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RESUMO - Artigo 1

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Resumo – Artigo 1

Este artigo aborda as expectativas de futuro dos adolescentes aprendizes. O programa de


aprendizagem visa a profissionalização dos jovens, oferecendo conhecimento teórico e
prático em um determinado ofício. Os cursos teóricos são ministrados por entidades como
SENAR, SENAC, SESC, SENAI, SESI, SEST, SENAT. O Programa do Governo Federal
busca facilitar a entrada dos jovens no mercado de trabalho formal, visando sua
qualificação e a construção de uma vida pessoal e profissional digna. A Medida Provisória
nº 251 ampliou a idade de participação nos programas de aprendizagem para 14 a 24
anos e alterou o nome do programa para “Jovem Aprendiz”.

A lei visa a uniformizar as diferentes formas de formação ao longo da juventude, mas


pode também criar representações sobre os jovens. A definição de adolescência
considera o contexto histórico, político e cultural de cada sociedade, deixando de ser vista
como uma fase natural e passando a ser entendida como um desenvolvimento na
sociedade moderna ocidental. Diferentes categorias teóricas são usadas para analisar as
expectativas de futuro dos adolescentes, tais como perspectiva de futuro, projeto de vida,
plano de vida e interesse profissional. As expectativas em relação ao futuro dos jovens
são fundamentais para compreender suas aspirações e planos para a vida adulta. As
expectativas em relação ao futuro são entendidas como as percepções dos adolescentes
sobre suas oportunidades futuras, especialmente em relação ao trabalho e ao seu projeto
de vida. Bock e Liebesny (2003) indicam que, embora falem sobre o futuro, esses projetos
são construídos no presente e estão ligados ao desenvolvimento da identidade, que é um
processo contínuo. As relações sociais influenciam essas expectativas e a maneira como
os jovens percebem as possibilidades em suas vidas. Alberto (2007) observa que, para
trabalhadores precoces, o futuro é imaginado como uma perspectiva de trabalho, que
pode ser positiva ou negativa. Ele aponta duas dimensões nas expectativas: uma ligada
ao desejo de um futuro melhor por meio do estudo e outra relacionada à realidade da
inserção precoce no mercado de trabalho. Bock e Liebsny (2003) também constataram
que o trabalho está no centro dos projetos de vida dos jovens, sempre conectado à sua
inserção social. Esses autores destacam a forte presença da ideologia liberal entre os
adolescentes, que acreditam que o sucesso depende do esforço individual. Essa visão é
reforçada pela falta de crítica sobre o trabalho, que é visto mais como emprego do que
como uma contribuição para a sociedade.

Os jovens, independentemente de sua origem, possuem aspirações de completar o


ensino superior em áreas tradicionais como medicina e direito, com a expectativa de
sucesso. Aguiar e Ozella (2003) mencionam que muitos adolescentes das classes
populares acreditam que podem superar as dificuldades por meio de esforço pessoal.
Essa perspectiva é semelhante à análise de Andriani (2003) sobre jovens negros de
classes populares, que veem a educação e o trabalho como formas de garantir um futuro
melhor. Oliveira et al. (2003) também destacam que, segundo os jovens estudados, o
esforço pessoal determina o futuro. Eles reconhecem as dificuldades para ingressar no
mercado de trabalho e veem a escolarização como um diferencial importante. Apesar de
atribuírem à realização de seus desejos profissionais como “difícil”, acreditam que é
possível alcançá-los se se dedicarem. Não consideram outras variáveis além do esforço,
sendo essa uma visão única sobre o trabalho.

Os adolescentes acreditam que o trabalho pode levá-los a um futuro melhor, onde


possam ter uma vida digna e cuidar de suas famílias. Para eles, o trabalho é visto como
um “passe de mágica” que possibilitará suas aspirações. Cassab (2001) aponta que as
aspirações desses adolescentes estão vinculadas a um modelo de vida burguesa, com
ideais como emprego estável e uma boa qualidade de vida. No entanto, poucos
expressam uma escolha profissional real, pois, para eles, o trabalho é uma necessidade,
não uma escolha. Esses autores notam que os adolescentes das classes populares têm
dificuldade em ver seus sonhos de maneira crítica, parecendo acreditar que podem
superar a adversidade sem realizar ações concretas.

A situação se complica com a escassez de empregos no mercado formal, resultando em


exclusão e precarização do trabalho para muitos jovens. Pochmann (2000) observa que
os jovens frequentemente se contentam com “bicos” ou estágios temporários, sem
perspectiva de um futuro profissional estável. Frigotto (2008) adverte que as políticas de
formação profissional frequentemente ignoram o coletivo, priorizando a competição
individual e focando no atendimento às demandas do mercado em vez de considerar os
direitos sociais dos trabalhadores. Frigotto e Ciavatta (2006) adicionam que as exigências
de formação têm se moldado a um ideal neoliberal que favorece um trabalhador flexível e
altamente adaptável às demandas do mercado. Neste contexto, é importante investigar
como os adolescentes e jovens imaginam seu futuro a partir de suas experiências em
programas de formação profissional.

No estudo participaram 16 adolescentes de ambos os sexos, sendo 9 em formação no


SENAC em João Pessoa e 7 que já haviam completado o curso. As expectativas sobre o
futuro foram exploradas através de entrevistas individuais e coletivas. As questões
abordaram idade, sexo, escolaridade, aspirações profissionais e como o programa
contribui para essas expectativas. Após aprovações éticas necessárias, os adolescentes
foram informados sobre a pesquisa e garantido que a participação era opcional e
anônima. As entrevistas foram realizadas onde os participantes estavam, e uma análise
posterior organizou as falas em categorias, como as expectativas de formação e como o
programa ajudou nisto. A entrevista coletiva, agendada com os participantes, buscou
aprofundar as conversas sobre consensos e contradições nas suas experiências.

