acordao-turma-trt-rs-prove-recurso proibir negativa de contratação a caminhoneiro
acordao-turma-trt-rs-prove-recurso proibir negativa de contratação a caminhoneiro
acordao-turma-trt-rs-prove-recurso proibir negativa de contratação a caminhoneiro
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região
Partes:
RECORRENTE: SIND. TRAB. TRANSP. ROD. DE CARGAS SECA, LIQ.. INFL.. EXPL. E
REFRIG. DE LINHAS INTER. DO RS.
ADVOGADO: TEOFILO CARVALHO REYES
RECORRIDO: BUONNY PROJETOS E SERVICOS DE RISCOS SECURITARIOS LTDA.
ADVOGADO: CRISTIANO ZECCHETO SAEZ RAMIREZ
RECORRIDO: ITAU SEGUROS S/A
ADVOGADO: NEWTON DORNELES SARATT
RECORRIDO: ALLIANZ SEGUROS S/A
ADVOGADO: VILMA TOSHIE KUTOMI
RECORRIDO: ACE SEGURADORA S.A.
ADVOGADO: LUIZ FELICIO JORGE
ADVOGADO: SILVIA REBELLO MONTEIRO
RECORRIDO: COMPANHIA DE SEGUROS ALIANCA DO BRASIL
ADVOGADO: WOLNEI TADEU FERREIRA
RECORRIDO: GPS LOGISTICA E GERENCIAMENTO DE RISCOS S.A.
ADVOGADO: ARLETE PORTO DE MOURA
ADVOGADO: EDUARDO CHAVES DE SOUSA
RECORRIDO: INDIANA SEGUROS S/A
ADVOGADO: SONIA MARIA MACIEL ANHAIA
RECORRIDO: LIBERTY SEGUROS S/A
Identificação
PROCESSO nº 0000241-06.2013.5.04.0802 (ROT)
RECORRENTE: SIND. TRAB. TRANSP. ROD. DE CARGAS SECA, LIQ.. INFL.. EXPL. E REFRIG.
DE LINHAS INTER. DO RS.
RECORRIDO: BUONNY PROJETOS E SERVICOS DE RISCOS SECURITARIOS LTDA., ITAU
SEGUROS S/A, ALLIANZ SEGUROS S/A, ACE SEGURADORA S.A., COMPANHIA DE
SEGUROS ALIANCA DO BRASIL, GPS LOGISTICA E GERENCIAMENTO DE RISCOS S.A.,
INDIANA SEGUROS S/A, LIBERTY SEGUROS S/A , SOMPO SEGUROS S.A., ROYAL &
SUNALLIANCE SEGUROS (BRASIL)S.A, AIG SEGUROS BRASIL S.A., GENERALI BRASIL
SEGUROS S A, GLOBAL 5 ENGENHARIA DE RISCOS LTDA - ME, ROTA GERENCIAMENTO
DE RISCO E LOGISTICA LTDA - ME, BRADESCO AUTO/RE COMPANHIA DE SEGUROS,
APISUL GERENCIAMENTO DE RISCOS LTDA, RASTER RASTREAMENTO LTDA, SUL
AMERICA COMPANHIA NACIONAL DE SEGUROS, OPEN TECH SISTEMAS DE
GERENCIAMENTO DE RISCOS S/A
RELATOR: CARLOS HENRIQUE SELBACH
EMENTA
ACÓRDÃO
Intime-se.
RELATÓRIO
O sindicato autor, (SIND. TRAB. TRANSP. ROD. DE CARGAS SECA, LIQ.. INFL.. EXPL. E
REFRIG. DE LINHAS INTER. DO RS - SINDIMERCOSUL.), e a 16ª ré, ITAU SEGUROS S/A,
recorrem da sentença do ID. 6f26226.
O sindicato demandante pretende seja declarada a nulidade da sentença quanto à competência material da
Justiça do Trabalho, restrição ao direito fundamental ao trabalho (abuso de direito), dano moral coletivo,
custas e honorários advocatícios da ação civil pública.
O recurso adesivo da 16ª reclamada, ITAU SEGUROS S/A, versa sobre erro material na sentença com
relação à declaração de incompetência material desta Justiça Especializada para processar e julgar o
pedido do item h.3; ilegitimidade ativa do sindicato reclamante; ilegitimidade passiva da recorrente;
inépcia da petição inicial; ausência de prova de que o sindicato está autorizado a ajuizar a presente ação e
benefício da justiça gratuita.
É proferida nova sentença (ID. 2f26d2f) que, examinando a matéria devolvida para exame, rejeita os
pedidos das letras a e c, julgando improcedente a ação.
O feito foi submetido à tentativa de conciliação em segunda instância, sem êxito, os autos voltam
conclusos para julgamento.
É o relatório.
Trata-se de ação civil pública intentada pelo Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Cargas Seca,
Líquida, Inflamável, Explosiva e Refrigeradas de Linhas Internacionais do Estado do Rio Grande do Sul,
SINDIMERCOSUL, visando à proibição das rés cercearem o direito ao trabalho dos motoristas
internacionais, substituídos processualmente. Conforme relata na inicial, diante da notória existência de
roubos de caminhões e cargas no país e nos demais países vizinhos na América do Sul, as cargas
consideradas de valor econômico substancial - que atualmente são a grande maioria das transportadas nas
rotas internacionais - passaram a ser objeto de contratos de seguro com empresas seguradoras. Em vista
disso, por exigência das empresas seguradoras, surgiu uma nova atividade no ramo de transporte
internacional de cargas, supostamente destinada a diminuir os riscos da atividade, mas que
verdadeiramente consiste na prática de atos ilícitos que culminam com a restrição ao direito ao trabalho
de vários motoristas profissionais. Conforme o reclamante, a atividade, denominada gerenciamento de
riscos, é oferecida por diversas empresas no território nacional e consiste em investigar a vida privada do
motorista, com pesquisa de dados protegidos pelo direito fundamental à privacidade e intimidade (art. 5°,
X, da Constituição da República). Após a varredura da vida privada do motorista, esses dados são
inseridos no cadastro do motorista junto ao banco de dados mantido pela empresa.
O sindicato autor recorreu da sentença do ID. 6f26226, que declarou a incompetência material da Justiça
do Trabalho para processar e julgar os pedidos da letra a (pesquisarem, utilizarem, armazenarem e/ou
repassarem informações negativas sobre motoristas profissionais baseadas em consultas a cadastros de
restrição ao crédito, situação fiscal perante à Receita Federal, processos cíveis, inquéritos policiais e
processos criminais sem sentença transitada em julgado); e da letra c (imposição da obrigação de fazer às
reclamadas para que forneçam informações aos substituídos sempre que solicitadas referente aos seus
cadastros e informações acessadas pelas demandadas).
A 16ª ré, Itaú Seguros S/A, recorreu quanto ao reconhecimento da competência da Justiça do Trabalho
para julgar o pedido da letra b [determinar a proibição das empresas reclamadas de praticarem qualquer
restrição ao direito fundamental ao trabalho dos motoristas profissionais em decorrência de dados
referentes a cadastros de restrição de crédito (SPC e SERASA), situação fiscal perante à Receita Federal,
processos cíveis, inquéritos policiais, ocorrência policiais e processos criminais sem sentença transitada
em julgado, sob pena de multa diária consistente em valor não inferior a R$ 10.000,00 para cada violação
- art. 273, § 3º c/c art. 461, § 4º, ambos do CPC; bem assim do pedido da letra "h.2" (condenar as
reclamadas, solidariamente, ao pagamento de indenização por danos morais coletivos em valor não
No acórdão do ID. 3f1fdc9 este Colegiado negou provimento ao recurso da 16ª demandada, Itaú Seguros
S/A, e acolheu, em parte, o recurso do sindicato demandante para declarar a competência da Justiça do
Trabalho para examinar os pedidos das letras a e c, determinando o retorno dos autos à origem para dar
prosseguimento ao feito com o exame das referidas matérias.
Diante disso, foi proferida nova sentença (ID. 2f26d2f) que, examinando a matéria devolvida para exame,
rejeita os pedidos das letras a e c, e julga improcedente a ação.
