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SOM

BRAS
DE
Tiago
Oliveira

CRISTO
O uso do antigo
testamento em
hebr eus
A diferença deste livro para outros que tratam do mesmo tema é sua preocu-
pação em se aproximar dos autores do Novo Testamento em seus próprios
termos quando estes citam passagens do Antigo Testamento. Dessa forma,
Tiago Oliveira procura evitar o anacronismo de se tentar entender os autores
do século I à luz de uma hermenêutica judaica que se desenvolveu posterior-
mente e cujas fontes datam de séculos subsequentes aos documentos do Novo
Testamento. Entender como o autor de Hebreus aborda o Antigo Testamento
e o usa em sua obra é indispensável para que compreendamos, além disso, de
que maneira os demais autores do Novo Testamento se valem das Escrituras
de Israel. A obra que o leitor tem em mãos é uma ferramenta preciosa para
todo pastor, exegeta, pregador e teólogo envolvido com os estudos bíblicos.
Augustus Nicodemus (PhD, Westminster Theological Seminary),
pastor presbiteriano; autor de Profetas: a Profecia na Bíblia e na Igreja.

Este livro de Tiago Oliveira sobre o uso do Antigo Testamento em Hebreus


é um guia claro, balanceado e útil que ajudará cristãos de diversas linhas a se
engajar com esse importante escrito do Novo Testamento. Você não pode ler
Hebreus sem notar as citações e alusões ao Antigo Testamento em pratica-
mente todos os parágrafos. Porém, o “porquê”, o “como” e o “e daí?” desse fenô-
meno intrabíblico são altamente debatidos. Este livro mostra como a dupla
autoria da Escritura (Deus e os escritores proféticos) deve guiar a maneira
como abordamos questões relativas ao uso do Antigo no Novo Testamento;
como o autor de Hebreus vê o Antigo Testamento como “história redentiva”, a
qual agora está sendo cumprida em Jesus Cristo e seu povo; e como a virada de
eras após a ressurreição introduz tanto uma continuidade quanto uma descon-
tinuidade na história da obra salvífica de Deus. Ao longo do caminho, Tiago
Oliveira sabiamente lida com algumas abordagens improdutivas quanto ao uso
apostólico do Antigo Testamento, além de prover opções que são melhores e
podem ajudar o leitor moderno não apenas a confiar mais em sua Bíblia, mas
também a se tornar um leitor melhor dela.
Gregory R. Lanier (Ph.D., Universidade de Cambridge),
professor associado de Novo Testamento no Reformed
Theological Seminary (Orlando, EUA).

As recentes publicações sobre o uso do Antigo Testamento no Novo têm sido


uma consoladora tendência, contribuindo para a necessária recuperação do
padrão de continuidade entre os testamentos. Esses esforços no campo da
Teologia Bíblica contribuem para uma leitura capaz de nos levar a enxergar
com beleza ainda maior os atos divinos por toda história da revelação. Nessa
consoladora tendência, a Editora Fiel traz ao público a obra Sombras de Cristo,
de Tiago Oliveira, cujo objetivo é projetar luz ainda maior para uma adequada
e melhor compreensão daquela que, para João Calvino, ao lado de Romanos,
é a mais importante epístola do Novo Testamento: Hebreus. Recomendo
sua leitura.
Paulo Valle, pastor da Igreja Batista do Redentor
(Volta Redonda, RJ); professor de Grego, Novo Testamento
e Práticas Discursivas no Seminário Martin Bucer.

O Senhor Jesus declara que veio “não para abolir a Lei e os Profetas, mas para
cumpri-los.” Com essas palavras, ele confirma a unidade das Escrituras e a
continuidade da revelação divina. Poucos exercícios são mais frutíferos do que
identificar Jesus Cristo em ambos os testamentos. O livro que você tem em
mãos lida com a importância de se ler o Novo Testamento como continuação
da revelação de Deus, usando como exemplo o uso que o autor de Hebreus
faz do Antigo Testamento. Espero que esta leitura o desafie a vir às Escrituras
e ver Aquele a respeito de quem escreveram Moisés e os Profetas.
Diego dy Carlos Araújo (PhD, London School of Theology),
professor pesquisador de Estudos Bíblicos no SETECEB.

Os verdadeiros crentes amam a Bíblia. É sempre um deleite para os fiéis segui-


dores de Jesus que uma passagem da Escritura se torne cristalina como água.
Porém, em muitos momentos, o estudante da Bíblia encontra-se na mesma
situação do eunuco etíope, precisando de alguém que lhe explique o texto. Esta
obra preciosa do querido pastor Tiago Oliveira oferece muito mais que expli-
cação sobre passagens; ela entrega um caminho para a compreensão do uso
que os autores do Novo Testamento fazem do Antigo Testamento, instruindo
discípulos aplicados a terem interpretações precisas. Fruto do trabalho de um
pastor-mestre, encontra-se aqui o rigor acadêmico a serviço da piedade e da
edificação dos santos. Se você ama a Bíblia, este livro é para você.
Rubner Durais, pastor na Igreja Batista da Graça
(São José dos Campos, SP); coordenador do Ministério Adote
um Pastor; professor e tutor no Seminário Martin Bucer.
SOM
BRAS
DE
Tiago
Oliveira

CRISTO
O uso do antigo
testamento em
he br eu s
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Angelica Ilacqua CRB-8/7057

Oliveira, Tiago
Sombras de Cristo : o uso do Antigo Testamento em Hebreus / Tiago Oliveira. – São
José dos Campos, SP : Editora Fiel, 2023.

Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5723-295-8

1. Bíblia A.T – Crítica e interpretação. 2. Bíblia N.T. – Crítica e interpretação 3. Bíblia.


N.T. Hebreus – Crítica e interpretação. 4. Hermenêutica – Aspectos religiosos I. Título.

23-172073CDD-220.61

Índices para catálogo sistemático:


1. Bíblia : Crítica e interpretação 220.61

Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415

SOMBRAS DE CRISTO: O USO DO Os textos das referências bíblicas foram extraídos


ANTIGO TESTAMENTO EM HEBREUS da Versão Almeida Revista e Atualizada, 2ª ed.
(Sociedade Bíblica do Brasil), salvo indicação específica.
Copyright © 2023 por Tiago Oliveira. Todos os
direitos reservados.

Editor-chefe: Tiago J. Santos Filho


Copyright © 2023 Editora Fiel Supervisor Editorial: Vinicius Musselman Pimentel
Primeira edição em português: 2023
Coordenador Gráfico: Gisele Lemes
Todos os direitos em língua portuguesa reservados Editor: André Soares
por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária. Revisor: Gabriel Lago
Diagramador: Jonatas Belan
Proibida a reprodução deste livro por
Capista: Jonatas Belan
quaisquer meios sem a permissão escrita
dos editores, salvo em breves citações, ISBN brochura: 978-65-5723-295-8
com indicação da fonte. ISBN e-book: 978-65-5723-296-5

Caixa Postal 1601


CEP: 12230-971
São José dos Campos, SP
PABX: (12) 3919-9999
www.editorafiel.com.br
Sumário

Abreviaturas  6
Introdução  7

S e ç ã o 1 — U M A A L T A V I S ÃO D A S E S C R I T U R A S E M H E B R E U S
1. A teologia da revelação em Hebreus  15
2. As fórmulas introdutórias em Hebreus  25
3. A historicidade do Antigo Testamento em Hebreus  31
4. A solidariedade corporativa em Hebreus  39

S e ç ã o 2 — A I N T E R P R E T A ÇÃO D O A N T I G O T E S T A M E N T O E M H E B R E U S
5. A dupla autoria  47
6. O sensus plenior  53
7. A tipologia  63
8. A (des)continuidade entre o Antigo Testamento
e o Novo Testamento  69
9. Os usos do Antigo Testamento em Hebreus  79

Conclusão  83
Citações do Antigo Testamento em Hebreus  87
Bibliografia  127
Sombras de Cristo

Abreviaturas

AT Antigo Testamento
ARA Bíblia Almeida Revista e Atualizada
AUSDDS Andrews University Seminary Doctoral Dissertation Series
BSac Bibliotheca Sacra
BTCP Biblical Theology for Christian Proclamation
CBR Currents in Biblical Research
CJT Canadian Journal of Theology
IBS Irish Biblical Studies
JBL Journal of Biblical Literature
JETS Journal of The Evangelical Theological Society
LXX Septuaginta
NA28 Novum Testamentum Graece (ed. Nestle-Aland), 28ª ed.
NICNT New International Commentary on the New Testament
NT Novo Testamento
NTS New Testament Studies
PNTC Pillar New Testament Commentary
ScrBul Scripture Bulletin
SEvang Studia Evangelica
SHS Scripture and Hermeneutics Series
SNTSMS Society for New Testament Studies Monograph Series
TM Texto Massorético
TynBul Tyndale Bulletin
WTJ Westminster Theological Journal

6


INTRODUÇÃO

No campo dos estudos bíblicos, a importância da relação entre


o Antigo Testamento (AT) e o Novo Testamento (NT) dificil-
mente pode ser subestimada. Não é preciso ser um leitor cuida-
doso do NT para perceber que ele está cheio de citações do AT e
alusões a ele. Embora o número exato seja um ponto de debate,
os estudiosos estimam cerca de 295 citações do AT1 no NT. Isso
significa que “um a cada 22,5 versículos do Novo Testamento é
uma citação”.2 A contagem de alusões3 ao AT varia em torno de
600 a 1.650,4 dependendo do estudioso e de sua definição precisa.
Possíveis ecos5 são de um número ainda maior, mas os ecos são
difíceis de definir e discernir. Portanto, um estudo cuidadoso do
NT é impossível sem o estudo do uso do AT pelos seus autores,

1. “Uma citação é uma menção direta de uma passagem do AT que é facilmente reconhecível por seu
paralelismo verbal claro e único. Muitas dessas citações são introduzidas por uma fórmula. Outras citações
sem tais indicações introdutórias são tão obviamente paralelas a um texto do AT, que claramente uma citação
é feita (por exemplo, veja Gl 3.6; Ef 6.3)” (G. K. Beale, Handbook on the New Testament Use of the Old Testament:
Exegesis and Interpretation [Grand Rapids: Baker Academic, 2012], p. 29).
2. Roger Nicole, “The New Testament Use of the Old Testament”, em The Right Doctrine from the Wrong
Texts?: Essays on the Use of the Old Testament in the New, G. K. Beale, ed. (Grand Rapids: Baker Academic,
1994), p. 13.
3. “Uma ‘alusão’ pode simplesmente ser definida como uma breve expressão conscientemente preten-
dida por um autor para ser dependente de uma passagem do AT” (ibid., p. 31). Como uma alusão é mais
difícil de definir e identificar objetivamente, o número de alusões varia muito de um estudioso para outro.
4. Ver Ibid.
5. “Um eco é uma alusão possivelmente dependente de um texto do AT, em distinção a uma referência
que é clara ou provavelmente dependente” (ibid., p. 32).

