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Oliveira Akz Me Bauru

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UNESP UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

Faculdade de Ciências
Campus de Bauru – SP

ANA KEILA ZANIN DE OLIVEIRA

EDUCAÇÃO FÍSICA, ESCOLA PÚBLICA E A


PEDAGOGIA WALDORF: análise do ensino e
aprendizagem de Valores Morais

BAURU – SP
2020
ANA KEILA ZANIN DE OLIVEIRA

EDUCAÇÃO FÍSICA, ESCOLA PÚBLICA E A


PEDAGOGIA WALDORF: análise do ensino e
aprendizagem de Valores Morais

Dissertação apresentada ao Programa de


Mestrado Profissional em Educação Física
em Rede Nacional – ProEF da
Universidade Estadual Paulista – UNESP,
como requisito parcial para a obtenção do
Título de Mestre em Educação Física –
Área de Concentração em Educação
Física Escolar.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Dagmar Aparecida


Cynthia França Hunger.

BAURU – SP
2020
Oliveira, Ana Keila Zanin de.
Educação Física, escola pública e a pedagogia
Waldorf : análise do ensino e aprendizagem de valores
morais / Ana Keila Zanin de Oliveira, 2020
140 f. : il.

Orientadora: Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger

Dissertação (Mestrado)–Universidade Estadual


Paulista. Faculdade de Ciências, Bauru, 2020

1. Educação Física Escolar. 2. Valores Morais. 3.


Escola Pública. 4. Pedagogia Waldorf I. Universidade
Estadual Paulista. Faculdade de Ciências. II. Título.
ANA KEILA ZANIN DE OLIVEIRA

EDUCAÇÃO FÍSICA, ESCOLA PÚBLICA E A


PEDAGOGIA WALDORF: análise do ensino e
aprendizagem de Valores Morais

Dissertação apresentada ao Programa de


Mestrado Profissional em Educação Física
em Rede Nacional – ProEF da
Universidade Estadual Paulista – UNESP,
como requisito parcial para a obtenção do
Título de Mestre em Educação Física –
Área de Concentração em Educação
Física Escolar.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Dagmar Aparecida


Cynthia França Hunger

Data da defesa: 24/04/2020

MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA:

Presidente e Orientadora: Prof.ª Dr.ª Dagmar Aparecida


Cynthia França Hunger
Universidade Estadual Paulista – UNESP, campus Bauru

Membro Titular: Prof. Dr. Carlos Eduardo Lopes Verardi


Universidade Estadual Paulista – UNESP, campus Bauru

Membro Titular: Prof. Dr. Evandro Antonio Corrêa


Fundação Educacional Dr. Raul Bauab – FIJ

Local: Universidade Estadual Paulista


Faculdade de Ciências
Unesp – campus de Bauru
AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a DEUS pelo dom da vida e por permitir que mais um
sonho fosse realizado.

A minha família e amigos, pelo apoio e incentivo sempre.

Ao meu saudoso pai, Hilário, que foi um exemplo de fé, força e coragem, que jamais
será esquecido.

A minha tão amada mãe Maria Sidney companheira de todas as horas, por todo seu
apoio e amor incondicional.

Ao meu querido esposo João Francisco, pelo incentivo e compreensão.

Ao meu muito amado filho Tales, pelo seu carinho, amor e compreensão e por ser a
minha inspiração.

Aos meus alunos por também me ensinar muito ao longo dessa caminhada.

A todos os professores que fizeram parte da minha vida, por todo carinho, dedicação
e exemplo que me fizeram escolher essa profissão.

A minha orientadora Prof.ª Dr.ª Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger pela
confiança, paciência e sabedoria ao longo desta trajetória.

Aos Professores Dr. Carlos Eduardo Lopes Verardi e Dr. Evandro Antonio Corrêa por
terem aceito o convite para compor a banca de qualificação e pelas valiosas
contribuições para pesquisa.

A Capes e a Unesp pelo apoio.

Aos professores do PROEF por tanta sabedoria e amor ao compartilhar seus


conhecimentos e experiências.

Aos professores que participaram dessa pesquisa pela tão valiosa contribuição.

E finalmente aos queridos companheiros do PROEF, pessoas fantásticas que Deus


colocou em minha vida, estarão para sempre em meu coração.

E a todos que indiretamente contribuíram para que esse trabalho.


OLIVEIRA, Ana Keila Oliveira. Educação Física, Escola Pública e a Pedagogia
Waldorf: análise do ensino e aprendizagem de valores morais. 2020. 140 f.
Dissertação (Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional – ProEF)
– Faculdade de Ciências, Universidade Estadual Paulista – UNESP, Bauru, 2020.

RESUMO

Nas aulas de Educação Física Escolar observamos constantemente conflitos entre os


alunos, como: falta de respeito, bullying, falta de empatia, agressões físicas e verbais,
intolerância e outros problemas relacionados a comportamentos inadequados ao
ambiente escolar. A evidente preocupação de familiares, professores e membros da
equipe escolar com questões relacionadas a problemas de sociabilidade faz com que
busquemos formas diferenciadas de trabalho, levando em conta não apenas o
aprendizado físico e cognitivo, mas também o aspecto social e emocional. Neste
sentido, procurando conhecer diferentes métodos de trabalho com valores morais,
entrevistamos professores de Educação Física de Escolas Públicas e de Escolas
Waldorf de duas cidades do interior do Estado de São Paulo. Dessa forma, na
presente pesquisa objetivamos: Analisar a formação moral do aluno, no âmbito
da Educação Física Escolar, na Rede Pública Municipal de duas cidades do
interior do Estado de São Paulo e das Escolas Waldorf, conforme a percepção
de professores de Educação Física, a) evidenciar como se processa a formação
moral dos alunos nas aulas de Educação Física Escolar na Rede Pública Municipal e
em Escolas Waldorf, b) constatar os desafios e/ou enfrentamentos na formação moral
dos alunos; e c) evidenciar práticas pedagógicas que se diferenciam quanto à
formação de valores morais. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e para coleta de
dados utilizou-se como instrumento de pesquisa a entrevista semiestruturada. Os
dados foram analisados à luz da revisão de literatura e conforme a análise de
conteúdo. Constatamos no âmbito da pesquisa que os professores de Educação
Física buscam trabalhar o desenvolvimento moral dos alunos, mas existem fatores
que contribuem para que esse trabalho tenha maiores resultados, como: o vínculo do
professor a mesma escola, para uma continuidade em um trabalho que apresenta
resultados à longo prazo; a participação de toda a equipe escolar; o apoio entre os
componentes curriculares e a participação da família. Concluímos que a educação de
valores é uma necessidade da atual sociedade, e a escola, principalmente as aulas
de Educação Física são um ambiente propício, por meio de uma intervenção
consciente e pontual dos professores, buscando promover uma educação que supere
a preocupação apenas com o físico e cognitivo, mas que busque o desenvolvimento
emocional e afetivo, respeitando os sentimentos e emoções, auxiliando na construção
da autonomia e almejando um processo de aprendizagem significativo e integral.

Palavras-chave: Educação Física Escolar. Valores Morais. Escola Pública.


Pedagogia Waldorf.
OLIVEIRA, Ana Keila Oliveira. Physical Education, Public School and Waldorf
Pedagogy: analysis of teaching and learning moral values. 2020. 140 f. Dissertation
(Professional Master in Physical Education in National Network – ProEF) – Faculty of
Sciences, Paulista State University – UNESP, Bauru, 2020.

ABSTRACT

In Physical Education classes, we may have conflicts among students, such as lack of
respect, bullying, lack of empathy, physical and verbal aggression, intolerance and,
other problems related to inappropriate behavior in this environment. The family and
school staff's concern about these issues makes us look for different ways to work, not
only cognitive learning but also the social and emotional aspect. Regarding this and
trying to get to know different approaches to work with moral values, we interviewed
Physical Education teachers from Public and Waldorf schools from two cities in the
countryside of São Paulo. That way, in this research we aim to analyze the moral
development of students according to the Physical Education teachers' understanding
in these contexts, regarding a) show how students learn moral values in Physical
Education classes in the public system and Waldorf school; b) ascertain the challenges
and/or confrontations in the students' moral formation and; c) ascertain pedagogical
practices that differ in the formation of moral values. It is qualitative research and for
data collection, and it was used a semi-structured interview as a research instrument.
The data was analyzed concerning the literature review and according to the content
analysis. We found in the scope of the research that Physical Education teachers try
to work students' moral development, but there may be some factors to contribute to
greater outcomes; such as the teacher's connection to the same school, for long-term
results; the participation of the entire school staff and the support between the
curriculum components and the family participation. We concluded that moral
education is necessary in the current society; the school and mainly the Physical
Education classes are a favorable environment. Through a conscious and punctual
intervention, the teachers may promote an education that overcomes the concern only
with the cognitive, and attempt emotional and affective development, respecting
feelings and emotions, helping in the construction of autonomy and aiming at a
meaningful and integral learning process.

Keywords: School Physical Education. Moral values. Public School. Waldorf


Pedagogy.
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Professores entrevistados ..................................................................... 42


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AVA Ambiente Virtual de Aprendizagem


BNCC Base Nacional Comum Curricular
CEP Comitê de Ética em Pesquisa
CF Constituição Federal
CNE Conselho Nacional de Educação
EF Educação Física
HTPC Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo
LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC Ministério da Educação
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais
PISA Programa Internacional de Avaliação de Alunos
PPP Projeto Político Pedagógico
PROEF Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional
UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
UNESP Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................................................... 13
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 15
2 VALORES MORAIS E A ESCOLA ...................................................................... 21
2.1 Formação dos valores morais .......................................................................... 21
2.2 Legislação e valores morais ............................................................................ 25
2.3 Escola Pública e a Legislação Municipal ......................................................... 29
3 PEDAGOGIA WALDORF .................................................................................... 32
3.1 A Escola Waldorf ............................................................................................. 32
3.2 A Pedagogia Waldorf no Brasil ........................................................................ 33
3.3 Características e objetivos da pedagogia Waldorf ........................................... 34
4 METODOLOGIA .................................................................................................. 39
4.1 Delineamento da pesquisa .............................................................................. 39
4.2 Universo da pesquisa ...................................................................................... 40
4.3 Participantes da pesquisa ................................................................................ 41
4.4 Procedimentos para coleta dos dados ............................................................. 42
4.5 Procedimentos para a análise dos dados ........................................................ 43
5 O ENSINO DE VALORES MORAIS NA PERSPECTIVA PROFESSORAL ........ 46
5.1 Formação moral e o papel da família ............................................................... 46
5.1.1 Formação moral – conceitos ....................................................................... 47
5.1.2 O papel da família e da sociedade na formação moral ................................ 51
5.2 O papel do professor de educação física, seus desafios e enfrentamentos ..... 56
5.2.1 Regras de convivência nas aulas de Educação Física ................................ 61
5.3 A contribuição do professor de Educação Física no desenvolvimento da
moralidade dos alunos ............................................................................................. 68
5.3.1 Valores a serem trabalhados na escola ....................................................... 68
5.3.2 O professor e o desenvolvimento moral ...................................................... 71
5.3.3 O professor como exemplo .......................................................................... 73
5.4 A avaliação dos valores morais ....................................................................... 77
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 82
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 84
ANEXOS .................................................................................................................. 90
ANEXO A – Parecer Consubstanciado do CEP – Versão 2 ..................................... 90
ANEXO B – Parecer Consubstanciado do CEP – Versão 1 ..................................... 92
APÊNDICES ............................................................................................................ 95
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos Professores ...... 95
APÊNDICE B – Roteiro da Entrevista aos professores de Educação Física. ........... 97
APÊNDICE C – Transcrição das Entrevistas............................................................ 98
13

APRESENTAÇÃO

Atualmente sou professora de Educação Física da Rede Pública Municipal e


Estadual de Ensino, conclui minha faculdade e até o início da minha primeira aula
como professora passaram-se alguns anos. Quando decidi pela faculdade trabalhava
em um escritório, escolhi cursar Educação Física, um sonho de infância. Na época o
meu sonho era cursar a UNESP, mas, infelizmente, Educação Física só acontecia em
período integral.
Cursei a minha Faculdade em uma cidade próxima, na correria de todos os que
trabalham e estudam, mas amei cada minuto das aulas. Terminei a faculdade, o tempo
foi passando, até que um dia ouvi falar que teria concurso para professores estaduais.
Sinceramente já não imaginava que trabalharia em minha área. Fui fazer um cursinho
organizado pelo Sindicato dos Professores Estaduais e ao ouvir os professores
falando da realidade escolar e ler livros e artigos relacionados a educação, comecei a
querer muito ser professora. Fui chamada do concurso e rapidamente troquei o
silêncio do escritório pela agitação das escolas. Lembro-me perfeitamente da minha
primeira aula, da insegurança do novo, mas também da alegria ao estar realizando
algo que acredito ser de extrema importância, afinal, estamos formando os futuros
cidadãos.
Desde então, percebi que na nossa área é impossível ficar estagnado e não
estudar mais e mais. Conclui uma pós-graduação em Educação Física Escolar, pela
UEPG, Universidade Estadual de Ponta Grossa – PR. Nesses treze anos fiz vários
cursos, participei de congressos e cursos de formação continuada, mas sempre
almejando em cursar o mestrado. Em 2016 surgiu a oportunidade, e justamente na
UNESP, onde gostaria de ter feito a minha Graduação. O tempo entre a notícia de ter
passado e o início do curso foi longo, mas a alegria em estar realizando algo que
sempre desejei fez toda essa espera valer a pena.
Participei do Congresso de Educação Física (CONEF) e também do
Congresso Brasileiro de Educação (CBE), ambos realizados na cidade de Bauru –
SP, onde pude explanar parte da nossa pesquisa de mestrado.
Enquanto cursava o PROEF tive a oportunidade de participar do curso
“Formação continuada em Educação Física Escolar: Corpo, Educação e
Aprendizagem Socioemocional”, ministrado pela minha orientadora Prof.ª Dr.ª
Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger, que foi muito enriquecedor. Também
14

participei de cursos e palestras da Pedagogia Waldorf, que está relacionado ao tema


da minha pesquisa.
O PROEF além de proporcionar experiências extremamente enriquecedoras,
tanto pelo conhecimento transmitido por nossos professores, como pela troca de
experiência com os colegas, proporcionou também uma reflexão constante da minha
prática pedagógica e um desejo de querer proporcionar a meus alunos algo que faça
a diferença na vida deles.
15

1 INTRODUÇÃO

Está cada dia mais comum a conversa sobre valores na escola, e, na maioria
das vezes, sobre a falta deles. Quando esse assunto acontece na sala dos
professores, quase sempre a conversa termina com frases como: valores deveriam
ser ensinados em casa; educação vem do berço; se a família não educa o que
podemos fazer? O papel da família é parte fundamental nessa questão, mas também
a escola e os professores fazem parte da educação dessas crianças, e muitas vezes
a maior referência para eles são os professores, pois muitas vezes as crianças
passam mais tempo com os professores do que com os pais.
A formação moral é pertinente e está presente como tema transversal nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) como podemos confirmar na citação que
segue.

A ética como transversal no currículo escolar (permeando todas as


disciplinas), conforme apresentada nos Parâmetros Curriculares Nacionais
do Ministério de Educação e Cultura (1997), representa um ponto de partida
positivo para a educação moral no Brasil. Considero um grande avanço que
a formação seja feita não com base em uma disciplina estanque, mas
permeando todas as disciplinas do currículo, tornando todos os professores
responsáveis pela formação moral (BIAGGIO, 2002, p. 87).

As aulas de Educação Física propiciam o trabalho com questões morais e


éticas pela própria dinâmica das aulas que aproxima os alunos uns dos outros e
também do professor. E são nesses momentos que envolvem competição, trabalho
em grupo, tomada de decisões, ganhar, perder, buscar soluções é que podemos
observar melhor o comportamento de cada um e como reagem em cada situação.
Nesses momentos, conflitos sempre aparecem, mas também contribuem para o
aprendizado, principalmente quando o professor aproveita esses momentos para leva-
los a reflexão sobre problemas e atitudes ocorridos na aula.
Nesse sentido, buscando conhecer formas diferenciadas de trabalhar a
formação moral do estudante, estudamos a Pedagogia Waldorf, que conta com alguns
diferenciais como: uma preocupação em preparar o emocional da criança antes de
iniciar o processo de alfabetização, buscando-se uma integração do corpo, da alma e
do espírito, além das disciplinas do currículo educacional oficial, a grade inclui também
aulas de artes, música, teatro, dança, pintura, inglês e alemão. Também um trabalho
16

realizado desde a educação infantil buscando desenvolver a autonomia, com jogos e


brincadeiras livres.

Em 1994 foi reconhecida pela UNESCO como o modelo de pedagogia capaz


de responder aos desafios educacionais da atualidade, por levar em consideração os
quatro pilares estabelecidos para um novo modelo de educação: “aprender a ser,
aprender a conviver, aprender a conhecer e aprender a fazer”, isso pressupõe
proporcionar aos alunos o desenvolvimento não apenas do aspecto cognitivo, mas
também a sensibilidade e a afetividade.
Dentro da Pedagogia Waldorf existe um cuidado especial em relação ao
desenvolvimento da criança que deve ser pautado pela valorização dos aspectos
morais, como pode ser observado em Steiner (2000).

Há três virtudes que precisam ser consideradas, por um lado em


relação ao desenvolvimento da criança, mas, por outro, em relação
também a toda vida social do homem. São elas as três virtudes
fundamentais. E essas três virtudes fundamentais são: em primeiro
lugar, aquilo que pode residir na vontade ligada a gratidão; em segundo
lugar, aquilo que pode residir na vontade ligada ao amor; e, em terceiro
lugar, aquilo que pode residir na vontade ligada ao dever. No fundo
essas três virtudes são as virtudes primordiais do ser humano. Todas
as outras estão de certo modo, incluídas nelas (STEINER, 2000, p.
109).

Essa valorização dos aspectos morais é o que temos por objetivo averiguar de
que maneira ocorre nas aulas de Educação Física. Se por um lado, as aulas de
Educação Física proporciona um maior contato com os alunos, por outro, muitas
vezes, o trabalho do professor fica prejudicado por conflitos relacionados a problemas
de convivência, como: intolerância com os colegas com menos habilidades, agressões
verbais e algumas vezes físicas, preconceito em relação à participação de meninas
em algumas brincadeiras e outros, o que faz com que busquemos alternativas para
tentar minimizar esses conflitos e procurarmos soluções que possam contribuir não
apenas para o momento presente, mas que provoque mudanças significativas dentro
e fora da escola.
Esses conflitos, ocasionados na convivência com os demais, pode se tornar
uma oportunidade para que o professor, utilizando sua habilidade, capacidade de
interpretação e improvisação, decida qual é a melhor estratégia diante do evento
apresentado, para que possa trabalhar as questões morais. Segundo Tardif (2002), o
saber docente é um saber plural, que se dá na confluência de vários saberes oriundos
17

da sociedade, da instituição escolar, dos outros atores educacionais, das


universidades, etc., mas também um saber específico que é o resultado da junção de
todos esses outros e que se fundamenta e se legitima no fazer cotidiano da profissão.
Ao agir, o professor se baseia em vários tipos de juízos práticos para estruturar e
orientar sua atividade profissional, como exemplo, para tomar uma decisão ele se
baseia em valores morais ou normas sociais e em juízos normativos relativos às
diferenças entre o que é permitido ou proibido.
Portanto, quanto mais oportunidades proporcionamos as crianças de convívio
e intervenção com intencionalidade, mais contribuímos para essa formação de
valores. Em algumas cidades, as aulas de Educação Física no Ensino Fundamental I
da Rede Pública Municipal de Ensino ocorrem apenas uma vez na semana, resultando
em um tempo de menos de 50 minutos semanais, o que seria pouco também para
contemplar todas as habilidades descritas na legislação.
Segundo o PCN, o trabalho de Educação Física nas séries iniciais do Ensino
Fundamental é importante, pois possibilita aos alunos terem desde cedo, a
oportunidade de desenvolver habilidades corporais e de participar de atividades
culturais, como jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças, com a finalidade de lazer,
expressão de sentimentos, afetos e emoções (BRASIL, 1997).
A área de Educação Física fundamenta-se nas concepções de corpo e
movimento. Isto é, a natureza do trabalho desenvolvido nesta área tem íntima relação
com a compreensão que se tem desses dois conceitos. Os PCNs colocam que a
prática da Educação Física na escola poderá favorecer a autonomia dos alunos para
monitorar as próprias atividades, regulando o esforço, traçando metas, conhecendo
as potencialidades e limitações, sabendo distinguir situações de trabalho corporal que
podem ser prejudiciais a sua saúde. Por esse motivo deve estar integrada em todos
os planos da educação.
Segundo a BNCC a Educação Física é o componente curricular que tematiza
as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social e
essas práticas devem ser abordadas como fenômeno cultural dinâmico, diversificado,
pluridimensional, singular e contraditório (BRASIL, 2017).
Dessa forma, assegurando aos alunos a (re)construção de um conjunto de
conhecimentos que permitam ampliar sua consciência a respeito de seus movimentos
e dos recursos para o cuidado de si e dos outros e desenvolver autonomia para
apropriação e utilização da cultura corporal de movimento em diversas finalidades
18

humanas, favorecendo sua participação de uma maneira confiante e autoral na


sociedade.
A BNCC (BRASIL, 2017) também destaca que a Educação Física oferece uma
série de possibilidades para enriquecer a experiência das crianças, jovens e adultos
na Educação Básica, permitindo o acesso a um vasto universo cultural, que
compreende saberes corporais, experiências estéticas, emotivas, lúdicas e agonistas,
que se inscrevem, mas não se restringem, à racionalidade típica dos saberes
científicos que orienta as práticas pedagógicas na escola. Experimentar e analisar as
diferentes formas de expressão que não se alicerçam apenas nessa racionalidade é
uma das potencialidades desse componente na Educação Básica. E essa experiência
efetiva das práticas corporais oportuniza aos alunos participar, de forma autônoma,
em contextos de lazer e saúde.
Apesar do reconhecimento da importância das aulas de Educação Física ainda
há cidades onde as aulas da disciplina no Ensino Infantil e Fundamental não são
ministradas por professores especialistas, e sim pelo professor polivalente. Ou, como
citado anteriormente, onde as aulas são ministradas apenas uma vez na semana,
dificultando abranger todos os conteúdos da disciplina.
Além dos conteúdos específicos da disciplina, as relações interpessoais
proporcionadas nas aulas trazem a possibilidade de promover um ambiente favorável
para aprendizagens significativas em relação à valores como respeito, empatia,
cooperação, solidariedade, entre outros.
Durante as aulas de Educação Física, onde o contato pode ser mais intenso
entre as crianças, as dificuldades de relacionamento se tornam mais perceptíveis.
Mais especificamente, quando o professor pede aos alunos que escolham e
organizem as atividades essas dificuldades se tornam ainda mais evidentes, e nesses
momentos, muitas vezes, o individualismo, a violência física ou verbal e o desrespeito
às decisões do grupo tomam o lugar dos valores acima citados. E são nesses
momentos que a intervenção do professor pode fazer a diferença na construção de
valores.
Essa construção de valores é observada em documentos oficiais, como
exemplo a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017, p. 8) “reconhece que a
educação deve firmar valores e estimular ações que contribuam para a transformação
da sociedade, tornando-a mais humana, socialmente justa e também voltada para a
preservação da natureza”.
19

Diante disso, se torna evidente a necessidade de promover uma educação que


supere a abordagem “conteudista” e que não esteja apenas focada no físico e
cognitivo, mas que considere o desenvolvimento emocional e afetivo do educando,
ajudando a desenvolver suas habilidades sociais, voltada para o desenvolvimento do
Ser de forma integral.
Luckesi (2005) busca auxiliar na compreensão do significado do que vem a ser
“uma educação integral do ser humano”, definindo-a como a prática formativa que, ao
contrário do que caracterizou a educação moderna e mecanicista, apresenta-se
imbuída do desenvolvimento das múltiplas dimensões do educando – a cognitiva, a
afetiva, a social, a estética e a ética.
Após essas breves considerações sobre as dificuldades encontradas e o
amparo legal para uma educação em valores apresentamos a questão norteadora
dessa pesquisa: Como a Educação Física pode contribuir no desenvolvimento moral
dos alunos e qual a influência do professor nas possíveis mudanças
comportamentais?
Esses questionamentos se deve ao fato de que uma educação tendo como
alicerce a construção de valores só será possível quando os professores à
considerarem essencial e buscarem meios para contribuir com a formação do aluno
de maneira integral, colaborando na construção da autonomia e ajudando-os a se
tornarem seres humanos íntegros.
Quando utilizamos a palavra ‘íntegro’ estamos nos referindo a integridade
moral, seres humanos honestos, éticos, confiáveis.
Assim a presente pesquisa definiu como Objetivo Geral: Analisar a formação
moral do aluno, no âmbito da Educação Física Escolar, na Rede Pública Municipal de
duas cidades do interior do Estado de São Paulo e das Escolas Waldorf, conforme a
percepção de professores de Educação Física.
Definimos como objetivos específicos:
 Evidenciar como se processa a formação moral dos alunos nas aulas de
Educação Física Escolar na Rede Pública e em Escolas Waldorf;
 Constatar os desafios e/ou enfrentamentos na formação moral dos alunos.
 Evidenciar práticas pedagógicas que se diferenciam quanto à formação de
valores morais.
20

Ao considerar a construção de valores essencial para a formação de seres


humanos íntegros, se torna necessário à busca por diferentes caminhos para uma
aprendizagem socioemocional, principalmente nas aulas de Educação Física, onde a
própria dinâmica das aulas estreita laços entre os alunos.
Como Produto Educacional, através dos dados obtidos em nossa pesquisa, por
meio de entrevistas aos professores de Educação Física analisados junto ao
referencial teórico elaboramos sugestões para o trabalho com valores morais dentro
do ambiente escolar. Consideramos relevante para a formação continuada dos
Professores de Educação Física, ampliar o conhecimento sobre os valores morais e
conhecer formas diferenciadas de se trabalhar a questão de maneira intencional.
21

2 VALORES MORAIS E A ESCOLA

Nesse capítulo descrevemos, primeiramente, como se processa a formação


dos valores morais, após, uma descrição da legislação referente a valores e
terminamos com a legislação municipal das cidades que fazem parte da nossa
pesquisa.

2.1 Formação dos valores morais

Compreender o que são valores e como os seres humanos se apropriam da


cultura e estão inseridos eticamente no mundo deve fazer parte das nossas
inquietações enquanto profissionais da educação.
Conforme Tognetta (2003, p. 22) “[…] somente é possível mudar aquilo que é
verdadeiramente conhecido”, portanto, torna-se necessário que os educadores
compreendam a organização da moralidade humana, sua gênese e suas dimensões
(intelectuais e afetivas), para que, em suas ações pedagógicas, auxiliem o sujeito no
processo de construção desta moralidade.
Mas afinal, o que significa valores morais? Primeiramente, a palavra “valor”,
segundo Araujo (2007, p. 22) pode ser definida, em uma linguagem simples, como
sendo “aquilo que gostamos, que valorizamos, e por isso, pertencente à dimensão
afetiva constituinte do psiquismo humano”. Ainda não está se referindo a valores
morais. Segundo a autora, Piaget cita que os valores são construídos nas interações
cotidianas, e acrescenta que os valores são construídos com base na projeção de
sentimentos positivos que o sujeito tem sobre objetos e/ou pessoas e/ou relações e/ou
sobre si mesmo. Completa dizendo, que fugindo do lugar-comum que vincula valores
a moralidade, é importante apontar que, do ponto de vista psicológico, é possível o
ser humano construir valores que não sejam morais (ARAUJO, 2007).
A autora completa citando Piaget (1954), originados do sistema de regulações
energéticas que se estabelece entre o sujeito e o mundo externo (desde o
nascimento), a partir de suas relações com os objetos, com as pessoas e consigo
mesmo, os valores vão se constituindo lentamente em outro sistema que, com o
tempo, acaba se distinguindo do sistema de regulações energéticas, tornando-se mais
amplo e estável. Essas valorações mais estáveis levarão os sujeitos a definir normas
22

de ação que serão organizadas em escalas normativas de valores e, de certa forma,


forçarão sua consciência a agir de acordo com eles.
Em relação a Valores Psíquicos e Valores Morais, Araujo (2007), esclarece que
o valor psíquico é inerente a natureza humana e todos os seres humanos constroem
seu próprio sistema de valores com base nas interações do mundo, já o valor moral
depende de certa qualidade nas interações, e não é, necessariamente, construído
pelas pessoas.
Piaget afirma que “a criança não nasce nem boa nem má, tanto do ponto de
vista intelectual, como do ponto de vista moral, mas dona de seu destino” (PIAGET,
1932, p. 85). E define a moral como “um sistema de regras, e a essência de toda
moralidade deve ser procurada no respeito que os indivíduos adquirem por essas
regras” (PIAGET,1932, p. 23).
Para Vinha (1999) o desenvolvimento moral refere-se ao desenvolvimento das
crenças, dos valores, das ideias dos sujeitos sobre a noção do certo, do errado, dos
juízos.
Piaget (1932) defende que longe de a moralidade infantil resumir-se a uma
interiorização passiva de valores, dos princípios e das regras, ela é o produto de
construções endógenas, ou seja, o produto de uma atividade da criança que, em
contato com o meio social, ressignifica os valores, os princípios e as regras que lhe
são apresentadas. Tal ressignificação possui características que dependem de
estruturas mentais já construídas (LA TAILLE, 2006).
Dessa forma, a criança vai sofrendo influência de todos os locais em que
convive, tanto da família como da escola. Segundo Severino (2006) um dos desafios
atuais da escola é contribuir para a formação integral de seus alunos, incluindo as
questões referentes à moral e ética. A educação tem por objetivo o desenvolvimento
integral do ser humano nas suas dimensões ética, social e política, preservando sua
dignidade e orientando-o nas ações perante a sociedade.
A pesar de serem distintas a ética e a moral são indissociáveis, pois possuem
significados comuns e apresentam-se inseridas na mesma pasta dos valores
humanos. Para um maior esclarecimento optamos por conceituar moral e ética
segundo alguns autores que tratam sobre o tema.
Para Torgnetta (2004, p. 28) “a moral é um sistema de regras construído a partir
de uma interação do sujeito, com suas estruturas internas e os objetivos do mundo”.
23

Segundo Aranha (1996, p. 119) “moral é o conjunto de regras de conduta


adotadas pelos indivíduos de um grupo social e tem a finalidade de organizar as
relações interpessoais segundo os valores do bem e do mal”.
Essas regras, de acordo com La Taille (2006) são formulações verbais que
colocam claramente como devemos ou não devemos agir em determinados situações.
Porém a regra só é legítima para quem essa regra faz sentido na vida. Sentido este,
que se caracteriza pela capacidade do sujeito em atribuir um valor a objetos e a
determinadas ações, situações e pessoas.
E finalizamos com a definição de Ferreira (2001) e Luft (2005) sobre as
palavras: moral e ética.
Moral: 1. conjuntos de regras de condutas de hábitos considerados válidos quer
de modo absoluto, quer para grupo ou pessoa determinada; 2. conclusão moral de
uma obra; 3. o conjunto das nossas faculdades morais; brio; 4. o que há de moralidade
em qualquer coisa; 5. relativo à moral (FERREIRA, 2001, p. 471).
Moral: 1. Relativo aos princípios do bem e do mal; 2. bom virtuoso; 3. ético; 4.
(Filos) Ético; 5. conclusão que se tira de um fato, de uma história, etc.; 6. conjunto das
faculdades morais, ânimo, estado de espírito (LUFT, 2005, p. 526).
Ética: 1. estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana do
ponto de vista do bem e do mal; 2. conjunto de normas e princípios que norteiam a
boa conduta do ser humano (FERREIRA, 2001, p. 300).
Ética: conjuntos de regras e valores aos quais se submetem aos fatos e as
ações humanas, para apreciá-los e distingui-los; moral (LUFT, 2005, p. 358).
A ética situa-se no campo dos princípios morais e dos valores que orientam os
homens em suas ações, tomando como referência outros indivíduos de determinada
sociedade.
Segundo Souza (1995) a ética ilumina a consciência humana à medida que
sustenta e dirige as ações do homem, norteando a conduta individual e social, e define
o que é a virtude, o bem ou o mal, o certo ou o errado, permitindo ou proibindo, para
cada cultura e sociedade. Portanto, ética pode ser considerada como a reflexão da
moral.
Para Morin (2000, p. 106):

Uma escola comprometida com a ética humana deve assumir a missão de


trabalhar para a humanização da humanidade, num processo em que
professores, alunos e toda equipe educacional, juntos, poderão alcançar a
24

unidade planetária na diversidade, respeitar no outro, ao mesmo tempo, a


diferença e a identidade quanto a si mesmo, desenvolver o sentimento da
solidariedade, desenvolver a ética da compreensão, e, ensinar a ética do
gênero humano (MORIN, 2000, p. 106).

Portanto, o que buscamos com a educação de valores é que a criança adquira


autonomia para que possa utilizar os valores morais que possui para se posicionar
eticamente diante dos fatos. Essa autonomia é construída gradativamente desde a
infância. Com isso acreditamos na necessidade de um trabalho consciente da família
e escola na formação moral. A escola tem um papel determinante, pois nela os alunos
interagem uns com os outros, colocando a prova os valores que receberam em casa
quando entram em contato com outros valores, por intermédio do que outros alunos e
membros da escola já trazem consigo e também dos que são ensinados
intencionalmente pelos professores. Conforme Lepre e Menin (2013) o objetivo da
educação moral é o de auxiliar as crianças a construírem sua autonomia.
No mesmo sentido, Piaget (2002) alerta para a necessidade de proporcionar às
crianças um ambiente adequado para que elas criem situações e construam seus
próprios valores, onde as relações estejam alicerçadas na cooperação e na
reciprocidade, entre professores e alunos, caso contrário, auxiliaremos no processo
de construção de sujeitos moralmente heterônomos.
Para Palma e Palma (2010) as crianças chegam à escola em fase de
desenvolvimento sócio moral, portanto, este ambiente é uma das instâncias em que
este desenvolvimento se completa.
Buscando colaborar com seu desenvolvimento, cabe aos professores buscar
em suas interações com os alunos, mediar situações de conflitos e ajudar na
construção da autonomia moral. Os professores de Educação Física conseguem
estabelecer um vínculo ainda maior com os alunos para transmitir e consolidar os
valores e conceitos morais, já que nas aulas de Educação Física há maior liberdade
para que expressem suas emoções, sentimentos, vontades e comportamentos. Dessa
forma, durante as aulas o professor vai direcionando, orientando e encaminhado os
alunos para sua autonomia moral.
25

2.2 Legislação e valores morais

Segundo Schneewind (2001) durante os séculos XVII e XVIII, a obediência


incondicional às leis morais passou a ser cada vez mais questionada, pois até então
a moralidade era vista como comportamento e não como valor e princípio. Entretanto,
a partir do fim do século XVIII, manifesta-se a moralidade como princípio, visto que,
os indivíduos são capazes de raciocinar por si só sobre as leis morais e escolher
segui-las ou não, independentemente de qualquer castigo ou recompensa. Então,
nesse sentido, a moral seria a designação de um conjunto de princípios morais de
uma época ou de uma sociedade determinada, e a moralidade seria a moral em ação.
Conforme Aranha (1996) embora o reconhecimento do universo seja tão antigo
a capacidade de que o homem tem de pensar a respeito de suas ações, apenas no
século XIX surge a teoria dos valores ou axiologia (do grego axios que significa valor)
como disciplina filosófica especifica que aborda de maneira sistematizada essa
temática. Somente no século XX é que foram reconhecidos como ciência.
Nas últimas décadas do século vinte, a educação formal brasileira passou por
alterações quanto a sua organização e finalidades, destacando-se a Constituição
Federal Brasileira (CF) de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN) N.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estas legislações impeliram
profundas mudanças na sociedade brasileira e na educação formal, ressaltando-se as
alterações nas estruturas pedagógicas, nas hierarquias na organização escolar, no
conteúdo e carga horária dos componentes curriculares, entre outros.
A Constituição Federal (BRASIL, 1988) estabelece no artigo 205: A educação,
direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Em relação ao pleno desenvolvimento da pessoa, consideramos o aspecto
físico, cognitivo, social e emocional da criança, conforme veremos no decorrer da
pesquisa.
O ensino proposto pela LDB está em função do objetivo maior do ensino
fundamental, que é de propiciar a todos uma formação básica para a cidadania, e aqui
destacamos a educação voltada para valores, a partir da criação na escola de
condições de aprendizagem para; conforme consta no Art. 32:
26

II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da


tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a
aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;
IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade
humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social (BRASIL,
1996, p. 23).

Já os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) trazem o tema ética


como conteúdo transversal, que deve permear todas as disciplinas, não existindo mais
a disciplina específica de Educação Moral e Cívica, por entender que a formação
moral não corresponde a uma “especialidade” e, portanto, não deveria ser isolada no
currículo por meio de aulas específicas. A problemática moral está presente em todas
as experiências humanas e, portanto, questões éticas encontram-se a todo o
momento em todas as disciplinas. Vale dizer que questões relativas a valores
humanos permeiam todos os conteúdos curriculares, portanto, não há razão para que
sejam tratadas em paralelo, em horário específico de aula.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) o trabalho a
ser realizado em torno do tema ‘ética’ durante o ensino fundamental deve organizar-
se de forma a possibilitar que os alunos sejam capazes de:

• compreender o conceito de justiça baseado na equidade e sensibilizar-se


pela necessidade da construção de uma sociedade justa;
• adotar atitudes de respeito pelas diferenças entre as pessoas, respeito esse
necessário ao convívio numa sociedade democrática e pluralista;
• adotar, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às
injustiças e discriminações;
• compreender a vida escolar como participação no espaço público, utilizando
e aplicando os conhecimentos adquiridos na construção de uma sociedade
democrática e solidária;
• valorizar e empregar o diálogo como forma de esclarecer conflito e tomar
decisões coletivas;
• construir uma imagem positiva de si, o respeito próprio traduzido pela
confiança em sua capacidade de escolher e realizar seu projeto de vida e
pela legitimação das normas morais que garantam, a todos, essa realização;
• assumir posições segundo seu próprio juízo de valor, considerando
diferentes pontos de vista e aspectos de cada situação (BRASIL, 1997, p. 65).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram organizados em blocos de


conteúdos, os quais correspondem a grandes eixos que estabelecem as bases de
diversos conceitos, atitudes e valores complementares. Os blocos, assim como a
proposta de Ética, referem-se ao ensino fundamental. Por impregnarem toda a prática
cotidiana da escola, os conteúdos de Ética priorizam o convívio escolar. São eles:
Respeito mútuo, Justiça, Diálogo e Solidariedade.
27

Também ressaltam que as escolas brasileiras, para exercerem a função social


proposta, precisam possibilitar o cultivo dos bens culturais e sociais, considerando as
expectativas e as necessidades dos alunos, dos pais, dos membros da comunidade,
dos professores, enfim, dos envolvidos diretamente no processo educativo, porque é
nesse universo que o aluno vivencia situações diversificadas que favorecem o
aprendizado, para dialogar de maneira competente com a comunidade, aprender a
respeitar e a ser respeitado, a ouvir e a ser ouvido, a reivindicar direitos e a cumprir
obrigações, a participar ativamente da vida científica, cultural, social e política do País
e do mundo.
Em 2017 foi homologada a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que é
um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de
aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das
etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus
direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua
o Plano Nacional de Educação (PNE). Este documento normativo aplica-se
exclusivamente à educação escolar, tal como a define o § 1.º do Artigo 1.º da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996),

[...] e está orientado pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam à
formação humana integral e à construção de uma sociedade justa,
democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares
Nacionais da Educação Básica (DCN) (BRASIL, 2017, p. 7).

De acordo com a nova Base Nacional Curricular Comum (BRASIL, 2017), há


dez competências gerais da educação básica, mas destacaremos as competências
oito, nove e dez que falam sobre a importância de se trabalhar valores na escola.

8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional,


compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e
as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.

9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação,


fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos
humanos com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de
grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem
preconceito de qualquer natureza.

