Caso Clínico Mezps, 16
Caso Clínico Mezps, 16
Caso Clínico Mezps, 16
HDA: Na admissão, pela Cirurgia Geral, paciente relatava que no final de Março iniciou quadro de constipação que
evoluiu, no inicio de Abril, com para quadro de febre, náusea, vômitos e dor em hipocôndrio direito. Relata que esteve
em outro serviço onde foi feito 3 dias de Metronidazol + Ciprofloxacino, sem melhora. Relata inapetência e perda de
peso. Nega sintomas respiratórios. Nega alergias, comorbidades ou medicações de uso contínuo.
#HPP: nega comorbidades, alergias, medicações de uso contínuo, trauma, internações ou transfusões prévias. Não
sabe informar sobre calendário vacinal.
#H. FAMILIAR: nega comorbidades em pais e irmãos.
#H. FISIOLÓGICA: menarca aos 12 anos, menstruação regular, com alto fluxo. previamente ao
quadro, os håbitos urinários, intestinais, alimentares e de sono não possuíam alterações
#H. SOCIAL: Reside em área urbana, casa de alvenaria, com saneamento básico, possui
cachorro vacinado. estuda em instituto federal próximo a matas (ifrj paracambi). Nega contato com terra.
Sinais vitais: PA 110x 70 mmhg | Sat 96% em AA | FC110 bpm | FR 18 rpm | Afebril
- Laboratório Admissão ( 14/04): HB 10,3 // HT 32 // LEUCO 29820 // SEG 48 / BASTÕES 4 // EOSINÓFILOS 42/ PLAQ
324/ BT 0,96 I1.BD
0,5 11 B1 0,46 /1 NA 136 /1 TGP.24// K 5,2 I/ LDH 288 // AMILASE 10 / LIPASE 5 % II GGT 289 / FA 557 | BHCG
NEGATIVO
-USG abdome (15/04) Fígado com forma e contornos preservados. Volume normal. Parênquima homogêneo. Veias
hepáticas e sistema porta com calibre e topografia normais. Vias biliares intra-hepáticas com trajeto e calibre
preservados. Hepatocolédoco com calibre de 4mm. Vesícula biliar distendida, com paredes espessadas (6mm). todas
ocupadas por lama biliar, condições onde microcálculos estão frequentemente associados. Bexiga distendida.com
parede fina e conteúdo anecoico
Mantido quadro de constipação e inapetência, com queixa de distensão abdominal. Relata insônia e palpitações, além de sudorese
noturna e tremores próximo ao horário de dormir. Mantém quadro cutâneo pruriginoso.
Ao exame: Lúcida e orientada no tempo e espaço eupneica em ar ambiente, acianótica, anictérica, afebril, hipocorada ++/+4 e desidratada
+/+4.
retroauricular e cervical.
PA: 100x70 mmHg / FC: 105 bpm / FR: 18 irpm / SAT: 94% / Afebril
#EXAMES COMPLEMENTARES (23/04/24)
repercussões
Os pulmões são a porta de entrada pela inalação dos conídios ou fragmentos de micélios de Paracoccidioides brasiliensis ou Paracoccidioides lutzii
presentes no solo (forma infectante), levando à evolução para a forma leveduriforme quando a 37 °C e intracelular em macrófagos alveolares
( forma patogênica).
Uma vez nos pulmões e na pele, o fungo se dissemina por meio do sistema linfático e sanguíneo, afetando diversos órgãos, além de seguir a via
canalicular
ao longo do sistema respiratório. A progressão da doença depende da virulência do agente infeccioso
e da capacidade de resposta imunológica do hospedeiro
A inoculação direta na pele ou mucosa oral já foi observada em áreas rurais com a prática de limpeza de dentes com componentes de vegetais,
podendo também resultar em disseminação linfática e por via circulatória. A doença já foi descrita em tatus, cães e outros animais, mas não é
conhecido o caráter zoonótico.
Geralmente, adquire-se a infecção nas 2 primeiras décadas de vida, mas as manifestações clínicas ou a evolução para a doença ocorrem,
predominantemente, entre 30 e 50 anos,
Imunopatogenia th1 th2
PREDOMINIO PADRÃO TH1 >>
O controle da infecção depende de resposta imune celular efetiva, está associada ao padrão tipo 1 (Th1) da resposta imunológica,
caracterizado pela síntese de citocinas que ativam macrófagos e linfócitos T CD4+ e CD8+, resultando na formação de granulomas
compactos. A organização desta resposta imune celular permite o controle da replicação do fungo, mas formas quiescentes podem
persistir no interior do granuloma.
Pacientes infectados que evoluem para doença apresentam depressão da resposta tipo 1, alteração esta que se correlaciona com a
gravidade da doença. Neste contexto, formas mais graves evoluem com predomínio de resposta imunológica tipo 2 (Th2), onde há maior
ativação de linfócitos B, hipergamaglobulinemia e altos títulos de anticorpos específicos, cuja magnitude, em geral, correlaciona-se
positivamente com a gravidade e disseminação da doença. Esta observação é corroborada pelo encontro de queda importante do número
de linfócitos CD4 nos pacientes portadores de formas mais graves desta micose
Formas Clínicas
I) Infecção paracoccidioidica
Infecção pulmonar primária (90% dos casos) com tosse (produtiva ou não), possível fibrose e alterações enfisematosas levando à cor pulmonale (5% dos casos),
lesões faríngeas e laríngeas possíveis úlceEsta forma clínica é responsável pela maioria dos casos de PCM, com prevalência de 74 a 96%.
Apresenta-se em geral em adultos com 30 a 60 anos de idade e predomina no sexo masculino – razão de masculinidade igual a 22:1.
Mulher estradiol b17 >>
ras orais, faríngeas e nasais e
linfadenopatia mandibular ou cervical dolorosa, lesões cutâneas com aspecto de pápulas crostosas, úlceras, nódulos, placas e/ou lesões verrucosas
hepatoesplenomegalia
Outros sítios afetados incluem suprarrenais, Ossos longos (osteomielite em quadril, úmero e clavículas), linfonodos mesentéricos
podendo levar à obstrução intestinal, sistema nervoso central (cefaleia, meningoencefalite).
Em alguns casos, a doença pode surgir semanas a décadas posteriores à exposição, com disseminação do fungo por via linfo-hematogênica.
Geralmente, adquire-se a infecção nas 2 primeiras décadas de vida, mas as manifestações clínicas ou a evolução para a doença ocorrem,
predominantemente, entre 30 e 50 anos.
Forma
subaguda/juve
nil
Forma aguda/subaguda (forma juvenil)
Responsável por 5-25% dos casos
Predomina em crianças e adolescentes e adultos jovens, podendo eventualmente acometer adultos com mais de 30 (até os
40) anos de idade. A distribuição por gênero é praticamente igual, particularmente entre crianças.
Febre, perda de peso, anorexia e emagrecimento acompanham com frequência o quadro clínico. Linfadenomegalias intra-
abdominais podem coalescer e produzir efeito de massa que exerce compressão em vários órgãos, como colédoco e alças
intestinais.
Menor frequência de acometimento de vias aerodigestivas superiores e raramente pulmões (porta de entrada).
Evolução rápida, com ampla disseminação do fungo a múltiplos órgãos e sistemas.
Febre, perda de peso, anorexia e emagrecimento acompanham com frequência o quadro clínico.
Linfadenomegalias intra-abdominais podem coalescer, produzindo massas tumorais que exercem compressão
em vários órgãos, tais como colédoco e alças intestinais.
Um destaque entre as alterações laboratoriais nessa forma é a eosinofilia periférica, que pode ocorrer em 30
a 50% dos casos.38,39,40 A eosinofilia mais raramente pode chegar a níveis elevados, de até 70%.
● Marcadores de gravidade (três ou mais critérios):
O padrão ouro para o diagnóstico de PCM é o encontro de elementos fúngicos sugestivos de Paracoccidioides spp em exame a fresco de
escarro ou outro espécime clínico (raspado de lesão, aspirado de linfonodos) e/ou fragmento de biópsia de órgãos supostamente acometidos.
O diagnóstico é realizado através da visualização de leveduras em tecidos em preparações a fresco a partir do escarro ou desbridamento superficial
de lesões de pele. Testes sorológicos estão disponíveis em áreas endêmicas. A cultura deveria ser sempre solicitada, mas apresenta baixa
sensibilidade.
Exames de rotina: Análise a fresco do escarro ou material biopsiado por tratamento com hidróxido de potássio, histopatologia, cultura para fungos,
sorologia por imunodifusão dupla, contraimunoeletroforese (CIE) ou ELISA (menor especificidade), imunoblotting com antígeno P43 e gp70, reação
de polimerização em cadeia (PCR).
Adicionalmente, radiografia de tórax, ultrassonografia abdominal, tomografia computadorizada ou ressonância magnética (quando necessárias),
hemograma completo, VHS, eletrólitos, hepatograma, eletroforese de proteínas e função renal. O teste cutâneo com paracoccidioidina apresenta
pouca significância diagnóstica.
Para fins de possível notificação padronizada de casos, sugerem-se as seguintes definições:
1. Caso suspeito: paciente com uma ou mais das seguintes manifestações, durante pelo menos quatro semanas, excluída a tuberculose e outras
doenças que cursam com quadro semelhante:
2 - Caso provável: paciente com manifestações clínicas compatíveis com PCM e títulos de anticorpos séricos anti-P. brasiliensis realizado
preferencialmente por imunodifusão quantitativa. A técnica de contra-imunoeletroforese é uma alternativa válida porém disponível em centros
de referência. A técnica de ELISA não deve ser empregada pela sua inespecificidade na PCM. Consideram-se significativos títulos maiores que
1:16.
3 - Caso confirmado: Paciente com manifestações clínicas compatíveis com PCM em cuja secreção, fluido corporal ou material de lesão foi
observado a presença de P. brasiliensis, por exame micológico direto, cultura ou exame histopatológico.
Complicações: As complicações possíveis da paracoccidioidomicose incluem anemia, caquexia, hemoptise,
fibrose pulmonar, cor pulmonale crônico, síndrome de Addison por destruição das suprarrenais, perfuração em
palato ou septo nasal, estenose de laringe e traqueia, fibrose intensa em feridas, superinfecção bacteriana ou
outros patógenos, sepse e óbito.
● 1. Fase de indução: Escolha uma das opções:
Anfotericina B desoxicolato 0,5-0,7 mg/kg/dia EV de 24/24 horas, para um total acumulado de 30
mg/kg, por 2-4 semanas;
● Anfotericina B formulação lipídica 3-5 mg/kg/dia EV de 24/24 horas.
● 2. Fase de manutenção: Após terapia venosa. Escolha uma das opções:Itraconazol 200 mg VO de
24/24 horas, por no mínimo 12 meses;
● Sulfametoxazol + trimetoprima 800+160 mg VO de 8/8 a 12/12 horas, por 18-24 meses;
● Voriconazol 6 mg/kg VO, por 2 doses. Seguido de 4 mg/kg VO de 12/12 horas, por 9-18 meses.
Tratamento
FISIOPATOLOGIA
ADULTA
JUVENIL
DIAGNÓSTICO
TRATAMENTO
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