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A MÉTRICA e A RIMA


                           cf.
Gramática do Português Moderno, de José Manuel de
Castro Pinto e Maria do Céu Vieira Lopes, Plátano
Editora, 2008, pp. 263-267
                           &
Proseando sobre Cordel de Fábio Sombra, Editora Lê.
verso
É cada uma das linhas de um poema ou
composição poética. O verso obedece a
determinadas normas de ritmo.
ritmo
O ritmo é constituído por uma cadência que
resulta da alternância harmónica entre sílabas
acentuadas (fortes) e sílabas átonas (fracas).
metro
• É a medida poética que regula a quantidade e
  a localização das sílabas acentuadas e átonas.
  O metro é constituído por sílabas métricas e
  acentos rítmicos.
sílaba métrica
Cada verso tem um determinado número de
sílabas. Mas a contagem de sílabas no verso –
são as sílabas métricas – é um pouco diferente
das sílabas gramaticais, pois baseia-se nos
sons que o ouvido capta, os quais nem sempre
correspondem a cada palavra. Só se contam as
sílabas até à sílaba tónica da última palavra do
verso e costuma fazer-se a elisão da vogal
átona final de palavra quando a palavra
seguinte começa por vogal.
Vejamos então a divisão desta estrofe
em sílabas métricas:
Nes/se ins/tan/te o/ Ma/gri/lim
Com/ voz/ man/sa e /bem /pau/sa/da
Dis/se o/lhan/do/ pra/ prin/ce/sa:
- Ou/ça a/qui,/ mi/nha a/do/ra/da,
Que/ro /ver /se/ vo/cê /po/de
Des/trin/char /es/sa /cha/ra/da.
Resumindo a questão com a ajuda de
          Fábio Sombra:
Sem esquecermos que a sílaba tónica, a que
sobrou no fim de cada estrofe (assinalada a rosa)
não entra na conta, e transformarmos as sílabas
tónicas (pronunciadas com mais força) no som
TUM, vamos ter o seguinte ritmo nesta estrofe:
       TÁ – TÁ – TUM – TÁ – TÁ – TÁ –TUM
A questão leva-nos ao acento rítmico, e à
distribuição das sílabas fracas e fortes no verso.
Acento rítmico
• Conforme o número de sílabas do verso, assim
  os acentos recaem em determinadas sílabas
  ao longo dele. No exemplo atrás
  apresentado, são acentuadas a 3ª e a 7ª
  sílabas. Mas vejamos o que acontece em
  outros casos. Várias hipóteses são possíveis.
  Vejamos as mais frequentes.
Versos de uma, duas e três
             sílabas métricas
• Não são muito frequentes e, por vezes, aparecem
  juntamente com outros mais longos.
          Moro lá em baixo, enterrado,
          Muito lá em baixo!, e calado.
          Pairo por cima ondulando,
          Ando
          No ar
          Espalhado…
                       José Régio, As Encruzilhadas de Deus
Versos de quatro sílabas métricas
• Têm acentos predominantes na 1ª e 4ª sílabas, ou 2ª
  e 4ª e, por vezes, apenas na 4ª.

             Urnas quebradas!
             Blocos de gelo…
             - Chorai arcadas,
             Despedaçadas,
             Do violoncelo.
                           Camilo Pessanha, Clepsidra
Versos de cinco sílabas métricas
           (redondilha menor)
• Têm acentos na 1ª e 5ª, ou 2ª e 5ª, ou 3ª e 5ª.

            Eu olhos sei de uns,
            Que desde que os vi,
            Não vi mais nenhuns!

            Vê tu por aí
            Se os achas; senão,
            Descubro-os a ti
                            João de Deus, Campo de Flores
Versos de seis sílabas métricas
          (heróicos quebrados)
• Têm um primeiro acento que pode situar-se entre a 1ª e
  a 4ª sílabas, e o último na 6ª. É uma acentuação bastante
  variável. Também podem registar-se três acentos: 2ª, 4ª
  e 6ª; 1ª, 4ª e 6ª; 1ª, 3ª e 6ª.

                 Dura severidade
                 Tapetada de acenos
                 Às ilusões da idade
                 E aos deslizes pequenos.
                                 Miguel Torga, Diário, III
Versos de sete sílabas métricas
 (heptassílabos) ou redondilha maior
• São muito frequentes porque têm um ritmo facilmente captado pelo
  ouvido. Usam-se, nomeadamente, na quadra popular. Têm muitas vezes
  acentuação na 2ª e 7ª sílabas, ou 3ª e 7ª, ou 4ª e 7ª, ou ainda na 1ª, 3ª, 5ª
  e 7ª, além de outras variantes de menor importância.