7
Sombras de Cristo

uma vez que os autores do NT pressupõem, constroem e veem


sua mensagem como o cumprimento do AT.
Tem havido um crescente interesse no estudo do uso do
AT no NT nas últimas décadas.6 Nessa área de estudo, o livro de
Hebreus é de particular interesse. Como Cockerill conclui corre-
tamente, “[o] Antigo Testamento é o ‘osso e a medula’ de Hebreus.
Do começo ao fim, esse livro é um ‘sermão’ expositivo que se
baseia na interpretação cuidadosa do AT.”7 Portanto, “[com] boas
razões, o livro recentemente foi chamado de a ‘Cinderela’ dos
estudos do NT,8 mas seu astuto estudioso criou o que pode ser
chamado de ‘Rainha’ quando se trata do uso do AT no NT.”9 De
forma abundante e ampla, o livro de Hebreus cita o AT, alude a ele
e o ecoa.10 Ele cita pelo menos 11 livros do AT11 — do Pentateuco
aos livros históricos, dos profetas (tanto maiores quanto meno-
res) à literatura sapiencial. É nesse livro que se encontra a citação
mais longa do AT no NT (Hb 8.8-12, citando Jr 31.31-33). De par-
ticular interesse é o uso do livro dos Salmos, que corresponde a
quase metade das citações encontradas na Epístola aos Hebreus.
Além disso, Hebreus é de particular interesse não apenas pela
extensão de seu uso do AT, mas também porque o livro é único
em seu uso do AT quando comparado com outros escritos do NT.
6. Longenecker diz que “um indicador um tanto mecânico do interesse crescente e da produção acadê-
mica em rápido crescimento nesse campo de estudo é o fato de que, das aproximadamente 530 entradas em
nossa atual ‘Bibliografia Selecionada’, mais de um terço delas (cerca de 186, contadas de fato) foram publicadas
desde 1975, estando muitos estudos significativos inclusos nesse número” (Richard N. Longenecker, Biblical
Exegesis in the Apostolic Period, 2ª ed. [Vancouver: Regent College Pub, 1999], p. xiii).
7. Gareth Lee Cockerill, The Epistle to the Hebrews, NICNT (Grand Rapids: Eerdmans, 2012), p. 41. Essa
expressão também é usada por Guthrie (artigo de 2003).
8. J. C. McCullough, “Hebrews in Recent Scholarship”, IBS 16 (1994): 66.
9. George H. Guthrie, “Hebrews”, em Commentary on the New Testament Use of the Old Testament, G. K.
Beale & D. A. Carson, eds. (Grand Rapids: Baker Academic, 2007), p. 919.
10. Por exemplo, Guthrie conta “37 citações, 40 alusões, 19 casos em que o material do AT é resumido
e 13 em que um nome ou tópico do AT é referido” (ibid., p. 919).
11. A contagem exata dependerá da determinação do que deve ser considerado uma citação. Na minha
contagem, a Epístola aos Hebreus cita 11 livros do AT. Veja o Apêndice abaixo para uma lista completa de
citações do AT em Hebreus.

8
Introdução

Se a maioria dos autores do NT cita apenas pequenas porções do


AT (um ou dois versículos), “a exposição extensa dos textos bíbli-
cos é uma característica da Carta aos Hebreus de uma forma que
não é verdadeira em nenhum outro escrito do Novo Testamen-
to.”12 O autor de Hebreus oferece “uma analogia mais próxima da
pregação expositiva moderna do que o restante do NT”,13 uma
vez que, “mais do que qualquer outro livro do NT, Hebreus, do
começo ao fim, prega o AT.”14 Por essas razões, não é difícil reco-
nhecer o lugar importante que a Epístola aos Hebreus ocupa no
estudo do uso do AT no NT.
Embora o uso do AT na Epístola aos Hebreus tenha sido
objeto de extenso estudo,15 isso não resultou, como é comum
nos meios acadêmicos, em conclusões definitivas. As disputas
são tantas, que, mesmo entre aqueles que têm uma visão elevada
das Escrituras, “nenhuma área hermenêutica gera mais discus-
são do que a relação entre os testamentos.”16 No tocante a isso, é

12. Richard Thomas France, “The Writer of Hebrews as a Biblical Expositor”, TynBul 47, n. 2 (1996), p. 272.
13. Ibid., p. 246.
14. George H. Guthrie, “Hebrews”, p. 923.
15. Entre os mais influentes, veja G. B. Caird, “The Exegetical Method of the Epistle to the Hebrews”, CJT
5/1: 44-51, 1959; M. Barth, “The Old Testament in Hebrews: An Essay in Biblical Hermeneutics”, Current Issues
in New Testament Interpretation: Essays in Honour of Otto A. Piper, W. Klassen & G. F. Snyder, eds. (Londres:
SCM Press, 1962), p. 53-78; A. T. Hanson, “Christ in the Old Testament According to Hebrews”, SEvang 2,
1964: 393-407; K. J. Thomas, “The Old Testament Citations in Hebrews”, NTS 11, 1964/65: 303-25; F. Schroger,
Der Verfasser des Hebraerbruefes als Schriftausleger (Regensburg: Pustet, 1968); J. C. McCullough, “The Old
Testament Quotations in Hebrews”, NTS 26, 1980: 363-79; D. F. Leschert, Hermeneutical Foundations of Hebrews:
A Study in the Validity of the Epistle’s Interpretation of Some Core Citations From the Psalms (Nova York: Edwin
Mellen Press, 1994); S. Motyer, “The Psalm Quotations of Hebrews 1: A Hermeneutic-Free Zone?”, TynBul
50.1 (1999): 3-32; G. H. Guthrie, “Hebrews’ Use of the Old Testament: Recent Trends in Research”, CBR 112
(2003): 271-94; Graham Hughes, Hebrews and Hermeneutics: The Epistle to the Hebrews as a New Testament
Example of Biblical Interpretation, SNTSMS, vol. 36 (Cambridge: Cambridge University Press, 2004).
16. Darrell L. Bock, “Evangelicals and the use of the Old Testament in the New: Part 1”, BSac 142, n. 567
(1985): 209-23. Para uma introdução às discussões sobre o uso do Antigo Testamento no Novo, veja Steve
Moyise, Jesus and Scripture: studying the New Testament use of the Old Testament (Grand Rapids: Baker Academic,
2011); Moyise, Paul and Scripture (Grand Rapids: Baker Academic, 2010); Moyise, The Old Testament in the
New: an introduction (Londres: Bloomsbury T & T Clark, 2015); Moyise, The later New Testament writings and
Scripture: the Old Testament in Acts, Hebrews, the Catholic Epistles and Revelation (Grand Rapids: Baker Academic,
2012). Ver também G. K. Beale, The Right Doctrine from the Wrong Texts?: Essays on the Use of the Old Testament
in the New (Grand Rapids: Baker Books, 1994); Kenneth Berding & Jonathan Lunde, eds., Three Views on the
New Testament use of the Old Testament (Grand Rapids: Zondervan, 2008).

9
Sombras de Cristo

importante observar que, como bem aponta Hughes, “a grande


maioria dos tratamentos desse tema em Hebreus não intentou
mais do que estudos ‘descritivos’, tais como do texto do Antigo
Testamento usado pelo autor ou de sua relação com outras esco-
las da tradição exegética de seu tempo (filônica, tanaítica ou de
Qumran).”17 Portanto, estou também convencido de que “a abor-
dagem mais frutífera pode não se dar por aqueles caminhos já
bem conhecidos, ou seja, pela análise das técnicas de exegese
empregadas, mas pelo exame das estruturas dentro das quais
sua teologia da revelação funciona e que lhe permitem alcançar
o que ele tem.”18
Em vista dos trabalhos já desenvolvidos acerca do estudo do
uso do AT na Epístola aos Hebreus, meu objetivo neste livro é
focalizar principalmente a teologia da revelação do autor. Estou
convencido de que a maioria dos estudiosos falha em abordar
os escritores do NT em seus próprios termos. Em vez de partir
de nosso ponto de vista contemporâneo e de nossas preocupa-
ções modernas, os estudiosos deveriam deixar que os autores
primeiro estabelecessem os termos de sua própria estrutura her-
menêutica. Parece-me que, em grande parte dos trabalhos acadê-
micos, há uma tendência de impor expectativas contemporâneas
ou as últimas tendências no campo de estudo e buscar adequar
o autor a esses termos preconcebidos. Parece haver uma certa
reconstrução histórica descontrolada, impulsionada pela última
tendência no campo, que leva a uma espécie de “paralelomania”
entre os autores bíblicos e outras escolas de pensamento. Ter-
mos como “filônico”, “pesher”, “midráshico” e outros tipos de
escolas de interpretação são usados quase levianamente, como
17. Graham Hughes, Hebrews and Hermeneutics, p. 157.
18. Ibid., p. 35.

10
Introdução

se pudessem encapsular tudo o que há para dizer sobre o uso do


AT pelos autores do NT.
Uma vez que a maior parte do trabalho acadêmico tem se
concentrado no uso textual do AT ou na comparação com outras
escolas de interpretação do judaísmo do Segundo Templo, con-
centrar-me-ei, em vez disso, na teologia da revelação do autor de
Hebreus (principalmente com base em Hb 1.1-4) no capítulo 1
deste livro. Em seguida, no capítulo 2, lidarei com as fórmulas que
introduzem as citações do AT em Hebreus, as quais são muito
reveladoras quanto à maneira como o autor se relacionava com
as Escrituras do AT.
Então, no capítulo 3, este estudo lidará com a posição do
autor de Hebreus sobre a historicidade dos textos do AT e, em
seguida, no capítulo 4, com o conceito de solidariedade corpo-
rativa desenvolvido em Hebreus. Finalmente, apresentarei uma
rápida visão geral das várias maneiras como o AT é usado pelo
autor de Hebreus.
Com base nas conclusões que forem feitas até esse ponto, este
livro se aventurará por algumas das questões do uso do AT no NT,
a saber, a dupla autoria do AT (capítulo 5), o conceito de sensus
plenior (capítulo 6) e a tipologia (capítulo 7). Por fim, este traba-
lho interagirá com algumas das abordagens sobre a questão do
uso do AT no NT, lidando mais extensamente com a chamada
escola hermenêutica judaica (capítulo 8), e delineará quais são
os diferentes usos que o AT possui em Hebreus (capítulo 9).19
Espero que esta obra coopere para lançar um pouco de luz sobre
algumas questões que tem deixado o povo evangélico confuso:

