Como Atuar em Projetos Que Envolvem Despejos e Remoções?
Como Atuar em Projetos Que Envolvem Despejos e Remoções?
Como Atuar em Projetos Que Envolvem Despejos e Remoções?
Este Guia, produzido pela Relatoria Especial da ONU para a moradia adequada, sintetiza o que as normas internacionais determinam sobre remoes involuntrias decorrentes de projetos pblicos e privados de infraestrutura e urbanizao. Contm orientaes e dicas para todos os envolvidos: projetistas, gestores pblicos, operadores do direito, rgos financiadores nacionais ou internacionais e populaes atingidas. O objetivo deste Guia orientar para que os projetos sejam desenvolvidos com respeito ao direito moradia adequada das comunidades por eles atingidas.
Se quiser conhecer mais sobre este tema, visite: www.direitoamoradia.org www2.ohchr.org/english/issues/housing/index.htm www.unhabitat.org/unhrp
4 . . . O que o direito moradia adequada? 6 . . . A relatoria da ONU para o direito moradia adequada 8 . . . A ONU e as remoes foradas 11 . . . Como atuar em projetos que envolvem despejos e remoes 13 . . . Antes 18 . . . Durante 21 . . . Depois 30 . . . Poltica permanente de preveno a remoes 32 . . . Algumas recomendaes especficas 34 . . . Como fazer uma denncia 36 . . . Anexos
em linhas gerais, pode-se dizer que, tanto no meio urbano quanto no meio rural, a moradia adequada inClui:
garantia de um lugar para morar sem ameaa de remoo; acesso a servios bsicos, inclusive a educao, sade, lazer, transporte, energia eltrica, gua potvel e esgoto, coleta de lixo, reas verdes e um meio ambiente saudvel; uso de materiais adequados que garantam a habitabilidade, com espao apropriado e proteo efetiva contra frio, calor, chuva, vento, incndio, inundao, sem riscos de desmoronamento ou outras ameaas sade e vida; prioridade s necessidades especficas das mulheres e de grupos vulnerveis como crianas, idosos, deficientes, pessoas portadoras de doenas mentais, HIV-positivos, minorias e outros grupos historicamente marginalizados; acesso aos meios de subsistncia, inclusive acesso terra, infra-estrutura, recursos naturais e ambientais, fontes de renda e trabalho; uso de materiais, estruturas e organizao espacial de acordo com as preferncias e necessidades culturais dos moradores; custo que no pese demais no bolso do morador e acesso a recursos financeiros; participao em todas as fases dos processos de deciso relacionados moradia; privacidade, segurana e no estar sujeito violncia; acesso a solues e remediaes para quaisquer violaes sofridas.
No ano de 2000, a Comisso de Direitos Humanos - hoje Conselho de Direitos Humanos da ONU - decidiu nomear um Relator Especial para o Direito Moradia Adequada. O objetivo de seu mandato relatar a situao, ao redor do mundo, do direito moradia e outros direitos a ele relacionados; promover cooperao e assistncia entre governos, ONU e organizaes nogovernamentais em seus esforos para garantir esse direito; e elaborar recomendaes sobre a concretizao dos direitos relevantes para o mandato. Desde o incio do mandato, os Relatores realizaram vrias misses a pases, desenvolveram diversos estudos e forneceram recomendaes prticas no mbito da habitao, abordando temas como o direito das mulheres moradia, a discriminao no acesso moradia, os despejos e remoes foradas e o impacto da crise financeira internacional sobre o direito moradia.
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A Relatoria tambm desenvolveu um website para divulgar e disseminar os temas j estudados e aqueles que esto sendo pesquisados pela Relatora. No site, pode-se encontrar informaes e materiais complementares a essa cartilha. www. direitoamoradia.org
Em 2004, o Relator Especial dedicou seu relatrio anual ao tema das remoes e despejos forados e, em 2007, elaborou os Princpios Bsicos e Orientaes para Remoes e Despejos Causados por Projetos de Desenvolvimento. Seus objetivos so fornecer orientaes e assistncia tcnica aos Estados sobre como atuar nos casos de remoes e despejos involuntrios, seguindo os padres internacionais e respeitando aos direitos da populao atingida.