                    Descalça vai para a fonte
                    Leonor pela verdura;
                    Vai formosa e não segura.
                    Leva na cabeça o pote,
                    O testo nas mãos de prata,
                    Cinta de fina escarlata,
                    Sainho de chamalote *…+
                                             Luís de Camões, Lírica
Versos de oito sílabas métricas
             (octossílabos)
• Com acentuação mais frequente na 4ª e 8ª, ou 2ª, 5ª
  e 8ª sílabas.
             Às vezes, passo horas inteiras
             Olhos fitos nestas braseiras,
             Sonhando o tempo que lá vai;
             E jornadeio em fantasia
             Essas jornadas que eu fazia
             Ao velho douro, mais meu pai.
                                        António Nobre, Só
Versos de nove sílabas métricas
• Com acentuação mais frequente na 3ª, 6ª e 9ª, ou
  4ª e 9ª sílabas.
           Minha Júlia, um conselho de amigo.
           Deixa em branco este livro gentil:
           Uma só das memórias da vida
           Vale a pena guardar, entre mil.

                                  Almeida Garrett, Folhas Caídas
Versos de dez sílabas métricas
                (decassílabos)
• Têm largo uso, nomeadamente nos poemas heróicos e nos sonetos. Com
  acentuação mais comum na 6ª e 10ª (versos heróicos) e na 4ª, 8ª e 10ª
  sílabas (versos sáficos).

        Mas, entanto que cegos e sedentos
        Andais de vosso sangue, ó gente insana,
        Não faltarão Cristãos atrevimentos
        Nesta pequena casa Lusitana:
        De África tem marítimos assentos;
        É na Ásia mais que todas soberana;
        Na quarta parte nova os campos ara;
        E , se mais mundo houvera, lá chegara.

                                     Luís de Camões, Os Lusíadas, VII, 14
Versos de onze sílabas métricas
• Com acentos na 5ª e na 11ª sílabas.

       O génio não pode, por grande que seja,
       Cobrir injustiças, não pode, isto não;
       Em vez de elevar-se no voo, rasteja,
       Se em vez da verdade só eleva a paixão.

                                        João de Lemos, Poesias
Versos de doze sílabas métricas
    (dodecassílabos) ou alexandrinos
• Com acentos na 6ª e na 12ª sílabas; foram muito
  usados na época clássica em estrofes de dois versos
  (dísticos).

Manhã de Junho ardente. Uma encosta escalvada,
seca, deserta e nua, à beira da estrada.

Terra ingrata, onde a urze a custo desabrocha,
Bebendo o sol, comendo o pó, mordendo a rocha.
                                     Guerra Junqueiro, Poesias Dispersas
Verso livre
• Com os poetas modernistas (século XX) surge o verso livre que não
  está sujeito a limites de sílaba e ritmo. É o poeta que vai criar o
  equilíbrio do poema (seguindo a sua intuição ou uma determinada
  intenção).

 A grande Esfinge do Egipto sonha por este papel dentro…
 Escrevo – e ela aparece-me através da minha mão transparente
 E ao canto do papel erguem-se as pirâmides…
 Escrevo – perturbo-me de ver o bico da minha pena
 Ser o perfil do rei Cheops…
 De repente paro…
 Escureceu tudo… Caio por um abismo feito de tempo…
                                                        Fernando Pessoa, Poesias
rima
A rima consiste na correspondência
de sons em lugares determinados
dos versos na poesia; no entanto, a
sua existência pode contribuir para o
ritmo (lento, rápido…), para a
memorização e para a
expressividade do poema.
Espécies de rima
• Rima consoante ou perfeita         • Rima toante ou imperfeita
  (quando há correspondência           (quando há correspondência
  total de sons a partir da última     na vogal tónica mas a rima não
  vogal tónica):                       é total a partir daí):

   Aqui estou à tua porta
                                       Aqui estou à tua porta
   Como o feixinho de lenha
                                       Como o feixinho de lenha
   À espera de resposta
   Que dos teus olhos me venha         À espera de resposta
                                       Que dos teus olhos me venha
Espécies de rima
• Na rima consoante ou    • Os versos sem rima (que
  perfeita pode ainda       começaram a ser
  considerar-se:            populares para os poetas
• RIMA POBRE (quando        românticos) denominam-
  palavras da mesma         se:
  categoria gramatical
  rimam entre si –             VERSOS BRANCOS
  iria/faria)                       ou
• RIMA RICA (quando             VERSOS SOLTOS
  palavras de categoria
  gramatical diferente
  rimam entre si –
  dizes/felizes)
Combinações de rima
• Esquema rimático: trata-se do esquema que nos revela de
  que forma a rima está combinada numa estrofe. Costuma ser
  indicada por letras. Na estrofe que se segue a rima tem a
  seguinte distribuição: abccba
            Mas a cada palavra que na noite subia a
            Numa longa e larga curva b
            Em busca da exaltação c
            Rebentava como uma bola de sabão c
            E era apenas água turva b
            O que nas mãos eu dela recebia. a

                                            Sophia M. B. Andresen, Poesia
Combinações de rimas
• Tipos de combinações de rimas:

• Rima emparelhada (quando rimam os versos
  seguidos, dois a dois)
• Rima cruzada (quando os versos rimam
  alternadamente, o 1º com o 3º, o 2º com o 4º…)
• Rima interpolada (quando os dois versos que rimam são
  separados por dois ou mais versos que não rimam)
• Rima encadeada (quando a palavra final de um verso
  rima com o meio do verso seguinte: «Dorme que eu
  velo, sedutora imagem,/grata miragem que no ermo
  vi;»)
Estrofe
• A estrofe é um agrupamento de versos, geralmente com sentido
  completo. Segundo o número de versos que a compõem, a estrofe tem
  uma designação específica, a saber:


              •   MONÓSTICO (estrofe de um único verso)
              •   DÍSTICO ou PARELHA (estrofe de dois versos)
              •   TERCETO (estrofe de três versos)
              •   QUADRA (estrofe de quatro versos)
              •   QUINTILHA (estrofe de cinco versos)
              •   SEXTILHA (estrofe de seis versos)
              •   ESTROFE DE SETE VERSOS
              •   OITAVA (estrofe de oito versos)
              •   ESTROFE DE NOVE VERSOS
              •   DÉCIMA (estrofe de dez versos)
A poesia de cordel também se carateriza pelo uso de
rimas. Voltemos à estrofe de Fábio Sombra
              Nesse instante o Magrilim
              Com voz mansa e bem pausada
              Disse olhando pra princesa:
              - Ouça aqui, minha adorada,
              Quero ver se você pode
              Destrinchar essa charada.


  Nesta estrofe encontram-se rimas no 2º, no 4º e no
  6º versos. Já os versos 1, 3 e 5 não precisam rimar
  com nenhum outro. Isso facilita a vida do poeta que
  só precisa de se preocupar em encontrar três rimas
  por estrofe.
PELEJA INTERNACIONAL

(aplicação de algumas das regras
que acabaram de ser explicadas)
REGRAS
Cada grupo interveniente deve desenvolver o
mote, ou o mote-resposta numa estrofe
atendendo às seguintes regras:

   - a estrofe deve ter seis versos e rima nos
versos 2, 4 e 6;

   - métrica do mote ou do mote-resposta
deve ser respeitada.
MOTE
Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:

                                  MOTE-RESPOSTA
                              Pois eu digo que a sua mesa
                              Não é farta como a minha:
Duas estrofes desenvolvidas por Fábio
Sombra a partir do mote e mote-
resposta dados:
Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:
Nela tenho carne e leite      Pois eu digo que sua mesa
Azeitonas, macarrão           Não é farta como a minha:
Tenho peras, chocolate,       Pois na minha tenho doces
E uma torta de limão.         Ovos, queijos e galinha
                              Tenho sopa de legumes
                              Bom azeite e até sardinha.
Fábio Sombra explica:
• Neste torneio, seguiremos o padrão que foi
  usado nos motes que dei, ou seja: 7 sílabas
  poéticas em cada um dos seis versos que
  formam as estrofes. Mas é sempre bom
  lembrar que a contagem de sílabas poéticas
  SEMPRE TERMINA NA ÚLTIMA SÍLABA TÔNICA
  DE CADA VERSO. As sílabas que vêm depois da
  última tônica não são contadas.
Fábio Sombra explica:
• Um dos objetivos do torneio é transformá-lo
  em uma oficina virtual de poesia, onde os
  alunos irão percebendo que poesia não é só
  inspiração, mas também muita transpiração e
  trabalho duro dos pobres poetas. Ao
  final, além de uma peleja bem feitinha e
  acabada, poderemos cantá-la facilmente ao
  som da viola, uma vez que a métrica estará
  sempre perfeita.
Vamos verificar se
a métrica e a rima foram respeitadas:
1- quem construiu uma estrofe a partir do mote deve
   apresentar rimas em –ão nos versos 4 e 6.

