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Kol Nidrei

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KOL NIDREI

Foto Ilustrativa
Na vspera de Yom Kipur, em todas as sinagogas ao redor do mundo, a Arca Sagrada aberta e os rolos de Tor so retirados. Em seguida, o chazan e a congregao entoam o Kol Nidrei. Um preldio marcante que durante sculos transmite a geraes de judeus o esprito do Dia do Perdo.

Kol Nidrei, que em aramaico significa todos os votos ou todas as promessas, apesar de tocar o fundo da alma judaica, infundindo em cada um dos presentes temor e esperana, na realidade no uma orao e o texto sequer menciona o tema arrependimento. uma declarao coletiva que permite aos que esto presentes anular promessas, votos ou juramentos feitos a Dus e no cumpridos. No Yom Kipur, na hora do Kol Nidrei, somos lembrados que a palavra sagrada e que promessas assumidas devem ser escrupulosamente respeitadas. Para o judasmo, votos e juramentos so compromissos de extrema importncia e a Tor explcita neste ponto. Um mandamento bblico afirma que uma promessa proferida no deve ser quebrada. Esta proibio to grave que o Talmud diz que o mundo treme diante dela e, portanto, no podemos nos aproximar de Dus para implorar Seu perdo sem antes nos termos livrado do grave pecado de ter violado nossa palavra a Ele. O Talmud aconselha evitar juramentos ou votos. Nossos sbios estavam cientes da fragilidade da natureza humana. Sabiam tambm que, em momentos difceis, ao nos dirigirmos ao Todo-Poderoso, podem ser pronunciadas promessas precipitadas ou juramentos difceis de cumprir. Por isto, anteviram uma forma de nos absolver de culpas derivadas de palavras proferidas impetuosamente. Apesar de colocar srias limitaes, o Talmud afirma que um tribunal composto por trs pessoas (Bet Din) pode anular votos ou juramentos feitos por uma pessoa, se esta declarar perante eles que se arrependeu. Por ter provocado mal-entendidos ao longo de sculos, muito importante lembrar que, assim como o Yom Kipur s absolve as transgresses do homem em sua relao com Dus, o Kol Nidrei nos libera somente de votos ou juramentos pessoais feitos a Dus e s a Ele. Em hiptese alguma nos libera de promessas, juramentos ou votos que envolvam outras pessoas; estes s podero ser anulados quando, na presena de todos os envolvidos, todos estiverem de acordo com a anulao. A Cabal tem mais uma interpretao: o Kol Nidrei uma forma de pedir a Dus que anule todo os Seus prprios juramentos de afastar Sua presena de Seu povo. Em vrias ocasies o povo de Israel provocou a Ira Divina e Dus jurou punir-nos com o exlio. Mas na vspera de cada Yom Kipur, no Kol Nidrei, pedimos que Ele

considere nulas todas as palavras que afastam ou escondem Sua Presena Divina de Israel. As origens H vrias teorias sobre as origens do texto do Kol Nidrei. H historiadores que supem ter sido composto nos sculos V ou VI, aps o rei Ricardo da Espanha (586-601 da era comum) ter iniciado uma campanha que obrigou todos os judeus de seu reino a se tornarem cristos. Acuados, muitos tiveram que renegar sua f, mas, apesar das aparncias, permaneciam judeus em segredo. Foi o incio do cripto-judasmo. Mas os marranos como passaram a ser chamados estes judeus secretos no queriam abandonar sua f e tentavam manter secretamente as Leis de seus ancestrais. Yom Kipur era uma data particularmente importante para eles e, mesmo arriscando suas vidas, reuniam-se em segredo. No entanto, antes de iniciar as oraes, o lder da congregao era incumbido de se levantar e renunciar, em nome de todos os presentes, a juramentos e promessas formuladas sob coao. Declarava nulos todos os juramentos que haviam sido impostos e, s ento, com o corao mais leve, iniciavam as oraes pedindo perdo a Dus pelos pecados cometidos.

Provavelmente, as inmeras perseguies e as converses foradas que marcaram a histria dos judeus na Europa fizeram com que o Kol Nidrei se enraizasse cada vez mais na liturgia do Dia do Perdo. Com a migrao dos marranos para vrios pases da Europa provvel que o costume tenha sido incluso, em muitas comunidades, na liturgia de Yom Kipur. Vrios Gaonim do perodo mencionam em seus escritos o fato de o texto ser recitado em inmeros pases, inclusive em Eretz Israel. No sculo IX j fazia parte do primeiro livro de oraes completo, o Seder do Rav Amram Gaon. Alguns sbios chegaram a se pronunciar contra a incluso do Kol Nidrei em Yom Kipur, pois temiam que a possibilidade de anular juramentos de forma coletiva diminusse aos olhos dos judeus a importncia e gravidade dos juramentos. At o final do sculo X, a maioria das comunidades europias j o havia includo em sua liturgia de Yom Kipur. Somente na Babilnia, onde estavam as academias de Sura e Pumbedita, o texto no foi adotado. Provavelmente, como estas comunidades viviam em paz, o costume lhes parecia estranho. O Kol Nidrei adquiriu um significado ainda maior quando, em 1391, reiniciaram-se na Espanha as perseguies aos judeus. Estas culminaram em 1492 com o dito de Expulso. As opes dadas aos judeus ibricos era converso ao cristianismo, exlio ou morte. Para os judeus que ficaram na Pennsula Ibrica a nica sada era esconder seu judasmo do olho atento da Inquisio. Apesar do grave perigo, em Yom Kipur muitos destes marranos se reuniam secretamente para anular juramentos e pedir o perdo Divino por no terem ainda voltado f judaica, apesar de suas promessas.

