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Movimento Antropófago,
Primeira Geração do Modernismo Brasileiro
               Manoel Neves

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LINHAS GERAIS
       primeira geração do modernismo brasileiro
fase iconoclasta: quer romper com o passado literário-cultural;
        anarquismo: “não sabemos o que queremos”;
      eleição do moderno como um valor em si mesmo;
          busca de originalidade a qualquer preço;
                luta contra o tradicionalismo;
         juízos de valor sobre a realidade brasileira;
               valorização poética do cotidiano;
           nacionalismo xenófobo e intransigente.

3

AS REVISTAS
primeira geração do modernismo brasileiro

4

Fonte: http://apalavrasempressa.blogspot.com/2011/01/revista-klaxon.html

5

Fonte: http://www.skoob.com.br/livro/156519-revista-de-antropofagia

6

Fonte: http://www.nossacasa.net/arte/texto.asp?texto=66

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AS REVISTAS
                 primeira geração do modernismo brasileiro
                                   quando surgem?
A Semana de Arte Moderna congregou os autores que queriam algo diferente do que a
literatura vinha produzindo. As revistas reúnem intelectuais com afinidades estético-ideológicas.

                                     como operam?
Tal qual ocorria nas Vanguardas Europeias, os artistas se reúnem, publicam manifestos e põem
em prática seus conceitos por intermédio de obras estéticas de várias naturezas.

                                  para que servem?
Se a Semana de Arte Moderna serviu para congregar os “modernistas”, as revistas vão reunir os
artistas por afinidade estético-ideológicas e alavancar o chamado movimento modernista.

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OS MOVIMENTOS
                 primeira geração do modernismo brasileiro
                                     como surgem?
Em torno das revistas, reúnem-se escritores e pintores que têm afinidades estéticas.

                                     o que fazem?
Usam as revistas como veículo de divulgação das ideias [vide o que acontece com a Revista de
Antropofagia] e de obras icônicas e verbais.

                      quais são os mais importantes?
Teoricamente, pode-se dividir os movimentos modernistas em dois grandes grupos – os
nacionalistas ufanistas [Anta e verde-amarelo] e os nacionalistas críticos [Pau-Brasil e
Antropofagia]. Mário de Andrade [desvairismo] e Manuel Bandeira, apesar de excessivamente
importantes neste primeiro momento do modernismo, não se aliam aos quatro grandes grupos
mais representativos.

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ANTROPOFAGIA, 1928
primeira geração do modernismo brasileiro

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LINHAS GERAIS
           a antropofagia, 1928
        devoração cultural seletiva;
revisão crítica do passado histórico cultural;
           estilo crítico e irônico;
            estrutura inovadora;
            primitivismo crítico;
       poema-piada e poema pílula;
            primitivismo crítico;
            nacionalismo crítico.

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O MANIFESTO ANTROPÓFAGO [fragmentos]
                                 a antropofagia, 1928
Tupy or not tupy that is the question.
A alegria é a prova dos nove.
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi o Carnaval. O índio vestido de Senador do Império.
Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses.
Antes de os portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil havia descoberto a felicidade.
Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da
saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande.
Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na
Bahia. Ou em Belém do Pará.
Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud –a a realidade sem
complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.

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MEUS SETE ANOS
                       Oswald de Andrade
                           Papai vinha de tarde
                            Da faina de labutar
                         Eu esperava na calçada
                            Papai era gerente
                            Do Banco Popular
                           Eu aprendia com ele
                         Os nomes dos negócios
                             Juros hipotecas
                            Prazo amortização
                            Papai era gerente
                            Do Banco Popular
                         Mas descontava cheques
                          No guichê do coração
     aspectos formais: versos livres e brancos; pontuação relativa;
aspectos temáticos: paródia de “Meus oito anos”, de Casimiro de Abreu
[aos aspectos líricos se misturam elementos do cotidiano do capitalista]
base dupla: lírico x capitalista; prosaico [saudades[ x poético [capitalista]

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AMOR
                               Oswald de Andrade
                                          humor
           aspectos formais: síntese [extrema]; versos brancos; poema pílula;
aspectos temáticos: releitura crítica do discurso romântico [o amor não precisa ser triste].

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FAZENDA
                     Oswald de Andrade
                O mandacaru espiou a mijada da moça.
aspectos formais: síntese [extrema]; flash cinematográfico; poema piada;
  tema: apresentação sucinta e inaugural de uma paisagem do campo.

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CRÔNICA
                              Oswald de Andrade
                                       Era uma vez
                                        O mundo
aspectos formais: síntese [extrema]; flash cinematográfico; poema piada; caráter prosaico;
  tema: a maior de todas as histórias é resumidamente apresenta com um olhar infantil.

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HISTÓRIA PÁTRIA
         Oswald de Andrade
Lá vai uma barquinha carregada de
                            Aventureiros
Lá vai uma barquinha carregada de
                            Bacharéis
Lá vai uma barquinha carregada de
                            Cruzes de Cristo
Lá vai uma barquinha carregada de
                            Donatários
Lá vai uma barquinha carregada de
                            Espanhóis
                            Paga prenda
                            Prenda os espanhóis!
Lá vai uma barquinha carregada de
                            Flibusteiros
Lá vai uma barquinha carregada de
                            Governadores
Lá vai uma barquinha carregada de
                            Holandeses

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HISTÓRIA PÁTRIA
                                 Oswald de Andrade
                       Lá vem uma barquinha carregada de
                                                  índios
                       Outra de degredados
                       Outra de pau de tinta
                       Até que o mar inteiro
                       Se coalhou de transatlânticos
                       E as barquinhas ficaram
                       Jogando prenda coa raça misturada
                       No litoral azul de meu Brasil.
aspectos formais: versos livres e brancos; pontuação relativa; paralelismo; elementos visuais;
aspectos temáticos: revisão crítica do passado histórico-cultural; paródia do discurso histórico;
[a história pátria é contada – reinventada – de forma lúdica/crítica, como se fosse brincadeira:
                   Lá vai uma barquinha carregada de a, b, c, d, e, f, g, h, i.

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NO MEIO DO CAMINHO
                    Carlos Drummond de Andrade
                  No meio do caminho tinha uma pedra
                  Tinha uma pedra no meio do caminho
                  Tinha uma pedra
                  No meio do caminho tinha uma pedra.
                  Nunca me esquecerei desse acontecimento
                  Na vida de minhas retinas tão fatigadas
                  Nunca me esquecerei que no meio do caminho
                  Tinha uma pedra
                  Tinha uma pedra no meio do caminho
                  No meio do caminho tinha uma pedra.
aspectos formais: versos livres e brancos; pontuação relativa; prosaísmo; repetição;
aspectos temáticos: releitura crítica do soneto “Nel mezzo del camin”, de Olavo Bilac;
   [poema piada: nega veementemente os preceitos parnasiano/conservadores].

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BRASIL
                                Oswald de Andrade
                      O Zé Pereira chegou de caravela
                      E perguntou pro guarani da mata virgem
                      – Sois cristão?
                      – Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
                      Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!
                      Lá longe a onça resmungava Uu! Ua! uu!
                      O negro zonzo saído da fornalha
                      Tomou a palavra e respondeu
                      – Sim pela graça de Deus
                      Cunhem Babá Canhém Babá Cum Cum!
                      E fizeram o Carnaval
       aspectos formais: poema narrativo; forte musicalidade; versos livres e brancos;
      aspectos temáticos: narrativa alegórica que relê criticamente a história do Brasil;
    o índio: negação da colonização + apropriação de “I-Juca-Pirama”, de Gonçalves Dias;
    o negro: fortemente ligado à religiosidade e ao trabalho [saído da fornalha: ironia?];
     o branco: tem nome e sobrenome e está ligado aos elementos culturais europeus;
carnaval: festa da raça; momento de comunhão/inversão de valores; alegria solar; brasilidade.

