Oliveira Akz Me Bauru
Oliveira Akz Me Bauru
Oliveira Akz Me Bauru
Faculdade de Ciências
Campus de Bauru – SP
BAURU – SP
2020
ANA KEILA ZANIN DE OLIVEIRA
BAURU – SP
2020
Oliveira, Ana Keila Zanin de.
Educação Física, escola pública e a pedagogia
Waldorf : análise do ensino e aprendizagem de valores
morais / Ana Keila Zanin de Oliveira, 2020
140 f. : il.
Agradeço em primeiro lugar a DEUS pelo dom da vida e por permitir que mais um
sonho fosse realizado.
Ao meu saudoso pai, Hilário, que foi um exemplo de fé, força e coragem, que jamais
será esquecido.
A minha tão amada mãe Maria Sidney companheira de todas as horas, por todo seu
apoio e amor incondicional.
Ao meu muito amado filho Tales, pelo seu carinho, amor e compreensão e por ser a
minha inspiração.
Aos meus alunos por também me ensinar muito ao longo dessa caminhada.
A todos os professores que fizeram parte da minha vida, por todo carinho, dedicação
e exemplo que me fizeram escolher essa profissão.
A minha orientadora Prof.ª Dr.ª Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger pela
confiança, paciência e sabedoria ao longo desta trajetória.
Aos Professores Dr. Carlos Eduardo Lopes Verardi e Dr. Evandro Antonio Corrêa por
terem aceito o convite para compor a banca de qualificação e pelas valiosas
contribuições para pesquisa.
Aos professores que participaram dessa pesquisa pela tão valiosa contribuição.
RESUMO
ABSTRACT
In Physical Education classes, we may have conflicts among students, such as lack of
respect, bullying, lack of empathy, physical and verbal aggression, intolerance and,
other problems related to inappropriate behavior in this environment. The family and
school staff's concern about these issues makes us look for different ways to work, not
only cognitive learning but also the social and emotional aspect. Regarding this and
trying to get to know different approaches to work with moral values, we interviewed
Physical Education teachers from Public and Waldorf schools from two cities in the
countryside of São Paulo. That way, in this research we aim to analyze the moral
development of students according to the Physical Education teachers' understanding
in these contexts, regarding a) show how students learn moral values in Physical
Education classes in the public system and Waldorf school; b) ascertain the challenges
and/or confrontations in the students' moral formation and; c) ascertain pedagogical
practices that differ in the formation of moral values. It is qualitative research and for
data collection, and it was used a semi-structured interview as a research instrument.
The data was analyzed concerning the literature review and according to the content
analysis. We found in the scope of the research that Physical Education teachers try
to work students' moral development, but there may be some factors to contribute to
greater outcomes; such as the teacher's connection to the same school, for long-term
results; the participation of the entire school staff and the support between the
curriculum components and the family participation. We concluded that moral
education is necessary in the current society; the school and mainly the Physical
Education classes are a favorable environment. Through a conscious and punctual
intervention, the teachers may promote an education that overcomes the concern only
with the cognitive, and attempt emotional and affective development, respecting
feelings and emotions, helping in the construction of autonomy and aiming at a
meaningful and integral learning process.
APRESENTAÇÃO ................................................................................................... 13
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 15
2 VALORES MORAIS E A ESCOLA ...................................................................... 21
2.1 Formação dos valores morais .......................................................................... 21
2.2 Legislação e valores morais ............................................................................ 25
2.3 Escola Pública e a Legislação Municipal ......................................................... 29
3 PEDAGOGIA WALDORF .................................................................................... 32
3.1 A Escola Waldorf ............................................................................................. 32
3.2 A Pedagogia Waldorf no Brasil ........................................................................ 33
3.3 Características e objetivos da pedagogia Waldorf ........................................... 34
4 METODOLOGIA .................................................................................................. 39
4.1 Delineamento da pesquisa .............................................................................. 39
4.2 Universo da pesquisa ...................................................................................... 40
4.3 Participantes da pesquisa ................................................................................ 41
4.4 Procedimentos para coleta dos dados ............................................................. 42
4.5 Procedimentos para a análise dos dados ........................................................ 43
5 O ENSINO DE VALORES MORAIS NA PERSPECTIVA PROFESSORAL ........ 46
5.1 Formação moral e o papel da família ............................................................... 46
5.1.1 Formação moral – conceitos ....................................................................... 47
5.1.2 O papel da família e da sociedade na formação moral ................................ 51
5.2 O papel do professor de educação física, seus desafios e enfrentamentos ..... 56
5.2.1 Regras de convivência nas aulas de Educação Física ................................ 61
5.3 A contribuição do professor de Educação Física no desenvolvimento da
moralidade dos alunos ............................................................................................. 68
5.3.1 Valores a serem trabalhados na escola ....................................................... 68
5.3.2 O professor e o desenvolvimento moral ...................................................... 71
5.3.3 O professor como exemplo .......................................................................... 73
5.4 A avaliação dos valores morais ....................................................................... 77
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 82
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 84
ANEXOS .................................................................................................................. 90
ANEXO A – Parecer Consubstanciado do CEP – Versão 2 ..................................... 90
ANEXO B – Parecer Consubstanciado do CEP – Versão 1 ..................................... 92
APÊNDICES ............................................................................................................ 95
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos Professores ...... 95
APÊNDICE B – Roteiro da Entrevista aos professores de Educação Física. ........... 97
APÊNDICE C – Transcrição das Entrevistas............................................................ 98
13
APRESENTAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Está cada dia mais comum a conversa sobre valores na escola, e, na maioria
das vezes, sobre a falta deles. Quando esse assunto acontece na sala dos
professores, quase sempre a conversa termina com frases como: valores deveriam
ser ensinados em casa; educação vem do berço; se a família não educa o que
podemos fazer? O papel da família é parte fundamental nessa questão, mas também
a escola e os professores fazem parte da educação dessas crianças, e muitas vezes
a maior referência para eles são os professores, pois muitas vezes as crianças
passam mais tempo com os professores do que com os pais.
A formação moral é pertinente e está presente como tema transversal nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) como podemos confirmar na citação que
segue.
Essa valorização dos aspectos morais é o que temos por objetivo averiguar de
que maneira ocorre nas aulas de Educação Física. Se por um lado, as aulas de
Educação Física proporciona um maior contato com os alunos, por outro, muitas
vezes, o trabalho do professor fica prejudicado por conflitos relacionados a problemas
de convivência, como: intolerância com os colegas com menos habilidades, agressões
verbais e algumas vezes físicas, preconceito em relação à participação de meninas
em algumas brincadeiras e outros, o que faz com que busquemos alternativas para
tentar minimizar esses conflitos e procurarmos soluções que possam contribuir não
apenas para o momento presente, mas que provoque mudanças significativas dentro
e fora da escola.
Esses conflitos, ocasionados na convivência com os demais, pode se tornar
uma oportunidade para que o professor, utilizando sua habilidade, capacidade de
interpretação e improvisação, decida qual é a melhor estratégia diante do evento
apresentado, para que possa trabalhar as questões morais. Segundo Tardif (2002), o
saber docente é um saber plural, que se dá na confluência de vários saberes oriundos
17
[...] e está orientado pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam à
formação humana integral e à construção de uma sociedade justa,
democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares
Nacionais da Educação Básica (DCN) (BRASIL, 2017, p. 7).
Em relação à Legislação Municipal, uma das cidades que faz parte da nossa
pesquisa, apresenta além do Plano Municipal de Educação, um Currículo Comum
para o Ensino Fundamental elaborado com o apoio dos professores e que envolve
todos os componentes curriculares, onde encontramos assuntos relacionados ao
tema estudado. Já a outra cidade, não tem um currículo próprio, e segue a BNCC e
este ano o Currículo Paulista.
30
3 PEDAGOGIA WALDORF
De acordo com Lanz (2013) são três os princípios que devem ser realizados
para que uma escola Waldorf possa existir: O primeiro seria a liberdade quanto às
metas de educação, o segundo é a liberdade quanto ao método pedagógico, que é
principalmente por este que ela se distingue das outras escolas. E o terceiro princípio
é a liberdade quanto ao currículo, isso significa que a escola Waldorf contempla todas
as disciplinas obrigatórias exigidas pelos programas oficiais de ensino e pode
acrescentar matérias adicionais e também determinas a época do ano que as matérias
possam ser ensinadas.
Sobre a flexibilidade do currículo, Lanz explica:
A partir de então, o movimento tem se expandido com novas escolas em Aracajú (SE),
Belo Horizonte (MG), Botucatu (SP), Brasília, Curitiba (PR), Cuiabá (MT), Florianópolis
(SC), Fortaleza (CE), Friburgo (RJ), Juiz de Fora (MG), Ribeirão Preto (SP), Rio de
Janeiro (RJ), Salvador (BA), entre outras, conforme apresentado no curso de
Fundamentação em Pedagogia Waldorf de Belo Horizonte (CWBH), consultado em
2018. Não há uma administração central; cada Escola é independente, contudo,
existem associações que apoiam o movimento (geralmente formada por pais de
alunos ou algum grupo que apoia a pedagogia), promovendo cursos e congressos de
atualização de professores e, muitas vezes, ajuda financeira.
De acordo com a matéria veiculada pelo jornal Folha de São Paulo (2018) sobre
a criação da primeira faculdade Waldorf no Brasil, o número de escolas, em nosso
país, autorizadas a usar a metodologia pela Federação de escolas Waldorf é de 74
escolas, com 9.702 estudantes, mas existem 130 escolas no processo de certificação.
Dentre as escolas oficiais, o Estado de São Paulo concentra a maior parte, 40. Há
mais de 20 anos eram apenas 9.
Importante destacar também a importância da Faculdade Rudolf Steiner no
Brasil, que iniciou as aulas em fevereiro de 2018, com um curso de Pedagogia que
ensina, aliado ao ensino tradicional, a pedagogia Waldorf, onde os graduados poderão
dar aulas em quaisquer escolas, inclusive as públicas, aliás, essa é a intenção do
grupo que estruturou o curso. Um dos motivos da faculdade no Brasil é pelo
crescimento das Escolas Waldorf em nosso país e também para que os futuros
pedagogos conheçam a Pedagogia Waldorf e mesmo atuando em Escolas Públicas
levem consigo os conceitos Waldorf e possam incorporá-los em sua prática diária.
Também para Piaget (1967a, 1975), é nesse estágio, que denomina de estágio
das operações formais ou abstratas, que o adolescente apresenta estruturas mentais
que o permitem realizar operações baseadas num tipo de raciocínio abstrato.
O que predomina agora é o desenvolvimento do raciocínio lógico, analítico e
sintético, prevalecendo nesta fase o pensar. A partir desse setênio a intenção é tornar
o jovem plenamente desperto e consciente, preparando-o para melhor lidar com os
desafios da vida (LANZ, 2013).
Lanz (2013) complementa dizendo que a pedagogia Waldorf tem a
preocupação em formar o ser humano, desenvolvendo-o harmoniosamente em todos
os seus âmbitos: inteligência, vontade, conhecimentos, ideais sociais; e trabalhando
suas habilidades e qualidades inatas, de forma que este desenvolva um
relacionamento sadio com o mundo – incluindo os outros seres humanos. Porém, é
importante ressaltar que esta formação não ocorre sem conhecimento. O diferencial
na Pedagogia Waldorf é que o conhecimento é utilizado como ferramenta para o
desenvolvimento humano e não apenas com fim em si mesmo. Por isso seus
conteúdos devem ter relação com a vida de forma a trazer uma imagem do mundo
real para dentro da sala de aula.
A partir do conhecimento que o professor precisa ter das fases de
desenvolvimento humano, ele atua por meio de sua arte de educar com algo que seja
verdadeiro para ele. A disposição e o empenho têm muito valor na prática com os
alunos. Afinal, como Lanz (2013, p. 118) coloca “os professores são a alma viva de
uma escola Waldorf, se deixam de crescer e de se desenvolver, a escola para e
definha. Nunca devem cair numa rotina didática”.
O professor é, portanto, o representante da Pedagogia Waldorf e deve ter
consciência de que seu trabalho não visa apenas o intelecto e os sentimentos de seus
alunos, mas tem por meta última seu desenvolvimento espiritual e moral. A relação
professor-aluno é o cerne da Pedagogia Waldorf. O íntimo relacionamento entre
professor e aluno é considerado um dos princípios básicos no seu currículo. Os
professores precisam conhecer profundamente seus alunos para assim desenvolver
seu aprendizado da melhor maneira possível e necessita ter como base o amor e,
principalmente, o respeito mútuo entre os mesmos (LANZ, 2013).
Sobre a importância do amor a profissão Steiner pontua:
Para manter essa relação mais próxima, e o vínculo com o aluno não se
desfaça, Steiner propõe que a figura do professor não mude a cada ano, mas sim, que
este se mantenha com as mesmas crianças durante oito anos, conduzindo-as por todo
seu processo de aprendizagem. O professor de classe, assim chamado, conduz então
a criança por quase todo o Ensino Fundamental (do 1.º ao 8.º, uma vez que na Escola
Waldorf, o 9.º ano é considerado como parte do Ensino Médio) em praticamente todas
as disciplinas. Já no Ensino Médio, onde o aluno tem outras necessidades, este será
ensinado por professores especialistas de cada área do conhecimento, mas terá um
professor tutor que acompanhará a turma durante todo o ensino médio, fazendo uma
ponte entre a sala de aula e os outros professores.
Segundo Lanz (2013, p. 83) “um aspecto essencial desse processo é que o
professor conheça profundamente seus alunos, suas dificuldades e habilidades, e a
partir disso, norteie seu trabalho com cada criança”.
Após estudarmos as legislações que regem a Escola Pública e o que
caracteriza as Escolas Waldorf, buscamos investigar junto aos professores quais as
dificuldades e enfrentamentos no cotidiano escolar.
39
4 METODOLOGIA
[...] não se trata de um simples diálogo, mas sim, de uma discussão orientada
para um objetivo definido que, através de um interrogatório, leva o informante
43
tempo que a gente vive”. Dessa maneira o professor concorda com Menin (1996, p.
54) quando ele afirma que “a convivência de criança com outras crianças é um dos
melhores espaços para a construção da moralidade”.
A escola é como um espaço de construção e reflexão de experiências
importantes para a vida social do homem que contribuirão para o desenvolvimento de
um indivíduo, nos aspectos afetivos, sociais, filosóficos e científicos visando à
preparação do mesmo para a construção de sua cidadania.
Assim, a educação precisa estar comprometida com valores éticos. Como
constatamos em Fagundes (2001), educar não é somente informar, transmitir
conhecimentos, mas também integrar o educando em uma cultura com características
particulares, como a língua, as tradições, as crenças e os estilos de vida de uma
sociedade.
Quando falamos em Formação Moral, na resposta de cinco, dos doze
professores entrevistados aparecia a palavra “Valores”, como observamos nas falas
das professoras de Escolas Públicas:
[...] Tem a ver com os valores, que a gente traz [...] (Ygor – EW).
[...] É a educação que trazemos de casa, é ética moral, dos pais, dos avós,
do respeito ao próximo, é formada em casa mesmo, e que depois vai se
estender para outros lugares [...] (Valéria – EP).
[...] São uma serie de qualidades que trazemos de casa, na relação com os
irmãos, por exemplo, aprendemos as trocas, o respeito, como falar, como agir
e reagir [...] (Gabriel – EW).
por não acreditar no que ele falava. Essas histórias podem ser transformadas em
Jogos.
Tanto as Histórias, quanto os Jogos acabam ajudando na Formação de todas
as crianças, pois ouvindo e vivenciando a criança acaba percebendo em si o que
precisa ser aprimorado. O professor Darlan, que trabalha junto com a professora cita
também a Ginástica Bothmer, que é uma ginástica que trabalha bastante a parte física,
mas que tem momentos de pleno silêncio, onde, segundo o professor é trabalhado
também a parte espiritual. Geralmente cinco minutos no início ou final da aula, nos
exercícios de volta à calma, tem momentos de silêncio completo, onde a criança busca
entrar em contato consigo mesma, se acalmando e revendo suas atitudes.
Acreditamos, assim como Menin (2002, p. 99) que:
[...] a educação moral se faz pela ação orientada por alguns princípios
fundamentais, tais como a justiça, a dignidade, a solidariedade, iluminados
pelo respeito mútuo entre as pessoas e que pode ter um alcance cada vez
maior. Nessa educação moral não há lugar para certezas, mas as dúvidas
podem ser sempre discutidas. E é essa discussão o método de educação
moral.
Também para Changeux (1999, p. 32) “[...] a educação pode contribuir com o
aprendizado do ‘viver junto’, do ‘não odiar’, pela formação do governo de si mesmo e
pelo reforço da consciência do justo e do injusto”.
E esse “viver junto” tanto na convivência com os familiares, quanto na escola,
convivendo com os colegas, com professores e demais funcionários proporcionam
inúmeras situações de aprendizado. Diz Piaget (1967b) que, se para aprender
matemática, química ou gramática é necessário realizar experimentos e analisar
textos, para aprender a viver em grupo é necessário ter experiências de vida em
comum.
Em última análise, toda educação tem a finalidade de conduzir o homem a
possuir o livre-arbítrio; mas isso não significa que essa liberdade já lhe seja outorgada
durante esse período de preparo. Segundo a Antroposofia, “o jovem e o adolescente
têm que caminhar através de estados de independência, diferentes entre si conforme
a idade, para amadurecer e adquirir a capacidade do livre-arbítrio, que implica a de
resistir à manipulação mental” (LANZ, 2013, p. 143).
51
tudo aqui pra escola”. Então, ela vê a necessidade de trabalhar, além dos conteúdos
curriculares, as questões de relacionamento, de valores, para que os conteúdos
próprios da disciplina possam ser melhores assimilados.
Nesse sentido, constatamos que os professores se mostraram bastantes
apreensivos em relação ao distanciamento da família e a falta de uma postura mais
ativa dos pais e familiares. Esse distanciamento da família é maior nas Escolas
Públicas, não sabemos ao certo qual o motivo que leva os pais e familiares a não
participarem da vida escolar das crianças. Talvez o fato de trabalharem fora o dia todo,
ou serem convidados a irem à escola poucas vezes, geralmente quando o filho faz
algo errado, ou talvez seja pelo pouco valor que a família consagra aos estudos.
