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EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDÁRIO

                                          Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de Março




Prova Escrita de Português
12.º Ano de Escolaridade

Prova 639/1.ª Fase                                                                       8 Páginas

Duração da Prova: 120 minutos. Tolerância: 30 minutos.


2008


Utilize apenas caneta ou esferográfica de tinta indelével, azul ou preta.

Não é permitido o uso de corrector. Em caso de engano, deve riscar, de forma inequívoca,
aquilo que pretende que não seja classificado.

Não é permitido o uso de dicionário.

Escreva de forma legível a numeração dos grupos e/ou dos itens, bem como as respectivas
respostas.

Para cada item, apresente apenas uma resposta. Se escrever mais do que uma resposta a um
mesmo item, apenas é classificada a resposta apresentada em primeiro lugar.

As cotações dos itens encontram-se na página 8.



Nos itens de resposta fechada, as respostas ilegíveis, ou em que apresente mais do que uma
alternativa (ainda que inclua a correcta), são classificadas com zero pontos.

Para responder aos itens de escolha múltipla, escreva, na folha de respostas,
    • o número do item;
    • a letra identificativa da alternativa correcta.

Para responder aos itens de associação, escreva, na folha de respostas,
    • o número do item;
    • o número identificativo de cada elemento da coluna A e a letra identificativa do único
      elemento da coluna B que lhe corresponde.




                                                                            Prova 639 • Página 1/ 8
GRUPO I

                                                A

   Leia, atentamente, o texto, constituído por cinco estâncias de Os Lusíadas, transcritas do
Canto IX.

          Est. 89, v. 1    Que as Ninfas do Oceano, tão fermosas,
                           Tétis e a Ilha angélica pintada1,
                           Outra cousa não é que as deleitosas
                           Honras que a vida fazem sublimada2.
                           Aquelas preminências3 gloriosas,
                           Os triunfos, a fronte coroada
                           De palma e louro, a glória e maravilha,
                           Estes são os deleites desta Ilha.

          Est. 90, v. 9    Que as imortalidades que fingia
                           A antiguidade, que os Ilustres ama,
                           Lá no estelante Olimpo4, a quem subia
                           Sobre as asas ínclitas da Fama,
                           Por obras valerosas que fazia,
                           Pelo trabalho imenso que se chama
                           Caminho da virtude, alto e fragoso,
                           Mas, no fim, doce, alegre e deleitoso,

          Est. 91, v. 17   Não eram senão prémios que reparte,
                           Por feitos imortais e soberanos,
                           O mundo cos varões que esforço e arte
                           Divinos os fizeram, sendo humanos.
                           Que Júpiter, Mercúrio, Febo e Marte,
                           Eneas e Quirino e os dous Tebanos5,
                           Ceres, Palas e Juno com Diana,
                           Todos foram de fraca carne humana.

          Est. 92, v. 25   Mas a Fama, trombeta de obras tais,
                           Lhe deu6 no Mundo nomes tão estranhos
                           De Deuses, Semideuses, Imortais,
                           Indígetes7, Heróicos e de Magnos.
                           Por isso, ó vós que as famas estimais,
                           Se quiserdes no mundo ser tamanhos,
                           Despertai já do sono do ócio ignavo8,
                           Que o ânimo, de livre, faz escravo.

Prova 639 • Página 2/ 8
Est. 93, v. 33      E ponde na cobiça um freio duro,
                                 E na ambição também, que indignamente
                                 Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
                                 Vício da tirania infame e urgente;
                                 Porque essas honras vãs, esse ouro puro,
                                 Verdadeiro valor não dão à gente:
                                 Milhor é merecê-los sem os ter,
                                 Que possuí-los sem os merecer.
                                                           Luís de Camões, Os Lusíadas, ed. prep. por A. J. da Costa Pimpão,
                                                                                               5.ª ed., Lisboa, MNE/IC, 2003

1
    Ilha angélica pintada: representação, pintura de uma ilha linda, que lembra um lugar habitado por anjos.
2
    sublimada: ilustre, célebre.
3
    preminências (por preeminências): distinções, superioridades, honrarias, louros, prémios.
4
    no estelante Olimpo: na brilhante morada dos deuses.
5
    os dous Tebanos: Hércules e Baco.
6
    Lhe deu: lhes deu.
7
    Indígetes: divindades primitivas e nacionais dos Romanos.
8
    do ócio ignavo: do ócio indolente, preguiçoso.


     Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. Exponha, sucintamente, o conteúdo das três primeiras estâncias.

2. A «Fama» desempenha um papel fundamental no processo da imortalidade.
   Refira três dos aspectos evidenciados nesse desempenho, fundamentando a sua resposta com
   citações do texto.

3. Identifique a apóstrofe presente na estância 92 e explicite a intenção que lhe está subjacente.

4. Indique o modo das formas verbais «Despertai» (v. 31) e «ponde» (v. 33) e refira o respectivo valor
   expressivo.


                                                               B

     Considere a seguinte opinião sobre Os Lusíadas:

   «Mas o texto é complexo e, por vezes até, contraditório. Em certos momentos exibe uma
face menos gloriosa; aquela em que emergem as críticas, as dúvidas, o sentimento de crise.»
                                                          Maria Vitalina Leal de Matos, Tópicos para a Leitura de Os Lusíadas,
                                                                                                   Lisboa, Editorial Verbo, 2004

    Fazendo apelo à sua experiência de leitura de Os Lusíadas, comente, num texto de oitenta a cento
e vinte palavras, a opinião acima transcrita.

Observações
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco,
   mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma
   única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2008/).
2. Um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto
   produzido.
                                                                                                 Prova 639 • Página 3/ 8
GRUPO II

           Leia, atentamente, o seguinte texto.


 1        Não creio que as classificações acrescentem o que quer que seja à fruição de uma
     obra de arte, seja ela literária ou de outra qualquer natureza; mas também não penso que a
     prejudiquem. Por isso, ao terminar a leitura de Memorial do Convento, ainda sob o império da
     fascinação que ela me provocou, surpreendi-me a interrogar: que livro é este? Que escreveu,
 5   que quis José Saramago escrever? Um romance histórico? Um romance realista? Uma
     alegoria? Uma parábola? Uma epopeia? Um conto de fadas? Uma história de amor? […] A
     resposta surgiu, inevitável, irrecusável por assim dizer: Memorial do Convento é tudo isso, um
     caleidoscópio, […] um espelho do real reinventado, diverso e complexo, à imagem e
     semelhança do mundo e dos homens que nele habitam e o fazem avançar. […]
10        Este romance não é apenas um romance histórico, a sua duração transcende os limites
     cronológicos do quadro histórico em que à primeira vista parece encerrar-se […]. A cada
     passo surgem referências a acontecimentos que virão a produzir-se muito para além do
     marco temporal da história que nos é contada – a propósito dos damascos carmesins e dos
     panos verdes que ornamentam o coro da Igreja alude-se ao «gosto português pelo verde e
15   pelo encarnado, que, em vindo uma república, dará bandeira» […]. É que, neste romance
     […], a história não é uma categoria imutável e fixa, mas a contínua respiração da realidade,
     rio cujas águas nunca param e nunca se repetem. […]
          A luta de classes. De outra coisa não fala este romance que por isso mesmo é também
     um romance realista – e uma epopeia. Às duas epígrafes1 que o autor lhe antepôs – uma do
20   Padre Manuel Velho, a outra de Marguerite Yourcenar – poderia ter acrescentado uma
     terceira, extraída do conhecido poema de Brecht intitulado «Perguntas de um Operário
     Letrado», que começa por estes três versos: «Quem construiu Tebas, a das sete portas? /
     / Nos livros vem o nome dos reis. / Mas foram os reis que transportaram as pedras?» É a uma
     pergunta análoga que o Memorial dá resposta. Para assegurar a sua progénie2, um rei beato
25   promete erigir um convento de franciscanos na vila de Mafra. Mas são os servos da gleba
     que, com o seu sangue e o seu suor hão-de construí-lo, homens vindos de todos os cantos
     do país, atraídos pela esperança de melhor salário, levados à força outros como se gado
     fossem […].
          Com tudo isto, ficou ainda por dizer que o romance deve muito da sua força narrativa ao
30   estilo incomparável de Saramago, ao seu perfeito domínio da língua portuguesa, a que este
     livro é uma permanente homenagem, à opulência de uma escrita em que o extremo rigor e a
     liberdade estreme3 se conjugam, numa rara aliança em que nenhum deles é sacrificado pelo
     outro e antes mutuamente se enriquecem.

                                                                     Luís Francisco Rebelo, Memorial do Convento, José Saramago,
                                                         25 anos da 1.ª edição: A recepção da crítica na época, Lisboa, Caminho, s.d.




     1
         epígrafe: fragmento de texto, citação curta, máxima, etc., colocada em frontispício de livro, no início de uma narrativa, de
         um capítulo, de uma composição poética, etc., como orientação de leitura ou objectivos afins.
     2
         progénie: descendência, sucessão.
     3
         estreme: pura, radical.




     Prova 639 • Página 4/ 8
Para responder aos itens de 1 a 6, escreva, na folha de respostas, o número do item seguido da
letra identificativa da alternativa correcta.



1. Segundo o autor, na fruição de uma obra de arte, classificá-la torna-se
   A. inadequado.
   B. impossível.
   C. indiferente.
   D. imprescindível.



2. O recurso a interrogativas (linhas 4-6) serve ao autor como
   A. introdução à temática que vai desenvolver.
   B. questionamento dirigido a outros críticos.
   C. rol de suspeitas decorrentes da leitura do livro.
   D. efeito meramente retórico e estilístico.



3. Com o recurso ao termo «caleidoscópio» (linha 8), o autor vê Memorial do Convento como uma
   obra
   A. obscura na sua multiplicidade.
   B. multifacetada como a vida.
   C. emaranhada como um labirinto.
   D. única na sua singularidade.



4. Com a transcrição do poema de Brecht (linhas 22-23), o autor pretende sublinhar
   A. o testemunho de um autor dramático.
   B. a variedade possível de epígrafes.
   C. o paralelismo com Memorial do Convento.
   D. a semelhança com as anteriores epígrafes.



5. O antecedente do pronome «que» (linha 30) é
   A. «romance» (linha 29).
   B. «estilo incomparável» (linha 30).
   C. «perfeito domínio» (linha 30).
   D. «língua portuguesa» (linha 30).




                                                                             Prova 639 • Página 5/ 8
6. A colocação do pronome «se» (linha 32) em posição anteposta ao verbo justifica-se pela sua
   A. inclusão numa frase em discurso indirecto.
   B. inserção numa frase subordinada relativa.
   C. dependência de uma construção negativa.
   D. integração numa frase interrogativa indirecta.



7. Para responder, escreva, na folha de respostas, o número do item, o número identificativo de
   cada elemento da coluna A e a letra identificativa do único elemento da coluna B que lhe
   corresponde.

                          A                                                   B


                                                         a) o enunciador exprime oposição em relação
1) Com o recurso a «É que» (linha 15),
                                                            à ideia apresentada anteriormente.


2) Com o recurso à conjunção «mas» (linha 16),           b) o enunciador narra um acontecimento
                                                            ilustrativo da ideia exposta.

3) Com a utilização da frase negativa iniciada por «De   c) o enunciador nega para afirmar com mais
   outra coisa não fala» (linha 18),                        veemência.

                                                         d) o enunciador estabelece uma lógica de
4) Com o recurso ao travessão duplo (linhas 19-20),         finalidade.

                                                         e) o enunciador exprime uma ideia de
5) Com a utilização da forma do verbo auxiliar modal        conclusão em relação ao referido
   «poderia» (linha 20),                                    anteriormente.

                                                         f) o enunciador apresenta o conteúdo da frase
                                                            como uma possibilidade.

                                                         g) o enunciador especifica a informação
                                                            apresentada no segmento textual anterior.


                                                         h) o enunciador explica a ideia expressa desde
                                                            o início do parágrafo.




Prova 639 • Página 6/ 8
GRUPO III


    A propósito do P.e António Vieira, de cujo nascimento (1608) se comemoram os
quatrocentos anos, escreveu Guilherme d’Oliveira Martins no Jornal de Letras, Artes e Ideias
(13-26/Fevereiro/2008): «Foi um visionário, um diplomata, um pregador da Capela Real, um
conselheiro avisado, um humanista, um lutador pelo respeito da dignidade humana, à frente
do seu tempo, e um artífice, como houve muito poucos, da palavra dita e escrita».

    Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras,
apresente uma reflexão sobre a temática da dignidade humana e do respeito pelos direitos humanos
no nosso tempo.
    Para fundamentar o seu ponto de vista, recorra, no mínimo, a dois argumentos, ilustrando cada um
deles com, pelo menos, um exemplo significativo.




Observações
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco,
   mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma
   única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2008/).
2. Um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto
   produzido.




                                                  FIM




                                                                                 Prova 639 • Página 7/ 8
COTAÇÕES DA PROVA

GRUPO I ............................................................................................................................ 100 pontos
               A.
               1. ...................................................................................................... 15 pontos
                  Conteúdo                                                                              (9 pontos)
                  Organização e correcção linguística                                                   (6 pontos)

               2. ...................................................................................................... 20 pontos
                  Conteúdo                                                                            (12 pontos)
                  Organização e correcção linguística                                                   (8 pontos)

               3. ...................................................................................................... 15 pontos
                  Conteúdo                                                                              (9 pontos)
                  Organização e correcção linguística                                                   (6 pontos)

               4. ...................................................................................................... 20 pontos
                  Conteúdo                                                                            (12 pontos)
                  Organização e correcção linguística                                                   (8 pontos)

               B. ...................................................................................................... 30 pontos
                  Conteúdo                                                                            (18 pontos)
                  Organização e correcção linguística                                                 (12 pontos)


GRUPO II ............................................................................................................................ 50 pontos

               1. .....................................................................................................   25 pontos

               2. .....................................................................................................   25 pontos

               3. .....................................................................................................   25 pontos

               4. .....................................................................................................   25 pontos

               5. .....................................................................................................   25 pontos

               6. .....................................................................................................   25 pontos

               7. .....................................................................................................   20 pontos


GRUPO III ............................................................................................................................ 50 pontos

                    Estruturação temática e discursiva .......................................... 30 pontos
                    Correcção linguística ................................................................ 20 pontos



                                                Total ................................................................................. 200 pontos



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Exame Nacional 2008

  • 1. EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDÁRIO Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de Março Prova Escrita de Português 12.º Ano de Escolaridade Prova 639/1.ª Fase 8 Páginas Duração da Prova: 120 minutos. Tolerância: 30 minutos. 2008 Utilize apenas caneta ou esferográfica de tinta indelével, azul ou preta. Não é permitido o uso de corrector. Em caso de engano, deve riscar, de forma inequívoca, aquilo que pretende que não seja classificado. Não é permitido o uso de dicionário. Escreva de forma legível a numeração dos grupos e/ou dos itens, bem como as respectivas respostas. Para cada item, apresente apenas uma resposta. Se escrever mais do que uma resposta a um mesmo item, apenas é classificada a resposta apresentada em primeiro lugar. As cotações dos itens encontram-se na página 8. Nos itens de resposta fechada, as respostas ilegíveis, ou em que apresente mais do que uma alternativa (ainda que inclua a correcta), são classificadas com zero pontos. Para responder aos itens de escolha múltipla, escreva, na folha de respostas, • o número do item; • a letra identificativa da alternativa correcta. Para responder aos itens de associação, escreva, na folha de respostas, • o número do item; • o número identificativo de cada elemento da coluna A e a letra identificativa do único elemento da coluna B que lhe corresponde. Prova 639 • Página 1/ 8
  • 2. GRUPO I A Leia, atentamente, o texto, constituído por cinco estâncias de Os Lusíadas, transcritas do Canto IX. Est. 89, v. 1 Que as Ninfas do Oceano, tão fermosas, Tétis e a Ilha angélica pintada1, Outra cousa não é que as deleitosas Honras que a vida fazem sublimada2. Aquelas preminências3 gloriosas, Os triunfos, a fronte coroada De palma e louro, a glória e maravilha, Estes são os deleites desta Ilha. Est. 90, v. 9 Que as imortalidades que fingia A antiguidade, que os Ilustres ama, Lá no estelante Olimpo4, a quem subia Sobre as asas ínclitas da Fama, Por obras valerosas que fazia, Pelo trabalho imenso que se chama Caminho da virtude, alto e fragoso, Mas, no fim, doce, alegre e deleitoso, Est. 91, v. 17 Não eram senão prémios que reparte, Por feitos imortais e soberanos, O mundo cos varões que esforço e arte Divinos os fizeram, sendo humanos. Que Júpiter, Mercúrio, Febo e Marte, Eneas e Quirino e os dous Tebanos5, Ceres, Palas e Juno com Diana, Todos foram de fraca carne humana. Est. 92, v. 25 Mas a Fama, trombeta de obras tais, Lhe deu6 no Mundo nomes tão estranhos De Deuses, Semideuses, Imortais, Indígetes7, Heróicos e de Magnos. Por isso, ó vós que as famas estimais, Se quiserdes no mundo ser tamanhos, Despertai já do sono do ócio ignavo8, Que o ânimo, de livre, faz escravo. Prova 639 • Página 2/ 8
  • 3. Est. 93, v. 33 E ponde na cobiça um freio duro, E na ambição também, que indignamente Tomais mil vezes, e no torpe e escuro Vício da tirania infame e urgente; Porque essas honras vãs, esse ouro puro, Verdadeiro valor não dão à gente: Milhor é merecê-los sem os ter, Que possuí-los sem os merecer. Luís de Camões, Os Lusíadas, ed. prep. por A. J. da Costa Pimpão, 5.ª ed., Lisboa, MNE/IC, 2003 1 Ilha angélica pintada: representação, pintura de uma ilha linda, que lembra um lugar habitado por anjos. 2 sublimada: ilustre, célebre. 3 preminências (por preeminências): distinções, superioridades, honrarias, louros, prémios. 4 no estelante Olimpo: na brilhante morada dos deuses. 5 os dous Tebanos: Hércules e Baco. 6 Lhe deu: lhes deu. 7 Indígetes: divindades primitivas e nacionais dos Romanos. 8 do ócio ignavo: do ócio indolente, preguiçoso. Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem. 1. Exponha, sucintamente, o conteúdo das três primeiras estâncias. 2. A «Fama» desempenha um papel fundamental no processo da imortalidade. Refira três dos aspectos evidenciados nesse desempenho, fundamentando a sua resposta com citações do texto. 3. Identifique a apóstrofe presente na estância 92 e explicite a intenção que lhe está subjacente. 4. Indique o modo das formas verbais «Despertai» (v. 31) e «ponde» (v. 33) e refira o respectivo valor expressivo. B Considere a seguinte opinião sobre Os Lusíadas: «Mas o texto é complexo e, por vezes até, contraditório. Em certos momentos exibe uma face menos gloriosa; aquela em que emergem as críticas, as dúvidas, o sentimento de crise.» Maria Vitalina Leal de Matos, Tópicos para a Leitura de Os Lusíadas, Lisboa, Editorial Verbo, 2004 Fazendo apelo à sua experiência de leitura de Os Lusíadas, comente, num texto de oitenta a cento e vinte palavras, a opinião acima transcrita. Observações 1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2008/). 2. Um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido. Prova 639 • Página 3/ 8
  • 4. GRUPO II Leia, atentamente, o seguinte texto. 1 Não creio que as classificações acrescentem o que quer que seja à fruição de uma obra de arte, seja ela literária ou de outra qualquer natureza; mas também não penso que a prejudiquem. Por isso, ao terminar a leitura de Memorial do Convento, ainda sob o império da fascinação que ela me provocou, surpreendi-me a interrogar: que livro é este? Que escreveu, 5 que quis José Saramago escrever? Um romance histórico? Um romance realista? Uma alegoria? Uma parábola? Uma epopeia? Um conto de fadas? Uma história de amor? […] A resposta surgiu, inevitável, irrecusável por assim dizer: Memorial do Convento é tudo isso, um caleidoscópio, […] um espelho do real reinventado, diverso e complexo, à imagem e semelhança do mundo e dos homens que nele habitam e o fazem avançar. […] 10 Este romance não é apenas um romance histórico, a sua duração transcende os limites cronológicos do quadro histórico em que à primeira vista parece encerrar-se […]. A cada passo surgem referências a acontecimentos que virão a produzir-se muito para além do marco temporal da história que nos é contada – a propósito dos damascos carmesins e dos panos verdes que ornamentam o coro da Igreja alude-se ao «gosto português pelo verde e 15 pelo encarnado, que, em vindo uma república, dará bandeira» […]. É que, neste romance […], a história não é uma categoria imutável e fixa, mas a contínua respiração da realidade, rio cujas águas nunca param e nunca se repetem. […] A luta de classes. De outra coisa não fala este romance que por isso mesmo é também um romance realista – e uma epopeia. Às duas epígrafes1 que o autor lhe antepôs – uma do 20 Padre Manuel Velho, a outra de Marguerite Yourcenar – poderia ter acrescentado uma terceira, extraída do conhecido poema de Brecht intitulado «Perguntas de um Operário Letrado», que começa por estes três versos: «Quem construiu Tebas, a das sete portas? / / Nos livros vem o nome dos reis. / Mas foram os reis que transportaram as pedras?» É a uma pergunta análoga que o Memorial dá resposta. Para assegurar a sua progénie2, um rei beato 25 promete erigir um convento de franciscanos na vila de Mafra. Mas são os servos da gleba que, com o seu sangue e o seu suor hão-de construí-lo, homens vindos de todos os cantos do país, atraídos pela esperança de melhor salário, levados à força outros como se gado fossem […]. Com tudo isto, ficou ainda por dizer que o romance deve muito da sua força narrativa ao 30 estilo incomparável de Saramago, ao seu perfeito domínio da língua portuguesa, a que este livro é uma permanente homenagem, à opulência de uma escrita em que o extremo rigor e a liberdade estreme3 se conjugam, numa rara aliança em que nenhum deles é sacrificado pelo outro e antes mutuamente se enriquecem. Luís Francisco Rebelo, Memorial do Convento, José Saramago, 25 anos da 1.ª edição: A recepção da crítica na época, Lisboa, Caminho, s.d. 1 epígrafe: fragmento de texto, citação curta, máxima, etc., colocada em frontispício de livro, no início de uma narrativa, de um capítulo, de uma composição poética, etc., como orientação de leitura ou objectivos afins. 2 progénie: descendência, sucessão. 3 estreme: pura, radical. Prova 639 • Página 4/ 8
  • 5. Para responder aos itens de 1 a 6, escreva, na folha de respostas, o número do item seguido da letra identificativa da alternativa correcta. 1. Segundo o autor, na fruição de uma obra de arte, classificá-la torna-se A. inadequado. B. impossível. C. indiferente. D. imprescindível. 2. O recurso a interrogativas (linhas 4-6) serve ao autor como A. introdução à temática que vai desenvolver. B. questionamento dirigido a outros críticos. C. rol de suspeitas decorrentes da leitura do livro. D. efeito meramente retórico e estilístico. 3. Com o recurso ao termo «caleidoscópio» (linha 8), o autor vê Memorial do Convento como uma obra A. obscura na sua multiplicidade. B. multifacetada como a vida. C. emaranhada como um labirinto. D. única na sua singularidade. 4. Com a transcrição do poema de Brecht (linhas 22-23), o autor pretende sublinhar A. o testemunho de um autor dramático. B. a variedade possível de epígrafes. C. o paralelismo com Memorial do Convento. D. a semelhança com as anteriores epígrafes. 5. O antecedente do pronome «que» (linha 30) é A. «romance» (linha 29). B. «estilo incomparável» (linha 30). C. «perfeito domínio» (linha 30). D. «língua portuguesa» (linha 30). Prova 639 • Página 5/ 8
  • 6. 6. A colocação do pronome «se» (linha 32) em posição anteposta ao verbo justifica-se pela sua A. inclusão numa frase em discurso indirecto. B. inserção numa frase subordinada relativa. C. dependência de uma construção negativa. D. integração numa frase interrogativa indirecta. 7. Para responder, escreva, na folha de respostas, o número do item, o número identificativo de cada elemento da coluna A e a letra identificativa do único elemento da coluna B que lhe corresponde. A B a) o enunciador exprime oposição em relação 1) Com o recurso a «É que» (linha 15), à ideia apresentada anteriormente. 2) Com o recurso à conjunção «mas» (linha 16), b) o enunciador narra um acontecimento ilustrativo da ideia exposta. 3) Com a utilização da frase negativa iniciada por «De c) o enunciador nega para afirmar com mais outra coisa não fala» (linha 18), veemência. d) o enunciador estabelece uma lógica de 4) Com o recurso ao travessão duplo (linhas 19-20), finalidade. e) o enunciador exprime uma ideia de 5) Com a utilização da forma do verbo auxiliar modal conclusão em relação ao referido «poderia» (linha 20), anteriormente. f) o enunciador apresenta o conteúdo da frase como uma possibilidade. g) o enunciador especifica a informação apresentada no segmento textual anterior. h) o enunciador explica a ideia expressa desde o início do parágrafo. Prova 639 • Página 6/ 8
  • 7. GRUPO III A propósito do P.e António Vieira, de cujo nascimento (1608) se comemoram os quatrocentos anos, escreveu Guilherme d’Oliveira Martins no Jornal de Letras, Artes e Ideias (13-26/Fevereiro/2008): «Foi um visionário, um diplomata, um pregador da Capela Real, um conselheiro avisado, um humanista, um lutador pelo respeito da dignidade humana, à frente do seu tempo, e um artífice, como houve muito poucos, da palavra dita e escrita». Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, apresente uma reflexão sobre a temática da dignidade humana e do respeito pelos direitos humanos no nosso tempo. Para fundamentar o seu ponto de vista, recorra, no mínimo, a dois argumentos, ilustrando cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo. Observações 1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2008/). 2. Um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido. FIM Prova 639 • Página 7/ 8
  • 8. COTAÇÕES DA PROVA GRUPO I ............................................................................................................................ 100 pontos A. 1. ...................................................................................................... 15 pontos Conteúdo (9 pontos) Organização e correcção linguística (6 pontos) 2. ...................................................................................................... 20 pontos Conteúdo (12 pontos) Organização e correcção linguística (8 pontos) 3. ...................................................................................................... 15 pontos Conteúdo (9 pontos) Organização e correcção linguística (6 pontos) 4. ...................................................................................................... 20 pontos Conteúdo (12 pontos) Organização e correcção linguística (8 pontos) B. ...................................................................................................... 30 pontos Conteúdo (18 pontos) Organização e correcção linguística (12 pontos) GRUPO II ............................................................................................................................ 50 pontos 1. ..................................................................................................... 25 pontos 2. ..................................................................................................... 25 pontos 3. ..................................................................................................... 25 pontos 4. ..................................................................................................... 25 pontos 5. ..................................................................................................... 25 pontos 6. ..................................................................................................... 25 pontos 7. ..................................................................................................... 20 pontos GRUPO III ............................................................................................................................ 50 pontos Estruturação temática e discursiva .......................................... 30 pontos Correcção linguística ................................................................ 20 pontos Total ................................................................................. 200 pontos Prova 639 • Página 8/ 8