10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade,


flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em
princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários (BRASIL,
2017, p. 10).
28

Em relação à Educação Física no Ensino Fundamental a BNCC destaca a


construção de valores, e especificamente, na construção de valores relativos ao
respeito às diferenças e no combate aos preconceitos de qualquer natureza, deixando
claro que não somente esses valores, e nem em fazê-los apenas em determinadas
etapas do componente, mas assegurar a superação de estereótipos e preconceitos
expressos nas práticas corporais (BRASIL, 2017). E para o Ensino Médio, destaca
que a:
[...] reflexão sobre as vivências também contribuem para a formação de
sujeitos que possam analisar e transformar suas práticas corporais, tomando
e sustentando decisões éticas, conscientes e reflexivas em defesa dos
direitos humanos e dos valores democráticos (BRASIL, 2017, p. 484).

Com a homologação da BNCC, os Estados iniciam a (re)elaboração de seus


currículos. O Programa de Apoio à Implementação da Base Nacional Comum
Curricular (ProBNCC), instituído pela portaria N.º 331, de 2018, estabeleceu as
diretrizes, os parâmetros e os critérios para a implementação da BNCC em âmbito
estadual e municipal.

O Currículo Paulista foi homologado pelo Secretário Estadual de Educação


em primeiro de agosto de 2019, e deve orientar o processo de (re)elaboração,
implantação e implementação dos Currículos dos municípios e das propostas
pedagógicas das escolas (SÃO PAULO, 2019, p. 25).

O currículo Paulista considera a Educação Integral como a base da formação


dos estudantes do Estado, independente da rede de ensino que frequentam
e da jornada que cumprem. Dessa maneira, afirma o compromisso com o
desenvolvimento dos estudantes em suas dimensões intelectual, física,
socioemocional e cultural, elencando as competências e as habilidades
essenciais para sua atuação na sociedade contemporânea e seus cenários
complexos, multifacetados e incertos (SÃO PAULO, 2019, p. 28).

As Competências Gerais da BNCC foram reiteradas pelo Currículo Paulista, e


reforçam que as competências cognitivas e socioemocionais são indissociáveis e
ocorrem simultaneamente. Nesse sentido, empatia, por exemplo, não deve ser
trabalhada sem a perspectiva do pensamento crítico orientado pelo conhecimento,
sob o risco de tornar-se submissão; a colaboração — que implica a construção de
significado comum — deve ser aliada à capacidade de argumentação e assim
sucessivamente, de acordo com os objetivos pretendidos.

Segundo essa perspectiva, o Currículo Paulista, em alinhamento à BNCC,


preconiza a adoção de práticas pedagógicas e de gestão que levem em
consideração:
29

 O compromisso com a formação e o desenvolvimento humano em toda


sua complexidade, integrando as dimensões intelectual (cognitiva), física
e afetiva;
 Uma visão plural, singular e integral da criança, do adolescente, do jovem
e do adulto, de suas ações e pensamentos, bem como do professor, nos
âmbitos pessoal e profissional;
 O acolhimento das pessoas em suas singularidades e diversidades, o
combate à discriminação e ao preconceito em todas as suas expressões,
bem como a afirmação do respeito às diferenças sociais, pessoais,
históricas, linguísticas e culturais (SÃO PAULO, 2019, p. 33).

Em relação à Educação Física:

[...] é preciso de maneira intencional e vinculada à prática pedagógica dos


temas tratados, identificar as sensações, sentimentos e significados advindos
da vivência dessa prática reflexiva. Uma vez que se quer formar um ser
integrado, democrático, solidário e atento à sustentabilidade, que age no
mundo considerando várias perspectivas, é necessário assegurar aos
estudantes conhecimentos e vivências que lhes permitam autoria e
protagonismo (SÃO PAULO, 2019, p. 250).

Do ponto de vista da organização das aprendizagens no componente


Educação Física, a construção das habilidades está vinculada a oito
dimensões do conhecimento: reflexão sobre a ação, análise, compreensão,
experimentação, uso e apropriação, fruição, construção de valores e
protagonismo comunitário (SÃO PAULO, 2019, p. 250).

A construção de valores refere-se aos conhecimentos originados em


discussões e vivências no contexto da tematização das práticas corporais,
que possibilitam a aprendizagem de valores e normas voltadas ao exercício
da cidadania em prol de uma sociedade democrática (SÃO PAULO, 2019, p.
252).

A Educação Física pode contribuir com a construção de uma sociedade


democrática por meio do incentivo a autonomia e de um trabalho intencional voltado
a valores, respeitando os sentimentos e emoções dos estudantes.

2.3 Escola Pública e a Legislação Municipal

Em relação à Legislação Municipal, uma das cidades que faz parte da nossa
pesquisa, apresenta além do Plano Municipal de Educação, um Currículo Comum
para o Ensino Fundamental elaborado com o apoio dos professores e que envolve
todos os componentes curriculares, onde encontramos assuntos relacionados ao
tema estudado. Já a outra cidade, não tem um currículo próprio, e segue a BNCC e
este ano o Currículo Paulista.
30

O Plano Municipal de Educação da primeira cidade citada está em vigor de


2012 a 2021, foi elaborado coletivamente envolvendo os profissionais da educação e
os diferentes segmentos e setores da sociedade ligados à educação e os movimentos
sociais organizados.
Segundo o plano, o Ensino Fundamental deve desenvolver a capacidade de
aprendizado do aluno, por meio do domínio da leitura, escrita e do cálculo, além de
compreender o ambiente natural e social, o sistema político, a tecnologia, as artes e
os valores básicos da sociedade e da família. Esses “valores básicos” estão descritos
logo abaixo.
Como tema transversal apresenta a Educação em Direitos Humanos, que é
uma proposta educacional voltada para a construção de uma cultura de respeito à
dignidade do ser humano de todas as pessoas sem exceção. Segundo o documento
dignidade humana se assenta no princípio de que todos os seres humanos têm direito
à felicidade individual e coletiva e, portanto, ninguém pode fazer o outro sofrer para
conseguir sua felicidade. A Educação em Direitos Humanos vai além de uma
educação baseada em transmitir valores como: o respeito ao outro, a boa convivência,
honestidade etc. e sentimentos de amizade, cooperação e lealdade, apresentados
aleatoriamente.
Trata-se de uma nova perspectiva axiológica para a educação formal, onde os
valores são organizados a partir de alguns princípios fundamentais que formam a base
da dignidade humana como: liberdade, igualdade e solidariedade. As relações éticas
de respeito à dignidade humana não se constroem apenas pelo conhecimento racional
dos direitos e deveres na convivência democrática, depende da sensibilidade de cada
um diante da condição humana do outro. “Ao colocar-se no lugar do outro, consigo
perceber as situações de alegria e sofrimento do outro física e moralmente. Esta
sensibilidade ética impulsiona atitudes de solidariedade incondicional” (BAURU, 2012,
p. 178).
O currículo comum do Ensino Fundamental da cidade, baseado no Plano
Municipal de Educação, tem como referencial teórico a Pedagogia Histórico Crítica
sistematizada por Demerval Saviani e da Psicologia Histórico Cultural, desenvolvido
inicialmente por Lev Semenovich Vigotski, Alexei Nikolaievich Leontiev e Alexander
Romanovich Luria.
Radicadas nas mesmas bases filosóficas, tanto a pedagogia histórico-crítica
quanto a psicologia histórico-cultural afirmam a natureza social do desenvolvimento
31

humano e se encontram em torno de um ideal comum: a formação de um novo


homem, apto à construção de novos tempos. Conforme Saviani (2011, p. 80) “a
possibilidade de se articular uma proposta pedagógica em que o compromisso é a
transformação da sociedade e não sua manutenção”.
Dessa maneira, a educação escolar cumprirá sua função social mais relevante:
possibilitar que seus destinatários conquistem o autodomínio da conduta, o
pensamento por conceitos, a capacidade imaginativa, os sentimentos e valores éticos
e estéticos, etc.; atributos representativos do máximo desenvolvimento do gênero
humano (BAURU, 2016).
O currículo apresenta como conteúdo transversal a educação em valores. O
objetivo da educação em valores é transformar a forma como as pessoas traçam
escolhas individuais e coletivas, educando para a liberdade e disseminando valores
de cooperação, superação e emancipação. O fundamento para compreender essa
relação vem do fato que a liberdade passa pela tomada de decisão, pela vontade. E
também necessariamente pelo que se obtém e perde em toda escolha. A escola deve,
portanto, ensinar para a avaliação das condições e consequências das ações
(BAURU, 2016).
Portanto, para ensinar a julgar corretamente, a escolher e a agir de forma
igualmente correta, é preciso deixar claro desde o princípio alguns posicionamentos
básicos que se ligam ao ideal de liberdade, justiça e igualdade, contribuindo para que
as crianças aprendam a pensar sem preconceitos. Também é preciso compreender a
escola como coletividade, ensinar as crianças a se unirem em torno de objetivos em
comum, compreendendo a superação de suas incapacidades mediante cooperação.
Caminhos que levam a uma educação moral para a liberdade (BAURU, 2016).
Analisamos o Plano Municipal de Ensino da segunda cidade da nossa pesquisa
e não encontramos algo específico direcionado para uma educação voltada a valores
ou sobre o tema moral e ética. Como a cidade não conta com um Currículo Oficial os
professores seguem, agora, o Currículo Paulista para o Ensino Fundamental, e
anteriormente, a BNCC, os quais já detalhamos acima.
Após analisarmos a legislação e currículos utilizados pelas escolas da Rede
Pública das cidades que fazem parte da nossa pesquisa, descreveremos abaixo as
características das escolas que seguem a Pedagogia Waldorf.
32

3 PEDAGOGIA WALDORF

Neste capítulo falaremos como surgiu a Pedagogia Waldorf e seu criador


Rudolf Steiner, o crescimento das Escolas Waldorf no Brasil e as características
predominantes da Pedagogia Waldorf.

3.1 A Escola Waldorf

Rudolf Steiner nasceu em 1861, formou-se doutor aos 22 anos em filosofia,


antes dos 24 anos aprofundou-se na vida e obra de Goethe, escritor alemão.
Permaneceu na teosofia até fundar a Sociedade Antroposófica, que segundo ele,
coloca o ser humano no centro da busca que deverá levá-lo ao conhecimento e
vivência da verdade universal.
Afinal, o que vem a ser a Antroposofia? “A Antroposofia significa ‘sabedoria do
homem’. Mas não se trata apenas de antropologia; trata-se, na realidade, de uma
ciência do Cosmo, tendo por centro e ponto de apoio o homem” (LANZ, 2007, p. 16).
O mesmo autor afirma:

A Antroposofia é ciência! Mas é uma ciência que ultrapassa os limites com os


quais até agora esbarrou a ciência “comum”. Ela procede cientificamente pela
observação, descrição e interpretação dos fatos. E é mais que uma teoria,
um edifício de afirmações. Com efeito, ela admite e reconhece todas as
descobertas das ciências naturais comuns, embora as complete e interprete
com suas descobertas. Sobretudo tem feito, em todos os domínios da vida
prática, muitas contribuições e inovações concretas e positivas – o que
constitui a verdadeira pedra-de-toque de seus princípios. Assim sendo, na
medicina, na farmacologia, na pedagogia, nas artes, nas ciências naturais e
na agricultura ela fez contribuições de grande importância, sobre as quais
existe uma abundante literatura (LANZ, 2007, p. 16).

“O sentido da Pedagogia Waldorf é bem definido: ela resulta da Antroposofia


em geral e, em particular, do que esta tem a dizer sobre o desenvolvimento da criança.
Isso não significa que se lecione Antroposofia nas escolas Waldorf” (LANZ, 2013, p.
79).
Ancorando-se na Antroposofia Steiner (2003) inaugura um modelo de
educação que visa atender à formação de crianças e adolescentes a partir de uma
concepção integral do ser humano efetivamente espelhada em uma práxis
33

pedagógica que atua no sentido de buscar uma unidade harmônica no


desenvolvimento biopsicoemocional e espiritual do educando.

Em 1910, Rudolf Steiner foi solicitado pelo diretor da fábrica alemã de


cigarros Waldorf-Estória a fundar uma escola para os filhos dos operários e
dar-lhe o fundamento pedagógico. Dessa escola, que passou a ser chamada
de Escola Waldorf Livre de Stuttgart. Hoje existem Escolas Waldorf em
muitos países, nas quais se pratica um ensino baseado nos princípios
pedagógicos idealizados por Rudolf Steiner, de acordo com seu
conhecimento da natureza humana (LANZ, 2007, p. 87-88).

De acordo com Lanz (2013) são três os princípios que devem ser realizados
para que uma escola Waldorf possa existir: O primeiro seria a liberdade quanto às
metas de educação, o segundo é a liberdade quanto ao método pedagógico, que é
principalmente por este que ela se distingue das outras escolas. E o terceiro princípio
é a liberdade quanto ao currículo, isso significa que a escola Waldorf contempla todas
as disciplinas obrigatórias exigidas pelos programas oficiais de ensino e pode
acrescentar matérias adicionais e também determinas a época do ano que as matérias
possam ser ensinadas.
Sobre a flexibilidade do currículo, Lanz explica:

A escolha das matérias, o quando e a metodologia de seu ensino, depende,


de um lado, das sugestões feitas por Steiner e das experiências acumulados
durante o tempo transcorrido desde então, e, de outro, das exigências
curriculares feitas pela legislação dos respectivos países. Em geral, o
currículo Waldorf tem-se mostrado mais amplo e mais rico do que os
currículos oficiais, cujas exigências mínimas são sempre satisfeitas, embora,
às vezes, com defasagens quanto à época em que são cumpridas (LANZ,
2013, p. 117).

A realização desses ideais pedagógicos é, hoje em dia, praticada nas escolas


Waldorf, fruto das ideias de Rudolf Steiner. São escolas que seguem uma orientação
educacional dada por ele próprio, diferindo totalmente da adotada em outras escolas.

3.2 A Pedagogia Waldorf no Brasil

As Escolas Waldorf formam, hoje, uma rede de ensino em crescimento e


espalhadas por cinco continentes (América, África, Ásia, Europa e Oceania) e, embora
tenham sido criadas na Alemanha, buscam incentivar e incorporar a cultura do país
em que se encontram. No Brasil, a primeira Escola foi criada em 1956, em São Paulo.
34

A partir de então, o movimento tem se expandido com novas escolas em Aracajú (SE),
Belo Horizonte (MG), Botucatu (SP), Brasília, Curitiba (PR), Cuiabá (MT), Florianópolis
(SC), Fortaleza (CE), Friburgo (RJ), Juiz de Fora (MG), Ribeirão Preto (SP), Rio de
Janeiro (RJ), Salvador (BA), entre outras, conforme apresentado no curso de
Fundamentação em Pedagogia Waldorf de Belo Horizonte (CWBH), consultado em
2018. Não há uma administração central; cada Escola é independente, contudo,
existem associações que apoiam o movimento (geralmente formada por pais de
alunos ou algum grupo que apoia a pedagogia), promovendo cursos e congressos de
atualização de professores e, muitas vezes, ajuda financeira.
De acordo com a matéria veiculada pelo jornal Folha de São Paulo (2018) sobre
a criação da primeira faculdade Waldorf no Brasil, o número de escolas, em nosso
país, autorizadas a usar a metodologia pela Federação de escolas Waldorf é de 74
escolas, com 9.702 estudantes, mas existem 130 escolas no processo de certificação.
Dentre as escolas oficiais, o Estado de São Paulo concentra a maior parte, 40. Há
mais de 20 anos eram apenas 9.
Importante destacar também a importância da Faculdade Rudolf Steiner no
Brasil, que iniciou as aulas em fevereiro de 2018, com um curso de Pedagogia que
ensina, aliado ao ensino tradicional, a pedagogia Waldorf, onde os graduados poderão
dar aulas em quaisquer escolas, inclusive as públicas, aliás, essa é a intenção do
grupo que estruturou o curso. Um dos motivos da faculdade no Brasil é pelo
crescimento das Escolas Waldorf em nosso país e também para que os futuros
pedagogos conheçam a Pedagogia Waldorf e mesmo atuando em Escolas Públicas
levem consigo os conceitos Waldorf e possam incorporá-los em sua prática diária.

3.3 Características e objetivos da pedagogia Waldorf

Entre os objetivos gerais da Pedagogia Waldorf devemos destacar:

[...] visa a formação do ser humano; quer desenvolvê-lo harmoniosamente


em todos os seus aspectos: inteligência, conhecimentos, vontade, ideais
sociais, etc.; quer despertar todas as qualidades e disposições inatas e
estabelecer um relacionamento sadio entre o indivíduo e seu mundo
ambiente - que inclui os outros homens (LANZ, 2013, p. 94).
35

Mas a informação também é necessária: sem ela, nenhuma formação é


possível.
O currículo das escolas Waldorf deixa evidente o homem que deseja formar
para a sociedade, pois acredita que “A nossa mais elevada tarefa deve ser a de formar
seres humanos livres que sejam capazes de, por si mesmos, encontrar propósito e
direção para suas vidas”, como sugere Rudolf Steiner, como consta em Escola
Waldorf Steiner (EWRS). Também LANZ (2013), pontua que a finalidade de todo
ensino deve ser preparar a criança para a vida.
Na pedagogia Waldorf tudo está voltado para o desenvolvimento harmônico da
criança, tendo em vista a evolução física, emocional e espiritual do ser humano. Então
a constituição humana se forma a partir de três veículos de expressão: o corpo, as
emoções e a mente. A esses três veículos de expressão correspondem três funções:
o querer, o sentir, e o pensar. Todos esses aspectos precisam ser trabalhados com a
mesma atenção para a plena realização do potencial humano, segundo indica CWBH.
Apesar de serem trabalhados com a mesma atenção, na Pedagogia Waldorf é
dado mais ênfase a cada função de acordo com a idade da criança. A cada fase do
desenvolvimento, que ocorre a cada sete anos, é chamado de setênio. E em cada um
desses setênios, o querer, o sentir e o pensar são mais estimulados, conforme
destacamos abaixo:
No primeiro setênio (0-7 anos), como esclarece Gudrun Burkhard (2000), é o
período em que todas as energias da criança estão investidas no seu desenvolvimento
físico, exigindo-lhe intensa atividade corporal. Assim, a educação infantil Waldorf
prioriza o movimento, a experiência corporal que faz uso da motricidade, como
também o movimento da imaginação, da fantasia da criança, pois compreende que o
movimento da criança será a base para não apenas o seu desenvolvimento físico e
motor, mas também para o seu desenvolvimento emocional, neurológico e até mesmo
cognitivo, preparando as estruturas neurológicas para a aprendizagem a ser requerida
posteriormente em seu processo de escolarização.
A Pedagogia Waldorf defende que as crianças só devam ser alfabetizadas a
partir dos seis anos e meio, pois no primeiro setênio não apresentam habilidades
mentais necessárias à manipulação de símbolos, já que os prolongamentos de seus
neurônios não completaram o processo de mielinização.
Também Piaget (1967a, 1975) em seus estudos sobre o desenvolvimento
cognitivo aponta que até os seis/sete anos as crianças encontram-se no estágio pré-
36

operacional, não demonstrando possuir recursos cognitivos e/ou neurológicos para


operações objetivas.
Nessa fase as crianças aprendem pelo exemplo, imitando tudo o que envolve
o seu entorno. Conhecendo o mundo pelo fazer, onde as descobertas acontecem
naturalmente, sem pressão, sem traumas ou medos, fazendo com que a criança
amadureça de forma tranquila, tornando-se mais segura. Nesse período, a criança
concentra suas energias para o desenvolvimento e maturação do corpo físico,
prevalecendo, nesta fase, o querer (LANZ, 2013).
No segundo setênio (7-14 anos), conforme Gudrun Burkhard (2000) concluído
o processo de maturação orgânica, o foco do desenvolvimento, volta-se para o
funcionamento psicoemocional da criança, mobilizando suas faculdades psíquicas
(para possibilitar a sua progressiva utilização a serviço do pensamento e da
aprendizagem) e, ao mesmo tempo, proporcionando uma intensa vivência emocional
(favorecida pelo desenvolvimento das suas emoções, dos seus sentimentos).
Embora nesse momento de seu desenvolvimento a criança já evidencie que
consegue raciocinar aproximando-se da lógica adulta, os seus esquemas conceituais
e ações executadas mentalmente ainda necessitam ser manipulados ou imaginados
de forma concreta, portanto o ensino fundamental Waldorf é conduzido não de forma
abstrata e teórica, mas a partir da vivência, da observação e da descrição dos
fenômenos.
Piaget (1967a, 1975), da mesma forma, compreende que no período dos 6/7
até os 12 anos, a que denomina de estágio operatório concreto, embora já manipule
objetos da realidade, aproximando-se das regras, das operações lógicas, a criança
ainda não o faz com abstração característica da próxima etapa, o estágio das
operações formais ou abstratas.
O segundo setênio corresponde ao período em que a criança está no ensino
fundamental. Esta é a fase do amadurecimento para a alfabetização. O pensar e o
raciocínio estão imbuídos de uma carga emocional, predominando nesta fase o sentir
(LANZ, 2013).
Já no terceiro setênio (14-21 anos) conforme Gudrun Burkhard (2000) as
energias liberadas da função de desenvolvimento do sistema psicoemocional são,
então, destinadas ao despertar das forças do pensar lógico, abstrato e conceitual do
indivíduo, base para a formação do seu julgamento pessoal: é a fase do desabrochar
da individualidade do educando.
37

Também para Piaget (1967a, 1975), é nesse estágio, que denomina de estágio
das operações formais ou abstratas, que o adolescente apresenta estruturas mentais
que o permitem realizar operações baseadas num tipo de raciocínio abstrato.
O que predomina agora é o desenvolvimento do raciocínio lógico, analítico e
sintético, prevalecendo nesta fase o pensar. A partir desse setênio a intenção é tornar
o jovem plenamente desperto e consciente, preparando-o para melhor lidar com os
desafios da vida (LANZ, 2013).
Lanz (2013) complementa dizendo que a pedagogia Waldorf tem a
preocupação em formar o ser humano, desenvolvendo-o harmoniosamente em todos
os seus âmbitos: inteligência, vontade, conhecimentos, ideais sociais; e trabalhando
suas habilidades e qualidades inatas, de forma que este desenvolva um
relacionamento sadio com o mundo – incluindo os outros seres humanos. Porém, é
importante ressaltar que esta formação não ocorre sem conhecimento. O diferencial
na Pedagogia Waldorf é que o conhecimento é utilizado como ferramenta para o
desenvolvimento humano e não apenas com fim em si mesmo. Por isso seus
conteúdos devem ter relação com a vida de forma a trazer uma imagem do mundo
real para dentro da sala de aula.
A partir do conhecimento que o professor precisa ter das fases de
desenvolvimento humano, ele atua por meio de sua arte de educar com algo que seja
verdadeiro para ele. A disposição e o empenho têm muito valor na prática com os
alunos. Afinal, como Lanz (2013, p. 118) coloca “os professores são a alma viva de
uma escola Waldorf, se deixam de crescer e de se desenvolver, a escola para e
definha. Nunca devem cair numa rotina didática”.
O professor é, portanto, o representante da Pedagogia Waldorf e deve ter
consciência de que seu trabalho não visa apenas o intelecto e os sentimentos de seus
alunos, mas tem por meta última seu desenvolvimento espiritual e moral. A relação
professor-aluno é o cerne da Pedagogia Waldorf. O íntimo relacionamento entre
professor e aluno é considerado um dos princípios básicos no seu currículo. Os
professores precisam conhecer profundamente seus alunos para assim desenvolver
seu aprendizado da melhor maneira possível e necessita ter como base o amor e,
principalmente, o respeito mútuo entre os mesmos (LANZ, 2013).
Sobre a importância do amor a profissão Steiner pontua:

E quando formos capazes de nos decidir e nos colocarmos na escola com o


maior altruísmo possível; quando nos desligarmos ao máximo de nossas
38

simpatias e antipatias humanas, de nossas características pessoais, e nos


entregarmos ao que os alunos nos dizem – e óbvio que nos dizem
inconscientemente –, então estaremos educando corretamente tanto os
gênios quanto os menos dotados. É graças a isso que nasce no professor a
consciência correta. E ele a terá quando disser a si mesmo: “toda a educação
é, no fundo, autoeducação do Homem” (STEINER, 2005, p. 80).

Para manter essa relação mais próxima, e o vínculo com o aluno não se
desfaça, Steiner propõe que a figura do professor não mude a cada ano, mas sim, que
este se mantenha com as mesmas crianças durante oito anos, conduzindo-as por todo
seu processo de aprendizagem. O professor de classe, assim chamado, conduz então
a criança por quase todo o Ensino Fundamental (do 1.º ao 8.º, uma vez que na Escola
Waldorf, o 9.º ano é considerado como parte do Ensino Médio) em praticamente todas
as disciplinas. Já no Ensino Médio, onde o aluno tem outras necessidades, este será
ensinado por professores especialistas de cada área do conhecimento, mas terá um
professor tutor que acompanhará a turma durante todo o ensino médio, fazendo uma
ponte entre a sala de aula e os outros professores.
Segundo Lanz (2013, p. 83) “um aspecto essencial desse processo é que o
professor conheça profundamente seus alunos, suas dificuldades e habilidades, e a
partir disso, norteie seu trabalho com cada criança”.
Após estudarmos as legislações que regem a Escola Pública e o que
caracteriza as Escolas Waldorf, buscamos investigar junto aos professores quais as
dificuldades e enfrentamentos no cotidiano escolar.
39

4 METODOLOGIA

Nesse capítulo será abordada a metodologia deste estudo, apresentando os


pressupostos metodológicos da pesquisa, os participantes que fizeram parte dela, as
estratégias e procedimentos para a coleta de dados, bem como os instrumentos e
técnicas utilizados, finalizando com a apresentação dos procedimentos para as
análises dos dados coletados, tão necessários para a busca dos resultados
pesquisados.

4.1 Delineamento da pesquisa

Para atingir os objetivos pretendidos com essa pesquisa utilizamos o método


qualitativo, pois a livre expressão das informações, experiências e vivências dos
sujeitos, além de ser mais adequada a trabalhar com um universo de significados, não
se preocupa em quantificar, mas em compreender a dinâmica das relações por
intermédio das crenças, dos valores, das atitudes e dos hábitos (MINAYO, 1994).
Deste modo entende-se que a pesquisa qualitativa é aquela que ocorre por
meio de uma análise de seus dados, por meio de interpretações. A referida pesquisa
tem o objetivo de compreender o universo do indivíduo entrevistado, interpretando
esta realidade de acordo com os relatos do indivíduo participante.
Sampieri, Collado e Lucio (2013) afirmam que esse tipo de pesquisa pretende
compreender os fenômenos que são explorados a partir do olhar dos participantes em
um ambiente contextualizado, sendo recomendável quando o assunto em estudo foi
pouco explorado.
Assim, a pesquisa procura captar além da aparência do fenômeno, mas
também sua essência, procurando explicar sua origem, relações e mudanças,
tentando intuir as consequências.
O processo de indagação da pesquisa qualitativa é flexível e se movimenta
entre as respostas e o processo de desenvolvimento da teoria, sua finalidade é
reconstruir a realidade, do mesmo modo como ela é interpretada e vivida pelos atores
sociais do ambiente em questão (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013).
40

4.2 Universo da pesquisa

O estudo com os professores de Educação Física foi realizado em duas cidades


do interior do estado de São Paulo.
Uma das cidades, tem a população aproximada de 140.000 habitantes e conta
com duas Escolas Waldorf, então entrevistamos também dois professores de Escolas
Públicas.
Uma das Escolas Waldorf conta com 42 alunos matriculados e três salas de
aula, um 1.ª ano, um 2.º ano e um 3.º ano. Já a outra Escola Waldorf tem 420 alunos
matriculados e 17 salas de aula, sendo: um maternal, quatro salas de Jardim de
Infância, e do 1.º ao 12.º ano uma sala de cada ano.
Das Escolas Públicas, uma delas tem um total de 884 alunos matriculados e
tem no Ensino Fundamental I, dez salas, sendo duas de cada ano do 1.º ao 5.º ano.
E no Fundamental II, 20 salas, sendo seis 6º anos, seis 7.º anos, quatro 7.º anos e
quatro 8.º anos.
A segunda cidade que faz parte da nossa pesquisa conta com uma população
de aproximadamente 370.000 habitantes. Possui três Escolas Waldorf, mas como
uma das escolas tem dois professores de Educação Física, entrevistamos quatro
professores de Escola Pública.
A primeira Escola Waldorf tem 20 alunos matriculados, com cinco salas do
Ensino Fundamental I, sendo uma para cada ano. A segunda Escola tem 42 alunos
e cinco salas de aula, sendo um maternal, um jardim, um 1.º ano, um 2.º ano e um 3.º
ano. A terceira Escola tem 450 alunos matriculados e 18 salas de aula, sendo dois
maternais, quatro jardins, e do 1.º ao 12.º ano, uma sala para cada ano.
A primeira Escola Pública, tem 990 alunos matriculados e 34 salas de aula,
funcionando em três períodos, de manhã 15 salas do Ensino Fundamental II, à tarde
15 salas do Ensino Fundamental I e à noite, quatro salas de Supletivo do Ensino
Fundamental I e II. A segunda escola conta com 564 alunos matriculados e dez salas
de aula do Ensino Fundamental I. A terceira Escola tem um total de 423 alunos
matriculados, e 18 salas de aula do Ensino Fundamental I. A quarta escola tem 350
alunos matriculados e 16 salas de aula do Ensino Fundamental I.
Todas as escolas participantes da pesquisa contam com professor especialista
da disciplina Educação Física e em todas as escolas as aulas de Educação Física
ocorrem duas vezes por semana.
41

Portanto a escolha das cidades deu-se por possuírem escolas Waldorf de


Ensino Fundamental I e também pelas aulas de Educação Física serem ministradas
por professores especialistas.

4.3 Participantes da pesquisa

Participaram dessa pesquisa um total de doze professores de Educação Física.


Sendo seis professores de Educação Física que atuam nas Escolas Waldorf e seis
professores que atuam na Rede Pública de Ensino, atuantes no Ensino Fundamental
I, das cidades participantes da pesquisa.
Dos seis professores da Escola Pública que fazem parte da pesquisa, três são
do sexo feminino e três são do sexo masculino. Todos os professores estão na faixa
etária dos 30 aos 40 anos. Quanto o tempo de atuação nas escolas: quatro desses
professores estão atuando em escolas a mais de dez anos, e dois professores há
mais de cinco anos. Quanto a formação acadêmica, dos seis professores, quatro
fizeram pós-graduação, três estão fazendo mestrado e um já concluiu.
Dos seis professores da Escola Waldorf que fazem parte da pesquisa, três são
do sexo feminino e três são do sexo masculino. Quanto a faixa etária: um professor
tem menos de 30 anos, quatro estão na faixa etária dos 30 aos 40 anos, e um tem
mais de 40 anos. Quanto ao tempo de atuação em escolas: três professores estão
atuando nas Escolas Waldorf há menos de cinco anos, um entre cinco e dez anos, um
entre dez e 20 anos e um há mais de 20 anos. Quanto a formação acadêmica dois
fizeram pós-graduação, quatro professores fizeram a especialização para professores
de Educação Física da Waldorf, conhecido como Ginástica Bothmer, um deles fez o
Seminário para professores pedagogos da Waldorf e um deles em Atendimento
Terapêutico Waldorf.
As entrevistas foram transcritas na íntegra, nas quais, esses professores estão
identificados com nomes fictícios, ressaltando que os nomes escolhidos para
representar os professores entrevistados foram nomes de doze atletas que
conquistaram medalha de ouro nos Jogos Pan-americanos de 2019. Disponíveis para
consulta no Apêndice C, bem como o roteiro para a entrevista (Apêndice B)
Para facilitar a leitura, para os professores das Escolas Públicas utilizamos (EP)
e para os professores das Escolas Waldorf utilizamos (EW). Abaixo, segue o quadro
42

com os professores das referidas escolas:

Quadro 1 – Professores entrevistados


Escola Pública Escola Waldorf
Alisson Bruna
Ana Danilo
Bia Gabriel
Caio Larissa
Rena Milena
Valéria Ygor

Fonte: Elaborado pela autora.

É importante ressaltar que tanto o Projeto de Pesquisa, como o Termo de


Consentimento Livre e Esclarecido para os professores (Apêndice A), passaram pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual Paulista – Júlio Mesquita Filho
– Faculdades de Ciência – Campus de Bauru, sendo aprovado pelo parecer número
4.097.937 disponível no Anexo A, o que garantiu aos participantes o sigilo de sua
identidade e também a sua desistência a qualquer momento da pesquisa.

4.4 Procedimentos para coleta dos dados

A técnica de coleta de dados foi planejada com o intuito de alcançar o objetivo


desejado na pesquisa. Escolhemos como instrumento de coleta, a entrevista
semiestruturada com doze professores de Educação Física, por oferecer maior
possibilidade de contato pessoal com os sujeitos estudados.
A nossa entrevista teve um caráter exploratório, semiestruturada, com um
roteiro para as questões, mas com liberdade para os entrevistados, no caso
professores, falarem sobre os temas perguntados.
Rosa e Arnoldi (2008), ao apresentar a “Entrevista” como uma técnica de coleta
de dados, esclarecem:

[...] não se trata de um simples diálogo, mas sim, de uma discussão orientada
para um objetivo definido que, através de um interrogatório, leva o informante
43

a discorrer sobre temas específicos, resultando em dados que serão


utilizados na pesquisa (ROSA; ARNOLDI, 2008, p. 17).

Além do clima de confiança que se deve conquistar, Sampieri, Collado e Lucio


(2013), salientam a importância do desenvolvimento de empatia com o entrevistado,
bem como, evitar a indução de respostas e elementos que possam distrair, como por
exemplo, toques de telefone, barulhos em geral, fumaça de cigarro e etc., a entrevista
deve fluir sem interrupções, conduzindo com cautela.
Outro fator que pode ser válido no início da entrevista é deixar o entrevistado
ciente do objetivo do estudo e a sua finalidade, desde que não interfira nas respostas
(SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013).
De acordo com Rosa e Arnoldi (2008), na entrevista semiestruturada, as
questões são mais subjetivas, acompanhado por um roteiro flexível que dependerá da
dinâmica da entrevista, de maneira natural.
Assim, todos os entrevistados tiveram a opção de escolher o melhor local para
a entrevista, procurando deixá-los à vontade e seguros. Sempre era oferecido para
que conhecessem o roteiro de perguntas, mas apenas alguns dos entrevistados
optaram por lê-lo antes da entrevista.
Sampieri, Collado e Lucio (2013) afirmam que esse tipo de entrevista dá a
liberdade de colocar mais perguntas para conseguir maior número de dados sobre o
que se deseja com maior precisão, nesse sentido, conforme a necessidade e a
singularidade de cada entrevista, foram feitos os devidos ajustes, para se alcançar os
objetivos propostos.
A gravação do áudio das entrevistas foi importante para evitar possíveis perdas
de informações por parte do entrevistador.

4.5 Procedimentos para a análise dos dados

Conforme Bardin (2009, p. 121) a técnica de análise do conteúdo é estruturada


em três etapas: “pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados”. De
acordo com a autora, deve-se ocorrer uma decifração estrutural em cada entrevista,
realizando uma abstração de nós mesmos para que se consiga analisar a narração
dos sujeitos.
44

Pertencem, pois, ao domínio da análise de conteúdo todas as iniciativas que,


a partir de um conjunto de técnicas parciais, mas complementares, consistam
na explicitação e sistematização do conteúdo das mensagens e da expressão
deste conteúdo, com o contributo de índices ou não de qualificação, a partir
de um conjunto de técnicas, que, embora parciais, são complementares
(BARDIN, 2009, p. 44).

Bardin (2009) orienta compreender como funciona a análise de conteúdo,


sendo a mesma, uma análise dedutiva e justificada por meio das mensagens
recebidas. Ou seja, a análise de modo geral das respostas dos sujeitos pesquisados,
percebendo sua maneira de linguagem, suas pausas, momentos reflexivos, alteração
no falar, entre outros. Análise do conteúdo procura “ler” o que está além das palavras.
Desta maneira, é preciso avaliar as respostas da entrevista de uma maneira
geral, não apenas ler e compreender o que foi dito, necessita-se ir um pouco além.
Faz-se necessário a sensibilidade de perceber qual a real intenção do sujeito que fala.
Perceber o que ele quer dizer, e não somente isso, mas também compreender o
porquê de suas pausas e momentos reflexivos (BARDIN, 2009).
A análise do conteúdo se faz por meio de análise categorial que privilegia a
frequência dos temas. De uma maneira transversal permitindo nortear as
semelhanças nas categorias, constância e regularidade das respostas (BARDIN,
2009).
Nesse contexto, foi realizada a análise das entrevistas com os professores,
desta forma, evidenciamos os seguintes pontos de análises e dividimos em
categorias:

 A Formação moral e a importância da família na vida do estudante;


 O papel do Professor de Educação Física na formação moral, seus desafios e
enfrentamentos;
 A contribuição do professor de Educação Física no desenvolvimento da
moralidade dos alunos;
 A avaliação dos Valores Morais.

Para se chegar a essas categorias, partiu-se das leituras do conteúdo das


entrevistas, com a revisão da literatura estudada e a legislação pertinente, baseada
nos objetivos específicos.
45

Na estruturação da primeira categoria buscamos analisar as perguntas 1 e 2


sobre o que o professor entende por Formação Moral e o papel da família nessa
formação, debatendo com a revisão de literatura e a legislação, correspondendo ao
primeiro objetivo específico da pesquisa que é evidenciar como se processa a
formação moral dos alunos nas aulas de Educação Física Escolar nas escolas
participantes.
Já a segunda categoria, adentramos, especificamente, no segundo objetivo
específico, que é constatar os desafios e/ou enfrentamentos na Formação Moral dos
alunos e qual o papel do professor de Educação Física nessa formação, analisando
as perguntas 3, 6 e 7 e 9.
Na terceira categoria, por meio da análise das perguntas 4, 5, 8 e 10
procuramos investigar a contribuição do professor de Educação Física na Formação
Moral dos alunos, como sua experiência e exemplo podem influenciar positivamente
a vida do educando, correspondendo ao terceiro objetivo específico: Evidenciar
práticas pedagógicas que se diferenciam quanto à formação de valores morais.
A quarta categoria é referente à análise da pergunta 11, de que maneira é
realizada a avaliação do aluno, se o professor leva em conta comportamentos e
atitudes dos alunos no momento da avaliação.
46

5 O ENSINO DE VALORES MORAIS NA PERSPECTIVA PROFESSORAL

5.1 Formação moral e o papel da família

Nesta primeira categoria, por intermédio da análise das perguntas 1 e 2,


analisamos o que os professores entendem por Formação Moral e segundo eles, qual
seria o papel da família nessa formação.
A Constituição Brasileira de 1988, no seu artigo 205.º e a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDBEN), artigo 2.º garantem:

A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996, p. 8).

