A coletânea de poemas Folhas Caídas, de Almeida Garrett, apresenta:
1. Uma poesia confessional que mistura sinceridade e fingimento, exibicionismo e auto-aversão, euforia erótica e desilusão.
2. Os termos "rosa" e "luz" revelam a paixão do autor pela Viscondessa da Luz, Rosa de Montúfar, inspiradora da obra.
3. A obra pode ser considerada um documento humano pela sinceridade e perfeição estética de certos versos rep
2. Em Folhas Caídas observa-se uma poesia confessional, um misto
de sinceridade e fingimento, exibicionismo e horror de si mesmo,
euforia erótica e desengano.
O autor recorre aos termos “rosa” e “luz” revelando que os
poemas têm a ver com a envolvente paixão do autor pela
Viscondessa da Luz, Rosa de Montúfar.
A obra pode ser considerada como documento humano, tanto
pela sinceridade nela presente quanto pela perfeição estética de
certos versos repletos de leveza.
4. 1. Aspetos precursores do Simbolismo:
- aliteração;
- assonância;
- rima interna;
-sinestesia.
5. 2. De sabor medieval e/ou popular:
· Valorização das tradições poéticas portuguesas:
- preferência pela redondilha maior (sete sílabas),
- emprego do refrão e do paralelismo («Barca Bela»)
· Grande variedade métrica: adequação ao ritmo e desenvolvimento do tema ou
motivo poético; uso de versos de metro raro, tais como os bissílabos e trissílabo
(«Rosa e lírio»), o verso de nove sílabas (eneassílabo), de onze sílabas
(hendecassílabo); e uso do decassílabo heróico, mas com menor frequência.
· Uso de estrofes variadas: quadra, sextilhas, sétimas, oitavas, quintilhas décimas,
alguns poemas apresentam estrofes com um número variado de versos.
· Recurso a rimas cruzadas, por sugestão popular, mas também às rimas
emparelhadas e interpoladas. O poeta recorreu também às rimas interiores e
encadeadas ( poema «Não te amo»).
6. 2. De sabor medieval e/ou popular:
· A linguagem é quase sempre simples e direta, aparentemente espontânea e
marcada pela emotividade: o que está patente no uso da pontuação (travessão,
reticências, exclamações).
· Nalguns poemas há marcas de narratividade e do género dramatização: diálogo
eu - tu, narração; estilo coloquial (marcas da oralidade, falso diálogo);
· exploração com originalidade de recursos estilísticos: anástrofe, anáfora,
interrogação, imagem, reticência, hipérbole, gradação, comparação, a metáfora e
a antítese.
· Os sinais de pontuação estão ao serviço da expressividade e do dramatismo,
fazendo sublinhar as pausas naturais do discurso emotivo.
7. 3. Outros aspetos:
• abandono do verso branco arcádico e dos géneros clássicos;
• preferência pela redondilha em estrofes regulares (quadra, sextilha,
estrofes de sete e oito versos);
• função apelativa da linguagem;
• teatralidade;
• exploração original de metáforas e antí-teses;
• sinais de pontuação mais ao serviço da expressividade do que da lógica;
• ritmo influenciado pela cesura do verso;
• exploração da polissemia.
Temas clássicos:
• o tema da mudança;
• a antí-tese vida/morte;
• a paisagem como estado de alma.
8. Estilo
Garrett abandonou as convenções clássicas, os versos brancos dos árcades e usou
uma grande liberdade métrica e rítmica. Soube tirar impressionante partido das
aliterações, rimas internas, sinestesias, fazendo anunciar o Simbolismo. Veja-se o
poema "Os Cinco Sentidos".
É inovador, aproximando a linguagem literária da linguagem coloquial. Os tipos de
frase, a pontuação, revelam as mínimas alterações do estado de espírito do sujeito
poético. Todos estes recursos estéticos conferem ao dis-curso uma ductilidade, uma
musicalidade, uma cadência, uma harmonia, uma suavidade, que são a grande
contribuição de Garrett para a poesia moderna.
11. Amor sensual
Em vez de um sentimento passivo, contemplativo, Garrett canta o amor que
se repercute nos sentidos, amor que atinge a máxima expressão na máxima
erotização do corpo. Tudo isto numa linguagem estética de rara beleza,
des-tinada a fazer o retraio do delírio passional, como se pode verificar no
poema "Os Cinco Sentidos".
Amor intenso e vivido
O lirismo garrettiano é muito pessoal, confissão sincera de alguém que
muito amou os que amou apaixonadamente. A expressão de um amor
sentido e vivido já não é uma simulação ou a idealização de um amor,
simplesmente intelectualizado e expresso em moldes convencionais, como
nos clássicos.
A recorrência dos vocábulos "rosa" e "luz" reenvia certamente para a
inspiradora desta coletânea de poemas: a viscondessa da Luz, Rosa
Montufar.
12. Contradições amorosas
O amor cantado em Folhas Caídas está repleto de contradições: contradi-ções entre
um passado que foi "um doce sonhar" e um presente que é "um inferno de amar";
contradições entre dois seres que nunca se completam, antes geram o vazio. A
mulher é representada como um objeto de um desejo nunca atingido ou, atingido,
logo distanciado. É superlativada nas suas características: é um anjo, mas um anjo
caído, luz e trevas. O sujeito amoroso confessa repetidamente a sua incapacidade de
amar porque busca o prazer físico como se fosse absoluto. Por isso, a cada momento
de prazer sucede um momento de vazio pois é da natureza desse prazer ser
momen-tâneo. Contradições que provêm ainda da divisão maniqueísta entre céu e
terra, entre corpo e alma. Tudo isto converge para a criação de conflitos amorosos.
Ler os poemas "Este Inferno de Amar", "Não te amo, quero-te".
Parateatralidade
Garrett é um homem de teatro e até quando escreve poesia não abandona esta
faceta. Encontramos em muitos poemas os falsos diálogos, dirigidos a um Tu
ausente aos olhos do leitor mas provocando o sujeito amoroso. Está do lado de lá
dos bastidores e interpela. O sujeito reproduz muitas vezes as suas réplicas. É o
gosto pelo discurso dramático.
13. ·A expressão sincera de um coração dominado pela paixão amorosa.
·O tom confessional dos seus poemas de circunstância amorosa, alguns poemas
integram-se na linha da «poesia de alcova» que caracteriza alguma poesia romântica.
Alguns poemas apresentam uma certa feição dramática. Esta revela-se na constante
dialética entre o eu poético e um tu - mulher amada. A mulher amada, interlocutora, é
invocada quando ausente, ora através das inúmeras apóstrofes que a evocam, ora se
sugere a sua presença nas respostas repetidas pelo sujeito poético ( poema «Adeus»).
· O amor-paixão: sentimento repleto de contradições, expressas em antíteses de
vida/morte, amar/querer ( amor da alma / amor do corpo), sensualidade-erotismo /
idealismo.. Esse amor resulta do encontro contraditório entre uma mulher fatal e o
homem ou entre a mulher-anjo que se deixa seduzir pelo homem que apenas a deseja
e é incapaz de um verdadeiro amor, que deve ser de alma e não de corpo.
·Um amor que é prazer e dor; que é salvação, quando é de alma ; e é pecado, quando
apenas se vive pelos sentidos e pelo desejo.
15. Esta obra trouxe novidades à literatura portuguesa, quer quan-to à forma, quer
quanto à temática e seu modo de tratamento. Apontamos, a título de exemplo,
algumas
NA FORMA
abandono dos modelos arcádicos
preferência pela redondilha de rima emparelhada, cruzada ou alternada,
apresentada em quadras, sextilhas e estrofes de 7 e 8 versos
influência das formas da poesia popular (quadras; refrão; rima interna, etc.)
tom coloquial
linguagem oralizante
monólogo dialogado
grande variedade estrófica
16. NA TEMÁTICA
Canta o amor-paixão, com várias cambiantes:
ora um amor em que o poeta foi amado e não amou (como em "Adeus!");
ora um amor em que o poeta amou e foi correspondido (como em "Cozo e dor");
ora um amor em que o poeta ama e não é correspondido (como em "Não és tu");
ora um amor que dá vida (como em "Este inferno de amar");
ora um amor que mata (como em "Víbora");
e tudo isto decorre das várias expe-riências amorosas de Garrett: as que viveu, as
que viu viver, as que adivi-nhou.
18. O tratamento do sentimento amoroso: sinceridade, sensualidade e erotismo;
feição contraditória (amor/ morte; dor/prazer; amor físico - amor ideal);( poemas
«Este Inferno de Amar», «Não te amo»);
Conceção da mulher : mulher-anjo / mulher-demónio («Anjo és» «Barca Bela»);
Jogo de oposição: natureza-sociedade; homem natural /homem social («Estes
sítios» e « Adeus»);
A natureza como um estado de alma («Cascais» e «Estes sítios»);
Valorização da tradição poética portuguesa («Barca Bela»);
Linguagem mais simples , direta e espontânea;
Valorização da emoção diante da razão.
O tom confessional de alguns poemas : «Adeus», «Cascais», etc.