19. Ver Darrell L. Bock, “Evangelicals and the use of the Old Testament in the New: Part 1”, p. 209-
23. Ver também Bock, “Evangelicals and the use of the Old Testament in the New: Part 2”, BSac 142, n. 568
(1985): 306-19.

11
Sombras de Cristo

a Bíblia, de fato, é inerrante em tudo, até mesmo no método exe-


gético que nos apresenta? Em outras palavras, podemos seguir a
maneira como os autores do NT interpretavam o AT? Buscarei
argumentar que não apenas podemos imitar-lhes a exegese, mas
que devemos fazê-lo. A Bíblia é autoritativa e inerrante em todo
assunto que toca, inclusive no método de interpretação da pró-
pria Bíblia. A Escritura interpreta a si mesma.

Tiago Oliveira
Agosto de 2023
Lisboa, Portugal

12
S E Ç Ã O 1

U M A A LTA
V I S Ã O DA S
ESCRITUR A S
EM HEBREUS
A teologia da revelação em Hebreus

CAPÍTULO 1

A teologia da revelação
em Hebreus

“Às vezes precisamos nos lembrar de que os autores do NT não


teriam entendido o AT com relação a qualquer das ortodoxias
histórico-críticas dominantes do último século e meio.”1 Creio
que muitos concordariam com esse aviso. No entanto, pare-
ce-me que o reconhecimento de que os autores do NT não são
homens modernos e não seguiram as ortodoxias acadêmicas de
nosso tempo frequentemente carrega mais do que uma conota-
ção temporal. Quando os estudiosos mencionam o fato de que
os escritores do Novo Testamento eram homens de seu próprio
tempo, geralmente transmitem mais o sentimento de condes-
cendência, uma espécie de compaixão pelo que é inferior. Estu-
diosos modernos reconhecem a necessidade de se entenderem
os autores do NT em seus próprios termos (buscando identifi-
car seus próprios princípios hermenêuticos); porém, parece-me
que, muitas vezes, esse reconhecimento é acompanhado pela
expectativa de que haja algum tipo de interpretação imprópria e
1. G. K. Beale & D. A. Carson, “Introduction”, em Commentary on the New Testament Use of the Old
Testament, G. K. Beale & D. A. Carson, eds. (Grand Rapids: Baker Academic, 2007), p. xxviii.

15
Sombras de Cristo

descontextualizada dos textos do AT por parte dos escritores do


NT. O que quero dizer é que a erudição moderna não deve tratar
os escritores do Novo Testamento de maneira condescendente,
correndo o risco de interpretar mal o significado do texto e sua
estrutura hermenêutica.
Essa abordagem é comum especialmente quando os autores
do NT usam o AT de maneira menos direta, isto é, quando o sig-
nificado que atribuem ao texto do AT não é evidente de imediato.
Os estudiosos devem ter cuidado para evitar deturpações, mesmo
que aqueles que deturpamos já tenham falecido há muito tempo.
Não se deve presumir a incompetência de um autor simplesmente
porque ele não segue um arcabouço hermenêutico moderno na
leitura de outro texto. Ironicamente, foram os estudiosos moder-
nos que se mostraram incompetentes para entender os métodos
dos autores bíblicos. Não faz muito tempo que os estudiosos con-
cluíram que o uso que o livro de Hebreus faz do AT era apenas
um reflexo das escolas filônicas de interpretação. Os métodos
dos autores bíblicos podem ser estudados e questionados, mas
tal escrutínio só deve ocorrer quando os autores do NT puderem
falar em seus próprios termos.
Não é preciso ler muito para encontrar afirmações explícitas
sobre a teologia da revelação do autor de Hebreus. O chamado
prólogo da Epístola aos Hebreus revela aquilo em que o autor
acredita sobre a revelação de Deus no tempo. O prólogo é de tal
importância, que se pode dizer que o restante da carta é a apli-
cação e o desdobramento das principais verdades e princípios
expostos nos seus quatro primeiros versículos. Hebreus começa
com duas pressuposições: primeiro, existe um Deus; segundo,
Deus fala — ele revela a si mesmo e a seus planos. Essas duas ver-
dades simples são o fundamento de toda a epístola. Porque existe