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barragens, obras virias e de transporte, projetos industriais e extrativistas, projetos agrcolas, urbanizao de favelas, infraestrutura para grandes eventos esportivos e culturais, reabilitao de centros, obras para eliminao ou reduo de risco, remoes para recuperao ambiental, etc.
O Comit de Direitos Econmicos, Sociais e Culturais da ONU define remoes foradas como a retirada definitiva ou temporria de indivduos, famlias e/ou comunidades, contra a sua vontade, das casas e/ou da terra que ocupam, sem que estejam disponveis ou acessveis formas adequadas de proteo de seus direitos.
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No importa a forma legal da residncia as pessoas devem receber proteo mesmo se no tiverem ttulo ou documentao formal relacionados sua casa ou terra. Remoes e despejos forados devem ocorrer apenas em circunstncias excepcionais, ou seja, em casos absolutamente necessrios que envolvam proteo da sade e do bem-estar coletivos, e quando no h alternativas viveis. Algumas remoes podem ser consideradas necessrias, como, por exemplo, no caso de pessoas vivendo em reas sujeitas a desabamentos e inundaes iminentes. Toda remoo deve: (a) ser autorizada por lei; (b) ser levada a cabo em conformidade com o direito internacional dos direitos humanos; (c) ser realizada apenas com o objetivo de promover o interesse pblico geral; (d) ser razovel e proporcional; (e) ser regulada de forma a garantir indenizao justa e reinsero social. Os casos de remoes consideradas legtimas devem sempre estar relacionados a obras que sejam de relevante interesse pblico. O interesse pblico, neste caso, deve sempre ser estabelecido de forma participativa, dando ateno e considerando realmente as vises daqueles que vivem nas reas que sero impactadas. Um projeto de interesse pblico nunca deve deteriorar as condies de vida das comunidades atingidas. Alm disso, a anlise quanto necessidade e adequao de um projeto de infraestrutura e urbanizao deve ser feita de forma transparente, com espao para apresentao de alternativas. Todos aqueles que potencialmente sero afetados devem receber informao adequada e oportuna, participar democraticamente, e propor alternativas que minimizem os deslocamentos e reduzam os impactos negativos sobre as vidas das pessoas. Projetos que determinam a remoo sem que os atingidos tenham sido envolvidos no planejamento e nos processos decisrios, no cumprem com os padres internacionais de direitos humanos. As remoes e os despejos forados so considerados ilegais quando realizados com uso de fora fsica ou violncia. Mas tambm as remoes pacficas podem ser consideradas ilegtimas quando realizadas sem justificativa legal ou sem os procedimentos adequados. Alm de evitar ao mximo remoes desnecessrias e respeitar os direitos das comunidades que tiverem que ser removidas, os governos tm tambm a responsabilidade de proteger as pessoas contra despejos forados que sejam realizados por terceiros. Ou seja, sem eximir o particular de sua responsabilidade pelos danos causados, o Estado, em suas funes executivas, legislativas e judiciais, responsvel por no ter impedido que o despejo acontecesse.
A ONU recomenda que os pases adotem uma legislao especfica contra remoes foradas como base essencial para a construo de um sistema efetivo de proteo para as populaes atingidas, respeitando os direitos humanos e com previso de sanes.
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As diretrizes foram organizadas para os Estados foram organizadas de forma a orientar todo o processo de remoo, desde medidas prvias e a elaborao do projeto at o reassentamento definitivo da populao afetada. Por isso, as sugestes para orientar as remoes foram organizadas em:
antes
durante
depois
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informar e envolver a populao em todo planejamento e em toda deCiso uma eXignCia durante todo o proCesso!!!
