Ele
gritava e socava o próprio peito, apontando para si.
— Como assim, meu pai? Não faz sentido. É mais uma das suas mentiras,
seu louco, só pode. Meu pai nunca faria isso comigo, nunca quebraria uma
promessa que tivesse me feito.
— Ah, minha princesa, nada que uma pequena ameaça não resolva, não?
Apenas fiz ele escolher entre o cargo no banco e a lealdade a você. E, como
estou aqui, você deve imaginar qual foi a decisão dele, não? E se está
duvidando de mim, assim que chegarmos ao Brasil para o nosso casamento,
a levo para conversar com ele. É até bom, porque vocês poderão acertar as
diferenças antes de ele a levar para o altar.
— BRASIL? CASAMENTO? Você está completamente surtado, Yan,
SURTADO!
Ele ia se levantar para vir na minha direção, mas Rodolfo deu um chute
forte em sua costela, o fazendo cair novamente. Quando ele tentou retornar
à sequência de socos, a porta se abriu atrás de nós.
— Ora, ora, ora, uma festinha particular e vocês nem chamaram a gente,
seus grandes amigos?
Natália e Matteo entraram na sala, e ele tinha uma arma apontada para nós.
Capítulo 23
Você me deu um ombro quando eu precisei
Você me mostrou amor quando eu não estava sentindo
Você me ajudou a lutar quando eu estava desistindo
E você me fez rir quando eu estava perdendo o controle
Porque você é, você é
Get You The Moon (feat. Snow) | Kina Beats

Rodolfo Fabregat
— A baixa essa arma agora, seu moleque insolente! Quem você pensa
que é para ameaçar o Dom dentro da Dark House? Pelo visto, seu
avô não educou você corretamente. JOSEPH, tire esse lixo daqui, AGORA,
já tenho imundície demais na minha sala.
— Querido Dom Rodolfo, boa noite! Deixa eu explicar umas coisinhas.
Primeiro, não adianta gritar por Joseph, ele está morto. Sim! Morto! Nada
que minha ótima mira e um bom silenciador na ponta da minha pistola não
resolvessem fácil, fácil. Segundo, meu avô me educou tão bem que me
ensinou a nunca desistir do que eu quero. E é isso que viemos fazer aqui
hoje, minha titia preferida e eu: ocuparmos os cargos de Mestre e discípula
da Dark House. Nem que, para isso, vocês dois tenham que morrer para nos
liberar os tronos.
— Que porra é essa de Mestre e discípula, Sofia? Em que merda você se
meteu? Ninguém vai matar o que é meu não! Vem, princesa, vamos voltar
para o Brasil agora. — Esqueci completamente do verme do Yan, que se
levantou e tentou levar Sofia com ele pela porta.
— Opa! Quem é você e o que tem a ver com essa cadela? — Matteo
questionou, colocando o cano da arma na testa de Yan, impedindo-o de sair
da sala.
— Calminha aí, parceiro! Abaixa esse ferro! Eu sou Yan, o namorado de
Sofia. Fica tranquilo que, seja lá o que ela fez para você, garanto que não
fará mais. Vim buscá-la e estamos voltando para o nosso país. Vamos nos
casar. Então, relaxa que você nunca mais a verá. Então, por favor, só nos
deixe ir. — Ele respondeu com as mãos levantadas e, apesar do tom firme
que usou, era visível que estava tremendo, possivelmente com medo de
levar um tiro bem ali.
— Namorado? — Natália, que estava quieta até então, falou e soltou uma
alta e longa gargalhada. — Está vendo como ela não serve para ser sua
discípula, Dom Rodolfo? Ela é tão vadia que tem outro macho para fodê-la.
Ou será que as regras da DH mudaram e, agora, o Mestre participa de um
ménage[16] com sua posse?
— CALA A BOCA, NATÁLIA. — O tapa que Sofia deu no rosto da sua
ex-assistente foi alto o suficiente para quem estava perto imaginar a dor que
causou. — Cala a porra da sua boca! Você não sabe o que está falando! E
esse lixo aí não é nada meu, NADA!
— Sou nada? Tem certeza? Esqueceu que esse nada pode acabar com sua
vida? Então, vou te lembrar quem sou, minha princesa. Será que seu Mestre
sabe o que você fazia no Brasil? Ou melhor, será que ele sabe o que VOCÊ
ME OBRIGOU a fazer? Eu tenho um videozinho aqui que mostra que
TIVE QUE ARRUMAR VÁRIOS HOMENS PARA TE COMER, porque
você é uma menina insaciável. Se quiserem assistir, verão quão feliz Sofia
estava sendo fodida por vários paus ao mesmo tempo, pouco se
preocupando se eu, SEU NAMORADO, estava vendo ou não.
— Um vídeo da discípula sendo puta na terra natal? Óbvio que queremos
ver! E, quem sabe, até podemos reproduzir a cena aqui mesmo, hein? O que
acham? Já que ela curte tanto, quem sabe juntos a satisfazemos?
Matteo me provocou e eu comprei sua provocação. Foda-se que ele estava
armado! Aquela palhaçada tinha que acabar ali, naquele momento, ou eu
perderia o respeito como Dom da Dark House e tudo que tinha sido
construído por mim, e pelos Mestres antecessores, seria jogado no lixo.
Além disso, eu precisava, a qualquer custo, proteger Sofia. Ela era minha
responsabilidade, ela era verdadeiramente minha, mas por sua livre escolha,
e não por imposição ou ameaça, como Yan a submeteu e queria submeter
novamente.
Ignorei a pistola que estava na mão de Matteo e parti para cima dele, dando
um primeiro soco em sua cara que o deixou tonto, mas não o fez cair. Ele
revidou e bateu com o cabo da arma na minha têmpora. Apesar da forte dor,
eu não podia parar.
Segurei seus braços para o alto e o empurrei contra a parede, batendo seu
punho repetidas vezes para fazê-lo soltar a 9mm que segurava. Ele tentou se
livrar de mim, dando vários chutes nas minhas pernas e tentando acertar
minhas bolas.
No fundo, ouvi Sofia gritar. Virei meu rosto rapidamente, sem reduzir a
força que usava contra Matteo, e vi quando Natália foi para cima dela com
uma faca na mão.
O babaca do Yan se colocou na frente e levou um golpe no abdômen,
fazendo-o se dobrar enquanto colocava a mão no local e olhava as primeiras
gotas de sangue saindo pelo corte. O cara era tão fraco que um cortezinho
de nada o fez se sentar no chão como uma criança, chorando e deixando
Sofia à mercê daquela louca.
Eu não podia deixar mais nada acontecer com ela, nada! Sofia já tinha
sentido dores demais, tanto físicas quanto emocionais, e isso só era válido
quando tinha seu pleno consentimento e era em busca de prazer. Do
contrário, era apenas sofrimento, e se tinha alguém no mundo que não
merecia isso, era ela.
Rapidamente pensei que seria mais fácil e rápido apagar Natália do que
lidar com Matteo. Então, dei uma cabeçada no nariz dele e uma joelhada em
seu pau, apenas para que sentisse dor por tempo suficiente para eu poder
livrar Sofia de Natália.
Quando o vi se encurvar, tive certeza de que meus golpes deram certo,
então o soltei e fui em direção à Natália. Peguei seu pescoço por trás e
apliquei um mata-leão, apenas para que desmaiasse. Ela soltou a faca no
chão e levou as mãos ao meu braço, tentando se soltar. Achei que ela
apagaria rápido o suficiente para eu voltar e terminar com Matteo, mas não
foi o que aconteceu.
Lembro de Sofia chamando meu nome e de um forte impacto batendo
contra as minhas costas. A pancada me fez soltar Natália, que se soltou e
correu para fora da sala, seguida por Yan.
Perdi a força das pernas e caí de joelhos aos pés de Sofia, que chorava e
gritava algo que eu já não entendia mais.
Queria me levantar, precisava me levantar, precisava protegê-la, mas, por
mais tentasse, eu não conseguia. Senti mais um impacto, e depois mais um
e mais outro, e tudo ficou escuro.

Sofia Venturini
A partir daquele momento, tudo se tornou uma imensa confusão e as coisas
aconteciam de uma forma estranha na minha frente.
Lembro de Natália na porta da sala, com Yan ao lado, gritando para Matteo
sair logo dali. Rodolfo estava caído aos meus pés, envolto em uma grande
poça de sangue.
Me abaixei e coloquei sua cabeça sobre meu colo, beijando seu rosto e
implorando para que abrisse os olhos e voltasse para mim, mas eu sabia que
era tarde demais.
O abracei forte, como consegui na posição que estava, e fiquei ali, o
ninando como uma criança que precisava de carinho.
Não sei exatamente por quanto tempo fiz aquilo, mas meu lado racional
começou a me lembrar de que tudo seguia normalmente do lado de fora da
Dark House e que logo notariam nossa ausência.
Por outro lado, sair daquela sala e mostrar a todos o que tinha acabado de
acontecer, acabaria com a honra de Rodolfo como Dom, e eu, melhor do
que ninguém, sabia o quanto aquilo era importante para ele. Então cabia a
mim, somente a mim, proteger e zelar por sua memória.
Era o mínimo que poderia fazer em retribuição a tudo o que ele tinha feito
por mim ao longo de quase um ano como sua discípula. Além disso, se eu
estava viva naquele momento, era porque ele tinha me salvado.
Tirando de dentro de mim uma frieza que nem sabia que tinha, o arrumei
com cuidado no chão da sala, me levantei, fui até a porta e a tranquei.
Peguei o telefone que ficava sobre sua mesa e disquei o ramal da sala das
assistentes.
— Soraia? Aqui é Sofia. O Dom está em uma reunião online com um dos
darks da Alemanha e pediu para não ser incomodado de forma alguma. Por
favor, encerre tudo como de costume e pode dispensar a todos. Ah! Por
gentileza, deixe a porta da frente aberta ao sair. Rodolfo está aguardando
uma visita. Obrigada!
Ao dar as ordens à assistente que ficou no lugar de Natália, voltei para
Rodolfo e procurei seu celular. Sentada ao seu lado, desbloqueei a tela com
o código que ele tinha me dado, e procurei por Marisol nos contatos. Três
toques depois, a antiga Mestra do meu Mestre atendeu a ligação.
— ¿Mi amor, que pasó?
— Marisol, aqui é a Sofia. Preciso de você.
Capítulo 24
Porque você é, você é
A razão pela qual eu ainda estou aguentando
A razão pela qual minha cabeça ainda está acima da água
E se eu pudesse, eu pegaria a Lua
E daria ela para você
E se a morte viesse para você
Eu daria minha vida por você

Get You The Moon (feat. Snow) | Kina Beats

Rodolfo Fabregat

A
h, minha brasileira! Minha doce, linda e forte Sofia. Eu nunca pude
contar a verdade para você. Me perdoe, me perdoe, porque agora é
tarde demais e você não ouvirá essas palavras da minha boca, já que o
ar sumiu dos meus pulmões e tudo está escuro.
Queria ter tido mais tempo com você. Queria ter beijado mais sua boca.
Queria ter feito de você minha esposa e mãe dos meus filhos, mas a vida
que escolhi para mim, e que te coloquei para viver junto, não permitiu isso.
Assumir para você e para todos que a amei desde a primeira vez que a vi na
escada da minha casa, tentando se proteger da chuva, a colocaria com um
alvo nas costas, maior ainda do que já estava, além de ir contra uma das
minhas principais regras, que era não se apaixonar por um membro da
comunidade dark.
Mais grave era o fato de os Mestres Darks não poderem se envolver
amorosamente, principalmente com seus discípulos.
Vivemos em meio a muitos segredos e ter que guardá-los nos cobra um
preço alto, muito alto. No começo, eu não me importava, porque não
passava pela minha mente me apaixonar por alguém. Mas aí você chegou e
tudo mudou de forma e perdeu o sentido.
Sim! Pensei inúmeras vezes em renunciar meu trono para ficar com você,
mas entendi que seria egoísmo meu privá-la de viver tudo o que queria.
Realizar suas fantasias na DH, sob meu comando, era muito mais seguro do
que deixá-la cair nas mãos de aproveitadores, homens e mulheres que se
dizem Mestres e Mestras, mas que não têm a menor ideia do que estão
fazendo. E eu precisava te proteger, porque sabia que você não pararia até
ter todas suas vontades e curiosidades sexuais satisfeitas.
Mas não vou mentir, brasileira. Permitir que fosse para a Cruz de Santo
André foi a coisa mais difícil que fiz em toda a minha vida, por isso, resisti
tanto.
Ver todos aqueles homens e mulheres te tocando doeu demais, e controlar o
ciúmes que senti foi uma verdadeira sessão de tortura. Fora que me
arrisquei. Ah, me arrisquei muito! Porque se você não aguentasse, teria que
destituí-la do cargo de discípula, e eu não queria.
Eu a queria perto de mim, da maneira que fosse. Mas se tivesse mesmo que
tirá-la da DH, não a deixaria sair da minha vida. Sua desistência do X seria
apenas o empurrão que me faltava para largar tudo e pedir sua mão e, assim,
fazê-la minha para sempre.
Só que você, Sofia, é a mulher mais forte que já conheci, e resistiu à maior
prova a qual um dark pode ser submetido, me deixando ainda mais
orgulhoso e certo de que fiz a melhor escolha ao trazê-la para o meu lado. É
como disse várias vezes: meu instinto de Mestre Dark nunca falha!
E passar por tudo o que passou nas mãos do bosta do Yan, sozinha, sem
dividir sua dor com ninguém, só comprovou o quanto é uma mulher
empoderada, e que algo até pode abalar você, mas nunca te derrubará. Tudo
isso só me deu mais motivos para tomar a decisão que tomei.
Acontece que o tempo foi passando e meu amor por você aumentando.
Cada dia mais você se mostrava a melhor parceira e companhia que eu
poderia ter, alguém em quem eu realmente podia confiar e, principalmente,
amar.
Só que notei que você não me amava da mesma forma, e respeitei. Não sei
se estava se mantendo no seu papel de discípula, apenas cumprindo minha
regra de não se apaixonar, ou se realmente esse sentimento não despertou
em você. Mas, tudo bem, eu ainda a tinha por perto e, para mim, já era bom,
muito bom.
Quando Yan achou você, o desejo de protegê-la daquele monstro gritou
mais alto dentro de mim, e convidá-la para morar comigo foi a coisa mais
lógica que passou pela minha cabeça. Fora que, dividindo a mesma casa,
quem sabe você não aprenderia a me amar como eu te amava? Mas tudo
seria no seu tempo, quando e como você quisesse.
Eu jamais arriscaria me tornar uma experiência ruim para você, machucá-la
emocionalmente, ou pior, fazê-la perder a confiança e afastá-la de mim.
Hoje, quando ele chegou aqui na Dark House, nem precisou de
apresentação. Sabia que era "o clone do demônio", como você costumava
falar. Eu daria conta dele fácil, se não fosse Matteo e Natália chegarem.
Eu sinto muito por ter ido, Sofia. Sinto por ter deixado você sozinha com
todos esses loucos soltos por aí, mas me conforta saber que tivemos um
excelente último dia juntos.
Ter feito amor com você, no banheiro do seu apartamento, antes de irmos
pela última vez na Dark House, foi o melhor momento da minha vida, e eu
levarei aquelas sensações para sempre dentro de mim, para onde eu for.
E fique tranquila, pois meu instinto de Mestre Dark realmente nunca falha,
e eu já imaginava que iria embora logo. Então, eu estou indo e deixando
você com esses malucos, mas não estará desprotegida, nem tão pouco
desamparada. Continuarei te protegendo de tudo e todos, de onde estiver.
Sofia, eu amei você a cada segundo desde o nosso primeiro encontro, e
continuarei amando para todo sempre.
Serei eternamente seu, minha brasileira.
Capítulo 25
Oh, padre, me diga
Nós recebemos o que merecemos?
E ladeira abaixo nós vamos
Você deixou seus pés correrem livremente
A hora de todos cairmos chegou
Oh, antes da minha queda
Você teria coragem de olhá-los bem nos olhos?
Way Down We Go | Kaleo

Marisol Sanchez

A
ssim como tinha feito no passado, precisava encobrir mais uma morte
na Dark House. A diferença era que, agora, a dor que eu sentia era
muito, muito maior, e rasgava meu peito sem piedade.
Meu menino, meu discípulo, meu sucessor, tinha partido brutalmente, e eu
precisava dar um final digno a ele. Era o mínimo que podia fazer, depois de
tantos anos de parceria.
— Salvatore? Você precisa limpar a merda que seu netinho mimado fez na
DH.
— Do que você está falando, velha bruxa?
— Ainda não sabe? O bebezão não foi chorar no colo do vovô? ELE
MATOU RODOLFO, MATOU MEU MENINO!
— O QUE? Está louca, Marisol?
Por telefone, contei ao velho o que Natália e Matteo haviam feito, enquanto
acariciava os cabelos do meu pupilo, que já estava frio no chão, e tentava
confortar Sofia, que tinha ficado sozinha com ele naquela sala a noite toda,
esperando a Dark House esvaziar e eu chegar.
— E o que vamos falar para os membros, Marisol? Como explicaremos ao
Conselho Maior como Rodolfo morreu? Não me diga que está pensando em
culpar Sofia? Afinal, ela é a única que ficou na sala com ele, estou certo?
— NÃO SE ATREVA, seu velho maldito! Não se atreva a culpar a menina.
ELA AGORA É MINHA PROTEGIDA e, antes de pensar em fazer
qualquer coisa contra ela, saiba que Rodolfo deixou tudo preparado, pois já
desconfiava das intenções do seu netinho. Então, se um fio de cabelo dela
sair do lugar, todos saberão que vocês são os culpados, entendido?
"Para sua sorte, e sorte de Matteo e Natália, o ex-namorado louco de Sofia
também estava aqui esta noite, e todos viram quando ele a atacou no salão e
foi levado por Joseph para o escritório de Rodolfo.
Por isso, para toda a comunidade Dark House, falaremos que ele matou o
Dom, o que conservará a reputação de Mestre Dark de Rodolfo por ter dado
a vida para proteger sua discípula, o que também não deixa de ser verdade.
Ah! É só para você saber, seu netinho também matou Joseph. Então, se vire
com isso e com o que contará para a família do coitado do segurança, isso
não me interessa.
Agora, anda logo e venha para cá. Você é a última criatura que eu queria
encontrar agora, porque tudo isso é culpa sua também, por enfiar na cabeça
daquele moleque que ele poderia ser um Dom, mas não tenho escolha.
E não demora, ou eu mudo de ideia, jogo toda essa merda no ventilador e
acabo com você, sua família e seu poder, sem pensar nas consequências".

Sofia Venturini
Não sei o que Mastrinni e Marisol fizeram, mas Rodolfo teve um velório
lindo, dentro do que uma despedida como essa pode ser, e uma sessão de
cremação emocionante, digna de um verdadeiro rei, como ele era.
Todo o Conselho Maior da DH e os darks mais importantes e influentes
estavam lá, prestando as últimas homenagens.
Das poucas conversas que consegui ouvir, as pessoas cochichavam dizendo
que meu ex louco havia matado o Dom, que tentou me proteger dele. Ou
seja, eles realmente espalharam essa versão.
A questão era que, por conta desses rumores, Yan estava sendo procurado
pelo alto escalão da Dark House, homens e mulheres poderosíssimos que
precisavam garantir que seus maiores segredos sexuais e de negócios jamais
fossem revelados.
A DH não tinha o hábito de matar as pessoas para proteger seus interesses,
ao contrário, repudiava veementemente isso. Assim, tudo era feito
diplomaticamente, por meio de acordos de confidencialidade com multas
bilionárias.
Mas eu não tinha a menor ideia do que aconteceria com Yan, já que ele
estava sendo acusado de matar um Dom. E, para mim, o destino dele pouco
me importava, e eu nem ligava por ele estar sendo acusado de um crime que
não cometeu, já que sabia que a polícia não seria envolvida.
Eu queria mais era que ele se lascasse e sumisse de vez da minha vida, por
tudo o que tinha me feito no passado e por também ser um dos culpados
daquele final trágico do meu Mestre e da nossa história.
Para Matteo e Natália queria o mesmo, na verdade, queria mais, muito
mais. Óbvio que eles não deram as caras no velório de Rodolfo, seria
demais uma afronta dessa.
Ouvi o velho Salvatore dizer para alguns darks que seu netinho querido e
assassino não viria porque estava em uma viagem a negócios pelo Japão.
Foda-se! Pouco me importava também o que Mastrinni faria com ele.
Quanto à Natália, era uma simples assistente, e nenhum dark se importava
se ela estava lá ou não.
Minha cabeça pensava tudo isso, mas também me lembrava que, quando a
cerimônia acabasse, eu precisaria decidir o que fazer da minha vida e como
seguir sem Rodolfo ao meu lado.
O apartamento que eu morava era dele e, possivelmente, teria que devolver,
e eu nem sabia para quem. Meus últimos dias tinham sido dele, ele era a
pessoa que eu mais confiava no mundo e, agora, estava sozinha, sem saber
o que fazer ou como seguir sem meu Mestre.
A única coisa boa disso tudo foi que a Mestra Marisol não me desamparou,
e eu sabia que podia confiar nela. Ela cuidou de todos os preparativos e de
mim, desde o momento em que chegou naquela sala e me encontrou deitada
ao lado do corpo de Rodolfo, abraçada a ele e coberta por seu sangue.
— Mi niña, não pense em nada agora. Somente descanse o máximo que
puder e me ligue se precisar de algo, a qualquer hora do dia ou da noite,
está bien? Ah! Dei ordens para meus empregados trazerem comida para
você, assim, não precisa se preocupar com nada. Também deixei alguns dos
meus seguranças na sua porta, só por precaução. Mas fique tranquila! Nada,
nem ninguém, fará mal a você. A partir do momento que um Dom dá a vida
por alguém, essa pessoa passa a ser uma protegida de toda a Dark House.
Nenhum dark deixará que te atinjam, pode ter certeza disso — ela me disse
ao me deixar em casa após a cremação.
— E o que será da Dark House agora? Quem assumirá o lugar de Rodolfo?
Não é justo Mastrinni decidir isso. Rodolfo não teve tempo de nomear um
sucessor. — Perguntei a ela.
— Relaxe, cariño, não é hora de pensar nisso. Tudo se resolverá
exatamente como meu menino queria. Agora vá, chore o quanto precisar e,
depois, renasça ainda mais forte. Eu sei que você consegue. E conte comigo
para tudo, tudo mesmo!
Recebi um abraço carinhoso de Marisol e subi para o meu apartamento
pronta para viver meu luto.

Minha vida parou por uma semana. Durante esse tempo não falei com
ninguém, não atendi ao telefone, não fui às aulas, não coloquei a cara para
fora do apartamento, sequer consegui olhar pela janela e ver a casa de
Rodolfo. Só me permiti sentir toda a dor de tê-lo perdido, na intenção dela
amenizar um pouco, porque acabar, ela nunca acabará, nem se eu viver 200
anos.
Os funcionários de Marisol continuavam trazendo comida todos os dias, e
os seguranças se mantinham na porta, e esses foram os únicos seres vivos
que vi naquele período. Mas eu precisava me levantar, seguir, decidir o que
fazer da minha vida, já que ele não estava mais lá. Continuar daquele jeito
não era para mim. Eu tinha que continuar e lutar.
Decidida a fazer algo a meu favor, levantei da cama, tirei o pijama, e fui
tomar um banho. Assim que entrei no box, mais uma vez as lágrimas
caíram e vieram tão fortes quanto a água que caía do chuveiro quando
lembrei que ali tinha sido o último lugar em que eu e Rodolfo ficamos
juntos.
Aquela sexta-feira tinha sido diferente. Na verdade, Rodolfo estava
diferente naquele dia. Era como se ele soubesse que algo aconteceria e, por
isso, tirou suas últimas horas para se despedir de mim.
Naquela noite, no meu apartamento, pela primeira vez nós não trepamos,
nós fizemos amor, e aquele sentimento foi muito, muito real. Então, por que
não nos amávamos? Por que não nos tornamos um casal?
As regras impostas no começo do nosso acordo eram claras: nada de se
apaixonar. Mas entre nós tinha algo especial, eu sabia disso.
Rodolfo era muito mais que meu Mestre, que meu Dono. Ele realmente se
preocupava comigo fora da DH, cuidava de mim em tudo o que eu
precisava, tanto que morreu fazendo isso. Então, por que não tinha virado
amor?
Terminei meu banho com a cabeça a mil, cheia de perguntas que nunca
terão respostas, já que Rodolfo não estava mais aqui para conversarmos
sobre o assunto. Então, só restava terminar de me arrumar e fazer o que
precisava. Uma música que tocava na playlist do meu celular me ajudou a
encontrar uma saída:
"Você precisa, você precisa de alguém?
Você está com medo do que está por vir?
Se você for embora, então quem será o próximo?
Ele fará o mesmo ou deixará você ver?
Você não precisa se machucar, você não precisa mais se machucar
Com um pouco de tempo, dê uma olhada e encontre o que você está
procurando
Você está quebrada ao chão
E você está chorando, chorando
Ele fez isso tudo antes
Mas você está mentindo, mentindo
Para si mesma de que ele encontrará ajuda
Que ele vai mudar por outra pessoa
Mas você está quebrada ao chão
Ainda assim, pedindo a ele por mais
Você vai embora ou vai seguir em frente?
Seu amor de antes continua forte?
Se você for embora, você vai manter a memória?
Que tornou a noite tão longa, que cortou tão profundo?
Você não precisa se machucar, você não precisa mais se machucar
Com um pouco de tempo, dê uma olhada e encontre o que você está
procurando"

Peguei a cópia que ainda tinha das chaves da casa de Rodolfo e fui até lá.
Achei que seria uma boa forma de me despedir dele mais uma vez, antes de
voltar para o Brasil, já que nada mais me prendia à Madrid, nem mesmo a
pós, que eu havia trancado dois dias depois da sua morte.
Não tinha pretensão alguma de ir para a casa dos meus pais, já que o meu
pai havia me traído, mas também não sabia para onde iria, o que era
estranho para uma pessoa como eu que tinha cada passo devidamente
planejado.
A Sofia que tinha aterrissado na Espanha meses antes tinha planos bem
definidos, e estava disposta a não deixar ninguém mudar o caminho que
havia traçado para si. Mas Rodolfo chegou naquele dia de chuva e mudou
tudo, para melhor, para muito melhor, e a nova Sofia não se arrependia de
nada que tinha feito naquele quase um ano ao lado de seu Mestre.
Abri a porta da frente da casa, que nunca ficava trancada, e passei pelo
corredor que tinha os quadros com desenhos no estilo renascentista que
tanto chamaram minha atenção da primeira vez que fui lá. Olhei para a
escada que dava para a Dark House, mas não tive coragem de descer, então
entrei na casa.
O cheiro de Rodolfo continuava no ar, e parecia que ele tinha acabado de
sair dali. As louças do último café da manhã que tomamos juntos, no dia da
sua morte, ainda estavam na lava-louças.
Lembrei que, naquela manhã, havia prometido dar a ele a resposta sobre vir
ou não morar ali. Mas não tive tempo, e ele nunca saberá que eu tinha
decidido que sim, que aceitaria seu convite, por mais medo que estivesse
sentindo de estar arriscando demais nossa relação.
Fui para a sala, olhei tudo ao redor, e recordei o dia da chuva e do primeiro
vinho que tomamos juntos enquanto olhava os raios caindo sobre Madrid
pela grande parede de vidro.
Subi as escadas e entrei no quarto. Lá, o cheiro dele era ainda mais forte,
por conta das roupas que estavam no closet. Sentei na cama e passei as
mãos sobre o lençol preto de cetim que, por tantas vezes, tinha sido palco
das nossas fantasias e desejos.
Peguei o travesseiro que era de Rodolfo, abracei com força e inalei seu
aroma. Deitei abraçada com ele e me deixei chorar pela última vez, até que
todas as lágrimas secassem, definitivamente. Adormeci naquela posição.

Marisol Sanchez
Eu precisava falar com Sofia, perguntar o destino que ela queria dar às
cinzas de Rodolfo e contar quais tinham sido as últimas decisões dele. Mas
resolvi esperar e respeitar seu tempo. Quando ela estivesse pronta, eu
saberia e a procuraria.
Naquela tarde o segurança me ligou e informou que Sofia, finalmente, tinha
saído do apartamento e que estava na casa de Rodolfo. Então, segui para lá.
A porta, como de costume, estava aberta, e eu entrei procurando por ela.
Vendo que não estava no andar de baixo e que as luzes da Dark House
estavam apagadas, deduzi que estaria no andar de cima, e foi para lá que eu
fui.
Era de partir o coração vê-la dormindo abraçada ao travesseiro dele, quase
que na mesma posição que a encontrei naquela noite horrível, toda coberta
com o sangue do meu menino.
Fiquei com pena, mas precisava acordá-la, e fiz isso da maneira mais gentil
possível, sentando na beirada da cama, ao seu lado, e tocando o braço de
Sofia suavemente, para não assustá-la.
— Cariño, por favor, acorde. — Sofia levou alguns segundos para
despertar. Então abriu os olhos inchados e demorou um tempo para
entender onde estava e quem a chamava.
— Marisol, oi. Como soube que eu estava aqui?
— Os seguranças me contaram. Desculpe vir sem avisar, mas preciso muito
falar com você. Estava apenas esperando a hora certa e respeitando seu
momento.
Ela soltou o travesseiro, se sentou encostada na cabeceira da cama, e então
entreguei o envelope que carregava.
— O que é isso?
— Aqui dentro tem tudo o que Rodolfo deixou para você.
— Como assim o que ele deixou para mim? Não estou entendendo.
— Na noite em que Matteo e Natália atacaram você na DH, Rodolfo me
procurou. Ele imaginou que os dois não parariam tão cedo, mesmo com
chances mínimas de aquele plano maluco deles dar certo. Então, Rodolfo
providenciou tudo o que precisava para deixar você devidamente protegida,
caso algo acontecesse com ele, e me pediu para te revelar tudo na hora
certa. E a hora, minha querida, é agora.
Sofia abriu o envelope e por alguns minutos, leu cada um dos papéis,
ficando visivelmente mais em choque a cada folha que virava. Tremendo,
ela me perguntou: — Marisol, não pode ser! Isso não é real! Por que ele fez
isso? Por quê?
— Porque ele amava você, cariño! Amava verdadeiramente, mas tinha
medo de perder você se contasse. Por isso, ele guardou esse sentimento em
segredo, durante todo esse tempo.
Parei um pouco para ela assimilar o que eu havia acabado de dizer, então
peguei suas mãos e, olhando em seus olhos, continuei.
— Aqui, você tem tudo o que precisa para assumir o que era de Rodolfo. A
casa, os carros, a empresa, as contas nos bancos, aplicações, investimentos,
tudo, absolutamente tudo, ele deixou para você. Ah! E ele também a
nomeou como sua sucessora ao trono da Dark House e, exatamente neste
momento, o Conselho Maior está recebendo uma cópia desse documento.
Ainda em choque, Sofia baixou o olhar, ficou pensativa por algum tempo, e
com um dos papéis nas mãos, me questionou: — E o que é este envelope
timbrado com a marca de um laboratório?
— Bem, isso não tem relação direta com você, mas como se tornou a
herdeira legal dele, é quem deve decidir sobre o que será feito com isso.
— Desculpe, mas ainda não entendi.
— Rodolfo sabia que, por ser um Mestre Dark, dificilmente conseguiria se
casar, ou, pelo menos, não faria isso tão cedo. Mas um dos grandes sonhos
dele era ser pai, para dar a uma criança tudo o que ele não recebeu, e
também para ter alguém com seu sangue para herdar seus bens. Por isso,
logo que assumiu o trono, ele congelou os espermas. A ideia dele era, em
breve, contratar uma barriga de aluguel para ter o filho que queria sem a
necessidade de se relacionar com alguém e correr todos os riscos que você
sabe bem quais são.
Só que você chegou, ele se apaixonou, e começou a fazer planos de uma
vida a dois. Por conta disso, Rodolfo tinha decidido pedir para o laboratório
destruir o material, mas ele não teve tempo. Agora, você precisará decidir o
que fazer com isso.
Sofia se levantou da cama, deixando os papéis. Andou um pouco pelo
quarto, foi até o closet, pegou uma das camisas de Rodolfo, aproximou do
rosto para sentir o aroma que vinha da peça e a vestiu, se abraçando logo
em seguida.
— Marisol, o que eu faço? O que eu faço com tudo isso que ele me deixou?
O que eu faço com o trono da Dark House? O que eu faço com a
possibilidade de realizar o sonho dele de ter um filho? É muita coisa para
pensar, para decidir. Me ajuda! — Levantei, fui até ela, e a abracei com
carinho.
— Minha menina, todas essas decisões devem partir apenas de você. O que
posso dizer é que, se Rodolfo fez tudo isso, se deixou tudo para você, é
porque você merece e porque ele sabia do seu potencial.
"Ele me contou que você é a mulher mais forte que ela já conheceu, e eu
acredito, porque passar pela Cruz de Santo André não é para qualquer um.
Mais do que desejo, requer muito controle mental e força emocional.
Fora tudo o que aquele seu ex-namorado doente fez, e você superou
sozinha. E por mais que esteja doendo muito agora, tenho certeza de que
tudo isso que aconteceu não vai te enfraquecer, ao contrário, deixará você
ainda mais forte.
Então, seja qual for sua decisão, estarei ao seu lado, não como Mestra,
porque, agora, você é uma, mas como sua amiga e, se quiser, sua
conselheira.

Sofia Venturini
Três dias haviam se passado desde minha conversa com Marisol. Os
advogados dela tinham me ajudado a resolver toda a parte burocrática da
herança, e eu também já estava com as cinzas de Rodolfo, porém, não tive
coragem de jogá-las em lugar algum.
Achei que o melhor a fazer era guardá-las em uma urna bem bonita, que
tivesse a ver com ele. Então, mandei fazer uma em bronze, no formato do
arquétipo que ele usava, o falcão, e dei ordens para fixá-la no chão, do lado
direito do trono que ele havia ocupado por tanto tempo.
A DH estava fechada desde sua morte, e eu ainda não tinha ideia se
assumiria mesmo o cargo, ou se jogava tudo aquilo para o alto.
Só pensava que, sem ele, não tinha motivo algum para continuar ali. Por
outro lado, ele morreu por minha causa, e não achava certo entregar todo o
legado dele, de bandeja, para um dark qualquer, depois de tanto que
Rodolfo lutou e se dedicou.
Por conta disso, o Conselho Maior tinha me dado mais uma semana para
informar minha decisão, e aproveitei esse tempo também para resolver
outra questão tão importante quanto.
— Boa tarde! Sou Sofia Venturinni, vim falar sobre o material de Rodolfo
Fabregat, que está congelado neste laboratório.
Agradecimentos
É extremamente difícil afirmar se Sofia é meu alter ego ou não.
Porém, conforme a história dela foi se desenvolvendo na minha
cabeça e ganhando vida neste livro, percebi que diversos
acontecimentos tinham relação com coisas que eu já vivi —
obviamente, não na mesma intensidade, cenário, contexto ou
conotação sexual.
Notei isso quando ela falou que o pai a traiu (eu vivi isso), ou
quando o ex a perseguiu (eu passei por algo parecido).
Outros comportamentos de Sofia também são bem semelhantes aos
meus, por exemplo, se permitir viver um luto e, logo em seguida,
levantar mais forte e continuar; ou acreditar veementemente que a
mulher pode — e deve — fazer o que ela quiser com seu corpo,
quando, como, com quem, e da forma que considerar mais
adequado para ela, e ser dona de todas as suas decisões.
É surpreendente — e extremamente revelador —, terminar este
primeiro livro e perceber que essa história não nasceu do nada.
Tem muita inspiração dos livros e filmes hot que eu gosto tanto de
ler/assistir? SIM! 90%, eu diria. Mas, inconscientemente (e olha que
foi inconscientemente mesmo, porque só percebi quase no final),
Sofia foi estruturada em alguns momentos da minha vida.
Rodolfo segue o mesmo princípio? Cheguei à conclusão que
também.
Agora que a história está pronta, posso afirmar que ele é uma boa
mistura de várias figuras masculinas com as quais eu convivi e que,
por motivos distintos, tiveram certa relevância para mim — algumas
no sentido amoroso, outras bem oposto a isso.
Mas, claro, eu não fiz isso tudo sozinha! Além dos personagens que
criaram vida na minha mente e, praticamente, me disseram o que
queriam viver, outras pessoas muito especiais fizeram "Dark House -
A iniciação", sair da minha cabeça maluca e virar realidade:
● Celso Freitas e sua amiga Dani, meus leitores beta quando a
história tinha poucos capítulos concluídos, que me deram
dicas incríveis e incentivo para continuar;
● Marcelinho Ferreira, meu miguxo master que apoiou minha
ideia de escrever um livro desde o primeiro momento, que
também foi um beta, e dedicou horas dos seus dias sempre
ocupados para criar as capas, os avatares, fazer o site e
conversar muito sobre experiências de projetos pessoais;
● Danielle Martins, que há anos me ajuda a colocar no lugar os
parafusos soltos da minha cabeça (haja terapia!);
● André Luiz, meu parceiro de aventuras tão doido quanto eu,
que apoia absolutamente tudo o que eu quero fazer, mesmo
quando não entende muito bem a ideia no início;
● Aline Panda, a melhor revisora e assessora que alguém pode
ter, e que embarcou comigo na segunda edição para deixar
essa história ainda mais incrível e perfeita.
E claro, não poderia deixar de agradecer a todo o Plano Espiritual,
por me manter viva, forte física, mental e emocionalmente, e por
estar comigo em todos os caminhos que eu percorro.
Gratidão a todos, sempre!
Prólogo