16
A teologia da revelação em Hebreus

um Deus que fala, suas palavras devem ser ouvidas e compreendi-


das. Essas verdades afirmadas no prólogo têm grande repercussão
para o propósito do presente livro.
O autor de Hebreus pressupõe um Deus que se revela de
forma sobrenatural. O sobrenatural não está explícito, mas implí-
cito no texto, pois o autor afirma o AT como a revelação de Deus
feita pelos profetas (porta-vozes de Deus). O autor de Hebreus
não apenas sustenta a existência de Deus e sua revelação, mas
também sua soberania sobre a história. O que está registrado no
AT é a revelação que Deus faz de si mesmo e de suas obras. Isso é
visto no fato de que o que torna o Filho único em sua revelação
é o fato de ele ser “o resplendor de sua glória e a representação
exata de sua natureza” (1.3). O que Deus falou pelos profetas e
está registrado no AT é a revelação que Deus faz de si mesmo
na história, na qual ele é o Senhor que cria e sustenta. Como
será desenvolvido a seguir, o autor dessa epístola lê e interpreta
o AT como a revelação sobrenatural de Deus ao longo da histó-
ria. Assim, o AT pode ser chamado apropriadamente de história
redentiva, visto que o AT é a história da revelação progressiva que
Deus faz de si mesmo e de sua obra redentiva.
A respeito da revelação de Deus, observamos algo peculiar na
Epístola aos Hebreus. Há uma abundância de citações em que a
fórmula introdutória apresenta as palavras como faladas, e não
como escritas. Esse fato não significa que o autor de Hebreus
dependa principalmente da tradição oral em seu uso do AT.
O autor está bem ciente de que as palavras foram escritas. Em
geral, aceita-se que o texto escrito do AT é de grande importân-
cia para o autor de Hebreus. Isso não está em questão aqui. Basta
estudar o uso textual da citação do AT em Hebreus para con-
cluir a importância que a tradução escrita grega teve para o autor

17
Sombras de Cristo

e seus leitores. Todavia, o fato de o autor preferir referir-se aos


textos como palavras que foram ou são ditas tem um significado
teológico, que indica também as suas convicções e abordagem
hermenêutica (veracidade, confiabilidade, pertinência…). Logo,
“há uma grande suposição: Jesus e os apóstolos acreditavam que
as Escrituras do AT eram ‘sagradas’ e eram a Palavra de Deus.
Portanto, toda discussão teológica autoritativa tinha de se basear
nesse sagrado corpo de literatura e proceder dele.”2
Outra importante pressuposição fundamental em Hebreus
inclui tanto as continuidades quanto as descontinuidades na reve-
lação de Deus. Primeiro, há continuidades. O Deus que falou no
passado é o mesmo que fala no presente. Além disso, a mensagem
anunciada pelos profetas aos pais no passado é a mesma mensa-
gem que Deus fala no presente. Esse aspecto da continuidade será
desdobrado ao longo da epístola. O autor de Hebreus acredita
que os textos do AT são a verdade revelada de Deus, de maneira
que carregam uma autoridade permanente e universal. Os tex-
tos do AT permanecem verdadeiros e relevantes para a situação
contemporânea do autor. Logo, deve-se ressalvar, como afirmado
acima, que o autor lê os textos do AT como sagrados.
Segundo, há descontinuidades na revelação de Deus. O autor
apresenta dois contrastes principais — um de tempo e outro de
forma. Primeiro, há um contraste de tempo: “há muito tempo”
(1.1) e “nestes últimos dias” (1.2). Em segundo lugar, há um con-
traste de forma: “muitas vezes e de muitas maneiras […] pelos
profetas” (1.1) e “pelo seu Filho” (1.2). Embora não esteja explícita,
a diversidade de tempos e formas do passado é contrastada com o
tempo singular e a forma como Deus se revelou nos últimos dias.

2. G. K. Beale, Handbook on the New Testament Use of the Old Testament, p. 95-96.

18
A teologia da revelação em Hebreus

Essa diversidade contraposta à singularidade é sintetizada pelo


contraste entre os profetas e o Filho. “A revelação na era anterior
foi diversa e parcial, mas a revelação no Filho é unitária e defini-
tiva.”3 O Filho é melhor e único tanto por sua pessoa quanto por
sua obra. “Ele é o resplendor da sua glória [de Deus] e a represen-
tação exata da sua natureza” (1.3). Quanto a suas obras, primeiro,
o Filho é aquele por meio de quem Deus fez o mundo, o que o
coloca numa posição única, tanto na afirmação de sua preexistên-
cia quanto na de cocriador com Deus. Em segundo lugar, o Filho
não estava apenas envolvido na criação do mundo; ele também
é aquele que “sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder”
(1.3). Em terceiro lugar, o Filho é aquele por quem Deus realiza
todos os seus planos salvíficos, aquele que “fez a purificação dos
pecados” (1.3). Finalmente, o Filho é o herdeiro de todas as coisas,
aquele que “se assentou à direita da Majestade nas alturas” (1.3).
Tanto a divindade quanto a humanidade do Filho são afirmadas
no prólogo. Ele é único em sua pessoa. Hebreus apresenta esse
paradoxo de que o Filho é aquele que “foi feito herdeiro daquilo
que ele, como agente de Deus, criou.”4
Esse paradoxo é visto no cristianismo primitivo e explica as
razões pelas quais o Salmo 110 é o capítulo do AT mais citado no
NT. Esse salmo foi utilizado pelo próprio Jesus para questionar
os fariseus: “Se, pois, Davi o chama Senhor, como é ele seu filho?”
(Mt 22.45). Para o autor de Hebreus, o Filho é Deus e homem, e
suas duas naturezas são essenciais para a obra redentora de Deus.
Sua humanidade é indispensável para a purificação dos pecados,

3. Thomas R. Schreiner, Commentary on Hebrews, BTCP, vol. 36 (Nashville: B&H Publishing Group,
2015), p. 54.
4. Harold W. Attridge, The Epistle to the Hebrews: A Commentary on the Epistle to the Hebrews, Hermeneia,
vol. 58 (Filadélfia: Fortress Press, 1989), p. 41.

