Aula 02
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MICROAGULHAMENTO COM
ASSOCIAÇÕES COSMÉTICAS
Mitose é o nome dado quando uma célula origina outras duas novas. Com
essa capacidade de mitose, as células do corpo podem ser classificadas em
diferentes grupos.
O primeiro são células lábeis, encontradas em tecidos que são renovados
e, por isso, essas células lábeis precisam realizar a mitose constantemente, um
exemplo são células dos tecidos epiteliais de revestimento. A epiderme é um
desses tecidos, sendo um epitélio escamoso estratificado que, em média, a cada
30 dias, está trocando todas as células que a constituem.
O segundo grupo de células são as quiescentes de tecidos considerados
estáveis. Essas células apresentam uma baixa capacidade proliferativa,
entretanto, mediante estímulos externos, como citocinas e fatores de
crescimento, podem se dividir e ajudar a formar um novo tecido. Um exemplo
dessas células são os fibroblastos do tecido conjuntivo.
No terceiro grupo, as células que não se dividem, ou permanentes, são
tão diferenciadas que não conseguem mais realizar a mitose, mesmo com
estímulos externos. Um exemplo são as células do tecido nervoso, os neurônios.
Ainda nos tecidos especializados, existem as células tronco adultas ou
somáticas, com a capacidade de sofrer mitose mais elevada. São encontradas
no tecido de forma dispersa, ou podem estar agrupadas. Elas servem para
auxiliar nos processos de reparo e regeneração tecidual, em caso de lesão.
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O primeiro conceito é a renovação celular, um tipo de regeneração, que
acontece normalmente, sem existir uma lesão propriamente dita. No caso da
epiderme, células da camada basal da epiderme vão se dividindo e se
diferenciando em corneócitos, para repor as células que estão se desprendendo
da camada córnea, por perderem as suas proteínas de adesão.
Quando acontece uma lesão na superfície da pele, como um corte ou uma
perfuração, inicia-se um processo de cura, que pode evoluir para uma
regeneração completa do tecido, em que ele tem a mesma anatomia e função
de antes, ou o processo de reparo pode originar uma cicatriz, na qual a anatomia
e função do tecido não são as mesmas de antes.
Dependendo do tipo de lesão, a cicatriz formada apresenta diferentes
formas. Se a lesão for de primeira intenção, pequena e limpa, a cicatriz que se
forma é bem pequena e fina. Já se for por segunda intenção, quando a ferida
inicial é grande e a destruição é mais elevada, a cicatriz formada é
desorganizada e mais visível.
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Entretanto, essa alta coesão, hidrofobicidade e apolaridade são empecilhos para
a permeação de ativos em cosméticos.
A indústria de cosméticos cria variadas estratégias para realizar a
absorção transepitelial, porém, é conhecido que apenas moléculas com menos
de 500 daltons (uma unidade de medida para massas atômicas) e com
propriedades hidrofóbicas e apolares conseguem permear a pele. Diferentes
técnicas para aumentar a permeabilidade tegumentar foram criadas para
moléculas maiores, mais hidrofílicas e com carga elétrica, sendo o
microagulhamento uma delas (Figura 1)
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em sua superfície, pela capacidade irritativa que eles podem apresentar em uma
pele lesionada.
Os cosméticos, além de conterem seus ativos, também possuem outros
compostos como corantes, conservantes (a classe dos parabenos), fragrâncias,
surfactantes, silicones, petrolatos, entre outras substâncias, que em uma pele
íntegra não causam malefício, porém, na pele lesionada podem desencadear
irritação, reações alérgicas e até queimaduras.
Em alguns países, como a Alemanha, o recomendado é a realização do
microagulhamento seco, ou seja, sem aplicação de um produto junto ao
microagulhamento. No Canadá, é recomendado utilizar somente o ácido
hialurônico associado ao microagulhamento. No Brasil, não existem regras para
quais produtos podem ou não ser aplicados, portanto, uma infinidade de
cosméticos é utilizada junto ao microagulhamento. Entretanto, é necessário ter
cautela, visto que alguns produtos com veículo à base de água, gel sérum e gel
creme são mais indicados do que outros. Todos os tamanhos de agulha
comercializados no país podem ser usados para o drug delivery, sendo o
comprimento da agulha que indica até qual camada esse produto consegue
permear.