Sofia Venturinni Fabregat


Impossível continuar sendo a mesma pessoa depois de tudo o que
aconteceu.
Perder Rodolfo daquele jeito, especialmente sabendo que ele morreu para
me proteger, me destruiu de uma maneira que nunca imaginei que fosse
possível.
Após conversar por dias e dias com Marisol, ler e reler inúmeras vezes
todos os documentos que ele deixou, a culpa me consumiu por, em nenhum
momento, ter percebido que ele me amava. Esse peso ficou ainda maior
quando assumi para mim mesma que eu não amei Rodolfo.
Estava tão envolvida no cargo de discípula da Dark House, tão preocupada
em não descumprir nenhuma regra para não correr o risco de perder tudo
aquilo, que bloqueei meus sentimentos e não deixei o coração tomar conta.
Rodolfo foi muito mais do que meu Mestre. Ele ocupou um lugar na minha
vida que nenhum outro homem jamais ocupou. Foi meu amigo, meu
parceiro, meu companheiro, meu protetor, meu dono.
Foi quem realizou absolutamente todos os meus desejos e fantasias sem me
julgar, questionar ou condenar.
Foi quem me transformou em uma mulher mais forte, dona das minhas
vontades e livre de medos e traumas. Ainda assim, eu não consegui amá-lo,
não da forma tradicional, não da forma que ele merecia.
Porém, de certa maneira, acho que o que sinto por ele é um tipo de amor,
talvez até mais puro e forte do que o amor romântico comum a tantos
casais.
Por outro lado, nem mesmo esse pensamento não me consola, e eu preciso
fazer alguma coisa para retribuir tudo o que Rodolfo fez por mim, tudo o
que ele significou na minha vida.
Passados seis meses da sua morte, o primeiro passo que dei para honrá-lo
foi assumir seu sobrenome.
Agora, sou Sofia Venturinni Fabregat, eterna discípula de Rodolfo Fabregat.
Só que isso ainda é pouco, muito pouco. Ele merece mais!
Voltar para o Brasil estava fora de cogitação, principalmente depois da
traição do meu pai e da palhaçada que Yan fez aqui em Madrid, que
também contribuiu com a morte de Rodolfo.
Pesando os prós e os contras de toda essa loucura, o melhor que podia fazer
em retribuição a tudo o que meu Mestre me deu em vida, e depois dela, era,
além de adotar seu sobrenome, assumir seus negócios, o trono da Dark
House, e realizar seu maior sonho.
Legendas
1. Gag: mordaça
2. Nipple clamps: grampos para mamilos
3. Nipple play: jogos sexuais com mamilos
4. Bondagem: prática sexual que restringi fisicamente os movimentos,
partes do corpo e/ou sentidos
5. Spanking: prática de bater em alguém como estímulo sexual
6. Shibari: arte japonesa que usa cordas como forma de restrição de
movimentos com intuito de gerar prazer sexual
7. Facesitting: sexo oral recebido por sentada no rosto do parceiro(a). Pode
gerar um pouco de asfixia.
8. Fisting: penetração completa com a mão na vagina e/ou ânus, por vezes,
incluindo punho e antebraço
9. Age play: jogos de idade; encenação de pertencer a outra faixa etária
para gerar prazer sexual
10. Cruz de Santo André: cruz em formato de X usada para restringir pés
e mão para prática de jogos sexuais
11. Necrofilia: parafilia (preferência sexual que se desvia da norma)
caracterizada pela excitação sexual decorrente da visão ou contato com um
cadáver.
12. Boa noite senhor. Aonde você pensa que está indo?
13. Acredito que hoje não, senhor. Por gentileza, volte para sua terra agora,
ou voltará dentro de uma caixa de madeira
14. Brat: submisso(a) que desafia/provoca o(a) dominador(a)
intencionalmente, a fim de ter em troca uma reação ou resposta
15. baunilha: nome usado para descrever uma atividade sexual considerada
normal, sem inclusão de fetiches
16. ménage: relação sexual envolvendo três pessoas.
Sobre o autor
Nicole Leather

Nicole Leather é o pseudônimo que escolhi para me aventurar no universo


dos livros eróticos.

Escolhi esse nome porque Nicole significa "a que vence o povo" ou "a que
conduz o povo à vitória", e essa descrição tem tudo a ver com o perfil das
personagens femininas dos meus livros (leia-os e você entenderá!)

O sobrenome Leather é uma homenagem à origem do BDSM, que nasceu


dos grupos da subcultura americana chamados de Leather, os quais eram
formados por gays masculinos motociclistas e entusiastas das roupas de
couro.

Sobre manter o anonimato, bem, você deve imaginar quanto é difícil


colocar "a cara a tapa" para falar sobre essa temática, empoderamento
feminino e afins, especialmente sendo mulher.

Por isso, prefiro deixar minha verdadeira identidade em segredo


e, assim, me sentir livre para escrever o que quiser e achar válido para
agregar algo na vida daqueles lerem minhas histórias.

Agora que você sabe um pouco mais sobre mim, venha comigo e se
surpreenda com os personagens da trilogia Dark House, hot/dark romance
com muito empoderamento feminino!

www.instagram.com/nicoleleatherescritora/

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