O sindicato reclamante recorre, reiterando a tese de ilicitude do procedimento adotado pelas rés, no que
diz respeito à consulta, armazenamento e utilização de bancos de dados, com informações da vida
privada do motorista, como condição para segurar as cargas a serem transportadas em prejuízo às
relações de trabalho dos motoristas substituídos na ação. Refere que o precedente jurisprudencial adotado
na sentença (IRR n° 243000-58.2013.5.13.0024) não tem aplicação ao caso em exame, considerando que
a certidão de antecedentes criminais contém informações somente das sentenças condenatórias criminais
transitadas em julgado, sendo que não há qualquer referência a inquéritos policiais (art. 20, parágrafo
único, do CPP) e processos criminais em andamento sem decisão transitada em julgado. Observa que os
pedidos contidos nos itens a e b da inicial, referem-se expressamente a "processos cíveis, inquéritos
policiais e processos criminais sem sentença transitada em julgado". Defende que, assim, persiste a
ilicitude da conduta das reclamadas de realizarem a pesquisa de dados de motoristas empregados
relativos a inquéritos policiais e processos criminais em andamento sem sentença transitada em julgado.
Afirma que, diferente do entendimento adotado pela Julgadora na origem, o conjunto probatório, de
forma inequívoca, demonstra a restrição ilegal ao direito fundamental ao trabalho dos motoristas
profissionais, decorrente de prática de atos ilícitos, que exigem a devida sanção pelo Poder Judiciário.
Aponta que a situação descrita já foi objeto de matéria veiculada no jornal "O Globo", intitulada de
"Caminhoneiros com dívidas são discriminados por transportadoras", publicada em 22/07/2012 (doc. fls.
76/77 - 81/82 do PJe), a qual relata a situação de discriminação vivenciada pelos motoristas profissionais
e as absurdas restrições ao direito ao trabalho. Transcreve ementa de decisão proferida neste Tribunal,
reconhecendo a ilicitude da prática de repassar informações oriundas de órgãos de proteção ao crédito
(SPC e SERASA) para fins de subsidiar a contratação ou não de motorista que se candidata para o
transporte de carga. Prossegue referindo que a conduta das demandadas de pesquisarem dados pessoais
dos motoristas empregados, que são protegidos por sigilo, viola os direitos da personalidade estampados
na cláusula geral do art. 5°, X, da Constituição da República, causando induvidoso dano à categoria dos
motoristas de carga internacional, o que constitui ato ilícito nos termos do art. 186 do CCB. Diante disso,
afirma ser impositiva a reforma da sentença, com a determinação de proibição das empresas rés de
Examino.
A matéria discutida na lide envolve a atuação das rés, empresas gerenciadoras de risco que, na sua área
de atuação, elaboram e mantêm um banco de dados cadastrais com informações cadastrais de motoristas,
como endereço, antecedentes criminais, andamentos de processos criminais e cíveis, consultas de
restrição ao crédito junto ao SERASA e SPC, traçando-lhes um perfil o qual é considerado pelas
empresas seguradoras para fins de avaliação de risco na formalização dos contratos de seguros de cargas
transportadas. A relação estabelecida entre estas empresas gravita em torno das relações de trabalho, pois
também às empresas de transporte de carga, interessadas em contratar empregados para a realização de
transporte de carga, mediante o pagamento de uma taxa de serviço, tem permitido o acesso a esse
cadastro gerido pelas empresas gerenciadoras de risco, permitindo que elas formulem um juízo de
conveniência ou não da contratação dos trabalhadores, segundo o perfil individual de cada um, inclusive
com referência a potenciais impactos das informações na relação do seguro de carga.
Não se desconhece a liberdade que as empresas transportadoras, no uso do seu poder diretivo e que lhes
incumbe o ônus do riscos da atividade econômica, possuem a autonomia de contratação de empregados
que melhor atendam seus interesses no atendimento das exigências do cargo. No entanto, não é dado a
elas que, para isso, sejam excedidos os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa fé ou
pelos bons costumes (art. 187 do CCB).
O parágrafo único do art. 20 do CPP estabelece, sem nenhuma ressalva que, nos atestados de
antecedentes, que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações
referentes à instauração de inquérito contra os requerentes.
A posição adotada pelo TST no tema repetitivo transcrito, filia-se à corrente doutrinária, cujo
entendimento é de que a alteração do parágrafo único do art. 20 do do CPP, conferida pela Lei 12.681
/2012, proíbe, tão somente, a menção à instauração de inquéritos contra os requerentes, mas não impede a
referência a condenações pretéritas, desde que estas condenações já tenham transitado em julgado.
Dito isso, parece-me óbvio que, ante a previsão legal, é vedado às empresas reclamadas de pesquisarem,
utilizarem, armazenarem e/ou repassarem informações negativas sobre motoristas profissionais baseadas
em consultas a cadastros de processos cíveis, inquéritos policiais e processos criminais sem sentença
transitada em julgado, sob pena de atuarem na condição de copartícipes no ato ilícito.
Mesma proibição lhes é imposta com relação às informações de restrições de crédito e situação fiscal
perante à Receita Federal.
As informações da Receita Federal, não protegidas por sigilo fiscal, não são objeto da presente ação, que
discute a pesquisa, armazenamento e repasse de dados da situação fiscal junto à Receita Federal,
sigilosos por lei.
Art. 5º (...)
(...)
Também o art. 198, caput, do Código Tributário Nacional proíbe a divulgação, por parte da Fazenda
Pública ou de seus servidores, de qualquer informação, obtida em razão do ofício, sobre a situação
O art. 13-A da Lei 11.442/2007, incluído pela lei dos motoristas profissionais (Lei 13.103/2015) proíbe a
utilização de informações de banco de dados de proteção de crédito como mecanismo de vedação de
contrato com o transporte autônomo de cargas e com as empresas de transporte de cargas. Vige a norma
com a seguinte redação:
Sinalo acerca das obrigações do segurado aprovadas pela SUSEP na Circular nº 27/85, que se referem à
apresentação de documentos relativos ao exercício da função de motorista (CNH, RTB) e às condições
dos veículos transportadores (DUT, chassi, placa), nada sendo referido quanto à inclusão de informações
a respeito da situação financeira do motorista e eventuais restrições junto aos órgãos de crédito, assim
como sua situação fiscal perante à Receita Federal, antecedentes criminais ou existência de processos
cíveis ou criminais.
O cotejo da prova permite a conclusão de que a utilização do banco de dados ultrapassa os limites da
licitude.
realiza seguro de transporte de carga apenas nacional; quando da apólice, para avaliação
do prêmio é avaliado a rota de viagem, o tipo e o valor da carga, o transportador; é
exigência da seguradora que a ficha de cadastro de motorista seja analisado pela
gerenciadora; o segurado é único, a transportadora; após, esclarece dizendo que a
transportadora ou o cliente; quando da apólice recebem uma autorização da gerenciadora,
cujos critérios não são definidos pela segura e tampouco relevantes; perguntado se caso a
gerenciadora tenha liberado um motorista em caso de denúncia criminal por furto de
carga, por exemplo, disse que é responsabilidade da gerenciadora e, portanto, não pagam
a indenização prevista na apólice.
Depoimento pessoal do preposto da 19ª demandada Royal & Sunalliance Seguros (Brasil) S.A.
Depoimento pessoal do preposto da 14ª reclamada Generali do Brasil Cia Nacional de Seguros.
A prova testemunhal produzida por meio de expedição de cartas precatórias inquiritórias contem o
seguinte teor:
Testemunha da 9ª reclamada ACE Seguradora S/A (7ª Vara do trabalho de São Bernardo do Campo/SP,
ID. 9924680, Pág. 1)
a reclamada Ace (...) não faz análise do perfil dos motoristas; que não faz análise de perfil
criminal, de crédito ou Serasa dos motoristas; que na área de transportes há apenas
seguros para pessoas jurídicas; que não há cláusula negativa de cobertura de sinistro no
caso de o motorista ter problemas financeiros; que a seguradora exige ferramentas de
gerenciamento de risco dos segurados, que são as seguintes; rastreamento, utilização de
escolta armada, utilização de isca implantada no meio, da carga; que há transporte de
mercadorias em que não há exigência de gerenciamento de riscos, como, por exemplo,
porcas e parafusos, areia, matéria-prima para produção, por serem mercadorias de baixo
custo, pouca visibilidade.
Testemunha da 1ª demandada GV Gestão de Riscos Ltda. (43ª Vara do Trabalho de Uberlândia -MG, ID.
9924680, Pág. 44)
Testemunha da 1ª ré GV Gestão de Riscos ouvida por carta precatória (57ª Vara do Trabalho de São
Paulo/SP, ID. 671f691 - Pág. 3)
Testemunha da 2ª reclamada Buonny Projetos e Serviços de Riscos Securitários (65ª Vara do Trabalho de
São Paulo, ID. 671f691 - Pág. 5)
Testemunhas da 9ª demandada ACE Seguradora S/A (74ª Vara do Trabalho de São Paulo/SP, ID.
dc2ea31 - Pág. 128/129)
... o depoente apresentou o reclamante na empresa referida entre abril e maio de 2011,
oportunidade em que inclusive demonstrou o veículo que deveria ser conduzido pelo
reclamante; imediatamente o depoente saiu em viagem internacional e ao retornar, foi
surpreendido pelo fato de o reclamante ainda não estar trabalhando, o que somente se
efetivou a partir de meados de 2011; ao retornar da viagem, foi informado pelo Sr.
Leandro que o reclamante não foi liberado para trabalhar porque "não passou na
seguradora"; questionado pelo Juízo o que significava, respondeu ser uma falta de
autorização para viagem por parte da seguradora; já aconteceu de uma seguradora negar a
viagem do depoente em razão de uma dívida particular sua; não sabe informar qual o
nome da suposta seguradora que negou a sua viagem ou mesmo a do reclamante; não
Menciono, ainda, o documento de "Justificativa Referente ao Desligamento" do ID. c5ad927 - Pág 5 com
o seguinte teor:
Cientes de que o mesmo tem amparos legais para exercer suas funções, lamentamos não
poder seguir contando com os serviços do mesmo, visto que em nosso ramo hoje é
essencial que o motorista tenha tais liberações para que o profissional possa obter o
direito de transportar por qualquer empresa ou cliente que tenha apólice de seguros
fiscalizadas pela SUSEP.
A jurisprudência colacionada do ID. 434e728 - Pág. 14-45 confirma a conduta abusiva das seguradoras e
empresas gerenciadoras de risco com atuação nas relações de transporte de carga.
Registro, ainda, a cópia de reportagem extraída do Portal Eletrônico "O Globo" (http://oglobo.globo.
com), contendo as informações que seguem (ID. c5ad927):
Diante disso, acolho o recurso do sindicato autor para determinar que as reclamadas abstenham-se de
pesquisar, utilizar, armazenar e/ou repassar informações negativas sobre motoristas de transporte
rodoviário de carga de linha internacional baseadas em consultas a cadastros de restrição ao crédito (SPC
e SERASA), situação fiscal perante à Receita Federal, boletins de ocorrência e inquéritos policiais,
processos criminais e cíveis sem sentença transitada em julgado, sob pena de multa diária consistente no
valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) para cada violação, reversível ao Fundo de Amparo ao Trabalhador
(FAT).
Quanto ao pedido de reforma da sentença para que seja imposta às rés a obrigação de fazer de, sempre
que solicitado pelo motorista, fornecimento de cópia por escrito da consulta realizada - contendo os
dados pesquisados, a empresa solicitante e a justificativa de eventual negativa de liberação do
trabalhador, carece de amparo legal, pelo que nego provimento ao recurso quanto ao item.
A responsabilidade civil, conforme disposto no art. 186 do CCB, pressupõe uma ação ou omissão
voluntária - qualificada como um ato ilícito - a ocorrência da violação de um direito ou de um dano moral
ou patrimonial e o nexo de causalidade entre o dano e a ação.
Na esfera trabalhista, tenho por caracterizado o dano moral coletivo quando a conduta ilícita praticada
atinge direitos extrapatrimoniais, cujo dano e sua extensão seja tamanho, capaz de violar direitos
transindividuais de uma coletividade e que atinja uma grande repercussão social.
No caso, o dano moral é dedutível das próprias circunstâncias que envolvem a atividade da manutenção
desses bancos de dados e seu repasse a terceiros, independente da prova do resultado, pois
potencialmente lesivas ao patrimônio imaterial consistente em ofensa a valores humanos da coletividade
representada pelos motoristas de transporte rodoviário de carga de linha internacional. Assim, não cabe
cogitar de individualização quanto aos trabalhadores envolvidos na condenação ou limitação territorial,
senão aquela já estabelecida pela representatividade do sindicato demandante.
Tendo em vista o caráter essencialmente pedagógico da indenização por dano moral coletivo, a definição
da indenização correspondente deve considerar as condições financeiras do ofensor, a gravidade da
ofensa e os prejuízos ocasionados à coletividade.
Além disso, conforme dispõe o art. 13 da Lei 7.347/85, "havendo condenação em dinheiro, a indenização
pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de
que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus
recursos destinados à reconstituição dos bens lesados".
Por consequência, acolho o pedido do sindicato reclamante de condenação solidária das demandadas ao
pagamento de indenização por dano moral coletivo, que fixo no valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de
reais), a ser revertido a ser revertido R$700.000,00 à Santa Casa de Uruguaiana e R$300.000,00 para a
APAE também de Uruguaiana, com acréscimo de juros e correção monetária, de acordo com as Súmulas
50 e 54 deste Tribunal Regional.
Recurso do sindicato autor e item sobrestado do recurso adesivo da 16ª ré Itaú Seguros S/A.
Matéria conexa.
A 16ª reclamada discute a concessão do benefício da justiça gratuita ao demandante. Suscita a aplicação
do entendimento consubstanciado no item II da Súmula 463 do TST. Sinala a ausência de prova cabal de
impossibilidade de a parte arcar com as despesas do processo, nos termos estabelecidos pela Súmula 481
do STJ. Afirma que o sindicado, na qualidade de substituto processual, age em nome próprio, mesmo que
defendendo direitos de outrem. Acrescenta que o benefício da justiça gratuita é instituído tão somente em
favor de pessoas físicas, e não à pessoa jurídica, à qual não é dado o direito de declarar, sob as penas da
lei, a impossibilidade de demandar sem prejuízo. Assevera que a isenção de custas, prevista no art. 87 do
CDC, não se aplica aos sindicatos, por não constarem do rol do art. 82 do mesmo diploma legal, bem
como pelo fato de que o caso em questão não se trata de uma relação de consumo. Finaliza apontando
que os substituídos não apresentaram declaração de hipossuficiência nos autos.
O reclamante reitera o pedido de declaração à isenção das custas processuais, prevista pelo art. 18 da Lei
7.347/85 e art. 87 do CDC, destacando que se trata de ação civil pública. E confiando na reforma de
sentença, requer a condenação das demandadas ao pagamento de honorários advocatícios.
Tratando-se de ação civil pública, e sendo incontroversa a ausência de má-fé do autor, é isento do
pagamento de custas processuais e honorários advocatícios, nos termos do art. 18 da Lei 7.347/85, que
assim dispõe:
"Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da
associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e
despesas processuais".
Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este código não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da
associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogados, custas e
despesas processuais.
Com amparo no entendimento jurisprudencial consolidado, o recorrente faz jus à verba honorária, que
fixo, ante a complexidade da matéria e o usualmente deferido por este Colegiado, em 15% do valor
arbitrado à condenação.
Nestes termos, nego provimento ao recurso adesivo da 16ª ré, Itaú Seguros S/A, e dou provimento ao
recurso do sindicato reclamante para condenar, de forma solidária, as reclamadas ao pagamento de
honorários advocatícios de 15% sobre o valor bruto da condenação.
Relator
Voto convergente
Concordo com o voto proposto pelo Relator, dada as peculiaridades do caso e efetiva ofensa/lesão aos
trabalhadores.
De outro lado, para que o valor do dano moral coletivo efetivamente reverta para a comunidade,
proponho que R$700.000,00 sejam destinados à Santa Casa de Uruguaiana e R$300.000,00 para a APAE
também de Uruguaiana.
Acompanho voto convergente do Exmo. Des. Marçal Henri dos Santos Figueiredo.
PARTICIPARAM DO JULGAMENTO: