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Será o Conhecimento Possível

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A epistemologia, gnosologia ou teoria do conhecimento, é a disciplina filosófica que estuda o conhecimento,

procurando escarecer e analisar criticamente problemas relativos, por exemplo, «O que é o conhecimento?», «Será o
conhecimento possível?», «Quais são as fontes mais seguras do conhecimento?» , etc. O problema central que será
aqui discutido é o problema da possibilidade do conhecimento.

Este problema pode ser explicitamente


formulado conforme se segue «Será o
conhecimento possível?» Contudo é
importante termos em mente uma
determinada concessão de conhecimento

O que é o conhecimento?

O conhecimento é o ato através do qual o sujeito constrói uma representação de um objeto.

Relação entre um sujeito – aquele que conhece – e um objeto – aquilo que é conhecido
Uma vez que o objeto do conhecimento não é sempre o mesmo, os tipos de conhecimento podem variar. O
conhecimento proposicional distingue-nos dos outros animais. Centrar-nos-emos neste tipo de conhecimento.

Tipos de conhecimento

Conhecimento prático Conhecimento por contacto


Conhecimento proposicional

Atividades ou ações Proposições verdadeiras Realidades concretas

É o conhecimento de É o conhecimento de proposições É o conhecimento direto de


atividades ou ações. ou pensamentos verdadeiros. alguma realidade.

Exemplo: Exemplo: Exemplo:


saber conduzir na cidade saber que Lisboa é a capital de conhecer Lisboa (ter visitado
de Lisboa. Portugal. esta cidade).
Definição tripartida/tradicional do Platão, no seu diálogo Teeteto, apresenta uma proposta
conhecimento de definição de conhecimento porposicional.

«Conhecer é ter uma crença verdadeira justificada»

«O saber é uma opinião verdadeira acompanhada de


explicação»
Existe três condições necessárias para
o conhecimento: crença, verdade e A crença é um estado mental de convicção ou de adesão a algo. Todo o
justificação. Conjuntamente, tornam- conhecimento envolve uma crença. A crença é uma condição necessária
se suficientes para haver conhecimento: quando sei algo, acredito nesse algo.
Para haver conhecimento, as nossas crenças têm de ser verdadeiras. A
verdade é uma condição necessária para haver conhecimento. Não
podemos saber algo que é falso: saber algo implica a verdade daquilo
que sabemos. No entanto, estas condições ainda não suficientes.
A crença verdadeira tem que estar justificada , ou seja, temos de ter
boas razões a favor dessa crença.

Na definição tradicional/ tripartida do conhecimento, a crença verdadeira justificada é aquilo que


define o conhecimento: crença, verdadeira justificada. Tomadas em conjunto são suficientes para o
conhecimento.
A crença verdadeira justificada não é uma condição suficiente para haver conhecimento Esta ideia de
conhecimento
proposocional como
crença verdadeira
justificada não é
Edmund Getier refuta a definição tradicional de conhecimento de Platão, proprondo consensual e
situações hipotéticas em que as pessoas têm crenças verdadeiras justificadas e, na encontra-se sujeita
verdade, não têm conhecimento a algumas objeções.

Os contraexemplos de Getier mostram, que apesar de a crença em causa ser verdadeira e


estar justificada, a justificação que o sujeito apresenta para essa crença não se baseia em
aspetos relevantes da realidade que tornam a sua crença verdadeira.

Gettier admite que uma crença verdadeira justificada não é suficiente. A justificação nem
sempre é relavante para os aspetos da realidade. (Exemplo das ações da Coca-Cola)
As fontes de justificação do conhecimento Distinguimos o conhecimento a priori e
conhecimento a posteriori

Razão/Pensamento Conhecimento a priori


O facto de haver diferentes formas de
justificar as crenças que temos por
verdadeiras remete-nos para o problema
das fontes de conhecimento. Perguntar
pelas fontes de conhecimento equivale, Fontes de
então, a perguntar pelas fontes de justificação do
justificação das nossas crenças ou pela conhecimento
justificação que apresentamos para
mostrar que as nossas crenças ou as
nossas proposições são verdadeiras. Ao
considerarmos a multiplicidade de juízos ou
preposições que formulamos, podemos
Experiência Conhecimento a posteriori
constatar que nem todos têm a mesma
origem.
Conhecimento que pode ser obtido
Razão/Pensamento Conhecimento a priori independentemente da experiência
sensível ou seja, apenas através da
razão ou do pensamento

A justificação das nossas crenças


Fontes de tem por base a razão e o
justificação do pensamento
conhecimento

Conhecimento que pode ser obtido


através da experiência sensível, ou
Experiência Conhecimento a posteriori seja, é necessário recorrer aos
sentidos para obter conhecimento
empírico

A justificação das nossas crenças


tem por base a experiência sensível
Sob o ponto de vista da origem do
Vamos agora estudar duas doutrinas filosóficas que conhecimento, os racionalistas defendem
valorizam e priveligiam diferentemente as fontes de que a razão é a principal fonte do
que provém os conhecimentos referidos. conhecimento. Por sua vez, os empiristas
defendem que todos os nossos
conhecimentos têm origem na experiência.

De acordo com o racionalismo, a razão é a principal fonte


de conhecimento. Só através da razão é que se pode
Razão/Pensamento Racionalista encontrar um conhecimento seguro, o qual se apoia em
princípios evidentes, sendo totalmente independente da
experiência sensível.
René Descartes Isto não significa que os racionalistas neguem a existência
do conhecimento empírico. Este conhecimento existe, mas
não pode ser universal e necessário. As crenças e
Gottfried Leibniz informações, que se obtêm através dos sentidos, são,
muita das vezes, confusas e incertas.
Qual é a principal
fonte de justificação
das nossas crenças? O emprismo é uma teoria segunda a qual a experiência é a
principal fonte do conhecimento. De acordo com esta
David Hume doutrina, não existem ideias, conhecimentos ou princípios
inatos. O entendimento humano é, antes de qualquer
experiência, como uma tábua rasa ou como uma folha de
John Locke papel em branco. Nada à nascença se encontra esrito na
mente, só com experiência isso se tornará possível.
Portanto, nega a existência de conhecimentos inatos,
Experiência Empirismo afirmando que o conhecimento humano deriva
principlamente da experiência.
Não negam o conhecimento a priori, apenas defendem
que este conhecimento nada nos diz de importante ou de
substancial acerca do mundo.
Racionalismo Empirismo

A razão é a fonte principal de conhecimento. A experiência é a fonte principal de conhecimento.

Existem conhecimentos a priori acerca do Não existem conhecimentos a priori acerca do


mundo. mundo.

Há conhecimento inato
Nenhum conhecimento é inato.
(mas apenas para alguns racionalistas).

As ideias fundamentais O conhecimento do mundo


descobrem-se por intuição intelectual. obtém-se através de impressões sensoriais.
Racionalistas e empiristas admitem, portanto, que o conheecimento (proposicional) é possível. Mas será que o
conhecimento é mesmo possível? Será possível ter uma crença verdadeira justificada acerca de alguma realidade?

Ceticismo Radical – considera-se Pirro Élis o O filósofo Sexto Empírico, também cético pirrónico,
fundandor desta teoria apresentou argumentos que conduziam à dúvida
relativamente às justificações das crenças e que
levavamos os céticos a suspender o juízo.
O ceticismo radical nega que isso seja possível. É
uma concorrente filosófica que afirma a
impossibilidade do conhecimento. Isto significa
que, mesmo que as nossas crenças sejam
verdadeiras, não temos justificações para mostrar
essa verdade. Nenhuma fonte do conhecimento,
- Divergência de opiniões
seja ela a razão ou a experiência, é satisfatória
- Ilusão
- Regressão infinita da justificação
Argumento da divergência de opiniões Argumento da ilusão

Se algumas opiniões estivessem


devidamente justificadas, não haveria Os objetos, pelas diversas formas como
razão para outras pessoas razoáveis. No nos surgem, desencadeiam ilusões e
entanto, mesmo entre os especialistas aparências, não havendo possibilidade
da nesna área isso está longe de de decidir qual a sua verdadeira
acontecer. Frequentemente, estes realidade. Estas ilusões sensoriais
discordam, o que significa que nenhum questionam a fiabilidade dos sentidos:
deles considera boas razões que parecem mostrar que os sentidos não
justificam a opinião do outro. Assim são uma fonte de justificação segura do
nenhuma crença está devidamente conhecimento.
justificada, sendo preciso suspender o
juízo.
Argumento da regressão infinita da justificação

Este argumento baseia-se apenas no raciocínio.


Segundo os céticos tentamos justificar uma crença com base noutra. No
entanto para que esta crença possa justificar a primeira, tem de estar, ela
própria justificada. Assim, justificamos a segunda crença com base numa
terceira crença e assim por diante, tornando-se num círculo vicioso. Por outras
palavras, ao tentar justificar uma crença acabamos por cair numa regressão
infinita da justificação, acabamos por retroceder de crença em crença
procurando justificar cada uma delas com base na seguinte.

O ceticismo radical pode, de certa maneira, ser considerado autorrefutante e autocontraditório, pois afirma que o
conhecimento é impossível, mas ao afirmar isso já exprime um conhecimento.

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