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Open Banking e Concorrà Ncia

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REVISTA DO REVISTA DO IBRAC Número 1 - 20

OPEN BANKING E DIREITO DA CONCORRÊNCIA: UMA


ANÁLISE DOS IMPACTOS DA IMPLEMENTAÇÃO DO
SISTEMA FINANCEIRO ABERTO SOBRE AS PREOCUPAÇÕES
DO CADE EM RELAÇÃO AO SETOR FINANCEIRO
BRASILEIRO

Lígia Tomás de Melo


Matheus Mendes Nasaret

Resumo: Recentemente, o open banking vem sendo implementado em


vários países para promover a concorrência no setor financeiro e abrir o
mercado a novas empresas. No Brasil, a implementação do open banking
se dá num cenário em que preocupações concorrenciais vêm sendo publi-
camente expressadas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econô-
mica em relação à verticalização do setor. O presente artigo avalia em que
medida as preocupações da autoridade antitruste brasileira poderão ser
mitigadas pela implementação do open banking, além de abordar preocu-
pações suscitadas por organismos internacionais quanto aos efeitos de-
correntes das alterações estruturais que o open banking pretende promo-
ver no setor financeiro.
Palavras-chave: Open banking; Direito da Concorrência; Verticalização;
Fintechs; Big techs.
Abstract: Open banking regulations have recently been implemented in
many countries to promote competition in the financial sector and open
the market to new companies. In Brazil, the implementation of open
banking arises in a scenario where the Administrative Council for Eco-
nomic Defense has been publicly raising competition concerns about the
degree of vertical integration of financial institutions. This article as-
sesses the extent to which open banking will be able to mitigate the con-
cerns of the Brazilian antitrust authority and addresses concerns raised by
international organizations about the effects of the structural changes that
open banking will promote in the financial sector.
Keywords: Open banking; Competition law; Vertical integration;
Fintechs; Big techs.

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1. Introdução

Em novembro de 2020, o Banco Central do Brasil (“BC”) e o


Conselho Monetário Nacional (“CMN”) darão início à implementação do
open banking no Brasil (BC, 2020e). A política, chamada de Sistema Fi-
nanceiro Aberto, foi inspirada em movimento iniciado na União Europeia
(2015) e envolve medidas para facilitar a entrada e o desenvolvimento de
provedores de serviços financeiros inovadores (“fintechs”) ao lhes garan-
tir o acesso a informações de contas detidas por outras instituições.
No Brasil, o open banking é orientado por quatro objetivos: pro-
mover a cidadania financeira, incentivar a inovação, aumentar a eficiên-
cia do Sistema Financeiro Nacional e do Sistema de Pagamentos Brasi-
leiro e promover a concorrência (BC, 2020e). Com efeito, a concorrência
no setor financeiro tem sido alvo de atenção não só do BC, mas também
do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (“CADE”), que abriu
diversas investigações e celebrou uma série de Termos de Compromisso
de Cessação (“TCC”) na última década visando a mitigar preocupações
concorrenciais identificadas no setor financeiro (CADE, 2019a).
O presente artigo se propõe a analisar em que medida o open
banking será capaz de endereçar as preocupações do CADE em relação
ao setor financeiro brasileiro. Para tanto, a Seção II desenvolve uma ex-
posição dos fundamentos do open banking no mundo e no Brasil. Em
seguida, a Seção III identifica e analisa as preocupações do CADE em
relação ao setor. Por fim, a Seção IV avalia em que medida tais preocu-
pações poderão ser mitigadas pelas ações que serão implementadas pelo
BC no âmbito do Sistema Financeiro Aberto, trazendo também preocu-
pações suscitadas por organismos internacionais quanto aos efeitos das
mudanças estruturais que se pretende promover no setor financeiro.

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2. Open banking: definição, origem e implementação no Brasil

2.1 Open banking como política concorrencial

Em linhas gerais, o open banking pode ser definido como um


conjunto de regras para o compartilhamento de dados e serviços de forma
padroniza entre instituições que atuam no setor financeiro e de meios de
pagamentos (BC, 2020e). As primeiras experiências de open banking sur-
giram na Europa como forma de mitigar assimetria de informações e pro-
blemas concorrenciais no setor financeiro (COLANGELO e BORGO-
GNO, 2018, p. 19), e modelos semelhantes vêm sendo considerados em
várias partes do mundo (WYMAN apud BC, 2019b).
De fato, os dados se transformaram em um pilar estratégico do
setor financeiro com o uso crescente de tecnologias da informação asso-
ciadas ao tratamento de dados em larga escala (ERNST & YOUNG,
2015). Nesse contexto, o open banking expressa o reconhecimento da im-
portância dos dados para o setor financeiro sob dois aspectos complemen-
tares: do ponto de vista do consumidor, o open banking reconhece que a
titularidade de dados cadastrais e transacionais é do próprio consumidor
ao condicionar o tratamento de dados ao consentimento dos clientes; do
ponto de vista do mercado, o open banking reconhece, enquanto uma po-
lítica de promoção da concorrência, a necessidade de se garantir o acesso
de novos agentes econômicos, como “neo banks” e “fintechs”, a dados e
serviços relevantes detidos pelas instituições incumbentes.

2.2 Panorama mundial do open banking: principais experiências

No contexto mundial, a ideia de um “open banking” tomou


corpo inicialmente no direito comunitário europeu por meio da Diretiva
de Serviços de Pagamento Revisada (“PSD2”), editada pelo Parlamento
Europeu em 20151 para regulamentar serviços de pagamento eletrônico

1
Ressalta-se que embora a PSD2 tenha sido editada em 2015, os países da União
Europeia tinham até 13 de janeiro de 2018 para implementar as regras da Diretiva
no direito nacional (UE; 2015, 2019)

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no Espaço Econômico Europeu. A PSD2 estabeleceu uma regra de acesso


a conta bancária, garantindo a terceiros provedores de serviços de inicia-
ção de pagamento e de informações de conta bancária (“TPPs”) – geral-
mente fintechs – as condições necessárias, e em bases não discriminató-
rias, à prestação de tais serviços (COLANGELO e BORGOGNO, 2018,
p. 16).
Sob o vácuo regulatório da regulação anterior (“PSD1”), os ban-
cos possuíam a prerrogativa de recusar o acesso ou compartilhamento de
informações relativas a seus clientes com terceiros com base em questões
de segurança, propriedade intelectual e riscos reputacionais. Em contra-
partida ao direito de acesso trazido pela PSD2, os TPPs passaram a se
submeter a uma série de requisitos e condições regulatórias estabelecidas
pelo Banco Central Europeu. (COLANGELO e BORGOGNO, 2018, p.
14).
Outra experiência relevante é a do Reino Unido. Em 2016, a
Competition and Markets Authority (“CMA”) – autoridade concorrencial
do país – finalizou uma investigação no mercado de varejo bancário no
Reino Unido e concluiu que o mercado apresentava sérios problemas con-
correnciais relacionados à existência de barreiras ao acesso a informações
de contas correntes (CMA, 2016, p. 441). Visando endereçar o problema,
e elevando a um patamar ambicioso a implementação da PSD2, a CMA
criou uma entidade para implementar o open banking no Reino Unido (a
Open Banking Implementation Entity - “OBIE”). A OBIE é financiada
pelos principais bancos do Reino Unido (que são, por sua vez, obrigados
a participar do open banking) e tem como papel principal a promoção do
design e padronização das especificações das Interfaces de Programação
Aplicadas (“APIs”, que são interfaces que permitem a interação entre di-
ferentes softwares e sistemas) a serem utilizadas no compartilhamento de
dados (OBIE, 2020).
As experiências da União Europeia com a PSD2 e do Reino
Unido com a OBIE são inegavelmente políticas voltadas a tornar o setor
financeiro mais competitivo. Além dessas experiências, que se destacam
por terem sido pioneiras no tema, atualmente iniciativas de open banking
estão sendo avaliadas ou em fase de implementação em uma variedade de

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países, como Austrália, Nova Zelândia, Cingapura, Hong Kong, Japão,


Estados Unidos, África do Sul, Rússia, Índia, além, é claro, do Brasil
(WYMAN apud BC, 2019b).

2.3 A implementação do open banking no Brasil

O open banking surgiu no Brasil como parte de uma política


concorrencial idealizada pelo BC. Em 2019, o BC lançou uma agenda de
medidas voltadas à promoção do desenvolvimento do setor financeiro, a
“Agenda BC#”. A agenda desdobra-se em quatro eixos: inclusão, educa-
ção, transparência e competitividade, e o open banking foi previsto como
uma das medidas a serem implementadas como parte da frente de com-
petitividade (BC, 2020a).
O open banking foi formalmente adotado por meio da Resolu-
ção Conjunta nº 1/2020 (“Resolução”), editada pelo Banco Central do
Brasil e pelo Conselho Monetário Nacional. O “Sistema Financeiro
Aberto” – nome atribuído ao open banking pelas autoridades brasileiras
– foi então conceituado como o compartilhamento padronizado de dados
e serviços por meio de abertura e integração de sistemas. A resolução foi
clara em definir o open banking como uma política concorrencial: desta-
cou como objetivos do open banking o incentivo à inovação, a promoção
da concorrência e o aumento da eficiência do sistema financeiro (BC,
2020e).
No Brasil, o open banking é fruto da regulação, mas tem seu
desenvolvimento e implantação pautado pela autorregulação. De fato,
embora tenha sido o regulador setorial quem instituiu a moldura jurídica
do sistema, são os próprios agentes do mercado (supervisionados pelo
Banco Central) os responsáveis por definir os detalhes do funcionamento
do open banking, por meio de convenção. Um exemplo de tema que será
detalhado por meio de autorregulação diz respeito ao acréscimo de itens
à lista de dados e serviços objeto de compartilhamento obrigatório. Essa
abertura do sistema é fundamental em vista da dinamicidade e inovação
características do setor financeiro.

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A Resolução (BC, 2020e) estabeleceu um modelo de open ban-


king abrangente em dois aspectos: quanto ao escopo do compartilhamento
e quanto às entidades participantes. Com relação ao escopo do compar-
tilhamento, a Resolução prevê uma ampla lista de informações a serem
compartilhadas, incluindo dados sobre (i) produtos e serviços (desde con-
tas de depósito a previdência complementar aberta), (ii) informações ca-
dastrais de clientes e (iii) transações de clientes relacionadas a uma vari-
edade de serviços (e.g. contas de depósito, operações de crédito, opera-
ções de câmbio, credenciamento em arranjos de pagamento). O compar-
tilhamento ainda incluirá o serviço de iniciação de pagamentos, uma nova
modalidade de pagamento que, valendo-se das possibilidades criadas pelo
open banking – um ecossistema baseado em APIs – permitirá a transfe-
rência de recursos de uma conta a outra sem o uso de cartões2.
Com relação às entidades participantes, a Resolução obriga a
participação dos principais bancos do país e permite a participação de
instituições interessadas. Com efeito, a Resolução estabelece que os ban-
cos integrantes dos segmentos S1 e S2 serão obrigados a participar do
sistema3. Também participarão de modo obrigatório, no que diz respeito
ao compartilhamento do serviço de iniciação de pagamento, instituições
detentoras de conta e instituições iniciadoras de transação de pagamento.
A participação dos demais agentes interessados será voluntária, mas

2
Nos termos da Circular nº 4.015/2020 do BC, o serviço de iniciação de transação
de pagamento abrangerá, no mínimo, os serviços de débito em conta, transferência
entre contas na mesma instituição, TED, PIX, DOC e pagamento de boletos (art. 6º).
O iniciador de pagamento será um terceiro que ofertará serviços de pagamento sem,
no entanto, ofertar contas de pagamento. Até o presente, ainda não há uma regula-
mentação sobre essa atividade, embora o BC tenha concluído em agosto de 2020
uma consulta pública para tratar do tema (BC, 2020b).
3
A Resolução CMN nº 4.553/2017 estabelece uma segmentação do conjunto de ins-
tituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central para fins de aplicação propor-
cional da regulação prudencial. O segmento S1 inclui os bancos com porte igual ou
superior a 10% do Produto Interno Bruto do Brasil (PIB) e os bancos com atividade
internacional relevante. O segmento S2 é composto pelos bancos de porte inferior a
10% e igual ou superior a 1% do PIB, bem como pelas demais instituições reguladas
de porte igual ou superior a 1% do PIB.

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condicionada à reciprocidade de também disponibilizem APIs para a


transmissão de dados.
Cabe destacar que, ao estabelecer a obrigatoriedade de compar-
tilhamento do serviço de iniciação de pagamentos, a Resolução pavimen-
tou o caminho para a integração do open banking a uma outra iniciativa
do Banco Central associada à agenda de promoção de competitividade: o
PIX, um arranjo de pagamentos recém instituído pelo Banco Central. De
fato, a Circular nº 4.015/2020 do Banco Central, documento que detalha
o escopo do compartilhamento de dados e serviços, incluiu o PIX como
um dos serviços que serão objeto da iniciação de pagamento (ao lado de
outros como débito em conta, DOC e TED) (BC, 2020b).
O PIX é um conjunto de regras que disciplina a prestação do
serviço de pagamentos instantâneos no Brasil4 (BC, 2020d). O regula-
mento do arranjo foi pensado para permitir e incentivar a participação de
fintechs e big techs5, tendo como objetivo promover maior competição
entre os meios de pagamento (BC, 2020c). Ademais, o PIX é um arranjo
neutro, aberto e interoperável, sendo vedadas quaisquer práticas discri-
minatórias entre os participantes (BC, 2020d).
No que diz respeito ao open banking, a garantia da isonomia é
reforçada pelo art. 28 da Resolução, que proíbe aos participantes deten-
tores de conta restringir, limitar ou impedir a iniciação de transação de

4
O Banco Central tem o papel duplo de instituidor dessas regras (papel regulatório)
e também de provedor da infraestrutura necessária ao fornecimento do serviço (papel
operacional). De fato, também compõem o PIX o Sistema de Pagamentos Ins-
tantâneos, uma plataforma de liquidação, e o Diretório de Identificadores de Contas
Transacionais, um banco de dados com chaves de autenticação dos usuários finais.
Ambas as estruturas são mantidas pelo Banco Central. (BC, 2020d)
5
No que diz respeito às regras de participação no PIX, será obrigatória a participação
das instituições financeiras (“IFs”) e de pagamentos (“IPs”) que detêm mais de 500
mil contas . A participação será facultativa para as demais IFs e IPs reguladas pelo
Banco Central. Com relação às IPs não reguladas pelo Banco Central, a participação
será permitida desde que atendidos certos requisitos (como capacidade técnica e ope-
racional) e realizado contrato com instituição participante do PIX que tenha acesso
direto ao Sistema de Pagamentos Instantâneos. (BC, 2020d)

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pagamento, bem como discriminá-la em relação às transações executadas


diretamente pelo cliente em seus canais de atendimento (BC, 2020e).
Em resumo, o open banking hoje é uma realidade no Brasil e o
discurso por trás de sua implementação pelo BC deixa claro que se trata
de uma medida voltada a incrementar a competitividade do setor finan-
ceiro. A próxima seção identificará as preocupações já levantadas pelo
CADE em relação ao setor financeiro para, em seguida, analisar em que
medida elas poderão ser mitigadas pela implementação do Sistema Fi-
nanceiro Aberto.

3. As preocupações já expressadas pelo CADE em relação ao setor


financeiro

É fato notório que a preocupação central do CADE em relação


ao setor financeiro gira entorno da verticalização do setor, especialmente
no segmento de meios de pagamento eletrônico. Com efeito, nos últimos
dois anos esse tema foi tratado publicamente pela autarquia em audiência
pública6, publicações institucionais7 e comunicações com o Senado Fe-
deral8, tendo inclusive ensejado a abertura de investigação setorial ampla
em 20189.
A análise das investigações abertas pelo CADE no setor finan-
ceiro ao longo da última década traz informações que elucidam a origem
dessa pauta. Entre 2009 e 2015, por exemplo, o CADE abriu várias

6
Em 13 de novembro de 2018, o CADE realizou audiência pública com o tema:
“Estrutura do setor financeiro nacional: impacto da verticalização sobre a concorrên-
cia” (CADE, 2018a).
7
. O tema foi explorado pelo CADE em outubro de 2019, quando o Departamento de
Estudos Econômicos publicou relatório intitulado “Cadernos do Cade: Mercado de
Instrumentos de Pagamento” (CADE, 2019a). Além disso, já havia sido suscitado
em 2010 em publicação conjunta do BC com a Secretaria de Direito Econômico
(“SDE”) e a Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE) (BC, 2010).
8
Vide processos de Demanda Externa nº 08700.006891/2018-60 e
08027.000098/2020-61, por exemplo.
9
Autuada sob o Inquérito Administrativo nº 08700.000022/2019-11 com funda-
mento no Despacho Presidência 279/2018 (CADE, 2019b).

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investigações para apurar relações de exclusividade entre agentes que atu-


avam em diferentes elos da cadeia de meios de pagamento e, muitas ve-
zes, pertenciam a um mesmo grupo econômico10. À época, o CADE en-
frentou essa questão por meio da celebração de diversos TCCs que leva-
ram à abertura de alguns arranjos de pagamentos11 (CADE, 2019a).
Não obstante, nota-se a partir das investigações abertas nos úl-
timos anos que, à medida que a questão da exclusividade foi sendo ende-
reçada, a atenção do CADE passou a se voltar para outros tipos de denún-
cias feitas por agentes independentes (muitas vezes entrantes no mercado
envolvido) contra agentes verticalizados – isto é, empresas que pertencem
a um grupo econômico que atua em mais de um elo da cadeia.
Em geral, as acusações feitas nessas denúncias giram em torno
de duas condutas: (i) solicitação e uso indevido de informações de rivais
e (ii) imposição de obstáculos ao acesso de concorrentes a insumos ou
serviços, seja por meio de recusa de contratar ou imposição de condições
discriminatórias. As manifestações feitas pelo CADE em relação a esses
temas serão analisadas abaixo para que se possa identificar quais são as
preocupações vislumbradas pela autoridade em relação ao setor finan-
ceiro.

10
Dentre os vários processos que envolveram esse tema, destacam-se o Processo
Administrativo nº 08012.005328/2009-31 (que apurou relação de exclusividade en-
tre a bandeira Visa e a credenciadora Visanet) e o Inquérito Administrativo nº
08700.000018/2015-11 (que apurou relações de exclusividade entre a bandeira Hi-
percard e a credenciadora Rede, e entre a bandeira Elo e a credenciadora Cielo)
(CADE; 2010, 2017b). Outros dois processos que também investigaram relações de
exclusividade em meios de pagamento foram o Processo Administrativo nº
08012.006209/2010-30 (que apurou relação de exclusividade entre a bandeira Hi-
percard e os supermercados Bompreço, resultando na celebração de TCC) e o Pro-
cesso Administrativo nº 08012.002096/2007-06 (que apurou o fornecimento exclu-
sivo do Visa Vale por alguns bancos e foi arquivado) (CADE; 2015b, 2019d).
11
TCCs celebrados pelo CADE levaram à abertura dos arranjos de pagamentos das
bandeiras Visa (antes capturada com exclusividade pela Visanet) (CADE, 2009b e
2009c), Elo (antes capturada com exclusividade pela Cielo) e Hipercard (antes cap-
turada com exclusividade pela Redecard) (CADE, 2017e e 2017h).

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3.1 Denúncias de solicitação e uso indevido de informações de rivais

O CADE já se manifestou sobre denúncias de solicitação e uso


indevido de informações de rivais no setor financeiro em pelo menos três
ocasiões, todas envolvendo o requerimento de informações de facilitado-
res e dos estabelecimentos comerciais habilitados por eles por parte de
credenciadoras e/ou bandeiras 12.
A primeira vez foi em um processo administrativo instaurado
em 2009 em face da Redecard, que estaria exigindo o credenciamento dos
estabelecimentos comerciais habilitados pelos facilitadores junto à pró-
pria Redecard (CADE, 2015c)13. Em 2017, o tema surgiu pela segunda
vez em consulta feita pela bandeira Visa para confirmar a licitude de exi-
gência contratual para que facilitadores fornecessem informações sobre o
estabelecimento comercial envolvido em cada transação efetuada dentro
do arranjo de pagamentos (CADE, 2017a). A terceira vez em que o tema
foi enfrentado ocorreu em 2018, no contexto de quatro consultas feitas
pela Redecard com o propósito de verificar a licitude de exigências feitas
pelas bandeiras Visa, Mastercard, American Express e Elo para que a Re-
decard lhes fornecesse dados dos facilitadores e estabelecimentos cadas-
trados junto à credenciadora (CADE; 2018b-2018e).
Em todas essas ocasiões, a autoridade de defesa da concorrência
(seja na figura da antiga Secretaria de Direito Econômico [“SDE”] ou do
atual Tribunal do CADE) ressaltou que as informações objeto de solici-
tação permitiam a identificação da carteira de clientes dos facilitadores,

12
Além das três ocasiões mencionadas, uma consulta envolvendo essa questão foi
submetida ao CADE pela Mastercard em 2015. No entanto, o mérito da questão não
chegou a ser apreciado porque a consulta não foi conhecida (CADE, 2015a). Além
disso, em 2020 foi aberta uma investigação envolvendo essa acusação. No entanto,
a investigação ainda está em estágio inicial e não teve manifestação de mérito da SG.
(CADE, 2020b)
13
Além disso, alegou-se que a Redecard também estaria (i) exigindo que todos os
facilitadores utilizassem a plataforma Komerci da própria Redecard para o rotea-
mento, transmissão e processamento das transações comerciais; (ii) exigindo que
todas transações feitas via facilitadores fossem liquidadas exclusivamente pelo Sis-
tema REDECARD; e (iii) descredenciando facilitadores que não aderissem às exi-
gências (CADE, 2015c).

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que concorrem com as credenciadoras pela habilitação dos estabeleci-


mentos para o recebimento de pagamentos. Tendo isso em vista e consi-
derando a posição dominante dos agentes envolvidos nesses processos,
entendeu-se que essas informações eram concorrencialmente sensíveis e
poderiam ser utilizadas para práticas como fechamento de mercado, por
meio do uso da informação para captação direta do estabelecimento pela
credenciadora e exclusão do facilitador (CADE; .2015c, 2017a, 2018b-
2018e).
No caso do processo administrativo, essa observação levou à
imposição de medida preventiva determinando a imediata cessação da
prática (CADE, 2009a e 2015c)14. Já no caso das consultas, não houve
imposição de qualquer sanção. Na consulta da Visa, o Tribunal concluiu
pela licitude da solicitação de informações por entender que estas permi-
tiriam a redução do chargeback (CADE, 2017a). Já nas consultas da Re-
decard, o Tribunal determinou a instauração de investigação para apurar
a existência de eventual infração (CADE, 2018b-2018e), mas a investi-
gação foi arquivada pela SG, que entendeu que a solicitação das informa-
ções era exigida pelo BC para garantir a segurança das transações
(CADE, 2019c).
De todo modo, tanto o Tribunal como a SG indicaram, na con-
sulta da Visa e no inquérito resultante das consultas da Redecard, que o
uso das informações para prejudicar concorrentes poderia vir a ser inves-
tigado e punido pelo CADE (CADE, 2017a e 2019c).

3.2 Denúncias de imposição de obstáculos à atuação de concorrentes

O CADE também já se manifestou várias vezes sobre denúncias


de imposição de obstáculos, por agentes verticalizados, à atuação de

14
O processo acabou sendo encerrado em 2014 com a celebração de TCC, por meio
do qual a Redecard assumiu obrigação de “se abster de praticar quaisquer condutas
prejudiciais à ordem econômica e à livre concorrência” (CADE, 2014). Essa obri-
gação inclusive foi invocada nas consultas submetidas em 2014 para questionar a
licitude das obrigações que lhe estavam sendo impostas por várias bandeiras (CADE;
2018b,2018c, 2018d e 2018e).

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concorrentes no setor financeiro. Em geral, tais denúncias continham ale-


gações de recusa de contratar e/ou imposição de condições discriminató-
rias.
No segmento de meios de pagamentos, uma das primeiras in-
vestigações desse tipo (ressalvadas as que trataram das relações de exclu-
sividade) foi aberta em 2016 e apurou denúncias de uma série de práticas
que estariam sendo empreendidas por bancos e credenciadoras vertical-
mente integrados para supostamente prejudicar credenciadoras indepen-
dentes e bancos menores (CADE, 2016).
Dentre as práticas denunciadas, uma das que receberam maior
destaque na análise da SG15 foi a recusa na leitura da agenda de recebíveis
de clientes de credenciadoras menores não vinculadas a bancos. Ao se
manifestar sobre o caso, a SG entendeu que a prática teria o efeito de
impedir que lojistas contratassem a antecipação de recebíveis nos bancos
representados, ocasionado a migração desses lojistas para as credencia-
doras controladas por esses bancos. A investigação foi encerrada por
TCCs, nos quais os representados se comprometeram a adequar suas po-
líticas para endereçar as preocupações levantadas (CADE; 2018h-2018k).
Também em 2016, a SG investigou o uso sistemático de pinpads
que não contemplavam chaves criptográficas de credenciadoras menores
por Redecard e Cielo16, e entendeu que a prática gerava custos

15
O CADE também entendeu haver indícios de: aplicação de trava bancária a clien-
tes que não tinham operação de crédito ativa, retaliação de estabelecimentos comer-
ciais que tentassem migrar o domicílio bancário ou o credenciamento para outras
instituições por meio de aumento de taxas ou corte de linhas de crédito; condiciona-
mento da captura de bandeiras exclusivas à abertura de conta corrente no banco con-
trolador da credenciadora; e uso de contratos de incentivo com altos custos de res-
cisão por credenciadoras que ainda tinham exclusividade na captura de algumas ban-
deiras (CADE; 2018h-2018k).
16
Prática semelhante havia sido investigada anteriormente no Procedimento Prepa-
ratório nº 08700.008601/2013-08, que foi arquivado. À época, a SG concluiu pela
inexistência de indícios suficientes de prejuízo à ordem econômica, visto que a au-
torregulação da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Ser-
viços – ABECS permitia que credenciadoras menores e estabelecimentos comerciais
adquirissem pinpads contemplando todas as credenciadoras do mercado, além de
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excessivamente altos às novas credenciadoras, pois tornava necessária a


troca ou atualização de todos os pinpads dos estabelecimentos comerciais
que elas pretendessem credenciar. Esse caso foi encerrado em 2017 tam-
bém por meio de TCCs. Nos acordos, Redecard e Cielo se compromete-
ram a contemplar em seus pinpads todas as credenciadoras que fizessem
o mesmo (CADE; 2017c, 2017f e 2017g).
Outra investigação envolvendo meios de pagamento foi aberta
em 2017 para apurar suposta recusa de contratar e imposição de preços
excessivamente altos por parte de alguns bancos para o fornecimento do
serviço de débito automático ao Nubank. O processo ainda está em ins-
trução, mas ao decidir pela sua instauração, a SG entendeu que a não-
disponibilização do débito automático aos usuários do cartão emitido pelo
Nubank poderia produzir efeitos negativos à concorrência, pois inviabili-
zaria um modelo de negócios baseado em tecnologia e teria o potencial
de ocasionar a fuga de clientes e aumentar a inadimplência. A SG também
chamou a atenção para o fato de que alguns bancos teriam definido os
preços propostos ao Nubank expressamente com base na sua condição de
concorrente (CADE, 2017d).
Ainda no âmbito do mercado de pagamentos, a SG abriu inves-
tigação em 2019 para apurar campanha na qual a Redecard se propôs a
reduzir o prazo da antecipação de recebíveis de trinta para dois dias, sem
cobrança de taxas e por tempo indeterminado, para pequenos varejistas
que tivessem domicílio bancário no Itaú – controlador da Rede. Ao deter-
minar a instauração do processo, a SG impôs medida preventiva para que
o domicílio bancário no Itaú deixasse de ser exigido (CADE, 2019e). Itaú
e Rede tentaram reverter a medida no Tribunal, mas não tiveram sucesso
e acabaram por estender a campanha a clientes de outros bancos17.
De todo modo, considerações interessantes foram feitas na apre-
ciação do recurso. O Conselheiro Relator do caso – que foi seguido pela