19
Sombras de Cristo

em seu papel de sumo sacerdote (1.3; cf. 2.17-18; 4.14-16).5 Sua


divindade o coloca em pé de igualdade com Deus quanto ao
status, tempo, poder e função. O Filho está acima dos anjos (1.4
ss.), é preexistente e criador do mundo (1.2; cf. Jo 1.1, 3; Cl 1.16),
sustenta o universo (1.3; cf. Cl 1.17), é o herdeiro de todas as coi-
sas (1.2; cf. Mt 28.18) e é a revelação perfeita de Deus (1.3; Jo 1.18;
14.9; Cl 1.15).
Devemos notar que o contraste entre a revelação de Deus dada
pelos profetas antigos e aquela efetuada pelo Filho não é nega-
tivo. O autor de Hebreus não diz que os profetas antigos eram
maus, enquanto o Filho é bom. Em vez disso, seu foco princi-
pal, como será desenvolvido ao longo da carta, é a superioridade
do Filho. Assim como se lê no capítulo 3, Moisés foi fiel na casa
de Deus (3.5), mas Jesus é um Moisés melhor, porque “Cristo
é fiel sobre a casa de Deus como um Filho” (3.6). Nessa epís-
tola, o autor apresenta Cristo como a revelação perfeita e defini-
tiva de Deus, contrastando com a revelação de Deus no passado,
mas, ao mesmo tempo, dando-lhe continuidade. Desse modo,
o contraste entre os profetas e o Filho no prólogo se move do
bom para o melhor, do velado para o claro, do incompleto para
o completo, do insuficiente para o perfeito. Trata-se de uma rela-
ção de promessa-cumprimento, antecipação-culminação. Como
observa Longenecker, “enquanto não há o uso do termo ‘cum-
primento’, o conceito de cumprimento — ou, mais apropriada-
mente, de ‘consumação’ — é claramente inerente a tal afirmação.
A carta inteira, de fato, é estruturada de acordo com um motivo
de ‘antecipação-consumação’.”6

5. Como Attridge aponta, “embora a terminologia do sumo sacerdote e a referência explícita à cruz este-
jam ausentes aqui, uma característica essencial da obra sacerdotal de Cristo é esboçada neste lugar” (ibid., p. 45).
6. Longenecker, Biblical Exegesis in the Apostolic Period, p. 155.

20
A teologia da revelação em Hebreus

O tema do cumprimento de promessas, tendo Jesus como a


consumação de todas as promessas de Deus e da obra históri-
co-redentiva, é visto ao longo do livro. No prólogo, Jesus é apre-
sentado como a revelação perfeita e final. O Filho é o cumpri-
mento de todas as promessas e expectativas de Deus no passado.
Isso também pode ser visto pelo uso da expressão “nestes últimos
dias” (ἐπ’ ἐσχάτου τῶν ἡμερῶν τούτων; cf. Gn 49.1; Nm 24.14;
Dt 4.30; Is 2.2; Jr 23.20). Os últimos dias representam o ponto
culminante e o cumprimento das promessas de Deus a seu povo,
e o autor da Epístola aos Hebreus mostra que esse ponto culmi-
nante ocorreu na pessoa do Filho. Essa perspectiva escatológica
e a centralidade do Filho são fundamentais para a epístola e para
o uso feito do AT pelo autor, além de, em outras partes do NT,
representarem uma crença compartilhada (1Co 10.11).
Assim, “fundamental para suas exposições [do autor de
Hebreus] é a convicção, tão memoravelmente estabelecida na
abertura da carta, de que Deus falou sua última e perfeita palavra
em Jesus, bem como de que tudo o que foi escrito no Antigo Tes-
tamento deve ser entendido em relação ao seu cumprimento no
Filho.”7 Na perspectiva do autor sobre a revelação de Deus, tanto
em suas continuidades quanto em suas descontinuidades, há
uma progressão, que é um dos pressupostos hermenêuticos que
vemos em Hebreus. Como a revelação perfeita e final de Deus
para a humanidade, Deus tem sua última palavra para a humani-
dade na pessoa do Filho, que representa Deus perfeitamente em
sua pessoa e obras. Em última análise, toda a revelação de Deus
ao longo do tempo encontra sua referência perfeita e última no
Filho. Contudo, essa revelação presente, perfeita e última também

