Laboratório nefro
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O paciente renal crônico apresenta menor produção de creatinina do que o indivíduo normal,
por ingerir menor quantidade de proteínas na dieta e por perda de massa muscular.
Valor de creatinina dentro da faixa de referência não corresponde necessariamente a uma taxa
de filtração glomerular normal, para maior precisão utilizar a determinação de Clearance de
creatinina, ou cálculo pela fórmula CKD Epi
A medida da densidade urinária tem a finalidade de avaliar a capacidade dos rins em manter,
dentro de limites adequados, o equilíbrio hídrico (água) do organismo, ou seja, dá uma ideia da
relação entre a quantidade de solutos (principalmente o sódio) e o volume de água eliminados
pelos rins.
A densidade urinária é um parâmetro impreciso uma vez que é influenciada não só pelo
número de partículas, mas também, pelo seu tamanho, a densidade sofre influência da
presença de proteínas e de glicose. A concentração de solutos na urina é mais bem avaliada
pela medida da osmolalidade/osmolaridade, que depende exclusivamente do número de
partículas de íons (Na+).
Ressalvadas as interferências citadas, a fórmula a seguir pode ser utilizada para estimar a
osmolaridade a partir do valor da densidade: Osmolaridade=(densidade-1,000) x40. Deve ser
coletada a primeira urina da manhã que geralmente é mais concentrada. A densidade pode
indicar o estado de hidratação ou anormalidades na liberação do hormônio antidiurético (ADH).
O valor de referência da densidade é de 1,018 +- 0,003. A densidade urinária depende do
equilíbrio entre a ingestão e as perdas hídricas. A administração de grandes volumes de água
provoca densidades tão baixas como 1,003, enquanto a restrição hídrica ou as perdas de água
extra-renais acentuadas podem proporcionar densidades de 1,030 a 1,040. Lembrando que a
densidade da água pura é 1,000
Estados febris e atividade física intensa podem elevar a proteinúria fisiológica à custa de
proteínas de origem plasmática.
Glicose: em condições normais toda a glicose filtrada pelos glomérulos é reabsorvida no túbulo
contornado proximal, fazendo com que a pesquisa de glicose na urina seja negativa. A
reabsorção se faz por transporte ativo, ou seja, consome energia, e possibilita a recuperação
de grande quantidade de glicose. O nível de glicemia suficientemente elevado para superar a
capacidade de reabsorção tubular é chamado limiar renal, no individuo normal, está entre 160
e 180 mg/dl e depende, fundamentalmente, da integridade da função tubular. Esse conceito é
importante para a compreensão de algumas condições nas quais ocorre glicosúria na ausência
de hiperglicemia.
Bilirrubinas e urobilinogênio: habitualmente a vida média das hemácias é de 120 dias, sendo
que, após esse período, são retirados da circulação pelo sistema retículo-endotelial,
principalmente no baço e na medula óssea, liberando para a circulação hemoglobina, esta por
sua vez é metabolizada sendo decomposta em três componentes: ferro, protoporfirina e
globina. O ferro se liga a proteínas transportadoras específicas, sendo quase totalmente
reutilizado. A globina volta para o “pool” de aminoácidos sendo reaproveitada pelo organismo. A
protoporfirina é convertida em bilirrubina indireta que por sua vez é captada pelas células
hepáticas, onde sofre conjugação com ácido glicurônico e transformando-se em bilirrubina
direta. A bilirrubina direta é excretada pelas vias biliares, chegando ao intestino, local onde, por
ação bacteriana da flora intestinal, é metabolizada em estercobilinogênio e urobilinogênio,
estes são oxidados resultando em estercobilina e urobilina. Aproximadamente 50% do
urobilinogênio são reabsorvidos pela circulação êntero-hepática e reexcretados pelo fígado,
mas pequena quantidade é excretada pelos rins. Doenças que afetem significativamente a
quantidade de bilirrubina ofertada ao intestino poderão causar variações na concentração de
bilirrubina e de urobilinogênio urinários. Resumidamente, existem dois grupos de doenças que
podem provocar alterações na excreção urinária de bilirrubina e de urobilinogênio:
1-Doença hepática: nas obstruções biliares, colestases, cálculos biliares obstrutivos, a
bilirrubina direta não é excretada e reflui para o sangue. Como a bilirrubina direta é solúvel no
plasma e, portanto, filtrada pelos glomérulos renais, à medida que a concentração aumenta no
sangue, ocorre aumento da excreção renal (↑bilirrubina direta no exame de urina I). como, pelo
processo obstrutivo, a bilirrubina direta não chega no intestino, a produção de urobilinogênio é
reduzida e a pesquisa na urina pode se revelar negativa.
