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FOLHAS CAÍDAS
1853   Almeida Garrett
Em Folhas Caídas observa-se uma poesia confessional, um misto
de sinceridade e fingimento, exibicionismo e horror de si mesmo,
euforia erótica e desengano.

O autor recorre aos termos “rosa” e “luz” revelando que os
poemas têm a ver com a envolvente paixão do autor pela
Viscondessa da Luz, Rosa de Montúfar.

A obra pode ser considerada como documento humano, tanto
pela sinceridade nela presente quanto pela perfeição estética de
certos versos repletos de leveza.
Folhas Caídas
Aspetos formais
1. Aspetos precursores do Simbolismo:
     - aliteração;
     - assonância;
     - rima interna;
     -sinestesia.
2. De sabor medieval e/ou popular:
     · Valorização das tradições poéticas portuguesas:
           - preferência pela redondilha maior (sete sílabas),
           - emprego do refrão e do paralelismo («Barca Bela»)

    · Grande variedade métrica: adequação ao ritmo e desenvolvimento do tema ou
    motivo poético; uso de versos de metro raro, tais como os bissílabos e trissílabo
    («Rosa e lírio»), o verso de nove sílabas (eneassílabo), de onze sílabas
    (hendecassílabo); e uso do decassílabo heróico, mas com menor frequência.

    · Uso de estrofes variadas: quadra, sextilhas, sétimas, oitavas, quintilhas décimas,
    alguns poemas apresentam estrofes com um número variado de versos.

    · Recurso a rimas cruzadas, por sugestão popular, mas também às rimas
    emparelhadas e interpoladas. O poeta recorreu também às rimas interiores e
    encadeadas ( poema «Não te amo»).
2. De sabor medieval e/ou popular:

    · A linguagem é quase sempre simples e direta, aparentemente espontânea e
    marcada pela emotividade: o que está patente no uso da pontuação (travessão,
    reticências, exclamações).

    · Nalguns poemas há marcas de narratividade e do género dramatização: diálogo
    eu - tu, narração; estilo coloquial (marcas da oralidade, falso diálogo);

    · exploração com originalidade de recursos estilísticos: anástrofe, anáfora,
    interrogação, imagem, reticência, hipérbole, gradação, comparação, a metáfora e
    a antítese.

    · Os sinais de pontuação estão ao serviço da expressividade e do dramatismo,
    fazendo sublinhar as pausas naturais do discurso emotivo.
3. Outros aspetos:
    • abandono do verso branco arcádico e dos géneros clássicos;
    • preferência pela redondilha em estrofes regulares (quadra, sextilha,
       estrofes de sete e oito versos);
    • função apelativa da linguagem;
    • teatralidade;
    • exploração original de metáforas e antí-teses;
    • sinais de pontuação mais ao serviço da expressividade do que da lógica;
    • ritmo influenciado pela cesura do verso;
    • exploração da polissemia.


Temas clássicos:
   • o tema da mudança;
   • a antí-tese vida/morte;
   • a paisagem como estado de alma.
Estilo
Garrett abandonou as convenções clássicas, os versos brancos dos árcades e usou
uma grande liberdade métrica e rítmica. Soube tirar impressionante partido das
aliterações, rimas internas, sinestesias, fazendo anunciar o Simbolismo. Veja-se o
poema "Os Cinco Sentidos".

É inovador, aproximando a linguagem literária da linguagem coloquial. Os tipos de
frase, a pontuação, revelam as mínimas alterações do estado de espírito do sujeito
poético. Todos estes recursos estéticos conferem ao dis-curso uma ductilidade, uma
musicalidade, uma cadência, uma harmonia, uma suavidade, que são a grande
contribuição de Garrett para a poesia moderna.
Folhas Caídas
Principais linhas que atravessam a poesia
Folhas caídas  características gerais da obra
Amor sensual
Em vez de um sentimento passivo, contemplativo, Garrett canta o amor que
se repercute nos sentidos, amor que atinge a máxima expressão na máxima
erotização do corpo. Tudo isto numa linguagem estética de rara beleza,
des-tinada a fazer o retraio do delírio passional, como se pode verificar no
poema "Os Cinco Sentidos".

 Amor intenso e vivido
O lirismo garrettiano é muito pessoal, confissão sincera de alguém que
muito amou os que amou apaixonadamente. A expressão de um amor
sentido e vivido já não é uma simulação ou a idealização de um amor,
simplesmente intelectualizado e expresso em moldes convencionais, como
nos clássicos.
A recorrência dos vocábulos "rosa" e "luz" reenvia certamente para a
inspiradora desta coletânea de poemas: a viscondessa da Luz, Rosa
Montufar.
Contradições amorosas
O amor cantado em Folhas Caídas está repleto de contradições: contradi-ções entre
um passado que foi "um doce sonhar" e um presente que é "um inferno de amar";
contradições entre dois seres que nunca se completam, antes geram o vazio. A
mulher é representada como um objeto de um desejo nunca atingido ou, atingido,
logo distanciado. É superlativada nas suas características: é um anjo, mas um anjo
caído, luz e trevas. O sujeito amoroso confessa repetidamente a sua incapacidade de
amar porque busca o prazer físico como se fosse absoluto. Por isso, a cada momento
de prazer sucede um momento de vazio pois é da natureza desse prazer ser
momen-tâneo. Contradições que provêm ainda da divisão maniqueísta entre céu e
terra, entre corpo e alma. Tudo isto converge para a criação de conflitos amorosos.
Ler os poemas "Este Inferno de Amar", "Não te amo, quero-te".

 Parateatralidade
Garrett é um homem de teatro e até quando escreve poesia não abandona esta
faceta. Encontramos em muitos poemas os falsos diálogos, dirigidos a um Tu
ausente aos olhos do leitor mas provocando o sujeito amoroso. Está do lado de lá
dos bastidores e interpela. O sujeito reproduz muitas vezes as suas réplicas. É o
gosto pelo discurso dramático.
·A expressão sincera de um coração dominado pela paixão amorosa.

·O tom confessional dos seus poemas de circunstância amorosa, alguns poemas
integram-se na linha da «poesia de alcova» que caracteriza alguma poesia romântica.
Alguns poemas apresentam uma certa feição dramática. Esta revela-se na constante
dialética entre o eu poético e um tu - mulher amada. A mulher amada, interlocutora, é
invocada quando ausente, ora através das inúmeras apóstrofes que a evocam, ora se
sugere a sua presença nas respostas repetidas pelo sujeito poético ( poema «Adeus»).

· O amor-paixão: sentimento repleto de contradições, expressas em antíteses de
vida/morte, amar/querer ( amor da alma / amor do corpo), sensualidade-erotismo /
idealismo.. Esse amor resulta do encontro contraditório entre uma mulher fatal e o
homem ou entre a mulher-anjo que se deixa seduzir pelo homem que apenas a deseja
e é incapaz de um verdadeiro amor, que deve ser de alma e não de corpo.

·Um amor que é prazer e dor; que é salvação, quando é de alma ; e é pecado, quando
apenas se vive pelos sentidos e pelo desejo.
Folhas Caídas
A inovação
Esta obra trouxe novidades à literatura portuguesa, quer quan-to à forma, quer
quanto à temática e seu modo de tratamento. Apontamos, a título de exemplo,
algumas

NA FORMA
   abandono dos modelos arcádicos
   preferência pela redondilha de rima emparelhada, cruzada ou alternada,
   apresentada em quadras, sextilhas e estrofes de 7 e 8 versos
   influência das formas da poesia popular (quadras; refrão; rima interna, etc.)
   tom coloquial
   linguagem oralizante
   monólogo dialogado
   grande variedade estrófica
NA TEMÁTICA
Canta o amor-paixão, com várias cambiantes:
  ora um amor em que o poeta foi amado e não amou (como em "Adeus!");
  ora um amor em que o poeta amou e foi correspondido (como em "Cozo e dor");
  ora um amor em que o poeta ama e não é correspondido (como em "Não és tu");
  ora um amor que dá vida (como em "Este inferno de amar");
  ora um amor que mata (como em "Víbora");

  e tudo isto decorre das várias expe-riências amorosas de Garrett: as que viveu, as
  que viu viver, as que adivi-nhou.
Folhas Caídas
Aspetos românticos
 O tratamento do sentimento amoroso: sinceridade, sensualidade e erotismo;
  feição contraditória (amor/ morte; dor/prazer; amor físico - amor ideal);( poemas
  «Este Inferno de Amar», «Não te amo»);

 Conceção da mulher : mulher-anjo / mulher-demónio («Anjo és» «Barca Bela»);

 Jogo de oposição: natureza-sociedade; homem natural /homem social («Estes
  sítios» e « Adeus»);

 A natureza como um estado de alma («Cascais» e «Estes sítios»);

 Valorização da tradição poética portuguesa («Barca Bela»);

 Linguagem mais simples , direta e espontânea;

 Valorização da emoção diante da razão.

 O tom confessional de alguns poemas : «Adeus», «Cascais», etc.
Literatura Portuguesa
Profª: Helena Maria Coutinho

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Folhas caídas características gerais da obra

  • 1. FOLHAS CAÍDAS 1853 Almeida Garrett
  • 2. Em Folhas Caídas observa-se uma poesia confessional, um misto de sinceridade e fingimento, exibicionismo e horror de si mesmo, euforia erótica e desengano. O autor recorre aos termos “rosa” e “luz” revelando que os poemas têm a ver com a envolvente paixão do autor pela Viscondessa da Luz, Rosa de Montúfar. A obra pode ser considerada como documento humano, tanto pela sinceridade nela presente quanto pela perfeição estética de certos versos repletos de leveza.
  • 4. 1. Aspetos precursores do Simbolismo: - aliteração; - assonância; - rima interna; -sinestesia.
  • 5. 2. De sabor medieval e/ou popular: · Valorização das tradições poéticas portuguesas: - preferência pela redondilha maior (sete sílabas), - emprego do refrão e do paralelismo («Barca Bela») · Grande variedade métrica: adequação ao ritmo e desenvolvimento do tema ou motivo poético; uso de versos de metro raro, tais como os bissílabos e trissílabo («Rosa e lírio»), o verso de nove sílabas (eneassílabo), de onze sílabas (hendecassílabo); e uso do decassílabo heróico, mas com menor frequência. · Uso de estrofes variadas: quadra, sextilhas, sétimas, oitavas, quintilhas décimas, alguns poemas apresentam estrofes com um número variado de versos. · Recurso a rimas cruzadas, por sugestão popular, mas também às rimas emparelhadas e interpoladas. O poeta recorreu também às rimas interiores e encadeadas ( poema «Não te amo»).
  • 6. 2. De sabor medieval e/ou popular: · A linguagem é quase sempre simples e direta, aparentemente espontânea e marcada pela emotividade: o que está patente no uso da pontuação (travessão, reticências, exclamações). · Nalguns poemas há marcas de narratividade e do género dramatização: diálogo eu - tu, narração; estilo coloquial (marcas da oralidade, falso diálogo); · exploração com originalidade de recursos estilísticos: anástrofe, anáfora, interrogação, imagem, reticência, hipérbole, gradação, comparação, a metáfora e a antítese. · Os sinais de pontuação estão ao serviço da expressividade e do dramatismo, fazendo sublinhar as pausas naturais do discurso emotivo.
  • 7. 3. Outros aspetos: • abandono do verso branco arcádico e dos géneros clássicos; • preferência pela redondilha em estrofes regulares (quadra, sextilha, estrofes de sete e oito versos); • função apelativa da linguagem; • teatralidade; • exploração original de metáforas e antí-teses; • sinais de pontuação mais ao serviço da expressividade do que da lógica; • ritmo influenciado pela cesura do verso; • exploração da polissemia. Temas clássicos: • o tema da mudança; • a antí-tese vida/morte; • a paisagem como estado de alma.
  • 8. Estilo Garrett abandonou as convenções clássicas, os versos brancos dos árcades e usou uma grande liberdade métrica e rítmica. Soube tirar impressionante partido das aliterações, rimas internas, sinestesias, fazendo anunciar o Simbolismo. Veja-se o poema "Os Cinco Sentidos". É inovador, aproximando a linguagem literária da linguagem coloquial. Os tipos de frase, a pontuação, revelam as mínimas alterações do estado de espírito do sujeito poético. Todos estes recursos estéticos conferem ao dis-curso uma ductilidade, uma musicalidade, uma cadência, uma harmonia, uma suavidade, que são a grande contribuição de Garrett para a poesia moderna.
  • 9. Folhas Caídas Principais linhas que atravessam a poesia
  • 11. Amor sensual Em vez de um sentimento passivo, contemplativo, Garrett canta o amor que se repercute nos sentidos, amor que atinge a máxima expressão na máxima erotização do corpo. Tudo isto numa linguagem estética de rara beleza, des-tinada a fazer o retraio do delírio passional, como se pode verificar no poema "Os Cinco Sentidos". Amor intenso e vivido O lirismo garrettiano é muito pessoal, confissão sincera de alguém que muito amou os que amou apaixonadamente. A expressão de um amor sentido e vivido já não é uma simulação ou a idealização de um amor, simplesmente intelectualizado e expresso em moldes convencionais, como nos clássicos. A recorrência dos vocábulos "rosa" e "luz" reenvia certamente para a inspiradora desta coletânea de poemas: a viscondessa da Luz, Rosa Montufar.
  • 12. Contradições amorosas O amor cantado em Folhas Caídas está repleto de contradições: contradi-ções entre um passado que foi "um doce sonhar" e um presente que é "um inferno de amar"; contradições entre dois seres que nunca se completam, antes geram o vazio. A mulher é representada como um objeto de um desejo nunca atingido ou, atingido, logo distanciado. É superlativada nas suas características: é um anjo, mas um anjo caído, luz e trevas. O sujeito amoroso confessa repetidamente a sua incapacidade de amar porque busca o prazer físico como se fosse absoluto. Por isso, a cada momento de prazer sucede um momento de vazio pois é da natureza desse prazer ser momen-tâneo. Contradições que provêm ainda da divisão maniqueísta entre céu e terra, entre corpo e alma. Tudo isto converge para a criação de conflitos amorosos. Ler os poemas "Este Inferno de Amar", "Não te amo, quero-te". Parateatralidade Garrett é um homem de teatro e até quando escreve poesia não abandona esta faceta. Encontramos em muitos poemas os falsos diálogos, dirigidos a um Tu ausente aos olhos do leitor mas provocando o sujeito amoroso. Está do lado de lá dos bastidores e interpela. O sujeito reproduz muitas vezes as suas réplicas. É o gosto pelo discurso dramático.
  • 13. ·A expressão sincera de um coração dominado pela paixão amorosa. ·O tom confessional dos seus poemas de circunstância amorosa, alguns poemas integram-se na linha da «poesia de alcova» que caracteriza alguma poesia romântica. Alguns poemas apresentam uma certa feição dramática. Esta revela-se na constante dialética entre o eu poético e um tu - mulher amada. A mulher amada, interlocutora, é invocada quando ausente, ora através das inúmeras apóstrofes que a evocam, ora se sugere a sua presença nas respostas repetidas pelo sujeito poético ( poema «Adeus»). · O amor-paixão: sentimento repleto de contradições, expressas em antíteses de vida/morte, amar/querer ( amor da alma / amor do corpo), sensualidade-erotismo / idealismo.. Esse amor resulta do encontro contraditório entre uma mulher fatal e o homem ou entre a mulher-anjo que se deixa seduzir pelo homem que apenas a deseja e é incapaz de um verdadeiro amor, que deve ser de alma e não de corpo. ·Um amor que é prazer e dor; que é salvação, quando é de alma ; e é pecado, quando apenas se vive pelos sentidos e pelo desejo.
  • 15. Esta obra trouxe novidades à literatura portuguesa, quer quan-to à forma, quer quanto à temática e seu modo de tratamento. Apontamos, a título de exemplo, algumas NA FORMA abandono dos modelos arcádicos preferência pela redondilha de rima emparelhada, cruzada ou alternada, apresentada em quadras, sextilhas e estrofes de 7 e 8 versos influência das formas da poesia popular (quadras; refrão; rima interna, etc.) tom coloquial linguagem oralizante monólogo dialogado grande variedade estrófica
  • 16. NA TEMÁTICA Canta o amor-paixão, com várias cambiantes: ora um amor em que o poeta foi amado e não amou (como em "Adeus!"); ora um amor em que o poeta amou e foi correspondido (como em "Cozo e dor"); ora um amor em que o poeta ama e não é correspondido (como em "Não és tu"); ora um amor que dá vida (como em "Este inferno de amar"); ora um amor que mata (como em "Víbora"); e tudo isto decorre das várias expe-riências amorosas de Garrett: as que viveu, as que viu viver, as que adivi-nhou.
  • 18.  O tratamento do sentimento amoroso: sinceridade, sensualidade e erotismo; feição contraditória (amor/ morte; dor/prazer; amor físico - amor ideal);( poemas «Este Inferno de Amar», «Não te amo»);  Conceção da mulher : mulher-anjo / mulher-demónio («Anjo és» «Barca Bela»);  Jogo de oposição: natureza-sociedade; homem natural /homem social («Estes sítios» e « Adeus»);  A natureza como um estado de alma («Cascais» e «Estes sítios»);  Valorização da tradição poética portuguesa («Barca Bela»);  Linguagem mais simples , direta e espontânea;  Valorização da emoção diante da razão.  O tom confessional de alguns poemas : «Adeus», «Cascais», etc.