Segundo Piaget (1932) quando afirmarmos o direito da pessoa humana à


educação significa garantir para toda criança o pleno desenvolvimento de suas
funções mentais e a aquisição dos conhecimentos, bem como dos valores morais que
correspondam ao exercício dessas funções, até a adaptação à vida social atual, e é
nessa questão dos Valores Morais que iremos nos ater nesse trabalho.
Para o autor, a educação constitui um todo indissociável, um sistema que
submete o aluno a aprender por imposição, a decorar sem compreender uma série de
fórmulas que logo serão esquecidas, está constrangendo intelectualmente o indivíduo
e dessa forma ele não conseguirá ter uma personalidade autônoma no domínio moral,
e por outro lado, se ele for submetido a uma autoridade absoluta tanto dos pais, quanto
dos professores, não conseguirá ser ativo intelectualmente.
Em sua obra “O Juízo Moral na Criança”, Piaget (1932) menciona a existência
de duas morais na criança, a da coação e da cooperação. A coação é a relação entre
os indivíduos que representa um baixo nível de socialização, pois a criança aceita as
normas do adulto, que detém uma autoridade ou prestígio, é a heteronomia. Já a
cooperação, se desenvolve aos poucos, baseada no princípio da solidariedade, onde
começa a surgir a autonomia, o indivíduo começa a analisar de forma mais consciente
as circunstâncias e não a obedecer cegamente às regras impostas.
Toda relação com outrem, na qual intervém o respeito unilateral, conduz à
heteronomia. “A autonomia só aparece com a reciprocidade, quando o respeito mútuo
47

é bastante forte, para que o indivíduo experimente interiormente a necessidade de


tratar os outros como gostaria de ser tratado” (PIAGET, 1932, p. 155).
Nesse mesmo sentido encontramos a seguinte afirmação: “Ninguém se forma
sujeito moral por obrigação, mas sim por desejo, por reconhecer em determinada
regra um significado moral” (OLIVEIRA; CAMINHA; FREITAS, 2010, p. 269). É
necessário mais que uma educação que tente impor a criança o que foi reconhecido
como certo ou errado, mas fazê-la refletir e conquistar autonomia para escolher seu
caminho. Assim como cita Goergen (2001, p. 147): “As virtudes devem ser cultivadas
pela razão do próprio educando e não obedecidas pelo seu tradicionalismo”.
Lepre também alerta que para formarmos sujeitos moralmente autônomos se
faz necessário que essa educação moral comece o quanto antes, daí a necessidade
da participação ativa da família e da escola, tão logo o aluno comece a frequentá-la.
“A construção de uma moralidade autônoma tem sua gênese desde o nascimento das
crianças e a educação moral deve ser pensada já desde a Educação Infantil” (LEPRE,
2016, p. 24).
Nesse sentido, pensando na necessidade de contribuirmos para que a criança
possa se tornar um sujeito consciente de seus potenciais e maduros, com uma
moralidade autônoma, capaz de respeitar as regras e questioná-las, buscamos
primeiramente analisar qual o conhecimento do professor em relação à Formação
Moral e Valores. Optamos por subdividir essa primeira categoria em duas partes, a
primeira trata sobre o conceito de Formação Moral e a segunda, qual o papel da
família e da sociedade nessa Formação Moral.

5.1.1 Formação moral – conceitos

Nesse primeiro momento buscamos analisar o que o professor entende por


Formação Moral, sem perguntarmos especificamos quais são esses valores. Mesmo
ainda não questionando quem é o responsável pela transmissão desses valores, os
professores prontamente responderam que são valores que devem ser transmitidos
em casa e que a escola deve dar continuidade a esse processo, como observamos
na fala do professor Alisson (EP): “A escola tem um papel importantíssimo nessa
formação, mesmo sabendo que a família é o principal veículo de formar essa
moralidade no ser humano, mas muitas vezes estão faltando com a moral nesse
48

tempo que a gente vive”. Dessa maneira o professor concorda com Menin (1996, p.
54) quando ele afirma que “a convivência de criança com outras crianças é um dos
melhores espaços para a construção da moralidade”.
A escola é como um espaço de construção e reflexão de experiências
importantes para a vida social do homem que contribuirão para o desenvolvimento de
um indivíduo, nos aspectos afetivos, sociais, filosóficos e científicos visando à
preparação do mesmo para a construção de sua cidadania.
Assim, a educação precisa estar comprometida com valores éticos. Como
constatamos em Fagundes (2001), educar não é somente informar, transmitir
conhecimentos, mas também integrar o educando em uma cultura com características
particulares, como a língua, as tradições, as crenças e os estilos de vida de uma
sociedade.
Quando falamos em Formação Moral, na resposta de cinco, dos doze
professores entrevistados aparecia a palavra “Valores”, como observamos nas falas
das professoras de Escolas Públicas:

[...] Formação moral é trabalhar no indivíduo aquilo relacionado ao


comportamento, a valores, que ele vai ter que aprender no dia a dia dele e
vai levar para a vida inteira, como se fosse para formar o caráter dele [...] (Bia
– EP).

[...] É a formação de valores de convivência, de respeito, então é a formação


moral que vai definir a pessoa, o ser humano em relação à convivência em
sociedade [...] (Ana – EP).

E está presente também na resposta do professor da Escola Waldorf:

[...] Tem a ver com os valores, que a gente traz [...] (Ygor – EW).

Portanto achamos por bem colocarmos a definição da palavra Valores:


Segundo Ferreira (2001, p. 701): “Valentia; qualidade que faz estimável alguém ou
algo; valia; importância de determinada coisa; preço valia; legitimidade, validade;
significado rigoroso de um termo”.
O professor Caio (EP) também cita a justiça como alguns dos valores a serem
trabalhados, cita também a liberdade, a autonomia, o bem, o dever e a igualdade.
Segundo ele a Formação Moral também contribuiu para desenvolver noções do que
é proibido e permitido dentro da sociedade em que vive.
49

Para convivermos bem em sociedade é necessário o respeito ao próximo e


também às regras que já foram pré-estabelecidas, como fica claro na fala do professor
Gabriel (EW): “Formação moral são todas as regras que a gente precisa para
conviver”.
Em relação ao que entendem por Valores Morais, tanto professores de Escolas
Públicas como professores de Escolas Waldorf afirmam que são valores que vêm de
casa e que precisam ser passados pela família, para que a escola e a convivência em
sociedade possam dar continuidade a esse processo. Como observamos na
afirmação da professora:

[...] É a educação que trazemos de casa, é ética moral, dos pais, dos avós,
do respeito ao próximo, é formada em casa mesmo, e que depois vai se
estender para outros lugares [...] (Valéria – EP).

E também na do professor Gabriel:

[...] São uma serie de qualidades que trazemos de casa, na relação com os
irmãos, por exemplo, aprendemos as trocas, o respeito, como falar, como agir
e reagir [...] (Gabriel – EW).

Dessa forma Araujo (2007) afirma que se a escola e a sociedade propiciarem


possibilidades constantes e significativas de convívio com temas éticos, a
probabilidade de que tais valores sejam construídos pelo sujeito é maior. E
complementa que as bases para a construção de valores se faz através de um sujeito
ativo, que participa intensamente e reflexivamente das aulas, que constrói sua
inteligência, sua identidade e seus valores por meio do diálogo, estabelecido com seus
pares, professores, família e cultura na realidade do mundo em que vive.
Para que esse diálogo ocorra, a professora Larissa (EW) acredita ser
necessário um conjunto: casa e escola. Os professores da sala trabalham moralidade,
sem precisar falar que está trabalhando isso, apenas com as histórias. É muito comum
nas aulas de Educação Física também o professor trabalhar com essas “Histórias
Pedagógicas”, que são histórias criadas pelo professor, a partir de um problema
ocorrido na aula, para que o aluno entenda que determinada atitude não foi correta.
Cita o exemplo de um aluno que sempre faltava com a verdade, e que ela criou uma
história de um menino que mentia muito e quando estava em perigo ninguém o ajudou
50

por não acreditar no que ele falava. Essas histórias podem ser transformadas em
Jogos.
Tanto as Histórias, quanto os Jogos acabam ajudando na Formação de todas
as crianças, pois ouvindo e vivenciando a criança acaba percebendo em si o que
precisa ser aprimorado. O professor Darlan, que trabalha junto com a professora cita
também a Ginástica Bothmer, que é uma ginástica que trabalha bastante a parte física,
mas que tem momentos de pleno silêncio, onde, segundo o professor é trabalhado
também a parte espiritual. Geralmente cinco minutos no início ou final da aula, nos
exercícios de volta à calma, tem momentos de silêncio completo, onde a criança busca
entrar em contato consigo mesma, se acalmando e revendo suas atitudes.
Acreditamos, assim como Menin (2002, p. 99) que:

[...] a educação moral se faz pela ação orientada por alguns princípios
fundamentais, tais como a justiça, a dignidade, a solidariedade, iluminados
pelo respeito mútuo entre as pessoas e que pode ter um alcance cada vez
maior. Nessa educação moral não há lugar para certezas, mas as dúvidas
podem ser sempre discutidas. E é essa discussão o método de educação
moral.

Também para Changeux (1999, p. 32) “[...] a educação pode contribuir com o
aprendizado do ‘viver junto’, do ‘não odiar’, pela formação do governo de si mesmo e
pelo reforço da consciência do justo e do injusto”.
E esse “viver junto” tanto na convivência com os familiares, quanto na escola,
convivendo com os colegas, com professores e demais funcionários proporcionam
inúmeras situações de aprendizado. Diz Piaget (1967b) que, se para aprender
matemática, química ou gramática é necessário realizar experimentos e analisar
textos, para aprender a viver em grupo é necessário ter experiências de vida em
comum.
Em última análise, toda educação tem a finalidade de conduzir o homem a
possuir o livre-arbítrio; mas isso não significa que essa liberdade já lhe seja outorgada
durante esse período de preparo. Segundo a Antroposofia, “o jovem e o adolescente
têm que caminhar através de estados de independência, diferentes entre si conforme
a idade, para amadurecer e adquirir a capacidade do livre-arbítrio, que implica a de
resistir à manipulação mental” (LANZ, 2013, p. 143).
51

E é com o objetivo de formar indivíduos críticos, que cumpram as regras, mas


também saibam se posicionar e questionar que se faz preciso que o professor se torne
cada vez mais conscientes do seu papel de educador e formador de opinião.
Dessa forma, se buscamos por uma sociedade melhor e mais justa é
necessário que todos se comprometam, tanto a família, que é o primeiro ambiente
social que a família tem contato e também a escola necessita voltar-se para a
qualidade de suas ações e relações, valorizando o desenvolvimento afetivo, social e
não apenas o cognitivo, como elementos fundamentais no desenvolvimento da
criança como um todo.

5.1.2 O papel da família e da sociedade na formação moral

Todos os Professores que fazem parte desta pesquisa, tanto os da Escola


Pública quanto os das Escolas Waldorf acreditam na importância primordial da família
na transmissão de valores, mas destacam também o papel da escola e da sociedade
na construção desses valores.
Conforme relatos orais da Professora Bia (EP), entendemos que é na família
que acontece o primeiro contato do indivíduo com as regras, portanto é onde se inicia
essa formação moral. Em suas palavras: “Família é a base e juntamente com a escola
formam uma parceria, mas a família tem um papel primordial”. Nesse sentido Lepre
(1999, p. 66) expõe: “Cabe lembrar que num primeiro momento do desenvolvimento
moral, é preciso que a criança tenha contato com as regras, que ela as receba do
exterior, mas que elas venham explicadas e seu princípio esclarecido”.
O professor Gabriel (EW) considera o papel da família como total e absoluto na
formação do ser humano e que os pais precisam ter a consciência de que cabe a eles
formar indivíduos com virtudes, e esclarece: “Se não tiver mais nada no planeta e só
tiver a família, a criança tem que crescer e se tornar jovem e adulto com qualidades”.
Sobre as virtudes, André Comte-Sponville (2009, p. 9) define: “Virtudes são nossos
valores morais, se quiserem, mas encarnados, tanto quanto quisermos, mas vívidos,
mas em ato. Sempre singulares, como cada um de nós, sempre plurais, como as
fraquezas que elas combatem ou corrigem”.
52

De forma semelhante relatam os professores Alisson (EP) e Renan (EP). Para


o professor Alisson o papel da família é essencial, porque o primeiro contato das
crianças é com os pais, e são eles que devem esclarecer a criança o que é certo e o
que é errado. Cita exemplos como: não pegar o que é do outro, ter cuidado com a
violência, etc. E desabafa: “A escola tem um papel secundário, mas que hoje em dia
está sendo passado como primário, os pais “largam” então esse papel fica dobrado
pra gente”. O professor Renan acrescenta que além da família, a sociedade tem
grande influência na formação do indivíduo. Mostrou-se bastante preocupado com o
crescente uso de eletrônicos sem a supervisão dos pais, e destaca: “Acredito que
estamos tendo problemas nesta área, infelizmente a molecada está sendo
influenciada pelo celular e os pais não estão se atentando a isso”.
Não é diferente a preocupação dos professores das Escolas Waldorf, como
podemos ver na fala do professor Gabriel: “Os próprios eletrônicos estão roubando
muito nossa convivência”. Ele percebe que atualmente a escola está adotando um
pouco esse papel (da Formação Moral) e as famílias estão fazendo cada vez menos
isso. Acredita ser pelo fato de os pais ficarem muito tempo fora e já chegarem sem
paciência, e as crianças acabarem ficando com outras pessoas que também não
querem ensinar, talvez porque não sejam filhos deles. Ele não vê problemas na Escola
participar ativamente na Formação Moral da criança, não precisa ser apenas
obrigação da família. Acredita que o espaço escolar é propício, pois é onde aparece
muito dessas trocas e regras, principalmente nas aulas de Educação Física. A fala do
professor está alinhada a afirmação de Pradel e Dau (2009, p. 545):

A escola tem, historicamente, papel primordial para a reprodução e


sedimentação de um modelo social, ela, mesmo não sendo a responsável
principal, e muito menos única, para a formação ética, tem uma função
importante nesse sentido, em conjunto com a família e a sociedade como um
todo.

A professora Valéria, que trabalha há 8 anos na Escola Pública relata as


dificuldades encontradas em trazer os pais e a comunidade para mais próximo da
escola. Muitas crianças chegam à escola sem regras e sem princípios morais e
quando ela tenta um contato com a família, muitas vezes não consegue dialogar. Em
suas palavras: “as crianças carecem muito dessa educação, dessa formação, porque
chega às aulas a gente perde mais tempo conversando sobre o respeito, sobre a
educação, e toda essa formação que deveria começar lá na família, mas acaba vindo
53

tudo aqui pra escola”. Então, ela vê a necessidade de trabalhar, além dos conteúdos
curriculares, as questões de relacionamento, de valores, para que os conteúdos
próprios da disciplina possam ser melhores assimilados.
Nesse sentido, constatamos que os professores se mostraram bastantes
apreensivos em relação ao distanciamento da família e a falta de uma postura mais
ativa dos pais e familiares. Esse distanciamento da família é maior nas Escolas
Públicas, não sabemos ao certo qual o motivo que leva os pais e familiares a não
participarem da vida escolar das crianças. Talvez o fato de trabalharem fora o dia todo,
ou serem convidados a irem à escola poucas vezes, geralmente quando o filho faz
algo errado, ou talvez seja pelo pouco valor que a família consagra aos estudos.
Dessa forma, se faz necessário um trabalho mais intenso dentro da escola
para suprir essa falta. É necessário reconhecer que a escola precisa valorizar, além
do físico e cognitivo, o desenvolvimento afetivo e social do educando. Para isso, se
faz necessário que o professor além de ter domínio dos conhecimentos específicos,
tenha uma profunda vontade de preparar o aluno para uma vida em sociedade. Além
da família, a escola é o espaço extremamente propício para a formação do educando
explicitando regras e valores.
Sobre a importância da escola como espaço adequado para formar indivíduos
aptos a conviver bem em sociedade enfatizamos a seguinte afirmação:

[...] destacamos o papel da escola como decisivo na formação dos sujeitos


morais e éticos, ou seja, como um espaço que deve contribuir para a
formação de um sujeito consciente e autônomo, capaz de tomar decisões,
preservando tanto interesses individuais quanto sociais” (OLIVEIRA;
CAMINHA; FREITAS, 2010, p. 268).

Caio (EP), diz que é na família o primeiro contato que a criança tem com as
noções de moral e de ética e destaca a importância do exemplo na formação da
criança: “O próprio meio familiar dá os primeiros estímulos em direção a essa
formação por meio das condutas que as crianças observam nas atitudes dos pais”
(Caio – EP).
No seu livro Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, André Comte-Sponville
(2009, p. 7), oferece um entendimento a respeito: “Se a virtude pode ser ensinada,
como creio, é mais pelo exemplo do que pelos livros”.
A literatura estudada esclarece mais sobre o papel do educador e a importância
de estar sempre buscando aprimorar-se:
54

[...] ser educador (pai, mãe, professor) deveria constituir verdadeiro


sacerdócio. Não há trabalho que exija mais idealismo do que aquele, hoje tão
desprezado, de ‘simples’ professor. Além de ter a consciência de tudo o que
está realmente acontecendo e de tudo o que ele próprio faz, o educador deve
trabalhar constantemente em si próprio. Sua entidade deve estar sempre em
evolução, aberta aos impulsos espirituais do alto. A responsabilidade de
conduzir futuros homens ao seu destino final de seres humanos, de fazer
desabrochar suas faculdades mais belas, corrigindo cuidadosamente os
defeitos aparentes, é uma tarefa imensa que, além do mais, exige muita
modéstia: o educador nunca deve procurar formar a criança de acordo com
sua própria imagem, mas adivinhar a feição da individualidade e fazer com
que ela atinja e siga harmoniosamente o caminho que conduz a ela própria.
Nunca o trabalho de educar deveria tornar-se rotina ou simples técnica. A
personalidade do professor ou pai deve estar sempre empenhada em captar
toda a personalidade do aluno (LANZ, 2007, p. 87).

O que nos chama a atenção nas respostas dos professores é a participação


ativa da família nas Escolas Waldorf, tanto nas reuniões pedagógicas, quanto nas
festas e atividades realizadas junto às crianças. Isso, segundo relato dos professores,
influencia positivamente a Formação Moral da criança. Como observamos na fala
desse professor: “Aqui as famílias participam tanto da escola, que automaticamente
as crianças vão percebendo pelas atitudes o que é certo e não é, sem precisar ficar o
tempo inteiro falando: Olha meu filho, isso é moral e tal...” (Darlan – EW). Essa
parceria: família e escola é de extrema importância, que Steinberg constata:

O mais forte e consistente indicador da saúde mental, do equilíbrio, da


felicidade e do bem estar dos seus filhos é o grau de participação dos pais
em suas vidas. Os filhos com pais participativos se saem melhor na escola,
se sentem bem consigo mesmo e demonstram menos propensão a
desenvolver problemas emocionais, a se arriscarem ou a se envolverem em
confusões (STEINBERG, 2005, p. 53).

A família é o primeiro contato social que o indivíduo possui, é nela que ele
aprende a falar, comer e se sente protegido, amado e respeitado. A família é a unidade
básica da interação social, onde a criança começa a aprender a respeito dos limites,
a estabelecer relações de amor e construir laços afetivos que ajudarão
consideravelmente em uma estruturação sólida de sua área emocional.
Segundo Izquierdo (2001), a família é a melhor escola da vida porque ela
transmite na intimidade do lar, por contagio, por osmose, ensinamentos, virtudes e
valores. Quando falta no lar amor, espírito de compreensão e de convivência, essa
carência manifesta-se também na sociedade: certamente faltará solidariedade e
desejo de servir aos demais.
55

Também merece destaque a preocupação da professora Bruna – EW em se


manter uma harmonia entre o que é ensinado em casa e na escola:

[...] De acordo com os costumes e tradições familiares as crianças recebem


os primeiros passos da formação para o social. Reconstruir ou adicionar ao
que a família faz é tarefa da escola, por isso é importante que a família aceite
os valores que a escola possui e possa ampliá-los [...] (Bruna – EW).

Neste sentido complementa Gikovati (2001), famílias e escolas deveriam


compartilhar dos mesmos pontos de vista, para não gerar confusão na mente dos
moços e evitar que usem as contradições para ganharem força e se rebelarem de
uma forma que é nociva à sua formação.
A professora Luciana (EW) cita um exemplo: “Percebemos muitos alunos que
apresentam problema na escola e sabemos que vem da casa, é o reflexo”. Os valores
trabalhados na escola devem ser os mesmos cuidados pela família. “Os membros das
famílias agem em relação à moralidade de maneira semelhante, ou seja, quando os
pais apresentam níveis elevados de comportamento moral, os filhos também os
apresentam e vice-versa” (PRUST; GOMIDE, 2007, p. 59).
Steiner, o fundador da Pedagogia Waldorf, destaca a importância de sempre
procurarmos dar bons exemplos às crianças (respeitando a todos, cumprindo as
regras de trânsito, sendo gentil, realizando nosso trabalho com dedicação, essas e
várias outras atitudes simples, mas que exemplificam valores como, respeito,
cooperação, atenção, amor) e não apenas exemplos em atitudes visíveis, mas naquilo
que carregamos verdadeiramente em nosso interior, como explica a seguir: A criança,
por ser um organismo sensorial extraordinariamente delicado, é sensível não somente
às influências físicas de seu meio ambiente, mas principalmente às influências
mentais. Por mais paradoxal que possa parecer à mentalidade materialista, a criança
sente o que pensamos à sua volta. E é importante não somente que, como pais ou
educadores, evitemos atitudes impróprias visíveis, mas que sejamos interiormente
verdadeiros e permeados de moral em nossos pensamentos e sentimentos — os
quais a criança sente e capta. É que ela estrutura seu ser não somente de acordo com
nossas palavras ou ações, mas segundo nossa atitude moral, nosso desempenho
mental e afetivo (STEINER, 2014).
A criança busca a todo o momento se auto afirmar e principalmente nos
primeiros anos de vida busca a aprovação dos adultos com quem convive, logo, se
56

ela observa nas pessoas ao seu redor atitudes corretas, irá esforçar-se para também
ter tais atitudes, “um dos fatores que leva uma criança pequena a desenvolver-se
moralmente é sua capacidade e motivação em corresponder às expectativas
singulares das pessoas em seu entorno” (LA TAILLE, 2006, p. 14).
Novamente Steiner (2014) defende a importância da educação como
responsabilidade de todos.

Ora, pedagogia e didática já constituem, em certo sentido, uma questão social


marcadamente ampla — pois a educação da criança deve realmente começar
logo após o nascimento. Isto nada mais significa senão que a educação é
atribuição de toda a Humanidade, de cada família, de cada comunidade
humana (STEINER, 2014, p. 2).

Se a responsabilidade e a preocupação da educação de valores e a formação


moral do homem for assumida e dividida pela escola e pela família de forma conjunta
e com total interação, certamente se alcançará algo extremamente importante, que é
a formação de indivíduos mais preocupados e mais dispostos a contribuírem para a
construção, o desenvolvimento e a melhoria da sociedade com o firme propósito de
se ter um mundo melhor e mais justo.

5.2 O papel do professor de educação física, seus desafios e enfrentamentos

Para a análise da segunda categoria, analisamos as respostas dos professores


às perguntas 3, 6, 7 e 9 que se referem ao comportamento do aluno dentro da escola,
e mais precisamente, nas aulas de Educação Física. Primeiramente perguntamos aos
professores com qual frequência eles notam dificuldades de relacionamento entre os
alunos. Foi unanimidade nas respostas que esses problemas aparecem sempre, em
maior ou menor intensidade, dependendo das salas, com maior ou menor frequência.
O professor Renan (EP) fez uma análise muito interessante ao observar nos
alunos as mesmas dificuldades que ele também tem. Seus alunos têm muita
dificuldade em aceitar frustrações, ficam nervosos e aí os problemas começam a
aparecer, então ele consegue enxergar nesses momentos uma oportunidade para
trabalhar com os alunos e trabalhar isso internamente também, buscando refletir e
repensar suas atitudes, procurando manter-se calmo para poder dialogar melhor com
os alunos e trabalhar com eles as questões de ganhar e perder nos jogos.
57

Esse trabalho interno, segundo Lanz (2013) é o que o professor deve buscar
em primeiro lugar, procurando a causa de muitas imperfeições e fracassos do seu
ensino dentro de si próprio. “Raros são os pedagogos natos; mas muito pode ser
realizado por qualquer pessoa que trabalhe constantemente em si para transformar-
se num pedagogo” (LANZ, 2013, p. 88).
Os professores Caio (EP) e Ana (EP), notaram uma mudança de
comportamento dos alunos em relação ao início da sua chegada à escola, e os dias
atuais. Contaram que foi realizado um intenso trabalho de conscientização desses
alunos em relação a regras e valores, principalmente em relação ao respeito ao
próximo, e hoje em dia os problemas diminuíram bastante, como o professor Caio
comenta:
[...] Agressões físicas, hoje na escola, a gente conseguiu diminuir bastante,
com um trabalho de conversa, de conscientização das consequências desse
tipo de agressão, tanto físicas, como danos psicológicos, mentais, danos de
mobilidade [...] (Caio – EP).

Ele ainda vê muito preconceito, em relação a etnia, a constituição física, a


capacidade mental, mas geralmente é feito de forma velada, pois se sentem
envergonhados quando descobertos, já que são repreendidos. Ele expõe:

[...] Diariamente eu observo na escola algum tipo de preconceito, falta de


respeito e intolerância [...] (Caio – EP).

A intolerância também faz parte da realidade da professora Bia (EP), que se


incomoda com a maneira que os alunos se relacionam, exemplifica:

[...] falam gritando com o outro, às vezes mandam o outro calar a boca, eu
percebo sempre isso nas aulas [...] (Bia – EP).

Já a professora Valéria (EP) cita além das agressões verbais e a falta de


respeito aos colegas, a falta de respeito às regras do jogo, onde os alunos sempre
querem tirar algum tipo de vantagem, como relata:

[...] Depende das turmas, mas todo dia sempre tem um episódio, não são em
todas as aulas, mas sempre tem [...] (Valéria – EP).

Conforme propõe La Taille (1996, p. 10):


58

[...] se entendermos por disciplina comportamentos regidos por um conjunto de


normas, a indisciplina poderá se traduzir de duas formas: a revolta contra estas
normas ou o desconhecimento delas. No primeiro caso, a indisciplina traduz-
se por uma forma de desobediência insolente; no segundo pelo caos dos
comportamentos e pela desorganização das relações (LA TAILLE, 1996, p. 10).

Segundo o depoimento dos professores, a necessidade de estabelecer regras


desde o início do ano letivo e reforça-las constantemente está aumentando com o
passar dos anos. A criança que não segue regras em casa tem mais dificuldade de se
adaptar e obedecer às regras no grupo escolar.
Alisson (EP), contou que a cada ano está exercendo seu trabalho em uma
escola diferente, dessa forma, ficando difícil de estabelecer um maior vínculo com os
alunos e também de realizar um trabalho mais intenso em relação a Valores. Compara
a escola que atua esse ano com a do ano interior, e nota que há uma grande diferença
em relação ao comportamento dos alunos. Não entende porque mesmo sendo uma
escola situada no centro da cidade, as agressões verbais e físicas ocorrem
intensamente, acredita que um dos fatores seja pelo fato do fundamental II (alunos do
6.º ao 9.º ano) funcionar junto com as crianças menores e essa convivência influenciar
um pouco negativamente.
Em relação ao fato de estarem frequentando o mesmo espaço alunos do
fundamental I e II, acreditamos que não deveria ser um problema, caso houvesse um
intenso trabalho em relação a valores e mudança de atitudes, que neste caso, alunos
maiores seriam um exemplo de atitudes positivas para os alunos menores. Até porque
existem outras escolas, como a que o professor Gabriel (EW) trabalha onde alunos
do ensino infantil, fundamental e ensino médio convivem no mesmo espaço.
Conforme Perrenoud (2008), a escola tem se preocupado com uma educação
cada vez mais propedêutica e conteudista, sem inquietar-se com questões voltadas à
cidadania. Não tem como querer que a sociedade escolar seja menos violenta do que
a sociedade na qual ela está inserida, portanto, as brigas e as humilhações
infelizmente fazem parte desse contexto.
Após os relatos desses professores fica evidente a importância do vínculo do
professor na mesma escola. Os frutos do trabalho relacionado a valores muitas vezes
levam tempo para aparecer. É preciso envolvimento e uma vontade de querer fazer
algo para aquela escola, aqueles alunos, mas é um projeto há longo prazo e que
precisa da participação de todo o grupo escolar. Para a efetivação da vivência da
prática e da consciência das regras a escola passa a ser um ambiente propício “é no
59

ambiente escolar que o sujeito irá conviver com o âmbito público, estabelecer relações
de igualdade e conviver com a diversidade” (TAVARES, 2016, p. 206).
Os professores que atuam nas Escolas Waldorf também citaram que há todo
momento dificuldades de relacionamento acontecem. Principalmente quando são
alunos que chegam de outras escolas, as dificuldades são maiores, como relataram
os professores: Ygor, Danilo, Larissa e Gabriel.
A professora Milena (EW) chama a atenção para o fato de que crianças que em
casa não tem limites e regras também chegam à escola causando mais conflitos. Em
suas palavras: “Cada um tem uma criação, tem uns que pai e mãe liberam tudo e
acham que pode fazer tudo”.
O professor Ygor (EW) vê como principal dificuldade dos alunos a aceitação da
frustração, ele aponta que as famílias que tem maior aquisição financeira e também
as crianças que têm poucos, ou nenhum, irmão, nos dois casos a dificuldade dessas
crianças é maior em relação às outras.
Gabriel (EW) relata que às vezes aparece uma agressão física ou verbal, e
também uma agressão psicológica, uma ameaça, mas que ele vê como oportunidade
de se ensinar algo. Em suas palavras: “eu gosto de aproveitar, porque muito mais que
movimentos eu quero ensinar valores”. Em relação a essa frase ele esclarece que
para ele o movimento também é um valor, mas que não pode ficar o movimento
somente pelo movimento, é preciso contextualizar e utilizar o jogo e a brincadeira
também para aprender sobre valores.
Nas escolas Waldorf busca-se trabalhar nos primeiros anos os Jogos
Cooperativos, para mostrar à criança a importância do trabalho em equipe e da
cooperação e aos poucos vai sendo introduzido jogos que envolvem competição. O
professor nos deu como exemplo um garoto que sempre reclamava da arbitragem nos
jogos, e de como a Pedagogia Waldorf busca conduzir a situação. Quando a criança
é mais nova não falamos para as crianças que o juiz pode estar mal intencionado, no
colegial já sim. Para os pequenos até os 7 anos, a pedagogia Waldorf fala que a
criança tem que achar que o mundo é bom. Dos 7 aos 14 anos você vai mostrar que
o mundo é belo, e você vai mostrar as belezas do mundo e só a partir dos 14 que você
vai mostrar as verdades. E conclui: “Porque se você apresentar primeiro as verdades,
como ele vai acreditar que o mundo é bom”? (Gabriel – EW).
Segundo o que estudamos sobre a Pedagogia Waldorf, essa atitude que o
professor exemplificou é uma maneira de preservar a primeira infância, fazendo com
60

que as crianças acreditem nas pessoas que estão ao seu redor, que respeitem as
regras. Os professores tem o cuidado de apresentar exemplos de posturas e condutas
positivas, já que a criança está na fase da imitação. Como cita Kügelgen (1984, p. 28)
“Assim como para o primeiro septênio eram importantes as palavras mágicas
‘imitação’ e ‘exemplo’, para o septênio seguinte as palavras são ‘respeito por amor’ ou
‘autoridade amada’”.
O professor e a escola devem trabalhar junto ao aluno para que ele adquira
autonomia e desenvolva sua maturidade de forma sadia enquanto cresce. O professor
comprometido com a educação vê o aluno como um todo e busca ajudar a resolver
conflitos normais de cada idade, nas fases de desenvolvimento da infância,
adolescência e juventude. Quando o aluno se sente apoiado pela escola e seu
professor, laços afetivos são criados e ficam marcados no emocional do aluno,
aumentando a confiança desse aluno no trabalho realizado pela escola. E essa
autonomia construída precisa fazer com que o aluno reflita sobre suas decisões seus
comportamentos e suas atitudes. Conforme Puig (1998, p. 15):

[...] não se pode pretender que a aprendizagem de valores se dê meramente


pela transmissão de conceitos que podem não ser significativos entre as
diversas culturas existentes, mais, sim, na possibilidade de reflexão crítica
das inúmeras situações cotidianas que se apresentam.

Esse processo de construção da autonomia requer um envolvimento de todo o


grupo escolar, como cita Tavares (2016, p. 206) “não basta um projeto para a
autonomia, é preciso oferecer um ambiente escolar que seja, efetivamente, propício
para tal conquista”.
Muito se fala do papel que a escola deve realizar, mas não podemos deixar de
lado a necessidade da família se aproximar da escola, mas antes de tudo, de se
aproximar dos filhos e transmitir a eles princípios e regras, muito mais do que com
palavras, mas com exemplos e atitudes. O verdadeiro educador, seja ele pai, mãe ou
professores, é aquele que se propõe uma constante busca espiritual, pela
autoeducação consciente. Para estimular o desenvolvimento de seres humanos em
formação, precisa estar ele próprio, aberto a se transformar. É o que toda criança ou
jovem espera de qualquer adulto, conforme relatado pela Federação das Escolas
Waldorf no Brasil (FEWB).
61

5.2.1 Regras de convivência nas aulas de Educação Física

Perguntamos aos professores se nas aulas existem regras para uma


convivência harmônica em grupo? Quais são e o que acontece quando essas regras
não são cumpridas? Também se foi possível notar alguma mudança de
comportamento dos alunos após intervenções ocorridas nas aulas e caso sim que
citassem exemplos.
Para todos os professores entrevistados é necessário ter regras para que a
convivência ocorra de maneira harmoniosa. Os professores fazem os “combinados”
com os alunos logo no início do ano e sempre voltam a falar sobre eles, principalmente
quando alguma regra não é cumprida. Tanto os professores das Escolas Públicas
quanto os das Escolas Waldorf acreditam na conversa como principal meio para
resolver conflitos. Sempre buscam conversar com o aluno, e quando é algo recorrente,
retiram o aluno temporariamente da aula, para que se acalmem e possam continuar
participando da aula. Também, em casos mais graves, deixam o aluno fora da aula,
um ou dois dias. Somente em casos muito graves, de agressão física os alunos são
encaminhados à direção.
Analisando o relato dos professores entrevistados percebemos que quando
retiram o aluno da atividade para que repensem suas atitudes e comportamentos não
o fazem pensando em uma punição, algo que não tem uma finalidade, mas como algo
que possa contribuir para uma mudança de atitude e uma maneira de dar andamento
na aula, para que outros alunos possam continuar as atividades que estão sendo
realizadas, como exemplifica a professora Ana (EP): “eu sempre tento, em último caso
eu tomo essa atitude porque os outros colegas também não podem perder. Então, a
partir do momento que ele fere o direito dos colegas eu tomo essa atitude”.
Somente o professor Alisson (EP), disse que nunca retira os alunos das aulas,
chama-os para uma conversa, e que assim que o problema está resolvido o aluno
volta para a atividade, independente da gravidade da situação. Ele esclarece: “Eu não
gosto de colocar de castigo, acho que o castigo não resolve, até porque a gente está
em uma aula que ele precisa da atividade física. E as crianças estão cada vez fazendo
menos atividade física hoje em dia”. O professor busca sempre falar baixo, nunca
altera a voz e as crianças, em algumas turmas, já estão deixando de gritar,
aguardando o professor falar, isso o deixa feliz por provocar uma mudança de atitude
nas crianças. Essa atitude dos professores de procurar primeiramente resolver os
62

conflitos por meio da conversa, do diálogo é uma forma de respeito ao aluno, de


buscar com que reflitam sobre suas atitudes e que essa prática ultrapasse os muros
da escola. Segundo Gardner (1995) dialogar é contar experiências, é segregar o que
está oculto no coração, é penetrar além da cortina dos comportamentos, é
desenvolver inteligência interpessoal.
O professor Renan (EP), quando encaminha o aluno à direção passa para ele
fazer uma atividade teórica, também considera muito importante levar o aluno a
reflexão do porque está fora da aula, para que ele entenda que toda atitude tem uma
consequência. Comenta que quando o caso é grave ou muito recorrente busca o apoio
dos pais, citou inclusive, um caso de um aluno que tinha muita dificuldade em aceitar
quando perdia o jogo, ficava transtornado. Após a conversa, a mãe o encaminhou a
um tratamento com uma psicóloga e começou a apresentar resultados. Em uma nova
conversa com a mãe do aluno ela relatou que havia notado mudança em seu
comportamento, mas sabe que o tratamento é longo, e nas aulas também notou o
aluno menos explosivo.
A professora Bia (EP) disse que trabalha com os alunos a Regra de Ouro (que
significa a regra mais importante) que é “não faça aos outros aquilo que não gosta que
façam a você” e também uma segunda regra que é a parábola do beija-flor, que quer
apagar um incêndio sozinho, mas que percebe que só consegue com a ajuda dos
outros animais. Com essa parábola busca trabalhar o espírito de equipe. Acredita na
importância do vínculo, do respeito na relação professor aluno, “quando a criança, o
aluno, tem respeito pelo professor ele acaba sendo muito mais solícito do que quando
ele tem medo do professor” (Bia – EP). Segundo Lanz (2013) à relação entre
professor-aluno é essencial para a formação dos alunos e necessita ter como base o
amor e, principalmente, o respeito mútuo entre os mesmos.
Em relação aos combinados, Ana (EP) acha muito importante construir junto
com os alunos, eles falam o que é necessário para que a aula ocorra de forma
harmoniosa. Esses combinados são reforçados ao longo do ano. Como a professora
atua há alguns anos na mesma escola, ela vê resultados muito satisfatórios, porque
os alunos já sabem quando as regras são quebradas, como exemplificou com a fala
das crianças: “Professora, eu acho que hoje a atitude dos colegas não foi legal”, ou
“porque a gente conversou muito, não colaborou, não cuidou do amigo” (Ana – EP).
E na roda de conversa ao final da aula, já começam a falar e a discutir o que ocorreu.
Os alunos que chegam de outras escolas vão se adaptando aos poucos. Acredita ser
63

de extrema importância falar toda vez que as regras são quebradas. E completa: “tem
que ser algo pontual, não pode deixar passar, porque se deixar, os outros também
vão achar que podem fazer e você perde” (Ana – EP).
Conforme Lepre (2016, p. 27) “as crianças não podem ser deixadas à sua
natureza biológica; é necessário que se proporcione um ambiente onde a cooperação
possa ser experimentada, a fim de que a consciência autônoma seja construída”.
Além de falar sobre os combinados a professora Valéria (EP) pede para que
escrevam no caderno de Educação Física e os alunos assinam. Quando ocorrem
problemas na aula esses combinados são retomados. Ela acredita que as atitudes
tomadas caso o aluno não cumpra as regras ajuda para que melhorem seu
comportamento, mas diz que alguns conteúdos ajudam muito também, como os jogos
cooperativos, onde um trabalha ajudando o outro com objetivos em comum, que no
final todo mundo ganha, em suas palavras “a competição é muito importante, mas
trabalhar também alguns projetos como esses, dos jogos cooperativos, tem muito a
ajudar nessa questão, de respeito, de um ajudar o outro” (Valéria – EP).
Acreditamos que talvez o motivo da professora citar o trabalho com os jogos
cooperativos como um “projeto” seja por ele não estar presente em todas as aulas.
Como observamos, ela acredita ser importante a competição, que faz parte da maioria
dos jogos tradicionais e esportes. Ou talvez pelos exemplos de pessoas que busquem
a vitória a qualquer custo, prejudicando os adversários, a cooperação precise ser
melhor trabalhada. O que buscamos é que tanto nos jogos cooperativos como nos
jogos competitivos haja o respeito às regras e aos adversários, o fair play, a tolerância
e a lealdade, e que mesmo na competição a cooperação tenha seu lugar garantido.
Muito se tem falado sobre o trabalho com os jogos cooperativos nas aulas de
Educação Física. A ideia é partir do jogo para chegar à vida, pois eu jogo do jeito que
vivo e vivo do jeito que jogo (NETO e LIMA, 2002). As atividades cooperativas
aumentam a segurança nas capacidades pessoais e contribuem para o
desenvolvimento no sentido do pertencer a um grupo. Nessas atividades ninguém
perde e ninguém é isolado ou rejeitado porque falhou (ALMEIDA, 2003).
Já no início do ano o professor Caio (EP) esclarece aos alunos que as aulas
são pautadas em alguns princípios básicos como: senso de justiça, direito e dever,
solidariedade e honestidade. E busca trabalhar a sinceridade, que envolve todos
esses princípios. Outro princípio que norteia é a autonomia, é mostrar que todos eles
podem ter voz, criar, participar da atividade, criar estratégias, melhorar a pratica da
64

atividade e dividir com o grupo a sua visão disso. Então a autonomia é oferecer essa
possibilidade de enxergar o outro e mudar e dar a opinião não no que é melhor pra
ele fazer, mas também no que vai melhorar para o outro. Busca trabalhar também o
respeito, que é essa noção de igualdade, de todos serem iguais, se todos são iguais,
o que você não quer que façam para você não vai fazer para o outro. Uma frase que
esse professor utiliza bastante: “Você é o rei das suas ações e será responsável pelas
consequências delas. Então se você tem o poder de agir daquela forma, você tem o
dever depois de arcar com as consequências” (Caio – EP).
O professor contou que quando chegou à escola há onze anos, a escola estava
proibida de participar na cidade dos eventos da Secretaria de Esportes por questões
de brigas e violência. Essa punição foi de 5 anos e ainda faltavam 2 anos para acabar.
A partir daí começou a realizar um trabalho na escola voltado a diminuir essa violência
e a melhorar a postura de atletas e torcida. Hoje a escola é reconhecida na cidade
pela mudança de comportamento dos alunos e é sempre convidada para eventos.
Citou também casos de “fair play” por parte de alunos em diversas situações e
considera que uma educação voltada para questões comportamentais dá bons
resultados. Esse trabalho em equipe, resgatando a autoestima dos alunos e
provocando mudanças na realidade escolar está alinhada ao que diz Tavares (2016,
p. 207) “a moralidade precisa ser objeto de apropriação racional pelos estudantes e
profissionais da escola bem como é preciso se sentir valorizado para querer agir bem”.
Também os professores das Escolas Waldorf relaram que percebem uma
mudança no comportamento das crianças através de um trabalho com a música nas
aulas. A professora Milena inicia a aula com música e acha importante esse momento
onde com todos se abraçam, e as regras já vão sendo transmitidas, por exemplo:
abrace o amigo com cuidado, sem empurrar, nada de brigas, também faz com que os
alunos mais tímidos se aproximem dos outros, cumprimentando, abraçando e
beijando o colega. Passos importante que devem ser utilizados também no convívio
fora da escola. Ela nota uma mudança de comportamento dos alunos após as
intervenções, porque no início do ano é sempre mais difícil, e com o passar do tempo
a aula caminha bem e as brigas quase nunca acontecem, e relata: “proponho uma
atividade e todos realizam. Às vezes no final da aula eu deixo um deles escolherem
uma atividade. Essa é uma forma de ajudar para que se desenvolvam” (Milena – EW).
Como cita Cury (2003, p. 79) “bons professores educam para uma profissão,
professores fascinantes educam para a vida”.
65

