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Fernando Pessoa
“Quem me dirá quem sou?”
“O que é este intervalo que há entre mim e mim?”
Sessões de estudo “PEP”
Exame Nacional de Português – 12º ano
Docentes: António Fraga
Carla Rosete
Maria José Afonso
Sandra Clarisse Teles
Unidade e diversidade em Pessoa
Fernando
Pessoa
“Só me encontro
quando
de mim fujo”
“‘Screvo meu livro à
beira-mágoa”
In Mensagem
Ricardo Reis
“Abdica/ E sê
rei de ti
próprio”
”
Alberto Caeiro
“Sinto todo o meu
corpo deitado na
realidade/
sei a verdade/
e sou feliz”
“O poeta é
um
fingidor”
Álvaro de
Campos
“Ah, não ser eu
toda a gente e toda
a parte!!”
Outros:
Bernardo
Soares,
Alexander
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Unidade e diversidade em Pessoa
Fernando
Pessoa
Os
heterónimos
(os outros
“eus”)
Vertente
esotérica
Mensagem
Vertente
tradicional e
modernista:
“Cancioneiro”
Objetivos principais do percurso
pessoano
Superar a dor do presente, a fragmentação de si mesmo e do
mundo através:
 da evocação da infância, idade de ouro, onde a
felicidade ficou perdida e onde não existia o doloroso
sentir: “Com que ânsia tão raiva/ Quero aquele
outrora!”;
 do refúgio no sonho, na música e na noite;
 da criação dos heterónimos (“Sê plural como o
Universo!”);
 da procura espiritual e esotérica.
Pessoa ortónimo: temáticas
“Fragmentação”: “fingimento poético”;
dualidades: sonho/sono; real/irreal…
 Angústia existencial
 “Dor de pensar” - obsessão pela análise
 Visão negativa do mundo e da vida
 Solidão interior
 Inquietação perante o enigma do mundo
 “Nostalgia de um bem perdido”
Aspetos formais da poesia do ortónimo
Forma modernista
 versilibrismo;
 irregularidade da métrica,
rima e composição
estrófica;
 pontuação (diversidade);
 uso frequente de frases
nominais: “Coração
oposto ao mundo”
 Associações inesperadas
(desvios sintáticos): “Os
girassóis do império que
morri” / “Opalesci amar-
me entre mãos raras”;
Forma tradicional
 forma simples, curta e
musical;
 vide “Cancioneiro” –
quadras e quintilhas...;
 linguagem simples,
espontânea, mas sóbria;
 Preferência pela métrica
tradicional: redondilha
menor (5) e maior (7);
“O fingimento poético”:
“Fingir é conhecer-se”
 O “eu” brinca intelectualmente com as emoções,
levando-as ao nível da arte poética.
 A expressão dos sentimentos e sensações
intelectualizadas são fruto de uma construção
mental, onde a imaginação impera:
“Eu simplesmente sinto/ Com a imaginação./ Não
uso o coração.”
“O fingimento poético”
“Fingir é conhecer-se”
 A composição poética resulta de um jogo lúdico entre o
sentimentalismo e a racionalização:
“ E assim nas calhas de roda/ Gira, a entreter a razão, / Esse
comboio de corda/ Que se chama coração.”
 A emoção que o poeta exprime artisticamente é um estímulo que
provoca no leitor novos estados de alma.
=> Pessoa é um “estimulador de almas”
poemas “Autopsicografia” e “Isto”
A “dor de pensar”
“O que em mim sente ‘stá pensando.”
 Deseja ter a inconsciência das coisas ou dos
seres comuns que se limitam a agir, sem pensar
(como a ceifeira ou o gato);
 Deseja ter uma consciência inconsciente;
“Ter a tua alegre inconsciência, / E a
consciência disso!”
“Cansa sentir quando se pensa”
A “dor de pensar”
“O que em mim sente ‘stá pensando.”
LEVE, BREVE, SUAVE
Leve, breve, suave
Um canto de ave
Sobe no ar com que principia
O dia.
Escuto e passou...
Parece que foi só porque escutei
Que parou.
Nunca, nunca, em nada,
Raie a madrugada,
Ou ‘splenda o dia, ou doire no declive,
Tive
Prazer a durar
Mais do que o nada, a perda, antes de eu o ir
Gozar.
A “nostalgia de um bem perdido”
 Procura superar a angústia existencial através
da evocação da infância e da saudade desse
tempo;
 A infância é a imagem-símbolo da felicidade –
pela inconsciência vivida e pelo domínio da
fantasia;
 O passado pesa: “como a realidade de nada”,
e o futuro: “como a possibilidade de tudo”. O
tempo é para ele um fator de desagregação, na
medida em que tudo é breve e efémero.
Instruções verbais
Resposta curta
 “Indique”, “aponte”, “refira”, “mencione”: dizer, designar algo que
aparece no texto;
 Transcreva: retirar do texto e colocar, entre aspas, uma expressão
antecedida de uma frase introdutória;
 Enumere: retirar do texto uma série de termos;
Resposta longa
 Explicite: definir por outras palavras uma expressão, desmontando
bem as ideias mais complexas da mesma;
 Explique, clarifique, justifique: apresentar as razões, os motivos que
deram origem a algo com palavras próprias e/ou retiradas do texto;
 Comente, demonstre, comprove: responder de forma desenvolvida
com expressões pessoais e outras do texto, seguindo a lógica de
um raciocínio;
 Delimite, divida: fragmentar o texto em partes – designar a parte em
questão (a primeira, a segunda, etc..) e o local textual onde se
encontra.
Pessoa ortónimo - Análise textual
O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão...
São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.
São como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas
Entre o vestígio e a bruma.
in Fernando Pessoa, Cancioneiro
1. Transcreva um paradoxo e explicite o seu valor expressivo.
Proposta de correção
Um dos paradoxos verifica-se no verso
:“São as formas sem forma”. Essa figura de estilo
remete para a complexidade do mundo sensível e
inteligível: o aparentemente real deixa de o ser.
O paradoxo exprime o inalcançável, o inefável,
que define o sonho do que se poderia ter.
Pessoa ortónimo: análise textual
As nuvens são sombrias
Mas, nos lados do sul,
Um bocado do céu
É tristemente azul.
Assim, no pensamento,
sem haver solução,
Há um bocado que lembra
Que existe o coração
E esse bocado é que é
A verdade que está
A ser beleza eterna
Para além do que há.
1. Identifique a imagem-
símbolo deste poema e
explicite o seu valor para a
compreensão da mensagem
pretendida.
“Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.”
(Fernando Pessoa)
Os heterónimos
Alberto Caeiro – o mestre
 Metaforicamente, é “um guardador de rebanhos”: “o único
poeta da natureza”;
 Sensacionista: deambula pela natureza e interpreta o
mundo a partir dos sentidos; interessa-lhe a realidade
imediata e o real objetivo que as sensações lhe oferecem,
com o predomínio do “olhar”;
 Antimetafísico: nega a utilidade do pensamento; tem um
discurso argumentativo que condena a subjetividade e as
abstrações; é a sua principal contradição;
 Panteísta: tudo se renova e se dispersa em tudo; cada
coisa é divina.
Alberto Caeiro: análise textual
XXI
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja ...
1. Mostre que os
três últimos
versos
contribuem para
a compreensão
do sentido
global do poema.
Proposta de correção
Os últimos versos apontam para a
inevitabilidade da passagem do tempo na vida
das pessoas, tal como acontece na natureza:
quem vive com a natureza e aceita os seus
fenómenos com naturalidade, deve fazê-lo
também em relação à sua vida.
De facto, o poema transmite a aceitação
da passagem da vida, tal como se aceita a
passagem dos dias, vivendo com
tranquilidade a aproximação da morte – ideia
igualmente subjacente ao três versos em
questão.
Ricardo Reis
 epicurismo: carpe diem e disciplina estóica: “Olha
Lídia...”;
 indiferença cética; ataraxia: “Ouvi contar que outrora,
quando a Pérsia” (“Os jogadores de xadrez”);
 neopaganismo;
 sobriedade clássica da forma e do pensamento;
 drama da fugacidade da vida e da fatalidade da morte.
Ricardo Reis - citações
“Acima da verdade estão os deuses”
“Colhe/ O dia, porque és ele”
“(…)
Inutilmente parecemos grandes.
Salvo nós nada pelo mundo fora
Nos saúda a grandeza
Nem sem querer nos serve.
Se aqui, à beira-mar, o meu indício
Na areia o mar com ondas três o apaga,
Que fará na alta praia
Em que o mar é o Tempo?”
Ricardo Reis -Análise textual
Cumpre a lei, seja vil ou vil tu sejas.
Pouco pode o homem contra a externa vida.
Deixa haver a injustiça.
Não odeies nem creias.
Não tens mais reino do que a própria mente.
Essa, em que és dono, grato o Fado e os Deuses,
Governa, até à fronteira,
Onde mora a vontade.
(…)
Se nem de mim posso ser dono, como
Quero ser dono ou lei do que acontece
Onde me a mente e corpo
Não são mais do que coisas?
(…)
Ricardo Reis, Poesia, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000
1. Interprete o seguinte
verso:
“Não tens mais reino do
que a própria mente”.
2. Aponte um dos sentidos
produzidos pelas formas
verbais: “Cumpre”,
“Odeies” e “creias”,
relacionando-o com a
mensagem global do
poema.
Proposta de correção
1. No verso indicado, o sujeito poético restringe o
campo de poder do homem ao seu próprio pensar.
Assim, ainda que esteja nas mãos do fado e dos
deuses, consegue, pela razão, estabelecer algum
autodomínio sobre a sua existência.
2. Um dos sentidos produzidos pelas formas verbais
apontadas é o de propor normas de conduta pelo uso do
imperativo, como é típico do discurso moralizante de Reis.
Assim, recomenda uma submissão à ordem
estabelecida e, de acordo com as sentenças estóicas, uma
passividade, uma renúncia a qualquer reacção mais
violenta, pois nada nos pertence verdadeiramente, tudo
fora já traçado pelo destino.
Álvaro de Campos
2ª fase: futurismo e sensacionismo: exaltação da força,
da violência, do excesso; apologia da civilização
industrial; intensidade e velocidade (a euforia
desmedida)
“Sentir tudo de todas as maneiras,/Viver tudo de
todos os lados,” (“Passagem das horas” )
3ª fase: intimismo: a depressão, o cansaço e a
melancolia perante a incapacidade das realizações; as
saudades da infância
“Ver as coisas até ao fundo.../E se as coisas não
tiverem fundo?”
“O que há em mim é sobretudo cansaço”
Álvaro de Campos
“Tabacaria” - Excerto
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
(...)
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
(...)
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
(...)
Álvaro de Campos - Análise textual
Paragem. Zona
Tragam-me esquecimento em travessas!
Quero comer o abandono da vida!
Quero perder o hábito de gritar para dentro.
Arre, já basta! Não sei o quê. mas já basta...
Então viver amanhã, hein?... E o que se faz de hoje?
Viver amanhã por ter adiado hoje?
Comprei por acaso um bilhete para esse espectáculo?
Que gargalhadas daria quem pudesse rir!
E agora aparece o eléctrico — o de que eu estou à espera —
Antes fosse outro... Ter de subir já!
Ninguém me obriga, mas deixai-o passar, porquê?
Só deixando passar todos, e a mim mesmo, e à vida...
Que náusea no estômago real que é a alma consciente!
Que sono bom o ser outra pessoa qualquer...
Já compreendo porque é que as crianças querem ser guarda-freios...
Não, não compreendo nada...
Tarde de azul e ouro, alegria das gentes, olhos claros da vida...
1. Caracterize o estado de
espírito do sujeito poético,
fundamentando-se no texto.
2. Identifique as sensações
aludidas no poema,
comprovando-as com
citações.
Proposta de Correção
1. O “eu” denuncia um estado de espírito negativo, como
se pode observar pelos sentimentos expressos .
O sujeito poético está revoltado: “Arre, já basta!”;
entediado:
“Quero comer o abandono da vida!”; indignado :“Então
viver amanhã, hein?... E o que se faz de hoje?” e
desiludido: Não, não compreendo nada...”.
2.
No poema, são diversas as sensações referidas
indiretamente pelo sujeito poético.
Deteta-se o paladar :“quero comer o abandono da
vida”, a audição:“ quero perder o hábito de gritar para dentro”
e a visão:“ Tarde de azul e ouro”.

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Pessoa ortónimo e heterónimos

  • 1. Fernando Pessoa “Quem me dirá quem sou?” “O que é este intervalo que há entre mim e mim?” Sessões de estudo “PEP” Exame Nacional de Português – 12º ano Docentes: António Fraga Carla Rosete Maria José Afonso Sandra Clarisse Teles
  • 2. Unidade e diversidade em Pessoa Fernando Pessoa “Só me encontro quando de mim fujo” “‘Screvo meu livro à beira-mágoa” In Mensagem Ricardo Reis “Abdica/ E sê rei de ti próprio” ” Alberto Caeiro “Sinto todo o meu corpo deitado na realidade/ sei a verdade/ e sou feliz” “O poeta é um fingidor” Álvaro de Campos “Ah, não ser eu toda a gente e toda a parte!!” Outros: Bernardo Soares, Alexander Search...
  • 3. Unidade e diversidade em Pessoa Fernando Pessoa Os heterónimos (os outros “eus”) Vertente esotérica Mensagem Vertente tradicional e modernista: “Cancioneiro”
  • 4. Objetivos principais do percurso pessoano Superar a dor do presente, a fragmentação de si mesmo e do mundo através:  da evocação da infância, idade de ouro, onde a felicidade ficou perdida e onde não existia o doloroso sentir: “Com que ânsia tão raiva/ Quero aquele outrora!”;  do refúgio no sonho, na música e na noite;  da criação dos heterónimos (“Sê plural como o Universo!”);  da procura espiritual e esotérica.
  • 5. Pessoa ortónimo: temáticas “Fragmentação”: “fingimento poético”; dualidades: sonho/sono; real/irreal…  Angústia existencial  “Dor de pensar” - obsessão pela análise  Visão negativa do mundo e da vida  Solidão interior  Inquietação perante o enigma do mundo  “Nostalgia de um bem perdido”
  • 6. Aspetos formais da poesia do ortónimo Forma modernista  versilibrismo;  irregularidade da métrica, rima e composição estrófica;  pontuação (diversidade);  uso frequente de frases nominais: “Coração oposto ao mundo”  Associações inesperadas (desvios sintáticos): “Os girassóis do império que morri” / “Opalesci amar- me entre mãos raras”; Forma tradicional  forma simples, curta e musical;  vide “Cancioneiro” – quadras e quintilhas...;  linguagem simples, espontânea, mas sóbria;  Preferência pela métrica tradicional: redondilha menor (5) e maior (7);
  • 7. “O fingimento poético”: “Fingir é conhecer-se”  O “eu” brinca intelectualmente com as emoções, levando-as ao nível da arte poética.  A expressão dos sentimentos e sensações intelectualizadas são fruto de uma construção mental, onde a imaginação impera: “Eu simplesmente sinto/ Com a imaginação./ Não uso o coração.”
  • 8. “O fingimento poético” “Fingir é conhecer-se”  A composição poética resulta de um jogo lúdico entre o sentimentalismo e a racionalização: “ E assim nas calhas de roda/ Gira, a entreter a razão, / Esse comboio de corda/ Que se chama coração.”  A emoção que o poeta exprime artisticamente é um estímulo que provoca no leitor novos estados de alma. => Pessoa é um “estimulador de almas” poemas “Autopsicografia” e “Isto”
  • 9. A “dor de pensar” “O que em mim sente ‘stá pensando.”  Deseja ter a inconsciência das coisas ou dos seres comuns que se limitam a agir, sem pensar (como a ceifeira ou o gato);  Deseja ter uma consciência inconsciente; “Ter a tua alegre inconsciência, / E a consciência disso!” “Cansa sentir quando se pensa”
  • 10. A “dor de pensar” “O que em mim sente ‘stá pensando.” LEVE, BREVE, SUAVE Leve, breve, suave Um canto de ave Sobe no ar com que principia O dia. Escuto e passou... Parece que foi só porque escutei Que parou. Nunca, nunca, em nada, Raie a madrugada, Ou ‘splenda o dia, ou doire no declive, Tive Prazer a durar Mais do que o nada, a perda, antes de eu o ir Gozar.
  • 11. A “nostalgia de um bem perdido”  Procura superar a angústia existencial através da evocação da infância e da saudade desse tempo;  A infância é a imagem-símbolo da felicidade – pela inconsciência vivida e pelo domínio da fantasia;  O passado pesa: “como a realidade de nada”, e o futuro: “como a possibilidade de tudo”. O tempo é para ele um fator de desagregação, na medida em que tudo é breve e efémero.