7. Richard Thomas France, “The Writer of Hebrews as a Biblical Expositor”, p. 268.

21
Sombras de Cristo

implica, como foi mencionado acima, que aquilo que a precedeu


foi incompleto e antecipado. O autor de Hebreus vê o AT como
preparatório e progressivo em sua revelação. O AT contém tipos,
sombras e cópias da realidade (8.5; 9.23-24). A mensagem é a
mesma; os tipos, sombras e cópias são uma representação da
realidade, mas não são tão claras como a própria realidade. As
repercussões na forma como o autor dessa epístola interpreta o
AT são significativas para a discussão atual sobre tipologia.
No tocante a isso, também é importante observar que o autor
de Hebreus refere que a revelação de Deus no passado foi feita
“pelos profetas” (1.1). Hoje em dia, quando se fala de profetas, os
principais referentes que se têm em mente são certas pessoas (que
chamamos de profetas, como Elias e Eliseu) ou certos livros do
AT (profetas maiores e menores). No entanto, em Hebreus, o
AT pode ser propriamente chamado de profético em sua natureza,
assim como todos os seus autores podem ser designados como
profetas. Como porta-vozes de Deus, eles eram o instrumento de
Deus para registrar a revelação do próprio Deus. Essa revelação foi
dada muitas vezes e de muitas maneiras, mas tudo contribuiu para
a revelação progressiva de Deus. Visto que o AT possuía natureza
antecipatória, o autor de Hebreus entende que todo esse conjunto
de textos se cumpriu em Cristo. O que foi previsto no passado é
consumado hoje. Logo, o NT não apenas cumpre as previsões
explícitas feitas no passado, mas, em vez disso, o AT encontra seu
significado último, fim e consumação na pessoa e na obra de Cristo.
Portanto, “Hebreus aplicou a Cristo passagens como 2 Samuel 7.14
(Hb 1.5), Salmo 45.6ss. (Hb 1.8ss.), Salmo 22.22 (Hb 2.12) e Salmo
40.6-8 (Hb 10.5-7), como se fossem referências diretas a ele.”8
8. Leonhard Goppelt, Typos: The Typological Interpretation of the Old Testament in the New (Grand Rapids:
Eerdmans, 1982), p. 162.

22
A teologia da revelação em Hebreus

Nesse ponto, os leitores modernos devem evitar qualquer tipo


de desdém quanto à forma como o autor de Hebreus interpreta o
AT. A principal diferença entre a maneira como o autor lê e inter-
preta o AT e o método histórico-crítico moderno de interpretação
não deve ser vista como um contraste entre a velha maneira ina-
dequada e uma abordagem hermenêutica moderna e iluminada.
As principais diferenças entre o autor do NT e o método históri-
co-crítico residem na cosmovisão e na pressuposição acerca dos
textos do AT. Uma vez que entendemos aquilo em que o autor
de Hebreus acredita sobre revelação e história, “isso nos permite
sentir […] que o AT não contém simplesmente profecias, mas é
uma vasta profecia.”9 O AT olha para o futuro, antecipa-o. Nunca
há uma sensação de encerramento no desenvolvimento da histó-
ria. Pelo contrário, a tensão, a frustração e a expectativa crescem à
medida que a história se desenvolve. As promessas de Deus nunca
são totalmente cumpridas. Houve descanso nos tempos de Josué
( Js 11.23; 14.15), mas não um descanso final (Hb 4.8). Moisés foi
fiel, mas apenas um servo (3.5). Os sacerdotes eram designados e
agiam em nome de Deus, mas também precisavam sacrificar por
si mesmos (5.1-3). Os sacrifícios foram designados por Deus e for-
neciam algum nível de santificação (9.13); contudo, não podiam
purificar a consciência (9.9, 14). No AT, há uma crescente frustra-
ção com os pecados de Israel (e Judá) e uma crescente expectativa
de uma salvação que somente Javé pode alcançar. A Queda e suas
consequências nunca são totalmente tratadas.
Assim, à luz da revelação progressiva de Deus, a qual encontra
sua consumação na pessoa e obra de Cristo, o autor de Hebreus é
capaz de extrair seus ensinamentos sobre Cristo do AT em geral,

9. Brooke Foss Westcott, The Epistle to the Hebrews, 3ª ed. (Londres: Macmillan, 1903), p. 493.

23
Sombras de Cristo

e não apenas daqueles textos que parecem ser explicitamente


proféticos. “Com as exceções de 2 Samuel 7.14, Deuteronômio
32.43 (Septuaginta) e Isaías 8.17-18, todos considerados profecias
messiânicas diretas, as porções bíblicas usadas para explicar a
natureza da pessoa de Cristo são extraídas inteiramente dos Sal-
mos.”10 O livro dos Salmos ocupa um lugar especial na mente e
na argumentação do autor, o que torna o livro dos Salmos o mais
citado em Hebreus.11

10. Longenecker, Biblical Exegesis in the Apostolic Period, p. 149.


11. Lista das citações do livro dos Salmos em Hebreus: 1.5a; 5.5b (Sl 2.7b); 1.7b (Sl 104.4); 1.8-9 (Sl 45.7-8);
1.10-12 (Sl 102.26-28); 1.13b (Sl 110.1b); 2.6-8a (Sl 8.5-7); 2.12 (Sl 21.23); 3.15; 4.3, 5, 7 (Sl 95.7b-11); 5.6b; 7.21b (Sl
110.4b); 10.5-7 (Sl 40.7-9a); 10.5-7 (Sl 40.7-9a). Veja o Apêndice para uma análise mais longa dessas citações.

24
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