Durante sculos o Kol Nidrei foi causa de interpretaes enganosas que levaram a acusaes malvolas contra os judeus. Estes eram acusados de usar o ritual para se desfazer de todo tipo de encargos e compromissos. Se os juramentos podiam ser anulados, di-ziam seus perseguidores, ento no se podia confiar na palavra de um judeu. Em 1240, Rabi Yechiel, de Paris, desafiou o bispo da cidade, na presena do rei da Frana e da rainha de Castilha, a um debate sobre o assunto. Venceu-o demonstrando publicamente que o Talmud afirmava que um judeu no pode quebrar uma promessa feita ao prximo. Mas isto no foi suficiente para impedir que o Kol Nidrei fosse usado nos sculos seguintes para acusar judeus de m f. Em 1656, Cromwell discutiu o assunto do Kol Nidrei novamente com o Rabi Menasse Ben Israel. Este ltimo havia encaminhado ao governante da Inglaterra uma petio atravs da qual os judeus pediam permisso para voltar para a Inglaterra, de onde haviam sido expulsos em 1290. Cromwell recusou a petio. O ritual O Kol Nidrei tem incio com o chazan posicionando-se frente da Arca Sagrada. Ele se coloca no papel de Shaliach Tzibur mensageiro da congregao para defender a causa de seus clientes perante Dus, nosso Juiz. Dois homens ou mais da congregao, cada um com um rolo de Tor em suas mos, posicionam-se ao seu lado. um tribunal simblico onde todos agem de acordo com o processo legal para a anulao de votos estabelecidos por nossos sbios. De maneira solene, envoltos em talit, os trs representantes da congregao declaram: Pela autoridade que nos foi dada pela Corte Superior e pela autoridade que nos foi dada pela Corte Inferior, com a permisso de Dus Abenoado seja Ele e com a permisso desta sagrada congregao, consideramos lcito rezar com os transgressores. Aps estas palavras o chazan entoa o Kol Nidrei. Todos os votos, as proibies, os juramentos, as antemas, as interdies, os empenhos e os compromissos que a ns mesmos impusermos, seja por voto solene, juramento, antema ou auto-proibio, a partir deste Yom Kipur at o prximo Yom Kipur, que vem a ns em paz todos eles so declarados sem valor e considerados completamente nulos, no ocorridos e inexistentes. Nossos votos no so votos, nossos compromissos no so compromissos e nossos juramentos no so juramentos.

O texto revela a inquietao do ser humano ao se dar conta dos votos que no foram cumpridos, das obrigaes quem sabe esquecidas, de valores e lealdades tradas. Mas a melodia parece afirmar o desejo de refazer seu caminho e reparar o mal feito. O texto deve ser repetido trs vezes, pois importantes oraes so repetidas trs vezes para dar nfase s palavras. Segundo o Rabi Saadia Gaon, o Kol Nidrei deve ser repetido trs vezes por causa da forma como deve ser pronunciado: primeiramente entoado com a voz de um servo que se aproxima pela primeira vez do trono de seu soberano, a quem teme; na segunda vez, ele j rene confiana e fala mais forte; na terceira, sua voz mais forte, por j estar familiarizado com a presena do Rei.Machzor de Yom Kipur, Editora Sfer Apesar do texto do Kol Nidrei ser sempre o mesmo, tanto o ritual como sua antiga melodia variam de acordo com as tradies de cada comunidade. Nas comunidades asquenazitas o tom grave e srio. Leon Tostoi, quando ouviu o Kol Nidrei pela primeira vez, numa sinagoga da Rssia, ficou profundamente tocado e a descreveu como a mais triste, mas tambm a mais elevada de todas as melodias que j ouvira. Era uma melodia que ecoava a histria do grande martrio de uma nao atingida pelo sofrimento. O msico Beethoven usou um trecho meldico do Kol Nidrei nos oito compassos iniciais de um de seus ltimos quartetos (Mi Menor opus 131), para dar uma atmosfera mais grave sua obra. As comunidades srias costumam retirar todos os sefarim da Arca Sagrada levando-os ao redor da sinagoga. Rabi Yitzhak Luria, o Arizal salientava a importncia da tradio de retirar os sefarim para que todos as pessoas presentes pudessem ter a oportunidade de beij-los. considerado uma grande honra e privilgio segurar os rolos da Tor durante o Kol Nidrei. Privilgio ainda maior segurar o primeiro, chamado de Sefer Kol Nidrei. Concluso O Kol Nidrei tem ensinado a geraes de judeus o poder da palavra. Nos primeiros instantes do Dia do Perdo, ao iniciar nossa limpeza espiritual, somos lembrados que a palavra uma arma poderosa. Se bem usada, pode reconfortar, construir; mas usada de forma inadequada ou leviana pode destruir. Esta atinge sua maior fora, seu maior poder quando o prprio homem se oferece como garantia de sua palavra. Ao entoar o Kol Nidrei somos levados a perceber, mais uma vez, que a palavra de um homem sagrada. E mais ainda, que ao respeit-la estaremos respeitando tanto os outros em nossa volta como a ns mesmos. Kol Nidrei nos ensina tambm o poder do arrependimento. Se nos

lamentarmos e pedirmos perdo com sinceridade, Dus perdoar nossas falhas e nos livrar do peso opressivo de nossa culpa. Bibliografia: Yom Kipur - Its Significance, Laws and Prayers - Art Scholl Mesorah Series Rabbi Nosson Schaman

KOL NIDREI (LETRA PORTUGUES(BRASIL)

EM

HEBRAICO

(TRANSL.)

TRADUAO

EM

KOL NIDREI VE'ESAREI, USH'VUEI, VACHARAMEI, VEKONAMEI, VEKINUSEI, VECHINUYEI. D'INDARNA, UD'ISHTABANA, UD'ACHARIMNA, UD'ASSARNA AL NAFSHATANA MIYOM KIPPURIM ZEH, AD YOM KIPPURIM HABA ALEINU LETOVAH BECHULHON ICHARATNA VEHON, KULHON YEHON SHARAN SH'VIKIN SH'VITIN, BETELIN UMEVUTALIN, LO SHERIRIN V'LO KAYAMIN NIDRANA LO NIDREI, V'ESSARANA LO ESSAREI USH'VUATANA LO SHEVUOT.

TRADUO TODAS AS PROMESSAS, PROIBIES [AUTO-IMPOSTAS], JURAMENTOS, CONSAGRAES, RESTRIES, INTERDIES, OU [QUAISQUER OUTRAS] EXPRESSES EQUIVALENTES DE PROMESSA, QUE POSSAMOS PROMETER, JURAR, DEDICAR [PARA USO SAGRADO], OU PROIBIRMO-NOS, DESDE ESTE YOM KIPUR AT O PRXIMO YOM KIPUR, QUE VENHA A NS PARA BEM, [DESDE J] NOS ARREPENDEMOS DE TODOS ELES; ASSIM SENDO, ESTO TODOS ABSOLVIDOS, PERDOADOS, CANCELADOS, DECLARADOS NULOS E SEM VALOR, SEM FORA NEM EFEITO. QUE NOSSAS PROMESSAS NO SEJAM CONSIDERADAS PROMESSAS; QUE NOSSAS PROIBIES [AUTO-IMPOSTAS] NO SEJAM CONSIDERADAS PROIBIES; E QUE NOSSOS JURAMENTOS NO SEJAM CONSIDERADOS JURAMENTOS.

Kol Nidrei ou Kol Nidre (do aramaico Todos os votos) uma declarao judaica recitada nas sinagogas no incio do servio noturno de Yom Kipur. Esta declarao permite aos presentes anular votos feitos e no cumpridos. "H vrias teorias sobre as origens do texto do Kol Nidrei. H historiadores que supem ter sido composto nos sculos V ou VI, aps o rei Ricardo da Espanha (586-601 da era comum) ter iniciado uma campanha que obrigou todos os judeus de seu reino a se tornarem cristos. Acuados, muitos tiveram que renegar sua f, mas, apesar das aparncias, permaneciam judeus em segredo. Foi o incio do cripto-judasmo. Mas os marranos como passaram a ser

chamados estes judeus secretos no queriam abandonar sua f e tentavam manter secretamente as Leis de seus ancestrais. Yom Kipur era uma data particularmente importante para eles e, mesmo arriscando suas vidas, reuniam-se em segredo. No entanto, antes de iniciar as oraes, o lder da congregao era incumbido de se levantar e renunciar, em nome de todos os presentes, a juramentos e promessas formuladas sob coao. Declarava nulos todos os juramentos que haviam sido impostos e, s ento, com o corao mais leve, iniciavam as oraes pedindo perdo a Dus pelos pecados cometidos".(Revista Morash)

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