Esterase leucocitária: O citoplasma dos leucócitos granulócitos (neutrófilos) possui uma enzima
denominada esterase, essa enzima é liberada para a urina durante o processo de degeneração
leucocitária principalmente dos neutrófilos, e sua detecção pode ser utilizada para caracterizar
a ocorrência de leucocitúria. Toda vez que esta enzima estiver presente na urina deve-se
realizar o exame microscópico do sedimento urinário para realizar a quantificação dos
leucócitos.
Nitritos: Esse teste urinário detecta a presença de nitritos produzidos pela redução de nitratos,
derivados da nossa alimentação, por bactérias presentes na urina, constituindo-se em um
recurso indireto para a detecção de bacteriúria. Bactérias Gram-negativas são capazes de
reduzir nitratos a nitritos, mas a maioria das Gram-positivas não apresenta tal capacidade. O
teste é sensível quando a quantidade de bactérias é de >= 10⁵/ml de urina
Análise morfológica das células presentes na urina: são elas: células epiteliais, leucócitos,
hemácias, cilindros, cristais, bactérias e fungos. Em relação as células epiteliais pouca atenção
é dispensada uma vez que raramente refletem alguma doença.
As infecções do trato urinário alto, como a pielonefrite aguda, estão associadas especialmente
a neutrófilos, microrganismos e, às vezes, a cilindros leucocitários. A pielonefrite geralmente
está associada a proteinúria moderada, enquanto infecções do trato urinário baixo tendem a ter
proteinúria discreta ou mínima.
A doença calculosa, em qualquer local da via urinária, pode aumentar o número de leucócitos
na urina, seja devido à infecção ascendente, facilitada pela alteração do fluxo e pela estase
urinária, como pela resposta inflamatória local da mucosa. De forma semelhante, tumores de
bexiga também podem aumentar o número de leucócitos na urina.
A síndrome uretral aguda, em mulheres, é geralmente associada com piúria, causadas por
Chlamydia.
Em pacientes que usam cateter vesical de demora por curto período de tempo, a correlação de
leucocitúria com infecção urinária é menos comum do que nos pacientes não-cateterizados. A
maioria dos pacientes com infecção urinária associada ao uso de cateter vesical é
assintomática, e não apresentando febre, a leucocitúria não deve ser usada como único critério
para solicitação de urocultura. A urocultura é padrão-ouro para o diagnóstico de infecção
urinária. A presença de culturas positivas pode ocorrer em consequência de contaminação da
amostra de urina ou nos pacientes com bacteriúria assintomática. Nesses casos, a detecção de
leucocitúria é importante parâmetro para estabelecimento do diagnóstico, ajudando a
diferenciar infecção de contaminação. A ausência de resposta inflamatória constitui forte
evidência de que a infecção está ausente. A presença de piúria e bacteriúria, habitualmente,
sugere infecção verdadeira, sendo indicação para o tratamento do paciente com antibióticos,
mesmo na ausência de sinais clínicos
Eritrócitos (Hemácias): os eritrócitos são encontrados em pequeno número, variando de 3 a
10 por campo microscópico, até 10.000 por ml, para o exame quantitativo e até 10.000 por ml
para homens e até 13.000 por ml para as mulheres, por metodologia automatizada. Os
eritrócitos, quando na urina, podem manter a morfologia habitual como discos bicôncavos ou,
existindo grande diferença osmolar entre os meios interno e externo das células, podem
assumir forma de esferas, como acontece nas urinas muito diluídas ou podem sofrer
