Gil Vicente foi o primeiro dramaturgo português, escrevendo cerca de 44 peças entre 1502-1536. Suas obras criticavam os vícios da sociedade através de alegorias e sátiras, enquanto promoviam virtudes morais. Seu teatro usava versos e refletia tanto temas seculares quanto sacros da época.
3. ♦ Gil Vicente pensa-se ter nascido na cidade
de Guimarães ou algures na Beira Alta,
entre a década de 1460-1470. Segundo
vários investigadores terá sido ouvires, e é-
lhe atribuída a Custódia de Belém, ou
ainda que terá sido mestre de retórica do
rei D. Manuel. Foi casado duas vezes, do
que resultou cinco filhos. Terá morrido,
provavelmente, no ano de 1536.
4. ♦ Foi o primeiro
conhecido
dramaturgo
português e um dos
maiores génios de
teatro do nosso país.
5. • Recitou a sua primeira peça ao serviço de D.
Leonor, no dia 7 de junho de 1502, intitulada O
Monólogo do Vaqueiro. O que faria assiduamente
por mais trinta e cinco anos da sua vida.
6. Vestuário
Durante os séculos XV e XVI a moda era
influenciada por Espanha e França;
Usavam-se a grande mistura de cores intensas;
Tecidos grossos e aveludados;
Rasgões e cortes em áreas estratégicas para o
realce das curvas e o destaque do forro
(geralmente bordado);
Chapéus grandes e baixos com penas;
Fitas para prender as mangas e perneiras;
Cintos, fivelas, brasões e armas ricamente
desenhados ao longo dos trajes.
7. Uma mulher da alta sociedade da
época e um colete ou espartilho
8. Vestuário do séc. XV na atualidade
♦ Nos nossos tempos
continuam-se a
representar as roupas
deslumbrantes
daquela época.
♦ Nesta imagem,
Michael Jackson
representa um rei.
10. Vestuário da Alta Sociedade
♦ O traje habitual do
rei, rainha e
príncipes deveria ser
o mais exuberante,
carregado de brilhos
e formas bem
definidas, com
grandes pompas e
chapéus enormes.
12. Vestuário Feminino
♦ As mulheres da alta sociedade vestiam-se de
forma muito rica, seguindo sempre a moda
vinda de França, Espanha e Itália.
♦ Durante estes dois séculos ditaram-se os
grandes brilhos, veludos, cores carregadas e
exageradas, folhos, golas, brasões
desenhados ao longo dos vestidos e corpetes
e coroas simbólicas, sempre com a cintura e
as suas formas muito vincadas.
14. Vestuário Masculino
♦ Os reis e príncipes usavam grandes mantos, e
roupas cobertas de pedras preciosas vindas do
oriente e das novas descobertas.
♦ As roupas eram muito ricas e coloridas, com
grandes folhos e pompas, chapéus e adornos
brilhantes, geralmente de pedras preciosas que
simbolizavam riqueza.
♦ Era ainda moda as luvas e as capas, que
simbolizavam o poder e acreditava-se que
dariam sorte.
16. Vestuário do Clero
Os membros pertencentes à ordem do
Clero usavam hábitos próprios dessa ordem.
Os Dominicanos vestiam um hábito branco.
Os Franciscanos vestiam um hábito
castanho.
O clero secular tinha, como hoje tem,
paramentos especiais, ou seja, vestuário
próprio para as diferentes cerimónias
religiosas.
18. Vestuário do Povo
♦ O povo, alheio a modas
vindas de outros países,
usava apenas o fato de
trabalho, com as cores
vulgares e mortas de há
muitos séculos atrás;
♦ Fazia as suas próprias
roupas com os poucos
recursos que dispunha.
19. Vestuário séc. XVI
♦ A partir dos finais do séc. XVI, perde-
se a moda das roupas coloridas e
começa-se a usar o preto, sobreposto
de bordado de cores claras, ouro e
prata. Usam-se os decotes horizontais e
as golas mais altas e sóbrias, admitindo
uma pose mais rígida e elegante.
21. Gastronomia
Durante o séculos XV e XVI vinham muitas
especiarias da Índia, o que permitia uma
maior variedade de alimentação na corte;
Concretizavam-se grandes banquetes, festas e
espetáculos, tais como os autos de Gil
Vicente, onde participavam todos os
elementos da alta sociedade;
As duas refeições mais importantes eram o
jantar e a ceia.
23. Gastronomia
♦ Possuíam grandes mesas, com variedade
e cor, serviços de mesa trabalhados à
mão, muitas vezes de cristal, ouro, prata
e outras pedras preciosas.
♦ Os elementos base eram o vinho (que
simbolizava o sangue de Deus), o pão (a
sua carne), e a carne de animais caçados
recentemente (riqueza).
25. Gastronomia
♦Também faziam parte da
alimentação carnes como o cabrito,
o carneiro, o porco, a vaca,
galinha, pato, ganso, pombo,
faisão, pavão, rola, coelho e as
carnes da época. Servia-se assada,
cozida, estufada ou em caldeirada
26. Gastronomia
Os peixes mais
comuns eram a
sardinha, pescada,
congro, sável,
salmonete e lampreia;
A fruta passava pelas
cerejas, pêssegos e
limões, embora
fossem considerados
muito ácidos.
27. Inquisição
♦ A Inquisição é um tribunal católico que
inicialmente foi utilizado para combater
o sincretismo.
♦ A partir do séc. XI este tribunal
começou a perseguir e a condenar os
cristãos-novos, ou seja, aqueles que
renegavam as suas religiões para
aderirem ao cristianismo.
28. Inquisição
No decorrer do séc. XI foi criado o
Index, uma lista de livros proibidos cuja
circulação tinha sido controlada pela
inquisição;
Também no meio destes
acontecimentos começou a praticar-se a
censura: antes que algum livro ou artigo
fossem publicados a censura impunha a
revisão do mesmo, e se preciso, a sua
anulação.
29. Inquisição
♦ As peças teatrais de Gil
Vicente, naquela altura
obviamente iam ser alvo
de censura, mas a rainha
D. Leonor guardou-as,
para evitar isso.
30. GIL VICENTE
♦ Não se sabe exatamente
quando e onde Gil Vicente
nasceu. Os poucos indícios
históricos registram seu
nascimento entre 1465 e 1470,
possivelmente em Guimarães,
cidade portuguesa rica em
artistas e artesãos. Foi ai que,
provavelmente, ele aprendeu o
ofício de ourives.
31. GIL VICENTE
♦ Gil Vicente viveu a maior parte
de sua vida em Lisboa, centro
comercial e cultural de
Portugal. De origem popular,
não se sabe onde adquiriu a
vasta e diferenciada cultura que
marcou sua obra – todas, ou
quase todas, afirmações sobre
a vida do dramaturgo são
suposições.
32. O teatro de Gil Vicente
♦ Em Portugal, o grande nome do
teatro no Humanismo (Século
XVI) é Gil Vicente. Em 71 anos
de vida, estima-se que tenha
escrito cerca de 44 peças.
Escrita em 1502, sua primeira
peça foi o Auto da visitação, em
homenagem à rainha D. Maria
pelo nascimento de seu filho, o
futuro rei D. João III.
33. O teatro de Gil Vicente
♦ A obra de Gil Vicente não
seguiu um padrão determinado.
Não há sinal de que conhecesse
o drama grego e não há registro
histórico de um teatro leigo
português pré-vicentino. Gil
Vicente é, portanto,
considerado o criador do teatro
em Portugal.
34. Teatro, crítica e humor
♦ Rico e variado, o teatro de Gil
Vicente compõe um painel da
época e do mundo em que
viveu, fazendo uma dramaturgia
crítica, ao mesmo tempo
satírica e moralizante. Ou seja,
as peças de Gil Vicente têm
caráter moralizante e procuram
tematizar os comportamentos
condenáveis e enaltecer as
virtudes.
35. Teatro, crítica e humor
♦ A religião católica é tomada
como referência para a
identificação das virtudes e dos
erros humanos. Mas, embora
critique o comportamento
mundano de membros da Igreja,
a formação medieval faz com
que as críticas de Gil Vicente
sejam sempre voltadas para os
indivíduos, jamais para as
instituições religiosas.
36. Teatro, crítica e humor
♦ Crítico mordaz, Gil Vicente não
se curvou ao seu tempo.
Bombardeou praticamente
todos os setores da sociedade,
poupando apenas as abstratas
noções de instituição. Criticou a
hipocrisia do clero, em nome da
fé cristã. Desbancou a tirania
da nobreza, em nome da justiça
social. Condenou a corrupção
dos burocrata, em defesa do
bem público.
37. Teatro, crítica e humor
♦ Gil Vicente foi um dramaturgo
privilegiado. Desenvolveu sua
arte com liberdade, sem se
preocupar com a sobrevivência
diária. Viveu com certa
tranqüilidade, protegido e
incentivado sob o regime de
mecenato pelas Cortes dos reis
de Portugal.
38. Teatro, crítica e humor
♦ Sem fazer distinção entre os
segmentos da sociedade, o
teatro vicentino coloca no
centro da cena erros de ricos e
pobres, nobres e plebeus. O
autor denuncia os exploradores
do povo, como o fidalgo, o
sapateiro e o agiota do Auto da
barca do inferno; ridiculariza os
velhos que se interessam por
mulheres mais jovens, na farsa
O velho da horta.
39. Teatro, crítica e humor
♦ Enfim, o teatro vicentino traça
um quadro animado da
sociedade portuguesa do século
XVI, procurando sempre, além
de divertir, estimular um
comportamento virtuoso.
40. Teatro, crítica e humor
♦ O objetivo do teatro crítico e
moralizante de Gil Vicente era
demonstrar como o ser humano
– independente de classe social,
raça, sexo ou religião – é
egoísta, falso, mentiroso,
orgulhoso e frágil diante dos
apelos da carne e do dinheiro.
41. Teatro, crítica e humor
♦ Um recurso muito explorado por
Gil Vicente é o uso de alegorias,
ou seja, de representações , por
meio de personagens ou
objetos, de idéias abstratas,
geralmente relacionadas aos
vícios e virtudes humanas.
42. As alegorias no teatro
vicentino
♦ As alegorias facilitam o
reconhecimento, por parte da
platéia, do vício ou da virtude a
que o texto quer fazer
referência. Assim, no Auto da
barca do inferno, o agiota traz
consigo uma bolsa cheia de
moedas que representa,
alegoricamente, a sua
ganância.
43. Um teatro poético
♦ A linguagem da obra vicentina
apresenta uma fusão do teatro
com a poesia. Seus
personagens expressam-se em
versos. O padrão é a redondilha
maior, verso (7 sílabas) típico
de sua época. Sua rede textual
é formada, ainda, por
metáforas, trocadilhos, ironias,
rimas e metrificação
tradicionais.
44. Temas sacros e profanos
♦ O teatro de Gil Vicente reflete
tanto os costumes da época,
como na Farsa de Inês Pereira;
quanto o religioso alegórico,
como no Auto da Barca do
Inferno. Essa divisão
caracteriza a idéia de um
mundo em transição, própria do
período Humanista, pois é
centrada ora no homem, ora na
religião (Idade Média X
Renascimento).
45. A obra de Gil Vicente
♦ AUTOS PASTORIS (ÉCLOGAS):
Gênero a que pertence algumas
das primeiras obras do autor.
Algumas dessas peças têm
caráter religioso, como o Auto
pastoril português; outras,
profano, como o Auto pastoril
da serra da Estrela.
46. A obra de Gil Vicente
♦ AUTOS DE MORALIDADE:
♦ Gênero em que Gil Vicente se
celebrizou. Suas peças mais
conhecidas são autos de
moralidade, como é o caso da
Trilogia das barcas (Auto da
barca do inferno, Auto da barca
do purgatório e Auto da barca
da glória) e do Auto da alma.
47. A obra de Gil Vicente
♦ FARSAS:
♦ Peças de caráter crítico,
utilizam como personagens
tipos populares e desenvolvem-
se em torno de problemas da
sociedade. As mais populares
são a Farsa de Inês Pereira e a
Farsa do velho da horta.
48. OS COSTUMES
♦ Preocupado com a correção dos
costumes, Gil Vicente adotava
como lema uma famosa frase de
Plauto, dramaturgo latino:
“rindo, corrigem-se os
costumes”.
49. OS COSTUMES
♦ Gil Vicente escolhia como
argumento para uma peça uma
situação facilmente
reconhecida pela platéia, como
a do velho que se apaixona por
uma mulher muito jovem (O
velho da horta), para
ridicularizar o comportamento
condenado pelos valores da
época.
50. TEATRO EDUCATIVO
♦ O riso desencadeado pelas
cenas revelava que o público
identificava e censurava uma
conduta socialmente
inadequada. Assim, ao mesmo
tempo que as peças vicentinas
divertiam a nobreza, também
contribuíam para educá-la.
52. O Auto da barca do inferno
♦ No Auto da barca do inferno,
percebemos uma galeria de
tipos humanos satirizados por
Gil Vicente. Esses tipos são
passageiros de duas barcas:
uma delas é comandada pelo
Diabo, e a outra, por um Anjo.
Os passageiros, que estão
mortos, são submetidos a um
interrogatório, após o qual
embarcarão rumo ao Inferno ou
ao Paraíso (simulando o Juízo
Final).
53. O Auto da barca do inferno
♦ A maioria deles, condenada por
seu comportamento, vai para a
barca do Diabo, superlotando-a.
São eles: um fidalgo, um
sapateiro, uma alcoviteira, um
padre e sua amante, um judeu,
um enforcado, um agiota, um
corregedor e um procurador.
54. O Auto da barca do Inferno
♦ Apenas cinco passageiros – um
parvo (indivíduo tolo, simplório)
e quatro cavaleiros
(representando um único tipo) –
embarcam em companhia do
Anjo. O parvo foi aceito pelo
Anjo porque, se pecou em vida,
o fez sem consciência, sem
maldade. Já os quatro
cavaleiros irão para o Paraíso
porque morreram “pelejando por
Cristo”.
56. A farsa de Inês Pereira
♦ O mote (tema) da Farsa de Inês
Pereira é dado pelo seguinte
provérbio: “Mais quero asno que
me leve, que cavalo que me
derrube”. A heroína, Inês
Pereira, embora pertença à
classe popular, sonha com um
marido “discreto”. Repele Pêro
Marques, filho dum camponês
rico, e casa com um escudeiro
pobre, mas pretensioso, que a
maltrata.
57. A farsa de Inês Pereira
♦O marido, porém, morre na
África, e Inês, ensinada desta
vez pela dura experiência,
desposa Pêro Marques e
depressa aceita a corte dum
falso ermitão (monge). Para
cúmulo do embuste, é o novo
marido que a leva ao eremitério
e atravessa um rio com ela às
costas.
59. Farsa de Inês Pereira
“Ficha Técnica”
Tema: a ambição pessoal, a eleição de valores e as lições da
experiência.
Classificação: Farsa, isto é, forma cômica do teatro, com origem no
teatro medieval, com certo tom burlesco e caricatural. É, normalmente,
a pintura satírica da realidade quotidiana.
60. Farsa de Inês Pereira
Estrutura externa:
A semelhança da maior parte das peças vicentinas, a Farsa de Inês Pereira não possui
divisão cênica. No entanto, o andamento da intriga pressupõe duas grandes partes: Inês
solteira e Inês casada, que por sua vez se subdividem em unidades mais pequenas.
Base temática:
A ação da farsa decorre dentro de uma coação temática, ou seja, a farsa resulta de um
desafio instaurado a Gil Vicente por aqueles que duvidavam da sua originalidade. No
entanto, a condicionante temática não prejudica a espontaneidade, o humor e a lógica.
61. Farsa de Inês Pereira
Inês Pereira:
Inês pode ser tipificada como uma jovem casadoira, , ambiciosa e rebelde,
que arremessa a costura com revolta e escolhe um marido “discreto” e bem-
falante, que sabe cantar e tocar.
No entanto, a vertente de personagem plana em breve será desconstruída,
quando Inês se vê dominada por um marido tirânico, que a impede de cantar,
falar ou ir à janela, dizendo: “Vós não haveis de mandar/ em casa somente um
pêlo”.
Inês reconhece que errou e estabelece um plano a que os acontecimentos irão
dar realização. A viragem psicológica de Inês é extremamente expressiva e
mostra a personagem em situação, que sabe reconsiderar, sem abatimentos ou
queixumes, e que aprende as lições da experiência. Inês reage, aguardando o
momento da vingança, que surge quando, morto o escudeiro, resolve casar
com o pretendente que havia rejeitado, Pêro Marques, o asno que a leva onde
ela quer…
62. Farsa de Inês Pereira
Inês Pereira (cont.):
No entanto, se as personagens vicentinas não são senão disfarces
particularizados de situações humanas generalizáveis, Inês já não é
Inês. É alguém sem rosto, sem nome, sem idade e sem época que, por
imprudência e ambição, cai na desgraça; que sabe esperar, que
finalmente mostra que aprendeu a lição de vida, reconsidera e não
repete o erro, pois “Sobre quantos mestres são/ experiência dá lição”.
Então, podemos dizer que Inês deixa de ser a personagem para voltar a
ser tipo de uma situação humana.
Adaptado de F. Torrinha e A. Pires de Lima, Farsa de Inês Pereira de Gil Vicente, (…)