restringir relações de exclusividade entre bandeira e credenciadora e bandeiras que


tivessem menos de 20% de transações do mercado (CADE, 2013).
17
Conforme noticiado pelo Estadão (RODRIGUES, Lorenna; BRONZATI, Aline;
2020).

503
REVISTA DO REVISTA DO IBRAC Número 1 - 20

maioria do Tribunal – ressaltou que, a seu ver, agentes não verticalizados


não conseguiriam replicar a condição oferecida na campanha, de forma
sustentável, no médio e longo prazo. Isso, somado aos custos de migração
de um banco para outro, propiciaria um “aprisionamento de fato” dos cli-
entes da Rede ao Itaú. O Conselheiro pontuou também que ainda que os
varejistas pudessem transferir suas receitas para outro banco, o Itaú teria
acesso às suas informações, o que lhe daria uma posição privilegiada em
relação a seus concorrentes e lhe permitiria alavancar clientes de creden-
ciamento da Rede para o mercado de serviços bancários (CADE, 2020c).
Por fim, muito recentemente a atenção da SG se voltou nova-
mente a relações de exclusividade. Em junho de 2020, a SG determinou
a suspensão integral de operação que seria implementada no Brasil por
Cielo e Facebook para o oferecimento de soluções de pagamento no apli-
cativo de mensagens Whatsapp. Ao fundamentar sua decisão, a SG afir-
mou que “um dos principais riscos atinentes à operação é a possibilidade
de haver exclusividade, contratual ou de fato, o que poderia implicar em
exclusão de concorrentes a essa nova forma de pagamento eletrônica,
além de reduzir as escolhas para o usuário”18. A SG também enfatizou
que a base de usuários do Whatsapp dificilmente poderia ser replicada e
conferiria ao seu beneficiário um poder de mercado significativo. A de-
cisão acabou sendo revertida pela própria SG, mas a operação continua
sob investigação (CADE, 2020a).
Considerando todos os casos expostos acima, é possível consta-
tar que a maior parte das denúncias que resultaram na abertura de inves-
tigações – e, portanto, a maior parte das preocupações externalizadas pelo
CADE – dizem respeito ao mercado de meios de pagamento eletrônico.
Não obstante, há uma investigação em curso, aberta em 2018 para apurar
práticas relacionadas ao segmento de crédito pessoal, que merece ser
mencionada.
Nela, são apuradas alegações de que o GuiaBolso, aplicativo de
finanças e marketplace de serviços de empréstimo pessoal, estaria

18
Parágrafo 30 da Nota Técnica nº 6/2020/SG-TRIAGEM AC/SGA1/SG/CADE
(0770967).

504
REVISTA DO REVISTA DO IBRAC Número 1 - 20

enfrentando obstáculos para acessar informações de usuários que pos-


suem conta corrente em um determinado banco. Embora o banco tenha
indicado que as medidas enunciadas como “obstáculos” foram implemen-
tadas para garantir a proteção dos dados de seus correntistas, a SG decidiu
instaurar processo administrativo para investigar a prática mais a fundo.
Na ocasião, explicou que fintechs muitas vezes dependem de informações
bancárias para atuar, o que leva esses agentes a depender dos bancos, ao
mesmo tempo em que concorrem com eles. Além disso, enfatizou que
plataformas como o GuiaBolso são importantes para os consumidores
porque possibilitam a desagregação de serviços bancários e inibem o
efeito lock-in típico do setor financeiro (CADE, 2018g).

3.3 Conclusões sobre as preocupações do CADE em relação ao setor


financeiro

A análise das investigações abertas no setor financeiro permitiu


constatar que a preocupação do CADE em relação à verticalização vem
sendo delineada pela autoridade ao longo de anos e é resultado de uma
série de investigações envolvendo denúncias feitas por agentes indepen-
dentes em face de agentes verticalizados.
Das manifestações do CADE, depreende-se que a pauta da ver-
ticalização surgiu com base em preocupações de duas ordens: (i) a possi-
bilidade de agentes verticalizados com posição dominante utilizarem as
informações que obtêm legitimamente no âmbito de uma relação comer-
cial para alavancar suas posições e excluir concorrentes; e (ii) a possibi-
lidade de agentes verticalizados com posição dominante se valerem de
sua condição de fornecedor de serviços ou detentor de insumos para pre-
judicar a atuação de concorrentes, seja por meio de relações de exclusivi-
dade, recusa de contratar ou imposição de condições discriminatórias. A
seguir, analisar-se-á em que medida o open banking poderá endereçar es-
sas preocupações.

505
REVISTA DO REVISTA DO IBRAC Número 1 - 20

4. Possíveis impactos do open banking sobre as preocupações do


CADE em relação ao setor financeiro

A implementação do Sistema Financeiro Aberto é uma medida


estruturante adotada pelo Banco Central com o objetivo de promover a
concorrência no setor financeiro. Conforme ressaltado na seção anterior,
tal setor tem sido objeto de escrutínio do CADE e suscitado preocupações
em torno da possibilidade de agentes verticalizados com posição domi-
nante (i) utilizarem as informações que obtêm legitimamente no âmbito
de uma relação comercial para alavancar suas posições e excluir concor-
rentes, ou (ii) se valerem de sua condição de fornecedor de serviços ou
detentor de insumos para prejudicar a atuação de concorrentes. Constata-
se que o open banking terá o potencial de mitigar as duas preocupações,
uma vez que, por sua própria natureza, objetiva promover o acesso a da-
dos e serviços.
Dentre as medidas de compartilhamento de dados e serviços
promovidas pelo open banking, é possível destacar (i) a garantia de amplo
acesso, a provedores de serviços bancários e de pagamentos, a dados ca-
dastrais e transacionais de clientes; (ii) o compartilhamento de dados so-
bre produtos e serviços financeiros e (ii) a garantia de acesso e tratamento
isonômico no mercado de serviços de iniciação de pagamento, especial-
mente com relação ao novo arranjo neutro e interoperável de pagamentos
do Banco Central – o PIX (BC; 2020b-2020e).
No que diz respeito à garantia de amplo acesso às informações
cadastrais e transacionais dos clientes, cabe fazer referência, mais uma
vez, à importância dos dados para o setor financeiro na atualidade. De
fato, dados têm sido vistos como ativos importantes para a rivalidade,
entrada e inovação no setor financeiro, e a abertura que o open banking
pretende promover é capaz de atenuar as barreiras à entrada e vantagens
competitivas decorrentes da concentração de dados em poucos agentes
(FARANI, BARQUEIRO; 2020).
Neste sentido, essa medida poderá mitigar preocupações relaci-
onadas ao uso indevido de informações de concorrentes por agentes ver-
ticalizados dominantes com intuito exclusionário. Isso porque, conforme

506
REVISTA DO REVISTA DO IBRAC Número 1 - 20

relatado na Seção III, a preocupação expressada pelo CADE nas consultas


e até mesmo no caso Itaú/Rede gira em torno da solicitação de dados de
clientes. Ocorre que essas informações agora poderão ser amplamente
disponibilizadas (BC; 2020b, 2020e) 19. Logo, a sensibilidade atribuída à
informação será consideravelmente atenuada e solicitações desse tipo
perderão a razão de ser20.
Além disso, a medida também proporciona o acesso de fintechs
a insumos necessários à sua atuação – o que pode ser ilustrado pelo caso
do GuiaBolso. Com efeito, relatou-se no caso que o GuiaBolso oferece
um marketplace de empréstimos pessoais e, para tanto, precisa acessar
informações bancárias de seus usuários. Nesse sentido, a obrigatoriedade
de compartilhamento de dados por meio do open banking remediaria as
dificuldades que o GuiaBolso alega ter enfrentado. Cabe notar que a equa-
lização do acesso a dados de clientes visa a beneficiar justamente a en-
trada de fintechs no mercado, bem como o desenvolvimento de produtos
inovadores tanto por entrantes quanto por incumbentes (BC, 2019a).
Quanto ao compartilhamento de dados sobre produtos e servi-
ços financeiros, é bom lembrar que o open banking compreende o com-
partilhamento obrigatório de dados sobre a oferta de serviços financeiros,
o que inclui condições contratuais como tarifa, taxa de juros, serviços in-
cluídos em pacotes, etc. (BC, 2020b). A ampla disponibilização de tais
dados facilitará a criação e desenvolvimento de plataformas comparado-
ras de serviços bancários, o que aumentará a transparência no mercado21
e poderá ser um mecanismo efetivo para a identificação de condutas anti-
isonômicas por parte de agentes dominantes verticalizados.

19
Desde que haja consentimento do cliente (BC, 2020e).
20
A não ser nos casos em que o cliente não autorize o compartilhamento de tais
dados, caso em que as informações continuarão restritas à instituição provedora da
conta ou serviço.
21
O aumento da transparência de preços tem um efeito ambíguo no mercado. Se de
um lado é vista como pro-competitiva na perspectiva do consumidor, pode ter o
efeito oposto de facilitar condutas colusivas, na medida em que, teoricamente, reduz
custos de detecção do descumprimento (Schultz, 2005, apud OCDE, p. 20).

507
REVISTA DO REVISTA DO IBRAC Número 1 - 20

Já com relação às garantias de acesso e tratamento isonômico


em relação aos provedores de iniciação de pagamento22, cabe destacar
que o CADE já levantou preocupações associadas ao fechamento de mer-
cado por meio de práticas de discriminação e relações de exclusividade
no setor de pagamentos eletrônicos, conforme destacado na Seção III.
Nesse sentido, a proibição de tratamento discriminatório ou de recusa de
acesso, por parte das instituições detentoras de contas em relação aos ini-
ciadores de pagamento, endereça preocupações concorrenciais já suscita-
das em relação a serviços semelhantes.
Ademais, cabe ressaltar que o PIX, uma das modalidades inclu-
ídas no escopo do serviço de iniciação de pagamentos (a ser obrigatoria-
mente compartilhado no open banking), é um arranjo de pagamentos neu-
tro, aberto e interoperável, no âmbito do qual é vedado qualquer tipo de
tratamento discriminatório entre participantes (BC, 2020d). Assim, as ga-
rantias de isonomia oferecidas tanto no âmbito do open banking quanto
no âmbito do PIX têm o potencial de impactar fortemente a dinâmica
competitiva do setor de pagamentos no Brasil.
Entretanto, não se pode esperar que o open banking enderece no
curto prazo toda e qualquer preocupação concorrencial já expressada pelo
CADE em relação ao setor financeiro.
A princípio, o Sistema Financeiro Aberto está limitado aos da-
dos e serviços discriminados na resolução que o institui (BC; 2020b,
2020e). Não está claro, por exemplo, em que medida segmentos disrupti-
vos como a corretagem de criptoativos – que está passando por escrutínio
do CADE atualmente23 – poderão se beneficiar do open banking. Não

22
Nesse sentido, o art. 29 da Resolução dispõe que “[é] vedado às instituições de-
tentoras de contas restringir, limitar ou impedir a iniciação de transação de paga-
mento de que trata o art. 5º, inciso II, alínea "a", bem como discriminá-la em relação
às transações executadas diretamente pelo cliente por meio dos seus canais de aten-
dimento”.
23
Atualmente há uma investigação em curso que apura denúncia de encerramento
unilateral e injustificado de contas correntes detidas por corretoras de criptoativos
por parte de alguns bancos. O caso foi originalmente arquivado pela SG, mas acabou
sendo avocado pelo Tribunal, que determinou a continuidade da instrução. Na oca-
sião, os Conselheiros discutiram sobre a procedência dos argumentos de segurança
508
REVISTA DO REVISTA DO IBRAC Número 1 - 20

obstante, sabe-se que a regulação editada pelo BC admite a inclusão de


novos serviços no Sistema Financeiro Aberto (BC, 2020e)
Além disso, é natural que, num primeiro momento, incumbentes
tenham uma capacidade maior de oferecer condições mais competitivas
num cenário de concorrência acirrada justamente por serem verticaliza-
dos, pois a verticalização gera economias de escala e escopo (CADE,
2019). Também há que se considerar que a resolução que instituiu o Sis-
tema Financeiro Aberto estabeleceu como princípio a “segurança e pri-
vacidade de dados e de informações sobre serviços”. Bancos incumben-
tes terão vantagem sobre entrantes nesse ponto na medida em que já pos-
suem uma ampla estrutura de governança estabelecida (OCDE, 2020;
CASTRO, RODRIGUES, 2020).
Também pode haver casos em que um serviço específico não
pode ser fornecido por instituição alternativa, a não ser que o cliente es-
teja disposto a mudar de domicílio bancário. Essa foi a situação relatada
pelo Nubank ao CADE no que diz respeito à recusa da prestação do ser-
viço de débito automático, por exemplo. A situação específica do caso
acabou sendo regulamentada pelo CMN após a instauração do inquérito
administrativo24 (CADE, 2017d). Não obstante, o caso serve para ilustrar
que, em situações análogas, os consumidores que mantiverem contas nos
bancos tradicionais (e, por conseguinte, as fintechs que eventualmente
lhes prestarem serviços) poderão continuar dependendo dos incumbentes
em alguma medida.
De todo modo, não há dúvidas de que, no médio e longo prazo,
o open banking terá impacto positivo sobre as condições de concorrência
do setor financeiro como um todo, podendo até mesmo propiciar

levantados pelos representados e refletiram sobre a existência de concorrência po-


tencial entre corretoras de criptoativos e bancos. Embora não tenha havido consenso
sobre esse ponto, a Conselheira Lenisa Prado enfatizou que alguns bancos já tinham
manifestado publicamente a intenção de atuar nesse segmento (CADE, 2018f).
24
Em 28 de março de 2018, o CMN editou a Resolução nº 4.649, na qual proibiu os
bancos de limitar ou impedir o acesso a diversos produtos e serviços, dentre os quais
se incluiu o serviço de débito automático (BC, 2018)

509
REVISTA DO REVISTA DO IBRAC Número 1 - 20

inovações tecnológicas que solucionem situações como a ilustrada acima


(OCDE, 2020).
Como já exposto, as medidas que serão implementadas no âm-
bito do Sistema Financeiro Aberto criarão condições mais favoráveis para
o surgimento e a consolidação de novos agentes econômicos 25. Isso, por
si só, já traz uma série de benefícios: a entrada de novos agentes no mer-
cado amplia as alternativas disponíveis ao consumidor, ao mesmo tempo
em que acirra a concorrência, fazendo com que agentes tradicionais e en-
trantes passem a agir de forma cada vez mais competitiva para manter ou
conquistar espaço no mercado26 (OCDE, 2020).
O Financial Stability Board (“FSB”)27 aponta mais especifica-
mente que ao entrarem no mercado, fintechs e big techs poderão (i) se
juntar a incumbentes para melhorar seus serviços; (ii) fornecer serviços
complementares aos dos incumbentes (como plataformas de comparação,
por exemplo), aumentando a transparência do mercado e diminuindo os
custos de migração do cliente; e/ou (iii) competindo diretamente com in-
cumbentes, reduzindo suas margens e até mesmo sua capacidade de uti-
lizar subsídios cruzados (FSB, 2019a).
Espera-se também que o open banking propicie a desagregação
dos serviços bancários ao estabelecer uma separação entre a capacidade
de fornecer um serviço e a propriedade dos dados dos clientes (LYNN et.
al, 2019). Neste sentido, antecipa-se uma tendência de que o segmento de

25
Notícias apontam para uma expectativa de que o número de instituições compe-
tindo no segmento de varejo aumente de 30 para mais de 900 com o lançamento do
PIX (CASTRO, RODRIGUES; 2020) De fato, o BC já recebeu 980 pedidos de
adesão ao PIX, dos quais apenas 34 partiram de instituições financeiras cuja partici-
pação no arranjo é obrigatória (KASTNER, 2020).
26
Um exemplo concreto de que isso já vem ocorrendo no Brasil é o fato de que após
o surgimento das fintechs, bancos tradicionais lançaram contas digitais isentas de
tarifas e com movimentação por aplicativos para fazer frente a seus novos conco-
rrentes (TAUHATA, 2020). Por outro lado, várias fintechs estão começando se mo-
vimentar para ampliar seu leque de serviços e concorrer com os bancos em outras
frentes (CASTRO, RODRIGUES; 2020).
27
Órgão internacional que monitora e faz recomendações acerca do sistema finan-
ceiro em âmbito global.

510
REVISTA DO REVISTA DO IBRAC Número 1 - 20

varejo se torne essencialmente baseado em plataformas, que intermedia-


rão usuários e fintechs, gerando efeitos de rede. Em última análise, es-
pera-se que essa evolução faça com que incumbentes deixem de se apoiar
na inércia do cliente e passem a adotar uma estratégia de marketplace
(COLANGELO, BORGOGNO; 2018).
Por fim, cabe ressaltar que os efeitos de rede antecipados nas
publicações que analisaram os impactos do open banking na dinâmica do
setor financeiro vêm gerando preocupações em torno da entrada das cha-
madas big techs nesse mercado. Segundo apontado pela OCDE (2020), a
enorme penetração das plataformas das big techs e a quantidade de dados
aos quais elas têm acesso podem ser utilizados para exercer poder de mer-
cado e praticar condutas exclusionárias28. Essa, inclusive, foi uma das
preocupações que ensejaram a suspensão da operação do Facebook com
a Cielo pelo CADE em junho de 2020 (CADE, 2020a).
Além disso, chama-se atenção para o fato de que big techs não
são obrigadas a abrir os dados que detêm para os demais participantes do
setor financeiro, visto que tais dados não se relacionam a contas de paga-
mentos. Neste sentido, se vislumbra uma assimetria entre os agentes par-
ticipantes do open banking (IFB, 2019a; INSTITUTE OF INTERNATI-
ONAL FINANCE, 2018). De todo modo, é certo que a atuação de big
techs no fornecimento de serviços financeiros pode gerar diversas efici-
ências e até mesmo promover a cidadania financeira por meio da inclusão
dos chamados “desbancarizados” (OCDE, 2020) – um dos objetivos de-
clarados do Sistema Financeiro Aberto (BC, 2020e).

5. Conclusão

Recentemente, o open banking vem sendo implementado em vá-


rios países – incluindo o Brasil – com o propósito de promover a

28
Para além da questão concorrencial, aponta-se que a disputa entre big techs e ins-
tituições financeiras tradicionais também pode aumentar o risco sistêmico e deman-
dar a adoção de medidas prudenciais (OCDE, 2020; FSB, 2019b)

511
REVISTA DO REVISTA DO IBRAC Número 1 - 20

concorrência no setor financeiro e abrir o mercado a novas empresas, no-


tadamente àquelas que oferecem soluções tecnológicas inovadoras.
No Brasil, a implementação do open banking se dá num cenário
em que preocupações concorrenciais vêm sendo publicamente expressa-
das pelo CADE quanto à verticalização do setor. A análise das manifes-
tações feitas pela autarquia nas investigações abertas ao longo dos últi-
mos permitiu identificar que essas preocupações se referem, mais especi-
ficamente, à possibilidade de agentes verticalizados com posição domi-
nante (i) utilizarem informações que obtêm legitimamente no âmbito de
uma relação comercial para alavancar suas posições e excluir concorren-
tes, ou (ii) se valerem de sua condição de fornecedor de serviços ou de-
tentor de insumos para prejudicar a atuação de concorrentes, seja por
meio de relações de exclusividade, recusa de contratar ou imposição de
condições discriminatórias.
Neste artigo, concluiu-se que essas duas preocupações serão mi-
tigadas pelas medidas que serão implementadas pelo BC no âmbito do
Sistema Financeiro Aberto. Além disso, constatou-se que, no médio e
longo prazo, tais medidas criarão condições mais favoráveis para a en-
trada de novos agentes no setor financeiro e no mercado de meios de pa-
gamento eletrônico, o que melhorará as condições de concorrência no se-
tor financeiro como um todo.
Também foi identificada expectativa de que o open banking pro-
picie a criação de plataformas de comparação e intermediação de servi-
ços, gerando efeitos de rede e favorecendo a atuação de big techs nesse
meio. Não obstante, organismos internacionais apontam que o elevado
grau de penetração de plataformas de big techs e o grande volume de da-
dos detidos por essas empresas poderão gerar novas preocupações con-
correnciais.