desidratação, com enrugamento da superfície celular, constituindo-se na morfologia descrita
como hemácias crenadas ocorrendo quando a concentração urinária estiver muito elevada em
relação ao meio interno do eritrócito. Em urinas muito diluídas com densidade entre 1,002 e
1,005, as hemácias podem se romper, liberando hemoglobina. NÃO confundir estas alterações
dos eritrócitos urinários, com hemácias dismórficas presentes nas lesões glomerulares como as
glomerulonefrite difusa aguda pós estreptocócica (GNDA), quase sempre acompanhadas de
algum grau de proteinúria, são portanto, caracteristicamente rotuladas como hematúria de
origem glomerular; enquanto os sangramentos decorrentes de agressões em níveis mais
distais das vias urinárias apresentariam eritrócitos eumórficos, como ocorre nas nefrolitíases,
infecções urinárias, hiperplasia prostática benigna, neoplasias renais. Hematúria, portanto, não
é uma doença mas um sinal de várias doenças
Cilindros: Cilindrúria é resultante da coagulação de proteínas no interior dos túbulos renais,
tomando a forma do túbulo renal onde é formado, tendo como suporte a proteína de Tamm-
Horsfall, secretada pelas células dos túbulos contornados distais. Os cilindros são estruturas
frágeis, podendo se desintegrar em urina muito diluída ou alcalina. Em relação ao conteúdo do
cilindro podem ser classificados em hialinos, celulares, granulosos, gordurosos e céreos.
Os leucócitos podem entrar na luz do túbulo renal provenientes do interstício renal, formando
os cilindros leucocitários, tais cilindros são observados em situações de inflamações
intersticiais e em doenças glomerulares. Os leucócitos podem ser incluídos em cilindros,
denominados cilindros leucocitários, geralmente são constituídos por molde de proteína que
apresenta neutrófilos no seu interior. Assim como os leucócitos (neutrófilos) se degeneram
rapidamente, na urina, principalmente na urina alcalina ou com baixa densidade, oque dificulta
o seu encontro.
Outros leucócitos, além dos neutrófilos, podem ser encontrados no sedimento urinário. A
eosinofilúria é bom indicador de nefrite intersticial aguda, que geralmente está associada a
hipersensibilidade a drogas e é ocasionalmente, observada nas infecções crônicas e
recorrentes do trato urinário.
Cristais de oxalato de cálcio: podem estar presentes na urina de indivíduos normais com dietas
ricas em alimento contendo ácido oxálico como tomate, maçã, laranja, chocolate, e também,
podem aparecer na doença renal crônica, intoxicação por drogas ou medicamentos.
Cristais de urato e ácido úrico: pode estar presente na nefropatia por gota.
Ureia: como marcador de função renal ainda é utilizada na prática clínica, principalmente por
especialistas não nefrologistas, é importante ressaltar os seus problemas como teste de função
renal. A ureia não é produzida constantemente durante o dia e a sua concentração sanguínea
pode variar com a ingestão proteica, sangramento gastrointestinal e o uso de alguns
medicamentos, como por exemplo, os corticosteroides. A ureia é parcialmente reabsorvida
após a filtração glomerular, e consequentemente, o seu valor subestima a TFG. A reabsorção
tubular será maior quando houver depleção da volemia como na Insuficiência cardíaca, e na
desidratação e menor quando houver expansão volêmica como na infusão de solução salina ou
na síndrome da antidiurese inapropriada (SIAD). Além disso, a produção de ureia pode diminuir
na vigência de condições, tais como a cirrose hepática e a desnutrição. O valor normal varia de
20-40 mg/dl.
Casos clínicos: