2004 Agricultura Sustentabilidade
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2004 Agricultura Sustentabilidade
net/publication/228718155
Agricultura e sustentabilidade
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1.800
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R$ bilhões
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200
0
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Ano
Total Agronegócio PIB Brasil Agricultura Pecuária
Nos últimos anos, nos meios acadêmicos brasileiros e no debate social sobre o
papel do agronegócio e da agricultura familiar, tem sido comum apresentar esses dois
“setores” como tendo interesses muito antagônicos. Vários estudos têm provado que,
além de empregar um contingente significativo de pessoas, um segmento consolidado
4
Figura 2: Renda total agrícola (RT) por hectare por ano (R$/ha/ano) dos
estabelecimentos rurais patronais e familiares, segundo dados do Censo Agropecuário
1995-1996. Fonte: Guanziroli, C.E e Cardim, S.E.C.S. op. cit.
300
241
250
R$ / ha / ano
200
150 129
99 104
100 85
70
51 48 44
50 37
25
12
0
Norte Nordeste Centro- Sudeste Sul Brasil
Oeste
Familiar Patronal
convencional; e uma última, onde em que a agricultura ecológica poderá ser apreendida
enquanto uma verdadeira alternativa técnico-científica global.
No curto prazo, as diferentes proposições de agricultura sustentável podem ser
bem apreendidas por um certo tipo de agricultores, de pequeno porte e de cunho
familiar, enfrentando “dificuldades", situados em regiões onde faltam recursos
materiais, físicos e financeiros, e produzindo, antes de tudo, para assegurar sua
subsistência. A médio e longo prazos, o segundo cenário aparece de forma muito
plausível. De fato, em se tratando de uma agricultura convencional de maneira
específica e de sua "ecologização", certos fatos já se manifestam de forma visível
através de práticas mais voltadas para a conservação ambiental, como, por exemplo, o
uso da compostagem, da adubação verde, enfim, do manejo ecológico dos solos, do
recurso à luta biológica integrada contra pragas e doenças, que implica no abandono de
produtos e práticas consideradas nocivas para as pessoas e para o ambiente.
No que se refere ao cenário de apreensão da agricultura sustentável ou ecológica
como alternativa técnico-produtiva global, é necessário escapar da lógica de ação
puramente contestadora, bem como do seu enclausuramento no interior de espaços
morais e socioculturais específicos. Além disso, é necessário que grupos e agentes de
agricultura ecológica sejam capazes de mostrar capacidade renovada para abrir novas
vias de afirmação no domínio das maneiras de produzir e de viver. Essa proposta,
enquanto projeto político, passa, necessariamente, por sua afirmação como “nova
ciência”, a qual, desde já, se propõe. É, portanto, também no espaço social configurado
pelo campo científico que essas proposições devem se afirmar. Para isso, devem
disputar “objetos científicos”, buscando legitimidade científica capaz de subsidiar/
sustentar a luta no campo político e social mais amplo, incorporando (e fazendo
incorporar) conceitos, valores e técnicas capazes de serem compartilhados por
determinada comunidade científica e utilizados para definir problemas e soluções. Não
é, pois, simplesmente negando a “velha ciência” e recusando-se ao jogo político no
campo científico que as diferentes formas de agricultura sustentável em pauta chegarão
a se afirmar ou a se generalizar. Em qualquer dos dois últimos cenários apresentados a
agricultura sustentável deverá garantir que, no mínimo: i) os frutos (produtos e renda)
sejam repartidos de forma mais igualitária entre a população; ii) sejam mantidos ou
potencializados os ganhos produtivos obtidos nos últimos anos, o que tornou a
agricultura peça-chave do desenvolvimento do País; iii) sejam ampliados os mercados
agrícolas, especialmente aqueles da demanda interna; e iv) se vise a uma melhor
proteção do meio ambiente.
Notas
1
Mazoyer, Marcel e Roudart, Laurence. Histoire des agricultures du monde, Paris,
Seuil, 1997; Diamond, Jared. Armas, germes e aço. Rio de Janeiro, Record, 2003;
Olson, Steve. A história da humanidade. Rio de Janeiro, Editora Campus, 2003.
2
Diamond, op. cit; Olson, op. cit.
3
CNA/CEPEA-USP. A evolução do PIB do Agronegócio no Brasil 1994 – 2001, 2002
(cepea.esalq.usp.br/pib/zip/artigo%20PIB.pdf). Consulta em 15.07.2004.
4
Presidência da República - Casa Civil - Secretaria de Estado de Comunicação de
Governo, 2002.
13
5
CNA/CEPEA-USP. PIB do Agronegócio: de janeiro a dezembro de 2002, 2003.
http://cepea.esalq.usp.br/ de 12/03/2003. Consulta em 15.07.2004.
6
CNA, 2003. Confederação Nacional de Agricultura - Indicadores Rurais. Edição
Janeiro/Fevereiro 2003.http://www.cna.org.br/IndicadoresRurais/2003/JanFev/PIB.htm
Consulta em 10.06.2004.
7
Delfin Neto, Antonio, citando dados do Mapa/Secex, 2004, em Carta Capital,
12.05.2004, p.35.
8
Barros, G.S.C. & Silva, S.F. O saldo comercial do agronegócio e o crescimento
da economia brasileira. http://www.cepea.esalq.usp.br/pdf/saldo_cresc.pdf
Consulta em 19.06.2004.
9
Presidência da República, op. cit.
10
Delfin Neto, Antonio. Op. cit. Esses resultados do agronegócio nos últimos anos têm
estimulado visões bastante otimistas em relação ao setor, originando matérias ufanistas
em jornais, revistas e na televisão (ver, por exemplo, o caderno especial n. 36 da revista
Veja, “Agronegócio & Exportação: as empresas e as estratégias do Brasil que dá certo”,
de outubro de 2004). Os meios políticos institucionais também têm exaltado
sobremaneira os resultados e a potencialidade do agronegócio.
11
Guanziroli, C.E e Cardim, S.E.C.S. (coord.). Relatório de Cooperação Técnica
INCRA/FAO. Brasília: INCRA. 1999. 89p.
12
Buainain, A.M.; Souza Filho, H.M.; Silveira, J.M. Inovação tecnológica na
agricultura e a agricultura familiar. In: Lima, D. M. A. e Wilkinson, J. (org.). Inovação
nas tradições da agricultura familiar. Brasília: CNPq/Paralelo15, 2002. p. 47-81.
13
Guanziroli, C.E e Cardim, S.E.C.S. (coord.).Op.cit.
14
Medeiros, J.X.; Wilkinson, J.; Lima, D.M.A. O desenvolvimento científico e
tecnológico e a agricultura familiar. In: Lima, D. M. A. e Wilkinson, J. (org.). op. cit. p.
23-38.
15
Adota-se aqui a noção de ambiente que considera os aspectos biológicos e físicos
constituintes da base natural do ambiente humano e que as dimensões socioculturais e
econômicas definem as orientações conceituais, os instrumentos técnicos e os
comportamentos práticos que permitem aos indivíduos e grupos sociais compreenderem
e utilizarem adequadamente os recursos da biosfera para satisfazer às suas necessidades.
16
Fernandes Filho, José Flôres; Campos, Flávia Rezende; Oliveira, Ivandro Mendes. A
indústria rural e a crise da agricultura mineira: o caso das regiões Norte de Minas e
Jequitinhonha. In: Seminário de Economia, Administração e Contabilidade da
FEA/USP-RP, Anais do I SEAC, Ribeirão Preto-SP, 1999.
17
Embrapa Soja. Agronegócio da soja no Brasil (última modificação: 24-Oct-2000).
http://www.cnpso.embrapa.br/rectec/ aspagro.htm . Consulta em 20.07.2004.
14
18
Barros, G. S. C. Agronegócio: uma lição de eficiência.
www.cepea.esalq.usp.br/artigomensal. Maio 2003. Consulta em 05.08.2004.
19
Blaha, T. G. Manejo de qualidade na granja, segurança alimentar pré-abate e
certificação da indústria suinícola. In: Conferência Internacional Virtual sobre
Qualidade de Carne Suína. Concórdia, SC. Anais... Concórdia: Embrapa Suínos e Aves,
2000. p.1-16. (Embrapa Suínos e Aves. Documentos, 65).
20
Blaha, T. G. op.cit.
21
Blaha, T. G. op.cit.
22
Duarte, Laura M. G. Globalização, agricultura e meio ambiente: o paradoxo do
desenvolvimento dos cerrados. In: Laura M. G. Duarte e Braga, M. L. de S. (orgs.).
Tristes Cerrados: sociedade e biodiversidade. Brasília: Paralelo 15. 1998. p. 11-22.
23
Delfín Neto, Antonio. op. cit.
24
Carmo (2003) destaca que o leque de tecnologias consideradas “sustentáveis”, no
senso comum, vão da engenharia genética às práticas indígenas primitivas, o que revela
que a transição para a chamada sustentabilidade da agricultura ainda não evidencia
claramente quais os rumos do salto tecnológico que está por vir (Carmo, M.S.
Assentamentos rurais em São Paulo e a agricultura sustentável em um enfoque de
redirecionamento de perspectivas. In: Bergamasco, S.M.P.P.; Aubrée, M.; Ferrante,
V.L.S.B. (org.) Dinâmicas familiar produtiva e cultural nos assentamentos rurais de São
Paulo. Campinas, SP: FEAGRI/UNICAMP; Araraquara, SP: UNIARA; São Paulo, SP:
INCRA. 2003. p. 295-318).
25
Carmo, M.S. op.cit.
26
A FAO estima que existam atualmente 800 milhões de pessoas passando fome no
mundo, concentrados principalmente na África e em alguns países da Ásia e da América
Latina. Existem divergências quanto ao número de pessoas no Brasil que passam fome.
Estimativas baseadas nos dados da PNAD de 1999 partem de um mesmo substrato para
delinear três avaliações diferentes para o número de pobres (e, portanto, submetidos a
um regime de fome): i) o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas indica que 34%
das famílias têm renda inferior à linha da pobreza (definida por uma cesta básica
hipotética), num total de 53,1 milhões de pessoas; ii) Marcelo Neri, da Fundação
Getúlio Vargas, formulou o Mapa do Fim da Fome no qual considera pobres 50 milhões
de brasileiros que ganham menos que uma cesta básica de R$80,00 por mês; iii)
finalmente, o Instituto Cidadania estimou no Projeto Fome Zero do Governo Federal
que existem 44 milhões de pobres no país com renda inferior a US$1.00/dia (valor de
setembro de 1999 para a região Nordeste, corrigido para as demais regiões por índices
do custo de vida).
27
Adota-se aqui o sentido amplo de segurança alimentar, proposto por Maluf, Renato S.
et al. (Ações públicas locais de segurança alimentar nutricional - Diretrizes para uma
política municipal. Polis, São Paulo, 2000): “Segurança alimentar e nutricional é a
15