Null 4
Null 4
Null 4
ANGOLA
FACULDADE DE DIREITO
DISCIPLINA CIÊNCIA POLÍTICA
O DOCENTE: JOSEFINO ANTÓNIO SAWANDJI JOÃO, PH.D
d) Proceder à quantificação, ou seja, medir os fenómenos, tanto quanto possível, a fim de obter maior
precisão;
e) Manter distinção entre valores e factos, consciente de que a valoração ética e a explicação empírica
implicam dois tipos diversos de proposições, sem que por isso seja negada ao cientista da política a
possibilidade de exprimir proposições de ambos os tipos;
f) Propôr a sistematização dos conhecimentos adquiridos numa estreita interconexão entre
a teoria e a investigação (a investigação que não é orientada pela teoria pode ser
insignificante e a teoria que não se apoia em dados pode revelar-se improdutiva);
g) Aspirar à ciência pura, já que, por mais importante que seja a aplicação do saber, a
compreensão e a interpretação do comportamento politico precedem logicamente qualquer
esforço aplicativo e fundam-no em bases solidas;
h) Agir no sentido de uma integração das ciências sociais, uma vez que as investigações no
campo politico apenas podem ignorar as conclusões a que chegam as outras disciplinas
correndo o risco de enfraquecer a validade e a generalidade dos seus próprios resultados.
Finalmente, a política como “actividade de afectação imperativa de valores a uma
sociedade” encontra-se na obrigação de indagar acerca de fenómenos cada vez mais
espalhados e difusos, quer porque, na sequência do nascimento dos novos Estados
resultantes dos processos de descolonização, o número de casos ( de sistemas políticos) que
podem ser objecto de estudo se amplia consideravelmente, quer porque, na onda do
Keynesianismo e do Welfare, se estende o âmbito de intervenção do Estado na sociedade
civil. A análise política encontra-se, assim, a braços com novos problemas, novos desafios,
com a expansão inesperada dos seus próprios campo de pesquisa.
c) A abordagem contemporânea da ciência política
Numa reconstituição sintética do estado dos estudos politológicos pelo final dos anos 50, Gabriel Almond
Powell apontavam à ciência política, especialmente à norte-americana, três defeitos fundamentais:
1. O provincianismo a análise dos sistemas políticos tinha-se concentrado essencialmente sobre poucos
sistemas, todos pertencentes à área europeia e ocidental, que incluíam apenas as grandes democracias
(Grã-Bretanha, Estados Unidos, Alemanha e França) e a União Soviética;
2. O caracter meramente descritivo: a maior parte dos estudos limitava-se a descrever as características dos
sistemas políticos analisados, sem nenhuma preocupação teórica, sem nenhuma ambição de elaborar
hipóteses e generalizações e de submetê-las a uma validação concreta, sem nenhuma tentativa de
comparação explicita, consciente e rigorosa;
3. O formalismo: uma atenção excessiva às variáveis formais, às instituições, às normas e aos procedimentos,
paralelamente, uma falta de atenção ao funcionamento real dos sistemas políticos, às interacções entre
estruturas, aos processos, às mudanças, salvo raríssimas excepções, a ciência política dos anos 50 era, por
conseguinte, essencialmente eurocêntrica, descritiva e formalista;
As críticas de Almond e Powell eram particularmente aceitadas no que dizia respeito à ciência política
americana. Por outro lado, com efeito, a ciência política europeia tinha sido sempre menos formalista nos
estudos clássicos sobre a classe política e sobre os partidos.
Almond (1970) distingue quatro tipos de sistemas políticos com base na qualidade da cultura política (ou
seja, das orientações em relação ao sistema e aos outros membros do sistema) e da presença de grupos em
concorrência (pluralismo); sistemas políticos anglo-americanos, continentais, pré-industriais e totalitários.
Em todo caso, após uma fase de grande expansão, o sector dos estudos sobre o desenvolvimento
político parece encontrar-se em declínio quantitativo (qualitativo) de há alguns anos para cá. Isto
parece ficar a dever-se a várias ordens de factores:
1. A uma diminuição geral do interesse pelos países do terceiro mundo, ultrapassado que está o
estádio da descolonização e da construção das instituições;
2. A uma redução dos fundos disponíveis para financiamento de trabalhos de campo,
frequentemente caros e bastante penosos;
3. Ao facto, paradoxal mas real, de um melhor conhecimento dos sistemas políticos que fazem
com que os estudiosos se tornem muito mais cautelosos e circunspectos na formulação de
comparações e apreciações.
O tema mais frequente das análises dos anos 80 e 90 foi, e continua a ser, constituído pelos
processos de transição dos regimes autoritários, totalitários e pós-totalitários para regimes
democráticos, um sector de grande interesse analítico e politico, com contributos por vezes
esclarecedores.
A política comparada, por seu lado, conquistou em larga medida o campo da ciência política,
enquanto método e enquanto conteúdo, de tal modo que se tornou, quer explicita, quer
implicitamente, dominante. Quer isso dizer que a lição dos clássicos se encontraram de modo
fecundo, levando a análises teoricamente bem informadas e sustentadas por um substracto
histórico de sistemas políticos completos, de subsistemas como os partidos, os sindicatos ou as
burocracia, de processos tais como os de decisão e os de produção das políticas públicas.
e) Ciência política e teoria política
Para que a especulação teórica possa manifestar-se e exprimir-se devidamente, são
necessárias três operações complexas e multiformes. Para sabermos onde se situa hoje a
ciência política, como ai chegou e qual a direcção em que se encaminha, temos de efectuar
estas três operações.
Define-se. Se a ciência política pretende apetrechar-se devidamente para enfrentar a
especulação teórica, deve confrontar-se com a filosofia política e redefinir-se em relação a
ela. A rica e variada tradição do pensamento da filosofia política contém pelo menos quatro
componentes significantes:
a) A procura da melhor forma de governo, ou da república óptima;
b) A procura do fundamento do Estado e a consequente justificação (ou não) do dever
político;
c) A procura da natureza da política, ou das características da política, e a consequente
distinção entre política e moral;
d) A análise da linguagem política e a metodologia da ciência política (Bobbio, 1971, p.
367).
f) A utilidade da ciência Política
De alguns anos a esta parte e, no fundo, de forma recorrente, esta na moda falar de crise: crise governamental, crise
política, crise das ciências sociais, crise da democracia, etc.
O facto de não existirem volumes ou ensaios de cientistas políticos com que se lamente a «crise da ciência política»
não é caso para assumir actitudes de satisfação. A verdade é que, ainda recentemente, se falou de “tragédia da
ciência política” (Ricci, 1984), embora, paradoxalmente, a tragédia consista precisamente em ela ter adquirido um
papel académico de relevo, profissionalizado e ligado à scholarship, entendida esta como uma mistura de pesquisa e
de teoria, em vez de, se colocar questões magnas e perenes e ensinar explicita e exclusivamente a democracia.
De qualquer modo, poder-se-ia sustentar que a ciência política contemporânea se encontra finalmente em condições
de dominar a complexidade dos sistemas políticos do nosso tempo. É precisamente partindo desta simples
constatação que podemos traçar uma visão de conjunto da disciplina no presente:
1. A diversidade das perspectivas dos contributos revela-se mais como um elemento de riqueza, como um pluralismo
bendito e agradável, do que como uma fragmentação do campo analítico e teorético. A ausência de um paradigma
predominante permite a prossecução de um debate intelectual e de um desafio de ideias que se anunciam fecundos
(Panebianco, 1989);
2. A expansão das investigações, mesmo das que assumem um cunho maioritariamente prático, permite a acquisição
de novos dados e a elaboração de novas hipóteses. A expansão da ciência política e, por consequência, do estudo
sistemático e empírico dos fenómenos políticos, serve de contrapeso à expansão da política, da sua presença e do
seu alastramento. A investigação parece ter ultrapassado o estádio do hiperfactualismo e a teoria aparenta agora ser
capaz de evitar os excessos das elaborações abstractas;
3. Para além da consolidação académica da disciplina, a sua utilidade social é hoje indiscutível. Aliás, é
manifesta a necessidade da ciência política como aquele ramo das ciências sociais que pode formular e
sistematizar conhecimentos específicos em matéria de fenómenos políticos, de instituições e de movimentos, de
processos e de comportamentos.
Finalmente, a ciência política conseguiu, decididamente, colocar as variáveis políticas no centro de todas as
análises dos sistemas políticos. Abandonando as pretensões voluntaristas “a política no posto de comando”
e as asserções normativas “a política é a mais importante actividade humana”, a ciência política
contemporânea soube documentar de modo convincente a importância crucial das variáveis políticas nas
colectividades organizadas.
Sem triunfalismos, surgiu a consciência de que o funcionamento dos sistemas políticos, só pode ser
explicado se se possuir técnicas de análise específicas, que a respectiva transformação só pode ser
compreendida se forem utilizados os instrumentos apropriados, que nenhuma mudança desejada e desejável
pode ser introduzida sem o corpo de conhecimentos, mesmo operativos, que a Ciência política elaborou e
continua a elaborar.
Na interacção constante, e provavelmente perene, entre a redefinição do seu objecto e a revisão do seu
método, em contacto com as inovações dos vários sectores da ciência, a análise política contemporânea
aspira a abarcar de novo no seu interior os contributos fundamentais dos clássicos, assim como
necessariamente «melhores», enquanto tais, do que alguns pensadores do passado, mas adquiriram uma
maior consciência metodológica dos problemas.
Estão conscientes na necessidade de serem mais sistemáticos, menos normativos, mais atentos à construção
de hipóteses e à formulação de generalizações. Mas tudo isto pode não ser suficiente. Sem isto, no entanto,
não existe Ciência Política e, em consequência, torna-se mais difícil a reflexão teórica e também a
actividade prática que historicamente permitiram às colectividades organizadas a moldar o seu próprio
destino.