O professor Ygor também começa a aula com um jogo rítmico, que ajuda a
desenvolver a percepção corporal. De acordo com a idade vai ficando mais difícil. Por
exemplo, no terceiro ano eles já fazem ritmo com canto e não é só mais o gesto de
imitação, tem uma percussão, tem palma, estalar de dedos, batida de pés. A aula é
dividida em três partes, a primeira o jogo rítmico, a segunda o jogo em si e a terceira
é a volta a calma, em roda novamente com um jogo mais tranquilo. Nesses momentos
aproveita para repassar os combinados e conversar sobre algo que ocorreu na aula.
Além da pouca quantidade de alunos em sala de aula (no máximo dez), ele considera
o trabalho em equipe fatores que contribuem para mudanças comportamentais dos
alunos. Em suas palavras: “Aqui a gente trabalha muito em conjunto. Eu encontro
com eles duas vezes na semana, e eles tem a professora de sala que está com eles
o tempo todo, então tudo o que acontece a gente conversa com os outros professores
e principalmente com o professor de sala, e ele acaba passando para os professores
de área, para trabalharmos em conjunto com aquela criança” (Ygor – EW). Esse
trabalho em equipe, onde todos seguem as mesmas regras e tem o mesmo objetivo
proporciona a criança, pelo exemplo, o caminho a ser trilhado. Segundo Steiner (2000,
p. 122) “devemos constituir o ambiente mais propício para que, junto a nós, a criança
se eduque tal qual deve educar-se por seu destino interior”.
A professora Larissa (EW) faz os combinados com os alunos e depois eles
passam no caderno, sempre trabalha com os alunos as Regras de Ouro, como a
professora Bia (EP) havia mencionado. Acha extremamente importante pautar as
aulas com regras e cobrar isso dos alunos. Sempre chama o aluno para uma conversa
quando faz algo errado, mas nunca chama a atenção em público. Essa forma de tratar
os alunos com respeito sempre traz bons resultados, mesmo que ele fique chateado
por sair da aula naquele momento que gostaria de estar participando, mas depois
reconhece o erro e procura o professor pedindo desculpas. Ela acredita que resolver
os conflitos com conversa sempre traz mais efeitos do que simplesmente encaminhar
para a direção, pois leva o aluno a reflexionar e buscar corrigir seus erros.
A atitude da professora Larissa (EW) está alinhada ao pensamento de Cury
(2003) quando alerta que chamar a atenção ou apontar em público um erro ou defeito
pode gerar um trauma inesquecível que os controlará durante toda a vida. O correto
seria ao invés de uma grande bronca, chama-los em particular e corrigi-los. Fala da
importância de estimular os jovens a refletir. “Quem estimula a reflexão é um artesão
da sabedoria” (CURY, 2003, p. 87).
66

A preocupação do professor Gabriel (EW) é além de trabalhar o lado emocional


do aluno, procurar estar bem psicologicamente para que possa ajudá-lo. Faz terapia
e procurar sempre mostrar ao aluno que também está buscando ser um ser humano
melhor. Procura sempre trabalhar os sentimentos com as crianças, fazer com que elas
se coloquem no lugar nos outros, e se preocupem com o que o outro está sentindo. E
isso dá bons resultados, quando você chega até o aluno acessando o emocional, sem
bronca, sem acusações, apenas falando do fato, a criança se sente tocada, entendida,
acolhida emocionalmente. Em suas palavras: “você ganha a criança de um jeito
diferente do que se fossem só regras. Você se torna um ídolo para ela, alguém muito
importante, e essa referência de professor é muito importante” (Gabriel – EW).
Novamente Cury (2003) expõe sobre o trabalho com a emoção, trabalhar com
a emoção é mais complexo do que trabalhar com os mais intricados cálculos da física
e da matemática. Para o autor a escola não está conseguindo educar a emoção, os
jovens de hoje em dia precisam de uma emoção rica, protegida e integrada, precisam
aprender a gerenciar seus pensamentos, porque a tarefa mais importante da
educação é transformar o ser humano em líder de si mesmo, dos seus pensamentos
e emoção.
Também Saviani (1996) fala sobre a necessidade de trabalhar o lado emocional
do aluno. Os professores precisam conhecer o funcionamento da mente para
ajudarem seus alunos a gerenciarem suas emoções e trabalharem suas perdas e
frustrações, então para ser educador é necessário ser um profundo conhecedor do
homem.
Piaget (2002) em sua obra: Para onde vai a educação? Cita também a
importância do estudo do homem para ser um bom educador. “A arte da Educação é
como a da Medicina: uma arte que não pode ser pratica sem “dons” especiais, mas
que pressupõe conhecimentos exatos e experimentais, relativos aos seres humanos
sobre os quais é exercida” (PIAGET, 2002, p. 54).
Em relação à importância de se trabalhar Valores Morais nas aulas de
Educação Física, Palma e Palma (2010, p. 193) apontam que podemos considerar
que todo professor é também professor “de moral”, porque constrói relações em que
a heteronomia ou a autonomia estão presentes. Para os autores, as crianças chegam
à escola em fase de desenvolvimento sócio moral, portanto, este ambiente é uma das
instâncias em que este desenvolvimento se completa, já que o desenvolvimento da
67

moralidade está relacionado à qualidade das intervenções vivenciadas no cotidiano


escolar.
Desse modo, entende-se que a necessidade de educar na escola
contemporânea vai além da intenção de transmitir conhecimentos, e sim, produzir,
sistematizar, reproduzir, refletir e contribuir com os conhecimentos construídos pelo
homem ao longo de sua história, além de desenvolver valores, para que haja a
compreensão e otimização das formas como os alunos aprendem (NEIRA, 2003).
A Educação Física deve colaborar para o processo de transformação da
sociedade mais justa e mais humana. A preocupação com a formação humana, crítica
e reflexiva dos alunos são aspectos fundamentais que constituem o sentido de “ser
professor de Educação Física” (FARIA et al., 2010, p. 17).
A própria dinâmica das aulas, onde os alunos estão a maior parte do tempo
trabalhando em equipe, jogando, ganhando ou perdendo, favorece esse trabalho com
Valores cabendo ao professor aproveitar esses momentos para ajudar o aluno a ir aos
poucos conquistando sua autonomia. “Para jogar, para criar regras e traçar
estratégias, é preciso aprender a ouvir a opinião de outrem, aprender a se expressar
e a admitir suas próprias contradições. O egocentrismo vai cedendo seu lugar em prol
da cooperação” (PAULA, 1996, p. 89).
No mesmo sentido Brotto (1997) relata que o esporte educacional deve conter
a cooperação, na qual se espera encontrar o estado de unidade, sentimento de ser
pleno, consigo mesmo e com todos os outros seres e de celebrar a convivência
coletiva.
Portanto, é necessário reconhecer que a escola precisa voltar-se para a
qualidade de suas ações e relações, valorizando o desenvolvimento afetivo e social e
não apenas o cognitivo, contribuindo para que o aluno se desenvolva e construa sua
autonomia. O cuidado com as emoções e um trabalho em relação a valores é
fundamental para formar seres humanos que se respeite e respeite os sentimentos e
emoções do próximo, não apenas no ambiente escolar, mas em todos os ambientes
que frequenta.
68

5.3 A contribuição do professor de Educação Física no desenvolvimento da


moralidade dos alunos

Nesta terceira categoria analisamos as respostas dos professores as perguntas


4, 5, 8 e 10, que se referem ao trabalho do professor com a questão moral.
Perguntamos aos professores de Educação Física quais os principais valores morais
que ele acredita que devam ser trabalhados na escola e o porquê e se ele busca
trabalhar o desenvolvimento moral de seus alunos durante as aulas, e de que maneira.
Também se ele considera importante ter atitudes respeitosas que possam servir de
exemplo para seus alunos e caso a resposta seja afirmativa, pedimos que citasse
algumas dessas atitudes. Finalmente indagamos se o professor acha relevante
conhecer outros métodos e pedagogias diferenciadas que buscam a formação moral
dos alunos e caso sim, quais são e como são aplicados.

5.3.1 Valores a serem trabalhados na escola

Quando perguntamos quais valores deveriam ser trabalhados na escola, dos


doze professores entrevistados dez citaram o respeito como um importante valor a ser
trabalhado. Além do respeito ao próximo, aparece também “o respeito ao ambiente”
(Bia – EP), “o respeito às regras do jogo” (Valéria – EP), “o respeito às diferenças”
(Ana – EP) e “o respeito ao professor, sabendo ouvir o ‘não’” (Milena – EW). A
empatia, saber se colocar no lugar do outro, também é um valor bastante citado, a
professora Larissa (EW) sempre questiona os alunos: “você gostaria que fizessem
isso com você?” (Larissa – EW). A cooperação é um valor importante a ser trabalho
para as professoras Bia (EP) e Valéria (EP).
O professor Alisson (EP), cita outros valores como: “Verdade, paz, amor e não
violência”. Ele mudou seu modo de trabalhar a partir de uma experiência que teve
quando trabalhou na Bahia, em um projeto numa escola que se chamava “Educação
Viva e Consciente”, explicou a origem do nome:
[...] porque a educação é viva, ela muda a todo o momento, e ela é consciente
porque busca trazer uma consciência para o ser humano e ela traz também
a consciência de saber quem ele é, e essa busca dele na liberdade ele vai
atrás daquilo que é a essência dele. A partir daí procura deixar os alunos em
maior liberdade para que possam buscar esses valores [...] (Alisson – EP).
69

Além do respeito; solidariedade, liberdade, justiça, igualdade, direitos e


deveres, autonomia e honestidade segundo o professor Caio (EP) são princípios
básicos para uma boa convivência em sociedade.
O professor Ygor (EW) cita também como algo muito importante a Hierarquia,
o respeito aos mais velhos, que hoje em dia está se perdendo. A professora Larissa
(EW) considera muito importante o respeito ao professor, se recorda que antigamente
o professor era tratado como “mestre” e hoje em dia esse termo não é mais utilizado,
as crianças acabam chamando de “pro”, mas devemos nos comportar como mestres,
e não como amigo do aluno. Em suas palavras: “quando eles começam a dar valor
para isso, que o Ser que está à frente deles conhece muito e eles tem que respeitar,
já é um princípio moral para sua aula acontecer bem” (Larissa – EW). Como cita
Barbosa (2002, p. 63):

[...] se o professor resgatar o seu valor e perceber que ele não faz parte de
uma profissão em extinção e sim de que é protagonista de uma ação
educativa, na qual sua mediação é fundamental, ele retorna sua posição no
estado atual das coisas e possibilitará que o mesmo se modifique.

O respeito é o valor fundamental para o professor Gabriel (EW). Respeito pela


opinião do outro, pela decisão do outro, pelo momento do outro. Mas também acha
extremamente importante o esforço, ele diz que dá pra ver o Ser da criança se
esforçando e isso vale pra tudo na vida. Cita como exemplo o valor de conquistar uma
medalha, ela não é comprada, é o símbolo de todo o esforço e empenho que a pessoa
dedicou para conseguir aquilo e depois ao longo da vida, em uma dificuldade, ela pode
lembrar de todo aquele processo que passou, que aquilo deu certo. São coisas assim
que ele gosta de falar para os alunos. Cita também a Resiliência, que é extremamente
importante, é preciso lutar com afinco e não desistir, e hoje em dia, os pais querem
resolver tudo para os filhos e isso não ajuda.
O sentimento de que as pessoas precisam umas das outras para sobreviver, é
o que a professora Bruna (EW) considera fundamental trabalhar com os alunos,
segundo ela, nossa sociedade está ficando cada dia mais individualista.
O trabalho com valores morais é essencial para proporcionar as nossas
crianças uma inserção na sociedade pautada pelo respeito às regras e aos
semelhantes. “A moral não nos diz o que é ser feliz nem como sê-lo, mas sim quais
70

são os deveres a serem necessariamente obedecidos para que a felicidade individual


tenha legitimidade social” (LA TAILLE, 2006, p. 60).
Perguntamos aos professores se eles têm conhecimento do Projeto Político
Pedagógico da sua escola (PPP). As escolas Waldorf seguem as orientações da
Federação das Escolas Waldorf, e cada escola tem a liberdade para adaptar de
acordo com a realidade da sua escola, mas não tem um Projeto Político Pedagógico.
Em relação a Escola Pública, dos seis professores entrevistados apenas o professor
Renan e a professora Valéria conhecem o projeto da sua escola, mas o professor
Renan faz críticas: “Você percebe que é um recorte de um outro projeto de outra
escola. Você percebe que não foi feito especialmente para essa escola, tem vários
erros” (Renan – EP). Já a professora Valéria diz que o projeto é revisto no começo do
ano e nele são acrescentados novos projetos.
A professora Bia (EP) sabe da sua importância, mas não conhece, diz que
esse ano está sendo reformulado. Já a professora Ana diz que nunca participou da
elaboração de um PPP, e relata: “o PPP é uma coisa meio jogada, ele é feito nos
HTPCs” (Ana – EP).
A construção do PPP é de fundamental importância, pois ele é a concretização
da identidade da escola e do oferecimento de garantias para um ensino de qualidade.
(SOUSA; HUNGER; CARAMASCHI, 2014).
O ideal seria que o Projeto Político Pedagógico das Escolas (PPP) oferecesse
um caminho a ser trilhado em relação ao desenvolvimento moral já que cada escola
tem as suas particularidades e sua clientela diferenciada, mas infelizmente ele não é
construído junto aos professores, e geralmente os professores não tem conhecimento
do que está citado no PPP.
O que fica claro é que o PPP da escola, quando bem construído e administrado,
pode ajudar alcançar os seus objetivos de forma decisiva. A sua ausência, por outro
lado, pode significar um descaso com a escola, com os alunos, com a educação em
geral, o que, certamente, refletirá no desenvolvimento da sociedade em que a escola
estiver inserida (SOUSA; HUNGER; CARAMASCHI, 2014).
Todos os valores citados pelos professores são importantes para a formação
do aluno e a intervenção do professor é fundamental para que sejam colocados em
prática. “A educação pode oferecer oportunidades significativa para os educandos,
contribuindo na formação de sujeitos que primem por condutas cooperativas, justas e
respeitosas” (OLIVEIRA; CAMINHA; FREITAS, 2010, p. 269).
71

5.3.2 O professor e o desenvolvimento moral

Todos os professores entrevistados responderam que buscam trabalhar o


desenvolvimento moral dos alunos nas aulas. Quando surgem conflitos durante a
aula, é o momento propício para dialogar e fazer com que os alunos reflitam. A
professora Bruna (EW) considera importante aproveitar esses momentos de reflexão
para que o aluno aprenda a se colocar no lugar do outro, trabalhando a empatia.
De maneira semelhante atua o professor Renan (EP), que busca mostrar ao
aluno o que ele acha certo ou errado na situação que ocorreu o conflito ou problema,
e buscando com que o aluno reflita. Em suas palavras: “sempre falo que não sou o
dono da verdade, eles podem discordar, mas que dentro do que eu penso ser certo,
eu agiria assim, e tento fazê-los refletirem sobre isso” (Renan – EP).
O trabalho do professor está alinhado ao currículo da sua cidade, que tem como
objetivo da área de Educação Física o desenvolvimento da cultura corporal de
movimento, contemplando além do saberes corporais, saberes de ordem conceitual e
um saber ser (constituição das atitudes, valores, hábitos, comportamentos) de forma
integrada, possibilitando a construção do conhecimento junto ao aluno.
Outra maneira citada de trabalhar o desenvolvimento moral é através dos
próprios jogos e brincadeiras na aula, onde os alunos, além do respeito às regras do
jogo e aos colegas, aprendem a trabalhar em equipe. O professor Caio (EP), utiliza os
jogos cooperativos, as rodas de conversa e também atividades que são dadas poucas
orientações ou regras e que durante as atividades os alunos têm o poder de
transformá-la, para adequá-la as necessidades de cada turma ou meio em que se
vive. Ele comenta que na escola em que trabalha tem muitas inclusões e os próprios
alunos fazem as adaptações às regras para que todos possam participar de forma que
uns não tenham vantagens sobre os outros.
O professor Ygor (EW) comenta que tinha dificuldade com uma sala, onde os
alunos não aceitavam perder, quando isso acontecia, não queriam mais participar do
jogo. Desenvolveu um jogo, em forma de circuito, onde eles tinham que se ajudar para
poderem passar, não tinha ganhador ou perdedor, mas todos tinham que se ajudar e
terminar a atividade juntos. Nesse trabalho procurou mostrar que é preciso respeitar
às diferenças, que um pode ser mais forte, o outro mais ágil, mas todos tem que se
ajudar. Notou uma melhora na sala após ter executado várias vezes a atividade. O
trabalho realizado pelo professor com a cooperação nos remete a frase de Freire
72

(2005, p. 58) “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: Os homens se


libertam em conjunto”.
Sobre a preocupação com o desenvolvimento do aluno o professor Ygor (EW)
vê diferença em relação a Escola Pública:

[...] Eu acho que a principal diferença é o olhar para a criança, a gente não
olha só para o conteúdo, o conteúdo é só uma ferramenta [...] (Ygor – EW).

Cita alguns exemplos:

[...] Não importa que ele seja um bom arremessador de cesta de basquete,
importa que ele tenha um bom relacionamento com os colegas [...] (Ygor –
EW).

E continua:

[...] quero que ele saia daqui preparado para ser o que ele quiser da vida, que
ele saiba que tem todas as capacidades, não que tenha um entendimento
profundo de alguma modalidade [...] (Ygor – EW).

A professora Milena (EW) procura sempre incentivar os alunos tímidos a se


enturmarem com os colegas, e a que não tenham medo de tentar, busca encorajá-los
que irão conseguir atingir os objetivos.
Por meio das histórias, o professor Gabriel (EW) procura trabalhar com os
pequenos o desenvolvimento moral. Conforme Cury (2003, p. 134) “contar história é
psicoterapêutico, fisga o pensamento e estimula a análise. Os jovens podem se
esquecer de suas críticas e regras, mas não esquecerão das suas histórias”. Já com
o Ensino Médio é por meio da técnica. Na Pedagogia Waldorf não se trabalha as
técnicas dos esportes quando mais novo, procura-se oferecer a maior quantidade
possível de movimentos e só depois se aperfeiçoar. O professor expõe que o objetivo
é formar seres humanos livres, portanto, se ele não consegue aprender um movimento
de um esporte porque treinou por muito tempo outro, então ele não é livre, isso não é
saudável. Já no ensino médio a técnica é necessária porque para tudo na vida vai
precisar dela, cita como exemplo que até para vender cachorro quente na rua, é
necessário a técnica para fazer bem feito, caso contrário, ninguém compra.
Conforme Lanz (2013), a relação professor-aluno é o cerne da Pedagogia
Waldorf. O íntimo relacionamento entre professor e aluno é considerado um dos
73

princípios básicos no seu currículo. Os professores precisam conhecer profundamente


seus alunos para assim desenvolver seu aprendizado da melhor maneira possível.
Constatamos que a preocupação do professor ao trabalhar questões morais vai
além de melhorar o convívio entre os colegas ou a relação professo-aluno, o professor
busca auxilia-los a ter atitudes positivas também fora da escola e por toda a sua vida.
Como cita Kügelgen:

O mestre não conduz os discípulos aproximando-os de si, mas conduz


distanciando-os, de degrau a degrau, para que encontrem sua perfeita
relação com seu próprio mundo, com o seu próprio destino, com o que lhes é
destinado exclusivamente. Se chegar o momento em que podem prescindir
dessa tutela formando sua própria vida, dirigindo o seu próprio destino,
teremos alcançado a meta do que nos incumbe levar a termo (KÜGELGEN,
1984, p. 83).

O professor sente que cumpriu o seu papel como educador quando o aluno
começa a projetar longe do professor e também fora do ambiente escolar,
comportamentos e atitudes vivenciados e trabalhados em sua presença.

5.3.3 O professor como exemplo

Em relação a importância de ter atitudes que possam servir de exemplo para


os alunos foi unânime a resposta que consideram importante, como cita o professor
Renan (EP), “se queremos que o aluno nos respeite é preciso respeitá-lo também”.
Nunca tenta convencer o aluno a mudar de opinião, cada um tem a sua, mas é preciso
respeitar. Para a professora Bia (EP) ser professor é ser 24 horas professor, porque
mesmo na rua os alunos estão prestando atenção em suas atitudes e é preciso fazer
o correto para dar bons exemplos. A professora Valéria (EP) diz que o que passamos
aos alunos é muito do que aprendemos na nossa casa e vamos transmitindo a eles,
como ensinar a pedir licença, cumprimentar as pessoas, ser gentil. O professor Caio
(EP) lembra que os alunos estão observando o professor o tempo todo, e acabam
reproduzindo as suas atitudes, sejam eles positivas ou negativas.
Para o professor Ygor (EW) os professores assim como os pais são os maiores
exemplos dos alunos, e hoje em dia, como muitas crianças não tem os pais presentes
em casa, o espelho maior acaba sendo o professor, daí a importância de ter atitudes
que possam ser seguidas. A professora Larissa (EW) diz que precisamos ser dignos
74

para sermos um bom espelho para nossos alunos, e não podemos falar uma coisa e
fazer outra porque quando se trabalha com a inverdade, moralmente a gente está
‘perdido’. “Eles sentem as coisas dentro da gente. Trabalhar com a verdade é a base
da moralidade” (Larissa – EW). O professor Gabriel (EW) explica que na Pedagogia
Waldorf é muito importante o professor estar ‘se trabalhando’, procurando ser um ser
humano melhor, porque os alunos sentem isso animicamente, eles se sentem
confortados, sabem que também podem errar. “Todos os valores que eu prego eu
tento aplicar pra mim, porque eu sei que é bom para o ser humano e eu também sou
um ser humano, e estou inserido nessa sociedade, nessa comunidade. E também
porque é exemplo para eles. E tem que ser exemplo, não pode ser diferente” (Gabriel
– EW). Ele conclui dizendo que a Pedagogia Waldorf é um caminho de
desenvolvimento não só para as crianças, mas também para os pais e professores.
Esse exemplo citado pelos professores, segundo Rudolf Lanz, vai além do que
a criança observa nas atitudes dos professores.

A permeabilidade da criança ao que se acha ao redor dela é um fato que todo


educador deveria conhecer e levar em conta. A criança absorve
inconscientemente não só o que existe ao seu redor sob o aspecto físico; o
clima emotivo que a circunda, o caráter e os sentimentos das pessoas que a
rodeiam, tudo isso penetra na criança e é absorvido (LANZ, 2013, p. 41).

Novamente Cury (2003) nos fala sobre a importância dos educadores, que
“apesar das suas dificuldades, são insubstituíveis, porque a gentileza, a solidariedade,
a tolerância, a inclusão, os sentimentos altruístas, enfim, todas as áreas da
sensibilidade não podem ser ensinadas por máquinas, e sim por seres humanos”
(CURY, 2003, p. 65).
Em relação a importância de o professor conhecer outros métodos que
trabalhem o desenvolvimento moral dos alunos, o professor Renan (EP) se utiliza da
bíblia para trabalhar questões morais. Ele procura passar para os alunos os mesmos
valores que gosta de transmitir aos filhos. A professora Bia (EP) acha muito importante
estar sempre se atualizando e buscando melhorar o trabalho com os alunos, citou
uma palestra que ouviu recentemente sobre Metodologias Ativas e também a
Pedagogia Waldorf que sabe um pouco a respeito. As Metodologias Ativas buscam
incentivar os estudantes a aprender de maneira autônoma e participativa, para que
eles se sintam responsáveis pela construção do conhecimento, na prática se utilizam
de alguns métodos, como a sala de aula invertida (onde o aluno estuda o conteúdo
75

em casa e depois discute com os professores e colegas), gamificação (uma espécie


de competição onde o aluno é estimulado a aprender e ganha um prêmio),
aprendizagem baseada em problemas e aprendizagem baseada em projetos.
A professora Ana (EP) diz gostar muito da Pedagogia Dialógica e das ideias de
Paulo Freire, que é o diálogo na construção da sociedade, na relação entre as
pessoas. Que o diálogo é capaz de construir coisas muito positivas, de trazer a
comunidade para dentro escola, de trazer os alunos pra dentro da escola e juntos
construir uma realidade escolar positiva, e influenciar também no que está sendo
trabalhado. Ela utiliza muito o diálogo nas aulas, considera que precisa estudar mais,
mas a respeito de valores e respeito é o que ela mais vê resultado. Segundo Araujo
(2007), nas práticas dialógicas há muitas vezes um conflito, pois pode-se discordar da
opinião de outrem, contudo não há a necessidade de vencedor e perdedor, há o
respeito e a consideração das diferenças.
Já a professora Valéria (EP) está ouvindo falar agora da questão
socioemocional e gostaria de conhecer mais cursos, livros e autores que tratem da
questão de Valores Morais porque acredita que nos dias de hoje é necessário
trabalhar essas questões para poder ensinar os conteúdos das aulas. A inteligência
emocional pode ser definida com um conjunto de habilidades socioemocionais que
podem ser divididas em: emocionais (como lidar com as próprias emoções) sociais
(como se relacionar com o mundo externo) e éticas (como agir para o bem comum).
Para o professor Caio (EP), além de seguir o referencial do governo Federal e
das metodologias aplicadas pela Prefeitura, sempre inclui algo novo, diferente, que
acaba estudando e aprendendo. Por exemplo, não entrega uma atividade com as
regras, deixa que eles construam regras a partir do que eles conhecem do esporte e
algumas vezes montando algum esporte diferente de tudo, alguma brincadeira que
eles inventem e coloquem as suas regras. Também ensina bastante o agir, não impor
que eles participem ou que sejam ativos, mas sim um despertar para uma atividade,
do conhecimento do corpo, do trabalho do corpo dele como físico mesmo, como
“máquina” como instrumento de vida dele, de ele enxergar o corpo mais nesse sentido.
Quando o professor se utiliza da palavra “máquina” deixa a impressão que está
caminhando no sentido oposto ao trabalho que vem realizando com os alunos, como
já relatou anteriormente, buscando trabalhar disciplina, valores morais, autoestima,
autonomia, etc... Entendemos que está se referindo ao funcionamento do corpo
76

humano e a importância do aluno se conhecer melhor e usar esse conhecimento ao


longo de sua vida, e não que ele esteja apenas preocupado com a questão fisiológica.
A professora Milena (EW) já assistiu algumas palestras sobre desenvolvimento
moral, disse que acharia muito interessante se tivessem palestras que apresentassem
a Pedagogia Waldorf para a sociedade, mostrando as diferenças e semelhanças,
porque ainda é muito desconhecida e sofre preconceitos. Muitas pessoas que não
conhecem a Pedagogia acreditam que o currículo teria menos conteúdos, ou que a
escola seria mais “livre”, sem regras. Acredita que na Escola Pública os pais tinham
que ser mais participativos. O professor Ygor (EW) já trabalhou como educador social
em projetos sociais e lá conheceu outros métodos diferenciados onde se alinhava arte
e cultura.
A professora Larissa (EW) diz que vê muitos professores da Escola Tradicional
procurarem cursos da Pedagogia Waldorf, segundo a professora são oferecidos
muitos cursos. A professora Bruna (EW) relata que são poucos os métodos de ensino
que trazem a formação moral como objetivo aplicado na prática. Ela diz: “Eles são
aplicados mais como um ensino ‘cartilhesco’ do que como ensino vivencial” (Bruna –
EW).
Tanto os professores das Escolas Públicas como os das Escolas Waldorf
buscam utilizar os conhecimentos que adquirem em cursos, palestras e novas
metodologias em suas aulas, almejando proporcionar uma aula diferenciada e uma
relação professor-aluno mais eficaz. Essa vontade de se aperfeiçoar, de querer
aprender mais, auxilia tanto o aluno, com uma melhor qualidade na aula, mas também
o professor, que se sente mais confiante e preparado. Como explica Barbosa (2002
p. 63) “se o (a) professor (a) não tiver voz, não tiver desejo de aprender, desejo de se
revisitar, não tiver coragem de ousar, essa transformação não acontecerá, pois é ela
(a) a figura capaz de colocar o discurso em prática”.
Para Freire (1996) o preparo científico do professor ou da professora deve
coincidir com sua retidão ética. É preciso coragem para ser professor, e Ele se tornará
inesquecível quando seus alunos fizerem à diferença, quando ele começar a colher
os frutos de um trabalho bem feito, de educação bem fundamentada em conceitos
científicos e morais que não foram apenas repassados de maneira não objetiva, mas
sim em uma prática docente responsável e que teve a preocupação de experimentar
aquilo que se propôs a ensinar. O professor é responsável também pela formação da
vida social.
77

Nesse sentido La Taille (1996) reafirma a importância da formação do


professor.

De fato, como homens heterônomos podem educar crianças que deverão se


tornar autônomas? Como educadores encravados em seu cotidiano podem
levar as crianças a vislumbrar um mundo diferente? Formar homens iguais
àqueles que já existem é mais fácil que formar homens diferentes, de certa
forma ‘superiores’ (LA TAILLE, 1996, p. 156).

Dessa forma, constatamos que os professores estão buscando realizar suas


aulas para transmitir mais do que os conteúdos específicos da disciplina Educação
Física, estão preocupados em formar seres humanos com Valores, como respeito,
cooperação, empatia, esforço, resiliência, honestidade e outros acima citados e
prepara-los para uma boa convivência em sociedade, mas além do apoio
imprescindível da família é preciso mais informações aos professores à respeito de
temas que tratem do assunto.
De acordo com Rossi e Hunger (2012) a formação continuada contribui para a
modificação da profissionalização do professor e desenvolve domínios necessários à
sua qualificação, como também atua no exame de possíveis soluções para os
problemas reais do ensino. Porém, de acordo com a pesquisa realizada pelas autoras
nota-se que no cenário atual da formação contínua as práticas não têm contribuído
efetivamente para a transformação das aulas e para o desenvolvimento profissional
dos professores. Um dos motivos seria a realização de cursos de atualização de
conteúdos, eventos e palestras que pouco contribuem para a prática docente, como
citaram os professores entrevistados.

5.4 A avaliação dos valores morais

A quarta e última categoria refere-se a análise da pergunta número 11, onde os


professores de Educação Física entrevistados foram questionados se eles avaliam os
alunos em relação a comportamentos e atitudes e de que maneira.
A maneira como professores de Escolas Públicas e de Escolas Waldorf
apresentam diferenças bastante significativas, portanto, optamos por descrevê-las
separadamente nesta categoria.
78

Dos seis professores de Educação Física entrevistados que atuam em Escolas


da Rede Pública quatro recorrem aos comportamentos e atitudes para avaliarem os
alunos e os utilizam para atribuir um conceito ou nota. Como podemos observar no
relato dos professores:

[...] dou nota pelo comportamento e participação, mais pelo comportamento


[...] (Alisson – EP).

[...] vejo se ele convive bem com os outros [...] (Renan – EP).

[...] eu lembro se esse aluno tem uma boa atitude, se ele respeita os amigos,
cumpre as regras do jogo, da atividade, da aula [...] (Ana – EP).

[...] a questão do comportamento e atitude é um dos parâmetros para eu


avaliar [...] (Bia – EP).

Os professores Renan e Ana consideram que seria interessante ter uma


planilha, um método ou algo mais institucionalizado para avaliar os alunos, mas até
então realizam a avaliação pela observação.
A professora Bia (EP) além da observação pede para seus alunos se
autoavaliarem, assim como a professora Valéria (EP). Segundo Darido e Rangel
(2005) é importe a autoavaliação pois o aluno poderá avaliar-se no início e término
sobre o conhecimento adquirido e através disto ele poderá fazer uma análise de si
mesmo.
A professora Valéria (EP) se utiliza das dimensões conceitual, procedimental e
atitudinal, mas cita a BNCC que expõe outras dimensões para avaliação. Ela avalia
seus alunos durante a participação nas aulas, nas rodas de conversa, através de
trabalhos, pesquisas, e autoavaliação, mas embora ela observe se os alunos tiveram
uma melhora nos comportamentos e em suas atitudes ela não utiliza para atribuir uma
nota. Como ela nos explica: “se a gente conseguir trabalhar esses valores a aula em
si cada vez mais vai melhorando e a gente vai conseguir trabalhar melhor os
conteúdos” (Valéria – EP). Busca dar mais ênfase na dimensão conceitual.
A conduta da professora está alinhada a ao que diz Darido e Rangel (2005, p.
28):
A avaliação deve abranger as dimensões cognitiva (competências e
conhecimentos), motora (habilidades motoras e capacidades físicas) e
atitudinal (valores), verificando a capacidade de o aluno expressar sua
sistematização dos conhecimentos relativos à cultura corporal em diferentes
linguagens – corporal, escrita e falada. Embora essas três dimensões
apareçam integradas no processo de aprendizagem, nos momentos de
formalização a avaliação pode enfatizar uma ou outra delas.
79

Esse modelo de avaliação também está presente nos PCNs como observamos
a seguir: É importante durante o processo avaliativo a utilização de instrumentos que
estejam ligados aos aspectos dos conteúdos, os quais estão em conjunto de acordo
com as três dimensões dos conteúdos: dimensão conceitual, dimensão procedimental
e dimensão atitudinal. Sendo que a dimensão conceitual se refere a fatos, conceitos
e princípios, a dimensão procedimental ligada ao fazer e a dimensão atitudinal refere-
se a valores, normas e atitudes (BRASIL, 1997).
Em relação a BNCC, o documento afirma que a avaliação tem o objetivo de
fazer uma análise global e integral do estudante, mas não explica de qual maneira. O
próprio documento institui-se como referência nacional para a elaboração de
currículos dos sistemas de ensino e das propostas pedagógicas das escolas (BRASIL,
2017). Portanto cabe as secretarias e escolas criarem seus critérios de avaliação.
O Currículo Paulista, no Ensino Fundamental, cita que a avaliação pode ser
realizada a partir da utilização de outras estratégias, como por exemplo, a observação
direta, os exercícios, as provas, a realização de pesquisas, entre tantas outras. A
avaliação deve, de fato, acompanhar, de forma processual, a aprendizagem do
estudante e possibilitar a reflexão sobre as práticas planejadas pelos professores.
O professor Caio (EP) sempre avalia junto com os alunos se a classe está tendo
uma boa conduta e se está cumprindo os combinados, mas também não atribui uma
nota ou conceito baseado nos comportamentos dos alunos.
Os professores que participaram da pesquisa relatam uma dificuldade em
avaliar os alunos, principalmente pela complexidade das aulas, onde não
conseguimos medir o conhecimento do aluno apenas por provas e exames como a
maioria das disciplinas. Neste sentido Mattos e Neira (2000, p. 24) expõe: “o processo
de avaliação em Educação Física é algo complexo e fundamental para a eficiência do
ensino. O professor deve encarar os momentos avaliativos como aquisição de dados
para a modificação e melhoria do trabalho pedagógico”.
Os professores das Escolas Waldorf explicaram que eles têm um boletim onde
escrevem como o aluno está se desenvolvendo na parte motora, comportamental e
se participam das aulas. Cada escola tem autonomia para criar o seu próprio boletim,
que é entregue aos pais na reunião de pais, onde participa o professor da sala e
também os professores de áreas: Educação Física, euritimia, artes, inglês, francês e
religião. Existe uma nota de 0 a 10, mas isso só existe pela formalidade, para ser
entregue a secretaria junto com a frequência do aluno, porque quando ele sai da
80

escola precisa levar o histórico. Conforme observa Lanz (2013) as escolas Waldorf
não se baseiam em provas, testes, sabatinas e exames em que a matéria já seja
preparada de forma a servir facilmente para fins estatísticos. Geralmente os pais
recebem um boletim anual ou semestral, como avaliação do processo escolar do
aluno, nos quais está registrada “a ‘biografia’ escolar do aluno durante o ano, havendo,
em seguida, breves caracterizações do resultado, do comportamento e do esforço,
por todos os professores que deram aulas na classe em questão” (LANZ, 2013, p.
103).
O professor Ygor (EW) utiliza os critérios da participação e desempenho para
chegar a uma média, mas esclarece que para os pais o que importa é o boletim
descritivo. Assim como relatam os professores Danilo (EW) e Larissa (EW). O
professor Gabriel (EW) completa dizendo que até o oitavo ano essa questão da
avaliação e nota é conversado com os pais e que procura falar mais com os alunos
sobre isso no ensino médio. Sobre a atribuição de notas ele diz: “Me importa muito
mais eu dizer para os alunos e famílias o que aconteceu, quem é o aluno, o que ele
tem feito, do que eu colocar uma nota fria, morta, que não diz nada” (Gabriel – EW).
Ele utiliza como critério também o envolvimento, que conta a pontualidade, a sua
disposição pra estar em aula, o esforço, ou pode falar apenas do esforço. Avalia o
conteúdo prático, se realizou a atividade com técnica. E também o social, se ajuda o
outro, se é proativo, se briga por qualquer coisa. E completa: “É uma avaliação livre,
mas pra gente é muito consciente, o que a gente quer que eles tenham como retorno,
porque vai ser bom para toda a vida dele” (Gabriel – EW).
Sobre a avaliação na Pedagogia Waldorf também é levado em conta o quanto
o aluno se esforçou para alcançar algum resultado, seu comportamento e o espírito
social. Sem dar uma nota, o professor descreve seu aluno, buscando valorizar o que
há de bom e criticando somente o que o aluno ainda teria melhor capacidade de
produzir (LANZ, 2013).
Novamente Lanz (2013) esclarece sobre a avaliação, ela busca ser a mais
abrangente possível e que leve em consideração as diferentes individualidades do
grupo,

[...] julgam todos os fatores que permitem avaliar a personalidade do aluno,


quais sejam: o trabalho escrito, a aplicação, a forma, a fantasia, a riqueza de
pensamentos, a estrutura lógica, o estilo, a ortografia e, além disso,
obviamente os conhecimentos reais (LANZ, 2013, p.103).
81

Segundo Libâneo (1994), a avaliação não deve significar simplesmente a


realização de provas e atribuição de notas aos alunos. Ainda preconiza três funções
da avaliação que são: pedagógico-didática (que tem o papel de cumprir os objetivos
gerais e específicos da educação física), de diagnóstico (permite identificar os
progressos e dificuldades do aluno e atuações do professor) e de controle (que se
refere aos meios para qualificar os resultados escolares) que fazem parte da utilização
de instrumentos avaliadores do rendimento escolar.
Desta forma, constatamos que professores das Escolas Públicas gostariam de
um suporte maior em relação a como avaliar, mas, mesmo com dificuldades procuram
observar os alunos tanto na dimensão conceitual, quanto na procedimental e também
na atitudinal, embora alguns deles não utilizem tais conhecimentos para mensurar
uma nota final. Os professores das Escolas Waldorf avaliam observando todas as
atitudes dos alunos durante as aulas e transcrevem para um boletim descritivo, que
embora possam sofrer modificações em alguns pontos de acordo com determinada
escola ou professor, seguem uma mesma linha, o que facilita e passa uma maior
segurança ao professor.
As quatro categorias apresentadas nos levam a reflexão de que as dificuldades
citadas pelos professores, embora cada um trabalhe em realidades diferentes, se
parecem e aproximam os professores na busca por uma educação de melhor
qualidade. O papel da escola é essencial, através de um trabalho intencional dos
professores, contribuindo na formação moral, apoiado pela família e sociedade,
respeitando o aluno, em seus sentimentos e emoções.
82

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Averiguar como a Educação Física pode contribuir no desenvolvimento moral


dos alunos e qual a influência do professor nas possíveis mudanças comportamentais
era o que nos intrigava ao iniciar essa pesquisa. Diante da atual realidade escolar, em
que os conflitos entre alunos é cada vez mais frequente, surgiu a necessidade de
investigar, junto aos professores, como o trabalho com valores morais estava sendo
realizado.
Buscando fazer uma análise entre métodos de ensino diferenciados,
realizamos a pesquisa em Escolas Públicas de Ensino Fundamental I e também em
Escolas que seguem a Pedagogia Waldorf em duas cidades do interior paulista que
contavam com escolas para essa etapa do ensino.
Do objetivo geral da pesquisa: Analisar a formação moral do aluno no âmbito
da Educação Física Escolar, na Rede Pública Municipal de duas cidades do interior
do Estado de São Paulo e das Escolas Waldorf, conforme a percepção dos
professores de Educação Física, verificamos que os professores entrevistados
buscam trabalhar a formação moral dos alunos durante as aulas de Educação Física,
mas alguns fatores contribuem para que haja um melhor resultado no trabalho com os
valores morais, como: o vínculo do professor a mesma escola, para uma continuidade
em um trabalho que apresenta resultados à longo prazo; a participação de toda a
equipe escolar e o apoio entre os componentes curriculares e a participação da
família.
Analisamos que os professores da Escola Pública, em sua maioria,
desconhecem o Projeto Político Pedagógico da sua escola, orientam-se pelo currículo
do município ou pela BNCC, e agora este ano, pelo Currículo Paulista. Nas Escolas
Waldorf não existe um Projeto Político Pedagógico, existe as recomendações da
Pedagogia Waldorf e uma liberdade para que se possa fazer as adequações conforme
a realidade da escola.
A família é a base da formação moral, mas a escola tem um papel relevante,
quanto mais próxima da escola a família está e maior a harmonia entre ambas, melhor
é o comportamento e o comprometimento do aluno. O professor consciente do seu
papel de educador e formador busca formas diferenciadas de trabalho e aproveita os
conflitos ocorridos durante as aulas para que os alunos reflitam suas atitudes e
comportamentos.
83

Nesse sentido, os professores citaram os jogos cooperativos e as atividades


com poucas regras, nas quais os próprios alunos fazem as adaptações necessárias
para que todos possam participar com igualdade, incluindo as pessoas com
necessidades especiais, foram consideradas de grande ajuda. Os professores das
Escolas Waldorf citaram também as histórias pedagógicas que faz com que os alunos
reflitam os problemas ocorridos durante as aulas, e depois podem ser transformados
em jogos, o trabalho com a música e a ginástica Bothmer.
Consideramos que a educação de valores é uma necessidade da atual
sociedade que ao longo dos anos vem perdendo seus referenciais de valor, seus
costumes e conceitos morais, e a escola, principalmente as aulas de Educação Física
são um ambiente propício, por intermédio de uma intervenção consciente e pontual
dos professores, buscando promover uma educação que supere a preocupação
apenas com o físico e cognitivo, mas que busque o desenvolvimento emocional e
afetivo, respeitando os sentimentos e emoções, auxiliando na construção da
autonomia e almejando um processo de aprendizagem significativo e integral.
Especificamente em relação a minha prática pedagógica, aprofundar o estudo
em relação a construção dos valores e conhecer outras práticas de professores e
escolas diferentes enriqueceu meu conhecimento e fez com que novas práticas
fossem inseridas no cotidiano da minha escola. Os estudos para realizar a pesquisa
me proporcionaram um crescimento profissional e pessoal, e consequentemente um
desejo de conhecer novas práticas de ensino que possam contribuir para a formação
de nossas crianças dentro e fora do ambiente escolar.
Portanto, estes novos estudos e conhecimentos contribuem de forma relevante
para a Educação, pois ampliam horizontes acerca das práticas pedagógicas, e,
consequentemente, inovam as metodologias de ensino, estimulando as escolas e os
professores para que desempenhem um papel na formação de seres humanos
integrais.
Finalizamos essa pesquisa desenvolvida junto ao Programa de Mestrado
Profissional em Educação Física em Rede Nacional – PROEF, com a expectativa de
contribuir para a formação continuada dos professores ampliando o conhecimento
sobre a questão de valores e incentivando novas pesquisas sobre o desenvolvimento
moral e afetivo, dessa forma, melhorando a qualidade da educação.
84

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90

ANEXOS

ANEXO A – Parecer Consubstanciado do CEP – Versão 2


91
92

ANEXO B – Parecer Consubstanciado do CEP – Versão 1


93
94
95

APÊNDICES

APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos Professores


Resolução n.º 466/12 – Conselho Nacional de Saúde

Você está sendo convidado (a) como voluntário (a) a participar da pesquisa:
EDUCAÇÃO FÍSICA E A PEDAGOGIA WALDORF: ANÁLISE DO ENSINO E
APRENDIZAGEM DE VALORES MORAIS. Sua participação consiste em se deixar
entrevistar, e gravar o áudio da entrevista sobre sua prática profissional. Em nenhum
momento você será identificado (a). Os resultados da pesquisa serão publicados e
ainda assim a sua identidade será preservada. Você não terá nenhum gasto ou ganho
financeiro por participar da pesquisa e sua participação não apresenta desconfortos e
riscos. O motivo que nos leva a realizar tal pesquisa parte do seguinte problema:
Analisar a educação do corpo, especificamente, no que diz respeito à formação moral
do aluno, no âmbito da Educação Física Escolar (Rede Pública Municipal) e da
Pedagogia Waldorf, conforme a percepção de professores de Educação Física.
Questiono: De que modo a Educação Física Escolar contribui na formação moral dos
alunos (respeito, generosidade, tolerância)? Quais os desafios? Constatam-se
mudanças comportamentais? A pesquisa tem por objetivos: a) Constatar os desafios
e/ou enfrentamentos na formação moral dos alunos b) Evidenciar como se processa
a formação moral dos alunos nas aulas de Educação Física Escolar (Rede Pública
Municipal – SP) e em Escolas Waldorf; c) Analisar possíveis mudanças de
comportamento na percepção dos Professores de Educação Física das referidas
Escolas. Como resultado da pesquisa, será feito um vídeo contendo vivências de
atividades voltadas a formação moral e entrevistas.
Você será esclarecido (a) sobre a pesquisa em qualquer aspecto que desejar.
Você é livre para recusar-se a participar, retirar seu consentimento ou interromper sua
participação a qualquer momento. A participação é voluntária e a recusa em participar
não acarretará qualquer penalidade ou perda de benefícios. O pesquisador tratará a
sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Você não será identificado (a) em
nenhuma publicação que possa resultar deste estudo.
Deste modo, tendo total conhecimento do exposto neste termo, eu (Nome
completo), __________________________________________ me comprometo a
participar como voluntário (a) da referida investigação de autoria e execução da Prof.ª
96

Mestranda Ana Keila Zanin de Oliveira, sob a orientação da Profa. Dra Dagmar
Aparecida Cynthia França Hunger, junto ao Programa de Mestrado Profissional em
Educação Física em Rede Nacional - PROEF – UNESP Bauru. Concordo que os
resultados da referida pesquisa sejam divulgados, uma vez que a identidade dos
envolvidos será preservada. Os dados da investigação ficarão guardados em local
seguro como forma de garantir o que é firmado no termo em questão.
Qualquer problema entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa,
Faculdade de Ciências, UNESP-Bauru; Coordenador: Prof. Dr. Mário Lázaro
Camargo; Fone: (14) 3103-9400; E-mail: cepesquisa@fc.unesp.br, Av. Eng. Luiz
Edmundo Carrijo Coube, 14-01; Bairro: Vargem Limpa; 17033-360-Bauru-SP;
Telefone: (14) 3103-6000; Fax: (14) 3103-6000.

__________________________________
Assinatura do participante da pesquisa

Bauru,___ de _________________de 20___.

Prof.ª Ana Keila Zanin de Oliveira


e-mail: keka.za@hotmail.com
Tel: (14) 99890-5059
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APÊNDICE B – Roteiro da Entrevista aos professores de Educação Física.

Dados
Nome:
Idade:
Formação profissional
Local de Formação e curso:
Ano em que se formou:
Pós-graduação:
Tempo de atuação na escola:

1) O que você entende por formação moral?


2) Qual o papel da família na formação moral?
3) Durante as aulas, com que frequência, você nota dificuldades de relacionamento
entre os alunos, como: falta de respeito, agressão física ou verbal, intolerância,
preconceitos e outras?
4) Quais os principais valores morais que você acredita que devam ser trabalhados
na escola? E por quê?
5) Você busca trabalhar o desenvolvimento moral de seus alunos durante as aulas?
Como?
6) Nas suas aulas existem regras para uma convivência harmônica em grupo? Quais
são?
7) O que acontece quando essas regras não são cumpridas?
8) Você considera importante ter atitudes respeitosas que possam servir de exemplo
para seus alunos? Se sim, cite algumas dessas atitudes.
9) Você já notou alguma mudança de comportamento dos alunos após intervenções
ocorridas nas aulas? Pode citar exemplos?
10) Você acha relevante conhecer outros métodos e pedagogias diferenciadas que
buscam a formação moral dos alunos? Se sim, quais e como são aplicados?
11) Você avalia seus alunos em relação a comportamentos e atitudes? De que
maneira?
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APÊNDICE C – Transcrição das Entrevistas

Roteiro da Entrevista aos professores de Educação Física.

Dados
Nome:
Idade:
Formação profissional
Local de Formação e curso:
Ano em que se formou:
Pós-graduação:
Tempo de atuação na escola:

Pesquisadora: O que você entende por formação moral? (Pergunta 1 do roteiro).


Renan: Formação é o que acha certo ou errado, o que você acredita que está fazendo
certo. E a moral ela tem muita influência da família e da sociedade em que vive. Então
ela é fortemente influenciada pela sociedade. Eu acredito que estamos tendo
problemas nesta área, infelizmente, a molecada está sendo influenciada pelo celular,
e os pais não estão se atentando a isso, e aí estão tendo muitos problemas.
Bia: Formação moral é trabalhar no indivíduo aquilo relacionado ao comportamento,
a valores, que ele vai ter que aprender no dia a dia dele e vai levar para a vida inteira,
como se fosse para formar o caráter dele.
Ana: Eu acredito que é a formação de valores de convivência, de respeito. Então, é a
formação moral que vai definir a pessoa, o ser humano em relação à convivência em
sociedade. Imagino que é isso.
Valéria: Formação moral é a educação que a gente traz de casa, é ética moral, dos
pais, dos avós, do respeito ao próximo, essa educação que a gente constrói e é
formada em casa mesmo, e que depois vai se estender para outros lugares que a
gente vai conviver com outras pessoas e outras educações, tanto a formal como a
informal.
Alisson: Formação Moral eu acredito que seja algo que vem de dentro da pessoa,
isso é aprendido em casa, então tem criança que recebe essa formação moral em
casa, mas às vezes fora, ela falta, por conta da convivência com outras pessoas, então
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ela tem a tendência a não ter essa formação moral. E a escola tem um papel
importantíssimo nessa formação, mesmo sabendo que a família é o principal veiculo
de formar essa moralidade no ser humano, mas muitas vezes estão faltando com a
moral nesse tempo que a gente vive.
Caio: Ajudar a formar seu aluno a formação de valores e julgamento de certo e errado,
noções de alguns valores como: liberdade, autonomia, bem, mal, dever, justiça,
igualdade. Desenvolver noções também do que é proibido e permitido dentro do meio
que ele vive, da sociedade em que vive. Tem duas perguntinhas que eu sempre coloco
pra eles: Que vida eu quero viver? Se eu quero viver com tranquilidade, dormindo,
pondo a cabeça no travesseiro e dormindo de boa, ou se eu quero algum outro tipo
de vida pra mim... E a segunda é: Como eu devo agir pra ter essa vida que eu quero
viver?
Milena: Lá na escola é muito regrado, e eles acompanham cada aluno na sua
formação. Na Waldorf é preciso ver como está a formação do aluno até pra ver se ele
está preparado para passar de série, se está pronto pra ir para o segundo ano. Por
exemplo, para passar para o 1.º ano a professora vê se ele está desenvolvendo bem
a coordenação motora fina, a coordenação, eles têm um trabalhinho a fazer, como
preparar o lanche para os demais e outras coisas. A professora sempre sabe se ele
já está preparado ou não para mudar de ano escolar, porque ele sempre que nível ele
está.
Ygor: Tem a ver com os valores, que a gente traz, a diferença entre o que é bom ou
ruim, acredito que seja isso.
Darlan: Formação moral acontece desde o primeiro ano, e a Ginástica Bothmer
trabalha essa formação moral. A gente não se preocupa muito em falar, porque na
Ginástica Bothmer isso já é trabalhado, em doses homeopáticas. Isso é trabalhado
todos os dias, 5 minutos antes ou depois da aula, sempre trabalhando nesse sentido.
Tem até um exercício de volta a calma que a gente trabalha com o silencio completo,
isso é trabalhado diariamente.
Larissa: Isso é um conjunto: casa, escola, a professora de sala que também trabalha
moralidade lá também, sem precisar falar que está trabalhando isso, apenas com as
histórias. E nós da Educação Física a mesma coisa. Pra mim educação moral também
é quando teve algum problema na aula e você não perdeu a cabeça com aquilo e
consegue reverter aquilo através de uma história que a gente chama de histórias
pedagógicas. Por exemplo, pra trabalhar um caso de roubo no jogo, aquela criança
100

que não aceita que foi pego, usa da mentira. Como trabalhar isso? É moral e temos
que trabalhar isso. Através da história pedagógica, mas é você que cria, que inventa
uma história. Por exemplo, posso contar tipo a história do Chico Bento que sempre
inventava que a onça vinha vindo e quando foi verdade ninguém acreditou. Você
inventa uma história que possa ajudar aquela criança.
Pesquisadora: E você para a aula, para a atividade para falar sobre isso?
Larissa: Não, quando acontece algo, eu peço pra criança se acalmar, ir tomar uma
água, refrescar a cabeça e voltar depois quando estiver calmo. E eu mais tarde, ou
talvez até em outra aula eu vá contar a história pedagógica, sem ficar falando pra
quem é.
Darlan: E de repente essa história vai servir pra ele e também pra outras crianças que
tem esse hábito.
Larissa: E você pode ainda transformar isso em um jogo: Como o jogo do lobo e o
coelho, que tem toda uma história moral por detrás. Por isso que eu falo que é um
conjunto de fatores que vamos trabalhando a moralidade.
Darlan: Na escola Waldorf tem o professor tutor, a partir do nono ano, que acompanha
a sala por 4 anos, ele tem uma aula na sala por semana, mas ele é o responsável pela
sala, pela reunião de pais, pela conversa com os alunos, os alunos não se sentem
órfãos, eles sabem que tem esse professor tutor que os acompanha. Porque na
Waldorf o professor de sala acompanha a turma desde o primeiro ano até o oitavo
ano. O nono ano pertence ao fundamental, mas já é um preparo para o ensino médio,
então já tem horários diferenciados, como no ensino médio.
Pesquisadora: O que você entende por formação moral? (Pergunta 1 do roteiro).
Gabriel: A própria palavra moral é um pouco perigosa, porque às vezes acaba ficando
até pejorativo hoje em dia. Mas eu entendo a palavra por algo positivo. São uma serie
de qualidades que trazemos de casa, na relação com os irmãos, por exemplo,
aprendemos as trocas, o respeito, como falar, como agir e reagir. Eu acho que tudo
isso é um pouco formação moral. Hoje em dia a escola está adotando um pouco esse
papel, e as famílias estão fazendo cada vez menos isso, nem sei nem porque, mas
eu imagino que os pais ficam fora e vem sem paciência, e as crianças acabam ficando
com outras pessoas que também não querem ensinar, talvez porque não sejam filhos
deles, talvez isso. E os próprios eletrônicos estão roubando muito nossa convivência.
E a gente sempre falava que educação vem de casa, e agora acaba indo para a
escola. Eu acho que pode ser também, não precisa ser só da família. E na escola
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aparecem muito essas trocas e na aula de Educação Física aparece demais, o tempo
inteiro. Política também há trocas e regras de convivência. Se vocês furam uma fila,
por exemplo, você já está quebrando uma regra, é política também.
Eu acho que formação moral são todas as regras que a gente precisa para conviver.
Bruna: Educar a criança trabalhando todo o seu emocional, de maneira global.
Ensinando costumes, regras sociais de boa convivência, de acordo com a idade
diferenciar situações boas e danosas para o todo.

Pesquisadora: Qual o papel da família na formação moral? (Pergunta 2 do roteiro).


Renan: Acho que a família que tem que decidir, eu não acredito que é a escola que
tem que limitar isso, quem tem que decidir é a família. Eu como pai eu quero ensinar
a moral e a ética para os meus filhos, o que eu julgo ser certo. E acho que nenhum
professor tem o direito de interferir, ele pode até mostrar outras coisas, mas eu creio
que é uma decisão da família. E eu jamais vou fazer isso com algum aluno meu. Se o
pai acha que determinada coisa está certo, eu vou respeitar.
Bia: Eu acredito que a família tem uma porcentagem muito grande nessa formação
moral. A família que inicia isso, é a base. Juntamente com a escola, formam uma
parceria. Mas a família tem um papel primordial.
Ana: Eu acredito que é a base de formação da criança. Esses valores morais vêm
primeiro de casa e são reafirmados na escola. Então é necessário que a família tenha
presença na construção desses valores.
Valéria: Vendo como professora, vejo que é importantíssimo, porque eu vejo nas
minhas aulas que as crianças carecem muito dessa educação, dessa formação.
Porque chega nas aulas a gente perde mais tempo conversando sobre o respeito,
sobre a educação, e toda essa formação que deveria começar lá na família e aí acaba
vindo tudo aqui pra escola. E além dos conteúdos que a gente tem que trabalhar,
temos também que pensar na questão dos valores e trabalhar junto com os conteúdos
nas aulas. Muitos chegam sem base e às vezes a gente tenta com as famílias, para
resgatar isso, conversar com os pais, e com algumas famílias a gente não consegue
conversar, para ter essa troca. Com algumas famílias a gente não consegue, aí não
consegue trazer a comunidade aqui pra escola e trabalhar um pouco isso, que é
importante ter essa formação.
102

Alisson: O papel da família é desde criança já formar o que é certo e o que é errado,
não devemos pegar o que é do outro, por exemplo, a violência, eu acho que é o papel
da família, primeiramente, porque o primeiro contato do ser humano é com os seus
pais, e a escola tem uma papel secundário, mas que hoje em dia está sendo passado
como primário, os pais largam então esse papel fica dobrado pra gente.
Caio: Acredito que seja na família o primeiro contato que a criança tem com as noções
de moral e de ética. O próprio meio familiar dá os primeiros estímulos em direção a
essa formação por meio das condutas que as crianças observam nas atitudes dos
pais.
Milena: O principal papel da família é a participação, incentivar muito os filhos, para
que cresçam e se desenvolvam. Pai e mãe são o fundamental.
Ygor: É ali que tudo começa, o fundamental é a família.
Darlan e Larissa: Total. Percebemos muitos alunos que apresentam problema na
escola e sabemos que vem da casa, é o reflexo.
Darlan: Isso aconteceu até com o meu filho, que a professora percebeu uma mudança
de comportamento nele e veio me perguntar se tinha algum problema, e realmente
tinha algo diferente, estávamos com reforma em casa e isso muda o comportamento
também da criança.
Aqui as famílias participam tanto da escola, que automaticamente as crianças vão
percebendo pelas atitudes o que é certo e não é, sem precisar ficar o tempo inteiro
falando: Olha meu filho, isso é moral e tal...
Larissa: Ás vezes recebemos alunos de fora, de famílias bem desestruturadas
também. Como um caso de um garoto que estava dando bastante problema, que
chegou de outra cidade, e ele fala: olha professora, minha família não é uma família
normal, minha mãe é bem diferente, ela não vê valor em nada do que é falado aqui...
Aí a gente se vê em uma situação difícil, porque também não podemos falar que a
família dele está agindo errado. É duro pra ele com 16 anos começar a agir dentro
das normas que ele não aprendeu a respeitar desde os 8, 9.
Por exemplo, aqui ninguém usa o celular, e ele fica escondido mexendo no celular
dentro da classe. Já levou advertência, porque é uma norma que todos cumprem. O
papel da família é fundamental, e andando junto com a escola. Porque se o professor
diz que é errado e a mãe diz que pode fazer fica difícil. Ou quando a mãe diz que se
alguém bater na criança é para ela revidar também. Que moral tem nisso? Eu já
103

escutei aqui esse tipo de coisa. Não é porque estuda aqui na Waldorf que sempre a
família segue, temos problemas também.
Pesquisadora: Vocês têm problemas com drogas aqui?
Larissa: Já tivemos sim. O universo do fundamental e infantil é uma coisa, quando
vem o Ensino Médio é outra coisa.
Darlan: Eu acho que a questão de drogas todas as escolas têm que trabalhar.
Estamos em uma fase boa na escola que não estamos tendo esses problemas.
Geralmente quando o ensino médio é de alunos que sempre estudaram aqui esse
problema é bem mais difícil de acontecer.
Pesquisadora: Qual o papel da família na formação moral? (Pergunta 2 do roteiro).
Gabriel: Eu acho que é total e absoluto. Se não tiver mais nada no planeta e só tiver
a família, a criança tem que crescer jovem e adulto com essas qualidades. Pois é o
pai e a mãe que tem que dar o limite para o filho, porque eles vão testando. Eles vêm
como um livro em branco. A transgressão dos mais velhos vai ser usar droga, a dos
pequenininhos é um palavrão, eles estão experimentando também. A gente vai
corrigindo, orientando, mostrando que isso não é legal. Então se só existisse a família,
claro que teria essa moral. Eu considero a família o primeiro pilar o mais importante.
Mas outros pilares são importantes também. Por exemplo, se você vai fazer um
esporte, você treina, o treinador é legal e te passa valores, ou se você toca um
instrumento e depois vai tocar em uma orquestra, você tem que saber o ritmo, tem o
maestro, você tem que seguir, ouvir os outros. Se você vai fazer escotismo, você tem
que seguir as regras, um acampamento. Religião. São todos grandes pilares que vão
ajudando a sustentar esse Ser. E a família eu acho o mais importante, o principal.
Bruna: De acordo com os costumes e tradições familiares as crianças recebem os
primeiros passos da formação para o social. Reconstruir ou adicionar ao que a família
faz é tarefa da escola, por isso é importante que a família aceite os valores que a
escola possui e possa ampliá-los.

Pesquisadora: Durante as aulas, com que frequência, você nota dificuldades de


relacionamento entre os alunos, como: falta de respeito, agressão física ou verbal,
intolerância, preconceitos e outras? (Pergunta 3 do roteiro).
Renan: Eu acho, principalmente quando eles “perdem”, pelo menos na minha
realidade. Eu acho até que é uma dificuldade minha, que eu tenho que trabalhar mais
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isso. Tentar levar pra esse lado, é aceitar a derrota. Eles não aceitam, ficam bravos,
mudam totalmente o comportamento, quando tem frustrações. Eu estou identificando
isso, e é uma forma que eu tenho que trabalhar a frustração. Quando tem frustração,
tem problema.
Pesquisadora: Eles falam palavrão?
Renan: Não, na minha realidade não, aqui na prefeitura.
Pesquisadora: Qual o nível social das crianças da escola?
Renan: É classe média baixa, já foi muito melhor, hoje já tem os predinhos, que é o
desfavelamento, que mudou muito a realidade da escola. Quando eu entrei era outra
escola. Mas mesmo assim, ainda se consegue ter um nível de respeito entre eles.
Pesquisadora: Durante as aulas, com que frequência, você nota dificuldades de
relacionamento entre os alunos, como: falta de respeito, agressão física ou verbal,
intolerância, preconceitos e outras? (Pergunta 3 do roteiro).
Bia: Eu vejo assim, muito em relação à intolerância a preconceito. Agressão verbal
muito assim, não em relação a palavrões, algo pejorativo. Mas muito em relação ao
como falar, falam gritando com o outro, às vezes mandam o outro calar a boca, eu
percebo isso nas aulas.
Ana: Atualmente não é muito frequente, já foi no início de atuação, quando eu
ingressei no estado, eu tinha outra realidade, tanto de educação física, como da
comunidade escolar, que vem mudando com esses anos. Então, atualmente, não
percebo tanto, acontece, mas não com tanta frequência como acontecia antes.
Valéria: Depende das turmas, mas todo dia sempre tem um episódio. Não são em
todas as aulas, mas sempre tem algum aluno faltando com o respeito, ou com o
colega, ou em relação às regras dos jogos, em querer levar vantagem, em não
respeitar alguma regra. A agressão física, também em alguns jogos, os ânimos se
exaltam um pouquinho, às vezes chega até a agressão mesmo, mas antes tem as
agressões verbais que a gente tenta sempre conversar. Eu costumo tirar os alunos
para conversar, um conversar com o outro e tentar resolver aquela questão, aquele
problema, durante a aula mesmo, e se for algum caso mais grave, como alguma
agressão mesmo, alguma atitude mais preconceituosa que aí eu encaminho para a
direção, para a gente conversar, ou chamar os pais. Depende da gravidade, se é algo
fácil de resolver, no momento eu paro e chamo os alunos, converso pra resolver. Se
for algo mais delicado às vezes eu abro pra sala, pra turma toda, paro o jogo, faço
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uma roda de conversa e converso com tudo pra que a gente tente resolver juntos, pra
que isso não aconteça mais nas aulas e nem com outro aluno.
Alisson: A todo o momento, aqui nessa escola, principalmente, estou aqui esse ano
e aqui eles têm muito disso, essa falta de respeito, problema de relacionamento com
o outro, é um cala a boca aqui, xingam, batem, brigam muito de se bater. Menino bate
em menina, menina bate em menino, está complicado. Na outra escola que eu
trabalhava não tinha tanto, tinha também, mas não que nem aqui. Aqui é uma escola
central, e eu não sei o que acontece, talvez por ter fundamental 2 junto na escola, a
convivência com os maiores influencia um pouco.
Caio: Diariamente eu observo na escola algum tipo de preconceito, falta de respeito
e intolerância. Na maioria das vezes é de uma forma mais velada, assim, alguma coisa
mais escondida, porque quando eles são descobertos, quando as pessoas:
professores e funcionários descobrem, eles acham meio desconfortável as
consequências. Tanto a consequência administrativa, quanto a consequência de
reputação, de amizade com os colegas, que acabam deixando eles um pouco de lado.
Até porque essas atitudes quando descobertas, a gente já tem bastante trabalho com
eles pra não reproduzir essas atitudes, então quem é descoberto sempre se sente um
pouco envergonhado. Agressões físicas, hoje na escola, a gente conseguiu diminuir
bastante, com um trabalho de conversa, de conscientização das consequências desse
tipo de agressão, tanto físicas, como danos psicológicos, mentais, danos de
mobilidade. Então a gente acabou fazendo um trabalho de conscientização sobre isso
durante as aulas e acabou diminuindo bastante. As agressões verbais, a gente vê com
maior frequência e sempre relacionado a algum tipo de preconceito, seja ele de etnia,
de constituição física, de capacidade mental ou não, mas sempre esse tipo de
situação.
Milena: Cada um tem uma criação, tem uns que pai e mãe liberam tudo e acham que
pode fazer tudo. Outros são muito nervosinhos, aí eu chamo a todos, peço para
sentarem e converso. Digo que na minha aula eu não quero falta de respeito, brigas,
o que eu falar não é não. O que a professora falar tem que fazer. Na casa de vocês,
vocês resolvem do jeito que vocês acham que tem que ser, mas aqui na minha aula
tem que respeitar os professores, os amigos, porque não respeitando, todo mundo vai
sentar e vai perder a aula. Porque senão desse jeito a gente não consegue trabalhar
a atividade da aula, eu acho que tem que ter respeito entre todos os alunos, com os
professores e a aula flui. Eles também brigam, se empurram, e eu chamo os dois e
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digo que não pode e se continuar assim, vão sentar e não vão fazer a aula. Vão ficar
duas aulas sem participar, porque desta maneira estão atrapalhando a aula e
prejudicando outras pessoas que não tem culpa do que está acontecendo. Todo
mundo tem que ser amigo, família, não tem que ficar brigando por qualquer coisinha,
um pede desculpa para o outro e resolvem.
Ygor: Tem, assim como em todas as escolas. Eu trabalho aqui com os primeiros anos,
e muitos alunos vem de outras escolas. Aqui até tem o jardim, mas não todos vêm
daqui. Eles têm uma dificuldade de aceitação da frustração. Acho que por conta de
ser de famílias com mais aquisição, tem tudo o que querem, poucos tem irmãos, ou
tem mais de idades bem diferentes, então, eu percebo mais essa dificuldade. O maior
trabalho, a dificuldade, é fazer eles aceitarem a frustração.... Ah, eu não consigo, ou
eu fiz feio, eles têm muita dificuldade.
Darlan: Isso acontece muito quando é um aluno novo que chega.
Larissa: Tem algumas desavenças, mas não é nada grave, que você vai perder tudo
o que você se programou pra dar porque teve que socorrer ali. Eu falo fulano vai beber
uma água e pense no que está fazendo. E quando é uma briga de duas crianças, eu
digo: Opa, o que está acontecendo aqui, isso está certo. Coloco para pensarem um
em cada escada da quadra e daqui a pouco quero ver vocês dois conversando e vocês
pedindo desculpas um para o outro e essa briga tem que ter acabado. E continuo a
aula, como se nada tivesse acontecido, mas prestando atenção ali. Eu não perco os
outros, resolvi aquela situaçãozinha ali.
Darlan: Ás vezes o fato de você tirar o aluno do jogo e deixar um pouco ele sentado
ali os outros já percebem que foi feito alguma coisa e eles não se sentem injustiçados.
Larissa: Sempre tentar essa tranquilidade, se o aluno vê que você não está aflita
naquela situação é mais fácil de resolver. O que me desestrutura é quando alguém se
machuca, aí eu fico aflita. Mas quando se trata de brigas na calma a gente sempre
tenta resolver. Uma coisa que a gente não faz é não dá certo é chamar a atenção em
público de alguém. Se a pessoa fez uma coisa negativa, porque tem professor que
para tudo e resolve dar uma lição de moral expondo a pessoa. Isso você não vai ver
nunca aqui e nem da classe. De repente uma bronquinha aqui. Às vezes chamamos
no final da aula para uma conversa sobre algo que vimos durante a aula. Quando
chamamos no final eles já até sabem. Outro dia aconteceu com um menino que
sempre foi aluno nosso aqui, desde pequeno. Ele faz futebol fora da escola, e
geralmente quando treinam fora eles querem fazer na aula de educação física um
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treino. Eu sempre digo que aqui o objetivo é outro, vamos aprender os fundamentos,
mas não é treino. Mas ele fica nervoso, dizendo que apitou errado e tal. Eu falo: Bruno,
você pode beber agua que eu vou jogar no seu lugar. Ele pede: Não professora....
Digo, sim, você está muito nervoso, vai descansar. Aí no outro dia, no almoço ele veio
falar comigo, dizendo que foi mal o outro dia, pediu desculpas. Eu falo: Olha que
maravilha que chegou nesse ponto, nessa reflexão. Muito melhor assim, porque
poderia ter mandado pra diretoria, pra ele tomar uma advertência, poderia ter resolvido
também. Mas foi muito melhor assim
Gabriel: Aqui também às vezes aparece uma agressão física, verbal. E também uma
agressão psicológica, uma ameaça, algo que fala mais forte já pode ser considerado
uma violência. Sempre aparece algo, em toda aula, e eu gosto de aproveitar muito,
porque muito mais que movimentos eu quero ensinar valores. O movimento também
é um valor, mas o movimento só pelo movimento não. Porque pode ser destrutivo,
porque daí poderia ensinar as malicias do esporte, uma cotovelada, algo assim. Mas
eu prefiro ensinar todos esses valores que podem ser aplicados em qualquer esfera.
E podemos aproveitar os jogos e brincadeiras para aprender. Nas aulas de Educação
Física aparece esses conflitos. Por exemplo, em um treino de futebol aprendemos que
temos que trabalhar em equipe, saber ganhar e perder, aceitar que o juiz também
erra, porque é um ser humano... Ainda não falamos para as crianças que o juiz pode
estar mal-intencionado, no colegial já sim. Para os pequenos até os 7 anos, a
pedagogia Waldorf fala que a criança tem que achar que o mundo é bom. Dos 7 aos
14 anos você vai mostrar que o mundo é belo, e você vai mostrar as belezas do mundo
e só a partir dos 14 que você vai mostrar as verdades. Porque se você apresenta as
verdades primeiro como ele vai acreditar que o mundo é bom? Na pedagogia Waldorf,
na Educação Física, primeiro eu trabalho a cooperação. Posso até fazer um jogo de
queimada, mas eu não preciso ficar falando o tempo todo quem ganhou. Quando
perguntam quem ganhou, eu digo que todos ganharam. Nessa idade o mais
importante é a cooperação.
Conflitos sempre aparecem, mas eu gosto de parar a aula e conversar. Eu gosto de
aproveitar esses momentos.
Bruna: Em todas as aulas estas dificuldades aparecem, mas se bem trabalhadas vão
se diluindo.
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Pesquisadora: Quais os principais valores morais que você acredita que devam ser
trabalhados na escola? E por quê? (Pergunta 4 do roteiro).
Renan: O respeito. É o que eu falo pra eles, você pode até discordar do que eu penso,
mas tem que respeitar. É o que eu penso e tento passar isso pra eles, discorde, mas
tem que respeitar. Ninguém tem que pensar igual ao outro, mas tem que respeitar a
diferença, é o que eu tento passar pra eles.
Pesquisadora: E o Projeto Político Pedagógico da sua escola, você conhece, e ele
cita essas questões?
Renan: Eu conheço, ele fala a questão da moral. Mas assim, bem superficial, não tem
um enfoque muito grande. Você percebe que é um recorte de um outro projeto de
outra escola. Você percebe que não foi feito especialmente para essa escola, você
percebe vários erros.
Pesquisadora: Quais os principais valores morais que você acredita que devam ser
trabalhados na escola? E por quê? (Pergunta 4 do roteiro).
Bia: Eu acredito que a empatia, de se colocar no lugar do outro. O saber cooperar, o
respeito. A questão também de cuidar do ambiente em que vive, cuidar da pessoa que
está ao seu lado, isso eu acho muito importante.
Ana: Eu acho o respeito, principalmente o respeito às diferenças. Porque a escola é
um local de diversidade cultura, de pessoas, de diferenças de corpos, pessoas com
deficiências de todos os tipos. Então, eu acredito que o respeito é o principal.
Valéria: Pensando na escola no geral, acho que a questão do respeito é a principal.
Até quando eu faço o combinado com os alunos, o primeiro que eu acho que é o mais
importante, é o respeito com o próximo. Pensando em outros valores também, ser
solidário, ser cooperativo com os outros. Na escola seria isso mesmo, o respeito, o
companheirismo, a cooperação de um para o outro, de ajudar o próximo, esses são
os primeiros.
Pesquisadora: Nas escolas que você atua, você chega a conhecer o Projeto Político
Pedagógico?
Valéria: A gente costuma ler e estudar, mais no começo do ano, quando vai ter a
organização e a estruturação, tanto do Projeto Político Pedagógico, como da Gestão,
que é aquele plano maior. Então é mais aquele momento, de leitura, pra conhecer o
projeto e colocar alguns projetos novos naquele ano. Às vezes tem duração de 4 anos,
e não é todo ano que a gente vê.
Pesquisadora: No projeto Político Pedagógico é citado sobre valores morais?
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Valéria: Dentro do Projeto não estou lembrada, mas acredito que junto com os
projetos que são desenvolvidos na escola tenha essa questão dos valores. Um
exemplo: na escola estadual que atuo, com essa mudança de gestão, vários projetos
estão sendo incluídos na escola, tanto na hora do recreio, quanto na saída, com a
ajuda dos alunos do grêmio estudantil, cada mês são escolhidos alguns alunos pra
ajudar na saída dos alunos, que tinha muita briga, muita correria e muita indisciplina,
melhorou muito. Além dos alunos do grêmio eles procuram escolher alguns alunos
que já tem problemas de indisciplina pra ajudar. Esse é um exemplo que teve
resultado o ano passado e foi incorporado no plano, deu continuidade. Ajudou muito,
organizaram os alunos do transporte, eles ficam sentados, com plaquinhas,
esperando o ônibus, o recreio também, cada dia uma turma pode usar a quadra. O
recreio também, cada sala tinha uma listinha de alguns critérios que a sala tinha que
atingir, aí tinha carinhas que a sala ganhava, por exemplo, a verdinha se atingia, o
respeito, fazer as tarefas, respeito com os colegas, cuidar dos materiais, tinha vários
critérios, e a diretora passava na sexta feira entregando as carinhas, verdinha se todos
cumpriram, amarela se nem todos, e vermelha se não atingiram esses critérios, e isso
eu achei que ajudou, porque no final do mês eles tinham uma premiação da sala que
mais se destacava, que cumpria mais esses critérios. Foram ações que foram
acontecendo que ajudou muito, e diminuiu bastante esses problemas de recreio, de
saída, de alunos ficarem fora de sala de aula, então acho que isso colaborou bastante.
Pesquisadora: Quais os principais valores morais que você acredita que devam ser
trabalhados na escola? E por quê? (Pergunta 4 do roteiro).
Alisson: Valor moral eu acho que estamos precisando trabalhar desde muito cedo é
a paz. Como conviver em paz com o outro e consigo mesmo. Outros valores como
verdade, não violência, que é diferente da paz, o amor, são valores que precisam ser
trabalhados na escola. Se a gente seguir uma linha: Verdade, se você tem a verdade
dentro de você, você vai ter paz, ninguém vai te atrapalhar, te encher o saco, porque
você tem verdade naquilo que você é, vai ter paz. Tendo paz, você vai ter o amor, e
tendo amor você vai praticar a não violência, uma coisa puxa a outra e acho que esses
valores são primordiais. Verdade, paz, amor e não violência.
Caio: Respeito, solidariedade, liberdade, justiça, igualdade, direitos e deveres,
autonomia e honestidade. Acredito serem princípios básicos para uma boa
convivência em sociedade, auxiliando o movimento de um ser sociável e ajuda a
adequar-se a situações relacionadas a relações de trabalho, família, amizades, e
110

todas as questões relacionadas ao mundo. São os mais falados e mais trabalhados e


eu acredito que vão ajudar a formar um cidadão e entrar no mundo do trabalho, em
uma relação de amizade e companheirismo, ou que seja, ir a uma praça jogar um
futebol com a moçada é preciso ter noções básicas de relacionamento, então acredito
que seriam esses valores morais.
Milena: Respeito, respeito ao professor e aos amigos, aceitar o não, respeitar o
professor, não ter briga, como falei anteriormente. O problema é que a gente ensina
na escola e os pais fazem em casa tudo ao contrario. Geralmente quem dá problema
são os pais e não os alunos, pois eles só reproduzem o que veem. É difícil lidar com
isso, mas a gente sempre vai falando que aqui na escola o comportamento tem que
ser assim... Fora da escola, você vê como acha que tem que fazer..., mas é claro que
queremos que vocês pensem e decidam viver em paz, respeitando a todos.
Ygor: Eu acho que a questão da Hierarquia, do respeito aos mais velhos, não só por
isso, tem que ter uma relação critica. Aqui ainda são crianças, então eu acho que o
respeito com o outro é o mais importante. Não só porque ele é o professor. Acho
engraçado que aqui elas questionam muito. Outro dia uma criança do primeiro ano
disse: Professor você precisa ser mais duro, mais bravo. Eu achei engraçado, mas
achei uma coisa dele, não era com ele o ocorrido, era com o colega e pelo jeito ele
queria uma punição.
Larissa: Se colocar no outro. A gente sempre fala isso, você gostaria que fizessem
isso que você fez com você. Outro, reconhecer a autoridade do professor, quando ele
chega e diz: Bom dia professor como vai? Ele já sabe que não está ao lado de um
colega. Mas isso quem conquista não é o aluno, somos nós que conquistamos. Você
não pode se colocar como amigão do aluno, você é o mestre, a palavra mestre a gente
usava antigamente. Antigamente se falava mestre, depois professor, agora prô. E
quando eles começam a dar valor para isso, que o Ser que está à frente deles conhece
muito e eles tem que respeitar, já é um princípio moral pra sua aula acontecer bem.
Quando falo respeito está intrínseco tudo o que é de respeito, se estou em uma escola
que tem regras. Por exemplo, não se pode usar o celular nas aulas então eles sabem
que quando bate o sinal aí é direito meu, eu posso usar.
Gabriel: Eu acho que respeito é a primeira coisa, é fundamental. Respeito pela
opinião do outro, pela decisão do outro, pelo momento do outro. Às vezes o outro não
está no momento que você está. Às vezes você não está conseguindo enxergar que
se você tivesse naquela situação também seria diferente. Para mim é o principal. Mas
111

tem outros valores. Por exemplo, o esforço. Na minha aula eu sempre falo com eles,
eles falam, mas é pra se divertir, mas eu não estou aqui como recreador num resort,
aí seria só pra se divertir, eu quero que vocês se esforcem. Para os mais velhos eu
falo: não quero se você acerta a bola na cesta, mas eu quero ver vocês fazendo o
movimento certo. Porque a gente vê o Ser da criança se esforçando. Então não é
moral, mas de certa maneira é, porque você vê o Ser da criança se empenhando.
Então esse esforço vale por toda a vida. Uma medalha não é comprada, é o símbolo
de todo o esforço e empenho que você dedicou para conseguir aquilo e depois ao
longo da vida, em uma dificuldade você pode lembrar de todo aquele processo que
você passou, que aquilo dá certo. São coisas assim que eu gosto de falar pra eles.
Respeito você tem que ter com os outros e também consigo mesmo, porque você tem
que saber seus limites, mas querer vencê-los, dar aquele gás a mais, um passinho a
mais pra você vencer e sair da zona de conforto. Quando um aluno se machuca eu
falo que está tudo certo, porque todo ser humano em algum momento vai sentir dor e
dor faz parte da vida, se é uma dor que dá pra você superar, é bom porque você vai
ficando mais forte. Essa Resiliência que hoje em dia não tem, é tudo nhenhenhe,
porque os pais qualquer coisa que acontece, já acham que não precisam fazer.
Principalmente no colegial eles vão ficando mais moles.
Bom, eu não sei dizer quais valores, mas são valores de respeito ao outro, de
incentivo, de participação, resiliência, que hoje em dia é muito importante.
Pesquisadora: Vocês têm um projeto político pedagógico na Waldorf?
Gabriel: Na Waldorf tem indicações, por exemplo, no terceiro ano, é quando começa
a educação física propriamente dita, temos indicações para trabalhar brincadeiras,
alguns jogos, ginastica olímpica (artística) e a ginastica Bothmer (que nessa idade tem
só um exercício que é uma ciranda). Cada ano é diferente.
Pesquisadora: Cada ano é diferente a ginástica Bothmer, e você faz todas as aulas?
Gabriel: Sim, cada ano muda, e eu sempre procuro fazer, mas confesso que alguns
dias, pela própria dinâmica da aula eu acabo não fazendo. Mas a indicação é que se
faça. Por exemplo, no 7 ano tem um movimento da ginastica Bothmer que tem tudo a
ver com o ritmo respiratório, que nessa idade a criança está desenvolvendo o corpo,
o pulmão e a alma e aí tudo vai nesse sentido. O movimento não acaba só na ponta
do dedo, o movimento faz parte do universo e encontra com a gente. O movimento
não fui eu que inventei, ele está por aí e a gente aproveita o movimento.
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Projeto Político não existe, cada professor, cada escola faz o seu. Temos que fazer
para apresentar, mas somos livres para criar.
As indicações existem, por exemplo, o basquete é no oitavo ano, antes disso eu brinco
com a bola de basquete, mas não é o esporte.
Temos que seguir a indicação pela antropologia, o desenvolvimento do ser humano,
qual o momento que a criança se encontra, eu não posso fazer fora daquilo. Podemos
tentar e ver se dá certo.
Pesquisadora: Você dá um tipo de aula para cada ano?
Gabriel: Sim, por exemplo, a queimada dou a partir do quarto ano, antes não dá certo,
e também nos outros seguintes. A ginastica Bothmer também vai mudando a cada
ano.
Pesquisadora: Você fala porque estão fazendo os movimentos na hora da Ginastica
Bothmer?
Gabriel: Não, faço os movimentos e eles vão seguindo, os mais velhos às vezes
perguntam para que serve e tal e eu vou falando, contando os segredos de acordo
com a idade e se estão preparados para saber.
O curso para o professor de Educação Física, é o de ginastica Bothmer, mas ele não
tem só ginastica, ele tem circo, atletismo, ginastica, tem tudo.
É uma escola livre, mas temos nossas diretrizes.
Pesquisadora: Quais os principais valores morais que você acredita que devam ser
trabalhados na escola? E por quê? (Pergunta 4 do roteiro).
Bruna: O sentimento de que as pessoas precisam umas das outras para sobreviver,
pois nossa sociedade está a cada dia mais individualista

