Sócrates Educador Powerpoint
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Scrates
470/469 - 399 a. C.
A NOVA PAIDEIA
Um novo ideal de formao cultural emerge juntamente com o florescimento da Atenas democrtica. Este fato est intimamente ligado com o deslocamento do sentido da aret a ser perseguida. H, portanto, uma diferena entre a tradicional concepo da aret aristocrtica e a nova aret da plis democrtica.
Toda educao deve ser poltica. Askesis: educao para a abstinncia e o autodomnio. Foi graas a Scrates que o conceito de autodomnio se converteu numa ideia central de nossa cultura tica (p. 548) Enkrateia: domnio de si prprio, moderao. Conceito originariamente socrtico, representa a base de todas as virtudes. Esse conceito surge, em grande medida, como contraponto dissoluo da autoridade exterior das leis do Estado.
LIBERDADE
O princpio socrtico do domnio interior do Homem por si prprio tem implcito um novo conceito de liberdade (p. 549). A noo de liberdade da Grcia clssica era oposta de escravido baseava-se num conceito positivo do direito poltico. Scrates o transformou num problema tico. Juntamente com o j citado princpio do domnio interior, surge a nova acepo de liberdade: livre o homem que no escravo de seus apetites liberdade interior.
AUTARQUIA
Autarquia = ausncia de necessidades.
O conceito originrio de autarquia vem dos mitos dos heris gregos, para quem suas prprias foras eram suficientes para ajudar a si prprio. Com Scrates, essa fora se converte em fora interior: s o homem que domina seus instintos (o sbio) verdadeiramente autrquico.
Entretanto, o ideal autrquico de Scrates no era apoltico, individualista. Ser um homem autrquico implica a vida na plis (vida poltica, entre amigos e em famlia) cooperao mtua.
Amizade: [...] quem quiser que lhe faam o bem tem de comear por faz-lo aos outros (p. 554). O apreo pela amizade era um sintoma dos tempos de guerra e de instabilidade social. Porm, o conceito socrtico de philia tem como pressuposto central no a utilidade dos homens uns para os outros, mas o valor interior de cada homem.
A amizade, assim, a verdadeira forma de relao entre os homens. Por isso, Scrates, ao contrrio dos sofistas, nunca fala de seus discpulos, mas de seus amigos.
O discpulo est continuamente diante dos seus olhos como um homem completo, e para Scrates, a quem repugnava tudo o que fosse elogiar a si prprio, o melhoramento da juventude, de que os sofistas se gabavam, era o sentido profundo e real de todo o seu trato amigvel com os homens (p. 556).
Em lugar do mero aprendizado literrio, relativo aos mais variados assuntos, Scrates assinala a suma importncia do aprendizado da virtude poltica (este seria o verdadeiro caminho socrtico).
A iniciao desse aprendizado deve ser a tomada de conscincia da prpria ignorncia e o conhecimento de si prprio. Entretanto, deve-se compreender que as virtudes polticas de Scrates no podem ser abstradas frente s virtudes ticas poltica e tica esto entrelaadas na vida da plis grega.
O tema do dilogo socrtico a vontade de chegar com outros homens a uma inteligncia, que todos devem acatar, sobre um assunto que para todos encerra um valor infinito: o dos valores supremos da vida. Para alcanar esse resultado, Scrates parte sempre daquilo que o interlocutor ou os homens de modo geral aceitam (p. 562).
Uma vez identificadas as contradies entre as diferentes acepes, o objetivo era determinar uma definio geral que pudesse dar conta dos fenmenos relativos ao valor em questo.
O MTODO DE SCRATES
Sem dvida, o mtodo dialtico de Scrates guarda muito do amor pela disputa (erstica). No entanto, o motivo que anima Scrates outro, e envolve a seriedade e a entrega ao assunto debatido.
O dilogo socrtico no pretende exercitar nenhuma arte lgica da definio sobre problemas ticos, mas simplesmente o caminho, o 'mtodo' do logos para chegar a uma conduta reta (p. 563).
O CONHECIMENTO
O mtodo do logos conduz ao seguinte ponto: os dilogos aporticos de Plato. A ideia central no seria a definio plena de um dado valor, mas, antes, a tomada de conscincia de que, independentemente de qual valor se trate, este deve consistir em um saber, um conhecimento.
Se a essncia da virtude ( a virtude em si) no consistisse num saber, de que valeria todo o esforo intelectual da busca pela definio?
Scrates est, portanto, mais preocupado com essa virtude em si (que deve ser um conhecimento) do que propriamente com as vrias virtudes debatidas. Entretanto, esta posio de Scrates parece contrariar os vrios exemplos da chamada fraqueza moral. Para Scrates, o conhecimento da verdadeira aret (virtude) o mesmo que possuir a virtude. No se trata de uma mera tarefa intelectual o logos, aqui, tanto terico, quanto prtico.
O conhecimento do bem, a quem em ltima instncia sempre se reduz o estudo de todas e de cada uma das virtudes, algo mais vasto que a bravura, a justia ou qualquer outra aret concreta. a 'virtude em si', que se revela de modo diverso nas diversas virtudes (p. 566). Entretanto, surge o paradoxo do conhecimento do bem e das diversas virtudes que o pressupem. A verdadeira aret una, indivisvel.
A VONTADE E O BEM
A sabedoria socrtica (phronesis) tem somente um objetivo: o conhecimento do bem. Logo, deve haver uma relao essencial entre esse saber e a natureza ntima do homem e sua vontade. As duas teses de Scrates (identidade virtude/saber; unidade da virtude) conduzem seguinte concluso: ningum erra voluntariamente.
Entretanto, Scrates no est se referindo ao conceito comumente aceito de vontade, pois distingue entre a vontade e os apetites. A vontade em si mesma racional, pois se dirige ao bem (p. 569).
Tal afirmao repousa sobre o pressuposto de que h um sentido para a vida humana, para a vontade: ela se orienta pelo bem. Esta uma noo totalmente socrtica, que viria a influenciar toda a concepo que possumos da vida como possuindo um sentido, um destino a ser cumprido.
O conceito socrtico de um telos para a vida tem como desdobramento uma mudana decisiva na concepo da paideia: esta agora deve ser conduzida por esse ideal de realizao daquilo que essencial ao homem, ou seja, o conhecimento do bem, a aret verdadeira. A formao cultural no se reduz mais a adquirir uma srie de conhecimentos e capacidades; estes no podem ser considerados seno um meio para aquele fim ltimo da vida humana.
Pensado desta forma, o homem nasceu para a paideia, para sua formao cultural completa.
Para o homem socrtico, a suma e o compndio do 'tudo o que eu tenho' a paideia, a sua forma interior de vida, a sua existncia espiritual, a sua cultura (p. 572).
Paideia vida interior, cultura liberdade, autarquia, virtude poltica
A misso educadora de Scrates se justifica por ele se sentir, legitimamente, como um ateniense, ao contrrio dos sofistas e retricos estrangeiros.
Aos seus olhos, era o Estado decadente quem no respeitava os valores da antiga e gloriosa Atenas, e no sua tentativa de instruir os jovens para a virtude poltica. A luta heroica de Scrates de contrapor s leis da plis a lei que o homem deve encontrar em si mesmo aproxima esse novo ideal de aret da tradio grega: a batalha de Scrates surge tal qual os desafios enfrentados pelos heris homricos. A espiritualizao da aret ainda encontra suas razes na superao heroica e na coragem.
Autarquia
Virtude poltica
REFERNCIAS:
BRISSON, Luc; PRADEAU, Jean-Franois. Vocabulrio de Plato. Traduo de Claudia Berliner. So Paulo: Martins Fontes, 2010 CHAU, Marilena. Introduo histria da filosofia: dos pr-socrticos a Aristteles, volume 1. 2. ed. So Paulo: Companhia das Letras, 2002. JAEGER, Werner. Paideia: a formao do homem grego. Traduo de Artur M. Parreira. 5. ed. So Paulo: Martins Fontes, 2010, p. 493-580.