2- quem construiu uma estrofe a partir do mote-
   resposta deve apresentar rimas em –inha nos versos
   4 e 6.

3- os versos devem ter todos 7 sílabas métricas.
a métrica
Mi/nha /me/sa é/ bem/ mais/ far/ta
Do/ que a/ su/a, /meu/ ir/mão:

Tem/ bom/ ba/ca/lhau /co/zi/do
Fei/to /no/ meu/ cal/dei/rão
Bem /re/ga/do /com/ a/zei/te
E /vi/nho/ da/ re/gi/ão.
       (turma E do 6.º ano da Escola E. B. 2, 3 Dr. Carlos Pinto Ferreira, Junqueira, Vila do Conde)
a rima
Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:
Tem bom bacalhau cozido
Feito no meu caldeirão
Bem regado com azeite
E vinho da região.
(turma E do 6.º ano da Escola E. B. 2, 3 Dr. Carlos Pinto Ferreira, Junqueira, Vila do Conde)
a métrica
Pois/ eu /di/go /que a/ sua/ me/sa
Não/ é/ far/ta /co/mo a /mi/nha:
Da A/ma/zô/nia/ tro/pi/cal
Até o /Sul /da/ mi/nha/ te/rri/nha
A /far/tu/ra é/ tão / va/ria/da
Que/ vo/cê/ nem/ a/di/vi/nha.

              (turma do 4º ano da Escola Estadual Guido Marlière, Cataguases, Minas Gerais, Brasil)
a rima
Pois eu digo que a sua mesa
Não é farta como a minha:
Da Amazônia tropical
Até o Sul da minha terrinha
A fartura é tão variada
Que você nem adivinha.
FR (2-4-2010)
Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:
E/ com/ a/ nos/sa/ boa /ra/cle/tte
Com/ uma /ba/gue/tte/ na/ mão
Mais /um/ gos/to/so/bor/déus
Nin/guém / pa/ssa à/ fren/te/ não!
• Powerpoint desenvolvido em abril de 2010.
    • Professora Isabel Costa, SP do LI (F)

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A métrica e a rima

  • 1. A MÉTRICA e A RIMA cf. Gramática do Português Moderno, de José Manuel de Castro Pinto e Maria do Céu Vieira Lopes, Plátano Editora, 2008, pp. 263-267 & Proseando sobre Cordel de Fábio Sombra, Editora Lê.
  • 2. verso É cada uma das linhas de um poema ou composição poética. O verso obedece a determinadas normas de ritmo.
  • 3. ritmo O ritmo é constituído por uma cadência que resulta da alternância harmónica entre sílabas acentuadas (fortes) e sílabas átonas (fracas).
  • 4. metro • É a medida poética que regula a quantidade e a localização das sílabas acentuadas e átonas. O metro é constituído por sílabas métricas e acentos rítmicos.
  • 5. sílaba métrica Cada verso tem um determinado número de sílabas. Mas a contagem de sílabas no verso – são as sílabas métricas – é um pouco diferente das sílabas gramaticais, pois baseia-se nos sons que o ouvido capta, os quais nem sempre correspondem a cada palavra. Só se contam as sílabas até à sílaba tónica da última palavra do verso e costuma fazer-se a elisão da vogal átona final de palavra quando a palavra seguinte começa por vogal.
  • 6. Vejamos então a divisão desta estrofe em sílabas métricas: Nes/se ins/tan/te o/ Ma/gri/lim Com/ voz/ man/sa e /bem /pau/sa/da Dis/se o/lhan/do/ pra/ prin/ce/sa: - Ou/ça a/qui,/ mi/nha a/do/ra/da, Que/ro /ver /se/ vo/cê /po/de Des/trin/char /es/sa /cha/ra/da.
  • 7. Resumindo a questão com a ajuda de Fábio Sombra: Sem esquecermos que a sílaba tónica, a que sobrou no fim de cada estrofe (assinalada a rosa) não entra na conta, e transformarmos as sílabas tónicas (pronunciadas com mais força) no som TUM, vamos ter o seguinte ritmo nesta estrofe: TÁ – TÁ – TUM – TÁ – TÁ – TÁ –TUM A questão leva-nos ao acento rítmico, e à distribuição das sílabas fracas e fortes no verso.
  • 8. Acento rítmico • Conforme o número de sílabas do verso, assim os acentos recaem em determinadas sílabas ao longo dele. No exemplo atrás apresentado, são acentuadas a 3ª e a 7ª sílabas. Mas vejamos o que acontece em outros casos. Várias hipóteses são possíveis. Vejamos as mais frequentes.
  • 9. Versos de uma, duas e três sílabas métricas • Não são muito frequentes e, por vezes, aparecem juntamente com outros mais longos. Moro lá em baixo, enterrado, Muito lá em baixo!, e calado. Pairo por cima ondulando, Ando No ar Espalhado… José Régio, As Encruzilhadas de Deus
  • 10. Versos de quatro sílabas métricas • Têm acentos predominantes na 1ª e 4ª sílabas, ou 2ª e 4ª e, por vezes, apenas na 4ª. Urnas quebradas! Blocos de gelo… - Chorai arcadas, Despedaçadas, Do violoncelo. Camilo Pessanha, Clepsidra
  • 11. Versos de cinco sílabas métricas (redondilha menor) • Têm acentos na 1ª e 5ª, ou 2ª e 5ª, ou 3ª e 5ª. Eu olhos sei de uns, Que desde que os vi, Não vi mais nenhuns! Vê tu por aí Se os achas; senão, Descubro-os a ti João de Deus, Campo de Flores
  • 12. Versos de seis sílabas métricas (heróicos quebrados) • Têm um primeiro acento que pode situar-se entre a 1ª e a 4ª sílabas, e o último na 6ª. É uma acentuação bastante variável. Também podem registar-se três acentos: 2ª, 4ª e 6ª; 1ª, 4ª e 6ª; 1ª, 3ª e 6ª. Dura severidade Tapetada de acenos Às ilusões da idade E aos deslizes pequenos. Miguel Torga, Diário, III
  • 13. Versos de sete sílabas métricas (heptassílabos) ou redondilha maior • São muito frequentes porque têm um ritmo facilmente captado pelo ouvido. Usam-se, nomeadamente, na quadra popular. Têm muitas vezes acentuação na 2ª e 7ª sílabas, ou 3ª e 7ª, ou 4ª e 7ª, ou ainda na 1ª, 3ª, 5ª e 7ª, além de outras variantes de menor importância. Descalça vai para a fonte Leonor pela verdura; Vai formosa e não segura. Leva na cabeça o pote, O testo nas mãos de prata, Cinta de fina escarlata, Sainho de chamalote *…+ Luís de Camões, Lírica
  • 14. Versos de oito sílabas métricas (octossílabos) • Com acentuação mais frequente na 4ª e 8ª, ou 2ª, 5ª e 8ª sílabas. Às vezes, passo horas inteiras Olhos fitos nestas braseiras, Sonhando o tempo que lá vai; E jornadeio em fantasia Essas jornadas que eu fazia Ao velho douro, mais meu pai. António Nobre, Só
  • 15. Versos de nove sílabas métricas • Com acentuação mais frequente na 3ª, 6ª e 9ª, ou 4ª e 9ª sílabas. Minha Júlia, um conselho de amigo. Deixa em branco este livro gentil: Uma só das memórias da vida Vale a pena guardar, entre mil. Almeida Garrett, Folhas Caídas
  • 16. Versos de dez sílabas métricas (decassílabos) • Têm largo uso, nomeadamente nos poemas heróicos e nos sonetos. Com acentuação mais comum na 6ª e 10ª (versos heróicos) e na 4ª, 8ª e 10ª sílabas (versos sáficos). Mas, entanto que cegos e sedentos Andais de vosso sangue, ó gente insana, Não faltarão Cristãos atrevimentos Nesta pequena casa Lusitana: De África tem marítimos assentos; É na Ásia mais que todas soberana; Na quarta parte nova os campos ara; E , se mais mundo houvera, lá chegara. Luís de Camões, Os Lusíadas, VII, 14
  • 17. Versos de onze sílabas métricas • Com acentos na 5ª e na 11ª sílabas. O génio não pode, por grande que seja, Cobrir injustiças, não pode, isto não; Em vez de elevar-se no voo, rasteja, Se em vez da verdade só eleva a paixão. João de Lemos, Poesias
  • 18. Versos de doze sílabas métricas (dodecassílabos) ou alexandrinos • Com acentos na 6ª e na 12ª sílabas; foram muito usados na época clássica em estrofes de dois versos (dísticos). Manhã de Junho ardente. Uma encosta escalvada, seca, deserta e nua, à beira da estrada. Terra ingrata, onde a urze a custo desabrocha, Bebendo o sol, comendo o pó, mordendo a rocha. Guerra Junqueiro, Poesias Dispersas
  • 19. Verso livre • Com os poetas modernistas (século XX) surge o verso livre que não está sujeito a limites de sílaba e ritmo. É o poeta que vai criar o equilíbrio do poema (seguindo a sua intuição ou uma determinada intenção). A grande Esfinge do Egipto sonha por este papel dentro… Escrevo – e ela aparece-me através da minha mão transparente E ao canto do papel erguem-se as pirâmides… Escrevo – perturbo-me de ver o bico da minha pena Ser o perfil do rei Cheops… De repente paro… Escureceu tudo… Caio por um abismo feito de tempo… Fernando Pessoa, Poesias
  • 20. rima A rima consiste na correspondência de sons em lugares determinados dos versos na poesia; no entanto, a sua existência pode contribuir para o ritmo (lento, rápido…), para a memorização e para a expressividade do poema.
  • 21. Espécies de rima • Rima consoante ou perfeita • Rima toante ou imperfeita (quando há correspondência (quando há correspondência total de sons a partir da última na vogal tónica mas a rima não vogal tónica): é total a partir daí): Aqui estou à tua porta Aqui estou à tua porta Como o feixinho de lenha Como o feixinho de lenha À espera de resposta Que dos teus olhos me venha À espera de resposta Que dos teus olhos me venha
  • 22. Espécies de rima • Na rima consoante ou • Os versos sem rima (que perfeita pode ainda começaram a ser considerar-se: populares para os poetas • RIMA POBRE (quando românticos) denominam- palavras da mesma se: categoria gramatical rimam entre si – VERSOS BRANCOS iria/faria) ou • RIMA RICA (quando VERSOS SOLTOS palavras de categoria gramatical diferente rimam entre si – dizes/felizes)
  • 23. Combinações de rima • Esquema rimático: trata-se do esquema que nos revela de que forma a rima está combinada numa estrofe. Costuma ser indicada por letras. Na estrofe que se segue a rima tem a seguinte distribuição: abccba Mas a cada palavra que na noite subia a Numa longa e larga curva b Em busca da exaltação c Rebentava como uma bola de sabão c E era apenas água turva b O que nas mãos eu dela recebia. a Sophia M. B. Andresen, Poesia
  • 24. Combinações de rimas • Tipos de combinações de rimas: • Rima emparelhada (quando rimam os versos seguidos, dois a dois) • Rima cruzada (quando os versos rimam alternadamente, o 1º com o 3º, o 2º com o 4º…) • Rima interpolada (quando os dois versos que rimam são separados por dois ou mais versos que não rimam) • Rima encadeada (quando a palavra final de um verso rima com o meio do verso seguinte: «Dorme que eu velo, sedutora imagem,/grata miragem que no ermo vi;»)