Pesquisadora: Você busca trabalhar o desenvolvimento moral de seus alunos


durante as aulas? Como? (Pergunta 5 do roteiro).
Renan: Sempre que acontece uma situação que precisa, eu trabalho. Acontece uma
situação, eu tenho que trabalhar em cima da situação e gerar esse trabalho da moral
com eles, e dizer o que eu acho que é certo o que não é. Eu sempre falo que não sou
o dono da verdade, eles podem discordar, mas que dentro do que eu penso ser certo,
eu agiria assim, e tento fazê-los refletirem sobre isso. Mas sempre quando acontece
uma situação, eu não tenho uma aula direcionada pra isso. Que nem a questão da
semana dos índios, trabalhamos a cultura. Eu mostrei uma situação que o índio, no
113

nosso modo de pensar é errado e tal, mas a gente não tem o direito de julgar. Eles
são diferentes da gente. E assim, acho que foi bem legal porque eles entenderam
isso. Eu falei eles pensam assim: Eles não deixam as meninas brincarem, só os
homens é que brincam, as crianças disseram: isso é errado. Eu disse: isso é errado
na nossa cultura, pois se você perguntar pras meninas, pra ela é certo isso. Então
quando eu falo que isso não é certo eu estou interferindo, colocando a nossa cultura
como superior a dele, e isso é errado. Nós não somos superiores a eles, nós somos
diferentes deles. Eu tentei mostrar pra eles, essa questão do respeito, e acho que deu
certo.
Bia: E procuro trabalhar sempre em rodas de conversa. Em alguma situação problema
chamar essa reflexão pra eles, assim.
Ana: Sim, em todas as aulas eu priorizo muito o diálogo em relação a isso. Quando
acontece alguma situação que há esse tipo de falta de respeito, a gente para e sempre
conversa. Primeiro eu dialogo e falo com o grupo todo, não só com aquele aluno que
sofreu e aquele aluno que fez a agressão ou faltou com o respeito. Então, é o diálogo
sempre. No começo, se acontecer, eu paro e no final, a gente sempre conversa como
foi a aula e aí sempre entra essa questão do comportamento, do respeito entre os
alunos.
Valéria: Eu penso muito nas aulas, na questão do respeito às regras do jogo, e dentro
desse respeito de não tentar burlar essas regras, porque isso vai gerar problemas com
os outros alunos, porque se um não quiser respeitar o outro também não vai querer e
isso vai gerar um conflito na aula e isso é uma das coisas importantes. Mas desde o
momento que eu entro na sala com eles, a questão do respeito, de saber ouvir o
professor, quando eu estou falando e mesmo os colegas, levantar a mão pra poder
falar, eu gosto muito da questão da fila, eu até gostaria de mudar, mas acho que a fila
fica organizado, às vezes eu faço por ordem de tamanho, ou pela ordem alfabética,
então começa dentro da sala e aula até a hora de ir pra quadra, nessa organização
da fila, do silêncio pra respeitar as outras salas que estão trabalhando, que estão em
aula, a questão de não empurrar na fila, não fazer barulho nos corredores até a
chegada da quadra, então eu procuro trabalhar durante as aulas dessa forma e se
surgir algum problema eu chamo os alunos pra conversar ou faço uma roda de
conversa com todos. Sempre assim, quando penso nas aulas, penso nisso, em
respeito às regras, o respeito ao próximo, saber ouvir e os combinados pra não brigar,
não xingar, respeitar as diferenças.
114

Alisson: Sim, dentro de atividades, e mesmo através de conversas em sala de aula,


que a gente percebe como os alunos estão e tenta conversar um pouco mais e tenta
mostrar como a gente pode trabalhar esses valores e como as atividades podem
trabalhar esses valores também. Dentro de regras no jogo, como seguir as regras,
saber trabalhar em equipe, todas essas coisas a gente consegue trabalhar nas aulas
de educação física.
Caio: Sim, através de jogos cooperativos, rodas de conversa e com atividades que
são dadas poucas orientações ou regras e que durante as atividades os alunos têm o
poder de transformar essas atividades, para adequá-la as necessidades de cada
turma ou meio em que se vive. Aqui a gente tem classes bem heterogêneas, assim,
então eu tenho um nono ano com cinco inclusões, cinco deficientes intelectuais, então
essa sala, a participação desses deficientes quando eles decidem participar e sempre
são incentivados a participar, então os alunos mesmos conseguem adequar à
atividade, regras ou situações que mostrem a eles que também é possível eles
participarem juntos, Então a gente trabalha esses conceitos que foram falados através
de atividades cooperativas, de rodas de conversa, mas principalmente através do
poder de transformação do aluno, o aluno tem esse poder de identificar essas
necessidades a serem trabalhadas e a serem adequadas para encaixar um ou outro
e poder eles mesmos trabalhar em cima disso e discutirem isso depois.
Milena: Busco incentivá-los, tem aluno que é muito tímido e tem medo de tentar e não
conseguir realizar uma atividade, então busco incentivá-los, dizendo que vão
conseguir, que é preciso tentar sempre.... Também falo com os outros alunos para
que não fiquem tirando sarro do que não consegue, vamos fazer o contrário, vamos
me ajudar e incentivar o amigo dizendo que ele consegue realizar, assim você o ajuda
e todos têm mais dificuldade em algo.
Ygor: Sim, a gente trabalha através de jogos e brincadeiras. Eu estava com muita
dificuldade com uma turminha em especial aqui nessa escola, e foi muito crítico,
porque eu não estava conseguindo desenvolver os jogos simples, tipo queimada ou
pega-pega, porque se eles eram pegos queriam sair do jogo. E eu falei eu preciso que
eles entendam que eles são um grupo e tem que ser unidos para que a gente possa
desenvolver a atividade. Então eu fiz um jogo que era um circuito que eles tinham que
se ajudar para poderem passar, não tinha ganhador ou perdedor, mas todos tinham
que se ajudar. Aqui a gente não costuma trabalhar com jogos de ganhar e perder,
mas, por exemplo, um pega-pega você é pego, não tem jeito. Naquela vivencia todos
115

tinham que passar juntos, se um não conseguia todos tinham que retornar e passar
de novo. Eu trabalhei 3 aulas seguidas dessa forma, para eles entenderem que um
tem que ajudar o outro, porque um pode ser mais forte, o outro mais ágil, então é
preciso entender as diferenças e saber que estão aí como uma unidade. Foi bom, eles
melhoraram, mas é passinho de formiga, melhoram e depois voltam um pouco, mas
achei bom.
Larissa: Totalmente. Não pode boné, chicletes. Não temos uniformes, mas cobramos
roupa apropriada pra fazer aula, tênis com amortecedor. O aluno que não vem
adequadamente fica com falta naquele dia e não participa da aula.
Darlan: Se acontecer várias vezes ele leva uma advertência. Tem os critérios de
disciplina.
Larissa: Eu sou bem metódica. Para os pequeninhos também eu falo: Pode bater no
jogo? Por exemplo, se o colega caiu não posso persegui-lo. Então se a criança sempre
faz eu pergunto por que você fez se sabia que não podia?
Então eu falo senta aqui e pensa em todas as regras. E esse sentar já faz com que
ele não repita porque quer estar no jogo. Eu acho que tem que ter muitas regras, mas
são regras que criamos com ele. Faço com eles sempre, quais são as regras de ouro?
E depois passamos no caderno. Por exemplo, no terceiro ano eu sempre pergunto pra
eles: Quais são as regras de ouro? Ouvir a professora, respeitar o amiguinho, etc...
Vou pondo na lousa e depois eles copiam no caderno. E a professora fala: Não é só
da Educação Física são para todas as aulas. No terceiro ano faço porque é onde a
Educação Física começa, e também aqui a alfabetização para se concretizar dura 3
anos, então no terceiro ano eles estão escrevendo e lendo muito bem, então é a hora
de fazer essas regras.
Gabriel: Busco sim, para os pequenos é por meio de histórias, para o colegial é por
meio das técnicas, e eles tem que aprender técnica. Se eu for ensinar técnica para os
pequenos, é como se diz nos livros, eu vou estar cristalizando isso.... Eu posso gerar
nos adultos, por exemplo, pedra nos rins, porque esse é o processo de cristalização.
Também tenho alunos de outras escolas que recebo, eu estava ensinado a passada
do handebol e o aluno saltava que nem vôlei, aí eu perguntei se já tinham feito, ele
responde que treinou muito tempo vôlei. Na Waldorf o objetivo é criar seres humanos
livres, e se ele não consegue aprender uma passada do handebol porque só treinou
vôlei ele não é mais livre então, é um escravo do vôlei. Isso já não é mais saudável.
Na própria faculdade de Educação Física tradicional que fiz já se falava que até os 14
116

anos é preciso proporcionar aos alunos a máxima experiência possível e só depois


disso se especializar. É que na nossa história esportiva moderna começam a pegar
crianças de 7 anos e colocar na ginastica e falar que com 10 está no topo e com 16 já
é velha. Como no futebol, mas foi a gente que adiantou isso, e não que está sendo
saudável. No colegial eu tenho que ensinar a técnica, porque daqui a pouco vocês
estão fora da escola e estão em uma faculdade ou no mercado de trabalho e vão
precisar da técnica, até pra fazer cachorro quente na rua tem técnica, se não fizer
direito ninguém vai comprar. Sempre procuro passar isso com palavras e também na
pratica.
Bruna: Sim interferindo nos conflitos e levando-os a sempre tomar uns o lugar dos
outros. Aos poucos eles começam a conseguir se resolver sozinhos sem tanta
interferência.

Pesquisadora: Nas suas aulas existem regras para uma convivência harmônica em
grupo? Quais são? (Pergunta 6 do roteiro).
Renan: Sim. Briga não é permitido. Brigou, eles sabem que vai ficar uma ou duas
aulas sem fazer, dependendo da gravidade. Eles ficam na direção, quando é assim, e
eu passo uma atividade teórica, geralmente, quando já sabem ler e escrever. Se
brigar…, mas é muito raro isso acontecer. Eles já sabem, brigou, não tem conversa,
não tem diálogo, porque briga é o extremo. Pode até discutir com o outro, mas brigar,
bater, na escola não.
Pesquisadora: Você tem contato com a professora da sala, tipo uma troca?
Renan: Sim, às vezes a professora pede pra deixar o aluno fora. E respondo que
sempre eu não vou deixar, mas quando ela pede, eu deixo. Temos que trabalhar em
conjunto, eu ajudando elas e elas me ajudando. Às vezes eu também peço, preciso
desse aluno pra fazer um teste, elas também deixam. É uma troca, mas não é muito,
não tenho muito problema quanto a isso. Precisou, eu vou deixar. E ainda falo: A culpa
é sua, se ela tirou é porque alguma coisa errada você fez. Se é certo ou errado não
sei, mas pediu eu deixo. Pediu, tudo bem, não sendo sempre, tranquilo.
Pesquisadora: Nas suas aulas existem regras para uma convivência harmônica em
grupo? Quais são? (Pergunta 6 do roteiro).
Bia: Na minha aula eu trabalho com eles duas regras. A regra de ouro, que é: o que
eu não quero que façam para mim, eu não vou fazer para o outro. E a outra é a
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parábola do beija-flor, que tem todo um contexto, uma história, que ele tem que no fim
ele consegue apagar um incêndio, então a gente trabalha que cada um tem que fazer
a sua parte. O beija flor os outros animais também, então cada um também tem que
fazer cuidar do seu corpo, do seu coração.
Ana: Sempre no início do ano nós fazemos os combinados. A gente constrói juntos e
eles falam o que eles pensam como seria uma aula harmoniosa, o que teria que
acontecer pra que tudo corresse bem e fosse uma aula gostosa e prazerosa. Então a
gente sempre conversa, sempre entra essa questão de não bater no colega, de não
xingar, não ofender, respeitar o amigo independente de como ele é, aceitar suas
diferenças. Então, assim, sempre existem esses combinados no início e eles vão
sendo reforçados ao longo das aulas e ao longo dos anos. Então a gente sempre
relembra, e quando acontece algo eu sempre pergunto: o que a gente combinou? Aí
a gente relembra novamente.
Valéria: Todo início de ano eu faço os combinados com eles e sempre que a sala
começa a quebrar esses combinados eu retomo com eles, mas as regras são em
relação ao trabalho moral, ao respeito aos professores, funcionários, alunos, ouvir o
professor com atenção, respeitar os colegas, não fazer bullying, que hoje em dia a
gente fala muito, tanto a agressão verbal quanto a física, ter um bom comportamento.
Então no início do ano eu dou um caderninho pra eles e fazemos os combinados, eles
assinam e a gente sempre retoma, se tem algum problema que está atrapalhando.
Alisson: Eu não tenho um combinado especifico, mas aí entra a questão do limite, de
respeitar o limite do outro, saber conviver com o outro, respeitando o limite, como eu
trabalho muito livre, eles brincam com os materiais nas aulas. Se um amigo está
brincando com a bola, então eu não posso pegar aquela bola sem pedir, tem um limite
aí, eu tenho que pedir pra ele, pra eu brincar com ele, e se ele falar não, é não, eu
tenho que respeitar esse limite do meu amigo. Outra coisa que eu trabalho muito é a
ordem, se eu estou brincando com algum material e eu terminei de usar eu guardo, e
isso traz uma ordem no ambiente e ele pode levar pra casa dele.
Pesquisadora: Essas aulas livres você faz de vez em quando, ou sempre?
Alisson: Eu faço sempre, às vezes eu dou uma aula dirigida, mas é mais tempo livre.
E dentro desse livre eles vão buscar o que faz sentido pra eles. Por exemplo, hoje
aqui está acontecendo um treino de futsal, em uma aula livre essas crianças tendem
a ir buscar um futsal, pra melhorar o que ela acha que precisa ser melhorado, por ela
118

mesmo. Essa é a historia da Educação Livre, ela vai buscar aquilo que faz sentido pra
ela, dentro dessa liberdade.
Pesquisadora: E você percebe que eles brigam mais entre eles nas aulas livres ou
dirigidas?
Alisson: Nas dirigidas, porque me parecem que eles querem a liberdade. Na
liberdade como ela vai buscar aquilo que ele mais gosta de fazer tem os seus pares,
nesse momento eles estão ali mais envolvidos
Pesquisadora: Nas suas aulas existem regras para uma convivência harmônica em
grupo? Quais são? (Pergunta 6 do roteiro).
Caio: No início do ano a gente já deixa bem esclarecido que as aulas são pautadas
em alguns princípios básicos que foram citados nas questões acima e o trabalho
durante o ano é praticamente norteado na sinceridade. A gente trabalha basicamente
o senso de justiça, direito e dever, solidariedade e honestidade. E pra mim sinceridade
envolve tudo isso. Você ser sincero não é só falar a verdade não, ser sincero tem que
ter o senso de justiça, se o que eu vou falar pra mim é verdade, pro outro também é?
Noção de direito e dever é: eu devo fazer, mas eu não posso fazer, tudo isso tem que
ser pesado e é trabalhado em cima disso. Outro princípio que norteia é a autonomia,
é mostrar que todos eles podem ter voz, criar, participar da atividade, criar estratégias,
melhorar a pratica da atividade e dividir com o grupo a sua visão disso. Como ele acha
que ele pode melhorar, como o outro pode participar melhor.... Se ele acha que é
muito bom, o que ele pode fazer para o outro tentar chegar ao nível dele... Então a
autonomia é dar pra eles essa possibilidade de enxergar o outro e mudar e dar a
opinião não no que é melhor pra ele fazer, mas também no que vai melhorar para o
outro. Outro que eu acho básico é o respeito, que é essa noção de igualdade, de todos
serem iguais, se todos são iguais, o que você considera ruim pra você então não vai
fazer para o outro. São noções que no respeito se trabalha esse tipo de igualdade, de
você saber que se é ruim pra você então você não vai fazer para o outro. Uma frase
que eu falo bastante pra eles é: Você é o rei das suas ações e será responsável pelas
consequências delas. Então se você tem o poder de agir daquela forma, você tem o
dever depois de arcar com as consequências, então esse respeito, essa noção que o
outro tem o mesmo direito que ele eu acho interessante trabalhar também.
Milena: Quando a gente chega à aula, sempre tem uma música que a gente canta,
para cumprimentar os amigos e eu já falo: Sem brigas, já é uma regra. Sem empurrar
o amigo, brigar, todos já sabem: 5 minutos sentados, sem participar da aula. Essa
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música no começo, já é uma forma de sempre a gente lembrar-se de cumprimentar o


outro, porque chega uma idade eles vão ficando mais tímidos, não quer abraçar e nem
beijar. Então eles se divertem e se aproximam mais, já no começo da aula.
Ygor: A gente sempre faz os combinados. Entro na sala e a gente conversa. Minha
aula é dividida em 3 partes. A principal que é o jogo em si. Uma parte inicial que eu
trabalho ritmo, que é um jogo rítmico que a gente faz em roda, para desenvolver
percepção corporal, porque tudo tem que ter ritmo, até para pular corda e a gente faz
com música. Todo inicio de aula tem uma musica e os ritmos, e conforme vão
avançando os anos vão ficando mais difíceis. Terceiro ano eles já fazem ritmo com
canto e não é só mais o gesto de imitação, tem uma percussão, tem palma, estalar de
dedos, batida de pés, esse é o nosso inicio de aula. Temos uma norma, os
combinados dessa roda, como ela tem que ser feita, como a gente tem de se portar
nessa roda, tem muita brincadeira que eu tenho que tocar no meu amigo, aí como eu
toco nele? No começo eles tinham muita mania de bater no bumbum do outro, e já
fizemos uma regra, não podemos bater no bumbum do amigo da roda, nem ficar
puxando o braço, coisas comuns e fizemos os combinados. Na hora de falar também
levantar a mão e eu quando quero falar também não grito nem falo alto, eu levanto a
mão. E eles seguem esses combinados. Quando se começa a trabalhar desde o
primeiro ano é mais fácil, as salas são pequenas, com 7, 8 e 10 crianças. A terceira
parte da aula a gente volta pra roda, que é à volta à calma, com um jogo. Por exemplo,
no primeiro ano a gente faz brincadeiras, tipo do meu amigo, ou alguma coisa de
palavra, bem tranquilo.
Pesquisadora: Você utiliza a ginástica Bothmer?
Ygor: Ela começa no terceiro ano, e eu vou introduzir a ginastica Bothmer no final
desse semestre, no terceiro, quarto e quinto ano essa ginastica é com cirandas. Como
na Waldorf o ensino é em épocas, e o segundo semestre é a época de construção, a
ciranda do terceiro ano fala sobre casas, então vou começar junto. Como no primeiro
e segundo ano não se aplica a ginastica Bothmer eu trabalho com os ritmos, em roda.
Pesquisadora: Nas suas aulas existem regras para uma convivência harmônica em
grupo? Quais são? (Pergunta 6 do roteiro).
Larissa: Sim. Temos regras e combinados, como vir com roupa e calçado apropriado.
Respeitar o professor e os colegas. Respeitar as regras dos jogos.
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Gabriel: Sim. Sempre. Por exemplo, na agua, sempre pergunta pra mim se pode sair,
porque pode estar no meio do jogo e se sua presença ali pode ser determinante. Já
é um combinado.
Bruna: As regras que vamos implementando nos jogos coletivos. Sempre que surge
um conflito uma nova regra é criada.

Pesquisadora: O que acontece quando essas regras não são cumpridas? (Pergunta
7 do roteiro).
Renan: Briga eu mando pra direção, mas dificilmente acontece, acho que esse ano
não foi ninguém. Mas se acontece algo, vai ficar do lado, olhando, e depois que
acalma eu vou lá e converso. Por que você está aqui, porque você fez isso, isso. E
pergunto: Você gostou de ficar aqui sentado sem participar? Por quê? E tento sempre
explicar porque ele ficou de fora, pra ele saber que toda atitude... Se eu vejo que foi
algo tranquilo, eu converso e se vejo que resolveu, eu ponho de novo, dou uma
chance, se voltar a atrapalhar ele sai. Geralmente é assim, fica sentado em um canto.
Bia: Quando essas regras não são cumpridas eu chamo para uma reflexão. Às vezes
ela é coletiva, às vezes ela é individual, conversando olho no olho, senta, chamo pra
conversar sozinho, vejo se está acontecendo alguma coisa e eu tento retomar com
ele esses valores.
Ana: Quando acontece a gente para pra conversar. O primeiro momento é sempre
isso, a gente conversa. E pergunto: Se ele acha que essa atitude foi legal? Por que
ele fez isso? A gente conversa. Depois, se é algo mais sério, eu também passo para
a direção pra eles também estarem conversando, a gente chama a família pra
conversar e ver o que está acontecendo.
Pesquisadora: Eles chegam a ficar fora da aula?
Ana: É difícil, eu deixar o aluno fora da aula. Mas quando ele está ferindo alguém, ou
atrapalhando os outros colegas de uma forma constante, e aula não está dando certo,
eu falo uma, falo duas, converso, e se não há colaboração ele assiste a aula. Eu falo
que ele vai pensar sobre a atitude dele, mas depois, na roda de conversa essa criança
volta e a gente fala sobre isso novamente. Mas é muito esporádico, eu sempre tento,
em último caso eu tomo essa atitude porque os outros colegas também não podem
perder. Então, a partir do momento que ele fere o direito dos colegas eu tomo essa
atitude.
121

Pesquisadora: O que acontece quando essas regras não são cumpridas? (Pergunta
7 do roteiro).
Valéria: Eu costumo, dependendo do que acontece, se é algo mais fácil, a gente
conversa, mas se é algo recorrente eu tiro das aulas de educação física, eu deixo ele
de lado assistindo a aula, deixo pensando e converso de novo pra ele pensar e poder
retornar junto com os demais. Se for algo muito grave que a criança tem que parar
mais pra refletir eu tiro ele dá aula de educação física. É um jeito que eu faço pra ver
se eles sentem um pouco. Que nem em casa, o pai vai tirar a televisão, o vídeo game,
e eu costumo tirar eles do que estão gostando da minha aula que é brincar, jogar junto
com os outros. É um jeito de eles refletirem, que não vão mais fazer.... Ou não....
Alguns voltam a cometer, se tiver que voltar pra direção... Mas geralmente costuma
resolver nas aulas mesmo.
Alisson: Conversa. Eu não gosto de colocar de castigo, acho que o castigo não
resolve, até porque a gente está em uma aula que ele precisa da atividade física. E
as crianças estão cada vez fazendo menos atividade física, hoje em dia. Se eu coloco
de castigo, ele vai ficar com raiva, parado, sem fazer atividade física em um momento
que ele poderia estar se mexendo, ativo. Então eu não trabalho com castigo, eu
converso. E tenho até uma forma de resolver conflitos, por exemplo, a criança bateu
na outra, eu acho os dois, e um deles fala: Olha professor, tal pessoa me bateu, eu
chamo tal pessoa e falo pra ele: Seu amigo está me dizendo que você bateu nele,
nesse momento não tem como ele falar pra mim que não bateu, porque é o amigo que
está dizendo, não fui eu. Os dois estão juntos, então ele já me da o motivo: Ah, foi
porque pegou a minha bola, por exemplo. Aí eu falo para o que apanhou: Você pediu
a bola para o amigo? Não, então, você tem que pedir, se ele te emprestar a bola ok,
senão é não. Aí eu falo para o que bateu: Aqui nós não batemos, e eu sempre me
incluo no meio, nós. Aí libero os dois pra atividade. E eles costumam se entender. Se
eles ficam jogando o problema um para o outro, eu coloco eles sentados e digo:
Resolvam o problema de vocês, e quando eles resolvem o problema eles voltam pra
atividade.
Caio: Na verdade os alunos mesmos identificam essas quebras e propõe algumas
adequações as regras, se foi uma quebra de regra do jogo pra poder transformar e
não haver mais essa quebra da regra. Eles mesmos têm o poder de mudança na regra
pra que ela não seja quebrada mais e melhorar a forma do jogo. Se for uma regra
disciplinar a gente sempre procura resolver conversando com as partes, mostrar as
122

consequências das atitudes e buscar descobrir o motivo que causou tudo isso. Em
casos extremos a gente tem que tomar atitudes administrativas, porque pela
instituição isso é cobrado em alguns casos graves. Normalmente, eu sou bem
reconhecido na escola por não levar muito problema à diretoria, eu tento resolver, e o
respeito que eu consegui com eles, por ser uma pessoa muito justo com todos,
independente de quem ele é ou não, dentro da comunidade, então a gente acaba
resolvendo ali mesmo, com conversa, mostrando as consequências da agressão e
dos atos ocorridos ali. Se for no jogo é mais fácil, porque eles mesmos têm essa
autonomia de identificar e tentar mudar alguma coisa para melhorar.
Milena: Eu converso, peço para sentar. E sempre falo: Dessa maneira vocês perdem
aula e eu vou falar tudo de novo. Todos juntos, todos sentam e escutam. Aí cada um
tem que pedir desculpas para o outro. Os conflitos sempre aparecem porque muitas
vezes em casa não tem regra nenhuma. Muitos pais colocam os filhos na Escola
Waldorf porque acham bonito, mas em casa não fazem nada para ajudar, na escola
aprende de um jeito e em casa fazem outra coisa.
Ygor: Primeiro eu volto para uma conversa. Olha, a gente está cumprindo os
combinados? Na segunda vez, eu aviso. Quando não, eles ficam sentados, e não
participam da atividade, se estão atrapalhando a aula. Por exemplo, na roda, se ele
não participa, atrapalha, eu falo: Precisamos de você, seus amigos estão te
esperando, e os amigos começam a pedir, vem logo... E acaba funcionando.
Larissa: Larissa: Sentar e repensar essas regras, peço para beber uma água e voltar.
Sempre converso em separado para não expor a criança, porque se eu pego pra falar
na hora eu vou prejudicar os outros que estão participando do jogo
Gabriel: Eu como ser humano estou me trabalhando também, porque todo mundo
tem as suas feridas. Eu por exemplo, fico muito incomodado quando tem briga, eu não
sou de briga e quando vejo briga tenho vontade de defender, de parar, ainda que seja
com violência, que é péssimo. A minha violência não vai ser tapa, mas vai ser Para
com isso, cada um pro seu lado, senta na arquibancada e tal. Então eu também tenho
que me trabalhar pra não chegar nesses extremos. Eu tenho conseguido, estou até
fazendo terapia, para ir me acalmando e eu estou procurando conversar com eles e
trazer o que eu também estou trabalhando na terapia, é trazer o que está de gerando
de sentimentos na criança. Quando você fala desse jeito o que a outra criança sentiu?
Como ela ficou? Porque geralmente antes da briga já tem algo que o outro já está
chorando, já bagunçou. Então eu sempre estou falando para olharem para o outro,
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pra ver o que o outro está sentindo. Eu tento fazer isso, mas confesso que não consigo
cem por cento do tempo. Uma das alternativas pra quando está a confusão, é separar,
e deixo a sala fazendo a atividade e vou conversar em separado com eles. Na maioria
das vezes eles entendem e consigo falar numa boa. Se estiver em um dia que estou
bem, "bem trabalhado", eu já consigo conversar na hora, sem afastar ninguém. Isso é
até melhor.
Bruna: Iniciamos tudo novamente ou paramos o jogo e o deixamos para outro dia
quando as crianças têm uma nova chance de conseguir atingir o esperado com as
regras.

Pesquisadora: Você considera importante ter atitudes respeitosas que possam servir
de exemplo para seus alunos? Se sim, cite algumas dessas atitudes (Pergunta 8 do
roteiro).
Renan: Com certeza, eu acredito que o exemplo é o mais importante, mais do que
falar. Eu tento falar pra eles, mostrar que eu ajo assim. Porque se eles me virem
fazendo coisas diferentes disso, minha palavra não vai ter valor nenhum. Eu tento
demonstrar através das minhas atitudes, eu creio nisso, senão não adianta nada, falar
uma coisa e fazer outra. Como a questão do respeito. Eu não posso desrespeitar o
aluno, eu falo pra eles, não é por aí, você até pode continuar pensando assim, nunca
tento convencer o aluno a mudar de opinião. Eu falo para os alunos, eu penso assim,
e você pode continuar pensando assim, sempre respeitando a opinião contrária.
Bia: Eu acredito muito nisso. Pra mim, ser professor é ser 24 horas professor. Pra
mim não tem como, eu dou aula 4 aulas de manhã e saio de lá e esqueço que sou
professor... Não... Eu acho que a minha postura tem que ser o dia todo. Por exemplo,
se eu vou atravessar uma rua, eu tenho que pensar muito bem e atravessar na faixa
de pedestre, porque algum aluno pode estar olhando pra mim. Dentro do ambiente
escolar eu tenho que cumprimentar as pessoas, um bom dia, boa tarde.... Se eu vejo
lixo no chão, pego. Porque eu acredito que nada melhor que a minha atitude pra eles
verem o que pode ser mudado.
Ana: Sim, com certeza, eu sempre falo pra eles: Vocês já me viram falar dessa forma?
Por que você está gritando? A professora grita? Eu falo assim com vocês? Então,
vocês também não podem, porque eu sou o exemplo pra vocês, assim como vocês
não podem gritar comigo e nem com os colegas. Por exemplo, de gritar, de falar alto,
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de perder a paciência. Em relação a como me portar... Roupa, vestimenta. Ah! A


professora vem pra escola de chinelo? De calça jeans pra educação física? Então,
são coisas que eu faço e eu reforço pra que eles aprendam comigo. Eu faço pra dar
o exemplo. Mascar chiclete.... Por que a professora não masca chicletes? Por que não
pode? Para não o perigo de vocês engolirem e passar mal. Então acho que a gente é
o maior exemplo pra eles. Se algum dia tiver algo errado eles vão reparar e falar
depois
Valéria: Como nessa questão na sala, sempre dou o exemplo, se a professora tiver
falando vocês têm que ouvir, se algum aluno quiser falar, levanta a mão, porque aí eu
vou parar de falar pra ouvir vocês. Também sempre dar bom dia, de ser educado, de
pedir licença para entrar na sala de aula, quando vou entrar na sala pra dar aula de
educação física e também sempre oriento pra que quando eles vão entrar na sala, a
pedir licença para a outra professora, que ela já está na sala. Então acaba sendo da
nossa educação mesmo que a gente acaba passando um pouquinho pra eles: falar
bom dia, boa tarde, pedir licença, agradecer, ou mesmo, tendo algum conflito que foi
sem querer na aula. Hoje mesmo, de manhã, a menina levou uma bolada no rosto e
veio todo mundo chorando nervoso, eu falei: “gente, calma”! Foi sem querer? Então
pronto... pede desculpas, foi sem querer, conversando a gente resolve tudo. São
esses exemplos que eu acho que se eles veem a gente fazendo eles vão assimilando,
porque a gente é o espelho.
Alisson: Acho que sim, por exemplo, na maneira de falar com eles. Às vezes a gente
quer falar e eles estão conversando muito, tem professor que grita... Eu geralmente
faço silencio, não costumo falar cala a boca e coisas desse tipo, fica quieto aí. Eu
espero o momento que eles percebam que eu quero falar, é uma forma de mostrar
que não devemos gritar, mandar calar a boca. Por mais que às vezes a gente fique
estressado, a gente tem que dar o exemplo e eles vão percebendo. Porque aqui na
escola certos exemplos ficam até difícil da gente mostrar, mas nessas pequenas
formas da gente trabalhar com eles acho que é possível a gente conseguir passar
alguma coisa de nós pra eles.
Caio: Eu acredito que o professor, assim como os familiares, seja um modelo e as
crianças acabam se espelhando em alguns exemplos para criar a sua noção de
valores e tal. Toda ação que a gente tem é observada por eles e muitas vezes os
alunos repetem alguns costumes nossos, tanto as atitudes negativas quanto as
positivas. E geralmente quando a gente tem umas atitudes positivas ou negativas é
125

um estalo para gerar na criança algum tipo de comportamento. A gente sempre tenta
pautar a aula nessas noções que eu falei atrás, de respeito às diferenças, de
individualidades, limites de cada um e tudo mais. Toda atividade que a gente faz é pra
todos, a gente quer que todos consigam fazer, e quando não conseguem eles tem
essa autonomia de mudar. Então cada um faz a atividade na sua limitação, os mais
habilidosos sempre se sobressaem e acabam tendo a função de ajudar quem tem
mais dificuldade. Então no dia a dia a gente tenta fazer o contato com os alunos
sempre de uma maneira que todos consigam enxergar que todos têm o mesmo valor
ali, todos tem valor, direito e dever, todos são iguais, então quando um aluno especial,
por exemplo, pertence à sala, a gente tenta mostrar as dificuldades e limitações das
crianças, eles acabam identificando isso e a gente tenta conversar sobre elas e todos
tentam adequar às atividades de um jeito que a criança consiga participar. Outra
atitude é quando o melhor atleta da escola, aquele que joga tudo, participa de tudo, é
líder, sempre que ele leva uma vantagem na atividade todo mundo espera que exista
uma regra pra que ele se torne igual aos outros. Então ele é o exemplo, se ele se
sobressai demais, todos tentam mexer em algumas coisas pra que ele fique igual aos
outros, quando por algum motivo físico ou de qualidade, ele extrapola a regra, mesmo
inconscientemente, ele se torna um motivo de quebra dessa noção de igualdade,
justiça e tudo mais, então a gente interrompe e faz as adequações necessárias,
inclusive com eles orientando. Quando um aluno se sente injustiçado, independente
da importância dele pra escola ou pra algum esporte na escola e tudo mais, a gente
sempre tenta colocar o ponto de vista dele e os outros conversando pra gente chegar
a um senso comum.
Milena: Ser educado, não ser agressivo, respeitar.
Ygor: Sempre, a primeira referencia deles é o professor, é o pai. E muitas vezes o pai
não é presente, acaba sendo só o professor. O professor de jogos, de movimento, é
muito visado, eles admiram muito, prestam atenção em tudo o que você faz, então eu
preciso pensar, cheguei à escola eles estão me observando.
Larissa: O Steiner sempre fala: Você tem que ser um aluno digno de ser exemplo
para os outros, então eu estou formando crianças, seres humanos, então se eu não
for digna vou ser um espelho de coisas ruins. Então ele fala que os professores e
mestres tem que estar convictos disto. Eu não posso falar é muito bom comer coisas
saudáveis, depois eles me veem comendo só coisas ruins. Eles vão falar: Nossa, ela
falou pra comer coisas saudáveis que é bom, então isso não é verdade. E quando a
126

gente trabalha com a inverdade, moralmente a gente está perdido. Eles sentem as
coisas dentro da gente. Trabalhar com a verdade é a base da moralidade. Se você
falar assim: na próxima aula, você não vai participar da aula porque hoje fez algo
errado. E quando chega à próxima aula você esquece, você não faz... Aí já era!
Gabriel: É fundamental que eu seja exemplo. E na pedagogia Waldorf essa questão
do professor estar se trabalhando, a criança vai se ligar muito mais no que o professor
é do que ao que o professor fala. Não adianta você falar uma coisa e fazer outra. Ela
vai se ligar animicamente. A alma da criança vai perceber isso, essa incoerência. Mas
por outro lado, se ela percebe que o professor está se trabalhando, é como se a
alminha da criança soubesse que ele também está se trabalhando, é legal. Ela sabe
que também pode errar, isso conforta. A gente está no caminho junto, cada um no seu
momento. É como seu eu falar pra eles virem de camiseta sem estampa e eu chegar
com camiseta estampada, é a primeira coisa que eles vão olhar. Eu não falo palavrão,
falo no meu futebol que eu jogo, nem falo também porque já estou acostumado a não
falar. Pontualidade. No colegial, se exijo tanto deles, eu não posso me atrasar, tenho
que estar presente. Tenho que começar e terminar pontualmente. Isso é bom pra eles.
Todos os valores que eu prego eu tento aplicar pra mim, porque eu sei que é bom
para o ser humano e eu também sou um ser humano, e estou inserido nessa
sociedade, nessa comunidade. E também porque é exemplo pra eles. E tem que ser
exemplo, não pode ser diferente. Na pedagogia Waldorf tem um livro que fala que é
regra de ouro para o professor é ser exemplo, e lá fala como ele se porta, o que ele
faz, então tem que ser. A Pedagogia Waldorf é um caminho de desenvolvimento não
só para as crianças, para os pais também, para os professores.
Bruna: Se desejo que falem baixo eu mesma falo baixo com eles por exemplo. Leva
um tempo para que todos prestem atenção, mas costuma funcionar. A aula não
começa enquanto todos não estão em silencio para escutar.