Dessa forma, se faz necessário um trabalho mais intenso dentro da escola
para suprir essa falta. É necessário reconhecer que a escola precisa valorizar, além
do físico e cognitivo, o desenvolvimento afetivo e social do educando. Para isso, se
faz necessário que o professor além de ter domínio dos conhecimentos específicos,
tenha uma profunda vontade de preparar o aluno para uma vida em sociedade. Além
da família, a escola é o espaço extremamente propício para a formação do educando
explicitando regras e valores.
Sobre a importância da escola como espaço adequado para formar indivíduos
aptos a conviver bem em sociedade enfatizamos a seguinte afirmação:
Caio (EP), diz que é na família o primeiro contato que a criança tem com as
noções de moral e de ética e destaca a importância do exemplo na formação da
criança: “O próprio meio familiar dá os primeiros estímulos em direção a essa
formação por meio das condutas que as crianças observam nas atitudes dos pais”
(Caio – EP).
No seu livro Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, André Comte-Sponville
(2009, p. 7), oferece um entendimento a respeito: “Se a virtude pode ser ensinada,
como creio, é mais pelo exemplo do que pelos livros”.
A literatura estudada esclarece mais sobre o papel do educador e a importância
de estar sempre buscando aprimorar-se:
54
A família é o primeiro contato social que o indivíduo possui, é nela que ele
aprende a falar, comer e se sente protegido, amado e respeitado. A família é a unidade
básica da interação social, onde a criança começa a aprender a respeito dos limites,
a estabelecer relações de amor e construir laços afetivos que ajudarão
consideravelmente em uma estruturação sólida de sua área emocional.
Segundo Izquierdo (2001), a família é a melhor escola da vida porque ela
transmite na intimidade do lar, por contagio, por osmose, ensinamentos, virtudes e
valores. Quando falta no lar amor, espírito de compreensão e de convivência, essa
carência manifesta-se também na sociedade: certamente faltará solidariedade e
desejo de servir aos demais.
55
ela observa nas pessoas ao seu redor atitudes corretas, irá esforçar-se para também
ter tais atitudes, “um dos fatores que leva uma criança pequena a desenvolver-se
moralmente é sua capacidade e motivação em corresponder às expectativas
singulares das pessoas em seu entorno” (LA TAILLE, 2006, p. 14).
Novamente Steiner (2014) defende a importância da educação como
responsabilidade de todos.
Esse trabalho interno, segundo Lanz (2013) é o que o professor deve buscar
em primeiro lugar, procurando a causa de muitas imperfeições e fracassos do seu
ensino dentro de si próprio. “Raros são os pedagogos natos; mas muito pode ser
realizado por qualquer pessoa que trabalhe constantemente em si para transformar-
se num pedagogo” (LANZ, 2013, p. 88).
Os professores Caio (EP) e Ana (EP), notaram uma mudança de
comportamento dos alunos em relação ao início da sua chegada à escola, e os dias
atuais. Contaram que foi realizado um intenso trabalho de conscientização desses
alunos em relação a regras e valores, principalmente em relação ao respeito ao
próximo, e hoje em dia os problemas diminuíram bastante, como o professor Caio
comenta:
[...] Agressões físicas, hoje na escola, a gente conseguiu diminuir bastante,
com um trabalho de conversa, de conscientização das consequências desse
tipo de agressão, tanto físicas, como danos psicológicos, mentais, danos de
mobilidade [...] (Caio – EP).
[...] falam gritando com o outro, às vezes mandam o outro calar a boca, eu
percebo sempre isso nas aulas [...] (Bia – EP).
[...] Depende das turmas, mas todo dia sempre tem um episódio, não são em
todas as aulas, mas sempre tem [...] (Valéria – EP).
ambiente escolar que o sujeito irá conviver com o âmbito público, estabelecer relações
de igualdade e conviver com a diversidade” (TAVARES, 2016, p. 206).
Os professores que atuam nas Escolas Waldorf também citaram que há todo
momento dificuldades de relacionamento acontecem. Principalmente quando são
alunos que chegam de outras escolas, as dificuldades são maiores, como relataram
os professores: Ygor, Danilo, Larissa e Gabriel.
A professora Milena (EW) chama a atenção para o fato de que crianças que em
casa não tem limites e regras também chegam à escola causando mais conflitos. Em
suas palavras: “Cada um tem uma criação, tem uns que pai e mãe liberam tudo e
acham que pode fazer tudo”.
O professor Ygor (EW) vê como principal dificuldade dos alunos a aceitação da
frustração, ele aponta que as famílias que tem maior aquisição financeira e também
as crianças que têm poucos, ou nenhum, irmão, nos dois casos a dificuldade dessas
crianças é maior em relação às outras.
Gabriel (EW) relata que às vezes aparece uma agressão física ou verbal, e
também uma agressão psicológica, uma ameaça, mas que ele vê como oportunidade
de se ensinar algo. Em suas palavras: “eu gosto de aproveitar, porque muito mais que
movimentos eu quero ensinar valores”. Em relação a essa frase ele esclarece que
para ele o movimento também é um valor, mas que não pode ficar o movimento
somente pelo movimento, é preciso contextualizar e utilizar o jogo e a brincadeira
também para aprender sobre valores.
Nas escolas Waldorf busca-se trabalhar nos primeiros anos os Jogos
Cooperativos, para mostrar à criança a importância do trabalho em equipe e da
cooperação e aos poucos vai sendo introduzido jogos que envolvem competição. O
professor nos deu como exemplo um garoto que sempre reclamava da arbitragem nos
jogos, e de como a Pedagogia Waldorf busca conduzir a situação. Quando a criança
é mais nova não falamos para as crianças que o juiz pode estar mal intencionado, no
colegial já sim. Para os pequenos até os 7 anos, a pedagogia Waldorf fala que a
criança tem que achar que o mundo é bom. Dos 7 aos 14 anos você vai mostrar que
o mundo é belo, e você vai mostrar as belezas do mundo e só a partir dos 14 que você
vai mostrar as verdades. E conclui: “Porque se você apresentar primeiro as verdades,
como ele vai acreditar que o mundo é bom”? (Gabriel – EW).
Segundo o que estudamos sobre a Pedagogia Waldorf, essa atitude que o
professor exemplificou é uma maneira de preservar a primeira infância, fazendo com
60
que as crianças acreditem nas pessoas que estão ao seu redor, que respeitem as
regras. Os professores tem o cuidado de apresentar exemplos de posturas e condutas
positivas, já que a criança está na fase da imitação. Como cita Kügelgen (1984, p. 28)
“Assim como para o primeiro septênio eram importantes as palavras mágicas
‘imitação’ e ‘exemplo’, para o septênio seguinte as palavras são ‘respeito por amor’ ou
‘autoridade amada’”.
O professor e a escola devem trabalhar junto ao aluno para que ele adquira
autonomia e desenvolva sua maturidade de forma sadia enquanto cresce. O professor
comprometido com a educação vê o aluno como um todo e busca ajudar a resolver
conflitos normais de cada idade, nas fases de desenvolvimento da infância,
adolescência e juventude. Quando o aluno se sente apoiado pela escola e seu
professor, laços afetivos são criados e ficam marcados no emocional do aluno,
aumentando a confiança desse aluno no trabalho realizado pela escola. E essa
autonomia construída precisa fazer com que o aluno reflita sobre suas decisões seus
comportamentos e suas atitudes. Conforme Puig (1998, p. 15):
de extrema importância falar toda vez que as regras são quebradas. E completa: “tem
que ser algo pontual, não pode deixar passar, porque se deixar, os outros também
vão achar que podem fazer e você perde” (Ana – EP).
Conforme Lepre (2016, p. 27) “as crianças não podem ser deixadas à sua
natureza biológica; é necessário que se proporcione um ambiente onde a cooperação
possa ser experimentada, a fim de que a consciência autônoma seja construída”.
Além de falar sobre os combinados a professora Valéria (EP) pede para que
escrevam no caderno de Educação Física e os alunos assinam. Quando ocorrem
problemas na aula esses combinados são retomados. Ela acredita que as atitudes
tomadas caso o aluno não cumpra as regras ajuda para que melhorem seu
comportamento, mas diz que alguns conteúdos ajudam muito também, como os jogos
cooperativos, onde um trabalha ajudando o outro com objetivos em comum, que no
final todo mundo ganha, em suas palavras “a competição é muito importante, mas
trabalhar também alguns projetos como esses, dos jogos cooperativos, tem muito a
ajudar nessa questão, de respeito, de um ajudar o outro” (Valéria – EP).
Acreditamos que talvez o motivo da professora citar o trabalho com os jogos
cooperativos como um “projeto” seja por ele não estar presente em todas as aulas.
Como observamos, ela acredita ser importante a competição, que faz parte da maioria
dos jogos tradicionais e esportes. Ou talvez pelos exemplos de pessoas que busquem
a vitória a qualquer custo, prejudicando os adversários, a cooperação precise ser
melhor trabalhada. O que buscamos é que tanto nos jogos cooperativos como nos
jogos competitivos haja o respeito às regras e aos adversários, o fair play, a tolerância
e a lealdade, e que mesmo na competição a cooperação tenha seu lugar garantido.
Muito se tem falado sobre o trabalho com os jogos cooperativos nas aulas de
Educação Física. A ideia é partir do jogo para chegar à vida, pois eu jogo do jeito que
vivo e vivo do jeito que jogo (NETO e LIMA, 2002). As atividades cooperativas
aumentam a segurança nas capacidades pessoais e contribuem para o
desenvolvimento no sentido do pertencer a um grupo. Nessas atividades ninguém
perde e ninguém é isolado ou rejeitado porque falhou (ALMEIDA, 2003).
Já no início do ano o professor Caio (EP) esclarece aos alunos que as aulas
são pautadas em alguns princípios básicos como: senso de justiça, direito e dever,
solidariedade e honestidade. E busca trabalhar a sinceridade, que envolve todos
esses princípios. Outro princípio que norteia é a autonomia, é mostrar que todos eles
podem ter voz, criar, participar da atividade, criar estratégias, melhorar a pratica da
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atividade e dividir com o grupo a sua visão disso. Então a autonomia é oferecer essa
possibilidade de enxergar o outro e mudar e dar a opinião não no que é melhor pra
ele fazer, mas também no que vai melhorar para o outro. Busca trabalhar também o
respeito, que é essa noção de igualdade, de todos serem iguais, se todos são iguais,
o que você não quer que façam para você não vai fazer para o outro. Uma frase que
esse professor utiliza bastante: “Você é o rei das suas ações e será responsável pelas
consequências delas. Então se você tem o poder de agir daquela forma, você tem o
dever depois de arcar com as consequências” (Caio – EP).
O professor contou que quando chegou à escola há onze anos, a escola estava
proibida de participar na cidade dos eventos da Secretaria de Esportes por questões
de brigas e violência. Essa punição foi de 5 anos e ainda faltavam 2 anos para acabar.
A partir daí começou a realizar um trabalho na escola voltado a diminuir essa violência
e a melhorar a postura de atletas e torcida. Hoje a escola é reconhecida na cidade
pela mudança de comportamento dos alunos e é sempre convidada para eventos.
Citou também casos de “fair play” por parte de alunos em diversas situações e
considera que uma educação voltada para questões comportamentais dá bons
resultados. Esse trabalho em equipe, resgatando a autoestima dos alunos e
provocando mudanças na realidade escolar está alinhada ao que diz Tavares (2016,
p. 207) “a moralidade precisa ser objeto de apropriação racional pelos estudantes e
profissionais da escola bem como é preciso se sentir valorizado para querer agir bem”.
Também os professores das Escolas Waldorf relaram que percebem uma
mudança no comportamento das crianças através de um trabalho com a música nas
aulas. A professora Milena inicia a aula com música e acha importante esse momento
onde com todos se abraçam, e as regras já vão sendo transmitidas, por exemplo:
abrace o amigo com cuidado, sem empurrar, nada de brigas, também faz com que os
alunos mais tímidos se aproximem dos outros, cumprimentando, abraçando e
beijando o colega. Passos importante que devem ser utilizados também no convívio
fora da escola. Ela nota uma mudança de comportamento dos alunos após as
intervenções, porque no início do ano é sempre mais difícil, e com o passar do tempo
a aula caminha bem e as brigas quase nunca acontecem, e relata: “proponho uma
atividade e todos realizam. Às vezes no final da aula eu deixo um deles escolherem
uma atividade. Essa é uma forma de ajudar para que se desenvolvam” (Milena – EW).
Como cita Cury (2003, p. 79) “bons professores educam para uma profissão,
professores fascinantes educam para a vida”.
65
O professor Ygor também começa a aula com um jogo rítmico, que ajuda a
desenvolver a percepção corporal. De acordo com a idade vai ficando mais difícil. Por
exemplo, no terceiro ano eles já fazem ritmo com canto e não é só mais o gesto de
imitação, tem uma percussão, tem palma, estalar de dedos, batida de pés. A aula é
dividida em três partes, a primeira o jogo rítmico, a segunda o jogo em si e a terceira
é a volta a calma, em roda novamente com um jogo mais tranquilo. Nesses momentos
aproveita para repassar os combinados e conversar sobre algo que ocorreu na aula.
Além da pouca quantidade de alunos em sala de aula (no máximo dez), ele considera
o trabalho em equipe fatores que contribuem para mudanças comportamentais dos
alunos. Em suas palavras: “Aqui a gente trabalha muito em conjunto. Eu encontro
com eles duas vezes na semana, e eles tem a professora de sala que está com eles
o tempo todo, então tudo o que acontece a gente conversa com os outros professores
e principalmente com o professor de sala, e ele acaba passando para os professores
de área, para trabalharmos em conjunto com aquela criança” (Ygor – EW). Esse
trabalho em equipe, onde todos seguem as mesmas regras e tem o mesmo objetivo
proporciona a criança, pelo exemplo, o caminho a ser trilhado. Segundo Steiner (2000,
p. 122) “devemos constituir o ambiente mais propício para que, junto a nós, a criança
se eduque tal qual deve educar-se por seu destino interior”.
A professora Larissa (EW) faz os combinados com os alunos e depois eles
passam no caderno, sempre trabalha com os alunos as Regras de Ouro, como a
professora Bia (EP) havia mencionado. Acha extremamente importante pautar as
aulas com regras e cobrar isso dos alunos. Sempre chama o aluno para uma conversa
quando faz algo errado, mas nunca chama a atenção em público. Essa forma de tratar
os alunos com respeito sempre traz bons resultados, mesmo que ele fique chateado
por sair da aula naquele momento que gostaria de estar participando, mas depois
reconhece o erro e procura o professor pedindo desculpas. Ela acredita que resolver
os conflitos com conversa sempre traz mais efeitos do que simplesmente encaminhar
para a direção, pois leva o aluno a reflexionar e buscar corrigir seus erros.
A atitude da professora Larissa (EW) está alinhada ao pensamento de Cury
(2003) quando alerta que chamar a atenção ou apontar em público um erro ou defeito
pode gerar um trauma inesquecível que os controlará durante toda a vida. O correto
seria ao invés de uma grande bronca, chama-los em particular e corrigi-los. Fala da
importância de estimular os jovens a refletir. “Quem estimula a reflexão é um artesão
da sabedoria” (CURY, 2003, p. 87).
66
[...] se o professor resgatar o seu valor e perceber que ele não faz parte de
uma profissão em extinção e sim de que é protagonista de uma ação
educativa, na qual sua mediação é fundamental, ele retorna sua posição no
estado atual das coisas e possibilitará que o mesmo se modifique.
[...] Eu acho que a principal diferença é o olhar para a criança, a gente não
olha só para o conteúdo, o conteúdo é só uma ferramenta [...] (Ygor – EW).
[...] Não importa que ele seja um bom arremessador de cesta de basquete,
importa que ele tenha um bom relacionamento com os colegas [...] (Ygor –
EW).
E continua:
[...] quero que ele saia daqui preparado para ser o que ele quiser da vida, que
ele saiba que tem todas as capacidades, não que tenha um entendimento
profundo de alguma modalidade [...] (Ygor – EW).
O professor sente que cumpriu o seu papel como educador quando o aluno
começa a projetar longe do professor e também fora do ambiente escolar,
comportamentos e atitudes vivenciados e trabalhados em sua presença.
para sermos um bom espelho para nossos alunos, e não podemos falar uma coisa e
fazer outra porque quando se trabalha com a inverdade, moralmente a gente está
‘perdido’. “Eles sentem as coisas dentro da gente. Trabalhar com a verdade é a base
da moralidade” (Larissa – EW). O professor Gabriel (EW) explica que na Pedagogia
Waldorf é muito importante o professor estar ‘se trabalhando’, procurando ser um ser
humano melhor, porque os alunos sentem isso animicamente, eles se sentem
confortados, sabem que também podem errar. “Todos os valores que eu prego eu
tento aplicar pra mim, porque eu sei que é bom para o ser humano e eu também sou
um ser humano, e estou inserido nessa sociedade, nessa comunidade. E também
porque é exemplo para eles. E tem que ser exemplo, não pode ser diferente” (Gabriel
– EW). Ele conclui dizendo que a Pedagogia Waldorf é um caminho de
desenvolvimento não só para as crianças, mas também para os pais e professores.
Esse exemplo citado pelos professores, segundo Rudolf Lanz, vai além do que
a criança observa nas atitudes dos professores.
Novamente Cury (2003) nos fala sobre a importância dos educadores, que
“apesar das suas dificuldades, são insubstituíveis, porque a gentileza, a solidariedade,
a tolerância, a inclusão, os sentimentos altruístas, enfim, todas as áreas da
sensibilidade não podem ser ensinadas por máquinas, e sim por seres humanos”
(CURY, 2003, p. 65).
Em relação a importância de o professor conhecer outros métodos que
trabalhem o desenvolvimento moral dos alunos, o professor Renan (EP) se utiliza da
bíblia para trabalhar questões morais. Ele procura passar para os alunos os mesmos
valores que gosta de transmitir aos filhos. A professora Bia (EP) acha muito importante
estar sempre se atualizando e buscando melhorar o trabalho com os alunos, citou
uma palestra que ouviu recentemente sobre Metodologias Ativas e também a
Pedagogia Waldorf que sabe um pouco a respeito. As Metodologias Ativas buscam
incentivar os estudantes a aprender de maneira autônoma e participativa, para que
eles se sintam responsáveis pela construção do conhecimento, na prática se utilizam
de alguns métodos, como a sala de aula invertida (onde o aluno estuda o conteúdo
75
[...] vejo se ele convive bem com os outros [...] (Renan – EP).
[...] eu lembro se esse aluno tem uma boa atitude, se ele respeita os amigos,
cumpre as regras do jogo, da atividade, da aula [...] (Ana – EP).
Esse modelo de avaliação também está presente nos PCNs como observamos
a seguir: É importante durante o processo avaliativo a utilização de instrumentos que
estejam ligados aos aspectos dos conteúdos, os quais estão em conjunto de acordo
com as três dimensões dos conteúdos: dimensão conceitual, dimensão procedimental
e dimensão atitudinal. Sendo que a dimensão conceitual se refere a fatos, conceitos
e princípios, a dimensão procedimental ligada ao fazer e a dimensão atitudinal refere-
se a valores, normas e atitudes (BRASIL, 1997).
Em relação a BNCC, o documento afirma que a avaliação tem o objetivo de
fazer uma análise global e integral do estudante, mas não explica de qual maneira. O
próprio documento institui-se como referência nacional para a elaboração de
currículos dos sistemas de ensino e das propostas pedagógicas das escolas (BRASIL,
2017). Portanto cabe as secretarias e escolas criarem seus critérios de avaliação.
O Currículo Paulista, no Ensino Fundamental, cita que a avaliação pode ser
realizada a partir da utilização de outras estratégias, como por exemplo, a observação
direta, os exercícios, as provas, a realização de pesquisas, entre tantas outras. A
avaliação deve, de fato, acompanhar, de forma processual, a aprendizagem do
estudante e possibilitar a reflexão sobre as práticas planejadas pelos professores.
O professor Caio (EP) sempre avalia junto com os alunos se a classe está tendo
uma boa conduta e se está cumprindo os combinados, mas também não atribui uma
nota ou conceito baseado nos comportamentos dos alunos.
Os professores que participaram da pesquisa relatam uma dificuldade em
avaliar os alunos, principalmente pela complexidade das aulas, onde não
conseguimos medir o conhecimento do aluno apenas por provas e exames como a
maioria das disciplinas. Neste sentido Mattos e Neira (2000, p. 24) expõe: “o processo
de avaliação em Educação Física é algo complexo e fundamental para a eficiência do
ensino. O professor deve encarar os momentos avaliativos como aquisição de dados
para a modificação e melhoria do trabalho pedagógico”.
Os professores das Escolas Waldorf explicaram que eles têm um boletim onde
escrevem como o aluno está se desenvolvendo na parte motora, comportamental e
se participam das aulas. Cada escola tem autonomia para criar o seu próprio boletim,
que é entregue aos pais na reunião de pais, onde participa o professor da sala e
também os professores de áreas: Educação Física, euritimia, artes, inglês, francês e
religião. Existe uma nota de 0 a 10, mas isso só existe pela formalidade, para ser
entregue a secretaria junto com a frequência do aluno, porque quando ele sai da
80
escola precisa levar o histórico. Conforme observa Lanz (2013) as escolas Waldorf
não se baseiam em provas, testes, sabatinas e exames em que a matéria já seja
preparada de forma a servir facilmente para fins estatísticos. Geralmente os pais
recebem um boletim anual ou semestral, como avaliação do processo escolar do
aluno, nos quais está registrada “a ‘biografia’ escolar do aluno durante o ano, havendo,
em seguida, breves caracterizações do resultado, do comportamento e do esforço,
por todos os professores que deram aulas na classe em questão” (LANZ, 2013, p.
103).
O professor Ygor (EW) utiliza os critérios da participação e desempenho para
chegar a uma média, mas esclarece que para os pais o que importa é o boletim
descritivo. Assim como relatam os professores Danilo (EW) e Larissa (EW). O
professor Gabriel (EW) completa dizendo que até o oitavo ano essa questão da
avaliação e nota é conversado com os pais e que procura falar mais com os alunos
sobre isso no ensino médio. Sobre a atribuição de notas ele diz: “Me importa muito
mais eu dizer para os alunos e famílias o que aconteceu, quem é o aluno, o que ele
tem feito, do que eu colocar uma nota fria, morta, que não diz nada” (Gabriel – EW).
Ele utiliza como critério também o envolvimento, que conta a pontualidade, a sua
disposição pra estar em aula, o esforço, ou pode falar apenas do esforço. Avalia o
conteúdo prático, se realizou a atividade com técnica. E também o social, se ajuda o
outro, se é proativo, se briga por qualquer coisa. E completa: “É uma avaliação livre,
mas pra gente é muito consciente, o que a gente quer que eles tenham como retorno,
porque vai ser bom para toda a vida dele” (Gabriel – EW).
Sobre a avaliação na Pedagogia Waldorf também é levado em conta o quanto
o aluno se esforçou para alcançar algum resultado, seu comportamento e o espírito
social. Sem dar uma nota, o professor descreve seu aluno, buscando valorizar o que
há de bom e criticando somente o que o aluno ainda teria melhor capacidade de
produzir (LANZ, 2013).
Novamente Lanz (2013) esclarece sobre a avaliação, ela busca ser a mais
abrangente possível e que leve em consideração as diferentes individualidades do
grupo,
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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STEINBERG, Laurence. 10 princípios básicos para educar seus filhos. 1. ed. Rio
de Janeiro: Sextante, 2005.
89
ANEXOS
APÊNDICES
Você está sendo convidado (a) como voluntário (a) a participar da pesquisa:
EDUCAÇÃO FÍSICA E A PEDAGOGIA WALDORF: ANÁLISE DO ENSINO E
APRENDIZAGEM DE VALORES MORAIS. Sua participação consiste em se deixar
entrevistar, e gravar o áudio da entrevista sobre sua prática profissional. Em nenhum
momento você será identificado (a). Os resultados da pesquisa serão publicados e
ainda assim a sua identidade será preservada. Você não terá nenhum gasto ou ganho
financeiro por participar da pesquisa e sua participação não apresenta desconfortos e
riscos. O motivo que nos leva a realizar tal pesquisa parte do seguinte problema:
Analisar a educação do corpo, especificamente, no que diz respeito à formação moral
do aluno, no âmbito da Educação Física Escolar (Rede Pública Municipal) e da
Pedagogia Waldorf, conforme a percepção de professores de Educação Física.
Questiono: De que modo a Educação Física Escolar contribui na formação moral dos
alunos (respeito, generosidade, tolerância)? Quais os desafios? Constatam-se
mudanças comportamentais? A pesquisa tem por objetivos: a) Constatar os desafios
e/ou enfrentamentos na formação moral dos alunos b) Evidenciar como se processa
a formação moral dos alunos nas aulas de Educação Física Escolar (Rede Pública
Municipal – SP) e em Escolas Waldorf; c) Analisar possíveis mudanças de
comportamento na percepção dos Professores de Educação Física das referidas
Escolas. Como resultado da pesquisa, será feito um vídeo contendo vivências de
atividades voltadas a formação moral e entrevistas.
Você será esclarecido (a) sobre a pesquisa em qualquer aspecto que desejar.
Você é livre para recusar-se a participar, retirar seu consentimento ou interromper sua
participação a qualquer momento. A participação é voluntária e a recusa em participar
não acarretará qualquer penalidade ou perda de benefícios. O pesquisador tratará a
sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Você não será identificado (a) em
nenhuma publicação que possa resultar deste estudo.
Deste modo, tendo total conhecimento do exposto neste termo, eu (Nome
completo), __________________________________________ me comprometo a
participar como voluntário (a) da referida investigação de autoria e execução da Prof.ª
96
Mestranda Ana Keila Zanin de Oliveira, sob a orientação da Profa. Dra Dagmar
Aparecida Cynthia França Hunger, junto ao Programa de Mestrado Profissional em
Educação Física em Rede Nacional - PROEF – UNESP Bauru. Concordo que os
resultados da referida pesquisa sejam divulgados, uma vez que a identidade dos
envolvidos será preservada. Os dados da investigação ficarão guardados em local
seguro como forma de garantir o que é firmado no termo em questão.
Qualquer problema entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa,
Faculdade de Ciências, UNESP-Bauru; Coordenador: Prof. Dr. Mário Lázaro
Camargo; Fone: (14) 3103-9400; E-mail: cepesquisa@fc.unesp.br, Av. Eng. Luiz
Edmundo Carrijo Coube, 14-01; Bairro: Vargem Limpa; 17033-360-Bauru-SP;
Telefone: (14) 3103-6000; Fax: (14) 3103-6000.
__________________________________
Assinatura do participante da pesquisa
Dados
Nome:
Idade:
Formação profissional
Local de Formação e curso:
Ano em que se formou:
Pós-graduação:
Tempo de atuação na escola:
Dados
Nome:
Idade:
Formação profissional
Local de Formação e curso:
Ano em que se formou:
Pós-graduação:
Tempo de atuação na escola:
ela tem a tendência a não ter essa formação moral. E a escola tem um papel
importantíssimo nessa formação, mesmo sabendo que a família é o principal veiculo
de formar essa moralidade no ser humano, mas muitas vezes estão faltando com a
moral nesse tempo que a gente vive.
Caio: Ajudar a formar seu aluno a formação de valores e julgamento de certo e errado,
noções de alguns valores como: liberdade, autonomia, bem, mal, dever, justiça,
igualdade. Desenvolver noções também do que é proibido e permitido dentro do meio
que ele vive, da sociedade em que vive. Tem duas perguntinhas que eu sempre coloco
pra eles: Que vida eu quero viver? Se eu quero viver com tranquilidade, dormindo,
pondo a cabeça no travesseiro e dormindo de boa, ou se eu quero algum outro tipo
de vida pra mim... E a segunda é: Como eu devo agir pra ter essa vida que eu quero
viver?
Milena: Lá na escola é muito regrado, e eles acompanham cada aluno na sua
formação. Na Waldorf é preciso ver como está a formação do aluno até pra ver se ele
está preparado para passar de série, se está pronto pra ir para o segundo ano. Por
exemplo, para passar para o 1.º ano a professora vê se ele está desenvolvendo bem
a coordenação motora fina, a coordenação, eles têm um trabalhinho a fazer, como
preparar o lanche para os demais e outras coisas. A professora sempre sabe se ele
já está preparado ou não para mudar de ano escolar, porque ele sempre que nível ele
está.
Ygor: Tem a ver com os valores, que a gente traz, a diferença entre o que é bom ou
ruim, acredito que seja isso.
Darlan: Formação moral acontece desde o primeiro ano, e a Ginástica Bothmer
trabalha essa formação moral. A gente não se preocupa muito em falar, porque na
Ginástica Bothmer isso já é trabalhado, em doses homeopáticas. Isso é trabalhado
todos os dias, 5 minutos antes ou depois da aula, sempre trabalhando nesse sentido.
Tem até um exercício de volta a calma que a gente trabalha com o silencio completo,
isso é trabalhado diariamente.
Larissa: Isso é um conjunto: casa, escola, a professora de sala que também trabalha
moralidade lá também, sem precisar falar que está trabalhando isso, apenas com as
histórias. E nós da Educação Física a mesma coisa. Pra mim educação moral também
é quando teve algum problema na aula e você não perdeu a cabeça com aquilo e
consegue reverter aquilo através de uma história que a gente chama de histórias
pedagógicas. Por exemplo, pra trabalhar um caso de roubo no jogo, aquela criança
100
que não aceita que foi pego, usa da mentira. Como trabalhar isso? É moral e temos
que trabalhar isso. Através da história pedagógica, mas é você que cria, que inventa
uma história. Por exemplo, posso contar tipo a história do Chico Bento que sempre
inventava que a onça vinha vindo e quando foi verdade ninguém acreditou. Você
inventa uma história que possa ajudar aquela criança.
Pesquisadora: E você para a aula, para a atividade para falar sobre isso?
Larissa: Não, quando acontece algo, eu peço pra criança se acalmar, ir tomar uma
água, refrescar a cabeça e voltar depois quando estiver calmo. E eu mais tarde, ou
talvez até em outra aula eu vá contar a história pedagógica, sem ficar falando pra
quem é.
Darlan: E de repente essa história vai servir pra ele e também pra outras crianças que
tem esse hábito.
Larissa: E você pode ainda transformar isso em um jogo: Como o jogo do lobo e o
coelho, que tem toda uma história moral por detrás. Por isso que eu falo que é um
conjunto de fatores que vamos trabalhando a moralidade.
Darlan: Na escola Waldorf tem o professor tutor, a partir do nono ano, que acompanha
a sala por 4 anos, ele tem uma aula na sala por semana, mas ele é o responsável pela
sala, pela reunião de pais, pela conversa com os alunos, os alunos não se sentem
órfãos, eles sabem que tem esse professor tutor que os acompanha. Porque na
Waldorf o professor de sala acompanha a turma desde o primeiro ano até o oitavo
ano. O nono ano pertence ao fundamental, mas já é um preparo para o ensino médio,
então já tem horários diferenciados, como no ensino médio.
Pesquisadora: O que você entende por formação moral? (Pergunta 1 do roteiro).
Gabriel: A própria palavra moral é um pouco perigosa, porque às vezes acaba ficando
até pejorativo hoje em dia. Mas eu entendo a palavra por algo positivo. São uma serie
de qualidades que trazemos de casa, na relação com os irmãos, por exemplo,
aprendemos as trocas, o respeito, como falar, como agir e reagir. Eu acho que tudo
isso é um pouco formação moral. Hoje em dia a escola está adotando um pouco esse
papel, e as famílias estão fazendo cada vez menos isso, nem sei nem porque, mas
eu imagino que os pais ficam fora e vem sem paciência, e as crianças acabam ficando
com outras pessoas que também não querem ensinar, talvez porque não sejam filhos
deles, talvez isso. E os próprios eletrônicos estão roubando muito nossa convivência.
E a gente sempre falava que educação vem de casa, e agora acaba indo para a
escola. Eu acho que pode ser também, não precisa ser só da família. E na escola
101
aparecem muito essas trocas e na aula de Educação Física aparece demais, o tempo
inteiro. Política também há trocas e regras de convivência. Se vocês furam uma fila,
por exemplo, você já está quebrando uma regra, é política também.
Eu acho que formação moral são todas as regras que a gente precisa para conviver.
Bruna: Educar a criança trabalhando todo o seu emocional, de maneira global.
Ensinando costumes, regras sociais de boa convivência, de acordo com a idade
diferenciar situações boas e danosas para o todo.
Alisson: O papel da família é desde criança já formar o que é certo e o que é errado,
não devemos pegar o que é do outro, por exemplo, a violência, eu acho que é o papel
da família, primeiramente, porque o primeiro contato do ser humano é com os seus
pais, e a escola tem uma papel secundário, mas que hoje em dia está sendo passado
como primário, os pais largam então esse papel fica dobrado pra gente.
Caio: Acredito que seja na família o primeiro contato que a criança tem com as noções
de moral e de ética. O próprio meio familiar dá os primeiros estímulos em direção a
essa formação por meio das condutas que as crianças observam nas atitudes dos
pais.
Milena: O principal papel da família é a participação, incentivar muito os filhos, para
que cresçam e se desenvolvam. Pai e mãe são o fundamental.
Ygor: É ali que tudo começa, o fundamental é a família.
Darlan e Larissa: Total. Percebemos muitos alunos que apresentam problema na
escola e sabemos que vem da casa, é o reflexo.
Darlan: Isso aconteceu até com o meu filho, que a professora percebeu uma mudança
de comportamento nele e veio me perguntar se tinha algum problema, e realmente
tinha algo diferente, estávamos com reforma em casa e isso muda o comportamento
também da criança.
Aqui as famílias participam tanto da escola, que automaticamente as crianças vão
percebendo pelas atitudes o que é certo e não é, sem precisar ficar o tempo inteiro
falando: Olha meu filho, isso é moral e tal...
Larissa: Ás vezes recebemos alunos de fora, de famílias bem desestruturadas
também. Como um caso de um garoto que estava dando bastante problema, que
chegou de outra cidade, e ele fala: olha professora, minha família não é uma família
normal, minha mãe é bem diferente, ela não vê valor em nada do que é falado aqui...
Aí a gente se vê em uma situação difícil, porque também não podemos falar que a
família dele está agindo errado. É duro pra ele com 16 anos começar a agir dentro
das normas que ele não aprendeu a respeitar desde os 8, 9.
Por exemplo, aqui ninguém usa o celular, e ele fica escondido mexendo no celular
dentro da classe. Já levou advertência, porque é uma norma que todos cumprem. O
papel da família é fundamental, e andando junto com a escola. Porque se o professor
diz que é errado e a mãe diz que pode fazer fica difícil. Ou quando a mãe diz que se
alguém bater na criança é para ela revidar também. Que moral tem nisso? Eu já
103
escutei aqui esse tipo de coisa. Não é porque estuda aqui na Waldorf que sempre a
família segue, temos problemas também.
Pesquisadora: Vocês têm problemas com drogas aqui?
Larissa: Já tivemos sim. O universo do fundamental e infantil é uma coisa, quando
vem o Ensino Médio é outra coisa.
Darlan: Eu acho que a questão de drogas todas as escolas têm que trabalhar.
Estamos em uma fase boa na escola que não estamos tendo esses problemas.
Geralmente quando o ensino médio é de alunos que sempre estudaram aqui esse
problema é bem mais difícil de acontecer.
Pesquisadora: Qual o papel da família na formação moral? (Pergunta 2 do roteiro).
Gabriel: Eu acho que é total e absoluto. Se não tiver mais nada no planeta e só tiver
a família, a criança tem que crescer jovem e adulto com essas qualidades. Pois é o
pai e a mãe que tem que dar o limite para o filho, porque eles vão testando. Eles vêm
como um livro em branco. A transgressão dos mais velhos vai ser usar droga, a dos
pequenininhos é um palavrão, eles estão experimentando também. A gente vai
corrigindo, orientando, mostrando que isso não é legal. Então se só existisse a família,
claro que teria essa moral. Eu considero a família o primeiro pilar o mais importante.
Mas outros pilares são importantes também. Por exemplo, se você vai fazer um
esporte, você treina, o treinador é legal e te passa valores, ou se você toca um
instrumento e depois vai tocar em uma orquestra, você tem que saber o ritmo, tem o
maestro, você tem que seguir, ouvir os outros. Se você vai fazer escotismo, você tem
que seguir as regras, um acampamento. Religião. São todos grandes pilares que vão
ajudando a sustentar esse Ser. E a família eu acho o mais importante, o principal.