  • 25. Estrofe • A estrofe é um agrupamento de versos, geralmente com sentido completo. Segundo o número de versos que a compõem, a estrofe tem uma designação específica, a saber: • MONÓSTICO (estrofe de um único verso) • DÍSTICO ou PARELHA (estrofe de dois versos) • TERCETO (estrofe de três versos) • QUADRA (estrofe de quatro versos) • QUINTILHA (estrofe de cinco versos) • SEXTILHA (estrofe de seis versos) • ESTROFE DE SETE VERSOS • OITAVA (estrofe de oito versos) • ESTROFE DE NOVE VERSOS • DÉCIMA (estrofe de dez versos)
  • 26. A poesia de cordel também se carateriza pelo uso de rimas. Voltemos à estrofe de Fábio Sombra Nesse instante o Magrilim Com voz mansa e bem pausada Disse olhando pra princesa: - Ouça aqui, minha adorada, Quero ver se você pode Destrinchar essa charada. Nesta estrofe encontram-se rimas no 2º, no 4º e no 6º versos. Já os versos 1, 3 e 5 não precisam rimar com nenhum outro. Isso facilita a vida do poeta que só precisa de se preocupar em encontrar três rimas por estrofe.
  • 27. PELEJA INTERNACIONAL (aplicação de algumas das regras que acabaram de ser explicadas)
  • 28. REGRAS Cada grupo interveniente deve desenvolver o mote, ou o mote-resposta numa estrofe atendendo às seguintes regras: - a estrofe deve ter seis versos e rima nos versos 2, 4 e 6; - métrica do mote ou do mote-resposta deve ser respeitada.
  • 29. MOTE Minha mesa é bem mais farta Do que a sua, meu irmão: MOTE-RESPOSTA Pois eu digo que a sua mesa Não é farta como a minha:
  • 30. Duas estrofes desenvolvidas por Fábio Sombra a partir do mote e mote- resposta dados: Minha mesa é bem mais farta Do que a sua, meu irmão: Nela tenho carne e leite Pois eu digo que sua mesa Azeitonas, macarrão Não é farta como a minha: Tenho peras, chocolate, Pois na minha tenho doces E uma torta de limão. Ovos, queijos e galinha Tenho sopa de legumes Bom azeite e até sardinha.
  • 31. Fábio Sombra explica: • Neste torneio, seguiremos o padrão que foi usado nos motes que dei, ou seja: 7 sílabas poéticas em cada um dos seis versos que formam as estrofes. Mas é sempre bom lembrar que a contagem de sílabas poéticas SEMPRE TERMINA NA ÚLTIMA SÍLABA TÔNICA DE CADA VERSO. As sílabas que vêm depois da última tônica não são contadas.
  • 32. Fábio Sombra explica: • Um dos objetivos do torneio é transformá-lo em uma oficina virtual de poesia, onde os alunos irão percebendo que poesia não é só inspiração, mas também muita transpiração e trabalho duro dos pobres poetas. Ao final, além de uma peleja bem feitinha e acabada, poderemos cantá-la facilmente ao som da viola, uma vez que a métrica estará sempre perfeita.
  • 33. Vamos verificar se a métrica e a rima foram respeitadas: 1- quem construiu uma estrofe a partir do mote deve apresentar rimas em –ão nos versos 4 e 6. 2- quem construiu uma estrofe a partir do mote- resposta deve apresentar rimas em –inha nos versos 4 e 6. 3- os versos devem ter todos 7 sílabas métricas.
  • 34. a métrica Mi/nha /me/sa é/ bem/ mais/ far/ta Do/ que a/ su/a, /meu/ ir/mão: Tem/ bom/ ba/ca/lhau /co/zi/do Fei/to /no/ meu/ cal/dei/rão Bem /re/ga/do /com/ a/zei/te E /vi/nho/ da/ re/gi/ão. (turma E do 6.º ano da Escola E. B. 2, 3 Dr. Carlos Pinto Ferreira, Junqueira, Vila do Conde)
  • 35. a rima Minha mesa é bem mais farta Do que a sua, meu irmão: Tem bom bacalhau cozido Feito no meu caldeirão Bem regado com azeite E vinho da região. (turma E do 6.º ano da Escola E. B. 2, 3 Dr. Carlos Pinto Ferreira, Junqueira, Vila do Conde)
  • 36. a métrica Pois/ eu /di/go /que a/ sua/ me/sa Não/ é/ far/ta /co/mo a /mi/nha: Da A/ma/zô/nia/ tro/pi/cal Até o /Sul /da/ mi/nha/ te/rri/nha A /far/tu/ra é/ tão / va/ria/da Que/ vo/cê/ nem/ a/di/vi/nha. (turma do 4º ano da Escola Estadual Guido Marlière, Cataguases, Minas Gerais, Brasil)
  • 37. a rima Pois eu digo que a sua mesa Não é farta como a minha: Da Amazônia tropical Até o Sul da minha terrinha A fartura é tão variada Que você nem adivinha.
  • 38. FR (2-4-2010) Minha mesa é bem mais farta Do que a sua, meu irmão: E/ com/ a/ nos/sa/ boa /ra/cle/tte Com/ uma /ba/gue/tte/ na/ mão Mais /um/ gos/to/so/bor/déus Nin/guém / pa/ssa à/ fren/te/ não!
  • 39. • Powerpoint desenvolvido em abril de 2010. • Professora Isabel Costa, SP do LI (F)