Pesquisadora: Você já notou alguma mudança de comportamento dos alunos após


intervenções ocorridas nas aulas? Pode citar exemplos? (Pergunta 9 do roteiro).
Renan: Sim, um aluno que era mais agressivo eu até precisei chamar a mãe dele e
falei: Olha, o comportamento quando ele perde , é demais! Ninguém gosta de perder,
mas ele é demais. E falo, ele é meu aluno duas vezes na semana, mas ele é seu filho
pra sempre. Naquele caso era ajuda profissional mesmo, porque ele saia bravo, ficava
127

vermelho. Então eu falei, não é normal, ele precisa de ajuda. Naquele caso eu falei
com ela, ela era professora também, ela entendeu e mandou ele para o psicólogo, ele
foi, melhorou um pouco. Conversei com a mãe, ela aceitou e ele está melhorando,
mas é complicado. É um processo demorado.
Bia: Eu acredito que tem sim. Eu acredito que o vínculo é muito importante, o respeito.
Eu acredito que quando a criança, o aluno, tem respeito pelo professor ele acaba
sendo muito mais solícito do que quando ele tem medo do professor. Então, essa
questão da gente trabalhar com regras, sempre estar focando sobre nisso, falando
com eles, um acaba falando com o outro. Então sempre que alguém faz alguma coisa
errada, um fala: “Ô gente, vocês não se lembram da regra de ouro?” Então, isso é
bem legal.
Ana: É uma construção, como eu te falei. Hoje eles estão acostumados que se algo
acontece a gente conversa sobre isso, e as próprias crianças começam a falar. Eu
sento em roda e nem pergunto, eles já começam a falar: Professora, eu acho que hoje
a atitude dos colegas não foi legal, porque foi assim... assim... Porque a gente
conversou muito, não colaborou, não cuidou do amigo. Então isso é uma coisa que já
mudou, que eles já fazem. Os alunos que tem mais problemas de comportamento,
quando eu chego perto, eles já fazem aquela carinha tipo, eu fiz coisa errada. Criança,
eles são assim, eles esquecem, mas ao mesmo tempo, eles sabem e se lembram de
que aquele é o momento de fraqueza ali, mas logo eles voltam e tem consciência.
Então a gente não pode deixar passar. Deixou passar uma vez, tem que construir tudo
de novo aquilo. A gente sente com os alunos que vêm de outras escolas, até eles se
adaptarem, eles vão vendo os outros e vão se adaptando. Mas tem que ser algo
pontual, não pode deixar passar. Porque se deixa, os outros também vão achar que
podem fazer e você perde. Então nessa parte eu sou bem firme.
Valéria: Em alguns casos, a maioria sim. Outro exemplo, hoje no futebol, começou a
surgir alguns palavrões lá, aí eu falei, senta aqui um pouquinho... Ele disse: eu não
estou fazendo nada. Eu disse: Sim, não está fazendo, mas está falando, então, senta
aqui, descansa, respira, penso no que você está falando.... Aí ele ficou fora do jogo e
ficava perguntando: Posso voltar? Eu dizia não, pensa mais um pouquinho, mais, está
certo essa atitude sua? Depois eu perguntei: Está certa essa atitude sua? Esse
comportamento? Ele me disse: Não professora, aí ele voltou e não ouve mais nada,
continuou jogando. Então acho que na hora ajuda, porque eles querem voltar pra
atividade, se não mudar eu vou ficar fora. Mas eu acho que tem alguns conteúdos que
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ajudam muito nisso, alguns jogos cooperativos, de um trabalhar pra ajudar o outro,
com objetivos em comum, que no final todo mundo ganha, eu acho que é um trabalho
muito válido na nossa área. A competição é muito importante, mas trabalhar também
alguns projetinhos como esses, dos jogos cooperativos, tem muito a ajudar nessa
questão, de respeito de um ajudar o outro.
Alisson: Já, acho que esse momento do silencio, e eles já perceberem e falarem entre
eles: Olha, o professor quer falar, vamos ficar quieto, eles já começam a fazer o
silencio por eles, não preciso mais falar... é uma forma que eu consegui estabelecer
com eles, com algumas turmas, não são com todas.
Caio: O bairro que eu trabalho é bem complicado, é o pior da cidade em relação à
violência e riscos para as crianças, mas nesses lugares essa questão de moral e ética
é sempre deixado um pouco de lado pelas famílias, porque eles vivem de coisas que
não combinam com essa noção de moral e de ética, então desde que eu entrei na
escola, há onze anos, em 2008, a escola era proibida de participar na cidade dos
eventos da Secretaria de Esportes, por questões de brigas e tudo mais. Quando eu
entrei na escola, eles foram punidos por cinco anos e faltava dois para acabar essa
punição, e a gente fez um trabalho dentro da escola com relações a atletas e torcida
sobre a visão que se tinha da gente lá por conta do nosso comportamento. Hoje a
gente é bem visto na cidade e em alguns casos bem elogiados. O Laçale, uma escola
que é bem top aqui em Botucatu, ele convida a gente todo ano para passar um dia na
escola, e jogar todos os esportes com eles, conhecer o espaço, a gente come junto
com eles lá. Uma escola que a mensalidade é 2000 reais e um nível social bem
diferente do nosso e a gente sempre está junto ali com eles por conta desse
reconhecimento pela mudança de atitude que a nossa escola teve. Um exemplo
recente foi esse ano, no campeonato sub 17 de skate, meu aluno foi campeão e o
outro ficou em quarto lugar, então a gente ficou campeão além do individual e no geral
também. E meu aluno não concordou com o arbitro, ele falou que achava que outros
alunos tinham sido melhores que ele, e disse: Professor, eu não fui melhor, o outro
atleta foi melhor que eu, fez mais manobras. Eu disse: E aí, o que você tem a fazer
em relação a isso? Ele respondeu: Eu vou lá conversar com o arbitro que foram
injustos com o menino. E o arbitro mostrou pra ele, que o outro até tinha feito mais
manobras, mas que ele tinha feito uma manobra que era extremamente técnica e que
essa manobra ninguém tinha conseguido fazer, então você fez por isso foi campeão.
Ele entendeu, agradeceu, mas falou para o arbitro que mesmo assim ele achava que
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os outros tinham sido melhores que ele, mas respeito a opinião de vocês. Eu achei
muito legal porque partiu dele a noção que ele não foi o melhor, e ele foi conversar
com o arbitro. Pô perder a medalha de ouro é uma situação interessante, então isso
aí foi algo legal. Outra situação que me chamou bastante a atenção, foi há um tempo,
a gente estava empatando o jogo e precisava ganhar de 1 gol de diferença pra
classificar, era quartas de final ou semifinal eu não me lembro, e meu aluno entrou na
área e escorregou, e o arbitro deu pênalti, ele foi lá para o arbitro e falou. Primeiro ele
falou pra mim, lá na beira da quadra e falou: Professor, não foi pênalti, eu escorreguei,
ele nem encostou em mim. Eu disse: Beleza e o que a gente vai fazer? Ele conversou
com o arbitro e ele tirou esse pênalti que tinha sido dado, então eu achei bem
interessante. Outra coisa, nessa mudança de comportamento e intervenções, não é
aqui em Botucatu, é numa escola em Itatinga que eu dou aula que algumas salas
participam da produção da nota, eu tenho algumas atividades que eu avalio a parte
motora e o desenvolvimento motor, e a outra parte, que é comportamento e
participação deles na aula eu sento com eles e eles fazem uma escala do quanto eles
acreditam que deva ser o correto ser essa nota. É claro que se for uma coisa absurda
eu intervenho. Inclusive nesse último bimestre uma menina chegou pra mim e disse:
Professor eu dei 7 pra mim, mas acho que foi injusto porque eu tenho que tirar 10. E
eu falei pra ela, no dia que a gente sentar todos juntos, você falar pra todos e
argumentar o porquê você merece 10 e todo mundo concordar aí, perfeito, a gente vê
a visão de todos e o seu poder de argumentação e mostrar que realmente merece, aí
a gente dá um 10 pra você.
Milena: Sim, eu acho que dá resultado, porque no inicio do ano é sempre mais difícil,
agora a aula já esta fluindo bem, quase nunca tem brigas. Eu proponho uma atividade
e todos realizam. Às vezes no final da aula eu deixo um deles escolherem uma
atividade. Essa é uma forma de ajudar para que se desenvolvam.
Ygor: Sim, mas aqui a gente trabalha muito em conjunto. Eu encontro com eles duas
vezes na semana, e eles tem a professora de sala que está com eles o tempo todo,
então tudo o que acontece a gente conversa com os outros professores e
principalmente com o professor de sala, e ele acaba passando para os outros
professores de área, para trabalharmos em conjunto com aquela criança. Então é um
conjunto, não é só o que eu falei, mas acaba dando resultado ao longo do tempo, não
são coisas imediatas. Aqui na escola tem professores de área: de musica, de euritmia,
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de jogos (Educação Física), inglês. Aqui na escola também funciona o jardim de


infância.
Darlan: Sim, sempre. Aqueles exemplos que citamos
Gabriel: Muito e dá mais resultado quando você chega emocionalmente, ao invés de
você dar uma bronca você acessar o emocional. Eu já cheguei para o aluno com uma
conversa mais próxima, sem acusar, falando só do fato, e quando você chega desse
jeito, a criança parece que é tocada, porque você conseguiu entender e ela se sente
entendida, acolhida emocionalmente, aí você ganha a criança de um jeito diferente do
que se fossem só regras. Você se torna um ídolo para ela, alguém muito importante,
e essa referência de professor é muito importante.
Bruna: Sim, eles começam a internalizar as regras e a replica-las em seus momentos
livres de brincadeira. Ex: Na escola não batemos uns nos outros. Se alguém foge da
regra, as crianças correm avisar aos professores.

Pesquisadora: Você acha relevante conhecer outros métodos e pedagogias


diferenciadas que buscam a formação moral dos alunos? Se sim, quais e como são
aplicados. (Pergunta 10 do roteiro).
Renan: Sim, com certeza. Qualquer conhecimento que vem pra ajudar, pra melhorar
sua aula é bem-vindo. Não fiz nenhum curso específico, mas por ser cristão, eu tenho
essa questão da moral e da ética, muito forte. A gente trabalha, né, porque eu estudo
a bíblia, sou frequente. Eu sei que isso é importante, eu tenho filhos também. Primeira
coisa eu tenho que dar exemplo em casa, para ensinar eles. E conhecendo pra ensinar
meus filhos também ensino para meus alunos. Porque o que eu quero para meus
filhos eu quero para meus alunos também.
Bia: Eu acho que sim, com certeza, nós, professores, estamos em uma formação
contínua. Não tem como eu parar de estudar, de buscar, de refletir e rever a minha
prática, parar de buscar como melhorar para meus alunos, E buscar estratégias,
agora, acabei de ouvir uma palestra sobre metodologias ativas e achei muito
importante no nosso ATPC. Tem outras pedagogias, a pedagogia Waldorf que
trabalha todo um contexto. Eu sei, me parece, que é de sete em sete anos, trabalha
muito a questão do movimento no aluno, a questão do corpo. Eu acho muito
importante.
131

Ana: Eu gostaria muito de conhecer outros métodos. Eu acredito muito no diálogo,


nessa perspectiva dialógica. Um dos estudiosos que pregam, que falam disso, é Paulo
Freire, da pedagogia dialógica, que é o diálogo na construção da sociedade, na
relação entre as pessoas. Que o diálogo é capaz de construir coisas muito positivas,
de trazer a comunidade pra dentro escola, de trazer os alunos pra dentro da escola e
juntos construir uma realidade escolas positiva, e influenciar também no que está
sendo trabalhado, então eu me pauto muito nisso, por isso eu uso muito o diálogo nas
minhas aulas. E eu acho que a pedagogia dialógica apresenta isso. Eu preciso estudar
mais, mas eu me identifico bastante, e a respeito de valores e respeito é o que eu
mais vejo resultado.
Valéria: Eu acho muito importante, até a gente tenta trabalhar essas questões nas
aulas, mas não sei te falar nenhum autor que trate disso. Estou ouvindo falar agora
da questão socioemocional, de trabalhar com os alunos, e como você vem falando
agora, da formação moral, mas seria interessante estudar um pouco mais esses
autores, conhecer livros que falem sobre isso, porque hoje em dia isso é muito forte
nas escolas. Porque hoje em dia, não que a gente perde tempo, porque se a gente
não trabalhar esses valores na aula, a gente não dá aula, a gente não dá o conteúdo,
só fica brigando, discutindo, resolvendo conflitos na aula, então isso é importantíssimo
pra gente resolver isso no começo das aulas pra que durante o ano as aulas possam
se desenvolver da melhor forma possível. Eu acho isso muito relevante, mas eu
gostaria de conhecer mais um pouco dessas teorias, autores, livros, que isso só vai
ajudar e muito nós professores. E faço muitos cursos, mas nessa área nunca fiz.
Alisson: Eu trabalhei na Bahia, em uma escola que se chamava Escola Livre, agora
mudaram o nome porque o “livre” soava como algo muito largado, hoje em dia é
Educação Viva e Consciente, porque a educação é viva, ela muda a todo o momento,
e ela é Consciente porque busca trazer uma consciência para o ser humano e ela traz
também a consciência de saber quem ele é, e essa busca dele na liberdade ele vai
atrás daquilo que é a essência dele. Essa é uma educação que eu não largo mais na
minha vida, meu filho vai ser criado assim, ainda não tenho... E essa forma de resolver
conflitos que eu citei eu trouxe de lá.
Caio: Eu acho importante, interessantíssimo, a gente tem que seguir o referencial do
governo Federal e das metodologias aplicadas pela Prefeitura aqui, que tem uma
participação atuante no que é aplicado nas aulas, mas a gente sempre inclui algo
novo, diferente, que a gente acaba estudando e aprendendo. Por exemplo, a gente
132

não entrega uma atividade com as regras, a gente deixa que eles construam regras a
partir do que eles conhecem do esporte e algumas vezes montando algum esporte
diferente de tudo, que eles acham interessante, alguma brincadeira que eles inventem
e coloquem as suas não regras, mas acordos e acabam inventando algo diferente do
que existe como esporte. Também a gente ensina bastante o agir, a gente não quer
impor que eles participem ou que sejam ativos, mas sim um despertar para uma
atividade, do conhecimento do corpo, do trabalho do corpo dele como físico mesmo,
como máquina, como instrumento de vida dele, de ele enxergar o corpo mais nesse
sentido.
Milena: Eu até já fui a algumas palestras, mas não me lembro mais. Acho muito
importante ter palestras que falem sobre as diferenças e semelhanças da Pedagogia
Waldorf e das escolas Tradicionais, para que todos conheçam. Acho importante
porque tem muito preconceito com as escolas Waldorf porque as pessoas não
conhecem, não sabem todo o trabalho pensando no desenvolvimento da criança que
é realizado. Meus filhos estudam também na Waldorf, na Viver, e noto muita diferença.
Tem todo um trabalho com o aluno, para depois ver se realmente ele está preparado
para ir para o primeiro ano. Trabalham muito a coordenação motora, a fina, observam
o desenho para ver como está, para ver se já pode começar a desenvolver a escrita,
existem reuniões coletivas e individuais, onde a professora fala como está o
desenvolvimento do seu filho em todos os aspectos, até o comportamental. O aluno
não pode levar brinquedos para a escola, justamente para não ter comparações.
Trabalham cada época do ano, mostrando o significado e a importância de cada data
e época, por exemplo, o Natal, tudo o que significa e não apenas pensar no presente,
é muito mais que isso. Dá para fazer muita coisa com materiais alternativos, não
precisa pensar só em comprar e comprar. As crianças ajudam na confecção e dão
mais valor, eles ficam felizes de ver os pais e mães ajudando e fazendo juntos com
eles. Acho que na escola Tradicional os pais tinham que participar mais.
Ygor: Eu não trabalhei só com educação física, fui educador social e trabalhava com
projetos sociais, com crianças em risco social. A prefeitura normaliza, mas a igreja
apoia também. Lá eu trabalhei com alguns métodos, lá era junto: arte e cultura.
Darlan: Confesso que não, mas vemos muitas vezes professores de escolas
tradicionais procurando a pedagogia Waldorf. Aqui tem bastante curso, bastante
palestras diferentes.
133

Gabriel: Eu não acho que a Pedagogia Waldorf é melhor que as outras, é só uma
oportunidade. Tem gente que vai se encaixar tem gente que não. Eu acho que não é
a salvação do mundo a pedagogia Waldorf, tem pessoas e pessoas e momentos e
momentos. Já tivemos alunos que saíram daqui porque não se encaixavam, queriam
experimentar uma escola tradicional e depois de uns anos voltaram, a pessoa também
já não era mais a mesma, estava em outro momento, mais amadurecida. Existem
coisas que não é uma regra da pedagogia Waldorf, mas é uma prática que eu também
não concordo, eu faria diferente, então também tem as suas falhas, os desafios, coisas
que tem que melhorar. Mas são os pilares que eu havia falado, que pra construir um
ser humano, vem de vários lugares, como eu falei, família, escola, religião, escoteiro.
Tudo tem que estar alinhado, principalmente a escola e a família. Por exemplo, a
Waldorf fala que para a criança, os eletrônicos trazem uma serie de prejuízos, mais
velhos é aceitável, adulto, ótimo se souber fazer uso. Para a criança ela perde a
imaginação, que não é no uso de celulares, são imagens da tv, livros. Se você contar
uma história e ela só imaginar, por exemplo, um urso da maneira que viu na tv ela não
está usando a imaginação. Steiner fala que essa imaginação depois dorme na criança,
no adolescente e mais pra frente no adulto, vem como uma força de criação,
criatividade, então uma criança que desenvolveu muito a fantasia, vai trabalhar em
uma super empresa e pode ser um gênio de criatividade, que vai servir muito a
humanidade. Por isso o brincar livre, uma colher pode ser um carrinho e tal.
Eu penso que se todos os pilares da vida puderem estar alinhados, juntos, é mais
coerente, é melhor para a criança. E essa coerência não é física, matemática,
numeral. Ela é anímica, viva. Por exemplo, um pai acompanhar o filho em um esporte.
Bruna: Acho relevante, mas são poucos os métodos de ensino que trazem a formação
moral como objetivo aplicado na prática. Eles são aplicados mais como um ensino
cartilhesco do que como ensino vivencial.

Pesquisadora: Você avalia seus alunos em relação a comportamentos e atitudes?


De que maneira? (Pergunta 11 do roteiro).
Renan: O que eu mais avalio nos meus alunos é a participação, e essa questão de
lidar com os outros também, eu não tenho uma planilha ou algo mais institucionalizado
para avaliar os alunos, e isso eu tenho que melhorar, eu não tenho isso. Dou a nota
pela participação e comportamento, mas não tenho um parâmetro certinho. Eu vejo
134

se ele convive bem com os outros, esse é o critério que eu utilizo, nada formal. Com
certeza o aluno que briga e não respeita as regras não tem uma nota tão alta quanto
o outro que não faz isso. Entra sim, mas eu não tenho um peso preciso.
Bia: A questão do comportamento e atitude é um dos parâmetros para eu avaliar os
alunos. Eu avalio através da observação. Da minha observação e também uma auto
avaliação deles, e pergunto pra eles, como vocês foram, que nota vocês acham que
merecem, para eles refletirem sobre isso, por aí....
Ana: Atualmente eu avalio nas três dimensões, a gente está recebendo novas
referências, como a BNCC, que sita outras dimensões. Mas eu me baseio nessas três
que acho que é a base da Educação Física. A dimensão processual, conceitual e
atitudinal. Então a atitude entra como uma avaliação dos meus alunos, geralmente é
nessas rodas de conversa que eu percebo quem entende (porque não basta saber é
preciso saber), às vezes tem muito discurso, mas não tem atitude, não pratica. Então
eu falo muito isso com eles. Então eu tento avaliar na forma de observação,
infelizmente, eu não consigo registrar tudo, não tem tempo. Mas a gente lembra, na
hora de fechar, eu lembro esse aluno tem uma boa atitude, ele respeita os amigos,
cumpre as regras do jogo, da atividade, da aula. Então eu me pauto nisso, mas o
método que eu uso é a observação, na roda de conversa e nas aulas, observando.
Mas eu gostaria que se tivesse outro método para avaliar iria contribuir, mas eu acho
extremamente importante avaliar e falar pra eles que estão sendo avaliados nesse
sentido. Então quando chegam ao terceiro ano, no quarto ano, eles já entendem mais,
então eu falo como eu avalio e eles perguntam: Nossa professora, você avalia? Sim,
porque não é porque a gente não dá prova, às vezes eu passo um trabalho, um
registro, mas não é como é feito para os anos finas e médio. Mas eu falo, a professora
avalia assim, eu explico cada um, e aí quando chega à aula livre, que é a última aula
do bimestre, que é quando eu avalio mais, que aí eu registro, que é quando eu tenho
tempo. É impossível fazer uma coisa mais concreta, tenho 32 aulas então são 16
turmas. Mas acho que já sai daquela coisa de avaliar só o procedimental, que não é
só isso, o conceitual (que é um desafio), mas a gente vê pela oralidade da criança,
por você explicar e ela saber o que você está falando e fazer.
Pesquisadora: Sobre o PPP (Projeto Político Pedagógico), se na sua escola ele tem
alguma coisa relacionado à Educação Física incluindo essa questão de valores?
Ana: Olha, eu vou ser bem sincera, o PPP é uma coisa meio jogada, ele é feito nos
HTPCs. O ano passado teve uma fala, de organização dele novamente, de
135

elaboração, e como tenho reunião do projeto, no horário do HTPC então às vezes eu


não estou em todos os momentos. Então não sei te dizer se isso algo pautado só nas
atitudes, da formação moral. Eu acredito que tenha, mas eu não sei dizer com
propriedade sobre isso, porque pra falar que eu participei de uma elaboração de PPP
desde que eu estou no Estado, isso não aconteceu. Às vezes, a gente participa de
elaboração de Planos de Ação. Só que como eu participo dessas reuniões, e ela é
muito mais significativa pra mim, do que participar dos HTPCs, principalmente dos
anos iniciais, que fala mais sobre alfabetização e matemática. Então a gente acaba
perdendo alguns momentos como esse
Pesquisadora: Você avalia seus alunos em relação a comportamentos e atitudes?
De que maneira? (Pergunta 11 do roteiro).
Valéria: Quando eu comecei a dar aulas eu tinha muita dificuldade nos critérios, em
relação a como avaliar os alunos. Hoje em dia, como uma nota eu não uso, como um
critério, Eu uso durante as aulas, como uma maneira de avaliar aquele aluno, se ele
está melhorando, se está evoluindo, cooperando mais, respeitando mais os colegas,
eu acho que um instrumento que eu uso, seria a auto avaliação, que às vezes eu faço
escrita, quando eles são um pouquinho maiores, ou mesmo na roda de conversa, ou
na observação das aulas. Mas como nota, só se for algum dos conteúdos que eu
esteja trabalhando, como jogos cooperativos, ou alguma coisa assim, eu acho que a
avaliação tem que ser mais em relação ao conteúdo que a gente está trabalhando,
então isso vai influenciar na minha aula, mas eu não costumo dar uma nota ou
descontar alguma nota por conta de uma aula que ele desrespeitou, ou algumas aulas.
Então não é um critério que eu uso como nota, mas eu uso pra avaliar ele de uma
forma global. Então o que ele aprendeu nas minhas aulas, sobre os conteúdos que eu
trabalhei, os trabalhos pesquisas que foram entregues, e os comportamentos e
atitudes vão fazer parte dessa avaliação, mas de uma maneira mais global, mas geral.
Não dou uma nota, por exemplo, se ele tiver um mau comportamento ele vai ficar com
uma nota baixa, hoje em dia eu penso diferente, mas quando eu comecei a dar aula
eu pensava muito nisso... Ah, ele teve um mau comportamento eu já tirava um ponto
e ele ficava com nota mais baixa, hoje em dia eu tento trabalhar melhorar isso nas
aulas, e penso mais nos conteúdos que estou trabalhando, por exemplo, ginástica, o
que ele aprendeu do conteúdo, dos aparelhos, dos movimentos... E minha nota vai
mais a cima desses critérios, e os instrumentos que eu uso são mais esses: a
observação, uma auto avaliação, registro através de desenhos que eu costumo fazer,
136

pra ver o que eles aprendem. Não costumo fazer provas, mas com os maiores, peço
pra escreverem o nome do jogo, descreverem as regras do jogo, e uso muito desenho,
porque a maioria às vezes não está alfabetizada, então uso muito desenho e essas
rodas de conversa, trabalhinhos, pesquisas, cartazes, peço pra trazerem figuras pra
gente fazer uma apresentação. Em relação a comportamentos e atitudes costumo
observar mais nas aulas, no comportamento deles, se estão melhorando, evoluindo,
respeitando as regras do jogo, os colegas, porque se a gente conseguir trabalhar
esses valores a aula em si cada vez mais vai melhorando e a gente vai conseguir
trabalhar melhor os conteúdos.
Alisson: Eu dou nota pelo comportamento e participação, mais pelo comportamento.
Se for um aluno que ele ajuda, ele não está sempre em conflito, eu acho que a gente
tem uma dificuldade em dar uma nota em Educação Física. Eu por exemplo, não dou
prova, então é isso.
Pesquisadora: O Projeto Político Pedagógico da sua escola cita algo sobre valores
morais?
Alisson: Pra ser sincero eu estou aqui há 2 meses e não li o projeto.
Pesquisadora: Você avalia seus alunos em relação a comportamentos e atitudes?
De que maneira? (Pergunta 11 do roteiro).
Caio: A gente fala no começo do ano, nas primeiras semanas, assim, os acordos e a
gente forma uma linha de conduta que aquela classe acredita que seja a ideal e
durante o processo a gente avalia o desempenho individual, o desempenho coletivo e
o cumprimento ou não das condutas que a gente idealizou e se essas condutas estão
sendo válidas ou precisam ser mudadas. Se na visão deles alguma coisa precisa ser
adequada ou adaptada. A gente trabalha essa avaliação com eles, em conjunto, não
é atribuo alguma qualidade ou um defeito ou nota a alguém, isso tentando colocar
com que todos tenham essa noção e possam identificar melhora ou piora, ou
identificar se as condutas estão sendo ideais pra sala ou precisam ser mudadas.
Pesquisadora: Você conhece o Projeto Político Pedagógico da sua escola e ele fala
algo sobre o trabalho com Valores Morais?
Caio: Não conheço pra falar a verdade.
Pesquisadora: Você avalia seus alunos em relação a comportamentos e atitudes?
De que maneira? (Pergunta 11 do roteiro).
Milena: O boletim a gente tem que escrever como está o aluno. Se ela foi bem na
parte motora, na parte comportamental, se ela participa das aulas. Isso entra no
137

boletim e na reunião é entregue aos pais. Até tem uma nota de 0 a 10, mas o que
importa é mais o que eu escrevo. Os professores de áreas: Educação Física, euritimia,
inglês, francês e religião participam juntos da reunião com o professor da sala.
Ygor: Em respeito à avaliação, pra eles eu sou o professor de jogos, não falo
professor de educação física até o primeiro e segundo ano, no terceiro eu sou o
professor de educação física. Para os pais não tem nota, é passado um boletim
descritivo do aluno, para a secretaria temos que passar nota e frequência. Eu uso o
mesmo método da escola Viver, participação e desempenho. Se a criança está
participando das atividades, de que maneira está participando, seria o desempenho,
como ela se envolve na atividade. Por exemplo, a criança que não participa, que você
chama e ela não vêm, ela tem uma nota menor. Mas não é algo que influencia pra ela,
porque essa nota não chega para ela nem para o pai, fica mais para a secretaria. Para
o pai o que é mais relevante é o que descrevemos, eu conto sobre a participação e
desempenho com outras palavras. Se acontece alguma coisa durante a aula eu já
converso com os pais na saída da escola mesmo.
Pesquisadora: Existem mudanças entre as escolas Waldorf? Aqui é federado?
Ygor: Muda sim, aqui não é federado, a federação pede para que siga todas as
normas. Nós aqui na escola seguimos a pedagogia Waldorf, já a estrutura da escola
é que muda. Escolas federadas são administradas por pais, já aqui não, tem uma
administração. Mas eles também participam da educação das crianças, estão juntos
ajudando a fazer o pão, na limpeza, se a criança se machuca, eles participam como
um professor.
Pesquisadora: Para ser professor é preciso ter o seminário Waldorf?
Ygor: Antigamente não existia o curso específico para professor de educação física,
que é o da ginastica Bothmer, então para o professor entender sobre a pedagogia
Waldorf ele tinha que ter esse seminário para trabalhar (que é um curso de 3 anos),
hoje em dia só o da ginastica, porque lá a gente estuda a fundo o que é essa
pedagogia.
Pesquisadora: Aqui tem Projeto Político Pedagógico?
Ygor: Não, mas temos que seguir as normas das escolas Waldorf.
Pesquisadora: Voce já trabalhou em escolas municipais e tradicionais?
Ygor: Não, eu só trabalhava em projetos sociais.
Pesquisadora: Você vê diferenças entre as do projeto e as daqui da escola?
138

Ygor: Sim, lá eu trabalhava com crianças que estudavam em um período, e no outro,


participavam desses projetos, que eram agrupadas por idade, lá eu fazia um projeto
sobre o que eu ia trabalhar com elas, lá eu tinha um projeto de circo, de confecção de
brinquedos, de tênis de mesa, de jogos, esportes...
Lá as crianças eram bem diferentes, crianças em risco social, abusadas, abandonas,
pai preso, era outra realidade. São situações diferentes.
Mas aqui tenho uns problemas que lá eu não tinha. Por exemplo, se uma criança foi
queimada, lá ela sai e pronto, esperava a sua vez. Aqui já tem aqueles que não
aceitam, que se jogam no chão. Mas também tem a violência, que é maior, aqui
também tem crianças que batem nas outras. Lá eu tinha turma de 30 crianças, 35, às
vezes ficava sozinho com 60 e é claro que aconteciam mais coisas...
Pesquisadora: Você quer acrescentar algo sobre a pedagogia Waldorf?
Ygor: Eu acho que a principal diferença é o olhar para a criança, a gente não olha só
para o conteúdo, o conteúdo é só uma ferramenta. Por exemplo, não importa se ele
sabe fazer uma conta, o que importa é que essa criança entenda e que ela tenha um
olhar para essa relação matemática, e tenha um entendimento. Não importa que ele
seja um bom arremessador de cesta de basquete, por exemplo, importa que ele tenha
um bom relacionamento com os colegas. Então é uma visão mais voltada para a
criança e para o desenvolvimento dela, conteúdos são ferramentas. Não importa que
ele saia daqui um excelente jogador de basquete, futebol ou outras, que quero que
ele saia daqui preparado para ser o que ele quiser da vida, que ele saiba que tem
todas as capacidades, não que tenha um entendimento profundo de alguma
modalidade. Aqui a gente tem muito aluno especial, em todas as turmas, e como lidar
com eles, eles se dão super bem, entendem as orientações. E a gente também tem
que pensar em como trabalhar com eles, por exemplo, eu tenho um cadeirante que
tem outra síndrome também, então a gente tem que trabalhar pensando no que é
melhor para ele. Às vezes eu dou uma atividade que parece muito simples, mas que
para ele é ótima. As outras crianças o tratam de maneira igual e isso é bom para ele
também.
Pesquisadora: Você avalia seus alunos em relação a comportamentos e atitudes?
De que maneira? (Pergunta 11 do roteiro).
Larissa: Na Educação Física temos duas notas: Participação e Desempenho ou
Empenho. Na participação a gente coloca tudo isso, se ele foi participativo, se tem
uma postura legal, se ele não faltou. A gente poderia dividir mais, porque nosso
139

boletim é todo sistematizado no computador, poderíamos colocar até mais itens, mas
quanto mais itens é mais trabalho. E o respeito entra nessa participação.
Gabriel: Cada escola Waldorf tem o seu boletim, nós aqui temos o nosso. Nós temos
que transformar em número por uma questão do aluno sair e levar o histórico. Mas
quando fazemos a avaliação para os alunos e para a família. Principalmente para as
famílias quando eles são menores. Até o oitavo ano a avaliação é para os pais, eu até
posso falar com os alunos, mas não falo muito sobre isso. Já no colegial, eu vou fazer
o boletim para o aluno, porque ele já é o senhor do que está fazendo, porque se eu
falar com os pais pode ser que nem toque ele assim. Mas se eu falar com ele, olha
vem cá.... Sua nota. E muitas conversas que o tutor (aquele professor que no colegial
vai fazer a ponte com a família, que conversa com os alunos) também ajuda muito.
Porque a gente preenche o boletim por escrito, detalhando. E me importa muito mais
eu dizer para os alunos e famílias o que aconteceu, quem é o aluno, o que ele tem
feito, do que eu colocar uma nota fria, morta, que não diz nada. O que eu estou
dizendo com aquele 7, 3? Nada. Mas se eu pensar alguns critérios, seria o
envolvimento. Que é tudo, desde a pontualidade, a sua disposição pra estar em aula,
o esforço que pode estar incluído, ou posso só falar do esforço. Por exemplo, você é
bárbaro no esporte, mas você não se esforçou nada, não adianta ter um dom e não
treinar. Esse esforço vale para tudo o que for fazer na vida, não adianta ter o dom e
não trabalhar. Por outro lado, um aluno que não tem dom nenhum e se esforça pra
caramba. Se fosse comparar uma nota com a outra, o segundo teria uma nota maior
porque se esforçou mais. Assim como na matemática, na educação física a gente
procura avaliar o conteúdo prático, se executou a atividade com a técnica. E eu
também procuro falar isso. Também o social, se ajuda o outro, se é proativo, se briga
por qualquer coisa. Então é uma avaliação livre, mas pra gente é muito consciente, o
que a gente quer que eles tenham como retorno, porque vai ser bom para toda a vida
dele. É uma força de vontade, uma coisa só com ele, com o outro, o conteúdo, se
dominou ou não.
Pesquisadora: O que é a ginástica Bothmer?
Gabriel: Ela é um conteúdo de movimento e de corpo também, corpo físico, mas que
trabalha os movimentos mais espirituais. Quem deu a formação foi um alemão,
Michael Neu, ele teve aula com a nora do Bothmer. E ele e o Steiner trabalharam
juntos, o Steiner já tinha desenvolvido a euritmia que trabalha mais o anímico, o astral
e o etérico também, mas ele sabia que a ginástica de aparelhos, que é a ginastica
140

olímpica era muito importante para trabalhar a força de vontade nas crianças e a força
de vontade esta ligada muito ao Eu, e o Eu é o último dos corpos, é o corpo físico,
astral, etérico e o último é o Eu. Como você faz a ginástica bem física, isso reflete no
Eu. Steiner sabia que tinha que ter os dois: a euritmia e a ginástica, e também tinha
que ter os jogos. Que no jardim é o brincar livre, que começa a ser direcionado um
pouquinho pelas próprias professoras do jardim, nos primeiros anos são jogos que a
própria professora da sala dá, e no terceiro ano, entra a educação física, que começa
com brincadeiras, depois são os jogos e mais para frente os esportes. Aqui na escola,
faz um tempo que começou no segundo ano as aulas de Educação Física, a Waldorf
recomenda que seja a partir do terceiro ano, com as crianças para fazer 9 anos.
Percebemos que algumas salas tinham muita necessidade de movimentos e a
professora de classe não tinha muita experiência, por isso começou a ter professor de
Educação Física a partir do 2.º ano. Nos primeiros anos são brincadeiras simples com
poucas regras, usando mais a imaginação, as imagens, é importante que o professor
conte uma historia e a própria historia contada já é a regra da brincadeira, exemplo: a
história do príncipe e da princesa, que não pode pisar no chão, eles não vão pisar,
não precisa por mais regras.
Seria legal conseguir isso até o 5.º ano, mas as crianças de hoje em dia já perderam
muito da fantasia. No 6º ano não tem como, já é virada dos 12 anos, a criança fica
difícil, mas na Waldorf eles estudam nesse período Roma, que tem regras bem rígidas,
aí você também tem que por regras, exemplo na queimada, pisou na linha tem que
apitar, porque é saudável para eles. A Waldorf amarra todas as disciplinas trabalhando
o mesmo conteúdo. Porque pela própria antropologia, pelo desenvolvimento do Ser.
A alma da criança no 6.º ano coincide com a alma do ser humano no período de Roma,
por isso as regras se encaixam tão bem, por isso se estuda na arte luz e sombra, são
todos os contrates. Nessa época são necessário regras rígidas, antes disso é veneno.
Por isso se fala, o alimento certo na hora certa.
O Steiner sempre falava que o professor precisa ter humor, não tirando sarro e sempre
usando as histórias para ajudar. O professor tem que ter um humor leve, não pode
amargar, pra não afastar a criança
Pesquisadora: Você avalia seus alunos em relação a comportamentos e atitudes?
De que maneira? (Pergunta 11 do roteiro).
Bruna: Através de avaliação descritiva.
VALORES MORAIS
NAS AULAS DE
EDUCAÇÃO FÍSICA:
ESTRATÉGIAS DE
INTERVENÇÃO A
PARTIR DA
PEDAGOGIA
WALDORF E DAS
ESCOLAS PÚBLICAS

ANA KEILA ZANIN DE OLIVEIRA


DAGMAR APARECIDA CYNTHIA FRANÇA HUNGER
ANA KEILA ZANIN DE OLIVEIRA

VALORES MORAIS NAS AULAS DE


EDUCAÇÃO FÍSICA: ESTRATÉGIAS DE
INTERVENÇÃO A PARTIR DA
PEDAGOGIA WALDORF E DAS ESCOLAS
PÚBLICAS
Oliveira, Ana Keila Zanin de.
Valores Morais nas aulas de Educação Física :
estratégias de intervenção a partir da Pedagogia
Waldorf e das escolas públicas/ Ana Keila Zanin de
Oliveira ; orientadora: Dagmar Aparecida Cynthia
França Hunger. - Bauru : UNESP, 2020
45 f. : il.

