1) Os especialistas discutem o impacto da tecnologia da informação nas organizações e no trabalho. 2) A TI está alterando a maneira como as empresas acessam e usam informações sobre os clientes. 3) A videoconferência e outras novas tecnologias podem afetar as relações entre as pessoas e a maneira como trabalham em equipe.
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A ti muda
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Muitos executivos acham que já é bastante difícil dominar as práticas
atuais da tecnologia da informação e alegam que o futuro pode esperar.
Será que pode? Para imaginar o impacto da tecnologia da informação (TI) na
organização das empresas, basta pensar que, hoje, boa parte dos funcionários
possui capacidade, autoridade e responsabilidade para tomar decisões.
Por isso, a maneira como acessam a informação e o uso que fazem dela têm
consequências monumentais: podem levar à produtividade ou à bagunça.
Ou seja, é bom que os executivos comecem a dedicar-se rapidamente a
esse assunto.
No Georgia Institute of Technology, de Atlanta, Geórgia, EUA, com
abordagem prática da tecnologia, um grupo de especialistas de campos
tão variados como engenharia, economia, arquitetura, gestão de empresas
e políticas públicas estuda o que está por trás dos desafios atuais da TI.
Cinco membros desse grupo –Gary Tjaden, Alan A. Porter, Judith P. Carlisle,
Daniel S. Papp e Peter G. Sassone– reuniram-se com o jornalista Gary
Abramson, da equipe de jornalistas da revista CIO, para uma mesa-
redonda no campus do Georgia Tech.
Mesa-redonda com os professores do Georgia Institute
of Technology, o Georgia Tech, sobre o impacto –muitas vezes
não percebido– da tecnologia da informação em vários setores
TECNOLOGIA
como devem fazer seu trabalho.
São todos especialistas. A tarefa da
empresa é, portanto, conseguir
que todos trabalhem em conjunto,
porque o conhecimento é um
recurso inesgotável. Quanto mais
pessoas se sentarem a uma mesa
para trocar idéias, como estamos
fazendo aqui, mais conhecimentos
novos surgirão. O segredo é saber
como estimular os trabalhadores do
conhecimento a compartilhar esse
conhecimento, produzindo novas
informações e utilizando-as de
maneira totalmente nova.
PAPP – Acho que devemos falar
em “uma maneira nova e produti-
va”. A forma como temos acesso ao
conhecimento e o utilizamos pode
levar à produtividade, mas também
pode gerar confusão.
CARLISLE – A própria tecnologia
altera a maneira de trabalhar das
empresas. Na University of Arizona
estamos trabalhando muito com os
sistemas de apoio à tomada de
decisões. Nesses sistemas as pessoas
interagem com computadores, em
vez de interagirem entre si. Colo-
cam seus comentários no micro e
permanecem no anonimato.
Esses sistemas são muito eficien-
tes para chegar ao consenso em
grupos muito diversificados, mas
não estimulam as pessoas a apresen-
tar suas melhores idéias. Quando a
discussão acontece pessoalmente,
A TI muda
Como a tecnologia da informação
está afetando o funcionamento das
empresas?
TJADEN – Nós analisamos um
banco de dados com cerca de mil
empresas e descobrimos que
aproximadamente 80% estão
gastando mais com atividades de
informação e criação de ativos
intelectuais do que para buscar
retorno sobre o capital investido.
É natural que esse tipo de empresa
se preocupe mais em obter um
retorno das atividades de informa-
ção do que de ativos fixos ou
qualquer outro tipo de capital.
Parece-me que essa é uma das
preocupações das empresas do
conhecimento hoje em dia.
Como isso altera a organização das
empresas e o trabalho de seus
funcionários?
TJADEN – Imagine o que aconte-
ceria se virtualmente todos os
funcionários de uma empresa
fossem trabalhadores do conheci-
mento –todos com capacidade,
autoridade e responsabilidade para
definir o que fazem e como fazem;
todos com poder para tomar
decisões. Não podemos dizer-lhes
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podemos receber o crédito por
nossas idéias, o que não ocorre
quando se mantém o anonimato.
Essa tecnologia, portanto, apesar
de facilitar as reuniões de grupos
grandes, leva a tomar decisões
menos eficazes.
As empresas estão tirando o máxi-
mo proveito da TI?
SASSONE – Do ponto de vista do
uso comercial da tecnologia da
informação, nos últimos três a cinco
anos todos parecem geniais, pois a
economia vem tendo um desempe-
nho excelente e algumas empresas
estão registrando lucros recordes.