  • 12. Instruções verbais Resposta curta  “Indique”, “aponte”, “refira”, “mencione”: dizer, designar algo que aparece no texto;  Transcreva: retirar do texto e colocar, entre aspas, uma expressão antecedida de uma frase introdutória;  Enumere: retirar do texto uma série de termos; Resposta longa  Explicite: definir por outras palavras uma expressão, desmontando bem as ideias mais complexas da mesma;  Explique, clarifique, justifique: apresentar as razões, os motivos que deram origem a algo com palavras próprias e/ou retiradas do texto;  Comente, demonstre, comprove: responder de forma desenvolvida com expressões pessoais e outras do texto, seguindo a lógica de um raciocínio;  Delimite, divida: fragmentar o texto em partes – designar a parte em questão (a primeira, a segunda, etc..) e o local textual onde se encontra.
  • 13. Pessoa ortónimo - Análise textual O que me dói não é O que há no coração Mas essas coisas lindas Que nunca existirão... São as formas sem forma Que passam sem que a dor As possa conhecer Ou as sonhar o amor. São como se a tristeza Fosse árvore e, uma a uma, Caíssem suas folhas Entre o vestígio e a bruma. in Fernando Pessoa, Cancioneiro 1. Transcreva um paradoxo e explicite o seu valor expressivo.
  • 14. Proposta de correção Um dos paradoxos verifica-se no verso :“São as formas sem forma”. Essa figura de estilo remete para a complexidade do mundo sensível e inteligível: o aparentemente real deixa de o ser. O paradoxo exprime o inalcançável, o inefável, que define o sonho do que se poderia ter.
  • 15. Pessoa ortónimo: análise textual As nuvens são sombrias Mas, nos lados do sul, Um bocado do céu É tristemente azul. Assim, no pensamento, sem haver solução, Há um bocado que lembra Que existe o coração E esse bocado é que é A verdade que está A ser beleza eterna Para além do que há. 1. Identifique a imagem- símbolo deste poema e explicite o seu valor para a compreensão da mensagem pretendida.
  • 16. “Ser um é cadeia, Ser eu é não ser.” (Fernando Pessoa) Os heterónimos
  • 17. Alberto Caeiro – o mestre  Metaforicamente, é “um guardador de rebanhos”: “o único poeta da natureza”;  Sensacionista: deambula pela natureza e interpreta o mundo a partir dos sentidos; interessa-lhe a realidade imediata e o real objetivo que as sensações lhe oferecem, com o predomínio do “olhar”;  Antimetafísico: nega a utilidade do pensamento; tem um discurso argumentativo que condena a subjetividade e as abstrações; é a sua principal contradição;  Panteísta: tudo se renova e se dispersa em tudo; cada coisa é divina.
  • 18. Alberto Caeiro: análise textual XXI Se eu pudesse trincar a terra toda E sentir-lhe um paladar, Seria mais feliz um momento ... Mas eu nem sempre quero ser feliz. É preciso ser de vez em quando infeliz Para se poder ser natural... Nem tudo é dias de sol, E a chuva, quando falta muito, pede-se. Por isso tomo a infelicidade com a felicidade Naturalmente, como quem não estranha Que haja montanhas e planícies E que haja rochedos e erva ... O que é preciso é ser-se natural e calmo Na felicidade ou na infelicidade, Sentir como quem olha, Pensar como quem anda, E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre, E que o poente é belo e é bela a noite que fica... Assim é e assim seja ... 1. Mostre que os três últimos versos contribuem para a compreensão do sentido global do poema.
  • 19. Proposta de correção Os últimos versos apontam para a inevitabilidade da passagem do tempo na vida das pessoas, tal como acontece na natureza: quem vive com a natureza e aceita os seus fenómenos com naturalidade, deve fazê-lo também em relação à sua vida. De facto, o poema transmite a aceitação da passagem da vida, tal como se aceita a passagem dos dias, vivendo com tranquilidade a aproximação da morte – ideia igualmente subjacente ao três versos em questão.
  • 20. Ricardo Reis  epicurismo: carpe diem e disciplina estóica: “Olha Lídia...”;  indiferença cética; ataraxia: “Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia” (“Os jogadores de xadrez”);  neopaganismo;  sobriedade clássica da forma e do pensamento;  drama da fugacidade da vida e da fatalidade da morte.
  • 21. Ricardo Reis - citações “Acima da verdade estão os deuses” “Colhe/ O dia, porque és ele” “(…) Inutilmente parecemos grandes. Salvo nós nada pelo mundo fora Nos saúda a grandeza Nem sem querer nos serve. Se aqui, à beira-mar, o meu indício Na areia o mar com ondas três o apaga, Que fará na alta praia Em que o mar é o Tempo?”
  • 22. Ricardo Reis -Análise textual Cumpre a lei, seja vil ou vil tu sejas. Pouco pode o homem contra a externa vida. Deixa haver a injustiça. Não odeies nem creias. Não tens mais reino do que a própria mente. Essa, em que és dono, grato o Fado e os Deuses, Governa, até à fronteira, Onde mora a vontade. (…) Se nem de mim posso ser dono, como Quero ser dono ou lei do que acontece Onde me a mente e corpo Não são mais do que coisas? (…) Ricardo Reis, Poesia, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000 1. Interprete o seguinte verso: “Não tens mais reino do que a própria mente”. 2. Aponte um dos sentidos produzidos pelas formas verbais: “Cumpre”, “Odeies” e “creias”, relacionando-o com a mensagem global do poema.
  • 23. Proposta de correção 1. No verso indicado, o sujeito poético restringe o campo de poder do homem ao seu próprio pensar. Assim, ainda que esteja nas mãos do fado e dos deuses, consegue, pela razão, estabelecer algum autodomínio sobre a sua existência. 2. Um dos sentidos produzidos pelas formas verbais apontadas é o de propor normas de conduta pelo uso do imperativo, como é típico do discurso moralizante de Reis. Assim, recomenda uma submissão à ordem estabelecida e, de acordo com as sentenças estóicas, uma passividade, uma renúncia a qualquer reacção mais violenta, pois nada nos pertence verdadeiramente, tudo fora já traçado pelo destino.
  • 24. Álvaro de Campos 2ª fase: futurismo e sensacionismo: exaltação da força, da violência, do excesso; apologia da civilização industrial; intensidade e velocidade (a euforia desmedida) “Sentir tudo de todas as maneiras,/Viver tudo de todos os lados,” (“Passagem das horas” ) 3ª fase: intimismo: a depressão, o cansaço e a melancolia perante a incapacidade das realizações; as saudades da infância “Ver as coisas até ao fundo.../E se as coisas não tiverem fundo?” “O que há em mim é sobretudo cansaço”
  • 25. Álvaro de Campos “Tabacaria” - Excerto Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, (...) Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, E não tivesse mais irmandade com as coisas (...) Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu. Estou hoje dividido entre a lealdade que devo À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro. (...)
  • 26. Álvaro de Campos - Análise textual Paragem. Zona Tragam-me esquecimento em travessas! Quero comer o abandono da vida! Quero perder o hábito de gritar para dentro. Arre, já basta! Não sei o quê. mas já basta... Então viver amanhã, hein?... E o que se faz de hoje? Viver amanhã por ter adiado hoje? Comprei por acaso um bilhete para esse espectáculo? Que gargalhadas daria quem pudesse rir! E agora aparece o eléctrico — o de que eu estou à espera — Antes fosse outro... Ter de subir já! Ninguém me obriga, mas deixai-o passar, porquê? Só deixando passar todos, e a mim mesmo, e à vida... Que náusea no estômago real que é a alma consciente! Que sono bom o ser outra pessoa qualquer... Já compreendo porque é que as crianças querem ser guarda-freios... Não, não compreendo nada... Tarde de azul e ouro, alegria das gentes, olhos claros da vida... 1. Caracterize o estado de espírito do sujeito poético, fundamentando-se no texto. 2. Identifique as sensações aludidas no poema, comprovando-as com citações.
  • 27. Proposta de Correção 1. O “eu” denuncia um estado de espírito negativo, como se pode observar pelos sentimentos expressos . O sujeito poético está revoltado: “Arre, já basta!”; entediado: “Quero comer o abandono da vida!”; indignado :“Então viver amanhã, hein?... E o que se faz de hoje?” e desiludido: Não, não compreendo nada...”. 2. No poema, são diversas as sensações referidas indiretamente pelo sujeito poético. Deteta-se o paladar :“quero comer o abandono da vida”, a audição:“ quero perder o hábito de gritar para dentro” e a visão:“ Tarde de azul e ouro”.