Os 16 participantes da pesquisa tinham idades entre 14 e 18 anos, sendo 9 meninas e 7


meninos. Todos estudavam em escolas públicas, com escolaridade variando do 8º ano do
fundamental ao ensino superior incompleto, com maior concentração no 2º ano do ensino
médio. Ao falarem sobre suas aspirações futuras, os adolescentes expressaram suas
vontades em relação às profissões, dividindo-as em duas categorias: “cursos de nível
superior” e “trabalho de nível médio”. Nos jovens do Programa, ambas as categorias
estavam presentes com igual frequência, enquanto os egressos mostraram uma leve
preferência por ocupações de nível médio. Nos participantes do Programa, as profissões
de nível superior incluíam “odontologia”, “ciências da computação”, “enfermagem”,
“medicina” e “administração”. Já entre os egressos destacavam-se “nutrição”, “educação
física”, “engenharia mecânica”, “administração” e “direito”.

As ocupações de nível médio para os participantes incluíam “arquivamento”, “motorista de


ônibus” e “recepcionista”, que não oferecem muitas oportunidades de crescimento, mas
garantem direitos trabalhistas. Para os egressos, as profissões incluíam “trabalho em
escritório”, “setor de pessoal”, “policial” e “auxiliar de enfermagem”. Um curso superior era
visto como uma forma de garantir um lugar no mercado de trabalho e possibilitar a
ascensão socioeconômica, o que também foi observado em estudos anteriores. A
expectativa de trabalho de nível médio estava ligada à necessidade financeira dos
adolescentes, representando não só a sobrevivência, mas também a esperança de um
futuro com melhores oportunidades.
Os dados demonstram que muitos adolescentes tinham um desejo de estabilidade na vida
profissional e na família, com poucos mencionando uma ocupação específica, priorizando
a segurança e a remuneração. A maioria expressou a aspiração por um futuro melhor,
com adolescentes afirmando a importância de estudar para ter sucesso e um melhor
reconhecimento no trabalho. O esforço pessoal foi considerado um fator crucial para
alcançar suas metas, com um jovem enfatizando a necessidade de dedicação para
realizar seus sonhos.

Além disso, o estudo mostrou que os jovens reconhecem que, apesar das dificuldades,
suas aspirações podem se concretizar desde que se esforcem e invistam em sua
educação. No entanto, o ambiente social e econômico que os rodeia também influencia
suas visões de futuro. A sensação de que a responsabilidade pelo sucesso individual recai
sobre eles, sem o suporte do Estado, é predominante entre os jovens. Durante as
entrevistas coletivas, tanto participantes como egressos expressaram a vontade de
conciliar trabalho e educação, vendo o emprego como forma de financiar seus estudos.
Apesar de haver um reconhecimento do esforço pessoal como essencial para unir
trabalho e estudo, muitos jovens ainda lutam para redefinir suas expectativas e se
deparam com a realidade. Uma parte dos adolescentes procura um futuro mais
pragmático, buscando maneiras de alcançar seus sonhos através da educação e do
trabalho. Em relação ao Programa de Aprendizagem, tanto os participantes quanto os
egressos valorizaram a experiência e a disciplina como fundamentais para alcançar suas
expectativas futuras.

A categoria vivência de experiência indica que adolescentes desejam entrar no mercado


de trabalho com experiência comprovada, tendo carteira de trabalho assinada em uma
instituição reconhecida. No entanto, para os entrevistados, essa inserção ainda é uma
expectativa, já que não conseguiram se inserir efetivamente no mercado. Sobre o
“disciplinamento”, os adolescentes acreditam que, ao aprender a respeitar e ouvir as
reclamações dos clientes, será mais fácil realizar seus sonhos. É importante ressaltar que
a entrada no mercado de trabalho não é uma escolha, mas sim uma imposição de uma
realidade social excludente, uma ideia compartilhada por estudiosos que veem essa
inserção como uma forma de disciplinamento e preparação para o trabalho. O estudo tem
como foco o adolescente concreto, mostrando que o interesse em uma oportunidade de
trabalho revela suas condições e desafios. Conforme uma pesquisa mencionada, a
maioria dos adolescentes não viu mudanças significativas após a formação profissional,
com a maioria não acreditando que o curso impactou suas situações. As entrevistas
coletivas reafirmaram que o programa não ajudaria a realizar seus sonhos, mas os
adolescentes procuraram argumentar que, com esforço, poderiam alcançar seus
objetivos. Assim, evidenciou-se a ideia de que o sucesso depende do esforço pessoal,
relacionada a uma visão liberal do trabalho. Além disso, as expectativas dos egresso e
participantes do programa são semelhantes, com leve predominância de uma expectativa
de trabalho de nível médio entre os egressos, enquanto os participantes preferem a
formação superior. Isso pode ocorrer porque os egressos, mais próximos da realidade de
não ter se inserido no mercado, ajustam suas expectativas a algo mais imediato. Em
conclusão, as expectativas destes adolescentes refletem a formação que receberam,
moldada pelo Programa de Formação Profissional, que banaliza a vida ao reduzi-la ao
trabalho, resultando em uma subjetividade que não consegue ressignificar sonhos,
deixando-os inquestionáveis. Apesar disso, alguns adolescentes tentam superar desafios
sociais e buscam realizar seus sonhos através de estudos e trabalho, mas o programa
não fornece uma análise crítica da realidade, levando-os a acreditar que a realização
depende apenas do esforço pessoal.

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