Este documento descreve as normas de versificação da poesia clássica, incluindo métrica, ritmo e gêneros literários do poema. Explica que a versificação ensina a fazer poemas belos e perfeitos segundo padrões como rima, métrica e ritmo. Também define os três principais gêneros poéticos - lírico, épico e dramático - e fornece exemplos de cada um.
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Normas de versificação
1. Normas de Versificação<br />É o conjunto de normas que ensinam a fazer poemas belos e perfeitos segundo o conceito dos antigos gregos. Para eles, beleza e perfeição são sinônimos de trabalhoso, detalhado, complexo e tudo aquilo que segue a um modelo, a um conjunto de normas. É, assim, a técnica ou a arte de fazer versos. <br /> Verso é cada uma das linhas que compõem um poema, possui número determinado de sílabas poéticas (métrica), agradável movimento rítmico (ritmo) e musicalidade (rima). <br /> <br />O conjunto de versos compõe uma estrofe, que pode ser: <br /> 1. Monóstico: estrofe com um verso; <br />2. Dístico: dois versos<br />3. Terceto: três versos <br />4. Quarteto: quatro versos (ou quadra) <br />5. Quintilha: cinco versos<br />6. Sextilha: seis versos <br />7. Septilha: sete versos <br />8. Oitava: oito versos <br />9. Nona: nove versos <br />10. Décima : dez versos <br />Mais de dez versos: estrofe Irregular. <br /> <br /> Métrica é a medida ou quantidade de sílabas que um verso possui. A divisão e a contagem das sílabas métricas de um verso são chamadas de ESCANSÃO, que não é feita da mesma forma que a divisão e contagem de sílabas normais, pois, segundo a Versificação: <br /> <br />1) Separam-se e contam-se as sílabas de um verso até a última sílaba tônica desse verso. Ex: Es|tou | dei|ta|do | so|bre| mi|nha| ma|la <br /> 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 <br /> <br />2) Quando duas ou mais vogais se encontram no fim de uma palavra e começo de outra, e podem ser pronunciadas simultaneamente, unem-se numa só sílaba métrica. Quando essas vogais são diferentes, o processo chama-se elisão e quando são vogais idênticas, crase. <br />Ex: E|la+es|ta|va|só (Elisão) e fo|ge+e|gri|ta (Crase) <br /> 1 2 3 4 5 1 2 3 <br /> <br />3) Geralmente, como acontece na divisão silábica normal, os elementos que formam um ditongo não podem ser separados e os elementos que formam um hiato devem ser separados na escansão de um verso. No entanto, se o poeta precisar separar os elementos de um ditongo (diérese) ou unir os de um hiato (sinérese), ele tem LICENÇA POÉTICA para que sua métrica dê certo. O mesmo acontece se ele precisar contar também até a última sílaba átona do verso. Outras LICENÇAS POÉTICAS: <br />. ectlipse: supressão de um fonema nasal final , para possibilitar a crase ou a elisão. <br /> Ex: E nós com esperança = E|nós| co’es|pe|ran|ça <br /> 1 2 3 4 5 <br />. aférese: Supressão da sílaba ou fonema inicial. <br /> Ex: “Estamos em pleno mar” = Sta|mos|em|ple|no|mar <br /> 1 2 3 4 5 6 <br /> Quanto à Métrica, um verso pode ser: <br />1. monossílabo: verso com apenas uma sílaba; <br />2. dissílabo: verso com duas sílabas; <br />3. trissílabo: “ “ três “ <br />4. tetrassílabo: “ “ quatro “ <br />5. pentassílabo: “ “ cinco “ , também chamado REDONDILHA MENOR <br />6. hexassílabo: “ “ seis “ <br />7. heptassílabo: “ “ sete “ , também chamado REDONDILHA MAIOR <br />8. octossílabo: “ “ oito “ <br />9. eneassílabo: “ “ nove “ <br />10. decassílabo: “ “ dez “ , também chamado de HERÓICO <br />11. hendecassílabo: “ “ onze “ <br />12. dodecassílabo: “ “ doze “, também chamado de ALEXANDRINO <br /> <br /> Ritmo é o resultado da regular sucessão de sílabas tônicas e átonas de um verso. Para os gregos, ele é um elemento melódico tão essencial para o poema quanto para a Música. <br /> O ritmo é binário ascendente quando há um som fraco seguido de um forte (fraco/FORTE): “A|nu|vem|guar|da+o|pran|to” (Alphonsus de Guimaraens) <br /> <br /> O ritmo é binário descendente quando há um som forte seguido de um fraco (FORTE/fraco): “Te|nho|tan|ta|pe|na “ (Fernando Pessoa) <br /> <br />O ritmo é ternário ascendente quando há dois sons fracos seguidos de um forte (fraco/fraco/FORTE): “Tu|cho|ras|te+em|pre|sem|ça |da|mor|te” (G. Dias) <br /> <br />O ritmo é ternário descendente quando há um som forte seguido de dois sons fracos(FORTE/fraco/fraco): <br /> “Fá|ti|ma|diz|que|não|to|ma|nem|pí|lu|la.”(D.Pignatári) <br /> <br /> Os versos que não seguem as normas da Versificação quando à métrica e/ou ao ritmo são chamados de VERSOS LIVRES. <br /> <br />Gêneros Literários do Poema<br /> Os estudos dos Gêneros Literários aparecem pela primeira vez na obra “A República”, de Platão como um tipo de classificação da obra literária tendo em vista principalmente o seu conteúdo, sua temática. O discípulo mais famoso de Platão, Aristóteles, retoma o estudo dos gêneros e suas modalidades em sua obra-prima “A Poética”, sob o ponto de vista dos tópicos mais importantes da obra: a MÍMESE e a VEROSSIMILHANÇA. Devemos lembrar que, para os Antigos, Poesia é texto em versos, com rima, métrica e ritmo definidos, ou seja, é o Poema belo e perfeito; em suma: é o poema que obedece às normas da Versificação. <br /> Para Aristóteles, a POESIA é Mímese, ou seja, é uma das várias formas de IMITAÇÃO (= DE REPRESENTAÇÃO) da realidade criadas pelo homem. Já no início da sua obra, Aristóteles discrimina como imitações poéticas: <br />1) as imitações dramáticas: tragédia e comédia; <br />2) a epopéia, imitação narrativa; <br />3) o ditirambo (poemas em homenagem a Baco), a citarística (poemas acompanhados por instrumentos de corda) e a aulética (poemas acompanhados pela flauta), exemplos de imitações poéticas que hoje correspondem ao gênero lírico. <br /> Assim, a obra de Aristóteles já apresenta os três tipos de Gênero a que um poema pode pertencer: o Lírico, e Épico e o Dramático. <br /> <br />1. Gênero Lírico <br /> Pertence ao Gênero Lírico o poema que consiste numa forma de expressão dos sentimentos, das emoções, dos desejos, dos conhecimentos, enfim, da visão de mundo de alguém: do EU que fala no poema. Emissor e personagem única desse tipo de mensagem, o “EU-LÍRICO” é o tema nela tratado (mensagem centrada no emissor): normalmente, portanto, o poema lírico é elaborado com uma linguagem emotiva - SUBJETIVA - em que predominam as palavras e pontuações de 1a. pessoa. Os tipos de poemas líricos mais comuns são: <br /> 1.1 Ode ou Hino: é o poema lírico em que o emissor faz uma homenagem à Pátria (e aos seus símbolos), às divindades, à mulher amada, ou a alguém ou algo importante para ele. O Hino é uma Ode com acompanhamento musical; <br /> 1.2 Elegia: é o poema lírico em que o emissor expressa tristeza, saudade, ciúme, decepção, desejo de morte. É todo poema melancólico; <br /> 1.3 Idílio ou Écloga: é o poema lírico em que o emissor expressa uma homenagem à Natureza, às belezas e às riquezas que ela dá ao homem. É o poema bucólico, ou seja, que expressa o desejo de desfrutar de tais belezas e riquezas ao lado da amada (=pastora), que enriquece ainda mais a paisagem, espaço ideal para a paixão. A écloga é um idílio com diálogos (muito rara); <br /> 1.4 Epitalâmio: é o poema lírico feito em homenagem às núpcias de alguém; <br /> 1.5 Sátira: é o poema lírico em que o emissor faz uma crítica a alguém ou a algo, em tom sério ou irônico.<br /> <br /> Alguns autores consideram modalidades líricas: <br />- o ACALANTO: ou canção de ninar; <br />- o ACRÓSTICO: (akros = extremidade; stikos = linha), composição lírica na qual as letras iniciais de cada verso formam uma palavra ou frase; <br />- a BALADA: uma das mais primitivas manifestações poéticas, são cantigas de amigo (elegias) com ritmo característico e refrão vocal que se destinam à dança; <br />- a BARCAROLA: é o canto dos gondoleiros italianos; consiste num lamento com o mar, acusando sempre referência a caminhos por água (= cantigas de amigo = elegia); <br />- a CANÇÃO: poema oral com acompanhamento musical (= CANTIGA); <br />- a CANTATA: pequena ópera, gira sempre em torno de uma ação solene ou galante (sensual); <br />- o CANTO REAL: tipo de balada de forma fixa, composta por 5 estrofes com 11 versos e uma estrofe com cinco versos. Comum no Parnasianismo; <br />- o DITIRAMBO: canto em louvor a Baco que deu origem à tragédia; <br />- o GAZAL ou GAZEL: poesia amorosa dos persas e árabes; odes do Oriente Médio; <br />- a GLOZA: ver VILANCETE; <br />- o HAICAI: expressão japonesa que significa “versos cômicos” (=sátira). É o poema japonês formado de três versos que somam 17 sílabas assim distribuídas: 1o. verso=5 sílabas; 2O. verso = 7 sílabas; 3O. verso 5 sílabas; <br />- a LIRA= idílio; <br />- o MADRIGAL: idílio amoroso que consiste num galanteio que o eu-lírico faz a uma pastora(sua amante); <br />- o NOTURNO: elegia, poema melancólico em que o símbolo da tristeza é a noite; <br />- a PARLENDA: composição ritmada destinada a certos jogos infantis (cadê o gato? Foi atrás do rato/ Cadê o rato ? Foi atrás da aranha...) <br />- o RONDÓ: é o poema lírico que tem o mesmo estribilho se repetindo por todo o texto; <br />- a TROVA: é o mesmo que cantiga ou canção; <br />- o VILANCETE: são as cantigas de autoria dos poetas vilões (cantigas de escárnio e de maldizer); satíricas, portanto. <br /> Como se pode observar, essas outras modalidades líricas nada mais são do que variações dos cinco tipos principais. <br /> <br />2. Gênero Épico ou Narrativo <br /> Pertence ao gênero épico, o poema que conta uma história, um episódio: por isso, ele é também chamado de NARRATIVO. Há três tipos de poemas narrativos: <br /> 2.1 Epopéia: é o poema épico que narra um grande feito histórico de um povo, de um país, destacando os seus heróis. Além dos textos históricos, encaixam-se nessa classificação os textos bíblicos. A epopéia clássica, das quais são exemplos a “Ilíada” e a “Odisséia”, ambas de Homero; “Os Lusíadas”, de Camões; “A Divina Comédia”, de Dante, etc, tem as seguintes partes: <br />1a. Proposição: apresentação do tema e do herói; <br />2a. Invocação”: evocação das musas inspiradoras para que o episódio proposto seja contado com <br />engenho e arte; <br />3a. Dedicatória: a epopéia é dedicada a alguém importante; <br />4a. Narração: o tema proposto é contado; <br />5a. Epílogo: é a conclusão da narrativa e as considerações finais. <br /> A epopéia moderna não tem uma divisão pré-estipulada. <br /> São exemplos de epopéias brasileiras: “ Caramuru” , de Santa Rita Durão; “ Uraguai” , de Basílio da Gama; “ Vila Rica” , de Cláudio Manuel da Costa , dentre outras. <br /> <br /> 2.2 Romance ou Xácara: é o poema narrativo que conta as façanhas de um herói, mas principalmente uma história de amor vivida por ele e uma mulher “proibida”. Apesar dos obstáculos que o separa, o casal vive sua paixão proibida, física, adúltera, pecaminosa e, por isso é punido no final. É o tipo de narrativa mais comum na Idade Média. Exemplo: “Tristão e Isolda”. <br /> <br />2.3 Fábula: é o poema narrativo em que as personagens são seres não humanos personificados. Com o objetivo de criticar os homens, esse poema sempre encerra uma lição de moral. <br /> <br /> Há, ainda: <br />- o Lai: poema narrativo curto formado por 12 estrofes com versos octossílabos, referentes às lendas medievais, mais precisamente àquelas do ciclo arturiano; <br />- a Canção de Gesta: narrativa acompanhada de música, conta a vida de um herói ou de um santo; elas deram origem às novelas de cavalaria medievais; <br />- o Poema Herói-Cômico: poema narrativo em estilo solene que encerra um assunto banal e ridículo. Ex: “A Estante do Coro”, onde os 6 cantos do poema giram em torno da dúvida de dois homens a respeito de onde deveria ser colocada uma estante de um coro; <br />- o Poema Burlesco: é um poema narrativo que, ao contrário do poema herói-cômico, trata de um assunto sério usando um estilo jocoso. Ex: “Orlando Furioso” <br /> <br />3. Gênero Dramático <br /> Pertence ao gênero dramático toda e qualquer peça teatral em versos. O texto dramático é o único elaborado com o fito de ser representado num palco e, por isso, é o único que contém INSTRUÇÕES PARA O MOMENTO DA REPRESENTAÇÃO. Quem melhor caracteriza esse gênero é Aristóteles, que em sua “Poética” estuda a tragédia em dezessete capítulos (cap. VI ao XXII) como sendo o protótipo do drama e a arte mimética por excelência. <br /> Na Antigüidade, dois eram os tipos de poemas dramáticos existentes: a tragédia e a comédia, artes miméticas, pois a primeira é a imitação (a representação) de homens melhores e a segunda, de homens piores do que os que existem na realidade (objetos da imitação). No modo dramático de imitação, as próprias pessoas imitadas (personagens) são autoras da representação e desconhecem seu destino; é por isso que o conjunto das ações feitas por essas personagens no decorrer da peça teatral recebe o nome de DRAMA. Para Aristóteles, o fato de a tragédia imitar homens superiores (melhores do que os que existem na realidade) e provocar no espectador reações de dor e violência (para que o espectador também fique “mais nobre”, “melhor”) que o levam a ter medo e piedade ( a docilidade, a passividade, a conformidade) necessários à vida disciplinada em sociedade, é que faz da tragédia a mais perfeita espécie poética de imitação. A comédia, ao contrário, é tida como a pior das espécies já que provoca no espectador o riso, e, com ele, o destemor, a aventura, a rebeldia: afinal, nelas são representados seres humanos piores do que aqueles que existem na realidade. A comédia surgiu na Sicília (Itália) com as obras de Epicarmo e Fórmis. <br /> Embora tenha surgido na Grécia através da obra de Ésquilo, Aristóteles atribui o mérito de ser precursor da tragédia ao poeta Homero, autor das epopéias “Ilíada” e “Odisséia”, já que em sua obra narrativa a personagem protagonista é sempre um herói, ou seja, é sempre um homem superior, quando o normal na epopéia seria imitar homens comuns, homens iguais aos que existem na realidade. Homero também é elogiado por Aristóteles como um POETA MAIOR, pela forma perfeita e pela linguagem esmerada (ornada, musical) que imprimiu às suas epopéias (8.816 versos decassílabos). Essas epopéias são fontes de inspiração às epopéias de Virgílio, Camões etc. Aristóteles salienta, ainda, que tragédia e epopéia se diferenciam pelo modo (na tragédia as personagens agem por si, não há ninguém narrando, o espectador entende a estória a partir do drama; na epopéia alguém conta a história, sabe tudo o que vai acontecer com as personagens: o narrador; em suma: modo dramático e modo narrativo), pela extensão (epopéia=poema longo/tragédia=poema curto) e pelo objeto (tragédia=homens melhores/epopéia=homens iguais aos que existem na realidade) da imitação. Atualmente, comédia e tragédia são modalidades dramáticas elaboradas em prosa. <br /> Surgida na Idade Média e criada por Gil Vicente, outra modalidade dramática em versos heptassílabos (ou redondilhas maiores) é o AUTO, cujo conteúdo consiste numa crítica aos poderosos, principalmente aos clérigos (do padre ao Papa). A versão cômica do Auto é a FARSA. Essa modalidade ainda existe; em nossa Literatura atual temos “Morte e Vida Severina” ou “Auto de Natal Pernambucano”, de João Cabral de Melo Neto, e as peças de Ariano Suassuna, dentre elas o “Auto da Compadecida”. <br /> <br />