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Uma vez dotados das tecnologias Auto IoT, os
carros poderão “conversar” entre si e com a
infraestrutura externa para estabelecer a dinâmica
do tráfego de forma mais planejada e coordenada.
A indústria e o mercado automotivos estão mudando. Além das
montadoras e sua usual cadeia de fornecedores, os gigantes da
tecnologia, Apple, Google e Microsoft, têm anunciado iniciativas
para carros conectados. Mas a que os carros estarão conectados?
Qual será o impacto dessas mudanças em nossas vidas? Como
será o futuro que nos espera?
Nos últimos 125 anos, tem-se observado uma correlação entre os
avanços na indústria automotiva e a evolução da tecnologia
associada a ela, especialmente nas áreas de eletrônica e tecnolo-
gia da informação.
A eletrônica automotiva permite que a indústria desenvolva, ano
após ano, veículos mais seguros, mais confortáveis, mais
eficientes em termos energéticos, com maior desempenho e
menos poluentes. Exemplos de sistemas eletrônicos amplamente
difundidos na indústria vão desde injeção eletrônica, sistemas de
air-bag e freios ABS aos sistemas de vidro elétrico. Sistemas
eletrônicos cuja finalidade é auxiliar o motorista na tarefa de dirigir
o veículo são chamados de ADAS – Sistemas Avançados de
Assistência ao Motorista. São exemplos deles o piloto automático
adaptativo, monitoramento de ponto cego, detecção de mudança
de faixa, alerta de colisão frontal e estacionamento automático,
para citar alguns.
A tecnologia automotiva também tem mudado a forma como os
usuários interagem com o carro e, no futuro, mudará a forma
como os carros irão interagir entre si e até mesmo com o
ambiente. É aí onde entra a tecnologia da informação e comuni-
cação. Há anos os carros dispõem de meios para se comunicar
com outros dispositivos ou sistemas, como Bluetooth e GPS.
Podemos dizer que os carros estão conectados e usam tecnologia
da informação e comunicação para proporcionar funcionalidades
até então inexistentes. Os sistemas ADAS conseguem, dentro do
limite da tecnologia, evitar acidentes. Sua evolução, contudo,
promete substituir o próprio motorista. O desenvolvimento dessas
tecnologias é a base para o surgimento dos veículos autônomos.
É o que aposta o setor, conforme o mundo assistiu durante a maior
feira de tecnologia do mundo, a Consumer Electronics Show.
Durante a CES 2016, realizada em Las Vegas em janeiro passado,
nove montadoras e 115 fornecedoras de componentes automo-
tivos apresentaram inovações que prometem revolucionar a indús-
tria (que vale atualmente US$ 2,4 trilhões) nos próximos anos:
carros conectados, veículos elétricos e veículos autônomos, sem
motorista.
Sistemas de conectividade, que hoje conectam os veículos a
dispositivos ou satélites, irão conectá-los entre si (V2V ou vehicle
to vehicle) e à infraestrutura do sistema de transporte (V2I ou
vehicle to infrastructure): semáforos, placas de sinalização ou até
mesmo avenidas. A conexão em rede entre veículos, e destes com
a infraestrutura e com o próprio usuário é o que chamamos de
Internet das Coisas Automotiva, ou Auto IoT.
De acordo com Gartner, consultoria americana na área de tecnolo-
gia, a expectativa é que as tecnologias de IoT e veículos
autônomos levem de cinco a dez anos para estarem, individual-
mente, estabelecidas. Contudo, os maiores impactos para a socie-
dade serão resultado da integração dessas duas tecnologias,
formando uma plataforma que será a base para as próximas
mudanças na indústria e no mercado automotivos.
Atualmente, um dos principais problemas dos grandes centros
urbanos é a falta de mobilidade causada pelo grande número de
veículos para transporte de pessoas e de cargas. Em março de
2016, o Brasil contava com uma frota de 91.485.547 automóveis
(mais de 20 tipos), segundo o DENATRAN – Departamento Nacional
de Trânsito. As consequências negativas da falta de mobilidade vão
desde o tempo gasto nos deslocamentos e o alto custo do transporte
até o crescimento no número de acidentes de trânsito. Para a
população, especificamente, além da perda de tempo na locomoção
e perda financeira, existe ainda degradação da saúde coletiva e da
qualidade de vida.
Infelizmente, não há alternativa para o transporte de cargas dentro
das cidades ou dos centros urbanos, mas para o transporte de
pessoas temos ao menos duas.A primeira delas é a maior utilização
do transporte coletivo ou de massa (ônibus, trem ou metrô), que
diminuiria o volume de automóveis trafegando pela cidade. A
segunda é tornar o trânsito mais eficiente, em tempo e custo, o que
seria válido mesmo com o aumento do número de veículos de
transporte individual.
Partindo da premissa que as pessoas podem escolher a forma de
locomoção que mais lhes convêm, e por ser este o pior caso, consid-
eremos o transporte individual.Tudo indica que no futuro sua utiliza-
ção crescerá, uma vez que, além de oferecer comodidade e
conforto, ele atende às necessidades particulares de cada pessoa.
Personalização de produtos e serviços é algo que vem sendo
incorporado também em outros setores da economia.
O veículo autônomo, por si só, não é a solução para o problema da
falta de mobilidade. Ele deve adquirir dados do ambiente à sua volta,
tomar decisões e executar ações. Sabemos que a imprevisibilidade
causada por automóveis guiados por motoristas humanos é um fator
que aumenta as chances de acidentes de trânsito. Dessa forma,
obter dados do ambiente torna-se essencial para que o veículo
autônomo possa prever e evitar colisões.As tecnologias de V2V e V2I
são, portanto, indispensáveis para um sistema de trânsito mais
robusto.
Uma vez dotados das tecnologias Auto IoT, os carros poderão
“conversar” entre si e com a infraestrutura externa para estabelecer
a dinâmica do tráfego de forma mais planejada e coordenada. Os
semáforos serão controlados de acordo com a circulação de
veículos e poderão dar prioridade a veículos de emergência, em
caso de necessidade. Os sentidos das vias serão alterados
automaticamente para se adaptarem às condições instantâneas do
tráfego. O sistema de trânsito poderá ser programado para otimizar
recursos, como o tempo de deslocamento ou o consumo de
combustível de uma frota.
Adeilton de Oliveira
Engenheiro da Computação e Consultor
em Sistemas Embarcados do CESAR
adeilton.oliveira@cesar.org.br
Essas novas tecnologias também impactam a indústria, o mercado e a
sociedade. Para as montadoras, será possível fazer a diagnose dos
carros em campo continuamente, permitindo prever o desgaste de
peças e informar ao proprietário a necessidade de uma manutenção não
prevista antes que um problema ocorra. Para o proprietário, sendo o
veículo autônomo, não haverá motivo para mantê-lo estacionado. O
veículo poderá, sozinho, transportar outras pessoas enquanto não é
usado pelo dono. Isso muda, inclusive, a necessidade de possuir um
carro, o que vai gerar novos modelos de negócios para a indústria
automotiva e um novo estilo de vida para o usuário. Para a sociedade
como um todo, a Auto IoT e suas novas tecnologias podem ajudar a
resolver o problema da falta de mobilidade nos centros urbanos,
tornando o trânsito mais eficiente e seguro, o ambiente menos poluído e
mais agradável e a qualidade de vida muito melhor.

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[CESAR REPORTS] Carros: de conectados a integrados

  • 1. Uma vez dotados das tecnologias Auto IoT, os carros poderão “conversar” entre si e com a infraestrutura externa para estabelecer a dinâmica do tráfego de forma mais planejada e coordenada. A indústria e o mercado automotivos estão mudando. Além das montadoras e sua usual cadeia de fornecedores, os gigantes da tecnologia, Apple, Google e Microsoft, têm anunciado iniciativas para carros conectados. Mas a que os carros estarão conectados? Qual será o impacto dessas mudanças em nossas vidas? Como será o futuro que nos espera? Nos últimos 125 anos, tem-se observado uma correlação entre os avanços na indústria automotiva e a evolução da tecnologia associada a ela, especialmente nas áreas de eletrônica e tecnolo- gia da informação. A eletrônica automotiva permite que a indústria desenvolva, ano após ano, veículos mais seguros, mais confortáveis, mais eficientes em termos energéticos, com maior desempenho e menos poluentes. Exemplos de sistemas eletrônicos amplamente difundidos na indústria vão desde injeção eletrônica, sistemas de air-bag e freios ABS aos sistemas de vidro elétrico. Sistemas eletrônicos cuja finalidade é auxiliar o motorista na tarefa de dirigir o veículo são chamados de ADAS – Sistemas Avançados de Assistência ao Motorista. São exemplos deles o piloto automático adaptativo, monitoramento de ponto cego, detecção de mudança de faixa, alerta de colisão frontal e estacionamento automático, para citar alguns. A tecnologia automotiva também tem mudado a forma como os usuários interagem com o carro e, no futuro, mudará a forma como os carros irão interagir entre si e até mesmo com o ambiente. É aí onde entra a tecnologia da informação e comuni- cação. Há anos os carros dispõem de meios para se comunicar com outros dispositivos ou sistemas, como Bluetooth e GPS. Podemos dizer que os carros estão conectados e usam tecnologia da informação e comunicação para proporcionar funcionalidades até então inexistentes. Os sistemas ADAS conseguem, dentro do limite da tecnologia, evitar acidentes. Sua evolução, contudo, promete substituir o próprio motorista. O desenvolvimento dessas tecnologias é a base para o surgimento dos veículos autônomos. É o que aposta o setor, conforme o mundo assistiu durante a maior feira de tecnologia do mundo, a Consumer Electronics Show. Durante a CES 2016, realizada em Las Vegas em janeiro passado, nove montadoras e 115 fornecedoras de componentes automo- tivos apresentaram inovações que prometem revolucionar a indús- tria (que vale atualmente US$ 2,4 trilhões) nos próximos anos: carros conectados, veículos elétricos e veículos autônomos, sem motorista. Sistemas de conectividade, que hoje conectam os veículos a dispositivos ou satélites, irão conectá-los entre si (V2V ou vehicle to vehicle) e à infraestrutura do sistema de transporte (V2I ou vehicle to infrastructure): semáforos, placas de sinalização ou até mesmo avenidas. A conexão em rede entre veículos, e destes com a infraestrutura e com o próprio usuário é o que chamamos de Internet das Coisas Automotiva, ou Auto IoT. De acordo com Gartner, consultoria americana na área de tecnolo- gia, a expectativa é que as tecnologias de IoT e veículos autônomos levem de cinco a dez anos para estarem, individual- mente, estabelecidas. Contudo, os maiores impactos para a socie- dade serão resultado da integração dessas duas tecnologias, formando uma plataforma que será a base para as próximas mudanças na indústria e no mercado automotivos.
  • 2. Atualmente, um dos principais problemas dos grandes centros urbanos é a falta de mobilidade causada pelo grande número de veículos para transporte de pessoas e de cargas. Em março de 2016, o Brasil contava com uma frota de 91.485.547 automóveis (mais de 20 tipos), segundo o DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito. As consequências negativas da falta de mobilidade vão desde o tempo gasto nos deslocamentos e o alto custo do transporte até o crescimento no número de acidentes de trânsito. Para a população, especificamente, além da perda de tempo na locomoção e perda financeira, existe ainda degradação da saúde coletiva e da qualidade de vida. Infelizmente, não há alternativa para o transporte de cargas dentro das cidades ou dos centros urbanos, mas para o transporte de pessoas temos ao menos duas.A primeira delas é a maior utilização do transporte coletivo ou de massa (ônibus, trem ou metrô), que diminuiria o volume de automóveis trafegando pela cidade. A segunda é tornar o trânsito mais eficiente, em tempo e custo, o que seria válido mesmo com o aumento do número de veículos de transporte individual. Partindo da premissa que as pessoas podem escolher a forma de locomoção que mais lhes convêm, e por ser este o pior caso, consid- eremos o transporte individual.Tudo indica que no futuro sua utiliza- ção crescerá, uma vez que, além de oferecer comodidade e conforto, ele atende às necessidades particulares de cada pessoa. Personalização de produtos e serviços é algo que vem sendo incorporado também em outros setores da economia. O veículo autônomo, por si só, não é a solução para o problema da falta de mobilidade. Ele deve adquirir dados do ambiente à sua volta, tomar decisões e executar ações. Sabemos que a imprevisibilidade causada por automóveis guiados por motoristas humanos é um fator que aumenta as chances de acidentes de trânsito. Dessa forma, obter dados do ambiente torna-se essencial para que o veículo autônomo possa prever e evitar colisões.As tecnologias de V2V e V2I são, portanto, indispensáveis para um sistema de trânsito mais robusto. Uma vez dotados das tecnologias Auto IoT, os carros poderão “conversar” entre si e com a infraestrutura externa para estabelecer a dinâmica do tráfego de forma mais planejada e coordenada. Os semáforos serão controlados de acordo com a circulação de veículos e poderão dar prioridade a veículos de emergência, em caso de necessidade. Os sentidos das vias serão alterados automaticamente para se adaptarem às condições instantâneas do tráfego. O sistema de trânsito poderá ser programado para otimizar recursos, como o tempo de deslocamento ou o consumo de combustível de uma frota. Adeilton de Oliveira Engenheiro da Computação e Consultor em Sistemas Embarcados do CESAR adeilton.oliveira@cesar.org.br Essas novas tecnologias também impactam a indústria, o mercado e a sociedade. Para as montadoras, será possível fazer a diagnose dos carros em campo continuamente, permitindo prever o desgaste de peças e informar ao proprietário a necessidade de uma manutenção não prevista antes que um problema ocorra. Para o proprietário, sendo o veículo autônomo, não haverá motivo para mantê-lo estacionado. O veículo poderá, sozinho, transportar outras pessoas enquanto não é usado pelo dono. Isso muda, inclusive, a necessidade de possuir um carro, o que vai gerar novos modelos de negócios para a indústria automotiva e um novo estilo de vida para o usuário. Para a sociedade como um todo, a Auto IoT e suas novas tecnologias podem ajudar a resolver o problema da falta de mobilidade nos centros urbanos, tornando o trânsito mais eficiente e seguro, o ambiente menos poluído e mais agradável e a qualidade de vida muito melhor.