Produto educacional elaborado como parte das


exigências do Mestrado Profissional em Educação Física
em Rede Nacional - ProEF da Faculdade de Ciências,
UNESP, Bauru

1. Educação Física Escolar. 2. Valores Morais 3.


Escola Pública. 4. Pedagogia Waldorf. I. Hunger,
Dagmar Aparecida Cynthia. II. Universidade Estadual
Paulista. Faculdade de Ciências. III. Título.
REALIZAÇÃO
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –
UNESP
Faculdade de Ciências – FC

Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em


Educação Física em Rede Nacional – PROEF

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível


Superior – CAPES

SUPERVISÃO GERAL
Prof.ª Dr.ª Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger

REALIZAÇÃO
Prof.ª Ms. Ana Keila Zanin de Oliveira

EDITORAÇÃO
Michele de Souza Moraes
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................ 05

INTRODUÇÃO ...................................................... 07

ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO PARA O


TRABALHO DOCENTE ....................................... 11

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................. 40

REFERÊNCIAS .................................................... 42
APRESENTAÇÃO
Ilustrações: Freepik
Este material didático é um Produto Educacional elaborado a partir da
dissertação de Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional
– PROEF. Através da nossa pesquisa intitulada: “EDUCAÇÃO FÍSICA,
ESCOLA PÚBLICA E A PEDAGOGIA WALDORF: ANÁLISE DO ENSINO E
APRENDIZAGEM DE VALORES MORAIS”, analisamos os dados obtidos por
meio de entrevistas aos professores de Educação Física, junto ao referencial
teórico e elaboramos sugestões para o trabalho com valores morais dentro do
ambiente escolar.
Durante as aulas de Educação Física as dificuldades de relacionamento
ficam ainda mais evidentes, dada a dinâmica das aulas e o contato entre os
alunos que pode ser mais intenso do que em outras disciplinas do currículo.
Em entrevista com os professores de Educação Física de duas cidades do
interior paulista notamos atitudes por parte dos professores onde a
preocupação com a formação moral está presente de maneira intencional,
buscando diminuir os conflitos durante as aulas, provocando mudanças de
atitudes e auxiliando na construção da autonomia. Foram entrevistados um
total de 12 professores de Educação Física, sendo 6 professores das Escolas
Públicas e 6 das Escolas Waldorf e no trabalho indicaremos apenas entre
parênteses (EP ou EW) para facilitar a leitura.
O Produto Educacional tem como objetivo compartilhar os resultados da
nossa pesquisa, por meio de estratégias de intervenções baseados no
depoimento dos professores entrevistados, que de uma maneira intencional,
buscaram o trabalho com valores morais e obtiveram uma melhora no
relacionamento entre os alunos. Nessa perspectiva esperamos que o material
possa contribuir na formação dos professores ampliando horizontes acerca
das práticas pedagógicas e incentivando escolas e professores para que
desempenhem um papel na formação de seres humanos integrais.

6
INTRODUÇÃO
Está cada vez mais frequente as dificuldades de relacionamento dos
alunos durante as aulas, principalmente nas aulas de Educação Física, onde
há competição, trabalho em equipe, ganhar, perder... Esse contato, que pode
ser mais intenso, também faz com que fique mais aparente a intolerância, o
preconceito, a falta de respeito, as agressões físicas e verbais. Esses
conflitos podem contribuir para o aprendizado quando o professor aproveita
esses momentos para leva-los a reflexão sobre problemas e atitudes
ocorridos na aula e o trabalho com questões morais e éticas podem ajudar a
melhorar a convivência dentro e fora da escola.
Visando uma educação que não esteja apenas focado no físico e
cognitivo, mas também nos aspectos sociais e emocionais, buscamos
conhecer formas diferenciadas de trabalho. Ao estudar mais a respeito,
encontramos a Pedagogia Waldorf que em 1994 foi reconhecida pela
UNESCO como o modelo de pedagogia capaz de responder aos desafios
educacionais da atualidade, por levar em consideração os quatro pilares
estabelecidos para um novo modelo de educação: “aprender a ser, aprender a
conviver, aprender a conhecer e aprender a fazer”, isso pressupõe
proporcionar aos alunos o desenvolvimento não apenas do aspecto cognitivo,
mas também a sensibilidade e a afetividade.
Os professores de Educação Física conseguem estabelecer um vínculo
ainda maior com os alunos para transmitir e consolidar os valores e conceitos
morais, já que nas aulas de Educação Física há uma maior liberdade para
que expressem suas emoções, sentimentos, vontades e comportamentos.
Dessa forma, durante as aulas o professor vai direcionando, orientando e
encaminhado os alunos para sua autonomia moral.

8
Mas afinal, o que significa valores morais? Primeiramente, a palavra
“valor”, segundo Araujo (2007, p.22) pode ser definida, em uma linguagem
simples, como sendo aquilo que gostamos, que valorizamos, e por isso,
pertencente à dimensão afetiva constituinte do psiquismo humano. Piaget
(1932) defende que longe de a moralidade infantil resumir-se a uma
interiorização passiva de valores, dos princípios e das regras, ela é o produto
de construções endógenas, ou seja, o produto de uma atividade da criança
que, em contato com o meio social, ressignifica os valores, os princípios e as
regras que lhe são apresentadas.

Ilustrações: Freepik
A partir daí entendemos que a escola pode ser um espaço de construção
e reflexão de experiências importantes para a vida social da criança que
contribuirão para o desenvolvimento nos aspectos afetivos, sociais, e
emocionais, assim como afirma Menin (1996) que a convivência de criança
com outras crianças é um dos melhores espaços para a construção da
moralidade. A BNCC (2017) reconhece que a educação deve firmar valores e
estimular ações que contribuam para a transformação da sociedade,
tornando-a mais humana, socialmente justa e também voltada para a
preservação da natureza.
9
Em relação à Educação Física é preciso de maneira intencional e
vinculada à prática pedagógica dos temas tratados, identificar as sensações,
sentimentos e significados advindos da vivência dessa prática reflexiva. Uma
vez que se quer formar um ser integrado, democrático, solidário e atento à
sustentabilidade, que age no mundo considerando várias perspectivas, é
necessário assegurar aos estudantes conhecimentos e vivências que lhes
permitam autoria e protagonismo (SÃO PAULO, 2019, p. 250).
Consideramos que uma educação tendo como alicerce a construção de
valores só será possível quando os professores a considerarem essencial e
buscarem meios para contribuir com a formação do aluno de maneira integral,
colaborando na construção da autonomia e ajudando-os a se tornarem seres
humanos íntegros.
Dessa forma o produto foi elaborado buscando destacar os resultados
obtidos através da nossa pesquisa contribuindo para uma reflexão sobre a
importância de um trabalho voltado a formação moral.

10
ESTRAGÉGIAS DE
INTERVENÇÃO
PARA O TRABALHO
DOCENTE
FAMÍLIA PARTICIPANDO ATIVAMENTE NA FORMAÇÃO DE VALORES

A família é o primeiro contato social que o indivíduo possui,


é nela que ele aprende a falar, comer e se sente protegido,
amado e respeitado. A família é a unidade básica da interação
social, onde a criança começa a aprender a respeito dos limites,
a estabelecer relações de amor e construir laços afetivos que ajudarão
consideravelmente em uma estruturação sólida de sua área emocional.
Caio (EP) diz que é na família o primeiro contato que a criança tem com
as noções de moral e de ética e destaca a importância do exemplo na
formação da criança: “O próprio meio familiar dá os primeiros estímulos em
direção a essa formação por meio das condutas que as crianças observam
nas atitudes dos pais” . Em seu livro Pequeno Tratado das Grandes Virtudes,
André Comte-Sponville (2009, p. 7), oferece um entendimento a respeito: “Se
a virtude pode ser ensinada, como creio, é mais pelo exemplo do que pelos
livros”.
A professora Bia (EP), entende que é na família que acontece o primeiro
contato do indivíduo com as regras, portanto é onde se inicia essa formação
moral. Em suas palavras: “Família é a base e juntamente com a escola
formam uma parceria, mas a família tem um papel primordial”.
Segundo Izquierdo (2001), a família é a melhor escola da vida porque
ela transmite na intimidade do lar, por contagio, por osmose, ensinamentos,
virtudes e valores. Quando falta no lar amor, espírito de compreensão e de
convivência, essa carência manifesta-se também na sociedade: certamente
faltará solidariedade e desejo de servir aos demais.

12
PARCEIRA FAMÍLIA E ESCOLA, ATRAVÉS DE UMA PARTICIPAÇÃO
ATIVA

O que nos chama a atenção nas respostas dos professores é a


participação ativa da família nas Escolas Waldorf, tanto nas reuniões
pedagógicas, quanto nas festas e atividades realizadas junto às crianças.
Isso, segundo relato dos professores, influencia positivamente a Formação
Moral da criança. Como observamos na fala do professor Darlan (EW) “Aqui
as famílias participam tanto da escola, que automaticamente as crianças vão
percebendo pelas atitudes o que é certo e não é, sem precisar ficar o tempo
inteiro falando: Olha meu filho, isso é moral e tal...” e da professora Larissa
(EW): “Para que esse diálogo ocorra acredita ser necessário um conjunto:
casa e escola”.

Em relação a essa parceria família e escola, Araujo (2007) afirma que se


a escola e a sociedade propiciarem possibilidades constantes e significativas
de convívio com temas éticos, a probabilidade de que tais valores sejam
construídos pelo sujeito é maior. E completa Steinberg:

O mais forte e consistente indicador da saúde mental, do equilíbrio,


da felicidade e do bem estar dos seus filhos é o grau de participação
dos pais em suas vidas. Os filhos com pais participativos se saem
melhor na escola, se sentem bem consigo mesmo e demonstram
menos propensão a desenvolver problemas emocionais, a se
arriscarem ou a se envolverem em confusões (STEINBERG, 2005, p.
53).
13
HARMONIA ENTRE O QUE É TRABALHADO NA ESCOLA EM RELAÇÃO
A VALORES, SEGUIDOS TAMBÉM NA CASA

A professora Bruna (EW) expõe a necessidade em se manter uma


harmonia entre o que é ensinado em casa e na escola: “De acordo com os
costumes e tradições familiares as crianças recebem os primeiros passos da
formação para o social. Reconstruir ou adicionar ao que a família faz é tarefa
da escola, por isso é importante que a família aceite os valores que a escola
possui e possa ampliá-los” (Bruna – EW).

Neste sentido complementa Gikovati (2001), famílias e escolas deveriam


compartilhar dos mesmos pontos de vista, para não gerar confusão na mente
dos moços e evitar que usem as contradições para ganharem força e se
rebelarem de uma forma que é nociva à sua formação.
A professora Luciana (EW) cita um exemplo: “Percebemos muitos alunos
que apresentam problema na escola e sabemos que vem da casa, é o
reflexo”. Os valores trabalhados na escola devem ser os mesmos cuidados
pela família. “Os membros das famílias agem em relação à moralidade de
maneira semelhante, ou seja, quando os pais apresentam níveis elevados de
comportamento moral, os filhos também os apresentam e vice-versa”
(PRUST; GOMIDE, 2007, p. 59).

14
PROFESSOR ESTAR SEMPRE BUSCANDO UM TRABALHO INTERNO

O professor Renan (EP) faz uma análise muito interessante ao observar


nos alunos as mesmas dificuldades que ele também tem. Seus alunos têm
muita dificuldade em aceitar frustrações, ficam nervosos e aí os problemas
começam a aparecer, então ele consegue enxergar nesses momentos uma
oportunidade para trabalhar com os alunos e trabalhar isso internamente
também, buscando refletir e repensar suas atitudes, procurando manter-se
calmo para poder dialogar melhor com os alunos e trabalhar com eles as
questões de ganhar e perder nos jogos.
Quando o aluno se sente apoiado pela escola e seu professor, laços
afetivos são criados e ficam marcados no emocional do aluno, aumentando a
confiança desse aluno no trabalho realizado pela escola. E essa autonomia
construída precisa fazer com que o aluno reflita sobre suas decisões seus
comportamentos e suas atitudes. Conforme Puig (1998, p. 15):

[...] não se pode pretender que a aprendizagem de valores se dê


meramente pela transmissão de conceitos que podem não ser
significativos entre as diversas culturas existentes, mais, sim, na
possibilidade de reflexão crítica das inúmeras situações cotidianas que
se apresenta.

A preocupação do professor Gabriel (EW) é além de trabalhar o lado


emocional do aluno, estar bem psicologicamente para que possa ajudá-lo.
Faz terapia e procurar sempre mostrar ao aluno que também está buscando
ser um ser humano melhor, pois os alunos sentem isso animicamente, eles se
sentem confortados, sabem que também podem errar.

15
“Todos os valores que eu prego eu tento aplicar pra mim, porque eu sei
que é bom para o ser humano e eu também sou um ser humano, e estou
inserido nessa sociedade, nessa comunidade. E também porque é exemplo
para eles. E tem que ser exemplo, não pode ser diferente” (Gabriel – EW).
Esse trabalho interno, segundo Lanz (2013) é o que o professor deve
buscar em primeiro lugar, procurando a causa de muitas imperfeições e
fracassos do seu ensino dentro de si próprio. “Raros são os pedagogos natos;
mas muito pode ser realizado por qualquer pessoa que trabalhe
constantemente em si para transformar-se num pedagogo” (LANZ, 2013, p.
88).

16
ENVOLVIMENTO DE TODOS OS COMPONENTES CURRICULARES E
TAMBÉM DA DIREÇÃO DA ESCOLA EM UM TRABALHO DE
FORMAÇÃO MORAL

O professor Caio (EP) relatou que quando chegou à escola há onze


anos, a escola estava proibida de participar na cidade dos eventos da
Secretaria de Esportes por questões de brigas e violência. Essa punição foi
de 5 anos e ainda faltavam 2 anos para acabar. A partir daí começou a
realizar um trabalho na escola voltado a diminuir essa violência e a melhorar a
postura de atletas e torcida. Hoje a escola é reconhecida na cidade pela
mudança de comportamento dos alunos e é sempre convidada para eventos.
Citou também casos de “fair play” por parte de alunos em diversas situações
e considera que uma educação voltada para questões comportamentais dá
bons resultados.
Esse trabalho em equipe, resgatando a autoestima dos alunos e
provocando mudanças na realidade escolar está alinhada ao que diz Tavares
(2016, p. 207) “a moralidade precisa ser objeto de apropriação racional pelos
estudantes e profissionais da escola bem como é preciso se sentir valorizado
para querer agir bem”.

17
O professor Ygor (EW) considera o trabalho em equipe um dos fatores
que contribuem para mudanças comportamentais dos alunos. Em suas
palavras: “Aqui a gente trabalha muito em conjunto. Eu encontro com os
alunos duas vezes na semana, e eles tem a professora de sala que está com
eles o tempo todo, então tudo o que acontece a gente conversa com os
outros professores e principalmente com o professor de sala, e ele acaba
passando para os professores de área, para trabalharmos em conjunto com
aquela criança”. Esse trabalho em equipe, onde todos seguem as mesmas
regras e tem o mesmo objetivo proporciona a criança, pelo exemplo, o
caminho a ser trilhado. Segundo Steiner (2000, p. 122) devemos constituir o
ambiente mais propício para que, junto a nós, a criança se eduque tal qual
deve educar-se por seu destino interior.

18
VÍNCULO DO PROFESSOR A MESMA ESCOLA

Os professores Caio (EP) e Ana (EP) notaram uma mudança de


comportamento dos alunos em relação ao início da sua chegada à escola, e
os dias atuais. Contaram que foi realizado um intenso trabalho de
conscientização desses alunos em relação a regras e valores, principalmente
em relação ao respeito ao próximo, e hoje em dia os problemas diminuíram
bastante, como o professor Caio comenta: “Agressões físicas, hoje na escola,
a gente conseguiu diminuir bastante, com um trabalho de conversa, de
conscientização das consequências desse tipo de agressão, tanto físicas,
como danos psicológicos, mentais, danos de mobilidade”. Ele ainda vê muito
preconceito, em relação a etnia, a constituição física, a capacidade mental,
mas geralmente é feito de forma velada, pois se sentem envergonhados
quando descobertos, já que são repreendidos. Os dois professores
entrevistados encontram-se há anos na mesma escola.
Já Alisson (EP) nos contou que a cada
ano está exercendo seu trabalho em
uma escola diferente, dessa forma,
ficando difícil de estabelecer um maior
vínculo com os alunos e também de
realizar um trabalho mais intenso em
relação a Valores.

19
Após os relatos desses professores fica evidente a importância do
vínculo do professor na mesma escola. Os frutos do trabalho relacionado a
valores muitas vezes levam tempo para aparecer. É preciso envolvimento e
uma vontade de querer fazer algo para aquela escola, aqueles alunos, mas é
um projeto há longo prazo e que precisa da participação de todo o grupo
escolar.
Para a efetivação da vivência da prática e da consciência das regras a
escola passa a ser um ambiente propício “é no ambiente escolar que o sujeito
irá conviver com o âmbito público, estabelecer relações de igualdade e
conviver com a diversidade” (TAVARES, 2016, p. 206).

20
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICA ONDE ESTEJA PREVISTO O
DESENVOLVIMENTO MORAL DO ALUNO

As escolas Waldorf seguem as orientações da Federação das Escolas


Waldorf, e cada escola tem a liberdade para adaptar de acordo com a
realidade da sua escola, mas não tem um Projeto Político Pedagógico.
Em relação a Escola Pública, dos seis professores entrevistados apenas
o professor Renan e a professora Valéria conhecem o projeto da sua escola,
mas o professor Renan (EP) faz críticas: “Você percebe que é um recorte de
um outro projeto de outra escola. Você percebe que não foi feito
especialmente para essa escola, tem vários erros”. Já a professora Valéria
(EP) diz que o projeto é revisto no começo do ano e nele são acrescentados
novos projetos.

O ideal seria que o Projeto Político Pedagógico das Escolas (PPP)


oferecesse um caminho a ser trilhado em relação ao desenvolvimento moral
já que cada escola tem as suas particularidades e sua clientela diferenciada.
A construção do PPP é de fundamental importância, pois ele é a
concretização da identidade da escola e do oferecimento de garantias para
um ensino de qualidade. Quando bem construído e administrado, pode ajudar
alcançar os seus objetivos de forma decisiva. A sua ausência, por outro lado,
pode significar um descaso com a escola, com os alunos, com a educação
em geral, o que, certamente, refletirá no desenvolvimento da sociedade em
que a escola estiver inserida (SOUSA; HUNGER; CARAMASCHI, 2014).
21
CONSTRUÇÃO DAS REGRAS DE CONVIVÊNCIA COM OS ALUNOS

Em relação aos combinados, Ana (EP) acha muito importante construir


junto com os alunos, eles falam o que é necessário para que a aula ocorra de
forma harmoniosa. Esses combinados são reforçados ao longo do ano. Como
a professora atua há alguns anos na mesma escola, ela vê resultados muito
satisfatórios, porque os alunos já sabem quando as regras são quebradas,
como exemplificou com a fala das crianças: “Professora, eu acho que hoje a
atitude dos colegas não foi legal”, ou “porque a gente conversou muito, não
colaborou, não cuidou do amigo”. E na roda de conversa ao final da aula, já
começam a falar e a discutir o que ocorreu. Os alunos que chegam de outras
escolas vão se adaptando aos poucos. Acredita ser de extrema importância
falar toda vez que as regras são quebradas. E completa: “tem que ser algo
pontual, não pode deixar passar, porque se deixar, os outros também vão
achar que podem fazer e você perde”.
Conforme Lepre (2016, p. 27) “as crianças não podem ser deixadas à
sua natureza biológica; é necessário que se proporcione um ambiente onde a
cooperação possa ser experimentada, a fim de que a consciência autônoma
seja construída”.

22
VÍNCULO PROFESSOR ALUNO RESPEITANDO OS SENTIMENTOS E
EMOÇÕES

A professora Bia (EP) disse que trabalha com os alunos a Regra de


Ouro (que significa a regra mais importante) que é “não faça aos outros aquilo
que não gosta que façam a você” e também uma segunda regra que é a
parábola do beija-flor, que quer apagar um incêndio sozinho, mas que
percebe que só consegue com a ajuda dos outros animais. Com essa
parábola busca trabalhar o espírito de equipe. Acredita na importância do
vínculo, do respeito na relação professor aluno, “quando a criança, o aluno,
tem respeito pelo professor ele acaba sendo muito mais solícito do que
quando ele tem medo do professor” (Bia – EP).
Cury (2003) expõe sobre o trabalho
com a emoção, trabalhar com a emoção
é mais complexo do que trabalhar com
os mais intricados cálculos da física e da
matemática. Para o autor a escola não
está conseguindo educar a emoção, os
jovens de hoje em dia precisam de uma
emoção rica, protegida e integrada,
precisam aprender a gerenciar seus
pensamentos, porque a tarefa mais
importante da educação é transformar o
ser humano em líder de si mesmo, dos
seus pensamentos e emoção.

23
O professor Gabriel (EW) procura sempre trabalhar os sentimentos com
as crianças, fazer com que elas se coloquem no lugar nos outros, e se
preocupem com o que o outro está sentindo. E isso dá bons resultados,
quando você chega até o aluno acessando o emocional, sem bronca, sem
acusações, apenas falando do fato, a criança se sente tocada, entendida,
acolhida emocionalmente. Em suas palavras:
“você ganha a criança de um jeito diferente
do que se fossem só regras. Você se torna
um ídolo para ela, alguém muito importante,
e essa referência de professor é muito
importante” (Gabriel – EW).

Segundo Lanz (2013) à


relação entre professor-aluno é
essencial para a formação dos
alunos e necessita ter como base o
amor e, principalmente, o respeito
mútuo entre os mesmos.

24
JOGOS COOPERATIVOS, FAVORECENDO A AUTONOMIA E INCLUSÃO

Os próprios jogos e brincadeiras na aula, onde os alunos, além do


respeito às regras do jogo e aos colegas, aprendem a trabalhar em equipe
contribuem para o trabalho com a moralidade.
O professor Caio (EP), utiliza os jogos cooperativos, as rodas de
conversa também atividades que são dadas poucas orientações ou regras e
que durante as atividades os alunos têm o poder de transformá-la, para
adequá-la as necessidades de cada turma ou meio em que se vive. Ele
comenta que na escola em que trabalha tem muitas inclusões e os próprios
alunos fazem as adaptações às regras para que todos possam participar de
forma que uns não tenham vantagens sobre os outros, também a professora
Valéria (EP) acredita que as atitudes tomadas caso o aluno não cumpra as
regras ajuda para que melhorem seu comportamento, mas diz que alguns
conteúdos ajudam muito também, como os jogos cooperativos, onde um
trabalha ajudando o outro com objetivos em comum, que no final todo mundo
ganha, em suas palavras “a competição é muito importante, mas trabalhar
também alguns projetos como esses, dos jogos cooperativos, tem muito a
ajudar nessa questão, de respeito, de um ajudar o outro”.
As atividades cooperativas aumentam a segurança nas capacidades
pessoais e contribuem para o desenvolvimento no sentido do pertencer a um
grupo. Nessas atividades ninguém perde e ninguém é isolado ou rejeitado
porque falhou (ALMEIDA, 2003).

25
Nas escolas Waldorf busca-se trabalhar nos primeiros anos os Jogos
Cooperativos, para mostrar à criança a importância do trabalho em equipe e
da cooperação e aos poucos vai sendo introduzido jogos que envolvem
competição. O professor Ygor (EW) comenta que tinha dificuldade com uma
sala, onde os alunos não aceitavam perder, quando isso acontecia, não
queriam mais participar do jogo. Desenvolveu um jogo, em forma de circuito,
onde eles tinham que se ajudar para poderem passar, não tinha ganhador ou
perdedor, mas todos tinham que se ajudar e terminar a atividade juntos.
Nesse trabalho procurou mostrar que é preciso respeitar às diferenças, que
um pode ser mais forte, o outro mais ágil, mas todos tem que se ajudar. Notou
uma melhora na sala após ter executado várias vezes a atividade. O trabalho
realizado pelo professor com a cooperação nos remete a frase de Freire
(2005, p. 58) “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: Os
homens se libertam em conjunto”.
Conforme Tavares (2016, p. 206) “não basta um projeto para a
autonomia, é preciso oferecer um ambiente escolar que seja, efetivamente,
propício para tal conquista”.

26
BUSCAR RESOLVER OS CONFLITOS SEMPRE PRIMEIRO ATRAVÉS DO
DIÁLOGO

Tanto os professores das Escolas Públicas quanto os das Escolas


Waldorf acreditam na conversa como principal meio para resolver conflitos.
Sempre buscam conversar com o aluno, e quando é algo recorrente, retiram o
aluno temporariamente da aula, para que se acalmem e possam continuar
participando da aula. Também, em casos mais graves, deixam o aluno fora da
aula, um ou dois dias. Somente em casos muito graves, de agressão física os
alunos são encaminhados à direção.
O professor Alisson (EP) disse que nunca retira os alunos das aulas,
chama-os para uma conversa, e que assim que o problema está resolvido o
aluno volta para a atividade, independente da gravidade da situação. O
professor busca sempre falar baixo, nunca altera a voz e as crianças, em
algumas turmas, já estão deixando de gritar, aguardando o professor falar,
isso o deixa feliz por provocar uma mudança de atitude nas crianças. Essa
atitude dos professores de procurar primeiramente resolver os conflitos por
meio da conversa, do diálogo é uma forma de respeito ao aluno, de buscar
com que reflitam sobre suas atitudes e que essa prática ultrapasse os muros
da escola. Segundo Gardner (1995) dialogar é contar experiências, é
segregar o que está oculto no coração, é penetrar além da cortina dos
comportamentos, é desenvolver inteligência interpessoal.

27
A professora Ana (EP) diz gostar muito da Pedagogia Dialógica e das
ideias de Paulo Freire, que é o diálogo na construção da sociedade, na
relação entre as pessoas. Que o diálogo é capaz de construir coisas muito
positivas, de trazer a comunidade pra dentro escola, de trazer os alunos pra
dentro da escola e juntos construir uma realidade escolar positiva, e
influenciar também no que está sendo trabalhado. Ela utiliza muito o diálogo
nas aulas, considera que precisa estudar mais, mas a respeito de valores e
respeito é o que ela mais vê resultado.
Segundo Araujo (2007), nas práticas dialógicas há muitas vezes um
conflito, pois pode-se discordar da opinião de outrem, contudo não há a
necessidade de vencedor e perdedor, há o respeito e a consideração das
diferenças.

28
NUNCA CHAMAR A ATENÇÃO DO ALUNO EM PÚBLICO E BUSCAR
SEMPRE LEVÁ-LO A REFLETIR SOBRE SUAS ATITUDES

A professora Larissa (EW) considera extremamente importante pautar as


aulas com regras e cobrar isso dos alunos. Sempre chama o aluno para uma
conversa quando faz algo errado, mas nunca chama a atenção em público.
Essa forma de tratar os alunos com respeito sempre traz bons resultados,
mesmo que ele fique chateado por sair da aula naquele momento que
gostaria de estar participando, mas depois reconhece o erro e procura o
professor pedindo desculpas. Ela acredita que resolver os conflitos com
conversa sempre traz mais efeitos do que simplesmente encaminhar para a
direção, pois leva o aluno a reflexionar e buscar corrigir seus erros.
Cury (2003) alerta que chamar a atenção ou apontar em público um
erro ou defeito pode gerar um trauma inesquecível que os controlará durante
toda a vida. O correto seria ao invés de uma grande bronca, chama-los em
particular e corrigi-los. Fala da importância de estimular os jovens a refletir.
“Quem estimula a reflexão é um artesão da sabedoria” (CURY, 2003, p. 87)
O professor Renan (EP), considera muito importante quando precisa
retirar o aluno da aula, leva-lo a reflexão do porque está fora da aula, para
que entenda que toda atitude tem uma consequência. Busca mostrar ao aluno
o que ele acha certo ou errado na situação que ocorreu o conflito ou
problema, e buscando com que o aluno reflita. Em suas palavras: “sempre
falo que não sou o dono da verdade, eles podem discordar, mas que dentro
do que eu penso ser certo, eu agiria assim, e tento fazê-los refletirem sobre
isso”.

29
O trabalho do professor está alinhado ao currículo da sua cidade, que
tem como objetivo da área de Educação Física o desenvolvimento da cultura
corporal de movimento, contemplando além do saberes corporais, saberes de
ordem conceitual e um saber ser (constituição das atitudes, valores, hábitos,
comportamentos) de forma integrada, possibilitando a construção do
conhecimento junto ao aluno (BAURU, 2016).

30
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS ATRAVÉS DE HISTÓRIAS PEDAGÓGICAS

A professora Larissa (EW) comenta que os professores da sala


trabalham moralidade, sem precisar falar que está trabalhando isso, apenas
com as histórias. É muito comum nas aulas de Educação Física também o
professor trabalhar com essas “Histórias Pedagógicas”, que são Histórias
criadas pelo professor, a partir de um problema ocorrido na aula, para que o
aluno entenda que determinada atitude não foi correta. Cita o exemplo de um
aluno que sempre faltava com a verdade, e que ela criou uma História de um
menino que mentia muito e quando estava em perigo ninguém o ajudou por
não acreditar no que ele falava. Essas Histórias podem ser transformadas em
Jogos.
Tanto as Histórias, quanto os Jogos acabam ajudando na Formação de
todas as crianças, pois ouvindo e vivenciando a criança acaba percebendo
em si o que precisa ser aprimorado.
Por meio das Histórias, o professor Gabriel (EW) procura trabalhar com
os pequenos o desenvolvimento moral. Conforme Cury (2003, p. 134) “contar
história é psicoterapêutico, fisga o pensamento e estimula a análise. Os
jovens podem se esquecer de suas críticas e regras, mas não esquecerão
das suas histórias”.

31
TRABALHO COM MÚSICA

Os professores das Escolas Waldorf relaram que percebem uma


mudança no comportamento das crianças através de um trabalho com a
música nas aulas. A professora Milena inicia a aula com música e acha
importante esse momento onde com todos se abraçam, e as regras já vão
sendo transmitidas, por exemplo: abrace o amigo com cuidado, sem
empurrar, nada de brigas, também faz com que os alunos mais tímidos se
aproximem dos outros, cumprimentando, abraçando e beijando o colega.
Passos importante que devem ser utilizados também no convívio fora da
escola. Ela nota uma mudança de comportamento dos alunos após as
intervenções, porque no início do ano é sempre mais difícil, e com o passar
do tempo a aula caminha bem e as brigas quase nunca acontecem, e relata:
“proponho uma atividade e todos realizam. Às vezes no final da aula eu deixo
um deles escolherem uma atividade. Essa é uma forma de ajudar para que se
desenvolvam” (Milena – EW). Como cita Cury (2003, p. 79) “bons professores
educam para uma profissão, professores fascinantes educam para a vida”.

32
O professor Ygor (EW) também começa a aula com um jogo rítmico, que
ajuda a desenvolver a percepção corporal. De acordo com a idade vai ficando
mais difícil. Por exemplo, no terceiro ano eles já fazem ritmo com canto e não
é só mais o gesto de imitação, tem uma percussão, tem palma, estalar de
dedos, batida de pés. A aula é dividida em três partes, a primeira o jogo
rítmico, a segunda o jogo em si e a terceira é a volta a calma, em roda
novamente com um jogo mais tranquilo. Nesses momentos aproveita para
repassar os combinados e conversar sobre algo que ocorreu na aula.
Os professores buscam através da música um contato mais intenso com
os alunos e também uma melhora no relacionamento entre as crianças,
aproveitando o momento mais tranquilo que se encontram para transmitir
também regras e valores.

Palma e Palma (2010, p. 193) apontam que podemos considerar que


todo professor é também professor “de moral”, porque constrói relações em
que a heteronomia ou a autonomia estão presentes. Para os autores, as
crianças chegam à escola em fase de desenvolvimento sócio moral, portanto,
este ambiente é uma das instâncias em que este desenvolvimento se
completa, já que o desenvolvimento da moralidade está relacionado à
qualidade das intervenções vivenciadas no cotidiano escolar.

33
PROFESSOR BUSCANDO TER ATITUDES DENTRO E FORA DA
ESCOLA QUE POSSAM SERVIR DE EXEMPLO PARA OS ALUNOS

Foi unânime a resposta que consideram importante, como cita o


professor Renan (EP) “se queremos que o aluno nos respeite é preciso
respeitá-lo também”. Nunca tenta convencer o aluno a mudar de opinião,
cada um tem a sua, mas é preciso respeitar. Para a professora Bia (EP) ser
professor é ser 24 horas professor, porque mesmo na rua os alunos estão
prestando atenção em suas atitudes e é preciso fazer o correto para dar bons
exemplos. A professora Valéria (EP) diz que o que passamos aos alunos é
muito do que aprendemos na nossa casa e vamos transmitindo a eles, como
ensinar a pedir licença, cumprimentar as pessoas, ser gentil. O professor Caio
(EP) lembra que os alunos estão observando o professor o tempo todo, e
acabam reproduzindo as suas atitudes, sejam eles positivas ou negativas.
Cury (2003) nos fala sobre a importância dos educadores, que “apesar
das suas dificuldades, são insubstituíveis, porque a gentileza, a solidariedade,
a tolerância, a inclusão, os sentimentos altruístas, enfim, todas as áreas da
sensibilidade não podem ser ensinadas por máquinas, e sim por seres
humanos” (CURY, 2003, p. 65).
Para o professor Ygor (EW) os professores assim como os pais são os
maiores exemplos dos alunos, e hoje em dia, como muitas crianças não tem
os pais presentes em casa, o espelho maior acaba sendo o professor, daí a
importância de ter atitudes que possam ser seguidas. A professora Larissa
(EW) diz que precisamos ser dignos para sermos um bom espelho para
nossos alunos, e não podemos falar uma coisa e fazer outra porque quando
se trabalha com a inverdade, moralmente a gente está ‘perdido’. “Eles sentem
as coisas dentro da gente. Trabalhar com a verdade é a base da moralidade”
(Larissa – EW).

34
Esse “exemplo” citado pelos professores, segundo Rudolf Lanz, vai além
do que a criança observa nas atitudes dos professores. A permeabilidade da
criança ao que se acha ao redor dela é um fato que todo educador deveria
conhecer e levar em conta. A criança absorve inconscientemente não só o
que existe ao seu redor sob o aspecto físico; o clima emotivo que a circunda,
o caráter e os sentimentos das pessoas que a rodeiam, tudo isso penetra na
criança e é absorvido (LANZ, 2013, p. 41).

35
PROFESSOR ESTAR SEMPRE BUSCANDO NOVOS CONHECIMENTOS,
REALIZANDO CURSOS, SEMINÁRIOS E UTILIZANDO-OS NA SUA
PRÁTICA

Tanto os professores das Escolas Públicas como os das Escolas Waldorf


buscam utilizar os conhecimentos que adquirem em cursos, palestras e novas
metodologias em suas aulas, almejando proporcionar uma aula diferenciada e
uma relação professor-aluno mais eficaz. Essa vontade de se aperfeiçoar, de
querer aprender mais, auxilia tanto o aluno, com uma melhor qualidade na
aula, mas também o professor, que se sente mais confiante e preparado.
A professora Bia (EP) acha muito importante estar sempre se
atualizando e buscando melhorar o trabalho com os alunos, citou uma
palestra que ouviu recentemente sobre Metodologias Ativas e também a
Pedagogia Waldorf que sabe um pouco a respeito. Já a professora Valéria
(EP) está ouvindo falar agora da questão socioemocional e gostaria de
conhecer mais cursos, livros e autores que tratem da questão de Valores
Morais porque acredita que nos dias de hoje é necessário trabalhar essas
questões para poder ensinar os conteúdos das aulas.

36
A professora Larissa (EW) diz que vê muitos professores da Escola
Tradicional procurarem cursos da Pedagogia Waldorf, segundo a professora
são oferecidos muitos cursos. Já professora Bruna (EW) relata que são
poucos os métodos de ensino que trazem a formação moral como objetivo
aplicado na prática. Ela diz: “Eles são aplicados mais como um ensino
‘cartilhesco’ do que como ensino vivencial”.
Para Freire (1996) o preparo científico do professor ou da professora
deve coincidir com sua retidão ética. É preciso coragem para ser professor, e
Ele se tornará inesquecível quando seus alunos fizerem à diferença, quando
ele começar a colher os frutos de um trabalho bem feito, de educação bem
fundamentada em conceitos científicos e morais que não foram apenas
repassados de maneira não objetiva, mas sim em uma prática docente
responsável e que teve a preocupação de experimentar aquilo que se propôs
a ensinar. O professor é responsável também pela formação da vida social.

De acordo com Rossi e Hunger (2012) a formação continuada contribui


para a modificação da profissionalização do professor e desenvolve domínios
necessários à sua qualificação, como também atua no exame de possíveis
soluções para os problemas reais do ensino.
37
AVALIAR O ALUNO TAMBÉM EM RELAÇÃO A ATITUDES, FAZENDO
COM QUE ELE SAIBA QUE SEU COMPORTAMENTO TAMBÉM É
IMPORTANTE

Dos seis professores de Educação Física entrevistados que atuam em


Escolas da Rede Pública quatro recorrem aos comportamentos e atitudes
para avaliarem os alunos e os utilizam para atribuir um conceito ou nota.
Como podemos observar no relato dos professores: Alisson: “dou nota pelo
comportamento e participação, mais pelo comportamento”, Renan: “vejo se
ele convive bem com os outros”, Ana: “eu lembro se esse aluno tem uma boa
atitude, se ele respeita os amigos, cumpre as regras do jogo, da atividade, da
aula” e Bia “a questão do comportamento e atitude é um dos parâmetros para
eu avaliar”. Além da observação ela pede para seus alunos se autoavaliarem,
assim como a professora Valéria. Segundo Darido e Rangel (2005) é
importante a autoavaliação pois o aluno poderá avaliar-se no início e término
sobre o conhecimento adquirido e através disto ele poderá fazer uma análise
de si mesmo.

Os professores das Escolas Waldorf explicaram que eles têm um boletim


onde escrevem como o aluno está se desenvolvendo na parte motora,
comportamental e se participam das aulas. Cada escola tem autonomia para
criar o seu próprio boletim, que é entregue aos pais na reunião de pais, onde
participa o professor da sala e também os professores de áreas.

38
O professor Gabriel (EW) sobre a atribuição de notas diz: “Me importa
muito mais eu dizer para os alunos e famílias o que aconteceu, quem é o
aluno, o que ele tem feito, do que eu colocar uma nota fria, morta, que não diz
nada”. Ele utiliza como critério também o envolvimento, que conta a
pontualidade, a sua disposição pra estar em aula, o esforço, ou pode falar
apenas do esforço. Avalia o conteúdo prático, se realizou a atividade com
técnica. E também o social, se ajuda o outro, se é proativo, se briga por
qualquer coisa. E completa: “É uma avaliação livre, mas pra gente é muito
consciente, o que a gente quer que eles tenham como retorno, porque vai ser
bom para toda a vida dele” (Gabriel – EW).
Sobre a avaliação na Pedagogia Waldorf também é levado em
conta o quanto o aluno se esforçou para alcançar algum resultado, seu
comportamento e o espírito social. Sem dar uma nota, o professor descreve
seu aluno, buscando valorizar o que há de bom e criticando somente o que o
aluno ainda teria melhor capacidade de produzir (LANZ, 2013).

39
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Durante as entrevistas e também através da literatura estudada
concluímos que o professor tem uma grande influência na vida do aluno. Ele é
observado pela criança constantemente e suas atitudes servem de exemplo.
O professor é responsável também pela formação da vida social. O que
nos leva a buscar sempre novas maneiras de inovar a prática cotidiana,
pensando em criar estratégias para que os objetivos sejam atendidos.
Concluímos que a educação de valores é uma necessidade da atual
sociedade que ao longo dos anos vem perdendo seus referenciais de valor,
seus costumes e conceitos morais, e a escola, principalmente as aulas de
Educação Física são um ambiente propício, através de uma intervenção
consciente e pontual dos professores, buscando promover uma educação que
supere a preocupação apenas com o físico e cognitivo, mas que busque o
desenvolvimento emocional e afetivo, respeitando os sentimentos e emoções,
auxiliando na construção da autonomia e almejando um processo de
aprendizagem significativo e integral.

41
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lúdica para a paz. In: CONGRESSO ESTATAL Y I IBEROAMERICANO DE
ACTIVIDADES FÍSICAS COOPERATIVAS, 3, 2003, Gijón (Astúrias). Anais
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43
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