A tendência, então, é dizer: “Até
que enfim a TI está compensando”.
Na minha opinião, ainda dispomos
de poucos dados para chegar a uma
conclusão. Uma série de fatores
importantes –como os baixos custos
da energia, as características da
geração do baby boom, o fim da
Guerra Fria etc.– foi o que provavel-
mente garantiu uma boa parcela
desse período de prosperidade.
Muitas empresas dependem,
para crescer, de maior acesso
a informações sobre os clientes.
É possível que os clientes um dia
se recusem a cooperar porque não
querem que alguém que sabe onde
eles passam as férias e fazem com-
pras fique ligando para sua casa?
PORTER – Se a empresa que
deseja utilizar informações sobre
os clientes o fizer de maneira
criteriosa, vai sempre dispor de
muito espaço para uma exploração
eficaz. Mas, se isso for feito sem
critério, os clientes se revoltarão
e se negarão a colaborar.
CARLISLE – Já vimos isso acontecer
quando a America Online estava
coletando dados para lançar um CD
tudotudo
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com algumas informações sobre seus
clientes. O fato é que, de um mo-
mento para outro, temos nas mãos
ferramentas para análise de dados
que jamais tivemos antes. O conheci-
mento que as empresas têm sobre os
clientes não está em sintonia com o
conhecimento que as pessoas têm
sobre o mundo a seu redor.
TJADEN – Isso vale para tudo hoje
em dia. Podemos conceber uma
nova ferramenta, uma nova maneira
de fazer alguma coisa. Para nós isso
pode soar perfeitamente normal
e lógico. O maior desafio de um
empresário é criar uma empresa
com base em uma nova idéia e
fazer com que as pessoas realmente
entendam essa idéia.
A adoção da videoconferência e
de outras novas tecnologias altera
fundamentalmente a maneira como
as pessoas trabalham em equipe?
PAPP – Um dos efeitos da video-
conferência é o fato de a interação
humana imediata desaparecer. Mas
ainda há muita gente que gosta de
conversar cara a cara.
CARLISLE – O fato de saber que
existirá um registro permanente da
interação entre as pessoas –e de
saber que daqui a dez anos alguém
vai poder recuperar um arquivo e
ver o que estava realmente aconte-
cendo naquela sala– pode afetar os
relacionamentos.
SASSONE – Existe certa rejeição ao
uso da tecnologia para facilitar
reuniões. Há dez anos pensava-se
que essa seria a tendência do
futuro, porque seria possível regis-
trar o que era dito de maneira
exata. E isso não aconteceu, pelo
menos em muitos casos, porque as
pessoas não querem que suas
palavras sejam gravadas literalmente
–elas querem sempre ter alguma
“margem de manobra”.
CARLISLE – É possível até mesmo
O conhecimento que as empresas têm
sobre os clientes está além do conhecimento
das pessoas sobre o mundo
que haja uma reação social negativa
em relação à tecnologia da informa-
ção. E que precisemos arrastar
pessoas esperneando e gritando
para a Era da Informação ou
simplesmente abandoná-la.
PAPP – Muitas pessoas estão
bastante dispostas a usar as novas
tecnologias. Mas é necessário que
tenham os recursos necessários para
aprender como fazê-lo. É muito
comum ver empresas colocando
novas tecnologias à disposição dos
funcionários, mas é pouco comum
vê-las se preocupando em destinar
recursos para treiná-los de maneira
adequada.
CARLISLE – Eu tenho alguma
aversão à tecnologia. Acho que hoje
vivemos muito em função da
rapidez. Somos muito interrompi-
dos quando estamos trabalhando.
Atendemos o celular, recebemos
um fax, o pager toca. E a quantidade
de trabalho que precisamos fazer
em 8 horas está aumentando
dramaticamente, embora hoje
em dia não trabalhemos apenas
8 horas, mas 10 ou 12.
As pessoas vão se adaptar?
CARLISLE – Eu não tenho certeza
de que as pessoas possam se adap-
tar. E acho que, à medida que se
tornarem mais bem informadas e
começarem a entender realmente
o que é essa tecnologia, elas talvez
decidam que não a querem tão
presente em sua vida. Também é
possível que muitas das previsões
que estamos fazendo hoje sobre a
necessidade da TI, de sua integra-
ção e aceitação, não se tornem
realidade.
PORTER – A tecnologia terá de
evoluir, e nós junto com ela. A
videoconferência, por exemplo,
assim como outras expectativas
iniciais, evoluirá e poderemos
transformar a tecnologia ou utilizá-
la para alguma coisa que ninguém
teria imaginado ser possível.
SASSONE – A tecnologia evoluirá
exatamente para resolver o tipo de
problema que estamos levantando
aqui. Por exemplo: desenvolvendo
filtros automáticos para chamadas
telefônicas e para e-mails, propician-
do maior privacidade.
Qual é o impacto da revolução
da informação nas empresas que
atuam em escala mundial?
PAPP – A globalização, que é em
parte um fenômeno resultante
dessa própria tecnologia, nos
permite conversar com as pessoas,
ver seu rosto e enviar informações
em questão de minutos. Mas ainda
existe muita gente por aí –e não
necessariamente no Irã, no Iraque
ou no Camboja; algumas em nosso
país mesmo– que simplesmente não
quer receber idéias, informações ou
conceitos “alienígenas” que possam
influenciar sua maneira habitual de
fazer as coisas. Esse é um dos
problemas reais da Era da Informa-
ção. Ou seja, o potencial para atuar
em escala mundial versus o ressenti-
mento das pessoas que vêem seus
hábitos ameaçados.
TJADEN – A revolução da informa-
ção força a empresa a mudar da
produção em massa para a persona-
lização em massa. A necessidade de
um cliente do Irã é diferente da
necessidade de um do Sudão. Na
revolução da informação, o papel
de uma empresa bem-sucedida é
descobrir como satisfazer essas
diferentes necessidades.
A videoconferência, por ser um registro
permanente da interação entre as
pessoas, pode afetar relacionamentos
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SASSONE – Na minha opinião, o
mais provável é que nos próximos
10 ou 20 anos os ricos fiquem cada
vez mais ricos e os pobres cada vez
mais pobres.
PORTER – Eu acredito que a
disparidade se tornará ainda maior
porque as bases para a geração da
riqueza estão sendo alteradas. Todo
o nosso sistema de distribuição da
riqueza baseia-se em um esquema
ultrapassado da era industrial, pelo
qual se recompensava o trabalho e o
capital. E isso está mudando. O que
colocar no lugar? Não sei. E o que
me assusta, nesse ambiente tão
globalizado, é não conseguir sequer
imaginar quem teria a autoridade
necessária para fazer essa mudança.
CARLISLE – A adoção da tecnolo-
gia da informação gera, muitas
vezes, o caos. É possível, entretanto,
que vejamos pessoas ou grupos que
não conseguiram acumular riqueza
por meio dos meios convencionais,
fazendo-o pela TI. Pensemos na
quantidade de jovens das classes
menos favorecidas que conseguem
comprar um computador. E talvez
eles nem precisem de uma boa
StockPhotos
Mas, se quisermos ter um produ-
to baseado em informação sofistica-
da para vender na Arábia Saudita,
devemos nos assegurar de que os
clientes não apenas queiram esse
produto, mas também tenham os
recursos necessários para utilizá-lo.
O que adianta planejar vender um
computador para um país pobre da
África se não há eletricidade, se as
pessoas não sabem digitar?
SASSONE – A empresa é que deve
resolver esse problema. Como, na
realidade, será construída a infra-
estrutura de sustentação da Era da
Informação?
TJADEN – Parte do problema pode
ser simplesmente contornada. Basta
observar o que está sendo feito em
relação aos satélites e telefones de
órbita terrestre baixa. Com essa
tecnologia, não é preciso instalar
cabos no deserto do Saara para ter
o mesmo tipo de serviço telefônico
que temos aqui.
A TI vai alterar o equilíbrio entre
poder político e econômico do
mundo?
PAPP – Para mim, essa é a questão
mais fascinante de toda a Era da
Informação: à medida que a tecno-
logia da informação leva à criação
de riqueza, e a capacidade de
utilizar as novas tecnologias da
informação está limitada a determi-
nados participantes –sejam Estados,
empresas multinacionais, organiza-
ções governamentais e não-governa-
mentais–, a tecnologia da informa-
ção deve criar um padrão cada vez
mais distorcido de distribuição da
riqueza em escala mundial, entre
sociedades e dentro das sociedades.
O desafio, para as empresas e para
os governos, é como resolver o
problema da distribuição da riqueza
no futuro de maneira mais justa.
TJADEN – Eu acredito que esse é
um problema que se resolve por si
e não deve ser motivo de preocupa-
ção. As multinacionais estão extre-
mamente motivadas a distribuir
qualquer coisa que produzam para
um mercado o mais amplo possível.
E elas serão forçadas a fazer isso por
meio da personalização em massa e
não da produção em massa. Hoje em
dia esse movimento é mais poderoso
do que os governos nacionais.