Bruna: De acordo com os costumes e tradições familiares as crianças recebem os
primeiros passos da formação para o social. Reconstruir ou adicionar ao que a família
faz é tarefa da escola, por isso é importante que a família aceite os valores que a
escola possui e possa ampliá-los.
isso. Tentar levar pra esse lado, é aceitar a derrota. Eles não aceitam, ficam bravos,
mudam totalmente o comportamento, quando tem frustrações. Eu estou identificando
isso, e é uma forma que eu tenho que trabalhar a frustração. Quando tem frustração,
tem problema.
Pesquisadora: Eles falam palavrão?
Renan: Não, na minha realidade não, aqui na prefeitura.
Pesquisadora: Qual o nível social das crianças da escola?
Renan: É classe média baixa, já foi muito melhor, hoje já tem os predinhos, que é o
desfavelamento, que mudou muito a realidade da escola. Quando eu entrei era outra
escola. Mas mesmo assim, ainda se consegue ter um nível de respeito entre eles.
Pesquisadora: Durante as aulas, com que frequência, você nota dificuldades de
relacionamento entre os alunos, como: falta de respeito, agressão física ou verbal,
intolerância, preconceitos e outras? (Pergunta 3 do roteiro).
Bia: Eu vejo assim, muito em relação à intolerância a preconceito. Agressão verbal
muito assim, não em relação a palavrões, algo pejorativo. Mas muito em relação ao
como falar, falam gritando com o outro, às vezes mandam o outro calar a boca, eu
percebo isso nas aulas.
Ana: Atualmente não é muito frequente, já foi no início de atuação, quando eu
ingressei no estado, eu tinha outra realidade, tanto de educação física, como da
comunidade escolar, que vem mudando com esses anos. Então, atualmente, não
percebo tanto, acontece, mas não com tanta frequência como acontecia antes.
Valéria: Depende das turmas, mas todo dia sempre tem um episódio. Não são em
todas as aulas, mas sempre tem algum aluno faltando com o respeito, ou com o
colega, ou em relação às regras dos jogos, em querer levar vantagem, em não
respeitar alguma regra. A agressão física, também em alguns jogos, os ânimos se
exaltam um pouquinho, às vezes chega até a agressão mesmo, mas antes tem as
agressões verbais que a gente tenta sempre conversar. Eu costumo tirar os alunos
para conversar, um conversar com o outro e tentar resolver aquela questão, aquele
problema, durante a aula mesmo, e se for algum caso mais grave, como alguma
agressão mesmo, alguma atitude mais preconceituosa que aí eu encaminho para a
direção, para a gente conversar, ou chamar os pais. Depende da gravidade, se é algo
fácil de resolver, no momento eu paro e chamo os alunos, converso pra resolver. Se
for algo mais delicado às vezes eu abro pra sala, pra turma toda, paro o jogo, faço
105
uma roda de conversa e converso com tudo pra que a gente tente resolver juntos, pra
que isso não aconteça mais nas aulas e nem com outro aluno.
Alisson: A todo o momento, aqui nessa escola, principalmente, estou aqui esse ano
e aqui eles têm muito disso, essa falta de respeito, problema de relacionamento com
o outro, é um cala a boca aqui, xingam, batem, brigam muito de se bater. Menino bate
em menina, menina bate em menino, está complicado. Na outra escola que eu
trabalhava não tinha tanto, tinha também, mas não que nem aqui. Aqui é uma escola
central, e eu não sei o que acontece, talvez por ter fundamental 2 junto na escola, a
convivência com os maiores influencia um pouco.
Caio: Diariamente eu observo na escola algum tipo de preconceito, falta de respeito
e intolerância. Na maioria das vezes é de uma forma mais velada, assim, alguma coisa
mais escondida, porque quando eles são descobertos, quando as pessoas:
professores e funcionários descobrem, eles acham meio desconfortável as
consequências. Tanto a consequência administrativa, quanto a consequência de
reputação, de amizade com os colegas, que acabam deixando eles um pouco de lado.
Até porque essas atitudes quando descobertas, a gente já tem bastante trabalho com
eles pra não reproduzir essas atitudes, então quem é descoberto sempre se sente um
pouco envergonhado. Agressões físicas, hoje na escola, a gente conseguiu diminuir
bastante, com um trabalho de conversa, de conscientização das consequências desse
tipo de agressão, tanto físicas, como danos psicológicos, mentais, danos de
mobilidade. Então a gente acabou fazendo um trabalho de conscientização sobre isso
durante as aulas e acabou diminuindo bastante. As agressões verbais, a gente vê com
maior frequência e sempre relacionado a algum tipo de preconceito, seja ele de etnia,
de constituição física, de capacidade mental ou não, mas sempre esse tipo de
situação.
Milena: Cada um tem uma criação, tem uns que pai e mãe liberam tudo e acham que
pode fazer tudo. Outros são muito nervosinhos, aí eu chamo a todos, peço para
sentarem e converso. Digo que na minha aula eu não quero falta de respeito, brigas,
o que eu falar não é não. O que a professora falar tem que fazer. Na casa de vocês,
vocês resolvem do jeito que vocês acham que tem que ser, mas aqui na minha aula
tem que respeitar os professores, os amigos, porque não respeitando, todo mundo vai
sentar e vai perder a aula. Porque senão desse jeito a gente não consegue trabalhar
a atividade da aula, eu acho que tem que ter respeito entre todos os alunos, com os
professores e a aula flui. Eles também brigam, se empurram, e eu chamo os dois e
106
digo que não pode e se continuar assim, vão sentar e não vão fazer a aula. Vão ficar
duas aulas sem participar, porque desta maneira estão atrapalhando a aula e
prejudicando outras pessoas que não tem culpa do que está acontecendo. Todo
mundo tem que ser amigo, família, não tem que ficar brigando por qualquer coisinha,
um pede desculpa para o outro e resolvem.
Ygor: Tem, assim como em todas as escolas. Eu trabalho aqui com os primeiros anos,
e muitos alunos vem de outras escolas. Aqui até tem o jardim, mas não todos vêm
daqui. Eles têm uma dificuldade de aceitação da frustração. Acho que por conta de
ser de famílias com mais aquisição, tem tudo o que querem, poucos tem irmãos, ou
tem mais de idades bem diferentes, então, eu percebo mais essa dificuldade. O maior
trabalho, a dificuldade, é fazer eles aceitarem a frustração.... Ah, eu não consigo, ou
eu fiz feio, eles têm muita dificuldade.
Darlan: Isso acontece muito quando é um aluno novo que chega.
Larissa: Tem algumas desavenças, mas não é nada grave, que você vai perder tudo
o que você se programou pra dar porque teve que socorrer ali. Eu falo fulano vai beber
uma água e pense no que está fazendo. E quando é uma briga de duas crianças, eu
digo: Opa, o que está acontecendo aqui, isso está certo. Coloco para pensarem um
em cada escada da quadra e daqui a pouco quero ver vocês dois conversando e vocês
pedindo desculpas um para o outro e essa briga tem que ter acabado. E continuo a
aula, como se nada tivesse acontecido, mas prestando atenção ali. Eu não perco os
outros, resolvi aquela situaçãozinha ali.
Darlan: Ás vezes o fato de você tirar o aluno do jogo e deixar um pouco ele sentado
ali os outros já percebem que foi feito alguma coisa e eles não se sentem injustiçados.
Larissa: Sempre tentar essa tranquilidade, se o aluno vê que você não está aflita
naquela situação é mais fácil de resolver. O que me desestrutura é quando alguém se
machuca, aí eu fico aflita. Mas quando se trata de brigas na calma a gente sempre
tenta resolver. Uma coisa que a gente não faz é não dá certo é chamar a atenção em
público de alguém. Se a pessoa fez uma coisa negativa, porque tem professor que
para tudo e resolve dar uma lição de moral expondo a pessoa. Isso você não vai ver
nunca aqui e nem da classe. De repente uma bronquinha aqui. Às vezes chamamos
no final da aula para uma conversa sobre algo que vimos durante a aula. Quando
chamamos no final eles já até sabem. Outro dia aconteceu com um menino que
sempre foi aluno nosso aqui, desde pequeno. Ele faz futebol fora da escola, e
geralmente quando treinam fora eles querem fazer na aula de educação física um
107
treino. Eu sempre digo que aqui o objetivo é outro, vamos aprender os fundamentos,
mas não é treino. Mas ele fica nervoso, dizendo que apitou errado e tal. Eu falo: Bruno,
você pode beber agua que eu vou jogar no seu lugar. Ele pede: Não professora....
Digo, sim, você está muito nervoso, vai descansar. Aí no outro dia, no almoço ele veio
falar comigo, dizendo que foi mal o outro dia, pediu desculpas. Eu falo: Olha que
maravilha que chegou nesse ponto, nessa reflexão. Muito melhor assim, porque
poderia ter mandado pra diretoria, pra ele tomar uma advertência, poderia ter resolvido
também. Mas foi muito melhor assim
Gabriel: Aqui também às vezes aparece uma agressão física, verbal. E também uma
agressão psicológica, uma ameaça, algo que fala mais forte já pode ser considerado
uma violência. Sempre aparece algo, em toda aula, e eu gosto de aproveitar muito,
porque muito mais que movimentos eu quero ensinar valores. O movimento também
é um valor, mas o movimento só pelo movimento não. Porque pode ser destrutivo,
porque daí poderia ensinar as malicias do esporte, uma cotovelada, algo assim. Mas
eu prefiro ensinar todos esses valores que podem ser aplicados em qualquer esfera.
E podemos aproveitar os jogos e brincadeiras para aprender. Nas aulas de Educação
Física aparece esses conflitos. Por exemplo, em um treino de futebol aprendemos que
temos que trabalhar em equipe, saber ganhar e perder, aceitar que o juiz também
erra, porque é um ser humano... Ainda não falamos para as crianças que o juiz pode
estar mal-intencionado, no colegial já sim. Para os pequenos até os 7 anos, a
pedagogia Waldorf fala que a criança tem que achar que o mundo é bom. Dos 7 aos
14 anos você vai mostrar que o mundo é belo, e você vai mostrar as belezas do mundo
e só a partir dos 14 que você vai mostrar as verdades. Porque se você apresenta as
verdades primeiro como ele vai acreditar que o mundo é bom? Na pedagogia Waldorf,
na Educação Física, primeiro eu trabalho a cooperação. Posso até fazer um jogo de
queimada, mas eu não preciso ficar falando o tempo todo quem ganhou. Quando
perguntam quem ganhou, eu digo que todos ganharam. Nessa idade o mais
importante é a cooperação.
Conflitos sempre aparecem, mas eu gosto de parar a aula e conversar. Eu gosto de
aproveitar esses momentos.
Bruna: Em todas as aulas estas dificuldades aparecem, mas se bem trabalhadas vão
se diluindo.
108
Pesquisadora: Quais os principais valores morais que você acredita que devam ser
trabalhados na escola? E por quê? (Pergunta 4 do roteiro).
Renan: O respeito. É o que eu falo pra eles, você pode até discordar do que eu penso,
mas tem que respeitar. É o que eu penso e tento passar isso pra eles, discorde, mas
tem que respeitar. Ninguém tem que pensar igual ao outro, mas tem que respeitar a
diferença, é o que eu tento passar pra eles.
Pesquisadora: E o Projeto Político Pedagógico da sua escola, você conhece, e ele
cita essas questões?
Renan: Eu conheço, ele fala a questão da moral. Mas assim, bem superficial, não tem
um enfoque muito grande. Você percebe que é um recorte de um outro projeto de
outra escola. Você percebe que não foi feito especialmente para essa escola, você
percebe vários erros.
Pesquisadora: Quais os principais valores morais que você acredita que devam ser
trabalhados na escola? E por quê? (Pergunta 4 do roteiro).
Bia: Eu acredito que a empatia, de se colocar no lugar do outro. O saber cooperar, o
respeito. A questão também de cuidar do ambiente em que vive, cuidar da pessoa que
está ao seu lado, isso eu acho muito importante.
Ana: Eu acho o respeito, principalmente o respeito às diferenças. Porque a escola é
um local de diversidade cultura, de pessoas, de diferenças de corpos, pessoas com
deficiências de todos os tipos. Então, eu acredito que o respeito é o principal.
Valéria: Pensando na escola no geral, acho que a questão do respeito é a principal.
Até quando eu faço o combinado com os alunos, o primeiro que eu acho que é o mais
importante, é o respeito com o próximo. Pensando em outros valores também, ser
solidário, ser cooperativo com os outros. Na escola seria isso mesmo, o respeito, o
companheirismo, a cooperação de um para o outro, de ajudar o próximo, esses são
os primeiros.
Pesquisadora: Nas escolas que você atua, você chega a conhecer o Projeto Político
Pedagógico?
Valéria: A gente costuma ler e estudar, mais no começo do ano, quando vai ter a
organização e a estruturação, tanto do Projeto Político Pedagógico, como da Gestão,
que é aquele plano maior. Então é mais aquele momento, de leitura, pra conhecer o
projeto e colocar alguns projetos novos naquele ano. Às vezes tem duração de 4 anos,
e não é todo ano que a gente vê.
Pesquisadora: No projeto Político Pedagógico é citado sobre valores morais?
109
Valéria: Dentro do Projeto não estou lembrada, mas acredito que junto com os
projetos que são desenvolvidos na escola tenha essa questão dos valores. Um
exemplo: na escola estadual que atuo, com essa mudança de gestão, vários projetos
estão sendo incluídos na escola, tanto na hora do recreio, quanto na saída, com a
ajuda dos alunos do grêmio estudantil, cada mês são escolhidos alguns alunos pra
ajudar na saída dos alunos, que tinha muita briga, muita correria e muita indisciplina,
melhorou muito. Além dos alunos do grêmio eles procuram escolher alguns alunos
que já tem problemas de indisciplina pra ajudar. Esse é um exemplo que teve
resultado o ano passado e foi incorporado no plano, deu continuidade. Ajudou muito,
organizaram os alunos do transporte, eles ficam sentados, com plaquinhas,
esperando o ônibus, o recreio também, cada dia uma turma pode usar a quadra. O
recreio também, cada sala tinha uma listinha de alguns critérios que a sala tinha que
atingir, aí tinha carinhas que a sala ganhava, por exemplo, a verdinha se atingia, o
respeito, fazer as tarefas, respeito com os colegas, cuidar dos materiais, tinha vários
critérios, e a diretora passava na sexta feira entregando as carinhas, verdinha se todos
cumpriram, amarela se nem todos, e vermelha se não atingiram esses critérios, e isso
eu achei que ajudou, porque no final do mês eles tinham uma premiação da sala que
mais se destacava, que cumpria mais esses critérios. Foram ações que foram
acontecendo que ajudou muito, e diminuiu bastante esses problemas de recreio, de
saída, de alunos ficarem fora de sala de aula, então acho que isso colaborou bastante.
Pesquisadora: Quais os principais valores morais que você acredita que devam ser
trabalhados na escola? E por quê? (Pergunta 4 do roteiro).
Alisson: Valor moral eu acho que estamos precisando trabalhar desde muito cedo é
a paz. Como conviver em paz com o outro e consigo mesmo. Outros valores como
verdade, não violência, que é diferente da paz, o amor, são valores que precisam ser
trabalhados na escola. Se a gente seguir uma linha: Verdade, se você tem a verdade
dentro de você, você vai ter paz, ninguém vai te atrapalhar, te encher o saco, porque
você tem verdade naquilo que você é, vai ter paz. Tendo paz, você vai ter o amor, e
tendo amor você vai praticar a não violência, uma coisa puxa a outra e acho que esses
valores são primordiais. Verdade, paz, amor e não violência.
Caio: Respeito, solidariedade, liberdade, justiça, igualdade, direitos e deveres,
autonomia e honestidade. Acredito serem princípios básicos para uma boa
convivência em sociedade, auxiliando o movimento de um ser sociável e ajuda a
adequar-se a situações relacionadas a relações de trabalho, família, amizades, e
110
tem outros valores. Por exemplo, o esforço. Na minha aula eu sempre falo com eles,
eles falam, mas é pra se divertir, mas eu não estou aqui como recreador num resort,
aí seria só pra se divertir, eu quero que vocês se esforcem. Para os mais velhos eu
falo: não quero se você acerta a bola na cesta, mas eu quero ver vocês fazendo o
movimento certo. Porque a gente vê o Ser da criança se esforçando. Então não é
moral, mas de certa maneira é, porque você vê o Ser da criança se empenhando.
Então esse esforço vale por toda a vida. Uma medalha não é comprada, é o símbolo
de todo o esforço e empenho que você dedicou para conseguir aquilo e depois ao
longo da vida, em uma dificuldade você pode lembrar de todo aquele processo que
você passou, que aquilo dá certo. São coisas assim que eu gosto de falar pra eles.
Respeito você tem que ter com os outros e também consigo mesmo, porque você tem
que saber seus limites, mas querer vencê-los, dar aquele gás a mais, um passinho a
mais pra você vencer e sair da zona de conforto. Quando um aluno se machuca eu
falo que está tudo certo, porque todo ser humano em algum momento vai sentir dor e
dor faz parte da vida, se é uma dor que dá pra você superar, é bom porque você vai
ficando mais forte. Essa Resiliência que hoje em dia não tem, é tudo nhenhenhe,
porque os pais qualquer coisa que acontece, já acham que não precisam fazer.
Principalmente no colegial eles vão ficando mais moles.
Bom, eu não sei dizer quais valores, mas são valores de respeito ao outro, de
incentivo, de participação, resiliência, que hoje em dia é muito importante.
Pesquisadora: Vocês têm um projeto político pedagógico na Waldorf?
Gabriel: Na Waldorf tem indicações, por exemplo, no terceiro ano, é quando começa
a educação física propriamente dita, temos indicações para trabalhar brincadeiras,
alguns jogos, ginastica olímpica (artística) e a ginastica Bothmer (que nessa idade tem
só um exercício que é uma ciranda). Cada ano é diferente.
Pesquisadora: Cada ano é diferente a ginástica Bothmer, e você faz todas as aulas?
Gabriel: Sim, cada ano muda, e eu sempre procuro fazer, mas confesso que alguns
dias, pela própria dinâmica da aula eu acabo não fazendo. Mas a indicação é que se
faça. Por exemplo, no 7 ano tem um movimento da ginastica Bothmer que tem tudo a
ver com o ritmo respiratório, que nessa idade a criança está desenvolvendo o corpo,
o pulmão e a alma e aí tudo vai nesse sentido. O movimento não acaba só na ponta
do dedo, o movimento faz parte do universo e encontra com a gente. O movimento
não fui eu que inventei, ele está por aí e a gente aproveita o movimento.
112
Projeto Político não existe, cada professor, cada escola faz o seu. Temos que fazer
para apresentar, mas somos livres para criar.
As indicações existem, por exemplo, o basquete é no oitavo ano, antes disso eu brinco
com a bola de basquete, mas não é o esporte.
Temos que seguir a indicação pela antropologia, o desenvolvimento do ser humano,
qual o momento que a criança se encontra, eu não posso fazer fora daquilo. Podemos
tentar e ver se dá certo.
Pesquisadora: Você dá um tipo de aula para cada ano?
Gabriel: Sim, por exemplo, a queimada dou a partir do quarto ano, antes não dá certo,
e também nos outros seguintes. A ginastica Bothmer também vai mudando a cada
ano.
Pesquisadora: Você fala porque estão fazendo os movimentos na hora da Ginastica
Bothmer?
Gabriel: Não, faço os movimentos e eles vão seguindo, os mais velhos às vezes
perguntam para que serve e tal e eu vou falando, contando os segredos de acordo
com a idade e se estão preparados para saber.
O curso para o professor de Educação Física, é o de ginastica Bothmer, mas ele não
tem só ginastica, ele tem circo, atletismo, ginastica, tem tudo.
É uma escola livre, mas temos nossas diretrizes.
Pesquisadora: Quais os principais valores morais que você acredita que devam ser
trabalhados na escola? E por quê? (Pergunta 4 do roteiro).
Bruna: O sentimento de que as pessoas precisam umas das outras para sobreviver,
pois nossa sociedade está a cada dia mais individualista
nosso modo de pensar é errado e tal, mas a gente não tem o direito de julgar. Eles
são diferentes da gente. E assim, acho que foi bem legal porque eles entenderam
isso. Eu falei eles pensam assim: Eles não deixam as meninas brincarem, só os
homens é que brincam, as crianças disseram: isso é errado. Eu disse: isso é errado
na nossa cultura, pois se você perguntar pras meninas, pra ela é certo isso. Então
quando eu falo que isso não é certo eu estou interferindo, colocando a nossa cultura
como superior a dele, e isso é errado. Nós não somos superiores a eles, nós somos
diferentes deles. Eu tentei mostrar pra eles, essa questão do respeito, e acho que deu
certo.
Bia: E procuro trabalhar sempre em rodas de conversa. Em alguma situação problema
chamar essa reflexão pra eles, assim.
Ana: Sim, em todas as aulas eu priorizo muito o diálogo em relação a isso. Quando
acontece alguma situação que há esse tipo de falta de respeito, a gente para e sempre
conversa. Primeiro eu dialogo e falo com o grupo todo, não só com aquele aluno que
sofreu e aquele aluno que fez a agressão ou faltou com o respeito. Então, é o diálogo
sempre. No começo, se acontecer, eu paro e no final, a gente sempre conversa como
foi a aula e aí sempre entra essa questão do comportamento, do respeito entre os
alunos.
Valéria: Eu penso muito nas aulas, na questão do respeito às regras do jogo, e dentro
desse respeito de não tentar burlar essas regras, porque isso vai gerar problemas com
os outros alunos, porque se um não quiser respeitar o outro também não vai querer e
isso vai gerar um conflito na aula e isso é uma das coisas importantes. Mas desde o
momento que eu entro na sala com eles, a questão do respeito, de saber ouvir o
professor, quando eu estou falando e mesmo os colegas, levantar a mão pra poder
falar, eu gosto muito da questão da fila, eu até gostaria de mudar, mas acho que a fila
fica organizado, às vezes eu faço por ordem de tamanho, ou pela ordem alfabética,
então começa dentro da sala e aula até a hora de ir pra quadra, nessa organização
da fila, do silêncio pra respeitar as outras salas que estão trabalhando, que estão em
aula, a questão de não empurrar na fila, não fazer barulho nos corredores até a
chegada da quadra, então eu procuro trabalhar durante as aulas dessa forma e se
surgir algum problema eu chamo os alunos pra conversar ou faço uma roda de
conversa com todos. Sempre assim, quando penso nas aulas, penso nisso, em
respeito às regras, o respeito ao próximo, saber ouvir e os combinados pra não brigar,
não xingar, respeitar as diferenças.
114
tinham que passar juntos, se um não conseguia todos tinham que retornar e passar
de novo. Eu trabalhei 3 aulas seguidas dessa forma, para eles entenderem que um
tem que ajudar o outro, porque um pode ser mais forte, o outro mais ágil, então é
preciso entender as diferenças e saber que estão aí como uma unidade. Foi bom, eles
melhoraram, mas é passinho de formiga, melhoram e depois voltam um pouco, mas
achei bom.
Larissa: Totalmente. Não pode boné, chicletes. Não temos uniformes, mas cobramos
roupa apropriada pra fazer aula, tênis com amortecedor. O aluno que não vem
adequadamente fica com falta naquele dia e não participa da aula.
Darlan: Se acontecer várias vezes ele leva uma advertência. Tem os critérios de
disciplina.
Larissa: Eu sou bem metódica. Para os pequeninhos também eu falo: Pode bater no
jogo? Por exemplo, se o colega caiu não posso persegui-lo. Então se a criança sempre
faz eu pergunto por que você fez se sabia que não podia?
Então eu falo senta aqui e pensa em todas as regras. E esse sentar já faz com que
ele não repita porque quer estar no jogo. Eu acho que tem que ter muitas regras, mas
são regras que criamos com ele. Faço com eles sempre, quais são as regras de ouro?
E depois passamos no caderno. Por exemplo, no terceiro ano eu sempre pergunto pra
eles: Quais são as regras de ouro? Ouvir a professora, respeitar o amiguinho, etc...
Vou pondo na lousa e depois eles copiam no caderno. E a professora fala: Não é só
da Educação Física são para todas as aulas. No terceiro ano faço porque é onde a
Educação Física começa, e também aqui a alfabetização para se concretizar dura 3
anos, então no terceiro ano eles estão escrevendo e lendo muito bem, então é a hora
de fazer essas regras.
Gabriel: Busco sim, para os pequenos é por meio de histórias, para o colegial é por
meio das técnicas, e eles tem que aprender técnica. Se eu for ensinar técnica para os
pequenos, é como se diz nos livros, eu vou estar cristalizando isso.... Eu posso gerar
nos adultos, por exemplo, pedra nos rins, porque esse é o processo de cristalização.
Também tenho alunos de outras escolas que recebo, eu estava ensinado a passada
do handebol e o aluno saltava que nem vôlei, aí eu perguntei se já tinham feito, ele
responde que treinou muito tempo vôlei. Na Waldorf o objetivo é criar seres humanos
livres, e se ele não consegue aprender uma passada do handebol porque só treinou
vôlei ele não é mais livre então, é um escravo do vôlei. Isso já não é mais saudável.
Na própria faculdade de Educação Física tradicional que fiz já se falava que até os 14
116
Pesquisadora: Nas suas aulas existem regras para uma convivência harmônica em
grupo? Quais são? (Pergunta 6 do roteiro).
Renan: Sim. Briga não é permitido. Brigou, eles sabem que vai ficar uma ou duas
aulas sem fazer, dependendo da gravidade. Eles ficam na direção, quando é assim, e
eu passo uma atividade teórica, geralmente, quando já sabem ler e escrever. Se
brigar…, mas é muito raro isso acontecer. Eles já sabem, brigou, não tem conversa,
não tem diálogo, porque briga é o extremo. Pode até discutir com o outro, mas brigar,
bater, na escola não.
Pesquisadora: Você tem contato com a professora da sala, tipo uma troca?
Renan: Sim, às vezes a professora pede pra deixar o aluno fora. E respondo que
sempre eu não vou deixar, mas quando ela pede, eu deixo. Temos que trabalhar em
conjunto, eu ajudando elas e elas me ajudando. Às vezes eu também peço, preciso
desse aluno pra fazer um teste, elas também deixam. É uma troca, mas não é muito,
não tenho muito problema quanto a isso. Precisou, eu vou deixar. E ainda falo: A culpa
é sua, se ela tirou é porque alguma coisa errada você fez. Se é certo ou errado não
sei, mas pediu eu deixo. Pediu, tudo bem, não sendo sempre, tranquilo.
Pesquisadora: Nas suas aulas existem regras para uma convivência harmônica em
grupo? Quais são? (Pergunta 6 do roteiro).
Bia: Na minha aula eu trabalho com eles duas regras. A regra de ouro, que é: o que
eu não quero que façam para mim, eu não vou fazer para o outro. E a outra é a
117
parábola do beija-flor, que tem todo um contexto, uma história, que ele tem que no fim
ele consegue apagar um incêndio, então a gente trabalha que cada um tem que fazer
a sua parte. O beija flor os outros animais também, então cada um também tem que
fazer cuidar do seu corpo, do seu coração.
Ana: Sempre no início do ano nós fazemos os combinados. A gente constrói juntos e
eles falam o que eles pensam como seria uma aula harmoniosa, o que teria que
acontecer pra que tudo corresse bem e fosse uma aula gostosa e prazerosa. Então a
gente sempre conversa, sempre entra essa questão de não bater no colega, de não
xingar, não ofender, respeitar o amigo independente de como ele é, aceitar suas
diferenças. Então, assim, sempre existem esses combinados no início e eles vão
sendo reforçados ao longo das aulas e ao longo dos anos. Então a gente sempre
relembra, e quando acontece algo eu sempre pergunto: o que a gente combinou? Aí
a gente relembra novamente.
Valéria: Todo início de ano eu faço os combinados com eles e sempre que a sala
começa a quebrar esses combinados eu retomo com eles, mas as regras são em
relação ao trabalho moral, ao respeito aos professores, funcionários, alunos, ouvir o
professor com atenção, respeitar os colegas, não fazer bullying, que hoje em dia a
gente fala muito, tanto a agressão verbal quanto a física, ter um bom comportamento.
Então no início do ano eu dou um caderninho pra eles e fazemos os combinados, eles
assinam e a gente sempre retoma, se tem algum problema que está atrapalhando.
Alisson: Eu não tenho um combinado especifico, mas aí entra a questão do limite, de
respeitar o limite do outro, saber conviver com o outro, respeitando o limite, como eu
trabalho muito livre, eles brincam com os materiais nas aulas. Se um amigo está
brincando com a bola, então eu não posso pegar aquela bola sem pedir, tem um limite
aí, eu tenho que pedir pra ele, pra eu brincar com ele, e se ele falar não, é não, eu
tenho que respeitar esse limite do meu amigo. Outra coisa que eu trabalho muito é a
ordem, se eu estou brincando com algum material e eu terminei de usar eu guardo, e
isso traz uma ordem no ambiente e ele pode levar pra casa dele.
Pesquisadora: Essas aulas livres você faz de vez em quando, ou sempre?
Alisson: Eu faço sempre, às vezes eu dou uma aula dirigida, mas é mais tempo livre.
E dentro desse livre eles vão buscar o que faz sentido pra eles. Por exemplo, hoje
aqui está acontecendo um treino de futsal, em uma aula livre essas crianças tendem
a ir buscar um futsal, pra melhorar o que ela acha que precisa ser melhorado, por ela
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mesmo. Essa é a historia da Educação Livre, ela vai buscar aquilo que faz sentido pra
ela, dentro dessa liberdade.
Pesquisadora: E você percebe que eles brigam mais entre eles nas aulas livres ou
dirigidas?
Alisson: Nas dirigidas, porque me parecem que eles querem a liberdade. Na
liberdade como ela vai buscar aquilo que ele mais gosta de fazer tem os seus pares,
nesse momento eles estão ali mais envolvidos
Pesquisadora: Nas suas aulas existem regras para uma convivência harmônica em
grupo? Quais são? (Pergunta 6 do roteiro).
Caio: No início do ano a gente já deixa bem esclarecido que as aulas são pautadas
em alguns princípios básicos que foram citados nas questões acima e o trabalho
durante o ano é praticamente norteado na sinceridade. A gente trabalha basicamente
o senso de justiça, direito e dever, solidariedade e honestidade. E pra mim sinceridade
envolve tudo isso. Você ser sincero não é só falar a verdade não, ser sincero tem que
ter o senso de justiça, se o que eu vou falar pra mim é verdade, pro outro também é?
Noção de direito e dever é: eu devo fazer, mas eu não posso fazer, tudo isso tem que
ser pesado e é trabalhado em cima disso. Outro princípio que norteia é a autonomia,
é mostrar que todos eles podem ter voz, criar, participar da atividade, criar estratégias,
melhorar a pratica da atividade e dividir com o grupo a sua visão disso. Como ele acha
que ele pode melhorar, como o outro pode participar melhor.... Se ele acha que é
muito bom, o que ele pode fazer para o outro tentar chegar ao nível dele... Então a
autonomia é dar pra eles essa possibilidade de enxergar o outro e mudar e dar a
opinião não no que é melhor pra ele fazer, mas também no que vai melhorar para o
outro. Outro que eu acho básico é o respeito, que é essa noção de igualdade, de todos
serem iguais, se todos são iguais, o que você considera ruim pra você então não vai
fazer para o outro. São noções que no respeito se trabalha esse tipo de igualdade, de
você saber que se é ruim pra você então você não vai fazer para o outro. Uma frase
que eu falo bastante pra eles é: Você é o rei das suas ações e será responsável pelas
consequências delas. Então se você tem o poder de agir daquela forma, você tem o
dever depois de arcar com as consequências, então esse respeito, essa noção que o
outro tem o mesmo direito que ele eu acho interessante trabalhar também.
Milena: Quando a gente chega à aula, sempre tem uma música que a gente canta,
para cumprimentar os amigos e eu já falo: Sem brigas, já é uma regra. Sem empurrar
o amigo, brigar, todos já sabem: 5 minutos sentados, sem participar da aula. Essa
119
Gabriel: Sim. Sempre. Por exemplo, na agua, sempre pergunta pra mim se pode sair,
porque pode estar no meio do jogo e se sua presença ali pode ser determinante. Já
é um combinado.
Bruna: As regras que vamos implementando nos jogos coletivos. Sempre que surge
um conflito uma nova regra é criada.
Pesquisadora: O que acontece quando essas regras não são cumpridas? (Pergunta
7 do roteiro).
Renan: Briga eu mando pra direção, mas dificilmente acontece, acho que esse ano
não foi ninguém. Mas se acontece algo, vai ficar do lado, olhando, e depois que
acalma eu vou lá e converso. Por que você está aqui, porque você fez isso, isso. E
pergunto: Você gostou de ficar aqui sentado sem participar? Por quê? E tento sempre
explicar porque ele ficou de fora, pra ele saber que toda atitude... Se eu vejo que foi
algo tranquilo, eu converso e se vejo que resolveu, eu ponho de novo, dou uma
chance, se voltar a atrapalhar ele sai. Geralmente é assim, fica sentado em um canto.
Bia: Quando essas regras não são cumpridas eu chamo para uma reflexão. Às vezes
ela é coletiva, às vezes ela é individual, conversando olho no olho, senta, chamo pra
conversar sozinho, vejo se está acontecendo alguma coisa e eu tento retomar com
ele esses valores.
Ana: Quando acontece a gente para pra conversar. O primeiro momento é sempre
isso, a gente conversa. E pergunto: Se ele acha que essa atitude foi legal? Por que
ele fez isso? A gente conversa. Depois, se é algo mais sério, eu também passo para
a direção pra eles também estarem conversando, a gente chama a família pra
conversar e ver o que está acontecendo.
Pesquisadora: Eles chegam a ficar fora da aula?
Ana: É difícil, eu deixar o aluno fora da aula. Mas quando ele está ferindo alguém, ou
atrapalhando os outros colegas de uma forma constante, e aula não está dando certo,
eu falo uma, falo duas, converso, e se não há colaboração ele assiste a aula. Eu falo
que ele vai pensar sobre a atitude dele, mas depois, na roda de conversa essa criança
volta e a gente fala sobre isso novamente. Mas é muito esporádico, eu sempre tento,
em último caso eu tomo essa atitude porque os outros colegas também não podem
perder. Então, a partir do momento que ele fere o direito dos colegas eu tomo essa
atitude.
121
Pesquisadora: O que acontece quando essas regras não são cumpridas? (Pergunta
7 do roteiro).
Valéria: Eu costumo, dependendo do que acontece, se é algo mais fácil, a gente
conversa, mas se é algo recorrente eu tiro das aulas de educação física, eu deixo ele
de lado assistindo a aula, deixo pensando e converso de novo pra ele pensar e poder
retornar junto com os demais. Se for algo muito grave que a criança tem que parar
mais pra refletir eu tiro ele dá aula de educação física. É um jeito que eu faço pra ver
se eles sentem um pouco. Que nem em casa, o pai vai tirar a televisão, o vídeo game,
e eu costumo tirar eles do que estão gostando da minha aula que é brincar, jogar junto
com os outros. É um jeito de eles refletirem, que não vão mais fazer.... Ou não....
Alguns voltam a cometer, se tiver que voltar pra direção... Mas geralmente costuma
resolver nas aulas mesmo.
Alisson: Conversa. Eu não gosto de colocar de castigo, acho que o castigo não
resolve, até porque a gente está em uma aula que ele precisa da atividade física. E
as crianças estão cada vez fazendo menos atividade física, hoje em dia. Se eu coloco
de castigo, ele vai ficar com raiva, parado, sem fazer atividade física em um momento
que ele poderia estar se mexendo, ativo. Então eu não trabalho com castigo, eu
converso. E tenho até uma forma de resolver conflitos, por exemplo, a criança bateu
na outra, eu acho os dois, e um deles fala: Olha professor, tal pessoa me bateu, eu
chamo tal pessoa e falo pra ele: Seu amigo está me dizendo que você bateu nele,
nesse momento não tem como ele falar pra mim que não bateu, porque é o amigo que
está dizendo, não fui eu. Os dois estão juntos, então ele já me da o motivo: Ah, foi
porque pegou a minha bola, por exemplo. Aí eu falo para o que apanhou: Você pediu
a bola para o amigo? Não, então, você tem que pedir, se ele te emprestar a bola ok,
senão é não. Aí eu falo para o que bateu: Aqui nós não batemos, e eu sempre me
incluo no meio, nós. Aí libero os dois pra atividade. E eles costumam se entender. Se
eles ficam jogando o problema um para o outro, eu coloco eles sentados e digo:
Resolvam o problema de vocês, e quando eles resolvem o problema eles voltam pra
atividade.
Caio: Na verdade os alunos mesmos identificam essas quebras e propõe algumas
adequações as regras, se foi uma quebra de regra do jogo pra poder transformar e
não haver mais essa quebra da regra. Eles mesmos têm o poder de mudança na regra
pra que ela não seja quebrada mais e melhorar a forma do jogo. Se for uma regra
disciplinar a gente sempre procura resolver conversando com as partes, mostrar as
122
consequências das atitudes e buscar descobrir o motivo que causou tudo isso. Em
casos extremos a gente tem que tomar atitudes administrativas, porque pela
instituição isso é cobrado em alguns casos graves. Normalmente, eu sou bem
reconhecido na escola por não levar muito problema à diretoria, eu tento resolver, e o
respeito que eu consegui com eles, por ser uma pessoa muito justo com todos,
independente de quem ele é ou não, dentro da comunidade, então a gente acaba
resolvendo ali mesmo, com conversa, mostrando as consequências da agressão e
dos atos ocorridos ali. Se for no jogo é mais fácil, porque eles mesmos têm essa
autonomia de identificar e tentar mudar alguma coisa para melhorar.
Milena: Eu converso, peço para sentar. E sempre falo: Dessa maneira vocês perdem
aula e eu vou falar tudo de novo. Todos juntos, todos sentam e escutam. Aí cada um
tem que pedir desculpas para o outro. Os conflitos sempre aparecem porque muitas
vezes em casa não tem regra nenhuma. Muitos pais colocam os filhos na Escola
Waldorf porque acham bonito, mas em casa não fazem nada para ajudar, na escola
aprende de um jeito e em casa fazem outra coisa.
Ygor: Primeiro eu volto para uma conversa. Olha, a gente está cumprindo os
combinados? Na segunda vez, eu aviso. Quando não, eles ficam sentados, e não
participam da atividade, se estão atrapalhando a aula. Por exemplo, na roda, se ele
não participa, atrapalha, eu falo: Precisamos de você, seus amigos estão te
esperando, e os amigos começam a pedir, vem logo... E acaba funcionando.
Larissa: Larissa: Sentar e repensar essas regras, peço para beber uma água e voltar.
Sempre converso em separado para não expor a criança, porque se eu pego pra falar
na hora eu vou prejudicar os outros que estão participando do jogo
Gabriel: Eu como ser humano estou me trabalhando também, porque todo mundo
tem as suas feridas. Eu por exemplo, fico muito incomodado quando tem briga, eu não
sou de briga e quando vejo briga tenho vontade de defender, de parar, ainda que seja
com violência, que é péssimo. A minha violência não vai ser tapa, mas vai ser Para
com isso, cada um pro seu lado, senta na arquibancada e tal. Então eu também tenho
que me trabalhar pra não chegar nesses extremos. Eu tenho conseguido, estou até
fazendo terapia, para ir me acalmando e eu estou procurando conversar com eles e
trazer o que eu também estou trabalhando na terapia, é trazer o que está de gerando
de sentimentos na criança. Quando você fala desse jeito o que a outra criança sentiu?
Como ela ficou? Porque geralmente antes da briga já tem algo que o outro já está
chorando, já bagunçou. Então eu sempre estou falando para olharem para o outro,
123
pra ver o que o outro está sentindo. Eu tento fazer isso, mas confesso que não consigo
cem por cento do tempo. Uma das alternativas pra quando está a confusão, é separar,
e deixo a sala fazendo a atividade e vou conversar em separado com eles. Na maioria
das vezes eles entendem e consigo falar numa boa. Se estiver em um dia que estou
bem, "bem trabalhado", eu já consigo conversar na hora, sem afastar ninguém. Isso é
até melhor.
Bruna: Iniciamos tudo novamente ou paramos o jogo e o deixamos para outro dia
quando as crianças têm uma nova chance de conseguir atingir o esperado com as
regras.
Pesquisadora: Você considera importante ter atitudes respeitosas que possam servir
de exemplo para seus alunos? Se sim, cite algumas dessas atitudes (Pergunta 8 do
roteiro).
Renan: Com certeza, eu acredito que o exemplo é o mais importante, mais do que
falar. Eu tento falar pra eles, mostrar que eu ajo assim. Porque se eles me virem
fazendo coisas diferentes disso, minha palavra não vai ter valor nenhum. Eu tento
demonstrar através das minhas atitudes, eu creio nisso, senão não adianta nada, falar
uma coisa e fazer outra. Como a questão do respeito. Eu não posso desrespeitar o
aluno, eu falo pra eles, não é por aí, você até pode continuar pensando assim, nunca
tento convencer o aluno a mudar de opinião. Eu falo para os alunos, eu penso assim,
e você pode continuar pensando assim, sempre respeitando a opinião contrária.
Bia: Eu acredito muito nisso. Pra mim, ser professor é ser 24 horas professor. Pra
mim não tem como, eu dou aula 4 aulas de manhã e saio de lá e esqueço que sou
professor... Não... Eu acho que a minha postura tem que ser o dia todo. Por exemplo,
se eu vou atravessar uma rua, eu tenho que pensar muito bem e atravessar na faixa
de pedestre, porque algum aluno pode estar olhando pra mim. Dentro do ambiente
escolar eu tenho que cumprimentar as pessoas, um bom dia, boa tarde.... Se eu vejo
lixo no chão, pego. Porque eu acredito que nada melhor que a minha atitude pra eles
verem o que pode ser mudado.
Ana: Sim, com certeza, eu sempre falo pra eles: Vocês já me viram falar dessa forma?
Por que você está gritando? A professora grita? Eu falo assim com vocês? Então,
vocês também não podem, porque eu sou o exemplo pra vocês, assim como vocês
não podem gritar comigo e nem com os colegas. Por exemplo, de gritar, de falar alto,
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um estalo para gerar na criança algum tipo de comportamento. A gente sempre tenta
pautar a aula nessas noções que eu falei atrás, de respeito às diferenças, de
individualidades, limites de cada um e tudo mais. Toda atividade que a gente faz é pra
todos, a gente quer que todos consigam fazer, e quando não conseguem eles tem
essa autonomia de mudar. Então cada um faz a atividade na sua limitação, os mais
habilidosos sempre se sobressaem e acabam tendo a função de ajudar quem tem
mais dificuldade. Então no dia a dia a gente tenta fazer o contato com os alunos
sempre de uma maneira que todos consigam enxergar que todos têm o mesmo valor
ali, todos tem valor, direito e dever, todos são iguais, então quando um aluno especial,
por exemplo, pertence à sala, a gente tenta mostrar as dificuldades e limitações das
crianças, eles acabam identificando isso e a gente tenta conversar sobre elas e todos
tentam adequar às atividades de um jeito que a criança consiga participar. Outra
atitude é quando o melhor atleta da escola, aquele que joga tudo, participa de tudo, é
líder, sempre que ele leva uma vantagem na atividade todo mundo espera que exista
uma regra pra que ele se torne igual aos outros. Então ele é o exemplo, se ele se
sobressai demais, todos tentam mexer em algumas coisas pra que ele fique igual aos
outros, quando por algum motivo físico ou de qualidade, ele extrapola a regra, mesmo
inconscientemente, ele se torna um motivo de quebra dessa noção de igualdade,
justiça e tudo mais, então a gente interrompe e faz as adequações necessárias,
inclusive com eles orientando. Quando um aluno se sente injustiçado, independente
da importância dele pra escola ou pra algum esporte na escola e tudo mais, a gente
sempre tenta colocar o ponto de vista dele e os outros conversando pra gente chegar
a um senso comum.
Milena: Ser educado, não ser agressivo, respeitar.
Ygor: Sempre, a primeira referencia deles é o professor, é o pai. E muitas vezes o pai
não é presente, acaba sendo só o professor. O professor de jogos, de movimento, é
muito visado, eles admiram muito, prestam atenção em tudo o que você faz, então eu
preciso pensar, cheguei à escola eles estão me observando.
Larissa: O Steiner sempre fala: Você tem que ser um aluno digno de ser exemplo
para os outros, então eu estou formando crianças, seres humanos, então se eu não
for digna vou ser um espelho de coisas ruins. Então ele fala que os professores e
mestres tem que estar convictos disto. Eu não posso falar é muito bom comer coisas
saudáveis, depois eles me veem comendo só coisas ruins. Eles vão falar: Nossa, ela
falou pra comer coisas saudáveis que é bom, então isso não é verdade. E quando a
126
gente trabalha com a inverdade, moralmente a gente está perdido. Eles sentem as
coisas dentro da gente. Trabalhar com a verdade é a base da moralidade. Se você
falar assim: na próxima aula, você não vai participar da aula porque hoje fez algo
errado. E quando chega à próxima aula você esquece, você não faz... Aí já era!
Gabriel: É fundamental que eu seja exemplo. E na pedagogia Waldorf essa questão
do professor estar se trabalhando, a criança vai se ligar muito mais no que o professor
é do que ao que o professor fala. Não adianta você falar uma coisa e fazer outra. Ela
vai se ligar animicamente. A alma da criança vai perceber isso, essa incoerência. Mas
por outro lado, se ela percebe que o professor está se trabalhando, é como se a
alminha da criança soubesse que ele também está se trabalhando, é legal. Ela sabe
que também pode errar, isso conforta. A gente está no caminho junto, cada um no seu
momento. É como seu eu falar pra eles virem de camiseta sem estampa e eu chegar
com camiseta estampada, é a primeira coisa que eles vão olhar. Eu não falo palavrão,
falo no meu futebol que eu jogo, nem falo também porque já estou acostumado a não
falar. Pontualidade. No colegial, se exijo tanto deles, eu não posso me atrasar, tenho
que estar presente. Tenho que começar e terminar pontualmente. Isso é bom pra eles.
Todos os valores que eu prego eu tento aplicar pra mim, porque eu sei que é bom
para o ser humano e eu também sou um ser humano, e estou inserido nessa
sociedade, nessa comunidade. E também porque é exemplo pra eles. E tem que ser
exemplo, não pode ser diferente. Na pedagogia Waldorf tem um livro que fala que é
regra de ouro para o professor é ser exemplo, e lá fala como ele se porta, o que ele
faz, então tem que ser. A Pedagogia Waldorf é um caminho de desenvolvimento não
só para as crianças, para os pais também, para os professores.
Bruna: Se desejo que falem baixo eu mesma falo baixo com eles por exemplo. Leva
um tempo para que todos prestem atenção, mas costuma funcionar. A aula não
começa enquanto todos não estão em silencio para escutar.
vermelho. Então eu falei, não é normal, ele precisa de ajuda. Naquele caso eu falei
com ela, ela era professora também, ela entendeu e mandou ele para o psicólogo, ele
foi, melhorou um pouco. Conversei com a mãe, ela aceitou e ele está melhorando,
mas é complicado. É um processo demorado.
Bia: Eu acredito que tem sim. Eu acredito que o vínculo é muito importante, o respeito.
Eu acredito que quando a criança, o aluno, tem respeito pelo professor ele acaba
sendo muito mais solícito do que quando ele tem medo do professor. Então, essa
questão da gente trabalhar com regras, sempre estar focando sobre nisso, falando
com eles, um acaba falando com o outro. Então sempre que alguém faz alguma coisa
errada, um fala: “Ô gente, vocês não se lembram da regra de ouro?” Então, isso é
bem legal.
Ana: É uma construção, como eu te falei. Hoje eles estão acostumados que se algo
acontece a gente conversa sobre isso, e as próprias crianças começam a falar. Eu
sento em roda e nem pergunto, eles já começam a falar: Professora, eu acho que hoje
a atitude dos colegas não foi legal, porque foi assim... assim... Porque a gente
conversou muito, não colaborou, não cuidou do amigo. Então isso é uma coisa que já
mudou, que eles já fazem. Os alunos que tem mais problemas de comportamento,
quando eu chego perto, eles já fazem aquela carinha tipo, eu fiz coisa errada. Criança,
eles são assim, eles esquecem, mas ao mesmo tempo, eles sabem e se lembram de
que aquele é o momento de fraqueza ali, mas logo eles voltam e tem consciência.
Então a gente não pode deixar passar. Deixou passar uma vez, tem que construir tudo
de novo aquilo. A gente sente com os alunos que vêm de outras escolas, até eles se
adaptarem, eles vão vendo os outros e vão se adaptando. Mas tem que ser algo
pontual, não pode deixar passar. Porque se deixa, os outros também vão achar que
podem fazer e você perde. Então nessa parte eu sou bem firme.
Valéria: Em alguns casos, a maioria sim. Outro exemplo, hoje no futebol, começou a
surgir alguns palavrões lá, aí eu falei, senta aqui um pouquinho... Ele disse: eu não
estou fazendo nada. Eu disse: Sim, não está fazendo, mas está falando, então, senta
aqui, descansa, respira, penso no que você está falando.... Aí ele ficou fora do jogo e
ficava perguntando: Posso voltar? Eu dizia não, pensa mais um pouquinho, mais, está
certo essa atitude sua? Depois eu perguntei: Está certa essa atitude sua? Esse
comportamento? Ele me disse: Não professora, aí ele voltou e não ouve mais nada,
continuou jogando. Então acho que na hora ajuda, porque eles querem voltar pra
atividade, se não mudar eu vou ficar fora. Mas eu acho que tem alguns conteúdos que
128
ajudam muito nisso, alguns jogos cooperativos, de um trabalhar pra ajudar o outro,
com objetivos em comum, que no final todo mundo ganha, eu acho que é um trabalho
muito válido na nossa área. A competição é muito importante, mas trabalhar também
alguns projetinhos como esses, dos jogos cooperativos, tem muito a ajudar nessa
questão, de respeito de um ajudar o outro.
Alisson: Já, acho que esse momento do silencio, e eles já perceberem e falarem entre
eles: Olha, o professor quer falar, vamos ficar quieto, eles já começam a fazer o
silencio por eles, não preciso mais falar... é uma forma que eu consegui estabelecer
com eles, com algumas turmas, não são com todas.
Caio: O bairro que eu trabalho é bem complicado, é o pior da cidade em relação à
violência e riscos para as crianças, mas nesses lugares essa questão de moral e ética
é sempre deixado um pouco de lado pelas famílias, porque eles vivem de coisas que
não combinam com essa noção de moral e de ética, então desde que eu entrei na
escola, há onze anos, em 2008, a escola era proibida de participar na cidade dos
eventos da Secretaria de Esportes, por questões de brigas e tudo mais. Quando eu
entrei na escola, eles foram punidos por cinco anos e faltava dois para acabar essa
punição, e a gente fez um trabalho dentro da escola com relações a atletas e torcida
sobre a visão que se tinha da gente lá por conta do nosso comportamento. Hoje a
gente é bem visto na cidade e em alguns casos bem elogiados. O Laçale, uma escola
que é bem top aqui em Botucatu, ele convida a gente todo ano para passar um dia na
escola, e jogar todos os esportes com eles, conhecer o espaço, a gente come junto
com eles lá. Uma escola que a mensalidade é 2000 reais e um nível social bem
diferente do nosso e a gente sempre está junto ali com eles por conta desse
reconhecimento pela mudança de atitude que a nossa escola teve. Um exemplo
recente foi esse ano, no campeonato sub 17 de skate, meu aluno foi campeão e o
outro ficou em quarto lugar, então a gente ficou campeão além do individual e no geral
também. E meu aluno não concordou com o arbitro, ele falou que achava que outros
alunos tinham sido melhores que ele, e disse: Professor, eu não fui melhor, o outro
atleta foi melhor que eu, fez mais manobras. Eu disse: E aí, o que você tem a fazer
em relação a isso? Ele respondeu: Eu vou lá conversar com o arbitro que foram
injustos com o menino. E o arbitro mostrou pra ele, que o outro até tinha feito mais
manobras, mas que ele tinha feito uma manobra que era extremamente técnica e que
essa manobra ninguém tinha conseguido fazer, então você fez por isso foi campeão.
Ele entendeu, agradeceu, mas falou para o arbitro que mesmo assim ele achava que
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os outros tinham sido melhores que ele, mas respeito a opinião de vocês. Eu achei
muito legal porque partiu dele a noção que ele não foi o melhor, e ele foi conversar
com o arbitro. Pô perder a medalha de ouro é uma situação interessante, então isso
aí foi algo legal. Outra situação que me chamou bastante a atenção, foi há um tempo,
a gente estava empatando o jogo e precisava ganhar de 1 gol de diferença pra
classificar, era quartas de final ou semifinal eu não me lembro, e meu aluno entrou na
área e escorregou, e o arbitro deu pênalti, ele foi lá para o arbitro e falou. Primeiro ele
falou pra mim, lá na beira da quadra e falou: Professor, não foi pênalti, eu escorreguei,
ele nem encostou em mim. Eu disse: Beleza e o que a gente vai fazer? Ele conversou
com o arbitro e ele tirou esse pênalti que tinha sido dado, então eu achei bem
interessante. Outra coisa, nessa mudança de comportamento e intervenções, não é
aqui em Botucatu, é numa escola em Itatinga que eu dou aula que algumas salas
participam da produção da nota, eu tenho algumas atividades que eu avalio a parte
motora e o desenvolvimento motor, e a outra parte, que é comportamento e
participação deles na aula eu sento com eles e eles fazem uma escala do quanto eles
acreditam que deva ser o correto ser essa nota. É claro que se for uma coisa absurda
eu intervenho. Inclusive nesse último bimestre uma menina chegou pra mim e disse:
Professor eu dei 7 pra mim, mas acho que foi injusto porque eu tenho que tirar 10. E
eu falei pra ela, no dia que a gente sentar todos juntos, você falar pra todos e
argumentar o porquê você merece 10 e todo mundo concordar aí, perfeito, a gente vê
a visão de todos e o seu poder de argumentação e mostrar que realmente merece, aí
a gente dá um 10 pra você.
Milena: Sim, eu acho que dá resultado, porque no inicio do ano é sempre mais difícil,
agora a aula já esta fluindo bem, quase nunca tem brigas. Eu proponho uma atividade
e todos realizam. Às vezes no final da aula eu deixo um deles escolherem uma
atividade. Essa é uma forma de ajudar para que se desenvolvam.
Ygor: Sim, mas aqui a gente trabalha muito em conjunto. Eu encontro com eles duas
vezes na semana, e eles tem a professora de sala que está com eles o tempo todo,
então tudo o que acontece a gente conversa com os outros professores e
principalmente com o professor de sala, e ele acaba passando para os outros
professores de área, para trabalharmos em conjunto com aquela criança. Então é um
conjunto, não é só o que eu falei, mas acaba dando resultado ao longo do tempo, não
são coisas imediatas. Aqui na escola tem professores de área: de musica, de euritmia,
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não entrega uma atividade com as regras, a gente deixa que eles construam regras a
partir do que eles conhecem do esporte e algumas vezes montando algum esporte
diferente de tudo, que eles acham interessante, alguma brincadeira que eles inventem
e coloquem as suas não regras, mas acordos e acabam inventando algo diferente do
que existe como esporte. Também a gente ensina bastante o agir, a gente não quer
impor que eles participem ou que sejam ativos, mas sim um despertar para uma
atividade, do conhecimento do corpo, do trabalho do corpo dele como físico mesmo,
como máquina, como instrumento de vida dele, de ele enxergar o corpo mais nesse
sentido.
Milena: Eu até já fui a algumas palestras, mas não me lembro mais. Acho muito
importante ter palestras que falem sobre as diferenças e semelhanças da Pedagogia
Waldorf e das escolas Tradicionais, para que todos conheçam. Acho importante
porque tem muito preconceito com as escolas Waldorf porque as pessoas não
conhecem, não sabem todo o trabalho pensando no desenvolvimento da criança que
é realizado. Meus filhos estudam também na Waldorf, na Viver, e noto muita diferença.
Tem todo um trabalho com o aluno, para depois ver se realmente ele está preparado
para ir para o primeiro ano. Trabalham muito a coordenação motora, a fina, observam
o desenho para ver como está, para ver se já pode começar a desenvolver a escrita,
existem reuniões coletivas e individuais, onde a professora fala como está o
desenvolvimento do seu filho em todos os aspectos, até o comportamental. O aluno
não pode levar brinquedos para a escola, justamente para não ter comparações.
Trabalham cada época do ano, mostrando o significado e a importância de cada data
e época, por exemplo, o Natal, tudo o que significa e não apenas pensar no presente,
é muito mais que isso. Dá para fazer muita coisa com materiais alternativos, não
precisa pensar só em comprar e comprar. As crianças ajudam na confecção e dão
mais valor, eles ficam felizes de ver os pais e mães ajudando e fazendo juntos com
eles. Acho que na escola Tradicional os pais tinham que participar mais.
Ygor: Eu não trabalhei só com educação física, fui educador social e trabalhava com
projetos sociais, com crianças em risco social. A prefeitura normaliza, mas a igreja
apoia também. Lá eu trabalhei com alguns métodos, lá era junto: arte e cultura.
Darlan: Confesso que não, mas vemos muitas vezes professores de escolas
tradicionais procurando a pedagogia Waldorf. Aqui tem bastante curso, bastante
palestras diferentes.
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Gabriel: Eu não acho que a Pedagogia Waldorf é melhor que as outras, é só uma
oportunidade. Tem gente que vai se encaixar tem gente que não. Eu acho que não é
a salvação do mundo a pedagogia Waldorf, tem pessoas e pessoas e momentos e
momentos. Já tivemos alunos que saíram daqui porque não se encaixavam, queriam
experimentar uma escola tradicional e depois de uns anos voltaram, a pessoa também
já não era mais a mesma, estava em outro momento, mais amadurecida. Existem
coisas que não é uma regra da pedagogia Waldorf, mas é uma prática que eu também
não concordo, eu faria diferente, então também tem as suas falhas, os desafios, coisas
que tem que melhorar. Mas são os pilares que eu havia falado, que pra construir um
ser humano, vem de vários lugares, como eu falei, família, escola, religião, escoteiro.
Tudo tem que estar alinhado, principalmente a escola e a família. Por exemplo, a
Waldorf fala que para a criança, os eletrônicos trazem uma serie de prejuízos, mais
velhos é aceitável, adulto, ótimo se souber fazer uso. Para a criança ela perde a
imaginação, que não é no uso de celulares, são imagens da tv, livros. Se você contar
uma história e ela só imaginar, por exemplo, um urso da maneira que viu na tv ela não
está usando a imaginação. Steiner fala que essa imaginação depois dorme na criança,
no adolescente e mais pra frente no adulto, vem como uma força de criação,
criatividade, então uma criança que desenvolveu muito a fantasia, vai trabalhar em
uma super empresa e pode ser um gênio de criatividade, que vai servir muito a
humanidade. Por isso o brincar livre, uma colher pode ser um carrinho e tal.
Eu penso que se todos os pilares da vida puderem estar alinhados, juntos, é mais
coerente, é melhor para a criança. E essa coerência não é física, matemática,
numeral. Ela é anímica, viva. Por exemplo, um pai acompanhar o filho em um esporte.
Bruna: Acho relevante, mas são poucos os métodos de ensino que trazem a formação
moral como objetivo aplicado na prática. Eles são aplicados mais como um ensino
cartilhesco do que como ensino vivencial.
se ele convive bem com os outros, esse é o critério que eu utilizo, nada formal. Com
certeza o aluno que briga e não respeita as regras não tem uma nota tão alta quanto
o outro que não faz isso. Entra sim, mas eu não tenho um peso preciso.
Bia: A questão do comportamento e atitude é um dos parâmetros para eu avaliar os
alunos. Eu avalio através da observação. Da minha observação e também uma auto
avaliação deles, e pergunto pra eles, como vocês foram, que nota vocês acham que
merecem, para eles refletirem sobre isso, por aí....
Ana: Atualmente eu avalio nas três dimensões, a gente está recebendo novas
referências, como a BNCC, que sita outras dimensões. Mas eu me baseio nessas três
que acho que é a base da Educação Física. A dimensão processual, conceitual e
atitudinal. Então a atitude entra como uma avaliação dos meus alunos, geralmente é
nessas rodas de conversa que eu percebo quem entende (porque não basta saber é
preciso saber), às vezes tem muito discurso, mas não tem atitude, não pratica. Então
eu falo muito isso com eles. Então eu tento avaliar na forma de observação,
infelizmente, eu não consigo registrar tudo, não tem tempo. Mas a gente lembra, na
hora de fechar, eu lembro esse aluno tem uma boa atitude, ele respeita os amigos,
cumpre as regras do jogo, da atividade, da aula. Então eu me pauto nisso, mas o
método que eu uso é a observação, na roda de conversa e nas aulas, observando.
Mas eu gostaria que se tivesse outro método para avaliar iria contribuir, mas eu acho
extremamente importante avaliar e falar pra eles que estão sendo avaliados nesse
sentido. Então quando chegam ao terceiro ano, no quarto ano, eles já entendem mais,
então eu falo como eu avalio e eles perguntam: Nossa professora, você avalia? Sim,
porque não é porque a gente não dá prova, às vezes eu passo um trabalho, um
registro, mas não é como é feito para os anos finas e médio. Mas eu falo, a professora
avalia assim, eu explico cada um, e aí quando chega à aula livre, que é a última aula
do bimestre, que é quando eu avalio mais, que aí eu registro, que é quando eu tenho
tempo. É impossível fazer uma coisa mais concreta, tenho 32 aulas então são 16
turmas. Mas acho que já sai daquela coisa de avaliar só o procedimental, que não é
só isso, o conceitual (que é um desafio), mas a gente vê pela oralidade da criança,
por você explicar e ela saber o que você está falando e fazer.
Pesquisadora: Sobre o PPP (Projeto Político Pedagógico), se na sua escola ele tem
alguma coisa relacionado à Educação Física incluindo essa questão de valores?
Ana: Olha, eu vou ser bem sincera, o PPP é uma coisa meio jogada, ele é feito nos
HTPCs. O ano passado teve uma fala, de organização dele novamente, de
135
pra ver o que eles aprendem. Não costumo fazer provas, mas com os maiores, peço
pra escreverem o nome do jogo, descreverem as regras do jogo, e uso muito desenho,
porque a maioria às vezes não está alfabetizada, então uso muito desenho e essas
rodas de conversa, trabalhinhos, pesquisas, cartazes, peço pra trazerem figuras pra
gente fazer uma apresentação. Em relação a comportamentos e atitudes costumo
observar mais nas aulas, no comportamento deles, se estão melhorando, evoluindo,
respeitando as regras do jogo, os colegas, porque se a gente conseguir trabalhar
esses valores a aula em si cada vez mais vai melhorando e a gente vai conseguir
trabalhar melhor os conteúdos.
Alisson: Eu dou nota pelo comportamento e participação, mais pelo comportamento.
Se for um aluno que ele ajuda, ele não está sempre em conflito, eu acho que a gente
tem uma dificuldade em dar uma nota em Educação Física. Eu por exemplo, não dou
prova, então é isso.
Pesquisadora: O Projeto Político Pedagógico da sua escola cita algo sobre valores
morais?
Alisson: Pra ser sincero eu estou aqui há 2 meses e não li o projeto.
Pesquisadora: Você avalia seus alunos em relação a comportamentos e atitudes?
De que maneira? (Pergunta 11 do roteiro).
Caio: A gente fala no começo do ano, nas primeiras semanas, assim, os acordos e a
gente forma uma linha de conduta que aquela classe acredita que seja a ideal e
durante o processo a gente avalia o desempenho individual, o desempenho coletivo e
o cumprimento ou não das condutas que a gente idealizou e se essas condutas estão
sendo válidas ou precisam ser mudadas. Se na visão deles alguma coisa precisa ser
adequada ou adaptada. A gente trabalha essa avaliação com eles, em conjunto, não
é atribuo alguma qualidade ou um defeito ou nota a alguém, isso tentando colocar
com que todos tenham essa noção e possam identificar melhora ou piora, ou
identificar se as condutas estão sendo ideais pra sala ou precisam ser mudadas.
Pesquisadora: Você conhece o Projeto Político Pedagógico da sua escola e ele fala
algo sobre o trabalho com Valores Morais?
Caio: Não conheço pra falar a verdade.
Pesquisadora: Você avalia seus alunos em relação a comportamentos e atitudes?
De que maneira? (Pergunta 11 do roteiro).
Milena: O boletim a gente tem que escrever como está o aluno. Se ela foi bem na
parte motora, na parte comportamental, se ela participa das aulas. Isso entra no
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boletim e na reunião é entregue aos pais. Até tem uma nota de 0 a 10, mas o que
importa é mais o que eu escrevo. Os professores de áreas: Educação Física, euritimia,
inglês, francês e religião participam juntos da reunião com o professor da sala.
Ygor: Em respeito à avaliação, pra eles eu sou o professor de jogos, não falo
professor de educação física até o primeiro e segundo ano, no terceiro eu sou o
professor de educação física. Para os pais não tem nota, é passado um boletim
descritivo do aluno, para a secretaria temos que passar nota e frequência. Eu uso o
mesmo método da escola Viver, participação e desempenho. Se a criança está
participando das atividades, de que maneira está participando, seria o desempenho,
como ela se envolve na atividade. Por exemplo, a criança que não participa, que você
chama e ela não vêm, ela tem uma nota menor. Mas não é algo que influencia pra ela,
porque essa nota não chega para ela nem para o pai, fica mais para a secretaria. Para
o pai o que é mais relevante é o que descrevemos, eu conto sobre a participação e
desempenho com outras palavras. Se acontece alguma coisa durante a aula eu já
converso com os pais na saída da escola mesmo.
Pesquisadora: Existem mudanças entre as escolas Waldorf? Aqui é federado?
Ygor: Muda sim, aqui não é federado, a federação pede para que siga todas as
normas. Nós aqui na escola seguimos a pedagogia Waldorf, já a estrutura da escola
é que muda. Escolas federadas são administradas por pais, já aqui não, tem uma
administração. Mas eles também participam da educação das crianças, estão juntos
ajudando a fazer o pão, na limpeza, se a criança se machuca, eles participam como
um professor.
Pesquisadora: Para ser professor é preciso ter o seminário Waldorf?
Ygor: Antigamente não existia o curso específico para professor de educação física,
que é o da ginastica Bothmer, então para o professor entender sobre a pedagogia
Waldorf ele tinha que ter esse seminário para trabalhar (que é um curso de 3 anos),
hoje em dia só o da ginastica, porque lá a gente estuda a fundo o que é essa
pedagogia.
Pesquisadora: Aqui tem Projeto Político Pedagógico?
Ygor: Não, mas temos que seguir as normas das escolas Waldorf.
Pesquisadora: Voce já trabalhou em escolas municipais e tradicionais?
Ygor: Não, eu só trabalhava em projetos sociais.
Pesquisadora: Você vê diferenças entre as do projeto e as daqui da escola?
138
boletim é todo sistematizado no computador, poderíamos colocar até mais itens, mas
quanto mais itens é mais trabalho. E o respeito entra nessa participação.
Gabriel: Cada escola Waldorf tem o seu boletim, nós aqui temos o nosso. Nós temos
que transformar em número por uma questão do aluno sair e levar o histórico. Mas
quando fazemos a avaliação para os alunos e para a família. Principalmente para as
famílias quando eles são menores. Até o oitavo ano a avaliação é para os pais, eu até
posso falar com os alunos, mas não falo muito sobre isso. Já no colegial, eu vou fazer
o boletim para o aluno, porque ele já é o senhor do que está fazendo, porque se eu
falar com os pais pode ser que nem toque ele assim. Mas se eu falar com ele, olha
vem cá.... Sua nota. E muitas conversas que o tutor (aquele professor que no colegial
vai fazer a ponte com a família, que conversa com os alunos) também ajuda muito.
Porque a gente preenche o boletim por escrito, detalhando. E me importa muito mais
eu dizer para os alunos e famílias o que aconteceu, quem é o aluno, o que ele tem
feito, do que eu colocar uma nota fria, morta, que não diz nada. O que eu estou
dizendo com aquele 7, 3? Nada. Mas se eu pensar alguns critérios, seria o
envolvimento. Que é tudo, desde a pontualidade, a sua disposição pra estar em aula,
o esforço que pode estar incluído, ou posso só falar do esforço. Por exemplo, você é
bárbaro no esporte, mas você não se esforçou nada, não adianta ter um dom e não
treinar. Esse esforço vale para tudo o que for fazer na vida, não adianta ter o dom e
não trabalhar. Por outro lado, um aluno que não tem dom nenhum e se esforça pra
caramba. Se fosse comparar uma nota com a outra, o segundo teria uma nota maior
porque se esforçou mais. Assim como na matemática, na educação física a gente
procura avaliar o conteúdo prático, se executou a atividade com a técnica. E eu
também procuro falar isso. Também o social, se ajuda o outro, se é proativo, se briga
por qualquer coisa. Então é uma avaliação livre, mas pra gente é muito consciente, o
que a gente quer que eles tenham como retorno, porque vai ser bom para toda a vida
dele. É uma força de vontade, uma coisa só com ele, com o outro, o conteúdo, se
dominou ou não.
Pesquisadora: O que é a ginástica Bothmer?
Gabriel: Ela é um conteúdo de movimento e de corpo também, corpo físico, mas que
trabalha os movimentos mais espirituais. Quem deu a formação foi um alemão,
Michael Neu, ele teve aula com a nora do Bothmer. E ele e o Steiner trabalharam
juntos, o Steiner já tinha desenvolvido a euritmia que trabalha mais o anímico, o astral
e o etérico também, mas ele sabia que a ginástica de aparelhos, que é a ginastica
140
olímpica era muito importante para trabalhar a força de vontade nas crianças e a força
de vontade esta ligada muito ao Eu, e o Eu é o último dos corpos, é o corpo físico,
astral, etérico e o último é o Eu. Como você faz a ginástica bem física, isso reflete no
Eu. Steiner sabia que tinha que ter os dois: a euritmia e a ginástica, e também tinha
que ter os jogos. Que no jardim é o brincar livre, que começa a ser direcionado um
pouquinho pelas próprias professoras do jardim, nos primeiros anos são jogos que a
própria professora da sala dá, e no terceiro ano, entra a educação física, que começa
com brincadeiras, depois são os jogos e mais para frente os esportes. Aqui na escola,
faz um tempo que começou no segundo ano as aulas de Educação Física, a Waldorf
recomenda que seja a partir do terceiro ano, com as crianças para fazer 9 anos.
Percebemos que algumas salas tinham muita necessidade de movimentos e a
professora de classe não tinha muita experiência, por isso começou a ter professor de
Educação Física a partir do 2.º ano. Nos primeiros anos são brincadeiras simples com
poucas regras, usando mais a imaginação, as imagens, é importante que o professor
conte uma historia e a própria historia contada já é a regra da brincadeira, exemplo: a
história do príncipe e da princesa, que não pode pisar no chão, eles não vão pisar,
não precisa por mais regras.
Seria legal conseguir isso até o 5.º ano, mas as crianças de hoje em dia já perderam
muito da fantasia. No 6º ano não tem como, já é virada dos 12 anos, a criança fica
difícil, mas na Waldorf eles estudam nesse período Roma, que tem regras bem rígidas,
aí você também tem que por regras, exemplo na queimada, pisou na linha tem que
apitar, porque é saudável para eles. A Waldorf amarra todas as disciplinas trabalhando
o mesmo conteúdo. Porque pela própria antropologia, pelo desenvolvimento do Ser.
A alma da criança no 6.º ano coincide com a alma do ser humano no período de Roma,
por isso as regras se encaixam tão bem, por isso se estuda na arte luz e sombra, são
todos os contrates. Nessa época são necessário regras rígidas, antes disso é veneno.
Por isso se fala, o alimento certo na hora certa.
O Steiner sempre falava que o professor precisa ter humor, não tirando sarro e sempre
usando as histórias para ajudar. O professor tem que ter um humor leve, não pode
amargar, pra não afastar a criança
Pesquisadora: Você avalia seus alunos em relação a comportamentos e atitudes?
De que maneira? (Pergunta 11 do roteiro).
Bruna: Através de avaliação descritiva.
VALORES MORAIS
NAS AULAS DE
EDUCAÇÃO FÍSICA:
ESTRATÉGIAS DE
INTERVENÇÃO A
PARTIR DA
PEDAGOGIA
WALDORF E DAS
ESCOLAS PÚBLICAS
SUPERVISÃO GERAL
Prof.ª Dr.ª Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger
REALIZAÇÃO
Prof.ª Ms. Ana Keila Zanin de Oliveira
EDITORAÇÃO
Michele de Souza Moraes
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................ 05
INTRODUÇÃO ...................................................... 07
REFERÊNCIAS .................................................... 42
APRESENTAÇÃO
Ilustrações: Freepik
Este material didático é um Produto Educacional elaborado a partir da
dissertação de Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional
– PROEF. Através da nossa pesquisa intitulada: “EDUCAÇÃO FÍSICA,
ESCOLA PÚBLICA E A PEDAGOGIA WALDORF: ANÁLISE DO ENSINO E
APRENDIZAGEM DE VALORES MORAIS”, analisamos os dados obtidos por
meio de entrevistas aos professores de Educação Física, junto ao referencial
teórico e elaboramos sugestões para o trabalho com valores morais dentro do
ambiente escolar.
Durante as aulas de Educação Física as dificuldades de relacionamento
ficam ainda mais evidentes, dada a dinâmica das aulas e o contato entre os
alunos que pode ser mais intenso do que em outras disciplinas do currículo.
Em entrevista com os professores de Educação Física de duas cidades do
interior paulista notamos atitudes por parte dos professores onde a
preocupação com a formação moral está presente de maneira intencional,
buscando diminuir os conflitos durante as aulas, provocando mudanças de
atitudes e auxiliando na construção da autonomia. Foram entrevistados um
total de 12 professores de Educação Física, sendo 6 professores das Escolas
Públicas e 6 das Escolas Waldorf e no trabalho indicaremos apenas entre
parênteses (EP ou EW) para facilitar a leitura.
O Produto Educacional tem como objetivo compartilhar os resultados da
nossa pesquisa, por meio de estratégias de intervenções baseados no
depoimento dos professores entrevistados, que de uma maneira intencional,
buscaram o trabalho com valores morais e obtiveram uma melhora no
relacionamento entre os alunos. Nessa perspectiva esperamos que o material
possa contribuir na formação dos professores ampliando horizontes acerca
das práticas pedagógicas e incentivando escolas e professores para que
desempenhem um papel na formação de seres humanos integrais.
6
INTRODUÇÃO
Está cada vez mais frequente as dificuldades de relacionamento dos
alunos durante as aulas, principalmente nas aulas de Educação Física, onde
há competição, trabalho em equipe, ganhar, perder... Esse contato, que pode
ser mais intenso, também faz com que fique mais aparente a intolerância, o
preconceito, a falta de respeito, as agressões físicas e verbais. Esses
conflitos podem contribuir para o aprendizado quando o professor aproveita
esses momentos para leva-los a reflexão sobre problemas e atitudes
ocorridos na aula e o trabalho com questões morais e éticas podem ajudar a
melhorar a convivência dentro e fora da escola.
Visando uma educação que não esteja apenas focado no físico e
cognitivo, mas também nos aspectos sociais e emocionais, buscamos
conhecer formas diferenciadas de trabalho. Ao estudar mais a respeito,
encontramos a Pedagogia Waldorf que em 1994 foi reconhecida pela
UNESCO como o modelo de pedagogia capaz de responder aos desafios
educacionais da atualidade, por levar em consideração os quatro pilares
estabelecidos para um novo modelo de educação: “aprender a ser, aprender a
conviver, aprender a conhecer e aprender a fazer”, isso pressupõe
proporcionar aos alunos o desenvolvimento não apenas do aspecto cognitivo,
mas também a sensibilidade e a afetividade.
Os professores de Educação Física conseguem estabelecer um vínculo
ainda maior com os alunos para transmitir e consolidar os valores e conceitos
morais, já que nas aulas de Educação Física há uma maior liberdade para
que expressem suas emoções, sentimentos, vontades e comportamentos.
Dessa forma, durante as aulas o professor vai direcionando, orientando e
encaminhado os alunos para sua autonomia moral.
8
Mas afinal, o que significa valores morais? Primeiramente, a palavra
“valor”, segundo Araujo (2007, p.22) pode ser definida, em uma linguagem
simples, como sendo aquilo que gostamos, que valorizamos, e por isso,
pertencente à dimensão afetiva constituinte do psiquismo humano. Piaget
(1932) defende que longe de a moralidade infantil resumir-se a uma
interiorização passiva de valores, dos princípios e das regras, ela é o produto
de construções endógenas, ou seja, o produto de uma atividade da criança
que, em contato com o meio social, ressignifica os valores, os princípios e as
regras que lhe são apresentadas.
Ilustrações: Freepik
A partir daí entendemos que a escola pode ser um espaço de construção
e reflexão de experiências importantes para a vida social da criança que
contribuirão para o desenvolvimento nos aspectos afetivos, sociais, e
emocionais, assim como afirma Menin (1996) que a convivência de criança
com outras crianças é um dos melhores espaços para a construção da
moralidade. A BNCC (2017) reconhece que a educação deve firmar valores e
estimular ações que contribuam para a transformação da sociedade,
tornando-a mais humana, socialmente justa e também voltada para a
preservação da natureza.
9
Em relação à Educação Física é preciso de maneira intencional e
vinculada à prática pedagógica dos temas tratados, identificar as sensações,
sentimentos e significados advindos da vivência dessa prática reflexiva. Uma
vez que se quer formar um ser integrado, democrático, solidário e atento à
sustentabilidade, que age no mundo considerando várias perspectivas, é
necessário assegurar aos estudantes conhecimentos e vivências que lhes
permitam autoria e protagonismo (SÃO PAULO, 2019, p. 250).
Consideramos que uma educação tendo como alicerce a construção de
valores só será possível quando os professores a considerarem essencial e
buscarem meios para contribuir com a formação do aluno de maneira integral,
colaborando na construção da autonomia e ajudando-os a se tornarem seres
humanos íntegros.
Dessa forma o produto foi elaborado buscando destacar os resultados
obtidos através da nossa pesquisa contribuindo para uma reflexão sobre a
importância de um trabalho voltado a formação moral.
10
ESTRAGÉGIAS DE
INTERVENÇÃO
PARA O TRABALHO
DOCENTE
FAMÍLIA PARTICIPANDO ATIVAMENTE NA FORMAÇÃO DE VALORES
12
PARCEIRA FAMÍLIA E ESCOLA, ATRAVÉS DE UMA PARTICIPAÇÃO
ATIVA
14
PROFESSOR ESTAR SEMPRE BUSCANDO UM TRABALHO INTERNO
15
“Todos os valores que eu prego eu tento aplicar pra mim, porque eu sei
que é bom para o ser humano e eu também sou um ser humano, e estou
inserido nessa sociedade, nessa comunidade. E também porque é exemplo
para eles. E tem que ser exemplo, não pode ser diferente” (Gabriel – EW).
Esse trabalho interno, segundo Lanz (2013) é o que o professor deve
buscar em primeiro lugar, procurando a causa de muitas imperfeições e
fracassos do seu ensino dentro de si próprio. “Raros são os pedagogos natos;
mas muito pode ser realizado por qualquer pessoa que trabalhe
constantemente em si para transformar-se num pedagogo” (LANZ, 2013, p.
88).
16
ENVOLVIMENTO DE TODOS OS COMPONENTES CURRICULARES E
TAMBÉM DA DIREÇÃO DA ESCOLA EM UM TRABALHO DE
FORMAÇÃO MORAL
17
O professor Ygor (EW) considera o trabalho em equipe um dos fatores
que contribuem para mudanças comportamentais dos alunos. Em suas
palavras: “Aqui a gente trabalha muito em conjunto. Eu encontro com os
alunos duas vezes na semana, e eles tem a professora de sala que está com
eles o tempo todo, então tudo o que acontece a gente conversa com os
outros professores e principalmente com o professor de sala, e ele acaba
passando para os professores de área, para trabalharmos em conjunto com
aquela criança”. Esse trabalho em equipe, onde todos seguem as mesmas
regras e tem o mesmo objetivo proporciona a criança, pelo exemplo, o
caminho a ser trilhado. Segundo Steiner (2000, p. 122) devemos constituir o
ambiente mais propício para que, junto a nós, a criança se eduque tal qual
deve educar-se por seu destino interior.
18
VÍNCULO DO PROFESSOR A MESMA ESCOLA
19
Após os relatos desses professores fica evidente a importância do
vínculo do professor na mesma escola. Os frutos do trabalho relacionado a
valores muitas vezes levam tempo para aparecer. É preciso envolvimento e
uma vontade de querer fazer algo para aquela escola, aqueles alunos, mas é
um projeto há longo prazo e que precisa da participação de todo o grupo
escolar.
Para a efetivação da vivência da prática e da consciência das regras a
escola passa a ser um ambiente propício “é no ambiente escolar que o sujeito
irá conviver com o âmbito público, estabelecer relações de igualdade e
conviver com a diversidade” (TAVARES, 2016, p. 206).
20
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICA ONDE ESTEJA PREVISTO O
DESENVOLVIMENTO MORAL DO ALUNO
22
VÍNCULO PROFESSOR ALUNO RESPEITANDO OS SENTIMENTOS E
EMOÇÕES
23
O professor Gabriel (EW) procura sempre trabalhar os sentimentos com
as crianças, fazer com que elas se coloquem no lugar nos outros, e se
preocupem com o que o outro está sentindo. E isso dá bons resultados,
quando você chega até o aluno acessando o emocional, sem bronca, sem
acusações, apenas falando do fato, a criança se sente tocada, entendida,
acolhida emocionalmente. Em suas palavras:
“você ganha a criança de um jeito diferente
do que se fossem só regras. Você se torna
um ídolo para ela, alguém muito importante,
e essa referência de professor é muito
importante” (Gabriel – EW).
24
JOGOS COOPERATIVOS, FAVORECENDO A AUTONOMIA E INCLUSÃO
25
Nas escolas Waldorf busca-se trabalhar nos primeiros anos os Jogos
Cooperativos, para mostrar à criança a importância do trabalho em equipe e
da cooperação e aos poucos vai sendo introduzido jogos que envolvem
competição. O professor Ygor (EW) comenta que tinha dificuldade com uma
sala, onde os alunos não aceitavam perder, quando isso acontecia, não
queriam mais participar do jogo. Desenvolveu um jogo, em forma de circuito,
onde eles tinham que se ajudar para poderem passar, não tinha ganhador ou
perdedor, mas todos tinham que se ajudar e terminar a atividade juntos.
Nesse trabalho procurou mostrar que é preciso respeitar às diferenças, que
um pode ser mais forte, o outro mais ágil, mas todos tem que se ajudar. Notou
uma melhora na sala após ter executado várias vezes a atividade. O trabalho
realizado pelo professor com a cooperação nos remete a frase de Freire
(2005, p. 58) “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: Os
homens se libertam em conjunto”.
Conforme Tavares (2016, p. 206) “não basta um projeto para a
autonomia, é preciso oferecer um ambiente escolar que seja, efetivamente,
propício para tal conquista”.
26
BUSCAR RESOLVER OS CONFLITOS SEMPRE PRIMEIRO ATRAVÉS DO
DIÁLOGO
27
A professora Ana (EP) diz gostar muito da Pedagogia Dialógica e das
ideias de Paulo Freire, que é o diálogo na construção da sociedade, na
relação entre as pessoas. Que o diálogo é capaz de construir coisas muito
positivas, de trazer a comunidade pra dentro escola, de trazer os alunos pra
dentro da escola e juntos construir uma realidade escolar positiva, e
influenciar também no que está sendo trabalhado. Ela utiliza muito o diálogo
nas aulas, considera que precisa estudar mais, mas a respeito de valores e
respeito é o que ela mais vê resultado.
Segundo Araujo (2007), nas práticas dialógicas há muitas vezes um
conflito, pois pode-se discordar da opinião de outrem, contudo não há a
necessidade de vencedor e perdedor, há o respeito e a consideração das
diferenças.
28
NUNCA CHAMAR A ATENÇÃO DO ALUNO EM PÚBLICO E BUSCAR
SEMPRE LEVÁ-LO A REFLETIR SOBRE SUAS ATITUDES
29
O trabalho do professor está alinhado ao currículo da sua cidade, que
tem como objetivo da área de Educação Física o desenvolvimento da cultura
corporal de movimento, contemplando além do saberes corporais, saberes de
ordem conceitual e um saber ser (constituição das atitudes, valores, hábitos,
comportamentos) de forma integrada, possibilitando a construção do
conhecimento junto ao aluno (BAURU, 2016).
30
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS ATRAVÉS DE HISTÓRIAS PEDAGÓGICAS
31
TRABALHO COM MÚSICA
32
O professor Ygor (EW) também começa a aula com um jogo rítmico, que
ajuda a desenvolver a percepção corporal. De acordo com a idade vai ficando
mais difícil. Por exemplo, no terceiro ano eles já fazem ritmo com canto e não
é só mais o gesto de imitação, tem uma percussão, tem palma, estalar de
dedos, batida de pés. A aula é dividida em três partes, a primeira o jogo
rítmico, a segunda o jogo em si e a terceira é a volta a calma, em roda
novamente com um jogo mais tranquilo. Nesses momentos aproveita para
repassar os combinados e conversar sobre algo que ocorreu na aula.
Os professores buscam através da música um contato mais intenso com
os alunos e também uma melhora no relacionamento entre as crianças,
aproveitando o momento mais tranquilo que se encontram para transmitir
também regras e valores.
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PROFESSOR BUSCANDO TER ATITUDES DENTRO E FORA DA
ESCOLA QUE POSSAM SERVIR DE EXEMPLO PARA OS ALUNOS
34
Esse “exemplo” citado pelos professores, segundo Rudolf Lanz, vai além
do que a criança observa nas atitudes dos professores. A permeabilidade da
criança ao que se acha ao redor dela é um fato que todo educador deveria
conhecer e levar em conta. A criança absorve inconscientemente não só o
que existe ao seu redor sob o aspecto físico; o clima emotivo que a circunda,
o caráter e os sentimentos das pessoas que a rodeiam, tudo isso penetra na
criança e é absorvido (LANZ, 2013, p. 41).
35
PROFESSOR ESTAR SEMPRE BUSCANDO NOVOS CONHECIMENTOS,
REALIZANDO CURSOS, SEMINÁRIOS E UTILIZANDO-OS NA SUA
PRÁTICA
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A professora Larissa (EW) diz que vê muitos professores da Escola
Tradicional procurarem cursos da Pedagogia Waldorf, segundo a professora
são oferecidos muitos cursos. Já professora Bruna (EW) relata que são
poucos os métodos de ensino que trazem a formação moral como objetivo
aplicado na prática. Ela diz: “Eles são aplicados mais como um ensino
‘cartilhesco’ do que como ensino vivencial”.
Para Freire (1996) o preparo científico do professor ou da professora
deve coincidir com sua retidão ética. É preciso coragem para ser professor, e
Ele se tornará inesquecível quando seus alunos fizerem à diferença, quando
ele começar a colher os frutos de um trabalho bem feito, de educação bem
fundamentada em conceitos científicos e morais que não foram apenas
repassados de maneira não objetiva, mas sim em uma prática docente
responsável e que teve a preocupação de experimentar aquilo que se propôs
a ensinar. O professor é responsável também pela formação da vida social.
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O professor Gabriel (EW) sobre a atribuição de notas diz: “Me importa
muito mais eu dizer para os alunos e famílias o que aconteceu, quem é o
aluno, o que ele tem feito, do que eu colocar uma nota fria, morta, que não diz
nada”. Ele utiliza como critério também o envolvimento, que conta a
pontualidade, a sua disposição pra estar em aula, o esforço, ou pode falar
apenas do esforço. Avalia o conteúdo prático, se realizou a atividade com
técnica. E também o social, se ajuda o outro, se é proativo, se briga por
qualquer coisa. E completa: “É uma avaliação livre, mas pra gente é muito
consciente, o que a gente quer que eles tenham como retorno, porque vai ser
bom para toda a vida dele” (Gabriel – EW).
Sobre a avaliação na Pedagogia Waldorf também é levado em
conta o quanto o aluno se esforçou para alcançar algum resultado, seu
comportamento e o espírito social. Sem dar uma nota, o professor descreve
seu aluno, buscando valorizar o que há de bom e criticando somente o que o
aluno ainda teria melhor capacidade de produzir (LANZ, 2013).
39
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Durante as entrevistas e também através da literatura estudada
concluímos que o professor tem uma grande influência na vida do aluno. Ele é
observado pela criança constantemente e suas atitudes servem de exemplo.
O professor é responsável também pela formação da vida social. O que
nos leva a buscar sempre novas maneiras de inovar a prática cotidiana,
pensando em criar estratégias para que os objetivos sejam atendidos.
Concluímos que a educação de valores é uma necessidade da atual
sociedade que ao longo dos anos vem perdendo seus referenciais de valor,
seus costumes e conceitos morais, e a escola, principalmente as aulas de
Educação Física são um ambiente propício, através de uma intervenção
consciente e pontual dos professores, buscando promover uma educação que
supere a preocupação apenas com o físico e cognitivo, mas que busque o
desenvolvimento emocional e afetivo, respeitando os sentimentos e emoções,
auxiliando na construção da autonomia e almejando um processo de
aprendizagem significativo e integral.
41
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Marcos. Jogos Cooperativos na Educação Física: uma proposta
lúdica para a paz. In: CONGRESSO ESTATAL Y I IBEROAMERICANO DE
ACTIVIDADES FÍSICAS COOPERATIVAS, 3, 2003, Gijón (Astúrias). Anais
[...]. Ceará, 2003. p. 1-18.
CURY, Augusto Jorge. Pais brilhantes, professores fascinantes. 16. ed. Rio
de Janeiro: Sextante, 2003.
43
LANZ, Rudolf. A Pedagogia Waldorf: Caminho para um ensino mais
humano. 11. ed. São Paulo: Antroposófica, 2013
PIAGET, Jean. O juízo moral na criança. 2. ed. São Paulo: Summus, 1994.
(Original publicado em 1932).
44
STEINBERG, Laurence. 10 princípios básicos para educar seus filhos. 1.
ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2005.
45