Condies bsiCas para que todo o proCesso de remoo seja efetivamente partiCipativo:
Todas as informaes sobre o projeto devem estar disponveis com antecedncia, em idioma e dialeto das pessoas que sero atingidas, em linguagem acessvel e utilizando referncias comunitrias As pessoas atingidas tm o direito de procurar assessoria independente para discutir e elaborar projeto alternativo. recomendvel que existam fontes de financiamento para propiciar tais estudos alternativos; muitas vezes, acordos e convnios com universidades podem viabilizar esses projetos
Tanto do lado da populao atingida quanto do lado do Estado importante ter pessoas capacitadas a negociar!
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Todos e todas devem ter voz assegurada e considerada, sem qualquer tipo de intimidao e com respeito s formas de expresso das comunidades atingidas
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evitando as remoes
Quando se comea a pensar um projeto de infraestrutura e urbanizao que vai exigir a remoo de pessoas e comunidades - antes mesmo de comear seu planejamento - deve-se avaliar com muito cuidado sua necessidade e adequao. O projeto realmente indispensvel? Quem ser beneficiado? Qual ser seu impacto? Existem alternativas de menor impacto negativo? Todas estas perguntas devem ser respondidas a partir de uma anlise baseada no profundo respeito aos direitos humanos de todos os envolvidos, pois gera grande impacto em suas vidas. Essa avaliao prvia deve envolver toda a diversidade de opinies e posies sobre a obra, de forma participativa.
medidas preventivas:
MAPEAR OS ATINgIDOS Avaliar o impacto do projeto, mapeando todos aqueles que sero atingidos direta ou indiretamente, identificando especialmente os grupos mais vulnerveis da populao. Os atingidos no so apenas os que sero diretamente removidos, mas tambm os que vo sofrer alguma restrio de acesso a recursos para reproduo ou continuidade do modo de vida, perda ou reduo das fontes de emprego, renda ou meios de sustento. Inclui-se tambm os que habitam no entorno das obras e aqueles que podem vir a ficar separados de suas comunidades originais, aqueles j vivendo nos locais de reassentamento ou prximo a eles e as comunidades ribeirinhas rio abaixo, no caso de barragens. Proprietrios e no proprietrios, meeiros, parceiros, posseiros, locatrios, trabalhadores informais, por exemplo, podero ser considerados atingidos.
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AVALIAR O IMPACTO Devem ser estabelecidos critrios claros para a avaliao de impacto o estudo de impacto da remoo, levando-se em considerao que esta avaliao no deve ser meramente econmica, mas cobrir tambm aspectos sociais e culturais, considerando, inclusive, as condies de convivncia pr-existentes e outros impactos no materiais, como traumas psicolgicos e a deteriorao do acesso a servios como educao e sade, sobre diferentes grupos, como mulheres, crianas, idosos, pessoas com decincias fsicas, doentes ou grupos marginalizados.
Os critrios para o estudo de impacto da remoo devem ser construdos a partir de um processo consultivo genuno, e devem ser desenvolvidos com a participao da populao atingida. Mulheres devem ter iguais oportunidades para participar e expressar suas vises e preocupaes. Os resultados do estudo de impacto devem ser publicados e usados para decidir se o projeto deve ser ou no levado adiante.
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Se houver desacordo entre a comunidade afetada e a autoridade responsvel pelo despejo, a deciso final deve ser tomada por um rgo independente, que poder solucionar a situao atravs da adjudicao, da mediao ou da arbitragem. Esse rgo independente pode ser do prprio executivo, do legislativo ou do poder judicirio. O local de reassentamento deve estar pronto construo de casas, fornecimento de gua, eletricidade, saneamento, escolas, acesso a estradas e alocao de terras e moradias antes que a comunidade seja para l removida. Estes locais devem atender aos critrios e condies da moradia adequada, conforme explicitado no primeiro captulo deste guia.
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Nenhuma remoo deve ser realizada sem o acompanhamento de funcionrios pblicos devidamente identificados, que devem efetivamente zelar pela segurana da populao que est sendo removida. Observadores independentes devidamente identificados devem estar presentes para garantir que no sejam utilizadas fora, violncia ou intimidao.
Algumas ONGs realizam esse tipo de acompanhamento, como a Anistia Internacional, o COHRE Centro pelo Direito Moradia contra Despejos Forados, HIC Habitat International Coalition, entre outros.
A comunicao formal da remoo deve ser feita a todos os que sero removidos. Na data da remoo, funcionrios pblicos identificados devem apresentar o documento formal que autoriza a remoo. Devem ser comunicados tambm os rgos de assistncia jurdica e social e de direitos humanos.
As pessoas devem receber assistncia para a sada e transporte, e deve ser providenciada a retirada de seus pertences. Quando necessrio, a autoridade responsvel deve tambm responsabilizar-se pela guarda temporria dos pertences da comunidade atingida. Deve ser dada assistncia especial a grupos com necessidades especficas. A data e o horrio da retirada devem ser razoveis, adequados e prcombinados: No se deve realizar despejos noturnos, nem sob chuva, neve, etc. Deve-se buscar no afetar as crianas e adolescentes em suas atividades escolares; remoes no devem ser realizadas durante ou antes dos exames escolares Deve-se respeitar os feriados religiosos Deve-se respeitar os ciclos do plantio e colheita Bens deixados para trs involuntariamente devem ser protegidos.
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a remoo no pode:
Fazer uso da violncia e da intimidao, em nenhuma circunstncia Ser realizada de forma discriminatria ou replicar padres discriminatrios Resultar em pessoas e famlias desabrigadas Usar a demolio das casas ou das lavouras como retaliao ou ameaa contra a populao Destruir os bens das famlias afetadas Ignorar a situao especfica de mulheres e grupos em condio de vulnerabilidade (idosos e crianas, assim como outros)
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Sempre que possvel, prioridade ser dada para que a populao desalojada temporariamente retorne para o seu local de habitao original. Todas as pessoas, grupos e comunidades tm direito ao reassentamento, que inclui o direito a moradia adequada e terra alternativa de qualidade igual ou superior original. Os planos de retorno ou reassentamento devem ser desenvolvidos em consulta populao atingida e devem ser amplamente divulgados. Pessoas, grupos e comunidades afetadas devem estar de acordo com a remoo. Esse consentimento um direito e deve ser expresso de forma clara, antes do reassentamento ou do retorno ao local de moradia original.
Os responsveis pelo reassentamento devem, por exigncia legal, cobrir todos os custos da remoo para o novo local de moradia. Assistncia mdica e psicolgica pode ser necessria durante o planejamento e execuo das operaes de remoo, assim como no reassentamento ou retorno. Devem ser desenvolvidas polticas de assistncia tcnica e reinsero social para a populao atingida, tanto em caso de reassentamento quanto no caso de retorno. O reassentamento deve garantir que os direitos humanos das mulheres, crianas, povos indgenas e outros grupos vulnerveis sejam protegidos de forma equnime, inclusive no seu direito propriedade e acesso a recursos.
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Todos os removidos devem receber: Indenizao justa Acomodao alternativa adequada Acesso seguro a:
- alimentao, gua potvel e sanemaneto - abrigo ou moradia bsica provisria - roupas adequadas - servios mdicos essenciais - fontes de renda e pasto para seus rebanhos - acesso a recursos de propriedade coletiva - instalaes educativas e creches
Medidas devem ser tomadas para garantir que a moradia provisria / temporria no se torne permanente, como muitas vezes ocorre, com pessoas vivendo por anos em abrigos temporrios e containers.
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retorno e restituio
O retorno da populao afetada rea original de sua habitao deve ser sempre priorizado aps as remoes provisrias de projetos de reurbanizao ou outras nos quais isso seja possvel. Nos casos de restituio, os responsveis pela obra devem fornecer aos atingidos um documento legal explicitando a garantia de que vo voltar ao local Se, no entanto, a comunidade e as famlias no desejarem retornar, no devem ser obrigados a voltar contra sua vontade. Quando o retorno for possvel, o governo deve estabelecer condies e fornecer os meios, inclusive financeiros, para o regresso voluntrio em segurana e condies dignas. As autoridades devem facilitar a reintegrao daqueles que retornam ao seu local de habitao original e deve garantir plena participao de pessoas, grupos ou comunidades no planejamento e gerenciamento do processo de retorno. Aqueles que retornarem devem ter garantida sua participao nos benefcios do projeto. As autoridades responsveis devem auxiliar as pessoas que retornarem sua moradia original a recuperar seus bens e propriedades deixados para trs ou aqueles dos quais foram destitudos durante a remoo.
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moradores garantem restituio de suas Casas aps urbanizao em Coroa do meio, brasil
Os moradores da comunidade de Coroa do Meio (Aracaju/Sergipe-Brasil) tiveram suas 600 casas sobre palafitas restitudas aps projeto de urbanizao em rea prxima praia e ao centro da cidade de Aracaju. A rea era de propriedade do Patrimnio da Unio e constitua-se como rea de Preservao Ambiental. A rea era um loteamento de renda mdia e alta que no foi totalmente implementado e famlias de baixa renda comearam a ocupar, principalmente junto a uma rea de mangue, local favorvel pesca, sua principal forma de sustento. Houve inmeras tentativas de remov-los mas, aps muita mobilizao, os moradores conquistaram melhorias fsicas e sociais para o bairro por meio do Programa Moradia Cidad, com apoio municipal, federal, assessoria universitria e financiamento da CAIXA e BID. Antes do incio das obras, as famlias foram cadastradas. Durante as obras, o aluguel foi pago pela Prefeitura. E, depois do retorno ao local, houve acompanhamento social para consolidao e sustentabilidade da nova moradia.
Este exemplo foi retirado do Banco experincias de regularizao fundiria no Brasil, da Secretaria de Programas Urbanos do Ministrio das Cidades, Brasil (site www.cidades.gov.br/secretarias-nacionais/programas-urbanos/biblioteca/regularizacaofundiaria/experiencias-de-regularizacao-fundiaria-no-brasil/se/Coroa.pdf)
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reforma agrria inClui apoio para Construir Casas em dom toms balduno, brasil
Aps seguidas reintegraes de posse de diversos locais, 61 famlias, ex-moradoras de rua e hoje do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, conquistaram um assentamento prximo ao grande centro urbano conhecido como Comuna da Terra Dom Toms Balduno, em Franco da Rocha, na Regio Metropolitana de So Paulo, no Brasil. Aps a demarcao das terras feita pelo INCRA, a dificuldade enfrentada deu-se em relao escassez de recursos oferecidos pelo rgo para construo das casas. Com apoio de um grupo de Extenso da Universidade de So Paulo e do escritrio de assessoria tcnica - USINA, a soluo encontrada deu-se de modo participativo e definiu a construo sob a forma de mutiro. A participao dos moradores, junto aos estudantes e tcnicos da assessoria, deu-se desde o projeto at a execuo da obra, resultando em cinco tipologias de casas de mesmo custo e sistema construtivo, que respeitam as variadas necessidades dos modos de vida das famlias, sendo que algumas eram compostas por at dez pessoas.
A sntese deste exemplo consta no Relatrio Construo da moradia rural por autogesto, Assentamento Comuna da Terra Dom Toms Balduno, produzido em parceria pelo USINA e MST, Brasil.
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justa Compensao
As pessoas devem receber compensao justa por qualquer perda pessoal e material imposta pela remoo forada, inclusive com a utilizao de peritos independentes para arbitrar um valor justo. A compensao deve cobrir danos e custos materiais e no materiais, inclusive: Perdas de salrio / renda / oportunidades, inclusive emprego; Restries no acesso a educao / sade e tratamento mdico / benefcios sociais; Perda de equipamento / rebanho / rvores / colheitas / negcios; Aumento nos custos de transporte; Remdios e servios mdicos, psicolgicos e sociais. Independentemente se a pessoa possui documentao formal relacionada casa ou terra em que habita, ela deve ser indenizada por perdas e danos causados pela remoo e que afetem seus bens; Terra deve ser compensada com terra da mesma qualidade, tamanho e valor, ou qualidade, tamanho e valor superiores. A indenizao em dinheiro no substitui compensao real na forma de terra ou recursos de propriedade coletiva. Mulheres e homens devem ser co-beneficirios em todos os pacotes de compensao. Mulheres solteiras e vivas tem direito a indenizao em seu prprio nome. Caso ocorram violaes de direitos humanos antes, durante ou depois da operao de remoo, a compensao deve cobrir os danos que se possa calcular em dinheiro e deve ser proporcional gravidade da violao e s circunstncias do caso concreto. Quando o deslocamento e a moradia alternativa temporria no forem disponibilizados pelo governo, os custos a eles relativos devem ser indenizados.
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atingidos por hidreltriCa no sul do brasil reCebem Compensao justa aps proCesso partiCipativo
O caso da implantao da hidreltrica de It, entre os Estados de Santa Catarina e Rio grande do Sul, no Brasil, demonstra a viabilidade de acordo entre as partes envolvidas para definir critrios de reassentamento e indenizao financeira por necessidade de remoo. A construo da hidreltrica implicava na remoo de inmeros agricultores, de diversas cidades, das quais a principal era It, a sede municipal mais prxima da barragem e a nica cidade a ser totalmente atingida. Por meio de reao popular, que contou com apoio da sociedade em geral, de igrejas e do Banco Mundial, as famlias atingidas conseguiram barrar o processo de remoo, que normalmente segue princpios patrimonialistas e apenas de impacto hdrico direto, ou seja, indeniza apenas os proprietrios atingidos diretamente pela represa. O resultado desta ao foi um acordo firmado entre a empresa que estava construindo a barragem, o governo e as famlias afetadas. Este acordo determinava importantes parmetros para o reassentamento, as condies de indenizao e a execuo das obras. As famlias tiveram a possibilidade de escolha entre reassentamento ou justa indenizao financeira. As famlias que escolheram o reassentamento, puderam optar entre solues coletivas ou individuais, localizadas s margens de rio, em respeito ao acordo estabelecido. Para o caso de compensao financeira, o acordo exigia a participao dos atingidos na determinao dos preos unitrios da terra e das benfeitorias existentes.
As informaes sobre este exemplo foram obtidas atravs do documento Diretrizes e critrios para planos e projetos de reassentamentos rurais de populaes atingidas pelas usinas hidreltrica de It e Machadinho, elaborado pelo Grupo de Trabalho estabelecido entre ELETROSUL e CRAB, em 1987 (o documento completo est postado no site da relatoria www.direitoamoradia.org)
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de secretarias de desenvolvimento
sua cidade, estado ou pas; gerencia doras de projetos, empreiteiras e assessor ias tcnicas Comunidade Jurdica: Ministrio Pb lico e Defensoria Pblica de sua regi
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se voC verifiCar que essas reComendaes no esto sendo seguidas ou se voC entender que seus direitos esto sendo violados, rena as informaes ao lado de modo Claro e objetivo, e envie a uma entidade de assistnCia jurdiCa de sua regio.
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Identificao da remoo: Quem so as vtimas: descreva da forma mais detalhada possvel o(s) indivduo(s) e/ou comunidade atingida, fornecendo dados como nmero de afetados, local onde vivem e situao em que se encontram, se existem pessoas com necessidades especiais ou grupos vulnerveis envolvidos. Quem so os responsveis pela violao: no caso de servidores pblicos ou autoridades, indicar o rgo, o nvel de governo onde trabalham, quantos eram, seus cargos ou nomes (se conhecidos), se estavam uniformizados e identificados, etc. Data, local e descrio detalhada das circunstncias em que ocorreram a violao: nmero de despejos ocorridos, nmero de pessoas afetadas em cada um, identificao da comunidade atingida, motivao, o que aconteceu com as pessoas, se existiram processos judiciais antes ou depois da remoo, se so esperadas novas remoes, onde e quando. Identificao da organizao ou pessoas que apresentam a denncia: No caso da Relatoria, mantida confidencial a fonte das informaes. Indique o que quer manter em sigilo. A ao das autoridades: as autoridades do pas j receberam a denncia? Quais esto envolvidas? Que medidas tomaram? Atualizao das informaes: envie qualquer nova informao que surja assim que possvel.
Maiores informaes, veja o site da Relatoria. Voc tambm pode enviar estas denncias Relatoria, para o escritrio do Alto Comissariado de Direitos Humanos em Genebra atravs do email urgent-action@ohchr.org.
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normas e padres internaCionais
temas
Tratados internacionais de direitos humanos do sistema ONU que protegem o direito moradia adequada
normas
Declarao Universal dos Direitos Humanos (DUDH) Artigo 25, pargrafo 1 Pacto Internacional de Direitos Civis e Polticos (PIDCP) Artigo 17, pargrafo 1 Pacto Internacional de Direitos Econmicos Sociais e Culturais (PIDESC) Artigo 11, pargrafo 1
Conveno Americana Direitos Humanos Artigo 11 Protocolo Adicional Conveno Americana sobre Direitos Humanos em Matria de Direitos Econmicos, Sociais e Culturais
Comentrio geral No. 4 do Comit de Direitos Econmicos, Sociais e Culturais Comentrio geral No. 7 do Comit de Direitos Econmicos, Sociais e Culturais United Nations Comprehensive guidelines on Development-Based Displacement, 1997 Basic Principles and guidelines on Development-Based Evictions and Displacement, 2007
Discriminao
Conveno Internacional sobre a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao Racial Artigo 5, e, III Conveno Sobre a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao Contra a Mulher Artigo 14, pargrafo 2
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Para um panorama geral dos padres internacionais nesta rea, conhea a Fact Sheet No. 21 (rev.1) O Direito Moradia Adequada preparada pelo Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos e pela UN-HABITAT, disponvel em verso impressa e eletrnica nos websites mencionados ao lado
Estes documentos podem ser encontrados nos seguintes sites: www.un.org www2.ohchr.org/english/issues/ housing/index.htm www.unhabitat.org/unhrp www.mre.gov.br
temas
Crianas e adolescentes.
normas
Conveno sobre os Direitos das Crianas Artigo 16, pargrafo 1
Convention Relating to the Status of Refugees Article 21 guiding Principles on Internal Displacement United Nations Principles on Housing and Property Restitution for Refugees and Displaced Persons United Nations Principles on Housing and Property Restitution for Refugees and Displaced Persons
Conveno sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia, 2008 Declaration on the Rights of Indigenous Peoples, 2008 Conveno 169 da OIT
geneva Convention (fourth) about Protection of Civilian Persons in Time of War, 1949 Article 49
Trabalhadores migrantes
International Convention on the Protection of the Rights of All Migrant Workers and Members of their Families, 1990 Article 43, 1
Basic Principles on the Use of Force and Firearms by Law Enforcement Officials
Reparaes para vtimas de violaes de Basic Principles and guidelines on the Right to a Remedy and direitos humanos Reparation for Victims of gross Violations of International Human Rights Law and Serious Violations of International Humanitarian Law
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Este trabalho foi desenvolvido a partir dos Princpios Bsicos e Orientaes para Remoes e Despejos Causados por Projetos de Desenvolvimento (Basic Principles and Guidelines on Development-Based Evictions and Displacement), elaborados por Miloon Kothari quando Relator para o Direito Moradia Adequada, reformuladas com o objetivo de constituir em material de disseminao para usurios sem familiaridade com o sistema e a linguagem de Direitos Humanos. O texto foi produto do trabalho da equipe responsvel, elaborado a partir de quatro oficinas e um seminrio pblico com a presena de possveis futuros usurios deste material.
equipe responsvel Superviso Raquel Rolnik, Relatora Especial da ONU para a Moradia Adequada Elaborao dos textos Paula Ligia Martins, Marcia Saeko Hirata e Joyce Reis Assessoria para adequao de linguagem Veronika Paulics Reviso dos textos Shivani Chaudhry, Denise Hauser, Bahram ghazi Edio dos textos Bruno Lupion gonalves Projeto grfico Elisa Randow Ilustraes Joana Lira Apoio Administrativo Paula Zwicker Estagiria Maria Isabel de Lemos Santos
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partiCipao nas ofiCinas As oficinas foram realizadas nos dias 21 de agosto, 18 de setembro, 23 de setembro e 2 de outubro congregando movimentos sociais, gestores pblicos, tcnicos envolvidos no desenvolvimento de projetos, organizaes no governamentais e assessorias jurdicas de universidades. SEGUE ABAIxO lISTA DAS ENTIDADES E PARTICIPANTES DAS OFICINAS: Assessoria deputado Paulo Teixeira gisela Mori; Central de Movimentos Populares (CMP) Rio de Janeiro Marcelo Edmundo Braga; Central dos Movimentos Populares (CMP), setor Juventude So Paulo Luana M. Cardozo; Centre On Housing Rights and Evictions Sebastin Tedeschi; Centro de Trabalho Indigenista Sonia Lorenz; Centro gaspar garcia de Direitos Humanos Benedito Barbosa, Fabiana Rodrigues, Luiz Kohara; Defensoria Pblica Estado do Rio de Janeiro Maria Lucia Pontes; Defensoria Pblica Estado de So Paulo Carlos Henrique Loureiro; Departamento Jurdico XI de Agosto Stacy Torres; Diagonal Urbana consultoria Elza Maria Braga de Carvalho, Marta Maria Lagreca de Sales; Escritrio Modelo da Pontifcia Universidade Catlica Daisy Puccini Oliveira, Daniela Custodio, Delana C. Corazza, Irene M. dos Santos gusmo, Sabrina Marques; grupo de pesquisa Direito Polticas Pblicas Julia A. Moretti; Instituto de Terras do Estado de So Paulo Luiz Marques; Instituto Plis Luciana Bedeschi, Margareth Uemura, Nelson Saule; Instituto Scio-ambiental Nilto Igncio Tatto; Liderana indgena Fulni- e Conselho Estadual dos Povos Indgenas Avani Florentino Oliveira; Liderana indgena Paynar Luiz gonzaga Xipaia de Carvalho; Liderana indgena Tupinamb Ubirat Kuripaku Tupinamb; Movimento de Moradia da Regio Centro (MMRC) e Frente de Luta por Moradia Nelson C. Souza; Movimento dos Ameaados por Barragens (MOAB) Ewerton Benedito da Costa Librio; Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) Elias Paulo Dobrovolsky, Helio Mecca; Movimento dos Sem Terra (MST) Rosangela Santos; Movimento Nacional da Populao de Rua (MNPR) So Paulo Joel Porto Lima, Anderson Miranda; Movimento Sem Teto do Centro (MSTC) e Frente de Luta por Moradia Ivanete de Arajo, Ivanilda Rodrigues de Souza; Peabiru Trabalhos Comunitrios e Ambientais Caio Santo Amore; Prefeitura de So Paulo, Secretaria de Habitao Angelo S. Filardo, Violeta Kubrusly; Prefeitura Municipal de Taboo da Serra Angela Amaral; Prefeitura Osasco Patrick Carvalho, Rubens Liberatti; Servio de Assessoria Jurdica Universitria, Universidade de So Paulo Ana Flor de Souza Pontes, Bianca Tavolari, Patricia Meneguini da Silva, Ricardo Silva; Unio dos Movimentos de Moradia (UMM) Evaniza Rodrigues; Unio dos Movimentos de Moradia (UMM) e Habitat Internacional Coalition Maria das graas Xavier; Universidade Federal do ABC Rosana Denaldi; Usina Assessoria tcnica Jos Baravelli. Agradecemos a Carlos Vainer (UFRJ) pelo envio de referncias e material sobre o tema.
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se tiver dvidas ou quiser saber mais proCure: relatoria espeCial da onu para moradia adequada
www.direitoamoradia.org
APOIO:
FAU-USP