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(2016a)
______. Inquérito Administrativo nº 08700.001861/2016-03, Represen-
tante: Cade ex officio, Representados: Cielo S.A. e Rede S.A., suspenso
em 30 de junho de 2017. (2017c)
______. Inquérito Administrativo nº 08700.003599/2018-95, Represen-
tante: Associação Brasileira de Criptomoedas e Blockchain – ABCB, Re-
presentados: Banco do Brasil S.A.; Banco Bradesco S.A.; Banco Itaú
Unibanco S.A.; Banco Santander S.A.; Banco Inter S.A.; e Banco Coo-
perativo Sicredi S.A., instaurado em 18 de setembro de 2018, em anda-
mento. (2018f)
______. Inquérito Administrativo nº 08700.005986/2018-66, Represen-
tante: Cade ex officio, Representados: Elo Serviços S.A, American Ex-
press Brasil Assessoria Empresarial Ltda, Visa do Brasil Empreendimen-
tos Ltda, e Mastercard Brasil Soluções de Pagamento Ltda., arquivado
em 15 de outubro de 2019. (2019c)
______. Procedimento Preparatório nº 08700.002863/2020-98, Repre-
sentante: Cade ex officio, Representados: Instituidores de arranjos de pa-
gamentos e credenciadoras, instaurado em 18 de junho de 2020, em an-
damento. (2020b)
______. Procedimento Preparatório nº 08700.008601/2013-08, Repre-
sentante: Cade ex officio, Representados: Redecard S.A. e Cielo S.A., ar-
quivado em 27 de novembro de 2013. (2013)
______. Processo Administrativo nº 08012.002096/2007-06, Represen-
tante: Ministério Público Federal – Procuradoria da República de São
Paulo e Sodexo Pass do Brasil Serviços e Comércio Ltda., Representados:
Companhia Brasileira de Soluções e Serviços - CBSS, Banco do Brasil
S.A., Banco Bradesco S.A., Banco ABN Amro Real S.A. (Banco Santan-
der Brasil S.A.) e Banco Nossa Caixa S.A., arquivado em 6 de maio de
2015. (2015b)

516
REVISTA DO REVISTA DO IBRAC Número 1 - 20

______. Processo Administrativo nº 08012.004089/2009-01, Represen-


tante: Associação Brasileira de Internet – ABRANET, Representado: Re-
decard S.A., arquivado em 24 de junho de 2015. (2015c)
______. Processo Administrativo nº 08012.005328/2009-31, Represen-
tante: Cade ex officio, Representados: Visa International Service Associ-
ation, Visa do Brasil Empreendimentos Ltda. e Companhia Brasileira de
Meios de Pagamento, arquivado em 14 de setembro de 2010. (2010)
______. Processo Administrativo nº 08012.006209/2010-30, Represen-
tante: Ministério Público do Estado da Bahia, Representados: Hipercard
Banco Múltiplo S.A. e Bompreço Bahia Supermercados Ltda., arquivado
em 16 de outubro de 2019. (2019d).
______. Processo Administrativo nº 08700.002066/2019-77, Represen-
tante: Cade ex officio, Representados: Itaú Unibanco S.A. e Redecard
S.A., instaurado em 18 de abril de 2019, em andamento. (2019e)
______. Processo Administrativo nº 08700.003187/2017-74, Represen-
tante: Nu Pagamentos S.A., Representados: Banco do Brasil S.A.; Banco
Bradesco S.A.; Caixa Econômica Federal; Itaú Unibanco S.A.; e Banco
Santander Brasil S.A., instaurado em 25 de maio de 2017, em andamento.
(2017d)
______. Processo Administrativo nº 08700.004201/2018-38, Represen-
tante: Secretaria de Promoção da Produtividade e Advocacia da Concor-
rência - SEPRAC/MF, Representados: Banco Bradesco S.A., instaurado
em 6 de setembro de 2018, em andamento. (2018g)
______. Recurso Voluntário nº 08700.002719/2009-46. Recorrente: Re-
decard S.A., julgado em 26 de agosto de 2009. (2009a)
______. Recurso Voluntário nº 08700.005308/2019-84. Recorrentes: Itaú
Unibanco S.A. e Redecard S.A., julgado em 27 de novembro de 2019 e 5
de fevereiro de 2020. (2020c)
______. Requerimento nº 08700.001844/2017-49, Requerente: Banco
Itaú Unibanco S.A. e Hipercard Banco Múltiplo S.A., homologado pelo
Tribunal do CADE em 5 de abril de 2017. (2017e)
______. Requerimento nº 08700.001845-2017-93, Requerente: Redecard
S.A., homologado pelo Tribunal do CADE em 5 de abril de 2017. (2017f)

517
REVISTA DO REVISTA DO IBRAC Número 1 - 20

______. Requerimento nº 08700.003240/2009-27, Requerente: Visa In-


ternational Service Association e Visa do Brasil Empreendimentos Ltda.,
homologado pelo Tribunal do CADE em 16 de dezembro de 2009.
(2009b)
______. Requerimento nº 08700.003613/2017-70, Requerente: Cielo
S.A., homologado pelo Tribunal do CADE em 28 de junho de 2017.
(2017g)
______. Requerimento nº 08700.003614/2017-14, Requerente: Elo Ser-
viços e Elo Participações S.A, homologado pelo Tribunal do CADE em
28 de junho de 2017. (2017gh)
______. Requerimento nº 08700.003638/2018-54, Requerente: Itaú Uni-
banco S.A. e Redecard S.A., homologado pelo Tribunal do CADE em 4
de julho de 2018. (2018h)
______. Requerimento nº 08700.003900/2009-70, Requerente: Compa-
nhia Brasileira de Meios de Pagamento (Visanet), homologado pelo Tri-
bunal do CADE em 16 de dezembro de 2009. (2009c)
______. Requerimento nº 08700.004410/2014-58, Requerente: Redecard
S.A., homologado pelo Tribunal do CADE em 16 de julho de 2014.
(2014)
______. Requerimento nº 08700.005211/2018-91, Requerente: Banco
Bradesco S.A., homologado pelo Tribunal do CADE em 19 de setembro
de 2018. (2018i)
______. Requerimento nº 08700.005212/2018-35, Requerente: Cielo
S.A., homologado pelo Tribunal do CADE em 19 de setembro de 2018.
(2018j)
______. Requerimento nº 08700.005251/2018-32, Requerente: Banco do
Brasil S.A., homologado pelo Tribunal do CADE em 19 de setembro de
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