20

Tarsila do Amaral: Urutu. Disponível em: http://www.tarsiladoamaral.com.br/versao_antiga/historia.htm

21

Tarsila do Amaral: A cuca. Disponível em: http://www.tarsiladoamaral.com.br/versao_antiga/historia.htm

22

Tarsila do Amaral: A negra. Disponível em: http://www.tarsiladoamaral.com.br/versao_antiga/historia.htm

23

Tarsila do Amaral: Antropofagia. Disponível em: http://www.tarsiladoamaral.com.br/versao_antiga/historia.htm

24

Tarsila do Amaral: A cuca. Disponível em: http://www.tarsiladoamaral.com.br/versao_antiga/historia.htm

25

Tarsila do Amaral: O macaco. Disponível em: http://www.tarsiladoamaral.com.br/versao_antiga/historia.htm

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Movimento antropófago

  • 1. Movimento Antropófago, Primeira Geração do Modernismo Brasileiro Manoel Neves
  • 2. LINHAS GERAIS primeira geração do modernismo brasileiro fase iconoclasta: quer romper com o passado literário-cultural; anarquismo: “não sabemos o que queremos”; eleição do moderno como um valor em si mesmo; busca de originalidade a qualquer preço; luta contra o tradicionalismo; juízos de valor sobre a realidade brasileira; valorização poética do cotidiano; nacionalismo xenófobo e intransigente.
  • 3. AS REVISTAS primeira geração do modernismo brasileiro
  • 7. AS REVISTAS primeira geração do modernismo brasileiro quando surgem? A Semana de Arte Moderna congregou os autores que queriam algo diferente do que a literatura vinha produzindo. As revistas reúnem intelectuais com afinidades estético-ideológicas. como operam? Tal qual ocorria nas Vanguardas Europeias, os artistas se reúnem, publicam manifestos e põem em prática seus conceitos por intermédio de obras estéticas de várias naturezas. para que servem? Se a Semana de Arte Moderna serviu para congregar os “modernistas”, as revistas vão reunir os artistas por afinidade estético-ideológicas e alavancar o chamado movimento modernista.
  • 8. OS MOVIMENTOS primeira geração do modernismo brasileiro como surgem? Em torno das revistas, reúnem-se escritores e pintores que têm afinidades estéticas. o que fazem? Usam as revistas como veículo de divulgação das ideias [vide o que acontece com a Revista de Antropofagia] e de obras icônicas e verbais. quais são os mais importantes? Teoricamente, pode-se dividir os movimentos modernistas em dois grandes grupos – os nacionalistas ufanistas [Anta e verde-amarelo] e os nacionalistas críticos [Pau-Brasil e Antropofagia]. Mário de Andrade [desvairismo] e Manuel Bandeira, apesar de excessivamente importantes neste primeiro momento do modernismo, não se aliam aos quatro grandes grupos mais representativos.
  • 9. ANTROPOFAGIA, 1928 primeira geração do modernismo brasileiro
  • 10. LINHAS GERAIS a antropofagia, 1928 devoração cultural seletiva; revisão crítica do passado histórico cultural; estilo crítico e irônico; estrutura inovadora; primitivismo crítico; poema-piada e poema pílula; primitivismo crítico; nacionalismo crítico.
  • 11. O MANIFESTO ANTROPÓFAGO [fragmentos] a antropofagia, 1928 Tupy or not tupy that is the question. A alegria é a prova dos nove. Nunca fomos catequizados. Fizemos foi o Carnaval. O índio vestido de Senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses. Antes de os portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil havia descoberto a felicidade. Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande. Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará. Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud –a a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.
  • 12. MEUS SETE ANOS Oswald de Andrade Papai vinha de tarde Da faina de labutar Eu esperava na calçada Papai era gerente Do Banco Popular Eu aprendia com ele Os nomes dos negócios Juros hipotecas Prazo amortização Papai era gerente Do Banco Popular Mas descontava cheques No guichê do coração aspectos formais: versos livres e brancos; pontuação relativa; aspectos temáticos: paródia de “Meus oito anos”, de Casimiro de Abreu [aos aspectos líricos se misturam elementos do cotidiano do capitalista] base dupla: lírico x capitalista; prosaico [saudades[ x poético [capitalista]
  • 13. AMOR Oswald de Andrade humor aspectos formais: síntese [extrema]; versos brancos; poema pílula; aspectos temáticos: releitura crítica do discurso romântico [o amor não precisa ser triste].
  • 14. FAZENDA Oswald de Andrade O mandacaru espiou a mijada da moça. aspectos formais: síntese [extrema]; flash cinematográfico; poema piada; tema: apresentação sucinta e inaugural de uma paisagem do campo.
  • 15. CRÔNICA Oswald de Andrade Era uma vez O mundo aspectos formais: síntese [extrema]; flash cinematográfico; poema piada; caráter prosaico; tema: a maior de todas as histórias é resumidamente apresenta com um olhar infantil.
  • 16. HISTÓRIA PÁTRIA Oswald de Andrade Lá vai uma barquinha carregada de Aventureiros Lá vai uma barquinha carregada de Bacharéis Lá vai uma barquinha carregada de Cruzes de Cristo Lá vai uma barquinha carregada de Donatários Lá vai uma barquinha carregada de Espanhóis Paga prenda Prenda os espanhóis! Lá vai uma barquinha carregada de Flibusteiros Lá vai uma barquinha carregada de Governadores Lá vai uma barquinha carregada de Holandeses
  • 17. HISTÓRIA PÁTRIA Oswald de Andrade Lá vem uma barquinha carregada de índios Outra de degredados Outra de pau de tinta Até que o mar inteiro Se coalhou de transatlânticos E as barquinhas ficaram Jogando prenda coa raça misturada No litoral azul de meu Brasil. aspectos formais: versos livres e brancos; pontuação relativa; paralelismo; elementos visuais; aspectos temáticos: revisão crítica do passado histórico-cultural; paródia do discurso histórico; [a história pátria é contada – reinventada – de forma lúdica/crítica, como se fosse brincadeira: Lá vai uma barquinha carregada de a, b, c, d, e, f, g, h, i.
  • 18. NO MEIO DO CAMINHO Carlos Drummond de Andrade No meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho Tinha uma pedra No meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento Na vida de minhas retinas tão fatigadas Nunca me esquecerei que no meio do caminho Tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra. aspectos formais: versos livres e brancos; pontuação relativa; prosaísmo; repetição; aspectos temáticos: releitura crítica do soneto “Nel mezzo del camin”, de Olavo Bilac; [poema piada: nega veementemente os preceitos parnasiano/conservadores].
  • 19. BRASIL Oswald de Andrade O Zé Pereira chegou de caravela E perguntou pro guarani da mata virgem – Sois cristão? – Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte Teterê tetê Quizá Quizá Quecê! Lá longe a onça resmungava Uu! Ua! uu! O negro zonzo saído da fornalha Tomou a palavra e respondeu – Sim pela graça de Deus Cunhem Babá Canhém Babá Cum Cum! E fizeram o Carnaval aspectos formais: poema narrativo; forte musicalidade; versos livres e brancos; aspectos temáticos: narrativa alegórica que relê criticamente a história do Brasil; o índio: negação da colonização + apropriação de “I-Juca-Pirama”, de Gonçalves Dias; o negro: fortemente ligado à religiosidade e ao trabalho [saído da fornalha: ironia?]; o branco: tem nome e sobrenome e está ligado aos elementos culturais europeus; carnaval: festa da raça; momento de comunhão/inversão de valores; alegria solar; brasilidade.
  • 20. Tarsila do Amaral: Urutu. Disponível em: http://www.tarsiladoamaral.com.br/versao_antiga/historia.htm
  • 21. Tarsila do Amaral: A cuca. Disponível em: http://www.tarsiladoamaral.com.br/versao_antiga/historia.htm
  • 22. Tarsila do Amaral: A negra. Disponível em: http://www.tarsiladoamaral.com.br/versao_antiga/historia.htm
  • 23. Tarsila do Amaral: Antropofagia. Disponível em: http://www.tarsiladoamaral.com.br/versao_antiga/historia.htm
  • 24. Tarsila do Amaral: A cuca. Disponível em: http://www.tarsiladoamaral.com.br/versao_antiga/historia.htm
  • 25. Tarsila do Amaral: O macaco. Disponível em: http://www.tarsiladoamaral.com.br/versao_antiga/historia.htm