3.1 Hemostasia
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colágeno, mudam de forma e secretam citocinas no local da ferida, estimulando
a agregação plaquetária e a formação de fibrina pela cascata de coagulação
(Figura 2).
As moléculas produzidas pelas plaquetas também têm a capacidade de
recrutar células do sistema imunológico e do tecido conjuntivo para o local da
injúria. O fator de crescimento derivado da plaqueta (PDGF, do inglês, platelet-
derived growth factor) recruta fibroblastos, estimula sua proliferação e os induz
a sintetizar componentes da MEC. O PDGF atua em sinergia com o fator
transformador beta (TGF-β, do inglês transforming growth factor beta), atraindo
neutrófilos e macrófagos ao local, dando início à próxima etapa, a fase
inflamatória.
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Chegando ao tecido lesionado, os neutrófilos produzem e liberam
espécies reativas para eliminar micro-organismos patogênicos invasores,
liberam metaloproteinases (MMPs) e elastase para degradar os componentes da
MEC danificados, realizam a fagocitose de células necrosadas e de bactérias e
secretam a interleucina 1 (IL-1) e o fator de necrose tumoral alfa (TNF – α, do
inglês tumor necrosis factor α), citocinas importantes para o estímulo de
fibroblastos e queratinócitos entrarem na próxima fase: a fase proliferativa.
Após 24 horas, os macrófagos começam a aumentar no tecido lesionado.
A habilidade de fagocitose deles é mais elevada quando comparada aos
neutrófilos, permitindo a essas células retirarem com mais facilidade os restos
celulares (inclusive neutrófilos que morreram por apoptose), partes de MEC
destruídas e fibrilas da coagulação. A remoção dessas estruturas no local
disponibiliza espaço para que uma nova matriz seja formada. A presença dos
macrófagos no tecido é um sinal para que, na próxima fase, seja iniciada a
proliferação celular. Os macrófagos secretam os fatores de crescimento, como
PDGF, TGF-β, TNF-α, IGF-1, IL-6, que estimulam essa proliferação.
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3.3 Fase proliferativa
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Células que não são mais necessárias ao tecido, como macrófagos,
miofibroblastos e algumas células endoteliais, entram em apoptose. As
estruturas entre a derme e a periderme são reestabelecidas.
Contudo, esse tecido, que sofre a remodelagem, não forma um tecido
igual ao anterior, ele acaba gerando um tecido cicatricial, que é anatomicamente
diferente e não apresenta uma função igual ao anterior, tendo menos força tênsil
e ausência de anexos cutâneos.
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Figura 4 – Bordas lesão controlada do microagulhamento
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4.2 Mecanismo de ação
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Como cada agulha só estimula 2 a 3 mm de distância do seu furo inicial,
é necessário, para um tratamento facial, a aplicação das agulhas em todo o
rosto, passando com elas mais de uma vez no mesmo lugar e em direções
opostas.
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4.4 Teste em cultivo celular 3D
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de crescimento são secretados e como eles funcionam na regeneração do
tecido, formando uma matriz extracelular organizada e não fibrótica. Apesar
disso, neste tópico serão discutidos como alguns fatores de crescimento estão
envolvidos no estímulo de cura tecidual (Figura 6), e que podem ser aplicados
durante o microagulhamento pelo sistema de drug delivery.
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Figura 6 – Efeitos que os fatores de crescimento desempenham
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Nos fibroblastos também influencia para o aumento da expressão de
proteoglicanos sulfatados (como a condroitina) e o colágeno.
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REFERÊNCIAS
PARK, J. W.; HWANG, S. R.; YOON, I. Advanced growth factor delivery systems
in wound management and skin regeneration. Molecules, v. 22, n. 8, p. 1-20, jul.
2017.
TOTTOLI, E. M. Skin wound healing process and new emerging technologies for
skin wound care and regeneration. Pharmaceutics, v. 12, n. 8, p. 1-30, 2020.
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