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UNIVERSIDADE INDEPENDENTE DE

ANGOLA
FACULDADE DE DIREITO
DISCIPLINA CIÊNCIA POLÍTICA
O DOCENTE: JOSEFINO ANTÓNIO SAWANDJI JOÃO, PH.D

ANO LECTIVO 2021/2022


1. O conceito de Política
 Cada um de nós tem uma noção mais ou menos clara do que quer dizer a palavra Política, porque vivemos em
sociedade e a nossa experiência regista inúmeros factos e situações que toda a gente considera advirem de uma
natureza política. A política é uma actividade que os homens desenvolvem para organizar o grupo, mantê-lo
unido, protege-lo e aumenta-lo, isto é, crescer e desenvolver; escolher aqueles que tomam as decisões e as regras
para o efeito e para a administração dos recursos, prestígio e valores.
 Este verbete deriva de Politikós, o adjectivo de polis, para então chegar a uma primeira definição formal da
noção de política, que indicava todos os procedimentos relactivos à pólis, ou cidade-Estado (no sentido mais
amplo). Por extensão, poderia significar tanto cidade-Estado quanto sociedade, comunidade, colectividade e
outras definições referentes à vida urbana. Um conceito que leva a uma multiplicidade de opiniões, que têm
evoluído ao longo dos tempos e de acordo com as diferentes épocas históricas. Na maior parte das vezes e na
maioria das obras clássicas, este conceito está intrinsecamente ligado ao de poder, muitas vezes ao de autoridade
e de governo ou formas de governo. Se relaciona, então, ao estabelecimento de princípios que organizam a vida
colectiva, à fundação de uma sociedade, à escolha das regras que permitirão que os homens vivam juntos. Um
elemento imprescindíveis, sem o qual não existiria uma comunidade.
 Buscando por empréstimo o historiador Moses Finley, pode-se argumentar dizendo que a invenção da política se
relaciona à centralidade da participação popular na Grécia e Roma antiga, isto é, nos períodos democrático e
republicano. Para os gregos, a fonte da autoridade emanava da colectividade, ou seja, só deveriam ser
consideradas as decisões resultantes da discussão aberta, seguida de votação. Pois, assim, pode-se entender o
nascer da política à associação e à participação popular e à necessidade de resolução pacífica de conflitos via
argumentação efectuada na Assembleia, isto é, a direcção ou a influência sobre a direcção de uma associação
política ou seja, no nosso tempo, de um Estado.
 Passa então a ser definida como “política” a esfera das “actividades” que têm como termo
(referenciadas em dois tipos) dependendo se o curso da acção se processe a partir do Estado,
ou seja, a polis dela seja o sujeito, como nos actos eminentemente políticos de comandar e de
legislar, ou se o curso da acção se processe em direcção ao Estado, ou melhor, em direcção
ao “poder estatal”, que o objecto dos actos igualmente políticos como o de conquistar ou
derrubar tal poder. Na esteira de Max Weber, diríamos aquele que tem o monopólio da
violência legítima. Consiste numa dura e prolongada penetração através de tenazes
resistências, e para ela se requer, ao mesmo tempo, paixão e medida.
 Desse modo, a noção de Estado como termo de referência directo da noção de política tende
implicitamente a resumir-se na, e a ser substituída pela, noção de poder, ora como princípio,
ora como fim da actividade política. A política é a ciência formal da autoridade. De polis e
do neutro plural Ta Politica (as coisas da cidade) ao Estado, o objecto de reflexão leva a que
a noção de política esteja ligada ao poder em geral, ao poder do Estado e à sua organização,
referindo-se, desta feita, ao Estado como uma ideia, dado que os homens, para não terem de
obedecer aos seus semelhantes, criaram uma forma de poder que, enobrecendo a obediência,
não cria autoridade, mas simula as suas formas.
 Entretanto, o termo foi enriquecido por vários autores, que hoje ressoam nos algures da
ciência política. Para certos autores, a política é na verdade uma arte. Mas nem todos pensam
assim: dentro de uma grande multiplicidade de opiniões, a política aparece definida como
luta destinada a fazer triunfar ou fracassar determinadas ideias e projectos, uma competição
entre homens ou grupos sociais.
 E daquilo que podemos dizer, abertamente, a política é uma actividade humana, de tipo
competitivo, que tem por objecto a conquista e o exercício do poder, esse poder que, enquanto
dominação supõe uma estabilidade, uma permanência, uma institucionalização, um laço entre
dois elementos de poderio diferente, o excesso de poderio de um homem sobre o outro homem.
 Dos autores que hoje estudam a questão política e escrevem sobre ela, estão divididos quanto a
referência da política ao Estado. Surgem duas concepções diferentes de Política:
 Para uns, como Marcel Prélot e Marcello Caetano, a política tem a ver essencialmente com o
Estado, ou melhor, com a conquista e o exercício do poder no Estado. Reconhecem estes autores
que também existem fenómenos de poder fora do Estado: na sociedade internacional, nas
comunidades municipais, nas igrejas, nos sindicatos, nas empresas, nas instituições
administrativas, etc;
 Para outros autores, como Georges Burdeau, Maurice Duverger e R. A. Dahl, o conceito de
política deveria ser ampla para considerar como essência da Política todo o fenómeno de poder
em qualquer sociedade humana. Assim, por exemplo, Georges Burdeau afirma dizendo que «a
característica da política é aquela que se prende a todo o facto, acto ou situação enquanto
traduzem a existência, num grupo humano, de relações de autoridade e de obediência
estabelecidas em vista de um fim comum». E R. A. DAHL declara, por sua vez, que «um sistema
político é uma trama persistente de relações humanas que implica uma medida significativa de
poder, de dominação ou de autoridade».
 A política tem, assim, para nós, um âmbito muito mais vasto do que o da política exercida ao
nível do Estado ou da Nação. E abrange todos os fenómenos de luta pelo
 poder e de exercício do próprio poder em toda e qualquer instituição social onde se manifestem.
Assim, a política é concebida como um jogo de soma nula onde tudo o que um ganha o outro
perde. No entanto, de forma pragmática e tendo em conta a razão de Estado, ela passa a ser uma
arte de governar, de aproveitar todas as coisas, tanto as que o povo ignora como as que conhece.
Pois, nos dias de hoje, a política está associada ao poder, ao poder político, à autoridade e à
distribuição de valores. Por isso, a política, como sustenta Freitas do Amaral, é uma luta destinada
a fazer triunfar ou fracassar determinadas ideias ou projectos. A política é uma competição entre
homens ou grupos sociais e tem por objectivo o governo dos povos. Eis, os seus apanágios
essenciais:
 A política pressupõe luta entre pessoas, ou grupos sociais, ou países, e portanto implica divisão.
Mas o exercício do poder não é possível se acima dos factores de divisão, e mais fortes do que
eles, não houver e não funcionarem importantes factores de união. Quanto maiores são as
dificuldades políticas, mais frequentes são os apelos à união dos que se dividiram; quanto mais é
uma crise, mais os governantes precisam de unir os governados, porque «a união faz a força»;
 A política comporta sempre um duplo aspecto de que não consegue fugir- o poder tem de ter força
para se impor, quando não deixa de ser poder, e por outro, lado só pode manter-se e ter êxito se for
considerado legítimo e for aceite pela generalidade dos que se lhe sujeitam. A política pressupõe,
assim, uma dialéctica e harmonização constante entre as exigências do poder e da autoridade e as
da aceitação pacífica dos governantes pelos governados;
 A política produz constantemente uma outra dialéctica, uma outra relação bipolar, que é a dos
motivos e circunstâncias que levem os governados a obedecer ou a desobedecer aos governantes.
Entendendo, assim, a política como «um conjunto das razões para obedecer ou para se revoltar».
2. As fronteiras da Política
 Na definição inicial de política, também aqui identificada com uma “esfera de acções”, os dois
processos do agir político são indicados brevemente pelos termos “conquista” e “exercício”,
sem particular destaque para a diferença entre os dois, com referência directa ao “poder último
(supremo ou soberano) ”, e apenas indirecta à “comunidade de indivíduos” e ao “território”.
 Contudo, podemos reconhecer nesta definição os três elementos constitutivos da noção jurídica
mais comum de Estado (Poder-Instituições-Soberano, Povo e o Território). Mas, sem dúvida,
das duas noções primárias através das quais Bobbio constrói a definição de política, a principal
é a noção de poder. A esfera do poder é mais ampla do que a da política, e esta é mais ampla
que a esfera do Estado. Em ambos os casos o fenómeno é idêntico: trata-se da luta pelo poder e
da acção, pacífica ou violenta, para o conquistar ou para o manter.
 Eis, assim, a outra face da política: além da luta pelo poder, também o exercício do próprio
poder. O poder constitui a maior ambição de todo o político. Porém se esquecem, quanto
governar seja uma tarefa difícil. Pois, desde o início, o objecto qualificante, se bem que não
exclusivo, da análise política foi identificado como o poder. As modalidades de aquisição e de
utilização do poder, a sua concentração e a sua distribuição, a sua origem e a legitimidade do
seu exercício, e mesmo a sua definição enquanto poder político permamneceram no centro de
toda a análise política de Péricles a Maquiável, de Hobbes aos nossos contemporâneos.
 Sobre essa questão, existe muitas e variadas definições. Segundo Freitas do
Amaral, duas são as mais conhecidas entre nós: a de Duguit e a de Marcello
Caetano. Duguit diz-nos que - o poder é a distinção entre governantes e
governados; e Marcello Caetano, por sua vez, diz-nos que- o poder é a faculdade
de traçar livremente a sua própria conduta ou a de definir a conduta alheia.
 Daquela que achamos ser a mais comum definição, a deciframos no seguinte: o
poder é a faculdade de mandar e a capacidade de se fazer obedecer.
 Nesta definição, então, é possível retirar algumas ilações sobre o conceito de
poder, em que se relacionam os recursos e as capacidades em contexto de
interacção, como o apresentava Michel Foucault:
 O poder não é qualquer coisa que detemos ou perdemos mas exerce-se a partir de
pontos inumeráveis e no jogo de relações desiguais e móveis;
 As relações de poder não existem à parte ou no exterior ou por cima (como
superestruturas) das outras relações (quer se trate de relações económicas, de
relações de conhecimento, de relações sexuais); não desempenham só um simples
papel de proibição ou de reprodução mas um papel “directamente produtor”;
 As relações de poder existem nos grupos e nas instituições que estão na base da sociedade (as
famílias, as empresas, etc), e estas clivagens podem ligar-se constituindo uma oposição massiva
dominadores/dominados que afecta todas as relações desiguais; o muito grande número de
relações de forças que constituem a microfísica do poder podem também ser remanuseadas;
 As relações de poder são intencionais mas não subjectivas: não são engendradas pelo desejo do
poder de um sujeito individual ou de uma espécie de estado, maior social colectivo, mas são o
efeito de programas, de tácticas complexas que podem funcionar como elas próprias; explicam-se
não porque sejam o efeito em termos de causalidade de uma outra instancia que os “explicaria”,
mas porque são atravessadas de lado a lado por por um cálculo. Estas múltiplas tácticas por
interferências, contactos, ajustamentos derivam de vastas estratégias que não encontramos
ninguém para enunciar;
 Onde há poder, há resistência, sendo esta não uma passividade mais ou menos viscosa mas contra-
táctica ou contra-estratégica, ou melhor, há multiplicidade de resistências, que não são o simples
contra-golpe, a simples impressão em negativo da dominação. A resistência “nunca está em
posição de exterioridade em relação ao poder”. A codificação estratégica desta multiplicidade que
é inumerável, como o são as relações de poder, pode tornar possível uma revolução “um pouco
como o Estado repousa na integridade institucional das relações de poder”.
 Assim, interessa-nos dizer que o poder é como um tipo particular de prática. Este poder extraído
de um modelo determinista, psicológico e binário, é concebido já não como uma relação entre
substâncias ou entre sujeitos, mas como uma acção sobre a acção. É um agir aplicando-se a um
agir, uma conduta que afecta outra conduta.
a) AS CARACTERISTICAS DA CIÊNCIA POLÍTICA
 «O Homem é por natureza um animal político» (Aristóteles, Política)
 A primeira definição de «Política» tem a sua origem em Aristóteles e é ligada à etimologia do termo. Segundo
o filosofo, Aristóteles, a «política» significava a administração da «polis» pelo bem de todos, a determinação
de um espaço público ao qual todos os cidadãos participam.
 Outras definições surgiram mais tarde, que se baseiam nos aspectos especiais da política, como aquela de Max
Weber «A política não é uma aspiração ao poder e ao monopólio, um instrumento legítimo do uso da força e,
por isso, requer o trabalho e o esforço dos especialistas; e David Easton, acrescentando, «a política é a
alocução de valores imperativos, isto é, de decisões no âmbito de uma comunidade; e por Sartori « a política é
a esfera das decisões colectivas que tem o cunho soberano».
b) A metodologia (ensino e avaliação)
 A Ciência Política, em sentido lato, tem por objecto o estudo dos acontecimentos, das instituições e das idéias
políticas, tanto em sentido teórico (doutrina) como em sentido prático (arte), referido ao passado, ao presente e
às possibilidades futuras. Tanto os factos como as instituições e as idéias, matérias desse conhecimento, podem
ser tomados como foram ou deveriam ter sido (consideração do passado), como são ou devem ser
(compreensão do presente) e como serão ou deverão ser (horizontes do futuro).
 Há sempre, em face dos problemas dessa investigação, pertinente a factos, instituições e idéias, não importa o
tempo histórico, ontem, hoje, amanhã, em que os tomemos, aquilo que os alemães chamam sein ou sollen, o
primeiro designando a realidade que é, o segundo a realidade do dever ser.
 Nessa mesma e larga acepção, cabe o exame das instituições, dos factos e das ideias referidas aos
ordenamentos políticos da sociedade debaixo do tríplice aspecto: filosófico, jurídico ou político propriamente
dito e sociológico.
c) Easton e o Behaviourismo político
 Com Easton completa-se um longo discurso sobre o que é a política e o que é a ciência. A sua resposta é que a
política não pode exprimir-se unicamente como poder, quer porque sempre se torna necessário diferenciar as
diversas formas de poder, e seguidamente definir o sistema político daquele poder que deve ter a atenção dos
cientistas políticos, quer porque a política não pode ser procurada unicamente na análise do Estado.
 O poder enquanto objecto de estudo da ciência política representa um âmbito vasto de mais, quando não é
especificamente político, por outro, é demasiado limitado, visto que a política não consiste apenas em conflitos
que o poder resolve, mas também em múltiplas formas de colaboração, de coligação ou de consenso.
 Enquanto ao Estado, ele representa uma forma transitória de organização política. Esta é uma afirmação
amplamente partilhada no final dos anos 90 e que Easton deduz com mais de 30 anos de avanço, de forma
lúcida e previdente.
 Como já se referiu, «a política é a afectação imperativa de valores a uma sociedade», o que significa que não
existe coincidência necessária e obrigatória entre a actividade política e uma determinada forma de
organização. Depois, também existe política nas sociedades sem Estado, no interior das organizações
partidárias e sindicais, no âmbito do parlamento, nas relações entre este e o executivo, em todas as sedes de
afectação de valores.
 Assim, o lugar próprio da política passa a ser o sistema político, entendido como “um sistema de interacções,
abstraídas do conjunto dos comportamentos sociais, por meio das quais os valores são afectados de modo
imperativo a uma sociedade” (Easton, 1965b).
 A ciência política será, então, o estudo das maneiras, complexas e variáveis, como os diversos sistemas
procedem ao estabelecimento imperativo dos valores.
 Amplamente alimentado por elementos da Antropologia e da sociologia, particularmente no que diz
respeito aos conceitos de estrutura de função, mais atento aos contributos da Cibernética do que aos da
economia, o discurso de Easton busca os elementos que possam tomar a analise da politica o mais
cientifico possível.
 Neste caminho, dá-se o encontro crucial com o Behaviourismo. Nascido e desenvolvido no âmbito da
psicologia, o behaviourismo na politica caracteriza-se, por outro lado, pela acentuação da necessidade de
observar e analisar os comportamentos concretos dos actores políticos (indivíduos, grupos, movimentos e
organizações) e, por outro, pelo recurso, e pela elaboração de, técnicas especificas, como sejam as
entrevistas, as sondagens de opinião, as analises do conteúdo, as simulações e quantificações muito
apuradas.
 Na perspectiva behaviourista, que terá larga difusão nos Estados Unidos, é missão dessa ciência ter
presentes e procurar atingir os seguintes objectivos:
a) Põr em relevo, nos comportamentos políticos, aquelas regularidades que se prestam a ser expressas em
generalizações ou teorias com valor explicativo e de previsão;
b) Submetê-las a verificação, ou seja, confrontá-las com comportamentos e actividades semelhantes para
experimentar a sua capacidade explicativa;
c) Elaborar rigorosas técnicas de observação, recolha, registo e interpretação de dados;

d) Proceder à quantificação, ou seja, medir os fenómenos, tanto quanto possível, a fim de obter maior
precisão;
e) Manter distinção entre valores e factos, consciente de que a valoração ética e a explicação empírica
implicam dois tipos diversos de proposições, sem que por isso seja negada ao cientista da política a
possibilidade de exprimir proposições de ambos os tipos;
 f) Propôr a sistematização dos conhecimentos adquiridos numa estreita interconexão entre
a teoria e a investigação (a investigação que não é orientada pela teoria pode ser
insignificante e a teoria que não se apoia em dados pode revelar-se improdutiva);
 g) Aspirar à ciência pura, já que, por mais importante que seja a aplicação do saber, a
compreensão e a interpretação do comportamento politico precedem logicamente qualquer
esforço aplicativo e fundam-no em bases solidas;
 h) Agir no sentido de uma integração das ciências sociais, uma vez que as investigações no
campo politico apenas podem ignorar as conclusões a que chegam as outras disciplinas
correndo o risco de enfraquecer a validade e a generalidade dos seus próprios resultados.
 Finalmente, a política como “actividade de afectação imperativa de valores a uma
sociedade” encontra-se na obrigação de indagar acerca de fenómenos cada vez mais
espalhados e difusos, quer porque, na sequência do nascimento dos novos Estados
resultantes dos processos de descolonização, o número de casos ( de sistemas políticos) que
podem ser objecto de estudo se amplia consideravelmente, quer porque, na onda do
Keynesianismo e do Welfare, se estende o âmbito de intervenção do Estado na sociedade
civil. A análise política encontra-se, assim, a braços com novos problemas, novos desafios,
com a expansão inesperada dos seus próprios campo de pesquisa.
c) A abordagem contemporânea da ciência política
 Numa reconstituição sintética do estado dos estudos politológicos pelo final dos anos 50, Gabriel Almond
Powell apontavam à ciência política, especialmente à norte-americana, três defeitos fundamentais:
1. O provincianismo a análise dos sistemas políticos tinha-se concentrado essencialmente sobre poucos
sistemas, todos pertencentes à área europeia e ocidental, que incluíam apenas as grandes democracias
(Grã-Bretanha, Estados Unidos, Alemanha e França) e a União Soviética;
2. O caracter meramente descritivo: a maior parte dos estudos limitava-se a descrever as características dos
sistemas políticos analisados, sem nenhuma preocupação teórica, sem nenhuma ambição de elaborar
hipóteses e generalizações e de submetê-las a uma validação concreta, sem nenhuma tentativa de
comparação explicita, consciente e rigorosa;
3. O formalismo: uma atenção excessiva às variáveis formais, às instituições, às normas e aos procedimentos,
paralelamente, uma falta de atenção ao funcionamento real dos sistemas políticos, às interacções entre
estruturas, aos processos, às mudanças, salvo raríssimas excepções, a ciência política dos anos 50 era, por
conseguinte, essencialmente eurocêntrica, descritiva e formalista;
 As críticas de Almond e Powell eram particularmente aceitadas no que dizia respeito à ciência política
americana. Por outro lado, com efeito, a ciência política europeia tinha sido sempre menos formalista nos
estudos clássicos sobre a classe política e sobre os partidos.
 Almond (1970) distingue quatro tipos de sistemas políticos com base na qualidade da cultura política (ou
seja, das orientações em relação ao sistema e aos outros membros do sistema) e da presença de grupos em
concorrência (pluralismo); sistemas políticos anglo-americanos, continentais, pré-industriais e totalitários.
 Em todo caso, após uma fase de grande expansão, o sector dos estudos sobre o desenvolvimento
político parece encontrar-se em declínio quantitativo (qualitativo) de há alguns anos para cá. Isto
parece ficar a dever-se a várias ordens de factores:
1. A uma diminuição geral do interesse pelos países do terceiro mundo, ultrapassado que está o
estádio da descolonização e da construção das instituições;
2. A uma redução dos fundos disponíveis para financiamento de trabalhos de campo,
frequentemente caros e bastante penosos;
3. Ao facto, paradoxal mas real, de um melhor conhecimento dos sistemas políticos que fazem
com que os estudiosos se tornem muito mais cautelosos e circunspectos na formulação de
comparações e apreciações.
 O tema mais frequente das análises dos anos 80 e 90 foi, e continua a ser, constituído pelos
processos de transição dos regimes autoritários, totalitários e pós-totalitários para regimes
democráticos, um sector de grande interesse analítico e politico, com contributos por vezes
esclarecedores.
 A política comparada, por seu lado, conquistou em larga medida o campo da ciência política,
enquanto método e enquanto conteúdo, de tal modo que se tornou, quer explicita, quer
implicitamente, dominante. Quer isso dizer que a lição dos clássicos se encontraram de modo
fecundo, levando a análises teoricamente bem informadas e sustentadas por um substracto
histórico de sistemas políticos completos, de subsistemas como os partidos, os sindicatos ou as
burocracia, de processos tais como os de decisão e os de produção das políticas públicas.
e) Ciência política e teoria política
 Para que a especulação teórica possa manifestar-se e exprimir-se devidamente, são
necessárias três operações complexas e multiformes. Para sabermos onde se situa hoje a
ciência política, como ai chegou e qual a direcção em que se encaminha, temos de efectuar
estas três operações.
 Define-se. Se a ciência política pretende apetrechar-se devidamente para enfrentar a
especulação teórica, deve confrontar-se com a filosofia política e redefinir-se em relação a
ela. A rica e variada tradição do pensamento da filosofia política contém pelo menos quatro
componentes significantes:
a) A procura da melhor forma de governo, ou da república óptima;
b) A procura do fundamento do Estado e a consequente justificação (ou não) do dever
político;
c) A procura da natureza da política, ou das características da política, e a consequente
distinção entre política e moral;
d) A análise da linguagem política e a metodologia da ciência política (Bobbio, 1971, p.
367).
f) A utilidade da ciência Política
 De alguns anos a esta parte e, no fundo, de forma recorrente, esta na moda falar de crise: crise governamental, crise
política, crise das ciências sociais, crise da democracia, etc.
 O facto de não existirem volumes ou ensaios de cientistas políticos com que se lamente a «crise da ciência política»
não é caso para assumir actitudes de satisfação. A verdade é que, ainda recentemente, se falou de “tragédia da
ciência política” (Ricci, 1984), embora, paradoxalmente, a tragédia consista precisamente em ela ter adquirido um
papel académico de relevo, profissionalizado e ligado à scholarship, entendida esta como uma mistura de pesquisa e
de teoria, em vez de, se colocar questões magnas e perenes e ensinar explicita e exclusivamente a democracia.
 De qualquer modo, poder-se-ia sustentar que a ciência política contemporânea se encontra finalmente em condições
de dominar a complexidade dos sistemas políticos do nosso tempo. É precisamente partindo desta simples
constatação que podemos traçar uma visão de conjunto da disciplina no presente:
1. A diversidade das perspectivas dos contributos revela-se mais como um elemento de riqueza, como um pluralismo
bendito e agradável, do que como uma fragmentação do campo analítico e teorético. A ausência de um paradigma
predominante permite a prossecução de um debate intelectual e de um desafio de ideias que se anunciam fecundos
(Panebianco, 1989);
2. A expansão das investigações, mesmo das que assumem um cunho maioritariamente prático, permite a acquisição
de novos dados e a elaboração de novas hipóteses. A expansão da ciência política e, por consequência, do estudo
sistemático e empírico dos fenómenos políticos, serve de contrapeso à expansão da política, da sua presença e do
seu alastramento. A investigação parece ter ultrapassado o estádio do hiperfactualismo e a teoria aparenta agora ser
capaz de evitar os excessos das elaborações abstractas;
3. Para além da consolidação académica da disciplina, a sua utilidade social é hoje indiscutível. Aliás, é
manifesta a necessidade da ciência política como aquele ramo das ciências sociais que pode formular e
sistematizar conhecimentos específicos em matéria de fenómenos políticos, de instituições e de movimentos, de
processos e de comportamentos.
 Finalmente, a ciência política conseguiu, decididamente, colocar as variáveis políticas no centro de todas as
análises dos sistemas políticos. Abandonando as pretensões voluntaristas “a política no posto de comando”
e as asserções normativas “a política é a mais importante actividade humana”, a ciência política
contemporânea soube documentar de modo convincente a importância crucial das variáveis políticas nas
colectividades organizadas.
 Sem triunfalismos, surgiu a consciência de que o funcionamento dos sistemas políticos, só pode ser
explicado se se possuir técnicas de análise específicas, que a respectiva transformação só pode ser
compreendida se forem utilizados os instrumentos apropriados, que nenhuma mudança desejada e desejável
pode ser introduzida sem o corpo de conhecimentos, mesmo operativos, que a Ciência política elaborou e
continua a elaborar.
 Na interacção constante, e provavelmente perene, entre a redefinição do seu objecto e a revisão do seu
método, em contacto com as inovações dos vários sectores da ciência, a análise política contemporânea
aspira a abarcar de novo no seu interior os contributos fundamentais dos clássicos, assim como
necessariamente «melhores», enquanto tais, do que alguns pensadores do passado, mas adquiriram uma
maior consciência metodológica dos problemas.
 Estão conscientes na necessidade de serem mais sistemáticos, menos normativos, mais atentos à construção
de hipóteses e à formulação de generalizações. Mas tudo isto pode não ser suficiente. Sem isto, no entanto,
não existe Ciência Política e, em consequência, torna-se mais difícil a reflexão teórica e também a
actividade prática que historicamente permitiram às colectividades organizadas a moldar o seu próprio
destino.

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